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2713-Texto Do Artigo-9081-1-10-20200331

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FUNÇÕES EXECUTIVAS E AS NOVAS Resumo: Este estudo descreve a relevância do uso das

novas tecnologias digitais na educação como estímulo


TECNOLOGIAS DIGITAIS: às funções executivas, tendo como embasamento as
contribuições da neurociência, trazendo assim uma
PARCERIA DE SUCESSO EM PROL nova perspectiva para professores e alunos. Será
possível ver que por meio de atividades simples e com
DA APRENDIZAGEM o apoio das tecnologias digitais em sala de aula essas
funções podem ser estimuladas e, dessa forma, auxiliar
a aprendizagem. Deram-se especial ênfase as funções
EXECUTIVE FUNCTIONS AND NEW executivas permeada em uma nova forma de olhar
DIGITAL TECHNOLOGIES: sobre a importância que estas funções apresentam
como influenciadoras e estimuladoras do ensino e da
SUCCESSFUL PARTNERSHIP FOR aprendizagem, na qual a subjetividade de cada aluno
é vista e respeitada. As novas demandas da sociedade
LEARNING estão atualmente indissociáveis das tecnologias digitais.
Palavras-chave: Aprendizagem. Educação. Funções
Executivas. Tecnologia.
Débora Alves Morra Loures 1
Abstract: This study describes the relevance of the use
Paloma Mendes Flores Brandão 2 of new digital technologies in education as a stimulus
Ana Márcia da Silva Vieira 3 to executive functions, based on the contributions
Marcos Antônio Silva 4 of neuroscience, thus bringing a new perspective for
teachers and students. It will be possible to see that
through simple activities and with the support of digital
technologies in the classroom, these functions can be
stimulated and, thus, assist learning. Special emphasis
was placed on executive functions permeated in a new
way of looking at the importance that these functions
present as influencing and stimulating teaching and
learning, in which the subjectivity of each student is
seen and respected. The new demands of society are
currently inseparable from digital technologies.
Keywords: Learning. Education. Executive Functions.
Technology.

Mestra em Novas Tecnologias Digitais na Educação pelo Centro 1


Universitário Carioca (Unicarioca). Licenciada em Pedagogia, Coordenadora
Pedagógica da Secretaria de Educação de Mende/RJ, Coordenadora das
Disciplinas Pedagógicas do CEDERJ - Polo Paracambi - RJ. Lattes: http://lattes.
cnpq.br/4841091115163473. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0133-3814.
E-mail: damloures@yahoo.com.br

Mestra em Novas Tecnologias Digitais na Educação pelo Centro 2


Universitário Carioca (Unicarioca). Licenciada em Matemática, Professora
da Pública Municipal do Rio de Janeiro - RJ. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/0653566550574232. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7114-9545.
E-mail: palomaflores1989@gmail.com

Mestra em Novas Tecnologias Digitais na Educação pelo Centro 3


Universitário Carioca (Unicarioca). Licenciada em Letras, Professora da
Rede Pública Municipal do Rio de Janeiro - RJ. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/1825544586377685. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4118-5123.
E-mail: anamsvieira17@hotmail.com

Mestre em Educação, Ciências e Saúde, Professor do 4


Mestrado Profissional em Novas Tecnologias Digitais na Educação pelo
Centro Universitário Carioca (Unicarioca) - RJ. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/8029513568378364. E-mail: msilva@unicarioca.edu.br
265 Revista Humanidades e Inovação v.8, n.5 - 2020

Introdução
Observa-se nas últimas décadas a necessidade crescente de atualizar-se no campo da
educação como forma de responder aos inúmeros desafios cotidianos. Neste contexto, consta-
ta-se o crescimento de dois temas nos debates do cenário nacional: 1) a importância da neuro-
ciência como campo multidisciplinar que dialoga com os processos educacionais; 2) o debate
em torno da importância das novas tecnologias como ferramentas facilitadoras do processo de
aprendizagem. É fundamental que o professor saiba conduzir o processo de inovação tecnoló-
gica a fim de gerar uma aprendizagem verdadeiramente significativa. Atualmente, a tecnologia
tem se tornado cada vez mais presente na vida dos alunos e pode ser usada como estratégia
de estímulo às funções executivas.
Assim, o desafio para os educadores tem sido lidar com essa geração de forma que se
mantenha uma estreita relação com a tecnologia a favor da aprendizagem. Os educadores de-
vem estar conscientes de que a forma como esta nova geração se relaciona com a informação
é bem mais diversificadas que as anteriores, sendo essencial estabelecer novos métodos de
aprender utilizando diferentes mídias e metodologias. A partir dessa nova perspectiva profis-
sional, surge a necessidade de maior preparo do professor para obter um grau de desempenho
mais eficiente.
Demonstram-se nos estudos neurológicos que o cérebro está diretamente ligado à
aprendizagem, o que torna difícil conceituar aprendizagem sem abordar o estudo do cérebro.
Este possui inúmeras atividades específicas, dentre elas se encontram as funções executivas,
que estão diretamente ligadas à área pré-frontal do cérebro.
Identifica-se por meio deste artigo a relevância do uso das novas tecnologias digitais na
educação como estímulo às funções executivas auxiliando de forma significativa o processo de
ensino e aprendizagem.

