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O MEU ANJO T…
de dudaahfonseca   

|CAPÍTULO 2|
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de dudaahfonseca

Ter prazer na dor, tirar forças da privação, isso

é ser humano. a
2

— Só os animais os salvam.

Istambul, Turquia. a
5

Guardo a arma dentro da calça sentindo o

metal encostar na minha pele. Observo o
estrago que o projétil fez na cabeça do
estuprador sem sentir qualquer remorso. Era
irônico pensar que me sinto o pior dos seres
humanos quando entro em campo para
defender os ideais do meu pai. a
1

Quando vou as mesquitas orar juntamente

com minha mãe e irmãos, tenho vontade de
chorar encolhida no canto. Allah não gostaria
que uma criminosa como eu fosse à sua casa,
pois quando saísse continuaria pecando,
matando, torturando. Assim que o chamado
para a oração sai dos megafones instalados no
topo das mesquitas sinto que estou indo para
um julgamento. a
3

Sem impressões digitais, cabelo protegido

com o lenço, sem fios de cabelo e sem nacos
da minha pele presa nas unhas do infeliz. Esse
homem tinha muitos inimigos. Então não
preciso me preocupar com possíveis suspeitas
do senhor Riza — meu pai. A arma que utilizo
não tem a marca que Çukur costuma fazer em
todo o armamento que está sob o seu
domínio. a
1

Sem poder perder mais tempo saio da casa

velha por onde entrei, seguindo para dentro da
mata. Ando pela Avenida Istiklal, indo direto
para a estação do metrô. Preciso chegar em
casa o quanto antes. a
1

***

Acordo a tempo de tomar banho e me arrumar

antes do horário da primeira refeição do dia.
Faço uma trança nos meus longos cabelos
ondulados bem firme, para que não se desfaça
durante o treinamento. Segurando a jaqueta
de couro preta — a cor que predomina o meu
closet — escuto a movimentação. Afasto a
cortina da janela e observo minha família
saindo do Audi A8 Security blindado. Presente
do amigo russo do meu pai, que integra a
sociedade do tráfico de armas. a
2

Engulo em seco quando Kenam — meu irmão

mais velho — mira seus olhos castanho-
escuros na minha direção. Apesar da distância
consigo sentir toda a maldade que predomina
no homem que tem o mesmo sangue que eu. a
7

Desde os meus quatorze anos sinto seu olhar

intimidador e malicioso em cima de mim. Meu
estômago embrulha quando lembro das suas
mãos ásperas acariciando o meu corpo onde
nunca deveriam sonhar estar. a
23

Nunca contei nada para ninguém pelo simples

fato de que não acreditariam na minha
palavra. Kenam é o sucesso do nosso pai,
amado por toda a família. Não estaria viva se
tivesse falado sobre os olhares maliciosos que
recebo do meu irmão, das suas mãos imundas
apertando o meu corpo, da sua língua no meu
pescoço e que vivo debaixo do teto do meu
abusador há nove anos. a
11

Ele nunca chegou as vias de fato, pois melhor

do ninguém sabe que quando descobrissem
que eu não era mais virgem, acabariam
comigo. Sua obsessão era tanta a ponto de
preferir minha presença ao seu lado a vida
toda, mesmo que nunca faça o que tenha
vontade. a
4

A HISTÓRIA CONTINUA ABAIXO

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Já imaginei matando o meu irmão de tantas

formas que perdi as contas. Poderia acabar
com ele quando menos esperasse, mas o
nosso pai não descansaria até descobrir o
autor que tirou a vida do seu único filho
homem. a
2

Afasto-me rangendo os dentes, abrindo e

fechando a mão, tentando respirar direito.
Começo a contar tentando ficar calma. Preciso
continuar sendo forte. Minutos depois volto a
me encarar no espelho com vergonha da
pessoa que eu sou, porém não posso mudar. a
3

Desço para receber minha família. a

1

Meu pai é o primeiro entrar. Descalça os pés,

largando o par de sapatos italiano próximo ao
suporte. Seguro suas mãos e abaixo a cabeça
para beijá-las. a
1

— Baba, seja bem-vindo. a

1

Ergo o rosto recebendo seu olhar minucioso.

