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ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICO E INSTITUCIONAL EM Transtornos Intelectuais
ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICO E INSTITUCIONAL EM Transtornos Intelectuais
ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICO E INSTITUCIONAL EM Transtornos Intelectuais
TRANSTORNOS INTELECTUAIS
A. M. Ferreira1
D. C. C. Bárbara2
G. M. C. Rodrigues3
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo demonstrar a importância da intervenção psicopedagógica frente
à deficiência intelectual. Para que este objetivo pudesse ser alcançado, tornou-se necessário definir e
estabelecer diferenças entre doença mental e deficiência intelectual, descrever as especificidades da
Deficiência Intelectual e discorrer sobre a importância da atuação do psicopedagogo e as formas de
intervenção. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cujo universo foi constituído por livros e revistas
publicados pela imprensa convencional e disponibilizados de forma virtual na Internet, por sites
confiáveis. Todo o material foi lido e avaliado, passando a ser a base da presente pesquisa que resulta
da interpretação dos textos pesquisados. Ao final da pesquisa concluiu-se que o trabalho do
psicopedagogo é de fundamental importância para os alunos portadores de deficiência intelectual,
auxiliando-os em sua caminhada de superação das suas limitações.
Palavras-chave: Deficiência Intelectual; Psicopedagogo Clínico e Institucional.
INTRODUÇÃO
A educação nos dias atuais, segundo Feldens; Martel; Neubauer (2013), vem sendo
tratada de forma muito peculiar. Os pais, cada vez mais sobrecarregados com as solicitações e
dificuldades da vida moderna, delegam às escolas a tarefa de educar seus filhos, formando-os
como cidadãos conscientes. Com os pais ausentes, as escolas, cada vez mais defasadas e
sucateadas física e pedagogicamente, empreendem esforços neste sentido, porém, apesar dos
avanços nos sistemas educacionais, muitas não conseguem acompanhar as transformações
tecnológicas e superar as pressões nocivas de um meio social instável. Para que a educação de
um indivíduo possa ser plena e bem sucedida, é necessário um esforço conjunto e ordenado dos
pais e da escola para que este indivíduo possa superar as suas eventuais dificuldades de
aprendizagem, adquirindo domínio de todos os conteúdos, transformando-os em bagagem
cultural que lhe sirva como ferramental a ser utilizado em prol da cidadania.
De forma geral, todos os indivíduos apresentam algum nível de dificuldade de
assimilação em algum conteúdo disciplinar na escola, mesmo aqueles que se enquadram dentro
do conceito de normalidade, que é definido por Santos (2013) como sendo aqueles indivíduos
1
Discente do curso de Psicopedagogia clínica e institucional - Faculdade Calafiori
2
Discente do curso de Psicopedagogia clínica e institucional - Faculdade Calafiori
3
Docente do curso de Psicopedagogia clínica e institucional - Faculdade Calafiori
dotados de capacidade para se adequarem ao objeto ou ao seu universo. O que se pode esperar
então de indivíduos com deficiência intelectual?
Segundo Milian et al. (2013), a deficiência intelectual é definida pela American
Association of Mental Retardation (Associação Americana de Retardo Mental AAMR) sob
uma perspectiva multidimensional, funcional e bioecológica, como sendo caracterizada por
significativas limitações quanto ao funcionamento intelectual, comportamental e adaptativo,
que se manifestam nas habilidades práticas, sociais e conceituais. Outras organizações
internacionais também se dedicam à classificação e definição da deficiência intelectual, porém
respeitam a definição proposta pela AAMR, acrescentando-lhe algumas contribuições, tal como
a CID 10, o manual mais utilizado na área de saúde e a OMS, com a proposta de Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), que incluem as perspectivas
ambiental e social ao conceito de funcionalidade.
