Cognition">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Caderno de Resumos Gel

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 973

Luiz André Neves de Brito

Mariana Luz Pessoa de Barros


Matheus Granato
Renato Miguel Basso
Rosa Yokota
(Organizadores)

CADERNO DE RESUMOS
68º Seminário do GEL

Araraquara
Letraria
2021
Apoio:
Apoio financeiro: Pró-Reitoria de Extensão (ProEx/UFSCar)

Apoio institucional: Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Programa de


Pós-Graduação em Linguística (PPGL), Departamento de Letras (DL), Secretaria
de Educação a Distancia (SEaD/UFSCar) e Instituto de Línguas (IL/UFSCar)

Realização:
Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo (GEL)

Parcerias:
Parábola Editorial
Letraria
Editora Contexto
Editora Vozes
Pontes Editores
Diretoria
2019 - 2021 (UFSCar)
Presidente: Luiz André Neves de Britto
Vice-Presidenta: Mariana Luz Pessoa de Barros
Secretário: Renato Miguel Basso
Tesoureira: Rosa Yokota

Caderno de resumos
68º Seminário do GEL
Organizadores: Luiz André Neves de Brito, Mariana Luz Pessoa de Barros, Matheus
Granato, Renato Miguel Basso e Rosa Yokota
Revisão: Letraria
Capa, projeto gráfico e diagramação: Letraria
ISBN: 978-65-86562-61-3
Publicação: Editora Letraria – Araraquara, 2021.
Comissão Organizadora
Antón Castro Míguez
Camila Höfling
Carolina de Paula Machado
Caroline Carnielli Biazolli
Flávia Bezerra de Menezes Hirata-Vale
Isadora Valencise Gregolin
Joceli Catarina Stassi Sé
Luiz André Neves de Brito
Marcus Vinícius Batista Nascimento
Mariana Luz Pessoa de Barros
Matheus Granato
Pedro Henrique Varoni de Carvalho
Renato Miguel Basso
Rosa Yokota
Monitores
Abraão Golfet de Souza
Ailton Pirouzi Junior
Amanda Cristina Bazani
Amanda Silva Florindo
Amarildo Rodrigues da Silva Júnior
Andrei Cezar da Silva
Bárbara de Souza Freitas
Beatriz Passos Trimer
Caio Vinicius da Silva Barros
Camila Gabriele da Cruz Clemente
Camila Pires Alves
Camila Ribeiro Corrêa de Moraes
Clariane Molina de Lima
Clarissa Lenina Scandarolli
Claudia Maria de Serrão Pereira
Daniel Perico Graciano
Davson Soares Mendes
Débora Helen de Oliveira
Diany Akiko Lee
Eder Cavalcanti Coimbra
Elom de Paulo Andrade de Almeida
Fernando Martins Fiori
Francimeire Leme Coelho
Gabriella Campos Ferreira
Giovana Nicolini Milozo
Heloisa Mazzolin Sorrilla
Isaac Souza de Miranda Junior
Izabel dos Santos Caliri
Jéssica de Oliveira
João Aparecido Pagnoca Chinez
Julia Trovó Caetano de Jesus
Júlio Cézar de Souza
Kayla Luiza Garcia
Laura Gazana
Letícia Silveira
Livia Beatriz Damaceno
Lucas Nasser da Mata
Lucas Trevizan Ferreira
Maria Carolina Coradini
Maria Julia Bernardo Comarim
Mariana da Silva Correa dos Santos
Mariana Frugeri Silva
Mariana Ribeiro da Silva
Marina Nishimoto Marques
Mayara Regina Simões
Nathan Bastos de Souza
Pedro Valed Perry Ferreira
Priscila Cristina Zambrano
Rafaela Mathias
Rebeca Wiezel Chamorro
Stephani Izidro de Sousa
Thiago Rodrigues da Silva
Vinícius dos Santos Ribeiro
Vitória Ferreira Doretto
Yan Masetto Nicolai
Comitê Científico Kelly Cristiane Henschel Pobbe De Carvalho
Lara Ferreira dos Santos
Leonel Figueiredo de Alencar
Adail Ubirajara Sobral Leônidas José da Silva Jr.
Adriana Fischer Leticia Fraga
Adriana Stella Lessa-de-Oliveira Lília Santos Abreu Tardelli
Alessandro Jocelito Beccari Livia Grotto
Alexandre Marcelo Bueno Livia Oushiro
Alina Villalva Lou-Ann Kleppa
Aline Ponciano dos Santos Silvestre Lourenço Chacon Jurado Filho
Amanda Post da Silveira Lucas Vinicio de Carvalho Maciel
Ana Carolina Sperança Criscuolo Lúcia Regiane Lopes-Damasio
Ana Paula Quadros Gomes Luciana Raccanello Storto
Ana Paula Scher Luciana Salazar Salgado
Ana Vilacy Galúcio Luciane de Paula
Angel H. Corbera Mori Luciani Ester Tenani
Angélica Terezinha Carmo Rodrigues Luisandro Mendes de Souza
Anna Christina Bentes da Silva Luiz André Neves de Brito
Anna Flora Brunelli Luzmara Curcino Ferreira
Arnaldo Franco Junior Manoel Luiz Gonçalves Corrêa
Ataliba Teixeira de Castilho Manoel Mourivaldo Santiago Almeida
Beatriz Protti Christino Marcelo El Khouri Buzato
Bento Carlos Dias da Silva Marcelo Ferreira
Bruno Gonçalves Carneiro Marcelo Módolo
Carlos Alexandre Molina Noccioli Marcelo Rocha Barros Gonçalves
Carlos Piovezani Marco Antonio Almeida Ruiz
Carmen Lúcia Barreto Matzenauer Marcos Goldnadel
Carolina de Paula Machado Marcos Lopes
Carolina Parrini Ferreira Maria Angélica Deângeli
Cibele Naidhig de Souza Maria Beatriz Nascimento Decat
Claudia Mendes Campos Maria Cristina Parreira da Silva
Cristiane Carneiro Capristano Maria Helena Cruz Pistori
Cristiane Passafaro Guzzi Maria José Bocorny Finatto
Cristina Martins Fargetti Maria José Rodrigues Faria Coracini
Cristine Gorski Severo Mariana Luz Pessoa de Barros
Dantielli Assumpção Garcia Marina Ayumi Izaki Gómez
Ednei de Souza Leal Marina Rosa Ana Augusto
Eduardo Negueruela Azarola Monica Ferreira Mayrink O'Kuinghttons
Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira Natália Gonçalves de Souza Santos
Elias Ribeiro da Silva Oriana de Nadai Fulaneti
Emerson De Pietri Pablo Picasso Feliciano de Faria
Enilde Faulstich Patricia Veronica Moreira
Erotilde Goreti Pezatti Paulo Ramos
Fabiana Cristina Komesu Plínio Barbosa
Fernanda Andrade do Nascimento Alves Rafael Dias Minussi
Fernanda Correa Silveira Galli Raquel Salek Fiad
Fernanda dos Santos Castelano Rodrigues Regiani Aparecida Santos Zacarias
Fernanda Massi Renan Augusto Ferreira Bolognin
Fernanda Mussalim Guimarães Lemos Silveira Renata Enghels
Flávia Bezerra de Menezes Hirata-Vale Renata Regina Passetti
Flaviane Romani Fernandes Svartman Renato Miguel Basso
Gabriela Maria de Oliveira Codinhoto Roberto Gomes Camacho
Giliola Maggio Roberto Leiser Baronas
Gladis Massini-Cagliari Rosa Yokota
Grenissa Bonvino Stafuzza Rosana do Carmo Novaes Pinto
Helena Maria Boschi da Silva Rosane de Andrade Berlinck
Helio Oliveira Rosângela Hammes Rodrigues
Heloisa Maria Moreira Lima Salles Ruth Elisabeth Vasconcellos Lopes
Ieda Maria Alves Sanderleia Roberta Longhin
Jean Cristtus Portela Sandra Denise Gasparini Bastos
Joceli Catarina Stassi Sé Sandra Quarezemin
Jorcemara Matos Cardoso Sebastião Carlos Leite Gonçalves
Jorge Rodrigues de Souza Junior Sheila Elias de Oliveira
José de Souza Muniz Jr. Simone Sarmento
Jose Luis Felix Solange Aranha
José Sueli de Magalhães Solange de Carvalho Fortilli
Julia Lourenço Costa Thiago Moreira Correa
Juliana Alves Assis Tony Berber Sardinha
Júlio Cezar Bastoni da Silva Vera Lucia Rodella Abriata
Juscelino da Silva Sant'ana Wanderlan da Silva Alves
Karin Adriane Henschel Pobbe Ramos
Sumário

APRESENTAÇÃO 86
LUIZ ANDRÉ NEVES DE BRITO
MARIANA LUZ PESSOA DE BARROS
MATHEUS GRANATO
RENATO MIGUEL BASSO
ROSA YOKOTA

CONFERÊNCIA DE ABERTURA
EM TEMPOS BICUDOS, QUE PODE A LINGUÍSTICA? 89
Conferencista: CARLOS ALBERTO FARACO

MESAS REDONDAS
A pandemia: como falar e como não falar dela
NOTAS DE LEITURA DISCURSIVAS SOBRE A PUBLICAÇÃO DE 91
GLOSSÁRIOS, DICIONÁRIOS, VOCABULÁRIOS E CARTILHAS
DIGITAIS SOBRE A COVID-19
Convidado: ROBERTO LEISER BARONAS

PROLIFERAÇÃO E CONTÁGIO DE FORMAS LINGUÍSTICAS: OS 92


FENÔMENOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO QUE
VIRALIZARAM DURANTE A PANDEMIA DA COVID (OU DO
COVID)-19
Convidado: MAURÍCIO SARTORI RESENDE

Abuso verbal e violência na linguagem


SOBRE O CARÁTER IMITATIVO DA VIOLÊNCIA – NA 94
LINGUAGEM E ALÉM
Convidado: DANIEL DO NASCIMENTO E SILVA

VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E TOXICIDADE NA MÍDIA SOCIAL 94


Convidada: RAQUEL DA CUNHA RECUERO

Autoritarismo, linguagem e silenciamentos: desqualificação


de discurso e desaparecimento político
SILENCIAMENTO E DESQUALIFICAÇÃO DO DISCURSO 96
GUERRILHEIRO NA DITADURA MILITAR
Convidada: ORIANA DE NADAI FULANETI

REPRESENTAÇÕES DO DESAPARECIMENTO POLÍTICO NA 97


LITERATURA BRASILEIRA DOS ANOS 70 E 80 DO SÉC. XX
Convidado: ARNALDO FRANCO JUNIOR
História da Linguística do Mattoso
HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA DO MATTOSO 99
Convidados: GABRIEL DE AVILA OTHERO
E VALDIR DO NASCIMENTO FLORES

Linguagens e BNCC
BNCC: UMA AMEAÇA À EDUCAÇÃO? 101
Convidada: LUCIANA MARIA ALMEIDA DE FREITAS
O ENSINO DE LÍNGUA NA BNCC E A PRODUÇÃO DE UM 101
SIMULACRO
Convidado: EMERSON DE PIETRI

Línguas e a (i)migração no século XXI


IDENTIDADES LINGUÍSTICO-CULTURAIS E ACOLHIMENTO 104
DO PLURILINGUISMO NO CONTEXTO DE MIGRAÇÕES
RECENTES NO BRASIL
Convidada: LUCIA MARIA ASSUNÇÃO BARBOSA
POLÍTICAS LINGUÍSTICAS EDUCACIONAIS PARA MIGRANTES 105
DE CRISE COMO MECANISMOS PARA A ESTRUTURAÇÃO DE
PRÁTICAS CONTRA-HEGEMÔNICAS
Convidado: LEANDRO RODRIGUES ALVES DINIZ

Perspectivas para a linguística em tempos de


interdisciplinariedade
A LINGUÍSTICA E A INTERDISCIPLINARIDADE: RETOMANDO 108
UMA ANTIGA TRAJETÓRIA PARA ABRIR NOVOS HORIZONTES
Convidada: EVANI VIOTTI
PSICOLINGUÍSTICA, METACOGNIÇÃO E EDUCAÇÃO 109
Convidado: MARCUS MAIA

Políticas de linguagem, internacionalização e construção de


modelos plurilíngues nas universidades latinoamericanas

PRODUÇÃO, AVALIAÇÃO E CIRCULAÇÃO DO 112


CONHECIMENTO NA AMÉRICA LATINA: O PAPEL DA
INTERNACIONALIZAÇÃO E DAS LÍNGUAS
Convidada: KYRIA FINARDI

USO DAS LÍNGUAS E SISTEMAS DE AVALIAÇÃO NEOLIBERAL 113


NAS CIÊNCIAS E NO ENSINO SUPERIOR: TENDÊNCIAS
ATUAIS E ALTERNATIVAS PARA AMÉRICA LATINA
Convidado: RAINER ENRIQUE HAMEL

9
Práticas de escrita em meios digitais
PRÁTICA DE ESCRITA TELECOLABORATIVA: UM ESTUDO EM 115
PERSPECTIVA PROCESSUAL E MULTIMODAL
Convidada: SUZI MARQUES SPATTI CAVALARI
PRÁTICAS DIGITAIS DE ESCRITA NA ESCOLA: ESTRATÉGIAS 116
DE APROPRIAÇÃO E RESISTÊNCIA
Convidada: LUCIA TEIXEIRA

SIMPÓSIO DE CONVIDADOS

A DIMENSÃO EDITORIAL DAS PRÁTICAS LINGUÍSTICAS 118


JOSÉ DE SOUZA MUNIZ JR.
E LUCIANA SALAZAR SALGADO

A CITAÇÃO NA ESCRITA ACADÊMICO-CIENTÍFICA: EM 119


TORNO DOS MANUAIS DE REDAÇÃO CIENTÍFICA
Autoria: DANIELLA LOPES DIAS IGNÁCIO RODRIGUES

AS EDIÇÕES CLIMA: CONSIDERAÇÕES SOBRE FAZER LIVRO 120


EM NATAL-RN (1978-1997)
Autoria: CELLINA RODRIGUES MUNIZ

ASPECTOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO E RAREFAÇÃO DO 121


DISCURSO LITERÁRIO DE AUTORIA FEMININA NA ERA
VARGAS
Autoria: JÚLIA MARIA COSTA DE ALMEIDA

DA FORMALIZAÇÃO MATERIAL DO ENSINO DE PORTUGUÊS 122


LÍNGUA ESTRANGEIRA (PLE): UMA PROPOSTA DE
CATEGORIZAÇÃO EDITORIAL DE MATERIAIS DIDÁTICOS
Autoria: HELENA MARIA BOSCHI DA SILVA

EDIÇÃO NA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA: AS MANOBRAS DE 123


EDITORES E PARECERISTAS E OS REGIMES DE AUTORIA NA
AVALIAÇÃO DE ARTIGOS
Autoria: LETÍCIA MOREIRA CLARES

HIPERTEXTUALIDADE, AUTORIA E GÊNERO EM PRODUÇÕES 124


DIDÁTICAS
Autoria: JULIENE DA SILVA BARROS GOMES

10
“O E-BOOK DE ‘ENQUANTO EU NÃO TE ENCONTRO’ 125
ESGOTOU PORQUE A SEGUINTE COMPROU TODAS AS
UNIDADES”: UM CASO DE CIRCULAÇÃO E PARATOPIA
CRIADORA NA LITERATURA JUVENIL BRASILEIRA
Autoria: VITORIA FERREIRA DORETTO

O POLÍTICO NAS PRÁTICAS EDITORIAIS DE PERIÓDICOS 126


CIENTÍFICOS
Autoria: ALINE FERNANDES DE AZEVEDO BOCCHI
Coautoria: MARILURDES CRUZ BORGES

POLÍTICAS E PRÁTICAS DA COENUNCIAÇÃO EDITORIAL: 128


O DEBATE DE NORMAS NO TRABALHO LINGUÍSTICO
Autoria: LUCIANA SALAZAR SALGADO
Coautoria: JOSÉ DE SOUZA MUNIZ JÚNIOR

(RE)FAZER O LIVRO: A ANÁLISE DO DISCURSO NA BUSCA 129


POR PRÁTICAS DECOLONIAIS DE EDIÇÃO
Autoria: LUISA ARAUJO PEIXOTO

ESTUDOS FORMAIS EM SINTAXE, SEMÂNTICA E 131


PRAGMÁTICA
Autoria: MARCELO FERREIRA
E MARCOS GOLDNADEL

A AMBIGUIDADE DO NOME SINGULAR NU NO PORTUGUÊS 132


BRASILEIRO
Autoria: ANTONIO JOSÉ MARIA CODINA BOBIA

A PREDICAÇÃO SOBRE SITUAÇÕES EM SENTENÇAS PANQUECA 133


Autoria: LUANA DE CONTO

AS DIMENSÕES SEMÂNTICAS DA LOCUÇÃO 'PRA X' 134


Autoria: LUISANDRO MENDES DE SOUZA
Coautoria: RENATO MIGUEL BASSO

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO: SOBRE A ESTRUTURA E A 135


INTERPRETAÇÃO DOS INFINITIVOS DO PORTUGUÊS
Autoria: MAURÍCIO SARTORI RESENDE
Coautoria: ROBERTA PIRES DE OLIVEIRA

11
INTERAÇÃO E MULTIMODALIDADE NA DESCRIÇÃO DE 137
LÍNGUAS
Autoria: FLÁVIA BEZERRA DE MENEZES HIRATA-VALE
E RENATA ENGHELS

A ALTERNÂNCIA ENTRE INDICATIVO E SUBJUNTIVO NAS 138


ORAÇÕES CONCESSIVAS INTRODUZIDAS POR "AUNQUE" NO
ESPANHOL PENINSULAR FALADO
Autoria: BEATRIZ GOAVEIA GARCIA PARRA DE ARAUJO
Coautoria: SANDRA DENISE GASPARINI BASTOS

A CONSTRUÇÃO [VGERÚNDIO+QUE] NA REDE DOS 139


CONECTORES CONDICIONAIS
Autoria: CAMILA GABRIELE DA CRUZ CLEMENTE

AS MICROCONSTRUÇÕES [DEIXAR+VER] NA HISTÓRIA DO 140


PORTUGUÊS
Autoria: TAÍSA BARBOSA ROBUSTE
Coautoria: JOSÉ ROBERTO PREZOTTO JÚNIOR

CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS INSUBORDINADAS 141


ADVERSATIVAS NO PORTUGUÊS DO BRASIL: ASPECTOS
PROSÓDICOS
Autoria: CAMILA PIRES ALVES

CONSTRUÇÕES SEMI-INSUBORDINADAS NO PORTUGUÊS 142


BRASILEIRO: FORMAS E FUNÇÕES
Autoria: EDER CAVALCANTI COIMBRA
Coautoria: FLÁVIA BEZERRA DE MENEZES HIRATA-VALE

MARCADORES DE DISCULPA EN ESPAÑOL: UN ESTUDIO 144


SOCIOLINGÜÍSTICO
Autoria: MARLIES JANSEGERS
Coautoria: RENATA ENGHELS

ORAÇÕES COM ‘MAS’ E ‘EMBORA’ SOB A PERSPECTIVA DA 145


GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: TALITA STORTI GARCIA

12
"SE EU FOSSE VOSSEMECÊ...": UMA ANÁLISE DIACRÔNICA 146
DE CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS INSUBORDINADAS COM
A CONJUNÇÃO SE NO PORTUGUÊS
Autoria: MARIA CAROLINA CORADINI
Coautoria: FLÁVIA BEZERRA DE MENEZES HIRATA-VALE

UMA INVESTIGAÇÃO FUNCIONALISTA DA RELAÇÃO 148


RETÓRICA DE COMENTÁRIO NO PORTUGUÊS FALADO
Autoria: KÁTIA ROSEANE CORTEZ DOS SANTOS

“Y ME ENAMORÉ TÍA, ME ENAMORÉ QUE FLIPAS”. MONITORING 149


RECENT LINGUISTIC CHANGE IN SPANISH YOUTH LANGUAGE:
A COMPARATIVE STUDY ON THE PRODUCTIVITY OF
INTENSIFIERS AND VOCATIVES IN REAL TIME
Autoria: FIEN DE LATTE
Coautoria: LINDE ROELS

LÍNGUA DE SINAIS, GRAMÁTICA E BILINGUISMO DOS 151


SURDOS
Autoria: ADRIANA STELLA LESSA-DE-OLIVEIRA
E HELOISA MARIA MOREIRA SALLES

A CORRELAÇÃO TEMPORAL EM LIBRAS: UMA ANÁLISE 152


TIPOLÓGICO-FUNCIONAL
Autoria: JUAREZ DOMINGOS CRESCÊNCIO NETO
Coautoria: ANGELICA TEREZINHA CARMO RODRIGUES

A ORDEM DAS ORAÇÕES CONDICIONAIS NA LIBRAS: UMA 153


ANÁLISE BASEADA EM CÓRPUS
Autoria: FELIPE ALEIXO
Coautoria: ANGELICA TEREZINHA CARMO RODRIGUES

ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS: MAPEAMENTO E 154


ANÁLISE DE PRODUÇÕES ACADÊMICAS NO CATÁLOGO DE
TESES E DISSERTAÇÕES DA CAPES
Autoria: LUCINÉA DA SILVA SANTANA
Coautoria: ADRIANA STELLA CARDOSO LESSA-DE-OLIVEIRA

ESTRUTURAS COM VERBOS DE CONCORDÂNCIA EM LIBRAS 155


– UMA PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO
Autoria: ALINE CAMILLA ROMÃO MESQUITA

13
INSTRUMENTO DE TRANSCRIÇÃO DE DADOS DAS 156
DISSERTAÇÕES E TESES QUE ABORDAM LÍNGUA DE SINAIS:
UMA ANÁLISE SOBRE AS PESQUISAS BAIANAS
Autoria: EMMANUELLE FÉLIX DOS SANTOS
Coautoria: POLIANA DA SILVA LIMA ANDRADE
E ADRIANA STELLA C. LESSA-DE-OLIVEIRA

O ENSINO DE LÍNGUAS PARA E COM JOVENS, ADULTOS E 158


IDOSOS SURDOS: UM LEVANTAMENTO DE PESQUISAS SOBRE
EDUCAÇÃO BILÍNGUE – LIBRAS (L1) E PORTUGUÊS (L2)
Autoria: POLIANA DA SILVA LIMA ANDRADE
Coautoria: ADRIANA STELLA C. LESSA-DE-OLIVEIRA
E EMMANUELLE FÉLIX DOS SANTOS

SINTAGMAS LOCATIVOS NA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: 159


EFEITO DE MODALIDADE NA AQUISIÇÃO DE PORTUGUÊS
(L2) ESCRITO POR SURDOS
Autoria: SILVIA SARAIVA DE FRANÇA CALIXTO

TOPÔNIMOS EM LIBRAS: A QUESTÃO DA ICONICIDADE NA 160


FORMAÇÃO DA UNIDADE LEXICAL
Autoria: ALEXANDRE MELO DE SOUSA

LÍNGUAS INDÍGENAS EM UMA PERSPECTIVA PLURAL 162


Autoria: ANA VILACY GALÚCIO E LUCIANA STORTO

A CONDICIONALIDADE NAS LÍNGUAS INDÍGENAS 163


BRASILEIRAS: UMA ANÁLISE TIPOLÓGICA-FUNCIONAL
Autoria: FABIANA PIROTTA CAMARGO LOURENÇO

A CONSTITUIÇÃO DA LÍNGUA GERAL AMAZÔNICA 164


SEGUNDO A LINGUÍSTICA ECOLÓGICA DE MUFWENE
Autoria: THOMAS DANIEL FINBOW

A NATUREZA E DECLÍNIO DA LÍNGUA GERAL PAULISTA 165


COMO REFLEXO DE MUDANÇAS DEMOGRÁFICAS E
ECONÔMICAS NA CAPITANIA DE SÃO PAULO
Autoria: THOMAS DANIEL FINBOW

14
A ORDENAÇÃO DE MARCAS DE EVIDENCIALIDADE, 166
MODALIDADE E NEGAÇÃO EM LÍNGUAS NATIVAS DO BRASIL
Autoria: VÍTOR HENRIQUE SANTOS DA SILVA

ASPECTOS DA HISTÓRIA, GRAMÁTICA E ENSINO DA LÍNGUA 167


KHEUÓL DO UAÇÁ
Autoria: GLAUBER ROMLING DA SILVA
Coautoria: GELSAMA MARA FERREIRA DOS SANTOS

CORPUS DE NARRATIVAS KADIWÉU ANOTADO 168


GRAMATICALMENTE NA PLATAFORMA TYCHOBRAHE
Autoria: FILOMENA SANDALO

DICIONÁRIOS MULTÍMIDIA, PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO E 170


PRÁTICAS DE REVITALIZAÇÃO DE LÍNGUAS
Autoria: IVAN ROCHA DA SILVA
Coautoria: ANA VILACY GALÚCIO
E JOSHUA BIRCHALL

EVIDENCIAIS EM LÍNGUAS TUPI 171


Autoria: LUCIANA STORTO

EVIDÊNCIAS LINGUÍSTICAS DA ORIGEM DOS GUANÁ 172


(ARUÁK, ALTO PARAGUAI) NO NOROESTE DO CHACO
Autoria: FERNANDO ORPHÃO DE CARVALHO

LÍNGUAS-OUTREM: ETNOGRAFIA DA FALA E LINGUAGEM 173


RITUAL DOS HUPD’ÄH
Autoria: DANILO PAIVA RAMOS

MATERIAL CULTURAL, DIDÁTICO E LINGUÍSTICO DA LÍNGUA 174


KARITIANA
Autoria: ANA LÚCIA DE PAULA MÜLLER

METODOLOGIAS EXPERIMENTAIS DE PSICOLINGUÍSTICA 175


ADAPTADAS ÀS LÍNGUAS INDÍGENAS
Autoria: LUCIANA STORTO
Coautoria: KARIN CAMOLESE VIVANCO

15
LINGUÍSTICA COMPUTACIONAL 177
Autoria: LEONEL FIGUEIREDO DE ALENCAR E MARCOS LOPES

ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS E LEXICAIS NA DESCRIÇÃO 179


DE NOTÍCIAS SATÍRICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL
Autoria: GABRIELA WICK PEDRO

COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA INFERÊNCIA EM 180


LINGUAGEM NATURAL
Autoria: RODRIGO APARECIDO DA SILVA SOUZA

DETECÇÃO AUTOMÁTICA DE DISCURSO DE ÓDIO CONTRA 181


OS DIREITOS HUMANOS EM TEXTOS DE REDES SOCIAIS:
ANÁLISES INICIAIS
Autoria: BRUNO FERRARI GUIDE

UM MODELO DE CLASSIFICAÇÃO PARA O 182


RECONHECIMENTO DE ENTIDADES NOMEADAS
Autoria: ANDRESSA VIEIRA E SILVA

LINGUÍSTICA E ENSINO DE LÍNGUAS NÃO MATERNAS: 184


TEORIAS E PRÁTICAS NA CONTEMPORANEIDADE
Autoria: EDUARDO NEGUERUELA AZAROLA
E MONICA MAYRINK O' KUINGHTTONS

CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE PROFESSORES DE LE NA 185


AVALIAÇÃO DE LEITURA
Autoria: ALESSANDRA GOMES DA SILVA

ENSINO E APRENDIZAGEM DE ESPANHOL, INOVAÇÃO 186


TECNOLÓGICA E A TEORIA SOCIOCULTURAL EM DIÁLOGO:
UM OLHAR PARA AS PESQUISAS DA GRADUAÇÃO E PÓS-
GRADUAÇÃO DA USP
Autoria: MONICA FERREIRA MAYRINK O' KUINGHTTONS

HOOKS E FREIRE ENTRAM EM SALA, OU, POR UM ENSINO 187


DE LÍNGUA ESPANHOLA EM DIVERSIDADE E PARA A
DIVERSIDADE
Autoria: CAMILA DE LIMA GERVAZ

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM TIDC NA FORMAÇÃO PRÉ- 188


SERVIÇO DE PROFESSORES DE INGLÊS
Autoria: MARCUS DE SOUZA ARAÚJO

16
PRONOMES DE TRATAMENTO VOS, TÚ E USTED NA 189
COLÔMBIA: REFLEXÕES A PARTIR DE RELATOS DE UM
GRUPO DE PROFESSORES
Autoria: IZABEL DOS SANTOS CALIRI

MORFOLOGIA E ESTUDO DA PALAVRA 191


Autoria: ALINA VILLALVA E RAFAEL DIAS MINUSSI

A INTERFACE MORFOLOGIA-FONOLOGIA-PRAGMÁTICA NO 193


BLENDING
Autoria: CÉSAR ELIDIO MARANGONI JUNIOR

ALOMORFIA NA PLURALIZAÇÃO DO DITONGO NASAL DO 194


PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM ESTUDO EXPERIMENTAL
PRELIMINAR
Autoria: MIRIAM DA COSTA LEITE

ANÁLISE MORFOLÓGICA DE SINAIS DA LIBRAS QUE 195


NOMEIAM BAIRROS DE CURITIBA
Autoria: ANDRÉ NOGUEIRA XAVIER

AQUISIÇÃO DE MORFOLOGIA DE DIMINUTIVO NO 196


PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: MARCELA NUNES COSTA

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DE EMPRÉSTIMOS 197


LEXICAIS DO INGLÊS NO PORTUGUÊS
Autoria: MAGDA SALIN SOARES

CRIANÇAS NÃO APRENDEM PALAVRAS, MAS MORFEMAS 198


Autoria: RAFAEL LUIS BERALDO
Coautoria: PAULO ÂNGELO DE ARAÚJO ADRIANO

INTERPRETAÇÃO NÃO COMPOSICIONAL EM ALGUNS 199


NOMES DEVERBAIS NÃO AFIXAIS EM PORTUGUÊS
Autoria: ANA PAULA SCHER

POR QUE / EM QUE AS INTERJEIÇÕES SÃO DIFERENTES 200


Autoria: MAURÍCIO SARTORI RESENDE

17
QUESTÕES METODOLÓGICAS E RESULTADOS 202
PRELIMINARES DE UM PRÉ-TESTE DE ASSOCIAÇÃO DE
PALAVRAS EM VERBOS COM PREFIXOS
Autoria: INDAIÁ DE SANTANA BASSANI
Coautoria: ALINA VILLALVA E GISLENE DA SILVA

POLÍTICAS E DIREITOS LINGUÍSTICOS NO BRASIL: ONDE 204


ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS?
Autoria: CRISTINE GORSKI SEVERO
E FERNANDA DOS SANTOS CASTELANO RODRIGUES

A POLÍTICA LINGUÍSTICA BRASILEIRA PARA AS LÍNGUAS 205


ESTRANGEIRAS: UM OLHAR PARA O PASSADO, MIRANDO O
PRESENTE
Autoria: ELIAS RIBEIRO DA SILVA

DIREITO E ATIVISMO POLÍTICO LINGUÍSTICO: A QUESTÃO 206


DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NA LEGISLAÇÃO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA
Autoria: FERNANDA DOS SANTOS CASTELANO RODRIGUES
Coautoria: RICARDO NASCIMENTO ABREU

OBSERVATÓRIO DE DIREITO LINGUÍSTICO: UM ARQUIVO 207


JURÍDICO PARA O TRABALHO COM POLÍTICAS, DIREITOS E
DEVERES LINGUÍSTICOS NO BRASIL
Autoria: JAEL SÂNERA SIGALES GONÇALVES

POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E A QUESTÃO INDÍGENA: 208


DIÁLOGOS COM AS POLÍTICAS PÚBLICAS
Autoria: CRISTINE GORSKI SEVERO

QUAIS LETRAMENTOS NA VIDA PÓS-PANDEMIA? 210


Autoria: FABIANA CRISTINA KOMESU
E JULIANA ALVES ASSIS

A DISCURSIVIZAÇÃO DE PROFESSORES EM TEMPOS DE 212


TRABALHO REMOTO SARS-CoV-2
Autoria: RENATA MAIRA TONHÃO BOLSON

A TECNICIDADE DAS PRÁTICAS, A PRATICIDADE DAS 213


TÉCNICAS: ISSO BASTA NOS “NOVOS” LETRAMENTOS NO
REGIME LETIVO REMOTO?
Autoria: EV'ÂNGELA BATISTA RODRIGUES DE BARROS

18
CONCEPÇÃO(ÕES) DE SUJEITO(S) EM EVENTO DE 214
LETRAMENTO “AULA” EM CONTEXTO DE ENSINO REMOTO
Autoria: CARINA MACIEL DE OLIVEIRA SILVA

DISCURSOS SOBRE A PANDEMIA DA COVID 19 E SUAS 215


METÁFORAS DE GUERRA: A PROLIFERAÇÃO DE TEXTOS E
SENTIDOS
Autoria: JANE QUINTILIANO GUIMARÃES SILVA

ENUNCIAÇÃO E ESCRITA: UM PERCURSO DE REFLEXÃO 216


SOBRE A LINGUAGEM
Autoria: CRISTIAN HENRIQUE IMBRUNIZ
Coautoria: MANOEL LUIZ GONÇALVES CORRÊA

"EU NUNCA TINHA FEITO ISSO": LETRAMENTOS 218


DESENVOLVIDOS POR ALUNOS DE LETRAS - INGLÊS
DURANTE O ENSINO REMOTO
Autoria: QUEILA BARBOSA LOPES

LEITORES E LEITURAS EM TEMPOS DE PANDEMIA: DAS FAKE 219


NEWS ÀS AGÊNCIAS DE CHECAGEM
Autoria: LUIZ ANDRÉ NEVES DE BRITO

LETRAMENTOS E ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: O 220


ACESSO A TECNOLOGIAS DIGITAIS POR UNIVERSITÁRIOS NA
PANDEMIA DA COVID-19
Autoria: CÍCERO DA SILVA

LETRAMENTOS, LEITURA PROFUNDA E CULTURA DIGITAL: 221


NOVOS ENTRELAÇAMENTOS NA VIDA PÓS-PANDEMIA
Autoria: ÉRIKA DE MORAES

LETRAMENTOS MIDIÁTICOS E INFORMACIONAIS NO 222


ENFRENTAMENTO DA DESINFORMAÇÃO E DAS FAKE NEWS:
QUAIS COMPETÊNCIAS SÃO ESPERADAS DE ALUNOS DE
ENSINO MÉDIO?
Autoria: ANA CLÁUDIA BERTINI CIENCIA

O PAPEL DE MEMÓRIA DISCURSIVA EM MANCHETES QUE 223


DESMENTEM NOTÍCIAS SOBRE COVID-19
Autoria: GABRIEL GUIMARÃES ALEXANDRE

19
PERSPECTIVAS LETRADAS DOS ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO 225
BÁSICA EM TEMPOS DE DISTANCIAMENTO SOCIAL
Autoria: ADRIANA FISCHER
Coautoria: CAMILA GRIMES
E ROZANE FERMINO

QUEM TEM MEDO DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS: O PAPEL 227


DAS TEORIAS DO TEXTO E DO DISCURSO NA SOCIEDADE
BRASILEIRA HOJE
Autoria: JEAN CRISTTUS PORTELA
E LUZMARA CURCINO

A EXPLORAÇÃO DO TEXTUAL-DISCURSIVO COMO CAMINHO 229


DE PESQUISA
Autoria: JULIENE DA SILVA BARROS GOMES

A PRISÃO DE LULA E A NOVA CURITIBA: A LEITURA DE UM 230


ACONTECIMENTO DISCURSIVO
Autoria: STELLA MARIS RODRIGUES SIMÕES

A VERGONHA E O ORGULHO EM 'MEMES' SOBRE A LEITURA 231


Autoria: JENIFFER APARECIDA PEREIRA DA SILVA
Coautoria: LUZMARA CURCINO FERREIRA

DISCURSOS DA SENSIBILIDADE HUMANA AOS ANIMAIS 232


NO CÓDIGO MUNICIPAL DE PROTEÇÃO ANIMAL DE SÃO
CARLOS
Autoria: MANOEL SEBASTIÃO ALVES FILHO

DOIS POEMAS DE ROSEANE MURRAY NA PERSPECTIVA DO 233


GÊNERO EM SEMIÓTICA E DAS PRÁTICAS SEMIÓTICAS
Autoria: ANA CAROLINA DE PICOLI DE SOUZA CRUZ

INFODEMIA: A VULGARIZAÇÃO DO DISCURSO CIENTÍFICO 234


EM TEMPOS DE PÓS-VERDADE
Autoria: KARINA ROCHA CAMPOS

O SUJEITO DA INTERPRETAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE 235


DESINFORMAÇÃO: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO EM REDE
Autoria: PEDRO HENRIQUE VARONI DE CARVALHO

UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO QUE JOVENS ENUNCIAM 237


SOBRE A LEITURA E O ORGULHO DE SER LEITOR
Autoria: ANDREI CEZAR DA SILVA

20
SIMPÓSIOS PROPOSTOS

A PERFORMATIVIDADE DE MENTIRAS, INCERTEZAS, FICÇÕES 239


E SILÊNCIOS NA GESTÃO E NO DEBATE PÚBLICO
Autoria: SHEILA ELIAS DE OLIVEIRA

A CERTEZA, A PERFORMATIVIDADE E O AGENCIAMENTO 241


ENUNCIATIVO NO EMBATE POLÍTICO
Autoria: SOELI MARIA SCHREIBER DA SILVA
E CAROLINA DE PAULA MACHADO

A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO DE DEMOCRATIZAÇÃO DE 242


ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PELA DESIGNAÇÃO DE
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) NA LDB, NO PNE (2001-2010)
E NO DECRETO 5.800/2006
Autoria: VINÍCIUS MASSAD CASTRO

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA E QUEIMADAS NO 243


PANTANAL: CERTEZAS CONSTRUÍDAS PELO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA NA ASSEMBLEIA GERAL DA ONU
Autoria: HELTON MENÉZIO URTADO ROCHA

NO PODER, FALSAS CERTEZAS E ANGUSTIANTES INCERTEZAS 244


Autoria: SHEILA ELIAS DE OLIVEIRA

DESCRIÇÃO LINGUÍSTICA E GRAMÁTICA DISCURSIVO- 246


FUNCIONAL
Autoria: MICHEL GUSTAVO FONTES

A GRAMATICALIZAÇÃO DA PALAVRA TABU “CARALHO” NO 248


PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM ESTUDO SOB A PERSPECTIVA
DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: EDSON ROSA FRANCISCO DE SOUZA

CONSTRUÇÕES CONCESSIVAS ESCALARES 249


Autoria: MICHEL GUSTAVO FONTES

CONSTRUÇÕES FINAIS COM 'PARA' E 'A FIM DE': UMA 250


ABORDAGEM DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: FÁBIO DE LIMA

21
CONSTRUÇÕES PARENTÉTICAS ENCABEÇADAS POR 251
"COMO" NO PORTUGUÊS
Autoria: DIOGO OLIVEIRA DA SILVA
E JOCELI CATARINA STASSI SÉ

USOS EVIDENCIAIS E O PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO 252


DOS VERBOS “VER” E “OLHAR” NO PORTUGUÊS FALADO NO
INTERIOR PAULISTA
Autoria: LUA CAMILO NOGUEIRA

DISCURSO E MEMÓRIA: O INOMINÁVEL EM DISCURSO 254


Autoria: DANTIELLI ASSUMPÇÃO GARCIA

EFEITOS DA DITADURA BRASILEIRA EM DISCURSO 255


Autoria: LUCÍLIA MARIA ABRAHÃO E SOUSA

ENTRE A ESCRITA E A ESCRITURA: O MAL DE ARQUIVO 256


Autoria: AMANDA ELOINA SCHERER

LUTO, LINGUAGEM E ATO 256


Autoria: LAURO BALDINI

NOTAS SOBRE O MEDO 258


Autoria: FÁBIO RAMOS BARBOSA FILHO

O INOMINÁVEL DE UMA PANDEMIA: O TRAUMA DO SÉCULO? 259


Autoria: DANTIELLI ASSUMPÇÃO GARCIA

DISCURSO, MÍDIA E ENSINO NA PERSPECTIVA BAKHTINIANA 260


Autoria: MIRIAM BAUAB PUZZO

A BNCC COMO ARENA DE DISPUTAS: O QUE DIZEM OS 261


LINGUISTAS SOBRE O DOCUMENTO REGULADOR DA
EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA?
Autoria: CRISTIANE DOMINIQUI VIEIRA BURLAMAQUI

A CARACTERIZAÇÃO DAS FAKE NEWS ENQUANTO GÊNERO 262


DISCURSIVO: UMA ANÁLISE BAKHTINIANA
Autoria: RAPHAELA RAMOS GARCIA

22
ARTIGO DE OPINIÃO, POSICIONAMENTO VALORATIVO: UMA 263
PERSPECTIVA DIALÓGICA
Autoria: MIRIAM BAUAB PUZZO

UMA ANÁLISE DIALÓGICA DO DISCURSO DA ARTE EM 264


CHARGES FRENTE ÀS ARBITRARIEDADES NA ESFERA POLÍTICA
Autoria: THIAGO JORGE FERREIRA SANTOS

POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E ENSINO DE PRODUÇÃO ESCRITA: 265


A MUDANÇA DO DISCURSO
Autoria: MARIA INÊS BATISTA CAMPOS

DO SOCIAL AO POLÍTICO NA SEMIÓTICA LITERÁRIA 267


Autoria: ALEXANDRE MARCELO BUENO

DO SOCIAL AO POLÍTICO NA SEMIÓTICA LITERÁRIA 268


Autoria: ORIANA DE NADAI FULANETI

ENUNCIAÇÃO, ENUNCIADO E ACONTECIMENTOS EM “VIVA 269


EM MAPUTO”
Autoria: VERA LUCIA RODELLA ABRIATA

O DISCURSO POLÍTICO DE RESISTÊNCIA: ANÁLISE SEMIÓTICA 270


DA CRÔNICA "COMPANHEIRAS", DE ENEIDA DE MORAES
Autoria: RENATA GUIMARÃES CABRAL LIMA

O IMPACTO DO ACONTECIMENTO NO PERCURSO DOS ATORES 271


FEMININOS EM "SHIRLEY PAIXÃO", DE CONCEIÇÃO EVARISTO
Autoria: CAMILLA FERNANDES

SOBRE O RACISMO DIÁRIO E AS SUBVERSÕES INTERATIVAS 272


EM UM CONTO DE GEOVANI MARTINS
Autoria: ALEXANDRE MARCELO BUENO

EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: A CIÊNCIA 273


LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA
Autoria: DIRCEU CLEBER CONDE

A OLIMPÍADA DE LINGUÍSTICA COMO METODOLOGIA 274


CIENTÍFICA PARA A APRENDIZAGEM ESCOLAR
Autoria: EDUARDO CARDOSO MARTINS

23
EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA - A LÍNGUA INVENTADA COMO 275
MEIO DE CAPTAR INTUIÇÕES LINGUÍSTICAS
Autoria: JANE EDER GIRARDI E ISAAC SOUZA DE MIRANDA JUNIOR

EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: A CIÊNCIA 276


LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA
Autoria: DIRCEU CLEBER CONDE

ESTRUTURA E INTERPRETAÇÃO DE SITUAÇÕES-PROBLEMA: 277


UMA ANÁLISE PELO VIÉS DA SEMÂNTICA FORMAL
Autoria: TAINARA AGOSTINI E YAN MASETTO NICOLAI

POR UMA ANÁLISE SINTÁTICA “CRÍTICA” NA EDUCAÇÃO 278


BÁSICA
Autoria: AQUILES TESCARI NETO

ESTILÍSTICA EM ESTUDO: INTERSECÇÕES E DIÁLOGOS 280


Autoria: ANA ELVIRA LUCIANO GEBARA

AS FALAS FORA DO LUGAR E FORA DE SI EM POEMAS DE 281


FRANCISCO ALVIM
Autoria: HELBA CARVALHO

CRIAÇÕES LEXICAIS DE AUGUSTO DE CAMPOS: UMA 282


ABORDAGEM ESTILÍSTICO-DISCURSIVA
Autoria: ALESSANDRA FERREIRA IGNEZ

POR UMA ESTILÍSTICA DISCURSIVO-TEXTUAL 283


Autoria: GUARACIABA MICHELETTI

SEQUÊNCIA TEXTUAL E AUTORIDADE LÍRICA EM POEMAS 284


DE BANDEIRA E VINICIUS
Autoria: ANA ELVIRA LUCIANO GEBARA E MAGALÍ ELISABETE SPARANO

TRANSLATION MATTERS - COMPARANDO OBRAS LITERÁRIAS 284


ESCRITAS EM PORTUGUÊS A SUAS TRADUÇÕES EM LÍNGUA
INGLESA – UMA EXPERIÊNCIA ESTILÍSTICO-FUNCIONAL
Autoria: SANDRA REGINA FONSECA MOREIRA

24
ESTUDO E DIVULGAÇÃO DA TERMINOLOGIA DA COVID-19 287
Autoria: IEDA MARIA ALVES

A DIVULGAÇÃO DA TERMINOLOGIA DA COVID-19 PARA 288


DIFERENTES PÚBLICOS
Autoria: IEDA MARIA ALVES

AS METÁFORAS DA GUERRA DA TERMINOLOGIA DE 289


COVID-19 PROJETADAS EM CAMPOS SEMÂNTICOS DA
MEDICINA E DA ECONOMIA
Autoria: ELENICE ALVES DA COSTA

ESTUDO DAS RELAÇÕES SEMÂNTICAS OBSERVADAS EM UM 290


CORPUS RELATIVO À COVID-19
Autoria: MÁRCIA DE SOUZA LUZ FREITAS

GLOSSÁRIO DA COVID-19: COMPILAÇÃO DO CORPUS E 291


LEVANTAMENTO DOS TERMOS
Autoria: LUCIMARA ALVES DA CONCEIÇÃO COSTA
E BEATRIZ CURTI-CONTESSOTO

TERMINOLOGIA DA COVID-19 E OS MEMES DIGITAIS: 292


HUMOR E NEOLOGIA
Autoria: ANA MARIA RIBEIRO DE JESUS

ESTUDO E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA POR MEIO 294


DO ENTENDIMENTO DA LÍNGUA COMO UM SISTEMA
ADAPTATIVO COMPLEXO
Autoria: BEATRIZ QUIRINO ARRUDA DONÁ

A LINGUAGEM DO TEXTO CIENTÍFICO: UMA PROPOSTA DE 295


LEGIBILIDADE E DESIGN
Autoria: MARIA DOROTHEA CHAGAS CORREA

A MULTIMODALIDADE APROXIMA, ENVOLVE, CONVENCE, 296


ENSINA? O USO DE ATRATORES LINGUÍSTICOS PARA
DIFUSÃO DO CONHECIMENTO NOS TED TALKS
Autoria: FABIANA GIMENES MORAES
E ROSANA FERRARETO LOURENÇO RODRIGUES

25
ENSINO DE GRAMÁTICA E SISTEMAS COMPLEXOS: UMA 297
ABORDAGEM DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Autoria: BEATRIZ QUIRINO ARRUDA DONÁ
E ALINE PEREIRA DE SOUZA

HIPÁLAGE: UMA SEMÂNTICA DE TRANSPOSIÇÃO DE SENTIDO 298


Autoria: ANTÔNIO SUÁREZ ABREU

METÁFORA COMO RECURSO ARGUMENTATIVO EM REDAÇÕES 299


DE VESTIBULAR: UMA ANÁLISE COGNITIVO-DISCURSIVA
Autoria: ADRIANO CHAN E ALEXANDRE BUENO SANTA MARIA

ESTUDO SEMIÓTICO DAS PRÁTICAS DE EDIÇÃO: 301


PROBLEMAS DE TEXTO, SUPORTE, ENUNCIAÇÃO E AUTORIA
Autoria: MATHEUS NOGUEIRA SCHWARTZMANN

A CIRCULAÇÃO DA OBRA DE HILDA HILST: RELAÇÕES 302


ENTRE PRÁTICA DE EDIÇÃO E CÂNONE EM PERSPECTIVA
SEMIÓTICA
Autoria: GUSTAVO HENRIQUE RODRIGUES DE CASTRO

A PRÁTICA DE EDIÇÃO EM DA IMPERFEIÇÃO 303


Autoria: PATRICIA VERONICA MOREIRA

O EPITEXTO FOTOBIOGRÁFICO: AUTORIA, EDIÇÃO E O 304


SENTIDO DE OBRA
Autoria: MATHEUS NOGUEIRA SCHWARTZMANN

PRÁTICAS EDITORIAIS E DIDÁTICAS: A CONSTRUÇÃO DA 305


IDENTIDADE DO AUTOR EM UMA OBRA PARADIDÁTICA
Autoria: FLAVIA FURLAN GRANATO

REFLEXÕES SOBRE O ETHOS E AS PRÁTICAS DE EDIÇÃO 306


NUMA PERSPECTIVA SEMIÓTICA
Autoria: MARIANA LUZ PESSOA DE BARROS

ESTUDO SOBRE A NEOLOGIA EM DIFERENTES 308


MANIFESTAÇÕES DISCURSIVAS: DESCRIÇÃO E ENSINO
Autoria: ADERLANDE PEREIRA FERRAZ

A CARACTERIZAÇÃO NEOLÓGICA DE UNIDADES DO LÉXICO 310


Autoria: ADERLANDE PEREIRA FERRAZ

26
A FORMAÇÃO DE NEOLOGISMOS A PARTIR DE PALAVRAS 311
ESTRANGEIRAS: UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA
Autoria: MARIA AMORIM VIEIRA CASTRO

NEOLOGISMOS DO CAMPO SEMÂNTICO LGBTQ+ EM 312


TEXTOS PUBLICITÁRIOS DIGITAIS: DESCRIÇÃO E ANÁLISE
Autoria: VINICIUS SAEZ DE OLIVEIRA COELHO

OS NEOLOGISMOS SEMÂNTICOS EM SALA DE AULA: 313


RESSIGNIFICANDO PRÁTICAS ESCOLARES
Autoria: JULIANA CRISTINA RAMOS VAZ

PRODUTIVIDADE LEXICAL NO REINO DAS NOVAS PALAVRAS: 314


A LITERATURA PARA CRIANÇAS E JOVENS COMO
DISSEMINADORA DE NEOLOGISMOS NA SALA DE AULA
Autoria: SOLANGE MARIA MOREIRA DE CAMPOS

ESTUDOS EM PROSÓDIA DO PORTUGUÊS: REFLEXÕES 316


SOBRE A INTERFACE SINTAXE-FONOLOGIA
Autoria: FLAVIANE ROMANI FERNANDES SVARTMAN

EFEITOS DA EXTENSÃO E DA RAMIFICAÇÃO SINTÁTICA 317


PARA O ALONGAMENTO PRÉ-FRONTEIRA NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Autoria: TAINAN GARCIA CARVALHO E LUCIANI ESTER TENANI

FRASEAMENTO PROSÓDICO EM PORTUGUÊS BRASILEIRO: 318


UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS VARIEDADES DE RECIFE E
CURITIBA
Autoria: FLAVIANE ROMANI FERNANDES SVARTMAN

O EFEITO DE PISTAS PROSÓDICAS NO PROCESSAMENTO DE 319


FRASES: ANÁLISE DE DADOS DE RASTREAMENTO OCULAR
Autoria: ALINE ALVES FONSECA
E ANDRESSA CHRISTINE OLIVEIRA DA SILVA

ORAÇÕES DESGARRADAS: RELAÇÕES ENTRE ESTRUTURA 320


PROSÓDICA, FOCALIZAÇÃO E O USO DE PONTUAÇÃO NÃO
CONVENCIONAL
Autoria: ALINE PONCIANO DOS SANTOS SILVESTRE
E FERNANDO LIMA DA MOTA

27
PORTUGUÊS DE GUINÉ-BISSAU E PORTUGUÊS EUROPEU: 321
UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A PERCEPÇÃO DAS SUAS
DIFERENÇAS ENTOACIONAIS
Autoria: GABRIELA BRAGA DA SILVA
E FLAVIANE ROMANI FERNANDES SVARTMAN

ESTUDOS SOBRE A MUDANÇA LINGUÍSTICA EM 323


PERSPECTIVA CONSTRUCIONAL
Autoria: CIBELE NAIDHIG DE SOUZA

AS CONSTRUÇÕES AUXILIARES MODAIS 324


[V1+CONECTOR+V2INF] NO ESPANHOL PENINSULAR: UMA
PROPOSTA DE ANÁLISE SOB A ABORDAGEM CONSTRUCIONAL
Autoria: ANA LUIZA FERANCINI NOGUEIRA

GRADIÊNCIA CONTEXTUAL E MUDANÇA CONSTRUCIONAL 325


EM ADVÉRBIOS PREPOSICIONAIS
Autoria: MARCOS LUIZ WIEDEMER
E FÁBIO RODRIGO GOMES DA COSTA

MUDANÇAS CONSTRUCIONAIS NO CAMPO MODAL 326


Autoria: CIBELE NAIDHIG DE SOUZA

MULTIFUNCIONALIDADE VERBAL E CONSTRUÇÕES DE 327


ESTRUTURA ARGUMENTAL NO PORTUGUÊS
Autoria: ARIELLY FERREIRA BERLANDI
E SOLANGE DE CARVALHO FORTILLI

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA 329


NA MODALIDADE REMOTA: DESAFIOS, INOVAÇÕES E
CONTRIBUIÇÕES
Autoria: AMANDA POST DA SILVEIRA

A PRÁTICA PROFISSIONAL PEDAGÓGICA NO CURSO 330


DE LETRAS-INGLÊS: REFLEXÕES DE UMA INTERAÇÃO
INTERINSTITUCIONAL
Autoria: BHIANCA MORO PORTELLA
E ELAINE FERREIRA DO VALE BORGES

DO PRESENCIAL AO REMOTO: INOVAÇÕES POSITIVAS NO 331


ENSINO DE INGLÊS EM UM CURSO DE LETRAS
Autoria: RITA DE CÁSSIA BARBIRATO THOMAZ DE MORAES
E BHIANCA MORO PORTELLA

28
ENSINO SUPERIOR EM MODO REMOTO: CONSIDERAÇÕES 332
ACERCA DAS ADAPTAÇÕES EM PLANOS DE ENSINO DE
CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUA
ESTRANGEIRA
Autoria: CAMILA HÖFLING

O PAPEL RELEGADO DO ENSINO DE PRONÚNCIA DE INGLÊS 333


COMO LE: DIAGNÓSTICO E ENSINO-APRENDIZAGEM NO
MODO REMOTO
Autoria: AMANDA POST DA SILVEIRA

FRASEOLOGIA E TRADUÇÃO 335


Autoria: MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA

A TRADUÇÃO DAS PARÊMIAS EM UM DICIONÁRIO BILÍNGUE 337


DE PROVÉRBIOS BRASILEIROS
Autoria: JOSÉ ANTONIO SABIO PINILLA
E HELOISA DA CUNHA FONSECA

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS ZOONÍMICAS: 338


REPRESENTAÇÕES MENTAIS E TRADUÇÃO
Autoria: ELIZABETE APARECIDA MARQUES

FRASEOLOGIA(S) AERONÁUTICA(S) EM INGLÊS E 339


PORTUGUÊS: ANÁLISE À LUZ DA LINGUÍSTICA DE CORPUS
Autoria: PATRÍCIA TOSQUI LUCKS

PROPOSTA DE TÉCNICAS TRADUTOLÓGICAS NA TRADUÇÃO 340


DE PARÊMIAS LITERÁRIAS
Autoria: CLEUZA ANDREA GARCIA MUNIZ

UNIDADES FRASEOLÓGICAS RELACIONADAS A 341


GASTRONOMISMOS: ASPECTOS DA TRADUÇÃO DE LEXIAS
CULTURAIS
Autoria: MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA
E MARIELE SECO

INTERVENÇÃO NOS PROCESSOS DE LEITURA E ESCRITA DE 343


CRIANÇAS COM DIFICULDADES ESCOLARES
Autoria: ISABELLA DE CÁSSIA NETTO MOUTINHO

APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA: A DIFICULDADE É 345


DO ALUNO OU DA ESCOLA?
Autoria: LAURA MARIA MINGOTTI MULLER

29
O QUE FAZER COM DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA? 346
ANALISAR E INTERVIR
Autoria: MARIA IRMA HADLER COUDRY

PROBLEMATIZAÇÕES DAS INTERVENÇÕES DAS 347


NEUROCIÊNCIAS NA DIFICULDADES COM A ESCRITA
Autoria: ISABELLA DE CÁSSIA NETTO MOUTINHO

PSEUDOCIÊNCIA: ARGUMENTOS QUE NÃO SE SUSTENTAM 348


POR TRÁS DOS DIAGNÓSTICOS DE DISLEXIA
Autoria: PATRÍCIA APARECIDA DE AQUINO

LETRAMENTOS ACADÊMICOS E PÓS-GRADUAÇÃO: 350


SEGMENTOS EM PESQUISAS BRASILEIRAS
Autoria: FLÁVIA DANIELLE SORDI SILVA MIRANDA

COMPREENSÕES DE TRABALHOS NA PÓS-GRADUAÇÃO 352


COM BASE NO QUADRO DOS LETRAMENTOS ACADÊMICOS:
UMA VISADA SOBRE PESQUISAS BRASILEIRAS
Autoria: FLÁVIA DANIELLE SORDI SILVA MIRANDA

LETRAMENTOS ACADÊMICOS DE DOUTORANDOS: UMA 353


ANÁLISE DA MEDIAÇÃO ENTRE ORIENTANDO E ORIENTADOR
Autoria: LARISSA GIACOMETTI PARIS

POLÍTICAS INSTITUCIONAIS VOLTADAS ÀS PRÁTICAS DE 354


LETRAMENTO ACADÊMICO
Autoria: RAQUEL SALEK FIAD

PRÁTICAS DE LETRAMENTOS COM ESCRITA CIENTÍFICA NA 355


ÁREA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: UM OLHAR À AUTOCITAÇÃO
EM ARTIGOS DE UM PERIÓDICO DE ALTO IMPACTO
Autoria: MARIANA AP. VICENTINI
E ADRIANA FISCHER

TENSÕES ENTRE LEGITIMIDADE E AUTENTICIDADE NAS 356


PUBLICAÇÕES EM INGLÊS POR DOUTORANDAS BRASILEIRAS
Autoria: RÓMINA DE MELLO LARANJEIRA E LARISSA GIACOMETTI PARIS

30
LINGUAGEM NO ENVELHECIMENTO E NAS PATOLOGIAS: DA 358
ESCUTA AO POSICIONAMENTO ÉTICO-RESPONSÁVEL
Autoria: LARISSA PICINATO MAZUCHELLI

AGRAMATISMO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA 360


NEUROLINGUÍSTICA DISCURSIVA E DA GRAMÁTICA
FUNCIONAL DO DISCURSO
Autoria: ARNALDO RODRIGUES DE LIMA

FUNCIONAMENTO DO DISCURSO NA ESQUIZOFRENIA: 361


DESDOBRAMENTOS ENTRE NORMAL E PATOLÓGICO
Autoria: JOÃO PEDRO DE SOUZA GATI

INDÍCIOS DA REORGANIZAÇÃO LINGUÍSTICA DE UMA 362


JOVEM AFÁSICA: O CASO DE GB
Autoria: DIANA MICHAELA AMARAL BOCCATO
E ROSANA DO CARMO NOVAES PINTO

O CENTRO DE CONVIVÊNCIA DE AFÁSICOS: CAMINHOS DE 363


(TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE
Autoria: LARISSA PICINATO MAZUCHELLI

O FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM E A LINGUÍSTICA DA 365


ESCUTA: INFERÊNCIAS PARA UM POSICIONAMENTO ÉTICO
RESPONSÁVEL
Autoria: MARCUS VINICIUS BORGES OLIVEIRA
E LARISSA PICINATO MAZUCHELLI

LINGUÍSTICA POPULAR: TEORIAS, MÉTODOS E APLICAÇÕES 367


Autoria: MARCELO ROCHA BARROS GONÇALVES

A LINGUÍSTICA POPULAR E O TRABALHO LINGUÍSTICO- 368


DISCURSIVO DOS LUDOLINGUISTAS: BREVES
CONSIDERAÇÕES
Autoria: MARILENA SOUZA

IMAGENS DE UM AUTOR FOLK FORA DO TEMP(L)O: AMADEU 369


AMARAL NOS PREFÁCIOS D’O DIALETO CAIPIRA
Autoria: TAMIRES CRISTINA BONANI CONTI

LINGUAGEM NEUTRA: “SOBRE ESTE TEMA, OUÇAM OS 370


LINGUISTAS”
Autoria: MARCELO ROCHA BARROS GONÇALVES

31
O DICIONÁRIO CALDAS AULETE DIGITAL: UM PRODUTO FOLK? 371
Autoria: TEREZINHA FERREIRA DE ALMEIDA

RESSIGNIFICAÇÃO DISCURSIVA E LINGUÍSTICA POPULAR: 372


POSSÍVEIS DIÁLOGOS
Autoria: JULIA LOURENÇO COSTA

MULTIMODALIDADE NOS ESTUDOS DA INTERAÇÃO HUMANA 374


Autoria: FERNANDA MIRANDA DA CRUZ

A PERSPECTIVA DO SISTEMA DE REFERENCIAÇÃO 376


MULTIMODAL PARA A INTERAÇÃO NA SÍNDROME DE DOWN
Autoria: PAULO VINÍCIUS ÁVILA NÓBREGA

MULTIMODALIDADE EM CENAS DE ATENÇÃO CONJUNTA 377


COM CRIANÇA CEGA
Autoria: RENATA FONSECA LIMA DA FONTE

SALIÊNCIAS GESTUAIS E PROSÓDICAS COMO MATRIZ PARA 378


A ENTRADA DA CRIANÇA NA LÍNGUA(GEM)
Autoria: MARIANNE CARVALHO BEZERRA CAVALCANTE

TRANSCRIÇÃO E ANÁLISE DE INTERAÇÕES ENVOLVENDO 379


CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISMO
NÃO-VERBAIS
Autoria: FERNANDA MIRANDA DA CRUZ

O DIGITAL E A LINGUÍSTICA POPULAR 381


Autoria: LÍGIA MARA BOIN MENOSSI DE ARAUJO
Coautoria: LIVIA MARIA FALCONI PIRES

A “BATALHA” DOS SENTIDOS SOBRE LÍNGUA(GEM) À LUZ DA 382


LINGUÍSTICA POPULAR
Autoria: MARCO ANTONIO ALMEIDA RUIZ
E LÍGIA MARA BOIN MENOSSI DE ARAUJO

A LINGUÍSTICA POPULAR: UMA ANÁLISE DOS DIZERES DE 383


NÃO-LINGUISTAS MILITANTES
Autoria: LIVIA MARIA FALCONI PIRES

32
O PROCESSO DE (RES)SIGNIFICAÇÃO DE TERMOS 384
OPERANTES DE ESTIGMAS NA CANÇÃO "BIXA PRETA" –
UMA PROPOSTA DE NÃO-LINGUISTAS COM EFEITO NA
PRODUÇÃO DA LINGUA(GEM)
Autoria: DÉBORA HELEN DE OLIVEIRA
Coautoria: LIVIA MARIA FALCONI PIRES

PRÁTICAS META(TECNO)DISCURSIVAS POR NÃO 385


LINGUISTAS: A CONSTRUÇÃO DE GLOSSÁRIOS DIGITAIS DE
TERMOS NATIVOS DA WEB POR LINGUISTAS PROFANOS
Autoria: RENATA DE OLIVEIRA CARREON
E MARIANA MORALES DA SILVA

UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA LINGUÍSTICA FOLK NA REDE 386


SOCIAL LINKEDIN
Autoria: LÍGIA MARA BOIN MENOSSI DE ARAUJO

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO REMOTO NA LICENCIATURA 388


EM LETRAS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Autoria: JOCELI CATARINA STASSI SÉ

DEMANDAS E DESAFIOS ATUAIS PARA A FORMAÇÃO DE 390


PROFESSORES DE LÍNGUAS: POSSÍVEIS RELAÇÕES ENTRE
TEORIAS E PRÁTICAS NOS ESTÁGIOS ON-LINE
Autoria: ISADORA VALENCISE GREGOLIN
E CAROLINE CARNIELLI BIAZOLLI

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM LÍNGUA PORTUGUESA NO 391


IFPR: UMA EXPERIÊNCIA EXITOSA
Autoria: MARÍLIA CURADO VALSECHI

O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL NO ESTÁGIO OBRIGATÓRIO 392


EM LÍNGUA INGLESA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
Autoria: VANESSA HAGEMEYER BURGO

SABERES DOCENTES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE 393


LÍNGUA INGLESA: O ESTÁGIO SUPERVISIONADO REMOTO
Autoria: JOCELI CATARINA STASSI SÉ

33
O TRABALHO COM A LINGUAGEM NA EXTENSÃO 395
COMUNITÁRIA: ATIVIDADES CLÍNICAS E DE ENSINO,
FORMAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
Autoria: ROSANA DO CARMO NOVAES PINTO

A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E O TRABALHO DE LINGUAGEM 397


REALIZADO COM CRIANÇAS QUE APRESENTAM QUEIXAS
ESCOLARES
Autoria: ELAINE CRISTINA DE OLIVEIRA

AUTISMO E LINGUAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE 398


EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Autoria: MARCUS VINICIUS BORGES OLIVEIRA

O TRABALHO COM A LINGUAGEM NO ÂMBITO DA 399


EXTENSÃO COMUNITÁRIA: PROJETOS DESENVOLVIDOS NO
CENTRO DE CONVIVÊNCIA DE AFÁSICOS (CCA)
Autoria: ROSANA DO CARMO NOVAES PINTO

O TRABALHO COM A LINGUAGEM NO CONTEXTO DA 400


EDUCAÇÃO POPULAR EMANCIPATÓRIA
Autoria: DIANA MICHAELA AMARAL BOCCATO

O TRATAMENTO DAS ORAÇÕES COMPLEXAS NA 402


PERSPECTIVA CONSTRUCIONAL: ASPECTOS SINCRÔNICOS
E DIACRÔNICOS
Autoria: TAÍSA PERES DE OLIVEIRA

AS ORAÇÕES INTRODUZIDAS PELO CONECTOR CONDICIONAL 404


COMPLEXO "SOMENTE SE"
Autoria: DIOGO AYANO BRAGA DA SILVA

CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS COM 'CASO' NO 405


PORTUGUÊS: FREQUÊNCIA E PRODUTIVIDADE DIACRÔNICA
Autoria: CAMILA FERNANDES DA SILVA

ENTRE SUBORDINAÇÃO E AUXILIARIZAÇÃO: O ESTATUTO DAS 406


MICROCONSTRUÇÕES MANIPULATIVAS NO PORTUGUÊS
Autoria: JOSÉ ROBERTO PREZOTTO JÚNIOR

MODELOS DE REDE NO TRATAMENTO DOS CONECTORES 407


CONDICIONAIS
Autoria: TAÍSA PERES DE OLIVEIRA

34
MUDANÇA EM CONTEXTOS DE SUBORDINAÇÃO: HIPÓTESES 408
PREDITIVAS PARA A FORMAÇÃO DE CONSTRUÇÕES
PARENTÉTICAS
Autoria: SEBASTIÃO CARLOS LEITE GONÇALVES

PESQUISAS EM TELETANDEM COM DADOS DO MULTEC 410


(MULTIMODAL TELETANDEM CORPUS)
Autoria: SOLANGE ARANHA

A RELEVÂNCIA E A ABRANGÊNCIA DO MULTEC (MULTIMODAL 411


TELETANDEM CORPUS) PARA PESQUISAS EM TELETANDEM
Autoria: SOLANGE ARANHA
E LAURA RAMPAZZO

ANÁLISE LEXICAL EM SESSÕES DE TELETANDEM: 412


RECIPROCIDADE E O PARALELISMO
Autoria: RODRIGO ESTEVES DE LIMA LOPES
E SOLANGE ARANHA

“ESTAVA MUITO ANSIOSA E PREOCUPADA” EMOTIONAL 413


FACTORS IN LEARNING DIARIES AND IN TELETANDEM
LEARNING SCENARIOS
Autoria: PAOLA LEONE

GOALS SET BY LEARNERS IN TELETANDEM EXCHANGES: 414


ADVANCING THE DISCUSSION ON CONTEXT-SPECIFIC
FEATURES
Autoria: SUZI MARQUES SPATTI CAVALARI
E TIMOTHY LEWIS

MULTEC: COMO LIDAR COM 151 BYTES DE DADOS? 415


Autoria: QUEILA BARBOSA LOPES

POLÊMICA E PLURILINGUISMO EM DISCURSOS 417


CONTEMPORÂNEOS
Autoria: MARINA CÉLIA MENDONÇA

O OUTRO-PARA-MIM E O EU-PARA-O-OUTRO EM CARTAZES 419


DE PREVENÇÃO AO CORONAVÍRUS
Autoria: HELOISA MARA MENDES

35
POLÊMICAS EM TORNO DOS SIGNOS “EVIDÊNCIA CIENTÍFICA” 420
E “INCLUSÃO” – UMA ANÁLISE DE DISCURSOS DO MINISTÉRIO
DA EDUCAÇÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Autoria: MARINA CÉLIA MENDONÇA

PLURILINGUISMO E DIALOGISMO NOS COMENTÁRIOS DA 421


FUNKEIROS CULTS, DO INSTAGRAM
Autoria: ASSUNÇÃO CRISTOVÃO

ZÉ GOTINHA NA “BATALHA” ENTRE A SERINGA E O FUZIL: 422


ANÁLISE DIALÓGICA DO DISCURSO VERBO-VISUAL
Autoria: ANA LUCIA FURQUIM CAMPOS TOSCANO

POR UMA TERMINOLOGIA DIACRÔNICA: ENFOQUES 424


HISTÓRICOS DAS LINGUAGENS ESPECIALIZADAS
Autoria: MARIA JOSÉ BOCORNY FINATTO

AS PATENTES DA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA NO SÉCULO XIX: 426


UMA ABORDAGEM DA TERMINOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA
Autoria: LUIZ DJAVAN SILVA SANTOS
E SANDRO MARCÍO DRUMOND ALVES MARENGO

ESTUDO DIACRÔNICO DA OSCILAÇÃO ENTRE AS 427


TERMINAÇÕES -A E -O EM TERMOS DA BIOLOGIA
Autoria: RUNO OLIVEIRA MARONEZE

TERMINOLOGIA DA MEDICINA LEGAL OITOCENTISTA: 428


O CASO DOS EXAMES DE CORPO DE DELITO DE
DEFLORAMENTO EM SERGIPE
Autoria: SORAYA CARVALHO SOUZA BILLER TEIXEIRA

TERMINOLOGIA DIACRÔNICA DE PRÁTICAS DE VIOLÊNCIA 429


SEXUAL CONTRA MULHERES NO SÉCULO XIX
Autoria: SANDRO MARCÍO DRUMOND ALVES MARENGO

SABERES MÉDICOS EM PORTUGUÊS NO SÉCULO 18: ENTRE 430


CIRURGIÕES E MÉDICOS
Autoria: MARIA JOSÉ BOCORNY FINATTO
E LIANA BRAGA PARAGUASSU

36
PRÁTICAS DE LEITURA NA ESCOLA: CONTRIBUIÇÕES DA 432
SEMIÓTICA DISCURSIVA
Autoria: ELIANE SOARES DE LIMA

LETRAMENTO CRÍTICO: O QUE É E COMO SE DESENVOLVE 434


Autoria: ELIANE SOARES DE LIMA

PRÁTICAS DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS: ENTRE A 435


BNCC E O YOUTUBE
Autoria: SILVIA MARIA DE SOUSA

PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS DE LEITURA E ENSINO 436


Autoria: REGINA SOUZA GOMES

PRÁTICAS ENUNCIATIVAS NA ERA DA PLATAFORMIZAÇÃO DA 437


EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DOS LETRAMENTOS TRANSMÍDIA
Autoria: NAIÁ SADI CÂMARA

UMA ANÁLISE SEMIÓTICA SOBRE A CONCEPÇÃO DE 438


LEITURA NO SAEB 2017
Autoria: ANA CAROLINA DE PICOLI DE SOUZA CRUZ

QUE HUMOR É ESSE? A PANDEMIA SOB O OLHAR DISCURSIVO 440


Autoria: SIRIO POSSENTI

APESAR DA PANDEMIA, A CONDENSAÇÃO 442


Autoria: SIRIO POSSENTI

CLOROQUINA OU TUBAÍNA? PIADAS PRESIDENCIAIS SOBRE 443


A PANDEMIA
Autoria: ANA CRISTINA CARMELINO

HUMOR COLETIVO: TIRAS MONOTEMÁTICAS EM TEMPOS DE 444


PANDEMIA
Autoria: PAULO RAMOS

HUMOR NUMA HORA DESSAS? A PANDEMIA E A ECONOMIA 445


CONTADAS EM MEMES
Autoria: MÁRCIO ANTÔNIO GATTI

2022 VEM AÍ... QUAL A GRAÇA? 446


Autoria: CELLINA RODRIGUES MUNIZ

37
REFLEXÕES BAKHTINIANAS CONTEMPORÂNEAS: LEITURAS 448
TEÓRICO-ANALÍTICAS PLURAIS
Autoria: LUCIANE DE PAULA

A PANDEMIA NO BRASIL: ATOS DE DIZER E FAZER DO 450


GOVERNO FEDERAL
Autoria: LUCIANE DE PAULA E RAFAEL JUNIOR DE OLIVEIRA

A POLÊMICA COMO CONTRADISCURSO EM ENUNCIADOS 451


RELIGIOSOS: UMA LEITURA BAKHTINIANA
Autoria: PEDRO FARIAS FRANCELINO
E WILDER KLEBER FERNANDES DE SANTANA

O SER-MÃE EM ERA UMA VEZ: ANÁLISE DIALÓGICA DA 452


BRANCA DE NEVE E DA RAINHA MÁ
Autoria: ANA BEATRIZ MAIA BARISSA

SOLLERTÍNSKI E A FILOSOFIA BAKHTINIANA DA 453


LINGUAGEM: UMA LEITURA INTRODUTÓRIA CONTRIBUTIVA
Autoria: JOSÉ ANTONIO RODRIGUES LUCIANO

REFLEXÕES FILOSÓFICO-LINGUÍSTICAS E LITERÁRIAS EM 455


TORNO DA OBRA DO CÍRCULO DE BAKHTIN
Autoria: ANA ZANDWAIS

CONFLITOS NA BASE: A BNCC E SUAS CONTRADIÇÕES SOB 457


O OLHAR BAKHTINIANO
Autoria: LUCIANO NOVAES VIDON

LITERATURA E ENSINO – UMA ABORDAGEM BAKHTINIANA 458


Autoria: SANDRA MARA MORAES LIMA

POR UMA CONCEPÇÃO DE GÊNERO DISCURSIVO: O 459


FUNCIONAMENTO DO SKAZ
Autoria: ANA ZANDWAIS

SOBRE AFETOS, VALORES E SENTIDOS NA TEORIA DIALÓGICA 459


Autoria: DORIS DE ARRUDA CARNEIRO DA CUNHA

38
SEMIÓTICA DISCURSIVA E ENSINO: DA FORMAÇÃO DO 461
DOCENTE-SEMIOTICISTA ÀS ORIENTAÇÕES OFICIAIS NA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Autoria: THIAGO MOREIRA CORREA

DO LETRAMENTO DA LETRA AOS NOVOS E MULTILETRAMENTOS: 463


A BNCC SOB O PRISMA DA SEMIÓTICA TENSIVA
Autoria: SONIA MERITH CLARAS

FORMAÇÃO DO SEMIOTICISTA EM SÃO PAULO: PROPOSTA 464


DE ABORDAGEM
Autoria: THIAGO MOREIRA CORREA

PRÁTICAS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA SEMIÓTICA NA 465


GRADUAÇÃO EM LETRAS DE UNIVERSIDADES DO INTERIOR
PAULISTA
Autoria: FLAVIA KARLA RIBEIRO SANTOS

PRÁTICAS E CAMPOS DE ATUAÇÃO: O DIÁLOGO ENTRE 466


SEMIÓTICA E ENSINO
Autoria: RENATA CRISTINA DUARTE

USO DIDÁTICO DE UM SOFTWARE LIVRE NO ENSINO DE 467


SEMIÓTICA: O DADOSSEMIOTICA
Autoria: ANA CRISTINA FRICKE MATTE

SUBENTENDIDOS QUE POVOAM O UNIVERSO 469


DIDÁTICO-PEDAGÓGICO DO PROFESSOR NA/DA
INTERNACIONALIZAÇÃO
Autoria: ELIZABETH PAZELLO

CONCEPÇÕES DOCENTES SOBRE A EDUCAÇÃO 471


LINGUÍSTICA INTERCULTURAL EM LÍNGUA INGLESA NO
CONTEXTO DA INTERNACIONALIZAÇÃO
Autoria: MARCELE GARBIN DAGIOS

CONTRIBUIÇÕES À EPISTEME DO PROFESSOR NA/DA 472


INTERNACIONALIZAÇÃO DOMÉSTICA NA UTFPR-CT NOS
EIXOS LINGUÍSTICO E DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Autoria: ELIZABETH PAZELLO

39
O PAPEL DA PRONÚNCIA NO ENSINO-APRENDIZAGEM DO 473
INGLÊS SOB A PERSPECTIVA DE LÍNGUA INTERNACIONAL:
REFLEXÕES E DESAFIOS NA FORMAÇÃO DOCENTE
Autoria: DENISE CRISTINA KLUGE

PROFESSORES E APRENDIZES DE LÍNGUA INGLESA: 474


CONSTRUINDO IDENTIDADES EM CONJUNTO DENTRO DA
INTERNACIONALIZAÇÃO
Autoria: IARA MARIA BRUZ

UNIVERSIDADE E SOCIEDADE: O PAPEL SOCIAL DAS AÇÕES 476


DE EXTENSÃO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS EM TEMPOS DE
PANDEMIA
Autoria: VIVIANE CRISTINA GARCIA DE STEFANI

CONTRIBUIÇÕES DO IDIOMAS SEM FRONTEIRAS PARA OS 478


CURSOS DE LETRAS: DEMANDAS E DESAFIOS ATUAIS PARA
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS
Autoria: ISADORA VALENCISE GREGOLIN

DIFUSÃO DO ENSINO DE PORTUGUÊS LÍNGUA 479


ESTRANGEIRA E PORTUGUÊS LÍNGUA DE ACOLHIMENTO
COMO AÇÃO EXTENSIONISTA
Autoria: NILDICÉIA APARECIDA ROCHA

DIVERSIDADE CULTURAL DA LÍNGUA ESPANHOLA EM 480


AÇÕES DE EXTENSÃO NA PANDEMIA: EXPERIÊNCIAS COM
ATIVIDADES REMOTAS
Autoria: VIVIANE CRISTINA GARCIA DE STEFANI

RECEPÇÃO DE EVENTO EXTENSIONISTA ON-LINE: “CINEMA 481


IBERO-AMERICANO: DIÁLOGOS E REFLEXÕES EM TEMPOS
DE PANDEMIA”
Autoria: VALERIA VERONICA QUIROGA

Comunicação Oral
ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO E LINGUÍSTICA TEXTUAL 484
TIPOS DE ENTIDADES SEMÂNTICAS DOS TÓPICOS 484
DISCURSIVOS EM NARRATIVAS DE EXPERIÊNCIA,
DESCRIÇÕES E RELATOS DE OPINIÃO
Autoria: ALINE GOMES GARCIA

40
O ENTORNO DO TEXTO EM “OS SANTOS”: UM CASO DE 485
PARATEXTOS EM TIRAS DIGITAIS
Autoria: ELISA RIBEIRO DA SILVA

RETENÇÃO E TOMADA DE TURNO: ESTRATÉGIAS DE 486


IMPOLIDEZ E VIOLÊNCIA VERBAL NAS ENTREVISTAS
POLÍTICAS
Autoria: GABRIELA VIVIANA BARRUECO VALENZUELA

O PAPEL DO CONECTOR "ALIÁS" NA CONSTRUÇÃO DE 487


IMAGENS IDENTITÁRIAS
Autoria: GUSTAVO XIMENES CUNHA

REXTEXTUALIZAÇÃO E MULTIMODALIDADE: APLICATIVOS 488


DE MENSAGEM INSTANTÂNEA E EDIÇÃO GRÁFICA EM UMA
SEQUÊNCIA DIDÁTICA MULTIDISCIPLINAR
Autoria: HÉLIO RODRIGUES JÚNIOR
Coautoria: HÉLIO DA GUIA JR.

A ORGANIZAÇÃO TÓPICA EM CARTAS DE REDATOR 490


OITOCENTISTAS
Autoria: ISA CAROLINE AGUIAR ZANIN

REDES DE TEXTOS: UM OLHAR TEÓRICO-METODOLÓGICO 491


SOBRE CADEIAS DE GÊNERO
Autoria: SERGIO MIKIO KOBAYASHI

FUNÇÕES DOS MARCADORES DISCURSIVOS NA LÍNGUA 492


BRASILEIRA DE SINAIS
Autoria: SHEYLA CRISTINA ARAUJO MATOSO SILVA
Coautoria: VANESSA HAGEMEYER BURGO

A ORALIDADE E A ESCRITA COMO TEMA DO CONTO 493


“VESTIDA DE PRETO”, DE MÁRIO DE ANDRADE
Autoria: SUSIE MIDORI DOS SANTOS SATO SANTANA

METADISCURSO E COMENTÁRIO METADISCURSIVO: 494


DEFINIÇÕES E COMPLEXIDADE
Autoria: PALOMA BERNARDINO BRAGA

41
Análise do Discurso 496
COMO O FUNCIONAMENTO DA AUTORIA PRODUZ EFEITOS 496
E RESSIGNIFICAÇÃO DE SENTIDOS, NA MATERIALIDADE
DO DISCURSO BÍBLICO PRESENTE NAS VERSÕES DO
EVANGELHO DE MATEUS E LUCAS, POR MEIO DA
RELAÇÃO LINGUAGEM E IDEOLOGIA, CONSIDERANDO
HISTORICAMENTE O POLÍTICO E O SOCIAL?
Autoria: ALINE ELOISA DA SILVA

"HARRY POTTER" E NÓ “RAÇA-GÊNERO-CLASSE”: UMA 497


ANÁLISE BAKHTINIANA DAS MARCAS DA DIFERENÇA NO
MUNDO MÁGICO
Autoria: ANA CAROLINA SIANI LOPES

A ARGUMENTAÇÃO POLÊMICA EM COMENTÁRIOS DO 498


INSTAGRAM: DA VIOLÊNCIA VERBAL À CONSTRUÇÃO DO ETHOS
Autoria: ANA PAULA CORDEIRO LACERDA FRANCO
Coautoria: JAIRO VENÍCIO CARVALHAIS

UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE DITOS E ESCRITOS DE/SOBRE 499


PEDRO CASALDÁLIGA
Autoria: ANDRÉIA CRISTINA ANDRÉ SOARES MELO

O QUE É UM CORPO CAPA DE REVISTA? ANÁLISE DE 500


DISCURSO CRÍTICA DE UMA CAPA DA REVISTA GALILEU
Autoria: ANNA BEATRIZ MORMETTO ALVARENGA
Coautoria: KARLA MARIANA SOUZA E SANTOS

MEMES SOBRE O USO DE CLOROQUINA NO CONTEXTO 502


DA PANDEMIA DE COVID-19: MEMÓRIA, INTERDISCURSO E
LIQUIDEZ DISCURSIVA
Autoria: ANNA FLORA BRUNELLI

VIVAS NOS QUEREMOS! OS DISCURSOS DE MULHERES EM 503


SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA QUE FORAM EM
BUSCA DE AJUDA
Autoria: BIANCA DAMACENA

PRÉ-DISCURSO E FACEBOOK: ENTRE O BATE-BOCA E A 504


COGNIÇÃO DISTRIBUÍDA
Autoria: BRENO RAFAEL MARTINS PARREIRA RODRIGUES REZENDE

42
O NASCIMENTO DO GLOTOTARIADO 505
Autoria: DANIEL PERICO GRACIANO

PROCESSOS DE SIGNIFICAÇÃO NAS POLÍTICAS SOCIAIS: 506


UMA DISCUSSÃO SOBRE FAMÍLIA E VULNERABILIDADE NO
ÂMBITO DO PAIF
Autoria: DANIEL SILVA LÉLIS
Coautoria: ALINE FERNANDES DE AZEVEDO BOCCHI

“PROFESSOR É AGRO”: INTERDISCURSOS E FORMAÇÕES 508


DISCURSIVAS CAPITALISTAS ACERCA DA PROFISSÃO DE
EDUCADOR NO SÉCULO XXI
Autoria: DANILO VIZIBELI
Coautoria: MICHELLE APARECIDA PEREIRA LOPES

A VOZ DO POVO NA IMPRENSA PAULISTA: UMA ANÁLISE 509


DE DISCURSOS SOBRE DESEMPENHOS ORATÓRIOS DAS
CLASSES POPULARES EM A PLEBE, O CORREIO PAULISTANO
E O CORREIO DE SÃO CARLOS
Autoria: EVANDRO JOSÉ PASCHOALINO

SOBRE ESCOLHAS DIFÍCEIS: UMA ANÁLISE DIALÓGICA DA 510


POLÍTICA BRASILEIRA EM EDITORIAIS
Autoria: FÁBIO AUGUSTO ALVES DE OLIVEIRA

A FORMULAÇÃO “INDÚSTRIA DA MODA” E A CONSTRUÇÃO 511


DO DISCURSO SOBRE MODA SUSTENTÁVEL
Autoria: GABRIELA ANDRADE DE OLIVEIRA

ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS DAS CRISTÃS NOVAS DIANTE 512


DA MESA DA INQUISIÇÃO NA AMÉRICA PORTUGUESA:
AS CONFISSÕES DO LIVRO DAS RECONCILIAÇÕES E
CONFISSÕES (1591-1592)
Autoria: GABRIELE FRANCO

CORPO LGBTQIA+, CIBERCULTURA E PROCESSOS 513


DE SUBJETIVAÇÃO: MOVIMENTO CARTOGRÁFICO
POR MATERIALIDADES IMAGÉTICAS NAS MARGENS
HETEROTÓPICAS DE UMA PÁGINA DO FACEBOOK
Autoria: GILSON COSTA DA SILVA

PUBLICIDADE, SILENCIAMENTO E MEMÓRIA: O NEGRO NOS 515


ANÚNCIOS DOS ANOS 1970 NA REVISTA VEJA
Autoria: ISABEL CRISTIANE JERONIMO

43
ETHOS, INTERAÇÃO E DISCURSO: UMA ANÁLISE DA 516
ORGANIZAÇÃO ENUNCIATIVA EM EDITORIAIS DE REVISTAS
BRASILEIRAS
Autoria: JAIRO VENÍCIO CARVALHAIS OLIVEIRA

A ILUSTRAÇÃO EM ADAPTAÇÕES DO QUIXOTE E AS 517


REPRESENTAÇÕES DO PÚBLICO LEITOR INFANTIL
Autoria: JÉSSICA DE OLIVEIRA

"PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO" 1 E 2 : IMAGINÁRIOS DE 518


(TRANS)BRASILIDADE EM DOIS LIVROS DE PORTUGUÊS
PARA ESTRANGEIROS
Autoria: JORCEMARA MATOS CARDOSO

ESPAÇO ASSOCIADO E ESPAÇO CANÔNICO NA EMPRESA 519


TAG – EXPERIÊNCIAS LITERÁRIAS
Autoria: JÚLIA MARTINS FERREIRA

PADRÕES DISCURSIVOS NA DIALÉTICA ENTRE OS LIVROS 521


DE DEFESA DOS EUA E DA CHINA À LUZ DA SEMÂNTICA-
LEXICAL E DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
Autoria: KARINA COELHO PIRES
Coautoria: RAFAELA ARAÚJO JORDÃO RIGAUD PEIXOTO

UMA PERSPECTIVA SISTÊMICO-FUNCIONAL SOBRE A 522


MULTIMODALIDADE VEICULADA NA WEB: UMA LEITURA DO
DISCURSO PUBLICITÁRIO
Autoria: KARLA MARIANA SOUZA E SANTOS
Coautoria: ANNA BEATRIZ MORMETTO ALVARENGA

A ESCRITORA FAVELADA: UMA REFLEXÃO SOBRE A 523


CONSTITUIÇÃO DO NOME DE AUTOR DE CAROLINA MARIA
DE JESUS
Autoria: LAURA JULIANI MOLLO

OS DISCURSOS CONSERVADOR E LIBERAL NA ENTREVISTA 524


DE BOLSONARO AO RODA VIVA
Autoria: MAIT PAREDES ANTUNES

O DISCURSO RACISTA E ELITISTA COMO JUSTIFICATIVA 525


PARA A IMPUNIDADE
Autoria: MARA RUBIA NEVES COSTA FANTI

44
O SIGNO IDEOLÓGICO E O EMBATE DE VOZES SOCIAIS NA 527
ARENA ESCOLAR
Autoria: MARCELO DA SILVA JUSTINIANO

ACONTECIMENTO E MEMÓRIA EM TEMPOS DE PANDEMIA: 528


RESISTÊNCIA E(M) ARTE NO/PELO DIGITAL
Autoria: MARCO ANTONIO ALMEIDA RUIZ

CORPOS VIOLENTADOS, VOZES SILENCIADAS: A VIOLÊNCIA 529


CONTRA A MULHER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Autoria: MARESSA GARCIA URBANO

O MILITANTISMO DO MOVIMENTO SECUNDARISTA: 530


DISCURSOS SUBVERSIVOS ATRAVESSADOS PELO DIGITAL
Autoria: MARIANA MORALES DA SILVA

DAS ORIENTAÇÕES RETÓRICAS AO ENSINO DO 531


PLANEJAMENTO DA ARGUMENTAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
EM PROSA MODERNA
Autoria: MATEUS RODRIGUES DE MOURA

O FIO DA HISTÓRIA: MEMÓRIAS DISCURSIVAS E 532


REPRESENTAÇÕES HISTÓRICAS NA LITERATURA ANGOLANA
Autoria: MICHELINE TACIA DE BRITO PADOVANI

A CULTURA DO CANCELAMENTO NO DISPOSITIVO 534


MIDIÁTICO: SUBJETIVIDADE E PRÁTICA DE SI
Autoria: MICHELLE APARECIDA PEREIRA LOPES
Coautoria: DANILO VIZIBELI

DA LEITURA À ESCRITA: NOTAS SOBRE OS CADERNOS DE 535


NOTAS DE RUI BARBOSA E FLORESTAN FERNANDES
Autoria: PÂMELA DA SILVA ROSIN

OS ESTUDOS DISCURSIVOS FOUCAULTIANOS NA ANÁLISE 536


DO CINEMA SOBRE A DITADURA CIVIL-MILITAR NO
BRASIL (1979 – 2018): UM OLHAR PARA AS FORMAS DE
RESISTÊNCIAS
Autoria: RAFAEL MARCURIO DA COL

45
REPRESENTAÇÕES DE EVANGÉLICOS NO DISCURSO 537
HUMORÍSTICO: ASPECTOS FÍSICOS E MORAIS
Autoria: RAFAEL PREARO LIMA

A MASCULINIDADE DE BOLSONARO: MODELO DE 538


CONCEPTUALIZAÇÃO, PRÉ-DISCURSOS E CENOGRAFIA
Autoria: RAFAELA RAMOS DA SILVA NEVES

LIVES PRESIDENCIAIS COMO FONTE DE INFORMAÇÃO PARA 539


O POVO: NOTAS SOBRE O DISCURSO POLÍTICO DIGITAL
Autoria: RENATA DE OLIVEIRA CARREON

“RECEBA A DELICADEZA”: ANÁLISE DIALÓGICA DE UM 540


ENUNCIADO DE POETRY SLAM
Autoria: SIMONY ALVES DE OLIVEIRA

Aquisição de Linguagem 542


AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM: O ENVELOPE MULTIMODAL EM 542
UMA CRIANÇA AUTISTA
Autoria: ÁDELLY KALYNE DA SILVA OLIVEIRA
Coautoria: RENATA FONSECA LIMA DA FONTE

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DE 543


LINGUAGEM DE CRIANÇAS QUE (AINDA) NÃO FALAM
Autoria: ANA PAULA MARCELINO RAMOS
Coautoria: IRANI RODRIGUES MALDONADE

O FUNCIONAMENTO DO CLÍTICO EM TEXTOS INFANTIS DOS 544


ANOS INICIAIS
Autoria: ANA PAULA NOBRE DA CUNHA

AQUISIÇÃO DAS SUBUNIDADES DA PALAVRA: RAIZ E RADICAL 545


Autoria: CAMILA ROSSETTI VIEIRA

AQUISIÇÃO DA CONCORDÂNCIA VARIÁVEL NO PB: 546


REFLEXÕES SOBRE UMA ABORDAGEM FORMAL A PARTIR DE
DADOS EXPERIMENTAIS DA PRODUÇÃO INFANTIL
Autoria: CRISTINA AZALIM
Coautoria: MERCEDES MARCILESE
E PAULA ROBERTA GABBAI ARMELIN

46
A ESTRUTURA DO SINTAGMA DETERMINANTE NA 548
AQUISIÇÃO DE PORTUGUÊS (ESCRITO) COMO SEGUNDA
LÍNGUA POR SURDOS
Autoria: HELOISA MARIA MOREIRA LIMA SALLES
Coautoria: FANI COSTA DE ABREU

MERLEAU-PONTY E CHOMSKY ACERCA DA AQUISIÇÃO 549


DE LINGUAGEM: A LINGUAGEM ENTRE A LINGUÍSTICA E A
FILOSOFIA OU FILOSOFIA DA LINGUÍSTICA?
Autoria: HERMITO LEITE DE CARVALHO FILHO
Coautoria: RONALD TAVEIRA DA CRUZ

CARACTERÍSTICAS FONÉTICO-FONOLÓGICAS DA FALA E 550


CARACTERÍSTICAS ORTOGRÁFICAS DA ESCRITA EM CRIANÇAS
COM ALTERAÇÃO FONOLÓGICA: HÁ CORRELAÇÃO?
Autoria: JHULYA GUILHERME
Coautoria: LOURENÇO CHACON JURADO FILHO

A CONSOANTE /R/ NA AQUISIÇÃO DO FRANCÊS E DO 552


PORTUGUÊS BRASILEIRO: LÍNGUA MATERNA (L1) E LÍNGUA
ESTRANGEIRA (L2)
Autoria: JULIANA BARBOSA

A DIMENSÃO GESTUAL EM NARRATIVAS IRÔNICAS INFANTIS 553


Autoria: KÉSIA VANESSA NASCIMENTO DA SILVA
Coautoria: RENATA FONSECA LIMA DA FONTE

