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Caio Graco Ebook

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Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense

org a n iz a d or a s
Sandra Reimão | Gisela Creni
Na década de 1980, a editora Brasiliense promo-
veu uma revolução no mercado editorial brasileiro
com o lançamento da coleção Primeiros Passos,
que, em livros de formato e preço reduzido, pu-
blicava textos sobre grandes questões: O Que É...
Socialismo, Anarquismo, Literatura, Ideologia, His-
tória... Com projetos gráficos criativos, os volumes
eram escritos por autores brasileiros sob uma pers-
pectiva panorâmica, mas de forma enxuta e objeti-
va, buscando atingir um novo público universitário.
O sucesso foi imediato: os jovens brasileiros,
vivendo em um país em processo de redemocrati-
zação, buscavam o conhecimento como uma forma
de poder participar do novo país em construção.
Os números da coleção impressionam: entre 1980
e 1989 foram mais de duzentos títulos, com cinco
milhões de exemplares vendidos. Somente nos
quatro primeiros anos da coleção, a Brasiliense pu-
blicou mais do que em toda sua história anterior.
À Primeiros Passos somaram-se outras coleções de
sucesso, como Tudo é História, Cantadas Literárias
e Encanto Radical, que também passaram a fazer
parte das estantes dos jovens universitários.
Além de contar com a presença marcante do
editor Luiz Schwarcz, que trabalhou na editora de
1978 a 1986, foi Caio Graco da Silva Prado, diretor-
-presidente da editora Brasiliense desde 1975, o res-
ponsável por estas coleções. Este livro apresenta a
trajetória de Caio Graco enquanto editor à frente
da Brasiliense.
Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense
reitor
Vahan Agopyan
vice-reitor
Antonio Carlos Hernandes

pró-reitor de cultura e extensão universitária


Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado
pró-reitora adjunta de cultura e extensão universitária
Margarida Maria Krohling Kunsch

diretor

Carlos Alberto de Moura Ribeiro Zeron
vice-diretor
Alexandre Moreli
publicações bbm
editor Plinio Martins Filho

editores assistentes Millena Santana e Claudia Sarmiento
Caio Graco Prado e a
Editora Brasiliense

orga niz a d or a s

Sandra Reimão
Gisela Creni
Copyright © 2020 by Autores

Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.2.1998.


É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.

O presente livro é parte do projeto “Editoras e Resistência 1964-1985”,


coordenado por Sandra Reimão como pesquisadora associada da bbm,
entre os anos 2015 e 2020.

Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação


Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (sbdbbm)

R363c
Caio Graco e a Editora Brasiliense / organizadores: Sandra Reimão;
Gisela Ceni. – São Paulo: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin,
2020.
116 p. ; 15,5 x 22,5 cm.

isbn 978-65-87936-09-3

1. Biografia.  2. Editoração.  3. Publicações na ditadura militar.  4.


Coleções Culturais.  i. Organizadores.  ii. Título.
cdd: 070.509

Bibliotecário Responsável Técnico: Rodrigo M. Garcia, crb8ª/7584

Direitos reservados a
Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin
Rua da Biblioteca, 21 – cep 05508-065
Cidade Universitária, São Paulo, sp, Brasil
e-mail: bbm@usp.br / tel.: (11) 2648-0320
Printed in Brazil 2020
Foi feito o depósito legal
Editar é um risco, um jogo e uma aventura. É o resultado de
um acúmulo de experiências, não definido nem quantificado.
É, sobretudo, uma atividade extremamente pessoal.
caio graco prado (1931-1992)
Sumário

Cronologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1. Brasiliense e o Brasil da Ditadura Militar: Uma Editora de


Resistência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Flamarion Maués

2. A Coleção Primeiros Passos: Projeto Editorial, Ação


e Formação Política. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Andrea Lemos
As Primeiras Capas da Primeiros Passos – Sandra Reimão. . . . . . . . . . 39
A Coleção Primeiros Passos – Luiz Schwarcz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3. Novas Coleções, Novos Autores, Novas Linguagens. . . . . . . . . . 47


Marcello Rollemberg
Feliz Ano Velho: O Best-seller de uma Geração – Marcelo Rubens
Paiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

4. Filosofia, Antropologia e Sociologia... Profusão de Inovações. . . 55


Sandra Reimão
5. Brasiliense e o Brasil da Abertura “Lenta, Gradual e Segura”. . . . 63
Flamarion Maués
O Amarelo e o Playboy – Eugênio Bucci. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

6. Redescobrindo o Brasil em hq: Brasiliense e o Brasil


dos Anos 1990. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
João Elias Nery

7. Leia Livros: Cultura em Debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75


Andrea Lemos

8. Depoimentos e Relatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

9. Caio Graco por Caio Graco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Anexos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Referências Bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Organizadoras e Autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Cronologia

1931 – Em 12 de agosto, na cidade de São Paulo, nasce Caio Graco da


Silva Prado, filho de Caio Prado Júnior e de Hermínia (Baby) F.
Cerquilho.
1943 – Caio Prado Júnior, Arthur Neves e Leandro Dupré fundam a
Editora Brasiliense, que se constitui como polo de oposição ao
Estado Novo de Getúlio Vargas. Início da edição das obras com-
pletas de Monteiro Lobato.
1944 – Monteiro Lobato associa-se à Brasiliense, que nesse ano pu-
blica, entre outros, Retrato do Brasil: Ensaio Sobre a Tristeza Brasi-
leira, de Paulo Prado, e Éramos Seis, de Maria José Dupré.
1945 – Brasiliense publica Formação do Brasil Contemporâneo, de
Caio Prado Júnior.
1964 – Menos de um mês após o golpe militar, em 23 e 24 de abril
Caio Graco e Caio Prado Júnior são detidos por quase uma sema-
na com base na Lei de Segurança Nacional.
1965 – Caio Graco Prado começa a trabalhar regularmente na Editora
Brasiliense, exercendo vários cargos.
1969 – Em 3 de abril Caio Prado Júnior é cassado por Decreto Federal.
1970 – Caio Prado Júnior, que estava no exterior, retorna ao Brasil e,
em março, é condenado à prisão, onde permanece até agosto de

cronolo g i a   9
1971, quando é absolvido por unanimidade pelo Supremo Tribu-
nal Federal.
1975 – Caio Graco Prado assume a função de diretor-presidente da
editora Brasiliense.
1978 – Início da publicação do jornal Leia Livros com direção de Caio
Graco Prado e Cláudio Abramo. A publicação perdurou até 1984.
1980 – Início da coleção Primeiros Passos, que até 1989 lançou mais
de duzentos títulos e vendeu mais de cinco milhões de exem-
plares.
1981 – Início das coleções Tudo É História e Cantadas Literárias.
1982 – Início das coleções Encanto Radical e Primeiros Voos.
1982 – Primeira edição do romance Feliz Ano Velho, de Marcelo Ru-
bens Paiva – na coleção Cantadas Literárias –, livro que nos dez
primeiros meses vendeu 120 mil exemplares e, ao longo de 22
anos, quatrocentos mil.
1983 – Início da coleção Circo de Letras.
1984 – Início da coleção Qual É.
1984 – Caio Graco Prado participa ativamente da campanha Diretas
Já.
1990 – O historiador Caio Prado Júnior falece em 23 de novembro.
1992 – No dia 18 de junho, o editor Caio Graco da Silva Prado falece
aos sessenta e um anos, em decorrência de um acidente de moto-
cicleta em Camanducaia, Minas Gerais.
1992 – Yolanda Cerquinho da Silva Prado, irmã de Caio Graco, assu-
me a direção da Brasiliense.
2011 – Maria Teresa Batista de Lima torna-se diretora da Brasiliense.

10  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Introdução
Sandra Reimão

Na década de 1980, a editora Brasiliense promoveu uma revolução


no mercado editorial brasileiro com o lançamento da coleção Pri-
meiros Passos, que, em livros de formato (11,5 x 16 cm) e preço redu-
zido, publicava textos sobre grandes questões: O Que É... Socialismo,
Anarquismo, Literatura, Ideologia, História... Com projetos gráficos
criativos, os volumes eram escritos por autores brasileiros sob uma
perspectiva panorâmica, mas de forma enxuta e objetiva, buscando
atingir um novo público universitário.
O sucesso foi imediato: os jovens brasileiros, vivendo em um país
em processo de redemocratização, buscavam o conhecimento como
uma forma de poder participar do novo país em construção. Os nú-
meros da coleção impressionam: entre 1980 e 1989 foram mais de du-
zentos títulos, com cinco milhões de exemplares vendidos. Somente
nos quatro primeiros anos da coleção, a Brasiliense publicou mais do
que em toda sua história anterior. À Primeiros Passos somaram-se
outras coleções de sucesso, como Tudo é História, Cantadas Literá-
rias e Encanto Radical, que também passaram a fazer parte das estan-
tes dos jovens universitários.
Além de contar com a presença marcante do editor Luiz Sch-
warcz, que trabalhou na editora de 1978 a 1986, foi Caio Graco da Sil-

in trodução   11
va Prado (1931-1992), diretor-presidente da editora Brasiliense desde
1975, o responsável por estas coleções. Este livro apresenta a trajetória
de Caio Graco enquanto editor à frente da Brasiliense.

***
A editora Brasiliense foi fundada em 1943 pelo intelectual paulista
Caio Prado Júnior (1907-1990) em parceria com Arthur Neves (1916-
1971) e Leandro Dupré (1891-1960). O escritor Monteiro Lobato
(1882-1948) associou-se ao projeto posteriormente, em 1944.
À época, o Brasil vivia o período ditatorial do presidente Getúlio
Vargas, o chamado Estado Novo, que perdurou entre os anos de 1937
e 1945. A escolha do nome da editora – Brasiliense – teve o sentido de
“arrancar das mãos do Estado autoritário o epiteto do ideal de uma
nação”. A intenção era criar um espaço para “dar voz aos cromatis-
mos e às dissonâncias do pensamento brasileiro, criando um espaço
em que os escritores pudessem expressar as suas ideias livremente”,
como destaca Paulo Teixeira Iumatti1.
Nos três primeiros anos, a editora publicou vários livros sobre a
história e a política do país. Entre eles, em 1944, Retrato do Brasil: En-
saio Sobre a Tristeza Brasileira, de Paulo Prado (anteriormente edita-
do por Duprat-Mayença e F. Briguiet). No ano seguinte, destacou-se
Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior (publicado
anteriormente pela Editora Martins).
Com o final da ditadura do Estado Novo, em outubro de 1945, a
Brasiliense, nas palavras de Iumatti, aumentou “a publicação de livros
que interpretavam a realidade brasileira dentro de uma perspectiva
crítica”2. Em 1947, a editora lançou Evolução Política do Brasil: Ensaio
de Interpretação Dialética da História Brasileira, de Caio Prado Júnior
– um clássico para a compreensão dos rumos da história do país.

1. Paulo Teixeira Iumatti, “Introdução”, em Catálogo Brasiliense 50 Anos 1943-1993.


2. Idem.

12  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Nesse ano, o Partido Comunista Brasileiro, pcb, voltou à clandesti-
nidade e Caio Prado Júnior, que havia sido eleito deputado, foi preso
por três meses.
Ao lado das publicações explicitamente políticas, as obras lite-
rárias de Monteiro Lobato e de Maria José Dupré foram grandes
sucessos de venda desde os primeiros anos da Brasiliense. Em 1943,
as obras completas de Monteiro Lobato foram editadas em duas co-
leções – uma para crianças outra para adultos – que eram “o espíri-
to da Brasiliense”, nas palavras do editor Octalles Marcondes Fer-
reira3. As coleções de Lobato – identificadas pela capa dura verde
com detalhes em prata – foram sucessos de vendas por todo o país.
No ano seguinte foi editado o romance Éramos Seis, de Maria José
Dupré, ou Sra. Leandro Dupré, outro sucesso de vendas4. Uma das
estratégias iniciais da editora foi a de vender coleções de livros em
domicílios, mas, ao mesmo tempo, já na década de 1940 foi instalada
a Livraria Brasiliense, na rua Barão de Itapetininga 93, no centro da
cidade de São Paulo.
Análises da literatura e das artes brasileiras também fizeram parte
do catálogo da Brasiliense desde seus primeiros anos: em 1944 ela
publicou o Diário Crítico de Sergio Milliet (1940-1943) e Nos Bastido-
res da Literatura, de Nelson Palma Travassos.
Entre 1955 e fevereiro de 1964, Caio Prado Júnior e Elias Neves
Neto publicaram a Revista Brasiliense – que contou com o apoio e a
colaboração de intelectuais como João Cruz Costa, Sérgio Buarque
de Holanda e Sergio Milliet.
O editorial do primeiro número destaca: “A Editora Brasiliense
[...] resolveu tomar a iniciativa de uma revista, em torno da qual se
congreguem escritores a estudiosos de assuntos brasileiros interessa-

3. Apud Laurence Hallewell, O Livro no Brasil: Sua História.


4. Anteriormente, em 1943, o livro havia sido publicado pela companhia Editora Nacional.
A Brasiliense publicou diversas edições do romance até 1954, quando este passou para
outras editoras.

in trodução   13
dos em examinar e debater os nossos problemas econômicos, sociais
e políticos”.
Nas páginas desta revista, Caio Prado Júnior criticou teses defen-
didas pelo Partido Comunista Brasileiro, sobretudo quanto “à teoria
dos ‘resíduos feudais’ – que apontava a permanência do latifúndio
como o principal entrave da economia brasileira” e criticou também a
“aliança do partido com setores progressistas da burguesia nacional”5.
Durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), em reação à
opressão estatal, a Brasiliense radicalizou sua atuação como editora
de oposição – o mesmo fizeram a Civilização Brasileira e a Vozes,
entre outras6. Dois livros de Caio Prado Júnior publicados pela Brasi-
liense foram censurados durante a ditadura militar: A Revolução Bra-
sileira e O Mundo do Socialismo7. Em A Revolução Brasileira, Caio Pra-
do Júnior amplia suas críticas à “concepção do partido [pcb] quanto
à suposta necessidade de se realizar no Brasil uma revolução demo-
crático-burguesa [como sendo uma] etapa historicamente necessária
no caminho do socialismo”8.
Ao longo de sua história, a Brasiliense passou por várias fases de
dificuldades financeiras, e em 1974 chegou a pedir concordata. Em
1975, Caio Graco Prado, filho de Caio Prado Júnior, assumiu a dire-
ção da casa editorial. Desde 1965 Caio Graco já passara por vários
cargos na editora.
Na década de 1980, em paralelo aos grandes sucessos de vendas
nas coleções voltadas ao público jovem, a Brasiliense também publi-
cou trabalhos densos e complexos, com temáticas e procedimentos
inovadores. Vários desses títulos se tornaram clássicos das Ciências

5. Alzira Alves de Abreu et al. (coord.), Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, p. 4766.


6. Para maiores informações, ver Flamarion Maués, Livros Contra a Ditadura: Editoras de
Oposição no Brasil, 1974-1984, cap. 1.
7. Ver Sandra Reimão. Repressão e Resistência – Censura a Livros na Ditadura Militar.
8. Ver Alzira Alves de Abreu e outros (coord.), Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, p.
4766.

14  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Humanas. Entre autores brasileiros, por exemplo, a editora publicou
importantes livros como: Impressões de Viagem: cpc, Vanguarda e
Desbunde, 1960-1970, de Heloisa Buarque de Hollanda., e Cineastas e
Imagens do Povo, de Jean-Claude Bernardet.
No dia 18 de junho, o editor Caio Graco da Silva Prado, aos ses-
senta anos, faleceu em decorrência de um acidente de motocicleta na
cidade de Camanducaia, em Minas Gerais.
Entre 1992 e 2011 a editora foi dirigida por Yolanda Cerquinho da
Silva Prado, irmã de Caio Graco. Desde 2011 sob a direção de Maria
Teresa Batista de Lima, a editora vem ensaiando retomar a relevância
cultural e política que teve outrora.