Acostumada a fingir não mudo minha
expressão torcendo para que não desconfie de
nada. a
1

— Filha, senti sua falta. Arrependi-me de tê-la

dispensado. Faz um tempo que não aparece
em Mardin. Engin e sua família perguntaram
por você. a 1

— Na próxima vez irei para visitar o tio Engin. a

1

O senhor Engin era um dos sócios dos

comércios que meu pai está abrindo. Os
pontos positivos de ir à Mardin era somente
para visitar os orfanatos e perder um tempo
admirando a imensidão da planície da
mesopotâmia do topo da cidade. a
1

— Anne. a
1

Beijo as mãos da mamãe e seus braços me

cercam trazendo um pouco de paz. Minha mãe,
Damla, tira seu hijab assim que desfazemos o
abraço. Seus cabelos pretos como a noite são
idênticos aos meus.

Mamãe é filha de mãe brasileira e pai turco. Ela

nunca contou o que aconteceu com os meus
avós. O pouco que sei foi contado pela minha
avó paterna. Segundo vovó, o pai da mamãe
era um homem violento tanto com ela e com
sua mãe. E em algum momento meu pai
entrou na história. Desde então estão juntos. a
1

Beren — minha irmã caçula — me abraça

apertado. Beijo sua cabeça percebendo que
alguma coisa aconteceu. Demet passa por mim
sem me cumprimentar. E fico aliviada quando
o telefone do Kenan toca, e ele sai em direção
a sala de estar para atender. a
1

Seguimos para a sala de refeições. a

1

— O que aconteceu Beren? a

1

Desde que Kenan começou a me aliciar prestei

atenção na sua interação com as nossas irmãs.
Queria ter certeza de que não estava fazendo o
mesmo com Beren e Demet. Porém, sua
interação com elas é fria e rígida. a
2

E sempre dei um jeito para não as deixar em

casa sozinhas com ele. Por não notar nenhuma
mudança de comportamento das minhas
irmãs, conclui que de fato meu irmão não fazia
com elas o que costumava fazer comigo na
surdina. a
2

Cabisbaixa minha irmã caçula senta ao meu

lado. Observo as feições do meu pai, que
nitidamente está tranquilo. Mamãe sabe
disfarçar muito bem suas emoções para
agradar seu marido abusivo. a
2

Como sempre nossa refeição é um banquete.

Uma das funcionárias começa a servir o chá
fresco na xícara de vidro em formato de tulipa.
Diante de nós tem: omeletes, queijos,
azeitonas, alguns tipos de folhas verdes,
pepinos, tomate, pimentão assado, pães e
diversos sabores de geleias, frutas cortadas,
frutas secas, avelãs, mel e iogurte. a
3

Tomo um gole do chá fumegante tentando não

parecer tensa.

— Algum problema, meu filho? — Indaga papai

assim que Kenan senta ao seu lado na mesa. a
1

— Nenhum, baba. Sem fome, Ayla? a

1

Encaro a faca por milésimos de segundo

imaginando como seria fácil a enfiar no
pescoço dele. a
4

A HISTÓRIA CONTINUA ABAIXO

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— Aconteceu alguma coisa na viagem, baba?

— Responda seu irmão primeiro. Lembre-se da

criação que lhe demos. a
2

De repente o gosto do chá-preto não está mais

tão agradável. a
1

— O treino será puxado, não costumo comer

muito nos dias que exigem mais. — Respondo
séria. — Aconteceu alguma coisa na viagem,
baba? a
1

Volto a questionar.

— Obtive a resposta do pretendente da Beren. a

1

Um frio se instala na minha nuca. Encaro

minha família sem acreditar nessa merda.

