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Instrução #3.03.28-2020-CG
Instrução #3.03.28-2020-CG
Instrução #3.03.28-2020-CG
28/2020-CG
BELO HORIZONTE - MG
2020
INSTRUÇÃO Nº 3.03.28/2020-CG
BELO HORIZONTE – MG
2020
Direitos exclusivos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG).
Reprodução condicionada à autorização expressa do Comandante-Geral da PMMG.
Circulação restrita.
51p.: il.
ADMINISTRAÇÃO
Comando-Geral da Polícia Militar
Quartel do Comando-Geral da PMMG
Cidade Administrativa Tancredo Neves, Edifício Minas,
Rodovia Papa João Paulo II, nº 4143 – 6º Andar, Bairro Serra Verde
Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP 31.630-900
COMANDANTE-GERAL DA PMMG
CEL PM GIOVANNE GOMES DA SILVA
SUPERVISÃO TÉCNICA
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
CHEFE DA ASSESSORIA ESTRATÉGICA DE EMPREGO OPERACIONAL
REDAÇÃO
CEL PM OLÍMPIO GARCIA PEREIRA JÚNIOR
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
TEN CEL PM EULER ROBERTO SOARES DE SOUZA
MAJ PM DANIEL LOPES TEIXEIRA
MAJ PM QOR FRANCIS ALBERT COTTA FORMIGA
CAP PM PAULO VINÍCIUS RODRIGUES DE MATOS
REVISÃO DOUTRINÁRIA
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
TEN CEL PM CARLOS EDUARDO FERREIRA
TEN CEL PM SANDRO ALEX CANUTO GONÇALVES
3º SGT PM DANIELLE SUELI VENTURA
REVISÃO FINAL
TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO
Desde o final da década de 1990, houve uma modificação sensível na estrutura do crime e da
criminalidade com aumento das taxas de crime contra o patrimônio e contra a pessoa, em
especial dos crimes com características empresariais (por sua organização) e dos crimes de
homicídio.
O uso da violência por parte dos criminosos, assim como o potencial ofensivo de suas ações
para a sociedade, aumentou em quantidade e intensidade. O terrorismo e a tentativa de
intimidação do Estado através de ataques com uso de modernos armamentos e explosivos
utilizados contra as instituições financeiras, policiais e seus agentes são exemplos desta
evolução criminosa.
8
Para a gestão desses incidentes críticos de segurança pública de natureza policial observa-
se a necessidade de:
a) uma postura não rotineira das instituições, o que obriga a treinamentos prévios e o
desenvolvimento e cumprimento de protocolos específicos;
Na gestão desses incidentes críticos a PMMG optou por uma perspectiva com foco na cena
de ação, onde as funções operacionais são previamente definidas, respeitando-se a aplicação
da lei e o uso diferenciado da força (MINAS GERAIS, 2018a).
A Sexta Seção explica o uso da força no gerenciamento de crises e faz um paralelo entre as
alternativas táticas para a solução da crise e o modelo de uso diferenciado da força adotado
pela PMMG.
Por fim, a Sétima Seção aborda as medidas de finalização da crise e as lições aprendidas
com ela.
9
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
2.2 Específicos
b) definir métodos e protocolos para gestão de riscos relativos aos incidentes críticos;
10
3 GERENCIAMENTO DE CRISES SOB A ÓTICA DA GESTÃO DE RISCOS
Incertezas representam riscos e oportunidades, com potencial para destruir ou agregar valor.
A gestão de riscos corporativos possibilita aos administradores tratar com eficácia as
incertezas, bem como os riscos e as oportunidades a elas associadas (ISO 31000, 2018)
Assim, na Gestão de Riscos buscam-se analisar e planejar ações a fim de evitar as situações
nocivas e potencializar as oportunidades (ISO 31000, 2018).
c) mudança de alguma coisa que terá impacto nos objetivos – Teoria da Mudança e
do Impacto Social.
11
Há riscos inerentes à atividade policial. Alguns desses
Incidentes críticos de riscos podem gerar crises e algumas crises podem ser,
segurança pública são
fenômenos sociais em certa medida, previstas. Por exemplo: é possível
complexos de quebra da afirmar que existe o risco de um roubo evoluir para uma
normalidade que, por
colocarem a vida dos ocorrência com reféns. Onde e quando isso vai acontecer
cidadãos em risco, exigem a
intervenção especial da
são previsões mais difíceis de serem feitas, mas fato é
polícia. Uma característica que existem vários registros desse tipo de incidente
significativa do incidente
crítico é a sua relativa crítico.
imprevisibilidade, pois não
se pode identificar, com
precisão, o local e a hora em O estudo metódico dos riscos deve ser feito antes que
que eclodirá. Ademais, o
incidente crítico foge aos eles se transformem ou provoquem crises, pois a PMMG
padrões existentes dos deve estar preparada para agir no momento em que
atendimentos das situações
típicas da polícia (MINAS ocorrer uma crise decorrente de um incidente crítico de
GERAIS, 2018a).
segurança pública.
