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Português - Resumo - Os Lusíadas

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NARRADORES

Português → O poeta (I,II,VI,VII,VIII,IX,X)



“Os Lusíadas”
Vasco da Gama (III,IV,V)
→ Paulo da Gama (VIII)
Os Lusíadas é um poema épico, do género → Fernão Veloso (VI, “Doze de Inglaterra”)
narrativo em verso, destinado a celebrar feitos
de heróis, mais precisamente o povo português, IMAGINÁRIO ÉPICO
enquanto herói coletivo. A epopeia remonta à Matéria Épica – feitos históricos e viagem;
antiga Grécia, com Homero, e a Roma, com Sublimidade do canto – celebração de feitos
Virgílio, autores a que Camões recorreu para se grandiosos;
inspirar. Mitificação do herói – divinização dos
EXTRUTURA INTERNA navegadores, alcançada pela união com as
Ninfas; estes atingem a imortalidade.
INTRODUÇÃO
Proposição (I, 1 a 3) – Momento em que o poeta EXTRUTURA EXTERNA
dá conta do seu propósito ou intenção. → 10 cantos;
Invocação (I, 4 e 5) – Pedido de inspiração → 1102 estrofes;
endereçado às Tágides (existem outras → Oitavas (estrofes de 8 versos);
invocações nos cantos III, VII e X).
→ Decassílabos (10 sílabas métricas);
Dedicatória (I, 6 a 18) – Oferta do poema a D.
→ Rima cruzada e emparelhada (nos 6 primeiros
Sebastião ainda futuro rei, termina com um apelo.
e nos 2 últimos, respetivamente).
DESENVOLVIMENTO
LINGUAGEM E ESTILO
Narração (I, 19 a X, 144)
Combinação de um língua culta latinizante com a
Plano da Viagem (de Vasco da Gama à Índia)
língua tradicional, oral. A primeira é visível nos
Ação Central
discursos onde predomina um vocabulário erudito,
Plano dos Deuses ou Mitológico construções alatinadas, onde se inverte a ordem
Acompanha, em paralelo a ação central das palavras. A segunda verifica-se na utilização
de uma linguagem oral, com recurso a aforismos
Plano da História de Portugal (breves sentenças), como “melhor é merecê-los
Ação Secundária (encaixada na ação central) sem os ter, que possui-los sem os merecer”.
Plano das Reflexões do Poeta (sobretudo no fim Estilisticamente, abundam perífrases e
dos cantos, o poeta tece considerações sobre metonímias, metáforas, comparações,
vários assuntos, como se vê por baixo) paralelismos, simetrias, personificações,
Interdependência – As reflexões surgem em antíteses, imagens dos campos lexicais da
consequência de acontecimentos relatados natureza, da navegação e da ciência náutica, da
anteriormente, e que suscitam as considerações guerra e das atividades bélicas, das cores e da
que o poeta faz. visualidade.

→ Fragilidade da vida humana (I) MATÉRIA ÉPICA: FEITOS HISTÓRICOS E


→ Desprezo dos portugueses pelas artes (V) VIAGEM
→ Verdadeiro valor da fama e da glória (VI) Os Lusíadas surgem da necessidade de colocar
→ Lamentações por ser vítima de vários os feitos dos descobridores e conquistadores
infortúnios (VII) portugueses acima de tudo o que fora feito pelos
→ O vil poder do ouro, fonte de corrupção e de heróis da Antiguidade Clássica.
perjúrio (VIII)
Os Descobrimentos são o assunto grandioso da
→ Verdadeiras formas de alcançar a fama e o
epopeia camoniana, de interesse nacional e
heroísmo (IX)
universal, centrando-se, sobretudo, na
→ Retoma o tema do desprezo pela arte e nova
descoberta, pelos portugueses, enquanto figura
exortação ao rei (X)
heroica coletiva, do caminho marítimo para a índia
Desencanto do poeta e exortação final a D. e em todos os obstáculos que tiveram de
Sebastião (X, 145-156) enfrentar: as ciladas de Baco, a tempestade, a
CONCLUSÃO doença, a traição dos mouros…
Vasco da Gama narra os feitos do seu povo ao rei Porém Vénus e as Nereides intervêm e afastam as
de Melinde, poetizando a História de Portugal, a naus do perigoso porto.
começar em Luso e a terminar em 1497, com D. Após a descoberta da armadilha, o falso piloto
Manuel. mouro põe-se em fuga e Vasco da Gama
Júpiter, em auxílio de Vénus, prediz alguns feitos agradece a proteção da divina guarda.