Aprendizagem e funções executivas


No cenário atual, pesquisar sobre a relação entre aprendizagem e funções executivas
é essencial para compreender a importância do uso das novas tecnologias nesse contexto, uma
vez que a aprendizagem está diretamente ligada ao cérebro e as tecnologias estão presentes
no aluno nativo digital. Compreende-se a aprendizagem como uma modificação biológica na
comunicação entre os neurônios. A partir dessa comunicação, a aprendizagem fica armazena-
da na memória, e sempre que necessário o cérebro recorre a esta.
De acordo com Almeida (apud Relvas 2012, p. 44) “A plasticidade cerebral é a capacida-
de que o cérebro tem de se remodelar em função das experiências do sujeito, reformulando as
suas conexões em função das necessidades e dos fatores do meio ambiente.” O cérebro tem
uma plasticidade enorme, que é a possibilidade de formação de conexões neurais a partir das
sinapses. Portanto, sendo a sinapse o intervalo a entre dois neurônios, é fundamental estabe-
lecer qual neurônio expede ou colhe esses sinais.
A aprendizagem não ocorre de forma homogênea, acontece, em tempos diferentes,
a partir de múltiplos estímulos que resulta na construção do conhecimento. Compreende-se
assim a importância desde o nascimento da criança ofertar o estímulo para o desenvolvimento
das habilidades e funcionamento das funções executivas. Esses estímulos devem ser observa-
dos e contemplados durante o planejamento das aulas.
Para Relvas (2007, p. 34),

[...] é fato que diversas dificuldades de aprendizagens poderão


ser resolvidas ou amenizadas quando os educadores tiverem
seus olhares focalizados na promoção do desenvolvimento
dos diversos estímulos neurais que se expõem de forma que
se compreendem os processos e os princípios das estruturas
do cérebro, conhecendo e identificando cada área funcional,
visando estabelecer rotas alternativas para aquisição da
aprendizagem.
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Considerando-se as rotas alternativas para aquisição da aprendizagem, se faz necessá-


rio que o professor crie possibilidades de apresentar o tema de aula por intermédio de diferen-
tes mídias, que possibilitam o estímulo de vários canais de entrada da informação no cérebro
organizando as etapas do processo de ensino.
Essa diversidade auxilia também na consolidação das conexões que formam a
memória, uma vez que os sentidos são aparatos biológicos não estáticos que se desen-
volvem e se especializam de acordo com sua utilização, pois quanto mais os órgãos são
exercitados, mais eles se aperfeiçoarão. A aprendizagem realiza-se como um processo
em que novos elementos são agregados à estrutura já existente mediante o trabalho
dos órgãos dos sentidos. Nesse contexto, as inovações tecnológicas colaboram e moti-
vam a consolidação da aprendizagem.
Kenski (2012, p. 44) afirma que “essas novas aprendizagens, quando colocadas em prá-
tica, reorientam todos os nossos processos de descobertas, relações, valores e comportamen-
tos”. E complementa: “[...] assim podemos ver que existe uma relação direta entre educação
e tecnologias”.
Objetivando-se transmitir uma mesma mensagem aos alunos, utilizam-se diferentes re-
cursos que proporcionarão ao cérebro várias formas de resgatar o que foi transmitido, possibi-
litando-se a consolidação da aprendizagem:

Sempre que o professor oferecer informações de naturezas


diferentes sobre um mesmo conteúdo, ajudará o educando a
formar um aprendizado e um conhecimento que poderá durar
toda vida. Fornecendo imagens, sons, a possibilidade de usar
o corpo em movimentos e reproduzindo emoções, diversas
partes do cérebro serão ativadas quando esse conteúdo
precisa ser resgatado, tornando sua lembrança mais fácil. Ao
unir esse conteúdo a um conhecimento prévio, serão traçados
vários caminhos que tornarão o aprendizado mais eficaz
(RELVAS, 2009, p. 69).