O gerenciamento de uma crise vai acontecer bem ou mal, com ou sem planejamento prévio,
de forma positiva ou negativa. O que determina o gerenciamento efetivo da crise é a
preparação para ela (MITROFF, 2014).
A gestão de risco é o que permite à instituição antecipar e evitar uma crise ou, quando esta
ocorrer, adotar as providências necessárias para mitigação de danos e resolução do incidente
(HM TREASURY, 2004). Na figura a seguir é possível visualizar a relação existente entre a
Gestão de Risco e o Gerenciamento de Crise.
12
crítico e, consequentemente, houver necessidade de realizar o gerenciamento de uma crise.
Em outras palavras a primeira atividade dá suporte à segunda.
A ISO1 31000 (2018) estabelece princípios e orientações sobre a Gestão de Risco de qualquer
organização. O processo de gestão dos riscos é parcialmente representado pelo diagrama a
seguir:
1
A Interational Organization of Standartizaion (ISO) criou um conjunto de normas para estabelecer princípios e
orientações genéricas sobre a gestão de risco. Basicamente, ela é integrada pela ISO 31000 (conceitos básicos e
estruturas), IEC 31010 (técnicas de avaliação e gestão de risco), além de um Guia com nomenclaturas e
vocabulários.
13
Para a PMMG as etapas mencionadas no diagrama podem ser explicadas da seguinte
maneira:
Por exemplo: em uma rebelião em presídio pode haver tomada de reféns? Sim. Há
histórico desse tipo de ocorrência no presídio da cidade. Como essa tomada de
reféns pode acontecer? Na visita de familiares, os presos impedem que as famílias
saiam e, ainda, fazem carcereiros como reféns. Quando a rebelião pode acontecer?
Durante os finais de semana, pois há menor vigilância. Por que essa rebelião?
Porque os presos estão descontentes com a administração do presídio.
14
evitar novos confrontos. O efetivo policial na região é pequeno e será necessário
recobrimento.
Por exemplo: em uma operação para prender líderes de tráfico em uma região foi
avaliado que há alta probabilidade (estimativa) de queima de ônibus após a prisão.
Como os gestores avaliaram que a probabilidade é alta, eles devem analisar as
providências decorrentes (p.ex., o aumento de policiamento nos pontos finais nos
dias subsequentes à operação).
Como visto anteriormente, a avaliação de risco faz parte da gestão de risco e oferece um
processo estruturado para identificar como os objetivos da instituição podem ser afetados.
2
A versão americana da ISO 31000 apresenta o termo “Risk Evaluation”. Na tradução para o português a palavra
“evaluation” foi traduzida como avaliação, o que pode confundir um pouco o leitor. Mas “evaluation” também
comporta a tradução “estimativa”. Marks (2015) entende que nessa fase é realizada a estimativa do risco, isto é, a
probabilidade dele acontecer, além das medidas subsequentes, assim, o melhor entendimento é que na fase de
“Avaliação do Risco” deve ser feita a sua estimativa (melhor tradução seria “Estimativa do Risco”).
15
O propósito da avaliação de riscos é apoiar decisões e envolve a comparação dos resultados
da análise de riscos com os critérios de risco estabelecidos para determinar onde é necessária
uma ação adicional.
Há uma série de ferramentas que podem ser aplicadas para avaliação do risco (IEC
31010,2012). Elas permitem analisar mais facilmente os riscos existentes em uma operação
ou gestão de incidentes críticos, suas consequências e probabilidades, assim, o gestor pode
reduzir a incerteza e tomar uma decisão mais adequada, com menor potencial de erro ou
agravo.
Para a PMMG recomenda-se o emprego da técnica SWIFT3, originalmente criada para análise
de risco na área de química e petroquímica, mas, que nos dias de hoje, é amplamente
empregada em diferentes setores de vários tipos de organizações.
