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Descortinando A Educação

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Júlio di Paula & Alexandre Costa

o
DESCORTINANDO
E d u c a ç ã
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Prof. Alexandre Costa
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Júlio di Paula & Alexandre Costa

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DESCORTINANDO
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a Edu
Copyright © 2014 Editora Premius

Editoração Eletrônica e Capa Fábio Soares


Revisão Rejane Nascimento

Impressão e Acabamento

Rua Manuelito Moreira, 1705 - Centro


CEP 60040-001 - Fortaleza-CE
Fone: (85) 3214.8181 - Fax: (85) 3214.8182
premius@premiuseditora.ind.br
www.premiuseditora.com.br

PARCEIROS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação da fonte (CIP)

P596d Paula, Júlio César Pereira de.


Descortinando a educação/ Júlio César Pereira de
Paula e Alexandre Costa. -Fortaleza: Premius, 2014.

132p.

ISBN 978-85-7564-748-6

1. Educação. 2. Costa, Alexandre. I. Título.

CDU 376
DEDICATÓRIA

De Júlio di Paula:

À Lília Teresinha, minha mãe, Teresa


Christine, minha irmã, Sérgio, meu cunhado,
Margarete Castro, minha esposa, aos meus
alunos e alunas de graduação e pós-graduação
e aos meus amigos.
DEDICATÓRIA

Alexandre Costa

Dedico este livro à Nazaré Costa, minha esposa,


Alessandra Inojosa, João Henrique e Marina Morena, meus filhos,
Felipe Inojosa, meu genro, Cecília Costa, minha nora,
João Vitor e Bento Leitão, meus netos e aos brasileiros, homens e
mulheres, que acreditam na Educação
como o melhor caminho para construção de
uma Nação mais justa para todos.
Descortinando a Educação é um livro que oferece ao leitor uma visão
de educação baseada na construção de princípios e valores, explora
o papel do educador e da família nessa ação. Como sempre gosto
de dizer, passeia sobre a função social do processo educacional,
dos valores essenciais que dão sustentação a uma sociedade mais
saudável e responsável pela construção do próprio futuro, a partir
dos papéis que desempenha na vida.

Júlio di Paula e Alexandre Costa oferecem momentos de reflexão


para questões atuais da educação, estimulando um agir e um
assumir profissionais mais contemporâneos no dia a dia.

Áurea Castilho é Pedagoga e Psicóloga, Mestra em


Educação, Pós-Graduada em Planejamento Educacional
pela Universidade Federal de Santa Maria–RS, patrocinados
no Brasil pela OEA – Organização dos Estados Americanos,
Pós-Graduada em Didática de Ensino, pela Universidade
Católica de Pernambuco, Membro Emérito da Sociedade
Brasileira de Dinâmica de Grupo–RS, Coach (Life,
Integrado, Executivo e Sistêmico), com Certificação
Internacional, Professora de Graduação e Pós-Graduação,
Conferencista Internacional, Escritora com cinco livros
publicados e como Consultora trabalhou e prestou serviços
para grandes organizações públicas e privadas, nacionais e
multinacionais.
Prático e consistente. Esses são os dois princi-
pais adjetivos que me vêm à mente quando
perguntado sobre os belos textos que Júlio di
Paula e Alexandre Costa nos presenteiam nesta
obra literária.

Sem deixar de lado aspectos formais e científi-


cos que permeiam o estudo da Educação e do
Ensino no Brasil, os autores conseguiram nos
envolver com textos de fácil leitura e com temas importantes para o
desenvolvimento social e econômico.

Além de uma análise bem feita da realidade da Educação, Júlio di


Paula e Alexandre Costa vão além e nos proporcionam questio-
namentos e soluções para os desafios da Pedagogia e do Ensino
modernos.

Marcado, também, por capítulos curtos e envolventes, este diferen-


cial do livro permite a um grupo abrangente de profissionais e estu-
dantes ter acesso rapidamente a assuntos específicos e abordagens
pragmáticas, quase que num piscar de olhos.

Entendo que a formação empreendedora de Alexandre Costa e sua


vasta experiência no mundo dos negócios, aliadas à larga vivência
literária de Júlio di Paula, possibilitaram uma amálgama perfeita
com os fundamentos acadêmicos aprendidos e aqui apresentados.
O resultado disso é uma obra bem balanceada e de aplicação prática
e consistente.
Luiz Felipe Inojosa é Administrador de Empresas com MBA
pela BBS Brazilian Business School, São Paulo. Atuando há
mais de 15 anos em uma indústria Multinacional, já ocu-
pou posições de liderança em várias áreas da Organização.
Atualmente, morando nos EUA com esposa e filho, trabalha
como Executivo Internacional, responsável pelo desenvol-
vimento de uma Unidade de Negócios na América Latina.
O livro Descortinando a Educação, escrito por
Júlio di Paula e Alexandre Costa, sem dúvida
alguma, traz uma grande contribuição para
mostrar a realidade de nossa educação. A res-
peito desta obra, que li de capa a capa, sugi-
ro que você faça o mesmo e tire suas próprias
conclusões, porque acompanhei todo o pro-
cesso de pesquisa e produção textual de um
dos autores, Alexandre Costa, de quem sou amigo há mais de 30
anos e gostaria de apresentá-lo, nesta oportunidade especial.
Falar sobre Alexandre Costa é algo complexo e muito simples. A
complexidade vem do fato de decidir sobre qual Alexandre falar: o
pedagogo, o empresário, o publicitário, o marqueteiro, o militar, o
técnico em telecomunicações, o comunicador, o orientador, o pro-
fessor, o coach, o consultor de recursos humanos, vendas e atendi-
mento, o palestrante, o pai, o avô, o marido, o irmão, o homem de
fé etc. De tudo ele entende e participa com posições claras. É um
homem que gosta de gente, aprecia uma boa prosa, um bom debate
e se declara um eterno aprendiz.
Por ironia do destino, hoje ele é um profundo conhecedor de
Acromegalia, uma doença raríssima, que o acometeu, mas não o
abateu, pelo contrário, o levou a fundar, em parceria com outros
portadores de doenças hipofisárias a APADON – Associação de
Amigos e Portadores de Acromegalia e Doenças Neuroendócrinas do
Ceará, por acreditar que Deus pode usá-lo para ajudar outras pessoas.
Agora, ele está iniciando sua carreira literária, um velho sonho e como
o conheço muito bem, sei que virão muitas outras obras, ou seja, o
lançamento deste livro é apenas o começo de uma longa trajetória.
Dizem que pessoas que sabem muito como Alexandre, na realidade
não sabem de nada. Eu discordo e prefiro chamá-lo de mestre.
Muito obrigado, Mestre Alexandre Henrique Santos Costa!
José Potyguara Gomes Frota é empresário, graduado em
Administração com foco em Comércio Exterior.
Indiscutivelmente, a solução para o desenvol-
vimento sustentado do Brasil é educar o povo,
através de escolas com professores capacita-
dos, que ofereçam condições de aprendizagem
significativa e que não provoque a evasão es-
colar, um tema tão bem abordado nesta obra.

Segundo Aurélio Buarque de Holanda,


DESCORTINAR significa “correr a cortina,
para mostrar ou patentear, distinguir, notar, descobrir, enxergar,
revelar, mostrar, avistar ou descobrir ao longe”.

Tenho convicção de que o conteúdo deste livro vai abrir a


cortina para mostrar e fazer o leitor enxergar, distinguir, notar,
revelar e descobrir o talento que há dentro de cada um de nós.
Quero parabenizar os autores que utilizaram uma linguagem
técnica acessível e ao mesmo tempo simples, com colocações de
fácil entendimento, uma leitura bem leve e muito aprofundada
sobre a educação, com citações de alguns pensadores, enfim,
uma síntese de como podemos ter uma educação de qualidade
excelente e completa.

Quero finalizar com um pensamento de um educador que admiro


muito: “Se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental
a educação pode. Se a educação não é a chave das transformações
sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia
dominante”. Paulo Freire.
Sandro Barreto do Nascimento é publicitário, graduando
em Processos Gerenciais.
Descortinando a Educação mostrará o real paradigma da educação,
fazendo com que os leitores compreendam que educar é moldar,
preparar, desenvolver e transformar pessoas para que possam
exercer seus direitos e deveres, sua plena cidadania.

Esta obra também nos fará compreender que a educação não é


prioridade para o governo em suas ações e programas, porque a
educação liberta e nos torna sujeitos com visão crítica, ampliando
nossa forma de ver o mundo. Será uma leitura muito agradável e
esclarecedora.

Finalizo com um pensamento de um dos educadores mais


respeitados do país: “ensinar o povo a ver criticamente o mundo é
sempre uma prática incômoda para os que fundam os seus poderes
sobre a inocência dos explorados” (Paulo Freire).
Emanuela Gomes é empresária, graduanda em Serviço
Social, em Hidrolândia – CE.
O livro Descortinando a Educação nos proporciona uma reflexão
profunda. Os autores, professores Júlio di Paula e Alexandre Costa,
foram muito felizes ao escolher um tema tão importante para cada
um de nós e essencial para a formação da cidadania.

Como nós sabemos, a educação é um direito constitucional de


todos brasileiros e um dever do Estado, que não vem cumprindo
o seu papel ao longo dos anos deixando uma enorme lacuna em
relação a outros setores.

A partir do momento em que a educação brasileira for tratada com a


devida atenção e respeito, teremos um país realmente desenvolvido.
Precisamos de uma revolução na educação brasileira, que receba
investimentos em todos os níveis, porque o modelo de educação que
o Brasil precisa existe, basta seguir o que se encontra preconizado
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996.
Jocelia Martins Abreu, graduanda em Serviço Social, em
Hidrolândia - CE.
Fico muito honrado em participar desta bela obra esclarecedora es-
crita pelos autores Alexandre Costa e Júlio Di Paula, meu grande
amigo, com esse pequeno comentário sobre a educação superior.

O mercantilismo, ora imperante no ensino superior, e a vontade do


governo de ampliar a qualquer custo o acesso a ele, vem causando
problemas parecidos com os ocorridos na justiça, que teve, tam-
bém, seu acesso facilitado.

Hoje existe um enorme contingente de brasileiros que passaram a


ter acesso à justiça, o que é altamente positivo, mas, por outro lado,
essa mesma justiça não se estruturou para dar a devida resposta,
imperando, então, o “ganha mas não leva”, ou seja, a demanda foi
estimulada sem que houvesse uma estrutura adequada para atendê-
-la satisfatoriamente.

Da mesma forma a existência de inúmeras faculdades em qualquer


“portinhola” vem possibilitar o acesso ao ensino superior, respalda-
do, às vezes, até por convênios com universidades estaduais, mas de
péssima qualidade, pois o tempo dado aos professores para passar
conteúdo é exíguo, por isso e outros problemas a educação brasilei-
ra, como citado neste livro, Descortinando a Educação, precisa ser
repensada, revista e reformulada.
Wellington Silveira, Advogado Trabalhista e Civilista,
Pós-Graduado em Direito Processual Civil e Professor de
Graduação e Pós-Graduação.
Descortinando a Educação, oportuniza-nos
pensar, como costumo dizer, nas minhas refle-
xões e comentários, sejam por meio de artigos
ou apenas nas rodas de conversa que o traba-
lho de educar começa no lar e avança escola
adentro onde, aqueles que decidiram, por vo-
cação, abraçar o ofício de ensinar a outrem o
que sabem, necessitam entender que ser “pro-
fessor” transcende à profissão, pura e simples de transmitir conhe-
cimentos. Essa tarefa se compõe de dois atributos: Ensinar e educar.
Ensinar pressupõe alguém que está sempre em movimento,
acompanhando a contemporaneidade dos acontecimentos para levar
ao ambiente escolar o que há de melhor a ser transmitido aos seus ou-
vintes. Educar, por sua vez, é arte e sacerdócio; é necessário que o edu-
cador transmita o que aprende em seu dia a dia, com amor e alegria,
demonstrando que, além de mestre em seu ofício é alguém que ama o
que faz e ama aos que ensina.
Ao examinar esta obra, escrita por dois educadores e professo-
res, o leitor terá a oportunidade de refletir sobre esses princípios postos
com maestria em seu conteúdo e buscar pô-los em prática em favor
daqueles que nos buscam com sede de saber. Meus parabéns aos
Professores e Educadores, Julio di Paula e Alexandre Costa.

O Professor Francisco MOREIRA de Meneses, é graduado em Adminis-


tração pelo UniCEUB de Brasília; é Servidor Público Federal Aposentado pelo
Ministério da Educação; é Professor de Administração Pública e de Processos
de Tomada de Decisão; Pós-Graduado em Políticas Públicas e Gestão Governa-
mental pela ADESG – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra;
Pós-Graduado em Projetos Educacionais pela UnB - Universidade de Brasília e
Pós-Graduado Analises e Projetos de Sistemas pelo GFI – Grupo de Fomento à
Informática do DF;
Foi Diretor-Geral do CEFETE no Estado do Maranhão e Reitor Pro-Tem-
pore do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Brasília. - IFBSB.
Atualmente é Diretor de Ensino e Pesquisas do Instituto CENTEC do
Estado do Ceará.
SUMÁRIO

Prefácio - Assis Almeida ....................................................................17

1ª Parte – Júlio di Paula ...................................................................21


1º Capítulo - O que é Educação? ....................................................23
2º Capítulo - Função Social da Educação ......................................33
3º Capítulo - A Educação no Sistema Neoliberal .........................45
4º Capítulo - O Problema da Evasão Escolar e a Busca de
Soluções .........................................................................................53
5º Capítulo - Aparências e Realidade .............................................59
6º Capítulo - A Filosofia de volta à sala de aula ............................69

2ª Parte – Alexandre Costa .............................................................73


1º Capítulo - Uma Reflexão sobre a Educação Brasileira. ...........75
2º Capítulo - Educação de Qualidade no Brasil. Verdade ou
mentira? .........................................................................................79
3º Capítulo - Planejamento na Educação Brasileira. ....................83
4º Capítulo - O Modelo de Educação que o Brasil precisa
existe. .............................................................................................85
5º Capítulo - A importância da Aprendizagem Significativa. .....87
6º Capítulo - Educar ou Ensinar? ...................................................91
7º Capítulo - Ser Professor. Profissão ou Sacerdócio?..................93
8º Capítulo - Aprendizagem. Um Fator de Construção da
Cidadania. .....................................................................................95
9º Capítulo - Tia ou Professora? ...................................................103
10º Capítulo - Educação a Distância (EaD). .................................105
11º Capítulo - Evolução da Educação a Distância. .......................109
12º Capítulo - O Avanço das Novas Tecnologias de Informação
e Comunicação na Educação. ...................................................115
13º Capítulo - Possibilidades de atuação do Profissional de
Pedagogia. ...................................................................................117

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................121


BIBLIOGRAFIA ................................................................................125
Júlio di Paula & Alexandre Costa

PREFÁCIO
“Se a educação sozinha não pode transformar a
sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”
Paulo Freire

Descortinando a Educação oferece ao leitor não apenas uma


perspectiva de como está a construção do saber em nossas escolas,
sobretudo a pública, tema tão desenvolvido nos últimos anos com
a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), que vigorou
de 1997 a 2006, então substituído pelo Fundo de Manutenção e De-
senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissio-
nais da Educação (Fundeb) que atende toda a educação básica, da
creche ao ensino médio, e está em vigor desde janeiro de 2007 e se
estenderá até 2020; e da criação dos Planos Curriculares Nacionais
(PCNs).
Essas siglas, Fundef, Fundeb e PCNs deram um novo fôlego
às discussões acerca da Educação brasileira, do fazer pedagógico e,
mais que isso, faz ecoar um questionamento: qual o legado de nos-
sas práticas educacionais para as novas gerações?
A presente obra se diferencia das demais pela criticidade com
que trata a temática Educação. Não se percebe o ufanismo dos que
bradam que o Brasil já faz parte dos que priorizam a criança e o
jovem na escola, mas traz a reflexão sobre o tipo de educação que se
percebe nos estabelecimentos de ensino: a quem ela serve?
Não se pode negar que nas últimas décadas programas do go-
verno federal, como o Bolsa Família, têm ajudado a tirar das esqui-
nas menores que mendigavam ou vendiam bombons ou afins para

17
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
ajudar no orçamento doméstico. Mas quantidade não é sinôni-
mo de qualidade e estão aí as estatísticas para comprovar que
nossas crianças e adolescentes não estão evoluindo na capacida-
de de discernir, de pensar, de fazer uma leitura crítica dos textos
que recebem.

“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso


compreender qual a posição que Eva ocupa no seu
contexto social, quem trabalha para produzir a uva e
quem lucra com esse trabalho” (Paulo Freire).

O livro questiona o currículo dos ensinos fundamental e mé-


dio tão longe da realidade. Conteúdos que nunca serão usados, ou-
tros que são apenas pincelados. E nos deixa um questionamento:
Qual é o objetivo da educação brasileira? Recriar ou reproduzir esse
modelo de sociedade com seus vícios e mazelas, em que o capital
tornou-se o protagonista da história?
Em um dos artigos, o autor nos esclarece as diferenças entre
ensinar e educar. E nos reportamos ao saudoso mestre Paulo Freire
na epígrafe do início deste prefácio: “Se a educação sozinha não
pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade mu-
da”(Paulo Freire). Abrir sem critérios faculdades não nos credencia
como nação que valoriza a educação. Talvez esteja nos faltando a
audácia de reivindicar uma educação de qualidade, exigente, pau-
tada no processo ação-reflexão (avaliação)-ação. Uma educação
que faça pensar, que torne nossas crianças e jovens capazes de fazer
opções conscientes, que os libertem da inércia, do conformismo.
Audaciosa também foi a ação de questionar os papéis que vêm
se confundindo: o professor e o educador. O que predomina no nos-
so sistema educacional vigente? Claro que aqui não se trata de uma
visão romântica, de enxergar o professor como o herói, o missioná-
rio, não, mas de contemplar no semblante do profissional a certeza
de que ele tem ciência da importância de seu papel na sociedade. O
professor não pode ser aquele que repassa conhecimentos, mas o

18
Júlio di Paula & Alexandre Costa

que desperta no aluno (independente da faixa etária) a vontade de


aprender, de querer descobrir novas possibilidades.
No entanto, apesar de todas essas constatações, pode-se afir-
mar, sem medo de errar, que Descortinando a Educação é um li-
vro impregnado de esperança no porvir. Primeiro, porque somente
quem se interessa por algo é capaz de parar, de fazer memória e
traçar novos links. Foi o que ambos fizeram. Partiram do seu agir
como educadores que são, (eles se assumem assim), e se debruça-
ram a vislumbrar uma nova sociedade pautada numa prática edu-
cacional possível, porque é possível!, e a Lei de Diretrizes e Bases
para o Ensino é o referencial teórico para essa construção. O que
falta? A quem interessa permanecer nesse jogo: o professor finge
que ensina e o aluno finge que aprende?
Segundo, porque como homens voltados para o ser huma-
no, eles apontaram como luzes, justamente aquelas duas temáticas
que costumam ser questionadas e até apedrejadas, uma pelos tec-
nicistas, que só entendem a formação para o mercado de trabalho
e a outra pelos intelectuais que ainda estão presos aos limites dos
campi. Refiro-me à filosofia apontada por Julio di Paula como uma
disciplina indispensável ao currículo de uma sociedade que quer
ser iluminada, humana, crítica, criativa, que não se contenta com
aquele refrão popular: “Deixa a vida me levar”. A outra luz, esco-
lhida por Alexandre Costa, foi a Educação a Distância. Nesse mo-
mento histórico, com tantas possibilidades tecnológicas, por que
impedir que o conhecimento se dissemine por todas as partes de
nosso imenso Brasil?
Honrado, senti-me, ao fazer parte dessa obra que reuniu dois
pensadores, dois educadores, cada um a seu estilo Descortinando a
Educação.
Eis o convite, prezado leitor.

Assis Almeida
Editor

19
“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.

Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe


contaria sobre os instrumentos que fazem a música.

Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma


me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas
bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.

Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas


ferramentas para a produção da beleza musical. A
experiência da beleza tem de vir antes”.

Rubem Alves
1ª PARTE
Júlio di Paula
“A educação é um processo social, é desenvolvimento.
Não é a preparação para a vida, é a própria vida”.

John Dewey
Júlio di Paula & Alexandre Costa

1º Capítulo

O que é Educação?
O saber se faz através de uma superação constante.
O saber superado já é uma ignorância. Todo saber
humano tem em si o testemunho do novo saber que
já anuncia. Paulo Freire.

