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História e Simbologia Do Tarô by Sadat Oliveira

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HISTÓRIA

E SIMBOLOGIA
DO TARÔ

Sadat Oliveira

2018
ILUSTRAÇÃO DE CAPA:
“O Mundo”, Tarot Art Nouveau (1999)
SUMÁRIO

PREFÁCIO
ORIGEM
FUNDAMENTOS SIMBÓLICOS
ARCANOS MAIORES
ARCANOS MENORES
APÊNDICE I: MÍSTICOS E TARÓLOGOS
APÊNDICE II: BARALHOS
PREFÁCIO

A simbologia universal do tarô

Quando se fala em tarô, as pessoas geralmente imaginam uma


cigana lendo as cartas com o fim de fazer predições sobre a vida de alguém
que a consulta. O tarô é conhecido como um instrumento premonitório,
assim como o horóscopo.
Todavia, existe outra camada nesta arte milenar: a simbologia. Os
símbolos são a forma mais antiga de comunicação de ideias. Eles precedem
as próprias palavras. Na verdade, palavras são símbolos, as letras são
simplificações gráficas de antigas figuras e se prestam ao mesmo propósito
que é representar ideias por meio de imagens.
“Uma imagem vale mais que mil palavras”. Este conhecido
aforismo foi consagrado pela igreja católica na intenção de explicar o
motivo por que a igreja investiu tanto em arte visual, em pinturas e
esculturas e toda forma de ornamento dentro dos templos. Os próprios
templos são um “sermão visual”, ensinando, por meio de suas colunas e
torres, a olhar para o alto, para o Deus celestial. Isto foi assim projetado
porque a ilustração consegue transmitir mensagens a quaisquer pessoas que
sejam capazes de enxergar, mesmo as analfabetas.
E não apenas por isto. A imagem tem um enorme poder de
condensar ideias. Ora, um simples quadro em que vemos o casal Adão e
Eva, ao lado de uma árvore com uma serpente e um fruto, resume toda a
narração do pecado original, um capítulo inteiro do Gênesis sintetizado em
um quadro. Quantas palavras são necessárias para descrever e explicar esta
cena que pode ser representada facilmente e de forma compreensível em
apenas uma imagem?
A ciência responsável pelo estudo dos símbolos é chamada
semiótica, termo que tem origem na palavra grega semeion, que significa
“sinal, signo”. Os símbolos estão em toda parte. São um fenômeno cultural.
As placas de trânsito são formas de comunicação semiótica. Se há
na estrada a placa com a figura de um animal atravessando a rua, fica claro
para o motorista que neste trecho há o risco de haver animais na estrada e
portanto ele deve dirigir com cautela. Uma simples imagem, captada pelo
olho do motorista em uma fração de segundo, é neste caso mais eficiente
em comunicar uma mensagem importante do que um texto escrito que
dificilmente poderia ser lido por alguém que está dirigindo.
Além disso, a imagem de um animal na pista é compreensível por
qualquer pessoa, independente de idiomas. Se a placa de trânsito viesse com
os dizeres: “Cuidado! Risco de animal na pista”, passaria ignorada por um
motorista estrangeiro que não entendesse suficiente o português. O símbolo
tem a capacidade de ser universal.
Obviamente, ao falarmos de “universal”, não nos referimos ao
universo. Se há civilizações alienígenas entre as bilhões de galáxias lá fora,
provavelmente cada qual terá seus próprios símbolos que para nós
pareceriam totalmente incompreensíveis. Nossos símbolos são humanos e
feitos para humanos e neste sentido alguns deles são universais (ou seja,
globais) porque podem ser compreendidos por qualquer humano normal em
todo o planeta.
Os símbolos estão na arte, no folclore, nas tradições populares. Cada
adereço, cada pulseira e peça de roupa usada em eventos folclóricos, como
uma festa junina ou um halloween, tem um significado. Há uma mensagem
transmitida por meio das coisas. As coisas se tornam símbolos.
As bandeiras dos países são símbolos. As próprias cores por si só
estão consagradas com significados simbólicos. Associamos o vermelho a
emoções fortes, paixão, ódio, amor e guerra. Relacionamos o azul ao
oposto, emoções suaves, tranquilidade, relaxamento, paz. O amarelo se
tornou símbolo de riqueza por lembrar o ouro. O preto representa a morte
por lembrar a escuridão da noite e do túmulo, o apagar das luzes, oposto ao
nascimento que é um vir à luz da vida.
As formas geométricas têm suas cargas simbólicas. O círculo pode
representar uma totalidade, o englobar de todas as coisas. O triângulo é uma
espécie de estrutura de poder, como uma torre ou montanha. De fato, o
triângulo é a representação artificial e humana da montanha, uma recriação
simbólica de uma forma da natureza, assim como podemos representar o sol
e o mundo com um círculo.
Por meio dos símbolos, portanto, nós recriamos o mundo,
representamos a natureza, codificamos a realidade tanto concreta quanto
abstrata. Os símbolos podem descrever coisas tangíveis e visíveis, como
uma montanha ou uma árvore, mas também coisas invisíveis e imaginárias,
conceitos abstratos como vida e morte.
Há, porém, uma grande diferença entre os símbolos constituídos por
imagens e as palavras. Uma imagem é capaz de falar mais que mil palavras,
mas as mil palavras conseguem ser mais precisas em seu conteúdo. Mesmo
uma palavra pode ter vários significados e uma frase várias interpretações,
mas no devido contexto podemos entender precisamente o que as palavras
dizem. É por isto que a linguagem verbal e escrita tem sido por milênios
nosso meio de comunicação mais prático e costumeiro. Não à toa, estou
aqui neste livro usando de palavras para explicar a utilidade das mesmas.
As palavras são a forma preferida de comunicação para as ciências.
O saber humano tem sido guardado e transmitido desta maneira: em livros.
Não é comum se utilizar preferencialmente símbolos artísticos como formas
e cores na ciência. A ciência prefere palavras e, no caso da matemática,
números. Quanto às formas geométricas, são tratadas pela geometria apenas
como as coisas em si, sem se dar a elas um significado oculto dentro da
forma.
O símbolo visual, por sua vez, tem sido adotado pela arte e também
pela religião e misticismo. Toda forma de religião e misticismo é um
fenômeno cultural e uma mistura de arte, filosofia, ética e metafísica. Tudo
se mistura na religião e descrever tais conceitos complexos subjetivos
apenas com palavras não é suficiente.
Não que a religião não tenha feito bom uso das palavras. A palavra é
a base das maiores religiões do mundo. Eis que temos o hinduísmo,
fundamentado em uma vasta coleção de livros, os Vedas, e as religiões
judaico-cristãs tendo a Bíblia como base. A Bíblia é muitas vezes apelidada
simplesmente de “A Palavra”.
Acontece que as palavras não bastam nesta complexa cultura que é o
misticismo. Então os símbolos se tornam parte essencial da comunicação
religiosa. Voltamos ao que fora dito no começo: “Uma imagem vale mais
que mil palavras”.
Dito isto, chegamos ao tarô. Cada carta do tarô é constituída por um
conjunto de figuras, além de um número que representa a posição da carta
no baralho. Cada detalhe desenhado nestas cartas tem um propósito, um
significado. As figuras não estão ali só de enfeite.
Uma vez que analisemos estes símbolos, veremos que as cartas do
tarô são uma espécie de enciclopédia do saber místico universal, um
repositório do conhecimento humano acumulado ao longo dos séculos. Não
um conhecimento científico, mas místico, ou melhor, sobre a vida e o
mundo. A sabedoria intuitiva dos povos.
Tudo isto foi preservado em uma linguagem que sobrevive às eras, a
simbólica. Este código pode ser interpretado, decodificado, não por meio de
um método preciso, mas da intuição e da tradução subjetiva.
A subjetividade é uma parte importante da nossa existência humana,
pois, como disse Chaplin, “não sois máquinas, mas humanos”. Assim como
o cérebro funciona tanto de forma racional quanto irracional, tanto
perceptiva quanto intuitiva, não há compreensão do mundo sem estes dois
aspectos, o científico e o místico.
Compreender o tarô, portanto, é um exercício da parte mais
profunda da nossa mente, a mesma parte que utilizamos em sonhos, quando
a mente se comunica por meio de símbolos muitas vezes incompreensíveis
para o nosso lado racional. Exercitar a intuição facilita essa compreensão do
obscuro e caótico mundo interior.
No fim das contas, é disso que se trata o tarô: compreender a si
mesmo. As cartas representam a vida e tudo mais, mas também representam
o nosso universo interior.
Tenha uma boa leitura!

Sadat Oliveira, primavera de 2018.


ORIGEM

O tarô (ou tarot) é um baralho formado por 78 cartas, sendo 22


chamadas de Arcanos Maiores (ou trunfos) e 56 são os Arcanos Menores
(ou naipes) e, entre estes, 16 são chamados de Cartas da Realeza.
O linguista Guillaume Postel sugeriu que a palavra TARO pode ser
um anagrama para o latim ROTA (roda) e a princípio tem a ver com o fato
de que as cartas podem ser organizadas em um círculo e assim lidas em
qualquer ordem. Isto resolveria também o dilema da posição do Arcano 0,
que está tanto antes do 1 quanto depois do 21.

A roda do tarô. Note-se que o Arcano 0 pode ser tanto o início quanto o fim
do ciclo.

Como o tarô é geralmente associado a magos e bruxas, pode-se


pensar que as cartas tenham uma natureza essencialmente pagã, mas na
verdade sua origem tem grande participação cristã e utiliza de vasta
simbologia ligada ao cristianismo.
O baralho em si surgiu na China como um objeto lúdico, foi
“exportado” para a Europa por meio dos árabes com seu baralho mamluk.
Foi então na Europa que as cartas ganharam uma nova função, sendo
decoradas com símbolos místicos e ganhando uma rica significação.

O baralho oriental

A história relata que em 1294 dois chineses foram condenados pelo


imperador Kublai Khan por praticarem jogos de azar. Era um jogo de cartas
que já existia há alguns séculos, mas não se sabe quem as criou. Por volta
do século XVI apareceram outros baralhos no oriente, como o persa
(formado por 5 naipes de 5 cartas) e o indiano (com 10 naipes de 12 cartas).

O baralho mamluk

Os mamluk (mamelucos) originalmente eram escravos caucasianos


na região do Oriente Médio que foram convertidos ao islamismo na idade
média e desenvolveram um poderoso sultanato dos séculos XIII ao XVI.
Seu líder mais famoso foi Saladino. Desde seu surgimento, os mamelucos
foram um povo belicoso e enfrentaram os exércitos mongóis, as cruzadas
europeias e os otomanos. Foram finalmente derrotados e dispersos após
confrontos com Napoleão em 1798 e o otomano Mehmet Ali em 1811.
Existe um exemplar de baralho mameluco preservado no Museu
Topkapi de Istambul, Turquia, e consiste em 52 cartas (sendo 4 naipes de 13
cartas cada) e remonta ao século XV. Alguns fragmentos incompletos de
baralhos árabes guardados em outros museus remontam ao chamado
período Ayyubid (1173-1250), o que faz com que o baralho mamluk seja
mais antigo que o tarô.
O pesquisador Giovanni di Covelluzzo, nas “Crônicas de Viterbo”,
assim escreveu sobre as cartas árabes: “No ano de 1379 chegou a Viterbo
um jogo de cartas proveniente do país dos sarracenos chamado naib”. É
desta palavra “naib” que nasceu o termo “naipe” para se referir às cartas.
Ele é formado por quatro naipes:
1) Um conjunto chamado Darahim (dracmas) que tem o símbolo de
uma moeda, fazendo referência à moeda grega dracma, e é equivalente ao
naipe Ouros do baralho europeu. No baralho europeu, o símbolo redondo da
moeda foi substituído pelo losango.
2) O Suyuf (cimitarras, sabres) tem o símbolo em formato de S,
referência à espada curva árabe, e é equivalente ao naipe Espadas do
baralho europeu.
3) O Jawkan (taco de pólo) tem o símbolo em formato de L,
referência ao taco que se usa no esporte do pólo, e é equivalente ao naipe
Paus europeu. No baralho europeu, o símbolo de paus tem a ver com um
porrete, não com um taco, pois o jogo de pólo não era ainda conhecido na
Europa.
4) O Tuman (miríade, dez mil) tem o símbolo de um cálice e é
equivalente ao naipe Copas europeu (que tem um formato que hoje
chamamos de “coração”, mas na verdade é a simplificação da figura de um
cálice).
Diferente do tarô europeu, portanto, o mamluk não possui cartas
equivalente aos Arcanos Maiores. Assim, cada naipe possui 13 cartas
contendo a numeração de 1 a 10 e as 3 últimas cartas são de personagens da
corte: o Malik (rei), Naib (vice-rei) e Naib thani (segundo vice-rei),
equivalendo às figuras de Rei, Valete e Damas do baralho europeu.

O baralho espanhol

Possui 4 naipes de 12 cartas (de 1 a 9 mais Valete, Cavaleiro e Rei).


Os naipes são Oros, Espadas, Copas e Bastos. Estes símbolos representam
as diversas classes sociais: comerciantes, militares, religiosos e
camponeses.

O baralho francês

Possui 4 naipes de 13 cartas. Os naipes são Carreaux (quadrados),


Pique (ponta de lança), Coeurs (corações) e Trèfles (trevos). Nota-se então
que o baralho francês evoluiu o design dos naipes para o formato que
conhecemos hoje. O antigo símbolo de moeda ou de barra de ouro virou um
losango, a espada virou uma ponta ornada de lança, o cálice virou um
coração estilizado e o taco ou porrete virou um trevo. Outra inovação
francesa foi a substituição do cavaleiro pela dama, finalmente entrando uma
figura feminina no baralho.

O baralho alemão
A grande contribuição alemã foi na substituição do número 1 da
primeira carta pela letra A de “ás” (palavra de origem latina que significa
“uma unidade”).

O baralho italiano

A contribuição italiana foi na criação de uma nova carta, O Louco,


que não possui número nem naipe. Esta carta entrou no conjunto do tarô e
alguns a consideram a origem do Coringa no baralho moderno.
Também se considera que foi na Itália que nasceu o próprio tarô
com a adição das 22 cartas trunfo chamadas Arcanos Maiores.

O baralho inglês

Enquanto o baralho italiano possuía a carta O Louco, o inglês tinha


uma carta especial chamada Imperial Bower que tinha o poder do trunfo, de
vencer todas as outras. Foi provavelmente a partir desta carta que surgiu o
Joker (Coringa).
Também as letras das cartas nobres no baralho moderno vêm do
inglês. O Valete é J (de Jack), a Dama é Q (de Queen, rainha) e o Rei é K
(de King, rei).