A metodologia que dá suporte à técnica permite uma análise geral, qualitativa e simples, capaz
de identificar situações de risco nos processos de trabalho, pois testa possíveis falhas e
omissões de procedimentos, além de permitir projetar cenários de risco com objetivo de
verificar se o que está sendo planejado alcança o nível de segurança esperado.
O termo em inglês “What-if ?” pode ser traduzido para “E se...?”. O grupo gestor cria cenários
correlatos à operação ou incidente crítico e, usando a pergunta “E se...?”, verifica os riscos
envolvidos no processo.
3
SWIFT – acrônimo de Structured What-if Technique. Trata-se de uma técnica de análise qualitativa, de simples
aplicação, cuja utilidade é a de possibilitar uma abordagem para identificação de riscos (Adaptado de:
https://slideplayer.com.br/slide/12325118/. Acesso em 14 fev. 2020).
16
Por exemplo: em uma operação para escolta e segurança do julgamento de várias lideranças
do Primeiro Comando da Capital (PCC)4, os responsáveis pela operação empregaram a
técnica SWIFT e perguntaram: “E se durante o julgamento houver uma ameaça de bomba no
fórum?”; “E se um dos presos passar mal durante o julgamento, o que será feito?”; dentre
outras.
Há uma série de formulários que facilitam o trabalho de aplicação da técnica SWIFT. A tropa
especializada da PMMG adota o modelo WISA 5, apresentado pela figura a seguir. No
Procedimento Operacional Padrão (POP) anexo a esta Instrução, há orientações sobre o
preenchimento do formulário.
Fonte: Adaptado de IEC 31010 (2012) e American Chemical Society Committee (2015).
4
Primeiro Comando da Capital (PCC) - organização criminosa brasileira originaria de São Paulo e que atua em
rebeliões, assaltos, sequestros, assassinatos e narcotráfico. A facção está presente em 22 dos 27 estados
brasileiros.
5
WISA – acrônimo de What-If Scenario Analysis.Trata-se de uma técnica de modelagem, análise de cenários
hipotéticos do processo de gerenciamento de riscos, que avalia diferentes situações para prever seus efeitos
positivos e negativos (Adaptado de: https://project-management-knowledge.com/definitions/w/what-if-scenario-
analysis/. Acesso em 14 fev. 2020).
17
Figura 4 - Exemplo de aplicação do formulário WISA na PMMG
A justificativa para o tratamento de riscos é mais ampla do que apenas considerações locais e momentâneas da crise e convém que leve a efeito
todas as obrigações da organização, isto é, que a seleção de opções de tratamento de riscos seja feita de acordo com os objetivos da instituição
Polícia Militar, os critérios de risco e os recursos disponíveis.
No próximo capítulo serão apresentados os objetivos para o gerenciamento de crises decorrentes de incidentes críticos.
18
4 OBJETIVOS DO GERENCIAMENTO DE CRISES
Os policiais envolvidos na gestão de uma crise devem ter em mente que há três objetivos
principais no gerenciamento da crise: preservar vidas, aplicar a lei e restabelecer a
normalidade. A figura 5 apresenta os objetivos do gerenciamento de crises.
Entre a preservação das vidas de pessoas inocentes, vítimas de ações criminosas, dos
policiais militares e a vida do infrator da lei que não se rende e que contribui para aumentar o
risco na cena de ação, ameaçando atentar contra a integridade física e a vida das pessoas
envolvidas, mormente utilizando-se de armas, explosivos, ou outro meio que possibilite
capacidade lesiva, aplica-se de forma seletiva a excludente de ilicitude adequada ao caso
concreto, priorizando a manutenção da vida das pessoas de bem e restabelecendo a ordem
pública.
6
Ambiente operacional onde está ocorrendo o incidente crítico.
19
atuação policial em casos de conflito de direitos humanos será a manutenção da ordem
pública” (Minas Gerais, 2018b, p. 22). Portanto, caberá à Polícia Militar dirimir os conflitos de
direitos decorrentes de crises ocasionadas pelos incidentes críticos de tal natureza.
20
5 FASES DO GERENCIAMENTO DE CRISE
Nessa primeira fase, além de realizar ações proativas antes da eclosão de um incidente crítico,
também se busca conhecer os cenários possíveis de intervenção no âmbito da segurança
pública e a partir daí identificar riscos e alternativas de mitigação, por meio das ações de
Gestão de Risco apresentadas no primeiro capítulo desta Instrução.
Nessa fase são realizados atos preparatórios que englobam ações proativas tais como planos
e treinamentos (formação inicial e educação continuada) que visam capacitar aqueles
profissionais que serão acionados no processo de resolução do incidente.