RELAÇÕES LINGUÍSTICO-DISCURSIVAS NA ESCRITA INFANTIL: 554


JUNÇÃO, AQUISIÇÃO E TRADIÇÃO ARGUMENTATIVA
Autoria: LÚCIA REGIANE LOPES-DAMASIO

AQUISIÇÃO DE VERBOS EXISTENCIAIS NA LÍNGUA INGLESA 555


POR CRIANÇAS BRASILEIRAS EM CONTEXTOS BILÍNGUES
Autoria: MARINA IZAR VERNIANO

DISTRIBUIÇÃO DAS TRANSPOSIÇÕES ORTOGRÁFICAS 556


NA ESCRITA DE CRIANÇAS NO CICLO I DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Autoria: MIRIAN VERZA AMARANTE
Coautoria: LOURENÇO CHACON JURADO FILHO

47
A HIERARQUIA DOS SINTAGMAS DE PERFECT UNIVERSAL, 558
EXPERIENCIAL E DE RESULTADO: EVIDÊNCIAS DE DADOS DE
AQUISIÇÃO DO INGLÊS AMERICANO
Autoria: NAYANA PIRES DA SILVA RODRIGUES
Coautoria: ADRIANA LEITÃO MARTINS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SEXO E GÊNERO NA 559


EXPRESSÃO DE PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL EM TEXTOS
DO ENSINO FUNDAMENTAL II
Autoria: ROBERTA PEREIRA FIEL

Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua 561


O ENSINO DE PLE NA ARGENTINA E A POLÍTICA DE 561
LÍNGUAS: DISCURSOS PRESENTES EM NORMATIVAS
OFICIAIS ARGENTINAS
Autoria: CAMILA RIBEIRO CORRÊA DE MORAES
Coautoria: LUIZ ANDRÉ NEVES DE BRITO

TELECOLABORAÇÃO E PANDEMIA: VIABILIZANDO A 562


INTERAÇÃO EM MOMENTO DE DISTANCIAMENTO SOCIAL
Autoria: DANIELA NOGUEIRA DE MORAES GARCIA

"NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA" TELA: RETRATOS DAS 563


AULAS DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO ON-LINE
Autoria: DIEGO MORENO REDONDO

A INFLUÊNCIA DAS CRENÇAS E DO LIVRO DIDÁTICO 564


PARA A AQUISIÇÃO DA AUTONOMIA DOS ALUNOS NA
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO MÉDIO
Autoria: FRANCINE MARTINS MOLINARI
Coautoria: DIRCE CHARARA MONTEIRO

A PRESENÇA DA CIDADANIA INTERCULTURAL NA 565


CONSTRUÇÃO DO CIDADÃO GLOBAL PARTICIPATIVO CISVIANO
Autoria: GABRIELA VIANNA MELLO

COMO OS JOGOS DIGITAIS PODEM AUXILIAR NO ENSINO- 567


APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA EM TEMPOS DE
PANDEMIA?
Autoria: LAURA DE ALMEIDA

48
SABERES DOCENTES E DESAFIOS NO ENSINO DE 568
PORTUGUÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA: REFLEXÕES SOBRE A
PRÁTICA PEDAGÓGICA NA PERSPECTIVA DE PROFESSORES
EM FORMAÇÃO
Autoria: MARINA AYUMI IZAKI GÓMEZ

MAPEAMENTO DE PUBLICAÇÕES EM PORTUGUÊS COMO 569


LÍNGUA ADICIONAL NAS REVISTAS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
(1978-2020) E REVISTA DO GEL (2002-2020): PRESENÇA,
CONTEXTOS E TEMAS
Autoria: MATHEUS GRANATO

METODOLOGÍAS ACTIVAS PARA PROMOVER LA 570


LITERACIDAD CRÍTICA EN LAS CLASES DE ESPAÑOL COMO
LENGUA EXTRANJERA
Autoria: MICAELA TOURNÉ ECHENIQUE
Coautoria: TIAGO RODRIGUES SBARAI

O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES COMUNICATIVAS 572


EM LÍNGUA INGLESA - O ENSINO DO IDIOMA NOS CURSOS
INTEGRADOS AO ENSINO MÉDIO DO CTISM
Autoria: MILENE VÂNIA KLOSS

MULTILETRAMENTOS DIGITAIS EM TELETANDEM: ESTUDO 573


DO USO DAS FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO SÍNCRONA
Autoria: PRISCILLA DE SOUZA FERRO

Ensino-aprendizagem de língua materna 575


AVALIAÇÃO E ENSINO DE GRAMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR 575
Autoria: CLARICE DE MATOS OLIVEIRA
Coautoria: MARTA CRISTINA DA SILVA

PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO E A FORMAÇÃO DO 576


PROFESSOR: UMA ABORDAGEM INTERACIONISTA
SOCIODISCURSIVA
Autoria: CLAUDIA RODRIGUES

O ESTUDO DA ESTRUTURA COMPOSICIONAL DA CRÔNICA 577


E A PERCEPÇÃO DA POSSIBILIDADE DE CRUZAMENTO
SEQUENCIAL A SERVIÇO DA CONSTITUIÇÃO DA DIMENSÃO
ARGUMENTATIVA DO TEXTO: PONTO DE PARTIDA PARA O
ENSINO DA ESCRITA
Autoria: DÉBORA MATOS ALAUK
Coautoria: TATIANA DA CONCEIÇÃO GONÇALVES

49
O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEXICAL A PARTIR 578
DA REESCRITA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
DA PRODUÇÃO DE TEXTO: ANÁFORAS NOMINAIS
Autoria: FERNANDA JÚNIA APARECIDA TEIXEIRA DA CONCEIÇÃO

A CONCEPÇÃO DIALÓGICA DA LINGUAGEM E O ENSINO DE 579


LÍNGUA PORTUGUESA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO FILME
KUNG FU PANDA
Autoria: JESSICA DUARTE DE SOUZA
Coautoria: CAMILA DE ARAÚJO BERALDO LUDOVICE

O TEMPO E ASPECTO EM TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS: UMA 581


PERSPECTIVA DE ENSINO DE LÍNGUA MATERNA NO VIÉS
ENUNCIATIVO
Autoria: LIDIANY PEREIRA DOS SANTOS
Coautoria: MARLENE APARECIDA VISCARDI MANTOVANI

O LETRAMENTO DIGITAL NA BNCC: PRESSUPOSIÇÕES 582


SOBRE O USO DAS TDIC PELOS PROFESSORES DE LÍNGUA
PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Autoria: MARCELO CRISTIANO ACRI
Coautoria: ELIANA MARIA SEVERINO DONAIO RUIZ

MODULAÇÕES ENUNCIATIVAS NO EXERCÍCIO DA 583


PRODUÇÃO TEXTUAL
Autoria: MARILIA BLUNDI ONOFRE
Coautoria: CÁSSIA REGINA COUTINHO SOSSOLOTE

SEQUÊNCIA DIDÁTICA NO ENSINO SUPERIOR: 585


CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA DE ESCRITA DO GÊNERO
CRÔNICA ARGUMENTATIVA
Autoria: MARTA APARECIDA BROIETTI HENRIQUE

O ESTUDO DA CARTA ARGUMENTATIVA: PERSPECTIVAS 586


PARA A LEITURA E ESCRITA ARGUMENTATIVAS
Autoria: TATIANA DA CONCEIÇÃO GONÇALVES
Coautoria: MÔNICA DO SOCORRO DE JESUS CHUCRE

LEITURA LITERÁRIA NO CURRÍCULO DO ENSINO 587


FUNDAMENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO: PRINCÍPIOS
TEÓRICOS E MATERIALIZAÇÃO DIDÁTICA
Autoria: TELMA APARECIDA LUCIANO ALVES

50
Filologia 589
PASCOAL E SEU AMULETO MÁGICO? A FILOLOGIA A 589
SERVIÇO DA HISTÓRIA SOCIAL E DO DISCURSO
Autoria: HELENA DE OLIVEIRA BELLEZA NEGRO
Coautoria: NATHALIA REIS FERNANDES

O “A” PROTÉTICO EM VERBOS NA DIACRONIA DO 590


PORTUGUÊS: ESTUDO DE CASOS
Autoria: MARCELO MÓDOLO
Coautoria: ANTONIO CARLOS SILVA DE CARVALHO

Filosofia da Linguagem 592


A REPRESENTAÇÃO DA MULHER E DO FEMINISMO EM AS 592
SUFRAGISTAS SOB UMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA
Autoria: CAROLINA GOMES SANTANA

O CONSERVADORISMO REFLETIDO E REFRATADO NA VIDA 593


E DA ARTE: UMA ANÁLISE BAKHTIANA SOBRE A EDUCAÇÃO
EM HARRY POTTER
Autoria: GIOVANA CRISTINA DE MOURA

"O QUE FAZ OS SERES HUMANOS ÚNICOS?" COMENTÁRIO 594


CRÍTICO
Autoria: JOANA FRANCO

“PANDEMINIONS”: ANÁLISE DIALÓGICA DOS “(BOLSO)MINIONS” 595


NA PANDEMIA DA COVID-19
Autoria: LUCIANE DE PAULA
Coautoria: NATASHA RIBEIRO DE OLIVEIRA

O ENCONTRO ENTRE O AUTORITARISMO E OS DISCURSOS 596


DE LIBERTAÇÃO EM DOCUMENTÁRIOS BIOGRÁFICOS SOBRE
MERCEDES SOSA
Autoria: NATHAN BASTOS DE SOUZA

Fonética e Fonologia 598


ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS NA CARACTERIZAÇÃO 598
DAS SEGMENTAÇÕES NÃO CONVENCIONAIS DE PALAVRA
Autoria: ANA CAROLINA TEODORO BORSATO

51
A PROSÓDIA COMO ELEMENTO FORMADOR DA 599
PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA
Autoria: CHEILA APARECIDA BRAGADIN
Coautoria: ROSICLEIDE RODRIGUES GARCIA

ALINHAMENTO FONÉTICO AUTOMÁTICO A PARTIR DE 600


MODELOS OCULTOS DE MARKOV PARA PESQUISA EM
FONÉTICA DE CORPUS
Autoria: GUSTAVO DE CAMPOS PINHEIRO DA SILVEIRA

VÍRGULAS EM ESQUEMA DUPLO, ESTRUTURAS ADVERBIAIS 601


E ARGUMENTAÇÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DE TEXTOS
ESCOLARES
Autoria: ISADORA ALBANESE CAMILLO

ASSIMETRIAS POSICIONAIS EM RESOLUÇÃO DE HIATOS NO 603


PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: LUCAS PEREIRA EBERLE

A NÃO REALIZAÇÃO DA AFRICAÇÃO DO /T/ E /D/ ANTES DE 604


/I/ OU [?] NA REGIÃO DE JUNDIAÍ E LOUVEIRA - SÃO PAULO
Autoria: MARIA DE LURDES ZANOLI
Coautoria: MÁRCIA SANTOS DUARTE DE OLIVEIRA E DALVA DEL VIGNA

INTERAÇÃO ENTRE FATORES SINTÁTICOS E FONOLÓGICOS NOS 605


USOS DE VÍRGULA EM ESQUEMA DUPLO EM TEXTOS DO EFII
Autoria: NAYRA CRISTINA PAIVA

Formação de professores 607


PROPÓSITO DE VIDA E FORMAÇÃO DOCENTE: 607
CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARTICULAÇÃO
ENTRE LOGOTERAPIA E A EDUCAÇÃO PARA UMA
CONTEMPORANEIDADE PÓS-PANDÊMICA
Autoria: IVANI CRISTINA BRITO FERNANDES

CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS SOBRE O 608


PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS
Autoria: KARIN ADRIANE HENSCHEL POBBE RAMOS
Coautoria: KELLY CRISTIANE HENSCHEL POBBE DE CARVALHO

52
TELETANDEM E CAPITAL CULTURAL NA FORMAÇÃO DE 609
PROFESSORES DE LÍNGUAS
Autoria: ROZANA APARECIDA LOPES MESSIAS
Coautoria: MAISA DE ALCÂNTARA ZAKIR

Gramática funcional 611


OS SENTIDOS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICOS VEICULADOS 611
PELOS SUBESQUEMAS INTENSIFICADORES [PODRE DE [X]] E
[MORTO DE [X]]
Autoria: ANA LIGIA SCALDELAI SALLES

UMA ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE AUN SI NOS SÉCULOS XIII, 612


XIV E XV À LUZ DA GDF
Autoria: BÁRBARA RIBEIRO FANTE

ORAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LOCUÇÃO COMOQUIERA QUE 613


SOB A PERSPECTIVA DA GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: CAMILA RODRIGUES DE AMORIM

AS ORAÇÕES COM ‘PERO’ NO ESPANHOL PENINSULAR 614


FALADO SOB PERSPECTIVA DA GRAMÁTICA DISCURSIVO-
FUNCIONAL
Autoria: CAROLINA DA COSTA PEDRO

COORDENAÇÃO DE HOLÓFRASES POR MEIO DE "MAS" 616


NAS VARIEDADES PORTUGUESAS SOB A PERSPECTIVA
DA GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL: CONCESSÃO E
CONTRASTE COM SUBSTITUIÇÃO
Autoria: GABRIEL HENRIQUE GALVÃO PASSETTI
Coautoria: EROTILDE GORETI PEZATTI

O APROXIMATIVO UN POCO SOB A PERSPECTIVA 617


DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: HELEN MARTINS RODRIGUES

A ORDENAÇÃO DE CONSTITUINTES NÃO HIERÁRQUICOS NO 618


ESPANHOL PENINSULAR FALADO: CONSIDERAÇÕES SOB
PERSPECTIVA DA GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: LETÍCIA PEREIRA FERRI
Coautoria: TALITA STORTI GARCIA

53
COORDENAÇÃO ADITIVA NÃO ORACIONAL NO PORTUGUÊS 620
Autoria: LISÂNGELA APARECIDA GUIRALDELLI
Coautoria: VÍTOR HENRIQUE SANTOS DA SILVA

FUNÇÕES DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO: GRAMÁTICA E ESTILO 621


Autoria: LOU-ANN KLEPPA

ANÁLISE CONSTRUCIONAL DE "VAI QUE" COMO 622


MARCADOR DISCURSIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: MELISSA HENRIQUE DE SOUZA

UM ESTUDO DIACRÔNICO DA DESCONTINUIDADE DO 623


SINTAGMA NOMINAL
Autoria: NATHALIA PEREIRA DE SOUZA MARTINS

A RELAÇÃO ADITIVA COMO COORDENAÇÃO E EXPANSÃO 624


Autoria: ROBERTO GOMES CAMACHO
Coautoria: MONIELLY CRISTINA SAVERIO SERAFIM

A COORDENAÇÃO ORACIONAL ALTERNATIVA NO 626


PORTUGUÊS FALADO SOB O APARATO TEÓRICO DA
GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: SANDRA DENISE GASPARINI BASTOS
Coautoria: NATHALIA PEREIRA DE SOUZA MARTINS
E BEATRIZ GOAVEIA GARCIA PARRA DE ARAUJO

A GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO COREANO ‘HADA’ EM 627


SUFIXO VERBALIZADOR
Autoria: SILVIO DOMINGUES DOS SANTOS

Gramática gerativa 629


CONSTRUÇÕES SINTÁTICAS INOVADORAS NO PORTUGUÊS 629
DIALETAL DO BRASIL CENTRAL (PBC): DOUBLE OBJECT
CONSTRUCTION (DOC) E REDOBRO DE CLÍTICO
Autoria: MANOEL BOMFIM PEREIRA

Historiografia linguística 631


PANORAMAS EDITORIAIS DO CURSO DE LINGUÍSTICA 631
GERAL: A (IN)UTILIDADE E O (DES)APARECIMENTO DE UMA
QUESTÃO SAUSSURIANA
Autoria: ALLANA CRISTINA MOREIRA

54
PRISCIANO E A GRAMÁTICA ESPECULATIVA EM PORTUGAL 632
Autoria: ALESSANDRO JOCELITO BECCARI

O CONCEITO DE GRAMÁTICA NA TRADIÇÃO GRECO- 633


ROMANA À LUZ DA HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA
Autoria: CARLOS RENATO ROSARIO DE JESUS

A ARTE DA LÍNGUA BRASÍLICA DO JESUÍTA LUÍS FIGUEIRA, 634


NOS QUATROCENTOS ANOS DE SUA PUBLICAÇÃO (1621-2021)
Autoria: EDUARDO DE ALMEIDA NAVARRO

A INVENÇÃO DO LINGUISTA: SAUSSURE ENTRE OS 635


MANUSCRITOS E O CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL
Autoria: ELIANE SILVEIRA

ENSINO DE LINGUÍSTICA NO BRASIL (1960-2010): UMA 636


HISTORIOGRAFIA DO ENSINO A PARTIR DOS PROGRAMAS
DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADES FEDERAIS
Autoria: ENIO SUGIYAMA JUNIOR

ESTUDO HISTORIOGRÁFICO SOBRE A INFLUÊNCIA DE 638


VLADIMIR PROPP E CLAUDE LÉVI-STRAUSS: A RELAÇÃO DA
PREDOMINÂNCIA DO TEXTO LITERÁRIO NA SEMIÓTICA DA
ESCOLA DE PARIS
Autoria: EUZENIR FRANCISCA DA SILVA

O CONCEITO DE FACULDADE DA LINGUAGEM EM SAUSSURE: 639


UM ESTUDO CONCEITUAL-TERMINOLÓGICO A PARTIR DO
TROISIÈME COURS DE LINGUISTIQUE GÉNÉRALE (1910-1911)
Autoria: JOMSON TEIXEIRA DA SILVA FILHO

O CONCEITO DE FALA NO MANUSCRITO ESSÊNCIA DUPLA 640


DA LINGUAGEM E NO CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL: UM
ESTUDO COMPARATIVO
Autoria: MARIANE SILVA E LIMA GIEMBINSKY

SAUSSURE FRENTE A SEUS CONTEMPORÂNEOS: UMA 641


ANÁLISE DAS QUESTÕES RELATIVAS AO SENTIDO NO
MANUSCRITO ESSÊNCIA DUPLA DA LINGUAGEM
Autoria: MAURÍCIO MARQUES SORTICA

REFLEXÕES LINGUÍSTICAS SOBRE O METATERMO LUSOFONIA 642


Autoria: RICARDO FRANCISCO NOGUEIRA VILARINHO

55
PROPOSTAS DE CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS 643
GERMÂNICAS ANTIGAS NO LIMIAR DA
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LINGUÍSTICA NO SÉCULO XIX
Autoria: ROGERIO FERREIRA DA NOBREGA

OS CONCEITOS DE FALA E DISCURSO NAS ELABORAÇÕES 645


DE FERDINAND DE SAUSSURE
Autoria: STEFANIA MONTES HENRIQUES

ESSAI, MÉMOIRE E PHONÉTIQUE: UM CAMINHO PARA A 646


DEFINIÇÃO DE LÍNGUA?
THAYANNE RAÍSA SILVA E LIMA

AMADEU AMARAL E O DIALETO CAIPIRA: CONTRIBUIÇÕES 647


AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS NO BRASIL
Autoria: THIAGO ZILIO PASSERINI

ANÁLISE DE MATERIAIS PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS 648


PARA SURDOS NO BRASIL NO SÉCULO XX
Autoria: VANESSA GOMES TEIXEIRA ANACHORETA

Letramento(s) 650
PRÁTICAS DE LETRAMENTO ACADÊMICO: IMAGINÁRIOS 650
SOBRE A ESCRITA DE PROFESSORES DE LÍNGUA
PORTUGUESA EM FORMAÇÃO
Autoria: ALINE SUELEN SANTOS
Coautoria: GABRIELA MARIA DE OLIVEIRA CODINHOTO

LETRAMENTO ACADÊMICO: VIVÊNCIAS E PERCEPÇÕES DE 651


ESTUDANTES DE UM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO
Autoria: ANA LUZIA VIDEIRA PARISOTTO
Coautoria: JULIANA APARECIDA DE SOUZA GUINE BONFIM

A ESCRITA DE CRÔNICAS PARA DIVULGAÇÃO EM RÁDIO: 652


UMA PROPOSTA DE ESTÍMULO À PRODUÇÃO TEXTUAL
Autoria: ANTONIETA APARECIDA LIMA CIARA

PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA 653


COM AUTOBIOGRAFIAS NO ENSINO FUNDAMENTAL II
Autoria: CARLA DO CARMO PINTO

56
A AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES SOCIAIS DOS TEXTOS NAS 654
QUESTÕES DO ENEM DE 2010 A 2019
Autoria: CLARICE DE MATOS OLIVEIRA

LETRAMENTO ESCOLAR NO ENSINO REMOTO E SUA FACETA 656


SOCIOFAMILIAR
Autoria: DIEGO SATYRO

FAKE NEWS E PANDEMIA: O IMPACTO DA DESINFORMAÇÃO 657


E A URGÊNCIA DE NOVOS LETRAMENTOS
Autoria: ELAINE PEREIRA ANDREATTA

PRÁTICAS DE LETRAMENTO PEDAGÓGICO NA 658


LICENCIATURA EM LETRAS ESPANHOL
Autoria: ELÍRIA QUARESMA FUGAZZA

MULTILETRAMENTOS E LETRAMENTO DIGITAL: DESAFIOS 659


PARA A FORMAÇÃO DOCENTE
Autoria: FERNANDA ANDRADE DO NASCIMENTO ALVES

LEITURA LITERÁRIA NO ENSINO SUPERIOR 661


Autoria: JAQUELINE CARVALHO SILVA
Coautoria: KELLY CRISTIANE HENSCHEL POBBE DE CARVALHO

“COMO CONTESTAR UM AUTOR, SE ACABEI DE CHEGAR 662


NA UNIVERSIDADE”: INVESTIGANDO AS ESTRATÉGIAS DE
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS APROPRIADAS POR
ALUNOS INGRESSANTES NA UNIVERSIDADE EM UM CURSO
DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Autoria: JOÃO BENEILSON MAIA GATINHO

LETRAMENTOS ACADÊMICOS EM ARTIGOS CIENTÍFICOS EM 663


CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E EM LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES:
A QUESTÃO DA AUTOCITAÇÃO
Autoria: JULIANA RENATA PEREIRA DA COSTA
Coautoria: ANA PAULA GARCIA GAZARIAN

RECURSOS INTERATIVOS E INTERACIONAIS EM RELAÇÃO À 664


COMUNIDADE CIENTÍFICA NO FINAL DO SÉCULO XIX: NINA
RODRIGUES E "A LOUCURA EPIDÊMICA DE CANUDOS"
Autoria: KAUÊ UEMATSU DE OLIVEIRA

57
CARACTERÍSTICAS DA ORTOGRAFIA DE FONEMAS 665
FRICATIVOS NO ENSINO FUNDAMENTAL
Autoria: LARISSA APARECIDA PASCHOAL

AUTOCITAÇÃO EM ARTIGOS CIENTÍFICOS EM CIÊNCIAS 667


HUMANAS E CIÊNCIAS EXATAS
Autoria: LARISSA SOUZA DA SILVA
Coautoria: CARLA JEANNY FUSCA
E FABIANA CRISTINA KOMESU

LETRAMENTO ACADÊMICO COMO PRÁTICA SOCIAL: A 668


LEITURA E A ESCRITA NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DO
CURSO DE LINGUÍSTICA
Autoria: LETÍCIA SILVEIRA

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE SURDOS: 669


MAPEAMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES DE PESQUISAS
Autoria: MARCELA GOMES BARBOSA
Coautoria: WANILDA MARIA ALVES CAVALCANTI E WILMA PASTOR DE
ANDRADE SOUSA

LITERACIA FAMILIAR: EQUÍVOCOS DO PROGRAMA CONTA 670


PRA MIM
Autoria: MARIANE MENDES GOIS DOS SANTOS
Coautoria: FILOMENA ELAINE PAIVA ASSOLINI

A ESCRITA CONSTITUTIVAMENTE HETEROGÊNEA: UMA 672


ANÁLISE DA JUNÇÃO EM TRADIÇÕES DISCURSIVAS
NARRATIVA E ARGUMENTATIVA
Autoria: MATEUS DIAS SANTANA

LETRAMENTOS E MULTILETRAMENTOS NAS METODOLOGIAS 673


ATIVAS: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS RESPONSIVAS
Autoria: MEIRIELE DA SILVA RODRIGUES ROCHA
Coautoria: MARILURDES CRUZ BORGES

ESCOLHAS LEXICAIS POR ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA: 674


AS VOZES ESTRUTURADAS NA SOCIEDADE
Autoria: RAIMUNDA PEREIRA DA SILVA BALIZA

PERCEPÇÕES DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS ACERCA 675


DAS PRÁTICAS DE LEITURA DE SEUS ESTUDANTES
Autoria: ROSANA MARA KOERNER

58
Lexicologia e Lexicografia 677
OS PRINCIPAIS PROCESSOS DE CRIAÇÃO DE NEOLOGISMOS 677
APÓS UM ANO DE PANDEMIA
Autoria: ANA MARIA RIBEIRO DE JESUS

NEOLOGISMOS SEMÂNTICOS EM TEXTOS DE YOUTUBERS: 678


UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA PEDAGÓGICA
Autoria: ARIANE CAVALCANTI AMORA

UM ESTUDO SOBRE COMPETÊNCIA LEXICAL PELA 679


PERSPECTIVA DAS PESQUISAS BRASILEIRAS
Autoria: CASSIANO BUTTI
Coautoria: LÚCIA HELENA FERREIRA LOPES
E ADRIANA MENEZES FELISBINO

MARCAS DE USO DIASTRÁTICAS NOS DICIONÁRIOS DO 680


PNLD: TABUÍSMO E CHULISMO
Autoria: FÁBIO HENRIQUE DE CARVALHO BERTONHA
Coautoria: CLAUDIA ZAVAGLIA

MARCA DE USO “VULGAR” EM DICIONÁRIO BILÍNGUE ESCOLAR 681


Autoria: FLAVIA SEREGATI

A IMPORTÂNCIA DA ORDENAÇÃO DOS MEMBROS 682


CONSTITUINTES EM COMPOSTOS COORDENATIVOS S + S
NEOLÓGICOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: JOÃO HENRIQUE LARA GANANÇA

A DEFINIÇÃO EM DICIONÁRIOS ESCOLARES: UM OLHAR 683


PARA OS ADJETIVOS EM DOIS DICIONÁRIOS DO PNLD
Autoria: LUDYMILLA TESSARI DUTRA RODRIGUES
Coautoria: RENATO RODRIGUES PEREIRA

PARÂMETROS PARA DICIONÁRIO PEDAGÓGICO BILÍNGUE: 685


UMA PROPOSTA FRASEOLÓGICA
Autoria: MIRIAN PEREIRA MIRIAN PEREIRA BISPO

“ESTE FOI OUTRO ASPECTO QUE SOFREU UMA AVALIAÇÃO 686


POSITIVA”: AS CONSTRUÇÕES CONVERSAS FAZER-SOFRER
Autoria: NATHALIA PERUSSI CALCIA

59
REGISTRO LEXICOGRÁFICO DE “CORONAVÍRUS”: 687
CONTRIBUIÇÕES DE NÃO LINGUISTAS
Autoria: RAFAEL PREARO LIMA

UM ESTUDO SOBRE O TRATAMENTO LEXICOGRÁFICO DADO 688


À HOMONÍMIA EM DICIONÁRIOS PEDAGÓGICOS DE LÍNGUA
INGLESA
Autoria: RAQUEL DE OLIVEIRA
Coautoria: RENATO RODRIGUES PEREIRA

“TRILOGIA CUIABANA”: O TELÚRICO E A EXPRESSIVIDADE 689


NAS CRIAÇÕES LEXICAIS DE SILVA FREIRE
Autoria: ROSANA MARIA SANTANA COTRIM

Libras 691
A REFERENCIAÇÃO EM NARRATIVAS CONTADAS POR 691
SURDOS FLUENTES EM UMA LÍNGUA DE SINAIS DO SERTÃO
PIAUIENSE
Autoria: BRUNA RODRIGUES DA SILVA NERES

O ESPAÇO DE SINALIZAÇÃO NA LIBRAS TÁTIL 692


Autoria: ÉMILE ASSIS MIRANDA OLIVEIRA
Coautoria: ADRIANA STELLA C. LESSA-DE-OLIVEIRA

SINCRONIZAÇÕES INTRA- E INTERCORPOREAIS EM UMA 693


CONVERSA SINALIZADA
Autoria: JOÃO PAULO DA SILVA
Coautoria: EVANI VIOTTI

UMA BREVE ANÁLISE SOBRE O VERBO DE CONCORDÂNCIA 694


REVERSA ‘CONVIDAR’ EM LSB
Autoria: KEYLA MARIA SANTANA DA SILVA
Coautoria: ALLINY DE MATOSFERRAZ ANDRADE
E BÁRBARA MARCELA REIS MARQUES DE VELASCO

O SURDO NA ESCOLA: TECENDO REFLEXÕES SOBRE A 695


INCLUSÃO COM OS FIOS DA LEGISLAÇÃO
Autoria: LEORIC FERNANDES TEOTÔNIO
Coautoria: SHEILA COSTA DE FARIAS

60
MAPEAMENTO DOS ASPECTOS PROSÓDICOS DA LIBRAS NA 696
SINALIZAÇÃO DIRIGIDA A CRIANÇA
Autoria: MARCELO MEIRA ALVES
Coautoria: MARIA DE FATIMA DE ALMEIDA BAIA

RELAÇÕES GRAMATICAIS NO ESPAÇO: VERBOS 698


DIRECIONAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Autoria: SARA OLIVEIRA PAZ

Linguagem e Novas tecnologias 699


"ENTRE CARTAS..."COM SUA COMUNIDADE: UMA 699
ABORDAGEM DE ESCRITA E LEITURA EM TEMPOS DIGITAIS
Autoria: EDILAINE GONÇALVES FERREIRA DE TOLEDO

NOVAS PRÁTICAS CULTURAIS NA FORMAÇÃO DE 700


PROFESSORES: A PRODUÇÃO TEXTUAL MULTIMODAL DO
HIPERTEXTO NA APRENDIZAGEM PELO [WEB]DESIGN
Autoria: HÉLIO DA GUIA ALVES JUNIOR

VIDEOANIMAÇÃO O LOBISOMEM E O CORONEL: 701


ARQUITETURA MULTIMODAL NA ANÁLISE DE UM CORDEL
Autoria: JACILUZ DIAS
Coautoria: MARTA CRISTINA DA SILVA

GÊNEROS DO INTERCÂMBIO VIRTUAL: O PROPÓSITO 702


COMUNICATIVO DO PRIMEIRO ENCONTRO SÍNCRONO
Autoria: LAURA RAMPAZZO

(RE)PENSANDO AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS FUTURAS 703


DIANTE DA ADOÇÃO DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL: O
QUE PENSAM OS PROFESSORES DE LÍNGUAS?
Autoria: LETICIA VIDOTTI DOS SANTOS
Coautoria: GIOVANNA MOLLERO FERNANDES

COM OS PROFESSORES A PALAVRA: A DISCURSIVIZAÇÃO 705


DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM AS TECNOLOGIAS
DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM ESCOLAS
PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO
Autoria: RENATA MAIRA TONHAO BOLSON
Coutoria: FILOMENA ELAINE PAIVA ASSOLINI

61
Línguas Indígenas e Africanas 707
LÍNGUA, CULTURA E EMOÇÕES EM BAÏNOUNK GUBËEHER 707
(SENEGAL)
Autoria: ALEXANDER YAO COBBINAH

A CATEGORIA LEXICAL ADJETIVO EM MEHINAKU (ARAWAK) 708


Autoria: ANGEL H. CORBERA MORI

A ORDEM BÁSICA DOS CONSTITUINTES EM ASURINI DO XINGU 709


Autoria: ANTONIA ALVES PEREIRA

CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE ORAÇÕES 710


SUBORDINADAS A PARTIR DO ESTUDO DE CASO DE WAYORO
Autoria: ANTÔNIA FERNANDA DE SOUZA NOGUEIRA

PADRÕES DE NOMINALIZAÇÃO EM LÍNGUAS DA FAMÍLIA 711


ARAWÁK
Autoria: CAMILLE CARDOSO MIRANDA

RELAÇÕES GENÉTICAS ENTRE KOROPÓ, KAMAKÃ, KRENAK E 713


MAXAKALI: EVIDÊNCIAS DO MAXAKALI ANTIGO
Autoria: CARLO SANDRO CAMPOS

TERMINOLOGIA DA CULTURA MATERIAL JURUNA - A 714


CONSTRUÇÃO DE UM VOCABULÁRIO
Autoria: CRISTINA MARTINS FARGETTI

"LÍNGUA" NA LINGUÍSTICA ANTROPOLÓGICA: APROXIMAÇÕES 715


ENTRE ETNOLOGIA E DESCRIÇÃO LINGUÍSTICA
Autoria: DORA SAVOLDI DA ROCHA AZEVEDO

A UNIVERSIDADE NA ALDEIA: INVESTIGANDO OS DIÁLOGOS 716


EPISTEMOLÓGICOS ENTRE AS FORMAS DE PRODUÇÃO DE
CONHECIMENTO NA UNIVERSIDADE E NA ALDEIA
Autoria: JOÃO BENEILSON MAIA GATINHO

Linguística aplicada 718


AUTORIA E VALORAÇÃO EM REDAÇÕES NOTA MIL DO 718
EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM/2018)
Autoria: AINA CUNHA CRUZ DE SOUZA NASCIMENTO

62
ANÁLISE DA PROSÓDIA DE UMA PACIENTE COM 719
ESQUIZOFRENIA AO LONGO DO TEMPO
Autoria: ANA CRISTINA APARECIDA JORGE
Coautoria: MARCUS VINICIUS MOREIRA MARTINS
E WALDEMAR FERREIRA NETTO

CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM EM QUATRO LIVROS 720


DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS (1945-1975)
Autoria: CRISTIAN HENRIQUE IMBRUNIZ

O LÉXICO CULTURALMENTE MARCADO EM ANÁLISE NA 721


REVISTA VEJA: A ESFERA MIDIÁTICA COMO MEIO DE ACESSO
À CARGA CULTURAL PARTILHADA
Autoria: DRIELLE CAROLINE IZAIAS JUVINO SOUZA
Coautoria: MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA

A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE LÍNGUA 722


INGLESA COM ÊNFASE NO ENSINO TEMÁTICO BASEADO
EM TAREFAS: A ABORDAGEM COMUNICATIVA REFLEXIVA
REVELADA DO PLANEJAMENTO AO FATO
Autoria: ELAINE REGINA CASSOLI

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA PANDEMIA: 724


REFLEXÕES SOBRE MATERIAIS DIDÁTICOS DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Autoria: ELVIS LIMA DE ARAUJO

FORMAS DE INSERÇÕES DA PRÓPRIA OU DE OUTRAS VOZES 725


EM ARTIGOS DA ENGENHARIA: CULTURA DISCIPLINAR E
HIERARQUIZAÇÃO PROFISSIONAL SOB A ÓTICA DE UM
CAPITALISMO DISCURSIVO
Autoria: EV'ÂNGELA BATISTA RODRIGUES DE BARROS

COVID-19: METÁFORA E IDEOLOGIA NA MÍDIA - UM 726


ENFOQUE DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL
Autoria: FÁTIMA APARECIDA LOPES DE MOURA

REFLEXÕES SOBRE TRANSLINGUAGEM E 727


TRANSDISCIPLINARIDADE NO CAMPO DE ESTUDOS DA
LINGUÍSTICA APLICADA: UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL
Autoria: GIOVANA NICOLINI MILOZO

63
A VALORAÇÃO DA CITAÇÃO NA PRODUÇÃO DO TEXTO 728
DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO NO ENEM
Autoria: JANAÍNA LACERDA DA SILVA
Coautoria: RENILSON JOSÉ MENEGASSI

A ESCRITA LITERÁRIA E A CONSTRUÇÃO DE UMA DIDÁTICA 730


LITERÁRIA DIALÓGICA
Autoria: KAREN DIAS DE SOUSA

EFEITOS DE HUMOR NA DUBLAGEM PARA O PORTUGUÊS DA 731


SÉRIE THE BIG BANG THEORY
Autoria: LETÍCIA FERREIRA DOS SANTOS

INGLÊS PARA FINS OCUPACIONAIS: ATIVIDADES 732


PROFISSIONAIS QUE REQUEREM O USO DO IDIOMA
ESTRANGEIRO EM UM CURSO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO
Autoria: LUCIANA MORAES SILVA OCTAVIANO

ENTRE A LÍNGUA DE HERANÇA, AS LITERACIAS E O 733


BILINGUISMO: AÇÕES (RE)ESCRITORAS DE ENSINO-
APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS NO EXTERIOR
Autoria: MARCUS VINÍCIUS CONCEIÇÃO PEREIRA

LINGUAGEM DIALÓGICA E ENSINO: LEITURAS, ESCRITURAS 734


E EPISTEMOLOGIAS LINGUÍSTICAS NAS ABORDAGENS
DIALÓGICAS DA UNIVERSIDADE DE BARCELONA
Autoria: MARCUS VINÍCIUS CONCEIÇÃO PEREIRA

ENSINO NA MODALIDADE ESCRITA DA LÍNGUA 735


PORTUGUESA AOS ALUNOS SURDOS POR MEIO DO GÊNERO
DISCURSIVO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO
Autoria: MARISVALDA MOREIRA CHAVES

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA REDE ESTADUAL 736


PAULISTA A PARTIR DOS NÍVEIS DE CONCRETIZAÇÃO
CURRICULAR PRESCRITO E APRESENTADO AO PROFESSOR
Autoria: RENATA CRISTINA ALVES

Linguística cognitiva 738


MULTIMODALIDADE E PROJEÇÕES NA CONSTRUÇÃO DOS 738
MEMES
Autoria: ALINE PEREIRA DE SOUZA
Coautoria: BEATRIZ QUIRINO ARRUDA DONÁ

64
O VERBO "SABER" EM CONSTRUÇÕES SUBORDINADAS: UMA 739
ANÁLISE COGNITIVO-FUNCIONAL
Autoria: FLAVIA DO CARMO BERTASSO

TRANSITIVIDADE INTERMEDIÁRIA: INDÍCIO DA NÃO 740


MODULARIDADE
Autoria: RODRIGO LAZARESKO MADRID

Linguística computacional 742


EXTRAÇÃO E TRATAMENTO AUTOMÁTICO DE DADOS DE 742
CORPORA ORAIS COM PYTHON: C-ORAL-ESQ E C-ORAL-BRASIL
Autoria: JOSÉ CARLOS DA COSTA JÚNIOR

Linguística de córpus 744


FRASEOLOGIA ESPECIALIZADA E RELAÇÕES METAFÓRICAS: 744
UM ESTUDO COM BASE EM CORPUS JORNALÍSTICO DE
ESPANHOL RIO-PLATENSE
Autoria: ARIEL NOVODVORSKI

PADRÃO INFORMACIONAL DE PACIENTES COM 745


ESQUIZOFRENIA EM CORPUS DE FALA ESPONTÂNEA
Autoria: JOSÉ CARLOS DA COSTA JÚNIOR

PERSPECTIVA ANALÍTICA DE TRIANGULAÇÃO DE CORPORA: 746


RECONFIGURAÇÕES DO AMBIENTE ESTRATÉGICO DE
DEFESA NO SÉCULO XXI
Autoria: RAFAELA ARAÚJO JORDÃO RIGAUD PEIXOTO
Coautoria: KARINA COELHO PIRES

VERBOS TIPICAMENTE EMPREGADOS NAS QUESTÕES DO 747


ENEM E A PROPOSTA DE ATIVIDADES DIDÁTICAS MOVIDAS
POR DADOS
Autoria: WILLIAM DANILO GARCIA
Coautoria: LUCIANO FRANCO DA SILVA

Linguística e Interfaces 749


A INTENCIONALIDADE ARGUMENTATIVA NO CONTO 749
"CENÁRIOS"
Autoria: GISELE BENCK DE MORAES
Coautoria: IVÂNIA CAMPIGOTTO AQUINO

65
A MARGINÁLIA EM OBRAS DE FICÇÃO: O OBJETO DO SIGNO 750
PEIRCEANO COMO UM ALVO EM MOVIMENTO
Autoria: JULIANA ANGEL OSORNO

Linguística Histórica 751


A INTERAÇÃO ENTRE ICONICIDADE E ECONOMIA NA
DIACRONIA DA TRANSPARÊNCIA DO SISTEMA DE EXPRESSÃO
DO ARGUMENTO-SUJEITO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: ALESSANDRA GUERRA

INVESTIGAÇÃO VOLTADA AO ESTUDO DO STATUS 752


FONOLÓGICO DAS CONSOANTES RÓTICAS E LATERAIS
DUPLAS DO PORTUGUÊS DOS TROVADORES
Autoria: DÉBORA APARECIDA DOS REIS JUSTO BARRETO

Literatura brasileira 754


A METAPOESIA DE ANA MARTINS MARQUES 754
Autoria: EVA MARIA TESTA TELES

DE ANJO A DEMÔNIO: A TIPIFICAÇÃO DA MULHER EM 755


ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS
Autoria: JOSÉ GOMES PEREIRA

O CORPO, O TEMPO E A VOZ DAS MULHERES EM ÚRSULA, DE 756


MARIA FIRMINA DOS REIS
Autoria: JOSÉ GOMES PEREIRA

A PERPETUAÇÃO DAS TRADIÇÕES ORAIS NO POEMA “O 757


CORTEJO DE CONGO”, DE EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA
Autoria: MANOELA FERNANDA SILVA DE MATOS

Literatura clássica 759


UMA PROPOSTA DE INCENTIVO À LEITURA DOS CLÁSSICOS 759
DA LITERATURA COM O AUXÍLIO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS
Autoria: ARTHUR VINÍCIUS FEITOSA FURTADO
Coautoria: DIRCE CHARARA MONTEIRO

Literatura estrangeira 761


JULIA ALVAREZ: MITO, HISTÓRIA E IDENTIDADE EM PERSPECTIVA 761
Autoria: GISÉLE MANGANELLI FERNANDES

66
AS CONDIÇÕES DA OPRESSÃO DO SUJEITO MINORITÁRIO 762
NAS TEORIAS DA FRAGILIDADE, DE FRANÇOIS PARÉ, E SUA
RELAÇÃO COM OS JUDEUS NA CATALUNHA MEDIEVAL
Autoria: NELSON LUIS RAMOS

Morfologia 764
VERBOS DEPOENTES COMO MÉDIOS TRANSITIVOS: UMA 764
ANÁLISE DECOMPOSICIONAL ANCORADA NA MORFOLOGIA
DISTRIBUÍDA
Autoria: LYDSSON AGOSTINHO GONÇALVES
Coautoria: PAULA ROBERTA GABBAI ARMELIN

Neurolinguística 766
UM CORPO DE RECURSOS: ANÁLISE DE AÇÕES 766
CORPORIFICADAS E CONSTRUÇÃO DE TURNOS ENTRE
TERAPEUTA E CRIANÇA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
DO AUTISMO
Autoria: ANA CAROLINE LOPES GOMES GUERRA

SUJEITO CONSTITUÍDO, ESCRITA CONSTITUINTE 767


Autoria: SIMONE MAXIMO PELIS
Coautoria: NIRVANA FERRAZ SANTOS SAMPAIO

Pragmática 769
HIPÉRBOLE NAS FALAS-EM-INTERAÇÃO DE BRASILEIROS E 769
ALEMÃES: UM ESTUDO CROSS-CULTURAL
Autoria: CAROLINA BARBOSA PASSIG MARTINS

Psicolinguística 770
FLUÊNCIA DE LEITURA EM PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN 770
Autoria: GLAUBIA RIBEIRO MOREIRA
Coautoria: CATIANE SILVA SANTOS

OS EFEITOS MORFOLÓGICOS E SINTÁTICOS SOBRE O 771


PROCESSAMENTO DA CORREFERÊNCIA CATAFÓRICA
PRONOMINAL EM PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: PABLO MACHEL NABOT SILVA DE ALMEIDA

Retórica e Estilística 773


AS PERSONALIDADES NA TV: HUMOR E ETHOS EM ANÁLISE 773
Autoria: LUANA FERRAZ

67
Semântica 775
OS VERBOS BITRANSITIVOS DE TRANSFERÊNCIA E DE 775
MOVIMENTO CAUSADO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO:
UMA ANÁLISE SINTÁTICO-SEMÂNTICA
Autoria: AMANDA NORONHA OLIVEIRA

EFEITOS DE SENTIDO EM PICHAÇÕES NO CONTEXTO DA 776


PANDEMIA
Autoria: ANTONIO LEMES GUERRA JUNIOR
Coautoria: LOLYANE CRISTINA GUERREIRO DE OLIVEIRA

LÉXICO E ENUNCIAÇÃO 777


Autoria: CRISLAINE DE LIRA SILVA

O MARCADOR "EM" NA ELABORAÇÃO DAS 778


REPRESENTAÇÕES TEMPORAIS
Autoria: ELIZABETH GONÇALVES LIMA ROCHA

O SENHORIO BRASILEIRO E OS SACRAMENTOS CATÓLICOS: 780


SENTIDOS DE SENHOR NA LEGISLAÇÃO SOBRE BATISMO E
ENTERRO DE ESCRAVOS
Autoria: LILIANA DE ALMEIDA NASCIMENTO FERRAZ
Coautoria: JORGE VIANA SANTOS

INTERLOCUÇÃO CULTURAL ENTRE OS “SUJEITOS/NAÇÕES” 781


- EUA/BRA PERSONIFICADOS EM CINEMA DE ANIMAÇÃO DE
WALT DISNEY: UMA ANÁLISE SEMÂNTICA ENUNCIATIVA
Autoria: MONIKA LIRA MALHOIT
Coautoria: ISABELA BARBOSA DO RÊGO BARROS

O COMPORTAMENTO SINTÁTICO-SEMÂNTICO DOS VERBOS 782


TRANSITIVOS INDIRETOS DO PB
Autoria: THAÍS FERNANDA CARVALHO BECHIR

Semiótica 784
A TRANSVERSALIDADE ENTRE SEMIÓTICA E FILOSOFIA: 784
O PERCURSO EPISTEMOLÓGICO INTERDISCIPLINAR PARA O
ENSINO DE LEITURA
Autoria: ADRIANO PEREIRA DA SILVA

68
ANÁLISE SEMIÓTICA DAS ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS DE 785
PLANOS DE AULA ON-LINE
Autoria: ANA CAROLINA CORTEZ NORONHA

GRANDE SERTÃO: A POLIFONIA SEMIOTIZADA 786


Autoria: DANIELA DOS SANTOS

ENSINO DE GÊNEROS A PARTIR DA PERSPECTIVA DA 787


ESTILÍSTICA DISCURSIVA
Autoria: DANIERVELIN RENATA MARQUES PEREIRA

PERCEPÇÃO E CRENÇA EM CAMPANHA EDUCATIVA DE 788


TRÂNSITO
Autoria: EMERSON TIOGO DA SILVA

SEMISSIMBOLISMO, PANDEMIA E FEIRA LIVRE 789


Autoria: ELAINE CRISTINA DE QUEIROZ SILVA
Coautoria: SUELI MARIA RAMOS DA SILVA

MEMÓRIA, ESQUECIMENTO, DISCURSO E GRAUS DE 790


CONCESSÃO: USOS E ABUSOS CONTEMPORÂNEOS
Autoria: FÁBIO PEREIRA CERDERA

A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO GÓTICO BRASILEIRO. UMA 791


LEITURA SEMIÓTICA
Autoria: FELIPE RIBEIRO CAMARGO

HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA DAS ESTRUTURAS ELEMENTARES 792


DA SIGNIFICAÇÃO NA SEMIÓTICA GREIMASIANA
Autoria: IGOR REZENDE NARDO

O ACONTECIMENTO ESTÉSICO E A MANIFESTAÇÃO DA 793


IMAGEM VISUAL NO POEMA XXIV
Autoria: JÉSSICA CRISTINA CELESTINO

IDENTIDADE E FORMA DE VIDA DE UMA MULHER TRANS: DOR, 795


MEDO E REPULSA NO DISCURSO SOBRE REDESIGNAÇÃO SEXUAL
Autoria: LUIZ HENRIQUE PEREIRA

OS ESTUDOS DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM SOBRE O GRAFITE 796


Autoria: LUMA CLÉCIA DA SILVA

69
O ATOR COLETIVO: CONTRIBUIÇÕES SEMIÓTICAS PARA O 797
LETRAMENTO CIENTÍFICO A PARTIR DE TEXTOS JORNALÍSTICOS
Autoria: MARCOS ROGÉRIO MARTINS COSTA

ÁLBUM CRIANCEIRAS: RECORRÊNCIAS FIGURATIVAS NA 798


CANÇÃO INFANTIL
Autoria: MARIA LÚCIA AMARAL MUNIZ

RETALHOS DE COMOÇÃO: O ACONTECIMENTO ESTÉSICO 799


EM “INSPIRAÇÃO” DE MÁRIO DE ANDRADE
Autoria: NAYARA CHRISTINA HERMINIA DOS SANTOS

HABILIDADES AFETIVAS EM LIVROS DIDÁTICOS: O 800


GERENCIAMENTO TENSIVO DO GOSTO PELA LEITURA
Autoria: POLIANA SABINA QUINTILIANO SILVESSO

DISCURSO DE DIVULGAÇÃO RELIGIOSA NO UNIVERSO 801


MIDIÁTICO: O PERFIL DOS ETHÉ COMO ESTILO E ASPECTO
Autoria: SONIA GONÇALVES BATISTA DIAS

PANDEMIA E ACONTECIMENTO SEMIÓTICO: URBIS ET ORBIS 803


Autoria: SUELI MARIA RAMOS DA SILVA

Sintaxe 804
REVISITANDO O OBJETO ACUSATIVO ANAFÓRICO NO 804
PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: ADRIANA MARTINS SIMÕES

APONTAMENTOS PRELIMINARES SOBRE A SINTAXE DOS 805


VERBOS PSICOLÓGICOS DO PORTUGUÊS A PARTIR DOS
ESTUDOS DE OLIVEIRA (1984)
Autoria: FRANCIMEIRE LEME COELHO

O SINGULAR NU E A ORDEM DOS DPS COM VERBOS 806


MONOARGUMENTAIS NO PB ATRAVÉS DA ABORDAGEM
CARTOGRÁFICA
Autoria: HERMITO LEITE DE CARVALHO FILHO
Coautoria: RONALD TAVEIRA DA CRUZ

70
RESTRIÇÕES SINTÁTICAS DO ADVÉRBIO "SEMPRE" COM 807
OUTROS CONSTITUINTES EM SENTENÇAS DO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Autoria: JOELMA SOBRAL DA SILVA

POR QUE "HAVER" EM SENTENÇAS EXISTENCIAIS AINDA 808


RESISTE NO PORTUGUÊS DO BRASIL? A HIPÓTESE DA CISÃO
DE PARADIGMA
Autoria: JULIANA ESPOSITO MARINS

DISCUTINDO ADVÉRBIOS TEMPORAIS DA LIBRAS 809


Autoria: LUCAS ALVES MENDES
Coautoria: ALINE GARCIA RODERO-TAKAHIRA

CONTEXTO MULTILÍNGUE DE EMERGÊNCIA DO PORTUGUÊS 811


BRASILEIRO: ANÁLISE SOBRE A POSIÇÃO DE SUJEITO
Autoria: ROSANA APARECIDA ROGERI

Sociolinguística e Dialetologia 812


INVESTIGANDO O SURGIMENTO DE UM NOVO CÓDIGO 812
LINGUÍSTICO NA AMAZÔNIA SURINAMESA: O CASO DO
GARIMPO VILA BRASIL
Autoria: ANTONIO LORENZO DORMAL CALLEJA

BRINQUEDOS E DIVERSÕES NO ESTADO DE SÃO PAULO: 813


AS DENOMINAÇÕES PARA “CAMBALHOTA” A PARTIR DOS
DADOS DO PROJETO ALIB
Autoria: BEATRIZ APARECIDA ALENCAR

ORIENTAÇÃO SEXUAL E LINGUAGEM: CARACTERÍSTICAS 814


ACÚSTICAS NA FALA DE GAYS CARIOCAS
Autoria: DANY THOMAZ GONÇALVES

PALATALIZAÇÃO DE OCLUSIVAS ALVEOLARES NO DISTRITO 815


DE RIACHO DA CRUZ, JANUÁRIA – MG: UMA ANÁLISE
MULTIVARIADA
Autoria: EVILAZIA FERREIRA MARTINS

USO VARIÁVEL DO MODO SUBJUNTIVO EM ORAÇÕES 816


COMPLETIVAS NAS LÍNGUAS ESCRITA E FALADA PAULISTA
DO SÉCULO XX E XXI
Autoria: ISABELA BAIOCATO

71
O FUNDO COMUM E O ENCALHAMENTO DE PREPOSIÇÕES NO PB 818
Autoria: JULIA BAHIA ADAMS

A CONCORDÂNCIA VERBAL EM NOVA IGUAÇU (RJ): 819


DESTAQUE PARA OS FATORES LINGUÍSTICOS E
ESTABILIDADE NO COMPORTAMENTO DA COMUNIDADE
Autoria: JULIANA BARBOSA DE SEGADAS VIANNA

OS EFEITOS DO CONTATO LINGUÍSTICO ENTRE O 820


NHEENGATÚ E O PORTUGUÊS BRASILEIRO EM SÃO GABRIEL
DA CACHOEIRA (AM)
Autoria: MARIANA PAYNO GOMES

PERCEPÇÃO, IDENTIDADE E SIGNIFICADOS SOCIAIS EM 821


UMA COMUNIDADE DE MONTE AZUL PAULISTA- SP
Autoria: RAFAELA REGINA GHESSI ARROYO

COMO OS MATERIAIS DIDÁTICOS ABORDAM A INFLUÊNCIA 822


DE LÍNGUAS AFRICANAS NA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS
Autoria: TÂMARA KOVACS ROCHA

A EXPRESSÃO VARIÁVEL DA POSSE PRONOMINAL 823


DE SEGUNDA PESSOA DO SINGULAR EM ESQUETES
HUMORÍSTICOS
Autoria: THIAGO LAURENTINO DE OLIVEIRA

PERSÉPOLIS: UMA LEITURA SOCIOLINGUÍSTICA 824


Autoria: WANESSA RODOVALHO MELO OLIVEIRA

Teoria e Crítica literária 826


A CONSTITUIÇÃO DO MÍDIUM LIVRO E O CASO DO PRÊMIO 826
NOBEL DE LITERATURA DE 2016 DO CANTOR E POETA BOB
DYLAN
Autoria: CLAUDIA MARIA DE SERRÃO PEREIRA

Terminologia e Terminografia 827


A TERMINOLOGIA E SUA APLICABILIDADE EM ATIVIDADES 827
PROFISSIONAIS E COTIDIANAS
Autoria: BEATRIZ CURTI-CONTESSOTO
Coautoria: LUCIMARA ALVES DA CONCEIÇÃO COSTA

72
DEFINIÇÃO DE TERMOS EM TEXTOS DE POPULARIZAÇÃO 828
DO CONHECIMENTO DE UMA ÁREA DA MEDICINA
Autoria: CANDICE GUARATO SANTOS

AS METÁFORAS DA ECONOMIA PROJETADAS NO DISCURSO 829


ACADÊMICO
Autoria: LENICE ALVES DA COSTA

CONFIGURAÇÕES CONCEITUAIS E TERMINOLÓGICAS DA 830


ÁREA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA DE
GRADUAÇÃO
Autoria: FERNANDA MELLO DEMAI

DEFINIÇÕES TERMINOLÓGICAS NEGATIVAS: UM MAL 831


NECESSÁRIO?
Autoria: FRANCINE DE ASSIS SILVEIRA
Coautoria: IVANIR AZEVEDO DELVIZIO

DICIONÁRIOS TERMINOLÓGICOS BILÍNGUES: UMA 832


PROPOSTA PARA O ENSINO DA TERMINOLOGIA EM
ESCOLAS INDÍGENAS DO ESTADO DO ACRE
Autoria: SIMONE CORDEIRO-OLIVEIRA
Coautoria: MAURIZIO BABINI

Tradução 834
DE LA SAISON À ESTAÇÃO: A TRADUÇÃO COMO FORMA DE 834
REPRESENTAÇÃO CULTURAL NA IMPRENSA FEMININA DO
SÉCULO XIX
Autoria: BEATRIZ ROMERO DA SILVA
Coautoria: MARIA ANGÉLICA DEÂNGELI

SHIRLEY JACKSON, KAZUO ISHIGURO E O PÚBLICO LEITOR 835


GEEK: ASPECTOS CONDICIONANTES DE MARCAS DE
ORALIDADE EM TRADUÇÕES DE FICÇÃO DE GÊNERO E DE
FICÇÃO LITERÁRIA
Autoria: LAURO MAIA AMORIM

PRAGMATEMAS EM SAGARANA DE GUIMARÃES ROSA: UMA 836


ANÁLISE TRADUTOLÓGICA
Autoria: QUENTIN OLIVIER BRANCO NUNES
Coautoria: ELIZABETE APARECIDA MARQUES

73
PAINÉIS
Análise da conversação e linguística textual 839
A DESCRENÇA NA QUARENTENA EVIDENCIADA NOS 839
PROCESSOS DE RECATEGORIZAÇÃO REALIZADOS PELOS
USUÁRIOS DO TWITTER
Autoria: LETÍCIA JÚLIA SILVA DE OLIVEIRA

Análise do discurso 841


MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA E 841
TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: UM ENTRELAÇAMENTO DA/NA
LÍNGUA A PARTIR DA FORMAÇÃO DISCURSIVA CRISTÃ
Autoria: ALESSANDRA STEFANELLO

"FAZ DE CONTA QUE SOU O PRIMEIRO": DISCURSOS E 842


MEMÓRIA SOBRE A VIRGINDADE FEMININA
Autoria: ALINE OLIVEIRA AMORIM

FALA PÚBLICA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DOS MANUAIS DE 843


FALA PÚBLICA BRASILEIROS DE REINALDO POLITO
Autoria: AMARILDO RODRIGUES DA SILVA JÚNIOR

ETHOS DISCURSIVO EM TURMA DA MÔNICA: ROMEU E 844


JULIETA (2015): UMA ANÁLISE MIDIOLÓGICA DO OBJETO
EDITORIAL
Autoria: ANA PAULA SLOMPO

A (TRANS)FORMAÇÃO E RECONHECIMENTO NO OUTRO/ 845


OUTRO: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO CORPO E SUA
IMAGEM NA SÉRIE VENENO
Autoria: EVELYN STEFANI TONIATO DA SILVA

“NO MEU TEMPO SE LIA MAIS”: NOSTALGIA E OS DISCURSOS 846


SOBRE A LEITURA
Autoria: GUSTAVO COBRA TEIXEIRA MOREIRA DA ROSA

“TINHA DE SER DE PERNAMBUCO”: EFEITOS DE RESISTÊNCIA 847


EM/NA REDE
Autoria: JOÃO VICTOR DA SILVA CARVALHO

74
BARBAZUL X BARBA AZUL: A DEDICATÓRIA E A CENA FINAL 849
DE ANABELLA LÓPEZ EM CONTRASTE COM AS MORAIS DA
HISTÓRIA DE CHARLES PERRAULT
Autoria: JOSÉ VICTOR RODRIGUES DE ANDRADE MESSIAS

MÍDIUM E MUNDO ÉTICO: UM ESTUDO DAS RELAÇÕES 850


ENTRE ESPAÇO CANÔNICO E ESPAÇO ASSOCIADO NA
CRIAÇÃO MULTIPLATAFORMA DO BTS UNIVERSE
Autoria: KAREN NAOMI AISAWA

REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DA SITUAÇÃO DE RUA NO 851


JORNAL CORREIO BRAZILIENSE (2014-2018) COM FOCO EM
AÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS
Autoria: LARISSA COSTA SILVA

ANÁLISE DO ETHOS DISCURSIVO DO INEP PROJETADO NOS 852


GUIAS E NAS CARTILHAS DOS PARTICIPANTES DO ENEM
Autoria: LETÍCIA DE SANTANA TIZIOTO

OS SIGNOS IDEOLÓGICOS DE ÓDIO, MENOSPREZO E 853


CONDENAÇÃO: UMA PESQUISA DIALÓGICA CONCERNENTE
À PROPAGANDA DA KU KLUX KLAN SOBRE O MOVIMENTO
BLACK LIVES MATTER
Autoria: MARCOS ALEXANDRE FERNANDES RODRIGUES

TWEETS EM CENA: DOS PROCESSOS ENUNCIATIVOS ÀS 855


ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS
Autoria: MARIA CLARA RODRIGUES MORAES
Coautoria: PAULO ISAAC OLIVEIRA LOPES

Aquisição de linguagem 857


REFLEXÕES SOBRE O IMBRICAMENTO DA TEORIA INATISTA 857
COM AS AFASIAS
Autoria: LARISSA COSTA SILVA

CARACTERÍSTICAS FONÉTICO-FONOLÓGICAS DAS 858


OMISSÕES ORTOGRÁFICAS NO ENSINO FUNDAMENTAL I
Autoria: MARCIEL ANTONIO ALVES DA SILVA

Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua 860


UNIDADE DIDÁTICA PARA ENSINO DE INGLÊS PARA 860
CRIANÇAS: MATERIALIZANDO O FOCO NO SENTIDO E
ENSINO CONTEXTUALIZADO
Autoria: ADEL FERNANDA LOURENZI FRANCO ROSA AMBROSIO

75
A ABORDAGEM INTERCULTURAL NO PROCESSO DE ENSINO- 861
APRENDIZAGEM DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Autoria: ANDREIA DIAS IANUSKIEWTZ

ANÁLISE DE MATERIAL DIDÁTICO UTILIZADO EM CONTEXTO 862


DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE (PORTUGUÊS-INGLÊS) À LUZ DA
TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
Autoria: BEATRIZ PAIXÃO RIBEIRO

PESQUISA EM CORPUS COMO ATIVIDADE DIDÁTICA PARA O 863


ENSINO DE VOCABULÁRIO NO CONTEXTO DE INGLÊS PARA
FINS ESPECÍFICOS: UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA SOBRE A
PERSPECTIVA DOS ALUNOS DO CURSO DE TECNOLOGIA EM
MANUTENÇÃO DE AERONAVES
Autoria: DANIELA TERENZI

O MATERIAL DIDÁTICO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE 864


INGLÊS COMO LE: IDENTIFICAÇÃO DE HABILIDADES E
COMPETÊNCIAS EM PLANOS DE AULA ON-LINE
Autoria: ERICK GUSTAVO BARROS

LITERATURA DE CORDEL NO CONTEXTO TELETANDEM 866


PORTUGUÊS X ESPANHOL
Autoria: FERNANDA TAMAROZI DE OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DE UM CURSO DE ESTRATÉGIAS DE LEITURA 867


EM LÍNGUA INGLESA OFERECIDO EM UMA UNIVERSIDADE
MULTICAMPI
Autoria: LUANA VIANA DOS SANTOS

Ensino-aprendizagem de língua materna 869


RECURSOS DIGITAIS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DA 869
LÍNGUA INDÍGENA WAYORO/WAJURU (TUPI)
Autoria: CLENILSON MIRANDA DE SOUSA

ENSINO DE GRAMÁTICA, NA VISÃO DO ALUNO DO 3º ANO 870


DO ENSINO MEDIO REGULAR
Autoria: DEUZANIRA DE NAZARÉ DA CRUZ FAVACHO

Filologia 872
ASPECTOS FILOLÓGICOS DE UM DOCUMENTO DO SÉC. XX: 872
GEORGER (S/D)
Autoria: OSMAR HENRIQUE LIMA CARVALHO E CASTRO

76
Filosofia da linguagem 873
O CONTO DA AIA: RELAÇÕES DE PODER SOB PERSPECTIVA 873
BAKHTINIANA
Autoria: RAFAELA DOS SANTOS BATISTA

Fonética e fonologia 874


VÍRGULAS EM ESQUEMA DUPLO EM TEXTOS DO GÊNERO 874
ENQUETE
Autoria: ISABELA DE FREITAS VENDRAMINI

VÍRGULAS EM ESQUEMA DUPLO: USOS EM TEXTOS DO 875


GÊNERO RELATO
Autoria: ISABELA FRANCISCO

COVID, LOCKDOWN E SARS-COV: INTEGRAÇÃO À 876


FONOLOGIA E À MORFOLOGIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
FALADO NA REGIÃO DE PONTA GROSSA
Autoria: IZABELY DA CRUZ BICUDO

A METÁTESE NO NOROESTE PAULISTA: UMA ANÁLISE 877


SINCRÔNICA
Autoria: JHENIFFER AMANDA DIAS

DITONGOS NO PORTUGUÊS DO LIBOLO, ANGOLA: 878


COMPARAÇÃO COM O PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: LETÍCIA SANTIAGO FERREIRA

RECONHECIMENTO DE USOS DE VÍRGULAS POR 879


PROFESSORES EM FORMAÇÃO
Autoria: LORRAINE RODRIGUES CARDOSO

VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO PORTUGUÊS DO LIBOLO 880


(ANGOLA): COMPARAÇÕES COM O PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: PALOMA MOREIRA FREIRE

Gramática funcional 882


O USO DO CONDICIONAL EVIDENCIAL NO GÊNERO 882
“DISCURSO POLÍTICO” NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Autoria: BEATRIZ DE SOUZA MELLA

77
O USO DOS PRONOMES RELATIVOS NO PORTUGUÊS 883
FALADO E ESCRITO POR ADOLESCENTES DO INTERIOR DO
ESTADO DE SÃO PAULO
Autoria: JUAN PRETE TOJEIRA RAMOS

A ORDENAÇÃO DO OBJETO LEXICAL NO ESPANHOL 884


PENINSULAR FALADO: UM ESTUDO DISCURSIVO-
FUNCIONAL
Autoria: LAURA VIANA DOS SANTOS

ENSINO DE GRAMÁTICA E TRANSITIVIDADE: O OBJETO 885


INDIRETO NOS LIVROS ESCOLARES DO ENSINO MÉDIO
Autoria: LÍVIA VALILI

MULTIFUNCIONALIDADE DE "ATÉ" NO PORTUGUÊS 886


Autoria: LUCAS DE CARVALHO GOMES

O USO DE "SE AO MENOS" EM CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS 887


INSUBORDINADAS NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Autoria: MARIA JULIA BERNARDO COMARIM

A ACESSIBILIDADE DO REFERENTE E A RELAÇÃO COM A 889


EXPRESSÃO DO SUJEITO PRONOMINAL EM PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Autoria: MELISSA GIOVANA LAZZARI

MULTIFUNCIONALIDADE DE "MESMO" NO PORTUGUÊS 890


Autoria: PABLO CANOVAS

ESTUDO DA EXPRESSÃO (SER) CAPAZ: UMA ANÁLISE 891


DISCURSIVO-FUNCIONAL
Autoria: PABLO JARDEL OLIVEIRA DO ROSÁRIO

ANÁLISE DE EXPRESSÕES MODAIS COM O VERBO "TER" NO 892


PORTUGUÊS
Autoria: VITORIA MARIA ALBUQUERQUE SILVA
Coautoria: PABLO JARDEL OLIVEIRA DO ROSÁRIO

Historiografia linguística 894


IMPLEMENTAÇÃO DE UM WEBSITE PARA A INDEXAÇÃO DE 894
OBRAS RELACIONADAS AO ENSINO DE LATIM E GREGO
PRESENTES NAS BIBLIOTECAS DA UNESP
Autoria: WALLISON LIMA DA SILVA

78
Letramento(s) 895
“O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE”: UM ESTUDO 895
DISCURSIVO SOBRE O LEITOR MODELO E O PADRÃO DE
RESPOSTAS DO SERVIÇO “SAÚDE SEM FAKE NEWS” EM
TEMPOS DE COVID-19
Autoria: AUGUSTO VINICIUS DE OLIVEIRA

O FUNCIONAMENTO DA AUTO-REFERENCIAÇÃO EM 896


ARTIGOS CIENTÍFICOS DE LINGUÍSTICA
Autoria: DANIELA DE ALMEIDA LEONE

PRÁTICAS DE LETRAMENTO EM LÍNGUA PORTUGUESA NO 897


ENSINO REMOTO
Autoria: LAÍS FELIX LOPES

Lexicologia e lexicografia 899


A RELIGIOSIDADE NA TOPONÍMIA HUMANA DA ZONA 899
RURAL DO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA/MS
Autoria: ANA CAROLINA MACIEL GARCIA

O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEXICAL NO 900


ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ANÁLISE DE LIVRO
DIDÁTICO PELA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DO LÉXICO
Autoria: CARLOS ROBERTO DE REZENDE JUNIOR

AURÉLIO: DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS BRASILEIRO? 901


Autoria: GABRIELLY NAOMY DA SILVA ARAUJO

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS NEOLÓGICAS PRESENTES EM 902


TEXTOS PUBLICITÁRIOS: DESCRIÇÃO E ENSINO
Autoria: JULIANA ZENHA LEITE

ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA NEOLOGIA FORMAL EM 903


TEXTOS PUBLICITÁRIOS: OS VERBOS DENOMINAIS
Autoria: KELLY MAÍSA ARAÚJO CARVALHAES

PARÂMETROS LEXICOGRÁFICOS E FORMAÇÃO DE 904


PROFESSORES: POTENCIALIZANDO O USO DO DICIONÁRIO
PEDAGÓGICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS
Autoria: LÍGIA DE GRANDI
Coautoria: MARIANA DARÉ VARGAS CAMPOS

79
A PERCEPÇÃO DO GUIA PNLD – 2018 SOBRE O FENÔMENO 905
NEOLÓGICO: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PELO VIÉS
DA LEXICOLOGIA
Autoria: LUANA BORGES DOS SANTOS

ANÁLISE DOS CAMPOS LEXICAIS DE EXPRESSÕES 907


IDIOMÁTICAS FORMADAS PELOS NOMES GERAIS "HOMEM"
E "MULHER"
Autoria: LUANNA DE SOUSA DO NASCIMENTO OLIVEIRA

ANÁLISE FRASEOLÓGICA DAS EXPRESSÕES DO VERBO 908


‘GANHAR’ EM DIVERSOS CONTEXTOS: UMA PROPOSTA DE
DICIONÁRIO BILÍNGUE
Autoria: MARIANA PAOLESCHI ANTUNES DE SOUZA

NEOLOGISMOS EM TEXTOS PUBLICITÁRIOS DA MÍDIA 909


ELETRÔNICA: OS COMPOSTOS POR SUBORDINAÇÃO E POR
COORDENAÇÃO
Autoria: NÁGILA SABRINA DOS REIS SANTOS

Libras 911
ORAÇÕES ENCAIXADAS NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: 911
UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA
Autoria: LAÍS FERNANDA ESPINOSA PEREIRA

O PAPEL DOS MARCADORES NÃO-MANUAIS NA EXPRESSÃO 912


DA DISJUNÇÃO NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Autoria: SARAH CRISTINA PAVARINA CHIODI

Linguagem e novas tecnologias 914


ESTUDO SOBRE AS POSSIBILIDADES E LIMITES DO USO 914
DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO ENSINO DE LÍNGUA
ESPANHOLA
Autoria: MELANIE ZAMBON BUENO

O ETHOS EM INTERAÇÃO: ANÁLISE DE PODCASTS POLÍTICOS 915


E DE COMENTÁRIOS VIRTUAIS
Autoria: PAULO ISAAC OLIVEIRA LOPES
Coautoria: MARIA CLARA RODRIGUES MORAES

80
Línguas indígenas e africanas 917
A MORFOLOGIA SUBORDINADORA COMO EVIDÊNCIA PARA 917
A HIPÓTESE LESTE-OESTE NA FAMÍLIA TUPI
Autoria: JOÃO PAULO FERNANDES BENTO
Coautoria: LARA FOCESI WOLSKI

LEVANTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE A LÍNGUA DOS 918


PAITER-SURUÍ: PUBLICAÇÕES DOS SURUÍ DE RONDÔNIA
Autoria: LÍVIA GOUVÊA DE CARVALHO MOURA

PARA UMA REVISITAÇÃO DO SISTEMA DE CLASSES 919


NOMINAIS DO KIMBUNDU DO LIBOLO A PARTIR DA EDIÇÃO
DO MANUSCRITO: GEORGER (S/D)
Autoria: OTAVIO CÉSAR LOPES DE JESUS ALBANO

Linguística aplicada 921


FRANCESISMOS NO LÉXICO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE 921
INTERDISCIPLINAR
Autoria: DÉBORA ELIZE KOGAWA

O PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA: REFLEXÕES SOBRE 922


A ATIVIDADE DOCENTE
Autoria: LUCIANE MUMBACH
Coautoria: LEONARDO DALLA BARBA FERRAZ

A IMIGRAÇÃO LATINO-AMERICANA EM UMA PROPOSTA 923


DIDÁTICA PARA O ENSINO DE ESPANHOL/LE
Autoria: MARIA VITÓRIA DE ALMEIDA ATHAYDE

CONTRIBUIÇÕES DO ROLE PLAYING GAMES ESCRITO EM 924


FÓRUM NO ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Autoria: PABLO STELLA ROSA

Linguística computacional 926


TÍTULOS DE E-COMMERCE: INVESTIGAÇÃO DE CRITÉRIOS DE 926
QUALIDADE
Autoria: BIANCA MOREIRA LOPES
Coautoria: JULIA TROVÓ CAETANO DE JESUS

COMPILAÇÃO DE UM CORPUS DO NHEENGATU PARA O 927


PROCESSAMENTO DE LINGUAGEM NATURAL
Autoria: DOMINICK MAIA ALEXANDRE
Coautoria: LEIDIANA IZA ANDRADE FREITAS

81
IDENTIFICAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES COM OS VERBOS 928
SUPORTES SUBSTANTIVOS PREDICATIVOS DAR, FAZER E TER
COM INTENÇÃO AVALIATIVA PARA ANÁLISE QUANTITATIVA
JULIA TROVÓ CAETANO DE JESUS

Linguística de córpus 930


CONSTRUÇÃO DE UM CORPUS DE MINIBIOGRAFIAS DE 930
CURRÍCULOS
Autoria: ESTHER DA CUNHA SOARES

RESULTADOS PARCIAIS DO ESTUDO SOBRE O MODO 931


IRREALIS NO PORTUGUÊS FALADO NO LIBOLO/ANGOLA
Autoria: ISABELLA MATOS RODRIGUES

Linguística e interfaces 933


MEMÓRIAS CORPORIFICADAS: ANÁLISE DE NARRATIVAS DE 933
TRAUMAS E EXPERIÊNCIAS
Autoria: BEATRIZ DOS REIS SILVA

A INFÂNCIA DAS ESPÉCIES: A QUESTÃO ONTOGENIA- 934


FILOGENIA PARA A BIOLINGUÍSTICA
Autoria: FERNANDO VALLS YOSHIDA

TURISMO LITERÁRIO: CARACTERIZAÇÃO E CENÁRIO 935


BRASILEIRO
Autoria: MARIA CECÍLIA VADENAL FERREIRA PIRES

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO DA NOTAÇÃO DE GESTOS E 936


AÇÕES CORPORIFICADAS EM INTERAÇÕES COM CRIANÇAS
AUTISTAS
Autoria: NATALIA ZANONI ANDREATTO

Literatura brasileira 938


A RELAÇÃO ENTRE HISTÓRIA E LITERATURA ATRAVÉS DE 938
CONTOS: A ESCRAVIDÃO E SUAS CONTRADIÇÕES
Autoria: ARIANE BARBOSA GARCIA

MILTON HATOUM NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA 939


PROPOSTA DE TRABALHO COM O ROMANCE BRASILEIRO
CONTEMPORÂNEO CINZAS DO NORTE
Autoria: LUIZ CARLOS SILVA DE LIMA
Coautoria: MARIANA DARÉ VARGAS CAMPOS

82
Literatura clássica 940
QUANDO O FUROR ERÍNICO (RE)VESTE O MARAVILHOSO: A 940
NARRATIVA DELIRANTE DE AKAKI AKAKIEVITCH EM
“O CAPOTE”
Autoria: FRANCISCA JÚLIA DA SILVA SOARES

Morfologia 941
REVISITANDO O ESTATUTO CATEGORIAL DO ADVÉRBIO A 941
PARTIR DE UMA PERSPECTIVA SINTÁTICA DE FORMAÇÃO DE
PALAVRAS
Autoria: BIANCA AGRELLI RODRIGUES

DEFECTIVIDADE COMO UMA JANELA PARA A ARQUITETURA 942


DA GRAMÁTICA: FORMAS VERBAIS INEFÁVEIS DO PORTUGUÊS
Autoria: GIULIA YOKOMIZO GIRARDI

OS LAPSOS DE FALA MORFOLÓGICOS NO PORTUGUÊS 943


BRASILEIRO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ÓPTICA DA
PRODUTIVIDADE
Autoria: STELA TERRIBILE

Neurolinguística 945
DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE REPETIÇÕES EM INTERAÇÕES DE 945
DUAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
Autoria: LARISSA GABRIELA TAVARES MEIRA

CONSTRUÇÃO DA REFERÊNCIA DURANTE MOMENTOS DE 945


BRINCADEIRAS ESPONTÂNEAS DE UMA CRIANÇA COM
TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO
Autoria: VITÓRIA SELLITO DE MELO

Políticas linguísticas 948


POR ATOS GLOTOPOLÍTICOS E VOZES ALÓCTONES NO 948
EMBATE À DESOFICIALIZAÇÃO DE UM ENSINO: O DESTINO
DAS LÍNGUAS MINORITÁRIAS ESLAVAS E ORIENTAIS NAS
ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Autoria: OTÁVIO DE OLIVEIRA SILVA

83
Retórica e estilística 950
A RETÓRICA DE RUBEM BRAGA: IMAGENS QUE O AUTOR 950
CONSTRÓI DE SI E DAS MULHERES EM SUAS CRÔNICAS
Autoria: HELENA MIYAZAKI FONSECA

ETHOS CÔMICO: O SEGREDO RETÓRICO DA SÉRIE GILMORE 951


GIRLS
Autoria: SILVIA NUNES

Semântica 952
PORTUGUÊS INFORMAL DENTRO DO ENSINO DE PLE 952
Autoria: LUCAS TREVIZAN FERREIRA

Semiótica 953
LITERATURA ESTRANGEIRA E SEUS FINS PEDAGÓGICOS - A 953
APRENDIZAGEM POR MEIO DA SEMIÓTICA
Autoria: MARCELA RICARDO

A QUESTÃO DA CLOROQUINA NO CONTEXTO BRASILEIRO 954


À LUZ DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL E DA SEMIÓTICA
FRANCESA
Autoria: STEPHANI IZIDRO DE SOUSA
Coautoria: ABRAÃO GOLFET

UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DE A NOITE DA ESPERA - 955


DITADURA MILITAR E LITERATURA
Autoria: RAFAELA MATHIAS

ESTILO E IDENTIDADE: ANÁLISE SEMIÓTICA DA DRAG 956


QUEEN EM RUPAUL'S DRAG RACE
Autoria: VINÍCIUS DOS SANTOS RIBEIRO

Sintaxe 958
REVISITANDO ASPECTOS DA SINTAXE INTERNA E EXTERNA 958
DOS POSSESSIVOS EM PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autoria: LILIAN PACHECO MONTEIRO DA COSTA

Sociolinguística e dialetologia 959


ANÁLISE DE PERCEPÇÃO DO SOTAQUE CAPIXABA EM MEMES 959
DIGITAIS: A TERCEIRA ONDA VARIACIONISTA EM FOCO
Autoria: ANA CLARA SOAVE LEPPAUS

84
“CHEGAMOS” ~ “CHEGUEMOS”: VARIAÇÃO MORFÊMICA NA 960
PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL EM VERBOS REGULARES
DE PRIMEIRA CONJUGAÇÃO NA VARIEDADE DO INTERIOR
PAULISTA
Autoria: BRENDA SOARES REZENDE

VARIAÇÃO E MUDANÇA DOS RÓTICOS EM CODA FINAL: 961


CHUÍ E SANTANA DO LIVRAMENTO (PROJETO ALIB)
Autoria: CAIO KOROL GONÇALVES DA SILVA

O ESPERANTO NO BRASIL: LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE 962


MATERIAIS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS
Autoria: CAIO VINICIUS DA SILVA BARROS

AVALIAÇÕES LINGUÍSTICAS DE RESIDENTES EM PIRACICABA/ 964


SP SOBRE O DIALETO PIRACICABANO E CAIPIRA
Autoria: DANIELLE BALTIERI BENTO

DISTRIBUIÇÃO E CANCELAMENTO DO RÓTICO EM PORTO 965


UNIÃO (SC) - PROJETO ALIB
Autoria: NICOLE MARIA DOS SANTOS MELLO
Coautoria: KATHLEN APARECIDA OLIVEIRA DE SOUSA

ANÁLISE DO /S/ EM CODA NA FALA DE MIGRANTES 966


ALAGOANOS E PARAIBANOS EM CAMPINAS
Autoria: SARAH POLI BARBOSA

A REPRESENTAÇÃO DO POSSESSIVO DE 2ª PESSOA DO 967


SINGULAR EM CARTAS PESSOAIS PERNAMBUCANAS DOS
SÉCULOS XIX E XX
Autoria: STÊNIO BOUÇAS ALVES FILHO

A CONCEPÇÃO DE ESTILO NA TERCEIRA ONDA 968


VARIACIONISTA: ANÁLISE DE POSTS DA CANETA
DESMANIPULADORA E CANETA DESESQUERDIZADORA
Autoria: THAIS LARA COSTA MANHÃES

DIALETO PAJUBÁ: MODOS DE CONSTRUÇÃO DE MARCAS 970


IDENTITÁRIAS DA COMUNIDADE LGBTQIA+
Autoria: VANESSA MIRELE DOS SANTOS NASCIMENTO

Tradução 971
TRADUÇÃO PARA O TEATRO MUSICAL: OS PROCEDIMENTOS 971
TRADUTÓRIOS EM WICKED
Autoria: LUIZA MARIA TORMENA HIDALGO

85
Apresentação
Realizado ininterruptamente há 52 anos, o Seminário do GEL é um importante
espaço de construção e divulgação da ciência linguística e de formação de
pesquisadores no Estado de São Paulo e no Brasil.

Com periodicidade bienal desde 2019, o Seminário chega em 2021 a sua 68ª
Edição. Previsto para acontecer no câmpus São Carlos da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), o evento teve que ser adaptado a um formato on-line
emergencial em decorrência do triste contexto pelo qual passamos.

A programação do 68º Seminário do GEL se estende do dia 05 ao dia 09 de


julho e é formada por uma conferência de abertura, que discutirá o papel e
as possibilidades dos estudos linguísticos em tempos de negacionismo,
fascismo, ódio à diversidade e fake news, e por nove mesas-redondas, das quais
participarão pesquisadores do Brasil e do exterior debatendo temas como: o
autoritarismo e o silenciamento no discurso e na literatura da/sobre a ditadura;
a pandemia e seu léxico; o abuso verbal e a violência na linguagem; a história da
Linguística do Mattoso Câmara Jr; o ensino de línguas e a (i)migração no século
XXI; as práticas de escrita em meios digitais; a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC); perspectivas para a linguística em tempos de interdisciplinaridade; e as
políticas de linguagem em contexto de internacionalização das universidades
latinoamericanas.

Essas dez atividades serão transmitidas em formato aberto e ficarão disponíveis


para acesso público posterior, somando-se a um importante arquivo de discussão
e divulgação científica nas redes, impulsionado a partir de 2020 em virtude da
pandemia.

Serão realizados também onze simpósios coordenados por pesquisadoras e


pesquisadores convidados pelo GEL para discutir resultados de pesquisas em
diferentes campos dos estudos linguísticos: estudos em/sobre línguas indígenas;
debates contemporâneos sobre o ensino de línguas não maternas; políticas e
direitos linguísticos no Brasil; a dimensão editorial das práticas linguísticas; a
interação e a multimodalidade na descrição de línguas; estudos de teorias do
texto e do discurso no Brasil de hoje; estudos formais de sintaxe, semântica

86
e pragmática; morfologia e estudos da palavra; a linguística computacional;
letramentos no pós-pandemia; e estudos de/em línguas de sinais e surdez.

A essa programação, somam-se trinta e quatro simpósios propostos por


associadas e associados do GEL, de diferentes áreas temáticas, que reunirão
trabalhos que se articulam a partir de um mesmo quadro teórico-metodológico
ou que versam sobre um mesmo objeto de análise.

Além disso, o evento contará com sessenta salas de comunicações orais, que
somam 287 trabalhos de estudantes e pesquisadores, uma sessão assíncrona
de painéis com 106 trabalhos, uma sessão assíncrona de lançamento de livros,
que apresentará cerca de 20 obras publicadas nos últimos dois anos, e uma feira
on-line de livros, da qual participarão as editoras Contexto, Letraria, Parábola,
Pontes e Vozes.

Este Caderno traz os 700 resumos dos trabalhos que serão apresentados e
debatidos nas diferentes modalidades do evento. Ao todo, são mais de 850
participantes inscritos, provenientes dos 26 estados brasileiros, do Distrito
Federal e de, pelo menos, seis outros países: Bélgica, Espanha, Itália, México,
Portugal e Reino Unido.

Em tempos tão difíceis como o atual, especialmente no contexto brasileiro, que


soma - até a data de hoje - mais de 474.000 mortes registradas por uma doença
evitável e em que a ciência e as universidades vêm sendo constantemente
atacadas e negligenciadas, é um ato de esperança e resistência a reunião - ainda
que virtual - de tantos pesquisadores e estudantes para pensar os Estudos
Linguísticos no Brasil de hoje.

Luiz André Neves de Brito


Mariana Luz Pessoa de Barros
Matheus Granato
Renato Miguel Basso
Rosa Yokota
São Carlos-SP, 08 de junho de 2021.

87
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Em tempos bicudos, que pode a linguística?
Conferencista: CARLOS ALBERTO FARACO

Nos últimos três anos, ressurgiram com força, no espaço público, as vozes
fascistas, o negacionismo da racionalidade científica, o ódio à diversidade, as
fake news. Multiplicaram-se batalhas discursivas e se agudizou a percepção,
em crescente aturdimento, de que o significar se faz sem garantias fundantes.
Que balizas teóricas a linguística tem a oferecer para darmos sentidos a essa
conjuntura atordoante e para nos orientarmos nela? Em nossa conferência,
pretendemos explorar respostas a essa pergunta.

89
MESAS REDONDAS
A pandemia: como falar e como não falar dela
Notas de leitura discursivas sobre a publicação de
glossários, dicionários, vocabulários e cartilhas
digitais sobre a COVID-19
Convidado: ROBERTO LEISER BARONAS

Orlandi (2020) nos chama a atenção para o fato de que a Pandemia, enquanto
acontecimento discursivo, funciona como um processo discursivo ambíguo no
qual, por um lado, há um verdadeiro transbordamento de discursos, em que tudo se
veste de nome e de sentidos, e, por outro lado, há uma dificuldade muito grande de
nomear como esse acontecimento discursivo irrompeu. Nessa busca imaginária
que dê conta dessa necessidade universal de um mundo “semanticamente
normal” (PÊCHEUX, 1997, p. 34), tentando conter de alguma maneira o caos, o
transbordamento, o excesso dos sentidos, isto é, a sua metaforização, surgem,
por exemplo, propostas de elaboração de glossários, dicionários, vocabulários
e cartilhas sobre a COVID-19. Para além de uma investigação pela nomeação
mais fidedigna da realidade, uma boa hipótese para explicar essa abundância
de dizeres metalinguísticos sobre a Pandemia nos parece que tem a ver com
uma busca da sociedade para dominar esse vírus tão desconhecido quanto letal
que é o SARS-Cov2. Trata-se de uma tentativa de encontrar alguma resposta
no âmbito da linguagem, para os diversos sentimentos provocados pelo novo
coronavírus, como medo, ansiedade, desesperança etc. Além disso, também nos
parece pertinente sustentar a hipótese de que a construção de instrumentos
linguísticos como glossários, dicionários, vocabulários, cartilhas, etc. é também
uma maneira de as instituições acadêmicas tentarem restabelecer a confiança
das pessoas na Ciência. Essa hipótese se torna mais consistente se levarmos em
consideração que, à época da elaboração desses instrumentos linguísticos, nos
primeiros meses da Pandemia, soluções como a produção de um tratamento ou
a descoberta de uma vacina, que necessitam de prazos de tempo mais dilatados,
eram impossíveis. Compreender discursivamente o anteriormente exposto é o
objetivo primeiro da nossa participação na mesa redonda "A pandemia: como
falar e como não falar dela".

91
Proliferação e contágio de formas linguísticas: os
fenômenos do português brasileiro que viralizaram
durante a pandemia da COVID (ou do COVID)-19
Convidado: MAURÍCIO SARTORI RESENDE

A pandemia do Novo Coronavírus afetou não apenas todos os segmentos da


sociedade, mas também todos os campos do conhecimento; com a Linguística
não foi diferente. Essa nova realidade serviu de base para o surgimento de certos
fenômenos linguísticos, possibilitados pela gramática do português brasileiro
(PB), que têm a ver, sobretudo, com a manipulação – reconhecimento e uso – de
um novo vocabulário, o qual sofreu e vem sofrendo adaptações durante a sua
acomodação na gramática. Elas são de diversos níveis: fonológico, visto nas
diferentes pronúncias de “álcool em gel” e de palavras estrangeiras incorporadas
na língua; morfológico, visto na oscilação de gênero entre a/o COVID-19 bem
como em várias instâncias de “etimologia popular”, vistas na reanálise de palavras
relacionadas à “pandemia” etc.; (iii) sintático, na recorrência da estrutura “testou
positivo para a COVID-19”; (iv) lexical, no que tange a uma maior frequência de
vocábulos relacionados à realidade da pandemia no Brasil e, em consequência,
de uma nova onda de produtividade morfológico-lexical. Assim, o objetivo desta
apresentação é reunir esses fenômenos e analisá-los, com um pouco mais de
detalhe, à luz do sistema gramatical do PB.

92
MESAS REDONDAS
Abuso verbal e violência na linguagem
Sobre o caráter imitativo da violência – na linguagem
e além
Convidado: DANIEL DO NASCIMENTO E SILVA

A historiadora do comportamento Christine-Marie Abu Sarah pesquisa arquivos


ao redor do mundo, buscando entender o processo que leva um indivíduo a
realizar um ato violento: o momento em que se dispara o gatilho da arma ou
se aciona o dispositivo da bomba, por exemplo. Com base em uma quantidade
massiva de casos, ela explica que a melhor pergunta a se fazer para entender a
sequência de ações que culminam na violência não é “por quê...?” mas “como
aquele indivíduo fez o que fez?”. Ou ainda: “como aquele grupo de indivíduos
fizeram o que fizeram?”. Ao pesquisar dezenas de atos violentos semelhantes
em diferentes culturas, a historiadora percebe uma característica comum à
performance de perpetradores da violência: eles ou elas agem de modo imitativo.
Ou seja, é comum que indivíduos que praticam atos violentos busquem acolhida
em grupos que fomentem certas ideologias, que encontrem circulando nesses
grupos o conhecimento necessário para fundar seus afetos e, sobretudo, que
imitem figuras exemplares nessas redes. O achado empírico dessa historiadora
tem bastante amparo na literatura sobre violência e linguagem e nos casos
de violência simbólica e empírica que venho investigando desde 2005. Nesta
fala, pretendo esboçar uma teoria básica do funcionamento e da circulação da
violência na linguagem, a partir dessa literatura de base pragmática, bem como
de diferentes casos emblemáticos de circulação da violência no Brasil recente.

Violência simbólica e toxicidade na mídia social


Convidada: RAQUEL DA CUNHA RECUERO

Nesta fala, discutiremos as questões relacionadas ao discurso tóxico e violento


na mídia social, diante das pesquisas do grupo MIDIARS (Mídia, Discurso
e Análise de Redes). Particularmente, abordaremos como este discurso se
constitui, seus conceitos básicos e como é legitimado, bem como os seus modos
de circulação e espalhamento, relacionados ao gênero e à raça.

94
MESAS REDONDAS
Autoritarismo, linguagem e silenciamentos:
desqualificação de discurso e desaparecimento político
Silenciamento e desqualificação do discurso
guerrilheiro na ditadura militar
Convidada: ORIANA DE NADAI FULANETI

Em 1964, os militares dão um golpe que destitui o então presidente e inaugura


uma ditadura de 21 anos, período em que vivemos um Estado de exceção que
teve como pilares de sustentação a censura e a repressão. Nesse contexto, uma
parcela da esquerda optou pela revolução, formando grupos militantes para
lutar contra o governo. De ambos os lados, uma guerra foi declarada. Os militares
praticavam a tortura como uma política de Estado; os guerrilheiros, por sua vez,
realizavam suas ações revolucionárias, expropriando bancos, sequestrando
etc. Apesar dessa realidade de censura e “guerra”, a imprensa noticiava as
ações armadas por meio de um discurso próprio, o que nos leva a alguns
questionamentos. Por que não o silêncio? Por que não a simples incorporação
do discurso oficial? Adotando a perspectiva da semiótica discursiva francesa,
a presente comunicação apresenta uma análise de reportagens sobre a luta
armada brasileira publicadas na revista Veja entre o final de 1968 e meados de
1970, com o intuito de depreender a imagem dos guerrilheiros aí construída e
verificar a relação desta com a imagem produzida pelo discurso militar. Para a
realização das análises, tomamos como base a noção de ator da enunciação
e, em particular, o conceito de ethos. Acredita-se que, apesar da distância
temporal de pouco mais de meio século, existam muitas semelhanças entre
aquele momento e a atualidade, pois ambos vivenciam uma disputa política
de alta densidade e, dessa forma, o conhecimento do funcionamento daquele
período contribui para a maior compreensão dos enfrentamentos políticos
contemporâneos. Resultados revelam que as diferenças entre o discurso oficial
e aquele da imprensa situam-se principalmente nas isotopias.

96
Representações do desaparecimento político na
literatura brasileira dos anos 70 e 80 do séc. XX
Convidado: ARNALDO FRANCO JUNIOR

Em regimes políticos autoritários, o desaparecimento político é uma forma


extrema de silenciamento, pois pressupõe a eliminação dos adversários e
críticos mediante assassinato que, muitas vezes, permanece insolúvel porque
os corpos dos desaparecidos não são encontrados e as informações a seu
respeito são destruídas. O século XX teve diversas manifestações deste tipo,
à direita e à esquerda do espectro político. Em minha comunicação, pretendo
abordar a tematização do desaparecimento político na literatura brasileira
dos anos 70 e 80 do séc. XX, escrita e publicada sob a ditadura civil-militar
imposta ao país a partir de 1964. Em linhas gerais, pode-se dizer que há, em dois
momentos histórico-políticos próximos, mas distintos, dois tipos de tematização
do desaparecimento político no sistema literário brasileiro: a) a tematização
do desaparecimento político em meados dos anos 70 do séc. XX – período que
assinala o início da abertura política “lenta, gradual e segura” tutelada pelos
governos militares; b) a tematização do desaparecimento político nos anos
80 do séc. XX – período marcado por uma progressiva contenção das ações
de repressão política e de censura às artes e à imprensa. Com base em textos
literários de Roberto Drummond e Marcelo Rubens Paiva, abordarei esses dois
tipos de tematização.