heroicos. Vénus pede auxílio ao pai Júpiter, que envia
Camões pretende que o seu povo se torne divino Mercúrio, seu mensageiro, para indicar a Vasco da
pela fortaleza de ânimo e pela prática de nobres Gama, em sonhos, o caminho a seguir para
virtudes, de modo a que substituam a fama dos encontrar terra amiga.
heróis da Antiguidade. Os nautas portugueses partem, então de
Mombaça e dirigem-se para Melinde, onde são
SUBLIME DO CANTO
bem recebidos, e Vasco da Gama é convidado
Na invocação, o poeta pede Às Tágides que lhe pelo rei a contar a História da sua gente.
concedam um novo estilo grandioso com objetivo
de deixar os Portugueses famosos por todo o SÉCULO II a.C. a SÉCULO XIV
“Universo” (presente e futuro) e faz parte de uma Canto III (143 estâncias)
epopeia o uso de vocabulário, frases e estâncias
de estilo formal e de uma eloquência superior. O poeta pede inspiração a Calíope para dar conta
do que Vasco da Gama narrara ao rei e, em
MITIFICAÇÃO DO HERÓI
analepse encaixada, o capitão português vai
Herói (povo português): indivíduo notabilizado descrever a situação geográfica da Europa, bem
pelos seus feitos guerreiros, a sua coragem e como a origem e a afirmação da nacionalidade,
altruísmo. incluindo neste relato a batalha de S. Mamede e a
Simbolizado, por vezes, na figura de Vasco da de Ourique, a ação de Egas Moniz, o pedido de
Gama. auxílio para o marido, por parte de Maria ao pai, D.
Camões eleva os Portugueses a um nível mítico, Afonso IV, facto que constitui o episódio lírico
acima dos poderes terrenos. designado de “Formosíssima Maria”.
Exalta-se, também, o heroísmo de D. Afonso IV,
1498 destacando-o como heróis da batalha do Salado
Canto I (106 estâncias) (1.º episódio) e de outros monarcas portugueses,
como Afonso III e D. Dinis.
No Canto I surge a Proposição, a Invocação, a A partir da estância 119, o poeta detém-se na
Dedicatória. A partir da estância 19, dá-se início à história de amor de Pedro e Inês, surgindo o 2.º
Narração, no momento em que a armada episódio lírico, o de Inês de Castro. Termina o
portuguesa se encontra no Oceano Índico. A canto com a referência ao caráter brando de D.
narração é logo interrompida na estância 20, Fernando.
dando-se início ao Consílio dos deuses do Olimpo.
Assim, percebe-se que, a par do plano da viagem, SÉCULO XV a 1497
surge o plano dos deuses. Canto IV (104 estâncias)
Após a decisão favorável ao prosseguimento da
viagem, os lusos continuam e navegam até à Ilha Vasco da Gama prossegue o relato da História de
de Moçambique, onde pensavam ir ser bem Portugal ao rei de Melinde, falando-lhe da morte
recebidos. Mas, por intervenção de Baco, acabam de D. Fernando e da ascensão ao trono do novo
por cair numa cilada da qual saem com a ajuda de rei, D. João, não sem antes explicar o perigo que
Vénus. Deste modo, chegam a Mombaça. D. Leonor representava para a nação portuguesa,
O canto termina com a primeira reflexão do poeta. dada a sua ligação a Castela. Integra também o
discurso de incitamento de Nuno Álvares Pereira
Reflexões do Poeta – reflexão acerca dos perigos bem como a descrição da preparação e da batalha
a que os frágeis humanos estão sujeitos, não de Aljubarrota (3.º episódio), a conquista de Ceuta,
conseguindo encontrar segurança. não esquecendo D. Duarte, D. Afonso V, D. João
II e o sonho profético de D. Manuel I, que vai
Canto II (113 estâncias) confiar a Vasco da Gama a descoberta do
Prossegue a narração com o relato da entrada de caminho marítimo para a Índia.
dois portugueses em Mombaça, a convite do rei, Inclui ainda as despedidas em Belém e apresenta
os quais, ao regressarem, trazem recado de o 4.º episódio, o do Velho do Restelo, considerado
amigos, porque foram enganados por Baco. simbólico e profético.
1498 bonança, o que faz com que Vasco da Gama
agradeça a Deus o seu auxílio.
