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Renata Coutinho de Barros Correia VC

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

RENATA COUTINHO DE BARROS CORREIA

Perspectivas recentes da pesquisa em performance pianística:


Estado do conhecimento de teses e dissertações
em Performance Musical e Práticas Interpretativas
no Brasil (2007-2012)

São Paulo
2015
RENATA COUTINHO DE BARROS CORREIA

Versão corrigida

A versão original se encontra


na Biblioteca da ECA - USP

Perspectivas recentes da pesquisa em performance pianística:


Estado do conhecimento de teses e dissertações
em Performance Musical e Práticas Interpretativas
no Brasil (2007-2012)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação do Departamento de Música da Es-
cola de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo como parte das exigências para a
obtenção do título de Mestre em Música.

Área de Concentração: Musicologia

Orientador: Prof. Dr. Mário Rodrigues Videira

São Paulo
2015
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Dados fornecidos pelo (a) autor(b)
Nome: CORREIA, Renata Coutinho de Barros.
Título: Perspectivas recentes da pesquisa em performance pianística: Estado do Conhe-
cimento de teses e dissertações em Performance Musical e Práticas Interpretativas no Brasil
(2007-2012)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação do Departamento de Música da Es-
cola de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo como parte das exigências para a
obtenção do título de Mestre em Música.
Área de Concentração: Musicologia
Orientador: Prof. Dr. Mário Rodrigues Videira

Aprovado em: _____ de ___________________ de 2015.

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Mário Rodrigues Videira Júnior (presidente) Instituição: CMU/ECA/USP


Parecer:________________________ Assinatura:___________________________________

Prof (a). Dr(a)_______________________________________ Instituição:______________


Parecer:________________________ Assinatura:___________________________________

Prof (a). Dr(a)_______________________________________ Instituição:______________


Parecer:________________________ Assinatura:___________________________________
A Deus,
pela paz e força inigualáveis,
somente capazes de serem concedidas
por um Pai amoroso
AGRADECIMENTOS

A Deus, por se ter feito presente na minha vida, concedendo-me saúde e paz, no
decorrer do desenvolvimento desta pesquisa.
A minha mãe, um exemplo de mulher e profissional, que não mediu esforços para
que eu pudesse concluir mais esta etapa de minha formação. Pelo apoio emocional, nos mo-
mentos de dificuldade e incentivos constantes.
Minha gratidão ao Prof. Dr. Mário Rodrigues Videira Júnior, por acolher-me como
sua orientanda. Obrigada pela dedicação e atenção, despendidas durante todo o período de
Mestrado. Seu exemplo de generosidade e humildade, marcará para sempre a minha forma-
ção e atuação profissional.
À Profa. Ms. Marisa Ramires pelas preciosas aulas de Harmonia e Análise Musical,
durante o preparo para o ingresso no curso de Mestrado. Pelo incansável apoio e paciência
durante as aulas e elaboração do projeto de pesquisa. Por ensinar-me a persistir diante das
adversidades.
Ao Prof. Dr. Hugo Cogo Moreira e a Profa. Dra. Luciana Sayure Shimabuco pelas
valiosas sugestões e críticas por ocasião da realização de meu exame de qualificação.
Ao meu primo Fábio Cavalcanti que não mediu esforços para enviar-me de longe
bibliografias indispensáveis à conclusão desta pesquisa.
À diretora de escola e amiga Vânia Rita Benatti pela motivação e apoio recebidos.
Por ensinar-me a importância de persistir na conquista de nossos objetivos, apesar das lutas e
dificuldades. Pela constante paciência e auxílio, essenciais à concretização desta pesquisa.
Aos professores do Departamento de Música da ECA-USP e de outras instituições,
que colaboraram direta ou indiretamente, com informações para o enriquecimento desta
pesquisa: Profa. Dra. Adriana Lopes Moreira, Profa. Dra. Cristina Capparelli Gerling, Prof.
Dr. Eduardo Henrique Soares Monteiro, Profa. Dra. Miriam Grosman, Prof. Ms. Nelson Sil-
va, Prof. Dr. Roberto Saltini e Profa. Dra. Sônia Ray.
Aos funcionários da Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes da USP e da
Biblioteca Alberto Nepomuceno, da Escola de Música, da UFRJ. Em especial, a bibliotecária
Célia Maria Maia, pela atenção e disponibilização de teses e dissertações (UFRJ), indispensá-
veis à conclusão desta pesquisa.
Aos funcionários das Secretarias de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) que
gentilmente forneceram, respectivamente, a listagem completa das produções defendidas e
formato eletrônico de teses e dissertações.
Aos amigos e maestros Donaldo Guedes e Joel Prado, pelo incentivo e apoio cons-
tantes. Pelo enriquecedor aprendizado, proporcionado por ambos, por meio do oferecimento
da oportunidade de atuação como pianista colaboradora. Meus sinceros agradecimentos pela
amizade e constantes orações.
Por fim, agradeço à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo) por ter financiado esta pesquisa - no. do processo: 2013/15294-0.
"Existe uma provocação epistemológica em pauta, que
nos cabe discutir e analisar, que não pode ser ignorada,
uma vez que perpassa grande parte de importantes tra-
balhos contemporâneos. Creio que nos cabe tirar parti-
do do que nos parecer pertinente, mas, para isso, faz-se
necessário arregaçar as mangas e analisar as novas
tendências profundamente e sem preconceitos, seja pa-
ra incorporá-las total ou parcialmente, seja para rejei-
tá-las, total ou parcialmente. O avanço de conhecimen-
to da área de música certamente se beneficiará com es-
se processo".

Vanda Bellard Freire


RESUMO

A dissertação apresenta pesquisa sobre o Estado do Conhecimento na produção recente


(2007-2012) de teses e dissertações relacionadas à performance pianística, defendidas em
programas de Pós-Graduação em Música, no Brasil. Diante do crescimento quantitativo e
qualitativo evidenciado na produção em questão, o presente trabalho tem como propósito
oferecer uma discussão e análise crítica do conteúdo das pesquisas selecionadas, inserindo-se
num contexto acadêmico caracterizado por uma ampla discussão sobre o formato de pesqui-
sas em Performance Musical. Uma vez que a investigação em Performance Musical encontra-
se ainda em consolidação, no Brasil, pretendemos discutir acerca da contribuição de deter-
minadas propostas para esta subárea. A fim de oferecer uma visão crítica sobre os rumos to-
mados pela pesquisa em performance pianística, adotamos uma metodologia baseada em mo-
delos de pesquisa do tipo "estado da arte", bem como técnicas de análise de conteúdo. A dis-
sertação oferece uma visão panorâmica e análise dos principais temas, tendências e métodos
de pesquisa identificados. Os resultados apresentam perspectivas de pesquisa emergentes que
têm atraído os investigadores, tais como a Pesquisa Artística e estudos vinculados à Musico-
logia Empírica. Mostra o distanciamento de pesquisas quanto à apresentação de considerações
sobre a relação do estudo com a performance musical. Destaca o aspecto interdisciplinar em
produções recentes relacionadas à performance pianística.

Palavras-chave: Estado do Conhecimento; Performance Pianística; Metodologia da Pesquisa


em Música; Produção acadêmica em Performance Musical (Brasil).
ABSTRACT

This dissertation presents a research on the state of knowledge in recent production (2007-
2012) of theses and dissertations related to piano performance, defended in Music Graduate
Programs in Brazil. Given the qualitative and quantitative growth evidenced in the scientific
production in question, this dissertation aims to provide a critical discussion and analysis of
its context, inserting in an academic context characterized by an extensive discussion on the
configuration of the research in musical performance. Since research in Musical Performance
is still undergoing a process of consolidation in Brazil, we intended to discuss about the
contribution of selected proposals to this subarea. In order to offer a critical view of the
directions taken by research in piano performance, we adopted a methodology based on mo-
dels of "state of knowledge" as well as content analysis techniques. It also presents some
emerging perspectives on this field such as artistic research and studies related to empirical
musicology. It shows the gap of some researches on the presentation of considerations about
the relation between the study developed and music performance. The results highlights the
interdisciplinary aspect on the recent production related to piano performance research.

Keywords: State of Knowledge; Piano Performance; Methodology of Research; Academic


production on Music Performance (Brazil).
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1: Atuais programas de Pós-Graduação em Música, localizados nas regiões Sul e


Sudeste, interessados pela pesquisa de aspectos relacionados à Performance Musical ........... 39

Quadro 2: Categorização da amostragem de dissertações e teses (2007-2012), interessadas


pela pesquisa de aspectos relacionados à performance pianística ............................................ 40

Quadro 3: Pesquisas sobre Estilo Musical................................................................................ 54

Quadro 4: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas ao estudo sobre


Estilo Musical ........................................................................................................................... 55

Quadro 5: Pesquisas voltadas à elaboração de edições musicais ............................................. 67

Quadro 6: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas à prática de edição


musical ...................................................................................................................................... 69

Quadro 7: Pesquisas em Práticas Interpretativas ...................................................................... 81

Quadro 8: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas à disciplina Práticas


Interpretativas ........................................................................................................................... 82

Quadro 9: Pesquisas sobre Edições Práticas ............................................................................ 90

Quadro 10: Unidades de registro identificadas nos estudos sobre Edições Práticas ................ 90

Quadro 11: Pesquisas relacionadas à disciplina Psicologia da Performance ......................... 117

Quadro 12: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas à Psicologia da


Performance ............................................................................................................................ 119

Quadro 13: Pesquisas relacionadas à disciplina Análise Musical .......................................... 136

Quadro 14: Objeto de estudo das produções relacionadas à Análise Musical ....................... 139

Quadro 15: Unidades de registro das produções relacionadas à Análise Musical ................. 145

Quadro 16: Métodos declarados/ parâmetros analisados pelos autores ................................. 153

Quadro 17: Produções vinculadas à Musicologia Empírica ................................................... 180

Quadro 18: Unidades de registro identificadas em pesquisas vinculadas à Musicologia Em-


pírica ....................................................................................................................................... 181

Quadro 19: Produções voltadas à investigação do repertório relacionado à Música Eletro-


acústica Mista ......................................................................................................................... 184

Quadro 20: Unidades de registro das pesquisas interessadas pela investigação da Música
Eletroacústica Mista ............................................................................................................... 185
Quadro 21: Produções voltadas à investigação de aspectos relacionados à técnica pianística

................................................................................................................................................ 188

Quadro 22: Unidades de registro das pesquisas interessadas pela investigação dos aspectos
anatômico-fisiológicos da técnica pianística .......................................................................... 190

Quadro 23: Pesquisas interessadas pela investigação da prática pianística em conjunto ....... 194

Quadro 24: Unidades de registro das pesquisas interessadas pela investigação de modalidades
relacionadas à prática pianística em conjunto ........................................................................ 195

Quadro 25: Pesquisa pertencente à interface Performance Pianística e a Filosofia da Perfor-


mance ...................................................................................................................................... 199

Quadro 26: Unidades de registro retiradas de pesquisa pertencente à Interface entre a Perfor-
mance Pianística e a Filosofia da Performance ...................................................................... 200

Quadro 27: Pesquisa conceitual interessada pela abordagem de aspecto relacionado à per-
formance pianística ................................................................................................................. 203

Quadro 28: Unidades de registro retiradas de pesquisa voltada à elaboração de estudo concei-
tual .......................................................................................................................................... 204

Quadro 29: Exemplo de pesquisa interessada pela prática de transcrição musical ................ 207

Quadro 30: Unidades de registro selecionadas de pesquisa interessada pela prática de


transcrição musical ................................................................................................................. 208

Quadro 31: Pesquisas voltadas à elaboração de Pesquisa Interpretativa ................................ 212

Quadro 32: Unidades de registro selecionadas de Pesquisas Interpretativas ......................... 214

Quadro 33: Exemplos de pesquisas vinculadas à modalidade Pesquisa Artística .................. 221

Quadro 34: Unidades de registro selecionadas de pesquisas vinculadas à modalidade Pesquisa


Artística .................................................................................................................................. 222
LISTA DE SIGLAS

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFG Universidade Federal de Goiás
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de São Paulo
UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 17

1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS: ESTADO DA ARTE, ANÁLISE DE CON-


TEÚDO E AMOSTRAGEM POR CONVENIÊNCIA ....................................................... 25

1.1 PESQUISAS ESTADO DA ARTE: PROPÓSITOS E IMPORTÂNCIA ......................... 25

1.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO: DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS METODOLÓGI-


CAS .......................................................................................................................................... 27
1.2.1 Breves considerações históricas e a atual definição de Análise de Conteúdo .......... 27
1.2.2 Características metodológicas da Análise de Conteúdo ............................................. 29

1.3 A PERFORMANCE MUSICAL COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO: BREVES


CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE ESTADOS DA ARTE E ESTUDOS DESENVOLVI-
DOS POR ESPECIALISTAS................................................................................................... 32

1.4 AMOSTRAGEM POR CONVENIÊNCIA E PROPOSTA PARA UMA CATEGORI-


ZAÇÃO .................................................................................................................................... 38

2 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A MUSICOLOGIA


HISTÓRICA ........................................................................................................................... 45

2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES: O DIÁLOGO ENTRE A MUSICOLOGIA HIS-


TÓRICA E PRODUÇÕES EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS/PERFORMANCE ....... 45

2.2 ESTILO MUSICAL: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORIGEM E PROPÓSITOS DES-


TA PRÁTICA DE ESTUDO.................................................................................................... 50
2.2.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ....................... 53

2.3 EDIÇÕES MUSICAIS: CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A PRÁTICA DE ESTU-


DO E SUA RELAÇÃO COM A PESQUISA HISTÓRICA .................................................... 62
2.3.1 Características gerais e procedimentos metodológicos empregados ........................ 66

2.4 PRÁTICAS INTERPRETATIVAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A DISCIPLI-


NA E SUA RELAÇÃO COM A PESQUISA HISTÓRICA .................................................... 74
2.4.1 Considerações gerais ..................................................................................................... 75
2.4.2 Exemplos de produções recentes em Práticas Interpretativas (2007-2012): caracte-
rísticas gerais e procedimentos metodológicos identificados .............................................. 80

2.5 ESTUDO SOBRE EDIÇÕES PRÁTICAS ........................................................................ 87


2.5.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ....................... 89

2.6 OUTRAS PRÁTICAS DE ESTUDO DA MUSICOLOGIA HISTÓRICA: ESTUDO BIO-


GRÁFICO, SOBRE GÊNERO MUSICAL E CATALOGAÇÃO........................................... 92
2.6.1 Elaboração de catálogos musicais ................................................................................ 93
2.6.2 Estudo Biográfico .......................................................................................................... 95
2.6.3 Estudo sobre gênero musical ........................................................................................ 97

3 A INTERFACE ENTRE A PSICOLOGIA E A PERFORMANCE PIANÍSTICA: A


PRODUÇÃO RECENTE EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS .................................. 99

3.1CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES: OS PROPÓSITOS DA DISCIPLINA ................ 99

3.2 PRINCIPAIS MÉTODOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................... 105


3.2.1 A experimentação e os estudos com delineamento experimental ............................ 105
3.2.2 Pesquisa observacional ................................................................................................ 110
3.2.3 Questionário e Entrevista ........................................................................................... 114

3.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............. 117

3.4 TEMAS ABORDADOS ................................................................................................... 120


3.4.1 Habilidades cognitivas ................................................................................................. 120
3.4.2 Habilidades expressivas .............................................................................................. 125
3.4.3 Investigação sobre a produção de pesquisas em Psicologia da Performance ........ 128

4 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A DISCIPLINA ANÁ-


LISE MUSICAL ................................................................................................................... 133

4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA PRODUÇÃO DE TESES E DISSERTAÇÕES.... 133

4.2 A RELAÇÃO ANÁLISE-PERFORMANCE MUSICAL A PARTIR DE UMA LEITU-


RA DAS UNIDADES DE REGISTRO ................................................................................. 139
4.3 VISÃO PANORÂMICA DE CERTOS PARADIGMAS ANALÍTICOS PRESENTES NA
PESQUISA EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS/PERFORMANCE E SUA RELAÇÃO
COM OS OBJETOS DE ESTUDO ........................................................................................ 151

4.4 DIFERENTES TENDÊNCIAS ACERCA DO EMPREGO DA ANÁLISE MUSICAL E


SUA RELAÇÃO COM A PERFORMANCE MUSICAL ..................................................... 161
4.4.1 Diferentes paradigmas relacionados ao emprego da análise musical em Práticas
Interpretativas: a relação performance-análise na ótica de diferentes especialistas ..... 161
4.4.2 Diferentes paradigmas relacionados ao emprego da análise musical em Práticas
Interpretativas: a relação performance-análise a partir do conteúdo de teses e disser-
tações ...................................................................................................................................... 167

4.5 O TRATAMENTO DE ASPECTOS RELACIONADOS À COMUNICAÇÃO MUSICAL


COMO PROBLEMÁTICA EM ESTUDOS ANALÍTICOS: UMA BREVE CONSIDERA-
ÇÃO A PARTIR DO CONTEÚDO DE TESES E DISSERTAÇÕES .................................. 171

5 OUTRAS PERSPECTIVAS DAS PESQUISAS RELACIONADAS À PERFORMAN-


CE PIANÍSTICA .................................................................................................................. 177

5.1 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A MUSICOLOGIA EM-


PÍRICA ................................................................................................................................... 177
5.1.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 180

5.2 A PESQUISA EM PERFORMANCE PIANÍSTICA RELACIONADA À MÚSICA ELE-


TROACÚSTICA MISTA: EXEMPLOS DA PRODUÇÃO RECENTE EM PRÁTICAS IN-
TERPRETATIVAS ................................................................................................................ 184
5.2.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 184

5.3 A PESQUISA EM PERFORMANCE PIANÍSTICA RELACIONADA À TÉCNICA PIA-


NÍSTICA: EXEMPLOS DA PRODUÇÃO RECENTE EM PRÁTICAS INTERPRETATI-
VAS ........................................................................................................................................ 187
5.3.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 188

5.4 A PRÁTICA PIANÍSTICA EM CONJUNTO COMO TEMA DE PESQUISA: POSSIBI-


LIDADES INVESTIGATIVAS IDENTIFICADAS NAS ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO
PRÁTICAS INTERPRETATIVAS E PERFORMANCE MUSICAL................................... 193
5.4.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 194
5.5 PESQUISA RELACIONADA À INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTI-
CA E A FILOSOFIA DA PERFORMANCE ........................................................................ 196
5.5.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 198

5.6 ESTUDOS CONCEITUAIS SOBRE ASPECTOS VINCULADOS À PERFORMANCE


PIANÍSTICA .......................................................................................................................... 202
5.6.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 203

5.7 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A COMPOSIÇÃO MUSI-


CAL: EXEMPLO DA PRODUÇÃO RECENTE PERTENCENTE À LINHA DE PESQUISA
PERFORMANCE MUSICAL................................................................................................ 206
5.7.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 207

5.8 A PESQUISA INTERPRETATIVA EM PRODUÇÕES RECENTES RELACIONADAS


À PERFORMANCE PIANÍSTICA........................................................................................ 209
5.8.1 Pesquisa Interpretativa: breves considerações sobre seus propósitos .................... 210
5.8.2 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 211

5.9 A PESQUISA ARTÍSTICA EM PRODUÇÕES RECENTES RELACIONADAS À PER-


FORMANCE PIANÍSTICA ................................................................................................... 217
5.9.1 Pesquisa Artística: breves considerações sobre seus propósitos ............................. 218
5.9.2 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados ..................... 220

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 227

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 235

APÊNDICES ......................................................................................................................... 257


17

INTRODUÇÃO

A Pós-Graduação em Música, no Brasil, tem uma história cujo ponto de partida teve
seus inícios, na década de 80. A implantação dos primeiros cursos de Mestrado ocorreu em
1980 e 1982, respectivamente, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e no
Conservatório Brasileiro de Música (RJ). A produção acadêmica inicial do primeiro Mestrado
em Música, oferecido pela UFRJ, caracterizou-se, principalmente, pela preocupação com
abordagens relacionadas à prática interpretativa. A forte "vocação pianística" desta instituição
(CARVALHO; KERR, 2005, p. 32) transparece nos primeiros trabalhos, em nível de Mes-
trado, interessados pela produção de conhecimentos acerca de aspectos relacionados à per-
formance musical.
A partir de meados da década de 80, a propagação de cursos de Pós-Graduação em
Música, com linhas de pesquisa e áreas de concentração em Práticas Interpretativas e Per-
formance Musical, representou fator propício à expansão da produção acadêmica relacio-
nada à Performance Musical. A realização dos I e II Seminários Nacionais de Pesquisa em
Performance Musical (SNPPM), ocorridos respectivamente em 2000 e 2002, e a criação da
revista Per Musi da UFMG, em 2000, mostraram o interesse crescente pela pesquisa em
Performance Musical. Tal interesse, por sua vez, tem se mostrado cada vez maior, conforme
podemos apreender pelas recentes implantações de linhas de pesquisa em Performance e
Práticas Interpretativas, como as ocorridas nos Programas de Pós-Graduação da USP,
UDESC, UFPR e UFPB1.
Diante do elevado crescimento da produção acadêmica relacionada às linhas de pes-
quisa mencionadas, pesquisadores têm voltado sua atenção ao estudo de tais produções como
uma possibilidade de compreender os rumos da pesquisa, na subárea de Performance Musical.
Como exemplo, encontram-se os levantamentos dos estudos em performance, realizados por
Fausto Borém (2005) e pelo mesmo autor em parceria com Sônia Ray (BORÉM; RAY,
2012). Tais estudos têm permitido o reconhecimento de tendências investigativas que vêm
sendo adotadas na produção de teses, dissertações e anais de periódicos. Podemos considerar
tais estudos, como os primeiros que têm voltado a atenção para a produção de pesquisas em
1
A implantação da área de concentração Práticas Interpretativas, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
ocorreu em 2004. A partir de 2007, foi implantada na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) a
linha de pesquisa Teoria e prática da interpretação musical. Em 2006, a linha de pesquisa Leitura, Escuta e
Interpretação foi implantada na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A implantação da linha de pesquisa
em Performance Musical, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), ocorreu em
2012. Tais informações foram retiradas dos sites disponibilizados pelos Programas de Pós-Graduação men-
cionados.
18

Performance Musical, no Brasil, a fim de esclarecer aspectos relacionados ao crescimento


quantitativo, qualitativo e à estruturação das produções acadêmicas, no país.
Contudo, o esforço de tais pesquisadores parece revelar um interesse comum que tem
se manifestado também em produções acadêmicas, desenvolvidas por outras subáreas
musicais. Trata-se do interesse pelo desenvolvimento de levantamentos sobre o estado da arte,
como uma possibilidade de compreensão de aspectos que têm marcado o crescimento de
pesquisas acadêmicas. Entende-se por Estado da Arte, uma modalidade de pesquisa voltada
ao mapeamento de diferentes setores da produção acadêmica a fim de favorecer a compreen-
são sobre um determinado campo investigativo e aspectos que têm marcado a produção de
pesquisas (FERREIRA, 1999; ROMANOVISKI; ENS, 2006). Educação Musical, Música
Popular e Análise Musical são algumas das subáreas musicais que têm se voltado a esta
possibilidade investigativa, já bastante conhecida na área da Educação e que tem se revelado
fundamental para pesquisadores da área musical.
No artigo intitulado "A pesquisa sobre órgão no Brasil: estado da arte", Kerr e
Carvalho descrevem a importância da elaboração do estado da arte para o desenvolvimento de
futuros estudos na área musical. Pode-se entender o relato de tais autoras, como o retrato de
uma problemática que tem acompanhado o desenvolvimento de pesquisas relacionadas às
diferentes subáreas musicais, incluindo certas produções em Performance Musical e práticas
interpretativas. Sobre esta situação afirmam:

A investigação acadêmica em Música, segundo os moldes assim descritos, não foi


de imediato percebida como tal e ainda hoje se encontra em estado de discussão e à
procura de consolidação nos programas de pós-graduação no Brasil, apesar de já
terem passado mais de 20 anos, desde a implantação do primeiro curso. Do ponto de
vista dos objetivos musicais, das metodologias empregadas, há muito a discutir.
Seus resultados, ainda fragmentados, aguardam um trabalho de síntese, e a discussão
sobre os princípios e razões da pesquisa em música ainda parece necessária (CAR-
VALHO; KERR, 2005, p. 30).

A partir da situação descrita por tais autoras, é possível reconhecer a presença de


uma lacuna que ainda persiste em relação à proporção de pesquisas que vêm sendo
desenvolvidas, desde a implantação dos primeiros cursos de Pós-Graduação em Música, no
Brasil. Ou seja, é necessária uma avaliação crítica do conhecimento que vem sendo produzido
como uma possibilidade de favorecer a identificação de problemáticas diversas relacionadas à
estruturação das pesquisas desenvolvidas em nível da Pós-Graduação. Pode-se admitir que a
não realização de um estado da arte, tende a acentuar o desconhecimento de aspectos funda-
mentais à produção de futuras pesquisas. Até que ponto as metodologias adotadas pelas
pesquisas têm se tornado adequadas às problemáticas e significativas a uma determinada
19

subárea, aparece como uma questão fundamental cuja análise se revela imprescindível a qual-
quer subárea musical.
Com base na lacuna apontada pelas autoras, e que permeia as diferentes subáreas,
incluindo a de Performance Musical, a presente dissertação se direcionará à investigação da
seguinte questão: Quais temas, problemas de pesquisa, procedimentos metodológicos e
referenciais teóricos têm caracterizado as produções em performance pianística que têm emer-
gido, recentemente, de atuais Programas de Pós-Graduação, em Música, no Brasil? A abran-
gência da questão proposta visa contribuir para o desenvolvimento de uma análise crítica de
parte das produções (teses e dissertações) que vêm sendo desenvolvidas nos estudos em per-
formance, no Brasil. Desta maneira, os objetivos da presente dissertação, encontram-se estru-
turados, conforme o esquema a seguir:
a) objetivos gerais:
- mapear e discutir a produção de teses e dissertações, interessadas pelo estudo
de aspectos relacionados à performance pianística;
- identificar principais temas e tendências de pesquisas em estudos voltados à in-
vestigação de aspectos relacionados à performance pianística;
b) objetivos específicos:
- investigar possíveis fatores que proporcionaram o aparecimento de tendências;
- identificar principais referenciais teóricos que têm subsidiado as produções sele-
cionadas;
- categorizar o conjunto da produção acadêmica a fim de identificar tendências e
perspectivas de pesquisa;
- selecionar bibliografias relacionadas às categorias identificadas a fim de subsi-
diar a interpretação dos dados encontrados.
A fim de cumprir tais objetivos, a metodologia adotada pela dissertação se funda-
menta em procedimentos de coleta de dados e análise que vêm sendo adotados por estados da
arte, na área de Educação. Acreditamos na contribuição de tais procedimentos para uma
compreensão acerca dos rumos da pesquisa, na subárea Performance Musical, já que estes
tiveram como foco a análise do conteúdo das comunicações escritas (pesquisas acadêmicas).
Entretanto, a presente pesquisa se limita a um universo menos abrangente no que se refere aos
setores das publicações a serem analisadas. Se em muitas pesquisas Estado da Arte, é possível
notar o interesse pela análise de vários setores das publicações, nossa proposta se fundamen-
tará no estudo de apenas um dos setores de uma produção acadêmica, ou seja, numa amostra-
gem de teses e dissertações. Adequa-se, portanto, à modalidade Estado do Conhecimento, a
20

qual procura privilegiar o estudo de apenas um dos setores das publicações (ROMANOWS-
KI; ENS, 2006, p. 40). Tal escolha, deve-se ao intuito de oferecer um estudo que venha so-
mar-se aos esforços de pesquisadores que têm se limitado a uma abordagem com foco, na
investigação de artigos, relacionados aos estudos em Performance Musical (BORÉM; RAY,
2012; GERLING; SOUZA, 2000). Desse modo, a coleta de teses e dissertações se limita às
produções recentes (2007-2012) que vêm sendo desenvolvidas por atuais Programas de Pós-
Graduação em Música, com áreas de concentração/ linhas de pesquisa em Práticas Interpreta-
tivas e Performance Musical. Para tal, foram fundamentais a consulta aos levantamentos de
teses e dissertações, disponibilizados por tais programas, assim como a consulta ao Banco de
Teses e Dissertações da CAPES e bancos de dados eletrônicos das universidades seleciona-
das. Fizeram parte de nossa coleta as informações concernentes aos temas, objetivos, mé-
todos, procedimentos metodológicos e referenciais teóricos que têm servido de subsídio aos
autores das pesquisas.
Outro aspecto fundamental no que se refere à opção metodológica da presente
pesquisa trata-se da técnica de análise documental. Por se tratar de um estudo interessado pela
identificação de perspectivas de pesquisa, a presente dissertação se baseia no emprego de
procedimentos de abordagem da Análise de Conteúdo. Considerada uma técnica de análise
das comunicações, a análise de conteúdo tem como seu alvo a produção de inferências, ou
seja, a apresentação de "significados latentes", identificados no conteúdo das mensagens
(BARDIN, 2011, p. 44). Dessa maneira, a metodologia adotada apoia-se em algumas das
técnicas de Análise de Conteúdo, expostas por Laurence Bardin (2011). Sabendo-se que esta
técnica tem oferecido contribuições significativas a pesquisadores do estado da arte em dife-
rentes áreas, empregaremos a Categorização, uma das técnicas mais utilizadas pela análise de
conteúdo (BARDIN, 2011, p. 201). Com base nas orientações, fornecidas por Richardson
(2012, p. 226), empregamos a Triangulação entre diferentes tipos de fontes, a fim de favore-
cer a produção de inferências. Desse modo, confrontamos as informações encontradas nas
produções analisadas com o conteúdo das entrevistas, realizadas com especialistas da área da
Performance Musical, e pesquisa bibliográfica sobre as categorias identificadas nas teses e
dissertações.
Uma terceira consideração acerca da metodologia adotada diz respeito ao aspecto
quantitativo relacionado aos estudos vinculados à performance pianística. Sabendo-se que os
estudos em performance pianística têm ocupado uma posição de destaque no âmbito das
pesquisas desenvolvidas no nível da Pós-Graduação (em Música, no Brasil), a presente disser-
tação volta-se à análise de uma amostragem, reunida por conveniência. Trata-se de uma
21

amostragem não probabilística que tem servido aos propósitos de abordagens do tipo qualita-
tiva. Define-se a Amostragem por Conveniência como aquela baseada na seleção das unida-
des de análise mais acessíveis e convenientes às características da pesquisa (SAMPIERI,
2006, p. 271). Dessa maneira, a presente dissertação não tem como propósito a realização de
um estudo quantitativo de teses e dissertações, conforme algumas pesquisas em estados da
arte vêm empregando a fim de verificar a distribuição das produções acadêmicas, num dado
recorte temporal (FERREIRA, 1999; KERR; CARVALHO; RAY, 2006). Será propósito des-
ta investigação ilustrar algumas das perspectivas de estudo que têm permeado, recentemente,
certas pesquisas em performance pianística. A fim de contribuir para tal propósito estrutura-
mos a presente dissertação de acordo com as categorias de estudos identificadas.
No primeiro capítulo, apresentamos os fundamentos metodológicos da presente dis-
sertação. Desse modo, oferecemos um capítulo introdutório com a exposição das opções me-
todológicas citadas. Contudo, discutimos sobre a importância e propósitos das denominadas
pesquisas Estado da Arte. A fim de esclarecer ao leitor os caminhos percorridos, ao longo
desta pesquisa, oferecemos breves considerações sobre as etapas e objetivos da Análise de
Conteúdo, bem como, uma breve exposição sobre o tipo de amostragem selecionada para este
estudo e a categorização empregada.
No segundo capítulo, tratamos de algumas práticas de estudo relacionadas à interface
entre a Performance Pianística e a Musicologia Histórica. Após a apresentação de breves
considerações sobre a disciplina Musicologia Histórica e alguns de seus métodos, abordamos
algumas de suas práticas de estudo que têm permeado parte das pesquisas em performance
pianística e/ou relacionados às linhas de pesquisa selecionadas. Em seguida, expomos uma
análise do conteúdo das pesquisas identificadas.
No terceiro capítulo, tratamos sobre a interface entre a Performance Pianística e a
Psicologia da Performance. A fim de contextualizar a apresentação das pesquisas identifica-
das e facilitar a análise de seus conteúdos, oferecemos uma pesquisa bibliográfica sobre os
propósitos desta disciplina e principais procedimentos metodológicos empregados. A partir da
apresentação das unidades de registro (declarações dos autores das pesquisas), mencionamos
temas e procedimentos metodológicos que têm permeado pesquisas, interessadas pelo estudo
dos aspectos psicológicos. A apresentação das pesquisas identificadas ocorrerá em função dos
temas reconhecidos nos conteúdos das pesquisas.
No quarto capítulo, nos dedicamos à apresentação de pesquisas relacionadas à in-
terface entre a Performance Pianística e a Análise Musical. A partir das unidades de registro
coletadas examinamos algumas das razões que têm contribuído para o emprego de métodos
22

relacionados à disciplina Análise Musical em pesquisas desenvolvidas pelas linhas de Práticas


Interpretativas e Performance Musical. Semelhantemente ao estado da arte, desenvolvido por
Kerr, Carvalho e Ray (2006), identificamos certos paradigmas analíticos que têm permeado
produções que vêm sendo desenvolvidas no nível da Pós-Graduação, em Música. Além disso,
apresentamos o vínculo de pesquisas com paradigmas relacionados aos estudos que trataram
sobre a relação entre a performance e análise musical e discutimos certas pesquisas que têm
procurado empregar procedimentos analíticos em função do tratamento de problemáticas ou
questões relacionadas à performance musical.
No capítulo final, encerramos a dissertação com a apresentação de uma diversidade
de perspectivas de pesquisa, identificadas em sua maioria no decorrer do desenvolvimento da
presente investigação. Boa parte das pesquisas que serão mencionadas se referem a categorias
de estudos não definidas a priori, porém, baseadas na interação com o conteúdo das pesquisas
e referenciais teóricos selecionados. Se nos capítulos anteriores, as categorias empregadas se
baseiam na proposta de Ray e Borém (2012), neste capítulo, oferecemos a exposição de novas
categorias. São contemplados neste capítulo diferentes categorias de estudo em performance
pianística que têm feito interface com possibilidades investigativas relacionadas à Musico-
logia Empírica, Música Eletroacústica Mista, Filosofia da Performance e Composição Mu-
sical. Também, abordamos perspectivas de estudo em performance pianística, interessadas pe-
la elaboração de Pesquisa Interpretativa, Pesquisa Artística, estudos conceituais, estudo sobre
problemas relacionados à prática pianística em conjunto e aspectos anatômico-fisiológicos da
técnica pianística.
Conforme mencionado anteriormente, não será propósito da presente dissertação
tratar acerca da totalidade das possibilidades investigativas que vêm sendo desenvolvidas nos
estudos relacionados à performance pianística, produzidos pelos atuais Programas de Pós-
Graduação, no Brasil. Diante do elevado número de estudos existentes, uma abordagem da
totalidade e análise crítica das pesquisas, demandaria a formação de equipes de pesquisadores
- em todo caso, um aspecto válido que tem sido considerado por pesquisadores da área de
Educação, favorecendo a articulação de resultados fragmentados de pesquisas e a identifi-
cação de problemáticas relacionadas à estruturação de certas produções (ROMANOWSKI;
ENS, 2006, p. 41).
Apesar das limitações das pesquisas Estado do Conhecimento quanto ao oferecimen-
to de uma visão da totalidade das produções acadêmicas (ou diferentes setores das publica-
ções) e da abordagem de tema panorâmico, acreditamos na relevância desta modalidade in-
vestigativa para o conhecimento de aspectos fundamentais à produção de futuros estudos.
23

Dessa maneira, a presente dissertação terá como propósito oferecer uma visão acerca das
diferentes perspectivas de pesquisa que têm emergido nas linhas/ áreas de concentração em
Práticas Interpretativas e Performance Musical, bem como a discussão sobre a estruturação de
teses e dissertações relacionadas à performance pianística. Buscaremos, portanto, oferecer
uma contribuição a uma subárea em consolidação, no meio acadêmico musical (no Brasil),
cuja produção acadêmica, ainda carece de discussão, em relação à estruturação e significância
de diferentes propostas investigativas para a subárea de Performance Musical.
24
25

1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS: ESTADO DA ARTE, ANÁLISE DE CON-


TEÚDO E AMOSTRAGEM POR CONVENIÊNCIA

1.1 PESQUISAS ESTADO DA ARTE: PROPÓSITOS E IMPORTÂNCIA

Pesquisa de caráter bibliográfico e descritivo, o Estado da Arte representa uma


modalidade de pesquisa que tem atraído, nas últimas décadas, o interesse de pesquisadores
pertencentes às diferentes áreas do conhecimento, no Brasil. Tal interesse tem se evidenciado,
especialmente, em pesquisas relacionadas à área da Educação, conforme indicado por di-
ferentes pesquisadores do estado da arte (FERREIRA, 2002; ROMANOWSKI; ENS, 2006).
Em linhas gerais, o Estado da Arte tem como foco a elaboração de um mapeamento da
produção acadêmica a fim de verificar os aspectos e condições que têm permeado o seu
desenvolvimento (FERREIRA, 2002, p. 257). Deste modo, o Estado da Arte tem sido defi-
nido como uma espécie de catálogo, capaz de proporcionar aos pesquisadores uma com-
preensão sobre os rumos de uma determinada produção acadêmica (KERR; CARVALHO;
RAY, 2006, p. 24). Pode-se afirmar, que tal modalidade de pesquisa tem se voltado para
diferentes propósitos, conforme ilustraremos a seguir.
A busca de compreensão sobre o contexto histórico que tem marcado o desenvol-
vimento de pesquisas representa um dos objetivos que têm permeado certas pesquisas Estado
da Arte. Tal busca, tem resultado dos esforços de pesquisadores pela quantificação da pro-
dução acadêmica, num dado recorte temporal e geográfico. A observação da distribuição de
pesquisas, ao longo do tempo, e o estabelecimento de relações entre o adensamento das
pesquisas com o contexto acadêmico, têm permitido a certos pesquisadores a elaboração de
uma história sobre determinada produção acadêmica. O interesse histórico é evidenciado no
Estado da Arte, desenvolvido por Kerr, Carvalho e Ray (2006, p. 29-30) a partir das relações
estabelecidas pelas autoras entre o adensamento das pesquisas e fatos relacionados ao meio
acadêmico musical. Uma aproximação de produções da área da Educação, como a pesquisa
elaborada por Ferreira (1999), permite notar o oferecimento de uma "possível" história da
produção acadêmica sobre a Leitura. Para Kerr, Carvalho e Ray (2006, p. 23), "Pesquisas
'estado da arte', ao oferecerem um mapeamento ou inventário sobre uma produção acadêmica,
contam parcialmente sua história"
Outro interesse evidenciado por determinados Estados da Arte diz respeito à busca
de compreensão sobre um determinado campo de conhecimento. Diante do crescimento quan-
titativo e qualitativo que tem permeado a produção de trabalhos investigativos, nos diversos
26

campos, os pesquisadores têm visto no Estado da Arte uma possibilidade de identificar as


diferentes perspectivas de pesquisa que têm integrado determinados campos do conhe-
cimento. Na área musical, é possível reconhecer tal propósito nos estudos, desenvolvidos por
Borém (2005) e Baía (2005). Na pesquisa de Baía (2005, p. 13), o interesse do autor volta-se
para o esclarecimento do campo científico relacionado à pesquisa sobre Música Popular. Em
Borém (2005), sua proposta de mapeamento dos estudos pertencentes à subárea da Perfor-
mance Musical, permitiu-lhe identificar certas características relacionadas a este campo inves-
tigativo a partir da identificação de tendências de pesquisas. Em tais produções, a observação
parcial do conteúdo das pesquisas (títulos e resumos), permitiu a estes pesquisadores a iden-
tificação de certas tendências que têm permeado a produção de pesquisas, nas áreas investi-
gadas. A elaboração de estudos voltados à definição e análise de um campo investigativo, é
apresentada por Romanowski e Ens (2006, p. 38) como um dos propósitos que têm atraído a
atenção de pesquisadores para a elaboração do Estado da Arte de suas respectivas áreas.
A busca pela compreensão dos fundamentos epistemológicos que permeiam certos
campos investigativos, também tem resultado no empenho de pesquisadores quanto à avalia-
ção e análise da estruturação das pesquisas. Tal busca que denota um interesse, que vai muito,
além do levantamento quantitativo das produções a partir da leitura dos títulos. Desse modo, é
possível reconhecer em certos estudos a realização de um mapeamento de diferentes aspectos
inerentes à estruturação de pesquisas. Como exemplo, utilizaremos novamente, o Estado da
Arte elaborado por Kerr, Carvalho e Ray (2006) que não se limitou à investigação dos
resumos relacionados à produção vinculada à Análise Musical. Na abordagem proposta pelas
autoras, é possível notar o interesse pela integração entre as abordagens quantitativas e quali-
tativas das produções analisadas. No que se refere à abordagem qualitativa proposta, as
autoras se basearam numa investigação mais abrangente dos conteúdos das pesquisas median-
te a identificação dos referenciais teóricos e métodos analíticos que serviram de subsídio aos
pesquisadores. A possibilidade de avaliação crítica das produções acadêmicas representa um
dos focos de interesse de pesquisadores do Estado da Arte, os quais têm manifestado seus
posicionamentos críticos frente aos temas, resultados de pesquisas e contribuições às áreas
investigadas (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p. 39; FERREIRA, 2002, p. 259).
Com base nos objetivos elencados acima, é possível reconhecer uma importante
função dos levantamentos do Estado da Arte, nas diversas áreas: por oferecerem uma articu-
lação, integração e análise crítica dos resultados de pesquisas, Estados da Arte são considera-
dos um importante indicador à elaboração de futuros estudos. Em "Alfabetização no Brasil -
27

O Estado do Conhecimento", Magda Soares salienta a importância do Estado da Arte para o


desenvolvimento de uma ciência. A autora observa:

Esta compreensão do estado de conhecimento sobre um tema, em determinado mo-


mento, é necessária no processo de evolução da ciência, afim de que se ordene peri-
odicamente o conjunto de informações e resultados já obtidos, ordenação que permi-
ta indicação das possibilidades de integração de diferentes perspectivas, aparente-
mente autônomas, a identificação de duplicações ou contradições, e a determinação
de lacuna e vieses (SOARES, 1987, p. 3 apud CARVALHO; KERR, 2005, p. 25).

Dada a importância da modalidade de pesquisa Estado da Arte e da lacuna existen-


te, no que se refere à elaboração de estudos voltados ao exame crítico de teses e dissertações
(pertencentes à subárea Performance Musical), a presente pesquisa tem como um de seus
propósitos determinar o Estado do Conhecimento2 da produção recente, vinculada à per-
formance pianística. Nos capítulos a seguir, faremos a exposição e discussão de temas e
tendências de pesquisas que têm emergido, recentemente, nas áreas de concentração/linhas de
pesquisa em Performance Musical e Práticas Interpretativas. Diferentemente, de outros
Estados da Arte, não será nosso propósito oferecer uma historiografia desta produção
acadêmica a partir do exame de dados quantitativos. Antes, nosso foco se direcionará à
investigação dos métodos e referenciais teóricos, coadunando-se com os interesses de certos
pesquisadores do Estado da Arte3. Será nosso propósito a exposição e a discussão de certas
perspectivas de pesquisa que têm atraído, recentemente, a atenção de pesquisadores. Oferece-
remos, portanto, ao leitor uma abordagem qualitativa, visando o reconhecimento e a discussão
sobre a contribuição de tendências investigativas à subárea de nosso interesse.

1.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO: DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS METODOLÓGI-


CAS

1.2.1 Breves considerações históricas e a atual definição de Análise de Conteúdo

Enquanto abordagem científica, a origem da Análise de Conteúdo remonta às práti-

2
Com base no estudo elaborado por Romanowski e Ens (2006) empregaremos a nomenclatura Estado do
Conhecimento à modalidade de pesquisa que será realizada aqui. Embora diversos pesquisadores considerem o
Estado da Arte e Estado do Conhecimento como a mesma modalidade de pesquisa, as pesquisadoras citadas
apresentam uma distinção importante a ser considerada. Enquanto o Estado da Arte representa uma modalidade
interessada pelo mapeamento de todos os setores das publicações, relacionados a um tema, o Estado do Conhe-
cimento volta-se para o exame de apenas um setor das publicações (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p. 40). Con-
tudo, ambas modalidades tem objetivos comuns, conforme exposto no presente tópico.
3
Tais aspectos foram investigados nos estados da arte, elaborados por Pillão (2009), Kerr et al. (2006) e Ferreira
(1999).
28

cas investigativas das comunicações escritas, empreendidas pela Imprensa dos Estados Uni-
dos, em inícios do século XX. Alguns especialistas destacam os estudos, desenvolvidos pela
Escola de Jornalismo da Universidade da Columbia como um dos primeiros exemplos de
análise de conteúdo, voltados à medição do grau de "sensacionalismo" dos artigos da época,
um procedimento, que permite reconhecer em tais estudos a ênfase da análise de conteúdo em
abordagens do tipo quantitativo (BARDIN, 2011, p. 21; RICHARDSON, 2012, p. 220).
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, é possível reconhecer na história da
Análise de Conteúdo o início de sua expansão a partir de sua aplicação pelos departamentos
de Ciências Políticas, nos Estados Unidos. Desse modo, a investigação política representou
uma das primeiras funções ocupadas pela Análise de Conteúdo a qual foi empregada em
jornais e periódicos, suspeitos de propaganda nazista. Dentre os procedimentos metodológicos
empregados pelos cientistas políticos, estavam: a referenciação de temas, a comparação entre
jornais suspeitos e as emissões nazistas, bem como as análises temática e lexical (BARDIN,
2011, p. 23; RICHARDSON, 2012, p. 221).
O aumento no número de especialistas e a ampliação do seu campo de aplicação
representaram algumas das características que acompanharam a Análise de Conteúdo, na
década de 40. A sua aplicabilidade em estudos vinculados à Crítica Literária e à Psicologia,
voltou-se à realização de abordagens quantitativas. Por exemplo, Bardin (2011, p. 23) destaca
a análise de conteúdo do romance autobiográfico Black Boy, de Richard Wright, baseado no
emprego da análise estatística dos valores assinalados pelo livro. Richardson (2012, p. 221) e
Bardin (2011, p. 23) destacam o emprego da análise de conteúdo, neste período, a partir do
trabalho de A. Baldwin (1942). A análise empreendida por este teórico a partir das "cartas de
Jenny" voltou-se ao exame da estrutura da personalidade desta mulher com base no emprego
da análise de contingência4.
Se nos primórdios da Análise de Conteúdo, é possível notar a adesão de diferentes
teóricos ao modelo berelsoniano5 de análise das comunicações (BARDIN, 2011, p. 25; RI-
CHARDSON, 2012, p. 221), este modelo passou a ser questionado por teóricos já, na década
de 50. Desse modo, o período caracterizou-se pela "querela" entre estudiosos que defendiam a

4
De acordo com Bardin (2011, p. 260), a análise de contingência ou coocorrência representa uma comple-
mentação à análise frequencial simples. A primeira, tem como propósito verificar a frequência de aparecimento
de um termo em relação a outras unidades significativas. Ou seja, baseia-se na associação entre palavras ou te-
mas (BARDIN, 2011, p. 24).
5
Segundo Richardson (2012, p. 221) e Bardin (2011, p. 25), o modelo berelsoniano da Análise de Conteúdo
resulta da concepção formulada por E. Berelson. Tal teórico definiu a Análise de Conteúdo como uma "técnica
de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da
comunicação" (BERELSON, 1954 apud BARDIN, 2011, p. 24).
29

análise do tipo quantitativo e aqueles que insistiam na validade das abordagens qualitativas.
Enquanto os primeiros, basearam-se num tipo de abordagem voltada à observação da fre-
quência de certas características do conteúdo, os adeptos de uma análise qualitativa passaram
a privilegiar a observação da presença ou ausência de determinadas características, no con-
teúdo das comunicações (BARDIN, 2011, p. 27).
Se em diferentes momentos históricos pudemos notar uma variação na concepção de
Análise de Conteúdo, o conceito atual volta-se para a possibilidade de uma visão integradora
entre os diferentes tipos de abordagens. Baseada nesta possibilidade, Bardin (2011) assim de-
fine o atual conceito de Análise de Conteúdo:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por pro-


cedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens
(BARDIN, 2011, p. 48).

1.2.2 Características metodológicas da Análise de Conteúdo

Em seu livro, Bardin (2011) oferece um conjunto de diretrizes voltadas à organização


da análise do conteúdo das comunicações. Apesar da diversidade dos campos de conheci-
mento que têm feito uso da análise de conteúdo e das técnicas existentes, relacionadas ao seu
emprego, Bardin (2011, p. 126) destaca certos pólos cronológicos ou etapas que permeiam o
processo de desenvolvimento deste tipo de abordagem. Antes de oferecermos a exposição de
certas características metodológicas da Análise de Conteúdo, consideramos válida a exposição
das diferentes etapas que integram este método de análise. São elas:
1. Pré-análise: de acordo com Bardin (2011, p. 126), corresponde à fase caracterizada
pela seleção dos documentos a serem submetidos à análise e realização das opera-
ções de "recorte do texto". Esta fase interessa-se pelo recorte das denominadas "u-
nidades de registro", isto é, a seleção de palavras ou expressões que permitirão u-
ma futura categorização. Quanto à seleção de documentos, Bardin (2011, p. 126-
127) destaca certos princípios que devem guiar a escolha do pesquisador. São e-
les: a exaustividade, a representatividade, a homogeneidade e a pertinência. Cabe
ao pesquisador adequar a seleção documental e as unidades de registro aos objeti-
vos da pesquisa (BARDIN, 2011, p. 130);
2. Análise do material: conforme indicado por Bardin (2011, p. 131), tal fase corres-
ponde àquela mais longa e cansativa de uma análise de conteúdo. Envolve o em-
30

prego de operações de codificação, decomposição e enumeração das informações


em função da técnica selecionada. Nesta fase, um pesquisador pode empregar a
chamada técnica de Categorização sobre os dados brutos a fim de facilitar a orga-
nização de temas e categorias. Quanto à determinação das categorias a serem em-
pregadas, estas podem ser estabelecidas previamente à análise, ou podem resultar
da interação do pesquisador com o material selecionado.
3. Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: a última fase de uma análi-
se de conteúdo tem como propósito o tratamento das informações coletadas, vi-
sando a produção de inferências. Bardin (2011, p. 45) define a inferência como o
"procedimento intermediário" entre a descrição das informações e a interpretação,
com o propósito de identificar as causas e antecedentes de uma mensagem. Nesta
etapa de tratamento dos resultados, cabe ao pesquisador selecionar os procedi-
mentos a fim de condensar as informações relevantes em quadros de resultados
ou empregar diagramas e figuras (BARDIN, 2011, p. 131). Conforme dito ante-
riormente, tal organização visa favorecer a produção de inferências, ou seja, per-
mitir a produção de significados "latentes" a partir do conteúdo das mensagens.
Com base na descrição dos pólos cronológicos que acompanham a análise de con-
teúdo, podemos reconhecer certas características metodológicas que permeiam o seu método.
Conforme a descrição das etapas de pré-análise e análise, podemos notar o emprego de
"procedimentos sistemáticos e objetivos", visando a produção posterior de inferências. Apesar
do interesse pela produção de inferência, um aspecto que permite reconhecer o vínculo da a-
nálise de conteúdo com a abordagem qualitativa, esta depende do emprego de procedimentos
objetivos, voltados à coleta e organização das informações. O pesquisador deve atentar, desde
as etapas da pré-análise, para certos princípios, a fim de que suas inferências não resultem
apenas numa visão subjetiva. A objetividade como característica da Análise de Conteúdo
(RICHARDSON, 2012, p. 223), também é evidenciada neste método a partir da possibilidade
e necessidade de envolvimento do pesquisador com determinadas técnicas voltadas à codi-
ficação do material. Tal aspecto aponta para a necessidade de adesão, pelo pesquisador, a cer-
tos princípios que devem guiar a sua observação e coleta de informações.
Outra característica metodológica da Análise de Conteúdo refere-se à Sistemati-
zação (RICHARDSON, 2012, p. 223). Um conjunto de inferências só pode ser produzido
mediante o cuidado na seleção, organização e tratamento adequado das informações. Tal
característica é evidenciada pela diversidade de técnicas de análise de conteúdo existentes,
voltadas à codificação dos índices selecionados. Neste sentido, podemos reconhecer na ca-
31

tegorização uma das técnicas mais empregadas pela Análise de Conteúdo, que tem proporcio-
nado aos pesquisadores a organização das informações mediante a identificação de temas. Por
categorização entende-se uma "operação de classificação de elementos constitutivos de um
conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia),
com critérios previamente definidos" (BARDIN, 2011, p.147).
A terceira característica da Análise de Conteúdo diz respeito ao seu propósito cen-
tral. Trata-se da produção de inferências, considerada por Franco (2008, p. 29) a razão de ser
de uma análise de conteúdo. Uma observação desse conceito (RICHARDSON, 2012) per-
mite reconhecer a presença de um outro método, na análise de conteúdo, voltado à produção
de inferências. Para este teórico a inferência refere-se à "operação pela qual se aceita uma
proposição em virtude de sua relação com outras proposições já aceitas como verdadeiras"
(RICHARDSON, 2012, p. 224). Tal sentido atribuído por este teórico permite identificar a
comparação como um método fundamental à produção de inferências. Neste sentido, pode-
mos reconhecer, na triangulação entre diferentes fontes, uma possibilidade válida para a
produção de inferências. Sobre este aspecto, Franco (2008, p. 30) afirma: "toda análise de
conteúdo implica comparações; o tipo de comparação é ditado pela competência do inves-
tigador no que diz respeito a seu [...] conhecimento de diferentes abordagens teóricas". Tais
aspectos corroboram a ideia da produção de "outros significados" ou de significados "laten-
tes" das mensagens, a partir do contato do pesquisador com uma diversidade de referenciais
teóricos na tentativa de compreender as condições de produção das mensagens analisadas.
Com base nas ideias discutidas, apresentamos alguns dos princípios fundamentais à
estruturação da metodologia selecionada, para o desenvolvimento da presente pesquisa. Em
relação à proposta de Bardin (2011), esta demonstrou-se indispensável às fases de coleta,
análise e interpretação das teses e dissertações selecionadas. Semelhantemente, a outros
Estados da Arte6, a técnica de Categorização foi selecionada a fim de favorecer o reconhe-
cimento de tendências investigativas, no conjunto de teses e dissertações. Contudo, apenas a
consulta ao referencial de Bardin (2011), demonstrou-se insuficiente para a elaboração de
uma categorização significativa aos objetivos desta pesquisa, ou seja, a identificação de certas
perspectivas de pesquisa vinculadas à performance pianística. A fim subsidiar tal elaboração,
apresentaremos no item 1.3 os fundamentos teóricos que se mostraram fundamentais para a
elaboração da taxonomia a ser empregada no conjunto de teses e dissertações. Trata-se de

6
Como exemplo de Estados da Arte, caracterizados pelo emprego da técnica de categorização encontram-se
aqueles elaborados por Palmer (1997), Gabrielsson (2003), Kerr, Carvalho e Ray (2006), e Borém e Ray (2012).
32

uma exposição e discussão de estudos elaborados por especialistas que tiveram como propó-
sito a ilustração do campo investigativo da Performance Musical. Ou seja, o esclarecimento
sobre o campo dos "Performance Studies".

1.3 A PERFORMANCE MUSICAL COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO: BREVES


CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE ESTADOS DA ARTE E ESTUDOS DESENVOL-
VIDOS POR ESPECIALISTAS

Nos últimos anos, a produção de pesquisas em Performance Musical tem favorecido


o aparecimento de estados da arte, interessados pela busca de esclarecimentos sobre seus
objetos de investigação e campo investigativo. Podemos dizer que diante do crescimento
quantitativo e qualitativo, evidenciado neste campo investigativo, pesquisadores têm em-
penhado seus esforços a fim de compreender quais aspectos e dimensões (perspectivas de
pesquisas, métodos e referenciais teóricos) têm permeado o campo de estudos da Performance
Musical. Tal interesse é evidenciado nos estados da arte desenvolvidos por Palmer (1997),
Gabrielsson (2003), Gerling e Souza (2000), Borém (2005), e mais recentemente, o estudo
desenvolvido por Ray e Borém (2012). Além de tais estudos, o crescimento dos estudos em
performance tem sido retratado por verbetes de dicionários, conforme tratado pelo Grove's
Dictionary of Music and Musicians (CLARKE, 2001; DUNSBY, 2001) e bibliografia da área
que procura retratar as diferentes dimensões dos estudos em performance (RINK, 2004;
2005).
A fim de esclarecer certos aspectos relacionados ao campo investigativo da Perfor-
mance Musical - algo imprescindível à elaboração de uma categorização das produções em
performance pianística - iremos apresentar uma breve discussão a partir dos estados da arte e
estudos citados com propósito de conhecer certas características gerais que têm permeado es-
te campo investigativo. Acreditamos na importância do conhecimento de certas perspectivas
de pesquisa como fundamentação à proposta de categorização de pesquisas que vêm sendo
elaboradas pela subárea Performance Musical. Contudo, antes de adentrarmos neste assunto,
seria conveniente apresentar ao leitor algumas possíveis definições do conceito de performan-
ce musical, retirada de estudos desenvolvidos por diversos especialistas. Desse modo, a
performance musical tem sido definida como:
- "parte de um sistema de comunicação no qual o compositor codifica ideias numa
notação, performers decodificam da notação para o sinal acústico, e ouvintes de-
33

7
codificam do sinal acústico para ideias" (PALMER, 1997, p. 118, tradução nos-
sa);
- "um processo de execução que não dispensa nem os aspectos técnicos presentes
nesta prática, nem os processos interpretativos que contribuem para essa ação"
(LIMA, 2006, p. 13);
- uma "complexa rede de relações, conectando agentes musicais, obras, sonoridades e
ouvintes. Estas relações estendem-se das puramente estruturais para as normativas"
8
(GODLOVITCH, 1998, p. 4, tradução nossa);
- um "estágio dentro do processo de comunicação do compositor para o ouvinte"
(COOK, 2013, p. 243, tradução nossa);
- "atividade extremamente complexa que envolve aspectos psicológicos, fisiológicos,
pedagógicos, estéticos, históricos, mecânicos, neurológicos, sociológicos" (BAR-
RENECHEA, 2003, p. 114);
-"uma das instâncias máximas da capacidade física, mental e emocional dos seres hu-
manos" (GERLING; SOUZA, 2000, p. 115).
A partir dos conceitos elencados, podemos definir a performance musical como um
fazer musical que corresponde a um estágio inerente a um sistema comunicativo, que por sua
vez, é constituído por diferentes agentes. Tal estágio é caracterizado por uma complexa rede
de relações, configuradas a partir da integração entre diferentes habilidades musicais. Habi-
lidades estas que se relacionam aos processos cognitivos, motores e interpretativos, envol-
vidos nas etapas de preparação e realização de uma performance musical. Trata-se, portanto,
de um fazer musical complexo, resultado da interação e integração entre diferentes elementos
no decorrer das etapas de preparação e realização de uma performance musical.
Com base em estudos elaborados por especialistas da Performance Musical, inicia-
remos nossa breve abordagem acerca de algumas características deste campo investigativo. A
primeira a ser aqui considerada, refere-se à amplitude e diversidade, que caracterizam este
campo investigativo. Tal aspecto pode ser reconhecido a partir das diferentes subáreas da
música que têm "emprestado" seus métodos de abordagem aos estudos em performance,
assim como as diferentes "interseções interdisciplinares" (BORÉM; RAY, 2012, p. 123) que
7
"Music performance is often viewed as part of a system of communication in which composers code musical
ideas in notation, performers recode from the notation to acoustical signal, and listeners recode from the
acoustical signal to ideas" (PALMER, 1997, p. 118).
8
"Performance is portrayed as a complex network of relations connecting musical agents works, sound, and
listeners. These relations range from purely ones to normative ones, in which obligations of performance and
listeners figure" (GODLOVITCH, 1998, p. 4).
34

têm integrado boa parte das pesquisas que vêm sendo elaboradas neste campo investigativo.
Com base nos conceitos anteriormente apresentados, pode-se admitir que a própria natureza
da performance musical permite contemplar a possibilidade de "diálogo" entre os estudos em
performance com as diferentes subáreas musicais e áreas do conhecimento. No caso das abor-
dagens interdisciplinares, uma observação dos diferentes estados da arte, permite reconhecer a
contribuição de diferentes áreas do conhecimento aos estudos em performance, como a
Psicologia, a Biomecânica, a Educação Física, a Medicina, a Fonoaudiologia, a Ergonomia e a
Neurociência (BORÉM; RAY, 2012, p.144-155; GABRIELSSON, 2003; GERLING; SOU-
ZA, 2000).
Além da amplitude e riqueza deste campo investigativo, uma observação dos dife-
rentes estados da arte permite reconhecer a complexidade inerente a este campo investiga-
tivo. Os aspectos interdisciplinar e multidisciplinar, que caracterizam o campo investigativo
da Performance Musical9, permitem reconhecer a diversidade de métodos e procedimentos
metodológicos, passíveis de serem reconhecidos em diferentes publicações da área. Desse
modo, esta complexidade representa uma característica possível de ser encontrada em publi-
cações que têm se aproveitado de métodos e procedimentos de análise de dados, pertencentes
a outras áreas do conhecimento. Ao concluir seu estado da arte, Gabrielsson (2003, p. 258)
destaca a complexidade do campo investigativo da performance musical, que se constitui num
"desafio" aos pesquisadores da área. Diferentes pesquisadores destacam certas dificuldades
que a compreensão de publicações da área de performance têm colocado aos pesquisadores-
performers. Na visão de Borém e Ray (2012, p. 161) as características intrínsecas da perfor-
mance musical, assim como as interseções que o campo investigativo da Performance Musical
vem mantendo com as diferentes áreas do conhecimento, exigem dos pesquisadores uma
"formação eclética e universalista". Uma leitura do conteúdo de certas pesquisas empíricas
permite ao performer-pesquisador verificar o emprego de certas teorias, tecnologias e procedi-
mentos de análise de dados, vinculados a outras áreas do conhecimento, nem sempre contem-
plados pelos atuais cursos superiores de formação de músicos-performers, no Brasil.
Uma última consideração a ser realizada em relação a este campo de estudo, diz
respeito às diferentes funções que as pesquisas têm ocupado no campo investigativo da
Performance Musical. O desenvolvimento de pesquisas empíricas voltadas à construção de
teorias sobre os processos cognitivos e motores da performance musical, representa uma das

9
Informação fornecida pelos professores Alexandre Zamith e Ricardo Kubala, na palestra de abertura da II
Jornada Acadêmica Discente, proferida na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, em
23 de outubro de 2013.
35

funções ocupadas pelos estudos em Performance Musical (GABRIELSSON, 2003, p. 230;


PALMER, 1997, p. 116) Deste modo, pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento,
principalmente da Psicologia, têm visto seus objetos de estudo no performer e no produto de
suas performances. A partir de pesquisas experimentais e observacionais, realizadas com
performers experts, alguns estudiosos desenvolveram pesquisas que buscam esclarecer alguns
dos fatores que propiciam as performances de alto padrão. Neste sentido, tais estudiosos se
aproximam do ambiente de estudo e atuação de performers a fim de observar as estratégias
empregadas em nível de expertise (GABRIELSSON, 2003, p. 238). Além da elaboração de
teorias, outra função dos estudos em performance pode ser identificada nos estados da arte,
que vêm sendo desenvolvidos por especialistas. Trata-se do desenvolvimento de pesquisas
com propósito de subsidiar a construção da performance musical. Se no estado da arte de
Palmer (1997, p. 134) é nítida a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento na elabo-
ração dos estudos em Performance, outros estudiosos como Borém e Ray (2012), Gerling e
Souza (2000) e Gabrielsson (2003), têm destacado outra função ocupada pelos músicos-
performers, a saber. Trata-se de suas contribuições ao desenvolvimento de pesquisas no
campo investigativo da Performance Musical como possibilidade de subsidiar a construção de
suas próprias performances. Deste modo, podemos identificar nos estudos de Rink (2005) e
alguns de seus colaboradores, o interesse pela abordagem de questões mais pragmáticas que
têm revelado certos aspectos integrantes do processo de construção de uma performance
musical. O próprio estado da arte de Borém e Ray (2012) atesta o crescimento quantitativo e
qualitativo dos estudos em performance desenvolvidos por pesquisadores-performers.
Baseados em estudos desenvolvidos por especialistas do campo investigativo da Per-
formance Musical, iremos expor no esquema a seguir, algumas disciplinas da Música e áreas
do conhecimento que têm colaborado ao desenvolvimento de estudos em Performance
Musical. Novamente, ressaltamos que nosso propósito consiste na apresentação dos funda-
mentos metodológicos que sustentarão a nossa proposta de categorização de teses e dis-
sertações. Diante da amplitude e complexidade deste campo investigativo, reunimos apenas
algumas propostas de estudo relacionadas às subáreas e áreas do conhecimento que serão
citadas. Contudo, acreditamos que tal esquema permitirá ao leitor reconhecer alguns dos
principais domínios de estudo da Performance Musical. Abaixo das disciplinas indicadas,
apresentaremos certos temas e possibilidades investigativas que têm atraído a atenção de
pesquisadores da área. A partir dos estudos selecionados, foram identificadas as seguintes
disciplinas e áreas do conhecimento que têm colaborado ao desenvolvimento de estudos em
performance musical:
36

1) Musicologia histórica. Possibilidades investigativas identificadas:


- estudos vinculados às Práticas Interpretativas (DUNSBY, 2001; RINK, 2012);
- pesquisas voltadas à elaboração de Edição Prática (BORÉM; RAY, 2012, p.150);
- pesquisas voltadas à elaboração de catalogação de obras musicais
(BORÉM; RAY, 2012, p.148);
2) Análise musical. Possibilidades investigativas identificadas:
- análise do texto musical (GERLING; SOUZA, 2000, p.119);
- análise da performance, ou seja, análise de gravações em áudio de performances
musicais (RINK, 2012, p. 39);
- análise espectográfica de arquivos sonoros (BORÉM; RAY, 2012, p. 153);
3) Psicologia da performance musical. Temas identificados:
- planejamento da performance musical;
- leitura à primeira-vista;
- memorização musical;
- expressão musical;
- aspectos motores da performance musical;
- improvisação;
- medição da performance musical (estudos sobre timing em performance);
- ansiedade musical;
- pânico de palco;
- feedback em performance;
4) Composição musical. Possibilidades investigativas identificadas:
- elaboração de edições de performance (BORÉM; RAY, 2012, p. 145);
5) Música popular. Possibilidades investigativas identificadas:
- análise da música gravada (BORÉM; RAY, 2012, p. 152);
6) Educação musical. Possibilidades investigativas identificadas:
- estudos voltados à observação do potencial de técnicas de ensino para a otimiza-
ção da performance musical (BORÉM; RAY, 2012, p. 147);
7) Sonologia. Possibilidades investigativas identificadas:
- análise espectográfica de arquivos sonoros para a descrição de diferentes tipos de
de vibrato e portamento (BORÉM; RAY, 2012, p. 154);
8) Outras áreas do conhecimento que têm colaborado ao desenvolvimento de estudos
em performance musical:
37

- psicoacústica (PALMER, 1997, p. 127);


- biomecânica (GERLING; SOUZA, 2000, p. 123; PALMER, 1997, p. 134);
- inteligência artificial (GABRIELSSON, 2001, p. 233);
- semiótica (GABRIELSSON, 2001, p. 234);
- ergonomia (GABRIELSSON, 2001, p. 248);
- ciências da saúde: Medicina, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Educação Física;
- neurociência (BORÉM; RAY, 2012, p. 127).

A partir dos exemplos apresentados, podemos notar a diversidade e a complexidade


do campo de estudos da Performance Musical, caracterizado pelo emprego de teorias e méto-
dos, oriundos de diferentes subáreas musicais e áreas do conhecimento. Trata-se de um campo
de estudos que tem visto na interdisciplinaridade uma possibilidade de esclarecimento de
aspectos vinculados à complexa natureza da performance musical. Por esse motivo, tem insti-
gado a atenção de pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Diante do "diálogo"
que os estudos em performance têm mantido com as diferentes subáreas musicais e áreas do
conhecimento, alguns pesquisadores do estado da arte defenderam a ideia de "interfaces da
Performance Musical". Com efeito, para Borém e Ray, tal campo investigativo mantém
"interfaces com as outras subáreas da música ou interseções interdisciplinares com outros
campos do conhecimento" (BORÉM; RAY, 2012, p. 123). O aspecto interdisciplinar deste
campo investigativo representa uma característica partilhada entre diferentes pesquisadores
(GERLING; SOUZA, 2000, p. 122; PALMER, 1997, p. 134).
Diante da evidente pluralidade disciplinar que caracteriza este campo investigativo,
nossa proposta de categorização se baseará na taxonomia, desenvolvida por Borém e Ray
(2012), a qual se mostrou significativa para a identificação de tendências dos estudos em
performance. Contudo, em decorrência dos objetivos desta dissertação, não empregaremos de
maneira ortodoxa a proposta de tais autores. Desse modo, nossa proposta de categorização
aproxima-se de certas análises de conteúdo, caracterizadas pela integração entre categorias
pré-definidas e aquelas que serão definidas no decorrer da pesquisa (FRANCO, 2008, p. 63).
No item a seguir, apresentaremos ao leitor nossa proposta de categorização, empregada na
amostragem de pesquisas selecionadas nas quais será possível notar a interação com algumas
das subáreas musicais, áreas do conhecimento e tendências emergentes de pesquisas que têm
permeado parte dos estudos em performance pianística, no Brasil.
38

1.4 AMOSTRAGEM POR CONVENIÊNCIA E PROPOSTA PARA UMA CATEGORIZA-


ÇÃO

Diante do elevado número de teses e dissertações em performance pianística10, nossa


proposta de análise de conteúdo se fundamentará no exame de uma amostragem não-
probabilística de pesquisas. Diferentemente, de estados da arte que têm manifestado o inte-
resse pela abordagem quantitativa das produções acadêmicas, nosso estudo se voltará a uma
abordagem qualitativa do conteúdo de teses e dissertações. Nossa aproximação de certos
estados da arte, em Educação, ocorrerá sob o ponto de vista qualitativo, ou seja, nos distan-
ciaremos de uma abordagem baseada na observação da distribuição de pesquisas, num dado
recorte temporal. Em função do objetivo central da presente dissertação empregaremos a cha-
mada Amostragem por Conveniência.
Se nas abordagens quantitativas, a seleção da amostra tem como propósito uma
possível generalização para uma determinada população (SAMPIERI, 2006, p. 250), nas
abordagens qualitativas a amostragem assume uma função diferenciada. No caso da amos-
tragem por conveniência, bastante empregada pelas abordagens qualitativas, sua atenção
volta-se para o potencial de obtenção de informações significativas acerca dos elementos que
serão analisados. Como a própria nomenclatura sugere, a amostragem por conveniência
representa aquela voltada à seleção dos casos mais acessíveis e adequada às "características
da pesquisa ou de quem faz a amostra" (SAMPIERI, 2006, p. 254). Diferentemente, da amos-
tragem empregada pelas abordagens quantitativas, a amostragem por conveniência é sele-
cionada de maneira mais flexível e não em função de procedimentos mecânicos e probabi-
lísticos. Sua seleção leva em conta a experiência do pesquisador, assim como os objetivos da
pesquisa e recursos financeiros, disponibilizados à sua realização (ESPÍRITO SANTO, 1992,
p. 74; SAMPIERI, 2006, p. 252; SILVERMAN, 2009, p. 275).
Além dos objetivos da pesquisa, outras questões podem contribuir para a seleção de
uma amostragem por conveniência. Tal ideia é compartilhada por Silverman (2009), que res-
salta a importância do aparato teórico para a seleção de uma amostragem intencional. Ele
afirma: "A amostragem na pesquisa qualitativa não é estatística nem puramente pessoal: é, ou
deve ser, teoricamente fundamentada" (SILVERMAN, 2009, p. 275). Este argumento, repre-
senta uma das diretrizes adotadas pela presente pesquisa, cuja seleção da amostragem baseou-
se em estudos desenvolvidos por especialistas, como Dunsby (2001) e Lima (2006). Desse

10
Tal argumento baseia-se nos levantamentos de pesquisas realizados por especialistas, relação de pesquisas
defendidas no Programa de Pós-Graduação da UFRJ (concedida pela instituição) e Estados da Arte consultados.
39

modo, nossa seleção baseou-se em produções que vêm sendo desenvolvidas nas áreas de
concentração e linhas de pesquisas, voltadas a investigações relacionadas a diferentes aspec-
tos que integram a construção de uma performance musical. No quadro abaixo, apresentamos
as áreas de concentração/linhas de pesquisa11 que serviram de base à elaboração de nosso
estudo.

Universidade/ Sigla Área de concentração Linha de pesquisa


1 Universidade de São Paulo/ USP Processos de Criação Musical Técnicas Composicionais e
Questões Interpretativas
2 Universidade Estadual de Práticas Interpretativas -
Campinas/UNICAMP
3 Universidade Federal do Rio de Janei- Práticas Interpretativas -
ro/ UFRJ
4 Universidade Federal do Estado do Práticas Interpretativas Teoria e Prática da
Rio de Janeiro/ UNIRIO Interpretação
5 Universidade Federal de Minas - Performance Musical
Gerais/ UFMG
6 Universidade Federal do Paraná/ Interpretação e processos Leitura, Escuta e Interpretação
UFPR criativos

7 Universidade do Estado de Santa Sub-área: Práticas Teoria e prática da


Catarina/ UDESC Interpretativas interpretação
8 Universidade Federal do Rio Grande Práticas Interpretativas Práticas e processos de
do Sul/ UFRGS interpretação musical
Quadro 1: Atuais programas de Pós-Graduação em Música, localizados nas regiões Sul e Sudeste, interessados
pela pesquisa de aspectos relacionados à Performance Musical

Outros estudos, como os desenvolvidos por Borém e Ray (2012), se mostraram fun-
damentais para uma compreensão acerca das principais dimensões dos estudos da subárea
Performance musical a partir da ideia de "interfaces da performance", conforme tratado no
item anterior. O processo de seleção de nossa amostragem baseou-se na taxonomia de tais
autores, sem contudo, limitar-se apenas a uma categorização determinada a priori. No quadro
a seguir, apresentamos os resultados preliminares de nosso estudo mediante a exposição da
categorização proposta para as pesquisas em performance pianística.

11
Serão consideradas as nomenclaturas das áreas de concentração e linhas de pesquisa nas quais as produções
selecionadas foram inseridas. Algumas das nomenclaturas mencionadas sofreram alterações. Entre os anos de
2012 e 2013, foram implantadas, na USP, as linhas de pesquisa Questões interpretativas e Performance Musical.
No ano de 2012, na UNICAMP, ocorreu a implantação da área Teoria, Criação e Prática, juntamente, com a
linha Estudos instrumentais e Performance musical. Atualmente, a UFRJ conta com a área de concentração
Processos Criativos e com a linha de pesquisa As práticas interpretativas e seus processos reflexivos.
40

Categorias/ Atuais Programas de Pós-Graduação em Música (regiões Sul e Sudeste) - com áreas
Perspectivas de concentração/linhas de pesquisa em Práticas Interpretativas e Performance Musical Total
identificadas USP UNICAMP UFRJ UNIRIO UFMG UFPR UDESC UFRGS
Interface
entre a
performance 7 2 7 1 4 - 2 1 24
pianística e a
Musicologia
Histórica
Interface
entre a
performance 5 14 6 3 4 - 4 6 42
pianística e a
Análise
Musical
Interface
entre a
performance - - 1 - - - 1 4 6
pianística e a
Psicologia da
Performance
Musicologia
Empírica - - - 1 1 2
Interface
entre a
Performance - - 1 - - 1 - - 2
pianística e a
Música
Eletroacústica
Mista
Aspectos
anatômico-
fisiológicos 1 1 2 - - - 2 - 6
vinculados à
técnica
pianística
Prática
pianística em
conjunto - - 1 - 1 1 - - 3
Filosofia da - - - - - - - 1 1
Performance
Estudos - - 1 - - - - - 1
conceituais
Interface - - - -
entre a
performance 1 - - - 1
pianística e a
Composição
Pesquisa - 1 - 1 - - - 2 4
Interpretativa
Pesquisa - - - - - - - 3 3
Artística
Total de teses 13 18 19 5 11 2 9 18 95
e dissertações
Quadro 2: Categorização da amostragem de dissertações e teses (2007-2012), interessadas pela pesquisa de
aspectos relacionados à performance pianística.
41

Com base na categorização proposta e na observação do quadro acima, é possível


reconhecer interfaces e interseções disciplinares que têm permeado a produção de teses e
dissertações relacionadas à performance pianística. Uma primeira leitura de nossa amostra-
gem permite identificar a atenção que pesquisadores têm conferido a perspectivas tradicionais
de estudos, tal como a interface entre a Performance Pianística e a Musicologia Histórica (24
produções). Outra área de estudo, considerada por Dunsby (2001) e Rink (2004) como um dos
principais domínios de estudo da Performance Musical, também aparece em nossa amostra-
gem: trata-se da interface entre a Performance Pianística e Análise Musical. Tal interface,
mostra-se uma das mais recorrentes em nossa amostragem (42 produções), revelando o inte-
resse que as pesquisas em performance pianística vêm mantendo em relação a este domínio de
estudo.
No que se refere ao aspecto interdisciplinar que caracteriza as pesquisas em Perfor-
mance Musical, podemos reconhecer em nossa amostragem a presença de pesquisas em
Psicologia da Performance (DUNSBY, 2001; RINK, 2004). Mesmo representando uma disci-
plina ausente, na maioria dos cursos de Pós-Graduação em Música (KAMINSKI; RAY,
2012), tal disciplina mereceu a atenção de alguns pesquisadores (6 produções). Outra área do
conhecimento que emprestou seus referenciais teóricos à produção de pesquisas em perfor-
mance pianística é a Filosofia. Contudo, em nossa amostragem de pesquisas, a interface entre
a Performance Pianística e Filosofia da Performance se revelou uma categoria pouco recor-
rente (1 produção) em perspectivas recentes de pesquisas em performance pianística. Outras
possíveis interfaces com diferentes áreas do conhecimento, tratadas no item anterior, não
foram identificadas em produções recentes, em nossa área de interesse.
Em nossa amostragem também transparece a presença de modalidades de pesquisas
emergentes, no meio acadêmico musical brasileiro. Se interfaces tradicionais privilegiaram o
interesse pela investigação do texto musical, conforme indicam certas práticas de estudo
relacionadas às disciplinas Análise Musical e Musicologia Histórica, podemos reconhecer em
nossa amostragem certas perspectivas de pesquisas que têm considerado outras possibilidades
investigativas, além da interpretação do texto musical. Tal interesse é manifestado nas moda-
lidades investigativas relacionadas à Pesquisa Artística (4 produções) e à Musicologia Em-
pírica (2 produções). A primeira, com foco na investigação do processo de construção da per-
formance musical (DOMENICI, 2012, p. 176) e a segunda, voltada ao estudo de seu produto
(CLARKE, 2004, p. 77). Desse modo, embora seja possível reconhecer uma presença maior
de pesquisas interessadas pela investigação do texto musical, nossa amostragem de pesquisas
permite reconhecer também a existência de perspectivas de pesquisa que têm se distanciado
42

dos paradigmas tradicionais. Contudo, somente a partir de um estado da arte mais abrangente,
será possível admitir se tal ênfase tem se estendido para um universo mais amplo das produ-
ções em performance pianística.
Um último aspecto a ser considerado com base na amostragem selecionada trata-se
das categorias emergentes, no decorrer do processo de pesquisa desta dissertação. Além das
categorias definidas a priori com base em Borém e Ray (2012), outras categorias tiveram sua
origem a partir da interação com o conteúdo das teses e dissertações pesquisadas. Desta
maneira, propomos as seguintes categorias: Interface entre a Performance Pianística e a Mú-
12
sica Eletroacústica Mista (2 produções), Prática Pianística em Conjunto (3 produções),
Estudos Conceituais (1 produção) e Pesquisa Interpretativa 13 (4 produções). Em nossa amos-
tragem, é possível notar um número menor de tais modalidades de pesquisas em relação aos
principais domínios de estudos em Performance Musical (a saber, Análise Musical e Musi-
cologia Histórica). Em relação às perspectivas recentes de pesquisas em performance pianís-
tica, as categorias de estudos voltadas à investigação da Música Eletroacústica Mista e elabo-
ração de estudos conceituais, representam modalidades de pesquisas, pouco recorrentes em
nossa área de interesse14.
Após a apresentação dos resultados preliminares desta dissertação, iniciaremos com a
discussão do conteúdo de teses e dissertações que têm permeado parte das produções, in-
teressadas pela investigação de aspectos relacionados à construção da performance pianís-
tica. Trata-se de uma pequena colaboração a uma subárea de estudos que tem se caracterizado
pelo crescimento quantitativo e qualitativo, conforme tratado por especialistas da área (BO-
RÉM; RAY, 2012; GERLING; SOUZA, 2000). Conforme exposto, nossa amostragem de
pesquisas se limitará à análise de produções recentes (2007-2012), que têm emergido na
subárea de Performance Musical (ou Práticas Interpretativas, como preferem alguns especia-
listas). Diante das diferentes perspectivas e subcategorias identificadas, nosso estudo dialo-
gará com diferentes tipos de conhecimento a fim de favorecer a interpretação do conteúdo de
dissertações e teses. Também, apresentaremos breves considerações acerca das possibilidades

12
Aqui nos referimos apenas às produções que trataram acerca de problemáticas relacionadas à atuação do
pianista, como colaborador, co-repetidor e camerista.
13
Uma definição desta possibilidade investigativa é oferecida por Sundin (1983). Para tal pesquisador, trata-se
de uma modalidade investigativa interessada pelas escolhas particularizadas, empreendidas por intérpretes-
performers, no decorrer do processo de leitura do texto musical (SUNDIN, 1983, p. 8).
14
Tal argumento é corroborado pelo levantamento de teses e dissertações (2007-2012), que mostra a incidência
de produções em performance pianística, produzida pelos diferentes Programas de Pós-Graduação, em Música.
Para esclarecimentos, consultar entrevista concedida por Sônia Ray, nos apêndices desta dissertação. A pes-
quisadora comenta acerca da baixa recorrência de estudos conceituais relacionados à disciplina Psicologia da
Performance.
43

investigativas identificadas a fim de justificar a categorização proposta, assim como facilitar a


compreensão do leitor acerca de alguns métodos e temas que têm permeado parte da produção
de pesquisas relacionadas aos estudos em performance pianística.
44
45

2 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A MUSICOLOGIA


HISTÓRICA

O propósito deste capítulo consiste no oferecimento de uma visão panorâmica sobre


a produção de teses e dissertações - relacionadas à performance pianística, caracterizadas pe-
lo diálogo com diferentes práticas de estudo da Musicologia Histórica. Para facilitar a com-
preensão sobre os procedimentos metodológicos e justificar a categorização proposta às
pesquisas que serão discutidas, apresentaremos breves considerações sobre a disciplina Musi-
cologia Histórica, seguida da apresentação de suas principais práticas de estudo. Inicialmente,
será apresentada uma visão introdutória sobre a relação entre a Pesquisa Histórica e produções
em Práticas Interpretativas/Performance15. Tal exposição se fundamentará em estudos ela-
borados por especialistas e pesquisas que tratam da produção acadêmica em Música, no nível
da Pós-Graduação. Cada subtópico deste capítulo se dedicará à apresentação de objetivos e
aspectos metodológicos relacionados às diferentes práticas de estudo (vinculadas à Musico-
logia Histórica) a fim de contextualizar a apresentação das teses e dissertações, bem como
favorecer a compreensão de seus conteúdos.

