Folhas Da Arvore Bodhi
Folhas Da Arvore Bodhi
Folhas Da Arvore Bodhi
Publicações Sumedhārāma
www.sumedharama.pt
ISBN 978-989-8691-37-8
Veja página 133 para mais detalhes sobre direitos e restrições desta licença.
Nota de Edição v
Sammā Samādhi 1
Ajahn Chah
A Perspectiva da Floresta 23
Ajahn Amaro
Reparar no Espaço 43
Ajahn Sumedho
Plasticidade Cerebral 53
Ajahn Vajiro
O Incondicionado 63
Ajahn Sumedho
Liberdade na Restrição 83
Ajahn Sundara
A Prática da Minhoca 93
Ajahn Ñāṇarato
Ser Ninguém 99
Ajahn Sumedho
iii
NOTA DE EDIÇÃO
v
FOLHAS DA ÁRVORE BODHI
1
2 Folhas da Árvore Bodhi
Sammā Samādhi 3
4 Folhas da Árvore Bodhi
1
O nível de nada, uma das “absorções sem forma”, por vezes chamada de sétimo
jhāna ou absorção.
2
Bimba, ou Princesa Yasodhara, a ex-mulher do Buddha; Rahula, o seu filho.
Sammā Samādhi 5
6 Folhas da Árvore Bodhi
Quando o Buddha viu isto percebeu que realmente a prática não diz
respeito ao corpo mas sim à mente. Attakilamathanuyogo auto-mor-
tificação – o Buddha tinha-a experimentado e percebeu que esta
limitava-se ao corpo. Na verdade, a iluminação de todos os Buddhas
acontece na mente.
Quando consideramos o corpo ou a mente, podemos colocar ambos
no mesmo “saco”, no “saco” do Transitório, Imperfeito e Não-eu
– aniccam, dukkham, anatta. Eles são simples condições da Natu-
reza, surgem, dependendo de factores de suporte, existem por um
período de tempo e depois acabam. Quando existem condições
apropriadas, elas voltam, existem por um período de tempo e depois
acabam outra vez. Estas coisas não são um “eu”, um “ser”, um “nós”
ou um “eles”. Não existe ninguém nessas coisas, apenas sensações.
A felicidade não tem um “eu” intrínseco, o sofrimento não tem um
“eu” intrínseco. Nenhum “eu” pode ser encontrado, pois são simples
elementos da natureza que começam, existem e acabam, passando
por este constante ciclo de mudança.
Todos os seres humanos tendem a identificar-se com o que surge,
com o que existe e com o que cessa. Agarram-se a tudo. Não querem
que as coisas sejam da forma como estão e também não querem que
seja deferente. Por exemplo, tendo começado, (eles) não querem
que as coisas terminem; tendo experienciado felicidade, (eles) não
querem sofrimento. Se surge o sofrimento, querem que este acabe
o mais rapidamente possível e seria ainda melhor que não voltasse
de todo. Isto é assim porque eles vêm o corpo e a mente como
sendo eles próprios, ou como pertencendo-lhes e portanto exigem
que estas coisas sigam as suas vontades.
Este tipo de raciocínio é como construir uma barragem ou um dique
sem construir uma passagem para deixar fluir a água. O resultado
é que a barragem rebenta. E o mesmo acontece com este tipo de
raciocínio. O Buddha viu que pensar desta forma é a causa para o
sofrimento. Vendo a causa, o Buddha abandonou-a.
Esta é a Nobre Verdade da Origem do Sofrimento. As Verdades do
Sofrimento, da sua Origem, da sua Cessação e do Caminho que leva a
essa Cessação…as pessoas ficam presas justamente aí. Se as pessoas
tiverem que ultrapassar as suas dúvidas é precisamente aqui que
o farão. Ao ver que as coisas são simplesmente rūpa e nāma, ou
corporalidade e mentalidade, torna-se óbvio que elas não são um
ser, uma pessoa, um “nós” ou um “eles”. Elas seguem simplesmente
as leis da Natureza.