Esta pesquisa tem como objetivo demonstrar a importância da intervenção
psicopedagógica frente à deficiência intelectual. Para que este objetivo possa ser alcançado
torna-se necessário definir e estabelecer as diferenças entre doença mental e deficiência
intelectual; descrever as especificidades da Deficiência Intelectual e discorrer sobre a
importância da atuação do psicopedagogo e as formas de intervenção.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, que tem como base
matérias publicadas sobre o tema, na imprensa convencional e divulgados de forma virtual via
Internet por sítios confiáveis, todos devidamente referenciados ao final da pesquisa. Todo o
material obtido foi devidamente estudado, tendo sido incluídos apenas os que apresentassem
clareza e objetividade ao tratar do tema proposto.
DESENVOLVIMENTO
Deficiência intelectual
Pereira (2012) afirma ser a Deficiência intelectual (DI) caracterizada como uma
incapacidade que impõe limitações significativas, tanto com relação ao funcionamento
intelectual quanto no comportamento adaptativo e se expressa em habilidades conceituais,
sociais e práticas. É um transtorno cujos fatores mais comuns são de ordem genética podendo
ser desencadeado por complicações durante o período de gestação, no parto ou pós natais,
manifestando-se principalmente antes dos dezoito anos de idade.
Almeida (2012) lembra que muitas associações americanas voltadas para o estudo das
doenças e deficiências mentais discutiram durante anos, a respeito da compreensão, definição
e classificação dos transtornos de ordem intelectual. A partir de 2010, passou a ser usado o
termo Deficiência Intelectual, por ter-se entendido que o déficit cognitivo não está localizado
na mente como um todo, e sim em uma de suas partes, o intelecto. Isto reforça a definição da
American Association on Intelectual and Desenvolvimental Disabilites (AAMR), que de acordo
com Santos (2013) é que a Deficiência Intelectual consiste em uma incapacidade caracterizada
por limitações no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo que está expresso
nas habilidades de adaptação conceituais sociais e práticas.
Características e especificidades
Avaliação
Pereira (2012) reitera que a deficiência intelectual consiste em um quadro
psicopatológico que se refere às funções cognitivas, caracterizando-se por uma defasagem e
alterações nas estruturas mentais que dificultam a construção e a apropriação do conhecimento.
De acordo com a definição, vários atores devem ser levados em conta no momento da avaliação
que concluirá pela constatação ou não da deficiência intelectual, tais como condições físicas,
motoras e cognitivas, ambientais e sociais. Uma criança, ou um indivíduo, pode apresentar-se
como deficiente intelectual em um determinado ambiente ou contexto e ser normal em outro.
As características socioambientais podem justificar tal variação.
Gonçalves; Machado (2012) preconiza muita cautela na aplicação dos testes
neuropsicológicos, bem como na interpretação dos resultados, devendo-se considerar o
contexto étnico/cultural, o nível educacional do ambiente sócio-familiar, o grau de motivação,
a cooperação e as deficiências que podem estar associadas, interferindo no desempenho do
paciente em alguns quesitos do teste, provocando baixo escore de QI. A investigação deve ser
efetuada em etapas, como demonstra o quadro 5.
Quadro 5: Investigação da deficiência intelectual em etapas.
ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4 ETAPA 5
Anamnese. Avaliação Exame de Gasometria Biópsias e
Exames físico para neuroimagem arterial. exame
e autismo. (tomografia Aprofundar pesquisa histopatológico
neurológico, Hemograma computadorizada metabólica de
com completo, e/ou ressonância (por exemplo, órgãos
perímetro níveis magnética com aminoácidos e acometidos.
cefálico e séricos espectroscopia de ácidos orgânicos Técnica FISH
pesquisa de de prótons). urinários, lactato e para
características eletrólitos, Níveis séricos de piruvato no soro e microdeleções
dismórficas. ferro, cálcio, homocisteína e no líquido específicas.
Heredograma magnésio, amônia. Exames cefalorraquidiano). Estudos
abrangendo fósforo e endócrinos Nível sanguíneo de cromossômicos
três fosfatase (por exemplo, chumbo. subteloméricos.
gerações. alcalina. provas de função Nível sérico de Nível sérico
Revisão dos Triagem das tireóidea). Testes creatinoquinase. materno
resultados deficiências para TORCH, se Pareceres da genética de fenilalanina,
do teste do auditiva e pertinentes. e neuropediatria. se a criança
pezinho visual. Cariótipo. Eletroencefalograma, tiver
Pesquisa do X se houver microcefalia.
frágil, se epilepsia. Sondas de
pertinente. DNA
Parecer para mutações
oftalmológico. específicas (por
Testes exemplo,
neuropsicológicos, MECP2).
