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Batismo Infantil - Alan Rennê

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1 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

2 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

A Verdade do Evangelho

Batismo Infantil:
Bezerro de Ouro da Reforma
Ou Ordenança Bíblica?
Por Dorisvan Cunha e Alan Rennê

Editor Responsável:
Dorisvan Cunha

Revisão
Tiago Ferreira da Cunha

Projeto Gráfico:
Yasmin Cunha | yasmin-ssantos@live.com

Igreja Presbiteriana de Parauapebas


Rua São Paulo • Bairro Primavera – Parauapebas - PA •
CEP 68.515-150 • Fone 94-3346-1159
3 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

SUMÁRIO
Prefácio........................................................................................................04
Introdução....................................................................................................05

PRIMEIRA PARTE..................................................................................07
O fundamento Bíblico.................................................................................08
Um só Cristo, uma só aliança......................................................................11
A aliança, o selo e as crianças.....................................................................13
Batismo: a continuidade do selo no Novo Testamento...............................17
Aplicações necessárias................................................................................20
1. Somos contra o dispensacionalismo......,,,,,.............................................20
2. Somos contra a exclusividade do credobatismo......................................20
3. Somos contra a negligência do povo da Aliança.....................................20

SEGUNDA PARTE...................................................................................21
O Período de transição da aliança...............................................................22
Batismo: um novo símbolo.........................................................................25
Implicações da doutrina..............................................................................28
As principais objeções contra o pedobatismo.............................................30
1. O argumento da Grande Comissão..........................................................30
2. Não há nenhum exemplo claro no Novo Testamento..............................31
3. Não há nenhum ensino claro no Novo Testamento.................................32
4. O argumento de que os bebês não podem raciocinar e crer....................33
Conclusão....................................................................................................35

Bibliografia..................................................................................................36
4 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

PREFÁCIO

Escrevemos este material com o objetivo de auxiliar aqueles que ainda


têm dificuldade em compreender o batismo de Crianças. Somos
Presbiterianos, e cremos que o batismo infantil é uma ordenança de Deus,
fundamentada nas Sagradas Escrituras, e não o “bezerro de ouro da
Reforma Protestante,” conforme afirmou o renomado pregador Batista,
Paul Washer.1
Nosso objetivo é demonstrar de forma simples a veracidade bíblica do
assunto. Cremos que o selo da aliança é um mandamento cuja relevância
alcança os cristãos de hoje.
Nossa proposta está alicerçada na seguinte declaração da Confissão de
Fé de Westminster: “Os sacramentos do Velho Testamento, quanto às
coisas espirituais por eles significados e representados, eram em
substância os mesmos que do Novo Testamento”2.
Você está convidado a analisar, pelo testemunho das Escrituras, qual a
verdade acerca deste tema. Afinal, o batismo de crianças é uma ordenança
divina ou invenção da Igreja Católica medieval?
Boa leitura.

1
Paul Washer, Dez acusações contra a igreja moderna, p. 44.
2
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, XXVII. V.
5 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

INTRODUÇÃO
Existem alguns assuntos no meio do povo de Deus, que são polêmicos
e levantam grandes questionamentos. Não há nenhum problema com isso.
Dúvidas e questionamentos são benéficos. O malefício tem início quando
os assuntos controversos começam a ser tratados de uma forma legalista,
autoritária e facciosa.
Um desses assuntos controversos é a prática cristã do pedobatismo,
ou, como é mais comumente conhecido, batismo infantil. No geral, o
sacramento do batismo tem dividido o evangelicalismo, a ponto de alguns
estudiosos se referirem a ele como “águas que dividem”.3
A prática do batismo infantil é aceita e ordenada pela Igreja
Presbiteriana do Brasil. A igreja reconhece sua validade e estabelece que os
pais apresentem seus filhos ao rito. Os Princípios de Liturgia dizem o
seguinte no artigo 11: “Os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil
devem apresentar seus filhos para o batismo, não devendo negligenciar essa
ordenança”.4 Além disso, a Confissão de Fé de Westminster, símbolo de fé
oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil e de muitas outras igrejas
reformadas, diz que: “Não só os que de fato professam a sua fé em Cristo e
obediência a ele; mas também os filhos de pais crentes (ainda que só um
deles o seja) devem ser batizados” (XXVIII, 4).5
Infelizmente, muitos membros da Igreja Presbiteriana do Brasil estão
negligenciando esta ordenança. Nem sempre é possível saber os motivos
que os levam a isso, mas ao que parece tal negligência está relacionada
com as dúvidas a respeito da validade desta ordenança. Muitas pessoas
duvidam de que esta prática de fato possua algum respaldo bíblico.
O propósito deste livro é dirimir essas dúvidas.
Para os que ainda não são familiarizados com teologia, faz-se
necessária a explicação de dois termos:

 DISPENSACIONALISMO: movimento de interpretação bíblica


segundo o qual, na tentativa de salvar o homem, Deus estabeleceu várias
dispensações diferentes. O SENHOR teria tentado diversas maneiras de
resgatar a humanidade, contudo não fora bem sucedido, pois, cada tentativa
terminaria com o fracasso do homem. Nesse ponto de vista, Deus é
inconstante e precisa mudar a Sua vontade a respeito do homem sempre que
isso é necessário. Em Cristo, Deus arriscaria sua última alternativa, porém
3
Donald Bridge e David Phypers, Águas que Dividem: uma reflexão sobre a doutrina do Batismo, (São
Paulo: Vida, 2005).
4
MANUAL PRESBITERIANO, (São Paulo: Cultura Cristã, 2008), 149.
5
A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), 212.
6 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

em não havendo correspondência do pecador, Yahweh novamente


fracassaria em seus propósitos. Deus seria um ser impotente e incapaz de
sustentar os propósitos que estabeleceu.

 TEOLOGIA DO PACTO: a teologia da aliança defende que Deus


tem apenas um pacto depois da queda, o qual não foi e nem será ab-rogado,
até que o propósito de Deus de salvar o Seu povo seja completamente
cumprido. Desse ponto de vista, estamos na mesma aliança de Abraão, nós
e nossos filhos, e devemos receber ainda hoje o sinal da aliança que marca
nosso relacionamento com Deus.
Começaremos o nosso estudo com uma análise do pacto da graça no
Antigo Testamento.
7 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

PRIMEIRA PARTE
Dorisvan Cunha
8 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

O FUNDAMENTO BÍBLICO

Gênesis 17.7-14:
“Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência
no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da
tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas
peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu
Deus. Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua
descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que
guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós
será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por
sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado
entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em
casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe.
Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu
dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.
O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida
será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança”.

Ninguém entenderá o batismo Infantil se não compreender a Aliança


de Deus no Antigo Testamento. Então, vamos começar com a análise da
instituição original da Aliança.

1. A ALIANÇA. “... Estabelecerei a minha aliança...” (v.7).


A raiz da palavra “estabelecerei” é (qûm), cujo significado pode ser
“erguer, confirmar, levantar”.6 Uma boa tradução seria: “levantarei ou
confirmarei a minha aliança...”. Dr. Van Groningen diz que, quando
Yahweh pactuou com Abraão em Gênesis 15.1-21 e em 17.7, o tempo do
verbo qûm indica que Deus diz: “eu causo a manutenção ou continuação
da aliança”; o verbo expressa continuidade, renovação ou confirmação. O
texto não diz que Deus está fazendo uma aliança nova (outra), mas apenas
ratificando a que já existe. Em vários momentos Deus destaca que
estabeleceu sua aliança. Isso quer dizer a renovação do Pacto e a introdução
de algum elemento. No caso específico de Gn 17 há a introdução da
circuncisão, que, segundo Paulo em Romanos 4.11, é o selo da aliança.