Nasce o tarô

Assim, o jogo de cartas, surgido na idade média tanto no oriente


quanto no ocidente, tinha simplesmente um propósito lúdico, era um
passatempo, uma diversão ou instrumento para jogos de aposta.
A princípio estas cartas não tinham qualquer significado profundo.
No máximo, as cartas nobres e os naipes serviam para representar classes
sociais de uma maneira bem semelhante ao xadrez. Pode-se dizer que o
baralho é um “xadrez em forma de cartas”, pois em ambos estão
representados rei, rainha, militares, peões camponeses, etc.
Aliás, o xadrez europeu possui um ancestral indiano chamado
chaturanga, que data do século V, e consiste em um tabuleiro sobre o qual
se manipulam quatro times de peças que são peões, reis, cavaleiros e
generais. Estes quatro grupos de peças, cada qual com seu rei, são os
antecessores dos quatro naipes do baralho, de modo que o chaturanga é um
ancestral comum do xadrez e das cartas.
Foram os artistas místicos europeus que a partir do baralho comum
desenvolveram um novo jogo de cartas extremamente enriquecido com
símbolos religiosos e filosóficos. Também aumentaram a quantidade de
cartas. As 56 cartas tradicionais do baralho comum se tornaram os Arcanos
Menores e a este conjunto se acrescentou 22 novas cartas com sua peculiar
simbologia, os Arcanos Maiores. Estas cartas especiais foram chamadas
pelos textos italianos de tarocchi ou trionfi e os franceses as chamaram
triomphes ou atouts. Todas estas palavras significam “trunfo”, cartas
superiores.
Esta palavra “trunfo” ou “trionfi”, em italiano, pode ter sido
emprestada de uma série de poemas de Petrarca que tinham este nome e
descreviam figuras alegóricas representando virtudes e poderes universais:
o Amor, a Castidade, a Morte, a Fama, o Tempo e a Eternidade.
Desde sua origem, o tarô demonstra uma natureza eclética,
miscigenada. As cartas possuem influências orientais, árabes e, na Europa,
passaram pelas mãos de italianos, espanhóis, franceses e alemães até
assumirem sua forma final. O conteúdo simbólico também é uma mistura
da iconografia cristã com símbolos místicos da alquimia e da cabala
judaica. Desta forma, as 78 cartas conseguem condensar em si toda esta
variedade de ensinamentos das grandes escolas místicas, adquirindo um
caráter universal.
A influência da cabala judaica pode se notar no número de cartas
especiais, 22, que equivale às 22 letras do alfabeto judaico, que na cabala
representam os 22 caminhos da Árvore da Vida. Desta forma, é possível
fazer uma sobreposição entre as cartas e a árvore da cabala.
Na idade média, tanto a teologia cristã, quanto a alquimia, filosofia,
cabala e outras escolas místicas entendiam que existe uma ordem no mundo
e que é possível elaborar sistemas simbólicos para descrever tal ordem.
Assim, esquemas como a Árvore da Vida ou o tarô são uma maneira de
mapear a existência, tanto cósmica quanto mental, tanto do universo quanto
do íntimo do ser humano.
Durante as guerras da França contra a Itália, no século XVI, o tarô
foi levado à França. O registro histórico mais antigo de sua presença no
território francês está no livro “Gargantua”, de Rabelais (1534), que, ao
mencionar os jogos do protagonista, incluiu o tarô, por ele chamado tarau.
No século XVIII, o tarô já era produzido em imprensas por toda a
Europa. Vários modelos surgiram, adquirindo o nome de seus gravuristas
ou das cidades em que eram produzidos. Assim temos o tarô Conver
(1760), o tarô Camoin (1880), o tarô Besançon (1898), o tarô Grimaud
(1931), etc. Um dos modelos que se tornou mais usado foi o tarô de
Marselha.

A teoria da origem egípcia

Sabe-se por meio de registros históricos (menções de autores antigos


e baralhos que sobreviveram ao tempo) que o tarô provavelmente se
desenvolveu a partir das cartas do baralho comum (este originado na China
e levado ao ocidente pelos árabes) contando com o acréscimo das 22 cartas
especiais na Itália.
O fato de não se encontrar cartas semelhantes aos Arcanos Maiores
em outras culturas também fortalece a hipótese de que tais cartas tenham
sido projetadas por um grupo específico de estudiosos místicos e
particularmente conhecedores da iconografia cristã.
Todavia, o místico Court de Gebelin, em seu livro “O mundo
primitivo analisado e comparado com o mundo moderno” (1781), ousou
sugerir uma origem muito mais antiga das cartas no Egito. Segundo
Gebelin, as cartas contêm alegorias que já estavam presentes em hieróglifos
egípcios. Modernamente, esta teoria influenciou artistas a desenharem
cartas com temas egípcios.
Também o cartomante Etteilla afirmava que o tarô teria origem no
lendário Livro de Thoth, escrito por uma convenção de 17 magos ocorrida
em 2170 a.C. no templo de Amon, em Mênfis, 171 anos após o Dilúvio.
Esta teoria, no entanto, não é congruente com a grande quantidade
de símbolos cristãos presentes nas cartas e que não poderiam ter sido
elaborados no Egito antigo quando sequer existia o cristianismo. Etteilla,
por sua vez, alega que os símbolos originais foram deturpados ao longo dos
séculos.
O mago Eliphas Levi não foi tão radical a ponto de afirmar que o
tarô teve origem no Egito, mas desenhou seu próprio baralho com
elementos egípcios, bem como hebraicos, pois, sendo ele um eclético, sua
intenção era mostrar como o tarô continha elementos de diversas culturas e
religiões.
A origem lendária

Uma das lendas sobre a possível origem antiquíssima do tarô conta


que na extinta civilização da Atlântida os sábios perceberam que a
população estava decaindo em conhecimento e moral, de modo que
resolveram desenvolver uma forma de preservar sua antiga e vasta
sabedoria, protegendo-a da decadência da civilização e de futuras
catástrofes naturais.
Estes sábios se reuniram em concílio e propuseram diversas
soluções, como registrar seus conhecimentos nas paredes dos templos de
Atlântida, mas como eles já sabiam que um terremoto assolaria aquela terra,
descartaram tal ideia.
Outra solução seria trazer 10 dos homens e mulheres mais
inteligentes de outras nações para estudarem todo o conhecimento atlante e
então levarem tal saber de volta a suas terras. Todavia, os sábios
descartaram esta solução porque os humanos tendem a deturpar
informações e mesmo os mais inteligentes poderiam incorrer neste pecado.
Chegaram enfim à conclusão que a melhor forma de perpetuar seus
conhecimentos seria por meio de um objeto lúdico, cartas de jogo, e que
usando a linguagem visual e simbólica poderiam alcançar as mentes dos
sábios de todas as gerações independente do idioma que falassem.
Outra versão desta lenda diz que foi o próprio deus Thoth, antigo
deus da sabedoria, quem criou as cartas com este propósito de perpetuação
do saber divino.

Os ciganos e a cartomancia

O senso comum muitas vezes associa a origem do tarô aos ciganos


devido ao fato destes serem famosos pela utilização das cartas, todavia os
registros históricos mostram que na Europa o tarô já havia surgido antes da
chegada dos ciganos, povos nômades originalmente surgidos no Hindustão,
que chegaram na Alemanha em 1417, em Roma em 1422 e em Paris em
1427.
Entre os trabalhos normalmente usados pelos ciganos como fonte de
renda havia a prática da adivinhação, o que faziam principalmente pela
leitura das mãos (quiromancia) e na Europa adotaram também as cartas do
tarô (cartomancia). Desde então a prática da cartomancia utilizando o tarô
se difundiu no mundo por meio dos ciganos e estes deram uma grande
contribuição quanto aos métodos de leitura e interpretação.
Em sua origem, o tarô não pretendia ser um instrumento de
adivinhação, mas sim uma ferramenta didática, um livro em forma de
imagens, contendo ensinamentos simbólicos sobre os quais o iniciado
místico deveria sempre meditar. Coube aos ciganos aprimorar e popularizar
o aspecto mais divinatório das cartas.
É interessante que, sendo andarilhos e artistas de rua, os ciganos se
assemelham aos dois primeiros personagens do tarô, o Louco e o Mago.
Eles ilustram em suas vidas aquilo que está desenhado no baralho.

Alguns termos da cartomancia

Nota: Neste livro não pretendemos aprofundar o assunto da


cartomancia, uma vez que o objetivo aqui é especificamente a história e a
semiótica (o significado dos símbolos) das cartas. Fiquemos com alguns
conceitos básicos desta arte.

Adivinhação, divinação, leitura, cartomancia, ler a sorte: a prática de


interpretação das cartas com o fim específico de entender aspectos do
passado, presente ou futuro do consulente. A pessoa que realiza esta prática
é chamada de cartomante ou tarólogo.
Arcanos: conhecimento oculto, mistério a ser desvendado pelos
iniciados no misticismo.
Colocação ou sistema: o ato de dispor as cartas em determinado
formato para que sejam lidas. Existem várias formas de se organizar as
cartas como o sistema da Cruz Celta, a Mandala Astrológica, etc.
Consulente: a pessoa para quem a leitura das cartas é feita, também
chama de cliente do cartomante.

O tarô de Marselha

Marselha foi a “capital do tarô” nos séculos XVII e XVIII. Os


baralhos ali publicados se tornaram o modelo mainstream a ser seguido por
muitos outros. É o baralho que usaremos aqui para ilustrar os Arcanos
Maiores.
O editor Nicolas Conver foi o primeiro responsável pela produção
do tarô de Marselha. Sua editora existiu de 1760 a 1890. Em 1931, a editora
Grimaud passou a reimprimir as cartas de Marselha, garantindo a
perpetuação deste modelo no século XX.
Outra importante versão foi produzida em 1996 pelo canadense Kris
Hadar que durante duas décadas estudou os baralhos originais de Marselha
e elaborou uma restauração que buscava ser a mais fiel possível ao desenho
de Nicolas Conver. O resultado foi um baralho que, segundo o próprio
Hadar, é o “verdadeiro tarô de Marselha”.
Segundo Kris Hadar, o tarô teria surgido no século XII no sul da
França como uma forma dos artistas e trovadores ocultarem seus
conhecimentos místicos que eram considerados heréticos pela Igreja.
Outra restauração mais recente foi feita em 1997 por Philippe
Camoin (um herdeiro da editora de Nicolas Conver) com ajuda do cineasta
e roteirista chileno Alejandro Jodorowsky.
Outras versões de tarô serão listadas no final deste livro em anexo.
FUNDAMENTOS SIMBÓLICOS

O tarô e os tipos de personalidade

No início do século XX, o psicanalista Carl Jung desenvolveu uma


teoria de tipos psicológicos que consistia em oito tipos fundamentais de
personalidade. Décadas depois este trabalho foi complementado por
Katharine Briggs e Isabel Myers, que enfim formularam um modelo de
dezesseis tipos que resultam das várias combinações de quatro funções
básicas: sensação, emoção, pensamento e intuição.
Curiosamente, a ordem mística da Aurora Dourada já no começo do
século XX descrevia as Cartas da Realeza como arquétipos para dezesseis
tipos de personalidade, o que acabou posteriormente coincidindo com a
teoria de Jung-Myers-Briggs. As cartas da realeza são aquelas que
envolvem as quatro figuras da corte (Pajem, Cavaleiro, Rainha e Rei),
repetidas nos quatro naipes, somando dezesseis cartas, dezesseis
combinações diferentes de características.

O tarô e os arquétipos

Apesar de ser mais conhecido por sua função divinatória através da


cartomancia, o tarô possui outro propósito, o principal, que é resumir,
condensar em seu conjunto de símbolos os conceitos fundamentais da
filosofia mística e, especialmente, descrever os arquétipos da sabedoria
humana, desde os cósmicos até os individuais.
O conceito de arquétipo é usado tanto na filosofia quanto na
psicologia, teologia e esoterismo. Esta palavra vem do grego archê, que
significa “princípio, início, antiguidade”. Trata, portanto, de conceitos que
pertencem ao imaginário humano desde o início dos tempos, conceitos que
estão na estrutura básica de nosso pensamento e visão de mundo. Por serem
tão antigos, também são perpétuos. As eras mudam, os valores mudam, a
ciência, a religião, as opiniões da sociedade mudam ao longo dos séculos,
mas os arquétipos permanecem arraigados no fundamento da consciência
humana.
Anjos, demônios, deuses, heróis, vilões, virtudes e pecados, amor e
ódio, luz e treva, criação e destruição, todos estes conceitos são baseados
em arquétipos e os arquétipos estão abundantemente presentes na cultura
humana na forma de símbolos, nas pinturas e esculturas religiosas, nos
personagens de ficção e, não poderia ser diferente, nas cartas do tarô.
O conceito de arquétipo já esteve presente nos ensinamentos de
antigos pensadores e místicos. Basicamente, o arquétipo é uma ideia, um
modelo mental. Logo, tudo começa na mente, no pensamento, no mundo
das ideias. Platão assim se referia a um mundo perfeito e que deu origem ao
nosso mundo, um “mundo das ideias”. Também Buda dizia que o universo
existe a partir da “mente de Buda”. Na Bíblia, o mundo foi criado pela
“palavra de Deus”, termo que, no Novo Testamento grego, era chamado de
“logos”, que também significa “razão”.
O místico Hermes Trismegisto disse que a “Mente Suprema” usou a
palavra para criar o mundo a partir de um molde, um modelo imaginário,
logo, um arquétipo. Por fim, citemos a definição dada por Carl Jung em seu
livro “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”: “Os conteúdos do
inconsciente coletivo são conhecidos como arquétipos... essa parte do
inconsciente não é individual mas universal; em contraste com a psique
pessoal, ela possui conteúdos e modelos de comportamento que são mais ou
menos iguais em todos os lugares e em todos os indivíduos... O arquétipo é
essencialmente um conteúdo inconsciente que é alterado ao tornar-se
consciente e ao ser percebido, e assume sua cor a partir da consciência
individual na qual por acaso aparece”.
Quanto ao tarô, podemos separar três tipos de arquétipos. Os 22
Arcanos Maiores representam os arquétipos mais universais, cósmicos,
relacionados à toda a vida e o mundo. As 16 Cartas da Realeza, assim como
representam as personalidades humanas, também se referem aos arquétipos
individuais. Os demais 40 Arcanos Menores representam arquétipos da
interação entre o indivíduo e o mundo.
Enfim, por meio de símbolos, o tarô consegue descrever desde o
universo até o interior da mente humana. O macrocosmo físico e o
microcosmo mental. A ordem em que estão organizados os arcanos maiores
não é aleatória, há uma gradação de arquétipos que vão evoluindo desde o
nada (o Louco, arcano 0) até o tudo (o Mundo, arcano 21).
ARCANOS MAIORES

Apesar de haver uma organização geral das 22 cartas que se


manteve ao longo dos séculos, há pequenas variações nos diferentes
baralhos. Alguns baralhos colocam o arcano 0 (o Louco) no início,
enquanto outros o localizam no fim, após o arcano 21 (o Mundo), de modo
que também é chamado de arcano 22.
Na verdade não há incoerência nisto, ao contrário, faz sentido o
Louco estar tanto no início quanto no fim porque nele está contido o
conceito cósmico do Tao, a totalidade das coisas, tanto o tudo quanto o
nada. O louco é o arcano que interliga os ciclos de início e fim, é o eterno
retorno.
Outra variação existe entre os arcanos 8 e 9 que envolvem a Justiça
e a Força. Alguns baralhos trocam a ordem, porém o uso mais comum é da
Justiça como arcano 8 e a Força como arcano 9. Também faz sentido haver
esse cruzamento uma vez que 8 e 9 são os números de virada de ciclo.
Enquanto os arcanos 0 e 22 representam um macrociclo, os arcanos 8 e 9
são um microciclo.
Arcano 0 ou 22, O Louco

