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Ergonomia

Da junção das palavras gregas “ergon” (trabalho) e “nomos” (leis, preceitos),


surgiu a ergonomia, a ciência do trabalho, uma disciplina orientada para
uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana. Sua
meta é, essencialmente, analisar a adequação do trabalho ao ser humano,
o que envolve principalmente observar o ambiente em que esse trabalho é
executado. A acepção da palavra trabalho é ampla e compreende as
ações efetuadas com o uso de equipamentos, bem como as diversas
conjunturas que transcorrem na relação entre o ser humano e a produção.
Neste capítulo, veremos quais são os fundamentos da disciplina que promove
e sustenta as possibilidades de melhor adequação de um ambiente/produto
ao seuusuário.

Objetivos deaprendizagem
_Definir ergonomia e seus principais objetivos.
_Discutir fatos importantes da história da disciplina.
_Diferenciar microergonomia de macroergonomia.
_Explicarqual é o papel do ergonomista e aplicar os conceitosdiscutidos.
_Explicar por que a ergonomia é essencialmente transdisciplinar e
adotar uma abordagem transdiciplinar na práticaergonômica.
_Reconhecerasclassificações da disciplina, explicando asparticularidades de
cada uma.
_Identificar os ramos de atuação da ergonomia.
Afinal, o que é a Ergonomia?
Definições eobjetivos
De acordo com as condições em que as tarefas são desempenhadas e com o tempo
DEFINIÇÃO durante o qual o homem permanece na mesma posição, realizando determinadas
Cunhadoem1857 pelo atividades, podem surgir problemas como desconforto e fadiga. Esforços repetitivos e
naturalista polonês postura inadequada causam lesões e, para evitá-las, é necessário analisar a adequação do
WojciechJastrzebowski, o trabalho ao ser humano. Essa análise é o cerne da criação da ergonomia, disciplina que
conceito tradicionaldo essencialmente integrava as ciências biológicas (an- tropologia, psicologia, fisiologia,
termo ergonomia refere-se medicina, etc.) e a engenharia. Atualmente, a ergonomia é mais abrangente, contando
à análise a adequaçãodo com inúmeras áreas do conhecimento e sendo aplicada não somente no ambiente de
trabalho aoser humano, trabalho, masemqualquer produto que o homempossa utilizar.
esteja ele interagindo Osprincipais objetivos da ergonomia sãoasatisfaçãoeo conforto dosindivíduos eagarantia
comprodutos, sistemas ou de que a prática laboral eo uso do equipamento/produto não causemproblemas à saúde
processos. do usuário. Para isso, não se restringe a analisar a interação entre o operador e o
produto/equipamento, a atividade e o ambiente laborais, mas também engloba o
contexto organizacional, psicossocial e político de umsistema.
A ergonomia preocupa-se em garantir que o projeto (do produto, equipamento, sistemas,
etc.) complemente as forças e habilidades do homem, minimizando os efeitos das suas
limitações, em vez de forçá-lo a adaptar-se. Portanto, surge como contraponto ao método
Taylorista, que propõe a definição do método de trabalho mais eficiente, ao qual o homem
deveseadaptar.

Taylorismo é uma concepção de produção baseada em um método científico de organização do trabalho


desenvolvidopelo engenheiroamericanoFrederickWinslowTaylor(1856-1915)..

Segundo Iida (2005), para que a ergonomia atinja seu objetivo, o ergonomista deve
entender e projetarconsiderando:
_o homem e as diversidades inerentes a ele, abarcando atributos como idade,
tamanho, força, habilidade cognitiva, experiência,culturaeobjetivos;
_a máquina, ou seja, todas as ferramentas, o mobiliário, os equipamentos e as
instalações;
_o ambiente,que contemplatemperatura,ruídos,vibrações,luzes,cores,etc.;
_ainformação, que serefere ao sistemade transmissãodasinformações;
_a organização, que constitui todos os elementos do sistema produtivo como horários,
turnos eequipes;
_as consequências do trabalho, que abarca todas as questões relacionadas com erros
eaci- dentes,além de fadiga eestresse.