Incluindo o QI. Espectroscopia
por ressonância
magnética,
se ainda não
realizada.
Fonte: GONÇALVES; MACHADO (2012, p. 80).
Vygotsky (1997, apud Tedde, 2012), afirmava que existe potencialidade e capacidade
nos indivíduos com deficiência, ocorre que, para estes conseguirem desenvolvê-las, é
necessário que se lhes ofereçam condições materiais e instrumentais adequadas. Em função
disso, deve-se oferecer-lhes uma educação que lhes dê a oportunidade de se apropriarem da
cultura histórica e socialmente construída, adquirindo assim, melhores possibilidades de
desenvolvimento.
A atuação do pedagogo
O termo Psicopedagogia, segundo Cardozo (2011), sugere ser esta ciência uma fusão
entre a Psicologia e a Pedagogia. Partindo-se do princípio de que a Pedagogia ocupa-se das
questões referentes às metodologias de ensino-aprendizagem do aluno e das questões
educacionais em sua amplitude e que a Psicologia dedica-se ao estudo aos sujeitos, do
comportamento humano e dos processos mentais, percebe-se que o papel da Psicopedagogia é
promover a interação entre o aluno e o ser humano que ele representa. É um ponto de união
entre a Pedagogia e a Psicologia. Seu campo de atuação transita entre a Saúde e a Educação,
lidando com os processos de aprendizagem humana dentro dos padrões normais ou patológicos.
Para isso considera a influência do meio, formado pela escola, família e sociedade e utiliza-se
de recursos próprios da Psicopedagogia, que se apóiam no tripé formado pela Psicologia Social,
Psicanálise e Psicologia Genética.
A Psicopedagia tem atuação clínica e/ou institucional. Segundo Araújo (2007, p. 1):
atrasadas devem estudar o mesmo que as demais crianças, receber a mesma preparação para a
vida futura, para que depois participem dela em certa medida, junto co
que isso seja possível, Rodrigues; Maranhe (2008) esclarecem que é necessário que se promova
mudanças profundas nas escolas, principalmente com relação às atitudes discriminatórias. É
papel da escola derrubar tabus e estigmas, combatendo a ignorância através da informação,
transformando em positivas, as atitudes negativas da maioria das pessoas para com os
indivíduos portadores de deficiência. A respeito desse assunto, Tedde (2012) afirma que as
crianças com deficiência intelectual necessitam de credibilidade, que acreditem em sua
capacidade de aprender, pois, quando estimuladas e incentivadas, estas crianças mostram
aprendizagem e desenvolvimento surpreendentes.
O trabalho do psicopedagogo no contexto escolar, segundo Cardozo (2011), tem caráter
preventivo e saneador, sendo desenvolvido na instituição, junto aos professores, com os pais e
com os próprios alunos. De forma especifica, pode ser descrito da seguinte forma:
Trabalho psicopedagógico preventivo: Envolvimento com os professores preparando-
os para trabalhar com a diversidade, prevenindo-os quanto à necessidade do uso de recursos
diversificados e estímulos específicos; detectar alterações no processo de aprendizagem,
promovendo orientações metodológicas e atitudinais; proporcionar estímulos adequados de
forma a complementar ou suplementar a aprendizagem; auxiliar na elaboração do Projeto
Político Pedagógico e demais projetos desenvolvidos pela escola; esimular a equipe pedagógica
a utilizar-se de recursos lúdicos, estimulando o prazer em aprender.
Atendimento psicopedagógico institucional escolar: Realizar atendimento
pedagógico individualizado e/ou em grupos pequenos; orientar os alunos sempre que
necessário; auxiliar os professores quanto à melhor forma de estudos de acordo com as
dificuldades apresentadas pelos educandos; ouvir atentamente os alunos, verificar seus
cadernos observando erros e orientando quanto às formas de saná-los; proceder às avaliações
diagnósticas; fazer os encaminhamentos, se e quando necessários.