21
5.2 Incidental
As ações iniciais devem ser adotadas conforme prescreve a Instrução Nº 3.03.24/2018 que
trata da Primeira Intervenção em Incidentes Críticos de Segurança Pública de natureza
policial. A figura 7 apresenta o fluxograma que resume essas ações:
22
Adotadas as providencias iniciais, dois gestores assumem a coordenação e o controle do
incidente crítico: o Comandante da Cena de Ação e o Gestor do Incidente Crítico.
23
Figura 8 - Perímetros táticos em incidentes críticos de natureza policial
A seleção dos recursos é realizada de acordo com a tipologia do incidente crítico. Também é
estabelecido o acionamento de outros órgãos (Bombeiros, Defesa Civil, SAMU, Polícia Civil,
Companhia Elétrica, Companhia de Água e Esgoto, dentre outros) necessários à solução do
incidente.
24
O fluxo constante de informação entre as pessoas envolvidas nas atividades é essencial para
o sucesso no gerenciamento da crise. Assim, o Comandante da cena de ação e o Gestor do
Incidente devem:
Para facilitar a coordenação e o controle há um checklist no POP anexo a esta Instrução. Nele
estão descritas as ações básicas que devem ser gerenciadas pelo Comandante da Cena de
Ação e pelo Gestor do Incidente Crítico.
5.2.3 Resolução
7A timeline (linha do tempo) é um registro cronológico dos fatos mais importantes que ocorrem na fase incidental;
é simples e pode ser feito em uma cartolina ou em um álbum seriado; as informações da timeline podem ser usadas
no preenchimento do REDS.
25
A figura 9 apresenta o diagrama com as alternativas táticas disponíveis para a solução da
crise.
Essa conduta é necessária pois há registros de vítimas do incidente crítico tentando usar a
arma de fogo que foi deixada na cena do crime contra o criminoso.
O local de crime deve ser preservado para o trabalho da perícia técnica. Com o passar do
tempo, o Comandante da Cena de Ação deve avaliar a manutenção ou não do perímetro tático
externo, principalmente quando o dispositivo montado afetar excessivamente a mobilidade
urbana.
8
Ponto quente
26
Deve ser providenciado o registro da ocorrência, conforme normas em vigor e, se for o caso,
devem ser adotadas as providências de polícia judiciária militar.
Vazamento seletivo de imagens favoráveis à instituição. “Numa crise não importa apenas o
que se faz, mas acima de tudo como se faz. A percepção muitas vezes conta mais do que a ação...
a opinião pública é formada pela percepção e não pela realidade. ” (ROSA, 2004, p. 177 e 180)
Cardia (2015, p.31) alerta que a mídia interfere na formação da opinião pública e que “a
espetacularização de certos fatos praticamente cria um entendimento quase homogêneo
sobre eles”, assim, a versão que a mídia divulgar formará a opinião pública sobre como o fato
ocorreu.
9
Reunião de avaliação dos resultados e coleta de informações acerca de operação realizada.
27
Figura 10 - Fases do gerenciamento de crises e o detalhamento de contramedidas
28
6 O USO DIFERENCIADO DA FORÇA E O EMPREGO DE ALTERNATIVAS TÁTICAS
PARA RESOLUÇÃO DE CRISES
O uso diferenciado da força caracteriza-se pelo emprego da força de maneira seletiva. Trata-
se de um processo dinâmico, no qual o nível de força pode aumentar ou diminuir, em função
de uma escolha consciente do policial militar, de acordo com as circunstâncias presentes em
uma determinada intervenção 10 e a conduta do perpetrador.
a) Cooperativo
b) Resistente passivo
c) Resistente ativo
Para mais informações, consulte o capítulo 7 do Caderno Doutrinário 1 – Intervenção Policial, Processo de
10
29
Para cada nível de força apresentado pelo perpetrador do incidente crítico há uma resposta
permitida ao policial militar, portanto, é possível atribuir ao comportamento dele uma resposta
adequada, baseada no Modelo do uso diferenciado da força e nas alternativas táticas
existentes.
Figura 11 - Modelo do uso diferenciado da força com as variáveis das alternativas táticas
ditadas pelo gerenciamento de crises
30
O uso diferenciado da força resulta no escalonamento das possibilidades da ação policial
militar diante de uma potencial ameaça a ser controlada e, assim como na prática policial
básica, as condutas permitidas ao policial estão distribuídas em níveis, segundo o grau de
letalidade (BRASIL, 2009):
A Negociação poderá ser aplicada como um fim em si mesma ou conjugada de forma tática
com outras alternativas. Logo, a negociação tática é aquela usada para dar suporte ao
emprego das outras alternativas táticas, servindo de subterfúgio, de “cortina de fumaça”, e, ao
mesmo tempo, como forma de garantir que sempre haja a possibilidade de resolução da crise
com o menor emprego de força possível.