A nossa prática é conhecer as coisas desta forma. Não temos real-
mente o poder de as controlar, não somos os seus donos. Tentar
controlar traz sofrimento, pois na verdade elas não são nossas para
que as possamos controlar. O corpo e a mente não somos nós, nem
os outros. Se soubermos esta realidade podemos ver claramente.
Vemos a verdade, somos um com ela. É como ver um pedaço de ferro
quente, vermelho, aquecido na fornalha. Todo ele está quente. Quer,
lhe toquemos em cima, quer, em baixo ou dos lados, está sempre
quente. Não importa onde lhe tocamos, está quente. É desta forma
que deveríamos compreender as coisas.
Quando começamos a praticar, basicamente queremos obter ou atin-
gir algo - saber e ver - mas ainda não sabemos o que é que vamos
atingir ou saber. Havia um discípulo meu cuja prática estava repleta
de dúvidas e confusão. Mas ele continuou a praticar e eu continuei
a instruí-lo até ele começar a encontrar alguma paz. Mas quando
ele, eventualmente, ficava um pouco mais calmo, levantava-se e
perguntava “O que faço a seguir?” Pronto! Surgia novamente a
confusão. Ele dizia que queria paz, mas quando a alcançava não a
queria e perguntava o que fazer a seguir.
Nesta prática devemos fazer tudo com desapego. Como nos desa-
pegamos? Desapegamo-nos quando vemos as coisas claramente.
Conhecer as características do corpo e da mente tal como são. Medi-
tamos para encontrarmos paz, mas ao fazê-lo vimos aquilo que não
é pacífico. Isto acontece porque a natureza da mente é movimento.
Sammā Samādhi 7
8 Folhas da Árvore Bodhi
Sammā Samādhi 9
10 Folhas da Árvore Bodhi
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1
Rūpa: objectos materiais ou físicos; nāma: objectos imateriais ou mentais. Os
constituintes físicos e mentais do ser.
fica cansada; cansada do corpo e dela própria, cansada de coisas
que surgem e cessam e que são transitórias. Quando a mente se
“desencanta” procura uma forma de largar todas estas coisas. Já não
quer ficar presa a coisas, apercebe-se da falta de nexo deste mundo
e da falta de nexo do nascimento.
Quando a mente vê assim, onde quer que estejamos vemos aniccam
(Transitoriedade), dukkham (Imperfeição) e anatta (Não-eu). Não
resta nada ao qual nos agarrarmos. Quer nos sentemos debaixo de
uma árvore, quer no topo de uma montanha ou num vale, consegui-
mos ouvir o ensinamento do Buddha. Todas as árvores parecerão
uma, todos os seres serão Um, não haverá nada de especial acerca de
nenhum deles em particular. Todos eles começam, existem durante
um período, envelhecem e morrem.
Vemos então o corpo e a mente com mais clareza e o mundo de
forma mais nítida. Eles tornam-se mais claros à luz da Transito-
riedade, à luz da Imperfeição e à luz do “Não-eu”. Se as pessoas
se agarrarem seguramente às coisas, sofrem. É assim que começa
o sofrimento. Se virmos que o corpo e a mente são simplesmente
como são, não surge sofrimento algum, porque não nos agarramos
de imediato a eles. Em qualquer lugar temos sabedoria. Até mesmo
ao observar uma árvore podemos observá-la à luz da sabedoria.
Olhar para a relva e para os vários insectos torna-se alimento para
reflexão. Quando chega a este ponto vai tudo para o mesmo “saco”.
É tudo Dhamma. Tudo é invariavelmente transitório. Esta é a ver-
dade, este é o verdadeiro Dhamma, isto é uma certeza. Como pode
ser uma certeza? É uma certeza no sentido de que o mundo é assim e
nunca poderá ser de outra forma. Não existe nada mais nele do que
isto. Se conseguirmos ver isto, então terminamos a nossa jornada.