97
MESAS REDONDAS
História da Linguística do Mattoso
História da Linguística do Mattoso
Convidados: GABRIEL DE AVILA OTHERO E VALDIR DO NASCIMENTO FLORES

Nesta mesa, apresentaremos o livro já clássico de Mattoso Camara Jr., História da


linguística, a primeira história da linguística publicada no Brasil por um linguista
brasileiro, publicado pela Ed. Vozes em 1975. Esse livro, originalmente, deriva
de um conjunto de aulas dadas por Mattoso, em inglês, na Universidade de
Washington, em 1962. Além de apresentar a motivação e alguns pontos centrais
do livro, falaremos sobre o trabalho que resultou na edição revista e comentada
do livro de Mattoso, publicada em 2021 pela Ed. Vozes. Os comentários feitos
ao texto de Mattoso têm objetivos diferentes: há casos em que simplesmente
complementam dados sobre autores, fatos e obras referidos no livro; há casos
em que eles expandem alguma informação ou ideia, ou porque estivessem
demasiado resumidas ou porque poderiam suscitar alguma ambiguidade;
há casos ainda em que os comentários trazem informações históricas das
formulações dadas por Mattoso, tentando indicar o contexto que o autorizou
a dizer o que disse e, quando necessário, indicando alguns desdobramentos
posteriores que o assunto obteve no meio especializado.

99
MESAS REDONDAS
Linguagens e BNCC
BNCC: uma ameaça à educação?
Convidada: LUCIANA MARIA ALMEIDA DE FREITAS

O presente trabalho tem como objetivo apresentar reflexões sobre as principais


políticas públicas educativas do âmbito federal brasileiro no período posterior
ao Golpe Parlamentar de 2016, tendo como foco os seus efeitos para a Educação
Linguística, especialmente em línguas adicionais, e para a formação de seus
docentes. Será analisada, com destaque, a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), em paralelo com outras imposições educacionais recentes também
advindas do governo federal, como a Medida Provisória 746/2016, atual Lei
13.415/2017, e a Resolução CNE/CP n. 2/2019, BNC-Formação. Entendendo
currículo fundamentalmente como uma práxis (GIMENO SACRISTÁN, 2000)
e como discurso (LOPES; MACEDO, 2011), os documentos prescritivos para
o trabalho escolar sob análise representam imposições curriculares e estão
em relação dialógica com o mundo social, refletindo-o, refratando-o e agindo
sobre ele (VOLÓCHINOV, 2017). Assim, a Base Nacional Comum Curricular, com
suas Competências, Objetos e Habilidades, é resultado de uma seleção, de um
conjunto de escolhas pautado em uma concepção teórica que determina quais
conhecimentos devem estar presentes e ausentes da escola (SILVA, 2007).
Representa, portanto, a imposição de um currículo nacional resultante da atual
restauração conservadora e do controle socioeconômico do grande capital
privado, que tem na educação um de seus compromissos ideológicos (APPLE,
2013).

O ensino de língua na BNCC e a produção de um


simulacro
Convidado: EMERSON DE PIETRI

O objetivo nesta apresentação é caracterizar os modos de constituição do


ensino de língua portuguesa em objeto de discursos pedagógicos oficiais, em
suas relações com as bases político-ideológicas que se impuseram a partir
do golpe de 2016 no Brasil. A ampliação do acesso à escolarização básica,

101
pública, a partir da segunda metade do século XX, produziu a escola formada
pela heterogeneidade cultural e linguística características do país, em tensão
com o projeto excludente de ensino de língua portuguesa tradicionalmente
estabelecido pelas forças reacionárias como finalidade da educação linguística.
Os movimentos sociais e políticos pela transformação da sociedade brasileira
em direção a uma realidade mais justa e igualitária se materializaram, no que se
refere ao ensino de língua na escola, em propostas pedagógicas fundamentadas
em referenciais sócio-histórico-culturais, em contraposição a perspectivas
de base tecnicista e instrumental implementadas, como políticas de Estado,
por governos eleitos pela vontade das elites econômicas ou implantados por
estas elites com a promoção de rupturas institucionais. Nesse processo, o
projeto de plena submissão do Estado aos interesses do capital financeiro,
fundamento do golpe de 2016, conformou, segundo seus objetivos, a BNCC para
o ensino fundamental, e, nela, o componente de língua portuguesa. A análise do
documento evidencia sua construção sustentada em simulacros de discursos
libertários e sua desconstrução é ação necessária na luta por uma sociedade
pautada pela justiça social e econômica.

102
MESAS REDONDAS
Línguas e a (i)migração no século XXI
Identidades linguístico-culturais e acolhimento do
plurilinguismo no contexto de migrações recentes
no Brasil
Convidada: LUCIA MARIA ASSUNÇÃO BARBOSA

Não é novidade afirmar que o Brasil possui um histórico pouco louvável no que
se refere ao acolhimento e à valorização de (algumas) outras línguas-culturas.
Quando se trata do contexto de migração e de refúgio, raramente se pensa na
diversidade linguístico-cultural que os grupos trazem consigo. Desse ponto de
vista, não é exagero afirmar que ainda há um longo caminho a ser percorrido,
sobretudo no que concerne a grupos pertencentes a nacionalidades pouco
representadas no contexto brasileiro e que aqui chegam com suas bagagens
linguístico-culturais desconhecidas ou desconsideradas nos diferentes espaços
em que circulam. Do mesmo modo, se pensarmos no papel da escola como
lócus de acolhimento de crianças e jovens, constatamos a ausência de uma
política que reconheça o significado e as diferentes funções exercidas pela
língua materna, na vida dessas pessoas, por exemplo. O mesmo ocorre em
relação a outras línguas praticadas no cotidiano familiar e à língua oficial (ou de
trabalho) como é o caso do francês, do inglês ou do espanhol que nem sempre
possuem o mesmo status. A partir de uma pesquisa de base exploratória do
perfil linguístico-cultural de um grupo de imigrantes, pretendo mostrar que a
prática plurilíngue não tem sido considerada no contexto da aprendizagem
de uma nova língua ou no ambiente escolar que recebe esse perfil. Os dados
permitem discutir alguns aspectos ligados a essa realidade linguística e cultural
dessa população e também apontam para um apagamento dessas línguas nas
instituições escolares e no mundo do trabalho. 

104
Políticas linguísticas educacionais para migrantes
de crise como mecanismos para a estruturação de
práticas contra-hegemônicas
Convidado: LEANDRO RODRIGUES ALVES DINIZ

Partindo do princípio de que, conforme Shohamy (2006), as políticas linguísticas


educacionais são poderosos mecanismos para a estruturação de políticas
linguísticas de facto, concentro-me, nesta apresentação, em políticas dessa
natureza voltadas para migrantes de crise no Brasil, no âmbito do que tem sido
denominado ensino-aprendizagem de Português como Língua de Acolhimento.
Especificamente, interessa-me discutir de que forma tais políticas podem
contribuir para a estruturação de práticas contra-hegemônicas – ainda que,
inevitavelmente, reforcem o funcionamento da dimensão (PAYER, 2006) nacional
do português, sempre em tensão com as diversas línguas constitutivas do
espaço de enunciação (GUIMARÃES, 2005) brasileiro, incluindo as línguas
de migrantes. Para tanto, afastando-me do discurso de que o acesso à língua
nacional seja condição necessária ou suficiente para a conquista de posições
sociais mais valorizadas socialmente (LOPEZ, 2017; DINIZ; NEVES, 2018), analiso
um instrumento de gramatização (AUROUX, 1992) concebido para subsidiar a
implementação de políticas linguísticas educacionais para migrantes de crise no
Brasil: a coleção didática “Vamos juntos(as)! Curso de Português como Língua
de Acolhimento” (NEPO/UNICAMP), coordenada por Ana Cecília Cossi Bizon e
Leandro Rodrigues Alves Diniz. Especificamente, discutirei alguns dos recursos
utilizados para a implementação de uma perspectiva multiculturalista crítica
(MAHER, 2007) e pos/decolonial (QUIJANO, 2005; SOUSA SANTOS, 2007, 2009)
nessa coleção. Entre esses recursos, estão os seguintes: (i) o estabelecimento
de um eixo transversal aos livros cujo objetivo é fomentar a politização dos
estudantes (MAHER, op. cit.) e sua educação linguística ampliada (CAVALCANTI,
2007); (ii) a implementação de uma pedagogia multinível (DAVID; ABRY, 2018),
como elemento na busca pela destotalização da figura do migrante de crise;
(iii) a operacionalização de uma perspectiva plurilíngue (MOORE, 2006), que
almeja promover, em alguma medida, um “acolhimento em línguas” (BIZON;

105
CAMARGO, 2018), na contramão de um ensino que legitime unicamente a língua
nacional brasileira; (iv) a concepção de atividades para a educação do entorno
(MAHER, op. cit.).

106
MESAS REDONDAS
Perspectivas para a linguística em tempos de
interdisciplinariedade
A linguística e a interdisciplinaridade: retomando
uma antiga trajetória para abrir novos horizontes
Convidada: EVANI VIOTTI

Forjada como ciência autônoma no final do século XIX e início do século XX, a
linguística não poderia deixar de seguir a orientação epistemológica da época
que, desde o século XVII, vinha pregando a especialização do conhecimento.
Embora reconhecendo que as questões relacionadas à linguagem interessam
a variadas disciplinas, Saussure aponta para o fato de que, à sua época, e
precisamente por causa desse interesse diversificado, nenhuma área do saber
gerou “ideias tão absurdas, preconceitos, miragens, ficções”. O que ele propõe,
então, em seu Curso de Linguística Geral, é um estudo da língua humana
explícito e autônomo, e que tem, entre outros, o dever de denunciar e dissipar
tanto quanto possível esses equívocos gerados pela multidisciplinaridade
(SAUSSURE, 1969, p. 14). Nasce, assim, a versão europeia da linguística como
uma ciência da modernidade, independente de disciplinas como a história, a
antropologia, a filosofia, etc. Mais de cem anos depois dessa emancipação, os
estudos da linguagem buscam novamente se abrir para outros campos do saber,
retomando o antigo percurso de diálogo trans- e interdisciplinar, mas desta
vez assentados sobre as fortes bases teóricas e empíricas construídas pela
linguística como ciência. Minha participação nesta mesa-redonda tem o objetivo
de mostrar como a ampliação do escopo da linguística de modo a abranger o
uso da língua em interação necessariamente fomenta a interdisciplinaridade.
Práticas comunicativas envolvem essencialmente a presença de seres humanos
em ação. Sendo assim, a investigação dessas práticas não pode prescindir
do estudo das ecologias sócio-histórico-culturais em que elas se inserem.
Para além disso, na medida em que essas práticas são ações co-operativas
de corpos em co-presença, o estudo dos gestos, das expressões faciais e
das posturas corporais que têm impacto na comunicação tampouco pode
ser deixado de lado. Por meio de um estudo de caso, pretendo fazer uma
distinção entre transdisciplinaridade e interdisciplinaridade, e mostrar que a
interdisciplinaridade impulsiona a redefinição dos objetos e dos objetivos da

108
linguística, assim como o desenvolvimento de novos métodos de análise. Essas
modificações não deverão vir diretamente de outras áreas do saber, mas, sim,
ser articuladas ex novo a partir da colaboração estreita entre elas e a ciência
da linguagem.

Psicolinguística, Metacognição e Educação


Convidado: MARCUS MAIA

O estudo do período é o foco de três subáreas da Linguística e da Psicolinguística


que apresentam questões que vêm sendo investigadas no Brasil há mais de
duas décadas pelo proponente da presente comunicação: a Teoria Gramatical,
a Sintaxe Experimental e o Processamento de Frases. Conforme revimos em
Maia (2014), as tensões entre essas áreas podem ser melhor equacionadas
pela proposta de um único sistema cognitivo, aferido em diferentes níveis (cf.
LEWIS; PHILLIPS, 2015). Sobre esse mesmo único sistema incidem diferentes
angulações: uma mais teórica, que descreve suas propriedades gerais (a Teoria
Gramatical), outra que estuda a implementação do sistema em sua relação com
outras funções cognitivas, tais como, a memória e a atenção e em situações de
ambiguidade e profundidade de análise (o Processamento de Frases). A terceira
angulação – intermediária às duas primeiras - seria a Sintaxe Experimental –
a proposta de investigação off-line e on-line da computação da gramática no
processamento, abstraindo-a, no entanto, de fatores mnemônicos, atencionais
e de incerteza e profundidade de análise. Estudos desses três tipos têm sido
desenvolvidos no Laboratório de Psicolinguística Experimental (LAPEX), que
coordenamos na UFRJ, usando desde 2007 a metodologia de rastreamento
ocular. A técnica encontra-se, portanto, em pleno uso no laboratório há mais
de uma década, sendo que, nos anos de 2017 e 2018, desenvolveu-se um projeto
de Psicolinguística Educacional junto à escola pública do Rio de Janeiro (cf.
MAIA (org.), 2019) em que os resultados dos estudos de rastreamento ocular
de períodos compostos foram apresentados e discutidos qualitativamente
com a participação ativa dos alunos, com vistas a desenvolver metacognição e
autorreflexividade acerca de seus padrões de leitura (cf. MASON; PLUCHINO;
TORNATORA, 2015). Testes posteriores demonstraram que as oficinas de

109
rastreamento ocular contribuíram significativamente para melhorar a capacidade
de leitura dos alunos na identificação dos pontos de vista dos períodos. A presente
comunicação revisita esse projeto, mas tem por objetivo principal discutir o uso
de dados de rastreamento ocular da leitura em aulas de linguística na graduação
e na pós-graduação, em que usaram-se não apenas dados quantitativos, mas
também dados qualitativos, tais como, mapas de movimentação e fixação
ocular (gazeplots) estáticos e dinâmicos e mapas de calor (heatmaps) de
vários estudos em Psicolinguística e Sintaxe Experimental que já havíamos
desenvolvido em nosso laboratório, para discutir com os alunos questões
linguísticas e psicolinguísticas, tais como, anomalias sintáticas e semânticas, o
efeito da lacuna preenchida, gerúndios, infinitivos flexionados e frases garden-
path. Em um segundo momento dos cursos, os alunos trouxeram dados de sua
própria escolha que serviram de estímulos em testes de rastreamento ocular.
A prática permitiu aulas com participação ativa das turmas, avaliando-se que
o estudo da teoria sintática, da sintaxe experimental e do processamento de
frases, incluindo, além das questões sintáticas, questões epistemológicas e
metodológicas, beneficiou-se significativamente da análise quali-quantitativa
dos gazeplots e heatmaps da leitura de períodos examinados durante os cursos.

110
MESAS REDONDAS
Políticas de linguagem, internacionalização e construção de
modelos plurilíngues nas universidades latino-americanas
Produção, avaliação e circulação do conhecimento
na América Latina: o papel da internacionalização
e das línguas
Convidada: KYRIA FINARDI

Esta apresentação discute a produção, avaliação e circulação do conhecimento


na América Latina focando no papel da internacionalização do ensino superior
e das línguas nesses processos. Para tanto, evidências bibliométricas são
trazidas para ilustrar e discutir esses processos desde a perspectiva das
epistemologias do Sul, argumentando em favor de uma ecologia de saberes e
línguas. As evidências bibliométricas da produção sobre internacionalização
entre 2011-2020 são analisadas considerando a produção anual por país, língua,
autores mais citados, co-ocorrência de palavras e co-autoria. Percebe-se um
aumento nas publicações ainda que o impacto dessa produção não corresponda
a esse crescimento. A análise de co-ocorrência de palavras sugere que a
internacionalização se constitui como uma área interdisciplinar em expansão
cujo reconhecimento ainda é incipiente e fortemente influenciado pelo Norte
Global, como se pode verificar no número de citações de autores dessa região. A
constituição de uma epistemologia do Sul, evidenciada nas citações de artigos
produzidos por autores da região, parece ser impedida uma vez que a cooperação
entre autores latino americanos é pequena e bem menor do que a cooperação
entre autores latino americanos com o Norte Global, uma situação que reforça
e perpetua o status quo e a reverberação de teorias e epistemologias alheias
ao ecossistema do Sul. A discussão conclui que a fim de permitir a constituição
de epistemologias do Sul numa ecologia de saberes e línguas, as estratégias de
produção, avaliação e circulação da ciência bem como de internacionalização
do ensino superior tem que ser revisadas.

112
Uso das línguas e sistemas de avaliação neoliberal
nas ciências e no ensino superior: tendências
atuais e alternativas para América Latina
Convidado: RAINER ENRIQUE HAMEL

As ciências e a educação superior (CES) constituem um campo que nos permite


observar com particular clareza um fenômeno marcante da globalização: a
expansão do inglês como única língua hipercentral e totalmente globalizada que
descola outras línguas de grande extensão histórica como o inglês, o francês, o
espanhol ou o português de seus espaços internacionais penetrando cada vez mais
nos territórios nacionais. Esses processos correspondem às mutações do regime
de controle global e à crescente imposição de um sistema de gestão na CES que
estabelece múltiplos procedimentos de vigilância materializados por conjuntos
de avaliações e rankings. A análise desses sistemas revela graves falácias: 1.
a fragmentação do campo integrado do CES e o isolamento das publicações;
2. a inadequação do fator de impacto para determinar a qualidade acadêmica
e estabelecer hierarquias; 3. a pressão para publicar em inglês, às custas da
exclusão de outras línguas e a subordinação de suas comunidades científicas.
Todos esses fatores contribuem para a separação das instituições acadêmicas
da sociedade a que são devidas. Essa situação clama pela criação de sinergias
que reúnam políticas linguísticas e políticas científicas. Nesta apresentação,
analisaremos as alternativas que estão sendo desenvolvidas nas universidades
latino-americanas para superar os efeitos perversos da avaliação neoliberal
e para construir modelos multilíngues para a CES, a partir do espanhol e do
português como línguas científicas de integração regional, e da apropriação do
inglês e de outras línguas. Para tanto, os conferencistas discutirão o panorama
atual destacando possibilidades de intervenção de linguistas e suas organizações
nesse cenário.

113
MESAS REDONDAS
Práticas de escrita em meios digitais
Prática de escrita telecolaborativa: um estudo em
perspectiva processual e multimodal
Convidada: SUZI MARQUES SPATTI CAVALARI

A escrita colaborativa é definida como uma tarefa pedagógica em que aprendizes


interagem, negociam sentido e tomam decisões em conjunto durante todo o
processo de escrita a fim de criar um único texto (STORCH, 2013). A escrita
telecolaborativa compartilha dessas características, mas sua prática está
vinculada a projetos de intercâmbio virtual em que grupos de aprendizes de
países diferentes (e falantes de línguas diferentes) trabalham conjuntamente a
partir do uso de variadas ferramentas tecnológicas. O objetivo deste trabalho é
descrever a realização de uma tarefa de escrita telecolaborativa por participantes
do teletandem (TELLES, 2009), um modelo bilíngue de intercâmbio virtual
em que pares de falantes de línguas diferentes se encontram por meio de
recursos de tecnologia VOIP (imagens de webcam, voz e texto) a fim de que
um possa aprender a língua do outro. Enfoca-se, especificamente, a escrita de
resenha de filme em língua inglesa em que pares de participantes brasileiros
(aprendizes de inglês) e estadunidenses (aprendizes de português) interagem
oralmente via Skype ao mesmo tempo em que escrevem o texto por meio do
Google Docs. Uma vez que os pares devem planejar, negociar conteúdo, editar e
tomar decisões conjuntas durante todo o processo, investigamos a escrita em
perspectiva processual e multimodal, a fim de descrever como os participantes
organizam a prática mediada por essas ferramentas tecnológicas e combinam
os diferentes modos de produzir significado nesse contexto. A análise utiliza
dados gerados por um grupo de 15 pares de participantes do teletandem que
estão armazenados no MulTeC (Multimodal Teletandem Corpus) (ARANHA;
LOPES, 2019), a saber: gravações e transcrições de sessões orais de teletandem,
diários de aprendizagem, e textos produzidos colaborativamente. Resultados
preliminares indicam que a maioria dos pares realizou a tarefa de escrita por
meio da combinação de formas síncronas e assíncronas de comunicação devido
a questões afetivas relacionadas, principalmente, ao salvamento da face do
aprendiz brasileiro.

115
Práticas digitais de escrita na escola: estratégias
de apropriação e resistência
Convidada: LUCIA TEIXEIRA

Falar em práticas de escrita em meios digitais sugere duas questões de partida:


1. O que é uma prática de escrita? 2. O que é a escrita em meio digital? Para
pensar na primeira pergunta, o conceito de prática semiótica, proposto por
Greimas e Courtés (2008) e desenvolvido por Jacques Fontanille (2008),
pode indicar um caminho teórico frutífero. Uma prática semiótica faz parte
de um percurso de estruturação das culturas e se afirma por sua dimensão
predicativa, que se define pela articulação de papéis actanciais, relações
modais e passionais. Está submetida a uma estratégia que lhe dá sentido. Com
base nesse conceito, podem ser definidas as práticas de escrita digital, que se
configurarão pela multimodalidade, organizada de acordo com exigências de
velocidade, fragmentação, exacerbação e largo alcance, entre outras. A escrita
não se submete apenas às coerções do meio, mas também às imposições das
relações sociais e históricas, que parecem hoje reforçar a necessidade de criação
e conservação de imagens públicas associadas a valores de popularidade,
disseminação e repetição. Por meio de exemplos, pretende-se mostrar que
papel a escola deve assegurar a essas práticas, de modo a garantir a função
pedagógica de resistência à automatização, simplificação e banalização das
formas de comunicação e conhecimento.

116
SIMPÓSIO DE CONVIDADOS
A dimensão editorial das práticas linguísticas
Autoria: JOSÉ DE SOUZA MUNIZ JR.
E LUCIANA SALAZAR SALGADO

Uma parte considerável dos trabalhos de análise linguística implica a existência


pública da palavra proferida, existência que supõe gestos de publicação. Tais
gestos abrangem um conjunto diversificado de práticas (tradução, compilação,
seleção, transcrição, arranjo, adaptação, preparação, revisão, decupagem,
mixagem, remidiação, declamação, censura etc.) que evidenciam o caráter
processual, heterogêneo e coletivo da produção de textos orais e escritos, em
variados gêneros e contextos. Por sua vez, a inscrição material desses textos,
condição de sua existência, suscita produtivos debates sobre as relações entre
elementos linguísticos e extralinguísticos, frequentemente multimodais, cujos
efeitos sócio-discursivos decorrem da implicação entre essas materialidades
e as materialidades inscricionais. Seria possível dizer que se trata de conjugar
o estudo dos entes linguísticos propriamente ditos ao estudo dos suportes e
das formas de circulação, entendendo-os como partícipes da produção dos
sentidos. Com isso, leva-se em conta que a inserção dos objetos editoriais em
espaços (mercados, instituições, campos, grupos etc.) de troca, uso, apropriação
e fruição põe questões sobre os diversos laços entre as práticas linguísticas e
as práticas sociais nas quais ganham sentido e valor. A autoria também aí se
institui, nesses liames, como um enlaçamento de elementos diversos que é
preciso gerir. Este simpósio convida, assim, à partilha de pesquisas desenvolvidas
nas diferentes subáreas dos Estudos Linguísticos e Literários que tocam em
problemas relativos ao preparo dos textos para uma vida pública, abordando
essas questões central ou transversalmente.

118
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

A citação na escrita acadêmico-científica: em


torno dos manuais de redação científica
Autoria: DANIELLA LOPES DIAS IGNÁCIO RODRIGUES

Neste trabalho, desenvolvido no âmbito dos projetos Escrita acadêmica/


escrita científica: das formas de presença do autor, do outro, das áreas de
conhecimento e seus domínios disciplinares (CNPq/Universal) e Letramentos
em diferentes grandes áreas de conhecimento (Capes-PrInt-UNESP), apresenta-
se um recorte de um primeiro olhar sobre as metapragmáticas da escrita
científica materializadas em manuais que a orientam. Os objetivos do estudo
são: i) compreender o tratamento dado por práticas editoriais brasileiras, que
se destinam ao ensino ou à publicização da escrita acadêmico-científica, ao uso
do discurso relatado na forma de citação; ii) compreender transformações que
as orientações sobre a citação na escrita de pesquisa sofrem ao longo dos anos
nessas mesmas práticas e; iii) verificar vertentes teóricas de estudos linguísticos
que fundamentam tais orientações. Esses objetivos buscam colaborar para o
debate em torno das práticas editoriais, que alimentam práticas didáticas e que
buscam contribuir para a inserção de aluno de graduação e de pós-graduação
nos discursos que constituem o nível superior de ensino. O corpus de referência
é composto de livros disponíveis entre os anos de 1960 e 2019 no mercado
editorial brasileiro, que objetivam condicionar e orientar os usos da língua na
escrita de pesquisa a partir de prescrições, além de outras, sobre formas e
funções da citação. O tratamento dado ao corpus possibilitou a categorização
dos manuais em três tipos: técnicos – são de natureza estritamente metodológica
e destinados ao ensino das normas adequadas à padronização formal dos
trabalhos acadêmico-científico; didáticos – visam à leitura e à produção de
textos acadêmico-científicos e; guias – têm como escopo de reflexão não o
como fazer, mas o quê deve ser considerado quando na realização da prática
de pesquisa. Subsidiam as análises estudos de natureza enunciativo-discursiva
sobre o discurso relatado, tendo em vista conceitos, noções e princípios da
Linguística da Enunciação e da Análise do Discurso.

119
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

As edições Clima: considerações sobre fazer livro


em Natal-RN (1978-1997)
Autoria: CELLINA RODRIGUES MUNIZ

O estudo sobre as práticas discursivas relacionadas à leitura e à escrita em


torno do livro na cidade nordestina de Natal não pode deixar de abordar um
importante fenômeno: as edições Clima, do editor Carlos Lima, que, no período
de 1978 a 1997, publicou em torno de 128 títulos sob o slogan “prestigiando o
autor do Rio G. do Norte”. Muitos dos autores e autoras, até então inéditos,
tornaram-se canônicos no cenário local a partir da sua publicação pela CLIMA.
Esta proposta de comunicação, a partir de uma pesquisa em andamento, elenca
algumas possíveis reflexões acerca desse caso emblemático na história do livro
potiguar, questionando-se sobretudo acerca das condições de possibilidade
que fizeram emergir esse selo editorial. Consideram-se, assim, vários elementos,
tais como mercado livreiro e campo discursivo das publicações impressas. A
partir de um recorte heterogêneo de dados (1- relatos sobre a CLIMA e sobre
Carlos Lima em jornais profissionais e independentes, 2- entrevistas com vários
dos atores sociais envolvidos e 3- catalogação – em curso – dos próprios títulos
publicados), pretende-se abordar algumas questões, tais como: que gêneros
discursivos eram mais regulares e/ou preferenciais? que redes de agentes,
funções e/ou afetos estavam implicadas nessas publicações? que atividades e
estratégias (principalmente de economia e de linguagem) podem ser apontadas
para a enunciação dessas publicações? Tomando-se como embasamento
teórico e metodológico algumas contribuições diversas da História do Livro e
da Análise do Discurso, especialmente a partir dos estudos de Robert Darnton
(circuito de comunicação), Roger Chartier (as figuras do autor – e do editor),
Dominique Maingueneau (campo discursivo e cenas de enunciação) e Luciana
Salgado (ritos genéticos editoriais), esta pesquisa visa, em última instância,
à discussão e ao debate a respeito da constituição da função de editor e das
práticas discursivas de editoria, tendo como base um exemplo às margens do
eixo centro-sul brasileiro, ou seja, para além do principal polo de produção e
comercialização de livros no país.

120
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

Aspectos da institucionalização e rarefação do


discurso literário de autoria feminina na Era Vargas
Autoria: JÚLIA MARIA COSTA DE ALMEIDA

A análise de determinados movimentos literários em perspectiva discursiva


mostrou a eficácia da noção de instituição discursiva (MAINGUENEAU, 2009),
especialmente no que se refere às condições de criação e institucionalização
do discurso literário envolvendo o surgimento de comunidades discursivas,
posicionamentos, formas de autoria, gêneros, suportes, meios de circulação
etc. Este trabalho se detém sobre a produção literária de escritoras de esquerda
nos anos 1930, no Brasil, período conhecido como Era Vargas, em que a
circulação do discurso político sofre fortes restrições sob regime autoritário
e perseguição política. Objetivamos levantar indícios das condições editoriais
de obras publicadas – Parque industrial, de Patrícia Galvão, Caminho das
pedras, de Raquel de Queiroz, e Condição feminina, de Lydia Besouchet –, e não
publicadas – Os desambientados e Histórias sem idade, de Haydée Nicolussi
– naquela década, lançando luz sobre o perfil das editoras e dos jornais que
efetivamente acolhem e fazem circular os textos dessas escritoras, assim como
as condições negativas, materiais e políticas, que contribuem para a rarefação
desses discursos e sujeitos. A partir de um diálogo entre os procedimentos de
exclusão, controle, seleção, funcionamento e institucionalização do discurso que
elenca Michel Foucault em A ordem do discurso (2004) e as noções de noções
de instituição e comunidade discursiva de Dominique Maingueneau (2009),
nosso olhar perscruta regularidades e dissimetrias no que tange ao sistema
de edição e de autoria que perpassa a produção dessas escritoras ao longo da
década de 1930, refinando a articulação teórica entre autores e perspectivas de
análise. Acreditamos que os resultados desta pesquisa possam lançar luz sobre
a história literária e política de um período fundamental para o entendimento
do Brasil contemporâneo, que gestou os princípios de formação da cultura e da
literatura brasileira, mas manteve alijadas dessa narrativa hegemônica as vozes
de mulheres, intelectuais e escritoras que deram contribuição indispensável à
compreensão da sociedade patriarcal.

121
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

Da formalização material do ensino de Português


Língua Estrangeira (PLE): uma proposta de
categorização editorial de materiais didáticos
Autoria: HELENA MARIA BOSCHI DA SILVA

Da perspectiva adotada neste trabalho, produzir um material de ensino de língua


estrangeira é impor uma forma ao que se entenda por língua e cultura por meio
da estabilização alcançada ao final de um processo editorial. Os materiais desse
tipo – sejam eles apostilas fotocopiadas, composições de atividades recortadas
de outros métodos, textos e imagens com ou sem autoria definida, organizados
em um PDF ou em livros com ISBN – são todos, por definição, objetos editoriais:
formalizações materiais preparadas para uma interlocução e uma circulação
específicas (SALGADO, 2020). Numa vertente dos estudos do discurso que
considera o processo de textualização indissociável de sua inscrição material,
os diversos procedimentos envolvidos na preparação de textos destinados à
circulação têm sido tratados como ritos genéticos editoriais (SALGADO, 2011,
2016). Muito comumente apagados, tanto em ambientes mais institucionalizados
quanto nas práticas cotidianas de produção textual para fins diversos, são
esses trabalhos, que ficam também nos bastidores do ensino de línguas – em
geral desconhecidos para aqueles que não atuam na área e para os próprios
usuários do material –, que garantem a qualidade formal dos objetos editoriais.
Levando em consideração os suportes de inscrição e a circulação prevista de
materiais didáticos produzidos para o ensino de português para estrangeiros
coletados entre 2017 e 2018 em Buenos Aires, propomos uma categorização
que tem como objetivo ampliar as possibilidades de manobra daqueles que
trabalham com essa formalização material do ensino de língua e de cultura:
materiais didáticos impressos de circulação institucional, livros didáticos
de circulação institucional, livros didáticos de circulação pública e unidades
didáticas digitais de circulação pública. Em nossa apresentação, discutiremos
suas principais características, estabelecidas a partir de aspectos editoriais
dos objetos coletados e de variáveis implicadas em seu processo de produção
segundo relatos das coordenações pedagógicas coletados no mesmo período

122
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

(os recursos humanos disponíveis, o prazo para sua produção, o orçamento,


a cultura gráfica vigente, as condições materiais de que o centro de ensino
dispunha), evidenciando a importância desses bastidores na viabilização ou
inviabilização do ensino conforme o projeto intelectual que o sustenta.

Edição na comunicação científica: as manobras de


editores e pareceristas e os regimes de autoria na
avaliação de artigos
Autoria: LETÍCIA MOREIRA CLARES

Estudar objetos editoriais representativos do tempo presente requer reflexões


constantes sobre as relações discursivas entre atores, práticas e processos,
que são frequentemente restabelecidas conforme se alteram as dinâmicas de
produção e circulação dos textos. Nesse sentido, propomos aqui discutir o caso
dos periódicos, que suscitam questões especificamente ligadas a essa condição
quando olhamos para o tratamento editorial de artigos. No cenário atual da
comunicação científica, o atendimento aos padrões impostos por agências
regulamentadoras coloca uma série de desafios para o funcionamento e a
existência das revistas, condicionando os ritos genéticos editoriais adotados por
cada uma delas. A gestão da autoria é um desses desafios, se considerarmos que
os artigos contam tanto na avaliação individual de pesquisadores quanto para
os programas de pós-graduação a que estão vinculados e os grupos de pesquisa
de que participam, viabilizando financiamentos. Ao investigar os processos de
edição de quatro revistas brasileiras de diferentes áreas, observamos como as
condições de produção dessa comunicação especializada interferem na trama
dos regimes de autoria que se tece na etapa de avaliação de artigos submetidos
à publicação: na GeoUSP: espaço e tempo, de humanidades, e na Revista do
Instituto de Estudos Brasileiros, interdisciplinar, revistas da USP que lidam
com problemáticas de editoração que, de saída, se põem pelo próprio fato de
publicarem as áreas que contemplam; na Cerâmica Industrial, revista de perfil
técnico que, vinculada à Associação Brasileira de Cerâmica e sediada na UFSCar,
faz parte do sistema científico vigente ao mesmo tempo em que se propõe a

123
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

outro tipo de circulação; na Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, revista


do Departamento de TO da UFSCar que tem revisto os modos de publicizar sua
atuação local, nacional e internacional segundo exigências de indexadores.
Tomamos como base a Análise do Discurso de orientação francesa, mais
precisamente a perspectiva discursivo-midiológica que se insere no percurso
teórico-metodológico que temos construído no Grupo de Pesquisa Comunica
(UFSCar/CEFET-MG) a partir da articulação de leituras de Debray (2000a, 2000b),
Maingueneau (2006) e Salgado (2011). Numa seleção de pareceres de cada uma
das quatro revistas, analisamos algumas das manobras linguístico-discursivas
de editores e pareceristas, coenunciadores editoriais que compõem duas
das instâncias decisórias da publicação científica, e discutimos de que modo
estão intrinsecamente ligadas ao funcionamento do sistema científico e seus
mídiuns, configurando o que chamamos de efeito de padronização – de artigos
e periódicos, de pesquisadores e agendas de pesquisa, das diferentes áreas de
conhecimento. (Apoio: FAPESP Processo 2017-14641-9).

Hipertextualidade, autoria e gênero em produções


didáticas
Autoria: JULIENE DA SILVA BARROS GOMES

A regulação das práticas textuais dá-se por instâncias discursivas diversas,


sejam entes, instituições, ou protocolos que regem a produção, a circulação
e o funcionamento dos textos. Um breve acesso aos estudos de discurso
(MAINGUENEAU, 2015; POSSENTI, 2009) nos ensina que o dizer é circunscrito
e que, na aparente transparência dos enunciados-textos, há conflitos e embates
de posições e ideologias, reminiscências de dizeres que se atualizam, fazem
sentido e interferem nos modos de ler e de se posicionar frente ao lido. Autores,
manuais de técnicas de escrita, revisores, diagramadores, convenções e outros
moldam, inserem, restringem, incluem textos e sujeitos na dinâmica discursiva
em que emergem e circulam. Um domínio onde este funcionamento regrado se
mostra com interessantes possibilidades analíticas é o das edições didáticas.
Livros didáticos, especialmente da última década, mostram-se como complexos
hipertextuais (BARROS-GOMES; SILVA, 2012) em que diferentes ordens de
significação, diferentes modos de textualização e diferentes constituições se

124
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

integram e se oferecem ao público escolar sob o pseudo manto da explicitude


do dizer didático e mobilizam a comunidade escolar, especialmente professores
e alunos. Tais agentes lidam cotidianamente com estas materialidades
multilineares, multissemióticas, como se se tratasse de práticas lineares,
monoreferenciais e unisubjetivas, digamos. Assim, temos por objetivo analisar
a complexidade da materialidade didática por meio dos questionamentos a
seguir: Qual é o papel do que se aloca na chamada perigrafia (COMPAGNON,
1979) ou paratexto (GENETTE, 1997)? Qual é o papel dos gêneros incluídos em
boxes laterais, em cabeçalhos e espaço de rodapé? Como entender o papel de
autores, editores e diagramadores? Neste trabalho, buscaremos responder a
tais questões numa perspectiva dos estudos de texto-discurso (BARROS, 2004,
2007), trazendo ao diálogo estudiosos da Análise do Discurso francesa e da
teoria literária. Com um olhar teórico-prático, analisaremos páginas de diferentes
coleções editados nos últimos PNLD, a partir de um paradigma indiciário
(GINZBURG, 1979) e proporemos caminhos analíticos para a constituição de uma
perspectiva complexa, com possibilidade de análises diferentes da materialidade
didática. No estágio em que a pesquisa se encontra, já podemos afirmar que,
das engrenagens deste dizer complexo e regrado que constitui a página do
livro didático, indícios de pertencimento, de novas tradições discursivas, de
novos gestos de escrita se desvelam e uma análise de tais fenômenos pode vir
a iluminar novas reflexões teóricas e diferentes práticas de leitura e de escrita
escolares com um olhar mais atento para questões como hipertextualidade,
autoria e gênero.

“O e-book de ‘Enquanto eu não te encontro’


esgotou porque a Seguinte comprou todas as
unidades”: um caso de circulação e paratopia
criadora na literatura juvenil brasileira
Autoria: VITORIA FERREIRA DORETTO

O romance jovem-adulto “Enquanto eu não te encontro” teve sua primeira edição


publicada em e-book na Amazon em 2020. Meses após seu lançamento, a obra
e seu autor, Pedro Rhuas, foram vencedores da primeira edição do CLIPOP, o

125
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

“Concurso de Literatura Pop” promovido pela editora Seguinte, selo dedicado


às publicações de obras voltadas ao público jovem da Companhia das Letras,
com o apoio do LabPub, uma escola EAD para o mercado editorial nacional, para
incentivar a criação de ficção voltada aos leitores jovens e buscar novas vozes
na literatura juvenil brasileira – em especial aquelas que pertençam a minorias
historicamente invisibilizadas na sociedade. Com a publicação da nova edição
prevista para o ano de 2021, a primeira edição da obra foi retirada da Amazon,
que indicou que ela estava esgotada e o que levou à criação de publicações no
Twitter citando razões para o e-book ter esgotado – numa forma de brincadeira,
pois, e-books não esgotam. Nos propomos aqui a analisar brevemente – a partir
do quadro teórico da análise do discurso de linha francesa, particularmente
das proposições de Dominique Maingueneau para o estudo do funcionamento
discursivo de materiais literários (isto é, para estudar o literário como um regime
de criação e produção, como um discurso) – as mudanças que o resultado do
CLIPOP provocou nas instâncias de autoria do cearense Pedro Rhuas, que
também é cantor, compositor e jornalista, que a partir da nova edição de seu
romance está no processo de se deslocar da posição de autor independente
para a de autor publicado por uma editora tradicional, e suas estratégias para
fazer sua obra conhecida por uma parcela de público que não se restrinja aos
seus seguidores das redes sociais, ou seja, as formas de circulação de sua obra
– que, vale lembrar, ainda está passando pelas transformações (textuais ou não)
necessárias para ser reeditada.

O político nas práticas editoriais de periódicos


científicos
Autoria: ALINE FERNANDES DE AZEVEDO BOCCHI
Coautoria: MARILURDES CRUZ BORGES

Neste trabalho, discorremos sobre como o político se conjuga à ciência,


particularmente à dimensão editorial das práticas linguísticas, tendo em vista
o modo como os periódicos científicos colocam em circulação o conhecimento
científico nos campos da Linguística e da Ciência da Linguagem. Consideramos,
a partir de Pêcheux, Althusser e Orlandi, a prática científica enquanto prática

126
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

social, na medida em que os conhecimentos por ela produzidos transformam


o conjunto das relações sociais. O campo científico (BOURDIEU, 1983),
compreendido como o lugar privilegiado onde ocorrem embates pelo monopólio
da competência científica, é constituído por inúmeras práticas alinhadas à
aquisição e manutenção de autoridade e legitimidade, de modo que o que é
percebido como importante e interessante é o que tem chances de ser reconhecido
e chancelado por outros pesquisadores. Uma das formas fundamentais na
busca por reputação e prestígio científicos é a publicação de resultados de
pesquisas em periódicos qualificados e com relevância consolidada. Trata-
se de uma prática de disseminação científica intra e extrapares, conforme
Bueno (1985), direcionada a um público especializado, embora também venha a
atender leitores especialistas em outras áreas do conhecimento, e de conteúdo
específico. Consideramos que a disseminação científica que se estabelece
por meio de instrumentos linguísticos deriva de uma prática editorial, que por
sua vez tem nos periódicos científicos o lugar de sua realização. Ela pode ser
considerada uma prática técnica, nos termos de Pêcheux, posto que recebem
da exterioridade uma demanda (HENRY, 2020). A prática técnica cria e viabiliza o
instrumento, cuja adequação obedece a uma demanda exterior, especialmente
relacionada com a política científica dos organismos de Estado, como as políticas
de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), no caso das revistas científicas brasileiras. A qualificação das revistas
científicas é uma preocupação das equipes editoriais que buscam manter
suas classificações perante os critérios de qualidade para periódicos. Nessa
conjuntura, a organização de edições temáticas e especiais tem contribuído
para alavancar o alcance das publicações, compondo um incremento no número
de acessos e citações dessas revistas. Mas, sobretudo, argumentamos que
essas edições também consistem numa importante oportunidade de colocar
em circulação temas de cunho crítico e que suscitem debates, seja no que
diz respeito a estudos de caráter teórico, seja de pesquisas que evidenciem a
dimensão social e política das práticas científicas, contribuindo, deste modo,
para a utilização do instrumento no sentido de intervir no combate ideológico.

127
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

Políticas e práticas da coenunciação editorial:


o debate de normas no trabalho linguístico
Autoria: LUCIANA SALAZAR SALGADO
Coautoria: JOSÉ DE SOUZA MUNIZ JÚNIOR

Esta comunicação discute as várias normas, explícitas e tácitas, que recaem


sobre o tratamento editorial de textos. Consideramos, aqui, um conjunto
heterogêneo de práticas profissionais, geralmente designadas como preparação,
copidesque, revisão de textos, entre outros termos, que entram em cena em
diferentes contextos e situações com o objetivo de tornar um texto apto à sua
publicação. Em trabalho anterior (SALGADO; MUNIZ JR., 2011), estabelecemos
alguns pontos de partida para pensar discursivamente tais atividades,
considerando em especial a produção de um lugar enunciativo específico para
esse profissional em correlação com outros dois, o de autor e o de leitor, e
destacamos a inseparabilidade entre o texto e suas condições de produção,
considerando as relações entre os vários discursos que regulam esse trabalho,
ora restringindo suas possibilidades, ora ampliando-as. Nesta ocasião, levando
em conta tais princípios de análise, exploramos a ideia de que se podem ver, no
micro do trabalho editorial com a língua, injunções maiores, que nos organizam
socialmente. Aspectos institucionais de diferentes sistemas de funcionamento
incidem sobre operações que poderiam parecer corriqueiras e eventualmente
desimportantes são, de fato, determinantes nas decisões sucessivas que os
profissionais do texto tomam, deixando rastros nos textos autorais. Nós nos
pusemos a seguir esses rastros, compilando casos e depreendendo deles
regularidades. Para tanto, estabelecemos que o estudo dos usos das normas
na prática editorial pode servir para compreender os regimes políticos de
micropoderes que regulam a circulação não apenas dos textos, mas também
das concepções de língua em dados contextos sócio-históricos. Entendendo
o coenunciador editorial não meramente como "aplicador" de normas, mas
como "operador" de um conjunto de regulações que incidem sobre textos de
natureza variada, por força de sua mediação e sob condições peculiares a cada
projeto editorial, sustentamos que os procedimentos de correção, padronização,

128
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

normalização e outros correlatos são, em última instância, reveladores dos


modos de construção de "normalidades" (e, portanto, de moralidades) por meio
da língua.

(Re)fazer o livro: a análise do discurso na busca


por práticas decoloniais de edição
Autoria: LUISA ARAUJO PEIXOTO

Sendo o livro parte de sistemas de validação, seja por sua posição de centralidade
na escola e na academia, seja pela existência por si só como objeto sobre
o qual se constroem sentidos simbólicos de conhecimento, ele passa, por
consequência, a compor sistemas de poder, assim como também o fazem seus
sistemas de edição e publicação (FOUCAULT, 1970, 1973, 1977). Em um país
como o Brasil, cuja própria construção se deu por via da colonização, racismo
e epistemicídio (GONZALEZ, 1984; CARNEIRO, 2005), não há como desvincular
a edição de livros desses fenômenos, que permeiam e estruturam todos os
setores da sociedade, e que ganham um peso ainda maior quando se trata de
relações de poder (CUTI, 2010; DALCASTAGNÈ, 2012). Esta apresentação, recorte
de pesquisa de mestrado defendida no ano de 2020, tem por objetivo refletir
formas de se pensar processos de edição (GENETTE, 2009; CHARTIER, 2010)
alicerçados em um comprometimento com propostas decoloniais (FANON,
2008; BERNARDINO-COSTA; MALDONADO-TORRES; GROSFOGUEL, 2018;
KILOMBA, 2019). Para tanto, parte de uma análise discursiva do que delimita como
“discursos de editoras”, apoiando-se na compreensão de que a consolidação
de uma linha editorial e publicações em um catálogo, entendido como gênero
discursivo (BAKHTIN, 1979), pode ser vista como representativa de seu trabalho.
São escolhidas duas editoras que têm participação no mercado escolar, o que
se justifica pela importância desse mercado tanto a nível de faturamento, com
grandes vendas para programas de compra do governo como PNLD e PNLD
literário, quanto por seu enorme alcance da população brasileira em etapas
fundamentais da formação educacional. São elas a espanhola Moderna, uma
das gigantes do mercado, e a mineira Mazza Edições, pequena editora de nicho,
especializada em culturas negras. Consideramos, aqui, a linguagem como
ferramenta de enorme potencial de intervenção na realidade (ROCHA, 2006)

129
Simpósio de Convidados
A dimensão editorial das práticas linguísticas

e, portanto, essencial quando se fala de combater o racismo e construir novas


possibilidades.

130
Estudos formais em sintaxe, semântica e
pragmática
Autoria: MARCELO FERREIRA
E MARCOS GOLDNADEL

Este simpósio busca promover discussões a partir de trabalhos desenvolvidos


em abordagens formais nas áreas de sintaxe, semântica e pragmática.
Enquadram-se na proposta apresentações sobre aspectos teóricos, empíricos
e metodológicos vinculados à gramática das línguas naturais, à interpretação
nos níveis lexical e sentencial e à relação entre significado e contexto. Serão
particularmente bem-vindos trabalhos de interface que explorem relações entre
sintaxe/semântica, semântica/pragmática e sintaxe/pragmática. Também estão
incluídos na temática do simpósio trabalhos que se valem de modelos formais
para a análise de fenômenos sintáticos, semânticos e pragmáticos relacionados
à aquisição e ao processamento de linguagem.

131
Simpósio de Convidados
Estudos formais em sintaxe, semântica e pragmática

A ambiguidade do nome singular nu no português


brasileiro
Autoria: ANTONIO JOSÉ MARIA CODINA BOBIA

Neste trabalho, proponho uma análise do nome singular nu (NN) do Português


Brasileiro (PB) como um elemento ambíguo; isto é, um elemento que vem do
léxico com diferentes traços formais dependendo da sua interpretação sintático-
semântica. As discussões sobre o NN no PB não são novidade na literatura
e até hoje não se chegou a um consenso sobre sua natureza. Para Schmitt
e Munn (1999), NNs são DPs com determinantes nulos sem número; para
Müller (2002) são NPs sem projeção de DP que funcionam como predicados
tópicos na periferia esquerda da sentença; para Pires de Oliveira e Rothstein
(2011) são nomes massivos com leitura de espécie. Aqui, no entanto, sigo, e
amplio, a análise de Lopes (2006) que propõe uma análise biunívoca para NNs
genéricos (1) e existenciais (2) visto que eles têm um comportamento diferente
em relação a Número: (1) Criança gosta de doce. *Ela/elas sempre pede(m)
para comprar. (2) Tem maçã na cesta. Ela/elas não ‘tava(m) madura(s), mas eu
trouxe do mercado assim mesmo. Em (1), o DP genérico exige uma anáfora plural,
enquanto o existencial em (2) aceita uma retomada anafórica tanto no singular
quanto no plural. Consequentemente, para a autora, os DPs existenciais teriam
a mesma estrutura que DPs indefinidos, com um determinante indefinido como
núcleo de NumP. Para explicar essas diferentes interpretações do NN no PB,
adoto uma abordagem sintática minimalista (CHOMSKY, 1995), pressupondo
que há feixes de traços que funcionam como diferenciadores entre as línguas
(ADGER, 2003). Segundo Adger (2003), esses feixes de traços formais regem
a arquitetura da gramática e variam entre as línguas. Assim, para sentenças
como “Criança gosta de doce”, aceitáveis no PB, os traços desse NN seriam
0[–R, +cont, –pl]: um determinante nulo (0), um traço que expressa genericidade
([–R, menos Referencial), um traço mais contável (+cont), indicando que o nome
não é massivo, e um traço menos plural (–pl]). Já, para uma sentença como
“Tem maçã na cesta”, o feixe de traços seria 0[–R, ?, +cont, –pl], com as mesmas
representações que a anterior, menos para o traço de referencialidade, que

132
Simpósio de Convidados
Estudos formais em sintaxe, semântica e pragmática

muda de [–R] para [–R, ?,], com o “?” indicando referência existencial. Defendo,
portanto, que o NN do PB pode vir do léxico com várias configurações de traços
formais e que, consequentemente, sua natureza não se limita apenas a uma
interpretação (Apoio: CAPES – Processo 8887.374915/2019-00).

A predicação sobre situações em sentenças panqueca


Autoria: LUANA DE CONTO

Neste trabalho, analisamos sentenças do tipo (1) “Criança é complicado”,


as chamadas sentenças panqueca. Nessa construção, a concordância não
marcada observada no adjetivo está associada a uma leitura de situação, em que
a propriedade do predicado não se aplica à entidade denotada pelo nome que
ocupa a posição canônica de sujeito, mas se aplica a situações que instanciam
essa entidade. Situamos este trabalho dentro do paradigma da Semântica
Formal e defendemos que o predicado se aplica a um primitivo de situação,
responsável pela instanciação do nome de espécie. Para tanto, levamos em
consideração aqui algumas propriedades dessa construção: genericidade e
subjetividade. A genericidade emerge da presença de nomes de espécie como
sujeito, enquanto a subjetividade se deve aos predicados de gosto pessoal,
que caracterizam a construção. Observamos que a construção não ocorre com
expressões definidas na posição de sujeito como em (2) abaixo, conforme já
observado por Rodrigues e Foltran (2015) e Mezari (2013). Pelo contrário, há uma
predominância de nominais nus nessas sentenças. Além disso, De Conto (2018)
já observou que a construção é restrita a predicados subjetivos porque é sensível
a ambientes de desacordo sem erro, e Carvalho, Martin e Alexiadou (2020)
acrescentam ainda que a construção seleciona especificamente predicados de
gosto pessoal. Argumentamos contra a posição de Carvalho, Martin e Alexiadou
(2020) de que o alvo da predicação não poderia ser uma situação, porque
consideramos que o exemplo apontado pelas autoras (3) não é a realização de
uma sentença panqueca porque é constituída por um predicativo descritivo
(também chamado ‘factual’), contrariando a própria observação das autoras de
que predicados de cores não ocorrem nessa construção. Consideramos que a
inaceitabilidade dessa sentença não permite que se descarte a predicação sobre

133
Simpósio de Convidados
Estudos formais em sintaxe, semântica e pragmática

situações porque ela advém na verdade da incompatibilidade desse predicado


em específico com a construção com concordância não marcada. Uma sentença
semelhante (4) contendo um predicado de gosto pessoal licencia a construção
sem maiores problemas. Ao nosso ver, é de fato o caso que a predicação incide,
sim, sobre um primitivo de situação e exploraremos caminhos possíveis para a
formalização do significado dessas construções.

As dimensões semânticas da locução 'pra x'


Autoria: LUISANDRO MENDES DE SOUZA
Coautoria: RENATO MIGUEL BASSO

A expressão 'pra caralho' (e similares, como 'pacas, pra burro, pra chuchu' etc.)
pode ser considerada um intensificador de grau no português com interessantes
peculiaridades sintático-semânticas. Do ponto de vista sintático, diferentemente
de intensificadores como 'puta', essa expressão pode aparecer em diferentes
posições sintáticas, tomando diferentes constituintes em seu escopo, como
nos exemplos: (1) Esse filme é legal pra caralho. (2) Eu assisti esse filme pra
caralho. Em (1), há intensificação aplicada ao adjetivo, de modo que o grau em
que o filme apresenta a propriedade “ser legal” é maior do que um standard de
comparação de uma classe contextualmente relevante de filmes legais. E em
(2), o escopo de pra caralho é, simplificadamente, o VP assistir esse filme, e a
interpretação é de repetição. Note ainda que se o VP não trouxer um verbo que
tenha interpretação de repetição, como em (3), a interpretação é análoga à de
(1) – há intensificação de 'gostar', simplificando as coisas – ou então de maior
extensão temporal, i.e. em (4) João passou mais tempo estudando do que um
certo standard: (3) Eu gosto desse filme pra caralho. (4) João estudou pra caralho.
Argumentamos que, do ponto de vista semântico, 'pra caralho' é, nos termos
de Gutzmann (2015), uma expressão mista, que contribui tanto na dimensão
veri-condicional, como um intensificador, quanto na dimensão uso-condicional,
expressando uma disposição do falante (hipótese que certamente se aplica às
outras locuções com a mesma estrutura). Neste trabalho, usando os insights
em Gutzmann (2015; 2019), propomos uma análise unificada (partindo de Solt,
2014) para as interpretações de 'pra caralho' que vimos acima, explorando suas

134
Simpósio de Convidados
Estudos formais em sintaxe, semântica e pragmática

propriedades veri- e uso-condicionais, no domínio nominal e no domínio verbal,


mobilizando sugestões de análise da literatura (KRIFKA, 1989; NAKANISHI, 2007;
SOUZA, 2010; entre outros). Além disso, em nossa proposta, comparamos 'pra
caralho' com 'muito', argumentando que aquele é um intensificar mais forte
(no sentido de envolver classes de comparação mais restritas), e avaliamos
composicionalmente o papel da preposição 'pra' nesse tipo de construção.

No princípio era o verbo: sobre a estrutura e a


interpretação dos infinitivos do português
Autoria: MAURÍCIO SARTORI RESENDE
Coautoria: ROBERTA PIRES DE OLIVEIRA

Este trabalho propõe uma análise composicional dos componentes subatômicos


dos infinitivos do português – tradicionalmente, tidos como uma das formas
nominais do verbo, cuja grafia assume sempre a presença de -r. Especificamente,
nós propomos uma derivação sintático-semântica, estágio por estágio, para
os três tipos de infinitivo. Seguindo a literatura em morfologia e sintaxe, os
infinitivos podem ser nominais ou verbais. Quando são verbais, nós defendemos
que eles podem ser verbos prototípicos ou que podem ser “mistos” – no sentido
de Chomsky (1970) –; ou seja, quando essas formas verbais são albergadas
dentro de DPs (projeções tipicamente nominais). Nossa hipótese é a de que
a primeira bifurcação entre os diferentes infinitivos a partir de AspP. Até esse
estágio, os infinitivos são VPs imperfectivos. Quanto aos infinitivos que são
nomes, a projeção nominal transforma a estrutura em um predicado de eventos,
que é ou nucleado por um artigo definido ou aparece nu denotando o tipo de
evento. Por seu turno, infinitivos verbais e mistos projetam T, mas infinitivos
mistos são valorados como atemporais (T[ ]), ao passo que os infinitivos
verbais são temporais (isto é, [±TEMPO]): T[–TEMPO] indica que o intervalo
de tempo da sentença encaixada é anafórico em relação à sentença matriz,
e T[+TEMPO] indica que o tempo da sentença encaixada é independente da
oração matriz: este pode ser um AGORA (relativo) ou FUTURO. Em síntese, a
ideia deste trabalho é relacionar as diferentes estruturas subjacentes às formas
infinitivas no português, tanto verbais quanto nominais, às suas diferentes

135
Simpósio de Convidados
Estudos formais em sintaxe, semântica e pragmática

interpretações semânticas, com ênfase em suas propriedades temporais e


aspectuais. O objetivo deste trabalho é derivar as estruturas com infinitivos,
desde suas raízes até suas relações sintáticas maiores, como aquelas que se
estabelecem com outros constituintes como, por exemplo, a sentença com
verbo finito que coocorre com a oração infinitiva, normalmente a sentença
matriz.

136
Interação e multimodalidade na descrição de línguas
Autoria: FLÁVIA BEZERRA DE MENEZES HIRATA-VALE E RENATA ENGHELS

Neste simpósio, propõe-se reunir pesquisadoras/es que têm trabalhado com


fenômenos linguísticos cuja explicação está essencialmente relacionada a
fatores de ordem discursivo-pragmática, interacional e multimodal, como
as construções insubordinadas, as orações desgarradas, as subordinadas
discursivas, as construções parentéticas, os marcadores discursivos ou
pragmáticos, os vocativos, as construções de polidez, de preservação de face e
de perspectivização, os memes de internet, entre outros. Isso significa dizer que
esses fenômenos são definidos não apenas em termos sintático-semânticos,
mas que sua função, e mesmo a sua forma, se constituem justamente na/pela
interação, nos mais diversos gêneros discursivo-textuais, incluindo os gêneros
da contemporaneidade, que conjugam diferentes semioses, e se encontram
nas redes sociais. Nesse sentido, esses casos impõem desafios teóricos, na
medida em que, embora se tenha avançado nos últimos anos na descrição das
línguas em uso, ainda se não chegou a uma proposta integrada para dar conta de
aspectos interacionais e multimodais. Há uma gama de diferentes perspectivas
teóricas a partir das quais esses fenômenos podem ser descritos, sob os pontos
de vista sincrônico e diacrônico, dentre eles os Modelos Baseados no Uso, a
Gramática Discursivo Funcional, a Teoria da Estrutura Retórica e a Análise da
Conversação. Serão especialmente bem-vindos trabalhos que explorem esses
fenômenos com base em dados de corpora, observando sua produtividade nas
línguas naturais e também tipologicamente.

137
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

A alternância entre indicativo e subjuntivo nas


orações concessivas introduzidas por "aunque" no
espanhol peninsular falado
Autoria: BEATRIZ GOAVEIA GARCIA PARRA DE ARAUJO
Coautoria: SANDRA DENISE GASPARINI BASTOS

A conjunção concessiva "aunque" é apontada como a mais produtiva das


conjunções concessivas da língua espanhola, tanto por estudos de natureza
normativa (ALARCOS LLORACH, 1999; GILI GAYA, 2000 [1943]; RAE, 2009), quanto
por estudos de natureza descritiva (CREVELS, 1998; FLAMENCO GARCÍA, 1999).
As orações concessivas introduzidas por "aunque" podem levar o verbo no
modo indicativo ou no modo subjuntivo, com diferentes valores pragmáticos
e semânticos, o que evidencia a relevância de se analisar essas construções.
Desse modo, este trabalho tem por objetivo analisar as construções introduzidas
pela conjunção "aunque" em amostras do espanhol falado peninsular, a fim de
verificar como a alternância entre o modo indicativo e o modo subjuntivo no
emprego dessas orações indica diferenças pragmáticas e semânticas relevantes
para a distinção dessas estruturas concessivas. A presente investigação
apoia-se no modelo teórico da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD;
MACKENZIE, 2008), de orientação funcionalista, que prevê a existência de quatro
níveis de análise organizados de maneira hierárquica: o Nível Interpessoal,
em que se descrevem as relações pragmáticas; o Nível Representacional,
responsável pelas representações semânticas; o Nível Morfossintático e o Nível
Fonológico, destinados ao trabalho de codificação linguística. Cada um desses
níveis está composto por camadas dispostas hierarquicamente, seguindo
uma orientação top-down, ou seja, decisões tomadas nos níveis superiores
(Formulação) restringem e determinam as decisões tomadas nos níveis mais
baixos (Codificação). Os dados selecionados para integrar a amostra pertencem
ao Projeto PRESEEA (Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español
de España y de América) e correspondem a um conjunto de entrevistas orais
coletadas nas cidades espanholas de Alcalá de Henares, Granada, Madri e
Valência. Considerando o modelo de análise adotado, o modo verbal é um

138
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

fator do Nível Morfossintático que se mostra relevante para a descrição dos


aspectos pragmáticos e semânticos que caracterizam os diferentes tipos de
construções concessivas introduzidas por "aunque". Nossa análise revela que a
escolha morfossintática do modo indicativo ou do modo subjuntivo se relaciona
à informatividade do conteúdo transmitido (casos de informação dada ou nova),
à factualidade da oração (factual ou não factual) e, ainda, à expressão ou não
da subjetividade do falante com relação à eficácia do conteúdo transmitido
pela oração concessiva para se opor ao afirmado na oração principal.

A construção [vgerúndio+que] na rede dos


conectores condicionais
Autoria: CAMILA GABRIELE DA CRUZ CLEMENTE

Alguns trabalhos referentes aos conectores condicionais têm apontado ‘supondo


que’, ‘considerando que’, ‘dado que’ e ‘posto que’, como microconstruções do
subesquema [V_que] na rede dos conectores condicionais (OLIVEIRA, 2019;
CLEMENTE, 2020). Esses estudos mostram que esses conectores apresentam
base verbal, que pode ter tanto a forma de gerúndio como a forma particípio,
que se juntam à conjunção “que” e passam a expressar significado condicional.
Entretanto, o que se propõe nesse trabalho, é que os processos de mudança
linguística e de construcionalização (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013) diminuíram
a esquematicidade desse subesquema e, a partir do século XXI, esse assume
a forma [Vgerúndio+que]. Ou seja, o subesquema [V_que], que antes poderia
ser preenchido por verbos no gerúndio e no particípio, se especifica e passa a
aceitar apenas verbos no gerúndio, mais especificamente, verbos cognitivos
que estejam conjugados no gerúndio. Além das construções ‘supondo que’
e ‘considerando que’, esse trabalho defende que [Vgerúndio+que] passa a
sancionar também as construções ‘imaginando que’ e ‘achando que’ a partir do
século XXI, o que demonstra sua crescente produtividade type e token. Logo,
o objetivo desse trabalho é descrever a construção [Vgerúndio+que], fruto do
processo de construcionalização do subesquema [V_que], como integrante
da rede dos conectores condicionais no século XXI, mais especificamente, no
nível de subesquema do esquema dos conectores condicionais. Para tanto, os

139
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

dados foram coletados do Corpus do Português, seguindo os seguintes critérios:


i) possuir os conectores ‘supondo que’, ‘imaginando que’, ‘considerando que’
e ‘achando que’; ii) estar datado no século XXI. Em relação ao aporte teórico,
utilizam-se, essencialmente, os conceitos básicos da teoria da mudança
linguística de Traugott e Trousdale (2013), que se enquadra nos Modelos
Baseados no Uso. A partir dessa pesquisa é possível concluir que a construção
[Vgerúndio+que] é um subesquema altamente produtivo na rede condicional,
uma vez que sanciona diversas microconstruções, tais como, ‘supondo que’,
‘imaginando que’, ‘considerando que’ e ‘achando que’, no século XXI na língua
portuguesa.

As microconstruções [deixar+ver] na história do


português
Autoria: TAÍSA BARBOSA ROBUSTE
Coautoria: JOSÉ ROBERTO PREZOTTO JÚNIOR

Este trabalho encontra abrigo teórico nos Modelos Baseados no Uso


(BARLOW; KEMMER, 2000), que busca explicações em termos de processos –
relacionados a fatores contextuais e cognitivos – que operam no uso da língua
e a ela conferem o caráter de um sistema adaptativo complexo que exibe,
concomitantemente, estrutura e considerável variância e gradiência (BYBEE,
2016). O princípio fundamental desses modelos teóricos é o de que a forma
básica de uma estrutura sintática é a construção, um pareamento simbólico
de uma estrutura gramatical complexa com seu significado, que pode ser
caracterizada com base nas propriedades de esquematicidade, produtividade
e composicionalidade (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013). Nessa perspectiva, a
mudança linguística é interpretada como uma nova representação na mente do
usuário, e é considerada sensível ao contexto, ambiente em que as construções
emergem, assumindo novas implicações pragmáticas, desenvolvendo novos
componentes de significado e adquirindo novas características formais
(SMIRNOVA, 2015). Com base nessas concepções, temos como objetivo geral
mapear as microconstruções [deixar + ver], na história do português, e, como
objetivo específico, analisar os micropassos de mudança pelos quais passaram

140
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

essas construções. Para a pesquisa, foi feita uma busca sincrônica de dados reais
da língua, a partir de banco de dados de língua escrita, disponível no Centro de
Lexicografia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Araraquara; e de um
banco de dados de língua falada, Iboruna, de responsabilidade do Projeto ALIP
(Amostra Linguística do Interior Paulista), sediado no Instituto de Biociências,
Letras e Ciências Exatas – UNESP – São José do Rio Preto; também foi feita
uma busca diacrônica no Corpus do Português (DAVIS; FERREIRA, 2006) de
ocorrências dos séculos XIII ao XIX. A análise diacrônica ratifica as conclusões
de Robuste (2018), que, em pesquisa de base predominantemente sincrônica,
indicou os diferentes pareamentos de forma e significado de [deixar + ver], a saber:
(i) tempo/modalidade, (ii) modalidade epistêmica com baixo grau de certeza,
(iii) função de marcador discursivo. Como contribuição para o tratamento do
objeto em estudo, nossa pesquisa possibilitou a explicitação da dinamicidade das
redes ao longo dos séculos, mostrando que as construções, na rede linguística,
não se encontram isoladas, mas se conectam e se estendem conforme a
necessidade comunicativa dos usuários (GOLDBERG, 2019).

Construções condicionais insubordinadas


adversativas no português do Brasil: aspectos
prosódicos
Autoria: CAMILA PIRES ALVES

Recentemente, há muitos estudos que analisam um fenômeno linguístico referente


ao uso não-prototípico de construções complexas. Trata-se de construções que,
ainda apresentando alguma marca de subordinação, são utilizadas de forma
independente, sem estarem relacionadas a uma oração principal, fenômeno
este denominado “insubordinação” (EVANS, 2007). Seguindo essa tendência,
este trabalho tem por finalidade descrever os aspectos prosódicos das
construções condicionais insubordinadas (CCI) encabeçadas por “se” com valor
adversativo no português do Brasil. Em um trabalho precedente (ALVES, 2019),
fundamentado em princípios funcionalistas (NEVES, 2002), essas construções
foram analisadas e descritas a partir de seus aspectos morfossintáticos e
semântico-pragmáticos, o que relevou características regulares e peculiares.
Em pesquisas sobre insubordinação em espanhol (SCHWENTER, 2016; GARCIA,

141
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

2017), a prosódia mostrou-se fundamental para demarcar a independência


sintática dessas construções, pois em casos de estímulos segmentais de mesma
estrutura, a entonação é o único elemento diferenciador entre construções
elípticas e insubordinadas. Ainda que o português seja uma língua entoativa e
tenha alguns de seus sentidos determinados prosodicamente, as relações entre
sintaxe e prosódia são pouco exploradas e não há trabalhos que analisem as
CCIs por meio da inter-relação entre esses dois níveis linguísticos. É o que ora
se propõe, portanto, nesta pesquisa. Para tal, adota-se pressupostos teóricos
de Traugott e Trousdale (2013), compreendendo as CCIs adversativas como
um fenômeno de mudança linguística por construcionalização, em que há um
novo pareamento entre aspectos da forma e do significado (construção). Para a
análise, são utilizados três corpora, um composto por ocorrências disponíveis em
corpora on-line e dois corpora de áudio ad hoc (um de construções subordinadas
e outro de CCIs adversativas, ambos com estrutura preposicional similar),
necessários à análise prosódica. Ao analisar os parâmetros prosódicos com
auxílio do software “Praat”, é possível comparar e determinar a entonação das
CCIs adversativas. A entonação, nesse sentido, é incorporada como um aspecto
muito importante da forma desse tipo de construção, esta, analisada a partir dos
graus de composicionalidade, esquematicidade e produtividade (TRAUGOTT;
TROUSDALE, 2013). Com o resultado deste trabalho, que propõe a análise de
um fenômeno ainda não plenamente descrito no português do Brasil, espera-se
contribuir com uma lacuna nos estudos das construções condicionais, estreitar
as relações entre a sintaxe e prosódia e juntamente com trabalhos realizados
em outras línguas (DEBAISIEUX; DEULOFEU, 2019; D'HERTEFELT, 2015; LÓPEZ,
2019, GRAS, 2011, etc.), contribuir para o entendimento de tal fenômeno como
um todo. (Apoio: FAPESP - Processo 20/02513-9)

Construções semi-insubordinadas no português


brasileiro: formas e funções
Autoria: EDER CAVALCANTI COIMBRA
Coautoria: FLÁVIA BEZERRA DE MENEZES HIRATA-VALE

Construções semi-insubordinadas (CSIs) são definidas por Van Linden e


Van de Velde (2014) como construções formadas por um constituinte matriz

142
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

simples seguido de uma 'dat-clause' (oração-que, oração substantiva iniciada


pelo complementizador 'dat', do neerlandês), que lhe serve de complemento
proposicional. Ao utilizar uma CSI, o falante expressa significado interpessoal
avaliativo, contido no constituinte inicial, sobre o conteúdo proposicional
da oração-que, a exemplo de “Importante que as universidades valorizem
os cursos de pedagogia e licenciaturas” (Corpus do Português). Trabalhos
anteriores demonstraram, em seu conjunto, elementos adjetivais, adverbiais,
nominais e interjeições secundárias como possíveis constituintes iniciais de
CSIs em algumas línguas indo-europeias (VAN LINDEN, VAN DE VELDE, 2014;
SANSIÑENA, 2019; entre outros). Neste trabalho, propõe-se a organização de
uma rede construcional (GOLDBERG, 1995) das CSIs, que inter-relacione suas
formas e funções verificadas em análise de dados sincrônicos do português
brasileiro, coletados no módulo Web/Dialetos do Corpus do Português (DAVIES,
2016). Utilizando expressões de busca para [X + oração-que], compostas por um
sinal de pontuação, um adjetivo, substantivo ou advérbio e a palavra ‘que’, foram
verificados todos os padrões obtidos como resultado e foi coletada ao menos
uma ocorrência de cada um que se confirmasse uma CSI, conforme os critérios
sintáticos e semânticos descritos na literatura. Dentre os quatro tipos formais já
citados, 209 diferentes lexias foram validadas como possíveis elementos iniciais
de CSIs. No âmbito dos significados, além de valor puramente avaliativo e valor
epistêmico, atestados para todos os tipos formais, encontram-se instâncias
adjetivais de valor deôntico e de valor evidencial. Propõe-se, portanto, um
esquema genérico de CSIs, caracterizado pelo pareamento entre a forma [X +
oração substantiva], em que X é um sintagma adjetival, adverbial, nominal ou
interjetivo, e o significado interpessoal de avaliação da proposição por parte
do falante. Este esquema abrange subesquemas de significados puramente
avaliativos, modais epistêmicos, modais deônticos, evidenciais, bem como
casos particulares de expressão de miratividade e negação enfática. (Apoio:
Fapesp - 2020/02598-4). Referências: DAVIES, M. Corpus do Português, Web/
Dialetos: 1 billion words, 2016. GOLDBERG, A. Constructions: A Construction
Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: University of Chicago
Press, 1995. SANSIÑENA, M. S. Patterns of (in)dependence. In: Insubordination:
Theoretical and empirical issues. BEIJERING, K.; KALTENBÖCK, G.; SANSIÑENA,

143
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

M. S. (ed.). Berlin, Boston: De Gruyter Mouton, 2019, p. 199-239. VAN LINDEN, A.;
VAN DE VELDE, F. (Semi-)autonomous subordination in Dutch: Structures and
semantic-pragmatic values. Journal of Pragmatics, n. 8, v. 22, p. 226-250, 2014.

Marcadores de disculpa en español: un estudio


sociolingüístico
Autoria: MARLIES JANSEGERS
Coautoria: RENATA ENGHELS

Este estudio se enmarca en el conjunto más amplio de investigaciones sobre la


cortesía, pero se centra en una estrategia de cortesía específica en español, a
saber, el acto de disculpa (BRAVO; BRIZ, 2004). Hoy día, el español dispone de
varias expresiones más o menos lexicalizadas que sirven el mismo propósito de
expresar arrepentimiento o disculpa: 'disculpa/e', 'perdón', 'perdona/e', 'lo siento',
'lo lamento'. Observando este conjunto de expresiones cuasi-sinonímicas, surge
la pregunta de saber cuáles son las diferencias semántico-pragmáticas entre
estos elementos: ¿hasta qué punto cumplen funciones discursivas divergentes?
y ¿estas diferencias se reflejan en su comportamiento distributivo? Además, es
bien sabido que el acto de disculparse constituye un acto de habla complejo
que no solo implica características internas sino también rasgos externos
a la lengua (p.ej. edad de la persona ofendida y el tipo de relación (cercana/
distante) entre los participantes, González-Cruz, 2012). De ahí la importancia
de estudiar estos marcadores desde un enfoque más amplio. Con el objetivo
de dar cuenta de este carácter multidimensional de la disculpa, el presente
estudio estudiará el fenómeno desde una perspectiva múltiple: no solo nos
centraremos en las distintas estrategias lingüísticas y fórmulas para expresar
una disculpa y su grado de cuasi-sinonimia, sino que también exploraremos su
conexión con factores externos: ¿en qué medida estos marcadores de disculpa
presentan variación en cuanto a los parámetros sociolingüísticos: edad, sexo
y nivel de instrucción? Los datos del estudio provienen del Corpus Oral de
Madrid (CORMA), que representa el español coloquial madrileño del siglo XXI
(ENGHELS et al., 2020). El análisis tomará en cuenta una serie de parámetros
morfosintácticos (la posición en la frase, el acto de habla precedente/siguiente,

144
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

las colocaciones etc.), así como los posibles valores pragmáticos añadidos
(p.ej. mitigación o ironía) que puede expresar cada uno de estos marcadores.
Una vez establecido el perfil semántico-pragmático de cada marcador, se
estudiará cómo estas variables de índole semántico-pragmática interactúan
con las tres variables sociales: el sexo, la edad y el grado de instrucción. BRAVO,
Diana; BRIZ, Antonio. Pragmática sociocultural: estudios sobre el discurso de
cortesía en español. Barcelona: Ariel, 2004. ENGHELS, Renata; DE LATTE, Fien;
ROELS, Linde. El Corpus Oral de Madrid (CORMA): materiales para el estudio
(socio)lingüístico del español coloquial actual. Zeitschrift Für Katalanistik, v. 33,
p. 45-76, 2020. GONZÁLEZ-CRUZ, María-Isabel. Apologizing in Spanish: A study
of the strategies used by university students in Las Palmas de Gran Canaria.
Pragmatics, v. 22, n. 4, p. 543-565, 2012.

Orações com ‘mas’ e ‘embora’ sob a perspectiva da


gramática discursivo-funcional
Autoria: TALITA STORTI GARCIA

Vários são os autores (KÖNIG, 1985; NEVES, 1999; CREVELS, 2000) que
reconhecem a proximidade entre as orações com 'mas' e com 'embora',
classificadas pela tradição gramatical, respectivamente, como coordenadas
adversativas e subordinadas concessivas. Esses dois tipos são reconhecidos
no rol das relações contrastivas, já que envolvem noções de contraposição e de
pressuposição (concebida, conforme Hengeveld (1998), como a relação existente
entre informação nova e compartilhada). Hengeveld e Mackenzie (2008), já
do ponto de vista da Gramática Discursivo-Funcional, também reconhecem
essa proximidade. Para eles, as orações introduzidas por 'although' (‘embora’)
e 'but' (‘mas’) configuram função retórica Concessão, uma estratégia utilizada
pelo falante para atingir seu propósito comunicativo. Trata-se, portanto, de
relações que se estabelecem entre dois Atos Discursivos de estatuto desigual,
um Nuclear e outro Subsidiário, sendo essa uma distinção atribuída pelo próprio
falante, a depender de suas intenções. De acordo com os autores, portanto, as
orações encabeçadas por 'mas' configuram um Ato Discursivo Nuclear, enquanto
as orações encabeçadas por 'embora', um Ato Discursivo Subsidiário. Com

145
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

base nessas considerações teóricas, o presente trabalho apresenta distinções


pragmáticas, semânticas e morfossintáticas que permitem caracterizar e
distinguir, em cada nível, as orações introduzidas esses juntores. Os dados
mostram que ambos atuam no Nível Interpessoal, na camada do Ato Discursivo
e do Movimento, mas apenas os casos prefaciados por 'embora' podem ocorrer
no Nível Representacional, quando constituem funções semânticas. No Nível
Morfossintático, as diferenças entre os dois tipos são várias, observadas nos
tempos e modos verbais e na ordenação das Orações. Nesse nível, as orações
com 'mas' engendram o processo morfossintático da coordenação, já que
as duas Orações envolvidas são independentes, enquanto as orações com
'embora' caracterizam-se pelo processo da cossubordinação, em que apenas
uma das Orações envolvidas é independente e a outra, dependente. O universo
de investigação consiste no Projeto Português Falado – Variedades Geográficas
e Sociais, disponibilizado pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa
em parceria com as Universidades de Toulouse-le-Mirail e de Provença-Aix-
Marselha (BACELAR DO NASCIMENTO, 2006).

"Se eu fosse vossemecê...": uma análise diacrônica


de construções condicionais insubordinadas com
a conjunção se no português
Autoria: MARIA CAROLINA CORADINI
Coautoria: FLÁVIA BEZERRA DE MENEZES HIRATA-VALE

Construções insubordinadas são aquelas que, embora apresentem traços formais


de subordinação, ocorrem de maneira independente, isto é, desvinculadas de
uma construção matriz (EVANS, 2007), como em “se eu fosse mais corajoso e ela
mais franca..” (Corpus do Português). Atestam-se diferentes tipos de construção
insubordinada em diversas línguas (BEIJERING; KALTENBÖCK; SANSIÑENA,
2019; EVANS, 2007; EVANS; WATANABE, 2016, entre outros), que, além de
apresentarem graus de independência variados, desempenham uma gama
de funções pragmático-discursivas. No caso das construções condicionais,
em particular as iniciadas pela conjunção se, caracterizam-se por ocorrerem
principalmente em contextos interacionais e expressarem valores deônticos,

146
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

avaliativos, assertivos e elaborativos (D’HERTEFELT, 2015), a exemplo de “Se você


pode ajudar o homem em alguma coisa…” (Corpus do Português). No português,
encontram-se ocorrências dessas construções do início do século XVI. Entre os
séculos XVI e XX, verificam-se casos que expressam desejo, expectativa, pedidos,
ofertas, ameaças, advertências e réplicas de valor adversativo, além de casos
convencionalizados que expressam polidez e modalização epistêmica, como as
construções "se me dá licença", "se me permite" e "se não me engano". Partindo da
premissa de que a língua é uma rede interconectada de pareamentos de forma e
significado (GOLDBERG, 1995), propõe-se neste trabalho uma análise diacrônica
das construções condicionais insubordinadas com se, observando variações
nas propriedades de esquematicidade, produtividade e composicionalidade
que evidenciam reconfigurações na rede à qual essas construções pertencem.
Para tanto, realizou-se uma ampla busca de dados, que compreende do século
XV ao XX, nos corpora Corpus do Português, em seu módulo histórico, e Corpus
Histórico do Português Tycho Brahe. Uma série de expressões de busca foi
testada em ambos os corpora, a fim de se obter o máximo de ocorrências
possível. Os resultados foram filtrados e coletados manualmente para posterior
descrição e análise, de acordo com seus traços morfossintáticos, semânticos
e pragmáticos. (Apoio: FAPESP - processo 02589-5). REFERÊNCIAS: BEIJERING,
K.; KALTENBÖCK, G.; SANSIÑENA, M. S. (ed.). Insubordination, Theoretical and
Empirical Issues. Berlim: De Gruyter Mouton, 2019. D'HERTEFELT, S. Insubordination
in Germanic: A Typology of Complement and Conditional Constructions. 2015,
Tese (Doutorado em Linguística) - Katholieke Universiteit Leuven, Leuven. EVANS,
N. Insubordination and its uses. In: NIKOLAEVA, I. (ed.). Finitiness: theoretical and
empirical foundations. Oxford: Oxford University Press, 2007. p. 366-431. EVANS,
N., WATANABE, H. (ed.). Insubordination. Amsterdam: John Benjamins, 2016.
GOLDBERG, A. Constructions: A Construction Grammar Approach to Argument
Structure (Cognitive Theory of Language and Culture). Chicago: University of
Chicago Press, 1995.

147
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

Uma investigação funcionalista da relação retórica


de comentário no português falado
Autoria: KÁTIA ROSEANE CORTEZ DOS SANTOS

No interior da ciência linguística, a depender da corrente teórica à qual o


pesquisador se filia e da abordagem adotada por ele, existem diversas maneiras
pelas quais um texto pode ser estudado. Nesta pesquisa, o texto é investigado
a partir de sua organização. Uma abordagem teórica coerente com essa
posição é fornecida pela Teoria da Estrutura Retórica (Rhetorical Structure
Theory – RST), teoria funcionalista que embasa as análises empreendidas
nesta pesquisa. Tal teoria considera que o texto é formado por partes (tanto
no nível da macroestrutura quanto no nível da combinação de orações) que
estabelecem relações entre si e fazem com que ele “faça sentido para alguém”
e que essas relações podem ser descritas a partir da intenção comunicativa do
falante e da avaliação que ele faz do ouvinte no momento da interação. Assim,
neste trabalho, à luz da RST, investiga-se especificamente uma dessas relações,
que são chamadas nesse quadro teórico de “relações retóricas”: a relação de
comentário, buscando caracterizá-la no que concerne a aspectos formais que
podem sinalizá-la (como a presença de conectivos) e a aspectos semânticos e
discursivos (como a intenção com a qual o falante a utiliza). O corpus da pesquisa
é constituído de cinco elocuções formais do gênero aula e de dez entrevistas,
todas coletadas e transcritas pelo Grupo de Pesquisas Funcionalistas do Norte/
Noroeste do Paraná (Funcpar). Os resultados obtidos com as análises das
ocorrências encontradas foram os seguintes: no que diz respeito à função, a
relação de comentário apresenta na porção satélite uma perspectiva de fora
do conteúdo exposto no núcleo, sendo apenas do tipo núcleo-satélite, e com o
comentário sempre na porção satélite do texto, incidindo sobre algo do tópico
discursivo ou do contexto discursivo; já em relação à forma, ela é caracterizada
pela presença de pronomes demonstrativos e de termos que se referem aos
participantes da situação comunicativa.

148
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

“Y me enamoré tía, me enamoré que flipas”.


Monitoring recent linguistic change in spanish
youth language: a comparative study on the
productivity of intensifiers and vocatives in real time
Autoria: FIEN DE LATTE
Coautoria: LINDE ROELS

In recent decades, youth language has become one of the preferred research
areas in sociolinguistics, not only because of its non-normative nature, but
mostly because it is recognized as a catalyst for language change (ECKERT,
1997). Since adolescents aspire to create and safeguard an in-group identity,
they constantly generate innovative linguistic forms (TAGLIAMONTE, 2016).
These ongoing changes might have accelerated recently by the expansion
of mass media (e.g. Twitter) and streaming services (e.g. Netflix) (JENKINS,
2009). However, few studies have empirically ‘monitored’ the speed at which
linguistic innovations are introduced into youth language. This presentation
aims to explore the speed and nature of recent language change within the
Spanish youth language by conducting a corpus analysis in real time. Data of
the contemporary CORMA corpus (ENGHELS et al., 2020) will be contrasted
with the highly comparable data of the COLAm corpus (JØRGENSEN, 2007),
collected at the beginning of the 21st century. The main goal is to investigate
whether the speed of change depends on the linguistic phenomenon under
study. It therefore scrutinizes the productivity of two typical phenomena of
youth language, namely the use of intensifiers (e.g. super-, mazo, que te cagas)
(ALBELDA, 2007) and vocatives (e.g. tío/tía, chaval/chavala, tronco/tronca)
(STENSTRÖM, 2008). Additionally, a variationist analysis, taking into account
gender and social class, will be conducted to verify the social diffusion of the
two phenomena. Preliminary results indicate that the inherent character of
the phenomenon – more subjective (i.e. intensifiers) versus intersubjective
(i.e. vocatives)– might determine the speed of change, as well as the speaker’s
gender, females being the leading linguistic innovators. References: Albelda
Marco, M. (2007): La intensificación como categoría pragmática: revisión y

149
Simpósio de Convidados
Interação e multimodalidade na descrição de línguas

propuesta: una aplicación al español coloquial. Peter Lang: Frankfurt am Main.


Eckert, P. (1997): “Why ethnography”, Ungdomssprak i Norden: 52–62. Stockholm
University. Enghels, R., De Latte, F., and L. Roels (2020): “El Corpus Oral de Madrid
(CORMA): materiales para el estudio (socio)lingüístico del español coloquial
actual”, Zeitschrift für Katalanistik 33: 45-76. Jenkins, H. (2009): Confronting
the Challenges of Participatory Culture: Media Education for the 21st Century,
Cambridge: MIT Press. Jørgensen A.M. (2007): “COLA: Un corpus oral de lenguaje
adolescente”, Oralia 3(1): 225-234. Stenström, A.-B. (2008): “Algunos rasgos
característicos del habla de contacto en el lenguaje de adolescentes en Madrid”,
Oralia 11: 207-226. Tagliamonte, S. (2016). Teen talk : the language of adolescents.
Cambridge: Cambridge University Press.

150
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos
Autoria: ADRIANA STELLA LESSA-DE-OLIVEIRA
E HELOISA MARIA MOREIRA SALLES

Identificados por condição fisiológica que lhes impede (ou dificulta) o acesso
ao input sonoro da língua oral, os surdos devem recorrer à língua de sinais,
que se manifesta na modalidade visual-espacial, considerada a modalidade
adequada à sua condição perceptual. Dessa forma, os surdos se identificam
social e culturalmente pelo uso da língua de sinais (cf. FERREIRA BRITO, 1985;
QUADROS, 1997; SKLIAR, 1998), enquanto o uso da modalidade escrita da
língua oral constitui um desafio, marcado por fatores psicossociais, que se
manifestam no âmbito político-institucional e na esfera das relações pessoais,
dando origem a uma situação complexa e singular de bilinguismo. Ao mesmo
tempo, a comunidade surda compartilha com a comunidade ouvinte a
nacionalidade, a história, e muitos outros referenciais culturais. Na sociedade
brasileira, tal situação envolve primordialmente a libras (língua brasileira de
sinais) e o português, com implicações relevantes para o sistema educacional
e para o campo da pesquisa científica. Em face das especificidades da situação
linguística da pessoa surda, ressalta-se a importância de promover a educação
bilíngue, o que significa propiciar ao surdo a educação com o uso da libras
(L1) como língua instrucional, em articulação com o ensino de português (na
modalidade escrita), como segunda língua (L2), e de outras línguas modernas.
A educação linguística vem, portanto, promover a valorização das línguas e a
conscientização a respeito da importância do conhecimento linguístico para
o desenvolvimento cognitivo e psicossocial do ser humano. Considerando a
relevância das teorias linguísticas na área de aquisição da linguagem – como
primeira ou segunda língua – e na área de investigação da gramática, bem como
das questões educacionais correlatas, objetiva-se, neste simpósio, oferecer
espaço para apresentação e discussão de estudos e de resultados da pesquisa
científica que dizem respeito à aquisição da língua de sinais e da língua oral
na modalidade escrita como segunda língua por surdos, bem como a respeito
da estrutura da gramática da libras. Igualmente relevantes, o simpósio acolhe
estudos que investigam práticas didático-pedagógicas orientadas para a
educação bilíngue – libras (L1) e português (L2) – no contexto educacional.

151
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

A correlação temporal em libras: uma análise


tipológico-funcional
Autoria: JUAREZ DOMINGOS CRESCÊNCIO NETO
Coautoria: ANGELICA TEREZINHA CARMO RODRIGUES

O objetivo deste trabalho é analisar o modo como as relações de tempo podem


se configurar na Língua Brasileira de Sinais (libras). Nosso fenômeno de estudo
parte da correlação temporal entre dois estados de coisas, um dependente,
tradicionalmente entendido como oração de tempo (subordinada), e outro
principal, tradicionalmente descrito como oração principal. Partindo de dados
espontâneos, propomos que a classificação, sobretudo, de ordem semântica
enriquece a investigação em libras, fomentando a análise do estatuto gramatical
das orações subordinadas nas línguas sinalizadas. Nossa investigação é realizada
à luz de uma abordagem tipológico-funcional (CROFT, 2001; CRISTOFARO, 2003),
que considera a análise de expedientes semânticos e pragmáticos associados
à expressão morfossintática da oração de tempo, com base numa perspectiva
translinguística e tipológica. A análise é feita com base em dados extraídos
do Corpus de Libras da UFSC, anotado por meio do software ELAN (Eudico
Linguistic Annotador). Selecionamos 36 vídeos desse córpus, escolhidos
pelo tipo de interação e pelo tema da conversa. Os parâmetros de análise
para identificar os modos de expressão das relações temporais nos discursos
produzidos em libras são: (i) estado de coisas temporal vinculado a um estado
de coisas principal; (ii) mobilidade da estrutura que veicula o estado de coisas
temporal, o qual pode estar anteposto ou posposto em relação ao estado de
coisas principal; (iii) valores semânticos que emergem dessa relação de tempo:
anterioridade, posterioridade e simultaneidade; (iv) modo de articulação entre os
estados de coisas: justaposição. Nossos resultados apontam para dois âmbitos
linguísticos, um de ordem morfossintática: (a.) a anteposição do estado de
coisas temporal é a ordem não marcada em nossos dados; (b.) não observamos o
uso de conjunção temporal manual; e outro de ordem semântica: (c.) os valores
temporais podem se sobrepor a valores causais e condicionais, principalmente;
(d.) há dependência semântica do estado de coisas temporal, motivo pelo qual

152
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

não pode ser expresso independentemente, como uma oração simples, por
exemplo. Como pode ser visto nas ocorrências em: 1. [IX CRESCER] IX SABER
[IX CRESCER] IFSC (Enquanto eu estava crescendo, eu frequentava o IFSC);
2. [IDADE 50 JÁ] PRECISAR NÃO (Quando já se está com 50 anos, não precisa
mais).

A ordem das orações condicionais na libras: uma


análise baseada em córpus
Autoria: FELIPE ALEIXO
Coautoria: ANGELICA TEREZINHA CARMO RODRIGUES

Nesta pesquisa, que tem como escopo a perspectiva da Gramática Funcional,


fazemos uma investigação sobre a posição das orações condicionais na
Língua Brasileira de Sinais introduzidas pelas conjunções SE, EXEMPLO e das
justapostas, ou seja, sem qualquer marcador manual. Buscamos descrever, por
meio de produções reais de uso, se as orações condicionais da Libras podem ser
enunciadas sob a forma [se p, q], quer dizer, com a oração condicional anteposta
à oração principal, ou a sua forma inversa [q, se p], com a condicional posposta
à oração principal. Para isso, relacionamos o tipo de informação veiculada
pelas prótases e, ainda, se apresentavam as noções de tópicos de retomada,
de contraste, de exemplificação ou de opção ou funcionavam como adendos
restritivos (nos termos de FORD; THOMPSON, 1986). Nossa pesquisa segue uma
abordagem quali-quantitativa. Nosso córpus reúne 64 ocorrências extraídas do
Corpus de Libras, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os dados
foram transcritos e anotados por meio do software ELAN. A análise dos dados
mostra que as orações condicionais na Libras apresentam sua forma não marcada
sob a posição anteposta, sendo a de uso mais frequente – 96,87%. A ordem
posposta, até então descrita pela literatura como não permitida, quer dizer, como
uma realização agramatical, foi encontrada em nossos dados (3,13%). As orações
condicionais antepostas veiculam informação dada/inferível, funcionando,
assim, como tópicos de suas sentenças, e as condicionais pospostas carregam
informação nova, funcionando como adendos das orações principais. Com
relação aos tópicos das orações antepostas, observamos a preferência pelo

153
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

uso de tópicos de opção (31,26%), seguidos pelos tópicos de retomada e de


exemplificação (23,43% cada) e pelos tópicos de contraste (18,75). As orações
pospostas, uma vez que veiculam informação nova, sempre funcionam como
adendos restritivos das orações principais. Com relação aos tipos de enlace entre
prótase e apódose, observamos que tanto as orações antepostas introduzidas
pela conjunção SE quanto as orações justapostas podem ser manifestadas sob
os quatro tipos de topicalização. As condicionais introduzidas pela conjunção
EXEMPLO, todavia, encerram tópicos de exemplificação. Portanto, identificamos
que a ordenação das orações condicionais da Libras está diretamente relacionada
ao tipo de informação veiculado e que o tipo de topicalização utilizado motiva o
uso, apenas, das orações introduzidas por EXEMPLO (tópico de exemplificação).