Definir o conceito de educação não é tão simples. Diversas


teorias têm sido abordadas, o que prova cada vez mais a magnitude
de sua abordagem. Grandes pensadores da educação como o filó-
sofo italiano Antonio Gramsci, Içami Tiba, psiquiatra e educador,
Anísio Teixeira, Cipriano Carlos Luckesi, Paulo Freire, Rubem Al-
ves, Moacir Gadotti, Mario Alighiero Manacorda, Darcy Ribeiro,
Carlos Rodrigues Brandão, Lourenço Filho, Florestan Fernandes,
o renomado Augusto Cury, Walter Garcia, José Gimeno Sacristán,
com a sua obra clássica A educação que ainda é possível, e outros
grandes nomes naturalmente podem ser aqui citados sobre a vasti-
dão da definição de educação e sua complexidade.
A priori, colocamos apenas como exemplo a dimensão de
pensadores, que nos deixam o seu legado de discussão e debate so-
bre a excelência da educação e sua grandeza, que nos abre de certo
modo a cortina para que possamos ter mais luz com a entrada do
conhecimento sobre a nossa ignorância, conhecimento este sempre
inacabado.
A educação faz parte de uma conjuntura política e ideológica,
de mudanças, de inovação, de situações, de formação e de infor-
mação, de comunhão, de cooperação, de crescimento individual e
coletivo, ela tem por excelência este portal aberto de discussão, de-
bates, posicionamentos. Nós, na condição de educadores, de edu-
candos, de sociólogos da educação, de pedagogos em formação, não

23
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
podemos tratar a educação pautada sob uma só corrente de posição,
de fórmula pronta a ser aplicada.
A educação é muito mais complexa do que podemos imagi-
nar, pois ela faz parte de um tempo, princípios valorativos, culturais
e costumes. Na realidade a educação faz parte desta dinâmica, cal-
cada sobre a liberdade de pensadores, pessoas comuns, professores,
educadores, alunos e aqueles que apreciam a excelência do ato de
educar. Tentar de alguma forma discutir aquilo que é mais adequa-
do para a sua práxis educacional, claro que sob uma base de princí-
pios, de regras, de normas, pois como cita o psiquiatra e educador
Augusto Cury (Cury, 2000, p. 68) “A educação precisa passar por
uma revolução. Os professores deveriam ser treinados e equipados
para poder atuar no campo da prevenção e da qualidade de vida dos
alunos”. Deveriam ser mais bem remunerados para terem uma vida
digna e menos estafante. Educar é uma das tarefas mais prazerosas,
mas, também, umas das mais desgastantes da inteligência.
Educar é uma arte. A educação nada mais é do que uma fer-
ramenta de transformação, de mudanças. Gestores, professores,
alunos, coordenadores, todos estão suscetíveis às mudanças que a
educação causa sobre suas vidas. Quem educa, se trabalha, é au-
tomaticamente beneficiado. O professor aprende cada vez mais, o
diretor, o gestor educacional, seja o supervisor ou o coordenador
que administra uma escola, tem a oportunidade de desenvolver o
verdadeiro papel de líder.
O papel do professor em sala de aula é mais importante ainda,
pois a atividade fim da escola é o professor, não tenhamos dúvida,
pois este não pode se ausentar da sala de aula, sua presença é impor-
tantíssima. A partir do momento que ele ensina, transmite conhe-
cimento, este é o mais beneficiado de todos, pois tem a oportuni-
dade de fazer parte de um aprendizado contínuo, de fazer amizade,
de socializar, de se integrar, de crescer na condição de ser humano,
de ter a graça de apreender e reaprender, de vivenciar condutas, de
se reeducar diante do conhecimento. Este está diretamente na fonte

24
Júlio di Paula & Alexandre Costa

do aprendizado sob o leque de disciplinas, de sua formação como


cidadão, de formar pessoas, auxiliar no crescimento pessoal de cada
ser humano.
Quem trabalha diretamente com o poder na educação tem
que se policiar diante de sua postura, seja como mestre ou gestor,
pois quem usa a relação de poder para impor suas ideias não é dig-
no do poder de que está revestido (Cury 2008 p.61). Portanto, o po-
der do gestor e do professor na educação tem que ter a sua dosagem
de discernimento, prudência ao falar e fazer valer o seu poder, não
com autoritarismo, mas com o discurso dialético do convencimen-
to, do líder e não do carrasco.
O educador nato é aquele que estimula e incentiva seus alunos,
que chama para si, que provoca o debate do conhecimento, estimu-
lando a participação, a colaboração e a construção do aprendizado.
O professor é o canal mais importante para quebrar as arestas
do medo, para retirar dos seus alunos o temor de participar. O edu-
cador vocacionado faz de sua ministração um conteúdo sempre e
sempre novo, pois cada plateia tem a sua peculiaridade, cada sala de
aula traduz um mundo novo, de regras, de relação, comunhão, de
quebra de vícios. Augusto Cury (Cury, 2008, p.68) cita que o medo
de ousar tem destruído a formação de pensadores no mundo todo.
Muitos estudantes têm medo de levantar as mãos, questionar seus
professores, expressar seus pensamentos. O sistema educacional
procura alunos quietos, mas a sabedoria procura alunos inconfor-
mados. O sistema educacional procura alunos que repetem ideias,
mas a formação de pensadores procura alunos que debatam ideias,
usam o raciocínio esquemático e ousam nas provas.
Que a relação entre educador e educando seja um canal de
ligação de respeito, de carinho, de amor, de compreensão e mais do
que nunca de humanização. Que o professor e o aluno possam jun-
tos entender que antes de se ter a formalidade dos papéis ali inseri-
dos na escola, no campus da universidade tem-se um homem, um
ser inacabado em que a sua dignidade tem que ser preservada, os

25
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
seus posicionamentos têm que ser respeitados, mesmo que o mestre
tenha visões contrárias às ideias de seu aluno, que o aluno pense di-
ferente de seu educador sobre determinado tema, o respeito tem de
ser mútuo e tem que haver entre as partes, um caloroso e agradável
debate, pois a dialética faz parte de pensadores, que juntos lançam o
seu posicionamento, construindo, assim, sua forma de pensar sobre
determinado fato. VIEIRA (1985-1995: p.20, 21) fundamenta que
a educação deve ser um mecanismo de colaboração, para que jun-
tos, escola, professor, aluno e sociedade, estado, políticos possam
construir o que tem de melhor para aplicar uma educação digna,
estimulante, inovadora, pacificadora e dinâmica.
A partir do momento em que nós começarmos a pensar a
educação no seu todo, no seu corpo gestor por excelência, teremos
a oportunidade de reivindicar, de falar, de reescrever a história da
nossa educação, de cooperar, exigir de nossas autoridades, minis-
tro da educação, secretários e legisladores, uma melhor aplicação
dos recursos destinados à educação. Nós podemos, de certa forma,
acompanhar de perto a aplicação destes recursos, criando a possibi-
lidade de ensejar um novo quadro da educação em nosso país.
É preciso valorizar o professor, uma classe muito sofrida,
desrespeitada e desassistida. Infelizmente, nós, professores, quando
somos chamados ao magistério, quando temos a vocação de estar
em sala de aula é algo realmente magnífico, glorioso. Acertamos
e erramos, pois, antes de tudo somos pessoas, seres humanos em
formação.
A priori não tem preço o exercício da função, nada paga a
beleza do ensinar, do compartilhar o conhecimento, de aprender
junto. Mas, por outro lado, não podemos dizer que educar é um
trabalho feito somente por amor, por voluntariado, não existe isso,
nossos olhos estão aí para uma realidade, aquele que educa é pes-
soa, é gente, tem vida, família, filhos, despesas, precisa se alimentar,
ter moradia, lazer e prazer pelo que faz, para isto precisa ser bem
remunerado, pois tudo isto paira sobre sua dignidade.

26
Júlio di Paula & Alexandre Costa

Como um professor pode se capacitar e estudar, se o seu sa-


lário mal dá para a sua sobrevivência, para suprir as necessidades
básicas de seu cotidiano? Existem professores passando privações,
doentes, desestimulados, com medo de entrar em sala de aula, em
função da violência e o descaso das autoridades constituídas.
Agora você pode se questionar, como um educador pode se
sentir estimulado em trabalhar com amor se este não tem o básico
de dignidade sobre a sua profissão como: salário justo, instrumen-
tos de trabalho, alunos alimentados, salas com o mínimo de confor-
to, material adequado para o exercício de sua profissão, em que este
possa estar motivado e feliz por fazer parte daquela aula, daquele
grupo, do prazer do professor em passar o conhecimento.
O educador é, muitas vezes, humilhado pelos seus gestores,
desrespeitado, depreciado, perseguido, ameaçado. Sua profissão,
que a princípio se traduz no propósito de formar profissionais e tra-
balhar a consciência torna-se desprezado, desamparado.
A educação é um dos instrumentos mais importantes para
a formação do homem em sociedade. Por meio da educação uma
nação cresce, aumentando sua renda e a qualidade de vida das pes-
soas. É pela educação que passamos a conhecer nossos direitos e
obrigações, que aprendemos a ler, a nos debruçar sobre os livros.
Ela faz parte da formação do cidadão, dos seus costumes e da cultu-
ra de um povo. É aprendendo que passamos a ensinar e é ensinando
que nos lapidamos, nos humanizamos. A educação nos fortalece e
capacita para os desafios.
Educar é moldar e revelar através da capacidade que trazemos
dentro de nós desde que nascemos. Com educação nos tornamos mais
humanos, capazes, respeitamos mais os outros e nos tornamos me-
lhores, constituindo com isto um mundo melhor. Fazemos parte do
desenvolvimento pessoal e coletivo, passo a passo nos aperfeiçoamos,
crescemos, ampliamos o nosso horizonte de visão de vida e de mundo.
A educação tem como base a sua constituição informal e for-
mal. A informal é proveniente do bojo familiar, na sociedade. É a

27
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
forma que nós, como pais, educamos os nossos filhos, passamos a
nossas crianças os nossos princípios. Já a formal se constitui através
da escola propriamente dita, da instituição pública ou privada onde
nós alfabetizamos o cidadão para que eles sejam bons profissionais,
qualificados, preparados para o mercado, para a vida no futuro e
que sejam pessoas íntegras, conhecedoras de seus direitos, deveres
e obrigações.
O conceito de educação é muito amplo, tem como âncora
principal: ensino e aprendizagem. A educação social, a socialização
por meio da educação, caracteriza-se como exercício continuado,
nos espaços sociais e convívio social. Educar é adotar em todas as
escolas do país uma formação digna, de qualidade, de compromis-
so, em comunhão com a sociedade, e está atrelada à expansão de
projetos comprometidos com a transformação do ser em sociedade.
Educação é o processo de conhecimento entre a família por
meio da comunicação no seio da sociedade. Educação é base, a
chave para entender e descortinar a ignorância, formar e capacitar
futuros educadores, verdadeiramente vocacionados. É a base para
tudo, quando aplicada de maneira correta, faz com que o indiví-
duo adquira conhecimento que o faz crescer diante de seu país, do
seu povo. Educação é a busca de conhecimentos tanto para apren-
dizagem de uma determinada disciplina, quanto para o modo de
ser e agir diante da sociedade. Então, tudo que se ensina serve
de base para educar e formar o ser humano, pressupondo que o
indivíduo torne-se um ser virtuoso para a prática do bem, um ver-
dadeiro cidadão.
Quando adquire o conhecimento, o indivíduo não é mais o
mesmo na sua história. Pitágoras de Samos, filósofo e matemático
diz: “Educai as crianças, para que não seja necessário punir os
adultos”. Heráclito afirma que “ninguém pode entrar duas vezes no
mesmo rio, pois quando nele se entra novamente não encontrará
as mesmas águas, e o próprio ser já estará modificado”, assim, tudo
é regido pela dialética (...), portanto observa-se com isto que o

28
Júlio di Paula & Alexandre Costa

homem é este ser em movimento, a educação o renova, o inova, o


torna um ser de valores contínuos, inacabados.
É através da práxis educativa que as pessoas vão entendendo e
compreendendo as regras constituídas no lar que vão, naturalmen-
te, fazer parte da extensão do seu comportamento formal, pois o
conhecimento do senso comum, a convivência, o que é passado de
geração a geração, de pai para filho sobre o esteio da família, o indi-
víduo vai compreender e perceber que as regras e os limites devem
ser respeitados e cumpridos, pois só assim é possível se formar um
ser humano demasiadamente humano. Os trâmites do ensino e do
aprendizado fazem parte de uma relação próxima, calorosa, huma-
na, não indiferente, mas de preocupação, de comunhão, de relação
entre professor e aluno.
A educação tem também como conceito os modos culturais de
ser, estar e agir do próximo, o que sou e o que venho a ser tem o seu
movimento, claro que sob o prisma da convivência em grupo, seja este
educacional, profissional, familiar ou social. Educação é tudo, é o port-
fólio para a independência, para a liberdade, para a quebra de tabus,
de paradigmas, de visões tacanhas das coisas, faz parte das lutas, das
ideologias, conquistas e mudanças, inovação e renovação. Ela é tão re-
levante para o ser humano que é por meio dela que temos e passamos a
ter uma visão de criticidade das coisas, de tudo ao nosso redor, que nos
constitui e faz parte do dia a dia de nossas vidas.
Por meio da educação podemos ampliar a nossa forma de ver
o mundo. Saímos da visão do conhecimento ingênuo para uma vi-
são de senso crítico das coisas, nos informatizamos, temos como
educação, informação rápida através das redes sociais, dos manifes-
tos em massa pela celeridade da comunicação virtual, das chamadas
gerações “Y” e “Alfa”. Estamos sob um novo patamar de absorção
do conhecimento, o mundo tornou-se menor com a evolução da
Internet, o mundo globalizado traz a excelência da interdisciplina-
ridade do conhecimento, do cruzamento de culturas, de povos, de
raças e de socialização.

29
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
Educar é algo contínuo de informação, desenvolvimento, é a
porta aberta em busca de novos horizontes que poderá nos levar a
picos altíssimos, é a chave de um lindo tesouro para quem descobre
e vive intensamente os bons valores, as virtudes.
A educação é a gênese da história da sociedade. Por intermé-
dio dela, e só por ela, o indivíduo é capaz de crescer, se desenvolver
intelectualmente, tornar-se um ser pensante, dinâmico, sociável,
menos egoísta, quando este assimila os valores positivos e negativos
sobre o ter e o ser.
Ensinar e instruir fazem parte desta formação de um espí-
rito crítico, que cada um tem inerente em si mesmo, é respeitar as
normas e o direito de todos. É um propósito que estamos sempre a
compartilhar e a cada dia da nossa vida estamos crescendo diante
da beleza do conhecimento. Como também temos a convicção de
estarmos cientes de que cada ente tem o direito a uma educação de
igualdade e qualidade, de preservação de sua dignidade.
Educação é a busca constante do novo, ou seja, estar em
contínuo aprendizado. Cada dia assimilando mais e mais. É estar
sempre se atualizando. É base para tudo, nos leva a desenvolver a
capacidade e a diferenciar os pontos de vista de cada ser humano.
Pela educação chegamos aonde queremos, com uma grande visão e
transformando pessoas em nosso meio.
A função do educador e da instituição educacional é formar e
socializar os indivíduos, integrando-os na sociedade; apresentá-los
ao mercado competitivo e capacitá-los, sem deixar de humanizá-los,
é claro. É o desejo, a busca incessante de aprender, compreender e
transformar o mundo em nossa volta, formando pessoas capazes
de pensar e agir com sabedoria e determinação. É tudo aquilo que
aprendemos através dos nossos conhecimentos adquiridos. A edu-
cação é a maior fonte de desenvolvimento de um ser humano ques-
tionador, intelectual, formador de opinião, de identidade própria.
A educação é a existência humana, da dignidade, do crescer, do
prosperar, do vivenciar o ato de educar como quebra do engessamento

30
Júlio di Paula & Alexandre Costa

da ignorância, dos preconceitos, dos falsos paradigmas, das falsas


visões do mundo que aí está. De uma reconstrução e revisão do
mundo, de ser manobra de massa, mas como um ser humano polí-
tico, questionador, reivindicador de seus direitos, é estar atrelado à
expansão de projetos comprometidos com a transformação da so-
ciedade, é a base, é o centro de informação que o indivíduo assimila
dentro da sua família e vai se aprofundar cada vez mais na escola.
Educação é um dos requisitos mais importantes para for-
mação do cidadão, é base para tudo, para o desenvolvimento de
um país. É através da educação que uma nação cresce, aumen-
tando sua renda e a qualidade de vida das pessoas, pois pessoas
educadas mudam naturalmente a sociedade, pois contribuem
para uma nova visão, expectativa de vida, de projetos, de socia-
lização, de integração.
É através da educação que passamos que nos deparamos com
o prazer da literatura, conhecemos cidades, histórias, culturas, geo-
grafia, costumes de um povo, é aprendendo que a cada tempo, a
cada momento passamos a ensinar e aprender cada vez mais e des-
cobrimos que é ensinando que aprendemos porque a educação é
tudo em nossas vidas, pois passamos a deter algo fantástico que é
a descoberta cada vez mais sutil do conhecimento. A educação é
o esteio da nossa formação, uma boa educação pode ser iniciada
pela formação que vem do núcleo familiar, pois ela reflete na nossa
educação formal. A educação reflete muito no nosso dia a dia, na
maneira de agir, pensar, falar e às vezes até criticar.
A educação é um direito de todos. É com ela que conquista-
mos nosso espaço no meio da sociedade. Todo cidadão tem direito
a uma educação de qualidade. Temos que lutar e buscar nosso es-
paço na sociedade. Ela faz parte de um processo social, de desen-
volvimento, de lapidação, de transformação, é a porta que se abre
para novos horizontes, que poderá naturalmente nos levar a lugares
mais altos, é a chave de um lindo tesouro para quem descobre e vive
intensamente o ato de aprender, de conhecer.

31
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
Sempre estando ciente de que cada ser tem o direito a uma
educação de igualdade e qualidade, é estar sempre em busca de
novos desafios, ou seja, estar em processo de aprendizagem, cada
dia aprendendo coisas novas e estar sempre se atualizando sobre os
princípios éticos da sociedade. Educar faz parte de uma transfor-
mação, de uma lapidação do ser, é o desejo, a busca incessante de
aprender, compreender e transformar o mundo a nossa volta, for-
mando pessoas capazes de pensar e agir com sabedoria e destreza.
A educação nos prepara para o debate, para a dialética, para o
conhecimento e compreensão sobre a convivência com as diferen-
ças, a desenvolver a capacidade e a diferenciar os pontos de vista de
cada ser humano. Educação é formar e socializar pessoas. Ela acon-
tece por meio dos livros, professores, comunicação, a vida, pois esta
tem um fim especial que é transformar o indivíduo, ou seja, lapidar
este ente que sai da condição natural, da visão simples de mundo
para uma visão de criticidade, torna este cada vez mais humano.

32
Júlio di Paula & Alexandre Costa

2º Capítulo

Função Social da Educação


A filosofia fornece à educação uma reflexão sobre
a sociedade na qual está situada, sobre o educando,
o educador e para onde esses elementos podem
caminhar. Cipriano Carlos Luckesi.

A educação é como um livro que nos mostra o mundo e sua


realidade, é o ensinar, o aprender e o saber, o conhecimento, a base
da família, a cultura de uma nação, a base de tudo, mas não precisa
ser diretamente uma educação formal, pois a educação informal, a
priori, já tem uma visão relevante. A educação que vem da família
reflete nos nossos valores e princípios. A educação é um direito de
todos e um dever do Estado. É com ela que conquistamos nosso
espaço na sociedade. Todos nós temos direito a uma educação de
qualidade, assegurada pela Constituição da República Federativa
do Brasil, de 1988:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será


efetivado mediante a garantia de: I – educação bá-
sica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
oferta gratuita para todos os que a ela não tiverem
acesso na idade própria; II – progressiva universa-
lização do ensino médio gratuito; III – atendimento
educacional especializado aos portadores de defi-
ciência, preferencialmente na rede regular de ensi-
no; IV – educação infantil, em creche e pré-escola,
às crianças até 5 (cinco) anos de idade; V – acesso
aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às

33
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
condições do educando; VII – atendimento ao edu-
cando, em todas as etapas da educação básica, por
meio de programas suplementares de material didá-
tico-escolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde. § 1º – O acesso ao ensino obrigatório e gra-
tuito é direito público subjetivo. § 2º – O não-ofere-
cimento do ensino obrigatório pelo Poder Público,
ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da
autoridade competente. § 3º – Compete ao Poder
Público recensear os educandos no ensino funda-
mental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais
ou responsáveis, pela frequência à escola.
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada,
atendidas as seguintes condições: I – cumprimento
das normas gerais da educação nacional; II –
autorização e avaliação de qualidade pelo Poder
Público.

A função da educação inserida numa realidade social mais


ampla deve ser compreendida dentro de seus aspectos organiza-
cionais. Como os rumos de nossa sociedade dependem da política
educacional adotada, é importante salientar que ela não está carac-
terizada apenas em uma estrutura ideológica.
A Educação é a base, é o centro de informação que o indi-
víduo assimila gradativamente e, com o passar do tempo, vai se
aprofundando e exercendo direitos e deveres. Ela forma, constrói
valores, verdades a priori engessados, socializa, torna o indivíduo
solidário ou muitas vezes egoísta, claro que isto também tem a ver
com os conhecimentos recebidos na sua história de vida, educação
dada pelos seus pais, assim a educação será repassada, divulgada,
acontece por meio da comunicação, da sala de aula, da mídia, da
televisão, do jornal, da revista, livros, tudo é um canal de formação
do indivíduo. Este sai da condição natural de ser e estabelece ao
longo do tempo, um comportamento diferenciado, um sujeito mais
humanizado.

34
Júlio di Paula & Alexandre Costa

A relevância de educar tem como desejo a busca incessante


do aprender, compreender e transformar o mundo em nossa vol-
ta, formando pessoas capazes de pensar e agir com sabedoria e
determinação.
Tudo que aprendemos é através dos nossos conhecimentos
adquiridos, a educação é a maior fonte de desenvolvimento do ser
humano, a transformação de ser intelectualizado, polido, transfor-
mado. Educação é o princípio de ensinamento e de aprendizagem
que o indivíduo adquire gradativamente. A educação está ligada a
uma nova ação de desenvolvimento da capacidade moral e ética de
cada ser, pois não há educação sem princípios básicos de moralida-
de e valores constituídos.
O processo de “deseducação” caracteriza-se pela falta de ini-
ciativa, passividade e pela formação de “robôs”. Abordando a proble-
mática da educação, é fundamental fazer uma análise política para
melhor referendar a real função socioeducacional em que ela está in-
serida. É importante salientar que

“A política educacional autoritária, concebida em


tempos áureos da ditadura, não mais se sustenta. A
política educacional, que vai responder aos desafios
de uma sociedade democrática, contudo, ainda não
tomou sua forma. Vive-se um tempo de busca, de
anseios e de grande efervescência na organização da
sociedade. O velho já não atende às demandas que
vão surgindo, o novo, entretanto, ainda não nasceu”
(Vieira ,1985-1995: p. 20, 21).

