Science">
Ergonomia Pã¡ginas 1 12
Ergonomia Pã¡ginas 1 12
Ergonomia Pã¡ginas 1 12
Objetivos deaprendizagem
_Definir ergonomia e seus principais objetivos.
_Discutir fatos importantes da história da disciplina.
_Diferenciar microergonomia de macroergonomia.
_Explicarqual é o papel do ergonomista e aplicar os conceitosdiscutidos.
_Explicar por que a ergonomia é essencialmente transdisciplinar e
adotar uma abordagem transdiciplinar na práticaergonômica.
_Reconhecerasclassificações da disciplina, explicando asparticularidades de
cada uma.
_Identificar os ramos de atuação da ergonomia.
Afinal, o que é a Ergonomia?
Definições eobjetivos
De acordo com as condições em que as tarefas são desempenhadas e com o tempo
DEFINIÇÃO durante o qual o homem permanece na mesma posição, realizando determinadas
Cunhadoem1857 pelo atividades, podem surgir problemas como desconforto e fadiga. Esforços repetitivos e
naturalista polonês postura inadequada causam lesões e, para evitá-las, é necessário analisar a adequação do
WojciechJastrzebowski, o trabalho ao ser humano. Essa análise é o cerne da criação da ergonomia, disciplina que
conceito tradicionaldo essencialmente integrava as ciências biológicas (an- tropologia, psicologia, fisiologia,
termo ergonomia refere-se medicina, etc.) e a engenharia. Atualmente, a ergonomia é mais abrangente, contando
à análise a adequaçãodo com inúmeras áreas do conhecimento e sendo aplicada não somente no ambiente de
trabalho aoser humano, trabalho, masemqualquer produto que o homempossa utilizar.
esteja ele interagindo Osprincipais objetivos da ergonomia sãoasatisfaçãoeo conforto dosindivíduos eagarantia
comprodutos, sistemas ou de que a prática laboral eo uso do equipamento/produto não causemproblemas à saúde
processos. do usuário. Para isso, não se restringe a analisar a interação entre o operador e o
produto/equipamento, a atividade e o ambiente laborais, mas também engloba o
contexto organizacional, psicossocial e político de umsistema.
A ergonomia preocupa-se em garantir que o projeto (do produto, equipamento, sistemas,
etc.) complemente as forças e habilidades do homem, minimizando os efeitos das suas
limitações, em vez de forçá-lo a adaptar-se. Portanto, surge como contraponto ao método
Taylorista, que propõe a definição do método de trabalho mais eficiente, ao qual o homem
deveseadaptar.
Segundo Iida (2005), para que a ergonomia atinja seu objetivo, o ergonomista deve
entender e projetarconsiderando:
_o homem e as diversidades inerentes a ele, abarcando atributos como idade,
tamanho, força, habilidade cognitiva, experiência,culturaeobjetivos;
_a máquina, ou seja, todas as ferramentas, o mobiliário, os equipamentos e as
instalações;
_o ambiente,que contemplatemperatura,ruídos,vibrações,luzes,cores,etc.;
_ainformação, que serefere ao sistemade transmissãodasinformações;
_a organização, que constitui todos os elementos do sistema produtivo como horários,
turnos eequipes;
_as consequências do trabalho, que abarca todas as questões relacionadas com erros
eaci- dentes,além de fadiga eestresse.
2
Quadro1.1 Definiçõesdas principais associaçõesdeergonomia
Fonte Definição
CURIOSIDADE
Conforme a disciplina evoluiu, algumas variações na terminologia surgiram em diferentes países. Embora o termo
ergonomia seja muito utilizado na Austrália, no Brasil, na Europa e na Nova Zelândia, no Japão usa-se o termo
ergologia. NosEstados Unidos, foi adotado o termo fatores humanos (human factors). Embora os termos ergonomia
e fatores humanos sejam considerados sinônimos pelos profissionais, o uso popular parece ter ado- tado
significados diferentes. Fatores humanos tem sido empregado para denotar as áreas cognitivas da discipli- na
(percepção, memória, etc.), enquanto ergonomia parece se referir aos aspectos físicos (leiaute do ambiente de
trabalho, iluminação, temperatura, ruídos,etc.).
3
A Ergonomia nahistória
Embora a origem oficial da ergonomia date de 1949, quando o engenheiro inglês
Kenneth Frank Hywel Murrell oficializou a primeira sociedade de ergonomia do
mundo, a Ergonomic Research Society, os preceitos que atualmente regem a
ergonomia começaramnos primórdios da história da humanidade.