Esta carta é realmente singular. Ela não possui a princípio uma


numeração, de modo que alguns baralhos a localizam como sendo a carta 0
e em outros ela é numerada como 22. Pode estar no início ou no fim.
De fato, esta carta está simultaneamente no início e no fim, pois o
zero representa muito bem um ciclo em que o ponto de partida e o de
chegada se encontram.
Em francês ela é nomeada Le Fou ou Le Mat, em italiano Il Matto,
em inglês The Fool. Em português costuma ser chamada O Louco.
O nome Mat pode vir realmente do francês, significando
“indistinto”, alguém sem importância, ou do italiano, significando “louco”.
Esta palavra inclusive tem uma raiz em comum com o português
“matusquela”, que define uma pessoa doida.
Quanto ao inglês fool e o francês fol, têm origem no latim follis
(fole, bolsa de vento). A loucura é vazia, cabeça oca.
O personagem se parece com um palhaço, ou melhor, um bobo da
corte medieval. Nota-se que ele está partindo em uma jornada, levando
apenas uma trouxa e um bastão, sendo seguido por um pequeno animal,
geralmente um cão ou um gato.
O fato do personagem ser um bufão remete a espontaneidade e de
certa forma inconsequência. A trouxa simples mostra que ele é pobre e
desprendido, que tem pouco a levar consigo, e parte em uma aventura rumo
ao desconhecido.
O Louco, portanto, é adequadamente o início da jornada individual.
O indivíduo ainda ingênuo e ignorante se lança em busca de experiências.
Ele nada tem a perder, deixa sua vida anterior para trás. O animalzinho
parece querer puxá-lo de volta para sua antiga casa, representa o
comodismo que tenta impedi-lo de mudar, as distrações do mundo. Mas o
Louco não olha para trás, dá um salto de fé na direção do abismo.
Esta carta pode representar situações da vida em que tomamos
decisões ousadas, em que nos desapegamos de antigos hábitos ou de posses,
pessoas, preconceitos, opiniões, e buscamos nos reformar em um novo
caminho, um recomeço de vida.
O Louco é a atitude necessária para todo iniciado no misticismo ou
na filosofia. Sócrates assim definia a atitude necessária para a busca do
conhecimento: “Só sei que nada sei”. Assumir a ignorância é o primeiro
passo para o conhecimento.
O apóstolo Paulo disse sobre o caminho da fé: “Esquecendo das
coisas que para trás ficam e olhando para as que adiante de mim estão,
prossigo para o alvo” (Filipenses 3:13,14). Também o mesmo apóstolo
disse: “Se alguém quer tornar-se sábio neste mundo, primeiro faça-se
louco” (1 Coríntios 3:18). Jesus disse que aquele que quer seguir o Reino de
Deus primeiro deve se desapegar, “venda tudo o que tens e dá aos pobres,
depois vem e me segue” (Mateus 19:21).
Nesta carta aos Filipenses, Paulo assemelha o próprio Jesus a um
louco, pois fala que Cristo se “esvaziou” (veja aí o vazio, o zero) de sua
glória para viver como um simples humano, humilde e que foi levado à
cruz. Jesus fez o caminho do Louco, o caminho do auto esvaziamento (na
teologia cristã chamado de kenosis).
Existe esse paradoxo entre a sabedoria e a loucura. Não raro os
sábios foram tidos como loucos, como Diógenes que vivia em um tonel
como mendigo, amigo dos cães de rua, todavia era rico em sabedoria. É aí
que o 0 encontra o 22, você começa a caminhada como louco, mas chega ao
fim como sábio.
O Louco se assemelha em certos aspectos ao Eremita, porém ambos
são como fases opostas da vida. O Louco é o jovem que ainda está
começando sua caminhada. Ele nada possui, nada conquistou e desconhece
o que está por vir. O Eremita já é um idoso, experiente, teve suas aventuras,
acumulou experiência, bens, conquistas, sabedoria, mas afastou-se do
mundo para a reclusão, em uma busca diferente, mais interior que exterior.
O Louco sai para o mundo, o Eremita sai do mundo. O louco é Andarilho, o
Eremita é recluso.
Em relação à carta seguinte, O Mago, o Louco é também um oposto.
O Mago é uma figura de ordem, de aquisição de poder e desenvolvimento
da razão. O Louco é o caos, a desordem necessária para se produzir algo
novo. O Mago já foi o Louco, começou desta maneira, então amadurecendo
e evoluindo. Enquanto o Mago possui uma mente refinada e inteligente, o
Louco é puro instinto e intuição. Aparentemente age sem pensar, mas este
agir sem pensar pode ser o começo do caminho para se tornar futuramente o
Mago.
A imagem de um andarilho é ambígua no sentido de que pode tanto
representar um idiota inconsequente quanto um santo ou corajoso
aventureiro. Pode ser o filho pródigo que sai de casa para gastar
irresponsavelmente a herança, um vagabundo, ou um mistico mendicante,
como um franciscano, um devoto no caminho de Santiago ou qualquer
outra peregrinação, ou um filósofo desapegado do mundo, como Diógenes,
que vivia a vagar nas ruas. São Francisco ganhou o apelido de Il Sancto
Folle di Dio (o Santo Louco de Deus).
Virtudes e defeitos se confundem nesse personagem. Ele pode ser
inconsequente ou ousado, corajoso ou imprudente, resoluto ou confuso.
O Louco é essencialmente um indivíduo. Ou seja, ele não está
ligado a nada ou ninguém, não faz parte de um grupo, não se submete a
sociedade alguma e nem se importa com a opinião alheia, assim como
qualquer pessoa geralmente considerada insana. O indivíduo é por natureza
solitário e segue seu próprio caminho. Este é o preço da autenticidade.
Este personagem representa as virtudes da coragem, ousadia,
destemor, otimismo, curiosidade, espontaneidade, um espírito livre, a fé que
se lança no desconhecido. Todo crente é um louco, bem como todo
aventureiro. Também representa a inocência, a ingenuidade e pureza de
quem ainda está no começo da caminhada.
Contrariamente há os vícios e fraquezas da insegurança,
instabilidade, impulsividade, idealismo tolo, negligência, ignorância,
irresponsabilidade.
Enquanto os outros personagens do baralho têm características bem
definidas, como o Mago, a Papisa, a Imperatriz, etc., o Louco é um ser
informe, uma energia em potencial e que irá se tornar qualquer um dos
outros personagens. É o caos, que é a matéria-prima para todas as coisas.
Em termos metafísicos, o zero é o vazio e o silêncio necessário para
a iluminação. O símbolo do budismo zen é um círculo, bem como do tao,
que prega a “não ação” (wu wei). Não há no Louco um arquétipo masculino
nem feminino. Ele é neutro ou é a harmonia dos dois princípios.
Em um sentido cósmico, o Louco, sendo o zero, é o vazio inicial do
mundo, o caos informe, o ovo primordial, o abismo e vácuo universal, o
absurdo incompreensível que havia antes do mundo ter origem.
A imagem do louco é inspirada na figura medieval dos pobres
errantes, loucos que vagavam pelas ruas, ou mesmo de religiosos de ordens
mendicantes que viviam sob o voto de pobreza.
“O Viajante” ou “O Filho Pródigo”, pintura de Hieronymus Bosch (1450-
1516), mostra um andarilho, vagabundo, o filho pródigo, com detalhes bem
semelhantes aos da carta do Louco.
Arcano 1, O Mago

O nome desta carta em francês é Le Bateleur, uma palavra que pode


descrever uma série de artistas circenses, como o malabarista, o acrobata, o
cômico, o prestidigitador e o bufão. Nota-se uma semelhança com o Louco,
que também é associado a um palhaço, com a diferença que o Mago é um
artista aprimorado, que desenvolveu suas habilidades.
O número 1 é claramente o começo de tudo. Este personagem num
sentido cósmico é um arquétipo do próprio Deus criador que fez o seu
“truque”, a sua “ilusão”, criando o mundo em um ato mágico e
impressionante. Assim como a plateia que assiste ao mago não entende seus
truques, também os humanos não compreendem de que forma Deus trouxe
o mundo à existência.
Na linguagem mística e também na filosófica, os sexos masculino e
feminino são bastante utilizados como representações de princípios opostos
e complementares. Não se trata de sexo, de fato, nem sobre homens e
mulheres. São ideias construídas sobre estes dois fenômenos da natureza,
assim como sol e lua, dia e noite são usados em símbolos dualistas.
Em certos casos, a representação dos princípios masculino e
feminino ganha até uma sutil abordagem gráfica. Por exemplo, o número 1
é associado ao masculino porque este sinal gráfico, o 1, lembra o falo do
macho, o bastão, o caduceu, o cetro. O número 0, por outro lado, lembra o
orifício da fêmea, o cálice, a arca, logo, é um número relacionado ao
feminino.
O Mago, o alfa, o 1, representa o princípio masculino da atividade.
É o Deus que cria o mundo, é o indivíduo que age e se torna senhor de sua
jornada de autoconhecimento. O Mago é você desvendando os mistérios da
vida e de si mesmo, adquirindo poder para moldar a realidade a seu favor.
“Magia é a arte ou a ciência de causar mudanças com a força de
vontade”, eis a acertada definição de Aleister Crowley. O objetivo do mago
é transformar. Os alquimistas eram químicos e magos que buscavam
transformar chumbo em ouro e na verdade isso era apenas o começo de uma
busca maior, pois queriam transformar a matéria em algo com poderes
extraordinários, a pedra filosofal.
Magia é transformação e o mago busca transformar a realidade,
moldando-a conforme a sua vontade. No entanto, a principal transformação
a ser operada por um mago é a interior. O arcano 1, portanto, é a introdução
dessa jornada, o sumário do objetivo existencial: conhecer e transformar a
si mesmo.
O dualismo é um princípio constante em todas as cartas. Além de
haver cartas que podem ser vistas como pares complementares, como é o
caso dos arcanos 0 e 1, também cada carta traz em si uma simbologia de
opostos.
A imagem do mago é a de uma pessoa com um braço apontando
para cima e outro para baixo. Eis uma clássica ideia do misticismo
universal, como se nota na oração ensinada por Jesus: “assim na terra como
no céu”.
Na cabala judaica, a estrela de Davi traz os dizeres: “o que está em
cima é como o que está embaixo”. O místico católico Eliphas Levi
representou esse princípio com o desenho do bode Baphomet igualmente
apontando para o céu e a terra. Até mesmo as pinturas cristãs medievais
trazem Jesus ou Maria fazendo este gesto de elevar uma mão enquanto a
outra está abaixada. O pintor Rafael, no quatro Escola de Atenas,
representou Platão e Aristóteles a performar este gesto com as mãos.
O Mago busca essa compreensão completa da realidade, tanto do
que está acima quanto do que está abaixo, as coisas terrenas e as coisas
sublimes, o ordinário e o extraordinário, o trivial e o milagroso.
O Mago é o elo entre os mundos material e espiritual. Ele domina os
elementos da terra e a sabedoria do alto. Por esta razão o deus grego que
melhor representa os magos é Hermes (Mercúrio). Considerado o
mensageiro dos deuses, ele trafega velozmente entre o Olimpo e o mundo
dos homens, indo até mesmo às profundezas do Hades.
O pai do ocultismo antigo era chamado de Hermes Trismegisto e a
arte da interpretação de textos é chamada hermenêutica, pois Hermes era o
tradutor, aquele que mediava a comunicação entre deuses e humanos.
Também denominamos hermetismo aos conhecimentos misteriosos e
criptografados que apenas os magos podem compreender. O bastão que o
Mago empunha na carta o assemelha a Hermes empunhando o caduceu.
Sobre a cabeça do mago existe um chapéu que se assemelha ao
símbolo do 8 deitado, o infinito. Algumas versões de baralhos trazem o
símbolo do infinito mais claramente destacado sobre sua cabeça. Tanto o 8
quanto o 0 contêm essa ideia de infinitude, sendo que o 0 a retrata de uma
maneira estática, um todo homogêneo, enquanto o 8 mostra o infinito de
maneira dinâmica, algo em movimento e mutação.
É curioso como recentemente, por meio da ciência da genética,
chegamos a conhecer a aparência do DNA, que se parece com uma hélice.
O DNA que é, por si só, um instrumento de evolução de qualquer ser vivo
neste planeta, assemelha-se ao 8 infinito, a hélice da evolução do indivíduo.
Na simbologia mística, círculos, hélices, parafusos e espirais são
comumente associados a evolução, pois toda evolução se dá em ciclos, pelo
movimento giratório e progressivo.
Este símbolo do infinito sobre a cabeça do mago também pode ser
interpretado como um par de olhos. Algumas versões modernas de fato
substituem o desenho do 8 por olhos. São os olhos de Deus sobre sua
criação ou, no caso do indivíduo, os olhos do mago, representando sua
sabedoria.
Entre os vários objetos presentes no cenário, quatro merecem
destaque: o bastão na mão esquerda do mago, que represente o naipe de
Paus; a moeda em sua mão direita, o naipe de Ouros; uma adaga sobre a
mesa, sendo o naipe de Espadas; e um cálice que é o naipe de Copas.
Alguns baralhos inclusive eliminam todos os outros objetos e mantêm
apenas estes quatro, para deixar claro que aqui, no primeiro arcano, há uma
sinopse, uma apresentação resumida do conteúdo do baralho, exibindo seus
quatro naipes.
O fato desta carta ser a primeira, enfim, não é à toa, afinal o Mago é
o começo da jornada daquele que está buscando a sabedoria.
Este personagem representa as virtudes da criatividade, inteligência,
busca de conhecimento, poder de ação, vontade, consciência, originalidade.
Contrariamente há os vícios da arrogância, teimosia e um espírito
manipulador que usa da “lábia” para convencer as pessoas.
A imagem do mago é inspirada na figura medieval dos artistas
itinerantes que faziam seus shows de mágica, canto e dança nas ruas.

