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planos de aula?
João Pedro da Ponte, Marisa Quaresma, Joana Mata Pereira
Uma boa aula depende de muitos fatores — de uma boa mativa desempenha um papel central a preparação de uma
preparação, de uma forte inspiração por parte do profes- aula (a «research lesson») que é observada por um grupo de
sor, e também do interesse e disponibilidade manifesta- docentes e sujeita a uma análise detalhada com foco espe-
dos pelos alunos. A capacidade de improviso e de resposta cial nas aprendizagens dos alunos. A aula a preparar cor-
a situações inesperadas por parte do professor é decisiva, responde, por isso, a um plano detalhado que envolve não
levando-o a tomar decisões em cada momento, e perante só a descrição das atividades a realizar, como uma previ-
as circunstâncias concretas que se vão colocando. No en- são dos acontecimentos que podem ter lugar e das respos-
tanto, isso não diminui a importância de uma preparação tas que lhes podem ser dadas pelo professor.
adequada da aula, que proporcione os elementos funda- Neste artigo discutimos o modo de elaborar planos de
mentais para o seu desenvolvimento, a serem depois ajus- aula, na perspetiva dos «estudos de aula». Começamos por
tados de acordo com as necessidades ditadas pelo evoluir rever o papel da planificação anual e da planificação da uni-
dos acontecimentos. dade didática, após o que apresentamos a fase preparatória
A elaboração de planos de aula tem vindo a conhecer do plano de aula e a elaboração do plano de aula propria-
grande interesse dado o papel central que a preparação, re- mente dito. Ilustramos esta discussão com um exemplo de
alização e análise de uma aula tem nos chamados «estu- um plano de aula realizado em Portugal no âmbito de um
dos de aula» de inspiração japonesa. Nesta atividade for- estudo de aula com professores do 3.° ciclo.
26 e d uc ação e ma te máti ca
A planificação anual e da unidade a compressão dos horários escolares, e toda uma variedade
didática de circunstâncias que afetam o desenvolvimento do ano le-
tivo. Cabe ao professor definir prioridades e assumir o con-
Uma aula insere-se, naturalmente, numa unidade de ensi-
trolo do tempo sem se deixar condicionar completamente
no e esta dentro de uma planificação anual de longo prazo.
por ele.
Nesta planificação e na preparação da unidade de ensino já
As regras da escola e as condicionantes da avaliação são
foram assumidas necessariamente muitas opções, que têm
também fatores que o professor tem de ter em conta, na-
a ver com as orientações curriculares, a preparação dos alu-
turalmente, na sua planificação anual e das unidades di-
nos e o seu interesse pelas aulas de Matemática, o tempo
dáticas. A secção que se segue indica como pode ser feita
e os recursos disponíveis, e com muitos outros fatores do
a preparação de uma aula específica sobre um dado tópico
contexto escolar e social (Ponte, 2005).
de uma dada unidade de ensino. Assumimos que temos
As orientações curriculares estabelecem o quadro geral
presentes estes dois níveis prévios de planificação (anual e
dos temas e tópicos a estudar, bem como as grandes finali-
da unidade) e descrevemos o trabalho a realizar em duas
dades e objetivos gerais de aprendizagem. A nível de cada
etapas, a fase preparatória e a fase da elaboração do plano
unidade de ensino, estas orientações estabelecem os con-
de aula propriamente dito. Esta discussão será depois ilus-
ceitos, representações, procedimentos, conexões e outros
trada com um plano de uma aula sobre proporcionalidade
aspetos eventualmente relevantes. Para além dos aspetos
direta no 7.° ano.
específicos de cada tópico há a considerar os aspetos cur-
riculares transversais relacionados com o raciocínio, a co-
municação, a resolução de problemas, o uso de materiais Fase preparatória do plano de aula
e tecnologias, a relação com situações da realidade (mode-
A fase preparatória envolve a definição do(s) objetivo(s) de
lação matemática), etc.. Há ainda que ter em atenção aspe-
aprendizagem para a aula, a seleção de tarefas que possam
tos de natureza transversal de índole mais geral, como o
ser úteis para a consecução desses objetivos, a resolução das
desenvolvimento da autonomia, do espírito crítico, da coo-
tarefas, a análise das suas potencialidades e das dificulda-
peração, da solidariedade, do sentido de responsabilidade
des previsíveis dos alunos.
por parte dos alunos.