Supõe-se que na pré-história, portanto, o homem tenha adaptado a pedra às suas
necessidades, respeitando a anatomia da mão para tornar seu manuseio mais seguro e
eficaz. Essa suposição se baseia no formato dos utensílios daquela época, como as
ferramentas utilizadas para caça e defesa pessoal (Figura 1.1). De acordo com os
elementos que deveriam ser trabalhados e com ascaracterísticas dos trabalhadores, era
estabelecido um padrão (formato e dimensões) para as ferramentas, que também
eram feitas utilizandomadeiraeferro.
Inicialmente, esses problemas eram mais evidentes no setor militar, em que se exigia
muito dos operadores, tanto física quanto cognitivamente. Conforme os avanços
tecnológicos da Segunda Guerra Mundial eram aplicados ao cotidiano civil,
percebeu-se a dificuldade que as pessoas tinham de lidar com os equipamentos,
resultando numa performance pobre e aumentando a chance de erro humano. Isso
levou acadêmicos e psicólogos militares a realizarem pesquisas na área e,
posteriormente, investigações sobre a interação entre pessoas, equipamentos e
ambiente. Embora o foco inicial tenha sido ambientes de trabalho, a importância da
ergonomia foi gradualmente se tornando reconhecida em outras áreas, como no
projeto de produtos para consumidores (carrose computadores,p.ex.).
Em 1949, em um encontro de psicólogos e fisiologistas renomados, o termo ergonomia
foi cunhado. Mais tarde naquele ano, o mesmo grupo de cientistas formou a
Ergonomics Research Society (ERS), que se tornou a primeira sociedade mundial de
ergonomia.
De acordo com Hendrick (1993), a evolução da ergonomia a partir da Segunda
Guerra Mundial pode ser organizada em quatro fases, segundo a tecnologia
enfocada. Veja mais detalhes no Quadro1.2.
5
CURIOSIDADE
Tendo sido fundada por acadêmicos em 1949, na Inglaterra, a Ergonomics Research Society (Sociedade
de Pesquisa em Ergonomia) foi a primeira associação mundial de ergonomia. Em 1977, a ERSpassou a
chamar-se Ergonomics Society (ES), em reconhecimento ao crescente foco na aplicação profissional e
prática da ergonomia. Por fim, em 2009, passou a chamar-se Institute of Ergonomics and Human Factors,
para refletir o uso popular dos termos ergonomia e fatores humanos. Para ter acesso ao site oficial do
instituto,acesseo ambientevirtual de aprendizagemTekne.
Figura 1.3 Informe sobre a criação da Ergonomics Research Society publicado no British Medical Journal de
abril de1950.
Fonte: BROWNEet al.(1950).
6
Quadro1.2 Fasesda ergonomiasegundo Hendrick (1993)
Microergonomia versusmacroergonomia
Comomostrado no Quadro 1.2, durante os anos 1980, o foco do projeto industrial era aotimização
das interações entre o homem e seus ambientes imediatos de atividade. Por seu escopo restrito, a
açãoergonômica era chamadademicroergonomia.
7
Numa conjuntura micro, a ergonomia preocupa-se com os meios peculiares a cada
circunstância
de trabalho, ou seja, o posto de trabalho em si, uma situação específica, como os níveis de
IMPORTANTE
ruído de determinado equipamento, de iluminação de um laboratório ou de ventilação de
Ascaracterísticas da
um setor.
microergonomia remetem
à atuação humanaem Segundo Diniz e Guimaraes (2001), as avaliações ergonômicas que acontecem em uma
unidades moleculares abordagem microergonômica, com ênfase na adaptação física do posto de trabalho,
referentes aospostos de focam os problemas rela- cionados ao ambiente e à manipulação direcionados às posturas
trabalho, por meioda adotadas pelo trabalhador, o que com certeza deve fazer parte da ação ergonômica. No
análise dosprincípios do entanto, ao ressaltar unicamente aspectos isolados, como a adaptação de teclados e
homemouusuário esua monitores, por exemplo, e desconsiderar os fatos rela- cionados às causas-raiz do problema,
máquina ouseuambiente a abordagem puramente microergonômica é falha, indo de encontro à essência
(MEDEIROS,2005;
interdisciplinar da açãoergonômica.
MEISTER,1999). Para Hendrick (2006), com o objetivo de promover um melhor desempenho organizacional,
as in- tervenções da microergonomia devem estar em conformidade com as da
macroergonomia, tam- bém conhecida como ergonomia organizacional (veja a última
seçãodo capítulo).
Em uma conjuntura macro, a ergonomia está relacionada aos sistemas de produção como
um todo, à integração entre o ser humano e a máquina, atuando de forma conjunta e
apontando para um objetivo comum. A ligação ocorre por meio de um sistema de
comunicação.