O professor precisa repensar o trabalho desenvolvido a base dos métodos atuais e tradi-
cionais. É essencial estimular o aluno a aprender a aprender. Uma das formas de proporcionar
ao aluno a aprendizagem significativa é a utilização de estratégias multidisciplinares e motiva-
doras, servindo-se da utilização de ferramentas tecnológicas inovadoras que façam parte do
contexto didático e metodológico. A emoção nesse contexto é uma grande aliada em razão de
sua influência ímpar na aprendizagem e por alterar áreas importantes do cérebro, que são as
funções executivas.
Funções executivas são funções cognitivas envolvidas no estabelecimento de objetivos,
planejamento e organização da sequência de atividades voltadas para uma meta, gerencia-
mento do tempo, atenção, direcionamento ao objetivo, persistência em uma tarefa, memória
de trabalho, flexibilidade para mudar estratégias, tomada de decisão e na regulação emocional
e nas habilidades sociais. O desenvolvimento das funções executivas é essencial na capacidade
de uma pessoa resolver problemas e avaliar o próprio comportamento, regulando-o para me-
lhor adaptação a determinado contexto. Assim, as “funções executivas do cérebro vêm sendo
definidas como um conjunto de habilidades que de forma integrada possibilitam ao indiví-
duo direcionar comportamentos a objetivos, realizando ações voluntárias” (MOURÃO JÚNIOR;
MELLO, 2011, p. 309).
Para Costa e Maia (2011, p. 55):
As Funções Executivas são um conjunto de habilidades
cognitivas que permitem ao indivíduo iniciar e desenvolver
uma atividade com objetivo final determinado. Por ser
entendida como um sistema de gerenciamento dos recursos
cognitivos emocionais cuja tarefa seria a resolução de
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problemas. São essas funções que fazem com que executemos


uma série de tarefas simples de nossa rotina, bem como
tarefas complexas que exijam solução de problemas
acadêmicos. São mecanismos utilizados pelo cérebro humano
para “orquestrar” o funcionamento de diversas atividades
mentais otimizando seu desempenho.

Deste modo, as habilidades associadas às funções executivas são extremamente im-


portantes para o desenvolvimento, uma vez que as diferenças iniciais destas prognosticam ao
longo do tempo resultados significantes no desenvolvimento, incluindo o desempenho escolar,
os comportamentos relativos à saúde e o ajustamento social.

As Funções Executivas são requeridas sempre que se


faz necessário formular planos de ação ou quando uma
sequência de respostas apropriadas deve ser selecionada
e esquematizada. Do ponto de vista da Neuropsicologia,
as Funções Executivas compreendem os fenômenos de
flexibilidade cognitiva e tomada de decisões. Atualmente é
sabido que os módulos corticais responsáveis pelas Funções
Executivas se localizam nos lobos frontais direito e esquerdo,
mais especificamente no córtex pré-frontal (MOURÃO
JÚNIOR; MELLO, 2011, P. 309)

As funções executivas podem ser subdivididas em três áreas principais: a flexibilidade


cognitiva – capacidade de usar o pensamento criativo e ajustes flexíveis para se adaptar às
mudanças; o controle inibitório – capacidade de resistir a distrações, de se controlar permane-
cendo focado e, por fim, memória de trabalho – capacidade de manter as informações na men-
te, onde elas podem ser manipuladas. Visando estimular essas áreas é necessário que sejam
proporcionadas diversas atividades dentro da sala de aula, passando a ser um dos principais
desafios em algumas realidades educacionais uma vez que compete ao professor estabelecer
a multidisciplinaridade em sala de aula, contemplando assim uma das necessidades atuais – a
formação da visão sistêmica para o estabelecimento de respostas e resolução de problemas
de maneira efetiva.
Entretanto, observa-se outro desafio presente na educação que perpassa pelos campos
psicológicos e pedagógicos nos quais se encontram os educadores e os educandos. De um
lado, observam-se no campo emocional professores que muitas vezes adoecem por não conse-
guirem lidar com o outro, que pode ser tanto seus educandos como seus colegas de trabalho.
Estes mesmos professores enfrentam problemas no âmbito pedagógico em razão da má for-
mação dos docentes, da falta de conhecimento e de suporte pedagógico ofertado pelo próprio
sistema educacional. Tem-se do outro lado os alunos, que hoje fazem parte de uma geração
completamente mergulhada no mundo digital, o que demanda o uso das novas tecnologias
como forma de atuar nesse processo. Devido à relação de empatia entre essa geração e os
recursos digitais, o uso dessas novas tecnologias assume um papel essencial na aprendizagem.