Canto V (100 estâncias)
A fechar o canto, surge o novo comentário do
Continua a narração de Gama ao rei de Melinde, poeta.
dando conta, agora, dos acontecimentos relativos
Reflexão do Poeta – Comentário acerca do
à viagem, desde Lisboa até Melinde, descrevendo
verdadeiro valor da fama e da glória, enumerando
a travessia marítima e os incidentes ocorridos,
o que deve ser recusado e o que deve ser
nomeadamente o fogo-de-Santelmo e a tromba considerado para se alcançarem honras imortais.
marítima. Insere ainda um episódio breve (o 5.º),
relativo à aventura de Fernão Veloso, o marinheiro Canto VII (87 estâncias)
que, com os nativos, se aventurou na mata.
Os navegadores chegam à Índia (Calecute) e,
Prossegue o relato da viagem para destacar o 6.º
mais próximos da nova terra, os lusos veem
episódio, o do Adamastor, ocorrido aquando da
chegar pequenas embarcações de pescadores
passagem pelo Cabo das Tormentas.
que os conduzem à cidade de Calecute. Segue-se
A viagem prossegue até à terra que designaram
a descrição dessa terra, que fica entre os rios Indo
de Bons Sinais, onde foram bem recebidos e um
e Ganges, e cujo senhor se chama Samorim.
padrão ergueram. Contudo, a alegria cede lugar à
Aí, é enviado um português a terra, que vai ser
desventura quando se veem assolados pelo
acompanhado por Monçaide, que visita, depois, a
escorbuto, doença fatal para quem a apanhava,
frota portuguesa.
como foi o caso de alguns companheiros.
Vasco da Gama desembarca e é recebido pelo
Partiram de novo procurando terra mais firme,
Catual, o regedor do reino. Este fala com o capitão
tendo chegado a Moçambique, onde se deparam
português que, posteriormente, é recebido pelo
com a falsidade, e, só depois, a Melinde, onde se
Samorim, que o aloja a ele e à comitiva
encontram no momento.
O canto termina com nova reflexão. portuguesa.
O Catual vai depois visitar as naus lusitanas e vai
Reflexão do Poeta – reflexão a propósito do ser recebido por Paulo da Gama.
desprezo a que os portugueses votam as artes e A partir da estância 78, o poeta intervém de novo.
de incapacidade destes em aliar as armas às
Reflexão do Poeta – Na estância 2, surge nova
letras.
intervenção do poeta a elogiar o espírito de
Canto VI (99 estâncias) cruzada dos portugueses. Na estância 78, o poeta
invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego e lamenta
Neste canto, destaca-se a festa de despedida em
a situação em que se encontra, tendo já sido
Melinde, de onde a armada parte, depois
vítima de vários infortúnios. Critica os opressores
abastecida, em direção à Índia, retomando-se,
e aqueles que não prezam quem os canta,
assim, a viagem.
afugentando assim outros escritores. Por isso,
Assiste-se a nova intervenção de Baco, que
pede o favor das Ninfas para que, no seu canto,
desce ao palácio de Neptuno, pedindo-lhe que enalteça apenas os que o mereçam.
convoque os Deuses do mar, e é Tritão que, a seu
mando, o vai fazer. Canto VIII (99 estâncias)
Dá-se o 2.º Consílio, do qual saem ações que
Ao observar as bandeiras ostentadas no barco
visam impedir os portugueses de chegarem à
onde fora recebido, o Catual detém-se nas figuras
Índia, nomeadamente a dos ventos repugnantes,
aí representadas, querendo saber de quem se
enviados por Éolo.
trata.
Como os navegadores vinham cansados e
Paulo da Gama satisfaz a curiosidade do Catual
ensonados, começam a contar histórias para não
e vai falar de várias figuras, desde Luso e Viriato
adormecer. Deste modo, surge o 7.º episódio – os
até D. Duarte de Meneses, acrescentando que
doze de Inglaterra.
muitos outros poderiam ser lembrados, mas a falta
Enquanto os marinheiros ouvem a narrativa de
de luz já tal não permitia.
Veloso, os ventos crescem e começam a destruir
O Catual regressa a terra e, por influência de
velas e mastros, instalando-se uma terrível
Baco, os indianos vão acreditar que os
tempestade, que leva Vasco da Gama a fazer uma
portugueses estavam ali para os aniquilar. Por
prece à “Divina Guarda”.
isso, surge o propósito de destruir a frota
De novo, as Ninfas amorosas, enviadas por
portuguesa e Gama é feito prisioneiro do Catual.
Vénus, vão abrandar os ventos furiosos e impor a
Este só vai ser libertado a troco de mercadorias.
Este resgate desencadeia nova reflexão do poeta. Mundo”. Aqui, indica-lhe os lugares onde os
portugueses farão grandes feitos.
