1a Serie Apostila Literatura Vol 4 PDF
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Módulo 16 1ª Série
O Arcadismo
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máxima inglesa está relacionada a um estilo de vida que é mais
comum entre os jovens, em que o mais importante é aproveitar
cada momento. Desse modo, é importante diferenciá-los, já que
YOLO remete a atitudes de riscos não calculados e comportamentos
irresponsáveis – o que não acontece no contexto do Arcadismo.
Objetivos:
Neste módulo, além dos lemas árcades como o “Carpe Diem”,
– Apresentar as características históricas do Arcadismo;
você aprenderá as principais características dessa escola literária C5 – demonstrar como a propagação das ideias iluministas influenciou
que tanto nos influencia até hoje. a estética desse movimento artístico.
1. Contexto histórico saber. Não um saber qualquer, desinteressado (se é que esse tipo de
saber tenha alguma vez existido), mas um saber científico e espe-
Conforme visto nos módulos anteriores, os efeitos da Contrar- cializado. Graças a esse saber, os homens estariam livres do medo
reforma se estenderam do século XVI ao século XVII, criando um e seriam transformados em senhores; seus mitos seriam anulados
cenário propício para o surgimento da arte barroca. Porém, no final e sua imaginação dissolvida; as práticas supersticiosas e a crença
do século XVII, os ventos começaram a soprar em outra direção. cega no feitiço seriam superadas. Mais: a crença na superioridade
Era o início de uma mudança na visão religiosa de mundo e da do outro seria deixada de lado; o conhecimento verdadeiro deveria
vida, que faria o homem passar a buscar na terra – e não no céu – as ser buscado sempre para que as certezas fáceis e não questionadas
explicações para questões que tanto o instigavam. fossem postas em causa. Finalmente – sempre à custa do poderoso
As descobertas de Isaac Newton sobre a gravitação universal instrumento que abriga a superioridade humana – a subordinação
e o movimento dos corpos deram força à pesquisa científica. Com à natureza seria eliminada, a partir de seus próprios exemplos.
isso, a explicação dos fenômenos por meio da religião começou a Assim, a natureza seria colocada a serviço dos homens, o que,
perder espaço, dando lugar à vontade de entender o mundo a partir evidentemente, e no final das contas, permitiria estender esse
de explicações racionais. Além de Newton, filósofos como Spinoza, domínio também aos homens, pois saber também é poder.”
John Locke e Descartes também davam sua contribuição para a MICELI, Paulo. As revoluções burguesas. 2. ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 48-9
mudança de mentalidade.
No século XVIII, tal movimento de crença na racionalidade É importante destacar que Deus continuava sendo considerado
ganhou ainda mais força, regendo grandes pensadores como o criador de todo o universo. No entanto, a partir da valorização da
Voltaire, Diderot e Rousseau. Para eles, o homem estava finalmente pesquisa científica, abriu-se a possibilidade de atribuir pequenos
caminhando em direção à luz, depois de ter passado tantos séculos fenômenos a outras causas que não fossem a divina. O que
no obscurantismo e na ignorância. A luz era, portanto, uma aconteceu, consequentemente, foi a valorização do ser humano,
metáfora para o saber, e, por essa razão, esse movimento cultural de alçado à condição de criatura capaz de estudar, compreender e,
valorização do conhecimento científico e da racionalidade recebeu ainda, controlar os fenômenos naturais.
o nome de Iluminismo ou Ilustração. Nesse contexto, a natureza ganhou destaque, pois passou a ser
Sobre ele, é possível ainda ler um pouco mais: considerada exemplo maior de harmonia e equilíbrio. Em oposição
“Contra a tradição e o pensamento autoritário, o Iluminismo à artificialidade das cidades, que estavam se desenvolvendo de
propunha o uso da razão, e uma nova divindade instalou-se no forma cada vez mais intensa e desorganizada, o campo figurava
espaço que os homens sempre possuem para abrigar seus mitos: o como um lugar perdido. Essa nostalgia contribuía ainda mais para
a sua idealização.
36 LITERATURA
1ª Série Módulo 16
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meio do século e traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da
nobreza e do clero (Ilustração).”
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 36 ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
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época, inclusive dos escritores árcades, é o Discurso sobre
a origem da desigualdade entre os homens. Nela, Rousseau
contrapõe a vida natural e seus valores à vida civilizada e
seus vícios. Ele glorifica também a liberdade de que gozava o
selvagem em seu estado natural, opondo-a aos artificialismos
do homem civilizado. Daí nasce o mito do bom selvagem, que
defende a tese de que o homem nasce bom, mas é corrompido
pela vida em sociedade.
2. O Arcadismo
O século XVIII foi marcado não só por esse momento ideo-
lógico, o Iluminismo, como também pelo momento poético, o
Arcadismo. Como não poderia deixar de ser, ambos apresentavam
muitas características em comum, mas não podem ser confundidos: O pequeno parque, de Jean-Honoré Fragonard.
“Importa, porém, distinguir dois momentos ideais na litera-
tura dos Setecentos para não se incorrer no equívoco de apontar Para manter a coerência com o espaço retratado em seus
contrastes onde houver apenas justaposição: a) o momento poético poemas, os poetas árcades adotavam pseudônimos pastoris,
que nasce de um encontro, embora ainda amaneirado, com a ou seja, passavam a se identificar como pastores. Também eram
natureza e os afetos comuns dos homens, refletidos através da retratadas como tal as musas que apareciam em seus versos. O uso
O Arcadismo LITERATURA 37
Módulo 16 1ª Série
dos pseudônimos não só garantia maior verossimilhança, como 2.1.1 Os lemas árcades
deixava encobertas as origens – nobres ou plebeias – dos escritores.
Lema consiste em uma frase que serve de guia para determinado
Dessa forma, pelo menos no campo artístico, as diferenças sociais
indivíduo ou grupo. No que se refere aos lemas latinos nos quais se
eram dissolvidas.
baseou o estilo árcade, é possível destacar cinco:
Quando matiza
Co’a a folha a flor. Ali não há fortuna, que soçobre;
Um pouco meditemos
Poema da circunstância
Na regular beleza,
Onde estão os meus verdes?
Que em tudo quanto vive, nos descobre
Os meus azuis?
A sábia natureza.
O Arranha-céu comeu!
Atende, como aquela vaca preta
E ainda falam nos mastodontes, nos brontossauros,
O novilhinho seu dos mais separa,
nos tiranossauros,
E o lambe, enquanto chupa a lisa teta.
Que mais sei eu...
Atende mais, ó cara,
Os verdadeiros monstros, os Papões, são eles, os arranha-céus!
Como a ruiva cadela
(...)
Suporta que lhe morda o filho o corpo,
Defronte
E salte em cima dela.
À janela onde trabalho
Há uma grande árvore... Repara, como cheia de ternura
Mas já estão gestando um monstro de permeio! Entre as asas ao filho essa ave aquenta,
Sim, uma grande árvore... Como aquela esgravata a terra dura,
Enquanto há verde, E os seus assim sustenta;
Pastai, pastai, olhos meus... Como se encoleriza,
Uma grande árvore muito verde... Ah! E salta sem receio a todo o vulto,
Todos os meus olhares são de adeus Que junto deles pisa.
Como o último olhar de um condenado!
QUINTANA, Mário. In: Antologia poética de Mário Quintana. Rubem Braga (sel).
Que gosto não terá a esposa amante,
Rio de Janeiro:Ed. do Autor, s.d. p. 112.
Quando der ao filhinho o peito brando,
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• Locus amoenus
Significa lugar ameno, local caracterizado pela tranquilidade.
Contrapõem-se ao espaço urbano, marcado pela desordem. Na
poesia árcade, os amantes geralmente se encontram em um lugar
assim. Nele, podem apreciar a natureza e com ela aprender.
Lira XIX
Aonde brincava,
Enquanto pastava 2.2 Características formais
O manso rebanho, A linguagem árcade se opõe diretamente à linguagem barroca.
Que Alceu me deixou? Como visto nos módulos anteriores, os textos barrocos estavam
São estes os sítios? cheios de figuras de linguagem e possuíam vocabulário rebuscado.
São estes; mas eu Os poemas árcades, por sua vez, defendem sobretudo a simplici-
dade da linguagem, posicionando-se de forma contrária a qualquer
O mesmo não sou.
artificialidade verbal.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.
GONZAGA, Tomás Antônio. In: A poesia dos inconfidentes.