6 Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, Pg. 1331.


9 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

2. O DESCENDENTE E OS DESCENDENTES: “a tua descendência...”


(v.7).
Literalmente significa “a tua semente”. “Descendência” aponta para a
linhagem prometida, isto é, os “filhos da promessa” como são chamados
por Paulo em Romanos 9. 6-14.7 É a mesma raiz da palavra usada em Gn
3.15 onde Deus anuncia a vinda do descendente macho que esmagaria a
cabeça da serpente. Deus concretizaria sua promessa aos descendentes na
pessoa do descendente, que segundo Paulo é o próprio Cristo (Gl 3.16)8.
É necessário, pois, fazer distinção entre “os descendentes”, que são os
filhos da promessa (Rm 9.6-11), e “O descendente” que é Cristo (Gl 3.16);
e é somente por meio Deste que o SENHOR irá concretizar suas promessas
ao povo da aliança.

3. A PERPETUIDADE DA ALIANÇA (v.7): “Estabelecerei a minha


aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações,
aliança perpétua”.
“Aliança perpétua”. A Aliança Abraãmica ainda permanece de pé.
Nem mesmo a lei pôde invalidar a promessa. A lei veio 430 anos depois
que a promessa foi feita (Gl 3.17). Em Gálatas 3.29 o apóstolo afirma: “se
sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a
promessa”. (Gl 3.29). Todos os que creem hoje em Cristo são filhos de
Abraão e estão na aliança. O Novo Testamento não se trata de outra
aliança.

4. O SELO DA ALIANÇA (v.11): “... e será isto para sinal de aliança...”


O termo “sinal” aparece em Gênesis 9.12,13, 17, onde Deus coloca o
arco-íres como “um sinal de aliança” entre Deus e a criação. A circuncisão
também é um sinal de aliança. É uma testificação visível do relacionamento
entre Deus e seu povo. Paulo fala em Romanos 4.11 da circuncisão como o
selo da Justiça da fé9.

5. A CRIANÇA NA ALIANÇA (v.12): “...O que tem oito dias será


circuncidado entre vós...”
Na aliança Abraâmica a circuncisão não tinha o mesmo sentido dos
outros povos. Em outras comunidades, a circuncisão servia como sinal de

7
Neste texto Paulo está respondendo ao possível questionamento do v.6: “será que a palavra de Deus
falhou para com a descendência de Abraão?” a resposta dele gira em torno do argumento de que os
verdadeiros descendentes nunca foram os da carne, ou seja, os descendentes físicos de Abraão, mas sim o
povo da promessa. Veja: “...Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser
considerados como descendência os filhos da promessa.” Em paralelo a este argumento ver também Gl 3.
29.
8
Veja: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes,
como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo...”
9
kai. shmei/on e;laben peritomh/j sfragi/da th/j dikaiosu,nhj th/j pi,stewj (NA 27). “E recebeu o sinal da
circuncisão como selo da Justiça da fé...” (ARA-Rm 4.11).
10 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

introdução na maioridade com a chegada da puberdade. Porém, para o


povo da aliança de Yahweh a circuncisão inclui a criança de oito dias e,
portanto, enfatizava um selo pactual, o selo da justiça da fé, e não a
chegada da maioridade.

6. A UNIVERSALIDADE DA ALIANÇA (v.12b): “tanto o escravo


nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da
tua estirpe.”
A circuncisão não se limitava a raça física de Abraão, uma vez que os
filhos da promessa não procediam apenas da nação judaica. O selo da
aliança era aplicado também aos gentios que cressem no Deus de Abraão.
Paulo diz que “Abraão é pai de todos nós, (Judeus e Gentios) como está
escrito: Por pai de muitas nações te constituí” (Rm 4.16-17). Isso significa
que a circuncisão não se constituía simplesmente em um símbolo racial10,
mas de maneira mais ampla, era um sinal de aliança. Paulo desenvolveu
este raciocínio em Romanos 2.28-29 onde argumenta que “não é judeu
quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na
carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é
do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos
homens, mas de Deus”.

7. A PUNIÇÃO PARA O DESOBEDIENTE (v.14): “O incircunciso, que


não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do
seu povo; quebrou a minha aliança”. Esta é a severidade com que deveria
ser tratado aquele que rejeitasse o selo da aliança; literalmente deveria ser
cortado do meio do povo. O selo não era opcional, mas uma ordenança
imposta por Deus.

10 Ibid.
11 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

UM SÓ CRISTO, UMA SÓ ALIANÇA


“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Genesis 3.15)

Antes de prosseguir, é importante desfazer um conceito errado que as


pessoas têm sobre a Nova Aliança. Há muitos que pensam que quando
Jesus veio ao mundo, inaugurou outra aliança totalmente distinta daquela
do Antigo Testamento. Mas, isso não é verdade. O Novo Testamento é a
mesma aliança do Antigo Testamento. A aliança com Sete, Noé, Abraão,
Moisés, Davi e com próprio Jesus, são apenas diferentes estágios da mesma
aliança, que ganharia sua realização na pessoa de Jesus de Nazaré. Após a
queda, Deus prometeu enviar o descendente da mulher que esmagaria a
cabeça da serpente (Gn 3.15). Esse, sem dúvidas, é o mesmo descendente
que foi prometido a Abraão e a Davi. Por esta razão, Mateus inicia seu
evangelho dizendo: “livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi,
filho de Abraão” (Mateus 1.1).
Mateus está escrevendo para Judeus e quer provar que Jesus é o
Messias. Obviamente sua genealogia volta-se até Abraão. Na mentalidade
judaica para que alguém estivesse na posição de Messias teria,
necessariamente, que surgir da linhagem de Davi, filho de Abraão. Que o
Messias veio da linhagem de Davi ninguém tem dúvidas, pois Paulo afirma
que Jesus, segunda a carne, “veio da descendência de Davi” (Rm 1.3).
O evangelista Lucas, por outro lado, vai muito mais além de Mateus, e
faz uma volta no tempo regressando até Adão: “Cainã, filho de Enos, Enos,
filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus.” (Lc 3.38). De acordo
com Lucas, Jesus é o descendente prometido a Adão e Eva em Gênesis
3.15. Ele veio e esmagou a cabeça do Diabo, cumprindo assim as
promessas do pacto da Graça: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4.4).11
Além disso, o apóstolo Paulo afirma que o “descendente que Abraão
esperava é Cristo” (Gl 3.16), nos mostrando que Cristo é o cumprimento
da aliança abraâmica. Isso nos faz crer que não há várias, mas apenas uma
aliança, do qual Cristo é o mediador. Na época do Antigo Testamento este
pacto era administrada de forma diferente do NT, mas a essência era a
mesma.
Assim, para se entender o batismo infantil se faz necessário a
compreensão de que não há duas alianças diferentes em substância, mas

11 Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 135.


12 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

uma e a mesma em vários momentos da história do povo de Deus12. O


Messias, é a concretização desta única aliança entre Deus e seu povo.