Segundo Hendrick (1990), a análise macroergonômica remete à concepção
organizacional di- recionada à gestão de inovações tecnológicas, abrangendo os
enfoques social e empresarial, e prima pelo ajuste do sistema de trabalho e pela
percepção de novos sistemas. Com o intuito de obter maior índice de êxito em suas
implantações, o processo de participação dos trabalhadores acontece durante todo o
estudoergonômico,ou seja,nasetapas de percepção eimplantação dos projetos.
O papel do ergonomista e a
transdisciplinaridade daárea
Osergonomistas contribuem para o planejamento, o projeto e a avaliação de tarefas, os postos
de trabalho, os produtos, os ambientes e sistemas para torná-los compatíveis com as
necessidades,as habilidades easlimitações daspessoas.
Suas atividades podem variar segundo a área de atuação, como saúde e segurança,
transporte, ambiente de trabalho, projeto de produtos, etc. No entanto, as atividades são
sempre focadas em garantir que um sistema ou produto esteja de acordo com asnecessidades
dos usuários egeral- mente incluem, dentreoutras:
_Investigar ashabilidades físicas e psicológicas e aslimitações do corpo humano.
_Analisar como aspessoasutilizam os equipamentos e asmáquinas.
_Avaliar os riscos do ambiente de trabalho.
_Avaliar os ambientes de trabalho e seus efeitos nos usuários.
_Utilizar o resultado dessa avaliação para sugerir melhorias.
_Projetar soluções práticas para implementar essasmelhorias.
8
_ Produzir um manual do usuário para garantir que novos sistemas e produtossejam
utilizados da formacorreta.
_Produzir relatórios de achadoserecomendações ecompilar dados estatísticos.
_Aplicar conhecimento específico da fisiologia humana para otimizar o projeto de
produtos, comocarros,mobiliário organizacionaleespaçosde lazeredescanso.
_Entrevistar indivíduos e observá-los em um tipo específico de ambiente (de trabalho,
de lazer edescanso,etc.) comoparte doprocesso de pesquisa.
_Conversarcomtodos osfuncionários da organização para realizar apesquisa.
_Visitar uma ampla variedade de ambientes, como escritórios, fábricas, hospitais e
plataforma de petróleo, a fim de estimar padrões de saúde e segurança ou para
investigar acidentes no ambiente detrabalho.
_Avisar,informar etreinar colegaseclientes.
_Pesquisarsobre indústrias específicaseseussistemas de produção.
Para realizar todas essas atividades, os ergonomistas devem ter um conhecimento
avançado em diversos campos do conhecimento, como antropometria e
biomecânica, anatomia e fisiologia hu- manas, psicologia, engenharia e qualquer
outro campo que seja necessário à sua prática. Portanto, a ergonomia se trata de uma
disciplinatransdisciplinar.
Mas por que não dizer que a ergonomia deve ser multidisciplinar ou interdisciplinar?
Pararesolver essaquestão, vamosàsdefinições dos termos.
Multidisciplinaridade. Almeida Filho (2005) define multidisciplinaridade como um
conjunto de disciplinas que trata, simultaneamente, de uma dada questão, sem que os
profissionais implicados estabeleçam efetivas trocas entre si. Portanto, cada especialista
emprega sua metodologia, com base em suas hipóteses e teorias, e o objeto em
questão évisto sob múltiplos pontos de vista, numajustaposiçãodeconhecimentos.
Interdisciplinaridade. O prefixo inter, por si só, marca a presença de uma ação
recíproca de um elemento sobre o outro e vice-versa. Em uma equipe interdisciplinar,
há possibilidade de troca de instrumentos, técnicas, metodologia e esquemas
conceituais entre as disciplinas. Dessa forma, trata-se de um diálogo que leva ao
enriquecimento e transformação das disciplinas envolvidas. Segundo Almeida Filho
(2005), interdisciplinaridade implica na interação de diferentes disciplinas científicas sob
acoordenaçãode umadelas.
Transdisciplinaridade. A abordagem transdisciplinar busca resolver um problema do
mundo real com base na experiência acadêmica e não acadêmica, articulando os
conhecimentos a fim de propor soluções para o problema. Ou seja, transcende o
âmbito de cada disciplina e surge por meio de uma articulação que possibilita o
surgimento de uma nova visão da natureza eda realidade.
PARAREFLETIR
A ergonomia é uma única disciplina ou essencialmente transdisciplinar? A transdisciplinaridade pode oferecer
uma nova oportunidade de entendermos por que a prática profissional em ergonomia em um nível macro é tão
bem-sucedidaepor que osergonomistastêm tanta dificuldadeemdefinir adisciplina.
