Dicionário de Apologética e Filosofia Da Religião
Dicionário de Apologética e Filosofia Da Religião
Dicionário de Apologética e Filosofia Da Religião
Apologética
e Filosofia
da Religião
EDIÇÃO DE BOLSO
C. Stephen Evans
Dicionário de Apologética
e Filosofia da Religião
ISBN 85 -7367-654-X
T radução
Rogério Portella
Vida
©2002, de C. Stephen Evans
Títulodooriginal
Vida Pocket dictionary o f apologetics andphilosophy o f religion,
E d ito ra V ida edição publicada pela I nter V arsity P ress
do grupo (DownersGrove, Illinois, EUA)
ZONDERVAN
H arperC olLIns Todos os direitos em lingua portuguesa reservadospor
D a d o s In te rn a c io n a is d e C a ta lo g a ç ã o n a P u b lic a ç ã o ( C IP )
(C â m a ra B ra sile ira d o L iv ro , S P , B r a sil)
Evans, C. Stephen
Dicionário de apologética e filosofia da religião / C. Stephen Evans; tradução
Rogério Portella— São Paulo: Editora Vida, 2004.
0 4 - 4 0 68 cod -210.3
a tr ib u to s te ís ta s . (V a t r ib u t o s d e D e u s .)
a u to n o m ia . Conceito-chave da teoria ética de Immanuel K a n t .
O filósofo sustentou que a obrigação moral genuína deve ser
legislada pela RAZÃO e que, portanto, o agente moral racional
é a própria fonte das obrigações morais. Kant acreditava que o
indivíduo que se comporta de acordo com a moralidade por
terrier punição ou desejar recompensa é tido por heterôno-
mo, nao autônomo. Alguns teólogps contemporâneos radicais
têm argumentado que a própria existência de um Deus cria
dor, ao qual os homens devem se submeter, constitui uma
ameaça à autonomia moral humana, e por isso propuseram
que Deus deva ser entendido como um símbolo ou uma
idéia inventada por nós.
a u to rid a d e . A quem se deve submissão ou deferência. Há dife
rentes categorias; as mais importantes são: moral, política e
religiosa. As religiões baseadas em r e v e la ç ã o e s p e c ia l , como
o cristianismo e o islã, fiam-se totalmente na autoridade de
suas revelações. Os cristãos têm discordado muitas vezes so
bre o lócus de autoridade -— os protestantes afirmam a Bíblia
co m o única autoridade (sola S criptura) e os católicos e orto
d o x o s d ão maior peso à igreja è suas TRADIÇÕES históricas. O
debute tem sc centrado também rios critérios para o reconhe
cim en to icIn autoridade yálida^da relação entre autoridade e
RAZÃO. T()MÃS DE A q u in o afirmou que, apesar de não poder
21 Barth, Karl (1888-1968)
D
Daly, Mari (1928-). Teóloga feminista, inicialmente católica
romana, tornou-se posteriormente feminista radical pós-cris-
tã em Beyond God the Father [Mais além de Deus-Pat\. Daly
afirma que o t e ís m o tradicional é um conceito patriarcal, hi
erárquico, enraizado em culturas dominadas por homens. (V
tb. FEMINISMO; GÊNERO; PATRIARCADO; MATRIARCADO.)
daoísmo. (V t a o ísm o .)
danvinismo. Teoria sobre a evolução da vida biológica elabora
da por Charles Darwin (1809-1882), que afirma que o meca
nismo de desenvolvimento evolutivo é resultado de variações
aleatórias e da seleção natural por meio da competição para
sobrevivência e reprodução. O danvinismo reduziu drastica
mente a popularidade do ARGUMENTO DO DESÍGNIO na Inglater
ra e nos EUA Vários pensadores religiosos consideram o darwi-
nismo compatível com o conceito de Deus como criador do
universo, considerando a seleção natural um meio emprega
do por Deus. Entretanto os ateus afirmam que o danvinismo
apóia sua COSMOVISÃO. Essa opinião é partilhada por muitos
advogados da “ciência da criação” (relatos não-danvinistas so
bre a origem das espécies). O pensamento darwinista é muito
influente hoje em vários campos, como a psicologia e sociolo
gia. Os darwinistas desenvolveram teorias sobre vários aspec
tos da cultura humana, até mesmo sobre ÉTICA e religião. (V.