12
A idéia de dispensação aqui usada está relacionada com a maneira de administrar a aliança.
13 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

A ALIANÇA, O SELO E AS CRIANÇAS


Tendo sido exposto o fato de que há uma só aliança que se consumou
em Cristo Jesus e levando em consideração que nós estamos arrolados
nesta aliança, faz-se necessário agora a exposição das principais
implicações desta verdade. Pela ordem assim:

1. HÁ UMA CONTINUIDADE DA ALIANÇA POR TODOS OS


TEMPOS, PARA TODOS OS DESCENDENTES ESPIRITUAIS DE
ABRAÃO. A aliança é entre Abraão e seus descendentes em todas as
gerações. Paulo afirma em Romanos 9.6-8:

Não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque


nem todos (os descendentes físicos) os de Israel são, de
fato, israelitas; nem por serem descendentes (físicos) de
Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será
chamada a tua descendência. Isto é, estes filhos de Deus
não são propriamente os da carne, mas devem ser
considerados como descendência os filhos da promessa.13

De acordo com Paulo, há um só povo para quem a aliança não falhou


e jamais falhará: o povo da promessa. Uma nação composta tanto de judeus
como de gentios14. Por esta razão, “se somos de Cristo, então somos
descendentes de Abraão, e herdeiros conforme a promessa” (Gl 3.29).
Todos nós que estamos em Cristo, mesmo no século XXI, fazemos parte da
aliança. Qualquer descendente de Abraão, em qualquer ponto na história,
que entrar em união e comunhão com Yahweh por meio da cruz, fará parte
desta aliança.

2. JESUS NÃO INAUGUROU OUTRA ALIANÇA. Um amigo certa vez


me disse que quando Jesus veio ao mundo aboliu totalmente a aliança do
Antigo Testamento e institui uma “Nova Aliança”. Segundo ele, Jesus
inaugurou outra aliança totalmente diferente daquela do Antigo
Testamento. Para justificar, citou as palavras de Jesus na instituição do
sacramento: “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado
em favor de vós” (Lucas 22.20).
Eu respondi que quando os escritores do Novo Testamento se
utilizaram da terminologia h` kainh. diaqh,kh “A Nova Aliança” não

13 A ênfase é toda minha.


14 Gl 3.14.
14 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

queriam dar a entender que Jesus inaugurou outra aliança sem nenhuma
ligação com o Antigo Testamento.
Expliquei que existem pelo menos duas palavras no texto grego para a
terminologia “novo”. Elas são neós e kainós. A Bíblia sempre se refere à
nova aliança como sendo "kainós" e não "neós". Kainós significa
basicamente novo no sentido de “renovado”. Neós é novo no sentido de
“recém-nascido” ou de “totalmente novo”. O Dicionário Internacional de
Teologia diz que no uso secular, kainós denota aquilo que é novo quanto à
qualidade, em comparação com aquilo que existia até agora, aquilo que é
melhor do que o antigo, enquanto neós se emprega temporalmente para
aquilo que não existia antes, e que acaba de aparecer, isto é, totalmente
novo15.
A Nova Aliança, portanto, não é alguma coisa que não existia antes, e
que acabara de ser inaugurada por Jesus. Trata-se, antes, de uma renovação
quanto à qualidade, um melhoramento da aliança. Esse princípio reforça
unidade entre Antigo e Novo Testamento. Jesus é a semente de Abraão; o
único que fielmente guardou a Aliança. Se uma pessoa está em Cristo está
na Aliança com Abraão, não apenas porque Abraão creu em Deus, mas
principalmente porque Cristo é a bênção prometida na Aliança: “se sois de
Cristo, também sois descendentes de Abraão”.

3. A CIRCUNCISÃO É O SELO DA ALIANÇA E NÃO UM MERO


SÍMBOLO DE NACIONALIDADE. A circuncisão nunca foi apenas um
símbolo ou emblema nacional. Também não significava a introdução na
raça dos judeus. Ela é o sinal da Aliança. Paulo afirma que a circuncisão é
“o selo da justiça da fé” (Rm 4.11). Abraão recebeu este selo depois de ter
sido justificado. Ele creu, foi justificado e recebeu o sinal. Ou seja, a
circuncisão era o sinal visível da justificação.

4. EM RELAÇÃO AOS ADULTOS, A CIRCUNCISÃO ERA UM SINAL


DE FÉ, MAS EM RELAÇÃO ÀS CRIANÇAS, UM SINAL DE
SOLIDARIEDADE PACTUAL.16 Com oito dias a criança deveria ser
circuncidada. No caso de Abraão (adulto), ele abraçou a fé depois de se
tornar adulto e fez uma profissão de fé antes de ser circuncidado. Tinha fé
antes de receber o sinal da fé. Esta era a regra: todos os adultos deveriam
primeiro crer no Deus de Israel e depois receber o sinal da Aliança. Paulo
deixa isso claro em Romanos 4.9-11 onde afirma:

15Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento p.1402


16O conceito de “solidariedade pactual” é defendido por O. Palmer Robertson em “O Cristo dos
Pactos”.
15 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

“Abraão creu em Deus, e por isso Deus o justificou.


Quando foi que isso aconteceu? Foi antes ou depois de
Abraão ser circuncidado? Foi antes e não depois. Ele foi
circuncidado mais tarde. E a sua circuncisão foi um selo
para provar que Deus justificou Abraão porque ele tinha fé;
e isso aconteceu quando ele ainda não havia sido
circuncidado” (BLH).

Veja a sequencia. Primeiro Abraão creu (quando ainda era um pagão),


depois recebeu o sinal da circuncisão como selo desta fé. Porém, o mesmo
não é verdade quando nos referimos aos filhos do pacto. Somos informados
de que seu filho Isaque recebeu o sinal da fé antes que tivesse a fé que o
sinal simbolizava (como foi o caso de todos os outros filhos da aliança) 17.
Isso quer dizer que Deus tratou as crianças de maneira diferente dos
adultos. Elas receberam o sinal da fé sem poderem exercer fé. Elas não
podiam crer, mas mesmo assim Deus as incluiu no pacto da graça e
permitiu que recebessem o sinal.
Dr. R. C. Sproul coloca da seguinte maneira:

O ponto crucial é que no antigo Testamento Deus ordenou


que o sinal da fé fosse dado antes que a fé estivesse
presente. Visto que esse era claramente o caso, seria um
equívoco argumentar que é errado administrar um sinal de
fé antes que a fé esteja presente18.

A circuncisão incluía crianças recém nascida de oito dias, pois para o


povo da aliança a ênfase estava no caráter pactual do selo. Alguns chamam
isso de “solidariedade entre pais e filhos” e seria a respeito disso que Paulo
estaria falando em (1Co 7.14): “Porque o marido incrédulo é santificado
no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do
marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros; porém,
agora, são santos”.19
17
R C Sproul, Verdades Essenciais da Fé Cristã, p. 17.
18
R C Sproul, Verdades Essenciais da Fé Cristã, p. 17.
19
John P. Sartelle lembra-nos que os crentes de Corinto tinham vindo de uma cultura pagã e por isso
enfrentaram problemas que ainda vemos hoje. Um marido se tornava cristão e o seu modo de vida
mudava drasticamente. Quando ele compreendia que Cristo governaria cada parte de sua vida, era natural
que ele perguntasse se deveria continuar vivendo com uma esposa não cristã. Paulo responde a esse
questionamento em 1 Coríntios 7. Se a esposa concorda em viver com ele, ele deve ficar com ela. A
esposa incrédula é santificada pelo marido crente. Isso não significa que ela é salva. O termo grego para
"santificar" significa "colocar a parte". Em várias passagens do Novo Testamento esse termo é traduzido
por "santo". A vida santa de um cristão é uma vida "separada". Paulo estava dizendo que a esposa é
separada (vista de um modo especial) por Deus. Por quê? Porque o marido dela pertence ao povo de
Deus. Paulo afirma o princípio da solidariedade pactual. Quando duas pessoas são unidas pelo
16 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

5. TODOS, JUDEUS OU GENTIOS, DEVERIAM RECEBER O SELO,


CASO CONTRÁRIO, RECEBERIAM SEVERA PUNIÇÃO. O verso 14
diz: “E o varão incircunciso, que não circuncidar a carne de seu prepúcio,
essa alma será cortada de seu povo; ele quebrou Minha aliança” (minha
tradução). Este é o rigor com que deveria ser tratado o que rejeitasse o selo:
seria cortado do meio do povo.
Quando penso nesse ponto, lembro-me do episódio entre Deus e
Moisés na estalagem. Êxodo 4.24-26 nos apresenta um relato estranho. Diz
que,

“estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o


o SENHOR e o quis matar. Então, Zípora tomou uma pedra
aguda, cortou o prepúcio de seu filho, lançou-o aos pés de
Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim esposo
sanguinário. Assim, o SENHOR o deixou. Ela disse:
Esposo sanguinário, por causa da circuncisão”.