2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES: O DIÁLOGO ENTRE A MUSICOLOGIA HIS-


TÓRICA E PRODUÇÕES EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS/PERFORMANCE

Atualmente, a Musicologia Histórica é compreendida como uma das disciplinas da


grande área de Musicologia16, interessada pela investigação de manifestações específicas da
música de concerto ocidental (estilo, gênero, período, tradições, obras individuais e eventos
musicais), pertencentes às diferentes culturas e períodos históricos (PARCUTT, 2012, p. 148;
STANLEY, 2001, p. 492). O interesse pelo estudo de fenômenos musicais do passado permite
17
reconhecer o Método Histórico e a Análise Documental como os principais métodos de
pesquisa adotados pela disciplina. Dessa maneira, a reconstrução de fatos musicais do passado

15
De agora em diante, usaremos a expressão Práticas Interpretativas/Performance para nos referirmos às linhas/
áreas de concentração em Performance Musical e Práticas Interpretativas.
16
Obras de referência da área musical como o The New Grove Dictionary of Music and Musicians e o Harvard
Dictionary of Music definem a Musicologia como o "estudo acadêmico da música" (DUCKLES; PASLER,
2001, p. 488; RANDEL, 1998, p. 327). Representa uma adaptação do termo francês Musicologie, corresponden-
do ao termo alemão Musikwissenchaft (Ciência da Música) (APEL, 1970, p. 558). De maneira geral, tais obras
definem a Musicologia como um campo de estudo abrangente caracterizado pelo emprego de procedimentos de
pesquisas que podem ser emprestados de diferentes Ciências. Seu campo de estudo costuma ser dividido nos
ramos Histórico e Sistemático.
17
Marconi e Lakatos (2010, p. 89) definem o Método Histórico como o conjunto de atividades interessadas pela
investigação de acontecimentos, processos e instituições do passado.
46

está diretamente relacionada à análise de dados ou evidências presentes nos diferentes tipos de
fontes históricas.
Uma das mais importantes propostas de sistematização do campo histórico da Mu-
sicologia, a qual permite compreender parcialmente alguns de seus objetos de estudo e pro-
cedimentos metodológicos adotados, pode ser reconhecida no livro Umfang, Methode und
Ziel der Musikwissenschaft18 (1885) citado por Duckles e Pasler (2001), elaborado pelo musi-
cólogo austríaco Guido Adler (1855-1941). Influenciado pelo pensamento positivista da épo-
ca, o musicólogo dividiu cuidadosamente os estudos musicológicos nos ramos Histórico e
Sistemático (BEARD, GLOAG, 2005, p. 79; DUCKLES, PASLER, 2001, p. 490). Apesar de
tal estudo ter suas origens em fins do século XIX, sua proposta de subdivisão para os estudos
musicológicos, nas categorias Histórica e Sistemática, tem se mantido até os dias atuais
(CASTAGNA, 2008, p. 14).
Em relação ao campo histórico, Adler destaca os principais tópicos de interesse da
disciplina. São eles: a investigação da notação musical, a construção de instrumentos musicais
(Organologia), a elaboração de estudos biográficos, a investigação de questões relacionadas à
execução instrumental, a investigação do estilo musical e o estudo sobre a influência de
determinado contexto cultural na produção de compositores (ADLER, 1885 citado por
MUGGLESTONE, 1981, p. 8-9). Uma compreensão acerca das principais práticas da Musi-
cologia Histórica, também é oferecida por Stanley (2001) em seu verbete dedicado ao
"Método Histórico", no Dicionário Grove. De acordo com Stanley (2001, p. 492-494), dentre
as práticas relacionadas ao Método Histórico podemos elencar: estudos biográficos, investi-
tigação do estilo de obras musicais, preparo de catálogos, edições críticas, estudos com base
em manuscritos, investigação sobre o contexto cultural de uma época e estudos sobre a pro-
dução musical de compositores (STANLEY, 2001, p. 492-494). Semelhantemente ao estudo
de Adler, Stanley destaca a presença das chamadas "ciências auxiliares da Musicologia" 19 as
quais têm fornecido importantes metodologias para o desenvolvimento de projetos vinculados
à Musicologia Histórica (ADLER, 1885 apud MUGGLESTONE, 1981, p. 9; STANLEY,
2001, p. 494). Por isso, Stanley (2001, p. 494) considera a Musicologia Histórica um campo
semi-autônomo de conhecimento.

18
O artigo pode ser traduzido como "Escopo, Método e Objetivo da Musicologia", e foi publicado no primeiro
volume da revista Vierteljaresschrift für Musilwissenschaft, fundada pelo próprio Adler, juntamente, com Frie-
drich Chrysander e Philipp Spitta.
19
São consideradas ciências auxiliares da Musicologia: a Paleografia, a Cronologia, a Diplomática, a Bibliogra-
fia, a Ciência Arquivística, a Filologia e a Literatura (DUCKLES; PASLER, 2001, p. 490-494).
47

Um segundo aspecto passível de ser identificado no histórico que trata sobre o desen-
volvimento dos estudos musicológicos - o qual permite reconhecer outra função da pesquisa
histórica musical - refere-se à sua possibilidade de emprego na investigação de questões sobre
a execução e interpretação musical. Desde inícios do século XX, é possível notar nos estudos
musicológicos o diálogo entre a pesquisa histórica e a execução musical a partir dos primeiros
estudos, desenvolvidos pela disciplina Práticas Interpretativas (VELIMIROVIC, 2011, p.
503). Tal disciplina é considerada por Rink, uma das possibilidades de estudo da performance
no âmbito da Musicologia Histórica. Pode-se notar em tais estudos a interação de pesquisa-
dores com diferentes tipos de fontes documentais a fim de favorecer o conhecimento sobre o
estilo de execução de uma época, bem como proporcionar o conhecimento sobre diferentes
aspectos relacionados à execução e a interpretação musical. Entretanto, Rink salienta que o
estudo da performance no âmbito da Musicologia Histórica não se restringe à pesquisa em
Práticas Interpretativas (RINK, 2012, p. 37). Em seu estudo, que trata da relação entre a pes-
quisa histórica e a performance musical, destaca a possibilidade de emprego de outras práticas
de estudo da Musicologia Histórica, tais como a investigação do estilo musical e a compa-
ração entre diferentes tipos de edições musicais (RINK, 2012, p. 46). Sendo assim, a pesquisa
histórica tem oferecido importante contribuição para o desenvolvimento de pesquisas rela-
cionadas à performance musical. A dimensão histórica foi considerada um dos principais
domínios de pesquisa em Performance Musical (RINK, 2004, p. 37; BORÉM, 2005, p. 16).
No Brasil, tal afirmação pode ser reconhecida a partir de trabalhos, dedicados à investigação
da produção de pesquisas em Práticas Interpretativas/Performance.
Desde primórdios da Pós-Graduação em Música, no Brasil, é possível identificar o
elevado número de teses e dissertações em práticas interpretativas, interessadas pelo emprego
de práticas investigativas relacionadas à Musicologia Histórica. Diferentes estudiosos têm
retratado tal interesse em pesquisas que abordam a produção acadêmica, oriunda dos primei-
ros Mestrados, em Música, no Brasil. Em seu trabalho sobre as produções em Práticas Inter-
pretativas, desenvolvidas nas Universidades Estaduais Paulistas, Siste afirma que a inserção
da área musical nos programas de Pós-Graduação ocorreu, principalmente, via pesquisa his-
tórica (SISTE, 2009, p. 11). Com base nos resultados de Siste, podemos admitir que a pes-
quisa histórica integrou tanto as pesquisas relacionadas à subárea Musicologia Histórica,
quanto produções pertencentes à subárea de Práticas Interpretativas. Desse modo, a autora
destaca a inserção de capítulos introdutórios históricos em produções de teses e dissertações,
vinculadas à subárea de Práticas Interpretativas (SISTE, 2009).
48

A assimilação de procedimentos metodológicos da Musicologia Histórica em produ-


ções sobre as práticas interpretativas, também foi abordada por Kerr, Carvalho e Ray,
conforme indicado pelo relatório intitulado Rumos da Análise Musical no Brasil (2006).
Apesar de o estudo voltar-se à apresentação do estado da arte de pesquisas em Análise Musi-
cal, este pôde ilustrar de maneira breve a interação de pesquisas da linha de Práticas Inter-
pretativas com práticas de estudo da Musicologia Histórica. Segundo as autoras, boa parte das
pesquisas da UFRJ (oriundas do primeiro curso de Mestrado, em Música, no Brasil, na década
de 80), representaram uma herança dos modelos de memoriais, desenvolvidos nos EUA.
Desse modo, um procedimento bastante comum adotado pelas pesquisas, consistiu na apre-
sentação de dados biográficos, antecedendo análise musicais. Tais produções tinham como
propósito a realização de estudos voltados à execução de obras musicais, em concerto, como
requisito para a obtenção do título de Mestre em Música (KERR; CARVALHO; RAY, 2006,
p. 16). O diálogo entre as produções em Práticas Interpretativas e a Musicologia Histórica,
nos primórdios da Pós-Graduação (em Música, no Brasil), pode ser facilmente reconhecido
mediante uma leitura dos resumos das primeiras dissertações 20. Tal leitura permite verificar o
emprego de estudos biográficos introdutórios aos conteúdos das pesquisas, assim como
investigações sobre o estilo musical de compositores. As primeiras produções, desenvolvidas
pela subárea de Práticas Interpretativas (ou Performance), caracterizaram-se, portanto, pelo
forte diálogo com práticas investigativas da Musicologia Histórica.
Se os estudos anteriores permitem confirmar o forte vínculo entre as primeiras
produções relacionadas à linha de Práticas Interpretativas e a disciplina Musicologia
Histórica, a identificação das principais práticas da Musicologia Histórica em produções
vinculadas à subárea Performance Musical, foi abordada por Borém (2005). Em seu estado da
arte sobre a produção de teses e dissertações, produzidas pelos programas de Pós-Graduação
em Música, no Brasil, o autor apresenta a interface entre a Performance Musical e a Mu-

20
O acesso aos resumos das produções iniciais do primeiro Mestrado em Música, concedido pela UFRJ,
permitiu o reconhecimento de produções sobre as práticas interpretativas, caracterizadas pelo diálogo com
diferentes práticas da Musicologia Histórica. Notamos nestas produções um elevado número de pesquisas
interessadas pelo estudo sobre o estilo musical de compositores. São exemplos: Da compreensão e interpretação
de uma peça inédita de Francisco Mignone através das características composicionais (1985), de Maria Helena
Coelho de Andrade; A interpretação da obra Terra Selvagem de Bruno Kiefer, através do conhecimento das
características composicionais utilizadas pelo autor (1990), de Zaida Valentim e As influências sofridas por
Claude Debussy como fator importante na interpretação das Estampes (1992), de Ana Maria Cubas Vivanco
Baltazar. Também, foi identificado o interesse de alguns autores pelo preparo de catálogo de obras musicais e
produções relacionadas à disciplina Práticas Interpretativas, no período anterior a 1994. Trata-se das pesquisas
Glauco Velásquez: elementos característicos da produção pianística e catálogo completo de obras (1994), de
Silvia Cristina Hasselaar e Da importância da articulação musical como recurso expressivo na interpretação da
obra pianística de W. A. Mozart (1994), de Nelma Maria Dahas Jorge Muniz.
49

sicologia Histórica, como uma das categorias de estudo mais recorrentes da subárea Per-
formance Musical (BORÉM, 2005, p. 16). Dentre as práticas identificadas pelo pesquisador
encontram-se: estudos panorâmicos sobre repertório, história sobre professores de instrumen-
tos musicais, estudos histórico-interpretativos, revisão editorial e investigações sobre intér-
pretes e compositores pouco conhecidos (BORÉM, 2005, p. 20). Em seu estudo, Borém res-
salta a contribuição dos intérpretes-pesquisadores para o desenvolvimento da subárea Mu-
sicologia Histórica. Ele afirma:

Não raro, os performers musicais transformam-se em 'musicólogos', ampliando o


escopo de sua pesquisa inicial devido à carência bibliográfica para sua pesquisa.
Tornam-se muitas vezes, autoridades em compositores e intérpretes, eruditos e
populares, reconhecidos [...], esquecidos ou negligenciados historicamente [...],
produzindo fontes de referência musicológicas fundamentais e muitas vezes, únicas
(BORÉM, 2005, p. 20-21).

Os resultados do estado da arte, elaborado por Borém (2005), corroboram a afir-


mação de Rink (2004) e Dunsby (2001), quanto ao reconhecimento do domínio histórico
como uma das principais categorias de estudo da Performance Musical. A partir dos resulta-
dos quantitativos, apresentados em seu estado da arte (BORÉM, 2005, p. 16), podemos
considerar a Interface entre a Performance Musical e a Musicologia Histórica como uma das
categorias ou perspectivas de estudo que mais têm atraído a atenção de pesquisadores da
subárea Performance Musical, no Brasil.
Com base no conhecimento sobre as principais práticas investigativas da Musicolo-
gia Histórica e nos estudos apresentados, prosseguiremos com a apresentação de teses e dis-
sertações selecionadas, relacionadas à interface entre a Performance Musical e a Musicologia
Histórica. Trata-se de produções, desenvolvidas pelas áreas/ linhas de pesquisa em Práticas
Interpretativas e Performance Musical, constituintes de nossa amostragem por conveniência.
A fim de contextualizar a análise do conteúdo das teses e dissertações, apresentaremos breves
considerações sobre diferentes práticas investigativas, vinculadas à disciplina Musicologia
Histórica. Com base na proposta de Bardin (2011), ofereceremos quadros ilustrativos com as
unidades de registro a fim de justificar a categorização proposta e mostrar o vínculo das
pesquisas com determinadas práticas investigativas. Nos tópicos a seguir, as unidades de
registro farão menção aos objetivos das pesquisas, práticas de estudos e procedimentos me-
todológicos, declarados pelos autores das pesquisas.
50

2.2 ESTILO MUSICAL: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORIGEM E PROPÓSITOS DES-


TA PRÁTICA DE ESTUDOS

Diferentes obras de referência da área musical definem o termo estilo como a manei-
ra, o modo de expressão ou tipo de apresentação de diferentes níveis hierárquicos21, tais como
uma nota musical, um acorde, uma frase, seção, movimento, obra musical, um conjunto de
obras musicais, período e cultura (BEARD; GLOAG, 2005; PASCALL, 2001; RANDEL,
1998). Trata-se, portanto, de um termo abrangente e que pode ser empregado para descrever
diferentes modalidades de expressão.
Diante desta concepção geral, apresentada por diferentes obras de referência, uma
definição mais específica é oferecida por Leonard Meyer em sua teoria sobre o estilo musical.
O teórico define o termo "estilo" como a replicação de padrões na produção de artefatos pelo
homem, resultantes de uma série de escolhas realizadas dentro de um conjunto de restrições22
(MEYER, 1996, p. 3). Uma aproximação desta definição com a área musical permite definir o
estudo sobre estilo musical com a identificação de padrões em diferentes níveis hierárquicos a
partir do envolvimento do pesquisador com a investigação da estruturação musical (BEARD;
GLOAG, 2005; PASCALL, 2001).
Embora, a origem do termo estilo remonte a produções elaboradas por téoricos ale-
mães, no século XVIII (BEARD; GLOAG, 2005, p. 170), seu estudo tornou-se uma prática
recorrente dos estudos musicológicos, em inícios do século XX. Sua prática remete à postura
crítica de historiadores diante dos estudos históricos, focados em dados biográficos e
desvinculados de uma discussão técnica de obras musicais (STANLEY, 2001, p. 493). O livro
Der Stil in der Musik 23, de Guido Adler (publicado, em 1911), representou importante cola-
boração para o desenvolvimento dos estudos sobre estilo musical por meio da inserção da
Análise Estilística nos estudos históricos. A partir de Adler a noção de estilo tornou-se um
assunto central para o historiador, representando o incentivo para uma discussão dos estudos
históricos em termos, inerentemente musicais (BENT; POPLE, 2001, p. 546; STANLEY,
2001, p. 493).
Pode-se dizer que os estudos de Adler, especialmente a obra anteriormente citada e
sua proposta de sistematização, contribuíram para que os trabalhos sobre estilo musical se

21
A expressão "níveis hierárquicos" foi empregada na teoria sobre o Estilo Musical, desenvolvida por Meyer
(1996, p.13), para referir-se às diferentes modalidades de manifestação do estilo musical.
22
"Style is a replication of patterning, whether in human or in the artifacts produced by human behavior, that
results from a series of choices made within some set of constraints" (MEYER, 1996, p.4).
23
O estilo na música.
51

tornassem uma prática característica do ramo histórico da Musicologia. Baseado na proposta


de sistematização de Adler, Glenn Stanley (2001) classificou os estudos sobre estilo musical
como uma das práticas do Método Histórico, pertencente à categoria teórico-filosófica. Ao
definir os interesses desta categoria, Stanley destaca seu interesse por questões específicas
para os historiadores como o estudo do conteúdo individual de obras musicais a partir de uma
perspectiva do estilo, questões sobre causalidade, mudanças, periodização e biografias
(STANLEY, 2001, p.492).
A recorrência elevada de pesquisas sobre estilo musical, no século XX, corrobora a
afirmação de Stanley sobre a concentração dos estudiosos em práticas de investigação,
centradas na categoria teórico-filosófica em detrimento da categoria empírico-positivista cujo
interesse concentra-se na localização, estudo de documentos e o estabelecimento de fatos
objetivos a partir destes (STANLEY, 2001, p. 492). Segundo Stanley (2001, p. 493), o con-
ceito de estilo representou uma ideia dominante, na Musicologia do século XX, e tal fato pode
ser reconhecido a partir de diferentes exemplos24. Alguns dos exemplos mais conhecidos são
os estudos sobre estilo musical, produzidos por Charles Rosen. Os livros O Estilo Clássico -
Haydn, Mozart, Beethoven (publicado, em 1971) e A Geração Romântica (publicado, em
1995), elaborados pelo musicólogo, ilustram práticas investigativas voltadas ao estudo do
estilo musical do repertório pertencente a diferentes períodos da História da Música. O fato
desta prática de estudos envolver a investigação de aspectos da estrutura musical (BEL-
LMAN, 2007, p. 7) permite reconhecer, na história dos estudos musicológicos, o interesse
pela pesquisa sobre estilo musical por outros ramos da Musicologia. Desse modo, Stanley
(2001, p. 493) destaca o interesse pela investigação sobre o estilo musical por estudiosos da
Musicologia Sistemática, enquanto Meyer (1996, p. 37) observa seu interesse por críticos da
área musical.
Apesar do interesse pela investigação da estrutura musical, os estudos sobre estilo
podem compreender outras questões, além da discussão sobre os aspectos estruturais. Essa
visão é compartilhada por Meyer, o qual vê apenas na enumeração das características estru-
turais uma atividade limitadora à compreensão do estilo musical. Para Meyer (1996, p. 6), o
estudo sobre o estilo musical deve dirigir-se à investigação dos fatos que determinaram o
conjunto de restrições e o contexto particular no qual determinadas escolhas foram realizadas.

24
No verbete Disciplinas da Musicologia, Stanley (2001, p. 493) afirma que o estilo serviu de base à elaboração
de multi-volumes de histórias da música, tais como o Handbuch der Musikgeschichte (Manual de História da
Música), o Oxford History of Music, histórias sobre períodos musicais, estudos sobre gêneros musicais e tam-
bém, se constituiu parte de estudos biográficos.
52

Ao tratar sobre o conhecimento das restrições que determinaram um estilo, Meyer


(1996, p. 10) observa que este ocorre, na maioria das vezes, de maneira tácita entre os
ouvintes, performers e compositores. Cabe ao historiador e ao teórico musical a tarefa de
explicar este conhecimento tácito. A teoria de Meyer oferece aos interessados pela inves-
tigação sobre o estilo musical, diretrizes que procuram demonstrar a importância do
conhecimento histórico e teórico musicais, uma vez que o motivo pelo qual determinadas
características foram escolhidas por um compositor e quais modificações de sua linguagem,
são questões passíveis de serem respondidas com base no conhecimento histórico (MEYER,
1996, p. 69). Pode-se afirmar que o conhecimento histórico permite ao investigador do estilo,
reconstruir o contexto no qual determinado compositor atuou, permitindo uma compreensão
parcial sobre as razões que o levaram a determinadas escolhas. Esse contexto pode ser re-
construído a partir das fontes informativas dos hábitos, das predileções de um compositor e
das alternativas disponibilizadas pelas restrições de um determinado contexto cultural (MEY-
ER, 1996, p. 76).
Outra consideração de Meyer, relacionada ao emprego de procedimentos metodoló-
gicos nos estudos sobre estilo musical, diz respeito à possibilidade de seu estudo com base em
configurações do Método Científico25. Para Meyer, o estudo sobre estilo musical, além de
compreender a observação e a descrição das características estruturais de uma obra musical,
deve permitir a elaboração de hipóteses sobre as restrições que delimitaram os "fatos brutos",
termo usado pelo teórico ao referir-se às características de uma estrutura musical (MEYER,
1996, p. 11). Tanto Meyer quanto Stanley (2001, p. 638) reconhecem a presença das restri-
ções ou fatores condicionantes do estilo musical26. Tais hipóteses podem ser confirmadas
pelas fontes históricas, direcionando o investigador do estilo musical na busca de generali-
zações sobre a natureza das restrições que limitaram as escolhas de um compositor (MEYER,
1996, p. 26).

25
A relação entre o Método Científico e os estudos musicológicos foi tratada, brevemente, por Duckles e Pasler.
De acordo com os autores, o emprego do Método Científico pela Musicologia é relacionado por estudiosos ao
uso de padrões críticos no tratamento das evidências e o emprego de critérios objetivos na avaliação das fontes
(DUCKLES; PASLER, 2001, p. 488). Richardson (2012, p. 22) define o Método Científico como o "caminho da
ciência para chegar a um objetivo". Dessa maneira, a observação, a formulação de um problema, a elaboração de
hipótese, a busca de informações referenciais, a predição e a análise dos resultados, representam algumas das
etapas do Método Científico (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 66; RICHARDSON, 2012, p. 26-29).
26
Meyer e Pascall, admitem a possibilidade de influência de fatores externos sobre o estilo musical. Segundo
Meyer (1996, p. 20), as estratégias (escolhas composicionais) podem ser influenciadas por diferentes parâmetros
externos, tais como a ideologia de uma época e as condições de performance. A localização geográfica e a
cultura folclórica de um país também são considerados exemplos de fatores condicionantes do estilo musical
(PASCALL, 2011, p. 641).
53

Com base nas considerações anteriores, podemos concluir que o estudo sobre o estilo
musical representa uma prática de estudos, bastante recorrente na Musicologia Histórica. A
partir da teoria de Meyer, pudemos verificar a função e a relevância da pesquisa histórica para
os estudos sobre estilo musical. Embora Meyer, não mencione explicitamente o interesse pela
investigação do estilo musical por performers, ele destaca a possibilidade de envolvimento e
conhecimento tácito das restrições que delimitaram determinado estilo, por estes profissio-
nais. O envolvimento de performers-pesquisadores com esta prática investigativa será discuti-
da no item 2.2.1. Apesar da pouca frequência com que o termo estilo aparece, na recente Mu-
sicologia27, tendências recentes na produção de teses e dissertações - relacionadas à perfor-
mance pianística - têm demonstrado o interesse de pesquisadores quanto à elaboração de estu-
dos sobre o estilo musical.

2.2.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

Dentre as produções em Práticas Interpretativas/Performance, interessadas pela


investigação do estilo musical, foram selecionadas as produções, apresentadas no quadro
abaixo:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


1 Presença do elemento vocal Letícia dos UFRJ/Profa. Dra. Miriam 2008 Mestrado
operístico nas Sonatas para Santos Lima Grosman
piano de Mozart
O caráter vocal nas últimas Marianna de UFRJ/Profa. Dra. Miriam 2010 Mestrado
2 sonatas para piano de Lima Ferreira Grosman
Beethoven Pinto
A linguagem harmônica e a Edilson Leal da UFRJ/ Profa. Dra. Sônia 2010 Mestrado
3 expressão mística de Cunha Filho Goulart
Alexander Scriabin nas
Mazurkas opus 40
Elementos Impressionistas na Rize Lorentz UFMG/ Profa. Dra. 2010 Mestrado
4 obra composicional de Carlos Matheus Margarida Borghoff
Alberto Pinto Fonseca
Sobre tempo e ritmo na dança Robério UFRJ/ Prof. Dr. 2011 Mestrado
5 da Bachianas nº 4 de Heitor Molinari Neves Marcos Vinício Nogueira
Villa-Lobos: uma
interpretação
6 As texturas do estilo Alexander UFRGS/Prof. Dr. Ney 2011 Mestrado
concertante no primeiro Ribeiro de Lara Fialkow
movimento da Sonata K. 284
de W.A. Mozart

27
Talvez pelo fato de ter sido, extensivamente pesquisado, pelos musicólogos, no século XX (BEARD;
GLOAG, 2005, p. 172).
54

7 Entre estudos e polcas: a Isabela da UFMG/ Profa. Dra. Ana 2012 Mestrado
propósito do idiomatismo de Cunha Pavan Cláudia de Assis
Bohuslav Martinů (1890- Alvim
1959)
Quadro 3: Pesquisas sobre Estilo Musical

Com base no quadro acima, é possível observar certas características que têm per-
meado esta possibilidade investigativa, em produções vinculadas à linha/ área mencionada.
Trata-se de uma prática de estudo que se tem feito presente em pesquisas de Mestrado. Outra
característica, refere-se aos objetos de estudo que têm atraído a atenção de pesquisadores. A
partir da leitura dos títulos da pesquisa, podemos reconhecer a presença de estudos sobre
estilo musical de compositores pertencentes a diferentes nacionalidades. Quanto às possibi-
lidades de estudo sobre estilo, podemos notar a presença de pesquisas voltadas à investigação
de obra individual (2 dissertações) e conjunto de obras (5 dissertações). No quadro a seguir,
apresentamos as unidades de registro, isto é, expressões que se referem aos objetivos,
justificativas e procedimentos metodológicos, declarados pelos autores das pesquisas. Empre-
garemos as expressões em negrito em referência aos procedimentos metodológicos, ou
expressões sugestivas de tais procedimentos. Foram selecionadas as seguintes unidades de
registro, apresentadas pelo quadro abaixo:

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
[...] mostrar a importância da ópera no estilo composicional de Mozart como um
todo e em particular nas suas sonatas para piano" (LIMA, 2008, p. 12).
[...] panorama da história da ópera [...] (LIMA, 2008).
"fornecemos um panorama geral de todas as sonatas de Mozart para piano
1 solo de Mozart e aquelas empregadas nas árias de suas óperas, através de uma
análise comparativa dos padrões e desenvolvimentos melódicos encontrados UFRJ, LIMA, 2008
nos dois gêneros" (LIMA, 2008, p. 12).
[...] contribuindo para a construção de interpretações mais conscientes e interessan-
tes do1ponto de vista musical e estilístico [...] (LIMA, 2008, p. 12).
[...] características marcantes da obra do compositor e que podem servir como
auxílio interpretativo para os pianistas (LIMA, 2008).
[...] mostrar que Beethoven tinha a intenção de criar obras instrumentais, como no
caso das sonatas para piano, que traziam influência da música vocal (PINTO, 2010,
p. 9).
2 [...] apresentando o ambiente onde Beethoven viveu seus primeiros anos de vida UFRJ, PINTO, 2010
e da sua formação inicial como músico (PINTO, 2010, p. 11).
[...] abordando as diversas formas de periodização da obra de Beethoven (PIN-
TO, 2010, p. 11).
[...] ampliar os subsídios para a interpretação das obras pianísticas (2010, p. 9).
[...] traçar um perfil estilístico destas mazurcas dentro do contexto produtivo de
Scriabin (CUNHA FILHO, 2010).
[...] apontar procedimentos pianísticos que ajudarão o intérprete a enfatizar os
3 elementos composicionais da linguagem scriabiana presentes nas duas obras (CU- CUNHA FILHO,
NHA FILHO, 2010, p. 1). 2010
[...] análise interpretativa da execução da segunda Mazurca op.40 realizada pelo
próprio compositor, buscando identificar a maneira como estes elementos são trans-
55

mitidos por ele (CUNHA FILHO, 2010, p. 1).


"buscaremos obter um parâmetro acerca da evolução composicional de Scria-
bin e o processo de transição entre as duas fases, a maneira como ele se distancia
do romantismo e as motivações que levaram o compositor a busca de uma nova lin-
guagem, bem como a evolução de suas aspirações expressivas" (CUNHA FILHO,
2010, p. 1).
[...] conteúdo biográfico [...] (CUNHA FILHO, 2010, p. 1).
"realizamos um estudo estilístico segundo a concepção de Bellman" (MATHEUS,
2010).
4 "esse estudo nos forneceu subsídios para a execução mais coerente" (MATHEUS, UFMG,
2010, p. 13). MATHEUS, 2010
[...] dados biográficos de Carlos Alberto Pinto Fonseca e sua formação musical
[...] (MATHEUS, 2008, p. 13).
"a análise rítmica de outras obras para piano do compositor mostra que tais ca-
racterísticas observadas constituem-se em marcas estilísticas de Villa-Lobos" (NE-
5 VES, 2011, p. 5). UFRJ, NEVES,
[...] revisão histórica do aparecimento do chamado nacionalismo musical no Brasil 2011
(NEVES, 2011, p. 50).
[...] chegar a uma coerente proposta interpretativa [...] (NEVES, 2011, p. 12).
[...] construir uma concepção de estilo (LARA, 2011).
[...] possibilitar a um interprete maiores meios de assimilação do estilo de um
6 compositor (LARA, 2011, p. 60). UFRGS, LARA,
[...] verificar as texturas presentes no primeiro movimento da Sonata em Ré Maior 2011
k 284 [...] que também são apresentadas em obras do estilo concertante do mesmo
compositor, por meio de comparações entre a escrita pianística e a escrita ins-
trumental e orquestral [...] (LARA, 2011, p.7).
[...] descrição dos principais elementos de sua linguagem (ALVIM, 2012, p. 33).
[..] compreensão do estilo composicional de Martinů (ALVIM, 2012, p. 4).
7 "esse estudo nos forneceu subsídios para a execução mais coerente" UFMG, ALVIM,
(ALVIM, 2012, p. 13). 2012
"partimos da biografia do compositor" (ALVIM, 2012).
[...] olhar para a vertente composicional impressionista do compositor [...]
(ALVIM, 2010, p. 91).
Quadro 4: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas ao estudo sobre Estilo Musical

A partir de uma observação das unidades de registro do quadro acima, é possível


notar o vínculo de tais produções com a disciplina Musicologia Histórica por meio das
declarações dos autores quanto ao propósito de realização do estudo estilístico. Conforme
visto no início deste capítulo, os estudos sobre Estilo Musical representam uma das práticas
características do Método Histórico, na Musicologia (DUCKLES; PASLER, 2001, p. 493).
Expressões como “estilo composicional”, “perfil estilístico” e “marcas estilísticas” demons-
tram o interesse de pesquisadores por esta prática de investigação.
As unidades de registro do Quadro 3, também ilustram diferentes possibilidades da
Pesquisa Histórica relacionadas à investigação sobre o estilo musical. A reconstrução do
contexto histórico, no qual as obras pesquisadas encontram-se inseridas, tem sido realizada de
diferentes maneiras. Dessa forma, pode-se identificar o interesse dos autores pela investigação
do ambiente musical no qual determinado compositor atuou, pelo estudo sobre as fases
composicionais, pela elaboração de estudos biográficos e a abordagem sobre vertentes de
pensamento que influenciaram a produção de um período.
56

O vínculo das produções com a linha de pesquisa/área de concentração Perfor-


mance/ Práticas Interpretativas também é ilustrado pelas unidades de registro, conforme de-
monstrado por algumas citações retiradas das pesquisas. De modo geral, os termos "constru-
ção de interpretações mais conscientes” (LIMA, 2008), “subsídios para a interpretação”
(PINTO, 2008) e “subsídio para execução mais coerente" (MATHEUS, 2010) são apresen-
tados como justificativas para o emprego do estudo sobre estilo musical em produções
preocupadas com a elaboração da interpretação musical, demonstrando que tal prática de estu-
do tem sido empregada como um instrumento a favor da interpretação musical.
A observação de ambos os quadros também permite identificar diferentes
possibilidades quanto à investigação sobre o estilo musical as quais variam em relação à
abrangência de seus objetos de estudo e propósitos específicos. A fim de facilitar a
compreensão de tais aspectos e uma caracterização metodológica das produções, as pesquisas
mencionadas foram agrupadas de acordo com os propósitos específicos, declarados pelos
autores. Dessa maneira, o emprego desta prática de estudo aparece relacionada aos seguintes
propósitos:
1- Demonstrar a influência de determinado gênero sobre outro, no contexto da obra
de um mesmo compositor;
2- Identificar o estilo de determinado aspecto da estrutura musical em obras relacio-
nadas a um mesmo gênero musical 28 ou obra individual;
3- Investigar a influência de uma corrente de pensamento musical no conjunto de o-
bras de um compositor;
4- Identificar o estilo idiomático.29
O estudo sobre estilo musical direcionado à investigação sobre a influência de
determinado gênero sobre outro, sendo ambos pertencentes a um mesmo compositor, aparece
como tendência presente em pesquisas desenvolvidas pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Na instituição, foram identificadas duas dissertações voltadas para este tipo
de abordagem. Trata-se das pesquisas Presença do elemento vocal operístico nas Sonatas pa-
ra piano de Mozart, de Lima (2008), e O caráter vocal nas últimas sonatas para piano de

28
Termo usado por Aristóteles para classificar e categorizar obras de arte. Na área musical, o termo é associado
a uma classe, tipo ou categoria sancionada pela convenção (SAMSON, 2001, p. 657), ou conjunto de códigos
influenciados por uma "cultura musical" (BEARD; GLOAG, 2005, p. 72).
29
O idiomático refere-se ao estilo apropriado ao instrumento para o qual uma música particular foi escrita
(APEL, 1969, p.401). Para Alvim (2012, p.100), o idiomático de uma obra musical resulta da combinação de três
elementos: a linguagem musical, o instrumento (conhecimento do compositor sobre as possibilidades técnicas e
expressivas do instrumento) e o intérprete. O estilo idiomático pode ser compreendido como a maneira pela qual
um compositor molda sua linguagem levando em consideração os elementos citados (ALVIM, 2012, p.100).
57

Beethoven, de Pinto (2010). Ambas dissertações, orientadas pela mesma docente da institui-
ção, apresentam procedimentos metodológicos semelhantes. Em seu estudo, Lima (2008)
procura demonstrar as relações existentes entre a música vocal-operística de Mozart e suas
Sonatas para piano. Após apresentação de pesquisa histórica voltada à exposição de
considerações sobre a gênese e desenvolvimento da ópera, no século XVIII, a autora oferece
considerações sobre o contexto de óperas e sonatas compostas por Mozart. Seu estudo
estilístico é antecedido por uma ampla contextualização histórica que compreende o estudo
sobre os gêneros Ópera e Sonata, compostos por Mozart. A autora adota como principais
procedimentos metodológicos a Análise Documental de partituras, gravações e o estudo
comparativo entre diferentes gêneros musicais. Os procedimentos empregados permitiram à
autora identificar a presença de elementos vocais-operísticos como o Estilo Parlante30,
coloraturas31 articulações sucessivas, arpejos, escalas, grupetos, gargalhada32 e citações na
escrita pianística de algumas das Sonatas para Piano de Mozart (LIMA, 2008, p. 72-91).
Semelhantemente ao estudo anterior, a dissertação elaborada por Pinto (2010),
também apresenta o propósito de realizar um estudo comparativo entre diferentes gêneros
musicais a fim de ressaltar o estilo musical característico da escrita pianística. Em seu estudo,
Pinto tem o objetivo de "demonstrar a intenção" de Beethoven quanto ao emprego de padrões
melódicos característicos do Lied em algumas de suas Sonatas para piano (PINTO, 2010, p.9).
O estudo estilístico também é antecedido por considerações históricas sobre os anos de
formação do compositor e sua relação com a composição de Lied. Assim como Lima, a autora
fundamenta-se em estudos que trataram da questão sobre a transposição de elementos carac-
terísticos da música vocal para a escrita pianística. O livro The classical style: Haydn, Mozart,
Beethoven, publicado por Charles Rosen, em 1971, aparece como referencial teórico adotado
pelas pesquisas de Pinto e Lima, tendo servido de fundamentação para as autoras tratarem
sobre a questão relacionada à transposição de elementos da música vocal para a escrita
pianística. Ambas as pesquisas fundamentam-se em citações de Charles Rosen relacionadas a
esta questão (LIMA, 2008, p. 11; PINTO, 2010, p. 40). Entretanto, além de Charles Rosen, tal
questão também foi tratada por outros teóricos e intérpretes. No estudo de Pinto (2010, p. 10),
a gravação em vídeo dos depoimentos de András Schiff, proferidos em palestra, foi emprega-
30
O Estilo Parlante refere-se à maneira de cantar que privilegia a articulação do texto próxima à da fala,
caracterizando por Mozart em muitas de suas Óperas (LIMA, 2008, p. 72-73).
31
Termo em italiano empregado por Mozart em suas árias a fim de oferecer ao executante a oportunidade de
demonstrar suas habilidades técnicas (LIMA, 2008, p. 75).
32
Nomenclatura empregada pela autora da pesquisa para referir-se à figuração melódica caracterizada pelo em-
prego de escala descendente em stacatto. Tal padrão melódico foi identificado pela autora da pesquisa na ópera
Idomeneo e no 3º movimento da Sonata para piano K 570 de Mozart (LIMA, 2008, p. 88).
58

da como fonte documental pela autora a fim de demonstrar a relação entre música vocal e a
escrita pianística.
A identificação do estilo em gênero musical, com base na investigação da estrutura-
ção musical, também aparece em propostas de pesquisas desenvolvidas pela UFRJ. Trata-se
das dissertações: A linguagem harmônica e a expressão mística de Alexander Scriabin nas
Mazurkas opus 40, de Cunha Filho (2010), e Sobre tempo e ritmo na Dança da Bachianas
Brasileiras nº 4 de Heitor Villa-Lobos: uma interpretação, de Neves (2011). Em sua pesqui-
sa, Cunha Filho oferece um estudo estilístico a partir do reconhecimento de padrão harmônico
utilizado por Scriabin em duas de suas Mazurcas para piano. Metodologicamente, o autor
antecede seu estudo estilístico por meio da apresentação de dados biográficos e considerações
históricas acerca das principais influências exercidas sobre a linguagem musical do compo-
sitor. Dessa maneira, destaca as influências do Expressionismo e Impressionismo na lin-
guagem de Scriabin (CUNHA FILHO, 2010, p. 13). Em sua abordagem estilística, destaca em
trechos da obra em estudo a presença do chamado Acorde Místico33 e Escala Acústica. O
estudo da linguagem harmônica do compositor, fundamentado historicamente, permitiu ao
autor classificar as Mazurcas nº 1 e nº 2 do opus 40 como obras de transição. Outro aspecto
metodológico possível de ser observado na pesquisa empreendida por Cunha Filho, refere-se
ao emprego do Método Indutivo34, característico da Análise Estilística (BENT; POPLE, 2001,
p. 546). O estudo comparativo entre ambas as Mazurcas permitiu ao autor da pesquisa identi-
ficar aspectos harmônicos comuns, a saber, a identificação dos chamados acordes místicos.
O propósito de realização de estudo estilístico com base na observação de aspectos
rítmicos apresenta-se como proposta da dissertação elaborada por Neves (2012). Sua pesquisa
teve como objetivo oferecer uma abordagem interpretativa para a "Dança" das Bachianas
Brasileiras nº 4, de Villa Lobos (NEVES, 2011, p. 12). Metodologicamente, o autor emprega
a pesquisa histórica voltada à investigação do contexto histórico no qual a obra encontra-se
inserida. Desse modo, oferece considerações históricas sobre o Movimento Modernista, no
Brasil, e breve abordagem sobre o gênero popular que serviu de inspiração a Villa-Lobos para

33
Diz respeito ao Acorde característico da linguagem harmônica de Scriabin formado por meio da sobreposição
de intervalos de quartas aumentadas, justas e diminutas (CUNHA FILHO, 2010, p. 16). A denominação deste
acorde foi dada pelo musicólogo inglês Arthur Eaglefield Hull. De acordo com Cunha Filho (2010, p. 17), Scria-
bin consolidou sua linguagem harmônica sobre a construção deste acorde.
34
No verbete "Analysis" do The New Grove Dictionary of Music and Musicians, o Método Indutivo é apresenta-
do como um procedimento característico da Análise Estilística que consiste na comparação entre obras musicais
com propósito de identificar semelhanças e diferenças (BENT; POPLE, 2001, p. 546).
59

a composição do Miudinho para piano. O autor emprega os métodos dedutivo35 e indutivo,


característicos da Análise Estilística, a fim de reconhecer a linguagem rítmica do compositor
na elaboração do Miudinho para piano. Por isso, compara conjunto de obras para piano de
Villa-Lobos a fim de observar a recorrência de padrões rítmicos. O estudo comparativo
também ocorre entre o Miudinho e obras precedentes escritas pelo compositor com o objetivo
de verificar semelhanças em relação ao tratamento rítmico. A presença de deslocamentos rít-
micos, ostinatos e polirritmias apresentam-se como algumas das características rítmicas recor-
rentes em obras para piano do compositor (NEVES, 2011, p. 70).
O estudo estilístico com base na investigação da textura musical apresenta-se como
proposta de estudo em pesquisa desenvolvida pela UFRGS. Na instituição, foi identificada a
dissertação intitulada As texturas do estilo Concertante no primeiro movimento da Sonata
K 284 de W. A. Mozart, elaborada por Lara (2011). A pesquisa tem como objetivo demons-
trar a presença de texturas compartilhadas entre o primeiro movimento da Sonata para piano
em Ré Maior K 284, de Mozart, e obras em estilo concertante do mesmo compositor (LARA,
2011, p. 7). Metodologicamente, a pesquisa emprega a Análise Documental de obras orques-
trais de Mozart a fim de identificar o tratamento textural conferido pelo compositor. O livro
The Technique of Orquestration, de Kent W. Kennan (1970) citado por Lara (2011), aparece
como fundamentação para o reconhecimento do estilo textural em obras orquestrais do
compositor. Por meio de estudo comparativo entre diferentes gêneros musicais, o autor
demonstra a transposição de texturas, presentes em obras orquestrais, para a escrita pianística
da Sonata K 284 de Mozart. Reconhece a presença de acordes em tremoli, dobramentos em
oitavas, melodia solo e trinados como exemplos de texturas compartilhadas entre a escrita
pianística e obras orquestrais.
A investigação sobre a influência de uma determinada vertente de pensamento em o-
bras musicais também vem sendo realizada com propósito de reconhecer o estilo musical.
Relacionada a este propósito de estudo, encontra-se a dissertação intitulada Elementos
Impressionistas na obra composicional de Carlos Alberto Pinto Fonseca, de Matheus (2010),
pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Música da UFMG. A dissertação procura
demonstrar a presença de elementos característicos do Impressionismo Musical na obra para
piano do compositor. Metodologicamente, a pesquisa emprega a Análise Documental de
manuscritos e a comparação destes com estudos que tratam de aspectos estruturais caracterís-

35
De acordo com Bent e Pople, trata-se de método característico da Análise Estilística que consiste na compara-
ção de obra musical com um grupo de obras precedentes e contemporâneas. Tanto o método indutivo quanto o
dedutivo foram tratados por Guido Adler em seu livro Der Stil in der Musik (1911).
60

ticos do Movimento Impressionista. Sua abordagem estilística parte do conhecimento de


padrões musicais, pertencente a esta vertente musical, para depois identificá-los na escrita
pianística do compositor. A partir do Método Dedutivo (comparação entre os manuscritos e
estudos elaborados por especialistas), destaca a presença da escala de tons inteiros, harmonia
estendida, escalas modais, paralelismo, trechos de indefinição harmônica e presença de ele-
mentos tímbricos evocativos em conjunto de obras para piano e Música de Câmara36
(MATHEUS, 2010, p. 69-83).
A última produção sobre estilo musical aqui abordada será a dissertação Entre
estudos e polcas: a propósito do idiomatismo pianístico de Bohuslav Martinů (1890-1959), de
Alvim (2012), também pertencente ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Diante do objetivo principal de identificar os elementos carac-
terísticos do idiomatismo pianístico do compositor, a pesquisa inicia-se com uma ampla
contextualização histórica por meio de estudo biográfico, estudo sobre gêneros musicais (Pol-
ca e Estudo) e estilo musical do compositor. Pode-se dizer que a pesquisa ilustra diferentes
tipos de estudo sobre estilo musical. O primeiro, voltado para a identificação de características
da estruturação musical e o segundo, voltado para a identificação do seu idiomatismo. Entre-
tanto, a primeira possibilidade de estudo sobre estilo musical ocorre a partir de uma revisão
bibliográfica baseada em estudos elaborados por especialistas na obra e vida do compositor.
Não há aqui uma interação da autora com a investigação da estruturação musical, mas uma
compilação de informações sobre o estilo do compositor. Desse modo, identifica a presença
de elementos da música tcheca, o estilo pastoral, a justaposição rítmica (combinação de ritmos
do jazz e da música tcheca), a influência da estética stravinskiana, a influência da música
Barroca e o confronto entre modos maiores e menores como características recorrentes na
música do compositor. Ao tratar sobre o idiomatismo do compositor, a autora emprega o
estudo sobre estilo musical com propósito de investigar o fenômeno intertextual na escrita
pianística. Por meio do emprego do Método Dedutivo, a autora observa o aproveitamento de
procedimentos empregados por Chopin e Debussy que é realizado por Martinů em alguns de
seus estudos (ALVIM, 2012, p. 78-92). A abordagem do idiomático não se limita à apresen-
tação da intertextualidade37 na escrita de Martinů, mas também se realiza por meio da expo-

36
A identificação de elementos característicos da música impressionista compreendeu uma amostragem de cinco
obras constituídas por peças para piano e Música de Câmara. Foram selecionadas as obras Adeus às Margens de
um Rio, O Tempo perdido, Poema do Gitanyali nº 84, Volta para piano e canto e a peça Paisagem de minha
Terra (MATHEUS, 2010).
37
Em Musicology: the Key Concepts, Beard e Gloag (2005, p. 95) relacionam o termo "intertextualidade" à ideia
de um texto como um produto estabelecido por meio da relação ou influência de outros textos.
61

sição de aspectos relacionados ao código técnico-pianístico38 do compositor. Dessa maneira,


considera o emprego de movimentos assimétricos simultâneos, movimentos alternados entre
as mãos, figurações com diferentes articulações para cada uma das mãos e a movimentação
caracterizada pelo deslocamento das mãos entre diferentes oitavas do piano, como algumas
das características que configuram o código técnico-pianístico do compositor.
Após a abordagem apresentada sobre alguns dos propósitos e possibilidades meto-
dológicas que podem ser empregadas nos estudos sobre estilo musical, acreditamos na valida-
de em tecer algumas considerações sobre a presença desta prática investigativa em trabalhos
desenvolvidos nas linhas de pesquisa Práticas Interpretativas e Performance Musical. Por
meio de uma observação das unidades de registro apresentadas pelos autores, é possível
relacionar a realização dos estudos estilísticos ao propósito de interpretação musical. Entre-
tanto, acreditamos que somente a partir de uma compreensão sobre a relação entre o conceito
de interpretação musical com a atividade da performance, seja possível compreender algumas
das possíveis razões que têm favorecido o aparecimento de estudos sobre o estilo musical em
tais produções, além do fato deste representar uma prática de estudo consolidada na Musi-
cologia Histórica. Apesar do conceito de interpretação musical representar um termo que
adquiriu nos estudos musicológicos diferentes conotações ao longo do tempo (SILVA, 2005,
p. 112), uma definição geral para o termo é apresentada por Davies e Sadie (2001, p. 498) no
verbete do The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Os autores associam a
interpretação à compreensão de uma obra musical evidenciada durante a performance musical
(DAVIES; SADIE, 2001, p. 498). Quando relacionada à atuação do performer, o termo "inter-
pretação" é definido pelos autores como o processo de escolhas as quais podem ou não
representar o produto de um ato crítico39. Ambos admitem que o produto apresentado por uma
performance, quando distanciado de uma leitura das diretrizes do compositor, das convenções
e do conhecimento estilístico, pode ser passível de questionamentos ou contestações
(DAVIES; SADIE, 2001, p. 498). A interpretação, segundo a concepção dos autores, pode ser
promovida mediante o conhecimento das "tradições históricas da performance" (DAVIES;

38
Tal expressão foi empregada pelo musicólogo e pianista José Eduardo Martins no estudo intitulado A
pianística de Francisco Mignone. A prática de mãos alternadas, notas repetidas, emprego de fórmulas baseadas
em posicionamentos dos cinco dedos e emprego de recursos variados para a obtenção de recursos tímbricos, são
algumas das características, descritas pelo musicólogo e que compõem o código técnico-pianístico, de Francisco
Mignone (MARTINS, 1997, p. 61-80).
39
No verbete "Interpretation" do The New Grove Dictionary of Music and Musicians, os autores afirmam que a
performance pode ser informada, inspirada e influenciada por uma interpretação crítica. A interpretação crítica,
por sua vez, pode manifestar-se durante a verbalização do performer acerca de sua compreensão de uma obra
musical (DAVIES; SADIE, 2001, p. 498).
62

SADIE, 2001, p. 499), ou seja, das convenções que regem o significado de uma notação
musical. Com base nestes autores, pode-se admitir a importância do conhecimento histórico
para uma interpretação musical. Uma concepção de interpretação, bastante semelhante, é
oferecida por Walls (2011) em seu estudo que trata sobre a importância do conhecimento
histórico para o performer moderno. Após relacionar o conceito de interpretação ao estabele-
cimento de significado (busca pela compreensão da escrita mediante o conhecimento históri-
co), o teórico admite que o processo de interpretação deve ser realizado de maneira contextua-
lizada (WALLS, 2011, p. 36). Ele afirma:

Se é responsabilidade do intérprete realizar as intenções do compositor, então o pri-


meiro passo é, sem dúvida, tentar compreender plenamente a música. Alguns aspec-
tos dessa compreensão não implicarão diretamente (ou ao menos não ostensivamen-
te) um sentido histórico. A análise, obviamente, é uma parte essencial do processo.
Porém são muitos os aspectos da compreensão da música (que em essência é o mes-
mo que lê-la corretamente) que requerem uma perspectiva histórica (WALLS, 2011,
p. 51, tradução nossa).

Fundamentados nas declarações anteriores, acreditamos que o estudo sobre o estilo


musical de determinada obra pode proporcionar ao intérprete não somente um conhecimento
relacionado aos aspectos estruturais de uma obra musical, mas oferece a possibilidade de
compreensão da escrita (um dos sentidos para o termo interpretação) de maneira histori-
camente contextualizada, o que poderia explicar a importância e a presença dos estudos sobre
estilo musical no conjunto das dissertações aqui tratadas. As unidades de registro apresentadas
pelos autores representam um forte argumento para a função do estudo estilístico como um
subsídio à interpretação musical a ser empreendida pelo pesquisador-performer. Contudo, as
pesquisas mencionadas representam aquelas que têm se apoiado em uma prática investigativa,
bastante consolidada, nos estudos musicológicos e relacionados às práticas interpretativas -
um aspecto corroborado pelos resumos das primeiras produções, vinculadas à linha de Prá-
ticas Interpretativas e pesquisa bibliográfica apresentada. Algo que permite identificar nas
recentes perspectivas de pesquisa em performance pianística a relação que vem sendo mantida
entre certos estudos em performance pianística e os paradigmas tradicionais dos estudos em
Performance Musical, com foco na investigação do texto musical.

2.3 EDIÇÕES MUSICAIS: CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A PRÁTICA DE ESTU-


DO E SUA RELAÇÃO COM A PESQUISA HISTÓRICA

A Edição Musical representa uma prática de estudo fundamental para a Musicologia.


O objetivo central desta atividade consiste na preparação de um texto mediante trabalho de
63

pesquisa e reflexão do editor sobre as fontes transmissoras do texto musical (FIGUEIREDO,


2000, p. 66; GRIER, 2001, p. 23). Pode-se afirmar que a “razão de ser” de toda edição musi-
cal é a divulgação de um texto o qual poderá atender aos interesses de performers ou servir
para a realização de estudos musicológicos.
Historicamente, a edição musical é considerada uma prática de longa tradição nos
estudos musicológicos. Conforme informado por Duckles (2001, p. 499) as primeiras Edições
Críticas tiveram sua origem na segunda metade do século XIX, nascidas sobre a influência da
Crítica Textual. São exemplos deste tipo de edição as denominadas Gesamtausgaben, ou seja,
as obras completas de Bach, Beethoven, Mozart, Lassus, Palestrina, Schubert e outros. Da
mesma época, encontram-se as Denkmäler voltadas para a publicação de “monumentos da
música nacional,” como exemplo a Collectio Operum Musicorum Batavorum (1844-1855),
editadas por Franz Commer e o Trésor Musical (1865-1893), de Julien van Maldeghem
(CASTAGNA, 2008, p. 20; DUCKLES, 2001, p. 498-499).
Desde a segunda metade do século XX, é possível reconhecer no histórico que trata
sobre os estudos musicológicos o constante interesse pela atividade de edição musical. Tal
atividade, juntamente com outros projetos filológicos40, serviu de suporte para diversas
publicações e produções de dissertações nos EUA e Europa (STANLEY, 2001, p. 495). No
Brasil, a elaboração de edições musicais representa uma das atividades mais recorrentes nos
estudos musicológicos, principalmente, devido à influência das Gesamtausgaben e Denk-
mäler. De acordo com Castagna (2008, p. 21), tal influência contribuiu, na década de 70, para
o aparecimento de edições de obras musicais de José Maurício Nunes Garcia, Carlos Gomes,
André da Silva Gomes, Henrique Oswald e outros. Tais exemplos permitem ilustrar a rele-
vância da prática de edição musical nos estudos musicológicos, corroborando a afirmação de
Browner, que considera o preparo de edições críticas como uma atividade de interesse pra-
ticamente exclusivo para a disciplina Musicologia Histórica (BROWNER, 2009, p.13).
A relação entre a prática de edição musical e o Método Histórico é ilustrada por
Grier a partir de categorias de problemas comuns que devem ser levados em consideração
pelos pesquisadores no processo de elaboração de edições musicais. Independentemente do
projeto editorial desenvolvido, Grier considera fundamental o conhecimento sobre a natureza

40
No verbete "Disciplinas da Musicologia", Stanley (2001, p. 494) comenta sobre o emprego de procedimentos
filológicos pelos estudos musicológicos, no período posterior à 2ª Guerra Mundial. Como exemplo de práticas
musicológicas, caracterizadas pelos emprego de tais procedimentos, destaca: a elaboração de edições críticas, ca-
tálogos temáticos e estudos com base em manuscritos.
64

41
e a situação histórica das fontes transmissoras de um texto musical. Na visão do teórico, a
investigação de tais aspectos se constitui numa categoria de problemas comuns que podem ser
tratados com base na Pesquisa Histórica (GRIER, 2001, p. 8). Por isso, Grier considera a
prática de edição musical um “empreendimento histórico” (GRIER, 2001, p. 36).
Além destas questões passíveis de serem tratadas pela pesquisa histórica, é possível
identificar a presença de problemas ou dificuldades enfrentadas por editores interessados na
elaboração de textos musicais. Diferentes especialistas envolvidos com o preparo de edições
musicais têm destacado a presença de incorreções por parte do compositor como proble-
mática a ser tratada no processo de preparação de textos. Sobre esse aspecto, Figueiredo
(2000, p. 25) observa que todo texto musical está sujeito à presença de erros, seja por parte do
compositor ou do editor. De acordo com D’Agostini e Monteiro (2007, p.13) são diversos os
exemplos de erros presentes em edições de compositores brasileiros.
Se a pesquisa histórica é apresentada por Grier como possibilidade de procedimento
passível de ser empregado a fim de favorecer o conhecimento sobre a natureza e a situação
histórica das fontes, Grier, juntamente com outros especialistas, tem ressaltado o seu potencial
para a identificação de erros de edição através do emprego do estudo estilístico (FIGUEIRE-
DO, 2000, p.30; GRIER, 2001, p.29; HAZAN, 2004, p.173). Segundo Grier, o estudo sobre o
estilo musical pode colaborar para o reconhecimento da presença de erros, uma vez que o
reconhecimento de padrões pode contribuir para o processo de leitura do editor. Tal reco-
nhecimento, por sua vez, pode colaborar para a identificação de leituras que se encontram
distantes dos limites estilísticos de uma obra musical (GRIER, 2001, p. 891; MEYER, 1996,
p. 31-33). Sabendo-se que o estudo sobre estilo musical representa uma das práticas do Méto-
do Histórico da Musicologia (pois contempla a abordagem do objeto de estudo de maneira
historicamente contextualizada) é possível identificar novamente no discurso de Grier a im-
portância e o potencial do conhecimento histórico no tratamento de questões relacionadas ao
processo de preparo de edições musicais.
Outro aspecto possível de ser considerado em relação à potencialidade do emprego
do Método Histórico no tratamento de questões ou dificuldades enfrentadas no processo de
elaboração de edições musicais, diz respeito à necessidade de interpretação da notação
musical por parte do editor (GRIER, 2001, p. 2). Ao estabelecer uma analogia entre as figuras
do editor e do performer, Grier (2001, p. 27) observa que ambas têm a responsabilidade de
interpretar o significado de uma notação musical. Com base nesta analogia, Hazan apresenta

41
Por situação histórica entendo o contexto histórico no qual uma obra encontra-se inserida.
65

uma similaridade entre os propósitos da atividade de edição musical com a disciplina Práticas
Interpretativas, já que ambas se interessam pela compreensão das convenções que regem o
significado de uma notação musical. Para o historiador, "as duas categorias musicológicas se
cruzam e se sobrepõem em diversos aspectos" (HAZAN, 2004, p. 172). Sabendo-se que uma
notação musical pode adquirir diferentes significados, conforme a convenção de uma época,
cabe ao editor por meio da investigação histórica reconstruir os fatos relacionados à con-
venção que rege o significado de um texto musical. No entender de Grier (2001, p. 27) “a es-
sência da edição é a investigação da natureza semiótica da notação musical, e esta investi-
gação é também um empreendimento histórico" 42.
Além da possibilidade de diálogo com diferentes práticas do Método Histórico, a
elaboração de edição musical pode admitir o emprego de procedimentos característicos de
outras áreas do conhecimento, tais como a Filologia. Conforme visto anteriormente, as
primeiras edições críticas resultaram do diálogo com a Filologia, resultado do treinamento de
historiadores musicais nesta ciência (DUCKLES, 2001, p. 498). Em sua tese, Figueiredo
apresenta as principais teorias e metodologias que têm subsidiado a elaboração de diferentes
tipos de edições musicais. São elas: a Crítica Textual, a Crítica das Variantes, a Crítica Gené-
tica e a Crítica da Recepção (FIGUEIREDO, 2000, p. 21). Pode–se dizer que tanto a compa-
ração entre as variantes de um texto quanto a Estemática são procedimentos bastante empre-
gados pela Filologia para estabelecimento de um texto (GRIER, 2001, p. 15).
Criada pelo alemão Karl Lachmann (1793-1851) a Estemática representa um dos
métodos mais empregados por estudos desenvolvidos pela Crítica Textual e pela Musicologia
Histórica no preparo de edições críticas. Este método tem o propósito de estabelecer uma re-
lação de filiação entre as diferentes fontes de transmissão de um texto por meio da construção
do estema, tipo de representação gráfica (espécie de árvore genealógica) de todos os meios de
transmissão de um texto musical. Tal metodologia, também conhecida como o método do
“erro comum”, possibilita a identificação de erros numa fonte a partir da construção do
estema (FIGUEIREDO, 2000, p. 31). Em linhas gerais, pode-se dizer que a elaboração de um
estema pelo pesquisador favorece a reconstrução do chamado arquétipo, isto é, um texto
próximo ao original por meio da identificação e eliminação de erros (FIGUEIREDO, 2000, p.
37).

42
"The essence of editing is an investigation of the semiotic nature of musical notation, and that this inves-
tigation is also a historical undertaking" (GRIER, 2001, p.27).
66

Outro exemplo de técnica de pesquisa bastante empregada no preparo de edições


críticas é a chamada Crítica das Variantes, interessada pelas modificações do texto musical,
seja pelas mãos do compositor, editor e/ou copista. Tais modificações introduzidas em manus-
critos autógrafos podem ocasionar o aparecimento de divergências entre diferentes cópias de
um manuscrito, como demonstrado por D’Agostini e Monteiro durante o preparo da edição
crítica do Romance op. 7 nº 2 para piano e violino, de Henrique Oswald. No estudo com-
parativo entre os três manuscritos autógrafos do compositor, os pesquisadores precisaram
lidar com as divergências apresentadas entre os manuscritos como as diferenças na notação de
alturas, sinais indicativos de dinâmica, articulação, agógica e expressões. O texto gerado pelos
autores representou a seleção de aspectos notacionais presentes nos três autógrafos do
compositor, fundamentados no conhecimento estilístico da obra (D'AGOSTINI; MONTEI-
RO, 2007, p. 2).
Após as breves considerações sobre o propósito de uma edição musical e sua relação
com a Pesquisa Histórica é válido lembrar que cada projeto editorial apresenta peculiaridades
metodológicas, pois qualquer obra musical é produto de circunstâncias sociais, históricas e
culturais únicas (GRIER, 2001, p. 20). Apesar de representar uma prática comum da Musico-
logia Histórica pode-se notar em diversos estudos da disciplina o diálogo com procedi-
mentos de outras áreas do conhecimento, tais como a Literatura e a Filologia, caracterizando a
presença da interdisciplinaridade enquanto meio de investigação. Além disso, exemplos da
literatura os quais não foram aqui tratados admitem o diálogo da prática de edição musical
com a Análise Musical. Todavia, conforme demonstrado, estudiosos têm considerado sua
prática como um empreendimento, sobretudo, histórico (BROWNER, 2009; DUCKLES,
2001, p. 494; GRIER, 2001, p. 36; HAZAN, 2004, p. 168).
O vínculo de teses e dissertações (desenvolvidas na linha de pesquisa Práticas In-
terpretativas) com a elaboração de edição musical será examinado no subtópico a seguir. Se
desde os primórdios dos estudos musicológicos é possível notar o interesse de musicólogos
(do ramo histórico) quanto ao oferecimento de edições musicais à intérpretes e pesquisadores,
as produções que serão tratadas demonstrarão o envolvimento de performers-pesquisadores
com a elaboração de diferentes tipos de edições musicais.

2.3.1 Características gerais e procedimentos metodológicos empregados

Em relação às tendências recentes na produção vinculada à performance pianística,


foram identificadas os seguintes trabalhos relacionados à prática de edição musical:
67

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


1 Trio (1930) para Piano, Flávio Augusto UFRJ/ Profa. Dra. Myrian 2008 Mestrado
Violino e Violoncelo de Borges de Dauelsberg
Francisco Braga: análise Oliveira
histórica e uma nova proposta
de edição
2 A composição brasileira de Helder Araújo USP/ Prof. Dr. Mário 2009 Doutorado
piano para a mão esquerda Ficarelli
3 Concerto nº 2 para piano e Cláudio UNIRIO/ Prof. Dr. 2009 Doutorado
orquestra de Cláudio Santoro: Dauelsberg Ricardo Tacuchian
análise dos 3 movimentos e
seu processo de edição
Vida e obra de Alceu Cláudio Laiber UDESC/ Prof. Dr. 2010 Mestrado
4 Camargo: um retrato de Thompson Guilherme Antônio
música erudita no estado do Sauerbronn de Barros
Espírito Santo
A Edição Crítica e Revisada Thiago de USP/ Prof. Dr. Fernando 2011 Mestrado
5 dos Noturnos para piano de Freitas Costa Crespo Corvisier
Almeida Prado
Harry Crowl: Marinas para Luiz 2011 Mestrado
Piano- Aspectos da Guilherme
6 Construção da Performance Pozzi UNICAMP/ Prof. Dr.
nas Peças 'Guaratuba e Mauricy Matos Martin
Antonina', 'Cabo da Roca' e
'Piran Portorož'
Trio op. 9 de Henrique Hélcio Vaz do UFMG/ Profa. Dra. 2012 Mestrado
7 Oswald: Uma edição crítica Val Margarida Borghoff
Quadro 5: Pesquisas voltadas à elaboração de edições musicais

Com base na observação do quadro acima, é possível destacar certas características


que têm permeado a prática de edição nas áreas/ linhas de pesquisa de nosso interesse. A
primeira, refere-se ao nível das produções. A observação do quadro 5 permite reconhecer o
interesse que tal prática de estudo tem despertado em pesquisas pertencentes ao nível de Mes-
trado e Doutorado. Se a originalidade representa uma das exigências para a elaboração de uma
tese (SEVERINO, 2002, p. 151) produções pertencentes ao nível de Doutorado têm apresen-
tado semelhanças de propósitos com pesquisas, oriundas do nível de Mestrado. Outra obser-
vação diz respeito aos objetos de estudo que têm atraído a atenção de tais pesquisadores: com
base na leitura dos títulos das produções é possível notar o interesse de pesquisadores pela
elaboração de edições musicais, principalmente, de compositores modernos e contemporâneos
brasileiros.
Uma leitura dos nomes dos orientadores das pesquisas permite-nos reconhecer a
presença de professores da área de piano (5 dissertações) como orientadores de pesquisas
voltadas à elaboração de diferentes tipos de edições musicais. Há apenas duas exceções, a
saber: as pesquisas desenvolvidas por Dauelsberg (2009) e Araújo (2009), que foram orien-
tadas por compositores. No quadro a seguir, é possível ter uma noção geral de alguns pro-
cedimentos metodológicos (expressões em negrito) e tipos de edições musicais que têm
68

caracterizado esta parcela da produção, desenvolvida nas linhas de Práticas Interpretativas e


Performance Musical. A fim de alcançar tal propósito, foram selecionadas as seguintes uni-
dades de registro, apresentadas pelo quadro a seguir:

Unidades de registro Universidade, Autor e


Ano
“Acreditamos ter preparado um material da referida obra sem as incorreções da
sua edição de 1937 e sem qualquer tipo de acréscimo ou modificação do seu
original” (OLIVEIRA, 2008, p. 4).
1 [...] análise histórica e uma nova proposta de edição (título). UFRJ/ OLIVEIRA,
[...] traçar um perfil biográfico, contextualizando o compositor no cenário 2008
musical de sua época (resumo).
[...] estudo sobre a natureza e constituição musical da referida obra [...]
(OLIVEIRA, 2008, p. 9).
[...] espécie de edição Urtext da referida obra (OLIVEIRA, 2008, p. 36).
"Traça-se um panorama histórico sobre o surgimento da especialidade no
Brasil" (resumo).
"Nosso dever foi o de identificar, estudar, editar quando possível (no caso de
2 manuscritos...) e expressar musicalmente as obras, enquanto intérprete (ARAÚ- USP/ ARAÚJO, 2009
JO, 2009, p. 2).
[...] contém as obras editadas [...] pelo doutorando (resumo).
[...] compreender historicamente esta especialidade, sua gênese e contexto [...]
(ARAÚJO, 2009, p. 2).
[...] são elaborados um contexto histórico do concerto [...], com o objetivo de
proporcionar uma aproximação inicial com a obra e oferecer suporte para o
processo de edição (resumo). UNIRIO/
3 “O objetivo central desta pesquisa é realizar a edição deste concerto, incluindo u- DAUELSBERG, 2009
ma contextualização histórica da obra e a análise dos seus três movimentos”
DAUELSBERG, 2009, p.19).
[...] seja útil tanto ao pesquisador quanto ao executante (DAUELSBERG, 2009).
[...] fazer uma edição da obra para piano [...] (THOMPSON, 2010, p. 6).
[...] averiguar as influências e experiências musicais adquiridas por esse violinista
ao longo dos anos [...] (THOMPSON, 2010, p. 6).
4 [...] tomar ciência da biografia de Alceo Camargo buscando compreender a
vivência musical desse personagem e os motivos que o levaram a começar a UDESC/THOMPSON,
compor no final da vida adulta e durante sua velhice (THOMPSON, 2010, p. 6). 2010
[...] elucidar as características de seu estilo composicional (THOMPSON, 2010,
p.6).
[...] resgatar e divulgar o acervo musical capixaba, especialmente no tocante à
música erudita (THOMPSON, 2010, p. 3).
[...] investigação sobre as fontes essenciais, como fatos históricos relacionados
ao compositor e ao estilo da obra, estabelecendo critérios de revisão edição"
5 USP/COSTA, 2011
(resumo).
“Contribuir para divulgação dessas obras" (COSTA, 2011, p. 29).
“Elaborar uma edição musical crítica e revisada, a partir de manuscritos originais"
(COSTA, 2011, p. 9).
"O presente trabalho trata sobre a vida e obra do compositor Harry Crowl,
criando um catálogo de sua produção musical" (resumo).
[...] preparação da edição revisada do ciclo de peças 'Marinas' (POZZI, 2011,
6 p.101). UNICAMP/POZZI,
[...] visa descrever alguns procedimentos interpretativos empregados durante o 2011
estudo execução de peças desse ciclo e refletir sobre os agentes formadores da
performance musical (POZZI, 2011, p. 1).
Pretende-se que a obra desse compositor seja ainda mais difundida e executada
[...] (POZZI, 2011, p. 113).
69

[...] realizar uma edição crítica de seu Trio op.9 para violino, violoncelo e piano
[...] (resumo).
[...] estabelecimento de um texto musical que seja o mais próximo possível das
intenções do compositor através do uso de informações de diferentes fontes e cujo
principal objetivo é a prática musical (VAL, 2012, p. 8).
7 UFMG/VAL, 2012
[...] comparação dos manuscritos disponíveis do Trio op. 9 (VAL, 2012, p. 10).
[...] as fontes foram comparadas, as diferenças entre elas listadas e a perfor-
mance musical usada como um dos critérios para escolha de uma ou outra
versão. Paralelamente, as versões escolhidas foram sendo transferidas para a par-
titura editada, constituindo assim a versão final da edição, com a lista de diferen-
ças entre as fontes constituindo o aparato crítico, que foi dividido em cate-
gorias para melhor visualizá-lo" (VAL, 2012, p. 11).
Quadro 6: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas à prática de edição musical

Uma leitura das unidades de registro do quadro acima permite reconhecer nos
estudos vinculados à prática de edição musical a presença da combinação de diferentes
possibilidades de investigação, características do Método Histórico, tais como o estudo bio-
gráfico e sobre o estilo musical (STANLEY, 2001, p. 493). Tais aspectos podem ser iden-
tificados nas unidades de registro apresentadas por Oliveira (2008) e Thompson (2010).
Também é possível notar o interesse de alguns autores pela investigação das circunstâncias
históricas que favoreceram o aparecimento de obras musicais, conforme apresentado pelas
unidades de registro das pesquisas elaboradas por Dauelsberg (2009) e Thompson (2010). As
expressões “são elaborados um contexto histórico do concerto” e “tomar ciência da biografia
de Alceo Camargo buscando compreender a vivência musical desse personagem e os motivos
que o levaram a começar a compor no final da vida adulta e durante sua velhice” ilustram o
propósito de realizar uma pesquisa histórica voltada à investigação sobre as circunstâncias
que cooperaram para o aparecimento de obras musicais.
A fim de facilitar a exposição dos principais procedimentos metodológicos presentes
nas pesquisas aqui mencionadas, as produções a seguir serão apresentadas de acordo com os
principais tipos de Edições Musicais, tratados nos estudos de Grier (2001) e Figueiredo
(2000). São elas: a Edição Diplomática43, a Edição Prática 44 e a Edição Crítica45.
A proposta de elaboração de edição baseada na reprodução das fontes originais (Edi-
ção Diplomática) encontra-se presente na dissertação intitulada Trio (1930) para Piano, Vio-
lino e Violoncelo de Francisco Braga: análise histórica e uma nova proposta de edição, de
43
Tal edição tem como propósito apresentar um texto o mais próximo possível do manuscrito que o originou
(FIGUEIREDO, 2000, p. 76).
44
Tipo de edição cujo texto traz informações para performance, transmitindo de maneira impressa a tradição oral
sobre determinado estilo de execução (GRIER, 2001, p. 151).
45
Segundo Grier (2001, p. 156), trata-se de tipo de edição cujo propósito consiste em oferecer um texto que me-
lhor representa a evidência histórica das fontes. Na visão do teórico, o desenvolvimento de uma atitude crítica na
elaboração de uma edição musical está diretamente vinculada à investigação sobre o estilo musical e o contexto
histórico no qual uma obra encontra-se inserida (GRIER, 2001, p. 180).
70

Oliveira (2008), desenvolvida na UFRJ. A elaboração de uma edição sem qualquer tipo de
acréscimo à notação original apresenta-se como principal objetivo da pesquisa, juntamente,
com o propósito de realização de uma análise histórica da obra. Metodologicamente, a pro-
posta de edição baseia-se no livro intitulado The critical editing of music: History, method,
and practice (2001), de James Grier. Dessa maneira, o autor antecede a apresentação da
proposta de edição com uma ampla contextualização histórica que trata da biografia do
compositor. Fundamentado nas diretrizes fornecidas por Grier, Oliveira (2008, p. 56) oferece
estudo estilístico sobre a obra em estudo. A comparação entre o manuscrito original do Trio
(1930) com a única edição impressa da obra, datada de 1937, permitiu ao autor o reconhe-
cimento de discrepâncias entre ambas as fontes, além da presença de erros e omissões
cometidas por parte do compositor e do editor.
A elaboração de uma edição musical com propósito de oferecer “sugestões de execu-
ção” (POZZI, 2011, p. 101) apresenta-se como proposta adotada pela pesquisa intitulada Har-
ry Crowl: Marinas para Piano - Aspectos da Construção da Performance nas peças 'Guara-
tuba e Antonina’, ‘Cabo da Roca’ e ‘Piraz Portorož’, de Luiz Guilherme Pozzi (2011), de-
senvolvida na UNICAMP. O objetivo de oferecer uma edição musical com sugestões para
execução adequa-se aos propósitos da denominada Edição Interpretativa ou Prática. Figueire-
do (2000, p. 80) a define como o tipo de edição interessada pelo oferecimento de indicações
para a execução de obra musical, retratando a intenção sonora do editor. No estudo em-
preendido por Pozzi, o preparo de edição musical representa objetivo específico de pesquisa
direcionada à elaboração de performance musical. Semelhantemente às outras pesquisas que
serão aqui tratadas, o autor antecipa a exposição do texto editado com dados biográficos e
apresentação de contexto de obras do compositor (catálogo de obras). Sua proposta de edição
baseia-se nas orientações fornecidas por Thurston Dart no livro intitulado Interpretação da
Música (2000). Baseado na Análise Documental de manuscrito, Pozzi oferece sugestões para
intervenção diante das omissões e erros cometidos pelo compositor. Fundamentado nas orien-
tações de Dart, procura deixar claro para o leitor suas contribuições e interferências sobre a
notação proposta pelo compositor.
O último tipo de edição musical a ser considerada trata-se da denominada Edição
Crítica. Conforme visto anteriormente, tal edição representa uma prática de estudos de longa
tradição no campo histórico da Musicologia. De modo geral, a Edição Crítica é compreendida
como resultado da investigação de todas as fontes transmissoras de um texto musical com
base numa sólida Pesquisa Histórica sobre o estilo musical e contexto histórico no qual uma
obra encontra-se inserida (FIGUEIREDO, 2000, p. 77; GRIER, 2001, p. 156; HAZAN, 2004,
71

p. 173-174). Seu propósito não consiste em oferecer uma visão da intenção sonora do editor,
conforme intencionado pelas edições práticas. O oferecimento de comentários e aparato crí-
tico representam questões fundamentais para as Edições Críticas a fim de favorecer o julga-
mento por parte do leitor sobre as intervenções realizadas (GRIER, 2001, p. 181).
Dentre as pesquisas dedicadas à elaboração de Edição Crítica encontram-se uma tese
de Doutorado, desenvolvida na UFRJ, e 4 dissertações de Mestrado, identificadas nos
Programas de Pós-Graduação da USP (2 dissertações), UDESC (1 dissertação) e UFMG (1
dissertação). A única tese de Doutorado identificada trata-se da pesquisa intitulada Concerto
nº 2 para piano e orquestra de Cláudio Santoro: análise dos 3 movimentos e seu processo de
edição, de Cláudio Dauelsberg (2009). Dentre as dissertações identificadas encontram-se: A
Edição Crítica e Revisada dos Noturnos para piano de Almeida Prado, de Thiago de Freitas
Costa (2011); Vida e obra de Alceu Camargo: um retrato da música erudita no estado do
Espírito Santo, de Cláudio Laiber Thompson (2010); O Trio op.9 de Henrique Oswald: uma
edição crítica, de Hélcio Vaz do Val (2012), e A composição brasileira de piano para a mão
esquerda, de Helder Araújo (2009). Em relação aos procedimentos metodológicos, as pes-
quisas de Dauelsberg e Costa apresentam semelhanças quanto ao emprego da pesquisa
histórica. Fundamentados no livro The critical editing of music, de James Grier (2001), as
pesquisas apresentam uma investigação sobre as circunstâncias históricas que favoreceram o
aparecimento das obras editadas, assim como uma abordagem sobre as fases composicionais
nas quais as obras encontram-se inseridas. O emprego do estudo estilístico como possibilida-
de investigação do fenômeno intertextual também são apresentadas por estas pesquisas
(COSTA, 2011, p. 171; DAUELSBERG, 2009, p. 41). Em seu livro, Grier (2001, p. 31) re-
conhece a importância do conhecimento estilístico do texto a ser editado a fim de facilitar a
percepção de “leituras plausíveis” possíveis de serem identificadas nos “limites do estilo de
uma obra". O oferecimento do denominado aparato crítico também se faz presente em ambas
pesquisas a fim de esclarecer as intervenções realizadas e as variáveis identificadas, apro-
ximando-se das orientações do teórico.
Estudos elaborados no Brasil e fundamentados na proposta teórica de Grier, também
têm servido como referenciais teóricos para a elaboração de edição crítica. A pesquisa in-
titulada Trio op.9 de Henrique Oswald: uma edição crítica, de Hélcio Vaz do Val (2012),
apresenta-se como exemplo de dissertação caracterizada pelo emprego de tais estudos. Dessa
maneira, a tese Editar José Maurício Nunes Garcia, de Figueiredo (2000), e o artigo ela-
72

46
borado por Hazan (2004), aparecem como referenciais adotados pelo autor da pesquisa.
Apesar do propósito de preparo de edição crítica, a pesquisa de Val apresenta diferenças em
relação aos procedimentos metodológicos, geralmente, empregados por trabalhos voltados ao
preparo de edição musical. Nota-se em tal estudo a ausência de uma pesquisa histórica sobre
as circunstâncias que promoveram o aparecimento da obra objeto de estudo, assim como do
estudo estilístico. Metodologicamente, a pesquisa baseia-se na Análise Documental, e mais
especificamente, na identificação das variantes encontradas nas fontes transmissoras do texto
musical. O texto da dissertação compreende basicamente a discussão sobre as divergências
identificadas nas fontes consultadas e a apresentação de tais divergências em quadros
ilustrativos. A comparação entre os manuscritos permitiu ao autor a identificação de discre-
pâncias entre as fontes, como as diferenças na notação de sinais indicativos de dinâmica,
articulação e acentuação (VAL, 2012, p. 187).
Se as pesquisas anteriores caracterizam-se pelo emprego do referencial teórico e es-
tudos baseados em Grier (2001), pode-se notar no conjunto da produção de trabalhos sobre
edição crítica a presença de pesquisas que não se apoiam em referenciais teóricos que tratam
sobre o preparo de edições críticas. Tal exemplo pode ser reconhecido na dissertação elabora-
da por Thompson (2010). Semelhantemente ao estudo desenvolvido por Pozzi (2011), a
elaboração de edição musical, proposta por Thompson, apresenta-se como um dos objetivos
específicos de pesquisa que teve o propósito de resgatar e divulgar o acervo musical capixaba
vinculado à música erudita. Mesmo sem basear-se na teoria de Grier, a pesquisa de Thompson
apresenta semelhanças em relação aos estudos baseados neste teórico, no que concerne à
função da pesquisa histórica. Metodologicamente, a proposta de edição musical é antecedida
por uma ampla pesquisa histórica sobre o desenvolvimento da música erudita no estado do
Espírito Santo, além da apresentação de dados biográficos do compositor. O autor emprega
diferentes tipos de análise (histórica e estilística). Desse modo, ilustra o potencial do conheci-
mento estilístico para a tomada de decisões em projetos editoriais, corroborando a ideia de
Grier sobre o importante papel do estudo sobre estilo musical nas decisões finais tomadas
pelo editor (GRIER, 2001, p. 28). A tese intitulada A composição brasileira de piano para a
mão esquerda, de Helder Araújo (2009), embora não mencione explicitamente o propósito de
realização de uma edição crítica, apresenta procedimentos metodológicos semelhantes às
propostas de edição crítica consideradas anteriormente. O propósito de elaboração de edição

46
Trata-se do artigo intitulado Afinal, o que é uma edição crítica? Uma reflexão sobre aspectos da obra The
Critical Editing of Music e sua relevância para a edição de Música Sacra Brasileira dos séculos XVIII e XIX .
73

musical faz parte de estudo que teve o objetivo principal de realizar mapeamento e estudo
histórico sobre obras criadas para mão esquerda, no Brasil, compostas entre os anos de 1906 a
2006. Semelhantemente aos estudos sobre edição crítica, citados anteriormente, a apresenta-
ção da proposta de edição musical é antecedida por longas considerações históricas sobre a
gênese e desenvolvimento desta especialidade do repertório pianístico. A edição realizada
com base em manuscritos de obras de compositores brasileiros diversos47 compreendeu o
trabalho de revisões de notas, durações, sinais de dinâmicas e expressões (ARAÚJO, 2009, p.
3).
Diante da breve exposição sobre os principais tipos de edições musicais e pro-
cedimentos metodológicos que têm atraído a atenção de pesquisadores na área de concentra-
ção/ linha de pesquisa em Praticas Interpretativas e Performance Musical, é possível tecer
algumas considerações que podem colaborar com o propósito de compreender algumas das
possíveis razões que têm favorecido a presença desta prática de estudo em tal linha de pes-
quisa. A primeira, diz respeito à importância do texto musical para a atuação do intérprete-
performer. Sabendo-se que a interpretação musical envolve o processo de decodificação de
uma notação musical mediante o conhecimento das convenções de execução de uma época
(DAVIES; SADIE, 2001, p. 498), pode-se considerar as dificuldades e consequências negati-
vas na realização desta tarefa, diante da presença de erros e ilegibilidade que se podem fazer
presentes no texto de um manuscrito. A boa apresentação de um texto musical representa fator
fundamental tanto para a sua execução quanto para a realização de estudos musicológicos,
conforme tratado por especialistas na atividade editorial. Podemos reconhecer na figura do
performer, interessado pela execução da música de tradição ocidental, um dos principais
interessados pelo texto gerado mediante a atividade de edição musical.
Outra consideração a ser colocada, a qual permite relacionar a presença da prática de
edição musical em pesquisas desenvolvidas pela linha de Práticas Interpretativas, diz respeito
à possibilidade de tratamento de problemas editoriais com base em procedimentos meto-
dológicos, já consolidados pela disciplina Musicologia Histórica. De acordo com Figueiredo
(2000, p. 25), “o compositor está sempre sujeito a cometer erros ao grafar sua obra, tanto num
primeiro momento quanto em cópias posteriores”. Tal fato pode ser verificado no conjunto de
pesquisas aqui tratadas as quais procuraram registrar em seus estudos problemas relacionados
às discordâncias entre diferentes manuscritos, além de erros e omissões cometidos por

47
O estudo empreendido pelo autor, compreendeu a seleção de obras para a mão esquerda dos seguintes com-
positores: Alberto Nepomuceno, Paulo Florence, Henrique Oswald, Ernesto Nazareth, Heitor Alimonda, Tsuna
Twami, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri e Mário Ficarelli.
74

compositores. Sabendo-se que a Edição Musical representa uma prática de longa tradição no
campo histórico da Musicologia, acreditamos que a possibilidade de realização de estudos
com base numa prática consolidada pode ter colaborado para o aparecimento de tais pesquisas
em Práticas Interpretativas.48 O aparecimento de obras de referência para a realização de
edições de obras musicais, como o livro desenvolvido por Grier (2001), representou fator
favorável à elaboração de boa parte das pesquisas tratadas neste subtópico.
Entretanto, o fato de representar uma prática de estudo de caráter interdisciplinar que
dialoga com teorias e metodologias de outras áreas, como a Filologia e a Crítica Textual, pode
lançar uma certa desconfiança sobre o real preparo de performers para o exercício da ati-
vidade de edição musical. Trata-se de uma questão em aberto passível de ser discutida dentro
da subárea de Performance Musical. Independentemente desta questão, as pesquisas e obras
de referência aqui tratadas demonstram que o processo de elaboração de uma edição musical
pode colocar diante do investigador uma série de problemas que podem ser tratados com base
num sólido trabalho de pesquisa a fim de oferecer um texto musical de qualidade aos
principais interessados por esta prática de estudo.