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Quadro1.1 Definiçõesdas principais associaçõesdeergonomia

Fonte Definição

Ergonomics Research Society “Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o


(Sociedade de Pesquisa em homem e seu ambiente de trabalho, equipamento
Ergonomia) – hoje Insti- tute of e ambiente, principalmente a aplicação dos
Ergonomics and Human Factors conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia
(BROWNEet al.,1950) na solução dos problemas surgidos desse
relacionamento.”
International Ergonomics “A ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina
Association (20--?) (Associação científica que seocupa em compreender a interação
Internacional de Er- gonomia) entre os sereshumanos e outros elementos de um
sistema, bem como a profissão que aplica teoria,
princípios, dados e métodos aprojetos afim de
otimizar o bem estar humano eo desempenho
global do sistema.”
Associação Brasileira de “Se pudermos caracterizar a ergonomia como uma
Ergonomia (2004) disciplina que busca articular conhecimentos sobre a
pessoa, sobre a tecnologia e a organização para
sustentar sua prática de mudança dos determinantes
e condicionantes da atividade profissional e do uso e
manuseio de produtos ou sistemas, então o objetivo
da disciplina e da práticaem ergonomia é facilmente
compreensível: trata-se de realizar uma transformação
positiva na configuração da situaçãode trabalho e
no projetodosprodutos.”

CURIOSIDADE
Conforme a disciplina evoluiu, algumas variações na terminologia surgiram em diferentes países. Embora o termo
ergonomia seja muito utilizado na Austrália, no Brasil, na Europa e na Nova Zelândia, no Japão usa-se o termo
ergologia. NosEstados Unidos, foi adotado o termo fatores humanos (human factors). Embora os termos ergonomia
e fatores humanos sejam considerados sinônimos pelos profissionais, o uso popular parece ter ado- tado
significados diferentes. Fatores humanos tem sido empregado para denotar as áreas cognitivas da discipli- na
(percepção, memória, etc.), enquanto ergonomia parece se referir aos aspectos físicos (leiaute do ambiente de
trabalho, iluminação, temperatura, ruídos,etc.).

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A Ergonomia nahistória
Embora a origem oficial da ergonomia date de 1949, quando o engenheiro inglês
Kenneth Frank Hywel Murrell oficializou a primeira sociedade de ergonomia do
mundo, a Ergonomic Research Society, os preceitos que atualmente regem a
ergonomia começaramnos primórdios da história da humanidade.
Supõe-se que na pré-história, portanto, o homem tenha adaptado a pedra às suas
necessidades, respeitando a anatomia da mão para tornar seu manuseio mais seguro e
eficaz. Essa suposição se baseia no formato dos utensílios daquela época, como as
ferramentas utilizadas para caça e defesa pessoal (Figura 1.1). De acordo com os
elementos que deveriam ser trabalhados e com ascaracterísticas dos trabalhadores, era
estabelecido um padrão (formato e dimensões) para as ferramentas, que também
eram feitas utilizandomadeiraeferro.

Figura 1.1 Martelo pré-histórico, feito de pedra emadeira.