***
No primeiro capítulo deste livro, Flamarion Maués realiza um recuo
no tempo e aborda a Brasiliense antes da atuação de Caio Graco Pra-
do como editor.
Nos capítulos seguintes, os autores destacam as principais cria-
ções da editora Brasiliense a partir dos anos 1980: as coleções para
jovens; o best-seller Feliz Ano Velho; os livros de pesquisa universitá-
ria; a coleção Redescobrindo o Brasil e o jornal Leia Livros. Em “Bra-
siliense e o Brasil da Abertura ‘Lenta, Gradual e Segura’ ”, é discutida
a atuação de Caio Graco no movimento Diretas Já em 1984.
Por fim, nas últimas seções, o leitor encontra múltiplos olhares so-
bre a figura de Caio Graco – olhares de colegas e amigos, e, inclusive,
do próprio editor sobre si mesmo, em “Caio Graco por Caio Graco”.

in trodução   15
Capa de Retrato do Brasil: Ensaio Sobre a Tristeza Brasileira, de Paulo
Prado, 5ª edição, São Paulo, Brasiliense, 1944. (18 x 24 cm)
Capa sóbria, lisa, sem ilustrações, apenas com tipos gráficos e variação
da cor utilizada nestes tipos. É possível associar esse estilo ao da Galli-
mard – casa editorial fundada na França em 1919. O logotipo da editora
(com as letras EBL – Editora Brasiliense Limitada – em arabescos na
parte superior do quadrado) apresenta imagem de candeeiros ou lanter-
nas antigas, fazendo ressoar a ideia de luz, iluminação.

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Anúncio publicado em 19 de julho de 1958 no jornal Lavoura e Com-
mercio, Uberaba, Minas Gerais. Fonte: http://memoria.bn.br/DocRea-
der/830461/16571
Três características marcantes da editora Brasiliense podem ser vistas
neste anúncio: 1. A estratégia de articular as publicações em coleções:
Coleções de Josué de Castro, Afonso Schmidt, Lima Barreto, Caio Prado
Junior e outras. As coleções podiam ser adquiridas a prazo, pelo crediá-
rio. 2. O esforço da Brasiliense na distribuição regional de seus livros. O
anúncio reproduzido acima foi publicado em um jornal da cidade de Ube-
raba e o local indicado para aquisição dos livros é na própria cidade. 3.
A utilização de chamadas publicitárias, no caso: oportunidade, facilidade,
“Coleções selecionadas”, “Coleção Infantil de monteiro lobato, o melhor
presente para crianças”.

in trodução   17
Capa de História Econômica do Brasil, de Caio Prado Júnior, 7ª edição
atualizada, São Paulo, Brasiliense, 1962 (16 x 23,5 cm).
O tipo de letra utilizado no título, no nome do autor e da editora, se as-
semelha graficamente aos tipos elaborados por xilogravuras em capas
de cordéis nordestinos. A capa é assinada por Edgar Koetz (1914-1969,
Porto Alegre). A assinatura pode ser vista (em negrito) na barra inferior
à direita. Artista plástico consagrado, Koetz elaborou muitas capas par
a Editora Globo de Porto Alegre. Na ilustração presente no terço inferior
da capa de História Econômica do Brasil encontra-se a reprodução de
(parte de) uma litografia de Rugendas, de 1835, cujo título é Desembar-
que (Debarquement).
Johann Moritz Rugendas (1802-1858, Alemanha) foi um dos importan-
tes artistas plásticos viajantes que pintaram a temática da vida dos ne-
gros africanos escravizados no Brasil. A cena elaborada por Rugendas
retrata o desembarque de pessoas negras escravizadas de um bote para
um tablado onde eram examinadas, registradas, e encaminhadas para
serem comercializadas por homens brancos. O Cais do Valongo, no Rio
de Janeiro, foi, entre 1811 e 1831, o principal porto de chegada de africa-
nos escravizados no Brasil. Estima-se que por lá passaram um milhão
de escravos – uma parcela significativa de um total estimado de quatro
milhões em terras brasileiras.
O livro de Caio Prado Júnior, História Econômica do Brasil, é uma
obra seminal na abordagem da escravidão como configuradora da his-
tória econômica nacional. As reflexões de Caio Prado Júnior mostram
também como o fim da escravidão, no Brasil, está atrelado a uma movi-
mentação do capitalismo, local e mundial, que passava de capitalismo
comercial para industrial – o que pressupõe a existência de mercados
consumidores, incluindo mercados internos constituídos por mão de
obra trabalhadora livre.

18  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


in trodução   19
Montagem de logotipos da Editora Brasiliense
No logotipo de 1944 as letras EBL – Editora Brasiliense Limitada – em
arabescos na parte superior do quadrado negro. Em 1962, uma modifica-
ção: apenas duas letras, E e B, aparecem na parte de cima de um can-
deeiro. Nas marcas dos anos 1981, 1982, 1983 e 1986, reproduzidas acima,
o destaque vai para a letra B (vazada ou preenchida), cuja lateral esquer-
da serve de apoio para a escrita da palavra Brasiliense, direcionada de
baixo para cima. A disposição vertical remete graficamente à imagem
da lombada de um livro.

20  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Nos selos da Livraria Brasiliense encontramos logotipos com destaque
na letra B (os três primeiros) ou a grafia da palavra Brasiliense asseme-
lhando-se a um manuscrito ou a uma assinatura.

in trodução   21
Capa da edição número 38 da Revista Brasiliense, nov.-dez. 1961.
Revista Brasiliense. Diretor-Responsável: Elias Chaves Neto. Conselho de
Redação: Álvaro de Faria, Caio Prado Júnior, Catulo Branco, E. L. Ber-
linck, Eduardo Sucupira Filho, Heitor Ferreira Lima, João Cruz Costa, Na-
bor Caires de Brito, Paulo Alves Pinto, Paulo Dantas, Sergio Milliet.

22  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


1
Brasiliense e o Brasil da Ditadura Militar:
Uma Editora de Resistência
Flamarion Maués

No dia 23 de abril de 1964, menos de um mês após o golpe militar


de 31 de março, que instaurou a ditadura militar brasileira, o editor
Caio Graco foi preso e, no dia seguinte, seu pai, o historiador Caio
Prado Júnior, também foi detido. Ambos ficaram quase uma semana
presos com base na Lei de Segurança Nacional 1.802, de 5 de janeiro
de 1953.
Também no dia 24, a gráfica Urupês, pertencente à editora Brasi-
liense, foi interditada por agentes do Departamento de Ordem Políti-
ca e Social. A empresa foi acusada de imprimir livros e publicações de
caráter subversivo – entre eles, o folheto Um Dia na Vida de Brasilino.
Publicado desde 1961, seu sucesso foi imenso – o texto denunciava
ironicamente o imperialismo e o domínio das indústrias norte-ame-
ricanas em solo brasileiro.
Em 1965, no dia 7 de junho, Caio Prado Júnior e Caio Graco foram
novamente presos. Ambos foram liberados após algumas horas. An-
tes, em maio de 1965, Caio Prado Júnior havia sido intimado a depor
por ter reeditado História Nova do Brasil, coleção coordenada por
Nelson Werneck Sodré e considerada subversiva pelo Exército.
Caio Prado Júnior e Caio Graco não se intimidavam com as pri-
sões e perseguições por parte dos militares no poder: mantiveram

br a sil ie nse e o br a s il da di ta dur a m ili ta r   23


suas atuações editoriais e se engajaram em tarefas de resistência ao
poder estabelecido.
Em 13 de dezembro de 1968, com a promulgação do Ato Insti-
tucional n. 5, ai-5, o chamado “golpe dentro do golpe”, a situação
dos militantes e intelectuais de resistência ficou ainda mais difícil
e perigosa. A Brasiliense sofreu diversas formas de coação e uma
entrevista de Caio Prado Júnior, concedida em 1967 a uma revista
estudantil denominada Revisão, foi vista pelos militares como uma
provocação do historiador contra o governo. Ele decidiu, assim, se
exilar no Chile. Quando, em abril de 1969, seu nome integrou a lista
dos cassados pelo regime militar, Caio Prado Júnior já se encontrava
exilado no exterior.
Especificando: No dia 28 de abril de 1969­foram aposentados por
decreto três docentes da Universidade de São Paulo (usp): Florestan
Fernandes, Jayme Tiomno e João Batista Villanova Artigas. No dia 30
de abril foi publicado mais um novo decreto dirigido especialmente
contra a usp. Nele se aposentava, ou demitia quando fosse o caso, o
reitor em exercício e mais 23 professores. Entre eles constava o nome
de Caio Prado Júnior. Os cassados em 30 de abril de 1969 foram:

•  Alberto de Carvalho da Silva


•  Bento Prado Almeida Ferraz Júnior
•  Caio Prado Júnior
•  Elza Salvatori Berquó
•  Emília Viotti da Costa
•  Fernando Henrique Cardoso
•  Hélio Lourenço de Oliveira (reitor em exercício)
•  Isaías Raw
•  Jean-Claude Bernardet
•  Jon Andoni Vergareche Maitrejean
•  José Arthur Gianotti
•  Júlio Puddles

24  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


•  Luiz Hildebrando Pereira da Silva
•  Luiz Rey
•  Mário Schenberg
•  Octávio Ianni
•  Olga Baeta Henriques
•  Paula Beiguelman
•  Paulo Alpheu Monteiro Duarte
•  Paulo Israel Singer
•  Paulo Mendes da Rocha
•  Pedro Calil Padis
•  Reynaldo Chiaverini
•  Sebastião Baeta Henriques.

Dos 24 listados, cinco não eram docentes da instituição: Caio Pra-


do Júnior era livre-docente pela usp, mas não tinha vínculo empre-
gatício; Reynaldo Chiaverini era médico do Hospital das Clínicas;
Sebastião Baeta Henriques e Olga Baeta Henriques eram pesquisa-
dores no Instituto Butantã; e Pedro Calil Padis era professor de Eco-
nomia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara.
Dois outros nomes que aparecem na lista já haviam sido demitidos
em 1964 durante o ipm (Inquérito Policial Militar) da Faculdade de
Medicina: Júlio Puddles e Luiz Rey.
No inicio de 1970, Caio Prado Júnior decidiu retornar ao Brasil e,
em março, foi novamente preso e condenado a quatro anos e meio de
prisão, aos 63 anos de idade.
Sobre a prisão de Caio Prado Júnior em março de 1970, Luiz Ber-
nardo Pericás, no capítulo 11 de Caio Prado Júnior: Uma Biografia Po-
lítica, relata:

Como se pode imaginar, a repercussão nacional e internacional da de-


tenção de um intelectual da importância e envergadura de Caio Prado
Júnior foi enorme. Danda e Caio Graco tiveram um papel seminal na

br a sil ie nse e o br a s il da di ta dur a m ili ta r   25


mobilização de personalidades de diversos países para protestar e, de-
pois do julgamento, exigir a liberação do pai. Caio Prado Júnior cum-
priu sua pena até agosto de 1971, quando foi absolvido por unanimidade
pelo stf (Supremo Tribunal Federal) e finalmente liberado.

Na Revista Civilização Brasileira, n. 3, de julho de 1965, Nelson


Werneck Sodré, na página 114, escreveu:

Quem escreve estas linhas é diariamente ameaçado de prisão pelo noti-


ciário de televisão, rádio e jornais. Em S. Paulo, foram presos e liberta-
dos algumas horas depois os editores Caio Prado Júnior e Caio Graco
da Silva Prado. O livro, pois, está no índex, é perseguido, apreendido,
impedido de circular. Este é o clima em que estamos vivendo, no Brasil,
em junho de 1965. É o clima em que a cultura foi colocada.

O historiador Caio Prado Júnior faleceu em 23 de novembro de


1990, deixando dois filhos, Yolanda Cerquinho da Silva Prado e Caio
Graco da Silva Prado, sete netos e três bisnetos.

26  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Caio Prado Júnior com seus filhos Danda e Caio Graco no Rio de Ja-
neiro, c. 1939.
Fonte: Luiz Bernardo Pericás, Caio Prado Júnior: Uma Biografia Política.
São Paulo, Boitempo Editorial, 2016, p. 256.

br a sil ie nse e o br a s il da di ta dur a m ili ta r   27


Caio Graco Prado e a irmã Danda Prado fantasiados – Caio Graco
fantasiado de vaqueiro e Danda em trajes holandeses, c. 1940-1946.
Fonte: Arquivo Instituto de Estudos Brasileiros – IEB-USP; Fundo Caio
Prado Junior, Código do documento: CPJ-F10-792.

28  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Abril 1964. Caio Prado
Júnior e Caio Graco Prado
presos por imprimir as
“obras subversivas” Um
Dia na Vida de Brasilino e
Revista Brasiliense.
Jornal do Brasil, 25 de abril
de 1964, caderno 1, p. 9.

26 de abril de 1964. Mesma notícia


no Correio da Manhã, primeira
página, canto esquerdo inferior.
Fonte: http://memoria.bn.br/
DocReader/089842_07/50966

br a sil ie nse e o br a s il da di ta dur a m ili ta r   29


Capa, texto inicial e final de Um Dia na Vida de Brasilino (14 x 21 cm).

30  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Jornal Nossa Voz, de
São Paulo, em 26 de
julho de 1962 reproduz
notícia e resumo do
jornal A Tribuna de
Santos, de 11 de maio
de 1961, sobre Um Dia
na Vida de Brasilino.
Fonte: http://
memoria.bn.br/
DocReader/120987/7480

Em 1965, Caio
Prado Júnior e
Caio Graco Prado
foram novamente
presos. Folha de S.
Paulo, 08.06.1965,
Ilustrada, p. 14.

br a sil ie nse e o br a s il da di ta dur a m ili ta r   31


Editora Brasiliense Livraria – Cartão de Natal 1979. Exemplar enviado
para Odette de Barros Mot.
Fonte: Arquivo Instituto de Estudos Brasileiros – IEB-USP; Fundo Odette
de Barros Mot, código do documento: OBM-CPB-059.

32  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


2
A Coleção Primeiros Passos: Projeto Editorial,
Ação e Formação Política
Andrea Lemos

Criada no âmbito de um projeto político-cultural conduzido pelo


editor Caio Graco Prado, a coleção Primeiros Passos1 foi inaugura-
dora, no início dos anos 1980, da aproximação da Brasiliense com o
público jovem e seu sucesso foi responsável pelos subsequentes lan-
çamentos da editora na mesma linha editorial, como Cantadas Lite-
rárias, Tudo É História, Circo de Letras e Encanto Radical.
O leitor jovem, identificado por Caio Graco Prado como públi-
co-alvo em sua linha editorial para a coleção Primeiros Passos, foi
aquele visto por Caio nos congressos da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (sbpc), quando estes se tornaram encontros
de discussão política ampla, em fins da década de 1970, momento em
que as áreas de ciências humanas e sociais passaram a ter uma partici-
pação mais significativa nesses congressos. A presença da Brasiliense
no Congresso da sbpc de 1979, em Fortaleza, correspondeu ao incre-
mento das atividades de editoras cujas linhas de publicação contem-
plavam as áreas de humanas e sociais em seus estandes de vendas.