Existem princípios que devem servir de premissa norteadora para o processo de tomada de
decisão e são decorrentes do processo de negociação, como a legalidade e a dignidade da
pessoa humana.
Para tanto, apresentam-se duas categorias de exigências que devem ser de conhecimento do
Gerente da Crise: as negociáveis e as não negociáveis.
3
ferramentas do negociador policial para ganhar a confiança do perpetrador, para
fomentar desenvolvimento da Síndrome de Estocolmo 11, estimulando uma
interdependência entre os perpetradores da crise e os reféns, como forma de assegurar
que não haja danos a integridade física e incolumidade da pessoa, e consequentemente
estimulando a liberação. A regra é: nunca conceder algo, sem antes receber algo em
troca.
DROGAS – Drogas ilícitas e drogas lícitas sem prescrição médica, não são negociáveis.
Muitos perpetradores de incidentes críticos, são dependentes químicos (físico e/ou
11
Síndrome de Estocolmo é o nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa,
submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo amor ou amizade perante
o seu agressor.
32
psicológico) e têm o hábito de fazer o uso de drogas. A maioria das drogas podem
produzir episódios psicóticos e paranoia, reduzir a racionalidade e aumentar a sensação
de euforia, portanto, potencializando a ocorrência de reações inesperadas e de
comportamentos violentos.
O quadro 1 apresenta efeitos psicológicos que podem ser atribuídos aos usuários de drogas
ilícitas de acordo com o tipo:
Energia;
Empatia;
Euforia;
Ecstasy Humor elevado;
Hipersensualidade;
Transtorno de pânico;
Confusão mental.
Fonte: MINAS GERAIS, 2019. Adaptado do protocolo de abordagem preparatória do paciente usuário de
drogas ilícitas do Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais.
33
TROCA DE REFÉNS – A troca de reféns não é permitida. Inicialmente, a sua ocorrência
rompe com a Síndrome de Estocolmo. Com a instalação da Síndrome de Estocolmo os
perpetradores e reféns se veem como pessoas reais, não como objetos de troca. A
Síndrome de Estocolmo é extremamente importante para evitar danos aos reféns. Se
forem trocados os reféns, os novos reféns não serão vistos como “pessoas” e sim como
objetos de troca, portanto os perpetradores estarão bem mais propensos a provocarem
lesão nas vítimas. Em hipótese alguma será permitido o retorno de vítimas liberadas ao
local do cárcere privado.
34
c) Nível terciário – força letal
Deverão somente ser empregados em situações extremas que envolvam risco iminente de
morte ou lesões graves para o policial militar ou para terceiros, com o objetivo imediato de
fazer cessar a ameaça objeto da crise.
O Tiro de Precisão é o disparo de arma de fogo, realizado pelo Sniper, utilizando armamento
adequado, em um ponto específico no corpo do perpetrador do incidente crítico para que haja
a sua incapacitação instantânea, de modo a proporcionar a atuação do Time Tático para
libertar/resgatar as vítimas.
Entrada Tática (Assault) - Dentre todas as alternativas é a que coloca em risco o maior
número de policiais, uma vez que as células táticas entrarão no ponto crítico para neutralizar
o (s) perpetrador (es) e resgatar as vítimas.
É importante ressaltar que sempre haverá nos níveis secundário e terciário ações de
negociação policial que buscam coletar o maior número de informações para favorecer a
resolução do incidente crítico, de forma a preparar o ambiente para o emprego de uma ou
outra alternativa tática. Como foi visto, a esse processo dá-se o nome de negociação tática.
A descrição das alternativas táticas aqui apresentadas não esgota o assunto. Ela tem o
objetivo de fornecer o conhecimento básico ao Comandante da Cena de Ação e ao Gestor do
Incidente. A tropa do BOPE é a unidade de intervenção capacitada para realizar os
procedimentos que foram descritos no âmbito da Polícia Militar de Minas Gerais.