Reflexão do Poeta – Reflexão que se prende com
Tétis despede-se dos portugueses e estes
o poder do dinheiro que tanto a pobres como a
regressam à pátria.
ricos corrompe.
Reflexão do Poeta – No fim, do canto e da
Canto IX (95 estâncias)
epopeia, o poeta refere o seu desânimo por
Ultrapassadas as dificuldades que encontraram “cantar a gente surda e endurecida” e por a pátria
na Índia e ajudados por Monçaide a não cair de estar envolta na cobiça e na tristeza; enumera as
novo em armadilhas, os portugueses encetam a sevícias a que os portugueses são capazes de se
viagem de regresso à pátria. submeter para servir o rei e exorta D. Sebastião a
Vénus quer recompensar os navegadores realizar novos feitos, oferecendo-se para mostrar
portugueses e dar-lhes o repouso e a glória que ao mundo a grandeza do monarca, através do seu
estes mereciam; por isso, prepara-lhes, no meio canto.
do oceano, uma ilha, onde as Ninfas os
aguardarão com danças e afetos, contando a
deusa protetora com a ajuda do seu filho Cupido.
As divindades vão trabalhar para, com um manjar
deleitoso, receberem os marinheiros. Estes
avistam de longe a ilha que Vénus lhes levava e
que depois imobilizou para que aí
desembarcassem. Surge, assim, a Ilha dos
Amores.
Assiste-se, ainda neste canto, à exortação de
Veloso, ao relato da aventura de Lionardo, à
confraternização e aos casamentos entre as
Ninfas e os nautas lusitanos, simbolizando a
divinização dos heróis.
Vasco da Gama visita o palácio de Tétis e,
posteriormente, é explicado ao leitor o sentido
alegórico da ilha – a recompensa ou prémio pelos
trabalhos já passados.
Reflexão do Poeta – As reflexões centram-se no
incitamento à ação daqueles que pretendem
alcançar a imortalidade, devendo, para isso,
recusar a tirania, lutar contra os sarracenos, pois
só deste modo se alcançarão as verdadeiras
honras e o direito a serem recebidos na ilha de
Vénus.
Canto X (156 estâncias)
Ainda na ilha, os nautas vão ser presenteados
com um banquete oferecido por Tétis e as
restantes Ninfas.
Uma deusa vai prever a vinda de outras armadas
e as dificuldades que irão encontrar, mas é
interrompida pelo poeta que faz uma invocação a
Calíope, para que o seu gosto pela escrita não
esmoreça devido ao peso da idade ou ao seu
infortúnio.
A Ninfa prossegue com a sua profecia acerca das
conquistas futuras dos portugueses.
Para terminar os festejos, Tétis conduz Vasco da
Gama ao cume de um monte, onde se encontra
um globo, a que a deusa chama “máquina do
ANÁLISE REFLEXÕES DO POETA “No mar tanta tormenta e tanto dano, / Tantas
vezes a morte apercebida! / Na terra tanta guerra,
Canto I (estâncias 105-106)
tanto engano, / Tanta necessidade avorrecida!” –
Reflexão acerca da fragilidade humana
pluralidade de circunstâncias que colocam o
O recado que trazem é de amigos, Homem em perigo; mitificação do herói, tanto
Mas debaxo o veneno vem coberto, maior é o herói, quantas mais adversidades,
Que os pensamentos eram de inimigos, superiores ao seu tamanho, conseguir ultrapassar,
Segundo foi o engano descoberto. tendo como beneficiários outros.
Ó grandes e gravíssimos perigos,
“Onde pode acolher-se um fraco humano, / Onde
Ó caminho de vida nunca certo,
terá segura a curta vida,” – construção anafórica;
Que aonde a gente põe sua esperança
impossibilidade de o ser humano encontrar um
Tenha a vida tão pouca segurança!
lugar seguro, luta constante, tudo incerto, inédito,
criaturas pequenas e frágeis.
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida! “Que não se arme e se indigne o Céu sereno, /
Na terra tanta guerra, tanto engano, Contra um bicho da terra tão pequeno?” - que
Tanta necessidade avorrecida! não se indignem os Deuses contra os pequenos,
Onde pode acolher-se um fraco humano, solitários e abandonados marinheiros, que
Onde terá segura a curta vida, ultrapassando aqueles embargos, se tornarão
Que não se arme e se indigne o Céu sereno, heróis, confirmado pela interrogação retórica.
Contra um bicho da terra tão pequeno?