— Beren não terminou o treinamento, baba.

Além disso, minha irmã tem apenas dezesseis
anos. a
1

— Idade o suficiente para se casar.

Receberemos o noivo da sua irmã o mais breve
possível. a
1

— Quem é ele? — Pergunto. a

2

— Filha, por favor, deixaremos esse assunto

para outro momento. a
1

— Anne, quero saber quem é. — Falo.

— Grigoriy Shipenko. — Responde e enfia uma

fatia de tomate na boca. a
4

O porco do Grigoriy tem idade para ser o avô

da minha irmã. Não vou permitir que Beren
seja esposa daquele pedófilo, nem que para
isso me arrisque ainda mais. Se eu o matar irei
começar uma guerra com uma das máfias
russas mais temidas a: Etskaya. a
2

— Eles só podem casar com mulheres que

integram a máfia deles. a
1

Argumento tentando de alguma forma reverter

essa situação. Nem todas as máfias russas são
iguais, o mesmo se aplica as máfias italianas.
Algumas são mais radicais e rígidas nos
mandamentos internos, outras mais liberais. a
1

— Nossa irmãzinha viverá na Rússia. — Profere

Demet contendo seu sorriso debochado. a
13

De toda a minha família a única que se salva

era a Beren. A princípio acreditava que mamãe
também, no entanto. a
10

— Baba, por favor...

Suplico tendo a sensação que minha garganta

está se fechando.

— Demet deveria ser a escolhida. Entretanto,

Grigoriy mostrou interesse em você. — Enfia
pedaços de queijo na boca, mastigando
rápido. — Só que casamento não é sua
prioridade no momento. E ele não aceitaria o
fato de se arriscar em nome da Çukur.
Antecipei o destino da Beren. Assim como
Demet, foi selecionada para o casamento e
alianças. a
12

Sem pensar duas vezes digo:

— Pode tentar convencer o senhor Grigoriy.

Beren não está pronta, baba. a
14

— Em algum momento você irá se casar com o

homem que eu escolher. É muito valiosa no
campo, filha. E seu futuro marido deve estar na
mesma sincronia. Ibrahim Çelik, por exemplo
seria seu par ideal. Honra a Çukur com a vida e
tem feito um excelente trabalho em Mardin.
Ele subirá de cargo em breve. a
19

Meu contato com o Ibrahim era apenas em

ações da Çukur. Ele tem dois irmãos mais
novos chamado: Furkan e Kerem. Tanto seus
irmãos como o seu pai, o senhor Cem, fazem
parte da Çukur há anos. Antes disso seu pai
tinha um mercadinho próximo a antiga casa
deles em Mardin. a
12

— Ayla é altamente treinada, baba. Seria um

desperdício a casar. — Fala meu irmão como
quem não quer nada. a
19

Firat — um dos soldados do meu pai — pede

licença, e meu pai gesticula de boca cheia
autorizando que fale. A partir do instante que
começa a narrar que um dos soldados que
integra a última categoria foi assassinado,
permaneço quieta. Meu pai pede os detalhes,
que são narrados imediatamente pelo
soldado. Estamos acostumados a escutar esse
tipo de assunto na mesa. Vez ou outra ocorre
uma emergência, quando estamos comendo. a
9

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Sem apetite desde que soube que minha

irmãzinha será esposa de um velho nojento e
abusador, para de tentar comer. a
11

— Alguma suspeita? a
11

— Não, senhor. Consideramos que tenha sido

vingança. Fora o que ele fazia com as mulheres
na punição, também havia feito o mesmo com
mulheres que não fazem parte da nossa
família. a
9

— Ele tinha família? Não estou lembrado. a

14

— Não. a
17

— Então não devemos nada. Pode ir. a

12

***

Realizei os primeiros exercícios do

planejamento junto com os selecionados de
campo. Para a minha infelicidade meu pai
assistirá a luta livre. E isso resulta apenas em
uma coisa: morte. Principalmente por estar
com convidados. Espero de verdade que surja
um compromisso de última hora que o impeça
de assistir. a
9