Aspectos morfológicos da libras: mapeamento e


análise de produções acadêmicas no catálogo de
teses e dissertações da Capes
Autoria: LUCINÉA DA SILVA SANTANA
Coautoria: ADRIANA STELLA CARDOSO LESSA-DE-OLIVEIRA

Sobre definições dos elementos gramaticais de línguas orais – fonológicos,


morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos – há, pela tradição acadêmica,
uma infinidade de estudos. Já no que diz respeito às línguas de sinais, o mesmo
não acontece, muito ainda precisa ser definido linguisticamente, como é o
caso das propriedades morfológicas em Língua Brasileira de Sinais – Libras.
Observamos que ainda não há clareza sobre a existência ou não de processos
flexionais, ou derivacionais, ou mesmo uma combinação de itens lexicais,
marcando as propriedades de gênero, número, grau, pessoa e outras, nessa
língua. Há algumas propostas assumidas sem maiores estudos e muita coisa
indefinida, precisando de esclarecimento. Assim sendo, este trabalho faz parte
de um estudo de maior amplitude e tem como objetivo inventariar pesquisas que
tratam da morfologia da Libras; logo, trata-se de uma pesquisa bibliográfica do
tipo “estado da arte”. A realização de um mapeamento de trabalhos sobre o tema
em questão advém da necessidade de exame do conhecimento já elaborado, que
aponte os enfoques abordados, além de conduzir novos estudos a apresentar

154
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

novas contribuições para a temática pesquisada. Buscamos, assim, no banco


de dados da Capes, teses e dissertações com as palavras-chave ‘morfologia’ e
‘Libras’, dos últimos cinco anos disponíveis nessa plataforma, quais sejam: de
2015 a 2019. Iniciando nossa busca pelas teses, a partir de seleção da área de
conhecimento ‘Linguística, Letras e Artes’, obtivemos 132 teses como resultado.
No entanto, observamos que apenas 1 traz como temática a Libras, a de Dias
(2015). As demais tratam de variados assuntos referentes ao Português. Essa
única tese encontrada teve por objetivo investigar o status das construções de
tópico na Libras, estando, dessa forma, fora da investigação especificamente
sobre a morfologia dessa língua. Na busca pelas dissertações sobre esse tema,
obtivemos 261 pesquisas, sendo que destas 256 abordam temas variados e
apenas 5 trazem a nomenclatura Libras ou Língua Brasileira de Sinais como
temática, mas nenhuma dessas tem como foco o estudo da morfologia da
Libras. Concluímos, assim, que são praticamente inexistentes investigações
que abordem de maneira direta e ampla esse tema, numa perspectiva de
aprofundamento da questão sobre como essa língua, a Libras, manifesta
determinadas propriedades como gênero, número, pessoa, categoria e outras,
abarcadas por muitas línguas orais de forma morfológica. Dessa maneira, uma
investigação sobre a forma de manifestação dessas propriedades em Libras,
se é na forma morfológica ou não, carece fortemente de investigação.

Estruturas com verbos de concordância em libras


– uma proposta de representação
Autoria: ALINE CAMILLA ROMÃO MESQUITA

O trabalho apresenta um modelo de representação das estruturas com verbos


de concordância da Língua Brasileira de Sinais (Libras), seguindo a proposta de
Manzini e Franco (2016) e Manzini et al. (2017) para os complementos oblíquos
das línguas orais (LOs). De acordo com os autores, o Caso oblíquo engloba
o Caso dativo e o Caso genitivo e se caracteriza por denotar uma relação de
inclusividade (?) entre dois argumentos. O complemento dativo, especificamente,
se identifica pela presença de uma categoria marcadora do argumento alvo,
que pode ser uma preposição (P), ou a flexão de caso no nome (Q). Assim, os

155
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

complementos dativos são introduzidos na sentença pelo núcleo P(?)/Q(?),


tanto em estruturas bitransitivas quanto em monotransitivas. Esse modelo
é adotado, neste trabalho, para as construções com verbos de concordância
em Libras. Esses verbos apresentam um movimento direcional, denominado
morfena DIR (MEIR, 2002), que marca uma trajetória no espaço de sinalização,
associada, no ponto inicial, ao sujeito e, no ponto final, ao objeto (alvo). As
construções com verbos de concordância em Libras correspondem, em muitos
casos, a sentenças com complemento dativo no Português Brasileiro (PB), tanto
em construções bitransitivas (cf. 1), quanto em construções monotransitivas
(cf. 2): (1) a. 1SENTREGAR2S PRESENTE. b. Eu entreguei um presente para você.
(2) a. 1STELEFONAR2S b. Eu telefonei para você. Seguindo as análises de Padden
(1983), Meir (2002) e Rathmann; Mathur (2002) para a Língua de Sinais Americana
e a Língua de Sinais Israelense (ASL e ISL respectivamente), consideramos
que, em Libras, as construções com verbos de concordância bitransitivas
e monotransitivas apresentam a mesma estrutura sintática. Em particular,
seguimos a análise de Manzini e Franco (2016) e Manzini et al. (2017) em relação
a complementos dativos nas LOs, e assumimos que verbos de concordância
bitransitivos e monotransitivos em Libras são projeções da categoria relacional
P/Q (?), lexicalizada pelo movimento direcional (morfema DIR).

Instrumento de transcrição de dados das


dissertações e teses que abordam língua de sinais:
uma análise sobre as pesquisas baianas
Autoria: EMMANUELLE FÉLIX DOS SANTOS
Coautoria: POLIANA DA SILVA LIMA ANDRADE e ADRIANA STELLA C.
LESSA-DE-OLIVEIRA

Este estudo apresenta um recorte de trabalhos de Pós-Graduação cujos corpora


consistem de produções em língua de sinais (LS). Em vista disso, discutir o
mecanismo de transcrição dos dados em Língua Brasileira de Sinais (Libras),
para fins de análise em pesquisas, torna-se questão relevante, principalmente, ao
considerar que, apesar da existência de diferentes propostas de representação
gráfica dessa modalidade de língua, ainda não existe um sistema de escrita

156
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

amplamente aceito, o que dificulta o acesso a corpora de textos escritos nessa


modalidade de língua (MCCLEARY; VIOTTI, 2007). No Brasil, alguns pesquisadores,
a exemplo de Felipe e Monteiro (1997) e Ferreira e Langevin (2010) desenvolveram
sistemas de notação, como glosas, para transcrição de sinais no intuito de sanar
as dificuldades encontradas ao analisar dados linguísticos dessa natureza.
Contudo, por não representar as estruturas fonológicas e morfossintáticas, as
glosas podem não ser suficientes para representar peculiaridades gramaticais
do sistema, o que tenciona para a necessidade de utilização de um sistema de
escrita de sinais, propriamente dito. Atualmente, encontramos nas pesquisas
brasileiras a utilização, ainda que incipiente, de quatro sistemas com essa
finalidade, a saber: o SignWriting (SW), a Escrita de Língua de Sinais (ELiS), o
Sistema de Escrita da Libras (SEL) e a Escrita Visogramada das Língua de Sinais
(VisoGrafia). Diante desse fato, indagamos se estes têm sido utilizados para
transcrição de dados e qual tem sido sua relevância na análise linguística. Dessa
forma, objetivou-se, com este estudo, analisar os sistemas de transcrição para
LS que as dissertações e teses, desenvolvidas nos programas de pós-graduação
da área de Letras/Linguística das universidades públicas da Bahia, têm utilizado
em suas análises, a fim de possibilitar maior fidedignidade e credibilidade frente
às especificidades gramaticais dessa modalidade de língua. Assim, utilizamos
como corpus 29 dissertações e 02 teses disponíveis nos bancos de dissertações
e teses de seus respectivos programas. Para construção dessa investigação,
nos subsidiamos em McCleary, Viotti e Leite (2010), Amaral (2012), Marinho
(2014), Quadros (2016) e outros que têm suscitado o debate. Constatou-se a
partir dos dados que, apesar de algumas pesquisas terem utilizado sistema
de notação de palavras ou a imagem seguida da descrição aspectual do sinal
para transcrever os dados em Libras, a maioria tem realizado a transcrição,
utilizando o Sistema de Escrita de Libras, e os resultados das análises desses
trabalhos refletem a importância da fidedignidade articulatória, obtida nessas
transcrições, especialmente, nos dados provenientes dos discursos de surdos.

157
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

O ensino de línguas para e com jovens, adultos


e idosos surdos: um levantamento de pesquisas
sobre educação bilíngue – libras (l1) e português (l2)
Autoria: POLIANA DA SILVA LIMA ANDRADE
Coautoria: ADRIANA STELLA C. LESSA-DE-OLIVEIRA E EMMANUELLE FÉLIX
DOS SANTOS

Pouco se tem refletido acerca das questões educacionais junto às pessoas


jovens, adultas e idosas surdas, principalmente com relação à investigação de
práticas didático-pedagógicas orientadas para a educação bilíngue – libras (L1)
e português (L2) – voltadas para esse público. Este trabalho objetiva apresentar
um levantamento das teses e dissertações que abordam a temática “educação
bilíngue para surdos”, bem como apresentar uma descrição da abordagem dessa
temática nesses trabalhos. Para tanto, utilizamos a metodologia da pesquisa
bibliográfica e documental, adotando como técnica de documentação as fontes
primárias e secundárias baseadas nos estudos de Pinheiro (2006) e Alves e
Santos (2018). As fontes envolveram estudos de legislações e de abordagens
teóricas, sendo as principais: Brasil (2002, 2005, 2013, 2015), Arroyo (2012), Freire
(1999, 2005, 2006), Lima (2019, 2020). A partir de levantamento feito na Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICIT), encontramos quatro trabalhos,
sendo três dissertações e uma tese, que abordam a temática sobre educação
bilíngue para surdos na perspectiva da educação de jovens, adultos e idosos. Na
Bahia, verificamos que a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) têm-se destacado
nas reflexões teórico-metodológicas no que diz respeito à investigação sobre
aquisição de libras (L1) e português (L2) por pessoas surdas nessa modalidade
de língua. Identificamos nessas instituições o estudo de Lima (2019) – uma
dissertação de mestrado, defendida em 2019 – que está circunscrito à área de
Educação e trata da temática em questão aqui, abordando a perspectiva do
trabalho educativo de consciência linguística dessas línguas, ao ponderar como
as realidades sociais, culturais, linguísticas, cognitivas e políticas dos jovens,

158
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

adultos e idosos surdos permitem o desenvolvimento de ensino-aprendizagem


de línguas pautado na educação problematizadora e libertadora defendida por
Freire (1999, 2005, 2006). Em conclusão, consideramos que a investigação sobre
práticas didático-pedagógicas orientadas para a educação bilíngue – libras
(L1) e português (L2) – voltadas para pessoas jovens, adultas e idosas surdas,
é ainda incipiente, carecendo fortemente de ampliação do estudo sobre esse
tema, sobretudo ao se verificar a relevância desse frente ao impacto social que
pode advir de tais pesquisas, considerando-se que a proficiência em libras e em
português por surdos pode abrir caminhos na emancipação política, cultural e
social desses sujeitos, já tão marginalizado.

Sintagmas locativos na língua de sinais brasileira:


efeito de modalidade na aquisição de português
(l2) escrito por surdos
Autoria: SILVIA SARAIVA DE FRANÇA CALIXTO

O estudo investiga a realização sintática de argumentos locativos em predicados


com verbos com movimento direcional (VMD) na Língua de Sinais Brasileira
(LSB), em oposição a predicados que não apresentam essa propriedade (VSMD).
Adotando o quadro teórico gerativista (CHOMSKY, 1986, 1995), assumimos a
hipótese de que os argumentos locativos são licenciados por concordância (i)
pelo movimento direcional (DIR) na estrutura do VMD (QUADROS; KARNOPP,
2004) (1), (ii) pela localização do sintagma locativo, que pode ser a indicação
de um ponto à frente do sinalizador, no espaço neutro de sinalização, ou o
uso do ponto de articulação no corpo do sinalizador, conforme ilustrado em
(1), (2) e (3) respectivamente. Dessa forma, a concordância locativa realiza o
caso oblíquo por meio de um morfema afixal no verbo ou no sintagma locativo.
(1) 1p-IR-DIR-Loc CINEMA-Loc (2) PROFESSOR TRABALHAR UNIVERSIDADE-
DE-BRASILIA-Loc (3) PADRE MORAR IGREJA-Loc Considerando a interferência
da L1, investigamos a interlíngua do surdo no desenvolvimento do português
escrito como L2, em relação ao uso da preposição na estrutura do sintagma
locativo. Verificamos que comparando os predicados em função da distinção
entre verbos de movimento e verbos sem movimento direcional. Verificamos

159
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

a preferência pelo sintagma locativo sem preposição em predicados que, em


LSB, correspondem aos verbos VM (4), e em predicados que correspondem
aos verbos SM (5) (Calixto 2019). (4) (...) Meu pai viajar São Paulo (Inf2A) (5) (...)
mora São Paulo (Inf2A) Concluímos que existe interferência da L1, porque, na
língua alvo (o português), a categoria preposição é um morfema livre, enquanto
na L2, é um morfema afixal. Nesse sentido, o ensino de português L2 (escrito)
deve indicar a relação entre o afixo locativo na L1 e o uso da preposição na
língua alvo. Referências: CALIXTO, S. Sintagmas locativos na Língua de Sinais
Brasileira: efeito de modalidade na aquisição de português (L2) escrito por
surdos. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, 2019. QUADROS,
R.; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2004. WHITE, L. Second Language Acquisition and Universal
Grammar. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

Topônimos em libras: a questão da iconicidade na


formação da unidade lexical
Autoria: ALEXANDRE MELO DE SOUSA

A Toponímia é a área da Onomástica que se dedica ao estudo dos nomes


próprios de lugares (DICK, 1990, 1992). A análise de dados toponímicos revela
características da cultura, do modo de vida, das tradições, da espiritualidade e
das visões de mundo dos usuários de uma língua, além de fatores relacionados à
constituição ambiental (animal, vegetal, hídrica, mineral) e político-organizacional
do espaço onde vive um grupo. Esses fatores de ordem física e antropocultural
acham-se refletidos na unidade lexical – o que a torna um fóssil linguístico
(DICK, 1990) – e podem ser recuperados pelo estudo do designativo uma vez
que a linguagem permite o acesso ao extralinguístico por meio dos significados
(COSERIU, 1978). Esses aspectos são observados tanto nos estudos toponímicos
das línguas orais quanto das línguas de sinais. Em relação à Língua Brasileira
de Sinais (Libras), estudos como os de Souza-Junior (2012), Abreu (2012), Sousa
(2018, 2019), Sousa e Quadros (2019, 2021) têm apresentado características de
ordem estrutural e semântico-motivacional que revelam como a cultura e a
visão de mundo dos sujeitos surdos são refletidas nas nomeações (nos sinais)

160
Simpósio de Convidados
Língua de sinais, gramática e bilinguismo dos surdos

atribuídas aos espaços geográficos. O objetivo do presente estudo é verificar


as características icônicas projetadas, tanto na estrutura fonomorfológica,
quanto na construção semântico-motivacional dos sinais que nomeiam espaços
geográficos acreanos. Utilizamos a proposta de Taub (2001) para analisar o
processo de formação dos itens icônicos a partir das etapas de seleção (image
selection), esquematização (schematization) e codificação (encoding). Os dados
utilizados no presente estudo são sinais toponímicos de municípios acreanos
(SOUSA, 2019) e bairros de Rio Branco (SOUSA, 2021), do banco de dados do
projeto Toponímia em Libras, desenvolvido na Universidade Federal do Acre.
Utilizamos a proposta metodológica de Dick (1990), adaptada por Sousa (2019)
para a análise estrutural e para a classificação motivacional dos topônimos em
línguas de sinais. Os resultados mostraram que, como apontaram Perniss (2007)
e Quadros (2019), a modalidade visual-espacial das línguas de sinais influencia
– especialmente por conta do espaço tridimensional de produção dos sinais – a
estrutura fonomorfológica e motivacional dos sinais, representando informações
do espaço natural (flora, fauna, elementos hídricos, elementos geológicos entre
outros) e do contexto antropocultural (como atividades profissionais, elementos
culturais entre outros).

161
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural
Autoria: ANA VILACY GALÚCIO
E LUCIANA STORTO

É fato incontroverso que as línguas dos povos originários têm muito a contribuir
para o desenvolvimento da tipologia linguística, para a reconstrução da pré-
história do território que hoje se chama de Brasil e para o aprimoramento
das teorias linguísticas. Esta chamada para a submissão de trabalhos de
pesquisa (apresentações orais de 15 minutos) tem como objetivo congregar
trabalhos que contemplem qualquer um desses temas/objetivos, a fim de que
possamos aprimorar o conhecimento linguístico à luz das línguas nativas. Por
acreditarmos que é chegada a hora de integrar a pesquisa feita nas áreas de
ciências sociais, história, educação, antropologia, arqueologia e linguística
sobre os povos originários e investir para tornar este conhecimento acessível
para a sociedade, encorajamos que os trabalhos submetidos para apresentação
neste simpósio sejam, se possível, interdisciplinares, ou que se esforcem para
incorporar estudos sobre mais de uma disciplina, língua, família linguística
ou perspectiva teórica. O simpósio busca reunir estudiosos, pesquisadores e
demais especialistas interessados em contribuir para as discussões e os estudos
das línguas indígenas, em diferentes abordagens, facilitando o diálogo entre
especialistas dessas diversas áreas. São bem-vindas descrições de fenômenos
linguísticos de qualquer subárea da linguística (fonética, fonologia, morfologia,
sintaxe, semântica, pragmática e discurso), envolvendo uma ou mais línguas,
trabalhos que comparem línguas ou famílias linguísticas, tracem relações
entre perspectivas teóricas diversas, agreguem conhecimento já produzido por
diferentes disciplinas ou contribuam para a reconstrução de línguas faladas no
passado e no presente, assim como trabalhos interdisciplinares envolvendo
as línguas indígenas e quaisquer das disciplinas relacionadas.

162
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

A condicionalidade nas línguas indígenas


brasileiras: uma análise tipológica-funcional
Autoria: FABIANA PIROTTA CAMARGO LOURENÇO

Na literatura linguística, há muitos trabalhos que se ocupam em descrever


a condicionalidade nas mais variadas línguas, sob diferentes perspectivas,
havendo então diferentes maneiras de se conceituar essa categoria (DUCROT,
1972; HAIMAN, 1978; COMRIE, 1986; DIK, 1990; NEVES, 2000, entre outros). Esses
trabalhos, em sua maioria, se preocupam com a descrição da condicionalidade
em línguas tradicionais, nas quais o valor condicional é marcado por meio de
conjunções que caracterizam as chamadas orações condicionais. O que se
observa, no entanto, é que apesar de haver muitos esforços para a compreensão
dessa categoria no português brasileiro, no que diz respeito às línguas indígenas
brasileiras, muito pouco tem sido feito para caracterizar a manifestação do
valor condicional, que é tratado apenas pontualmente em gramáticas e estudos
morfossintáticos de línguas específicas. Nesse contexto, é visível a necessidade
de uma descrição mais abrangente da condicionalidade nessas línguas, já que
nelas a manifestação e marcação das categorias linguísticas se dá de maneiras
com as quais muitas vezes o linguista não está habituado. Tendo em vista este
panorama, o objetivo desta pesquisa é propor que se faça uma sistematização da
expressão da condicionalidade nas línguas indígenas brasileiras a partir de uma
perspectiva funcional-tipológica baseada no modelo de análise estabelecido
pela Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008), que
se mostra especialmente adequado para os estudos tipológicos, ao distinguir,
para cada ato de discurso, suas características interpessoais, representacionais,
morfossintáticas e fonológicas. Assim, os expedientes de manifestação do valor
condicional e as relações por eles estabelecidas serão localizados nas camadas
da estrutura linguística, conforme o modelo proposto pela GDF, buscando-
se, por fim, chegar a uma classificação tipológica que, além de abordar as
diferenças entre as línguas no que diz respeito à condicionalidade (sejam elas
morfossintáticas, semânticas ou pragmáticas), contribua com o estreitamento
de relações entre a Linguística no Brasil e a área de Linguística Indígena. (Apoio:
Capes)

163
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

A constituição da Língua Geral Amazônica


segundo a linguística ecológica de Mufwene
Autoria: THOMAS DANIEL FINBOW

Apresentamos uma análise da constituição da Língua Geral Amazônica


(LGA), a partir dos conceitos-chaves da Linguística Ecológica de Salikoko
Mufwene (2003, 2008), p. ex., ‘ecologia interna’, ‘ecologia externa’, ‘feature pool’,
‘princípio fundador’, ‘reestruturação, dentre outros, proposta ainda não feita
na literatura. Adotamos esse quadro teórico porque existem muitos paralelos
entre a formação da LGA e o fenômeno da crioulização de línguas românicas e
germânicas nas colônias europeias que Mufwene analisa. Também acreditamos
que a abordagem ecológica reflita com maior fidedignidade as complexas
interações no plano micro que acabaram se manifestando no plano macro.
No entanto, advertimos que há numerosas particularidades na ecologia da
colônia amazônica de Portugal, que faziam com que a situação divergisse das
modelagens clássicas de crioulização, p. ex., Thomason e Kaufman (1988), Baxter
e Lucchesi (2009). Portanto, não compartilhamos a visão de Nobre (2016) de que
a ‘transmissão irregular’ (BAXTER; LUCCHESI, 2009) da língua Tupinambá pode
ser responsabilizada pelas mudanças estruturais no Tupi Antigo, constituindo,
portanto, um quadro de crioulização clássica. Insistimos, ainda, que, devido
a importantes diferenças na ecologia externa, é preciso desenvolver uma
periodização que distingue entre a Língua Geral setecentista, pelo menos duas
variedades da Língua Geral oitocentista, e a Língua Geral ou Nheengatu do
século XIX. Por outro lado, discordemos que a ‘língua geral corrupta’ mencionada
pelo jesuíta João Daniel, que trabalhava nas missões amazônicas de 1741 a
1747, em sua obra Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas (1757-77/2004),
seja uma ‘terceira língua’ entre a ‘língua brasílica’ e o ‘Nheengatu’ (Lee 2005).
Na nossa análise, no primeiro momento, um koiné teria surgido nos arredores
de São Luís do Maranhão e por Belém do Pará, a partir das variedades do Tupi
Antigo, falado nativamente não apenas pelos Tupinambá, Portiguara e Tobajara,
entre outros, como também por muitos colonizadores, e ainda outras línguas
Tupi-Guarani da região, p. ex., Tembé, Guajajára, Kaapor, etc. Posteriormente,

164
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

principalmente nos aldeamentos paraenses, quantidades expressivas de povos


não falantes de línguas Tupi-Guarani adquiriam o koiné TG sob condições pouco
estruturadas, causando outra reestruturação muito mais profunda. Finalmente,
o convívio íntimo e prolongado da LGA e a língua portuguesa no século XIX
geraria outra fase de reestruturação que provocaria o alinhamento gramatical
observado entre o português e o nheengatu registrado a partir de 1850. O projeto
de Iniciação Científica que serviu de base para esta apresentação recebeu apoio
financeiro na modalidade Bolsa FFLCH para o período 06.11.2019 a 05.11.2020.

A natureza e declínio da língua geral paulista como


reflexo de mudanças demográficas e econômicas
na capitania de São Paulo
Autoria: THOMAS DANIEL FINBOW

Nesta apresentação, analisamos o impacto de fatores extralinguísticos na


evolução estrutural e na vitalidade da Língua Geral Paulista (LGP). A história
da Língua Geral Meridional ou Língua Geral Paulista (LGP) (RODRIGUES, 1996)
tem sido muito menos estudada que o percurso diacrônico da Língua Geral
Setentrional ou Amazônica (LGA), devido principalmente à falta de fontes.
Apenas quatro documentos sobrevivem que registram a língua: Von Martius
(1867), Saint-Hilaire (1847/1937), Oliveira (s.d./1936) (LEITE, 2013) e o Vocabulário
da língua geral dos índios das Américas (RODRIGUES/MONSERRAT, 2001).
Segundo Holanda (1956[2017], p. 189), as fontes dos meados do século XVIII
tratam o conhecimento generalizado da língua geral como um fenômeno do
passado, acusando um declínio vertiginoso entre o século XVII e o século XVIII.
Os relatos de viajantes europeus durante a primeira metade do século XIX, p.
ex., Von Martius e Saint-Hilaire, entre outros, apontam para a língua já estar
moribunda na cidade de São Paulo. Entretanto, parece que, embora o quadro
geral tenha sido também de declínio, como Martius observou (1867, p. 100), a
LGP tenha sobrevivido mais tempo fora dos centros urbanos. Iniciando com
uma análise dos dados linguísticos existentes, todos do período final da LGP,
passamos a cruzar as informações fornecidas por fontes primárias e as análises

165
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

de historiadores econômicos e sociais da capitania e, posteriormente, província


de São Paulo, p. ex., Gadelha (1980), Balhana (1986), Hemming (1987), Bacelar
(1990), Monteiro (1996), Silva (2000), Silva et al. (2008), Ferlini (2009). Adotamos a
posição de Monteiro (1996) de que as parcelas livres da sociedade paulista eram
essencialmente bilíngues em LGP e português e que monolinguismo em língua
indígena caracterizava a classe escravizada. Aplicando o modelo ecológico de
Mufwene, p. ex., 2003, 2008, entre outros, em se apontam os paralelos entre
mudança linguística e genética populacional, notamos que as mudanças na base
econômica do planalto paulista (gado > trigo > cana-de-açúcar > café) implicava
mudanças demográficas importantes na região que teriam atingido a vitalidade
da língua geral. Modificações na ecologia externa como as proporções relativas
de escravos e libertos de origem indígena e africana e de colonos luso-brasileiros,
cada grupo com suas respectivas competências mono- e plurilinguísticas, e os
diferentes graus de interação entre eles, impactariam reiteradamente no ‘poço’
de traços linguísticos e, consequentemente, na ecologia linguística interna dos
integrantes da sociedade paulista, fomentando um favorecimento da língua
portuguesa que, por fim, provocou, o abandono da LGP.

A ordenação de marcas de evidencialidade,


modalidade e negação em línguas nativas do brasil
Autoria: VÍTOR HENRIQUE SANTOS DA SILVA

A ordenação das partes que compõem um enunciado, seja na descrição de uma


língua específica, seja em uma perspectiva tipológica, recebe, desde sempre, a
atenção de linguistas das mais diversas correntes teóricas. No que concerne
especificamente à ordenação de categorias semânticas, como evidencialidade,
modalidade e negação, várias são as propostas que almejam hierarquizá-las
com base em seu escopo na sentença, postulando posições no enunciado a
partir do radical ou da palavra sobre a qual atuam. Inicialmente, propuseram-
se hierarquias mais simples, com poucas ou com uma única posição para
cada categoria, como as de Foley e Van Valin (1984), Bybee (1985), Hengeveld
(1989), Nuyts (2000), entre outros autores. Posteriormente, essas hierarquias
ampliaram-se e complexificaram-se, a fim de captar as particularidades dos

166
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

diferentes subtipos que compõem as categorias mencionadas (CINQUE, 1999;


2006; NARROG, 2009; NUYTS, 2017, entre outros). Na intenção de contribuir com
o refinamento dessas hierarquias, este trabalho, centrando seu interesse na
evidencialidade e em sua interação com a modalidade e com a negação, objetiva
analisar, em uma perspectiva tipológica, o modo como a ordenação dessas
categorias reflete as relações de escopo entre elas, enfocando particularmente
a variedade de subtipos que delas se reconhecem atualmente. Para tanto,
adota-se o aparato teórico da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD;
MACKENZIE, 2008) e as classificações da evidencialidade, da modalidade e da
negação propostas por Hengeveld e Hattnher (2015), Hattnher e Hengeveld (2016)
e Hengeveld e Mackenzie (2018), respectivamente, que entendem o enunciado
como estratificado e que reconhecem os subtipos dessas categorias a partir da
camada e do nível linguísticos em que atuam. Além disso, o conjunto de línguas
a ser analisado fica restrito a línguas nativas do Brasil, já que, em várias delas, se
verificam dois requisitos básicos para este estudo: i) marcar gramaticalmente a
evidencialidade, a modalidade e a negação; e ii) dispor de marcas especializadas
para diferentes subtipos evidenciais (conferir Aikhenvald (2004), Salanova e
Epps (2012) e de Haan (2013) sobre a distribuição da evidencialidade nas línguas
desta parte do continente americano). Os primeiros resultados confirmam as
nossas hipóteses de que a maior parte das interações entre essas categorias
reflete as hierarquias pragmáticas e semânticas de estruturação do enunciado
e de que a semântica das categorias é determinante nos casos em que elas
tenham escopo sobre a mesma camada.

Aspectos da história, gramática e ensino da língua


kheuól do Uaçá
Autoria: GLAUBER ROMLING DA SILVA
Coautoria: GELSAMA MARA FERREIRA DOS SANTOS

Este trabalho tem por objetivo abordar três aspectos dos estudos sobre a
língua kheuól do Uaçá, a saber: sua história, gramática e ensino. Apresentamos
as principais fontes para o estudo da história do kheuól do Uaçá, desde suas
raízes no ‘créol de Cayenne’ (BARRÈRE, 1743, p. 40 apud JENNINGS; PFÄNDER,

167
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

2018, p. 10), língua derivada do francês, também conhecido como guianense,


passando por seu uso como língua franca da região entre a Guiana Francesa e
o Amapá, até seu estabelecimento, em variedades diferentes, como língua de
identidade de dois povos indígenas brasileiros distintos, os Karipuna e os Galibi-
Marworno, no município de Oiapoque, Brasil. Buscamos apresentar os eventos
históricos que influenciaram o surgimento do guianense e que desembocaram
na formação de uma comunidade de fala multilíngue e diversa na região do Uaçá
com o kheuól, como o Tratado de Utrecht em 1713, passando pelo Contestado
franco-brasileiro do século XIX, até a consolidação fronteiriça do século XX.
Abordamos alguns traços tipológicos que distinguem a gramática de ambas
as variedades do kheuól do guianense atual, ao apresentarmos um panorama
dos principais fenômenos gramaticais. Por fim, relatamos as características em
suas distintas variedades karipuna e galibi-marworno, seus usos cotidianos e o
atual estado da arte do ensino nas escolas indígenas da região do Uaçá. Falamos
das iniciativas promovidas pelo projeto de ‘Valorização de línguas crioulas do
Amapá e Norte do Pará’ que resultaram na atualização das ortografias (SANTOS;
MARA; SILVA, GLAUBER, 2020) de maneira representativa e a na produção de
materiais didáticos e paradidáticos para o estudo das duas variantes do kheuól
do Uaçá, faladas pelos Karipuna e pelos Galibi-Marworno (SILVA, Jaciara Santos
da; SANTOS, Nordevaldo dos; CHARLES, João Alexandre Bertiliano; SANTOS,
Mara; SILVA, Glauber Romling da; CAMPETELA, Cilene; COSTA, Ingrid Lemos
(org.) 2019a; 2019b; FORTE, Janina dos Santos; SANTOS, Mara; SILVA, Glauber
Romling da; CAMPETELA, Cilene; COSTA, Ingrid Lemos (org.) 2019a; 2019b).

Corpus de narrativas Kadiwéu anotado


gramaticalmente na plataforma Tychobrahe
Autoria: FILOMENA SANDALO

Este trabalho apresenta o corpus de narrativas Kadiwéu, família Guaikurú, falada


no Mato Grosso do Sul, em elaboração na plataforma TychoBrahe (GALVES;
SANDALO; SENA; VERONESI, 2017). A apresentação demonstra como realizar
pesquisa linguística neste arquivo digital e como usar esta ferramenta na
educação indígena. O corpus on-line da língua kadiwéu, que é uma língua

168
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

polissintética, foi elaborado na plataforma para ser usado para análise da


sintaxe e da morfologia super rica da língua. É importante enfatizar que o
corpus pode ser editado pelos próprios falantes de forma on-line, servindo,
portanto, para o ensino de gramática nas escolas kadiwéu. Em suma, trata-
se de uma ferramenta que permite o estudo e o fortalecimento da língua em
grande perigo de extinção, pois o Kadiwéu conta atualmente com apenas 90
famílias de falantes em uma única aldeia. O corpus é formado de narrativas
originais permitindo também a preservação cultural da língua. Dentre os corpora
que estão sendo elaborados na Plataforma TychoBrahe, este é o corpus mais
avançado no uso das ferramentas da plataforma. O corpus conta com anotação
sintática e morfológica e sistema de busca (por palavra) on-line. O corpus conta
também com um módulo de anotação sintática de tipo treebank, que permitirá
a elaboração de gramáticas, o que é essencial para a revitalização de línguas
em perigo de extinção. Em suma, TychoBrahe framework é um arquivo com uma
ferramenta de pesquisa, visualização e edição on-line para corpora linguísticos
com ferramentas integradas de tagger e parser. Pode-se comparar o TychoBrahe
configurado para corpora de línguas em perigo de extinção com ANNIS (http://
corpus-tools.org/annis/). ANNIS é também on-line e conta com arquitetura
de visualização para corpora linguísticos com multicamadas complexas, com
diversos tipos de anotações. O TychoBrahe, entretanto, etiqueta palavras e
morfemas, produzindo uma anotação de dois níveis permitindo uma enorme
quantidade de dados, de várias línguas de várias tipologias. Este é o primeiro
corpus de língua indígena elaborado no Brasil com esta configuração, e serve
para pesquisa linguística, mas também para educação bilíngue e fortalecimento
do kadiwéu, uma língua em grande perigo de extinção que conta com menos
de 1000 falantes. Referência: GALVES, Charlotte; SANDALO, Filomena; SENA,
Ticiana; VERONESI, Luiz. Annotating a polysynthetic language: from Portuguese
to Kadiwéu. Cadernos de Estudos Linguisticos, v. 59, n. 3, 2018.

169
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

Dicionários multímidia, planejamento linguístico e


práticas de revitalização de línguas
Autoria: IVAN ROCHA DA SILVA
Coautoria: ANA VILACY GALÚCIO E JOSHUA BIRCHALL

O trabalho discute o papel dos dicionários multimídia no planejamento linguístico


em práticas de revitalização de línguas indígenas ameaçadas. Dentre as 150
línguas no Brasil, cerca de 40% a 50% está ameaçada e a outra parte em situação
de vulnerabilidade. O planejamento linguístico inclui a avaliação e a descrição do
status (situação), do corpus (material existente, documentado e descrito) e da
aquisição (modo de transmissão linguística e produtos disponíveis) (cf. AMARAL,
2020). Nestas etapas do planejamento, os dicionários multimídia surgem como
uma ferramenta para auxiliar na revitalização de uma língua e podem ser tanto
úteis no processo de transmissão da língua quanto documental e descritivo. O
objetivo principal do trabalho é abordar a importância dos dicionários multimídia
como um produto multifuncional e multiuso, e apresentar a metodologia e a
tecnologia envolvidas na sua elaboração. Almeja-se ainda descrever as macro e
microestruturas adotadas nessas obras, decididas conforme a necessidade dos
falantes ou potenciais falantes da língua. O uso de tecnologia como smartphones,
tablets ou PCs, ainda que incipiente, é uma realidade em muitas comunidades
indígenas, o que favorece a implementação de dicionários em formatos digitais,
cujas entradas lexicais podem ser ilustradas com recursos multimídias (além
de informações conceituais, definições, transcrição, campos semânticos,
exemplos de uso, etc.). Esses formatos digitais apresentam vantagens em relação
aos formatos impressos, como a distribuição e o fácil acesso dos apps entre
aqueles usuários de smartphones ou tablets, redução de custos e flexibilidade
na organização da macroestrutura. As ferramentas computacionais utilizadas
no processo de elaboração desses recursos multimídias são os softwares
de transcrição e anotação linguísticas (ELAN), de gerenciamento, análise e
armazenamento de dados lexicais, textuais e multimídias (FLEx), uso de scripts
em Python para a extração de dados do FLEx e a automatização na extração de
dados segmentados (texto e áudio) dos arquivos ELAN (.eaf). As informações

170
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

reestruturadas em bancos de dados abertos (.csv) são importadas para a


linguagem Markdown (.rmd ou .md) facilitando a exportação desses dados
em vários formatos, como html ou pdf (sem mídia) que podem ser utilizados
em aplicativos que funcionam off-line. Isso aumenta a reprodutibilidade da
metodologia e possibilita sua adoção de uma forma mais ampla, inclusive em
comunidades com pouco acesso à internet. Essa metodologia será ilustrada
através de seis exemplos de projetos de dicionários multimídia de línguas
minorizadas e ameaçadas em desenvolvimento no setor de linguística do MPEG:
Moré-Kuyubim, Kanoê, Sakurabiat, Oro Win, Karitiana e Puruborá.

Evidenciais em línguas tupi


Autoria: LUCIANA STORTO

Apresentamos uma comparação da expressão de evidencialidade (e modalidade


epistêmica) em línguas de 5 ramos da família linguística Tupi. Nosso objetivo é
comparar cada sistema linguístico sincronicamente e levantar hipóteses sobre
o status desses fenômenos em Proto-Tupi, língua mãe de todos os 10 ramos de
línguas Tupi. Apesar de analisarmos apenas metade dos ramos da família neste
trabalho, há padrões que podemos identificar na família Tupi e que nos permitem
levantar hipóteses sobre como o fenômeno se desenvolveu historicamente.
Mostramos que nas línguas Karo (ramo Ramarama) e Gavião (ramo Mondé) há
um padrão (GABAS JÚNIOR, 2002) de marcação de evidencialidade (ou seja,
fonte de informação) através de partículas que ocorrem na periferia direita de
orações e sentenças, enquanto em línguas Tupi-Guarani a evidencialidade (e
a modalidade epistêmica) aparece como partículas da periferia esquerda da
sentença, após Foco e Tópico e antes de Tempo. Seki e Nevins (2018) explicam
que o núcleo funcional onde evidencialidade se expressa em Kamaiurá, língua
da família Tupi-Guarani, corresponde ao núcleo de Finite Phrase (FinP) na
teoria cartográfica de Rizzi (2004), ou seja, o núcleo funcional que se projeta
imediatamente acima do sintagma verbal. Em outras duas famílias - Tupari
e Arikém - representadas pelas línguas Tupari e Karitiana, respectivamente,
evidenciais aparecem como sufixo ou auxiliar pós-verbal, formando com o verbo
uma unidade morfossintática e fonológica, e recebendo sufixos de tempo. Como

171
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

as línguas Tupi em geral são línguas verbo-final, faz sentido hipotetizar que o
Proto-Tupi tenha sido uma língua OV em que o núcleo evidencial também se
projetava à direita do sintagma verbal, e que, portanto, o padrão encontrado
em Karo e Gavião seja o mais antigo. As línguas Karitiana e Tupari, também
faladas em Rondônia, teriam um padrão intermediário, e as línguas Tupi-Guarani
seriam as mais inovadoras, projetando à esquerda do sintagma verbal o núcleo
responsável pela evidencialidade. A distribuição geográfica dessas línguas (e
suas características linguísticas, como sugere Storto (2017) ao analisar o tema
estrutura argumental) corroboram a hipótese de que as línguas Tupi de Rondônia
sejam mais conservadoras, pois se encontram na região onde a família Tupi se
originou (RODRIGUES, 1964), enquanto as línguas dos ramos que se encontram
fora de Rondônia seriam as mais inovadoras.

Evidências linguísticas da origem dos Guaná


(Aruák, Alto Paraguai) no noroeste do Chaco
Autoria: FERNANDO ORPHÃO DE CARVALHO

Neste trabalho apresentamos uma série de evidências linguísticas e etnográficas


que juntas apontam para uma origem dos Guaná, os grupos Aruák do Alto
Paraguai, em uma região do limite norte-ocidental entre o Chaco e os Andes.
Primeiro, mostramos que os empréstimos lexicais que o Guaná adotou das
línguas Guaicuru setentrionais tendem a associar-se majoritariamente ao
campo semântico de corpos de água, como riachos e lagos, seus usos e sua
fauna. O clustering semântico dos empréstimos Guaicurcu > Guaná pode ser
interpretado como evidência de que, ao chegar à região do Alto Paraguai, os
referentes destes termos constituíam aspectos novos da paisagem para os
recém-chegados Guaná. Isso levanta a questão, no entanto, de porque um povo
cuja origem última remonta à Amazônia, e mais especificamente às planícies
inundáveis dos Llanos de Mojos, tomaria a paisagem do Alto Paraguai como
algo novo. Assim sendo, em segundo lugar, buscaremos informações sobre
uma outra região, o seco noroeste do Chaco, aonde grupos Aruák são também
historicamente atestados, como sendo essa uma possível região de origem dos
Guaná. Comparamos os termos tomados como empréstimos, tendo eles ou

172
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

não uma fonte identificada, e os comparamos com as informações etnográficas


registradas por Erland Nordenskiöld entre os Chiriguano-Chané do Chaco. O
padrão por nós encontrado é de concordância entre a informação linguística
e etnográfica, nos seguintes termos: Quando um nome em Guaná não possui
etimologia Aruák, tendo, assim, uma origem externa em fenômenos de contato,
pode-se mostrar que o referente deste nome não fazia parte do ambiente
bio-geográfico e cultural dos Chané do noroeste do Chaco, ou, pelo menos,
não o caracterizava de maneira saliente. Entre estes termos podemos incluir
não apenas a terminologia de origem Guaicurú, mas alguns outros de origem
desconhecida, como xúpu ‘mandioca’ e mesmo hôe ‘peixe’. Entre os fitônimos
úteis, é interessante o contraste entre nîje ‘urucum’, que possui etimologia Aruák
e era utilizado pelos Chané do Chaco, e nutíku ‘genipapo’, que tem clara origem
Guaicurú e não era utilizado para pinturas pelos Chané. Essa associação entre os
dois domínios de informação oferece suporte à hipótese de que os empréstimos
identificados constituíam sim aspectos desconhecidos ou novos da paisagem,
caso se assuma que, antes de chegar ao Alto Paraguai, os Guaná tenham, por
gerações, vivido no Noroeste do Chaco, aonde Nordenskiöld encontrou seus
descendentes em 1908.

Línguas-outrem: etnografia da fala e linguagem


ritual dos hupd’äh
Autoria: DANILO PAIVA RAMOS

A região do Alto Rio Negro-AM configura-se como uma das áreas com maior
intensidade de multilinguismo no Brasil e até no mundo. Há um total de 22 grupos
étnicos indígenas que falam línguas das famílias linguísticas Naduhup, Arawak,
Tukano, e da família Naduhup (EPPS; BOLAÑOS, 2017). A língua Hup pertence
à família linguística Naduhup e possui aproximadamente 2.200 falantes (ISA/
FOIRN, 2017) . Étnica e linguisticamente, os Hupd’äh são desprezados por pessoas
de etnias indígenas próximas falantes de línguas das famílias linguísticas Tukano
e Arawak, que se consideram socialmente superiores. Isso gera uma forma
de desequilíbrio linguístico que é um catalisador bem conhecido de mudança
linguística. Dado o relativo isolamento, poucos falantes de Hup são fluentes

173
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

em português. Pode ser percebido que as mudanças que os falantes de Hup


têm experienciado ao longo da última geração vêm gerando um “estreitamento
estilístico” (‘stylistic shrinkage’) que precede riscos linguísticos mais profundos
(endangered language) e vem afetando os processos de aprendizagem das artes
verbais (EPPS; STENZEL, 2013). Nesse sentido, a etnografia da fala (BAUMAN;
SHERZER, 1989) dos gêneros discursivos constitutivos da linguagem ritual dos
Hupd’äh vem sendo importante para entender tanto fenômenos linguísticos
como o contato e mudança linguísticas, quanto a consolidação da grafia,
literatura escrita, materiais didáticos, a aquisição da linguagem e letramento em
língua Hup. Além disso, o melhor entendimento do discurso xamânico expresso
por narrativas míticas e sopro-benzimentos vem viabilizando melhorias na
comunicação intercultural em saúde indígena e na implementação de políticas
de autogestão territorial e manejo ambiental. Enfoca-se, nesse trabalho, as
dimensões etnopoéticas dos sopro-benzimentos, cantos e mito-histórias
Hupd’äh associados ao complexo ritual do Jurupari, procurando revelar a
importância da mobilidade sociocósmica e da tradução de pontos de vista para
a constituição de perspectivas e sujeitos humanos e não humanos em intensa
comunicação, interação e tensão cosmopolítica a partir de línguas-outrem.
Em que medida levar em conta as proposições ontológicas sobre a linguagem
dos narradores-xamãs Hupd’äh possibilita repensar nosso entendimento de
linguagem, poética e da própria relação entre língua e cultura?

Material cultural, didático e linguístico da língua


karitiana
Autoria: ANA LÚCIA DE PAULA MÜLLER

Esta comunicação tem como seu objetivo mais amplo a documentação, a


descrição, preservação e o ensino de nossas línguas nativas, mais especificamente,
da língua Karitiana (família Arikém, tronco Tupi). Tem como objetivo específico
descrever e avaliar a “Coleção Karitiana” e de seu impacto para a escola indígena,
para a etnia, para a academia e para o conhecimento sobre as línguas e etnias
indígenas no Brasil. Espera-se com isso mitigar as grandes perdas culturais,
científicas e, em particular, linguísticas que ocorrem quando essas culturas

174
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

vão se desaparecendo. Descrevemos a criação de um material – a Coleção


Karitiana – que pretende funcionar ao mesmo tempo como ponto de partida
para a análise de aspectos gramaticais dessa língua; como material de apoio
às escolas indígenas da etnia e à preservação de sua cultura. Atualmente, a
Coleção Karitiana engloba as seis publicações listadas a seguir: • SILVA, Ivan
R. Léxico verbal da língua karitiana. MULLER, Ana; STORTO, Luciana (ed.). São
Paulo: Paulistana, 2017. • STORTO, L.; MULLER, Ana (ed.). 2017. Material de apoio
ao estudo da gramática da língua karitiana. São Paulo: Paulistana, 2017. • CIOLA,
Lucas B. YJXA! Gramática escolar. São Paulo: Paulistana, 2017. • CIOLA, Lucas B.
Yjxa inh! Aves na língua karitiana. São Paulo: Paulistana, 2017. • CIOLA, Lucas B.
Gopi Yjxa. Léxico ilustrado pedagógico karitiana: plantas e animais. MULLER,
Ana (ed.). Campinas: Curt Njmendaju, 2020. • KARITIANA, Mauro. Histórias do
povo karitiana. MULLER, Ana (ed.). Campinas: Curt Njmuendaju, 2020. Esse
material engloba dois léxicos – um verbal e outro biológico; uma cartilha escolar
a ser usada diretamente pelos alunos; um livro de apoio ao ensino gramatical
voltado para os professores da escola indígena e uma coletânea de narrativas
sobre os costumes karitiana. O material a ser comentado foi elaborado tomando
como base as pesquisas efetuadas dentro do Grupo de Línguas Indígenas da
Universidade de São Paulo. Apoia-se principalmente em teorias linguísticas
formalistas e em trabalho de campo efetuado pelos próprios pesquisadores/
autores.

Metodologias experimentais de psicolinguística


adaptadas às línguas indígenas
Autoria: LUCIANA STORTO
Coautoria: KARIN CAMOLESE VIVANCO

Neste trabalho, propomos o uso de metodologias da psicolinguística para a


elicitação de dados de sentenças complexas em línguas indígenas. Entendemos
por sentenças complexas sentenças formadas por mais de uma sentença ou
oração. Apresentamos um exemplo de coleta de dados experimentais sobre
relativas com múltiplo encaixamento cujo resultado foi relatado em um trabalho
já publicado (STORTO; VIVANCO; ROCHA 2018) e sugerimos um novo protocolo
ainda não utilizado experimentalmente, para a coleta de dados sobre anáfora

175
Simpósio de Convidados
Línguas Indígenas em uma perspectiva plural

(correferência pronominal) em sentenças complexas baseado em um artigo das


coautoria que se encontra no prelo. Argumentamos que o auxílio de protocolos
de elicitação através de apresentações em PowerPoint com imagens feitas a
partir de desenhos ou fotos pode ser muito útil na explicitação da situação
contextual em que cada sentença é utilizada. Assim, torna-se mais fácil para o
falante processar o significado da sentença complexa corretamente, já que o
contexto fica visível e, portanto, fixo e saliente, e ao mesmo tempo o protocolo
possibilita a coleta de dados sobre exatamente o mesmo contexto de produção
padrão para um grande número de falantes. Sugerimos que sentenças possam
ser apresentadas de forma escrita para descrever cada situação, e que possam
ser confirmadas como corretas ou incorretas e corrigidas pelos falantes em
cada situação. Assim, quando vários falantes corrigem as sentenças da mesma
maneira independentemente, podemos ter certeza de que se trata de uma
sentença verdadeira naquele contexto. Para falantes que não dominam a
escrita, sugerimos que as sentenças do protocolo experimental possam ser
lidas e gravadas e apresentadas como arquivos de áudio. Cada aplicação do
experimento deverá ser gravada para poder ser posteriormente avaliada caso
haja dúvidas sobre as respostas e o contexto do experimento. Referências:
STORTO, L.; VIVANCO, K.; ROCHA, I. Multiple embedding of relative clauses in
Karitiana. In: AMARAL, L.; MAIA, M.; NEVINS, A.; ROEPER, T. (ed.). Recursion
Across Domains. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.

176
Linguística Computacional
Autoria: LEONEL FIGUEIREDO DE ALENCAR
E MARCOS LOPES

O termo linguística computacional é alvo de múltiplas definições. Para


muitos, é sinônimo de processamento de linguagem natural (BIRD; KLEIN;
LOPER, 2009), enquanto outros estabelecem uma oposição entre os dois
termos, por se referirem a subdisciplinas de áreas distintas, linguística e
ciência da computação (JURAFSKY; MARTIN, 2009). Conforme Guinovart
(1998), a linguística computacional constitui campo de investigação científica
relacionado à inteligência artificial, à linguística teórica e às tecnologias da
linguagem natural, comportando três vertentes: (i) informática aplicada à
pesquisa linguística, (ii) implementação de teorias linguísticas e (iii) aplicações
linguísticas da informática. A primeira vertente relaciona-se estreitamente
com a linguística de corpus. A segunda, que seria a linguística computacional
stricto sensu, objetiva a construção de modelos linguísticos implementáveis,
a descrição de fenômenos linguísticos nos diferentes níveis de análise com
base nesses modelos e a verificação automática da consistência interna e
da validade empírica de um modelo ou descrição gramatical. A essas três
concepções, Lobin (2010) acrescenta mais duas: (iv) a linguística computacional
como simulação de processos cognitivos e (v) como disciplina autônoma. Na
concepção (iv), contemplada igualmente na lista de quatro concepções de
Amtrup (2004), a linguística computacional relaciona-se à psicologia cognitiva e
à inteligência artificial, uma vez que visa a reconstruir, no computador, aspectos
do processamento da linguagem na mente humana. Na concepção (v), relaciona-
se à lógica, à estatística e à matemática. Ainda segundo Lobin (2010), a autonomia
da linguística computacional decorreria de ter desenvolvido métodos, teorias e
modelos próprios e ter estabelecido uma comunidade científica suficientemente
grande. Admitindo sem exclusão essas diversas acepções, típicas de um campo
do saber recente e em permanente construção, o presente simpósio convida a
todos os pesquisadores interessados a submeter seus trabalhos nos diferentes
segmentos de atuação relacionados à área, em que se incluem destacadamente
os seguintes tópicos:

177
- Fonética e fonologias computacionais;

- Análise morfológica automática;

- Etiquetagem morfossintática (POS-tagging);

- Análise sintática automática rasa ou profunda (chunking, shallow syntactic


parsing e deep syntactic parsing);

- Engenharia da gramática;

- Análise semântica automática;

- Sumarização de textos;

- Tradução automática;

- Análise de sentimentos;

- Recuperação de informação;

- Extração de informação;

- Mineração de dados de língua natural;

- Agentes conversacionais e sistemas de diálogo;

- Sistemas de perguntas e respostas;

- Compilação, anotação e processamento de corpus;

- Modelos de línguas naturais.

178
Simpósio de Convidados
Linguística computacional

Aspectos morfossintáticos e lexicais na descrição


de notícias satíricas do português do Brasil
Autoria: GABRIELA WICK PEDRO

A presença de conteúdo enganoso (do inglês, “deception”) na web e em


aplicativos de mensagens tem se mostrado um grande problema contemporâneo.
Esse contexto gerou algumas iniciativas na Linguística e na Computação para
caracterizar linguisticamente textos relacionados e detectar automaticamente
sua ocorrência. De acordo com Rubin, Chen e Conroy (2015), existem três tipos
tradicionais de conteúdo enganoso: i) notícias fabricadas: produzidas pelo que
é chamado de imprensa marrom ou tabloides; ii) boatos: notícias disfarçadas
para enganar o público e podem ser divulgadas por descuido pelas agências de
notícias tradicionais e iii) notícias satíricas: notícias parecidas com as notícias
reais, porém, criadas para fins de humor. Teoricamente, de acordo com Simpson
(2003), a sátira pode ser definida, a partir de uma tríade, como uma prática
discursiva que estabelece e resulta uma incongruência irônica entre um alvo
satírico, um autor satírico e um público satírico e tem como propósito criticar
ou zombar do alvo satírico. Assim, se não reconhecidas como um conteúdo
de humor, as notícias satíricas podem criar dificuldades de entendimento e
falsas crenças nas mentes de leitores mais desatentos. Detectar uma notícia
satírica automaticamente, portanto, mostra-se relevante no viés linguístico-
computacional, principalmente somado à deficiência de trabalhos na literatura
que consideram a análise computacional da sátira e a inexistência para a Língua
Portuguesa. Relata-se aqui a construção de um corpus de notícias satíricas e seu
paralelo de notícias verdadeiras para português brasileiro. O corpus é composto
por um subcorpus de 150 notícias satíricas (22.963 palavras e 1.212 sentenças)
extraídas do site Sensacionalista e outro subcorpus de 150 notícias verdadeiras
(107.133 palavras e 5.721 sentenças) extraídas de diversos portais on-line de
notícias e são correspondentes aos artigos satíricos. O corpus total contabiliza
130 mil palavras e 6.900 sentenças. Além disso, este trabalho se propõe a analisar e
descrever os aspectos morfossintáticos, a diferença das ocorrências verbais das
notícias satíricas, bem como as principais características lexicais encontradas

179
Simpósio de Convidados
Linguística computacional

nos artigos satíricos e verdadeiros. Para a realização desta tarefa, o corpus foi
anotado automaticamente pelo parser PALAVRAS (BICK, 2000). Também foi
utilizada a ferramenta Unitex (PAUMIER, 2002) para extrair as coocorrências
lexicais encontradas nos textos, tal como a concordância das palavras mais
frequentes. Finalmente, espera-se contribuir na descrição linguística de notícias
satíricas e criar por meio dos resultados obtidos nesta pesquisa, bases para
futuros trabalhos do PLN focados na identificação automática de conteúdo
enganoso para o português do Brasil.

Comparação de métodos para inferência em


linguagem natural
Autoria: RODRIGO APARECIDO DA SILVA SOUZA

A Inferência em Linguagem Natural, do inglês Natural Language Inference (NLI),


consiste na tarefa de determinar se um texto breve em língua natural, chamado
premissa, acarreta outro texto, chamado hipótese. A tarefa é tipicamente
apresentada em pares de premissa-hipótese anotados como Verdadeiro ou
Falso para a relação de acarretamento. Neste trabalho, testamos diferentes
métodos de solução para os problemas de NLI oferecidos por três conjuntos
de dados do Pascal RTE Challenge (DAGAN et al., 2005), o RTE-1, o RTE-2 e
o RTE-3. Em nossos testes, implementamos quatro métodos de solução: um
baseado em regras de Bag-of-Words (BoW) sem alinhamento, um baseado em
alinhamento sentencial, um baseado em representação lógica e um baseado
na tarefa de Pergunta e Resposta, ou Question Answering (QA), para o qual
utilizamos o RoBERTa (LIU et al., 2019). Nosso objetivo foi comparar em que
medida métodos baseados em regras eram eficazes para solucionar problemas
de NLI e se esses métodos poderiam concorrer minimamente com modelos
baseados em arquiteturas Transformer como o RoBERTa, que atingiu 88% de
acurácia em um subconjunto do GLUE (WANG et al., 2018), composto pelos
RTEs 1, 2, 3 e 5. A partir da implementação de diferentes regras de classificação,
compusemos dois modelos. O primeiro, chamado BCBI, foi composto por regras
de BoW sem alinhamento e por um Classificador Bayesiano Ingênuo. O segundo,
chamado BACBI, foi composto por regras de BoW, métodos de alinhamento

180
Simpósio de Convidados
Linguística computacional

e por um Classificador Bayesiano Ingênuo. O BCBI obteve uma acurácia de


65% no RTE-1, 57% no RTE-2 e 63% no RTE-3. O modelo BACBI obteve uma
acurácia de 55% no RTE-1, 57% no RTE-2 e 60% no RTE-3. Para o teste baseado
em QA, convertemos hipóteses em perguntas polares (sim/não) e mantivemos
as premissas como textos base para as respostas. Avaliado nos conjuntos de
dados, o modelo atingiu uma acurácia de 74% no RTE-1, 78% no RTE-2 e 71%
no RTE-3. Por fim, comparamos os resultados alcançados pelos modelos com
outros trabalhos avaliados nos mesmos conjuntos de dados. Concluímos que os
modelos baseados em regras não foram eficientes para solucionar os problemas
da tarefa. O método baseado no modelo RoBERTa, no entanto, atingiu resultados
compatíveis com as melhores classificações relatadas na literatura dos desafios,
a saber, Delmonte et al. (2005), com 60% de acurácia no RTE-1, Hickl et al. (2006),
com 75% de acurácia no RTE-2, e Hickl e Bensley (2007), com 80% de acurácia
no RTE-3.

Detecção automática de discurso de ódio contra


os direitos humanos em textos de redes sociais:
análises iniciais
Autoria: BRUNO FERRARI GUIDE

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a análise de resultados


iniciais da detecção automática de discurso de ódio (D.O.) em textos de redes
sociais. A discussão vai se dar em torno da hipótese de que os textos produzidos
em redes sociais não podem ser levados em conta de forma isolada, pois é
enriquecedor incluir informações sobre o contexto de interação entre falantes.
Os trabalhos considerados no levantamento bibliográfico (FORTUNA; NUNES
2018, MACAVANEY et al., 2019) levam em conta os posts em redes sociais como
unidades que podem ser analisadas livres do contexto. Ainda que para certos
tipos de análise isso seja verdadeiro, consideramos que, no caso da detecção
de discurso de ódio, isso não se sustenta. A base para este trabalho está em
um estudo conduzido usando ferramenta fechada de análise de dados. O
estudo serviu para estabelecer o recorte temático (tipo de D.O.), assim como

181
Simpósio de Convidados
Linguística computacional

estabelecer qual rede social e quais páginas desta rede trariam informações
mais pertinentes para as intenções desta pesquisa. Estabeleceu-se que o
Twitter é plataforma de ampla circulação de D.O. contra direitos humanos, com
páginas de jornalismo policial sendo pontos nevrálgicos para a circulação deste
tipo de conteúdo. A discussão está estruturada a partir das seguintes etapas:
1) recorte temático proposto, ao discutir a noção adotada de D.O. assim como
o tipo de discurso; 2) metodologia de coleta dos dados, usando ferramentas
abertas e tomando cuidado com a confidencialidade dos dados coletados.
Foram coletados 10 mil tweets de páginas de jornalismo policial, contendo
posts originais e comentários; 3) anotação dos dados; e, por fim, 4) análise do
resultado obtido a partir de modelos probabilísticos para a tarefa de detecção
automática de D.O. As análises estão sendo chamadas de iniciais pelo fato
de que os modelos foram escolhidos principalmente pela capacidade de se
interpretar os resultados, em oposição a modelos que desempenham melhor
em métricas de sucesso em outros estudos. Dessa forma, foram analisados
modelos baseados em sequências de palavras e um modelo bayesiano ingênuo
para verificar os sucessos e as limitações das abordagens lexicais ou baseadas
em sequências. Os resultados analisados servem para montar o cronograma
dos testes, a serem feitos com modelos mais robustos, assim como com outras
versões do conjunto de dados. Além disso, os resultados servem para concluir
que usar apenas o conteúdo lexical de uma mensagem é uma forma menos
eficaz de detectar D.O. em textos produzidos em redes sociais.

Um modelo de classificação para o reconhecimento


de entidades nomeadas
Autoria: ANDRESSA VIEIRA E SILVA

Em Processamento de Língua Natural (PLN), o Reconhecimento de Entidades


Nomeadas (REN) é a tarefa de identificar os nomes de entidades em um texto,
tais como os que se referem a pessoas, lugares e organizações, e classificá-
las em um conjunto pré-definido de categorias semânticas. Apesar de parecer
simples, o REN é uma tarefa difícil de se resolver computacionalmente. Uma
das razões para isso é que as Entidades Nomeadas formam um conjunto de

182
Simpósio de Convidados
Linguística computacional

palavras com alta variação lexical e baixa frequência de ocorrência em um


corpus, o que dificulta a extração de padrões linguísticos para a classificação
desses termos. Em pesquisas recentes, as redes neurais profundas têm
apresentado excelentes resultados em diversas aplicações de PLN, incluindo
o REN. A presente pesquisa avaliou um modelo de REN baseado na distribuição
contextual da palavra, ou seja, nas palavras co-ocorrendo em um corpus.
Observou-se que determinados padrões contextuais favorecem a ocorrência
de tipos específicos de entidade. Por exemplo, pronomes de tratamento, como
“senhor” e “doutora”, precedendo um nome próprio indicam a ocorrência de
entidades do tipo pessoa. O principal objetivo desta pesquisa foi explorar a
representação de Entidades Nomeadas através de traços extraídos de vetores
word embeddings e traços linguísticos manuais utilizando uma arquitetura
de rede neural. Os word embeddings foram obtidos a partir do BERT (DEVLIN
et al., 2018), uma rede neural que representa uma palavra a partir do contexto
em que ela ocorreu no texto. Como traços linguísticos, foram utilizados:
etiquetagem morfossintática, formatação ortográfica da palavra e listas de
palavras associadas com a ocorrência de tipos de entidades, como pronomes
de tratamento para a classificação de pessoas, logradouros para lugares etc.
Esses traços foram concatenados às representações word embeddings para
alimentar uma rede neural Long Short-Term Memory bidirecional (BiLSTM). Para
avaliar o impacto dos traços linguísticos no desempenho, testou-se uma versão
da BiLSTM utilizando somente os word embeddings para representação das
palavras. Os dois modelos foram avaliados no Harem, um corpus do português
anotado para o reconhecimento de entidades. Os resultados obtidos mostraram
uma melhora estatisticamente significativa no desempenho da BiLSTM com
traços linguísticos em comparação ao modelo sem esses traços.

183
Linguística e ensino de línguas não maternas:
teorias e práticas na contemporaneidade
Autoria: EDUARDO NEGUERUELA AZAROLA
E MONICA MAYRINK O' KUINGHTTONS

O objetivo deste simpósio é reunir trabalhos voltados a diferentes áreas da


Linguística, que desenvolvam reflexões relacionadas a estudos sobre o ensino
e a aprendizagem de línguas não maternas. Os trabalhos poderão promover
discussões pautadas pela perspectiva sócio-histórico-cultural e também por
teorias e metodologias condizentes com diferentes vertentes da análise do
discurso e dos estudos da linguagem, que tragam contribuições para a reflexão
sobre a educação linguística na contemporaneidade. São especialmente bem-
vindas as propostas centradas em aspectos criativos, emocionais e lúdicos
na aprendizagem e ensino de línguas estrangeiras, com foco na compreensão
da criatividade do ponto de vista sociocultural, e na discussão sobre como
priorizar "atividades criativas" na docência e na formação docente. O simpósio
pretende, ainda, colocar em discussão temáticas transversais ao contexto de
ensino e aprendizagem de línguas não maternas, em diferentes cenários de
educação formal e informal e em diferentes modalidades (presencial, híbrida,
remota e a distância). Nesse sentido, os trabalhos podem se vincular a pesquisas
orientadas à formação docente, desenvolvimento do conhecimento linguístico,
comunicativo e cultural em sala de aula, uso de mídias e tecnologias, avaliação
do processo de aprendizagem, elaboração e avaliação de recursos e materiais
didáticos, desenvolvimento de políticas linguísticas e educacionais.

184
Simpósio de Convidados
Linguística e ensino de línguas não maternas: teorias
e práticas na contemporaneidade

Concepções e práticas de professores de LE na


avaliação de leitura
Autoria: ALESSANDRA GOMES DA SILVA

A forma como o homem ocidental se relaciona com o texto escrito vem se


modificando ao longo dos séculos. Se na Idade Média ler era uma forma de
entrar em contato com o divino (SOLÉ, 2003), hoje é um requisito para que o
sujeito se desenvolva satisfatoriamente dentro de uma sociedade letrada. Ler em
língua estrangeira (LE), por sua vez, ganha papel de destaque, pois permite que
o indivíduo entre em contato com procedimentos interpretativos diferentes dos
fornecidos pela língua materna (LM) e possa melhor desenvolver sua criticidade
(JORDÃO, 2006). Sendo a escola a principal responsável por ensinar a ler (tanto
em LM como em LE), cabe a ela compreender o papel que a leitura exerce na
vida cotidiana (BRASIL, 2006) para promover seu ensino. Partindo da premissa
que a avaliação é parte inerente a qualquer processo educacional, concebemos
que a avaliação da leitura exerce papel determinante para a educação formal,
já que através dela é possível verificar se os objetivos pedagógicos estão sendo
alcançados ou se são necessárias intervenções para lograr seu êxito. Dadas
estas considerações e embasados nos estudos de Alderson (2000), Scaramucci
(1995 e 2006), Vasconcellos (2003), entre outros, pretende-se apresentar parte
dos dados de uma pesquisa de mestrado (concluída em 2020) no que tange às
concepções e práticas de professores de Espanhol como Língua Estrangeira
(ELE) do Ensino Fundamental II (EF-II) e Ensino Médio (EM) em relação à
avaliação de leitura em seus contextos de ensino. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa que contou com nove participantes de quatro cidades do Estado
de São Paulo. A partir de entrevistas, questionário e das avaliações fornecidas
pelos participantes, objetiva-se discorrer sobre “que leitura é avaliada” dentro
do corpus de análise. Os resultados das entrevistas sinalizaram carência de
objetivos específicos para o desenvolvimento da leitura em ELE. Já a análise
das avaliações demonstra a valorização de identificação de informações tanto
pontuais quanto explícitas, além da verificação do conhecimento sistêmico do
idioma.

185
Simpósio de Convidados
Linguística e ensino de línguas não maternas: teorias
e práticas na contemporaneidade

Ensino e aprendizagem de espanhol, inovação


tecnológica e a teoria sociocultural em diálogo:
um olhar para as pesquisas da graduação e pós-
graduação da USP
Autoria: MONICA FERREIRA MAYRINK O' KUINGHTTONS

O avanço tecnológico tem trazido importantes contribuições para a área


do ensino e aprendizagem de línguas. A criação de cursos em diferentes
modalidades (presencial, à distância ou híbrida), bem como a elaboração de uma
enorme variedade de materiais digitais e ambientes virtuais de aprendizagem
vêm acompanhadas, também, pelo desenvolvimento de metodologias mais
condizentes com as necessidades e novas formas de ensinar e aprender que
marcam a sociedade contemporânea. Hoje somos testemunhas da forma
como, cada vez mais, pesquisadores (CARVALHO; RAMOS, 2019; MAYRINK;
LEITE, 2018; MAYRINK; ALBUQUERQUE-COSTA, 2017a, 2017b; CARVALHO;
RAMOS; MESSIAS, 2017, entre outros) vêm ampliando as reflexões que buscam
compreender melhor a forma como as experiências educativas mediadas pelas
tecnologias podem favorecer a construção do conhecimento, a participação
e o empoderamento dos aprendizes. Dentro desse contexto, este trabalho se
propõe a analisar as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas por professores de
espanhol em formação inicial (estudantes da graduação em Letras) e continuada
(alunos-pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Língua Espanhola e
Literaturas Espanhola e Hispano-Americana) da Universidade de São Paulo, a
fim de discutir em que medida seus trabalhos mobilizam elementos e conceitos
da teoria Sociocultural de Vygotsky (1930/1998, 1934/1999) para estabelecer
relações entre o uso de tecnologias e o processo de ensino e aprendizagem de
espanhol em diferentes contextos (instituições públicas e privadas do ensino
básico e superior) e em diferentes modalidades de ensino (presencial e a
distância). A discussão se centrará na identificação dos objetivos de pesquisa,
das linhas teóricas e metodológicas que embasam os estudos (que se inserem
no campo da Linguística Aplicada), em busca da compreensão do cenário atual
da produção científica que vem sendo desenvolvida na Universidade de São

186
Simpósio de Convidados
Linguística e ensino de línguas não maternas: teorias
e práticas na contemporaneidade

Paulo. De forma adicional, procurará apontar outras possibilidades em que a


teoria vygotskyana possa dialogar com as pesquisas voltadas para o ensino e
a aprendizagem de línguas mediado pelas tecnologias.

Hooks e Freire entram em sala, ou, por um ensino


de língua espanhola em diversidade e para a
diversidade
Autoria: CAMILA DE LIMA GERVAZ

Tomando como ponto de partida as reflexões sobre um fazer docente que seja
comprometido e que, parafraseando Angela Davis, não aceite mais as coisas
que não se pode mudar, mas que produza intervenções para mudar as coisas
que não se pode aceitar, a proposta deste trabalho é a de abrir um espaço
de diálogo sobre um ensino de língua estrangeira, mais especificamente, de
língua espanhola, como um espaço para se ensinar a transgredir (Hooks) a
partir da diversidade e para a diversidade. Com base nos trabalhos de Zabala
(1998), Hooks (2017 e 2020) e Freire (1974, 1992 e 1996), este trabalho busca
produzir reflexões sobre um fazer docente engajado com a transformação da
realidade das educandas e educandos na medida em que cria um espaço para a
alteridade, pois traz para a centralidade da sala de aula discursos muitas vezes
marginalizados ou silenciados para que estes possam, nas palavras de Orlandi
(2012), “ser ouvidos e investidos na realidade histórica e social contemporânea,
de tal modo que essas outras experiências encontrem voz”. Deste modo, este
trabalho se propõe a apresentar experiências docentes sob um processo de
documentação pedagógica (Dahlberg, 2012) contextualizando e refletindo sobre
episódios que propiciaram uma discussão sobre a diversidade tanto linguística
como dirigida à compreensão das relações étnico-raciais e de expressões de
gênero. Ou seja, um ensino que privilegia a diversidade e se constrói a partir da
diversidade e para a diversidade. Para tanto, será apresentada e contextualizada
a documentação produzida: tanto o(s) tema(s) gerador(es) como as produções
resultantes selecionadas para ancorar o debate, bem como os critérios levados
em consideração no momento de seleção dos materiais utilizados. Espera-se,

187
Simpósio de Convidados
Linguística e ensino de línguas não maternas: teorias
e práticas na contemporaneidade

com isto, que se possa abrir um espaço de debate e reflexão sobre o impacto de
uma maior ou menor liberdade da figura docente nessa escolha de materiais,
sem desconsiderar, contudo, como muitas vezes a atuação em sala permite
ampliar ou suplantar as limitações que por diferentes razões o material escolhido
- ou adotado - possa impor.

Práticas pedagógicas com TIDC na formação pré-


serviço de professores de inglês
Autoria: MARCUS DE SOUZA ARAÚJO

As mudanças da sociedade na era digital levam os alunos a estar cada vez mais
interligados e (inter)conectados com as Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação, doravante TDIC, razão pela qual o papel do professor passa a ser
proativo, dinâmico e desafiador nos cotidianos escolar e acadêmico. Pensar
nas TDIC nestes contextos é possibilitar os seus potenciais usos pedagógicos
como ferramentas comunicativas no processo de ensino e aprendizagem, além
de maior investimento na formação de professores. Afinal, como destaca Bates
(2016), o simples uso das TDIC, por si mesmo, nos contextos educacionais,
não implica uma mudança pedagógica pontual, caso não sejam, ao mesmo
tempo, apresentadas propostas metodológicas e pedagógicas adequadas e
sistematizadas. Nesta direção, esta comunicação tem por objetivo investigar a
percepção de quatro alunos de inglês sobre a prática pedagógica com o uso das
TDIC acerca da inclusão destas no processo de ensino e aprendizagem a partir
de uma disciplina curricular sobre tecnologias do curso de Licenciatura em
Letras-Inglês. O referencial teórico baseia-se nos conceitos de formação reflexiva
de professores (SCHÖN, 1995, 2000; CELANI, 2003, 2010A, 2010B; RAMOS;
FREIRE, 2009; entre outros) e na formação tecnológico-digital e pedagógica
do professor (ALMEIDA; VALENTE, 2011; FANTIN; RIVOLTELLA, 2013; KENSKI,
2013, 2015; para citar alguns). A metodologia da pesquisa é um estudo de caso
qualitativo (STAKE, 1995; YIN, 2015) e interpretativista (MOITA-LOPES, 1994)
na Linguística Aplicada e utiliza como instrumentos: três questionários, uma
entrevista, relatos reflexivos, atividades no Facebook, autoavaliação e notas
de campo do pesquisador. Como resultado da pesquisa, os alunos-professores

188
Simpósio de Convidados
Linguística e ensino de línguas não maternas: teorias
e práticas na contemporaneidade

revelam que o uso pedagógico das TDIC em sala de aula pode aumentar o
interesse, fomentar a autonomia, aguçar a curiosidade e a motivação do aluno
para aprender inglês, pois as tecnologias são ferramentas digitais que podem
proporcionar a interatividade e a imersão do aluno em um mundo que está mais
digital. Os dados também mostram a importância do uso das TDIC em sala de
aula para a formação tecnológico-digital do professor para desenvolver sua
competência para lidar pedagogicamente com ferramentas digitais no ensino
da língua inglesa. Esse conhecimento pode torná-lo consciente e confiante para
práticas pedagógicas inclusivas dessas tecnologias de maneira reflexiva em sala
de aula, considerando seu contexto, público-alvo e objetivos de aprendizagem.
Assim sendo, a integração das TDIC em sala de aula reflete as necessidades
das novas maneiras de ensinar do professor e de aprender das novas gerações
de alunos da era digital.

Pronomes de tratamento vos, tú e usted na Colômbia:


reflexões a partir de relatos de um grupo de professores
Autoria: IZABEL DOS SANTOS CALIRI

Este estudo analisa o relato do uso das formas de tratamento vos, tú e usted,
feito por um grupo professores universitários de língua e literatura de uma
instituição de ensino superior de Nariño na Colômbia. Trata-se de um recorte de
uma pesquisa que visava entender o uso desses pronomes no meio acadêmico
e social nessa região. Esse estudo caracterizou-se por uma pesquisa descritiva
e de natureza qualitativa, cuja análise foi realizada a partir de uma entrevista
estruturada com perguntas realizadas a quatro professores universitários. Como
resultado, temos a menção dos pronomes pessoais (vos, tú e usted) acrescidos
da expressão sumercé e do pronome de segunda pessoa do plural vosotros
como sendo pronomes de segunda pessoa do singular, por dois professores. A
respeito do vos, identificamos que esse pronome é usado dependendo do grau
de confiança entre os interlocutores (MONTES GIRALDO, 1967; RAE, 2014), dois
professores mencionaram não utilizá-lo, mas que o mesmo corresponde a uma
situação informal. Um professor diz que esse pronome é depreciativo e outro
professor assevera que esse pronome corresponde a situações formais. Quanto

189
Simpósio de Convidados
Linguística e ensino de línguas não maternas: teorias
e práticas na contemporaneidade

ao tú, dois professores relataram que esse pronome é usado em situações


informais e dois professores disseram não utilizá-lo. No entanto, Fontanella de
Weinberg (1999) menciona que há uma distinção sociocultural entre as formas
vos e tú, sendo a maior frequência de uso deste por falantes cultos e daquele
por falantes de menor nível sociocultural. Logo, essa análise não se aplicaria
nesta pesquisa por se tratar de professores universitários, especialistas em
suas disciplinas. Com referência ao usted, todos os professores concordaram
que corresponde a uma situação formal. Três professores disseram tratar
seus estudantes por usted. Apenas um professor informou que prefere tratar
seus estudantes por tú ou vos, por implicar uma relação de confiança. Um
professor admitiu que não autoriza seus alunos a tratá-lo por outra forma de
tratamento senão usted. Porém, fora do âmbito acadêmico, os professores e os
alunos mantêm o tratamento pronominal adotado em sala de aula. Contudo,
Calderón Campos (2010) assevera que os movimentos ideológicos e sociais
têm valorizado positivamente a igualdade e a diminuição da hierarquia, pois
quando se reduz a distância entre os interlocutores de usted para tú ou vos, se
valoriza a heterogeneidade entre os falantes de uma comunidade, sem causar
distinção. Dessa forma, com base nas respostas obtidas, conclui-se que o uso
arraigado dos pronomes prevalece sobre as novas tendências quanto ao uso
desses pronomes.

190
Morfologia e estudo da palavra
Autoria: ALINA VILLALVA
E RAFAEL DIAS MINUSSI

Villalva (2012, p. 126) nos chama atenção para o fato de que “não há nada no
termo ‘morfologia’ que leve a pensar em palavras”. Contudo, ao longo dos estudos
morfológicos, a palavra, levando-se em consideração sua estrutura e como ela
é formada, tem-se caraterizado como o objeto principal de investigação da
morfologia e, consequentemente, dos morfólogos. Na história das pesquisas em
morfologia, pode-se verificar que os estudos sobre a flexão foram privilegiados
por apresentarem maior sistematicidade e, assim, a flexão pôde ser tratada
quer numa perspectiva fonológica, quer numa perspectiva sintática. Os estudos
sobre a formação de palavras demoraram muito mais tempo para encontrar uma
abordagem própria do que os estudos sobre outras unidades de análise, como,
por exemplo, as frases. Embora muitos avanços tenham sido alcançados por meio
das diversas discussões teóricas e de muitos trabalhos que envolvem a descrição
e análise de fenômenos morfológicos, desenvolvidos nos últimos 30 anos no
Brasil e no mundo, algumas questões ainda se encontram em aberto. Villalva
(2012) destaca as seguintes: (i) o princípio da atomicidade das palavras, (ii) o lugar
da morfologia na gramática, e (iii) a relevância do cruzamento das abordagens
histórica e sincrônica no conhecimento das palavras. A essas questões, podemos
acrescentar (iv) a escassez de pesquisas no âmbito da aquisição de morfologia
no português, quando comparada com a variedade de pesquisas em aquisição de
sintaxe, por exemplo, e (v) o surgimento de pesquisas em morfologia experimental,
advindas dos avanços tecnológicos e dos softwares, que trazem novas questões
que vão desde a criação de corpora de palavras até questões sobre quais os
melhores métodos (off-line ou on-line) para recolha de dados e o que esse tipo
de investigação nos revela sobre o conhecimento que temos das palavras.
O presente simpósio tem como objetivo principal convidar os participantes a
refletir sobre questões de natureza teórica que envolvem a descrição e análise de
fenômenos morfológicos de criação de palavras (como a prefixação, a sufixação,
a composição, o truncamento, o blending etc.), e sobre questões de natureza

191
experimental que descrevam e analisem o processamento das palavras por meio
de testes off-line e on-line, além de questões acerca da aquisição de morfologia.
Dessa forma, convocamos os pesquisadores a inscrever trabalhos que ajudem
a discutir as seguintes questões:

- Como podemos definir a palavra nas teorias morfológicas atuais?

- O que os estudos sobre as palavras revelam sobre aspectos da cognição


humana?

- Que métodos estão disponíveis para a formação de corpora no domínio da


investigação morfológica?

- Qual é a importância da frequência de uso das palavras para os estudos de


processamento de palavras?

- Como os experimentos em morfologia podem ajudar na investigação das


estruturas das palavras?

- Quais as vantagens de recorrer a métodos experimentais para os estudos das


palavras?

- Que etapas envolve a aquisição de palavras pelas crianças?

Assim sendo, encorajamos que os autores se inscrevam para discutirmos essas


e outras questões de investigação mais específicas.

192
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

A interface morfologia-fonologia-pragmática no
blending
Autoria: CÉSAR ELIDIO MARANGONI JUNIOR

Os mecanismos derivacionais de formação de palavras desvelam a necessidade


de abordarmos como se dá a interface morfologia-fonologia-pragmática no
nível da estrutura da palavra. Este trabalho se volta para a explicitação de tal
interface no caso específico do blending, em que se tem a fusão de partes de,
pelo menos, duas palavras-fonte, sendo que uma delas deve ser reduzida no
processo ou deve haver algum tipo de sobreposição gráfica ou fonológica das
palavras-fonte; entre os exemplos de blends, temos namorido < namorado +
marido e almojanta < almoço + janta. A partir da análise morfofonológica e
semântico-pragmática de um corpus composto por 415 exemplos de blends
retirados de estudos anteriores sobre o tema ou coletados no âmbito das redes
sociais, o presente trabalho tem como objetivos principais: a) argumentar em
favor da hipótese de que os blends, em termos sintático-semânticos, são um
subtipo especial dos compostos (de acordo com a definição de composição em
NÓBREGA, 2014); nesse sentido, temos uma estrutura complexa formada por
duas raízes já categorizadas em uma dada relação sintática de subordinação,
coordenação ou atribuição entre si às quais é adjungido um morfema avaliativo
[Eval] (nos moldes de PRIETO, 2005; SCHER, 2018) que é responsável pela
leitura avaliativa do processo; b) mostrar que a leitura avaliativa codificada
sintaticamente acarreta efeitos pragmáticos de jocosidade (cabeleleila <
cabeleireira + Leila), de afetividade/meliorativos (selenda < Selena Gomez +
lenda) ou de pejoratividade (chernomacho < Chernobyl + macho); c) defender
que tal configuração sintática é mapeada em uma forma fonológica através da
ativação de um ranking de restrições específicos que dá conta das tendências
fonológica observadas no blending, por exemplo, há um requerimento prosódico
segundo o qual as duas palavras-fonte devem projetar juntas apenas uma palavra
prosódica e há a manutenção do acento da palavra-fonte à direita. Em termos
arquitetônicos, a análise aqui desenvolvida se vale de um modelo de arquitetura
da gramática híbrido, segundo o qual as palavras são formadas sintaticamente

193
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

através dos mecanismos da Morfologia Distribuída e a inserção de vocabulário


se dá por meio da existência de tableaux nos moldes da Teoria da Otimidade.
Por fim, levanta-se a hipótese de que a análise híbrida apresentada pode ser
ampliada de maneira a explicar a formação sintática e fonológica de outros
processos derivacionais de formação de palavras, como as formas truncadas
e os hipocorísticos.

Alomorfia na pluralização do ditongo nasal do


português brasileiro: um estudo experimental
preliminar
Autoria: MIRIAM DA COSTA LEITE

O trabalho que se apresenta trata da alomorfia na pluralização do ditongo nasal


em português brasileiro, de forma que é possível verificar na língua portuguesa
uma alomorfia no plural dos nomes com coda silábica em -ão [ã?], em que para
uma única forma singular encontramos três opções de formas plurais: -ãos
[ã?s], -ães [ãjs] e -ões [õjs]. No entanto, uma dessas formas (-ões [õjs]) é a mais
utilizada na formação desse plural, apesar de ser a forma fonologicamente mais
complexa entre as três concorrentes. Considerando a descrição dos dados
nas bibliografias que serão revistas neste trabalho, podemos verificar que a
questão da alomorfia na formação do plural no ditongo nasal não está exaurida
e necessita ainda de uma revisão e investigação sobre o tema. Nesse sentido,
essa pesquisa de caráter teórico-experimental apresentará de que forma esse
fenômeno está sendo descrito na literatura existente, e além disso, por meio
da experimentação, almejamos investigar como a pluralização desse plural em
específico está sendo realizada pelos falantes de língua portuguesa e qual das
formas existentes é a mais produtiva na língua. O objetivo geral desta pesquisa
foi responder, através da experimentação off-line, como a pluralização do
ditongo nasal -ão está sendo realizada em uma amostra de 30 falantes da Língua
Portuguesa brasileira (PB) - 15 com alta escolaridade e 15 com baixa escolaridade.
E como objetivos específicos quisemos observar se é possível verificar alguma
preferência, da parte dos falantes, por alguma das formas plurais do ditongo

194
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

nasal e, caso comprovado pelos testes que uma das formas é mais produtiva
que outra, se essa escolha é motivada por algum fator linguístico (e.g. forma da
base) ou extralinguístico (escolaridade). Nossa metodologia foi embasada no
método quantitativo com a coleta de dados através da experimentação com
sujeitos com a língua mãe em português brasileiro, levantamento bibliográfico
(BECHARA, 2009; CÂMARA Jr., 1970; ABAURRE, 1983; OLIVEIRA, 2016) que se
deu em busca de corpus teórico para análise e teorização dos dados; e com a
análise dos dados coletados em comparação com o referencial teórico a fim
de estabelecer uma relação dos dados com a bibliografia levantada.

Análise morfológica de sinais da libras que nomeiam


bairros de Curitiba
Autoria: ANDRÉ NOGUEIRA XAVIER

O presente trabalho apresenta uma análise morfológica de sinais da libras que


nomeiam 53 dos 75 bairros curitibanos. Objetivamos, com isso, identificar os
processos de criação lexical através dos quais tais topônimos foram formados. O
corpus deste trabalho foi constituído a partir dos dados coletados por Ferreira e
Xavier (2019) e de vídeos disponibilizados no canal do YouTube do CAS-Curitiba.
Sua análise se baseou em trabalhos sobre processos de formação de palavras
em línguas orais (VELUPILLAI, 2012) e em línguas de sinais (MEIR, 2012). Como
resultado, atestamos, além de variação fonológica, variação morfológica,
referente à estrutura do topônimo, simples ou composta, e lexical, decorrente
da existência de diferentes nomes, que não compartilham a mesma raiz, para
um mesmo bairro. Somando-se a isso, identificamos 15 diferentes padrões de
formação lexical. Precisamente, atestamos formações simples e compostas tanto
entre sinais toponímicos nativos, ou seja, cunhados sem influência do português,
quanto em topônimos híbridos, isto é, caracterizados pela incorporação de
elementos do português. Os compostos, por sua vez, abrangeram dois subtipos:
sequenciais e simultâneos (formados por dois morfemas produzidos um por
cada mão ao mesmo tempo). Os compostos híbridos foram os que apresentaram
maior diversidade de padrões. Entre os sequenciais, observamos calques, ou
seja, traduções literais de topônimos complexos do português (ex.: Água Verde),

195
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

soletrações manuais, e a combinação de um sinal e uma letra do alfabeto manual


ou da soletração completa do topônimo do português. Já entre os simultâneos,
encontramos inicializados, ou seja, sinais cuja configuração de mão nativa foi
substituída pela letra do alfabeto manual que corresponde à inicial do topônimo
correspondente no português, além de outras formações que combinam letras
e morfemas livres ou presos. À luz de Frishberg e Gough (1973), identificamos
ainda quatro famílias toponímicas, ou seja, cinco conjuntos de sinais que
compartilham entre si um mesmo ponto de articulação, e, presumivelmente,
um mesmo aspecto semântico relacionado a ele. Precisamente, encontramos
um conjunto de sinais realizados no antebraço em posição vertical, outro no
rosto, um terceiro na mão não dominante e um quarto no tronco.

Aquisição de morfologia de diminutivo no


português brasileiro
Autoria: MARCELA NUNES COSTA

A presente comunicação tem como objetivo propor uma análise sobre os


formadores de diminutivos -inh e -zinh do Português Brasileiro (PB) sob o ponto
de vista da aquisição da linguagem com base na Teoria Gerativa (CHOMSKY,
1986) e no modelo teórico da Morfologia Distribuída (HALLE; MARANTZ, 1993).
São descritos os achados preliminares resultantes da observação de dados de
fala de seis crianças de um a quatro anos pertencentes ao Corpus Santos (LEAL-
USP) que integram o corpus de uma pesquisa de mestrado em andamento. São
objetivos da pesquisa: (i) observar a ordem de emergência da morfologia de
diminutivo nos anos iniciais de desenvolvimento linguístico infantil considerando
o estudo de caso de Vigário e Garcia (2012), em que -zinh precede a emergência
de -inh na fala da criança adquirindo o Português Europeu (PE), além da ordem
de produção de prefixos do PB descrita em Assine e Bassani (2020; ASSINE, 2020;
BASSANI; ASSINE, 2020), segundo a qual formas não composicionais e menos
complexas precedem a produção de formas composicionais e mais complexas;
(ii) partindo dessa análise, consideramos a proposta de Costa e Minussi (2019)
de que -inh é um traço de diminutivo e de que -zinh participa de um processo de
composição, por isso há diferenças quanto à composicionalidade das formações,

196
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

sendo -inh menos composicional e -zinh mais composicional, e observando os


dados de aquisição, buscamos verificar a hipótese de independência desses
formadores; (iii) propomos uma descrição das classes de palavras que podem
formar diminutivos e da composicionalidade semântica das formações. Os dados
longitudinais foram submetidos à busca de formações diminutivas no software
AntConc e as formações resultantes foram catalogadas em tabelas Excel com
as seguintes categorias: idade, palavra, contexto de produção, tipo de diminutivo
(-inh ou zinh), composicionalidade, tipo de composicionalidade, categoria da
base e vogal temática da base. A partir da tabulação dos dados, tabelas dinâmicas
foram criadas com as informações de cada categoria e analisadas de forma a
cumprir os objetivos propostos pela pesquisa. São apresentados os resultados
das análises quantitativas das formações diminutivas em types e tokens
produzidas por criança e por idade, além das análises de composicionalidade
das formações, em que dados composicionais estão relacionados à noção de
tamanho e os não-composicionais às noções de afetividade, intensificação,
amenização e ambiguidade.

Avaliação do conhecimento de empréstimos


lexicais do inglês no português
Autoria: MAGDA SALIN SOARES

O objetivo desta pesquisa será o de apresentar um debate acerca dos


empréstimos linguísticos do inglês realizados pelos falantes nativos de língua
portuguesa provenientes de Portugal e do Brasil. O próprio termo “empréstimo”
vem sendo debatido há décadas, com alguns autores defendendo a ideia de que
“emprestar” supõe que devolveremos a palavra emprestada após o uso, o que não
é o caso. Diante deste quadro, a fim de esclarecer quais serão as terminologias
adotadas para esta pesquisa, concordamos que o empréstimo corresponde
àquela fase na qual o termo não é mais visto como estrangeiro e passa a fazer
parte dos dicionários. Os estrangeirismos, por sua vez, são os empréstimos
mais recentes, ou seja, ainda em processo de entrada na língua. Neste viés,
a pesquisa partirá do seguinte questionamento: até que ponto os falantes de
língua portuguesa compreendem o significado das palavras que emprestam? A

197
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

perspectiva teórico-metodológica a ser usada para a realização da pesquisa será


de natureza experimental e quantitativa a ser elaborada por meio de um teste
de construção de frases usando os estrangeirismos. Em relação às variáveis
da pesquisa, elencamos três que consideramos importantes: escolaridade
(1 – zero ou baixa escolaridade; 2 – cinco a doze anos de escolaridade; 3 –
superior a doze anos de escolaridade); idade (a – 15 a 25 anos; b – 25 a 40 anos;
c – 40 a 60 anos); e gênero (masculino, feminino e outros). Os participantes
analisarão palavras pertencentes a um corpus previamente criado para tal. Este,
por sua vez, trata-se de um corpus anotado de empréstimos do inglês, que se
subdividirá em: empréstimos exclusivos do PB; empréstimos exclusivos do PE; e
empréstimos comuns ao PB e PE. Para a elaboração do corpus, faremos revisões
bibliográficas sobre empréstimo linguístico, além de acessar base de dados da
língua portuguesa e fazer uma busca nos dicionários mais atuais. A hipótese
levantada é que os falantes de português empregam os estrangeirismos no dia
a dia, mas nem sempre sabem o significado dos mesmos. Outra hipótese que
também achamos plausível é que as palavras que ainda não foram dicionarizadas
apresentarão baixos resultados pelas faixas etárias mais elevadas. Em suma,
com os resultados desta coleta de dados acreditamos que será possível ter
uma melhor compreensão do atual contato existente entre a língua inglesa e
a língua portuguesa e suas especificações.

Crianças não aprendem palavras, mas morfemas


Autoria: RAFAEL LUIS BERALDO
Coautoria: PAULO ÂNGELO DE ARAÚJO ADRIANO

As teorias de aquisição lexical partem do pressuposto de que o vocabulário


infantil é construído a partir de palavras identificadas no input linguístico. Nesta
apresentação, argumentaremos que parece haver motivos o suficiente para
postular-se que o material segmentado do input e então adquirido é, na realidade,
de natureza morfêmica. Três linhas argumentativas complementares serão
discutidas. Primeiramente, nas línguas morfologicamente complexas, como as
(polis)sintéticas, os conceitos de “sentença” e “palavra” podem coincidir, sugerindo
que, pelo menos nesses casos, a palavra não seria uma unidade frutífera de

198
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

aquisição. Em segundo lugar, trataremos de evidências provenientes de modelos


computacionais da aquisição lexical que, tendo sido construídos para lidar com
palavras, têm seu desempenho gravemente comprometido quando os dados de
entrada trazem morfologia rica. Por fim, argumentaremos que a aquisição lexical
torna-se desnecessariamente mais complicada para a criança que depreenda
raízes e afixos a partir do input, uma vez que ela teria, no limite, que listar formas
flexionadas e derivadas. Baseado nessas considerações, apresentamos uma
visão de aquisição lexical calcada ao mesmo tempo em estudos psicolinguísticos
empíricos que demonstram as precoces habilidades infantis de segmentação
morfêmica, bem como na teoria da Morfologia Distribuída, segundo a qual
palavra e sentença são igualmente produtos de derivação sintática. Como
consequência de adotar-se essa visão empírico-teórica, os problemas postos
acima resolvem-se naturalmente. Assim, a aquisição da linguagem se daria
pelo mesmo processo para línguas em extremos opostos de complexidade
morfológica – como as sintéticas e as isolantes; modelos computacionais, por
sua vez, poderiam ser mais resilientes aos dados morfologicamente ricos, se
estivessem imbuídos de análise morfêmica; e poderíamos melhor caracterizar o
processo da aprendizagem de palavras, que certamente não se dá pela listagem
pura e simples de todas as formas flexionadas e derivadas que a criança ouve.
Buscaremos, enfim, defender que qualquer estudo em aquisição lexical deverá
iniciar-se por questões eminentemente morfológicas. (O presente trabalho foi
realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 88887.479688/2020-00;
Processo FAPESP 2019/17443-9).