Domício Proença Filho (Org.). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. Fragmento
40 LITERATURA
1ª Série Módulo 16
Sabe-se que o
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movimento árcade no Brasil
teve diretas influências Fatigado de calma se acolhia
dos movimentos literários
Junto o rebanho à sombra dos salgueiros
lusitanos. Em Portugal, o
Arcadismo teve início em E o Sol, queimando os ásperos oiteiros,
1757 quando a “Arcádia Com violência maior no campo ardia.
Lusitana” foi fundada. Essa Claudio Manuel da Costa
era uma sociedade de poetas
que discutiam temáticas 01 Para os poetas árcades, a natureza era, sobretudo, o cenário
relacionadas à arte. perfeito, dentro do qual se podia encontrar a felicidade. Com base
Dentre esses talentosos artistas, está Manuel Maria Barbosa nessa informação e na estrofe acima, indique duas características
du Bocage – que adotou o pseudônimo de Elmano Sadino. tipicamente árcades.
Conhecido por suas incontáveis experiências amorosas e
aventuras nas colônias portuguesas, sua obra reflete aquilo 02 Na estrofe lida, o cenário bucólico está em evidência. Transcreva
que fez parte de suas andanças. Apesar de fazer parte do do poema três palavras que comprovem essa afirmativa.
Arcadismo português, a obra do autor não é totalmente árcade
nem romântica, pois traduz o período de transição do mundo 03 A escolha dos autores por adotarem pseudônimos em suas
no qual viveu – marcado pelo início do romantismo e pela produções poéticas está diretamente relacionada ao fato de:
Revolução Francesa.
(A) serem tímidos, por isso preferiam o anonimato.
Bocage teve sua glória principalmente na Lírica e, em (B) produzirem textos críticos, daí a necessidade de burlar eventuais
virtude disso, foi considerado o melhor escritor português censuras.
do século XVIII e, junto a Camões e Antero de Quental, (C) ser a moda da época, daí a necessidade de segui-la.
é tido como um dos três maiores sonetistas da Literatura (D) conferir maior verossimilhança à personalidade pastoril do eu
lírico.
Portuguesa. Infelizmente, juntou-se às companhias militares,
(E) conceder maior destaque aos seus autores.
lutou na guerra, foi preso e morreu na miséria. Apesar de seu
fim trágico, Bocage marcou a literatura e a própria cultura
04
portuguesa para sempre.
“Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Veja abaixo um de seus poemas:
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Nascemos para amar; a Humanidade Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura. Pelo traje da corte rico e fino.
Tu és doce atractivo, ó Formosura, (...)
Que encanta, que seduz, que persuade. Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Enleia-se por gosto a liberdade;
Que da Cidade o lisonjeiro encanto;”
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura, As estrofes acima, do poeta brasileiro Claudio Manuel da Costa,
Chamam-lhe alguns então felicidade. ilustram importante característica da poesia árcade: a exaltação da
vida simples como estado ideal a se buscar. Qual nome do lema
Qual se abisma nas lôbregas tristezas, latino que representa esse ideal?
A análise do trecho permite afirmar que o eu lírico: Com respeito ao texto referido, todas as afirmativas estão corretas,
exceto:
(A) valoriza os trajes ricos da cidade.
(B) despreza a vida humilde. (A) Na Lira XXVII, Dirceu exalta a beleza de Marília e, para fazer
(C) manifesta preocupação religiosa. isso, recorre a personagens da Antiguidade Clássica.
(D) valoriza os benefícios de sua vida no campo. (B) Os versos dessa lira são regulares, formados por sete sílabas
(E) apresenta a vida na cidade como mais desejável do que a vida métricas.
no campo. (C) Com a alusão à tentativa de trazer as “tintas do céu” para
pintar o retrato de Marília, o eu lírico sugere que a beleza dela
04 A beleza da forma física feminina constituiu assunto predileto atinge a esfera do divino, do sublime, transcendendo a beleza
da poesia arcádica brasileira. Leia as seguintes estrofes da Lira encontrada no mundo terreno.
XXVII de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga: (D) Há uma equivalência de sentido entre os quatro últimos versos
da primeira estrofe e os quatro últimos versos da segunda
Vou retratar a Marília, estrofe.
a Marília, meus amores; (E) O eu lírico tem como interlocutor o Amor, isto é, a divindade
da mitologia clássica que rege o sentimento amoroso.
porém como? se eu não vejo
quem me empreste as finas cores:
05
dar-mas a terra não pode;
Torno a ver-vos, o montes; o destino
não, que a sua cor mimosa
Aqui me torna a por nestes oiteiros;
vence o lírio, vence a rosa,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
o jasmim e as outras flores.
Pelo traje da Corte rico, e fino.
a todas as três vencera. Com relação a esse poema, não é correto afirmar que:
Vai-te, Amor, em vão socorres (A) manifesta o contraste entre natureza rústica e sofisticação
ao mais grato empenho meu: cultural.
(B) defende o preceito árcade do fugere urbem, valorizando o
para formar-lhe o retrato bucolismo como ideal de vida.
não bastam tintas do céu. (C) dirige-se a pastora amada pelo eu lírico, como determina a
convenção típica da poesia da época.
Vocabulário (D) revela resquícios de procedimentos característicos da estética
Certame: disputa. barroca, no uso de antíteses e no gosto por oposições.
Juno: deusa da mitologia romana, esposa de Júpiter.
Palas: deusa da mitologia romana, presidia a guerra.
Deusa de Citera: Afrodite, deusa do amor.
Páris: príncipe troiano, responsável por escolher a deusa mais bela do Olimpo.
O Arcadismo LITERATURA 43
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LITERATURA 44
Módulo 17 1ª Série
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Ilha das Cabras ou na Ordem Terceira de Santo Antônio, ambas no
Rio de Janeiro, provavelmente entre o período de 1789 e 1793. Isso
aconteceu devido ao seu envolvimento na até então mais importante
revolta colonial, a Inconfidência Mineira.
Neste módulo, estudaremos os principais poetas árcades
Objetivos:
brasileiros e você perceberá que questões políticas nas quais estavam
– Conhecer o contexto histórico brasileiro;
envolvidos faziam com que suas vidas fossem muito diferentes do C5 – estudar traços centrais das obras de Cláudio Manuel da Costa e
que pregavam em seus poemas. Tomás Antônio Gonzaga.
1. Contexto histórico do jugo inglês. Isso fez com que muitos jovens brasileiros vislum-
brassem a possibilidade de também alcançar a independência do
O módulo anterior tratou do contexto histórico europeu que Brasil. Dessa forma, ideais revolucionários passam a ser por eles
propiciou o surgimento do Arcadismo. Como o contexto histórico defendidos.
brasileiro guarda algumas peculiaridades, é importante antes de
Quando os Estados Unidos declararam sua independência,
começar a estudar os principais escritores árcades brasileiros,
em 1776, a exploração do ouro no Brasil já estava em declínio,
entender o que acontecia no país no século XVIII.
e vinha sendo substituída pela agricultura. Além do mau
O primeiro ponto a ser destacado é a descoberta do ouro em momento pelo qual estava passando a mineração, a opressiva
Minas Gerais. Com ela, o eixo econômico da Colônia foi transferido política fiscal da Coroa deixava ainda mais descontentes os
do Nordeste – mais especificamente da Bahia e de Pernambuco – habitantes da região. Somados a tudo isso estavam a propa-
para o Sudeste, concentrando-se principalmente na cidade de Vila gação de ideais iluministas, como o de Rousseau, e os ideais
Rica, Minas Gerais. revolucionários que a independência das Treze Colônias norte-
O desenvolvimento econômico dessa região gerou o seu desen- -americanas havia suscitado.
volvimento cultural. Embora grande parte do ouro da região fosse O resultado desse cenário turbulento foi a criação de um
enviado para Portugal, a quantidade que restava fez com que muitos movimento revolucionário em Vila Rica, que ficou conhecido como
mineradores enriquecessem. Muitos deles enviavam seus filhos Inconfidência Mineira. Além de quererem proclamar a República,
para estudar na Europa. Quando regressavam, além da formação tornando o Brasil independente de Portugal, os inconfidentes
acadêmica, traziam para a Colônia uma grande bagagem cultural. defendiam, dentre outras medidas, a fundação da Universidade de
Além dessa mudança, um acontecimento nas Treze Colônias Vila Rica e a libertação dos escravos nascidos no Brasil. Durante
norte-americanas teve grande influência em solos brasileiros. Em os três primeiros anos da República, Tomás Antônio Gonzaga
1776, elas alcançaram sua independência, conseguindo se libertar governaria. Depois disso, seriam convocadas eleições.