Novas tecnologias como estímulo às funções executivas


O avanço da tecnologia proporciona aos alunos acesso aos recursos digitais cada vez
mais cedo, sendo estes considerados atualmente como os “Nativos Digitais”, por terem nasci-
do nessa geração cada vez mais ligada às tecnologias, sendo os nascidos em uma geração ana-
lógica considerada “Imigrantes Digitais”, conforme denominação descrita por Prensky (2001,
p. 2):
Como deveríamos chamar estes novos alunos de hoje? Alguns
se referem a eles como N-gen [Net] ou D-gen [digital]. Porém
a denominação mais utilizada que eu encontrei para eles é
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Nativos Digitais. Nossos estudantes de hoje são todos falantes


nativos da linguagem digital dos computadores, vídeo games
e internet. Então o que faz o resto de nós? Aqueles que não
nasceram no mundo digital, mas em alguma época de nossas
vidas ficou fascinado e adotou muitos ou a maioria dos
aspectos da nova tecnologia são, e sempre serão comparados
a eles, sendo chamados de Imigrantes Digitais.

O envolvimento da geração atual com as novas tecnologias criou uma cultura educa-
cional modificando a forma como são estabelecidas as relações com os processos de ensino
e aprendizagem. Contudo, de forma ainda distante dessa realidade encontram-se as escolas,
que são impelidas a essa nova demanda da sociedade por diversos motivos, entre eles a falta
de recursos e investimentos financeiros na educação e na formação dos professores, mas prin-
cipalmente pelo medo de alguns professores que não dominam os recursos tecnológicos que,
ao contrário são utilizados pelos alunos com mais facilidade.
Para que haja uma mudança nesse contexto, é necessária uma alteração de postura e
paradigmas, como bem salientados por Palfrey (2011, p. 268), “para as escolas se adaptarem
aos hábitos dos nativos digitais e à maneira como eles estão processando informações, os
educadores precisam aceitar que a maneira de aprender está mudando rapidamente”. É nesse
contexto de mudança que as novas ferramentas associadas à exploração de novos campos de
conhecimento podem fazer a diferença na busca por soluções educacionais mais efetivas.
A maneira de aprender está alterando o cenário educacional. As escolas podem se
adaptar a essas mudanças e aproveitar o que esta geração tem de melhor na interatividade
com as tecnologias e usá-la em benefício da educação. Isso não significa remodelar a escola
de forma geral, tampouco colocar a tecnologia como o centro de tudo, pois é preciso que haja
equilíbrio. Na educação, sempre haverá situações em que a tecnologia não se fará, portanto é
preciso ter consciência disso.
De fato, observa-se que a tecnologia não é o resultado da aprendizagem. Torna-se claro
que o processo ensino-aprendizagem tem um papel fundamental na vida de cada indivíduo.
Portanto, a importância da presença das novas tecnologias na educação como processo de
interações e estratégias didáticas objetivam a motivação e enriquecimento da dinâmica em
sala de aula. O processo produtivo do conhecimento tão necessário para o estímulo das fun-
ções executivas pode ser enriquecido com o uso de metodologias ativas que apresenta uma
interação ativa, aonde o aluno pode se tornar o protagonista de todo o processo ensino apren-
dizagem.
A tecnologia deve ser usada de várias formas e servir como um suporte aos objetivos
pedagógicos. Retornamos, então, a um ponto importante – o uso das novas tecnologias para
estimular áreas importantes do cérebro, as funções executivas, como descritas anteriormen-
te, estão diretamente ligadas à aprendizagem. Para isso basta que o professor se aproprie de
jogos ou outros recursos digitais que o auxiliem nesse processo. Antes de tudo, é necessário
que o professor tenha consciência da importância de se apropriar dessa ferramenta. Poucas
instituições educacionais tomam a iniciativa de capacitar seu corpo docente de forma que se
sintam seguros para utilizar a tecnologia como apoio ao seu trabalho pedagógico. Essa forma-
ção/capacitação precisa ser realizada com outros profissionais para que possam compartilhar
práticas pedagógicas e tecnológicas bem-sucedidas.
Complementa Palfrey (2011, p. 279): “As próprias tecnologias podem ser usadas para
lidar com os problemas para os quais seu uso contribui como os curtos intervalos de atenção.
As escolas podem encontrar uma maneira de explorar o gosto do nativo digital pelos jogos”.
A tecnologia tornou-se atualmente essencial para o processo de aprendizagem, que tem
a função de educar nessa sociedade da informação. Uma complementa a outra, conforme
descreve Kenski (2012, p. 43): “Educação e tecnologias são indissociáveis”. De acordo com a
autora (2012, p. 63), “uma relação cíclica se estabelece: quanto maior o acesso à informação,
mais necessidade se tem de atualização para ficar em dia com as mais novas informações”. A
escola é o espaço social fundamental para alimentar essa relação.
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O cérebro trabalha com sistema de recompensa. Os avanços conquistados na aprendi-