2.4 PRÁTICAS INTERPRETATIVAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A DISCIPLINA E


SUA RELAÇÃO COM A PESQUISA HISTÓRICA

O objetivo do presente subtópico consiste no oferecimento de considerações gerais


sobre os principais propósitos da disciplina Práticas Interpretativas e sua relação com o Méto-
todo Histórico. Inicia-se com uma breve abordagem sobre as atuais correntes relacionadas à
execução da Música Antiga e suas principais diferenças quanto ao grau de importância e
função da pesquisa histórica. A fim de ilustrar a relação da disciplina com o Método Histó-
rico, serão expostas considerações sobre os principais procedimentos metodológicos que têm
subsidiado estudos em Práticas Interpretativas. Pretende-se com o presente subtópico oferecer
uma visão panorâmica como base para uma compreensão posterior sobre os aspectos que têm
permeado parte da produção recente, relacionada à disciplina Práticas Interpretativas.

48
Termo empregado para atual área de concentração e linha de pesquisa presente em diferentes Programas de
Pós-Graduação em Música, no Brasil.
75

2.4.1 Considerações gerais

O termo em inglês "Performance practices" (geralmente traduzido como "Práticas In-


terpretativas") é apresentado em obras de referência da área musical como uma expressão
adaptada da palavra alemã Aufführungspraxis, que por sua vez, é associada à disciplina
interessada pela investigação de aspectos da execução musical. As Práticas Interpretativas
representa uma das disciplinas da Musicologia cujo estudo vincula-se ao propósito de elabora-
ção de uma performance historicamente informada (BROWN, 2001, p. 349; PARROTT,
1984, p. 1407; VELIMIROVIC, 2001, p. 503). Atualmente, é considerada um dos principais
domínios de estudo da Performance Musical (RINK, 2004, p. 38), compreendendo um amplo
escopo de investigação que pode abranger diversas questões, dentre elas: as práticas de impro-
visação, ornamentação, a reconstrução de instrumentos antigos (Organologia), afinação,
temperamento, disposição de conjuntos instrumentais, estilo de execução de acompanha-
mentos e estudos sobre o significado e possibilidades de execução da notação musical segun-
do as convenções de execução de uma época (BROWN, 2001, p. 346; PARROTT, 1984, p.
1407).
Os primeiros estudos desenvolvidos pela disciplina têm sua origem em inícios do
século XX, a partir da contribuição de estudiosos interessados pela performance histórica da
Música Barroca. O livro The Interpretation of the Music of the 17th and 18th Centuries
(DOLMESTCH, 1915 apud VELIMIROVIC, 2001, p. 503) é apresentado como o ponto de
partida dos estudos sobre Práticas Interpretativas. Se nos primórdios dos estudos da disciplina
é possível notar uma concentração na investigação da Música Antiga,49 o desenvolvimento da
disciplina a partir da década de 70, vem demonstrando o interesse pelo estudo da música
pertencente ao Classicismo tardio50 (PAGE, 2001, p. 371). Atualmente, as Práticas Interpreta-
tivas também compreendem o estudo das músicas dos séculos XIX e XX (LAWSON; STO-
WELL, 2006, p. 3).
Além da expansão gradual do repertório considerado pela disciplina, o interesse pela
performance da música histórica tem acompanhado a existência de diferentes pontos de vista
sobre a sua execução. Apesar desta questão representar um assunto abrangente e que envolve
o debate entre diferentes correntes de pensamento sobre a execução da música do passado
49
No estudo intitulado Early Music, Stephen Rose (2009, p. 119) observa que o termo Música Antiga pode ser
empregado tanto para referir-se à música anterior a 1750, quanto ao tipo de abordagem interessada pela
reconstrução de instrumentos e estilo da época em que uma obra musical foi composta.
50
De acordo com Rosenblum (1988, p. 3) refere-se ao período compreendido entre meados de 1770 e inícios de
1820.
76

(BUTT, 2005, p. 3), faremos aqui algumas considerações sobre tais posicionamentos a fim de
facilitar uma compreensão geral sobre a importância e função da pesquisa histórica para as
atuais correntes de execução da música histórica.
A performance da música histórica nem sempre esteve relacionada a uma preo-
cupação com o estilo de execução de acordo com as convenções da época em que foi criada.
Sua execução por meio do emprego de instrumentos e convenções de execução modernas51
fez-se presente em diferentes momentos da história sobre as práticas interpretativas 52. Desde o
século XIX, é possível identificar a presença de execuções da música de J. S. Bach, segundo
as convenções modernas de execução (VELIMIROVIC, 2001, p. 503; HARNOUCOURT,
1996, p. 18). No século XX, a execução da música histórica também esteve relacionada ao
emprego de convenções modernas de execução. Entretanto, tal posicionamento representou
uma reação desfavorável ao movimento da Música Antiga (BUTT, 2005, p. 4). De acordo
com Butt (2005, p. 4), é possível identificar, em meados da década de 50, a manifestação de
teóricos desfavoráveis à possibilidade de recriação do estilo de execução com base nas
evidências históricas. Dessa maneira, estudiosos das Práticas Interpretativas se viram con-
frontados com uma corrente de execução que considerava a elaboração de uma performance
fundamentada pelas evidências históricas como sendo uma ameaça à criatividade do intér-
prete. Para tal corrente, a reconstrução das intenções originais de um compositor, assim como
a recriação de uma sonoridade próxima à época em que uma obra foi composta, represen-
tariam um projeto irrealizável (BUTT, 2005, p. 16). Tratava-se, portanto, de uma corrente da
execução da música do passado na qual a pesquisa histórica deixava de adquirir a mesma
relevância que é dada pela disciplina Práticas Interpretativas.
Outras correntes de execução da música histórica têm apresentado uma postura
favorável à pesquisa histórica. Como exemplo, encontra-se o chamado movimento da Per-
formance Autêntica (Authentic Performance), considerado por Butt e Taruskin um produto do

51
Aqui entendida como o emprego de instrumentos modernos e procedimentos de execução distantes das normas
partilhadas entre os músicos pertencentes à época em que uma obra foi criada. Quando relacionada à notação
musical, o termo é compreendido como os acréscimos realizados por editores à musica do passado, obscu-
recendo a proposta das fontes originais de uma obra musical (VELIMIROVIC, 2001, p. 503).
52
No artigo intitulado Interpretação e execução: reflexões sobre a prática musical, Winter e Silveira (2006, p.
63-71) definem o termo "práticas interpretativas" como o “conjunto de conhecimentos vinculados à interpretação
e/ou performance”. Uma breve exposição sobre o histórico relacionado às práticas de execução da música do
passado é tratada por Harnoncourt (1996, p. 17) no livro O Discurso dos Sons: caminhos para uma nova com-
preensão musical.
77

modernismo53 caracterizado pela valorização e submissão das decisões interpretativas às


evidências históricas (BUTT, 2005, p. 25; TARUNSKIN, 1995, p. 23). Para tal movimento, o
emprego da pesquisa histórica representa a possibilidade de recriação da sonoridade original
de uma obra musical, conforme a época em que foi criada e executada (ROSE, 2009, p. 119;
BUTT, 2005, p. 241). De acordo com Butt, o emprego da pesquisa histórica, intencionado por
este movimento, corresponde a uma recriação objetiva do passado. O conceito de autenti-
cidade, pregado pelo movimento, é associado por Butt à acuidade histórica voltada à recriação
de um determinado estilo de execução segundo a “concepção original” de um compositor
(BUTT, 2005, p.15-25).
Um terceiro ponto de vista sobre a execução da música histórica é representado pelo
movimento da Performance Historicamente Informada (Historically Informed Performance).
Na visão de John Butt, o movimento se caracteriza por um emprego diferenciado da pesquisa
histórica. Enquanto o movimento da Performance Autêntica interessa-se pela recriação do
contexto original de execução de uma obra, conforme a época em que foi composta, o
movimento da Performance Historicamente Informada tem sido caracterizado pelo emprego
das evidências históricas de maneira mais flexível, crítica e distanciada da crença quanto à
possibilidade de recriação das intenções originais de um compositor (BUTT, 2005, p. 22).
Butt (2005, p. 36) define tal movimento como um produto de uma concepção pós-moderna da
interpretação na qual o conhecimento histórico não é visto como uma limitação à criatividade
do intérprete54, mas representa uma possibilidade que pode levar ao conhecimento estilístico e
desenvolvimento da expressividade.

53
Ao tratar sobre a ética modernista na performance, Taruskin a relaciona ao uso prescritivo das evidências de
uma pesquisa na construção de uma performance. Acredita que tal ética tem colaborado para uma "desuma-
nização" da performance por meio do emprego de tais evidências e também, da moderna tecnologia. Na visão do
teórico, o emprego de tais evidências tem sido realizado como uma possibilidade de conter a subjetividade,
inerente à performance musical. Ele afirma: "The expressive or communicative purpose of musical performance
[...] has been discredited under modernism in name of dehumanization [...] (TARUSKIN, 1995, p. 23). Com base
em Butt e Taruskin, podemos compreender o Movimento da Performance Autêntica como um produto do
Modernismo por meio de sua tentativa de emprego das evidências históricas na construção de uma performance.
Também, pela tentativa de empregar certas configurações do método científico (conhecimento referencial e
objetividade) na construção de uma performance.
54
Tal aspecto é discutido por Rink no artigo intitulado Sobre a performance: o ponto de vista da musicologia.
Ao tratar sobre a produção de estudos na literatura acadêmica voltados para o intérprete-performer, Rink observa
que muitos destes têm servido para limitar a liberdade de intérpretes. Por isso, condena os estudos em Práticas
Interpretativas caracterizados pela busca da denominada “autenticidade” (contexto sonoro da época em que uma
obra foi composta e produzida). Para Rink (2012, p.40), a busca por uma “autenticidade” quimérica por
intérpretes representa um ponto de vista insustentável e que deve ser abandonado. Por isso, posiciona-se à favor
de uma “interpretação historicamente informada”, apesar de afirmar que a presença de informações históricas
não seja uma garantia para a qualidade de uma performance.
78

Apesar das diferenças quanto à função da pesquisa histórica entre as diferentes


correntes de execução da música do passado, alguns especialistas, como Harnoncourt (1996) e
Walls (2011), têm destacado nos estudos desenvolvidos pela disciplina a existência de uma
categoria de problemas comuns. Trata-se de problemas cuja origem relaciona-se à tentativa de
reconstrução ou resgate histórico das convenções que regem o significado da notação musical.
Uma das problemáticas mais recorrentes em estudos desenvolvidos pela disciplina
está diretamente relacionada à natureza semiótica da notação musical. Tal aspecto foi tratado
por Grier (2001, p. 27) ao afirmar que o significado de uma notação musical depende do
contexto no qual encontra-se inserida, assim como do conhecimento das convenções que
regem o seu significado. O conhecimento do significado da notação musical representa um
assunto de interesse para os estudiosos das Práticas Interpretativas, principalmente diante de
suas limitações no que se refere à ausência de indicações específicas para sua execução
(HARNONCOURT, 1996, p. 35). Diferentes estudiosos das Práticas Interpretativas têm ilus-
trado a postura de compositores quanto ao não estabelecimento preciso das possibilidades de
execução da notação musical. Tanto Walls quanto Harnoncourt demonstram a ausência de
especificações para a execução musical, no repertório de Música Antiga, salientando a impor-
tância do resgate histórico das convenções que regem o significado do texto musical a fim de
facilitar o conhecimento sobre o estilo de execução de uma época (HARNONCOURT, 1996,
p. 41; WALLS, 2011, p. 36).
O último aspecto a ser tratado neste subtópico diz respeito a um dos procedimentos
metodológicos mais recorrentes em estudos desenvolvidos pela disciplina Práticas Inter-
pretativas. Estudiosos têm demonstrado que a busca de conhecimento sobre as convenções e o
contexto no qual determinada notação encontra-se inserida, representa um empreendimento
histórico (GRIER, 2001, p. 27; WALLS, 2011, p. 41), ou seja, um conhecimento que pode ser
proporcionado pela investigação de diferentes tipos de fontes históricas. Dessa maneira, a
Análise Documental ou com base nas fontes primárias apresenta-se como principal proce-
dimento metodológico adotado pela disciplina. Diversos são os tipos de fontes que têm
subsidiado os estudiosos das Práticas Interpretativas, dentre elas encontram-se: os tratados
teóricos, instrumentais, fontes iconográficas, documentos pertencentes a arquivos históricos,
fontes literárias55, manuscritos, partituras (impressões originais e subsequentes de primeiras
edições, bem como de edições posteriores), catálogos e gravações em áudio e vídeo, reali-

55
São exemplos de fontes literárias: jornais de época, diários, cartas, periódicos, memoriais, artigos e almana-
ques anuais, dentre outras.
79

zadas por intérpretes e compositores (LAWSON; STOWELL, 2006, p. 17-46; RINK, 2012, p.
37). Entretanto, cada fonte deve ser interpretada no contexto no qual foi originada, assim
como em combinação com as demais fontes, a fim de oferecer uma visão mais completa sobre
as práticas interpretativas de uma época. A importância da combinação entre os diferentes
tipos de fontes primárias apresenta-se como um aspecto metodológico que tem sido ressaltado
por diferentes especialistas da disciplina Práticas Interpretativas (HARNONCOURT, 1996, p.
40; LAWSON; STOWELL, 2006, p. 20; RINK, 2012, p. 46).
Uma aproximação da mobilização de tais fontes para o tratamento de problemas no-
tacionais, relacionados ao repertório pianístico, tem sido tratado por obras de referência na
área das Práticas Interpretativas. O livro Performance Practices in Classic Piano Music:
Their Principles and Applications, de Sandra Rosenblum (1988), apresenta-se como exemplo
de literatura direcionada à investigação de diferentes aspectos da execução do repertório
(pertencente ao período Clássico) a partir de uma ampla mobilização de fontes primárias para
o tratamento de questões relativas ao estilo de execução de diversos aspectos (dinâmica,
acentuação, articulação, tipos de toque, ornamentação, pedalização e ritmo). O estabeleci-
mento do significado das convenções de execução de tais aspectos, os quais podem se mos-
trar imprecisos e ambíguos, são apresentados como problemáticas passíveis de serem tratadas
por meio da pesquisa histórica com base em fontes primárias. Se nos primórdios dos estudos
em Práticas Interpretativas é possível notar uma concentração no emprego de fontes primárias
escritas, a bibliografia mais recente tem indicado também o emprego de gravações como
exemplo de fonte primária com potencial para contribuir para o conhecimento sobre o estilo
de execução de uma época (seja por meio da gravação da execução de compositores, ou
intérpretes de suas obras).
O estudo elaborado por Musgrave (2008, p. 302-324) ilustra diferentes possibilidades
de emprego da análise de gravações. Seu estudo se baseia na gravação de uma performance
do compositor Johannes Brahms ao piano, bem como dos primeiros intérpretes das obras para
piano do compositor. De modo geral, com base nas evidências contidas nas gravações e
relatos de intérpretes, que mantiveram contato com o compositor, o estudo procura demons-
trar a possibilidade de execução de certas “liberdades não marcadas” na notação musical
(MUSGRAVE, 2008, p. 323). Trata-se de um estudo voltado à investigação do estilo de exe-
cução do compositor, o qual evidencia o tratamento flexível conferido pelos primeiros intér-
80

56
pretes da música de Brahms (MUSGRAVE, 2008, p. 304) . Apesar das contradições exis-
tentes entre as diferentes gravações, o autor defende uma aproximação das evidências histó-
ricas, apresentadas pelas gravações, a fim de favorecer o conhecimento sobre o estilo de exe-
cução (MUSGRAVE, 2008, p. 324).
Com base nas considerações anteriores é possível compreender o vínculo da disci-
plina Práticas Interpretativas com procedimentos metodológicos, característicos da pesquisa
histórica, permitindo reconhecê-la como uma subdisciplina do campo histórico da Musico-
logia. Trata-se de uma subdisciplina que tem atraído a atenção de musicólogos, performers e
musicólogos-performers interessados pela reconstrução de fatos relacionados às convenções
de execução e significado da notação musical do passado. A partir das breves considerações
apresentadas, o subtópico a seguir tem como propósito expor alguns aspectos metodológicos
que têm permeado parte da produção recente em performance pianística, vinculada à dis-
ciplina Práticas Interpretativas.

2.4.2 Exemplos de produções recentes em Práticas Interpretativas (2007-2012): caracte-


rísticas gerais e procedimentos metodológicos identificados

Tendências recentes da produção relacionada à performance pianística têm demons-


trado o interesse pela pesquisa em Práticas Interpretativas. O quadro a seguir, fornece alguns
exemplos de pesquisas relacionadas à disciplina, desenvolvidas no período de 2007 a 2012.
Para a discussão acerca dos procedimentos metodológicos empregados, foram selecionadas as
seguintes produções, apresentadas pelo quadro a seguir:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


Interpretação historicamente Ayumi Shigeta UNICAMP/ Prof. Dr. 2008 Mestrado
1 informada: subsídios analíticos Eduardo Antônio Garcia
para uma execução das Júnior
Bagatelas op. 126 de Ludwing
van Beethoven
Le Tombeau de Couperin Danieli USP/ Prof. Dr. Amilcar 2008 Doutorado
2 (1914-1917) de Maurice Verônica L. Zani Neto
Ravel: obra de uma guerra Benedetti
Aspectos interpretativos da Erika Maria USP/ Prof. Dr. Eduardo 2009 Mestrado
3 Sonata op.110 de Beethoven Ribeiro Henrique Soares Monteiro

56
Uma abordagem semelhante é levada a cabo pelo fortepianista Malcon Bilson, no DVD Knowing the Score
Vol. 2 (2014), a respeito de compositores como Sergei Prokofiev ou Willian Bolcom. No entanto, Bilson
ressalta: "But rather that listening to the recording to see how the composer interprets the score, we can assume
that the score represents what the composer heard. Hence how is this communicated in notation? How does a
composer write down what he hears? [...] It is generally assumed that rhythmic inflection can at best be only
implied. [...] I claim that every inflection is indicated in the score if we know how to decipher it".
81

4 Aspectos interpretativos na Luiz Henrique UFRJ/Profa. Dra. Sônia 2010 Mestrado


"Fantasia Húngara" de Franz da Costa Matta Goulart/Coorientadora:
Liszt para piano e orquestra Profa. Dra. Harlei Elbert
Bagatela op. 119 de Flávia Figueira USP/ Prof. Dr. Eduardo 2012 Mestrado
5 Beethoven: um estudo Silva Henrique Soares Monteiro
interpretativo
Quadro 7: Pesquisas em Práticas Interpretativas

A partir da leitura do quadro acima, podemos reconhecer algumas das características


gerais que têm permeado certos estudos em performance pianística, vinculados à disciplina
Práticas Interpretativas. No que se refere ao nível das produções, os exemplos acima permi-
tem reconhecer o interesse que estudos em Práticas Interpretativas têm despertado em produ-
ções pertencentes ao nível de Mestrado e Doutorado. Em relação aos objetos de estudo, é
visível a pesquisa voltada à investigação do repertório relacionado à Música Erudita de tradi-
ção européia, pertencente a diferentes períodos da História da Música. A relação entre as pes-
quisas selecionadas e o vínculo com a disciplina Práticas Interpretativas pode ser reconhecida
a partir da observação das unidades de registro, apresentadas no quadro a seguir. A fim de
favorecer a compreensão acerca de certos procedimentos metodológicos foram selecionadas
as seguintes unidades de registro, apresentadas no quadro 8:

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
“O objetivo desta pesquisa é defender uma postura de interpretação, a denomi-
nada “historicamente informada” (SHIGETA, 2008, p. 1).
1 A interpretação defendida neste trabalho propõe que se observem as evidências his- UNICAMP/
tóricas [...] (SHIGETA, 2008, p.71). SHIGETA, 2008
1
[...] fatos pertinentes ao compositor e sua relação com o instrumento [...]
(SHIGETA, 2008, p. 24).
Analisar sob o ponto de vista histórico e pianístico a suíte Le Tombeau de Couperin
2 [...] (BENEDETTI, 2008, p. 71). USP/ BENEDETTI,
[...] elaboração de uma interpretação histórica e cientificamente fundamentada 2008
[...] (BENEDETTI, 2008, p. 18).
[...] construção de uma interpretação criteriosa, convincente, que seja respaldada
historicamente e ao mesmo tempo, atual. (resumo)
[...] estudo de alguns dos principais aspectos que fundamentam a interpretação das
obras do período clássico, dentro do campo das práticas interpretativas [...]
3 (resumo). USP/ RIBEIRO,
[...] resgate de referências musicais históricas, práticas, e estilísticas, que serão 2009
usadas na compreensão e interpretação da Sonata op.110 [...]
(RIBEIRO, 2009, p. 2).
"falaremos sobre a última fase de Beethoven, e suas últimas sonatas" (RIBEIRO,
2009, p. 3).
[...] interpretação de suas marcações referentes ao tempo e as frases musicais,
diferentes tipos de toque [...] (resumo)
4 [...] revisão de literatura sobre a vida do compositor [...] (MATTA, 2010, p. 4). UFRJ/ MATTA,
[...] levantamento sobre possíveis influências exercidas no compositor até a publi- 2010
cação da obra. (MATTA, 2010, p. 4).
[...] Investigar o processo compreendido entre a leitura das Bagatelas op.119 de
5 Beethoven e sua execução ao instrumento [...] (resumo) USP/ SILVA, 2012
[...] discorre-se também sobre as circunstâncias que levaram Beethoven a compor
82

suas Bagatelas [...] (resumo).


[...] foram os principais focos de interesse deste estudo: andamento, dinâmica,
articulação, ritmo e pedalização (SILVA, 2012, p. 19).
Quadro 8: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas à disciplina Práticas Interpretativas

As expressões “historicamente informada”, “interpretação histórica” e “respaldada


historicamente”, respectivamente apresentadas pelos estudos de Shigeta (2008), Benedetti
(2008) e Ribeiro (2009), demonstram uma aproximação das pesquisas com o propósito de
realização de uma pesquisa histórica como subsídio à interpretação musical. Nas demais
pesquisas, embora não tenham sido identificadas expressões que mencionem explicitamente o
vínculo entre pesquisa histórica e interpretação musical, nota-se o interesse pela investigação
de aspectos relacionados à execução musical. Dessa maneira, expressões como “interpretação
de suas marcações referentes ao tempo e as frases musicais, diferentes tipos de toque” e
“andamento, dinâmica, articulação, ritmo e pedalização”, respectivamente apresentadas por
Matta (2010) e Silva (2012), denotam o interesse pela investigação de tópicos comumente
abordados pela disciplina Práticas Interpretativas (BROWN, 2001, p. 349). As unidades de
registro relacionadas a todas as pesquisas, também ilustram o emprego da pesquisa histórica
direcionada para a investigação de fatores diversos, dentre eles: a relação do compositor com
determinado instrumento (SHIGETA, 2008, p. 24); estudo estilístico acompanhado de abor-
dagem sobre fases composicionais (RIBEIRO, 2009, p. 3); estudo biográfico e das influ-
ências exercidas sobre o compositor (MATTA, 2010, p. 4) e investigação sobre as circuns-
tâncias históricas que promoveram o aparecimento de determinada obra musical (SILVA,
2012). Tais pesquisas demonstram que o interesse pela investigação sobre as convenções da
notação musical tem sido acompanhado de diferentes práticas do Método Histórico da
Musicologia.
Com objetivo de favorecer uma abordagem sobre os aspectos metodológicos que têm
permeado tais produções, estas serão discutidas a partir da ordem cronológica dos repertórios
considerados pelas pesquisas. Sendo assim, serão inicialmente consideradas as produções em
Práticas Interpretativas sobre o repertório do Classicismo.
A produção de pesquisas em Práticas Interpretativas sobre obras musicais compostas
por Beethoven apresenta-se como tendência presente em estudos desenvolvidos na Uni-
versidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Foram
identificadas na USP as dissertações Aspectos interpretativos da Sonata op.110 de Beethoven,
de Ribeiro (2009), e Bagatelas op. 119 de Beethoven: um estudo interpretativo, de Silva
(2012). Na UNICAMP, encontra-se a pesquisa intitulada Interpretação historicamente infor-
83

mada: subsídios analíticos para uma execução das Bagatelas op.126 de Ludwig van Beetho-
ven, de Shigeta (2008). Trata-se de pesquisas cujo objetivo principal consiste no oferecimento
de uma abordagem interpretativa com base num contexto historicamente informado da obra
em estudo, juntamente, com o estudo sobre diferentes aspectos relacionados à execução
musical.
Além do propósito de oferecer uma abordagem interpretativa, a comparação entre as
pesquisas demonstra o emprego de procedimentos metodológicos comuns, sendo os prin-
cipais: a pesquisa histórica, a análise de gravações e o registro da experiência prática dos
autores, durante a construção da performance musical.
Em relação ao emprego da pesquisa histórica, percebe-se que esta aparece vinculada
a diferentes propósitos nas pesquisas por meio do oferecimento de estudo sobre o contexto
histórico no qual determinada obra encontra-se inserida, e a investigação sobre as convenções
de execução de diferentes aspectos da notação musical. Na pesquisa empreendida por Ribeiro
(2009), sua proposta interpretativa é antecedida pela exposição de considerações sobre o
Estilo Clássico e a última fase composicional de Beethoven. Em Silva (2012), são oferecidas
informações sobre as circunstâncias históricas relacionadas ao aparecimento das primeiras
edições das Bagatelas op. 119 de Beethoven. Outro aspecto comum a ambas produções, no
que diz respeito ao emprego da pesquisa histórica como possibilidade de contextualizar a obra
em estudo, é o tratamento do objeto de estudo no contexto de obras do compositor, per-
mitindo às autoras o estabelecimento de relações com outras obras de Beethoven.
O emprego da pesquisa histórica voltada à investigação das convenções da notação
musical tem se apoiado, principalmente, na pesquisa bibliográfica. O livro Performance
Practices in Classical Piano Music: their principles and applications, de Sandra Rosenblum
(1988), aparece como principal referencial teórico das pesquisas. O fato do livro abordar
diversos aspectos relacionados à execução do repertório do Classicismo com base em fontes
históricas do século XVIII, permite compreender a presença deste referencial teórico nas
pesquisas em Práticas Interpretativas sobre a música de Beethoven. Elaborado com base em
tratados musicais, o livro tem sido empregado como fundamentação teórica, sobretudo, para
tratar de problemas notacionais, isto é, para o estabelecimento de significado e estilo de
execução de aspectos relacionados à articulação, dinâmica, acentuação, tipos de toque, ritmo e
pedalização.
O procedimento de análise com base em gravações encontra-se presente nos estudos
elaborados por Ribeiro (2009) e Silva (2012). O estudo com base em gravações tem sido
empregado com diferentes propósitos vinculados à realização de estudos comparativos. Na
84

pesquisa empreendida por Ribeiro, a autora emprega o estudo de gravações de intérpretes


renomados a fim de verificar a resposta da prática de intérpretes atuais frente à notação musi-
cal do compositor (RIBEIRO, 2009, p. 3). Além da comparação realizada entre as gravações e
a notação proposta pelo compositor, Ribeiro compara as gravações entre si a fim de observar
o tratamento diferenciado conferido pelos intérpretes às questões relacionadas aos aspectos da
execução musical (tempo, dinâmica, agógica e andamento). Em Silva (2012, p. 57), o pro-
cedimento de análise de gravações serviu principalmente para a observação dos diferentes
tipos de toque e andamento conferido por intérpretes renomados, em suas execuções das
Bagatelas de Beethoven. A autora observa o tratamento diferenciado quanto ao emprego de
diferentes tipos de toque para uma mesma passagem, conforme demonstrado em sua abor-
dagem sobre a Bagatela op. 119 nº 2.
O registro da experiência prática dos autores apresenta-se como procedimento
também adotado pelos estudos de Ribeiro (2009) e Silva (2012). Em ambas as produções, a
experiência prática aliada à investigação teórica é apresentada como uma possibilidade
metodológica para tratar de problemas relacionados à execução musical (RIBEIRO, 2009, p.
3; SILVA, 2012, p. 19). Dessa maneira, é possível perceber na abordagem empreendida por
Ribeiro a presença de comentários sobre a execução de trechos musicais com base na sua
experiência como intérprete. Ao abordar dificuldades de execução em trecho da Sonata op.
110 de Beethoven, a autora deixa transparecer sua experiência como intérprete para o
tratamento de questões relativas ao emprego da pedalização, condução de fraseado e
tratamento polifônico das vozes (RIBEIRO, 2009, p. 89). A integração da experiência prática
à pesquisa teórica é demonstrada por Silva no decorrer de sua dissertação por meio do
oferecimento de sugestões de estudo para trechos das Bagatelas op.119, de Beethoven. Em
sua abordagem sobre a Bagatela op.119 nº 7, de Beethoven, a autora observa a presença de
figuração caracterizada pela combinação de trinado e melodia a serem executadas pela mão
direita. Conforme exemplos apresentados pela autora da pesquisa, trata-se de uma figuração
presente em outras obras do compositor. Fundamentada em estudo sobre técnica pianística,
elaborado por Cortot, a autora propõe estratégia de estudo como possibilidade de tratamento
para a dificuldade técnica identificada (SILVA, 2012, p. 95).
A pesquisa em Práticas Interpretativas sobre obra musical, do período Romântico,
XIX, apresenta-se como proposta de estudo desenvolvida na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). A dissertação Aspectos Interpretativos na Fantasia Húngara de Franz Liszt
para piano e orquestra, de Matta (2010), propõe uma abordagem interpretativa da “Fantasia
sobre melodias húngaras”, vinculada ao propósito de “facilitar o acesso de instrumentistas à
85

obra que Liszt compôs” (MATTA, 2010, p. 1). Metodologicamente, a abordagem interpreta-
tiva é antecedida pelo estudo biográfico e sobre gêneros musicais (MATTA, 2010, p. 31).
Analogamente, aos estudos anteriores, emprega a pesquisa histórica com base em fontes se-
cundárias para tratar sobre o estilo de execução da obra em estudo, especialmente, para a
obtenção de dados sobre o emprego da pedalização pelo compositor (MATTA, 2010, p. 44).
Baseado no livro elaborado por Banowetz sobre pedalização, o qual reproduz trechos de
correspondências de Liszt, apresenta proposta para o emprego da pedalização para trechos da
obra nos quais as marcações da pedalização se mostram ausentes (MATTA, 2010, p. 45).
Novamente, o emprego de informações de fontes primárias aparece com propósito de elucidar
aspectos do estilo de execução a partir de obras desenvolvidas por especialistas das Práticas
Interpretativas. Contudo, para tratar sobre o estilo de execução da Fantasia Húngara, o autor
da pesquisa também se baseia em gravações de um dos ex-alunos de Liszt (MATTA, 2010, p.
83), demonstrando o interesse pelo emprego desta possibilidade de fonte primária (LAW-
SON; STOWELL, 2006, p. 46; PHILIP, 2001, p. 377).
A música do século XX, também se apresenta como tema de interesse nas pesquisas
em Práticas Interpretativas, como é o caso de Le Tombeau de Couperin (1914-1917) de Mau-
rice Ravel: obra de uma guerra, de Benedetti (2008), tese defendida na Universidade de São
Paulo (USP). A tese realiza uma análise da obra sob o ponto de vista histórico e pianístico a
fim de subsidiar a elaboração de uma interpretação historicamente fundamentada da mesma
(BENEDETTI, 2008, p. 18). Sua abordagem interpretativa é antecedida por uma ampla
contextualização histórica sobre as circunstâncias relacionadas ao aparecimento da obra em
estudo. Desta maneira, demonstra a relação entre o contexto político e cultural europeu, de
inícios do século XX, e a composição do Le Tombeau de Couperin. Além do emprego da
pesquisa histórica voltada à investigação dos fatos relacionados ao envolvimento do
compositor com a Primeira Guerra Mundial e a influência do nacionalismo, no meio artístico
francês, a autora realiza estudo sobre o estilo musical a fim de reconhecer a fusão de estilos
distintos no Le Tombeau de Couperin (escrita cravística de Couperin com a escrita pianística
de Ravel). A tese emprega diferentes possibilidades de estudo, características do Método
Histórico da Musicologia, com o objetivo de elucidar aspectos relacionados ao significado e
execução da escrita pianística. O emprego de fontes primárias aparece por meio da combina-
ção de diferentes evidências históricas informativas do significado e estilo de execução da
notação de Ravel. O acesso ao manuscrito de Ravel com a transcrição da Forlane (obra com-
posta por Couperin) e o exame do tratado intitulado L' Art de toucher le clavecin, de Coupe-
rin, serviram de base à autora para a observação do fenômeno intertextual na escrita pianística
86

do Le Tombeau de Couperin (BENEDETTI, 2008, p. 150). Entretanto, uma aproximação


maior com o estilo de execução do compositor é ilustrada pela autora a partir das anotações de
Marguerite Long sobre a interpretação da obra (BENEDETTI, 2008, p. 18). Dessa maneira, a
pesquisa demonstra o potencial da combinação entre diferentes tipos de fontes para tratar de
aspectos relacionados ao significado da notação proposta pelo compositor e seu estilo de
execução.
A partir da breve exposição sobre os propósitos e procedimentos metodológicos que
têm permeado parte da recente produção em Práticas Interpretativas, é possível tecer consi-
derações na tentativa de compreender possíveis fatores que possam ter colaborado para o
aparecimento desta prática de estudo na linha de pesquisa Práticas Interpretativas. Embora,
possa parecer redundante esclarecer o motivo da presença desta prática de estudo numa linha
de pesquisa com o mesmo nome, acreditamos que alguns fatores possam ter colaborado para
tal possibilidade de estudo.
Uma observação possível de ser realizada acerca das Práticas Interpretativas diz res-
peito ao seu desenvolvimento enquanto disciplina. Conforme visto no início deste subtópico,
pode-se reconhecer na história dos estudos musicológicos a presença de pesquisas relaciona-
das às Práticas Interpretativas, desde inícios do século XX. Trata-se, portanto, de uma disci-
plina com uma certa tradição nos estudos musicológicos cuja expansão e interesse pelo estudo
do repertório posterior ao considerado pela Música Antiga ocorreu, principalmente, após a
década de 70 (PAGE, 2001, p. 371). Tal expansão acompanhou o surgimento de publicações
sobre as Práticas Interpretativas da música posterior ao período Barroco. Uma consulta às
referências bibliográficas dos autores de pesquisas sobre a música de Beethoven, consideradas
anteriormente, permite verificar o grande número de estudiosos que se dedicaram à elabora-
ção de pesquisas sobre as práticas interpretativas da música do compositor alemão e sobre a
música posterior ao período Barroco. Como exemplo encontra-se os estudos desenvolvidos
por Badura-Skoda, Clive Brown, William Newman, Charles Rosen, Sandra Rosenblum, Ro-
bin Stowell, Robert Taub, dentre outros.
Além do elevado número de publicações, acreditamos que um segundo fator pode
ter favorecido a presença desta tendência de estudos na linha de pesquisa Práticas Interpretati-
vas: a partir da exposição apresentada em inícios deste subtópico, pode-se afirmar que os
procedimentos metodológicos empregados pela disciplina, especificamente a pesquisa históri-
ca com base em fontes primárias, oferece ao pesquisador a possibilidade de tratamento de
87

problemas por meio de uma aproximação de configurações do método científico57. Em outras


palavras, a pesquisa histórica pode oferecer ao estudioso a possibilidade de fundamentação
nas evidências históricas para o tratamento de problemas notacionais e conhecimento sobre o
estilo de execução de uma obra a partir da reconstrução do contexto no qual uma notação
musical encontra-se inserida. Tal reconstrução é vista por Walls (2003, p. 90) como um cami-
nho que pode propiciar ao intérprete a compreensão da notação musical. Dessa maneira, é
possível identificar a existência de um conjunto de fatores propícios ao aparecimento desta
tendência de pesquisa, já consolidada entre os estudos musicológicos, representando na
atualidade um dos principais domínios de estudo da Performance Musical.

2.5 ESTUDO SOBRE EDIÇÕES PRÁTICAS

Em seu estudo que trata sobre o desenvolvimento do sistema de notação musical,


Butt (2005, p. 98) observa que este prosseguiu em direção a um detalhamento cada vez maior
quanto à notação de diretrizes para a execução musical: a partir do período Barroco até a
atualidade, pode-se observar a incorporação gradativa de indicações específicas para a exe-
cução musical. O teórico demonstra como o interesse pela incorporação de tais indicações não
representou um procedimento adotado apenas por compositores, mas uma postura empreen-
dida por intérpretes em diferentes períodos da história da notação musical (BUTT, 2005, p.
96).
O oferecimento de um texto musical com indicações notacionais para a sua execução
apresenta-se como proposta das chamadas Edições Didáticas, Práticas ou Interpretativas
(GRIER, 2001, p. 151; FIGUEIREDO, 2000, p. 79). Sendo geralmente, elaboradas por reno-
mados intérpretes e professores de instrumentos, tais edições se constituem num repositório
de informações sobre a técnica e estilo de execução de uma época. Representam, portanto, a
visão interpretativa do editor e se mantém distanciada de uma avaliação das fontes primárias
disponíveis de um texto musical (LAWSON; STOWELL, 2006, p. 37). Tal tratamento pode
ser reconhecido nas primeiras releituras de obras de J. S Bach realizadas no século XIX
(VOGAS, 2008, p. 29). Ao tratar da redescoberta da música de Bach, no século XIX, Harnon-
court observa que este se manteve distante de uma preocupação com a coerência estilística. O
distanciamento de uma preocupação estilística teve suas consequências não somente para a

57
Richardson (2012, p. 27) considera a busca de informações referenciais sobre o fenômeno em estudo, uma das
etapas do método científico.
88

execução musical, mas também para o processo de elaboração de edições musicais. O musicó-
logo e regente afirma:

As partituras do século XVIII quase não trazem indicação de dinâmica, apenas


algumas relacionadas ao andamento e suas modificações, e praticamente nenhuma
quanto à articulação e fraseado. Nas edições de música antiga do século XIX sempre
eram acrescentadas as indicações que estavam ‘faltando’. Nestas edições encontra-
mos, por exemplo, as grandes ligaduras ditas ‘fraseado’ que desfiguram gravemente
a ‘linguagem’ das obras e que praticamente as transportam ao século XIX. Estava-
se, então, consciente, de que era preciso completar as ligaduras. (HARNONCOURT,
1996, p. 44).

Diante dos acréscimos e modificações promovidos pelas Edições Práticas, uma ob-
servação do histórico58 da produção de edições musicais permite reconhecer a ausência de um
consenso totalmente favorável à aceitação dos procedimentos adotados e texto gerado por tais
edições (GRIER, 2001, p. 886; HARNONCOURT, 1996, p. 44). Pode-se afirmar que, tanto o
conteúdo do texto musical quanto os procedimentos metodológicos empregados para a sua
elaboração, continuam sendo alvo de questionamentos e críticas.
Uma primeira reação às sucessivas modificações propostas pelas Edições Práticas
culminou em fins do século XIX com o aparecimento das denominadas Edições Urtext59·.
Tais edições surgiram com o objetivo de oferecer um texto musical baseado na notação
original do compositor a partir de uma avaliação das fontes primárias disponíveis e livres das
intervenções editoriais promovidas pelas Edições Práticas (GRIER, 2001, p. 11; LAWSON,
STOWELL, 2006, p. 37). Atualmente, o termo Urtext - relacionado ao propósito de oferecer
um texto musical baseado na notação original - é amplamente desacreditado por especialistas
(GRIER, 2001, p. 886; LAWSON; STOWELL, 2006, p. 38). Em sua crítica à possibilidade
de reconstrução de uma notação original por parte do editor, Walter Emery observa:

Não existe algo como um 'texto original' de qualquer peça de música do passado, a
não ser que haja somente uma fonte ou todas as fontes forneçam leituras idênticas.
Na minha opinião existem, geralmente, mais do que uma fonte e elas quase sempre
diferem; Quando realmente existe um original identificável (tal como um manus-
crito) ele é frequentemente e claramente errado; nos casos em que não possa ser
impresso tal como está, ou em outras palavras, ele tem de ser editado (EMERY,
1957 apud LAWSON; STOWELL, 2006, p. 38, tradução nossa) 60.

58
Ver Grier, (2001, p. 10-15).
59
O termo deriva da palavra alemã Urtext que quer dizer "texto original" (FIGUEIREDO, 2000, p. 78).
60
"There is no such thing as an "original text" of any piece of old music, unless either there is only one source,
or all the sources give identical readings. In my experience there are usually more sources than one, and they
almost always differ; one has therefore to begin by asking which is the original. When there really is an
identifiable original (such as a unique MS), it is often manifestly wrong; in which case it cannot be printed as it
stands, or in other words, it has to be edited".
89

Em estudos recentes que tratam do processo de elaboração de edições musicais, é


possível identificar discussões e questionamentos em relação aos procedimentos, usualmente,
empregados pelos editores de Edições Práticas. A elaboração de uma edição musical distan-
ciada do conhecimento das fontes primárias disponíveis, assim como a falta de atenção dada à
leitura das variantes61, apresentam-se como problemáticas que podem agravar a manutenção
de uma série de erros (GRIER, 2001, p. 10; LAWSON; STOWELL, 2006, p. 36-37). Para Ba-
dura-Skoda, a recorrência de tais erros representa um dos problemas mais comuns que carac-
terizam este tipo de edição (BADURA-SKODA, 1995, p. 184 apud FIGUEIREDO, 2000,
p.79). Outra categoria de problemas identificados nas Edições Práticas é a ausência de aparato
crítico com esclarecimentos sobre as intervenções, critérios e fontes utilizadas pelo editor-
revisor (FIGUEIREDO, 2000, p. 79; GRIER, 2001, p. 153).
Após as breves considerações apresentadas neste subtópico, pode-se admitir que o
estudo sobre os procedimentos adotados pelas Edições Práticas não constitui apenas como
tópico de interesse de estudiosos interessados no preparo de edições musicais, incluindo
editores-intérpretes e estudiosos da Musicologia Histórica, mas representa atualmente um
assunto que vem despertando a atenção de autores de pesquisas desenvolvidas na linha de
pesquisa de Práticas Interpretativas. Com base em levantamento da produção de pesquisas
relacionada à performance pianística, pode-se afirmar que o interesse pelo estudo comparativo
entre diferentes tipos de edições musicais se faz presente, desde o início da Pós-Graduação,
62
em Música, no Brasil . Contudo, a investigação sobre Edições Práticas relacionada à lite-
ratura pianística representa assunto pouco abordado por teses e dissertações. Dessa maneira, o
item 2.5.1 tratará dos principais procedimentos metodológicos e referenciais teóricos que têm
subsidiado os autores destas pesquisas.

2.5.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

No quadro a seguir, aparecem indicados exemplos de estudos voltados à investigação


do conteúdo e procedimentos adotados em Edições Práticas.

61
O termo pode ser compreendido como as divergências existentes entre as várias cópias de uma obra musical
(FIGUEIREDO, 2000, p. 21).
62
Uma leitura dos resumos da primeiras produções da UFRJ, permitiu-nos identificar esta prática de estudo.
Como exemplo, encontram-se as dissertações O non legato na obra de Johann Sebastian Bach para teclado
(1985), de Margarida Weinberger e Um estudo sobre o conteúdo descritivo na interpretação da obra Quadros de
uma Exposição de Mussorgsky (1992), de Diva Evelyn Reale.
90

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


1 O Pequeno livro de Anna Cristiano UFRJ/ Profa. Dra. Miriam 2008 Mestrado
Magdalena Bach: a revisão de Vogas Grosman
Francisco Mignone
Estudo Comparativo entre Rodrigo UDESC/ Prof. Dr. 2009 Mestrado
2 edições práticas e edições Warken Guilherme Antônio
Urtext de sonatas para piano Sauerbronn de Barros
de Joseph Haydn
Quadro 9: Pesquisas sobre Edições Práticas

A partir de uma observação das unidades de registro, é possível reconhecer o estudo


comparativo entre os diferentes tipos de edições musicais como principal procedimento
metodológico adotado. O quadro a seguir, ilustra as principais unidades de registro identifica-
das nas produções.

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
“O objetivo deste trabalho é comparar a edição de Francisco Mignone com o
1 manuscrito original e através dos resultados dessa comparação analisar as modifi- UFRJ/ VOGAS,
cações feitas pelo editor e discutir sua pertinência” (VOGAS, 2008, p. 13). 2008
1
[...] importância da compreensão da linguagem da época para uma interpretação
consciente” (VOGAS, 2008, p. 13).
“Discutir questões relativas à interpretação musical a partir do estudo compara- UDESC/
2 tivo de edições práticas e edições Urtext tendo como objeto sonatas para piano de WARKEN, 2009
Joseph Haydn” (WARKEN, 2009, p. 21)
Quadro 10: Unidades de registro identificadas nos estudos sobre Edições Práticas

O estudo sobre Edições Práticas e sua comparação com um diferente tipo de edição
musical apresenta-se como proposta de pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Trata-se da dissertação intitulada O Pequeno livro de Anna Magda-
lena Bach: a revisão de Francisco Mignone, de Vogas (2008), cujo objetivo principal
consistiu na realização de um estudo comparativo entre a edição revisada pelo compositor
63
brasileiro Francisco Mignone (1897-1986) e a Edição Fac-similar do Clavierbüchlein für
Anna Magdalena Bach (VOGAS, 2008, p. 13). Metodologicamente, o autor se fundamenta na
pesquisa histórica e análise documental baseada em diferentes tipos de edições musicais. O
estudo comparativo é antecedido por uma ampla contextualização histórica sobre as circuns-
tâncias que promoveram o aparecimento do Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach e
considerações sobre a interpretação da obra para teclado de Bach, desde meados do século
XIX. Fundamentado na Edição fac-similar, o autor demonstra discrepâncias entre a autoria do
álbum editado por Mignone e a reprodução do manuscrito. Enquanto J. S. Bach é descrito na

63
De acordo com Figueiredo (2000, p. 75), a edição fac-similar é aquela que reproduz uma fonte através de
meios fotográficos ou digitais.
91

edição proposta por Mignone como autor de todas as obras que integram o álbum, a Edição
Fac-similar atribui a autoria das peças a diversos compositores (VOGAS, 2008, p. 51). Pode-
se dizer que a pesquisa elaborada por Vogas apresenta similaridades com estudos desenvol-
vidos em Práticas Interpretativas pelo fato de interessar-se pela investigação de aspectos da
notação musical realizados com base em obras de especialistas da disciplina e em tratados
musicais. Tais estudos serviram de fundamentação para o reconhecimento de discrepâncias64
entre a notação proposta pelo compositor e a Edição Fac-similar.
A pesquisa intitulada Estudo comparativo entre edições práticas e edições Urtext de
sonatas para piano de Joseph Haydn, de Warken (2009), identificada no Programa de Pós-
Graduação em Música da UDESC, apresenta como objetivo a realização de um estudo com-
parativo entre diferentes edições musicais a fim de avaliar a pertinência quanto ao emprego de
ambas edições (WARKEN, 2009, p. 21). Metodologicamente, a pesquisa também apresenta
semelhanças com estudos desenvolvidos em Práticas Interpretativas, pois emprega a pesquisa
histórica com base em tratados musicais a fim de investigar o estilo de execução de aspectos
relacionados à notação musical. Dessa maneira, a investigação histórica com base nos tratados
musicais elaborados por Carl Philipp Emanuel Bach, Johann Joachim Quantz, Leopold
Mozart e Daniel Gottbob Türk, serviram de fundamentação para tratar sobre o estilo de
execução de articulações e ornamentos na música do século XVIII. A análise documental e a
comparação realizada numa amostragem constituída por edições Práticas e Urtext65, permi-
tiu ao autor a identificação de disparidades entre a notação musical proposta pelos diferentes
tipos de edições musicais e também entre as edições Urtext. Ao examinar o primeiro movi-
mento da Sonata para piano em sol menor (Hob XVI: 14), de Haydn, o autor demonstra
diferenças entre a notação da articulação proposta por uma edição Litolf e uma edição Wiener
(WARKEN, 2009, p. 62). Diferenças notacionais quanto à articulação proposta por diferentes
edições Urtext são ilustradas com base em excertos de Edições Henle e Wiener, retiradas do
primeiro movimento da Sonata em mi maior (Hob XVI: 22). Pode-se considerar que tais
diferenças corroboram a opinião de especialistas em relação à descrença na possibilidade de
elaboração de uma edição musical baseada no texto original (GRIER, 2001, p. 11).

64
A adição de sinais de dinâmica, a alteração na articulação proposta pela edição fac-similar, o acréscimo de
ligaduras, a alteração do valor de figuras musicais e a omissão de sinais de ornamentação são apresentados por
Vogas (2008, p. 43-100) como exemplos de modificações introduzidas por Mignone em sua proposta de edição.
65
A amostragem selecionada pelo autor compreendeu o emprego de Edições Schirmer (1894) e Litolf como
exemplos de Edições Práticas. Representando exemplos de Edições Urtext, o autor selecionou as Edições Wiener
(1973) e Henle (1972).
92

Com base na descrição dos procedimentos metodológicos das pesquisas aqui tratadas
pode-se notar uma aproximação destas produções com propósitos da disciplina Práticas
Interpretativas no que se refere à investigação do significado da notação musical de acordo
com as convenções de uma época. Pode-se afirmar que, semelhantemente aos estudos
desenvolvidos pela disciplina Práticas Interpretativas, é possível reconhecer nas pesquisas
aqui tratadas o interesse pela interpretação da notação musical fundamentada pelas evidências
históricas.
Entretanto, ao mesmo tempo em que se verifica tal aproximação, observa-se um
distanciamento de uma discussão que procure integrar o conhecimento histórico à atividade
de execução musical, mais diretamente relacionada à atuação dos autores das pesquisas como
performers. O fato de ambas as pesquisas se fundamentarem em estudos desenvolvidos por
representantes do movimento da Performance Historicamente Informada66 e a aproximação de
tais pesquisas com propósitos desta corrente de execução da música histórica, ou seja, a
fundamentação em evidências históricas para tratar do conhecimento estilístico67 (BUTT,
2005, p. 35; HARNONCOURT, 1996), permite relacionar a presença desta prática de estudo
como uma consequência das discussões, no meio acadêmico, em torno da Performance His-
toricamente Informada, mesmo em pesquisas que não trataram, explicitamente, da relação
entre a interpretação histórica e a atividade da performance musical.

2.6 OUTRAS PRÁTICAS DE ESTUDO DA MUSICOLOGIA HISTÓRICA: ESTUDO BIO-


GRÁFICO, SOBRE GÊNERO MUSICAL E CATALOGAÇÃO

É possível reconhecer no conjunto de pesquisas desenvolvidas na área de concen-


tração/ linha de pesquisa Performance Musical e Práticas Interpretativas a presença de estudos
históricos nos quais é possível notar a ausência de uma menção explícita sobre a relação entre
pesquisa histórica e a atividade da performance musical. Tais pesquisas representam uma
categoria de estudos interessada pela interpretação de fenômenos musicais, porém de maneira
próxima à atividade interpretativa que caracteriza a prática do historiador da área musical.
Intérpretes-performers têm prestado uma importante contribuição para o desenvolvimento de

66
Ambas pesquisas se fundamentam em estudos desenvolvidos por Harnoncourt, como os livros O Diálogo
Musical: Monteverdi, Bach e Mozart (publicado, em 1993) e O Discurso dos Sons: caminhos para uma nova
compreensão musical (1996). Butt (2005, p. 25), considera Harnoncourt como um dos representantes do
Movimento da Performance Historicamente Informada.
67
Aqui compreendido como as características notacionais das obras objeto de estudo e também, do estilo de
execução da notação proposta.
93

estudos no campo histórico da Musicologia. As pesquisas que serão tratadas no presente


subtópico caracterizam-se pelo emprego da investigação histórica com diferentes propósitos,
baseadas em práticas de estudo bastante consolidadas no campo-histórico da Musicologia. Por
apresentarem propostas de estudo distintas, serão consideradas separadamente a fim de per-
mitir a ilustração dos procedimentos metodológicos.

2.6.1 Elaboração de catálogos musicais

A elaboração de catálogos de fontes musicais primárias constitui uma atividade


fundamental para o desenvolvimento de estudos no ramo da Crítica Textual (DUCKLES,
2001, p. 499). Atualmente designada pelo termo "Arquivologia Musical" (CASTAGNA,
2008, p. 21), tal atividade tem colaborado para a organização de acervos musicais e divulga-
ção de documentos musicais. De maneira geral, a elaboração de catálogo musical compreende
a apresentação de índice constituído pela relação de documentos, podendo ser acompanhado
de notas explicativas e comentários. Quando voltados à discriminação de composições musi-
cais, os catálogos musicais podem incorporar comentários sobre aspectos relacionados à es-
trutura musical e notas explicativas sobre a obra e o meio de transmissão do texto musical
(SADIE, 1994, p. 178).
Em relação ao desenvolvimento de estudos dessa natureza no Brasil, Castagna (2008,
p. 22) observa que sua prática começou a se desenvolver com maior intensidade na transição
do século XX para o XXI. É possível reconhecer a presença de tal prática de estudo em
produções de dissertações e teses desde o início dos primeiros Programas de Pós-Graduação
em Música, especialmente, em pesquisas voltadas para a organização de acervos de com-
positores brasileiros. Siste (2009, p. 11) observa que diante da precária organização de acer-
vos musicais, a elaboração de atividades relacionadas à descoberta, catalogação e disponi-
bilização de documentos sempre gozou de grande prestígio no meio acadêmico brasileiro.
Além da presença desta prática de estudo na elaboração de dissertações e teses, desenvolvidas
pela subárea Musicologia Histórica, tal possibilidade de estudo tem se mantido presente desde
os primeiros estudos desenvolvidos na área de concentração/ linha de pesquisa em Práticas
Interpretativas e Performance Musical. Uma leitura dos resumos das primeiras dissertações,
produzidas no Mestrado em Música da UFRJ, permite reconhecer a presença de produções
94

interessadas pela elaboração de catálogos musicais68.


Dentre as recentes produções de teses e dissertações, desenvolvidas na linha de
pesquisa Performance/ Práticas Interpretativas, pode-se reconhecer a presença de catálogos
musicais em pesquisas discutidas neste capítulo. As unidades de registro apresentadas pelo
estudo desenvolvido por Pozzi (2011) e a descrição da pesquisa elaborada por Silva (2008),
permitem identificar o interesse por esta prática de estudo. O propósito de elaboração de catá-
logo musical relacionado ao repertório pianístico apresenta-se como objetivo principal da
dissertação intitulada Piano a Quatro mãos: aspectos interpretativos e obras brasileiras para
essa formação, de Faria (2007), desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Música da
UFMG. Metodologicamente, o estudo emprega a pesquisa histórica direcionada para a inves-
tigação do repertório pianístico a quatro mãos a partir de considerações sobre a sua origem e
as principais contribuições de compositores para a sua elaboração. Com base em depoimentos
de duos pianísticos, trata brevemente sobre o processo de estudo e dificuldades relacionadas à
performance a quatro mãos. Apresenta o emprego da pedalização como uma das maiores di-
ficuldades enfrentadas por pianistas durante a execução a quatro mãos. O catálogo oferecido
pela autora abrange obras para o gênero, elaboradas por diversos compositores brasileiros.
Contempla comentários sucintos sobre aspectos da estrutura musical, breve apresentação de
dados biográficos de compositores e informações sobre o meio de transmissão do texto mu-
sical.
Com base nas considerações apresentadas, é possível admitir que estudos elaborados
no nível da Pós-Graduação em Música, especificamente, as produções desenvolvidas na linha
de pesquisa Práticas Interpretativas/Performance têm acompanhado tendências de estudos
desenvolvidos pela subárea Musicologia Histórica. Entretanto, tais estudos têm oferecido
importante contribuição não somente para a divulgação de repertório desconhecido do grande
público, por meio da atuação dos autores das pesquisas como performers, mas possibilitando
o acesso de pesquisadores a composições que poderão se tornar objeto de estudos musico-
lógicos. Contudo, cabe ao pesquisador avaliar a relevância desta prática de estudo, juntamen-
te, com a pesquisa histórica para o tratamento de questões ou problemáticas de interesse para
o intérprete-performer.

68
Dentre as produções interessadas pela elaboração de catálogo musical encontra-se a dissertação intitulada
Interpretação na obra pianística de Radamés Gnatalli através do conhecimento da música popular urbana
brasileira, de Fernanda Chaves Canaud (1991).
95

2.6.2 Estudo Biográfico

De maneira geral, o estudo biográfico vinculado ao propósito de desenvolvimento de


estudos musicológicos pode ser compreendido como uma categoria de estudos interessada
pela investigação e ordenação de fatos ligados à vida de um indivíduo, relacionados à sua
formação e produção de obras musicais (BEARD, GLOAG, 2005, p. 26; SOLOMON, 2001,
p. 598). Trata-se de uma prática de estudo de longa tradição na historiografia musical, poden-
do ser identificada desde fins do século XIX (STANLEY, 2001, p. 493). O estudo biográfico
representa uma das práticas do Método Histórico da Musicologia, sendo classificada por
Stanley como uma possibilidade de estudo pertencente à categoria teórico-filosófica, inte-
ressada por problemas historiográficos gerais (STANLEY, 2001, p. 492).
O emprego da pesquisa histórica voltada à elaboração de estudo biográfico, em
pesquisas vinculadas à investigação sobre práticas interpretativas, representa uma proposta de
estudo presente em teses e dissertações, oriundas dos primeiros cursos de Pós-Graduação em
Música, no Brasil. Tal exemplo pode ser identificado, especificamente, na produção inicial
sobre práticas interpretativas, desenvolvida na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). A vocação pianística característica do primeiro Mestrado, em Música, da instituição
favoreceu a produção de pesquisas sobre práticas interpretativas, baseadas em modelos de
memoriais e caracterizadas pela presença de estudos biográficos (KERR; CARVALHO;
RAY, 2006, p.16). Uma leitura dos resumos das primeiras dissertações, defendidas nessa
instituição, permite reconhecer a incorporação de estudos biográficos, cumprindo muitas
vezes a função de anteceder análises musicais e considerações sobre a interpretação de uma
obra musical69. Trata-se de um formato de trabalho ainda presente em produções desenvol-
vidas na linha de pesquisa/ área de concentração Práticas Interpretativas/ Performance. 70
Dentre as pesquisas com propósito de oferecer estudo biográfico encontra-se a
dissertação intitulada Clara Schumann: compositora x mulher de compositor, de Silva (2008),
desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP). Elaborada na linha de pesquisa Técnicas

69
O acesso aos resumos das primeiras dissertações em práticas interpretativas, desenvolvidas pela UFRJ, permi-
tiu a identificação de pesquisas vinculadas à elaboração de estudos biográficos. São exemplos as dissertações
Um estudo sobre os "dois noturnos" para a mão esquerda, de Bruno Kiefer, através do conhecimento das
características composicionais utilizadas pelo autor, de Zaida Valentin (1990) e Uma postura interpretativa da
obra Estrela Brilhante de Ronaldo Miranda, de Harlei Raymundo (1991).
70
Para esclarecimentos, consultar questionário respondido por Miriam Grosman, nos apêndices desta disser-
tação. Grosman destaca a recorrência de produções em Práticas Interpretativas/ Performance baseadas em mode-
lo caracterizado pela sequência de apresentação das seguintes práticas de estudo: estudo biográfico, apresentação
de contexto de obras do compositor, elaboração de análise musical e apresentação de sugestões interpretativas.
96

Composicionais e Questões Interpretativas, a pesquisa realiza uma investigação histórica com


propósito de divulgar a obra e resgatar a figura da pianista e compositora Clara Schumann
(SILVA, 2008, p. 17). Metodologicamente, a pesquisa emprega diferentes práticas de estudo
características da Musicologia Histórica, como o estudo biográfico, sobre estilo musical e a
elaboração de catálogo musical. Entretanto, o propósito de oferecer um estudo voltado ao
resgate de vida e obra da compositora, permite aproximar a pesquisa de propósitos vinculados
aos estudos biográficos. Fundamentada no livro Clara Schumann: the artist and the woman
(REICH, 2001 apud SILVA, 2008), a autora fornece estudo biográfico com dados sobre a
formação e atuação de Clara Schumann como pianista, professora de instrumento e com-
positora. A apresentação de catálogo de obras da compositora é seguida por um breve
comentário sobre as principais composições de Clara Schumann e abordagem sobre seu estilo
musical. A fim de ressaltar as qualidades de Clara Schumann como compositora, a autora da
pesquisa oferece estudo estilístico fundamentado no procedimento analítico, proposto no livro
Comprehensive musical analysis (WHITE, 1994 apud SILVA, 2008). Todavia, a análise
musical empreendida por Silva aparece como subsídio à investigação histórica, diferindo de
estudos que empregam a análise musical como um fim em si mesma ou subsídio à atividade
da performance musical.
A pesquisa aqui apresentada não representa a única produção caracterizada pela
presença de estudo biográfico. Conforme apresentado pelas unidades de registro das pesquisas
anteriormente tratadas, o estudo biográfico tem acompanhado produções voltadas para a
elaboração de edições de obras musicais, sobre estilo musical e pesquisas sobre Práticas
Interpretativas. O fato de tal prática de estudo apresentar-se em diversas pesquisas (como
aquelas interessadas pela prática da análise musical), permite identificar os estudos biográ-
ficos como uma prática de estudo, bastante recorrente, em estudos desenvolvidos na linha de
pesquisa Práticas Interpretativas. Acreditamos que o potencial de tais estudos em oferecer um
contexto histórico sobre as influências exercidas sobre um compositor (BEARD; GLOAG,
2005, p. 27) e fatos históricos (relacionados às circunstâncias que determinaram o apare-
cimento de determinadas obras musicais) pode ter colaborado para a recorrência de estudos
biográficos em pesquisas sobre práticas interpretativas, pois constituem aspectos que podem
colaborar para uma interpretação musical (BEARD; GLOAG, 2005, p. 26). Entretanto, acre-
ditamos que sua incorporação por determinadas pesquisas, também pode estar relacionada a
uma adequação a certos modelos de pesquisas, bastante aceitos, em inícios dos estudos em
97

71
práticas investigativas . Assim como na subcategoria de estudo, anteriormente tratada, cabe
ao pesquisador avaliar o potencial de determinadas propostas para a resolução da
problemática a que se propõe resolver. Qual a real contribuição de uma determinada pers-
pectiva de pesquisa para o tratamento de problemáticas em práticas interpretativas, representa
a nosso ver, uma questão fundamental a ser respondida pelo performer-pesquisador.

2.6.3 Estudo sobre gênero musical

Outra prática de estudo bastante presente em pesquisas desenvolvidas pelo campo


histórico da Musicologia, diz respeito ao estudo sobre gênero musical. De modo geral, tal
prática de estudo tem como um de seus propósitos a identificação de características de uma
obra mediante o reconhecimento de peculiaridades inerentes a determinado gênero musical
(SAMSON, 2001, p. 657). Musicólogos têm empregado o estudo sobre gênero musical a fim
de reconhecer os aspectos externos e socialmente condicionantes de uma obra musical
(BEARD; GLOAG, 2005, p. 72). Semelhantemente aos estudos biográficos, a pesquisa sobre
gêneros musicais também se apresenta como uma tendência de estudo presente desde a
produção inicial sobre práticas interpretativas, no nível da Pós-Graduação, em Música, no
Brasil. Trata-se de uma possibilidade de estudo que tem sido incorporada principalmente em
produções sobre Análise Musical e pesquisas de cunho histórico. Tendências recentes
identificadas em teses e dissertações, produzidas na linha de pesquisa Práticas Interpretativas,
apresentam estudos caracterizados metodologicamente pela combinação de estudo biográfico
sobre compositor, abordagem sobre a trajetória histórica de determinado gênero musical e
apresentação de análise musical72. Trata-se de um formato de pesquisa, bastante presente, em
produções em Práticas Interpretativas, no Brasil.
Dentre as pesquisas identificadas com propósito de elaboração de estudo sobre
gênero musical encontra-se a produção intitulada O Ressurgimento da Suíte para Teclado na
Segunda Metade do Século XIX e início do Século XX, de Heidrich (2009), desenvolvida na
Universidade de São Paulo (USP), na linha de pesquisa Técnicas Composicionais e Questões
Interpretativas. A dissertação oferece estudo sobre o desenvolvimento do gênero Suíte com
objetivo de identificar semelhanças e diferenças entre a suíte Barroca e suítes compostas a
71
Para esclarecimentos, consultar questionário respondido por Miriam Grosman, nos apêndices desta disserta-
ção.
72
A combinação de tais possibilidades de estudo aparecem nas dissertações Ernesto Nazareth e suas Polcas
para piano, de Raquel Souza (2012), produzida na UFRJ e Dança brasileira e Dança negra para piano de
Camargo Guarnieri, de Priscila Freire (2007), desenvolvida na UNICAMP.
98

partir do século XIX (HEIDRICH, 2009, p. 1). Metodologicamente, emprega a pesquisa his-
tórica fundamentada em bibliografia da área de história da música. Baseado em tais estudos
oferece uma visão panorâmica sobre a trajetória histórica do gênero "suíte", desde o seu
aparecimento. Sua abordagem contempla uma caracterização da Suíte Barroca e apresen-
tação dos principais compositores interessados pela elaboração do gênero. Emprega a pes-
quisa histórica a fim de investigar os principais fatores que promoveram o ressurgimento do
gênero "suíte" a partir do século XIX. O autor compara a estrutura formal de suítes Barrocas
com suítes pertencentes aos séculos XIX e XX a fim de verificar o grau de proximidade entre
ambas. Encerra o estudo com a apresentação de comentários gerais sobre o material musical
empregado em suítes elaboradas por Debussy, Ravel e Henrique Oswald.
Semelhantemente as práticas de estudo, examinadas anteriormente, podemos afirmar
que diferentes fatores podem ter colaborado para a presença dos estudos sobre gênero musical
em pesquisas desenvolvidas nas linhas de Práticas Interpretativas e Performance Musical. Um
possível fator pode estar relacionado ao potencial de tais estudos para a interpretação musical
(BEARD; GLOAG, 2005, p. 72). Pode-se afirmar que tal procedimento de estudos pode fa-
vorecer o conhecimento parcial de aspectos da escrita musical a partir do exame de refe-
rências extramusicais, ou seja, em função do reconhecimento de aspectos socialmente condi-
cionantes de uma obra musical. Encontra-se aqui uma diferença importante do estudo sobre
estilo musical voltado, principalmente, para uma abordagem sobre as características internas
de uma obra musical (BEARD; GLOAG, 2005, p. 72). Entretanto, acreditamos que o fato dos
estudos sobre gênero musical representarem uma prática consolidada, nos estudos musico-
lógicos, pode ter colaborado para a sua recorrência, num formato de apresentação de pesqui-
sas em Práticas Interpretativas (linha de pesquisa /área de concentração), discutido anterior-
mente. Podemos, ainda afirmar, que a existência de interesses em comum de performers com
musicólogos do campo histórico, como a busca de compreensão do texto musical e o produto
de uma edição musical, tem corroborado o aproveitamento de práticas investigativas da Mu-
sicologia Histórica e, portanto, a presença dos estudos em performance pianística que tem
feito interface com este ramo da Musicologia.
99

3 A INTERFACE ENTRE A PSICOLOGIA E A PERFORMANCE PIANÍSTICA: A


PRODUÇÃO RECENTE EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS

A Performance Musical tem sido considerada por alguns estudiosos (LIMA, 2006;
BORÉM, 2005) como uma área de estudos caracterizada pelo emprego da interdiscipli-
naridade73. A partir desta consideração, pode-se admitir que a compreensão de aspectos rela-
cionados ao campo de estudo da Performance Musical pode ser favorecida mediante o reco-
nhecimento do diálogo mantido entre esta subárea com outras áreas do conhecimento. Sendo
assim, o presente capítulo tem como proposta ilustrar o diálogo entre parte da produção rela-
cionada à performance pianística com a área da Psicologia e, mais especificamente, a Psi-
cologia da Performance. A fim de introduzir a apresentação das produções de teses e disser-
tações sobre performance pianística, relacionadas à Psicologia da Performance, o capítulo se
iniciará com a exposição dos propósitos gerais da disciplina e principais tópicos de interesse
que têm atraído pesquisadores para o desenvolvimento de estudos em Psicologia da Perfor-
mance. Em seguida, como forma de contextualizar a apresentação dos principais temas e me-
todologias adotados pelas teses e dissertações selecionados, serão expostos alguns dos prin-
cipais métodos empregados por pesquisas relacionadas à disciplina Psicologia da Performan-
ce.

3.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES: OS PROPÓSITOS DA DISCIPLINA

A Psicologia é comumente definida como a ciência interessada pela investigação de


questões relacionadas ao comportamento humano e processos mentais (SHAUGHNESSY et
al., 2012, p. 20). Uma aproximação desta definição com a área musical permite compreender
os estudos sobre Psicologia da Música como uma disciplina cujo interesse se concentra na
investigação do pensamento e comportamento musical a partir de uma perspectiva científica.
O emprego de diferentes ferramentas ou procedimentos metodológicos da Psicologia tem
contribuído para o estudo sobre diferentes tópicos, tais como: a percepção de fenômenos

73
Em seu estudo, a pesquisadora Olga Pombo (2005, p. 3-9) relaciona o termo interdisciplinaridade, tanto a um
meio de investigação quanto a uma prática possível de ser adotada no processo de ensino-aprendizagem. Para a
pesquisadora, o surgimento da interdisciplinaridade (como uma possibilidade investigativa) correspondeu a uma
reação de pesquisadores pertencentes a diferentes áreas do conhecimento, diante da crescente especialização das
ciências. Desta maneira, a autora relaciona o conceito a um meio investigativo, caracterizado pela transferência
de conceitos, problemas e metodologias de uma disciplina para outra. Afirma que o cruzamento de hipóteses e
resultados de disciplinas com hipótese e resultados de outras disciplinas tem colaborado para o avanço da
ciência, permitindo a determinadas áreas do conhecimento "aceder a camadas mais profundas da realidade que se
quer estudar" (POMBO, 2005, p. 9).
100

acústicos, a performance, a criatividade, a memorização, a escuta e as atividades de ensino e


aprendizagem de habilidades musicais (DEUTSCH, 2001, p. 527).
Dentre as diferentes habilidades musicais que têm sido objeto de investigação e
desenvolvimento de estudos empíricos, a percepção de fenômenos sonoros é apresentada por
especialistas como uma daquelas que mais têm atraído a atenção de investigadores. A inves-
tigação de aspectos relacionados à percepção sonora sempre atraiu a atenção de pesqui-
sadores em diferentes momentos da história. Por isso, pode-se afirmar que os estudos em-
píricos vinculados à investigação de fenômenos acústicos e da percepção sonora são an-
teriores ao surgimento dos estudos modernos em Psicologia da Música (DEUTSCH, 2001, p.
527; RINK, 2009, p. 61). Tal assunto é abordado por Deutsch (2001, p. 528) ao tratar sobre as
realizações dos primeiros estudos empíricos interessados pela investigação da percepção de
fenômenos acústicos, tais como o reconhecimento de alturas, timbres e ritmos.
Quanto ao surgimento da Psicologia da Música como uma disciplina da Musi-
cologia Sistemática74, pode-se afirmar que sua origem ocorreu paralelamente à consolidação
da Psicologia como ciência75. De acordo com Lehmann, Sloboda e Woody (2007, p. 14), o
surgimento dos estudos modernos em Psicologia da Música ocorreu durante a segunda metade
do século XIX, centrados principalmente na investigação e estudo sobre a percepção de
fenômenos acústicos. Como exemplo de tais investigações encontra-se as pesquisas sobre a
percepção de alturas, desenvolvidas por Hermann von Helmholtz76 (1821-1894), e pesquisas
voltadas para a investigação sobre o reconhecimento de timbres por músicos, como as desen-
77
volvidas por Carl Stumpf (1848-1936) (GABRIELSSON, 2001, p. 528-529). Embora, os
exemplos anteriores permitam reconhecer o foco dos primeiros estudos em Psicologia da
Música na investigação de habilidades relacionadas à percepção auditiva, o estudo sobre

74
Baseado na proposta de sistematização dos estudos musicológicos, elaborada por Adler, Parncutt (2012, p.
151) define a Musicologia Sistemática como um dos ramos da Musicologia o qual abrange diversas disciplinas,
tais como a Psicologia Empírica, a Sociologia, a Acústica, a Fisiologia, a Neurociência, as Ciências Cognitivas, a
Computação e a Tecnologia. O autor observa que tais disciplinas têm se caracterizado pelo emprego de proce-
dimentos metodológicos das chamadas Ciências Duras.
75
Alguns estudiosos têm apresentado o ano de 1879 - quando Wilhelm Wundt implantou o primeiro laboratório
formal de Psicologia na cidade de Leipzig, na Alemanha - como o início oficial da Psicologia como ciência
(SHAUGNESSY et al., 2012, p. 23). Desde a primeira proposta de sistematização dos estudos musicológicos,
oferecida por Adler, em 1885, pode-se reconhecer a Psicologia como uma disciplina pertencente ao ramo
Sistemático da Musicologia (RINK, 2009, p. 61).
76
Cientista alemão, nascido em Berlim, o qual se dedicou ao estudo da anatomia do ouvido e dos fenômenos da
dissonância e consonância. Através de seus trabalhos sobre o ouvido, fundou a atual teoria da audição (SADIE,
1994, p. 422).
77
Filósofo e músico alemão, considerado um dos fundadores da Musicologia Comparada. Seus estudos sobre a
percepção musical resultaram na elaboração da obra intitulada Tonpsychologie [Psicologia do som] (1883-90).
Argumentando contra as teorias de Helmholtz, propôs a denominada teoria da "fusão" sonora (DEUTSCH, 2001,
p. 529).
101

aspectos da performance musical, vinculada à atuação de músicos instrumentistas, também


começou a atrair o interesse das primeiras investigações desenvolvidas pela área da Psicologia
da Música.
Desenvolvidas por Carl Seashore (1866-1949), as primeiras pesquisas sobre aspectos
relacionados à atividade da performance musical, vinculada à atuação de músicos instrumen-
tistas, caracterizaram-se pela ênfase em abordagens quantitativas. A fim de observar o trata-
tratamento conferido por pianistas profissionais aos parâmetros intensidade e altura, durante
performances de obras de Chopin, Seashore (1967, p. 235) fez uso de um sistema de câmara
acoplado ao piano com propósito de registrar os movimentos dos martelos, abafadores de um
piano, bem como o emprego da pedalização pelos instrumentistas. O emprego do equipamen-
to permitiu ao pesquisador realizar a medição de ambos os parâmetros, favorecendo a
observação de diferentes aspectos interpretativos, tais como a dinâmica, o andamento, o
fraseado e a qualidade sonora das execuções realizadas pelos pianistas. Através de gráficos
representativos dos dados captados pelo equipamento, procurou ilustrar a consistência entre
várias interpretações de uma mesma obra, realizadas por um mesmo instrumentista, assim
como a presença de assincronização durante a execução de acordes (SEASHORE, 1967, p.
239-247). Tanto nesta pesquisa quanto em outros estudos, caracterizados pelo emprego de
equipamentos voltados para a gravação e a medição, o pesquisador procurou demonstrar a
presença de numerosos "desvios" dos intérpretes em relação às designações apresentadas pela
notação musical (SEASHORE, 1967).
Embora, tais estudos tenham ocorrido já em início do século XX, o desenvolvimento
de pesquisas em Psicologia da Performance tornou-se mais intenso apenas após meados do
século XX. Tanto o crescimento de pesquisas em Cognição quanto à inserção de músicos em
equipes multidisciplinares, interessadas pela realização de investigações sobre o desempenho
de performers, colaboraram para o desenvolvimento e crescimento de pesquisas da disci-
plina (KAMINSKY; RAY, 2012, p. 2463). Atualmente, a disciplina Psicologia da Perfor-
mance é definida como uma área de estudos interessada pela investigação de diversas habili-
dades cognitivas e motoras relacionadas à performance musical (CLARKE, 2001, p. 546). A
ampla variedade de habilidades musicais envolvidas no processo de preparação e realização
da performance musical (atuação do músico instrumentista) tem atraído a atenção de psicó-
logos, professores de diferentes instrumentos musicais e performers para o desenvolvimento
de pesquisas em Psicologia da Performance. Com base em estudos elaborados por diversos
especialistas da disciplina Psicologia da Performance, tais como Clarke (2011), Williamon e
Thompson (2004), Rink (2009), e Sloboda (2008) apresentamos a seguir, um breve esquema
102

com exemplos de habilidades e sub-habilidades que têm atraído a atenção de pesquisadores.


As sub-habilidades apresentadas foram retiradas de pesquisas que tiveram a performance de
músicos em nível de expertise78 como principal objeto de estudo. Outros exemplos de sub-
habilidades, basearam-se em estudos que tiveram as performances de estudantes de nível
avançado como objeto de investigação. Diversas pesquisas sobre Psicologia da Performance
têm se concentrado na investigação das seguintes habilidades:
 Habilidades técnicas e motoras. Exemplos:
- execução de sequência rápida de movimentos por ambas as mãos, durante a
performance pianística, envolvendo diferentes padrões de movimento para cada
uma das mãos (SHAFFER, 1981, p. 357);
- eficiência motora demonstrada durante a ação pianística mediante o controle da
força de impulso, da consciência da trajetória (movimento a ser executado) e do
controle do impacto sobre o teclado (ANDRADE; PÓVOAS, 2010, p. 153);
 Habilidades expressivas. Exemplos:
- capacidade de selecionar movimentos adequados em função da intenção ex-
pressiva (transmissão de emoções) durante a ação pianística (DAVIDSON, 2007,
p. 399);
- emprego de estratégias por estudantes em nível avançado para a elaboração de
performances expressivas (VAN ZIJL; SLOBODA, 2010, p. 214);
- emprego de guias79 expressivos por uma pianista em nível de expertise (CHAF-
FIN, 2002, p. 197);
 Habilidades cognitivas80. Exemplos:
- excelente desempenho de pianistas na realização de leitura à primeira vista
durante estudo experimental (ERICSSON; LEHMANN, 1996, p. 25);
- alto desempenho de pianistas demonstrado em atividade para a recuperação da
memória musical, proporcionado pelo conhecimento da estrutura musical, a qual

78
Sloboda define o expert como o profissional que consegue demonstrar sem falhas, ao mesmo tempo, uma
série de sub-habilidades durante a atividade da performance, subordinando-as à estrutura de uma composição
musical (SLOBODA, 2008, p. 121).
79
Em seu livro, Chaffin define os guias de execução como as características da música selecionadas pelo perfor-
mer durante a elaboração da performance musical. Para o psicólogo, os guias de execução funcionam como pis-
tas que podem ser utilizadas pelo performer para o resgate da memória musical no desenrolar de uma perfor-
mance (CHAFFIN, 2002, p. 7).
80
A Psicologia Cognitiva é definida por Sternberg (2008, p. 39) como "o estudo de como as pessoas percebem,
aprendem, lembram e pensam a informação". Com base neste conceito, podemos definir as habilidades cog-
nitivas como a capacidade relacionada aos processos de reconhecimento, elaboração e memorização das
informações.
103

serviu como "pista" para o resgate de informações (WILLIAMON; EGNER,


2004, p. 43);
- emprego de diversas habilidades metacognitivas81 por músicos em nível de
expertise, durante o processo de elaboração da performance musical (HALLAM,
2000, p. 9);
- alto desempenho durante a atividade de memorização musical demonstrado por
pianista profissional, favorecido pelo emprego de estratégias para a recuperação
da memória musical (CHAFFIN, 2012, p. 216);
 Habilidades interpretativas. Exemplos:
- extraordinário controle do tempo e da dinâmica demonstrado por pianista em
nível de expertise durante execução de obra de Chopin (SHAFFER, 1981, p. 344-
357);
- seleção de diferentes tipos de guias interpretativos por pianista profissional, ou
seja, o estabelecimento de decisões relacionadas à execução de fraseado, dinâmi-
ca, andamento e utilizações do pedal (CHAFFIN, 2012, p. 197);
- emprego de variadas estratégias voltadas ao tratamento do parâmetro tempo,
durante a performance musical82, demonstradas por meio da análise de gravações
de pianistas renomados (REPP, 1997, p. 265);
 Manejo de tensões psicológicas durante a performance em público (CLARKE,
2011, p. 80).

As razões que têm colaborado para o interesse de pesquisadores pela investigação de


tais habilidades musicais nos estudos psicológicos são bastante diversas. O assunto é tratado
por Palmer (1997) em seu estudo sobre a produção de pesquisas em performance musical com
foco nas habilidades interpretativas, motoras e relacionadas ao planejamento da performance.
Ao abordar os principais objetivos dos estudos psicológicos, afirma que estes têm se voltado
para diferentes propósitos. Como exemplo, destaca o interesse de psicólogos pela formulação
de teorias sobre os mecanismos envolvidos na atividade da performance musical (PALMER,

81
Em seu livro sobre Psicologia Cognitiva, Sternberg (2008, p. 315) define a metacognição como o conhecimen-
to e controle da própria cognição. O emprego de habilidades metacognitivas, na construção da performance mu-
sical foi discutido por Hallam (2000). Tal autora associa as habilidades metacognitivas, como a capacidade de
gerenciamento do próprio aprendizado e desempenho durante a performance musical.
82
Repp (1997, p. 257) emprega o termo "timing strategies" para referir-se às diversas estratégias voltadas para o
tratamento temporal conferido por intérpretes, durante performances de obras de Debussy. Em seu estudo, o
autor compara o andamento e as modificações de andamento empregadas por pianistas experts e estudantes em
nível avançado (REPP, 1997, p. 263).
104

1997, p. 116). A autora demonstra como o estudo baseado no comportamento de pianistas de


alto de padrão tem servido para a formulação de teorias que tratam do controle motor, do
processo de construção da performance musical, da relação entre a estrutura musical e a
expressividade em performance e do controle temporal durante a atividade da performance
(PALMER, 1997, p. 117-131). A busca por explicações para as ambiguidades existentes entre
as escolhas realizadas por performers e a investigação sobre a relação entre performance e
percepção musicais (a maneira como os ouvintes podem ser influenciados por aspectos da
performance), também são apresentados por Palmer (1997, p. 116) como objetivos dos estu-
dos psicológicos relacionados à performance musical.
Além da formulação de teorias por psicólogos, o desenvolvimento de estudos psico-
lógicos também tem se voltado para o interesse didático de pesquisadores, geralmente profes-
sores de instrumento musical, como possibilidade de avaliar a efetividade de estratégias para a
otimização de habilidades. Tal exemplo tem aparecido em diversas pesquisas experimentais
as quais têm sido empregadas com propósitos de verificar a melhora no desempenho de
habilidades a partir de tratamentos ou emprego de estratégias metodológicas ministradas a um
grupo de participantes (PIKE; CARTER, 2010; ANDRADE; PÓVOAS, 2010). Alguns
especialistas da área ressaltam ainda uma função didática dos estudos psicológicos relacio-
nados à atividade da performance musical. Em seu artigo, Miklaszewski (2004, p. 30) afirma
que o acesso de professores de instrumento a determinados estudos psicológicos pode trazer
implicações positivas para a atividade didática instrumental. Na visão do pesquisador, tais
estudos podem permitir aos professores de instrumento o conhecimento sobre as estratégias
empregadas por músicos expert e que podem ser aplicadas pelos estudantes. Outro potencial
dos estudos psicológicos apontados por Miklaszewski (2004, p. 31) refere-se à possibilidade
de conhecimento sobre habilidades fundamentais para a atividade da performance musical.
Outros especialistas, também têm ressaltado a relevância da pesquisa sobre aspectos psico-
lógicos vinculados à performance: Lehmann, Sloboda e Woody (2007, p. 5) afirmam que tais
estudos podem oferecer vários pontos de referência para músicos em suas atividades como
professores ou performers. Sendo assim, alguns pesquisadores têm reconhecido o potencial
dos estudos psicológicos como uma valiosa fonte de informação para professores de ins-
trumentos os quais podem empregá-los para o desenvolvimento de estratégias didáticas
direcionadas à otimização de habilidades musicais.
Outra razão que tem favorecido o crescimento de estudos na disciplina está dire-
tamente vinculada aos interesses de performers no desenvolvimento de pesquisas voltadas
para a própria otimização de habilidades. De acordo com Ray (2005, p. 47) o aspecto psi-
105

cológico pode ser considerado um fator indispensável a ser considerado pelo performer
durante as etapas de preparação, execução e auto-avaliação do desempenho. A autora afirma:
"A estrutura emocional de um músico precisa ser trabalhada tanto quanto suas habilidades
motoras e aprofundadas juntamente com o crescimento do contexto musical das obras que ele
executa" (RAY, 2005, p. 47). Em sua visão, todos os elementos da performance musical, ou
seja, as diferentes habilidades necessárias para a realização da performance, tais como os
aspectos anato-fisiológicos, conhecimento do conteúdo, aspectos técnicos, psicológicos e
neurológicos devem ser trabalhados conjuntamente durante o período de preparação da
performance musical (RAY, 2005, p. 41). A atenção dada à investigação dos aspectos psi-
cológicos por parte da produção relacionada à performance pianística, objeto de estudo da
presente dissertação, será abordada mais adiante. A importância de tais aspectos para a ati-
vidade da performance, conforme salientada por Ray (2005), permite compreender parcial-
mente algumas das possíveis razões que têm colaborado para o aparecimento de produções
relacionadas à disciplina Psicologia da Performance nas áreas/linhas de pesquisa em Práticas
Interpretativas e Performance Musical.
A partir das considerações apresentadas e com base em pesquisas desenvolvidas por
especialistas da disciplina Psicologia da Performance, podemos afirmar que o estudo das di-
versas habilidades musicais aqui abordadas tem se baseado, principalmente, no emprego de
procedimentos metodológicos característicos da Psicologia, corroborando a presença da inter-
disciplinaridade em estudos desenvolvidos pela subárea Performance Musical. Desta maneira,
o subtópico a seguir tem como propósito apresentar uma visão sobre os principais pro-
cedimentos metodológicos que têm caracterizado boa parte das pesquisas relacionadas à Psi-
cologia da Performance.