Arcadismo no Brasil: Tomás Antônio Gonzaga LITERATURA 45
e Cláudio Manuel da Costa Módulo 17 1ª Série
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Para Candido, antes do Arcadismo, o Brasil contava apenas
com manifestações literárias. Ou seja: tratava-se não de uma
literatura brasileira, mas de uma literatura feita no Brasil ou
que tinha o Brasil como tema.
2. Principais autores
Observe-se como a identificação com a terra natal fica clara O berço em que nasci: oh quem cuidara
nestes versos: Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!”
Torno a ver-vos, ó montes: o destino Soneto XCVIII
Aqui me torna a pôr nesses outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Dessa forma, diferentemente das paisagens mais utilizadas
Pelo traje da Corte, rico e fino. pelos poetas árcades – geralmente compostas por prados e ribeiras
–, Cláudio dá preferência aos montes e vales, o que reforça seu
apego às terras brasileiras.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Quando estudante de Direito em Coimbra, Cláudio Manuel da
Os meus fiéis, meus doces companheiros, Costa recebeu uma formação barroca, motivo pelo qual a sua obra é
Vendo correr os míseros vaqueiros tão influenciada pelo Barroco, principalmente no que diz respeito ao
Atrás de seu cansado desatino. estilo. Cláudio ainda utiliza muitas inversões e figuras de linguagem
tipicamente barrocas, como bem demonstra o texto a seguir:
Cláudio Manuel da Costa também se mostrou um homem de sua ida a Portugal. Na época, a jovem tinha apenas 16 anos. Em
atento à realidade da Colônia. Assim, demonstrou uma visão seus poemas, o pseudônimo de Maria Doroteia é Marília, e de Tomás
crítica apurada, sendo, de certa forma, um visionário ao entrever Antônio Gonzaga, Dirceu. O encontro do poeta já vivido, à época
alguns problemas na estrutura da Colônia ou em sua relação com a com mais de quarenta anos, com a ainda adolescente Maria Doroteia
Metrópole que só seriam apontados de forma mais vigorosa alguns contribui para reforçar a consciência da brevidade da vida, fazendo
anos depois. Pode-se citar como exemplo a sua insatisfação com a o poeta recorrer ao carpe diem e à imagem da amada sempre que
derrama, imposto instituído pela Coroa, justamente uma das moti- possível, como consolo para o desgaste empreendido pelo tempo.
vações da Inconfidência Mineira, que só ocorreria 25 anos depois. Isso fica claro nos versos a seguir:
Cláudio Manuel da Costa exerceu grande influência sobre os Que, à muleta encostado,
autores árcades pertencentes à geração seguinte à sua, na qual os Apenas mal se move e mal se arrasta?
ideais árcades de fato se consolidaram. Entre os mais influenciados Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
por ele estão Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga. Este, O tempo arrebatado,
aliás, acabou alcançando muito mais notoriedade que seu prede-
Que o mesmo bronze gasta!
cessor, sendo o mais popular autor árcade do Brasil.
Enrugaram-se as faces e perderam
Tomás Antônio Gonzaga
©Wikimedia Commons Seus olhos a viveza;
(1744-1810) nasceu na cidade do
Porto, em Portugal. Veio para a Voltou-se o seu cabelo em branca neve;
Bahia com a sua família quando Já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
ainda era criança. Depois de ter
Não tem uma beleza
estudado até a juventude no
Brasil, seguiu um caminho bem Das belezas, que teve.
parecido com o de Cláudio
Assim também serei, minha Marília,
Manuel da Costa: foi estudar
Direito em C oimbra. Em Daqui a poucos anos;
Portugal, teve acesso também Que o ímpio tempo para todos corre.
aos ideais árcades e iluministas. Os dentes cairão, e os meus cabelos,
Assim como Cláudio, quando voltou para o Brasil, passou a morar
Ah! sentirei os danos,
em Vila Rica. Acusado de participar da Inconfidência Mineira,
Que evita só quem morre.
Gonzaga fica encarcerado de 1789 a 1792, quando é degredado para
Moçambique.
Mas sempre passarei uma velhice
Um primeiro ponto a ser analisado na poesia de Tomás Antônio
Muito menos penosa.
Gonzaga é o quanto a sua obra está atrelada às suas experiências
pessoais. Claro que é necessário relembrar alguns conceitos já Não trarei a muleta carregada:
estudados no módulo sobre gênero lírico – que distanciam a figura Descansarei o já vergado corpo
do eu lírico da figura biográfica do poeta – para não achar que as Na tua mão piedosa,
experiências pessoais necessariamente influenciarão a obra dos Na tua mão nevada.
artistas. Porém, no caso de Gonzaga, a vida amorosa do poeta é
certamente importante para entender sua obra. Nas frias tardes, em que negra nuvem
Por ter participado da Inconfidência, Alvarenga Peixoto foi É o insulto sem limite,
preso e desterrado, e morreu em presídio africano. Mas ditoso o meu ardor;
• Silva Alvarenga
Já me chamas atrevido,
Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814) tem como obra
Já me prendes no regaço;
principal Glaura, composta de rondós e madrigais. Nela, aparecem
elementos da fauna e da flora nacionais, como a cobra, a mangueira Não me assusta o terno laço
e o beija-flor, apontando na direção de uma poesia nativista, É fingido o meu temor.
já prenunciando o Romantismo. Os versos abaixo, do poema
“O Beija-flor”, são um bom exemplo disso: Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
O Beija-flor
E a minha alma ao bem se entrega,
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Que lhe nega o teu rigor.
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega, Se disfarças os meus erros,
Que lhe nega o teu rigor. E me soltas por piedade,
Não estimo a liberdade,
Neste bosque alegre e rindo
Busco os ferros por favor.
Sou amante afortunado,
E desejo ser mudado Não me julgues inocente,
No mais lindo beija-flor. Nem abrandes meu castigo,
Que sou bárbaro inimigo,
Todo o corpo num instante
Insolente e roubador.
Se atenua, exala e perde;
É já de oiro, prata e verde Deixo, ó Glaura, a triste lida
A brilhante e nova cor. Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Deixo, ó Glaura, a triste lida
Que lhe nega o teu rigor.
Submergida em doce calma;
Disponível em: <www.antoniomiranda.com.br>
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.
50 LITERATURA
1ª Série Módulo 17
Vem depois dos prazeres a desgraça.” Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tomás Antônio Gonzaga
Tudo outra natureza tem tomado;
Estabeleça um paralelo entre os versos acima e o lema latino carpe
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
diem.
Guiava as brancas ovelhas; a. indique qual a forma convencional clássica em que se enquadra
o poema.
Aquele, que muitas vezes b. transcreva a estrofe do poema em que a expressão da natureza
aprazível, situada no passado, domina sobre a expressão do
Afinando a doce avena, sentimento da personagem poemática.
Parou as ligeiras águas,
Moveu as bárbaras penhas;
Embora muito distantes entre si na linha do tempo, os textos onde os membros descanse,
aproximam-se, pois o ideal que defendem é: e ao brando sol me aquente.
(A) o uso da emoção em detrimento da razão, pois esta retira do Apenas me sentar, então, movendo
homem seus melhores sentimentos.
(B) o desejo de enriquecer no campo, aproveitando as riquezas os olhos por aquela
naturais. vistosa parte, que ficar fronteira,
(C) a dedicação à produção poética junto à natureza, fonte de
apontando direi: — Ali falamos,
inspiração dos poetas.
(D) o aproveitamento do dia presente – o carpe diem –, pois o tempo ali, ó minha bela,
passa rapidamente. te vi a vez primeira.
(E) o sonho de uma vida mais simples e natural, distante dos centros
urbanos. Verterão os meus olhos duas fontes,
nascidas de alegria;
Texto para as próximas 2 questões: farão teus olhos ternos outro tanto;
Leia o poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). então darei, Marília, frios beijos
na mão formosa e pia,
18 que me limpar o pranto.
Não vês aquele velho respeitável,
que à muleta encostado, Assim irá, Marília, docemente
apenas mal se move e mal se arrasta? meu corpo suportando
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo, do tempo desumano a dura guerra.
52 LITERATURA
1ª Série Módulo 17
04 Expressão do poeta romano Horácio, Carpe diem é popular- 05 Na composição poética árcade, a natureza é tratada:
mente traduzida do latim para “aproveite o dia”. O professor John
Keating, personagem de Robin Williams no filme estadunidense (A) como uma lembrança da pátria da qual foram exilados.
Dead Poets Society, no Brasil “Sociedade dos poetas mortos”, buscou (B) como um refúgio da vida atribulada das Metrópoles do século
motivar seus alunos entusiasmado por tal lema. Ideia presente na XIX.
poesia inglesa dos séculos XVI e XVII, também inspirou poetas (C) como um prolongamento do estado emocional do poeta.
brasileiros, sendo uma das principais características do: (D) como um local em que se busca a vida simples, pastoril e
bucólica.