Sim! Deus quis matar a Moisés! Isso porque ele negligenciou o selo
do pacto. Não colocou o sinal da aliança em seus filhos.20 Isso mostra que
Deus leva a sério, tanto a aliança como o selo da aliança.

matrimônio, elas se tornam, aos olhos de Deus, uma única pessoa. Se isto não fosse verdade, nossos filhos
não seriam santificados. Do mesmo modo que os filhos são vistos de forma especial por causa dos pais, o
mesmo princípio se aplica com relação às esposas. Nesse ponto alguém pode questionar: por que não
batizamos uma esposa incrédula se nós batizamos crianças? John P. Sartelle argumenta que, como um
adulto, a esposa é responsável pela sua própria profissão de fé perante o Senhor. Já as crianças são
batizadas com base na fé que seus pais demonstram, uma vez que são incapazes de fazer a própria
profissão de fé. Contudo, trazem a marca da fé demonstrada pelos pais que invocam para eles o nome do
Seu Senhor, em seus primeiros anos.
20
Matthew Henry, commentary on books of the Bible, (Êxodo4. 24).
17 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

A CONTINUIDADE DO SELO NO NOVO


TESTAMENTO
O Breve Catecismo de Westminster define o batismo da seguinte
maneira: “o Batismo é o sacramento no qual o lavar com água em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo significa e sela a nossa união com Cristo,
a participação das bênçãos do pacto da graça, e a promessa de
pertencermos ao Senhor.”21
O batismo é a continuidade essencial da circuncisão. É o selo da
aliança no Novo Testamento. Os dois sacramentos do Antigo Testamento
não foram abolidos, mas substituídos. A páscoa transformou-se na santa
ceia, quando Jesus dela participou pela última vez (Mt 26.26-30). A
circuncisão, transformou-se no batismo cristão22. Assim como o
sacramento cruento do Cordeiro Pascal é substituído pelo sacramento
incruento da Ceia do Senhor, também o sacramento cruento da circuncisão
é substituído pelo sacramento incruento do batismo.
A circuncisão externa era sinal e selo de uma circuncisão interna
muito mais importante. A circuncisão feita pela Igreja do Velho
Testamento apontava para uma circuncisão muito maior, que somente Deus
poderia realizar. Isto é claramente exposto por Paulo em Romanos 2.28-29:
“Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a
que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e
circuncisão a que é do coração, no espírito”.
Dr. Paulo Anglada argumenta que em Colossenses 2.11-12, o
Apóstolo Paulo chama o batismo cristão explicitamente de a ‘‘circuncisão
de Cristo’’:

“Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de


mãos, mas no despojamento do corpo da carne que é a
circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente
com ele no batismo, no qual igualmente fostes
ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o
ressuscitou dentre os mortos”.

A circuncisão é descrita como um batismo! Paulo diz aos gentios


incircuncisos: vós “fostes também circuncidados”. Que tipo de circuncisão
era aquela? Quem a fez? Cristo a fez pela “circuncisão de Cristo”. Como

21Breve Catecismo, pergunta 94.


22Com a morte de Cristo na cruz não mais haveria necessidade de derramamento de sangue, pois o
Cordeiro Pascal estava preste a ser imolado (1 Co 5.7).
18 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

isso ocorreu? “Tendo sido sepultados juntamente com Ele no batismo”. Ou


seja, todos nós, descendentes de Abraão, também recebemos o selo da
aliança, no dia que fomos batizados. O batismo, portanto, é a continuidade
essencial da circuncisão do Antigo Testamento.
A pergunta que agora nos resta é a seguinte: Se o batismo é a
continuidade essencial da circuncisão, quem revogou o direito das crianças
de receberem este sinal? Onde há um só mandamento que as proíbam de ter
acesso a tal privilégio na aliança?
Nós cremos que a Escritura autoriza a administração do batismo às
crianças pelo simples motivo de que as crianças do pacto no Antigo
Testamento, como já foi mostrado, recebiam o sinal da aliança, mesmo sem
terem exercido fé. No período do Antigo Testamento eram circuncidadas e,
a circuncisão significava fundamentalmente a mesma coisa que o batismo.
Assim, as crianças que estão em relação similar de aliança com Deus
devem ser batizadas agora que estão sob a época do Novo Testamento,
“Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que
ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”
(Atos 2.39).
A história da Igreja tem atestado tal prática. O Dr. Paulo Anglada nos
lembra de que:

Os Pais da Igreja, de um modo geral, reconhecem e


mencionam a prática do batismo infantil. Nove, dentre doze
Pais que viveram nos dois primeiros séculos, referem-se à
prática do batismo infantil; ex: Justino Mártir (130), Irineu
(180), Orígenes (230). Posteriormente, Agostinho afirmou
que ‘‘nenhum concílio jamais ordenara o batismo infantil
por ser este uma prática que vinha desde os tempos
apostólicos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja
que sustentasse o contrário’’. O Concílio de Cartago
recebeu consulta se era lícito batizar crianças antes de oito
dias. O que significa que a prática do batismo infantil após
o oitavo dia de vida era comum23.

R. C. Sproul mostra-nos também que “a história testemunha em favor


dessa suposição. A primeira menção direta ao batismo de crianças
aconteceu por volta da metade do segundo século. O que é digno de nota
nessa referencia é que ela pressupõe que o batismo de crianças era uma
prática universal da igreja24”.

23
Paulo Anglada, Batismo, a circuncisão Cristã, p. 8.
24
R C Sproul, Verdades Essenciais da Fé Cristã, p. 17
19 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

APLICAÇÕES NECESSÁRIAS

1. SOMOS CONTRA O DISPENSACIONALISMO. Há uma só aliança da


graça. É um pacto eterno. Deus continua tratando conosco hoje da mesma
maneira com que tratou o povo da Aliança no Antigo Testamento, com
exceção do fato de que os sacrifícios cruentos foram abolidos ou
substituídos. Deus não tem formas diferentes de salvar o seu povo. Desde o
antigo testamento o método de Deus foi a fé no Messias que viria. Sendo
assim, o dispensacionalimo só pode ser falso.

2. SOMOS CONTRA A EXCLUSIVIDADE DO CREDOBATISMO25.


Deus sempre incluiu as crianças na aliança da graça. Com a idade de oito
dias todas as crianças deveriam receber o sinal da aliança. Isaque, assim
como todos os outros filhos da aliança, recebeu o sinal da fé antes que
tivesse a fé que o sinal simbolizava. Essa é a razão por que batizamos
nossas crianças: são filhos do pacto e estão na aliança de Deus. Não
importa se você, leitor, aceita ou não essa verdade! Temos que nos render
ao crivo da Palavra. Assim estabeleceu O SENHOR, assim será enquanto a
aliança existir.