3.2 PRINCIPAIS MÉTODOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2.1 A experimentação e os estudos com delineamento experimental

De acordo com alguns pesquisadores (RINK, 2009, p.64; WILLIAMON; THOMP-


SON, 2004, p. 10), o método experimental é um dos procedimentos mais empregados pela
disciplina Psicologia da Performance. Pode-se considerar o método experimental como um
dos mais eficazes para a investigação das relações de causa e efeito em determinado compor-
tamento. Dessa maneira, os pesquisadores (SHAUGHNESSY; ZECHMEISTER; ZECH-
MEISTER, 2012, p. 197) têm empregado a experimentação como possibilidade de realizar
106

testes empíricos de suas hipóteses, geralmente fundamentadas em teorias, sobre as causas de


determinados comportamentos. Davies e Bremner (2010, p. 80) afirmam que o emprego da
experimentação em pesquisas psicológicas tornou-se "sinônimo de aceitação da Psicologia
como uma disciplina científica".
Resumidamente, a lógica da experimentação compreende a observação da relação
entre as variáveis durante um experimento, ou seja, dos possíveis efeitos da chamada variável
independente sobre a dependente (característica que pode ser mensurada). Entende-se por "va-
riável independente" o fator manipulado e controlado pelo experimentador. A fim de garantir
meios seguros e confiáveis para a realização de inferências sobre a relação entre as variáveis,
os pesquisadores costumam criar situações de controle83, tais como: o emprego de técnicas de
controle durante a manipulação, cuidados durante a seleção das amostras e emprego de grupo
de controle. Sendo assim, os pesquisadores da área da Psicologia têm procurado desenvolver
estudos experimentais a partir de situações, estritamente controladas, a fim de que fatores
externos (variáveis estranhas) não inviabilizem os resultados dos experimentos (RINK, 2009,
p. 64). Todavia, alguns pesquisadores da área musical, como Barros, têm admitido certas
dificuldades quanto à aproximação de pesquisas empíricas (na área musical) com a adesão
total a todos os rigores da pesquisa experimental, que por sua vez, envolve o emprego de
complexas técnicas de pesquisas, nem sempre contempladas pela formação do músico-
performer. Como exemplo, podemos citar os procedimentos de seleção da amostra, por
técnica probabilística, e o domínio sobre a manipulação de dados estatísticos (BARROS,
2008, p. 39). Outra dificuldade relacionada à ausência de rigor em "pesquisas experimentais",
na área musical, trata-se da dificuldade que alguns estudiosos têm enfrentado para a obtenção
de uma amostra significativa de participantes em tais pesquisas (BARROS, 2008, p. 34).
Estes são apenas alguns exemplos de dificuldades, que vem sendo enfrentadas por alguns
pesquisadores da área musical, e que tem colaborado ao aparecimento de pesquisas que tem
feito uso limitado de procedimentos, característicos da experimentação. Com base nesta
limitação, Barros (2010, p. 1267; 2008, p. 29) distingue em seu estudo as pesquisas experi-
mentais (caracterizadas pelo emprego de grupo de controle84 e demais procedimentos já
mencionados) das "pesquisas descritivas com delineamento experimental", definidas por este
83
Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012, p. 47) definem o controle como um ingrediente essencial da
ciência o qual encontra-se bastante presente nos experimentos. Os autores apresentam a randomização ou
aleatorização (seleção aleatória da amostragem), o balanceamento (formação de grupos comparáveis no início do
experimento) e a manutenção de condições constantes (garantia de que todos os participantes de um experimen-
to receberão o mesmo tratamento) como exemplos de procedimentos de controle bastante presentes nos experi-
mentos (SHAUGHNESSY et al., 2012, p. 201-203).
84
Refere-se ao grupo não submetido a um determinado tratamento (SHAUGHNESSY et al., 2012, p. 48).
107

pesquisador, como aquelas distanciadas do emprego de grupo de controle e, portanto, de todos


os rigores necessários à elaboração de um experimento (BARROS, 2008, p. 29).
A observação de diversos estudos com delineamento experimental e estudos ex-
perimentais, desenvolvidos pela disciplina Psicologia da Performance, permite identificar o
emprego de tais estudos voltados para diferentes propósitos. O primeiro, já comentado ante-
riormente, diz respeito ao interesse didático dos pesquisadores, geralmente professores de
instrumento musical. Tal aspecto é abordado brevemente por Moreira (2009) em seu estudo
sobre os pressupostos teóricos do método quantitativo. Ao tratar sobre a produção de pes-
quisas na área musical, o autor destaca o crescimento das abordagens quantitativas por meio
do emprego de estudos experimentais, os quais vêm sendo empregado por pesquisas desen-
volvidas pela subárea Educação Musical. Tais estudos têm sido empregados com propósito de
verificar a melhora ou a piora de alguma variável (MOREIRA, 2009, p. 220). Além desta
subárea, pode-se admitir que pesquisas relacionadas à Psicologia da Performance também têm
se interessado pela verificação da piora ou melhora de variáveis, geralmente, correspondentes
ao desempenho de determinadas habilidades musicais. Por meio de tratamentos, caracte-
rizados em muitos casos como a aplicação de estratégias voltadas para a otimização de ha-
bilidades musicais, professores de instrumentos têm verificado a efetividade de tais estraté-
gias. Tal exemplo, pode ser reconhecido no estudo experimental desenvolvido por Pike e
Carter (2010) realizados com alunos de curso Superior de Bacharelado em Música, execu-
tantes de diferentes instrumentos musicais. Por meio da experimentação85, as pesquisadoras
puderam avaliar a efetividade de técnica para a otimização da leitura à primeira vista ao
86
piano. Após aplicarem estratégia baseada no reconhecimento dos chamados "chunks" ou
padrões melódicos e rítmicos, as pesquisadoras verificaram no grupo experimental melhorias
em relação à acuidade rítmica e fluência, durante a realização da leitura à primeira vista
(PIKE; CARTER, 2010, p. 243).
Um segundo propósito que tem atraído a atenção de pesquisadores quanto à elabo-
ração de estudos experimentais diz respeito ao interesse de psicólogos pela compreensão de
fatores que têm contribuído para o desenvolvimento de altas habilidades musicais. Neste caso,
são comuns a criação de situações pelos pesquisadores a fim de permitir a observação de sub-

85
No experimento realizado pelas autoras, foram utilizados 2 grupos experimentais e 1 grupo de controle, ou
seja, há uma aproximação das pesquisadoras com procedimentos adotados pela experimentação
86
Em seu estudo sobre leitura à primeira vista, Muniz define os chunks como pequenas unidades ou agrupa-
mentos com significado musical que podem estar presentes numa seção musical (MUNIZ, 2012, p. 54). Segun-
do a autora, o chunking pode ser compreendido como um conceito psicológico relacionado à capacidade de codi-
ficação de padrões (chunks) (MUNIZ, 2012, p. 53).
108

habilidades que muitas vezes têm possibilitado o alto desempenho em determinadas habilida-
des musicais. No estudo experimental desenvolvido por Ericsson e Lehmann (1996), os auto-
res criaram diversas situações que permitiram fazer inferências sobre alguns fatores que
podem contribuir para o alto desempenho na realização da leitura à primeira vista. A fim de
testar suas hipóteses sobre a relação da leitura à primeira vista com diferentes sub-habilidades,
os pesquisadores solicitaram aos participantes a realização de leitura à primeira vista em
situações envolvendo a não visualização do teclado e a omissão de trechos da partitura sem
conhecimento dos participantes. O alto desempenho dos participantes na realização da leitura
à primeira vista em tarefas envolvendo o teste de habilidades relacionadas à memorização,
improvisação e habilidades cinestésicas, permitiu que os pesquisadores relacionassem tais
habilidades como sub-competências presentes no alto nível de leitura à primeira-vista. Em
outros exemplos de estudos experimentais, como os desenvolvidos por Sloboda (2008), tam-
bém é possível reconhecer a presença de sub-habilidades no alto nível da leitura à primeira
vista. Após introduzir erros deliberados numa notação musical (o pesquisador reescreveu
peças pianísticas com erros de notação propositais) e pedir a sua execução à primeira vista por
um grupo de participantes (com alta habilidade na realização da leitura à primeira vista),
Sloboda pôde observar a presença de sub-habilidade relacionada ao alto desempenho da lei-
tura à primeira vista. Uma observação de suas execuções, permitiu a Sloboda verificar a pre-
sença de erros de execução, ou da tentativa dos participantes de inferir sobre as notas corretas
da notação, que lhes foi entregue. De acordo com Sloboda, isso acontecia porque a leitura à
primeira vista destes participantes era influenciada pelo conhecimento da estrutura musical,
levando-os a ignorarem alguns dos erros introduzidos na partitura, ou tocarem "algumas das
notas que estavam trocadas como elas deveriam ser, e não como estavam notadas" (SLO-
BODA, 2008, p. 100).
Se a experimentação em Psicologia tem sido empregada com propósito de contribuir
para a solução de problemas, é possível identificar em pesquisas desenvolvidas pela disciplina
Psicologia da Performance o emprego de estudos com delineamento experimental como uma
possibilidade de contribuir para a compreensão sobre determinadas problemáticas relacio-
nadas à atividade da performance musical. A observação das relações de causa-efeito promo-
vidas pelas pesquisas experimentais tem permitido aos pesquisadores o conhecimento sobre
fatores de influência negativa sobre o desempenho de músicos em determinadas habilidades.
A busca pela compreensão de determinadas problemáticas relacionadas à atividade
de memorização musical vem sendo tratada em diferentes estudos experimentais desen-
volvidos por Jennifer Mishra (2010) e pela mesma autora e William Backlin (2007). A
109

questão relacionada às falhas de memorização foi tratada por Mishra com base em expe-
rimento realizado com músicos instrumentistas em nível avançado. Após a realização de
tarefa de memorização a ser realizada num curto espaço de tempo pelos participantes, a autora
pôde verificar uma recorrência maior de erros cometidos em meios de frases musicais em
relação aos seus inícios e finais. Tais resultados puderam confirmar a hipótese da pesquisado-
87
ra quanto aos efeitos da estrurura e posição serial nos erros de memória durante a per-
formance musical. Outra questão tratada por Mishra e Backlin com base em estudos
experimentais diz respeito a uma problemática relacionada à ocorrência de lapsos de memória
durante a performance memorizada. A abordagem do assunto foi tratada a partir de experi-
mento realizado com grupo de 32 pianistas os quais tiveram que memorizar peça musical num
curto espaço de tempo. Enquanto um grupo pôde realizar as tarefas de memorização e recor-
dação num mesmo instrumento, coube ao outro a realização de cada tarefa em instrumentos
diferentes. Baseados nos resultados das performances dos participantes, os quais tiveram que
executar cada tarefa num instrumento distinto, os pesquisadores puderam verificar os efeitos
negativos da alteração ambiental e instrumental durante a tarefa de recordação de obra mu-
sical (MISHRA; BACKLIN, 2007, p. 466).
Diante da breve exposição dos exemplos aqui considerados é possível reconhecer
que a observação das relações de causa-efeito proporcionada pelos estudos experimentais e
com delineamento experimental tem abordado assuntos de relevância e problemáticas de
interesse para os performers em geral. Pode-se afirmar que vários dos resultados aqui, breve-
mente, expostos puderam oferecer informações que permitem uma ampliação da compreensão
sobre as habilidades desenvolvidas por músicos em nível de expertise, o conhecimento sobre
estratégias para a otimização de habilidades, assim como o conhecimento sobre fatores de
influência negativa no desempenho de performers. Com base na discussão de especialistas da
área da Psicologia da Performance, pode-se admitir que os estudos experimentais e com
delineamento experimental relacionados à Psicologia da Performance têm oferecido infor-
mações com potencial para enriquecimento da prática e preparação da performance musical.
Corroborando as afirmações de Miklaszewski (2004, p. 31), tais estudos podem ter sua rele-
vância no desenvolvimento de estratégias de preparação para a performance musical.

87
A hipótese da autora fundamentou-se na teoria de Ebbinghaus que trata do efeito da posição serial. Segundo
Mishra (2007, p. 448), os efeitos da posição serial representam um assunto bastante documentado na literatura
que trata da memória verbal. Seus efeitos referem-se a uma tendência quanto à maior recorrência de erros de
memória no meio de uma sequência em relação ao seu início e final (MISHRA, 2007, p. 448).
110

3.2.2 Pesquisa observacional

A pesquisa observacional é um método fundamental para o campo de atuação dos


psicólogos, e pode favorecer a realização de inferências sobre o comportamento de pessoas.
Em Psicologia, o método se caracteriza pela descrição e interpretação de comportamentos de
maneira sistemática e com base em registros cuidadosos (SHAUGHNESSY et al., 2012, p.
106; DALLOS, 2010, p. 152). A observação é considerada tanto um método independente
quanto um procedimento que pode estar atrelado a outros métodos de pesquisa. Esta carac-
terística permite reconhecer sua presença nas abordagens quantitativas e qualitativas. Tal
aspecto foi tratado por Freire (2010, p. 28) em seu estudo sobre os principais métodos de
pesquisa empregados pela área musical. A pesquisadora reconhece a diferença de propósitos
quanto ao emprego da observação nos diferentes tipos de abordagem, em Música. A partir de
uma aproximação de tais propósitos é possível ilustrar, brevemente, características relacio-
nadas ao emprego do método da observação em estudos desenvolvidos pela disciplina Psi-
cologia da Performance.
O primeiro aspecto tratado pela autora refere-se ao emprego da observação pelas
abordagens quantitativas. Com base em Freire (2010, p. 29), pode-se afirmar que a obser-
vação em tais abordagens realiza-se a partir de propósitos pré-definidos, procedimentos sis-
temáticos, geralmente, direcionados para uma possível generalização dos resultados. A cha-
mada "descrição neutra" apresenta-se como característica da observação nas abordagens
quantitativas, que podem ser compreendidas pelo distanciamento do observador em relação ao
objeto em estudo, ou seja, sem a interferência da ideologia do pesquisador e dos participantes
de um estudo (FREIRE, 2010, p. 29). Tais aspectos podem ser reconhecidos nos estudos ex-
perimentais caracterizados pelo emprego de diferentes procedimentos de controle a fim de
possibilitar a observação da relação entre as variáveis (DALLOS, 2010, p. 139). Trata-se, por-
tanto, de uma observação realizada com base no emprego de procedimentos sistemáticos com
propósito de garantir a precisão dos resultados e evitar distorções de análise e interpretação
(RICHARDSON, 2012, p. 70). O emprego da observação nas abordagens quantitativas pode
ser identificado nos primeiros estudos sobre aspectos da performance musical, desenvolvidos
por Seashore (1967). Pode-se reconhecer em suas pesquisas o emprego de equipamentos
voltados ao registro e a posterior medição dos parâmetros intensidade e duração. Em uma de
suas pesquisas, a observação de tais parâmetros permitiu verificar o tratamento conferido por
pianistas aos diferentes aspectos interpretativos, tais como a execução de dinâmicas, a acentu-
111

ação, o emprego da agógica, a pedalização, a qualidade sonora e a sincronização, durante a


execução de acordes (SEASHORE, 1967, p. 239).
Enquanto a observação sistemática voltada à medição e generalização dos resul-
tados, tem caracterizado boa parte das pesquisas relacionadas às abordagens quantitativas,
Freire (2010, p. 29) destaca a diferença de objetivos deste método nas abordagens qualita-
tivas. Em tais abordagens, a observação volta-se à interpretação de fenômenos de maneira
mais aberta em relação a uma possível interferência da visão ideológica do pesquisador. A
interpretação de fenômenos pode ser considerada uma possível visão e não a única conclusão
"verdadeira", mesmo que baseada em informações quantitativas e objetivas sobre um de-
terminado fenômeno (FREIRE, 2010, p. 29). Desse modo, nas abordagens qualitativas, o pes-
quisador interessa-se pelo emprego da observação com o propósito de investigar um deter-
minado processo a partir do contexto em que ocorre. Trata-se de uma observação baseada,
principalmente, na análise de dados verbais e imagens.
Com base nos propósitos da pesquisa observacional em abordagens qualitativas,
podemos reconhecer o interesse pela investigação de habilidades musicais a partir da obser-
vação de dados verbais e imagens emitidas por performers, sobretudo em estudos, desenvol-
vidos pela disciplina Psicologia da Performance. A pesquisa observacional com base no regis-
tro da imagem dos movimentos corporais de músicos instrumentistas, durante a performance
musical, aparece como possibilidade de pesquisa adotada em estudos desenvolvidos por
Davidson (2007). Em uma de suas pesquisas, Davidson investiga a sequência de movimentos
corporais realizados por pianista profissional, durante performance de obra, composta por
Beethoven. A atenção da pesquisadora volta-se à compreensão do fenômeno da expressivi-
dade e sua manifestação nos gestos corporais empregados por um pianista. A observação do
registro dos movimentos corporais favoreceu a classificação e a mensuração dos diferentes
tipos de movimentos, empregados em diferentes situações de performance88. Dessa maneira,
os resultados da pesquisa empreendida por Davidson permitiram a identificação da recor-
rência de movimentos em situações envolvendo a ausência e a presença da expressividade,
durante a performance musical (DAVIDSON, 2007, p. 394).
O interesse pela compreensão do desenvolvimento de habilidades musicais tem
promovido a realização de pesquisas observacionais a partir do contexto no qual ocorre o
processo de construção de uma performance musical. Trata-se de uma aproximação das pes-

88
A autora emprega o sistema notacional criado por Laban para a classificação dos diferentes tipos de movimen-
tos realizados pelo pianista (DAVIDSON, 2007, p. 388).
112

quisas do ambiente habitual de ocorrência do fenômeno em estudo, característica presente nas


abordagens qualitativas (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 47). Tal propósito aparece em dife-
rentes estudos desenvolvidos por Roger Chaffin (2012), psicólogo e pesquisador que vem
empregando a pesquisa observacional a fim de verificar as estratégias de memorização e
recuperação da memória musical por músicos expertises. Em um de seus estudos, Chaffin
observa o registro em vídeo das sessões de estudo da pianista Gabriela Imreh com propósito
de identificar suas estratégias de memorização. Tal observação permitiu ao pesquisador
reconhecer o emprego realizado pela pianista dos chamados "guias de execução" e a
utilização de seu conhecimento sobre a estrutura formal de uma composição na organização
das sessões de estudo (CHAFFIN, 2012, p. 217). Semelhantemente ao estudo de Davidson, o
pesquisador emprega a combinação entre as abordagens qualitativa e quantitativa, sendo a
última direcionada à quantificação dos diferentes guias empregados pela pianista, durante as
sessões de estudo (CHAFFIN, 2012, p. 206).
Além da pesquisa com foco no comportamento de músicos, em nível de expertise, a
pesquisa observacional pode também voltar-se para a investigação das estratégias empregadas
por professores de instrumento musical. Conforme visto no início deste capítulo, dentre os
tópicos de interesse dos estudiosos da Psicologia da Música encontram-se os aspectos
psicológicos relacionados às atividades de ensino-aprendizagem de habilidades musicais
(DEUTSCH, 2001, p. 527). O emprego da pesquisa observacional como possibilidade de in-
vestigar a interação entre professores de instrumento e estudantes aparece como modalidade
de pesquisa adotada por Karlsson e Juslin (2008). De acordo com Hallan, a investigação da
interação entre professores de instrumento e estudantes de música representa uma
possibilidade, ainda pouco explorada, nos estudos psicológicos (HALLAN apud KARLS-
SON; JUSLIN, 2008, p. 310). A partir das gravações das aulas de diferentes instrumentos
musicais e da análise de conteúdo dos diálogos entre professores e alunos, Karlsson e Juslin
puderam reconhecer o nível de atenção dado pelos professores quanto à abordagem da
expressividade durante as aulas de instrumento musical. Dessa maneira, a observação dos
registros verbais favoreceu a identificação das principais estratégias e dinâmicas empregadas
pelo grupo durante as aulas. Novamente, pode-se reconhecer neste estudo o emprego com-
plementar entre a abordagem qualitativa e quantitativa. Com base na transcrição dos relatos
das aulas registradas em vídeo, os pesquisadores puderam quantificar as estratégias e expres-
sões emitidas pelos docentes, um procedimento típico da análise de conteúdo (BARDIN,
2011, p. 24). A partir dos registros realizados pelos pesquisadores, pôde-se observar nas aulas
de instrumento uma certa ênfase na abordagem de aspectos técnicos, em detrimento dos
113

aspectos expressivos, bem como o emprego de afirmações vagas realizadas por professores de
instrumento, como possibilidade de desenvolvimento das habilidades expressivas (KARLS-
SON; JUSLIN, 2008, p. 328).
Com base nas pesquisas aqui consideradas podemos reconhecer a presença de aspec-
tos metodológicos bastante frequentes em pesquisas observacionais, desenvolvidas pela dis-
ciplina Psicologia da Performance.
O primeiro aspecto refere-se ao interesse dos pesquisadores pelo emprego da abor-
dagem qualitativa nos estudos psicológicos, em Música. De acordo com Williamon e Thomp-
son (2004), o interesse por esta perspectiva de pesquisa tem acompanhado o desenvolvimento
de estudos sobre Psicologia da Música nas últimas décadas. Trata-se de uma abordagem que
tem vindo ao encontro das necessidades da área como possibilidade de investigação de as-
pectos não mensuráveis, favorecendo o conhecimento sobre as experiências subjetivas do
performer, assim como sua interferência no comportamento musical (WILLIAMON; THOM-
PSON, 2004, p. 19). Estudos baseados em relatos de performers têm favorecido o reconhe-
cimento de aspectos relacionados ao desenvolvimento de habilidades e dificuldades enfren-
tadas por performers, tanto em relação ao processo de construção quanto ao momento de uma
performance musical. Os exemplos das pesquisas desenvolvidas por Karlsson e Juslin (2008),
e Chaffin (2012), ilustram o potencial da observação dos relatos para a identificação das
estratégias e dificuldades enfrentadas por performers.
O segundo aspecto possível de ser identificado nas pesquisas consideradas ante-
riormente, refere-se ao interesse pelo desenvolvimento de estudos de caso. Tanto Davidson
(2007, p. 395) quanto Karlsson e Juslin (2008, p. 330), destacam em suas pesquisas a limita-
ção de seus estudos para uma generalização dos resultados. Entretanto, os autores defendem a
necessidade e realização de estudos posteriores como possibilidade futura de comparação
entre os resultados de diferentes estudos de caso. Embora, a realização de estudos de caso
possa apresentar, inicialmente, uma limitação quanto à validade externa de seus resultados,
deve-se reconhecer o aproveitamento de tais estudos em bibliografias e produção de pesquisas
desenvolvidas pela disciplina Psicologia da Performance. Tal aspecto será tratado na aborda-
gem sobre os principais referenciais teóricos que têm subsidiado parte das pesquisas sobre
performance pianística, desenvolvidas em Práticas Interpretativas.
114

3.2.3 Questionário e Entrevista

Enquanto a Observação representa um método fundamental para o conhecimento das


ações ocorridas, durante o processo de elaboração e realização da performance musical, es-
tudos desenvolvidos pela Psicologia da Performance, também têm se voltado ao emprego de
procedimentos metodológicos, capazes de favorecer o acesso aos pensamentos e sentimentos
de performers. O conhecimento de tais aspectos pode ser favorecido mediante o emprego de
questionários e entrevistas. Semelhantemente à Observação, a presença de tais procedimentos
metodológicos pode ocorrer tanto nas abordagens quantitativas quanto nas qualitativas
(FREIRE, 2010, p. 35). Pode-se afirmar que independentemente da abordagem, o emprego de
ambos procedimentos tem se mostrado útil no tratamento de questões de interesse de
psicólogos, performers e professores de instrumento.
Nas abordagens quantitativas em Psicologia pode-se reconhecer o emprego do ques-
tionário, especialmente, nas pesquisas experimentais (WILLIAMON; THOMPSON, 2004, p.
18). No experimento realizado por Pike e Carter (2010), anteriormente citado, as autoras
empregam questionário com perguntas avaliativas e questões abertas a fim de verificar a
opinião dos participantes sobre o tratamento ao qual foram submetidos. Dessa maneira, as
autoras puderam avaliar a relevância e o potencial de estratégias ao desenvolvimento da
leitura à primeira vista, tanto com base nos dados do experimento quanto na opinião de seus
participantes. A aplicação de questionário entre os participantes submetidos ao tratamento
permitiu a mensuração e o reconhecimento das técnicas mais empregadas dentre aquelas
ensinadas pelas pesquisadoras (PIKE; CARTER, 2010, p. 237).
A facilidade quanto ao emprego do questionário em relação à aplicação, à quanti-
ficação e à análise dos dados coletados, tem contribuído para o seu aparecimento nas chama-
das pesquisas de levantamento ou com metodologia Survey (WILLIAMON; THOMPSON,
2004, p. 18). Nos estudos psicológicos relacionados à área musical, pode-se identificar o
emprego de questionário na investigação de problemáticas recorrentes entre músicos ins-
trumentistas. Dentre estes, encontram-se as pesquisas sobre a ansiedade musical, carac-
terizadas pelo emprego de questionário como possibilidade metodológica para a investigação
de aspectos relacionados à ansiedade e sua relação com a atividade da performance musical.
Em pesquisa de levantamento realizada por Kenny, Driscoll e Bronwen (2012) com músicos
profissionais atuantes em orquestras, os pesquisadores puderam identificar as principais cau-
sas e estratégias de enfrentamento da ansiedade utilizadas por estes profissionais mediante o
emprego de questionário. Os resultados do estudo puderam evidenciar certas deficiências
115

quanto à formação de músicos, sobretudo, no que diz respeito ao manejo de tensões


psicológicas, e mais, especificamente, ao alto grau de ansiedade que tende a prejudicar o
desempenho de músicos durante a performance musical (KENNY et al., 2012, p. 230).
Além do questionário, pode-se identificar nos estudos psicológicos da área musical a
presença da entrevista como um dos procedimentos metodológicos mais empregados pelas
abordagens qualitativas. Freire (2010, p. 35) define a entrevista como um procedimento meto-
dológico semelhante aos questionários, diferindo-se deste pela possibilidade de obtenção de
dados orais. Outra vantagem oferecida pelo emprego do procedimento da entrevista é apresen-
tada por Williamon e Thompson (2004) em estudo acerca dos principais métodos empregados
pela área da Psicologia da Música. Segundo o pesquisador, o emprego da entrevista tem se
mostrado particularmente útil para a obtenção de informações sobre a experiência subjetiva de
performers e sua influência no comportamento musical (WILLIAMON; THOMPSON, 2004,
p. 19). Tal propósito pode ser reconhecido em estudo desenvolvido por Van Zijl e Sloboda
(2010) com foco na investigação da relação entre a emoção experienciada por performers e a
elaboração de performances expressivas. A partir da análise dos relatos obtidos por meio das
entrevistas, os autores puderam identificar aspectos como o engajamento emocional de
músicos, o reconhecimento de estratégias empregadas para o desenvolvimento da expres-
sividade e a preocupação maior com a expressividade nas etapas finais de elaboração da per-
formance musical. A pesquisa empreendida por estes estudiosos permite identificar o poten-
cial das entrevistas semi-estruturadas para o desenvolvimento de estudo exploratório sobre
questões relacionadas ao processo de construção da performance musical. A investigação so-
bre a relação entre a emoção experienciada pelo intérprete e a elaboração de performances
expressivas representa, segundo os autores, assunto pouco discutido pela literatura atual
(VAN ZIJL; SLOBODA, 2010, p. 198).
O interesse dos estudos psicológicos pela investigação da influência de pensamentos
sobre o comportamento musical não tem se concentrado apenas no estudo dos aspectos
envolvidos no processo de elaboração da performance musical, mas vem demonstrando uma
preocupação quanto ao seu impacto durante a atividade da performance musical. Dessa ma-
neira, estudos recentes têm empregado o procedimento de entrevista para a investigação de
aspectos subjetivos do intérprete, isto é, a interferência de pensamentos no desempenho da
performance musical. O emprego da entrevista semi-estruturada (como principal procedi-
mento metodológico) aparece em pesquisa recente desenvolvida por Clark, Lisboa e Willia-
mon (2014) a qual confere importância aos significados atribuídos pelos participantes do
estudo ao próprio desempenho, durante a performance musical. Não se trata de uma pesquisa
116

sobre o desempenho fundamentada em dados obtidos a partir de uma observação distanciada


do posicionamento dos participantes, conforme visto em alguns dos métodos, anteriormente
tratados. A identificação das razões atribuídas por músicos às situações de sucesso e baixo
desempenho aparece como foco da investigação empreendida por Clark, Lisboa e Chaffin
(2014). Pode-se reconhecer nesta pesquisa o emprego de procedimentos metodológicos que
vêm colaborando ao desenvolvimento de abordagens qualitativas relacionadas aos estudos
psicológicos. O emprego da análise de conteúdo, por exemplo, mostrou-se um procedimento
fundamental para a organização e a interpretação dos relatos coletados pela entrevista. Diante
da amplitude e variedade de dados coletados, a categorização promovida pela análise de
conteúdo permitiu aos pesquisadores identificarem tipos de pensamentos e sentimentos,
vivenciados por músicos, em diferentes momentos: o instante anterior à performance, o
período de atuação de músicos frente ao público e o momento posterior à performance. A
possibilidade de organização dos dados a partir de uma categorização, baseada nos diferentes
momentos vivenciados, favoreceu o conhecimento de fatores que têm contribuído positiva e
negativamente para a performance musical. Desta maneira, os pesquisadores puderam
identificar aspectos psicológicos que devem ser ressaltados na formação do músico instru-
mentista. A realização do confronto entre os relatos dos participantes e estudos desenvolvidos
por especialistas permitiu aos pesquisadores identificar semelhanças em ambas declarações
(relatos e estudos) sobre fatores que têm interferido de diferentes maneiras no desempenho de
performers (CLARK; LISBOA; CHAFFIN, 2014, p. 31). Tal procedimento empregado pelos
pesquisadores representa outra possibilidade metodológica bastante utilizada pelas pesquisas
qualitativas. Trata-se da Triangulação, uma possibilidade metodológica que pode favorecer o
enriquecimento e a validação dos achados de uma pesquisa (FLICK, 2009, p. 362). A Trian-
gulação entre diferentes fontes de dados (relatos e estudos elaborados por especialistas),
empreendida pelos pesquisadores, contribuiu para o enriquecimento de informações obtidas
mediante o emprego da entrevista.
A partir dos exemplos de pesquisas mencionadas, caracterizadas pelo emprego de
questionários e entrevistas semi-estruturadas, podemos afirmar que os estudos baseados nos
relatos de músicos podem favorecer o conhecimento sobre as dificuldades enfrentadas e as
estratégias empregadas por estes profissionais. Acreditamos, portanto, que o reconhecimento
de tais dificuldades pode servir como indicador ao desenvolvimento de estudos empíricos,
trazendo uma possível contribuição ao tratamento de problemáticas de interesse dos músicos
em geral. No que se refere ao conhecimento das estratégias empregadas, acreditamos na vali-
dade de uma avaliação de seu potencial (por meio da elaboração de estudos empíricos) à
117

otimização de habilidades musicais como possibilidade de trazer contribuições significativas


ao campo da didática instrumental.

3.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O interesse pelo desenvolvimento de pesquisas sobre performance pianística, relacio-


nadas à disciplina Psicologia da Performance, apresenta-se como tendência presente nas se-
guintes produções de teses e dissertações:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


A pesquisa Empírica sobre o UFRGS/ Profa Dra. Any 2008 Doutorado
1 planejamento da execução Luís Cláudio Raquel Carvalho
instrumental: uma reflexão Barros
crítica do sujeito de um estudo
de caso
Comunicação Estrutural e UFRGS/ Profa. Dra. 2008 Mestrado
2 Comunicação Emocional nas Alfonso Cristina Capparelli
Variações sobre um Tema Benetti Júnior Gerling
Nordestino de Almeida Prado
Reflexões sobre estratégias de Aillyn da UDESC/ Prof. Dr. 2010 Mestrado
3 estudo em música de câmara a Rocha Unglub Guilherme Antônio
partir do reconhecimento dos Schmitz Sauerbronn
"guias de execução musical"
Guias de Execução na Selva Viviana UFRGS/ Profa. Dra. 2011 Mestrado
4 memorização do segundo Martinez Cristina Capparelli
movimento da sonata nº 2 de Aquino Gerling
Dimitri Shostakovich
A memorização musical Daniela Tsi UFRGS/ Profa. Dra. 2012 Doutorado
5 através dos guias de execução: Gerber Cristina Capparelli
um estudo de estratégias Gerling
deliberadas
Leitura à primeira-vista ao Priscila Lopes UFRJ/ Profa. Dra. Miriam 2012 Mestrado
6 piano: Aplicação de Bomfim Muniz Grosman
estratégias básicas de
aprendizagem
Quadro 11: Pesquisas relacionadas à disciplina Psicologia da Performance

A partir da leitura do quadro 11, é possível reconhecer algumas características que


têm permeado parte da produção relacionada à disciplina Psicologia da Performance. No que
se refere ao nível das produções, podemos identificar o interesse pela produção de estudos
psicológicos, tanto no nível de Mestrado quanto no nível de Doutorado. Em relação à
localidade das produções, a amostragem selecionada permite reconhecer a UFRGS, a UDESC
e a UFRJ como exemplos de instituições que têm contribuído para o desenvolvimento de
pesquisas vinculadas à disciplina Psicologia da Performance.
Dentre os temas que têm atraído a atenção de pesquisadores das práticas interpretati-
vas encontra-se a memorização musical (SCHMITZ, 2010; AQUINO, 2011; GERBER,
118

2012), a leitura à primeira vista (MUNIZ, 2012), o planejamento da execução instrumental


(BARROS, 2008), a comunicação emocional e estrutural (BENETTI JÚNIOR, 2008). A fim
de ilustrar o vínculo das produções com a categoria interface entre Performance Pianística e a
Psicologia da Performance, assim como alguns dos procedimentos metodológicos empre-
gados pelas pesquisas (expressões em negrito), apresentamos no quadro 12, as seguintes
unidades de registro:

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
[...] proposta de modelo para maior interação entre as áreas da Psicologia da
Música e da área de Práticas Interpretativas (Resumo).
[...] discutir pontos nevrálgicos nas pesquisas empíricas [...] (Resumo)
"O objetivo foi examinar as temáticas, as estratégias de estudo, o campo teórico, os
1 procedimentos metodológicos, a sistematização do processo de aprendizagem do UFRGS, BARROS,
repertório pianístico e as relações interatuantes ocorrentes nas pesquisas descritivas 2008
1
de delineamento experimental nos estudos de caso, estudos com entrevista e levan-
tamentos selecionados" (Resumo).
[...] teste experimental específico de execução ao piano [...] para simular a condi-
ção em que o músico tem um lapso de memória [...] (BARROS, 2008, p. 198).
[...] pesquisa concentra-se em tornar o estudo da expressividade musical um co-
nhecimento empírico válido, através do registro por escrito das estratégias utiliza-
das na preparação e execução (BENETTI JÚNIOR, 2008, p. 14). UFRGS, BENETTI
2 "A inclusão do referencial voltado ao estudo da comunicação emocional é rele- JÚNIOR, 2008
vante considerando a importância deste aspecto no desempenho do profissional"
(BENETTI JÚNIOR, 2008, p. 13).
[...] avaliar as semelhanças e diferenças expressivas obtidas ao final de cada etapa
mencionada através da comparação qualitativa das gravações (Resumo).
[...] apresentar os processos de estudo nas Sonatas nº 1 e nº 4 [...] de Cláudio
Santoro, a partir dos guias de execução [...] (Resumo). UDESC,
3 [...] A visualização dessas marcações proporciona ao intérprete a lembrança do que SCHMITZ, 2010
ele deseja fazer [...] (SCHMITZ, 2010, p. 50).
[...] observação participante de cunho semi-experimental [...] (Resumo).
"O presente trabalho avaliou a aplicabilidade do modelo de guias de execução de
Roger Chaffin como estratégia para a memorização" (Resumo).
[...] pesquisar a aplicação de estratégias que garantam uma memorização eficaz no
4 estudo de uma peça lenta [...] (AQUINO, 2011, p. 8). UFRGS, AQUINO,
[...] experimento fundamentado na aplicabilidade desse modelo (AQUINO, 2011, 2011
p.30).
[...] autorelato de cunho semiexperimental no qual descrevi o meu processo de
aprendizagem (AQUINO, 2011, p. 8).
[...] focaliza os processos de resgate da memorização de obras selecionadas pelos
próprios participantes (GERBER, 2012, p. 245).
"A escolha deste tema deve-se ao fato de a execução de memória ser o foco central UFRGS, GERBER,
5 da competência profissional dos solistas de concerto na tradição ocidental clássica" 2012
(GERBER, 2012, p. 45).
[...] caráter semiexperimental, visto que não houve um grupo de controle [...]
(GERBER, 2012, p. 52)
"Este estudo tem como foco de investigação o processo de aquisição e desenvol-
vimento da leitura à primeira vista ao piano, em uma perspectiva acadêmica e
profissional (Resumo).
6 "A leitura à primeira vista é considerada uma habilidade importante para todo ins- UFRJ, MUNIZ,
trumentista que necessita da partitura em sua atividade musical" (MUNIZ, 2012, p. 2012
10).
"Resultados de estudos mencionados neste trabalho atestam que existe um grande
119

número de alunos em instituições de ensino musical que apresentam nível insatis-


fatório de leitura musical tanto no curso de piano, quanto na matéria "piano com-
plementar" (MUNIZ, 2012, p. 12).
[...] observação com ação direta [...] (MUNIZ, 2012, p. 14).
Quadro 12: Unidades de registro identificadas nas produções relacionadas à Psicologia da Performance

A partir das unidades de registro ilustradas pelo quadro 12, podemos verificar uma
aproximação das pesquisas com procedimentos metodológicos recorrentes em estudos relacio-
nados à disciplina Psicologia da Performance. Expressões do tipo "teste experimental" (BAR-
ROS, 2008), "observação participante de cunho semi-experimental" (SCHMITZ, 2011), "au-
torelato de cunho semiexperimental" (AQUINO, 2011) e "caráter semiexperimental" (GER-
BER, 2012) são indicativas do interesse pelo emprego de procedimentos empíricos voltados à
investigação de diferentes habilidades musicais.
Outro aspecto possível de ser reconhecido por meio das declarações fornecidas pelos
autores das pesquisas, diz respeito à função que tais estudos têm ocupado na linha de pesquisa
Práticas Interpretativas. A elaboração de pesquisas com propósito de colaborar para o de-
senvolvimento de uma "memorização eficaz" (AQUINO, 2011) e favorecer "a lembrança" das
ações a serem efetuadas durante o ato da performance (SCHMITZ, 2010) permite verificar o
interesse dos autores pelo desenvolvimento de estudos empíricos como possibilidade de tratar
questões fundamentais para o desempenho do músico instrumentista, como a habilidade de
memorização musical. Entretanto, o emprego de estudos empíricos na linha de pesquisa Práti-
cas Interpretativas não tem se limitado à elaboração de abordagens para o tratamento de
problemáticas relacionadas à performance dos autores das pesquisas. A realização de inves-
tigação com propósito de colaborar para resolução de problemas como o "nível insatisfatório
de leitura musical" (MUNIZ, 2012) permite reconhecer uma função mais próxima do pes-
quisador-docente interessado pela otimização de habilidades musicais de um determinado
grupo.
Com base na breve exposição sobre os propósitos gerais do conjunto de pesquisas
relacionadas à disciplina Psicologia da Performance, os próximos subtópicos terão o objetivo
de apresentar considerações sobre as metodologias e referenciais teóricos que têm subsidiado
o desenvolvimento de pesquisas. A fim de facilitar a compreensão sobre tais aspectos, as pes-
quisas serão consideradas segundo as diferentes habilidades musicais relacionadas à atividade
da performance musical.
120

3.4 TEMAS ABORDADOS

3.4.1 Habilidades cognitivas

A memorização musical representa tema explorado por pesquisas, desde as primeiras


produções em Práticas Interpretativas, no Brasil, desenvolvidas no nível da Pós-Graduação89.
A partir de uma leitura dos primeiros resumos de tais produções, podemos reconhecer o inte-
resse de pesquisadores pela elaboração de estudos empíricos com propósito de verificar o po-
tencial de estratégias ao desenvolvimento da habilidade de memorização musical. Pesquisas
experimentais e estudos com delineamento experimental já se faziam presentes nas primeiras
produções vinculadas às práticas interpretativas, sejam voltadas à otimização da habilidade de
um grupo em tratamento ou direcionadas para a resolução de problemáticas, vinculadas à
atuação do performer-pequisador.
Atualmente, o tema tem sido abordado, principalmente, com base em estudos desen-
volvidos pelo pesquisador e psicólogo Roger Chaffin90, que vem realizando pesquisas com
base na observação dos processos de memorização musical, decorrentes da prática de músicos
em nível de expertise. Em relação às pesquisas sobre memorização, apresentadas anterior-
mente, pode-se identificar o livro intitulado Practicing perfection: memory and piano
performance, de Chaffin, Imreh e Crawford (2002), como um dos principais referenciais
teóricos adotados. O livro apresenta resultado da primeira pesquisa científica sobre os pro-
cessos de memorização musical empregados por uma pianista concertista. Desse modo, o
referencial descreve os detalhes de pesquisa empírica, empreendida por Chaffin, com base na
observação das sessões de estudo da pianista Gabriela Imreh, durante a construção da per-
formance do terceiro movimento do Concerto Italiano, de Bach. Fundamentado em estudos
sobre a memória em nível expert e a observação das etapas de preparação de performance, o
pesquisador pôde constatar o emprego realizado pela pianista dos chamados "guias de exe-
cução". Tais guias são definidos por Chaffin como aquelas características (marcações),
selecionadas por músicos, durante a etapa de preparação de uma performance musical, que
podem funcionar como sinais para a recuperação de informações (texto a ser executado) da

89
São exemplos, as pesquisas Recursos técnicos para a memorização consciente do texto musical (1984), de Mi-
riam Grosman, e Processo de memorização empregados para a execução do trecho intitulado Paganini do Car-
naval op. de Schumann (1985), de Maria Beatriz Licurci Conceição.
90
Professor de Psicologia Cognitiva, Psicologia da Música e coordenador do grupo de pesquisa em Psicologia da
Música e Performance da Universidade de Connecticut. Suas pesquisas têm se voltado à investigação da per-
formance musical, memória musical e representação mental da música (BARROS, 2008, p. 191-192).
121

91
memória conceitual . Sua proposta para a otimização das habilidades de memorização mu-
sical, baseada nos guias de execução, tem sido empregada de diferentes maneiras por pes-
quisas relacionadas à performance pianística e vinculadas à disciplina Psicologia da Per-
formance.
Na pesquisa intitulada Reflexões sobre estratégias de estudo em música de câmara a
partir do reconhecimento dos 'guias de execução musical', de Schmitz (2010), a autora
fundamenta-se no livro e protocolo, elaborados por Chaffin, com propósito de otimizar a
própria habilidade de memorização de obra camerística (SCHMITZ, 2010, p. 139). Por tratar-
se de uma proposta com base no protocolo de Chaffin, a autora realiza pesquisa observacional
por meio do emprego de procedimentos semelhantes aos implementados por Chaffin, em
estudo realizado com a pianista Gabriela Imreh. Desta maneira, a autora emprega como
técnica de coleta de dados os registros audiovisuais dos ensaios (realizados com uma
violinista) nas fases de preparação da performance de obras, compostas por Cláudio Santoro.
Outra característica peculiar da proposta de Chaffin, apresentada pela pesquisa, é o emprego
de registro escrito com marcações em cores dos guias de execução, selecionados pelos
intérpretes, durante os ensaios (SCHMITZ, 2010, p. 140). Em relação à metodologia empre-
gada pela autora, pode-se admitir que o propósito de realização de "observação participante de
cunho semi-experimental" (SCHMITZ, 2010, p. 8) ocorre de maneira diferenciada de estudos
desenvolvidos pela área da Psicologia: a saber, a observação volta-se ao exame do próprio
desempenho. A observação empregada por Schmitz, permitiu verificar uma particularidade
em relação ao emprego dos guias de execução em performance camerística. Os resultados da
pesquisa puderam evidenciar o emprego dos chamados "guias compartilhados" entre as
intérpretes, como a utilização da linguagem não verbal (gestos e sinais corporais) a fim de sin-
92
cronizar as ações entre o duo, e o emprego dos guias expressivos e estruturais (SCHMITZ,
2010, p. 130).
O emprego da proposta de Chaffin, também tem se direcionado à otimização de
performances musicais individuais. Tal aspecto pode ser observado na pesquisa intitulada
Guias de Execução na memorização do segundo movimento da sonata nº 2 de Dmitri Shos-

91
"These performance cues, become the retrieval cues that automatically elicit the music from conceptual me-
mory as the performance unfolds" (CHAFFIN, 2001 apud CHAFFIN; IMREH; CRAWFORD, 2002).
92
Chaffin define os guias expressivos como os sentimentos musicais transmitidos a uma platéia, tais como a
surpresa ou entusiasmo. Segundo o psicólogo, o emprego dos guias expressivos representam uma "contribuição
subjetiva para a performance" (CHAFFIN; IMREH; CRAWFORD, 2002). Os "guias estruturais", por sua vez,
correspondem às marcações realizadas com base no conhecimento da estrurura de uma obra musical. O emprego
de tal conhecimento para a organização das sessões de estudo é apresentada por Chaffin como procedimento
bastante empregado por músicos em nível expert (CHAFFIN; IMREH, 2002, p. 342).
122

takovich, elaborada por Aquino (2011). O registro escrito do processo de aprendizagem, ano-
tações dos guias de execução na partitura e as gravações em áudio e vídeo, aparecem nova-
mente como procedimentos metodológicos adotados. Semelhantemente à pesquisa empreen-
dida por Schmitz, a autora apresenta o propósito de realização de pesquisa "semi-experimen-
tal" (AQUINO, 2011, p. 8) voltada à verificação da otimização da própria habilidade de
memorização. Desse modo, a pesquisa de Aquino caracteriza-se pela apresentação do relato
do processo de construção da performance musical no qual pode-se identificar as principais
estratégias empregadas pela autora. A demarcação de seções da obra a ser executada, a anteci-
93
pação mental (por meio do emprego dos guias de execução), a criação de imagem artística
94 95
e a elaboração de mapa visual-cinestésico das mãos apresentam-se como algumas das
estratégias empregadas. Metodologicamente, Aquino emprega a pesquisa bibliográfica sobre
estratégias de estudo (utilizadas por músicos experientes), com especial ênfase em estudos de
especialistas da Psicologia da Performance. Pode-se identificar o emprego de tais pesquisas
como fundamentação para as estratégias selecionadas pela autora. Quanto ao emprego dos
guias de execução, os resultados da pesquisa puderam evidenciar sua maior recorrência nas
primeiras tentativas de execução memorizada em relação às últimas apresentações. Semelhan-
temente aos resultados apresentados por Chaffin, a autora destaca o maior emprego dos
chamados "guias expressivos" nas fases finais de preparação e também durante a execução em
público (AQUINO, 2011, p. 52).
A última pesquisa selecionada, caracterizada pelo emprego dos guias de execução, é
a tese A memorização musical através dos guias de execução: um estudo de estratégias
deliberadas, elaborada por Gerber (2012). Trata-se de estudo com delineamento experimental
voltado à observação de grupo em tratamento. A autora investiga o potencial dos guias de
execução na atividade de rememorização musical, por grupo de jovens pianistas, em dife-
rentes níveis de formação musical. Se na pesquisa de Aquino, empregava-se a prática deli-

93
Refere-se à capacidade de ouvir antecipadamente um evento musical como condicionamento para a realização
dos movimentos corporais e "gestos musicais" durante a performance musical (AQUINO, 2011, p. 22).
94
Para a autora, a concepção de uma imagem artística pode colaborar para a memorização musical, assim como
para a comunicação expressiva do intérprete (AQUINO, 2011, p. 23). A autora relaciona a criação de uma
imagem artística ao emprego dos guias expressivos, segundo a proposta de Chaffin (AQUINO, 2011, p. 23).
95
Na pesquisa empreendida por Aquino, a autora faz uso de mapas visuais-cinestésicos, ou seja, a confecção de
ilustrações da topografia do teclado com indicações representativas dos movimentos a serem realizados por
ambas as mãos. Trata-se de estratégia criada pela autora a fim de facilitar a recuperação da memória musical
(AQUINO, 2011, p. 43).
123

96
berada por meio da fundamentação em estudos psicológicos, na tese de Gerber nota-se
também a realização de pesquisa bibliográfica a fim de ilustrar os benefícios da prática
deliberada na elaboração da performance musical. Novamente, o protocolo elaborado por
Chaffin é empregado como diretriz para a implementação dos procedimentos metodológicos a
serem ministrados aos participantes do estudo. Desse modo, os resultados da pesquisa funda-
mentaram-se em dados coletados mediante o emprego de questionário semi-estruturado,
gravações de performances, depoimentos, diários de estudo, partituras com as marcações dos
guias de execução e a observação do processo de reescrita da partitura como possibilidades de
verificar a otimização da habilidade de rememorização dos participantes. Gerber emprega,
portanto, a Triangulação entre diferentes fontes com propósito de obter uma visão mais a-
brangente acerca dos efeitos da proposta, baseada nos guias de execução. A partir da com-
paração entre as primeiras performances e as gravações, posteriores ao tratamento, Gerber
evidencia a otimização da habilidade de rememorização musical. Em relação ao emprego dos
guias, os resultados da pesquisa apresentam semelhanças com outros estudos, como a
recorrência maior dos guias básicos nas fases iniciais de preparação da performance e a
predominância dos guias expressivos durante a performance musical (GERBER, 2012, p.
248).
Além da atenção voltada à investigação de aspectos relacionados ao desenvolvi-
mento da habilidade de memorização musical, o levantamento de pesquisas sobre performan-
ce pianística permitiu a identificação de produções voltadas ao estudo da habilidade de leitura
à primeira vista. Tal propósito é apresentado pela dissertação intitulada Leitura à primeira
vista ao piano: aplicação de estratégias básicas de aprendizagem, elaborada por Muniz
(2012). A pesquisa representa um dos poucos exemplos de trabalhos sobre o tema, desenvol-
vidos na linha de pesquisa Práticas Interpretativas97. A pesquisa aproxima-se de propósitos da

96
Krampe e Ericsson (2005, p. 84) definem a prática deliberada como uma atividade altamente estruturada pelo
performer (organização das sessões de estudo com base em objetivos claros), visando o aprimoramento de
aspectos necessários para a performance musical. Numa prática deliberada, a elaboração da performance é
cuidadosamente e constantemente monitorada pelo performer a fim de permitir a superação das dificuldades para
a execução de uma obra musical. Por isso, o emprego de estratégias de estudo adequadas, assim como a con-
centração, representam aspectos fundamentais para o desenvolvimento de uma prática deliberada.
97
Apesar da pouca recorrência de trabalhos relacionados ao tema em nossa área/linha de interesse, podemos
reconhecer a presença de pesquisas sobre a leitura à primeira vista, no Brasil, fora da linha/área de concentração
em Práticas Interpretativas. Como exemplo, encontra-se a dissertação A leitura à primeira vista e o ensino do pi-
ano (2010), de Maria Elisa Ferreira Risarto, desenvolvida na linha de pesquisa Musicologia-Etnomusicologia do
Programa de Pós-Graduação em Música da UNESP. Outro exemplo, é a tese A pesquisa em Leitura à primeira-
vista na formação do pianista a partir de uma abordagem qualitativa (2011), de José Francisco da Costa,
elaborada na área de concentração Fundamentos Teóricos, na UNICAMP.
124

didática instrumental, ou seja, nota-se uma preocupação quanto à elaboração de uma pesquisa
que possa contribuir para o tratamento de dificuldades de aprendizagem apresentadas por um
grupo. Na pesquisa empreendida por Muniz, a autora ilustra a presença de dificuldade de
realização da leitura à primeira vista em grupo de jovens pianistas, estudantes de curso de
Bacharelado em Música (MUNIZ, 2012, p. 72). Dessa maneira, a dissertação apresenta resul-
tados de pesquisa observacional com ação direta, caracterizada pela aplicação de estratégias
para a realização da leitura à primeira vista. A partir do emprego de estratégias básicas, tais
como a execução de escalas e progressões de acordes comuns à tonalidade de obra a ser exe-
cutada, estímulo ao preparo mental da forma da mão (antes da execução), estímulo à repre-
sentação em forma de gráficos dos desenhos constituídos por notas musicais, incentivo à
percepção rítmica (antes da execução musical) e atividades envolvendo o reconhecimento de
padrões (rítmicos e melódicos), a autora observou melhora na fluência da leitura à primeira
vista (MUNIZ, 2012, p. 109-111). A observação do desempenho, juntamente, com o acesso
aos relatos dos participantes do estudo, permitiram a percepção de deficiências na formação
musical de alguns participantes, assim como o reconhecimento de aspectos que podem
favorecer o desenvolvimento da prática de leitura à primeira vista. Como exemplo, a autora
destaca a importância do envolvimento em atividades diversas relacionadas à prática de lei-
tura à primeira vista a fim de favorecer o desenvolvimento desta habilidade. A pesquisa per-
mitiu a identificação de lacunas na formação musical dos participantes, corroborando a
necessidade do ensino sistemático da leitura à primeira vista nos cursos voltados à formação
do músico instrumentista.
A partir dos exemplos de pesquisas aqui consideradas é possível identificar alguns
aspectos que têm permeado os estudos sobre habilidades cognitivas na área de concentração/
linha de pesquisa em Práticas Interpretativas. O primeiro aspecto, diz respeito ao interesse de
estudos por temas relacionados à memorização musical. Acreditamos que a recorrência deste
tema deve-se, em parte, aos estudos sobre o potencial dos guias de execução, elaborados por
Chaffin e pesquisadores de diferentes instituições. Outro possível fator pode ser atribuído ao
avançado nível investigativo sobre os processos cognitivos, envolvidos na memorização
musical. Tal desenvolvimento tem disponibilizado aos investigadores uma ampla gama de
fontes sobre o tema (BARROS, 2008, p. 241).
O segundo aspecto, refere-se ao diálogo que vem se estabelecendo entre as pesquisas
em performance pianística e a área da Psicologia. Podemos reconhecer nos estudos em
performance pianística o emprego de procedimentos metodológicos que remetem àqueles em-
pregados pela área da Psicologia, tais como a pesquisa observacional, a entrevista e estudos
125

com delineamento experimental. Contudo, a observação de pesquisas desenvolvidas em


Práticas Interpretativas, permite identificar a presença de uma adaptação de tais metodologias
às necessidades dos pesquisadores-performers a fim de permitir uma contribuição efetiva à
performance musical. Se na produção de pesquisas em Psicologia a objetividade (observação
direcionada a outros) apresenta-se como um aspecto inerente à atividade da observação, em
diferentes estudos sobre aspectos psicológicos em Práticas Interpretativas podemos notar o
emprego da auto-observação: ou seja, o distanciamento da neutralidade, característica do
método científico. Podemos admitir que tal procedimento tem se tornado recorrente em
pesquisas relacionadas às práticas interpretativas. Entretanto, as pesquisas de Gerber (2012) e
Muniz (2012) apresentam-se como exemplos mais próximos ao método da Observação,
característico da Psicologia e preconizado pelo método científico. Tais exemplos de
pesquisas, permitem-nos reconhecer diferentes possibilidades relacionadas ao emprego da
Observação, apontando para diferentes propósitos que têm permeado a área de concentração/
linha de pesquisa em Práticas Interpretativas. Ou seja, a produção de pesquisas voltadas à
otimização da performance musical dos autores das pesquisas, assim como a elaboração de
estudos com propósito de trazer uma contribuição significativa à otimização das habilidades
cognitivas de um grupo em tratamento.

3.4.2 Habilidades expressivas

A performance musical em nível de expertise é compreendida por estudiosos da


Psicologia da Performance como a síntese de aspectos técnicos e expressivos (JUSLIN;
PERSSON, 2002, p. 227; CLARKE, 2011, p. 81). Diferentes pesquisas empíricas, desenvol-
vidas pela área da Psicologia da Música, têm procurado ilustrar os esforços de intérpretes
quanto à elaboração de performances expressivas (entendida aqui como o planejamento dos
aspectos emocionais a serem ressaltados durante uma apresentação em público). Como já
mencionamos anteriormente, nos estudos realizados por Chaffin (baseados na observação do
comportamento de músicos experientes) o pesquisador pôde reconhecer o emprego dos
chamados "guias expressivos", isto é, o planejamento antecipado das emoções a serem
transmitidas para uma platéia durante a performance musical. A pesquisa realizada com a
pianista Gabriela Imreh, permitiu ao pesquisador constatar o envolvimento da pianista com
tais guias, a partir do cuidado na seleção de emoções específicas, durante o processo de
elaboração da performance musical (CHAFFIN, 2012, p. 197).
126

Tais exemplos permitem reconhecer o estudo da emoção musical e sua relação com a
performance musical, como um dos tópicos de interesse de pesquisadores da Psicologia da
Música (RINK, 2009, p. 72). Outro aspecto que os exemplos anteriores permitem ilustrar
trata-se da preocupação de intérpretes com a comunicação emocional, durante a performance
musical. Esta é definida por Juslin e Persson (2002, p. 221) como a transmissão da emoção,
empreendida pelo músico instrumentista, no decorrer da performance musical. Para os
autores, as habilidades expressivas representam aspectos que podem ser desenvolvidos medi-
ante o emprego de algumas estratégias. Tal fato tem sido corroborado por estudiosos da
Psicologia através da identificação das diferentes estratégias, empregadas por performers, a
fim de facilitar a comunicação emocional com a platéia (JUSLIN; PERSSON, 2002, p. 228).
Sabendo-se que a comunicação emocional é considerada por performers um ele-
mento fundamental para a performance musical (JUSLIN; PERSSON, 2002, p. 220), e que
esta tem se constituído numa preocupação para diversos intérpretes (CHAFFIN, 2012, p.191),
alguns estudos psicológicos têm se voltado para diferentes focos de investigação a fim de
permitir a compreensão sobre o desenvolvimento das habilidades expressivas. Desse modo,
podemos reconhecer nas pesquisas desenvolvidas pela área da Psicologia da Música o
interesse pela identificação das estratégias mobilizadas por músicos em nível de expertise e
estudantes em nível avançado. A pesquisa observacional empreendida por Van Zijl e Sloboda
(2010) permitiu aos pesquisadores identificar a mobilização de estratégias por estudantes em
nível avançado, voltadas para o desenvolvimento da expressividade, como a indução de
emoções e a criação de metáforas98 (VAN ZIJL; SLOBODA, 2010, p. 214). Além da obser-
vação de músicos experientes, alguns estudos psicológicos também têm se voltado para a
observação das estratégias empregadas por professores de instrumento a fim de compreender
o nível de comunicação emocional (manifestado por estudantes de instrumento) e proble-
máticas relacionadas ao ensino da expressividade (JUSLIN; PERSSON, 2002, p. 228).
Embora, os exemplos anteriores permitam ilustrar o interesse de psicólogos pela
compreensão do fenômeno da expressividade musical, podemos admitir que sua importância
para a atividade da performance musical tem favorecido o aparecimento desta temática em

98
De acordo com Juslin e Persson (2002, p.229), o emprego de metáforas é uma das estratégias mais empre-
gadas por professores de instrumentos no que se refere ao ensino da expressividade. Segundo os autores, tal es-
tratégia consiste na criação de estados emocionais mediante o emprego de palavras ou imagens.
127

pesquisas desenvolvidas por músicos instrumentistas99. Tal aspecto pode ser notado em
relação às produções de pesquisas sobre performance pianística, desenvolvidas na linha
Práticas Interpretativas. É possível reconhecer em alguns trabalhos o desenvolvimento de
abordagens voltadas à interpretação musical nas quais os autores deixam transparecer o esta-
belecimento de "significado emocional" à estrutura de um texto musical, ou seja, o envol-
vimento dos autores com os chamados "guias expressivos". Embora, tais produções não
apresentem como foco o estudo das habilidades expressivas, tais exemplos servem para ilus-
trar o espaço que o tratamento dos aspectos expressivos vem ocupando em produções desen-
volvidas pela área de concentração/ linha de pesquisa em Práticas Interpretativas.
O estudo da expressividade e sua relação com a atividade da performance musical
apresenta-se como tema central, pouco recorrente, em pesquisas sobre performance pianística.
Em relação às pesquisas relacionadas à performance pianística, podemos reconhecer um
predomínio de estudos sobre as habilidades cognitivas em detrimento da abordagem sobre a
expressão musical100, entendida aqui como a transmissão da emoção durante a atividade da
performance musical (JUSLIN; PERSSON, 2002, p. 220). Como exemplo de pesquisa rela-
cionada a este tema, encontra-se a dissertação intitulada Comunicação Estrutural e Comu-
nicação Emocional nas Variações sobre um Tema Nordestino de Almeida Prado, de Benetti
Junior (2008). Embora, a pesquisa não trate unicamente da relação entre expressão emocional
e performance, a produção apresenta-se como o único trabalho voltado, fundamentalmente,
para a investigação desta relação. A partir de estudos desenvolvidos por especialistas da
Psicologia da Performance, a produção teve como propósito descrever o processo de elabo-
ração da performance da obra citada. Com base em estudos psicológicos que tratam sobre a
comunicação emocional e estrutural, conforme apresentado no livro The Science and Psy-
chology of Music Performance: creative strategies for teaching and learning (2002), a pes-
quisa emprega uma diversidade de procedimentos metodológicos. Desse modo, o autor faz
uso da análise musical, técnica de entrevista e análise com base em gravações das performan-

99
Podemos reconhecer em produções desenvolvidas pela linha Práticas Interpretativas, no Brasil, pesquisas
caracterizadas pela apresentação de abordagens interpretativas nas quais os autores deixam transparecer
comentários sobre aspectos expressivos relacionados ao "significado emocional", estabelecido pelos autores à
estrutura de um texto musical. Produções sobre Análise Musical as quais tem empregado proposta analítica
desenvolvida por Lawrence Ferrara apresentam esse tipo de abordagem caracterizada pelo estabelecimento de
"significado emocional" a elementos presentes na estrutura de obras musicais. Tais aspectos podem ser veri-
ficados nas dissertações Un analysis eclético de la Sonata para piano opus 55 nº 3 de Alberto Ginastera (1916-
1983) (2007), de Juan Pablo Marcó Hraste, e O primeiro movimento da Sonata II para piano solo de Bruno
Kiefer: uma análise interpretativa (2007), de Liliana Michelsen de Andrade.
100
Tal afirmação, baseia-se no levantamento de estudos em performance pianística, realizado ao longo da
presen- te pesquisa, bem como no levantamento de Ulhôa (1996).
128

ces realizadas. A aproximação com procedimentos metodológicos, característicos da Psico-


logia, pode ser reconhecida mediante o emprego do registro em áudio das diferentes etapas de
elaboração da performance musical. De acordo com o autor, tal procedimento voltou-se para a
avaliação do nível de expressividade, obtido ao final de cada etapa de estudo da obra musical.
Novamente, podemos reconhecer o emprego da auto-observação em pesquisa voltada à oti-
mização de habilidades, necessárias à construção da performance musical. Outro aspecto
possível de ser identificado, diretamente relacionado ao referencial adotado pelo autor, é o
emprego de estratégias voltadas para o desenvolvimento de performances expressivas, como a
criação de metáforas (BENETTI JUNIOR, 2008, p. 31). A observação desta e das outras pes-
quisas, anteriormente citadas, permite verificar a aproximação de intérpretes dos estudos
psicológicos como possibilidade de otimizar as próprias habilidades musicais. Deste modo,
pesquisas empíricas têm sido empregadas como subsídio à organização da prática de per-
formers-pesquisadores.

3.4.3 Investigação sobre a produção de pesquisas em Psicologia da Performance

A partir da observação dos estudos psicológicos, constituintes de nossa amostragem,


podemos admitir que estes não têm se limitado a produção de estudos aplicativos, nem
somente a pesquisas voltadas à otimização das habilidades musicais, num grupo em tra-
tamento. Como exemplo, encontra-se a tese A pesquisa Empírica sobre o planejamento da
execução instrumental: uma reflexão crítica do sujeito de um estudo de caso, de Barros
(2008). Conforme indicado pelo título, a pesquisa teve como um de seus propósitos a
apresentação do estado do conhecimento de pesquisas relacionadas ao planejamento da
execução instrumental. O planejamento da execução instrumental101 foi definido por Ga-
brielsson (2003, p. 223) como uma das subdivisões de pesquisa em Práticas Interpretativas.
Desse modo, tal linha de pesquisa tem o processo de preparação da performance musical
como um de seus objetos de investigação (BARROS, 2008, p. 1).
O planejamento da execução instrumental representa assunto bastante recorrente em
estudos empíricos elaborados por especialistas da área musical e pesquisadores da Psicologia
da Música. Diante do acentuado volume de pesquisas sobre o assunto, a tese de Barros teve
como propósito a realização de levantamento e análise crítica de pesquisas empíricas voltadas

101
Em seu estado da arte, Gabrielsson (2001) emprega a expressão performance planning que será traduzida
aqui como o planejamento da execução instrumental.
129

à investigação do planejamento da execução instrumental. Por meio de procedimentos


metodológicos, semelhantes aos empregados por pesquisas Estado do Conhecimento (na área
da Educação), o pesquisador discute a estruturação das pesquisas empíricas a partir da inves-
tigação dos seus problemas, objetivos das pesquisas, metodologias empregadas e principais
referenciais teóricos que subsidiaram os investigadores. Desta maneira, o pesquisador ilustra o
emprego de procedimentos metodológicos, característicos da Psicologia, em produções volta-
das à investigação do planejamento da execução, empreendida por performers (BARROS,
2008, p. 7).
Além do interesse pela exposição do atual estado de desenvolvimento das pesquisas
empírico-científicas, outra preocupação de Barros consiste na demonstração do potencial das
pesquisas sobre estratégias de estudo, empregadas por músicos em nível de expertise. Para
atingir tal propósito, o pesquisador apresenta uma ampla pesquisa bibliográfica sobre as
principais estratégias de estudo empregadas por pianistas experts. O pesquisador relaciona tais
estudos a duas fontes principais: estudos empíricos elaborados por especialistas da área mu-
sical e estudos empírico-científicos, desenvolvidos por pesquisadores da área da Psicologia da
Performance (BARROS, 2008, p. 9). Se as pesquisas sobre estratégias de estudo, respaldadas
cientificamente, têm confirmado sua relevância a partir do seu aproveitamento em pesquisas
voltadas ao performer102, Barros destaca a importância dos estudos elaborados por intérpretes
como uma fonte valiosa para o desenvolvimento de pesquisas empírico-científicas. Segundo
Barros (2008, p. 239), várias das estratégias empregadas por intérpretes renomados podem ser
validadas mediante a realização de pesquisas empírico-científicas. Dessa maneira, destaca-se
a existência de uma diversidade de estudos sobre estratégias de estudo à espera da realização
de estudos empírico-científicos a fim de comprovar a real efetividade de tais estratégias para a
elaboração e a otimização da performance musical. Sabendo-se que o planejamento adequado
da execução instrumental representa assunto de interesse para performers, a pesquisa de
Barros demonstra a relevância do conhecimento sobre a efetividade de determinadas estraté-
gias para o planejamento eficaz da performance musical. Desse modo, o autor expõe uma
reflexão teórica que permite reconhecer tanto a importância do desenvolvimento de pesquisas
empírico-científicas pela subárea Práticas Interpretativas, quanto a relevância da investigação

102
Tal exemplo encontra-se no livro Musical Excellence: strategies and techniques to enhance performance,
editado, em 2004, por Aaron Williamon. O livro, empregado como um dos principais referenciais teóricos na
pesquisa de Barros, apresenta resultados de pesquisas caracterizadas pelo emprego da interdisciplinaridade como
meio de investigação (BARROS, 2008, p. 7).
130

sobre as estratégias de estudo empreendidas por músicos em nível de expertise. Na visão do


autor, tais posturas podem trazer contribuições significativas à didática instrumental.
No entanto, a pesquisa de Barros não se limita somente a uma abordagem crítica,
(fundamentada no exame da produção de pesquisas empíricas), nem a uma pesquisa biblio-
gráfica sobre as principais estratégias empregadas por pianistas em nível de expertise. A
proposta do autor volta-se para uma análise crítica da produção de pesquisas empíricas, am-
parada na experiência do pesquisador como participante de um estudo de caso. A partici-
pação em experimento conduzido por Chaffin e sua equipe, permitiu ao autor enriquecer sua
análise sobre o potencial e as problemáticas envolvidas no desenvolvimento de pesquisas
empíricas sobre o planejamento da execução instrumental. Podemos considerar a pesquisa de
Barros pioneira, na linha de pesquisa em Práticas Interpretativas, quanto à abordagem sobre a
eficácia dos guias de execução como estratégia para a otimização da memorização musical.
Tal envolvimento, permite compreender o emprego da tese de Barros como referência em
trabalhos que tiveram como propósito a investigação das habilidades de memorização com
base na proposta de Chaffin103.
Baseado no conhecimento sobre o atual estado de desenvolvimento das pesquisas
empíricas e experiência como participante em estudo de caso, conduzido por Chaffin, Barros
considera a linha de pesquisa do Planejamento da Execução Instrumental como uma das mais
ricas em problemas de pesquisa e relevantes para a subárea de Práticas Interpretativas. Tal
relevância é justificada pelo potencial de suas abordagens ao tratamento de questões que
podem contribuir para a didática instrumental. Na visão do pesquisador, a realização de pes-
quisas empírico-científicas pode colaborar tanto para o fornecimento de conhecimento sobre a
efetividade de estratégias de estudo, quanto para a validação do acentuado número de estudos
e relatos de músicos experts. Apesar dos benefícios da pesquisa empírica, respaldada cien-
tificamente, Barros destaca os desafios para o seu desenvolvimento na subárea Práticas Inter-
pretativas, como a exigência do conhecimento sobre metodologias, técnicas de pesquisa e
procedimentos de análise de dados que muitas vezes não são contemplados durante a
formação do músico. Entretanto, o pesquisador acredita que a formação de grupos inter-
disciplinares, bem como a promoção da interação entre pesquisadores de diferentes áreas do
conhecimento possam contribuir para a superação de tais dificuldades e colaborar para o
desenvolvimento de futuras pesquisas (BARROS, 2008, p. 240).

103
A tese de Barros apresenta-se como referencial adotado por todas as pesquisas, anteriormente citadas, vol-
tadas para a investigação sobre a efetividade da proposta de Chaffin com base no emprego dos guias de
execução.
131

Embora, as considerações de Barros limitem-se ao conjunto de estudos relacionados


ao Planejamento da Execução Instrumental, com base nas produções de teses e dissertações e
exposição dos principais procedimentos metodológicos (considerados neste capítulo) pode-
mos afirmar que seus comentários também podem ser estendidos para as demais possibi-
lidades investigativas dentro da Psicologia da Música. A observação das produções desenvol-
vidas por pesquisadores da Psicologia da Performance permite reconhecer não somente o
"diálogo" com procedimentos metodológicos da Psicologia, mas também o emprego de
procedimentos de análise de dados que fogem da formação do músico instrumentista
(BARROS, 2008, p. 240). Na visão de Grosman, os desafios colocados pela pesquisa rela-
cionada à disciplina, no que se refere ao diálogo com procedimentos não contemplados pela
formação do músico-performer, têm colaborado em certos casos para uma falta de estímulo ao
desenvolvimento de pesquisas relacionadas à disciplina104. No entanto, com base nas pes-
quisas consideradas, podemos admitir que os estudos sobre os aspectos psicológicos da
performance têm prestado importante colaboração aos performers por meio do oferecimento
de propostas voltadas à otimização de habilidades musicais, compreensão sobre os processos
cognitivos (relacionados às diferentes habilidades musicais) e oferecimento de possibilidades
para o tratamento de problemáticas que têm interferido, negativamente, no desempenho de
performers. Trata-se de uma disciplina que vem ocupando gradativamente seu espaço na
produção acadêmica, no nível da Pós-Graduação em Música105, no Brasil, mas que ainda não
se apresenta como uma disciplina obrigatória na maioria dos cursos de formação de músicos
instrumentistas (KAMINSKI; RAY, 2012, p. 2467). Com base nas pesquisas aqui tratadas e
no fato apresentado, consideramos fundamental a discussão acerca de aspectos que têm
permeado alguns estudos psicológicos na área/ linha de Práticas Interpretativas e produções
em Performance Musical. A validação de resultados em estudos de caso (baseados apenas,
em inferências produzidas por autores de pesquisas sobre a própria performance), a co-
municação sobre os benefícios de um determinado procedimento nos "quase-experimentos" e
a produção de estudos psicológicos a partir de instrumental não validado, representam al-
gumas das questões que permanecerão em aberto nesta dissertação. A nosso ver, são ques-
tões significativas a serem discutidas pela subárea, e indicam certos desafios colocados aos
músicos, interessados pela pesquisa acerca dos aspectos psicológicos da performance musical.
Para pesquisadores como Barros (2008, p. 240), tais desafios apontam para a importância da

104
Para esclarecimentos, consultar questionário respondido por Miriam Grosman, nos apêndices desta disserta-
ção.
105
Para esclarecimentos, consultar entrevista com Sônia Ray, nos apêndices desta dissertação.
132

formação de grupos interdisciplinares, assim como a promoção da interação entre pesqui-


sadores de diferentes áreas do conhecimento a fim de colaborar para o desenvolvimento de
futuros estudos. Acreditamos, portanto, que uma maior atenção dada à disciplina nos cursos
de Graduação e Pós-Graduação, assim como a interação proposta, possa ter seus reflexos no
crescimento quantitativo e qualitativo nas produções vinculadas à disciplina.
133

4 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A ANÁLISE MUSI-


CAL

Considerada uma das disciplinas da Musicologia Sistemática, a Análise Musical


representa um campo de estudos que tem servido aos interesses de diferentes especialistas da
área musical (BENT; POPLE, 2001, p. 526-527). Como exemplo, encontra-se o grupo cons-
tituído por peformers e professores de instrumentos musicais (BENT; POPLE, 2001, p. 526)
cujas abordagens analíticas têm contribuído para tornar os estudos vinculados à disciplina
Análise Musical, um dos principais domínios de estudos da Performance Musical (RINK,
2004, p.38).
O crescimento de pesquisas, caracterizadas pelo diálogo entre os domínios de estudo
da Performance e Análise Musical, vem sendo evidenciado tanto pela literatura relacionada às
Práticas Interpretativas e estudos musicológicos (RINK, 2005; COOK, 2013) quanto por
estados da arte centrados no exame da produção desenvolvida, no nível da Pós-Graduação.
Enquanto Kerr et al. (2006, p. 31) destacam os objetivos que a disciplina Análise Musical tem
ocupado na produção de teses e dissertações (desenvolvidas em nível de Pós-Graduação),
Borém (2005, p. 16) evidencia o crescimento quantitativo das pesquisas desenvolvidas pela
subárea Performance Musical, interessadas pelo emprego da análise musical. De acordo com
Borém, a interface entre a Performance e a Análise seria uma das principais categorias de
estudo relacionada à Performance Musical (BORÉM, 2005, p. 19).
O propósito deste capítulo não se constitui no exame da totalidade de teses e dis-
sertações, num dado recorte temporal, como empreendido pelos "estados da arte" citados.
Nosso objetivo aqui é oferecer uma discussão baseada numa amostragem de teses e disser-
tações, reunidas por conveniência. Trata-se de uma abordagem qualitativa de parte de pes-
quisas (constituintes do amplo grupo de produções caracterizadas pelo diálogo com a dis-
ciplina Análise Musical), desenvolvidas pela subárea Performance Musical. Procuraremos
oferecer uma discussão sobre a função que a disciplina Análise Musical vem ocupando em
tais produções, assim como identificar alguns dos paradigmas analíticos que têm subsidiado a
produção de tais pesquisas.

4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA PRODUÇÃO DE TESES E DISSERTAÇÕES

No quadro a seguir, apresentamos uma amostragem constituída por 42 produções em


Práticas Interpretativas/ Performance, pertencentes a diferentes Programas de Pós-Graduação
134

em Música, caracterizadas pelo diálogo com a disciplina Análise Musical.