Interpretação não composicional em alguns nomes


deverbais não afixais em português
Autoria: ANA PAULA SCHER

Neste trabalho, investigam-se os nomes deverbais não afixais (DNAs) em


português (fala ou apoio). No que concerne às suas propriedades morfológicas,
DNAs não explicitam a realização de um sufixo nominalizador, apesar de
exibirem uma vogal temática nominal (VTN), –o, -a, ou –e, imediatamente após

199
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

a raiz desse nome. A literatura relevante vem registrando uma forte tendência
à formação de neologismos de DNAs. Basílio (1999, 2004), seguindo Gamarski
(1988), sugere que esses neologismos, em geral relacionados a gírias, exibem,
uniformemente, a VTN –o (sufoc-o(N), adiant-o(N), etc.). Se comparados a nomes
deverbais afixais derivados com a mesma raiz (sufoc-a-ment-o(N) ou adiant-a-
ment-o(N), aqueles DNAs não exibem a mesma interpretação. Assim, enquanto
os primeiros se interpretam, respectivamente, como situação difícil e ajuda, os
últimos recebem interpretações distintas, mais próximas das interpretações dos
próprios verbos correspondentes. A análise dos fatos à luz das observações de
Barner e Bale (2002) sugere que esses DNAs sejam neologismos. O significado
das novas formações, no entanto, requer mais explicações. Assim, assumimos
com Borer (2013a, 2013b, 2014) que o conteúdo das expressões linguísticas é
determinado localmente e que o domínio de interpretação não composicional
pode ser ampliado, ficando delimitado por algum tipo de estrutura funcional.
Adicionalmente, assumimos com a autora que a Enciclopédia é responsável pelo
significado das expressões (ela ‘avalia’ as representações sintáticas) e que os
significados não composicionais surgem quando uma única busca enciclopédica
que envolve mais de um nó sintático não resulta na atribuição de um significado
independente para cada um deles. Logo, a interpretação especial de sufoco
como situação difícil pode resultar do fato de que a atribuição de significado
não está disponível quando a raiz é ‘sondada’ pela busca enciclopédica: se a
interpretação da raiz não pode ser estabelecida na primeira busca, a associação
de um afixo nominal só poderá resultar em interpretação não composicional.

Por que / em que as interjeições são diferentes


Autoria: MAURÍCIO SARTORI RESENDE

Dentre todas as classes de palavras referidas pela tradição gramatical, as


interjeições são, de longe, as menos estudadas. A despeito de as gramáticas
tradicionais definirem a classe das interjeições como aquela que congrega
“itens que exprimem emoção”, listando exemplos como ai, ufa, oba etc. e várias
outras palavras ou expressões seguidas por um ponto de exclamação (socorro!
silêncio!), há pouquíssimos trabalhos sistemáticos a respeito das propriedades

200
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

formais daquilo que se tenderia a caracterizar como uma interjeição sobretudo


da perspectiva formal – uma exceção é Basso e Teixeira (2017). No bojo dessas
considerações, o objetivo deste trabalho é apresentar uma primeira reflexão –
focando na descrição empírica – das interjeições do português brasileiro (PB)
com vistas a uma primeira caracterização morfológica e formal dessa classe,
na esteira de trabalhos como Ameka (1992), Wierzbicka (1992) e Wilkins (1992).
Muito embora a tradição trate-as como uma classe autônoma, nos trabalhos
em linguística, em suas poucas menções, as interjeições são tratadas como
um subconjunto de marcadores discursivos ou, mais drasticamente, como
“vocalizações paralinguísticas” – ou ainda “não palavras”, devido ao caráter
“fonologicamente anômalo”, visto em psiu, ai, ei, ui, eita, aff, eca etc. Seja como
for, além dos problemas formais, isto é, classificação e propriedades, há o
questionamento de se esses itens constituem um objeto formal legítimo em
vez de serem apenas elementos paralinguísticos ou vocalizações, ou seja, se as
interjeições fazem parte do conhecimento linguístico. A resposta gerativista para
essa pergunta é obviamente “sim”, pois temos intuição sobre as interjeições e
sabemos avaliar como bem/malformado um enunciado contendo uma interjeição
– estrangeiros não têm o mesmo domínio. Além disso, em última instância, as
interjeições são signos linguísticos genuínos, no sentido saussuriano, pois
relacionam uma forma a um significado. Especificamente, a pergunta deste
trabalho é: qual é a forma das interjeições e como uma teoria de Morfologia
acomoda suas propriedades, como impossibilidade de encaixamento sintático,
ausência de paráfrase, flutuação de itens associados a outras classes de palavras
como interjeições etc. Adicionalmente, outro problema dessa classe versa sobre
a sua constituência fônica, no que tange ao fato de algumas interjeições serem
compostas por sons que não fazem parte do inventário fonológico da língua –
daí serem caracterizadas como “anomalias” ou “não palavras”. Em síntese, este
trabalho propõe uma descrição empírica e algumas reflexões teóricas acerca
desse fenômeno visando a uma primeira sistematização e análise.

201
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

Questões metodológicas e resultados preliminares


de um pré-teste de associação de palavras em
verbos com prefixos
Autoria: INDAIÁ DE SANTANA BASSANI
Coautoria: ALINA VILLALVA E GISLENE DA SILVA

Objetivos: Este trabalho pretende discutir questões metodológicas e os


resultados descritivos preliminares de um pré-teste de associação de palavras
com verbos morfologicamente complexos com prefixos. Este pré-teste é parte
da primeira etapa do desenho experimental de uma tarefa de decisão lexical
cujo objetivo é investigar o processamento e reconhecimento da complexidade
morfológica de verbos com prefixos. Embasamento teórico: Na linha do estudo
de Villalva e Pinto (2018), procuramos contribuir para o conjunto de trabalhos que
buscam fomentar e embasar com dados experimentais o conhecimento sobre
a representação de palavras complexas através de testes de processamento de
leitura. Método: Esse pré-teste teve o objetivo de investigar a familiaridade de 52
estímulos previamente selecionados entre verbos iniciados com o prefix eN- e
sua pertinência às categorias descritivas propostas, a saber: Verbos com prefixo
lexicalizados (ex. embaraçar), Verbos com prefixo composicionais deadjetivais
(ex. encrespar), Verbos com prefixo composicionais denominais (ex. envidraçar),
Verbos com prefixo não-composicionais (ex. encabeçar). Além disso, foram
incluídos na tarefa 45 verbos controles distratores com duas sílabas entre
verbos morfologicamente simples (sem prefixos diacrônicos ou sincrônicos).
O teste foi, então, composto de 97 estímulos. Também foram coletados dados
demográficos e tempos de resposta para cada palavra. Ao final, uma pergunta
acerca da avaliação do tempo de execução do teste foi disponibilizada. Os
estímulos foram aleatorizados e aplicados através de um questionário on-line
por meio da Plataforma Limesurvey. Resultados esperados: Foram obtidas 56
respostas, entre questionários completos e incompletos, de falantes de português
brasileiro e europeu, majoritariamente. Nesta apresentação, discutiremos as
seguintes questões metodológicas que emergiram durante a construção e
aplicação do teste: disponibilização dos estímulos (aleatório e/ou ordenado;

202
Simpósio de Convidados
Morfologia e estudo da palavra

página a página) e limitações das plataformas; tamanho da amostra; tamanho


e tempo de aplicação do teste. Além disso, apresentaremos os resultados
preliminares das respostas obtidas para os estímulos linguísticos de interesse,
que serão classificadas em cinco categorias primárias de associação de palavras:
Associação fonético-fonológica, Associação morfológica, Associação sintático-
argumental, Associação semântico-lexical, Outros.

203
Políticas e direitos linguísticos no Brasil:
onde estamos e para onde vamos?
Autoria: CRISTINE GORSKI SEVERO
E FERNANDA DOS SANTOS CASTELANO RODRIGUES

Este simpósio pretende reunir trabalhos que discutam posições teórico-


metodológicas e estudos de caso envolvendo políticas e direitos linguísticos.
Embora o campo disciplinar das políticas linguísticas tenha se consolidado
nos contextos norte-americano e europeu a partir dos anos 1960 – embalado
fortemente pelos “problemas” linguísticos das nações emergentes –, buscamos,
neste espaço de discussão, contemplar olhares e práticas contemporâneos
sobre questões de linguagem que têm afetado, nos âmbitos institucional e
locais, os modos de organização, representação e legitimidade de grupos e/ou de
indivíduos. As discussões envolvendo os direitos linguísticos, que surgem com o
necessário trabalho de especificação dos ditos “direitos humanos universais” –
expressos na Declaração de 1948 –, têm se tornado objeto de reflexão e análise
principalmente depois dos anos 90, com o avanço do processo de integração dos
Estados nacionais em blocos regionais. Tanto as políticas linguísticas quanto
os direitos linguísticos, enquanto espaços de reflexão e pesquisa, colocam em
diálogo os campos da Linguística, da Política e do Direito sendo que, no Brasil,
essas interfaces têm ocorrido, prioritariamente, a partir dos estudos realizados
no âmbito da Linguística. Nesse sentido, este Simpósio propõe discussões em
torno tanto das epistemologias das políticas e dos direitos linguísticos enquanto
campos de pesquisa e de atuação no Brasil, como das projeções dos caminhos
que podem ser vislumbrados. Serão bem-vindas propostas que focalizem o
debate diante dos movimentos de des/reterritorialização das políticas e dos
direitos linguísticos a partir de uma perspectiva decolonial.

204
Simpósio de Convidados
Políticas e direitos linguísticos no Brasil:
onde estamos e para onde vamos?

A política linguística brasileira para as línguas


estrangeiras: um olhar para o passado, mirando o
presente
Autoria: ELIAS RIBEIRO DA SILVA

Ao modificar a “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional” (LDB 9.394/1996)


para estabelecer as bases legais para a implementação do Novo Ensino Médio,
o Projeto de Lei de Conversão n. 34/2016 consistiu em uma ruptura da tradição
democrática brasileira relativamente ao ensino de língua estrangeira (LE)
que fora instituída pela LDB em 1996. O Artigo 26 da LDB, naquela redação,
estabelecia que seria incluída uma LE no currículo a partir do sexto ano do Ensino
Fundamental (EF). Já o Artigo 36 definia que seria introduzida uma segunda LE
no Ensino Médio (EM) em caráter optativo. Esses artigos também estabeleciam
que a definição de quais LEs seriam incluídas caberia à comunidade. Pode-
se inferir, pela análise da própria LDB e dos documentos complementares,
que essa postura democrática visava contemplar a diversidade linguística e
cultural do país. Com as mudanças implementadas por aquele Projeto de Lei,
a LDB retira das comunidades o poder de escolha e impõe o inglês como “a”
LE do currículo do EF. O artigo 26 passa a estabelecer que, “No currículo do
ensino fundamental, a partir do sexto ano, será ofertada a língua inglesa”, e a
possibilidade de escolha pela comunidade só continua sendo facultada no
tocante à grade curricular do EM. De uma política linguística (PL) democrática
de contornos multilíngues, passou-se a uma PL autoritária que legitima e impõe
a língua inglesa. Partindo desse pano de fundo e assumindo uma concepção
ampliada de PL (SCHIFFMAN, 1996; SPOLSKY, 2004; SHOHAMY, 2006), pretendo
nesta comunicação aprofundar a análise que venho desenvolvendo nos últimos
anos acerca da PL brasileira para as LEs (RIBEIRO DA SILVA, 2011, 2018, 2021). Os
autores mobilizados sublinham que a análise da PL de uma comunidade (seja
ela explícita ou implícita) não pode prescindir de um enfoque histórico, isto
é, de uma discussão aprofundada da conjuntura econômica, social, histórica
e geopolítica que a engendrou. Defendendo esse enfoque ampliado da PL,
Shohamy argumenta que as PLs em vigor em muitas sociedades democráticas

205
Simpósio de Convidados
Políticas e direitos linguísticos no Brasil:
onde estamos e para onde vamos?

frequentemente não passam de cartas de intenções, apresentando diferentes


matizes autoritários. A partir de uma análise documental que abarcará as
diferentes “versões” da LDB desde 1996 e os principais documentos norteadores
do processo de ensino e aprendizagem de LE na Escola Brasileira, pretendo
demonstrar que a atual PL em vigor em nossa sociedade, que cerceia os direitos
linguísticos de milhões de brasileiros, já vinha sendo gestada nos períodos
anteriores.

Direito e ativismo político linguístico: a questão


das línguas estrangeiras na legislação da
educação básica brasileira
Autoria: FERNANDA DOS SANTOS CASTELANO RODRIGUES
Coautoria: RICARDO NASCIMENTO ABREU

Este trabalho tem como principal objetivo discutir as mais recentes alterações na
legislação sobre a oferta de línguas estrangeiras na educação básica brasileira.
No ano de 2017, a Lei n. 13.415 revogou a Lei n. 11.161 de 2005, conhecida com “Lei
do Espanhol”, e determinou que a única língua estrangeira de oferta obrigatória
a compor o currículo escolar deveria ser o inglês. Pautados em reflexões e
análises que têm sido desenvolvidas no campo do Direito Linguístico em sua
interface com a Educação, num primeiro momento de nossa apresentação,
pretendemos expor as consequências do que estamos designando de processo
de ruptura com o princípio da gestão democrática, sobre o qual se erigia a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394 de 1996). Interpretamos
que tal processo se inicia em 2005, quando se produz uma flexibilização desse
princípio com a Lei do Espanhol, e culmina na reforma do Ensino Médio de 2017,
com a determinação de uma única língua componente curricular exclusivo
– vale lembrar que essa reforma foi proposta em setembro de 2016 por meio
de uma Medida Provisória que, depois de tramitar no Congresso Nacional, se
converteu na Lei n. 13.415. Num segundo momento, discutiremos propostas e
reações da sociedade civil organizada a essas mudanças produzidas pela Lei n.
13.415, com especial atenção ao Movimento Fica Espanhol Brasil, movimento de

206
Simpósio de Convidados
Políticas e direitos linguísticos no Brasil:
onde estamos e para onde vamos?

ativismo político-linguístico que tem se mostrado como um potencial agente


na proposição de políticas públicas para o ensino de línguas estrangeiras na
educação básica. Colocando em relação os aspectos do ordenamento jurídico
e do ativismo político-linguístico, nossas reflexões se voltarão à análise das
principais potencialidades e fragilidades de um dos instrumentos propostos
pelo Movimento: a proposição de projetos de lei junto a estados e municípios
que restituam a obrigatoriedade da oferta do espanhol em nível local.

Observatório de direito linguístico: um arquivo


jurídico para o trabalho com políticas, direitos e
deveres linguísticos no Brasil
Autoria: JAEL SÂNERA SIGALES GONÇALVES

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, intensificou-se no cenário internacional a


produção de documentos que visassem à proteção de minorias resultantes
dos conflitos bélicos daquele tempo, entre as quais se incluíram as minorias
linguísticas. A Carta das Nações Unidas, de 1945, e a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, de 1948, já dispunham sobre a proteção à não-discriminação
em razão da língua. Desde então, outros documentos jurídicos sobre a língua
foram editados e estão em elaboração também no âmbito interno dos países,
o que foi acompanhado pela produção de conhecimento em pesquisas sobre
políticas linguísticas e direitos linguísticos. Nesse cenário, tendo em vista a
pergunta lançada pelo Simpósio "Políticas e Direitos Linguísticos no Brasil:
onde estamos e para onde vamos?", do 68° Seminário do GEL, propõe-se este
trabalho com o objetivo de apresentar o Observatório de Direito Linguístico,
que consiste em um repositório on-line de documentos jurídicos sobre a língua.
Tomando Direito Linguístico como campo interdisciplinar de conhecimento
cujo objeto é a regulação jurídica da língua e de seus usos - regulação esta que
cria direitos linguísticos e deveres linguísticos -, o Observatório está sendo
concebido com o objetivo de reunir documentos para fomentar o trabalho
teórico e prático com políticas, direitos e deveres linguísticos. Propõe-se expor
o Observatório em três partes: fundamentos, estado atual e próximos passos.

207
Simpósio de Convidados
Políticas e direitos linguísticos no Brasil:
onde estamos e para onde vamos?

Na apresentação dos fundamentos, mostraremos o processo de concepção do


Observatório como elemento da montagem de um arquivo jurídico para uma
pesquisa que, situada na articulação entre a Análise materialista de Discurso e
a História das Ideias Linguísticas, investiga o modo de constituição, formulação
e circulação dos saberes jurídicos sobre a língua no espaço de enunciação
brasileiro. Na apresentação do estado atual, abordaremos o Observatório a
partir de seus eixos principais: Legislação, em que se listam documentos sobre
a língua em diferentes espécies normativas, como leis, decretos, resoluções,
declarações; Propostas Legislativas, em que constam principalmente projetos
de lei; Judicialização e Jurisprudência, em que se indicam processos e decisões
judiciais; e Publicações e Instituições, que dá destaque a grupos de pesquisa
e estudos na área. Na parte dedicada aos próximos passos, trataremos de
algumas implementações previstas para o Observatório e também mostraremos
a possibilidade de contribuição do Observatório para estudos sobre temas
candentes acerca dos direitos e dos deveres linguísticos, como a questão da
natureza dos direitos linguísticos como direitos humanos.

Políticas linguísticas e a questão indígena: diálogos


com as políticas públicas
Autoria: CRISTINE GORSKI SEVERO

Nesta apresentação busco analisar o campo de pesquisa das políticas


linguísticas em diálogo com o campo das políticas públicas, atentando para
a dimensão política e institucional das políticas. Trata-se de refletir sobre as
contribuições teóricas e analíticas do ciclo das políticas públicas (MARQUES;
FARIAS, 2013; MELAZZO, 2010; MORAN; REIN; GOODIN 2006) para se pensar
políticas linguísticas no Brasil, com enfoque nas políticas voltadas para línguas
indígenas. Atento, mais especificamente, para a importância de um diálogo
entre a esfera legislativo-jurídica e os interesses e concepções dos diferentes
povos indígenas, com vistas a minimizar descompassos em torno do que se
compreende tanto por línguas indígenas, como por políticas linguísticas voltadas
a esses povos. A apresentação busca compreender o dispositivo político-jurídico
sobre as línguas a partir de uma perspectiva contextualizada, o que significa que

208
Simpósio de Convidados
Políticas e direitos linguísticos no Brasil:
onde estamos e para onde vamos?

as leis não são tidas como entes abstratos, generalizantes e universalizantes,


mas elementos inscritos na esfera social e, portanto, constituem parte da
dinâmica política (MATHER, 2013). Em atenção à convenção 169 (OIT), esta
apresentação atenta para o conceito de autonomia, o que implica considerar
o protagonismo indígena na produção de conhecimentos sobre o que conta
como língua, perpassado por reflexões sobre as metodologias e objetos de
pesquisa, em prol da construção de uma justiça epistêmica como condição
para a justiça social (SMITH, 1999; SANTOS, 2009). Como alvo de estudo de
caso, enfoco o dispositivo de cooficializações de línguas indígenas no Brasil,
atentando para a sua relação com uma compreensão mais alargada do que
conta como políticas públicas. Por fim, considero que as políticas linguísticas
devem ser vistas como transversais a todas as políticas públicas voltadas para
os povos e as questões indígenas, pois o direito à língua implica direito à voz e
à legitimação de lugares enunciativos dos sujeitos indígenas, o que contribui
para a cidadania linguística desses sujeitos (STROUD; KERFOOT, 2020).

209
Quais letramentos na vida pós-pandemia?
Autoria: FABIANA CRISTINA KOMESU
E JULIANA ALVES ASSIS

Inúmeros estudos desenvolvidos ao longo de 2020, em diversos países, têm


apontado que a educação, considerados seus diferentes atores e papéis no
desenvolvimento humano, social e econômico, é uma das graves vítimas
da pandemia da Covid-19, provocada pelo SARS-CoV-2, conhecido como
“coronavírus”. Como exemplo emblemático, mencionamos o monitoramento
feito pela Unesco, intitulado “Global monitoring of school closures caused by
Covid-19”, que mapeia, desde fevereiro de 2020, dia a dia, mês a mês, o número
de escolas e de estudantes afetados pela pandemia em todos os países do
mundo. Segundo projeção feita pela Unesco, a queda na aprendizagem, assumida
como uma das evidentes consequências decorrentes da pandemia, pode
estender-se por mais de uma década (UNESCO, 2020). Essa constatação ensejou
uma proposta da Agência a líderes mundiais, de forma a engajá-los em um
compromisso com o financiamento prioritário da educação durante o período
de recuperação da Covid-19, o que, como sabemos, não tem sido prioritário
em muitos países, dentre os quais o Brasil. Em nível nacional, pois, a pesquisa
“Trabalho docente em tempos de pandemia” realizada pelo Grupo de Estudos
sobre Política Educacional e Trabalho Docente da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
(CNTE), com 15.654 docentes de educação infantil, de ensino fundamental e de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), mostrou, em julho de 2020, que 89% dos
entrevistados não tinham experiência anterior à pandemia para dar aulas por
acesso remoto e 42% seguiam sem treinamento formal, aprendendo por conta
própria. Do ponto de vista do aluno, pesquisas, como a do Centro Regional
de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br),
mostraram, em novembro de 2020, no que se refere a usos de tecnologias
durante a pandemia, como a falta ou baixa qualidade de conexão à internet e a
falta de acesso a materiais afetavam os estudos. O acontecimento da pandemia
parece, assim, acentuar desigualdades sócio-historicamente estruturadas. Ao

210
lado dessa realidade, também evocamos 2020 como o ano em que discursos
negacionistas e fake news circularam ainda com mais força, grande parte deles
tendo como objeto a própria pandemia. Esse cenário oferece-nos um fecundo
terreno para investigações em torno das práticas sociais de letramento em
diferentes contextos, seja em situação escolar formal – da educação básica
ao ensino superior –, seja em situação extraescolar – na heterogeneidade de
letramentos pelas quais estudantes e professores circulam. No simpósio ora
proposto, interessa-nos colocar em discussão algumas importantes dimensões
que recortam preocupações de frentes de investigação sobre letramentos
no contexto da pós-pandemia, quais sejam: (i) letramento e alfabetização;
(ii) letramentos do professor e seus desafios; (iii) letramentos acadêmicos na
formação de estudantes, universitários/pós-graduandos e na formação inicial do
professor; (iv) letramentos multimodais na relação com o uso de mídias sociais;
(v) letramentos midiáticos e informacionais no enfrentamento da desinformação
e das fake news; (vi) letramentos científicos no fortalecimento do combate ao
negacionismo científico. Da perspectiva dos estudos da linguagem, esperamos,
desse modo, promover profícua discussão sobre os usos sociais da escrita e
da leitura na conjuntura do pós-pandemia.

211
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

A discursivização de professores em tempos de


trabalho remoto SARS-CoV-2
Autoria: RENATA MAIRA TONHAO BOLSON

As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) permeiam


o contexto escolar e colocam à disposição dos usuários um conjunto de
informações, conhecimentos e equipamentos. a rotina escolar foi adaptada
diante das condições colocadas pela pandemia SARS-CoV-2 e o processo ensino-
aprendizagem passou a ser realizado por meio das telas de computadores,
smartfones, tablets, etc. nosso objetivo foi refletir por meio do discurso dos
sujeitos-professores o que dizem pensar, o que dizem fazer, quais são suas
prioridades e/ou dificuldades diante da realidade atual, isto é, o ensino por meio
das telas. apresentamos resultados de pesquisa materializados em redes sociais
como o Facebook sobre a rotina de um professor em período de pandemia.
Interessa-nos flagrar quais sentidos reverberam nas postagens que circulam
na rede eletrônica, especificamente, #professornapandemia. nosso corpus foi
constituído por dizeres que circulam na hastag para discutir e compreender as
formações discursivas e os possíveis atravessamentos discursivos interpostos
nos dizeres, analisando os efeitos de sentidos que são produzidos sobre a
profissão professor em período de pandemia. Sequências discursivas de
referência (SDR) que são indícios sobre os processos discursivos (COURTINE)
foram analisadas, fundamentadas na análise de discurso de matriz francesa (AD)
e seus principais expoentes (PÊCHEUX; ORLANDI), nas ciências da educação
e formação de professores. Os resultados parciais assinalam que as formações
discursivas nas quais os sujeitos-professores se inscrevem são atravessadas por
discursos-outros, como o neoliberal, ao reduzir o processo ensino-aprendizagem
a uma função técnica, desqualificando a profissão. Os discursos sobre o
significado da profissão trazem memórias históricas que reverberam sentidos e
atualizam os discursos ou interdiscursos. Diante disso, é preciso contribuir para
a desnaturalização dos sentidos produzidos na cibercultura. Urge dialogar em
cursos de formação sobre as (im)possibilidades de atuação docente aliadas às
tecnologias na educação, de modo que as relações humanas e naturais sejam
valorizadas para além da tecnicidade.

212
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

A tecnicidade das práticas, a praticidade das


técnicas: isso basta nos “novos” letramentos no
regime letivo remoto?
Autoria: EV'ÂNGELA BATISTA RODRIGUES DE BARROS

A pandemia trouxe cenários inusitados para todos os setores da vida humana.


No âmbito educacional brasileiro, acirraram-se desigualdades de acesso a (in)
formação – neste “capitalismo digital”, discentes desprovidos de equipamentos
e internet apropriados se viram mais marginalizados. Mediatizaram-se
relações pedagógicas, reconfiguraram-se concepções: o que é absenteísmo,
quando “assinalar presença” é clicar no link e manter-se de câmera fechada?
Que expedientes didáticos são mais efetivos? Como monitorar/avaliar a
aprendizagem? Essas inquietações e demandas transformaram o fazer docente
num “entrelugar”, imbricamento de espaços – real e virtual –, que Signorini (2020)
denomina “intersticial”. Nas práticas docentes, nas modalidades da educação
formal, novo dilema: “Assuma a virtualidade (docência on-line) ou pereça,
na realidade”. Aprimorar processos exige escuta dos discentes – algo difícil:
literalmente (não falam ou usam o chat) ou extensivamente (não respondem
a instrumentos de (auto)avaliação). Compilaram-se, neste estudo, dados de
questionários encaminhados a 90 alunos (4 turmas, Pedagogia e Letras PUC
Minas), em novembro/2020. Apenas 23 respondentes; destes, 87% afirmaram que
o RLR impactou negativamente suas práticas de leitura e escrita acadêmica, por
fatores diversos: ergonômicos (excesso de horas diante do computador); gestão
do tempo (carga elevada de leituras, tarefas, avaliações), ambientais (barulho,
falta de recursos) ou pessoais (ansiedade, depressão, desmotivação geral),
entre outros. Na leitura, gêneros mais desafiantes ou problemáticos: “textos
acadêmicos”, teóricos e extensos – “que não davam para imprimir”. Na escrita, os
mais complicados foram o TFG (trabalho final de graduação da Pedagogia) e a
“escrita acadêmica”, no geral (“os textos os quais exigem tamanho”). Os gêneros
acadêmicos mais comuns (artigo, resenha, monografia) são os problemáticos.
Tecnologias ora são facilitadoras (rapidez do WhatsApp), ora causadoras de
cansaço e desmotivação. Fluckiger (2020) afirma que a premência pelo digital

213
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

disseminou “a ideia de que estão se desenvolvendo, na realidade, novos modos


de comunicação, cujos processos de construção e difusão, assim como seus
efeitos, podem ser apreendidos com a mesma aparelhagem teórica que a da
passagem de sociedades oralizadas a sociedades escriturais.” (FLUCKIGER,
2020, p. 37). Não é. São muitas especificidades das/nas relações intersubjetivas
nesse contexto. Dialeticamente, estudantes acham positivo “trazer leitura
dos textos teóricos para o tempo da aula” e negativo “adotar estudos dirigidos
sobre os textos”, “pedir produções textuais sobre eles”. Critério de escolha do
texto ideal: ter “menos de 12 páginas” e “que falem da nossa vida, fazendo uma
abordagem mais prática”. Eis nuances dos letramentos acadêmicos, doravante
a iluminar escolhas pedagógicas.

Concepção(ões) de sujeito(s) em evento de


letramento “aula” em contexto de ensino remoto
Autoria: CARINA MACIEL DE OLIVEIRA SILVA

A grave crise sanitária imposta pela pandemia da Covid levou grande parte
dos estados brasileiros a iniciarem o ano letivo de 2021 com ensino remoto.
A oferta de atividades educativas por meio do ensino remoto colocou em
evidência o protagonismo das tecnologias digitais no desenvolvimento do
evento de letramento “aula” em diferentes níveis de ensino. As tecnologias
digitais tornaram-se um dos principais recursos para promover a virtualização
e a desterritorialização de saberes do espaço tradicional de ensino (escola,
universidade) para outros espaços (os lares de estudantes e professores).
Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), para garantir
a virtualização e a desterritorialização de saberes, a maioria das redes estaduais
de ensino têm adotado o Google sala de aula, ferramenta da empresa Google
que permite a criação de turmas para compartilhamento e gerenciamento de
materiais referentes aos conteúdos trabalhados no componente curricular
ministrado por cada professor. Assim, pode-se afirmar que, de um ponto de
vista institucional, o Google sala de aula tem sido um importante suporte
empregado para levar conhecimento sistematizado ao aluno que não está
fisicamente presente no mesmo espaço que o professor. Do ponto de vista

214
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

dos estudos da linguagem, o conjunto de material compartilhado e gerenciado


pelo professor, em especial, as atividades individuais ou coletivas propostas
por ele na plataforma, coloca em evidência não apenas a interlocução entre si
e outro (estudante) como também indicia a concepção de sujeito para quem
esse conjunto de material produzido (não somente) é endereçado. Com base em
pressupostos fundamentados nos Novos Estudos de Letramento (STREET, 2014)
e na Análise do discurso de linha francesa, temos como objetivo principal neste
trabalho investigar a concepção de sujeito prevalente no conjunto de material
compartilhado e gerenciado pelo professor no desenvolvimento do evento de
letramento “aula” em contexto de ensino remoto. De maneira particularizada,
são apresentados neste trabalho enunciados extraídos de conjunto mais amplo,
de materiais compartilhados e gerenciados por um professor da disciplina de
língua portuguesa, na plataforma Google sala de aula da rede estadual de ensino
de Mato Grosso do Sul. Acreditamos que a compreensão sobre a concepção
de sujeito indiciada nesse conjunto de material tem uma relação direta com
“o tipo definidor” (STREET, 2014) de práticas sociais letradas mobilizadas pelo
professor em contexto de ensino remoto.

Discursos sobre a pandemia da COVID-19 e suas


metáforas de guerra: a proliferação de textos e
sentidos
Autoria: JANE QUINTILIANO GUIMARÃES SILVA

A Pandemia da COVID-19, um fenômeno em curso, provocado por um vírus invisível


a olho nu, que assombra em escala planetária a saúde de bilhões de pessoas,
denuncia uma crise sanitária global, modifica a dinâmica das cidades, redesenha
as relações do mundo do trabalho, escancara as diferenças sociais e, entre outros
impactos marcadamente dramáticos, expõe a vulnerabilidade da vida, deixando
em aberto o que será o mundo pós-pandemia, como nos alerta Boaventura
de Souza Santos (2021). Nesse cenário pandêmico, estamos imersos em uma
heterogeneidade de práticas e discursos, fomentada por uma hiperproliferação
de textos em torno da qual gravitam saberes sobre e da pandemia, interpondo-se

215
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

nas redes midiáticas da cultura digital e impressa e nos colocando, a um só tempo,


como produtores, protagonistas, espectadores/leitores/ouvintes de narrativas
que, circulando também em escala global, proliferam sentidos forjando visões
de incerteza, fragilidade, medo, perigo e luta contra o vírus. É interrogando esse
cenário discursivo que a presente comunicação se propõe a discutir resultados
preliminares de um exercício analítico sobre o funcionamento de discursos que,
em suas formulações, a metáfora da guerra é usada para nomear as ameaças
do COVID-19, apontar os desafios a serem enfrentados contra ele e, ao mesmo
tempo, ensinar como combater tal inimigo. A escolha por esse recorte temático
se explica dada a centralidade e a repetibilidade de metáforas da guerra contra
o COVID-19 em discursos produzidos e postos em circulação por diferentes
instituições sociais, as quais abarcam domínios como o científico, sanitário,
econômico, religioso, publicitário e, sobretudo, o midiático. Para levar a efeito
essa empreitada, respaldando-se em uma perspectiva discursiva alinhada aos
pressupostos teóricos da Análise do Discurso francesa, este estudo explora um
corpus constituído de 10 narrativas, produzidas em sites institucionais da esfera
governamental, veiculadas no período de setembro de 2020 a março de 2021,
com o objetivo de mostrar como se constrói a discursividade que atravessa os
processos de metaforização do discurso da “guerra ao coronavírus”, centrando
sua análise em dizeres e ditos neles atualizados que, carregados de tom bélico
e pedagógico, forjam narrativas que, paradoxalmente, maximizam a vida pela
disseminação de normas higienistas para expurgar os perigos e a presença
iminente da morte.

Enunciação e escrita: um percurso de reflexão


sobre a linguagem
Autoria: CRISTIAN HENRIQUE IMBRUNIZ
Coautoria: MANOEL LUIZ GONÇALVES CORRÊA

Desde que a pandemia se instalou no país como um novo marco zero para
o calendário, a naturalização da crise como condição irremediável do “pós-
pandemia” e a impossibilidade de retorno à “vida normal” mal ocultam a dificuldade
de separar o futuro imprevisível e um conjunto de supostas oportunidades

216
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

que se ofereceriam como um elemento positivo na negatividade duradoura.


A própria temporalidade inerente ao termo “pós-pandemia” antecipa um final
para a duração que se arrasta, produzindo-a, completa, como marco zero já
socialmente instalado. O uso do termo “pós-pandemia” pode, pois, projetar-nos
à frente e fora dela e com algumas oportunidades. Dentre elas, ao menos em
certas reflexões sobre linguagem e ensino, a máxima “a tecnologia veio para
ficar” chega a rivalizar com o ressurgimento da própria linguagem, tornando-se
o centro de preocupação. As tecnologias digitais de informação e comunicação,
que são produtos da inventividade humana, assumem a forma de linguagens,
mas não são a linguagem, cujo diferencial é ser, desde sempre, inseparável
da própria definição do homem (BENVENISTE, 1976). Para quem pesquisa a
linguagem, a única certeza quanto ao que permanecerá é a própria linguagem e,
com ela, o dizer e o não dito inscritos na opacidade do dizer. Nesta apresentação,
destacaremos, no plano pragmático da linguagem, a enunciação e o discurso,
enfatizando esse campo como o da linguagem em seu acontecimento. Para
tanto, retornamos a um percurso de pesquisa anterior. O trabalho, baseado
na teoria da enunciação de Authier-Revuz (1990), apresenta resultados da
análise de redações da FUVEST/2009. Nessas redações, distinguimos, em
relação às formas convencionais (discurso direto, indireto e indireto livre),
quatro tipos de remissão ao discurso de outrem que classificamos como formas
não convencionais: a rasura; a enumeração; a pergunta retórica e certos usos
da letra maiúscula. Como resultado, destacamos a dificuldade de incluí-las
entre as formas convencionais, pois seu funcionamento não é assimilável ao
daquelas formas. Embora ambas remetam à discursividade, as formas não
convencionais apresentam funcionamentos particulares em que se destaca a
remissão ao – mas não a citação do – discurso de outrem. Portanto, no quadro
da complexidade enunciativa, essas formas não convencionais permitem ler, nos
textos dos estudantes, a opacidade de certas vozes que atuam na produção do
sentido. Avança-se, desse modo, na reflexão quando se admite para a linguagem
a natureza da relação e do acontecimento – temas que se impõem como sempre
atuais.

217
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

"Eu nunca tinha feito isso": letramentos desenvolvidos


por alunos de Letras - Inglês durante o ensino remoto
Autoria: QUEILA BARBOSA LOPES

O objetivo deste trabalho é discutir letramentos desenvolvidos durante a oferta


de duas disciplinas de língua inglesa, Língua Inglesa I e Língua Inglesa III, no
formato remoto emergencial por alunos de Letras Inglês de uma universidade
amazônica assim como o papel do professor regente da disciplina para realizar
ensino de língua nesse contexto. A partir da concepção de letramento (STREET,
1984, 1985; LEA; STREET, 1998, 1999) e letramentos digitais (DUDENEY; HOCKLY;
PEGRUM, 2016; COSCARELI; RIBEIRO, 2017) investigamos quais práticas de
letramentos foram desenvolvidas pelos discentes a partir das atividades
propostas pela professora regente, bem como o trabalho docente realizado
com o propósito de diversificar as ferramentas para ensino e aprendizagem
de línguas. Houve a participação de 48 discentes. Os dados analisados foram
coletados em 2 formulários Google e durante as atividades realizadas nos 12
encontros síncronos, com duração de 2 horas, das disciplinas cuja oferta foi
realizada em 2021. Trata-se de uma pesquisa interpretativista e exploratória
em que buscamos identificar marcas linguístico-discursivas que apontem
para o desenvolvimento da prática a partir do que foi proposto na execução
da disciplina. Os resultados apontam para uma quantidade considerável de
aplicativos e possibilidades de uso de ferramentas digitais para o ensino e
aprendizagem de línguas que eram desconhecidos pelos discentes, apesar de
estarem cursando uma licenciatura, e que passaram a ser utilizadas, ampliando
seu letramento digital. Esses resultados indicam a necessidade de ampliar a
diversidade do uso de ferramentas digitais nos cursos de licenciatura, ampliando
seu letramento para o uso dessas. No entanto, essa ampliação demanda do
professor uma quantidade maior de tempo dedicado ao planejamento das aulas.
Consideramos ainda que essa opção metodológica, realizada pelo docente
regente dessas disciplinas, pode significar a ampliação das possibilidades de
ação docente do professor em formação de modo a agir nos espaços formais
de ensino e aprendizagem de línguas de modo significativo, considerando a
realidade em que estejam inseridos.

218
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

Leitores e leituras em tempos de pandemia: das


fake news às agências de checagem
Autoria: LUIZ ANDRÉ NEVES DE BRITO

Os leitores estão cada mais engajados em práticas letradas digitais, consumindo,


produzindo e fazendo circular informações via dispositivos portáteis. Conectados
a esses dispositivos, os leitores muitas vezes disseminam informações em
tempo real e em ambientes de circulação ampla. Nesse contexto de mobilidade
digital, a prática social da leitura se mostra cada vez mais fluida e menos crítica,
propiciando um espaço fecundo para a circulação de fake news. Diante deste
cenário, percebemos como o jornalismo recorre à checagem do fatos (Fact-
Checking) não só para frear a circulação das fake news, mas também para
estabilizar a sua credibilidade como fonte divulgadora da notícia. Portanto,
se, por um lado, as fake news desestabilizam o espaço leitor instituído pela
prática jornalística, por outro lado, as agências de checagem de notícias buscam
reestabilizar esse espaço leitor mobilizando habilidades interpretativas de
leitura que levam o leitor à “verdade” dos fatos. Nessa relação dialógica que se
estabelece entre fake news e agências de checagem, percebemos uma polêmica,
mobilizando os semas "falso" e "verdadeiro", que se instaura em relação às
práticas de leitura em contexto digital. Dito isso, propomo-nos a analisar o
espaço leitor instituído nessa relação dialógica entre fake news e agências de
checagem inscrita no acontecimento da pandemia da Covid-19, mobilizando
o arcabouço teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa,
na relação com as reflexões sobre leitura em contexto digital propostas pelos
Novos Estudos de Letramento. Vale salientar que o material selecionado para
esta análise atendeu aos seguintes critérios: (i) ter circulado na Agência Lupa
que se descreve como a primeira agência de fact-checking do Brasil; e (ii) ter
abordado a temática tratamento precoce da Covid-19. Por fim, tendo em vista
as frentes de investigação deste simpósio, procuramos contribuir tanto para
(i) uma reflexão sobre os letramento multimodais que cercam a produção, a
circulação e a recepção das fake news, quanto para (ii) uma reflexão de modo
mais amplo sobre os letramentos midiáticos e informacionais que podem ser
mobilizados no enfrentamento da desinformação e das fake news.

219
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

Letramentos e ensino remoto emergencial: o


acesso a tecnologias digitais por universitários na
pandemia da Covid-19
Autoria: CÍCERO DA SILVA

A crise sanitária da Covid-19 provocada pelo SARS-CoV-2 (conhecido como


“coronavírus”), em 2020, levou ao distanciamento social, fechamento de
estabelecimentos comerciais e fábricas, de escolas e universidades, colocando
em evidência as tecnologias digitais como importante dispositivo na interação
social, por meio de práticas letradas que foram aos sujeitos facultadas ou, ainda,
em países estruturalmente desiguais como o Brasil, a esses sujeitos negadas.
Ainda que pesquisas revelem experiências e práticas pedagógicas exitosas,
ocorreram, como é sabido, diferentes impactos na vida das pessoas, sobretudo,
com desafios relacionados a (falta de) acesso a tecnologias digitais e sua utilização
no ensino-aprendizagem. Este trabalho, inscrito na perspectiva dos letramentos
digitais (LANKSHEAR; KNOBEL, 2008, 2011; ASSIS; KOMESU; FLUCKIGER, 2020),
busca descrever as principais dificuldades de acesso a tecnologias digitais por
discentes da educação superior, bem como impactos na vida desses sujeitos
no processo de ensino remoto emergencial, em diferentes regiões geográficas
do Brasil (BEHAR, 2020). Trata-se, portanto, de uma pesquisa de abordagem
descritiva e qualitativa, caracterizada por estudo bibliográfico. O conjunto do
material é formado de documentos e artigos, a exemplo da Portaria n. 343 do
Ministério da Educação (BRASIL, 2020), Pesquisa sobre uso das tecnologias
de informação e comunicação nos domicílios brasileiros do Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.Br, 2020), Informe Retratos da educação no contexto da
pandemia do coronavírus (FCC, 2020), Nota Técnica sobre acesso domiciliar à
internet e ensino remoto durante a pandemia do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (NASCIMENTO et al., 2020) e Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios sobre acesso à internet e posse de telefone móvel celular para uso
pessoal (IBGE, 2021). Na problematização do ensino remoto emergencial e do
uso das tecnologias digitais, buscamos levar em consideração relações de
poder e autoridade que “atravessam” as práticas letradas acadêmicas (LEA;

220
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

STREET, 2014) dos universitários. A conjuntura da pandemia afetou diretamente


práticas didático-pedagógicas, pois, em função do distanciamento social, houve
deslocamento do ensino presencial para o ensino remoto emergencial, mediado
por diferentes ferramentas digitais, com consequente transformação da cultura
acadêmica. Dentre os resultados, espera-se que esta investigação permita fazer
um levantamento de com quais recursos tecnológicos discentes do ensino
superior, de diferentes regiões geográficas do Brasil, lidam com o processo de
ensino-aprendizagem em aulas remotas, assim como dos possíveis impactos
gerados na vida acadêmica desses sujeitos durante o período da pandemia.

Letramentos, leitura profunda e cultura digital:


novos entrelaçamentos na vida pós-pandemia
Autoria: ÉRIKA DE MORAES

Assumindo como princípio a valorização das mais diversas formas de letramentos,


este trabalho propõe harmonizar propostas de letramentos digitais com outros
associados à habilidade da “leitura profunda”, como defende a neurocientista
Maryanne Wolf. Esta pesquisadora da leitura manifesta sua preocupação acerca
da complexidade na “passagem de uma cultura baseada no letramento para uma
cultura digital”. Dadas as especificidades de nossa sociedade contemporânea,
altamente influenciada pelas tecnologias digitais, a autora considera as possíveis
mudanças na organização dos circuitos do cérebro leitor, particularmente
nos jovens, em constante imersão com as características singulares da mídia
digital. Sem incorrer no extremo oposto (o de negar qualquer benefício das
novas tecnologias), Wolf levanta questionamentos importantes (baseados
em estudos neurocientíficos) sobre as consequências de uma possível perda
da habilidade da leitura tradicional, do livro impresso. O modo concentrado
da leitura tradicional é associado à formação de processos cognitivos mais
demorados, como o pensamento crítico, a reflexão, a imaginação e a empatia,
conforme demonstram as pesquisas realizadas pela autora, enquanto a leitura
digital parece despertar outras habilidades, como a agilidade e a simultaneidade
de tarefas. Este cenário já estava dado, porém se intensificou com a pandemia,
quando discursos de apologia extrema às tecnologias digitais (como se “tudo”
tivesse se tornado possível por meio delas, das compras on-line aos estudos,

221
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

além do impacto físico e psíquico pelo tempo excessivo de tela) passaram a


conviver com uma desigualdade ainda mais evidente (para muitos, este mundo
tecnológico sequer existe). Simultaneamente, a busca de soluções para a
pandemia é atravessada pela desinformação, com o compartilhamento das
chamadas fake news, denotando que o acesso às ferramentas não implica
qualidade de leitura. Tal discussão vai ao encontro de nossa hipótese de que,
atualmente, o destacamento (MAINGUENEAU) na escrita adquire uma nova
e maior responsabilidade, o que nos levou a aprofundar o estudo sobre o que
chamamos uma “sintaxe do destacamento”. Propõe-se uma abordagem não
dualista, de convivência entre tecnologias sem abrir mão de profundidade de
leitura. Para tanto, a discussão ora apresentada leva em conta a necessidade
de reconhecer um aspecto cognitivo na interação com discursos (MUSSALIM)
e de defender a permanência do “letramento profundo”, em convivência com
outras artes, culturas e tecnologias. Dessa maneira, buscamos “amarrar” estudos
empreendidos no campo discursivo com contribuições de teorias cognitivas e
da neurociência.

Letramentos midiáticos e informacionais no


enfrentamento da desinformação e das fake news:
quais competências são esperadas de alunos de
ensino médio?
Autoria: ANA CLÁUDIA BERTINI CIENCIA

Este trabalho está inscrito no campo de investigação dos letramentos, de maneira


particularizada, na discussão sobre letramentos midiáticos e informacionais na
formação de cidadãos críticos (KOLTAY, 2011; SIAROVA, STERNADEL, SZÖNYI,
2019), em contexto de enfrentamento da desinformação e das chamadas notícias
falsas ou enganosas, popularmente conhecidas como fake news (WARDLE;
DERAKHSHAN, 2017). Tem como objetivo principal discutir competências de
alunos de Ensino Médio, projetadas pela instituição escolar, no que respeita
a práticas sociais de leitura e escrita em mídias digitais (mas não somente),
levando em consideração a “profusão de notícias falsas [...], de pós-verdades e
de discursos de ódio nas mais variadas instâncias da internet e demais mídias”

222
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

(BNCC, 2018, p. 479). Para tanto, propõe descrever e discutir, à luz de pressupostos
dos estudos de letramentos, orientações da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) do Ensino Médio (2018), referentes à formação acadêmica de alunos
de Ensino Médio, na conjuntura do enfrentamento à desinformação entendida
como fenômeno mais amplo do que aquele que envolve a averiguação de
aspectos pontuais da constituição do texto (verificação de números ou nomes,
por exemplo) e que, portanto, poderiam ser atestados como comprovadamente
verdadeiros ou ainda falsos. A descrição dessas orientações será confrontada
com um conjunto de material formado de aproximadamente 100 produções
textuais escritas, produzidas por alunos de Ensino Médio e oriundos de
escola pública de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, a partir de
uma instrução segundo a qual deveriam explicar a um interlocutor explícito
(projetado como um parente que se comunica por dispositivos de comunicação
instantânea) em quais aspectos linguísticos (verbais e verbo-visuais) se apoiam
para classificar uma notícia como verdadeira ou falsa. O material foi coletado
em 2019, em período, portanto, anterior à pandemia da Covid-19. O próprio
documento da BNCC foi publicado em 2018, também em período anterior à
catástrofe sanitária. Avalia-se, entretanto, que essa problematização do jogo
de expectativas entre um documento que orienta as instituições escolares e
o que o aluno do Ensino Médio pode conceber sobre/apresentar em práticas
sociais letradas é de interesse dos estudos de letramentos, sobretudo, em um
contexto socialmente reconhecido como de infodemia – epidemia de notícias
falsas, não apenas sobre o vírus, mas sobre assuntos diversos que colocam
em questão a legitimidade de saberes e conhecimentos científicos como os
privilegiados pela instituição escolar.

O papel de memória discursiva em manchetes que


desmentem notícias sobre Covid-19
Autoria: GABRIEL GUIMARÃES ALEXANDRE

A pandemia de Covid-19 trouxe-nos à tona um contexto de exceção nunca antes


visto. Restrições impostas à sociedade, em diferentes âmbitos, foram aplicadas
por governos de diferentes partes do mundo, o que gerou difíceis escolhas

223
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

como, por exemplo, escolher entre ter privacidade de dados ou saúde prometida
pela vigilância biométrica (HARARI, 2020). A internet foi responsável pela
disseminação cada vez maior de notícias falsas a respeito da doença. Um termo
– infodemia – foi utilizado para designar a velocidade com que tais propagações
alcançam pessoas, tal como um vírus informacional, num cenário marcado
pela pós-verdade (MCINTYRE, 2014). Como “resposta” a essa disseminação de
notícias – não somente sobre Covid-19, mas também outras – as agências de
checagem de fatos (PANGRAZIO, 2018; SPINELLI; SANTOS, 2018) surgem com
o objetivo de verificar esses fatos noticiados, classificando-os em “verdadeiros”
ou “falsos”, segundo uma gradação. Ao publicarem o trabalho de checagem, as
agências lançam mão de manchetes que desmentem notícias. Dentre os padrões
linguísticos que podem ser observados, a negação apresenta certa regularidade
nas manchetes de notícias verificadas em mídias digitais. A negação leva em
conta implícitos presentes no enunciado para produzir sentido e, por essa razão,
falar de memória discursiva é falar do estatuto dos implícitos (ACHARD, 1999;
PÊCHEUX, 1999). Assim, a hipótese é a de que a prática de estruturar a negação,
nas manchetes analisadas, pode apontar para uma convivência entre práticas
sociais letradas – “vernaculares” e “dominantes” (BARTON; HAMILTON, 1998) –
via evocação de uma dada memória discursiva argumentativa. Com base em
pressupostos teórico-metodológicos dos estudos de letramentos (New Literacy
Studies) e da Análise do discurso francesa, o objetivo principal deste trabalho é
analisar o papel da memória discursiva em 120 manchetes publicadas em abril
de 2020 por três agências de checagem de fatos (“Chequeado”, “Agência Lupa”
e “Politifact”), as quais desmentem notícias sobre Covid-19 em mídias sociais.
Para isso, lanço mão de dois objetivos específicos: (i) delinear as condições de
produção desses discursos, num contexto marcado pela pandemia de Covid-19,
por instabilidades políticas e econômicas entre as agências selecionadas e
por um cenário inscrito em pós-verdades; (ii) estudar padrões linguísticos que
possam ter relação com uma memória discursiva que é evocada e que intervém
no modo como essas manchetes desmentem notícias. Trata-se, assim, de uma
leitura linguístico-discursiva a respeito da negação desses enunciados, que
buscam, em última instância, fortalecer o combate ao negacionismo científico
a respeito da Covid-19.

224
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

Perspectivas letradas dos estudantes da educação


básica em tempos de distanciamento social
Autoria: ADRIANA FISCHER
Coautoria: CAMILA GRIMES E ROZANE FERMINO

As práticas de letramentos relacionadas aos aspectos socioemocionais, como


a resiliência e o engajamento com os outros, revelam-se indispensáveis no
contexto escolar, em tempos de distanciamento social, devido à pandemia
do coronavírus. Nesse sentido, a Escola de Educação Básica Manoel Vicente
Gomes, da rede estadual de Santa Catarina, situada em Major Gercino, tem
realizado um trabalho comprometido com o desenvolvimento desses aspectos,
proporcionando a aprendizagem dos estudantes por meio de aulas interativas
mediadas por Tecnologias Digitais (TD) e com a efetivação de parcerias com
profissionais de áreas voltadas à saúde mental. Conforme foram surgindo
demandas em relação à saúde mental, a escola sentiu a necessidade de promover
a discussão dessas competências, com apoio de um Projeto de letramento
intitulado Voice. Este foi desenvolvido nas diversas áreas do conhecimento,
em 2020, englobando 170 estudantes de anos finais do Ensino Fundamental e
do Ensino Médio. O planejamento das atividades partiu de necessidades dos
estudantes, identificadas através de interações on-line e de autoavaliações.
Estabelecemos como objetivo deste estudo analisar perspectivas letradas
de estudantes relacionadas aos aspectos socioemocionais, em produções
escritas mediadas por TD. A condução metodológica é norteada pelo enfoque
etnográfico, o qual permite uma compreensão mais aprofundada do contexto e
dos sujeitos, estabelecendo relação entre o contexto local, da escola pública, e
o global, da pandemia do coronavírus. As interações escritas em questionários
e fóruns foram utilizadas para geração de dados. Nas vozes dos estudantes, é
perceptível a importância do papel social da escola no desenvolvimento de um
projeto como o Voice, neste momento tão complexo e atípico, de distanciamento
social, para trabalhar o socioemocional. Outros aspectos relevantes apontados
pelos estudantes compreendem o reconhecimento do papel docente no
ensino remoto; o estabelecimento de vínculos entre o estudante e a escola; a

225
Simpósio de Convidados
Quais letramentos na vida pós-pandemia?

aprendizagem, mesmo que por meios digitais, a desigualdade de acesso; a prática


de letramento situada e sensível ao contexto dos estudantes, que resulta na
aprendizagem significativa e na construção de sentidos; as emoções relacionadas
ao distanciamento social e a necessidade de espaço para a discussão sobre
as emoções e vivências dos jovens. Portanto, fica registrada a urgência de
permanecerem práticas de letramentos voltadas para o socioemocional dos
jovens, a fim de, sempre mais, estreitar laços entre a escola e os estudantes.

226
Quem tem medo dos estudos linguísticos:
o papel das teorias do texto e do discurso na
sociedade brasileira hoje
Autoria: JEAN CRISTTUS PORTELA
E LUZMARA CURCINO

Hoje, o melhor parâmetro para avaliarmos a importância do tipo de conhecimento


que as ciências humanas, os estudos linguísticos e, entre estes, aqueles
dedicados ao texto e ao discurso têm a oferecer à sociedade brasileira talvez
seja o dos crescentes e sucessivos ataques que esses estudos têm sofrido
de segmentos conservadores, sectários, contrários à igualdade de direitos,
avessos aos princípios democráticos e incomodados com o papel decisivo
das ciências humanas e da linguagem na emancipação intelectual, cultural,
social e afetiva dos cidadãos. Embora possa ser medida por essas reações de
suspeições e má-fé, a força dos estudos do texto e do discurso reside em sua
capacidade de fomentar interpretações críticas e alternativas da realidade, tal
como ela nos é em geral apresentada e assim construída. A importância dos
estudos textuais e discursivos reside em seu papel decisivo na compreensão
das formas de pré-figuração, de formulação, de circulação e de interpretação
dos textos, dos mais simples aos mais complexos, que impactam tanto em
nossas decisões cotidianas quanto naquelas de potencial transformador para
a sociedade. Frente à atual proliferação de textos a serviço da falsificação da
realidade e da história, difundidos de maneira meticulosamente segmentada
em relação a seu público-alvo, em velocidade e amplitude sem precedentes,
garantidas por tecnologias e meios digitais recentes e relativamente acessíveis,
a resposta dos professores e estudiosos desse campo deve vir sob a forma de
reflexão acurada, crítica e rigorosa dessas produções textuais, e da proposição
e difusão de meios para sua descrição e análise. Este simpósio é uma ocasião
para que os vários estudiosos, de diferentes correntes, teorias e abordagens do
texto e do discurso, possam debater ideias para o enfrentamento dos desafios
impostos pela atualidade brasileira, quanto aos usos das linguagens e seu papel
em nossa formação político-ideológica, cultural, comportamental e afetiva, de

227
modo a reafirmarmos nosso compromisso científico e ético com o combate ao
preconceito, à intolerância e à exclusão, com a diminuição das desigualdades e
com a promoção de respeito e qualidade de vida para todos. Se a desigualdade
pode ser criada e difundida por meio da linguagem, que seja igualmente por
meio da linguagem que se dê seu combate sistemático e intransigente.

228
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

A exploração do textual-discursivo como caminho


de pesquisa
Autoria: JULIENE DA SILVA BARROS GOMES

Neste trabalho, busco discutir a relevância dos estudos de texto e discurso


para a leitura da realidade contemporânea, por um viés específico que visa
interrelacionar tais estudos numa interface teórica entre Linguística Textual
(MARCUSCHI, 2008) e Análise do Discurso (POSSENTI, 2009; MAINGUENEAU,
2015), como vimos perscrutando em trabalhos particulares (BARROS, 2004,
2007). Das fronteiras destes dois campos específicos de conhecimento podem
ser forjadas análises de interface em que a conjugação de conceitos das
duas áreas, com os devidos ajustes teórico-epistemológicos, permite expor
ao exercício analítico questões que se configuram como objetos fronteiriços
posto que comungam tanto dos efeitos da atividade de textualização como dos
condicionamentos da atividade discursiva na mesma realização. Materialidades
como textos dos domínios científico, midiático e didático-pedagógico têm se
constituído em nossas análises como realizações complexas em que se flagram
o textual e o discursivo em funcionamento (BARROS-GOMES; SILVA, 2012).
Neste trabalho específico, interessa explorar esta perspectiva teórica por via da
análise textual-discursiva de páginas de livros didáticos de língua portuguesa,
materialidades cujo processo de textualização constitui um complexo hipertextual
em que diferentes gêneros, semioses, autores, domínios discursivos se cruzam
no interior do domínio didático. Munidos dos princípios metodológicos advindos
do paradigma indiciário (GINZBURG, 1979), buscamos responder a questões
como: que efeitos de sentido tem a mobilização da materialidade didática para a
configuração das práticas de leitura e de escrita? Que movimento teórico-analítico
se faz possível empreender numa tal perspectiva? Como o domínio didático
pedagógico pode se mostrar como espaço complexo de interação discursiva e
não espaço de práticas superficiais de leitura? Os resultados parciais permitem
observar não apenas uma complexa coesão de muitas dimensões e sistemas
em funcionamento numa mesma textualização como a marcação de posições
e a busca por engajamentos e definição de tendências político-científicas em

229
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

tais materiais. Além disso, acreditamos que o desnudamento da complexidade


da linguagem em ambiente escolar, por via de um bom aproveitamento do
livro didático, contribui para o descortinamento das ideologias e preconceitos
velados em diversas outras materialidades textuais-discursivas com as quais
os sujeitos convivem e diante das quais pouca resistência demonstram pela
experiência de leitura sem foco no complexo e no multilinear.

A prisão de Lula e a nova Curitiba: a leitura de um


acontecimento discursivo
Autoria: STELLA MARIS RODRIGUES SIMÕES

Como efeito de sentido desta pesquisa, realiza-se uma leitura da prisão de Luiz
Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, como um acontecimento discursivo,
que ao irromper na memória discursiva afetou a rede de significações e passou a
produzir novos sentidos. Desse modo, com base, principalmente, nos trabalhos
de Michel Pêcheux e Eni Puccinelli Orlandi (e nas noções de memória discursiva
e de acontecimento discursivo), fotografias do entorno da Polícia Federal em
Curitiba, feitas em julho de 2018, foram analisadas, a fim de se compreender
como o espaço foi reorganizado/ressignificado a partir de tal acontecimento
discursivo. A análise é dividida em três reflexões, que sugerem um movimento
ininterrupto de sentidos que “começam a trabalhar” (PECHEUX, 2012 [1983])
antes mesmo de o acontecimento surgir, ou seja, Lula já estava preso antes de
o ser; e já estava livre, ainda cumprindo a pena. Processo discursivo que fez a
prisão de Lula irromper como acontecimento e reorganizar a memória discursiva,
e o espaço não escapa ao processo discursivo. O modo de organização de uma
cidade é materialidade discursiva a ser lida, a ser interpretada. Orlandi (2011),
ao falar de territorialidade, pensa no enlaçamento significativo entre sujeito,
espaço, linguagem e acontecimento. O sujeito é individuado no discurso urbano
e no discurso sobre o urbano; o sujeito se significa na cidade e é significado
por ela. Compreende-se, portanto, que o acontecimento discursivo prisão de
Lula possibilitou não somente novas formulações sobre a cidade, mas uma
organização diferente do espaço-Curitiba, que pode ser observada por meio
da análise – do verbal e do não verbal – das fotografias que mostram a cidade

230
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

meses após Lula ter sido preso. A partir dessa reflexão, espera-se não somente
pensar sobre a tensão entre estrutura e acontecimento, e sobre o movimento
provocado por um acontecimento, mas também ressaltar a importância de
realizar uma leitura discursiva das mais distintas materialidades - como a flagrada
no ressignificar de uma cidade - a fim de compreender de modo complexo o
funcionamento dos sentidos e ampliar a interpretação sobre os acontecimentos,
sobre os espaços e, sobretudo, sobre os outros.

A vergonha e o orgulho em 'memes' sobre a leitura


Autoria: JENIFFER APARECIDA PEREIRA DA SILVA
Coautoria: LUZMARA CURCINO FERREIRA

Neste trabalho, visamos apresentar alguns resultados da pesquisa de mestrado


que estamos desenvolvendo no Programa de Pós-Graduação em Linguística da
UFSCar junto ao Laboratório de Estudos da Leitura (LIRE-CNPq), coordenado
pela Profa Dra Luzmara Curcino, cujo objetivo é o de empreender a análise de
discursos sobre a leitura. A leitura é um tema que emerge com relativa frequência
em nossa sociedade e isso é feito por meio de diferentes enunciados. De modo
a contribuir com os estudos sobre a leitura e sobre as formas como essa prática
é referida pelos sujeitos, apresentaremos uma análise de enunciados que
mobilizam formas de expressão de certos sentimentos evocados quando se fala
sobre a leitura e sobre si como leitor. Tal como observou Curcino (2019), não é
toda e qualquer emoção que o sujeito evoca quando aborda a leitura, ou quando
fala de si ou de outros como leitor. Nos deteremos na análise das duas emoções
constantemente evocadas em relação à leitura: a “vergonha” e o “orgulho”
relacionados à condição leitora. Bayard (2007) apresenta em sua obra Como
falar dos livros que não lemos uma reflexão sobre as divisões simplificadoras
e tornadas evidentes de se referir em termos de ‘leitura’ e ‘não-leitura’ e entre
o ‘leitor’ e o ‘não-leitor’. Essas simplificações dão ensejo à expressão dessas
emoções da “vergonha” e do “orgulho”, e que analisaremos mais propriamente
a partir de um conjunto de enunciados de um gênero discursivo bem atual
e específico, a saber, o ‘meme’. Para tal, nos apoiaremos nas discussões de
Curcino (2019), Bayard (2007) e Abreu (2008), entre outros autores. O corpus

231
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

é constituído de uma série de ‘memes’ pré-selecionados e categorizados em


função de uma dessas duas emoções neles exploradas e relacionadas a certos
discursos sobre a leitura. As análises preliminares revelam tanto a reiteração de
discursos consensuais sobre a leitura (ler emancipa; ler distingue os sujeitos;
ler diverte etc.) quanto a reiteração dessas emoções prototípicas e dicotômicas
da "vergonha” e do "orgulho” de ser leitor.

Discursos da sensibilidade humana aos animais no


Código Municipal de Proteção Animal de São Carlos
Autoria: MANOEL SEBASTIÃO ALVES FILHO

Este trabalho pretende analisar discursos da sensibilidade humana aos animais


materializados no Código Municipal de Proteção Animal da cidade de São Carlos,
no interior paulista, a fim de identificar, descrever e interpretar especificidades
e diferenças de constância e de intensidade em afirmações e negações de
que esses seres são dotados de qualidades como sensações, emoções,
inteligência e linguagem. Procuramos verificar a hipótese de que, mesmo em
dizeres pró-animais, o reconhecimento de sua dor e de sua sensitividade é mais
constante e intenso de que o de suas aptidões cognitivas e linguísticas. Com
base na Análise do discurso derivada de Michel Pêcheux e em contribuições
de Michel Foucault, procuramos identificar o que é dito sobre a sensibilidade
aos animais e o modo como são formulados os enunciados a seu respeito no
Código Municipal de São Carlos. Mais precisamente, nosso propósito é o de
identificar de quais formações discursivas derivam os enunciados produzidos
no campo da lei sobre esse sentimento; examinar reincidências e variações
nas modalidades enunciativas, nas formas remissivas, nas escolhas lexicais,
nas articulações sintáticas empregadas nos textos que falam a seu respeito;
apreender a maior ou menor conservação ou efemeridade dos já-ditos acerca
da sensibilidade aos animais nos enunciados sob análise, verificando quais são
aqueles considerados mais pertinentes, discutíveis ou nulos, de que tempos,
lugares, sujeitos e instituições provêm e em que medida essa proveniência
consiste em sua valorização mais ou menos eufórica ou então disfórica; analisar
como são retomados, reformulados, refutados ou apagados outros dizeres

232
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

sobre os animais, como os da indústria agropecuária e de associações em


defesa da causa animal; compreender unidades discursivas que são específicas
do campo legal. No intuito de depreender esses aspectos, selecionamos o
referido Código Municipal de Proteção Animal de São Carlos. Analisaremos o
material mediante a formação de relações entre os enunciados do texto e entre
eles e outros já-ditos do interdiscurso, focalizando os recursos linguísticos
empregados. Essas relações são feitas mediante a identificação e a montagem
de cadeias parafrásticas, que se situam no interior das formações discursivas e
que nos permitem depreendê-las. As análises nos permitem observar constante
e intensamente menções acerca da capacidade sensitiva dos animais, assim
como a relação e a condenação de práticas de crueldade que levam esses seres
a produzirem sensações disfóricas, como dor e sofrimento. Apesar de menos
frequente, o reconhecimento de capacidades neurológicas dos animais também
é mencionado. (Apoio: FAPESP - Processo nº 2019/17099-6).

Dois poemas de Roseane Murray na perspectiva


do gênero em semiótica e das práticas semióticas
Autoria: ANA CAROLINA DE PICOLI DE SOUZA CRUZ

O trabalho analisa dois poemas da autora Roseane Murray, a saber: “Receita de


olhar” e um dos poemas da obra “Classificados poéticos” a partir da perspectiva
semiótica do gênero de Jacques Fontanille (2016) que, diferente das noções
de convenção e de tradição que supõem formas fixas para o gênero, foca na
labilidade dos discursos. Em consonância com o pensamento greimasiano, o
semioticista concentra-se na relação entre texto e discurso, ou seja, na ideia
de que cada gênero apresenta em si propriedades textuais e discursivas. A
chave da teoria de Fontanille está na relação entre a coerência do discurso
(que coloca um único universo de sentido) e a coesão do texto (organização e
hierarquização dos segmentos textuais) que são reguladas pela congruência
(um vestígio da enunciação responsável pelo efeito global de totalidade de
sentido). Essas são as três dimensões da “negociação” entre tipos textuais
e discursivos que originam um dado gênero. A partir da teoria de Fontanille,
é possível apreendermos os gêneros sem perdermos de vista o texto e o

233
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

discurso e, mais ainda, diferenciando um do outro. Além disso, ressaltamos


que o conjunto de escolhas que observamos nos textos analisados é pautado
nos atores da enunciação e podem ser atribuídas à práxis enunciativa. Nos
textos apresentados de Roseane Murray, essas escolhas participam na inovação
de classes de textos e de discursos. Segundo Fontanille (2016), cada gênero
participa de um esquema pancrônico, respeitando e revelando a época e o
espaço em que circula. Nesse sentido, trazemos algumas reflexões, ainda, sobre
as questões de produção e de circulação de textos em um determinado universo
socioletal. Ao fazê-lo, aproximamo-nos da teoria sobre os níveis de pertinência
de Fontanille (2014). Ela amplia nosso olhar para além da questão do texto-
enunciado, revelando-nos a importância e a influência do objeto-suporte e da
cena predicativa em que um dado gênero está inserido para a construção de
sentido. Assim, visamos também apresentar a contribuição da teoria dos níveis
de pertinência aos estudos sobre os gêneros. A partir da integração entre essas
duas teorias, é possível ampliar os olhares para a questão dos gêneros em sala
de aula a fim de enriquecer, ainda mais, os processos de leitura e interpretação
nas escolas.

Infodemia: a vulgarização do discurso científico


em tempos de pós-verdade
Autoria: KARINA ROCHA CAMPOS

O fenômeno da “infodemia” foi assim denominado por Tedros Adhanom


Ghebreyesus, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde em fevereiro de
2020 durante a Conferência de Segurança de Munique, e representa a torrente
de informações que tem circulado pela internet sobre o vírus SARS-CoV-2 e a
COVID-19 desde o início da pandemia. O presente trabalho tem como objetivo
analisar de que forma o discurso científico tem sido apropriado e reproduzido por
fontes cujo interesse não é o de divulgação científica, mas sim de disseminação
de informações comprovadamente falsas. Assim, procurar-se-á discutir a
vulgarização do discurso científico em tempos de pós-verdade, contexto esse
que em muito ultrapassa a simples circulação de “mentiras” no ambiente virtual,
mas que desafia e subverte o próprio conceito de “verdade”. Alicerçando-nos em

234
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

autores que já tem se debruçado sobre o assunto, como Lucia Santaella (2019),
Mariana Barbosa (2019), Patrícia Campos Mello (2020), Serena Giusti e Elisa
Piras (2021), partiremos dos postulados da semiótica de linha francesa de A. J.
Greimas (1979, 2014), Jacques Fontanille (2007 e 2008), José Luiz Fiorin (2005),
Diana Luz Pessoa de Barros (1990, 2002) e Jean Cristtus Portela (2019a, 2019b)
para investigar uma amostra de fake news sobre a vacinação contra a COVID-19.
Trata-se de um vídeo intitulado “3ª dose da vacina contra a COVID? O Miranda
fala a verdade!!”, da página chamada “Fala Miranda”. O vídeo em questão teve
onze mil curtidas e mais de três mil comentários, uma vez que a página alcança
sessenta mil usuários do Facebook a cada postagem. O vídeo foi declarado
falso pela plataforma Estadão Verifica e, por isso, teve os compartilhamentos
desativados. Interessa-nos a amostra descrita uma vez que a falsa manifestação
busca “falar a verdade” sobre uma declaração de Ricardo Palacios, o diretor
médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, sobre um possível reforço
da vacina CoronaVac. Ao analisar ambas as falas, uma proveniente de um
cientista que busca divulgar resultados preliminares de estudos e outra de um
comentarista influente de Facebook, busca-se compreender quais aspectos do
saber são esvaziados da fala do cientista e substituídos por aspectos do crer do
comentarista em questão. Assim, pode-se analisar como se dá a reconfiguração
do discurso científico quando manipulado por indivíduos cujos valores Gaston
Bachelard (1996) já definia em 1938 como “obstáculos” ao conhecimento
científico.

O sujeito da interpretação e estratégias de


desinformação: condições de produção em rede
Autoria: PEDRO HENRIQUE VARONI DE CARVALHO

O funcionamento das redes de desinformação tem impactado as relações


pessoais e a política institucional no Brasil contemporâneo e suas estratégias
não estão desvinculadas de aspectos linguístico-discursivos. Buscamos
identificar as possíveis contribuições do dispositivo teórico conceitual da
análise do discurso de orientação francesa para reduzir seus efeitos, sobretudo
através da problematização do conceito de condições de produção. A redução

235
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

da capacidade de interpretação metafórica dos enunciados e seus contextos


históricos, bem como das diferentes filiações dos sujeitos em posicionamento
político- ideológico tem contribuído para a fratura social no Brasil contemporâneo.
A questão que se coloca é a necessidade de uma pedagogia discursiva como
ferramenta de educação midiática para formação de leitores/produtores de
conteúdo críticos na sociedade midiatizada. Nesse contexto, há um apelo
incessante às manifestações gerando como consequência o deslocamento
do debate público para esses espaços controlados pelas grandes corporações
que têm impactado os sistemas político e comportamental nessa segunda
década do século XXI. As especificidades das condições de produção nas
redes interconectadas em que a intermediação se dá por atores humanos
e não humanos, com utilização de técnicas algorítmicas, complexificam as
possibilidades do exercício da análise do discurso, tal como concebida por
Pêcheux. A questão contemporânea amplia o ponto de vista da análise para
a produção e participação. Ler e interpretar são verbos que se conjugam hoje
com a ideia de produzir e fazer circular. O gesto de interpretação é também
produção cotidiana nas redes interconectadas. A particularidade das condições
de produção nesse ambiente se deve ao fato de que se tratam de espaços ao
mesmo tempo controlados (com senhas de acesso e dados pessoais tornados
mercadoria valiosa) e abertos, no sentido que se inscrevem em redes onde agem
os olhos de uma vigilância ubíqua. O modo de funcionamento da desinformação
tem ensejado diferentes reações. Dos arcabouços jurídicos à proliferação
das agências de fact checking, passando pelo dispositivo educacional, há
um esforço coletivo de combate a esse inimigo comum. Ainda assim, os
avanços não se dão na mesma proporção da disseminação de informações,
negacionismos científicos, agenciando nas redes milhões de pessoas para as
causas obscuras. Nesse ambiente, ao mesmo tempo controlado e aberto, os
enunciados são ressignificados, na forma de compartilhamentos, comentários,
numa dissociação entre a formulação e circulação, fazendo com que os efeitos
de sentido se transformem. Esse modo de funcionamento não é, na maioria
das vezes, espontâneo, mas resultante do ambiente de radicalização política,
motivada principalmente pelos grupos de extrema direita.

236
Simpósio de Convidados
Quem tem medo dos estudos linguísticos: o papel das
teorias do texto e do discurso na sociedade brasileira hoje

Uma análise discursiva do que jovens enunciam


sobre a leitura e o orgulho de ser leitor
Autoria: ANDREI CEZAR DA SILVA

Com base nas contribuições de estudiosos do discurso e da leitura, tais como,


respectivamente, Foucault (1999), Chartier (1990) e Abreu (2018), e de maneira
mais específica e recente nas que buscam sistematizar as relações entre as
representações e as emoções, como em Courtine (2016) e Curcino (2019),
assumindo ainda como pressuposto que nossos dizeres e nossas práticas
não são enunciados neutros, mas sim gestados histórica e socialmente, bem
como a alusão a certas emoções determina escalas de valoração sobre todas as
atividades humanas, e particularmente sobre a prática da leitura, neste trabalho
objetivamos a apresentação de resultados já sistematizados de nossa pesquisa
de mestrado, concernentes à análise do que enunciam jovens brasileiros, leitores,
sob a forma de comentários publicados na rede social Skoob, atrelados em
especial ao "orgulho" de ler e de ser leitor numa rede de interlocução acerca de
predileções literárias. Dentre os resultados, observamos ser comum a expressão
do "orgulho" por meio da atualização da representação de que ser leitor é ler
muito e sempre, seja a mesma obra, repetidamente, sejam várias obras distintas,
simultânea e sequencialmente. Categorizamos os comentários de internautas
a esse respeito sob os títulos de "leitor voraz/leitura intensiva" e "leitor voraz/
leitura extensiva". Por vezes, alguns enunciados categorizados em um grupo
podem compor ambos. Isso demonstra a força de certos discursos sobre a
leitura e dessa representação do leitor relacionada à frequência, constância
e volume do que lê, reveladoras de intensidade, passionalidade necessárias,
que constituem, em sua expressão, uma forma de manifestação de "orgulho".
Certos discursos como estes relacionados à leitura são pouco interpelados
criticamente em seu funcionamento, por isso são reproduzidos de maneira
consensual, dada a sua força subjetivante sobre a coletividade. Não sem razão,
afetamos e somos afetados por esses dizeres assumidos como verdadeiros e de
ampla circulação. Assim, nossa apresentação visa tratar de alguns aspectos do
funcionamento dessa memória coletiva dos discursos sobre a leitura, atualizados
nesses comentários de jovens em redes sociais, na atualidade.

237
SIMPÓSIOS PROPOSTOS
A performatividade de mentiras, incertezas,
ficções e silêncios na gestão e no debate público
Autoria: SHEILA ELIAS DE OLIVEIRA

Este simpósio reúne pesquisadores do grupo de pesquisa Linguagem, Enunciação,


Discurso (LED – CNPq – UNICAMP). Desde 2017, temos nos dedicado a investigar
a certeza como efeito de sentido. Mais recentemente, temos investigado, a
partir do modo como Austin (1962) a caracteriza, a performatividade das
certezas e incertezas na gestão e no debate público. Assumindo uma posição
epistemológica materialista no olhar sobre a linguagem, estabelecemos um
diálogo entre Semântica da Enunciação (GUIMARÃES, 1995, 2002) e Análise de
Discurso (PÊCHEUX, 1975, 1981; ORLANDI, 1992, 1996). Neste simpósio, propomos
refletir sobre o modo como dizeres não comprometidos com a ética democrática
têm produzido o caos na gestão pública, sem que com isso tenhamos um debate
público que exponha outros caminhos possíveis para os problemas que o país
enfrenta além do capitalismo neoliberal elitista que favoreceu a eleição do atual
presidente da República e de tantos outros políticos de direita e de extrema
direita. Neste movimento de defesa do capitalismo neoliberal elitista, incertezas
como aquela produzida nas afirmações e correções do governo federal sobre
quantas vacinas teremos e em que momento não fazem mais do que provocar
críticas por parte da grande mídia ou dos gestores públicos; o mesmo acontece
em reação à dupla mentira do então chanceler brasileiro de que o presidente
enviou uma delegação a Israel para colaboração no desenvolvimento de spray
nasal que é “indiscutivelmente o medicamento mais promissor para a covid-19
atualmente em teste em qualquer lugar”; ou em reação à ficção do presidente
sobre tomar vacina da Pfizer (que ele não comprou!): “se você virar um jacaré, é
problema seu”. Essa gestão irresponsável do país e, neste momento, sobretudo
da pandemia gera críticas, medo, insegurança, negacionismo popular do perigo
de contágio pelo vírus e o presidente continua no poder. Há também silêncios
performativos: a falta de internet e de políticas possíveis para ampliação da rede
de transmissão gratuitamente não é discutida na grande mídia ou no congresso
nacional; o desastre da contaminação pela COVID-19 no transporte público,

239
sobre o qual o papel das empresas de transporte não é sequer questionado.
Esses exemplos, como nossas análises mostrarão, apontam para a necessidade
de questionamento do modelo de gestão do capitalismo neoliberal que vem
avançando no Brasil e para a demanda de um Estado ético e regulador da justiça
e da igualdade democrática.

240
Simpósio Proposto
A performatividade de mentiras, incertezas, ficções e
silêncios na gestão e no debate público

A certeza, a performatividade e o agenciamento


enunciativo no embate político
Autoria: SOELI MARIA SCHREIBER DA SILVA
E CAROLINA DE PAULA MACHADO

Na discussão de assuntos políticos, há o embate entre diferentes posições, que


não necessariamente envolvem notícias falsas. Nessa disputa pelos sentidos,
argumentos, opiniões, são enunciados como certezas (WITTGENSTEIN, 1969),
muitas vezes atuando na desconstrução de outras certezas, comumente
enunciadas de outras posições. Temos como propósito compreender e
descrever de que modos e quais sentidos são produzidos na (des)construção
de certezas nos dizeres de/sobre política na contemporaneidade. Observamos
a formulação e circulação de dizeres sobre um tema político que direcionam
e excluem sentidos, através daquilo que as palavras designam na enunciação
de nomes (GUIMARÃES, 2002, 2007), pela sustentação de argumentos pelo
locutor (GUIMARÃES, 2018). Vamos tratar dos dizeres a partir do conceito de
Performatividade, não no sentido de realização de atos, mas como prática de
sentidos, como “ação simbólica que intervém no real” (ORLANDI, 2001). E também
uma Performatividade Agenciada. Em Schreiber da Silva (1999) já pode-se ver
a análise do enunciado "Hoje amanheci com a alma lavada" do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (FHC). Aí temos um ato de ostentação de vitória,
remetido ao interdiscurso, um discurso jurídico em que o Senador José Sarney
propõe uma Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) para investigar o sistema
financeiro e a CPI deixa de existir. Ao falar do lugar do dizer genérico, o ex-
presidente afasta-se do discurso jurídico, opõe-se à CPI dos Bancos, alia-se
ao ato ilocucional que dissolveu a CPI, cuja posição é a de que não apoia a
investigação, aliando-se ao povo a partir da fala genérica. Na enunciação de
FHC, o agenciamento enunciativo nos mostra uma configuração enunciativa
pela fala genérica, nesse agenciamento político e o sentido do enunciado é a
felicidade pela dissolução da CPI. Os dizeres produzem como efeito a adesão
dos sujeitos que se identificam a certas posições. Um outro funcionamento que
observamos é o do cinismo na enunciação como forma de se contrapor a um

241
Simpósio Proposto
A performatividade de mentiras, incertezas, ficções e
silêncios na gestão e no debate público

dizer, desconstruindo uma certeza. Procuraremos observar a Performatividade


no funcionamento dos enunciados na gestão pública, analisando o sentido em
diferentes modos de produzir linguagem no debate público.

A construção do sentido de democratização de


acesso ao ensino superior pela designação de
educação a distância (EAD) na LDB, no PNE (2001-
2010) e no decreto 5.800/2006
Autoria: VINÍCIUS MASSAD CASTRO

Ao acelerado desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação


(TICS), depois da segunda metade do século XX, é creditado estarmos hoje
vivendo na chamada “sociedade do conhecimento”. Ao facilitar o acesso e a
disseminação de grande volume de informação, as TICS seriam responsáveis
por reorganizar as relações pessoais em todos os âmbitos sociais. No campo
das políticas de educação, discute-se não só a questão sobre como preparar
o estudante para essa sociedade, mas também sobre como essas tecnologias
podem contribuir para democratizar o acesso à educação. Nessa última
discussão, a educação a distância (EAD) ocupa um lugar de destaque no debate.
Embora sua existência seja de longa data – a história contada por Quartiero et.
al. (2010, p. 21) data como sendo do século XVIII o primeiro registro de oferta –,
as TICS deram novo fôlego para o desenvolvimento/operacionalização da EAD.
As políticas educacionais brasileiras alinhadas às propostas de “Educação para
Todos”, fomentadas por acordos firmados com o Banco Mundial e UNESCO
nas Conferências de Jomtien, em 1990, e em Dacar, em 2000, não ignoraram
isso. Em 20 de dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da educação (LDB)
respalda legalmente a oferta de cursos e programas de educação a distância.
Nos anos posteriores, tanto a iniciativa pública quanto a privada investiram na
hoje considerada “modalidade a distância” e buscaram expandi-la no ensino
superior. Na iniciativa pública, destaca-se a atenção especial dada à EAD no
Plano Nacional de Educação (PNE) 2001 – 2010 e a instalação da Universidade
Aberta do Brasil (UAB) em 2006: “uma das principais responsáveis pela melhoria

242
Simpósio Proposto
A performatividade de mentiras, incertezas, ficções e
silêncios na gestão e no debate público

da percepção da modalidade nos últimos anos e, também, pela manutenção


da grande expansão da EaD no âmbito público” (MILL, 2016, p. 440). Baseados
na semântica do acontecimento proposta por Guimarães (2002, 2007, 2011) em
diálogo com a análise de discurso de linha francesa tal como proposta por Orlandi
(1992, 1996, 2001), analisamos a designação de EAD na LDB, no PNE e no Decreto
5.800 de 8 de junho de 2006 que cria a UAB. Mostramos como a reescrituração da
EAD como “forma de ensino”, “modalidade de ensino”, “modalidade de educação”
e “modalidade educacional”, ao longo desses documentos, constrói a certeza
de que a EAD democratiza o acesso ao ensino superior ao mesmo tempo em
que passa a administrar sentidos para “educação presencial”.

Desmatamento na Amazônia e queimadas no


pantanal: certezas construídas pelo Presidente da
República na Assembleia Geral da ONU
Autoria: HELTON MENÉZIO URTADO ROCHA

Neste trabalho, objetivamos analisar o funcionamento da certeza enquanto


um efeito de sentido em duas falas do Presidente da República na Assembleia
Geral da ONU. Na primeira, ocorrida em 24 de setembro de 2019, Bolsonaro,
dentre outras coisas, diz que os cientistas estão equivocados ao dizerem que
a Amazônia é o pulmão do mundo; na segunda, ocorrida em 22 de setembro de
2020, ele, negando a então situação ambiental do Brasil, afirma que o país é alvo
de uma “das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o
Pantanal”. Como podemos ver nesses dois exemplos, o Presidente da República
questiona, na Assembleia Geral da ONU, o dizer de cientistas, jornalistas e
ambientalistas sobre o desmatamento na Amazônia e as queimadas no Pantanal,
afirmando a seus alocutários, diplomatas e líderes de todo o mundo que o
seu governo é vítima de uma “campanha de desinformação”. Como implícito,
temos a certeza de que a verdade não é dita por quem discorda das políticas
ambientais do governo Bolsonaro. De modo mais específico, analisaremos
nas duas falas do Presidente da República, a partir de um quadro teórico-
metodológico construído no diálogo entre a Semântica da Enunciação e a Análise

243
Simpósio Proposto
A performatividade de mentiras, incertezas, ficções e
silêncios na gestão e no debate público

de Discurso francesa, os processos de constituição e os modos de significação


de enunciados questionáveis afirmados como certezas inquestionáveis sobre
a política ambiental do governo Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia e
as queimadas no Pantanal. De modo mais específico, a partir da Semântica do
Acontecimento (GUIMARÃES. 2002) em seu diálogo com a Análise de Discurso
francesa, consideraremos que a certeza se constrói na relação entre o dizer e o
não-dizer, este significando em implícitos e anti-implícitos; que o político trabalha
nos mecanismos de afirmação da certeza; que ele significa em afirmações de
pertencimento (ou não pertencimento) e em filiações interdiscursivas. Assim,
buscaremos compreender no acontecimento de enunciação, pela relação que
nele se produz entre a língua, sua divisão no espaço de enunciação, o falante
agenciado no acontecimento, a temporalidade específica deste e o “real a que
o dizer se expõe ao falar dele” (GUIMARÃES, E. Semântica do Acontecimento,
p. 11): (i) os argumentos mobilizados por Bolsonaro em relação à política
ambiental, ao desmatamento na Amazônia e às queimadas no Pantanal; (ii) como
se caracteriza a reprodução da polarização ideológica em relação a esses temas;
(iii) a quais discursos sociais, políticos e econômicos os dizeres de Bolsonaro
se filiaM.

No poder, falsas certezas e angustiantes incertezas


Autoria: SHEILA ELIAS DE OLIVEIRA

Em 1733, é publicada em Amsterdam a Arte da mentira política. Esta obra é


atribuída a Johnatan Swift, conhecido pelas famosas Viagens de Gulliver, e autor
de variada obra, que inclui uma potente crítica social. Em 1729, Swift publica o
satírico Manual para fazer das crianças pobres churrascos, que pode ser tomado
como um bom exemplo do que Achille Mbembe (2003) chama de "necropolítica".
A necropolítica submete certos grupos populacionais a condições de existência
de “mortos-vivos”, uma política que vemos no Brasil há tempos de muitos modos,
constituída no elitismo racista, e que na pandemia vem se escancarando. A
pandemia também escancara modos de enunciação próprios da gestão violenta
e produtora de relações sociais violentas que caracteriza o momento atual da
necropolítica no Brasil. Nesses modos de enunciação próprios dos altos gestores

244
Simpósio Proposto
A performatividade de mentiras, incertezas, ficções e
silêncios na gestão e no debate público

públicos, se produzem sentidos de certeza ou de incerteza a partir de mentiras,


ficções, dados inventados ou manipulados, entre outros procedimentos. Por se
constituírem do lugar de dizer de gestores públicos, seja em contextos mais ou
menos institucionais, essas enunciações são performativas. Entre outros atos,
realizam promessas e até mesmo ameaças. Criam um ambiente de insegurança
e medo; de descrença na política e de consequente despolitização dos cidadãos,
que, alienados, não compreendem que, em uma democracia, devem buscar
gestores públicos comprometidos com um projeto democrático participativo,
e não supostos salvadores da pátria sem projeto de desenvolvimento social, ou
empresários que acham que podem tratá-lo como um balcão de Mercado Futuro,
ambos visando ao lucro de alguns e ao consequente empobrecimento de muitos.
Tendo em conta a observação da constância de modos de enunciação que podem
se inserir no que Swift caracteriza como a arte da mentira política em dizeres de
atuais altos gestores públicos no Brasil, proponho, neste trabalho, articulando
Semântica da Enunciação e Análise de Discurso em uma tomada de posição
materialista, refletir sobre alguns dizeres do atual presidente da República que
produzem sentidos de certeza ou incerteza, buscando compreender: a) os modos
de realização da sua “mentira política”; b) a performatividade dessas mentiras
e dos seus sentidos de certeza ou incerteza; c) o modo como, na relação com
a “arte da mentira”, a disputa desigual dos sentidos trabalha nos modos de
enunciação desta gestão pública inscrita na necropolítica.

245
Descrição linguística e gramática discursivo-funcional
Autoria: MICHEL GUSTAVO FONTES

Qualquer abordagem ou corrente linguística que se insira no interior do


que se vem denominando de funcionalismo linguístico compartilha de, ao
menos, dois princípios teórico-metodológicos basilares: (i) a concepção de
língua/linguagem como instrumento de interação verbal, e (ii) uma visão não
autônoma da faculdade linguística, da gramática e da sintaxe (cf. BUTLER,
2003). Uma descrição linguística funcionalmente orientada busca, portanto,
entender de que modo fenômenos morfossintáticos são determinados e/ou
motivados por questões de ordem semântico-pragmática, chegando, assim, a
resultados que traçam correlações possíveis entre estrutura gramatical e fatores
comunicativos e cognitivos relativos ao uso que se faz da língua/linguagem.
Conforme proposta por Hengeveld e Mackenzie (2008), a Gramática Discursivo-
Funcional (doravante GDF) representa um modelo de descrição funcional em
torno a fatos gramaticalmente codificados nas línguas. A característica central
de sua arquitetura é, segundo Butler e Taverniers (2008), a abordagem modular,
estratificada e hierarquicamente ordenada dos componentes linguísticos, ponto
que a diferencia fortemente de outros funcionalismos. Este simpósio volta
sua atenção para este modelo e procura, centralmente, problematizar suas
possibilidades para uma descrição de natureza funcionalista. A proposta mais
geral, aqui, é explorar o modo como a concepção de gramática por trás da
arquitetura da GDF permite investir na descrição e/ou na análise de diferentes
fenômenos linguísticos do português. Concebida no interior de uma teoria mais
geral da interação verbal, a GDF corresponde a seu Componente Gramatical,
articulado a componentes não-verbais, como o Componente Conceitual, o
Componente Contextual e o Componente de Saída. Esse Componente Gramatical
(a GDF propriamente dita) apresenta uma organização modular, sendo composta
de diferentes níveis de análise (Interpessoal, Representacional, Morfossintático
e Fonológico) que se organizam, internamente, em camadas hierarquicamente
ordenadas. Os trabalhos abrigados neste simpósio levantam, então, diferentes
objetos e problemáticas de descrição linguística a fim de se investir na adequação

246
descritiva e explanatória do modelo da GDF. Todos eles oferecem uma descrição
de fatos gramaticais em termos de alinhamentos entre aspectos semântico-
pragmáticos próprios à formulação de uma expressão linguística e padrões
estruturais que codificam tais aspectos. Nesse sentido, decorre da proposição
deste simpósio a possibilidade de discutir diferentes fenômenos de descrição
linguística e, sobretudo, de pensar e refletir as potencialidades de um modelo
específico de gramática e de descrição funcional: a GDF.

247
Simpósio Proposto
Descrição linguística e gramática discursivo-funcional

A gramaticalização da palavra tabu “caralho” no


português brasileiro: um estudo sob a perspectiva
discursivo-funcional
Autoria: EDSON ROSA FRANCISCO DE SOUZA

O uso de palavras tabus, como exemplificado de (1) a (5), para expressar surpresa,
admiração, raiva, revolta, ofensa, crítica, ênfase, entre outras funções, parece ser
bastante comum e frequente nas línguas (POSTMA, 2001; JAY; JANSCHEWITZ,
2008; MURPHY, 2009; MUNGER, 2019; MACKENZIE, 2019). (1) Caralho, velho!
(2) O jogador brasileiro correu pra caralho ontem! (3) Que caralho é isso? (4) Estou
ganhando dinheiro pra caralho. (5) Experimentei um salmão do caralho ontem.
No português brasileiro, esse recurso linguístico é muito produtivo e é fonte para
a formação de inúmeras construções na língua, tais como as construções de
intensificação, interjeição e marcadores discursivos. Muitos desses diferentes
usos se devem a diversos processos de mudança linguística, que permitiram
que essas formas atuassem em outros contextos de comunicação, exercendo
diferentes funções. Segundo Houaiss (2001), Aulete (2007) e Oliveira (2018,
p. 166), os palavrões são “elementos linguísticos produzidos contextualmente
com alta carga emocional por parte do falante, que tem a intenção clara de
expressar esses sentimentos ou atitudes”. Assim, considerando a alta frequência
dessas palavras nas línguas, Mackenzie (2019, p. 56) afirma que uma das formas
de verificar a relação entre emoção e linguagem é analisar o comportamento de
xingamentos ou palavras tabus em uma língua, que é o que ele faz ao analisar o
comportamento sintático de “fuck” em inglês. De posse dessas observações, o
objetivo deste trabalho é analisar, a partir dos pressupostos teóricos da Gramática
do Discurso Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE 2008; HENGEVELD, 2017;
MACKENZIE, 2019), o processo de gramaticalização da palavra tabu “caralho”
no português brasileiro, levando-se em consideração o princípio da expansão
funcional desse vocábulo em relação às camadas e aos níveis de organização
da gramática, como proposto por Hengeveld (2017), como forma de levantar
evidências pragmáticas, semânticas e morfossintáticas para comprovar que
este elemento vem passando por um processo de gramaticalização, em que

248
Simpósio Proposto
Descrição linguística e gramática discursivo-funcional

se verifica o desenvolvimento de funções mais gramaticais e interativas, tais


como as de natureza interjetiva e enfática. Mais especificamente, pretendemos
mostrar neste trabalho que o modelo teórico de Hengeveld e Mackenzie oferece
ferramentas satisfatórias para sistematizar os usos do termo "caralho" no
português, uma vez que, diferentemente do que se verifica em outros estudos
em que esses usos são analisados dentro de uma mesma dimensão, os autores
propõem a distinção entre dois níveis de formulação, o que ajuda a distinguir
os usos que são de caráter semântico daqueles que são de caráter pragmático/
interacional.