tb. CRIACIONISMO; EVOLUÇÃO, TEORIA DA.)
defesa do livre-arbítrio. Resposta ao p r o b l e m a d o m a l com o
argumento de que se pode justificar a permissão da existência
do mal por parte de Deus pelo fato de o mal poder ser logica
mente inerente ao l iv r e -a r b ít r io . Se o livre-arbítrio é o grande
BKM que possibilita outros grandes bens, então esses bens po-
deísmo 40
dem ser a razão suficiente para que Deus permita o mal. Pelo
fato de nem mesmo a onipotência poder fazer o que é logica
mente impossível, Deus deve aceitar a possibilidade do mal
se quiser dar o livre-arbítrio a algumas de suas criaturas. (V. tb.
TEODICÉIA.)
deísmo. Ponto de vista segundo o qual Deus criou o mundo,
mas não o sustenta providencialmente. Em outras palavras,
apesar de Deus existir, ele não interage com a criação. O ter
mo é também usado para descrever a convicção de que a
verdadeira religião é a religião natural fundamentada na RA
ZÃO e não em alguma r e v e la ç ã o e s p e c ia l detentora de auto
ridade.
d e m ito lo g iz a ç ã o . (V. BULTMANN, R u d o l f .)
demônios. Considerados tradicionalmente seres espirituais cri
ados que se rebelaram contra Deus como aliados de Satanás, o
líder deles. Muitos teólogos liberais tratam o relato sobre demô
nios como forma simbólica de descrever o poder do mal No
Novo Testamento há vários registros de Jesus e seus seguido
res expulsando demônios de pessoas. A maior parte dos es
tudiosos aceita esse material como histórico, mas os que re
jeitam a existência metafísica dos demônios explicam as pos
sessões como formas de doenças mentais, e os exorcismos,
como casos de cura psicossomática. (V. tb. ANJOS; MAL, NATU
REZA DO.)
Derrida, Jacques (1930-2004). Filósofo francês considerado o
criador do desconstrucionismo, importante corrente do PÓ5-
MODERNISMO ou pós-culturalismo. Derrida critica a modemi-
diulc por seu comprometimento com a “metafísica da pre-
HtMiçn" e com ò que Martin HEIDDEGER denominou “ontoteo-
lOglu", O (IcHconstrucionismo estimula uma forma de pensa-
iiK*niiM|iic proeum contradições entre os ideais do m o d e r n is -
41 determinismo
/
Ibn Rushd. (V A v e r r ó IS.)
Ibn Sina, Abu A1L (V. A v ic e n a .)
ícones. Imagens de Cristo e dos santos confeccionadas por mem
bros das igrejas ortodoxas orientais. O termo é usado tam
bém, em sentido mais amplo, para designar a capacidade dos
seres humanos de idealizar Deus e tomar-se imagens de Cris
to. (V . tb. im a g e m d e D e u s .)
idealismo. Na FILQ90FIA, um sistema de pensamento que con
sidera a mente e as idéias a realidade última, negando a reali
dade do mundo físico como totalmente física e relegando a
realidade da matéria a uma condição inferior. Os exemplos
incluem: o fenomenismo de Geoige BERKELEY, que afirma
que os objetos materiais são coleções de sensações mentais; a
filosofia do espírito de Georg W . F. H e g e l , segundo a qual
toda a realidade é uma expressão da mente absoluta; e o con
ceito hierárquico de PLATÃO sobre a realidade, que destaca as
idéias e as formas como a realidade final e os objetos materiais
como uma cópia inferior do mundo das idéias. Em contextos
não-filosóficos, o termo idealismo refere-se a qualquer movi
mento que possua altos ideais ggsunJ movimento que tenta
melhorar o mundo e acredita nessa possibilidade.
