Psiquiatria - 2020
Psiquiatria - 2020
Psiquiatria - 2020
1.1 INTRODUÇÃO
A Psicologia médica é o ramo da Medicina que tem a Psicologia como
campo interdisciplinar específico. Pode também ser definida como o
estudo das relações médico-paciente e das ações psicológicas na
prática médica em geral, que se constitui como uma ciência única e
independente da Psiquiatria e da Psicologia.
Grandes contribuições à Psicopatologia vieram da Psicologia médica,
em especial das relacionadas a Ernst Kretschmer (1888-1964) e
Sigmund Freud (1856-1939), que recomendavam a especialização
em psicanálise das distintas especialidades médicas, aperfeiçoando
os profissionais na lida com os processos transferenciais da relação
médico-paciente. Os conceitos de psicanálise a seguir foram
retirados das obras de Sigmund Freud, resumidas no livro Noções
básicas de Psicanálise, de Charles Brenner.
1.2 CONTRIBUIÇÕES DE FREUD
A transferência e a contratransferência são uma forma de projeção
típica da relação terapêutica entre paciente e médico e podem
caracterizar-se de forma positiva, com sentimentos de afeto e
admiração, ou negativa, com sentimentos de agressividade e
resistência, dependendo dos laços inconscientes e emocionais que
emergem dessa relação.
Denominamos “transferência” as projeções relacionadas a reações
emocionais do paciente, dirigidas ao médico, com base nos conflitos
infantis dos pacientes com relação às figuras paterna e materna. A
“contratransferência” envolve sensações, sentimentos e percepções
que brotam no médico, emergentes do relacionamento terapêutico
com o paciente, também com base em seus conflitos inconscientes.
Espera-se que o médico esteja preparado emocionalmente para
saber lidar com tais conflitos.
Transferências são as projeções do paciente
dirigidas ao médico, enquanto as
contratransferências são projeções do médico
em relação ao paciente.
1.3 INCONSCIENTE
Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose
como forma de acesso aos conteúdos mentais no tratamento da
histeria. Ao observar melhora, elaborou a hipótese de que a causa da
doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base
para seus outros conceitos, como o do inconsciente. Assim,
abandonou o uso de hipnose em pacientes com histeria, em favor da
interpretação de sonhos e da livre associação como vias de acesso ao
inconsciente.
Freud procurou uma explicação à forma de operar do inconsciente,
propondo uma estrutura particular. No primeiro tópico, recorreu à
imagem do iceberg, em que o consciente corresponde à parte visível,
e o inconsciente corresponde à parte não visível, ou seja, à parte
submersa do iceberg. Em sua teoria, Freud estava preocupado em
estudar o que levava à formação dos sintomas psicossomáticos.
1.4 ID, EGO E SUPEREGO
Quando sua preocupação se voltou para a forma como se dava o
processo da repressão, Freud passou a adotar os conceitos de id, ego
e superego.
O id representa os processos primitivos do pensamento e constitui,
segundo Freud, o reservatório das pulsões, e, dessa forma, toda a
energia envolvida na atividade humana seria advinda do id.
Inicialmente, considerou que todas essas pulsões seriam de origem
sexual. Posteriormente, introduziu o conceito das pulsões de morte,
que atuariam no sentido contrário ao das pulsões de agregação e
preservação da vida. O id é responsável pelas demandas mais
primitivas e perversas.
O superego, a parte que contra-age ao id, representa os
pensamentos morais e éticos internalizados.
O ego permanece entre ambos, alternando nossas necessidades
primitivas e crenças éticas e morais. É a instância na qual se inclui a
consciência. Um eu saudável é aquele que tem a habilidade para
adaptar-se à realidade e interagir com o mundo exterior de uma
maneira que seja cômoda para o id e o superego.
1.5 EROS E TÂNATOS
Freud estava especialmente interessado na dinâmica dessas três
partes da mente. Argumentou que essa relação é influenciada por
fatores ou energias inatas, que chamou de pulsões. Descreveu duas
pulsões antagônicas: eros, a pulsão sexual com tendência à
preservação da vida, e tânatos, a pulsão da morte, que levaria à
desagregação de tudo o que é vivo, à destruição. Ambas não agem de
forma isolada, estão sempre trabalhando em conjunto.
1.6 CONTRIBUIÇÃO DE KÜBLER-ROSS
A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, em sua obra Sobre a morte
e o morrer, pesquisou e trabalhou com o tema do luto, descrevendo
cinco fases desse processo. Existem pensamentos e comportamentos
comuns às pessoas que passam por cada uma dessas fases, e a
descrição delas pode facilitar a compreensão e a percepção sobre o
que ocorre com as pessoas que vivenciam o luto.
1.6.1 Fase 1: negação
É uma defesa psíquica, em que o indivíduo acaba negando o
problema, tentando encontrar algum jeito de não entrar em contato
com a realidade e geralmente não quer falar sobre o assunto.
1.6.2 Fase 2: raiva
Nessa fase, o indivíduo revolta-se com o mundo, sente-se
injustiçado e não se conforma que isso está acontecendo com ele.
1.6.3 Fase 3: barganha
Essa é fase na qual o indivíduo começa a negociar; por exemplo,
prometendo que será uma pessoa melhor se sair daquela situação.
1.6.4 Fase 4: depressão
A pessoa retira-se para seu mundo interno, isolando-se e
considerando-se impotente perante o que ocorre.
1.6.5 Fase 5: aceitação
O indivíduo não sente mais desespero e consegue enxergar a
realidade como realmente é, assimilando por completo a perda ou a
morte.
Como a Psicologia contribui
para o estudo da relação
médico-paciente?
A psicologia médica contribui, portanto, para melhor
compreensão dos mecanismos psicológicos que norteiam
tanto a relação médico-paciente quanto a do paciente com
uma patologia ou perda em sua vida.
Você sabe o que investigar
em um exame psíquico
completo?
2.1 PSICOPATOLOGIA
A Psicopatologia propõe-se a conhecer e descrever os fenômenos
psicopatológicos para, dessa forma, oferecer à Psiquiatria as bases
para a compreensão e o estudo do psiquismo humano. Compete a ela
reunir materiais para a elaboração do conhecimento dos fenômenos
com o qual a Psiquiatria possa coordenar a sua ação diagnóstica,
curativa e preventiva. Como dito por Paulo Dalgalarrondo, em seu
livro Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, que será
utilizado como base para o capítulo: “A semiologia é a base, o pilar
fundamental da atividade médica. Saber observar com cuidado, olhar
e enxergar, ouvir e interpretar o que se diz, saber pensar,
desenvolver um raciocínio clínico crítico e acurado são as
capacidades essenciais do profissional de saúde”
(DALGALARRONDO, 2008, p. 13). O diagnóstico em Psiquiatria é feito
com base no exame psíquico, excluindo outras patologias clínicas
que possam cursar com alterações no psiquismo.
2.2 FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS
ALTERAÇÕES
2.2.1 Consciência
Consciência é a capacidade do indivíduo de entender o que está
acontecendo dentro e fora de si mesmo. A clareza dessa consciência é
traduzida pela lucidez. Quando o paciente está desperto, recebendo e
devolvendo informações com o meio ambiente, está lúcido. As
alterações da consciência podem ser quantitativas e qualitativas.
Em seu aspecto quantitativo, a consciência pode estar diminuída ou
aumentada. Dentre as diminuições da consciência, a forma mais
suave é denominada obnubilação, que resulta em intensificação dos
estímulos para obter-se acesso eficiente à consciência. Ocorre
diminuição da sensopercepção, lentidão da compreensão e da
elaboração das impressões, lentificação no ritmo e alteração no
curso do pensamento, prejuízo da memória, algum grau de
desorientação e sonolência mais ou menos acentuada. Se na
diminuição da consciência os estímulos para determinar
manifestações primitivas como gemer ou balbuciar são muito
intensos, fala-se em estupor. Um grau mais aprofundado, ou seja, a
abolição total do contato entre o indivíduo e o meio, é denominado
estado de coma.
Qualitativamente, a consciência é avaliada como a aptidão em
apreender todos os fenômenos interiores ou exteriores e integrá-los
a um contexto real das circunstâncias ocorridas no presente, no
passado e que ocorrerão futuramente.
As alterações qualitativas são apresentadas a seguir.
2.2.1.1 Estado crepuscular
2.2.3 Orientação
Pode-se definir orientação como um complexo de funções psíquicas
pelo qual tomamos consciência da situação real em que nos
encontramos. A orientação pode ser inferida da avaliação do estado
de consciência e está intimamente ligada às noções de tempo e
espaço.
Em geral, o primeiro sentido de orientação perdido é o do tempo;
depois, o do espaço, que envolve deslocamento e localização e, em
um estado mais grave, a “desorientação do próprio eu” (identidade e
corpo).
Orientação:
1. Autopsíquica: o paciente reconhece dados de identificação pessoal
e sabe quem é;
2. Alopsíquica: o paciente reconhece os dados do ambiente:
a) Temporal: dia, mês e ano em que está; em que parte do dia se
localiza (manhã, tarde e noite);
b) Espacial: em que lugar se encontra e para que está lá; a cidade
onde está; como chegou ao consultório.
2.2.4 Sensopercepção
Sensação é o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos,
químicos ou biológicos, que produzem estimulação dos órgãos
receptores. Percepção é a tomada de consciência de tal estímulo
sensorial. Podem acontecer alterações quantitativas e qualitativas.
2.2.4.1 Quantitativas
1. Hiperestesia:
a) Intoxicação por alucinógenos, epilepsia;
b) Aumento das formas de sensibilidade.
2. Hipoestesia:
a) Quadros depressivos;
b) Diminuição das formas de sensibilidade.
3. Anestesia: abolição de todas as formas de sensibilidade.
2.2.4.2 Qualitativas
2.2.5 Memória
Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar fatos passados.
Há quatro dimensões principais do seu funcionamento:
1. Percepção: modo como o sujeito percebe os fatos e atitudes em
seu cotidiano e reconhece-os psiquicamente;
2. Fixação: capacidade de gravar imagens na memória;
3. Conservação: tudo o que o sujeito guarda para o resto da vida (a
memória aparece como um todo e é um processo tipicamente afetivo);
4. Evocação: atualização dos dados fixados (nem tudo pode ser
evocado).
2.2.6 Afetividade
A afetividade compreende o estado de ânimo ou de humor, os
sentimentos, as emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade
de experimentar sentimentos e emoções. É ela que determina a
atitude geral do indivíduo diante de qualquer experiência vivencial,
promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos de
maneira agradável ou sofrível, confere disposição indiferente ou
entusiasmada e determina sentimentos que oscilam entre dois
polos: depressão e euforia.
A afetividade divide-se, basicamente, em:
1. Humor: um estado de ânimo; é a disposição afetiva de fundo, que
penetra em toda a experiência psíquica do indivíduo. Algumas
alterações de humor são:
a) Hipertimia: euforia;
b) Hipotimia: depressão;
c) Disforia: irritabilidade, mau humor.
2. Afeto: o tônus emocional que acompanha uma ideia ou
representação mental.
Alterações afetivas:
1. Labilidade afetiva: estado especial em que se produz a mudança
rápida e imotivada do humor, sempre acompanhada de extraordinária
intensidade afetiva;
2. Ambivalência afetiva: acentuações afetivas opostas e,
basicamente, simultâneas nos indivíduos;
3. Embotamento afetivo: perda de todo tipo de vivência afetiva;
ausência dos nexos afetivos;
4. Anedonia: incapacidade de sentir prazer com determinadas
atividades da vida antes prazerosas; muito comum nas depressões;
5. Hipomodulação: inadequação ou distanciamento afetivo.
2.2.7 Pensamento
Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz de
manifestar suas possibilidades de adaptar-se ao meio. É por ele que
se elaboram conceitos, articulam-se juízos, constrói-se, compara-
se, solucionam-se problemas, elaboram-se conhecimentos
adquiridos e ideias, transforma-se e cria-se.
É importante a investigação do curso, da forma e do conteúdo do
pensamento.
2.2.7.1 Curso
2.2.7.3 Conteúdo
2.2.8 Linguagem
A linguagem é considerada um processo mental predominantemente
consciente, significativo, além de ser orientada para o social. É um
processo dinâmico que se inicia na percepção e termina na palavra
falada ou escrita e, por isso, se modifica constantemente.
As alterações mais comuns são disartrias (má articulação de
palavras), afasias (perturbações por danos cerebrais que implicam
dificuldade ou incapacidade de compreender e utilizar os símbolos
verbais), verbigeração (repetição incessante de palavras ou frases),
parafasia (emprego inapropriado de palavras com sentidos
parecidos), neologismo (criação de palavras novas), jargonofasia
(“salada de palavras”), mussitação (voz murmurada em tom baixo),
logorreia (fluxo incessante e incoercível de palavras) e
pararrespostas (responde a uma indagação com algo sem relação
alguma com o que foi perguntado).
2.2.9 Vontade/volição
A vontade, relacionada aos atos voluntários, é uma disposição
(energia) interior com o princípio de alcançar um objetivo
consciente e determinado.
O indivíduo pode apresentar-se normobúlico (vontade normal), ter a
vontade rebaixada (hipobulia), uma exaltação patológica
(hiperbulia), responder a solicitações repetidas e excessivas
(obediência automática), concordar com tudo o que é dito, mesmo
que sejam juízos contraditórios (sugestionabilidade patológica),
realizar atos contra a sua vontade (compulsão), duvidar
exageradamente do que quer (dúvida patológica), opor-se de forma
passiva ou ativa às solicitações (negativismo), repetir de forma
automática as palavras ou ações do entrevistador (ecolalia e
ecopraxia).
2.2.10 Psicomotricidade
A psicomotricidade pode estar normal, diminuída (hipocinesia),
inibida (acinesia) ou exaltada (hipercinesia). O paciente pode
apresentar maneirismos (movimentos bizarros e repetitivos),
estereotipias posturais (repetições automáticas e uniformes),
automatismos, flexibilidade cérea (tendência a manter-se na
posição colocada pelo examinador), cataplexia (perda abrupta do
tônus muscular), tiques motores e alterações na marcha.
2.2.11 Consciência do eu
Este item refere-se ao fato de o indivíduo ter a consciência dos
próprios atos psíquicos, a percepção do seu eu, como o sujeito
apreende a sua personalidade.
São características formais do eu:
1. Sentimento de unidade: “Eu sou uno no momento”;
2. Sentimento de atividade: consciência da própria ação;
3. Consciência da identidade: “Sempre sou o mesmo ao longo do
tempo”;
4. Cisão sujeito-objeto: consciência do eu em oposição ao exterior e
aos outros.
2.2.12 Inteligência
O que se faz na avaliação da inteligência não é o que chamamos de
“avaliação fina”, realizada por meio de testes; o objetivo é constatar
se o paciente está dentro do considerado padrão de normalidade,
conseguindo resolver os problemas básicos da vida. Devem-se
considerar sempre o contexto sociocultural e a escolaridade do
paciente. As deficiências de inteligência são os retardos mentais, em
todos os seus níveis.
2.3 EXAME DO ESTADO MENTAL –
EXAME PSÍQUICO
O exame psíquico consiste na detalhada avaliação das funções
psíquicas, bem como das impressões e das observações feitas pelo
examinador enquanto está em contato com o paciente. Deve ser
sempre acompanhado de anamnese completa, com identificação,
queixa principal, história da doença atual, história patológica
pregressa, história pessoal e familiar. Todo paciente psiquiátrico
deve ser submetido, ainda, ao exame físico.
O exame psíquico deve ser completo e espelhar
exatamente o estado mental do paciente no
período analisado.
2.4.2 CID-10
A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (também conhecida como Classificação Internacional de
Doenças – CID-10) foi publicada pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) em 1992 e visa padronizar a codificação de doenças e outros
problemas relacionados à saúde. A CID-10 fornece códigos relativos
à classificação de doenças e de grande variedade de sinais, sintomas,
aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas
para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma
categoria única à qual corresponde um código CID-10. Essa é a
classificação usada para laudos, atestados e pareceres médicos.
A OMS lançou, em junho de 2018, sua nova Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-
11), que foi apresentada para adoção em maio de 2019 (durante a
Assembleia Mundial da Saúde) e entrará em vigor em 1º de janeiro de
2022.
Documentos médicos com fins judiciais devem
utilizar o CID-10, enquanto o DSM-5 é usado em
prontuários e discussões.
Você sabe o que investigar
em um exame psíquico
completo?
Um exame psíquico completo deve ser iniciado assim que
visualizarmos o paciente, atentando para sua
apresentação, atividade psicomotora e comportamento,
atitude para com o entrevistador, atividade verbal e
linguagem, estado de consciência, atenção espontânea e
voluntária, orientação auto e alopsíquica, afetividade,
sensopercepção, pensamento, memória de curto e longo
prazos, vontade e pragmatismo, inteligência, crítica de seu
estado, além de planos para o futuro.
Você sabe diagnosticar e
diferenciar delirium e
demência?
3.1 INTRODUÇÃO
O agrupamento dos transtornos mentais orgânicos compreende uma
série de transtornos mentais reunidos, tendo em comum uma
etiologia demonstrável, como doença, lesão cerebral ou outro
comprometimento que leva à disfunção cerebral. A disfunção pode
ser primária, em ação direta sobre o sistema nervoso, ou secundária.
O comprometimento que ocorre é o das funções cognitivas
(memória, linguagem, atenção); por vezes, precedido de
deterioração do controle emocional, do comportamento social ou da
motivação. As principais síndromes mentais orgânicas são o delirium
e a demência.
3.2 DELIRIUM
3.2.1 Definição
Delirium, ou estado confusional agudo, é uma síndrome clínica
caracterizada por rebaixamento súbito do nível de consciência,
comprometimento da atenção, distúrbios da percepção (distorções,
ilusões e alucinações), distúrbio da capacidade de compreensão e de
abstração, delírios pouco estruturados e fugazes, déficit de memória
de fixação e relativa preservação da memória remota, desorientação
(mais comumente no tempo), comprometimento da atividade
psicomotora (aumento ou redução), alteração do ciclo sono-vigília,
transtornos emocionais (depressão, ansiedade, medo, irritabilidade,
euforia, apatia, perplexidade), com início abrupto dos sintomas e
flutuação ao longo do dia, tendendo a piorar à noite. Tem duração
limitada, em geral dias ou semanas, e os sintomas desaparecem
quando o fator de causa é identificado e tratado.
3.2.2 Epidemiologia
Trata-se de um transtorno bastante frequente, principalmente entre
pacientes internados. Dados revisados da literatura médica apontam
delirium em cerca de 30% dos pacientes que estão em unidades
cirúrgicas de tratamento intensivo e unidades cardíacas de cuidados
intensivos e 40 a 50% dos que estão se recuperando de cirurgias por
fraturas de quadril. O delirium pode acometer até 80% dos pacientes
criticamente enfermos sob ventilação mecânica, segundo estudos
americanos e canadenses. Porém, é comumente subdiagnosticado;
aproximadamente 70% dos casos não são reconhecidos pelos
médicos, o que leva a aumento nas taxas de mortalidade e
morbidade, declínio da capacidade funcional e prolongamento das
internações hospitalares.
3.2.3 Etiologia
1. Causas extracranianas:
a) Infecções sistêmicas;
b) Transtornos metabólicos;
c) Hipóxia;
d) Hipercapnia;
e) Hipoglicemia;
f) Desequilíbrio eletrolítico;
g) Doença hepática ou renal;
h) Deficiência de tiamina;
i) Estados pós-operatórios;
j) Trauma.
2. Causas intracranianas:
a) Infecções: meningite, encefalite;
b) Encefalopatia hipertensiva;
c) Estados convulsivos pós-ictais;
d) Sequelas de traumatismo craniano;
e) Lesões focais do lobo parietal direito;
f) Lesões da superfície inferomedial do lobo occipital.
3. Abstinência de substâncias:
a) Álcool (delirium tremens);
b) Anfetaminas e relacionadas;
c) Sedativos;
d) Hipnóticos e ansiolíticos;
e) Outras substâncias.
4. Medicamentos:
a) Anestésicos;
b) Cardiovasculares;
c) Analgésicos;
d) Antimicrobianos;
e) Antiasmáticos;
f) Antiparkinsonianos;
g) Anticonvulsivantes;
h) Corticosteroides;
i) Anti-histamínicos;
j) Relaxantes musculares;
k) Anti-hipertensivos;
l) Anticolinérgicos (psicotrópicos).
5. Toxinas:
a) Anticolinesterase;
b) Dióxido de carbono;
c) Organofosforados;
d) Substâncias voláteis;
e) Monóxido de carbono;
f) Combustíveis ou tintas.
3.2.4 Diagnóstico
Quando se suspeita do diagnóstico de delirium, é essencial tentar
encontrar e tratar a causa-base, o que deve ser o foco principal do
manejo. Deve-se fazer exame físico completo, revisão de prontuário
(procurando, principalmente, por mudanças de comportamento,
inclusão de novas drogas ao regime e resultados de exames
complementares) e solicitar exames laboratoriais e de imagem
adequados. É importante a solicitação de todos os exames
laboratoriais, pois sempre haverá causa orgânica no delirium.
3.2.4.1 Exames básicos
3.2.5 Tratamento
O tratamento da condição médica que induz à agitação é primário.
Posteriormente, se necessário, deve-se sedar com neuroléptico de
alta potência e baixa interferência em parâmetros vitais: haloperidol
(Haldol®), 5 mg IM, a cada 30 minutos, até obter sedação, com
possibilidade de dose máxima entre 45 e 100 mg, em 24 horas. Pode-
se utilizar neuroléptico atípico, como risperidona, 1 a 2 mg VO, ou
ziprasidona, 40 mg VO.
Deve-se manter cerca de metade da dose inicialmente eficaz,
intramuscular ou oral, com redução progressiva à medida que os
sintomas remitem. A dose de manutenção em idosos deve ser menor:
1 mg VO, a cada 12 horas.
3.3 DEMÊNCIA
3.3.1 Definição
A demência é uma síndrome progressiva que apresenta múltiplos
comprometimentos da função cognitiva. As três características
principais são:
1. Esquecimento ou problemas com a memória;
2. Problemas de comportamento (agitação, insônia, choro fácil,
comportamentos inadequados);
3. Perda das habilidades adquiridas durante a vida (dirigir, vestir a
roupa, gerenciar a vida financeira, cozinhar etc.).
3.3.2 Etiologia
A demência pode ter várias causas, algumas delas reversíveis (15%
dos casos). A mais comum é a doença de Alzheimer (50% dos casos),
seguida da demência vascular (15% dos casos).
Outros fatores que podem causar demência são:
1. Drogas e toxinas;
2. Tumores cerebrais;
3. Traumatismo cranioencefálico;
4. Hidrocefalia de pressão normal;
5. Transtornos neurodegenerativos: Parkinson, Huntington, Pick;
6. Infecções: sífilis, encefalite, HIV;
7. Transtornos nutricionais e metabólicos.
3.3.3 Diagnóstico
Devem ser solicitados exames laboratoriais tanto para diagnóstico
quanto para tentar estabelecer a etiologia da demência. São os
mesmos exames realizados nos casos de delirium.
3.3.3.1 Doença de Alzheimer
4.1.4 Tolerância
Tolerância é a necessidade de crescentes quantidades da substância
para atingir o efeito desejado ou um efeito acentuadamente
diminuído com o uso continuado da mesma quantidade da
substância. O grau em que a tolerância se desenvolve varia
imensamente. Indivíduos em uso intenso de opioides e estimulantes
podem desenvolver níveis substanciais (multiplicados por 10) de
tolerância. Em geral, a tolerância ao álcool é muito menos extrema
do que no caso das anfetaminas. Muitos tabagistas consomem mais
de 20 cigarros/dia, quantidade que teria produzido sintomas de
toxicidade quando começaram a fumar. Os indivíduos em uso
intenso de maconha, em geral, não têm consciência de que
desenvolveram tolerância (embora esta tenha sido demonstrada em
estudos com animais e em alguns indivíduos).
4.1.5 Síndrome de abstinência
A síndrome de abstinência é uma alteração comportamental mal
adaptativa, com elementos fisiológicos e cognitivos, que ocorre
quando as concentrações de uma substância no sangue e nos tecidos
declinam em um indivíduo que manteve uso intenso e prolongado
dela. Após o desenvolvimento dos sintomas desagradáveis de
abstinência, a pessoa tende a consumir a substância para aliviá-los
ou evitá-los, tipicamente o dia inteiro, começando logo após o
despertar. Os sintomas de abstinência variam imensamente entre as
classes de substâncias, de modo que são oferecidos conjuntos
separados de critérios de abstinência para a maioria das classes.
Sinais acentuados e, com frequência, facilmente mensuráveis de
abstinência são comuns com álcool, opioides e sedativos, hipnóticos
e ansiolíticos. Os sinais e sintomas de abstinência com frequência
estão presentes, mas podem ser menos visíveis no caso de
estimulantes, como anfetaminas, cocaína e nicotina. Nenhuma
abstinência significativa é vista, mesmo após o uso repetido de
alucinógenos.
Tolerância e abstinência estão presentes na
dependência de substâncias e ausentes no
abuso de substâncias.
4.1.6 Intoxicação
A intoxicação é o desenvolvimento de uma síndrome reversível
específica, ocasionada pela recente ingestão de uma substância (ou
exposição a ela).
Diferentes substâncias podem produzir síndromes similares ou
idênticas. Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente
significativas e mal adaptativas, em razão do efeito da substância
sobre o Sistema Nervoso Central (SNC – beligerância, instabilidade
do humor, prejuízo cognitivo, comprometimento da memória,
prejuízo no funcionamento social ou ocupacional), que se
desenvolvem durante ou logo após o uso da substância. Os sintomas
não são atribuídos a uma condição médica geral nem são mais bem
explicados por outro transtorno mental.
Quadro 4.1 - Alguns agentes tóxicos para os quais existem antídotos
4.3 ÁLCOOL
4.3.1 Mecanismo de ação
Quando consumido, o álcool passa pelo estômago e começa a ser
absorvido no intestino, caindo na corrente sanguínea. Ao passar pelo
fígado, começa a ser metabolizado. A 1ª substância formada pelo
álcool chama-se acetaldeído, depois convertido em acetato por
outras enzimas. Essas substâncias, como o álcool excedente, são
eliminadas pelos rins. As que, eventualmente, voltam ao fígado, são
transformadas em água e gás carbônico expelido pelos pulmões. A
passagem do intestino para o sangue ocorre conforme a velocidade
com que o álcool é ingerido; já o processo de degradação do álcool
pelo fígado obedece a um ritmo fixo, podendo ser ultrapassado pela
quantidade consumida. Quando isso ocorre, tem-se a intoxicação
pelo álcool (estado de embriaguez). Como a quantidade de enzimas é
regulável, um indivíduo em uso contínuo de álcool acima do
necessário produzirá mais enzimas metabolizadoras do álcool,
tornando-se mais “resistente” a ele. A presença de alimentos no
intestino lentifica a absorção do álcool. Apesar de ser altamente
calórico, o álcool não fornece material estocável, assim a energia
oferecida é utilizada enquanto ele circula ou é perdida. O dano físico
direto do álcool sobre o cérebro é um fato inquestionavelmente
confirmado. A parte mais afetada costuma ser o córtex pré-frontal,
responsável pelas funções intelectuais superiores, como raciocínio,
capacidade de abstração de conceitos e lógica. Os mesmos estudos
que investigam as imagens do cérebro identificam uma
correspondência linear entre a quantidade de álcool consumida ao
longo do tempo e a extensão do dano cortical. Quanto mais álcool,
maior o dano. Depois do córtex, as áreas envolvidas são as
relacionadas com a memória e o cerebelo, que é a parte responsável
pela coordenação motora. O estresse oxidativo, decorrente do
metabolismo do etanol, produz alto nível intracelular de espécies
reativas de oxigênio e nitrogênio, que são os pontos cardiais da
patogênese de uma série de complicações clínicas relacionadas ao
álcool, como hepatopatia alcoólica, pancreatopatia alcoólica,
miocardiopatia alcoólica, alterações hematológicas etc. A
peroxidação de lipídios, formando ácidos graxos, também contribui
com as lesões orgânicas advindas do metabolismo do álcool. A ação
do etanol interfere em macromoléculas celulares, em ácidos
nucleicos e na cascata de sinalização intra e extracelular, altera as
mitocôndrias e produz dano no retículo endoplasmático, no DNA e
nos ribossomos.
4.3.2 Intoxicação
Os estados de intoxicação e embriaguez normalmente são obtidos de
modo voluntário. Neles, a pessoa tem alteração da fala (fala
arrastada), incoordenação motora, ataxia, nistagmo, prejuízos na
memória e atenção, estupor ou coma nos casos mais extremos. Em
geral, junto a essas alterações neurológicas, apresenta-se um
comportamento inadequado ou impróprio da pessoa intoxicada. O
tratamento consiste em medidas gerais de suporte à vida e atenção
para trauma cranioencefálico e broncoaspiração de vômitos,
bastante comuns. O intoxicado deve receber, sempre, tiamina antes
do início do soro glicosado, para prevenir complicações como a
Síndrome de Wernicke-Korsako (SWK). Embriaguez patológica é
uma condição em que, com ingestão de pequenas doses de álcool, há
comportamento violento, crepuscularização da consciência e
amnésia lacunar.
4.3.3 Abuso
O critério de abuso existe para caracterizar as pessoas com eventuais
problemas em razão de consumos excessivos de álcool em curtos
períodos de tempo. Para o diagnóstico, é preciso que o paciente
esteja tendo problemas com álcool durante, pelo menos, 12 meses e
apresente, pelo menos, uma das seguintes situações:
1. Prejuízos significativos no trabalho, na escola ou na família, como
faltas ou negligências nos cuidados com os filhos;
2. Exposição a situações potencialmente perigosas, como dirigir ou
manipular máquinas perigosas embriagado;
3. Problemas legais, como desacato a autoridades ou a superiores;
4. Persistência no uso de álcool, apesar do apelo das pessoas
próximas para que interrompa o uso.
4.3.4 Dependência
Para o diagnóstico de dependência alcoólica, é preciso que o usuário
venha tendo problemas decorrentes do uso de álcool durante 12
meses seguidos e preencher, ao menos, três dos seguintes critérios
(Classificação Internacional de Doenças – CID-10):
1. Tolerância ao álcool: marcante aumento da quantidade ingerida para
produção do mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição dos
sintomas de embriaguez ou, ainda, outros resultantes do consumo de
álcool, apesar da contínua ingestão;
2. Sinais de abstinência: após a interrupção do consumo de álcool, o
indivíduo passa a apresentar sudorese excessiva, aceleração do pulso
(acima de 100), tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos,
agitação psicomotora, ansiedade, convulsões e alucinações táteis. A
reversão desses sinais com a reintrodução do álcool comprova a
abstinência;
3. O dependente de álcool, geralmente, bebe mais do que planejava;
4. Persistente desejo de voltar a beber ou incapacidade de interromper
o uso;
5. Emprego de muito tempo para obter a bebida ou recuperar-se do
seu efeito;
6. Persistência na bebida, apesar dos problemas e dos prejuízos
gerados, como perda do emprego e das relações familiares.
4.4.3 Abstinência
A interrupção do uso contínuo de cocaína é, em geral, seguida de
uma crise que pode ser vista como síndrome de abstinência, na qual
a exaltação dá lugar a apreensão, depressão profunda, sonolência e
inércia. A abstinência pode durar até 10 semanas, e são frequentes as
recaídas.
A cocaína possui ação parecida com a dos
antidepressivos, portanto, a abstinência dela
leva a sintomas depressivos.
4.9 ALUCINÓGENOS
4.9.1 Definição
Os alucinógenos são substâncias naturais (cogumelos) e sintéticas
(LSD) que causam alucinações e perda de contato com a realidade. Os
principais efeitos ocorrem no sistema serotoninérgico. A tolerância
desenvolve-se rapidamente, mas não existe dependência ou
abstinência.
4.9.2 Intoxicação aguda
Podem ocorrer ansiedade, ideação paranoide, medo de perder o
juízo, despersonalização, desrealização, comprometimento da
crítica, ilusões, alucinações, midríase, taquicardia, sudorese, visão
turva, tremores e incoordenação motora.
4.9.3 Efeitos em longo prazo
Mesmo com pouco ou único uso, pode haver fenômeno de flashback
(alucinações dias após a ingestão), transtorno psicótico prolongado
e bad trip (pânico, depressão e comportamento suicida).
4.10 ANFETAMINAS
4.10.1 Definição
A mais conhecida é a metanfetamina, ou ecstasy, de uso recreativo.
Porém, as anfetaminas também podem ser utilizadas para o
tratamento de doenças psiquiátricas, como o transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade.
4.10.2 Intoxicação
O indivíduo sob sua ação tem insônia, inapetência, sente-se cheio de
energia e fala mais rápido. Quem toma anfetaminas é capaz de
executar uma atividade qualquer por mais tempo, sentindo menos
cansaço, o qual só aparece horas mais tarde, quando a droga já não
está mais presente no organismo; com uma nova dose, as energias
voltam, embora com menos intensidade. De qualquer modo, as
anfetaminas fazem que o organismo reaja além de suas capacidades,
exercendo esforços excessivos, o que, logicamente, é prejudicial à
saúde. Causam midríase, taquicardia e aumento da pressão
sanguínea (crise hipertensiva). Se uma pessoa exagera na dose fica
mais agressiva, irritadiça, começa a suspeitar de que outros estão
tramando contra ela (delírio persecutório). Os sinais físicos ficam
também muito evidentes: midríase acentuada, pele pálida devido à
contração dos vasos sanguíneos e taquicardia. Tais intoxicações são
graves, e a pessoa, geralmente, precisa ser internada até a
desintoxicação completa. Algumas vezes, durante a intoxicação, a
temperatura aumenta muito, o que é bastante perigoso, pois pode
levar a convulsões.
4.10.3 Abstinência
Chega a atingir quase 90% dos usuários. A pessoa sente grande falta
de energia (astenia), tornando-se bastante deprimida, ansiosa e
agitada.
4.11 NICOTINA
4.11.1 Mecanismo de ação e intoxicação
A nicotina age como agonista nicotínico de receptores de
acetilcolina. Na intoxicação, podem ocorrer cefaleia, náuseas e
tontura.
4.11.2 Abstinência
Ocorrem humor disfórico ou deprimido, insônia, irritabilidade,
ansiedade, inquietação e dificuldade de concentração. Dentre as
perturbações físicas, estão bradicardia e aumento do apetite e do
peso.
4.11.3 Tratamento
De acordo com uma publicação de 2018, do Instituto Nacional de
Câncer (INCA), 428 pessoas morrem por dia no Brasil em
decorrência do tabagismo, contabilizando 12,6% de todas as mortes
registradas no país. Ao todo, 156.216 mortes poderiam ser evitadas
todos os anos, caso o uso de tabaco fosse eliminado. O INCA ainda
aponta que R$56,9 bilhões são perdidos a cada ano em função de
despesas médicas e perda de produtividade decorrentes do tabaco.
A avaliação global do paciente e do grau de dependência a nicotina é
fundamental para estabelecer um planejamento terapêutico na
cessação do tabagismo. A avaliação é feita pelo questionário de
tolerância de Fagerström, que também ajuda na tomada de decisão
sobre a conduta individualizada. Recomenda-se o tratamento
farmacológico a todo fumante acima de 18 anos, com consumo
maior do que 10 cigarros/dia, sendo essa uma medida efetiva para a
cessação do tabagismo.
Verifica-se o grau de interesse do paciente em parar de fumar, de
acordo com o modelo que o classifica em fases motivacionais
comportamentais: pré-contemplativa (não quer parar de fumar),
contemplativa (pensa em parar de fumar), ativa (preparado para
iniciar tratamento), manutenção e recaída (voltou a fumar).
Deve-se avaliar o grau de dependência à nicotina, saber sobre
experiência pregressa com fármacos para tabagismo e considerar a
presença de comorbidades. A prescrição deve considerar todos esses
aspectos acrescidos das contraindicações, efeitos colaterais e
precauções para o uso.
Para tratamento, segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas de Dependência de Nicotina, podem ser usados:
1. Adesivos de nicotina: 21 mg, 14 mg e 7 mg, em 24 horas, e 15
mg, 10 mg e 5 mg, em 16 horas. A dose deve ser prescrita
considerando-se o consumo médio de cigarros/dia, variando de 14 a
21 mg/d, com o objetivo de controlar os sintomas de abstinência,
podendo aumentar a dose a critério médico;
2. Goma de nicotina ou pastilhas: 4 e 2 mg. Fumantes de 25
cigarros ou mais devem utilizar gomas ou pastilhas de 4 mg e
fumantes de menos de 25 cigarros/dia devem utilizar gomas de 2 mg.
As gomas devem ser consumidas a cada 1 ou 2 horas ao longo de 6
semanas, com redução progressiva do consumo até a 14ª semana;
3. Bupropiona: comprimidos de 150 mg de cloridrato de bupropiona
de liberação prolongada. Iniciar com 150 mg, 1x/d, no quarto dia
prescrever 150 mg, 2x/d, usualmente por 12 semanas;
4. Vareniclina: comprimidos de 0,5 e 1 mg de tartarato de vareniclina.
Iniciar com 0,5 mg, 1x/d. No quarto dia, prescrever 0,5 mg, 2x/d, no
sétimo dia prescrever 1 mg, 2x/d, por 12 ou 24 semanas.
5.1 PSICOSE
O termo “psicótico” tem recebido, historicamente, diversas
definições diferentes, nenhuma com aceitação universal. A definição
mais estreita está restrita a delírios ou alucinações proeminentes,
sem crítica por parte do paciente. Ainda mais ampla é a definição que
igualmente inclui outros sintomas positivos da esquizofrenia, como
discurso desorganizado, comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico.
De acordo com o glossário da American Psychiatric Association, o
termo “psicótico” refere-se a um amplo comprometimento do teste
da realidade.
Na psicose, é possível encontrar delírios,
alucinações e comportamento desorganizado,
podendo estar presentes em várias condições
ou patologias: esquizofrenia, transtornos de
humor (mania ou depressão), intoxicação e
abstinência de substâncias químicas, uso de
medicamentos e delirium.
Os transtornos incluídos nesta seção são especificados pelo Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e pela
Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
5.1.1 Esquizofrenia
Trata-se de uma perturbação que dura, pelo menos, 6 meses e inclui,
no mínimo, 1 mês de sintomas da fase ativa (isto é, dois ou mais
sinais, como delírios, alucinações, discurso desorganizado,
comportamento amplamente desorganizado ou catatônico e
sintomas negativos).
5.1.2 Transtorno esquizofreniforme
Caracteriza-se por quadro sintomático equivalente ao da
esquizofrenia, exceto por sua duração (isto é, a perturbação dura de 1
a 6 meses) e ausência da exigência de declínio no funcionamento.
5.1.3 Transtorno esquizoafetivo
Trata-se de uma perturbação em que episódio de humor e sintomas
da fase ativa da esquizofrenia ocorrem juntos e foram precedidos ou
seguidos por, pelo menos, 2 semanas de delírios ou alucinações sem
sintomas proeminentes de humor.
5.1.4 Transtorno delirante
Caracteriza-se por, pelo menos, 1 mês de delírios não bizarros sem
outros sintomas da fase ativa da esquizofrenia.
5.1.5 Transtorno psicótico breve
Trata-se de uma perturbação psicótica com duração maior que 1 dia
e remissão em 1 mês.
5.1.6 Transtorno psicótico compartilhado
Trata-se de uma perturbação que se desenvolve em indivíduo
influenciado por outra pessoa com delírio estabelecido de conteúdo
similar.
5.1.7 Transtorno psicótico devido a uma condição
médica geral
Os sintomas psicóticos são considerados consequência fisiológica
direta de uma condição médica geral.
5.1.8 Transtorno psicótico induzido por substância
Nesse caso, os sintomas psicóticos são considerados consequência
fisiológica direta de droga de abuso, medicamento ou exposição à
toxina.
5.1.9 Transtorno psicótico sem outra especificação
Está incluído na classificação de quadros psicóticos que não
satisfazem os critérios para quaisquer dos transtornos psicóticos
específicos definidos nesta seção, ou de sintomatologia psicótica
acerca da qual existem informações inadequadas ou contraditórias.
5.2 ESQUIZOFRENIA
5.2.1 Características gerais
Os transtornos esquizofrênicos caracterizam-se, em geral, por
distorções fundamentais de características do pensamento e da
percepção e por afetos inapropriados ou embotados. Usualmente,
mantêm-se claras a consciência e a capacidade intelectual, embora
certos déficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo.
A evolução dos transtornos esquizofrênicos pode ser contínua,
episódica com déficit progressivo ou estável, ou comportar um ou
vários episódios seguidos de remissão completa ou incompleta.
Não se deve fazer diagnóstico de esquizofrenia quando o quadro
clínico comporta sintomas depressivos ou maníacos no primeiro
plano, a menos que se possa estabelecer, sem equívoco, que a
ocorrência dos sintomas esquizofrênicos tenha sido anterior à dos
transtornos afetivos. Além disso, não se deve fazer o mesmo
diagnóstico quando se manifestam doença cerebral, abstinência de
droga ou intoxicação por ela. A esquizofrenia é uma doença
caracterizada por desorganização de diversos processos mentais.
Culturalmente, o esquizofrênico representa o estereótipo do
“louco”, um indivíduo que produz grande estranheza social em
razão do seu desprezo para com a realidade reconhecida.
Os transtornos esquizofrênicos não podem ser
diagnosticados durante doença cerebral,
abstinência, intoxicações ou outros transtornos
que possam alterar o paciente.
5.2.2 Histórico
Em 1896, Emil Kraepelin cunhou o termo “dementia praecox” para
uma doença que tendia a começar relativamente cedo e produzir
prejuízo claro e persistente em aspectos das funções cognitivas e
comportamentais. No início, ele considerava a doença com curso
crônico e prognóstico ruim, porém, no decorrer de sua vida
profissional, acompanhou grande amostra de pacientes e observou
que 12,5% se recuperaram.
Em 1908, Eugen Bleuler modificou o termo para esquizofrenia (do
grego schizo = cindido/dividido, phrén = mente); para ele, o sintoma
mais importante era a fragmentação na formulação e na expressão
do pensamento (“afrouxamento de associações”). Identificou os
“As” bleulerianos: associações (dissociações) no processo do
pensamento; ambivalência; autismo; afeto embotado; avolição e
atenção prejudicadas. Kurt Schneider, interessado em identificar
sintomas patognomônicos, como Bleuler, estabeleceu uma
hierarquia de sintomas, de acordo com sua importância, para o
diagnóstico da esquizofrenia – sintomas de primeira e segunda
ordens. Os de primeira ordem não são obrigatórios para o
diagnóstico de esquizofrenia.
Sintomas de primeira e segunda ordens:
1. 1ª ordem: percepção delirante, alucinações auditivas (vozes que
fazem comentários e/ou que dialogam entre si), sonorização do
pensamento, roubo do pensamento, vivências de influência sobre o
pensamento, difusão do pensamento, eco do pensamento;
2. 2ª ordem: intuição delirante, perplexidade, humor depressivo ou
exaltado, vivência de empobrecimento afetivo.
1. Dois (ou mais) dos seguintes, cada qual presente por uma porção
significativa de tempo durante o período de 1 mês (ou menos, se
tratados com sucesso):
a) Delírios;
b) Alucinações;
c) Discurso desorganizado (frequente descarrilamento ou
incoerência);
d) Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico;
e) Sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia ou
avolição.
5.3.2 Tipos
Os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante
do(s) delírio(s):
1. Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de
situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo;
2. Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento,
identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa
famosa;
3. Ciumento: delírios de que o parceiro sexual é infiel;
4. Persecutório: delírios de que o indivíduo (ou alguém próximo a ele)
está sendo, de algum modo, maldosamente tratado;
5. Somático: delírios de que tem algum defeito físico ou condição
médica geral;
6. Misto: delírios característicos de mais de um dos tipos anteriores,
sem predomínio de nenhum deles;
7. Não especificado.
5.4.2 Especificação
1. Com estressor(es) acentuado(s) – psicose reativa breve: se os
sintomas ocorrem logo após e aparentemente em resposta a eventos
que, em particular ou em conjunto, seriam estressantes demais para
qualquer pessoa em circunstâncias similares na cultura do indivíduo;
2. Sem estressor(es) acentuado(s): se os sintomas psicóticos não
ocorrem logo após ou aparentemente não consistem em respostas a
eventos que, em particular ou em conjunto, seriam estressantes
demais para qualquer pessoa em circunstâncias similares na cultura
do indivíduo;
3. Com início no pós-parto: se o início ocorre em 4 semanas pós-
parto.
7.1 INTRODUÇÃO
A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que
mostra a intersecção entre o físico e o psíquico, uma vez que tem
claros sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, tremores,
tensão muscular, aumento das secreções, aumento da motilidade
intestinal e cefaleia. Trata-se de um sinal de alerta, que adverte
sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para
enfrentar ameaças. O medo é a resposta a uma ameaça conhecida,
definida; a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida,
vaga.
A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações
potencialmente danosas ou qualquer ameaça à unidade ou
integridade pessoal, tanto física como moral. Dessa forma, ela
prepara o organismo para tomar as medidas necessárias para
impedir a concretização desses possíveis prejuízos. Portanto, é uma
reação natural e necessária para a autopreservação. Não se trata de
um estado normal, mas de uma reação. As reações de ansiedade
normais não precisam ser tratadas porque são naturais e
autolimitadas. Os estados de ansiedade anormais, que constituem
síndromes de ansiedade, são patológicos e requerem tratamento
específico.
Figura 7.1 - Níveis de ansiedade
8.1.3 Tratamento
Dependendo das condições clínicas, muitas vezes é necessário
proceder à internação para o restabelecimento da sua saúde em
ambiente hospitalar (IMC abaixo de 15 ou ideação suicida são
exemplos). Em caso de regime de hospitalização, procede-se à
correção hidroeletrolítica, à dieta hipercalórica, mesmo contra a
vontade do paciente, à correção de possíveis alterações metabólicas e
ao início do tratamento psiquiátrico.
A psicofarmacoterapia é indispensável, normalmente feita com
antidepressivos tricíclicos que tenham como efeito colateral o
estímulo do apetite e o ganho de peso – caso da maprotilina,
amitriptilina ou clomipramina. Na necessidade de sedação, o que
quase sempre acontece, recomenda-se que seja feita com
neurolépticos e, preferencialmente, com aqueles que também
aumentam o apetite – caso da levomepromazina.
Devem estar associados psicoterapia e acompanhamento
nutricional. Mesmo após a melhora, é importante saber que as
recaídas são frequentes. No caso da internação, a taxa de recidiva
imediata é superior a 25%. Portanto, o acompanhamento desses
pacientes deve ser feito durante anos.
8.2 BULIMIA NERVOSA
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por:
1. Episódios recorrentes de compulsão periódica, que possuem os
seguintes aspectos:
a) Ingestão, em um período limitado de tempo (2 horas), de uma
quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria
das pessoas consumiria durante um período similar e sob
circunstâncias similares (binges);
b) Sentimento de falta de controle sobre o comportamento
alimentar durante o episódio (sentimento de incapacidade de
parar de comer ou de controlar o que ou quanto está comendo);
c) Comportamento compensatório inadequado e recorrente, com
o fim de prevenir aumento de peso, como autoindução de vômito,
uso indevido de laxantes, diuréticos, enemas ou outros
medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos (vigorexia):
• A compulsão alimentar e os comportamentos
compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no
mínimo uma vez por semana durante 3 meses. A
autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e
pelo peso do corpo;
• O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de
anorexia nervosa.
9.1 INTRODUÇÃO
Indivíduos com distúrbios de personalidade estão entre os usuários
mais assíduos dos serviços de emergência, representando, para o
médico, casos bastante complexos, confusos e que consomem muito
tempo e energia. O correto diagnóstico e a abordagem desse tipo de
paciente são fundamentais para que o seu comportamento não
influencie a avaliação e a conduta objetiva do caso.
Definição e sintomas do transtorno de personalidade:
1. Definição: de acordo com a Classificação Internacional de Doenças
(CID-10), esse agrupamento compreende diversos estados e tipos de
comportamento clinicamente significativos que tendem a persistir e são
a expressão característica da maneira de viver do indivíduo e de seu
modo de estabelecer relações consigo próprio e com os outros. Alguns
desses estados e tipos de comportamento aparecem precocemente
durante o desenvolvimento individual, enquanto outros são adquiridos
mais tardiamente durante a vida. Eles representam desvios extremos
ou significativos das percepções, dos pensamentos, das sensações e
sobretudo das relações com os outros em comparação àquelas de um
indivíduo médio de dada cultura. Tais tipos de comportamento são, em
geral, estáveis e englobam múltiplos domínios da conduta e do
funcionamento psicológico. Com frequência, estão associados a
sofrimento subjetivo e a comprometimento de intensidade variável do
desempenho social;
2. Sintomas: iniciam-se na adolescência e continuam por toda a vida
adulta, podendo ser atenuados na velhice. Em graus variados, o
distúrbio influencia todas as facetas da personalidade, incluindo
cognição, humor, comportamento e relacionamento interpessoal.
9.3.2 Esquizoide
1. Pouca ou nenhuma atividade produz prazer;
2. Frieza emocional, afetividade distante;
3. Capacidade limitada de expressar sentimentos calorosos, ternos ou
de raiva para com os outros;
4. Indiferença a elogios ou críticas;
5. Pouco interesse em relações afetivas ou sexuais;
6. Preferência quase invariável por atividades solitárias;
7. Tendência à vida introspectiva e fantasias pessoais;
8. Falta de amigos íntimos e de interesse em fazer amizades;
9. Insensibilidade a normas sociais predominantes, como atitude
respeitosa para com idosos ou com aqueles que perderam uma
pessoa querida recentemente.
9.3.3 Antissocial
1. Atitude de desrespeito por normas, regras e obrigações sociais de
forma persistente;
2. Estabelecimento de relacionamentos com facilidade, principalmente
quando é do seu interesse, mas com dificuldade em mantê-los;
3. Baixa tolerância à frustração e fácil “explosão” em atitudes
agressivas e violentas;
4. Incapacidade de assumir a culpa pelo que fez de errado ou de
aprender com as punições;
5. Tendência a culpar os outros ou defender-se com raciocínios
lógicos, porém improváveis.
9.3.4 Histriônico
1. Busca frequente por elogios, aprovações e reafirmações dos outros
em relação ao que faz ou pensa;
2. Comportamento e aparência sedutores e inadequados na esfera
sexual;
3. Preocupação com aparência e atratividade físicas;
4. Expressão de emoções com exagero inadequado, como ardor
excessivo no trato com desconhecidos, acessos de raiva incontrolável,
choro emotivo em situações de pouca importância;
5. Desconforto nas situações em que não é o centro das atenções;
6. Emoções, apesar de intensamente expressadas, superficiais e que
mudam facilmente;
7. Imediatismo, pouca tolerância a adiamentos e atrasos;
8. Estilo de conversa superficial e vago, com dificuldades para detalhar
o que pensa.
9.3.8 Dependente
1. Incapacidade de tomar decisões do dia a dia sem uma excessiva
quantidade de conselhos ou reafirmações de outras pessoas;
2. Permissão para que outras pessoas decidam aspectos importantes
de sua vida, como onde morar, que profissão exercer;
3. Submissão de suas próprias necessidades às dos outros;
4. Preferência por não fazer exigências, ainda que em seu direito;
5. Sentimento de desamparo quando sozinho, por medos infundados;
6. Medo de ser abandonado por quem possui relacionamento íntimo;
7. Fácil ofensa por crítica ou desaprovação.
9.4 TRATAMENTO
9.4.1 Psicoterápico
O tratamento psicoterápico deve sempre ser indicado e incentivado.
Independentemente do tipo de psicoterapia (psicodinâmica, de
suporte ou cognitivo-comportamental), é o tratamento que mais
beneficia o paciente, melhorando seu comportamento em médio e
longo prazos.
9.4.2 Medicamentoso
O tratamento medicamentoso é reservado para emergências e
comorbidades com doenças psiquiátricas (ansiedade, transtornos de
humor e psicoses).
O que são transtornos de
personalidade e como
diferenciá-los?
Transtornos de personalidade são diagnosticados pela
curva de vida do paciente. São evidenciados por
comportamentos disfuncionais, que tendem a persistir e
são a expressão característica da maneira de viver do
indivíduo e de seu modo de estabelecer relações consigo
próprio e com os outros. A diferença entre os diversos
transtornos está em suas características clínicas, e o
paciente pode inclusive ter traços de 2 ou mais transtornos.
Você sabe diferenciar os
transtornos somatoforme,
dissociativo e factício?
11.2.1 Desatenção
1. Não presta atenção a detalhes e erra por descuido;
2. Tem dificuldade para manter a concentração nas atividades;
3. Não ouve quando lhe falam diretamente;
4. É desorganizado (caderno, quarto);
5. Distrai-se facilmente por estímulos que não têm relação com o que
está fazendo;
6. Não persiste nas tarefas que exigem esforço mental continuado;
7. É “esquecido”;
8. Tem dificuldade para seguir instruções ou terminar tarefas;
9. Perde coisas.
11.2.2 Impulsividade/hiperatividade
1. É irrequieto com mãos e pés quando sentado;
2. Não para sentado quando necessário;
3. É muito agitado;
4. Fala demais;
5. Tem dificuldade para esperar a sua vez;
6. Interrompe as conversas e intromete-se nelas ou nos jogos dos
outros;
7. Tem sensação de inquietude;
8. É barulhento para jogar ou divertir-se;
9. Salta com as respostas antes de terminar as perguntas.
11.2.3 Tratamento
O tratamento é realizado com a família, a criança e a escola. Terapia,
principalmente da linha comportamental, apresenta boa eficácia.
Quanto à farmacologia, o principal medicamento utilizado é o
metilfenidato (Ritalina®). Alternativas são os antidepressivos
(tricíclicos, bupropiona) e os anti-hipertensivos (clonidina). Quanto
à eficácia do tratamento, em 70% dos casos há diminuição de, pelo
menos, 50% dos sintomas com a medicação.
11.3 TRANSTORNOS DO ESPECTRO
AUTISTA
Segundo a CID-10, trata-se de um grupo de transtornos
caracterizados por alterações qualitativas das interações sociais
recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. O autismo
infantil é caracterizado por:
1. Desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade
de 3 anos;
2. Presença de perturbação característica do funcionamento em cada
um destes três domínios: interações sociais, comunicação,
comportamento focalizado e repetitivo.
12.1.1 Etiologia
A agitação psicomotora pode ser sintoma ou sinal de:
12.1.1.1 Transtorno orgânico agudo (delirium)
13.1 ANTIDEPRESSIVOS
Acredita-se que o efeito antidepressivo se deva ao aumento da
disponibilidade de neurotransmissores no Sistema Nervoso Central
(SNC), notadamente da serotonina (5-HT), da noradrenalina (NE) e
da dopamina (DA). Ao bloquearem receptores 5-HT2 (da 5-HT), os
antidepressivos também funcionam como antienxaquecosos. O
aumento de neurotransmissores na fenda sináptica ocorre por meio
do bloqueio da recaptação da NE e da 5-HT no neurônio pré-
sináptico ou, ainda, da inibição da monoaminoxidase (MAO), enzima
responsável pela inativação desses neurotransmissores.
Podem-se dividir os antidepressivos em quatro grupos:
1. Antidepressivos tricíclicos (ADTs);
2. Inibidores seletivos de recaptação da 5-HT;
3. Inibidores da MAO (IMAOs);
4. Outros antidepressivos.
13.1.1.1 Indicações
13.4.2.3 Contraindicações
13.5.3 Riscos
Antes do início das aplicações, por questão de segurança relacionada
ao risco da anestesia, é sempre realizada avaliação pré-ECT, que
consiste em:
1. Exames laboratoriais (hemograma, glicemia, nível sérico de
potássio);
2. Eletrocardiograma e avaliação cardiológica;
3. Avaliação odontológica;
4. Exame de fundo de olho ou tomografia de crânio;
5. Radiografia de tórax.