(A) Barroco. (E) como uma fonte para o retrato crítico às desigualdades sociais.
(B) Arcadismo.
(C) Romantismo.
(D) Simbolismo.
(E) Modernismo.
01
Soneto VI
Romanceiro da Inconfidência
Brandas ribeiras, quanto estou contente
Romance XXI ou das Ideias
De ver-vos outra vez, se isto é verdade!
Quanto me alegra ouvir a suavidade, Doces invenções da Arcádia!
Com que Fílis entoa a voz cadente! Delicada primavera;
Os rebanhos, o gado, o campo, a gente, pastoras, sonetos, liras,
Tudo me está causando novidade: – entre as ameaças austeras
Oh! como é certo que a cruel saudade de mais impostos e taxas
Faz tudo, do que foi, mui diferente! que uns protelam e outros negam
Recebi (eu vos peço) um desgraçado, Casamentos impossíveis.
Que andou até agora por incerto giro, Calúnias. Sátiras. Essa
Correndo sempre atrás do seu cuidado: paixão da mediocridade
Este pranto, estes ais com que respiro, que na sombra se exaspera.
Podendo comover o vosso agrado, E os versos de asas douradas,
Façam digno de vós o meu suspiro. que amor trazem e amor levam...
Cláudio Manuel da Costa
Anarda. Nise. Marília...
As verdades e as quimeras.
Soneto Outras leis, outras pessoas.
Estes os olhos são da minha amada, Novo mundo que começa
Que belos, que gentis e que formosos! Nova raça. Outro destino
Não são para os mortais tão preciosos Planos de melhores eras.
Os doces frutos da estação dourada. E os inimigos atentos,
Arcadismo no Brasil: Tomás Antônio Gonzaga LITERATURA 53
e Cláudio Manuel da Costa Módulo 17 1ª Série
uns querem metais luzentes, a. Nas duas primeiras estrofes do texto apresentado, a poetisa
outros, as redradas2 pedras. representa a extração do ouro mediante oito adjetivos, que
formam dois grupos semanticamente contrastantes. Aponte
os adjetivos componentes de cada um desses grupos.
Ladrões e contrabandistas
b. Na última estrofe, narra-se uma sequência de ações que giram
estão cercando os caminhos; em torno da busca de riqueza. O verso “e estendem punhos
cada família disputa severos” expressa, entretanto, um duplo sentido. Explique sua
duplicidade dentro da estrofe.
privilégios mais antigos;
LITERATURA 54
Módulo 18 1ª Série
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índios que viviam nessas terras não foram sequer considerados
nesse tratado, simplesmente tendo sua “casa” invadida pelo homem
europeu, o que gerou conflitos e combates.
Esse é o enredo de uma importante obra da literatura brasileira
chamada O Uraguai. Neste módulo, veremos que, bem como essa,
outras obras desse período trarão, em tom épico, o embate entre
Objetivo:
esses dois povos, além de apresentar de forma engrandecedora C5 – Apresentar as particularidades dos épicos indianistas, a partir dos
algumas de nossas riquezas naturais e culturais. textos O Uraguai e Caramuru.
1. Os épicos indianistas havia prendido e matado Cacambo, marido da nativa. Lindoia, ainda
sofrendo muito pela morte do marido, não deseja se casar. Entra,
Dois poemas épicos foram escritos no Arcadismo brasileiro: O então, em um bosque e deixa-se picar por uma cobra venenosa.
Uraguai, de José Basílio da Gama, e Caramuru, de Santa Rita Durão.
Ambas as obras giram em torno do índio. Isso, somado à natureza
Não faltava,
exuberante que compõe os cenários, faz com que os épicos árcades
tragam em estado embrionário muitos dos elementos que serão Para se dar princípio à estranha festa,
largamente utilizados pelos escritores românticos. Mais que Lindoia. Há muito lhe preparam
Todas de brancas penas revestidas
1.1 O Uraguai, de Basílio da Gama Festões de flores as gentis donzelas.
Basílio da Gama (1741-1795), nascido em Minas Gerais, Cansados de esperar, ao seu retiro
recebeu educação jesuítica. Por isso, quando a Companhia de Jesus Vão muitos impacientes a buscá-la.
foi expulsa do Brasil por Marquês de Pombal, ele viajou para a Itália
[...]
e para Portugal. Em Portugal, caiu nas graças de Marquês de Pombal
ao escrever um poema em celebração ao casamento de sua filha. Entram enfim na mais remota, e interna
O Uraguai, sua principal obra, conta a história do combate entre Parte de antigo bosque, escuro, e negro,
os índios que habitam as missões dos Sete Povos, no Uruguai, e um Onde ao pé de uma lapa cavernosa
exército formado tanto por portugueses quanto por espanhóis. A Cobre uma rouca fonte, que murmura,
luta é originada pelo Tratado de Madri, que delimitava as fronteiras Curva latada de jasmins, e rosas.
dos territórios na América do Sul. Ele estabelecia que as terras
Este lugar delicioso, e triste,
dos Sete Povos seria de Portugal, e a colônia do Sacramento, dos
espanhóis. Cansada de viver, tinha escolhido
O poema épico de Basílio da Gama é, ao mesmo tempo, uma Para morrer a mísera Lindoia.
louvação a Marquês de Pombal e uma exaltação ao heroísmo dos Lá reclinada, como que dormia,
indígenas. O jesuíta ganha, em Uraguai, o posto de vilão: ele é tanto
Na branda relva, e nas mimosas flores,
o inimigo de Portugal quanto o enganador dos índios.
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
O trecho a seguir foi retirado do Canto IV, no qual são retra-
tados os preparativos para o casamento de Baldeta, filho do padre De um fúnebre cipreste, que espalhava
Balda, com a índia Lindoia. Para conseguir esse casamento, o padre Melancólica sombra. Mais de perto
Arcadismo no Brasil: épicos indianistas LITERATURA 55
Módulo 18 1ª Série
[...]
Leva nos braços a infeliz Lindoia Sítio Arqueológico de São Lourenço Mártir, localizado em São Luiz Gonzaga, RS
O fragmento apresentado ilustra a famosa passagem em que o (A) se refere, historicamente, à colonização do Brasil, narrando a luta
português Diogo Álvares, sobrevivente de um naufrágio, domina do povo indígena contra a invasão dos holandeses no Nordeste.
um grupo de indígenas com o estrondo de sua arma de fogo, sendo, (B) antecipa, por meio das descrições e exaltação da natureza
brasileira, a temática nacionalista presente no Romantismo.
em seguida, associado por eles ao Caramuru, filho do trovão, isto
(C) narra as aventuras do náufrago português Diogo Álvares
é, dragão do mar. Correia, ressaltando a preocupação do autor com os aspectos
Ao contrário do Uraguai – que, ao exaltar o déspota esclare- verdadeiros dos acontecimentos.
cido Marquês de Pombal, ia ao encontro das ideias iluministas –, (D) se diferencia, quanto à forma, da epopeia camoniana; mas se
Caramuru se volta para um passado jesuítico e colonial. Dessa assemelha, quanto ao conteúdo, às peripécias narradas em Os
forma, embora mais rico de referências à natureza brasileira e aos Lusíadas.
indígenas do que o poema épico de Basílio da Gama, Caramuru (E) contrapõe a religião indígena com a fé católica dos portugueses,
se mostra menos em consonância com o homem americano do defendendo a permanência dos mitos e crenças dos índios
que Uraguai. brasileiros.
Arcadismo no Brasil: épicos indianistas LITERATURA 57
Módulo 18 1ª Série
(E) a exaltação do negro e do indígena e a louvação da catequese moribundo: que está morrendo
jesuítica. salsas: salgadas
freme: vibra, ruge
04 Alguns estudiosos da literatura defendem a ideia de que
Caramuru representa o nativismo que antecipou no Brasil o Texto II
nacionalismo e o patriotismo pós-independência. Esse argumento
é válido porque:
05 Observe a pintura e leia o fragmento a seguir para responder Da perfídia de Europa, e daqui mesmo
à questão. Co’s não vingados ossos dos parentes
Se vejam branquejar ao longe os vales,
Eu, desarmado e só, buscar-te venho.
Trecho II
Temos perto o inimigo: aos seus dizia
O esperto General: Sei que costumam
Trazer os índios um volúvel laço,
Com o qual tomam no espaçoso campo
Os cavalos que encontram; e rendidos
Fonte de crimes, militar tesouro, Após a leitura atenta dos dois trechos, responda: para índios e
Por quem deixa no rego o curto arado portugueses, quem são os vilões?