Identidade pessoal. O que faz com que a pessoa seja numerica-
, mente o mesmo indivíduo ao longo do tempo. Teorias sobre
Aidentidade pessoal dividem-se em três tipos: 1. teorias psi
cológicas, que destacam ser a memória ou outro tipo de con
tinuidade psicológica a identidade pessoal; 2. teorias do cor
po, que afirmam que a posse do mesmo corpo toma a pessoa
Idêntica; e 3. teorias não-reducionistas, segundo as quais a iden
tidade pessoal é não-analisável e elementar ou, então, algo
iluminismo 70
juízo final. Avaliação final das obras e do CARÁTER dos seres hu
manos realizada por Deus. Os cristãos acreditam que a obra
salvadora de Cristo é a única esperança para que os homens
sejam aceitos no dia do juízo. (V. tb. r e t r ib u iç ã o .)
justiça. Concessão ao povo do que lhe é devido. Como ideal
social, a justiça é um conceito primordial da filosofia política.
Os filósofos tradicionais também viam a justiça como VIRTUDE
pessoal e inquiriam sobre a natureza de uma pessoa justa bem
como a possibilidade da aquisição do CARÁTER justo. Na socie
dade contemporânea, há muitas discussões sobre a natureza
da justiça econômica, da justiça retributiva e da justiça políti
ca. Questões teológicas sobre a justiça são formuladas por dou
trinas como a da p r e d e st in a ç ã o e do in f e r n o , entendidas
como punição eterna.
justificação. Termo epistemológico positivo de estima, empre
gado de variadas formas. Uma crença é considerada deontolo
gicamente justificada quando quem crê cumpriu adequada
mente seus deveres epistêmicos na aquisição e na manuten
ção da crença. Uma crença pode ser justificada num sentido
mais substantivo quando é baseada numa boa razão, ou possui
o tipo certo de fundamentação, algo que toma verossímil ou
mais verossímil que a crença é verdadeira. A justificação na
epistemologia deve ser obviamente distinta da justificação no
sentido teológico, em que o termo se refere à ação divina de
aceitar a expiação proporcionada por Jesus como suficiente
para garantir que os seres humanos sejam considerados justos,
embora sejam ainda pecadores.
Justino Mártir (c. 105-c. 165). Um dos primeiros pais da igreja
cristã a avaliar positivamente a filo so fia . Justino acreditava que
a filosofia grega continha verdades graças à obra do Cristo, o Lo-
GOS, entendido como o Criador que opera em todas as pessoas.
Kant, Immanuel (1724-1804) 78
K
Kant, Immanuel (1724-1804). Um dos maiores filósofos mo
dernos, cuja filosofia crítica tentou sintetizar os ideais do
RACIONALISMO e do EMPIRISMO. Kant afirmou, na obra Crítica
da razãopura, que o conhecimento científico genuíno é pos
sível, mas é o conhecimento da realidade do “fenômeno”
— isto é, a realidade como ela se apresenta a nós, e não a
realidade em si. O conhecimento humano é sempre estru
turado pelo espaço e pelo tempo, as “formas de intuição” da
mente humana, e por categorias providas pelo entendimen
to humano, como causalidade e substância. Como disse Kant,
apesar de a t e o l o g ia n a t u r a l tradicional ser falha, e o co
nhecimento teórico sobre Deus, impossível, o reconheci
mento dos limites da razão dá espaço para a fé moral e racio
nal. Desde que nos esforçamos paia viver moralmente de
acordo o IMPERATIVO c a t e g ó r ic o , devemos pressupor racio
nalmente a liberdade humana, a existência de Deus e a IMOR
TALIDADE.
Kierkegaard, Spren (1813-1855). Filósofo e teólogo cristão di
namarquês, cujos escritos contêm uma crítica severa a Georg
W. F. H e g e l , ao id e a l ism o , à t e o l o g ia l ib e r a l e a toda a
cultura da cristandade, que declara que somos todos cristãos
por termos nascido em país cristão. Kierkegaard considerava-
se um missionário cuja vocação era reintroduzir o cristianismo
na cristandade. Sua obra filosófica destaca a natureza da exis
tência humana, pelo fato de que ele entendia o cristianismo
como forma de existência, mas que as pessoas haviam esque
cido o significado de existir como seres humanos. Kierkega-
iird rejeitou tis tentativas apologéticas de tomar o cristianismo
mzortvcl, afirmando que o cristianismo do Novo Testamento
79 lei (moral, divina, natural)
u
u n iv e rsa lism o .Crença que todas as pessoas serão salvas no futu
ro e que ninguém se perderá etemamente. Alguns universa-
listas sustentam que todos se salvarão devido à obra de Cristo,
mas outros negam a divindade exclusiva de Cristo e a neces
sidade de sua obra para a salvação , preferindo um conceito
pluralista, segundo o qual todas as religiões são igualmente
válidas. O universalismo não deve ser confundido com o con
ceito de que algumas pessoas que não possuem fé consciente
em Cristo, nesta vida, possam ser salvas. Deve também dis
tinguir-se do aniquilacionismo, que afirma que todos os eter
namente perdidos deixarão de existir por completo.
u n ív o c o . Adjetivo que descreve o staíus de um termo usado no
mesmo sentido no decurso de um argumento ou quando apli
cado a Deus e a objetos finitos também no mesmo sentido.
(V. tb. PREDICAÇÃO ANALÓGICA; EQUÍVOCO, PREDICAÇÃO [ANA
LÓGICA; UNÍVOCA; EQUÍVOCA.)
Teoria ética, sustentada por alguns pensadores como
u tilita rism o .
Jeremy Bentham e John Stuart Mill, segundo a qual a correção
moral é determinada pelo que conduz ao bem maior para o
maior número de pessoas. (V é t ic a ; b e m .) O s militaristas tradi
cionais identificam o bem maior com a f e l ic id a d e , que defi
nem como prazer e ausência de d o r , ao passo que os utilitaristas
“ideais” se dispõem a incluir outras coisas boas além do prazer
em seu cálculo de benefícios. O conceito tradicional é mantido
por vários defensores dos direitos dos animais, que alegam que
os prazeres e as dores dos animais têm grande peso moral (igual
n d o s humanos em alguns casos). Os utilitaristas do ato decla
ram q u e a retidão moral é determinada pelas conseqüêndas de
utns particulares, ao passo que os utilitaristas da regra sustentam
<|i ic a M( )KAI .11)AI >li é uma questão de conformidade às regras ou
143 vedanta lulvuftu
W
Weil, Simone (1909-1943). Filósofa da religião e escritora fran
cesa, aplicou as idéias do cristianismo ao problema do trabalho
desassistído. Weil desenvolveu uma compreensão KENÓTICA
da ENCARNAÇÃO de Jesus que conduziu ao conceito do próprio
Deus revelado por meio do auto-esvaziamento. Os seguido
res de Cristo podem dar sentido ao sofrimento humano pela
renúncia à reivindicação de poder e penetrar nos sofrimentos
de seus semelhantes.
W estphal, Merold (1940-). Um dos principais filósofos cristãos
contemporâneos que provavelmente trabalhou mais que qual
quer outro pensador para relacionar o ideário cristão com o
pensamento pós-modemo. (V PÓS-MODERNISMO.) Notável por
suas obras sobre Georg W. E H e g e l e Spren K ie r k e g a a r d ,
Westphal escreveu Suspicion andfaiíh: the religious uses of
modem atheism [Suspeita efé: os usos religiosos do ateísmo
moderno], em que ele demonstra como os cristãos podem se
valer das críticas ao cristianismo feitas por Karl M a r x , Sig-
mund F r e u d e Friedrich N ie t z s c h e .
W hitehead, Alffed North (1861-1947). Lógico, matemático e
filósofo, cuja obra metafísica serviu de inspiração para a TEO
LOGIA IX ) PROCESSO. Whitehead tomou-se famoso, inicialmente,
pela co-autoria com Bertand R u s s e l l de Principia mathemati-
ca [Princípios matemáticos], uma das obras seminais de lógica
simbólica. As obras posteriores de caráter metafísico tentavam
rejeitar a noção de SUBSTÂNCIA como filosoficamente básica
por meio do emprego de fatos organicamente relacionados
como próprios da o n t o l o g ia . Deus atua nesse sistema não
como agente pessoal, mas como a base de que conduz à reali
zação de possibilidades e de um ideal atraente.
m cca 148
Dicionário de religiões
e crenças modernas
Irving H exham
Dicionário de teologia
S tanley J. G renz e D avid G uretzki
Esta obra foi composta emCasablancae impressapor
Imprensa da Fé sobre papel Off-Set para Editora Vida
emjaneiro de 2005.