A transmissão da cultura, formas de convívio social, valores,


relacionamentos, regras, relações de trabalho, enfim, pensar os se-
res humanos, agora e no futuro, constitui um processo. Vivemos em
uma sociedade capitalista, onde o homem, na maioria das vezes,
sente-se incapaz de se mostrar, de se colocar diante do sistema. In-
felizmente, o sistema é alienante, não propicia ao indivíduo lançar
as suas ideias, ideologias e inovações.

35
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
O conhecimento é dado simplesmente em doses homeo-
páticas. Aplica-se, apenas, o que é “necessário” aos interesses de
uma burguesia vigente, autoritária e dominante. Na realidade, a
sociedade encontra-se perdida, sem saber que caminhos devem
ser tomados e traçados na estrutura social presente. Como foi ci-
tado pelo especialista Augusto Cury, em sua obra Pais brilhantes,
professores fascinantes:

Não estamos educando a emoção nem estimulando


o desenvolvimento das funções mais importantes
da inteligência, tais como contemplar o belo, pen-
sar antes de reagir, expor e não impor as ideias, ge-
renciar os pensamentos, ter espírito empreendedor.
Estamos informando os jovens, e não formando sua
personalidade (Cury 2003 p.15).

Não existe uma preocupação ou um projeto maior de in-


vestimento no papel humano, no ser, na emancipação humana,
na capacitação da formação do ser, uno, único e constituído de
valores peculiares, de posicionamento distinto, de princípios que
lhes são só seus.
Dentro de cada ser humano existe um grande universo que
precisa ser descoberto, trabalhado, investigado, explorado. Em cada
ente, existe uma chama maior que é o pensamento que, se estimula-
do e lapidado pelo conhecimento, poderá através destas ferramen-
tas do pensar, do questionar, da visão de um mundo crítico, da saída
do senso comum, do pensamento ingênuo, passar para uma reali-
dade de criticidade da realidade. Poderá este transcender e quebrar
barreiras viciosas do capitalismo vivido e traçar metas que possam
dar oportunidade para que todo cidadão desenvolva a sua consciên-
cia real, ser um ser ético, consciente do seu papel, como ator da sua
própria história.
Como afirma Neidson Rodrigues, na conclusão de sua obra,
Desafio aos Educadores - Lições do Príncipe e Outras Lições...

36
Júlio di Paula & Alexandre Costa

“Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo


dos processos educacionais e políticos de educação
desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos
anos. Temos educado os homens para aprenderem a
se defender contra todas as ameaças externas, sendo
apenas reativos. Ensinamos o espírito da covardia e
do medo. Precisamos assumir o desafio de educar
o homem para desenvolver o instinto da águia”
(RODRIGUES, 1984: p.110).

É importante refletirmos sobre o nosso papel no sistema


social. Acreditar e reafirmar que o sistema socioeconômico da nossa
realidade nos ensina e nos empurra, a sermos agentes-tartaruga em
nosso meio.
A primeira tarefa que temos que enfrentar dentro de uma
contextualização cidadã é a de reconhecermos qual tem sido o nos-
so papel como agente-transformador. É refletir o papel da ética na
sociedade, que é a procura de redescobrir a “igualdade dos seres”,
baseada na dignidade humana e nos direitos condicionais da na-
tureza. Como cita Martin Luther King “Para criar inimigos não é
necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa”, ou seja, a au-
tonomia, a liberdade de opinião e a capacidade de agir causam des-
conforto e preocupação às classes dominantes.
É importante pensar no resgate da solidariedade fraterna e
humana, já que nossa sociedade atual parece pedir o contrário de
tudo isso. Infelizmente, temos um quadro de um povo pacífico,
de uma sociedade pacífica e acomodada diante dos desafios e até
mesmo diante da imposição de nossos governantes. Ela sempre dis-
corda da opressão dos seus líderes, patrões e governantes, mas não
reage diante deles, prefere calar, sofrer e baixar a cabeça frente às
ameaças.
Muitos vivem condicionados a uma consciência ingênua. Fo-
mos ensinados, durante gerações, a não reagir diante das questões
que agridem a nossa consciência e para não causar revolta a outros,
temos que suportar calados.

37
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
As pessoas submetem-se mais às convenções do que às suas
próprias convicções; por temor aos seus superiores, comportam-se
de acordo com o que é convencionado e seguem a moda do reba-
nho. Desde crianças são verdadeiros (abertos a tudo) e acreditam
que a maior virtude é estar conforme as opiniões de todos. Esse tipo
de educação retira todo o poder de agir. O indivíduo simplesmente
deixa-se imobilizar, e o melhor caminho é cruzar os braços e espe-
rar o fim da história.
Como afirma o professor Alexandre Costa, autor da 2ª parte
desta obra, em seu artigo “Síndrome do Conformismo”:

O indivíduo conformista não acredita na capacidade


da superação porque está condicionado a viver
sem expectativa de qualquer mudança de vida.
O conformista entende que não vale a pena
um esforço maior para conseguir um resultado
melhor e aceita passivamente a realidade que lhe é
imposta em todas as áreas da vida, como se fosse
adepto da filosofia cantada pelo sambista Zeca
Pagodinho “deixa a vida me levar, vida leva eu...”.
Frases como “prefiro a segurança de um emprego
fixo” ou “é melhor ganhar um salário pequeno,
mas certo todos os meses, do que correr riscos
com um negócio próprio”, são respostas comuns a
todo indivíduo conformista, quando é interpelado
sobre o que pensa com relação a ser empregado ou
empreendedor, por exemplo. Quando essas palavras
são pronunciadas por pessoas que não evidenciam
o mínimo de espírito empreendedor é aceitável e
deve ser um posicionamento respeitado, mas muitos
indivíduos conformistas, paradoxalmente, são
verdadeiros empreendedores natos que deixam de
realizar grandes sonhos e projetos porque não têm
a coragem de romper a inércia e deixar sua zona de
conforto, mesmo desejando, íntima e ardentemente,
ter seu próprio negócio ou seguir alguma carreira
profissional pouco convencional e passam a vida
inteira se lamentando pelo que deixaram de

38
Júlio di Paula & Alexandre Costa

realizar. Outros escolhem determinadas carreiras


profissionais porque é uma tradição de família ou
é um sonho do pai ou da mãe. Esses indivíduos
precisam entender que o lugar entre a zona de
conforto e o seu sonho é onde a vida acontece. É
um lugar de alta ansiedade, mas é também onde
cada um descobre quem é verdadeiramente. Eles
precisam entender ainda que hoje pode ser o último
dia de sua vida, portanto, até mesmo levantar-se da
cama e ficar em pé, representa o risco de cair. Quem
não estiver disposto a encarar a derrota, correndo
riscos, jamais será um vencedor.

O Estado obriga que abandone as pretensões à soberania e


consagra a defesa de seus interesses; assim, ele capacita os indi-
víduos para o capital, para o lucro, para o dinheiro, para a troca
mercantilista, empregando com isso a filosofia política que é, sem
dúvida, antiética quando afirma que este mesmo indivíduo só tem
dignidade se produzir pelo capital, se vender a sua força de trabalho
mesmo sabendo que é explorado e corrompido.
A função social da educação tem que aplicar o contrário de
tudo isso. Os diversos modos de educar, de educação formal aplica-
da pelo sistema político atual precisam ser revistos. Isso nos leva a
refletir que aparência e realidade são antagônicas.
A educação como vem sendo aplicada não está focada na for-
mação da consciência crítica do indivíduo, pois ele aprende muitas
vezes simplesmente a desenhar o seu nome e não vivencia o proces-
so de mudança daquela velha consciência ingênua, de uma visão de
senso comum para um novo modo de ver a vida numa consciência
reflexiva.
Como resultado, temos a vulgarização do ensino e, consequen-
temente, o enfraquecimento do homem, que fica essencialmente
submisso, sem pensamento próprio. É o que afirma Paulo Freire:

“Não é possível fazer uma reflexão sobre o que é a


educação sem refletir sobre o próprio homem. (...) A

39
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
educação é uma resposta da finitude da infinitude.
A educação é possível para o homem, porque este
é inacabado e sabe-se inacabado.(...) A educação,
portanto, implica uma busca realizada por um
sujeito que é o homem (1979: p.27,28).

O homem é esse ser inacabado porque está sempre em apren-


dizado, através dos tempos tem sido este ser curioso, ativo e latente
na sua ânsia de conhecer e ser conhecido. A função social da edu-
cação é exatamente propiciar aos processos educacionais a necessi-
dade de formar cidadãos.
O papel de educar vai além do conhecimento formal. Edu-
ca-se para questionar, tomar decisões, assumir compromissos. Não
deve haver resignação nos fatos que nos atormentam e intrigam. A
crítica é necessária para humanizar e fazer acontecer.
Porém, a educação apesar de ser um direito de todos é
privilégio de uma minoria. A política educacional é responsável
por estabelecer essa dicotomia. A escola pública, juntamente com
as autoridades devem adotar medidas para evitar a desistência dos
alunos. É importante atacar as causas desse transtorno social que
caracteriza um problema de efervescência traumática na relação do
ser cidadão diante da sociedade.
A cultura é o esteio para trazer o indivíduo a uma realidade mais
apurada, mais crítica e sedimentada. Para melhor compreender a eva-
são na sua instância alguns itens básicos podem ser citados como: as
formas de avaliação e como estão sendo elaboradas pelos grupos ges-
tores e professores; o desenvolvimento curricular; o processo discipli-
nar; o alto índice de reprovação escolar; a repetência, além de outros
fatores como o perfil de alunos que simplesmente frequentam a escola
e não cumprem com as obrigações básicas escolares.
A educação está inserida numa estruturação política, mas é
importante não nos atermos a um caráter político partidário fecha-
do: “A vida política de que aqui se trata é a vida da cidadania, de
pertencimento a polis. Significa o desabrochar de sua capacidade

40
Júlio di Paula & Alexandre Costa

plena para participar do processo decisório da direção da socieda-


de”(RODRIGUES, 1997: p.58).
Estamos falando da formação de um indivíduo com uma
consciência crítica que possa ser um cidadão com discernimento
mais apurado e uma visão crítica mais aguçada diante dos proble-
mas naturais da sociedade.
É importante sublinhar que esta consciência se dá a partir
do momento que há um fator de equilíbrio numa base educacional
lançada pela família. Muitos dos distúrbios educacionais se dão por
conta da desestruturação da família. Estatísticas nos revelam que
muitos adolescentes das classes menos privilegiadas por um fator
econômico têm que, precocemente, trabalhar e contribuir com a
renda da família. Isso caracteriza a grande dificuldade de se viver
em um país como o Brasil em que a renda de um pai de família, o
salário-base estipulado pelo governo é insignificante, sem contar o
alto índice de desemprego que assola o país.
A repetência escolar também tem sido fator de desestímulo
à continuação do aprendizado. Se há desestímulo na escola, o que
normalmente acontece nas classes menos privilegiadas, por exten-
são há também o abandono escolar. O reforço de estruturas demo-
cráticas parece ser o caminho.
A função social da educação tem que estar vinculada a pro-
jetos e programas juntamente com as autoridades locais para com-
bater a evasão. Não é tarefa exclusiva da escola a responsabilidade
pelo processo do abandono educacional. A família, a sociedade, as
autoridades Federais, Estaduais e Municipais tem sua parcela de res-
ponsabilidade na contribuição da busca de alternativas para resolu-
ção desse problema. Procurar mecanismos de estímulo que possam
levantar a autoestima do aluno pelo interesse natural de se educar
é alicerçar uma formação de caráter disciplinar no que diz respei-
to aos parâmetros de uma postura ética, cidadã, de um ser crítico,
consciente de seu papel perante a sociedade. O Artigo 246 do Códi-
go Penal Brasileiro, transcrito a seguir, estabelece punição para pais
ou responsáveis que deixarem de matricular os filhos na Escola.

41
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
“Art. 246 – Deixar, sem justa causa, de prover a
instrução primária de filho em idade escolar: Pena -
detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.
O Art. 55 da Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990 —
Estatuto da Criança e do Adolescente), determina que
os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”
(PINTO, WINOT E SIQUEIRA, 2000: p.110).

De acordo com estes artigos, concluímos que constitui crime


de abandono intelectual a falta de assistência dos pais aos filhos em
se tratando de educação escolar. No entanto, o Estado não cumpre
a sua função de oferecer escolas em número suficiente, nem condi-
ções de deslocamento das crianças para a escola.
A função social da Educação incorpora-se na formação do in-
divíduo, na capacitação para o trabalho e um melhor direcionamen-
to numa postura ética e cidadã. A negligência do Estado, portanto,
se constitui crime contra a sociedade, gera uma ineficiência no pro-
cesso educacional que toma por si só um restrito e inadequado pro-
cesso funcional, delimitando como determinante uma sistemática
comercial e descompromissada com os parâmetros que viabilizem
uma estrutura concreta e eficaz para a capacitação do educando.
Assim como filtro purificador, à educação reserva-se a in-
cumbência de minimizar os resíduos negativos que geram desníveis
improdutivos no âmbito particular e coletivo da sociedade. Sem dú-
vida, o ato de educar traduz-se num papel importante como mola
mestra na condução do aprimoramento do indivíduo.
Fica claro identificarmos na escola o papel formador e cata-
lisador que alicerça o comprometimento com as questões sociais,
visto que interfere e difere num âmbito comportamental, profissio-
nal, educacional, moral e funcional das diretrizes sociais e indivi-
duais. Por assim dizer, passamos a entender a educação como uma
ferramenta que possibilita pincelar peculiaridades da sociedade,
colocando, então, como preceito a necessidade de subsídios para
enriquecer e aperfeiçoar as delicadas dimensões que fazem parte da

42
Júlio di Paula & Alexandre Costa

função social. Deve buscar gerar a funcionalidade construtiva da


cadeia social, como agente influenciador e capacitador, deve primar
por alicerces concisos e firmes.
É fundamental utilizar a educação como veículo promotor e
servidor da estrutura social. A evasão escolar nos parece um grave
índice da falta de comprometimento da cadeia funcional que abran-
ge a educação e nos coloca diante de uma complexidade que retrata
uma composição desarmônica social, que desnivelada passa à deso-
rientada sustentação de fundamentos improdutivos.
Compactuar com a negligência que permeia a questão educa-
cional é impulsionar, viabilizar e acatar a evasão escolar como algo
meramente casual, destituindo deste processo todo o fator corrosivo
e pernicioso no âmbito social. Assim, caracterizar a abstinência do
comprometimento escolar é estimular e incentivar a deteriorização
de uma sociedade. A necessidade de se fazer uma triagem acerca
dos componentes que embasam a estrutura funcional da aprendiza-
gem é segmento determinante para exterminar as questões que de-
terminam a evasão escolar e redimensionar os enfoques defasados
que sugerem a esta prática uma visão comodista.

43
O homem não é nada além daquilo que a educação
faz dele.

Immanuel Kant
Júlio di Paula & Alexandre Costa

3º Capítulo

A Educação no Sistema Neoliberal


O ser humano se constitui numa trama de relações
sociais, na medida em que ele adquire o seu modo de
ser, agindo no contexto das relações sociais nas quais
vive, produz consome e sobrevive(...). O ser humano
é prático, ativo, uma vez que é pela ação que modifica
o meio ambiente que o cerca, tornando-o satisfatório
às suas necessidades, e enquanto transforma a
realidade, constrói a si mesmo no seio de relações
sociais determinadas. Cipriano Carlos Luckesi.

Este é o ser humano por excelência, o indivíduo que se apri-


mora de forma contínua, inacabada, bela, que de forma gradativa
vai se aprimorando diante do conhecimento, da essência do apren-
der e se educar e educar ao seu próximo, às suas gerações, onde este
adquire através da formação do conhecimento uma melhor relação
em sociedade, ele se modifica, é transformado e influencia também
o seu meio, pois o homem é este ser que é direta e indiretamente
tocado pela sua ambiência, pela sociedade que o constitui.
Dando enfoque à questão do neoliberalismo como produto
da degeneração do processo educacional, focalizamos a incoerente
proposta da mercantilização do saber tomando como base as ques-
tões ditadas por um mercado saturado e esgotado de “parcerias” e
planejamentos educacionais desgastados, incoerentes e fora da rea-
lidade no que diz respeito à teoria e à prática da aplicação de uma
educação justa e inovadora para todos.
O neoliberalismo surgiu como doutrina econômica sistema-
tizada no final da década de 1930. Para os neoliberais, portanto, os
mecanismos de mercado são capazes de “organizar a vida econômi-
ca, política e social”, desde que sob a ação disciplinadora do Estado.

45
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
É muito importante salientar que temos visto um neolibera-
lismo diferente no processo de desenvolvimento da economia in-
ternacional, em função da globalização em curso. Observa-se que
nos países desenvolvidos, e com desdobramento e extensão em
todo o mundo, um conjunto de ideias e procedimentos norteia o
atual neoliberalismo, entre os quais podemos citar: a privatização
das empresas estatais, um sucateamento violento das nossas facul-
dades, um descaso e abandono das escolas secundaristas, estaduais
e municipais, o questionamento do papel do Estado como aparato
protetor da economia e a pressão de grupos econômicos dominan-
tes no sentido de diminuir a atuação estatal.
A filósofa Marilena Chauí (1994) em um artigo sobre ética
aborda criticamente o neoliberalismo, entre outras razões “porque
este diviniza o mercado, considerando que somente ele é capaz de
promover o desenvolvimento econômico, político e social”.1
É quase que impossível não ouvir falar de “Globalização”,
“Neoliberalismo” e “Nova Ordem Mundial”. Mas nem sempre ou-
vimos o suficiente ou captamos o necessário para entendermos o
assunto. É importante referendar que: “Toda política pública, ainda
que parte de um projeto de dominação, reflete, como arena de luta
e como caixa de ressonância da sociedade civil, tensões, contradi-
ções, acordos e desacordos políticos, às vezes de grande magnitu-
de”. (TORRES, 1995: p.110)
Nesta decomposição sociopolítica e econômica, em que se
enquadra a postura vigente, verifica-se a forte interferência destas
colocações no que tange às diversas camadas da estrutura social e,
assim por dizer, não seria distante diagnosticar que a “Educação”
parece estar inserida na impropriedade de ser digerida como ins-
trumento circunstancial de interesses financeiros. Assim, resta-nos
identificar esta proposta como mais uma nomenclatura paliativa,
para angariar recursos a mantermo-nos na eterna aparência de pro-
jetos inovadores que resguardam o direito de promover e estimular

1 Marilena Chauí, Ética e universidade, in Ciência Hoje, 1994, v. 17, nº 102. p. 39 )

46
Júlio di Paula & Alexandre Costa

o comércio literal e inviabilizam uma reforma estrutural nas reais


diretrizes que busquem enfocar a questão educacional com o com-
portamento funcional sobre o qual ela tem, tão prudentemente, dis-
cursado.

“A discussão sobre a teoria do Estado tem importância


fundamental para a educação, não somente porque
as definições de quais são os problemas educacionais
e suas soluções dependem em grande parte das
teorias do Estado que justifiquem (e subjazem) ao
diagnóstico e à solução, como também porque as
novas modalidades de ação estatal, muitas vezes
definidas como estado Neoliberal, refletem uma
mudança significativa na lógica da ação pública na
América Latina” (TORRES, 1995:112).

É importante salientar que a Escola Neoliberal direciona-se


por uma política mercadológica e financista, o que se observa que
para os neoliberais os mecanismos de mercado são racionais, de
modo que podem “por si mesmos, organizar a vida econômica, po-
lítica e social”. Podemos afirmar que o neoliberalismo descarta a
verdadeira ação do Estado como disciplinador da vida econômica,
dando total liberdade à ação empresarial.
Observamos através de dados estatísticos o nível de desinfor-
mação das pessoas no que diz respeito à postura Política Neolibe-
ral e globalização em sua instância; é, sem dúvida, preocupante a
falta de informações básicas sobre tal assunto. Apesar de se tratar
de um termo muito discutido em todos os meios de comunicação,
poucas pessoas sabem o que ele significa. E o que é pior: não que-
rem, nem tentam saber o que é. É sabido que, o que determina e
agrava a situação de dependência é a tecnologia, a produção de bens
de consumo que supram as necessidades da população com maior
qualidade. O problema é que a luta para estar no auge causa um
afastamento entre os desenvolvidos e subdesenvolvidos, isto porque
há um controle da economia por aqueles que já estão no poder.