O lavrador, que não conhece a glória;
02
E vendendo a vil preço o sangue e a vida
Texto I
Move, e nem sabe por que move a guerra.
Canto IV
GAMA, Basílio. “O Uraguai”. In. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.
43. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 67.
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, linha escolhido
Embora O Uraguai seja considerado a melhor realização épica do
Arcadismo brasileiro, nota-se, na obra, uma quebra do modelo da Para morrer a mísera Lindoia.
epopeia clássica. Em termos de conteúdo, tanto no trecho quanto Lá reclinada, como que dormia,
na pintura apresentados, essa quebra se evidencia:
Na branda relva, e nas mimosas flores,
(A) pela representação de situações tragicômicas. Tinha a face na mão, e a mão no tronco
(B) pelo retrato de episódios de bravura e heroísmo.
De um fúnebre cipreste, que espalhava
(C) pela alusão a heróis mitológicos da Grécia Antiga.
(D) pelo questionamento da guerra como algo positivo. Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
01 Os trechos abaixo transcritos foram retirados da obra O Fogem de a ver assim sobressaltados,
Uraguai, de Basílio da Gama. No primeiro, podemos identificar a E param cheios de temor ao longe;
visão que o índio Cacambo tem dos portugueses colonizadores. No
segundo, o ponto de vista presente é o dos portugueses a respeito E nem se atrevem a chamá-la, e temem
dos jesuítas, responsáveis pela catequização dos índios. Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Trecho I
BASÍLIO DA GAMA, José. O Uraguai.
E os pés, e os braços e o pescoço. Entrara Rio de Janeiro: Public. da Academia Brasileira, 1941, p. 78-9.
Sem mostras nem sinal de cortesia
Sepé no pavilhão. Porém Cacambo Texto II
Fez, ao seu modo, cortesia estranha, Canto VI, Estrofe XLII
E começou: Ó General famoso, Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Tu tens à vista quanta gente bebe Pálida a cor, o aspecto moribundo,
Do soberbo Uraguai a esquerda margem. Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Bem que os nossos avôs fossem despojo Entre as salsas escumas desce ao fundo.
60 LITERATURA
1ª Série Módulo 18
Mas na onda do mar, que irado freme, sicos brasileiros. No primeiro, a índia Lindoia, infeliz com a morte
Tornando a aparecer desde o profundo: do marido Cacambo, deixa-se picar por uma serpente, e falece. No
segundo, enfoca-se a índia Moema que, ao ver partir seu amado
“Ah Diogo cruel!” disse com mágoa, Diogo Álvares, segue a embarcação a nado e se deixa morrer afogada.
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água. Releia os textos e, a seguir, aponte o componente nacionalista de
ambos os poemas:
SANTA RITA DURÃO, Fr. José de. Caramuru. São Paulo: Edições Cultura, 1945, p. 149.
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LITERATURA 61
Módulo 19 1ª Série
O Romantismo
©iStockphoto.com/Steve Lovegrove
dos ambientes de tal país. Envolto em uma atmosfera de desejo e
refinamento, o amor “à francesa” definitivamente não está restrito à
convenções sociais e épocas específicas. Multifacetado, esse universo
essencialmente romântico sobrevive há anos e marca para sempre
a literatura e principalmente a cultura da França como um todo.
Nesse sentido, você saberia dizer o motivo da afirmação “os
Objetivos:
franceses inventaram o amor”? Neste módulo, você descobrirá quais
– Apresentar as características gerais do Romantismo;
são as relações entre França, Romantismo e Literatura e como essa C5 – demonstrar como cenário de ascensão política da burguesia torna
escola literária alcançou o Brasil. propício o surgimento de um movimento artístico.
©Wikimedia Commons
fossem sentidos no resto da Europa, mexendo também com as estru-
turas de outras monarquias absolutistas europeias. Na Inglaterra, os
ecos da Revolução Francesa serviram para consolidar a mudança
econômica que já vinha lá acontecendo. Assim, no início do século
XIX, a Revolução Industrial se encontrava a plenos vapores em
solos ingleses. Tal movimento, além de alterar significativamente
as relações sociais – de um lado, a burguesia detentora do capital,
de outro, o proletariado, que vende sua força de trabalho –, alterou
também a organização do território: os centros urbanos, redutos das
fábricas, passaram a atrair um grande contingente de trabalhadores.
Houve, portanto, um significativo êxodo rural, seguido por um
crescimento desordenado das cidades.
A Revolução Industrial, a Independência das Treze Colônias
norte-americanas e a Revolução Francesa serviram para pôr um fim
no regime que já vinha mostrando muitos sinais de decadência: o
absolutismo monárquico. Teve início, então, a era do capitalismo.
2. Características gerais
Conforme visto, com a Revolução Francesa, a burguesia
conseguiu finalmente alcançar o poder político. O seu lugar de
destaque na sociedade da época fez com que a arte, até então voltada
para os nobres e sua visão de mundo, passasse a priorizar os valores
burgueses. O burguês, que não se reconhecia nas manifestações
A “Declaração dos direitos do homem e do cidadão” é um artísticas cujo público-alvo era a nobreza, ansiava por uma arte
documento de repercussões grandiosas para nossa história. em que pudesse não só se reconhecer, mas também se distinguir
Ele define que os direitos individuais e coletivos do homem do grupo social recém-deposto.
são universais, e influenciou outros documentos importantes,
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da O movimento artístico que atendeu a tais desejos foi o Roman-
Organização das Nações Unidas (ONU). tismo. Surgido na Alemanha e na Inglaterra, foi uma reação aos
Leia, a seguir, alguns trechos da “Declaração dos direitos valores éticos e intelectuais clássicos e iluministas:
do homem e do cidadão”: “(...) A visão de mundo romântica surge mais como uma reação
“Art.1.o – Os homens nascem e são livres e iguais em ao novo que como a proposição de algo novo. Todo valor que ela
direitos. As distinções sociais só podem ter como fundamento elege é sempre em oposição a outro que pretende negar. À Razão,
a utilidade comum. o Romantismo opôs o sentimento, à mente o coração, à ciência a
Art. 2.o – A finalidade de toda associação política é a arte e a poesia, ao materialismo o espiritualismo, à objetividade
preservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. a subjetividade, à filosofia ilustrada o cristianismo, ao corpo
Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a e à matéria o espírito, ao dia a noite, ao preciso o impreciso,
resistência à opressão. (...)
ao equilíbrio a expansão e o entusiasmo, à vida social ampla a
Art. 4.o – A liberdade consiste em poder fazer tudo o que não comunhão restrita de gênios e eleitos, aos valores universais os
prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de
particulares e exóticos, ao estático e permanente o movimento,
cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram
aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. ao estável o instável etc.”
Estes limites só podem ser determinados pela lei. (...) RONCARI, Luiz. Literatura brasileira – Dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2 ed. São Paulo:
Edusp/ FDE, 1995.
Art. 6. – A lei é a expressão da vontade geral. Todos os
o
cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de A razão, soberana na arte árcade, passa a dar lugar à emoção.
mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para A maior preocupação do escritor romântico passa a ser a expressão
todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são de suas emoções de forma subjetiva e original. É importante
iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, destacar também que, opondo-se à imitação – um dos pilares
lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra do Arcadismo – o Romantismo preza muito pela originalidade,
distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. (...)” colocando acima da beleza a imaginação.
Disponível em: <www.ambafrance-br.org>. Acesso em: 10 mar. 2014.
O Romantismo LITERATURA 63
Módulo 19 1ª Série
sonhos. Ou ainda para a morte: vista não com medo, mas com
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alívio, ela é a libertação do poeta dessa situação de deslocamento
em que se encontra.
Os versos a seguir, do poema “Meus oito anos”, de Casimiro
de Abreu, é exemplo da evasão temporal, visto que o eu lírico volta
aos seus dias de infância:
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forma idealizada. Ela é geralmente um ser angelical, virginal, que
se encontra em um plano muito superior ao do eu lírico. Por isso,
há um distanciamento entre os dois. Na verdade, a mulher dos
textos românticos é, na maioria das vezes, inalcançável. A estrofe
a seguir, de Álvares de Azevedo, exemplifica isso:
“(...)
Na Europa, o Romantismo se manifestou de forma muito infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino
forte em três países: Alemanha, Inglaterra e França. Neles, por natureza divino; enquanto os três problemas do século – a
surgiram importantes características desse movimento literário, degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher
como o nacionalismo, o gosto pelo grotesco e a exploração da pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância – não forem
temática social. resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia
O Romantismo alemão deu origem ao nacionalismo social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo
romântico. Foi lá que nasceu o conceito de alma do povo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros
(Volksseele), estabelecido pelo filósofo Herder. Ele defende que como este não serão inúteis.”
“Os Miseráveis” – Prefácio
cada povo – uma unidade natural, produto de um crescimento
natural – é único, e gera, por conseguinte, coisas singulares. As
ideias de Herder influenciaram muitos escritores do Romantismo
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alemão, como Goethe, que cantou as qualidades de sua terra natal
tanto na poesia quanto na prosa.
O Romantismo inglês foi o responsável por introduzir nesse
estilo o gosto pelo excêntrico e pelo grotesco. Nele, muitos poemas
sobre países desconhecidos e exóticos foram escritos. Além disso,
por conta dos romances históricos, valores, temas e gostos da
Idade Média foram resgatados, como o gótico medieval. Dessa
forma, desenvolve-se o gosto por cemitérios, cenários noturnos e
pelo sobrenatural.
Por fim, o Romantismo francês assumiu uma face mais voltada
para as questões sociais, o que pode ser completamente compre-
endido se levarmos em consideração que o país foi o berço da
Revolução Francesa cujos ideais ainda ecoavam. Dentre os autores
românticos franceses, o que mais se destaca é Victor Hugo. A sua
preocupação em tematizar grandes questões sociais da época fica
clara em obras como Os miseráveis, marco na literatura romântica.
Leia abaixo um trecho do prefácio dessa obra e comprove como
a visão social era associada à literatura:
Cosette, uma das principais personagens da obra Os Miseráveis, por Émile Bayard,
“Enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição
ilustração da edição original de 1862
social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros
01 São características gerais do Romantismo: 03 Acerca das características formais românticas, podemos afirmar
que:
(A) rigor formal, gosto pela escuridão e exaltação da figura feminina.
(B) nacionalismo, erotismo e apreço por lugares ermos. (A) a liberdade formal romântica assegura que cada autor possa se
(C) desejo de evasão, idealização feminina e liberdade formal. expressar de modo único, exaltando a sua individualidade.
(D) consciência social, evasão crítica e exaltação dos valores aristocráticos. (B) o seu rigor formal fez com que a linguagem da literatura
(E) gosto pela escuridão, idealização feminina e rigor formal. romântica se aproximasse árcade.
(C) o apreço à Idade Média fez com que os autores românticos
02 De que forma as revoluções burguesas – Revolução Industrial, recorressem às formas fixas e aos arcaísmos.
Independência dos Estados Unidos e Revolução Francesa – contri- (D) a liberdade formal fez com que a literatura romântica se
buíram para o desencadeamento do movimento romântico? adequasse mais aos nobres cultos do que ao seu público
heterogêneo.
(E) o uso extensivo dos sinais de pontuação indicava contenção
emocional por parte dos autores românticos.
66 LITERATURA
1ª Série Módulo 19
04 Acerca das características temáticas românticas, podemos O adeus, o teu adeus, minha saudade,
afirmar que: Fazem que insano do viver me prive
(A) o nacionalismo, muito presente nos textos românticos, contra- E tenha os olhos meus na escuridade.
riava a noção de cidadão trazida pela Revolução Francesa.
(B) a natureza é pintada de forma tranquila, indo ao encontro do Dá-me a esperança com que o ser mantive!
locus amoenus árcade.
Volve ao amante os olhos por piedade,
(C) os temas que se ligam ao presente histórico são valorizados em
detrimento dos temas medievais. Olhos por quem viveu quem já não vive!
(D) assim como no Barroco, a mulher aparece como um anjo
AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
diabólico, o que provoca o distanciamento do eu lírico.
(E) o poeta opta pela evasão da realidade por conta de seu deslo- O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração
camento social. romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além
desse momento específico. O fundamento desse lirismo é
05 Explique de que forma a mudança nos meios de circulação dos
textos literários provoca modificações significativas na literatura (A) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da
romântica, apontando quais são elas. morte.
(B) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da
perda.
(C) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.
(D) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
01 (E) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.
“É bela a noite, quando grave se estende
03 No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica
Sobre a terra dormente o negro manto sutilmente um outro estilo de época: o Romantismo.
De brilhantes estrelas recamado;
Mas nessa escuridão, nesse silêncio “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos;
Que ele consigo traz, há um quê de horrível era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza,
Que espanta e desespera e geme n’alma; a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da
Um quê de triste que nos lembra a morte!” beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance,
Os versos: em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e
espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma
(A) ilustram a característica romântica da projeção do estado de sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza,
espírito do poeta nos elementos da natureza. cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a
(B) exemplificam a característica romântica do pessimismo, mal
outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
do século, que vê na natureza algo nefando, capaz de matar o
poeta. ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.
02
Ideias íntimas
01 IX
Contranarciso Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
em mim A ventura de uma alma de donzela!
eu vejo o outro E sem na vida ter sentido nunca
e outro Na suave atração de um róseo corpo
e outro Meus olhos turvos se fechar de gozo!
enfim dezenas Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
trens passando Passam tantas visões sobre meu peito!
vagões cheios de gente Palor de febre meu semblante cobre,
centenas Bate meu coração com tanto fogo!
o outro Um doce nome os lábios meus suspiram,
que há em mim Um nome de mulher... e vejo lânguida
é você No véu suave de amorosas sombras
você Seminua, abatida, a mão no seio,
e você
Perfumada visão romper a nuvem,
assim como
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
eu estou em você
O alento fresco e leve como a vida
eu estou nele
Passar delicioso... Que delírios!
em nós
Acordo palpitante... inda a procuro;
e só quando
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
estamos em nós
Banham meus olhos, e suspiro e gemo...
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
LEMINSKI, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense. p.12. 1983. Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
No Romantismo, o sujeito lírico tem a marca do egocentrismo.
Verifique se o mesmo acontece no texto contemporâneo de Paulo Nunca virás iluminar meu peito
Leminski, justificando seus comentários com passagens do poema. Com um raio de luz desses teus olhos?
Álvares de Azevedo
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LITERATURA 69
Módulo 20 1ª Série
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capaz de virar propaganda política? A resposta é bem simples: isso
só foi possível porque ele é um traço de nossa identidade nacional,
ou seja, a nossa identificação como cidadãos brasileiros tem uma
relação estreita com esse esporte. Trata-se, portanto, de um símbolo
de nossa pátria.
Porém, muito antes de o futebol ser um esporte consolidado e
um símbolo de nosso país, um grupo de escritores já se encontrava
muito interessado na construção de uma identidade nacional e na Objetivos:
– Aprender as características da primeira geração romântica no
escolha de elementos que representassem a pátria. Eram os poetas
da primeira geração romântica, cujo projeto literário será estudado
C5 Brasil;
– compreender o contexto histórico brasileiro à época da produção
neste módulo. de Gonçalves Dias.
1. Contexto histórico
Para compreender como o Romantismo aqui se manifestou, é tanto que nem mesmo a chuva de flores e as ervas aromáticas que
preciso, primeiramente, compreender o contexto histórico brasileiro cobriam a areia da praia, improvisadas na chegada da Família Real,
do início do século XIX. Um primeiro fator muito importante é a conseguiam esconder o cheiro desagradável.
crise pela qual passava Portugal nesse período. Visando à expansão Dentre as consequências diretas da vinda da Família Real
francesa, Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental, isto para o Brasil, algumas podem ser destacadas. Em 1808, os portos
é, proibiu que os países europeus comercializassem com a Inglaterra, brasileiros foram abertos às nações amigas. O Alvará de 1785, que
a fim de desorganizar sua economia. No entanto, desde o século XVII, proibia a instalação de manufatura no Brasil, foi revogado. Signi-
a economia portuguesa estava muito subordinada à inglesa. Por conta ficativas mudanças foram implementadas na paisagem urbana: as
disso, Portugal evitava atender às imposições napoleônicas. ruas foram alargadas, calçadas foram construídas e novos bairros,
Napoleão resolveu, então, intervir: ordenou que tropas como Flamengo e Botafogo, surgiram. Além disso, foram criadas
francesas invadissem as terras lusitanas. Como não houve sucesso escolas e a Imprensa Régia, fazendo com que o Brasil, pela primeira
em nenhuma das negociações diplomáticas, e tampouco podia vez em sua história, tivesse uma imprensa oficial. Esse fato permitiu
Portugal renunciar às transações comerciais com a Inglaterra, a que jornais e periódicos circulassem mais facilmente e, consequen-
Família Real portuguesa transferiu-se, em 1808, para o Brasil. temente, que a produção literária fosse estimulada.
Graças a esse acontecimento, os caminhos que levariam à indepen- Em 16 de dezembro de 1815, para reverter os impasses criados
dência da colônia começavam a ser delineados. pela permanência da corte portuguesa – cuja sede deveria ser o reino
A cidade do Rio de Janeiro – na qual a corte portuguesa se de Portugal – em sua colônia, o Brasil foi elevado a reino. Criava-
instalou – era, no entanto, muito diferente de Lisboa: nitidamente, se, assim, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Os vários
não havia a infraestrutura necessária para receber os quase 12 mil acontecimentos políticos decorrentes dessa e de outras medidas
portugueses que para cá se deslocaram junto com o rei. Além do da corte culminaram, em 1822, na Proclamação da Independência
problema da falta de moradia (cerca de 2.000 casas foram retiradas política brasileira. Após ter sido colônia e reino unido a Portugal,
de seus donos para que pudessem acomodar os recém-chegados), finalmente o Brasil era, pelo menos do ponto de vista político, uma
as instalações da cidade eram precárias, e as ruas, malcheirosas, nação independente.
70 LITERATURA
1ª Série Módulo 20
Juca-Pirama
©Wikimedia Commons
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos – cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
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a criação da revista Nitheroy,
Revista Brasiliense de Ciências,
Letras e Artes, por alguns escri-
tores conhecidos como o Grupo
de Paris, entre os quais estavam
Gonçalves de Magalhães e Araújo
Porto Alegre, nomes impor-
tantes do primeiro momento
Tucano, William Swaison
do Romantismo brasileiro. Essa
Além da Missão Artística Francesa, várias missões artísticas revista, publicada em Paris, no
de outros países vieram para o Brasil. Como consequência dessa ano de 1836, objetivava tratar
“invasão” de artistas estrangeiros, é possível destacar um fato que de alguns temas de interesse
exerceu grande influência no movimento romântico brasileiro: a nacional. Observe-se, a seguir,
exaltação dos índios e da natureza local exuberante. Não demorou um trecho do texto de Gonçalves
muito para que os nativos fossem alçados à condição de símbolos de Magalhães publicado no primeiro número da revista, intitulado
nacionais, como no poema a seguir, de Gonçalves Dias: “Discurso sobre a história da literatura no Brasil”:
A poesia da primeira geração romântica no Brasil LITERATURA 71
Módulo 20 1ª Série
A literatura de um povo é o desenvolvimento do que ele tem de em 1836, é considerada o marco inicial do Romantismo brasileiro.
mais sublime nas ideias, de mais filosófico no pensamento, de mais Atenção especial deve ser dada ao seu prólogo, no qual é anunciada
heroico na moral e de mais belo na natureza; é o quadro animado a revolução literária que estava por vir. Para que isso fique mais
de suas virtudes e de suas paixões, o despertador de sua glória e claro, segue o trecho abaixo, dele retirado:
o reflexo progressivo de sua inteligência. E, quando esse povo, ou O fim deste livro, ao menos aquele a que nos propusemos,
essa geração, desaparece da superfície da terra, com todas as suas que ignoramos se o atingimos, é o de elevar a poesia à sublime
instituições, crenças e costumes, escapa a literatura aos rigores fonte donde ela emana, como o eflúvio d’água, que da rocha se
do tempo para anunciar às gerações futuras qual fora o caráter precipita, e ao seu cume remonta, ou como a reflexão da luz ao
e a importância do povo, do qual é ela o único representante na corpo luminoso; vingar ao mesmo tempo a poesia das profana-
posteridade. Sua voz, como um eco imortal, repercute por toda ções do vulgo, indicando apenas no Brasil uma nova estrada aos
parte, e diz: em tal época, debaixo de tal constelação e sobre tal futuros engenhos.
ponto do globo existia um povo cuja glória só eu a conservo, cujos
Disponível em: <www.objdigital.bn.br>.
heróis só eu conheço. Vós, porém, se pretendeis também conhecê-lo,
consultai-me, porque eu sou o espírito desse povo e uma sombra
viva do que ele foi.
2.1 Características temáticas
Cada povo tem sua história própria, como cada homem seu A primeira geração romântica, vendo na literatura uma
caráter particular, cada árvore seu fruto específico, mas esta verdade ferramenta de construção nacional, elegeu como principais temas
incontestável para os primitivos povos, algumas modificações, aqueles que exaltassem as especificidades do país. Como um dos
contudo, experimenta entre aqueles cuja civilização apenas é um objetivos principais era justamente produzir uma literatura que fosse
reflexo da civilização de outro povo. Então, como nas árvores enxer- de encontro aos modelos lusitanos, os temas exploravam elementos
tadas, vêm-se pender dos galhos de um mesmo tronco frutos de nativos, concentrando-se principalmente na figura do índio e na
diversas espécies. E, posto que não degenerem muito, os do enxerto natureza nacional exuberante.
brotaram, contudo algumas qualidades adquirem, dependentes da Não é no Romantismo que o índio aparece pela primeira vez
natureza do tronco que lhes dá o nutrimento, as quais os distinguem na literatura. Já foi apontado, em módulo anterior, que ele recebia
dos outros frutos da mesma espécie. (...) grande destaque nos épicos árcades de Santa Rita Durão e Basílio da
Disponível em: <www.nead.unama.br>.
Gama, por exemplo. Além disso, a sua figura também já vinha sendo
explorada pelos artistas das missões estrangeiras que aqui se insta-
laram após a vinda da Família Real. Porém, é na primeira geração
2. Poesia romântica: romântica que ele é alçado à condição de grande protagonista.
a primeira geração Por conta disso, o indianismo é uma das principais características
dessa literatura, fazendo com que ela seja também conhecida como
O contexto histórico brasileiro do século XIX fez com que o
geração indianista. A busca pelo símbolo brasileiro fazia com que
Romantismo que aqui se desenvolveu – além de herdar caracterís-
o índio se tornasse um dos ícones perfeitos da identidade nacional:
ticas do Romantismo europeu, como a reação à tradição clássica
era um elemento nativo, impossível de ser encontrado em terras
– assumisse um evidente caráter anticolonialista e antilusitano.
europeias. É possível notar, no poema abaixo, de Gonçalves Dias,
A literatura produzida na colônia, demasiadamente apoiada nos
a exaltação do elemento nativo por meio da desvalorização das
modelos portugueses, foi, então, rechaçada. Nesse primeiro momento,
características europeias:
a palavra de ordem era o nacionalismo.
Por meio da literatura, os
Marabá
escritores românticos brasi-
©Wikimedia Commons
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— Da cor das areias batidas do mar;
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
— Meu colo de leve se encurva engraçado, Além disso, o índio também foi usado como representante dos
— Como hástea pendente do cáctus em flor; valores e princípios que os românticos brasileiros queriam passar
— Mimosa, indolente, resvalo no prado, para seus leitores. Assim, ele ocupava, na literatura brasileira, um
lugar que cabia ao cavaleiro medieval na literatura europeia. A
— Como um soluçado suspiro de amor! — necessidade de ter no índio tanto um símbolo nacional quanto
elemento transmissor de valores fez com que a sua imagem, na
“Eu amo a estatura flexível, ligeira, literatura, condissesse muito mais com a da imaginação do escritor
Qual duma palmeira”, romântico do que com a realidade.
Então me respondem; “tu és Marabá:
“Quero antes o colo da ema orgulhosa,
Há muito que o índio deixou de exercer esse protagonismo em
Que pisa vaidosa, nossa cultura. Ainda hoje, inúmeros abusos são cometidos com
“Que as flóreas campinas governa, onde está.” tribos remanescentes e pouco se sabe sobre seus hábitos, costumes
e sua mitologia. Assim como os primeiros colonizadores, continu-
amos a vê-lo apenas por seu caráter exótico. Ou seja, a figura do
— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
índio costuma nos despertar interesse apenas pela estranheza que
— O oiro mais puro não tem seu fulgor; pode provocar. Poucas vezes a enxergamos como parte realmente
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram integrante de nossa formação cultural. O texto a seguir promove
uma denúncia desse olhar superficial, nos dias de hoje:
— De os ver tão formosos como um beija-flor!
De Dourados a Paris
Mas eles respondem: “Teus longos cabelos,
Haveria um escândalo se as ararinhas-azuis estivessem
“São loiros, são belos, morrendo uma após a outra nos manduvis do Pantanal.