Fonte: Comstock/Stockbyte/Thinkstock.
A época renascentista (entre o século XIV e início do século XVII) marcou o início dos
estudos na área, com destaque para Leonardo da Vinci (1452-1519), autor da figura do
homem vitruviano (Figura 1.2), Bernardino Ramazzini (1633-1714), que fez a primeira
sistematização de doenças do trabalho, em sua obra De morbis Artificum Diatriba,
marco histórico no estudo de doenças ocupacionais, e Wojciech Jastrzebowski (1799-
1882), naturalista polonês e autor do trabalho A Ciência do trabalho, onde apareceu
pelaprimeira veznahistória o termo ergonomia.
A principal relevância do trabalho de Leonardo para a ergonomia foi a combinação,
em um mesmo desenho, do homem inserido em um círculo e em um quadrado,
considerando o movimento natural de seus membros fixos ao tronco, isto é, a relação
entre o movimento do corpo humano e o espaço circundante. Hoje, o conhecimento
das formas e medidas do corpo humano aplicado em projetos é denominado
antropometria (veja maisarespeitonaseção“Antropometria”).
Com a Revolução Industrial (iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII), que
gerou uma série de avanços tecnológicos, o trabalho ganhou novas abordagens,
causando impacto no processo de produção. Consequentemente, a concepção de
ergonomia foi tomando novas proporções, abrangendo o regime de trabalho, sua
jornada de praticamente 16 horas diárias e as condições em que era desenvolvido (ou
seja,aspectos de higiene,preocupaçõescomo ruído esegurança).
Jáno final do século XVIII, com o Taylorismo, os pesquisadores norte-americanos iniciaram
estudos relacionados ao homem no trabalho. No mesmo período, na Europa, eram
realizadas pesquisassobre afisiologia do trabalho. ComaPrimeira Guerra Mundial (entre
1914 e 1917), foram aplicados, na Inglaterra, estudos de fisiologistas e psicólogos no
aprimoramentoda indústria bélica.
A ergonomia emergiu como uma disciplina científica nos anos 1940, como
consequência da crescente complexidade dos equipamentos técnicos. Começou-se a
perceber que as vantagens decorrentes do uso dos novos equipamentos não se
4 estavamconcretizando, visto que aspessoasnão conseguiam entendê-los eutilizá-los.
Figura 1.2 Ohomem vitruviano de DaVinci.
Fonte: JankaDharmasena/iStock/Thinkstock.

Inicialmente, esses problemas eram mais evidentes no setor militar, em que se exigia
muito dos operadores, tanto física quanto cognitivamente. Conforme os avanços
tecnológicos da Segunda Guerra Mundial eram aplicados ao cotidiano civil,
percebeu-se a dificuldade que as pessoas tinham de lidar com os equipamentos,
resultando numa performance pobre e aumentando a chance de erro humano. Isso
levou acadêmicos e psicólogos militares a realizarem pesquisas na área e,
posteriormente, investigações sobre a interação entre pessoas, equipamentos e
ambiente. Embora o foco inicial tenha sido ambientes de trabalho, a importância da
ergonomia foi gradualmente se tornando reconhecida em outras áreas, como no
projeto de produtos para consumidores (carrose computadores,p.ex.).
Em 1949, em um encontro de psicólogos e fisiologistas renomados, o termo ergonomia
foi cunhado. Mais tarde naquele ano, o mesmo grupo de cientistas formou a
Ergonomics Research Society (ERS), que se tornou a primeira sociedade mundial de
ergonomia.
De acordo com Hendrick (1993), a evolução da ergonomia a partir da Segunda
Guerra Mundial pode ser organizada em quatro fases, segundo a tecnologia
enfocada. Veja mais detalhes no Quadro1.2.
5
CURIOSIDADE
Tendo sido fundada por acadêmicos em 1949, na Inglaterra, a Ergonomics Research Society (Sociedade
de Pesquisa em Ergonomia) foi a primeira associação mundial de ergonomia. Em 1977, a ERSpassou a
chamar-se Ergonomics Society (ES), em reconhecimento ao crescente foco na aplicação profissional e
prática da ergonomia. Por fim, em 2009, passou a chamar-se Institute of Ergonomics and Human Factors,
para refletir o uso popular dos termos ergonomia e fatores humanos. Para ter acesso ao site oficial do
instituto,acesseo ambientevirtual de aprendizagemTekne.

Figura 1.3 Informe sobre a criação da Ergonomics Research Society publicado no British Medical Journal de
abril de1950.
Fonte: BROWNEet al.(1950).