Construções concessivas escalares


Autoria: MICHEL GUSTAVO FONTES

O quadro de conjunções concessivas do português abriga desde a conjunção


concessiva prototípica ‘embora’, cuja constituição estrutural interna mais fixada
escamoteia sua composição complexa, até outras conjunções que mantém, mais
transparentemente, a base de sua formação, como ‘ainda que’, ‘mesmo que’, ‘apesar
de que’, ‘por mais que’, etc. Diante desse cenário, este trabalho recorta, como
objeto de estudo, as conjunções concessivas complexas ‘ainda que’ e ‘mesmo
que’, buscando descrevê-las conforme os princípios teórico-metodológicos da
Gramática Discursivo-Funcional (doravante GDF), de Hengeveld e Mackenzie
(2008). Dois objetivos específicos guiam esta investigação: (i) precisar o estatuto
de ‘ainda que’ e de ‘mesmo que’ tendo em vista a discussão que se tem feito
em torno ao estatuto lexical e/ou gramatical de conjunções (HENGEVELD;
WANDERS, 2007; PÉREZ QUINTERO, 2006; 2013; OLIVEIRA, 2008; 2012; 2014);
(ii) mapear, com base nos níveis e nas camadas que estruturam o modelo da GDF,
a natureza da(s) relação(ões) concessiva(s) instaurada(s) pelas conjunções sob
investigação. Para tanto, recorre-se, enquanto material de análise, a ocorrências
de uso de ‘ainda que’ e de ‘mesmo que’ extraídas de textos escritos e orais
que compõem o banco do Córpus do Português (DAVIES; FERREIRA, 2006),
em suas versões histórico/gênero e web/dialetos, centrando-se em dados do
português contemporâneo (séculos XX e XXI). Como resultado, destacam-se
duas características: (i) ‘ainda que’ e ‘mesmo que’ apresentam um estatuto

249
Simpósio Proposto
Descrição linguística e gramática discursivo-funcional

intermediário entre léxico e gramática, e (ii) as concessivas articuladas por


essas conjunções revelam uma associação entre concessividade e escalaridade
(KÖNIG, 1985), de modo que a circunstância desfavorável designada pela oração
concessiva é caracterizada como extrema (ou mais importante) frente a outras
circunstâncias desfavoráveis que, naquele contexto, ficam implícitas. Isso
demanda, em termos de GDF, uma representação alinhada dessas conjunções
nos dois níveis da formulação: como função pragmática Contraste, no Nível
Interpessoal, e como função semântica Concessão, no Nível Representacional.
No Nível Morfossintático, as conjunções ‘ainda que’ e ‘mesmo que’ são codificadas
como padrões semifixos que encabeçam orações concessivas, concessivo-
condicionais e restritivas.

Construções finais com 'para' e 'a fim de': uma


abordagem discursivo-funcional
Autoria: FÁBIO DE LIMA

Este trabalho, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Gramática


Discursivo-Funcional, de Hengenveld e Mackenzie (2008), objetiva analisar, com
base em dados do português brasileiro atual, construções finais articuladas
pelos conectivos 'para' e 'a fim de'. Compreende-se, por construção final, a
articulação entre uma oração nuclear e uma oração adverbial final, de modo
que, conforme Neves (2018), a oração adverbial final designa a finalidade ou
o propósito com que se realiza o fato expresso pela oração nuclear. Segundo
a autora, o português não conta com uma conjunção adverbial final típica;
contudo a língua dispõe de uma série de formas para introduzir uma oração
adverbial final, como a preposição 'para', as locuções conjuntivas 'para que' e 'a
fim de que' e a locução prepositiva 'a fim de'. Com base em Neves (2018) e nos
trabalhos de Dias (2001a, 2001b, 2002, 2005, 2010) e de Fontes (2015, 2016), o
objetivo deste trabalho é entender as distinções funcionais e formais subjacentes
ao uso dos conectivos 'para' e 'a fim de' na articulação de construções finais.
Especificamente, busca-se (i) mapear o tipo de relação final instaurada por 'para'
e 'a fim de', em termos de função que orações introduzidas por esses conectivos
desempenham dentro da construção final e da interação (cf. FONTES; 2016);

250
Simpósio Proposto
Descrição linguística e gramática discursivo-funcional

(ii) verificar o grau de vinculação sintático-semântica das orações que constituem


construções finais com 'para' e 'a fim de', e, por fim, (iii) identificar o estatuto
léxico-gramatical desses conectivos. Parte-se da hipótese de que 'para' e 'a fim
de' são preposições de estatuto léxico-gramatical distinto: seguindo a distinção
operada pela GDF, 'para' seria membro do grupo das preposições gramaticais,
enquanto 'a fim de' integraria o grupo das preposições lexicais. Os dados do
trabalho foram coletados na plataforma on-line Corpus do Português (DAVIES;
FERREIRA, 2006), disponível no link https://www.corpusdoportugues.org/web-
dial/, sendo coletadas as cinquenta primeiras ocorrências de 'para' e 'a fim de'
em construções finais.

Construções parentéticas encabeçadas por como


no português
Autoria: DIOGO OLIVEIRA DA SILVA
E JOCELI CATARINA STASSI SÉ

Esta apresentação investiga construções encabeçadas por como em ocorrências


do tipo "como se diz, como sabe, como é que se chama?" nas variedades
lusófonas, com o intuito de discutir seu estatuto funcional e formal, sob o enfoque
da Gramática Discursivo-Funcional (GDF) de Hengeveld e Mackenzie (2008) e
da Gramática Textual-Interativa (GTI) de Jubran (2006). Para isso, levantamos
as perguntas de pesquisa: (i) como as construções encabeçadas por como
funcionam à luz da GDF? (ii) qual o escopo de como de acordo com os Níveis
Interpessoal e Morfossintático da GDF? (iii) à luz da GTI, essas construções são
parentéticas? (iv) qual é o processo de ordenação sintática dessas construções?
Como objetivo geral de pesquisa, buscamos descrever funcionalmente as
construções independentes iniciadas por como. Como objetivos específicos,
investigam-se: (i) as propriedades discursivas, pragmáticas e morfossintáticas
das construções iniciadas por como (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008); (ii) o
estatuto do item como nessas construções (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008);
(iii) o processo de ordenação sintática dessas construções (HENGEVELD;
MACKENZIE, 2008); e (iv) suas funções parentéticas no discurso (JUBRAN,
2006). A metodologia partiu dos seguintes parâmetros: 1) classificação formal

251
Simpósio Proposto
Descrição linguística e gramática discursivo-funcional

do como; 2) camada da construção no Nível Interpessoal e Morfossintático;


3) estatuto do como no Nível Interpessoal e Morfossintático; 4) ordenação da
construção e 5) identificação de propriedades parentéticas (constituição formal,
fronteira e função). Os critérios foram aplicados às ocorrências encontradas no
Corpus Lusófono do Português Falado, elaborado pelo Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa (2009). Partimos dos pressupostos de Stassi-Sé
(2012) de que as construções com como, nessas estruturas independentes,
funcionam como Função, atuando como inserções parentéticas, recorrentes das
intenções pragmáticas e comunicacionais do Falante. Os parâmetros apontados
auxiliaram no alcance dos resultados finais: as ocorrências encabeçadas por
como enquadraram-se como construções parentéticas em sete variedades da
língua portuguesa, apresentando-se como Movimentos, compostos de Atos
Discursivos, com funções interacionais de Resgate e, também de Partilha, atuando
no monitoramento da interação verbal. Importa ressaltar a independência do
tipo de Ilocução (declarativa, interrogativa, exortativa, admirativa e optativa)
em relação às Funções interacionais e ao tipo de construção verbal (verbos
dicendi, verbos de conhecimento, verbos de ligação e outros verbos de ação), e
o posicionamento sintático dessas Expressões Linguísticas em Ppré (Posição
Pré-Oracional). Essas características nos levam a observar a tendência dessas
estruturas atuarem discursivamente, independentemente do valor semântico
atribuído ao como tradicionalmente, observando um esvaziamento de significado
nesse item, apontando para seu processo de gramaticalização.

Usos evidenciais e o processo de gramaticalização


dos verbos “ver” e “olhar” no português falado no
interior paulista
Autoria: LUA CAMILO NOGUEIRA

A evidencialidade, conforme Vendrame (2010), expressa o modo pelo qual o


falante obtém informações, ou seja, corresponde à apresentação da fonte da
informação que está sendo por ele veiculada. Ainda conforme a autora, é comum
que, em português, o valor evidencial seja marcado lexicalmente por verbos de

252
Simpósio Proposto
Descrição linguística e gramática discursivo-funcional

percepção. Segundo Jaén (2005), a percepção visual é o sentido mais mobilizado


cognitivamente, pois é concebida como a maneira mais fidedigna para tomada
de conhecimento de algo, por esse motivo, é natural que a percepção física seja
convertida metaforicamente em percepção mental. Vendrame (2010) afirma que
o falante pode veicular diferentes tipos de informações, que estão relacionadas
a tipos distintos de evidencialidade: reportativa, dedutiva, inferida e direta. Essas
diferenças são refletidas nos níveis e nas camadas da Gramática Discursivo-
Funcional (GDF) proposta por Hengeveld e Mackenzie (2008). Esses diferentes
usos podem ser entendidos como um processo de expansão funcional de itens
linguísticos em relação às camadas e aos níveis de organização hierárquica
da gramática (HENGEVELD, 2017), de modo que, uma vez iniciado o processo
de expansão, espera-se que o item em questão desenvolva um trajeto de
mudança que vai das camadas mais baixas para as camadas mais altas do Nível
Representacional, e, assim, das camadas mais baixas para as camadas mais
altas do Nível Interpessoal. Nosso objetivo neste trabalho é identificar quais
tipos evidenciais são codificados pelos verbos “ver” e “olhar” no português
falado no interior paulista, pois tais usos indicam um avanço no processo de
GR dessas formas, tendo em vista a sua expansão funcional no tocante aos
níveis de organização da gramática. Para tanto, tomamos como referencial
teórico o modelo hierárquico da GDF e a tipologia dos evidenciais proposta
por Hengeveld e Mackenzie (2008) e Vendrame (2010, entre outros), além dos
estudos da gramaticalização (HEINE et al., 1991; TRAUGOTT, 1995, 2005; BYBEE,
2003, 2006; HOPPER; TRAUGOTT, 2003; HENGEVELD, 2017). O corpus utilizado
é o banco de dados IBORUNA, coordenado pelo Prof. Dr. Sebastião Carlos
Leite Gonçalves (UNESP), que contempla amostras de língua falada no interior
paulista. Os resultados apontam que “ver” está em um estágio mais avançado
de GR em relação a “olhar”, pois aquele é usado na codificação de todos os
tipos evidenciais mencionados, ampliando, assim, seu escopo em relação
às camadas e níveis de organização da gramática, como também apontam
Hengeveld et al. (2019), ao passo que o verbo “olhar” codifica apenas dois tipos
de evidencialidade: direta e inferida.

253
Discurso e memória: o inominável em discurso
Autoria: DANTIELLI ASSUMPÇÃO GARCIA

O trabalho da palavra, da memória e do esquecimento é um dos pontos centrais


dos estudos discursivos de Michel Pêcheux e psicanalíticos de Sigmund Freud
e Jacques Lacan. Em nosso momento histórico, o real, o inominável, o luto,
as diversas formas de ruptura, o trauma e o mortífero pedem que o campo da
palavra possa circunscrever, delimitar e marcar o horror. O momento em que
vivemos parece esgarçar as formas de laço social e de formulação, constituição
e circulação dos discursos. Alarga-se, assim, o campo da morte. Confiantes de
que não pode nos restar apenas a morte, queremos pensar a violência, os modos
de inscrição histórica do preconceito e extermínio, a defesa pública da ditadura
e da tortura, os museus e memoriais que institucionalizam a violência de Estado,
além dos discursos de ódio e de intolerância nas plataformas digitais e fora delas,
os quais assinalam a regularização de sentidos que carecem ser nomeados,
revirados e analisados, pois só dessa maneira eles podem ser enfrentados. Dizer
disso e sobre isso significa estabelecer uma rede simbólica para afirmar a vida
que desejamos em movimentos de reparação, em rastros de arte e solidariedade,
em testemunhos de resistência e em transmissão; mais ainda, é uma forma de
fazer trabalhar, na trama singular de cada sujeito, a invenção de um saber fazer
com um real que é implacável. As discussões a serem feitas neste simpósio
sustentam-se no Projeto de Pesquisa “Restos de Horror: efeitos de ditadura,
memória e luto cá e lá”, financiado pela FAPESP e envolve pesquisadores
da Universidade de São Paulo, da Universidade Estadual de Campinas, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná. Com a consciência da precariedade da recordação em comparação
ao que foi vivenciado, nos propomos, neste espaço de interlocução, a fazer uma
análise do que se manifesta em muitos desses espaços de resistência, que
selecionam fragmentos de uma história recontando-a. Esses trazem em si um
misto de memória e de esquecimento, de trabalho de recordação e resistência.

254
Simpósio Proposto
Discurso e memória: o inominável em discurso

Efeitos da ditadura brasileira em discurso


Autoria: LUCÍLIA MARIA ABRAHÃO E SOUSA

Chama a nossa atenção o modo como locais endereçados à prática da tortura nas
décadas de 1960 e 1970 passaram a ser denominados memoriais da resistência
em diferentes países da América Latina, tais como, Brasil, Argentina, Chile,
Uruguai, Colômbia e Peru; e na Europa, como o Museu Albuje, em Portugal;
isto é, tornaram-se casas de memória a guardar os efeitos de luto, tortura e
ditadura na contemporaneidade. Estes locais produziram um modo de a memória
se institucionalizar pelas mãos de órgãos públicos, editando e colocando
em movimento alguns restos, vestígios e marcas residuais do inominável da
morte e da tortura, compondo um espetáculo outro a ser visitado, fotografado
e documentado. Nesse trabalho, temos como objetivo mobilizar os conceitos
da teoria de Michel Pêcheux, especialmente as noções de sujeito, arquivo e
memória discursivos, para refletir, analisar e interpretar o modo como os efeitos
de morte e luto são instalados (ou silenciados) na relação que estabelecem com
outros sentidos, tais como, entretenimento, interatividade e/ou espetáculo.
O corpus desse trabalho é constituído de recortes de sequências discursivas
coletadas em visitas presenciais ao Memorial da Resistência, em São Paulo,
que está situado no prédio do antigo DEOPS, onde foram presos e torturados
muitos militantes políticos e trabalhadores brasileiros. Estranhamos de saída
o funcionamento da nomeação desse local: resistência de quem e para que
sujeitos? Que efeitos reverberam aí? Como são colocados, na atualização do
intradiscurso, os sentidos de luta política, de militância e resistência à ditadura
tal como eram ditos outrora? Buscamos analisar o funcionamento da memória
e a constituição da voz institucional nesse espaço museológico inaugurado pelo
Estado, tendo agora na trama dessa suposta oficialidade uma outra espessura
de objeto e de discurso em jogo e em funcionamento. Dadas as condições de
produção atuais no Brasil e considerando que o horror da ditadura tem sido
escamoteado e denegado sistematicamente pela voz do primeiro mandatário
do país, tocar essa ferida, escancará-la e deixá-la aberta a sangrar são exercícios
políticos e poéticos no sentido mais amplo que os estudos da língua e do
discurso podem proporcionar. (FAPESP 2019/09558-0)

255
Simpósio Proposto
Discurso e memória: o inominável em discurso

Entre a escrita e a escritura: o mal de arquivo


Autoria: AMANDA ELOINA SCHERER

Escrever não é um ato banal, entre o esquecer e o lembrar, a trama narrativa vai
sendo construída e “preenchida pelos baús da história de cadáveres, esperando
abri-los e reencontrá-los sem reconhecê-los” (ROBIN, 2016, p. 38). Esquecer,
por sua vez, é também mudar e não mudar, assim como o lembrar tanto pode
acontecer pelo reproduzir ou pelo transformar (ORLANDI, 2004). Quando
escrevemos, o ato mesmo de escrever não se dá em um vazio, estamos sempre
costurando uma coisa no lugar de outra, de um lugar já habitado, obliteramos
o tempo passado na exaustão de um presente sem fio. Para nós, esquecer e
lembrar fazem parte de um emaranhado produzido pela escritura, pelo colocar
em palavras um possível (e falso) a priori. Se esquecemos recalcando, lembramos
o que incomoda. Portanto, se o trauma é condição de necessidade do sujeito,
de que forma então uma historiadora, como Régine Robin, coloca-o em pauta
na rede simbólica do ato de escrever? De que forma ela constitui um problema
teórico e analítico na sua escritura misturando documentos, história oral, ficção
e reflexão metaficcional para experimentar a biografia, por exemplo? A relação
problemática com o seu passado, sob o trágico da opacidade da história tanto
aquela em que ela vive quanto aquela em que ela é levada a escrever, constituem
um embrião de um trabalho sobre o luto, luto de uma história contada, luto
através de uma estética de montagem, de colagem, de fragmentos, de ruínas, de
parcelas e que, a partir dela, a historiadora confronta o passado desmitificando-o.
Nossa apresentação, neste simpósio proposto a partir de uma pesquisa em
rede entre diferentes instituições brasileiras, terá como objeto de estudo dois
textos de Régine Robin: a) "Le Deuil de l’origine, une langue en trop, la langue
en moins", publicado em 1993 e b) "Le Naufrage du siècle", de 1995.

Luto, linguagem e ato


Autoria: LAURO BALDINI

Este trabalho parte de duas premissas: uma, a de que, como diz Lacan, é todo
o sistema significante que é convocado quando se constitui uma experiência

256
Simpósio Proposto
Discurso e memória: o inominável em discurso

de luto; a outra é a de que o luto não é uma operação individual e intrapsíquica,


mas sim um ato constituído pela história em suas formas de possibilidade.
Nesse sentido, pensar o luto como acontecimento, a partir da psicanálise,
implica trazer a questão da memória, da temporalidade e do ato. Em que isso
se relaciona com o trabalho do negativo, do absurdo e da metáfora de que nos
falou Pêcheux? Mostraremos que tais questões iluminam nossa compreensão
das relações entre masculinidade e feminilidade, da constituição do desejo
e, sobretudo, da experiência do luto como algo da ordem de um ato em que
uma parte de si é perdida para que se funde o desejo. Neste ato, estão em
jogo relações com a memória, com a língua e com a morte e o erotismo, na
medida em que as condições de possibilidade dessas relações se orientam
pelo modo como a história possibilita formas linguajeiras da subjetivação de
uma perda e pelo modo como tais discursividades, ao circularem, constituem
formas enunciativas específicas que colocam em jogo a dimensão do corpo em
protesto por uma possibilidade de luto. No caso específico desta comunicação, o
contexto da pandemia e as (in)ações do Governo Federal serão nosso objeto de
análise quanto ao obstáculo ao reconhecimento do luto. Assim, procuraremos
pensar os atos de resistência contra as três ausências tornadas presentes
neste tempo da morte seca - ausência de morte no grupo, da morte de si e
do luto - ao abrir espaço para a escrita de uma história singular e, neste ato,
marcando a singularidade da perda que advém com a morte de um ente querido.
Nesse sentido, trata-se de uma experiência narrativa que propicia um espaço
de elaboração para o luto e que conjuga em sua (im)possibilidade a perda da
experiência e a experiência da perda.

257
Simpósio Proposto
Discurso e memória: o inominável em discurso

Notas sobre o medo


Autoria: FÁBIO RAMOS BARBOSA FILHO

O medo de novas “revoltas africanas” é uma das marcas da conjuntura


discursiva do Brasil oitocentista, especialmente após a revolta dos malês, em
1835. Nos periódicos, ofícios e debates legislativos não cessa de se inscrever
um temor paranoico que organiza, de certa forma, as relações de alteridade
e hostilidade entre “cidadãos brasileiros” e “africanos”. Arrisco dizer que esse
medo é fundamental na composição da formação social brasileira na medida em
que ele é um dos elementos centrais na formulação dos dispositivos jurídicos,
políticos e sociais que organizam a presença africana no Brasil. Uma primeira
incursão no material nos coloca diante de um desvio importante: não se trata
apenas de um medo de novas “revoltas africanas”, ou seja, do “haitianismo” -
nome que circula frequentemente nos oitocentos - que produziria no Brasil uma
revolução similar à haitiana, mas de um medo “dos africanos”, um outro-hostil
que condensa a antítese dos "cidadãos brasileiros”. E, cabe dizer, os efeitos
dessas práticas não se esgotam nos oitocentos e são decisivos na construção
de uma memória antiafricana que se desdobra e produz efeitos materiais até
hoje. Desde o trabalho de Célia Maria Marinho de Azevedo, o “medo branco”
(uma das formas do “medo dos negros”) é uma das constantes na formação
do imaginário do poder político e das elites brasileiras. Mais recentemente, o
trabalho de Rogério Modesto a respeito dos discursos racializados vai analisar
de que maneira a atualidade dessa memória sobre o corpo negro regulariza no
discurso construções do tipo “confunde, logo mata”. Um dos desafios teóricos
deste trabalho é não ceder ao psicologismo que situa o medo na consciência
individual. A partir de uma tomada de posição discursiva, sustento que o
medo é uma discursividade que emerge da disputa entre diferentes espaços
de memória. O medo dos africanos é material, ou seja, histórico, e possibilita
a emergência de formas de significação (“haitianismo”, “outra língua”, “outra
religião”, “alienados”, “inimigos”) e organiza o rumor ("ouviu-se dizer que", "dizem
por aí que"), uma forma de significação pouco assertiva (diferente do “x disse
que”), mas consistente pelos efeitos que produz. Gostaria, portanto, de me
ocupar de um arquivo do medo no Brasil do século XIX, sobretudo entre 1830
e 1880, período que marca o endurecimento do antiafricanismo no país.

258
Simpósio Proposto
Discurso e memória: o inominável em discurso

O inominável de uma pandemia: o trauma do século?


Autoria: DANTIELLI ASSUMPÇÃO GARCIA

Neste trabalho, um recorte de nossa participação no Projeto de Pesquisa


“Restos de Horror: efeitos de ditadura, memória e luto cá e lá”, financiado pela
FAPESP, mobilizando referenciais teóricos discursivos, a partir dos diversos
trabalhos de Michel Pêcheux acerca das noções de memória, esquecimento,
sujeito, de Eni Orlandi em torno das cidades, do espaço urbano, de Cristiane
Dias sobre o digital, o ciberespaço, os movimentos em rede, e psicanalíticos,
de Sigmund Freud e Jacques Lacan, sobre o trauma, pretendemos fazer uma
análise discursiva do que se manifesta em fachadas, por meio de projeções
em prédios no espaço citadino brasileiro e que passam a circular no espaço
digital em users da rede social Instagram, a respeito da pandemia de COVID-19
e o modo como o Estado (genocida) Brasileiro tem enfrentado tal situação.
Esse modo político/poético/resistente de colocar em palavras algo de um luto
(individual, coletivo, histórico, político, impossível de ser vivido) aponta para o
que defenderemos neste trabalho como a dimensão histórica do trauma, ou
seja, a história (recente) de uma pandemia vivida em forma de um luto não vivido
marca de modo traumático a vida dos sujeitos, bem como afeta uma memória
sobre as pandemias já vividas pela humanidade. Mesmo cientes da precariedade
da recordação que advém dessas palavras inscritas em fachadas de prédios
do que o vivenciado na pandemia e que circulam na fluidez, na velocidade do
ciberespaço, espaços de resistência (na cidade, no digital) e de trabalho do
traumático são criados pelos sujeitos para lidarem com o inominável de um
luto (do século) pandêmico. Dizer do trauma de uma pandemia e sobre isso
significa estabelecer uma rede simbólica para afirmar a vida que desejamos
em movimentos de reparação, em rastros de arte e solidariedade no espaço da
cidade e para além dele, em testemunhos de dor, resistência, de luto.

259
Discurso, mídia e ensino na perspectiva Bakhtiniana
Autoria: MIRIAM BAUAB PUZZO

Os discursos científicos e educacionais que circulam nas várias esferas sociais


(religiosa, divulgação científica, artística, midiática, etc.) têm comprovado
perspectivas antagônicas e radicais, exigindo reflexão crítica em torno do
confronto social antidemocrático instaurado desde a posse do atual presidente
do Brasil (01/01/2019). Há crônicas, artigos de opinião, charges que procuram
contestar essa situação constrangedora frente ao conhecimento estabelecido
pela ciência e sedimentado pela cultura. Além dessa polaridade discursiva,
muitas são as questões relacionadas à educação, ao ensino, à pesquisa
com novas propostas direcionadas a mudanças de paradigma que suscitam
reflexão crítica em torno de ações que afetam o contexto educacional brasileiro
revertendo as condições mais adequadas para solucionar as dificuldades
enfrentadas na educação pública brasileira. Tendo em vista essa problemática,
o simpósio “Discurso, mídia e ensino na perspectiva bakhtiniana” tem como
objetivo principal discutir a respeito de discursos presentes nas esferas
midiojornalísticas, de divulgação científica e na esfera escolar, considerando
tanto os modos de enfrentamento da crise sanitária marcada pela Covid-19,
quanto questões referentes à situação do ensino público. O quadro teórico-
metodológico adotado neste simpósio é a teoria enunciativo-discursiva que
possibilita analisar a linguagem em sua realidade viva como propõem os
membros do Círculo bakhtiniano. Portanto, os conceitos teóricos que servem
de referencial analítico são mobilizados a partir de conceitos como relações
dialógicas, enunciado concreto, estilo, tom valorativo; posicionamento ético/
estético, Bakhtin (2015, 2016); Volóchinov (2017, 2019). As pesquisas presentes
neste simpósio fundamentadas na teoria discursiva têm por objetivo analisar o
discurso autoritário que atravessa a sociedade brasileira em plena pandemia, com
o intuito de interpretar os procedimentos linguístico-discursivos empregados
na defesa de contraditórios pontos de vista. Nessa perspectiva, destacam-se
trabalhos a respeito de políticas públicas relativas ao ensino, discursos que
circulam na mídia e seu poder de comunicação. Este simpósio propõe desse
modo abrir o debate de modo a expor a crise do esgotamento no ensino, na
saúde, na imprensa nessa segunda década do século XXI.

260
Simpósio Proposto
Discurso, mídia e ensino na perspectiva Bakhtiniana

A BNCC como arena de disputas: o que dizem


os linguistas sobre o documento regulador da
educação básica brasileira?
Autoria: CRISTIANE DOMINIQUI VIEIRA BURLAMAQUI

Neste trabalho, propomos recuperar a Base Nacional Comum Curricular


(BNCC) como resultado de abordagens teóricas e ideologias concorrentes
em um contexto sócio-histórico caracterizado por acirradas disputas de poder
travadas, sobretudo, no âmbito do executivo brasileiro. Para tal, nos pautamos
em três conceitos constitutivos da teoria bakhtiniana: relações dialógicas,
valoração e esferas ideológicas (BAKHTIN, 2015, 2018; VOLÓCHINOV, 2017,
2019). As fontes investigadas são artigos em livros e periódicos, documentos
amplamente divulgados nas mídias, entrevistas, palestras em eventos e lives,
publicados e realizados entre 2014 e 2020. Neste material, identificamos os
enunciados que denotam posicionamentos de linguistas frente às etapas de
elaboração do documento, suas visões sobre a última versão da BNCC, com
considerações acerca tanto de abordagens teóricas e orientações ideológicas
quanto da apresentação da área de Linguagem e da forma dada ao currículo
para o componente Língua Portuguesa nas duas etapas do Ensino básico.
A Base Nacional Comum Curricular foi redigida em pouco menos de quatro
anos e atravessou a gestão de seis ministros da educação (um interino), em dois
governos. Com força de lei, a BNCC é o atual documento que orienta as políticas
educacionais para o Ensino básico em nível nacional, o que a torna arena para
disputas ideológicas, visões autoritárias de currículo, concepções hegemônicas
de mundo ajustadas às pautas neoliberais e ao avanço da extrema direita,
contradições entre a teoria e a forma de sistematização dos conteúdos. Além
disso, as denúncias sobre os eventos que marcaram o processo de elaboração
da BNCC retratam as ações de deslegitimização da atuação de pesquisadores e
profissionais da área de Letras por meio de tentativas de silenciar a comunidade
científica brasileira em temas polêmicos, a exemplo os problemas apontados
no currículo único para todo o território nacional. Reconstituir o processo

261
Simpósio Proposto
Discurso, mídia e ensino na perspectiva Bakhtiniana

de produção e implantação da BNCC permite compreender como os grupos


no poder foram orientando as políticas públicas alinhadas às demandas do
neoliberalismo e às pautas conservadoras.

A caracterização das fake news enquanto gênero


discursivo: uma análise Bakhtiniana
Autoria: RAPHAELA RAMOS GARCIA

O tema do presente trabalho é o fenômeno das fake news enquanto possível


gênero discursivo e sua delimitação é a notícia falsa "kit gay" abordada à luz da
teoria bakhtiniana. O problema que motiva a pesquisa é a escassez de trabalhos
publicados sobre esse assunto com base na teoria bakhtiniana da linguagem,
permitindo o aporte para o estudo em aula das fake news enquanto gênero
discursivo. O objetivo geral é verificar se as fake news podem ser consideradas um
gênero discursivo variante da notícia. Os objetivos específicos buscam elucidar
de que maneira os conceitos de ideologia, dialogismo, signo e enunciação
contribuem para a análise desse fenômeno, permitindo identificar as fake news
como um enunciado estável. O corpus de análise da pesquisa é constituído
pela notícia falsa "kit gay", disseminada durante campanha eleitoral de 2018 no
Brasil e sua análise é feita de forma qualitativa à luz da teoria bakhtiniana, mais
especificamente a partir dos conceitos de "ideologia", "significação sígnica" e
"enunciação", com base principal nos textos Marxismo e filosofia da linguagem:
problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem
(VOLÓCHINOV, 2017) e A construção da enunciação e outros ensaios (2013).
Também se destaca de forma fundamental para realização dessa pesquisa o
conceito de pós-verdade e seu papel na disseminação das fake news. A amostra
utilizada para análise foi retirada de reportagem realizada pelo portal El País
realizada em 19 de outubro de 2018 com um levantamento das cinco principais
fake news divulgadas durante a campanha eleitoral. Os resultados indicam que
as informações veiculadas nas redes sociais e até mesmo em alguns meios
de comunicação induzem a interpretações equivocadas que são entendidas
como verdadeiras ativando respostas previstas pelos enunciadores e permitem

262
Simpósio Proposto
Discurso, mídia e ensino na perspectiva Bakhtiniana

concluir que tratar desse tema em sala de aula auxilia a leitura crítica dos alunos,
possibilitando respostas ativas que minimizem os efeitos das fake news que
simulam o gênero notícia.

Artigo de opinião, posicionamento valorativo: uma


perspectiva dialógica
Autoria: MIRIAM BAUAB PUZZO

Os diferentes gêneros jornalísticos apresentam peculiaridades composicionais


e estilísticas próprias e aqueles que são mais permeáveis à expressão autoral
evidenciam seu tom valorativo ético e estético em função de suas propostas
comunicativas, das relações dialógicas entre autor e público e de suas relações
com o contexto social imediato. Em função dessas variáveis, o autor apresenta
um estilo próprio de modo a expor seu posicionamento axiológico diante dos
fatos reportados no artigo. Muitos repórteres que também são ensaístas e
articulistas apresentam estilos diferenciados em função do veículo e dos
diferentes gêneros em que se expressam. É o caso dos artigos e ensaios de Eliane
Brum, uma repórter brasileira, cujo estilo distancia-se do de suas reportagens,
entretanto, em todas as instâncias enunciativas, a autora deixa explícita sua
visão crítica, utilizando a linguagem com seus recursos expressivos, moldando-a
pelo estilo. Tendo em vista essa peculiaridade, a proposta desta comunicação
é discutir as características estilísticas de seu artigo de opinião em função das
relações dialógicas que estabelece com o contexto social de modo a expressar
seu posicionamento ético/valorativo diante dos fatos sociais reportados. Seus
artigos têm apresentado características peculiares evidenciando, de modo tenso,
questões que afligem o povo brasileiro no contexto sócio/político/econômico
atual afetado pela pandemia do Coronavirus19. A teoria que fundamenta este
trabalho é a teoria análise dialógica bakhtiniana, em especial, os conceitos de
estilo, tom valorativo, atitudes responsivas e o posicionamento ético/estético
do enunciador. Como objeto de análise, foi selecionado o ensaio de Brum
“Doente de Brasil”, publicado no jornal El País em 02 de agosto de 2019, em que a
jornalista expressa de modo contundente sua opinião a respeito dos problemas

263
Simpósio Proposto
Discurso, mídia e ensino na perspectiva Bakhtiniana

vivenciados pela população no Brasil, deixada à deriva pelo posicionamento do


governo bolsonarista que se recusa a enfrentar as questões relativas à saúde
pública. A jornalista expressa pelo estilo contundente seu tom valorativo diante
desse contexto social dramático.

Uma análise dialógica do discurso da arte em


charges frente às arbitrariedades na esfera política
Autoria: THIAGO JORGE FERREIRA SANTOS

Esta comunicação tem como objetivo propor uma análise de charges políticas,
nas quais são resgatadas famosas obras de arte para a construção da crítica
jornalística. De forma mais específica, buscaremos examinar como essas obras
de séculos pretéritos, sobretudo pinturas e desenhos, ao serem retomadas
pelos chargistas, contribuem para a compreensão dos textos como enunciados
concretos. O momento crítico em que vivemos no país, onde o conhecimento
científico está sendo contestado e deturpado, justifica a pertinência de
nossa proposta. A atualidade caracteriza o jornalismo como um relato dos
acontecimentos contemporâneos a sua realização. Como aportes teóricos,
usaremos a perspectiva dialógica do discurso, especialmente os trabalhos de
Jakubinskij (2015 [1923]), Medviédev (2012 [1928]) Volóshinov (2017 [1929], 2019),
Bakhtin (1997 [1963], 2016) e estudos advindos desses trabalhos, como Seriot e
Friedrich (2008), Campos (2009), Aguiar e Puzzo (2013), Costa (2017) e experts no
gênero charge, como Souza (1986), Miani (2000) e Souza (2000). Particularmente,
construiremos nossas reflexões com base nas noções de signo ideológico,
enunciado concreto e gêneros do discurso desenvolvidas entre as décadas de
1920 e 1960, na Rússia. As charges selecionadas para análise foram produzidas e
publicadas nas redes sociais de diferentes jornais de grande circulação durante
o período da pandemia do coronavírus (COVID-19) e evidenciam críticas em
relação à postura dos gestores públicos frente aos desafios impostos pela
conjuntura pandêmica. Como procedimentos de análise, primeiramente
investigaremos as duas situações comunicativas trazidas nas charges, isto é,
o momento específico contemporâneo e o momento em que as obras de arte
retomadas foram produzidas; em seguida, buscaremos evidenciar as relações

264
Simpósio Proposto
Discurso, mídia e ensino na perspectiva Bakhtiniana

possíveis entre elas na construção da crítica pelos chargistas; por fim, nossa
análise buscará apontar a realidade refratada pelas charges. Os resultados
preliminares podem revelar que os posicionamentos dos administradores
públicos se afastam de uma postura racional e científica face às demandas
sociais, sanitárias e econômicas impostas atualmente.

Políticas linguísticas e ensino de produção escrita:


a mudança do discurso
Autoria: MARIA INÊS BATISTA CAMPOS

O objetivo desta comunicação é analisar as críticas feitas ao ensino de língua


portuguesa em bases tradicionais presentes no documento intitulado “O ensino
de língua portuguesa e literatura brasileira no 2º grau: sugestões metodológicas”,
e apresentar as propostas inovadoras em torno da linguagem, sugestões para
a crise do ensino de português no final da década de 1970. Esse documento,
coordenado pela professora Magda Becker Soares, foi produzido em contexto
institucional e publicado pelo Ministério da Educação e Cultura/MEC, Brasília, em
1981. Ao considerar a organização desse documento e os conceitos linguísticos
articulados ao ensino, pretendo recuperar os textos e discursos com os quais
ele dialoga, de modo a reconstruir o diálogo entre as esferas acadêmica e
escolar. A escolha pelos recortes temporal, espacial e temático (década de 80,
âmbito federal, produção escrita) deve-se ao momento histórico do início da
redemocratização do Estado brasileiro e a escolha do ensino da escrita, um dos
temas que exigia propostas inovadoras. Para a análise desse documento, adoto
a concepção bakhtiniana de cultura, o que nos permite associar ao tempo as
transformações advindas dos estudos linguísticos e combino o conceito de texto,
entendido na perspectiva dialógica, pertencente a uma cultura, envolvendo, no
mínimo, dois sujeitos: “O acontecimento da vida do texto, isto é, a sua verdadeira
essência, sempre se desenvolve na fronteira de duas consciências, de dois
sujeitos” (BAKHTIN, 2003, p. 311). Nessa perspectiva teórico-metodológica,
procuro articular três aspectos: a materialidade do documento (sua organização),
a singularidade e a carga de valores, configurando o contexto histórico-social-
cultural que o constitui como forma viva e responsiva e as relações dialógicas

265
Simpósio Proposto
Discurso, mídia e ensino na perspectiva Bakhtiniana

que abriram espaços para novas diretrizes curriculares, tentando identificar


as mudanças propostas para o ensino de português, impulsionadas com as
novas teorias linguísticas presentes no discurso acadêmico da área de Letras
desde a década de 1970 como estruturalismo, gerativismo, funcionalismo,
linguística textual, estudos de Bakhtin. Retomar o diálogo com esse documento
coloca alguns questionamentos: que concepções de linguagem ocuparam esse
documento? Quais as recomendações com relação ao ensino da escrita? A
revisão de práticas escolares no ensino de língua portuguesa permite apresentar
os discursos linguísticos que embasaram o documento dirigido ao que hoje
conhecemos como ensino médio, indicando um movimento tenso entre as
teorias linguísticas e o ensino na escola básica que se mantém até os dias
atuais, conforme o documento oficial da Base Nacional Comum Curricular em
curso.

266
Do social ao político na semiótica literária
Autoria: ALEXANDRE MARCELO BUENO

O discurso literário foi, desde os anos iniciais de desenvolvimento da semiótica,


um de seus objetos de estudo mais privilegiado. Dentre as consequências para a
formulação da teoria, podemos mencionar o desenvolvimento de reflexões ligadas
a alguns aspectos do percurso gerativo do sentido, como a narratividade e a
figuratividade. Além disso, os conceitos da semiótica encontram constantemente
no discurso literário um espaço de questionamento da significação e do próprio
alcance da teoria. É justamente nessa dialética teoria-objeto que a semiótica se
repensa e avança com novos conceitos e concepções metodológicas ao mesmo
tempo em que continua a examinar, entre outros novos objetos, o texto literário,
como é o caso da literatura brasileira contemporânea, que tem desenvolvido
temas até então pouco explorados pelo cânone (como o racismo, o machismo, a
homofobia, movimentos identitários, resistências políticas, feminismo, questões
de gênero, entre outras possibilidades) e, consequentemente, incentivado
o resgate de obras anteriores marginalizadas justamente por abordarem
tais questões que não correspondiam aos valores canônicos. Uma das
consequências mais visíveis dessa característica atual da literatura produzida
no Brasil é a mudança de estatuto dos temas elencados, enquanto significações
reelaboradas pela esfera literária. O intuito deste simpósio é criar um espaço
para discutir, por meio do arcabouço teórico da semiótica greimasiana e
seus desdobramentos atuais (práticas semióticas, formas de vida, interação,
acontecimento, tensividade etc.), a significação social, histórica e política que
o discurso literário contemporâneo produz. Assim, buscar-se-á por meio dos
pressupostos teóricos da semiótica a possibilidade de se refletir sobre temas
atuais, seja em obras contemporâneas ou de outro tempo, elaborados pelos
objetos literários selecionados pelos participantes. Por um lado, a semiótica
greimasiana poderá retomar, em outra chave teórica e interpretativa, discussões
feitas pela crítica literária acerca das relações entre literatura e sociedade. Por
outro, a teoria poderá iniciar um novo ciclo de discussões sobre a representação
de temas sociais, históricos e políticos no discurso literário, o modo como eles
circulam e impactam/sensibilizam o enunciatário-leitor diretamente ligados
aos temas trabalhados pelo atual romanceiro brasileiro.

267
Simpósio Proposto
Do social ao político na semiótica literária

Do social ao político na semiótica literária


Autoria: ORIANA DE NADAI FULANETI

A presente comunicação visa refletir sobre as contribuições da teoria semiótica


discursiva para a investigação de textos literários não canônicos que abordam a
temática da resistência. Para isso, realiza-se a análise de duas obras de pessoas
que pegaram em armas contra o governo no período da ditadura militar e relatam
sua experiência – O que é isso, companheiro (1979), de Fernando Gabeira, e Os
Carbonários (1980), de Alfredo Sirkis. A escolha deve-se à grande repercussão
e reconhecimento desses relatos, que consistem em verdadeiros documentos
históricos. O livro de Gabeira tornou-se praticamente um best-seller, tendo
sido adaptado para o cinema; a obra de Sirkis recebeu o prêmio Jabuti em
1981. A resistência conhecida como luta armada ocorre no Brasil entre 1968
e 1973. A maioria dos grupos desenvolveu apenas atividades urbanas, que
consistiam basicamente na expropriação de dinheiro e armas com o objetivo
de equipar as organizações e fazer propaganda da luta armada. Houve também
quatro sequestros de diplomatas estrangeiros, ações que deram visibilidade
internacional para a guerrilha brasileira, além de libertar inúmeros presos
políticos. De acordo com Ridenti (1993, p. 56-72), os guerrilheiros eram em sua
maioria jovens, entre 20 e 25 anos, brancos e pertencentes às camadas médias
intelectualizadas. Foram praticamente todos massacrados pela repressão.
Muitos combatentes armados morreram e poucos foram aqueles que não
passaram pela tortura, pela prisão, pelo exílio ou pela clandestinidade. Diante
disso, surgem algumas questões: por que esses indivíduos se entregaram a
uma “guerra” com tanta desigualdade de recursos? Qual visão de guerrilheiro
eles tinham? E de guerrilha? As análises desenvolvem-se impulsionadas por
essas perguntas motivadoras. Resultados indicam diferenças nas imagens de
guerrilheiro presente nas obras, mas, em comum forte presença de elementos
que remetem mais ao campo da moralidade e das paixões do que da lógica
e da racionalidade e o perfil de um sujeito que acredita que pode mudar o
funcionamento da sociedade.

268
Simpósio Proposto
Do social ao político na semiótica literária

Enunciação, enunciado e acontecimentos em “Viva


em Maputo”
Autoria: VERA LUCIA RODELLA ABRIATA

Este trabalho propõe a análise do conto “Viva em Maputo”, com base no


referencial teórico da semiótica discursiva, especialmente a partir da noção
de acontecimento, de Claude Zilberberg, no âmbito da semiótica tensiva. O
conto selecionado para objeto de análise integra a coletânea Enfim Imperatriz
(2017), da escritora brasileira contemporânea Maria Fernanda Elias Maglio,
obra vencedora do Prêmio Jabuti, na categoria contos, em 2018. A coletânea é
composta de narrativas cujos atores protagonistas são sujeitos marginalizados
socialmente: mulheres, homossexuais, muitos negros, cuja identidade a autora
desvela numa prosa eminentemente poética. “Viva em Maputo” tem como ator
protagonista uma mulher negra, que sofre assédio e violência sexual do patrão.
Nosso objetivo é analisar o modo como se constitui o acontecimento tanto
no nível do enunciado quanto no nível da enunciação do texto. No nível do
enunciado, observaremos o modo como a acontecimento afeta a protagonista,
no papel temático de frentista de um posto de gasolina, que relata no presente,
o assédio e a violência sexual que sofreu do patrão. A verbalização da violência
sofrida, por meio do relato que constitui o conto, manifesta-se no momento
em que a protagonista lê uma notícia de jornal sobre o assassinato de uma
mulher em Maputo, também vítima de violência masculina. Assim, o processo
de identificação espelhada da narradora com o ator feminino, cujo drama ela
conhece a partir da leitura da notícia de jornal, faz com que, como sujeito
cognitivo, tome consciência da violência que sofria e reaja a isso num programa
narrativo de vingança contra o patrão. Pretendemos, pois, verificar o modo
como a narradora cria, no relato, esse processo de identificação com a outra,
também vítima de violência sexual. Nessa perspectiva, o intento é analisar o
modo como o relato, enquanto acontecimento estético, no nível da enunciação,
sensibiliza o enunciatário no processo de reconstrução textual por meio do ato
de leitura.

269
Simpósio Proposto
Do social ao político na semiótica literária

O discurso político de resistência: análise semiótica


da crônica "Companheiras", de Eneida de Moraes
Autoria: RENATA GUIMARÃES CABRAL LIMA

A arte literária brasileira tem sido um veículo de manifestação discursiva e


ideológica de extrema importância para tratar de questões sociais e políticas
recorrentes em diferentes épocas. A autora Eneida de Moraes (1903-1971) foi
uma dessas escritoras que fez de sua arte um espaço para discutir, refletir e,
principalmente, denunciar as arbitrariedades de um sistema político repressor.
A maioria da sua produção intelectual é marcada por obras memorialistas,
especialmente as crônicas, nas quais aborda criticamente temáticas de caráter
sócio-político em um período de proibições e forte censura. Neste sentido,
este trabalho tem como objetivo depreender o discurso político de resistência
a partir da análise semiótica da crônica "Companheiras" – de autoria desta
escritora –, de modo a compreender como se dá o processo de produção
de sentido que permeia a construção discursiva do texto. Para isso, foram
selecionados alguns trechos da crônica, nos quais há a manifestação de um
sujeito político que resiste constantemente às privações e às hostilidades
sofridas no cárcere. O texto foi escrito na década de 1950, no entanto, relata
fatos históricos da política brasileira da década de 1930. Nos fundamentamos
nos pressupostos teórico-metodológicos da Semiótica Francesa, de origem
greimasiana, elucidando aspectos da organização narrativa, bem como, dos eixos
temáticos e figurativos que revelam o percurso do sujeito confinado na prisão,
imobilizado pela repressão, mas encontrando formas para sobreviver e resistir
às coerções impostas. Observamos que esse discurso político é construído por
meio da manifestação de uma voz social que contesta e afronta um sistema
de poder centralizador. É um discurso tecido em ações de movimentos de
lutas em prol de uma nova organização política pautada na coletividade e na
liberdade de expressão. "Companheiras" apresenta memórias históricas de
um passado que ressurgem nos acontecimentos de hoje, na medida em que
práticas governamentais centralizadoras são reativadas e ressignificadas pela
atual conjuntura política brasileira. Assim, o trabalho vem contribuir para a
compreensão de práticas discursivas que se localizam ideologicamente no
campo da política de resistência e de enfrentamentos aos sistemas de poder.

270
Simpósio Proposto
Do social ao político na semiótica literária

O impacto do acontecimento no percurso dos atores


femininos em "Shirley Paixão", de Conceição Evaristo
Autoria: CAMILLA FERNANDES

Este trabalho analisa o conto “Shirley Paixão” da escritora brasileira


contemporânea Conceição Evaristo, integrante da obra Insubmissas Lágrimas de
Mulheres (2016), com base no instrumental teórico da semiótica francesa. Nosso
objetivo é apreender a partir do acontecimento de abuso sofrido por uma das
enteadas de Shirley Paixão, Seni, os efeitos de sentido que o enunciador mobiliza
na construção da significação do texto para sensibilizar o enunciatário-leitor a
respeito do tema da violência contra a mulher. Focalizaremos particularmente
os papéis actanciais, temáticos e patêmicos do ator Shirley Paixão e de sua
enteada Seni frente ao acontecimento do abuso sexual operado pelo pai contra
a filha. A presente análise incide tanto no nível de enunciado quanto no nível da
enunciação da narrativa. No primeiro nível, analisamos as ações e os estados de
alma dos dois atores femininos, Shirley paixão e Seni, assim como as relações
polêmicas que estabelece com o ator masculino perante as violências física e
psicológica operadas por ele no seio de uma família formada por uma confraria
de mulheres: suas filhas e enteadas. Em nível de enunciação, a análise se volta
para o papel da narradora da obra, que simula recontar o relato de Shirley sobre
o acontecimento, como ocorre em todos os contos da obra, por meio de suas
escrevivências, neologismo criado por ela, para se referir ao mecanismo de
criação do texto literário. Assim, o trabalho tem também por intento revelar a
semelhança no modo como a narradora, simulacro do sujeito da enunciação,
constrói o perfil dos atores femininos. Submetidas à violência masculina, dela
se libertam a partir do relato, da verbalização da violência que sofrem, o que
as faz adquirir consciência do dever, do querer e do poder se libertar do jugo
patriarcal ainda reverberante na sociedade contemporânea. Esses relatos, por
sua vez, metamorfoseados pela narradora em escrevivências, são o espelho da
literatura de denúncia do ator da enunciação, Conceição Evaristo.

271
Simpósio Proposto
Do social ao político na semiótica literária

Sobre o racismo diário e as subversões interativas


em um conto de Geovani Martins
Autoria: ALEXANDRE MARCELO BUENO

A chamada literatura periférica é um fenômeno relativamente recente no


panorama literário brasileiro. Por essa razão, muito ainda se discute a respeito
das características dessa literatura em relação aos cânones literários nacionais.
A hipótese deste estudo é a de que seja possível situar a literatura periférica
por meio da construção figurativa de seus enredos, envolvendo, assim, a
elaboração discursiva do espaço, do tempo e das personagens que recobrem,
por sua vez, certas isotopias temáticas. Segundo Bertrand (2003), os textos
literários possuem uma racionalidade figurativa. Em outras palavras, o discurso
literário se constrói em torno de um duplo desenvolvimento coerente de sua
figuratividade: de um lado, a coerência é interna, ou seja, ela mantém a liga que
sustenta o desenvolvimento do enredo; por outro, ela é externa, na medida em
que nos remete, por meio do que se conhece como uma “impressão referencial”,
a elementos do mundo natural. Desse modo, é por meio da figuratividade
que podemos, na leitura que a semiótica discursiva propicia, acessar níveis
mais abstratos de leitura, em que os discursos literários mobilizam percursos
temáticos, organizações narrativas e afirmações ou negações de determinados
valores que vão confrontar ou afirmar a visão de mundo tanto do enunciador
como de seu enunciatário-leitor, nesse movimento de desvelar e conhecer o
mundo que a literatura nos oferece. Para dar conta das questões mobilizadas
pela literatura periférica, será examinado um dos contos que compõe a obra
O sol na cabeça, de Geovani Martins. Trata-se do conto intitulado "Espiral",
no qual o narrador “desperta” para o racismo diário e implícito que vivencia ao
andar pelas ruas de um bairro de classe média alta no Rio de Janeiro a partir
de sua percepção a respeito da maneira como as pessoas reagem e se afastam
quando ele de alguma forma se aproxima. No conto, o narrador subverte as
expectativas e começa, por conta própria, seu experimento antropológico em
torno do tema “racismo”. Espera-se, assim, contribuir para o entendimento do
discurso literário como um modo de compreender questões sociais observadas
no mundo natural por meio da articulação entre a construção da representação
e os valores abstratos que o texto recobre.

272
Educação linguística na educação básica: a
ciência linguística na sala de aula
Autoria: DIRCEU CLEBER CONDE

Este simpósio tem por objetivo desenvolver reflexões teóricas e práticas sobre
educação linguística tomando a língua/linguagem como objeto da ciência. Do
final do século XIX até agora, a Linguística produziu um vasto conhecimento
que, por poder ser considerado “patrimônio científico da humanidade”, poderia,
sobretudo no campo da educação linguística – e levando em conta as devidas
adaptações didáticas –, ser apresentado ao alunado da mesma forma que os
conhecimentos em Física, História, Matemática etc. costumeiramente o são. A
educação formal seria, portanto, um dos espaços privilegiados para o contato
com a ciência e o conhecimento. Uma vez que os objetos língua(gem) podem
também estar sob a lupa da Ciência (cf. por exemplo, O’Neil e Honda (2008),
Basso e Pires de Oliveira (2012), Pires de Oliveira e Quarezemin (2016), dentre
outros), não se restringindo, então, à metalinguagem normativa ou às práticas,
não menos importantes, de leitura, de compreensão e de produção de textos,
o simpósio propõe uma discussão sobre o lugar do “conhecimento linguístico”
no espaço escolar. Para tanto, algumas tarefas são necessárias: primeiramente,
entender o “silenciamento” ou a “ausência” da Linguística na escola; para depois,
cientes dessa ausência, pensarmos sobre estratégias metodológicas que podem
ser utilizadas nas aulas de língua portuguesa para que os estudantes possam
“pensar linguisticamente”; em terceiro, por último, mapear as iniciativas que já são
desenvolvidas e vislumbrar novas práticas para propor discussões que inovem
e colaborem com uma visão ampla de educação linguística que contemple
o maior número de dimensões do objeto língua(gem). Referências: BASSO,
R. M.; OLIVEIRA, R. P. DE. Feynman, a linguística e a curiosidade, revisitado.
Matraga-Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, v. 19,
n. 30, 2012. HONDA, M.; O’NEIL, W. A. Thinking linguistically: a scientific approach
to language. Malden, MA; Oxford: Blackwell Pub, 2008. OLIVEIRA, R. P. DE;
QUAREZEMIN, S. Gramáticas na escola. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.

273
Simpósio Proposto
Educação linguística na educação básica:
a ciência linguística na sala de aula

A Olimpíada de Linguística como metodologia


científica para a aprendizagem escolar
Autoria: EDUARDO CARDOSO MARTINS

Não é comum encontrarmos as palavras “Linguística” e “Escola” reunidas


numa mesma metodologia. A Ciência da Linguagem nasceu e se desenvolveu
circunscrita ao lócus do saber especializado, a universidade. Por outro lado, os
estudos normativos adentraram e se consolidaram no lócus do saber generalista,
a escola. Com o objetivo de superar esse desencontro, o movimento “Linguística
na Escola” visa integrar a reflexão sobre as línguas naturais com um letramento
científico, um pensar linguisticamente (HONDA; O’NEIL, 2008). Raciocinar
cientificamente exige, sobretudo, abandonar a postura normativa e os mitos
sobre a linguagem, incluindo nas escolas os falares reais das comunidades.
Neste sentido, Loosen (2014, p. 261) defende que a Olimpíada de Linguística
é uma maneira cativante e acessível de investigar os padrões e estruturas da
linguagem. Esta atividade extracurricular permite até mesmo quem nunca
estudou uma teoria linguística analisar um conjunto de dados de vários idiomas.
Assim, a Olimpíada de Linguística não é um roteiro de estudos (syllabus),
nem mesmo um treinamento técnico, mas é um programa para expansão de
horizontes, oferecendo aos estudantes a possibilidade de descobrir diferentes
sistemas cognitivos e visões de mundo de um jeito inovador. A Olimpíada de
Linguística é um projeto de metodologia científica utilizando a Linguística como
porta de entrada. O aluno aprende a construir hipóteses científicas enquanto
constrói uma gramática, enquanto desperta o espírito curioso que vai atrás
de evidências e pistas (PIRES DE OLIVEIRA; QUAREZEMIN, 2016). Portanto, o
objetivo é conduzir o aluno da educação básica a não ser um “consumidor de
teoria” ou um “aplicador de regras”, mas a depreender o funcionamento linguístico
sem a necessidade de uma teoria explícita sobre as línguas naturais. Assim, a
Olimpíada de Linguística se mostra um relevante instrumento para modificar
o ensino de línguas, tanto materna como adicional (estrangeira), uma vez que
altera a lógica de sala de aula de conceituação-aplicação para observação-
teorização, promovendo a reflexão de uma forma lúdica e o aprendizado de uma
forma natural, sem recorrer à memorização, mas fazendo uso do raciocínio na
resolução dos Problemas (DERZHANSKY; PAYNE, 2010).

274
Simpósio Proposto
Educação linguística na educação básica:
a ciência linguística na sala de aula

Educação linguística - a língua inventada como


meio de captar intuições linguísticas
Autoria: JANE EDER GIRARDI E ISAAC SOUZA DE MIRANDA JUNIOR

Dentro da proposta de “educação linguística" como desenvolvimento de uma


visão científica sobre a língua(gem) ainda na educação básica, este trabalho
tem como objetivo demonstrar algumas práticas desenvolvidas na sala de aula,
a fim de observar a língua como objeto científico. É patente o esforço que o
ensino de língua materna faz para levar o estudante a desenvolver determinadas
habilidades de leitura e escrita, muitas vezes ainda tendo de dar conta de
aspectos da metalinguagem baseada em conceitos que, por vezes, se mostram
equivocados, como é o caso do foco na Nomenclatura Gramatical Brasileira
(NGB). Por vezes, algumas práticas de ensino de metalinguagem esvaziam o rico
objeto “língua” e consequentemente perdem ao não aproveitar o conhecimento
prévio ou as intuições que podem provocar a compreensão do educando sobre
diversos fenômenos. A hipótese principal desta pesquisa é a de que, ao inventar
uma língua, o sujeito possa perceber a necessidade de recursividade e de
regras gramaticais (no sentido gerativo). A pesquisa teve o intuito de captar as
intuições linguísticas dos estudantes, já que todo falante é capaz de discernir
o que é mais apropriado para se usar na sua língua (CHOMSKY, 2006) e ao se
evitar as categorias descritivas tanto da NGB quanto da linguística, propunha-
se a construir a língua com os estudantes e no movimento de engenharia
reversa, desconstruir para encontrar a gramática sem foco em qualquer tipo
de nomenclatura preexistente. As oficinas de língua inventada realizadas
demonstraram um rico conjunto de dados sobre intuições que os estudantes
colaboradores (entre 11 e 13 anos) tinham sobre estruturas linguísticas, tais
como, morfologia verbal (a. benus = gostava / b. benur = gostariam; (2) a. buí
= ir / b. bu = foi); presença de sintagma adjetival (PA) em oposição à sintagma
preposicional (PP) construções como: i) pão manteiga versus ii) pão com
manteiga, o que leva a interpretações distintas na forma lógica do sintagma.
Para melhor validação dos dados, foram realizadas duas oficinas, a primeira com
um grupo controle, sem interferência no processo de criação das línguas pelos

275
Simpósio Proposto
Educação linguística na educação básica:
a ciência linguística na sala de aula

aplicadores, e a segunda com um grupo experimental, em que os aplicadores


guiaram o processo de criação. Assim, é observável que o workshop de língua
inventada pode ser uma forma eficiente de se motivar o estudante (cf. PIRES DE
OLIVEIRA; QUAREZEMIN, 2016) a observar a gramática internalizada, além de
reconhecer, compreender e explicitar alguns mecanismos existentes na língua.

Educação linguística na educação básica: a ciência


linguística na sala de aula
Autoria: DIRCEU CLEBER CONDE

O objetivo desta apresentação é problematizar a educação linguística tomando-a


como a “passagem” do saber científico sobre a linguagem (mormente produzido
na academia) para a educação básica. Obviamente não se trata de uma simples
“passagem” de linguagem acadêmica aos bancos escolares, mas sim de uma
complexa interação de saberes marcados por diferentes variáveis que tocam
a história de disciplinas escolares (SOARES, 2002), bem como conceitos
relacionados à divulgação científica (BUENO, 2010). O acesso à abordagem
científica da linguagem é um direito do cidadão e uma oportunidade de se
encontrar com o método científico (HONDA; O’NEIL, 2008) em uma área
historicamente marcada por falta de método. Enquanto direito, quais os caminhos
a serem trilhados em uma proposta? Seriam esses saberes contemplados em
documentos como o PCN e a BNCC? Há espaço no currículo para tal empreitada?
Por fim, e não menos importante, qual o papel do docente de língua (materna,
e por que não, estrangeira) nesse dever-poder? Tratar-se-ia de um “dever” do
docente conflitante com suas demandas mais imediatas no ensino? Estaria
a tarefa de educação linguística dentro do “poder” (possibilidade) de acordo
com a formação dos professores (conhecimento de parâmetros científicos
metodológicos aplicados na linguística)? Dentro das expectativas dos docentes
da educação básica, enxergar a língua como objeto de ciência em algum momento
dos conteúdos programáticos seria algo vislumbrável? Seriam as demandas mais
imediatas da sala de aula um impeditivo? Essas perguntas parecem tensionar o
tema de modo que certas rupturas parecem utópicas de um lado por conta das
urgentes necessidades pragmáticas, ao mesmo tempo em que uma abordagem

276
Simpósio Proposto
Educação linguística na educação básica:
a ciência linguística na sala de aula

metodologicamente satisfatória poderia auxiliar o estudante a entender sua


própria língua e auxiliá-lo a compreender o método científico. Referências:
BUENO, W. C. Comunicação cientifica e divulgação científica: aproximações
e rupturas conceituais. Informação & Informação, v. 15, n. supl, p. 1-12, 16 dez.
2010. HONDA, M.; O’NEIL, W. A. Thinking linguistically: a scientific approach to
language. Malden, MA; Oxford: Blackwell Pub, 2008. SOARES, M. Português na
escola: história de uma disciplina curricular. In: BAGNO, M.; RODRIGUES, A.
D. (ed.). Lingüística da norma. Humanística. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
p. 155-177.

Estrutura e interpretação de situações-problema:


uma análise pelo viés da semântica formal
Autoria: TAINARA AGOSTINI E YAN MASETTO NICOLAI

Este trabalho objetivou investigar a dificuldade de interpretação dos enunciados


de problemas matemáticos, considerando-se as relações semânticas
estabelecidas entre a linguagem natural dos enunciados e sua significação
na linguagem matemática. A escolha do objeto de estudo foi dividida em dois
momentos: o primeiro foi um contato com quatro alunos do 6º ano com a
finalidade de compreender como eles interpretavam e a relação que eles tinham
com sentido e referência, conforme os ideais de Frege (1982) em situações
tidas como mais simples; depois, a análise de seis situações-problema de três
livros de anos escolares diferentes (6º, 7º e 8º anos) sobre porcentagem. Dessa
forma, investigou-se quais são as dificuldades que ocasionalmente surgem
na interpretação dos enunciados, visto que a solução requer um pensamento
lógico-formal constitutivo da linguagem matemática. Buscou-se, também,
compreender e analisar os vários motivos e aspectos linguísticos e estruturais
os quais causam desafios que vão além da Matemática. Ademais, percebeu-
se que havia notável importância na construção e na formação dos comandos
dos enunciados, ora com orações interrogativas Groenendijk (2007), ora
com construções imperativas (HAN, 2000; PORTNER, 2004). Imperativos são
sentenças que promovem um engajamento do leitor, com o intuito de que ele
cumpra a ação disposta no enunciado (MASETTO, 2019). O uso de imperativos faz

277
Simpósio Proposto
Educação linguística na educação básica:
a ciência linguística na sala de aula

com que sua diretividade não permita contestações, o que causa uma frustração
ainda maior aos estudantes - o ponto de que ou se sabe resolver, ou não se
sabe, sem permitir as nuanças de demonstrações nas resoluções. Com isso,
trabalhou-se com alguns fenômenos linguísticos, como a sinonímia, a paráfrase
e o acarretamento lógico, também utilizados no processo interpretativo do
enunciado. A análise realizada baseou-se no questionário aplicado a alguns
alunos que se constatou, junto às construções imperativas, que a escolha
lexical se apresenta como uma problemática a ser enfrentada, dado que afeta
diretamente a compreensão e o processo interpretativo do aluno.

Por uma análise sintática “crítica” na educação básica


Autoria: AQUILES TESCARI NETO

As abordagens “críticas”, nos estudos linguísticos, seguem uma tradição iniciada


pela “Escola de Frankfurt” nos anos 30 do século passado, onde o termo “crítica”
“[...] é frequentemente usado para indicar para indicar uma postura reflexiva e
examinadora em relação aos fenômenos da vida.” (MEY, 2001, p. 315). Nos estudos
da linguagem, os primeiros trabalhos em “Linguística Crítica” foram feitos pelos
linguistas Roger Fowler, Jacob L. Mey, Norman Fairclough e suas respectivas
escolas, ainda nos anos 80. Na linha da “Escola de Frankfurt”, a Linguística
Crítica quer, com seus trabalhos, trazer contribuições concretas para a vida dos
usuários de língua natural bem como favorecer “[...] a melhoria das condições
de vida dos menos privilegiados da sociedade [...]” (RAJAGOPALAN, 2007,
p. 15), sendo uma teoria com fortes conotações sociais. O presente trabalho
tem por objetivo principal apresentar, dessa vez, uma abordagem “crítica” para a
análise sintática a ser desenvolvida na Educação Básica – sobretudo no Ensino
Médio –, a “Análise Sintática Crítica” (cf. TESCARI NETO, 2020; TESCARI NETO;
GARCIA MARTINS, 2020). Como no contexto das outras abordagens “críticas”
nos estudos linguísticos, o adjetivo aqui dado à proposta deve ser entendido
sobretudo pelo seu comprometimento em criar condições para que os alunos
da educação básica realmente se vejam como produtores e autores da análise
sintática. No plano metodológico, os ingredientes para a análise sintática –
caracterizada, no contexto escolar, sobretudo pela classificação dos constituintes

278
Simpósio Proposto
Educação linguística na educação básica:
a ciência linguística na sala de aula

consoante as funções sintáticas – levam em conta sobretudo julgamentos de


gramaticalidade – expediente metodológico típico da investigação gerativista
(CHOMSKY, 1986) – de frases em que coocorrem o constituinte cuja função
sintática se deseja classificar e um outro constituinte supostamente de mesma
classificação (sintática). Ofereceremos, na apresentação, um passo a passo –
teoricamente orientado – com sugestões sobre como proceder numa análise
sintática “crítica” que valoriza as atividades metalinguísticas, concebendo-as
como palco privilegiado para o exercício da argumentação.

279
Estilística em estudo: intersecções e diálogos
Autoria: ANA ELVIRA LUCIANO GEBARA

Nas três últimas décadas do século XX e na primeira do século XXI, intensificou-


se a discussão sobre a validade da Estilística principalmente entre os estudiosos
de língua inglesa. Nesse cenário, em abordagens linguísticas relacionadas
aos estudos literários, a Estilística avançou para a sala de aula dando suporte
para o estudo dos textos literários seja para os estudantes de L1 ou L2, em
sua denominação Pedagógica (HALL, 2014); buscou ainda novos caminhos
para a análise dos textos literários, trazendo uma abordagem multidisciplinar
envolvendo a cognição na compreensão dos processos envolvidos na leitura,
identificada como Estilística Cognitiva (HAMILTON, 2006); associou-se de
maneira mais estreita à Pragmática e à Linguística Textual, servindo-se dos
conceitos para qualificar as análises realizadas; apresentou-se em uma área
de estudos de gênero, a Estilística Feminista (MONTORO, 2014; MILLS, 1995);
apresentou ainda abordagens metodológicas quantitativas para poder ampliar
o apoio aos estudos com o uso, por exemplo, de ferramentas digitais. No Brasil,
movimentos semelhantes aconteceram, dentro dos estudos do discurso e das
teorias de gênero, focalizados na noção de estilo e da expressividade. As respostas
dadas pelos estudiosos do domínio literário reforçaram a interface entre os
estudos linguísticos e os culturais. Por outro lado, ligada a Bally, a estilística
linguística ou descritiva permaneceu nos aspectos afetivos da língua, uma
escolha dentro de um sistema expressivo (HENRIQUES, 2011). Em diálogo com
essas linhas já tradicionais desde o século XX em nosso ambiente acadêmico,
em virtude dos estudos do discurso, a estilística também se deslocou para novas
vizinhanças. Foram formuladas aproximações com a Semiótica – a estilística
discursiva (DISCINI, 2015); e, contemporaneamente, aproximações com a
Linguística Textual e Argumentação, recuperando o percurso das questões da
expressividade desde a Retórica (MICHELETTI, 2014), a estilística discursivo-
textual. Diante desse quadro de recuperação do espaço da Estilística, este
simpósio propõe a apresentação de trabalhos em que se discutem a aplicação
desses posicionamentos, principalmente, mas não somente, os da estilística
discursivo-textual, por meio de análises de textos literários e de outros domínios,
no espaço escolar e acadêmico, dos estudos literários.

280
Simpósio Proposto
Estilística em estudo: intersecções e diálogos

As falas fora do lugar e fora de si em poemas de


Francisco Alvim
Autoria: HELBA CARVALHO

Esta comunicação oral tem por objetivo analisar alguns poemas do livro Elefante
(2000), de Francisco Alvim, a partir da teoria da literatura e da estilística discursiva.
Nas frases-poemas de Alvim, o que se observa é um sujeito que está fora de si
(COLLOT, 2004), como já observou Hugo Friedrich (1978) sobre a lírica moderna
de Rimbaud e Ponge. Os poemas estão fora de qualquer mitologia pessoal, mas
se ancoram em fragmentos reais, concretos, aparentemente lógicos do mundo
exterior, que permitem ao sujeito lírico “realizar-se como um outro” (COLLOT,
2004). Diferente dos poetas franceses, Alvim insere frases que fazem parte do
repertório cotidiano, de domínio comum, da linguagem coloquial, promovendo
não só o desaparecimento da marca pessoal do sujeito lírico, mas fica a difícil
tarefa de identificar quem seria o dono da voz, por exemplo, da frase “Soca ela”.
O imperativo dá ordem a quem? Ao sujeito lírico? A um “tu”? A “ele”? Quem
é “ela”? Há várias possibilidades de o sujeito se realizar para fora de si diante
dessa pluralidade de vozes, que só essa frase apresenta, conforme observou
Roberto Schwarz (2002). A forma elíptica com que os brevíssimos poemas-
frases se apresentam são incertezas quanto ao ponto de vista, é de fulano ou
de beltrano?, e sua unidade básica não são versos nem palavras, mas falas
tomadas de um país-problema (SCHWARZ, 2002). Para a análise mais cuidadosa
dos poemas-frases, pode-se aliar à teoria da literatura a estilística discursiva
(DISCINI, 2009; POSSENTI, 2008) e a análise do discurso (MAINGUENEUAU,
1984), a fim de buscar os efeitos de sentido na materialidade linguística presente
nos minimalismos das frases elípticas, na precariedade da gramática, nas ironias
presentes (ORLANDI, 1983; BRAIT, 1986; FIORIN, 2015), nos desvios próprios de
um estilo que capta o estado histórico das nossas contradições sociais, das
relações de troca de favores provenientes de uma sociedade escravocrata e
patriarcal, com os seus agregados, com o seu mandonismo, suas irregularidades.
A pluralidade pessoal de que fala Schwarz (2002) “salta aos olhos” nos poemas-
frases de Francisco Alvim ao incorporar falas que estão “fora do lugar” da poesia

281
Simpósio Proposto
Estilística em estudo: intersecções e diálogos

lírica, estão fora de si e não permitem identificar quem fala, pois pode muito
bem expressar o estado de oscilação dialética da malandragem (CANDIDO,
1993), entre a ordem e a desordem, mas que pode ser subvertido na desordem
e nos imperativos que ela traz, como em “Soca ela”.

Criações lexicais de Augusto de Campos: uma


abordagem estilístico-discursiva
Autoria: ALESSANDRA FERREIRA IGNEZ

Palavras não são criadas apenas com propósitos denominativos; muitas


resultam de uma necessidade expressiva. Guilbert (1975), considerando,
assim, as motivações que levam à produção de neologismos, divide a neologia
em dois grupos: denominativa e estilística. No primeiro caso, prevalece uma
preocupação comunicativa; no segundo, evidencia-se, sobretudo, um desejo
expressivo, a busca de um modo de dizer inédito que seja capaz de afetar o
interlocutor. A nova unidade lexical, neste caso, singulariza uma forma de ver o
mundo, traduzindo, de maneira original, um recorte subjetivo da realidade. Os
neologismos denominativos, normalmente, têm mais chances de se radicarem
no léxico, pois muitos apresentam alta frequência de uso; já os estilísticos são
considerados neologismos de discurso, pois, geralmente, ficam presos a uma
determinada obra, a um determinado autor ou falante e não são atualizados pela
comunidade linguística. Estes são expressivos; com eles, o usuário da língua
pode obter efeitos poéticos, irônicos, jocosos. Muitos escritores lançam mão
de criações, a fim de que seus textos sejam mais expressivos; alguns deles,
inclusive, fazem um uso tão vasto desse recurso, que passa a ser uma marca
estilística de suas obras. No Brasil, os concretistas são conhecidos pelas suas
“brincadeiras” linguísticas, e é possível afirmar que uma das mais recorrentes
é a formação de palavras. O trio formado por Haroldo de Campos, Augusto
de Campos e Décio Pignatari possui obras repletas de criações. São vários os
empregos de neologismos semânticos e formais que fazem. Neste trabalho,
propomos analisar algumas criações lexicais de Augusto de Campos, sob a luz
dos estudos lexicais, estilísticos e discursivos, tendo em vista que nos permitem
analisar as lexias considerando tanto os processos utilizados para sua criação

282
Simpósio Proposto
Estilística em estudo: intersecções e diálogos

quanto os efeitos de sentido e a expressividade que adquirem dentro de um


contexto específico. Focaremos os processos formais, trazendo exemplos de
cruzamentos vocabulares, composições e derivações.

Por uma estilística discursivo-textual


Autoria: GUARACIABA MICHELETTI

Para focalizar uma Estilística discursivo textual, faz-se necessário um pequeno


histórico, uma espécie de rastro-atrás, sobre como tem sido visto o estudo
estilístico através dos tempos. Suas raízes encontram-se na Antiguidade
Clássica, mas, é ao longo do século XX, que seus limites têm sido postos em
questão e ampliados. No início do século XX, surgiram duas importantes
correntes: a estilística da língua, de Charles Bally (1865-1947), e a estilística
literária, de Leo Spitzer (1887-1960) (MARTINS, 2008) e, desde então, a palavra
estilística tem adquirido muitos outros adjetivos que buscam demarcar seu
território e seus limites (HENRIQUES, 2011). A partir da segunda metade do
século, desenvolveram-se, no âmbito dos estudos da linguagem, estudos que
colocaram no centro de suas pesquisas o texto e o discurso. Nosso objetivo,
neste simpósio, é focalizar como esse desenvolvimento influenciou um novo
olhar para os estudos estilísticos e verificar como, na prática, isso pode ser
observado. Entre os aspectos a serem observados, está, ainda que não de modo
absoluto, uma tendência a desterrar a duplicidade estilística literária e estilística
da língua. Na mesma esteira, tem-se posto de lado a ideia de que os estudos
estilísticos tem seu olhar voltado apenas para textos literários. Todo e qualquer
texto se apresenta com um determinado estilo. Outro aspecto que, ainda, deixou
seus resquícios, é uma certa confusão como se um estudo estilístico de um
texto fosse tão somente o estudo de suas figuras (objeto da Semântica), ou
ainda, do elenco de figuras nele encontráveis. Procedendo a um salto, neste
resumo, no final do século XX e nessas duas décadas do XXI, ainda que haja uma
tendência à verticalização nas várias disciplinas dos estudos da linguagem, nota-
se, nos estudos estilísticos, uma salutar tendência a um diálogo entre diferentes
disciplinas, o que permite a caracterização desde um estilo individual a um
estilo de época, passando pelo estilo de, também diversos, gêneros textuais.

283
Simpósio Proposto
Estilística em estudo: intersecções e diálogos

Assim, para fazer uma análise mais abrangente ou um comentário estilístico,


recorremos à Gramática, à Semântica, à Pragmática, às Teorias da Enunciação
e, nos valemos, especialmente de recursos próprios da Linguística Textual e da
Análise do Discurso, tout court (DISCINI, 2014). Não ignoramos as várias ADs que
têm se desenvolvido ao longo das últimas 3 ou 4 décadas, mas essas distinções
não nos parecem pertinentes para nossa abordagem. Afinal, como conceituar
uma estilística discursivo-textual (MICHELETTI, 2014)? É o que buscaremos
responder em nossa apresentação.

Sequência textual e autoridade lírica em poemas


de Bandeira e Vinicius
Autoria: ANA ELVIRA LUCIANO GEBARA E MAGALÍ ELISABETE SPARANO

Colocando em diálogo a divisão tradicional da Estilística da língua, de caráter


descritivo voltada para os usos expressivos, e Estilística literária, que elege
os textos desse domínio para análise, os estudos da Estilística Discursiva
estabelecem novas intersecções com disciplinas afins para poder analisar
os textos de diferentes domínios incorporando categorias e instrumentos de
análise (HENRIQUES, 2011; DISCINI, 2015). Em nossos estudos discursivos-
textuais (MICHELETTI, 2014), partimos da dimensão estilística compreendida
como dimensão presente em todas as interações linguísticas, resultante das
escolhas dos falantes de acordo com as coerções e possibilidades oferecidas
pelos gêneros e pela língua –, e da intenção estilística – presente nos gêneros
e nas interações em que a expressividade é requerida como nos textos
publicitários ou poéticos. Tendo a intenção estilística como ponto de partida,
para esta apresentação, o objeto de estudo é o papel da sequência textual em
dois poemas de Manuel Bandeira: “Porquinho da Índia” e “Versos de Natal”
(BANDEIRA, 1991), e dois poemas de Vinicius de Moraes: “Poema de Natal” e
“Vida e Poesia” (MORAES, 1986). A escolha do objeto decorre da observação na
obra de Bandeira e de Vinicius do uso de sequências textuais como mecanismo
de constituição da autoridade lírica. Os poemas podem ser estruturados, como
ocorre em qualquer texto, por meio de sequências textuais, definidas por Adam
(2011, p. 205) como uma “rede relacional hierárquica: uma grandeza analisável

284
Simpósio Proposto
Estilística em estudo: intersecções e diálogos

em partes ligadas entre si e ligadas ao todo que elas constituem”, que mantém
“relação de dependência-independência com o conjunto mais amplo do qual
faz parte (o texto)”. A presença dessas sequências intensifica a orientação
argumentativa do texto conforme indicam Marquesi, Elias e Cabral (2017).
Nos poemas escolhidos, corpus desta apresentação, essas estruturas estão a
serviço da autoridade lírica, isto é, a imagem de potência que os enunciadores
estabelecem sobre si mesmos a respeito de sua identidade e relação com o
mundo, projetada para os leitores.

Translation matters - comparando obras literárias


escritas em português a suas traduções em língua
inglesa – uma experiência estilístico-funcional
Autoria: SANDRA REGINA FONSECA MOREIRA

O trabalho aqui descrito é o resultado de uma experiência docente realizada


com alunos do 3º e 4º semestres do curso de Letras no segundo semestre
de 2020. A motivação para a proposta foi incentivar os alunos a explorarem
e analisarem traduções em língua inglesa para os textos literários em língua
portuguesa que estavam estudando durante o mesmo período. Desse modo, o
objetivo inicial da atividade foi o de levá-los a observar as variações estilísticas
e de sentido, tanto nas obras originais como em suas traduções, considerando
os seguintes aspectos: (a) gênero textual; (b) escolhas lexicais; (c) tempos
verbais; (d) organização sintática. O desenvolvimento do trabalho, contudo,
possibilitou outras reflexões para os alunos, o que agregou muito mais valor
à proposta inicialmente feita, levando-os a refletirem criticamente sobre a
posição e inserção da literatura de língua portuguesa em países anglófonos,
bem como fornecendo-lhes ferramentas para uma análise comparativa que
parte dos aspectos formais do idioma para corroborar os efeitos de sentido
observados. Para tanto, o trabalho desenvolvido utilizou referenciais teóricos
advindos inicialmente dos estudos funcionais, tanto em língua portuguesa,
quanto em língua inglesa, pela relação que esses estabelecem entre a forma, as
funções e os usos linguísticos, assim como descrito e proposto por Neves (2018),

285
Simpósio Proposto
Estilística em estudo: intersecções e diálogos

Cunha et al. (2015), Leal (2005), Hart (2014) e Yule (1998). E para fundamentar
as análises comparativas, de forma que essas pudessem extrapolar os limites
linguísticos, alcançando o universo das influências sócio-histórico-culturais,
tanto nas obras originais, quanto em suas traduções, foram ferramentas
necessárias as fornecidas pela Tradução Pedagógica, seguindo os princípios
descritos por Nord (2016), Sandes e Pereira (2017), Laiño (2014), Corrêa (2017,
2014) e Pintado (2018). Certamente, os resultados alcançados, ainda que restritos
a apenas um semestre acadêmico, são significativos, podendo desdobrar-se em
outras estratégias que integrem os estudos linguísticos, funcionais, estilísticos,
literários e tradutológicos, oportunizando atividades motivadoras, estimulantes
e que possibilitem a aproximação de áreas distintas e a articulação teórico-
prática.

286
Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19
Autoria: IEDA MARIA ALVES

O simpósio intitulado “Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19” tem o


objetivo de reunir trabalhos de pesquisadores que participam do mencionado
estudo, em elaboração, sob a coordenação de Ieda Maria Alves (FFLCH-USP) e em
desenvolvimento junto ao IEA (Instituto de Estudos Avançados da Universidade
de São Paulo). Os trabalhos a serem apresentados abordam várias perspectivas
relativas ao estudo e à divulgação da terminologia da COVID-19. Ieda Maria Alves
abordará, no trabalho denominado “A divulgação da terminologia da COVID-19
para diferentes públicos”, as principais características do estudo: dirigido a
falantes com diferentes graus de escolarização; escrito em linguagem não
técnica, de modo a ser compreendido por um grande número de falantes; a ser
apresentado sob forma de glossário em uma plataforma on-line. Beatriz F. Curti-
Contessoto e Lucimara Conceição Alves da Costa, em “Glossário da COVID-19:
compilação do corpus e levantamento dos termos”, descrevem a metodologia
empregada na realização do trabalho, com ênfase na constituição dos dois
corpora representativos do estudo (ferramenta BootCat), no levantamento dos
candidatos a termos (programa AntConc) e na validação desses candidatos
à luz de pressupostos da Terminologia. Em “Estudo das relações semânticas
observadas em um corpus relativo à COVID-19”, Márcia de Souza Luz-Freitas
estuda as relações semânticas evidenciadas pela construção de um mapa
conceitual da terminologia abordada, constituído com base no corpus do Projeto.
Elenice Alves da Costa, em “As metáforas da guerra da terminologia de COVID-19
projetadas em campos semânticos da Medicina e da Economia”, analisa o
emprego de frames de guerra na terminologia relativa à pandemia enfocada.
No estudo intitulado “Terminologia da COVID-19 e os memes digitais: humor e
neologia”, Ana Maria Ribeiro de Jesus analisa a ocorrência de termos do corpus
analisado em memes da internet, tanto na forma como foram coletados como
também em construções neológicas. Com estes estudos, o Simpósio pretende
abordar diferentes aspectos que caracterizam a terminologia da COVID-19
no português brasileiro, assim como contribuir para que seja divulgada para
diferentes públicos.

287
Simpósio Proposto
Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19

A divulgação da terminologia da COVID-19 para


diferentes públicos
Autoria: IEDA MARIA ALVES

Esta exposição objetiva apresentar as principais características do Projeto


“Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19”, que, ainda em fase de
elaboração, está sendo desenvolvido junto ao IEA (Instituto de Estudos Avançados
da Universidade de São Paulo). O Projeto visa à detecção, estudo e divulgação da
terminologia do coronavírus, um vírus da família dos coronavirídeos, suscetível
de causar infecções graves em seres humanos e em animais, conhecido também
pelas formas SARS-CoV-2 e novo coronavírus. A enfermidade causada por esse
vírus é conhecida pelas formas acronímicas COVID-19 ou covid-19, oriundas
do inglês coronavirus disease (mal do ‘coronavírus’) + (20)19, ano em que o
surto foi relatado à OMS, a Organização Mundial da Saúde (HOUAISS, 2012).
O corpus de estudo, que abrange documentos publicados em 2020 e 2021,
compreende dois tipos de materiais: comunicados divulgados por organismos
oficiais (Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde, Instituto Butantã,
Fiocruz, FAPESP) e matérias de jornais de grande circulação (Folha de S. Paulo,
O Globo, O Estado de S. Paulo). Desse corpus foram extraídos, por meio de
ferramentas computacionais, os termos que farão parte do Glossário. Os
termos selecionados estão sendo definidos de acordo com os objetivos do
Projeto, ou seja, as definições são elaboradas em uma linguagem que possa
ser compreendida por um público amplo, não especializado na área médica.
Nessa perspectiva, são seguidos princípios apresentados em estudos realizados
com esse objetivo, a exemplo dos trabalhos de Tcacenco, Silva e Finatto (2018),
sobre acessibilidade textual e terminológica, e de Carvalho e Rebecchi (2021),
sobre inteligibilidade. Como é usual nos trabalhos terminológicos a integração
entre terminólogos e especialistas da área estudada, o Projeto está sendo
assessorado por profissionais da Medicina, docentes da FM-USP. A divulgação
do Glossário será efetuada de forma on-line e gratuita, em uma plataforma a
ser disponibilizada no site do CITRAT (Centro Interdepartamental de Tradução
e Terminologia - FFLCH-USP). Referências: CARVALHO, Y. S.; REBECCHI, R.

288
Simpósio Proposto
Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19

Inteligibilidade e convencionalidade em textos de divulgação da área médica em


português brasileiro. Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. Grande Dicionário Houaiss. 2012, on-line. TCACENCO,
L. M.; SILVA, B. R. da; FINATTO, M. J. B. Acessibilidade textual e terminológica:
conquistas recentes, pesquisas em andamento e novas perspectivas. GTLex,
v. 3, n. 2, p. 197-224, 2018.

As metáforas da guerra da terminologia de


Covid-19 projetadas em campos semânticos da
Medicina e da Economia
Autoria: ELENICE ALVES DA COSTA

Este trabalho tem por finalidade discutir como as metáforas da Covid-19 são
mapeadas na terminologia da pandemia de Covid-19 em frames da guerra, visto
que as projeções das metáforas bélicas da Medicina e da Economia com a
pandemia do novo coronavírus têm se intensificado devido ao fato de uma
forte crise econômica ter se instalado neste cenário pandêmico. As metáforas
sistemáticas, em tempos de Covid-19, relativas a esse mapeamento semântico
belicista são propiciadoras de um engajamento do conceito da guerra na
Medicina e também na Economia. A guerra trata-se de um domínio popular
nas narrativas em que há disputas de significação, mesmo que estejamos nos
referindo aqui a áreas do conhecimento especializado, tais como, a Economia
e a Medicina. A vulgarização das metáforas bélicas ocorre devido ao fato de o
domínio da doença em nossa cultura ser compreendido como guerra. Por isso,
fala-se em “combate ao novo coronavírus”. Nesse campo semântico, parece haver
disputas na narrativa do frame da guerra, inclusive de uma guerra medieval,
revelando um aspecto didático dessa discursividade quando infectologistas
usam metáforas bélicas, tais como, “luta”, “combate ao vírus”, ao compararem
nosso sistema imunológico com um exército de soldados protetores. As
metáforas sistemáticas, em tempos da Covid-19, relativas a esse mapeamento
semântico belicista são propiciadoras de um engajamento do conceito da
guerra na Medicina e também na Economia. O belicismo trata-se, portanto,

289
Simpósio Proposto
Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19

de um domínio popular nas narrativas em que há disputas de significação. O


referencial teórico adotado para este estudo concerne quase em sua totalidade
à obra Metaphors We Live By, de George Lakoff e Mark Johnson (2002 [1980]),
uma vez que ela é base para a compreensão de modelos cognitivos idealizados,
responsáveis por gerarem nossas estruturas de organização do conhecimento
humano. Por meio desse recorte teórico da Linguística e/ou Semântica Cognitiva,
mais especificamente da Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), verificamos
também uma forte personificação dos termos belicistas do SARS-CoV-2 a fim
de que possamos compreender melhor esse tipo de experiência.

Estudo das relações semânticas observadas em


um corpus relativo à Covid-19
Autoria: MÁRCIA DE SOUZA LUZ FREITAS

O trabalho proposto resulta da análise terminológica de um corpus formado por


textos relativos à Covid-19, que reúne publicações de instituições oficiais e de
organizações midiáticas. Uma vez que se trata de temática recente – a pandemia
– e, em decorrência, um domínio emergente, uma série de questões linguísticas
tem sido colocada aos pesquisadores. Neste trabalho, mais precisamente,
interessaram-nos as relações semânticas evidenciadas a partir da construção
de um mapa conceitual do domínio estudado. Consideramos o pressuposto
de que, ainda que o conjunto terminológico de um domínio de especialidade
possibilite categorizar o real por meio da atribuição de sentidos aceitos pelos
seus diferentes usuários, os termos desse conjunto são portadores das tensões
existentes entre os enunciadores. Nossos objetivos são investigar as relações
semânticas observáveis no mapeamento conceitual e interpretar as possíveis
tensões para as quais seus contextos apontam. Para isso, o estudo é teoricamente
fundamentado na Teoria Comunicativa da Terminologia, em que buscamos como
suporte o princípio de valorização dos aspectos comunicativos das linguagens
especializadas, e na Semântica de Contextos e Cenários, que alicerça o exame
de aspectos pragmático-textuais. Os textos, publicados entre 2020 e 2021,
foram coletados por meio do software BootCat, etiquetados e organizados
para processamento. O processamento textual foi realizado com utilização

290
Simpósio Proposto
Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19

do software AntConc. A partir das listas de termos e de concordâncias, foi


selecionado um subconjunto de termos com base no mapa conceitual. A análise
envolveu o reconhecimento das estruturas gramaticais e a identificação dos
seus efeitos de sentido, bem como a possibilidade de ocorrência do fenômeno
da variação decorrente de características enunciativas, discursivas e textuais
das publicações coletadas. Desse modo, além das relações de equivalência,
hierarquia, inclusão e oposição, descrevemos as relações linguísticas e
extralinguísticas que contribuem para a atribuição de sentidos às unidades
lexicais. As tensões registradas com base na análise dos contextos reforçam
as instabilidades discursiva, conceitual e terminológica típicas de um domínio
emergente.

Glossário da Covid-19: compilação do corpus e


levantamento dos termos
Autoria: LUCIMARA ALVES DA CONCEIÇÃO COSTA
E BEATRIZ CURTI-CONTESSOTO

A divulgação de recomendações médicas em qualquer língua é feita, oficialmente,


por meio de textos, os quais apresentam traços que lhes são característicos
do ponto de vista sintático, semântico, pragmático e, principalmente, lexical,
já que é por meio da utilização de uma terminologia própria que esse tipo de
texto veicula os conhecimentos especializados do domínio médico. Assim,
estudar o léxico relacionado à Covid-19 com intuito de elaborar um glossário
é fundamental, na medida em que os resultados dessa investigação podem
auxiliar nesse processo de divulgação, tornando o conhecimento sobre esse
léxico mais acessível para um público não especialista. O ponto de partida
da pesquisa se deu sobre dois corpora, a saber: um corpus composto de 993
textos sobre o coronavírus publicados em veículos oficiais e disponibilizados
nos sites da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde
do Brasil, das Secretarias de Saúde dos estados brasileiros, da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e
também no site da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP); e outro corpus constituído de 478 textos jornalísticos compilados a

291
Simpósio Proposto
Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19

partir dos sites da Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo. Para
realizar o levantamento dessas unidades lexicais, recorreremos ao programa
AntConc (ANTHONY, 2012). Nesse software, foram observadas as unidades
lexicais presentes no corpus, organizadas em diferentes tipos de listas. Para a
seleção dos candidatos a termos, será realizado o seguinte percurso de coleta:
primeiramente, será observada a frequência das unidades lexicais encontradas
no corpus com o auxílio da ferramenta Word List; em seguida, serão buscadas
as concordâncias de cada unidade selecionada na primeira etapa, a fim de se
verificar suas coocorrências e encontrar, assim, possíveis termos sintagmáticos.
Com base nesses achados, foi selecionada uma lista final de candidatos a termos
para validação. A validação desses candidatos a termos foi realizada à luz dos
pressupostos teóricos da Terminologia, que propõem que sejam observados,
principalmente: se estes termos denominam conceitos específicos do domínio
em pauta; se há dependência semântica entre os elementos de um possível
termo sintagmático; se essas unidades se encontram definidas nos textos do
corpus e se são bastante frequentes, dentre outros (cf. CABRÉ, 1993; BARROS,
2007). Nesse processo de validação, também foram consultados especialistas
da área médica.

Terminologia da COVID-19 e os memes digitais:


humor e neologia
Autoria: ANA MARIA RIBEIRO DE JESUS

O objetivo da presente proposta é analisar, em memes da internet, a ocorrência


dos principais termos que foram coletados no corpus do projeto “Estudo e
divulgação da terminologia da COVID-19”. O quadro teórico do presente trabalho
segue, principalmente, as perspectivas de Alves (1994), Blackmore (2015), Cabré
(2016), Humbley (2015) e Sablayrolles (2000). Os textos que compuseram o corpus
do referido projeto foram coletados em materiais digitais, disponibilizados em
português brasileiro, em fontes oficiais internacionais e brasileiras, dentre elas,
a Organização Mundial da Saúde, o Instituto Butantã, o Fundação Oswaldo
Cruz e o Ministério da Saúde. O projeto considera que, embora a literatura
sobre a pandemia seja crescente e disponibilizada em vários veículos, pouco

292
Simpósio Proposto
Estudo e divulgação da terminologia da COVID-19

se menciona sobre um fator importante nas relações entre médico e paciente e


nas transmissões de boletins oficiais ao público, que se refere à necessidade de
clareza de aspectos terminológicos, a exemplo das diferenças entre 'isolamento
social' e 'distanciamento social', 'confinamento' e 'quarentena'. Para o presente
trabalho, observamos que, apesar de fazerem parte de um domínio especializado,
esses mesmos termos estão presentes, de forma considerável, em memes
da internet, os quais constituem um fenômeno que traduz, cada vez mais, os
traços da sociedade digital contemporânea, manifestados por meio de imagens,
conceitos e/ou expressões que abarcam as concepções em voga no mundo
em rede. Por isso, no último ano, incontáveis memes apresentaram os termos
supracitados, além, evidentemente, dos termos 'covid', 'coronavírus', 'pandemia'
e 'lockdown', dentre vários outros. No ambiente virtual, os memes tendem a
ser muito democráticos, porque podem ser criados por qualquer usuário da
internet munido de um aplicativo ou de qualquer editor de imagens, e que tenha
acesso a uma rede para compartilhamento. Nesse sentido, os memes incitam a
intuição neológica dos falantes: a própria natureza humorística e sagaz desses
elementos faz com que sejam fontes notáveis de manifestação da neologia. Por
isso, observamos que, além de apresentarem os termos que são diariamente
registrados em fontes oficiais de informação sobre a pandemia, inúmeros memes
apresentam construções neológicas, na grande maioria das vezes jocosas, a
partir desses termos, como 'bolsonavírus', 'carentena', 'confinastê', 'covidiota',
'pandelivery' e 'quarentreino', dentre várias outras.