47
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
Com a globalização, a tecnologia se tornou o processo mais
relevante, pois permite ao país sua exposição à competição mundial
e o credencia a tentar sair da dependência que sempre cede mais
e sai perdendo, como no Brasil. É válido afirmar que esta união
só tem sentido com a integração dos países de Primeiro Mundo,
onde as suas parcerias caracterizam cada vez mais o seu processo de
força, dominação e atuação pelos canais administrativos de nosso
governo que reza na cartilha do FMI – Fundo Monetário Interna-
cional e demais órgãos de mando e monopólio político.
Infelizmente, parece que temos uma educação que tem dois
papéis, um nos países subdesenvolvidos e outro nos desenvolvidos.
No primeiro, o suficiente para servir e o segundo o bastante para
mandar. A educação entra como um instrumento no Terceiro
Mundo, como a única forma de se manter ativo na economia
mundial, atualizando os trabalhadores, “educando para o trabalho”,
trabalhando esse servir para o lucro da burguesia. É preciso que se
evite sua manifestação, pois são treinados para as necessidades do
mercado e não para entender o mundo.
A postura neoliberal implantada pelo governo traduz-se
num quadro de violência econômica, de desestruturação cultural,
alienante, em que se impera na sua praticidade a competição e
competitividade que se reflete como espelho que molda e adestra a
ação humana, destituindo toda possibilidade da ética, da cidadania,
da emancipação humana na vida social e individual. Assim, como
na afirmação de Gadotti:
“Os sistemas educacionais encontram-se num con-
texto de explosão descentralizadora. De fato, numa
época em que o pluralismo político aparece como
um valor universal, assistimos à crescente globali-
zação da economia e à emergência de poder local,
que desponta nos sistemas educacionais de muitos
países como força inédita” (GADOTTI, 1997, p.6).

Nosso país encontra-se numa situação complexa, não


queremos salientar aqui que é unicamente através da educação
48
Júlio di Paula & Alexandre Costa

que conseguiremos sair desse transtorno social e econômico. Seria


cômodo simplesmente apontarmos a educação como ponto de
diretriz de nosso fracasso que o envolve de uma forma geral. Sem
dúvida, a educação é muito importante, mas não é unicamente
através dela que se desenvolve um país em toda a sua complexidade.
Ela é inerente ao desenvolvimento, mas ela sozinha, não cria
alternativas de crescimento. A educação é um dos meios que
promove o crescimento da Nação, mas não para que sejamos ricos
e independentes de outras nações e sim para que consigamos nos
libertar de nós mesmos, da ignorância, da ingenuidade, das crenças
impeditivas e dos medos.
A política neoliberal na sua ação faz acontecer o problema
da expansão cada vez maior da privatização. Sabemos que ela já
sucateou e sucateia a educação, por extensão traz a problemática da
terceirização do trabalho, da mão de obra barata, da precariedade
da nossa saúde pública, enfim, enquanto não existir uma política
que faça o equilíbrio ou pelo menos tente balancear esses pontos
acima citados, nós teremos cada vez mais uma cifra negativa de
uma estatística cada vez mais pessimista apontando o Brasil como
um país sem pulso político e autonomia própria de decisão.

“A política de privatização requer uma explicação


adicional. As políticas de privatização são importan-
tes nas reformas orientadas a impulsionar o merca-
do, e, portanto constituem uma referência de políti-
cas do neoliberalismo” (TORRES, 1995, p. 125).

É relevante salientar que este processo de privatização exerce


um papel central nos modelos neoconservadores e neoliberais,
portanto, os maiores problemas de educação na contemporaneidade
são os objetivos que ela deve alcançar. A evasão escolar é uma
extensão da problematização ampla na educação.
A educação é um direito que assiste a todos, assim como
a saúde, habitação, alimentação. É necessário como vida, como
libertação, como sonho, como projeção da existência, e como

49
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
extinção da resignação. A escola e o ato de educar, historicamente
falando, foram as primeiras necessidades que o homem teve e foram
também o primeiro projeto prático de exercício de democracia,
cidadania. Foi a primeira tentativa da busca de igualdade entre os
seres humanos. Como cita José Gimeno Sacristán, com sua obra
magnífica, A educação que ainda é possível diz que:

“Com a educação, se exerce — ou pelo menos assim


se acredita — influência sobre o desenvolvimento e
a orientação dos indivíduos e da sociedade, o que
não passa despercebido a quem está interessado em
produzir, reproduzir ou mudar uma certa ordem
política, econômica, cultural, religiosa etc. (SA-
CRISTÁN, 2007, p. 117).

A educação está submissa a um sistema neoliberal político,


onde os interesses são apontados a uma corporação mínima que
manipula e concentra os seus fins naquilo que lhe convém como
lucro para o capital. Segundo Pablo Gentile e sobre o destino da
educação afirma que:

“ (...) o neoliberalismo ataca a escola pública a partir


de uma série de estratégias privatizantes, mediante
a aplicação de uma política de descentralização au-
toritária e, ao mesmo tempo, mediante uma política
de reforma cultural que pretende apagar o horizon-
te ideológico de nossas sociedades a possibilidade
mesma de uma educação democrática, pública e de
qualidade para as maiorias. Uma política de reforma
cultural que, em suma, pretende negar e dissolver a
existência mesmo do direito à educação”. (1995:244).

A evasão é uma extensão traumática dessa descentralização da


nossa educação clássica vigente. Enquanto não tivermos uma política
que realmente faça um norteamento, de análise e investigação de
qualidade e qualificação dos nossos grupos gestores, professores e

50
Júlio di Paula & Alexandre Costa

políticos, realmente interessados em implantar projetos e práticas


inovadoras, enquanto não houver uma preocupação social e cultural
numa aplicação verdadeiramente direcionada a combater esses
desequilíbrios educacionais, estaremos permeando um quadro
repetitivo e cada vez mais agravado de descaso e despreocupação
com o problema da evasão.
Diante desse quadro, torna-se urgente adotar medidas de
combate à propaganda enganosa, implantada pelo governo, quando
nos mostra dados estatísticos de matrícula de alunos nas escolas,
quando por trás dos bastidores nos deparamos com falsos números
de alunos frequentando a escola. Na realidade, vivenciamos um
índice bastante significativo de alunos que se evadem das escolas
públicas de nosso país. Essas falácias que o governo lança através
dos meios de comunicação de que as nossas crianças estão na escola,
não passam de um jogo essencialmente político. O maior problema
da educação atual é a falta de uma política realmente voltada para
trazer subsídios teóricos que possam ser aplicados à realidade de
cada instituição, resgatando a sua autoestima e procurando cada
vez mais reduzir os dados estatísticos que tão mal representam a
educação em nosso país.
Sabemos que problemas socioeconômicos, como desemprego,
baixos salários, má qualidade de vida da população mais carente,
contribuem para que alunos matriculados regularmente na escola
tenham que abandoná-la para sair em busca de emprego para
ajudar no orçamento familiar. Não podemos deixar de salientar
também a falta de qualidade do ensino público que, sem dúvida,
corresponde a uma porcentagem bastante elevada. É preciso mudar
a prática pedagógica e política educacional do nosso país, como
afirma Rodrigues:

“É fundamental que a escola universalize a sua


experiência e sua prática pedagógica, que ela não
continue sendo a escola de uma classe, nem uma
escola para uma classe” (1991:39).

51
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
É importante refletir o papel da escola em sua instância maior
e não limitá-la a uma fala essencialmente de intelectuais, de uma
elite centralizadora ou a uma postura neoliberal aplicada pela classe
dominante aos interesses de poucos que se encontram no poder. É
importante fazer uma retomada da estrutura educacional vigente e
buscar elementos teóricos que realmente possam explicar as causas
da evasão e combatê-las.

52
Júlio di Paula & Alexandre Costa

4º Capítulo

O Problema da Evasão Escolar


e a Busca de Soluções
O problema da evasão nas escolas tem sido tema de debates
nos diversos segmentos educacionais. Estudiosos, educadores, pe-
dagogos, gestores, sociólogos, antropólogos, psicólogos e, principal-
mente, o corpo docente, têm se preocupado com a grande massa de
alunos evadidos das escolas e, em especial, da escola pública, alvo
maior apontado por diversos segmentos de debates na televisão, re-
vistas conceituadas e outros segmentos políticos preocupados com
a plataforma de educação aplicada.
E aí nos questionamos. Quais os fatores que causam o alto ín-
dice de evasão na escola pública? Quais as ferramentas que podem
ser aplicadas para que haja uma diminuição desta realidade que
cada vez mais preocupa a sociedade? Quais as alternativas básicas
de solução encontradas? A evasão escolar é, sem sombra de dúvida,
um desconforto que muito preocupa a sociedade, pois a escola tem
uma função importante na comunidade, na formação do cidadão,
na preparação e na responsabilidade da sua formação e capacitação.
É relevante, portanto, fazermos uma abordagem teórica sobre
as reais causas da evasão escolar tendo como referencial principal a
escola pública. Mais do que nunca, é importante buscarmos recursos
teóricos que possam ser de certo modo alternativas e que tenham o
objetivo a priori de amenizar a problemática na evasão das escolas.
Questiona-se ainda: será que a má administração dos recursos pú-
blicos educacionais, por parte de nossos gestores, contribui para o
abandono escolar? Como está sendo administrado este recuso por
parte dos nossos gestores? Essas e outras questões podem ser alvo
de reflexão e análise desta questão, de forma simples que nos tragam

53
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
de certo modo uma oportunidade de nos questionarmos sobre a
questão da nossa escola e a evasão dos nossos alunos da escola pú-
blica, muitos totalmente desestimulados, sem nenhuma perspectiva
para vivenciar a escolar regular, pois estes não enxergam expecta-
tivas, pois muitos deles são na maioria das vezes responsáveis por
seus familiares e por extensão precisam trabalhar para se sustentar.
Trabalhar este tema é uma necessidade, pois ainda é bastante
debatido no meio acadêmico, sobre a mesa redonda de educadores
renomados, doutores e pesquisadores deste assunto tão rico e, ao
mesmo tempo, parece não ser ou estar fazendo parte de uma real
medida de mudanças por parte dos representantes políticos que aí
estão, que nos parece ou nos causa a impressão de nada fazerem para
mudar este ciclo tão complexo que é a evasão nas escolas públicas.
Esta questão é ampla e espinhosa, pois ela nos lança para um
passeio direto sobre a contextualização histórica, cultural e econô-
mica da realidade prática e objetiva vivenciada por alunos que se
evadem, como também inserida em todo um quadro social e po-
lítico, não só no que diz respeito à educação, mas também dentro
de elementos de investigação de outras ciências como a psicologia e
a sociologia que abordam o contexto da questão aqui apresentada.
São várias as causas que contribuem para a permanência da
evasão: elementos culturais, sociais, financeiros e o próprio estímu-
lo como base ao conhecimento por parte dos familiares têm sido
abordados como elementos de investigação às causas deste trans-
torno na educação. É importante citarmos nesta ocasião outro pon-
to de fundamental importância que é a relevância pessoal e social
que contribui de certo modo para uma educação de qualidade.
Blaslavsky (2004: p. 22 a 25) afirma que o primeiro fator de
uma educação de qualidade para todos consiste em focalizar a re-
levância pessoal e social. É evidente que o conceito de qualidade de
educação varia com o tempo, não é homogêneo em determinado
momento, e que sua heterogeneidade está associada a razões obje-
tivas e subjetivas, ou seja, as situações e também as necessidades,

54
Júlio di Paula & Alexandre Costa

interesses e convicções de diferentes grupos de pessoas. (...) O se-


gundo fator de qualidade da educação é uma tensão criativa entre
a convicção, a estima e a autoestima das sociedades, dos dirigentes
políticos e das administrações sobre o valor da educação.
Estamos diante de uma dinâmica bastante peculiar, a busca
constante por uma educação de qualidade. Algo que nos parece até
ser utopia. Estamos em busca de uma educação de qualidade, de
uma ambiência em que seja prazeroso para o educador e educando,
que tenha um propósito de ascensão, de descobertas, um fim últi-
mo não só de formação, de expectativas, mas que tenha também a
oportunidade de se vivenciar a educação além dos bastidores didá-
ticos, pedagógicos, avaliativos, mas que este ambiente seja especial,
tenha um real prática integrativa, inclusiva, que venha a despertar
em todos um interesse mútuo, uma parceria, uma socialização, uma
integração diante das diferenças. Que a escola possa ser estimulan-
te, que algum órgão de alguma forma venha a ter um cuidado maior
com o cidadão, de um ser em formação, em lapidação, que acredita
que a educação lhe trará algum retorno, em que a sua autoestima
seja de certo modo trabalhada, e que este venha a acreditar em si,
no seu potencial.
Portanto, estamos falando de uma consciência, numa educa-
ção de qualidade para a vida, para todos, para a sociedade, pessoal e
de cunho coletivo. A formação do indivíduo e a sua educação serão
importantes para ele no enfrentamento às coisas do mundo, de si
mesmo, do conhecer a si próprio e o outro. Que o ato de frequentar
a sala de aula, de ir a escola tenha um significado importante pela
integração, socialização, o conhecer pessoas, interagir com pessoas.
Descobrir os seus potenciais e naturalmente deslanchar diante da
vida, como pessoa, profissional em formação continuada.
De certo modo, desenvolver uma análise crítica sobre o pro-
blema da evasão escolar, não se interessando por fundamentar a sua
série, seja ela fundamental ou média, a partir de uma visão histórica
e crítica da Escola como instituição social, de um sistema capitalista

55
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
neoliberal, social-democrata, requer uma sensibilidade de percep-
ção teorética apresentada por diversos autores.
Ao identificar os elementos causadores da evasão escolar, tan-
to em nível do sistema social vigente quanto em nível da própria ins-
tituição escolar, um dos elementos importantes de análise da evasão
nas escolas. Analisar criticamente as situações de evasão vivencia-
das na escola que contribuem para a existência e permanência do
problema. Propor alternativas que possam somar com os elementos
de trabalho da própria escola, para que se possa contribuir de forma
real na tentativa de mudar o quadro da problemática específica da
evasão escolar, como cita Antônio Carlos Gil “... a análise de uma
unidade de determinado universo possibilita a compreensão da ge-
neralidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases
para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa” (GIL,
1991, p.79). Através do estudo particular da instituição pesquisada,
temos em parte uma realidade que, sem dúvida, incorpora-se à pro-
blemática de uma real semelhança com as escolas públicas do país,
ou pelo menos nos lança uma luz para um melhor direcionamento
e compreensão desta realidade.
A função da Escola não é apenas o saber sistemático, ela
abrange também o social, o religioso, o humanístico e outros corre-
latos. Nossa Escola procura abraçar e se aprofundar nestes aspectos,
aprimorando-os e levando-os a todo aluno, como peça fundamen-
tal do ensino-aprendizagem.
No universo interno os problemas são vários. Professores res-
sentidos pelo descaso e desrespeito que a categoria vem recebendo
ao longo dos anos, pelos nossos governantes, pessoal de apoio que
não possui identidade para com o trabalho, desrespeito e incom-
preensão em relação ao papel social da escola, indisciplina, violên-
cia e falta de compromisso por parte dos alunos.
O descompromisso dos pais em relação à aprendizagem e ao
acompanhamento da vida escolar dos filhos tem como justificativa
o desequilíbrio familiar, a situação econômica, mas o que mais se

56
Júlio di Paula & Alexandre Costa

constata é que para essas famílias a escola não é tão importante,


ficando assim em segundo plano.
Em relação aos aspectos pedagógicos a escola tem primado
por merecer a credibilidade de sua clientela, trabalhando a fim de
coletivamente se aprimorar para vencer as dificuldades que por
ventura possam surgir.
Tem surgido uma constante, no percorrer das ações desenvol-
vidas, a busca da melhoria em todos os aspectos, principalmente o
pedagógico. É, portanto, primordial, formular objetivos que privi-
legiem, o discente, seu espaço e condições de aprendizagem, demo-
cratizando as oportunidades através de ações que resgatam a real
função da escola.
Os educadores planejam com a ajuda do coordenador peda-
gógico, que juntos chegam a um consenso e assim colaboram para
o crescimento do aluno. Infelizmente, hoje nas escolas de um modo
geral, principalmente na escola pública, tem alunos envolvidos com
drogas, gangues organizadas, que precisam de tratamento especial
e acompanhamento de profissionais especializados, que resgatem a
autoestima e o prazer pela vida. Fica, também, bem clara e funda-
mentada a necessidade de uma postura mais firme no tocante ao
trabalho com disciplina, assiduidade, pontualidade, compromisso
e, consequentemente, a perda de matrícula.

57
Eu sou um intelectual que não tem medo de ser
amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é
porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu
brigo para que a justiça social se implante antes da
caridade.

Paulo Freire
Júlio di Paula & Alexandre Costa

5º Capítulo

Aparências e Realidade
“Educar para a vida é educar para um mundo em
que nada nos é estranho. A educação vê-se obrigada
a repensar suas metas e a revisar seus conteúdos”
José Gimeno Sacritán.

Numa interpretação geral, a evasão escolar vem sendo tratada


com a morosidade e o desperdício das questões mais polêmicas. O
alto índice de jovens se evadindo, a falta de expectativa de perma-
necer na escola regular e outros questionamentos, a priori, impor-
tantes como a própria falta de condição mínima financeira para a
permanência na escola.
Não precisa aqui se fazer uma pesquisa de campo, para se
ter um discernimento básico de visão de que a falta de tempo para
conciliar trabalho e estudo, principalmente para o que nos interes-
sa neste capítulo, o aluno da escola pública, é um item relevante.
Problemas de cunho familiar, desinteresse e dificuldades e por não
acreditarem muitas vezes em seu potencial têm contribuído de for-
ma incisiva para a questão da evasão escolar. Claro que isto é uma
abordagem rasa, pois se fizéssemos uma pesquisa de campo, de
forma direta, veríamos que outros fatores contribuem para o alto
índice de desistência de alunos na sua grande maioria e porque não
dizer dos alunos de classe menos favorecidas que dependem da es-
cola pública.
Os alunos de escola privada vivem outra realidade, que não
cabe aqui citar, mas é sabido que os cursos de universidades públi-
cas, em especial cursos da classe elitizada, são privatizados por es-
tes, que tiveram desde cedo uma formação secundária ao longo do
tempo bem-feita, com requisitos de formação dignos, instrumentos

59
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
e ambiente de trabalho preparado para tal. A expectativa de vi-
são de mundo e de possibilidade é completamente diferente das
classes menos privilegiadas econômica e culturalmente. São dois
polos totalmente distintos. Realidades estas que são totalmente
diferenciadas.
Aparentemente, todos nós sabemos que as Universidades Pú-
blicas estão aí para ricos e pobres, todos podem compor uma vaga
em determinado curso, desde que supra as exigências do certame.
Estamos diante de uma realidade que nos leva a um questionamen-
to até mesmo imbuído de um debate jurídico, social e cultural. A
educação pública por muito tempo foi e é privatizada pela classe
elitista, daqueles que detêm uma melhor oportunidade de estudar
em uma escola cara, de qualidade, privada, portanto estes adquirem
uma formação de qualidade.
Alunos das classes A e B, que sempre estudaram em escolas
particulares se capacitaram mais, fazendo cursos de línguas, infor-
mática e outros, tendo uma vida dedicada aos estudos, vivem uma
realidade totalmente diferente. Estudando durante treze ou quator-
ze anos para ingressar nas universidades federais e estaduais, esses
alunos ocuparão a maioria das vagas dos cursos mais concorridos,
como Medicina, Direito, Odontologia, Engenharia, enfim, as áreas
que envolvem um alto grau de competitividade. Os alunos de famí-
lias mais humildes dificilmente terão a oportunidade de ingressar
em uma Universidade Pública. Essa é a realidade, não tenhamos
nenhuma surpresa quanto a isto.
A Universidade Pública já foi privatizada por uma classe mais
abastada financeiramente, sobre uma realidade de alunos que sem-
pre se dedicaram somente aos estudos, não conhecem outra reali-
dade a não ser aquela constituída pela sua vida. Os alunos menos
favorecidos financeiramente já enfrentam uma dificuldade maior,
não veem expectativa para ingressar na Universidade Pública, têm
dificuldades de acompanhar muitas vezes os conteúdos básicos da
sua série, pois estes precisam trabalhar desde cedo.

60
Júlio di Paula & Alexandre Costa

A realidade é completamente diferente em relação ao aluno


com um poder aquisitivo estável, não tenhamos dúvida também
que a sua autoestima é comprometida quanto a isto. Certamente, a
sala de aula tem que ser um ambiente de motivação, foco, objetivo,
o que se quer e o que se pretende alcançar. As escolas particulares
cada vez trabalham uma agenda de executivos para com os seus
alunos, preparam desde cedo para concorrer, para fazerem parte de
um mercado competitivo em que o indivíduo acaba sendo adestra-
do pela busca incessante de melhores colocações na sua própria es-
cola, o que torna impossível todos terem um mesmo desempenho.
Habilidades e competências são distintas, de repente você
tem um brilhante aluno que quer ser artista plástico, pois todos
os seus testes vocacionais são direcionados a isto e ele se identifica
completamente, é seu sonho ser um estilista, mas a família não acei-
ta, daí força o processo da escolha, tornando-o, muitas vezes, um
profissional frustrado, que mais tarde poderá se rebelar, por não
exercer sua verdadeira vocação.
A impressão que temos é que como as demais camadas que
englobam a esfinge social na dimensão de sua funcionalidade, a
evasão escolar tornou-se um problema de padrões inadmissíveis,
pouco dinamizado aos interesses da classe dominante que parece
não se preocupar com sua extensão. Por isso não podemos deixar
de referendar as palavras de Libâneo, quando fala da escola pública:

“...os objetivos, conteúdos e métodos da escola pú-


blica devem corresponder às exigências econômicas,
sociais e políticas de cada época histórica, no que
diz respeito à conquista de uma democracia efetiva
para os grupos sociais majoritários da sociedade. Ao
delimitar as tarefas da escola pública democrática é
necessário levarmos em conta as características da
sua clientela hoje, analisando criticamente a escola
de ontem e a escola de hoje, a quem serviu no passa-
do e a quem deve servir hoje” (1992: p 44).