Uma vertente essencial desta fase é a definição do objeti-
Ao preparar as suas unidades de ensino, o professor tem
vo de aprendizagem para a aula. Aqui é importante rever as
em conta os seus alunos, as suas capacidades, interesses e
orientações curriculares, em especial as que se referem ao
disposição para se envolverem no trabalho em Matemáti-
ensino do tópico, bem como os aspetos matematicamente
ca. Não adianta preparar tarefas que já se sabe de antemão
relevantes desse mesmo tópico — conceitos, procedimen-
que não têm qualquer hipótese de acolhimento por parte
tos, representações e simbolismo, conexões importantes
dos alunos. É preciso ajustar o nível de profundidade dos
com outros tópicos matemáticos e com temas extra mate-
assuntos e especialmente o modo de os abordar às carate-
máticos. Note-se que uma aula pode ter vários objetivos de
rísticas específicas de cada turma, tendo em conta não só
aprendizagem, mas é importante que tenha um objetivo
o seu nível médio, mas também a diversidade de alunos,
principal bem definido. Isso mesmo é uma das principais
tanto em termos de capacidades como de interesses. A este
sugestões do livro Principles to actions: Ensuring mathemati-
respeito, note-se que, por vezes, os professores são levados
cal success for all (NCTM, 2014), que enfatiza a importância
a subestimar as capacidades dos alunos, em especial a sua
de definição clara deste objetivo, tanto para o professor, para
capacidade de reagir de forma positiva a uma questão mais
a condução da aula, como para os alunos que o devem com-
desafiante, judiciosamente escolhida.
preender, de modo a servir de base à sua aprendizagem.
O tempo e os recursos disponíveis são, naturalmente,
Uma outra vertente desta fase preparatória é a seleção
um fator importante a considerar. Muitas vezes estes exis-
preliminar de tarefas, sua resolução e análise. A identifi-
tem nas escolas e na comunidade, não na forma que seria
cação de possíveis tarefas a propor aos alunos e a análise
mais imediatamente utilizável, mas mesmo assim poten-
das suas potencialidades é fundamental dado o papel cha-
cialmente muito úteis como quadros interativos, computa-
ve que as tarefas assumem como ponto de partida para o
dores e outros materiais, professores, encarregados de edu-
trabalho dos alunos, tendo em vista a sua aprendizagem.
cação e outros membros da comunidade disponíveis para
As tarefas podem ter as mais diversas origens, incluindo
colaborar. Muito complicada é, cada vez mais, a gestão do
os manuais usados pelos alunos, outros manuais porventu-
tempo, dada a pressão de muitas atividades em simultâneo,
ra mais interessantes, outros materiais de apoio ao profes-
Tabela 1.—Esquema para a elaboração de um plano de aula na tradição dos «Estudos de aula» japoneses.
sor, livros didáticos e sítios da Internet. A resolução destas Elaboração do plano de aula
tarefas permite uma identificação de níveis de dificuldade Para a elaboração do plano de aula existem muitas possi-
e potencialidades para a aprendizagem, preparando o ter- bilidades, desde as relativamente simples às que envolvem
reno para a seleção final da tarefa ou tarefas a incluir no grande sofisticação. Será avisado procurar seguir um mo-
plano de aula. Os níveis de dificuldade das questões a pro- delo de plano de aula cuja elaboração não seja demasiado
por devem estar, naturalmente, adaptados às caraterísticas complexa mas que, ao mesmo tempo, contenha todos os
dos alunos. Note-se, também, que as potencialidades para a elementos necessários para que possa ser um instrumen-
aprendizagem de uma dada tarefa podem resultar de mui- to de trabalho efetivamente útil ao professor.
tos fatores, incluindo a estrutura da própria tarefa, o con- Num plano de aula podem distinguir-se dois aspetos
texto que lhe está subjacente, as conexões que faz com ou- principais — aquilo que é comum a toda a aula e a suces-
tros tópicos ou situações extra matemáticas conhecidas dos são de atividades que se desenvolvem durante a aula. No
alunos, etc. que respeita a aspetos comuns a toda a aula podem consi-
A definição do objetivo e a exploração de tarefas deve pro- derar-se questões como:[1]
porcionar condições para estabelecer um possível caminho 1. Objetivo(s) de aprendizagem para a aula (objetivo
na progressão dos alunos — aquilo que Estes, McDuffie e principal; objetivos complementares sobre o tópico
Tate (2014) chamam «progressão no tópico». Para isso será e sobre os processos de raciocínio e comunicação)
importante elencar os conhecimentos pré-requisitos que 2. Estratégia geral
os alunos devem ter para aprenderem o tópico em questão 3. Estrutura da aula (segmentos previstos, incluindo
bem como definir possíveis etapas no trabalho de modo a eventuais períodos de trabalho autónomo e de dis-
atingir o objetivo pretendido. Esta fase preparatória deve cussão coletiva);
também permitir identificar as possíveis dificuldades dos 4. Recursos a usar (por exemplo, fichas de trabalho,
alunos na aprendizagem do tópico. Essa identificação deve material manipulável, material de Geometria, sof-
ser desde logo acompanhada da indicação de possíveis ações tware, etc.)