O oxigênio entra melhor nos meus pulmões

quando não vejo meu pai sentado na
arquibancada. a
12

— A12 contra A8 e B21. a9

Eu sou a A12. Com o suor pingando da minha

testa caminho até o centro do tatame. Meu
corpo resiste ao cansaço do treino puxado de
três horas com pequenos intervalos para beber
água. Uso minhas pernas como âncoras e
posiciono meus punhos fechados pronta para
me defender. a
9

Os dois vem ao mesmo tempo para cima de

mim. Abaixo desviando do golpe, estico as
pernas e derrubo o A8 com uma rasteira.
Recebo um golpe nas costelas do B21, em
contrapartida o acerto ergo a perna utilizando
o golpe de caratê e acerto a lateral do seu
pescoço. a
15

Solto o ar antes de socar o A8, tentando

descontrair os músculos. Os minutos seguintes
parecem horas, passo a me defender mais do
que atacar poupando energia. Afinal, são dois
homens com mais de noventa quilos. Cuspo
sangue quando acertam o meu rosto. a
8

— Vamos deixar mais interessante. a

11

Escuto a voz do meu pai. Assim como todos os

filhos da Çukur tento parecer inabalável. O
outro treinador joga pelo tatame três facas
ninjas e três correntes com arrame farpado
trançado — exceto no início para que
possamos pegar sem cortar as mãos. a
9

Agarrada ao extinto de sobrevivência e no que

tento acreditar, assim como meus oponentes
corro para pegar a faca ninja e a corrente. a
15

A8 vem para cima com a corrente, largo a

minha no chão. Seguro-a sentindo o arrame
farpado furar as palmas das minhas mãos,
mantendo os pés rentes ao chão e inclinando o
corpo para trás como se estivesse num cabo de
guerra. Quando vejo B21 vindo em minha
direção, após se recuperar do golpe que
recebeu do A8, solto a corrente fazendo meu
oponente cair com tudo para trás.
Rapidamente passo a corrente envolta do seu
pescoço respirando freneticamente. Quando
B12 avança me defendo e consigo enfiar a faca
ninja na sua coxa. Ele urra de dor, tentando a
tirar. a
9

Encaro o treinador ansiando que encerre o

combate. a
8

— Mate o mais fraco. — Vocifera o líder da

Çukur. a
9

Direciono meu olhar para ele que está

acompanhando de dois aliados russos. Junto a
faca ninja do tatame no exato momento A8 se
levanta com sangue no seu pescoço e mãos.
Sem piedade volto a puxar corrente furando
novamente a palma da mão. Ele cai de joelhos,
pronto para morrer. a
10

Morrer nas mãos de um dos nossos é uma

honra. Essa não era uma das piores diretrizes. a
7

Encaro mais uma vez o meu pai engolindo a

ânsia. Manobro a faca e cravo a faca na veia
jugular fazendo o sangue esporrar. O líquido
vermelho não para de sair do seu corpo. Seu
corpo tomba para trás. a 9

Conjecturo que eu deveria estar no seu lugar. a

8

NOTA: Leitores, eu já tinha avisado antes,

mas aviso nunca é demais. O livro é cheio de
GATILHOS. a
2

Vou deixar o desafio de 500 comentários

para liberar o próximo dia 18/10. a
6

Depois do dia 18 vou conseguir deixar o

prazo mais curto para atualização.

Aproveitando, pessoal, quem puder ir

conferir o meu livro MINHA MELHOR VERSÃO
É VOCÊ na amazon.com.br agradeço demais,
e por favor, avaliem. a
5

Continua a ler o próximo capítulo



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    
Deixe um comentário

RegianeAlmeida293 
há 2 dias
Deixa ele pro Anthony
Responder

Giookcat 
out 08
Tomara que morra uma porra dessas.
Responder

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