35
7 O FINAL DA CRISE E AS LIÇÕES APRENDIDAS
Como foi visto na fase pós-incidental, uma das atribuições do Comandante da Cena de Ação
e do Gestor do Incidente é determinar oficialmente o encerramento da crise. Para Luecke
(2015), o responsável pelo gerenciamento da crise deve reconhecer e comunicar,
formalmente, a transição da situação crítica para a normalidade.
Essa declaração do encerramento da crise deve ser feita, se possível, in loco, no teatro de
operações. Ela é direcionada à tropa, aos demais órgãos envolvidos e divulgada à imprensa.
Além disso, o Gestor do Incidente deve organizar, o mais breve possível, uma reunião com
os policiais envolvidos para:
a) fornecer um quadro claro e franco sobre a solução da crise, sem encobrir erros e
sem maximizar os acertos;
Luecke (2015) apresenta uma lista de perguntas que devem ser respondidas em uma análise
das lições aprendidas com uma crise. São elas:
a) Dado ao que era conhecido, a crise poderia ter sido evitada? Como?
e) As equipes e pessoas foram as certas? Se não, quem poderia ter sido incluído?
h) O que foi feito acertadamente? O que poderia ter sido feito melhor? Quais os erros
cometidos?
36
Esse processo de resposta aos questionamentos (feitos a todos os envolvidos na solução da
crise) é chamado de debriefing. As respostas não têm o cunho punitivo ou de
responsabilização (culpa) por eventuais erros. Servem, sim, para avaliar o desempenho dos
agentes envolvidos na gestão da crise e preparar a Instituição para futuras intervenções mais
acertadas e seguras.
Depois de reunidas todas as perguntas, as lições aprendidas devem ser extraídas de maneira
concisa, sistemática (por temas) e organizada. Para tanto, deve-se adotar o quadro abaixo
como paradigma de método:
37
Análise O que funcionou O que não funcionou Pontos de alavancagem
Forma de acionamento do Integração com as demais Divulgar os protocolos de
BOPE (acionamento direto unidades e órgãos gerenciamento de crise. Criar
Sinais e Alerta pelo primeiro interventor) envolvidos treinamento de conduta de
patrulha com conteúdo de
primeira intervenção.
Gestão junto ao PC para Designar militar para contato
Comunicações explicar o que estava sendo Contato com a imprensa com imprensa. Acionar DCO
feito e sala de imprensa.
Debriefing feito em: 16/08/2019
38
REFERÊNCIAS
ABNT. NBR ISO/IEC 31010: 2012. Gestão de riscos: Técnicas para o processo de avaliação
de riscos. 2012.
HM TREASURY. The orange book: management of risk – principles and concepts, 2004.
Disponível em: https://assets.publishing.service.gov.uk/government/uploads/system/uploa
ds/attachment_data/file/220647/orange_book.pdf. Acesso em 08 fev. 2019.
LUECKE, Richard. Gerenciado a crise. Trad. Rita Vinagre. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record,
2015.
MINAS GERAIS. Polícia Militar de. Intervenção Policial, Processo de Comunicação e Uso
de Força - Belo Horizonte: Academia de Polícia Militar, 2013.
MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Diretriz Geral para Emprego Operacional
Nº 3.01.01/2019: Regula o emprego operacional da Polícia Militar de Minas Gerais. Belo
Horizonte: Comando-Geral, Assessoria Estratégica de Emprego Operacional (PM3), 2019.
MITROFF, Ian. ALPASLAN, Can. Crisis-Prone Society: A Brief Guide to Managing the
Beliefs that Drive Risk in Business. Palgrave Macmillan. Nova York, NY: 2014.
39
MITROFF, Ian. Crisis Management 101: A Wakeup Call for Law Enforcement
Organizations Everywhere. 2014. Disponível em: https://www.huffingtonpost.com/ian-i-
mitroff/crisis-management-101-a-w_b_5689842.html. Acesso em 08 fev. 2019.
ROSA, Mário. A era do escândalo: lições, relatos e bastidores de quem viveu as grandes
crises de imagem. 3ª ed. São Paulo: Geração Editora, 2004.
SENGE, Peter, el al. The fifht discipline fieldbook. New York: Doubleday, 1994.
40
ANEXO A - PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO DE EMPREGO DAS
ALTERNATIVAS TÁTICAS NO GERENCIAMENTO DE CRISE
2 ABREVIATURAS E SIGLAS
3 RESULTADOS ESPERADOS
3.1 Orientar o policial militar quanto as ações a serem adotadas no gerenciamento de crises para
o uso da força com implemento das alternativas táticas.
3.2 Aumentar quantitativa e qualitativamente a capacidade de respostas nos gerenciamentos de
crises.
3.3 Definir as condutas básicas a serem adotadas na escolha das alternativas táticas (uso de força)
no gerenciamento de crise decorrente de incidente crítico.
3.4 Padronizar procedimentos para gestão do uso da força no gerenciamento de crises.
3.5 Propiciar o alinhamento das atuações ao arcabouço legal e doutrinário vigente.
3.6 Minimizar/eliminar os riscos à vida, ao patrimônio e a conservação de evidências que se
constituam corpo de delito.
3.7 Analisar criticamente o cenário de atuação no que tange ao uso da força.
3.8 Solucionar de maneira aceitável o incidente crítico.
4 RECURSOS NECESSÁRIOS
41
5 PROCEDIMENTOS BÁSICOS
7 ATIVIDADES CRÍTICAS
8 AÇÕES CORRETIVAS
10 FLUXOGRAMA
Definir o cenário de intervenção – identificar o conjunto de variáveis presentes na cena de ação (tipo
de incidente, local onde o incidente se dá, número de perpetradores) – identificar os técnicos
necessários a resolução do incidente – Buscar informações sobre o perpetrador do incidente critico –
Reunir com os líderes das equipes táticas – Fazer a gestão do risco – Conferir se equipe medica está
presente na cena de ação – Elaborar o plano de ação – Divulgar o plano de ação aos envolvidos –
Conferir se todos entenderam suas missões no plano de ação – Estabelecer o canal de comunicação
para o implemento do plano de ação – Conferir a comunicação com todos os envolvidos – Executar o
plano de ação – Controlar as imagens (divulgação seletiva) – Providenciar socorro aos feridos.
42
11 IMAGENS
Modelo do uso diferenciado da força com as variáveis das alternativas táticas ditadas pelo
gerenciamento de crises
43
ANEXO B - PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO DE GERENCIAMENTO DE
CRISES DECORRENTES DE INCIDENTES CRÍTICOS
2 ABREVIATURAS E SIGLAS
3 RESULTADOS ESPERADOS
3.1 Orientar o policial militar quanto as ações a serem adotadas no gerenciamento de crises
decorrentes de incidentes críticos.
3.2 Aumentar quantitativa e qualitativamente a capacidade de respostas nos gerenciamentos de
crises.
3.3 Dinamizar o planejamento e execução das ações de primeira resposta.
3.4 Definir as condutas básicas a serem adotadas no gerenciamento de crise decorrente de
incidente crítico
3.5 Padronizar procedimentos para gestão cena de ação.
4 RECURSOS NECESSÁRIOS
5 PROCEDIMENTOS BÁSICOS
44
5.7 Selecionar as alternativas táticas.
5.8 Designar um comandante para cada perímetro tático.
5.9 Designar um homem-de-ligação entre os perímetros.
5.10 Determinar a utilização de um canal para a comunicação operacional.
5.11 Designar um policial do posto de comando para fazer a timeline da crise.
5.12 Designar um policial para manter contato com a imprensa ou acionar DCO.
determinar que os líderes de equipes táticas façam o reconhecimento do local do incidente.
6 ATIVIDADES CRÍTICAS
7 AÇÕES CORRETIVAS
8.1 Não divulgar entre a tropa e as instituições envolvidas quem é o Comandante da Cena de
Ação.
8.2 Não coletar as informações já existentes com o Primeiro Interventor e o Controlador do
Incidente.
8.3 Isolar de forma ineficiente o local do incidente.
8.4 Permitir que tropa não especializada realize atividades especializadas.
8.5 Não estabelecer fluxo de informação entre os perímetros e o posto de comando.
8.6 Descentralizar a decisão, não respeitando a unidade de comando.
8.7 Selecionar de forma equivocada a alternativa tática.
45
9 CHECK LIST PARA COMANDANTE DA CENA DE AÇÃO (INCIDENTAL E PÓS INCIDENTAL)
FASE INCIDENTAL
❏ Definir tipologia (criminoso comum, emocionalmente perturbado, terrorista).
❏ Acionar equipe especializada (BOPE).
❏ Deslocar posto de comando móvel (BOPE).
❏ Contatar comando da unidade de área.
❏ Acionar órgãos de apoio (Samu, CBM, Trânsito, Cemig, Copasa, etc).
❏ Divulgar a todos os envolvidos quem é o Comandante da Cena de Ação.
❏ Fazer contato com Primeiro Interventor e com Controlador do Incidente.
❏ Colher informações essenciais - formulário específico (item 10).
