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A Mulher - Revista Eva
A Mulher - Revista Eva
A Mulher - Revista Eva
SOCIOLOGIA
M
2017
Francisco Pereira da Silva Pais Rodrigues
setembro de 2017
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista
Feminina perante a Condição Social da Mulher no Estado
Novo (1930-1950)
Membros do Júri
Resumo..........................................................................................................................8
Abstract...................................................................................................................9
Introdução...................................................................................................... 10
Parte I – Enquadramento Geral
1.1 Preâmbulo Problematizante......................................................................11
1.2 Contextualização Socio-histórica....................................................................14
1.2.1 - O Regime.................................................................................................18
1.2.1.1 - Génese Política....................................................................................18
1.2.1.2 - O Papel da Igreja Católica..................................................................20
1.2.1.3 - À Imagem e Semelhança de Salazar: princípios ideológicos e
narrativas operativas.........................................................................................23
1.2.1.4 - Consolidação e Institucionalização....................................................28
1.2.2 - A Mulher.................................................................................................33
1.2.2.1 - Atribuição de Espaços Sociais: família e casa...................................33
1.2.2.2 - Justificativas Históricas: legitimação científica e legal......................35
1.2.2.3 - A Enfermeira, a Professora Primária e a Criada: exceções não
excecionais.......................................................................................................40
1.2.3 - A Imprensa..............................................................................................43
1.2.3.1 - A Censura...........................................................................................47
1.3 - Recursos Teórico-Metodológicos................................................................50
1.3.1 Esteios Teóricos.........................................................................................50
1.3.1.1 - Poder...................................................................................................50
1.3.1.2 - Género................................................................................................54
1.3.1.3 - A Revista enquanto Objeto Cultural, Produtor de Discurso...............54
1.3.2 - Considerações Metodológicas....................................................................58
1.3.2.1 - Elementos para a Construção da Grelha de Análise..........................60
1.3.2.2 - Categorias de Análise: Dimensões e Fundamentos............................61
5
Parte II - O Discurso de Eva
2.1 - História da Empresa Jornalística..............................................................69
2.1.1 - Enquadramento Institucional e vetores da prática jornalística.........69
2.1.2 - Breve Prosopografia: quadro referencial da redação enquanto
contexto de confluência social..............................................................................74
2.1.3 - Hierarquia e Poder Simbólico: uma timoneira carismática..............79
2.1.4 - Ensejos Estruturantes: cronologia comentada..................................84
2.2 - A Eva em Ação: O Trajeto do Discurso...................................................85
2.2.1 - Helena de Aragão: progressismo calculado.....................................85
2.2.2 - Irmãs Roque Gameiro: fase de transição..........................................86
2.2.3 - Carolina Homem Christo (até 1944): alinhamento ideológico.........89
2.2.3.1 - Casos Excecionais (até 1944)...................................................95
2.2.4 - O Final da Guerra: irreverência e respetiva mitigação.....................97
Considerações finais...................................................................................... ......104
Referências bibliográficas.............................................................................. ......110
Anexos............................................................................................................ ......115
Anexo 1 - Anúncio do Inquérito: "A mulher deve ou não trabalhar?"................116
Anexo 2 - Grelha de análise de conteúdo..........................................................117
6
Agradecimentos
Carrego em mim partes de vós e, por isso, estar-vos-ei para sempre grato.
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
Estado Novo (1930-1950)
Resumo
O Estado Novo, tal como o resto dos regimes europeus autoritários de direita do
seu tempo, tinha como uma das pedras basilares da sua ideologia o modelo tradicional
de família. Por conseguinte, o papel da mulher era transmitido como exclusivamente
doméstico, sendo responsável pelo bem-estar quotidiano da família: tomando conta das
crianças, cozinhando, limpando e apoiando o marido com devoção e abnegação Esta
conceção tinha implicações profundas para a autodeterminação das mulheres,
subjugando-as aos desígnios masculinos, uma vez que os homens desempenhavam os
papési de "ganha-pão" e chefe de família, apoderando-se do espaço público e das
decisões coletivas.
Sendo um modelo social opressivo, a sua manutenção sediava-se não só na
repressão estatal, mas também em mecanismos subreptícios que disseminavam tais
ideias como moralmente sãs.
Estes mecanismos podiam tomar a forma de revistas femininas, cuja continuidade
dependia em muito da aprovação do Estado, devido à Censura. Assim, publicações que
veiculassem mensagens favoráveis ao regime seriam beneficiadas, evitando quezílias
com o poder político da época.
Neste trabalho, estudo o discurso de uma dessas revistas, historicamente associada
a uma ideologia conservadora, com o objetivo de compreender melhor as suas práticas
retóricas e a precisão da assunção de que a publicação se alinhava com as crenças do
Estado Novo, durante o seu apogeu e durante um período de agitação política, após a
derrota dos seus congéneres na 2ª Guerra Mundial.
Palavras-chave: Eva, imprensa feminina, Estado Novo, sociologia histórica, condição feminina
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
Estado Novo (1930-1950)
Abstract
The Estado Novo, as the rest of the right-wing european authoritarian regimes of
its time, had the traditional familial structure as one of its ideological cornerstones.
Therefore, women's role was conveyed as exclusively domestic, holding most
responsibility for the family's daily well-being: taking care of the children, cooking,
cleaning and supporting the husband with devotion and self-sacrifice. This notion had
deep implications in terms of women's ability to determine their lives, subduing them to
male designs, as men acted as 'breadwinners' and heads of their families, taking over the
public space and collective decisions.
Being such an oppressive social model, it had to be backed up not only by state
repression, but also by more surreptitious mechanisms that disseminated such ideas as
ones to uphold, from a moral standpoint.
These mechanisms could come in the form of women's magazines, whose
continuity depended heavily on the state's approval, due to the enforcement of
censorship. So, publications conveying favourable content would greatly benefit, not
incurring in quarrels with the political power at the time.
In this work, I study the discourse one of such women's magazines, historically
connected to conservative ideology, with the goal of better understanding its rhetorical
practices and how accurate is the assumption that it aligned itself with the Estado
Novo's beliefs, at the time of the latter's heyday and during a period of a imminent
political rupture, after the defeat of its counterparts during World War II.
Keywords: Eva, women's press, Estado Novo, historical sociology, the condition of women
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
Estado Novo (1930-1950)
Introdução
A primeira parte desta dissertação, Enquadramento Geral, desenvolve-se com o
intuito de apresentar o leque de ferramentas interpretativas veiculadas para a
investigação. Para o efeito, a sua estrutura interna simula a sequência reflexiva que está
na origem do processo investigativo, iniciando-se com o Preâmbulo Problematizante, no
qual se apresentam as questões seminais do processo, cujas implicações se debatem ao
longo do texto, conjugadas com uma primeira perspetivação teórica geral, da qual se
extraem implicações epistemológicas que permeiam o raciocínio analítico desenvolvido.
Uma vez que se aborda um objeto de estudo situado no âmbito da Sociologia
Histórica, impõe-se uma contextualização correspondente, que se apresenta de acordo
com a problematização prévia, com o intuito de estabelecer alicerces analíticos que
permitam uma compreensão alargada das temáticas, sediadas numa noção focalizada do
seu enquadramento operativo: a sociedade portuguesa entre 1930 e 1950.
Na conclusão da primeira parte, expõe-se os Esteios Teórico-Metodológicos,
suporte da estratégica articulada para responder às questões inicialmente colocadas, que
só pôde ser formulada após aprofundamento da matéria socio-histórica. Desta maneira,
convocam-se alguns contributos teóricos específicos e explana-se a sua tradução
metodológica. Para concluir esta porção do Enquadramento, faz-se a exposição dos
elementos operativos da grelha de análise de conteúdo, instrumento metodológico
fundamental, cuja construção assenta nas questões desenvolvidas durante a Parte I e
cuja aplicação permite dar-lhes resposta na Parte II.
Por conseguinte, a Parte II é dedicada à enunciação e articulação dos
conhecimentos específicos sobre a fonte principal. Nessa senda, procede-se à
elaboração da História da Empresa Jornalística, esforço de objetivação da fonte, a partir
do qual se traça o Trajeto do Discurso, segmento no qual se dá responda às solicitações
da problemática inicial.
O texto principal termina com as Considerações Finais, onde se discorre sobre as
implicações do trabalho desenvolvido, procurando responder-lhes sumariamente.
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Estado Novo (1930-1950)
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Estado Novo (1930-1950)
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A opção pela utilização da terceira pessoa na redação reflete esta perspetiva, sendo uma
estratégia de aceder a raciocínios distanciados das implicações percetivas. A única exceção,
utilizando-se a primeira pessoa, é uma nota de rodapé que configura uma visão individual, cujas
implicações na perspetivação da problemática se achou conveniente serem comunicadas ao
leitor.
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Estado Novo (1930-1950)
pelo advento do sistema político de referência, como adiante se debate. Nessa lógica, o
ano derradeiro da abordagem seria 1974, contudo, devido à abundância de material a
analisar, foi selecionado o ano de 1950, que também figura como marco analítico, em
termos quer da abordagem histórica, quer da empírica. Faz sentido que, na sequência da
análise histórica se enunciem, como ferramentas interpretativas dessa aproximação ao
real, contributos teóricos sociológicos.
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intimamente associadas à forma como evoluiu a Eva, bem como à forma como é
perspetivada, numa leitura posterior como a que aqui se faz. Por complemento, faz-se,
em momento alternativo próprio, uma referência à origem e posicionamento social dos
principais intervenientes na publicação, através do peculiar reflexo deste fator no
discurso produzido.
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política, tudo o que parece, é". Ou seja, que todas as dimensões da vivência humana
estão sujeitas a tratamento e influência de índole política. Este contraditório encerra em
si uma pertinente questão cuja reflexão, também ela de ordem concetual, pode ser
abreviada na explicação de que a aceção do termo "política" desenvolvido no presente
âmbito é mais estrita do que aquela em que se baseiam as citações anteriores.
Uma análise mais refinada indica que o estatuto de mais duradouro regime
autoritário da Europa Ocidental no século XX, adjetivação extensa mas expressiva,
apenas foi obtido graças a uma notável capacidade política de adaptação, disseminação
cultural e repressão (Rosas, 2012). Isto significa que, ao longo das décadas, os
responsáveis pelo regime foram bem sucedidos numa abordagem pragmática à
sobrevivência política, em resposta a movimentos opositores internos muitas vezes
apoiados pela conjuntura internacional. Como resultado, complexifica-se o exercício de
caracterizar os seus métodos e ideologia de governação, uma vez que, embora se
mantenham regularidades centrais como o integralismo, colonialismo e o autoritarismo,
ocorreram flutuações fundamentais nas estratégias de manutenção de poder que,
inclusivamente, interferiram com o grau de preponderância desses fatores estruturantes,
até 1974.
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processar, bem como uma certa mitigação do discurso de cariz (semi)contestatário, cuja
datação se enquadra num período histórico coerente. Esta estabilização do discurso da
"Eva" que, embora próximo do quadro ideológico de Estado, integra pontuais laivos
contestatários, que devem ser lidos em contexto, notavelmente pela "adaptação do
projecto totalizante" (Rosas, 2012, p..341) e, portanto, a entrada numa nova fase das
relações, internas e externas da cúpula dirigente do país.
1.3.1 O Regime
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(Rosas, 1992). Tomado o poder pela via bélica, era chegado o momento de construir
alicerces para erigir um sistema político sustentável, contexto no qual vários grupos
políticos procuraram fazer valer os seus interesses, no decorrer do debate sobre os
contornos específicos desse sistema.
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Por acréscimo, é relevante reter que "A «indiferença» geral revelada pelos
portugueses face às coisas da Igreja era apenas quebrada pela relativa receptividade e
prática religiosa das mulheres e das crianças" (p.255). Este dado contribui para apurar a
noção da relação entre a educação e a religião, visto que o papel educador fundamental
era atribuído às mães e professoras primárias. Para além disto, era obrigatória a afixação
de um crucifixo nas escolas do ensino público, primário e elementar2, ladeado pelas
fotografias de Salazar e do Chefe de Estado.
2
Base XIII da lei nº 1941 de 11 de Abril de 1936
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"a Igreja Católica ganhou com o Estado Novo uma autonomia que nunca tivera.
O estatuto público alcançado pela Igreja Católica sob o regime autoritário foi
particularmente devedor do regime concordatário estabelecido em 1940. Esse
regime demonstrou, perante a complexidade jurídico-política do País, possuir
uma capacidade de resistência e adequação que lhe assegurou longevidade"
(Santos, 2012, p.473)
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ao regime. Tendo as suas origens numa situação de tomada de poder por parte dos
militares, o Estado Novo precavia-se assim contra a própria força que tinha desbravado
caminho para a sua concretização.
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Nesse mesmo discurso, o então chefe de governo de facto, detalha a sua visão da
instituição familiar, estabelecendo-a enquanto pedra basilar de todo modelo político-
social proposto. Apoiando-se numa perspetiva sequencial organicista, desenvolve a
relação entre os vários níveis possível de organização coletiva, desde o indivíduo ao
Estado. Extravasando em muito o que poderia constituir a apresentação integrada dos
mecanismos funcionais do regime, elabora sobre o papel da família, legitimando o
modelo autoritário, naturalizado através da lógica organicista, e assim preconizando
mais uma nuance de um corporativismo que não se efetivou: a teórica capacidade de
ação política da instituição familiar, enquanto base eleitoral de câmaras representativas,
é desfeita pela manietação das próprias câmaras que, uma vez instauradas, acabariam
sujeitas às diretivas executivas. Por conseguinte, as estruturas corporativas funcionavam
mais como órgãos consultivos, cujos pareceres poderiam ser levados em conta na
tomada de decisão executiva, que não suplantariam ou contrariavam. Manuel de
Lucena, em raciocínio semelhante, apelida esta dinâmica de "sistema auditivo",
incluindo nele a Câmara Corporativa e a própria Assembleia Nacional (1995, p.30).
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3
"Salazar, o Homem e a sua Obra", na edição original de 1933
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Nesta obra está plasmada a imagem que o regime, na pessoa de Salazar, quer de si e da
sua proposta ideológica. Tratando-se de uma encenação de Ferro, ao invés da mera
transcrição de entrevistas (que ocorreram e em que se baseou), o texto apresenta ao
leitor uma humilde figura paternal, o líder natural que nunca teve essa pretensão, um
homem acima dos outros e que, por isso, deve ser escutado com mais consideração e
obedecido. É neste enquadramento, em tom natural, que se apresenta o ideário do
Estado Novo, eventualmente sumarizado em "Deus, Pátria e Família".
Foi em julho de 1932 que se deu a quase inevitável ascensão de Oliveira Salazar
ao topo da hierarquia política formal, tornando-se chefe de governo. Uma formalidade
concretizada sensivelmente a meio de um quadriénio, 1930-1933, em que se foi
fortalecendo progressivamente o rumo definido, alicerçando o regime através da
promulgação dos seus documentos estruturantes.
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
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Os três documentos que mais se destacam são, por ordem cronológica da sua
entrada em vigor: o Ato Colonial de 1930, documento que introduziu, por exemplo, a
denominação de Império Colonial Português, definindo as relações entre as colónias e a
metrópole no sentido de uma união territorial integralista e nacionalista, atribuindo a
Portugal, enquanto país europeu e cristão, uma incumbência civilizadora, embora a
governação dos territórios fosse separada. Depois, a Constituição de 1933, divulgada a
partir de março de 1932 e aprovada um ano mais tarde, de pendor corporativista,
nacionalista e afeto à doutrina social da igreja, que tinha como propósitos, entre outros:
a criação de uma Assembleia Nacional (em última instância subordinada ao poder
Executivo, que podia legislar por via de decretos-lei); a autarcia; a criação de uma
câmara corporativa, representativa da sociedade civil.
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4
Decreto-Lei n.º 27 058, de 30 de Setembro de 1936 - Documento que cria a Legião Portuguesa
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1.3.2 A Mulher
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Dentro desta visão existem, como seria de esperar, características que podem ser
aplicados a ambos os géneros. No entanto, é frequente a sua dualização semântica
consoante o âmbito de aplicação: tomemos como exemplo o termo coragem. De
maneira geral, elogia-se a coragem masculina nos feitos públicos, em particular em
situações de confrontação, quer na derrota honrada, quer na vitória categórica.
Sublinha-se a determinação na defesa das suas crenças, no controlo do medo para
enfrentar elementos adversos. A mulher, também corajosa, é-o num enquadramento
muito diferente: o pelo sacrifício próprio em prol do marido e filhos, ao apoiar e
suportar o homem nos seus esforços, demonstrando compreensão, abnegação e devoção.
5
ver "Justificativas históricas: legitimação científica e legal"
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apropriados para caracterizar esta dinâmica talvez seja "paternalista", cuja etimologia é
mais um fator de esclarecimento desta desigualdade histórica.6
6
A "paternal" subjaz a superioridade estatutária da figura masculina, arredando a materna para
um plano secundário, mesmo quando se emprega o termo com efeito aglutinador dos géneros.
7
Opta-se pela designação "empreendimentos do homem" com o intuito de clarificar o pendor
masculino inerente aos "empreendimentos da Humanidade", os acontecimentos e dinâmicas
sociais que caracterizaram o desenvolvimento das sociedades. A escolha desta expressão
prende-se com a larga preponderância do género masculino nos organismos decisórios,
políticos, económicos e de quase todo o tipo, que se deve à exclusão feminina por via de
diversos mecanismos sociais, fundamentados na crença da inferioridade intelectual feminina.
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
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Esta ideologia patriarcal, para além de criar nos elementos femininos uma ânsia
de constituir família (habitus de género que cria a disposição), com o propósito de
concretizar o seu desígnio "natural", assume como orgânica a autoridade do chefe de
família sobre as decisões da vida em comum e até sobre a expressão individual dos
membros do grupo familiar, com especial incidência no que toca à aprovação moral dos
seus modos de apresentação e práticas de sociabilidade. Ao verificarem-se estes
preceitos, a autodeterminação feminina fica severamente truncada, não só ao ser
concedida aos elementos familiares masculinos, mas também porque os indivíduos
passam a ficar internamente dependentes da disposição para formar família, que se torna
elemento fundamental da sua realização identitária. A disposição age de tal modo que a
não realização implica um estigma social da época, incidente sobre as "solteironas".
O telos feminino que vem sendo explorado não foi, de todo, inaugurado pelo
Estado Novo. Existia, aliás, uma tradição académica de legitimação desta perspetiva
assente na inferioridade intelectual da mulher, condição biológica de género que era
compensada por capacidades funcionais para a subsistência da espécie. Uma das
disciplinas centrais a este respeito foi a Psicologia, cujos principais representantes, em
particular na fase de institucionalização científica, se dedicaram à abordagem das
diferenças entre os sexos, com as implicações hoje amplamente denunciadas:
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Um dos primeiros autores a contribuir para esta situação foi Sir Francis
Dalton, no século XIX. (...) Galton concluiu que as mulheres tendiam a ser
inferiores aos homens em todas as suas capacidades (...)
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filhos (Shields, 1986, cit. In Poeschel, Múrias & Ribeiro, 2003) e não a
actividades de outro tipo (de autoridade ou de poder)" (Neves, 2009, p.9-10)
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Com efeito, Guimarães comenta que "Hoje, a mulher adquiriu já pouco mais ou
menos perante a lei a situação de pessoa humana, e aquela só passa a considerá-la como
idiota a partir do seu casamento" (1945, p.87), afirmação que ganha sentido ao constatar
que estão reservados ao marido direitos como o de poder obrigar a mulher a regressar ao
domínio conjugal, em caso de ausência, de decidir sobre a sua saída do país, ou até de
autorizar o exercício de uma profissão, estando reservada ao marido a administração do
montante auferido profissionalmente.
A crítica da dependência da mulher casada não foi temática inovadora, tendo tido
como grande impulsionadora Ana de Castro Osório, que a exerce de forma retumbante
na sua obra "Às Mulheres Portuguesas" (1905), na qual se presta ao detalhado exame da
condição social feminina, oferecendo sugestões quanto a rumos de ação posterior. A
intransigência do Estado Novo quanto ao seu modelo de pensamento único fica
plasmada nesta comparação: note-se que, apesar de estarem separadas por quatro
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No seu âmago, a lógica jurídica debatida é indicativa da ideia que vem sendo
exposta, de que a visão da família enquanto célula social se preta, na prática, à
dominação masculina e à abnegada submissão feminina.
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da situação das professoras primárias, como das enfermeiras. Por sua vez, a presença da
criada na publicação era recorrente, uma vez que esta se destinava a um público que, em
larga medida, empregava e orientava uma empregada doméstica8, a que acresce o facto
de também se dedicar às temáticas do lar, cenário no qual a criada desempenhava as
funções, que deviam ser avaliadas pela "senhora", com conhecimento de causa.
8
A título exemplificativo destaca-se, o número 865, de Fevereiro de 1944, no qual se detalha
um horário das tarefas diárias, construído para uma família com dois filhos, residente em
Lisboa. Explicitasse que as tarefas devem ser divididas entre a senhora da casa e a criada.
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A razão para esta singularidade só pode ser conjeturada, dada a reduzida abertura
do regime para a discussão e justificação legislativa. Nessa senda, deduz-se que a
imposição de um bom comportamento por parte do eventual cônjuge, julgado por
órgãos do Estado, se deve à preocupação em conter a difusão de ideias indesejáveis:
imorais ou oposicionistas. Companheiros que se manifestassem desta forma poderiam
influenciar as professoras e, por conseguinte, os seus pupilos. Já a questão dos
rendimentos prender-se-ia com a retenção do professorado no sistema de ensino, numa
curiosa retroação da própria ambiguidade mencionada, uma vez que, casando com um
homem que tivesse possibilidade individual de sustento económico do núcleo familiar,
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
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uma professora poderia optar por abandonar a profissão e dedicar-se ao mister de mãe e
esposa, enquadrando o cenário idealizado pelo Estado. Esta hipótese não é de todo
inverosímil, sendo até assaz sedutora, tendo em conta que, para além de se encontrarem
frequentemente deslocalizadas, devido à distância geográfica entre o local de trabalho e
o de proveniência, as professoras não auferiam rendimentos que proporcionassem
significativa qualidade de vida material, uma realidade que foi abordada pela própria
revista Eva (Anexo 2, nºs 903-907).
1.3.3 A Imprensa
Logicamente, a relação do regime com a Imprensa também era pautada pela visão
do líder. Salazar repudiava a liberdade de Imprensa, pela sua capacidade de ingerência
em assuntos que advogava estarem exclusivamente reservados ao Estado. Em assuntos
como a política externa, no aspeto do bom relacionamento entre países, e a opinião
popular sobre vários assuntos, em especial políticos e económicas, competia ao Estado
competia tomar as decisões, transmiti-las e garantir que eram obedecidas. Daí que o
chefe de governo preterisse a expressão "opinião pública" a favor de "consciência
pública" (Baptista, 2012), dotando o conceito de restrições morais, como é apanágio do
pensamento político da sua autoria. Convoca ainda o argumento de que a desvalorização
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
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"Esta "opinião pública" concebida pelo Estado Novo nada tinha a ver, pois,
com a formação complexa de um "espaço de opinião", onde livremente se
confrontassem ideias. Era tão-só a tentativa de constituir um "bloco de opinião
nacional" ao serviço dos interesses dos governantes, com o objetivo último de
forjar o "espírito nacional". O que implicava que, além de silenciar vozes
discordantes, se inculcasse na consciência pública a imagem da eficiência e dos
benefícios materiais do regime e, ao mesmo tempo, de que este era a expressão e
o maior garante da defesa dos mais fundos valores conformadores da identidade
nacional" (Tengarrinha, 2006, p.)
44
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A este respeito, a conjuntura era de tal ordem que Mário Pinto opta por a
descrever em tom punzante:
Adianta-se, desde já, uma hipótese construída para explicar, pelo menos em parte,
a obsessão formal que este autor denuncia, levantada aquando da análise discursiva que
adiante se apresenta, que tem que ver com a necessária redundância temática e
reiteração de posicionamentos morais. Com efeito, para bem da prossecução dos
objetivos moralizadores do regime, transmitidos pela imprensa, cuja afetação era
variável, tornava-se fundamental a repetição da mensagem e respetiva argumentação,
como meio de inculcação cultural. Por outro lado, na esteira bourdiana, pode relacionar-
se este estilo de escrita elaborado na forma com um mecanismo de distinção social de
uma classe jornalística que ainda lutava simbolicamente pela afirmação profissional
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(Tengarrinha, 2006) e que, por acréscimo, se dirigia a uma classe muito instruída, à
época, por ter capital cultural que lhe permitisse a leitura do texto jornalístico.
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1.3.3.1 A Censura
"A censura terá somente por fim impedir a perversão da opinião pública na sua
função de força social e deverá ser exercida por forma a defendê-la de todos os
factores que a desorientem contra a verdade, a justiça, a moral, a boa
administração e o bem comum, e a evitar que sejam atacados os princípios
fundamentais da organização da sociedade"9
9
Artigo 3º do Decreto Lei 22 469, de 11 de abril de 1933
47
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1.3.1.1 Poder
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Entre outros processos, é esta dialética que possibilita o sucesso dos intuitos
propagandísticos no Estado Novo, ao representar um veículo de interação,
unidimensional e de conteúdo estatutariamente legitimado, que permite a
interpenetração cultural, ou inculcação ideológica (Pinto, 2008; Rosas, 2012), através da
apropriação dessa simbologia pela cultura quotidiana, ou folclore, no sentido
gramsciano do termo (Crehan, 2002). Como resultado afirmativo da propaganda, a
interpenetração cultural permite que o ideário se consolide nas interações fora da
relação propagandística, como nas práticas de sociabilidade, na educação informal e na
fruição cultural. Através destes mecanismos, criam-se disposições positivas (através da
atribuição de significados positicos) na população perante os símbolos de virtuosidade
10
"how people do things together", no original
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No entanto, as relações sociais não se pautam por esta harmonia, havendo espaço
para regularidades e singularidades, aceitação e contestação, variações que dependem
de lutas simbólicas pelo poder, pela legitimação de um sistema de valores - a doxa
(Bourdieu, 1996). Assim, a inculcação ideológica não se faz somente através da
legitimação associada ao poder político instituído, beneficiando da conformidade com o
"sistema simbólico" (Bourdieu,1989, p.8) religioso dominante, o catolicismo. Estes dois
vetores simbólicos, o do Estado e o da Igreja, exercem influência sobre a população,
atuando sobre o universo cultural português - conjunto de símbolos ideológicos. Neste
âmbito, não deixa de ser interessante a aproximação concetual que Bourdieu faz entre
ideologia e religião (1989, p.12), dado o efeito que ambas têm naqueles que lutam pela
legitimação. É ainda curioso que o faça depois de, essencialmente, sintetizar a lógica de
perpetuação de poder que o Estado aplicou.
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1.3.1.2 Género
Bourdieu aborda esta mesma socialização para a submissão, que tem como
consequência a incorporação da dominação masculina, na medida em que "as mulheres,
submetidas a um trabalho de socialização que tende a diminuí-las, a negá-las, fazem a
aprendizagem das virtudes negativas da abnegação, da resignação e do silêncio" (1999,
p.58). Previamente, detalha como se erige a organização patriarcal e as benesses que
esta proporciona aos homens, através da interpenetração cultural, a instituição da doxa,
apropriada como senso comum:
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A verdade dóxica pode ser encarada como uma rede de códigos partilhados,
traduzidas num sistema linguístico comum (Hanks, 2000), que confere legitimidade aos
grupos dominantes. A aplicação desse sistema linguístico é, em si, uma estratégia de
distinção, que ao arredar outros desse capital simbólico, gera violência simbólica, uma
discrepância estatutária particularmente visível na distinção de género (Moi, 2000),
através de uma dualidade de critérios. Como Bourdieu salienta, através do exemplos do
cozinheiro e do costureiro, "basta que os homens se apoderem das tarefas tidas por
femininas e as efectuem fora da esfera privada para que essas tarefas se encontrem
enobrecidas e transfiguradas" (1999, p.52).
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Uma vez em que se trata uma publicação independente do poder político, mas
todavia sujeita à sua legitimação e aprovação, pode considerar que existe apropriação do
objeto cultural como um mecanismo de interpenetração cultural. Como se verá, nesta
lógica existe espaço para a veiculação de discursos variados, em relação mais ou menos
cooperante, antagónica ou neutra com as diretivas do regime autoritário.
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Pelas propriedades elencadas, a presente dissertação assume como uma das suas
facetas a de estudo cultural, conjugando, mas não confundindo, duas aceções do
multifacetado termo cultura. Em pano de fundo, apresenta-se o termo num sentido lato,
na medida em que se desconstrói mecanismos sociais de transmissão de valores virtudes
e se afere a coincidência dos mesmos com as estruturas valorativas presentes no
discurso do poder político e na sociedade portuguesa à época. Num plano mais
imediato, emprega-se uma noção estrita de cultura, dada a natureza do trabalho de
análise de conteúdo de um objeto cultural - capital cultural objetivado (Bourdieu, 1979),
para desconstrução de um desses mesmos mecanismos. Proveniente desta dualidade,
uma necessidade de recorrer a matrizes teóricas provenientes da Sociologia da Cultura
e da Sociologia da Arte.
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Por fim, há que ressalvar que os três vértices propostos não são estanques, estando
interligados pela influência que necessariamente exercem uns sobre os outros. É por
este motivo que se destaca o contexto social em que se inserem estas dinâmicas
interativas. Embora se rejeitem noções deterministas, seria contraproducente menorizar
a importância desse contexto na atuação dos indivíduos e das instituições, mormente
aquando da vigência de sistemas políticos autoritários (pelo seu teor impositivo e pelas
inevitáveis reações que daí surgem).