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


Progressão da dificuldade Júnia UFMG/ Prof. Dr. 2007 Mestrado
1 técnica nas três suítes Gonçalves Maurício Veloso Queiroz
brasileiras para piano de Oscar Santiago Pinto
Lorenzo Fernândes
A Sertaneja de Brazílio Mário Luiz UFMG/ Prof. Dr. Fausto 2007 Mestrado
2 Itiberê: uma Análise Formal e Marochi Júnior Borém
interpretativa
Dança brasileira e dança negra Priscila UNICAMP/ Prof. Dr. 2007 Mestrado
3 para piano de Camargo Gambary Eduardo Antônio Conde
Guarnieri Freire Garcia Junior
Mignone e a as valsas Andréia UNICAMP/ Profa. Dra. 2007 Mestrado
4 seresteiras Miranda Aci Taveira Meyer
Nascimento
Questões Estruturais e Midori UNICAMP/Orientador: 2007 Doutorado
5 Interpretativas na Obra Maeshiro Prof. Dr. Mauricy Matos
Pianística de Ricardo Martin/Coorientadora:
Tacuchian Profa. Dra Maria Lúcia
Senna Machado Pascoal
Dawid H. Korenchendler: um Myrian Ribeiro UFRJ/ Orientadora: Profa. 2007 Mestrado
6 olhar detalhado sobre a Sonata Aubin Dra. Lúcia Dantas/ Co-
nº 11 orientadora: Profa. Laura
Rónai
Polirritmos nos Estudos para Sara Cohen UNIRIO/ Profa. Dra. 2007 Doutorado
7 piano de György Ligeti Ingrid Barancoski
(Primeiro Caderno)
A Prole do bebê nº 2 de Villa- 2007 Mestrado
Lobos: considerações da UNIRIO/ Profa. Dra.
8 Análise Musical e do Carla Gorni Saloméa Gandelman
imaginário para sua
interpretação - um estudo
comparativo de cinco
gravações
O primeiro movimento da So- Liliana UFRGS/ Profa Dra. 2007 Mestrado
9 nata II para piano solo de Michelsen de Cristina Capparelli
Bruno Kiefer: uma análise Andrade Gerling
Interpretativa
Un analisis eclético de la So- Juan Pablo UFRGS/ Profa. Dra. 2007 Mestrado
10 nata para piano opus 55 nº 3 Marcó Hraste Cristina Capparelli
de Alberto Ginastera (1916- Gerling
1983)
Marlos Nobre: Aspectos UNICAMP/ Orientador: 2008 Mestrado
motívicos em duas peças para Prof. Dr. Mauricy Matos
11 piano: Sonata Breve, opus 24 Magaly Otsuka Martin/ Coorientadora:
(1966/2000) e Tango opus 61 Profa. Dra. Maria Lúcia
(1984) Senna Machado Pascoal
Os sete estudos para piano de Beatriz Alessio USP/ Prof. Dr. José 2008 Mestrado
12 Gilberto Mendes de Aguiar Eduardo Gandra da Silva
Martins
13 Leopoldo Miguez e seus Cristiana UFRJ/ Prof. Dr. Marcelo 2008 Mestrado
Noturnos para piano Ribeiro Aubin Verzoni
Heitor Villa-Lobos: O
Lobozinho de Vidro. O Estudo
14 Deliberado do Conteúdo Extra Silas Barbosa UFRJ/Profa. Dra. Miriam 2008 Mestrado
Musical Identificado pelo Oliveira Grosman
Intérprete
135

15 Zeitgestalt - Análise e Margarida USP/ Prof. Dr. Amilcar 2009 Doutorado


Performance do Trio em Sol Tamaki Fukuda Zani Netto
menor de Francisco Braga
Três Valsas Para Piano de Antônio Carlos UNICAMP/ Prof. Dr. 2009 Mestrado
16 Radamés Gnatalli: uma Leme Júnior Rafael Carvalho dos
abordagem-interpretativa Santos
Iracele UNICAMP/ Orientadora: 2009 Doutorado
Louvação a Eunice: um estudo Aparecida Vera Profa. Dra. Maria Lúcia
17 de análise da obra para piano Lívero de Senna Machado Pascoal/
de Eunice Katunda Souza Coorientador: Prof. Dr.
Mauricy Matos Martin
Neoclassicismo e Fernando UFRGS/ Profa. Dra. 2009 Mestrado
Nacionalismo no Segundo Rauber Cristina Maria Capparelli
18 Concerto para piano e Gonçalves Gerling
orquestra de Camargo
Guarnieri
Marlos Nobre-Sonata para Stefanie Freitas UFRGS/ Profa. Dra. 2009 Mestrado
piano sobre tema de Bártok Cristina Capparelli
19 op. 45: uma abordagem Gerling
analítica do fenômeno
intertextual
20 Uma abordagem analítica da Keli da Silva UFRGS/ Profa. Dra, Any 2009 Mestrado
Chacona, Recitativo e Fuga Chin Raquel Carvalho
(2005) de Almeida Prado e sua
relação com três outras obras
Relações entre elementos 2009 Mestrado
composicionais e meios de
execução técnico-interpretati- Guilherme UDESC/ Profa. Dra.
21 va em obras com característi- Ferreira Maria Bernardete Castelan
cas pós-minimalistas- Amaral Póvoas
Brasil 2000, Amanduá e Meio
Bossa para piano solo de
Dimitri Cervo
Construção de uma Ana Paula UDESC/ Profa. Dra. 2009 Mestrado
interpretação do Concertino Pacheco de S. Maria Bernardete Castelan
22 para piano e orquestra de Thiago Póvoas
cordas de Ronaldo Miranda:
relato de uma experiência
23 As 3 Sonatas para piano de Alexandre UDESC/ Prof. Dr. 2009 Mestrado
José Penalva: uma abordagem Gonçalves Guilherme Sauerbronn de
analítico-interpretativa Barros
Frevo para piano de Egberto Marcelo Gama UFMG/ Prof. Dr. Fausto 2009 Mestrado
Gismonti: uma análise de Mello de Borém de Oliveira
24 procedimentos populares e Magalhães
eruditos na composição e na Pinto
performance
25 Henrique Oswald e suas Roberto UFRJ/ Prof. Dr. Marcelo 2009 Mestrado
Variações sobre um tema de Goliszewski Verzoni
Barrozo Neto
26 O idiomático de Francisco Fernando César USP/ Prof. Dr. Amilcar 2010 Doutorado
Mignone nas 12 Valsas de Cunha Vilela Zani Netto
Esquina e 12 Valsas-Choro dos Reis

Três sonatas contemporâneas Ederson José USP/ Prof. Dr. Rogério 2010 Mestrado
27 brasileiras para piano: Estudo Urias Luiz Moraes Costa
analítico-interpretativo das Fernandes
sonatas de Marlos Nobre, João Silva
Guilherme Ripper e Roberto
Victório
136

28 Concerto Fribourgeois de Carlos Alberto UNICAMP/Profa. Dra. 2010 Doutorado


Almeida Prado para piano e Yansen Aci Taveira Meyer
cordas: um estudo para a
interpretação

A prática intertextual em peças Tarcísio UNICAMP/ Orientador: 2010 Doutorado


29 para piano de Almeida Prado: Gomes Filho Prof. Dr. Mauricy Matos
elementos de análise para a Martin/ Coorientadora:
construção da performance Prof. Dra. Maria Lúcia
Pascoal
Os Sonetos de Petrarca 47, Priscila Ott UNICAMP/ Prof. Dr. 2010 Mestrado
30 104 e 123: um estudo Falcão Oliveira Carlos Fernando Fiorini
interpretativo da segunda
versão para piano
As serestas de Heitor Villa- Achille Guido UNICAMP/ Profa. Dra. 2010 Doutorado
31 Lobos: um estudo de Análise, Picchi Adriana Giarola Kayama
texto-música e pianismo para
uma interpretação
32 As obras para piano de Arthur Gabriel UFMG/ Profa. Dra. Ana 2011 Mestrado
Bosmans (1908-1991): por Cursino Cláudia de Assis
uma sonoridade Brasileira Madeira Casara
Ernesto Nazareth e suas valsas Ângela UFRJ/ Prof. Dr. Marcelo 2011 Mestrado
33 para piano Volpato Oliveira Verzoni
Almeida
34 Os modelos cromáticos do Vanessa USP/ Profa. Dra. Luciana 2011 Mestrado
Teufelsmühle e Omnibus na Rodrigues Sayure Shimabuco
música de F. Chopin Nonis
Timbres e Ritmatas para piano Alfeu UNICAMP/ Prof. Dr. 2011 Doutorado
35 solo de E. Villani-Côrtes: Rodrigues Mauricy Matos Martins
Conceito, Análise e Araújo Filho
Interpretação pianística
As relações texto-música e o Eliana Asano UNICAMP/ Profa. Dra. 2011 Mestrado
36 procedimento pianístico em Ramos Maria José Carrasqueira
seis canções de Ernst Mahle:
propostas interpretativas
As transformações da Luiz Eduardo UNIRIO/ Profa. Dra. 2011 Doutorado
construção lógica e harmônica de Castro Lúcia Barrenechea
37 nas Sonatinas nº 1, nº 2, nº 4 e Domingues da
nº 5 de Camargo Guarnieri Silva
Trio Marítimo de Almeida Paulo Ricardo UNICAMP/ Prof. Dr. 2011 Mestrado
38 Prado: subsídios para Gazzaneo Mauricy Matos Martin
interpretação
A teoria da entonação de B. Daniel UFRGS/ Profa. Dra. 2012 Doutorado
Asafiev e a execução musical: Junqueira Cristina Maria Pavan
39 construções analíticas para a Tarquínio Capparelli Gerling
interpretação das Cirandas de
Villa-Lobos
Marlos Nobre: Variações Aline da Silva UNICAMP/ Orientador: 2012 Mestrado
rítmicas opus 15 para piano e Alves Prof. Dr. Mauricy Matos
40 percussão, uma abordagem Martin/ Coorientador:
analítica visando à Prof. Dr. Fernando
interpretação Hashimoto
Quatro Estudos para piano Mauren UDESC/ Profa. Dra. 2012 Mestrado
41 solo de Vieira Brandão: uma Liebich Frey Maria Bernardete Castelan
abordagem técnico- Rodrigues Póvoas
interpretativa
42 Ernesto Nazareth e suas Polcas Raquel Bianca UFRJ/ Prof. Dr. Marcelo 2012 Mestrado
para piano Castro de Verzoni
Sousa
Quadro 13: Pesquisas relacionadas à disciplina Análise Musical
137

Um primeiro aspecto a ser identificado com base na amostragem é a presença desta


categoria de estudos tanto em produções desenvolvidas no nível de Mestrado (31 produções)
quanto em produções pertencentes ao nível de Doutorado (11 produções). Com base nos
estudos de Borém (2005) e Kerr et al. (2006), pode-se afirmar que a interface da Performance
com a Análise Musical representa uma categoria de estudos que evidencia a importância que
performers têm atribuído à prática da análise musical em produções desenvolvidas, no nível
da Pós-Graduação. A presença da Análise Musical em produções desenvolvidas pela subárea
Performance tem sido considerada como a quase "razão da existência" e "permanência [...] da
performance dentro da comunidade acadêmica" (KERR; CARVALHO; RAY, 2006, p. 38).
Desse modo, podemos identificar o conjunto de trabalhos aqui apresentados como integrante
de um amplo grupo de pesquisas em Práticas Interpretativas/ Performance, que defendem a
necessidade de aliar os estudos em práticas interpretativas à análise musical.
Outro aspecto revelado pelos títulos das produções diz respeito aos objetos de estudo
que têm atraído a atenção de pesquisadores: pode-se notar o interesse pela abordagem ana-
lítica de compositores brasileiros pertencentes às diferentes vertentes composicionais. Se-
melhantemente, aos resultados de Kerr et al. (2006, p. 50-56), obras de Camargo Guarnieri,
Villa-Lobos, Francisco Mignone e Almeida Prado continuam tendo suas obras como objeto
de estudos analíticos, especificamente, por performers interessados na execução de suas
obras. Contudo, como podemos verificar no quadro 13, o interesse dos autores das pesquisas
não tem se limitado apenas à investigação de obras musicais de autoria de compositores bra-
sileiros: há pesquisas sobre obras de Gÿorgy Ligeti (COHEN, 2007), Alberto Ginastera
(HRASTE, 2007), Luciano Berio (CERQUEIRA, 2009), Franz Liszt (OLIVEIRA, 2010) e
Frédéric Chopin (NONIS, 2011). Embora, não seja possível afirmar que a pesquisa analítica
relacionada aos estudos sobre performance tenha se concentrado na investigação de com-
positores brasileiros, o estado da arte desenvolvido por Kerr et al. (2006, p. 50), apresenta o
interesse pela investigação de obras de compositores brasileiros como a "grande tendência
temática" das pesquisas analíticas, desenvolvidas no nível da Pós-Graduação (em Música). A
seguir, expomos quadro com a apresentação dos respectivos compositores e obras que têm
atraído a atenção de pesquisadores quanto ao emprego da análise musical.
138

Compositores que tiveram Obra ou conjunto de obras, Universidade, Autor e Ano


obra analisada objeto de estudo da dissertação/
tese
1 Oscar Lorenzo Fernândes Três suítes brasileiras UFMG, SANTIAGO, 2007
2 Brazílio Itiberê A Sertaneja UFMG, MAROCHI JÚNIOR,
2007
3 Camargo Guarnieri Dança brasileira e Dança Negra UNICAMP, FREIRE, 2007
Sonatinas nº 1, nº 2, nº 4 e nº 5 UNIRIO, SILVA, 2011
Segundo Concerto para Piano e UFRGS, GONÇALVES, 2009
Orquestra
12 Valsas de Esquina UNICAMP, NASCIMENTO, 2007
4 Francisco Mignone 12 Valsas de Esquina e 12 Valsas- USP, REIS, 2010
Choro
5 Ricardo Tacuchian Obras pianísticas (15 obras para UNICAMP, MAESHIRO, 2007
piano)
6 Dawid H. Korenchendler Sonata nº 11 UFRJ, AUBIN, 2007
7 Gÿorgy Ligeti Primeiro caderno de Estudos UNIRIO, COHEN, 2007
A Prole do bêbe nº 2 UNIRIO, GORNI, 2007
Villa- Lobos Lobosinho de Vidro UFRJ, OLIVEIRA, 2008
8 Serestas (ciclo de 14 canções) UNICAMP, PICCHI, 2010
16 Cirandas para piano UFRGS, TARQUÍNIO, 2012
9 Bruno Kiefer Sonata II UFRGS, ANDRADE, 2007
10 Ginastera Sonata para piano opus 55 nº 3 UFRGS, HRASTE, 2007
Sonata Breve op. 24 (1966/2000); UNICAMP, OTSUKA, 2008
Tango op. 61 (1984)
11 Marlos Nobre Sonata para piano sobre tema de UFRGS, FREITAS, 2009
Bártok op. 45
Variações Rítmicas opus 15 para UNICAMP, ALVES, 2012
piano e percussão
12 Gilberto Mendes Sete Estudos para piano USP, AGUIAR, 2008
13 Leopoldo Miguez Noturnos para piano UFRJ, AUBIN, 2008
14 Francisco Braga Trio em Sol menor (1930) USP, FUKUDA, 2009
15 Radamés Gnatalli Valsas para piano (Carinhosa, Per- UNICAMP, LEME JÙNIOR, 2009
fumosa e Vaidosa)
16 Eunice Katunda Quatro Epígrafes (1946), Sonata de UNICAMP, SOUZA, 2009
Louvação (1958), Três Momentos
em New York (1969), Expressão
Anímica (1979), La Dame et La
Licone-Petite Suíte (1982)
Recitativo e Fuga (2005) UFRGS, CHIN, 2009
Concerto Fribourgeois UNICAMP, YANSEN, 2010
17 Almeida Prado Conjunto de 15 peças para piano UNICAMP, GOMES FILHO,
2010
Trio Marítimo UNICAMP, GAZZANEO, 2011
18 Dimitri Cervo Brasil 2000, Amanduá e Meio UDESC, AMARAL, 2009
Bossa
20 Ronaldo Miranda Concertino para piano e orquestra UDESC, THIAGO, 2009
21 José Penalva Sonatas para piano UDESC, GONÇALVES, 2009
22 Egberto Gismonti Frevo para piano UFMG, PINTO, 2009
23 Luciano Berio Sequenza IV UFMG, CERQUEIRA, 2009
24 Henrique Oswald Variações sobre um tema de Bar- UFRJ, GOLISZEWSKI, 2009
rozo Neto
25 Compositores diversos (Mar- Sonatas para piano USP, SILVA, 2010
los Nobre, João Guilherme
Ripper e Roberto Victório)
26 Liszt Sonetos de Petrarca nº 47, nº 104 e UNICAMP, OLIVEIRA, 2010
nº 123

27 Arthur Bosmans Tocata (1947), Cavaquinho bem UFMG, CASARA, 2011


139

temperado (1953) e Três Evoca-


ções (1982)
28 Ernesto Nazareth Valsas para piano UFRJ, ALMEIDA, 2011
Polcas para piano UFRJ, SOUSA, 2012
29 Chopin Peças diversas do compositor USP, NONIS, 2011
30 Edmundo Villani-Côrtes Timbres e Ritmatas UNICAMP, ARAÚJO FILHO,
2011
31 Ernst Mahle Canções para canto e piano UNICAMP, RAMOS, 2011
32 Vieira Brandão Quatro estudos para piano UDESC, RODRIGUES, 2012
Quadro14: Objeto de estudo das produções relacionadas à Análise Musical

Após breve exposição das características gerais das produções de teses e disser-
tações, prosseguiremos com a apresentação de considerações acerca do conteúdo de tais pro-
duções a fim de melhor compreender alguns aspectos relacionados ao desenvolvimento de
pesquisas analíticas, vinculadas à subárea de Performance Musical. As razões que têm con-
tribuído para o desenvolvimento de pesquisas, caracterizadas pelo emprego da análise mu-
sical, desenvolvidas nas áreas/linhas em Práticas Interpretativas e Performance Musical, serão
abordadas, inicialmente, a partir das declarações fornecidas pelos autores das pesquisas. Por
fim, discutiremos quais objetivos e qual o papel da disciplina Análise Musical em tais pro-
duções.

4.2 A RELAÇÃO ANÁLISE/PERFORMANCE MUSICAL A PARTIR DE UMA LEITURA


DAS UNIDADES DE REGISTRO

A presença da Análise Musical em produções relacionadas à subárea de Performance


representa um assunto tratado, parcialmente, por estados da arte, voltados ao exame da
produção acadêmica (em Música), produzidas no nível da Pós-Graduação (BORÉM, 2005;
KERR, CARVALHO, RAY, 2006). Enquanto tais estudos evidenciam o crescimento quan-
titativo de pesquisas (caracterizadas pela presença de ambos domínios de estudo), a proposta
do presente subtópico volta-se a uma abordagem qualitativa com base no exame das unidades
de registro, selecionadas do conteúdo das pesquisas. Um propósito que buscará elucidar certos
aspectos que têm caracterizado o emprego da análise musical em pesquisas pertencentes à
subárea de Performance Musical. O quadro a seguir, oferece uma visão panorâmica de al-
gumas das declarações, fornecidas pelas pesquisas selecionadas. As expressões em negrito
ilustram o vínculo das pesquisas com a disciplina Análise Musical, assim como as justi-
ficativas dadas pelos seus autores para o emprego do procedimento analítico.
140

Unidades de registro Universidade, Autor e


Ano
"Será buscado melhor conhecimento pianístico da composição através do
estabelecimento de ferramentas específicas para a realização da análise pro-
posta, assim como do estudo das três suítes para piano" (SANTIAGO, 2007,
p. 15).
1 [...] contribuir de maneira ainda mais efetiva para a compreensão acerca UFMG, SANTIAGO,
dos diferentes níveis de dificuldade pianística presentes na obra (SANTI- 2007
AGO, 2007, p. 25).
[...] melhor entendimento da obra e que proporcione resultados que possam
1 tanto para a performance quanto para o ensino da mesma (SAN-
ser úteis
TIAGO, 2007, p. 17)
"Análise da peça A Sertaneja" (Sumário).
"Este estudo busca prover dados históricos, analíticos e de performance"
2 (Resumo). UFMG, MAROCHI
[...] com a intenção de ajudar os intérpretes na execução de A Sertaneja e JÚNIOR, 2007
os professores no ensino desta obra a seus alunos (MAROCHI JÚNIOR,
2007, p. 11).
Realizar uma abordagem interpretativa, calcada em elementos analíticos e
extra-musicais [...] (FREIRE, 2007, p. 7).
"O presente trabalho busca analisar duas peças escritas em cronologia di-
3 versa" (FREIRE, 2007, p. 6). UNICAMP, FREIRE,
"Demonstrar como a análise das obras em questão pode contribuir no sentido 2007
de abrir novos caminhos da interpretação" (FREIRE, 2007, p. 7).
[...] o trabalho analítico da performance tem como função fundamentação e
justificativa das opções interpretativas de um instrumentista acerca de de-
terminada obra (FREIRE, 2007, p. 120).
[...] tem como principal objetivo realizar um estudo analítico-interpretativo
e pedagógico das 12 Valsas de Esquina de Francisco Mignone (Resumo). UNICAMP,
4 [...] sugestões para interpretação, fundamentadas pela análise [...] NASCIMENTO, 2007
(NASCIMENTO, 2007, p. 46).
"Visa o estudo, a análise e a performance, buscando uma integração entre
5 análise e performance" (Resumo). UNICAMP, MAESHIRO,
[...] trabalho de pesquisa que teve por base a análise para se chegar a 2007
uma concepção musical (MAESHIRO, 2007, p. 160).
[...] a Sonata foi submetida a uma análise detalhada (Resumo).
Acreditamos que um conhecimento mais profundo dos processos compo-
6 sicionais de Korenchendler possibilitará uma melhor visão interpretativa UFRJ, AUBIN, 2007
para o pianista [...], pois a análise compreende aspectos como a delimitação
de material temático, o emprego dos ritmos, os intervalos e suas recorrências,
assim como aspectos estéticos referentes à dinâmica, agógica e pedalização
(Resumo).
"Esta investigação focaliza aspectos rítmicos dos Estudos para piano de Györ-
gy Ligeti" (Resumo).
7 "São analisados os estudos Cordes à Vide, Arc-en-ciel e Automne à Varso- UNIRIO, COHEN, 207
vie" (COHEN, 2007, p. 3).
"Procuramos evidenciar certas características prevalentes de sua obra"
(COHEN, 2007, p. 2).
"Esta dissertação procura equilibrar a reflexão sobre as questões objetivas,
apontadas e justificadas pela análise musical, com as criativas" (GORNI.,
8 2007, p. 6). UNIRIO, GORNI, 2007
"Inquestionavelmente, a análise musical contribui muito para a interpreta-
ção porque nos faz perceber, de maneira consciente, as relações estruturais da
peça a ser executada" (GORNI, 2007, p. 21).
[...] realizar um estudo que contemple uma abordagem analítica a partir do
ponto de vista do executante [...] (ANDRADE, 2007, p. 8).
9 [...] apresenta uma análise que expõem uma concepção pessoal dos significa- UFRGS, ANDRADE,
dos referenciais transmitidos pela obra (Resumo). 2007
"O presente estudo procurou reunir diferentes posturas analíticas"
(ANDRADE, 2007, p. 78).
141

"Alcançar uma concepção dos significados referenciais transmitidos pelo


conjunto sonoro do primeiro movimento da Sonata II de Bruno Kiefer"
(ANDRADE, 2007, p. 8).
[...] apresentam-se diferentes enfoques analíticos: convencionais [...], feno-
10 menológicos (descrições do som no tempo) e hermenêuticos (que descrevem UFRGS, HRASTE, 2007
os significados referenciais) (Resumo).
[...] compreensão ampla da obra analisada (HRASTE, 2007, p. 16).
"Esta pesquisa tem como objetivo principal o estudo analítico e interpre-
tativo de duas peças para piano de Marlos Nobre" (Resumo).
"Propor um estudo consciente das peças" (OTSUKA, 2008, p. 4).
11 [...] a elaboração de uma sugestão de estudo consciente (OTSUKA, 2008, UNICAMP, OTSUKA,
p. 7) 2008
[...] ferramenta fundamental para [...] escolher os diferentes toques pia-
nísticos, entender e controlar a polifonia e memorizar (OTSUKA, 2008,
p.52).
[...] análise voltada para questões interpretativas [...] (Resumo).
12 "A análise foi tratada neste trabalho como uma possibilidade de aproximar a USP, AGUIAR, 2008
obra da compreensão do intérprete" (AGUIAR, 2008, p. 15).
[...] desejamos fornecer ao futuro intérprete informações de análise estético-
formal, visando uma excelência na interpretação musical (AUBIN, 2008, p.
56).
[...] analisa morfológica e comparativamente cada um dos Noturnos de
Miguéz, apontando em suas obras semelhanças com os modelos dos
13 compositores europeus, principalmente Chopin e Liszt (Resumo). UFRJ, AUBIN, 2008
[...] examinar detidamente os três Noturnos de Miguéz para piano solo, com o
objetivo de localizar - ou não - possíveis semelhanças de linguagem musical,
tão apregoadas pelos comentadores, que o ligassem às produções de com-
positores românticos europeus (AUBIN, 2008, p. 123).
"O estudo dos elementos estético-formais, se bem orientado e utilizado na in-
terpretação, traz o domínio do som e das proporções sonoras que o exe-
cutante pretende recriar e isto com base sólida e segura" (AUBIN, 2008,
p.57).
A presente dissertação aborda analiticamente uma obra para piano solo de
Heitor Villa-Lobos [...] (Resumo).
[...] análise da peça, fazendo junção de uma análise morfológica com a aná-
lise do conteúdo extramusical identificado pelo intérprete (OLIVEIRA,
2008, p. 15).
14 [...] formular uma conduta analítica para o desenvolvimento musical na UFRJ, OLIVEIRA, 2008
execução através da estrutura da obra (OLIVEIRA, 2008, p. 13).
"Acreditamos que elaborar uma apreciação do conteúdo extramusical ao lado
da análise de algumas obras de Villa-Lobos para piano, acrescenta ao
intérprete maior compreensão da linguagem musical e do pensamento do
compositor contribuindo imensamente para a realização de uma execu-
ção mais rica dessas obras" (OLIVEIRA, 2008, p. 74).
"Análise e performance do Trio" (Título).
"O método tem auxiliado na solução de questões envolvendo dois dos prin-
15 cipais meios de expressão de que dispõe um intérprete para a execução de USP, FUKUDA, 2009
uma música: a dinâmica e a agógica" (FUKUDA, 2009, p. 1).
"A análise dos aspectos formais contou com a colaboração do Professor e
compositor Antônio Ribeiro" (FUKUDA, 2009, p. 75).
16 [...] tem por objetivo o estudo analítico das referidas peças visando ao UNICAMP, LEME
entendimento dos processos composicionais e sua relação com a interpre- JÚNIOR, 2009
tação das obras (Resumo).
Este trabalho tem como principal objetivo realizar uma análise da obra para
piano de Eunice Katunda (1915-1990) [...] (Resumo).
[...] fazer um levantamento dos procedimentos técnicos composicionais e
17 investigar como são empregados na sua linguagem musical (SOUZA, 2009, UNICAMP, SOUZA,
p.7) 2009
"A análise que se segue pretende apresentar subsídios para uma compreen-
são da peça e pode ser considerada como um meio de colaborar no pro-
142

cesso de tomada de decisões para uma interpretação"


(SOUZA, 2009, p. 345).
"analiso o Segundo Concerto para Piano e Orquestra (1946) de Camargo
Guarnieri (1907-1993) tendo como pano de fundo uma contextualização sobre
o nacionalismo e o neoclassicismo na obra de Guarnieri" (Resumo).
"Discorro também sobre a utilização de procedimentos composicionais
oriundos da música de tradição tonal nesta obra" (GONÇALVES, 2009, p. 1).
18 "Com este trabalho, espero ter contribuído para o resgate de uma obra tão UFRGS, GONÇALVES,
significativa de Camargo Guarnieri e representativa do contexto social, 2009
político, cultural e musical a partir do qual se originou" (GONÇALVES,
2009, p. 79).
"Em minha análise, identifico no Segundo Concerto reflexos do ideário
formado em torno desse nacionalismo e vinculações estéticas com as ten-
dências da música produzida internacionalmente (Resumo).
[...] identificar os elementos apropriados do primeiro movimento do Concerto
para Orquestra (1943) do compositor húngaro Béla Bártok (1881-1945) e
19 investigar como esses elementos são inseridos e metamorfoseados na lin- UFRGS, FREITAS, 2009
guagem de Nobre (Resumo).
"Este trabalho apresenta uma análise da Sonata para piano sobre tema de
Bártok op.45" (Resumo).
[...] encontrar elementos que dão coerência à obra como um todo (CHIN,
2009, p. 7).
[...] foi analisada a sua estrutura, seus aspectos melódico, rítmico e har-
20 mônico, verificando a existência de padrões ou elementos recorrentes [...] UFRGS, CHIN, 2009
(CHIN, 2009, p. 7).
"Em busca de um melhor entendimento do discurso musical [...] (CHIN,
2009, p. 7).
O foco da pesquisa foi realizar um estudo analítico de procedimentos com-
posicionais e com base neste estudo, apresentar critérios e sugestões a serem
aplicadas durante a preparação das mencionadas obras [...] (Resumo).
"Através da análise torna-se possível definir com mais precisão, a técnica
de execução musical" (AMARAL, 2009, p. 13).
[...] pretende-se contribuir para a literatura relacionada à análise musical
como ferramenta para a prática interpretativa (Resumo). UDESC, AMARAL, 2009
21 [...] acredita-se que através da análise de tais particularidades, pode-se discuti-
las no sentido de obter-se uma melhor compreensão de sua função no
texto musical [...] (AMARAL, 2009, p. 9).
"Durante todos os momentos possíveis foram cruzadas informações relativas
à análise musical e a técnica pianística, reforçando a interação entre estas
duas áreas" (AMARAL, 2009, p. 12).
"Permite ao instrumentista aprofundar o seu conhecimento e adquirir sóli-
do embasamento para a tomada de decisões interpretativas em função de
uma realização prática de obras musicais" (AMARAL, 2009, p. 13).
[...] análise de aspectos musicais mediante o estudo da partitura [...]
(THIAGO, 2009, p. 3).
[...] teve como foco investigar a estrutura formal da peça e também o tipo
de material temático, rítmico, harmônico e melódico [...] (THIAGO, 2009, p.
25).
"Os aspectos estruturais [...] fazem parte desta pesquisa como um dos ele-
22 mentos de referência para a construção de um interpretação. Foi a partir UDESC, THIAGO, 2009
desses aspectos que realizei o diálogo com o regente" (THIAGO, 2009, p. 64).
"A prática nos ensaios foi organizada, portanto, levando-se em conta
pontos estruturais na música (THIAGO, 2009, p. 97).
"A observação dos materiais auxiliou na idealização sonora e na escolha
de soluções técnico-musicais" (THIAGO, 2009, p. 97).
A análise musical realizada foi relevante para o entendimento da peça [...]
(THIAGO, 2009, p. 103).
[...] tornar a relação análise-performance complementar e produtiva para a
23 realização instrumental (GONÇALVES, 2009, p. 134). UDESC, GONÇALVES,
[...] buscamos a união funcional entre análise e performance/interpretação 2009
143

[...] (GONÇALVES, 2009, p. 134).


[...] apresentar sugestões de interpretação e realização do texto musical
das obras em questão, a partir das conclusões alcançadas através da aná-
lise musical e performática das sonatas (GONÇALVES, 2009, p. 9).
[...] realiza-se uma análise descritiva, fundamentada em características mu-
sicais do gênero frevo (Resumo).
[...] será analisada do ponto de vista composicional e da performance
24 pianística (PINTO, 2009, p. 8). UFMG, PINTO, 2009
[...] descrever a forma de Frevo, de Egberto Gismonti (PINTO, 2009, p. 10).
"A análise da obra mostrou que o gênero pernambucano foi utilizado na
construção da obra de Gismonti, tanto nos aspectos composicionais quanto
improvisatórios" (Resumo).
[...] tem por objetivo construir uma análise da obra (Resumo).
"A observação pormenorizada desses elementos do texto musical corrobora
25 para uma interpretação exata que observa todas as exigências do compo- UFRJ, GOLISZEWSKI,
sitor e numa segunda etapa serão pressupostos decisivos na descoberta de u- 2009
ma visão particular que o intérprete terá da obra" (GOLISZEWSKI, 2009, p. 87).
[...] a análise musical minuciosa das Valsas é uma das ferramentas principais
desta pesquisa [...] (REIS, 2010, p. 2).
[...] aspectos de interpretação baseados na análise musical das Valsas
26 (REIS, 2010, p. 87). USP, REIS, 2010
"estabelecer parâmetros para a interpretação dessas peças com base na
análise musical" (REIS, 2010, p. 1).
[...] pois através dela será possível compreender melhor as obras, bem co-
mo estabelecer aspectos interpretativos baseados na análise (REIS, 2010,
p. 2).
[...] o foco do nosso trabalho é o de análise estrutural [...] (SILVA, 2010, p.
65).
[...] serão analisadas as sonatas escolhidas e apresentadas sugestões de estudo
27 das mesmas (SILVA, 2010, p. 3). USP, SILVA, 2010
"Estudo analítico-interpretativo" (Título).
[...] entender como alguns compositores brasileiros [...] das mais variadas
linhas estéticas, empregam aquela forma (SILVA, 2010, p. 3).
[...] propõe analisar os procedimentos técnicos da composição e investigar
como a linguagem musical interfere no aspecto interpretativo (YANSEN,
28 2010, p.4). UNICAMP, YANSEN,
"Incentivar a busca do material composicional como ferramenta para a 2010
interpretação musical" (YANSEN, 2010, p. 5).
Pudemos encontrar no material composicional subsídios para cada momento
da execução [...] (YANSEN, 2010, p. 180).
29 [...] formação da concepção das interpretações, a partir da análise do conteúdo UNICAMP, GOMES
intertextual (Resumo). FILHO, 2010
[...] elementos de análise para a construção da performance (Título).
[...] foi realizada uma análise comparativa entre estas quatro versões
existentes, abordando suas quatro versões existentes, abordando sua estrutura,
forma e harmonia. Com base nestes elementos e no estudo ao piano, foram
30 elaboradas e apresentadas as sugestões interpretativas (Resumo). UNICAMP, OLIVEIRA,
O trabalho estabelece procedimentos de análise comparativa e interpre- 2010
tação que podem ser aplicados em outras peças para piano do compositor [...]
(OLIVEIRA, 2010, p. 141).
A análise e a comparação entre as quatro versões existentes proporcionaram
um melhor entendimento do processo composicional [...]
(OLIVEIRA, 2010, p. 141).
[...] tem principal objetivo estudar a relação entre análise estrutural, a
31 análise do texto poético, a relação texto música e pianismo com vistas a UNICAMP, PICCHI,
uma interpretação nas Serestas de Heitor Villa-Lobos [...] (Resumo). 2010
[...] análise como guia de uma interpretação (PICCHI, 2010, p. 255).
"O procedimento de análise é realizado através de identificação da estrutura
32 formal, das características dos gêneros brasileiros utilizados e de compa- UFMG, CASARA, 2011
rações entre as obras de outros compositores brasileiros e estrangeiros"
144

(CASARA, 2011, p. 60).


[..] propõem-se sugestões relacionadas à performance dessas obras, baseadas
no estudo interpretativo [...] e nas reflexões advindas do estudo analítico [...]
(CASARA, 2011, p. 15).
[...] análise específica das valsas de Nazareth. Aqui apresentamos algumas
de nossas propostas para a área das práticas interpretativas (Resumo).
33 [...] elaboramos uma análise deste gênero na obra de nosso compositor (AL- UFRJ, ALMEIDA, 2011
MEIDA, 2011, p. 2).
[...] delineamos um parâmetro para a prática interpretativa de suas valsas
(ALMEIDA, 2011, p. 2).
[...] a pesquisa irá apresentar o resultado de uma investigação de Teufels-
mühle e omnibus dentro de peças selecionadas da obra de Fréderic Chopin
(NONIS, 2011, p. 3).
[...] implicações destas estruturas para a prática musical (NONIS, 2011, p.
34 135). USP, NONIS, 2011
"A busca para aclarar determinadas passagens que se revelaram como
sonoridades familiares na práxis composicional de Chopin, mas que per-
maneceram sem respostas convincentes por meio de estudos tradicionais nas
áreas de harmonia e análise, foi um dos primeiros motivos que instigou a
realização desta pesquisa" (NONIS, 2011, p. 135).
[...] investigação e reconhecimento dos modelos cromáticos na obra de
Chopin [...] (NONIS, 2011, p. 137).
"O foco principal está em apresentar um estudo analítico dos Timbres e
Ritmatas [...] sob o ponto de vista da prática interpretativa" (Resumo).
[...] a descoberta dos elementos musicais utilizados por Villani-Côrtes que
35 possam credibilizar e enriquecer o processo interpretativo da obra (ARA- UNICAMP, ARAÚJO
ÚJO FILHO, 2011, p. 1). FILHO, 2011
[...] elementos musicais [...] serão descritos com o propósito de compreen-
dê-lo e reforçá-lo (ARAÚJO FILHO, 2011, p. 1).
A interpretação pianística será reforçada pela compreensão e codificação do
trabalho analítico [...] (ARAÚJO FILHO, 2011, p. 4).
O processo analítico empregado para a compreensão dos procedimentos
composicionais e para a elaboração da execução musical engloba o exame
36 do texto poético, da estrutura musical [...], dos aspectos interpretativos [...] UNICAMP, RAMOS,
(Resumo). 2011
[...] o foco do trabalho está na análise das peças (RAMOS, 2011, p. 3).
[...] aprofundar o conhecimento dos aspectos melódicos e harmônicos de
cada uma das quatro obras envolvidas neste trabalho [...] (SILVA, 2011, p.
37 165). UNIRIO, SILVA, 2011
[...] as sonatinas são analisadas com o intuito de aprofundar a compreen-
são dos aspectos acima mencionados [...] (Resumo).
"Esta dissertação tem como objetivo principal o estudo analítico da estrutura
da forma do Trio Marítimo para violino, violoncelo e piano de Almeida Pra-
38 do" (Resumo). UNICAMP,
A análise de uma obra baseada na técnica e no conceito da transtonalidade GAZANNEO, 2011
possibilita aos intérpretes mais especificamente ao pianista uma aproximação
mais estreita com os recursos de obtenção de timbres [...] (GAZANNEO,
2011, p. 140).
"apresentar concepções analíticas e interpretativas para a execução de cada
uma das peças" (Resumo).
[...] construir concepções analíticas em função da execução musical das 16
Cirandas de Villa-Lobos (TARQUÍNIO, 2012, p. 349).
39 "Análise Musical Entonacional" (TARQUÍNIO, 2012, p. 21). UFRGS, TARQUÍNIO,
"A temática deste trabalho é decorrente de uma busca por um pensamento e 2012
por uma práxis de execução musical que tratem dos conteúdos sintáticos e
semânticos, poéticos e emocionais, expressos durante a execução de uma
obra musical [...] essa busca reflete minhas atividades profissionais como
pianista e professor de piano, bem como professor de análise musical" (TAR-
QUÍNIO, 2012, p. 17).
145

[...] realizar um estudo analítico [...] a fim de proporcionar ao intérprete


uma maior intimidade com a obra a ser executada (Resumo).
40 [...] reconhecer os materiais composicionais [...], bem como conhecer os UNICAMP, ALVES, 2012
princípios gerais de organização da obra com a finalidade de melhor com-
preendê-la para realizar sua execução (ALVES, 2012, p. 37).
[...] análise do material musical considerando aspectos como a textura [...],
forma, elementos fraseológicos [...] (Resumo).
41 [...] trata de identificar elementos teóricos-musicais nos Quatro Estudos de UDESC, RODRIGUES,
Vieira Brandão, e fornecendo ao pianista subsídios para a construção de 2012
uma interpretação [...] (SOUSA, 2012, p. 16).
[...] olhar voltado para as análises estruturais e interpretativas dessas
peças, que visam a aprofundar o conhecimento dessas obras e a constru-
42 ção de um trabalho que contribua para a compreensão e divulgação des- UFRJ, SOUSA, 2012
sas composições pelas novas gerações de músicos (SOUSA, 2012, p. 12).
Quadro 15: Unidades de registro nas produções relacionadas à Análise Musical

Um primeiro aspecto a ser abordado com base nas unidades de registro diz respeito à
categorização das produções. Conforme mencionamos, anteriormente, as expressões apre-
sentadas em negrito permitem ao leitor verificar o vínculo das pesquisas com o emprego da
análise musical, assim como algumas justificativas emitidas por seus autores. Entretanto,
pode-se notar, uma diferença em relação às declarações de seus autores em relação ao diálogo
de tais produções com a performance musical. Enquanto determinadas unidades de registro
oferecem uma menção explícita sobre diálogo existente entre os domínios da Análise e
Performance Musical, pode-se notar em outras a ausência de declarações que permitam
verificar explicitamente uma interação e integração entre ambos domínios de estudo. Desse
modo, as expressões "integração entre análise e performance" (MAESHIRO, 2007), "formular
uma conduta analítica para o desenvolvimento musical na execução através da estrutura da
obra" (OLIVEIRA, 2008), "Análise e Performance" (FUKUDA, 2009), "interação entre estas
duas áreas" (AMARAL, 2009), "tornar a relação análise-performance complementar e
produtiva" (GONÇALVES, 2009) e "construir concepções analíticas em função da execução
musical" (TARQUÍNIO, 2012) representam alguns exemplos de declarações explícitas acerca
do diálogo entre Performance e Análise Musical. Por outro lado, pode-se identificar em certas
pesquisas em Práticas Interpretativas/ Performance objetivos que apontam para um interesse
"exclusiva ou predominantemente analítico", voltado em alguns casos para a investigação da
estrutura musical, conforme notado nos trabalhos desenvolvidos por Silva (2011), Nonis
(2011) e Chin (2009). Tais objetivos podem ser reconhecidos mediante as expressões: "apro-
fundar o conhecimento dos aspectos melódicos e harmônicos" (SILVA, 2011), "apresentar o
resultado de uma investigação do Teufelsmühle e omnibus dentro de peças selecionadas"
(NONIS, 2011) e "encontrar elementos que dão coerência à obra como um todo" (CHIN,
2009). Em outros casos, embora o foco dos autores não se apresente, unicamente, vinculado à
146

investigação da estrutura, podemos notar um interesse, exclusivamente analítico, conforme


indicado pelas pesquisas, desenvolvidas por Gonçalves (2009) e Freitas (2009). Podemos
afirmar a partir destes casos que nem todas as pesquisas analíticas em Práticas Interpretativas/
Performance têm procurado desenvolver abordagens caracterizadas (explicitamente) pela
interação entre os domínios da Análise e Performance Musical. Tais pesquisas têm se
distanciando de propostas, desenvolvidas por teóricos que têm reivindicado maior interação
entre ambos domínios, em pesquisas relacionadas à Performance Musical. Como exemplo,
podemos citar estudos elaborados por Rink (2010), Lester (2005), Rothstein (2005) e Cook
(2013). Pode-se afirmar ainda, que alguns autores de pesquisas em Práticas Interpretativas/
Performance têm voltado os seus esforços para uma abordagem centrada na investigação do
texto, mais do que no emprego do procedimento analítico como uma possibilidade de coo-
perar para a resolução de problemas relativos à execução musical (DUNSBY, 1989). Tais
exemplos, permitem verificar uma coexistência de propósitos quanto ao emprego da análise
musical em produções desenvolvidas em Práticas Interpretativas/ Performance. Enquanto há
autores cujas preocupações têm se centrado na busca da compreensão do texto musical,
mediante a investigação da estrutura e aspectos extra-musicais, existem aqueles que têm se
empenhado na tentativa de aproximar ambos domínios a fim de subsidiar a execução musical.
Na visão de Cook (2013, p. 4), parte do discurso musicológico que tem caracterizado certos
estudos sobre Performance Musical tem se fundamentado no chamado "paradigma textua-
lista", evidenciando uma preocupação demasiada com a compreensão do texto em detrimento
de uma aproximação de estudos com a realidade da performance musical. A existência de
pesquisas analíticas em Práticas Interpretativas, caracterizadas pelo distanciamento de con-
siderações sobre a função da análise (incluindo considerações acerca dos benefícios do pro-
cedimento para a resolução de problemas de execução) parece sugerir uma adesão a esse
paradigma.
Uma outra questão a ser tratada a partir das unidades de registro acima mencionadas,
diz respeito aos objetivos que a Análise Musical tem ocupado em produções, desenvolvidas
em Práticas Interpretativas/ Performance. Novamente, a leitura das unidades de registro
permite identificar uma diversidade de declarações acerca da função que a análise musical
ocupa no interior das pesquisas. A primeira, está diretamente vinculada ao propósito de ofe-
recer uma compreensão acerca do objeto investigado (COOK, 1987, p. 2; BENT; POPLE,
2001, p. 526). Se tal aspecto tem sido ressaltado por obras de referência pertencentes à dis-
ciplina Análise Musical, pode-se dizer o mesmo em pesquisas, desenvolvidas em Práticas
Interpretativas. Uma observação dos estudos desenvolvidos por Rothstein (2005) e Lester
147

(2005), permite reconhecer a importância que tais autores conferem à construção uma com-
preensão fundamentada pelo envolvimento do performer com a análise musical.
A função da análise musical, no favorecimento de uma compreensão da partitura, é
indicada pelas pesquisas selecionadas, que as consideram um meio de proporcionar: um "co-
nhecimento mais profundo dos processos composicionais" (AUBIN, 2007), a "compreensão
dos procedimentos composicionais" (RAMOS, 2011), um "melhor entendimento do discurso
musical" (CHIN, 2009), o "entendimento da peça" (THIAGO, 2009), uma "compreensão
ampla da obra" (HRASTE, 2007, p. 16) e o "conhecimento dos aspectos melódicos e harmô-
nicos" (SILVA, 2011) de uma composição. Na visão de Rothstein (2005, p. 237), o emprego
da análise musical em produções vinculadas às práticas interpretativas deve não somente
favorecer uma "compreensão da obra", mas contribuir para a elaboração de uma "narrativa
musical". Essa afirmação permite verificar o potencial do procedimento analítico para o
desenvolvimento de uma narrativa por meio do emprego de um vocabulário mais sofisticado,
fundamentado numa teoria. As declarações de tais pesquisas sugerem uma aproximação com
a visão, defendida por Rink (2010, p. 35) acerca da postura adotada por alguns intérpretes que
refletem, cuidadosamente, sobre "como a música 'funciona'" e sobre os meios de superar seus
"vários desafios conceituais" 106.
Além do papel de facilitador da compreensão musical, baseada em um vocabulário
fundamentado numa determinada teoria, a análise musical tem cumprido outra função em
produções relacionadas às áreas/ linhas de pesquisa em Práticas Interpretativas e Performance
Musical. Algumas pesquisas têm empregado a análise musical com propósito de subsidiar a
tomada de decisões interpretativas. Desse modo, várias são as pesquisas que têm atribuído à
análise musical a função de subsidiar a interpretação musical. Um aspecto que pode ser
reconhecido nas unidades de registro que têm considerado a análise musical um procedimento
com potencial para servir como: um "guia" (PICCHI, 2010), uma "ferramenta" (YANSEN,
2010) ou um dos "elementos de referência" (THIAGO, 2009) para a construção de uma
interpretação musical. Outras pesquisas consideram-na como um meio de colaborar no pro-
cesso de "tomada de decisões interpretativas" (SOUZA, 2009; AMARAL, 2009) ou "soluções
de questões" relacionadas à dinâmica e a agógica (FUKUDA, 2009, p. 9). Tais declarações se
coadunam com a visão partilhada por diferentes especialistas das Práticas Interpretativas que
têm considerado o papel da análise musical como um procedimento capaz de favorecer o

106
[...] most performers carefully consider how the music 'works' and how to overcome its various conceptual
challenges (RINK, 2010, p. 35).
148

desenvolvimento de estratégias ou escolhas interpretativas (LESTER, 1995, p. 214; RO-


THSTEIN, 1995, p. 227; BERRY, 1989, p. 3). Sobre este aspecto, Dunsby (1989, p. 9) decla-
ra: "uma determinada análise poderá levar à convicção de que um determinado tipo de inter-
pretação é essencial". Pode-se, portanto, observar nas declarações fornecidas pelos autores das
pesquisas selecionadas uma adesão à opinião de especialistas das Práticas Interpretativas
quanto ao potencial da análise musical para a tomada de decisões interpretativas, inclusive
aquelas relacionadas às questões de tempo e dinâmica (RINK, 2010, p.36; BERRY, 1989, p.
3).
Ainda no âmbito da função da análise musical para a interpretação musical pode-se
reconhecer, a partir da leitura das unidades de registro, uma diferença quanto à importância
conferida ao papel da análise da estrutura musical para a performance. Em certas declarações,
a análise estrutural ocupa um papel de notável importância no processo interpretativo. Tal
papel é sugerido em pesquisas cuja análise musical representa um procedimento com poten-
cial para: "chegar a uma concepção musical" (MAESHIRO, 2007), obter uma "excelência na
interpretação musical" (AUBIN, 2008), alcançar uma "interpretação exata que observa todas
as sugestões do compositor" (GOLISZEWSKI, 2009), e "credibilizar e enriquecer o processo
interpretativo da obra" (ARAÚJO FILHO, 2011). Em contrapartida, outras produções têm
considerado o papel da análise musical em contribuir para o processo interpretativo, mais do
que ocupar uma posição central na construção de uma interpretação musical. Para Thiago
(2009, p. 64), o conhecimento dos aspectos estruturais é considerado "um dos elementos de
referência para a construção de uma interpretação". Na visão de Cook (2013, p. 20), a pos-
sibilidade de construção de uma concepção musical, fundamentada apenas no estudo da
estrutura musical, não corresponde a uma aproximação com a realidade de uma performance
musical (principalmente, no que diz respeito ao papel do performer na produção de signi-
ficados, durante a interpretação musical). Tal aspecto é corroborado pela rede de signifi-
cações possíveis de serem estabelecidas pelo performer, durante o processo interpretativo
(LABOISSIÈRE, 2007, p. 20). Desse modo, a "excelência" e o desenvolvimento de uma
"concepção musical" resultam de um processo marcado muito mais por uma ampla rede de
significados, relacionados às diferentes dimensões interpretativas, do que meramente o
envolvimento do performer com a denominada "análise rigorosa" da estrutura. Para Labois-
sière (2007, p. 112), a "interpretação está, então, diretamente conectada a elementos sig-
nificativos que lhe são inerentes [...], sejam eles indicados pela musicologia, pela estética,
pela análise, e pelo processo interior de cada um". Desse modo, a investigação dos elementos
que compõem a estrutura de uma obra musical é considerada por Laboissière como "elemen-
149

tos de agenciamento da interpretação" (LABOISSIÈRE, 2007, p. 165), porém, não represen-


tam os únicos que participam da rede de significados, estabelecidos pelo intérprete. Pode-se,
portanto, reconhecer em alguns dos trabalhos selecionados a adesão a uma proposta inter-
pretativa baseada, fundamentalmente, na investigação da estrutura musical e distanciada de
uma abordagem de outros aspectos, igualmente, importantes para a interpretação musical.
A partir de uma observação das unidades de registro, podemos reconhecer outras
funções atribuídas à análise musical em produções relacionadas às práticas interpretativas. É o
caso da pesquisa de Otsuka que considera a análise uma "ferramenta fundamental" para a
atividade de memorização musical (OTSUKA, 2008, p. 52). Tal opinião é partilhada por
importantes pesquisadores, como John Rink (2010, p. 39). Se em Rink a análise é associada a
um procedimento com potencial para otimizar a memorização musical, outros especialistas
têm destacado o seu papel para o refinamento da escuta (WILLSON, 2009, p. 30; GERLING,
1989, p. 4). Para alguns estudiosos, o envolvimento do performer com a análise estrutural não
representa apenas um meio de intensificação da compreensão do texto musical, mas uma
possibilidade de aguçar processos de percepção auditiva (GERLING, 1989, p. 4). Assim po-
demos afirmar que a relação percepção-análise representa um processo de cooperação mútua
e complementar. Se uma determinada teoria pode oferecer ao performer a possibilidade de de-
senvolvimento de um vocabulário para a descrição de uma experiência auditiva, esta pode ser
enriquecida a partir do conhecimento da estrutura, proporcionado pelo envolvimento do per-
former com a análise estrutural.
Um último aspecto a ser notado nas declarações, fornecidas pelos autores das pes-
quisas selecionadas diz respeito à diversidade de perspectivas analíticas que têm servido às
abordagens interpretativas. Desse modo, pode-se reconhecer nessa produção a presença de
pesquisas fundamentadas tanto em uma única perspectiva analítica, quanto produções ca-
racterizadas pela integração de métodos analíticos e vinculadas aos diferentes tipos de pes-
quisa107. Tal aspecto pode ser reconhecido nas pesquisas cujas unidades de registro comu-
nicaram os seguintes interesses: a combinação entre diferentes "posturas analíticas" (AN-
DRADE, 2007) ou "enfoques analíticos" (HRASTE, 2007), a "junção de uma análise mor-
fológica com a análise do conteúdo extramusical" (OLIVEIRA, 2008) e o desenvolvimento de
uma análise abrangente envolvendo considerações sobre os "conteúdos sintáticos", "semân-
ticos", "poéticos e emocionais" (TARQUÍNIO, 2012). A combinação de métodos analíticos

107
Neste contexto, os diferentes tipos de pesquisas referem-se às abordagens analíticas vinculadas à pesquisa
qualitativa e as pesquisas de caráter objetivista (relacionadas ao paradigma positivista) (FREIRE, 2010, p. 38).
150

no interior de uma mesma pesquisa aproxima-se de posturas defendidas tanto por especialistas
da disciplina Análise Musical (COOK, 1987, p. 3) quanto por teóricos vinculados às Práticas
Interpretativas. Para Rothstein (2005, p. 238), a "exclusiva dependência de uma determinada
abordagem" representa uma limitação para a compreensão do objeto musical. Na atualidade,
pesquisadores têm considerado a adesão a um enfoque pluralista como uma tendência pos-
sível de ser notada em diversos estudos desenvolvidos pela disciplina Análise Musical. Sobre
tal aspecto, Nagore (2004, p. 8) destaca uma visão que tem sido partilhada entre diferentes
especialistas: não existe um único método analítico que " 'esgote' o significado da obra musi-
108
cal [...]." Cada perspectiva analítica contribui para enriquecer a compreensão da música" .
Podemos reconhecer nas declarações, fornecidas pelos autores das pesquisas selecionadas, o
interesse pelo desenvolvimento de abordagens analíticas baseadas não apenas na investigação
da estruturação musical, mas também pela abordagem de elementos extra-musicais e consi-
derações sobre o significado e recepção de obras musicais. Pode-se notar uma aproximação de
pesquisas de diferentes disciplinas, a fim de favorecer uma abordagem analítica relacionada
aos diferentes modos de conhecimento109. Acreditamos que o interesse de alguns autores por
uma visão mais abrangente do objeto em função da interpretação musical, tem colaborado
para uma ampliação das "fronteiras" dos objetos analíticos, evidenciando um interesse que
tem ido, além daquele vinculado à investigação da estrutura musical. Sobre a natureza
multifacetada do processo interpretativo, Rink (2005, p. 257) observa que: " a [...] interpre-
tação sempre implica escolha e a base para escolha [...] precisa ser musical - isto é, histo-
ricamente, estilisticamente, analiticamente, tecnicamente, expressivamente - viável "110. As
declarações fornecidas por alguns autores têm revelado a presença de certo "ecletismo ana-
lítico" em produções relacionadas às práticas interpretativas, sendo em alguns casos, carac-
terizado pela combinação entre perspectivas analíticas relacionadas às diferentes visões acerca
das dimensões dos objetos analíticos111. Trataremos a seguro dos paradigmas que têm cons-
tituído a base para o desenvolvimento de tais abordagens, em Práticas Interpretativas/
Performance.

108
"Hoy parece que todo el mundo está de acuerdo en que no existe un análisis que "agote" el significado de la
obra musical, que seja el único válido. Cada perspectiva analítica contribue a enriquecer la comprensión de la
música" (NAGORE, 2004, p. 8).
109
Para esclarecimentos, consultar as pesquisas de Hraste (2007) e Andrade (2007).
110
"interpretation always involves choice, and the basis for choosing [...] must be musically - that is, historically,
stylistically, analitically, technically, expressively - viable" (RINK, 2005, p. 257).
111
Ao tratar sobre diferentes perspectivas analíticas, Freire (2010, p. 38) expõe alguns dos objetivos e dimen-
sões dos objetos analíticos que se adaptam à pesquisa qualitativa e às pesquisas de "caráter objetivo".
151

4.3 VISÃO PANORÂMICA DE CERTOS PARADIGMAS ANALÍTICOS PRESENTES


NA PESQUISA EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS/PERFORMANCE E SUA RE-
LAÇÃO COM OS OBJETOS DE ESTUDO

A fim de esclarecer certos aspectos e dimensões que têm permeado a produção de


pesquisas analíticas, em Práticas Interpretativas/ Performance, o presente subtópico oferece
uma visão panorâmica dos paradigmas analíticos que têm servido de subsídio às pesquisas,
anteriormente apresentadas. Por tratar-se de uma amostragem, reunida por conveniência
(constituída por 42 teses e dissertações), não se tem aqui o propósito de oferecer qualquer
espécie de juízo quantitativo das perspectivas analíticas identificadas. Nossa proposta é apre-
sentar ao leitor uma abordagem qualitativa com base em pesquisas, caracterizadas pelo
diálogo com a disciplina Análise Musical. O quadro que será apresentado, logo a seguir,
oferece uma visão panorâmica constituída pelas unidades de registro (declarações dos autores
das pesquisas), selecionadas a partir da amostragem considerada. Nas pesquisas caracteri-
zadas pela ausência de uma menção explícita dos métodos analíticos, nos limitamos à ex-
posição dos parâmetros analisados, identificados mediante a consulta integral das produções
selecionadas. No quadro abaixo, é possível reconhecer os principais teóricos que serviram de
subsídio às análises musicais empreendidas pelos autores das pesquisas, constituintes de nossa
amostragem:

Métodos declarados e/ ou Teórico (s) apresentado (s) como Universidade,


Parâmetros analisados pelo autor fundamentação para a proposta Autor e Ano
analítica empregada
1 Tempo, ritmo, textura e sonoridade. UFMG,
(Resumo) - SANTIAGO, 2007
2 "análise formal" (MAROCHI JÚ- UFMG, MAROCHI
NIOR, 2007, p. 11) - JÚNIOR, 2007
3 "análise harmônica" (FREIRE, 2007, Arnold Schoenberg, Leonard Meyer, UNICAMP,
p. 129), "rítmica e formal" (FREIRE, Wallace Berry e Stefan Kostka FREIRE, 2007
2007, p. 124).
4 "análise formal e harmônica" (NAS- H. J. Koelleureutter e Júlio Bas UNICAMP,
CIMENTO, 2007, p. 189). NASCIMENTO,
2007
5 "análise motívica" (MAESHIRO, Arnold Schoenberg, Felix Salzer, UNICAMP,
2007, p. 25), "vozes condutoras" Joseph Straus e John White MAESHIRO, 2007
(MAESHIRO, 2007, p. 26), "macro,
média e micro análise"
(MAESHIRO, 2007, p. 28), análise
pela "Teoria dos conjuntos"
(MAESHIRO, 2007, p. 26).
6 "análise textural" (AUBIN, 2007, p. Wallace Berry e Arnold Schoenberg UFRJ, AUBIN,
16),"fraseológica" e "motívica" 2007
AUBIN, 2007, p. 33).
7 Análise rítmica (COHEN, 2007, p. Maury Yeston, Simha Arom e Joa- UNIRIO, COHEN,
2) quin Zamacois 2007
152

8 Análise "formal, harmônica, textural, Arnold Schoenberg e Esther Scliar UNRIO, GORNI,
fraseológica e rítmica" 2007
(GORNI, 2007, p. 21)
9 "Significado Referencial da obra", Lawrence Ferrara, John White, Al- UFRGS,
Micro, média e macro análise, Teoria len Forte, Arnold Schoenberg, Co- ANDRADE, 2007
dos Conjuntos (ANDRADE, 2007, gan & Escot e Esther Scliar.
p.14) e análise formal.
10 "análise fenomenológica", "análise Lawrence Ferrara UFRGS, HRASTE,
eclética" (Resumo) e análise da for- 2007
ma musical (HARSTE, 2007, p. 12).
11 "análise motívica" (OTSUKA, 2008, Arnold Schoenberg e Ralph Turek UNICAMP,
p. 8), análise rítmica e da textura. OTSUKA, 2008
12 Análise das técnicas, forma e proce- Flo Menezes e Robert Morgan USP, AGUIAR,
dimentos (AGUIAR, 2008, p. 34). 2008
13 "Estético-formal" (AUBIN, 2008, p. 56). Arnold Schoenberg UFRJ, AUBIN,
2008
14 "análise morfológica e estrutural" Arnold Schoenberg e Patrik N. Jus- UFRJ, OLIVEIRA,
(OLIVEIRA, 2008, p. 84) e "análise lin 2008
do conteúdo extramusical" (OLI-
VEIRA, 2008, p. 13).
15 "análise das Zeitgestalten" (FUKUDA, Jürgen Ulde e Renate Wieland USP, FUKUDA,
2009, p. 37) e análise formal (FUKUDA, 2009
2009, p. 75).
16 "análise hipermétrica" e análise des- Edward Cone e John White UNICAMP, LEME
critiva subdividida em Micro, Média e JÚNIOR, 2009
Macro análise ( LEME JÚNIOR, 2009,
p. 4) / Abordagem sobre os
procedimentos harmônicos, melódicos e
rítmicos.
17 "Teoria dos Conjuntos de notas" e Joseph Straus, Joel Lester, Felix Sal- UNICAMP,
"Vozes condutoras" (SOUZA, 2009). zer, Stefan Kostka e Arnold Schoen- SOUZA, 2009
berg
18 Análise das "recorrências motívico- Jonathan Dunsby e Joseph Straus UFRGS,
temáticas" e da "estrutura formal" GONÇALVES,
(GOLÇALVES, 2009, p. 3). Análise 2009
histórica da obra (diálogo da obra
com as correntes Neoclássica e
Nacionalismo).
19 "análise formal, intertextual e com- Joseph Straus, Martha Hyde UFRGS, FREITAS,
parativa" (Resumo) 2009

20 Análise Estrutural (CHIN, 2009, p. William L. Graves Jr. UFRGS, CHIN,


7) 2009
21 "análise textural" (AMARAL, 2009, Wallace Berry, Arnold Schoenberg UDESC, AMARAL,
p. 18) e "análise motívica" e Jan LaRue 2009
(AMARAL, 2009, p. 21).
22 "estrutura formal" e "material Stefan Kostka e Wallace Berry UDESC, THIAGO,
temático, rítmico, harmônico e 2009
melódico" (THIAGO, 2008, p. 25).
23 "análise formal" (GONÇALVES, 2009, Allen Forte, Joseph Straus e Allen UDESC,
p.10) e "análise harmônica tradicional" Cadwallader GONÇALVES,
(GONÇALVES, 2009, p. 10), "análise 2009
com base na Teoria dos Conjuntos"
(GONÇALVES, 2009, p. 10) e "análise
schenckeriana" (GONÇALVES, 2009, p.
10).
24 "Motivos temáticos" (PINTO, 2009, - UFMG, PINTO,
p. 37) e "seções formais" (PINTO, 2009
2009, p. 40).
25 Análise "melódica", "rítmica", Júlio Bas UFRJ.
"harmônica" e "formal" (Resumo). GOLISZEWSKI, 2009
153

26 Análise harmônica funcional, Arnold Schoenberg USP, REIS, 2010


fraseológica, formal, motívica e
"análise idiomática" (REIS, 2010, p.
3).
27 "Análise estrutural" (SILVA, 2010, Charles Rosen USP, SILVA, 2010
p. 45)
28 Análise Motívica e identificação do Arnold Schoenberg e Stefan Kostka UNICAMP,
material composicional YANSEN, 2010
(YANSEN, 2010, p. 5).
29 "Análise comparativa", formal, Arnold Schoenberg, Vincent UNICAMP,
harmônica, motívica, da textura, da Persichetti, Stephan Kostka, Joel GOMES FILHO,
dinâmica e vozes condutoras Lester e Felix Salzer 2010
(GOMES FILHO, 2010, p. 82).
30 análise "comparativa", da "forma", H. J. Koellreuter UNICAMP,
"estrutura" e da "harmonia" OLIVEIRA, 2010
(Resumo).
31 "vozes condutoras", análise harmôni- Felix Salzer, Walter Piston, Deborah UNICAMP,
ca,"análise da condução rítmica", Stein e Robert Spillman PICCHI, 2010
"análise textural" e "Análise Texto-
Música" (PICCHI, 2010, p. 51-52).
32 Análise da "estrutura formal" (CA- Arnold Schoenberg UFMG, CASARA,
SARA, 2011, p.82) e do fenômeno 2011
intertextual (CASARA, 2011, p. 60).
33 Análise formal (ALMEIDA, 2011, p. - UFRJ, ALMEIDA,
65) e da "estruturação melódica" 2011
(ALMEIDA, 2011, p. 40).
34 Análise estrutural (identificação dos Elmar Seidel e Victor Fell Yellin USP, NONIS, 2011
modelos estruturais do Teufelsmüle
e Omnibus) (NONIS, 2011, p. 3).
35 "abordagens de análise relacionadas Arnold Schoenberg, Felix Salzer, UNICAMP,
com a harmonia, textura, tessitura, Vincent Persichetti, Stefan Kostka, ARAÚJO FILHO,
ritmo, dinâmica, proporção, elemen- Jonathan Dunsby e Arnold Whittall 2011
tos de acentuação" (ARAÚJO FI-
LHO, 2011, p. 45).
36 "estrutura musical", "texto poético" e Arnold Schoenberg, John White, UNICAMP,
"relações texto música" (RAMOS, Deborah Stein e Robert Spillman RAMOS, 2011
2011, p. 3).
37 Análise das "estruturas melódicas e Arnold Schoenberg e Vincent UNIRIO, SILVA,
harmônicas" (SILVA, 2011, p. 16). Persichetti 2011
38 "análise harmônica e motívica" Arnold Schoenberg UNICAMP,
(GAZZANEO, 2011, p. 8). GAZZANEO, 2011
39 "Análise Entonacional" B. V. Asafiev UFRGS,
(TARQUÍNIO, 2012, p. 21). TARQUÍNIO, 2012
40 "macro, média e micro análise" John White e Jan La Rue UNICAMP,
(ALVES, 2012, p. 47). ALVES, 2012
41 [...] forma, elementos fraseológicos Arnold Schoenberg,Wallace Berry e UDESC,
[...] características harmônicas e tex- Bryan R. Simms RODRIGUES, 2012
tura [...] (RODRIGUES, 2012, p.
17).
42 "análise estrutural" (SOUZA, 2012, Arnold Schoenberg UFRJ, SOUSA,
p. 69). 2012
Quadro 16: Métodos declarados/ parâmetros analisados pelos autores

Embora, o propósito do presente subtópico consista na exposição de alguns dos para-


digmas e referenciais teóricos, que têm servido de subsídio às abordagens analíticas, uma
leitura das unidades de registro permite reconhecer a presença de produções cujas abordagens
154

analíticas têm se distanciado do emprego de métodos tradicionais da Análise Musical. Tal


postura pode ser reconhecida nas pesquisas desenvolvidas por Santiago (2007), Pinto (2009),
Marochi Júnior (2007) e Almeida (2011). A partir da observação das unidades de registro,
referentes aos estudos desenvolvidos pelos pesquisadores acima mencionados, pode-se notar
uma ausência quanto à menção explícita dos fundamentos teóricos que subsidiaram a
investigação da estrutura musical. Tal postura aproxima-se da tendência identificada no
estado da arte elaborado por Kerr, Carvalho e Ray (2006). A investigação empreendida pelas
autoras permitiu a identificação de teses e dissertações,vinculadas à disciplina Análise Mu-
sical, caracterizadas pela não apresentação explícita dos métodos analíticos e referenciais
teóricos que serviram de subsídio às abordagens analíticas (KERR; CARVALHO; RAY,
2006, p. 56). Entretanto, as autoras são cautelosas ao afirmar: "a ausência de menção a uma
teoria não significa ausência de teoria" (KERR; CARVALHO; RAY, 2006, p. 56). Para o gru-
po de pesquisadoras, a falta de informação sobre a metodologia, empregada na investigação
analítica, deixa de fornecer os "meios para validação do estudo" (KERR; CARVALHO;
RAY, 2006, p. 57). Desse modo, pode-se afirmar que a tendência reconhecida pelo grupo de
pesquisadoras tem se mantido em parte da produção analítica desenvolvida em Práticas
Interpretativas/ Performance Musical.
Dentre as perspectivas analíticas presentes em pesquisas desenvolvidas em Práticas
Interpretativas/ Performance encontra-se a Análise Motívica, fundamentada em Schoenberg
(sobretudo, no livro intitulado Fundamentos da Composição Musical). Apesar de ser con-
siderado um "manual introdutório à composição", alguns pesquisadores destacam seu poten-
cial para a elaboração de abordagens analíticas (SCHOENBERG, 2008, p. 18). Resumida-
mente, o livro apresenta um conteúdo abrangente sobre conceitos relacionados às subdivisões
de uma peça musical, incluindo considerações acerca das formas musicais e variações motí-
vicas.
A partir de nosso levantamento, pudemos identificar pesquisas em Práticas Inter-
pretativas/Performance que empregaram a abordagem motívica de Schoenberg para tratar das
músicas compostas por Ricardo Tacuchian (MAESHIRO, 2007), Marlos Nobre (OTSUKA,
2008), Almeida Prado (YANSEN, 2010; GOMES FILHO, 2010; GAZZANEO, 2011), Ca-
margo Guarnieri (GONÇALVES, 2009) e Francisco Mignone (REIS, 2010). O oferecimento
de abordagens, caracterizadas pela exposição de quadros com a apresentação das variações
motívicas dos objetos analíticos, apresenta-se como procedimento adotado pelos estudos
desenvolvidos por Maeshiro (2007) e Otsuka (2009). Tais pesquisas têm adotado a análise
motívica como parte integrante da abordagem voltada à investigação da estrutura musical.
155

Ainda em relação ao emprego do referencial de Schoenberg, pode-se reconhecer que


tal referencial tem sido empregado por algumas pesquisas a fim de justificar a apresentação de
esquemas representativos da forma musical. É o caso das pesquisas interessadas pela análise
formal de obras compostas por Camargo Guarnieri (FREIRE, 2007), Villa-Lobos (GORNI,
2007), Bruno Kiefer (ANDRADE, 2007), Leopoldo Miguez (AUBIN, 2008), Almeida Prado
(GOMES FILHO, 2010) e Arthur Bosmans (CASARA, 2011). Se tais pesquisas, baseadas na
proposta de Schoenberg, caracterizam-se pela apresentação de tais esquemas, a consulta de
diferentes produções analíticas tem revelado o mesmo interesse, sem necessariamente, basear-
se no referencial, desenvolvido por Schoenberg. Trata-se de um procedimento que se tem
feito presente em diferentes abordagens analíticas em Práticas Interpretativas/ Performance.
Na visão de pesquisadores, como Rink (2010, p. 45), a elaboração de tais esquemas pode
trazer certa contribuição para a compreensão do intérprete, no que diz respeito à identificação
das "divisões formais" e do plano tonal da obra. Entretanto, trata-se de uma abordagem que só
pode trazer algum tipo de contribuição significativa para o intérprete quando associada a
outras possibilidades analíticas. Desse modo, pode-se notar também o interesse de algumas
pesquisas pelo emprego das abordagens, baseadas em Schoenberg, associado com outras
propostas analíticas, tal como: Freire (2007), Gorni (2007), Andrade (2007), Gomes Filho
(2010) e Casara (2011).
Um segundo paradigma analítico possível de ser reconhecido é a técnica de Análise
de Vozes Condutoras, fundamentada na proposta de Felix Salzer e sistematizada no livro
Structural Hearing: tonal coherence in music. A proposta de Salzer tem como um de seus
objetivos a elaboração dos denominados gráficos de vozes condutoras, voltados para a
representação do "relacionamento intricado que existe entre a estrutura e seu prolon-
gamento" (SALZER, 2013, p. 142). Pode-se considerar tal proposta um desenvolvimento das
técnicas de Schencker, mas que procura expandir para os repertórios pertencentes à música do
século XX. Trata-se de um aspecto relevante e que permite compreender sua aplicação no
estudo de obras de compositores brasileiros modernos e contemporâneos. Desse modo, a
proposta analítica de Salzer vem sendo empregada na investigação de obras compostas por
Ricardo Tacuchian (MAESHIRO, 2007), Eunice Katunda (SOUZA, 2009), Almeida Prado
(GOMES FILHO, 2010), Villa-Lobos (PICCHI, 2010) e Villani-Côrtes (ARAÚJO FILHO).
Porém, um emprego mais amplo desta técnica analítica pode ser reconhecido nas pesquisas
desenvolvidas por Picchi (2010) e Souza (2009), que por sua vez, revelam uma adesão não
ortodoxa a este tipo de abordagem analítica. Em sua abordagem das Serestas, de Heitor Villa-
Lobos, Picchi faz uso constante dos gráficos de vozes condutoras com propósito de retratar
156

notas de importância estrutural (PICCHI, 2010, p. 55). Contudo, o interesse do autor por uma
visão mais abrangente do conteúdo das canções permite reconhecer a combinação entre a
proposta analítica de Salzer e outras possibilidades analíticas, tais como a análise do conteúdo
do texto poético e a abordagem da relação texto-música. Na proposta analítica empreendida
por Souza (2009), a técnica de Salzer é empregada em conjunto de obras, compostas por
Eunice Katunda. Em sua abordagem da Sonata de Louvação, Souza (2009, p. 188) faz uso da
técnica de Salzer de maneira não ortodoxa por meio da substituição de conceitos que remetem
112
à música tonal por expressões mais apropriadas para uma abordagem do repertório pós-
tonal (SOUZA, 2009, p. 188). Por isso, semelhantemente a Picchi, emprega a proposta de Sal-
zer de maneira mais livre, adaptando-a ao contexto das obras analisadas (SOUZA, 2009, p.
188).
Além da proposta de Salzer, o interesse pela investigação das relações estruturais,
também tem resultado na adesão de autores das pesquisas à proposta de abordagem da música
pós-tonal, fundamentada na Teoria dos Conjuntos, de Allen Forte. Tal método de análise
musical tem favorecido a explicação sobre a coerência e a organicidade do repertório per-
tencente à música atonal (BENT; POPLE, 2001, p. 563). Na visão de Straus (2013, p. 37),
grande quantidade da música pós-tonal tem sua organicidade favorecida mediante o emprego
de conjuntos de classes de notas. Apesar do reduzido espaço ocupado pela teoria da música
pós-tonal, nos currículos das escolas de música (BORDINI, 2013), algumas pesquisas em
Práticas Interpretativas têm revelado o interesse quanto ao emprego desta proposta analítica
em obras de compositores brasileiros.
Sendo assim, obras compostas por Ricardo Tacuchian (MAESHIRO, 2007), Eunice
Katunda (SOUZA, 2009) e José Penalva (GONÇALVES, 2009) têm sido analisadas a partir
da teoria desenvolvida por Allen Forte. Um aspecto a ser notado em tais pesquisas trata-se do
emprego desta teoria em combinação com outras propostas analíticas. Em Souza (2009), o
emprego desta teoria é integrado com proposta analítica, originalmente, voltada ao estudo do
repertório da música tonal. Na abordagem analítica da obra La Dame et La Licorne - Petite
Suite (1982), de Eunice Katunda, Souza (2009, p. 405) integra aos gráficos de vozes con-
dutoras a representação dos conjuntos de classes de notas. Desse modo, oferece uma proposta
original caracterizada pela visão complementar entre abordagens distintas. A adesão a tal

112
Em sua tese, Souza (2009, p.188) deixa de empregar conceitos relacionados a musica tonal, como os
conceitos de acordes estruturais e não estruturais. Também, substitui o termo prolongamento (utilizado na
técnica de Salzer) pelo termo associações para referir-se à música pós-tonal, de Eunice Katunda. Desse modo,
podemos perceber uma adaptação e substituição de conceitos bastantes presentes na proposta analítica, de Salzer.
157

possibilidade investigativa, também é indicada pela pesquisa, desenvolvida por Gonçalves


(2009). Em sua abordagem da Sonata nº 3, de José Penalva, o pesquisador emprega a com-
binação entre a análise, baseada na Teoria dos Conjuntos, com princípios da técnica Schen-
keriana, evidenciados mediante o emprego de gráficos representativos dos diferentes níveis
estruturais (GONÇALVES, 2009, p. 122). Novamente, o interesse pela investigação das
relações estruturais tem se caracterizado pela combinação entre diferentes propostas analí-
ticas.
Se as abordagens, anteriormente discutidas, revelam o intuito de autores de pesquisas
em Práticas Interpretativas/ Performance quanto à realização de investigações centradas na
estrutura musical, outras pesquisas manifestam o interesse pela investigação de aspectos
extra-musicais. Para Bent e Pople (2001, p. 526), as diferentes visões acerca da natureza da
música e a diversidade existente entre os objetos analíticos, nas pesquisas, têm promovido
certa dificuldade quanto ao estabelecimento das fronteiras ou limites da Análise Musical.
As pesquisas que encerrarão a abordagem, aqui proposta, ilustrarão uma peque-
níssima parcela de produções em Práticas Interpretativas/ Performance cujo enfoque analítico
tem se voltado para outras questões vinculadas à interpretação dos objetos analíticos. A inves-
tigação de questões relacionadas ao estilo musical pode ser identificada em pesquisas cujo
interesse volta-se para o estudo do fenômeno intertextual113, ou seja, a relação do objeto
analítico com outros textos musicais. Tais estudos têm revelado a possibilidade de uma
compreensão do objeto analítico baseada no estudo comparativo entre diferentes textos
musicais a fim de favorecer o reconhecimento das influências sofridas por um determinado
compositor. Trata-se de uma tendência de estudos desenvolvidos pela disciplina Análise
Musical (BENT; POPLE, 2001, p. 569) e que têm ecoado em parte das produções em Práticas
Interpretativas e Performance Musical. Assim, identificamos pesquisas em Práticas Interpre-
tativas voltadas para a investigação do fenômeno intertextual em obras compostas por Marlos
Nobre (FREITAS, 2009), Almeida Prado (GOMES FILHO, 2010) e Camargo Guarnieri
(GONÇALVES, 2009), com base na teoria desenvolvida por Joseph Straus114, e obras da
Teoria Literária. Em outras pesquisas, no entanto, a investigação da intertextualidade tem se
distanciado de tais referenciais teóricos, conforme indicado pela pesquisa, desenvolvida por
113
De acordo com Beard e Gloag (2005, p. 171), os aspectos relacionados ao estilo de um compositor podem ser
reconhecidos mediante a investigação do fenômeno intertextual. Diversos estudos têm considerado a teoria
desenvolvida por Harold Bloom, como uma contribuição fundamental para o desenvolvimento de estudos
focados na compreensão da influência, ou seja, do fenômeno intertextual (BEARD; GLOAG, 2005, p. 91).
114
Tal teoria é sistematizada no livro intitulado Remaking the Past: Musical Modernism and the Influence of the
Tonal Tradiction (publicado, em 1990) o qual segundo Beard Gloag (2005, p. 91) representou o aproveitamento
da teoria, desenvolvida por Harold Bloom, acerca da intertextualidade na produção literária.
158

Casara (2011), sobre a música de Arthur Bosmans. Desse modo, a investigação do fenômeno
intertextual tem também atraído a atenção de pesquisadores interessados pela performance de
obras musicais pertencentes a compositores brasileiros. Um interesse possível de ser reco-
nhecido nas pesquisas, desenvolvidas por Gomes Filho (2010) e Casara (2011), cujos
conteúdos evidenciam o propósito de realização de uma abordagem analítica como subsídio à
performance musical. Em sua tese, Gomes Filho (2010, p. 4) defende o conhecimento do
conteúdo intertextual como uma "ferramenta para a criação" de uma "interpretação musical".
Para Casara (2011, p. 14), a identificação de "possíveis influências culturais" representam
"aspectos de grande interesse para o intérprete, pois fornecem pistas de elementos musicais
não informados nas partituras". A possibilidade de estabelecimento de uma rede de relações,
característica da interpretação musical (LAIBOISSIÈRE, 2007), tem levado pesquisadores das
Práticas Interpretativas ao emprego de abordagens analíticas interdisciplinares, como uma
possibilidade de favorecer o conhecimento de peculiaridades do texto musical. A identi-
ficação das relações existentes entre diferentes tipos de texto tem sido apresentada por al-
gumas pesquisas como uma referência para a atividade interpretativa a ser empreendida pelo
performer, seja por meio do favorecimento da compreensão do texto musical, seja mediante o
conhecimento do estilo de execução de obras, que serviram de referência para determinados
compositores.
O diálogo entre a Análise Musical e outras áreas do conhecimento, também pode ser
identificado em pesquisas desenvolvidas em Práticas Interpretativas/ Performance que re-
conhecem o potencial de certas abordagens analíticas interdisciplinares para a obtenção de
uma visão interpretativa mais abrangente, além daquela oferecida pela investigação da
estrutura musical. Novamente, a complexidade da interpretação musical tem favorecido a
adesão de pesquisadores-performers a propostas que buscam na Hermenêutica115 e na Fe-
nomenologia116 uma possibilidade para o desenvolvimento de abordagens analíticas que tem
como ponto de partida a "experiência significativa do sujeito" (FREIRE, 2010, p. 38) em in-
teração com a obra criada por um compositor. Uma aproximação com a investigação analítica
vinculada à pesquisa qualitativa pode ser reconhecida nos estudos, desenvolvidos por An-

115
Segundo a definição de Bent (2001), a Hermenêutica corresponde ao tipo de abordagem interessada pela
interpretação de diferentes significados de um texto. Tal abordagem tem servido aos propósitos de diferentes
disciplinas musicais, incluindo a Análise Musical. Quando relacionada a esta disciplina, tal abordagem tem se
voltado ao estabelecimento de "significados externos" e "estados emocionais" (BENT; POPLE, 2001, p. 528).
116
É definida por Bent e Pople (2001, p. 569) como a "ciência da experiência", voltada ao estudo da consciência
em relação a um determinado objeto. Quando associada à disciplina Análise Musical, dirigi-se à descrição e
compreensão da forma musical a partir da experiência significativa do sujeito com a criação do autor (FREIRE,
2010, p. 34).
159

drade (2007) e Hraste (2007), interessados pelo estabelecimento dos chamados "significados
117
referenciais" . Baseadas no "método eclético", proposto por Ferrara (1991, p. 179), ambas
pesquisas caracterizam-se pela combinação entre diferentes possibilidades analíticas, tais
como as abordagens Fenomenológica, Hermenêutica, Histórica e Morfológica. Para tais au-
tores, a descrição das relações estruturais (apenas com base num vocabulário originado em
propostas interessadas pela identificação de estruturas subjacentes à música), representa uma
limitação a uma abordagem que seja significativa para a interpretação musical. Desse modo,
tais pesquisas têm procurado integrar às abordagens analíticas da estrutura musical, outras
possibilidades analíticas baseadas na experiência subjetiva dos autores, seja em interação com
o texto musical ou o fenômeno sonoro das obras a serem interpretadas (FREIRE, 2010, p. 39).
Em sua abordagem hermenêutica do primeiro movimento da Sonata II, de Bruno Kiefer,
Andrade (2007, p. 14) confere "significados emocionais" para elementos integrantes da estru-
tura musical. Contudo, sua abordagem interpretativa caracteriza-se por uma visão integradora
entre diferentes perspectivas analíticas, incluindo o emprego de métodos tradicionais da Aná-
lise Musical. Em Hraste (2007), o vínculo de sua proposta analítica com a pesquisa de caráter
qualitativo pode ser reconhecida no que ele chama de descrição "fenomenológica" do proces-
so de escuta da Sonata para piano opus 55, de Alberto Ginastera. Uma "descrição puramente
subjetiva da experiência sonora" (HRASTE, 2007, p. 54), segundo as palavras do próprio
autor. Semelhantemente a Andrade (2007), a abordagem analítica empreendida por Hraste
(2007) é caracterizada por uma visão eclética entre perspectivas analíticas divergentes quanto
aos limites do objeto analítico.
A partir das considerações apresentadas, podemos reconhecer posicionamentos
bastante distintos frente à pluralidade de paradigmas analíticos existentes em parte da
produção analítica desenvolvida em Práticas Interpretativas/Performance. Enquanto determi-
nadas pesquisas têm se limitado a uma investigação da estrutura musical (mediante a adesão
de métodos consolidados da disciplina Análise Musical), outras têm evidenciado o distan-
ciamento de uma abordagem da estrutura musical, fundamentada em métodos analíticos
tradicionais. Outra diferenciação possível de ser notada entre as pesquisas diz respeito às dife-
rentes visões acerca dos objetos analíticos, os quais não tem se limitado à investigação das

117
O conceito de significado referencial foi tratado por Ferrara (1991) em seu livro Philosophy and the Analysis
of Music: Bridges to Musical Sound, Form and Reference. Para o teórico, o significado referencial refere-se a
uma "dimensão do significado musical" relacionada ao estabelecimento de "significados extra-musicais" (FER-
RARA, 1991, p. 4). Em sua visão, a música é transmissora de significados referenciais que podem ser estabe-
lecidos pelo intérprete baseados em suas vivências em meio à sociedade (FERRARA 1991, p. 7).
160

relações estruturais musicais, conforme indicado pelas pesquisas que têm se voltado à análise
de elementos extra-musicais. Acreditamos que a complexidade da interpretação musical tem
levado alguns pesquisadores, em certos casos, ao desenvolvimento de abordagens analíticas
relacionadas a diferentes possibilidades ou tipos de conhecimento frente ao objeto analítico118.
Sabendo-se que a interpretação musical representa um fenômeno caracterizado pelo estabe-
lecimento de uma ampla rede de significações (LABOISSIÈRE, 2007, p. 145), alguns pes-
quisadores têm visto na combinação entre diferentes perspectivas analíticas uma possi-
bilidade de resolução de questões relacionadas às diferentes possibilidades interpretativas, isto
119
é, vinculadas aos diferentes tipos de conhecimento que podem ser estabelecidos frente a
um objeto analítico.
A ampliação dos limites dos objetos analíticos, juntamente, com a combinação entre
diferentes perspectivas analíticas é uma tendência presente não apenas em pesquisas rela-
cionadas à disciplina Análise Musical (NAGORE, 2004, p. 3), mas uma postura, também
adotada por algumas das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas pela subárea de Perfor-
mance Musical. Se alguns pesquisadores têm reivindicado o emprego da análise musical
como uma possibilidade de resolução de questões de execução, mediante a investigação da
estruturação musical (DUNSBY, 1989; BERRY, 1989), certas pesquisas em Práticas Interpre-
tativas têm demonstrado um interesse que ultrapassa o estudo da estruturação musical. Para
Lima (2006, p. 20), a adesão a uma visão integradora entre diferentes abordagens interpre-
tativas representa uma necessidade de pesquisas voltadas ao propósito de subsidiar a interpre-
tação musical. Segundo a autora: "A performance pensada como a arte de interpretar exige
um pesquisador mais afeito às questões da interpretação propriamente dita, com os seus
questionamentos filosóficos, psicológicos, históricos e socioculturais" (LIMA, 2006, p. 20).
Contudo, o conteúdo das pesquisas tratadas neste tópico, também evidencia o interesse de
pesquisadores pelo desenvolvimento de abordagens interpretativas mediante o emprego da
análise musical de bases positivistas. Tais possibilidades investigativas permitem verificar a

118
Ao tratar sobre o conceito de interpretação, Laboissière (2007, p. 145) destaca a rede relacional de
significados envolvidos no processo interpretativo. Para a autora, a elaboração de uma interpretação musical
exige uma abordagem complexa mediante a integração de diferentes possibilidades de conhecimento, tais como
aqueles advindos da Estética, Filosofia e História (LABOISSIÈRE, 2007, p. 17).
119
Em Teoria do Conhecimento e Arte, Vieira (2009, p. 16) apresenta uma breve abordagem acerca dos tipos de
conhecimento existentes, tais como a Ciência, Filosofia, Arte e conhecimento baseado em sensações, percep-
ções, sentimentos e emoções. Desse modo, destaca a presença em Arte dos conhecimentos baseados em per-
cepções e sentimentos, assim como do conhecimento tácito (VIEIRA, 2009, p. 17). Este pesquisador define o
conhecimento como uma "relação que se estabelece entre o sujeito e objeto" (VIEIRA, 2009, p. 13).
161

co-existência de diferentes tendências de pesquisas analíticas que vêm sendo desenvolvidas


nas áreas/linhas de Práticas Interpretativas e Performance Musical.

4.4 DIFERENTES TENDÊNCIAS ACERCA DO EMPREGO DA ANÁLISE MUSICAL E


SUA RELAÇÃO COM A PERFORMANCE MUSICAL

Além dos paradigmas relacionados aos diversos métodos de análise musical que têm
servido de subsídio às abordagens analíticas em Práticas Interpretativas/ Performance, a
observação do conteúdo de teses e dissertações vinculadas à subárea permite identificar a
existência de outros tipos de paradigmas. Tais paradigmas representam posicionamentos
distintos frente ao emprego da análise musical em produções interessadas pela otimização da
performance musical. No presente subtópico, iremos tratar de diferentes visões acerca da
relação performance-análise, ou seja, de algumas tendências que se têm feito presentes em
produções analíticas desenvolvidas em estudos relacionados às práticas interpretativas. Um
aspecto que tem sido tratado por diferentes pesquisadores (RINK, 2010; ROTHSTEIN, 2005;
LESTER, 2005; COOK, 2013) e que servirão de base para a identificação de algumas carac-
terísticas que têm permeado parte da produção relacionada à performance pianística. Para
facilitar a compreensão do leitor sobre tais características, iremos apresentar inicialmente,
algumas considerações sobre a relação análise-performance com base em teóricos que têm se
dedicado, nos últimos anos, à abordagem da relação análise-performance. Em seguida, apre-
sentaremos uma discussão sobre a presença de tais paradigmas nas produções objeto de nosso
estudo.