61
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
Quando partimos para a contextualização histórica da escola,
em um passado não muito longínquo, observamos que ela servia
aos interesses de uma camada muito pequena, a classe dominante,
detentora do poder, que realizava o desejo e o sonho de poucos que
tinham o acesso à cultura formal, intelectualizada, fundamentada
nos padrões burgueses da época. A classe menos privilegiada, ao
contrário, tinha acesso à educação pelo trabalho, que, por extensão,
traduzia-se numa educação profissionalizante, visando à execução
de trabalho manual.
De maneira gritante, somos obrigados, ou melhor, induzidos
a ler na cartilha que satisfaz a ganância de setores mais abastecidos.
Economicamente, foi destituída a possibilidade de um desenvolvi-
mento real dos propósitos de uma educação de qualidade à altura
dos interesses de uma maioria. Tornamo-nos fantoches das especu-
lações financistas e lucrativas onde se permeia, cada vez mais, uma
educação voltada ao lucro.
A educação tornou-se um veículo promissor para os políticos
e gestores mal intencionados, que lançam na mídia uma teoria fala-
ciosa de resolução dos problemas educacionais e aplicam a prática
do desvio de verbas para os seus interesses, tornando cada vez mais
defasado o quadro educacional, doente e sem perspectivas.
Visualizando os parâmetros que regem a educação é interes-
sante pensarmos numa realidade escolar que tenha como compro-
misso a função complementar na formação de cidadãos, na busca
de uma postura ética em sintonia de transformação. Como afirma
Carlos Libâneo:
“A escola pela qual devemos lutar hoje visa o desen-
volvimento científico e cultural do povo, preparando
as crianças e jovens para a vida, para o trabalho e
para a cidadania, através da educação geral, intelec-
tual e profissional” (1992, p.44).

Com toda esta sistemática interessada em suprir o défice do


capital, as instituições de ensino passam a vislumbrar como meta

62
Júlio di Paula & Alexandre Costa

a conveniência do capitalismo e submetem a educação às funções


imediatistas de uma produção voltada aos interesses de grupos, em
que o contrário de verdadeiramente aplicar a educação como ele-
mento catalisador de reflexão crítica e instrutiva é massacrada pela
teoria do capital.
Dessa forma, para suportarmos a obrigatoriedade de nos
mantermos, convenientemente “alfabetizados”, introduzem meca-
nismos de robotização em massa que de maneira alguma viabiliza
o desenvolvimento intelectual, mas, ao contrário, padroniza regras
para oferecer ao educando conteúdos e mais conteúdos sem ne-
nhuma representação social. O educador Neidson Rodrigues é feliz
quando afirma que:

“Se vamos educar o indivíduo para a vida social,


cujos processos mais salientes são os de cooperação
e solidarieade, não é possível haver antinomia en-
tre o discurso sobre essa vida social e a prática na
escola...” (1997, p. 68).

Com a estreiteza que tratamos a educação não é de causar


estranheza que a evasão escolar esteja tão presente, contudo, em
épocas de politicagens. Fica difícil pensar numa postura de inova-
ção e construção. Fincar as forças na educação é garantir recursos
de investimentos e um passaporte para o acesso à transformação
desse quadro caótico e contraditório.
Aparentemente, a evasão se mostra inexistente, visto que so-
mos bombardeados por diversas propostas e projetos. Como exem-
plo “Educação para todos”, “Tempo de avançar” e outros projetos
lançados pelo governo que, na sua realidade, não passam de uma
aparência do que verdadeiramente acontece por trás dos bastido-
res. A evasão existe sim, e em grade número, e é óbvio que o gover-
no mascara a nossa realidade com estatísticas falaciosas e com um
grande investimento de marketing.
Outro tópico que vejo aqui relevante é o que diz respeito à
grade curricular dos nossos alunos. Peço permissão, mas eu tenho o

63
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
meu posicionamento quanto a isto. Nós temos um número enorme
de conteúdos, disciplinas diversas, o aluno se encontra, de certo
modo, obrigado a vivenciar todo aquele conhecimento que nem
sempre vai ser útil para a sua vida, sua formação. As inteligências
múltiplas, as habilidades acadêmicas são distintas, alunos e alunas,
seres humanos dentro de suas peculiaridades, têm a sua visão de
compreensão, assimilação e vivência diante do conhecimento, cada
um com sua habilidade, com sua destreza que lhe é peculiar. Como
cita o professor Hamilton Werneck (1998, p. 34-35):

“Nosso segundo grau exige um absurdo dos estu-


dantes, em termos quantitativos, todos devem estar
aptos em todas as áreas de conhecimento, como se
todos, indistintamente, tivessem grau máximo nas
múltiplas inteligências pesquisadas. O resultado
disso é o desânimo dos adolescentes e a comple-
ta entrega e desleixo diante de dificuldades que se
apresentam como impossíveis de serem superadas.
Nessa situação o estudo em vez de ser um processo
de renovação da pessoa passa a ser uma tortura das
inteligências” (...)

A priori, quero fazer uma ressalva a respeito da citação do


autor quando se refere ao 2º grau, que corresponde hoje ao Ensino
Médio. Não tenhamos dúvida de que isto também não deixa de ser
um elemento a mais para a evasão de alunos, pois muitas vezes por
não acompanharem as disciplinas no seu todo, acabam se desesti-
mulando. Se o aluno se depara com um leque de conteúdo que não
o estimula, por extensão o conteúdo deste aluno é comprometido,
ele não vai produzir, não vai conseguir desenvolver um conteúdo
de forma leve, tranquila, isto contribui para reduzir sua autoestima,
ele se sente impotente, desacreditado.
Bem, não podemos deixar de falar, também, do corpo do-
cente, que é indubitavelmente uma figura importante para as mu-
danças sobre a estrutura vigente da educação que temos hoje. O

64
Júlio di Paula & Alexandre Costa

professor tem um papel importantíssimo na escola, como orienta-


dor e disciplinador, que acredita na realidade de transformação e
multiplicação da consciência do ser humano. Ele é um passo para
o estímulo do desenvolvimento do pensamento crítico do aluno.
O professor auxilia, coopera, traz as ferramentas certas, trabalha
juntamente com o aluno suas potencialidades.
Discutir a aparência da evasão escolar é supor que ela não faz
parte do contexto vivenciado em nossa realidade; daí o paralelo que
impõe a real situação delatora do retrato e descomprometimento
da educação para com a formação e a sugere como um extrato ban-
cário que movimenta interesses.
Por isso, não é possível fecharmos os olhos para a dimensão
da intencionalidade dos projetos, que permeiam o âmbito vulne-
rável do capitalismo latente e também não é possível destituir a
impossibilidade de não ocorrerem fraudes nesse processo, que fica
tão mal colocado diante da ineficiência de seus reais propósitos. É
importante, como a educadora Bárbara Freitag, em sua obra Políti-
ca Educacional e Indústria Cultural, faz a crítica ao governo sobre
a educação.

“A proposta do atual governo de promover a “Educação


para todos”, buscando assegurar uma quantidade
mínima de educação (...) para todos, mediante uma
ampla mobilização das massas para o tema e para o
problema da educação, tem tudo para vir a ser mais
um grande fracasso e um elo da longa corrente de
desastres na educação vividos no Brasil e sofridos
pelas populações mais oprimidas” (1989, p.80).

Como vemos, projetos educacionais parecem ser sempre re-


petitivos, sem que haja uma inovação verdadeira sobre a atual con-
juntura educacional vivida na nossa sociedade. Projetos políticos
voltados à educação, imbuídos de uma tecnologia lançada pelo
capitalismo, não solucionaram a problemática da evasão, não
reduziram o alto índice de reprovação nas nossas escolas, nem

65
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
muito menos, estimularam a formação do caráter do ser cidadão,
do reconhecimento de direitos e deveres.
A realidade é que a educação está supervisionada por grupos
mercantis, nos quais o lucro do capital lança a cartilha que ensina e
administra muito bem a tese: “até que ponto é viável se educar?” País
desenvolvido é sinônimo de Primeiro Mundo, fatia de mercado que
dispõe de bens lucrativos e, sobretudo, que usufrui do gozo do man-
do e das coordenadas administrativas sobre os países periféricos.
Podemos entender que, como num jogo político, o educando
fica na escola quando é importante se manter a aparência do
desenvolvimento e tira-se da escola quando é possível angariar
recursos de sustento. A real circunstância que interfere na evasão
escolar é o jogo de interesses e poderes que conduz a educação à
satisfação monetária e quebra o comprometimento de fazer da
educação um veículo de evolução.
A educação, como produto descartável, exonerou qualquer
possibilidade de um saber mais apurado e inseriu em sua funciona-
bilidade um contexto contábil que, com índices proporcionais ao
capital mercantilista para saciar cronogramas financeiros, destituiu
o comprometimento com a evolução e o desenvolvimento educa-
cional propriamente dito.
Sobre um aspecto aparente, viabilizou-se uma imagem de
suposta parceria educacional com os elementos que impulsionam
o conhecimento autêntico, provindo do interesse real pelo cresci-
mento. Mas, longe disso, o que se sedimentou foi uma organização
de fundo comercial, que se volta conforme a disponibilidade eco-
nômica vigente.
Na realidade, a evasão escolar digere um sequencial de dis-
túrbios que interferem num processo consistente no aprendizado.
Não podemos deixar de citar aqui também sobre o ensino que fica
banalizado porque fica restrito e submetido a diversos interesses
que não comungam com a verdadeira essência da educação, o que
gera mecanismos paliativos para ofuscar esse diagnóstico. Nesse

66
Júlio di Paula & Alexandre Costa

sentido, a educação passa de veículo formador para instrumento


armazenador e mecanismo sanador de lacunas financeiras que in-
tervêm no processo monetário de interesses restritos.
A evasão escolar não passa de suporte político-econômico
que gira em torno da conveniência de setores abastados. Sua apa-
rência se estabelece no âmbito da conveniência estrutural dos seto-
res que regem e geram o desenvolvimento sociopolítico e econômi-
co de nosso país e sua realidade se alicerça na falta de compromisso
de atribuir à educação a sua real função, que é a do crescimento
homogêneo.

67
O conhecimento pronto estanca o saber e a dúvida
provoca a inteligência.

Vigotsky
Júlio di Paula & Alexandre Costa

6º Capítulo

A Filosofia de volta à sala de aula


Importante decisão do Governo Federal em reimplantar Filo-
sofia e Sociologia no ensino médio. Um grande passo de valorização
do ensino filosófico, pois reestruturar o pensamento da filosofia no
conhecimento médio depois de anos sem ativação pela “Ditadura
Militar”, foi sem dúvida, um grande avanço da sociedade.
É importante incentivarmos esta geração a pensar, a entender
a essência do pensamento e suas premissas na construção da lógica
do raciocínio e da fundamentação das ideias. Claro que este pensa-
mento passa a ser revisto de uma forma bem desenhada, reestru-
turada, fundamentada e por que não definida dentro dos padrões
desta nova forma de contemplar o conhecimento através dos meios
de comunicação, e, em especial, através da Internet como grande
aliada deste conhecer rápido e objetivo.
O conhecimento tomou uma dimensão significativa e, sem
sombra de dúvida, hoje, selecionamos aquilo que realmente nos in-
teressa por uma questão prática e objetiva de tempo. Hoje, o tempo
tornou-se algo realmente precioso, exatamente pelo acúmulo de
atividades que a nova geração vivencia.
O pensar tem que ser percebido de uma forma muito espe-
cial. O incentivo à leitura, sem dúvida, ajudará e muito os nossos
alunos a terem uma fundamentação deste pensar, elaborando suas
premissas dentro dos padrões de sua estruturação, da norma, do
princípio, da ética, da moral, dos bons costumes.
Essa atitude tem conduzido o homem a uma reflexão sobre
uma reestruturação do raciocínio, da razão, de uma lógica que se
concatena dentro de ideias mais sólidas perante um mundo cada
vez mais eclético. Vejamos o que dizem Aranha e Martins sobre
esta máxima:
69
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
“A intenção primeira do ensino de filosofia, seja no
curso médio ou nos cursos básicos universitários,
não é de formar filósofos — embora eventualmen-
te algumas vocações possam ser despertadas —,
mas provocar a reflexão filosófica, inerente a todo
ser humano. Lembrando o filósofo italiano Antonio
Gramsci, somos todos de certa forma filósofos, na
medida em que nos propomos questões de natureza
filosófica. Estamos sempre dando sentido às coisas
e, diante dos problemas apresentados pelo existir,
tendemos para a reflexão, a não ser quando subme-
tidos a uma formação autoritária e doutrinadora”.

A relevância da filosofia no currículo escolar é exatamente


fazer despertar no aluno o interesse pelo questionar, pelo refletir
de forma fundamentada, estimulando este a um refletir onde este
pensar possa chegar a um nível de lapidação e de verdadeira peneira
de seleção do pensamento ordenado, e pronto para o despertar da
tríade do filosofar, que é exatamente o questionar da “natureza, do
homem e de Deus”.
E o que vem a ser o homem? O que vem a ser o bicho-ho-
mem? A sua natureza? Quais os seus instintos? Eles são inerentes
ou são adquiridos? E como se processa o conhecimento humano?
O que vem a ser o conhecimento? Quais tipos de conhecimentos
são elaborados e adquiridos por nós? O homem se torna melhor,
mais solidário, menos egoísta ou mais humano quando este de-
tém o conhecimento ou isto não muda a essência do que ele é? O
homem é o que é ou este tem a condição de se transformar através
do seu meio? O homem pode sofrer ou vir a sofrer a influência
deste meio? Este ser pensante, que é capaz de criar e transformar
se deixa influenciar pela natureza ou ele a manipula? Eis alguns
dos questionamentos levantados por filósofos, por pensadores.
Trabalhar a filosofia em sala de aula é despertar o aluno para um
bem precioso, o despertar do conhecimento, é comungar com
uma nova forma de ver o mundo.

70
Júlio di Paula & Alexandre Costa

Na realidade, a filosofia não é traduzida ou compreendida


apenas a um restrito grupo de doutos. Ela é, e faz parte da vida das
pessoas, ela está presente no cotidiano de cada um de nós, ela nos
faz questionar o porquê das coisas, não numa simples forma de per-
guntar por que disto ou daquilo, mas de reestruturar o indivíduo
para uma melhor relação de comunhão para com o outro, respei-
tando as diferenças, compreendendo as crenças e a bagagem cul-
tural que cada ser carrega sobre a sua história de vida, sobre a sua
forma de perceber e compreender o seu meio.
Como afirma o filósofo Immanuel Kant “...não é possível
aprender qualquer filosofia; [...] Só é possível aprender a filosofar”
. Ora, somos seres essencialmente racionais, temos a primazia da
razão e sua definição é traduzida como um elemento indispensável
para a análise do que chamamos de cognição.
É através da razão que se conduz o princípio teórico a um
resultado desta investigação para um determinado fim, a um resul-
tado objetivo que se interessa dentro de uma análise, de uma ob-
servação ou de uma experimentação. Podemos despertar em nos-
sos alunos a importância da razão, da racionalização; trabalhando
com ele aquilo que trazemos como visão do senso comum que por
diversas situações nos são postas cotidianamente e, ao pé da letra,
falamos de razão. Mas será que entendemos o que vem a ser a razão?
Já levantamos um questionamento inicial do conhecer, do
que vem a ser o conhecimento e a razão, o que é a razão?Vejamos
como exemplo o amor: posso racionalizar o sentimento do amor?
Posso controlar as minhas emoções quando sinto ciúmes? E o que
somos capazes de fazer quando estamos apaixonados, quando o
nosso coração acelera ao vermos aquela pessoa desejada? Como
diz o filósofo francês do século XVII, Blaise Pascal, “O coração tem
razões que a razão desconhece”, na realidade, estamos falando de
razões distintas. Quando nos deparamos com outras situações em
que dizemos para alguém “Que razões os levam a chegar tão tarde”?
Ou seja, quais os motivos? Na realidade, a razão tem um fim, que é

71
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
explicar, dentro de uma exigência natural consciente do indivíduo,
o ordenamento da ideia.
A filosofia é um mecanismo de aplicação do exercício prático
da razão. O filósofo questiona, investiga, indaga tudo através de um 
princípio racional de investigação e de curiosidade à busca deste
conhecer, através de um discernimento ordenado do pensamento,
através de mecanismo da razão.
Sem dúvida, o nosso aluno terá a oportunidade de, trabalhando
em sala de aula, entender que o homem, dentro de sua racionalidade,
busca a verdade a partir de sua razão explicativa. O Homem é este ani-
mal racional que se diferencia dos demais pela capacidade de pensar, de
racionalizar o seu pensamento a uma sistematização, a um ordenamen-
to, a um objetivo prático que se propõe. Eis a definição de razão.
Na realidade, através da filosofia, nós podemos ter a oportu-
nidade de discutir diversos temas sobre vários segmentos do conhe-
cimento, podemos falar de Direito, questionando o que vem a ser a
Lei; podemos falar de educação, falando sobre a base da educação
que trazemos de casa e a extensão dela que se dá nas escolas, nas
universidades; podemos falar de ética e da postura de nossos gover-
nantes, de nossos políticos; voltarmos lá para a Grécia e discutirmos
sobre a definição do que vem a ser política; podemos falar de popu-
lação, de povo e discutirmos o que vem a ser o caráter da cidadania
e sua origem, desde a filosofia grega até a história contemporânea
do homem moderno. Portanto, estaremos com isto falando de direi-
tos e deveres, de Direitos Humanos, de igualdade, de filosofia den-
tro de sua relevância nas escolas de ensino médio para uma base
maior de um ser mais consciente e sem dúvida imprescindível para
a formação de um ser mais crítico.

72
2ª PARTE
Alexandre Costa
A principal meta da educação é criar homens
que sejam capazes de fazer coisas novas, não
simplesmente repetir o que outras gerações já
fizeram. Homens que sejam criadores, inventores,
descobridores. A segunda meta da educação é
formar mentes que estejam em condições de criticar,
verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.”

Jean Piaget
Júlio di Paula & Alexandre Costa

1º Capítulo

Uma Reflexão sobre a Educação Brasileira


Como especialista em educação corporativa e consultor em-
presarial, tenho observado ao longo de mais de três décadas de ex-
periência, que o despreparo profissional vem se agravando a cada
dia nas mais diversas áreas, de forma assustadora e preocupante.
O avanço das Novas Tecnologias da Informação e Comuni-
cação, que alcança todos os segmentos econômicos e sociais, é uma
realidade irrefutável em nossos dias, exige que a prática da formação
continuada seja uma realidade em todos os setores. Às vezes chego
a pensar que as autoridades constituídas, as lideranças empresariais
e os líderes que representam os trabalhadores, ainda não entende-
ram que é imprescindível investir na capacitação e no aperfeiçoa-
mento da mão de obra. Hoje, por exemplo, não se admite mais um
mecânico que não detenha conhecimentos básicos de informática.
Nos últimos anos tivemos um avanço considerável no ensino
superior, com o aumento da oferta de cursos nas regiões metropo-
litanas e em cidades do interior, mas por outro lado a qualidade do
ensino caiu na mesma proporção, como se constata, todos os anos,
através do exame da Ordem dos Advogados do Brasil que reprova
mais de 80% dos bacharéis em ciências jurídicas em todo território
nacional. Esse fato comprova, mais uma vez, que o Brasil é o país
dos contrastes. Enquanto expande o ensino superior, sem cuidar
de sua qualidade, despreza o ensino técnico profissionalizante, que
hoje registra uma demanda altamente reprimida, em todos os seto-
res da economia, especialmente no setor de serviços.
Instituições como SENAC, SENAI, SENAT, SEBRAE e outras
deveriam abrir núcleos regionais por todo o Brasil, uma estraté-
gia que traria vários benefícios para a economia, destacando-se,

75
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
dentre muitos, a fixação das pessoas em sua cidade natal, reduzindo
os problemas sociais causados pelo congestionamento dos grandes
centros urbanos.
Diante deste quadro caótico, acredito que as escolas e as or-
ganizações de ensino profissionalizante, públicas e privadas, devem
fundamentar sua missão ou objetivos sociais, nos seguintes pilares:

1. Promover a capacitação do estudante do ensino médio


para o mercado de trabalho, observando as vocações de
cada indivíduo.
2. Promover a educação plena e não simplesmente o ensino,
isto é, cuidar da formação de verdadeiros cidadãos, capa-
zes de tomar decisões diante das mais diversas situações da
vida, indivíduos autônomos e críticos.
3. Promover a oferta de cursos, treinamentos e outras ativi-
dades educacionais que atendam à demanda e peculiari-
dades de cada região, quer seja em nível de capacitação ou
aperfeiçoamento.
4. Desenvolver programas de aperfeiçoamento e reciclagem,
capazes de promover a adaptação de profissionais mais ex-
perientes às novas tecnologias.
5. Despertar em cada aluno o interesse pela formação conti-
nuada.

Para muitos sou apenas um sonhador, mas, a despeito de qual-


quer conjuntura ou adversidade, continuo acreditando que “pensa-
mentos conduzem a sentimentos. Sentimentos conduzem a ações e
ações conduzem a resultados”, ou seja, trata-se de uma questão de
eleger prioridades e querer fazer, a exemplo de programas sociais
que precisam ser revistos e rediscutidos.
A partir do momento em que a educação brasileira for tratada
com a devida atenção e respeito, teremos um país realmente desen-
volvido. Precisamos de uma revolução na educação brasileira, que

76
Júlio di Paula & Alexandre Costa

canalize investimentos em todos os níveis, prevendo, inclusive, o


estabelecimento de convênios com organizações de ensino privado
em todo território nacional, como já acontece em outras áreas de
atendimento à população.
Será que algum dia o Brasil poderá ser comparado ao Japão,
o país que detém a mão de obra mais qualificada em todo mundo?