9
Como podemos ver, tratam-se de métodos diferentes. Namultidisciplinaridade, várias
disciplinas
cooperam com um projeto, mas cada qual trabalhando um aspecto do objeto com o seu
método. Na interdisciplinaridade, há situações em que uma disciplina nova adota
métodos de uma mais antiga. Na transdisciplinaridade, a tentativa é instaurar uma
metodologiaunificada.
No tocante à ergonomia, os profissionais da área devem deixar de contribuir da maneira
multidis- ciplinar clássica, cada um com sua contribuição segmentada, passando ainteragir
proativamente diante do problema a tratar. Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia
(2004, p.11):
[...] os problemas da realidade laboral não são exclusivos de quaisquer das disciplinas de
suporte e muito menos admitem reduções a estes olhares segmentados. O próprio
objeto da ergonomia, a atividade de trabalho, não é apenas fisiológico,
biomecânico cognitivo ou organizacional, mas sintetiza todos esses aspectos face ao
problema que é realizá-la com eficiência, conforto e segurança. O que significa dizer
que assoluções propostas devem serexaminadas por todosessesângulos.
Dessa forma, os profissionais da área devem priorizar o entendimento de todo o campo de
ação da disciplina, tanto em seusaspectos físicos ecognitivos quanto sociais, organizacionais,
ambientais, etc. Veja no quadro a seguir algumas disciplinas que constituem a ciência
ergonômica esuas contribuições.
EXEMPLO
Paracompreender melhor o conceito de transdisciplinaridade, utilizemos como exemplo um procedimento cirúrgico: do
cirurgião ao anestesista, do assistente ao instrumentador, em um dado momento, ninguém é mais importante do que o
outro, pois a falha de um pode significar o fracasso de toda a equipe. Então, não há um cirurgião auxiliado por uma
equipe, masantes um ato cirúrgico realizado por uma equipe (OLIVEIRA;VIDAL;BENCHEKROUN,2000).
10
Segundo Rasmussen (2000), a abordagem ergonômica transdisciplinar se justifica pelo avanço da
tecnologia, uma vez que a sociedade vem setornando cada vez mais dinâmica e integrada com o uso
extensivo da tecnolo- gia da informação. Um efeito evidente dessa transformação foi a diversificação
do trabalho. Quando as rotinas elementares são automatizadas, o domínio do trabalho individual se
amplia e as tarefas se deslocam para um nível cognitivo superior. A resolução de problemas, a
improvisação e criatividade passam a ser ingredientes fun- damentais do trabalho. Assim, hoje o
ergonomista deve projetar sistemas que permitam aos usuários formular com liberdade sua abordagem
para uma situação particular e selecionar o processo mental de acordo com as suas preferências
individuais. Oobjetivo do projeto, portanto, não deve ser estabelecer procedimentos norma- tivos para
o trabalho, mas criar um conjunto de recursos com o qual o operador possa trabalhar em liberdade,
semperder o apoio dosistema.
11
Produtos
Tarefas Profissões
ERGONOMIA
Organizações Ambientes
Figura 1.4 Ergonomistas seasseguram de que tarefas, profissões, produtos, ambientes e sistemas
sejam compatíveis com asnecessidades, habilidades e limitações daspessoas.
Fonte: do autor.
Umapesquisa naliteratura da árearevelará que muitos autores consideram aergonomia uma ciência, já
que geradora de conhecimento, enquanto outros a consideram uma tecnologia, por seu caráter
prático, transformador. De qual- quer forma, é necessário compreender que o profissional de
ergonomia é, ao mesmo tempo, um cientista no estudo da realidade laboral e um especialista em sua
transformação positiva. É, ainda, um conselheiro imprescindível para o projeto de produtos e de
sistemas que serão usados e manuseados pelo homem. Por essa perspectiva, ergonomia, antes de mais
nada,éumaatitude profissionaltransdisciplinarque seagrega àprática de umaprofissãodefinida.
Classificações
Comopodemosver, o escopo dadisciplina éamploe,segundoVidal(20--?),hádiferentesmaneiras
de se lidar com os problemas ergonômicos. Essasmaneiras sãoclassificadas:
_ segundoaabordagem: ergonomiade produto eergonomiade produção;
_ segundo a perspectiva: ergonomia de concepção e ergonomia de intervenção;
_segundo a finalidade: ergonomia de correção, ergonomia de enquadramento, ergonomia de
remanejamento, ergonomia demodernização.
12