Orientação aos professores: Auxiliar os professores no sentido de valorizar as
diferenças, a descobrir e potencializar capacidades, a trabalhar o cooperativismo, a trabalhar de
forma diversificada, a avaliar de forma permanente e qualitativamente; suprir as dificuldades
individuais; orientar quanto ao uso da melhor didática e quanto à utilização da tecnologia em
benefício do trabalho docente.
Orientação aos pais: Realçar a importância destes ao lado de seus filhos, com ou sem
deficiências; orientá-los quanto à importância do elogio, do abraço, da brincadeira e até mesmo
da colaboração dos filhos em algumas atividades domésticas; enfatizar a importância do
diálogo, das brincadeiras, da valorização dos avanços e das superações, da necessidade de ouvi-
los e de olhar para eles enquanto falam; de incentivá-los quanto à autonomia e ao auto-cuidado,
sendo auto-responsáveis; reforçar a valorização da rotina, da importância de se dar orientações
e comandos claros, de auxiliá-los e estimulá-los nas brincadeiras mais simples; de permitir e
respeitar escolhas; de complementar o trabalho pedagógico da escola; entre outras orientações.
Orientações aos alunos: Tendo em vista que cada indivíduo é único e consiste em um
ser humano em processo de desenvolvimento, o psicopedagogo deve dialogar e interagir
periodicamente com os alunos com deficiência intelectual; deve ouvi-los com atenção; observar
e avaliar a comunicação não verbal; auxiliá-los na descoberta de seus talentos, estimulando-os
e potencializando suas qualidades (CARDOZO, 2011; RODRIGUES; MARANHE, 2008).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto ao longo do referencial teórico, foi possível observar que,
sendo cada criança um ser único, as crianças com deficiência intelectual devem ser olhadas de
forma individualizada, levando-se em consideração suas limitações. Há que se contemplar suas
necessidades, mas este olhar não deve se limitar ao que ainda não conseguem realizar com
autonomia, mas também deve-se considerar a bagagem que possuem e as ações que já
conseguem executar sozinhas Todas as pessoas, com ou sem deficiência, possuem limitações
e potencialidade. O portador de deficiência intelectual necessita sim de apoio pedagógico, de
atenção especializada e de adequações curriculares, mas não se pode esquecer que eles possuem
capacidades. Na realidade, o que eles mais necessitam, além das intervenções, é que se acredite
neles.
As dificuldades enfrentadas pelos alunos com deficiência, referem-se mais às limitações
e deficiências da sociedade e do meio do que dos próprios alunos. Se a escola promover a
participação desses alunos em atividades curriculares e extracurriculares respeitando suas
características, oferecendo alternativas pedagógicas que atendam às suas necessidades comuns
e específicas, esses alunos conseguirão aprender, respondendo efetivamente ao processo de
ensino--aprendizagem.
A característica de competitividade, que prevalece no meio educativo e cultural até os
dias atuais, com uma educação verticalizada, que enfatiza o processo de seleção e exclusão de
alunos, historicamente reconhecida pelo domínio das propostas curriculares, é que cria a maior
resistência à inclusão de pessoas com deficiência. Neste contexto, essas pessoas são
consideradas menos capazes para um bom desempenho escolar em razão da proposição de
atividades propostas numa base da cultura competitiva.
Dentro deste contexto, o papel do psicopedagogo, que inicia-se com uma avaliação
simples, que lhe possibilita conhecer o aluno, inteirando-se de seu posicionamento com relação
à aprendizagem, identificando suas dificuldades, é muito importante na sua caminhada rumo à
superação. De acordo com a necessidade, ele deve encaminhar o aluno, acompanhado por um
relatório detalhado, para atendimento especializado com um psicopedagogo clínico, pedagogo,
psicólogo, terapeuta ou médico especialista, para um diagnóstico mais preciso. De posse deste
diagnóstico, deve ele trabalhar em parceria com o (s) profissional (is) especializado (os) na área,
ou áreas que se fizeram necessárias, buscando a potencialização do indivíduo assistido,
auxiliando-o em sua caminhada de superação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS