Português - Resumo - Os Lusíadas
Português - Resumo - Os Lusíadas
Português - Resumo - Os Lusíadas
Enfim, não houve forte Capitão “Trabalha por mostrar Vasco da Gama / Que essas
Que não fosse também douto e ciente, navegações que o mundo canta / Não merecem
Da Lácia, Grega ou Bárbara nação, tamanha glória e fama / Como a sua, que o Céu e
Senão da Portuguesa tão somente. a Terra espanta.” – nestes versos o poeta
Sem vergonha o não digo: que a razão demonstra que pela prática (ou seja, Vasco da
De algum não ser por versos excelente Gama mostrou/provou) que os antigos feitos eram
É não se ver prezado o verso e a rima, inferiores ao seu. “o Céu e a Terra espanta”,
Porque quem não sabe arte, não a estima. hipérbole que coloca os feitos dos portugueses
acima dos outrora ocorridos. Sem poetas não há
Por isso, e não por falta de natura, heróis, os heróis não seriam enaltecidos, apenas
Não há também Virgílios nem Homeros; seriam lembrados.
Nem haverá, se este costume dura, Na estrofe 95 o poeta afirma que de Portugal
Pios Eneias nem Aquiles feros. provêm militares tão ilustres quanto os da
Mas o pior de tudo é que a ventura Antiguidade, mas de lá não vêm Homens com
Tão ásperos os fez e tão austeros, aquelas qualidades que, estando em falta, tornam
Tão rudos e de engenho tão remisso, os Homens duros e robustos e sem qualquer
Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso. sensibilidade às artes. “Octávio, entre as maiores
opressões, / Compunha versos doutos e venustos”
Á Musas agradeça o nosso Gama – exemplo do homem ideal que Octávio foi, nutria
O muito amor da pátria, que as obriga de uma dupla competência.
A dar aos seus, na lira, nome e fama
De toda a ilustre e bélica fadiga; “Mas, numa mão a pena e noutra a lança,” – verso
Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, geralmente associado a Camões, poeta que
Calíope não tem por tão amiga enaltece a perfeição humana (o equilíbrio entre a
Nem as filhas do Tejo, que deixassem escrita/literatura e as armas/guerra).
As telas d’ouro fino e que o cantassem.
“Enfim, não houve forte Capitão” – “enfim”, conclui
a enumeração de exemplos de Homens que se
Porque o amor fraterno e puro gosto
destacaram pela competência bélica e engenho
De dar a todo o Lusitano feito
para as letras. Nesta estância é reforçado que a
Seu louvor, é somente o pros[s]uposto
nação Portuguesa não forma Capitães que
Das Tágides gentis, e seu respeito.
valorizem tanto a cultura quanto valorizam as
Porém não deixe, enfim, de ter disposto
batalhas. “Porque quem não sabe arte, não a
Ninguém a grandes obras sempre o peito:
estima.” – reflexão síntese acerca da nação
Que, por esta ou por outra qualquer via,
lusitana.
Não perderá seu preço e sua valia.
“Por isso, e não por falta de natura,” – Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
justificação/causa/explicação para a falta de O vosso Tejo cria valorosos,
apatia dos portugueses perante a arte. Os Que assim sabem prezar, com tais favores,
restantes versos ressaltam que não há nem A quem os faz, cantando, gloriosos!
haverão heróis para eternizar e glorificar se esta Que exemplos a futuros escritores,
apatia perdurar. Nos versos finais é nos dito que Pera espertar engenhos curiosos,
quanto mais bruto e inculto se for mais longe se Pera porem as coisas em memória
posicionam em relação à cultura. Que merecerem ter eterna glória!
Na estância 99 é feita uma referência à inspiração Pois logo, em tantos males, é forçado,
pedida na Invocação. Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Canto VII (estâncias 78-87) Onde feitos diversos engrandeça:
Reflexão do poeta sobre os infortúnios Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
constantes da sua vida Que não o empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego, Sob pena de não ser agradecido.
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego, Nem creiais, Ninfas, não, que a fama desse
Por caminho tão árduo, longo e vário! A quem ao bem comum e do seu Rei
Vosso favor invoco, que navego Antepuser seu próprio interesse,
Por alto mar, com vento tão contrário, Inimigo da divina e humana Lei.
Que, se não me ajudais, hei grande medo Nenhum ambicioso, que quisesse
Que o meu fraco batel se alague cedo. Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Olhai que há tanto tempo que, cantando
Usar mais largamente de seus vícios;
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Nenhum que use de seu poder bastante
Novos trabalhos vendo, e novos danos:
Para servir a seu desejo feio,
Agora o mar, agora experimentando
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Os perigos Mavórcios inumanos,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Qual Cánace, que à morte se condena,
Nem, Camenas, também cuideis que cante
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena;
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Agora, com pobreza avorrecida, Por contentar ao Rei no ofício novo,
Por hospícios alheios degradado; A despir e roubar o pobre povo!
Agora, da esperança já adquirida,
Nem quem acha que é justo e que é direito
De novo mais que nunca derribado;
Guardar-se a lei do Rei severamente,
Agora, às costas escapando a vida,
E não acha que é justo e bom respeito
Que dum fio pendia tão delgado
Que se pague o suor da servil gente;
Que não menos milagre foi salvar-se
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Que para o Rei Judaico acrescentar-se.
Razões aprende, e cuida que é prudente,
E ainda, Ninfas minhas, não bastava Para taxar, com mão rapace e escassa,
Que tamanhas misérias me cercassem, Os trabalhos alheios que não passa.
Senão que aqueles, que eu cantando andava
Aqueles sós direi que aventuraram
Tal prémio de meus versos me tornassem:
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,
A troco dos descansos que esperava,
Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,
Das capelas de louro que me honrassem,
Tão bem de suas obras merecida.
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Apolo e as Musas, que me acompanharam,
Com que em tão duro estado me deitaram.
Me dobrarão a fúria concedida,
Enquanto eu tomo alento, descansado,
Por tornar ao trabalho, mais folgado.
Todos os elementos destacados na estância 78 “Vede, Ninfas, que engenhos de senhores” –
mostram a presença do sujeito de enunciação. mostra, em tom de ironia, às Ninfas, que está a
“Vosso favor invoco, que navego / Por alto mar, cantar um povo que o despreza, continuando a
com vento tão contrário, / Que, se não me ajudais, crítica aos portugueses pela desconsideração com
hei grande medo / Que o meu fraco batel se que é tratado. “Que exemplos a futuros escritores,”
alague cedo.” – Nestes últimos 4 versos está – desmotivação que possa surgir aos futuros
presente a metáfora na qual, de forma metafórica, escritores caso o povo lusitano continue sem dar
o sujeito de enunciação pede auxílio às Ninfas do valor à literatura.
Tejo e do Mondego para que o ajudem a não
“Que só vosso favor me não faleça,” – pede que
naufragar = concluir o poema. “Que o meu fraco
pelo menos as Tágides não o abandonem.
batel se alague cedo.”, o “fraco batel” do poeta
“Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado / Que não
nada mais é do que a sua fragilidade atual
o empregue em quem o não mereça, / Nem por
causada pela falta de inspiração e, com a
lisonja louve algum subido, / Sob pena de não ser
expressão “alague cedo” o poeta refere a tragédia
agradecido.” – que as Ninfas ajudem o poeta a
que seria não acabar o poema.
concluir o poema que ele promete apenas cantar
“A Fortuna me traz peregrinando,” – A “Fortuna” quem mereça, não será hipócrita.
traduz-se pelo destino; “peregrinando”, mostra-
“Inimigo da divina e humana Lei. / Nenhum
nos que o poeta se encontra num caminho
ambicioso, que quisesse / Subir a grandes cargos,
difícil/custoso (devido ao destino que lhe foi
cantarei,” – não cantará quem não tiver o rei e o
concedido) mas com um objetivo/missão; “Novos
reino como destinatário das suas ações.
trabalhos vendo, e novos danos:” , aqui começa a
enunciação das dificuldades pelas quais o poeta “Nenhum que use de seu poder bastante / Para
se defrontou; servir a seu desejo feio,” – quem haja por interesse
próprio; “E que, por comprazer ao vulgo errante, /
“Agora o mar, agora experimentando / Os
Se muda em mais figuras que Proteio.” –
perigos Mavórcios inumanos, / Qual Cánace,
hipócritas; “A despir e roubar o pobre povo!” –
que à morte se condena, / Numa mão sempre a
quem explora os mais fracos (opressores).
espada, e noutra a pena;” – dificuldades marinhas
e da guerra, presentes nestes dois primeiros “Nem quem acha que é justo e que é direito /
versos. No último verso desta estância é Guardar-se a lei do Rei severamente,” – quem
reforçado, mais uma vez, a ideologia de Homem pensa que está acima do rei pelo cargo que nutre.