“L’Escamoteur”, “O Ilusionista”, pintura de Hieronymus Bosch (1453-


1516).
Arcano 2, A Papisa (ou Sacerdotisa)

O nome desta carta em francês é La Papesse, em inglês é comum


aparecer como The High Priestess, a Alta Sacerdotisa. A ilustração da
Papisa claramente demonstra autoridade e sabedoria. Uma mulher vestida
de túnica real e uma coroa de três pontas, sentada em um trono e segurando
um livro. Ela é a gnose, o conhecimento oculto, a intuição.
O número 2 é o princípio feminino e relaciona-se com virtudes
como delicadeza, discrição, prudência, religiosidade e paciência. Também
remonta ao dualismo, à visão completa de todas as coisas, pois a sabedoria
enxerga além do bem e mal, do claro e escuro, da vida e morte.
Contrariamente há os vícios do fanatismo e da hipocrisia.
Enquanto o Mago ilustra aquele que se inicia no caminho do
conhecimento, a Papisa mostra um estágio avançado de realização
espiritual.
Historicamente, esta carta pode ter surgido inspirada na suposta
existência de um papa do sexo feminino, que teria sido o papa João VIII.
João, ou Joana, só teve seu sexo publicamente revelado quando engravidou
e acabou por dar à luz em plena procissão, causando a fúria dos membros
do clero que por fim mataram a papisa e seu filho.
Na iconografia cristã, existem duas imagens antagônicas
envolvendo uma mulher: a Virgem Maria, que é geralmente representada
com túnica azul, sendo ela o ícone da pureza e consagração religiosa; e a
Grande Prostituta, mencionada no livro do Apocalipse, representada com
vestes vermelhas e sentada não sobre um trono, mas sobre a Besta que é o
próprio Diabo. Esta mulher é o ícone dos desejos carnais e da heresia. A
Papisa está vestida de vermelho e azul e pode ser o equilíbrio entre os
extremos da pureza santa e dos desejos mundanos, pois é no equilíbrio que
reside a sabedoria humana.
Esta carta naturalmente combina com a do Mago, de modo que
ambos constituem visões complementares do mesmo princípio. O Mago é a
energia masculina, a ação, ele está em pé diante de uma mesa. A Papisa é a
energia feminina, o repouso, e se mostra sentada sobre um trono. O Mago é
o elemento fogo, fluido, móvel. A Papisa é a terra, sólida, sentada, firme.
Arcano 3, A Imperatriz

Uma mulher coroada sentada no trono, empunhando um escudo com


figura de águia e um cetro. Enquanto a Papisa segura um livro e representa
poder espiritual e intelectual, a Imperatriz possui poder terreno, autoridade
de rainha. O número 3 invoca o princípio da completude divina e da
comunidade perfeita.
Assim como a Papisa faz par com o Mago, a Imperatriz fará com o
Imperador. Ela igualmente carrega o princípio feminino, porém mais
voltado para as questões materiais e práticas. Ela representa as virtudes da
realização, da solução de problemas, do cuidado atencioso e discernimento,
bem como os vícios do autoritarismo, ciúmes e presunção.
Seu arquétipo de figura feminina de autoridade matriarcal pode ser
ilustrado por algumas personagens míticas e históricas como a deusa
egípcia Ísis, a olímpica Hera, a rainha de Sabá, Cleópatra e, modernamente,
a Rainha da Inglaterra.
É uma carta de prosperidade, de realizações, acúmulo de bens e
conhecimento, casamento e formação de família.
Arcano 4, O Imperador

Assim como a Imperatriz, o Imperador está sentado em um trono


segurando um cetro e um escudo com figura de águia. É o par masculino
que complementa a Imperatriz e, assim como a Papisa e a Imperatriz
englobam respectivamente os poderes espiritual e material, o mesmo ocorre
entre o Papa e o Imperador. O número 4 indica a ordem sobre o caos, o
poder organizador.
Se o Mago, número 1, é o Deus criador Elohim, o Imperador,
número 4, é o Deus governador Iavé, o Senhor, chamado pelo tetragrama,
pelas quatro letras místicas, IHVH. No Gênesis, Deus é inicialmente
chamado Elohim e assim cria o mundo em cima do caos primitivo, logo
depois ele passa a ser chamado Iavé (IHVH) e é aquele que põe ordem no
mundo e estabelece mandamentos. É o Deus da civilização e da construção
de um projeto bem arquitetado.
Como figura masculina, evoca o poder e proteção patriarcal, a
virtude do bom julgamento, da conciliação, da liderança, da lealdade aos
contratos. Iavé é chamado de “Deus do pacto”, o Deus que faz um acordo
com seu povo. Contrariamente há os vícios da tirania, absolutismo e a
vingança diante da traição.
O caduceu, o bastão mágico empunhado por Hermes e presente na
carta do Mago, é um símbolo masculino de mente perscrutadora, do
desvendador de mistérios. O cetro do Imperador, por sua vez é um símbolo
de autoridade e poder, empunhado por deuses governantes como o raio de
Júpiter e o tridente de Netuno e Hades.
Arcano 5, O Papa (ou Pontífice ou Hierofante)

Os cinco primeiro arcanos contêm, cada qual, apenas um indivíduo


representado na ilustração. O Papa é o primeiro que mostra mais de uma
pessoa na carta. Vemos um homem vestido com túnica e usando coroa,
empunhando um bastão em forma de cruz com uma mão e com a outra
fazendo um gesto de bênção. Em muitas versões esta mão está coberta com
uma luva e tem inscrita a figura de uma cruz templária (cruz de malta).
Este desenho da cruz, aliás, pode ser uma pista quanto à data do
surgimento do tarô, pois a partir do Papa Inocêncio III (1197-1216), a cruz
de malta caiu em desuso e já não era vista nestas luvas usadas pelo Papa, o
que pode indicar que a figura do Hierofante foi desenhada numa época
anterior em que tal adorno ainda era comum.
O número 5 representa o homem perfeito que é o elo entre as esferas
divina e humana. A cruz que empunha possui 7 pontas, um número de
perfeição e das 7 virtudes que vencem os 7 pecados. No sentido divino,
representa o Pai Celeste. O Deus bom e sábio que ao mundo abençoa.
Então diante deste homem há outros dois em um gesto de mesura.
Um deles aponta a mão para baixo e o outro aponta para cima. Como já foi
dito anteriormente, o gesto de uma mão para a terra e outra para o céu é
bastante comum na simbologia mística.
O Papa é a consumação da jornada do indivíduo que começou como
um “zé ninguém” no Louco, adquiriu a sabedoria do Mago, a intuição da
Papisa, a prosperidade da Imperatriz e o poder do Imperador. Agora ele é
um sábio realizado e está pronto para abençoar os outros e distribuir sua
sabedoria. É o mestre experiente.
Representa as virtudes da maturidade, autoridade moral, ortodoxia,
conciliação, aconselhamento, generosidade, indulgência. Contrariamente há
os vícios do moralismo, do dogmatismo e dos conselhos teóricos e pouco
práticos.
Arcano 6, Os Amantes (ou Namorados ou Enamorados)

Enquanto nas seis cartas anteriores, inclusive no Papa, existe apenas


um indivíduo como protagonista da cena (no caso do Papa há outras duas
pessoas, porém como “figurantes”), na carta dos Amantes há um trio de
protagonistas e ainda uma quarta presença do Cupido (em algumas versões
há dois deles). É uma carta bem povoada de personagens.
Um homem está entre duas mulheres e acima dele um anjo Cupido
(ou dois) aponta a flecha do amor, prestes a disparar. O homem olha para a
mulher à esquerda. Esta tem a mão esquerda sobre o ombro do homem,
enquanto a direita aponta para o chão. A outra mulher, que olha para o
homem, põe sua mão esquerda no peito dele, enquanto a direita aponta para
o chão. Temos novamente a recorrência do gesto de mãos em direções
opostas, para cima e para baixo. A mulher à esquerda está virada de costas e
a da direita está de frente. Aquela é idosa e tem uma túnica vermelha, esta é
jovem e tem uma túnica azul.
O significado da carta está claro. Trata de sentimentos e decisões, de
experiências afetivas e também o conflito de desejos, o clássico dualismo
que hoje é tão popular naquelas cenas de desenhos animados em que
aparece um anjinho e um diabinho em cada ombro do personagem,
sugerindo ideias opostas. O filósofo e discípulo de Sócrates, Xenofonte,
contava uma parábola sobre Hércules que encontrara duas entidades, a
Virtude e o Vício, e tinha de escolher entre elas.
Existem 4 anjos nos Arcanos Maiores. O primeiro é este que
aparece como coadjuvante da cena, apontando uma flecha para o homem. É
o anjo Cupido, equivalente ao Eros grego.
Outro ser angelical aparece no arcano da Temperança, manipulando
dois recipientes com líquidos. É o anjo Rafael, que significa “Deus que
cura”. Ele prepara remédios, mistura substâncias, equilibra sentimentos.
O terceiro anjo é um ex-anjo, o Diabo, antigo Lúcifer, que já foi o
mais belo querubim e caiu para o nível terreno.
Por fim, no arcano do Julgamento, vemos um quarto anjo com
trombeta, Gabriel, o grande mensageiro de Deus que na Bíblia já foi citado
a transmitir mensagens para o profeta Daniel e a anunciar a gravidez de
Maria.
Em um contexto específico, é possível que esta carta, tirada durante
uma leitura da sorte, indique um triângulo amoroso ou conflito de paixões
na vida do consulente, mas em geral este arcano não trata de
relacionamentos amorosos e sim do conflito de vontades dentro do
indivíduo, como a luta entre razão e emoção, ou melhor, entre a vontade
racional e consciente e o desejo irracional e impulsivo.
A mulher à esquerda é a experiente e sensata voz da razão. Sua mão
sobre o ombro do homem indica um senso de equilíbrio, de decisão tomada
à altura da mente sensata. A mulher à esquerda, jovem, bela e com a mão
sobre o coração do homem, indica a vontade irracional dos sentimentos. O
Cupido, com a flecha apontada, está a esperar que o homem escolha seu
alvo e então o destino será selado: seguir a razão ou a emoção. Na carta,
normalmente ele olha para a razão, de modo que esta é sua escolha. O tema
da carta é este: escolhas, decisões.
Em sentido cósmico, aqui temos a junção dos dois princípios
opostos que permeiam toda a realidade, como as forças de atração e
repulsão, união e separação, yin e yang, as coisas do alto e das de baixo, o
sagrado e o profano. Estando esta carta com o número 6 (letra hebraica
vau), também lembra o hexagrama, o selo de Salomão, que consiste na
interligação de dois triângulos, um apontando para cima e outro para baixo,
o dualismo, a polaridade, a junção de opostos.
Virtudes: determinação, capacidade de escolha, discernimento,
responsabilidade. Vícios: indecisão, tentação, libertinagem.
Arcano 7, O Carro

A primeira carta a ter um animal em seu cenário foi o Louco, com


um cachorro ou gato a seguir o andarilho. Nas cartas da Imperatriz e do
Imperador vemos uma águia desenhada em seus escudos. Agora no Carro
há dois cavalos a puxar uma carruagem, levando um homem que veste uma
espécie de armadura e uma coroa, segurando um cetro. Tem umas
ombreiras ornadas com dois rostos.
Há um detalhe curioso no escudo no meio do carro. Alguns baralhos
trazem siglas gravadas no escudo. São os “créditos” do editor ou gravurista
da carta. Há baralhos que trazem o escudo em branco ou com adornos, mas
outros oportunamente aproveitaram o espaço para gravar suas marcas.
Assim, no baralho de Jean Noblet (1650), há as iniciais I. N. (a letra I na
idade média era usada no lugar do J); no baralho de François Tourcaty
(1800), há as iniciais F. T. etc. Tal “assinatura dos editores” também é
comum na carta de Dois de Ouros.

Um exemplo de como os editores assinavam seus baralhos. Na figura há


duas versões da carta Dois de Ouros, uma assinada por Jean Noblet (1650)
e outra por Jean Dodal (1701).

Sete é o número da perfeição, da obra realizada, da completude. É o


Deus vitorioso. O arcano 7 é sobre vitória, um guerreiro avança triunfante
com seu carro. Se na carta dos Namorados o indivíduo está se deparando
com escolhas a serem feitas, na carta do Carro ele já obteve êxito em sua
missão, decisões já foram tomadas e ações executadas.
Virtudes: força, disposição, saúde, autoconfiança, capacidade de
governar e conquistar. Vícios: ambição desmedida, vanglória e
megalomania.
A imagem de um guerreiro fazendo seu desfile da vitória é bastante
antiga. No velho Egito havia a representação de Osíris cavalgando uma
esfinge e na Grécia a de Apolo sobre um grifo. Na Bíblia o profeta Elias
sobe aos céus glorioso em um carro com cavalos de fogo.
Apolo cavalgando um grifo.
Arcano 8, A Justiça

Pela terceira vez temos uma mulher sentada em um trono. A


primeira foi a Papisa, empunhando um livro, depois a Imperatriz, com um
escudo e um cetro, agora a Justiça, segurando uma espada e uma balança.
Como o próprio nome revela, esta figura simboliza a justiça, o
equilíbrio e o carma. O número 8 é um número simétrico e que desenha o
símbolo do infinito, do eterno equilíbrio que mantém a realidade.
É o Deus justo (Iavé Tsadiq). O Arcanjo Miguel, representante
principal de Deus entre todos os anjos, é muitas vezes ilustrado
empunhando uma espada e uma balança, julgando o Diabo que mantém sob
seus pés. Enquanto a balança faz o julgamento, a espada aplica a sentença.
Também a imagem de uma mulher com espada e balança existia na Grécia
representando a deusa Dikê (Justiça).
Dikê, deusa da justiça.

Virtudes: equidade, capacidade de julgar, disciplina e lógica. Vícios:


rigidez e frieza de julgamento, preconceito.
O signo de Libra pode ser identificado com esta mesma imagem da
mulher com uma balança.
Arcano 9, O Eremita (ou Ermitão)

Este é o último dos personagens essencialmente místicos. O


primeiro foi o Louco que estava iniciando em sua jornada mística. Na
verdade nem mesmo sabe que será uma jornada mística, mas partiu em
direção ao desconhecido e tornar-se-á o Mago, que aprende a criar, a
desenvolver o poder de sua vontade, evoluindo para a sábia Papisa e o Papa
que já está graduado nos conhecimentos e agora ensina a seus discípulos.
O Eremita, por sua vez, já deixou toda essa jornada para trás. Já
passou por todos os estágios, já aprendeu e ensinou, agora recolhe-se em
sua gruta para a sua busca definitiva, uma reciclagem de seus
conhecimentos, um estágio mais avançado de iniciação e transcendência.
Semelhante ao Louco, ele novamente abandona a vida anterior e se
dedica a uma nova busca, desapegado do mundo. Diferente do Louco, ele já
está sábio e maduro. Enquanto o Louco está partindo para fora na
descoberta do mundo, o Eremita está voltando para dentro na redescoberta
de si mesmo.
A figura mostra um ancião a caminhar com uma lanterna na mão
direita e um cajado na esquerda. A mão da lanterna erguida e a do cajado
apontando para o chão. Ele está buscando o conhecimento celestial, mas
mantém contato com a realidade terrena. “Assim na terra como no céu”.
O número 9 simboliza o fim de um ciclo e o começo de outro. A
jornada anterior do indivíduo, iniciada no Louco, já chegou ao seu auge.
Agora ele deixa aquela vida para trás e começa uma nova jornada mais
introspectiva.
O simbolismo desta carta é bem claro: o iniciado, aquele que busca
a sabedoria, a iluminação, o afastamento do mundanismo para se dedicar ao
aprimoramento, o estudo, o autoconhecimento, a meditação.
Não à toa o arcano 9 é por alguns tarólogos apelidado de Diógenes,
pois este filósofo grego ficou conhecido por vagar nas ruas com uma
lanterna a dizer que estava procurando um homem sábio e honesto. Não só
os filósofos cínicos assumiam esta imagem de um eremita como muitos
religiosos medievais encontraram no ermo e nas cavernas o caminho para se
dedicarem a Deus. Eram os padres do deserto, também chamados
anacoretas (aquele que se afasta do mundo).
É interessante a coincidência entre as palavras francesas Hermite e
Ermite, esta significando o eremita, alguém que se recolhe em lugares
ermos, aquela significando o hermético, o seguidor de Hermes, o místico.
No Tarô de Marselha, diferente das outras versões, está escrito L’Hermite
em vez de L’Ermite.
Virtudes: prudência, profundidade de pensamento, discrição,
castidade, solitude, continência, prudência. Vícios: isolamento, avareza,
taciturnidade, solidão, misantropia.
Arcano 10, A Roda da Fortuna (ou Roda do Destino)

Pela primeira vez temos uma carta sem personagens humanos.


