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Meira Et Al (2017) - O Caminho Das Pedras
Meira Et Al (2017) - O Caminho Das Pedras
Meira Et Al (2017) - O Caminho Das Pedras
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Doutorando em Geografia - Universidade Federal do Ceará. E-mail: suediomeira@gmail.com
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Profess or Adjunto - Univers idade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: caxexa@yahoo.com.br
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Profess or - Univers idade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD – Portugal). E-mail: asa@utad.pt
4
Profess or Titular - Universidade Federal do Ceará. E-mail: cacauceara@gmail.com
Estudos Geográficos, Rio Claro, 15(2): p-p, ju l./dez. 2017 (ISSN 1678—698X)
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INTRODUÇÃO
A geoconservação constitui o conjunto de atividades que visam a manutenção
das potencialidades do geopatrimônio existente em uma determinada porção do
território. Diversas são as medidas que podem ser tomadas em busca da
geoconservação, desde ações embasadas por questões legais, como a instituição
de unidades de conservação, até exercícios mais elementares, como a inserção de
conteúdos relacionados às geociências em atividades de educação formal e
informal. Sendo assim, uma busca intrínseca à essa ação é compreendida pela
popularização de conceitos e temas referentes às Ciências da Terra, o que propaga
a relevância da componente abiótica da natureza para os diversos nichos da
sociedade, ocasionando a consolidação de uma consciência ambiental sistêmica.
É certo afirmar que, apesar da relevância que apresenta, as atividades em
geoconservação não são comuns em âmbito nacional. Tal fato decorre da gênese,
na década de 1990, dos conceitos de geodiversidade e de geopatrimônio (ou
patrimônio geológico), que foi base para o desenvolvimento de pesquisas, o que faz
com que a divulgação dos mesmos se encontre ainda numa fase de expansão no
meio acadêmico. A conjuntura é complementada pela difícil compreensão das
etapas metodológicas que integram o escopo da geoconservação e o descaso do
poder público ante a questão ambiental.
O que é geodiversidade? Quais elementos englobam o geopatrimônio? Como
proceder na inventariação de geossítios? Qual metodologia usar para avaliar os
locais inventariados? Essas e outras questões são frequentes entre aqueles que
começam a desenvolver estudos voltados à geoconservação no âmbito acadêmico.
Sendo que os questionamentos são aprofundados quando a temática é apresentada
a gestores públicos, os quais se deparam com uma enorme quantidade de palavras
com o prefixo “geo” sem que haja um entendimento objetivo de seus significados.
Diante deste fato, o presente artigo pretende contribuir com respostas às
questões elencadas. Para tanto, são debatidos os principais conceitos da temática e
proposto um roteiro para o desenvolvimento de estudos práticos em
geoconservação. O roteiro elaborado tem como foco principal as etapas de
inventário e avaliação qualitativa e quantitativa do geopatrimônio, as quais, segundo
Borba et al. (2013, p. 276), constituem a ‘geoconservação básica’, ou seja, os
“procedimentos mais fundamentais e que irão embasar subsequentes estratégias de
proteção e valorização dos lugares de interesse geológico”.
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Índice de
Identificação da
Detalhamento do Meio Físico Geodiversidade
Geodiversidade
Seleção e Análise de
Locais de Interesse
áreas extensas, por ser necessário uma grande diversidade de elementos geológico-
geomorfológicos para a definição das categorias e para a comparação entre os
locais relevantes e os irrelevantes.
Outros procedimentos metodológicos são melhores aplicados em áreas
reduzidas (escala local-regional), como: i) Método ad hoc; ii) Seleção de geossítios
dotados de características superlativas; e, iii) Abordagem estratégica. É válido
salientar que esses procedimentos, de acordo as características da área e dos
objetivos da pesquisa, podem ser realizados de forma isolada, ou em conjunto.
O método ad hoc envolve a identificação pontual dos geossítios, os quais são
selecionados de maneira isolada a partir de um enfoque local, permitindo em
pequenas áreas ou em locais com geodiversidade monótona, a escolha de diversos
geossítios pertencentes a uma mesma categoria temática. O método apresenta
como vulnerabilidade o fato de não contextualizar a área em análise, podendo gerar
resultados aleatórios, caso não seja utilizado de forma coerente pelo pesquisador.
A seleção de geossítios dotados de características superlativas contempla
locais que apresentam qualidades extraordinárias. Esta abordagem ignora o
contexto em que o geossítio está inserido, sendo esse critério passível de
abordagem em unidades de conservação, que apresentem elementos da
geodiversidade enquanto principais pontos turísticos/educativos e/ou como ambiente
representativo da identidade local.
A abordagem estratégica compreende o levantamento estratégico e
sistemático de geossítios. Em um primeiro momento, são realizados inventários de
reconhecimento, seguidos por inventários temáticos e sistemáticos, os quais
concretizam uma avaliação comparativa e interpretativa das feições e sistemas
(PEREIRA, 2010b). Por fim, são realizados inventários de detalhe, que consistem no
levantamento de informações específicas, com o intuito de elaborar estratégias de
manejo dos geossítios. Os inventários de geossítios realizados por meio de uma
abordagem estratégica são mais complexos e respondem ao contexto geológico
regional, já que há comparação entre áreas, sendo menos subjetivos e susceptíveis
a estrapolações.