1. Este capítulo retoma, em partes e com modificações, dois trabalhos anteriores de Andrea
Lemos Xavier, A Produção da Coleção Primeiros Passos: Um Projeto Político-Cultural da
Editora Brasiliense (1979-1985) e Civilização Brasileira e Brasiliense: Trajetórias Editoriais,
Empresários e Militância Política.

a coleção p r i m eiro s pa s s o s   33
Atento às mudanças do cenário de grande movimentação políti-
ca de estudantes e reconhecendo a necessidade de aprofundamento
dos discursos curiosos, porém simplificados, dos jovens, Caio Graco
entendeu que havia ali uma lacuna a ser preenchida.
A Primeiros Passos foi criada com objetivo de ampliar e divul-
gar para um público maior o conhecimento sobre temas específicos
relacionados àquele momento de abertura política. Com textos em
linguagem pouco acadêmica, mas buscando um conteúdo razoa-
velmente aprofundado, sob o titulo O Que É, a coleção Primeiros
Passos se voltou a temas como capitalismo, socialismo, sindicalismo,
dialética, política cultural, ideologia, nacionalidade, tortura, poder,
cultura, revolução, ditadura, participação política, imperialismo, en-
tre outros. Buscava-se assim estimular o interesse do leitor jovem
em saber mais sobre esses assuntos para poder melhor refletir sobre
a própria conjuntura.
Inicialmente, os títulos foram solicitados pelo editor aos autores
e, posteriormente, vários autores manifestaram-se e enviaram novas
propostas ao editor. Segundo Yolanda Cerquinho Prado, atual di-
retora-presidente da Brasiliense, em entrevista a mim concedida, o
trabalho editorial de Caio Graco era realizado em parceria com Luiz
Schwarcz, na época funcionário da empresa, até sua saída em 1986.
Apesar da semelhança com a coleção francesa Que Sais-Je?, o
formato da coleção Primeiros Passos foi inspirado, segundo Luiz
Schwarcz, em uma outra coleção, de origem espanhola, denominada
Biblioteca de Divulgación Política. Esta coleção fora recomendada
por Carlos Knapp, um amigo de Caio Graco que, exilado na Espanha,
conheceu a coleção e sugeriu à Brasiliense que comprasse os direitos
de sua publicação para lançá-la no Brasil.
Tratando-se de uma coleção temática com títulos como Que Es
el Capitalismo?, Que Es el Socialismo?, Caio Graco solicitou a Luiz
Scwharcz que examinasse alguns volumes e fizesse um parecer so-
bre a publicação da coleção pela Brasiliense. Luiz Schwarcz decidiu

34  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


não comprar os direitos de publicação. Sustou o pagamento, mas não
abriu mão da ideia sugerida por aquela coleção e propôs a Caio Gra-
co criar o mesmo tipo de publicação, porém, com análises baseadas
na realidade brasileira
Em 1979, a ideia concretizou-se em um projeto que começaria com
a formação de um pequeno grupo, incluindo uma coordenadora para
escolher os autores e orientá-los para o objetivo da coleção. Vanya
Sant’Anna, ex-professora de ciência política de Luiz Schwarcz, que,
sugerida por ele, aderiu à proposta. Buscaram, ademais, os autores
para os temas iniciais que versariam sobre capitalismo, anarquismo,
comunismo, socialismo e sindicalismo. Afrânio Mendes Catani, Caio
Túlio Costa, Arnaldo Spindel e Ricardo Antunes foram os primeiros
nomes de uma maioria de intelectuais paulistas autores da coleção.
Os critérios de escolha dos autores para escrever os livros da cole-
ção podem ser entendidos pela presença em seus volumes daqueles
que circulavam no mesmo ambiente intelectual paulista – nas pala-
vras de Schwarcz, “o 12o andar da rua Barão de Itapetininga ... [onde]
as pessoas iam levar seus artigos e a gente acabava se reunindo”. Tanto
os autores convidados no início quanto os demais – os que enviavam
textos para a seleção dos editores – constituíam a rede de relações
formada por uma certa intelectualidade paulista no período.
A análise dos dados biográficos dos autores da Primeiros Passos
entre os anos 1980 e 1985 mostram a predominância de formação
acadêmica e atuação profissional realizadas em instituições paulistas,
como a Universidade de São Palo (usp), a Fundação Getulio Var-
gas de São Paulo (fgv-sp) e a Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Nesse sentido, intelectuais como Frei Betto, Caio Prado
Júnior, Marilena Chaui, Dalmo Dallari, Florestan Fernandes e ou-
tros, interessados na realização de debates conjunturais sobre temas
sociais e preocupados com a participação política, com vistas ao fim
da ditadura civil-militar brasileira, consolidavam a perspectiva crítica
nos temas da coleção.

a coleção p r i m eiro s pa s s o s   35
Ao publicar esses títulos a editora cumpria o papel de ligar assun-
tos da conjuntura nacional com temas universais. Ou seja, tratava
das questões internas a partir do estímulo às leituras temáticas mais
amplas, oferecendo ao leitor, indiretamente, um determinado ins-
trumental para análise da política do período. Foram tratadas ques-
tões sobre a política brasileira, mas não se detinham numa análise
exclusiva de algum tema da história do Brasil. Por exemplo, no caso
dos títulos O Que É Capitalismo, O Que É Sindicalismo, O Que É So-
cialismo, O Que É História e O Que É Indústria Cultural, primeira-
mente são abordadas questões históricas internacionais para depois
discutir o Brasil. Desta forma, a Primeiros Passos já apresentava uma
diferença significativa em relação à coleção espanhola que a havia
inspirado. Ao contrário da Biblioteca de Divulgación Política, seus
textos não propunham uma análise específica sobre o país, mas mos-
travam uma determinada perspectiva política geral que podia ser
aplicada sobre a conjuntura.
A repercussão da coleção Primeiros Passos garantiu resultados fi-
nanceiros significativos ao proporcionar o primeiro boom editorial da
Brasiliense e assegurar à editora, entre os anos de 1980 e 1984, a venda
de 2,5 milhões de exemplares, o que significava, na época, 25% de seu
faturamento2.
Além da linguagem simples dos textos para apresentar temas rela-
tivamente complexos, o sucesso dos livros da Primeiros Passos deve
também créditos ao seu formato: pequeno, com média de noventa
páginas, como as chamadas edições de bolso, com capas ilustradas
e por vezes charges de conhecidos cartunistas – nomes da impren-
sa alternativa dos anos 1970, como Paulo Caruso e Miguel Paiva – e
com preços acessíveis, seu formato, assim, garantia que os livrinhos
também fossem produtos de mais fácil venda. Em 1984, houve uma

2. Ver Fernando Paixão, Momentos do Livro no Brasil, p. 172.

36  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


coedição com a editora Abril visando a divulgação mais ampla nas
bancas de jornal como pontos de venda da coleção.
Cada volume apresentava uma ilustração na capa de acordo com
seu tema, ao final do texto havia indicações para leitura e uma bio-
grafia do autor permitia ao leitor conhecer quem estava escrevendo.
As reedições sucessivas lançadas pela editora expressariam o interes-
se de muitas pessoas sobre aqueles temas no período, e mostrariam
também que a Primeiros Passos havia se tornado uma referência no
mercado editorial brasileiro. Ela foi adotada em escolas e universida-
des e seu uso não se limitou àqueles anos, pois, ainda hoje, universi-
tários, colegiais, professores e leigos em geral consultam e compram
a coleção.
Os temas do primeiro ano de lançamento foram os responsáveis
pelo sucesso de vendas. Com base na contagem das tiragens, seis
dos títulos mais vendidos até 1985 foram aqueles publicados no pri-
meiro ano de lançamento da coleção. As primeiras edições de O Que
É Ideologia, O Que É Capitalismo, O Que É Socialismo, O Que É Co-
munismo, O Que É Sindicalismo e O Que É Questão Agrária datam de
1980. Apenas dois dos volumes mais vendidos foram lançados em
1981: O Que É Educação e O Que É Dialética. Um deles foi publicado
em 1982, O Que É Sociologia; e outro em 1985, O Que É Constituinte.
Ou seja, os maiores sucessos da coleção, que lançou novos títulos
por seis anos, concentraram-se nos temas escolhidos durante o seu
primeiro ano de publicação.
A legitimação do editor Caio Graco Prado como empresário da
cultura ocorreu nesse contexto de adesão à ampla frente criada pelo
fortalecimento do movimento democrático brasileiro na década de
1980. Como editor, Caio Graco foi capaz de reunir diferentes linhas
políticas, desde intelectuais liberais até socialistas fora da esquerda
tradicional concentrada no Partido Comunista; e de conquistar uma
maior profissionalização ao papel do editor quando exigia dos auto-
res um texto menos acadêmico, interferindo com suas críticas à abor-

a coleção p r i m eiro s pa s s o s   37
dagem apresentada. Ao criar a coleção Primeiros Passos, a editora
Brasiliense concretizou por meio da ação do editor Caio Graco estra-
tégias de luta pelo conhecimento – estimulando a formação crítica
e politizada – e imprimindo, em sua função social, organicidade ao
processo de abertura democrática na ampliação da participação polí-
tica necessária à sociedade brasileira.

Quadro 1. Evolução da matrícula na educação superior de graduação


presencial no Brasil.

Ano Total de matriculas Instituições públicas Instituições privadas

1960 93.000 52.000 41.000

1970 425.478 210.613 214.865

1980 1.377.286 492.232 885.054

1990 1.540.080 578.625 961.455

2000 2.694.245 887.026 1.807.219


Fonte: mec/inep

38  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


As Primeiras Capas da Primeiros Passos
Sandra Reimão

As ilustrações das capas dos cinco primeiros volumes da coleção Pri-


meiros Passos formam um conjunto: elas apresentam a mesma temá-
tica e a mesma construção.
No plano de fundo, há paredes e pisos. Os pisos dos volumes vo-
lumes 1, 2 e 3 remetem a azulejos e os dos volumes 4 e 5 remetem a
tacos de madeira. Sobre o piso representado na capa do volume 4, O
Que É Capitalismo?, figura um tapete felpudo, com franjas – a indicar
presença do supérfluo e do opulento.
As cores vivas e chapadas das paredes, a tipografia reta e sem se-
rifas e a os padrões dos pisos remetem ao universo das histórias em
quadrinhos e da pop art – bem de acordo com o gosto do público
jovem visado pela coleção.
No plano frontal das ilustrações das capas, aparecem cadeiras
com características que dialogam com os temas dos volumes. Assim,
por exemplo, no volume sobre capitalismo, a cadeira representada é
de madeira torneada e possui um estofado fofo recoberto de tecido
vermelho; enquanto a cadeira do volume sobre comunismo é se-
miartesanal, de madeira e palhinha. No título sobre sindicalismo, as
mesmas cadeiras do capitalismo e do comunismo estão dispostas em
ângulo e são complementadas por uma mesa que serve de apoio a
papéis e canetas – a indicar conversação, com instrumentos e espaços
para possíveis anotações de acordos e negociações.
Complementando os móveis, nos volumes sobre comunismo e
anarquismo aparecem as bandeiras dos respectivos movimentos. A
bandeira do comunismo está incompleta – a imagem da foice e do
martelo está no chão e não sobre o fundo vermelho. Já para represen-
tar o capitalismo, não há uma bandeira, e sim um paletó, uma cartola,
luvas e uma pasta executiva.

a coleção p r i m eiro s pa s s o s   39
O Que É Socialismo,
de Arnaldo Spindel
(11,5 x 16 cm).
Capa: Mário Camerini

Na cadeira do primeiro volume, O Que É Socialismo?, sobre o en-


costo apoia-se um paletó com uma flor na lapela e, sobre o assento,
outras flores. A introdução do texto do volume esclarece que “socia-
lismo” é um conceito em disputa: comunistas, anarquistas, anarcos-
-sindicalistas, sociais-democratas e os próprios socialistas disputam
quem seria o mais apto herdeiro do termo. Em chave metafórica,
podemos pensar que as flores no assento da cadeira estão lá, sem
dono, e que a disputa por decidir que mão seria a mais adequada
para carregar as flores vermelhas do socialismo ainda é uma questão
em aberto.
No canto superior esquerdo das capas há uma faixa branca com
o nome da coleção e o número do volume – no meio desta faixa há
marcas de solado de sapato que indicam um caminho que continua
para cima e para fora do livro – como a dizer que estes foram só os
primeiros passos, há outras leituras a serem feitas, adiante e acima.

40  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


O Que É Comunismo,
de Arnaldo Spindel
(11,5 x 16 cm).
Capa: Mário Camerini.

O Que É Sindicalismo,
de Ricardo Antunes
(11,5 x 16 cm).
Capa: Mário Camerini.

a coleção p r i m eiro s pa s s o s   41
O Que É Capitalismo,
de Afrânio Mendes
Catani (11,5 x 16 cm).
Capa: Mário Camerini.

O Que É Anarquismo, de Caio


Túlio Costa (11,5 x 16 cm).
Capa: Mário Camerini.

42  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


A Coleção Primeiros Passos
Depoimento de Luiz Schwarcz

“Comprei os direitos desta coleção por indicação do meu amigo Car-


los Knapp, que vive em Barcelona. Ela precisa ser adaptada para o
Brasil. As ilustrações devem ser eventualmente trocadas e talvez algo
no texto alterado para que a edição funcione aqui. Estou indo para a
Europa. Esta será sua primeira tarefa como editor. Boa sorte”. Foi as-
sim que o editor Caio Graco colocou nas minhas mãos uma série de
livros da Biblioteca de Divulgación Política, que ele iria lançar pela
Brasiliense [...]
Mas, logo que li o primeiro livro, percebi que a Brasiliense iria
cometer um erro. A coleção era inadaptável. Que Es el Socialismo, por
exemplo, era só sobre Felipe González; Que Es el Capitalismo não tra-
zia nenhuma referência aos países colonizados, ou do hemisfério sul,
muito menos sobre o Brasil.
Decidi sustar o pagamento do adiantamento, que já corria pelo
Banco Central, e arriscar meu cargo e futuro como editor num relató-
rio que argumentava que a coleção tinha que ser feita integralmente
no Brasil. A Biblioteca de Divulgación Política nunca foi publicada
por aqui. Surgia assim a Primeiros Passos.
Ao voltar das férias, Caio encontrou em sua mesa um parecer de
oito páginas, escrito à mão, sobre os quatro títulos que me coube
analisar – além dos já citados, havia também Que Es el Comunismo e
Que Es el Sindicalismo –, e um aviso de que eu sustara o pagamento
dos adiantamentos de direitos autorais. Depois de penar com minha
sofrível caligrafia, Caio chamou o estagiário temeroso à sua sala. Res-
pirei fundo ao bater na porta, para logo em seguida ouvir: “Bom tra-
balho, Luiz, concordo que devemos fazer tudo por aqui, mas como?”
Caio sabia muito bem que a maioria dos intelectuais brasileiros
naquela época escrevia de maneira hermética, por isso, ao mesmo
tempo satisfeito com meu relatório e ciente de que a Biblioteca de

a coleção p r i m eiro s pa s s o s   43
Divulgación Política não serviria ao público jovem brasileiro, ele se
preocupava com a dificuldade que teríamos em encontrar pessoas
dispostas a escrever os livros que ele sonhava editar. [...] Propus a ele
que convidássemos Vanya Sant’Anna, com quem mantinha ótimas
relações, para uma conversa. “Caio, a Vanya pode coordenar um gru-
po de jovens ou futuros professores para escrever estes livros [...].”
Caio topou minha sugestão, chamou a Vanya, gostou dela, e mon-
tamos o grupo que escreveria os primeiros livros da coleção, que logo
mais foi batizada pelo próprio Caio de Primeiros Passos. [...]
Assim cuidei da formatação da nova coleção: o logotipo, a diagra-
mação, as capas – que de início ficaram a cargo de Mario Camerini,
um designer italiano, primo da minha esposa, que estava exilado no
Brasil por motivos puramente amorosos. [...]
O sucesso da Primeiros Passos foi assombroso, e colocou a Bra-
siliense de volta no topo do mercado editorial. Vários intelectuais
destacados renderam-se à ideia de escrever para o grande público, no
momento em que a abertura política se solidificava, e se ofereceram
para escrever novos livros na coleção [...].

Excertos de: Luiz Schwarcz, “Primeiros Passos”, 15.7.2010 e “O Elixir da Juventude”


22.7.2010. Blog da Companhia.

44  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Capa de Qué Es el Socialismo, de Felipe González. 12 x 16,5 cm, 80 p.
Biblioteca de Divulgación Política, Barcelona, 1976.

a coleção p r i m eiro s pa s s o s   45
Contracapa de Qué Es el Socialismo, de Felipe González.
Biblioteca de Divulgación Política, Barcelona, 1976 – Apresentando ca-
pas de outros números da coleção.