“Mas são anelados; tu és Marabá: Haveria um escândalo talvez ainda maior se uma epidemia
“Quero antes cabelos, bem lisos, corridos, estivesse matando um mico-leão-dourado por dia. Mas não
há escândalo nenhum com a morte – em ritmo quase diário
“Cabelos compridos, – dos indiozinhos que vivem nas aldeias de Mato Grosso do
“Não cor d’oiro fino, nem cor d’anajá,” Sul. Os indiozinhos, todos sabem, estão morrendo de fome ou
de doenças provocadas pela desnutrição, mas isso não parece
E as doces palavras que eu tinha cá dentro despertar interesse, muito menos indignação. (...) Afinal, são só
índios que estão morrendo – e índios, ao que parece, são seres
A quem nas direi?
inferiores, desprezíveis, atrasados. Só são bacanas quando estão
O ramo d’acácia na fronte de um homem mumificados e servem para impressionar francês.
Jamais cingirei:
A poesia da primeira geração romântica no Brasil LITERATURA 73
Módulo 20 1ª Série
etnias que formaram o povo brasileiro, o que leva a crer que sua mãe
Sim, nos suntuosos salões do Grand Palais, em Paris, era cafusa, ou seja, filha de negro e índio. Como tantos outros poetas
acaba de ser inaugurada a exposição “Brasil Índio: as Artes brasileiros, Gonçalves Dias concluiu seus estudos em Portugal, mais
dos Ameríndios”. É uma espetacular coleção de 350 peças especificamente em Coimbra. Lá, ele estudou Leis e teve contato
indígenas. São cocares imensos e coloridos, com aquela viva- com poetas do Romantismo português, como Almeida Garrett e
cidade ímpar que a arte indígena consegue transmitir. São as Alexandre Herculano.
inventivas urnas funerárias, que nos deixaram um testemunho
Quando retornou ao Brasil, em 1845, aproximou-se do grupo
tão eloquente sobre a visão indígena da morte. São as belíssimas
de Gonçalves de Magalhães. Em 1846, lançou os Primeiros Cantos,
cerâmicas marajoaras, que emprestam graciosidade até à dureza
uma das principais obras do Romantismo brasileiro, seguidos pelos
da geometria. A exposição inclui ainda uma esplendorosa
Segundos Cantos (1848), Sextilhas de Frei Antão (1848) e, por fim,
cabeça mumificada pelos índios mundurucus. Tudo isso está
Últimos Cantos (1851). Além de professor e poeta, Gonçalves Dias
exposto num ambiente decorado com sobriedade e elegância,
também foi pesquisador. Na Amazônia, ele estudou etnografia e
num projeto concebido por dois designers brasileiros. A
linguística, escrevendo, inclusive, o Dicionário da Língua Tupi,
julgar pela reação inicial da imprensa francesa – que tem sido
em 1858.
generosa em elogios à exposição –, o evento será um sucesso.
E, nas galerias do Grand Palais, sucesso significa algo como Em sua poesia, o poeta explorou os grandes temas românticos,
uns 6.000 visitantes por dia. como o amor, a natureza e Deus. No entanto, a maior força poética
de Gonçalves Dias encontra-se concentrada na temática indianista.
Por aqui, a galeria a visitar fica no polo indígena de O mito rousseauniano do bom selvagem, que já se mostrava
Dourados, em Mato Grosso do Sul. De acordo com a lista oficial presente na literatura brasileira desde os épicos árcades, fez-se, em
do governo, só naquele local morreram doze indiozinhos neste Dias, verdade artística (Bosi, 94). Poemas como “Juca-Pirama”, já
ano. Todos morreram de fome. lido neste módulo, e “O canto do guerreiro”, transcrito abaixo, são
exemplos de sua poesia indianista e deixam clara a exaltação da
PETRY, André. Revista Veja. 30 mar. 2005.
Disponível em: <veja.abril.com.br>. Acesso em: 26 mar. 2014. imagem heroica dos nativos:
Em seus poemas líricos, temas como o amor romântico e o Minha terra tem palmeiras,
arrebatamento sentimental aparecem, como nos versos abaixo, Onde canta o Sabiá.
retirados de “Se se morre de amor!”:
Minha terra tem primores,
(...)
Que tais não encontro eu cá;
Amor é vida; é ter constantemente
Em cismar – sozinho, à noite –
Alma, sentidos, coração-abertos
Mais prazer encontro eu lá;
Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,
Minha terra tem palmeiras,
D’altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr’ender o infinito, a imensidade, Onde canta o Sabiá.
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
Não permita Deus que eu morra,
D’aves, flores, murmúrios solitários;
Sem que eu volte para lá;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
Sem que desfrute os primores
E ter o coração em riso e festa;
Que não encontro por cá;
(...)
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto Onde canta o Sabiá.
O ditoso, o misérrimo dos entes:
* “Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na
Isso é amor, e desse amor se morre!
escura fronde os frutos de ouro. Conhecê-lo? – Para lá quisera eu
DIAS, Gonçalves. In: Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
ir!” (Trad. Manuel Bandeira)
DIAS, Gonçalves. Literatura Comentada. São Paulo: Abril Educação, 1982, p. 11-2.
Está presente na poesia lírica de Dias a natureza exuberante
brasileira, também alçada à condição de símbolo nacional. É o caso
do mais famoso poema de Gonçalves Dias, “Canção do exílio”, um
A “Canção do exílio” é um texto extremamente icônico em
dos principais textos da literatura brasileira.
nossa cultura. Podemos, inclusive, considerá-la uma matriz de
nossa identidade cultural. Ao longo do tempo, são inúmeros os
Canção do exílio textos que dialogam com ela, ora para reforçar o seu sentido
Kennst du das Land, wo die Citronen blühn, ufanista (como os famosos versos: “Nossos bosques têm mais
Im dunkeln Laub die Gold-Oragen Glühn, vida, / Nossa vida mais amores”, do Hino Nacional, canto maior
Kennst du es wohl? – Dahin, dahin! de louvor à pátria), ora para parodiar a idealização romântica,
visando à crítica das mazelas nacionais. O texto a seguir, de
Möcht ich… ziehn.*
Goethe
Fernando Bonassi, enquadra-se nesse segundo caso. Nele, o
autor expressa sua visão a respeito do Brasil de hoje, destacando
Minha terra tem palmeiras, um aspecto político-social de nosso país:
Também vou cantar a minha, O nacionalismo foi uma característica romântica que, no Brasil,
Nas débeis cordas da lira ganhou contornos próprios. Partindo do texto, explique como foi
utilizada a natureza, no Romantismo, para marcar a identidade
Hei de fazê-la rainha;
nacional brasileira.
(C) de modo idealizado, com valores próximos aos das Cruzadas Só teme fugir;
europeias, quando era nobre morrer por uma causa considerada No arco que entesa
justa.
(D) como símbolos de um país que surgia, sem nenhuma influência Tem certa uma presa,
dos valores europeus e celebrando apenas os costumes dos Quer seja tapuia,
povos nativos da América.
Condor ou tapir.
(E) com base no mito do bom selvagem, mostrando que eles nunca
entravam em conflitos entre si.
III
05 Leia o trecho a seguir. O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
Minha terra tem palmeiras,
De o ver na peleja
Onde canta o Sabiá;
Garboso e feroz;
As aves que aqui gorjeiam
E os tímidos velhos
Não gorjeiam como lá. (...)
Nos graves concelhos,
Não permita Deus que eu morra, Curvadas as frontes,
Sem que eu volte para lá; Escutam-lhe a voz!
Sem que desfrute os primores
IV
Que não encontro por cá;
Domina, se vive;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Se morre, descansa
Onde canta o Sabiá.
Dos seus na lembrança,
Os versos do famoso poema “Canção do exílio” evidenciam um Na voz do porvir.
grande amor à pátria, simbolizada por sua natureza. Criado por
_________ e pertencente à escola _________, o poema revela, em Não cures da vida!
tom _________, um eu lírico que exterioriza sua _________. Sê bravo, sê forte!
A alternativa correta para o preenchimento das lacunas acima é: Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!
(A) Gonçalves de Magalhães – árcade – bucólico – solidão
(B) Gonçalves Dias – romântica – ufanista – saudade DIAS, Antônio Gonçalves. Obras Poéticas. Tomo II.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. p. 42–43.
(C) Gregório de Matos – barroca – contraditório – ironia
(D) Casimiro de Abreu – indianista – regionalista – nacionalidade
(E) Castro Alves – condoreira – emancipatório – liberdade 01 Juntamente com outros poemas do autor, como “Juca-Pirama”
e “Os timbiras”, a “Canção do tamoio” integra uma das linhas mais
peculiares de Gonçalves Dias e do Romantismo brasileiro.
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