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encontro dos interesses já expostos, sem cair no erro de tentar argumentar a favor de
ideias pré-concebidas sobre o objeto de estudo.
Dado que se pretende aferir variáveis culturais que não são quantificáveis, aplica-
se uma metodologia de índole qualitativa, que assenta na leitura de "documentos
qualitativos"11, as edições da revista, e que se coloca a problemática a partir de teoria
social, com particular ênfase numa perspetiva pode ser considerada feminista, visto que
se debruça sobre a condição social da mulher num contexto considerado historicamente
opressivo (Creswell, 2014).
11
qualitative documents, no original (Creswell, 2014, p.190)
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através das quais se extrai significado. A codificação foi feita de modo tradicional, sem
recurso a software especializado.
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nestes campos, refletindo o habitus da classe dominante, pelo que o discurso produzido
a este respeito contém vincadas conotações ideológicas, que podem ser integradas na
interpretação, mesmo quando a sua reprodução textual não se inclui na grelha analítica,
visto que se trata de uma ferramenta para o processamento de informação e consequente
interpretação, não uma fonte sacralizada de conhecimento.
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a procurar colocação no mundo laboral, devido à falta de condições materiais para a sua
subsistência, sob alçada de marido ou pai; ademais, esta mundivisão não era unânime,
como é característico de ideais totais do mundo social; por fim, seria quase inconcebível
para uma revista feminina, que pretendia dirigir-se à totalidade do género, a ausência de
menção às conquistas sociais, culturais e científicas de individualidades e movimentos
feministas, principalmente estrangeiros, difundindo amplamente os ideais, sucessos e
retrocessos da emancipação feminina, nomeadamente através de peças de caráter
Laudatório, para além de Informativo.
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Porém, sublinha-se que esta vertente implícita não se regista para efeitos de
análise de conteúdo, por falta de especificidade, ou porque não constituem discurso
sobre a condição feminina. No corpus considerado, o discurso recorre à referência de
figuras, acontecimentos e ensinamentos bíblicos para validar as afirmações postuladas,
mormente através de recursos estilísticos como a analogia. Também é comum o elogio
da religiosidade ou fé de uma individualidade, como componente da sua virtuosidade.
Todavia, foram incluídas algumas peças de pendor diretamente religioso, como
reportagens sobre Fátima, cujo destaque comprova a apologia do catolicismo - esta é,
pela própria natureza axiológica, uma tendência que importa para este trabalho.
Sobre o Fundamento Familiar, importa clarificar que é assaz variável nas suas
formulações. Isto deve-se ao facto de, por um lado, dizer respeito a uma convenção
mental continuamente reconstruída. Tal não significa que existe total uniformidade nas
convenções mentais sobre a questão familiar: existem pontos de contacto estruturantes
destas convenções, havendo lugar a reinterpretações diversas. Ou seja, embora existam
regularidades no entendimento desta Dimensão, são-lhe inerentes flutuações temporais,
autorais e contextuais.
Uma vez que a Eva enfoca temáticas eminentemente quotidianas, assentes numa
moral prática e mundana, o Fundamento Familiar é a base justificativa para o papel da
mulher na estrutura familiar, relativamente ao qual a generalidade das perspetivas
presentes na revista coincidem com o estipulado pelo regime político. Neste sentido,
recorde-se, o discurso é o de encorajamento do trabalho doméstico, apoio conjugal
inabalável, completa dedicação ao bem-estar e educação dos filhos. Também serve, por
outro lado, de alento a esse estilo de vida que requer um grau de resignação. Embora,
este encaminhamento doméstico-familiar radicasse na ideia da sua inferioridade natural,
cientificamente legitimada, a retórica da revista, bem como a dos órgãos políticos não é
frontalmente minorante. Pelo contrário, glorifica-se a aspiração conjugal e maternal,
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Por fim, com base nestas apreciações, faz-se uma leitura da cultura
organizacional, a partir da constatação de uma especificidade na disposição hierárquica
da revista que, embora fosse de divulgação exígua e difusa, pode ser apreciada com
recurso às ferramentas analíticas sobre poder simbólico, aplicadas às amostras de
discurso identitário que surgem nas páginas da revista.
69
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12
Quanto aos assuntos relacionados com a Educação, a revista foi sendo regularmente
interventiva, configurando um âmbito de ação que pode ser entendido como concordante com a ideologia
de Estado, uma vez que caberia à mulher a educação dos filhos. Tal visão está presente, aliás, na
representação feminina à Assembleia Nacional e à Câmara Corporativa, diminuta mas maioritariamente
enquadrada em comissões vocacionadas para a componente educacional da ação política.
13
Ver https://www.youtube.com/watch?v=ivcueSttnRA [consultado a 19/9/2017]
70
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14
Tânia Gomes (2011) informa que o número de Natal era a principal fonte de rendimento anual da
revista, que permitia a sua subsistência, tal como revelado Carolina Homem Christo em carta a Bissaya
Barreto.
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que por vezes se zanga. Não lhe agrada a nossa... colaboração. Mas tudo passa.
Questões de senhoras vizinhas" (1945, 879, p.52)15.
É durante o mesmo 1944 que se registam três entradas de relevo para a temática
presente, relativas a uma iniciativa que encoraja a reflexão sobre a condição social da
mulher. Já em 1947, surge resistência da Censura a outro caso do género, desta vez
15
Opta-se por esta formulação para a citação das páginas da revista, por se considerar que a referência
autoral é menos relevante do que o número, nestas circunstâncias. a haver autor identificado na revista,
também o é no corpo do texto. Desta forma, mantém-se a importância ao contributo individual,
permitindo situar o discurso na evolução da revista, de forma próxima aos cânones da norma de citação.
16
A propósito da questão censória e da guerra, é relevante mencionar a Crónica de Londres de Novembro
de 1945, por Irene Gorska, na qual a repórter celebra o facto de, pela primeira vez em 5 anos, não ter de
submeter o texto à censura (de guerra) inglesa, cuja necessidade compreende mas cujo fim é motivo de
júbilo. A inclusão deste texto comemorativo poderá ter interpretações, sendo que a mais segura é,
provavelmente, a de que residem descontentamento e crítica na ironia de celebrar o fim de uma censura,
de cariz conjuntural, numa publicação sujeito a censura estrutural - não terá sido interpretado dessa forma
pelos censores, visto que não há referência a este episódio nos registos.
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contendo crítica mais direta ao Estado. Eventualmente, mesmo as peças cortadas na sua
totalidade foram publicadas, depois de alterada. Para desventura desta pesquisa, não
foram anotados os números referentes, na compilação do cadastro mas, não obstante
este obstáculo à clareza da exposição, as passagens são esclarecedoras:
1944- Um inquérito que esta revista se propôr [sic] fazer, ouvindo opiniões sôbre
o trabalho da mulher, foi completamente cortado, porque essas opiniões quasi
sempre a incompreensão do verdadeiro papel da mulher e tendentes a desfazer a
família
1947- O artigo "O problema das professoras primárias" foi em grande parte
cortado nos capítulos "Ordenado e Assistência" porque as sugestões que apresenta
são inacreditáveis e se a sua publicação fosse autorizada concorreria para formar
um ambiente sem realização
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Por razões de enfoque temático, afigura-se como pertinente que a este respeito o
trabalho obedeça a duas diretivas: a restrição de personalidades, ou cujos textos tenham
sido alvo de escrutínio, ou cuja relevância no seio da revista enquanto organização seja
notória, pela sua regularidade ou pelos cargos ocupados; e a economia no que toca à
extensão da referenciação, de modo a que não se incorra no erro de (sobre)fulanizar a
análise, mantendo presente que a publicação dos textos depende da concordância de um
corpo dirigente, responsável pela visão estratégica e holística do discurso veiculado, ou
seja, pela súmula da mensagem transmitida.
De qualquer modo, reitera-se a importância deste registo no sentido de enriquecer
a leitura analítica do ponto de vista sociocultural. A este respeito, tendo por base uma
noção dos campos culturais no qual se movimentavam os colaboradores da Eva - o
literário, o pedagógico e o ativista - foram consultadas fontes historiográficas cujo
trabalho de consolidação histórica foi de tremenda utilidade, dada a escassez de fontes
sobre alguns destes indivíduos e a dificuldade inerente ao esforço de identificação
fidedigna, nalguns casos. Por outro lado, dada a debilidade da ficha técnica da revista,
não se pode afirmar com certeza que não existem personalidades determinantes para a
sua concretização que sejam olvidadas desta vertente analítica, pelo facto de os seus
contributos não serem assinados, ou a historiografia não os mencionar - reforça-se a
questão da desfulanização, dado que a autoria da grande maioria dos excertos sujeitos a
exame não estava identificada. Apresenta-se de seguida o resultado do exercício, por
ordem aproximadamente cronológica da sua inclusão na História da Empresa
Jornalística.17
A primeira diretora da Eva, Helena de Aragão, distinguiu-se enquanto jornalista e
escritora. Tendo colaborado com várias publicações, saiu da Eva para dirigir a Fémina,
17
Com o intuito de não prejudicar a legibilidade do trecho que se segue, avança-se que, as fontes
para o exercício prosopográfico que se segue foram (excluindo Irene Gorska e as entradas subsequentes):
Dicionário no Feminino, dirigido por Zília Osório de Castro e João Esteves (2005), Dicionário de
Educadores Famosos, dirigido por António Nóvoa (2003), O Conselho Nacional das Mulheres
Portuguesas: A Principal Associação de Mulheres da Primeira Metade do Século XX, tese de mestrado de
Rosa Correia (2013), Da edição de guias para a mulher e ensaios sobre a condição feminina durante o
Estado Novo, tese de mestrado de Sónia Pereira (2014), Dicionário de mulheres célebres, por Américo
Lopes de Oliveira (1981).
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outra revista feminista cuja retórica assentava numa entidade agregadora, por vezes em
tom esotérico, assumindo-se como "lar espiritual" (Castro e Esteves, 2005, p.339).
Maria de Cabêdo, escritora madeirense, com direito a secção regular no Diário de
Notícias do Funchal, escreveu, no início dos anos 30, a Crónica Feminina, na Eva.
Durante esta década, também colaborou na Portugal Feminino.18
Virgínia de Castro e Almeida escrevia no âmbito da literatura infantil e
pedagógica, mas também romances mais maduros. Originária da aristocracia e
nacionalista, considerada não feminista, dado o desdém pelas suas colegas de profissão,
alinhava-se com os ideais do Estado Novo, tendo-se correspondido com Salazar,
criticando a propaganda inglesa em 1942 e escrito obras de doutrinação dos valores e da
visão do regime sobre o passado nacional, colaborando com o Secretariado de
Propaganda Nacional.
Sara Beirão, cuja contribuição para a Eva se ficou essencialmente pela redação de
contos, notabilizou-se como dirigente e figura de proa do CNMP, bem como distinta
representante das artes femininas nacionais no Brasil. Também contribuiu para Portugal
Feminino.
Teresa Leitão de Barros, professora de liceu de extensa carreira. Escreveu quase
todos os editoriais da Portugal Feminino, denotando posições nacionalistas e
moralmente próximas às do regime, que se confirmaram ao escrever nas revistas
editadas pela Mocidade Portuguesa Feminina, cuja fundação já tinha elogiado no
editorial que assinava. De maneira algo oposta, também era sócia do CNMP, associando
o trabalho intelectual à causa feminista, o que lhe valeu a apreciação de Elina
Guimarães. Todavia, é-lhe apontando maior empenho na Portugal Feminino do que na
18
Revista mensal, iniciativa privada de Maria Amélia Teixeira, sócia do CNMP, diretora de reconhecido
capital cultural e comprovado capital financeiro. Houve estreita proximidade entre a Eva e Portugal
Feminino, desde que esta saudou a existência da primeira logo no seu número inaugural, que se
concretizou com a abundante sobreposição de colaboradoras, sendo que na Portugal Feminino não
existiam homens. Publicação de objetivos e ideário flutuantes, "tinha partido com um certo ideário
feminista que, progressivamente, ia sendo camuflado, quer pela participação de não feministas na revista,
por exemplo, Marta Mesquita da Câmara e Maria Cândida Parreira, quer pelas que o eram
assumidamente, irem subvalorizando tal facto no que escrevem, optando pela escrita de páginas de
literatura ou poesia, onde não denotavam qualquer espécie de feminismo" (Castro e Esteves, 2005, p.816)
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19
Do arquivo pessoal de José Pacheco Pereira https://ephemerajpp.com/2017/06/13/comissao-
nacional-de-defesa-da-liberdade-de-expressao-2/ [consultado a 19/9/2017]
20
Ver http://manueldonascimento.net/ [consultado a 19/9/2017]
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Eva entre 1947 e 1950 (Marques, 2007) esteve sem dúvida envolvida no processo de
estruturação do seu discurso.
A última referência faz-se a José Cardoso Pires, o insigne escritor, que foi redator
da Eva desde 1949 (A Página da Educação, 1998), o mesmo ano em que publicou o
primeiro livro, "Os Caminheiros e Outros Contos", retirado de circulação pela Censura.
A presença, na redação da revista, de um autor indesejado pelo regime, no fim do
período em análise, pode ajudar a explicar algumas tendências que se entreveem em
termos de (não) alinhamento político.
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Certamente controverso, como qualquer símil com uma figura histórica non grata, através de uma
falácia maniqueísta que só permite este tipo de comparação se for insultuosa, quando pode ser lisonjeira,
essencialmente neutra, centrando-se no aspeto analítico, como a que aqui se faz. Tal tem resultado
pernicioso, dado que abre portas a um falseamento da consciência histórica coletiva e de perda de eficácia
no debate histórico-político. Parece-me essencial este apontamento pessoal, na medida em que esta lógica
norteia a investigação, no sentido da maior aproximação possível à objetividade, sem desconsiderar a
inevitabilidade da subjetividade nesta área de trabalho.
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Do que foi possível apurar e deduzir, também a partir das referências feitas a eles
no seio da própria Eva, o irmão e o pai de Carolina foram ambos figuras muito
influentes no seu pensamento, e o reconhecimento público das figuras de ambos uma
preocupação pessoal. Sob a sua alçada, a revista publicou as seguintes peças de registo
destoante com o resto do corpus, todas escritas com uma roupagem de distanciamento e
imparcialidade, como se tratassem de personalidades sem qualquer tipo de conexão com
a revista: em 1933, um relato da homenagem prestada por Mussolini ao irmão, aquando
da sua morte, que ocorrera em 1928; em 1938, o relato da homenagem prestada ao pai
pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, caracterizando-o como
eminente jornalista; em 1943, o obituário do pai; em 1948, um texto em memória de
Homem Christo, filho, num registo laudatório de Mussolini, juntando anacronismo à
excentricidade do tipo de texto, no âmbito da revista.