Canto V (estâncias 92-100)
Reflexão acerca do desprezo dos português
“O recado que trazem é de amigos, / Mas debaxo pelas artes
o veneno vem coberto, / Que os pensamentos
eram de inimigos, / Segundo foi o engano Quão doce é o louvor e a justa glória
descoberto.” – conclusão do episódio que Dos próprios feitos, quando são soados!
decorria; (alguém) pareciam confiáveis, mas Qualquer nobre trabalha que em memória
escondiam intenções. ”mas” – conjunção Vença ou iguale os grandes já passados.
coordenativa adversativa com valor de contraste; As envejas da ilustre e alheia história
“que” – valor causal. Fazem mil vezes feitos sublimados.
Quem valorosas obras exercita,
“Ó grandes e gravíssimos perigos,” – salienta os
Louvor alheio muito o esperta e incita.
obstáculos a que os marinheiros estiveram
sujeitos; “grandes e gravíssimos” dupla
Não tinha em tanto os feitos gloriosos
adjetivação e hipérbole; “Ó” – interjeição (marca
De Aquiles, Alexandro, na peleja,
linguística, inicia o discurso reflexivo).
Quanto de quem o canta os numerosos
Versos: isso só louva, isso deseja.
“Ó caminho de vida nunca certo,” – “Ó” –
Os troféus de Milcíades, famosos,
juntamente com a interjeição do anterior verso
Temístocles despertam só de enveja:
formam uma construção anafórica usada para
E diz que nada tanto o deleitava
introduzir a expressão de desencanto/
Como a voz q seus feitos celebrava.
desaprovação causada pela surpresa.
“Que aonde a gente põe sua esperança / Tenha a Trabalha por mostrar Vasco da Gama
vida tão pouca segurança!” – mostra que a Que essas navegações que o mundo canta
confiança q se tem (em alguém ou algo) fragiliza o Não merecem tamanha glória e fama
ser humano pela sua pouca vivência para adquirir Como a sua, que o Céu e a Terra espanta.
experiência em reconhecer falsas intenções, Si, mas aquele Herói que estima e ama
mostra assim que os seres humanos são fracos; Com dões, mercês, favores e honra tanta
“!” – marca linguística (discurso subjetivo), exprime A lira Mantuana, faz que soe
a intensidade da perplexidade. Eneias, e a Romana glória voe.
Dá a terra Lusitana Cipiões, Estas estâncias mostram que os portugueses não
Césares, Alexandros, e dá Augustos; são Homens Renascentistas uma vez que não
Mas não lhe dá contudo aqueles dões seguem o modelo do Homem de Vitrúvio criado
Cuja falta os faz duros e robustos. por Leonardo da Vinci, que é um Homem completo
Octávio, entre as maiores opressões, por cuidar da mente (artes/cultura) e do corpo
Compunha versos doutos e venustos (guerra/armas). Camões e D. Dinis são exemplos
(Não dirá Fúlvia, certo, que é mentira. portugueses de Homens que conciliaram as
Quando a deixava António por Glafira). guerras e a governação, no caso de D. Dinis, com
a poesia e as artes.
Vai César sojugando toda França
Na estrofe 92 é introduzida a reflexão com o
E as armas não lhe impedem a ciência;
conceito de Homem Ideal – aquele que concilia a
Mas, numa mão a pena e noutra a lança,
guerra e louva a literatura.
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança A partir da estância 93 decorre o desenvolvimento
É nas comédias grande experiência. da reflexão na qual são referidos grandes heróis
Lia Alexandro a Homero de maneira da Antiguidade que além de serem responsáveis
Que sempre se lhe sabe à cabeceira. por grandes atos dedicaram-se à escrita.

Enfim, não houve forte Capitão “Trabalha por mostrar Vasco da Gama / Que essas
Que não fosse também douto e ciente, navegações que o mundo canta / Não merecem
Da Lácia, Grega ou Bárbara nação, tamanha glória e fama / Como a sua, que o Céu e
Senão da Portuguesa tão somente. a Terra espanta.” – nestes versos o poeta
Sem vergonha o não digo: que a razão demonstra que pela prática (ou seja, Vasco da
De algum não ser por versos excelente Gama mostrou/provou) que os antigos feitos eram
É não se ver prezado o verso e a rima, inferiores ao seu. “o Céu e a Terra espanta”,
Porque quem não sabe arte, não a estima. hipérbole que coloca os feitos dos portugueses
acima dos outrora ocorridos. Sem poetas não há
Por isso, e não por falta de natura, heróis, os heróis não seriam enaltecidos, apenas
Não há também Virgílios nem Homeros; seriam lembrados.