Agora a ilustração é mais surreal, ainda mais simbólica. Vemos uma roda
giratória apoiada em dois pés com três bizarros animais sobre ela. A roda
possui seis aros inclinados de forma que quatro deles desenham um X, o
número 10, número do início e do fim.
Uma roda girando, bem como uma espiral, simboliza o aspecto
cíclico da vida: o Sol que atravessa o céu, a Terra girando em torno do Sol,
a Lua em torno da Terra, o ciclo das estações.
À direita um animal híbrido de cão e coelho sobe na roda, à
esquerda um macaco desce na roda e acima há uma esfinge portando coroa
e empunhando uma espada.
Um animal está em ascensão, outro chega a seu auge e o último está
em decadência. A esfinge remonta ao clássico enigma da Esfinge: “Que
animal caminha pela manhã sobre quatro patas, à tarde sobre duas e à noite
sobre três?”. A Esfinge se referia aos ciclos da vida humana: a criança que
engatinha, o adulto bípede e o idoso a andar com uma bengala.
Virtudes: iniciativa, sagacidade, adaptabilidade. Vícios:
inconstância, instabilidade.

Ilustração medieval da roda da fortuna (1165).


Arcano 11, A Força

Uma mulher abre as mandíbulas de um leão usando as próprias


mãos. A mulher veste um manto, uma capa e um chapéu que se assemelha
ao chapéu do Mago. A elegante dama segura o leão com uma expressão
serena, sem fazer esforço, tal é o seu poder.
Representa as virtudes da coragem, vivacidade, autodisciplina,
domínio sobre as paixões, força moral e psíquica, a santidade que vence a
fera dos pecados. Contrariamente há os vícios da brutalidade, crueldade e
discórdia.
Nos mitos antigos, tanto o hebreu Sansão quanto o grego Hércules e
o sumério Gilgamesh lutaram contra leões. Enfrentar uma fera de tal porte e
agressividade é uma demonstração de grande força e valentia. No tarô, a
imagem de uma mulher a dominar o leão pode ter sido tomada da lenda da
ninfa Cirene que, segundo Píndaro, foi vista sozinha a lutar contra um leão
sem usar arma alguma.
Alguns tarólogos afirmam que nesta cena se ilustra também o signo
de Virgem que suplanta o de Leão na cronologia do zodíaco.
Arcano 12, O Enforcado (ou Pendurado)

Em francês o nome da carta é Le Pendu (o Pendurado, o Suspenso).


Em inglês é The Hanged Man (o Enforcado).
Eis uma carta que é bastante mal compreendida pelos leigos. À
primeira vista, a ideia de um enforcado ou alguém pendurado de cabeça
para baixo causa a impressão de ser algo negativo, um mau agouro. A
expressão serena ou até risonha do personagem na figura, porém, desmente
esta impressão. Também é uma carta que contém várias camadas de
interpretação.
O número 12 também é muito rico em significados, mas no tarô ele
está especificamente relacionado ao sacrifício pessoal, como os 12
apóstolos que se sacrificaram pela causa cristã.
Um homem de jaqueta está suspenso por apenas um pé amarrado em
uma estrutura rústica de madeira, a outra perna está cruzada e os braços
postos atrás das costas, provavelmente atados.
A atitude do homem simboliza um estado de abnegação, rendição e
aceitação serena do destino, um gesto de desapego e sacrifício voluntário,
submissão e desinteresse, estoicismo e entrega.
Esta atitude passiva de não resistência faz parte da filosofia taoista
da wu wei (“não ação”) segundo a qual é melhor não impor a força, pois ela
gera uma reação. Siga o fluxo do vento, atravesse as rochas como a água e
não como o martelo. O tarólogo James Wanless fala da Lei da Reversão:
faça o oposto do que se espera para obter a vitória.
Em outra camada, pode indicar alguém que caiu em uma armadilha,
um plano interrompido. O homem está preso pelo pé, impedido de agir.
Neste caso, é mesmo um sinal de má sorte.
Também pode ilustrar o décimo segundo signo do zodíaco, Peixes,
caracterizado por sua tendência a viver em um mundo imaginário, suspenso
do mundo concreto.
Por fim, a posição invertida do homem pode simbolizar uma
mudança radical de perspectiva, um novo aprendizado que muda toda a
forma de enxergar o mundo, uma ruptura com velhos paradigmas. Agora
ele está vendo tudo invertido. Neste caso, a carta pode representar a
iluminação, o despertar da consciência, o “sair da matrix”.
Em sentido cósmico, é o paradoxo da realidade, a possibilidade de
mundos paralelos e os fenômenos físicos de compreensão difícil, como a
relatividade e o mundo quântico.
Arcano 13, A Morte

O 13, o mais temido dos números, tido como número de azar e


fatalidade. A carta Morte é a mais assustadora de todas e tem presença
constante nos filmes como um sinal de mau agouro e tragédia. O desenho
da carta é o mais grotesco, de fato: um ser esquelético, a Morte
personificada, manipula sua foice em um campo onde há pedaços de corpos
humanos, mãos, pés, uma cabeça feminina e outra masculina.
Por “coincidência”, a foice é mencionada no versículo 13 de Joel
capítulo 4: “Metei a foice, a messe está madura”. Em Mateus, capítulo 13,
versículo 39, lemos: “O inimigo, que semeou, é o Diabo, e a ceifa é o fim
do mundo, e os ceifeiros são os anjos”. No Novo Testamento, um exemplo
fatídico do 13 é o fato de que na Santa Ceia havia 13 pessoas à mesa e uma
delas (Judas) haveria de morrer tragicamente.
A foice também era um objeto associado ao deus romano Saturno, o
deus do tempo e das colheitas e, por extensão da ideia, da colheita dos
mortos, pois, nas palavras do filósofo Macróbio, “o tempo a tudo ceifa”.
Esta é a primeira carta dos Arcanos Maiores que não tem um
protagonista humano e nem mesmo animal. É um ser estranho, uma
entidade quase demoníaca. Logo em seguida, virá uma carta com outra
entidade não humana, um anjo. Em muitos baralhos é a única carta que não
tem um nome a identificá-la. A Morte é “aquilo que não se pode nomear”.
Assim como o Enforcado, a Morte é uma carta mal compreendida,
que geralmente se associa a significados fatídicos. Todavia, morte é símbolo
de mudança, de transformação e de renascimento. O apóstolo Paulo fez a
analogia da semente que primeiro morre (é enterrada), para depois reviver
brotando (1 Coríntios 15:36). A morte precede a nova vida. A hora mais
escura precede o amanhecer.
Assim como o Enforcado, a Morte indica uma renovação de ideias,
abandono de antigos conceitos, um recomeço. Além disso, indica uma
libertação de antigas condições, o mal cortado pela raiz, o afastamento
daquilo que causava sofrimento. Como uma fênix, é preciso primeiro
destruir o velho corpo desgastado para desenvolver um corpo
rejuvenescido. A serpente que troca de pele.
Esta carta relaciona-se com o signo de Escorpião, o signo da
mudança, ligado ao deus Hades.
Afastar-se de antigas amizades, largar um emprego, interromper um
projeto, mudar-se de casa ou de cidade… São atitudes que representam
pequenas mortes que experimentamos ao longo da vida, mas que abrem
espaço para a vinda de novas condições.
De toda forma, em seu devido contexto, a aparição desta carta em
uma leitura pode sim ser um anúncio de tragédia.
Em sentido cósmico, é a entropia e a lei da transformação de
Lavoisier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Arcano 14, A Temperança

Esta é a segunda carta em que o personagem não é humano nem


animal, sendo a primeira a Morte, com aquela criatura de aspecto quase
demoníaco. Agora temos um anjo, uma anja de vestido, de longos cabelos,
com asas nas costas. No cabelo tem uma flor como adorno. Ela derrama o
líquido de um vaso para outro.
Esta carta representa a alquimia, a prática da transmutação de
substâncias, de transformar um elemento em outro e, em sentido psíquico, a
transformação interior, o refinamento do espírito, o temperamento da
psique.
A figura medieval de uma mulher misturando líquidos remonta à
prática da dona de casa que misturava água no vinho para amenizar seu
efeito alcoólico, assim temperando o espírito da bebida.
Existe também um aspecto andrógino, hermafrodita, nesta imagem.
O anjo não é exatamente uma mulher, mas um híbrido de masculino e
feminino, uma mistura de opostos, equilibrando em si os dois princípios.
Desta forma, a moderação ensinada na carta é ilustrada pelo próprio anjo
que é um meio termo entre as características de ambos os sexos.
Virtudes: flexibilidade, adaptabilidade, mente aberta para o
aprendizado e para compreender as pessoas e as situações adversas.
Vícios: falta de personalidade, deixar-se levar pela influência alheia,
inconstância.
Arcano 15, O Diabo

E continuamos com as cartas de personagens não humanos.


Começou com a grotesca Morte, depois o belo anjo da Temperança e agora
essa bizarra figura do próprio Diabo.
São três personagens nesta carta. O principal é o Diabo, um ser
hermafrodita (porém feio, diferente do anjo hermafrodita da Temperança) e
híbrido, com asas de morcego, chifres de cervo e tem até um rosto no ventre
e olhos nos joelhos. Os pés com grandes unhas também são animalescos. O
corpo parece masculino, mas possui seios. Uma mão está voltada para cima,
outra para baixo enquanto segura um bastão. Este estranho ser está em cima
de um pedestal.
Além do Diabo vemos dois seres menores, como duendes, sátiros ou
elfos, com características de animal como rabo, patas, longas orelhas e
chifres. Estão nus e um deles é fêmea, o outro macho. Encontram-se atados
por coleiras que prendem-se na base do pedestal do Diabo. Suas mãos estão
para trás, possivelmente amarradas.
Assim como a Morte, a carta do Diabo é bastante popular, temida e
mal compreendida. O Diabo em si é um ser controverso e de compreensão
problemática. Na Bíblia ele é geralmente representado como um adversário
de Deus, mas também em certos momentos parece agir em “parceria” com
Deus, como na tentação de Jó (ver Jó 2:1-7). Antes de ser o anjo caído, era
o anjo mais belo dos exércitos celestes (ver Isaías 14:12-21). Agora ele se
disfarça de anjo de luz para enganar os humanos (ver 2 Coríntios 11:14).
Na Bíblia a imagem predominante do Diabo é a de um ser reptício,
primeiro a serpente do Gênesis e por fim o dragão do Apocalipse. Na idade
média há pinturas e esculturas que assim o representam, mas também foi se
popularizando a imagem de um ser humanoide com asas e chifres e foi
adquirindo detalhes cada vez mais bizarros: cascos de bode, rabo com ponta
de seta, asas de morcego, pernas de sátiro e a mistura de traços masculinos
e femininos, como seios e falo.
Desta forma, há uma semelhança entre o Diabo das pinturas
medievais e o Baphomet dos templários, que não era exatamente o Diabo,
mas uma entidade de seu próprio sistema ocultista e a aparência deste bode
humanoide era um aglomerado de símbolos. Foi o místico católico Eliphas
Levi quem popularizou a interpretação simbólica de Baphomet. De toda
forma, Diabo e Baphomet se relacionam e alguns baralhos usam o próprio
Baphomet para ilustrar este arcano.
Embora seja mais conhecido como uma entidade externa, um
demônio que tenta e prejudica as pessoas, o Diabo simboliza o obscuro
subconsciente, as misteriosas paixões primitivas e os vícios, principalmente
sexuais, também um materialismo exacerbado, o só olhar a partir do ventre
(o rosto na barriga) e o interesse egoísta.
O Diabo é o oposto da Temperança. Se esta é o equilíbrio epicurista
das virtudes, aquele é a indulgência hedonista e a priorização do prazer.
James Wanless observa uma mensagem positiva do Diabo: viver
como se a vida fosse uma brincadeira, não levar tudo muito a sério, buscar
divertir-se e celebrar a existência.
Em diversos mitos e culturas, os deuses e entidades considerados
diabólicos são geralmente brincalhões, festivos, carnavalescos, como Loki,
Momo, Dionísio Zagreu, sátiros, imps.
Virtudes: ousadia, questionamento, alegria, bom humor.
Vícios: maldade, malícia, malandragem, mentira, manias.
Arcano 16, A Torre (ou Casa de Deus)

Mais uma carta que à primeira vista parece trazer uma mensagem
assustadora. Vimos a grotesca Morte colhendo corpos e o sinistro Diabo
com seus escravos, agora temos a cena de uma torre sendo destruída e
incendiada por um raio e pessoas saltando desesperadas.
A Torre tem a ver com reformulações. Uma velha estrutura é
destruída, divinamente destruída por um raio, forçando seus habitantes a
saltarem para fora. Trata-se de um rompimento de uma ordem estabelecida
para que se possa construir algo novo.
A imagem mais antiga que se tem de uma torre em destruição é a da
torre de Babel. Sua queda simbolizou um ataque ao orgulho e prepotência
humana.
Virtudes: capacidade de rever as próprias opiniões, autocrítica,
inovação, reconstrução.
Vícios: imprudência e incapacidade de ouvir conselhos, orgulho.
Arcano 17, A Estrela

Uma jovem mulher nua com um joelho apoiado no chão derrama o


líquido de dois vasos, o de um vaso em um rio e outro na terra. Há três
plantas ao fundo e em uma delas está pousado um pássaro negro. No céu há
duas estrelas de sete pontas e cinco de oito pontas. Uma estrela maior no
centro tem dois halos de oito pontas cada.
As estrelas podem se referir à constelação das Plêiades (sete estrelas
pequenas e uma maior). Estrelas costumam simbolizar a inspiração divina
ou um guia para que os sábios por elas se orientem. Os reis magos
encontraram o menino Jesus seguindo uma estrela.
É uma carta bastante positiva, com mensagens de beleza, juventude,
pureza, inspiração e até sorte e saúde, renovação da força vital. Existe
abundância. Abundância de estrelas no céu (inspiração divina), abundância
de bens na terra (o rio, as árvores, o pássaro) e a mulher, abençoada com
tudo isto, devolve ao rio e à terra uma parte desta riqueza que recebeu.
Esta carta vem logo após a Torre e ambas se complementam.
Enquanto a Torre pode transmitir uma mensagem de perda, de destruição,
quando a vida tem que começar do zero, a Estrela anuncia a esperança, a
vinda de boas novas. Tudo bem ter perdido tudo, agora você pode
recomeçar.
Foi uma estrela que anunciou aos reis magos a boa nova do
nascimento do Salvador. Desde criança aprendemos a fazer pedidos às
estrelas. Elas são a luz na escuridão do céu, um símbolo de esperança e fé.
O pássaro negro pode ser um corvo, clássico mensageiro dos deuses,
o que combina com a ideia das estrelas agindo como mensageiras e guias.
Virtudes: simplicidade, harmonia com a natureza, auto estima,
generosidade, inspiração.
Vícios: despudor, leviandade, desleixo, desperdício.
Arcano 18, A Lua