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Bissaya Barreto, solicitando que fizesse uso da sua influência junto da tutela - o que não
surtiu efeito.
No ano seguinte, após nova contrariedade com a mesma origem, escreve a Barreto
uma missiva na qual não se coíbe de apelidar o Ministro de "cabeçudo e ultra-estúpido"
(Gomes, 2011), demonstrado a irreverência e irredutibilidade paralelas às do pai, para
além de um acentuado descontentamento com o sistema de governação, nomeadamente
a legislação, o que ajuda a explicar a ligeira inflexão na adesão da revista às diretivas do
Estado Novo, nomeadamente no campo político, ao quebrar a postura neutral perante o
conflito mundial, alinhando-se claramente com os aliados, mesmo sem menção direta e
explícita, mas com uma grande focagem nos seus esforços.
Posto isto, há que considerar que o percurso e o pensamento de uma pessoa não se
esgotam somente nas influências daqueles que lhe são próximos. Carolina Homem
Christo desde cedo assumiu responsabilidades, tendo colaborado com o periódico O
Povo de Aveiro e dirigido o suplemento feminino d'O Século (Castro e Esteves, 2005).
Não se apuraram ao certo as suas funções no Grupo Diário de Notícias (posterior
Empresa Nacional de Publicidade), que terão sido relevantes, visto ter sido a
organizadora da já referida excursão dos funcionários superiores, em 1930.
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a sua centralidade, principalmente nas reportagens são sobre as suas viagens: ao Brasil,
em 1940, em representação da empresa proprietária da publicação, cuja cobertura realça
o enorme apreço que a população local tem por ela, sendo inclusivamente convidada da
mulher de Getúlio Vargas; aos Açores, em 1942, em representação da Eva das
madrinhas de guerra, novamente ovacionada pelos anfitriões; a Paris, em 1945, sendo a
primeira jornalista portuguesa a visitar cidade no pós-guerra, momento que é relatado
insinuando uma representação quasi oficial.
4/1/1933 - (Revelação da) Direção de Carolina Homem Christo. Configura uma clara
assunção do comando, patente no atenuar da diletância perante os progressos
internacionais da emancipação feminina. Maior ênfase num ideário familiar
conservador, concordante com o salazarista mas plausivelmente radicado na admiração
pelo pensamento fascista italiano, na figura de Mussolini.
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
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1/7/1939 - Direção e Edição de Carolina Homem Christo. Não representa uma mudança
de fundo no discurso sobre a mulher, porém intensifica a centralidade da sua figura,
através do incremento do número e grau de referências elogiosas à diretora e editora.
7/1941 - Primeira edição mensal. Subida do preço unitário para 3.00$, que ainda assim
representa uma poupança para os compradores, na medida em que cada edição semanal
custava 1.5$, totalizando cerca de 6.00$ mensais.
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várias circunstâncias como, por exemplo, em "O que as senhoras devem ler", coluna
literária que se destaca pelo caráter cicerónico.
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Para defender a sua honra, capaz de se deixar matar! Para manter a sua fidelidade
de esposa, chegando a martirizar a própria carne! Que lição exemplaríssima para
certas ocidentais!... (...)
(...) essas bailadeiras lascivas (...) formam na Índia uma classe muito à parte.
Classe a que não é permitido o casamento, classe proscrita aos sagrados elos da
família.
Hoje, a Índia, onde também já chegou a civilização de cá, conta entre as suas
mulheres: médicas, matemáticas, escritoras, etc. Todo o cortejo flamante do
feminismo! Mas, provavelmente, as virtudes de outrora ainda perdurarão na
maioria - para maior glória da biografia da mulher indiana." (1921, 321, p.5)
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Desde o último mês de 1931 e durante o ano de 1932, embora a ficha da revista
indique que a direção pertence à Empresa Nacional de Publicidade, Carolina Homem
Christo já teria assumido o cargo cimeiro (em maio desse período, garantidamente) Não
obstante, o discurso produzido não apresenta diferenças de fundo, em comparação com
a direção Roque Gameiro, provavelmente consubstanciando um período de transição. A
tendência geral, no que toca às referências à condição social feminina, mantém-se,
ligeiramente refreada no número e grau dos apelos emancipatórios.
22
Num episódio de discreta ironia, típico de discursos dados à ambiguidade, duas semanas
volvidas, a revista dedicou toda a secção de culinária a receitas contra o ganho de gordura.
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referidas pelo nome próprio, mas somente como Mrs Neville Chamberlain, por exemplo
- pormenor que, no panorama simbólico, enfraquece o elogio, através da degradação do
processo de significação linguístico que decorre da alteração do signo.
A ausência de comentário político, por mais leve, da cena nacional, tem exceções
nos casos de Maria do Sol e Maria do Carmo, que não deixaram de ser tratados com
grande reverência ao poder político, formando crítica social lata e generalizada, sem
atribuir responsabilidade à tutela. Existe uma única menção individual de Salazar,
francamente positiva, ao longo do período em foco, por ocasião da sua "apoteótica
visita à capital do Norte" (1934, 470, p.9). Quanto ao Chefe de Estado, Óscar Carmona,
é mencionado de maneira neutra na peça de cobertura da entrega do pedido de indulto
de Maria do Sol e somente através do título ex officio, aquando da cobertura de uma
cerimónia de encerramento do ano letivo do Instituto Feminino de Educação e Trabalho
- peça demonstrativa de afinidade formal ao Estado, o tal reacionarismo, ao fotografar
as alunas fazendo a saudação Romana a Carmona e, no plano ideológico, indicativa da
inclinação tradicionalista do papel da mulher, relatando a delicada confeção, pelas
alunas, de bordados, tapeçarias e costuras, sumarizando através destas atividades a
função do Instituto, focado na formação da população feminina.
O discurso enquanto prática simbólica opera a níveis distintos, que se traduzem
em posturas variadas, como proselitismo arrogado ou a utilização discreta ou subliminar
de simbologia, visual ou léxica. A Eva, no que toca às Dimensões Cicerónica e
Moralizante, reflete esta variedade, geralmente mantendo-se num registo discreto, que
naturaliza universos de valores e virtudes, como exemplificam as menções à visão de
Mussolini e ao trabalho do Instituto Feminino de Educação e do Trabalho.
A religiosidade assume preponderância em termos de vertentes discretas,
operando essencialmente no subtexto, na medida em que a propagação das estruturas de
valores recorre em larga medida da simbologia e discurso de base cristã para
sedimentar a sua posição. Embora geralmente confinado para um plano secundário, o
Fundamento Religioso fica a descoberto nalgumas ocasiões, atingindo o expoente
máximo aquando da realização de um concurso sobre um filme, Rosa do Adro, que
consistiu na seleção, devidamente justificada, da personagem feminina preferida das
leitoras que quisessem participar. As participações vencedoras foram as seguintes:
"Prefiro «Linda» porque o seu sacrifício é a glorificação da ideia cristã no mais puro
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termo "felizes", que configura uma opção não acidental de associar à felicidade no
casamento à execução das tarefas domésticas.
São recorrentes as peças, no seio da Dimensão Gendrificada, em que se realça a
educação diferenciada.. Pode encontrar-se o molde paradigmático num artigo que
encoraja as mães a ensinar as crianças a serem desembaraçadas, recorrendo ilustrações
claras nas representações de género. Para as meninas, apenas uma imagem comentada,
"A menina sabe tornar-se útil cumprindo trabalhos caseiros fáceis!" (1939, 744, p.20),
ao passo que o menino sabe o seu nome e morada, não tem medo da escuridão, sabe
lavar os dentes, tem iniciativa, arruma e conserta os brinquedos, instrui-se
metodicamente, não gosta de desarranjo, é corajoso, vai viajar.
Na mesma edição, numa peça intitulada "A Elegância das mulheres que
trabalham", dão-se conselhos de moda e apresentação para um rol de profissões -
secretária, datilógrafa, professora, telefonista, empregada bancária, vendedora - que têm
em comum um estatuto socioprofissional intermédio e funções subalternas, numa
análise em que a omissão de áreas de maior desenvolvimento intelectual e autonomia
laboral é indicativa do horizonte de expetativa para a profissionalização feminina. É
uma visão coerente com a expressada dois anos mais tarde, aquando da condução de
entrevistas a estudantes universitárias, que segundo quem redige o resumo, se preparam
para profissões "sérias, isentas de sonho, ausentes de poesia: ajudantes de guarda-livros,
de contabilistas, e correspondentes de línguas estrangeiras em escritórios comerciais",
não têm "certos devaneios que atacam raparigas fúteis e das outras" (1941, 834, p.51)23.
Desta maneira manifesta um modelo de pensamento sobre a organização social muito
presente na Eva, assente na clivagem de expetativas e socialização entre géneros,
através de um discurso que desencoraja as mulheres a desenvolver atividades de
reconhecimento público e de estímulo intelectual e cultural.
Complementarmente, pode constatar-se que a própria abordagem a algum tipo de
matérias, tipicamente associadas ao plano masculino, sofre repercussões desta visão, na
23
"a experiência prolongada e invisivelmente mutilada de um mundo integralmente sexuado
tende a fazer perecer, desencorajando-a, a própria inclinação para efetuar os actos que não são
esperados das mulheres" (Bourdieu, 1999, p.53)
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medida em que áreas como a política e a ciência são tratadas com ênfase na vida social
dos seus protagonistas, ao invés das suas valências teórico-analíticas. É possível que se
trate de uma inclinação editorial, não ideológica, da revista, visto que estas temáticas
não faziam parte da sua declaração de interesses. Todavia, não deixa de ser curioso
notar que esta redução da complexidade dos temas, esvaziados da sua componente
gnosiológica, se coaduna com o menosprezo da capacidade mental das mulheres,
tradição (proto)científica, já exposta, que legitimava a estrutura dual que dá origem à
Dimensão Gendrificada.
De qualquer modo, a Eva não é um organismo prosélito de um separatismo de
género, tendo desenvolvido grande esforço para a promoção da cultura física e da
prática desportiva variada, especialmente de desportos em que a participação feminina
era tradicionalmente estigmatizada. Esta iniciativa desenrolou-se sob a forma de
intensiva cobertura do desporto feminino nacional, tendo culminado na tentativa de
criação de uma Federação de Desporto Feminino, que claudicou. Por outro lado, esta
insistência demonstra um alinhamento notório com a política de cultura física do regime
(Brasão, 1999).
Com o advento da 2ª Guerra Mundial, amplificaram-se as vozes que clamavam
pela igualdade, às quais a Eva se juntou. Assim, a Dimensão Laudatória tornou-se
constante, através do elogio prestado às mulheres (quase sempre francesas ou inglesas)
que substituíam o labor masculino ou que ingressavam nas estruturas de apoio às forças
armadas, dadas as exigências da guerra. Desenvolve-se assim a retórica da guerra
enquanto conjuntura emancipatória, uma vez que a ausência de grande parte da
população masculina, convocada pelo esforço bélico, permite que as mulheres provem
as suas capacidades de condução dos destinos da sociedade. Não obstante esta clara
alteração de paradigma discursivo, há necessárias anamneses tradicionalistas, como o
facto de ser muito recorrente mostrar, sob o rótulo de atualidade de guerra, enfermeiras
a cuidar de crianças (prática que não destoa entre alturas de guerra e de paz, mas que
sugere essência maternal, cuidadora), para além de saídas como a da Crónica Londrina
do número 843, de abril de 1943, que legenda a imagem de duas militares a falar,
supondo, "com certeza", que estariam a falar de modas.
Apesar da neutralidade portuguesa no conflito, alocaram-se preventivamente
contingentes militares nos territórios insulares, os expedicionários. Numa iniciativa cujo
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Ainda no que toca às exceções, há que referir um caso, de 1942, em que a postura
da revista destoa acentuadamente das regularidades expostas,. O primeiro episódio é um
texto de opinião, no qual, combinando um tom cicerónico com uma fundamentação
igualitária, Rogério de Freitas acusa a rapariga portuguesa de viver em preconceitos e
limitações que admite mas não corrige, limitando a sua cultura a literatura "de cordel",
24
“The exception is more interesting than the rule. The rule proves nothing; the exception
proves everything. In the exception the power of real life breaks through the crust of a
mechanism that has become torpid by repetition.” (Schmitt, 2005, p.15)
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de não agradar aos homens por ser envergonhada, de se coibir de determinadas ações
para não mostrar as pernas, de não se saber comportar quando vai ao café (o que é raro
já de si). Tem espírito estreito, mentalidade fora de época e vive infeliz por isso.
Por fim, numa nova resposta publicada, acusa-se os homens de maldade e Rogério
de só ter regressado a Portugal dois anos antes, pelo que não tem conhecimento de
fundo sobre a questão. Adicionalmente, alegam que apenas contacta com, e observa
mulheres em ambientes públicos, onde esses mecanismos de opressão existem. É
também acusado de confundir a mentalidade portuguesa com a mulher portuguesa.
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surpreendente, uma vez que demonstra consciência dos constrangimentos sociais a que
as jovens mulheres estavam sujeitas. Por outro lado, a publicação desta discussão indica
preocupação, da parte da redação, com o debate sobre as dinâmicas constringentes, bem
como um posicionamento progressista, de coadunação complicada com o discurso que
se vem expondo.
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que a associação específica do nome da revista a estes conteúdos não é leviana, tendo o
propósito de conferir maior legitimidade aos conteúdos aí presentes, pelo que devem ser
lidos com atenção redobrada às suas minudências.
No período em que decorreu o inquérito sobre as professoras, aconselha-se as
leitoras a não "lavar roupa suja" em público, pelas consequências que isso pode trazer à
sua reputação social. Do mesmo modo, com base no respeito pela intimidade própria,
manifestações de carinho e afeto também são reprováveis, em especial no o
estabelecimento de relações de confiança, de modo a evitar ciúmes do marido e agradar
aos seus amigos, simultaneamente. Mantém-se o discurso de submissão conjugal,
segundo o qual é responsabilidade da mulher não importunar o marido. No mesmo
período, defende que:
"Uma rapariga que sorri... que se mexe, que anda dum lado para o outro, que
borda, faz «tricot», lava, sabe tão bem coser a roupa velha, como vigiar na
cozinha o assado, mas que faz todas estas coisas com uma serena ligeireza... quem
melhor poderia ajudar a viver aqueles que têm as responsabilidades e as
preocupações? (...) Tem que se exercitar com fervor no grande mister de mãe e
mulher" (1947, 905, p.43)
Em 1948, na mesma chancela, Querida Leitora, ocorre um dos exemplos mais
crassos de contrariedade interna no discurso, notório ao comparar as edições de outubro,
921 e novembro, 922. A primeira desenvolve que as mulheres, ao educar os filhos,
contrariamente às filhas, a serem dependentes delas em casa, estão a prolongar essa
visão desigual da vida doméstica. Já a segunda, aconselha que desde cedo habituem as
filhas (somente) a governar a casa, para que depois as auxiliem.