4.4.1 Diferentes paradigmas relacionados ao emprego da análise musical em Práticas


Interpretativas: a relação performance-análise na ótica de diferentes especialistas

A relação entre Análise e Performance Musical representa um assunto que tem


atraído a atenção de diversos estudiosos, nas últimas décadas. Algo possível de ser verificado
no elevado número de publicações, caracterizadas pela aproximação entre estes distintos do-
mínios de estudo (RINK, 2005, p. 254; LESTER, 2005, p. 197). Tal interesse é corroborado
na afirmação de Cook (2013, p. 40) que destaca o "longo caminho" que os estudos sobre a
"relação entre análise e performance" vêm percorrendo, ao longo dos anos. Trata-se de uma
questão que tem sido abordada de diferentes maneiras quanto o posicionamento do performer
frente à análise musical (RINK, 2005, p. 254). Desse modo, diferentes paradigmas relacio-
162

nados à integração entre a Análise Musical e a Performance têm sido reconhecidos por
especialistas.
O primeiro paradigma que abordaremos aqui, é o chamado Paradigma Estruturalista
dos estudos relacionados à Performance Musical, caracterizado pelo interesse quanto ao
desenvolvimento de uma abordagem interpretativa fundamentada numa detalhada inves-
tigação da estrutura musical. Alguns estudiosos associam este paradigma a uma "análise
rigorosa" dos elementos estruturais de uma composição como base para a tomada de decisões
interpretativas (RINK, 2010, p.35). Segundo alguns pesquisadores (LESTER, 2005, p. 197;
COOK, 2013, p.8-9; DUNSBY, 1989, p.8), o posicionamento favorável à análise estrutural
como um procedimento imprescindível à atuação do performer pode ser reconhecido em
estudos desenvolvidos por Schencker e Tovey, nos quais se evidencia o oferecimento de
prescrições aos performers com base em análises da estrutura musical. 120
Apesar de tal paradigma remontar aos estudos desenvolvidos por teóricos, do início
do século XX, uma compreensão de tal modelo (nos estudos relacionados à Performance
Musical) tem sido tratada por especialistas com base nos posicionamentos, defendidos por
Wallace Berry (COOK, 2013, p. 42; RINK, 2010, p. 36). Uma observação dos estudos de
Berry (1989) permite identificar a relevância dada a uma elaboração interpretativa a partir da
121
"consciência dos elementos [...] da forma e estrutura" . Desse modo, Berry defende uma
aproximação entre performer e análise estrutural como uma possibilidade de obtenção de
"insights" visando a resolução de questões interpretativas, e, mais especificamente, aquelas
relacionadas ao tempo e a articulação. Segundo Berry: "Se tempo e articulação são categorias
essenciais da intervenção interpretativa, as escolhas aplicáveis dentro de cada uma pode ser
compreendida para denotar a atitude do intérprete, projetada adequadamente, na realização de
122
uma determinada estrutura [...] (BERRY, 1989, p. 3) . Para Berry (1989, p. 1), uma
abordagem empreendida com base numa "inferência puramente intuitiva" representa um
procedimento limitador à elaboração de uma performance musical. Por isso, considera a

120
Como exemplo de estudos caracterizados pela indicação de prescrições aos performers (baseados em análises
musicais) podemos citar o estudo de Donald Francis Tovey intitulado Companion to Beethoven's Pianoforte
Sonatas (publicado, em 1931). Outro exemplo, é o ensaio intitulado Johann Sebastian Bach: Sechs Sonaten für
Violine, Sonate III, Largo, de Heinrich Schencker (publicado, em 1925). Tais exemplos de estudos serviram de
base para Joel Lester à elaboração do estudo intitulado Performance and analysis: interaction and interpretation.
Neste estudo, Lester apresenta exemplos de literaturas mais recentes, caracterizadas pela apre- sentação de
prescrições aos performers a partir de análises musicais (LESTER, 2005, p. 197).
121
"[...] aware of the elements and processes of form and structure (BERRY, 1989).
122
"If tempo and articulation are the essencial categories of interpretative intervention, the choices applied
whithin each can be understood to denote an interpreter's attitude, projected as appropriate in the portrayed
realization of a given structure" (BERRY, 1989, p. 3).
163

"consciência" da estrutura musical como a "base" para a tomada de decisões pelo performer
(BERRY, 1989, p. 7). Tal afirmação permite identificar a importância conferida pelo teórico
a esta possibilidade de conhecimento no âmbito do processo interpretativo.
Pode-se admitir que o posicionamento defendido por Berry, a saber, uma excessiva
valorização conferida ao conhecimento estrutural para a tomada de decisões interpretativas,
suscitou o questionamento de diversos estudiosos ao Paradigma Estruturalista. Para Cook
(2013, p. 23), por exemplo, a performance não é a reprodução do texto ou da estrutura reve-
lada pelo conteúdo de uma análise musical. Por isso, Cook (2013, p. 42) vê no posiciona-
mento de Berry (1989) e alguns estudos analíticos que vêm sendo desenvolvidos pela área de
Performance Musical, como uma representação do paradigma textualista ou da abordagem a
qual intitulou "Page-to-stage" ("da página para o palco") 123.
Entretanto, além do conhecimento da estrutura musical, outros elementos relacio-
nados ao estabelecimento de significados numa performance contribuem para a tomada de
decisões interpretativas. Para Cook (1999, p. 18), as ideias defendidas por Berry (1989) evi-
denciam uma relação hegemônica do teórico frente ao performer, cabendo ao último a res-
ponsabilidade quanto à adesão ao modelo analítico, desenvolvido pelo teórico (COOK, 1999,
p. 12). Há, portanto, na concepção de Cook e em sua crítica à Berry, um redimensionamento
do papel do performer frente à análise musical. Não se trata de uma desvalorização do po-
tencial da análise musical para a performance, mas uma defesa do distanciamento de uma
postura subserviente do performer aos modelos analíticos existentes e, portanto, uma ela-
boração analítica mais significativa e próxima da realidade da performance musical. Para
Cook (2013, p. 20), a qualidade de uma performance estaria relacionada a outras pos-
sibilidades de estabelecimento de significados por parte do performer, além de uma abor-
dagem fundamentada apenas na análise musical da estrutura.
Outro questionamento frente ao Paradigma Estruturalista pode ser reconhecido em
estudos desenvolvidos por John Rink (2005) e seus colaboradores. Podemos identificar em
124
tais estudos um posicionamento mais flexível em relação à chamada "análise rigorosa",

123
A expressão "page to stage", empregada por Cook (2013, p. 42) para referir a certos estudos, desenvolvidos
na área da Performance, tem sua origem nos estudos teatrais. Para este tipo de abordagem, uma interpretação
"correta" advém de uma "correta" compreensão das relações estruturais de uma partitura. Caberia ao intérprete
articular ou reproduzir tal compreensão durante a performance (COOK, 2013, p. 37). Cook associa tal abor-
dagem a um "meio de disciplinar" a performance musical, submetendo-a a uma "interpretação mentalista" de
uma obra musical (COOK, 2013, p. 41). Para o musicólogo, a performance é geradora de significados que, vão
além daqueles gerados pela compreensão das relações estruturais de uma obra musical.
124
Cook (1999, p. 21) compara tal paradigma a uma posição mais "suavizada" em relação ao papel do performer
frente à análise rigorosa ou detalhada da estrutura musical.
164

assim como uma diferenciação quanto ao papel do performer em relação ao conteúdo reve-
lado pela análise musical. Tais colaboradores têm dirigido suas críticas a diferentes aspectos
dos estudos elaborados por Berry (1989) e Eugene Narmour. O primeiro aspecto, já discutido
anteriormente, diz respeito à postura crítica quanto ao papel hegemônico do teórico frente ao
performer. É nos estudos de Lester (2005) que podemos observar o posicionamento favorável
a uma elaboração analítica caracterizada pela interação entre performer e analista. Lester
(2005, p. 198) vê neste tipo de interação a possibilidade de desenvolvimento de uma abor-
dagem significativa para ambos, assim como uma aproximação de questões de interesse por
parte do performer. Com base em seu estudo comparativo, entre gravações de intérpretes
renomados e teóricos da corrente estruturalista, Lester (2005, p. 202-205), mostra a diferença
de concepções estruturais a fim de justificar a necessidade de elaboração teórica conjunta
entre performers e analistas. Em uma de suas declarações podemos notar, claramente, o dis-
tanciamento do pensamento hegemônico, presente nos estudos de Narmour e Berry. Ele
afirma: "Performers podem inserir-se no diálogo analítico enquanto performers - em igual-
dade artística e intelectual, não como inferiores em termos intelectuais, que precisariam
aprender com os teóricos" 125 (LESTER, 2005, p. 214).
Além do redimensionamento do papel do performer quanto à elaboração da abor-
dagem analítica com propósito de subsidiar a interpretação musical, outra diferença de
posicionamento entre a corrente "mais flexível" e as abordagens estruturalistas tem se des-
tacado nos estudos de Rink e seus colaboradores (2005). Trata-se da questão relacionada à
projeção da estrutura musical. Se nos estudos de Berry (1989) podemos identificar certas
declarações que sugerem a idéia da performance como a reprodução (ou projeção) do conteú-
do revelado pela análise musical126, ou seja, uma "tradução da análise para performance"
(RINK, 1990 apud COOK, 2013, p. 48), os colaboradores de Rink têm demonstrado uma
preocupação com a questão da projeção estrutural. Para tais autores, nem todo conteúdo
revelado pela análise musical deve ser projetado pelo performer (LESTER, 2005, p. 210;
ROTHSTEIN, 2005, p. 217). Podemos identificar em tais estudos um incentivo a um posicio-
namento crítico do performer frente ao emprego da análise musical, aproximando-se da idéia
defendida por Dunsby (1989), quanto ao papel da análise musical na resolução de questões de

125
"Performers could enter analytical dialogue as performers - as artistic/ intelectual equals, not as intellectual
inferiors who needed to learn from theorists" (LESTER, 2005, p. 214).
126
"os achados da análise e sua conseqüente saída na performance" e "estrutura e conteúdo que podem ser com-
preendidos e iluminados numa performance" representam algumas das expressões empregadas por Berry (1989)
e que remetem a ideia da performance como reprodutora do conteúdo ou da compreensão obtida mediante o
emprego da análise musical.
165

execução. Neste sentido, a tomada de decisões relacionadas à projeção estrutural é considera-


da por Lester (2005, p. 210) como uma das mais difíceis questões a serem empreendidas pelo
performer. Para tais autores, a análise musical pode colaborar, neste sentido, por meio do
oferecimento de estratégias para a tomada de decisões interpretativas (LESTER, 2005, p. 214;
ROTHSTEIN, 2005, p. 237).
Uma última consideração a ser tratada e que permite verificar diferenças entre o
paradigma estruturalista e a corrente de pensamento "mais flexível", representada por Rink e
seus colaboradores, refere-se à função da chamada "análise rigorosa" nos estudos relacio-
nados à performance musical. Se no paradigma estruturalista é possível reconhecer uma
valorização da análise "rigorosa" da estrutura musical como possibilidade de validar a qua-
lidade de uma performance musical (BERRY, 1989, p. 4; COOK, 1999, p. 18), nos estudos de
Rink e seus colaboradores, a análise estrutural representa um tipo de conhecimento que pode
ser agregado a outras possibilidades analíticas a fim de subsidiar uma interpretação musical.
Pode-se reconhecer no posicionamento de Rothstein (2005, p. 237), favorável a uma abor-
dagem analítica caracterizada pela "combinação da intuição, experiência e razão", um posi-
cionamento mais flexível frente à análise rigorosa, sugerindo a possibilidade de integração de
outros tipos de conhecimento à abordagem analítica127. Apesar do posicionamento de
Rothstein a favor da integração entre diferentes métodos analíticos (como subsídio à
interpretação musical), este reconhece no emprego da análise musical uma limitação à
garantia de uma "recriação convincente" (ROTHSTEIN, 2005, p. 218). Há aqui o distan-
ciamento do pensamento doutrinário que apregoa a ênfase na competência teórica e analítica
do performer como garantia de qualidade de uma performance musical, e que pode ser identi-
ficada em certos posicionamentos sustentados por Berry (1989).
A possibilidade quanto ao desenvolvimento de uma abordagem analítica com a
função de fornecer subsídios ao intérprete, ao invés de "constrangê-lo", apresenta-se como
proposta de estudos que vêm sendo desenvolvidos por Rink (2005, 2010) que, semelhan-
temente a Rothstein, reivindicam uma interação entre as "propostas analíticas paradigmáticas"
e aquelas de caráter mais pragmático, ou seja, distanciadas das prescrições dos métodos tra-
dicionais da disciplina e voltadas às questões de interesse de performers. Diante da com-
plexidade da interpretação musical e dos diversos tipos de conhecimento que caracterizam
este processo, Rink tem empenhado seus esforços para uma elaboração analítica caracte-

127
Tal aspecto pode ser reconhecido na abordagem analítica empreendida por Rothstein (2005, p. 233) na Balada
op. 23, de Chopin. Pode-se identificar nesta abordagem o emprego de conceitos característicos da linguagem
poética a fim de favorecer uma compreensão acerca de alguns procedimentos empreendidos por Chopin.
166

rizada por uma visão conciliatória entre ambos paradigmas aqui apresentados (RINK, 2005, p.
254). Tal postura pode ser reconhecida em uma de suas abordagens na qual o teórico integra à
análise formal considerações baseadas na observação de seus gráficos de "flutuação do
tempo" e "níveis dinâmicos" (RINK, 2010, p. 46-49). Tais gráficos evidenciam o interesse do
teórico pelo tratamento de questões relacionadas à temporalidade e dinâmica, que Rink (2010)
considera fundamentais à atuação do intérprete. Desse modo, Rink observa uma limitação de
certos métodos analíticos à abordagem de questões fundamentais ao intérprete. Ele afirma: "A
temporalidade da música é fundamental [...], um fator que tem sido ignorado e subestimado
em alguns tipos de 'análises rigorosas' com consequências negativas quando os resultados de
128
tais análises são utilizados diretamente na interpretação" (RINK, 2010, p. 36). Apesar de
apontar para certos limites relacionados ao emprego de métodos analíticos, Rink (2010, p. 39)
destaca o potencial da "análise rigorosa" para a resolução de "certos problemas técnicos e
conceituais" ou seja, a assimilação de conceitos e terminologias que permitam o desenvol-
vimento de uma narrativa da compreensão e interpretação empreendida pelo performer.
Apesar das diferenças verificadas entre os posicionamentos defendidos pela corrente
estruturalista e aquela apregoada por Rink e seus colaboradores, é possível reconhecer entre
elas uma valorização da análise estrutural para o intérprete. Um aspecto que têm sido consi-
derado relevante à compreensão do texto musical e resolução de questões de execução.
Contudo, estudos mais recentes, elaborados, por Rink e seus colaboradores, têm conferido ao
performer a responsabilidade quanto a uma atitude crítica diante da seleção do método
analítico com a função de subsidiar a resolução de questões de execução. Se na corrente
estruturalista, defendida por Berry (1989), a análise estrutural é considerada um meio de
validar a performance musical, estudos mais recentes (COOK, 2013; ROTHSTEIN, 2005;
RINK, 2010) têm mostrado que sua qualidade está vinculada aos diferentes significados
estabelecidos pelos performers, relacionados aos diferentes tipos de conhecimento acerca do
objeto analítico. Tais estudos, empreendidos por Rink e seus colaboradores, reconhecem os
limites da análise detalhada da estrutura musical para a elaboração de uma interpretação
musical, sem desconsiderar o seu potencial para o processo interpretativo. Trata-se do esforço
de estudiosos para aproximar ambos domínios de estudos e incentivar uma elaboração analí-
tica significativa e próxima da realidade da performance musical. Contudo, tal esforço

128
"Music's temporally is indeed critical in this regard, a factor either ignored or dowplayed in at least some
'rigourous analysis, to individious effect when the results thereof are directly harness to performance" (RINK,
2010, p. 36).
167

empreendido por Rink e seus colaboradores não tem se eximido de críticas emitidas por
especialistas, como Cook (1999, p. 22), quanto ao empenho de tais pesquisadores na ela-
boração de abordagens que têm procurado aproximar os domínios da Análise e Performance
Musical. Trata-se de diferentes visões acerca desta relação que se tem feito presente, nas
últimas décadas, nos estudos voltados ao tratamento da relação entre análise e performance-
musical.

4.4.2 Diferentes paradigmas relacionados ao emprego da análise musical em Práticas In-


terpretativas: a relação performance-análise a partir do conteúdo de teses e disser-
tações

A partir da observação do conteúdo de algumas das teses e dissertações, interessadas


pelo desenvolvimento de abordagens analíticas, podemos verificar, também, a presença de
certos paradigmas que se têm feito presentes em produções interessadas pela integração entre
os domínios da Análise e Performance Musical. Tanto a proposta relacionada ao Paradigma
Estruturalista quanto à abordagem "mais flexível" frente à chamada "análise rigorosa",
representam propostas de estudo que se têm feito presentes em certas produções em Práticas
Interpretativas/ Performance. Alguns dos procedimentos relacionados a tais paradigmas serão
considerados a fim de ilustrar certos aspectos que têm permeado o diálogo entre ambos do-
mínios de estudo. Pode-se afirmar que cada um destes paradigmas compreende uma
diversidade de possibilidades metodológicas cuja abordagem em sua totalidade foge ao
escopo deste estudo. Contudo, acreditamos que a exposição de certos procedimentos, adota-
dos por pesquisadores-performers, pode contribuir para a compreensão de aspectos que per-
meiam a integração entre ambos domínios, favorecendo a identificação de certas preocu-
pações e problemáticas enfrentadas por autores de pesquisas em Práticas Interpretativas.
O interesse de pesquisadores pelo emprego da chamada "análise rigorosa" e sua
relação com a Performance Musical tem se manifestado no conteúdo de algumas pesquisas. A
129
presença do paradigma estruturalista pode ser reconhecida em certas produções com foco

129
Para a abordagem deste paradigma nos basearemos nos estudos desenvolvidos por Cook (2013) e Rink
(2010). Para tais autores, o paradigma estruturalista está diretamente relacionado à ideia do emprego de uma
análise "rigorosa" ou minuciosa como algo imprescindível à atuação do performer. Tal possibilidade inves-
tigativa apresenta-se como proposta de estudo desenvolvida por Berry (1989) o qual vê no emprego da análise
estrutural uma base fundamental para a tomada de decisões interpretativas. Ainda segundo Cook (2013), a
presença do paradigma estruturalista nos estudos relacionados à Performance Musical tende a favorecer
abordagens analíticas sem o propósito de oferecer considerações acerca da interação entre os domínios da
Análise e Performance Musical (COOK, 2013, p. 40). Desse modo, o paradigma estruturalista a que nos refe-
rimos aqui, diz respeito aos estudos relacionados à Performance Musical.
168

no desenvolvimento de abordagens interpretativas baseadas na investigação estrutural. Desse


modo, podemos identificar em determinadas pesquisas a presença de conteúdos analíticos
que, em princípio, parecem revelar um interesse "exclusivamente analítico", ou seja, voltado
para a investigação da estrutura musical a partir do emprego de métodos tradicionais ou do
exame minucioso da estrutura. Tal proposta investigativa aparece nas pesquisas desenvolvidas
por Nonis (2011), Chin (2009), Silva (2011) e Araújo Filho (2011). Tais estudos revelam nos
conteúdos de suas abordagens analíticas um interesse predominante pela abordagem da
estrutura, mais distanciados de considerações acerca da relação entre os domínios da Análise
Musical e Performance. Uma aproximação do pensamento estruturalista pode ser reconhecida
na proposta de Araújo Filho (2011, p. 1) o qual vê no emprego da análise estrutural um
procedimento com potencial para "credibilizar e enriquecer o processo interpretativo da obra",
um meio para favorecer a compreensão do texto musical e "reforçá-lo". Encontramos nestas
declarações do autor uma proximidade com o pensamento de Berry (1989), no que se refere
ao emprego da análise musical como uma possibilidade de validar uma performance. Con-
tudo, diferentemente de Berry (1989), a abordagem de Araújo Filho (2011) e dos autores aqui
apresentados, volta-se à investigação do texto musical em função de sua compreensão.
A investigação da estrutura musical, também tem sido empregada por pesquisas,
caracterizadas pela "menção explícita" de considerações sobre a performance musical. Con-
tudo, a integração entre ambos domínios de estudos têm se apresentado, de maneira diversa,
no conjunto de certas pesquisas. Uma integração que nem sempre tem revelado a interação
entre os domínios de estudo da Análise e Performance Musical, apesar da presença de con-
siderações acerca de ambos domínios, numa mesma pesquisa. Tal postura pode ser reconhe-
cida em produções que optaram por uma abordagem analítica dissociada da apresentação de
considerações sobre a função da análise musical para a tomada de decisões interpretativas.
Desse modo, podemos identificar em parte das pesquisas a presença de capítulos e tópicos
distintos, voltados respectivamente, para a análise estrutural e considerações vinculadas à
Performance Musical. Trata-se de uma proposta possível de reconhecida em estudos, como
os desenvolvidos por Otsuka (2008) e Silva (2010). Em Otsuka (2008), o interesse da autora
pela performance do texto musical é evidenciado em capítulo dedicado à abordagem sobre
técnica e preparo pianísticos. Se nas abordagens, empreendidas por Otsuka (2008) e Silva
(2010), a análise estrutural ocupa o papel de favorecer a compreensão do texto musical, é
possível notar nos estudos de Maeshiro (2007) e de Gazzaneo (2011) outra função atribuída à
análise estrutural. Podemos reconhecer em tais pesquisas a intenção de empregar o conhe-
cimento estrutural como uma possibilidade de resolução de questões interpretativas, tais
169

como, decisões relacionadas ao andamento, pedalização (GAZZANEO, 2011, p. 120-121) e


dinâmica (MAESHIRO, 2007, p. 173). Verifica-se, portanto, na abordagem destes dois auto-
res, a tentativa de uma integração entre os domínios de estudo da Análise Musical e Per-
formance Musical, por meio de considerações que permitem verificar possibilidades de in-
teração entre estes distintos domínios de estudo.
Se a "análise rigorosa" da estrutura musical tem servido como subsídio à elaboração
de abordagens analíticas, caracterizadas pelo distanciamento e aproximação de considerações
sobre a performance musical, certas pesquisas em Práticas Interpretativas têm reconhecido
uma limitação na elaboração de abordagens fundamentadas, exclusivamente, na investigação
da estrutura musical. Pode-se verificar em tais pesquisas um posicionamento mais flexível
frente ao paradigma estruturalista, que se mostra como um modelo investigativo insuficiente à
elaboração de abordagens analíticas com propósito de subsidiar a interpretação musical. Tal
postura corrobora a declaração de Lima (2006, p. 21) quanto à dificuldade enfrentada por boa
parte dos pesquisadores musicais, que parecem não encontrar uma "solução uniforme na
pesquisa de bases positivistas". Algumas soluções encontradas para esta problemática serão
consideradas a fim de ilustrar certos procedimentos ou combinação de diferentes perspectivas
analíticas que se têm feito presentes em algumas pesquisas.
Dentre as soluções encontradas por certos autores, encontra-se a possibilidade de
incorporação de abordagens mais pragmáticas à análise da estrutura musical, ou seja, a in-
corporação de abordagens mais diretamente relacionadas ao propósito de comunicabilidade
do texto musical. Em certas pesquisas, a seleção de métodos analíticos não se faz apenas em
função da compreensão do texto musical (mediante abordagem dos aspectos estruturais e
históricos), mas indicam o interesse pela abordagem de outros aspectos relacionados à ex-
pressividade musical.
Tal proposta pode ser reconhecida na pesquisa de Gorni (2007) que alia o estudo
comparativo de gravações à abordagem da estrutura musical, como uma possibilidade de
acessar as "múltiplas estratégias" de intérpretes da obra de Villa-Lobos. Um procedimento
130
analítico que permitiu o reconhecimento do estilo de execução de intérpretes renomados a
partir da observação de parâmetros diversos (andamento, agógica, dinâmica e pedalização).
Podemos identificar em sua abordagem a visão complementar entre o conhecimento estrutural
130
Em seu artigo Análise e (ou?) performance, Rink (2010) distingue dois tipos de análises relacionadas à
performance. A primeira, de natureza prescritiva, trata-se da análise anterior a qual pode ou não estar vinculada à
chamada análise estrutural. A segunda, trata-se da análise da performance, baseada em gravações em estúdio ou
ao vivo. No caso da pesquisa de Gorni (2007), pode-se identificar o emprego de ambas as possibilidades
analíticas.
170

e aquele relacionado ao estilo de execução. A possibilidade de abordagem complementar en-


tre a análise estrutural e elementos extra-musicais em função da interpretação musical,
também tem se evidenciado em pesquisas voltadas para a compreensão do estilo musical.
Desse modo, abordagens como as desenvolvidas por Casara (2011) e Gomes Filho (2010)
procuram abordar questões sobre a prática intertextual, uma possibilidade investigativa que
favorece não somente a compreensão de aspectos relacionados ao texto musical (estilo), mas
possui também o potencial de contribuir para o conhecimento de seu estilo de execução,
mediante a investigação das obras que serviram de referência para um determinado compo-
sitor e sua comparação com o objeto analítico.
Diante da problemática apresentada, certas pesquisas têm encontrado na combinação
entre diferentes perspectivas analíticas uma possibilidade quanto à elaboração de propostas
mais significativas e próximas do interesse de performers, voltados à comunicabilidade do
texto musical. Se nas abordagens interpretativas, fundamentadas na investigação da estrutura
musical, a busca de significado tem se limitado à interpretação das relações entre os elemen-
tos constituintes da estrutura musical, certas pesquisas têm se interessado pelo estabele-
cimento de significados relacionados a outros tipos de conhecimento. Trata-se, portanto, do
interesse de autores quanto à elaboração analítica de outros parâmetros, além daqueles
vinculados à estrutura, que pode ser interpretado como uma extensão dos objetos analíticos
para diferentes aspectos extra-musicais. Uma possibilidade investigativa relacionada à dis-
ciplina Análise Musical cujo interesse não abrange apenas a investigação das relações estru-
turais e que por isso, têm revelado, nas últimas décadas, uma ampliação de seus objetos ana-
líticos (BENT; POPLE, 2001; NAGORE, 2004, p. 3). O interesse pela performance dos
objetos analíticos (textos musicais) tem levado certos autores a uma aproximação de abor-
dagens analíticas vinculadas à pesquisa qualitativa. Tal aspecto pode ser reconhecido nas
abordagens de Hraste (2007) e de Andrade (2007), interessadas pela interpretação dos
"significados referenciais" e pela abordagem fenomenológica. Trata-se da interação de autores
de pesquisas em Práticas Interpretativas com propostas analíticas, caracterizadas pelo diálogo
com outras áreas do conhecimento. Uma postura que se aproxima da reivindicação de Cook
(2013, p. 7) quanto à apresentação de considerações dos significados produzidos por per-
formers, incluindo aqueles, diretamente, relacionados ao estabelecimento de aspectos ex-
pressivos, numa performance.
Se em certas abordagens, vinculadas ao paradigma estruturalista, observa-se um cer-
to distanciamento da realidade da performance musical (ou de uma menção explícita acerca
da contribuição da análise para a performance), pode-se identificar em algumas a presença de
171

abordagens analíticas que têm procurado integrar outros fatores às considerações analíticas da
estrutura. Pode-se afirmar, contudo, que o emprego do procedimento analítico em algumas
das pesquisas constituintes de nossa amostragem, nem sempre revelou, claramente, sua
função para o tratamento de problemáticas ou questões interpretativas. Algo que remete à
opinião de Dunsby (1989, p. 10), que afirma: "a melhor maneira de se caracterizar uma
análise para o executante [...] é vê-la não como uma forma de se achar uma verdade, mas
como uma atividade que auxilie na resolução de problemas". Tal ideia, que se relaciona
diretamente com a possibilidade de interação entre os domínios de estudo da Análise Musical
e Performance Musical, infelizmente nem sempre tem sido considerada pelos estudos ana-
líticos em Práticas Interpretativas/ Performance.

4.5 O TRATAMENTO DE ASPECTOS RELACIONADOS À COMUNICAÇÃO MUSICAL


COMO PROBLEMÁTICA EM ESTUDOS ANALÍTICOS: UMA BREVE CONSIDE-
RAÇÃO A PARTIR DO CONTEÚDO DE TESES E DISSERTAÇÕES

A discussão em torno das possibilidades de comunicação do texto musical, em es-


tudos relacionados à disciplina Análise Musical, representa uma questão que tem atraído a
atenção de renomados estudiosos, nas últimas décadas (DUNSBY, 1989; BERRY, 1989;
ROTHSTEIN, 2005; LESTER, 2005). Tais estudos têm procurado mostrar a relevância do
envolvimento de performers com a análise musical como uma possibilidade de auxiliá-los na
tomada de decisões interpretativas. Neste sentido, a análise da estrutura musical tem sido
apresentada como um procedimento com potencial para a resolução de questões interpreta-
tivas relacionadas à temporalidade e à dinâmica (BERRY, 1989; RINK, 2010). Até que ponto
determinados aspectos revelados pela análise de uma estrutura musical devem ou não ser
projetados, durante uma performance musical, apresenta-se como uma questão discutida por
diferentes especialistas que têm se dedicado à abordagem da interação entre os domínios de
estudo da Performance e Análise Musical (DUNSBY, 1989; ROTHSTEIN, 2005; LESTER,
2005). Para Dunsby (1989, p. 9), por exemplo, "entender e tentar explicar uma estrutura musi-
cal não é o mesmo tipo de atividade que entender e comunicar música".
Pode-se admitir, com base neste autor e nos demais aqui expostos, que a comuni-
cação do texto musical representa uma problemática que tem sido abordada em diferentes
estudos relacionados à Performance Musical, mais especificamente, em produções vinculadas
à disciplina Análise Musical. Desse modo, iremos expor breves considerações acerca de al-
172

guns paradigmas analíticos e procedimentos que têm servido de subsídio aos pesquisadores
para o tratamento de aspectos relacionados à comunicação musical.
O emprego da análise musical como um subsídio à resolução de problemas de exe-
cução ou relacionados à comunicação do texto musical, representa uma proposta investigativa
que se tem feito presente em abordagens analíticas relacionadas aos diferentes paradigmas,
anteriormente discutidos (relação performance-análise). O tratamento desta problemática com
base no paradigma estruturalista pode ser reconhecido em pesquisa empreendida por Leme
Júnior (2009), voltada para a investigação de obras para piano de Radamés Gnatalli131. Para
este pesquisador, "a validade da interpretação reside em sua eficácia ao explicitar as relações
formais de uma obra" (LEME JÚNIOR, 2009, p. 53). Tal declaração permite notar o vínculo
de sua proposta com o paradigma estruturalista, ao defender a função do performer como um
reprodutor do conteúdo revelado pela análise musical (COOK, 1999, p. 16) e ao aceitar a
investigação da estrutura como validação de uma performance musical (COOK, 2010, p.
240). Assim como em Berry (1989, p. 10), podemos reconhecer na abordagem de Leme Jú-
nior (2009) uma preocupação com a questão da temporalidade a qual é tratada com base na
proposta de Análise Hipermétrica132, de Edward Cone. É nos esquemas representativos da
dinâmica do "movimento musical", que Leme Júnior (2009, p. 59) mostra sua preocupação e
sugestões interpretativas voltadas à comunicação do texto musical. Fundamentada pela
investigação da estrutura musical, que permite verificar as diferentes funções atribuídas aos
agrupamentos de compassos ou hipercompassos, o autor oferece uma possibilidade de orga-
nização do discurso musical (LEME JÚNIOR, 2009, p. 61).
O tratamento de questões de execução com base em proposta analítica voltada às prá-
ticas interpretativas, também é apresentada por Fukuda 133 em sua abordagem do Trio em sol
menor, de Francisco Braga. Semelhantemente a Leme Júnior, a questão relacionada à
temporalidade e à dinâmica ocupa o centro das preocupações de Fukuda, que vê na proposta
de "Análise das Zeitgestalten", uma possibilidade de abordagem dos "principais meios de
expressão de que dispõe um intérprete para a execução de uma música", ou seja, "a dinâmica
e a agógica" (FUKUDA, 2009, p. 1). Com base no conhecimento da estrutura musical, Fu-
kuda (2009, p. 39) oferece esquemas com sinais indicativos dos pontos culminantes das "Zeit-
131
Trata-se da dissertação intitulada Três valsas para piano de Radamés Gnatalli: uma abordagem interpretativa.
132
De acordo com Leme Júnior (2009, p. 17), esta proposta analítica representa uma concepção mais profunda
da métrica musical na qual os compassos são agrupados em "hipercompassos" ou agrupamentos de compassos.
Tem como um de seus propósitos a identificação de diferentes funções presentes em tais agrupamentos, tais
como os pontos de "partida" e chegada" do movimento musical (LEME JÚNIOR, 2009, p. 54).
133
Trata-se da tese intitulada Zeitgestalt Análise e Performance do Trio em Sol menor de Francisco Braga
(2009).
173

gestalten e Mikrozeitgestalt134, assim como das diferentes fases, presentes em tais unidades
(tensão, culminação e afrouxamento). A identificação de tais pontos em trechos do Trio para
piano, de Francisco Braga, permite verificar a preocupação da pesquisadora em relação às
questões relacionadas à temporalidade (agógica) e dinâmica, o que revela ao leitor algumas
das soluções encontradas pela autora, no que se refere a certas decisões relacionadas à co-
municação do texto musical. Contudo, sua abordagem evidencia a ênfase na abordagem
estrutural, em detrimento de outros aspectos envolvidos na elaboração interpretativa, também
relacionados à expressividade musical135.
Uma terceira proposta analítica voltada às práticas interpretativas pode ser reconhe-
cida na pesquisa de Tarquínio (2012) cujo foco centrou-se na apresentação de uma abordagem
interpretativa das 16 Cirandas, de Villa-Lobos136. Novamente, a questão da temporalidade
aparece como assunto tratado por Tarquínio, o que reforça a opinião de Rink (2010, p. 39)
quanto à relevância deste aspecto para a prática de intérpretes. Entretanto, uma comparação da
proposta de Tarquínio com as pesquisas consideradas, anteriormente, também revela certos
aspectos que permitem reconhecer um posicionamento mais flexível frente à orientação
estruturalista. Também, podemos notar na pesquisa de Tarquínio certas similaridades em
relação às pesquisas empreendidas por Fukuda (2009) e Leme Júnior (2011).
A primeira similaridade, diz respeito ao potencial da análise estrutural para o tra-
tamento de questões relacionadas à temporalidade e dinâmica. Com base no conhecimento
estrutural e apoiado na proposta analítica de Asafiev137, Tarquínio oferece em seus gráficos
representativos do "movimento musical" uma possibilidade de comunicação estrutural (ou do
texto musical) a partir da indicação dos instantes de aceleração (impulsos) e desaceleração
(términos). Isso revela uma preocupação com o tratamento da agógica, tal como evidenciado
nas pesquisas abordadas, anteriormente. Entretanto, é possível notar uma diferença importante
entre as pesquisas empreendidas por Tarquínio e Leme Júnior, o que aponta para uma con-

134
A abordagem analítica, empreendida por Fukuda, baseia-se em método desenvolvido pelos pianistas Jürgen
Uhde e Renate Wieland. O método de Análise da Zeitgestalten tem como uma de suas características a
segmentação do texto musical em pequenas (Mikrozeitgestalt) e grandes unidades (Zeitgestalten), assim como a
observação da interação entre ambas as unidades (FUKUDA, 2009, p. 62).
135
De acordo com Juslin e Person (2002), o termo expressão musical é empregado de diferentes maneiras na
área musical. A primeira, refere-se à expressão musical como o resultado das variações sistemáticas no timing,
dinâmica e timbre. O segundo significado, associa o termo às qualidades emocionais percebidas por ouvintes ou
à transmissão de emoção pelo intérprete, durante a performance musical.
136
Tal abordagem apresenta-se como proposta adotada na tese intitulada A teoria da entonação de B. Asafiev e a
execução musical: concepções analíticas para a interpretação das Cirandas de Villa-Lobos (2012).
137
Trata-se da Teoria da Entonação e Forma Musical como Processo, sistematizada no livro intitulado Musykal'-
naia forma kak protsess [Forma musical como processo], do musicólogo russo Boris Vladimirovich Asafiev
(1884-1949).
174

sideração relevante em relação a certas problemáticas envolvidas no processo de comu-


nicação do texto musical. A preocupação de Tarquínio (2012, p. 17) quanto ao estabele-
cimento de significados emocionais à estrutura musical permite reconhecer o emprego de
estratégia voltada à comunicação expressiva na performance musical. Podemos admitir que a
abordagem da estrutura musical, na pesquisa de Tarquínio, não ocupa o centro de suas
decisões interpretativas, tal como ocorria nas pesquisas de Leme Júnior e de outros es-
tudiosos representantes do paradigma estruturalista. Para Tarquínio, a investigação da estru-
tura musical, a contextualização histórica do objeto analítico, bem como a abordagem dos
aspectos emocionais e do "movimento musical", representam possibilidades investigativas
que constituem um amplo sistema de análise caracterizado por uma visão integradora entre
diferentes propostas analíticas. Desse modo, sua proposta analítica sugere uma preocupação
com a comunicação de outros aspectos, além daqueles resultantes do conhecimento das rela-
ções entre os elementos constituintes de uma estrutura musical.
No que diz respeito a pesquisas que abordem a comunicação expressiva da perfor-
mance, podemos afirmar que tal aspecto, também tem sido tratado com base em método ana-
lítico relacionado à disciplina Análise Musical. Esse interesse pode ser reconhecido nas pes-
quisas empreendidas por Hraste (2007) e Andrade (2007), caracterizadas pelo diálogo com
método analítico vinculado à pesquisa qualitativa. Baseados na proposta de "Método Eclé-
tico", de Ferrara (1991, p. 180), tais autores encontraram na combinação entre diferentes
perspectivas analíticas uma possibilidade de abordagem mais significativa para o processo
interpretativo. Tais pesquisas voltam-se para uma abordagem analítica caracterizada por uma
ampla rede de significados, estabelecidos por meio da interação com diferentes tipos de co-
nhecimento, tais como o conhecimento estrutural, histórico e decorrentes das abordagens
fenomenológica e hermenêutica.
Os exemplos das pesquisas, aqui apresentadas, ilustram algumas das preocupações
que têm levado pesquisadores ao emprego de métodos analíticos vinculados às práticas
interpretativas. Se nos tópicos anteriores, pudemos observar o interesse pelo emprego de
métodos analíticos tradicionais, as pesquisas tratadas neste item puderam evidenciar uma li-
mitação das abordagens analíticas de bases positivistas para o tratamento de problemáticas
envolvidas no processo interpretativo e de comunicação do texto musical, mesmo estas ser-
vindo de subsídio para a tarefa de "projeção" da música. Tal aspecto pode ser verificado nos
esquemas representativos oferecidos pelos autores e relacionados às propostas analíticas sele-
cionadas. Se algumas pesquisas em Práticas Interpretativas/ Performance têm visto no em-
prego da análise musical uma possibilidade de tratamento ou resolução de questões de exe-
175

cução, há aquelas que têm limitado o seu emprego à busca de compreensão do texto musical,
assemelhando-se, em certos casos, às pesquisas desenvolvidas pela subárea Análise Musical.
Contudo, diversos estudiosos da área das Práticas Interpretativas têm ressaltado o
potencial da Análise Musical para o desenvolvimento de um vocabulário que permite aos per-
formers articular sua compreensão acerca do objeto analítico. Acreditamos que tal possi-
bilidade, juntamente, com o potencial da Análise Musical para o tratamento de problemas de
execução e sua valorização no meio acadêmico, representam alguns fatores que têm contri-
buído para a alta recorrência de estudos pertencentes à interface entre a performance pianís-
tica e a Análise Musical.
Apesar do elevado número de produções voltadas à discussão do potencial da Aná-
lise Musical para o tratamento de questões interpretativas, pode-se reconhecer em algumas
pesquisas analisadas (teses e dissertações) a ausência de considerações acerca da função e dos
benefícios da análise musical para a performance. Neste sentido, pode-se afirmar que certas
138
pesquisas têm se aproximado mais de propósitos musicológicos , mesmo vinculadas a uma
linha investigativa que tem como um de seus propósitos o desenvolvimento de pesquisas que
tragam contribuições à performance musical. Tal postura tem obscurecido a compreensão
acerca da relação análise-performance e da relevância da disciplina no interior de certas
pesquisas em Práticas Interpretativas/ Performance. Isso nos remete à opinião de Lester
(2005, p.197) quanto ao distanciamento das produções analíticas a respeito de considerações
sobre "performers e suas performances", considerações estas que poderiam contribuir para
uma compreensão acerca da relevância da análise musical para o processo interpretativo em-
preendido pelo performer e que tem, portanto, a função de subsidiar sua tarefa de comu-
nicação do texto musical.

138
Ou seja, vinculados aos interesses de analistas e historiadores (BENT; POPLE, 2001, p. 27), mais do que
uma elaboração analítica preocupada com a apresentação de considerações sobre a maneira como determinada
análise interferiu ou trouxe contribuições significativas para a execução musical.
176
177

5 OUTRAS PERSPECTIVAS DA PESQUISA RELACIONADAS À PERFORMANCE


PIANÍSTICA

Nos capítulos anteriores, nos detivemos na apresentação e discussão de tendências


investigativas que vêm sendo desenvolvidas pela linha/ área de concentração Práticas In-
terpretativas e Performance Musical, caracterizadas pelo diálogo com diferentes disciplinas da
área musical, tais como a Análise Musical e Musicologia Histórica. Com base nas pesquis-
sas vinculadas a ambas interfaces, constatou-se o interesse pela investigação do texto musical,
ou seja, o estudo da música como um objeto artístico, distanciado da abordagem da perfor-
mance como um processo. Esse aspecto permitiu notar em certas produções, uma ausência de
considerações sobre a relação das pesquisas desenvolvidas com a resolução de questões
vinculadas à interpretação, bem como sobre seus potenciais benefícios para a prática da per-
formance musical.
Neste capítulo, trataremos de diferentes perspectivas investigativas em Práticas In-
terpretativas/ Performance que permitirão ao leitor verificar a presença de tendências emer-
gentes, assim como temas de pesquisas que continuam atraindo a atenção de estudiosos.
Além disso, o leitor poderá notar outras possibilidades de diálogo que a pesquisa em Per-
formance Musical vem mantendo com áreas do conhecimento, ou seja, a presença da in-
terdisciplinaridade, como um meio de investigação voltado ao tratamento de problemáticas
relacionadas à performance musical. Finalmente, também, será possível notar uma aproxi-
mação dos estudos em Práticas Interpretativas/ Performance com posturas ou orientações que
têm permeado certas produções musicológicas, nas últimas décadas. Tais questões serão
tratadas, novamente, a partir de breves considerações sobre algumas tendências investigativas
e a consequente exposição de temas, métodos e técnicas empregadas pelas pesquisas, consti-
tuintes da nossa amostragem.

5.1 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A MUSICOLOGIA EM-


PÍRICA

Quando associado à Musicologia, o termo "empírico" tem sido empregado por es-
tudiosos em referência a diferentes aspectos relacionados aos estudos musicológicos. Com ba-
178

se no significado tradicional do termo139 e no conteúdo de pesquisas relacionadas às diferentes


subáreas da Música, alguns pesquisadores (CLARKE; COOK, 2004, p. 5; HUOVINEN,
2006, p. 12) têm associado o termo "empírico" a um componente comum aos estudos musico-
lógicos. Podemos admitir que boa parte do discurso musicológico seja derivado do emprego
de procedimentos empíricos, sejam aqueles voltados à generalização dos resultados, como
certos estudos psicológicos (WILLIAMON; THOMPSON, 2004, p. 10; HUONIVEN, 2006,
p. 16), ou vinculados às abordagens qualitativas, empreendidas por diferentes disciplinas, por
exemplo: a Musicologia Histórica (HUOVINEN, 2006, p.15), a Análise Musical (COOK;
CLARKE, 2004, p. 5) e a Psicologia da Música (COOK; CLARKE, 2004, p.10). Todavia, o
sentido atribuído à Musicologia Empírica não se limita à identificação e ao esclarecimento
sobre a maneira como pesquisadores têm empregado a observação empírica nas diferentes
subáreas musicais.
A compreensão acerca do empirismo nos estudos musicológicos, também foi tratada
por musicólogos a fim de esclarecer e discutir a proposta da denominada Musicologia Em-
pírica. Para certos musicólogos (CLARKE; COOK, 2004; HUOVINEN, 2006), a Musico-
logia Empírica pode ser compreendida como uma "postura" ou "orientação" investigativa,
interessada pelo emprego de métodos voltados à produção de uma extensa quantidade de
dados como base para a descoberta de fatos musicais. Para Clarke e Cook (2004, p. 5), tal
postura ainda é pouco disseminada entre os estudos musicológicos. Nos estudos relacionados
à Performance Musical é possível notar o interesse e o impacto das abordagens empíricas
(COOK; CLARKE, 2004, p. 10), baseadas na investigação quantitativa de dados extraídos do
registro de performances musicais. Trata-se da adesão de pesquisadores a um "novo empi-
rismo", favorecido pelo desenvolvimento de diferentes tecnologias (HURON, 1999, p. 25),
que têm permitido a elaboração de estudos baseados na investigação de uma grande
quantidade de dados. O esquema a seguir, oferece uma breve exposição de algumas das fontes
e procedimentos metodológicos que têm subsidiado o desenvolvimento de abordagens
empíricas. Com exceção da pesquisa de Rink (2010), as demais abordagens ilustram pos-
sibilidades investigativas que vêm sendo desenvolvidas a partir da análise da performance.
Dentre as principais fontes que têm servido de subsídio aos pesquisadores, encontram-se:

139
Durozoi e Roussel (2005, p. 149-150) definem o adjetivo empírico como a qualidade advinda da experiência
do sujeito em interação com um determinado objeto ou fenômeno. Segundo os autores, o termo qualifica
qualquer conhecimento ou pessoa não sistemáticos, que se baseia ou confia na experiência imediata e no
pragmatismo.
179

 Gravações em áudio. Exemplo:


- Abordagem empírica baseada na observação e análise de 115 gravações comer-
ciais do Estudo em Mi Maior opus 10 nº 3, de Chopin. Tal abordagem permitiu o
reconhecimento de normas partilhadas (estratégias de moldagem da dinâmica) e
diferenças sócio-culturais entre intérpretes. A organização dos dados coletados
em gráficos permitiu a identificação de cinco diferentes tipos de estratégias inter-
pretativas relacionadas à moldagem da dinâmica (REPP, 1999, p.1983);

 Partitura. Exemplo:
- Abordagem empírica baseada em dados coletados da partitura do Noturno em
Do# menor opus 27 nº 1, de Chopin. Com base na observação de dados (rela-
tivos às indicações de tempo e dinâmica) e sua consequente organização em
gráficos (representativos das variações de tempo e dinâmica), Rink (2010, p.46-
49) oferece abordagem analítica de aspectos interpretativos, considerados indis-
pensáveis ao performer;

 Tecnologia MIDI. Exemplo:


-Abordagem empírica baseada na observação de duas performances do Prelúdio
opus 28 nº 4, de Chopin, realizadas por um pianista profissional. Após a
gravação da execução do pianista, num "Yamaha MIDI grand piano", coleta de
informações mediante o emprego de protocolo MIDI, e diferentes softwares,
Clarke pôde verificar a existência de diferenças interpretativas em performances
distintas, oferecidas pelo mesmo pianista (CLARKE, 2004, p. 86);

 Vídeo. Exemplo:
- Com base em imagens visuais de performance pianística, Davidson oferece
abordagem empírica para a investigação sobre a relação entre os movimentos
corporais e a intenção expressiva do pianista. Após a apresentação de tais ima-
gens a um grupo de observadores, Davidson pôde constatar a possibilidade de
reconhecimento pelo grupo das intenções expressivas, conferidas pelo pianista
(DAVIDSON, 1993 apud CLARKE, 2004, p. 93);

Com exceção da abordagem de Rink (2010), os exemplos anteriores apresentam


algumas das possibilidades investigativas que têm evidenciado o interesse de pesquisadores
pelo emprego de abordagens empíricas voltadas à investigação da "música como perfor-
180

mance" (CLARKE, 2004, p. 77), ou seja, a investigação do produto da performance musical


(gravações e registros audiovisuais).
Sabendo-se que cada performance resulta da interação entre diversas habilidades
musicais, podemos admitir que tanto a sua complexidade (caracterizada pela integração e
interação entre diferentes elementos) quanto o desenvolvimento de determinadas tecnologias,
têm propiciado a musicólogos e pesquisadores das práticas interpretativas um "rico campo de
dados" para a inferência sobre fenômenos relacionados à performance musical, incluindo
aqueles que dizem respeito às performances de alto padrão (REPP, 1999; CLARKE, 2004).
Para Clarke (2004, p. 77), o envolvimento de pesquisadores na elaboração de estudos em-
píricos (baseados na investigação da performance musical) tem representado o distanciamento
da denominada "primazia da partitura musical", conferindo à performance a mesma "tangi-
bilidade" concedida aos esboços e à partitura, no desenvolvimento de estudos musicais. Se
nos capítulos 2 e 4, desta dissertação, pudemos evidenciar o interesse pelo desenvolvimento
de estudos centrados na investigação do texto musical, o tópico a seguir apresentará alguns
exemplos de abordagens empíricas baseadas na denominada "análise da performance". Trata-
se do envolvimento de pesquisadores em Práticas Interpretativas/ Performance com esta
tendência de pesquisa emergente, no Brasil.

5.1.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

Em relação às pesquisas interessadas pelo desenvolvimento de abordagens empíricas,


baseadas na análise da performance, foram identificadas as seguintes produções:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


1 Estudo das Ressonâncias na Daniel Lemos UFMG/Profa. Dra. Ana 2009 Mestrado
Sequenza IV de Luciano Berio Cerqueira Cláudia de Assis
2 Gestos Musicais no Ponteio Josias UFRGS/ Profa. Dra. 2011 Mestrado
nº 49 de Camargo Guarnieri Matschulat Cristina Capparelli
Gerling
Quadro 17: Produções vinculadas à Musicologia Empírica

A partir da observação dos títulos das pesquisas, apresentadas pelo quadro acima, é
possível identificar certas características que têm permeado a produção de pesquisas empí-
ricas (baseadas no estudo de gravações) que vêm sendo desenvolvidas nas áreas/ linhas de
pesquisa em Práticas Interpretativas e Performance Musical. A primeira diz respeito ao tipo
de repertório que tem atraído a atenção dos pesquisadores. No caso das pesquisas consi-
deradas, verifica-se o interesse pelo desenvolvimento de abordagens baseadas no repertório
181

do século XX, com compositores como Camargo Guarnieri (MATSCHULAT, 2011) e


Luciano Berio (CERQUEIRA, 2009). A segunda, diz respeito à possibilidade de desenvolvi-
mento de abordagens empíricas voltadas à investigação de diferentes aspectos, tais como o
estudo baseado na observação das "ressonâncias" (CERQUEIRA, 2009) e dos "gestos musi-
cais" (MATSCHULAT, 2011).
No quadro a seguir, são apresentados alguns objetivos e justificativas, fornecidos
pelos autores (expressões em negrito), para o desenvolvimento de tais abordagens, assim
como certas técnicas de pesquisa que têm servido de subsídio às pesquisas consideradas.

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
[...] análise das gravações (CERQUEIRA, 2009, p. 7).
[...] análise espectrais visando à obtenção de gráficos (CERQUEIRA, 2009,
p. 8).
1 [...] realizar a análise espectral, a fim de investigar diferentes situações de UFMG,
ressonância (CERQUEIRA, 2009, p. 34). CERQUEIRA, 2009
[...] observando formas de explorar as ressonâncias através da articulação
dos pedais e características do material sonoro no momento determinado
(CERQUEIRA, 2009, p. 38).
[...] foram elaboradas quinze análises espectrais que ilustram objetivamente
resultados perceptíveis na audição, visando a uma discussão sobre a
compreensão do material pelo intérprete (Resumo).
[...] identificar e avaliar empiricamente as possibilidades interpretativas
em determinados gestos característicos do Ponteio nº 49 de Camargo Guar-
nieri, a partir de soluções aplicadas por pianistas em gravações selecionadas
(MATSCHULAT, 2011, p. 9).
"Este trabalho também vem somar esforços à linha de pesquisa emergente no
Brasil que tem buscado compreender a interpretação da música brasilei- UFRGS,
2 ra com base na análise empírica da execução musical registrada em gra- MATSCHULAT,
vações (MATSCHULAT, 2011, p. 73). 2011
"gestos musicais serão inferidos a partir de trechos selecionados de grava-
ções por meio da análise dos elementos variáveis de tempo e dinâmica"
(MATSCHULAT, 2011, p. 25).
[...] identificar linhas de pensamento interpretativo (MATSCHULAT,
2011, p. 9).
[...] incentivar a diligência na construção de uma interpretação refinada e
cuidadosamente trabalhada em seus detalhes (MATSCHULAT, 2011, p. 73).
Quadro 18: Unidades de registro identificadas em pesquisas vinculadas à Musicologia Empírica

A elaboração de abordagem empírica com propósito de "investigar diferentes situ-


ações de ressonância" a fim de favorecer uma "compreensão do material pelo intérprete"
apresenta-se como proposta de pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Trata-se da dissertação intitulada Estudo das Ressonâncias na Sequenza IV
de Luciano Berio, desenvolvida por Cerqueira (2009). Por meio da leitura das unidades de
registro, é possível identificar o interesse do pesquisador pela investigação de estratégias
empregadas por intérpretes, especificamente, aquelas relacionadas às "formas de explorar as
ressonâncias através da articulação dos pedais" do piano. Essa possibilidade investigativa é
182

favorecida pelo emprego da Análise Espectral, baseando-se na observação dos chamados


espectogramas140.
A partir de gráficos, gerados com base em "dados sonoros" (registrados nos especto-
gramas), Cerqueira (2009) identifica e discute algumas das estratégias empregadas por intér-
pretes, tais como a preparação para a execução de acordes, emprego de contrastes dinâmicos e
a combinação dos diferentes tipos de pedais do piano em função da obtenção de efeitos de
ressonância.
Outro emprego de abordagem empírica que vem sendo desenvolvida por pesquisa-
dores das Práticas Interpretativas é a análise de gravações, voltada para a investigação da
moldagem do tempo e dinâmica entre intérpretes diversos. Tal proposta de pesquisa aparece
na dissertação intitulada Gestos Musicais no Ponteio nº 49 de Camargo Guarnieri: análise e
comparação de gravações, de Matschulat (2011). Conforme indicado pelo título da disser-
tação, Matschulat (2011) emprega o estudo comparativo de gravações com propósito de
"identificar linhas de pensamento interpretativo" entre diferentes intérpretes do Ponteio nº 49,
de Camargo Guarnieri. Sua pesquisa baseia-se no emprego de softwares específicos141 para a
captação de dados relativos à dinâmica e ao tempo, bem como na organização desses dados
em gráficos, ilustrativos das variações de tempo e dinâmica. Com base neste estudo, Mats-
chulat (2011) pôde expor e discutir as estratégias de moldagem do tempo e dinâmica, em-
pregados por cada intérprete, assim como verificar semelhanças e diferenças interpretativas.
Isso permitiu reconhecer na gravação do próprio compositor, bem como nas gravações dos
demais intérpretes, a presença de certos "desvios interpretativos" (MATSCHULAT, 2011, p.
52), ou seja, o distanciamento de certas indicações, fornecidas pelo exame da partitura. Outro
procedimento metodológico adotado na pesquisa empreendida por Matschulat (2011) é o
emprego da Teoria dos Gestos Musicais142, de Hatten (2004, p. 111), como fundamentação

140
São representações gráficas de aspectos sonoros, tais como frequências, intensidades e escalas temporais. Tais
representações têm intensificado a percepção de características sonoras que, dificilmente, poderiam ser notadas,
com base apenas no exame da partitura (MCADAMS; DEPALLE; CLARKE, 2004, p. 159).
141
Em sua abordagem, Matschulat (2011, p.48) fez uso do software Audacity para a realização do recorte das
amostras de áudio. A coleta de dados, por sua vez, realizou-se por meio do emprego do software Sonic Visua-
lizer, o mesmo recomendado pelo Centre for the History and Analysis of Recorded Music (CHARM). Tal centro
tem se dedicado ao desenvolvimento de projetos baseados na investigação da música gravada.
142
A análise musical prescritiva, empreendida por Matschulat (2011), baseia-se na Teoria dos Gestos Musicais,
de Hatten (2004), sistematizada no livro Interpreting Musical Gestures, Topics and Tropes: Mozart, Beethoven,
Schubert. Para o teórico, o conceito de gesto musical não se limita às ações físicas relacionadas à atuação do
performer, mas corresponde aos contornos característicos que conferem aos sons significados expressivos
(HATTEN, 2004, p. 93). Desse modo, sua teoria propõe uma categorização para os diferentes tipos de gestos
musicais que podem ser classificados em dois tipos principais: os gestos músico-estilísticos (resultantes das
convenções que podem estar presentes em danças) e gestos estratégicos, os quais subdividem-se em diferentes
gestos musicais (HATTEN, 2004, p. 136).
183

para a compreensão do texto musical e a observação do tratamento conferido pelos intérpretes


aos gestos musicais.
Com base na abordagem empreendida pelo pesquisador, pode-se admitir a presença
de abordagens analíticas complementares: a chamada "análise prescritiva" e a "análise da per-
formance" (RINK, 2010). Desse modo, Matschulat (2011), destaca o emprego de diferentes
estratégias interpretativas, tais como: o emprego de variações agógicas, de dinâmica e de
articulação no interior de determinados gestos musicais; a preparação para o ataque de deter-
minadas notas; a realização de agrupamentos gestuais, mediante a moldagem da dinâmica e o
emprego do rubato. Para Matschulat (2011, p. 73), a abordagem empírica baseada na obser-
vação das estratégias de moldagem do tempo e dinâmica representa uma ferramenta com
potencial de colaborar para uma "interpretação refinada e cuidadosamente trabalhada em seus
detalhes". Tal justificativa é semelhantemente àquela apresentada por Cerqueira (2009, p. 67),
e permite reconhecer algumas das razões que têm colaborado para a adesão de pesquisadores
das áreas/ linhas em Práticas Interpretativas e Performance Musical às abordagens empíricas
baseadas na investigação de uma extensa quantidade de dados.
A partir da exposição das pesquisas consideradas, juntamente, com os comentários
relacionados às fontes que têm servido de subsídio às abordagens empíricas, pode-se admitir
que tais abordagens oferecem aos pesquisadores das práticas interpretativas a possibilidade de
investigação de aspectos diretamente relacionados à expressividade musical, como as estra-
tégias de moldagem do tempo, dinâmica e timbre (JUSLIN; PERSSON, 2002, p. 220). Certos
pesquisadores das práticas interpretativas têm considerado as abordagens empíricas, baseadas
na análise da execução, como uma "ferramenta poderosa para a tomada de decisões interpre-
tativas" (GERLING, 2008, p. 10), o que nos permite compreender a presença de tais aborda-
gens em pesquisas vinculadas às práticas interpretativas.
Outro aspecto metodológico possível de ser reconhecido nas pesquisas aqui tratadas
diz respeito à integração entre as abordagens empíricas propostas e outras possibilidades
investigativas, baseadas na Pesquisa Histórica (CERQUEIRA, 2009, p. 9) e na análise musi-
cal prescritiva (MATSCHULAT, 2009, p. 31). Tal fato permitiu aos autores das pesquisas
uma visão interpretativa mais abrangente de seus objetos de estudo do que aquela oferecida
apenas pelas abordagens empíricas propostas.
As pesquisas aqui tratadas representam apenas alguns exemplos de estudos voltados
à análise empírica da performance, registrada em gravações. Tal tendência é ainda um campo
de pesquisa emergente, no Brasil, passível de ser ampliado a partir do acesso ao aparato
tecnológico necessário ao desenvolvimento de abordagens empíricas.
184

5.2 A PESQUISA EM PERFORMANCE PIANÍSTICA RELACIONADA À MÚSICA E-


LETROACÚSTICA MISTA: EXEMPLOS DA PRODUÇÃO RECENTE EM PRÁTI-
CAS INTERPRETATIVAS

Nos capítulos anteriores, pudemos reconhecer certos tipos de repertórios que têm
atraído a atenção de pesquisadores em Práticas Interpretativas/ Performance, especialmente,
nas interfaces relacionadas às subáreas Análise Musical e Musicologia Histórica. Uma breve
leitura dos títulos de tais produções permite notar, tanto o interesse pela investigação da
música tonal de tradição ocidental quanto a recorrência de pesquisas analíticas que têm se
voltado para a investigação de obras de compositores brasileiros, vinculados as diferentes
vertentes composicionais. Neste tópico, iremos nos deter na discussão de pesquisas que têm
se concentrado na chamada Música Eletroacústica Mista 143. O fato de tratar-se de um tipo de
repertório que apresenta certas particularidades e dificuldades relacionadas à sua execução -
diferentes daquelas envolvidas no processo de preparação e performance do repertório pianís-
tico tradicional - corroborou a decisão de abordar numa categoria à parte. Os exemplos de
pesquisas a seguir, permitirão ao leitor reconhecer algumas das problemáticas, métodos e téc-
nicas de pesquisa que têm servido de subsídio a pesquisadores das práticas interpretativas.

5.2.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

No quadro a seguir, apresentamos algumas das pesquisas desenvolvidas pela área de


Práticas Interpretativas e Performance, com foco na investigação do repertório da Música
Eletroacústica Mista. Foram selecionadas as seguintes produções:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


1 Mutationen III de Cláudio Fábio Silva UFRJ/ Prof. Dr. Jacob 2008 Mestrado
Santoro - O pianista como co- Ventura Herzog
autor
2 Acústico e eletroacústico: a Sabrina UFPR/ Profa Dra. Zélia 2010 Mestrado
sincronia entre o piano e os Laurelee Chueke
sons pré-gravados em obras Schulz
eletroacústicas mistas
Quadro 19: Produções voltadas à investigação do repertório relacionado à Música Eletroacústica Mista

143
Trata-se de tipo de composição caracterizada pela combinação e interação entre sons eletrônicos e sonori-
dades acústicas, produzidas (em tempo real) por um músico-instrumentista. Battier e Schrader (2001) identificam
duas vertentes relacionadas à Música Eletroacústica Mista: a música eletroacústica mista com processamento em
tempo real e a música eletroacústica, caracterizada pela interação do performer com sons eletrônicos pré-
gravados.
185

Uma observação dos títulos das pesquisas, permite identificar a presença de certas
exigências quanto à performance das obras selecionadas pelos autores. Tais exigências podem
ser reconhecidas mediante as expressões "pianista como co-autor" e "sincronia entre o piano e
sons pré-gravados", que revelam um distanciamento da prática pianística relacionada ao re-
pertório tradicional. Trata-se de expressões que remetem às dificuldades envolvidas na per-
formance desse tipo de repertório, principalmente, no que se refere ao envolvimento do intér-
prete com as "novas tecnologias" (LOUREIRO; SILVA, 2005, p. 1; DING, 2006, p. 256). No
caso do título da pesquisa de Schulz (2010), é possível reconhecer um segundo aspecto
diretamente relacionado à performance deste tipo de repertório, a saber, a sincronização entre
o piano e os sons pré-gravados. O quadro abaixo, constituído por algumas das unidades de
registro, ilustra alguns procedimentos metodológicos (expressões em negrito), empregados
pelos autores das pesquisas.

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
[...] contextualização da obra e de sua gênese, pois a partir delas podemos avaliar
mais cuidadosamente determinadas interferências de natureza estética e social
(VENTURA, 2008, p.15).
"Cotejamento analítico das partituras" (VENTURA, 2008, p. 69).
1 "encontramos uma revisão literária que procura ambientar a obra eletroacústica de UFRJ, VENTURA,
Santoro [...] Uma pequena reflexão de ordem semiológica é introduzida, buscando 2008
elucidar certos aspectos relacionados à recepção e à percepção auditiva da peça, sua
produção e a própria partitura" (VENTURA, 2008, p. 16).
"São também sugeridos conselhos e estratégias para a realização da performance
pianística, voltados para uma mais fácil adaptação na utilização expandida do ins-
trumento" (VENTURA, 2008, p. 16).
Após apresentarmos aspectos biográficos do compositor e da obra [...]
(SCHULZ, 2010, p. 16).
[...] discorre-se sobre a música mista dentro do panorama contemporâneo, bem
como suas especificidades de execução e aproximação com o universo performáti-
2 co da música de câmara (SCHULZ, 2010, p. 16). UFPR, SCHULZ,
[...] análise de alguns objetos sonoros eletroacústicos considerados mais rele- 2010
vantes para a construção da performance. O mesmo se aplica às estruturas musicais
encontradas na parte do instrumento acústico registrado nas partituras das obras
analisadas (SCHULZ, 2010, p. 13).
"propomos um estudo investigativo dos possíveis recursos que podem ser utilizados
pelo instrumentista para estabelecer a sincronia temporal com os sons eletroacús-
ticos pré-gravados, a fim de construir uma interpretação criativa" (Resumo).
Quadro 20: Unidades de registro das pesquisas interessadas pela investigação da Música Eletroacústica Mista

Uma comparação entre as unidades de registro relacionadas a ambas pesquisas,


permite ao leitor reconhecer a presença de certas similaridades relacionadas aos procedimen-
tos metodológicos empregados. As expressões "contextualização da obra e de sua gênese"
(VENTURA, 2008, p. 15), "aspectos biográficos do compositor e da obra" (SCHULZ, 2010,
p.16) e "panorama contemporâneo" são sugestivas do interesse de seus autores pelo emprego
186

da Pesquisa História, voltada para diferentes propósitos. Ou seja, direcionada para a


investigação de fatos relacionados à biografia do compositor, à gênese da obra e à com-
preensão da obra, no contexto musical de uma época. Desse modo, ambas pesquisas voltam-
se para a abordagem de considerações relacionadas aos primórdios da Música Eletroacústica
Mista, bem como seu desenvolvimento no contexto musical brasileiro. Assim, como em ou-
tras pesquisas em Práticas Interpretativas/Performance, já abordadas nos capítulos anteriores,
tais autores fazem com que a exposição analítica proposta seja precedida pela contextua-
lização histórica da obra em estudo, aderindo a um formato de pesquisa, bastante tradicional e
recorrente em pesquisas desenvolvidas pela subárea de Performance Musical144.
O interesse pelo "cotejamento analítico das partituras" (VENTURA, 2008, p. 69) e
pela "análise dos objetos sonoros eletroacústicos" (SCHULZ, 2010, p. 13) indica duas pos-
sibilidades analíticas distintas que vêm sendo empregadas na investigação deste tipo de
repertório, a saber: é possível reconhecer em ambas pesquisas o interesse pela análise da parte
escrita (partitura) e da parte eletrônica (sons pré-gravados). Em sua abordagem analítica,
Schulz (2010, p. 53) volta-se para a identificação dos diferentes tipos de sincronia temporal a
partir da observação da partitura e sons pré-gravados. Uma postura metodológica passível de
ser compreendida diante das "novas exigências" que este tipo de composição tem colocado
aos intérpretes, que devem ser capazes de "compreender também a parte eletrônica e suas in-
terações com a parte escrita na construção do discurso musical" (LOUREIRO; SILVA, 2005,
p. 4).
Um último aspecto metodológico possível de ser identificado em tais pesquisas diz
respeito ao interesse de seus autores pela comunicabilidade de "estratégias" (VENTURA,
2008, p. 16) ou "possíveis recursos que podem ser utilizados pelo instrumentista" (SCHULZ,
2010), voltados à preparação das obras em estudo. Uma postura que se tem feito, bastante,
presente em outras pesquisas desenvolvidas na área. No caso da comunicabilidade das deci-
sões ou escolhas particularizadas, é possível notar sua relação com a experiência prática de
seus autores. Por exemplo, é possível notar na pesquisa de Schulz (2010, p. 25) a comu-
nicação de certas estratégias adotadas pela autora, como a antecipação mental dos sons pré-
gravados no tratamento de problemática relacionada à sincronização temporal.
A partir das pesquisas analisadas é possível tecer algumas considerações relacio-
nadas ao contexto em que tais produções têm emergido. Conforme indicado pelas unidades de

144
Para esclarecimentos consultar questionário respondido por Miriam Grosman, nos apêndices desta disser-
tação.
187

registro, as pesquisas mencionadas têm se caracterizado pelo emprego de possibilidades


investigativas relacionadas à pesquisa histórica e analítica. Dessa maneira, foi possível iden-
tificar a adesão dos autores de tais estudos a um formato de apresentação de pesquisas,
bastante adotado, na subárea de nosso interesse. Outro aspecto relacionado ao contexto em
que tais produções têm se originado, diz respeito ao grau de interesse que tal repertório tem
despertado em intérpretes da atualidade, que geralmente, admitem a "pouca familiaridade"
(SCHULZ, 2010, p. 130) ou a "quase ausência de contato" com este repertório na formação
de instrumentistas (VENTURA, 2008, p. 13). Tais afirmações, juntamente, com a opinião de
especialistas das práticas interpretativas (DING, 2006, p. 255; LOUREIRO; SILVA, 2005, p.
2) corroboram a ideia da prática investigativa relacionada ao repertório de Música Eletro-
acústica Mista como uma tendência emergente de estudos em Práticas Interpretativas e
Performance Musical, originada num contexto em que intérpretes têm conferido um interesse
pouco expressivo a este tipo de repertório.

5.3 A PESQUISA EM PERFORMANCE PIANÍSTICA RELACIONADA À TÉCNICA PIA-


NÍSTICA: EXEMPLOS DA PRODUÇÃO RECENTE EM PRÁTICAS INTERPRETA-
TIVAS

Dentre os diferentes temas que têm atraído a atenção de pesquisadores da subárea


Performance Musical encontra-se a Técnica Pianística, um assunto que vem sendo tratado a
partir de diferentes perspectivas. Trata-se de um assunto possível de ser reconhecido, desde as
primeiras produções em Práticas interpretativas145 e que tem se mantido estável no conjunto
da produção analisada. Sua presença em pesquisas desenvolvidas pela subárea Performance
permite reconhecer certas problemáticas, enfrentadas por pesquisadores, durante o processo
de elaboração da performance musical.
Apesar das diferentes concepções que o termo "técnica pianística" tem recebido de
especialistas da área da Performance Musical (HIGUCHI, 2012, p. 24; RICHERME, 1997, p.
11), podemos reconhecer o "conjunto de movimentos" presentes na ação pianística (RI-
CHERME, 1997, p. 11), como um aspecto relacionado ao emprego da técnica pianística. Des-

145
Uma leitura dos títulos e resumos das primeiras produções vinculadas à investigação das práticas inter-
pretativas, desenvolvidas no nível da Pós-Graduação (em Música), no Brasil, permite reconhecer o interesse
pela investigação de aspectos relacionados à técnica pianística. Como exemplo, podem ser citadas as dis-
sertações: Os Toques Característicos e a Realização Sonora do Primeiro Caderno de Imagens de Claude
Debussy, de Maria Helena Pinto da Silva Chaves (1985); Toques pianísticos na obras de Villa-Lobos: escolha e
aplicação, de Sérgio Paulo de Aquino Tavares (1990) e Postura Pianística com Bases em Ergonomia, de José
Pedro Aloísio Rachid (1992).
188

se modo, o propósito do presente subtópico voltar-se-á para uma exposição e discussão de


pesquisas interessadas pela investigação dos aspectos anatômico-fisiológicos ou motores,
vinculados à técnica pianística.Tal abordagem estará direcionada à identificação dos princi-
pais procedimentos metodológicos e referenciais teóricos que têm servido de subsídio aos
pesquisadores dessa subárea.

5.3.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

Dentre as produções interessadas pela investigação de aspectos relacionados à técni-


ca pianística, foram identificadas e selecionadas as seguintes produções:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


Um Estudo Comparativo entre Roberta de UFRJ/ Profa. Dra. Miriam 2007 Mestrado
1 as concepções de técnica Lemos Grosman
pianística de Chopin e Liszt e Miranda Jordão
aquelas dos professores e
pianistas da cidade do Rio de
Janeiro
A técnica para piano de Nahin Marun UNICAMP/ Prof. Dr. 2007 Doutorado
Johannes Brahms: Origens, os Filho Mauricy Matos Martin
2 51 exercícios e as relações
com a obra pianística do
compositor
Antônio de Sá Pereira e o Fátima Graça USP/ Prof. Dr. Eduardo 2009 Doutorado
3 Ensino Moderno de Piano: Monteiro Henrique Soares Monteiro
Pioneirismo na Pedagogia Corvisier
Pianística Brasileira
Técnicas expandidas - um Vânia Eger UDESC/ Profa. Dra. 2010 Dissertação
estudo de relações entre Pontes Maria Bernardete Castelán
4 comportamento postural e Póvoas
desempenho pianístico sob o
ponto de vista da ergonomia
Estudos para piano de Cláudio Felipe Cabreira UDESC/ Profa. Dra. 2011 Dissertação
5 Santoro: movimentos gerais e Fernandes Maria Bernardete Castelán
uma abordagem técnico- Póvoas
instrumental
Constrastes de Maria Rezende: Tatiana UFRJ/ Profa. Dra. Nadge 2011 Dissertação
6 um estudo dos toques Macedo Breide
pianísticos na música
contemporânea brasileira
Quadro 21: Produções voltadas à investigação de aspectos relacionados à técnica pianística

Um primeiro aspecto possível de ser reconhecido, mediante a leitura dos títulos das
produções, diz respeito à presença de diferentes perspectivas de pesquisas ou subcategorias
interessadas pela investigação da técnica pianística. Dentre as subcategorias de estudos desen-
volvidas, encontra-se aquela voltada à investigação da técnica pianística a partir de repertórios
específicos. Tal perspectiva pode ser reconhecida nos estudos desenvolvidos por Fernandes
189

(2011) e Macedo (2011), interessados, respectivamente, pela investigação dos "movimentos


gerais" e "toques pianísticos" nos repertórios indicados. Uma segunda subcategoria de estudos
pode ser identificada nas teses elaboradas por Corvisier (2009) e Marun Filho (2007), vol-
tadas para a investigação de métodos específicos, direcionados à otimização da técnica
pianística. A investigação da técnica de grupo de "professores e pianistas" aparece como
propósito na pesquisa, empreendida por Jordão (2007), permitindo associá-la a uma terceira
subcategoria de estudos. O vínculo de tais pesquisas com a categoria proposta, assim como
alguns dos procedimentos metodológicos adotados (expressões em negrito), podem ser
reconhecidos a partir das unidades de registro, ilustradas no quadro a seguir:

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
[...] buscar uma reflexão crítica sobre os princípios que norteiam o ensino da
técnica pianística nos dias de hoje, e verificar neles a incidência - ou não - dos
conceitos técnicos de Chopin e Liszt (JORDÃO, 2007, p. 8).
"Foi realizado [...] um total de oito entrevistas com pianistas e professores
1 brasileiros atuantes na cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de se conhecer suas UFRJ, JORDÃO,
concepções técnicas e posteriormente compará-las àquelas de Chopin e Liszt" 2007
(JORDÃO, 2007, p. 96).
[...] traçar um panorama histórico da técnica pianística com o objetivo de melhor
situar neste contexto as concepções técnicas de Chopin e Liszt (JORDÃO, 2007, p.
8).
"Esta tese demonstra as relações entre a técnica pura e a música de concerto, com a
intenção premente de se resgatar o valor musical dos exercícios técnicos, devolven-
do-os com a devida importância ao cotidiano artístico do pianista" (MARUN FI-
LHO, 2007, p. 243).
[...] comentamos alguns postulados técnicos das maiores escolas do piano, des-
de suas origens até o século XX (MARUN FILHO, 2007, p. 243).
[...] esclarecer e normatizar alguns dos movimentos utilizados pelo pianista durante UNICAMP,
2 a atividade da performance (MARUN FILHO, 2007, p. 85). MARUN FILHO,
"traçamos um histórico da prática e composição deste gênero, desde os 2007
primórdios do teclado até a época de Brahms. Em seguida, mencionamos o
envolvimento do compositor com o ensino e a técnica do piano, além de conside-
rações sobre seu estilo" (Resumo).
"Demonstramos as relações intrínsecas entre os 51 Exercícios e o estilo pianís-
tico de Brahms através de vários excertos da literatura"
(MARUN FILHO, 2007, p. 244).
[...] circunstancia fatos relevantes referentes à recepção do tratado no meio
musical brasileiro e internacional por meio da divulgação de alguns documentos
ainda inéditos (CORVISIER, 2009, p. 29).
3 [...] é descrita a estrutura do tratado e realizada a análise crítica dos aspectos USP, CORVISIER,
técnico-pianístico e pedagógicos abordados (CORVISIER, 2009, p. 29). 2009
"A pesquisa analisa o tratado Ensino Moderno de Piano de Antônio de Sá Pe-
reira relacionando-o com as principais teorias que o embasaram"(CORVI-
SIER, 2009, p. 28).
[...] compara as três edições do Ensino Moderno de Piano (CORVISIER, 2009, p.
29).
[...] realizar um trabalho unindo abordagens da técnica pianística na perspectiva da
ergonomia ao estudo de repertório moderno e contemporâneo, mais especifica-
4 camente de obras para piano com técnicas expandidas (PONTES, 2010, p. 8). UDESC, PONTES,
[...] utilização de pressupostos e conceitos interdisciplinares é recorrente, bus- 2010
cando-se, desta forma, um melhor aprofundamento sobre o funcionamento das
190

estruturas corporais envolvidas na ação pianística e nos movimentos realizados


neste contexto (PONTES, 2010, p. 11).
A partir de estudos sobre questões da técnica instrumental [...] foram sugeridas
estratégias de aprendizagem e execução ao piano (PONTES, 2010, p. 11).
"O foco deste trabalho é apresentar uma investigação sobre os dois Estudos para
piano de Cláudio Santoro com base na pesquisa de abordagens da técnica pianís-
tica e dos Movimentos Gerais, aplicados às referidas peças" (FERNANDES, 2011,
p. 13).
[...] levantamento biográfico e a compreensão das influências estilísticas do com-
positor, assim como o conhecimento do gênero da peça [...] (FERNANDES, 2011,
5 p. 78). UDESC,
[...] os elementos composicionais são destacados, descritos [...] (FERNANDES, FERNANDES, 2011
2011, p. 16).
[...] prática da Simplificação do Movimento Com Redução de Distâncias (SMRD),
como ferramenta de estudo para resolver os deslocamentos de longa e média dis-
tância existentes nesta peça (FERNANDES, 2011, p. 77).
[...] são abordados conceitos da Técnica Pianística [...] (FERNANDES, 2011, p.
16).
[...] sugestões para a prática das obras citadas [...] (FERNANDES, 2011, p. 16).
"O estudo tem por escopo a adequação de gestos e movimentos destinados aos
diferentes toques pianísticos e sua aplicabilidade na abordagem sonora das diferen-
tes texturas que unificam a peça Contrastes (2001) de Marisa Rezende" (Resumo).
"Considera-se válido buscar na técnica pianística sistematizada a partir do século
XX, acoplada a elementos técnicos e estéticos, subsídios à elaboração interpretativa
da obra Contrastes (2001), para piano, de Marisa Rezende (MACEDO, 2011, p.
15). UFRJ, MACEDO,
6 "abordagem biográfica e contexto histórico" (MACEDO, 2011, p. 22). 2011
[...] construção da narrativa dos aspectos biográficos de Marisa Rezende e conse-
quentemente à elaboração de um catálogo com suas obras [...] (MACEDO, 2011,
p. 62).
[...] esta análise foi tomada como suporte a construção interpretativa da obra supra-
citada (MACEDO, 2011, p. 62).
[...] considerou-se relevante realizar um levantamento sobre movimentos e to-
ques pianísticos passíveis de serem utilizados na construção da interpretação (MA-
CEDO, 2011, p. 61).
Quadro 22: Unidades de registro das pesquisas interessadas pela investigação dos aspectos anatômico-
fisiológicos da técnica pianística

Em relação aos procedimentos metodológicos empregados, iniciaremos nossa


exposição e discussão a partir das pesquisas relacionadas à primeira subcategoria de estudos,
ou seja, das produções interessadas no desenvolvimento de abordagens sobre aspectos téc-
nicos de repertórios específicos. Uma observação das unidades de registro de tais estudos
aplicativos permite reconhecer certas similaridades metodológicas, bem como tendências de
pesquisas emergentes em técnica pianística. Tais similaridades podem ser reconhecidas nas
pesquisas desenvolvidas por Macedo (2011) e Fernandes (2011), ambas com foco na resolu-
ção de questões técnicas relacionadas ao repertório pertencente a compositores brasileiros
contemporâneos. A primeira similaridade é o interesse pela Pesquisa Histórica, voltada para a
investigação de dados biográficos e contextualização das obras em estudo. Tal procedimento
indica a adesão a um formato de pesquisa, já discutido anteriormente. Com base nas decla-
rações fornecidas pelos autores, podemos afirmar que a abordagem da técnica pianística, no
191

interior de produções desenvolvidas pela linha de pesquisa/ área de concentração Práticas


Interpretativas, tem ocorrido mediante a sua inserção em estudos “trifacetados”, ou seja,
constituídos pela exposição de considerações históricas, analíticas e apresentação de abor-
dagem relacionada às questões ou problemáticas da técnica pianística (aspectos motores).
Outro aspecto a ser considerado em relação ao desenvolvimento de estudos apli-
cativos, pode ser reconhecido na pesquisa empreendida por Pontes (2010). Seu interesse pela
investigação de aspectos técnicos sob uma "perspectiva da ergonomia" revela uma possi-
bilidade investigativa, já discutida anteriormente, a saber: a adesão à interdisciplinaridade
como um meio investigativo em produções vinculadas à Performance Musical (LIMA, 2006).
Tal possibilidade investigativa é passível de ser empregada em relação à investigação dos
aspectos anatômico-fisiológicos da técnica pianística, conforme tratado na abordagem de
Pontes (2010). Diante de problemáticas, como a exigência de execução simultânea do teclado
e parte interna do piano ou o emprego da pedalização a partir de postura não convencional
(PONTES, 2010, p. 57), a autora emprega princípios da Ergonomia146 para a tomada de
decisões posturais relativas ao emprego de movimentos, durante a ação pianística. Tal pos-
sibilidade investigativa favoreceu uma melhor compreensão sobre o "funcionamento das es-
truturas corporais", envolvidas na ação e movimentos pianísticos.
Sabendo-se que a técnica pianística representa um assunto de interesse de pedagogos
do instrumento, uma segunda categoria de produções pôde ser identificada na linha de Prá-
ticas Interpretativas. Trata-se das produções interessadas pela abordagem de métodos espe-
cíficos para a otimização dos aspectos motores relacionados à técnica pianística. Como exem-
plo, encontram-se as pesquisas desenvolvidas por Marun Filho (2007) e Corvisier (2009),
interessadas pelo resgate histórico e análise de conteúdo dos métodos selecionados. Desse
modo, tais pesquisas oferecem uma ampla Pesquisa Histórica voltada para diferentes pro-
pósitos, o que permite notar o interesse pela abordagem da técnica pianística a partir de uma
perspectiva histórica, ou seja, mediante a reconstrução de fatos relacionados à origem e
principais influências recebidas pelos seus autores.
Outra semelhança, possível de ser reconhecida em tais pesquisas é a abordagem de
princípios relacionados à fisiologia dos movimentos. Tanto em Corvisier (2009) quanto em
Marun Filho (2007), é possível relacionar tal a abordagem em função da compreensão e
146
A Ergonomia é definida como a ciência do trabalho. O termo é derivado das palavras gregas ergon (trabalho)
e nomos (regras). Seu aparecimento decorreu do esforço de profissionais na busca de melhores condições de
realização do trabalho de maneira mais compatível com as capacidades humanas. Pontes (2010, p. 18) define a
Ergonomia como uma disciplina auxiliadora no desempenho. Interessa-se, portanto, pelo estudo da relação do
homem em seu posto de trabalho em um contexto e fins determinados (PONTES, 2010, p. 23).
192

discussão das ideias defendidas nos métodos tratados. Tais pesquisas permitem reconhecer
nas produções em Práticas Interpretativas uma tendência de estudos voltados à análise crítica
de métodos ou tratados de técnica pianística, amparados pelo conhecimento histórico e
princípios anatômico-fisiológicos da técnica pianística. Tais pesquisas exemplificam pos-
sibilidades de contribuição à subárea Performance por meio de uma aproximação de questões
envolvendo a Pedagogia Instrumental.
Uma terceira subcategoria de estudos que vêm sendo desenvolvidos na linha Prá-
ticas Interpretativas pode ser reconhecida na pesquisa de Jordão (2007), interessada pela
"reflexão crítica sobre os princípios que norteiam o ensino da técnica pianística" de grupo de
professores de instrumento. Tal interesse, permite identificar nessa pesquisa uma preocupação
de cunho pedagógico e que ao mesmo tempo revela aspectos relacionados ao ensino da
técnica pianística, na atualidade. Para subsidiar sua abordagem, Jordão (2007) emprega
diferentes fontes de dados: oferece uma extensa pesquisa bibliográfica acerca das concepções
técnicas, preconizadas por Chopin e Liszt, assim como a entrevista com grupo de 8 docentes
da área pianística. Com base no procedimento comparativo dos dados gerados por ambas
fontes, mostra certas diferenças entre as concepções técnicas, defendidas pelos docentes
entrevistados dos princípios sustentados por Chopin e Liszt (JORDÃO, 2007, p. 108). A partir
dessa comparação, Jordão (2007, p. 96) pôde evidenciar nos relatos de docentes a presença do
desconhecimento de princípios que regem a fisiologia dos movimentos, durante a ação pianís-
tica. Isso permite reconhecer na proposta da autora o potencial para a identificação de pro-
blemáticas, diretamente, relacionadas ao ensino instrumental.
Com base na breve exposição das pesquisas consideradas, é possível tecer algumas
considerações na tentativa de esclarecer aspectos que têm permeado a produção de pesquisas
interessadas pela investigação da técnica pianística. A primeira, refere-se às diferentes sub-
categorias identificadas no conjunto da produção.
A partir de tais subcategorias podemos afirmar que algumas pesquisas desenvolvidas
em Práticas Interpretativas têm se voltado para diferentes propósitos, a saber: a elaboração de
estudos aplicativos e investigações interessadas pelo tratamento de questões vinculadas à
Pedagogia Instrumental. Em relação ao primeiro propósito, é possível reconhecer em tais
estudos uma semelhança com certas produções que vêm sendo desenvolvidas em Práticas
Interpretativas, no que diz respeito à adesão a modelos de pesquisas que procuram agregar
diferentes tipos de conhecimento (histórico, sobre a estrutura musical e vinculados à técnica
pianística). Outro aspecto identificado é a presença da interdisciplinaridade, como um meio
investigativo com potencial de trazer contribuições à resolução de problemas relacionados à
193

técnica pianística. Tal possibilidade investigativa vem sendo explorada em produções desen-
volvidas na área da Performance Musical (PÓVOAS, 2002; ANDRADE; PÓVOAS 2010),
tendo influenciado algumas das abordagens aqui discutidas (PONTES, 2010; FERNANDES,
2011), que levam em consideração o potencial de conhecimentos oriundos das áreas de
Ergonomia, Cinesiologia e Biomecânica.
Além dos estudos aplicativos, as pesquisas aqui discutidas puderam evidenciar a
possibilidade de tratamento do tema Técnica Pianística a partir de diferentes perspectivas, ou
seja, sob o ponto de vista histórico (CORVISIER, 2009; MARUN FILHO, 2007) e da prática
docente atual (JORDÃO, 2007). A técnica pianística, representa, portanto, um tema que vem
sendo tratado sob diferentes perspectivas de pesquisa por meio de estudos que se aproximam
de aspectos relacionados à construção da performance dos autores de pesquisas e vinculados à
sua didática.