No Budismo, no que respeita a pontos de vista, diz-se que achar
que somos mais tolos que os outros, está errado; achar que somos
iguais aos outros, está errado; e achar que somos melhores que os
outros, está errado… porque não existe nenhum “nós”. Precisamos
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NIBBĀNA, AQUI E AGORA
ajahn sumedho
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1
Catch 22 é um livro de Joseph Heller, onde predomina uma lógica auto-contra-
ditória, repleta de paradoxos e contra-sensos, sendo circular e repetitiva; a irraci-
onalidade lógica prevalece em todo o livro. Daí a analogia, por não conseguirmos
chegar a um consenso devido à limitação das palavras e percepções.
da qual não se pode ir. É muito simples, muito directo e impossível
de ser concebido. Temos de confiar nisso, temos de confiar nesta
simples capacidade que todos possuímos de estarmos totalmente
presentes e totalmente despertos, e começar a reconhecer o apego
e as ideias que temos sobre nós mesmos, sobre o mundo à nossa
volta, sobre os nossos pensamentos, percepções e sentimentos. O
caminho da plena atenção é o caminho do reconhecimento das
condições tal como elas são. Reconhecemos simplesmente a sua
presença, sem as julgar, criticar ou louvar. Aceitamos a sua presença,
quer sejam condições positivas quer negativas. E, à medida que
vamos confiando cada vez mais nesta consciência ou plena atenção,
começamos a experienciar a realidade de “a ilha para além da qual
não podemos ir”.
Quando comecei a praticar meditação, a ideia que tinha de mim era
a de alguém que estava muito confuso. Queria sair desta confusão
e livrar-me dos meus problemas, e tornar-me alguém com um pen-
samento lúcido, que poderia um dia tornar-se iluminado. Foi isso
que me levou à meditação budista e à vida monástica. Mas depois,
reflectindo nesta posição de que “sou alguém que precisa de fazer
algo”, comecei a ver isso como uma condição criada - uma ideia que
eu tinha criado. E se eu actuasse a partir desse pressuposto, ainda
que pudesse vir a desenvolver todo o tipo de aptidões e viver uma
vida louvável, boa e benéfica para mim e para os outros, no fim
da história, poder-me-ia sentir bastante desapontado por não ter
atingido o objectivo do Nibbāna.
Felizmente que na vida monástica tudo é direccionado para o
momento presente. Estamos sempre a aprender a pôr à prova as
nossas ideias sobre de nós mesmos e a vermos para além das mesmas.
Um dos maiores desafios é enfrentar a ideia de que “sou alguém que
precisa de fazer algo para se tornar iluminado no futuro”, através
do simples reconhecimento disso, como uma assunção criada por
nós. Aquilo que é consciente em nós, sabe que essa ideia é algo
1
Rigpa: é o conhecimento proveniente da realização da nossa própria natureza,
quando realizamos e sabemos que existe uma liberdade primordial, anterior à nossa
identificação com a mente.
23
24 Folhas da Árvore Bodhi
É fácil ficar muito ocupado com a vida espiritual, até mesmo com-
pelido e obcecado. Durante os primeiros 10 anos da minha vida
monástica tornei-me um monge, até certo ponto fanático. Isto pode
parecer um paradoxo, mas não é de forma nenhuma impossível. Eu
tentava fazer tudo a 120 por cento.
Levantava-me de manhã muito cedo e fazia todo o tipo de práticas
ascéticas, todos os tipos de pujas especiais e coisas do género. Nem
sequer me deitava; não me deitei para dormir durante cerca de três
anos. Por fim dei-me conta que estava a fazer coisas a mais e não
havia nenhuma noção de espaço interno ao longo do dia.
Estava desesperadamente ocupado com a meditação. Durante
aquela época, a minha vida estava completamente preenchida.
Estava sempre um pouco empertigado e agitado. Não conseguia
sequer comer ou atravessar o pátio sem que isso fosse um problema.
Por fim questionei-me: “Porque estou a fazer isto? É suposto viver
esta vida em paz, para a realização, para a libertação, e no entanto
os meus dias estão todos atafulhados.”
Eu já devia ter percebido a mensagem há muito tempo. Costumava
sentar-me no chão duro, sendo o uso de um zafu (almofada para
meditação) um sinal de fraqueza para mim. Uma das monjas ficou
tão farta de me ver adormecer durante todas as sessões que aproxi-
mou-se e perguntou, “Posso lhe oferecer uma almofada, Ajahn?”