293
Estudo e ensino de língua portuguesa por meio
do entendimento da língua como um sistema
adaptativo complexo
Autoria: BEATRIZ QUIRINO ARRUDA DONÁ

Desde a proposta de Bybee (2010), de que as línguas humanas são sistemas


adaptativos complexos, vêm sendo realizados estudos a respeito de como
trabalhar o entendimento de uma língua a partir desse princípio, e também o
seu ensino. O ponto de partida é entender a língua como um sistema complexo,
que, segundo Abreu (2020), se relaciona de maneira aberta e não linear ao
contexto em que está inserido, levando em consideração seus agentes e a sua
capacidade autoadaptativa para que se estabeleça comunicação. Essa ideia
permite-nos olhar para o ensino de gramática e de texto de uma forma radial
(isto é, como um sistema que cresce em torno de um processo de construção
de sentido a partir de expedientes relacionados a um mesmo eixo); e não de
forma vertical como nos é apresentada a gramática ou a estrutura formal de
um texto. Dessa forma, consideramos, por exemplo, conteúdos que seriam
estudados em momentos diferentes e de forma isolada como partes integrantes
de um processo comunicativo e que, portanto, por estarem relacionados,
deveriam ser estudados em um mesmo momento de aula. Este simpósio tem
o objetivo de mostrar algumas ações práticas nesse sentido, abrangendo três
níveis de análise: o léxico, a gramática e o texto, em sua dimensão multimodal.
A partir de três atratores básicos da linguagem humana, sociabilidade, clareza
e iconicidade, as comunicações deste simpósio propõem mostrar o ganho que
se pode conseguir na descrição do léxico, no ensino da gramática e no ensino
de produção de textos ( tanto no ensino médio, considerando as redações
solicitadas em exames de vestibulares, quanto no superior, considerando a
produção do texto científico.). Essa dinâmica permite-nos ensinar gramática
e texto (seja no ensino médio ou superior) em seu contexto pragmático cujas
bases se encontram na Linguística Cognitiva e no Funcionalismo Linguístico e
cujos resultados se revelam em falantes que dominem a língua, o funcionamento
de suas normas e seu uso, bem como no desempenho na comunicação escrita.

294
Simpósio Proposto
Estudo e ensino de língua portuguesa por meio do entendimento
da língua como um sistema adaptativo complexo

A linguagem do texto científico: uma proposta de


legibilidade e design
Autoria: MARIA DOROTHEA CHAGAS CORREA

A maior mudança que se deu na história da humanidade e, sem dúvida, a mais


importante foi a aparição da escrita. É na modalidade escrita da língua que uma
comunidade guarda sua cultura, suas memórias, sua linguagem. Escrever um
texto nem sempre é uma tarefa fácil. Os textos são indutores do pensamento e a
boa escrita é capaz de prender o leitor entre um parágrafo e outro e, também, de
usar a língua para atingir maior clareza. Há uma longa tradição nas universidades
brasileiras de que produzir textos científicos é escrever períodos imensos e
cansativos, usando palavras eruditas e excesso de terminologia. A linguagem
fornece uma gama de ferramentas que permite aos escritores de textos
científicos, àqueles que estão ainda aprendendo uma ciência, como alunos de
graduação e de pós-graduação, simplificar e enriquecer seus textos, a fim de
melhorar a compreensão e até mesmo seduzir seus leitores. Esta pesquisa é
fruto de uma série de vivências com a escrita de textos acadêmicos produzidos
por universitários. A maioria deles é hermética e oferece alto grau de dificuldade
de leitura por erros gramaticais, falta de clareza, uso excessivo de jargão e estilo
empolado. O objetivo deste estudo foi examinar textos acadêmicos, na área de
saúde, mais especificamente na área da Odontologia, procurando identificar
tudo o que pesa negativamente para o leitor, em termos de clareza e motivação,
e propor mudanças, aplicando conceitos da moderna linguística cognitiva e da
neurociência, como o uso de imagens e de recursos multimodais. A amostragem
dos textos coletados foi analisada, pondo foco nos fatores que limitam seu
potencial comunicativo. A seguir foi elaborado um material capaz de levar à
superação desses problemas e propor algumas diretrizes à escrita acadêmica.
Um dos recursos foi aquilo que Thomas e Turner (2011) chamam de “classic joint
attention”. Foram também trabalhadas imagens, porque “Quando as pessoas
leem frases, elas constroem visualmente simulações detalhadas dos objetos
que são mencionados” - diz Bergen (2012, p. 54). Referências BERGEN, Benjamin
K. Louder than words: the new science of how the mind makes meaning. New

295
Simpósio Proposto
Estudo e ensino de língua portuguesa por meio do entendimento
da língua como um sistema adaptativo complexo

York: Basic Books, 2012. FRANCIS-NOËL, Thomas; TURNER, Mark. Clear and simple
as the truth: writing classic prose, Princeton: Princeton University Press, 2011.

A multimodalidade aproxima, envolve, convence,


ensina? O uso de atratores linguísticos para
difusão do conhecimento nos Ted Talks
Autoria: FABIANA GIMENES MORAES E ROSANA FERRARETO LOURENÇO
RODRIGUES

Sistema complexo, inerente ao ser humano, a linguagem é, das habilidades


cognitivas, a mais importante. É ela quem garante sobrevivência à espécie,
dado que permite à humanidade convivência e, nesse sentido, evolução. Imersa
em uma história e em uma cultura, a linguagem carrega marcas, chamadas
atratores: de sociabilidade – recursos modais e multimodais como expressões
corporais, faciais e sonoras; de sentido, clareza e economia – recursos de
abreviação e ressignificação –; de iconicidade – recursos como esquemas de
imagens de percurso ou container (ABREU, 2021). Nesse sentido, os atratores
são ferramentas importantes na Educação para a Ciência, entendida aqui como
educação para a formação de cientistas no que tange à pesquisa, à comunicação
e à disseminação científicas. O trabalho proposto quer evidenciar a presença
de tais atratores linguísticos a partir da análise de um TED Talk, gênero textual
híbrido utilizado como forma de difundir ideias a plateias globais (ANDERSON,
2016). A escolha dos TED talks é devida às suas características: vídeo-palestras
curtas com duração de até 18 minutos, com contextualização, confiabilidade,
especificidade e inovação, que buscam seduzir, informar e motivar. Enquanto
regra, os TED Talks compartilham ideias que mereçam ser difundidas, disseminam
conhecimento. Nesse sentido, questiona-se se sua maneira de construção não
poderia ser útil como apoio ao ensino da Educação Científica, com ênfase na
Comunicação e na Difusão da Ciência. Interessa-nos descrever e identificar como
os oradores usam recursos multimodais, esquemas imagéticos e metáforas à luz
da Linguística Cognitiva, e futuramente, como isso poderia ser aplicado junto à
divulgação do conteúdo acadêmico, ou projetado na educação científica. Como
expedientes teóricos e metodológicos, fundamentamos este estudo em Turner

296
Simpósio Proposto
Estudo e ensino de língua portuguesa por meio do entendimento
da língua como um sistema adaptativo complexo

(2008, 2010), Abreu (2021, 2020, 2013, 2007) e Rodrigues (2019), e utilizamos bases
de dados lexicais (FrameNet; MetaNet) e um software de transcrição de dados
audiovisuais (Elan) para a descrição das construções linguísticas. Esperamos
evidenciar como a multimodalidade atrai, aproxima, envolve, convence e pode
apoiar a educação científica.

Ensino de gramática e sistemas complexos: uma


abordagem didático-pedagógica
Autoria: BEATRIZ QUIRINO ARRUDA DONÁ E ALINE PEREIRA DE SOUZA

Este trabalho é parte de um projeto maior que compreende uma seleção de


aulas de gramática direcionadas a alunos do ensino médio. A angústia, o medo
e a aversão às aulas de gramática, que comumente se percebe no ambiente
escolar, associados ao baixo desempenho dos alunos nas provas de língua
portuguesa são resultados de uma prática de ensinar, conforme nos aponta
Abreu (2021), muitas vezes, pautadas na classificação e na taxonomia dos
expedientes gramaticais segundo o manual de regras, e/ou na prática de se
tomar o texto como pretexto. A hipótese de que essa prática tenha sua origem
na concepção de ensino de regra e não de funcionamento do discurso, assim
como nos diz Neves (2006), traduz muito bem esses resultados e projeta-nos
para um novo modelo de ensino. O ponto de partida para esta análise é entender
a língua como um sistema complexo, que, segundo Abreu (2020), se relaciona
de maneira aberta e não linear, ao contexto em que está inserido, levando
em consideração seus agentes e a sua capacidade autoadaptativa para que
se estabeleça comunicação. Essa ideia permite-nos olhar para o ensino de
gramática de uma forma radial (isto é, como um sistema que cresce em torno
de um processo de construção de sentido a partir de expedientes relacionados
a um mesmo eixo); e não de forma vertical como nos é apresentada a gramática
enquanto manual de regras e normas. Dessa forma, consideramos, por exemplo,
conteúdos que seriam estudados em momentos diferentes e de forma isolada
como partes integrantes de um processo comunicativo e que, portanto, por
estarem relacionados, deveriam ser estudados em um mesmo momento de
aula. A exemplo, inspirados em Goldberg (2019) e Evans (2019), mostramos

297
Simpósio Proposto
Estudo e ensino de língua portuguesa por meio do entendimento
da língua como um sistema adaptativo complexo

como integrar conceitos morfológicos, sintáticos e semânticos do verbo ao


considerar a sua natureza (processo, ação e estado) e sua rede argumental e, a
partir desse estudo, pautado no que propõe Bybee (2010), olhar para processos
de concordância verbal e de pontuação que surgem diretamente dessa relação.
Essa dinâmica permite-nos ensinar gramática em seu contexto pragmático cujas
bases se encontram na Linguística Cognitiva e no Funcionalismo Linguístico e
cujos resultados se revelam em falantes que dominem a língua, o funcionamento
de suas normas e seu uso, bem como no desempenho dos alunos em provas
como às que são submetidos ao final do ensino médio.

Hipálage: uma semântica de transposição de sentido


Autoria: ANTÔNIO SUÁREZ ABREU

Como qualquer sistema complexo (BYBEE, 2010), a linguagem humana é movida,


em seu funcionamento e história, por atratores, entre os quais postulamos:
sociabilidade, clareza (relevância), economia e iconicidade. O atrator economia,
por exemplo, é responsável por usarmos, na linguagem falada, mais inferência
pragmática do que gramática. Quando alguém nos pergunta se algo nos incomoda,
vocalizamos apenas uma interjeição como imagina! em vez de construir uma
resposta gramatical completa. Meu objetivo, nesta comunicação, é mostrar
o fenômeno da hipálage como resultado do atrator economia. Hipálage é um
processo de transposição de sentido. Quando dizemos frases como "A vista
desta janela é maravilhosa", projetamos a experiência de ver naquilo que é visto.
Lexicalmente, "vista" denomina tanto o órgão da visão quanto aquilo que é visto
por ele. Em função do atrator economia, usamos a mesma palavra para duas
realidades. O mesmo ocorre quando dizemos que o batom de uma garota está
manchado. Tanto o dispositivo de colorir os lábios quanto o seu efeito recebem
o mesmo nome. Economia feita por hipálage. Abstraindo mais ainda, podemos
perceber que essa economia está fundamentada nos chamados esquemas
de imagem, mais especificamente no esquema de percurso (origem, trajeto e
meta), que subjazem em construções como "Vera foi de São Paulo para o Rio"
ou "Vera deu um presente ao namorado". Na primeira frase, a origem é São
Paulo e a meta é o Rio. Na segunda, a origem é Vera e a meta é o namorado. Na

298
Simpósio Proposto
Estudo e ensino de língua portuguesa por meio do entendimento
da língua como um sistema adaptativo complexo

hipálage, no primeiro exemplo dado, vista, como órgão da visão, é a origem e


vista, como aquilo que é visto, é a meta. Temos, portanto, nesses exemplos, a
projeção de uma origem em uma meta. Caso semelhante de hipálage ocorre
nas orações inacusativas, como "Esse carro vendeu bem em janeiro", em que o
agente (quem vende), neste caso a origem, é projetado no objeto afetado pela
venda (a meta) que se torna, figurativamente, um sujeito agente nessa oração,
assim como em uma outra como: "Esse macarrão cozinha rápido". Nessa frase,
a origem, que é o agente, é projetada na meta, que é o macarrão, transformado,
figurativamente, em um sujeito agente de uma oração monoargumental. Em
ambos os casos, o verdadeiro agente causador é omitido. Importa dizer que
a categorização, feita, neste caso, pelo esquema de imagem de percurso, é
também um recurso de economia.

Metáfora como recurso argumentativo em redações


de vestibular: uma análise cognitivo-discursiva
Autoria: ADRIANO CHAN E ALEXANDRE BUENO SANTA MARIA

A partir de um corpus de textos dissertativos-argumentativos produzidos por


alunos em preparação para exames vestibulares, tecemos uma breve análise
de instâncias metafóricas empregadas como recurso argumentativo. Este
estudo, de abordagem qualitativa, adota a base teórica sobre argumentação
proposta por Eemeren, Grootendorst e Henkemans (2002, p. xii), que consideram
que a argumentação seria “uma atividade racional verbal e social, voltada ao
convencimento de um possível interlocutor crítico da aceitabilidade de uma
tese (standpoint) por meio da constelação de uma ou mais proposições que
justificariam essa tese”. Nesse viés, a argumentação é concebida como fruto de
um processo comunicativo e interacional inserido em um determinado contexto.
Vereza (2007, p. 495) destaca que esse processo considera uma “diferença de
opinião” que se faz presente mesmo na ausência de um interlocutor, como
ocorre em gêneros escritos, como as redações de vestibular. O argumentador,
nesse contexto, anteciparia essas diferenças, desenvolvendo sua argumentação
usando-as como parâmetro para estabelecer sua “constelação”. Para analisar
a metaforicidade discursiva identificada em trechos do corpus, consideramos

299
Simpósio Proposto
Estudo e ensino de língua portuguesa por meio do entendimento
da língua como um sistema adaptativo complexo

que “a metáfora nova (deliberada e consciente), a partir de uma cadeia de


desdobramentos, textualmente coesivos, colabora, linguístico, cognitiva e
pragmaticamente para a força argumentativa do discurso” (VEREZA, 2007, p. 496).
Nessa perspectiva, essas construções poderiam constituir “nichos metafóricos”,
ou seja, “um grupo de expressões metafóricas, inter-relacionadas, que podem
ser vistas como desdobramentos cognitivos e discursivos de uma proposição
metafórica superordenada normalmente presente (ou inferida) no próprio co-
texto” (VEREZA, 2007, p. 496). Os resultados sugerem que o expediente linguístico-
cognitivo da metáfora, quando evoca domínios de origem bem consolidados
no conhecimento enciclopédico de mundo dos autores, podem contribuir para
argumentatividade de suas redações. Referências: VEREZA, Solange Coelho.
Metáfora e argumentação: uma abordagem cognitivo-discursiva. Linguagem em
(Dis)curso, v. 7, n. 3, p. 487-506, 2010. VAN EEMEREN, F. H.; GROOTENDORST, R.;
HENKEMANS, F. S. Argumentation: analysis, evaluation. New York: LEA, 2002.

300
Estudo semiótico das práticas de edição:
problemas de texto, suporte, enunciação e autoria
Autoria: MATHEUS NOGUEIRA SCHWARTZMANN

A circulação dos textos numa dada cultura se dá na forma de transcrição de um


gesto enunciativo primeiro – a gênese do texto, cuja origem se confunde com a
própria noção de autoria – em um gesto enunciativo segundo, que é, já e sempre,
“editado”. Isto é, entre a sua produção, a sua circulação e a sua leitura, existem
instâncias diversas de mediação que (con)formam o texto, segundo protocolos
também bastante diversos que podem ter bases institucionais (manuais, leis,
acordos), estéticas (gosto, moda) ou técnico-materiais. A diferença entre o
primeiro e o segundo gesto se estabelece então nesse processo de transcrição-
edição do texto, em que as escolhas do autor concernentes à paginação, à
tipografia, são reconfiguradas pelo gesto de edição. As escolhas editoriais
acabam por recobrir um primeiro projeto de autoria, que deixa então de ser
apenas literário, jornalístico, didático ou científico, por exemplo, e passa a
ser editorial. Ao reconhecer que essas instâncias de mediação, que muitas
vezes estão invisibilizadas, imersas em uma “banalidade cotidiana” (Emmanuël
Souchier), afetam o próprio sentido do texto, podemos ampliar nossa reflexão
para outros níveis da análise semiótica, como aqueles dos objetos-suportes,
das cenas práticas, das estratégias e das formas de vida, segundo as propostas
de Jacques Fontanille. Segundo esse ponto de vista, o texto deve ser entendido
como dispositivo de inscrição, que se abre sobre ao menos duas interfaces:
de um lado, ele possui propriedades materiais, uma morfologia; de outro, ele
participa de situações semióticas distintas, como práticas de leitura, práticas
comerciais, práticas de manipulação etc. Elegendo a prática de edição como
o ponto de partida de nossa reflexão e assumindo que a materialidade do
texto não pode ser apartada das materialidades em que se inscreve, queremos
compreender como se organizam os gestos de leitura e de inscrição, os modos
de circulação, a natureza dos suportes, chegando, até mesmo, ao modo como se
funda a autoria – que aqui parece ser, necessariamente, fruto de um sincretismo
actorial.

301
Simpósio Proposto
Estudo semiótico das práticas de edição:
problemas de texto, suporte, enunciação e autoria

A circulação da obra de Hilda Hilst: relações entre


prática de edição e cânone em perspectiva semiótica
Autoria: GUSTAVO HENRIQUE RODRIGUES DE CASTRO

Nos beneficiando dos avanços teóricos mais recentes da Semiótica francesa


ou greimasiana, buscaremos apontar alguns indícios do modo como as práticas
de edição contemporâneas podem determinar a circulação da obra literária e
alterar o seu estatuto e valor, em diálogo ou confronto com o cânone, na cultura.
Segundo nossa hipótese, o ingresso recente da escritora Hilda Hilst em esferas
sociais típicas do cânone (universidades, feiras literárias etc.) resultaria, em
alguma medida, do acabamento editorial dado à sua obra nas últimas vezes que
foi publicada. Evidentemente, não se trata de negar a qualidade ou o valor de sua
literatura, mas sim de observá-lo sob outra perspectiva — a da circulação —, que
leva em conta o modo como certas instâncias culturais são capazes determinar
o percurso de canonização de um autor, por meio das práticas e suportes que
replicam a sua obra. Sob esse ponto de vista — o de uma reflexão semiótica
sobre a circulação do texto literário — o cânone assumiria o estatuto de uma
forma de vida junto à qual as práticas de edição contemporâneas vão buscar
sua memória, estabilizando identidades editoriais igualmente consagradas. A
circulação ficaria assim situada no espaço teórico relativamente vazio existente
entre a produção da obra e a sua leitura, podendo ser entendida como o conjunto
de fatores (textos, suportes, práticas etc.) que determinam a manutenção e a
alteração dos discursos na cultura. Para ilustrar essa reflexão, examinaremos
um córpus composto por algumas edições da obra de Hilda Hilst e seus
respectivos paratextos (peritextos e epitextos). O ponto de vista assumido será
o da Semiótica Francesa (Algirdas Julien Greimas), especialmente o modelo dos
Níveis de pertinência da análise semiótica (proposto por Jacques Fontanille),
em diálogo com reflexões teóricas de alguns estudiosos do livro e da edição,
tais como Gérard Genette, Roger Chartier e Emmanuël Souchier.

302
Simpósio Proposto
Estudo semiótico das práticas de edição:
problemas de texto, suporte, enunciação e autoria

A prática de edição em "Da imperfeição"


Autoria: PATRICIA VERONICA MOREIRA

A publicação da obra Da imperfeição [De l’imperfection], no ano de 1987, pelo


lituano Algirdas Julien Greimas, causou estranhamento entre os semioticistas,
pois o autor se permitiu uma liberdade literária derradeira para nos mostrar
como uma análise semiótica poderia ser feita por intermédio do sensível,
isto é, como a experiência estética é dada no encontro entre sujeito e objeto,
possibilitando desde então uma nova série de pesquisas na área da semiótica
discursiva. Essa breve interpretação da obra se desdobra em dois tipos de
fraturas prática e teórica. A primeira ocorre no nível estético do suporte da
obra, de cunho científico, que desperta o estésico instantaneamente no seu
leitor. A segunda fratura, por sua vez, é recuperada no próprio miolo do livro.
Este apresenta elementos que possibilitaram uma virada fenomenológica no
escopo teórico-metodológico da semiótica. Neste trabalho, debruçaremo-nos
no primeiro tipo, pois essa mobilização leva o leitor a uma “fratura” na prática
de leitura do livro, convocando-o a essa experiência estésica e estética na
apreensão de sentido do texto, cujo invólucro parece romper com o discurso
científico. Isso se torna mais evidente e intenso quando temos em mãos a versão
original francesa (1987) e a versão traduzida para o português em 2002. A edição
brasileira parece “remediar” tal “fratura” com paratextos inseridos antes e depois
do texto original traduzido, competencializando o leitor brasileiro a ler a obra
de Greimas e assegurando, ao mesmo tempo, o próprio valor científico da obra
em si. Levando em consideração esses aspectos editoriais em Da imperfeição
nas versões original e traduzida, objetivamos discutir a questão de gênero
em semiótica, explorando as práticas semióticas, segundo as proposições de
Jacques Fontanille, mais especificamente, as práticas de edição que circulam
em diferentes espaços socioculturais, compreendendo também variados
enunciatários. Buscamos, dessa forma, elucidar como tais práticas de edição
influenciam na experiência sensível da prática de leitura desses enunciatários
visados pelo campo editorial, que utiliza estratégias de acordo com o crer que
possuem sobre o fazer científico desses lugares em que estão circunscritos.

303
Simpósio Proposto
Estudo semiótico das práticas de edição:
problemas de texto, suporte, enunciação e autoria

O epitexto fotobiográfico: autoria, edição e o


sentido de obra
Autoria: MATHEUS NOGUEIRA SCHWARTZMANN

Tendo como ponto de partida a proposta dos níveis de pertinência da análise


semiótica (Jacques Fontanille), buscaremos dar conta do problema da edição,
debruçando-nos especialmente sobre o modo como os paratextos participam
da construção da imagem de um autor na cultura. Assumimos, de início, que o
sentido de uma Obra – entendida aqui como a produção global ou total de um
autor – se constitui por um conjunto de textos autorais e pelo conjunto de seus
paratextos (peritextos e epitextos) que, como propõe Gérard Genette, para além
de acompanhar os textos, “comandam a sua leitura”. Nessa perspectiva, a prática
editorial – que nesse caso assume um papel evidentemente estratégico – seria a
instância responsável por regular gestos de instrução, indução ou condução de
isotopias de leitura, segundo um princípio de composição sintagmática em que
diversas outras práticas – a literária, a crítica, a tradutória, a publicitária, entre
outras – participam da composição de uma identidade autoral. Os ajustes entre
essas práticas são “gerenciados” por instâncias de controle como, por exemplo,
a Academia, a Imprensa e o Mercado Editorial, que fazem emergir valores como
cânone e vanguarda, que se alinham a processos de conservação e de inovação.
Estas instâncias atuam, portanto, de modo conjunto e organizado nos processos
de seleção e exclusão (triagem) de textos de um determinado campo (Pierre
Bourdieu), seja o campo literário, que nos interessa aqui mais diretamente, seja
o próprio campo científico. Para orientar nossa reflexão, selecionamos, neste
trabalho, três edições de fotobiografias de importantes autores da tradição
literária de língua portuguesa: Fernando Pessoa e Florbela Espanca de um lado, e
Clarice Lispector, de outro. Essas obras, que apresentam textos críticos, ensaios,
fragmentos literários, desenhos, fac-símiles e fotografias, serão aqui tomadas
como epitextos editoriais, uma vez que, para além de sua própria unidade de
leitura como textos-ocorrência, se inserem em uma tradição cultural a partir da
qual são erigidas identidades autorais complexas, sob o controle de diversas
instâncias editoriais. A escolha dessas obras permite, portanto, identificar (1)

304
Simpósio Proposto
Estudo semiótico das práticas de edição:
problemas de texto, suporte, enunciação e autoria

os diversos estilos editoriais, que convocam práticas, formas de vida e gêneros


textuais também distintos; (2) os diversos movimentos de circulação e/ou
recepção das obras desses três autores icônicos; (3) e o papel dos epitextos
fotográficos e imagéticos no processo de “corporificação” dessas identidades
autorais.

Práticas editoriais e didáticas: a construção da


identidade do autor em uma obra paradidática
Autoria: FLAVIA FURLAN GRANATO

Os livros denominados paradidáticos pela cultura livresca circulam no universo


escolar dos anos iniciais até os finais do ensino fundamental (1º ao 9º). São
ofertados por editoras que os apresentam individualmente ou pertencentes
a coleções, catalogados por ano ou ciclo de aprendizagem e temáticas. A
Nova Base Nacional Comum Curricular, de 2017, destaca a importância do Eixo
Literatura como base de formação do indivíduo a fim de que as leituras propostas
permitam ao aluno a sua atuação na vida pública e seu desenvolvimento em
projetos pessoais. Analisar como se constrói um livro paradidático, em seus
projetos editoriais e didáticos, é essencial para compreendermos o modo
como os sujeitos-leitores são constituídos em uma obra dessa natureza e, por
conseguinte, entendermos qual literatura é ofertada pelas escolas brasileiras.
A prática editorial revela-se em cada detalhe com a sua determinada intenção.
O presente trabalho, parte do simpósio proposto, apresentará, por meio de
uma observação tanto da organização do espaço planar no objeto quanto do
conteúdo, a construção da identidade do autor em uma obra paradidática.
Portanto, objetivo principal da presente análise é de identificar a construção desse
sujeito autor no interior de uma obra paradidática a fim de compreendermos:
(i) quais imagens são projetadas em relação ao enunciador e ao enunciatário
desse tipo de enunciado; (ii) como as práticas editorial e didática organizam a
sua manifestação no suporte planar e com qual objetivo e (iii) em qual medida
todo esse entendimento a respeito do papel do autor é importante para a leitura
da obra. O livro escolhido foi O poeta do exílio, de Marisa Lajolo, da editora
FTD. Ele retrata vida e obra do escritor Gonçalves Dias por intermédio de uma

305
Simpósio Proposto
Estudo semiótico das práticas de edição:
problemas de texto, suporte, enunciação e autoria

narrativa ficcional. A base teórica escolhida para compormos tal projeto de


análise é a semiótica francesa, principalmente os estudos desenvolvidos por
Jacques Fontanille sobre práticas semióticas, a própria semiótica standard em
seu percurso gerativo de sentido, além das considerações de Gérard Genette
no que concerne ao estudo sobre práticas editoriais.

Reflexões sobre o ethos e as práticas de edição


numa perspectiva semiótica
Autoria: MARIANA LUZ PESSOA DE BARROS

Neste trabalho, buscamos examinar as práticas de edição e, mais especificamente,


a relação das práticas de edição com as estratégias que as organizam, de modo
a depreender regularidades que apontem para diferentes experiências de ethé
editoriais. Para isso, partimos do modelo semiótico de níveis de pertinência da
expressão, desenvolvido por Fontanille (2008), e de pesquisas já empreendidas por
Portela e Schwartzmann (2012) a respeito das práticas de edição, que permitem
entender o livro, por um lado, como objeto suporte de um texto-enunciado e,
por outro, como elemento que participa de diferentes práticas, como a editorial,
a mercadológica etc. Podemos encontrar livros, como são geralmente as obras
mais acadêmicas, cuja estratégia editorial consiste na combinação da prática
editorial de produção e da prática científica de circulação do conhecimento, o
que impede, por exemplo, que tenham apenas cinco impressões ou que sejam
excessivamente artesanais. No entanto, há outros que chamam a atenção para
seus aspectos gráficos, por meio, por exemplo, de escolhas tipográficas mais
singulares, ou de um uso mais poético das cores e formatos. Esses livros revelam
um ajustamento entre a prática editorial e a prática artística, por meio de uma
estratégia que busca construí-los como mais próximos de objetos de arte, o que
produzirá no leitor uma relação mais estésica com tais obras. Observamos que
essa variação de estratégias está relacionada às coleções e também às editoras,
uma vez que existem estratégias mais recorrentes ou até predominantes em
determinadas editoras. É essa recorrência que possibilita a depreensão de um
modo de ser e de fazer, ou seja, de um ethos da editora, se tomarmos a noção
de ethos na concepção de Discini (2003, 2005) e a colocarmos em diálogo com

306
Simpósio Proposto
Estudo semiótico das práticas de edição:
problemas de texto, suporte, enunciação e autoria

o modelo de Fontanille (2008). Assim, propomos neste trabalho comparar duas


diferentes editoras brasileiras – Quelônio e Contexto –, com vistas a refletir a
respeito da construção do ethos de cada uma.

307
Estudo sobre a neologia em diferentes
manifestações discursivas: descrição e ensino
Autoria: ADERLANDE PEREIRA FERRAZ

O simpósio que se propõe reúne pesquisadores que trabalham com o léxico em


diferentes perspectivas, embora partindo de um ponto comum: a neologia lexical.
A criação de palavras novas e a reutilização de palavras já existentes a partir de
novos significados constituem um processo geral de desenvolvimento do léxico,
compreendendo a renovação lexical como um fenômeno permanente na língua
em uso. Esta proposta de simpósio se caracteriza pelo enfoque sincrônico dado
ao estudo das construções lexicais no português do Brasil. Entendendo que as
palavras que compõem uma língua estão em toda parte e com isso se associam
a diferentes níveis de linguagem, o objetivo central desta proposta é congregar
trabalhos cujo tema seja a análise de construções lexicais do português
contemporâneo do Brasil, vistas aqui sob diferentes manifestações discursivas.
Dessa forma, além de se configurar numa amostragem da riqueza lexical dos
gêneros publicitário e literário, no que concerne à criação de neologismos, o
simpósio aqui proposto também discute os processos de formação de palavras
mais frequentes no português contemporâneo do Brasil. No que diz respeito
especificamente aos neologismos coletados em textos do gênero publicitário,
quatro propostas de comunicação são apresentadas: uma que, ao discutir
o conceito de neologicidade, procura delimitar a neologia que se manifesta
no nível lexical, caracterizando-a como um processo e também como uma
disciplina que, para além de seu aspecto teórico, apresenta interdisciplinaridade
com a lexicografia e a terminologia. Desse caráter interdisciplinar, ressaltam-
se alguns aspectos relacionados à metodologia de ensino do léxico. Outra
proposta de comunicação aborda especificamente os neologismos semânticos
presentes em textos publicitários, em circulação na mídia eletrônica, os quais
são tomados como textos autênticos, que fazem parte das práticas sociais
dos estudantes, podendo ser trabalhados em sala de aula de português. A
terceira proposta, partindo do conceito de campo semântico, procura estudar
formações neológicas também presentes no gênero publicitário, que estão

308
agrupadas especificamente em referência ao grupo social LGBTQ+. A última
proposta a estudar os neologismos detectados em textos publicitários trata
dos estrangeirismos que, em pleno uso no português brasileiro, geram novos
produtos por meio dos processos de composição e derivação. Por fim, esta
proposta de simpósio se completa com um trabalho que pretende estudar, no
âmbito da sala de aula, neologismos coletados na literatura contemporânea
para crianças e jovens, descrevendo-os a partir de uma abordagem que se
convencionou chamar de normas neolúdicas.

309
Simpósio Proposto
Estudo sobre a neologia em diferentes manifestações
discursivas: descrição e ensino

A caracterização neológica de unidades do léxico


Autoria: ADERLANDE PEREIRA FERRAZ

A neologia, considerada como processo de criação lexical, é uma espécie de


revigorante do léxico, compreendendo-se este, além do acervo de itens lexicais,
uma forma de registrar a visão de mundo, o conhecimento do universo, a realidade
histórica e cultural e as diferentes fases da vida social de uma comunidade
linguística. O neologismo, elemento resultante da criação lexical, a nova
palavra, não ocorre apenas no interior da própria língua. Entre os neologismos,
cumpre destacar os elementos adotados, isto é, aqueles cujo surgimento
não se deve à criação de um signo mas à adoção da palavra, o empréstimo
lexical. Em consideração a isso, o conceito de neologia é resultado de uma
complexa atividade a qual, para se levar a cabo, deve-se ter em conta a noção
relativa de novidade, a depender da perspectiva sob a qual se busca elaborar
a conceituação. Assim, não é tarefa simples estabelecer quando é nova uma
palavra em uso. Teoricamente, a percepção de novidade de uma palavra está
associada ao critério de neologicidade que se adota. Para muitos estudiosos
do léxico (ALVES, 1984, p. 121 e 1990, p. 10; SANDMANN, 1989, p. 8; CABRÉ,
1993: FERRAZ, 2020, p. 166), a noção de neologicidade está ligada ao dicionário
de língua. A comunicação que aqui se propõe tem por objetivo apresentar a
percepção de neologicidade como uma noção de graduação a depender de
critérios psicológicos, pragmáticos e linguísticos, aos quais se possa aproximar
o critério lexicográfico, dado o seu caráter documental e menos subjetivo. Para
sustentar a discussão teórica, um corpus de neologismos extraídos de textos
publicitários será apresentado em sua variada tipologia, considerando que a
morfologia e a semântica são os componentes da língua dos quais destacamos
seus respectivos fundamentos para abordar o estudo das palavras novas. Nesse
contexto, a comunicação aqui proposta, refletindo sobre questões teóricas e
metodológicas que o estudo da neologia suscita, busca ainda discutir alguns
aspectos importantes relacionados à metodologia de ensino do léxico, a partir
do estudo da neologia em língua portuguesa, ressaltando que em grande parte
das gramáticas e dicionários escolares do português brasileiro, a neologia lexical

310
tem sido superficialmente abordada. Por fim, cabe salientar que o escopo da
comunicação não se limita apenas a revisar definições de neologia e neologismo,
mas principalmente especificar a caracterização neológica de unidades do
léxico, presentes no gênero publicitário.

A formação de neologismos a partir de palavras


estrangeiras: uma abordagem pedagógica
Autoria: MARIA AMORIM VIEIRA CASTRO

De acordo com Alves (1984), termos estrangeiros utilizados em uma língua


podem constituir estrangeirismos ou empréstimos, a depender do seu nível de
integração ao léxico. Enquanto a palavra estrangeira se encontra em uma fase
neológica, ou seja, de uma unidade lexical criada recentemente ou adotada pelo
sistema linguístico (CABRÉ, 1993), ela pode ser chamada de “estrangeirismo”.
Uma vez que essa palavra se consolida no sistema, ela perde o caráter neológico
e passa a ser denominada por “empréstimo”. Segundo Guilbert (1975), existem
diferentes aspectos morfossintáticos, semânticos e morfológicos que marcam
o grau de evolução desse processo, sendo a possibilidade do termo de
constituir base para os processos de composição (como ocorre na formação
de “websérie”) e de derivação (como ocorre em “gamificação”) um deles. Dessa
forma, os objetivos deste trabalho são analisar neologismos formados por
esses processos a partir de palavras estrangeiras encontrados na linguagem
publicitária e também propor formas pedagógicas de abordar o tema no
ensino básico. Este trabalho é, portanto, resultado da pesquisa de Iniciação
Científica que integra um projeto maior, em andamento na faculdade de Letras
da UFMG, com o título de "Observatório de neologia em textos publicitários:
aplicação ao desenvolvimento da competência lexical", cujo propósito é coletar
neologismos em um corpus formado por textos publicitários veiculados pelas
revistas noticiosas Veja, Istoé e Época, bem como por textos desse mesmo
gênero, em circulação na mídia eletrônica. Quanto à metodologia, seguiu-se um
procedimento para determinar o caráter neológico das unidades coletadas de
acordo com o critério lexicográfico, com a adoção de um corpus de exclusão,
constituído por quatro dicionários brasileiros, aprovados pelo PNLD-Dicionários

311
em 2012, destinados aos estudantes do ensino médio: o Dicionário Houaiss
Conciso, da editora Moderna; o Novíssimo Aulete Dicionário Contemporâneo
da Língua Portuguesa, da editora Lexicon; o Dicionário UNESP do Português
Contemporâneo, da editora Piá; e o Dicionário da Língua Portuguesa Evanildo
Bechara, da editora Nova Fronteira. A fundamentação teórica se apoia em Alves
(1990) e Cabré (1993), na conceituação e descrição dos processos neológicos; e
em Alves (1984), no que diz respeito ao processo de integração dos neologismos
por empréstimo ao léxico do português.

Neologismos do campo semântico LGBTQ+ em


textos publicitários digitais: descrição e análise
Autoria: VINICIUS SAEZ DE OLIVEIRA COELHO

Uma das características principais de uma língua natural é a capacidade de


renovação e de mudança, sendo possível atestar tal fato por meio do léxico. Nesse
sentido, a língua tem uma relação intrínseca com a cultura, acompanhando a
evolução de uma sociedade e as transformações que nela ocorrem em diversos
âmbitos, nos quais é possível observar o léxico modificando-se para designar
objetos e conceitos novos à medida que eles surgem. Tais palavras novas são
o que se denomina de neologismos (ALVES, 1990). Propõe-se neste trabalho
analisar um setor expressivo no qual se nota essa produção de palavras inéditas
com significativa frequência: os grupos sociais, em específico a comunidade
LGBTQ+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Queer). Tais neologismos,
que aparecem inicialmente como unidades do discurso desse grupo analisado,
tornam-se unidades do sistema linguístico a partir do momento que revelam
natureza estável e permanente, aparecendo, por exemplo, na materialização de
textos de diversos gêneros, como os publicitários. Vale ressaltar que o discurso
publicitário, por excelência, é o campo para a inovação lexical, uma vez que a
propaganda utiliza deste recurso linguístico a fim de criar um apelo comercial,
a partir da demanda de nomear e de adjetivar os objetos anunciados (FERRAZ,
2010). Assim, o objetivo é mostrar o crescente número de palavras novas
no português brasileiro provenientes do discurso LGBTQ+, encontradas na
linguagem publicitária digital, além de discutir suas características no português

312
do Brasil, descrevendo e analisando o fenômeno de formação do novo item
lexical. Para a realização da pesquisa, adotou-se uma metodologia em que o
critério para identificação do neologismo é o de exclusão lexicográfica, isto
é, uma unidade lexical será nova se não estiver dicionarizada (ALVES, 1990).
Neste caso, como corpus de exclusão, foram utilizados dicionários escolares,
destinados aos estudantes do Ensino Médio, além da versão on-line do dicionário
Caldas Aulete. Para a descrição e a análise das unidades lexicais, tem-se Alves
(1990); já no que diz respeito ao caráter inovador do discurso publicitário, têm-se
Ferraz (2010, 2006); sobre a associação em campos-semânticos lexicais, tem-
se Lewis (1993). Tais neologismos e pesquisa atestam o caráter de inovação
lexical presente no discurso publicitário, o qual utiliza recursos linguísticos com
o fito de atrair a atenção de possíveis consumidores, com base na formação
neológica do campo-semântico do discurso LGBTQ+.

Os neologismos semânticos em sala de aula:


ressignificando práticas escolares
Autoria: JULIANA CRISTINA RAMOS VAZ

A neologia, entendida como o processo de criação de novos itens lexicais (ALVES,


1990), é um importante fenômeno linguístico que atesta o caráter vivo e social das
línguas. Todavia, ainda é escasso o tratamento desta temática no âmbito escolar,
fato que pode ser observado a partir da rara presença de propostas de estudos
lexicais em documentos oficiais de ensino no Brasil, e, consequentemente,
também em gramáticas e livros didáticos (MARONEZE; BAZARIM, 2018). Nesse
sentido, alguns processos de inovação lexical não chegam a ser contemplados
na sala de aula como tais, assim como seus resultantes também não o são, como
é o caso dos neologismos semânticos. Nesse tipo de formação, cabe destacar,
não há alteração formal de um item já existente, mas uma expansão de sentido
(FERRAZ; LISKA, 2019). Assim, com o propósito de ampliar a discussão desta
temática no âmbito acadêmico e escolar, propõe-se uma aplicação pedagógica
dos estudos sobre neologismos semânticos presentes em textos publicitários.
Entende-se que os estudos lexicais podem contribuir para a ampliação da
competência lexical dos estudantes, o que será refletido no desempenho lexical

313
deles (FERRAZ; SILVA FILHO, 2016). A metodologia de trabalho para a coleta
de neologismos seguiu o critério de exclusão lexicográfico, o qual considerou
os seguintes dicionários escolares: o Dicionário Houaiss Conciso, da editora
Moderna; o Novíssimo Aulete Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa,
da editora Lexicon; o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, da
editora Piá; e o Dicionário da Língua Portuguesa Evanildo Bechara, da editora
Nova Fronteira. Assim, uma unidade léxica foi identificada como neologismo se
não estava registrada em algum dos referidos dicionários. A escolha de textos
publicitários deu-se devido ao evidente caráter dialógico e de inovação desse
gênero, o qual busca se alinhar às novas demandas sociais ao mesmo tempo
em que pretende afirmar seu produto como inédito. Além disso, trata-se de
textos autênticos, que circulam fora do ambiente da escola e que fazem parte
das práticas sociais dos estudantes. A respeito da fundamentação teórica,
esta se apoia nos documentos oficiais voltados para o ensino no Brasil, como
a Base Nacional Comum Curricular, e nos estudos de Liska (2017), Maroneze e
Bazarim (2018) sobre essa temática; em Ferraz e Liska (2019) no que diz respeito
às discussões pedagógicas sobre neologismos semânticos e em Ferraz e Silva
Filho (2016) acerca do desenvolvimento da competência lexical e da neologia
no português brasileiro.

Produtividade lexical no reino das novas


palavras: a literatura para crianças e jovens como
disseminadora de neologismos na sala de aula
Autoria: SOLANGE MARIA MOREIRA DE CAMPOS

No mundo em que vivemos, moldado pelas transformações, a linguagem perpassa


as atividades individuais e coletivas do ser humano. Nesse universo globalizado,
novas palavras surgem, algumas voltam a adormecer nos dicionários e outras nos
instigam a lhes conferir diferentes roupagens. Na literatura contemporânea para
crianças e jovens, observa-se o emprego recorrente de formações neológicas. Ao
construírem histórias ou poemas, os autores privilegiam os recursos expressivos
da língua, em seus vários planos – fonológico, morfossintático e léxico-semântico
–, e conferem à ludicidade à linguagem literária, além de resgatarem o jogo

314
verbal e a inventividade linguística. O texto literário contemporâneo apresenta-
se, pois, como corpus ideal para que se vivencie a língua em todas as suas
possibilidades. Nesse contexto, e tendo a palavra como unidade de ensino, as
produções ficcionais oportunizam o desenvolvimento da competência lexical
dos alunos, associadas aos estudos sobre a neologia no ensino do léxico em
sala de aula, que têm estado à margem das principais gramáticas brasileiras. A
produtividade lexical por meio da recolha de neologismos oferece rico material
para as pesquisas linguísticas. Outro objetivo é o de investigar as formações
neológicas que, por oportuno, convenciona-se chamar de normas neolúdicas,
um fenômeno linguístico no qual o que chama a atenção não é o processo de
formação de palavras, de criação em si, mas a expressividade e o modo como
os autores “brincam” com os signos para criarem as novas lexias, propondo-se
um conjunto de categorias, regras ou critérios para a análise dos processos de
criação dos novos lexemas. O arcabouço teórico se ancora, fundamentalmente,
nas contribuições de Boulanger (1979) sobre neologismos e criações lexicais; em
Alves (2004), na sua abordagem sobre neologismos em diferentes processos de
formação; em Guilbert (1975) quanto à criatividade lexical e à criação neológica
estilística, presentes na linguagem literária; em Cardoso (2010) e Monteiro (1991),
ao destacarem a estilística e a expressividade na língua portuguesa, e em Ferraz
(2006), quando enfatiza a dimensão social da língua, aponta a renovação do
léxico como um fenômeno permanente e caminhos para os estudos do léxico em
sala de aula. Busca-se, com este trabalho, pontuar um dos elementos básicos da
poética contemporânea – a renovação lexical – e sugerir uma nova possibilidade
dos estudos linguísticos e da literatura na escola, além de se demonstrar como o
alunado pode utilizar com propriedade as palavras, compreender sua estrutura
e suas relações de sentido com outros itens lexicais.

315
Estudos em prosódia do português:
reflexões sobre a interface sintaxe-fonologia
Autoria: FLAVIANE ROMANI FERNANDES SVARTMAN

Este simpósio visa assegurar ambiente de intercâmbio entre pesquisadores que


tratem de prosódia da língua portuguesa, principalmente de um ponto de vista
fonológico, a partir do qual são feitas análises de dados em busca de evidências
que permitem firmar ou refutar pressupostos de teorias fonológicas como,
por exemplo, a Fonologia Entoacional (Fonologia Entoacional Autossemental
Métrica - LADD, 1996, 2008) e a Fonologia Prosódica (SELKIRK, 1984, 1986, 2000;
NESPOR; VOGEL, 1986, 2007). Uns dos pressupostos teórico-metodológicos
fundamentais dessas duas teorias são, respectivamente: o de que a entoação
tem uma organização fonológica e a assunção de que a estrutura prosódica
decorre da interface com demais módulos da gramática, mas não coincide com
estruturas morfossintáticas dos enunciados. Evidências da estrutura prosódica
são observadas, tradicionalmente, por meio da identificação de domínios de
aplicação de processos segmentais e da configuração entoacional e rítmica
dos enunciados. É intuito deste simpósio fomentar discussões sobre avanços
substanciais não apenas sobre a descrição da prosódia de variedades do
português, mas, principalmente, no que diz respeito à proposição de reflexões
a partir de mesmas bases teórico-metodológicas. Dentre os desafios teórico-
metodológicos para os estudos contemporâneos sobre prosódia, encontram-se,
por exemplo, a compreensão do papel da percepção na teoria fonológica, de modo
amplo, e na caracterização da prosódia, de modo particular; o desenvolvimento
de protocolos experimentais que assegurem resultados robustos e confiáveis;
o estabelecimento de procedimentos de interpretação da relação entre
dados de produção e de percepção. Assim, pretendemos acolher trabalhos
que discutam, com base na análise de dados de variedades de português: a
aplicação (ou aplicabilidade) – e potenciais desafios – das teorias Fonologia
Prosódica e Fonologia Entoacional; a interface sintaxe-fonologia; a descrição de
características prosódicas (calcadas ou não em análises acústicas); a relação
entre fenômenos segmentais e suprassegmentais e estrutura prosódica da
língua; possibilidades de comparação entre estruturas prosódicas de diferentes
variedades do português; desenvolvimento de experimentos de percepção e
de reflexões sobre relação entre dados de produção e de percepção.

316
Simpósio Proposto
Estudos em prosódia do português:
reflexões sobre a interface sintaxe-fonologia

Efeitos da extensão e da ramificação sintática para


o alongamento pré-fronteira no português brasileiro
Autoria: TAINAN GARCIA CARVALHO E LUCIANI ESTER TENANI

Há um conjunto de pistas fonéticas relevantes para o mapeamento de


fronteiras de frase entoacional (IP) no Português Brasileiro (PB), dentre as
quais destacamos o alongamento pré-fronteira, caracterizado pelo aumento
da duração de segmentos e sílabas adjacentes à IP. Há poucas evidências sobre
como o fenômeno se manifesta no PB. Esta comunicação trata do alongamento
pré-fronteira quando ocorrem adjuntos adverbiais deslocados à esquerda. A
estrutura sintática selecionada para investigação tem diferentes possibilidades
de fraseamento prosódico. Em “Agora, Mariana renovou o documento”, por
exemplo, há duas possibilidades de fraseamento para o advérbio “agora”: ora
configura-se em fronteira de IP, ora faz parte do domínio de IP. Uma das hipóteses
subjacentes a esta investigação é de que o alongamento evidencia esses
diferentes fraseamentos de adjuntos adverbiais deslocados à esquerda. A outra
hipótese é de que o lócus de incidência do fenômeno depende da configuração
do adjunto adverbial em relação a dois fatores: (i) peso fonológico (controlado
em termos da extensão da estrutura-alvo) e (ii) a ramificação sintática (definida
em termos de locução adverbial versus advérbio). Para embasar essa discussão,
analisamos dados de leitura de produção de fala. O teste foi realizado por treze
falantes nativas de PB, naturais do noroeste paulista (São Paulo). As participantes
leram 28 enunciados com contextos relevantes controlados quanto à presença
de adjuntos adverbiais deslocados à esquerda. Os adjuntos adverbiais foram
controlados quanto à extensão – sendo incluídos advérbios de 3, 5, 7 e 9
sílabas – e quanto a haver ramificação, no caso de locução adverbial versus não
haver ramificação sintática, no caso de advérbios. Foi extraída a duração, em
milissegundos, dos valores da sílaba tônica, da vogal tônica, da última sílaba, do
último segmento do adjunto adverbial em possível fronteira de IP e de todo o
adjunto adverbial. Os resultados obtidos confirmam as hipóteses deste trabalho.
Há evidências de que o alongamento pré-fronteira é mais evidente em adjuntos
adverbiais quando em fronteira de IP. Também há estreita relação entre o lócus

317
Simpósio Proposto
Estudos em prosódia do português:
reflexões sobre a interface sintaxe-fonologia

de manifestação do fenômeno e a configuração da estrutura adverbial: (i) há


maior duração da vogal tônica e último segmento para advérbios de 3 sílabas;
(ii) há maior duração da sílaba tônica para advérbios de 5, 7 e 9 sílabas e (iii) são
mais alongadas a sílaba tônica, o último segmento e a última sílaba do advérbio
de estruturas ramificadas. (Apoio: CAPES-PrInt – Processo 88887.467887/2019-
00 e CAPES – Processo 88887.606541/2021-00)

Fraseamento prosódico em português brasileiro: uma


comparação entre as variedades de Recife e Curitiba
Autoria: FLAVIANE ROMANI FERNANDES SVARTMAN

Este trabalho visa à análise comparativa entre as variedades brasileiras de


português faladas em Recife (Pernambuco) e Curitiba (Paraná), no que se refere
ao fraseamento prosódico em sintagmas entoacionais (IPs) (SELKIRK, 1984, 1986,
2000; NESPOR; VOGEL, 1986, 2007; FROTA, 2000). A comparação dessas duas
variedades, uma do nordeste e outra do sul, tem como intuito verificar se elas
se distinguem quanto ao fraseamento prosódico, assim como acontece entre as
variedades do norte/nordeste e as do sudeste/sul do Brasil, no que diz respeito a
aspectos segmentais (NASCENTES, 1953; ROSSI, 1964; ZAGARI, 1977; ARAGÃO,
1984; CARDOSO, 1986; FERREIRA, 1987; AGUILERA, 1990; KOCH, 2002 entre
outros) e entoacionais (CUNHA, 2000; CARDOSO et al., 2014; CASTELO, 2016;
CASTELO; FROTA, 2017; entre outros). A metodologia aqui empregada consiste
na identificação de fronteiras de IPs de sentenças na ordem sujeito-verbo-objeto
(SVO) do corpus adaptado para o PB e construído para o estudo prosódico das
línguas românicas, o Romance Languages Database – RLD (D’IMPERIO et al.,
2005; ELORDIETA et al., 2005; FROTA; CRUZ; VIGÁRIO, 2011). As fronteiras de IP
são identificadas através das seguintes pistas prosódicas: contorno nuclear e/
ou pausa. A delimitação das pausas e a transcrição tonal do contorno nuclear
dos IPs são realizadas no programa Praat (BOERSMA; WEENINK, 2021) e, no caso
da transcrição do contorno nuclear, com base nos pressupostos da Fonologia
Entoacional Autossegmental e Métrica (BECKMAN; PIERREHUMBERT, 1986;
LADD, 1996, 2008; FROTA et al., 2015; entre outros). Os resultados alcançados
para as duas variedades analisadas revelaram: (i) a preferência pelo fraseamento

318
Simpósio Proposto
Estudos em prosódia do português:
reflexões sobre a interface sintaxe-fonologia

prosódico (SVO); (ii) L*+H H% como configuração tonal preferencial para o


contorno nuclear de IP medial; e (iii) (S)(VO) como segundo tipo de fraseamento
preferencial e em contexto de dupla ramificação do sujeito. H+L* L% foi a
configuração tonal preferencial para IP final da variedade curitibana e ¡H+L*
L% e H+L*L% foram ambas preferenciais para o contorno nuclear de IP final da
variedade recifense. Tais resultados vão ao encontro da tendência de fraseamento
das variedades soteropolitana, florianopolitana (FERNANDES-SVARTMAN;
SANTOS; BRAGA, 2018), paulistana e porto-alegrense (FERNANDES-SVARTMAN
et al., a sair) do PB. Quanto à configuração do contorno nuclear de IPs finais,
nota-se a diferença entre a variedade nordestina e a sulista: Recife apresenta,
além de H+L* L%, a configuração ¡H+L* L% associada ao contorno nuclear de
IP final, diferença também notada por Fernandes-Svartman, Santos e Braga
(2018), ao compararem as variedades soteropolitana e florianopolitana. (Apoio:
CNPq - Processos 313103/2018-6 e 437021/2018-1).

O efeito de pistas prosódicas no processamento


de frases: análise de dados de rastreamento ocular
Autoria: ALINE ALVES FONSECA E ANDRESSA CHRISTINE OLIVEIRA DA
SILVA

Nossa pesquisa investiga como pistas prosódicas do tipo acento contrastivo


e fronteiras prosódicas de sintagmas entoacionais (IP) (nos termos de LADD,
2008 e NESPOR; VOGEL, 2007) influenciam a percepção e a interpretação de
sentenças com adjuntos adverbiais ambíguos do Português Brasileiro (PB),
como no exemplo: “O colega de Paulo revelou que a Camila fumou na varanda
do sobrado.”. O sintagma adverbial nessa sentença pode ser interpretado como
ligado ao verbo da primeira oração (revelou), configurando a aposição alta do
adjunto, ou pode ser ligado ao verbo da segunda oração (fumou), aposição
baixa do adjunto, que é a interpretação default por seguir o princípio de Minimal
Attachment (FRAZIER, 1979). Estudos anteriores em Inglês e em PB (CARLSON;
TYLER, 2018), utilizando técnicas experimentais do tipo questionário auditivo,
encontraram resultados que apontam para a influência de fronteiras de
sintagmas entoacionais na mudança da interpretação dessa estrutura, levando a

319
Simpósio Proposto
Estudos em prosódia do português:
reflexões sobre a interface sintaxe-fonologia

um favorecimento da aposição alta do adjunto. No presente estudo, analisamos


os movimentos oculares dos participantes enquanto ouviam sentenças como
a descrita no exemplo acima em quatro condições prosódicas: (i) acento no
primeiro verbo (V1), (ii) acento no segundo verbo (V2), (iii) acento no V1 + fronteira
de IP antes do adjunto adverbial ambíguo (V1IP), e (iv) acento no V2 + fronteira
de IP antes do adjunto adverbial ambíguo (V2IP), e viam, simultaneamente, duas
imagens que correspondiam às duas possíveis interpretações do sintagma
adverbial ambíguo. Essa técnica experimental é chamada de paradigma do mundo
visual (TANENHAUS; TRUESWELL, 2006) e é realizada em um equipamento de
rastreamento ocular com alta precisão temporal. Os resultados apontam para
um direcionamento do olhar dos participantes para a imagem que corresponde
à ação expressa no verbo quando focalizado com acento contrastivo e para a
influência do conjunto de pistas prosódicas em um maior tempo de fixação do
olhar dos participantes na imagem alvo. Nos testes de interpretação, assim
como nos estudos anteriores, encontramos um favorecimento das pistas
prosódicas para a interpretação não default do adjunto (condições V1IP x V2IP
B=-1.676, SE=0.235, z= -7.138, CI [-2.161 -1.218], p < 0.001). Estes resultados indicam
que os participantes são sensíveis às pistas prosódicas e que são capazes de
usar a informação prosódica contida na estrutura nos momentos iniciais do
processamento mental de frases (WARREN, 1996; SPEER; BLODGETT, 2006).

Orações desgarradas: relações entre estrutura


prosódica, focalização e o uso de pontuação não
convencional
Autoria: ALINE PONCIANO DOS SANTOS SILVESTRE E FERNANDO LIMA DA
MOTA

Decat (1999, 2009, 2011) postula o fenômeno do desgarramento e afirma que o


uso de estruturas “soltas” funciona como estratégia de focalização para atender
a objetivos comunicativos e discursivos, sendo comparável à topicalização e
à clivagem. Com base nisto, este trabalho objetiva ampliar análise de Barros
e Silvestre (2020) e averiguar se estruturas desgarradas apresentam pistas
prosódicas que as assemelhem às já descritas para tópicos e clivadas no

320
Simpósio Proposto
Estudos em prosódia do português:
reflexões sobre a interface sintaxe-fonologia

Português do Brasil, fornecendo evidência fonológica à estratégia sintática. Para


tal, são utilizados os pressupostos teóricos da Fonologia Prosódica (NESPOR;
VOGEL, 1986) e da Fonologia Entoacional (PIERREHUMBERT, 1980; LADD, 2008)
e analisadas gravações feitas com base em exemplos retirados de Decat (2011).
A análise, feita no programa computacional PRAAT (BOESMA; WEENICK, 2015),
verificou os parâmetros acústicos de frequência fundamental (F0), pausa e
duração em estruturas desgarradas e em estruturas anexadas formalmente
à oração matriz, a fim de que se pudesse proceder à comparação dos dados.
Os resultados revelam que o “contorno final” e a presença de pausa, descritos
por Decat (2011) como possivelmente caracterizadores do desgarramento, são
traços comuns em todas as estruturas analisadas, ainda que haja uma maior
duração das pausas antes das desgarradas. Assim, para dados oriundos de
leitura, em que a oração matriz antecede a adverbial desgarrada, separada por
pontuação não canônica, temos que i) a localização do ponto não convencional
na fronteira de IP, constituinte prosódico construído a partir relações sintáticas
mais frouxas, é condição necessária para que existam as orações em análise;
ii) na fala, a fronteira de IP relacionada à oração matriz será delimitada por pausa e
por contorno entoacional baixo, mesmo que indicando necessária continuidade;
e iii) a fronteira baixa, juntamente com a pausa, irá fornecer evidência fonológica
à estrutura sintática, indicando foco à direita, como já observado por Soncin
(2012) para a utilização não convencional de vírgulas no domínio do sintagma
fonológico (PhP).

Português de Guiné-Bissau e Português Europeu:


um estudo preliminar sobre a percepção das suas
diferenças entoacionais
Autoria: BRAGA DA SILVA E FLAVIANE ROMANI FERNANDES SVARTMAN

Estudos sobre as características entoacionais das sentenças declarativas


neutras do português falado em Guiné-Bissau (PGB) (SANTOS; FERNANDES-
SVARTMAN, 2014; SANTOS, 2015; SANTOS; BRAGA, 2017), desenvolvidos com
base na Fonologia Prosódica e na Fonologia Entoacional, apontam que, quanto
à densidade tonal, o PGB se afasta da variedade padrão do português europeu

321
Simpósio Proposto
Estudos em prosódia do português:
reflexões sobre a interface sintaxe-fonologia

(Standard European Portuguese - SEP, falado em Lisboa) – baixa densidade


tonal – e se aproxima de outras variedades ultramarinas de português, como
o português brasileiro (PB) – alta densidade tonal. Entretanto, novos dados de
PGB mostram uma maior similaridade ao SEP no que diz respeito à forma que
o contorno assume: SEP e PGB apresentam platôs, sendo que SEP apresenta
um platô contínuo, enquanto PGB, uma composição de pequenos platôs. Neste
trabalho, apresentamos os resultados de um teste de percepção piloto em que
testamos se essa diferença seria percebida por falantes de PB (variedade com
curva entoacional com muitos movimentos ascendentes e alta densidade tonal)
e de SEP (variedade com curva entoacional contínua e baixa densidade tonal).
O teste consistiu numa tarefa de discriminação AX categorial, para o qual foram
selecionadas duas sentenças declarativas neutras, realizadas por dois falantes
de SEP e dois falantes de PGB, totalizando 8 sentenças (2 sentenças x 2 falantes
x 2 variedades), que compuseram o arranjo de combinações apresentadas aos
participantes. As sentenças em SEP e PGB apresentavam de 8 a 10 sílabas e foram
filtradas através do software Praat (BOERSMA; WEENINK, 2014) a 400Hz, sendo
preservado apenas o seu contorno entoacional. Formaram-se 48 combinações
(AA, BB, AB, BA), sendo 16 pares com sentenças da mesma variedade (8 SEP-SEP
e 8 PGB-PGB), 32 com sentenças de variedades diferentes entre si (SEP-PGB e
PGB-SEP) e todos os pares de estímulos realizados por falantes diferentes. O
teste foi realizado on-line por 27 sujeitos: 8 falantes de SEP e 19 falantes de PB da
cidade de São Paulo. Dentre os resultados encontrados, destacamos que, para
os pares com variedades diferentes, os participantes brasileiros percebem muito
mais a diferença entre SEP e PGB, quando o primeiro contorno entoacional
apresentado é de SEP. Esse resultado indica-nos que um contorno entoacional
seria melhor distinguido pela quantidade de movimentos do que pela quantidade
de acentos tonais, fazendo-nos acreditar que, na diferenciação de línguas, o
tipo de contorno seja uma pista mais robusta do que a densidade tonal.

322
Estudos sobre a mudança linguística em
perspectiva construcional
Autoria: CIBELE NAIDHIG DE SOUZA

A proposta deste simpósio é reunir trabalhos de membros do Grupo de Estudos


Sociofuncionalistas (GESF- UFMS) que estudem a mudança linguística sob
perspectivas ligadas a modelos baseados no uso. Essa abordagem apoia-se no
entendimento de que o conhecimento linguístico dos falantes é organizado em
esquemas, que são memorizados, rotinizados pelo uso linguístico. A língua é
compreendida como sistema adaptativo complexo, que apresenta, ao mesmo
tempo, estrutura, variância e gradiência, e tem a sua estrutura moldada pelas
demandas socio-cognitivas, interativas ligadas ao uso (BYBEE, 2010). Dentro
dessa possibilidade de análise linguística, interessam, mais especificamente a
este simpósio, aquelas que se relacionam à gramática de construções. A unidade
de análise é a construção, descrita como conjunto convencional constituído
de uma dimensão formal, que envolve propriedades sintáticas, morfológicas e
fonológicas, e uma dimensão de sentido, que envolve propriedades semânticas,
pragmáticas e discursivas. Esses pareamentos simbólicos são associados entre si
em uma rede construcional. Para a descrição das construções, são propriedades
relevantes a esquematicidade, a produtividade e a composicionalidade. Tais
fatores são tomados como gradientes e, em perspectiva diacrônica, prevê-se
a tendência a aumento de esquematicidade e de produtividade, e diminuição
de composicionalidade, como indicam Traugott e Trosdale (2013). Mecanismos
de mudança como neoanálise e analogização são atuantes no uso linguístico,
e podem ser identificados na base desses desenvolvimentos. As alterações
linguísticas podem envolver apenas uma dimensão da construção (forma ou
sentido/função), o que identificaria a mudança construcional (TRAUGOTT;
TROUSDALE, 2013), ou podem envolver ambas as dimensões (forma e sentido/
função) dando surgimento a um novo pareamento de forma/função, um novo nó
na rede construcional, o que caracterizaria a construcionalização (TRAUGOTT;
TROUSDALE, 2013). No apoio dos estudos teóricos da gramática de construções,
pode ser investigada a mudança linguística relacionada a diversos objetos
de estudo, e os trabalhos deste simpósio explorarão alguns deles, na língua
portuguesa.

323
Simpósio Proposto
Estudos sobre a mudança linguística em perspectiva construcional

As construções auxiliares modais [v1+conector+v2inf]


no espanhol peninsular: uma proposta de análise sob
a abordagem construcional
Autoria: ANA LUIZA FERANCINI NOGUEIRA

Assumindo o estatuto de auxiliar do verbo "tener", do espanhol, e tomando


por base os pressupostos da gramaticalização (HOPPER; TRAUGOTT, 2003),
analisamos, em nível de Mestrado, o processo de abstratização semântica da
perífrase "tener que" plenamente consolidada e capaz de expressar significados
modais. Ainda que tenhamos focalizado a mudança semântica de [tener que +
infinitivo], reconhecemos que o verbo pleno "tener" havia sofrido, em sincronias
mais remotas, mudança categorial (de verbo pleno a auxiliar) e semântica (de
sentido de posse a indicador de funções gramaticais), passando a constituir
perífrase com valor modal. Como resultado, a perífrase passou a concorrer,
no mesmo domínio funcional, com outras formas modais, como [haber de +
infinitivo], [haber que + infinitivo] e [tener de + infinitivo], todas originadas em
contextos de uso como verbo pleno com significado de posse associado a uma
oração de finalidade. O fato de, para essas diferentes perífrases, serem apontadas
trajetórias similares de desenvolvimento gramatical nos levou a questionar
como tal mudança poderia ser interpretada como resultante de um processo
mais amplo de construcionalização na constituição de uma rede procedural
dentro da gramática. Esse questionamento é motivado pela constatação, a
partir da pesquisa de Mestrado, de uma trajetória de generalização de tipos de
sujeito e de verbos principais associados à "tener que". A reinterpretação desse
resultado nos conduziu à proposta de pesquisa atual, a qual se fundamenta
em pressupostos teórico-metodológicos da abordagem construcional (BYBEE,
2010; TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013) e objetiva investigar a emergência das
construções auxiliares modais com os verbos "haber" e "tener" do espanhol
peninsular. Considerando, então, a construcionalização como “formação de
novas unidades (construções) a partir de materiais independentes até então”
(BERGS; DIEWALD, 2008, p. 5) e admitindo que o fenômeno ocorre por meio de
neoanálises e analogias no campo pragmático, hipotetizamos que as perífrases

324
Simpósio Proposto
Estudos sobre a mudança linguística em perspectiva construcional

modais com os verbos em exame surgem como resultado de uma série de


mudanças em micropassos, os quais levam à abstração de um esquema de
natureza procedural [V1+Conector+V2inf]modal. Para análise da trajetória de
mudança, verificaremos, com base nos parâmetros de auxiliaridade elencados
por Heine (1993) e Ilari e Basso (2014), alterações nos graus de esquematicidade,
produtividade e composicionalidade das construções à medida em que avança
o processo de mudança linguística. Como córpus de investigação, utilizaremos
dados retirados do CORDE (Córpus Diacrónico del Español), desde o século
XIII até o século XX.

Gradiência contextual e mudança construcional


em advérbios preposicionais
Autoria: MARCOS LUIZ WIEDEMER E FÁBIO RODRIGO GOMES DA COSTA

Os usos linguísticos são, conforme os Modelos Baseados no Uso (e.g. BARLOW;


KEMMER, 2000), o resultado de três diferentes instâncias: estruturais, cognitivas
e sócio-históricas, que podem ser tratadas sob o rótulo maior de “contexto”,
e desempenham um papel fundamental na correlação entre o nível da forma
(expressão) e o nível do sentido (função). Assim, com o objetivo de investigar
a gradiência e fixação de padrões construcionais do esquema construcional
advérbios preposicionais (diante de, antes de, em frente de/a, em face de), no
português brasileiro, investigamos os contextos motivadores a partir das noções
de espaço, tempo e circunstância e aplicamos as definições de Diewald (2002)
e Diewald e Smirnova (2012), em que procuramos, a partir das características
morfossintáticas e pragmático-discursivas, aplicar a definição dos seguintes
contextos: típico, atípico, crítico, isolado e paradigmático. Para tal finalidade,
lançamos mão de metodologia quali-quantitativa e dados oriundos de dois jornais
(Folha de São Paulo e Estadão), no período de 2017, e controlamos os seguintes
fatores; (i) referência (físico-concreta, abstrata-temporal, abstrato-lógica); (ii)
tipo textual (narrativo, descritivo, expositivo, argumentativo e injuntivo); (iii)
tipo verbal; e (iv) contexto sintático subsequente. Em relação aos resultados
gerais, é possível constatar diferentes contextos de usos e o afastamento do
sentido básico (JAKOBSON, 1966), dos advérbios preposicionais analisados, o

325
Simpósio Proposto
Estudos sobre a mudança linguística em perspectiva construcional

qual é possível verificar os micropassos da mudança construcional (TRAUGOTT;


TROUSDALE, 2013). Além disso, verificamos que nenhum dos advérbios
preposicionais analisados atingem o quarto e quinto estágio da mudança,
que correspondem ao contexto isolado e ao paradigmático, o que confirma a
mudança construcional. Assim, os diferentes padrões de usos podem ser vistos
como um processo de analogização. Por fim, os resultados confirmam, ainda, que
os diferentes significados emergem do reconhecimento da categorização híbrida
dessa categoria, em um continuum categorial, em que se processa a gradiência
existente, em que temos, progressivamente, a diminuição das propriedades
preposicionais e aumento das propriedades adverbiais. Deste modo, os advérbios
preposicionais que fazem referência físico-concreta são [+preposicionais], pois
estão inseridos em contexto mais locativos. Os que fazem referência abstrato-
temporal são [±preposicional/adverbial], pois estão inseridos em contextos
em que há ausência de frame espacial e presença de localização temporal. Já
os que fazem referência abstrato-lógica são [+adverbiais], pois estão inseridos
em contextos mais causativos, que contribuem para o encadeamento lógico
do texto. Assim, a adoção da noção de frame discursivo (FRIED, 2010), seja no
seu sentido conceptual, como esquemas conceptuais, seja como esquemas
interacionais, se mostrou produtiva neste estudo.

Mudanças construcionais no campo modal


Autoria: CIBELE NAIDHIG DE SOUZA

Mapeamentos semânticos para a modalidade (VAN DER AUWERA; PLUNGIAN,


1998; NARROG, 2012; entre outros) são ferramentas auxiliares para a descrição
do sistema modal de diferentes línguas, e para a compreensão da emergência
e do desenvolvimento de expressões. Neste trabalho, examinam-se alguns
desses encaminhamentos e discute-se sua adequação à investigação da
mudança linguística em perspectiva construcional, elegendo-se, como estudo
de caso, a construção “poder ser”, na língua portuguesa. A pesquisa serve-se
de textos de diferentes sincronias, disponibilizados pelo Corpus do Português
(www.corpusdoportugues.com). Assume-se a língua como estruturada, variante
e gradiente, em constante acomodação proveniente dos usos (BYBEE, 2010).

326
Simpósio Proposto
Estudos sobre a mudança linguística em perspectiva construcional

O conhecimento linguístico dos falantes é entendido como organizado em


esquemas rotinizados pela experiência, ligados entre si e pertencentes a uma
rede. A unidade de análise é o pareamento simbólico entre forma e função, a
construção, e as mudanças linguísticas podem envolver a dimensão formal
ou a dimensão semântica/funcional, ou ambas as dimensões (TRAUGOTT;
TROUSDALE, 2013). Preveem-se, diacronicamente, aumento de esquematicidade
e de produtividade, e diminuição de composicionalidade. Para o tratamento
da modalidade, interessam a este trabalho, especialmente, as propostas
de Hengeveld (2004) e de Narrog (2012) e as previsões de mudanças delas
decorrentes. Hengeveld (2004) estuda a modalidade a partir do cruzamento
entre: i) orientação (para o participante, para o evento, para episódio ou para a
proposição); e ii) domínio (facultativo, deôntico, volitivo ou epistêmico). O modelo
de Narrog (2012) caracteriza-se pela gradiência de dois critérios que também se
combinam: i) a volitividade; e ii) a orientação (para o evento, para o falante ou
para o ato de fala). Ambos os autores defendem que a mudança se dá em termos
de aumento de escopo, de dentro da predicação para fora da predicação. Com
base nesses pressupostos, examina-se a construção “pode ser”. A pesquisa
revela valores epistêmicos e deônticos, em diferentes padrões morfossintáticos.
Avaliam-se, então, trajetos de desenvolvimento previstos para a modalidade.
Conclui-se que a postulação de Narrog (2012), segundo a qual há tendência de
mudança em direção aos atos de fala, à intersubjetividade (TRAUGOTT, 2010),
apoia a defesa de que o padrão epistêmico sanciona o deôntico, nesse caso.
Oferece-se, por fim, uma proposta analítica para esses encaminhamentos na
perspectiva da mudança construcional e da construcionalização (TRAUGOTT;
TROUSDALE, 2013).

Multifuncionalidade verbal e construções de


estrutura argumental no português
Autoria: ARIELLY FERREIRA BERLANDI E SOLANGE DE CARVALHO FORTILLI

O trabalho proposto parte das premissas advindas dos Modelos Baseados no Uso
(MBU), que definem a língua como sistema adaptativo complexo, motivado por
processos cognitivos e organizado em redes. De acordo com esse entendimento,

327
Simpósio Proposto
Estudos sobre a mudança linguística em perspectiva construcional

a estrutura da língua é moldada pelas demandas sociocognitivas e interativas, o


que indica que a gramática e sua estrutura são resultado de processos relativos
ao conhecimento de mundo e à linguagem. A multifuncionalidade de certas
construções verbais, atestada por seus traços formais e semântico-pragmáticos,
é prova da íntima relação entre estruturas linguísticas e instâncias do uso. Nesse
sentido, o ponto central deste trabalho é a investigação de diferentes empregos
dos verbos "deitar" e "causar" no português brasileiro, os quais se envolvem em
diferentes construções e redes construcionais. A Gramática de Construções,
desdobramento dos MBU, tem como unidade de análise a construção, definida
como o pareamento simbólico entre forma e sentido/função e determinada
pelas propriedades esquematicidade, produtividade e composicionalidade,
vistas em gradiência. Mais especificamente, pretende-se detalhar como tais
verbos se comportam quanto à estrutura argumental, como se vê, atualmente,
enunciados como: a) eu me deitei e dormi, b) deitei a Nanda na porrada, c)
causei discussão no grupo da família e d) não sei se é a idade chegando ou
se causei muito no final de semana, todos retirados do Twitter e portadores
de diferentes relações entre predicado e argumentos. Observar a estrutura
argumental exige que se considere que o léxico de uma língua contém informação
sobre as molduras (frames) dos verbos, que descrevem quais argumentos são
indispensáveis e quais são facultativos (FURTADO DA CUNHA, 2006). Já para
Goldberg (1995), as construções de estrutura argumental correspondem aos
tipos oracionais mais básicos e, em seu sentido central, codificam situações que
são fundamentais à experiência humana, tais como, movimento, transferência,
causação, posse e outros. O que se verifica, pela polissemia desses verbos,
é que eles transitam por algumas dessas situações, instanciando, portanto,
diferentes construções. O universo de investigação é a rede social Twitter, dentro
da qual serão selecionadas as primeiras duzentas ocorrências de cada verbo,
já que, em um olhar prévio, notaram-se milhares de casos, fruto da velocidade
de atualização da plataforma. A escolha do Twitter deu-se pelo tipo de registro,
próximo à língua falada e, supostamente, mais propício ao fenômeno. Com o
conjunto de dados, pretende-se ter um panorama do comportamento de deitar
e causar, a fim de confirmar seu trânsito pelos diferentes tipos de construções

328
Formação inicial de professores de língua inglesa
na modalidade remota:
desafios, inovações e contribuições
Autoria: AMANDA POST DA SILVEIRA

Com o advento mundial da pandemia de COVID-19, o setor educacional, em


suas diferentes instâncias, viu-se em meio a uma iminente necessidade de
reinvenção de seu contexto presencial de prática pedagógica, e da relação
estudante-professor, para cumprir normas sanitárias como o distanciamento
social. Instituições de ensino do mundo inteiro, do ensino básico ao superior,
passaram a readaptar e replanejar seus cursos e disciplinas do modo presencial
para o on-line, por meio do que se convencionou chamar de ‘ensino remoto
emergencial’, diferente do que se entende por ensino à distância (HOLGES,
2020). É neste contexto em que a presente proposta de simpósio justifica-se,
pois traz os desafios, inovações e contribuições no desenvolvimento remoto
de uma disciplina de língua inglesa do primeiro ano de um curso de Letras
de uma universidade pública do interior de São Paulo. O trabalho foi fruto de
uma colaboração entre duas universidades públicas e da co-participação de
cinco professoras formadoras trazendo suas diferentes perspectivas dentro
da área de linguística aplicada. Permeadas pela formação de professores de
língua inglesa, as contribuições que deram forma a este simpósio tratam de
diversos aspectos desta experiência de ensino remoto. Inicialmente, trata-se da
adaptação do plano de ensino da referida disciplina introdutória e da discussão
dos princípios teóricos iniciais de formação de professores; caminhando para
o diagnóstico do papel relegado do ensino de pronúncia desde a escola e uma
proposta de ensino crítico no ensino superior; passando para a experiência
e implementação de ferramentas multimodais e tecnológicas nas atividades
linguístico-comunicativas em língua inglesa realizadas; culminando em uma
primeira experiência de elaboração de um plano de aula. Como contribuição,
esperamos que este simpósio venha somar-se a trabalhos que tratam sobre o
ensino de línguas estrangeiras no ensino superior no meio remoto, especialmente
no que se refere ao ensino-aprendizagem de língua inglesa em curso de formação
de professores.

329
Simpósio Proposto
Formação inicial de professores de língua inglesa na
modalidade remota: desafios, inovações e contribuições

A prática profissional pedagógica no curso de Letras-


Inglês: reflexões de uma interação interinstitucional
Autoria: BHIANCA MORO PORTELLA E ELAINE FERREIRA DO VALE BORGES

Com a mudança repentina do ensino presencial para o remoto, também


nas universidades emergiram novas formas de (inter)agir. A cooperação
entre docentes de instituições díspares na condução de uma disciplina da
graduação foi uma dessas possibilidades. Nesta perspectiva, este trabalho
objetiva trazer as reflexões de duas professoras da área de língua inglesa
sobre a prática profissional pedagógica na formação inicial via um modelo
específico de plano de aula utilizado em turmas de níveis e instituições
diferentes. Integrantes do quadro de pesquisadoras (uma efetiva e outra no
mestrado) de uma universidade pública estadual do interior do Paraná, as
professoras foram convidadas a atuar, na modalidade remota, em uma disciplina
do primeiro ano de um curso de Licenciatura em Letras de uma universidade
federal do interior paulista. Essencialmente, na interação virtual, as atividades
desenvolvidas pelas professoras tiveram como diferencial o fato de levarem
suas experiências profissionais e em pesquisas no que tange ao planejamento
de ensino na formação de professores. Visando um desenvolvimento docente
fundamentado na práxis, o modelo de plano de aula em questão foi elaborado
por uma das professoras em sua trajetória profissional na execução da disciplina
de estágio curricular supervisionado em língua inglesa e testada pelas duas
professoras (como professora-formadora e como professora-aluna) em contexto
de formação pré-serviço no quarto ano de um curso de Licenciatura em Letras da
universidade de origem. Nesta comunicação, serão discutidas as reflexões que
emergiram na interação interinstitucional no uso de um mesmo tipo de plano
de aula em turmas de níveis (primeiro e quarto anos) e instituições diferentes.
O cruzamento dos dados nos mostra o potencial da utilização de planos de
aulas (nos moldes do que foi apresentado) para os cursos de Licenciatura em
Letras que estejam engajados com o desenvolvimento da prática profissional
pedagógica de professores de língua inglesa durante todo o andamento da
graduação. Ainda, há que se destacar a importância da emergência dessa
reflexão que foi proporcionada pela interação remota entre duas universidades
em tempos de pandemia.

330
Simpósio Proposto
Formação inicial de professores de língua inglesa na
modalidade remota: desafios, inovações e contribuições

Do presencial ao remoto: inovações positivas no


ensino de inglês em um curso de Letras
Autoria: RITA DE CÁSSIA BARBIRATO THOMAZ DE MORAES E BHIANCA MORO
PORTELLA

Muitos foram os desafios e obstáculos a serem superados na mudança do


ensino presencial para o ensino remoto. Logo no início do ano letivo de 2020,
houve a necessidade de se organizar um novo tipo de planejamento das ações
didático-pedagógicas e a integração de novas tecnologias e recursos didáticos.
Com isso, foi preciso que as professoras aprendessem e implementassem novas
formas de interagir com os alunos e fossem capazes de engajá-los no processo
de ensino-aprendizagem. Nesse processo, surgiram novas oportunidades, como
a integração remota de professores de diferentes instituições em uma mesma
disciplina. Nesta perspectiva, este trabalho objetiva trazer as reflexões de duas
professoras da área de língua inglesa, de instituições e contextos de formação
diferentes, sobre a prática pedagógica que se desenvolveu em uma disciplina
de língua inglesa do primeiro ano de um curso de Licenciatura em Letras de
uma universidade federal do interior paulista. Também temos o objetivo de
apresentar os tipos de atividades e aplicativos utilizados nas aulas e relatar como
se deu o processo de ensino-aprendizagem por meio do uso de ferramentas
multimodais e tecnológicas voltadas para o ensino de língua, ou adaptadas
para este fim. Foram usadas nesta prática uma grande variedade de aplicativos
e/ou plataformas, podendo citar algumas como Padlet, PowerPoint, Kahoot,
Quizzi, Mentimeter e YouTube. Pudemos notar durante nossa trajetória que os
alunos tiveram alto nível de engajamento, alta taxa de frequência e excelentes
resultados nas atividades avaliativas. Em diversas atividades propostas, o nível
de precisão no uso da linguagem, considerando o aparato que eles já dispunham
quando iniciaram o processo na instituição, foi bastante alto, demonstrando que
houve aprendizado e aquisição da língua inglesa. Para a análise serão utilizadas
as atividades assíncronas realizadas pelos alunos e os planos de aula elaborados
pelas professoras. Sendo assim, buscamos, nesta comunicação, trazer uma
análise preliminar de como foi o desenvolvimento do trabalho, bem como as

331
Simpósio Proposto
Formação inicial de professores de língua inglesa na
modalidade remota: desafios, inovações e contribuições

contribuições que as ferramentas multimodais e tecnológicas trouxeram para


a sala de aula remota. Cabe destacar também que este trabalho não seria
viável senão em ensino remoto, uma vez que uma das professoras não poderia
atuar na instituição em questão dada a distância entre a instituição a que está
vinculada no interior do estado do Paraná e a instituição na qual as aulas foram
ministradas.

Ensino superior em modo remoto: considerações


acerca das adaptações em planos de ensino de cursos
de formação de professores de língua estrangeira
Autoria: CAMILA HÖFLING

A mudança brusca do contexto presencial para um novo contexto e formato


remotos de sala de aula, por conta da crise sanitária mundial da pandemia
de COVID-19, tornou mandatória a necessidade da inserção de ferramentas e
plataformas on-line, das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação
(TDICs), bem como imprescindível toda a discussão acerca do replanejamento,
da preparação e adaptação de planos de ensino para esse novo formato, sem
deixar de lado a questão fundamental das limitações dos sujeitos envolvidos
(professor, estudante, instituição) e, acima de tudo, a discussão para que não
houvesse ainda mais exclusão (de diferentes formas) em determinados contextos.
Todas as implicações dessa mudança mostraram-se não somente como
desafios a serem enfrentados, mas também como possibilidades de formação
para tais sujeitos. Nesta perspectiva, esta comunicação visa apresentar, do
ponto de vista de uma das professoras ministrantes, o percurso trilhado desde
a adaptação e confecção do plano de ensino de uma disciplina introdutória
de língua inglesa para estudantes ingressantes em curso de Licenciatura em
Letras Português-Inglês, em nível de graduação, passando pela materialização
da disciplina em ambiente remoto, até seu momento final. Decisões quanto ao
uso das diferentes ferramentas e plataformas, bem como quanto a questões
relacionadas às adaptações para as discussões teóricas iniciais acerca da
formação de professores de línguas, serão apresentadas e discutidas à luz de
teóricos da linguística aplicada, da formação de professores e do uso das TDICs,

332
Simpósio Proposto
Formação inicial de professores de língua inglesa na
modalidade remota: desafios, inovações e contribuições

a saber: Tardiff (2014), Pennycook (2001), Rajagopalan (2011, 2005), Brown (2000),
Nóvoa (2019) e Mill (2018, 2009), entre outros. Baseando-se nos resultados dessa
análise, um plano de ensino robusto, levando em conta o perfil do estudante de
um curso de Letras, professor em pré-serviço desde o início do curso, e visando
o contexto do ensino remoto emergencial, pode ser mais bem desenhado e
efetivo na preparação desses estudantes/futuros professores para um novo
período incerto da crise pandêmica atual.

O papel relegado do ensino de pronúncia de inglês


como LE: diagnóstico e ensino-aprendizagem no
modo remoto
Autoria: AMANDA POST DA SILVEIRA

Esta proposta consiste na realização de um diagnóstico da situação dos


alunos quanto ao ensino-aprendizagem de pronúncia de língua inglesa ao
chegarem no curso de Letras e nas estratégias tomadas a partir disso para
fins de ensino de pronúncia no contexto de ensino remoto no atual plano
emergencial devido à pandemia do COVID-19. O diagnóstico foi feito com base
em dois questionários aplicados aos alunos ingressantes inscritos em uma
disciplina introdutória de Língua Inglesa que visavam coletar informações sobre
o background linguístico dos alunos, sobre o acesso ao ensino de pronúncia
de língua inglesa em suas trajetórias escolares e suas opiniões sobre ensino
de pronúncia enquanto professores em formação. Esses questionários foram
aplicados como atividades assíncronas, ou seja, como atividade extraclasse.
Inicialmente observamos que a grande maioria teve acesso somente às aulas de
inglês oferecidas pelas escolas públicas em seu currículo oficial. As respostas
dos alunos confirmam dados de outros trabalhos sobre o ensino de pronúncia
em língua inglesa na escola regular, que mostram que isso é algo relegado por
diversas razões na escola regular pública. Tais respostas refletem também as
crenças dos alunos sobre o ensino-aprendizado de pronúncia que devem ser
conhecidas por nós professores e que são importantes pontos de partida da
problematização do ensinar-aprender pronúncia de inglês como LE. Por fim,
os meios digitais remotos promoveram uma miríade de possibilidades de usos

333
Simpósio Proposto
Formação inicial de professores de língua inglesa na
modalidade remota: desafios, inovações e contribuições

de apps de pronúncia, recursos do Google-Suite, adotados pela instituição


em que o curso foi aplicado, bem como apps não-específicos que usamos no
nosso dia a dia (como WhatsApp e YouTube) para o ensino de pronúncia de
língua inglesa. Através desses, foi possível mostrar diversas pronúncias de
inglês, diferentes do “padrão” ou “correto” e muitas práticas como gravação de
fala via WhatsApp, por exemplo, foram realizadas. Concluindo, é essencial que
tenhamos um diagnóstico da situação e experiência de aprendizado de língua
inglesa de nossos alunos que chegam ao ensino superior. Foi possível constatar,
com questionários direcionados, que o ensino de pronúncia ainda é bastante
relegado em relação às outras competências da LE. Finalmente, demonstramos
que uma aplicação de ensino remoto de pronúncia, mesmo que em um plano
emergencial, é possível, pode ser bem-sucedida e pode ser feita de modo crítico.

334
Fraseologia e tradução
Autoria: MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA

O objetivo deste simpósio, que figura na área de Lexicologia e Lexicografia, é


propiciar reflexões que aproximem a Fraseologia das questões relacionadas
à Tradução, considerando também a interface com as áreas do Ensino de
Línguas, da Linguística de Corpus e da Terminologia. Com base, no âmbito
internacional, nos autores: Zuluaga (1980), Corpas Pastor (1996), Ruiz Gurillo
(1997) e Penadés Martínez (2012), e, na esfera nacional, em Xatara, Riva e Rios
(2001), Tagnin (1988, 2002), Ortiz Álvarez (2012 (org.), vol. 1 e 2), Monteiro-Plantin
(2014, vol. 1) e Suzete Silva (2014), Fraseologia é entendida como o estudo das
unidades fraseológicas (UF) presentes no léxico de uma língua geral, especial ou
de especialidade. A Tradução, apesar do seu estatuto acadêmico independente
(HOLMES, 1972), é uma atividade que mantém, desde os seus inícios, estreitos
contatos com a Linguística, como se pode observar nos escritos de Vinay
e Dalbernet (1958), Jakobson (1959), Mounin (1963), Nida (1964) ou Catford
(1965). Essa atividade milenar permite aos pesquisadores aproximarem os
conhecimentos linguísticos dos usuários das línguas envolvidas, seja por
meio do registro dos resultados nos dicionários ou em obras voltadas para
especialistas ou para o público geral, seja oferecendo ferramentas de análise
que ajudem a compreender as diferentes escolhas tradutórias. Tagnin e Teixeira
(2004) trazem uma contribuição ao proporem o uso da Linguística de Corpus
como metodologia para os estudos da tradução técnica, também permeada de
fraseologismos; segundo elas, “a terminologia tradicional costuma desprezar
as ocorrências multi-palavras – ou lexias complexas, ou colocações –, via de
regra, as que apresentam maior dificuldade na tradução” (TAGNIN, TEIXEIRA,
2004, p. 315). Cabe enfatizar que, neste simpósio, é empregado o conceito amplo
de Fraseologia, em que se incluem não somente as expressões idiomáticas,
locuções e colocações, mas também as parêmias, enfim, as lexias compostas
e complexas estudadas no domínio geral ou especializado. Bevilacqua (2005,
p. 74-75), ao apresentar um “panorama amplo sobre a fraseologia da língua comum
e sobre a fraseologia especializada”, aponta “a importância da fraseologia como

335
um aspecto importante no ensino e aprendizagem de uma língua” e como “no
caso dos tradutores ou de outros mediadores linguísticos como os jornalistas”,
é importante “saber identificar e usar” as UF. São bem-vindos trabalhos que
discutam a problemática da tradução das UF, independentemente do par de
línguas (ou mais de duas), incluindo, em busca da acessibilidade, a tradução
intralinguística (FINATTO, 2020) e apresentando as metodologias utilizadas e
os resultados alcançados.

336
Simpósio Proposto
Fraseologia e tradução

A tradução das parêmias em um dicionário bilíngue


de provérbios brasileiros
Autoria: JOSÉ ANTONIO SABIO PINILLA
E HELOISA DA CUNHA FONSECA

Os provérbios, ou parêmias, são unidades fraseológicas de fácil domínio e


utilização pelos falantes das diversas línguas, mas representam um desafio
para lexicógrafos, tradutores e, principalmente, estudantes de línguas e de
tradução, pela maneira viva como entrelaçam formas linguísticas e elementos
culturais específicos. É com base nessas percepções que este trabalho objetiva
uma reflexão que aproxime Fraseologia e Tradução, a partir da proposta de
classificação dos tipos de equivalentes registrados em um trabalho anterior,
em que se propôs a elaboração de um dicionário bilíngue (português-espanhol)
de provérbios brasileiros orientado a estudantes espanhóis de tradução, com o
intuito de ser tanto uma ferramenta de consulta como um material de estudo das
diferentes opções de tradução dos provérbios. Pretende-se, portanto, favorecer
uma reflexão sobre as escolhas no decorrer da tradução das parêmias, uma vez
que é um processo bastante complexo, ainda mais para estudantes de tradução,
como já pontuaram Zuluaga (2001), Corpas Pastor (2003), Chacoto (2012) e Sevilla
Muñoz (2015). Para isso, adotou-se a concepção ampla da Fraseologia, em que a
parêmia é vista como uma unidade fraseológica que abarca diversas classes de
enunciados proverbiais (SEVILLA MUÑOZ, 1988; CORPAS PASTOR, 1996). Assim,
neste trabalho, busca-se: a) evidenciar as dificuldades da tradução das parêmias,
b) oferecer uma amostra preliminar dos tipos de equivalentes que aparecem no
dicionário: equivalentes formais, equivalentes funcionais (com uma variedade
de tipologias) e equivalentes aleatórios, em que são possíveis várias opções
de tradução dos provérbios, e c) refletir sobre as escolhas tradutórias a fim de
mostrar a variedade de soluções que os estudantes podem encontrar com base
nas características deste par linguístico e cultural. Nesse contexto, privilegiou-
se a tradução fraseológica, ou seja, de um provérbio por outro provérbio ou por
alguma unidade fraseológica (equivalentes formais e equivalentes funcionais).
No caso dos provérbios sem equivalentes predeterminados, explorou-se a

337
Simpósio Proposto
Fraseologia e tradução

possibilidade de uso de diversos equivalentes contextuais e, não sendo possível,


ressaltou-se a solução criativa, a paráfrase e a tradução literal.

Expressões idiomáticas zoonímicas: representações


mentais e tradução
Autoria: ELIZABETE APARECIDA MARQUES

A coexistência do homem com os animais pode explicar o estabelecimento


de relações metafóricas que se materializam em expressões linguísticas
da linguagem humana, especialmente os fraseologismos, haja vista a alta
produtividade de unidades fraseológicas formadas com nomes de animais em
diferentes línguas. Considerando que o léxico é o nível da língua que melhor
reflete os fenômenos culturais de uma dada comunidade linguística, surgem
alguns questionamentos: quais os animais que são mais representados na
fraseologia brasileira? Como os fraseologismos formados com nomes de animais
são traduzidos em outras línguas como o espanhol e o francês? Que imagens
os animais que entram na composição dos fraseologismos suscitam na cultura
de cada língua? Situado na interface entre a Fraseologia, a Semântica Cognitiva
e a Etnolinguística, esta proposta de trabalho encontra seus antecedentes
teóricos e metodológicos nas investigações sobre as unidades fraseológicas,
realizadas no âmbito da intersecção entre fraseologia cognitiva e cultura ao
longo dos últimos anos (DOBROVOL’SKII; PIIRAINEN, 2000; KÖVECSES 2000,
2002; IÑESTA; PAMIES, 2002; MARQUES, 2007; entre outros). Em linhas gerais, a
partir do recorte de um corpus interlinguístico, este trabalho pretende apresentar
os resultados de um estudo que visou analisar as expressões idiomáticas do
português brasileiro com o intuito de identificar e descrever as representações
mentais ou esquemas conceituais dos animais, especificamente o cachorro,
o gato, o porco e o cavalo, que entram em jogo no processo de composição
dessas expressões. A proposta visa, ainda, discutir os correspondentes de
tradução em espanhol e francês das expressões idiomáticas analisadas a fim de
verificar se semelhanças e diferenças conceituais aportam ou não implicações
tradutológicas. Do ponto de vista metodológico, o inventário das expressões foi
constituído a partir de obras lexicográficas gerais e especializadas e a verificação

338
Simpósio Proposto
Fraseologia e tradução

do uso foi realizada em páginas web por meio do buscador Google. Os dados
evidenciam uma valoração baseada em imagens estereotipadas (maiormente
negativas) desses animais nas três línguas analisadas, repercutindo na criação
de formas fraseológicas relativamente similares, facilitando, portanto, o processo
de tradução.