Nem haverá, se este costume dura, Na estrofe 95 o poeta afirma que de Portugal
Pios Eneias nem Aquiles feros. provêm militares tão ilustres quanto os da
Mas o pior de tudo é que a ventura Antiguidade, mas de lá não vêm Homens com
Tão ásperos os fez e tão austeros, aquelas qualidades que, estando em falta, tornam
Tão rudos e de engenho tão remisso, os Homens duros e robustos e sem qualquer
Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso. sensibilidade às artes. “Octávio, entre as maiores
opressões, / Compunha versos doutos e venustos”
Á Musas agradeça o nosso Gama – exemplo do homem ideal que Octávio foi, nutria
O muito amor da pátria, que as obriga de uma dupla competência.
A dar aos seus, na lira, nome e fama
De toda a ilustre e bélica fadiga; “Mas, numa mão a pena e noutra a lança,” – verso
Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, geralmente associado a Camões, poeta que
Calíope não tem por tão amiga enaltece a perfeição humana (o equilíbrio entre a
Nem as filhas do Tejo, que deixassem escrita/literatura e as armas/guerra).
As telas d’ouro fino e que o cantassem.
“Enfim, não houve forte Capitão” – “enfim”, conclui
a enumeração de exemplos de Homens que se
Porque o amor fraterno e puro gosto
destacaram pela competência bélica e engenho
De dar a todo o Lusitano feito
para as letras. Nesta estância é reforçado que a
Seu louvor, é somente o pros[s]uposto
nação Portuguesa não forma Capitães que
Das Tágides gentis, e seu respeito.
valorizem tanto a cultura quanto valorizam as
Porém não deixe, enfim, de ter disposto
batalhas. “Porque quem não sabe arte, não a
Ninguém a grandes obras sempre o peito:
estima.” – reflexão síntese acerca da nação
Que, por esta ou por outra qualquer via,
lusitana.
Não perderá seu preço e sua valia.
“Por isso, e não por falta de natura,” – Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
justificação/causa/explicação para a falta de O vosso Tejo cria valorosos,
apatia dos portugueses perante a arte. Os Que assim sabem prezar, com tais favores,
restantes versos ressaltam que não há nem A quem os faz, cantando, gloriosos!
haverão heróis para eternizar e glorificar se esta Que exemplos a futuros escritores,
apatia perdurar. Nos versos finais é nos dito que Pera espertar engenhos curiosos,
quanto mais bruto e inculto se for mais longe se Pera porem as coisas em memória
posicionam em relação à cultura. Que merecerem ter eterna glória!
Na estância 99 é feita uma referência à inspiração Pois logo, em tantos males, é forçado,
pedida na Invocação. Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Canto VII (estâncias 78-87) Onde feitos diversos engrandeça:
Reflexão do poeta sobre os infortúnios Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
constantes da sua vida Que não o empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego, Sob pena de não ser agradecido.
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego, Nem creiais, Ninfas, não, que a fama desse
Por caminho tão árduo, longo e vário! A quem ao bem comum e do seu Rei
Vosso favor invoco, que navego Antepuser seu próprio interesse,
Por alto mar, com vento tão contrário, Inimigo da divina e humana Lei.
Que, se não me ajudais, hei grande medo Nenhum ambicioso, que quisesse
Que o meu fraco batel se alague cedo. Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Olhai que há tanto tempo que, cantando
Usar mais largamente de seus vícios;
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Nenhum que use de seu poder bastante
Novos trabalhos vendo, e novos danos:
Para servir a seu desejo feio,
Agora o mar, agora experimentando
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Os perigos Mavórcios inumanos,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Qual Cánace, que à morte se condena,
Nem, Camenas, também cuideis que cante
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena;
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Agora, com pobreza avorrecida, Por contentar ao Rei no ofício novo,
Por hospícios alheios degradado; A despir e roubar o pobre povo!
Agora, da esperança já adquirida,
Nem quem acha que é justo e que é direito
De novo mais que nunca derribado;
Guardar-se a lei do Rei severamente,
Agora, às costas escapando a vida,
E não acha que é justo e bom respeito
Que dum fio pendia tão delgado
Que se pague o suor da servil gente;
Que não menos milagre foi salvar-se
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Que para o Rei Judaico acrescentar-se.
Razões aprende, e cuida que é prudente,
E ainda, Ninfas minhas, não bastava Para taxar, com mão rapace e escassa,
Que tamanhas misérias me cercassem, Os trabalhos alheios que não passa.
Senão que aqueles, que eu cantando andava
Aqueles sós direi que aventuraram
Tal prémio de meus versos me tornassem:
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,
A troco dos descansos que esperava,
Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,
Das capelas de louro que me honrassem,
Tão bem de suas obras merecida.