77
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros
desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados
são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono
pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados
sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros.
Porque a essência dos pássaros é o vôo.Escolas que
são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas
amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos
pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas
não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos
pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser
encorajado.

Rubem Alves
Júlio di Paula & Alexandre Costa

2º Capítulo

Educação de Qualidade no Brasil.


Verdade ou mentira?
Definir Educação de Qualidade no Brasil exige uma refle-
xão profunda sobre todas as vertentes que envolvem a questão. Em
primeiro lugar faz-se necessário separar educação pública e educa-
ção particular ou privada, que são duas realidades completamente
opostas, fato comprovado através dos exames de avaliação realiza-
dos em todos os níveis.
Considerando que o número de alunos matriculados na rede
pública é muito maior do que na rede particular, entende-se que o
primeiro grupo retrata melhor a realidade da educação brasileira.
Diante dessa realidade, devemos elencar alguns pontos fundamen-
tais para uma análise imparcial:

1. A grande maioria das escolas públicas brasileiras não pos-


sui as mínimas condições físicas e estruturais de funciona-
mento. No dia 22.06.08 a Rede Globo de Televisão veiculou,
através do programa Fantástico, uma matéria mostrando a
triste e vergonhosa realidade das escolas públicas de várias
cidades do Nordeste, que “funcionam” a céu aberto, sem
merenda escolar e sem banheiros.
2. Os professores não são tratados de forma condizente, co-
meçando pela péssima remuneração, que em algumas re-
giões chega a ser inferior ao que se paga a qualquer traba-
lhador braçal, além das terríveis condições de trabalho.
3. A falta de um programa de capacitação continuada dos
professores e demais profissionais da educação.

79
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
4. A falta de segurança nas escolas públicas, que em alguns
casos chega a impossibilitar a contratação do corpo docen-
te necessário ao funcionamento da instituição de ensino.
5. O elevado índice de 35% de evasão escolar nas séries finais
do ensino fundamental, comprovado por uma pesquisa
realizada pelas sociólogas Miriam Abramovay e Mary Gar-
cia Castro, que ouviu 7.000 professores e 50.000 alunos em
13 capitais brasileiras. Segundo a pesquisa a escola pública
brasileira não é atraente, é algo chato para o jovem, que
vem sendo atraído pelo crime organizado em larga escala.

Enquanto não houver uma verdadeira revolução na educação


brasileira que seja capaz de mudar o cenário de todo sistema exis-
tente, falar em educação de qualidade sempre será uma utopia ou
um devaneio. É lamentável quando vemos um aluno da 8ª série que
não sabe ler, mas continua avançando ou sendo promovido para
não comprometer os indicadores de desempenho da escola.
Para que o Brasil alcance um nível satisfatório de qualidade
na educação é preciso uma mudança de percepção ou visão por par-
te das autoridades envolvidas com a causa. Legisladores, ministros,
governadores, prefeitos, secretários estaduais e municipais, presi-
dente e diretores dos conselhos de educação precisam entender a
educação como uma prioridade para o desenvolvimento do Brasil.
Resumindo, fica muito difícil discorrer sobre educação de
qualidade, porque não existe consenso sobre o que significa qua-
lidade, quando nos reportamos à educação. Algumas perguntas
precisam de respostas, para que a educação não seja confundi-
da com qualquer mercadoria ou serviço, como está ocorrendo
atualmente. Para alguns, a qualidade da educação pode ser me-
dida pelo índice de aprovação, outros apontam o corpo docente
como principal quesito a ser avaliado ou a estrutura da institui-
ção de ensino, enfim, a aprendizagem significativa, o que de fato
importa, não é considerada.

80
Júlio di Paula & Alexandre Costa

A União, como controladora do orçamento federal, impõe


condições e metas, através de seus indicadores de desempenho, que
obrigam os Estados e Municípios a adotarem processos de avaliação
que visam, tão somente, atingir o máximo de aprovação, desprezan-
do o que se encontra preconizado na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN) vigente.
Quanto à inclusão, concordo com o pensamento de Man-
toan (2003, p. 19-20), quando ele afirma... “Se o que pretendemos é
que a escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam
para uma educação voltada para a cidadania global plena, livre de
preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças”. A educação
inclusiva não deve ser pensada como algo voltado apenas para pes-
soas com alguma deficiência e sim ter o seu foco no objetivo de não
deixar ninguém fora da escola, desde o começo da vida escolar.
No que se refere à Autonomia dos Espaços Educativos, acre-
dito que é uma possibilidade e não uma realidade, considerando
que implica na isenção da intervenção e do controle político, que
não ocorre em nosso modelo de gestão pública. Alguns pilares ser-
vem de base para a autonomia, destacando-se, dentre eles, a trans-
parência. No meu entendimento, ainda temos um longo caminho a
percorrer para pensarmos em autonomia dos espaços educativos.
E, por último, destaco o uso ou aplicação das Novas Tecno-
logias de Informação e Comunicação na educação, como algo irre-
versível. A inclusão digital deve ser um pilar em todos os níveis da
educação formal para que possamos viver a “sociedade tecnológica”,
como defendem alguns pensadores contemporâneos.

81
“.... a educação formal é parte do contexto cultural
da sociedade, atuando como expressão de sua
continuidade e desenvolvimento. Quando a
sociedade, sempre de algum modo em mudança, ou
evolução, sofre uma intensificação ou aceleramento
desse processo, o fator de educação, refletindo a
mudança, atua como força de resistência ou de
renovação, concorrendo para dificultar ou facilitar
o processo de readaptação social inerente à função
característica da educação dentro do processo
cultural.”

Anísio Teixeira
Júlio di Paula & Alexandre Costa

3º Capítulo

Planejamento na Educação Brasileira


A educação brasileira precisa de um novo olhar.

Como definição mais aceita em todas as áreas do conheci-


mento, entende-se por planejamento um processo de previsão de
necessidades e racionalização de emprego dos meios materiais e dos
recursos humanos disponíveis a fim de alcançar objetivos concretos
em prazos determinados e em etapas definidas a partir do conheci-
mento e avaliação científica da situação original.
Peter Drucker, considerado o “papa da administração”
afirmava que o planejamento não diz respeito a decisões futuras,
mas às implicações futuras de decisões presentes, ou seja, toda e
qualquer ação tem uma consequência, portanto deve ser planejada
criteriosamente.
No âmbito educacional, por sua vez, o planejamento se torna
mais importante ainda se considerarmos a educação brasileira em
dois aspectos básicos:

1.º O imenso número de pessoas matriculadas nas instituições


de ensino regular, públicas e privadas.
2.º As peculiaridades de cada região de um país que tem
dimensões continentais.

No Brasil o planejamento educacional define as linhas de ação


para nortear a educação que se pretende oferecer em nível macro,
isto é, foco no país, estados e municípios, tendo como exemplos
práticos o Plano Nacional da Educação e os Planos Plurianuais Es-
taduais e Municipais, dentre outros, o que fere ou contraria o que se

83
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
encontra previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
n.º 9394/96, que estabelece que o Projeto Político-Pedagógico deve
proporcionar autonomia à escola e sua adequação às necessidades
reais da comunidade em que está inserida.
No que tange às peculiaridades de cada região, citadas no item
2º, a falta de critério na elaboração do Plano Nacional da Educação
é tão gritante que estabelece um calendário único para o ano letivo,
um procedimento absurdo, considerando, apenas, as condições
climáticas do Brasil em suas cinco regiões.
De acordo com meu modesto entendimento, mesmo
trabalhando com planejamento corporativo há mais de 35 anos,
mas não sou especialista no assunto, acredito que a educação
brasileira precisa ser totalmente reformulada, começando pelo
Plano Nacional da Educação, que deve ser elaborado prevendo e
considerando as peculiaridades de cada região, principalmente
as climáticas e geográficas. Hoje, 18/08/13, por exemplo, algumas
cidades da Região Sul amanheceram com temperatura abaixo de
15º C, enquanto que no Piauí, o termômetro marcava 38º C, às 10h.
Na Região Amazônica as distâncias entre a sede dos municípios
e as zonas rurais e ribeirinhas são quilométricas, com péssimas
condições de acesso, e esses aspectos não têm sido observados pelo
Governo Federal, que centraliza o orçamento da Educação.
Enquanto o Governo Federal entender que o Brasil se resume
aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, teremos situações
discrepantes em todos os setores, de forma especial na educação, que
precisa de um novo olhar, de uma nova percepção. Não podemos
mais deixar de lado as diferenças gritantes de cada região e de cada
estado brasileiro.

84
Júlio di Paula & Alexandre Costa

4º Capítulo

O Modelo de Educação que o Brasil precisa existe


Ainda temos um longo caminho a percorrer para que isso aconteça.

Como todo educador brasileiro, sonho com um modelo de


educação que ofereça condições de educar cada brasileiro de acordo
com o que se encontra preconizado no texto da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996),
mas entendo que ainda temos um longo caminho a percorrer para que
isso aconteça, porque vivemos no país do eterno “faz de conta”.
O texto da apresentação feita pelo então presidente da Câmara
dos Deputados, deputado federal Michel Temer, por ocasião do
lançamento da 5ª edição da LDBEN, em 2010, através da Biblioteca
Virtual da Câmara dos Deputados, diz o seguinte:

Desde sua promulgação, em 20 de dezembro de 1996,


a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional vem
redesenhando o sistema educacional brasileiro em
todos os níveis: da creche, desde então incorporada
aos sistemas de ensino, às universidades, além de
todas as outras modalidades de ensino, incluindo a
educação especial, profissional, indígena, no campo
e ensino a distância.
A LDB dispõe sobre todos os aspectos do sistema
educacional, dos princípios gerais da educação
escolar às finalidades, recursos financeiros, formação
e diretrizes para a carreira dos profissionais do setor.
Toda legislação pode ser aprimorada. E a LDB tem
sido constantemente atualizada. Exemplo recente é
a ampliação do ensino fundamental para nove anos
com matrícula obrigatória aos seis anos de idade.

85
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
Como se pode observar por este texto de apresentação, nossa
Lei de Diretrizes e Bases projeta um cenário ideal para a educação
brasileira, mas continuamos vivendo o velho e tradicional problema
de desobediência aos dispositivos legais, em todos os níveis da
gestão pública, ou seja, as leis existem, mas não são obedecidas e
não há punição para os infratores.
Concluindo, acredito que a Educação a Distância (EaD)
possa oferecer uma valiosa contribuição para que a educação que
sonhamos se torne uma realidade, desde que haja uma completa
reformulação no sistema educacional brasileiro, como defende o
senador Cristovam Buarque: “precisamos revolucionar a educação
brasileira”.

86
Júlio di Paula & Alexandre Costa

5º Capítulo

A importância da Aprendizagem Significativa


Educação é a base da construção da cidadania.

Quanto mais significativa e clara a aprendizagem se apresentar,


maior será a sua funcionalidade, tendo em vista que oferece mais
possibilidades de interação com novas situações e conteúdos.
É de fundamental importância que fique entendido que esse
processo de aprendizagem significativa exige uma participação ativa
do aluno, pois se trata de um processo por meio do qual uma nova
informação relaciona-se, de maneira substantiva (não literal) e não
arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do
indivíduo. Em outras palavras, os novos conhecimentos que se adqui-
rem relacionam-se com o conhecimento prévio que o aluno possui.
Em todas as instâncias nas quais educadores reúnem-se para dis-
cutir sobre educação, parece haver um consenso de que a educação bá-
sica deveria visar fundamentalmente a uma preparação para o exercí-
cio da cidadania, cabendo à escola formar o aluno em conhecimentos,
habilidades, valores, atitudes, formas de pensar e atuar na sociedade,
através de uma aprendizagem que seja significativa.
A despeito deste aparente consenso, em grande parte nossas
escolas continuam dominadas por uma concepção pedagógica tra-
dicional, na qual se ensina uma grande quantidade de informações,
geralmente tendo como base única e exclusivamente o programa do
livro didático, que servirão momentaneamente e serão descartadas
após a prova, não chegando sequer a modificar as concepções es-
pontâneas que os alunos trazem de seu cotidiano.
É comum que os currículos escolares sejam organizados em
torno de um conjunto de disciplinas nitidamente diferenciadas

87
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
dominadas por uma ritualização de procedimentos escolares muitas
vezes obsoletos, cujos conteúdos se apoiam numa organização
inflexível, desconectada das experiências dos próprios alunos e na
qual uma etapa é preparação para a seguinte. Apesar de todo avanço
das pesquisas em educação, da ciência e da tecnologia, nossas
aulas mais se assemelham a modelos do início do século passado,
tendo como perspectiva metodológica dominante a exposição, a
exercitação e a comprovação.
A escola, organizada sob tal enfoque, carece de significados
aos alunos, gera abandono, desmotivação e mesmo rebeldia que se
manifesta, dentre outras coisas, na agressividade dos alunos e em
sua indisciplina.
A resposta que a escola dá a isso é, por vezes, acentuar pro-
cedimentos repressivos, impor recursos disciplinares ou atribuir os
problemas a fatores externos tais como desequilíbrio familiar, ima-
turidade do aluno, ou os incontáveis problemas de aprendizagem.
Na essência, ainda temos uma escola meritocrática, classifi-
catória que, se não exclui por meio de reprovações, exclui por uma
aprendizagem que não ocorre.
Ainda não estamos preparados para as diferenças individuais.
Falamos sobre classes heterogêneas, sonhando com a homogenei-
dade e, como consequência mais direta, criamos a categoria dos
atrasados, dos excluídos, dos imaturos e dos carentes de pré-requi-
sitos para estarem em nossas salas de aula.
Tal cenário certamente passa distante do discurso sobre
formação para cidadania e mais especificamente da aprendizagem
significativa.
De fato, para que uma aprendizagem ocorra, ela deve ser
significativa, o que exige que seja vista como a compreensão
de significados, relacionando-se às experiências anteriores e
vivências dos alunos, permitindo a formulação de problemas
de algum modo desafiantes que incentivem o aprender mais, o
estabelecimento de diferentes tipos de relações entre fatos, objetos,

88
Júlio di Paula & Alexandre Costa

acontecimentos, noções e conceitos, desencadeando modificações


de comportamentos e contribuindo para a utilização do que é
aprendido em diferentes situações.
Em resumo, se queremos que os conhecimentos escolares
contribuam para a formação do cidadão e que se incorporem como
ferramentas e recursos aos quais os alunos recorram para resolver
com êxito diferentes tipos de problemas que se apresentem a eles
nas mais variadas situações, e não apenas num determinado mo-
mento pontual de uma aula, a aprendizagem deve desenvolver-se
num processo de negociação de significados.
Por outro lado, se os alunos não apreciam o valor dos concei-
tos escolares para compreender e tomar decisões sobre a realidade
que os cerca, não se pode produzir uma aprendizagem significativa.
Uma aprendizagem significativa está relacionada à possibili-
dade dos alunos aprenderem por múltiplos caminhos e formas de
inteligência, permitindo aos estudantes usarem diversos meios e
modos de expressão. De fato, se analisarmos os princípios da apren-
dizagem significativa já não parece ter lugar a concepção dominante
de inteligência única, que possa ser quantificada e que sirva como
padrão de comparação entre pessoas diferentes para apontar suas
diferenças.

89
A educação não pode ser delegada somente à escola.
Aluno é transitório. Filho é para sempre.

Dr. Içami Tiba


Júlio di Paula & Alexandre Costa

6º Capítulo

Educar ou Ensinar?
Não basta ensinar, é preciso educar!

É muito comum se fazer confusão diante da pergunta título


deste capítulo. Para melhor compreensão sobre educar e ensinar,
sob qualquer ponto de vista, faz-se necessário um entendimento
claro sobre o significado de cada substantivo correspondente:

• ENSINO – 1. Transmissão de conhecimentos, de informações


ou de esclarecimentos úteis ou indispensáveis à educação ou
a um fim determinado; instrução. 3. Os métodos empregados
para se ministrar o ensino. 3. Magistério. 4. Esforço orientado
para a formação ou a modificação da conduta humana; edu-
cação. 6. Castigo; ensinadela.
• EDUCAÇÃO – 1. Ato ou efeito de educar. 2. Processo de de-
senvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da
criança e do ser humano em geral, visando sua melhor in-
tegração individual e social. 6. Aperfeiçoamento integral de
todas as faculdades humanas. 7. Conhecimento e prática dos
usos da sociedade; civilidade, delicadeza, polidez, cortesia.

A partir dessas conceituações, extraídas do dicionário de Au-


rélio Buarque de Holanda Ferreira, é possível afirmar que educar e
ensinar se diferenciam no que diz respeito aos seus objetivos.
Enquanto educar tem como foco o desenvolvimento integral
do ser humano ou a formação de verdadeiros cidadãos em todas
as fases da vida, ensinar tem foco na transmissão de conhecimen-
tos, através de processos sistematizados, utilizando-se, também,

91
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
na maioria das vezes, das mesmas estratégias e ferramentas usadas
na educação, quer seja nos sistemas tradicionais de ensino ou na
formação profissional continuada, exigida atualmente em todos os
segmentos e ambientes, sobretudo, no ambiente corporativo.
Na realidade não existe uma única resposta que seja capaz de
“fechar” o questionamento colocado em discussão e não se trata de
uma simples questão de semântica, como muitos insistem em afir-
mar. A educação desperta vocações, possibilita que cada um alcance
o máximo de suas potencialidades, permite que cada um conheça
suas finalidades e tenha competências para mobilizar meios para
colocá-las em prática.
Uma forma muito interessante e recomendada para definir
educar é seguir a orientação que se encontra no documento “Declara-
ção Mundial sobre a Educação para Todos”, produzido por ocasião da
Conferência Internacional sobre Educação promovida pela UNES-
CO, em março de 1990, na cidade de Jomtien, Tailândia, que estabe-
lece, em síntese, o seguinte: Educar significa “aprender a conhecer”,
“aprender a fazer”, “aprender a viver junto” e “aprender a ser”.
“Um indivíduo bem educado é aquele que recebeu um bom
ensino, formal e/ou informal, e sempre o aplicará seguindo os prin-
cípios da cidadania, sem jamais se desviar”.

92
Júlio di Paula & Alexandre Costa

7º Capítulo

Ser Professor. Profissão ou Sacerdócio?


Entendendo melhor a atividade docente.

O respeito mútuo sempre deve ser o alicerce de toda relação,


independente de quaisquer aspectos, como etnia, hierarquia, poder
de decisão, nível social, idade, condição financeira etc.
Na atividade educacional, especificamente, cabe ao professor
uma responsabilidade ainda maior pelo fato de lidar diretamente
com a formação de pessoas de várias origens, faixas etárias diferen-
tes, cultura, doutrina, religião, valores e outros aspectos que fazem
de cada indivíduo uma pessoa única e exclusiva. O professor tem
uma clientela multifacetada, por isso deve reunir em seu perfil al-
guns pré-requisitos indispensáveis:

• Conhecer ao máximo cada aluno, sua história de família, suas


condições sociais, anseios, ocupação de seus pais etc.
• Ser um líder informal, capaz de gerar admiração e entusias-
mo, além de servir de modelo para seus alunos.
• “Ser” um professor comprometido com a educação e não “es-
tar” professor, uma postura muito comum nos dias de hoje,
especialmente no ambiente do ensino superior, onde muitos
profissionais liberais e empresários fazem “bico”, dando aula à
noite para complementar sua renda mensal.
• Conhecer profundamente a(s) disciplina(s) que leciona,
evidenciando capacidade de tornar suas aulas agradáveis e
prazerosas.

93
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
• Ser dialético em qualquer circunstância ou situação,
utilizando o debate ou a discussão como uma ferramenta de
desenvolvimento do indivíduo e do grupo a que este pertence.
• Ter equilíbrio emocional, principalmente nos momentos de
conflito ou de tensão. É preciso ser dialógico.
• Ser empático, se possível altruísta, visando estabelecer um elo
de confiança com seus alunos, individualmente.
• Ser apaixonado por sua profissão, adotando a conduta de um
amador que coloca entusiasmo em tudo que faz.
• Perceber a promoção da autonomia como uma das finalidades
da educação em todas as suas etapas, especialmente quando
se refere a jovens e adultos.
• Contribuir para a formação de verdadeiros cidadãos,
capazes de analisar, criticar e decidir qual posição adotar
diante das mais diversas situações que lhes são impostas ao
longo da vida.

O professor deve se comportar como um amigo de seus alu-


nos, um verdadeiro facilitador que planeja e ministra suas aulas com
o máximo de aplicação, para que cada aula seja um evento especial,
capaz de atrair o máximo da atenção dos alunos, não esquecendo
jamais que é muito difícil fazer algo que não nos dá prazer, sobretu-
do assistir a uma aula “chata” como se diz no meio discente.
Todo educador deve assumir o compromisso de fazer da ati-
vidade docente algo agradável e prazeroso e o melhor caminho para
se alcançar este objetivo é a aplicação do Método Socrático em to-
dos os níveis e situações do processo ensino-aprendizagem.