Assim como na Roda da Fortuna, há aqui três animais: um lagostim


(ou caranguejo em algumas versões) dentro de um tanque e dois cães com
as línguas para fora. Há um quarto personagem, a Lua ao centro, com um
rosto humano e muitos raios emanando dela, que parece atrair para si gotas
ou lágrimas que saem da terra. Os cães tentam lamber estas gotas. Há duas
torres ao fundo.
A Lua costuma ser associada ao imaginário. Ela exerce influências
sobre os pensamentos, deixando as pessoas “lunáticas”. Alguém que vive
suspenso em pensamentos, imaginando coisas, é dito estar “no mundo da
Lua”.
É interessante que em alguns tarôs antigos havia dois astrônomos a
observar a lua e não dois cachorros. De toda forma, os animais retratados
têm uma clássica associação com a Lua. Culturas antigas já consideravam o
caranguejo um animal lunar pelo fato dele se locomover “para trás”,
imitando o movimento da Lua no céu. Também o caranguejo é um símbolo
do signo de Câncer, que rege o solstício de verão.
Seres caninos são mitologicamente associados à noite e ao mundo
obscuro: o lobisomem, o deus Anubis, o cão guardião do Hades, Cérbero.
Virtudes: sensibilidade, vidência, imaginação, intuição, romantismo.
Vícios: sentimentos confusos, histeria, neurose, paranoia, delírio.
Arcano 19, O Sol

Esta carta obviamente faz par com a carta anterior, da Lua, de modo
que se complementam. Enquanto na Lua havia dois cães, no Sol há duas
crianças. As gotas estavam viradas em direção à Lua, enquanto aqui elas
descem do Sol para a terra. Assim como a Lua, o Sol tem um rosto humano.
Enquanto a Lua relaciona-se com o inconsciente, a imaginação, a
intuição e os aspectos obscuros da mente, o Sol é a compreensão clara, o
raciocínio limpo e consciente, a luz da razão. O Sol representa vida e saúde,
bem estar, otimismo e alegria.
As duas crianças podem ser uma imagem do signo de Gêmeos, em
cujo mês ocorre o solstício de verão. Também podem representar a
harmonia entre sentimento e razão, favorecida pela clareza de pensamento
que o Sol propicia. Por fim, a presença de crianças indica a inocência e
pureza que é típica de um espírito solar, diferente do espírito lunar que
tende para a sensualidade e sentimentos densos e sombrios.
Virtudes: discernimento, talento para a comunicação, leveza de
espírito, inteligência.
Vícios: vaidade, exibicionismo, dissimulação.
Arcano 20, O Julgamento

A penúltima carta dos Arcanos Maiores. No topo, traz um anjo


sobre nuvens a tocar uma trombeta voltada para a terra. Das nuvens saem
raios e línguas de fogo e a trombeta possui uma bandeirola com o símbolo
da cruz. Na terra há três pessoas nuas: uma mulher e um homem que estão
com as mãos juntas em prece e uma terceira pessoa no centro que está de
costas a emergir de um túmulo.
Esta é a carta com o maior teor de simbolismo cristão. Claramente
ilustra a cena do Juízo Final em que um anjo toca trombeta e os mortos
saem dos sepulcros. Obviamente os mortos ressuscitam sem roupas, apenas
com seus novos corpos, uma vez que os antigos corpos e roupas foram
consumidos pela terra.
O Juízo Final foi um tema bem popular na idade média e está
presente em pinturas que inclusive se assemelham à ilustração desta carta,
até no detalhe da bandeirola com a cruz. Ao contrário da imagem
assustadora que se prega do Juízo, neste arcano ele se mostra como um
momento glorioso, pois trará a ressurreição dos mortos.
É uma carta de vida nova, de recompensa, um carma positivo,
quando se colhe o bem que foi plantado ou se recebe a bênção e graça
divina. Também mostra a conclusão da saga do iniciado que, tendo passado
pelos diversos estágios de aprendizado, agora é “graduado”, alcança a
glorificação.
“E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e
abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos
foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as
suas obras” (Apocalipse 20:12).
Virtudes: espiritualidade, transcendência, santidade, discernimento.
Vícios: fanatismo, cegueira religiosa.
Afresco na Capela de Notre Dame com cena do Juízo Final.
Arcano 21, O Mundo

E aqui chegamos ao último dos Arcanos Maiores, o resumo de todos


eles. O Mundo é a carta mais povoada de todas, trazendo anjos, animais e
uma figura humana. No centro da carta está uma mulher nua, cercada por
uma grinalda, parcialmente coberta por um véu e empunhando um bastão
na mão esquerda e outro objeto na mão direita (alguns baralhos a ilustram
com bastões em ambas as mãos). Em volta dela há quatro criaturas.
O teólogo São Jerônimo foi o primeiro a relacionar os quatro
evangelistas do Novo Testamento com os quatro animais que o profeta
Ezequiel descreveu mil anos antes em uma visão. Isto porque cada
evangelista tem um estilo peculiar e as criaturas adjetivam tal estilo.
O animal ou anjo querubim com rosto humano é o evangelista
Mateus, o mais terreno e historiador dos evangelistas, que descreveu um
Cristo humano e histórico. Marcos é um leão, pois ele descreve Cristo como
rei. Lucas é um boi, por apresentar o Cristo como cordeiro sacrificado. Por
fim, João é a águia, pois apresenta um Cristo celestial e divino.
Assim como o Julgamento, o Mundo está repleto de simbologia
cristã e esta figura se parece com diversas ilustrações medievais em que
Cristo aparece cercado pelos animais símbolos dos evangelistas. A
diferença é que aqui não vemos Jesus no centro, mas uma mulher.
Figuras femininas protagonizam exatamente 7 dos 22 Arcanos
Maiores (Papisa, Imperatriz, Justiça, Força, Temperança, Estrela e Mundo).
Também estão presentes como coadjuvantes em outras 4 cartas
(Namorados, Morte, Diabo e Julgamento). Logo, há mulheres em 11 das 22
cartas, sempre relacionadas ao aspecto mais espiritual do iniciado, seja
homem ou mulher. Eis aqui, portanto, o iniciado alcançando a perfeição de
Cristo. É a grande consumação de sua jornada espiritual.
Em sentido geral, o Mundo é justamente o símbolo da totalidade, da
completude, do resumo, da junção de todas as coisas, de um trabalho
terminado, uma meta alcançada, uma fase da vida concluída.
21 é um conjunto de 3 x 7. Se 7 é a perfeição, 777 é a perfeição
absoluta.
Virtudes: poder mental, espírito elevado, grandeza moral.
Vícios: mundanismo, arrogância.
Cristo Pantocrator e os evangelistas.
ARCANOS MENORES

Os Arcanos Menores são um conjunto de 56 cartas distribuídas em


quatro grupos, chamados de naipes (Copas, Espadas, Ouros e Paus), cada
qual contendo dez cartas numeradas de 1 a 10 e quatro cartas com nomes de
personagens da realeza (Valete, Cavaleiro, Rainha e Rei). Estas 16 cartas
contendo os personagens (4 em cada naipe) são chamadas de Cartas da
Realeza, uma subdivisão entre os Arcanos Menores. As cartas de número 1
são também chamadas de Ás.

Os quatro naipes

Como já foi dito na introdução deste livro, os símbolos dos naipes


passaram por evoluções ao longo do tempo, recebendo contribuições em
vários países. Originalmente, o símbolo de Paus era um taco de pólo, depois
um porrete e por fim um trevo. Ouros evoluiu de uma moeda redonda para
um losango. Copas começou como cálice e se tornou um coração. Espadas
era uma cimitarra, depois uma espada, por fim uma ponta de lança.
Foram os editores franceses que acrescentaram outro detalhe ao
design das cartas: pintando os naipes de Paus e Espadas de preto e Ouros e
Copas de vermelho, o que acaba destacando um dualismo masculino e
feminino nestes símbolos.
Também existe uma relação entre os naipes e os quatro elementos
fundamentais da alquimia: Ouros é terra, Copas é água, Paus é fogo e
Espadas é ar. Terra e água são forças maleáveis, que se adaptam, enquanto
fogo e ar são forças impulsionadoras, que transformam tudo o que tocam.

Paus, o naipe da força de vontade

Chamado em inglês de Clubs (bastões), em espanhol de Bastos


(bastões) ou Tréboles (trevos), em italiano de Fiori (flores) ou Bastoni
(bastões) e em francês de Trèfles (trevos) ou Bâtons (bastões).
Originalmente seu símbolo era de um taco de pólo (em forma de L),
depois um porrete (como um T ou cruz). Também chamado aduela, bastões,
cetros, flechas, gaitas, lanças, serpentes, varas. No jogo do baralho
representava a classe dos camponeses (agricultores, pecuaristas).
É um símbolo fálico, masculino. Indica vontade e força, um
princípio ativo e relacionado ao governo e à figura do Rei. Elemento fogo.
Criatura mítica: duende. Animal: serpente ou salamandra.
Em termos astrológicos, representa os signos do Fogo: Áries, Leão e
Sagitário, signos assertivos e que buscam impor sua vontade.

Ouros, o naipe da prosperidade

Chamado em inglês de Diamonds (diamantes), em espanhol de Oros


(ouros) ou Diamantes, em italiano de Quadri (quadrados) ou Denari
(denários, antiga moeda romana) e em francês de Carreaux (telhas) ou
Deniers (denários).
Originalmente seu símbolo era de uma moeda (círculo), depois uma
barra de ouro (losango). Também chamado bestas, círculos, discos, escudos,
moedas, mundos, pedras, pantáculos, pepitas. No jogo do baralho
representava a classe dos comerciantes (mercadores, banqueiros).
É um símbolo feminino. Indica prosperidade, acúmulo, inteligência
para realizar empreendimentos. Relaciona-se à figura do Valete. Elemento
terra. Criatura mítica: gnomo. Animal: boi.
Em termos astrológicos, representa os signos da Terra: Touro,
Virgem e Capricórnio, signos materialistas.

Espadas, o naipe da inteligência

Chamado em inglês de Spades (pás), em espanhol de Espadas ou


Picas (lanças), em italiano de Picche (lanças) e em francês de Piques
(lanças) ou Épées (espadas).
Originalmente seu símbolo era de uma cimitarra (em forma de S),
depois um florete. Também chamado árvores, cristais, ginetes, lâminas,
pássaros, relâmpagos. No jogo do baralho representava a classe militar
(polícia, exército).
É um símbolo fálico, masculino. Indica o poder racional, a
capacidade de planejamento, de estratégia, o cultivo da intelectualidade.
Relaciona-se à figura do Cavaleiro. Elemento ar. Criatura mítica: silfo.
Animal: pássaro.
Em termos astrológicos, representa os signos do Ar: Gêmeos, Libra
e Aquário, signos intelectuais e com poder de adaptação.
Copas, o naipe da intuição

Chamado em inglês de Hearts (corações), em espanhol de Copas


(taças) ou Corazones (corações), em italiano de Cuori (corações) e em
francês de Coeurs (corações) ou Coupes (taças).
Originalmente seu símbolo era de uma taça, depois um coração.
Também chamado caldeirão, cálices, copos, corações, flores, graal, peixe,
rios, taça, tigela, vasos. No jogo do baralho representava a classe religiosa
(sacerdotes, místicos).
É um símbolo uterino, feminino. Indica o poder intuitivo, a
sensibilidade artística, a riqueza de sentimentos e afetos, misticismo,
romantismo, criatividade imaginária. Relaciona-se à figura da Dama
(Rainha). Elemento água. Criatura mítica: ninfa. Animal: peixe.
Em termos astrológicos, representam os signos da Água: Câncer,
Escorpião e Peixes, signos intuitivos, emotivos e com um mundo mental
profundo.

As Figuras da Corte (Cartas da Realeza)

As Figuras da Corte são o meio termo entre as cartas numeradas de


1 a 10 e as cartas dos Arcanos Maiores com suas ilustrações de cenas de
personagens. Num sentido gráfico, visual, as Figuras da Corte se
assemelham mais aos Arcanos Maiores, já que representam pessoas e não
apenas números.
São 4 personagens: Rei, Rainha (ou Dama), Cavaleiro e Valete (ou
Pajem). Repetem-se nos 4 naipes, somando 16 cartas. A única diferença
entre os Arcanos Menores e o baralho comum que se usa em jogos é que
este possui apenas 3 figuras reais, sendo ausente o Cavaleiro.
Na verdade, o antecessor do tarô, o baralho mamluk, também
possuía apenas 3 personagens da realeza e o quarto personagem foi
acrescentado na Europa quando da elaboração do tarô.
Apesar de haver 4 combinações das 4 figuras com os 4 naipes, cada
figura tem uma identificação especial com cada naipe. O Rei identifica-se
com Paus e o elemento fogo; a Dama com Copas e o elemento água; o
Cavaleiro com Espadas e o elemento ar; o Valete com Ouros e o elemento
terra.
Rei

O Rei é um arquétipo do homem universal, completo, dotado de


força, virtude e inteligência. É o Adão primordial.
Em termos místicos, o Rei é o iniciado que já alcançou a
iluminação, foi coroado com a sabedoria e agora está apto a ensiná-la e ser
um modelo e guia para os demais.
O Rei de Paus é o Rei em seu potencial máximo. Indica um poder de
conquista e sucesso, uma mente arrojada, inteligente e que toma boas
decisões.
O Rei de Ouros enfatiza o potencial para a prosperidade, a
realização material.
O Rei de Espadas é mais voltado às conquistas intelectuais, tem um
julgamento profundo e vasto conhecimento.
O Rei de Copas é mais afetivo e social, cuidando dos seus de forma
paternal.

Rainha

A Rainha é um arquétipo da grande mãe, capaz de gerar vida e


nutri-la. É a Eva primordial.
Em termos místicos, a Rainha é o aspecto mais intuitivo e lunar na
jornada do iniciado, desvendando mistérios e conhecendo seu eu interior.
A Rainha de Copas é a Rainha em seu potencial máximo. Indica um
espírito altruísta, intuitivo e afetuoso.
A Rainha de Paus é fecunda, doméstica, sensual e protetora.
A Rainha de Ouros possui uma rica intuição, usando-a para ter
sucesso em questões práticas e materiais.
A Rainha de Espadas tem grande capacidade de julgamento e muita
experiência e sabedoria acumulada.

Cavaleiro

O Cavaleiro é o arquétipo do herói, do aventureiro, um ser honrado


e desprendido que parte na luta por uma causa.
É o único personagem que não existe no baralho comum e
coincidentemente ele surgiu na mesma época em que surgiu a lendária
Ordem dos Cavaleiros Templários. Teriam os templários participado da
elaboração do tarô e inseriram o Cavaleiro como uma assinatura? Ou talvez
a fama dos templários na época tenha influenciado os místicos a fazer-lhes
uma homenagem, criando assim a carta do Cavaleiro.
Em termos místicos, o Cavaleiro é um iniciado no meio de sua
jornada. Ainda não é um rei, mas também não é um tolo. Está em evolução.
O Cavaleiro de Espadas é o Cavaleiro em seu potencial máximo.
Indica um espírito pronto para agir, rápido nas decisões e capaz de lidar
com imprevistos. É o herói líder.
O Cavaleiro de Paus é protetor, prático e trabalhador. É o herói que
segue um líder.
O Cavaleiro de Ouros possui calma para fazer planejamentos e
longos projetos, maduro, responsável e metódico. É um anti-herói, um herói
que age por conta própria, sem liderar nem ser liderado ou mesmo
questionando o líder.
O Cavaleiro de Copas é afetivo, generoso, devoto, inspirado e
romântico. É um herói místico, que age por motivos especiais, como a
busca do Santo Graal.

Valete

O Pajem é o arquétipo de um mensageiro ou peregrino, o diplomata


e ajudante das outras três figuras da corte.
A palavra francesa valet referia-se a um jovem nobre que era um
aprendiz do cavaleiro, um escudeiro.
Em termos místicos, o Valete é um aprendiz no início de sua
jornada, ainda sob a tutela de um mestre.
O Valete de Ouros é o Valete em seu potencial máximo. Indica um
espírito empreendedor e apostador que tem sorte em seus projetos.
O Valete de Paus é servidor, útil, dedicado, gosta de ajudar.
O Valete de Espadas é planejador e sabe pôr seus planos em prática.
O Valete de Copas é mais espiritual e afetivo.

As cartas numeradas
São 40 as cartas numeradas dos Arcanos Menores, divididas em 4
naipes, cada qual com um conjunto de 1 a 10. Cada carta de número 1 é
chamada de Ás.
O grande pai da numerologia foi o filósofo Pitágoras. É dele a
chamada Tabela Pitagórica que atribui a cada letra do alfabeto um número e
a cada número uma interpretação simbólica. Para Pitágoras, os números são
o código do mundo.
Séculos antes de Pitágoras, a Bíblia já explorava o simbolismo dos
números por meio do seu uso em contextos específicos: os 10
mandamentos, as 12 tribos de Israel, as 2 colunas do templo, os 4 animais
de Ezequiel, etc. Também no novo Testamento alguns números tiveram uma
curiosa recorrência, especialmente o 12 e o 7, presentes em abundância no
livro de Apocalipse.
Ao longo dos séculos a arte numerológica se desenvolveu,
estabelecendo uma série de sentidos a cada número com base em todo o
histórico do uso dos números nas antigas literaturas bem como no dia a dia
e até nos sonhos. Além disso, o próprio aspecto gráfico dos números serve
como um símbolo para determinados arquétipos, como o número 1, que
tendo formato de bastão, é um símbolo fálico, masculino, ao contrário do 0
que é feminino.
Vejamos alguns símbolos básicos dos números:

1: o falo, o poder masculino, fecundação, liderança, a singularidade


que é completa e não precisa de par, identidade.
2: dualismo, conflito de opostos, combinação de opostos,
androginia, o casal que se completa, equilíbrio, vida e morte em ciclo,
alteridade.
3: trindade, o casal e seu filho, uma família, uma comunidade, um
grupo de sábios, governantes (triunvirato) ou a corte divina (Pai, Filho,
Espírito Santo), a síntese de elementos, uma totalidade harmoniosa, a
dialética (tese, antítese, síntese).
4: dualidade binária, organização racional (um quadrado, objeto
artificial, não comum na natureza, criado pela mente racional), o Nome de
Deus (Tetragramaton, “quatro letras”, IHVH), o Deus que deu ordem ao
caos do mundo.
5: o corpo humano perfeito (cabeça, braços e pernas; cinco dedos
nas mãos e pés), a quintessência, o quinto elemento espiritual que permeia
os quatro elementos materiais, a magia e manipulação dos elementos, os
cinco sentidos, o microcosmo (o homem é uma miniatura do universo).
6: a combinação de opostos, a estrela de David com seis pontas,
feita de um triângulo apontando para baixo (“assim na terra”) e outro para
cima (“como no céu”), ambiguidade, harmonia.
7: perfeição, pureza, virgindade, espiritualidade, sorte, o número que
descreve Deus, a totalidade das coisas (7 dias da semana, 7 notas musicais,
7 virtudes e pecados capitais).
8: o infinito, um ciclo, a regeneração e contemplação.
9: o fim de um ciclo e o começo de outro, uma espiral, todos os
números retornam para o nove (o 9 multiplicado pelos outros números
sempre resulta em números que, somados, resultam em 9: 9 x 8 = 72, 7 + 2
= 9; 9 x 7 = 63, 6 + 3 = 9, etc.).
10: a reunião e fusão de todas as coisas, união dos princípios
masculino (1) e feminino (0), a totalidade do universo.
APÊNDICE I
MÍSTICOS E TARÓLOGOS

Court de Gebelin (1719-1784)

Ao publicar um estudo aprofundado sobre o tarô em 1775 (O mundo


primitivo analisado e comparado com o mundo moderno), Gebelin chamou
atenção da classe acadêmica e dos estudiosos do esoterismo para esta arte
que até então era mais conhecida por seu uso na cartomancia do que pelo
conteúdo simbólico e esotérico das cartas. Gebelin também foi o autor da
teoria da origem egípcia do tarô.

Jean-Baptiste Alliette “Etteilla” (1738-1791)

Outro francês que teve papel importante na divulgação do tarô no


século XVIII. Ao contrário de Gebelin, Etteila enfatizava mais o aspecto
prático do que filosófico das cartas e seu uso nas leituras de cartomancia.
Em 1785 publicou o “Maneiras de se divertir com o jogo de cartas
denominadas tarôs”. Também é dele o Livro de Thoth, uma compilação de
textos que, segundo ele, teriam sido escritos no Egito antigo pelo próprio
deus Thoth. Etteilla é considerado o primeiro tarólogo profissional e fundou
a primeira associação de cartomantes, a Sociedade dos Intérpretes do Livro
de Thoth.

Eliphas Levi (1810-1875)

O célebre mago católico, originalmente chamado Alphonse Louis


Constant, foi autor, em 1856, do “Dogma e Ritual da Alta Magia”, livro até
hoje bastante considerado nos estudos esotéricos. Levi fez um interessante
paralelo entre as 22 letras do alfabeto hebraico, os 22 caminhos da Árvore
da Vida cabalística e os 22 Arcanos Maiores. Assim, Levi se mostra um
grande eclético que conseguiu harmonizar diferentes escolas esotéricas e
ampliar o caráter universal do tarô.

Jean-Baptiste Pitois (1811-1877)


Usando o pseudônimo de Paul Christian, este discípulo de Eliphas
Levi foi autor do livro “L’homme rouge des Tuileries” (1865), em que pela
primeira vez usou os termos “lâminas” e “arcanos” para se referir às cartas
de tarô. É considerado, portanto, o criador destas designações e até então o
baralho do tarô era chamado apenas de “cartas”.

MacGregor Mathers (1854-1918)

Em parceria com William Robert Wodman e William Wynn


Westcott, foi o fundador da ilustre Ordem da Aurora Dourada (Golden
Dawn), que promoveu um avivamento no interesse esotérico na virada do
século XIX. É autor do “O Tarô: um pequeno tratado sobre a leitura das
cartas”.

Arthur Waite (1857-1942)

Elaborou um baralho próprio, chamado Rider, com desenhos de


Pamela Colman Smith. É autor do “A chave para o Tarô e a Santa Kabala”.

Oswald Wirth (1860-1943)

Estudioso esotérico e maçom, Wirth desenhou seu próprio baralho


de modo a dar mais atenção ao uso do tarô como uma compilação de
símbolos esotéricos. Ele foi autor do “O simbolismo hermético em suas
relações com a alquimia e a franco-maçonaria”, “O simbolismo
astrológico” e “O Tarô dos santeiros da Idade Média”.

Stanislas de Guaita (1861-1897)

Fundador da famosa Ordem Kabalística da Rosacruz, também foi


um divulgador do tarô.

Gérard Encausse “Papus” (1865-1917)

Fundador da Ordem espiritual e maçônica dos Martinistas, Papus


inspirou-se nos escritos de Eliphas Levi para elaborar suas cartas, com
desenhos de Jean-Gabriel Goulinat. É autor do “Tarô dos Boêmios” (1889).
Gregory Ottonovich Mebes (1868-1930)

Líder da maçonaria russa, morto em um campo de concentração


comunista, ministrou cursos sobre a Árvore da Vida e o tarô, dos quais
restam esboços dos alunos

Aleister Crowley (1875-1947)

O polêmico bruxo inglês também fez um dedicado trabalho de


comparação entre os símbolos do tarô e os conceitos místicos de diversas
religiões. Com base em seus estudos, Lady Frieda Harris desenhou um
baralho moderno que ficaria conhecido como Tarô de Crowley.

René Guénon (1886-1951)

Autor do “A crise do mundo moderno” (1927), Guénon é bastante


respeitado como um estudioso sério do esoterismo, crítico tanto do
mundanismo quanto do misticismo oportunista.

Valentin Tomberg (1900-1973)

Respeitado, mas pouco conhecido místico erudito do século XX, foi


autor do “Meditações sobre os arcanos maiores do Tarô”.
APÊNDICE II
BARALHOS

Nota: Bem que gostaríamos de incluir ilustrações em toda a lista de


baralhos abaixo, mas, convenhamos, levando em conta a imensa variedade
de coleções, a quantidade de imagens seria tal que o “peso” do e-book se
tornaria grande demais para os padrões de um livro digital. E mesmo que
usássemos imagens em baixa resolução, tal volume seria excessivo e as
figuras ficariam pequenas e difíceis de visualizar. Além disso há os
problemas de direitos autorais de muitos destes baralhos. De toda forma, a
lista a seguir é um guia para quem desejar se aprofundar e conhecer as
diversas publicações e versões de tarô, de modo que é possível encontrar
em buscas na internet as imagens de alguns, senão todos, os baralhos aqui
mencionados.

O baralho árabe, mameluco ou sarraceno (século XIII)

O mais antigo baralho árabe que se tem notícia, está guardado no


museu Topkapi, de Istambul, Turquia. O baralho está incompleto, mas
pode-se ver nele a presença dos quatro naipes chamados Darahim
(equivalente a Ouros), Suyuf (Espadas), Jawkan (Paus) e Tuman (Copas).

Tarô Visconti Sforza (1451)

A casa Visconti Sforza era a família de governantes de Milão no


século XV. Eles encomendaram alguns baralhos aos artesãos da época e
temos hoje cartas de 16 baralhos incompletos que sobreviveram ao tempo.
O baralho mais completo possui 74 cartas (faltando apenas o Diabo, a
Torre, o Cavaleiro de Ouros e o Três de Espadas) e está na Biblioteca
Pierpont Morgan, em Nova York. As outras cartas estão na Itália.

Tarô Charles VI ou Gringonneur (1455)

Existem apenas 17 cartas preservadas deste baralho na Biblioteca


Nacional da França. Seu apelido vem de um equívoco, pois existe uma nota
do tesoureiro do rei Carlos VI, chamado Charles Poupart, em que registra o
pagamento de 56 soldos a um artista “Jacquemin Gringonneur, pintor, por
três jogos de cartas pintadas a ouro e com diversas cores, ornadas com
várias divisas para o referido senhor rei para o seu divertimento”. As cartas
a que esta nota se refere na verdade nunca foram encontradas.
O baralho que acabou sendo chamado de Charles VI foi
provavelmente produzido no século XV na Bolonha, segundo exame dos
pigmentos da tinta feito pelo Laboratório de Pesquisa dos Museus do
Louvre. Além de incompleto, este baralho tem alguns erros de numeração,
como o Pendurado e o Louco, ambos gravados com o número 13.

Tarô de Mantegna (1465)

Não são cartas propriamente ditas, mas estampas impressas em


livro. Um exemplar destas ilustrações se encontra na Biblioteca Nacional da
França em um livro sem texto, apenas contendo imagens, como um álbum
de figuras.
São 50 figuras com alguma semelhança com o estilo das cartas de
tarô: retângulos dentro dos quais se representa algum personagem ou cena.
Algumas destas figuras lembra arcanos do tarô, como o desenho de um
mendigo, um cavaleiro, um rei, um papa, a temperança, a força, a justiça, o
Sol. Por outro lado, a maioria das figuras é de outros personagens e temas
diferentes do tarô, como a caridade, a esperança, a poesia, a geometria,
Apolo e suas musas, um mercador, etc.
Tal obra, portanto, ganha um título honorífico de “tarô”, dada a sua
semelhança.

Tarô Sola-Busca (1491)

Um baralho completo e bem preservado deste tarô esteve na posse


de uma família nobre de Milão (família Sola-Busca) até 2009, quando então
foi comprado pelo governo da Itália por 800.000 euros e entregue à
Pinacoteca di Brera.
Ainda antes deste evento, estas cartas foram impressas e publicadas
em edição limitada (700 exemplares) pelo editor alemão Wolfgang Mayer,
mas todos os exemplares permaneceram armazenados na adega de Mayer
até depois de sua morte. Em 2013 a família do editor cedeu algumas cópias
a um revendedor e só então o material pôde ser reimpresso e se tornar
público.
Todos estes cuidados e superproteção fazem sentido, já que se trata
do único baralho do século XV que conseguiu chegar completo aos dias
atuais. Seu autor foi o pintor Nicola di Maestro Antonio (1448-1511).

Tarô Hermes e Montezuma (1583)

Eis aqui um tarô mexicano e bastante antigo. Um exemplar com 18


cartas encontra-se no Arquivo Geral das Índias de Sevilha. Fora impresso
em xilogravura por Alonso Martínez de Orteguilla em 1583, bem nos
primórdios da colonização do México.
Não se trata de um tarô convencional, mas um jogo de cartas a
princípio destinado ao lazer. Todavia, conta com curiosas ilustrações
simbólicas, como a mítica Quimera, Hércules, Hermes e até mesmo o
imperador Montezuma e outros temas indígenas. Era um baralho
contextualizado à cultura mexicana.

Tarô de Jean Noblet (1650)

O autor deste baralho deixou seu nome gravado nas cartas de Dois
de Ouros e Dois de Copas. Também na carta do Carro suas iniciais (I. N.)
estão presentes. Do material que foi preservado até hoje, faltam 5 cartas (de
6 a 10 de Espadas). Este baralho parisiense se assemelha ao Tarô de
Marselha, o mais conhecido baralho que se tornou um modelo padrão.

Tarôs de Jean Dodal (1701) e Jean-Pierre Payen (1713)

Estes dois baralhos, produzidos por editores diferentes (Jean Dodal


em Lion e Jean-Pierre Payen em Avignon) são notavelmente semelhantes,
praticamente os mesmos desenhos, o que indica que ambos os editores
contrataram o mesmo gravurista para desenhá-los.