Um ano mais tarde, em outubro 1949, a mesma rúbrica apresenta uma amálgama
destas linhas discursivas, ao tecer o seguinte raciocínio, que inclui a habituação dos
filhos ao trabalho doméstico e apoio moral do marido, para que depois a esposa possa
demonstrar disponibilidade para o apoio conjugal que dela se requer:
"Convence-te: é um favor que fazes aos teus filhos se os habituares a arrumar as
coisas e a ajudar-te um poucochinho na lida da casa. Quanto ao teu marido,
brandamente, acostuma-o também a dar-te certo apoio moral nesse sentido,
sabendo ele próprio poupar-te em certas coisas, a fim de que nos momentos
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graves da vida te possa apta a prestares-lhe todo o auxílio que tem direito a exigir
de ti" (1949, 833p.43)
No brotar do ano 1949, foi introduzida uma rúbrica de teor inédito na revista, uma
vez que se dedicava à transmissão sistematizada de informação de caráter cultural mais
desenvolvido, um campo até sempre apontado à masculinidade. Chamou-se "10
Minutos Para Pensar - A Marcha do Mundo" e, por razões desconhecidas, durou apenas
6 meses, nos quais promoveu a reflexão sobre temas diversos como o sistema de saúde
público e gratuito que se implementava em Inglaterra, o direito de voto que as mulheres
siamesas não exerciam e a emancipação da mulher turca, pela abolição da legislação
teocrática. Introduziu-se da seguinte maneira, reconhecendo o teor corriqueiro da
maioria do conteúdo da revista:
"Embora a «Eva» não pretenda ser uma revista com características altamente
culturais, procurando, antes, fazer passar, aos seus leitores, momentos aprazíveis,
por vezes mesmo com futilidades - pois também fazem parte da existência -
pareceu-nos que faltava nas suas páginas aquele momento sério que, no meio do
turbilhão aparece e faz pensar um instante, esclarecendo-nos" (1949, 924, p.28)
Com efeito, com o desenrolar do biénio 1949-1950, verifica-se uma mitigação do
tom interventivo, desvanecido o entusiasmo do pós-guerra. Escasseiam os comentários
ou iniciativas de teor igualitário, na medida em que as questões da luta pela igualdade
parecem naturalizadas, já não estando tão vincadas as conceções da divisão funcional
dos géneros. O conteúdo a incluir na análise discursiva torna-se, portanto, menos
numeroso e relevante, por reflexo do que acontece com tomadas de posição simbólica
em relação à condição social feminina.
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Considerações finais
Ao revisitar as questões colocadas relativamente à problematização com que deu
mote a esta investigação, conclui-se que as respostas são muito nuanceadas, mas que
podem ser sumarizadas e comentadas, em especial para efeitos conclusivos de um texto
que pretende ser uma sistematização gnosiológica.
Terá a Eva operado como um panfleto do regime ou exibido discordâncias?
Exibiu discordâncias, embora grande parte da sua produção fosse alinhada como o
pensamento político vigente. Em que temáticas é que se confrontava o regime e com
que consistência? O regime nunca foi diretamente confrontado, somente questionado
aquando dos casos de Maria do Sol e Maria do Carmo. Por outro lado, é possível
enquadrar as partilhas sobre a emancipação feminina internacional numa perspetiva
contestatária da ordem interna. Tratava-se de uma publicação regida por um
entendimento uniforme ou abria espaço à pluralidade de opiniões? Conviviam nas
páginas da Eva variadas perspetivas. No entanto, a visão do mundo feminino doméstico
e submisso ao masculino raramente era posta em causa. Quais as personagens que se
destacavam na construção desse posicionamento, quer funcionários da revista quer
indivíduos ou instituições que fossem tidos em consideração? Depende da época, sendo
todavia necessário destacar a ubiquidade de Carolina Homem Christo, durante a maior
parte do período abrangido, bem como o respeito pela matriz de valores católica. Qual
a relação entre os posicionamentos veiculados e os momentos históricos, quer de
abrangência nacional, quer da própria empresa jornalística? Existe uma relação direta,
particularmente no contexto internacional, no decorrer da 2ª Guerra Mundial.
Posto isto, é interessante expor uma reflexão sobre o legado histórico da Eva,
aprofundando as respostas a estas e outras questões. Como é que a análise desenvolvida
ao longo de todo este texto justifica que a historiografia portuguesa pouco se tenha
preocupado com a Eva, relegando-a para um pano de fundo de uma realidade feminina
amplamente abordada, malgrado a influência da publicação nesse universo?
A Eva surgiu em 1925, num contexto de incremento dos hábitos de leitura de
publicações periódicas, que teve início em meados do século anterior, no qual se inseriu
também a disseminação das revistas femininas, o género predileto do conjunto
homónimo (Vaquinhas, 2011). Ao ser anunciada e publicitada no Diário de Notícias,
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promoveu-se a ideia de que, até a esse ponto, os interesses femininos haviam sido
descurados pela imprensa (Gomes, 2011).
São deixados claros, desde o primeiro número, muitos dos propósitos norteadores
que se mantiveram como estruturantes no futuro da revista, vincando o autoatribuído
estatuto de guia, moral e prático, da mulher portuguesa. Nesta edição inaugural, no que
concerne à condição social da mulher, é clara a propensão moralizante e conservadora.
Se em termos de conselhos práticos isto se manifesta organicamente através do enfoque
excecional nos conselhos sobre os cuidados do lar e dos filhos, em termos morais a
mensagem é direta, denotativa do entendimento regedor do critério editorial dos
assuntos mais práticos: no texto de abertura do primeiro número, simultaneamente em
jeito de editorial e manifesto, é postulada a imagem de que uma mulher moralmente sã
se dedicada total e abnegadamente ao bem-estar da família, mesmo que em detrimento
da própria felicidade. Deve amparar obedientemente o marido, apoiando-o
animicamente e encarregando-se de todas as tarefas relacionadas com a vida familiar.
Dentro deste entendimento de boa conduta conjugal, é inclusivamente sugerido que em
casos de adultério a mulher perdoe o deslize, cabendo-lhe refletir sobre se não estará ela
própria na origem da traição, por não oferecer ao marido amparo suficiente para que ele
lide com a pressão emocional da vida social e laboral.
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Não obstante esta estratégia distintiva, os pormenores formais também devem ser
lidos de acordo com a época de produção e contexto social, na medida em que não
destoam do resto da produção impressa em condições semelhantes (corrobora-se,
quanto à Eva, a atenção e cuidado aos traços estilísticos a que Mário Pinto se referia em
excerto supracitado). De qualquer modo, a aplicação desta estratégia cumpre funções
variadas, entre as quais o anúncio de alterações de relevo na revista, como edições
especiais, inovações técnicas, e variações de preço ou periodicidade. Serve ainda como
recurso tonal para associar a instituição a determinadas dinâmicas sociais, através de
tomadas de posição, apoio a eventos ou dinamização de iniciativas fora do âmbito
tradicional de ação. A constatação desta segunda função é assaz útil para o trabalho
desenvolvido, por permitir identificar muito dos compromissos simbólicos que a revista
celebra, ao invés de correr o risco de cair numa falácia sinédoque, associando o
posicionamento de um texto de autor individual que, embora ganhe relevância sob
alçada da publicação, pode não corresponder integralmente ao da entidade coletiva.
À parte disto, convém relembrar que o grosso das páginas eram ocupadas por
assuntos parcamente relacionados com as questões valorativas e de organização social,
mas que satisfaziam o imaginário dos interesses femininos que é, em última instância,
consequência de uma interpretação dessas questões ulteriores. Seria erróneo
subvalorizar o nexo de causalidade entre o ideário patente na revista, canonizando um
perfil-tipo de mulher que é dona de casa inefável, que procura ser bela, vestir bem e que
ocupa os tempos livres com atividades no seio doméstico, e os assuntos que aborda
abundantemente, consagrando-lhes crónicas na quase totalidade das edições, por vezes
mais do que uma crónica por número. Relembre-se: moda, culinária, manutenção do lar,
decoração, orientações de pintura e bordados, literatura "feminina" e "cor-de-rosa".
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Retomando a temática que é alvo de reflexão direta, sublinhe-se que este universo
feminino é, para todos os efeitos, trivial ou corriqueiro, na medida em que se reporta a
aspetos cuja noção é eminentemente prática, furtando-se a questões de teor mais
abstrato, a análises mais contundentes das problemáticas inerentes ou até à exposição de
conteúdos potencialmente catalisadores de animosidade, quer por parte do público, que
se espera acatador, quer dos poderes instituídos. Assim se evidencia a ausência de
notícias ou comentários políticos, bem como o caráter das sugestões de consumo
cultural, que passam ao lado das obras historicamente consagradas, em particular na
literatura, traço editorial patente em rubricas como "O que as senhoras devem ler",
correspondente ao primeiro triénio da década de 1930, mas à qual se sucederam
diferentes formatos com o mesmo conceito subjacente. (Note-se que o termo "senhora"
é empregue com propósito de conferir uma noção de respeitabilidade a quem seguisse
os conselhos, uma legitimação interna da função de guia moral).
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No seu âmago, a roupagem dada a esta vertente discursiva assenta numa retórica
pouco esforçada contra construções mentais naturalizadas, que se procurou representar
nos Fundamentos, entidades morais que fazem um átono contraponto.
Qual é o poder da noticiação de avanços estrangeiros pela igualdade de género,
particularmente laboral, numa revista que muito mais frequentemente faz a apologia da
vida doméstica? Que com muito mais veemência desenvolve narrativas sobre a
grandeza de Portugal e a diferença essencialista da sua população, em especial a
feminina? Que faz a apologia constante da família, atribuindo nela um papel estanque à
mulher, que deverá assumir responsabilidades tão diversas que, feitas as contas, não
teria tempo para conjugar com uma profissão, a não ser que as partilhasse com o marido
(assunto tabu na revista)? Uma revista que reproduz discurso de origem eclesiástica, já
por si uma entidade forte de interpenetração cultural, cuja tradição doutrinária é
eminentemente conservadora. Qual é o efeito de tudo isto, inserido num contexto social
repressivo, construído por um Estado integralista cuja maior habilidade é a
naturalização dos seus ideais e a adaptação das suas políticas para manter o status quo,
contrariando dinâmicas externas de mudança social?
A resposta a estas questões é a mais plausível razão para que uma publicação
como a Eva não figure com mais frequência no trabalho de investigação socio-histórica.
Não pelo seu conteúdo final, tão variável quanto o número de pessoas que a pretendam
obter, mas sim pela sua característica óbvia, que perpassa as duas décadas de Eva que
são aqui dissecadas e o próprio período histórico, em tudo o que não fosse oposição
direta ao Estado Novo: a ambiguidade, ferramenta maior do regime e sucesso decisivo
para a sua durabilidade, fomentando um relacionamento naturalizado com largas franjas
da população, através de instrumentos de propaganda próprios, mas também de outros,
externos e inadvertidamente apropriados, como a Eva.
Para finalizar, sublinha-se que a análise levada a cabo nesta investigação não é, de
modo algum, a sistematização definitiva das questões sobre a relação entre o Estado
Novo e a Eva, muito menos outras publicações do género. Para referência futura de
como expandir o esforço aqui feito, deixa-se a óbvia sugestão de escrutinar os anos de
1951 em diante e outra, a de proceder à análise do discurso publicitário, presente nesta e
noutras revistas, com base na apreciação de que a sua evolução espelha as
representações da população, dados os seus objetivos.
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Fontes Documentais
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ANEXOS
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no
Estado Novo (1930-1950)
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
(p7)
"Fora do Mundo do Cinema (...) Desde então -1925- a gloriosa Gloria
[Swanson], é uma grande senhora, distincta, reservada e exageradamente s/a Laudatória Tradicionalista
respeitadora das conveniências sociais"- a partir do 3º casamento
"Crónica Feminina (...) Luciana Radisse - A mulher do futuro (...) Veio um
Ivette
pouco antes da sua era própria (...) É curioso saber-se destes arrojos Laudatória; Igualitário
(Maria de
femininos que por alguma forma vão desfazendo o preconceito errado da Informativa
Cabêdo)
fragilidade do nosso sexo" (p10) - violoncelista e radialista que pilota aviões
Carta aberta a uma leitora que escreveu argumentando que João de Deus já
não era um poeta tão interessante para as leitoras portuguesas. Em resposta, Zuzarte de Familiar;
Moralizante
assinalam-se as virtudes líricas do poeta, com referência à "Cartilha Mendonça Tradicionalista;
Maternal" e a sua importância para as mães portuguesas Essencialista
História "Nem tudo o que luz é Oiro" sobre casal feliz - "Ela, o protótipo de
boa dona de casa, bonacheirona, vulgar, um ar ingénuo parente muito 25 janeiro
Sara Beirão Defensiva
próximo da estupidez. Ele vivo, activo" (p10) - Provável ironia sobre a dona / 246
de casa
"Crónica Feminina (...) Pregam os moralistas que a mulher é para o lar, e Ivette
sugestionam que fora dele é planta deslocada que se estiola (...) é lógico, é (Maria de Defensiva Igualitário
humano incitar a mulher ao trabalho e instrução" (p19) Cabêdo)
O que as senhoras devem ler Essencialista, 8
Isabel
Cicerónica Tradicionalista fevereiro /
Saavedra
248
Crónica Feminina sobre o tamanho das sais e decotes. Incomodam as saias Ivette
curtas e decotes impróprios, mas tudo são convenções e há exagero de quem (Maria de Moralizante Tradicionalista,
fala de desmoralização Cabêdo) Igualitário
"O Feminismo em Inglaterra" - curto texto que reporta o muito reduzido Laudatória, 22fevereir
s/a
número de mulheres juradas em Inglaterra. Dados relativos a 1928 Informativa Igualitário o/ 250
Crónica Feminina sobre casamentos muçulmanos 1 março /
s/a Informativa
- 251
A mulher na sociedade futura - como as mulheres herdam e geram as
Laudatória,
grandes fortunas dos EUA. Banqueiro afirma que mundo será governado s/a Igualitário
Informativa
por mulheres "dentro de 12 anos" (p.20)
Cultura Física e Desportos - dedicada à entrada de mulheres em desportos s/a Laudatória, 8 março /
118
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
anteriormente vedados como atletismo, remo e futebol. Menciona nomes de Informativa Igualitário 252
atletas e a inclusão das competições femininas nos Jogos Olímpicos
Peça sobre mulheres engenheiras, advogadas e economistas no Brasil, e
juíza alemã. "Nunca é demasiado encarecer os progressos do feminismo no Laudatória, Igualitário 22 março /
s/a
mundo inteiro, pois é certo que a mulher vai conquistando lugares de Informativa 254
destaque em todos os meios sociais" (p.7)
Na Polónia - texto referente ao avanço da presença das mulheres polacas na Laudatória, Igualitário 5 abril /
s/a
sociedade pós-guerra, nomeadamente nas carreiras jurídicas Informativa 256
Em que pensam as mulheres - reprodução de revista feminina estrangeira
que plesbicitou 1000 das suas leitoras. Resultado: aos 4 anos pensam em
bombons e pastéis, aos 7 na boneca preferida, aos 13 num priminho, aos 18 Gendrificada, Essencialista,
s/a
num homem para casamento romântico, aos 21 anteveem um bebé, aos 35 Cicerónica Familiar
desolam-se com o primeiro cabelo branco, aos 40 lamentam as primeiras
rugas, aos 50 pensam no passado, aos 60 só interessam os netinhos.