zagem, mesmo que pareçam pequenos, devem ser estimulados. A tecnologia bem empregada
na educação pode colaborar com o desenvolvimento desses estímulos. Quando o aluno sente
que entendeu, que aprendeu alguma coisa, ele se considera aprendiz. A aprendizagem efetiva
eleva a autoestima do aluno. Em outras palavras, Kenski (2012, p. 46) diz: “[...] é preciso saber
usar de forma pedagogicamente correta a tecnologia escolhida”. As dificuldades apresentadas
pelos alunos não devem ser consideradas obstáculo da aprendizagem e sim um estímulo à
promoção de ensinar.
Por intermédio da utilização de jogos digitais, as funções executivas podem ser esti-
muladas de forma prazerosa, permitindo que os alunos se tornem protagonistas da própria
aprendizagem.
Como vimos, as funções executivas têm como base a flexibilidade cognitiva, o controle
inibitório e a memória de trabalho. Esta flexibilidade é essencial para resolver problemas de
modo criativo, ou seja, resolver problemas de vários modos diferentes. Desse modo, jogos di-
gitais que envolvam enigmas, quebra-cabeças, jogos de memória, quiz, mapas mentais, dentre
outros, auxiliarão no estímulo a essa área do cérebro.
O controle inibitório consiste na capacidade de inibir respostas inadequadas, continuar
realizando uma tarefa apesar de uma distração, não desistir de concluí-la e permanecer focado
mesmo tendo outros pontos de distração. Para essa área é fundamental utilizar jogos digitais
que exijam atenção extrema, como jogo da memória ou outros jogos que tenham cronometra-
gem, fazem com que a atenção seja mantida por determinado tempo.
Esse artigo parte do pressuposto que memória de trabalho é fundamental para a capa-
cidade de perceber as conexões entre coisas aparentemente desconexas e, consequentemen-
te, para a criatividade, que é a capacidade de desassociar e recombinar elementos de novas
maneiras. Essa área pode ser estimulada por meio de jogos tecnológicos e/ou atividades como
blocos lógicos e sudoku, entre outros. Daí a importância de atividades que estimule as funções
neurológicas, como jogos digitais mais eficazes, que proporcione ao aluno a construção do
conhecimento em razão da empatia das crianças pela tecnologia.

Considerações Finais
É fundamental estimular desde cedo as funções executivas nas crianças com o intuito
de auxiliar no processo de aprendizagem. As novas tecnologias precisam ser utilizadas como
ferramentas fundamentais colaborativas em prol da aprendizagem significativa do aluno. Par-
tindo do grande interesse das crianças que nasceram como nativos digitais, os recursos digitais
são estratégias didáticas que contribuem para que as funções executivas sejam estimuladas. O
uso dos jogos digitais no estímulo dessas funções contribui para o desenvolvimento da apren-
dizagem.
Faz-se necessário a abertura de espaços pedagógicos em sala de aula que contemplem
também a utilização dos recursos tecnológicos, porém como mediadores de práticas, capazes
de favorecer o desenvolvimento das habilidades singulares de cada aluno, sem deixar de lado
a valorização das relações interpessoais, indispensáveis ao ambiente escolar e altamente favo-
ráveis para a formação como pessoa e para a vida.
O aluno tem a necessidade de interagir e o professor tem o desafio de proporcionar
momentos educativos de aprendizagem social e curricular que proporcionem sua formação
colaborativa, intelectual, tecnológica e social por meio de muita disposição e sensibilidade
para entender que cada pessoa é um ser único. Assim, o educador não pode limitar-se sim-
plesmente ao método, à explanação oral e ao livro didático que irá utilizar, mas é fundamental
usar estratégias multidisciplinares e colaborativas para que o cérebro tenha vários caminhos
para chegar àquela informação. Evidenciou que a emoção é responsável pelo armazenamento
do conhecimento na memória. As emoções influenciam funções importantes e essenciais o
processo ensino aprendizagem.
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Recebido em 20 de fevereiro de 2020.


Aceito em 26 de fevereiro de 2020.

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