5.4 A PRÁTICA PIANÍSTICA EM CONJUNTO COMO TEMA DE PESQUISA: POSSI-


BILIDADES INVESTIGATIVAS IDENTIFICADAS NAS ÁREAS DE CONCENTRA-
ÇÃO PRÁTICAS INTERPRETATIVAS E PERFORMANCE MUSICAL

O desenvolvimento de pesquisas na subárea de Performance Musical não tem se


limitado à investigação do texto musical, do produto da performance e de seu processo de
construção. No presente subtópico, basearemos nossa discussão em um conjunto de pesquisas
que se voltaram à investigação de diferentes especialidades vinculadas à atuação do pia-
nista147, no mercado de trabalho. A diversidade das possibilidades de atuação do pianista em
conjuntos de câmara favoreceu o aparecimento de pesquisas interessadas pela "demarcação"
do campo de atuação de diferentes especialidades, assim como a discussão relacionada à
formação necessária para atuação destes profissionais na prática de conjunto.
Com base nas pesquisas aqui consideradas e estudos que nos serviram de referência,
pode-se afirmar que o interesse pelo desenvolvimento de estudos sobre a prática pianística em
conjunto representa um tema que vem atraindo a atenção de diferentes pesquisadores em
148
Práticas Interpretativas/Performance (MONTENEGRO, 2012). Não se tem aqui o propó-
sito de oferecer ao leitor uma revisão exaustiva da literatura de teses e dissertações, voltadas à

147
Ou seja, trata-se das diferentes modalidades relacionadas à atuação do pianista em conjunto, como o pianista
colaborador e camerista.
148
Em seu artigo, Montenegro (2012), oferece uma revisão de literatura baseada na produção de pesquisas
(desenvolvidas na subárea Performance, no Brasil) voltadas para a abordagem de diferentes especialidades
relacionadas à prática pianística, em conjunto.
194

abordagem do tema, mas apenas a exposição de algumas perspectivas de pesquisa que têm
emergido nos últimos anos em Práticas Interpretativas/ Performance.

5.4.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

Dentre as produções em Práticas Interpretativas/ Performance interessadas pela


investigação de aspectos relacionados à prática pianística em conjunto, foram selecionadas e
identificadas as seguintes produções:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


Pianista colaborador: A formação e Adriana Abid UFMG/ Profa. Dra. 2009 Mestrado
1 atuação performática voltada para o Mundim Margarida Borghoff
acompanhamento de flauta
transversal
Luís Néri UFPR/ Profa. Dra. Zélia 2010 Mestrado
2 Winterreise: o processo de Pfützenreuter Marques Chueke
construção de uma performance Pacheco dos
Reis
O pianista co-repetidor e a arte do André Távora UFRJ/ Profa. Dra. Myrian 2011 Mestrado
acompanhamento: seu significado e Kacowicz Dauelsberg
3 importância no cenário musical
atual
Quadro 23: Pesquisas interessadas pela investigação da prática pianística em conjunto

A partir de uma leitura comparativa dos títulos das pesquisas, podemos reconhecer
um aspecto relevante no que diz respeito à produção de pesquisas, que têm se dedicado à in-
vestigação das diferentes especialidades, vinculadas à prática pianística em conjunto. As ex-
pressões "processo de construção de uma performance", "a formação" e "significado e impor-
tância no cenário musical atual" sugerem uma diferenciação dos objetos de estudo. Se na
pesquisa de Reis (2009) podemos notar o interesse pela abordagem do processo de construção
da performance de obra musical, nas demais, verifica-se o propósito direcionado à abordagem
do contexto em que as diferentes especialidades têm emergido, seja a partir de aspectos
relacionados à "formação" musical (MUNDIN, 2009) ou vinculados à atuação do pianista de
conjunto, "no cenário musical atual" (KACOWICZ, 2011). No quadro a seguir, apresentamos
algumas das unidades de registro selecionadas, a fim de ilustrar o vínculo das pesquisas com a
investigação da prática pianística em conjunto, bem como os objetivos das pesquisas e alguns
dos procedimentos metodológicos (expressões em negrito) que têm servido de subsídio aos
autores das pesquisas. Desse modo, foram selecionadas as seguintes unidades de registro:
195

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
"traçaremos os requisitos que norteiam o perfil do profissional colaborador: suas
habilidades específicas, as diversidades do meio em que atua" (MUNDIN, 2009, p.
19).
"Neste trabalho, enfocaremos o pianista que trabalha com o flautista, servindo de
referência para análise de alguns pontos que julgamos ser imprescindíveis para a
formação de um pianista colaborador" (MUNDIN, 2009, p. 18).
"nos propomos a discutir a formação e atuação deste profissional diante de dois pa-
râmetros singulares: o empírico e o acadêmico" (MUNDIN, 2009, p. 39).
1 [...] breve contextualização sobre o desenvolvimento histórico do pianista UFMG, MUNDIN,
colaborador [...] (MUNDIN, 2009, p. 19). 2009
Coleta de dados e opiniões através de relatos informais e questionários semi-
estruturados [...] (MUNDIN, 2009, p. 18).
"Preparamos também questionários que foram encaminhados a pianistas colabora-
dores [...] no intuito de averiguar as principais questões que envolveram a formação
e a qualificação do profissional colaborador" (Resumo).
"Levantamento e revisão bibliográfica de livros, teses e artigos relacionados à
formação e atuação do pianista colaborador" (MUNDIN, 2009, p. 18).
"Tendo por objetivo um estudo voltado à construção de uma interpretação a dois, o
presente trabalho ofereceu as ferramentas necessárias aos intérpretes" (REIS, 2010,
p. 125).
[...] partilhar com outros intérpretes e estudiosos no campo da performance musical,
um material de suporte para o estudo em conjunto, visando a construção de uma
interpretação (REIS, 2010, p. 11).
"serão apresentadas algumas ferramentas que selecionei a partir da minha experi-
2 ência como pianista correpetidor, de grande utilidade ao intérprete, cantor e pianista UFPR, REIS, 2010
(REIS, 2010, p. 12).
"A contextualização histórica e social mostra-se essencial para a compreensão do
Lied, ressaltando a importância do diálogo entre performance e musicologia" (Re-
sumo).
"Busca-se dessa forma estreitar a relação entre a musicologia histórica e a per-
formance musical" (REIS, 2010, p. 14).
[...] análise do texto poético [...] (REIS, 2010, p. 14).
"será apresentada uma análise de três canções que compõem o ciclo" (REIS, 2010,
p. 13).
[...] destacar a importância de um profissional do piano praticamente desconhecido
além dos limites do mundo operístico e camerístico: o pianista denominado Espe-
cialista, ou, como é mais comumente denominado, pianista Co-repetidor (KA-
COWICZ, 2011, p. 11).
[...] tem como principal objetivo valorizar a arte da co-repetição e do pianista que a
exerce, através da pesquisa das técnicas de acompanhamento ao piano, leitura à
primeira vista e transposição (Resumo).
3 [...] tentar abordar [...] todas as características inerentes ao desenvolvimento da UFRJ, KACOWICZ,
função de pianista co-repetidor (KACOWICZ, 2011, p. 38). 2011
Propõe-se também um estudo detalhado sobre as técnicas de leitura à primeira
vista e transposição ao piano, talvez os dois dos principais alicerces para obten-
ção da proficiência na co-repetição [...] (KACOWICZ, 2011, p. 12).
[...] breve histórico sobre a arte do acompanhamento (KACOWICZ, 2011, p.
11).
"a confecção de um questionário demonstrou-se indispensável à obtenção dos
resultados desejados, pois se trata de uma arte desenvolvida empiricamente no
Brasil" (KACOWICZ, 2011, p. 12).
Quadro 24: Unidades de registro das pesquisas interessadas pela investigação de modalidades relacionadas à
prática pianística em conjunto

Com base nas unidades de registro, apresentadas no quadro acima, é possível iden-
tificar diferentes subcategorias de estudo relacionadas à prática pianística em conjunto. A
196

primeira, diz respeito à pesquisa interessada pela abordagem interpretativa de peças e ciclos
de canções para canto e piano. Tal propósito é apresentado na pesquisa intitulada Winterreise:
o processo de construção de uma performance a dois, de Reis (2010), interessada pelo
oferecimento de "material de suporte para o estudo em conjunto" (REIS, 2010). Uma obser-
vação das declarações, fornecidas pelo autor, permite reconhecer certas semelhanças com
produções que vêm sendo desenvolvidas, em Práticas Interpretativas/ Performance, no que se
refere à estruturação da dissertação. Trata-se da presença de estudo "trifacetado", ou seja,
caracterizado pela apresentação de contextualização histórica da obra em estudo, análise
musical e abordagem interpretativa. Contudo, a análise proposta pelo autor não se limita à
investigação das relações estruturais da obra em estudo, mas volta-se para a compreensão de
seu conteúdo poético mediante a identificação de diferentes figuras de linguagem. Na visão de
Reis (2010, p. 126), uma abordagem interpretativa para a canção de câmara deve envolver a
busca dos intérpretes pela compreensão do conteúdo poético, assim como o conhecimento his-
tórico e estrutural da obra a ser executada. Sua abordagem do ciclo Winterreise, de Schubert,
aparece na pesquisa em função do objetivo de propor um modelo de estudo direcionado à
elaboração interpretativa "a dois". Trata-se, portanto, de pesquisa interessada pelo ofereci-
mento de uma proposta de estudo, fundamentada na experiência do autor com a prática da co-
repetição (REIS, 2010, p. 12).
Em relação à segunda subcategoria identificada, a observação das demais pesquisas
permite notar o interesse dos autores pelo desenvolvimento de estudos com propósito de es-
clarecer o campo de atuação e as competências requeridas para o exercício de diferentes
especialidades. Como exemplo, encontram-se as dissertações intituladas O pianista co-
repetidor e arte do acompanhamento: seu significado e importância no cenário musical a-
tual, de Kacowicz (2011), e Pianista colaborador: A formação e atuação performática vol-
tada para o acompanhamento de flauta transversal, de Mundin (2009).
Apesar do interesse de tais pesquisas pela abordagem de diferentes especialidades
relacionadas à prática pianística em conjunto, uma observação das declarações fornecidas
pelos autores permite identificar certas similaridades em relação aos procedimentos
metodológicos encontrados. A primeira e mais importante, é o emprego de questionário semi-
estruturado aplicado a especialistas da prática pianística, em conjunto. É possível reconhecer
em ambas pesquisas uma valorização dos relatos fornecidos por especialistas a fim de obter
esclarecimentos acerca das competências e habilidades necessárias ao exercício das habi-
lidades investigadas. Além do conhecimento de tais competências, sob o ponto de vista de
especialistas, podemos reconhecer uma preocupação comum a ambas pesquisas. Diante do
197

conhecimento de certas habilidades requeridas à atuação do pianista colaborador, as pesqui-


sas aqui consideradas têm se voltado para a discussão acerca da formação do pianista de
conjunto. Trata-se de uma discussão que chama a atenção para a formação acadêmica ofereci-
da no nível da Graduação, em Música, e seu distanciamento quanto ao oferecimento de certas
disciplinas indispensáveis à atuação do pianista colaborador. Tais pesquisas têm evidenciado
a existência de problemática relacionada à formação do músico instrumentista, especifica-
mente, do pianista de conjunto. Desse modo, ressaltam a presença da formação empírica de
boa parte dos profissionais que têm se dedicado à prática da co-repetição e atividade de
pianista colaborador.
Com base na amostragem de pesquisas consideradas, pode-se admitir que a aborda-
gem do tema "prática pianística em conjunto" tem ocorrido a partir de diferentes perspectivas
de pesquisa. A primeira, tem revelado o interesse pela abordagem interpretativa da canção de
câmara com base nas pesquisas analítica e histórica. Tem-se aqui a adesão a um formato de
pesquisa, bastante presente na área. Na segunda perspectiva identificada, podemos notar o
interesse pela abordagem de peculiaridades e problemáticas relacionadas à performance em
conjunto. Diante das competências requeridas para a realização deste tipo de performance, os
pesquisadores têm procurado integrar em suas produções certos conhecimentos sobre habi-
lidades ou competências musicais que julgam imprescindíveis à atuação do pianista de con-
junto. Independentemente, da maneira como tais pesquisas vêm sendo estruturadas, pode-se
reconhecer suas contribuições no que diz respeito às discussões sobre a formação acadêmica e
as exigências requeridas no mercado de trabalho. Tais discussões permitem identificar aspec-
tos relacionados ao contexto em que tais pesquisas têm emergido, caracterizado pela ausência
de cursos voltados à formação do pianista de conjunto, em nível de Mestrado e Doutorado
(MONTENEGRO, 2012, p. 417). Se o foco de parte das pesquisas desenvolvidas (áreas/
linhas de pesquisa em Práticas Interpretativas/ Performance) volta-se para a abordagem dos
processos interpretativos e relacionados à construção da performance musical, as pesquisas
aqui consideradas têm evidenciado outro tipo de preocupação, ou seja, a formação musical
acadêmica de intérpretes-pianistas.

5.5 PESQUISA RELACIONADA À INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍS-


TICA E A FILOSOFIA DA PERFORMANCE

Sabendo-se que a Performance Musical representa uma subárea caracterizada pela


interlocução com diferentes áreas do conhecimento, no presente subtópico trataremos de uma
198

outra categoria de estudo interdisciplinar que tem emergido em pesquisas vinculadas às


práticas interpretativas. Trata-se da interface entre a performance pianística com a Filosofia da
Performance, reconhecida como uma subcategoria de estudos da Filosofia da Música (KIVY,
2006, p. 131). Tal possibilidade investigativa tem atraído a atenção de instrumentistas, inte-
ressados pelo desenvolvimento de estudos filosóficos voltados à fundamentação de suas prá-
ticas de estudo e produtos (GOEHR, 2001).
Apesar da opinião de especialistas acerca do potencial da performance musical, co-
mo uma rica fonte para o desenvolvimento de estudos de natureza filosófica (GODLO-
VITCH, 1998, p. 1), pode-se admitir que tal categoria de estudos representa uma possibilidade
investigativa ainda pouco explorada, nas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas pela subárea
Performance Musical, no Brasil (BORÉM, 2005; BORÉM; RAY, 2012). No entanto, a pos-
sibilidade de interlocução entre o conhecimento filosófico e as questões vinculadas aos pro-
cessos interpretativos, tem sido considerada em pesquisas desenvolvidas por especialistas da
Performance Musical, os quais encontram nos estudos filosóficos uma base para posturas a
serem tomadas no processo de construção da performance musical (DOMENICI, 2012, p. 65;
LABOISSIÈRE, 2007, p. 73).
Por tratar-se de uma prática investigativa, pouco recorrente, em pesquisas relaciona-
das à performance pianística (teses e dissertações), no Brasil, nossa exposição se limitará à
discussão baseada num dos poucos exemplos de pesquisas caracterizadas pelo emprego de
estudos filosóficos como subsídio à construção de performance musical. Semelhantemente,
aos exemplos de pesquisas analisadas anteriormente, basearemos a nossa discussão nas decla-
rações fornecidas pelo autor (unidades de registro), assim como em estudos elaborados por
diferentes especialistas a fim de ilustrar certas características metodológicas da produção sele-
cionada.

5.5.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

O quadro a seguir, apresenta um dos poucos exemplos de pesquisas que vêm sendo
desenvolvidas em Práticas Interpretativas/Performance, caracterizadas pelo diálogo entre a
performance pianística e estudos filosóficos. A fim de retratar certos aspectos que têm per-
meado a produção recente de pesquisas, selecionamos a seguinte produção:
199

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


"Boisinhos" e "Lobosinhos" de Daniel Vieira UFRGS/Profa. Dra. Any 2012 Doutorado
1 Heitor Villa-Lobos: o cuidado de si Raquel de Carvalho
no processo de performance como
crítica para a constituição de um
sujeito de atitude estética
Quadro 25: Pesquisa pertencente à interface entre a Performance Pianística e a Filosofia da Performance

Mediante a leitura do título da pesquisa é possível reconhecer a presença de certos


aspectos da produção que permitem verificar o distanciamento de possibilidades investiga-
tivas tradicionais, desenvolvidas em estudos vinculados à Performance Musical, com foco na
investigação do texto musical. Neste sentido, a pesquisa de Vieira (2012) centra-se na
abordagem qualitativa de aspectos relacionados ao processo de construção da performance
musical. A expressão "o cuidado de si", por sua vez, sugere a presença do autor da pesquisa
como objeto da própria investigação, remetendo à ideia de distanciamento do ideal de
neutralidade entre e o pesquisador e seu objeto de estudo. Embora, o título não revele, em
princípio, um interesse filosófico, pode-se notar o propósito de realização de pesquisa dire-
cionada à "constituição de um sujeito de atitude estética". Tal aspecto, permite notar o intuito
do autor quanto à incorporação de conhecimento não científico149 em sua pesquisa. No quadro
a seguir, oferecemos algumas declarações do autor (VIEIRA, 2012), que permitirão notar o
vínculo de sua pesquisa com a categoria proposta, seus objetivos e procedimentos metodo-
lógicos adotados (expressões em negrito).

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
"Adquirir uma postura ética-estética diante da prática musical condicionando uma
conduta regrada que tenha sido elaborada por um conjunto de noções, conceitos e
teorias" (VIEIRA, 2009, p. 17).
1 [...] exposição das teorias e conceitos filosóficos que permearam o meu pensar UFRGS, VIEIRA,
para conduzir a minha constituição como indivíduo de performance (VIEIRA, 2012
2012, p. 18).
[...] tomo para mim a responsabilidade de contextualizar o meu pensamento acerca
da filosofia escolhida e seu relacionamento pretendido com o ato da performance

149
Uma definição de atitude estética é oferecida por Pereira (2012), em seu artigo que trata sobre a denominada
experiência estética. Este autor define a atitude estética como uma "abertura desinteressada ante os efeitos que a
realidade de um objeto ou acontecimento pode produzir" (PEREIRA, 2012, p. 189). Trata-se, portanto, de uma
possibilidade de apreensão da realidade não submetida a certos esquemas explicativos. O autor afirma que a
atitude estética representa uma condição fundamental para a experiência estética, frente a um objeto ou aconte-
cimento (PEREIRA, 2012, p. 187). Sabendo-se que este tipo de experiência não se fundamenta em "esquemas
referenciais" (PEREIRA, 2012, p. 193), pode-se reconhecer, no conhecimento resultante deste tipo de experi-
ência, um distanciamento do conhecimento científico, que tem nas informações referenciais (RICHARDSON,
2012, p. 27) um pré-requisito fundamental à sua produção. Contudo, como será mostrado, a pesquisa de Vieira
(2012) apoia-se em diferentes tipos e formas de conhecimentos (VIEIRA, 2012, p. 12), como os estudos filó-
sóficos e o conhecimento subjetivo.
200

musical (VIEIRA, 2012, p. 72).


[...] construir condições filosóficas [...] a fim de ser possível exercer a escolha
sobre qual caminho a seguir no futuro (VIEIRA, 2012, p. 76).
"a arte pode ser oriunda de uma determinação filosófica e que a filosofia pode
determinar uma reflexão inclusive para a música, para a arte da performance
musical" (VIEIRA, 2012, p. 174).
"comentários extraídos de meu diário de estudo são inseridos no intuito de en-
riquecer o discurso que permeia o fazer artístico" (VIEIRA, 2012, p. 18).
"Condicionamento de um arquivo sobre aspectos históricos que envolvem a o-
bra. Informações sobre o compositor e conhecimento de outros trabalhos teóricos
sobre a obra" (VIEIRA, 2012, p. 75).
"Manutenção de um arquivo contendo idéias sobre a concepção artística da
obra. Criação de imagens, metáforas e ideais estéticos" (VIEIRA, 2012, p. 75).
"A manutenção de um arquivo com gravações de outros intérpretes da obra se-
lecionada" (VIEIRA, 2012, p. 76).
"Registro audiovisual da prática musical: a gravação dos vários recitais em que
se incluiria a obra que se desejava fixar no repertório" (VIEIRA, 2012, p. 76).
"Registro da preparação para os recitais" (VIEIRA, 2012, p. 76).
"Criação de um grupo virtual de cuidado da performance, mantendo contato indivi-
dualmente e particularmente com cada integrante. Nessa atividade, enviei uma có-
pia [...] de registros de provas de performance para apreciação de um grupo
de pianistas com formação acadêmica" (VIEIRA, 2012, p. 77).
Quadro 26: Unidades de registro retiradas de pesquisa pertencente à Interface entre a Performance Pianística e a
Filosofia da Performance

Uma primeira consideração a ser realizada com base nas declarações fornecidas é a
presença da interdisciplinaridade, como um meio de investigação adotado pelo autor. Desse
modo, as expressões "construir condições filosóficas" e "exposição das teorias e conceitos
filosóficos" sugerem a intenção do autor da pesquisa em lidar com o conhecimento filosófico
mediante a elaboração de um discurso reflexivo. Neste sentido, observa-se o interesse do au-
tor pela elaboração de uma reflexão, fundamentada em "noções, conceitos e teorias" oriundas
da Filosofia. Tal procedimento metodológico vincula-se a um dos objetivos da pesquisa que é
o estabelecimento de uma "postura ética-estética" a ser adotada no processo de construção da
performance musical de obras, de Villa-Lobos (VIEIRA, 2012, p. 17).
Outro aspecto indicado pelas unidades de registro revela a pretensão de seu autor em
trabalhar uma ampla gama de conhecimentos, indicados pelas seguintes expressões: "teorias e
conceitos filosóficos", "aspectos históricos que envolvem a obra", "ideias sobre a concepção
artística da obra" e "informações sobre o compositor e outros trabalhos teóricos da obra".
Trata-se da presença de uma mobilização de conhecimentos que remete às possibilidades de
estabelecimento de significados, no decorrer do processo interpretativo. Sobre este aspecto
Laboissière (2007, p. 18) afirma: "pois interpretar exige uma abordagem mais complexa, que
vai além do puro sentimento e incorpora a estética, a filosofia e a história. Esses campos do
conhecimento [...] marcam presença na singularidade interpretativa". Desse modo, é possível
reconhecer na pesquisa de Vieira (2012) a presença de diferentes formas e tipos de conhe-
201

cimento, sejam aqueles de ordem subjetiva, sejam aqueles relacionados às informações refe-
renciais da obra a ser interpretada.
Um terceiro aspecto revelado pelas declarações do autor diz respeito à diversidade de
fontes selecionadas para coleta de dados. Neste sentido, pode-se reconhecer diferentes possi-
bilidades de registro empregadas, como "diário de estudo", "arquivo sobre aspectos históricos
que envolvem a obra", "arquivo contendo ideias sobre a concepção artística da obra", "grava-
ções de outros intérpretes" e "registro da preparação para os recitais". Tal mobilização permi-
te notar uma aproximação e distanciamento dos estudos tradicionais em Performance Musical.
Se a busca de informações sobre a estética e contexto histórico da obra permite notar uma
aproximação desta pesquisa com paradigmas tradicionais, outros procedimentos empregados
mostram certo distanciamento de tais paradigmas. Neste sentido, pode-se verificar no uso de
"diário de estudo" e "registro audiovisual da prática musical", procedimentos que vêm sendo
empregados por estudiosos das práticas interpretativas que têm se aproximado de um enfoque
pós-moderno de pesquisa (FREIRE, 2010, p. 53). Desse modo, nota-se na pesquisa de Vieira
(2012) uma valorização do aspecto subjetivo envolvido no processo de construção da per-
formance, evidenciado uma segunda aproximação com este paradigma de pesquisa (FREIRE,
2010, p. 50). Outro aspecto a ser reconhecido em tal pesquisa, diz respeito à aproximação com
a realidade da performance musical mediante a incorporação de diferentes significados, inclu-
indo aqueles vinculados aos aspectos emocionais ou relacionados à busca de compreensão do
texto musical. Tal mobilização de conhecimento, voltada ao estabelecimento de diferentes
tipos de significados, é apresentada em Vieira (2012) como uma consequência ou resposta
frente aos conceitos filosóficos que lhe serviram de embasamento.
Diante dos procedimentos metodológicos apresentados, podemos tecer algumas con-
siderações sobre a categoria de estudos identificada e sua aproximação com paradigmas vin-
culados aos estudos em Performance Musical. A primeira, diz respeito ao emprego do conhe-
cimento filosófico. Sabendo-se que o "modo de pensar filosófico" baseia-se no emprego da
racionalização voltada à universalização do conhecimento produzido (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2012, p. 9; PORTA, 2007, p. 42) é possível reconhecer na pesquisa de Vieira (2012)
um distanciamento de certos pré-requisitos necessários à produção do conhecimento filosó-
fico. Podemos admitir que o envolvimento de Vieira (2012) com o conhecimento filosófico
ocorre mediante o emprego de estudo aplicativo, isto é, sua pesquisa caracteriza-se pelo em-
prego de conceitos e teorias da Filosofia a fim de subsidiar as decisões envolvidas no processo
de construção da performance musical. Trata-se, portanto, de pesquisa que não tem como um
de seus propósitos uma pretensa generalização ou universalização de seus resultados. Além
202

disso, é possível verificar diferenças entre a pesquisa analisada e estudos que vêm sendo
desenvolvidos pela disciplina Filosofia da Performance. Enquanto alguns estudos de refe-
rência vinculados a esta disciplina têm mantido uma nítida separação entre pesquisador e
objeto investigado (KIVY, 2006; GODLOVITCH, 1998), pode-se notar na pesquisa sele-
cionada a ausência de tal distanciamento. Tal aspecto encontra-se relacionado à adesão de
Vieira (2012) ao chamado paradigma pós-moderno da pesquisa musical, interessado pela
abordagem de casos específicos (FREIRE, 2010, p. 48). Apesar da adesão a tal paradigma, é
possível reconhecer na pesquisa de Vieira (2012) uma utilização de possibilidades inves-
tigativas tradicionais, como a pesquisa histórica e estética, voltadas ao estabelecimento de
significados do texto musical.

5.6 ESTUDOS CONCEITUAIS SOBRE ASPECTOS VINCULADOS À PERFORMANCE


PIANÍSTICA

Nos capítulos e tópicos anteriores, pudemos notar o interesse de pesquisadores das


práticas interpretativas pelo estudo de diferentes objetos de investigação. Desse modo, o texto
musical e o produto da performance musical representam alguns dos objetos de investigação
que têm atraído a atenção de pesquisadores da subárea de Performance Musical. Neste senti-
do, pudemos reconhecer o interesse pela abordagem de diferentes aspectos relacionados à
performance musical, como a interpretação musical e o estudo de habilidade musical especí-
fica. Contudo, uma observação de estudos que vêm sendo desenvolvidos pela subárea de
Performance Musical evidenciam o interesse pela abordagem de aspectos relacionados à
performance sem o foco no estudo do texto musical e na observação da construção e produto
de uma performance musical.
No presente subtópico, trataremos dos estudos conceituais, uma possibilidade inves-
tigativa voltada à constituição de um sistema explicativo para nomenclaturas ou proposições,
empregadas por uma determinada área do conhecimento (TOURINHO, 1999, p. 213). Consi-
derada um tipo de investigação fundamental para o desenvolvimento de uma determinada
disciplina, tal possibilidade investigativa tem atraído a atenção de pesquisadores das práticas
interpretativas que procuram elucidar o significado de nomenclaturas que vêm sendo empre-
gadas em estudos da área musical. Diante da falta de consenso quanto ao significado de
determinadas proposições, assim como o emprego equivocado de nomenclaturas, alguns
pesquisadores desenvolvem os estudos conceituais a fim de esclarecer o significado, a origem
e a validade no emprego de conceitos (LIMA, 2006; KUEHN, 2012).
203

Entretanto, é possível admitir a existência de outros propósitos que têm atraído a


atenção de pesquisadores das práticas interpretativas: trata-se da constituição de um sistema
explicativo para aspectos ou elementos constituintes da performance musical, ou seja, a
abordagem de conceitos que permitam uma compreensão de aspectos relacionados à natureza
da performance musical, especificamente, vinculados à performance pianística. Neste sentido,
apresentaremos no tópico a seguir, um exemplo de pesquisa que se aproxima de propósitos da
pesquisa conceitual a fim de abordar aspecto vinculado ao processo interpretativo, durante a
construção da performance musical. Novamente, o objetivo do presente subtópico não consis-
te numa abordagem da totalidade dos estudos conceituais que vêm sendo desenvolvidos pela
subárea de Performance Musical. Antes, nosso propósito consiste na apresentação de uma
tendência emergente dos estudos vinculados à performance pianística.

5.6.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

No quadro a seguir, apresentamos exemplo de pesquisa relacionada à subárea Perfor-


mance Musical, interessada pelo desenvolvimento de estudo conceitual acerca de aspecto vin-
culado à performance pianística. A fim de retratar certos aspectos que têm permeado a produ-
ção de pesquisas nesta subárea, selecionamos a seguinte produção:

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


1 Da importância da imaginação mu- André Rosalem UFRJ/ Profa. Dra. Miriam 2010 Mestrado
sical na prática pianística Signorelli Dauelsberg
Quadro 27: Pesquisa conceitual, interessada pela abordagem de aspecto relacionado à performance pianística

Com base na leitura do título da pesquisa, é possível reconhecer um interesse diver-


sificado de pesquisas em práticas interpretativas, caracterizadas pela investigação de obra ou
conjunto de obras de um compositor. Desse modo, o título da dissertação Da imaginação mu-
sical na prática pianística, de Signorelli (2010), sugere o interesse de seu autor pela aborda-
gem conceitual de aspecto vinculado à preparação da performance pianística. Uma aproxima-
ção das unidades de registro, permitirá ao leitor identificar alguns dos procedimentos metodo-
lógicos (expressões em negrito) adotados na pesquisa, assim como o vínculo da pesquisa com
a categorização proposta. Para alcançar tais propósitos, foram selecionadas as seguintes uni-
dades de registro:
204

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
"O objetivo da pesquisa consiste em apontar as principais características do con-
ceito de Imaginação, bem como fornecer meios práticos de implementação das pos-
sibilidades por ela criadas visando sempre o enriquecimento da performance pianís-
tica e o atingimento dos fins estéticos elencados na obra musical" (Resumo).
"abordagem dos aspectos estruturais e funcionais relativos à Imaginação"
(Resumo).
"discutiremos as concepções do termo Imaginação, juntamente com as caracterís-
ticas, efeitos e limites dela decorrentes" (SIGNORELLI, 2010, p. 69).
"Esta dissertação poderá ter o condão de incrementar (e dinamizar) o processo de
estudo e aprendizado de uma peça avaliando-se os vários aspectos concernentes à
Interpretação" (SIGNORELLI, 2010, p. 8).
[...] discutir os efeitos da Imaginação na interpretação e, sobretudo, como ativá-la UFRJ,
1 (SIGNORELLI, 2010, p. 1). SIGNORELLI, 2010
"A pesquisa baseou-se tão somente em Revisão de Literatura. Portanto, o trabalho
apresenta-se de forma apenas descritiva, com ampla preponderância da análise
qualitativa" (SIGNORELLI, 2010, p. 17).
"Nossa metodologia abrangerá também a comparação de dados, questionamentos
críticos e problematizações, analogias com a prática e aplicação à realidade"
(SIGNORELLI, 2010, p. 17).
"Não serão abordadas obras pertinentes a outros campos do conhecimento, como a
Psicologia e a Medicina, ainda que tenham alguma relação com o tema proposto"
(SIGNORELLI, 2010, p. 18).
[...] o pesquisador, na qualidade de intérprete-pianista, também acrescentou no
decorrer da exposição, sempre com apoio em dados literários, informações decor-
rentes de sua formação pianística e de sua experiência profissional (SIGNORE-
LLI, 2010, p. 18).
"a análise e confronto dos escritos de reconhecidos tecnólogos do piano possi-
bilitou o estudo comparativo, o debate, a discussão, a elaboração de perspectivas e
o estabelecimento de possíveis generalizações" (SIGNORELLI, 2010, p. 19).
"analisamos as principais assertivas encontradas na literatura sobre a didática do
instrumento, com especial enfoque na obra de Heinrich Neuhaus" (SIGNORELLI,
2010, p. 88).
Quadro 28: Unidades de registro retiradas de pesquisa voltada à elaboração de estudo conceitual

Um primeiro aspecto a ser considerado a partir das unidades de registro diz respeito
aos objetivos declarados por seu autor, assim como o vínculo desta dissertação com a
categorização proposta. Dessa maneira, as expressões "apontar as principais características do
conceito de Imaginação" e "abordagem dos aspectos funcionais e estruturais" permite reco-
nhecer na pesquisa, empreendida por Signorelli (2010), a presença de objetivos característicos
da pesquisa conceitual. Ou seja, a investigação de nomenclatura, visando à constituição de um
sistema explicativo para fenômeno relacionado a um campo de conhecimento (TOURINHO,
1999, p. 213). No caso da pesquisa selecionada, o emprego do conceito de Imaginação,
aparece como objeto de investigação da pesquisa a fim de esclarecer "aspectos concernentes"
à interpretação musical.
Em relação aos procedimentos metodológicos adotados, as unidades de registro per-
mitem reconhecer certos aspectos que têm permeado esta possibilidade investigativa na área
de Práticas Interpretativas. O primeiro, diz respeito ao tipo de abordagem selecionada pelo
205

autor da pesquisa a fim de investigar o conceito de imaginação e sua relação com o processo
de preparação da performance musical. Pode-se afirmar que as expressões "análise qualitati-
va" e "informações decorrentes de sua formação pianística e de sua experiência profissional"
representam declarações que indicam a adesão do autor à Pesquisa Qualitativa.
Um segundo procedimento metodológico revelado pelas unidades de registro é a
realização de uma "Revisão de Literatura" a fim de subsidiar a abordagem conceitual. Se-
melhantemente, a outros estudos conceituais desenvolvidos na subárea de Performance
Musical (KUEHN, 2012; LIMA, 2006; RAY, 2005), a pesquisa apoia-se numa ampla pesqui-
sa bibliográfica com base na obra de especialistas da Pedagogia Pianística. A partir de uma
leitura das declarações fornecidas pelo autor, é possível notar uma valorização da literatura
produzida por estes profissionais, em detrimento da literatura científica pertencente a outras
áreas do conhecimento, como a Psicologia e a Medicina. Novamente, podemos reconhecer na
pesquisa de Signorelli (2010) uma aproximação com procedimentos que têm permeado certas
abordagens qualitativas mediante a atenção dada pelo pesquisador às "percepções dos sujei-
tos" (professores de instrumento e intérpretes), envolvidos no fenômeno analisado. Dessa ma-
neira, a abordagem do fenômeno relacionado à construção de imagens, no processo de cons-
trução da performance musical, é tratado na pesquisa de Signorelli (2010) a partir de uma
análise qualitativa dos relatos emitidos por intérpretes e pedagogos da área pianística. A partir
de tais relatos e baseado na própria experiência, como intérprete, Signorelli oferece uma refle-
xão acerca da construção de imagens relacionadas a diferentes aspectos da construção da per-
formance musical. Apesar do distanciamento com relação à realização de testes empíricos, o
autor considera o emprego da imaginação (construção de imagens), como um recurso com po-
tencial para "dinamizar" e "incrementar" o "processo de estudo e aprendizado de uma peça".
A partir da observação dos procedimentos metodológicos, anteriormente descritos,
pode-se notar na pesquisa analisada o distanciamento dos estudos tradicionais da subárea
Performance Musical, no que se refere ao objeto de estudo e ao tipo de abordagem escolhida.
Corroborando a categorização de Freire (2010) para os estudos musicais, pode-se admitir a
adesão da pesquisa analisada ao Paradigma Interpretativo, caracterizado pelo vínculo com a
metodologia qualitativa e a busca de compreensão da realidade a partir dos "significados
atribuídos pelas pessoas" (FREIRE, 2010, p. 16). Além do distanciamento dos paradigmas tra-
dicionais (relacionados aos estudos em Performance Musical), outra consideração relevante
aponta para o contexto no qual o estudo de Signorelli encontra-se inserido. Tal contexto pode
ser reconhecido na declaração de Ray (2005, p. 39) que observa uma diferença entre as subá-
reas musicais, no que se refere à existência de quadros teóricos consolidados. Enquanto
206

determinadas subáreas da Música têm se valido de quadros teóricos consolidados, estes se


encontram ainda "em fase de desenvolvimento na performance musical" (RAY, 2005, p. 39).
Se tal fase permite reconhecer a relevância dos trabalhos conceituais, a opinião de outro
especialista da subárea Performance Musical, permite notar a necessidade de cuidado em sua
elaboração. Diante do emprego confuso de nomenclaturas que, ainda persiste na subárea de
Performance Musical - Kuehn (2012, p. 8) chama a atenção para a "falta de uma funda-
mentação substantiva", necessária à elaboração de "modelos teóricos mais consistentes".
Pode-se, portanto, reconhecer nas declarações emitidas por tais especialistas, alguns aspectos
relacionados ao contexto acadêmico que têm favorecido o aparecimento de estudos con-
ceituais.

5.7 A INTERFACE ENTRE A PERFORMANCE PIANÍSTICA E A COMPOSIÇÃO MU-


SICAL: EXEMPLO DA PRODUÇÃO RECENTE PERTENCENTE À LINHA DE PES-
QUISA PERFORMANCE MUSICAL

Neste subtópico, iremos tratar de uma perspectiva de pesquisa, pouco explorada em


produções vinculadas à performance pianística. Trata-se da prática de transcrição, considerada
por Borém (2005, p. 23), como uma das modalidades de pesquisa relacionadas à interface
entre a Performance e a Composição Musical. Apesar desta modalidade representar uma pers-
pectiva de pesquisa que vem se fazendo presente em produções pertencentes à área de violão
(PEREIRA, 2011) e de instrumentos com repertórios mais restritos (BORÉM, 2005, p. 28), o
mesmo interesse não pode ser identificado em relação à área do piano150.
Semelhantemente, aos tópicos anteriores, será nosso propósito identificar os proce-
dimentos metodológicos e o tipo de contribuição oferecida pela pesquisa selecionada à subá-
rea de Performance Musical. Desse modo, fundamentaremos nossa abordagem em estudos de-
senvolvidos por especialistas nesta prática de "reelaboração musical", que tem permeado parte
das pesquisas relacionadas às práticas interpretativas, exigindo dos performers-pesquisadores
o tratamento de problemáticas inerentes ao campo de atuação de compositores.

150
Com base nos levantamentos realizados por ULHÔA (1996) e também ao longo do presente estudo, cons-
tatamos a baixa incidência de trabalhos dessa natureza em pesquisas vinculadas à performance pianística nas
áreas de concentração/linhas de pesquisa em Performance Musical e Práticas Interpretativas.
207

5.7.1 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

No quadro a seguir, apresentamos exemplo de pesquisa vinculada à prática de trans-


crição musical, desenvolvida na área de concentração Performance Musical.

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


Transcrições para piano: histórico e Marçal Fernando UFMG/Prof. Dr Lucas 2009 Mestrado
1 uma proposta de execução para a Castellão Bretas
mão esquerda de alguns prelúdios
de Chopin
Quadro 29: Exemplo de pesquisa interessada pela prática de transcrição musical

Mediante a leitura do título da pesquisa, é possível reconhecer certos aspectos


relacionados à proposta de Castellão (2009). Podemos afirmar que se trata de pesquisa
interessada pela ampliação de repertório, voltado à prática pianística da mão esquerda, o que
permite notar a diferença da proposta de Castellão (2009) em relação a outras pesquisas,
interessadas pela transcrição, baseada na mudança do meio instrumental (PEREIRA, 2011, p.
52) ou "mudança idiomática". A fim de ilustrar os procedimentos metodológicos (expressões
em negrito), assim como o vínculo da produção com a categorização proposta, selecionamos
as seguintes unidades de registro, apresentadas no quadro abaixo:

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
[...] processo de elaboração de transcrição para a mão esquerda de seis prelúdios
dos 24 Prelúdios opus 28 de Chopin (Resumo).
[...] elaboração de arranjos para a mão esquerda [...] (Resumo).
"contribuir para a divulgação da prática do piano com a mão esquerda defendendo
esse tipo de performance como uma manifestação artística esteticamente válida é
um dos objetivos deste trabalho" (CASTELLÃO, 2009, p. 8).
"Um dos objetivos do trabalho é ressaltar a importância e a validez da prática de
transcrição musical sendo que, através da elaboração de arranjos para a mão
esquerda, pretendemos contribuir para a divulgação desse tipo de execução ao
1 piano" (Resumo). UFMG,
"A escolha dos 24 Prelúdios opus 28 de Chopin como objeto de estudo do trabalho CASTELLÃO, 2009
foi motivada não só pela grande afinidade do autor em relação ao compositor, mas
também pelo fato de não ter sido encontrado nenhum trabalho de transcrição sobre
a coleção citada" (CASTELLÃO, 2009, p. 9).
"Encontramos uma situação em que não há mudança de linguagem idiomática e
sim de situação idiomática uma vez que a execução ao piano com uma mão
provoca diferenças no campo de performance em relação à prática com as duas
mãos" (CASTELLÃO, 2009, p. 16).
"Para o embasamento de algumas soluções encontradas no processo de transcri-
ção, recorremos a obras originais ou a transcrições de obras para piano para a
mão esquerda" (CASTELLÃO, 2009, p. 11).
[...] nessa transposição, preocupações com as intenções do compositor original es-
tão envolvidas, assim como a resolução de problemas idiomáticos em decorrência
desse processo de transposição (CASTELLÃO, 2009, p. 15).
"O presente trabalho apresenta um breve histórico a respeito da transcrição
musical [...] e faz uma reflexão sobre a abordagem metodológica dessa prática,
208

em que referências aos transcritores historicamente mais importantes, incluindo vá-


rios exemplos para uma comparação, são apresentadas" (Resumo).
Quadro 30: Unidades de registro selecionadas de pesquisa interessada pela prática de transcrição musical

Um primeiro aspecto a ser tratado, com base nas unidades de registro diz respeito ao
vínculo da pesquisa com a categorização proposta. O objetivo de elaborar uma "transcrição
para a mão esquerda", permite notar uma aproximação da pesquisa com o processo de criação
composicional em pesquisa pertencente à subárea de Performance Musical. O envolvimento
do pesquisador com a prática da transcrição, também é sugerido pelas expressões "resoluções
de problemas idiomáticos" e "preocupações com as intenções do compositor original".
Metodologicamente, a pesquisa de Castellão (2009) procura subsidiar sua proposta de
transcrição numa pesquisa bibliográfica. Diferentemente, de outras pesquisas acadêmicas (no
Brasil), propõe uma "mudança de situação idiomática" para a transcrição de conjunto de Pre-
lúdios, de Chopin. Não há, portanto, o procedimento de adaptar a escrita de um instrumento
musical para outro. Desse modo, o autor baseia suas decisões interpretativas na análise de
diferentes propostas metodológicas voltadas à prática de transcrição, assim como na análise
documental de "obras originais" e "transcrições de obras para piano", destinadas à mão
esquerda. O autor emprega a observação dos procedimentos composicionais de tais obras
como subsídio para a resolução de "problemas idiomáticos". A fim de subsidiar a elaboração
de um texto para uma nova "situação idiomática", Castellão realiza uma adaptação de
prelúdios selecionados a fim de escrever idiomaticamente para a mão esquerda. Dentre as
principais adaptações emprega a exclusão de figuras musicais, a redistribuição de notas de
acordes, a antecipação de figuras musicais, mudanças de registro, o deslocamento de figu-
rações do baixo e o acréscimo de notas (CASTELLÃO, 2009, p. 79-107).
Uma aproximação dos procedimentos metodológicos, empregados por Castellão,
(2009) e da problemática tratada pelo pesquisador, permite-nos realizar algumas observações
acerca de sua proposta investigativa e sua relação com a subárea de Performance Musical.
Apesar de a transcrição representar uma prática de reelaboração musical, pouco recorrente,
em pesquisas vinculadas à área do piano, tal prática vem ganhando atenção em pesquisas
relacionadas a outros instrumentos musicais (BORÉM, 2005, p. 28; PEREIRA, 2011). Desse
modo, a pesquisa de Castellão integra o conjunto de produções em práticas interpretativas que
têm dialogado com a prática composicional. Outro aspecto a ser considerado a partir da
pesquisa de Castellão (2009) é seu distanciamento de uma abordagem acerca de "questões de
209

performance151", bastante comum em pesquisas pertencentes à subárea Performance Musical.


Tal posicionamento pode sugerir uma contribuição pouco significativa à subárea de Per-
formance Musical. Contudo, o propósito de oferecer um material para a otimização da técnica
instrumental, aproxima-se de funções ocupadas pela prática de transcrição, ao longo da his-
tória (BORÉM, 2005, p. 31), permitindo reconhecer um outro tipo de contribuição à subárea,
oferecida pela pesquisa analisada.

5.8 A PESQUISA INTERPRETATIVA EM PRODUÇÕES RECENTES RELACIONADAS


À PERFORMANCE PIANÍSTICA

Entendida como um processo voltado ao estabelecimento de significado do texto


musical (LABOISSIÈRE, 2007, p. 16) a interpretação musical representa um dos tópicos de
interesse da produção de pesquisas relacionadas à subárea Performance Musical. A partir de
posicionamentos sustentados por especialistas da área da Performance, podemos reconhecer a
interpretação musical como um processo que tende a contribuir para a construção de uma
performance musical152.
Se nos capítulos anteriores, pudemos reconhecer o interesse de autores de pesquisas
pela elaboração interpretativa a partir do diálogo com as disciplinas Musicologia Histórica e
Análise Musical, trataremos a seguir de estudos que têm se preocupado com o desenvolvi-
mento de abordagens interpretativas baseadas em outros tipos de conhecimentos. Não temos,
portanto, o propósito de discutir a produção de pesquisas interpretativas com foco exclusivo
na investigação histórica e na descrição sobre as relações estruturais de uma obra musical.
Neste subtópico, nos deteremos na discussão de pesquisas que têm dialogado com a deno-
minada Pesquisa Interpretativa. A fim de ilustrar certos aspectos que têm permeado parte da
produção de pesquisas, vinculadas à performance pianística, iniciaremos nossa exposição com
a apresentação de breves considerações acerca desta modalidade de pesquisa a fim de facilitar
a discussão sobre certos temas e procedimentos metodológicos, adotados pelas pesquisas sele-
cionadas.

151
Refiro-me à apresentação de considerações sobre interpretação musical, visando a performance de um texto
musical e o tratamento de questões técnicas relacionadas aos aspectos motores da ação pianística. O próprio
autor afirmou que não teve como objetivo abordar tais questões (CASTELLÃO, 2009, p. 106).
152
Tal ideia aparece em Lima (2006, p. 13) a qual define a performance musical como um "processo de
execução que não dispensa nem os aspectos técnicos [...] nem os processos interpretativos" que contribuem para
a sua ação. Em Ray (2005, p. 42), o estudo do texto musical ou "Conhecimento do Conteúdo" é associado a um
dos elementos que podem favorecer a construção de uma performance musical.
210

5.8.1 Pesquisa Interpretativa: breves considerações sobre seus propósitos

A partir de exemplos da produção de pesquisas que vêm sendo desenvolvidas pela


área de concentração/ linha de pesquisa em Práticas Interpretativas, pode-se admitir o
interesse de pesquisadores pelo desenvolvimento de abordagens interpretativas baseadas no
conhecimento histórico e estrutural do texto musical. Como exemplo, podemos citar alguns
estudos vinculados à disciplina Práticas Interpretativas e aqueles que têm se aproveitado de
métodos oriundos da disciplina Análise Musical. Com base nestes exemplos, pode-se reco-
nhecer em parte das pesquisas examinadas a presença de abordagens limitadas aos pro-
cedimentos metodológicos vinculados a estas disciplinas. Isso permite notar o interesse de
pesquisadores por uma investigação parcial dos conhecimentos necessários a uma elaboração
interpretativa.
Diante das possibilidades de estabelecimento de significados do texto musical (carac-
terísticas do fenômeno interpretativo), certas modalidades de pesquisa têm se dedicado ao
desenvolvimento de abordagens interpretativas mais amplas no que se refere às considerações
relacionadas aos tipos e formas de conhecimentos, empregados na construção de uma inter-
pretação musical. Dentre estas modalidades de pesquisas mencionamos a chamada Pesquisa
Interpretativa, cujo enfoque acerca das decisões interpretativas, não se limita à apresentação
de abordagens de cunho histórico e vinculadas às relações estruturais de uma obra musical.
Uma definição de Pesquisa Interpretativa é oferecida por Sundin (1983) em seu livro
intitulado Musical Interpretation in Performance, voltado à exposição de projeto de Pesquisa
Interpretativa, realizado a partir da observação da construção da interpretação musical por in-
térpretes (regentes e instrumentistas) e professores de instrumento. Para Sundin (1983), a Pes-
quisa Interpretativa representa uma modalidade investigativa interessada pelas escolhas parti-
cularizadas, empreendidas por performers, em função da elaboração interpretativa. Tal pes-
quisa tem como um de seus propósitos o estudo da mobilização de conhecimentos empreen-
didos por intérpretes, em diferentes âmbitos: ou seja, o reconhecimento de suas deliberações
teóricas e práticas. Outro aspecto tratado por Sundin diz respeito aos diferentes tipos de Pes-
quisa Interpretativa existentes.
O primeiro tipo é a Pesquisa Interpretativa com foco no estudo da concepção do
texto musical por intérpretes e suas escolhas de realização da partitura (SUNDIN, 1983, p. 8).
Diferentemente, da disciplina Práticas Interpretativas, a chamada Pesquisa Interpretativa tende
a considerar uma visão mais ampla das escolhas realizadas pelo intérprete, contemplando
outros tipos de conhecimentos, além daqueles vinculados ao conhecimento histórico do texto
211

musical. Pode-se reconhecer, portanto, o interesse deste tipo de pesquisa pela elaboração de
uma narrativa acerca das decisões interpretativas e da compreensão do texto musical. Neste
sentido, Sundin (1983, p. 8) destaca o interesse da Pesquisa Interpretativa pela investigação
acerca das leituras realizadas por intérpretes, assim como a observação de aspectos rela-
cionados à interpretação musical, no momento de uma performance musical.
Uma segunda possibilidade de desenvolvimento da Pesquisa Interpretativa é o estudo
do fenômeno interpretativo a partir da observação de seu processo de construção. Semelhan-
temente ao exemplo anterior, tal possibilidade investigativa tem como uma de suas preo-
cupações a identificação das escolhas individuais realizadas por intérpretes. Entretanto, pode-
se reconhecer nesta subcategoria o processo de construção da interpretação musical, como
objeto de estudo. Em sua Pesquisa Interpretativa, Sundin (1983) observa o processo de
construção da interpretação musical, como um pesquisador distanciado em relação ao seu
objeto de estudo. Neste tipo de pesquisa, o interesse pela identificação das escolhas parti-
cularizadas aparece num outro contexto, relacionado às diferentes etapas de preparação de
uma interpretação musical.
Outro aspecto revelado por Sundin (1983, p. 12) é o interesse pelo reconhecimento
de problemáticas interpretativas e as soluções encontradas por intérpretes. Tal interesse, é
retratado a partir da exposição dos objetivos de sua pesquisa, voltada à elaboração de uma
teoria acerca do fenômeno interpretativo. Em uma de suas pesquisas, Sundin (1983) parte de
entrevista realizada com músicos, como base para a elaboração de um inventário sobre os
diferentes tipos de problemas interpretativos (SUNDIN, 1983, p. 34). A partir do exemplo de
Pesquisa Interpretativa, empreendida por Sundin (1983), é possível reconhecer em sua pro-
posta uma valorização da experiência prática de músicos e, portanto, a incorporação da
experiência de intérpretes no conteúdo da pesquisa. O interesse pelas escolhas particulariza-
das permite notar nesta modalidade de pesquisa uma aproximação com questões de interesse
de performers, tais como as dificuldades e soluções para problemas interpretativos. Esse
aspecto permite identificar, nesta modalidade de pesquisa, uma possível colaboração ao cam-
po da didática instrumental.

5.8.2 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

Dentre as pesquisas caracterizadas pela aproximação com propósitos da Pesquisa


Interpretativa, foram selecionadas as seguintes produções:
212

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível


A Prática do piano a quatro mãos: Marcelo UNIRIO/ Profa. Ms. 2007 Mestrado
1 problemas, soluções e sua aplicação Greenhalgh Saloméa Gandelman
ao estudo de peças de Almeida Thys
Prado e Ronaldo Miranda
Forma Lírica e Campos Temporais: Alexandre UNICAMP/ Prof. Dr. 2010 Doutorado
2 fundamentos das multiplicidades de Zamith Almeida Mauricy Matos Martin
performance em Klavierstück XI de
Karlheinz Stockhausen

Deliberação Expressiva e toque André Carrara UFRGS/Profa. Dra. 2010 Doutorado


3 pianístico Cristina Caparelli Gerling
Noturno para Piano nº12 de Paulo Pereira UFRGS/Prof. Dr. Ney 2012 Mestrado
4 Almeida Prado: Reflexão sobre a Meirelles Neto Fialkow
execução das indicações metafóricas
Quadro 31: Pesquisas voltadas à elaboração de Pesquisa Interpretativa

Uma observação inicial dos títulos das produções, permite identificar a presença da
modalidade de Pesquisa Interpretativa, tanto em produções pertencentes ao nível de Mestrado
(2 dissertações), quanto ao de Doutorado (2 teses). Outra consideração, refere-se ao tipo de
repertório que tem atraído a atenção de pesquisadores. No caso das pesquisas mencionadas,
percebe-se o interesse pela investigação do repertório pertencente à música contemporânea
brasileira (Almeida Prado, Ronaldo Miranda) e música europeia, da segunda metade do
século XX (Karlheinz Stockhausen). A fim de facilitar a discussão e exposição acerca dos
153
temas, objetivos e procedimentos metodológicos (expressões em negrito) adotados pelas
pesquisas, foram selecionadas as seguintes unidades de registro, apresentadas no quadro a
seguir:

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
"procuramos constatar quais os aspectos e problemas práticos cada peça impõe e
indicar as respectivas soluções encontradas por nós" (THYS, 2007, p. 88).
"Entendemos que interpretação e técnica são interdependentes e inseparáveis, logo
usamos o termo 'questões de performance' para nos referirmos a qualquer problema
relacionado à execução instrumental" (THYS, 2007, p. 88).
"Apresentamos aqui, pois, nossa concepção, obviamente, pessoal e passível de
1 discussão, mas que procurou ser embasada no texto musical" (THYS, 2007, p. 91). UNIRIO, THYS,
"as soluções propostas visam apenas auxiliar os duos pianísticos que almejam 2007
conhecer e tocar, mas não encerram o assunto e não se caracterizam, de maneira
alguma, como a única possibilidade de interpretação" (THYS, 2007, p. 89).
"foi realizada uma contextualização histórica do gênero" (Resumo).
"apresentamos alguns dados contextuais sobre os compositores e as obras em
questão" (THYS, 2007, p. 88).
"Em nossos ensaios, foram registradas as dificuldades observadas e as res-
pectivas soluções encontradas pelos intérpretes" (THYS, 2007, p. 8).

153
No caso da pesquisa de Meirelles Neto (2012) a ausência de uma menção explícita dos procedimentos
metodológicos, empregados pelo autor, levou-nos a destacar (emprego de expressões em negrito) algumas de
suas declarações que sugerem o emprego de procedimentos metodológicos.
213

[...] tratamos das questões relacionadas à prática do piano a quatro mãos, expondo
depoimentos sobre sua importância e caracterizando seus problemas. Para tanto,
realizamos entrevistas com 11 integrantes ou ex-integrantes de duos consolidados
[...] (THYS, 2007, p. 6).
[...] propõe a exploração das multiplicidades que não implique em alterar ou
desrespeitar o texto, mas explorar o seu dinamismo quando submetido à inter-
pretação e agregar tudo aquilo que ausente na notação, preenche o tecido musical
(ALMEIDA, 2010, p. 117).
"a tese acatou Klavierstück XI - obra representativa da estética aberta em música -
como seu objeto de estudo" (ALMEIDA, 2010, p. 152).
"consideramos válida a tentativa de documentar e compartilhar as dificuldades e as
2 alternativas encontradas durante o longo e solitário caminho de aprendizagem de UNICAMP,
Klavierstück XI" (ALMEIDA, 2010, p. 120). ALMEIDA, 2010
Busca conjugar [...] experiência adquirida durante o estudo instrumental da
peça e suas performances às informações e reflexões propostas [...], com o
intuito de oferecer sugestões a intérpretes (ALMEIDA, 2010, p. 120).
"O primeiro capítulo [...] de intuito contextualizador, visualizou a estética da obra
aberta na década de 1950" (ALMEIDA, 2010, p. 151).
"Foi investigado o planejamento formal da peça" (ALMEIDA, 2010, p. 152).
[...] apresentou estratégias de estudo técnico-instrumental da obra, com vistas a
proporcionar uma postura interpretativa mais condizente com o que a obra propõe
de mais desafiador ao seu intérprete" (ALMEIDA, 2010, p. 155).
"É um estudo de caso longitudinal e se direciona às minhas estratégias adotadas na
preparação e execução pianística" (CARRARA, 2010, p. 127).
"O modelo de Pesquisa Interpretativa proposto por Sundin em combinação com a
Prática Deliberada fornece um modelo viável para o desenvolvimento desse tra-
balho" (CARRARA, 2010, p. 14).
"A escuta e emissão de julgamento acerca das possibilidades expressivas de
cada prelúdio, bem como a deliberação de seu caráter e conteúdo emocional, é
priorizado pela particularidade de minhas relações com a estrutura sonora percebida
na audição" (CARRARA, 2010, p. 124).
[...] formação das ideias expressivas acerca do caráter e conteúdo emocional da
obra [...] (CARRARA, 2010, p. 124).
"como pesquisador, busco não somente detectar e refletir sobre os elementos que
compõem minhas estratégias, mas ao mesmo tempo desvelar a linha de conduta de
minhas ações" (CARRARA, 2010, p. 14). UFRGS,
3 "Tendo estabelecido uma estreita relação entre a mecânica dos toques pianísticos e CARRARA, 2010
o conteúdo emocional atribuído aos dados da partitura, este trabalho demonstra
como a resolução parcial dos problemas envolvidos na execução pianística se deu
no processo de construção de meu doutoramento" (CARRARA, 2010).
"busco referências sobre como pode se dar a construção de uma interpretação
e como a leitura da partitura pode orientar a deliberação de um conteúdo
extramusical e mesmo emocional, bem como a sua realização na execução (CAR-
RARA, 2010, p. 2).
[...] análise de minha estratégia de preparação e execução pianística [...]
(CARRARA, 2010, p. 129).
[...] observação, definição e tentativa de descrição de minhas estratégias pianís-
ticas [...] (CARRARA, 2010, p. 92).
[...] reflexão sobre toques pianísticos [...] (CARRARA, 2010, p. 2).
"narro minha formação e influências pianísticas" (CARRARA, 2010, p. 3).
"estudo sobre as atitudes pedagógicas adotadas pelos professores que mais
influenciaram minhas condutas pianísticas se reveste de grande importância para
o entendimento de meus critérios interpretativos" (CARRARA, 2010, p. 68).
"o objetivo geral do presente trabalho é investigar de que modo as indicações
metafóricas operam nas minhas escolhas interpretativas" (MEIRELLES NETO,
2012, p. 12). UFRGS,
4 [...] questões levantadas sobre as indicações metafóricas do Noturno [...] MEIRELLES
(MEIRELLES NETO, 2012, p. 12). NETO, 2012
"O presente trabalho tem como objetivo investigar as possíveis interpretações para
as indicações metafóricas de partitura do Noturno para Piano nº 12 de Almeida
214

Prado" (Resumo).
[...] busca de significado para as indicações metafóricas da partitura [...]
(MEIRELLES NETO, 2012, p. 48).
[...] significados dados às metáforas por um intérprete (MEIRELLES NETO, 2012,
p. 49).
[...] busca de referências sobre aspectos extra-musicais na obra de Almeida
Prado e no repertório pianístico de compositores relacionados à sua genealogia
(MEIRELLES NETO, 2012, p. 12).
"Considerações sobre metáfora" (MEIRELLES NETO, 2012, p. 14).
"Considerações sobre o gênero Noturno para piano" (MEIRELLES NETO,
2012, p. 25).
"Aspectos morfológicos do Noturno para Piano nº 12 de Almeida Prado"
(MEIRELLES NETO, 2012, p. 30).
"E novamente, com meu atual professor [...] não somente evocação de imagens,
mas também texturas, fragrâncias e inúmeras sensações são constantemente
utilizadas como material subjetivo, que em diálogo constante com aspectos
objetivos, enriquecem minha interpretação" (MEIRELLES NETO, 2012, p. 12).
"Reflexão sobre a execução das indicações metafóricas" (MEIRELLES NETO,
2012, p. 35).
Quadro 32: Unidades de registro selecionadas de Pesquisas Interpretativas

Um primeiro aspecto a ser contemplado a partir da observação das declarações


fornecidas diz respeito ao vínculo das produções com a Pesquisa Interpretativa. Desse modo,
as expressões: "Em nossos ensaios, foram registradas as dificuldades observadas e as respec-
tivas soluções encontradas" (THYS, 2007), "compartilhar as dificuldades e as alternativas en-
contradas durante o longo e solitário caminho de aprendizado" (ALMEIDA, 2010), "descrição
de minhas estratégias pianísticas" (CARRARA, 2010) e "minhas escolhas interpretativas"
(MEIRELLES NETO, 2012), revelam o interesse pelo desenvolvimento de estudos baseados
em casos específicos, aproximando-se de propósitos da Pesquisa Interpretativa cujo foco
centra-se na investigação da "performance individual" e das "escolhas individuais", empreen-
didas por intérpretes (SUNDIN, 1983, p. 8). Outra consideração que pode ser realizada com
base no conjunto de declarações, diz respeito aos diferentes tipos de Pesquisa Interpretativa,
que têm permeado as áreas de concentração e linhas de pesquisa de nosso interesse.
Uma primeira subcategoria identificada refere-se à Pesquisa Interpretativa interes-
sada pela investigação de repertório camerístico. Tal propósito aparece na pesquisa intitulada
A Prática do piano a quatro mãos: problemas, soluções e sua aplicação ao estudo de peças
de Almeida Prado e Ronaldo Miranda, de Thys (2007), desenvolvida na UNIRIO. Seu
interesse pela abordagem acerca de "questões de performance" (THYS, 2007, p. 88) permite
reconhecer a elaboração da interpretação musical, como um dos objetivos específicos desta
pesquisa. Desse modo, é possível notar nas unidades de registro a presença de diferentes
possibilidades investigativas, sejam aquelas voltadas ao estabelecimento de significado do
texto musical, sejam aquelas relacionadas aos aspectos mecânicos do fazer musical. No que se
215

refere à elaboração interpretativa é possível identificar na pesquisa de Thys (2007), tanto a


presença de possibilidades investigativas tradicionais (estudo sobre gênero musical e con-
textualização histórica da obra) quanto a apresentação de abordagem interpretativa, carac-
terizada pelo seu "alto teor" subjetivo. Pode-se notar, na narrativa do autor, a descrição de
significados "subjetivos" conferidos a determinadas estruturas musicais observadas (THYS,
2007, p. 97-104). Em sua abordagem, Thys (2007) relaciona determinados elementos da
estrutura musical a posturas dos animais que serviram de referência à Almeida Prado. Dessa
maneira, pode-se reconhecer a "criação de imagens" como uma das estratégias interpretativas
adotadas pelo autor.
Uma segunda subcategoria de Pesquisa Interpretativa refere-se ao estudo inter-
pretativo de composição musical individual. Como exemplo, encontra-se a dissertação inti-
tulada Noturno para Piano nº 12 de Almeida Prado: reflexão sobre a execução das indi-
cações metafóricas, de Meirelles Neto (2012), desenvolvida na UFRGS. A pesquisa que teve
como propósito a abordagem interpretativa das "indicações metafóricas" do Noturno nº 12, de
Almeida Prado, caracteriza-se pelo diálogo com diferentes possibilidades investigativas:
desde abordagens tradicionais, como o estudo sobre gênero musical, passando pela abor-
dagem de aspectos estruturais e a comparação da obra em estudo com composições diversas.
Entretanto, outras possibilidades investigativas e tipos de conhecimento incorporados pela
pesquisa, permitem notar um distanciamento de tais abordagens tradicionais. A fim de sub-
sidiar sua proposta interpretativa, o autor da pesquisa baseia-se em estudo acerca do conceito
de metáfora e seu emprego, na área musical. Outro aspecto evidenciado pela pesquisa é a va-
lorização da experiência prática do autor e de suas interações nas aulas de instrumento, como
fatores importantes à tomada de decisões interpretativas (MEIRELLES NETO, 2012, p. 12).
Outro exemplo de pesquisa vinculada a esta subcategoria, interessada pela abordagem
interpretativa de obra específica, pode ser identificada na tese intitulada Forma Lírica e Cam-
pos Temporais: fundamentos das multiplicidades de performance em Klavierstück XI de
Karlheinz Stockhausen, de Almeida (2010), desenvolvida na UNICAMP. Novamente, a busca
por uma "postura interpretativa" aparece como objetivo de pesquisa, caracterizada por uma
ampla mobilização de conhecimentos.
Pode-se reconhecer o emprego do estudo conceitual e da Pesquisa Histórica a fim de
esclarecer aspectos relacionados à estética da obra em estudo. Além da busca pela com-
preensão acerca da estética da obra (possibilidade interpretativa), sua pesquisa comunica as
decisões de realização da partitura. Diante das "multiplicidades" de realização e complexidade
notacional do Klavierstück XI, Almeida oferece uma abordagem acerca das "dificuldades e as
216

alternativas encontradas" ao longo de seu processo de construção da performance da obra


selecionada. Tal aspecto remete a uma característica presente na Pesquisa Interpretativa: o
oferecimento de considerações sobre os "problemas interpretativos" e suas "diferentes pos-
sibilidades de resolução" (SUNDIN, 1983, p. 12). No caso, da pesquisa de Almeida (2010) é
possível considerar tanto a busca de compreensão estética quanto as dificuldades de
realização de uma escrita, extremamente complexa, como um conjunto de problemáticas
tratadas a partir da interação do pesquisador com o conhecimento referencial (pesquisa
bibliográfica e histórica) e empírico. Em outras palavras, uma tentativa de conjugar "a experi-
ência adquirida durante o estudo instrumental da peça e suas performances às informações e
reflexões propostas" (ALMEIDA, 2010, p. 120).
Uma terceira subcategoria de Pesquisa Interpretativa identificada é a abordagem de
possibilidade investigativa a partir de conjunto de obras, pertencentes a um mesmo compo-
sitor. Tal proposta aparece na tese intitulada Deliberação Expressiva e toque pianístico, de
Carrara (2010), desenvolvida na UFRGS. Conforme indicado pelo título da pesquisa, a tese
tem como foco a abordagem da relação entre a expressividade musical e a qualidade do toque
pianístico. Desse modo, a expressividade musical aparece como uma preocupação relacionada
ao estabelecimento do significado do texto musical e como um aspecto fundamental para a
otimização dos toques pianísticos. Baseado em sua experiência pessoal, como performer,
Carrara (2010) defende a deliberação expressiva do performer durante o processo de cons-
trução de uma performance musical. Sua proposta de estudo distancia-se das abordagens
tradicionais que têm caracterizado parte das pesquisas vinculadas às práticas interpretativas.
Na pesquisa de Carrara (2010), encontramos a presença de considerações acerca da relação
entre a emoção e o exercício de diferentes atividades musicais (CARRARA, 2010, p. 31-36).
A fim de ilustrar a possibilidade de emprego da deliberação expressiva, na construção da
performance musical, o autor busca apoiar-se em estudos empíricos voltados à identificação
de estratégias empregadas por intérpretes (CARRARA, 2010, p. 31-32). Entretanto, a pesqui-
sa de Carrara (2010) não se limita à apresentação das decisões de realização da partitura,
amparadas pela pesquisa bibliográfica, mas incorpora a experiência prática do autor, na
narrativa apresentada. Tal aspecto é revelado em seu interesse pela comunicação das "estraté-
gias adotadas na preparação e execução pianística" do conjunto de Seis Prelúdios (1932), de
Francisco Mignone.
O teor subjetivo de sua abordagem, também é evidenciado a partir de sua narrativa
acerca da própria "formação e influências pianísticas" (CARRARA, 2010, p. 3) a fim de tratar
das principais influências, exercidas sobre a conduta adotada em sua preparação pianística.
217

Verifica-se, portanto, nesta tese, o esforço do autor quanto à demonstração acerca do poten-
cial do estabelecimento de significados emocionais para a otimização dos aspectos motores da
técnica pianística, além de sua importância para a elaboração interpretativa.
A partir da observação dos procedimentos metodológicos empregados acima, é pos-
sível reconhecer certos aspectos que têm permeado esta possibilidade investigativa, na área de
concentração/linha de pesquisa de nosso interesse. Pode-se notar em tais pesquisas, o
interesse pela incorporação da experiência prática de intérpretes, na construção da perfor-
mance musical, algo nem sempre contemplado pelas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas
pela subárea Performance Musical, conforme discutido nos capítulos 2 e 4 desta dissertação.
Outro aspecto a ser mencionado é a incorporação do conhecimento adquirido nas aulas
de instrumento. Em algumas pesquisas isso aparece como integrante do conjunto de conhe-
cimentos que subsidiou a tomada de decisões interpretativas (MEIRELLES NETO, 2012;
CARRARA, 2010). É possível notar nas pesquisas o diálogo com práticas investigativas
tradicionais, e também, certo distanciamento destes estudos por meio da valorização dos "sig-
nificados subjetivos" e da experiência prática dos performers-pesquisadores. Tal mobilização,
permite notar nas produções analisadas uma adesão a um enfoque "pluralista e subjetivo",
evidenciando uma aproximação do paradigma pós-moderno (FREIRE, 2010, p. 53), que pode
ser caracterizado pela valorização da subjetividade dos sujeitos envolvidos, no processo de
construção da interpretação musical.

5.9 A PESQUISA ARTÍSTICA EM PRODUÇÕES RECENTES RELACIONADAS À


PERFORMANCE PIANÍSTICA

Desde início da presente dissertação, pudemos identificar diferentes paradigmas na


abordagem de aspectos relacionados à performance musical. Em certos casos, verificou-se um
certo distanciamento dos pesquisadores quanto à incorporação de considerações sobre a per-
formance musical, ou seja, a ausência de uma menção explícita sobre a relação do estudo
desenvolvido com o tratamento de questões e problemáticas relacionadas à performance
musical.
No que se refere aos objetos de estudo, verificamos um aumento do interesse por
pesquisas que vão além da investigação baseada no estudo da partitura. Como exemplo,
identificamos pesquisas interessadas pela denominada "análise da performance", ou seja,
estudos voltados para o exame do produto da performance musical (gravações e registros
audiovisuais). Tal procedimento metodológico pôde ser reconhecido em produções perten-
218

centes a diferentes disciplinas e propostas investigativas, como a Análise Musical, a Musi-


cologia Empírica e a Psicologia da Performance. Em algumas pesquisas, vinculadas à Análise
Musical, pudemos notar a presença de diferentes objetos investigativos: o produto da per-
formance e a partitura, como referência aos estudos voltados à construção da interpretação
musical.
Outro aspecto, revelado pelo conjunto de pesquisas constituintes de nossa amos-
tragem, permite reconhecer a presença de possibilidades investigativas que se voltam para o
estudo do processo de construção da performance musical. A seguir, abordaremos estudos que
têm visto na Pesquisa Artística, uma possibilidade de compreensão do processo criativo em-
preendido pelo performer.
A fim de justificar a categorização proposta para os estudos selecionados, e favorecer
a discussão sobre os procedimentos metodológicos empregados, iniciaremos nossa exposição
a partir de breves considerações sobre esta modalidade de pesquisa. Não temos o propósito de
oferecer um estudo aprofundado sobre esta possibilidade investigativa, algo que escaparia ao
escopo da presente dissertação. Contudo, faremos algumas breves considerações a fim de
favorecer uma compreensão parcial sobre esta tendência emergente de pesquisa, assim como a
interpretação do conteúdo dessas pesquisas. Semelhantemente, aos tópicos anteriores, faremos
uma análise das declarações emitidas pelos autores a fim de elucidar certos aspectos que têm
permeado parte das pesquisas vinculadas à performance pianística.

5.9.1 Pesquisa Artística: breves considerações sobre seus propósitos

Em termos gerais, a Pesquisa Artística é definida como uma modalidade de pesquisa


cujo propósito consiste na investigação do processo artístico, empreendido pelo artista-
pesquisador (ZAMBONI, 1998). Pode-se compreendê-la como uma possibilidade inves-
tigativa que tem no próprio pesquisador seu objeto de investigação, juntamente, com o
processo de criação artística. Tal aspecto, permite notar o distanciamento da Pesquisa Ar-
tística do ideal de neutralidade (entre pesquisador e seu objeto de estudo) do Método Cien-
tífico. Trata-se de uma tendência recente de estudos, no campo da Performance Musical (DO-
MENICI, 2012; CORREIA, 2013).
Com base em discussões recentes, que têm permeado diferentes estudos relacio-
nados à produção acadêmica em Performance Musical, podemos admitir que tal possibilidade
investigativa tem emergido num contexto caracterizado por uma ampla discussão acerca do
potencial e dos limites dos paradigmas tradicionais para o desenvolvimento de estudos em
219

performance musical (DOMENICI, 2012, p. 179; COOK, 2013; COESSENS; CRISPIN;


DOUGLAS, 2009). Desse modo, faremos aqui uma breve ilustração sobre a interlocução da
Pesquisa Artística com problemáticas que vêm sendo discutidas por especialistas.
Dentre as críticas que têm ganho espaço nas recentes discussões, encontra-se a ideia
de uma relação hegemônica do teórico e dos achados musicológicos frente às decisões in-
terpretativas tomadas pelo performer (COOK, 2013; p. 42; DOMENICI, 2012). Trata-se de
uma questão que tem atraído a atenção de renomados teóricos nos últimos anos (TARUSKIN,
1995, p. 23; COOK, 1999, p. 18; 2001; LESTER, 2005, p. 197). Esta relação hegemônica tem
sido associada ao uso prescritivo das evidências de pesquisas, como forma de exercer o con-
trole sobre as decisões tomadas pelo performer (COOK, 2013, p. 26-27; DOMENICI, 2012,
p. 178). Diante desta limitação dos estudos tradicionais, alguns pesquisadores têm defendido a
Pesquisa Artística, como uma possibilidade de aproximação dos conhecimentos objetivos e
subjetivos produzidos pelos performers (COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, 2009, p. 29).
As limitações impostas pelos estudos tradicionais a uma visão mais abrangente
acerca dos fatores que exercem influência sobre as decisões interpretativas, aparece como
outra questão que tem atraído a discussão de especialistas. Mesmo reconhecendo os bene-
fícios e o potencial de tais estudos, diversos pesquisadores (COOK, 2001, 2013; DOMENICI,
2012, p. 176; RINK, 2004, p. 48; CORREIA, 2013, p. 8) têm questionado a visão fragmenta-
da de certos estudos sobre o processo interpretativo, o que teria por consequência um distan-
ciamento da realidade da performance musical. Para esses pesquisadores, certos paradigmas
têm se mostrado insuficientes para esclarecer a complexidade que permeia o processo de
construção de uma performance musical.
Uma terceira problemática que tem sido considerada por especialistas diz respeito às
possíveis limitações do discurso científico para uma abordagem do fenômeno artístico
(COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, 2009, p. 54; CORREIA, 2013, p. 8). Para alguns pes-
quisadores, a separação entre sujeito e objeto (característico do método científico) representa
uma limitação para uma compreensão deste fenômeno. Apesar de tais limitações, cabe des-
tacar a importância que tais pesquisadores têm conferido a uma visão complementar entre os
modos de conhecer científico e artístico, no desenvolvimento da Pesquisa Artística (COR-
REIA, 2013, p. 7; COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, 2009, p. 22). Tal aspecto levanta a
possibilidade de incorporação dos estudos formais e possibilidades investigativas tradicionais,
como subsídio ao desenvolvimento da pesquisa artística.
Diante das questões relacionadas à natureza do fenômeno artístico, é possível des-
tacar um aspecto importante acerca da chamada Pesquisa Artística. Sabendo-se da singu-
220

laridade de cada performance, e do processo interpretativo empreendido pelo performer, al-


guns pesquisadores têm definido a Pesquisa Artística como um domínio heterogêneo de
estudos. Assim como cada interpretação é única, haverá uma variedade de modelos existentes,
em Pesquisa Artística (COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, 2009, p. 47; CORREIA, 2013, p.
9-17).
Outro aspecto relacionado à natureza da interpretação musical, permitiria notar uma
possibilidade metodológica que poderia se fazer presente nesta modalidade investigativa:
trata-se da incorporação dos métodos mistos (COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, p. 43),
algo que remete à possibilidade de integração entre as abordagens quantitativas e qualitativas.
O interesse da Pesquisa Artística pela articulação e abordagem de diferentes aspectos
(físico, afetivo, cognitivo e social), envolvidos no processo criativo do intérprete (DOMENI-
CI, 2012, p. 176; COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, 2009, p. 44), permite identificar uma
segunda característica em tal modalidade de pesquisa. Coessens, Crispin e Douglas observam:
"o método na pesquisa artística assumirá, necessariamente, formas híbridas, mas os materiais
de tais pesquisas refletirão diferentes origens e se vincularão a diferentes aspectos da con-
154
textualização" (COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, 2009, p. 43-44, tradução nossa). Tal
afirmação reforça a ideia quanto à possibilidade de incorporação pela Pesquisa Artística de
diferentes tipos e formas de conhecimento em função da interpretação musical, e do contexto
no qual o pesquisador-performer encontra-se inserido.
Com base nas considerações apresentadas, prosseguiremos com a exposição das
pesquisas selecionadas. Trata-se de produções que têm se aproximado de alguns dos propósi-
tos e possibilidades metodológicas aqui descritos. Fundamentados em estudiosos que têm se
dedicado à elaboração da denominada Pesquisa Artística faremos a análise do conteúdo das
pesquisas a partir do exame das unidades de registro e contexto.