94
Júlio di Paula & Alexandre Costa

8º Capítulo

Aprendizagem. Um Fator de Construção


da Cidadania.
O processo de aprendizagem em qualquer ambiente é uma
atividade muito complexa em todas as fases, em função do imenso
número de informações que recebemos e das experiências que vi-
venciamos, tornando a tarefa do (a) professor (a) e do (a) psicólogo
(a) um constante desafio. Esses (as) profissionais precisam com-
preender e ter a capacidade de explicar a aprendizagem em todos os
aspectos, com o objetivo de facilitar o aprendizado e torná-lo mais
eficaz e permanente para os alunos em todos os níveis.
A aprendizagem pode ser natural ou espontânea e induzida.
A natural ou espontânea é pouco sistemática e tem como base as
preferências, estilos e motivações pessoais, e ocorre por observação,
imitação, tentativa e erro. A ocorrência de aprendizagens autônomas
é possibilitada por várias fontes de informações de nosso cotidiano,
como jornais, revistas, televisão, Internet e interações com outras
pessoas. A aprendizagem induzida, por sua vez, é caracterizada pe-
los processos e métodos estruturados e planejados que facilitam a
aprendizagem, através da retenção e transferência do conhecimento
(instrução, treinamentos, programas educacionais etc.).
No sentido literal ou de acordo com o que se encontra nos
dicionários, aprendizagem “é o ato de aprender, aprendizado”, e está
associada às noções de “adquirir, tomar, reter, segurar, pegar, agar-
rar, prender, assimilar e apreender”. Esse conceito vem sendo usado
no sentido figurado de apropriação, apreensão ou incorporação de
algo que está no indivíduo.
Para Bigge (1982 apud ABBAD, 2007), a aprendizagem é a
consequência de experiências vivenciadas pelo indivíduo em seu

95
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
ambiente e proporciona mudança de caráter duradouro. Segundo
Abbad, 2007, p. 38, aprendizagem é um processo psicológico que
ocorre de forma específica em cada indivíduo.
No âmbito da psicologia, as diversas abordagens existentes
provocam variações no conceito de aprendizagem, que, de forma
geral, faz referência às alterações provocadas no comportamento do
indivíduo em função de sua interação com o contexto em que vive
e não unicamente como resultado de seu amadurecimento. Esse é o
pensamento predominante entre a maioria dos pesquisadores, que
acreditam que a aprendizagem ocorre no nível micro de análise.
Considerando que a aprendizagem proporciona mudanças
relativamente duradouras no comportamento potencial do sujeito
devido à experiência, três aspectos devem ser observados:

• Gera mudanças no indivíduo.


• A mudança é o resultado da experiência.
• O comportamento potencial do indivíduo sofre alteração.

É muito importante ressaltar que a avaliação de um processo


de aprendizagem possibilita ao professor a identificação das possí-
veis causas de sucesso ou fracasso desse aprendizado e, também, sua
monitoração. Os psicólogos se dividem em duas linhas opostas de
abordagem, segundo Fontana (2000):
Ø Behaviorista – é a abordagem que ocorre por condiciona-
mento e gera mudanças de comportamento a partir da utilização
dos mecanismos estímulo-resposta (S-R), atuantes no sistema ner-
voso central do indivíduo. Esse processo é vinculado ao Behavioris-
mo ou Comportamentalismo, que é o conjunto de ideias presentes
na Psicologia e que vê o comportamento como único.
Skinner, através do condicionamento operante, afirma que
todo comportamento sofre influências de seus resultados, existindo
um estímulo reforçador, positivo ou negativo. Positivo quando
fortalece o tipo de comportamento (recompensa) e negativo

96
Júlio di Paula & Alexandre Costa

quando gera a inibição de certo comportamento (reforço negativo


e punição).
Baseado em estudos, Skinner afirmou que o condicionamen-
to operante é um mecanismo que premia uma determinada respos-
ta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessi-
dade à ação. O hábito é gerado por uma ação do indivíduo e não
está condicionado à necessidade de nenhuma resposta anterior, ao
contrário do que ocorre com o condicionamento clássico de Pavlov.
A aprendizagem, de acordo com a abordagem behaviorista,
ocorre quando há conectividade entre um estímulo (S) do ambiente
e uma resposta (R) oferecida pelo sujeito, ou entre essa resposta e
o reforço, confirmando que a aprendizagem é essencialmente am-
biental. O estudo sobre o condicionamento operante foi desenvol-
vido a partir de 1930.
Ø Cognitivista – apresenta o indivíduo como sujeito no pro-
cesso de aprendizagem. Essa mudança de paradigma ocorreu no
final da década de 1950, quando uma corrente de psicólogos se con-
trapôs ao pensamento behaviorista, que afirmava ser o homem um
produto mecânico do ambiente.
Para haver compreensão, segundo os cognitivistas, faz-se ne-
cessário que o aluno reorganize mentalmente o seu campo psicoló-
gico (o mundo interior de conceitos, lembranças etc.) em resposta
à experiência.
O Conceitualismo Instrumental proposto por Bruner, (1966
apud FONTANA, 2000), é uma das teorias de Aprendizagem Cog-
nitivista. Nessa concepção o comportamento não é algo que possa
ser extraído de um estímulo e fortalecido pelo reforço. Para Bruner
o estímulo é reconhecido pelo aluno de modo individual e subjeti-
vo, podendo interpretá-lo e transformá-lo do seu próprio modo, de
acordo com suas experiências e pensamentos.
Em seu contexto, as operações cognitivas envolvem aspec-
tos como memória, percepção, atenção, condução do raciocínio e
resolução de problemas, os quais interagem com os processos que

97
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
envolvem a autorregulação e a metacognição – componentes essen-
ciais para um estudo eficaz.
Bruner (1975 apud FONTANA, 2000) afirma que a transfor-
mação das informações está vinculada a três sistemas de represen-
tação na memória de experiências passadas (de longo termo) e sua
utilização para lidar com o presente, desenvolvidos na infância:

• Sistema atuante - opera por meio da ação, é evidente em habi-


lidades motoras e não faz uso de imagens, nem de palavras. É
manipulativo.
• Sistema icônico – caracteriza-se pelo uso de imagens ou íco-
nes, vinculadas à organização visual ou de outras organiza-
ções sensoriais e apresentam um conceito, sem defini-lo.
• Sistema simbólico – utiliza-se da linguagem verbal para re-
presentar a realidade, indo além da ação e das imagens. Essa
representação possibilita o uso do pensamento reflexivo.

Para facilitar o entendimento dessas representações, supo-


nhamos que uma pessoa pergunte a você como localizar um deter-
minado endereço. Certamente você escolherá uma dentre as três
posições a seguir:

• Modo atuante – quando você não sabe explicar a rota, mas


pode conduzi-lo, indicando o caminho mais fácil.
• Modo icônico – quando você consegue desenhar um mapa ou
um roteiro, mesmo não sabendo explicar.
• Modo simbólico – quando você orienta verbalmente.

A natureza do aprendiz, a natureza do conhecimento a ser


aprendido e a natureza do processo de aprendizagem são variáveis
essenciais para uma atividade de aprendizagem na visão cognitivista.
Natureza do aprendiz - cognição, inteligência, criatividade e
capacidade de processar informações são alguns dos diversos fatores

98
Júlio di Paula & Alexandre Costa

considerados nos próprios alunos que influenciam a aprendizagem.


Outros fatores, também importantes, devem ser considerados
pelo professor, como afetividade, motivação, idade, sexo, ambiente
social, hábitos de estudo, memória etc.
A ansiedade destaca-se entre os fatores afetivos que podem in-
terferir no processo de aprendizagem, de forma positiva ou negati-
va, constituindo-se em um fator estimulante ou inibidor. O relacio-
namento entre educador e educando, as pressões de tempo e as ava-
liações podem causar esse sentimento, considerando, sobretudo, que
cada indivíduo tem um nível de ansiedade pessoal e outros se tornam
ansiosos em função de pressões indevidas e externas à escola, como
expectativas dos pais, colegas de trabalhos, chefes, por exemplo.
Outros fatores afetivos importantes estão estritamente ligados
à ansiedade como a autoestima, por exemplo, que oscila de acordo
com a atenção, o incentivo, o afeto físico, a coerência, e o compor-
tamento democrático dos pais, que podem reduzir ou aumentar a
ansiedade. Já foi comprovado por Coopersmith (1968 apud FON-
TANA, 2000) que as crianças que têm elevado nível de autoesti-
ma alcançam melhor desempenho do que aquelas com baixa au-
toestima. As do primeiro grupo têm metas altas e não precisam de
aprovação dos adultos, são mais encorajadas pelos fracassos e têm
uma visão mais realista de suas próprias habilidades. Os professores
podem e devem contribuir para a melhoria da autoestima de seus
alunos, em qualquer faixa etária, demonstrando crença pessoal na
competência deles.
A extroversão e a introversão são outros fatores afetivos re-
lacionados à natureza do aprendiz. Todo indivíduo extrovertido
aceita bem as mudanças, gosta de variedades e está orientado para
o mundo exterior e experiências, enquanto o introvertido, pensa e
age de forma contrária, ou seja, está mais ligado à estabilidade e o
mundo interior.
Natureza do conhecimento a ser aprendido – costumeiramen-
te ouvimos dizer que o professor experiente pode ensinar qualquer

99
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
disciplina, sem necessidade de um conhecimento especializado, o
que é um grande equívoco. Bruner (1966 apud FONTANA) define
que a meta do ensino é ajudar o aluno a entender a estrutura de um
conteúdo, ou seja, compreender os princípios básicos que o nor-
teiam e definir, dar identidade e permitir que outros conhecimentos
sejam relacionados com esse conteúdo de modo significativo.
Sendo assim, para que essa meta do ensino seja alcançada, o
nível de experiência do professor não é suficiente, é preciso que ele
tenha conhecimento especializado do assunto a ser trabalhado em
cada aula.
A aprendizagem, de acordo com Gagné (1974 apud FONTA-
NA, 2000), consiste tipicamente em uma cadeia de oito eventos ou
etapas, que podem ser internos ou externos ao aprendiz.

• Motivação.
• Apreensão.
• Aquisição.
• Retenção.
• Recordação.
• Generalização.
• Desempenho.
• Feedback.

No caso de detecção de falha de aprendizagem, Gagné (1974)


orienta que o professor identifique em que nível do processo ocorreu
essa falha utilizando a sequência de procedimentos descrita a seguir:

1º - Obter a atenção do aprendiz.


2º - Estimular a recordação de informações.
3º - Explicitar os objetivos da instrução.
4º - Apresentar estímulos pertinentes.
5º - Proporcionar orientação que conduza à coordenação da
aprendizagem atual na forma de uma cadeia de conceitos.

100
Júlio di Paula & Alexandre Costa

6º - Possibilitar o desempenho do aluno.


7º - Proporcionar feedback.
8º - Avaliar o desempenho do aluno.

Além do conhecimento teórico, é imprescindível que o do-


cente tenha experiência pedagógica para que possa atuar a partir de
reflexões sobre a realidade de seus alunos.
A aprendizagem por descoberta, cuja característica principal
é o descobrimento, precisa ser abordada, para que o conteúdo estu-
dado não seja simplesmente apresentado, mas que os alunos descu-
bram e que incorporem essas descobertas à estrutura cognitiva, a
partir de orientações do professor.
Por outro lado, é necessário que o professor tenha cuidado
para não incorrer em erro de procedimentos vagos e vazios, consi-
derando a possibilidade de fechamento da lacuna entre o conheci-
mento elementar e o avançado, conforme afirma Bruner (1986 apud
FONTANA, 2000). O professor precisa manter constantes os fins da
aprendizagem, proporcionando uma estrutura, através da qual os
meios sejam variados, com o objetivo de adequar o nível de pensa-
mento e entendimento dos alunos.
Induzir o aluno ao pensamento reflexivo independe da na-
tureza da aula e os professores devem assegurar que as situações-
-problema trabalhadas despertem provocações, levando os alunos à
descoberta, pois esse é o procedimento essencial para o desenvolvi-
mento das habilidades metacognitivas.
O principal objetivo das perguntas reflexivas consiste em
fazer os alunos pensarem sobre alguns aspectos críticos do assunto
em estudo, ajudando-os a compreender as sutilezas do assunto,
qual a relação entre causa e efeito e os métodos de procedimento e
investigação.

101
Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível
ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si.

Galileu Galilei
Júlio di Paula & Alexandre Costa

9º Capítulo

Tia ou Professora?
Fiz o curso do magistério porque não tive outra possibilidade.

É muito comum ouvirmos em depoimentos de profissionais


dos mais diversos setores afirmações absurdas, como: “não sei se
estou fazendo o que quero”, “sou médico porque meu pai sempre
quis”, “sou militar porque é uma tradição de família” e até mesmo
em atividades que devem ser encaradas como verdadeiro sacerdó-
cio, o que não passa de um grande equívoco, que pode causar pre-
juízos irreparáveis, além de ser altamente frustrante.
O texto-base, extraído do livro Professora Sim, Tia Não, de
Paulo Freire (1993), mostra com muita clareza uma situação extre-
mamente preocupante, por se tratar de uma das principais causas
da péssima qualidade de nosso ensino.
Quando uma professora afirma “eu fiz o curso do magistério
porque não tive outra possibilidade”, fica mais do que evidente que
estamos diante de uma pessoa que não entende a importância do
seu verdadeiro papel social. Trata-se de alguém que não entende
que ensinar é exigir tanto de si, quanto de quem aprende, por isso
não pode ser feito de qualquer modo, requer responsabilidade
social. E, é por isso que se torna imprescindível a existência de
uma programação com constante avaliação. Além disso, existem os
pacotes fechados, prontos, que, quando em contato com a realidade
contextual de cada lugar, desaparecem ou formam deformando.
Justamente aí se apresenta o autoritarismo como suporte às “Tias”
para terminar o dia, a tarefa.
A tarefa da professora é também alertar para a ordem social
de poder, sem deixar de adocicar e amaciar, assim “é possível ser tia

103
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
sem amar os sobrinhos, sem gostar sequer de ser tia, mas é impos-
sível ser professora sem amar os alunos — mesmo que amar só, não
baste — e sem gostar do que se faz”. Paulo Freire resume essa ques-
tão, afirmando: “só ia ser professor quem não dava para mais nada”,
pois quem não tem opção de vida para trabalhar, faz com desgosto,
e, como diz Rubem Alves, “tem que haver prazer no labor para que
a produção alcance seu estado ideal para todos”.
Baseado no que está explícito no parágrafo anterior, podemos
afirmar que é impossível ser produtivo ou cumprir sua responsabi-
lidade social, quando não se faz com prazer uma atividade profis-
sional, sobretudo o magistério. Cada professor precisa exercer sua
função com orgulho e honradez, independentemente das péssimas
condições que lhe são oferecidas. Se o professor continuar encaran-
do o magistério como um “bico”, continuaremos tendo alunos do
9º ano analfabetos ou profissionais de nível superior incapazes de
interpretar um texto. É preciso mudar e não ficar esperando que a
mudança parta das autoridades de qualquer nível, municipal, esta-
dual ou federal.

104
Júlio di Paula & Alexandre Costa

10º Capítulo

Educação a Distância (EaD).


Um modelo que vem se consolidando no Brasil
Como ex-aluno de um curso de pós-graduação a distância,
passei a acreditar na viabilidade de estudar e aprender através des-
ta modalidade de ensino, que vem se consolidando a cada dia no
ambiente corporativo, especialmente, em função de suas inúme-
ras aplicações, sempre focadas no atendimento da necessidade de
constante aprendizado e desenvolvimento profissional, exigidos em
qualquer área de atuação ou segmento de mercado.
A velocidade das mudanças registradas atualmente, quando
entendemos que passado, presente e futuro se confundem, e o avan-
ço permanente das Novas Tecnologias de Informação e Comunica-
ção, são dois fatores que contribuem decisivamente para a constan-
te necessidade de atualização e aquisição de novos conhecimentos,
contribuindo, assim, para o fortalecimento da EaD como uma exce-
lente alternativa de modelo educacional.
Outros fatores que me levam a ser um defensor da Educação
a Distância são as inúmeras vantagens e facilidades que esse modelo
oferece, destacando-se dentre outras as seguintes:

• Baixo custo.
• Evita deslocamentos desnecessários de alunos e tutores.
• Gestão de tempo flexível.
• Atendimento a um público muito maior e mais variado que o
modelo tradicional.
• Pode ser ministrado a uma única pessoa ou a um grupo de
pessoas simultaneamente, em vários locais.

105
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
• Pode ser total ou parcialmente on-line, permitindo o uso de
várias estratégias.
• Democratiza o ensino, considerando que engloba uma ampla
diversidade cultural, social e econômica.
• Exige mais comprometimento do aluno, fator determinante
para que se alcance sucesso.
• Oferece autonomia na aprendizagem, permitindo que haja
um maior desenvolvimento do aluno.
• Fornece material de ensino atualizado e de alta qualidade.
• Incentiva a educação permanente.
• Proporciona uma comunicação bidirecional e massiva.
• Oferece apoio institucional e suporte de um (a) tutor (a).
• Permite maior disponibilidade e ritmos de estudos diferen-
ciados.
• Possibilita uma maior familiarização com as mais diversas
tecnologias.

Por outro lado, contrariando minha posição favorável à prá-


tica da EaD, destaco as seguintes desvantagens e riscos oferecidos
pelo método:

• Resistência à aceitação do novo modelo e quebra de paradigma.


• Falhas ou deficiências no processo ensino-aprendizagem, se
não houver disponibilidade de equipamentos adequados ou
se o uso destes for inadequado.
• Conteúdo trabalhado por vários profissionais até chegar ao
aluno, o que pode comprometer sua qualidade.
• Relação “professor x aluno” muito diferente da tradicional nas
aulas presenciais.

106
Júlio di Paula & Alexandre Costa

• Risco de não se alcançar a aprendizagem significativa, caso


não haja um comportamento responsável e honesto por parte
do aluno.
• Baixa credibilidade de sua certificação no mercado de
trabalho.

Apesar de oferecer algumas desvantagens e riscos, a EaD ofere-


ce muito mais vantagens e facilidades, pois torna o acesso à educação
permanente possível a um número muito maior de pessoas, rom-
pendo barreiras demográficas, temporais, culturais e sociais, como
está acontecendo com mais de 5,7 milhões de estudantes matricula-
dos em cursos à distância, segundo os últimos dados da ABED - As-
sociação Brasileira de Educação à Distância (Censo EAD BR 2012),
que registrou um crescimento de 52,50% de 2011 para 2012.
Diante desses fatos, acredito que não levará muito tempo
e este método estará consolidado no Brasil, a exemplo do que já
acontece em grandes universidades de outros países, especialmente
europeus, desde o início da década de 1980.

107
A Educação qualquer que seja ela, é sempre uma
teoria do conhecimento posta em prática.

Paulo Freire
Júlio di Paula & Alexandre Costa

11º Capítulo

Evolução da Educação a Distância


A evolução histórica da Educação a Distância (EaD) é muito
interessante, considerando que há 285 anos, nos Estados Unidos
da América, surgiu o primeiro curso a distância, desenvolvido pelo
professor de taquigrafia Cauleb Phillips, precisamente no dia 20 de
março de 1728, conforme anúncio publicado na Gazeta de Boston,
que viria a ser considerado pelos estudiosos o marco da EaD.
Apesar deste consenso, a Educação a Distância já existe desde
o início da Era Cristã, há mais de 20 séculos, tendo como registro as
epístolas, um recurso muito utilizado pelos primeiros cristãos para
divulgação da Palavra de Deus, apontadas por alguns autores como
a primeira manifestação de ensino por correspondência, uma práti-
ca ampliada mais tarde pelo apóstolo Paulo, sendo utilizada até hoje
por milhões de cristãos em todo mundo.
No Brasil, pouco antes do início do século XX, foram regis-
trados os primeiros cursos profissionalizantes por correspondência,
oferecidos por professores particulares de datilografia no Rio de Ja-
neiro e não por estabelecimentos de ensino regular. Somente no ano
de 1904 chegou uma filial da instituição norte-americana “Escolas
Internacionais”, que continua ativa em vários países até hoje.
A década de 1920 foi marcada pelo início da EaD via rádio,
com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, precisamente
no ano de 1923, que tinha como objetivo oferecer educação popular,
causando grande preocupação aos governantes que temiam a
veiculação de programação subversiva
Em 1939 foi fundada pelo Instituto Monitor a primeira esco-
la brasileira de cursos a distância, seguido pelo Instituto Universal
Brasileiro, em 1941, ambos em São Paulo e em atividade até hoje,

109
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
com registro de mais de 9 milhões de alunos atendidos, sendo 5
milhões pelo primeiro e 4 milhões pelo segundo.
Através de uma inciativa conjunta do Serviço Social do Co-
mércio (SESC), das Emissoras Associadas e do Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC), foi criada em 1946, no Rio de
Janeiro e em São Paulo a Universidade do Ar, voltada para o treina-
mento de técnicas comercias para comerciantes e seus empregados.
Os programas eram gravados em discos de vinil e distribuídos para
as emissoras de rádio participantes, atingindo, quatro anos mais
tarde, 80 mil alunos, em 318 localidades brasileiras.
Na década de 1950 o ensino por correspondência marcou a
democratização do ensino, associada às boas experiências do uso
da radiodifusão em andamento. No final dessa década, em 1959, al-
gumas escolas do sistema rádio educativo do Rio Grande do Norte
começaram o Movimento de Educação de Base (MEB), que mais
tarde, juntamente com a Igreja Católica e o Governo Federal, pas-
saram a abordar temas como educação, politização e outros. Nes-
se período, foi criada a Fundação Padre Landell de Moura, no Rio
Grande do Sul, em atividade até nossos dias.
As décadas de 1960 e 1970 foram marcantes para a Educa-
ção a Distância brasileira, com o registro de várias iniciativas que
tornaram o Brasil uma referência internacional neste método de
ensino. O MEC criou um conjunto de importantes projetos como
o Logus I, de capacitação de professores; o Logus II, de habilitação
de professores leigos, além dos Projetos 13.5 e 9.4 de formação de
educadores de jovens e adultos, para os recém-criados Centros de
Estudos Supletivos (CES), desenvolvidos em 19 estados brasileiros,
com exceção do primeiro, todos operacionalizados pelo Centro de
Ensino Técnico de Brasília (CETEB):

• 1962 – fundação da Ocidental School, em São Paulo, uma


escola de origem americana, focada em eletrônica.
• 1964 – fechamento da Rádio Educativa Brasileira, com a
instalação do Regime Militar.

