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A Hora de Jogo Diagnostica
A Hora de Jogo Diagnostica
A Hora de Jogo Diagnostica
Bibliografia
Introdução
A hora de jogo diagnóstica constitui um recurso ou instru
mento técnico que o psicólogo utiliza dentro do processo psi-
codiagnóstico com a finalidade de conhecer a realidade da crian
ça que foi trazida à consulta.
A atividade lúdica é sua forma de expressão própria, assim
como a linguagem verbal o é no adulto. Trata-se, então, de ins
trumentalizar suas possibilidades comunicacionais para depois
conceituar a realidade que nos apresenta.
Ao oferecer à criança a possibilidade de brincar em um
contexto particular, com um enquadramento dado que inclui
espaço, tempo, explicitação de papéis e finalidade, cria-se um
campo que será estruturado, basicamente, em função das variá
veis internas de sua personalidade.
Nesta situação, expressa somente um segmento de seu re
pertório de condutas, reatualizando no aqui e agora um con
junto de fantasias e de relações de objeto que irão se sobrepor
ao campo de estímulo. Por isso recorre-se, complementarmen-
te, a outros instrumentos ou métodos de investigação.
Achamos conveniente esclarecer uma diferença básica entre
a hora de jogo diagnóstica e a hora de jogo terapêutica, pois é
muito comum a confusão entre as duas.
208 O processo psicodiagnôstico e as técnicas projetivas
Instruções
definição de papéis,
limitação do tempo e do espaço,
material a ser utilizado e
objetivos esperados.
Papel do psicólogo
Transferência e contratransferência
Uma hora de jogo diagnóstica significa uma expenência
nova tanto para o entrevistado quanto para o entrevistador. Neste
sentido, além de refletir o inteijogo das séries complementares
de cada um, implica, a nosso critério, o estabelecimento de um
vínculo transferencial.
Antes do primeiro contato já existe uma imagem mútua,
resultante da informação que os pais transmitem. Isto condiciona
determinadas expectativas que devem ser reajustadas na primeira
entrevista, através do vínculo real e concreto com a criança.
A transferência na hora de jogo e em todo o processo diag
nóstico adquire características particulares que respondem, por
um lado, à brevidade do vínculo e, por outro, ao fato de que o
meio de comunicação sejam os brinquedos oferecidos pelo psi
cólogo, o que permite que a transferência se amplie e se diversi
fique para estes objetos intermediários. Neles o paciente depo
sitará parte de seus sentimentos representantes de diferentes
vínculos com objetos de seu mundo interno.
É tarefa específica do psicólogo recuperar esse material
para integrá-lo, junto aos elementos verbais e pré-verbais, na
totalidade do processo.
A contratransferência é um elemento que pode ajudar a
compreensão da criança, se for conscientemente integrada pelo
214 0 processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas
Modalidades de brincadeiras
Personificação
Quando falamos de personificação, referimo-nos à capa
cidade de assumir e atribuir papéis de forma dramática.
Em cada período evolutivo a capacidade de personificação
adquire diferentes características. Em crianças muito peque
nas a realização de desejos se expressa de maneira mais ime
diata e a identificação introjetiva é utilizada como mecanismo
fundamental. Assume o papel do outro, fazendo seu o perso
nagem temido ou desejado.
220 .0 processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas
Motricidade
Criatividade
Tolerância à frustração
A tolerância à frustração é detectada, na hora de jogo, pela
possibilidade de aceitar as instruções com as limitações que elas
impõem (o estabelecimento de limites e a finalização da tare
fa) e pelo desenvolvimento da atividade lúdica (pela maneira
de enfrentar as dificuldades inerentes à atividade que se pro
põe a realizar).
A avaliação correta de tal função é importante em nível
diagnóstico, mas, principalmente, quanto ao prognóstico. Tor
na-se fundamental diferenciar onde a criança situa a fonte de
frustração: se deriva de seu mundo interno (desenhar algo que
vai além de suas capacidades) ou se a localiza de preferência
no mundo externo (desejar algo que não está presente), assim
como a reação ante ela: encontrar elementos substitutivos (si
nal de boa adaptação) ou desorganizar-se, começar a chorar
(atitude negativista).
A capacidade de tolerar a frustração está intimamente re
lacionada com o princípio de prazer e de realidade. Instintiva-
mente, a criança tende à descarga e à satisfação dos desejos, e
o princípio de realidade é o que regula tal satisfação através
das funções egóicas. Produz-se assim uma frustração necessá
ria dos elementos desprezados em função da aquisição de novas
possibilidades e, portanto, do crescimento da criança, o que
resulta núm equilíbrio emocional adaptatívo e maturativo do ego.
2 2 6 ___________________ q processo psicodiagnósüco e as técnicas projetivas
Capacidade simbólica
O brincar é uma forma de expressão da capacidade sim
bólica e a via de acesso às fantasias inconscientes.
Uma quantidade adequada de angústia é a base necessária
para a formação de símbolos. A expressão direta das situações
conflitivas pode inibir, total ou parcialmente, a conduta lúdica,
pois provoca um quantum de ansiedade intolerável para o ego.