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Apolo e as Musas, que me acompanharam,
Com que em tão duro estado me deitaram.
Me dobrarão a fúria concedida,
Enquanto eu tomo alento, descansado,
Por tornar ao trabalho, mais folgado.
Todos os elementos destacados na estância 78 “Vede, Ninfas, que engenhos de senhores” –
mostram a presença do sujeito de enunciação. mostra, em tom de ironia, às Ninfas, que está a
“Vosso favor invoco, que navego / Por alto mar, cantar um povo que o despreza, continuando a
com vento tão contrário, / Que, se não me ajudais, crítica aos portugueses pela desconsideração com
hei grande medo / Que o meu fraco batel se que é tratado. “Que exemplos a futuros escritores,”
alague cedo.” – Nestes últimos 4 versos está – desmotivação que possa surgir aos futuros
presente a metáfora na qual, de forma metafórica, escritores caso o povo lusitano continue sem dar
o sujeito de enunciação pede auxílio às Ninfas do valor à literatura.
Tejo e do Mondego para que o ajudem a não
“Que só vosso favor me não faleça,” – pede que
naufragar = concluir o poema. “Que o meu fraco
pelo menos as Tágides não o abandonem.
batel se alague cedo.”, o “fraco batel” do poeta
“Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado / Que não
nada mais é do que a sua fragilidade atual
o empregue em quem o não mereça, / Nem por
causada pela falta de inspiração e, com a
lisonja louve algum subido, / Sob pena de não ser
expressão “alague cedo” o poeta refere a tragédia
agradecido.” – que as Ninfas ajudem o poeta a
que seria não acabar o poema.
concluir o poema que ele promete apenas cantar
“A Fortuna me traz peregrinando,” – A “Fortuna” quem mereça, não será hipócrita.
traduz-se pelo destino; “peregrinando”, mostra-
“Inimigo da divina e humana Lei. / Nenhum
nos que o poeta se encontra num caminho
ambicioso, que quisesse / Subir a grandes cargos,
difícil/custoso (devido ao destino que lhe foi
cantarei,” – não cantará quem não tiver o rei e o
concedido) mas com um objetivo/missão; “Novos
reino como destinatário das suas ações.
trabalhos vendo, e novos danos:” , aqui começa a
enunciação das dificuldades pelas quais o poeta “Nenhum que use de seu poder bastante / Para
se defrontou; servir a seu desejo feio,” – quem haja por interesse
próprio; “E que, por comprazer ao vulgo errante, /
“Agora o mar, agora experimentando / Os
Se muda em mais figuras que Proteio.” –
perigos Mavórcios inumanos, / Qual Cánace,
hipócritas; “A despir e roubar o pobre povo!” –
que à morte se condena, / Numa mão sempre a
quem explora os mais fracos (opressores).
espada, e noutra a pena;” – dificuldades marinhas
e da guerra, presentes nestes dois primeiros “Nem quem acha que é justo e que é direito /
versos. No último verso desta estância é Guardar-se a lei do Rei severamente,” – quem
reforçado, mais uma vez, a ideologia de Homem pensa que está acima do rei pelo cargo que nutre.
Ideal. “Para taxar, com mão rapace e escassa, / Os
trabalhos alheios que não passa.” – continua a
“Agora, com pobreza avorrecida, / Por hospícios
ideia da opressão.
alheios degradado;” – nestes dois versos o poeta
além de referir as dificuldades económicas pelas “Aqueles sós direi que aventuraram / Por seu
quais terá passado também refere a época em que Deus, por seu Rei, a amada vida, / Onde,
foi desterrado. A construção anafórica “Agora” perdendo-a, em fama a dilataram, / Tão bem de
presente nas estâncias 79 e 80, presentifica a suas obras merecida.” – quem é digno de ser
ideia de que as dificuldades foram constantes ao cantado: quem orientou a sua vida para seguir o
longo da vida do sujeito de enunciação (sucessão rei, o reino e Deus; aqueles que, pelos anteriores,
de desgraças). se sacrificaram. “Apolo e as Musas, que me
acompanharam, / Me dobrarão a fúria concedida,
“E ainda, Ninfas minhas, não bastava / Que
/ Enquanto eu tomo alento, descansado, / Por
tamanhas misérias me cercassem, / Senão que
tornar ao trabalho, mais folgado.” – sente que
aqueles, que eu cantando andava / Tal prémio de
depois do pedido de ajuda já se encontra apto a
meus versos me tornassem:” – “Ainda”, reforça a
continuar o poema, encontrava-se desalentado e
pobreza económica, apresenta as dificuldades
cansado pela falta de inspiração e valor.
como razões para obter ajuda das Ninfas, sente
que o destino está a testar a sua resistência. No
verso 4 o poeta manifesta-se contra a falta de
reconhecimento por parte do povo em relação a si
que se encontrava a escrever esta obra épica,
reservou uma estância para referir a indiferença
dos outros perante a sua escrita.