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Quadro1.2 Fasesda ergonomiasegundo Hendrick (1993)

1ªfase: Teve início durante a 2ª Guerra Mundial e concentrava-se no estudo


das características físicas do ser humano (capacidades e limites),
Ergonomiade
primeiramente na área militar e, em seguida, na área civil, com
Hardware ouTradicional ênfase nasquestões fisiológicas e biomecânicas do ambiente de
trabalho e na interação dos sistemas homem-máquina.

2ªfase: Trata das questões ambientais naturais e artificiais (ruído, vibrações,


temperatura, iluminação, aerodispersoides) que interferem no
Ergonomiado
trabalho. Fortaleceu-se em função do interesse em compreender
Meio Ambiente
melhor a relação do ser humano com o meio ambiente,
atualmente muito em voga em função do conceito de
sustentabilidade.
Trata do processamento de informações, que eclodiu com o
advento da informática a partir da década de 1980. Essa
3ªfase:
modalidade é focada nainterfacedainteraçãoentre o homem e
Ergonomiade amáquina,quedeixade ser como na fase tradicional
Software ouCognitiva (antropométrica, biomecânica e fisiológica): o operador não
manuseia mais o produto, mas comanda umamáquina
que opera sobre o produto. A tecnologia da informação passa a ser
uma extensão do cérebro e asinterfaces para a operação devem
levar em conta fatorescognitivos parafacilitar o comando.
4ª fase: Visãomais ampla da ergonomia, que não mais serestringe ao operador e
Macroergonomia suainteração com amáquina, atividade e ambiente, mastambém en-
globa o contexto organizacional, psicossocial e político de um sistema.
Diferencia-se dasanteriores por priorizar o processo participativo envol-
vendo administração de recursos, trabalho em equipe, jornada e projeto
de trabalho, cooperação e rompimento de paradigmas, o que garantein
tervenções ergonômicas com melhores resultados, reduzindo o índicede
erros e gerando maior aceitação e colaboração por parte dosenvolvidos.

Microergonomia versusmacroergonomia
Comomostrado no Quadro 1.2, durante os anos 1980, o foco do projeto industrial era aotimização
das interações entre o homem e seus ambientes imediatos de atividade. Por seu escopo restrito, a
açãoergonômica era chamadademicroergonomia.

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Numa conjuntura micro, a ergonomia preocupa-se com os meios peculiares a cada
circunstância
de trabalho, ou seja, o posto de trabalho em si, uma situação específica, como os níveis de
IMPORTANTE
ruído de determinado equipamento, de iluminação de um laboratório ou de ventilação de
Ascaracterísticas da
um setor.
microergonomia remetem
à atuação humanaem Segundo Diniz e Guimaraes (2001), as avaliações ergonômicas que acontecem em uma
unidades moleculares abordagem microergonômica, com ênfase na adaptação física do posto de trabalho,
referentes aospostos de focam os problemas rela- cionados ao ambiente e à manipulação direcionados às posturas
trabalho, por meioda adotadas pelo trabalhador, o que com certeza deve fazer parte da ação ergonômica. No
análise dosprincípios do entanto, ao ressaltar unicamente aspectos isolados, como a adaptação de teclados e
homemouusuário esua monitores, por exemplo, e desconsiderar os fatos rela- cionados às causas-raiz do problema,
máquina ouseuambiente a abordagem puramente microergonômica é falha, indo de encontro à essência
(MEDEIROS,2005;
interdisciplinar da açãoergonômica.
MEISTER,1999). Para Hendrick (2006), com o objetivo de promover um melhor desempenho organizacional,
as in- tervenções da microergonomia devem estar em conformidade com as da
macroergonomia, tam- bém conhecida como ergonomia organizacional (veja a última
seçãodo capítulo).
Em uma conjuntura macro, a ergonomia está relacionada aos sistemas de produção como
um todo, à integração entre o ser humano e a máquina, atuando de forma conjunta e
apontando para um objetivo comum. A ligação ocorre por meio de um sistema de
comunicação.
Segundo Hendrick (1990), a análise macroergonômica remete à concepção
organizacional di- recionada à gestão de inovações tecnológicas, abrangendo os
enfoques social e empresarial, e prima pelo ajuste do sistema de trabalho e pela
percepção de novos sistemas. Com o intuito de obter maior índice de êxito em suas
implantações, o processo de participação dos trabalhadores acontece durante todo o
estudoergonômico,ou seja,nasetapas de percepção eimplantação dos projetos.