Ideal. “Para taxar, com mão rapace e escassa, / Os
trabalhos alheios que não passa.” – continua a
“Agora, com pobreza avorrecida, / Por hospícios
ideia da opressão.
alheios degradado;” – nestes dois versos o poeta
além de referir as dificuldades económicas pelas “Aqueles sós direi que aventuraram / Por seu
quais terá passado também refere a época em que Deus, por seu Rei, a amada vida, / Onde,
foi desterrado. A construção anafórica “Agora” perdendo-a, em fama a dilataram, / Tão bem de
presente nas estâncias 79 e 80, presentifica a suas obras merecida.” – quem é digno de ser
ideia de que as dificuldades foram constantes ao cantado: quem orientou a sua vida para seguir o
longo da vida do sujeito de enunciação (sucessão rei, o reino e Deus; aqueles que, pelos anteriores,
de desgraças). se sacrificaram. “Apolo e as Musas, que me
acompanharam, / Me dobrarão a fúria concedida,
“E ainda, Ninfas minhas, não bastava / Que
/ Enquanto eu tomo alento, descansado, / Por
tamanhas misérias me cercassem, / Senão que
tornar ao trabalho, mais folgado.” – sente que
aqueles, que eu cantando andava / Tal prémio de
depois do pedido de ajuda já se encontra apto a
meus versos me tornassem:” – “Ainda”, reforça a
continuar o poema, encontrava-se desalentado e
pobreza económica, apresenta as dificuldades
cansado pela falta de inspiração e valor.
como razões para obter ajuda das Ninfas, sente
que o destino está a testar a sua resistência. No
verso 4 o poeta manifesta-se contra a falta de
reconhecimento por parte do povo em relação a si
que se encontrava a escrever esta obra épica,
reservou uma estância para referir a indiferença
dos outros perante a sua escrita.
Canto IX (estâncias 88-95) Ou dai na paz as leis iguais, constantes,
Reflexões sobre o reforço para a continuação Que aos grandes não dêem o dos pequenos,
da tentativa de atingir a imortalidade Ou vos vesti nas armas rutilantes,
Contra a lei dos inimigos Sarracenos:
Assi a fermosa e a forte companhia
Fareis os Reinos grandes e possantes,
O dia quási todo estão passando
E todos tereis mais, o nenhum menos:
Numa alma, doce, incógnita alegria,
Possuireis riquezas merecidas,
Os trabalhos tão longos compensando.
Com as honras que ilustram tanto as vidas.
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando E fareis claro o Rei que tanto amais,
O prêmio lá no fim, bem merecido, Agora cos conselhos bem cuidados,
Com fama grande e nome alto e subido. Agora co as espadas, que imortais
Vos farão, como os vossos já passados.
Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,
Impossibilidades não façais,
Tétis, e a Ilha angélica pintada,
Que quem quis, sempre pôde; e numerados
Outra cousa não é que as deleitosas
Sereis entre os Heróis esclarecidos
Honras que a vida fazem sublimada. E nesta Ilha de “Vênus” recebidos.
Aquelas proeminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada “Assi” – retoma o relato da ilha dos amores; “Os
De palma e louro, a glória e maravilha, trabalhos tão longos compensando” – sintetiza a
Estes são os deleites desta ilha. ideia de prémio; “feitos grandes, da ousadia” –
Que as imortalidades que fingia razão do prémio; “O prémio lá no fim, bem
A antiguidade, que os Ilustres ama, merecido, / Com fama grande e nome alto e
Lá no estelante, Olimpo, a quem subia subido” – prémio real atingido pelas obras.
Sobre as asas ínclitas da Fama, Ao longo da estância 89 o poeta reforça que a ilha
Por obras valorosas que fazia, dos amores não passa de uma alegoria; “pintada”
Pelo trabalho imenso que se chama – imaginada.
Caminho da virtude, alto e fragoso, Na estância 90 o poeta mostra que para se ter
Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso, reconhecimento e fama é preciso ser se ousado e
Não eram senão prêmios que reparte, persistente.
Por feitos imortais e soberanos, “Não eram senão prémios que reparte, / Por feitos
O mundo com os varões que esforço e arte imortais e soberanos,” – capacidade de superação
Divinos os fizeram, sendo humanos. faz os heróis; “Divinos os que fizeram, sendo
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte, humanos.” – nomes a seguir citados são Deuses
Eneias e Quirino, e os dous Tebanos, que assim como os portugueses também foram
Ceres, Palas e Juno com Diana, homens, mas que após a sua morte ascenderam
Todos foram de fraca carne humana. a Divindades pelos seus valerosos feitos.
Mas a Fama, trombeta de obras tais, Na estância 92 o poeta pede de forma exortativa
Lhe deu no Mundo nomes tão estranhos que quem a fama quiser alcançar que saia do ócio.
De Deuses, Semideuses, imortais,
Indígetes, Heróicos e de Magnos. “freio duro”, “ambição também” – ambição
Por isso, ó vós que as famas estimais, excessiva e cobiça de feitos alheios não serão
Se quiserdes no mundo ser tamanhos, valorizados; sintetiza os conselhos desta estância
Despertai já do sono do ócio ignavo, nos últimos dois versos “Milhor é merecê-los sem
Que o ânimo, de livre, faz escravo. os ter, / Que possuí-los sem os merecer.”