“Não muito obrigado, não preciso.”
Ela respondeu, “Eu acho que o Ajahn precisa.”
Finalmente, fui ter com o Ajahn Sumedho e disse, “Decidi abrir
mão das minhas práticas ascéticas. Vou simplesmente seguir a
rotina habitual e fazer tudo de modo absolutamente normal.” Foi a
primeira vez que o vi ficar empolgado. “Finalmente!” foi a resposta
dele. Pensei que ele fosse dizer, “Bem, se achas que sim….”
Ele estava à espera que eu percebesse que o importante não era a
quantidade de coisas que eu fazia, as horas que passava sentado
em meditação, a quantidade de mantras que recitava ou o quão
estritamente eu seguia as regras. O que importava era incorporar o
espírito do não-devir e do não-lutar em tudo o que fazia. De repente
percebi que a importância do não-lutar era algo que Ajahn Sumedho
havia ensinado por muitos anos; eu simplesmente tinha estado a
ouvir.
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A Perspectiva da Floresta 27
28 Folhas da Árvore Bodhi
O Buddha é Consciência
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A Perspectiva da Floresta 31
32 Folhas da Árvore Bodhi
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34 Folhas da Árvore Bodhi
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38 Folhas da Árvore Bodhi
Investigação Reflectiva
Investigação Reflectiva era outro dos métodos que Ajahn Chah cos-
tumava empregar para manter o conhecimento, ou devemos dizer,
manter o Conhecimento Correcto. Ela envolve o uso deliberado do
pensamento para investigar os ensinamentos, bem como certos ape-
gos, medos e esperanças e especialmente o próprio sentimento de
identificação. Ele falava sobre isto quase como se tivesse a dialogar
consigo próprio.
O pensamento é frequentemente retratado como o grande vilão nos
círculos de meditação: “Pois é, a minha mente… Se pelo menos
conseguisse deixar de pensar, então seria feliz.” Mas na verdade, a
mente pensante pode ser o mais maravilhoso dos auxiliares quando
usada da forma correcta, particularmente quando se investiga o sen-
timento de individualidade. Quando desprezamos desta forma o uso
do pensamento conceptual, perdemos uma oportunidade. Quando
estiverem a experimentar, a ver ou a fazer algo, coloquem uma
questão do tipo: “O que é que está consciente dessa sensação? Quem
é o detentor deste momento? O que é que sabe rigpa?”
O uso deliberado do pensamento (investigação reflectiva) pode reve-
lar um conjunto de assumpções inconscientes, hábitos e compor-
tamentos compulsivos que realizamos. Isto pode ser muito útil e
pode produzir grandes realizações interiores (insights). Podemos
estabelecer a nossa atenção de forma plena, estável e aberta e depois
perguntar: “O que é que percebe isso? O que está consciente deste
momento? Quem é que está a sentir a dor? Quem está a ter esta
fantasia? Quem está a pensar acerca do jantar?” Nesse momento
abre-se uma fissura. Milarepa certa vez disse algo nesse sentido:
“Quando o fluxo do pensamento discursivo é interrompido, abre-se
o portal para a libertação.” Exactamente da mesma forma, quando
colocamos este tipo de perguntas, é como aplicar uma punção ao
emaranhado nó da identificação, afrouxando os seus fios. Isto que-
bra o hábito, quebra o padrão do pensamento discursivo. Quando
perguntamos “quem” ou “o quê”, por um instante a mente pensante
tropeça, fica baralhada. Nesse espaço, antes que ela possa formular
uma resposta ou uma identidade, existe paz e liberdade intemporais.