Crónica Feminina - sobre trajes, critica Violelle Morris, atleta francesa que
se veste como os homens "ridícula e anormal é uma mulher que se
Ivette
masculiniza (...) como é ridículo e anormal o homem adamado (...) Por Gendrificada, Essencialista 19 abril /
(Maria de
haver tantas feministas desequilibradas, é que o feminismo não tem ainda a Cicerónica 258
Cabêdo)
força que podia ter (...) Copiar homens só no seu desenvolvimento
intelectual, na sua aplicação e coragem pelo trabalho" (p.11)
A Evolução da Mulher - "Eis como funciona o espírito da mulher no dizer
de um psicólogo notável" Interesses, traços fundamentais: biberon e
papinhas até aos 6 anos, egoísmo entre os 12 e os 15, vaidade entre os 15 e
os 20, vaidade intelectual entre os 20 e os 25, sentimento maternal nas Gendrificada,
s/a
casadas, coquetterie sem limites nas celibatárias entre os 25 e os 40, Cicerónica Essencialista,
vaidade e cuidados de toilette entre os 40 e os 50, luta contra a velhice Familiar
depois dos 50 e aos 60, foco em ser avó. Comentário da Eva "Temos de
convir que não há demasiada benevolência nesta apreciação" (p.18)
Destaque na 1ª página para jornalista e autora francesa, Raymonde Latour Laudatória, Igualitário 26 abril /
s/a
Informativa 259
Crónica Feminina - Comparações entre homem e mulher, as mulheres "mais
Maria de
requintadamente perversas" e "ingénuas ao casar com quem não tem as Gendrificada
Cabêdo
mesmas afinidades espirituais" (referindo-se à educação e à forma de Essencialista
119
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pensar) (p.15)
Feminismo - Avanços profissionais de mulheres estrangeiras: aviadoras, Laudatória, 3 maio /
s/a
capitãs de navios Informativa Igualitário 260
História de amor em que a menina revela ao amado, estudante em Coimbra
e distante dela, que pretende ter uma carreira independente e que por isso s/a Defensiva
não o poderá seguir. Igualitário
Notícia do casamento de Edda Mussolini - referência neutra ao pai "homem
Informativa, 10 maio /
mais discutido do mundo". Muito elogiosa da inteligência e da coragem da s/a -
Defensiva, Política 261
filha
Crónica Feminina - obituário de Cosima Wagner Ivette
Informativa,
(Maria de
Laudatória
Cabêdo) Familiar
A Mulher na Política Social - peça sobre as mais distintas mulheres Laudatória, 24 maio /
s/a
estrangeiras neste âmbito Informativa Igualitário 263
Crónica Feminina - Defesa da instrução feminina e das mulheres Ivette
intelectuais, contrariando mulheres que afirmam as virtudes da vida (Maria de Cicerónica Igualitário
doméstica Cabêdo)
Revela-se que Ivette (Maria de Cabêdo) é pseudónimo de Maria de Cabêdo História da
numa peça sobre a palestra dada por esta, intitulada O Trabalho é Redenção Empresa Igualitário 14 junho /
s/a
Jornalística, 267
Cicerónica
Referência à mãe que se deita tarde e acorda cedo para tratar das roupas dos Gendrificada, Familiar, 5 julho /
s/a
filhos Cicerónica Essencialista 269
Excerto da palestra de Judith Maggioly, que apela à compra e promoção de
vestuário nacional: "a mulher portuguesa não é tão maliciosa quanto a
julgam. É moderna, sim, mas sem adotar para si os exageros do
modernismo que ficam bem nos outros. É ainda com uma certa timidez que Moralizante,
s/a
aceita e imita as liberdades vindas do estrangeiro. O modernismo com as Gendrificada Essencialista,
suas extravagâncias exóticas não poderá adaptar-se nunca ao seu Nacionalista
temperamento naturalmente dócil, domável, onde viaja, ainda fresquinha, a
flôr da cândura!" (p.10)
Poema "A Portugal" de cariz patriótico s/a Cicerónica, Política Nacionalista
No Instituto Feminino de Educação e Trabalho - As meninas expõem s/a Gendrificada; 12 julho /
120
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
trabalhos como bordados, tapeçarias, costuras à mão e à máquina. Numa Informativa 270
das gravuras saúdam à romana o Presidente da República (menção do título Tradicionalista;
ex officio sem menção do nome, à data seria Óscar Carmona), que Nacionalista
compareceu à cerimónia de encerramento do ano letivo
A interessante excursão do Diários de Notícias - publicação de registos
fotográficos da viagem à Curia, Luso, Bussaco, Aveiro, S. Pedro do Sul e História da
19 julho /
Vousela. Descrita como "três dias de encantadora camaradagem e de s/a Empresa -
271
inolvidável recordação" (p.11) [António Ferro esteve presente nesta Jornalística
excursão organizada por Carolina Homem Christo, futura diretora]
Saúda-se as festas do centenário da independência grega, principalmente
Laudatória, 26 julho /
por ter sido um momento histórico protagonizado por uma mulher, s/a Essencialista
Informativa 272
Bourbalina
Crónica Feminina - no laboratório de Histologia da Escola Médica "Fico
Ivette
satisfeita por vêr ocupadas nêstes trabalhos duas figuras de mulher, e noto Laudatória, Igualitário
(Maria de
que é como amor e com a máxima atenção que se dedicam ao seu mister" Informativa
Cabêdo)
(p.15)
O que a moda manda usar nas praias - "Nem mesmo as exortações e as
penas cominadas pela Santa Sé, constantes instruções enviadas aos
delegados apostólicos, para que, por sua vez, as transmitam aos presbíteros
seus subordinados, conseguiram ter mão na fúria exibicionista que,
principalmente nos meios italianos, acometeu o mundo elegante feminino,
tornando difícil o descriminar de quais eram, de entre as mulheres que, em
plena luz do sol e com desprêso de todas as normas sociais e convenientes,
exibiam as suas formas tentadoras ante os olhares lúbricos (...)
Moralizante, 2 agosto /
Continua a fazer-se a imoral parada (...) s/a Religioso,
Informativa 273
A Eva tem por dever trazer as suas gentis leitoras ao corrente do que em Tradicionalista
questões de moda ocorre por esse mundo além, sem que a publicação dos
môdelos importe a sua sanção.
Nem todas as modas são para todas as mulheres, nem todas as mulheres são
para todas as modas.
Mal da moral e da família, se assim não fosse (...)
Apareceu nas praias da nossa terra (...) com grave escândalo das famílias
mais burguesas e menos versadas em modernismos.
121
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
Tal é o poder da moda, soberana omnipotente, que conta por milhares, mais
do que súbditas, escravas insubmissas" (p.7)
Mulheres que se distinguem - uma aviadora e outra tocadora de gaita de Laudatória,
s/a
foles, ambas estrangeiras Informativa Igualitário
Elegância à beira-mar - sugere-se o roupão até junto à ondulação, depois o 9 agosto /
s/a Cicerónica
pyjama ou u elegante maillot Tradicionalista 274
O Pudôr Feminino - texto a criticar "O que vai por essas praias, Santo Deus!
(...) trajes rudimentares de mulheres que em casa cumprem rigorosamente
s/a Moralizante
os requisitos morais". Termina com sugestão à compra de toilettes chics nos Tradicionalista
Armazéns do Chiado (p.8)\
Feminismo - elogio a mulheres portuguesas, médicas. A propósito da Laudatória, 16 agosto
s/a
inclusão da primeira mulher francesa num corpo clínico hospitalar Informativa Igualitário / 275
A Vida Social das Mulheres - As francesas podem ocupar cargos na justiça,
23 agosto
mas "convém registar: as mulheres não confiam umas nas outras, preferem s/a Informativa
/ 276
dar defesa dos seus interesses aos homens. Uma questão de psicologia..." Essencialista
Mulheres de que se fala - "Miss Lloyd George, grande na Guerra e Notável 13
Laudatória,
na Paz" s/a Familiar setembro /
Informativa
279
Mulheres que trabalham - Pretende desmistificar o conceito de que as
6
mulheres se masculinizam quando trabalham, apresentado casos de "pessoas Laudatória,
s/a dezembro
de categoria social" - Isolda Lino, filha do arquiteto Raúl Lino [1º número Informativa Igualitário
/ 291
sob direção de Helena Roque Gameiro]
Uma jornalista - Irene de Vasconcelos, representante da Propaganda de 13
Laudatória,
Portugal em Genebra, no seio da Sociedade das Nações. Retrato feito por s/a Igualitário dezembro
Informativa
Judith Maggioly / 292
Cinema Português - sobre "A Portuguesa de Nápoles", "sem falsas atitudes,
sem outras formas que não sejam aquelas que põem a história ao serviço Nacionalista
s/a Moralizante
duma tradição que honra Portugal e a alma feminina portuguesa" (p.6)
[Direção de Helena e Mamia Roque Gameiro]
Mulheres que trabalham - as Associações Femininas e a protecção à 20
Elina Laudatória,
infância. Louvor a mulheres que empregam o seu tempo livre em prol da Essencialista dezembro
Guimarães Informativa
sociedade, especialmente da "maior preocupação das mulheres" (p.16) / 293
1931 Crónica Feminina - história de vida de Madame Avril de Sante Croix, Maria de Laudatória, 3 janeiro /
122
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
famosa feminista, Presidente do Conselho Nacional das Mulheres Francesas Cabêdo Informativa Igualitário 295
Uma Grande Obra de Caridade - Caixa de Auxílio a Estudantes Pobres do 21
Maria de Laudatória,
Sexo Feminino Igualitário fevereiro /
Cabêdo Informativa
302
Destaque de 1ª página a Florbela Espanca. Em rodapé: "O «Diário de Informativa,
Notícias», pela pena de António Ferro, inseriu um artigo primoroso (...) História da 7 março /
s/a
alvitrando a erecção do seu busto no lindo jardim público de Évora (...) A Empresa Igualitário 304
Eva associa-se com o maior entusiasmo" (p.5) Jornalística
Marcelle Tynaire - artigo sobre esta romancista francesa, ao lado do apelo à Igualitário 14 março /
s/a Informativa
erecção do busto de Florbela 305
Carolina História da
4 abril /
Aquela mulher - conto Homem Empresa
308
Christo Jornalística
Trabalho Feminino - Pintura em esmalte s/a Informativa Tradicionalista
Perfumes estrangeiros para quê? - publicidade aos Produtos Nally, com 11 abril /
s/a Cicerónica
testemunho das irmãs Roque Gameiro Nacionalista 309
Perfumes estrangeiros para quê? - publicidade aos Produtos Nally, com
25 abril /
testemunho de Helena de Aragão (diretora da Fémina) e Maria Lamas s/a Cicerónica Nacionalista
311
(diretora da Modas & Bordados)
Uma Rainha sem Preconceitos - Recusa apelidar Cristina da Suécia de
feminista, por ter traços viris no seu comportamento. Refere apenas que foi Tereza Tradicionalista;
13 junho /
feminista ao liderar um período de paz ao subir ao trono. [Silogismo: Se foi Leitão de Moralizante Essencialista
318
apologista da paz, foi mulher, se foi mulher, foi feminista]. Acusa de "vistas Barros
curtas" quem discorde da sua opinião (p.6)
Actualidades - fotografia de alunas do Instituto Feminino de Educação e 27 junho /
s/a Informativa
Trabalho, novamente fazendo saudação romana Nacionalista 320
Enigma Oriental - "Espôsa amantíssima, mãe estremosa, filha obediente,
namorada apaixonada, irmã afectuosa - a indiana pode chamar-se modelo de
virtudes (...) Gabriela Familiar;
Cicerónica; 4 julho /
Para defender a sua honra, capaz de se deixar matar! Para manter a sua Castelo Igualitário
Informativa 321
fidelidade de esposa, chegando a martirizar a própria carne! Que lição Branco
exemplaríssima para certas ocidentais!... (...)
(...) essas bailadeiras lascivas (...) formam na Índia uma classe muito à
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A Mãe e o analfabetismo - responsabilidade maternal na educação dos Intelectual; 24
Graciette
filhos Cicerónica Essencialista outubro /
Branco
337
Para as Mulheres Meditarem - discorre sobre uma rede de ensino, não Intelectual
14
necessariamente pública, gratuita como elemento fundamental para a ação Sarah
Política novembro
social [Transição de direção das irmãs Roque Gameiro para Empresa Benoliel
/ 340
Nacional de Publicidade]
Em Espanha - "Podem votar as Mulheres Espanholas pela vontade de Clara
Campoamor e contra as ideias de Victoria Kent. Quem tem razão?" Debate Política; Tradicionalista
s/a
sobre se o voto concedido às mulheres não será perigoso para a República Informativa
que nasce, dada a sua falta de instrução, que as induz em conservadorismo
A mulher moderna - História das mulheres como pacíficas, submissas e de
uma passividade estruturante no desenrolar dos grandes acontecimentos. A
mulher revoltou-se e descuro obrigações antigas, trocou-as por beleza. Defensiva; Igualitário 5
Fernanda
Ganhou responsabilidade com a Guerra, tornou-se companheira do homem, Informativa; dezembro
de Castro
em igualdade. A mulher moderna, com nova mentalidade, nasce no pós- Laudatória / 343
guerra. Pode estudar, pode trabalhar. Deixa de ser frívola, inconsequente,
preguiçosa e leviana.