Portanto, a criança consegue, pelo brincar, a emergência
destas fantasias através de objetos suficientemente afastados
do conflito primitivo e que cumprem o papel de mediadores:
apela para as suas possibilidades de elaboração secundária para
expressar a fantasia.
O símbolo deve estar suficientemente próximo do objeto
primário simbolizado para permitir sua expressão deformada.
Quanto mais elementos a criança utiliza para expressar seu
mundo interno, maiores possibilidades egóicas revela, no sen
tido de refletir na realidade toda uma série de significados adqui
ridos mediante um processo de capacitação para simbolizar.
Na capacidade simbólica valorizamos não só a possibili
dade de criar símbolos, mas analisamos também a dinâmica de
seu significado, tema que não incluiremos aqui, a fim de evi
tar um reduciomsmo a simbologias universais.
Cada símbolo adquire sentido no contexto no qual se ex
pressa.
À medida que a criança cresce, aumenta a distância entre
o símbolo e o simbolizado.
Produzem-se sucessivos deslocamentos e o princípio de
realidade vai se impondo. A gratificação das fantasias primá
rias tende a ser desprezada cada vez mais.
Por isso, encontramos grandes diferenças entfe as ativida
des Lúdicas de crianças muito pequenas, que seguem as leis do
processo primário, predominando, no período de íatência, o pro
cesso secundário.
Quanto maior o deslocamento, menor é a resistência que
o ego opõe.
A hora de jogo diagnóstica 227
A) A riqueza expressiva
1. A busca que a criança faz, à sua volta, de suportes ma
teriais (significantes) que veiculem, de forma adequada, suas
fantasias e conflitos (significados).
2. Uma nova busca, quando através das formas anteriores
de simbolizaçao não consegue os fins comunicacionais.
3. A coerência da concatenação dos símbolos, isto é, a pos
sibilidade de transmiti-los através de um nexo lógico.
B) A capacidade intelectual
Durante a hora de jogo e através dos símbolos que utiliza,
a criança evidencia uma discriminação e uma manipulação da
realidade que estão de acordo ou não com sua idade evolutiva.
A maneira como o faz nos dá a indicação do estado em que se
acha o processo de simbolizaçao; se se desenvolve sem inibi
ções na área da aprendizagem.
Este processo sofre unia evolução; parte da equação sim
bólica própria da etapa oral, na qual não há distância em rela
ção ao objeto, para o desprendimento paulatino do suporte ma
terial que começa a se manifestar na posição depressiva, diante
da consciência cada vez maior da ausência do objeto.
A medida que a criança cresce, aumenta a distância entre
o significante e o significado, adquirindo o primeiro uma co
notação cada vez mais compartilhada no âmbito social, cuja
manifestação é, por excelência, a linguagem.
228 0 processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas
C) A qualidade do conflito
Este ponto alude aos aspectos do.conteúdo da capacidade
simbólica. Os símbolos que a criança utiliza remetem-nos à
compreensão do estágio psicossexual que atravessa e sua mo
dalidade de expressão.
Isto é, em suas brincadeiras, o pequeno entrevistado pode
expressar fantasias de tipo oral, anal, uretral, fálico ou genital,
e o faz de uma determinada maneira, em função de suas técni
cas habituais de manipulação.
A intensidade do conflito é variável. Um indicador do
mesmo pode ser inferido através da reiteração de determinada
fantasia, assim como pela forma de expressão escolhida.
Adequação à realidade
ADEQUAÇAO A Carece de adequação por falta Reconhecimento parcial; esco- Boa capacidade de adaptação.
REALIDADE de discriminação da realidade tomas em função do conflito.
como tal.
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ESCOLHA DE Responde a uma Intencionali Determinada pela área confli- Em função de necessidades e 3r>
BRINQUEDOS E DE dade de estruturação psicótica. tiva. interesses próprios da idade. 03
BRINCADEIRAS
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CAPACIDADE Equação simbóliea. Atuação di Compulsão á repetição. Possibilidade de expressar as I
SIMBÓLICA reta das fantasias. fantasias através da atividade CÍ'
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simbólica com maior riqueza.
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MODALIDADE DE Es tereo tip La-perscverança-ri- Alternância em função das de Rieo-íluido-plástico.
BRINCADEIRAS gidez-etc. fesas predominantes.
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CRIATIVIDADE Não existe como possibilidade Diminuída; depende do grau Boa, em função de sua liberda
egóíca. Produção original. de síntese egóíea. de interna.
PERSONIFICAÇÃO Personagens cruéis e terrorífi- Personagens mais próximos à Maior fluidez, Possibilidade
cos com grande carga de oni realidade, mais discriminação de trocar papéis. Assumir e
potência. que o psieótieo. Rigidez na designar.
atribuição de papéis.
TOLERÂNCIA À Predomina o principio de pra Baixo limiar, ou superadap- Capacidade de tolerar, modifi
FRUSTRAÇÃO zer. Mínima. tação. cação da realidade sem sub-
metimento.
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Bibliografia