46  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


3
Novas Coleções, Novos Autores,
Novas Linguagens
Marcello Rollemberg1

Desde o começo da década de 1980 a Brasiliense havia feito sua op-


ção preferencial pelos jovens. Esse público formava uma espécie de
“comunidade de leitores” a ser conquistada, um público recém-che-
gado ao mercado, à indústria cultural, que misturava atuação política
com vontade cultural. A sua proposta editorial, naquele momento e
por toda a década de 1980, era confrontar, fustigar. Antes de explicar,
desejava-se estimular o interesse de um público jovem em saber mais
sobre determinados assuntos, para refletir melhor sobre a própria
conjuntura.
Em palestra a alunos do curso de Editoração da Escola de Comu-
nicações e Artes da Universidade de São Paulo (eca-usp), em 1986,
Caio Graco Prado definiu seu papel de editor como sendo o de um
“agitador cultural”, lembrando justamente que o lema da Brasiliense
era “Dividir opiniões, multiplicando cultura”.
Nesse sentido e na esteira do sucesso da coleção Primeiros Passos,
a editora Brasiliense lançou outras coleções, destacadamente:

1. Este texto apresenta, com modificações, partes da dissertação de mestrado de Marcello


Chami Rollemberg denominada Um Circo de Letras.

nova s col e çõe s, novos au tor e s, nova s   linguag ens   47


• Tudo É História: Criada em 1981, formato 11,5 cm x 16 cm, pu-
blicou cerca de oitenta títulos em sua primeira fase na década de
1980 – houve continuações posteriores.
Chamada publicitária:
– “Para quem gosta, faz ou quer fazer a história”

• Cantadas Literárias: Criada em 1981 (encerrada em 1987),


formato 11,5 cm x 21 cm, 49 títulos.
Chamadas publicitárias:
– “Uma coleção franca, aberta e direta. Um projeto de literatura
jovem”.
– “Livros de cuca, formatos de bolso”.
– “Literatura sem frescura”.

• Encanto Radical: Criada em 1982 (encerrada em 1987), forma-


to 11,5 cm x 16 cm, 132 títulos.
Chamadas publicitárias:
– “Uma coleção que fala de gente, não de heróis. Gente maravi-
lhosa com ideias voadoras”.
– “Encanto Radical é uma coleção que fala de gente. Com pai-
xão! Inovadores, inconformistas, apaixonados, irreverentes.
Contemporâneos que, falando de seu tempo, desvendaram o
futuro; perceberam a violência da imobilidade, a necessidade
da transgressão, a vitalidade da crítica e a possibilidade de mu-
danças Duvidaram de todas as certezas”.

• Circo de Letras: Criada em 1983 (encerrada em 1987), formato


14 cm x 21 cm, 62 títulos.
Chamada publicitária:
– “O circo chegou! Brasiliense lança sua nova coleção: o Circo
de Letras. Trazendo autores de vanguarda brasileiros e estran-
geiros. Uma nova coleção para uma nova literatura”.

48  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


• Primeiros Voos: Criada em 1981 (encerrada em 1987), formato
11,5 cm x 21 cm, vinte títulos.
Chamada publicitária:
– “Um encontro com ensaístas que fazem da teoria uma prática
inteligente”.

• Qualé: Criada em 1984 (encerrada em 1985), formato 11,5 cm x 16


cm, oito títulos.
Chamada publicitária:
– “Qualé é uma coleção que trata dos principais assuntos da varia-
da agenda dos problemas atuais. Seu objetivo: oferecer ao leitor
argumentos para que ele entre no debate das grandes questões
nacionais, incentivando-o à discussão e à polêmica, Qualé está
diretamente vinculada à realidade do país. Sua linguagem é ágil,
direta, coloquial, como convém a uma coleção que pretende
deixar você por dentro do que realmente interessa, sem simpli-
ficações, nem a excessiva codificação do texto especializado”.

A linguagem visual das capas da Brasiliense não contemplava ape-


nas ilustrações criativas, um lettering (os textos aplicados na capa)
bem trabalhado, o formato inovador. Havia também, sempre in-
cluído na capa como um segundo selo, a logomarca de cada coleção
reforçando a identificação visual. Todas as coleções possuíam uma
logomarca de identificação que entraram na memória afetiva dos
leitores tanto quanto os livros lidos – o Cavalo de Troia em Tudo
é História, o malabarista em Circo das Letras, a pena estilizada em
Cantadas Literárias. Essas logomarcas não apareciam apenas na capa
dos volumes, mas também nas páginas internas. “O Caio queria um
selo que ‘voasse’ pelas páginas do livro, dando uma sensação de mo-
vimento a ele e criando unidade entre capa e miolo”, lembra a desig-
ner Moema Cavalcanti, criadora da logomarca da coleção Encanto
Radical e autora de cerca de 250 capas para a Brasiliense.

nova s col e çõe s, novos au tor e s, nova s   linguag ens   49


Logotipos de coleções da editora Brasiliense nos anos 1980.

50  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Feliz Ano Velho: O Best-seller de uma Geração
Marcelo Rubens Paiva entrevistado por Gabriel Daher (2012)

Ao chegar ao apartamento de Marcelo Rubens Paiva, no bairro de


Perdizes, zona oeste de São Paulo, sou recebido pelo escritor em pé.
Suspenso por cintas fechadas ao redor de suas pernas, Marcelo se
exercita em uma mesa especialmente desenvolvida para deficientes
físicos. O ano era 1979, e o então estudante de Engenharia Agrícola
da Unicamp viu seu destino mudar ao pular em um lago da cidade de
Campinas, onde cursava o primeiro ano da faculdade. Com a queda,
fraturou uma vértebra do pescoço e ficou paraplégico.
Filho do ex-deputado federal socialista Rubens Paiva, cassado,
exilado e morto pela ditadura militar em 1971, Marcelo encontrou no
segundo grande trauma de sua história a chance de traçar novos ca-
minhos e descobriu a vocação para uma nova profissão. Incentivado
por Caio Graco Prado, dono da badalada editora Brasiliense, lançou
em 1980 o livro Feliz Ano Velho, um retrato autobiográfico e emocio-
nante sobre seu acidente e sua história de vida. O livro se tornou um
enorme sucesso de vendas, sendo traduzido para diversos idiomas e
se convertendo no livro mais vendido do Brasil na década de 80. [...]

Trinta anos se passaram desde Feliz Ano Velho, um dos maiores su-
cessos editoriais do Brasil. Quais foram as mudanças mais impor-
tantes da sua vida neste período?
Naquela época eu tinha 23 anos de idade, era um garoto total-
mente idealista, apaixonado por música, que achava que o mundo
ia acabar numa guerra nuclear, como todo mundo achava, mas vivi
intensamente os anos 80. Um mundo de muita libertação sexual, de
costumes, drogas entrando na vida das pessoas com muita intensida-
de. O Marcelo de hoje é um senhor de 53 anos de idade, que tem uma
carreira mais estabelecida no jornalismo, fez um pouco de tudo, já
viajou. E esse vive numa época completamente diferente, uma época

nova s col e çõe s, novos au tor e s, nova s   linguag ens   51


em que caiu o Muro de Berlim, o mundo não é mais dividido em
dois blocos, em que os sonhos e as utopias foram por água abaixo,
um mundo muito mais individualista, as pessoas são muito mais ego-
cêntricas, a sociedade brasileira ficou muito mais conservadora. São
dois homens diretamente opostos. Um era um cara inseguro, que
não compreendia muito bem a vida, não compreendia quase nada
as mulheres, o amor e agora é um homem que já passou por todas
as experiências, que teve seus desencantos e que tem mais sabedoria
para administrar melhor suas angústias pessoais.

Em uma entrevista você revelou que foi impulsionado a se tornar


escritor graças ao Caio Graco Prado, amigo de sua família que na
época comandava a editora Brasiliense. Acredita que teria envere-
dado por essa carreira sem este incentivo dele?
Acho que não. Eu tinha sempre esse pé na literatura, mas não
desse jeito oficial, como uma carreira a ser seguida. Eu sempre fazia
letras de música, poemas, escrevia contos, mas era muito mais por
uma vontade de me expressar e porque eu gostava de escrever do que
planejando uma vida literária. Naquela época jovens de vinte anos
não escreviam livro, quem escrevia os livros eram os grandes sábios
da cultura brasileira. O jovem só ia começar a escrever depois de fa-
zer seus quarenta anos, até mesmo fora do Brasil. O Jack Kerouac
demorou oito anos pra emplacar o On The Road. Imagine eu, que era
um moleque, um estudante do 1o ano da eca. Só que o Caio Graco
estava exatamente mudando esse estereótipo, esse paradigma de que
a literatura pertencia só a poucas mentes sábias e estava renovando
seu leque de escritores, dando apoio a uma nova geração de autores
que estava espalhada por aí. Descobriu o Reinaldo Moraes, desco-
briu o Caio Fernando Abreu, a Ana Cristina César. Ele tinha esse
olhar atento com o que estava acontecendo em volta, e sabia que a
literatura brasileira estava precisando de uma renovação depois de
anos de ditadura militar.

52  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Marcelo Rubens Paiva,
Feliz Ano Velho, capa
da 7ª edição, 1983.
Capa de Gilberto Salvador.
Coleção Cantadas Literárias,
vol. 9, 11,5 x 21 cm.

Como você vê seu papel nesta geração dos anos 80? Você imagina-
va que o livro se tornaria o grande sucesso que foi?
Não, não imaginava. Como é que um cara que narra sua história
numa uti pode ser a voz da juventude? Você imagina que a voz da
juventude era a Blitz, os caras surfando, lindos e com corpos bronzea-
dos. Eu era um garoto tímido que fazia faculdade, frequentava uma
boate punk no centro da cidade, tinha uns amigos que eram uns lo-
sers. Então isso virar um fenômeno de massas é surpreendente. E foi
muito difícil lidar com isso, porque eu tinha vinte poucos anos. Eu
não queria ser ídolo de ninguém, então eu fiquei meio perturbado
durante um tempo. Até porque eu não tenho a menor vocação pra

nova s col e çõe s, novos au tor e s, nova s   linguag ens   53


liderança política, eu só queria cuidar da minha vida. Já era tão difícil
eu cuidar da minha vida, não queria ser líder. Pode ser uma falta de
modéstia minha, mas acho que essa insegurança, esse meu jeito de
ser, que representasse algo para as pessoas, e não o Evandro Mesqui-
ta, com aquele jeito expansivo, bonito, com garotas lindas na praia.
Eu morria de inveja do Evandro Mesquita, eu queria ser ele, não o
Marcelo Paiva [risos].

Após Feliz Ano Velho você se dedicou a escrever livros ficcionais,


afastando-se um pouco da literatura em primeira pessoa consagra-
da na história de seu acidente. O que o fez tomar esta decisão?
Pode ser que eu ficasse muito tempo preso numa egotrip que não
fosse muito saudável. Pode ser também que esgotasse, se eu ficasse
falando de mim mesmo o tempo todo uma hora não ia ter mais o
que falar. Pode ser até uma forma de me preservar, porque eu fiquei
no foco das lentes durante muito tempo, então de repente me escon-
dendo atrás de personagens ficcionais eu me sentisse menos exposto.
[...] Eu estava vivendo no olho do furacão e não tinha noção disso.
Agora com distância é que penso que estava lá no dia das Diretas Já,
eu estava lá no dia que a Legião Urbana tocou pela primeira vez em
São Paulo, várias coisas que aconteceram e que hoje são momentos
da história político-cultural do Brasil.

Fonte: Revista Brasileiros, nov. 2012. http://brasileiros.com.br/2012/11/de-pe-com-


marcelo-rubens-paiva/

54  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


4
Filosofia, Antropologia e Sociologia...
Profusão de Inovações
Sandra Reimão

Na década de 1980, em paralelo aos grandes sucessos de vendas


nas coleções voltadas ao público jovem, a Brasiliense também publi-
cou trabalhos densos e complexos com temáticas e procedimentos
inovadores. Vários desses títulos se tornaram clássicos das ciências
humanas. Entre outros importantes livros de autores brasileiros, a
editora Brasiliense publicou:

Hollanda, Heloisa Buarque de. Impressões de Viagem: cpc, Van-


guarda e Desbunde, 1960-1970, 1980 (capa de Ivonne Saruê).
Zilio, Carlos; Lafetá, João Luiz & Leite, Ligia Chiappini M. O Na-
cional e o Popular na Cultura Brasileira: Artes Plásticas e Literatura,
1982 (capa de Ademar Assaoka com ilustração de Miguel Paiva).
Giannotti, José Arthur. Trabalho e Reflexão: Ensaios para uma
Dialética da Sociabilidade, 1984 (capa de Moema Cavalcanti).
Bernardet, Jean-Claude. Cineastas e Imagens do Povo, 1985 (capa de
Ettore Bottini com foto de Aloysio Raulino).
Fausto, Ruy. Marx: Lógica e Política, Investigações para uma Reconsti-
tuição do Sentido da Dialética, 1983 e 1987, 2 vols. (capa de Moema
Cavalcanti).

fil osofi a , a nt rop olo g i a e s o ciolo g i a . . .   55


Chaui, Marilena. Conformismo e Resistência. Aspectos da Cultura Po-
pular no Brasil, 1986 (capa do departamento de arte da Brasiliense).
Catani, Denice B.; Miranda, Hercília T. de; Menezes, Luís Carlos
de & Fischmann, Roseli (org.). Universidade, Escola e Formação
de Professores, 1987 (capa de Ettore Bottini).
Giannotti, José Arthur. Universidade em Ritmo de Barbárie, 1987
(capa de João Baptista da Costa Aguiar).
Torres, João Carlos Brum. Figuras do Estado Moderno: Representa-
ção Política no Ocidente, 1989 (capa de Ettore Bottini).
Queiroz, Maria Isaura Pereira de. Carnaval Brasileiro: O Vivido e o
Mito, 1992 (capa de Isabel Carballo).
Paes, José Paulo. Gregos & Baianos. Ensaios, 1985 (capa de João Batis-
ta da Costa Aguiar).

56  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


A mesma busca por obras densas e inovadoras é verificável tam-
bém nos títulos de autores estrangeiros de não ficção publicados pela
editora Brasiliense nos anos 1980 – são títulos essenciais nos vários
campos das ciências humanas e que possibilitaram ao leitor brasilei-
ro acesso ao pensamento daquele momento.

Guattari, Félix. Revolução Molecular: Pulsações Politicas do Desejo,


1981.
Canevacci, Massimo. Dialética do Individuo, 1981.
Canevacci, Massimo. Dialética da Família, 1982.
Lefort, Claude. A Invenção Democrática: Os Limites da Dominação
Totalitária, 1983.
Benjamin, Walter. Obras Escolhidas, vols. 1, 2 e 3, anos 1985, 1987, 1989.
Rama, Ángel. A Cidade das Letras, 1985.
Anderson, Perry. Linhagens do Estado Absolutista, 1985.
Ariès, Philippe & Béjin, André (org.). Sexualidades Ocidentais: Con-
tribuições para a História e para a Sociologia da Sexualidade, 1985.
Baudrillard, Jean. A Sombra das Maiorias Silenciosas: O Fim do So-
cial e o Surgimento das Massas, 1985.
Mattelart, Armand & Mattelart, Michele. Carnaval das Ima-
gens, 1989.
Bobbio, Norberto. Liberalismo e Democracia, 1990.

Neste mesmo âmbito, é preciso salientar também a coleção Elo-


gio à Filosofia, dirigida por Marilena Chaui, que publicou:

Rousseau, Jean-Jacques. Considerações sobre o Governo da Polônia e


sua Reforma Projetada, 1982.
La Boétie, Etienne de. Discurso da Servidão Voluntaria, 1ª ediçao
1982, 4ª edição 1987.
Diderot, Denis. Discurso sobre a Poesia Dramática, 1982.
Benjamin, Walter. Origem do Drama Barroco Alemão, 1984.

fil osofi a , a nt rop olo g i a e s o ciolo g i a . . .   57


Kant, Immanuel. Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vis-
ta Cosmopolita, 1986.

A partir da amostra citada de livros de filosofia, antropologia, so-


ciologia e áreas próximas, publicadas pela Brasiliense na década de
1980, algumas observações se impõem, a saber:

1. No que diz respeito ao autor nacional é inegável o forte vínculo da


editora com pesquisadores do mundo universitário atuantes naquele
momento, destacadamente de São Paulo, especificamente da Facul-
dade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, fflch, da Universida-
de de São Paulo, usp.
Da listagem de livros citados anteriormente, atuavam como do-
centes da usp os seguintes autores: José Arthur Giannotti, Ruy Faus-
to, Marilena Chaui, Maria Isaura Pereira de Queiroz e Ligia Chia-
ppini Moraes Leite vinculados à fflch-usp, Jean-Claude Bernardet,
vinculado à Escola de Comunicações e Artes, eca-usp, Denice Bár-
bara Catani, Hercília Tavares de Miranda e Roseli Fischmann, vin-
culadas à Faculdade de Educação, fe-usp, e Luís Carlos de Menezes,
vinculado ao Instituto de Física da usp, if-usp.
Heloisa Buarque de Hollanda era vinculada à Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro, ufrj; João Luiz Lafetá à Universidade Estadual
de Campinas, Unicamp, e João Carlos Brum Torres à Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, ufrgs.

2. Ainda observando a publicação de obras não ficcionais de auto-


res brasileiros pela Brasiliense nos anos 1980, é possível notar a forte
presença de obras com temas nacionais contemporâneos candentes.
O Brasil da década de 1980, em pleno processo de redemocratização,
é um país que quer se conhecer, quer ver a sua cara, e a Brasiliense,
de maneira condizente com sua denominação, quer participar da ela-
boração deste retrato. É o que se pode depreender de temas como:

58  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Impressões de Viagem: cpc, Vanguarda e Desbunde, 1960-1970, de He-
loisa Buarque de Hollanda, e de Cineastas e Imagens do Povo, de Jean-
-Claude Bernardet.
Outro tema candente no Brasil da reabertura é a discussão sobre
a dimensão e a função da universidade. Este é o tema dos livros: Uni-
versidade, Escola e Formação de Professores, organizado por Denice
Bárbara Catani, Hercília Tavares de Miranda, Roseli Fischmann e
Luís Carlos de Menezes e Universidade em Ritmo de Barbárie, de José
Arthur Giannotti.

3. No que tange a tradução e edição em português de obras de ciên-


cias humanas e sociais de autores estrangeiros é possível notar duas
tendências: por um lado a publicação de clássicos consolidados do
século xx, como Walter Benjamin, e, por outro, livros recém-publi-
cados em língua estrangeira e com temas atualíssimos, vinculados
ao momento político e social, como Revolução Molecular: Pulsações
Politicas do Desejo, de Félix Guattari, publicado em 1981, e, A Sombra
das Maiorias Silenciosas: O Fim do Social e o Surgimento das Massas, de
Jean Baudrillard, publicado em 1985.

4. Tanto nos livros de autores nacionais quanto nos de autores es-


trangeiros nas áreas de ciências sociais e humanas editados pela Bra-
siliense na década de 1980 é possível notar uma decisão pela publi-
cação da reflexão aprofundada e academicamente sustentada. O que
demonstra a clara intenção da editora de participar da bibliografia
dos cursos universitários brasileiros, inclusive os de pós-graduação, e
da vida intelectual e cultural nacional.
A Brasiliense, nos anos 1980, se junta a outras tradicionais edito-
ras brasileiras que foram responsáveis, em grande medida, pela con-
solidação do livro universitário brasileiro a partir dos anos 1960: a
Zahar, a Civilização Brasileira e a Perspectiva. Como observa Fer-
nando Paixão no livro Momentos do Livro no Brasil: “Ao lado de Jacó

fil osofi a , a nt rop olo g i a e s o ciolo g i a . . .   59


Guinsburg [Perspectiva] e de Ênio Silveira [Civilização Brasileira],
Jorge Zahar completa o trio dos principais editores que investiram
no livro universitário nos anos 60”. É a este trio de editoras universi-
tárias que Caio Graco vem somar a atuação da Brasiliense nos anos
1980 – tanto nas coleções mais introdutórias quanto nas publicações
mais aprofundadas e voltadas para a pós-graduação – construindo a
bibliografia das ciências humanas e sociais no Brasil.
A publicação voltada para leitores altamente informados e pesqui-
sadores eruditos é também o que se pode ver nas escolhas dos títulos
da coleção Elogio à Filosofia.
É possível fazer um paralelo entre a consolidação do livro brasilei-
ro para público culto e universitário entre as décadas de 1960 e 1980 e
o movimento semelhante nas décadas de 1920 e 1930 no que se refere
ao livro para público de nível médio. No texto “A Revolução de 1930
e a Cultura”, Antonio Candido aponta a década de 1930 como aquela
da consolidação “do livro escolar brasileiro para nível médio, atento
às necessidades imediatas de nossa cultura e procurando substituir a
clássica bibliografia estrangeira”. O autor destaca o papel da Compa-
nhia Editora Nacional na consolidação da indústria livreira brasileira
nos anos 1930 com seus livros didáticos, atualidades pedagógicas, di-
vulgação científica, literatura infantil e livros de estudos brasileiros2.

Quadro 1. Evolução do sistema de Pós-graduação no Brasil


(número de cursos).

Nível 1976 1990 1996

Mestrado 490 975 1.083

Doutorado 183 510 541

Total 673 1.485 1.624


Fonte: CAPES/ MEC

2. Antonio Candido, “A Revolução de 1930 e a Cultura”, em A Educação pela Noite, p. 232.

60  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


A consolidação, nos anos 1930, do livro escolar brasileiros para ní-
vel médio teve seus antecedentes na década de 1920 na atuação da
editora Monteiro Lobato & Cia. com traços inovadores como pre-
ferência pelo autor brasileiro do presente, interesse pelos problemas
do momento, busca por especificidades materiais brasileiras na edi-
toração e esforço por preços acessíveis, salienta Antonio Candido no
mesmo artigo. Empenhos semelhantes aos encontrados na indústria
do livro no Brasil nos anos 1920 e 1930 são identificáveis também no
processo de consolidação dos livros universitários de ciências huma-
nas e sociais nas décadas de 1960 a 1980 no Brasil.

fil osofi a , a nt rop olo g i a e s o ciolo g i a . . .   61


5
Brasiliense e o Brasil da Abertura “Lenta,
Gradual e Segura”
Flamarion Maués

Após a primeira década de regime ditatorial, iniciou-se, no Brasil,


um processo de liberalização política, que pode ser indicado como
perdurando de 1974 (início do governo Geisel) até 1985 (eleição indi-
reta de Tancredo Neves para a presidência da República). O projeto
do governo Geisel era realizar uma transição “lenta, gradual e segura”,
que levasse a um regime civil tutelado pelos militares.
A “abertura” estava ligada também a uma reorganização das opo-
sições (setores de esquerda e liberais) em torno das chamadas liber-
dades democráticas, buscando ampliar as lutas sociais e políticas pela
volta do Estado de direito e da democracia. Nesse processo, haveria,
principalmente a partir de 1977-1978, a volta às ruas dos movimentos
sociais, como o movimento estudantil e o movimento sindical – em
particular com as greves no abc paulista. Teria destaque ainda a cam-
panha pela anistia ampla, geral e irrestrita.
A abertura foi marcada por muitas idas e vindas, com algumas in-
ciativas de liberalização que eram seguidas, pouco tempo depois, por
medidas de exceção, como a cassação de mandatos de parlamenta-
res da oposição ou a morte sob tortura de opositores, como ocorreu
na repressão à Guerrilha do Araguaia e nos assassinatos de Vladimir
Herzog e Manuel Fiel Filho, no Doi-Codi (Destacamento de Ope-

br a s il ie nse e o br a sil da a be rt ur a “l e n ta , g r a dua l  e s egur a”   63


rações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) de
São Paulo.
Um momento importante na abertura foi a realização de eleições
diretas para governadores de estado em 1982 – o que não ocorria des-
de 1965. Apesar das limitações impostas pela legislação eleitoral, a
oposição obteve a vitória em estados fundamentais, como São Paulo
(vitória de Franco Montoro – pmdb), Rio de Janeiro (Leonel Brizo-
la – pdt), Minas Gerais (Tancredo Neves – pmdb) e Paraná ( José
Richa – pmdb). Estas eleições foram o ponto de partida para a cam-
panha das Diretas Já, que em 1984 iria incendiar o país.

Campanha das Diretas

Em apenas três meses, entre os dias 25 de janeiro e 25 de abril de 1984,


o Brasil assistiu à maior mobilização popular de sua história até en-
tão, a campanha das Diretas Já. Milhões de pessoas foram às ruas para
exigir a volta imediata das eleições diretas para presidente da Repú-
blica, proibidas desde o golpe de 1964. O movimento marcou a etapa
final da crise do regime civil-militar.
Os primeiros comícios pelas Diretas, ainda pequenos, acontece-
ram no final de 1983, em Goiânia, Teresina e São Paulo. Mas foi a par-
tir de 25 de janeiro de 1984, com o grande comício da Praça da Sé, na
capital paulista, que a campanha deslanchou. Seguiram-se grandes
manifestações em todas as capitais e nas maiores cidades do país, até
chegarmos aos gigantescos comícios de abril no Rio de Janeiro (Can-
delária) e São Paulo (Anhangabaú), que reuniram, cada um, mais de
um milhão de pessoas.
As palavras de ordem “Diretas Já” resumiam de forma simples
toda uma situação de insatisfação com o governo do general João
Figueiredo e todo um projeto político para pôr fim à ditadura por
meio de uma ruptura democrática. Ademais, colocava um ingredien-

64  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


te novo no processo: o povo, mobilizado em torno da ideia de fazer
do país novamente uma democracia.
A campanha das Diretas Já gerou momentos de intensa mobili-
zação e alegria. Fez voltar às ruas a liberdade de manifestação e ex-
pressão, juntando pessoas e organizações de diferentes tendências e
ideologias. Foi um curto período em que o povo tomou as ruas em
uma luta pela retomada de uma prerrogativa democrática básica: a
eleição direta do presidente.
Um fator fundamental para o êxito da campanha foi ter sido uma
iniciativa verdadeiramente suprapartidária, com a participação dos
principais partidos de oposição, do movimento sindical, de setores
progressistas da Igreja liderados pela cnbb, Confederação Nacional
dos Bispos do Brasil, de entidades da sociedade civil, como a oab,
Ordem dos Advogados do Brasil, e abi, Associação Brasileira de Im-
prensa, além de toda uma vasta gama de movimentos sociais que vi-
nham se organizando desde os anos 1970.
Foi muito importante também o apoio de personalidades públi-
cas à campanha, como artistas, músicos e atletas, alguns dos quais
se engajaram pra valer e participaram de vários comícios, como o
locutor esportivo Osmar Santos (“o locutor das Diretas”), o cartu-
nista Henfil, a cantora Fafá de Belém e o jogador de futebol Sócrates,
entre muitos outros. Uma figura destacada foi a do editor Caio Gra-
co, da editora Brasiliense, que também se engajou publicamente na
campanha. Foi ele que lançou a ideia de usar o amarelo como a cor
das Diretas Já. Graco disse ter se inspirado nas manifestações po-
pulares nas Filipinas contra o então presidente Ferdinand Marcos,
em que os manifestantes estavam todos de amarelo. E a sua ideia foi
aceita pelos apoiadores das Diretas: nos comícios e nas ruas viam-se
pessoas com roupas amarelas, ou um broche, um chapéu, uma fita
no pulso ou na lapela, sempre amarelos. O amarelo passou a repre-
sentar o apoio às Diretas Já.

br a s il ie nse e o br a sil da a be rt ur a “l e n ta , g r a dua l  e s egur a”   65


Derrota no Congresso

Mas, apesar de toda a mobilização e do enorme apoio popular que


a campanha das Diretas conseguiu reunir, o regime ainda tinha al-
guma força e apoio em setores economicamente poderosos. Usando
os recursos políticos e militares de que dispunha, o governo fez de
tudo para impedir que a emenda das Diretas fosse aprovada no parla-
mento. A tv Globo, por exemplo, boicotou abertamente a campanha
das Diretas até o comício da Candelária, no dia 10 de abril de 1984.
Na semana da votação da emenda, o governo decretou Medidas de
Emergência em Brasília, criando uma situação de estado de sítio na
capital do país, impedindo manifestações e reuniões políticas e proi-
bindo a transmissão da sessão de votação por rádio e tv.
A pressão deu resultado. Apesar de obter ampla maioria, 298 vo-
tos a favor, 65 contra e uma abstenção, faltaram 22 votos para se alcan-
çar os 320 votos necessários para a aprovação.
Abria-se assim o caminho para a negociação, pelo alto, da sucessão
presidencial, sem a participação direta da população, a ser resolvida
pelo mesmo Colégio Eleitoral ilegítimo contra o qual a campanha
das Diretas se insurgira. O resultado foi a escolha indireta da chapa
Tancredo Neves/José Sarney. As eleições diretas para presidente so-
mente ocorreram em 1989, depois da realização da Assembleia Na-
cional Constituinte.
Para os que se empenharam a fundo na campanha, ficou aque-
le gosto amargo na boca, aquele “grito preso na garganta”. A maior
mobilização popular que o país já vira fora derrotada no parlamento,
marcando mais uma vez a distância entre as instituições e o povo no
Brasil. Mas ficou também a certeza de que havia espaço e condições
para mobilizar e organizar a sociedade e lutar por um país melhor e
mais justo.

66  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


O Amarelo e o Playboy
Depoimento de Eugenio Bucci

No ano longínquo de 1984 eu militava no movimento estudantil, pre-


sidia o Centro Acadêmico XI de Agosto e tinha o privilégio de ser
amigo de Caio Graco Prado, da editora Brasiliense. No comecinho
daquele ano ele me veio com uma ideia de marketing político que eu
descartei liminarmente, achando que era coisa de playboy. Agora, ao
longo desta semana, lembrei-me muito daquela conversa – e você já
vai entender por quê.
Aos meus olhos infanto-juvenis, o Caio era contraditório. Esban-
java entusiasmo com as utopias socialistas. Ao mesmo tempo, não
recusava nenhum dos luxos burgueses. Idolatrava o deputado esta-
dual Eduardo Suplicy (“um santo”, ele dizia) e desfilava feliz da vida
com um mp Lafer sem capota. Com intuição e engenho, soube im-
primir à Brasiliense uma linha subversiva tanto na esfera da política
como no plano dos costumes. Prestigiou autores nada acomodados,
como Caio Fernando Abreu, lançou Marcelo Rubens Paiva com Feliz
Ano Velho, encomendou ao poeta Paulo Leminski uma biografia de
Leon Trotsky e publicou dezenas de obras de pura provocação, como
Porcos com Asas, de Marco Radice e Lidia Ravera. A Brasiliense de
Caio Graco era um polo cultural do Brasil nos anos 1980. Por ser de
esquerda, enfurecia os militares (que não tinham como censurá-la).
Por ser libertária, causava urticária nos comunistas da velha guarda
(que não podiam amaldiçoá-la em público).
Na nossa conversa do início de 1984, Caio estava empolgado.
“Quero lançar uma campanha: ‘Use Amarelo pelas Diretas!’ ”, em se-
guida, bateu as duas mãos abertas na mesa e me intimou: “Por que
não fazemos isso pelo xi de Agosto?”
Torci o nariz. Não que eu fosse contra as eleições diretas, éra-
mos todos a favor (a bandeira entrara na agenda das ruas em 27 de
novembro de 1983, num comício de quinze mil pessoas, convocado

br a s il ie nse e o br a sil da a be rt ur a “l e n ta , g r a dua l  e s egur a”   67


pelo pt, em frente ao Estádio do Pacaembu). Mas aquela história de
“usar amarelo” me pareceu afetação de esquerdista grã-fino. Do alto
da minha caretice arrogante, recusei polidamente a proposta: o xi de
Agosto não iria entrar no ramo de figurino de passeata.
Sim, sim, é óbvio que cometi um erro crasso, preconceituoso e es-
túpido. Dias depois, o então senador Severo Gomes envergaria uma
gravata amarela e lançaria a moda que virou uma onda gigantesca. Eu
aderi, é claro, como todo mundo, numa euforia intensa e breve. Em
abril daquele mesmo ano, a emenda que restabeleceria o voto direto
foi derrotada no Congresso Nacional. Tivemos de esperar mais cinco
anos para votar. [...]

Eugênio Bucci , “O Amarelo e o Playboy”, O Estado de S. Paulo, 16 de abril de 2015 .

68  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


6
Redescobrindo o Brasil em hq: Brasiliense
e o Brasil dos Anos 1990
João Elias Nery

Nos anos 1990 a editora Brasiliense publicou a coleção Redesco-


brindo o Brasil. A coleção associava a linguagem dos quadrinhos à
interpretação da história do país, e, com isto, buscava atrair os públi-
cos interessados nessa linguagem para a compreensão dos principais
marcos da história – do “descobrimento” à República.
Os textos foram escritos por Júlio José Chiavenatto – Olha Lá o
Brasil! E Finalmente Portugal nos Descobriu – e Lilia Moritz Schwarcz
– Da Colônia ao Império: Um Brasil para Inglês Ver e Latifundiário Ne-
nhum Botar Defeito e Cai o Império! República Vou Ver! Os quadrinhos
foram criados por Miguel Paiva (Olha Lá o Brasil!... e Da Colônia ao
Império...) e Angeli (Cai o Império!...).
Como resultado das iniciativas da imprensa alternativa dos anos
1970 e do contexto cultural dos anos 1990, havia no país espaço para
publicação dos quadrinhos produzidos por brasileiros na grande
imprensa e também em livros tanto de grandes editoras – como a
Brasiliense – quanto de outras de menor porte e, mesmo, das espe-
cializadas em quadrinhos, como a Circo Editorial, na qual autores
como Angeli, Laerte, Glauco, Paulo e Chico Caruso, que se desta-
caram no período da ditadura militar (1964-1985), publicaram suas
produções.

r e de scobr in d o o br a s il e m hq   69
A linguagem intencionalmente irônica do texto, associada ao hu-
mor das hqs, inserem estas obras no contexto crítico do período em
que a sociedade revisitava aspectos da história do país e procurava
reinterpretar o passado à luz da redemocratização
As capas dos livros expressam a linha editorial da coleção. Em to-
das elas predomina a associação entre título, textos e imagens, que
indicam o viés irônico e crítico adotado. Assim, por exemplo, em
Cai o Império! República Vou Ver!, a leitura da primeira e quarta ca-
pas revelam a trajetória do império no Brasil. O texto da quarta capa
afirma que o livro reconta a história do Brasil “... através do diálogo
descontraído de quadrinhos e texto...”. Afirma, ainda, o texto, que o
livro aborda o período que vai do “... golpe da maioridade até a Pro-
clamação da República”.
As imagens mostram o imperador, na primeira capa, confortavel-
mente instalado, sendo sustentado pelos segmentos da sociedade –
escravos, Igreja Católica, latifundiários, exército e burguesia. Na ima-
gem, tais segmentos mantêm o imperador em seu trono. No decorrer
do livro, textos e imagens apresentam dissensões e conflitos entre os
segmentos citados, até que, na quarta capa, o imperador aparece caí-
do no chão, sem a coroa ou alguém a sustentá-lo! O diálogo entre ima-
gens e texto revela uma sofisticada construção conceitual acerca do
processo que levou ao fim do império e proclamação da República.
É importante ressaltar que havia, também, na década de 1990, re-
flexões teóricas acerca dos quadrinhos que iam além da oposição bi-
nária bem e mal, diversão e alienação, que caracterizara a análise des-
se fenômeno da cultura de massas do século xx. Da abordagem de
Umberto Eco em Apocalípticos e Integrados à análise de pesquisado-
res brasileiros, o interesse pelos quadrinhos como tema de pesquisa
passava por um processo de expansão e busca de novas metodologias
de análise. A editora Brasiliense contribuiu para o debate publicando
na Primeiros Passos o livro O Que São Histórias em Quadrinhos, da
pesquisadora Sônia Maria Bibe Luyten.

70  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Olha lá o Brasil!, de
Júlio José Chiavenatto
e Miguel Paiva.
Primeira e quarta capas
com ilustrações em
continuidade de sentidos

r e de scobr in d o o br a s il e m hq   71
Da Colônia ao Império,
de Miguel Paiva e Lilia
Moritz Schwarcz.
Primeira e quarta capas
com ilustrações em
continuidade de sentidos.

72  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Cai o Império! República
Vou Ver!, de Angeli e
Lilia Moritz Schwarcz
“Na primeira capa
imperador, instalado,
sendo sustentado pelos
segmentos da sociedade –
escravos, Igreja Católica,
latifundiários, exército e
burguesia. [...] na quarta
capa, o imperador aparece
caído no chão, sem a coroa
ou alguém a sustentá-lo!”

r e de scobr in d o o br a s il e m hq   73
7
Leia Livros: Cultura em Debate
Andrea Lemos

O jornal Leia Livros foi lançado em 1978 sob a direção de Caio


Graco Prado e Cláudio Abramo, com a proposta de ser um espaço
de debates sobre livros recém-publicados, tornando-se mais uma no-
vidade no conjunto das publicações da Brasiliense no momento de
abertura democrática.
Os livros lançados pela editora naqueles anos versavam sobre os
temas das áreas de “literatura geral, literatura infanto-juvenil, admi-
nistração, antropologia, comunicações e arte, ciência e tecnologia,
economia, educação, filosofia, história, política, psicologia e sociolo-
gia”, sendo seu catálogo constituído de livros, revistas acadêmicas e
coleções1. O jornal Leia Livros apresentou-se como um novo formato
no catálogo da editora: “um book review [...] em formato tabloide [...]
chegou a ter 3 600 assinantes e uma tiragem de doze mil exemplares”2.
Cada número do jornal Leia Livros, lançado mensalmente, tinha
em média vinte páginas, e dividia-se em cinco seções: Editorial, Bi-
lhete, Artigos, Resenhas, Gerais. As seções Editorial e Bilhete com-

1. Para elaborar este capítulo a autora partiu de dois trabalhos seus anteriores: o artigo “A
Editora Brasiliense e a Oposição à Ditadura Civil-Miliar Brasileira” e a tese Civilização
Brasileira e Brasiliense: Trajetórias Editoriais, Empresários e Militância Política.
2. Fernando Paixão, Momentos do Livro no Brasil, p. 175.

l e i a l i vro s : cultur a e m debate   75


punham a primeira página, juntamente com o sumário, e eram os
espaços para textos de seus idealizadores. Neles, Caio Graco Prado e
Cláudio Abramo expunham suas visões sobre o mercado de livros e
a política brasileira.
O Editorial do primeiro número de Leia Livros foi aberto por Caio
Graco sob o título “A Parcialidade Consciente”. Nele, o editor defen-
deu que o jornal pretendia ser “o reflexo da parcialidade consciente
de todos nós” referindo-se genericamente às posições políticas que
julgava imparciais, sem especificá-las.
A seção de Cláudio Abramo, Bilhete, que sempre figurava ao lado
do editorial de Caio Graco, mas sem título de matéria, foi publicada
desde a primeira edição. Contendo, em geral, comentários de livros,
e às vezes da conjuntura política, o jornalista defendeu nesta seção
que o ineditismo da publicação não era ser um periódico sobre li-
vros – tendo em vista os jornais de grande circulação já apresentarem
cadernos a respeito, além de outras publicações isoladas – mas, sim,
criar um espaço de debate cultural.
Essa ideia expressa um projeto mais amplo da Brasiliense sob a
direção de Caio Graco: o compromisso com a criação de espaços de
reflexão promotores da construção democrática. Ao longo dos seis
anos de existência do jornal, Caio Graco aproximou linha editorial e
militância política e inseriu em seu book review um espaço de divul-
gação de análises sobre o mercado editorial e a conjuntura política
brasileira. Nesse contexto, simultaneamente, o editor lançou a cor
amarela como cor-símbolo da campanha da Diretas Já, apoiou a cria-
ção do Partido dos Trabalhadores, lançou livros, coleções e revistas
formativas e ainda promoveu uma relação mais direta entre universi-
dade e público leitor.
Os debates realizados na livraria da Brasiliense, naqueles anos,
são um exemplo do caráter indissociável entre sua função de editor
e a militância política, pois a livraria não se limitava a um espaço de
vendas de livros e, mesmo que com o propósito de atrair o público

76  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


consumidor, passava a funcionar como uma espécie de Universidade
Aberta. Os títulos da coleção Primeiros Passos, por exemplo, torna-
ram-se temas de aulas na livraria, com o propósito de ampliar sua di-
vulgação. O espaço de debate se estendeu através da porta da livraria
e se ampliou para autores de vários livros recém-lançados.
No bojo do processo de redemocratização, as aulas, os debates,
os temas das publicações, os formatos com textos mais sucintos e a
apresentação em público de livros lançados pelos próprios autores
constituíram, em conjunto com o Leia Livros, ações para abrir cami-
nhos de formação e participação política, atreladas às estratégias co-
merciais da editora.
Ainda no texto de apresentação do primeiro volume do jornal,
Caio Graco Prado argumentou que não existe progresso sem cultura.
O editor criticou a falta de incentivo ao livro, acrescentando que se
todos os municípios tivessem bibliotecas públicas, os editores vende-
riam muito para o governo e o preço dos livros seria mais baixo para a
população. Ele criticou o fato de o preço do livro restringir seu aces-
so a uma “elite”. Segundo Graco, “estabeleceu-se aparentemente um
círculo vicioso entre edições caras por serem pequenas e um público
que não lê porque não dispõe de recursos para tanto e por isso não se
cria em nossa terra o hábito da leitura”.
Desde o primeiro editorial de Caio Graco apresentavam-se ques-
tões relativas à política brasileira e ao mercado de livros, assuntos
prioritários. O conteúdo da seção, a partir dos temas mais frequentes
no período de existência do periódico, foi composto da seguinte ma-
neira: aspectos gerais da conjuntura política e econômica; mercado
de livros, feiras e livrarias e avaliações sobre a edição do Leia Livros.
Apesar da questão da censura e das Diretas Já terem sido aborda-
das em textos do editor Caio Graco Prado, os temas mais frequen-
tes em seus editoriais diziam respeito aos desafios do mercado. Tais
desafios foram abordados de diferentes maneiras, seja no reconhe-
cimento de um estado de crise econômica, seja versando sobre as

l e i a l i vro s : cultur a e m debate   77


estratégias de mercado criadas para superar crises e nas formas de
divulgação do seu produto no mercado cultural.
A análise do editor sobre a situação econômica em 1980 reconhe-
ce que, apesar da crise, algumas editoras tiveram aumento nos lança-
mentos e conquistaram novos leitores. Exemplifica citando os casos
da Record, Nova Fronteira, Melhoramentos e Brasiliense.
Destaquemos, neste contexto, as estratégias de expansão de mer-
cado da Brasiliense. Para além do sucesso de vendas da coleção Pri-
meiros Passos com o livro de bolso que lhes garantiu aquela posição
no mercado, Caio Graco também promoveu uma campanha voltada
à tv e ao mercado de discos para aumentar os leitores de livros no
Brasil. Esta estratégia pode ser exemplificada pelas novidades lança-
das no Leia Livros: uma nova seção dedicada aos discos e fitas. Sua
intenção era fazer com que os leitores da nova seção “escorregassem”
o olhar de vez em quando para a seção dos livros, induzindo os “escu-
tadores” a se tornarem também leitores. Graco ressaltou que, apesar
de valorizar as duas atividades culturais com fins estratégicos, conti-
nuava a defender a leitura acima de tudo.
A divulgação habitual de livros não era suficiente, segundo Caio
Graco, para aumentar o público leitor. A televisão poderia ser um
bom caminho para formação de novos leitores, por isso sugeria que
aparecesse um letreiro durante os programas, filmes, novelas etc.,
dizendo que “sobre esse e outro qualquer assunto, você encontrará
diversos livros, visite seu livreiro”.
Atento ao aumento do público leitor-consumidor, Graco também
dirige sua preocupação no Leia Livros ao público universitário, ao
tratar da questão das verbas destinadas às universidades, criticando
a política estatal. Havia, para o editor, uma falta de diálogo entre go-
verno e sociedade.
Apesar da propalada crise econômica nos anos de 1980 a 1982, foi
neste intervalo que houve o maior volume da produção de livros no
Brasil desde 1964 e até 1985. Nesse contexto, Caio Graco admite di-

78  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


ficuldades financeiras e em tom melancólico escreve o editorial de
despedida da publicação. O último editorial ressalta que o projeto
do Leia Livros era um sonho coletivo e afirma que, apesar de algumas
conquistas, não superou as dificuldades financeiras e a falta de apoio
de editoras – especialmente das grandes – que reconheciam a publi-
cação como “Jornal do Caio” ou “Jornal da Brasiliense”.
Os desafios das novas condições do mercado editorial acarreta-
ram em poucos anos o fim, em 1984, do jornal. Ao longo dos seis anos
de existência de Leia Livros, Caio Graco consolidou sua função de
editor e promotor do debate cultural, sempre atento a uma perspec-
tiva de leitura menos acadêmica, visando ampliar seu público-alvo
e estendendo sua visão progressista ao mercado editorial brasileiro.

l e i a l i vro s : cultur a e m debate   79


Porção superior da capa do Jornal Leia Livros (30 x 50cm)
Ano I, número 1, 15 de maio a 14 de junho de 1978. Diretor: Caio Graco
Prado. Secretário Geral: Caio Tulio Vieira Costa. Arte e Diagramação: Vir-
ginia Murano.

A revista Ciência e Cultura de 30 de agosto de 1978 enalteceu


o lançamento do jornal Leia Livros.
Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/003069/25305.

80  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Em 1983, a revista Ciência e Cultura destacou os cinco anos do jornal.
Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/003069/37596.

l e i a l i vro s : cultur a e m debate   81


Correspondência de Caio Graco Prado para a escritora Odette de
Barros Mot datada de 1º junho de 1981 sobre a renovação da assinatu-
ra do jornal Leia Livros. Manuscrito: “Odette, posso debitar em conta
corrente? Tenho promessa assumida de não dar o ‘Leia’ e você merece
tanto... Beijo”.
Fonte: Arquivo Instituto de Estudos Brasileiros – IEB-USP; Fundo Odette
de Barros Mot, código do documento: OBM-CPB-098.

82  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


8
Depoimentos e Relatos

André Forastieri (jornalista): “Era uma vez uma editora Brasi-


liense. Ela mudou o Brasil, começando pelos jovens, começando por
mim. Eu tinha quatorze anos quando a Brasiliense estourou. Era mais
que uma editora, era um estilo de vida, uma bandeira, uma paixão. A
gente lia os livros sem nem saber direito o que eram, só porque eram
lançamentos da Brasiliense. A Brasiliense era militante da leitura, das
ideias, do arejar da vida.
Tinha seu próprio jornal literário, o Leia Livros. Lançou a coleção
Primeiros Passos, de livrinhos de bolso acessíveis, escritos por gran-
des nomes, que se propunha a explicar o mundo para adolescentes.
Na coleção Cantadas Literárias, fomos apresentados a novíssimas
vozes – Ana Cristina César, Caio Fernando Abreu, Reynaldo Moraes,
Leminski, Ledusha, e um garotão chamado Marcelo Rubens Paiva. E
a série Encanto Radical, de livretos sobre heróis da contracorrente?
E a Circo de Letras... e beatniks, anarquistas, noir... Era o fim da dita-
dura, e o começo de outro país, e a Brasiliense foi fundamental para
seu nascimento.
A Brasiliense era de um cara chamado Caio Graco, meio playboy,
muito inteligente, que herdou a editora. Assumiu uma empresa de
nome, mas à beira da falência, e em poucos anos fez dela sucesso de

dep oi m en to s e r el ato s   83
crítica e fenômeno de vendas. Soube atrair gente muito talentosa –
autores, tradutores, ilustradores. Gente que irrigou o cenário cultu-
ral em anos vindouros. A história da Brasiliense é principalmente a
história do encontro de Caio com um estagiário, que logo se tornou
editor. E no futuro se tornaria o mais respeitado editor da geração
seguinte: Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras.
Quase vinte anos depois do auge da Brasiliense, quando tive mi-
nha própria editora [...]. O mundo, e o mundo dos livros e da comuni-
cação, era outro quando fizemos a Conrad Livros, entre 2000 e 2005.
E de lá para cá mudou mais ainda. Que bom que é assim [...]”. (Fonte:
http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2012/12/03/o-brasil-
-que-a-brasiliense-criou/)

João Baptista da Costa Aguiar (designer): “Caio Graco Pra-


do, posso dizer que se tratava de um editor inquieto” (entrevista a
Gisela Creni e Sandra Reimão).

Moema Cavalcanti (designer): “Acho que ainda não consegui


descrever o Caio com um só adjetivo. Acho que ele é multifacetado...”
(entrevista a Gisela Creni e Sandra Reimão).

Moacir Amâncio (jornalista): “O estilo de Caio Graco uniu uto-


pia e mercado” (O Estado de S. Paulo, 20.6.1992, Caderno 2, p. 2).

Pedro Paulo  de  Senna  Madureira (editor): “Foi o último


dos editores da linhagem de José Olympio, Jorge Zahar, Alfredo Ma-
chado, Ênio Silveira e Jacó Guinsburg. Estes são editores históricos
porque colocaram suas utopias políticas acima do projeto empresa-
rial. Ao mesmo tempo, como editor, Caio fica como uma lição de
modernidade [...]” (citado em O Estado de S .Paulo, 20.6.1992, Cader-
no 2, p. 2).

84  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Caio Graco em foto de foto de Juvenal Pereira.
O Estado de S. Paulo, 20.6.1992, Caderno 2, p. 2

Júlio  Carlos Duarte (jornalista): “Caio Graco Prado: [...] o


Indiana Jones da cultura brasileira. Como o personagem arqueólogo
de Steven Spielberg seu trabalho como editor foi marcado por extrair
das tumbas da modernidade a geração beat dos anos 50. Ele lançou
no Brasil os clássicos do underground norte-americano [...]. Também
restaurou para os anos 80 a literatura marginal dos anos 70, com os
poetas Chacal, Ana Cristina Cesar e Paulo Leminski [...]” (“A Brasi-
liense Vai ao Mercado”, O Estado de S. Paulo, 8.6.1988, Caderno 2, p. 1).

“Caio Graco ‘o Rei Midas da Editora Brasiliense’” (Revista Inter-


view, n. 94, 1986, citado por Luis Bernardo Pericás, Caio Prado Júnior:
Uma Biografia Política, p. 264).

Luiz Schwarcz (editor): “Caio chegava na Barão de Itapetininga,


e depois na nova sede na rua General Jardim, em plena Boca do Lixo,

dep oi m en to s e r el ato s   85
e já no elevador ou subindo as escadas exalava comprometimento
e otimismo. Por vezes me pergunto se o otimismo é característica
natural dos editores, por trabalhar com um produto que se realiza
tão lentamente, ou se tenho esta visão da profissão por ter passado
pela escola da Brasiliense. [...] Caio Graco me incutiu otimismo na
veia [...]. Senti saudade do Caio Graco, da boa, ao reconhecer publi-
camente – bem na hora de falar, justo com um bocado de gente me
olhando – o quanto devo a ele, e o quanto do seu legado tento trans-
mitir aos jovens que hoje dividem os dias comigo na Companhia
das Letras” (Fonte: “O Legado de Caio Graco”, Blog da Companhia,
5.12.2013. http://historico.blogdacompanhia.com.br/2013/12/o-lega
do-de-caio-graco/).

Luis Bernardo Pericás (historiador): “Caio Graco (que come-


çou como office boy entre os 18 e 19 anos, no escritório carioca da em-
presa do pai, passando por todos os seus departamentos) foi uma das
personalidades mais emblemáticas do mundo editorial nacional de
sua época. Sua lenda transcendia a esfera das letras. Não só era prati-
cante de motocross e um dos pioneiros em voar de asa-delta no Brasil
como teria sido até mesmo o primeiro a iniciar Amyr Klink na arte
de velejar. Por sua iniciativa foram lançados e difundidos autores que
agitaram a juventude dos anos 1970 e 1980, como Jack Kerouac, Char-
les Bukowski, Chacal e Paulo Leminski, só para citar alguns” (Luis
Bernardo Pericás, Caio Prado Júnior: Uma Biografia Política, p. 264).

86  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


9
Caio Graco por Caio Graco

[...] Tudo o que vou dizer aqui representa o meu ponto de vista co­
mo editor e como pessoa. São opiniões formuladas ao longo dos anos.
A função do que chamo editoração, dentro desse mercado [de
opinião], é a de agitação cultural. No papel de editor sempre me
considerei um agitador cultural e acho que nossa função é determi-
nar esta ou aquela linha. Ou seja, a função das pessoas que estão em
posição de multiplicadores de opinião é exatamente a de multiplicar
opiniões e deixar que cada um decida por si qual e sua política e sua
opinião pessoal. Alias, o lema da Brasiliense, que corresponde a isto,
é “Dividir opiniões, multiplicando cultura”.
Acho que editar é um risco, um jogo e uma aventura. É o resultado
de um acúmulo de experiências, não definido nem quantificado. É,
sobretudo, uma atividade extremamente pessoal. [...]
Essa é uma responsabilidade que temos de assumir enquanto
editores: a de que a editoração é uma atividade inevitavelmente pes-
soal. A não ser, é claro, que se trate de editoração de livros técnicos,
livros de ensaio específico, onde as considerações de mercado são
mais fortes.
Dentro da gama geral de atividades, considero o exercício de edi-
tar uma das atividades mais humanas. E, por isso, somente é bom edi-

ca io g r aco p or ca io g r aco   87
Caio Graco da Silva Prado (1931-1992) em foto de Cristina Guerra.
Folha de S. Paulo, 13.1.1990, F1 (Suplemento Letras, p. 1).

tor aquele que é editor com paixão – a única forma de fazer vencer. É
com base neste ponto de vista que faço esta exposição: como eu acho
e como eu sou.
Da mesma forma, a leitura é também uma aventura, um jogo. En-
trar em uma livraria, escolher um livro, optar por um título ou outro,
um assunto ou outro é uma aventura da qual não se sabe o fim. [...]
Assim, no que se refere ao mercado de opiniões, quem lê um li-
vro não participa de uma uniformidade, mas de uma diversidade de
opiniões, a menos que o livro seja mal-intencionado no sentido de
uniformizar e padronizar a todos. [...]
A proposta editorial da Brasiliense é mudar o mundo. É uma pro-
posta muito ampla e longa, mas sabemos que a mais longa viagem

88  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


começa com o primeiro passo. Participar desta viagem é o mais im-
portante, porque jamais chega-se ao fim. Não estou contente com o
mundo como está e pretendo ajudar a mudá-lo. Essa é a política da
Brasiliense: uma política de agitação cultural. [...]
O nosso tema hoje inclui uma apreciação sobre uma política in-
tegrada para o livro no país. Acho que o primeiro cuidado diz respei-
to a garantir aos editores e aos leitores autogestão absoluta sobre o
que editam e sobre o que leem, isto é, liberdade total para todos. [...]
Acho que o governo tem a obrigação de desenvolver o país e, neste
caso, a cultura precede necessariamente o desenvolvimento. Enfim,
colocar livros à disposição de todos estabelecendo acordos com bi-
bliotecas de escolas, de bairro, de municípios...”

Excertos de palestra proferida em 1986, transcrita e publicada com o título “Mer-


cado de Opinião e Políticas Editoriais” no livro organizado por José Carlos Rocha,
Políticas Editoriais e Hábitos de Leitura, pp. 105-109.

ca io g r aco p or ca io g r aco   89
ANEXOS
Anexo 1. Coleção Primeiros Passos (1980-1985)
150 Primeiros Títulos

Título Autor

1 O Que É Socialismo Arnaldo Spinder

2 O Que É Comunismo Arnaldo Spinder

3 O Que É Sindicalismo Ricardo C. Antunes

4 O Que É Capitalismo Afrânio Mendes Catani

5 O Que É Anarquismo Caio Túlio Costa

6 O Que É Liberdade Caio Prado Jr.

7 O Que É Racismo Joel Rufino dos Santos

8 O Que É Indústria Cultural José Teixeira Coelho Neto

9 O Que É Cinema Jean-Claude Bernardet

10 O Que É Teatro Fernando Peixoto

11 O Que É Energia Nuclear José Goldemberg

12 O Que É Utopia Teixeira Coelho

13 O Que É Ideologia Marilena Chaui

14 O Que É Subdesenvolvimento Horacio Gonzáles

15 O Que É Jornalismo Clóvis Rossi

16 O Que É Arquitetura Carlos A. C. Lemos

a n e xo 1   93
17 O Que É História Vavy Pacheco Borges

18 O Que É Questão Agrária José Graziano da Silva

19 O Que É Comunidade Eclesial de Base Frei Betto

20 O Que É Educação Carlos Rodrigues Brandão

21 O Que É Burocracia Fernando C. Prestes Motta

22 O Que São Ditaduras Arnaldo Spindel

23 O Que É Dialética Leandro Konder

24 O Que É Poder Gérard Lebrun

25 O Que É Revolução Florestan Fernandes

26 O Que São Multinacionais Bernardo Kucinski

27 O Que É Marketing Raimar Richers

28 O Que São Empregos e Salários P. R. de Souza

29 O Que São Intelectuais Horacio González

30 O Que É Recessão Paulo Sandroni

31 O Que É Religião Rubem Alves

32 O Que É Igreja P. Evaristo, Cardeal Arns

33 O Que É Reforma Agrária J. Eli Veiga

34 O Que É Stalinismo J. Paulo Netto

35 O Que É Imperialismo Afrânio Mendes Catani

36 O Que É Cultura Popular A. Augusto Arantes

37 O Que É Filosofia Caio Prado Jr.

38 O Que É Método Paulo Freire C. R. Brandão

39 O Que É Psicologia Social S. T. Maurer Lane

40 O Que É Trotskismo J. Roberto Campos

41 O Que É Islamismo Jamil A. Haddad

42 O Que É Violência Urbana Regis de Morais

43 O Que É Poesia Marginal Glauco Mattoso

94  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


44 O Que É Feminismo B. M. Alves; J. Pitanguy

45 O Que É Astronomia Rodolfo Caniato

46 O Que É Arte Jorge Coli

47 O Que São Comissões de Fábrica R. Antunes; A. Nogueira

48 O Que É Geografia Ruy Moreira

49 O Que São Direitos da Pessoa Dalmo de Abreu Dallari

50 O Que É Família Danda Prado

51 O Que É Patrimônio Histórico Carlos A. C Lemos

52 O Que É Psiquiatria Alternativa Alan Índio Serrano

53 O Que É Literatura Marisa Lajolo

54 O Que É Política Wolfgang Leo Maar

55 O Que É Espiritismo Roque Jacintho

56 O Que É Poder Legislativo Nelson Saldanha

57 O Que É Sociologia Carlos Benedito Martins

58 O Que É Direito Internacional J. Monserrat Filho

59 O Que É Teoria Otaviano Pereira

60 O Que É Folclore Carlos Rodrigues Brandão

61 O Que É Existencialismo João da Penha

62 O Que É Direito Roberto Lyra Filho

63 O Que É Poesia Fernando Paixão

64 O Que É Capital Ladislau Dowbor

65 O Que É Mais-Valia Paulo Sandroni

66 O Que São Recursos Humanos Flávio de Toledo

67 O Que É Comunicação Juan Díaz Bordenave

68 O Que É Rock Paulo Chacon

69 O Que É Pastoral João Batista Libanio

70 O Que É Contabilidade Roque Jacinhtho

a n e xo 1   95
71 O Que É Capital Internacional Rabah Benakouche

72 O Que É Positivismo João Ribeiro Jr.

73 O Que É Loucura João A. Frayze-Pereira

74 O Que É Leitura Maria Helena Martins

75 O Que É Questão Palestina Helena Salem

76 O Que É Punk Antonio Bivar

77 O Que É Propaganda Ideológica Nelson Jahr Garcia

78 O Que É Magia João Ribeiro Jr.

79 O Que É Educação Física Vitor Marinho de Oliveira

80 O Que É Música J. Jota de Moraes

81 O Que É Homossexualidade Peter Fry; Edward MacRae

82 O Que É Fotografia Cláudio A. Kubrusky

83 O Que É Política Nuclear Ricardo Arnt

84 O Que É Medicina Alternativa Alan Índio Serrano

85 O Que É Violência Nilo Odalia

86 O Que É Psicanálise Fabio Hermann

87 O Que É Parlamentarismo Ruben Cesar Keinert

88 O Que É Amor Betty Milan

89 O Que São Pessoas Deficientes João B. Cintra Ribas

90 O Que É Desobediência Civil Evaldo Vieira

91 O Que É Universidade Luiz E W. Wanderley

92 O Que É Questão da Moradia Luiz C. Q. Ribeiro; Robert


M. Pechman

93 O Que É Jazz Roberto Muggiati

94 O Que É Biblioteca Luiz Milanesi

95 O Que É Participação Juan Díaz Bordenave

96 O Que É Capoeira Almir das Areias

96  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


97 O Que É Umbanda Patricia Birman

98 O Que É Literatura Popular Joseph M. Luyten

99 O Que É Papel Otávio Roth

100 O Que É Contracultura Carlos Alberto M. Pereira

101 O Que É Comunicação Rural Juan Díaz Bordenave

102 O Que É Fome Ricardo Abramovay

103 O Que É Semiótica Lúcia Santaella

104 O Que É Participação Política Dalmo de Abreu Dallari

105 O Que É Justiça Julio Cesar Tadeu Barbosa

106 O Que É Astrologia Juan A. C. Müller; Léa M.


Pileggi Müller

107 O Que É Política Cultural Martin Cezar Feijó

108 O Que São Comunidades Alternativas Carlos A. P. Tavares

109 O Que É Romance Policial Sandra Lúcia Reimão

110 O Que É Cultura José Luiz dos Santos

111 O Que É Serviço Social Ana Maria Ramos Estevão

112 O Que É Taylorismo Luiza M. Rago; Eduardo


F. P. Moreira

113 O Que É Budismo Antonio Carlos Rocha

114 O Que É Teatro Nô Darci Yasuco Kusano

115 O Que É Realidade João-Francisco Duarte


Junior

116 O Que É Ecologia Antonio Lago; José


Augusto Pádua

117 O Que É Neologismo Nelly Carvalho

118 O Que É Medicina Preventiva Kurt Kloetzel

119 O Que É Nordeste Brasileiro Carlos Garcia

120 O Que É Nacionalidade Guilhermo Raul Ruben

a n e xo 1   97
121 O Que É Tortura Glauco Mattoso

122 O Que É Parapsicologia Osmard Andrade Faria

123 O Que É Mercadoria Liliana R. Petrilli Segnini

124 O Que É Etnocentrismo Everaldo P. Guimarães


Rocha

125 O Que É Medicina Popular Elda Rizzo de Oliveira

126 O Que É Aborto Danda Prado

127 O Que É Suicídio Roosevelt M S Cassoria

128 O Que É Pornografia Eliane Robert Moraes;


Sandra M. Lapeiz

129 O Que É Cibernética Jocelyn Bennaton

130 O Que É Geração Beat André Bueno; Fred Góes

131 O Que É Física Ernst W Hamburger

132 O Que É Filatelia Raymundo Galvão de


Queiroz

133 O Que É Psicanálise – 2ª Visão Oscar Cesarotto; M.


Souza Leite

134 O Que É Homeopatia Flávio Dantas

135 O Que É Conto Luzia de Maria

136 O Que É Erotismo Lucia Castello Branco

137 O Que É Vídeo Cândido José Mendes de


Almeida

138 O Que É Brinquedo Paulo de Salles Oliveira

139 O Que É Herói Martin Cezar Feijó

140 O Que É Autonomia Operária Lucia Barreto Bruno

141 O Que É Alienação Wanderley Codo

142 O Que É Benzeção Elda Rizzo de Oliveira

143 O Que É Constituinte Marília Garcia

98  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


144 O Que É Histórias em Quadrinhos Sônia Luyten

145 O Que É Acupuntura Marcus Vinícius Ferreira

146 O Que É Espiritismo – 2ª Visão Maria Laura Viveiros de


Castro

147 O Que É Numismática Alain Jean Costilhes

148 O Que É Marxismo José Paulo Netto

149 O Que É Toxicomania Jandira Mansur

150 O Que É Morte José Luiz de Souza


Maranhão

a n e xo 1   99
Anexo 2. Coleção Primeiros Passos (1980-1985)
Total de Títulos Novos Lançados por Ano

1980 18

1981 32

1982 28

1983 32

1984 29

1985 23
Fonte: cálculos elaborados a partir de Andréa Lemos Xavier Galucio, Civilização Brasileira e Brasiliense: Trajetórias
Editoriais, Empresários e Militância Política.

100  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


Anexo 3. Coleção Primeiros Passos (1980-1985)
Cinquenta Maiores Tiragens

Título Exemplares

1 O Que É Ideologia 118 000

2 O Que É Educação 100 000

3 O Que É Capitalismo 83 400

4 O Que É Sociologia 75 000

5 O Que É Socialismo 74 800

6 O Que É Comunismo 60 300

7 O Que É Dialética 58 000

8 O Que É Sindicalismo 44 200

9 O Que É Questão Agrária 44 000

10 O Que É Constituinte 43 000

11 O Que É Psicologia Social 43 000

12 O Que É Racismo 41 000

13 O Que É Subdesenvolvimento 41 000

14 O Que É Método Paulo Freire 40 000

15 O Que É Filosofia 39 000

16 O Que É Liberdade 38 200

a n e xo 3   101
17 O Que É História 38 000

18 O Que É Anarquismo 37 000

19 O Que É Indústria Cultural 36 000

20 O Que É Religião 36 000

21 O Que É Cultura Popular 34 000

22 O Que É Reforma Agrária 31 000

23 O Que É Literatura 30 000

24 O Que É Burocracia 29 000

25 O Que É Marketing 29 000

26 O Que É Poder 29 000

27 O Que É Teatro 29 000

28 O Que É Folclore 28 000

29 O Que É Política 28 000

30 O Que São Multinacionais 28 000

31 O Que É Cinema 27 000

32 O Que É Comunicação 27 000

33 O Que São Direitos da Pessoa 26 100

34 O Que É Violência Urbana 26 000

35 O Que São Empregos e Salários 26 000

36 O Que É Comunidade Eclesial de Base 25 000

37 O Que É Geografia 25 000

38 O Que É Leitura 25 000

39 O Que É Revolução 25 000

40 O Que É Arte 24 000

41 O Que É Recessão 23 400

42 O Que É Feminismo 23 300

43 O Que É Igreja 22 200

102  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


44 O Que É Jornalismo 21 000

45 O Que É Utopia 21 000

46 O Que São Ditaduras 20 200

47 O Que É Família 19 000

48 O Que É Fome 18 000

49 O Que É Imperialismo 18 000

50 O Que É Energia Nuclear 17 500


Fonte: Andréa Lemos Xavier Galucio, Civilização Brasileira e Brasiliense: Trajetórias Editoriais, Empresários e Militância
Política.

a n e xo 3   103
Anexo 4. Coleção Tudo É História
Setenta Primeiros Títulos

Título Autor

1 As Independências na América Latina Leon Pomer

2 A Crise do Escravismo e a Grande Paula Beiguelman


Imigração

3 A Luta Contra a Metrópole (Ásia e África) M. Yedda Linhares

4 O Populismo na América Latina Maria Ligia Prado

5 A Revolução Chinesa David Aarão Reis Filho

6 O Cangaço Carlos Alberto Dória

7 Mercantilismo e Transição Francisco Falcon

8 As Revoluções Burguesas Modesto Florenzano

9 Paris 1968: As Barricadas do Desejo Olgaria C. F. Matos

10 Nordeste Insurgente (1850-1890) Hamilton M. Monteiro

11 A Revolução Industrial Francisco Iglésias

12 Os Quilombos e a Rebelião Negra Clóvis Moura

13 O Coronelismo Maria de Lourdes M. Janotti

14 O Governo Juscelino Kubitschek Ricardo Maranhão

15 O Movimento de 1932: A Causa Paulista Maria Helena Capelato

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16 A América Pré-Colombiana Ciro Flamarion Cardoso

17 A Abolição da Escravidão Suely Robles Reis de


Queiroz

18 A Proclamação da República José Ênio Casalecchi

19 A Revolta de Princesa Inês Caminha L. Rodrigues

20 História Política do Futebol Brasileiro Joel Rufino dos Santos

21 A Nicarágua Sandinista Marisa Marega

22 O Iluminismo e os Reis Filósofos Luiz Roberto Salinas Fortes

23 Movimento Estudantil no Brasil Antônio Mendes Júnior

24 A Comuna de Paris: Os Assaltantes do Horacio González


Céu

25 A Rebelião Praieira Izabel Marson

26 A Primavera de Praga Sonia Goldfeder

27 A Construção do Socialismo na China Daniel Aarão Reis Filho

28 Opulência e Miséria nas Minas Gerais Laura Vergueiro

29 A Burguesia Brasileira Jacob Gorender

30 O Governo Jânio Quadros M. Vitória Mesquita


Benevides

31 Revolução e Guerra Civil Espanhola Angela M. Almeida

32 A Legislação Trabalhista no Brasil Kazumi Munakata

33 Os Crimes da Paixão Mariza Corrêa

34 As Cruzadas Hilário Franco Jr.

35 A Formação do 3º Mundo Ladislau Dowbor

36 O Egito Antigo Ciro F. Marcondes

37 Revolução Cubana Abelardo Blanco / Carlos


A. Dória

38 O Imigrante e a Pequena Propriedade M. Tereza Schorer Petrone

39 O Mundo Antigo: Economia e Sociedade M. Beatriz B. Florenzano

a n e xo 4   105
40 Guerra Civil Americana Peter L. Eisenberg

41 Cultura e Participação nos Anos 60 Heloisa Buarque de


Hollanda/ Marcos A
Gonçalves

42 Revolução de 1930: A Dominação Oculta Italo Tronca

43 Contra a Chibata: Marinheiros M. A. Silva


Brasileiros em 1910

44 Afro-América: A Escravidão do Novo Ciro F. Marcondes


Mundo

45 A Igreja no Brasil Colônia Eduardo Hoornaert

46 Militarismo na América Latina Clóvis Rossi

47 Bandeirantismo: Verso e Reverso Carlos Henrique Davidoff

48 O Governo Goulart e o Golpe de 64 Caio N de Toledo

49 A Inquisição Anita Novinski

50 A Poesia Árabe Moderna e o Brasil Slimani Zeghidour

51 O Nascimento das Fábricas Edgar S. de Decca

52 Londres e Paris no Século XIX Maria Stella Martins


Bresciani

53 Oriente Médio e o Mundo dos Árabes Maria Yedda Linhares

54 A Auto Gestão Iugoslava Bertino Nóbrega de Queiroz

55 O Golpe de 1954: A Burguesia contra o Armando Boito Jr.


Populismo

56 Eleições e Fraudes Eleitorais na Rodolpho Telarolli


República Velha

57 Os Jesuítas José Carlos Sebe

58 A República de Weimar e a Ascensão do Angela M. Almeida


Nazismo

59 A Reforma Agrária na Nicarágua Cláudio T. Bornstein

60 Teatro Oficina Fernando Peixoto

61 Rússia (1917-1921): Anos Vermelhos D. Aarão Reis Filho

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62 Revolução Mexicana (1910-1917) Anna M. M. Corrêa

63 América Central Héctor Pérez Brignoli

64 A Guerra Fria Déa Fenelon

65 O Feudalismo Hilário Franco Jr.

66 URSS: O Socialismo Real (1921-1964) Daniel Aarão Reis Filho

67 Os Liberais e a Crise da República Velha Paulo G. F. Vizentini

68 A Redemocratização Espanhola Reginaldo C. Moraes

69 A Etiqueta no Antigo Regime Renato Janine Ribeiro

70 Contestado: A Guerra do Novo Mundo Antonio P. Tota

a n e xo 4   107
Anexo 5. Coleção Encanto Radical
65 Primeiros Títulos

Título Autor

1 Dostoievski Régis de Morais

2 Noel Rosa Jorge Caldeira

3 Oswald de Andrade Maria A. Fonseca

4 Sócrates Francis Wolff

5 Freud Renato Mezan

6 Simone Weil Ecléa Bosi

7 Camus Horacio González

8 Eiseinstein Arlindo Machado

9 John Lennon Lúcia Villares

10 André Malraux Lourenço Dantas Mota

11 Friedrich Nietzche Scarlett Marton

12 Pier Paolo Pasolini Luiz Nazário

13 Lou Andreas-Salomé Luzilá Gonçalves

14 Bob Marley Cassiano S. Quilici / M. Sampaio

15 Alfred Hitchcock Inácio Araujo

16 Antonin Artaud Teixeira Coelho

108  ca io gr aco pr a d o e a editor a br a siliense


17 Ernest Hemingway Eustáquio Gomes

18 Walter Benjamin Jeanne Marie Gagnebin

19 Emiliano Zapata Eric Nepomuceno

20 Evita Horacio González

21 Marcel Proust José Maria Cançado

22 Leão Tolstói Boris Schnaiderman

23 Roland Barthes Leyla Perrone-Moisés

24 Cruz e Souza Paulo Leminski

25 Tarsila do Amaral Nádia Battella Gotlib

26 Pascal Gérard Lebrun

27 Georg Buchner Fernando Peixoto

28 Georg Lukács José Paulo Netto

29 Santa Teresa de Ávila Ângela Senra

30 Graciliano Ramos Marilene Felinto

31 Salvador Allende Fernando Alegria

32 Franz Kafka Flávio Moreira da Costa

33 Clarice Lispector Berta Waldman

34 Leila Diniz Claudia Cavalcanti

35 Mahatma Ghandi Rubem Alves

36 Mariátegui Héctor Alimonda

37 Barão de Itararé Leandro Konder

38 James Dean Antonio Bivar

39 Henry Miller Marcos Moreira

40 Matsuo Bashô Paulo Leminski

41 Emma Goldman Elizabeth Souza Lobo

42 Lima Barreto Regis de Morais

43 Mané Garrincha Telmo Zanini

a n e xo 5   109
44 Carmen Miranda Luiz Henrique Sala

45 George Orwell Ricardo Bonalume Neto

46 Manuel Bandeira Júlio Guimarães

47 Vinícius de Moraes Geraldo Carneiro

48 Mae West Mario Mendes

49 Jesus a. C. Paulo Leminski

50 John Maynard Keynes Gilson Schwartz

51 Ho Chi Minh Rafael Roubicek

52 Santos Dumont Orlando Senna

53 Humphrey Bogart Pedro Vasquez

54 Alejo Carpentier Jorge Quiroga

55 André Breton José Geraldo Couto

56 Pancho Villa Marco Antonio Villa

57 Procópio Ferreira Décio de Almeida Prado

58 Gibran Khalil Gibran Mustafa Yazbek

59 David W. Griffith Ismail Xavier

60 Albert Einstein Harvey Brown

61 Jimi Hendrix Ana Maria Bahiana

62 Lautréamont Leyla Perrone-Moisés

63 Karl Marx Horacio González

64 Sid Vicious Hugo Santos Silva Neto

65 Jacques Lacan Márcio P. S. Leite / O. Cesarotto

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Referências Bibliográficas

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Lemos, Andrea. “A Editora Brasiliense e a Oposição à Ditadura Civil-Militar Bra-
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1984. São Paulo, Publisher Brasil, 2013.
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Rocha, José Carlos (org.). Políticas Editoriais e Hábitos de Leitura. São Paulo,
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Transformações Sociais, Culturais e Políticas do Brasil nos Anos 80. Dissertação de
Mestrado em Ciências da Comunicação, Universidade de São Paulo, São Paulo,
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Xavier, Andrea Lemos. A Produção da Coleção Primeiros Passos: Um Projeto Po-
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História Social, puc-rj, 2003.

Vídeo: Daher, Gabriel; Carucci, Pedro & Miranda, Victor. O Último Voo - Os
Anos 80 da Editora Brasiliense. Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo,
Faculdade Cásper Líbero. https://www.youtube.com/watch?v=9S8yeuhNkE4

Blog da Companhia – coluna de Luiz Schwarcz


Arquivo O Estado de S. Paulo
Arquivo Folha de S. Paulo
Arquivo eletrônico Jornal do Brasil
Revista Civilização Brasileira – n. 1 a 5

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Organizadoras e autoras

As Organizadoras

Sandra Reimão: Professora livre-docente na Escola de Artes, Ciên-


cias e Humanidades da Universidade de São Paulo (each-usp).
Publicou, entre outros, o livro Repressão e Resistência – Censura a
Livros na Ditadura Militar (São Paulo, Edusp/ Fapesp, 2011).
Gisela Creni: Graduada em Editoração e mestre em História, am-
bos pela usp. Possui grande experiência no mercado editorial, ten-
do trabalhado na editora Brasiliense e na Companhia das Letras.
É autora do livro Editores Artesanais Brasileiros (Belo Horizonte/
Rio de Janeiro, Autêntica/Biblioteca Nacional, 2013).

Os Autores

Andrea Lemos [Xavier Galucio]: Possui Doutorado e Pós-Douto-


rado em História pela Universidade Federal Fluminense (uff).
Atua como docente no Instituto de Aplicação Fernando Rodri-
gues da Silveira (cap-uerj).
Eugenio Bucci: Professor titular na Escola de Comunicações e Ar-
tes da Universidade de São Paulo (eca-usp). Atua como jornalis-

org a n i z a d or a s e au tor a s   113


ta em diversos veículos. Recebeu o Prêmio Esso de Contribuição
à Imprensa em 2013. Escreveu, entre outros, os livros O Estado de
Narciso (2015) e A Forma Bruta dos Protestos (2016), ambos publi-
cados pela Companhia das Letras.
Flamarion Maués: Doutor em História pela usp; realizou está-
gio pós-doutoral em Comunicação e Cultura na each-usp. Atua
como docente no Instituto Federal de São Paulo, campus Registro.
É autor do livro: Livros Contra a Ditadura: Editoras de Oposição no
Brasil, 1974-1984 (São Paulo, Publisher Brasil, 2013).
Gabriel Daher: Graduado em Jornalismo pela Faculdade Cásper
Líbero, atua em diferentes veículos de comunicação.
João Elias Nery: Doutor em Comunicação pela Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo (puc-sp); realizou estágio pós-
-doutoral em Comunicação e Cultura na each-usp. Atua como
docente na Universidade Anhembi-Morumbi e na Faculdade
Paulus de Tecnologia e Comunicação. Publicou o livro Graúna e
Rêbordosa: O Humor Gráfico Brasileiro de 1970 e 1980 (São Paulo,
Pulsar, 2006).
Luiz Schwarcz: Fundador e sócio da editora Companhia das Le-
tras, São Paulo.
Marcelo Rollemberg: Jornalista, editor de cultura do Jornal da
usp, professor universitário e doutor em Ciências da Comunica-
ção pela eca-usp.

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As organizadoras desejam registrar agradecimentos especiais a:

• Elisabete Ribas
• Carla Prado Alves Pinto e família Prado
• Ivan Coluchi
• João Baptista da Costa Aguiar
• José Antonio Pasta
• Manuella Reale
• Mariana Pravadelli
• Moema Cavalcanti
• Paulo Iumatti
• Rodrigo Naves
• Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo –
ieb-usp
• Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da Universidade de
São Paulo – bbm-usp
Título Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense
Organizadoras Sandra Reimão e Gisela Creni
Projeto Gráfico e Capa Negrito Produção Editorial
Editoração Eletrônica Negrito Produção Editorial
Revisão de Texto Carolina Bednarek
Claudia Sarmiento
Formato 15,5 × 22,5 cm
Tipografia Arno Pro 12/15
Papel Certificado fsc® Off-set 90 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)
Número de Páginas 120
Tiragem 1 000
ctp, Impressão e Acabamento Lis Gráfica
ISBN 978-65-87936-09-3

9 786587 936093

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