3. SOMOS CONTRA A NEGLIGÊNCIA DO POVO DA ALIANÇA. A


circuncisão era o selo do pacto. O sinal visível que marcava o
relacionamento pactual. Esse sinal continua válido no Batismo do Novo
Testamento instituído por Jesus. O povo da aliança precisa tomar
consciência da seriedade com que o SENHOR trata esta ordenança. Todos
devem receber o selo. Os pais que não apresentam seus filhos para o
batismo, são desavisados ou rebeldes. A confissão de fé de Westminster
nos diz que, apesar da graça da salvação não se achar inseparavelmente
ligada ao batismo, contudo é grande pecado desprezar ou negligenciar tal
ordenança26.
No entanto, muito me assusta ver pais que se recusam a colocar o selo
do pacto nos seus filhos. É preciso resgatar esta antiga verdade a fim de que
possamos honrar o Deus da Aliança e não transgredirmos deliberadamente
suas ordenanças.

25
Crença de que somente os adultos devem ser batizados, visto que só eles podem exercer fé para isso.
26
Confissão de Fé de Westminster, XXVIII, v.
20 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

SEGUNDA PARTE
Alan Rennê
21 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

O PERÍODO DE TRANSIÇÃO
DA ALIANÇA
COLOSSENSES 2.11-12
“Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos,
mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo,
tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente
fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou
dentre os mortos”.
Nosso intento neste trabalho é estabelecer uma associação entre a
circuncisão no Antigo Testamento e o batismo no Novo Testamento,
mostrando a sua correlação e a explicação para a prática adotada tanto
pelos presbiterianos como pelos luteranos.
Como foi mostrado pelo Pr. Dorisvan, existe uma só Aliança, contudo,
essa aliança foi administrada de modos diferentes ao longo da Revelação
bíblica. A aliança feita com Abraão ainda está em vigor em nossos dias.
Apesar disso, ela é administrada de uma forma diferente da época do
Antigo Testamento. Agora a aliança possui símbolos diferentes e seu
escopo é mais claramente revelado, ou seja, ela se estende a pessoas de
todas as tribos, povos, raças, línguas e nações.
Acontece que, houve um período de transição entre a antiga
administração do Pacto e a nova. Isso se deu no período em que o Senhor
Jesus Cristo esteve aqui na terra, no seu ministério terreno. Com isso em
mente, devemos entender que o selo da aliança abraâmica, a circuncisão,
encontra sua verdade plenamente cumprida no Novo Testamento.27 Nesse
período de transição da antiga para a nova aliança, “as coisas da velha
aliança não são precipitadamente descartadas”.28
A passagem de Gálatas 4.4, afirma que, “vindo, porém, a plenitude do
tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. Era
necessário que Jesus cumprisse “toda a justiça”, mesmo sem jamais ter
conhecido pecado algum (Mateus 3.15). Para que esse objetivo fosse
alcançado, era necessário que ele se submetesse aos ritos prescritos de
purificação: a circuncisão e o batismo de João.29

27
O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, (São Paulo: Cultura Cristã, 2002), 144.
28
Norval Geldenhuys citado em O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, 144.
29
O batismo de João era para arrependimento. Todavia, não foi primariamente com esse propósito que
Jesus se submeteu a ele. Ao afirmar que convinha cumprir “toda a justiça” Jesus tinha em mente cumprir
as demandas da lei para a consagração de um sacerdote: um sacerdote deveria ser consagrado por outro
sacerdote por aspersão com água: “Toma os levitas do meio dos filhos de Israel e purifica-os; assim lhes
farás, para os purificar: asperge sobre eles a água da expiação; e sobre todo o seu corpo farão passar a
navalha, lavarão as suas vestes e se purificarão” (Números 8.6,7). Cf. Ronald Hanko, A Doutrina
Reformada dos Sacramentos, pág. 18. Edição eletrônica extraída do site http://www.monergismo.com.
Sobre a necessidade de Jesus se submeter ao batismo de João como uma exigência de purificação pelos
22 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

Em Lucas 2.21 lemos o seguinte: “Completados oito dias para ser


circuncidado o menino, deram-lhe o nome de JESUS, como lhe chamara o
anjo, antes de ser concebido”. Quando Jesus nasceu, o selo da aliança
abraâmica ainda estava em vigor. Em razão de ter nascido sob a lei, era
necessário que Jesus cumprisse todas as estipulações pactuais feitas por
Deus (Gênesis 17.12; Levítico 12.3).
Alguém pode perguntar: “a necessidade da circuncisão ou amputação
[do prepúcio] não simbolizava que havia pecado que tinha de ser
‘cortado’?”30. A circuncisão não servia para simbolizar uma purificação?
Sim! Aí alguém pergunta novamente: Mas Jesus não era sem pecado?
Novamente, a resposta é: SIM! O ponto a ser assinalado, é que Jesus veio
ao mundo para purificar o seu povo pelos pecados deles. O que estava
sobre Jesus “era a culpa deles”.31 “Como um sinal de que ele
voluntariamente estava tomando sobre si mesmo as obrigações do seu
povo, Jesus submeteu-se, primeiro, à circuncisão e, depois, ao batismo de
João”.32
Isso fica claro na passagem de Lucas, onde o recebimento do nome
“Jesus” está em conexão com o rito da circuncisão. O significado do nome
é “quem salva é Jeová”.33 O salvador precisava cumprir perfeitamente todas
as exigências da lei. A circuncisão foi apenas uma dessas exigências que
precisavam ser cumpridas.
É significativo que após a narrativa da circuncisão de Jesus, nós
encontramos no Novo Testamento referências mostrando que a circuncisão
deixou de ser algo obrigatório para aqueles que passam a fazer parte do
povo de Deus: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei,
pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo,
vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está
obrigado a guardar toda a lei” (Gálatas 5.1-3). “Jamais o ato formal da
circuncisão poderá ser imposto sobre o povo de Deus”.34
A partir desse instante, o que realmente conta é a circuncisão do
coração. Encontramos no livro de Atos dos Apóstolos uma disputa
envolvendo a circuncisão: “Alguns indivíduos que desceram da Judéia
ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de
Moisés, não podeis ser salvos” (15.1; cf. v. 5). Os apóstolos reunidos
juntamente com os presbíteros chegaram a uma conclusão, a qual foi

pecados do seu povo, cf. William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento: Mateus, Vol. 1, (São
Paulo: Cultura Cristã, 2001), 300,301.
30
William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento: Lucas, Vol. 1, (São Paulo: Cultura Cristã,
2003), 221.
31
Ibid, 222.
32
O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, 145.
33
Thayer’s Greek Lexicon in BIBLEWORKS 7.0.
34
O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, 145.
23 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

exposta por Pedro: “Ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu
testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos
concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles,
purificando-lhes pela fé o coração” (15.8,9). A purificação simbolizada
pelo antigo e obsoleto sinal da circuncisão é aqui mencionada.
O sinal chegou ao seu fim, mas a realidade simbolizada por ele, não.
O que acontece, é que outro sinal tomou o seu lugar.
24 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

BATISMO: UM NOVO SÍMBOLO

É significativo que o Senhor Jesus Cristo não tenha ordenado aos seus
discípulos que dessem continuidade à circuncisão veterotestamentária. Em
vez disso, ele ordenou que os seus discípulos fizessem discípulos de todas
as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo
(Mateus 28.19). Os discípulos levaram isso a sério. Logo que o apóstolo
Pedro pregou o seu primeiro sermão no dia de Pentecostes e quase três mil
pessoas creram, imediatamente começaram a batizá-las: “Então, os que lhe
aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia
de quase três mil pessoas” (Atos 2.41). Philippe Landes comenta essa
passagem como segue:

S. Lucas liga intimamente o batismo com a admissão das


três mil pessoas que se converteram pela palavra de S.
Pedro. Em Atos 2:41, relata-nos o escritor que foram
batizadas e admitidas três mil pessoas e, logo em seguida,
no versículo 42, refere-se à doutrina, à comunhão e ao
partir do pão, que uniam os neo-conversos aos seus irmãos.
Somos irresistivelmente levados a concluir que tinham sido
admitidos à comunhão dos santos, isto é, à comunhão do
povo de Deus, que constitui a sua Igreja visível, no mundo.
Somente uma interpretação arbitrária poderia chegar a
outra conclusão. Tomamos, pois, como provado que os
neoconvertidos dos tempos apostólicos eram admitidos à
comunhão da Igreja pelo rito do batismo.35

O batismo assinalou a entrada de quase três mil pessoas na


comunidade pactual. Elas não foram circuncidadas, mas foram batizadas.
No Antigo Testamento, a circuncisão marcava a entrada da pessoa na
comunidade do pacto. Agora, essa função pertence ao batismo. Além disso,
desde que Jesus realizou o seu sacrifício perfeito, nenhum derramamento
de sangue era mais necessário, nem mesmo o da circuncisão. Essa é a razão
porque existe uma diferença entre os sinais exteriores da circuncisão e do
batismo.36 Note-se, porém, que essa é a única diferença!
Qual o significado do batismo? Diferentemente, do que dizem os
batistas e os pentecostais, o batismo não significa o sepultamento e a

35 Philippe Landes, Estudos Bíblicos sobre o Batismo de Crianças, (São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1979), 19.
36 Ronald Hanko, A Doutrina Reformada dos Sacramentos, 25,26.
25 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

ressurreição do crente com Jesus Cristo.37 Batismo significa “lavar”.38 A


respeito disso Charles Hodge afirma o seguinte: “Outra prova de que
aqueles batismos não eram por imersão está no emprego das palavras lavar
e batizar como termos equivalentes”.39 Como prova disso, ele cita a
passagem de Marcos 7.3,4: “(pois os fariseus e todos os judeus,
observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar (ni,ywntai de
ni,ptw) cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não comem sem
se aspergirem (bapti,swntai de bapti,zw); e há muitas outras coisas que
receberam para observar, como a lavagem de copos, jarros e vasos de
metal e camas)”. “O batismo significa que as manchas do pecado foram
removidas do nosso coração”.40 Observem a passagem de Atos 22.16: “...
Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome
dele”. Isso não significa que o batismo lava o pecado, mas sim que ele
simboliza a lavagem realizada pelo Espírito Santo, na regeneração: “não
por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia,
ele nos salvou mediante o lavar regenerador do Espírito Santo” (Tito 3.5).
O batismo é o sinal de que isto está acontecendo!
O Dr. Robert L. Reymond, sumaria o significado do batismo como
segue:

O batismo é um sacramento do Novo Testamento,


ordenado por Jesus Cristo, não apenas para uma solene
admissão das partes batizadas na Igreja visível, mas
também para ser um sinal e selo do Pacto da Graça, de seu
enxerto em Cristo, da regeneração, ou remissão de pecados,
e de sua vinda a Deus, por Jesus Cristo, para andar em
novidade de vida.41

O ponto é que “os dois sacramentos do Antigo Testamento


[circuncisão e páscoa] não foram abolidos, mas substituídos”.42 Sobre essa
substituição, são pertinentes as palavras do Dr. Louis Berkhof:

37
Eles fazem uma má interpretação de passagens como Romanos 6.4 e Colossenses 2.11,12, para
sustentar a ideia de que o batismo deve ser administrado por imersão.
38
Thayer’s Greek Lexicon in BIBLEWORKS 7.0.
39
Charles Hodge, O Batismo Cristão: Imersão ou Aspersão?, (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), 18.
40
John Sartelle, John Evans, Paulo Anglada e Joseph Pipa, O Batismo Infantil: O que os pais deveriam
saber acerca deste sacramento, (São Paulo: Os Puritanos, 2000), 13.
41
Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith, (Nashville, Tennessee:
Thomas Nelson, 1998), 923. Minha tradução.
42
John Sartelle, John Evans, Paulo Anglada e Joseph Pipa, O Batismo Infantil: O que os pais deveriam
saber acerca deste sacramento, (São Paulo: Os Puritanos, 2000), 40.
26 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

Na nova dispensação o batismo, pela autoridade divina,


substitui a circuncisão como o sinal e selo iniciatório da
aliança da graça. A Escritura insiste vigorosamente em que
a circuncisão não pode mais servir como tal, At 15.1,2;
21.21; Gl 2.3-5; 5.2-6; 6.12,13,15. Se o batismo não lhe
tomou o lugar, o Novo Testamento não tem nenhum rito
iniciatório.43

No que diz respeito à relação entre a circuncisão e o batismo cristão,


isso fica evidente no texto de Colossenses 2.11-12: “Nele, também fostes
circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do
corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados,
juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados
mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos”.
A igreja de Colossos enfrentava sérias dificuldades com um grupo
denominado de judaizantes. Eles ensinava que os cristãos deveriam se
submeter a todas as exigências da lei cerimonial do Antigo Testamento,
incluindo a circuncisão. Combatendo tal ensino, Paulo afirmava que isso
era desnecessário, visto que os colossenses já haviam sido circuncidados
em Jesus Cristo (v. 11a). Ele faz questão de salientar que não se tratava da
circuncisão física, por isso ele disse: “não por intermédio de mãos”, mas
sim no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo. Em
seguida, Paulo aponta que isso se deu por ocasião do batismo, quando os
colossenses receberam o sinal que apontava para a gloriosa realidade de sua
união com Jesus Cristo.
O Rev. Paulo Anglada analisa a passagem em questão e afirma que,
“nós cristãos também fomos circuncidados, não com o corte do prepúcio,
mas com o batismo cristão que tem a mesma função da circuncisão judaica,
podendo até mesmo ser chamado de circuncisão cristã”.44

43
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, 585.
44
John Sartelle, John Evans, Paulo Anglada e Joseph Pipa, O Batismo Infantil: O que os pais deveriam
saber acerca deste sacramento, (São Paulo: Os Puritanos, 2000), 40.
27 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

IMPLICAÇÕES DA DOUTRINA
Com as informações acima expostas, podemos traçar algumas
implicações da doutrina estudada.

1. PRIMEIRAMENTE, FICOU CLARO QUE NO ANTIGO


TESTAMENTO, DEUS ESTABELECEU UM SINAL VISÍVEL PARA
SIMBOLIZAR QUE O INDIVÍDUO QUE O RECEBESSE ESTAVA
INCLUÍDO NO PACTO. No Novo Testamento, a mesma verdade pode ser
percebida. No Antigo Testamento, esse sinal era a circuncisão, ou seja, a
amputação da carne do prepúcio. Tratava-se de um sinal sangrento,
cruento. Já no Novo Testamento, esse sinal passou a ser o batismo, em
virtude do pleno cumprimento de “toda a justiça” (Mateus 3.15), realizado
pelo Senhor Jesus Cristo. Acrescente-se a isso o fato de que, após o
derramamento do sangue do Redentor na cruz do Calvário, não há mais
nenhuma necessidade de derramamento de sangue por parte daqueles que
fazem parte do povo de Deus. O novo sinal da entrada no Pacto deixou de
ser cruento. O elemento visível agora é a água sendo aspergida sobre o
indivíduo.