Actividade feminina - sugere ocupação dos tempos livres com encadernação Tradicionalista; 9 janeiro /
1932 s/a Cicerónica
Familiar 348
Uma princesa cozinheira - "A filha do Príncipe herdeiro da Suécia está
frequentando uma escola culinária em Estocolmo - Um exemplo que fica Tradicionalista;
16 janeiro
nesta hora quente de modernismo e frivolidade (...) Nada poderá existir na s/a Moralizante Familiar
/ 349
vida duma mulher melhor que ser anjo do lar... uma boa dona de casa"
(p.15)
Chamada de 1ª página para aviadora que bateu recorde (feminino) de 23 janeiro
s/a Laudatória
distância navegada Igualitário / 350
O Lar 1930 - notas colhidas de uma conferência de Maurice Bedel. Fala
sobre lar de casal de jogadores de ténis, termina com testemunho da mulher 20
"A minha ambição foi sempre ser mulher de um campeão do mundo, s/a Cicerónica Tradicionalista; fevereiro /
respondeu a noiva. E não pensamos noutra coisa". Em lar de bacharel em Familiar 354
Direito e licenciada em Letras, que se retiraram para o campo e cultivam a
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não basta casar (...) a mulher tem uma alta missão a cumprir junto do
marido: ajudá-lo" (p.4)
Publicação de lista de quase todos os agentes da Eva e do montante História da
17 junho /
recolhido por cada um, destinado a Maria do Sol (2220 agentes - s/a Empresa
423
21240$85). Lamenta-se a ausência de resposta do Governo Jornalística
A um Marido - poema. Conselhos a um marido para tratar bem a mulher,
apoiá-la e compreende-la. No final, contém a estrofe "Sê bem homem, não Tradicionalista;
Aurora
te deixes dominar / E (aqui em segredo que todas nos ouvem) uma pequena Cicerónica; Essencialista 8 julho /
Jardim
brutalidade a tempo nunca fez mal a ninguém / Se infringires o tal Gendrificada 426
Aranha
pecaminoso mandamento, nega sempre / A mulher «contanto que não o
saiba», vive feliz..." (p.9)
Cartas de mulheres «1933» - publicidade à Morris sob forma de relatos de
primeiras experiências enquanto dona de um carro, por parte de Alzira. Cicerónica; Familiar
Morris 429 - 436
Luiza, a destinatária, responde desejando ter um, que pedirá ao marido, se Gendrificada
se comportar adequadamente
Anúncio da reabertura da Escola Técnica História da 14
Empresa outubro /
Jornalística 440
O falso progresso - a visão da jogadora de hockey é deselegante. Compara a 28
graciosidade das mulheres automobilistas, em 1885, com a agressividade da s/a Gendrificada Essencialista outubro /
desportistas modernas 442
Curiosidades - põe em causa os argumentos da Grande Chancelaria 18
Francesa na não atribuição do grau de comendadeira da Legião de Honra a s/a Defensiva Igualitário novembro
Colette / 445
Curiosidades - nomeação, por Roosevelt, de várias mulheres para altos
cargos públicos; A direção da Companhia dos Telefones de Nova Iorque 24
1934 pediu às empregadas que cedessem lugares às filhas solteiras, não s/a Informativa Familiar fevereiro /
admitindo, de futuro, mães de família. A Eva louva a iniciativa "do mais 459
alto alcance social e merece aplauso de todas as mulheres" (p.11)
A proteção ao casamento - Mussolini e a felicidade dos noivos - Destaque
de 1ª página para medida de pagamento de mil liras a noivos na Laudatória; Familiar 12 março /
s/a
impossibilidade pecuniária de casar. "Hoje, mais do que nunca, procura-se Política; 462
alicerçar a vida das sociedades, que tantos pretendem desagregar, no fulcro Informativa
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
não vive com a mãe, mas sim em casa dela, como hóspede. Tem vida social
aparte com camaradas de ambos os sexos. Segundo, aquando da
emancipação da filha, emancipa-se também a mãe, que tem a possibilidade
de prolongar a sua mocidade, havendo um estado de competição entre
ambas.
Depois da publicação, em vários números, as cartas de amor de Napoleão a
29 junho /
Josefina, exclusivas em Portugal, a Eva anuncia que publicará a história do J. Riegler Política
529
romance entre Leni Rieffenstahl e Hitler.
Do harém ao «fox-trot» - breve resumo da emancipação feminina na
Léon-Pierre
Turquia, que beneficiou da abolição da legislação teocrática. Comenta que Informativa
Quint Familiar
há problemas daí resultantes, para a família
A campanha do pudor contra o cinema americano - Os dirigentes das
diversas igrejas americanas protestam contra a glorificação do adultério e
das mulheres amancebadas, bem como da valorização do sex-appeal:
21
Querem o fim das cenas escabrosas e dos beijos demorados. Por outro lado, G. Moralizante;
setembro /
querem proteger a instituição do casamento, através da aproximação do Stansbury Gendrificada
Tradicionalista; 541
cinema à realidade, não mostrando tantos atores bonitos, que encantam a
Familiar
mulheres, aos quais o homem comum não se equipara em termos de sex-
appeal. Mais, esses homens, como exemplificam, são maus maridos.
Veremos uma humanidade nova - entrevista a Mussolini, que defende um
nivelamento por baixo para que os mais dotados se revelem, ainda que os
mais fracos também tenham direito a viver. Enumera qualidades da mulher: 12
Andrée Política;
sensibilidade, generosidade, coragem moral e física. Todavia recorda que, outubro /
Sikorska Gendrificada Essencialista;
ao longo da História, os cérebros mais construtivos sempre foram 544
Tradicionalista
masculinos. Declara a morte do socialismo, por depender do capitalismo
que, por sua vez, definha.
Como emprega o seu dia Albert Lebrun, Presidente da República Francesa - Jean 23
muito dedicado e organizado. Simples, com tiques de homem comum. Charles Política novembro
Homem culto que serve fielmente a República. Rivel / 550
Na 1ª página, descrição do oximoro entre o desejo de magreza de todas as 30
mulheres e idolatria de Mae West, mais volumosa do que ditavam os s/a Informativa novembro
cânones / 551
Notícia da celebração do 10º aniversário da Escola Feminina de s/a Laudatória; Igualitário
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Uma mulher que passou a ser homem - Mary Weston, destacada atleta
inglesa, agora é Mark Weston. O caso é apresentado como um acaso 27 junho /
s/a Informativa
natural: exames médicos ditaram uma mudança biológica do sexo, a que se Igualitário 581
seguiu intervenção cirúrgica.
Raparigas de hoje - As raparigas, mesmo desejando o amor, estudam e
trabalham porque têm de ser práticas e prevenir-se contra eventualidades da
vida. Há raparigas fantasistas que sonham com o reconhecimento público de
proezas futuras, há outras razoáveis que estudam e trabalham para alimentar Georges Gendrificada; 18 julho /
o espírito. Se um marido se cruzar no seu caminho e ganhar o suficiente Lecomte Tradicionalista; 584
para sustentar a família, cuidarão da casa, dos filhos e de cultivar o espírito. Essencialista
Caso assim não seja, têm possibilidade de contribuir economicamente para
o sustento da família.
Retrato de Donna Rachel, esposa de Mussolini - mulher totalmente
dedicada a servir o marido, inclusive perdoando traições. Passa pouco
tempo com o marido mas aguarda-o sempre em casa, só saindo para
Cicerónica;
cumprir deveres, como ir à missa. Il Duce é retratado como um homem Luc Valti
Gendrificada
totalmente dedicado à governação, foco único da sua rotina. A mulher deve Familiar
"encantar o homem e rodeá-lo de cuidados, mas sem se tornar para ele peso
ou embargo" (p.4)
A mulher japonesa - flor de cerejeira na tempestade - ponderada, serena,
doce, guarda da história do país, silenciosa, submissa, reta, pronta a servir:
confere equilíbrio ao homem japonês. Trabalha na atividade moderna, mas
é à cabeceira dos doentes que a atividade feminina serve a vida nacional e Cicerónica; 25 julho /
s/a
social. Gendrificada Familiar; 585
Exemplo de destacada feminista japonesa, que obteve reconhecimento pela Essencialista
sua luta, mas que se queixa que o marido prefere o perfil típico da mulher
servil. Menção à infelicidade das deputadas
Não matarás! - lamenta os vários casos de homicídio de que tem tido
conhecimento, muitos deles no seio conjugal. Culpa a mudança de
mentalidades que levou ao desuso da paciência e do perdão, problema cuja Georges 8 agosto /
Moralizante
solução não está na autorização do divórcio, mas sim na educação. Entra em Lecomte 587
Tradicionalista
muito maior detalhe ao referir-se aos crimes das mulheres traídas do que
aos dos maridos ciumentos.
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ideologia feminina dos três "k" alemães - Kinder, Kirche, Küche Essencialista outubro /
649
A vida dum casal moderno - a incerteza, um presente sem futuro, o 11
Maurice
modernismo - flagelo social no espírito das gerações mais velhas Moralizante dezembro
Bedel Familiar
/ 656
Nova menção à campanha solidária para com Maria do Carmo 19
1938 s/a Defensiva fevereiro /
Igualitário
666
O Crime de Prados - transcrição da carta do advogado de Maria do Carmo
5 março /
ao ministro da Justiça, referindo a necessidade de sublinhar "a suplicante s/a Defensiva
Tradicionalista 668
como mulher ultrajada e não esposa adúltera e indigna" (p.22)
A homenagem prestada ao eminente jornalista Homem Christo - pela História da
19 março /
Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto s/a Empresa
670
Jornalística
Anúncio das vencedoras de um concurso sobre o filme "Rosa do Adro", no
qual as participantes teriam de selecionar a personagem feminina preferida,
justificando. O júri foi composto por 3 homens. Participações vencedoras:
"Prefiro «Linda» porque o seu sacrifício é a glorificação da ideia cristã no
mais puro dos sentimentos: o Amor!"; "Prefiro «Deolinda» pela sua s/a Cicerónica Religioso;
abnegação e caridade verdadeiramente cristãs. Só uma alma Essencialista;
verdadeiramente crente possui esse espírito de sacrifício em tão elevado Nacionalista
grau"; "A figura de «Linda» fica na nossa literatura como a mais justa
expressão do que é capaz a alma pura da mulher portuguesa"
Elogios ao trabalho de Bissaya Barreto pela cidade de Coimbra História da
1 maio /
s/a Empresa
675
Jornalística
Mocidade Feminina - uma bela exibição de beleza sadia das raparigas de
Portugal - "é a certeza da mulher sã de amanhã (...) o braço ao alto é a
afirmação de que a ideia é compreendida (...) o coração a transbordar de Política; 4 junho /
s/a Nacionalista;
amor pela Pátria e alegria de viver" (p.11). Peça a propósito das Cicerónica 680
Essencialista
comemorações do 28 de maio. Assinala-se que, pela primeira vez, se
apresentou em parada militar um grupo de filiadas na Legião Portuguesa
As crianças e a sua educação - defende a educação pelo exemplo, tratando C. Meitner Cicerónica 25 junho /
139
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
as crianças como seres responsáveis e preparando-as para as funções que Tradicionalista 683
vão desempenhar
Anúncio do Cruzeiro de Férias da Eva, que passará pela Madeira, cruzará o História da
Mediterrâneo e o Adriático, dirigindo-se depois à Europa Central s/a Empresa
Jornalística
Tema oportuno - As 4 paixões de Marie Curie - Polónia, família, ciência e Informativa; Familiar; 6 agosto /
s/a
filhos Laudatória Nacionalista 689
Olympe Bradna - a primeira estrêla de 1938 - dá mais valor ao matrimónio 27 agosto
s/a Laudatória
do que à sua carreira cinematográfica Familiar / 692
Actividades Estrangeiras - sobre automobilistas e polícias inglesas 24
Informativa;
s/a setembro /
Laudatória Igualitário
696
Na Academia Feminina de Letras - Escrito por ocasião da entrega do 1 outubro
Line Coline Laudatória
prémio "Marie de Wailly", um dos raros de nomeação feminina Igualitário / 697
Coisas de que o homem não gosta - Lista de comportamentos atribuídos às
mulheres de que os homens não gostam, por influência sociocultural,
exemplificativos de uma posição social dominante e sobranceira, de quem Aurora Defensiva; 8 outubro
espera devoção da parceira e liberdade de decisão para si. Termina com Jardim Gendrificada Igualitário; / 698
"Parece que não tem senão defeitos, o homem. Mas afinal... afinal... ainda é Tradicionalista
esta a palavra mais doce do mundo: Nós..." (p.7)
Mulheres Asiáticas - Alguns destinos prodigiosos - "o vento da
emancipação da mulher sopra por todas as regiões do mundo" (p.12).
E. F. Hale Laudatória Igualitário
Histórias de mulheres e movimentos coletivos que se batem pela ocupação
do espaço público
Actualidades - reportagem de homenagem a Bissaya Barreto História da 22
s/a Empresa outubro /
Jornalística 700
O prestigioso vulto de Madame Pasteur - a mulher deve criar ambiente ao Charles Cicerónica; Familiar; 25 março /
1939
génio Clerc Gendrificada Essencialista 720
Em França - As enfermeiras mutiladas da Guerra [1ª GM] formam um triste
Laudatória; 8 abril /
cortejo de vidas mergulhadas em sofrimento - Relato de uma situação de s/a
Informativa Igualitário 722
vida muito precária e difícil
Socorro às Mães em Perigo - A Brigada Volante - peça sobre equipas de Jean Bullier Informativa; 6 maio /
140
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
emergência, constituídas em 3 cidades inglesas, com o objetivo de salvar Laudatória Familiar 726
parturientes em risco de vida
A educação das raparigas - incita as mulheres a ensinarem as filhas a cuidar,
desde tenra idade, dos serviços doméstico, pela sua felicidade futura. "São
Moralizante; 20 maio /
nisso, mais felizes as raparigas do povo. Por vezes, aos dez anos, sabem s/a
Gendrificada Familiar; 728
todo o trabalho doméstico que meninas ricas aprendem à pressa nas
Tradicionalista
vésperas de casar" (p.15)
Anúncio de um esforço de modernização da revista, que demora mais História da
3 junho /
tempo do que o esperado a concretizar-se. O modo de impressão será mais s/a Empresa
730
resistente e colorido. Espera-se que não haja interrupção dos números Jornalística
O que vai ser a Eva - Uma Nova Fase - Carolina Homem Christo será História da
1 julho /
Diretora e Editora s/a Empresa
731
Jornalística
Carolina Homem Christo, para além de Diretora e Editora, figura como História da
8 julho /
Proprietária s/a Empresa
732
Jornalística
Rúbricas de regresso: conselhos de beleza de Sylvie e de Beladona. Cicerónica;
Inclusão do correio sentimental, que havia sido requisitado pelas leitoras História da 15 julho /
Empresa Essencialista 733
Jornalística
Para escolher marido - a felicidade garantida por largo tempo- questionário Familiar; 22 julho /
s/a Cicerónica
Essencialista 734
Notícia de atribuição do prémio de filosofia do concurso geral de França a 29 julho /
s/a Laudatória Igualitário
uma mulher, Micheline Sauvage 735
Vida caseira - Minhas senhoras, atenção! - "A mulher não deve atrasar-se,
porque isso aborrece os homens / A mulher deve escolher bem a altura para
falar com o marido, de modo a não o incomodar / Deve perceber o que eles
pensam: se criticam o vestuário de outra mulher, estão adverti-la de que não Gendrificada;
s/a
gostam e de que não querem ser obrigados a proibi-las e interferir na Cicerónica
«toilette", se se queixa de outra casa, por de arrumação, por ausência Familiar
constante da mulher que trata dela, está a advertir a mulher para se
concentrar nessas tarefas" (p.21)
Julga que é uma esposa ideal? - questionário cujos resultados podem ser: s/a Cicerónica 26 agosto
141
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
esposa fiel e bondosa; boa esposa, não muito satisfeita; quase esposa ideal; / 739
escrava submissa; não vale a pena. Esta categoria final inclui responder Familiar
negativamente, no questionário, sobre pedir conselhos sobre todos os
aspetos da vida diária e se o marido não se lhe impõe, geralmente.