5.9.2 Características gerais e procedimentos metodológicos identificados

Dentre as produções caracterizadas por uma aproximação com a denominada Pes-


quisa Artística, foram selecionadas as seguintes produções:

154
"Method in artistic research will necessarily take hybrid forms, but so will the material of such research,
reflecting their different origins and linking this to the different aspects of situatedness" (COESSENS; CRISPIN;
DOUGLAS, 2009, p. 43-44)
221

Título Autor Universidade/Orientador Ano Nível

1 Valsas Nobres e Sentimentais de Ary Yuri Pingo Prof. Dr. Ney Fialkow 2011 Mestrado
Maurice Ravel: caminhos de um
intérprete

As inter-relações entre os gestos


2 musicais e os gestos corporais na Irene Porzio Profa. Dra. Cristina 2012 Mestrado
construção da interpretação da peça Zavala Capparelli Gerling
para piano solo "Sul Re" de Héctor
Tosar

3 Opções Interpretativa nas cartas Taiur Agnoletto Prof. Dr. Ney Fialkow 2012 Mestrado
celestes I de Almeida Prado: a Fontana
flexibilidade na realização da
notação
Quadro 33: Exemplos de pesquisas vinculadas à modalidade de Pesquisa Artística

A partir de uma leitura dos títulos é possível reconhecer a presença de expressões


sugestivas que remetem ao interesse dos autores pela abordagem do processo de construção
de uma interpretação musical. São exemplos as expressões: "caminhos de um intérprete"
(PINGO, 2011) e "construção da interpretação" (ZAVALA, 2012). Outro aspecto revelado
pelos títulos diz respeito ao tipo de repertório que tem atraído a atenção dos pesquisadores.
Desse modo, é possível reconhecer o interesse pelo desenvolvimento da Pesquisa Artística a
partir do estudo do repertório de compositores modernos (PINGO, 2011) e contemporâneos
(ZAVALA, 2012; FONTANA, 2012). A fim de facilitar a discussão acerca dos procedi-
mentos metodológicos (expressões em negrito) que têm permeado parte das pesquisas vin-
culadas à modalidade de Pesquisa Artística, foram selecionadas as seguintes unidades de
registro:

Unidades de registro Universidade,


Autor e Ano
"Este memorial disserta sobre meu processo de leitura, estudo e performance das
Valsas Nobres e Sentimentais" (Resumo).
"Os sujeitos e objetos de estudos foram não só a obra, mas também o intérprete"
(PINGO, 2011, p. 61).
"Eu era minha ferramenta e através dos meus estudos e das minhas percepções, ao
longo de todo o processo, utilizava a mim mesmo como objeto de pesquisa"
(PINGO, 2011, p. 61).
1 "Neste trabalho abordamos com constância essas relações, muitas vezes as utili- UFRGS, PINGO,
zando para justificar ideias e escolhas feitas para a interpretação da obra. Essas 2011
escolhas partiram de todo este conjunto de experiências e conhecimentos musicais e
extra musicais" (PINGO, 2011, p. 6).
[...] registros constantes e sistemáticos de meu estudo, reflexões e pesquisas a ele
relacionadas (PINGO, 2011, p. 6).
[...] aulas ministradas pelo meu orientador artístico de mestrado [...] que serviram
como base para minhas escolhas interpretativas das Valsas Nobres e Sentimentais
[...] (PINGO, 2011, p. 6).
222

"posso afirmar que a matéria prima deste trabalho foi este diário de bordo" (PIN-
GO, 2011, p. 6).
"optei por registrar em áudio e vídeo as aulas com meu orientador, meus momentos
de estudo e minhas performances" (PINGO, 2011, p. 7).
"Esta investigação foi feita inteiramente através de artigos, livros, dissertações,
teses e gravações, ou seja, um arsenal de materiais que me ofereciam infindáveis
pontos de vista sobre as Valses" (PINGO, 2011, p. 63).
"posso dizer que neste trabalho estou de fato apresentando um relato de como fui
criando um significado expressivo desde as primeiras leituras, primeiras apresen-
tações e recitais" (ZAVALA, 2012, p. 37).
"a pesquisa teve desde o seu começo, o intuito de compartilhar análises que trou-
xessem a experiência do intérprete e a forma pela qual realiza as suas escolhas,
procurando ir além de uma análise musical convencional, construindo uma análise
da própria prática de tocar através de uma reflexão do fazer musical que in-
cluísse o corpo" (ZAVALA, 2012, p. 100).
"A intenção desta pesquisa foi analisar, partindo da minha própria experiência a
2 forma pela qual o corpo participa na interpretação. Procurei reproduzir a minha UFRGS, ZAVALA,
experiência real, utilizando filmagens, gravações e as minhas observações du- 2012
rante o estudo, para discutir e refletir, sem o afã de chegar a uma conclusão abso-
luta, aplicável para outros intérpretes" (ZAVALA, 2012, p. 100).
"Gravações das sessões de estudo no Piano Vertical Yamaha Disklavier" (ZA-
VALA, 2012, p. 4).
[...] anotações das observações [...] (ZAVALA, 2012, p. 4).
"Análise dos dados e relações com as propostas de Merleau-Ponty, Alexandra
Pierce e Robert Hatten como as principais referências" (ZAVALA, 2012, p. 4).
[...] análise dos gestos musicais e as suas inter-relações para construir o sentido
da obra. Essa análise foi realizada através do contato com o instrumento, enten-
dendo os gestos musicais e corporais como interligados (ZAVALA, 2012, p. 4).
"Aqui o pesquisador é o próprio intérprete que investiga o seu processo" (FONTA-
NA, 2012, p. 9).
[...] esta pesquisa se justifica por mostrar como o processo de construção da
performance acontece, apontando momentos de inexatidão na partitura [...] e
indicando caminhos interpretativos [...] (FONTANA, 2012, p. 9).
[...] relato das dúvidas interpretativas decorrentes do processo de construção da
performance e das decisões de realização, investigando os possíveis fatores que as
determinam (FONTANA, 2012, p. 10).
"busca de gravações de tais obras, a fim de verificar como procedem os intérpre- UFRGS,
3 tes em relação a questões de realização" (FONTANA, 2012, p. 11). FONTANA, 2012
"Adoto como referencial teórico-metodológico fundamental a partitura das Cartas
Celestes I" (FONTANA, 2012, p. 11).
[...] execuções em aula de instrumento, discussão com o Professor [...] para a
identificação dos segmentos que geram dúvidas e proporcionam diferentes manei-
ras de interpretação (FONTANA, 2012, p. 11).
"busca nos demais volumes das Cartas Celestes e Flashes Sonoros de Jerusalém,
por passagens semelhantes às de Cartas Celestes I sobre as quais de referem às
questões abordadas neste trabalho" (FONTANA, 2012, p. 11).
"aula, entrevista e diálogo com intérpretes que gravaram a obra e tiveram co-
nexão mais direta com o compositor" (FONTANA, 2012, p. 11).
[...] informações relativas à biografia e a obra do compositor [...] (2012, p. 13).
"Aspectos morfológicos" (FONTANA, 2012, p. 19).
"As decisões interpretativas foram registradas juntamente com algumas anota-
ções sobre o processo de aprendizado" (FONTANA, 2012, p. 27).
Quadro 34: Unidades de registro selecionadas de pesquisas vinculadas à modalidade de Pesquisa Artística

Uma leitura inicial das unidades de registro, permite identificar o vínculo das
produções com a categorização proposta, sob diferentes aspectos. O primeiro, diz respeito ao
interesse dos pesquisadores pela investigação do processo criativo, empreendido pelo perfor-
223

mer. Tal interesse é indicado pelas expressões: "processo de leitura, estudo e performance"
(PINGO, 2011); "relato de como fui criando um significado expressivo desde as primeiras lei-
turas" (ZAVALA, 2012) e "mostrar como o processo de construção da performance acontece"
(FONTANA, 2012). Um segundo aspecto que permite relacionar tais pesquisas à modalidade
de Pesquisa Artística, trata-se do "entrelaçamento entre sujeito e objeto" de pesquisa (DOME-
NICI, 2012, p. 176), ou seja, o distanciamento do ideal de neutralidade entre pesquisador e
seu objeto de estudo. Desse modo, a ausência de neutralidade (ou distanciamento) entre pes-
quisador e objeto de estudo é indicada pelas expressões: "utilizava a mim mesmo como objeto
de pesquisa" (PINGO, 2011, p. 61), "análise da própria prática de tocar" (ZAVALA, 2012,
p.100) e "intérprete que investiga o seu processo" (FONTANA, 2012, p. 9). A presença de
diferentes possibilidades de Pesquisa Artística e a combinação entre diferentes métodos, no
interior de cada pesquisa, também representam características reveladas pelas unidades de
registro como veremos a seguir.
A realização de pesquisa artística baseada no estudo de obra de Ravel apresenta-se
como proposta da dissertação Valsas Nobres e Sentimentais de Maurice Ravel: caminhos de
um intérprete, de Pingo (2011), desenvolvida na UFRGS. Conforme indicado pelas unidades
de registro, tal produção teve como objetivo a elaboração de um "memorial" sobre o processo
de construção da performance, empreendida pelo autor da pesquisa. Em sua abordagem, o
autor afirma a mobilização de "conhecimentos musicais e extra-musicais", assim como a
integração do "conjunto de experiências". No que se refere à incorporação de tais experiên-
cias, é possível notar o interesse de seu autor pela exposição das interações entre pesquisador
e orientador, nas aulas de instrumento. Assim como na pesquisa de Meirelles Netto (2012),
tais interações têm sido admitidas, no conteúdo das pesquisas. No caso da pesquisa de Pingo
(2011), estas interações aparecem como a "base" para certas "escolhas interpretativas das
Valsas Nobres e Sentimentais" (2011, p. 6). Seu interesse pelo registro do processo é indicado
por diferentes técnicas de coleta de dados, por exemplo: o "diário de bordo", o registro audio-
visual das aulas de instrumento, e o registro de seus momentos de preparação para a per-
formance musical.
A elaboração de pesquisa artística com base no estudo de obra para piano, de Héctor
Tosar, apresenta-se como proposta da dissertação intitulada As inter-relações entre os gestos
musicais e os gestos corporais na construção da interpretação da peça para piano solo "Sul
Re" de Héctor Tosar, de Zavala (2012), desenvolvida na UFRGS. Tal pesquisa teve como um
de seus propósitos a apresentação de uma "reflexão do fazer musical que incluísse o corpo"
(ZAVALA, 2012, p. 100). Desse modo, é possível notar o interesse da autora pelos aspectos
224

interpretativos e mecânicos, relacionados à obra em estudo. A fim de esclarecer aspectos rela-


cionados à interpretação do texto musical, Zavala (2012) emprega a "análise dos gestos
musicais", fundamentada na proposta de Robert Hatten155. Entretanto, o interesse da autora
não se limita a uma interpretação da estrutura musical, mas volta-se para o estudo do em-
prego da linguagem corporal. Com base em registros audiovisuais das sessões de estudos, a
autora apresenta relato sobre seu processo de construção da performance musical. Sua
observação, no entanto, foca-se no emprego de movimentos corporais. Desse modo, sua nar-
rativa contempla comentários sobre os tipos de ataque empregados, atitudes corporais nas
pausas, direcionamento do gesto corporal em momentos específicos (pontos culminantes),
emprego da pedalização e relação entre os gestos empregados e a obtenção de efeitos de res-
sonância (ZAVALA, 2012, p. 49-97). Com base em Correia (2013, p. 10) podemos reco-
nhecer na pesquisa de Zavala (2012) a busca por uma "compreensão em ação", ou seja, a in-
corporação de conhecimentos baseados na experiência físico-corporal do pesquisador-artista.
Outro exemplo de pesquisa artística aparece na dissertação intitulada Opções Inter-
pretativas nas Cartas Celestes I de Almeida Prado: a flexibilidade na realização da notação,
de Fontana (2012), desenvolvida na UFRGS. Semelhantemente às pesquisas anteriores, tem
como proposta o oferecimento de um memorial acerca do "processo de construção da perfor-
mance". Pode-se notar em seu conteúdo, a menção explícita aos problemas notacionais,
identificados na obra em estudo. Diante das limitações da notação musical no que se refere à
apresentação das indicações para a sua execução, Fontana (2012) oferece ao leitor o relato das
"dúvidas interpretativas", geradas em seu processo de estudo. Pode-se notar o diálogo de sua
pesquisa com estudos tradicionais a partir do emprego de "informações relativas à biografia e
a obra do compositor", abordagem dos "aspectos morfológicos" da obra a ser interpretada, do
estudo comparativo entre o objeto de estudo e outras obras do compositor e da análise de
gravações. Contudo, podemos identificar nesta pesquisa o vínculo com procedimentos em-
pregados pela Pesquisa Artística, tais como o uso de "anotações sobre o processo de apren-
dizado" e relato das interações com intérpretes especialistas, na obra a ser executada. Desse
modo, a experiência adquirida nas aulas de instrumento com intérpretes aparece como uma
das fontes empregadas pelo autor, no tratamento de questões interpretativas. Tal aspecto se
aproxima de proposta da Pesquisa Artística, interessada pelas interações do pesquisador-

155
Sua análise dos gestos musicais, fundamenta-se na categorização proposta por Robert Hatten, conforme seu
livro Interpreting Music Gestures, Topics and Tropes: Mozart, Beethoven, Schubert (2004).
225

intérprete, com possíveis colaboradores (músicos e compositores) no processo de construção


da performance musical (COESSENS; CRISPIN; DOUGLAS, 2009, p. 43).
Com base nos estudos que nos serviram de referência, incluindo as produções acima
discutidas, pudemos reconhecer certas características que têm permeado parte da produção
vinculada à performance pianística. Neste sentido, consideramos a Pesquisa Artística uma
modalidade que tem se inserido num contexto caracterizado pela discussão acerca da relevân-
cia de paradigmas de pesquisa em investigações relacionadas à performance musical. É pos-
sível compreender tal modalidade como uma proposta investigativa que tem considerado o
pesquisador-intérprete na sua singularidade, enquanto artista. Isso permite identificar na
Pesquisa Artística uma preocupação quanto ao oferecimento de propostas que tragam benefí-
cios ao processo criativo (empreendido pelo pesquisador-artista) e maior compreensão de
aspectos vinculados a este processo.
Os exemplos de pesquisas selecionadas permite relacioná-las ao paradigma pós-
moderno dos estudos em performance musical, que busca a valorização da subjetividade dos
pesquisadores-artistas, bem como um enfoque pluralista das pesquisas (FREIRE, 2010, p. 53).
Tal valorização encontra-se no âmago desta modalidade investigativa, na qual o pesquisador
assume-se como próprio objeto de investigação, juntamente, com o processo de construção da
performance musical.
Contudo, a aproximação que as pesquisas analisadas mantiveram com algumas das
práticas investigativas tradicionais, permitiu-nos notar a possibilidade de combinação entre o
discurso científico e artístico. Sabendo-se que muitos dos conhecimentos envolvidos no
processo de construção artística escapam do discurso verbal, pode-se identificar nestas
produções, uma tentativa de reconstrução parcial do processo de elaboração de uma per-
formance musical. Entretanto, ao partir da visão dos sujeitos envolvidos no processo, tais
pesquisas mostram-se permeadas pela subjetividade e idiossincrasias dos envolvidos. Com
base em Correia (2013, p. 16) é possível reconhecer no conjunto de pesquisas analisadas uma
espécie de "fratura epistemológica", ou seja, a mudança de posturas preconizadas por certos
paradigmas tradicionais, tais como: a ausência de neutralidade entre pesquisador e objeto, a
abertura às diferentes interações do pesquisador-artista e a organização metodológica da
pesquisa (hibridismo). Com base na análise do conteúdo de tais pesquisas, podemos inferir
acerca da integração que vêm ocorrendo entre propostas vinculadas aos paradigmas pós-
moderno e tradicional. Isso permite reconhecer a interlocução que a Pesquisa Artística vem
mantendo com práticas investigativas tradicionais, bem como nos permite notar uma
ampliação dos objetos de estudo: interesse além do texto, direcionado ao estudo do processo,
226

em função das necessidades de intérpretes e de seus interesses por uma contribuição signi-
ficativa à elaboração de uma performance musical. Tais aspectos, pouco abordados nos es-
tudos tradicionais, têm sido considerados por pesquisas artísticas vinculadas à performance
musical. Tais pesquisas, por sua vez, têm emergido num contexto acadêmico caracterizado
por uma ampla discussão acerca da função e contribuição significativa da pesquisa acadêmica
para o tratamento de problemáticas enfrentadas por performers-pesquisadores e músicos ins-
trumentistas. Um contexto caracterizado pelo questionamento acerca da significância de di-
ferentes propostas investigativas para a subárea de Performance Musical.
227

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa sobre aspectos da Performance Musical representa uma prática que tem
atraído pesquisadores, desde o início dos primeiros Mestrados, em Música, no Brasil. Contu-
do, este campo investigativo está ainda em consolidação em diversos programas de Pós-
Graduação, em Música. Diante da necessidade de caracterização metodológica da subárea
Performance Musical - uma preocupação que tem se evidenciado em diferentes estados da
arte e encontros científicos - a presente dissertação teve como propósito oferecer uma
contribuição a esta subárea a partir da investigação sobre aspectos e dimensões que têm
permeado parte das pesquisas em performance pianística. Para atingir tal propósito, optamos
pela realização de uma pesquisa Estado do Conhecimento, considerada um meio significativo
para a identificação de perspectivas de pesquisa, reconhecimento de temas, métodos, pro-
cedimentos metodológicos e referenciais teóricos. A observação do conteúdo das pesquisas
permitiu-nos reconhecer a relevância de algumas perspectivas de pesquisa relacionadas a este
campo investigativo, bem como identificar certas problemáticas e questões em pauta que têm
atraído a atenção de pesquisadores da Performance Musical.
A interação com o conteúdo das pesquisas, permitiu-nos conhecer um pouco da
diversidade e complexidade que caracteriza o campo investigativo da Performance Musical.
Diante da natureza multifacetada da performance musical, caracterizada pela integração e in-
teração entre diferentes habilidades musicais (RAY, 2005, p. 41) pudemos reconhecer na
Performance Musical um campo investigativo rico, abrangente e complexo, que tem atraído
pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. A presente dissertação teve como seu ob-
jeto de estudo pesquisas, desenvolvidas em sua maioria por pesquisadores-performers, inte-
ressados pela produção de conhecimentos voltados à otimização de suas próprias performan-
ces. Tais pesquisas, por sua vez, têm recorrido a métodos e referenciais téoricos, oriundos de
diferentes subáreas musicais e áreas do conhecimento, conforme ilustrado pelos diferentes
capítulos que integraram esta dissertação. Tal aspecto remonta à ideia da Performance Mu-
sical, como uma área de estudos pluridisciplinar e que tem visto na interdisciplinaridade, um
meio indispensável para o tratamento de problemáticas relacionadas à construção da perfor-
mance musical.
Dentre as subáreas que têm emprestado seus procedimentos de abordagem aos estu-
dos em performance encontra-se a Musicologia Histórica. No segundo capítulo, tratamos so-
bre a interface entre a Performance Pianística e a Musicologia Histórica. Com base em dife-
rentes estudos (KERR; CARVALHO; RAY, 2006; SISTE, 2009) pudemos reconhecer a
228

presença desta interface, desde as primeiras produções em práticas interpretativas, oriundas


dos primeiros Mestrados, em Música, no Brasil. A partir da observação do conteúdo das
pesquisas verificamos a incorporação de práticas investigativas da Musicologia Histórica.
Desse modo, identificamos o envolvimento de pesquisadores-performers com a produção de
estudos sobre estilo musical, gênero musical, elaboração de catálogo, estudos biográficos e
pesquisas voltadas à elaboração de diferentes tipos de edição musical. A partir de pesquisa
bibliográfica ilustramos certas dificuldades relacionadas às práticas musicológicas citadas.
Revelou-se também a ausência de uma menção explícita à relação entre a pesquisa histórica e
o tratamento de questões sobre a performance musical. Tal situação reforça a crítica de Cook
(2013, p. 23) em relação ao distanciamento de certos estudos quanto à incorporação de con-
siderações sobre a performance musical e a realidade de sua construção.
A adesão de pesquisadores a métodos de outras áreas do conhecimento pôde ser
evidenciada nos estudos vinculados à interface entre a Performance Pianística e a Psicologia
da Performance. A fim de contextualizar a apresentação das pesquisas e ilustrar o aspecto
interdisciplinar que tem permeado certos estudos em performance pianística, optamos pela
realização de uma pesquisa bibliográfica sobre os propósitos e métodos relacionados a esta
disciplina. Deste modo, destacamos alguns dos propósitos que têm atraído pesquisadores para
o desenvolvimento de pesquisas em Psicologia da Performance, a saber: a elaboração de
teorias, a produção de pesquisas voltadas à otimização da performance de um grupo em es-
tudo (interesse didático) e a elaboração de pesquisas por performers-pesquisadores, visando à
própria otimização de habilidades musicais. A observação do conteúdo das pesquisas per-
mitiu-nos identificar certos temas que têm permeado a produção de estudos nessa interface,
tais como a memorização musical, a leitura à primeira-vista, o planejamento da execução
instrumental e a comunicação emocional e estrutural. No que se refere ao aspecto inter-
disciplinar de tais pesquisas, pudemos reconhecer o interesse de pesquisadores pelo desen-
volvimento de Pesquisas Observacionais e com Delineamento Experimental. Contudo,
diferentemente de certos estudos relacionados à Psicologia da Performance, evidenciamos o
emprego da auto-observação em estudos aplicativos que vêm sendo desenvolvidos na linha de
Práticas Interpretativas. Esse aspecto permite notar a ausência de neutralidade, característica
do método científico e que pode suscitar questionamentos quanto à sua validade científica. O
fato da Psicologia da Performance não representar uma disciplina obrigatória, nas atuais
grades curriculares dos cursos superiores de formação de músicos-performers (KAMINSKI;
RAY, 2012), indica os enormes desafios colocados ao músico-pesquisador, interessado pelo
desenvolvimento de pesquisas relacionadas a esta disciplina. Com base em Barros (2008, p.
229

240), apresentamos a importância da formação de grupos interdisciplinares, assim como a


promoção da interação entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento para o
desenvolvimento de estudos psicológicos sobre as diferentes habilidades musicais. Acredi-
tamos que uma maior atenção dada à disciplina Psicologia da Performance nos cursos de
Graduação e Pós-Graduação, em Música, pode ter reflexos no crescimento quantitativo e
qualitativo nas produções vinculadas à disciplina.
Outro importante domínio relacionado aos estudos em Performance Musical, tam-
bém mereceu um capítulo à parte nesta dissertação. Diante do crescimento quantitativo e qua-
litativo que tem caracterizado os estudos vinculados à disciplina Análise Musical (BORÉM;
RAY, 2012; KERR; CARVALHO; RAY, 2006), optamos pela organização de um capítulo,
exclusivamente, dedicado à dimensão analítica dos estudos em performance musical. Com
base nos estados da arte acima citados, nosso foco voltou-se à identificação das justificativas
das pesquisas para o emprego dos procedimentos analíticos, bem como, para a identificação
dos diferentes paradigmas que têm permeado parte das pesquisas desenvolvidas pelas linhas
de Práticas Interpretativas e Performance Musical. Desse modo, reconhecemos na interface
entre a Performance Pianística e a Análise Musical, um importante subsídio à interpretação
musical. A observação dos conteúdos das pesquisas, permitiu-nos reconhecer a combinação
entre diferentes métodos analíticos, como uma possibilidade de oferecer ao pesquisador-
performer uma visão mais abrangente do texto musical, bem como uma fundamentação para a
abordagem de diferentes significados do texto musical. Trata-se de um procedimento, bastante
comum entre as pesquisas selecionadas, conforme revelado pelas unidades de registro. Além
dos paradigmas analíticos relacionados à disciplina Análise Musical, pudemos reconhecer
outros tipos, interessados pela abordagem da relação entre a performance e a análise musical.
A partir de tais unidades de registro ilustramos o vínculo de pesquisas com o Paradigma
Estruturalista e outras mais próximas de uma corrente "mais flexível". A observação dos
referenciais teóricos favoreceu a identificação de diferentes posturas das pesquisas, no que se
refere à valorização de métodos tradicionais relacionados à disciplina Análise Musical. Neste
sentido, a ausência de uma menção da teoria adotada, como fundamentação ao procedimento
analítico, e a combinação de métodos tradicionais (numa mesma pesquisa) representam dife-
rentes posturas que têm co-existido em pesquisas, vinculadas às linhas de Práticas Inter-
pretativas e Performance Musical.
No que se refere a certas problemáticas, relacionadas à estruturação das pesquisas,
encontramos uma situação similar àquela identificada em outros estudos (KERR; CAR-
VALHO; RAY, 2006, p. 33), a saber: a ausência de uma menção explícita da problemática de
230

pesquisa, no conteúdo de certos trabalhos. No que diz respeito ao sentido da análise musical
em produções, vinculadas à performance musical, foi possível reconhecer em diversos
trabalhos a ausência de uma menção explícita sobre as contribuições do estudo analítico para
o tratamento de questões sobre a performance musical. Tal aspecto reforça as críticas que vêm
sendo realizadas, tanto por pesquisadores do estado da arte (BORÉM; RAY, 2012; CORRÊA,
2006) quanto por outros teóricos (DUNSBY, 1989; COOK, 2013), que têm reivindicado uma
maior aproximação do conteúdo das pesquisas às considerações sobre a performance musical,
ou seja, uma explicitação dos benefícios do estudo para o tratamento de questões relacionadas
à performance musical, e consequentemente, para o seu produto. Algumas exceções foram
abordadas, brevemente, no último item do capítulo 4, a partir da adesão de pesquisadores a
métodos analíticos, voltados a problemáticas ou questões de performance.
Além da interlocução de pesquisas em Práticas Interpretativas/Performance com
diferentes subáreas musicais, perspectivas relacionadas a tais linhas, têm mostrado uma
adesão a outras tendências de pesquisas, emergentes no Brasil. Pudemos reconhecer, no
último capítulo, o vínculo de pesquisas com propostas relacionadas à Musicologia Empírica e
à Pesquisa Artística. Tais perspectivas recentes têm permeado parte da produção em práticas
interpretativas que se distanciam dos paradigmas tradicionais, da pesquisa em performance.
Nas dissertações vinculadas a tais modalidades de pesquisa, pode ser encontrado um interesse
que não se restringe ao estudo histórico e analítico do texto musical. Em certas pesquisas é
possível reconhecer o interesse pelo estudo do processo e produto da performance musical.
Embora, o estudo do produto, também tenha permeado certas propostas investi-
gativas tradicionais (tais como os exemplos de pesquisas em Práticas Interpretativas, mencio-
nados no capítulo 2), a Musicologia Empírica tem revelado a possibilidade e a riqueza do
trabalho a partir do envolvimento com uma extensa quantidade de dados, captados por meio
de recursos tecnológicos (CLARKE, 2004). A atenção dada ao estudo de aspectos que inte-
gram o processo de construção da performance musical revela-se em pesquisas que empregam
diferentes procedimentos de coletas de dados, tais como gravações, recursos audiovisuais e de
"diário de bordo" (empregado para o registro das etapas de construção da performance musi-
cal). Tais recursos têm servido aos propósitos da Pesquisa Artística, que por sua vez, tem se
caracterizado por uma diversidade de métodos. Assim, pudemos reconhecer o vínculo desta
modalidade de pesquisa com o paradigma pós-moderno dos estudos musicais, que admite
reconhecer o potencial das abordagens distanciadas do ideal de neutralidade entre pesquisador
e seu objeto de estudo.
231

Outro aspecto tratado no último capítulo, refere-se a certas perspectivas de pesquisa


em performance pianística e que dizem respeito às especificidades e diferentes possibi-
lidades de performance. Se nos capítulos iniciais, pudemos reconhecer perspectivas de estu-
do relacionadas às diferentes disciplinas musicais e categorias propostas por Borém e Ray
(2012), neste capítulo, abordamos categorias decorrentes de nossa interação com o material
analisado. Desse modo, tratamos de pesquisas que têm se voltado ao estudo dos aspectos ana-
tômico-fisiológicos da técnica pianística, um tema que tem permeado produções recentes que
baseiam suas pesquisas em investigações de métodos específicos, voltados à otimização dos
aspectos motores relacionados à técnica pianística. A observação do conteúdo de pesquisas
selecionadas, permitiu-nos identificar diferentes subcategorias de estudos em técnica pia-
nística, tais como: os estudos aplicativos, a análise crítica de tratados sobre técnica pianística
e a avaliação crítica do ensino da técnica pianística, na atualidade. A observação da amos-
tragem selecionada, permitiu-nos também identificar pesquisas que têm se voltado ao tra-
tamento de problemáticas relacionadas à performance da Música Eletroacústica Mista e à
performance pianística em conjunto. No que se refere à pesquisa sobre a performance pianís-
tica da Música Eletroacústica Mista, as declarações dos autores, confrontadas com estudos de
especialistas (DING, 2006, p. 255; LOUREIRO; SILVA, 2005, p. 2), permitiu-nos considerá-
la como uma tendência emergente de pesquisa. A prática pianística em conjunto, também re-
presenta outro tema que tem atraído pesquisadores das práticas interpretativas. Com base na
análise do conteúdo das pesquisas, pudemos reconhecer algumas subcategorias de estudo
relacionadas ao tema, tais como as abordagens interpretativas da canção de câmara e especi-
ficidades da performance pianística em conjunto (atuação do pianista como colaborador).
Novamente, o confronto entre o conteúdo das pesquisas com a opinião de especialistas
(MONTENEGRO, 2012, p. 417) na prática pianística em conjunto, permitiu-nos reconhecer
certos aspectos relacionados ao contexto em que tais pesquisas têm emergido, caracterizado
pela baixa recorrência de cursos específicos voltados à formação do pianista colaborador. No
que se refere a outras tendências emergentes de pesquisas, pudemos reconhecer o interesse
pela elaboração de estudos conceituais, pesquisas vinculadas à filosofia da performance e
estudos pertencentes à interface entre a performance pianística e a composição musical (com
foco na atividade de transcrição musical).
Apesar de um certo amadurecimento evidenciado no sub-campo investigativo da
performance pianística, o qual pode ser reconhecido pela diversidade de temas, métodos e
expansão de seus objetos de estudo, não podemos deixar de mencionar certas problemáticas e
dificuldades, enfrentadas pelos pesquisadores. No que se refere à menção clara do problema
232

de pesquisa, esta aparece como uma dificuldade de muitas produções que vêm sendo desen-
volvidas nas linhas de pesquisa de Práticas Interpretativas e Performance Musical. Com
efeito, a leitura de nossa amostragem permite observar a falta de clareza quanto à questão de
pesquisa. Deficiências metodológicas, tais como a falta de articulação entre os capítulos e os
objetivos da pesquisa, também tem caracterizado certas produções desenvolvidas na área. Esta
falta de articulação, pode ser reconhecida em pesquisas que continuam adotando modelos e
fórmulas ultrapassadas (GROSMAN, 2013). Longas considerações históricas (geralmente,
sobre a biografia do compositor ou contexto histórico, no qual uma composição encontra-se
inserida) e analíticas são apresentadas em algumas pesquisas, sem que haja o estabelecimento
de uma relação mais clara entre o estudo analítico e histórico, e as problemáticas relacionadas
à performance musical. Como determinado estudo pôde colaborar para a construção de uma
performance em particular, ainda aparece, como uma questão não respondida por diversos au-
tores, e que poderia contribuir à compreensão sobre a significância de determinadas propostas
de estudo para a performance musical.
Uma questão que permanecerá em aberto, nesta dissertação, diz respeito à adaptação
de métodos que tem caracterizado certas perspectivas de pesquisa de caráter interdisciplinar.
Se a elaboração de Pesquisas Observacionais, caracterizadas pela apresentação de inferências
sobre a performance (realizada pelos próprios autores das pesquisas) têm sido vista como algo
problemático por certos especialistas (já que, para estes tais pesquisas não incorporam as
evidências que demostrem os benefícios do estudo para a performance musical), tais estudos
têm ocupado um papel de destaque em perspectivas que vêem na Psicologia da Performance,
um subsídio à otimização de diferentes habilidades musicais.
Em decorrência das características da amostragem selecionada, outras questões rela-
cionadas à prática investigativa de caráter interdisciplinar não foram contempladas na pre-
sente dissertação. Contudo, a interação com estudos interdisciplinares (relacionados à per-
formance musical e diferentes estados da arte), permitiu-nos admitir o envolvimento de
pesquisadores das práticas interpretativas com procedimentos metodológicos nem sempre
contemplados nos cursos de formação de músicos-performers. Até que ponto um pesquisador-
performer encontra-se apto à elaboração de diferentes tipos de edição musical, transcrição
musical, estudo filosófico e estudos psicológicos (incluindo o desenvolvimento de estudos
experimentais e com delineamento experimental) representam questões que devem ser
consideradas pelos interessados por tais modalidades de pesquisa. Contudo, essa observação
não deve ser vista como desmotivadora ao envolvimento com determinadas propostas que se
distanciam da formação, geralmente oferecida, nos cursos de graduação e pós-graduação em
233

Música. Antes, tal observação indica a complexidade e o aspecto interdisciplinar que carac-
terizam o campo investigativo da Performance Musical, os quais exigem, cada vez mais, uma
formação abrangente dos pesquisadores da área. Ao mesmo tempo, indicam o potencial das
abordagens interdisciplinares para o crescimento quantitativo e qualitativo das pesquisas,
visando a resolução de problemas relativos às diferentes habilidades musicais que integram a
natureza multifacetada da performance musical.
234
235

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256
257

APÊNDICES
258
259

APÊNDICE A - ENTREVISTA E QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS POR ORIEN-


TADORES DE PESQUISAS NAS ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO/ LINHAS DE PES-
QUISA EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS E PERFORMANCE MUSICAL

APÊNDICE A 1- ENTREVISTA COM SÔNIA RAY (UFG, UNESP)

Local: Instituto de Artes da UNESP. Data: 09/11/2013

1) Como vê o desenvolvimento das pesquisas em Psicologia da Performance, no


Brasil, no nível da Pós-Graduação?
SR - Eu vejo com muito otimismo. Na verdade, nos últimos 8 anos, depois da
consolidação da Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais, tem ocorrido regular-
mente o congresso da área de Cognição e Música, o qual tem reunido trabalhos importantes
sobre todos os processos, pelo menos do lado da Psicologia Cognitiva associada à Música.
Alguns trabalhos relevantes sobre performance têm sido divulgados neste congresso. Esse
congresso tem estimulado a ampliação de trabalhos na área de Performance, na própria
ANPPOM e outros seminários mais locais. Então, eu acredito que é com otimismo porque a
gente está em franca expansão desse assunto, principalmente, na Pós-Graduação, que é onde
está o maior reflexo das pesquisas apresentadas nos congressos. Grande parte vem dos alunos
e professores ligados aos Mestrados e Doutorados.

2) Na sua opinião, quais problemas relacionados à Psicologia da Performance tem


sido pouco explorados na produção de teses e dissertações, no Brasil?
SR- Olha, eu não posso falar muito nesse quadro porque estou fazendo essa pesquisa,
mas ainda, não está pronta. Eu e o Fausto Borém estamos levantando a incidência de trabalhos
de Performance, nos últimos dez anos, nas dissertações, no Brasil156. Eu posso falar da parte
que está concluída, que são as pesquisas publicadas em anais de congressos e periódicos e que
são, em grande parte, fruto do trabalho da Pós-Graduação. Ali a gente encontra um número
crescente (não super elevado, mas crescente) de trabalhos da área que lidam com a per-
formance e a Psicologia. A maioria deles lida com aspectos da preparação da performance,
como a memorização; problemas relacionados à Biomecânica, com alguns grupos que tra-

156
A 1ª etapa deste trabalho (sobre publicações periódicas) foi publicada nos Anais do Simpósio Brasileiro de
Pós-Graduandos em Música (SIMPOM), de 2012.
260

balham com a ação mecânica do tocar; e também, alguns trabalhos que lidam com técnicas de
ensaio, percepção física e auditiva, em trabalhos de Música de Câmara. Isso tem tido muito. O
que tem muito pouco e que ainda precisa ser mais cultivado é a geração de trabalhos
conceituais. Nós temos muitos trabalhos aplicativos. Então se desenvolve pouca pesquisa, no
Brasil que fundamentem conceitos na área. Talvez essa seja a coisa, em geral, que a gente
faça menos.

3) O que podem ser considerados problemas de pesquisa em Performance Musical,


passíveis de serem tratados pelo método científico?
SR - Olha, eu acho que tem duas partes nessa pergunta, né? O que é que pode ser
considerado um problema de pesquisa em Performance? Eu acho que qualquer questão que
surja da prática da performance. Qualquer questionamento que se relacione tanto ao conteúdo
da música como a forma de interpretá-la: a forma de executar um instrumento, o ambiente da
performance, as tensões relacionadas ao desenvolvimento de um projeto de performance e até
mesmo a produção da própria performance. Qualquer desses aspectos pode ser considerado
um problema de pesquisa. Se for devidamente teorizado, o método científico pode estudar
qualquer coisa. Depende de qual método e como você aplica. Genericamente falando, um mé-
todo científico é um método que possa ser respaldado (apresentado e explicado), que tenha
um referencial teórico adequado à coisa que se quer pesquisar. Então, neste sentido, se o
método for adequado, ele pode estudar qualquer aspecto da performance.

4) Na sua opinião, quais são os principais problemas enfrentados pela subárea Per-
formance Musical, no Brasil, principalmente, no que diz respeito à produção de teses e disser-
tações?
SR- Na minha prática, continua sendo a pouca familiaridade com o registro do que a
gente faz. Os performers, em geral, dedicam menos tempo da sua atividade registrando o que
fazem. Registro de todas as formas: escrito, registro auditivo e em vídeo. Os registros, em ge-
ral, são preocupações do momento final da pesquisa, registro do produto. O processo ele sofre
por não ter registro ou porque, talvez, os músicos não deem o valor necessário ao registro do
processo, mas somente ao registro do produto final. Então, em outras palavras, se registra o
recital, mas não o processo de realizá-lo. Na academia, é fundamental que o processo de
realização de qualquer pesquisa seja documentado, tanto quanto o produto.
No nosso caso, o recital é um produto. Ele é o objetivo pelo qual a gente pesquisa:
melhorar a nossa atuação no palco. Mas o processo de todo esse trabalho, feito em função de
261

melhorar essa performance, não é registrado na performance isolada. A gente tem que ter um
documento que registre esse processo. O que é mais tradicional na academia, hoje, é o registro
escrito e, independente da dimensão do texto, ele precisa registrar o processo. Nós ainda não
estamos no momento de registrar esse processo oralmente. Isso seria uma forma teoricamente
aceita, mas que teria que ser formatada. Entretanto, formatar o registro oral é uma coisa que
os pesquisadores não se debruçaram sobre como fazer. O que a gente tem padronizado é a
forma escrita. Até que a gente tenha um outro registro plausível, do processo de pesquisa, os
performers terão que grafar o processo e, inevitavelmente, associá-lo ao registro do produto.
As duas coisas unidas são a nossa melhor forma de escrever a pesquisa, em Performance, na
minha opinião.
262

APÊNDICE A 2 - QUESTIONÁRIO RESPONDIDO POR MIRIAM GROSMAN (UFRJ)

Data: 16/03/2014. Questionário respondido via email.

1) Qual a relevância acadêmica da pesquisa sobre performance musical vinculada à


atuação de músicos instrumentistas?
MG- O músico instrumentista não deve ser um "prático" ou apenas um "empírico".
Por mais habilidoso e dotado de qualidades musicais que seja, sua performance somente se
sustenta quando há uma base de conhecimentos musicais, como harmonia, forma, estilo, his-
tória e técnica. Não são raros os músicos instrumentistas que também adquirem conhecimen-
tos em outras áreas, como por exemplo, a Filosofia, a Literatura e as Artes Plásticas. O conhe-
cimento gerado pela pesquisa acadêmica pode auxiliar de forma significativa o desempenho
artístico/musical dos instrumentistas.

2) Como vê o desenvolvimento das pesquisas sobre Performance Musical, no Brasil?


MG- Vejo com uma certa reserva. A menos que se repense ou se reavalie a filosofia
dos programas atuais de Pós-Graduação, assim como as exigências emanadas dos colegiados
superiores, que priorizam e privilegiam a produção bibliográfica em detrimento da prática,
não vislumbro possibilidade de resultados muito significativos para a performance. Sem gene-
ralizar por completo, e admitir que as fronteiras entre as áreas distintas não são muito defini-
das, verifico que grande parte dos trabalhos sobre performance se aproxima muito mais da
Musicologia e da Composição.

3) Na sua opinião, quais temas e modalidades de pesquisas, relacionados à perfor-


mance pianística, têm sido pouco explorados por teses e dissertações?
MG - A técnica pianística, que por exemplo, acredito que poderia ser abordada por
diferentes ângulos. É um terreno ainda pouco explorado, acredito por receio de suscitar polê-
micas. Mas, a meu ver, são justamente os temas polêmicos que abrem espaço para observar,
discutir e redimensionar. Quando leio trabalhos que mencionam aspectos da técnica pianísti-
ca, eles geralmente se resumem quase sempre em reproduzir os jargões copiados de um traba-
lho para outro. Um "fulano" afirmou tal procedimento e já é o suficiente para que o conhe-
cimento seja sacramentado, sem discussão ou argumentação e, assim repassado em cadeia de
dissertação em dissertação. Estilos também constituem temas pouco explorados, sejam
referentes a épocas ou compositores. Abordagens estilísticas sobre toques, articulações, pedal,
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tempos e o que mais seja necessário, se apropriadamente discutidos, podem fornecer relevan-
tes subsídios aos instrumentistas.

4) No livro Pesquisa Social, Richardson (2012, p. 22) define o método científico co-
mo "o caminho da ciência para chegar a um objetivo". O autor expõe as diversas etapas que
devem estar presentes no uso do método científico. São elas: 1- a observação, 2- a formulação
de um problema ou pergunta, 3- a coleta de dados sobre o fenômeno estudado, 4- a elaboração
de hipótese, 5- a predição do resultado do teste de uma hipótese, 6- a experimentação e 7- as
análises, ou seja, a interpretação dos dados (RICHARDSON, 2012, p. 26). Com base nestas
informações, quais podem ser considerados problemas de pesquisa relacionados à performan-
ce pianística? Acredita que todos seus problemas ou questões podem ser tratados com base no
método científico?
MG- As questões mencionadas na questão 3, deste questionário, podem perfeita-
mente ser consideradas problemas de pesquisa. Ressalto, ainda, que tais temas podem ser
aprofundados com diferentes enfoques, cada um podendo constituir objeto de investigação.
Acredito sim, que grande parte dos problemas possam ser tratados com base no chamado
método científico.

5) Acredita que a investigação histórica pode colaborar para a resolução de proble-


mas relacionados à interpretação musical? Poderia fornecer exemplos de como isso pode
ocorrer?
MG- Sim, a investigação histórica pode sempre colaborar substancialmente para a
performance. Há uma infinidade de exemplos que podem ser mencionados, mas aqui cito
apenas alguns: sonoridades dos pianos em diferentes épocas; concepção de articulação
musical, especialmente, nos períodos Barroco e Pré-clássico, onde a retórica e a filosofia
daqueles períodos influenciaram diretamente a performance; comparação entre a interpretação
de obras produzidas em diferentes fases de determinado compositor, como por exemplo, as
primeiras e as últimas sonatas de Haydn, além de muitos outros.

6) Uma das tendências da pesquisa desenvolvida nas linhas de pesquisa Práticas


Interpretativas e Performance Musical é a elaboração de Edição Crítica. Acredita na impor-
tância deste tipo de pesquisa para o intérprete? Por que?
MG- Sim, considero de grande relevância. Em muitos casos, os manuscritos não são
claros quanto às intenções do autor; em outras obras, edições foram revistas por uma ótica de
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determinado período, merecendo uma investigação que conduza a uma interpretação histori-
camente informada.

7) Considera que a elaboração de uma Edição Crítica apresenta problemas que po-
dem ser tratados com base no método científico? Em caso afirmativo, poderia exemplificar?
Ou, em caso negativo, poderia justificar?
MG- Sim, desde que apoiada em uma metodologia apropriada. Por exemplo, obser-
vando-se notas e sinais musicais, supostamente, equivocados em uma determinada obra;
formulando o problema; coletando dados, ou seja, informações sobre o conteúdo musical em
nível analítico-composicional ou metodológico, etc, e seguindo as etapas de Richardson, já
mencionadas numa questão anterior.

8) No artigo intitulado Execução e Análise Musical, Dunsby (1989, p. 10) defende o


emprego da Análise Musical como uma atividade direcionada à resolução de problemas
interpretativos. Você concorda com este posicionamento? Em caso afirmativo, poderia citar
exemplos de como isso poderia ocorrer?
MG- A análise é fundamental para fornecer subsídio e consistência à interpretação,
com possibilidades de abordagens diferentes. O importante é que, seja qual for o processo
analítico, ele proporcione a compreensão da obra. Quero enfatizar, no entanto, que a análise
não deve se tornar uma atividade meramente intelectual. Estabelecendo-se um paralelo, pode-
ríamos compará-la à integração corpo-mente, ou seja, um entendimento a nível intelectual e
sensorial ao mesmo tempo, que, na minha opinião, é necessário a uma performance criativa e
única.

9) Considera importante o emprego do método científico nos estudos sobre Análise


Musical? Em caso afirmativo, poderia ilustrar como as diferentes etapas do método científico
podem se fazer presentes nestes, relacionando-os aos interesses dos músicos-instrumentistas?
MG- Utilizo a análise musical como ferramenta indispensável à minha performance,
sem contudo, transformá-la em objeto de trabalho.

10) No estudo intitulado The State of Play in Performance Studies, Rink (2004, p.37)
apresenta a Psicologia da Performance como uma das principais dimensões de estudo da
Performance. Qual a importância desta disciplina para a formação do músico-performer? Co-
265

mo vê o desenvolvimento das pesquisas em Psicologia da Performance, no Brasil, no nível da


Pós-Graduação?
MG- Através da Psicologia da Performance podemos tomar consciência da nossa
dinâmica corporal, além dos processos psíquico-comportamentais que envolvem a perfor-
mance. Creio que, em muitos casos, esse conhecimento pode nos auxiliar a abrir as "portas da
percepção". Dada a complexidade desse trabalho de investigação e partindo de indivíduos,
sem formação na área, as pesquisas em Performance carecem desse viés, sendo, muitas vezes
desestimuladas pelos orientadores.

11) Quais problemas de pesquisa em Performance Musical podem ser tratados por
meio da colaboração entre a área musical e as Ciências da Saúde? Como vê o desenvolvi-
mento deste tipo de pesquisa, no Brasil?
MG- Vi muito pouco desse tipo de trabalho. Realmente, deveria ser mais abordado,
especialmente, em razão da existência de um significativo número de lesões e danos físicos
causados por práticas inadequadas. Além disso, muitos estudantes necessitam de orientação
direcionada tanto a problemas de ordem física, como seria o caso da falta de flexibilidade ou
enrijecimento muscular, como também os de ordem psíquica, como a falta de concentração ou
o pânico de palco.

12) Na sua opinião, quais são os principais problemas enfrentados pela subárea Per-
formance Musical, no Brasil, principalmente, no que diz respeito à produção de teses e dis-
sertações?
MG- Existem alguns problemas, assim como em outra áreas. Durante muito tempo
predominou um formato, ainda bastante frequente, de se abordar uma determinada obra
musical com sugestões interpretativas. Eu diria que o modelo está esgotado, cuja estrutura é
sempre a mesma, seguindo tal roteiro: 1) biografia do autor e contexto histórico; 2) listagem
da produção do compositor e, quando possível, identificar as diferentes fases; 3) análise da
obra (como se o indivíduo que pretende estudar a obra não fosse capaz de analisá-la, pre-
cisando, portanto, de uma "babá" para explicar o texto...) 4) sugestões interpretativas, na
verdade, uma descrição do texto musical, às vezes com uma ou outra contribuição legítima 5)
interpretação da obra ou parte dela na defesa do trabalho. Costumo denominar este formato de
"receita de bolo". Foi durante muito tempo o preferido dos nossos trabalhos, talvez por ser
menos complexo, menos instigante e seguir um padrão já conhecido. É preciso sair do lugar
comum e trazer problemas mais concretos. Com exceção de métodos para iniciantes, a
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pedagogia do piano praticamente não tem sido abordada. Fico surpresa quando ouço colegas
afirmarem que a pedagogia é outra "coisa", e ainda não estaria incluída nas Práticas,
confundindo-a por estar relacionada com a Educação Musical, o que é um tremendo equí-
voco. É através de uma orientação pedagógica eficiente é que podemos formar e preparar
competentemente nossos músicos.

13) Qual sua opinião sobre a realização de Estudos de Caso relacionados a temas de
interesse da Performance Musical? O que diria aos pesquisadores que assumem uma posição
contrária e crítica diante deste tipo de pesquisa, principalmente, pelo fato de tratar-se de uma
produção de conhecimento cujos resultados não são passíveis de serem generalizados? Na sua
opinião, qual a relevância deste tipo de pesquisa para a área musical?
MG- Não vejo absolutamente nada que possa desmerecer um estudo de caso. Cada
indivíduo é impar, e por si só, já é um "caso". Através do estudo de um caso, talvez possamos
entender ou generalizar possíveis outros casos. Pense, por exemplo, num estudo em que o
pianista Horowitz possa ser um caso e o quanto podemos aprender com a investigação de sua
técnica, sonoridades, concepção de andamentos, dinâmica corporal, aprendizagem do texto,
métodos de estudo, e até mesmo o sucesso profissional. Um estudo sobre este artista poderia
despertar discussões produtivas, proporcionando o surgimento de novas hipóteses e quebran-
do os jargões que se cristalizaram durante todos estes anos.

14) Na sua opinião, o conhecimento gerado pelas pesquisas relacionadas à Perfor-


mance Musical cujos resultados não são passíveis de uma generalização pode ser conside-
rado científico? O que deve determinar a cientificidade de uma produção acadêmica na área
da Performance Musical, incluindo as produções relacionadas à interpretação musical?
MG- O conceito de "científico" é passível de divergências e contradições. Definir o
que seja exatamente um trabalho científico não é tarefa muito simples, especialmente, quando
se tenta aplicar às artes. A cientificidade na área de performance, provavelmente, não apresen-
ta os mesmos padrões daqueles da Biologia. Se o conhecimento gerado é novo e bem funda-
mentado, não há razão para que não se considere científico. Existe uma grande diversidade de
trabalhos de "interpretação musical", onde o autor "sugere" a interpretação, nada mais do que,
uma descrição do texto, com algumas pinceladas individuais. Geralmente apresentados em um
formato científico, não trazem um conhecimento às Práticas.
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APÊNDICE A 3 - QUESTIONÁRIO RESPONDIDO POR CRISTINA CAPPARELLI GER-


LING (UFRGS)

Data 20/02/2014. Questionário respondido via email.

1) Qual a relevância acadêmica da pesquisa sobre Performance Musical vinculada à


atuação de músicos instrumentistas?
CG- Todo assunto pode, deve e, eventualmente será pesquisado, por que não a atua-
ção de músicos instrumentistas? Músicos são, de maneira geral, sensíveis às condições de tra-
balho, nem sempre ideais; têm crenças e hábitos, nem sempre trabalhados da maneira mais
saudável e otimizada, desde o início do treinamento, e trabalham longas horas. Assim como
atletas, precisam de pesquisas voltadas para seus comportamentos, hábitos e desempenhos.
Enfim, sua atuação a caminho da profissionalização ou, como profissionais.

2) Como vê o desenvolvimento das pesquisas sobre Performance Musical, no Brasil?


CG- Engatinhando.

3) Na sua opinião, quais temas e modalidades de pesquisa, relacionados à performan-


ce pianística, tem sido pouco explorados pelo conjunto de teses e dissertações?
CG- Não sei nem se podemos dizer que temas e modalidades de pesquisa tenham
sido, consistentemente, explorados em teses e dissertações. Vejo que há um início de interesse
pelo assunto.

4) No livro Pesquisa Social, Richardson (2012, p. 22) define o método científico co-
mo "o caminho da ciência para chegar a um objetivo". O autor expõe as diversas etapas que
devem estar presentes no uso do método científico. São elas: 1- a observação, 2- a formulação
de um problema ou pergunta, 3- a coleta de dados sobre o fenômeno estudado, 4- a elaboração
de hipótese, 5- a predição do resultado do teste de uma hipótese, 6- a experimentação e 7- as
análises, ou seja, a interpretação dos dados (RICHARDSON, 2012, p. 26). Com base nestas
informações, quais podem ser considerados problemas de pesquisa relacionados à performan-
ce pianística? Acredita que todos seus problemas ou questões podem ser tratados com base no
método científico?
CG- Este conjunto de perguntas é por demais vasto, não estou escrevendo uma dis-
sertação ou tese. Cabe ao orientando e ao orientador definirem o caminho a ser percorrido. Se
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bem articulado/fundamentado, todo assunto pode ser tratado com base em alguma configu-
ração do método científico.

5) Acredita que a investigação histórica pode colaborar para a resolução de proble-


mas relacionados à interpretação musical? Poderia fornecer exemplos de como isso pode
ocorrer?
CG- Com certeza, acho fundamental que o conhecimento do passado seja parte do
conjunto de conhecimentos necessários para a interpretação musical, mas como tudo mais em
qualquer esfera e situação, trata-se de uma questão de interpretação do passado, uma re-
criação, tendo por base maior ou menor conhecimento, depende do pesquisador.

6) Uma das tendências da pesquisa desenvolvida nas linhas de pesquisa Práticas


Interpretativas e Performance é a elaboração de Edição Crítica. Acredita na importância deste
tipo de pesquisa para o intérprete? Por que?
CG- Não creio que intérpretes, podendo haver exceções, estejam preparados para
produzir edições críticas. Creio firmemente que cada intérprete pode e deve buscar preparar a
sua edição de trabalho, uma edição prática. Sabemos que edições ditas URTEXT são um dos
mitos do mercado de edições, porque toda edição é um ato interpretativo, um ato de selecionar
possíveis escolhas. Portanto, cabe ao intérprete fazer suas escolhas também, preferivelmente,
tendo por base o conhecimento das escolhas que melhor lhe convenham.

7) Considera que a elaboração de uma Edição Crítica apresenta ao pesquisador pro-


blemas que podem ser tratados com base no método científico? Em caso afirmativo, poderia
exemplificar? Ou, em caso negativo, poderia justificar?
CG- Já expressei minha escolha na questão 6. Acho que você está transformando o
método científico em um dogma inquebrável como se fosse uma verdade absoluta. Na ciência,
pra começo de conversa, existem processos de verificação e comprovação que valem por um
certo período até que outros achados suplantem as "verdades" reinantes.

8) No artigo intitulado Execução e Análise Musical, Dunsby (1989, p. 10) defende o


emprego da Análise Musical como uma atividade direcionada à resolução de problemas inter-
pretativos. Você concorda com este posicionamento? Em caso afirmativo, poderia citar exem-
plos de como isso poderia ocorrer?
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CG- Já publiquei sobre este assunto e, há mais de quinze ou mesmo vinte anos,
acreditava piamente que a análise da partitura seria toda poderosa para resolver quase todos os
problemas. Hoje, acredito muito em análises: análise da partitura, análise do desempenho
físico/postural/de movimento, análise do bem estar mental e emocional, análise do grau de
confiança e segurança da memorização (quando for o caso), análise dos fatos históricos da
partitura, análise de gravações (se existem), análise da minha própria gravação ou dos meus
alunos. Enfim, acredito muito em analisar tudo aquilo que ofereça contribuições para um
desempenho profissional e de qualidade.

9) Considera importante o emprego do método científico nos estudos sobre Análise


Musical? Em caso afirmativo, poderia ilustrar como as diferentes etapas do método científico
podem se fazer presentes nestes, relacionando-os aos interesses dos músicos-instrumentistas?
CG- O método científico se baseia, principalmente, na possibilidade de verificação,
confiabilidade e replicação dos resultados. Ora, uma análise é uma interpretação, como no ato
interpretativo pode estar baseada em dados mais ou menos confiáveis e/ou verificáveis. Então,
se você chama um acorde de dominante e a maioria concorda, sua constatação deve estar
correta, mas isto é o início. Uma análise também pede por criatividade e por audácia. Se não
for o caso, você escolheu uma obra por demais óbvia. O método científico como qualquer
outro método tem suas limitações. Em arte a gente quer alcançar o inefável, o intangível, o
mágico. Portanto, as constatações "científicas" podem servir apenas como um trampolim para
o ARTÍSTICO.

10) No estudo intitulado The State of Play in Performance Studies, Rink (2004, p.
37) apresenta a Psicologia da Performance como uma das principais dimensões de estudo da
Performance. Qual a importância desta disciplina para a formação do músico-performer?
Como vê o desenvolvimento das pesquisas em Psicologia da Performance, no Brasil, no nível
da Pós-Graduação?
CG- Não posso dar notícia da Pós-Graduação, no Brasil. Não fiz uma "pesquisa" de
qualquer natureza sobre o assunto, mas na minha universidade certamente que lemos aten-
tamente e discutimos, acaloradamente, este e outros textos relevantes em classes/seminários
de performance. Da minha parte frequento congressos de ciência da performance e publico
regularmente sobre este assunto. As disciplinas "Seminário de Pesquisa em Práticas Interpre-
tativas" e Seminário de Tópicos em Práticas Interpretativas" são oferecidos regularmente para
que possamos melhor delinear e discutir o alcance e o efeito destas questões.
270

11) Quais problemas de pesquisa em Performance Musical podem ser tratados por
meio da colaboração entre a área musical e as Ciências da Saúde? Como vê o desenvol-
vimento deste tipo de pesquisa, no Brasil?
CG- Em Porto Alegre, já foram realizados dois encontros/congressos para tratar
deste assunto e, em julho de 2014, haverá um terceiro que trará especialistas, altamente qua-
lificados, de vários países da Europa. Pessoalmente, sou uma ávida praticante de exercícios
supervisionados por profissionais altamente especializados. A saúde do músico é por certo um
aspecto fundamental no desempenho, mas as pesquisas sobre o assunto são melhor desenvol-
vidas por profissionais da saúde. Creio, firmemente, na divisão de tarefas e respeito o conhe-
cimento dos especialistas.

12) Na sua opinião, quais são os principais problemas enfrentados pela subárea Per-
formance Musical, no Brasil, principalmente, no que diz respeito à produção de teses e dis-
sertações?
CG- Não conheço nem de longe uma pequena parte das dissertações produzidas no
Brasil. Seria temerário da minha parte aventurar-me a emitir opiniões sobre um assunto tão
vasto. Como em qualquer esfera, existem dissertações brilhantes, e existem documentos que
não deveriam ter sido escritos. No centro da curva deve haver um número de documentos ho-
nestos e confiáveis. Tenho tido a oportunidade de utilizar algumas boas dissertações e vejo,
principalmente, que ainda existem assuntos que nem de longe foram tratados como deviam,
até mesmo nas searas mais tradicionais, tal como a relação entre análise de partitura e perfor-
mance. Que bom, assim os orientadores têm seu lugar assegurado!

13) Qual sua opinião sobre a realização de Estudos de Caso relacionados a temas de
interesse da Performance Musical? O que diria aos pesquisadores que assumem uma posição
contrária e crítica diante deste tipo de pesquisa, principalmente, pelo fato de tratar-se de uma
produção de conhecimento cujos resultados não são passíveis de serem generalizados? Em
sua opinião, qual a relevância deste tipo de pesquisa para a área musical?
CG- Digo que não existem assuntos impossíveis de serem tratados. Se bem funda-
mentado, a maioria dos assuntos pode ser bem delineado e bem tratado. A ignorância sobre
um assunto não deve ser a base de rejeição para uma dissertação, mas a fundamentação e o
desenvolvimento do documento tem também que fazer o seu papel de convencimento. Lem-
bre-se que há algumas décadas, quem tocava raramente escrevia. Hoje, todos escrevem. Uns
escrevem com mais base e outros não. A generalização em si não é uma qualidade. Em certos
271

casos é um atestado de conformidade ou burrice mesmo. Relevância é uma questão a ser


tratada a partir da curiosidade insaciável do pesquisador, a partir do problema a ser resolvido
ou ampliado, da vontade de saber.

14) Na sua opinião, o conhecimento gerado pelas pesquisas relacionadas à Perfor-


mance Musical cujos resultados não são passíveis de uma generalização pode ser conside-
rado científico? O que deve determinar a cientificidade de uma produção acadêmica na área
da Performance Musical, incluindo as produções relacionadas à interpretação musical?
CG- Creio ter respondido acima, mas, vamos lá. Interpretação é individual e intrans-
ferível. Se não for, não é interpretação, é a Maria indo com as outras! Acho que você está
pondo um peso indevido no método científico. Leia Thomas Kuhn (1962) e outros depois de-
le, que acreditando em parte no poder da ciência, se dão conta que a ciência não vai resolver
tudo e que a criatividade humana sempre foi o motor na resolução dos problemas, que mesmo
na ciência a aptidão e a coragem contam muito, que assuntos novos e audaciosos podem sim
ser tratados de maneira confiável. Acima de tudo, um experimento pode ser confiável e
replicável e mesmo assim, o resultado pode ser diverso. Isto não invalida o experimento, só
mostra que resultados variam porque a variabilidade faz parte da equação.
272
273

157
APÊNDICE B - LEVANTAMENTO DE TESES E DISSERTAÇÕES (2007-2012) EM PERFORMANCE PIANÍSTICA, DESEN-
VOLVIDAS NAS ÁREAS/ LINHAS DE CONCENTRAÇÃO EM PERFORMANCE MUSICAL E PRÁTICAS INTERPRETATIVAS,
PRODUZIDAS PELOS ATUAIS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO, EM MÚSICA.

O Levantamento a seguir, contempla as produções em performance pianística, vinculadas às áreas de concentração/ linhas de pesquisa
em Performance Musical e Práticas Interpretativas, produzidas pelos atuais Programas de Pós-Graduação, em Música, no Brasil. Apresenta as
produções constituintes de nossa amostragem por conveniência (título em negrito), assim como demais pesquisas as quais não constituíram
objeto de estudo da presente dissertação.

1- UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Área de concentração: Processos de Criação Musical. Linha de Pesquisa: Técnicas Composicionais e Questões Interpretativas

Fontes: < http://dedalus.usp.br>, <http://bancodeteses.capes.gov.br/> e <http://www3.eca.usp.br/pos/ppgmus/teses>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador


1
2008 Beatriz Alessio de Aguiar Os sete estudos para piano de Gilberto Mendes. Mestrado Prof. Dr. José Eduardo
1
Gandra da Silva Martins
1
2 2008 Eliana Maria de Almeida Monteiro da Clara Schumann: compositora x mulher de compositor Mestrado Prof. Dr. Amilcar Zani Netto
Silva

157
Não foram incluídas, no presente levantamento, as produções em performance pianística, vinculadas à subárea de Educação Musical (ou que fazem interface com esta
subárea).
274

3 2008 Danieli Verônica Longo Benedetti Le Tombeau de Couperin (1914-1917) de Maurice Ravel: Doutorado Prof. Dr. Amilcar Zani Netto
obra de uma guerra
4 2009 Adriano Heidrick Figueiredo O ressurgimento da suíte para teclado na segunda Mestrado Prof. Dr. José Eduardo Gandra
metade do século XIX e início do século XX da Silva Martins
5 2009 Erika Maria Ribeiro Aspectos interpretativos da Sonata op. 110 de Bee- Mestrado Prof. Dr. Eduardo Henrique
thoven.
Soares Monteiro
6 2009 Fátima Graça Monteiro Corvisier Antônio de Sá e o ensino moderno de piano: pioneirismo Doutorado Prof. Dr. Eduardo Henrique
na pedagogia pianística brasileira Soares Monteiro
7 2009 Margarida Tamai Fukuda Zeitgestalt - Análise e performance do trio em Sol menor Doutorado Prof. Dr. Amilcar Zani Netto
de Francisco Braga
8 2009 Helder Araújo A composição brasileira de piano para a mão esquerda Doutorado Prof. Dr. Mário Ficarelli

9 2010 Fernando César Cunha Vilela dos Reis O idiomático de Francisco Mignone nas 12 valsas de Doutorado Prof. Dr. Amilcar Zani Netto
esquina e 12 valsas-choro
10 2010 Ederson José Fernandes da Silva Três sonatas contemporâneas brasileiras para piano: es- Mestrado Prof. Dr. Rogério Luiz
tudo analítico-interpretativo das sonatas de Marlos No- Morais Costa
bre, João Guilherme Ripper e Roberto Victório
11 2011 Thiago de Freitas Câmara Costa A edição crítica e revisada dos noturnos para piano de Mestrado Prof. Dr. Fernando Crespo
Almeida Prado Corvisier
12 2011 Vanessa Rodrigues Nonis Os modelos cromáticos de Teufsmühle e Omnibus na Mestrado Profa. Dra. Luciana Sayure
música de F. Chopin Shimabuco
13 2012 Flávia Figueira da Silva Bagatelas op. 119 de Beethoven: um estudo interpreta- Mestrado Prof. Dr. Eduardo Henrique
tivo Soares Monteiro
275

2- UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP)

Área de concentração: Práticas Interpretativas

Fontes: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/> e <http://www.iar.unicamp.br/pos-graduacao-em-musica/programa-e-linhas-de-pesquisa>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador/ Coorientador

2007 Nahin Marun Filho A técnica para piano de Johannes Brahms: Origens, os Doutorado Prof. Dr. Mauricy Matos
1
51 exercícios e as relações com a obra pianística do Martin
1
compositor
2 2007 Priscila Gambary Freire Dança brasileira e dança negra para piano solo de Mestrado Prof. Dr. Eduardo Antônio
Camargo Guarnieri: uma abordagem interpretativa Conde Garcia Júnior
3 2007 Andréia Miranda de Moraes Nasci- Mignone e as Valsas Seresteiras Mestrado Profa. Dra. Aci Taveira
mento Meyer
4 2007 Midori Maeshiro Questões Estruturais e Interpretativas na Obra Pianís- Doutorado Prof. Dr. Mauricy Matos
tica de Ricardo Tacuchian Martin/Coorientadora: Profa.
Dra. Maria Lúcia Pascoal
5 2008 Ayumi Shigeta Interpretação pianística historicamente informada: sub- Mestrado Prof. Dr. Eduardo Antônio
sídios analíticos para uma execução das Bagatelas op. Conde Garcia Júnior
126 de Ludwig van Beethoven
6 2008 Magaly Otsuka Marlos Nobre: aspectos motívicos em duas peças para Doutorado Orientador: Prof. Dr.
piano: Sonata Breve, opus 24 (1966/2000) e Tango, opus Mauricy Matos Martin/ Co-
61 (1984) orientadora: Profa. Dra.
Maria Lúcia Pascoal
276

7 2009 Antônio Carlos Leme Júnior Três valsas para piano de Radamés Gnatalli: uma Dissertação Prof. Dr. Antônio Rafael
abordagem analítico-interpretativa Carvalho dos Santos
8 2009 Iracele A. Vera Lívero de Souza Louvação a Eunice: um estudo de análise das obras para Doutorado Orientadora: Profa. Dra.
piano de Eunice Katunda Maria Lúcia Senna Machado
Pascoal. Coorientador: Prof.
Dr. Mauricy Matos Martin
9 2010 Priscila Ott Falcão Oliveira Os Sonetos de Petrarca 47, 104 e 123: um estudo inter- Mestrado Prof. Dr. Carlos Fernando
pretativo da segunda versão para piano Fiorini
10 2010 Alexandre Zamith Almeida Forma lírica e campos temporais: fundamentos das mul- Doutorado Prof. Dr. Mauricy Matos
tiplicidades de performance em Klavierstück XI de Kar- Martin
lheinz Stockhausen
11 2010 Tarcísio Gomes Filho A prática intertextual em peças para piano de Almeida Doutorado Prof. Dr. Mauricy Matos
Prado: elementos de análise para a construção da per- Martin
formance
12 2010 Achille Guido Picchi As Serestas de Heitor Villa-Lobos: um estudo de análise, Doutorado Profa. Dra. Adriana Giarola
texto-música e pianismo para uma interpretação Kayama
13 2010 Carlos Alberto Silva Yansen Concerto Fribourgeois de Almeida Prado para piano e Doutorado Profa. Dra. Aci Taveira
cordas: um estudo para a interpretação Meyer
14 2011 Luiz Guilherme Pozzi Harry Crowl: Marinas para piano – Aspectos da Cons- Mestrado Prof. Dr. Mauricy Matos
trução da Performance nas Peças 'Guaratuba e Anto- Martin
nina', 'Cabo da Roca' e 'Piran e Portorož'
15 2011 Alfeu Rodrigues de Araújo Filho Timbre e Ritmatas para piano solo de E. Villani-Côrtes: Doutorado Prof. Dr. Mauricy Matos
Conceito, Análise e Interpretação Pianística Martin
16 2011 Eliana Asano Ramos As relações texto-música e o procedimento pianístico em Mestrado Profa. Dra. Maria José
seis canções de Ernst Mahle: propostas interpretativas Carrasqueira de Moraes
277

17 2011 Paulo Ricardo Gazzaneo Trio Marítimo de Almeida Prado: subsídios para inter- Mestrado Prof. Dr. Mauricy Matos
pretação Martin
18 2012 Aline da Silva Alves Marlos Nobre: Variações Ritmicas opus 15 para piano e Mestrado Prof. Dr. Mauricy Matos
percussão: uma abordagem analítica visando à interpre- Martin/ Coorientador:
tação Fernando Augusto de
Almeida Hashimoto
278

3- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)

Área de concentração: Práticas Interpretativas

Fontes: <http://ppgm.musica.ufrj.br/index.php?option=com_content&view=article&id=355&Itemid=203>, < http://minerva.ufrj.br/> e <http://ba


ncodeteses.capes.gov.br/>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador

2007 Myrian Ribeiro Aubin David Korenchendler: um olhar detalhado sobre a So- Mestrado Orientador: Profa. Dra. Lúcia
1
nata nº 11 Dantas/ Coorientadora:
1
Profa. Dr. Laura Rónai
2 2007 Roberta de Lemos Miranda Jordão Um estudo comparativo entre a técnica pianística de Mestrado Profa. Miriam Grosman
Chopin e Liszt e aquelas dos pianistas e professores da
cidade do Rio de Janeiro
3 2008 Fábio Silva Ventura Mutationen III de Cláudio Santoro: o pianista como co- Mestrado Prof. Dr. Jacob Herzog
autor.
4 2008 Cristiana Ribeiro Aubin Leopoldo Miguez e seus Noturnos para piano Mestrado Prof. Dr. Marcelo Verzoni

5 2008 Flávio Augusto Borges de Oliveira Trio para Piano, Violino e Violoncelo de Francisco Braga: aná- Mestrado Profa. Dra. Miriam Grosman
lise histórica e uma nova proposta de edição
6 2008 Silas Barbosa de Oliveira Heitor Villa-Lobos: o Lobozinho de Vidro. O estudo Mestrado Profa. Dra. Miriam Grosman
deliberado do conteúdo extra musical identificado pelo
intérprete
7 2008 Letícia dos Santos Lima Presença do elemento vocal – operístico nas Sonatas Mestrado Profa. Dra. Miriam Grosman
para piano de Mozart
279

8 2008 Cristiano de Abreu Buarque Vogas O Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach: a revisão de Mestrado Profa. Dra. Miriam Grosman
Francisco Mignone
9 2009 Roberto Goliszewski Henrique Oswald e suas Variações sobre um tema de Mestrado Prof. Dr. Marcelo Verzoni
Barrozo Netto
10 2010 Luiz Henrique da Costa Matta Aspectos Interpretativos na Fantasia Húngara de Franz Mestrado Profa. Dra. Sônia Goulart
Liszt para Piano e Orquestra
11 2010 Edilson Leal da Cunha Filho A linguagem harmônica e a expressão mística de Ale- Mestrado Profa. Dra. Sônia Goulart
xander Scriabin nas Mazurkas opus 40
12 2010 André Rosalem Signorelli Da importância da imaginação musical na prática pia- Mestrado Profa. Dra. Myriam
nística Dauelsberg
13 2010 Marianna de Lima Ferreira Pinto O caráter vocal nas últimas sonatas para piano de Mestrado Profa. Dra. Miriam Grosman
Beethoven
14 2011 Robério Molinari Neves Sobre tempo e ritmo na dança das Bachianas Brasileiras Mestrado Prof. Dr. Marcos Vinício
nº 4 de Heitor Villa-Lobos: uma interpretação Nogueira
15 2011 Tatiana Dumas Macedo Contrastes de Marisa Resende: um estudo dos toques Mestrado Profa. Dra. Nadge Naira
pianísticos na música contemporânea brasileira Alvares Breide
16 2011 André Távora Kacowicz O pianista co-repetidor e a arte do acompanhamento, Mestrado Profa. Dra. Myriam
seu significado e importância no cenário musical Dauelsberg
17 2011 Angela Volpato Almeida Ernesto Nazareth e suas valsas para piano Mestrado Prof. Dr. Marcelo Verzoni

18 2012 Raquel Bianca Castro de Sousa Ernesto Nazareth e suas polcas para piano Mestrado Prof. Dr. Marcelo Verzoni

19 2012 Priscila Lopes Bomfim Muniz Leitura à primeira vista ao piano: aplicação de estra- Mestrado Profa. Dra. Miriam Grosman
tégias básicas de aprendizagem
280

4- UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO)

Área de concentração: Práticas Interpretativas. Linha de pesquisa: Teoria e Prática da Interpretação.

Fonte: < http://200.156.25.90/posmusica/?menu_id=1255007693&pos=dir&site_id=2> e < http://200.156.25.90/posmusica/?menu__id=1255007


701&pos=dir&site_id=2>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador

2007 Carla Gorni A prole do bebê nº 2 de Villa-Lobos: contribuições da Mestrado Profa. Ms. Saloméa
1
Análise Musical e do imaginário para sua interpretação - Gandelman
1
um estudo comparativo de gravações
2 2007 Marcelo Greenhalgh Thys A prática do piano a quatro mãos: problemas, soluções e Mestrado Profa. Ms. Saloméa
sua aplicação ao estudo de peças de Almeida Prado e Gandelman
Ronaldo Miranda
3 2007 Sara Cohen Polirritmos nos Estudos para piano de György Ligeti Doutorado Profa. Dra. Ingrid Barancoski
(Primeiro caderno)
4 2009 Cláudio Peter Dauelsberg Concerto nº 2 para piano e orquestra de Cláudio San- Doutorado Prof. Dr. Ricardo Tacuchian
toro: análise dos 3 movimentos, contexto histórico e seu
processo de edição.
5 2011 Luiz Eduardo de Castro Domingues da As transformações da construção melódica e harmônica Doutorado Profa. Dra. Lúcia
Silva nas Sonatinas nº 1, nº 3, nº 4 e nº 5 de Camargo Guar- Barrenechea
nieri.
281

5- UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG)

Linha de pesquisa: Performance Musical.

Fonte: <http://www.musica.ufmg.br/ppgmus/?page_id=22>.

Ano
1 Autor Título da produção Nível Orientador
1
2007 Júnia Gonçalves Santiago Progressão da dificuldade técnica nas Três Suítes Bra- Mestrado Prof. Dr. Maurício Veloso
1
sileiras para piano de Oscar Lorenzo Fernandes Pinto
1
2 2007 Sandra Costa Almeida de Lino Faria Piano a quatro mãos: um estudo das peculiaridades na Mestrado Profa. Dra. Margarida Maria
execução do repertório e obras brasileiras para essa Borghoff
formação
3 2007 Mário Luiz Marochi Júnior A Sertaneja de Brazílio Itiberê: uma análise formal e Mestrado Prof. Dr. Fausto Borém
interpretativa
4 2007 Adriana Abid Mundim O pianista colaborador: a formação e atuação perfor- Mestrado Profa. Dra. Margarida Maria
mática no acompanhamento de flauta transversal Borghoff
5 2009 Daniel Lemos Cerqueira Estudo das ressonâncias na Sequenza IV de Luciano Mestrado Profa. Dra. Ana Cláudia de
Berio Assis
6 2009 Marçal Fernando Castellão Transcrições para piano: histórico e uma proposta de Mestrado Prof. Dr. Lucas José Bretas
execução para a mão esquerda de alguns prelúdios de dos Santos
Chopin
7 2009 Marcelo Gama e Melo de Magalhães Frevo para piano de Egberto Gismonti: uma análise de Mestrado Prof. Dr. Fausto Borém
Pinto procedimentos populares e eruditos na composição e na
performance
282

8 2010 Rise Lorentz Matheus Elementos impressionistas na obra composicional de Mestrado Profa. Dra. Margarida Maria
Carlos Alberto Pinto Fonseca Borghoff
9 2011 Gabriel Cursino Madeira Casara As obras para piano de Arthur Bosmans (1908-1991): Mestrado Profa. Dra. Ana Cláudia de
por uma sonoridade brasileira Assis
10 2012 Isabela da Cunha Pavan Alvim Entre Estudos e Polcas: A propósito do idiomatismo Mestrado Profa. Dra. Ana Cláudia de
pianístico de Bohuslav Martinů (1890-1959) Assis
11 2012 Hélcio Vaz do Val Trio op. 9 de Henrique Oswald: uma edição crítica Mestrado Profa. Dra. Margarida Maria
Borghoff
283

6- UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR)

Área de concentração: Processos de Criação Musical. Linha de pesquisa: Leitura, Escuta e Interpretação.

Fonte: <http://www.humanas.ufpr.br/portal/artes/pos-graduacao/dissertacoes/>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador


1
2010 Luiz Néri Pffützenreuter Pacheco dos Winterreise: o processo de construção de uma perfor- Mestrado Profa. Dra. Zélia Marques
1
Reis mance a dois Chueke
2 2010 Sabrina Laurelee Schulz Acústico e eletroacústico: a sincronia entre o piano e os Mestrado Profa. Dra. Zélia Marques
sons pré-gravados em obras eletroacústicas mistas Chueke
284

7- UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (UDESC)

Área de concentração: Música. Sub área: Práticas Interpretativas. Linha de pesquisa: Teoria e prática da interpretação musical.

Fonte: <http://www.ceart.udesc.br/ppgmus/prod_academica.htm>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador


1
2009 Alexandre Gonçalves As 3 Sonatas para piano de José Penalva: uma abor- Mestrado Prof. Dr. Guilherme
1
dagem analítico-interpretativa Sauerbronn de Barros
2 2009 Rodrigo Warken Estudo comparativo entre Edições Práticas e Edições Mestrado Prof. Dr. Guilherme
Urtext de Sonatas para Piano de Joseph Haydn Sauerbronn de Barros
3 2009 Guilherme Ferreira Amaral Relações entre elementos composicionais e meios de Mestrado Profa. Dra. Maria Bernardete
execução técnico-interpretativa em obras com caracte- Castelan Póvoas
rísticas pós-minimalistas - Brasil 2000, Amanduá e Meio
Bossa para piano solo de Dimitri Cervo
4 2009 Ana Paula Pacheco de S. Thiago Construção de uma interpretação do Concerto para Pi- Mestrado Profa. Dra. Maria Bernardete
ano e Orquestra de Cordas de Ronaldo Miranda Castelan Póvoas
5 2010 Vânia Eger Pontes Técnicas expandidas – um estudo de relações entre Mestrado Profa. Dra. Maria Bernardete
comportamento postural e desempenho pianístico sob o Castelan Póvoas
ponto de vista da ergonomia
6 2010 Cláudio Laiber Thompson Vida e obra de Alceu Camargo: um retrato de música Mestrado Prof. Dr. Guilherme
erudita no estado do Espírito Santo Sauerbronn de Barros
7 2010 Aillyn da Rocha Unglaub Schmitz Reflexões sobre estratégias de estudo em música de Mestrado Prof. Dr. Guilherme
Câmara a partir do reconhecimento dos "guias de execu- Sauerbronn de Barros
ção musical"
285

8 2011 Felipe Cabreira Fernandes Estudos para piano de Cláudio Santoro: movimentos Mestrado Profa. Dra. Maria Bernardete
gerais e uma abordagem técnico-interpretativa Castelan Póvoas
9 2012 Mauren Rodrigues Quatro Estudos para piano solo de Vieira Brandão: uma Mestrado Profa. Dra. Maria Bernardete
abordagem técnico-interpretativa Castelan Póvoas
286

8- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS)

Área de concentração: Práticas Interpretativas. Linha de pesquisa: Práticas e processos de interpretação musical.

Fonte: <http://www.ufrgs.br/ppgmusica/>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador


1
2007 Juan Pablo Marcó Hraste Un análisis eclético de la Sonata para Piano opus 55 nº 3 Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
1
de Alberto Ginastera (1916-1983) Capparelli Gerling
2 2007 Liliana Michelsen de Andrade O primeiro movimento da Sonata para piano solo de Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
Bruno Kiefer: uma análise interpretativa Capparelli Gerling
3 2008 Alfonso Benetti Junior Comunicação Estrutural e Comunicação Emocional nas Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
variações sobre um tema nordestino de Almeida Prado Capparelli Gerling
4 2008 Luís Cláudio Barros A pesquisa empírica sobre o planejamento da execução Doutorado Profa. Dra. Any Raquel
instrumental: uma reflexão crítica do sujeito de um estu- Souza de Carvalho
do de caso
5 2008 Daniel Vieira Fuga da Sonata para Piano de Camargo Guarnieri: uma Mestrado Profa. Dra. Any Raquel
análise retórico-estrutural. Souza de Carvalho
6 2009 Stefanie Grace Freitas Marlos Nobre - Sonata para piano sobre tema de Bártok op. Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
45: uma abordagem analítica do fenômeno intertextual Capparelli Gerling
7 2009 Keli da Silva Chin Uma abordagem analítica da Chacona, recitativo e fuga Mestrado Profa. Dra. Any Raquel
(2005) de Almeida Prado e sua relação com três outras Souza de Carvalho
obras
8 2009 Fernando Rauber Gonçalves Neoclassicismo e nacionalismo no Segundo Concerto pa- Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
ra Piano e Orquestra de Camargo Guarnieri Capparelli Gerling
287

9 2010 André Carrara Deliberação expressiva e toque pianístico Doutorado Profa. Dra. Cristina Maria
Capparelli Gerling
10 2011 Ary Yuri Pingo Valsas Nobres e Sentimentais de Maurice Ravel: cami- Mestrado Prof. Dr. Ney Fialkow
nhos de um intérprete
11 2011 Alexsander Ribeiro de Lara As texturas do estilo concertante no primeiro movimento Mestrado Prof. Dr. Ney Fialkow
da sonata K. 284 de W. A. Mozart
12 2011 Josias Matschulat Gestos musicais no Ponteio nº 49 de Camargo Guarnie- Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
ri: análise e comparação de gravações Capparelli Gerling
13 2011 Selva Viviana Martínez Aquino Guias de Execução na memorização do segundo movi- Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
mento da Sonata nº 2 de Dimitri Shostakovitch Capparelli Gerling
14 2012 Irene Porzio Zavala As inter-relações entre os gestos musicais e os gestos Mestrado Profa. Dra. Cristina Maria
corporais na construção da interpretação da peça para Capparelli Gerling
piano solo "Sul Re" de Héctor Tosar
15 2012 Taiur Agnoletto Fontana Opções interpretativas nas cartas celestes I de Almeida Mestrado Prof. Dr. Ney Fialkow
Prado: a flexibilidade na realização da notação
16 2012 Paulo Pereira Meirelles Neto Noturno para Piano nº 12 de Almeida Prado: reflexão Mestrado Prof. Dr. Ney Fialkow
sobre a execução das indicações metafóricas.
17 2012 Daniel Junqueira Tarquínio A teoria da entonação de B. Asafiev e a execução musi- Doutorado Profa. Dra. Cristina Maria
cal: concepções analíticas para a interpretação das Ci- Capparelli Gerling
randas de Villa-Lobos
18 2012 Daniel Vieira “Boisinhos” e “Lobosinhos” de Heitor Villa - Lobos: o Doutorado Profa. Dra. Any Raquel
cuidado de si no processo de performance como crítica Souza de Carvalho
para a constituição de um sujeito de atitude estética
19 2012 Daniela Tsi Gerber A memorização musical através dos guias de execução: Doutorado Profa. Dra. Cristina Maria
um estudo de estratégias deliberadas Capparelli Gerling
288

9- UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS (UFG)

Área de concentração: Música, criação e expressão. Linha de pesquisa: Performance Musical e suas interfaces158.

Fonte: <http://mestrado.emac.ufg.br/p/2810-linhas-de-pesquisa>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador


1
2007 David Souza Martins Gestos Musicais na Fantasia Concertante para Piano, Mestrado Profa. Dra. Lúcia Silva
1
Clarinete e Fagote de Heitor Villa-Lobos Barrenechea
2 2007 Elenice Maranesi O piano popular de César Camargo Mariano: a descrição de Mestrado Oriantadora:Profa. Dra.
um processo de transcrição Lúcia Barrenechea. Co-
orientadora: Sônia Marta
Rodrigues Raymundo
3 2007 Viviam Deotti Carvalho A preparação para a performance pianística solista e a Mestrado Profa. Dra. Sônia Marta
prática de Música de Câmara: um estudo de caso do pianista Rodrigues Raymundo
camerista
4 2007 Lara Roberta Peres de Lima e Silva Viva Villa! de Gilberto Mendes: uma investigação da Mestrado Profa. Dra. Lúcia Silva
Greco ocorrência de intertextualidade numa homenagem Pós- Barrenechea
moderna
5 2008 Sérgio de Paiva O pianista correpetidor na atividade coral: preparação, Mestrado Prof. Dr. Ângelo Dias
ensaio e performance
6 2010 Franklin Roosevelt Silva Muniz O pianista camerista, correpetidor e colaborador: as habi- Mestrado Prof. Dr. Carlos Henrique
lidades nos diversos campos de atuação Coutinho Rodrigues Costa

158
Atualmente, o Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Goiás contempla a área de concentração Música na contemporaneidade e a linha de pesquisa
Música, criação e expressão: performance musical. Estão disponibilizadas no site da instituição as produções indicadas pelos algarismos 1, 5, 6, 7 e 9.
289

7 2011 Rodrigo Tiago Ribeiro Um estudo sobre opções interpretativas para elementos Mestrado Prof. Dr. Carlos Henrique
folclóricos na performance pianística atual Coutinho Rodrigues Costa
8 2012 Ana Flávia Siqueira e Silva Costa Três Danças Brasileiras para piano solo: uma abordagem Mestrado Prof. Dr. Carlos Henrique
técnico-interpretativa dos acentos Coutinho Rodrigues Costa
9 2012 Ana Léia de Moraes Nascimento Belkiss Spenzieri Carneiro de Mendonça e o Improviso nº 2 Mestrado Prof. Dr. Carlos Henrique
de Camargo Guarnieri: uma interação pegagógico e interpre- Coutinho Rodrigues Costa
tativa
290

10- UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA)

Área de concentração: Execução Musical

Fonte: <https://repositorio.ufba.br/ri/> e Catálogo Online Pergamum. Disponível em: < http://www.pergamum.bib.ufba.br/pergamum/biblioteca/


index.php>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador


1
2007 Carlos Alberto Assis Coesão e proporções nos Improvisos de Camargo Guarnieri Mestrado Profa. Dra. Diana Santiago
1
da Fonseca
2 2007 Larissa Martins de Lima O Bahia - Concerto op. 17 de Ernest Widmer: uma abor- Mestrado Profa. Dra. Diana Santiago
dagem pianística da Fonseca

3 2008 Margareth Maria Milani Prelúdios Tropicais de Guerra-Peixe: uma análise estrutural Mestrado Profa. Dra. Diana Santiago
e sua projeção na concepção interpretativa da obra da Fonseca
4 2008 Christian Alessandro Lisboa A intenção do intérprete e a percepção do ouvinte: um Doutorado Profa. Dra. Diana Santiago
estudo das emoções em música a partir da obra Piano Pierce da Fonseca
de Jamary Oliveira
5 2008 Raimundo Mentor de Melo Fortes Mistura de tradições musicais: semiose e representação Doutorado Profa. Dra. Diana Santiago
Filho mental na performance dos arranjos pianísticos de Francis da Fonseca
Hime
6 2009 Valéria Rosetto Nunes Leitura Musical: da decodificação à compreensão. Um Mestrado Profa. Dra. Diana Santiago
estudo de performance aplicado a duas obras de Cláudio da Fonseca
Santoro
7 2011 Raimara Kadija Teles Pinheiro Quatro Estudos para piano de Paulo Gondim: um estudo Mestrado Prof. Dr. Eduardo Antônio
analítico Conde Garcia Júnior
291

11- UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB)

Área de concentração: Práticas Interpretativas. Linhas de pesquisa: Performance e Pedagogia Instrumental/Vocal e Performance e Análise159.

Fonte: < http://bancodeteses.capes.gov.br/>.

Ano Autor Título da produção Nível Orientador


1
2007 Kátia Suzette Braga Gurgel Análise e Considerações Técnico-pianísticas sobre os Três Mestrado Prof. Dr. José Henrique
1
estudos em Forma de Sonatina de Oscar Lorenzo Fernandes Martins

2 2008 Thaíssa Andrade Santiago As lesões por esforços repetitivos e os Bacharelandos em Mestrado Prof. Dr. José Henrique
Piano: uma abordagem quantitativa em Cursos de Institui- Martins
ções Públicas Brasileiras
3 2011 Igara Cynara Cabral de Paiva Oriano de Almeida (1921-2004): um estudo analítico- Mestrado Prof. Dr. José Henrique
interpretativo e uma edição de quatro Prelúdios Potiguares Martins

159
Por meio do acesso ao site do Programa de Pós-Graduação (em Música) da instituição, verificamos a não disponibilização da relação e formato eletrônico das pesquisas
produzidas na área de concentração Práticas Interpretativas.

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