Dois procedimentos são essenciais para a realização do inventário: o
levantamento dos estudos realizados na área de pesquisa que contemplem a
geodiversidade; e os trabalhos de campo. Salienta-se que, nesse momento, a
pesquisa bibliográfica deve apresentar caráter restritivo, estando atrelada aos
objetivos definidos para o inventário. Por exemplo, o levantamento deve
compreender a busca por locais salientados na literatura como relevantes para o
entendimento da história evolutiva da Terra se o intuito for inventariar locais de
relevância científica, ou locais propícios para o desenvolvimento de práticas
didáticas; se o objetivo for elencar as potencialidades educativas do geopatrimônio
ou locais nos quais são realizadas atividades turísticas; e caso o objetivo seja
elencar as potencialidades turísticas.
Os trabalhos de campo devem ser orientados por uma ficha interpretativa,
para que ocorra a padronização na seleção de locais de interesse geológico-
geomorfológico. É possível encontrar diversos modelos de fichas de campo em
estudos realizados em língua portuguesa, como os elaborados por Pereira (2006;
2010b), Guimarães (2016), entre outros. Torna-se válida a adaptação dos modelos,
visando melhor abarcar as características próprias da área de pesquisa e dos
objetivos do inventário. Alguns critérios básicos devem ser elencados na ficha de
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campo, como a localização dos locais de interesse geológico, o tipo do local, uma
descrição geológica sucinta, uma breve análise de parâmetros de uso e gestão do
território e uma avaliação preliminar das potencialidades e vulnerabilidades
socioambientais. O preenchimento dos parâmetros pode ser realizado totalmente
durante o trabalho de campo, ou parte em gabinete, quando se faz necessária a
complementação das percepções empíricas por meio de pesquisas bibliográficas.
Durante os trabalhos de campo do inventário, os pesquisadores devem
realizar uma interpretação geológica da área de estudo, ou seja, conseguir distinguir
quais os locais que adquirem relevância de acordo com os critérios adotados. O
objetivo do trabalho de campo será selecionar possíveis geossítios que, após o
cruzamento com as informações oriundas do levantamento bibliográfico e das
análises laboratoriais, serão ou não classificados como tais. Para alcançar esse
objetivo, é válido o uso de diferentes técnicas que perpassam a coleta de material e
as análises em laboratórios, registros fotográficos, comparação entre locais de forma
contextualizada, realização de entrevistas com a população local e/ou pessoas-
chave (agentes comunitários, pesquisadores que estudaram a área anteriormente,
guias de turismo, etc.), entre outros.
Uma abordagem que adquire destaque em meio à temática e é apontada
pelos autores do presente estudo como suporte aos trabalhos de campo de
inventariação do geopatrimônio, é a definição do índice de geodiversidade da área.
É valido salientar que a geodiversidade e o geopatrimônio apresentam metodologias
de análises distintas, não havendo, como salienta Manosso (2012), uma relação
entre geodiversidade e o número de geossítios. Porém, os estudos de quantificação,
por sua capacidade de diferenciar os hotspots de geodiversidade, podem ser
utilizados enquanto auxílio na etapa de inventário e na contenção de gastos com
trabalhos de campo, especialmente em áreas de grandes dimensões, já que podem
orientar os locais prioritários para as pesquisas.
Vários são os índices de quantificação da geodiversidade, sendo que dois
métodos são mais replicados e adaptados no contexto brasileiro. O primeiro índice é
o proposto por Serrano e Ruiz-Flaño (2007), correspondendo a uma análise
integrada da paisagem, ao relacionar a variedade de ambientes físicos (geologia,
relevo, hidrologia, etc.) com a rugosidade do relevo e unidades geomorfológicas
previamente estabelecidas. O índice é definido pela equação:
Gd = Eg.R/Ln.S
Onde, Gd = índice de geodiversidade, Eg = Número de elementos físicos
diferentes na área em análise, R = Rugosidade, Ln = Logaritmo Neperiano, S =
Superfície da área em km².
A segunda metodologia foi proposta por Pereira et al. (2013), sendo o índice
obtido a partir da soma do número de elementos e ocorrências abióticas em uma
grade (grid) pré-estabelecida. O resultado final é calculado por meio da
sobreposição de mapas e apresenta um potencial de aplicação em áreas de
dimensões variadas e a atribuição de valores iguais a todos os elementos da
geodiversidade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pela bolsa de doutorado concedida ao primeiro autor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, U. R. Patrimônio Geológico e Geoconservação no Quadrilátero
Ferrífero, Minas Gerais: Potencial para a criação de um Geoparque da
UNESCO. 2007. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Geologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais,
Brasil.
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