❏ Verificar a distribuição dos perímetros táticos.
❏ Estabelecer o Posto de Comando.
❏ Definir os comandantes de cada perímetro tático.
❏ Definir o canal de comunicação na rede de rádio a ser usada na gestão do incidente.
❏ Definir o homem de ligação entre o posto de comando e os perímetros.
❏ Definir o policial responsável pela timeline.
❏ Posicionar alternativas táticas.
❏ Reunir com chefes das equipes táticas (BOPE).
❏ Selecionar alternativa tática.
❏ Direcionar autoridades de outros órgãos para o Posto de Comando.
❏ Identificar locais de corte de luz e água.
❏ Verificar se há câmeras no local (olho vivo ou crtv).
❏ Definir porta-voz para contato com a imprensa (ou acionar DCO).
❏ Briefing com porta voz.
46
10 FORMULÁRIO DE INFORMAÇÕES BÁSICAS PARA O COMANDANTE DA CENA
Quantos são?
Idades e sexos?
Feridos?
Doença / medicamento?
Vítima
Autoridade (VIP)?
Estado emocional?
Síndrome de Estocolmo?
Quantos são?
Quais os nomes?
Idades e sexo?
Ferido?
Água e comida?
Ficha criminal?
Possui família?
Planta baixa?
Acesso e fuga?
Câmeras?
47
11 IMAGENS
11.1 Delimitação dos perímetros táticos conforme estabelecido na Instrução Nº 3.03.24/2018 (Primeira
intervenção em ocorrências de incidentes críticos de segurança pública de natureza policial)
48
ANEXO C - PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO DE CONFECÇÃO DE QUADRO
DE IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS E CONTRAMEDIDAS
2 ABREVIATURAS E SIGLAS
3 RESULTADOS ESPERADOS
4 RECURSOS NECESSÁRIOS
49
5 MODELO DE QUADRO DE IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS E CONTRAMEDIDAS ADOTADO EM
OPERAÇÃO DE ESCOLTA DE PRESOS DO PCC
WISA (WHAT-IF
SCENARIO ANALYSIS) Data: (dia da elaboração) (2) Resp: (equipe responsável) (3)
NON ECONOMIC
CONTRA MEDIDA PROBABILIDADE CONSEQUÊNCIAS RECOMENDAÇÃO
WHAT-IF?(04)
(RESPOSTA) (5) (6) (7) (8)
Neste campo deverá ser descrita a operação ou incidente critico a ser gerenciado, de
(1)
maneira clara e concisa.
Neste campo deverá ser lançado a data e hora de início operação ou incidente critico a ser
(2)
gerenciado.
Neste campo deverá ser lançado o nome do responsável pela gestão operação ou incidente
(3)
critico a ser gerenciado.
Neste campo deverão ser formuladas as perguntas referentes a riscos detectados e que
podem influenciar na operação ou incidente critico a ser gerenciado. Os riscos deverão ser
(4)
transformados em perguntas para que possam ser submetidos a analises e respostas de
solução. Por exemplo: E se durante a reintegração houver um incêndio?
Neste campo deverão ser lançadas as respostas as perguntas referentes aos riscos
detectados. É provável que haja mais de uma resposta à pergunta feita e todas elas deverão
(5) ser explicitadas. No exemplo anterior poderíamos ter as seguintes respostas: 1) assegurar
atuação do bombeio; 2) retirar pessoas próximas; 3) paralisar reintegração
temporariamente.
Neste campo deverá ser lançado a probabilidade de ocorrência do risco detectado entre
(6) BAIXA, MÉDIA E ALTA. Tal determinação deve ser cuidadosamente avaliada pois
influenciará diretamente no planejamento das ações decorrentes do gerenciamento.
Neste campo deverão ser lançadas as consequências da ocorrência do risco detectado. Tal
lançamento permite prever e potencializar o saneamento dessas consequências. No
(7)
exemplo da reintegração, algumas das consequências seriam o atraso na reintegração e a
necessidade de acionamento da rede hospitalar para cuidar de pessoas queimadas.
Neste campo deverão ser lançadas as melhores alternativas para prevenção e contenção
dos riscos detectados, as observações genéricas relativas ao fato ou providências
(8)
complementares. Por exemplo: no caso do incêndio durante uma reintegração de posse, a
Recomendação seria verificar se os hospitais da região atendem casos de queimadura.
7 ATIVIDADES CRÍTICAS
50
8 AÇÕES CORRETIVAS
10 FLUXOGRAMA
51
52