por parte do professor tendo em vista ajudar os alunos a ul-
trapassar essas dificuldades. Relativamente à sucessão de atividades que têm lugar du-
Finalmente, esta fase conclui-se com a seleção da tarefa e rante a aula, a tradição dos estudos de aula japoneses sugere
a definição, nas suas linhas gerais, do modo como os alunos a elaboração de um quadro com várias colunas. Apresenta-
irão trabalhar na tarefa (individual, pares, grupo, coletivo) e mos aqui (Tabela 1) uma versão que, embora aparentemen-
as diferentes etapas da aula. Estamos então em condições te complexa, tem o mérito de ajudar de forma mais efetiva
de começar a elaborar o plano de aula propriamente dito. no planeamento da aula.[2]
A importância da fase preparatória do plano da aula Deste modo, eis o que se pode colocar nas diferentes
no caso dos estudos de aula é sublinhada por exemplo por colunas:
Doig, Groves e Fujii (2011). Estes autores dão uma impor- a) «Tarefas e atividades de aprendizagem» incluem,
tância especial à formulação da tarefa que irá ser apresen- por exemplo, as tarefas selecionadas e os modos de
tada aos alunos, incluindo a escolha do contexto, a seleção trabalho dos alunos em cada segmento de realiza-
de uma versão apropriada, bem como o texto do enuncia- ção dessas tarefas (individual, pares, grupo, coleti-
do. Para isso, sugerem o recurso a materiais de ensino in- vo), bem como a definição dos momentos para a dis-
cluindo manuais e outros materiais curriculares, bem como cussão coletiva.
a estudos que se debrucem sobre a compreensão dos alu-
nos no tópico em questão.
28 e d uc ação e ma te máti ca
Uma receita para o bolo de limão
Bolo de Limão
A Fernanda pretende fazer um bolo de limão para a sobremesa do jantar.
Para 6 pessoas
1. Que quantidade de açúcar é necessária para fazer um bolo para 3 pessoas?
Explica como chegaste à tua resposta.
6 ovos
2. A Fernanda gastou 12 dl de leite. Fez um bolo para quantas pessoas?
Explica como chegaste à tua resposta 240 g de açúcar
N.° Pessoas 6
360 g de farinha
Ovos 1
Açúcar 360 3 dl de leite
Leite 1,5 3
Limão raspado (q.b.)
4. Das expressões seguintes, indica as que podem traduzir uma relação entre
a quantidade de açúcar e o número de pessoas. Sumo de 2 limões
b) «Duração esperada» refere-se ao tempo de duração nido para a aula em objetivos mais específicos, cuja
previsto para cada segmento. verificação permitirá ir obtendo informação parcial
c) «Atividade dos alunos e possíveis dificuldades» in- relativamente ao progresso dos alunos. Estas infor-
cluem a previsão do que os alunos irão fazer bem mações parciais permitirão fazer uma avaliação da
como as suas dificuldades e dúvidas na interpreta- aula, ao mesmo tempo que produzirão elementos
ção e compreensão das tarefas e durante a resolu- para a planificação das aulas seguintes.
ção da tarefa. Este ponto inclui também a previsão
de diferentes estratégias que se podem esperar da
parte dos alunos.
Um plano de aula para introduzir a
d) «Respostas do professor e aspetos a ter em atenção», função de proporcionalidade direta
incluem aspetos fundamentais que o professor deve Vejamos um exemplo de um plano de aula sobre propor-
ter em atenção em cada segmento em resposta às cionalidade direta, para lecionar a uma turma do 7.° ano,
possíveis dificuldades dos alunos. Este ponto refere- como a primeira aula sobre o tópico. Assume-se que os alu-
se também à definição da estratégia para a discussão nos estudaram proporcionalidade direta no 6.° ano (como
coletiva bem como à definição das questões a subli- igualdade entre duas razões) e já estudaram equações no
nhar na síntese final da aula. 7.° ano, mas ainda não iniciaram o estudo da proporciona-
e) Finalmente, «Objetivos e avaliação» incluem os as- lidade direta como função. Esta aula tem por base a tarefa
petos específicos da avaliação dos alunos, a ter em que se encontra na Figura 1[3] e à qual corresponde o plano
atenção durante a aula. Este campo corresponde de de aula na Tabela 2.
algum modo a uma decomposição do objetivo defi-
1. Aspetos gerais
1. Objetivo de aprendizagem: Reconhecimento que uma relação de proporcionalidade direta entre duas variáveis
pode ser representada por uma expressão algébrica de tipo y = ax, sendo a a constante de proporcionalidade.