O papel do ergonomista e a
transdisciplinaridade daárea
Osergonomistas contribuem para o planejamento, o projeto e a avaliação de tarefas, os postos
de trabalho, os produtos, os ambientes e sistemas para torná-los compatíveis com as
necessidades,as habilidades easlimitações daspessoas.
Suas atividades podem variar segundo a área de atuação, como saúde e segurança,
transporte, ambiente de trabalho, projeto de produtos, etc. No entanto, as atividades são
sempre focadas em garantir que um sistema ou produto esteja de acordo com asnecessidades
dos usuários egeral- mente incluem, dentreoutras:
_Investigar ashabilidades físicas e psicológicas e aslimitações do corpo humano.
_Analisar como aspessoasutilizam os equipamentos e asmáquinas.
_Avaliar os riscos do ambiente de trabalho.
_Avaliar os ambientes de trabalho e seus efeitos nos usuários.
_Utilizar o resultado dessa avaliação para sugerir melhorias.
_Projetar soluções práticas para implementar essasmelhorias.

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_ Produzir um manual do usuário para garantir que novos sistemas e produtossejam
utilizados da formacorreta.
_Produzir relatórios de achadoserecomendações ecompilar dados estatísticos.
_Aplicar conhecimento específico da fisiologia humana para otimizar o projeto de
produtos, comocarros,mobiliário organizacionaleespaçosde lazeredescanso.
_Entrevistar indivíduos e observá-los em um tipo específico de ambiente (de trabalho,
de lazer edescanso,etc.) comoparte doprocesso de pesquisa.
_Conversarcomtodos osfuncionários da organização para realizar apesquisa.
_Visitar uma ampla variedade de ambientes, como escritórios, fábricas, hospitais e
plataforma de petróleo, a fim de estimar padrões de saúde e segurança ou para
investigar acidentes no ambiente detrabalho.
_Avisar,informar etreinar colegaseclientes.
_Pesquisarsobre indústrias específicaseseussistemas de produção.
Para realizar todas essas atividades, os ergonomistas devem ter um conhecimento
avançado em diversos campos do conhecimento, como antropometria e
biomecânica, anatomia e fisiologia hu- manas, psicologia, engenharia e qualquer
outro campo que seja necessário à sua prática. Portanto, a ergonomia se trata de uma
disciplinatransdisciplinar.
Mas por que não dizer que a ergonomia deve ser multidisciplinar ou interdisciplinar?
Pararesolver essaquestão, vamosàsdefinições dos termos.
Multidisciplinaridade. Almeida Filho (2005) define multidisciplinaridade como um
conjunto de disciplinas que trata, simultaneamente, de uma dada questão, sem que os
profissionais implicados estabeleçam efetivas trocas entre si. Portanto, cada especialista
emprega sua metodologia, com base em suas hipóteses e teorias, e o objeto em
questão évisto sob múltiplos pontos de vista, numajustaposiçãodeconhecimentos.
Interdisciplinaridade. O prefixo inter, por si só, marca a presença de uma ação
recíproca de um elemento sobre o outro e vice-versa. Em uma equipe interdisciplinar,
há possibilidade de troca de instrumentos, técnicas, metodologia e esquemas
conceituais entre as disciplinas. Dessa forma, trata-se de um diálogo que leva ao
enriquecimento e transformação das disciplinas envolvidas. Segundo Almeida Filho
(2005), interdisciplinaridade implica na interação de diferentes disciplinas científicas sob
acoordenaçãode umadelas.
Transdisciplinaridade. A abordagem transdisciplinar busca resolver um problema do
mundo real com base na experiência acadêmica e não acadêmica, articulando os
conhecimentos a fim de propor soluções para o problema. Ou seja, transcende o
âmbito de cada disciplina e surge por meio de uma articulação que possibilita o
surgimento de uma nova visão da natureza eda realidade.
PARAREFLETIR
A ergonomia é uma única disciplina ou essencialmente transdisciplinar? A transdisciplinaridade pode oferecer
uma nova oportunidade de entendermos por que a prática profissional em ergonomia em um nível macro é tão
bem-sucedidaepor que osergonomistastêm tanta dificuldadeemdefinir adisciplina.