2. EM SEGUNDO LUGAR, NO ANTIGO TESTAMENTO, AS


CRIANÇAS RECEBIAM O SINAL VISÍVEL DA ALIANÇA. Quando o
menino completava oito dias de vida, ele era circuncidado. Isso significaria
que aquela criança estava debaixo do Pacto, era participante dos benefícios
dirigidos à comunidade pactual. No Novo Testamento encontramos a
continuidade desse princípio, e não a sua abolição. “Em nenhuma parte do
Novo Testamento encontramos qualquer passagem que exclua as crianças
da Igreja de Deus. Ora, sendo o batismo, na Nova Dispensação, o sinal de
inclusão na Igreja, segue-se que os filhos dos crentes, hoje, não têm menos
direito ao batismo do que tinham os filhos dos israelitas à circuncisão”.45

3. POR ÚLTIMO, QUERO ADVERTÍ-LOS A RESPEITO DO GRANDE


PERIGO EXISTENTE NA RECUSA DE ALGUNS PAIS EM
APRESENTAREM SEUS FILHOS PARA RECEBEREM O
SACRAMENTO DO BATISMO. Em Gênesis 17.14, encontramos a
afirmação de que aquele que não fosse circuncidado deveria ser eliminado
do meio do povo. Isso porque tal pessoa estaria declarando que não fazia
parte do povo da Aliança. Foi por essa razão que Deus quis matar a Moisés,
porque seu filho, Gérson, havia nascido e ainda não havia recebido a
circuncisão (Êxodo 4.24-26). O princípio aplicado ao batismo é que os pais
que se negam a apresentarem seus filhos para receberem o batismo, estão
45
Philippe Landes, Estudos Bíblicos sobre o Batismo de Crianças, 20.
28 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

dando um testemunho de que suas crianças não fazem parte do povo de


Deus, não fazem parte da Aliança, sendo estranhas aos benefícios do Pacto.
Percebam, queridos irmãos, a seriedade com que Deus encara o status das
crianças dentro do Pacto.46 Ele estava pronto para punir o pai por sua falha
em circuncidar seu filho. Diante disso, você, meu caro leitor, que se
demora nisso, apresente seus filhos para o batismo. Caso contrário, você
está prejudicando espiritualmente a herança que você recebeu de Deus,
assim como também você propenso a receber a punição divina por tal
negligência.

46
Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith, 939. Minha tradução.
29 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

AS PRINCIPAIS OBJEÇÕES CONTRA


O PEDOBATISMO

Os principais oponentes do batismo infantil são os nossos irmãos


batistas e os pentecostais. Isso se dá, dentre outras coisas, por uma reação à
doutrina católico romana, que ensina que o batismo salva. Segundo os
católicos, enquanto uma criança não for batizada, permanece pagã. Se ela
morrer sem receber o batismo não se salvará, mas irá para um lugar
denominado de limbus infantum.47 O batismo teria a capacidade de libertar
as crianças do pecado original com o qual nascem, de maneira que sem o
batismo, as crianças estão debaixo do poder de Satanás.48
Sabendo disso, muitos evangélicos reagem ao batismo infantil,
atacando-o como sendo uma inovação romanista. Os principais argumentos
contra o pedobatismo, apresentados pelos irmãos batistas e pelos
pentecostais são os seguintes:

1. O ARGUMENTO DA GRANDE COMISSÃO. Teólogos batistas e


pentecostais gostam de apontar para as palavras de Jesus por ocasião da
chamada Grande Comissão, em Mateus 28.19: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo”. Eles afirmam que, essa passagem manda,
“primeiramente, fazer discípulos, e então batizá-los”.49 Eles também usam
o texto de Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem,
porém, não crer será condenado”.
A objeção levantada é extremamente pueril. No caso de Marcos 16.16,
é muito frágil, por desconsiderar a quem tais palavras foram dirigidas de
forma direta. Jesus estava falando com os seus discípulos, os quais ficariam
encarregados pela disseminação do Evangelho após a sua ascensão.
Nos primeiros dias da era cristã, todos que criam tinham que ser
batizados como adultos, porque, sendo a revelação do Novo Testamento
um ensino novo, ninguém havia sido ainda batizado como cristão na
infância. A mesma coisa ainda acontece hoje, quando um novo campo
missionário é aberto. “Não existem crianças batizadas até que existam
adultos e pais cristãos”.50
47
Charles Hodge, Teologia Sistemática, (São Paulo: Hagnos, 2001), 1569. Hodge escreve o seguinte: “A
doutrina da Igreja de Roma sobre este tema é que as crianças que morrem sem o batismo, ou mesmo
depois dele, não são admitidas no reino do céu”.
48
Helder Nozima Pereira, Uma Análise Histórico-Teológica do Batismo Infantil. Monografia apresentada
ao Seminário Presbiteriano de Brasília, pág. 30.
49
Morton H. Smith, Systematic Theology, Vol. 2, (Greenville, SC: Greenville Seminary Press, 1994),
662,663. Minha tradução.
50
Francis Schaeffer, citado em John Sartelle, John Evans, Paulo Anglada e Joseph Pipa, O Batismo
Infantil: O que os pais deveriam saber acerca deste sacramento, (São Paulo: Os Puritanos, 2000), 57.
30 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

Ademais, a forma como a Grande Comissão aparece em Mateus 28,


não exclui as crianças de receberem o sacramento do batismo. Este era o
entendimento do Reformador João Calvino, comentando a passagem de
Mateus 28.19:

Cristo ordena que eles carreguem a mensagem da salvação


eterna, adicionando a isso o selo do batismo. É certo que a
fé deveria vir antes do batismo, visto que os gentios foram
completamente alienados de Deus, e nada tinham em
comum com o povo escolhido [...] Pela vinda de Cristo,
Deus se manifestou como um Pai, igualmente a judeus e a
gentios, Eu serei o teu Deus, e o Deus da tua semente
(Gênesis 17.7).51

Calvino conclui, então, afirmando: “Então, eu asseguro que não é


temerário administrar o batismo a crianças para as quais Deus as chama
para si, quando ele promete que será o seu Deus”.52

2. O ARGUMENTO DE QUE NÃO HÁ NENHUM EXEMPLO CLARO


DE BATISMO INFANTIL NO NOVO TESTAMENTO53. Mais uma vez,
trata-se de um argumento extremamente falacioso. Creio que nós
possuímos evidências que indicam que os apóstolos batizavam tanto
adultos crentes, quanto os seus filhos. “Batismos de famílias inteiras eram
ocorrência comum, especialmente se considerarmos a proporção destes
entre todos os batismos relatados no Novo Testamento”.54 Ao todo, no
Novo Testamento, aparecem cinco exemplos de famílias inteiras que
receberam o sacramento do batismo. São elas:
1) a família de Cornélio (Atos 10);
2) a família de Lídia (Atos 16.14);
3) a família do carcereiro de Filipos (Atos 16.31-34);
4) a família de Crispo (Atos 18); e
5) a família de Estéfanas (1 Coríntios 1.17).
Deve ser notado que o termo “casa” geralmente se refere à família de
alguém. Para um exemplo do uso do vocábulo “casa” como se referindo à
descendência ou família, basta ver o que Deus fala a respeito da casa do rei

51
John Calvin, Commentary on Matthew, Mark, Luke, Vol. 3, (Grand Rapids, MI: Christian Classics
Ethereal Library, 1999), 237. Extraído do site http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom33.html. Minha
tradução.
52
Ibid. Minha tradução.
53
Mark Dever, Refletindo a Glória de Deus: elementos básicos da estrutura da Igreja, (São José dos
Campos: Fiel, 2008), 77.
54
John Sartelle, John Evans, Paulo Anglada e Joseph Pipa, O Batismo Infantil: O que os pais deveriam
saber acerca deste sacramento, 55.
31 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

Davi, em 2 Samuel 7.11: “... Dar-te-ei, porém, descanso de todos os teus


inimigos; também o SENHOR te faz saber que ele, o SENHOR, te fará
casa”. O versículo 12 mostra que Deus tinha em mente o filho de Davi,
Salomão. Além disso, observem o que Josué afirma: “... Eu e a minha casa
serviremos ao SENHOR” (Josué 24.15).
Uma análise do perfil socioeconômico daquele tempo mostra que era
de se esperar que existissem crianças nas casas mencionadas no Novo
Testamento: “baixa expectativa de vida, famílias patriarcais, muitos filhos
por casal”.55 O mais óbvio, é que existissem crianças nas casas
mencionadas.