Canto IX (estâncias 88-95) Ou dai na paz as leis iguais, constantes,
Reflexões sobre o reforço para a continuação Que aos grandes não dêem o dos pequenos,
da tentativa de atingir a imortalidade Ou vos vesti nas armas rutilantes,
Contra a lei dos inimigos Sarracenos:
Assi a fermosa e a forte companhia
Fareis os Reinos grandes e possantes,
O dia quási todo estão passando
E todos tereis mais, o nenhum menos:
Numa alma, doce, incógnita alegria,
Possuireis riquezas merecidas,
Os trabalhos tão longos compensando.
Com as honras que ilustram tanto as vidas.
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando E fareis claro o Rei que tanto amais,
O prêmio lá no fim, bem merecido, Agora cos conselhos bem cuidados,
Com fama grande e nome alto e subido. Agora co as espadas, que imortais
Vos farão, como os vossos já passados.
Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,
Impossibilidades não façais,
Tétis, e a Ilha angélica pintada,
Que quem quis, sempre pôde; e numerados
Outra cousa não é que as deleitosas
Sereis entre os Heróis esclarecidos
Honras que a vida fazem sublimada. E nesta Ilha de “Vênus” recebidos.
Aquelas proeminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada “Assi” – retoma o relato da ilha dos amores; “Os
De palma e louro, a glória e maravilha, trabalhos tão longos compensando” – sintetiza a
Estes são os deleites desta ilha. ideia de prémio; “feitos grandes, da ousadia” –
Que as imortalidades que fingia razão do prémio; “O prémio lá no fim, bem
A antiguidade, que os Ilustres ama, merecido, / Com fama grande e nome alto e
Lá no estelante, Olimpo, a quem subia subido” – prémio real atingido pelas obras.
Sobre as asas ínclitas da Fama, Ao longo da estância 89 o poeta reforça que a ilha
Por obras valorosas que fazia, dos amores não passa de uma alegoria; “pintada”
Pelo trabalho imenso que se chama – imaginada.
Caminho da virtude, alto e fragoso, Na estância 90 o poeta mostra que para se ter
Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso, reconhecimento e fama é preciso ser se ousado e
Não eram senão prêmios que reparte, persistente.
Por feitos imortais e soberanos, “Não eram senão prémios que reparte, / Por feitos
O mundo com os varões que esforço e arte imortais e soberanos,” – capacidade de superação
Divinos os fizeram, sendo humanos. faz os heróis; “Divinos os que fizeram, sendo
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte, humanos.” – nomes a seguir citados são Deuses
Eneias e Quirino, e os dous Tebanos, que assim como os portugueses também foram
Ceres, Palas e Juno com Diana, homens, mas que após a sua morte ascenderam
Todos foram de fraca carne humana. a Divindades pelos seus valerosos feitos.
Mas a Fama, trombeta de obras tais, Na estância 92 o poeta pede de forma exortativa
Lhe deu no Mundo nomes tão estranhos que quem a fama quiser alcançar que saia do ócio.
De Deuses, Semideuses, imortais,
Indígetes, Heróicos e de Magnos. “freio duro”, “ambição também” – ambição
Por isso, ó vós que as famas estimais, excessiva e cobiça de feitos alheios não serão
Se quiserdes no mundo ser tamanhos, valorizados; sintetiza os conselhos desta estância
Despertai já do sono do ócio ignavo, nos últimos dois versos “Milhor é merecê-los sem
Que o ânimo, de livre, faz escravo. os ter, / Que possuí-los sem os merecer.”

E ponde na cobiça um freio duro, Na estância 94 continua, nos primeiros 4 versos,


E na ambição também, que indignamente os concelhos a quem queira de forma honesta
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro atingir grande fama: tornando as leis equitativas,
Vício da tirania infame e urgente, para que caiba a cada um o que é seu, tanto aos
Porque essas honras vãs, esse ouro puro, grandes (que mantenham o que é deles), quanto
Verdadeiro valor não dão à gente: aos humildes (que não lhes seja tirado para dar
Melhor é merecê-los sem os ter, aos ricos); que combatam contra os Mouros,
Que possuí-los sem os merecer. grandes inimigos dos lusos. Nos últimos 4 versos
o poeta mostra o que será o resultado de quem
seguir os seus conselhos.

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