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Como podemos ver, tratam-se de métodos diferentes. Namultidisciplinaridade, várias
disciplinas
cooperam com um projeto, mas cada qual trabalhando um aspecto do objeto com o seu
método. Na interdisciplinaridade, há situações em que uma disciplina nova adota
métodos de uma mais antiga. Na transdisciplinaridade, a tentativa é instaurar uma
metodologiaunificada.
No tocante à ergonomia, os profissionais da área devem deixar de contribuir da maneira
multidis- ciplinar clássica, cada um com sua contribuição segmentada, passando ainteragir
proativamente diante do problema a tratar. Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia
(2004, p.11):
[...] os problemas da realidade laboral não são exclusivos de quaisquer das disciplinas de
suporte e muito menos admitem reduções a estes olhares segmentados. O próprio
objeto da ergonomia, a atividade de trabalho, não é apenas fisiológico,
biomecânico cognitivo ou organizacional, mas sintetiza todos esses aspectos face ao
problema que é realizá-la com eficiência, conforto e segurança. O que significa dizer
que assoluções propostas devem serexaminadas por todosessesângulos.
Dessa forma, os profissionais da área devem priorizar o entendimento de todo o campo de
ação da disciplina, tanto em seusaspectos físicos ecognitivos quanto sociais, organizacionais,
ambientais, etc. Veja no quadro a seguir algumas disciplinas que constituem a ciência
ergonômica esuas contribuições.

EXEMPLO
Paracompreender melhor o conceito de transdisciplinaridade, utilizemos como exemplo um procedimento cirúrgico: do
cirurgião ao anestesista, do assistente ao instrumentador, em um dado momento, ninguém é mais importante do que o
outro, pois a falha de um pode significar o fracasso de toda a equipe. Então, não há um cirurgião auxiliado por uma
equipe, masantes um ato cirúrgico realizado por uma equipe (OLIVEIRA;VIDAL;BENCHEKROUN,2000).

Quadro1.3 Algumas disciplinas que constituem a ciênciaergonômicae suas contribuições

Disciplina Contribuiçãopara a ergonomia

Antropometria ebiomecânica Informações sobre asdimensões e os movimentos do


corpo humano.

Anatomia e fisiologia aplicada Dados sobre a estrutura e o funcionamento docorpo humano.

Psicologia Dados sobre os parâmetros do comportamento humano.

Higiene industrial, física, Conhecimento e estudo completo do sistemahomem-


estatística, etc. máquina-
-ambiente de trabalho, visando a uma melhor
adequação do trabalho aohomem.
Medicina do trabalho Prima pela qualidade de vida do trabalhador. De forma
ampla, sua aplicação está direcionada à busca de soluções
apropriadas aos usuários, sejam eles operadores de
equipamentos ou profis- sionaisquepermanecem por
longos períodosdiários namesma posição ou exercendo as
mesmas atividadeslaborais.