3. O ARGUMENTO DE QUE NÃO HÁ NENHUM ENSINO CLARO


SOBRE O BATISMO INFANTIL NO NOVO TESTAMENTO.56 Esse
argumento se constitui como uma verdadeira faca de dois gumes. Ele
também pode ser usado por aqueles que defendem a prática do batismo
infantil. Por exemplo, poderíamos argumentar contra os batistas e os
pentecostais, que não existe nenhum ensino claro no Novo Testamento
sobre a exclusão das crianças do sacramento do batismo.
Como afirma John Evans, “aplicar o símbolo do pacto às crianças era
tão natural que a ordem direta sentido seria de aplicar o sinal do pacto nas
crianças e o fato de que a igreja no início a praticava rotineiramente tornava
essa menção totalmente desnecessária”.57
Contudo, existe uma passagem muito interessante no Novo
testamento, de onde se infere a legitimidade do batismo infantil: “Pois
para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda
estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos
2.39). As crianças estão explicitamente incluídas na promessa pactual.
Comentando essa passagem, Philippe Landes, afirma que é significativo
que Pedro mencione três classes de pessoas:

1) Vós; eram os adultos que ouviam a sua pregação, na


maioria judeus e prosélitos do judaísmo, crentes na religião
do povo de Deus. 2) Vossos filhos; isto é, os filhos dos
adeptos da religião de Deus. 3) Todos os que estão longe, a
quantos chamar o Senhor nosso Deus; isto é, os demais
eleitos de Deus, judeus e gentios, que haviam de aceitar o
Evangelho no futuro.58
55
Helder Nozima, Batismo Infantil e Teologia do Pacto, pág. 8. Artigo extraído do site
http://www.monergismo.com.
56
Mark Dever, Refletindo a Glória de Deus: elementos básicos da estrutura da Igreja, 77.
57
John Sartelle, John Evans, Paulo Anglada e Joseph Pipa, O Batismo Infantil: O que os pais deveriam
saber acerca deste sacramento, 56.
58
Philippe Landes, Estudos Bíblicos sobre o Batismo de Crianças, (São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1979), 22.
32 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

4. O ARGUMENTO DE QUE OS BEBÊS NÃO PODEM RACIOCINAR


E CRER.59 Isso, de forma alguma, exclui as crianças do reino de Deus. A
família de Deus inclui até mesmo o menor bebê. Jesus mesmo ensinou isto
em Lucas 18.15-17: “Traziam-lhe também as crianças, para que as
tocasse; e os discípulos, vendo, os repreendiam. Jesus, porém, chamando-
as para junto de si, ordenou: Deixai vir a mim os pequeninos e não os
embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo:
Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira alguma
entrará nele”. Jesus não diz apenas que para entrar no reino de Deus é
necessário ser como uma criança. Ele diz que, o reino de Deus pertence aos
“pequeninos”. O que é interessante nessa passagem, é que logo no
versículo 15, Lucas afirma que os brephê estavam presentes. A palavra
bre,foj, significa “recém-nascidos, bebês”.60 A mesma palavra é utilizada
para “criança” em Lucas 1.41,44: “Ouvindo esta a saudação de Maria, a
criança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito
Santo... Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a
criança estremeceu de alegria dentro de mim”. É certo que, em Lucas
18.15-17, não há nenhuma ordem de Jesus no sentido de que as crianças
sejam batizadas. O ponto destacado nessa passagem, é que, de acordo com
o Senhor, as crianças estão incluídas no reino, na aliança de Deus.
Podemos acrescentar o que o apóstolo Paulo afirmou em 1 Coríntios
7.14, quando ele disse que os filhos de pais crentes são “santos” ou
“sagrados”.
Os batistas e os pentecostais deveriam ser coerentes com o seu
pensamento, pois se você perguntar a um batista se uma criança quando
morre fica de fora do céu, ele responderá que não! Assim como nós, eles
crêem que as crianças eleitas vão para o céu. O problema é que
“arrependimento e fé são as condições tanto para o batismo como para a
salvação [...] Como as crianças não podem arrepender-se nem crer, não
podem salvar-se. O argumento prova demais e, portanto, não serve para
nada”.61
O que quero destacar sobre essas diversas objeções é que, todas elas
são refutáveis. Todas podem ser respondidas satisfatoriamente.

59
John Sartelle, John Evans, Paulo Anglada e Joseph Pipa, O Batismo Infantil: O que os pais deveriam
saber acerca deste sacramento, 58.
60
Thayer’s Greek Lexicon in BIBLEWORKS 7.0. Minha tradução.
61
Charles Hodge, O Batismo Cristão: Imersão ou Aspersão?, (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), 53.
33 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

CONCLUSÃO

Nossa intenção neste trabalho não foi escrever algo exaustivo sobre o
tema. Tentamos mostrar pelo testemunho das Escrituras que o batismo
infantil está longe de ser o “bezerro de outro da reforma”. Infelizmente,
nosso irmão Paul Washer, a quem tanto admiramos e respeitamos, não foi
feliz em sua declaração. Se bem que na citação ele fala em “batismo
infantil para a salvação”, o que nós também não cremos. De acordo com o
que foi mostrado, o batismo infantil não é uma invenção da Igreja Católica
medieval, por isso não cremos em regeneração batismal. Cremos que as
crianças são batizadas por pertenceram ao pacto. A inclusão dos filhos,
portanto, é ordenança da Escritura, relevante para igreja contemporânea.
De bezerro de ouro da reforma, o batismo infantil passa a ser a grande
herança da reforma, ou melhor, herança da eterna aliança de Deus os filhos
da aliança. Os que rejeitam ou negligenciam tal ensinamento, incorrem em
grande pecado contra Deus. O SENHOR da aliança não muda! Ele fez um
pacto com Abraão e seus descendentes e se manterá firme até que seu plano
seja totalmente concretizado.
Se Deus quis incluir as crianças no seu pacto, não temos direito e nem
autoridade de agir contrariamente à sua vontade. Para aqueles que não
aceitam tal prática, resta apenas a interrogação do apóstolo Paulo: “Quem
és tu, ó homem, para discutires com Deus?” (Rm 9.20).
Que o Senhor nos ajude na prática destes ensinamentos, e que isto não
seja apenas mais um conhecimento adquirido. Que tenhamos coragem de
defender a fé de nossos pais, e que não nos submetamos às práticas
contemporâneas que negam a perpetuidade do pacto de Deus e inclusão dos
filhos dos crentes na aliança da graça.
34 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

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35 Batismo Infantil: Bezerro de Ouro da Reforma Ou Ordenança Bíblica?

SOBRE OS AUTORES
Pr. Alan Rennê é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do
Nordeste, em Teresina (2005); Bacharel em Teologia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (2009); Mestrando em Teologia (Sacrae Theologiae
Magister) com concentração em Estudos Históricos e Teológicos e linha de
pesquisa em Teologia Sistemática no Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper; pastor presbiteriano, atualmente serve como
pastor-auxiliar na Igreja Presbiteriana de Tucuruí-PA, servo de Cristo Jesus
e comprometido com a boa e saudável teologia reformada.

Pr. Dorisvan Cunha é Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano


do Nordeste. Bacharel em Teologia pelo Universidade Presbiteriana
Mackenzie; Mestrando em Teologia Histórica (Magister Divinitatis) no
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper; pastor
Presbiteriano na Cidade de Parauapebas-PA.

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