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Medo da Liberdade
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Mente “espacial”
O som do silêncio
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48 Folhas da Árvore Bodhi
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PLASTICIDADE CEREBRAL
ajahn vajiro
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56 Folhas da Árvore Bodhi
queremos confiar neste processo então ele tem de ser levado a cabo
com todo o coração. Tem de haver a noção de que isto é o mais
importante. Se realmente quisermos voltar atrás e programar e
alterar as conexões neuronais da mente, temos de ter em atenção
que uma das coisas que os cientistas dizem é que se fizermos algo
sem muita atenção, sem nos entregarmos por inteiro ao que estamos
a fazer, então as conexões neuronais não se alteram, os neurónios
não se reorganizarão; o processo não ocorre por completo. Deve
haver uma total entrega para o cérebro realmente mudar. Para
aprendermos algo de novo temos de ter completa atenção, temos
de estar totalmente presentes. Tarefas múltiplas não resultam para
este tipo de alterações cerebrais. Temos de estar focados e ser
persistentes. É realmente interessante quando estamos a fazer algo
estarmos completamente entregues a isso. Muitos dos famosos
professores dir-vos-ão que esta transformação não ocorre se não
estiverem inteiros no que estão a fazer. Tem na verdade de ser uma
“questão de vida ou de morte”. Para que isto realmente funcione
tem de haver “suor e lágrimas”. E certamente, se quiserem aprender
os cânticos e saberem-nos de cor, têm de permitir que eles vos
transformem. Deve haver um verdadeiro empenho envolvido no
processo.
Para mim aprender os cânticos de cor tem sido algo muito revela-
dor. Lembro-me de quando era um jovem adulto estudante, pensar
que decorar coisas era estúpido, “não-inteligente”, como um tipo
inferior de aprendizagem. No meu tempo era considerado o que
pessoas estúpidas faziam. Também achava não ser capaz de o fazer.
Lembro-me claramente de pensar “Nunca serei capaz de decorar
nada”. E claro, por essa altura também já havia esquecido do pouco
de poesia que havia decorado. Quando me tornei parte da comu-
nidade monástica também pensei muito sinceramente que decorar
os cânticos era impossível mas decidi que pelo menos iria tentar.
E assim o fiz. Aprendi o mais fácil dos cânticos – Yan dunnimitam
avamagalañca Yo cāmanāpo – qualquer pessoa que folheie o livro
dos cânticos pode ver que este é um dos cânticos mais curtos que
podemos possivelmente aprender e que consiste em três repetições
nas quais apenas temos de alterar uma palavra. Portanto aprendi-o.
Levou-me um dia completo de obsessão para o aprender e percebi
que o conseguia fazer. Foi um começo. Decidi então decorar algo
que queria aprender e o seguinte, penso ter sido o Sutta Karanya-
metta. Nessa altura eu era Anagarika1 . Comecei a perceber o que
é necessário para decorar algo e uma das primeiras coisas com que
me deparei foram os obstáculos que nos impedem de o fazer. Isso é
Dhammanusati, tal como já devem ter ouvido, isto são, “Os quatro
alicerces da consciência” e o primeiro aspecto de Dhammanusati,
que é bastante claro, são os obstáculos. E o que é que impede de
concentrarmo-nos em algo? É muito interessante. Começamos a
observar a tendência para sentir aversão, para a distracção, para a
inquietação - pensando que não sabemos o que fazer - simplesmente
querendo ir dormir. Podemos então ver tudo isso de forma bastante
clara e começamos a perceber como a mente funciona.
Comecei também a perceber como as coisas se interligam na mente,
como a memória se processa e como é que as informações são
assimiladas. As pessoas acham que eu sei bastante bem a maior
parte dos cânticos, mas isso não é completamente verdade. Sei
um pouco de alguns deles. Coloco uma enorme quantidade de
esforço em algumas coisas. Não acho fácil, nunca achei, mas sei o
que é necessário para o fazer. Se assumo esse compromisso então
sei que pode ser feito. Já não tenho essa dúvida. Simplesmente
sei que requer esforço da minha parte e confio nisso, apesar de
não ser necessariamente fácil para mim. Faço esse esforço e estou
preparado para o fazer, pois sei que quando o realizamos, algo de
1
Anagarika: no Budismo Theravada um(a) Anagarika(ā) (lit. “sem lar”) é aquele
que deixou a maioria das suas posses e responsabilidades para se dedicar a tempo
inteiro à prática budista. É o primeiro estágio da ordenação monástica, anterior à
ordenação de monge noviço. O Anagarika vive sob os Oito Preceitos.
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1
Pāṭimokkha: é o código básico da disciplina monástica Theravada, consistindo
em 227 regras para os monges (bhikkhus) e de 311 para as monjas (bhikkhunis).