Propriedade atribuída a Editorial Organizações, Lda História da 2
s/a Empresa setembro /
Jornalística 740
Texto sobre o que dizem os traços físicos sobre a personalidade das pessoas, 9
J. G.
bem como da sua aptidão para o casamento Cicerónica setembro /
Sinclair Tradicionalista
741
Julga-se um marido ideal? - questionário cujos resultados podem ser: 16
J. G.
indiferente; bom marido, mas autocentrado; excelente marido; mais do que Cicerónica setembro /
Sinclair Familiar
é ideal, é enfadonho; demasiado bom e calmo; não nasceu para o casamento 742
Conselhos para todos - "A mãe deve esconder a tristeza e não se queixar do
trabalho doméstico / A sogra deve adorar o genro, que já lhe fez o favor de
a livrar da filha / A filha não deve usar as meias da mãe / O filho, chegando s/a Gendrificada
Familiar;
tarde, não deve fazer barulho / O pai não deve criticar a mulher em público,
Essencialista
nem discordar quando aos filhos"
Aviso de que a revista terá menos páginas nos números dos meses História da 23
seguintes, devido às contingências da Guerra s/a Empresa setembro /
Jornalística 743
Pimprenelle - crónica semanal protagonizada narrada pelo marido de
Pimprenelle sobre a própria, jovem mulher francesa que vive com ele e uma
filha. Nesta edição, a mulher declara-se a favor do trabalho feminino,
defendendo que, desde a guerra, as mulheres demonstraram ser capazes de Lucien
Gendrificada
desempenhar todas as funções com competência. O marido discorda por François Essencialista
achar as mulheres muito temperamentais. A história termina de modo
irónico, com Pimprenelle a optar por não entrar num táxi, meio de
transporte pelo qual tinha insistido, por ser conduzido por uma mulher.
A Elegância das mulheres que trabalham - conselhos de moda e 30
apresentação para cada profissão: secretária, datilógrafa, professora, s/a Informativa setembro /
Essencialista
telefonista, empregada bancária, vendedora 744
Bons hábitos - acostumem as crianças a serem desembaraçadas! - "A s/a Gendrificada;
142
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
menina sabe tornar-se útil cumprindo trabalhos caseiros fáceis!" (p.20). O Cicerónica
menino sabe o seu nome e morada, não tem medo da escuridão, sabe lavar Tradicionalista
os dentes, tem iniciativa, arruma e conserta os brinquedos, instrui-se
metodicamente, não gosta de desarranjo, é corajoso, vai viajar. [Todos os
exemplos estão ilustrados com desenhos claros quanto ao género
representado]
A Mulher e a Guerra - o papel da mulher enquanto enfermeira, a formação
de grupos de defesa passiva contra ataques aéreos, a substituição em 13 janeiro
1940 s/a Laudatória
funções masculinizadas como condução de autocarros, combate ao fogo e Igualitário / 758
evacuações
Referência a expatriados de guerra presentes em Portugal: Eva Curie 5
s/a Informativa fevereiro /
Intelectual
762
A Mulher Britânica na Guerra - peça sobre a Women's Auxiliary Air Force, 12
corpo feminino de apoio à Força Aérea Britânica: são cozinheiras, s/a Laudatória fevereiro /
Igualitário
motoristas, datilógrafas, etc... 763
Actualidades da Guerra - quase só inclui imagens de enfermeiras a cuidar 19
de crianças s/a Laudatória Igualitário: fevereiro /
Tradicionalista 764
A mulher inglesa na guerra - louva-se a competência reconhecida das 9 março /
s/a Laudatória
mulheres no apoio às forças armadas Igualitário 766
As mulheres francesas trabalham - cumprem funções de operárias na
30 março /
indústria de guerra e asseguram o funcionamento do resto da sociedade, s/a Laudatória
Igualitário 769
incluindo a moda e o acolhimento de refugiados
As esposas da outra guerra 6 abril
s/a Informativa
Familiar /770
As mulheres perante a guerra - "melhor que todas as campanhas, que todos 20 abril /
s/a Informativa
os sufrágios, o conflito europeu de 1940 serviu para a emancipação" (p.19) Igualitário 772
Viva a mulher inglesa! - destaque de 1ª página para louvar o sacrifício das 27 abril /
s/a Laudatória
inglesas Igualitário 773
A mulher francesa perante a guerra - notas para a História do valor feminino
11 maio /
"Executa todos os trabalhos, construção, advogada, médica, vindimeira, s/a Laudatória
Igualitário 775
chauffeur..." (p.3)
143
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
144
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
145
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
Última edição semanal, publicação passa a ser mensal, com acréscimo de História da
28 junho /
preço e número de páginas s/a Empresa
833
Jornalística
Cinco raparigas discutem problemas sérios da vida - "A rapariga que estuda
deve preocupar-se com a família (arranjar marido) ou trabalho?" (p.8)
Opiniões auscultadas dividem-se: "uma boa mãe também pode trabalhar
fora de casa" A prioridade é a família para umas e a independência para
Julho /
outras. As entrevistadas, segundo quem redige, preparam-se para profissões s/a Gendrificada
834
"sérias, isentas de sonho, ausentes de poesia: ajudantes de guarda-livros, de
Essencialista
contabilistas, e correspondentes de línguas estrangeiras em escritórios
comerciais", não têm "certos devaneios que atacam raparigas fúteis e das
outras" (p.51)
Quanto às madrinhas de guerra "ser madrinha desses homens é ser o elo
Dezembro
forte entre a metrópole mater e as províncias ultramarinas, o traço de união Laudatória Nacionalista
/ 839
fraternal entre portuguesas e portugueses" (p.6)
A Alemanha Fala - publicidade, a ocupar meia página desta frase
acompanhada de uma cruz suástica, na qual assentam as garras de uma água
s/a Política
de cabeça perfilada. São atualidades em Língua Portuguesa pela Emissora
Alemã de Ondas Curtas de Berlim
Madrinhas de Guerra - carta da Madrinha nº1, a Eva aos expedicionários Nacionalista; Janeiro /
1942 s/a Laudatória
portugueses nos Açores Essencialista 840
A mulher e a guerra - "a mulher trocou o doce papel da vítima pela odiosa
Rocha Moralizante;
posição de agressora" (p.32) ao participar na guerra, em legítima defesa. É Familiar
Júnior Gendrificada
lamentável porque põe em causa as instituições da família e do casamento
Conselhos para combater a timidez - aconselha tranquilidade, por exemplo,
s/a Cicerónica
ao aguardar que um rapaz a convide para dançar Tradicionalista
As raparigas portuguesas esfriaram o entusiasmo pelo desporto - lamenta-se
que muitas abandonam a prática porque o cônjuge não permite, não sendo Informativa; Igualitário Fevereiro
s/a
ele desportista. Relata-se o fecho de instituições e o desaparecimento de Cicerónica / 841
atletas estrangeiras, dinamizadoras, por conta da guerra.
Madrinhas de guerra - congratulação pelo sucesso da iniciativa e menção à
Laudatória;
revista oficial "Defesa Nacional", patrocinada pela Presidência do s/a Essencialista
Política
Conselho, que já tinha feito apelo semelhante
146
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
147
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
feminina.
Viagem da «Eva» aos Açores - A Madrinha nº1 visita os afilhados - História da
Agosto /
reportagem à chegada à Madeira, Carolina Homem Christo recebida com s/a Empresa
847
enorme afeto Jornalística
Reportagem da estadia na Madeira - "A nossa última visita na Madeira é História da
Setembro
uma verdadeira apoteose" (p.26) s/a Empresa
/ 848
Jornalística
Rogério acusa a rapariga portuguesa - de viver em preconceitos e limitações
que admite mas não corrije, limitando a sua cultura a literatura "de cordel",
de não agradar aos homens por ser envergonhada, de não fazer coisas para Igualitário
Rogério Cicerónica
não mostrar as pernas, de não se saber comportar quando vai ao café (o que
é raro). "Falta-lhe cultura, caráter, bondade, juventude, alegria,
simplicidade!" (p.14) Tem espírito estreito, mentalidade fora de época
Regressada da viagem, a diretora queixa-se da falta de fervor das Carolina
Outubro /
madrinhas, perante tantos pedidos. Intensifica-se a campanha Homem Essencialista
Cicerónica 849
Christo
Rogério acusa... e as raparigas defendem-se - quatro cartas de raparigas
muito ofendidas com os comentários do colunista. Culpam os
comportamentos masculinos e outras forças exógenas pelos defeitos que ele
lhes atribui. A ocupação do espaço público, como o café, não lhes é natural,
por se sentirem ameaçadas pela presença masculina, da qual devem manter
distância, segundo a norma social. Os livros que lê m são os que as mães
acham apropriados. São julgadas por serem levianas e promíscuas ao mudar
o modo de vestir, a frequentar mais abertamente espaços partilhas ou ao
Defensiva;
falarem com rapazes. "não é mais do que reflexo de vós. Pais, irmãos, s/a Tradicionalista
maridos, todos concorrem para essa mentalidade fraca. Eles acham bem
certas coisas nas outras e a rapariga vive sempre no contínuo receio pelo
papá, devido à falta de confiança que em Portugal há entre pais e filhos e
muitas vezes ainda submetidas à autoridade de um mano. Do marido, esse
ainda professa a teoria da obediência feminina, enquanto devia desejar
compreensão prática, camaradagem, o não ser preciso mandar, apenas o
simples entendimento entre duas pessoas que se estimam" - Milucas (p.46)
A Eva comenta, dizendo ser a reação esperada e desejada pelo autor,
148
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
149
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
mulher, que sente até necessidade de admirar a mulher por quem se Essencilista 864
apaixona, pela sua superioridade.
Uma biografia por mez: Eleanor Roosevelt Igualitário;
s/a Laudatória
Tradicionalista
Anúncio do Grande Inquérito da Eva: A mulher deve ou não trabalhar? s/a Informativa
Reportagem sobre Jardim-Escola da família de João de Deus, autor da
Fevereiro
"Cartilha Maternal" [documento muito elogiado na revista ao longo dos s/a Laudatória Familiar
/ 865
anos]. O Jardim-escola segue o método aí postulado
Calendário da Dona de Casa - afazeres mensais consoante a época: limpar a
casa, mudar os armários, bordar agasalhos, preparar festividades. Inclui
Quadro de Serviço para uma semana, calculado para uma família de quatro
pessoas, em Lisboa. O trabalho é dividido entre a mãe e a criada. Termina s/a Cicerónica Familiar
com tabela de Emprego Diário do Tempo, guia para as atividades
quotidianas da mulher, todas feitas dentro de casa a cozinhar, preparar a
mesa, limpar e arrumar os espaços e cuidar das crianças
Um problema que atravessa o país inteiro: A mulher, especialmente a
casada, deve ou não exercer uma profissão? - Respostas detalhadas de 8 Manuel do Março /
Informativa
distintas personalidades como Marcello Caetano, Agostinho da Silva e Nascimento 866
Fernanda Castro
A mulher, especialmente a casada, deve ou não exercer uma profissão? - Manuel do Abril /
Informativa
respostas nas Escolas Superiores de Lisboa Nascimento 867
A mulher, especialmente a casada, deve ou não exercer uma profissão? - A
Opinião Estrangeira Manifesta-se - respostas de personalidades Manuel do Maio /
Informativa
estrangeiras: jornalistas, diplomatas e escritores (Finlândia, Inglaterra, Nascimento 868
América, Espanha, França, Alemanha)
Nª Sª do Rosário de Fátima - Romagem da Esperança - reportagem das Roberto Junho /
Laudatória
comemorações do 13 de maio em Fátima Carlos Religioso 869
A mulher, especialmente a casada, deve ou não exercer uma profissão? -
respostas de representantes de instituições: o presidente da associação "Voz Manuel do
Informativa
do Operário", a presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas Nascimento
e atletas do SL Benfica
A Eva anuncia que vai assumir como pupilo uma de 10 crianças,
s/a Informativa
responsabilizando-se pela sua formação. Os candidatos prestarão provas no Essencialista
150
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
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O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
uma serena ligeireza... quem melhor poderia ajudar a viver aqueles que têm Familiar
as responsabilidades e as preocupações? (...) Tem que se exercitar com
fervor no grande mister de mãe e mulher" (p.43)
4ª Reportagem - O Problema das Professoras Primárias - situação no Ana Maria Julho /
Informativa
Alentejo e Algarve Rey 906
Soluções para o Problema das Professoras Primárias - ordenados que
permitissem viver desafogadamente, fazer com o médico escolar cumprisse Ana Maria Agosto /
Informativa
as funções, substituir edifícios das escolas, que os alunos e famílias Rey 907
facilitem a missão
Querida Leitora - apela à não discriminação das solteironas "Eva" Moralizante Igualitário
É indigno o marido ajudar nos trabalhos domésticos? - transmissão do ponto Igulitário
de vista de Eleanor Roosevelt, a favor do divórcio, contra punição física das Setembro
s/a Cicerónica
crianças que já compreendem o mundo e considera que o trabalho / 908
doméstico dignifica o marido, ao contribuir para o bem-estar comum
Carolina História da
Outubro /
Sinceridade - comentário sociopolítico da diretora Homem Empresa
909
Christo Jornalística
Quere saber se tem um marido ideal? - questionário cujas pontuações altas Novembro
s/a Cicerónica
apontam para um marido compreensivo e respeito mútuo entre o casal Igualitário / 910
3 Perguntas... e 37 respostas - questiona-se nove figuras conhecidas do
público, como Vasco Santana, sobre se preferem homens com ou sem pelo Abril /
1948 s/a Informativa
facial, se as mulheres devem ter direitos iguais aos homens e que processo 915
escolheriam se se suicidassem.
Neste mês nasceu: Ana de Castro Osório - relembrada sobretudo enquanto
autora de literatura infantil, com menção a "As mulheres portuguesas", obra Igualitário Junho /
s/a Laudatória
feminista, e da sua defesa dos direitos da mulher e de uma sólida educação 917
para a criança
Falamos hoje de: Homem Christo, filho - O Talentoso jornalista Laudatória;
desaparecido à 20 anos - biografia detalhada: expulso do liceu e da Política;
Julho /
universidade; emigrado com o pai por motivos políticos durante a s/a História da
918
República; acolhido pela intelectualidade francesa; amizade com Mussolini Empresa
Jornalística
Falamos hoje de: Maria de Lamas - denota muito interesse pelos dois s/a Laudatória Agosto /
155
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
156
O Discurso de Eva: Posicionamentos de uma Revista Feminina Perante a Condição Social da Mulher no Estado Novo (1930-1950)
157