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Segundo Rasmussen (2000), a abordagem ergonômica transdisciplinar se justifica pelo avanço da
tecnologia, uma vez que a sociedade vem setornando cada vez mais dinâmica e integrada com o uso
extensivo da tecnolo- gia da informação. Um efeito evidente dessa transformação foi a diversificação
do trabalho. Quando as rotinas elementares são automatizadas, o domínio do trabalho individual se
amplia e as tarefas se deslocam para um nível cognitivo superior. A resolução de problemas, a
improvisação e criatividade passam a ser ingredientes fun- damentais do trabalho. Assim, hoje o
ergonomista deve projetar sistemas que permitam aos usuários formular com liberdade sua abordagem
para uma situação particular e selecionar o processo mental de acordo com as suas preferências
individuais. Oobjetivo do projeto, portanto, não deve ser estabelecer procedimentos norma- tivos para
o trabalho, mas criar um conjunto de recursos com o qual o operador possa trabalhar em liberdade,
semperder o apoio dosistema.

Em geral, a intervenção do ergonomista ocorre mediante a elaboração de um diagnóstico er-


gonômico do sistema de trabalho, que levanta problemas retrospectivos e prospectivos (veja o
quadro aseguir).

Quadro1.4 Alguns dos problemasretrospectivos eprospectivoslevantados pelo


ergonomista segundo Vidal(20--?)

Problemasretrospectivos Patologias relacionadas aotrabalho

Inadequação dos ambientes ou postos detrabalho

Técnicasde produção, formação ou inspeçãodeficitárias

Dificuldadeno uso oumanuseiodeprodutos,equipamentoou software


SegundoNaressi, Orenha e
Naressi(2013), ao realizar suas
Funcionamento inadequado de produtos, equipamento ousoftware
atividades, a maioriados
Problemasprospectivos Concepção de novos produtos, sistemas de produção ou de novas profissionais sepreocupacom
instalações oque está sendofeitoenão
com a maneira como está
Inovação nos equipamentos: mobiliário, maquinário, equipamentos e sendofeito. Assim,umdos
acessórios deveresdoergonomista é
promoveraconscientização
Implantação de novas tecnologias e/ou novos sistemasorganizacionais dousuário, ouseja, fazê-lo
desenvolverhabilidades
deautocorreção.A
Após a constatação da realidade, o ergonomista sugere alternativas, como reparos,
mudançacomportamental
elaboração de produtos que atendam às necessidades do público-alvo ou da população
éumagrandealiadada
analisada, adequação de instalações, implantação de novos sistemas de produção,
ergonomia.
emprego de equipamentos e/ou meca- nismos que atuem a contento. Assim, surgem
novas concepções e metodologias mais funcionais de trabalho, projetos de produtos,
softwareedemaisinstrumentos de trabalho.

11
Produtos

Tarefas Profissões
ERGONOMIA

Organizações Ambientes

Figura 1.4 Ergonomistas seasseguram de que tarefas, profissões, produtos, ambientes e sistemas
sejam compatíveis com asnecessidades, habilidades e limitações daspessoas.
Fonte: do autor.

Umapesquisa naliteratura da árearevelará que muitos autores consideram aergonomia uma ciência, já
que geradora de conhecimento, enquanto outros a consideram uma tecnologia, por seu caráter
prático, transformador. De qual- quer forma, é necessário compreender que o profissional de
ergonomia é, ao mesmo tempo, um cientista no estudo da realidade laboral e um especialista em sua
transformação positiva. É, ainda, um conselheiro imprescindível para o projeto de produtos e de
sistemas que serão usados e manuseados pelo homem. Por essa perspectiva, ergonomia, antes de mais
nada,éumaatitude profissionaltransdisciplinarque seagrega àprática de umaprofissãodefinida.

Classificações
Comopodemosver, o escopo dadisciplina éamploe,segundoVidal(20--?),hádiferentesmaneiras
de se lidar com os problemas ergonômicos. Essasmaneiras sãoclassificadas:
_ segundoaabordagem: ergonomiade produto eergonomiade produção;
_ segundo a perspectiva: ergonomia de concepção e ergonomia de intervenção;
_segundo a finalidade: ergonomia de correção, ergonomia de enquadramento, ergonomia de
remanejamento, ergonomia demodernização.

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