Encontra-se no Suttavibhanga, uma das divisões do Vinaya Pitaka. É recitado pela
comunidade monástica na lua cheia e na lua nova.
plástico. Através de treino, o cérebro pode tornar-se mais eficiente
e eu desejo-vos o melhor no vosso treino para a total libertação de
toda a confusão.
Evam.
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O INCONDICIONADO
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LIBERDADE NA RESTRIÇÃO
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A PRÁTICA DA MINHOCA
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SER NINGUÉM
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Penso que há algo comum que interessa a todos – uma vez que somos
nós próprios o tema das nossas vidas. Temos naturalmente este
interesse, pois temos que viver connosco a vida inteira, independen-
temente da opinião que possamos ter sobre nós mesmos. A nossa
percepção pessoal pode ser assim algo que nos traga muitas dificul-
dades se nos virmos da maneira errada. Mesmo sob circunstâncias
confortáveis, se não nos virmos da maneira correcta, acabaremos
por criar sofrimento nas nossas mentes. Buddha salientou que a
maneira de resolver o problema não passa por tentar fazer com que
tudo corra bem e seja agradável na dimensão exterior, mas antes
o desenvolvimento da compreensão correcta e da atitude correcta
perante nós mesmos. É aqui que está toda força do seu ensinamento.
Ao vivermos em Inglaterra, nesta época, esperamos conforto e todo
o tipo de direitos e privilégios. Isto torna a vida mais agradável
de várias maneiras, mas quando todas as nossas necessidades estão
garantidas e a vida é confortável, algo em nós não se desenvolve.
Por vezes é a luta contra as adversidades que nos faz desenvolver
e amadurecer como seres humanos. Recordo-me de que quando
vivia em Londres, costumava caminhar no “Hampstead Heath” pela
manhã e observar as pessoas mais abastadas a levar os seus cãe-
zinhos a passear no “Heath”. Pensava então, que não seria assim
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118 Folhas da Árvore Bodhi
Esta é uma pergunta que todos devemos fazer a nós mesmos, quer,
sejamos monges, monjas, noviços quer, visitantes. Porque viemos?
Precisamos de ser claros sobre isto no sentido de tirar o maior
benefício daquilo que um mosteiro tem para oferecer. Se, de facto,
isto não for claro, podemos desperdiçar muito tempo a fazer coisas
que podem diminuir os benefícios que são aqui encontrados.
O Buddha falou de três fogos, três obstáculos que afligem os seres
humanos. Essas três coisas fazem-nos agir constantemente, nunca
nos dão oportunidade para descansar ou descontrair; elas são, a
cobiça, o ódio e a ilusão, em língua Palī, lobha, dosa e moha. O Buddha,
também por compaixão, apontou qual era o antídoto. Na verdade
estes três fogos são baseados em instintos naturais. Por exemplo, a
avidez ou o desejo sensual, a energia sexual e o desejo por comida
são aquilo que permite ao ser humano sobreviver. Sem o desejo
sexual, nenhum de nós estaria aqui agora! E, obviamente, também
sem fome ou desejo por comida não seríamos levados a ingerir a
nutrição que necessitamos para manter o corpo em razoável estado
de saúde. Contudo, a dificuldade surge, quando perdemos a sensibi-
lidade sobre o que é necessário e procuramos a gratificação sensual
por si só.
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O licenciante não pode revogar estes direitos desde que respeite os termos da
licença.
Avisos:
Não tem de cumprir com os termos da licença relativamente a elementos do
material que estejam no domínio público ou cuja utilização seja permitida por uma
expceção ou limitação que seja aplicável.
Não são dadas quaisquer garantias. A licença pode não lhe dar todas as autorizações
necessárias para o uso pretendido. Por exemplo, outros direitos, tais como direitos
de imagem, de privacidade ou direitos morais, podem limitar o uso do material.
As Publicações Sumedhārāma são parte do “Budismo Theravada da Floresta –
Comunidade Religiosa”, uma Pessoa Colectiva Religiosa registada em Portugal com
o NIPC 592010040.
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