110
Júlio di Paula & Alexandre Costa

• 1965 – criação da TV Educativa.


• 1967 – foi publicado o Código Brasileiro de Telecomunicações
que obrigava a transmissão de programas educativos pelas
televisões educativas e emissoras de radiodifusão.
• 1967 – foram criados incentivos para instalação de canais
de difusão educativa, com a concessão de canais televisivos
com fins educativos, mediante privilégios. Nesse mesmo
ano o Instituto Brasileiro de Administração Municipal
(IBAM), iniciou, no Rio de Janeiro, seus cursos de ensino
por correspondência, sendo seguido, no mesmo ano, pela
Fundação Padre Landell de Moura, no Rio Grande do Sul.
• 1969 – o Ministério das Comunicações estabeleceu um tempo
obrigatório para a oferta de programas educativos pelas
emissoras comerciais. Nesse ano ocorreu a criação do Sistema
Avançado de Tecnologias Educacionais que visava o uso de
rádio, televisão e outros meios adequados à educação.
• 1970 – a Fundação Padre Landell de Moura e a Fundação
Padre Anchieta firmaram convênio para a produção de
programas, nascendo dessa parceria o Projeto Minerva.
• 1971 – um grupo de profissionais ligados à radiodifusão
fundou a Associação Brasileira de Telecomunicação (ABT),
objetivando a realização de Seminários Brasileiros de
Tecnologia e a edição da Revista Tecnologia Educacional, uma
publicação especializada, que já atingiu mais de 170 edições.
Nesse mesmo ano, o Centro de Ensino Tecnológico de Brasília
(CETEB), iniciou suas atividades de educação a distância,
desenvolvendo projetos em parceria com Ministérios,
Secretarias, Estaduais e Municipais e outras instituições.
• 1972 – criado, segundo Terezinha Saraiva (1996), no
Ministério da Educação e Cultura, o Programa Nacional de
Teleducação (PRONTEL), cujo objetivo era coordenar e apoiar

111
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
a teleducação brasileira, vindo a ser substituído pelo Centro
Brasileiro de TV Educativa (FUNTEVÊ), do Departamento
de Aplicações Tecnológicas do MEC.
• 1973 – um ano especialmente rico em iniciativas na Educação
a Distância, começando pelo início das atividades em EaD
pela Universidade de Brasília, a primeira instituição de ensino
superior brasileira a utilizar essa modalidade de ensino. Ainda
nesse ano, foi criado o Instituto de Pesquisas Avançadas em
Educação (IPAE), que realizou, em 1989, o primeiro Encontro
Nacional de Educação a Distância e o Congresso Brasileiro de
Educação a Distância, em 1993.
• 1975 – a PETROBRAS iniciou seu primeiro projeto de EaD,
o Projeto Acesso, em parceria com o CETEB, que ofereceu
mais de 70 cursos de formação e qualificação profissional, nas
plataformas da Empresa.
• 1977 – marcado pela criação da Fundação Roberto Marinho,
que três anos após colocou no ar o Telecurso 1º e 2º graus,
através de sua programação de televisão, cobrindo todo
território nacional, com transmissão via satélite.

No final da década de 1970, de acordo com levantamento rea-


lizado com apoio do MEC, havia no Brasil, especialmente em São
Paulo e Rio de Janeiro, 31 estabelecimentos de ensino trabalhando
com Educação a Distância.
No período compreendido entre o fim dos anos 1980 e co-
meço da década de 1990 foi registrado um grande avanço da EaD
brasileira, especialmente em decorrência dos projetos de informati-
zação, bem como o da difusão das línguas estrangeiras. Atualmente
existe um número incontável de cursos que oferecem, através de
instruções programadas para microcomputadores, inúmeras for-
mas de autoaprendizagem.

112
Júlio di Paula & Alexandre Costa

Desse período até os dias atuais a EaD passou a apoiar-se


nas Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs),
ampliando as oportunidades de acesso à educação e ao desenvolvi-
mento pessoal e profissional. A expectativa é que novos programas
sejam desenvolvidos para atender à demanda crescente de um país
com dimensões continentais, que já não consegue avançar através
do modelo convencional de educação.
Os últimos vinte anos foram marcados pelo surgimento de
iniciativas que contribuíram de forma decisiva para a consolidação
da EaD no Brasil:

• 1992 – criação da Universidade Aberta de Brasília, através da


Lei n. 403/92.
• 1993 – criação da Sociedade Brasileira de Educação a
Distância, uma instituição sem fins lucrativos, que realiza,
desde sua fundação, importantes eventos como a 22ª
Conferência Internacional de Educação Aberta e a Distância
do International Council of Open and Distance Learning
(ICDE), realizada no Rio de Janeiro, em 2006, que contou
com a participação de mais de 70 países.
• 1994 – esse ano foi marcado pela expansão da Internet no
ambiente universitário, com o surgimento de propostas
variadas de EaD.
• 1995 – lançamento do novo TeleCurso 2000 pela Fundação
Roberto Marinho, que segundo dados oficiais, atende 500.000
alunos, por ano, do Ensino Fundamental e Médio.
• 1996 / 1998 – a Universidade Federal de Santa Catarina
desenvolveu um ambiente virtual de aprendizagem no
Laboratório de Educação a Distância (LED).

Na segunda metade dos anos 1990 surgiram os primeiros


cursos de graduação a distância no Brasil a exemplo do curso de

113
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Ainda nos
anos 1990 surgiram os LMS – Learning Management System, tam-
bém conhecidos como plataformas de e-Learning.
Em 2005, o MEC criou o Sistema Universidade Aberta do
Brasil, que tem como prioridade a formação de professores para a
Educação Básica. Para atingir este objetivo central, são articuladas
ações com instituições públicas de ensino superior, estados e mu-
nicípios em todo Brasil, para promover, através da metodologia da
educação a distância, acesso ao ensino superior para camadas da
população que estão excluídas do processo educacional.
Analisando a cronologia aqui exposta, não se pode deixar
de reconhecer que EaD evoluiu muito além de seu objetivo inicial,
chegando ao ensino superior e em outros ambientes de ensino e
que, segundo especialistas, é o setor educacional que mais cresce em
todo mundo por atender à demandas sociais, antes não atendidas,
com custos reduzidos, se comparado ao modelo convencional.
As perspectivas positivas da EaD no Brasil estão apoiadas na
necessidade da formação continuada que atende a fatores como o
desemprego estrutural e por consequência uma maior competitivi-
dade, fatores que nos permitem afirmar que seu futuro está garan-
tido, em função de suas principais características, das quais se des-
tacam seu baixo custo, alcance ampliado, rapidez e suas múltiplas
aplicações.

114
Júlio di Paula & Alexandre Costa

12º Capítulo

O Avanço das Novas Tecnologias de


Informação e Comunicação na Educação
Ganhos e perdas.
As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTI-
Cs) em qualquer área podem trazer grandes benefícios e avanços,
principais objetivos que justificam seu constante aperfeiçoamento,
mas, também, podem criar sérios problemas em vários segmentos.
Na educação, especificamente, entendo que as NTICs trou-
xeram grandes benefícios, especialmente, quando se observa a rea-
lidade da Educação a Distância (EaD), um modelo que vem pos-
sibilitando a milhões de pessoas em todo mundo as condições de
avançarem no que diz respeito à formação continuada e suas outras
diversas aplicações, como os cursos profissionalizantes.
Como benefícios, podem ser destacados, dentre outros, a fa-
cilidade de acesso e divulgação da informação, com baixo custo,
algo realmente de fundamental importância para algumas ativida-
des econômicas além de reduzir a agressão ao meio ambiente. Há
aproximadamente 40 anos era um devaneio se pensar em uma tele-
conferência, ou seja, toda e qualquer encontro ou reunião de execu-
tivos, por exemplo, gerava um custo absurdo com deslocamentos,
hospedagem, tempo etc. A educação corporativa é outra área que
tem sido muito beneficiada com o avanço das NTICs, especialmen-
te no que se refere aos cursos e treinamentos realizados através de
plataformas, os Sistemas de Tutores Inteligentes – STIs.
No que se refere ao comportamento do discente, especial-
mente no ensino regular, percebo alguns aspectos negativos que
precisam ser revistos, em função de nosso modelo de avaliação ser
baseado, quase que exclusivamente, na média final do aluno. Esse
115
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
modelo é muito perigoso, principalmente nas séries dos ensinos
fundamental e médio, porque gera ou desperta um comportamento
comodista e dependente no aluno, quando ele entende que a possi-
bilidade de reprovação é quase inexistente. Sinto muita saudade do
tempo das arguições verbais, quando era estudante do antigo gina-
sial e do científico, lá pelos idos das décadas de 1960 e 1970.
Infelizmente, nosso modelo de educação não orienta pais e
alunos acerca da importância da aprendizagem significativa, mas,
o fato mais lamentável que identifico no comportamento do aluno
com o avanço das NTICs, em todos os níveis, é a formidável fonte
de informações chamada “Google”, ser utilizada de forma indevida,
através do famigerado recurso “copia e cola” ou “Ctrt C / CtrtV”. An-
tes das bibliotecas virtuais o aluno era obrigado a pesquisar quando
precisava fazer um trabalho ou qualquer atividade extraclasse, uma
prática quase desconhecida no presente.
Às vezes fico imaginando como serão as futuras gerações
descendentes da “era da tecnologia” se hoje já vemos uma agência
bancária parar o atendimento porque o sistema “caiu” ou “saiu do
ar” e constatar que nenhum funcionário sabe realizar qualquer pro-
cedimento sem o recurso da informática. É verdadeiramente preo-
cupante quando vemos um gerente de banco não saber calcular os
encargos financeiros de um título atrasado sem a ajuda da calcu-
ladora científica, a famosa HP. O que seria de muitos profissionais
sem o Excell e outros programas específicos? Será que eles saberiam
elaborar uma planilha ou fazer um orçamento?
Resumidamente, acredito que o avanço das NTICs é uma rea-
lidade irreversível, mas, nós educadores, precisamos trabalhar um
pouco mais a capacidade de pensar e criticar de nossos alunos, para
que no futuro não tenhamos uma geração de profissionais acomo-
dados e dependentes da tecnologia em todas as áreas da vida. Pre-
cisamos evitar que a “geração do teclado” se transforme em uma
“geração de processadores”, o maior risco que estamos correndo
com o avanço dessas novas tecnologias que vêm mudando o com-
portamento das pessoas de forma preocupante.

116
Júlio di Paula & Alexandre Costa

13º Capítulo

Possibilidades de atuação do Profissional


de Pedagogia
Nos últimos anos, mais precisamente após a instituição da
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN
9394/96), foi estabelecido um novo cenário de educação em recintos
e/ou ambientes não escolares, ratificando a existência e a percepção
para inovação empresarial que reconhece e valoriza a importância
do treinamento e desenvolvimento através da formação continuada.
Neste mesmo período, o avanço das tecnologias em todos os
setores da economia, também contribuiu para que a importância do
treinamento de capacitação e qualificação ganhasse uma importân-
cia ainda maior no mundo corporativo, desde o “chão de fábrica”
até os níveis mais elevados de atuação profissional, como supervi-
são, gerência e diretoria. Vários exemplos servem para ilustrar este
cenário, como o mecânico de automóveis, no setor de serviços, que
até pouco tempo tinha um perfil predominantemente empirista e
de baixa instrução. No setor industrial já não se admitem pessoas
que não saibam ler e interpretar corretamente um manual de opera-
ção e/ou operar equipamentos de alta tecnologia. No setor agrícola,
também, onde já predominaram os trabalhadores analfabetos, co-
nhecidos como peões, mudou completamente, em função da utili-
zação de equipamentos modernos e de altos recursos tecnológicos.
Associada a tudo isso, temos ainda a globalização da
economia, que impõe mudanças constantes em todos os setores
produtivos, exigindo, desta forma, investimentos permanentes em
recursos humanos, surgindo, assim, a gestão do conhecimento, que
vem ganhando mais espaço, merecendo atenção especial por parte
dos empresários, que começaram a entender melhor a atuação do

117
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
profissional de pedagogia, necessária em qualquer ambiente onde
existe o processo ensino-aprendizagem.
Hoje, em função do que se encontra exposto acima e de
vários outros fatores, o profissional de pedagogia ampliou seu
campo de atuação, não ficando mais restrito ao ambiente escolar.
As funções corporativas anteriormente ocupadas exclusivamen-
te por psicólogos, agora são disputadas, também, por profissio-
nais de pedagogia, especialmente após a transformação dos cen-
tros de treinamento em universidades corporativas, uma medida
adotada por grandes empresas, ensejando o surgimento da figura
do pedagogo empresarial ou organizacional. Toda essa mudança
de percepção tem valorizado muito o profissional de pedagogia,
que passou a ter seu papel reconhecido em áreas nunca antes
imaginadas, destacando-se:

Ambiente corporativo

• Recrutamento e seleção de pessoal.


• Gestão em recursos humanos.
• Desenvolvimento de programas de treinamento para fun-
cionários de uma organização.
• Pedagogia hospitalar.
• Assessoria pedagógica em serviços de difusão cultural em
museus e centros culturais, e de comunicação de massa em
jornais, revistas, emissoras de televisão, editoras, rádios,
agências de publicidade, sites etc.

Terceiro Setor (ONGs)

• Coordenação de programas e projetos de natureza educa-


tiva nas áreas da saúde, meio ambiente, trânsito, promoção
social, lazer, recreação etc.

118
Júlio di Paula & Alexandre Costa

O mercado de trabalho do pedagogo é muito concorrido, mas


sempre está em expansão, quer seja no setor público ou no privado,
em função da demanda da escola gerada pelo crescimento popula-
cional. Uma garantia disso é a vinculação de recursos públicos para
a educação, prevista na Constituição de 1988.
Finalmente, os esforços de homens como Anísio Teixeira,
fundador do primeiro curso superior para formação de professo-
res em 1934 e fundador do Instituto da Educação, no Rio de Janei-
ro, estão surtindo efeito. Paulo Freire, outro baluarte da educação,
reconhecido recentemente como Patrono da Educação Brasileira,
merece nosso louvor por ter feito muito em prol da educação e ter
oferecido a maior contribuição brasileira à pedagogia internacio-
nal, através da criação de um sistema de alfabetização de adultos
aplicado no Rio Grande do Norte, em Sergipe e em Pernambuco,
em 1950.
A pedagogia como sendo por definição “o conjunto de dou-
trinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem
a um objetivo prático” ou, simplesmente, “a profissão ou prática
de ensinar”, pode auxiliar no processo de gestão do conhecimen-
to nas organizações em todas as fases, envolvendo planejamento,
desenvolvimento e acompanhamento de resultados. As múltiplas
possibilidades do pedagogo no mundo corporativo, registradas
atualmente, comprova isso. Como podemos pensar treinamento e
desenvolvimento através da formação continuada, sem a participa-
ção do profissional de pedagogia, por exemplo?

119
Educar é semear com sabedoria e colher com
paciência.

Augusto Cury
Júlio di Paula & Alexandre Costa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“O trabalhador social que opta pela antimudança não


pode realmente se interessar pelo desenvolvimento
de uma percepção crítica da realidade por parte dos
indivíduos. Não pode se interessar pelo exercício
da reflexão dos indivíduos sobre a sua ação, sobre
a própria percepção que possam ter da realidade”.
Paulo Freire

Há muito tempo a educação vem sendo elemento de discus-


sões teóricas no que diz respeito a sua prática. Infelizmente sofre-
mos a dura realidade de um quadro educacional onde a qualidade
do ensino e aprendizagem parecem não despertar esperança, con-
siderando as peculiaridades que permeiam a evasão escolar. Fica-
ram evidentes dentro da análise global do trabalho desenvolvido, os
pontos que norteiam os principais problemas causadores da desis-
tência de nossos alunos na realidade da escola pública. Conciliar o
trabalho com o estudo é uma tarefa difícil, pois as dificuldades en-
frentadas por parte dos educandos se dá em diversos níveis sociais,
políticos e educacionais.
A educação é uma ferramenta para o equilíbrio, para a for-
mação do ser ético, cidadão. É, sem dúvida, o canal de possibilidade
em que insere o indivíduo numa convivência social. Como afirma
Carlos Rodrigues Brandão

“...uma outra maneira de se compreender o que a


educação é, ou poderia ser, é procurar ver o que
dizem sobre ela pessoas como legisladoras, peda-
gogos, professores, estudantes e outros sujeitos um

121
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
tanto mais tradicionalmente difíceis de entender,
como filósofos e cientistas sociais” (1995:54).

Podemos, então, entender que se torna complexo para uma


estrutura educacional vigente atingir as necessidades que traduzem
o ser humano nas mais diversas fases de sua formação. A família,
a sociedade, o meio acadêmico são instâncias fundamentais para a
formação do ser cidadão. A escola supre, portanto, as debilidades
de um sistema sociopolítico e econômico, eliminando, com isso, os
condicionamentos causadores de desnível cultural, o que eleva a
desproporção e a desigualdade de acesso ao conhecimento.
Como vemos, a escola surge como principal mecanismo de
interação do ser na sociedade; dá-se ao meio educacional o papel
do pleno agente no desenvolvimento do cidadão. Como aborda-
mos em nosso trabalho pontos importantes sobre a problemática
da evasão, é indispensável citarmos a questão do poder aquisitivo, a
baixa renda familiar que sem dúvida é um caso social cada vez mais
complexo. A falta de uma política pública centrada nos problemas
da educação muito deixa a desejar nas medidas de solução para a
evasão escolar.
Pontos fundamentais como o desinteresse, a falta de perspec-
tiva diante das dificuldades do mundo capitalista, a competitivida-
de pelo mercado de trabalho e, muitas vezes, a necessidade urgente
de suprir as dificuldades do orçamento familiar muito contribuem
para a continuação na escola, principalmente pela dificuldade de
conciliar estudo e trabalho.
O atual sistema neoliberal, onde a escola está inserida nos
faz refletir que a evasão é um problema de cunho cultural, não só
advindo do baixo índice de aproveitamento, mas da falta de um
suporte social baseado em uma administração pública preocupada
com o crescimento e desenvolvimento real dos papéis desenvolvi-
dos pelos cidadãos.
No questionário aplicado aos alunos a necessidade de tra-
balhar foi citada como causa da evasão por um bom número de

122
Júlio di Paula & Alexandre Costa

alunos. Mas, mesmo dentro das dificuldades, se apresentaram con-


fiantes, acreditando na escola, fazendo elogios à direção e aos seus
professores. Sem dúvida, nos deparamos com um quadro satisfa-
tório, pois os dados nos levam a acreditar que os alunos da escola
pública não estão tão desestimulados. Portanto, é importante pen-
sar em outro modelo de escola que tenha seu foco na formação de
indivíduos atuantes, lúcidos e participantes da estrutura social que
determina os papéis e que compõem a possibilidade de uma socie-
dade consciente, cidadã, preparada e firme na sua autonomia.
Faz-se necessária a adoção de medidas urgentes de soluções
para que juntos possamos acreditar no desafio do propósito da
formação de indivíduos capazes, críticos e reflexivos. Trabalhan-
do o aspecto social da educação foi possível avaliar melhor o perfil
educacional, fazendo com isso uma análise político educacional no
Sistema Neoliberal que ela está inserida. O objetivo de recursos fi-
nanceiros aplicados no ensino precisa ser revisto, pois só podemos
acreditar no acontecer da educação fazendo uma avaliação cons-
tante de evasões.
Procuramos enfatizar com singularidade as questões com-
plexas que afligem a problemática do rendimento escolar, sua fre-
quência e o índice de evasão. Concluindo que este fato real pode vir
a empobrecer a perspectiva de formarmos e gerarmos indivíduos
realmente conscientes e críticos.
É preciso acreditar em mudanças, numa escola que real-
mente tenha um propósito de viabilizar um saber concreto, fa-
vorecendo, com isso, a construção de uma sociedade mais iguali-
tária. É importante que educadores juntamente com a sociedade
providenciem medidas que possam mudar o quadro do descaso
na educação, só assim, acreditando nessas mudanças estaremos
dando inicialmente às nossas crianças e adolescentes a formação
digna de um ser cidadão.
Para lidar com a educação é preciso se ter o mínimo de con-
dições adequadas às necessidades básicas educacionais. A questão

123
ão
DESCORTINANDO
a Educaç
do trabalho, baixo salário e o aspecto cultural, influencia significa-
tivamente nos problemas existentes na educação. A formação dos
nossos professores, os métodos de avaliação precisam ser revistos,
pois não deixam de ser elementos que contribuem para a questão
da evasão escolar.

124
Júlio di Paula & Alexandre Costa

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Educai as crianças, para que não seja necessário
punir os adultos.

Pitágoras
Esta obra foi composta em fonte
Minion Pro e processada em CTP
e impressa em papel Polén 80g/m2
e Capa em Papel Supremo 250g/
m2. Impressão e acabamento na
Premius Editora em Fortaleza-CE,
Maio de 2014.
Prof. Júlio di Paula
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