Tarô de Etteilla (1789)

Etteilla foi um dos defensores da teoria da origem egípcia do tarô.


Segundo ele, uma convenção de magos ocorrida no Egito em 2170 a.C.
elaborou o chamado Livro de Thoth e nele os símbolos do tarô.
Alegando que ao longo dos séculos estes símbolos foram
deturpados, Etteilla propôs uma restauração do conteúdo supostamente
original, publicando seu próprio tarô que ficou conhecido como Livro de
Thoth.

A Sibila dos Salões (1828)

“La Sibylle des Salons” foi um baralho de 52 cartas que teria sido
encomendado pela cartomante Mademoiselle Lenormand e desenhado por
Grandville. A palavra Sibylle vem da profetiza grega Sibila ou Ptoniza, que
tinha poderes divinatórios.
Este baralho não é um tarô propriamente dito, mas é considerado o
primeiro baralho europeu elaborado especificamente com o propósito da
adivinhação. As ilustrações vinham com títulos que evocavam a situações
cotidianas como doença, o encontro com um amigo sincero ou com um
falso bajulador, o amor, a solidão, etc.
Esta obra serviu de modelo para o surgimento de vários outros
baralhos com a popularização da prática da cartomancia. São as chamadas
“sibilas”, cartas usadas exclusivamente com este fim da adivinhação, seja
em brincadeiras infantis ou por cartomantes profissionais. A sibila seria,
portanto, um tarô simplificado.

Tarô Cigano (1840)

Por encomenda de Mademoiselle Lenormand, a editora Grimaud


imprimiu um jogo de 36 cartas por volta de 1840. A princípio ficou
conhecido como Pequeno Lenormand, depois ganhou a alcunha de Baralho
Cigano.
Assim como as sibilas, não é exatamente um tarô, mas um baralho
voltado à adivinhação e com suas próprias ilustrações. São 9 cartas de 4
naipes, portanto não há algo equivalente aos Arcanos Maiores.
Este baralho de 36 cartas foi baseado em outro que já era usado para
diversão editado por Johann Kaspar Hetchel (1799) e que era conhecido
como Jogo da Esperança (Das Spiel der Hoffnung). Um exemplar deste
baralho de Hetchel encontra-se no Museu Britânico. Consistia em um jogo
em que aquele que chegasse primeiro à carta 35 ganharia a partida. Esta
carta tinha a figura de uma âncora, símbolo de esperança.
Tarô de Eliphas Levi (1854)

O influente mago autor do “Dogma e Ritual da Alta Magia”


desenhou um tarô próprio com uma mistura de símbolos europeus,
hebraicos e egípcios.

Tarô de Papus (1889)

O médico Gérard Encausse, ou Papus, em seu livro “O Tarô dos


Boêmios” (1889), publicou algumas gravuras que redesenhavam o tarô com
figuras egípcias. Tais desenhos serviram de modelo para o artista Jean-
Gabriel Goulinat que então criou um baralho que ficou conhecido como
Tarô de Papus.

Tarô de Falconnier (1896) e Saint-Germain (1901)

René Falconnier publicou em 1896 o livro “As 22 lâminas


herméticas do tarô divinatório”, contendo os 22 Arcanos Maiores ilustrados
por Maurice O. Wergener e com temática egípcia, seguindo o exemplo de
Gebelin, Etteilla e Papus.
O trabalho de Falconnier seria complementado em 1901 pelo Conde
de Saint-Germain, em seu livro “Astrologia prática”, que acrescentou os 56
Arcanos Menores.

Tarô Nouveau (século XIX-XX)

Lançado na vidada do século XIX pelo editor C. L. Wüst, é um tarô


temático que simplifica os Arcanos Menores, substituindo seus nomes e
ilustrações de modo a montar uma sequência de fases da vida. São elas:
Infância, Juventude, Maturidade, Velhice, Manhã, Tarde, Crepúsculo, Noite,
Terra e Ar, Água e Fogo, Dança, Compras, A Céu Aberto (com a figura de
um arqueiro), Artes Visuais, Primavera, Verão, Outono, Inverno, O Jogo,
Coletivo, Indivíduo. Não existe uma carta equivalente ao Louco.

Tarô de Waite-Smith (1910)


No início do século XX, Arthur Edward Waite publicou “A chave
para o Tarô”, contendo um baralho com desenhos de Pamela Colman Smith.
Ficou conhecido como “The Rider Tarot Deck” (nome derivado do editor
William Rider) e se tornou um dos tarôs modernos mais populares.
Uma inovação marcante deste baralho é o fato do Louco ter o
número 0 escrito no topo da carta. Primeiro isto é um detalhe ousado
porque as cartas normalmente possuem números romanos e o zero é de
origem indo-arábica. Depois, era tradição o Louco não ter um número, de
modo que poderia ser colocado tanto no início (0) quanto no fim dos
Arcanos Maiores (22). Ao numerar o Louco, este tarô assume uma firme
posição quanto à localização desta carta.
Também incluiu o nome Morte no arcano XIII, uma carta que
costumava vir apenas com o número, mas sem o nome. A Morte era aquilo
que não se pode nomear.
Outra mudança foi a substituição do nome da Papisa para
Sacerdotisa (The High Priestess), e do Papa para Hierofante, limpando a
influência católica da carta.
Por fim, também trocou a ordem das cartas da Justiça e da Força, ou
seja, neste tarô o Arcano 8 é 11 e o 11 é 8.

Tarô de Oswald Wirth (1926)

Com base no tarô de Marselha e nos estudos de Eliphas Levi, o


ocultista suíço Oswald Wirth elaborou em 1889 22 cartas que seriam usadas
no Tarô dos Boêmios, de Papus. Depois Wirth redesenhou suas próprias
cartas que foram publicadas em 1927 no “O tarô dos escultores da idade
média”.

Tarô de Vasily e Mebes (1937)

Gregory Ottonovich Mebes ou G.O.M. foi um rosa-cruz russo autor


da “Enciclopédia do Ocultismo” (1912). Na segunda edição em 1920
surgiram ilustrações que acredita-se serem de Vasily Masiutin.
Foi porém na obra póstuma “Curso de Enciclopédia do Ocultismo”
(1931), feita a partir de anotações de discípulos de G.O.M., que surgiram
novas ilustrações de um desenhista desconhecido. O estilo dos desenhos,
monocromáticos em azul, é mais realista do que o normal dos tarôs, quase
fotográfico. O Louco é curiosamente colocado na posição 21 e o Mundo na
22.
Entre 1980 e 2001 o estudioso russo Shael Yeremyan com ajuda da
artista Susanna Ayvazian fizeram uma releitura do tarô de G.O.M.,
produzindo um baralho chamado “Tarô Cabalístico de G.O.M”.

Tarô de Crowley (1944)

O polêmico mago inglês dedicou-se a um projeto de cinco anos


(1938-1943) em parceria com a artista Frieda Harris para elaborar seu
próprio baralho. Em 1944 as cartas, originalmente pintadas em aquarela,
foram publicadas no Livro de Thoth. Foi a última obra de Crowley antes de
sua morte em 1947.
Uma grande mudança, além do visual “psicodélico” das pinturas, é
que Crowley começou a contar as letras do alfabeto hebraico a partir do
Louco, que se tornou o Aleph, diferente de outros baralhos que começam o
Aleph a partir do Mago.
Outra mudança foi no nome das Cartas da Realeza que
tradicionalmente são Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajem. Crowley transformou
o Rei em Cavaleiro, o Cavaleiro em Príncipe e o Pajem em Princesa.
Por fim, ele modificou alguns nomes: Justiça virou Ajustamento,
Roda da Fortuna virou Fortuna, Força virou Volúpia, Temperança virou
Arte, Julgamento virou Aeon e Mundo virou Universo.
Enfim, o tarô de Crowley, assim como ele, era bem ousado e
“diferentão”.

Tarô Egípcio Kier (1955)

O livro “La Cabala de Predicción”, de Jesus Iglesias Janeiro, foi


publicado em 1955 pela Editora Kier, de Buenos Aires, contendo
ilustrações de um tarô totalmente baseado em figuras egípcias, incluindo
hieróglifos. Além desta proposta estética diferente, os nomes de diversas
cartas foram mudados. Morte virou Imortalidade, Diabo virou Paixão, Torre
virou Obelisco, Mundo virou Transformação, etc.

Tarô Mouni Sadhu (1963)


O polonês Mieczyslaw Sudowski publicou o curso “O Tarô: um
curso contemporâneo sobre a quintessência do ocultismo hermético”,
usando o pseudônimo Mouni Sadhu. As cartas foram desenhadas por Eva
G. Lucas, impressas sem cores e visivelmente inspiradas no tarô de G. O.
Mebes.

Tarô Balbi (1976)

Impresso por Heraclio Fournier, este baralho de autoria de


Domenico Balbi é pouco conhecido e não teve novas edições. São figuras
bastante coloridas e traços que lembram a arte cubista de Picasso.

Tarô Mãe Paz (1983)

Vicki Noble e Kanen Vogel criaram este baralho cuja grande


característica é ser voltado a símbolos femininos. É o tarô da Deusa Mãe.
Seguindo essa lógica de simbologia feminina, as próprias cartas não são
retangulares, mas redondas, e os desenhos lembram a arte pictórica das
cavernas.

Tarô Mítico (1988)

Criado por Juliet Sharman-Burke e Liz Greene, com ilustrações de


Tricia Newell, este baralho, como o nome indica, tem uma abordagem
baseada em mitos clássicos. Por exemplo, o naipe de Paus ilustra a saga de
Jasão e os Argonautas, o naipe de Espadas traz o drama de Orestes, o naipe
de Ouros conta a história de Dédalo e o naipe de Copas aborda o mito de
Eros e Psique.

Tarô dos Amantes (1992)

Um curioso tarô temático elaborado por Jane Lyle e desenhado por


Oliver Burston. Como o nome indica, sua ênfase está na leitura das cartas
para a vida amorosa, de modo que a interpretação das cartas envolve duas
pessoas e a relação entre elas.

Tarô do Mestre (1996)


Mais um exemplo de tarô temático, algo que se tornou cada vez
mais abundante na virada do século XX. Elaborado por Mario Montano e
Amerigo Folchi, possui uma abordagem essencialmente cristã e baseada na
vida de Jesus. Há cartas como Lírios do Campo (versão do Mago), os
Discípulos (Eremita), Apocalipse (Julgamento), A Ceia (Morte), etc.

Tarô Sephiroth (1998)

Criado por Josephine Mori e Jill Stockwell, com desenhos de Dan


Staroff. São cartas bastante coloridas com um traço mais moderno.

Tarô Art Nouveau (1999)

Criado pela artista italiana Antonella Castelli, possui um desenho


com traços delicados e bem ornamentados, com um belo jogo de cores. A
proposta é realmente ser um baralho bonito de se ver.

Tarô Zen “Osho” (2001) e Tarô Tao (2002)

Criado em 2001 por Ma Padma Deva (Susan Morgan Ostapkowicz),


este baralho temático é inspirado nos ensinamentos zen do conhecido
mestre indiano Osho. Seu objetivo é condensar nas cartas esta filosofia de
vida que prega o autoconhecimento e a paz interior.
Além das 22 cartas dos Arcanos Maiores, há uma carta extra e sem
número chamada O Mestre, contendo uma ilustração do rosto de Osho. A
releitura do tarô inclui novos nomes para as cartas como Existência (Mago),
Criatividade (Imperatriz), Rebelde (Imperador), Transformação (Morte),
etc.
Em 2002 a mesma autora publicaria um novo tarô temático
chamado Tao Oracle, com ilustrações baseadas nos 64 hexagramas do I
Ching, o milenar oráculo chinês.

Tarô Dürer (2002)

Criado por Giacinto Gaudenzi e Manfredi Toraldo, este baralho se


destaca pela beleza, pois é baseado nas pinturas e desenhos do renascentista
Albrecht Dürer (1471-1528). Um detalhe peculiar é que os naipes ganharam
novos símbolos: Copas é representado por pombas, Paus por leões, Espadas
por raposas e Ouros por águias. É uma arte ousada e que inclusive possui
cenas de nudez.

Tarô Nova Visão (2003)

O nome deste baralho não é à toa. Criado por Pietro Alligo e os


irmãos Raul e Gianluca Cestaro, a proposta é apresentar as cenas sob uma
nova perspectiva. Ele baseia-se no tarô Rider de Arthur Edward Waite e
mostra outros ângulos, por exemplo, de costas. Na carta do Mago, em vez
dele ser visto de frente, é mostrado de costas e pode-se então ver a plateia
que o assiste, o mesmo ocorre com o Enforcado, de modo que podemos ver
a multidão furiosa a assistir sua execução. É um conjunto de imagens bem
criativas e até com um senso de humor, oferecendo literalmente um novo
olhar sobre o tarô.

Tarô Dourado (2004)

A desenhista Kat Black começou a postar suas ilustrações baseadas


no tarô no ano 2000 apenas como um hobby e este trabalho acabou se
tornando uma bela edição, produzida pela US Games, com cartas de bordas
douradas.

Tarô Animal Divino (2005), Criaturas Fantásticas (2007) e Contos de Fadas


(2009)

Criado por Lisa Hunt, Animal Divino é um tarô temático baseado


em mitologias africanas, astecas, egípcias, gregas, indianas, japonesas,
romanas e nativo americanas. Cada carta é ilustrada com animais e cenas
selvagens e a publicação conta com explicações sobre diversos mitos
envolvendo animais nas diversas culturas.
Em 2007 Lisa Hunt desenharia um novo trabalho, agora baseado em
criaturas fantásticas e folclóricas como dragões, elfos, anões, etc.
Por fim, a profícua Lisa Hunt também desenhou um baralho baseado
em personagens de contos de fadas como o Gato de Botas, a Branca de
Neve, Alladin, etc.
Tarô Graal (2007)

Criado por John Matthews e Giovanni Caselli, tem como tema o


mito templário do Santo Graal.

Tarô da Magia Sexual (2009)

Eis um tarô temático voltado especialmente para o tema do sexo.


Criado por Laura Tuan e desenhado por Mauro de Luca, possui belos
desenhos recheados de nudez e erotismo.

Tarô Rumi (2009)

Criado e desenhado por Nigel Jackson, usando um estilo de


ilustração que lembra a arte medieval persa, cada carta possui uma citação
do famoso poeta e místico persa Rumi.

Futarot (2010)

Esta coleção mostra que não há limites para a criatividade quando se


trata de tarôs temáticos. Criado pelo designer Joseph Fautrier, este baralho
com apenas os Arcanos Maiores ilustra famosos jogadores de futebol em
cenas cômicas e com um estilo de desenho cartunesco. Não é um tarô com
propósitos místicos, obviamente, mas apenas lúdico.

Tarô Dante (2011)

Criado pela taróloga russa Vera Sklyarova e o artista plástico A.


Razboinikov, adota o tema da Divina Comédia, o clássico épico de Dante
que descreve o Céu, o Inferno e o Purgatório.
Table of Contents
PREFÁCIO
FUNDAMENTOS SIMBÓLICOS
ARCANOS MENORES
APÊNDICE II

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