2. Estratégia geral: Proposta de uma tarefa com cinco questões.
3. Estrutura da aula: A estrutura da aula comporta nove segmentos: a introdução, a resolução de cada uma das cin-
co questões, duas discussões coletivas, uma depois da realização das questões 1, 2 e 3 e outra no final da realiza-
ção da questões 4 e 5, terminando com a síntese final.
4. Recursos a usar: ficha de trabalho com a tarefa.
2. Desenvolvimento da aula
30 e d uc ação e ma te máti ca
Tabela 2.—Plano de aula (cont.)
O enquadramento curricular em que esta tarefa foi ori- termos para (ii) relações de proporcionalidade direta entre
ginalmente concebida é o do Programa de Matemática de duas variáveis representadas em tabelas, com um núme-
2007. Este programa indicava que o tópico de proporcio- ro indeterminado de termos, daí para (iii) relações de pro-
nalidade direta como função poderia ser estudado neste porcionalidade direta representadas por uma expressão al-
nível a partir dos conhecimentos dos alunos sobre propor- gébrica, até chegar ao reconhecimento que (iv) as relações
cionalidade aprendidos no 2.° ciclo. No entanto, esta tarefa de proporcionalidade direta têm a expressão geral y = kx.
adapta-se bem a outros enquadramentos curriculares, no- A estratégia geral é a proposta de uma tarefa com cin-
meadamente o que decorre do Programa de Matemática co questões. Os alunos resolvem a pares as três primeiras
de 2013 que prevê o estudo da proporcionalidade em duas questões, seguindo-se um momento de discussão coleti-
etapas principais, primeiro como igualdade entre duas ra- va. Depois os alunos resolvem as questões 4 e 5, seguin-
zões, no 2.° ciclo, e depois como função, no 3.° ciclo. do-se outro momento de discussão coletiva. A aula termi-
O objetivo de aprendizagem para a aula é o reconheci- na com uma síntese final a cargo do professor, a realizar
mento, por parte dos alunos, que uma relação de propor- com a colaboração dos alunos. Deste modo a estrutura da
cionalidade direta entre duas variáveis pode ser represen- aula comporta nove segmentos: a introdução, a resolução
tada por uma expressão algébrica de tipo y = kx, sendo k a de cada uma das cinco questões, duas discussões coletivas,
constante de proporcionalidade. Como objetivos comple- uma, sensivelmente, a meio da aula e outra no final da re-
mentares, pretende-se que os alunos recordem o processo alização da questão 5, terminando com a síntese final.
de resolver problemas de proporcionalidade direta e que O principal recurso a usar é a ficha de trabalho com
desenvolvam a sua capacidade de interpretar expressões a tarefa, sendo as resoluções dos alunos apresentadas no
algébricas simples. quadro.
Os pré-requisitos, em termos de conhecimentos dos alu- As questões 1 e 2 da tarefa envolvem a resolução de pro-
nos, são a capacidade de resolver problemas simples de va- blemas simples de proporcionalidade direta. Nestas ques-
lor omisso envolvendo relações de proporcionalidade direta tões o importante é que os alunos estabeleçam relações de
e a compreensão do significado de expressões como y = 3x modo intuitivo entre os valores dados, como ponto de par-
ou y = 4x + 3. A progressão no tópico envolve a passagem tida para a resolução da questão 3. Se os alunos tiverem di-
de (i) relações de proporcionalidade direta envolvendo três ficuldade em resolver estas questões, apesar dos valores
32 e d uc ação e ma te máti ca
apresentados serem relativamente simples, o professor deve novo estratégias informais para encontrar os fatores mul-
ajudar introduzindo uma representação na forma de tabe- tiplicativos adequados.
la procurando fatores multiplicativos que ajudem a encon- Note-se que em nenhuma questão desta tarefa é feita
trar o valor pretendido. menção explícita à noção de constante de proporcionalida-
de. A ideia que existe uma razão constante irá surgindo a
6 240 6 3 pouco e pouco no trabalho dos alunos e deve ser explora-
3 ? ? 12 da na discussão geral. Assim, tal como referido, os termos
«razão unitária» e «constante de proporcionalidade» deve-
A introdução destas tabelas constitui um momento funda- rão ser introduzidos pelo professor, no momento oportu-
mental da aula, permitindo aos alunos um modo intuiti- no, durante a discussão coletiva após a realização das três
vo de pensar de forma multiplicativa sobre as relações de primeiras questões, devendo-se analisar então o respetivo
proporcionalidade. Assim, o professor pode perguntar «por significado.
que número multiplicamos 6 para obter 3»? Perante a res- As questões 4 e 5 apoiam-se na questão 3. Na questão
posta que será ƔƓ ou 0,5 o professor pode continuar, «quan- 4 pretende-se que os alunos verifiquem quais das expres-
to obtemos multiplicando 240 por 0,5»? sões são compatíveis com a relação entre «quantidade de
Se algum aluno introduzir estas tabelas espontaneamen- açúcar» e «número de pessoas» dada na tabela (ou seja, as
te nas suas resoluções (o que é bastante provável), o pro- expressões [B], [C] e [E]). A interpretação das expressões
fessor deve tirar partido desse facto, levando-o a partilhar pode causar algumas dificuldades aos alunos, aspeto a que
com a turma. Se algum aluno não fizer uma tabela explíci- o professor precisa de estar particularmente atento. Para
ta mas formular um raciocínio próximo, o professor pode ajudar os alunos nessa interpretação pode perguntar o que
reformulá-lo (ou «redizê-lo») na forma da tabela. Caso con- podem representar na expressão [A] as variáveis n e a, e na
trário, será o professor a introduzir esta representação, de expressão [B] as variáveis x e y, etc. Uma vez essa interpre-
forma tanto quanto possível natural, como um modo de re- tação feita, os alunos poderão substituir os valores numé-
gistar os dados das questões 1 e 2 e de pensar sobre as re- ricos dados na tabela em cada uma das expressões. É de es-
lações entre esses dados. perar que a maioria dos alunos consiga perceber quais as
Se os alunos resolverem estas questões usando méto- expressões inapropriadas [A], [D], [F], mas alguns podem
dos mais formais como a regra de três simples ou estabele-
cendo as proporções ҿӗ ӝͳաׁ e ׁ џӝ o professor deve valo-
pensar que apenas uma das expressões estará correta e não
ҿ ӗ
reconhecer uma ou mais das expressões apropriadas.
rizar, naturalmente, essas resoluções. No entanto, mesmo Num segundo momento de discussão coletiva é abor-
nesses casos, será de propor a construção das tabelas aci- dado o significado das expressões algébricas, em relação
ma indicadas pois elas servem de base a uma forma intui- com o contexto apresentado (receita do bolo), procurando
tiva de pensar que será muito importante na questão 3. ao mesmo tempo que os alunos reconheçam a ligação com
A questão 3, envolvendo o preenchimento de uma tabe- o tópico das equações.
la com 4 linhas e 5 colunas, representa uma situação prova-
velmente nova para os alunos, que nunca devem ter traba-
lhado com tabelas tão complexas. Esta questão requer que Como foi elaborado este plano de aula
os alunos entendam o que se pretende e sigam uma estra- Este plano de aula constitui uma versão aperfeiçoada de
tégia adequada, novamente encontrando fatores multipli- um plano muito semelhante que orientou a realização de
cativos apropriados. É importante que percebam que da li- uma aula de 7.° ano durante um estudo de aula. Da reali-
nha 1 para a linha 2 devem multiplicar por 1 (resulta em zação desta tarefa na aula, tiram-se algumas ilações sobre
«copiar os valores»), da linha 1 para a linha 3 devem multi- os processos de raciocínio e dificuldades dos alunos. As-
plicar por 40, e da linha 1 para a linha 4 devem multiplicar sim, nas questões 1 e 2 os alunos usaram por vezes estraté-
por 0,5. Os valores a multiplicar (1, 40 e 0,5) são os valores gias surpreendentes. Na questão 2, por exemplo, um aluno
que se encontram na 2.ª coluna, e são os valores que cor- referiu que tinham feito «uma sequência», explicando «a
respondem a um bolo para uma pessoa. Na discussão que nossa sequência foi uma sequência de pessoas e dos deci-
se realiza a seguir o professor deve indicar que estes valo- litros. Fizemos que 6 pessoas equivaliam a 3 dl, 12 pesso-
res se chamam «razão unitária» ou «constante de propor- as equivaliam a 6 dl, 18 a 9 e 24 a 12». Na verdade o aluno
cionalidade». A expetativa é que os alunos possam usar de fez um raciocínio aditivo tomando como base o par (6 pes-
34 ed uc aç ão e ma te máti ca
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Conhece o Xavier?
Já desafiou o pensamento
algébrico…
Já desafiou a magia matemática …