Fraseologia(s) aeronáutica(s) em inglês e português:


análise à luz da linguística de corpus
Autoria: PATRÍCIA TOSQUI LUCKS

A comunicação que ocorre entre pilotos e controladores de tráfego aéreo, em


língua inglesa, durante um voo internacional, apresenta características que a
diferenciam de outras comunicações no contexto da aviação. A fraseologia padrão
aeronáutica é composta por um conjunto de frases e expressões preestabelecidas
que tomam por base um vocabulário de aproximadamente 400 palavras do
contexto da aviação, no qual palavras funcionais, como artigos, pronomes, verbos
de ligação, verbos auxiliares e algumas preposições, costumam ser excluídas
ou evitadas. Cerca de 50% das frases estão no imperativo, como em 'maintain
heading/mantenha proa' ou 'report overhead/reporte no bloqueio'; ou na voz
passiva, como em 'frequency change approved/ troca de frequência autorizada' e
as nominalizações são privilegiadas, como em 'aircraft in sight/aeronave à vista'
ou 'descent at your discretion/descida a seu critério' (Manual de Fraseologia
MCA 100-16, 2016). O objetivo da fraseologia é permitir a troca de informações
de forma clara, concisa e precisa, em situações normais de voo (OACI, 2010), e
suficiente para lidar com a maioria das situações encontradas na prática diária
do controle de tráfego aéreo. Porém, em situações inesperadas ou não usuais,
que podem ter causas tão diversas quanto: condições meteorológicas adversas,
emergências médicas, falhas no funcionamento da aeronave, problemas na
pista, perigo aviário, suspeitas de atentado à segurança, entre tantas outras,
essa linguagem pode se mostrar limitada para a comunicação. Nesses casos,
é necessário recorrer à linguagem comum, que também deve ser restrita ao
contexto aeronáutico e submetida aos mesmos padrões que caracterizam a
fraseologia aeronáutica (SCARAMUCCI; TOSQUI-LUCKS; DAMIÃO, 2018). A

339
Simpósio Proposto
Fraseologia e tradução

Organização de Aviação Civil Internacional define “comunicação aeronáutica


via radiotelefonia” (OACI, 2010), ou "inglês aeronáutico" (TOSQUI-LUCKS; SILVA,
2020), como sendo o conjunto de interações trocadas por esses profissionais,
caracterizada pelo uso da fraseologia padrão combinado com o uso de uma
linguagem comum (plain language) que extrapola a fraseologia, nos momentos
em que ela não é suficiente. Essa comunicação em 'plain language' também
é permeada por fraseologismos, aqui entendidos como colocações, lexias
compostas e complexas neste domínio especializado (TAGNIN; TEIXEIRA, 2004).
Nesta apresentação, analisaremos alguns exemplos de traduções de fraseologia
da língua inglesa para a portuguesa que contêm peculiaridades, bem como
exemplos de fraseologismos identificados no uso de 'plain language'. A análise
será realizada utilizando os procedimentos metodológicos da Linguística de
Corpus, por meio do software livre AntConc.

Proposta de técnicas tradutológicas na tradução


de parêmias literárias
Autoria: CLEUZA ANDREA GARCIA MUNIZ

No âmbito do simpósio “Fraseologia e Tradução”, que trata da relação entre os


estudos fraseológicos e questões relacionadas à Tradução, apresentamos, na
presente comunicação, os resultados de pesquisa de doutorado realizada acerca
do tratamento das parêmias, entendidas como o arquilexema dos enunciados
breves e sentenciosos (CRIDA ÁLVAREZ; SEVILLA MUÑOZ, 2013, 2017) e que
constituem atos de fala ou enunciados completos (CORPAS PASTOR, 1996), em
duas traduções brasileiras da obra La Celestina (1499), de Fernando de Rojas.
Analisamos o tratamento dispensado a este fenômeno linguístico criativo nas
traduções feitas por Paulo Hecker Filho (1990) e Millôr Fernandes (2008), bem
como os desafios pelos quais o tradutor pode se deparar no âmbito da tradução
fraseológica, dado que nem sempre é possível localizar uma correspondência
abarcadora de toda a carga histórica e cultural presente em muitas dessas
unidades paremiológicas. Considerando que a tradução contextual de uma
parêmia exige do tradutor um leque ainda maior de diferentes técnicas que
respondam a este desafio linguístico cultural (VIÉGAS-FARIA, 2004), fixamos,

340
Simpósio Proposto
Fraseologia e tradução

a partir de uma perspectiva descritiva, uma classificação própria de técnicas


tradutológicas que atendessem as especificidades do nosso estudo, revista à luz
da tradução das parêmias, de modo a verificar sua aplicabilidade no inventário de
parêmias populares celestinescas, extraídas do corpus das traduções brasileiras,
em contraste ao texto fonte. Para tanto, as bases teóricas e metodológicas
referentes à definição e delimitação dessas unidades paremiológicas decorrem
dos pressupostos de Sevilla Muñoz (1993), Anscombre (1997, 2010), Crida
Álvarez e Sevilla Muñoz (2013, 2017), mediante uma visão integradora da teoria
fraseológica, derivada dos postulados de Zuluaga Ospina (1980), Corpas Pastor
(1996; 2003) e García-Page (2008). No que concerne ao enfoque tradutológico,
este estudo ancora-se aos postulados de Toury (2004), Lépinette (1997) e Hurtado
Albir (2011). As análises demonstraram que os tradutores tendem a aplicar uma
sobreposição de diferentes estratégias para solucionar o desafio da tradução
das parêmias do texto fonte e a escolha de diferentes técnicas tradutórias
evidenciam uma correlação direta com o método de tradução adotado pelos
tradutores.

Unidades fraseológicas relacionadas a


gastronomismos: aspectos da tradução de lexias
culturais
Autoria: MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA
E MARIELE SECO

O objetivo deste trabalho é trazer à baila as dificuldades encontradas na


tradução de unidades fraseológicas (UF) e apontar estratégias que possibilitam
esse processo. Entendendo Fraseologia como o estudo das UF presentes no
léxico de uma língua geral, especial ou de especialidade (ZULUAGA, 1980;
CORPAS PASTOR, 1996; RUIZ GURILLO, 1997; XATARA; RIVA; RIOS, 2001), este
trabalho limita-se às expressões idiomáticas (EI), mais especificamente às
expressões idiomáticas relacionadas a gastronomismos (EIG) em português
do Brasil e francês da França. Xatara (1998) define as EI como lexias complexas
indecomponíveis, conotativas e cristalizadas em uma língua pela tradição
cultural, e EIG, segundo Seco (2017), são EI constituídas por nomes de alimentos

341
Simpósio Proposto
Fraseologia e tradução

líquidos ou sólidos, processados ou não. Dado seu caráter idiomático, tais lexias
impõem dificuldade de tradução, por não ser possível a tradução literal de cada
elemento da sequência sem alterar seu sentido total. Ademais, essas lexias
apresentam caráter cultural, o que gera a grande dificuldade na procura por
traduções que proponham equivalentes de mesmas categoria e conotação.
Convém ainda salientar que a proposta deste trabalho com EIG consiste em
encontrar EIG ou EI correspondentes já usuais e culturalmente partilhadas
em cada uma das línguas (GALISSON, 1987). Para que isso seja possível, os
preceitos da web como corpus, defendida, dentre outros, por Colson (2003),
Kilgarriff e Grefenstette (2003), Fletcher (2005), Xatara (2008), Riva (2009),
Rios (2010), se fazem relevantes. É a observação da língua em contexto real
de uso que permite encontrar e aprovar tais correspondências, por meio dos
excertos coletados nesse imenso corpus multilíngue gratuito e disponível a
todos, engenhoso e fértil, além de representativo daquilo que o pesquisador
intenciona buscar (KILGARRIFF, GREFENSTETTE, 2003). Durante o processo
de busca dos correspondentes idiomáticos na web, houve três situações
recorrentes: i) correspondência total; ii) correspondência parcial; iii) ausência
de correspondente. Diante desse quadro, é preciso que se estabeleçam critérios
para solução dos tipos ii e iii, para os quais já se apresentam: reconhecimento
de que as EI também experimentam todos os fenômenos linguísticos (variação
e evolução linguística, homonímia e polissemia, etc.) e necessidade de uma
apresentação que permita transmitir o(s) sentido(s) das EIG somente com
a definição ou com outra solução ainda sendo pesquisada. Conclui-se que
essas questões implicam diretamente na formulação da microestrutura de um
dicionário de UF, não sendo possível uma correspondência simplificada unidade
a unidade.

342
Intervenção nos processos de leitura e escrita de
crianças com dificuldades escolares
Autoria: ISABELLA DE CÁSSIA NETTO MOUTINHO

Este simpósio apresenta quatro trabalhos desenvolvidos no interior da


Neurolinguística Discursiva (ND). Eles têm em comum a discussão de questões
envolvidas no aprendizado de leitura e escrita e dão relevo ao trabalho
linguístico-cognitivo das crianças no processo de elaboração de hipóteses
sobre a representação gráfica das palavras. Tratam, sobretudo, da maneira
pela qual escola, clínica tradicional e pesquisadores da ND intervêm neste
processo. A metodologia da ND é de natureza heurística, envolve procedimentos
de descoberta das hipóteses sobre a fala, leitura e escrita e considera o contexto
de produção dos dados, a historicidade e singularidade dos sujeitos. Os dados
são produzidos no CCazinho/UNICAMP. As pesquisas revelam que, no geral, a
escola deixa de intervir na escrita das crianças e encaminha para profissionais
da clínica aquelas que apresentam o que chama de trocas, omissões e adições
de letras. Estes, por sua vez, também patologizam a escrita/leitura das crianças
por desconhecerem princípios básicos da linguística. Em contraposição,
apresentaremos a proposta de análise e intervenção da ND, que aponta práticas
com a fala, leitura e escrita que possibilitam à criança refletir e enfrentar suas
dificuldades. O primeiro trabalho analisa a autoridade conferida ao prefixo Neuro,
fortemente presente nos recentes títulos de livros sobre ensino e aprendizagem
e em manuais de intervenção clínica para pedagogos, psicopedagogos, dentre
outros. Analisa-se de maneira crítica as propostas de intervenção na escrita
de um desses manuais de modo a compará-la com uma proposta de atividade
da ND. O segundo apresenta dados de crianças que frequentaram o CCazinho.
A maioria carrega um diagnóstico de uma ou mais patologias estabelecidas
na atualidade, mas ainda não sabe ler e escrever. Apresenta-se a dinâmica de
intervenção inicial e a maneira pela qual a criança supera suas dificuldades. Já o
terceiro analisa princípios que sustentam a prática escolar de (não) intervenção
na escrita. Discute o fato de que a intervenção escolar não favorece que a
criança reflita sobre o que é considerado erro ou acerto, principalmente por

343
homogeneizar os estudantes e desconhecer o processo de aquisição da escrita.
Por fim, debate sobre a necessidade de uma escola transformadora. Por fim,
o quarto trabalho pretende, com a análise de três dados, demonstrar que os
discursos envolvidos na polêmica sobre as patologias do aprendizado não é
cientificamente comprovado. Na análise, a autora apresenta os equívocos nos
quais o posicionamento discursivo da área da Saúde se fundamenta e explica
por que estamos diante de discurso pseudocientífico.

344
Simpósio Proposto
Intervenção nos processos de leitura e escrita de
crianças com dificuldades escolares

Aprendizagem da leitura e escrita: a dificuldade é


do aluno ou da escola?
Autoria: LAURA MARIA MINGOTTI MULLER

Apresenta-se um recorte das análises presentes na tese de doutorado


Patologização e fracasso escolar: desnaturalizando respostas desenvolvida a
partir dos pressupostos teóricos e metodológicos da Neurolinguística Discursiva
(ND). Nela, foram discutidas as dificuldades escolares enfrentadas por três
estudantes do oitavo ano do Ensino Fundamental que receberam diagnósticos
equivocados relativos à sua aprendizagem. A pesquisa pautou-se pela análise
de dados escolares/médicos e pelo acompanhamento longitudinal dos sujeitos,
conduzida por um olhar que concebe mente/cérebro, linguagem e sujeito como
determinados sócio e historicamente e lança mão de uma metodologia heurística
que envolve a noção de dado-achado. Destaca-se as dificuldades enfrentadas
pela escola para intervir no processo de aquisição e uso da leitura e escrita de
crianças e jovens que representam uma diferença entre os saberes e práticas
padrões da escola. Essa dificuldade se expressa no encaminhamento desses
estudantes com dificuldades referentes à aprendizagem da leitura e escrita
para avaliações médicas, o que tem resultado em diagnósticos equivocados e
colaborado para a perpetuação desses problemas. Observou-se também que o
discurso da equipe escolar e suas práticas de condução do processo revelam
um desconhecimento das variedades linguísticas, de suas características e
de sua importância no trabalho pedagógico. Dessa análise crítica, propõe-se
a necessidade, no interior do contexto escolar, de uma formação da equipe
pedagógica que envolva conhecimentos básicos de fonética/fonologia e
sociolinguística, além do enfrentamento de barreiras estruturais da escola que
dificultam a observação das singularidades e diferenças entre os estudantes,
o que possibilitaria um trabalho efetivo e produtivo sobre elas. Nesse sentido,
apresenta-se a discussão do caso do sujeito MR, diagnosticado com déficit do
processamento auditivo, falante de uma variedade linguística estigmatizada
e em situação de fracasso escolar. O desenvolvimento do acompanhamento
longitudinal revelou reflexões epilinguísticas importantes para o processo de

345
Simpósio Proposto
Intervenção nos processos de leitura e escrita de
crianças com dificuldades escolares

aquisição da leitura e escrita do sujeito, além de construir uma relação de sentido


com a fala, leitura e escrita que o jovem não vivenciava nas aulas. Desse modo,
revela-se importante construir coletivamente caminhos que possibilitem que
esse tipo de intervenção proposto nesses acompanhamentos possa ser também
vivenciado na escola.

O que fazer com dificuldades de leitura e escrita?


Analisar e intervir
Autoria: MARIA IRMA HADLER COUDRY

Este texto apresenta uma proposta de como intervir nas dificuldades escolares de
crianças que receberam um ou mais diagnósticos que impedem que progridam no
aprendizado da leitura e escrita. Tenho observado ao longo do tempo, e cada vez
mais, muitos diagnósticos de patologias atribuídos a crianças que apresentam
um processo normal de aprendizagem. Algumas delas são encaminhadas para
o CCazinho onde as avaliamos e seguimos longitudinalmente desempenhando
o papel de um interlocutor ativo que intervém nas dificuldades. A maioria das
crianças traz consigo um diagnóstico de uma ou mais patologias estabelecidas
e/ou propostas na atualidade (Dislexia, Déficit de Atenção, Deficiência Mental
Leve, Distúrbio do Processamento Auditivo, dentre outras). Elas chegam ao
CCazinho sem saber ler e escrever. Toda sessão coletiva do CCazinho contém
atividades que envolvem a fala, a leitura e a escrita. Neste texto, os dados
mostrarão a dinâmica da intervenção. A proposta desse centro é introduzir
tais crianças na escrita/leitura. Como? A resposta a essa pergunta é o ponto
central e o objetivo deste texto. Nossa metodologia, de natureza heurística, se
caracteriza por propor atividades com a linguagem que despertem o interesse
delas pela escrita e suas funções sociais. O que é comum para todas as crianças
é a criação de um clima interessante que ative sua curiosidade e vontade de
aprender, da escrita em cavernas, mediada pelo desenho, à internet, mediada
pela tecnologia. Na avaliação inicial passamos a compreender as dificuldades
que as crianças apresentam, já imaginando um conjunto de atividades que
podem favorecer que ultrapassem os empecilhos que se apresentam. Para saber
o que e como aprendem na escola analisamos seus cadernos e constatamos

346
Simpósio Proposto
Intervenção nos processos de leitura e escrita de
crianças com dificuldades escolares

que copiam no lugar de ler e escrever. Na discussão, focalizamos o processo


e apresentamos dados cuja análise, derivada da teorização que assumimos,
mostra o caminho percorrido pelas crianças e como tal intervenção faz com
que elas compreendam suas dificuldades e possam enfrentá-las.

Problematizações das intervenções das


neurociências na dificuldades com a escrita
Autoria: ISABELLA DE CÁSSIA NETTO MOUTINHO

Este trabalho foi desenvolvido no interior da Neurolinguística Discursiva (ND)


e tem como objetivo analisar propostas de intervenção na escrita de crianças
com dificuldades escolares apresentadas em um manual destinado a diversos
profissionais da área da educação e da área clínica. Apresentaremos uma
problematização da autoridade conferida às publicações que relacionam as
neurociências à educação, especialmente aquelas que propõem a análise e
a intervenção na escrita de crianças com dificuldades. Metodologia: partindo
de uma metodologia heurística de análise de dados, a ND evidencia as
hipóteses que a criança constrói nas diversas fases do aprendizado da escrita.
Entendemos que a pré-história da escrita e as práticas de letramento escolares
e cotidianas, nas quais está inserida, são determinantes desse aprendizado.
Rejeitamos as perspectivas que reduzem a possibilidade de aprendizagem à
presença de aptidões biológicas. Para a ND, tais perspectivas não tomam a
alfabetização como atividade social e cultural complexa, ignoram os fatores
sociais, culturais, pedagógicos, políticos e econômicos que determinam o
aprendizado. Discussão: a análise dos exercícios do manual de intervenção
mostrou que as atividades são muito semelhantes aos chamados passatempos,
muito presentes nas revistas infantis. A maioria das atividades envolve copiar
palavras e relacionar símbolos a letras. São classificadas como atividades de
intervenção na escrita, mas envolvem apenas leitura, já que não exigem que
a criança de fato reflita sobre a associação de sons e letras. As atividades, em
geral, se mostram bastante confusas e parecem ter a intenção de induzir a
criança ao erro. Os dados produzidos no CCazinho mostram que tais manuais e
exercícios são desnecessários na empreitada de ajudar uma criança a superar

347
Simpósio Proposto
Intervenção nos processos de leitura e escrita de
crianças com dificuldades escolares

suas dificuldades – o que pesquisadores da área vêm fazendo com sucesso


apenas utilizando a literatura infantil, papel e caneta. Resultados: a análise do
exercícios do manual mostrou que eles não se diferenciam das atividades que
são recorrentes nas revistas infantis brasileiras, os passatempos. Ademais,
as atividades não propiciam que a criança reflita ou elabore hipóteses sobre
a representação gráfica das palavras, sobre as diferenças entre a escrita e a
oralidade, nem sobre as variedades linguísticas. Alertamos para o fato de que
não há, no material, nenhuma contextualização destas atividades no interior das
neurociências e que ele parece se valer do prefixo Neuro para se inserir em uma
categoria atualmente rentável e se aproveitar desta tendência mercadológica.

Pseudociência: argumentos que não se sustentam


por trás dos diagnósticos de dislexia
Autoria: PATRÍCIA APARECIDA DE AQUINO

Este trabalho pretende, a partir da análise de três dados, demonstrar que um


dos posicionamentos discursivos envolvidos na polêmica em torno do que se
convencionou chamar de “dislexia” (o posicionamento da área da Saúde) não
é cientificamente comprovado. Esse posicionamento, ao contrário, sustenta-
se em equívocos que não resistem sequer a testes empíricos. O primeiro dos
dados analisados corresponde ao enunciado em que a palavra “dislexia” ocorre
pela primeira vez, na obra considerada a fundadora da área, momento em que
o diagnóstico de “cegueira verbal” (uma doença adquirida por meio de lesão
ou ingestão de bebidas alcoólicas que leva adultos já alfabetizados a deixarem
de reconhecer letras) foi atribuído (sob outra roupagem, outro nome - agora
“dislexia”) a um adolescente que apresentava dificuldades ortográficas. Dados
de dificuldades ortográficas passaram naquele momento a ser interpretados não
mais por alfabetizadores ou professores, mas por médicos, como evidências de
uma doença em relação à qual a única semelhança era o fato de “dificuldades
ortográficas” corresponderem ao principal sintoma de um distúrbio já relatado
na área médica. Outros dois dados analisados são recentes e as análises indicam
a recuperação, por meio da memória discursiva, tanto do enunciado fundador
quanto dos equívocos argumentativos na atribuição de um diagnóstico a

348
Simpósio Proposto
Intervenção nos processos de leitura e escrita de
crianças com dificuldades escolares

um “sintoma” sem que os outros fatores determinantes da patologia estejam


presentes. A existência desses equívocos, embora já tenha sido demonstrada há
mais de uma década por pesquisadores que se dedicam ao tema, continua a ser
ignorada por profissionais que propõem tratamentos, às vezes medicamentosos,
para “disléxicos”. A partir desta análise, pôde-se observar, assim como é recorrente
em outros discursos pseudocientíficos em circulação na atualidade, a presença
da constante reivindicação de estatuto científico para aquilo que se afirma, como
se bastasse a enunciação para que a cientificidade estivesse presente. Além do
papel de alerta para um perigo do negacionismo científico, que se acerca em
diferentes dimensões na nossa sociedade, este trabalho pretende contribuir
para que professores alfabetizadores saibam a quais ferramentas recorrer para
auxiliar seus alunos com dificuldades de aprendizagem da ortografia, afinal,
há meios - já descritos pela Linguística - para entender as hipóteses que estão
por trás de cada erro ortográfico e quais são os recursos para que as crianças
recebam orientação pedagógica e não diagnósticos.

349
Letramentos acadêmicos e pós-graduação:
segmentos em pesquisas brasileiras
Autoria: FLÁVIA DANIELLE SORDI SILVA MIRANDA

Neste simpósio, alinham-se cinco trabalhos com pesquisas que foram


desenvolvidas ou estão em desenvolvimento em diferentes instituições de três
estados brasileiros (Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina) por pesquisadoras
que trabalha[ra]m sob quadro teórico-metodológico dos Letramentos
Acadêmicos (LEA; STREET, 1998). Destarte, o objetivo de contemplar esse
conjunto de pesquisas em um mesmo simpósio é o de compreender diferentes
formas de abordagem de trabalhos na perspectiva dos Letramentos Acadêmicos
(LEA; STREET, 1998; LILLIS; HARRINGTON; LEA; MITCHELL, 2016), difundida na
última década no país por pesquisadores brasileiros (FIAD, 2011, 2013, 2015,
2016; FISCHER, 2007, 2010) e em diferentes instâncias, como a formação de
professores (cf. FIAD; FISCHER; MIRANDA, 2019), a publicação científica (cf.
FISCHER et al., 2021) ou documentos que orientam a produção acadêmica (cf.
PARIS; LARANJEIRAS, 2019). Esses estudos a serem aqui apresentados, em
especial, têm objetivos e objetos distintos que, quando postos em diálogo,
a partir do mesmo campo epistemológico, propiciam discussões em torno
de um elemento central, a saber, práticas de letramentos de acadêmicos
ligados a programas de pós-graduação brasileiros e suas produções escritas
nesses contextos, principalmente, no que diz respeito a práticas de escrita
para publicação. Em contrapartida, ainda que os trabalhos digam respeito
a práticas de/para integrantes de instituições brasileiras, percebe-se que a
produção científica também pode se apresentar em diferentes línguas além
do português, como o inglês (cf. LILLIS; CURRY, 2010; CURRY; LILLIS, 2014).
Assim, pretende-se, no simpósio, relacionar os trabalhos para (i) discussão
sobre coadunações teóricas e/ou conceitos mobilizados nas pesquisas com
o quadro dos Letramentos Acadêmicos, (ii) levantamento de possibilidades
de abordagens metodológicas e (iii) reflexão sobre procedimentos analíticos,
especificamente para orientar dados do contexto da pós-graduação, haja vista
que se sobressaem, nesse âmbito, práticas e convenções reguladoras de escrita

350
para publicação. Finalmente, mais um objetivo do simpósio será, por meio da
articulação dos resultados parciais e finais das pesquisas apresentadas, tratar
de questões institucionais, políticas, linguísticas e pedagógicas relativas à
escrita acadêmica para publicação, com fundamentação no campo comum
que os embasa.

351
Simpósio Proposto
Letramentos acadêmicos e pós-graduação:
segmentos em pesquisas brasileiras

Compreensões de trabalhos na pós-graduação


com base no quadro dos letramentos acadêmicos:
uma visada sobre pesquisas brasileiras
Autoria: FLÁVIA DANIELLE SORDI SILVA MIRANDA

Na apresentação para este simpósio, em que se debatem questões relativas


a letramentos acadêmicos e pós-graduação, traz-se para discussão uma das
ações empreendidas em uma pesquisa de pós-doutorado, em andamento,
que se dedica a compreender impactos do quadro teórico-metodológico dos
Letramentos Acadêmicos (LEA; STREET, 1998), nos trabalhos acadêmicos
brasileiros da última década (2010-2020) e, ainda, a identificar as possíveis
implicações pedagógicas desse quadro, considerando-se sua expansão no
Brasil por meio de diversas pesquisas (FIAD, 2011, 2016, 2017; FISCHER, 2010;
FISCHER; COLAÇO, 2017). Dessa forma, o estudo amplo pretende realizar uma
metapesquisa da produção acadêmica brasileira, a partir de um mapeamento
de artigos publicados em revistas bem qualificadas no Qualis/Capes e de
teses e dissertações publicadas no Catálogo de Teses e Dissertações da
Capes, que abranjam o período, para analisar mais detidamente os trabalhos
que abordaram práticas pedagógicas ancoradas na perspectiva em questão
e, em particular, no "modelo dos Letramentos Acadêmicos" (LEA; STREET,
1998), observando situações e tendências. Justifica-se, principalmente pela
existência de questionamentos sobre uma suposta ausência de propostas
pedagógicas em trabalhos dentro dessa abordagem epistemológica, sinalizada
por diversos estudiosos do campo (cf. LILLIS, 2003; LEA, 2004; FIAD, 2015; DILLI;
MORELO; SCHLATTER, 2019). Para tanto, sua fundamentação está também
no quadro teórico-metodológico dos Letramentos Acadêmicos (LEA; STREET,
1998; LILLIS; HARRINGTON; LEA; MITCHELL, 2016), em que se estabelece o
presente simpósio, bem como nos pressupostos teóricos bakhtinianos sobre
gêneros discursivos e relações dialógicas (cf. BAKHTIN, 2003), com inserção
na Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006) e orienta-se metodologicamente
por princípios da metapesquisa, já delineados por outras investigações da área
(cf. TÍLIO; MULICO, 2016; FREITAS, 2018). A partir de levantamento inicial, a

352
análise dos dados pauta-se por uma perspectiva qualitativa (LÜDKE; ANDRÉ,
1986) e dialógica (BAKHTIN, 2003). O recorte, neste momento, diz respeito aos
dados identificados de trabalhos do corpus que abordem o contexto da pós-
graduação brasileira para se discutir práticas (i) de escrita e (ii) de publicação,
buscando realizar compreensões diversas.

Letramentos acadêmicos de doutorandos: uma


análise da mediação entre orientando e orientador
Autoria: LARISSA GIACOMETTI PARIS

Este trabalho, de base qualitativa-interpretativa e situado no campo da Linguística


Aplicada, objetiva analisar o modo como se constituem as interações de quatro
doutorandos – matriculados em programas de Pós-Graduação pertencentes
a cada uma das áreas de conhecimento elencadas pela UNICAMP: Ciências
biológicas e da saúde; Ciências exatas e da terra; Ciências humanas, sociais
e arte; Tecnológica – com seus respectivos orientadores. Para tal, a pesquisa
fundamenta-se nos princípios teórico-metodológicos dos Letramentos
Acadêmicos (LEA; STREET, 1998) e da etnografia da linguagem (BLOMMAERT,
2006; GARCEZ; SCHULZ, 2015). Dessa forma, parte do pressuposto de que as
práticas de letramento acadêmico no Ensino Superior são situadas e estão
associadas a significados culturais, ideologias e relações de poder, não se
limitando ao domínio de habilidades ou à socialização acadêmica. Considerando,
ainda, que as práticas de escrita acadêmica não envolvem apenas a figura
solitária do autor, denomina-se como mediadores de letramento (LILLIS; CURRY,
2010) os demais participante que, de alguma forma, causam impacto direto na
trajetória da publicação de um texto, tais como, editores, pareceristas, tradutores
e colegas. Neste trabalho, assume-se que os orientadores são os mediadores
de letramento privilegiados no contexto de escrita de uma tese de doutorado,
uma vez que os doutorandos, muitas vezes, possuem como principal referência
o feedback fornecido pelo orientador (STILLMAN-WEBB, 2016). Para o processo
de geração de dados, quatro encontros foram realizados com cada um dos
participantes ao longo do segundo semestre de 2018, nos quais a pesquisadora
acompanhou a história do texto (LILLIS; CURRY, 2010) relativa à escrita de um

353
capítulo de suas respectivas teses. Os dados revelam o descompasso entre as
expectativas criadas por alguns dos doutorandos e o que de fato se concretizou
na relação construída entre orientando e orientador. Esta pesquisa, portanto,
aponta para a necessidade de implementação de políticas institucionais que
promovam uma formação para os orientadores e uma pedagogia na perspectiva
dos Letramentos Acadêmicos para os doutorandos (Apoio: CNPq – Processo
141101/2017-2).

Políticas institucionais voltadas às práticas de


letramento acadêmico
Autoria: RAQUEL SALEK FIAD

Esta apresentação é parte de um projeto de pesquisa situado na área de estudos


sobre letramento acadêmico e fundamentado principalmente na perspectiva
dos Letramentos Acadêmicos (LEA; STREET, 1998; LILLIS; HARRINGTON; LEA;
MITCHELL, 2016). Tem como objetivo geral conhecer criticamente como tem
ocorrido, nas universidades brasileiras, políticas de “ajuda à escrita acadêmica”
visando a publicações, envolvendo docentes e estudantes. Esse objetivo geral é
desdobrado em dois objetivos que compreendem dois ângulos de análise: (1) fazer
um levantamento e uma análise do que as universidades brasileiras têm oferecido
aos docentes e estudantes visando contribuir para a qualidade e quantidade da
escrita acadêmica, especialmente em forma de publicações; (2) analisar como
pesquisadores brasileiros de diferentes áreas do conhecimento tem respondido
a essas políticas, através de diferentes modos de participar do que é oferecido.
Para esta apresentação no Simpósio, será destacado principalmente o primeiro
objetivo, o que faz com que esta parte da pesquisa seja de caráter documental,
pois compreende um levantamento e uma análise do que as universidades
brasileiras têm oferecido aos docentes e estudantes visando contribuir para
a qualidade e quantidade da escrita acadêmica. Nesta apresentação, o foco
será para o que tem sido oferecido especialmente a discentes e docentes de
pós-graduação, visando especialmente as publicações, que são a principal
medida de avaliação quanto à produção científica. A metodologia de caráter
documental visa o levantamento e análise de propostas de apoio à escrita de

354
pesquisadores feitas por universidades. A análise tem como objetivo depreender
as perspectivas teóricas das propostas existentes e um ponto de partida
para a análise será a classificação proposta por Lea e Street (1998, 2006) para
analisar práticas de letramento acadêmico. Dentre os autores que trabalham
sob quadro teórico-metodológico dos Letramentos Acadêmicos (LEA; STREET,
1998), destacam-se, também, para esta análise, Theresa Lillis e Mary Jane Curry
(2004, 2010, 2013a, 2013b, 2014), que tem analisado as políticas relacionadas à
publicação acadêmica. (Apoio CNPq – Processo 308513/2018-5)

Práticas de letramentos com escrita científica na


área de Ciências Biológicas: um olhar à autocitação
em artigos de um periódico de alto impacto
Autoria: MARIANA AP. VICENTINI
E ADRIANA FISCHER

Este trabalho compõe recorte de um trabalho de pesquisa, em nível de doutorado


(2020-2023), com temática voltada às práticas de letramentos acadêmicos, a
partir de um diálogo entre contexto global e local. A investigação tem por objetivo
problematizar usos de citações em artigos científicos, escritos em português e
inglês, das grandes áreas de Ciências da Vida e Biomedicina, Ciências Sociais
e Tecnologia, considerando o funcionamento da escrita acadêmico-científica
nessas áreas e as relações de poder e sentidos que as perpassam. Está integrado
aos projetos "Escrita acadêmica/científica: das formas de presença do autor,
do outro, das áreas de conhecimento e seus domínios disciplinares" e "Autoria
em diferentes grandes áreas de conhecimento". A pesquisa qualitativa, de
abordagem etnográfica, dará enfoque, especificamente, às áreas de Ciências
Biológicas, Educação e Engenharia, a partir de um corpus de análise composto
por artigos publicados em periódicos de alto impacto, indexados na Web of
Science, e por artigos e dados advindos de entrevistas com representantes
das áreas mencionadas, integrantes de programas de pós-graduação, de uma
universidade localizada no estado de Santa Catarina. O escopo teórico que
ampara a investigação são os estudos dos letramentos, que compreendem
os letramentos como práticas sócio-históricamente situadas e, portanto,

355
ideológicas e perpassadas por relações de poder. Um olhar pela perspectiva dos
letramentos acadêmicos também nos auxilia na compreensão dessas práticas,
visto que tal abordagem tem relação com a produção de sentido, identidade,
poder e autoridade; coloca em primeiro plano a natureza institucional daquilo
que conta como conhecimento em qualquer contexto acadêmico específico.
Para este simpósio, será dado enfoque à análise de uma das facetas da citação,
a autocitação, compreendida como um movimento em que um autor cita
seu trabalho anterior em trabalhos acadêmicos subsequentes, em artigos da
área de Ciências Biológicas. Padrões de autocitação identificados em artigos
publicados na Revista Natura, nos anos de 2017 e 2018 indicam um enfoque
heterogêneo na escrita dos artigos desta revista, o qual marca convenções
nesta área do conhecimento, relações de poder manifestadas nas parcerias
entre pesquisadores, o que implica legitimidade na comunidade científica das
publicações referidas. Além disso, os dados parecem fazer emergir a existência
de características próprias da área, institucionalizadas, permeadas por forças
que orientam os sujeitos a incorporarem determinadas práticas, que refletem
em sua escrita, desvelando, portanto, um estilo científico de escrita da área na
relação com as normas do periódico.

Tensões entre legitimidade e autenticidade nas


publicações em inglês por doutorandas brasileiras
Autoria: RÓMINA DE MELLO LARANJEIRA
E LARISSA GIACOMETTI PARIS

No contexto da internacionalização da educação superior e das crescentes


políticas institucionais nesse âmbito, analisam-se, neste artigo, posicionamentos
e estratégias de escrita acadêmica de cinco doutorandas brasileiras em relação
à publicação de artigos científicos em inglês. Assumindo a perspectiva teórica
dos Letramentos Acadêmicos, os dados analisados foram gerados a partir de
pesquisas realizadas em duas universidades públicas do estado de São Paulo,
com ancoragem teórica e metodológica na etnografia da linguagem. O objetivo
foi analisar o modo como essas doutorandas brasileiras reagem à imposição
institucional da escrita de artigos científicos em língua inglesa. Com base em

356
Curry e Lillis (2016), entendemos a escrita acadêmica para publicação em inglês
como uma prática social e, como tal, realizada em contextos sociais e marcada por
relações de poder. Dessa forma, a análise articulou aspectos da cultura científica
e de produtividade, bem como as estratégias de escrita para publicação, e ainda, a
importância de consolidar práticas de publicação em inglês mais perfiladas com
uma visão da internacionalização como prática local e integradora. Os resultados
apontam para tensões entre legitimidade e autenticidade na escrita em inglês, no
cenário atual de forte produtividade científica nessa língua. Argumenta-se a favor
de uma articulação entre os três eixos simultaneamente presentes no conceito
de diplomacia do conhecimento em ação, tais como, colaboração, reciprocidade,
benefício mútuo (KNIGHT, 2019), e o modelo dos Letramentos Acadêmicos para
as práticas de publicação em inglês. Ao pensar-se os letramentos acadêmicos,
no contexto de internacionalização, como um conjunto de publicações entre
falantes multilíngues com repertórios linguísticos variados, abre-se uma outra
compreensão deste processo em que mundializar, globalizar e internacionalizar
a ciência brasileira não é apenas publicar textos em inglês. Esse movimento
de diplomacia significa desenvolver ações de colaboração, reciprocidade e
benefício mútuo em termos de internacionalização, distantes, portanto, de
visões monolíngues e/ou homogêneas acerca da escrita acadêmica, seja em
português, em inglês ou em outras línguas. Pode-se promover, ao nível da escrita
para publicação, em inglês ou em português, ações didático-pedagógicas
mais situadas, nas quais os atores envolvidos construam as suas relações de
sentido e os seus posicionamentos sem receios de falta de legitimidade e de
autenticidade na escrita.

357
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável
Autoria: LARISSA PICINATO MAZUCHELLI

Introdução: Este simpósio reúne trabalhos da área de Neurolinguística


de orientação enunciativo-discursiva (ND) que estão no escopo teórico-
metodológico das pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Estudos da Linguagem
no Envelhecimento e nas Patologias (GELEP/CNPq-Lattes). Além dos conceitos
bakhtinianos que fundamentam a ND, tais como, enunciado, querer-dizer e
compreensão ativo-responsiva, esta proposta retoma o posicionamento ético-
responsável (cf. Bakhtin) no trabalho com a linguagem no envelhecimento e em
patologias que trazem sofrimento aos sujeitos, como as afasias, as demências
e a esquizofrenia. Objetivos: O objetivo é destacar: i) como a abordagem da
ND possibilita escuta (cf. Ponzio) e posicionamento ético-responsável (cf.
Bakhtin); ii) como esse posicionamento contribui para a compreensão dos
fenômenos linguístico-cognitivos; e iii) como essa abordagem, tanto na clínica
quanto na investigação científica, colabora para que os sujeitos possam lidar
com os limites impostos por suas condições neurológicas e sociais. Aspectos
metodológicos e discussão: O primeiro trabalho discute como o conceito de
enunciado (cf. Bakhtin), ao se sobrepor à noção formal de sentença, contribui
para a compreensão do funcionamento gramatical nas afasias não-fluentes.
O segundo aborda as estratégias criativas de (re)significação mobilizadas, nas
modalidades oral e escrita, por uma jovem com afasia no percurso de superação
de suas dificuldades. O terceiro debate como as atividades realizadas no Centro
de Convivência de Afásicos (CCA) contribuem para a (trans)formação dos
participantes - futuros professores de língua(gem). A quarta apresentação se
volta para o funcionamento discursivo na esquizofrenia e discute a complexidade
da relação entre o normal e o patológico no funcionamento linguístico-
cognitivo, trazendo análises de enunciados produzidos por sujeitos (com e sem
esquizofrenia), extraídos de redes sociais e de entrevistas. Finalmente, o último
trabalho destaca a importância do conceito de escuta (PONZIO, 2009, 2010) no
processo de (re)organização da linguagem de idosos e de pessoas que sofrem de

358
dificuldades de encontrar palavras e que são frequentemente silenciados. Para
isso, retoma atividades realizadas no Grupo III do CCA e nas pesquisas abrigadas
pelo GELEP, destacando a importância (clínico-terapêutica e de pesquisa) da
dedicação de “tempo infuncional” ao outro. Considerações finais: O conjunto
desses trabalhos nos leva necessariamente a considerar o posicionamento
ético, que compreende a necessidade de escuta ativa, sensível e responsável
como fundamental para o trabalho com a linguagem no envelhecimento e para
os sujeitos com patologias que impactam a linguagem e a vida, além de apontar
para a relevância desse debate da ND para a (trans)formação de professores
de língua(gem).

359
Simpósio Proposto
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável

Agramatismo: uma reflexão a partir da


neurolinguística discursiva e da gramática
funcional do discurso
Autoria: ARNALDO RODRIGUES DE LIMA

Introdução: No âmbito dos estudos tradicionais em Neurolinguística, o


agramatismo é relacionado diretamente às afasias não-fluentes, descrito e
teorizado em função da estrutura linguística na produção de sujeitos afásicos.
Muito embora existam diferentes explicações sobre a natureza do “déficit”
linguístico, devido à marcante dificuldade com os recursos gramaticais da
língua, a maioria dos estudos visa corroborar a hipótese de que a sintaxe seria
o nível predominantemente impactado. Não surpreendentemente, nesses
estudos, a sentença é a unidade adotada para a análise do funcionamento
gramatical no contexto das afasias. A reflexão desenvolvida neste trabalho é
ancorada na Neurolinguística Discursiva (ND) e elege aspectos pragmático-
discursivos como centrais para a compreensão do funcionamento linguístico-
cognitivo tanto na normalidade quanto nas patologias. Nessa perspectiva, a
concepção de “enunciado”, como proposta por Bakhtin (1997), se sobrepõe
à noção formal de sentença para a descrição, classificação e consequente
teorização do agramatismo e fenômenos associados. Objetivo: O principal
objetivo desta proposta é refletir sobre a relevância da noção bakhtiniana de
enunciado para o desenvolvimento de uma análise discursiva e funcional da
produção linguística de sujeitos afásicos considerados não-fluentes. Aspectos
teórico-metodológicos: Visando esse objetivo, este trabalho propõe uma
discussão, de cunho epistemológico, sobre a aproximação dos pressupostos
teórico-metodológicos da Neurolinguística Discursiva e da Gramática Funcional
do Discurso (GFD) que fundamentará a análise de enunciados produzidos pelo
sujeito afásico Pedro, que, após sofrer uma lesão na região fronto-têmporo-
parietal esquerda, desenvolveu uma afasia caracterizada como não-fluente. Os
dados emergiram em sessões dialógicas desenvolvidas pelo Grupo III do Centro
de Convivência de Afásicos (CCA/IEL/UNICAMP) e compõem o banco de dados
do Grupo de Estudos da Linguagem no Envelhecimento e nas Patologias (GELEP/

360
Simpósio Proposto
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável

CNPq-Lattes). Discussão e considerações finais: Lima (2020, 2021) destaca


que a aproximação entre a ND e a GFD pode contribuir, de forma inovadora e
relevante, para a compreensão do funcionamento gramatical nas afasias. A
natureza discursivo-funcional dessa articulação teórico-metodológica amplia
as possibilidades de compreensão dos enunciados que, devido aos impactos da
afasia, podem se materializar em unidades linguísticas que não se constituem, na
maioria das vezes, como sentenças. Por fim, o enunciado, concebido enquanto
“unidade real da comunicação verbal” (BAKHTIN, 1997), caracteriza-se por não
ter nem um começo e nem um fim absoluto. Esses limites se definem apenas
em função das relações dialógicas que, essencialmente, motivam e balizam o
trabalho linguístico-cognitivo, nos processos de construção de significação em
que os sujeitos estão sócio-histórico-culturalmente envolvidos. (Apoio: FAPESP
– Processos 2017/26777-2 e 2019/24150-8).

Funcionamento do discurso na esquizofrenia:


desdobramentos entre normal e patológico
Autoria: JOÃO PEDRO DE SOUZA GATI

Introdução: A esquizofrenia tem como uma de suas características a presença de


alterações de linguagem de diversos tipos (LINDENMAYER; KHAN, 2010); dentre
elas, podemos citar o discurso desorganizado, o discurso delirante, a produção
de neologismos, a tangencialidade e a desagregação. Contudo, verificamos, em
alguma medida, que os aspectos relacionados a essas categorias clínicas podem
também ocorrer na produção de discurso de sujeitos sem qualquer patologia,
principalmente na presença de nervosismo, insegurança ou desconhecimento
sobre o tópico. Objetivos: Apresentar e discutir as características discursivas no
contexto considerado normal e no contexto patológico e refletir sobre aspectos
da teoria linguística que podem elucidar as diferenças e similitudes entre
essas condições na produção dos enunciados. Metodologia: Apresentaremos
dados que ilustram ambas as condições. Para o primeiro, traremos enunciados
extraídos de redes sociais, presumidamente de sujeitos sem patologia, enquanto
para o segundo, mostraremos dados extraídos de entrevistas livres feitas com
sujeitos diagnosticados com esquizofrenia. Aspectos teóricos: O trabalho

361
Simpósio Proposto
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável

apresentado faz parte do campo teórico-metodológico da Neurolinguística


de orientação enunciativo-discursiva (COUDRY, 1986/1988; NOVAES-PINTO,
1992, 1999, 2014), que permite compreender a relação entre o normal e o
patológico com relação ao funcionamento do sistema da língua (nas trocas de
palavras, de fonemas, na desorganização estrutural da língua) e também com
relação aos aspectos pragmáticos e discursivos (circunlóquios, confabulação,
alterações dos processos de significação) que terão destaque nesse trabalho.
Mobilizaremos também os conceitos de enunciado e compreensão ativo-
responsiva (BAKHTIN, 1986) para melhor entendimento das relações dialógicas
estabelecidas nos dados apresentados. Discussão: Consideramos que as
descrições mais tradicionais sobre alterações de linguagem na esquizofrenia não
são suficientes para estabelecer uma condição patológica, uma vez que também
podem ser encontradas no discurso normal. Acreditamos que a avaliação feita
pelo interlocutor sobre um discurso explica-se, em parte, a uma competência
pragmática (HYMES, 1972), incluindo o conhecimento que se tem acerca do
contexto sociocultural que circunda tais discursos. Esse conhecimento, além de
garantir a capacidade de ajustar os recursos da língua para elaborar enunciados,
nos permite compreendê-los, por um lado, mas também estranhar a estrutura
do discurso ou mesmo questionar suas condições de verdade. Nossa reflexão
nos leva a questionar se essa capacidade está presente nos sujeitos com
esquizofrenia.

Indícios da reorganização linguística de uma jovem


afásica: o caso de GB
Autoria: DIANA MICHAELA AMARAL BOCCATO
E ROSANA DO CARMO NOVAES PINTO

Introdução: A apresentação no simpósio decorre de uma pesquisa de doutorado


(em andamento) abrigada pelo GELEP (Grupo de Estudos da Linguagem no
Envelhecimento e nas Patologias) e se debruça sobre as estratégias alternativas/
criativas de (re)significação (COUDRY, 1988 [1986], FEDOSSE, 2001). O foco do
estudo recai sobre o trabalho epi- e metalinguístico indiciado nos enunciados
da afásica GB, que participa do Grupo III do Centro de Convivência de

362
Simpósio Proposto
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável

Afásicos (CCA), há cinco anos, em decorrência de um AVCi, aos 21 anos de


idade, quando ela frequentava o curso de Odontologia em uma universidade
privada. Objetivo: A participação visa contribuir para o simpósio ao mobilizar
conceitos bakhtinianos (NOVAES-PINTO, 1999) na descrição das estratégias
desenvolvidas por GB para chegar ao seu querer-dizer, revelando sucessivas
transformações de seus enunciados ao longo do tempo em que GB participa do
CCA. A pesquisa é de cunho qualitativo e tem o estudo de caso como lócus para
o estabelecimento de hipóteses acerca do funcionamento da linguagem e das
afasias. Aspectos metodológicos: A apresentação se dá a partir de recortes que
demonstram o desenvolvimento de GB, ao longo dos anos, em suas interações
com Idb e enfatizam os indícios de trabalho epi- e metalinguístico. Discussão e
considerações finais: O foco das interações é propiciar condições para que GB
desenvolva estratégias que permitam-na driblar as dificuldades impostas pela
afasia durante a fala e as atividades de leitura e escrita. Em função de sua idade,
são considerados os aspectos relativos a uma maior plasticidade cerebral, no
entanto, sem poder atribuir apenas a eles a reorganização da linguagem verificada
no estudo longitudinal. Assim, pode-se afirmar que o processo foi amplamente
favorecido pela dialogia e pela ênfase nas atividades epi- e metalinguísticas
explicitadas ao longo do caminho e reveladas nas marcas da presença do
“parceiro da comunicação verbal” (BAKHTIN, 1977). Os enunciados de GB, que
se caracterizavam no início do processo como de “estilo telegráfico” (NOVAES-
PINTO, 1992, 1999, LIMA, 2017), muitas vezes reduzidos a uma única palavra,
atualmente – embora ainda haja a presença de dificuldades gramaticais – são
extremamente complexos, permitindo que ela se aproxime mais de seu intuito
discursivo e, consequentemente, que se expresse como sujeito de linguagem.

O Centro de Convivência de Afásicos: caminhos de


(trans)formação docente
Autoria: LARISSA PICINATO MAZUCHELLI

Introdução e justificativa: Desde sua criação, o Centro de Convivência de


Afásicos (CCA-IEL/UNICAMP) contribui com o desenvolvimento de alunos dos
cursos de Letras, Linguística e Fonoaudiologia, bem como de pesquisadores da

363
Simpósio Proposto
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável

área de Neurolinguística Discursiva (ND). Por um lado, as atividades realizadas


possibilitam que os sujeitos afásicos aprendam a lidar com as dificuldades
decorrentes de seus quadros neurológicos. Por outro, elas também possibilitam
que os demais participantes desenvolvam um olhar para a “linguística da escuta”
(cf. Ponzio), o que contribui tanto para a compreensão das afasias, quanto
para o desenvolvimento profissional de alunos e pesquisadores. Objetivos e
metodologia: A partir da reflexão das atividades realizadas no CCA, debato sobre
sua importância para o desenvolvimento do professor de língua(gem). Para tanto,
retomo os principais conceitos e autores da ND (Bakhtin, Vygotsky e Luria),
articulando-os às atividades realizadas no Grupo III do CCA e às demandas de
formação e práticas pedagógicas dos professores de língua(gem), considerando a
Base Nacional Comum Curricular, o trabalho de Freire (1968, 1996) e a “linguística
da escuta”. Fundamentação teórica: A ND fundamenta-se na perspectiva
histórico-cultural, que compreende que os processos de transformação e
desenvolvimento não são lineares nem mecânicos, mas dialéticos, porque se
dão a partir de uma disputa de contrários e de enfrentamentos. Nesse processo,
a linguagem, os sujeitos e as atividades, nas diversas esferas de atuação, se
transformam mutuamente em um movimento dinâmico. Sua proposta alinha-se,
portanto, a um posicionamento ético-responsável (cf. Bakhtin), às demandas
de formação crítica do professor (cf. Freire) e de uma educação transformadora
(cf. Vygotsky e Freire). Discussão: Um dos principais debates na formação do
professor de língua(gem) é o desenvolvimento de atividades que contribuam
para que o aluno expanda seu repertório linguístico e cultural. Contudo, apesar
dos avanços nos debates, práticas pedagógicas estáticas, descontextualizadas,
mecanizadas e desconectadas da “vida que se vive” ainda são recorrentes. O
trabalho desenvolvido no CCA demanda que os alunos mobilizem todo seu
repertório acadêmico para o desenvolvimento de atividades situadas que
engajem os sujeitos com afasias em interações significativas, contribuindo,
assim, para que os sujeitos possam se (re)organizar linguística e cognitivamente
enquanto todos expandem seu olhar sobre o funcionamento da linguagem.
Nesse sentido, o trabalho mostra como a extensão, além de ser uma resposta
ético-responsável (cf. Bakhtin) a uma grande demanda social, pode contribuir
para a (trans)formação do professor de língua(gem) ao propiciar que vivenciem
(cf. Vygotsky) a língua(gem) e suas experiências profissionais em movimento.

364
Simpósio Proposto
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável

O funcionamento da linguagem e a linguística da


escuta: inferências para um posicionamento ético
responsável
Autoria: MARCUS VINICIUS BORGES OLIVEIRA
E LARISSA PICINATO MAZUCHELLI

Introdução: Indivíduos que apresentam algum comprometimento linguístico-


cognitivo lidam tanto com as dificuldades impostas por seus quadros neurológicos
quanto com o tratamento de indiferença e inferioridade por parte da sociedade.
Trata-se de um sofrimento que é ético-político (SAWAIA, 1999), já que não está
circunscrito apenas às condições circunstanciais do sujeito. Nesse contexto
de sistematizações de silenciamentos e considerando a defesa de A. Ponzio
por uma linguística constituída a partir da escuta da palavra viva, buscamos
um outro posicionamento - ético e responsável - frente ao trabalho com esses
sujeitos. Objetivos: Este trabalho, vinculado aos estudos desenvolvidos pelo
Grupo de Estudos da Linguagem no Envelhecimento e nas Patologias (GELEP/
CNPq-Lattes) e pela Neurolinguística de orientação enunciativo-discursiva (ND),
tem como objetivo discutir a contribuição da “linguística da escuta” (cf. Ponzio)
para o debate e a compreensão da linguagem nos contextos do envelhecimento
e das patologias, a partir do encontro de palavras, de sujeitos e de vivências.
Aspectos teóricos: Considerando as reflexões dos autores do Círculo de Bakhtin,
dentre outros, Ponzio defende uma linguística oposta à “linguística do silêncio”,
que reduz a enunciação à frase, a interpretação à identificação, e o valor do
signo à monofonia do sinal. A “linguística da escuta”, portanto, opõe-se à língua
e ao falante ideais e se volta para o encontro de palavras como diálogo no qual
se “realizam e vivem em sua recíproca alteridade, singularidade e unicidade”
(PONZIO, 2010, p. 50). Como tal, a ND se distancia da visão organicista e idealista
de sujeito e de linguagem, já que os historiciza e os compreende como social
e culturalmente imbricados. Metodologia: Iniciaremos a reflexão discutindo
o lugar da escuta na clínica fonoaudiológica a partir das reflexões do Círculo
de Bakhtin e em especial dos trabalhos de Ponzio (2009, 2010). Em seguida,
retomamos as atividades de linguagem realizadas nos estudos da ND para

365
Simpósio Proposto
Linguagem no envelhecimento e nas patologias:
da escuta ao posicionamento ético-responsável

destacar o efeito desse posicionamento ético-estético (cf. Bakhtin) para a


investigação e a compreensão dos fenômenos investigados pela área. Discussão
e Conclusão: Ao orientar-se ao diálogo historicamente situado, em que é
fundamental dedicar “tempo infuncional” à palavra do outro, a “linguística da
escuta”, na clínica e na investigação, contribui para a (re)organização linguístico-
cognitiva dos sujeitos, ao mesmo tempo que combate visões essencialistas do
funcionamento da linguagem, do discurso e do sujeito. Sendo assim, contribui
para a despatologização de processos que são da ordem do “normal” e se
configura como caminho importante de enfrentamento do sofrimento ético-
político.

366
Linguística popular: teorias, métodos e aplicações
Autoria: MARCELO ROCHA BARROS GONÇALVES

A rigor a Linguística popular/Folk linguistics designa todo o trabalho sobre


linguagem, isto é, práticas linguísticas construídas pelos mais diversos atores
sociais, que não são especialistas em ciências da linguagem e também não estão
necessariamente fundamentados em uma lógica de uma teoria da linguagem.
Essas práticas estão organizadas a partir de quatro grandes eixos: militantes;
intervencionistas; descritivas e prescritivas. Neste simpósio, pretendemos fazer a
discussão de temas pertinentes à Linguística Popular no Brasil (teorias, métodos
e aplicações), surgidos a partir das publicações dos livros Linguística Popular:
saberes linguísticos de meia-tigela? (GONÇALVES; BARONAS; CONTI, 2020);
Linguística folk: uma introdução (MARIE-ANNE PAVEAU, 2020) e Contribuições
da linguística popular às ciências da linguagem (BARONAS; GONÇALVES;
SANTOS, 2021). Apresentaremos desde uma (problematização da) definição do
que é a Linguística Popular – mais especificamente do termo "popular" até uma
breve história da área – bem como um quadro teórico e metodológico da área
e estudos de casos sob a perspectiva do campo. Nesta breve história da área,
que parte do texto seminal de Hoegniswald (1966), discutiremos especialmente
os estudos de Preston (2003) e Paveau (2019), constituintes aqui do que
percebemos como linhas mais ou menos delimitáveis na disciplina, apontando
para uma geografia pop/folk de estudos da Linguagem: respectivamente uma
linha americana, de base dialetológica perceptual, e uma francesa, de orientação
discursiva. Em relação aos estudos de caso trabalharemos com dicionários
colaborativos on-line; com os metadiscursos sobre a língua de Bolsonaro; com
a questão da linguagem neutra; com os prefácios sobre O Dialeto caipira de
Amadeu Amaral; com as imagens de língua na rede profissional Linkedin; com
o trabalho intervencionaista dos ludolinguistas e de outros atores sociais e
com o glossário da paquera. Numa pesquisa centrada em falantes reais não
idealizados, pretendemos contribuir para o avanço dos estudos das crenças
acerca da, das reações à, e dos comentários sobre a Linguagem.

367
Simpósio Proposto
Linguística popular: teorias, métodos e aplicações

A Linguística Popular e o trabalho linguístico-


discursivo dos ludolinguistas: breves considerações
Autoria: MARILENA SOUZA

Paveau (2008), em meio ao que chama de linguística popular ou folk linguistics,


identifica três tipos de práticas linguísticas dos não-linguistas: descritivas,
prescritivas e intervencionistas. E, fugindo ao binarismo cartesiano – linguistas
versus não linguistas – propõe uma classificação dos praticantes da linguística
folk, a partir de “um continuum entre aqueles que fazem da linguística uma
ciência una e aqueles que não” (PAVEAU, 2018, p. 24-25). Por ordem decrescente
de domínio de um saber linguístico especializado, o continuum vai do linguista
profissional, o cientista da linguagem ao homem comum. Dentre os não-
linguistas, estão no entendimento da autora, por exemplo, os ludolinguistas
(humoristas, imitadores, autores de histórias bobas, autores de jogos sobre
palavras, trocadilhos, trava-línguas, charadas...). Com base na tipologia proposta
por Paveau (2008), exploramos aqui um tipo particular de trabalho dos não
linguistas, ainda não discutido pela linguista francesa: a produção e a circulação
de frases de duplo sentido. Esse tipo de frase, muito presente nas/em conversas
masculinas, pode ser enquadrada em quatro grandes categorias: maliciosas,
inteligentes, de amizade e de amor. Para este estudo, selecionamos apenas frases
de cunho malicioso. Nos interessa observar como os ludolinguistas produzem
saberes linguísticos, apresentando o saber folk como um saber prático e útil
que ajuda os locutores a manterem e/ou transformarem a sociedade. Partimos
da posição antieliminativa proposta por Paveau (2008, p. 8): “os enunciados
populares não são necessariamente crenças falsas, equivocadas a serem
eliminadas da ciência. Constituem, ao contrário, saberes perceptivos, subjetivos
e incompletos a serem integrados aos dados científicos da linguística”. Assim, à
luz da categoria de pré-discurso (PAVEAU, 2015), averiguamos em que medida
os saberes e crenças que se inscrevem na materialidade linguística dessas
frases irrigam a memória discursiva de sua produção e circulação, fazendo
emergir saberes que registram e engendram pertencimentos ou estranhamentos
em relação a outros discursos como, por exemplo, o discurso machista e/ou
homofóbico.

368
Simpósio Proposto
Linguística popular: teorias, métodos e aplicações

Imagens de um autor folk fora do temp(l)o:


Amadeu Amaral nos prefácios d’O dialeto caipira
Autoria: TAMIRES CRISTINA BONANI CONTI

Neste trabalho, objetivamos, por meio dessas três instâncias da autoria definidas
por Maingueneau (2006), quais sejam, a pessoa, o escritor e o inscritor, refletir
sobre as imagens de autor (folk?) de Amadeu Amaral em dois prefácios d’O
dialeto caipira, das edições de 1955 e a de 2020, comemorativa por conta do
centenário de publicação. A eleição desses prefácios se deve, por um lado, pelo
fato de as edições de 1920 e de 1977 não terem esses paratextos e, por outro, por
serem prefácios bastante antagônicos no tocante às imagens que constroem
de Amadeu Amaral. A imagem de autor não é um fenômeno exterior à esfera
dos textos, mas algo que, sobretudo, incorpora um conjunto de definições que
condiciona a leitura, interfere no mundo do leitor, na relação dele com o livro,
com o objeto editorial que tem em mãos. Tem-se, assim, o fato de que o autor é
uma composição de imagens, um produto de recortes e colagens, e seus textos
também obedecem a um processo semelhante. No processo de construção
da imagem do autor, vemos momentos de releituras, de reedições, ou seja, a
produção de novas imagens ou o recrudescimento de imagens já criadas. Em
síntese, cria-se uma maneira diferente de ler os textos de um autor por meio
de sua imagem. Assim, nos dois prefácios das edições de 1955 e de 2020 d’O
dialeto caipira, discutiremos, com base em Dominique Maingueneau, como
esses paratextos constroem distintas imagens de autor de Amadeu Amaral.
Ademais, buscamos questionar a inscrição de Amadeu Amaral no campo da
linguística científica, (re)alocando-o no campo da linguística popular/Folk
linguistics. Poderíamos entender, então, Amadeu Amaral como uma espécie
de linguista avant la lettre, ou, mais grosseiramente, como um estudioso
que pensava como um linguista. No entanto, essas designações, por mais
que pareçam retoricamente envolventes, por um lado, acabam por apagar a
história desse estudioso, que transitou por diversos campos do conhecimento
e, por outro lado, diante da proposição de Paveau (2008/2018), entendemos o
autor do livro O dialeto caipira como um intelectual não-linguista, isto é, um

369
Simpósio Proposto
Linguística popular: teorias, métodos e aplicações

estudioso da linguagem, que não tem nenhum tipo de formação profissional no


campo das ciências da linguagem, mas que, mesmo sem essa expertise, produz
conhecimento pertinente para esse campo do conhecimento.

Linguagem neutra: “sobre este tema, ouçam os


linguistas”
Autoria: MARCELO ROCHA BARROS GONÇALVES

Neste trabalho, vamos tratar da questão da linguagem neutra. Numa análise


de perspectiva discursiva e à luz de alguns ensinamentos da Linguística
Popular (NIEDZIELSKI; PRESTON, 2003), vamos discutir, na imbricação entre
os saberes populares e científicos, como se manifesta a neutralidade de gênero
em Língua Portuguesa. Para além de uma questão morfológica stricto sensu,
observamos que as discussões em torno de uma linguagem neutra extravasam
a estrutura linguística para trazer à materialidade da língua algumas questões
de identidade e representatividade de seus usuários. Basicamente, a linguagem
neutra permitiria a representatividade de gênero de um determinado grupo de
falantes através da utilização de uma pessoa no neutro (em oposição, portanto,
ao feminino e ao masculino). Daí as formas x, @ e e (e outras) nos artigos e
nos sufixos das palavras, nas vogais temáticas. Alguma coisa como As, Os,
@s, Es(...), Todes, todxs, etc... No ambiente de livre circulação dos textos com
os quais trabalhamos – o texto notícia de internet - a contenda parece ter
apenas começado e há uma série de perguntas pertinentes aos linguistas nesta
discussão para responder. Perguntas que vão desde o uso da forma na estrutura
da língua, suas relações com a escrita (e fala) formal, com o ensino de língua
materna, passando por questões sobre os sujeitos da argumentação até mesmo
à formulação de algumas teorias linguísticas profanas (PAVEAU, 2020), ou seja,
aquelas produzidas por usuários comuns em oposição (ou não) às formulações
teóricas e científicas propostas por especialistas. Neste trabalho nos interessa
em particular a relação que é estabelecida entre os próprios leitores, quando
estão em disputa as diferentes visões de mundo e de língua. Como fez Doury
(2020), percebemos que em alguns casos tratava-se de um comentário sobre
a própria argumentação, um comentário “meta” sobre as próprias condições

370
Simpósio Proposto
Linguística popular: teorias, métodos e aplicações

linguísticas da argumentação. Em suma, vamos tentar verificar como são


construídos os saberes populares sobre a linguagem neutra nas notícias da
internet, a partir de algumas estratégias espontâneas de argumentação.

O dicionário Caldas Aulete Digital: um produto folk?


Autoria: TEREZINHA FERREIRA DE ALMEIDA

Neste trabalho, inscrito no campo da linguística popular – Folk Linguistics


– numa visada integracionista, objetiva-se analisar a produção de verbetes
proposta pelo dicionário Caldas Aulete Digital supostamente realizada por
meio da colaboração aberta ao público, intermediada pela filtragem e edição
lexicográfica. O dicionário em questão apresenta-se como uma ferramenta a
princípio de construção colaborativa para consulta de verbetes disponível na
plataforma web de maneira gratuita. Nessa perspectiva, o dicionário Caldas
Aulete Digital se aproxima do campo da Folk Linguistic, ou Linguística Popular,
no Brasil (BARONAS; COX, 2019), a qual trabalha com os comentários produzidos
por diferentes categorias, passando pelos cientistas não linguistas, linguistas
amadores, logófilos, glossomaníacos, falantes engajados a falantes comuns,
dentre outras (PAVEAU, 2018). Essas categorias de falantes podem realizar
práticas linguísticas meta enunciativas de caráter descritivo, prescritivo ou
intervencionista. A hipótese é que a proposta do dicionário em questão se
assemelha em parte com a proposta de uma linguística popular pelo seu
caráter colaborativo no qual se admite colaboradores "profanos". No entanto,
não foram encontradas evidências de que ocorreram tais colaborações de
fato, visto que não foi possível encontrar o formulário de inscrição, tampouco
a lista com os possíveis usuários colaboradores. O projeto que ora se mostra
pioneiro e inovador por propor uma abertura à participação do usuário retoma
seu caráter regulador, disponibilizando gramática para consulta gratuita, outro
instrumento que visa normatizar a linguagem dos falantes, de acordo com a
norma considerada padrão. A intenção registrada na proposta do projeto do
Caldas Aulete Digital em muito se aproxima às teorias da linguística popular,
pois vislumbra uma possibilidade de valorizar os saberes profanos de locutores
profanos. Contudo, os saberes profanos, nessa proposta, necessitariam da

371
Simpósio Proposto
Linguística popular: teorias, métodos e aplicações

chancela dos especialistas da língua. Nesse aspecto, o Caldas Aulete Digital


apenas flerta com a possibilidade de construção colaborativa, numa visada
talvez integrativa da linguística popular. Vale também mencionar os veículos
de comunicação instituídos como fiadores, sobre os quais não se pode afirmar
que sejam representativos de todos os falantes da língua portuguesa, ou que
são exemplos do uso real da língua, considerando que esses veículos se utilizam
exclusivamente da forma padrão da língua.

Ressignificação discursiva e linguística popular:


possíveis diálogos
Autoria: JULIA LOURENÇO COSTA

Neste trabalho, num primeiro momento, com certo vagar, apresentamos as


reflexões de Marie-Anne Paveau (2019a, 2019b e 2020) sobre a questão da
ressignificação que, na sua dimensão discursiva, consiste em retomar um
elemento linguageiro sentido como ofensivo e/ou insultuoso e modificar o valor
axiológico negativo, a fim de transformá-lo em marca de identidade empoderadora
(BERTH, 2018). Na sequência, testamos essa proposta em dados relevantes
para o contexto político brasileiro. Trata-se de um pequeno conjunto de textos
que ressignificam algumas das falas insultuosas de Jair Bolsonaro desferidas
a distintos atores sociais. Por último, a partir da categoria de ludolinguista,
proposta por Paveau (2008, 2018, 2020) e, com base num conjunto de dados, que
tornam em derrisão a atuação desastrosa de Jair Bolsonaro frente às queimadas
da Amazônia e do Pantanal, bem como a sua atuação pouco eficaz frente ao
controle de preços de alguns produtos, representados metonimicamente pelas
designações Bolsonero e Bolsocaro, propomos a categoria de ressignificação
humorística. Entendemos com base nas análises que a ressignificação
discursiva, especialmente a humorística, pode se tornar numa importante
ferramenta de combate aos discursos de ódio, que circulam atualmente na
nossa sociedade e que cristalizam as mais variadas relações de poder. Os dados
que analisamos ao longo deste trabalho embora pouco numerosos nos mostram
que os não-linguistas quer seja a partir dos metadiscursos sobre a língua de
Bolsonaro, quer seja a partir de práticas humorísticas para além de liberações

372
Simpósio Proposto
Linguística popular: teorias, métodos e aplicações

catárticas por todos os malefícios que o atual presidente tem feito à sociedade
brasileira. Diferentemente da tipologia proposta por Paveau, esse último tipo
de ressignificação, a humorística, não parte de um insulto, por exemplo, para
transformá-lo numa luta coletiva de determinado grupo social. Na verdade, nos
casos em análise, essa ressignificação se apresenta como uma crítica política e
social em relação à baixa efetividade do governo no tocante à proteção ambiental
e ao aumento dos preços transformando essa mesma crítica numa bandeira
de luta coletiva tanto pela maior preservação ambiental, quanto pelo melhor
gerenciamento econômico, sobretudo durante períodos de forte crise.

373
Multimodalidade nos estudos da interação humana
Autoria: FERNANDA MIRANDA DA CRUZ

A fala é, na maioria das vezes, considerada um dos principais recursos da


interação humana. No entanto, estudos multimodais da interação têm mostrado
que as interações cotidianas, mesmo aquelas com a presença central da fala,
têm uma organização fundamentalmente multimodal (MONDADA, 2008,
2016; GOODWIN, 2010; NEVILE, 2015; STREECK et al., 2011). Uma organização
multimodal significa que os recursos verbais, mesmo quando presentes, não são
os únicos mobilizados pelos participantes na construção de suas interações, mas
se coordenam temporalmente a uma diversidade de outros recursos de distintas
naturezas semióticas (GOODWIN, 2010). Esses recursos englobam a linguagem
em seus vários aspectos (prosódia, sintaxe, léxico, por exemplo), condutas
corporificadas (expressas por meio de gestos, expressões faciais, posturas
corporificadas, movimentos no espaço, dentre outros) e artefatos físicos do
mundo material, tais como, objetos, tecnologias, dispositivos, ferramentas etc.
Uma abordagem multimodal da interação social examina essa diversidade de
recursos de forma integrada e holística (MONDADA, 2018), incluindo recursos
mais convencionais (linguagem e alguns gestos) e recursos de natureza mais
contingentes e situada, portanto, mais improvisados, tais como, vocalizações,
movimentos e manipulação de objetos, que são altamente dependentes das
especificidades do contexto (MONDADA, 2018, 2019). Este simpósio tem o
objetivo de reunir estudos sobre a interação ou a fala em uso que se dedicam
a explorar a coordenação entre corpo/gestos, mundo material e língua na
construção das interações humanas ou ainda o papel dos gestos (McNEILL,
1992; KENDON, 2004) na construção da fala-em-interação. Uma perspectiva
multimodal da interação humana tem sido aplicada a distintos campos dos
estudos linguísticos, tais como, aquisição da linguagem; perda ou alterações
linguístico-cognitivas (Transtornos do Espectro do Autismo, afasia, demências,
Síndrome de Down, por exemplo); interações em contexto escolar; interações em
ambientes institucionais ou não-institucionais; interações interculturais, para
citar alguns deles. Os procedimentos de análise multimodal das interações têm

374
mobilizado ainda o uso e o aprimoramento do vídeo para geração de corpora
audiovisuais, o aprimoramento de técnicas de transcrição multimodal e o uso de
ferramentas como ELAN. Assim, trabalhos que compartilhem ou problematizem
os procedimentos metodológicos de pesquisa multimodal também são bem-
vindos.

375
Simpósio Proposto
Multimodalidade nos estudos da interação humana

A perspectiva do sistema de referenciação


multimodal para a interação na Síndrome de Down
Autoria: PAULO VINÍCIUS ÁVILA NÓBREGA

Para a Linguística de Texto, encontramos um posicionamento de que a referência


não é um espelhamento da realidade das coisas no mundo, mas uma negociação
de sentidos entre sujeitos na interação real (MARCUSCHI, 2002, 2005; MONDADA;
DUBOIS, 2003). Por muito tempo também se acreditou que a construção de
sentidos acontecia apenas por meio da linguagem verbal, seja oral ou seja
pela materialização escrita. Embora essa visão tenha sido tomada com grande
relevância pela Linguística por longos anos, outro viés ganha notoriedade, quando
se entende a língua como a congruência de modos distintos de linguagem
realizados em um mesmo alinhamento. A multimodalidade preconiza que as
nuances de linguagem não são acessórias umas das outras, ou ocorrem de
modo isolado. A produção vocal, a gestual e o direcionamento do olhar emergem
de forma concomitante (McNEILL, 1999; KENDON, 1982), ou dando sustentação
às produções na interação. Para essa vertente, língua e fala ocupam a mesma
matriz cognitiva de produção, além de ser um funcionamento neurológico
(POLIA, 2019). Sendo assim, o nosso objetivo é apresentar o funcionamento do
Sistema de Referenciação Multimodal de duas crianças com Síndrome de Down
(SD), em cenas de engajamento conjunto, com terapeutas da linguagem. Para
a noção de engajamento, usaremos as premissas de Ávila-Nóbrega (2017), ao
discutir os processos de atencionalidade. As duas crianças são irmãs, ambas
com SD. Os nossos dados foram coletados na Clínica Escola de Fonoaudiologia
da Universidade Federal da Paraíba e, para este trabalho, mostraremos 02 (duas)
sessões de encontros entre as crianças e as terapeutas, sendo duas sessões
para cada criança. A faixa etária dos sujeitos atendidos percorre o período
de 06 e 08 anos de idade no início das coletas. Nossos dados foram filmados
e têm uma duração média de 30 minutos por atendimento. Postulamos que
esses sujeitos se engajavam nas cenas (TOMASELLO, 2003, 2005, 2009) com as
terapeutas e o uso de diferentes modos de linguagem fazia emergir Sistemas
de Referenciação Multimodal resultantes da negociação de objetos de discurso
(OD), ao longo dos encontros.

376
Simpósio Proposto
Multimodalidade nos estudos da interação humana

Multimodalidade em cenas de atenção conjunta


com criança cega
Autoria: RENATA FONSECA LIMA DA FONTE

Este estudo propõe discutir o funcionamento multimodal da linguagem na


interação entre mãe e criança cega. Para a discussão proposta, analisaremos a
relação entre a tríade olhar/toque, produção vocal e gesto em cenas de atenção
conjunta ocorridas em interações cotidianas entre mãe e filho cego. A partir
de estudos sobre atenção conjunta (TOMASELLO, 1995, 2019) e da perspectiva
multimodal, na qual gesto e produção vocal fazem parte de uma mesma matriz
de significação, sendo indissociáveis, conforme defendem McNeill (1992,
2000) e Kendon (2000, 2009, 2016), serão analisadas interações entre mãe e
criança cega na faixa etária entre 1 ano e 8 meses a 2 anos e 7 meses de idade.
O corpus deste estudo foi composto por dados filmados de interação entre
mãe e filho cego em seu ambiente domiciliar. Esses dados foram coletados em
intervalos quinzenais por um período de aproximadamente um ano (Comitê
de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley - CEP/HULW
da UFPB - Protocolo CEP/HULW n°. 353/10). Para análise, selecionamos cenas
interativas de contextos de atenção conjunta entre a mãe e a criança cega,
considerando situações cotidianas, como o momento de banho e brincadeiras,
por exemplo. O software Eudico Linguistic Annotator (ELAN) tem sido uma
ferramenta utilizada para transcrição das produções vocais e das descrições
dos gestos e do olhar no tempo exato de sua ocorrência. Os resultados deste
estudo relevam iniciativas de atenção conjunta e pistas de engajamento mútuo
em cenas interativas cotidianas diversas, nas quais olhares/toques, gestos
táteis, movimentos corporais e produções vocais com marcações prosódicas
constituíram elementos multimodais coatuantes em interações de atenção
conjunta entre mãe e criança cega. Este estudo promove discussões relevantes
sobre o papel da multimodalidade no processo de atenção conjunta a partir
da singularidade da cegueira, destacando dois recursos privilegiados: (i) Toque
enquanto estatuto do olhar ou do apontar; (ii) Prosódia com papel de dirigir a
atenção infantil para o foco interativo.

377
Simpósio Proposto
Multimodalidade nos estudos da interação humana

Saliências gestuais e prosódicas como matriz para


a entrada da criança na língua(gem)
Autoria: MARIANNE CARVALHO BEZERRA CAVALCANTE

Este trabalho tem por intuito mostrar a inserção da criança na língua(gem) a partir
de um arcabouço gestual-prosódico que vai se constituindo ao longo das primeiras
interações adulto-bebê (FONTE; CAVALCANTE, 2016; CAVALCANTE, 2015;
CAVALCANTE et al., 2016). As discussões recentes na linguística contemporânea
têm permitido que temáticas marginais à área ganhem proeminência, como é o
caso da gestualidade. Sob o guarda-chuva da multimodalidade, os gestos vêm
adquirindo um estatuto linguístico, graças ao desenvolvimento de pesquisas
nos diversos campos da linguística, tendo como uma das principais referências
Adam Kendon (1972, 1980, 1981, 1988, 1990, 2005), como também aos avanços e
discussões de áreas como a psicolinguística (McNEILL, 1985, 1987, 1989, 1992),
a linguística cognitiva (CIENKI, 1998a, 1998b; CIENKI; MULLER, 2008; McNEILL;
DUNCAN, 2000) e a análise da conversação (GOODWIN, 1986; SCHEGLOFF,
1984; HEATH, 1984, 1986; MONDADA, 2006, 2007), dentre outros. Como destaca
Kendon (2009), todo enunciado emprega, de forma completamente integrada,
padrões de vocalização e entonação, pausas e ritmicidades, que se manifestam
não só de forma audível, mas cineticamente também, e sempre, como uma
parte desta, existem movimentos dos olhos, das pálpebras, das sobrancelhas,
bem como da boca, e os padrões de ação por parte da cabeça, além de braços
e mãos. E, nos distanciando de uma abordagem que defende o gesto como
elemento pré-linguístico, postulamos a perspectiva de não separação desses
elementos, tal como proposto em Cavalcante (2008). Assim, concebemos a
produção gestual (gestos dêitico, ritmado, icônico e metafórico - McNEILL, 1992)
e vocal (balbucio, jargão, holófrase, bloco de enunciados - BARROS, 2012) do
bebê produzida nas situações dialógicas com o adulto como linguísticas, uma
vez que se ancoram no arcabouço gestuo-vocal da língua. Ilustramos a proposta
com dados quantitativos de duas díades mãe-bebê, entre 12 e 24 meses de vida,
filmados em vídeo e transcritos no ELAN. Os resultados mostram a relação
de sincronia entre certos gestos e certos elementos vocais na produção de
enunciados em contextos de interação.

378
Simpósio Proposto
Multimodalidade nos estudos da interação humana

Transcrição e análise de interações envolvendo


crianças com transtorno do espectro autismo não-
verbais
Autoria: FERNANDA MIRANDA DA CRUZ

Este estudo visa explorar as relações entre língua, corpo e mundo material
(STREECK et al., 2011; MONDADA, 2016) a partir de interações envolvendo a
participação de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). O
TEA é uma condição neurobiológica caracterizada por prejuízos nas áreas de
interação e comunicação social e por repertório restrito e estereotipado de
atividades e interesses. Estima-se que 50% dos indivíduos nunca adquirem a
fala funcional (EIGSTI et al., 2010), refletindo em uma incidência significativa de
pessoas com TEA que não desenvolvem nenhuma fala, considerados autistas
não-verbais (WALENSKI et al., 2006). A partir do quadro teórico da análise
multimodal da interação corporificada (GOODWIN, 2010, STRECK et al., 2011;
MONDADA, 2016), serão analisadas interações de três crianças de 7 anos
com não-verbais e uma fonoaudióloga. O corpus de pesquisa foi gerado no
quadro de uma produtiva parceria entre pesquisas interacionais de perspectiva
multimodal e pesquisas da área clínica-terapêutica. Foram registradas em vídeo
sessões individuais de terapia fonoaudiológica conduzidas por uma terapeuta
a três crianças de 7 anos com TEA não-verbais (Comitê de Ética em Pesquisas
C.A.A.E 59128416.3.0000.5505). As interações aconteceram sempre com a
presença de uma criança, um adulto familiar e a terapeuta. Os registros em
vídeo realizados totalizam um total de 53 minutos visualizados com auxílio do
software ELAN (WITTENBURG et al., 2006). O ELAN permite fazer uma anotação
fina das ocorrências de gestos (mãos, corpo, direcionamento do olhar) e fala e
sua duração. Os dados foram transcritos com base na convenção de transcrição
de Mondada (2014). A seleção dos excertos focalizou os momentos de atenção
mútua e colaborativa na construção de ações que se realizaram em silêncio
(tais como, solicitar algo; pedir ajuda, por exemplo). Em seguida, procedemos a
uma análise multimodal, atenta às temporalidades, às trajetórias e às projeções
das ações construídas em silêncio. Como resultado, mostraremos como as

379
Simpósio Proposto
Multimodalidade nos estudos da interação humana

ações silenciosas dessas três crianças não-verbais estão imbricadas em uma


complexa dinâmica interacional e multimodal (material, corporal e linguística)
da interação face a face, tais como: os arranjos do espaço físico; os movimentos
corporais dos participantes; a trajetória sequencial de múltiplas atividades e as
falas de sua interlocutora. Este estudo fomenta a discussão de dois tópicos mais
gerais: a participação do corpo, do espaço e do mundo material nas interações
humanas e o compartilhamento dos desafios do trabalho de transcrição de
ações corporificadas sem a presença da fala. (Apoio FAPESP 2018/07565-7).

380
O digital e a linguística popular
Autoria: LÍGIA MARA BOIN MENOSSI DE ARAUJO

Com o advento da internet, sobretudo da web 2.0, a das redes sociais, houve um
incremento muito grande na produção e no compartilhamento de saberes. Esse
compartilhamento produziu como um dos seus efeitos a rápida e exponencial
multiplicação das possibilidades de dizer e dos diversos dizeres. Se antes da
web, o especialista tinha uma espécie de cadeira cativa, isto é, um lugar próprio
de dizer – quase intocável, depois da web, não só os especialistas é que falam,
nos mais variados campos e domínios – há uma verdadeira partilha discursiva
(BENTES, 2020) acerca dos mais diferentes temas. No âmbito da linguística
não é diferente, há hoje um grande número de atores sociais, que poderíamos
designar de acordo com Paveau (2008, 2018, 2020) de não-linguistas (jornalistas,
literatos, advogados, médicos, artistas, youtubers...), que produzem os mais
variados tipos de saberes (prescritivos, descritivos, militantes e intervencionistas
sobre a língua), nos mais diversos dispositivos. Esses saberes considerados por
muitos como ingênuos, dado que não mobilizam categorias e procedimentos
analíticos das ciências da linguística, podem ser tratados perfeitamente numa
abordagem integrativa entre a linguística popular e as ciências da linguagem.
Neste simpósio, acolheremos trabalhos que se constituem no diálogo entre a
Análise do Discurso Digital (PAVEAU, 2017, 2021) (doravante, ADD) e a Linguística
popular (NIEDZIELKI; PRESTON, 2003; PAVEAU, 2020). Trata-se de um conjunto
de pesquisas, que buscam justamente integrar os saberes produzidos pelos não-
linguistas acerca da língua com a ADD. Nesse sentido, serão discutidos trabalhos
que refletem sobre as imagens de língua presentes na rede profissional Linkedin;
textos de não-linguistas militantes que reivindicam a mudança semântica de um
determinado termo ou expressão em prol da luta coletiva de um grupo social;
textos que buscam descrever enquanto metadiscursos a língua de Bolsonaro;
textos que circulam na web e que constituem uma espécie de glossário da
paquera e textos nas redes sociais sobre a linguagem neutra.

381
Simpósio Proposto
O digital e a linguística popular

A “batalha” dos sentidos sobre língua(gem) à luz


da linguística popular
Autoria: MARCO ANTONIO ALMEIDA RUIZ
E LÍGIA MARA BOIN MENOSSI DE ARAUJO

Na história dos estudos sobre a língua(gem), gramáticos e linguistas sempre


foram colocados em posições opostas. De um lado, víamos aqueles que
defendiam uma prescrição e as regras de um bem falar ideal e, de outro, aqueles
que eram responsáveis por descrever os fatores da língua em seus respectivos
usos e contextos. Nessa tal “batalha” de lados imposta, o linguista acabou sendo
deixado de lado por grandes veículos midiáticos quando se tratava dos usos
e variações linguísticas, abrindo espaço e outorga a gramáticos prescritivos
e/ou de saberes do senso comum para explicar certos fenômenos da língua.
Ao longo de muitos anos, ambos assumiram posições distintas e contornos
peculiares sobre o processo de desenvolvimento linguístico. Para tal, nesta
comunicação, propomos observar e descrever a construção de um imaginário
de língua criado por não-linguistas que difundem, por meio de redes sociais
e as mídias, por exemplo, processos, normas de representação de um ideal
de língua, estereotipada socialmente como perfeita, que se adéqua aos
moldes do falar corretamente para, enfim, ter sucesso na vida; trata-se, com
isso, de uma construção de um modelo de língua (utópica!?), reproduzindo-a,
sobretudo, como um espelho do pensamento e transparente. Utilizaremos como
ferramental teórico-metodológico as noções presentes no campo da linguística
popular, tendo como suporte as teorizações de Marie-Anne Paveau (2020).
Nesse caminho, como material de análise, selecionamos alguns vídeos e alguns
recortes de redes sociais, como o Instagram, de aulas sobre a língua portuguesa
proferidas por não-linguistas a fim de analisarmos cientificamente o modo
como são (re)produzidas as normas de língua padrão, porém distanciando-se
da cena genérica aula que é comumente conhecida. Ao fazermos tal análise,
queremos contribuir para os estudos recentes no campo da Linguística popular
no Brasil, promovendo e ampliando as reflexões que configuram essa área no
interior dos estudos da linguagem. Além disso, propomos problematizar essa

382
Simpósio Proposto
O digital e a linguística popular

questão imposta entre uma linguística científica e a de senso comum, pensando


como tais instâncias, de certo modo, reproduzem certas práticas sociais sobre
a construção do saber.

A linguística popular: uma análise dos dizeres de


não-linguistas militantes
Autoria: LIVIA MARIA FALCONI PIRES

O advento das redes sociais proporcionou a efervescência de dizeres sobre


a língua, da mobilização social em torno dos dizeres, dos sentidos e do
léxico produzindo um campo fértil para a pesquisa linguística. Diante de tal
efervescência, centramo-nos, então, nos dizeres das pessoas comuns sobre
a língua com o aporte da Linguística Popular e sua interface com os estudos
do discurso. A Linguística Popular, campo que está sendo desenhado nos
estudos linguísticos brasileiros, versa sobre os movimentos e mobilizações
que os populares, ou seja, as pessoas comuns, fazem da língua. Em seu texto
publicado no ano de 2008 na Revista Policromias, denominado “Não linguistas
fazem Linguística”, a pesquisadora francesa Marie-Anne Paveau (2008) apresenta
uma proposta para pensarmos as falas populares sobre a língua de maneira,
como ela mesma define, não-eliminativa. Nesse contexto, é preciso assinalar, no
campo da linguística, uma questão levantada pelo discurso do ativismo, o dizer
sobre a língua, ou seja, observações metalinguísticas principalmente as que
tangem questões lexicais e semânticas. Essas discursividades se constituem,
entre outras coisas, por discussões sobre os usos de termos, sobre os sentidos
e sobre as maneiras de falar, evidenciando discussões linguísticas produzidas
por “não-linguistas”, linguistas populares. Assim, nosso trabalho se inscreve
nas categorizações empreendidas pela pesquisadora Marie-Anne Paveau
(2021) que desenvolve o que ela denomina de tipologia dos "não-linguistas",
elencando as categorias como: Cientistas não linguistas; Linguistas amadores,
Militantes e outros mais. Temos como objetivo analisar os dizeres dos que
denominamos de “não-linguistas” (PAVEAU, 2018) , mais especificamente, os
“não-linguistas militantes”, debruçando-nos em algumas postagens sobre a
língua produzidas pelo ativismo brasileiro da atualidade em redes sociais. Para

383
Simpósio Proposto
O digital e a linguística popular

esse recorte, utilizaremos postagens feitas no Instagram a fim de compreender


as mobilizações e inscrições desses sujeitos, a partir das bases teóricas que vêm
sendo delineadas pela/na Linguística Popular juntamente com sua interface
com a Análise do Discurso de linha francesa.

O processo de (res)significação de termos


operantes de estigmas na canção "Bixa Preta"
– uma proposta de não-linguistas com efeito na
produção da lingua(gem)
Autoria: DÉBORA HELEN DE OLIVEIRA
Coautoria: LIVIA MARIA FALCONI PIRES

Na sistematização de conhecimentos institucionalizados provenientes de


lugares sociais legitimados para o fornecimento desses saberes sobre a
linguagem, sugere-se o questionamento de uma possibilidade de produção
científica voltado ao objeto linguístico, em sua abordagem da língua, da cultura,
e do sujeito falante (re)produtor desta língua, o que nos permite pensar a
atuação e potencialização dos saberes desses sujeitos considerados não-
linguistas. A linguística popular, postulada em seu contexto francês, considera
a atuação de não linguistas no fazer científico da linguagem na sociedade. A
pesquisadora linguista e discursivista Marie-Anne Paveau (2008) propõe um
olhar antieliminativo dos saberes populares. Para a autora, o saber folk pode
ser entrelaçado ao pensamento científico da linguagem, uma vez que colabora
com as convicções de locutores a respeito de sua produção linguística no social,
ora para a manutenção, ora para a transformação dessas ideias. A partir dos
apanhados teóricos dos estudos do discurso e da linguística popular, utilizando
como corpus analítico a canção “Bixa Preta" composta e performatizada pela
artista Mc Linn da Quebrada, investigaremos os processos semântico e lexical/
normativo dos termos "bicha" e "preta". Na canção, há uma mobilização de termos
vistos na sociedade com efeito estigmatizado circulante, tais sentidos operantes
de estigma entre os indivíduos no social entre outras formas circulantes e que
também corroboram com a caracterização de algo pejorativo, estigmatizado e

384
Simpósio Proposto
O digital e a linguística popular

transgressor a aquele que se dirige. Assim na canção, tal mobilização produz


efeitos de sentidos distintos dos estigmatizados, produzindo um movimento
de evidência de seus corpos e ações. Na exposição deste trabalho analítico,
trataremos de uma inscrição da palavra como mecanismos de empoderamento,
seja do corpo, da performance e do público a que se destina, o que permite
uma ressignificação do termo, e traz reflexões para o pensamento científico da
linguagem sobre o seu uso e compreensão referente, na tentativa de um olhar
antieliminativo do saber folk para a reflexão proposta.

Práticas meta(tecno)discursivas por não


linguistas: a construção de glossários digitais de
termos nativos da web por linguistas profanos
Autoria: RENATA DE OLIVEIRA CARREON
E MARIANA MORALES DA SILVA

Hodiernamente temos acompanhado as constantes mutações que as práticas


discursivas têm sofrido devido ao advento da internet e, consequentemente, da
emergência do discurso digital, que ressignifica saberes, mas também dizeres,
incluindo aí, inclusive, aqueles relativos à própria língua e, mais especificamente,
termos que surgem na Web. Este trabalho busca colocar em diálogo duas
teorias ainda em construção. De um lado, a Linguística Popular, com aportes
em relação às produções e aos saberes de linguistas profanos (PAVEAU,
2020) e, de outro, a teoria do discurso digital postulada também por Paveau
(2017) com contribuições de Maingueneau (2015). O objetivo deste estudo é
compreender o funcionamento de práticas discursivas digitais materializadas
em construções de glossários da e na Web, empreendidas por não linguistas,
ou seja, segundo a visão de sujeitos não especialistas da língua. Para tanto,
dentro da temática de relacionamentos amorosos no espaço digital, foram
selecionadas quatro notícias veiculadas na Web entre os anos de 2018 e 2020 que
trazem características de glossários de termos tipicamente ligados a práticas
discursivas digitais. É analisada a construção das definições dos seguintes
termos eleitos: crush, ghosting, orbiting, sexting, shippar e stalkear/stalker.

385
Simpósio Proposto
O digital e a linguística popular

Enfocaram-se principalmente três aspectos comuns dos glossários digitais:


as entradas dos termos, suas respectivas definições e os funcionamentos
das ocorrências de cada termo, quando estas estavam disponibilizadas. Ao
entrelaçar estudos da Análise do discurso digital e da Linguística Popular - campo
ainda emergente no Brasil e na França -, compreende-se práticas “meta(tecno)
linguísticas” a partir da composição do hipergênero (segundo Maingueneau)
e do tecnogênero negociado (segundo Paveau) no que se denominou, neste
estudo, como “glossário da paquera digital” produzido por não linguistas. Foi
possível identificar caraterísticas gerais e comuns dessa prática meta(tecno)
linguística, bem como debater o lugar de não linguistas quanto aos discursos
produzidos sobre termos nativos digitais. Defende-se que termos típicos da Web
2.0 passam a figurar em diversos sites por práticas não apenas linguageiras ou
digitais, mas também meta(tecno)discursivas.

Uma análise discursiva da linguística folk na rede


social LinkedIn
Autoria: LÍGIA MARA BOIN MENOSSI DE ARAUJO

Este projeto de pesquisa de mestrado versa sobre discursos que têm como enfoque
a Escrita e Uso da Língua na composição de textos para fins mercadológicos,
tendo como base teórica a perspectiva teórica da Linguística Folk de Marie-Anne
Paveau (2008), e baseando-se teórica e metodologicamente sobre a noção de
Cenas da Enunciação empreendida por Dominique Maingueneau (1998). A partir
disso, objetivamos tratar da questão da produção discursiva prescritiva por não
linguistas e identificar de que modo os discursos contemporâneos ainda possuem
resquícios de um ideário de língua correta, bela e “treinável”. Para a realização
do presente estudo, utilizaremos também como recurso metodológico a Análise
do Discurso de orientação francesa, mais especificamente, as ideias de Michel
Pêcheux (2006) sobre o Batimento descrição/interpretação; ademais, será feita
uma pesquisa bibliográfica, a partir da qual contribuições mais recentes sobre
a temática serão imprescindíveis para fundamentar, teoricamente, este projeto
de pesquisa. Também foram escolhidas para análise posts de autoria de uma
mentora de Português e fundadora de uma empresa de mentoria para escrita,

386
Simpósio Proposto
O digital e a linguística popular

veiculada pela maior rede social profissional, o Linkedin. Como justificativa


para esse projeto de pesquisa, tomamos a reflexão, análise e descrição do
posicionamento dos não linguistas acerca da validação do uso escrito e social
da língua em uma relação dicotômica entre certo e errado. A linguística popular
dá luz aos saberes produzidos por não linguistas e, no caso desse projeto de
pesquisa, analisaremos como as prescrições sobre a língua são construídas
para fins mercadológicos. O estudo dos não linguistas e suas produções pelo
viés linguístico pretendem demonstrar o que pensam e propõem esses sujeitos
acerca da língua. Nesse caminho, sedimentamos nossa pesquisa nos preceitos
investigativos da Linguística Popular que buscam entender como se dá a reflexão
sobre língua tecida por não linguistas e que não só impactam a produção e
circulação discursiva, mas também interessam à Linguística enquanto ciência
que busca entender como se dá a formulação dos discursos da/na língua.

387
O Estágio Supervisionado remoto na licenciatura
em Letras: desafios e perspectivas
Autoria: JOCELI CATARINA STASSI SÉ

O Estágio Curricular Supervisionado nas Licenciaturas é considerado, por si


só, desafiador, não somente em virtude de suas complexidades, envolvendo
a parceria escola-universidade, mas também por considerar a dimensão da
docência em sua integralidade. Tendo em vista o contexto da Pandemia de
COVID-19, que se iniciou no Brasil em meados de março de 2020, a realização do
Estágio Curricular se tornou ainda mais desafiadora e as instituições de ensino
superior tiveram que se adequar a normativas que inviabilizavam a realização de
atividades presenciais, restando ao Estágio a única possibilidade de se tornar
remoto. Nesse contexto, este simpósio reúne trabalhos que objetivam discutir,
a partir de diferentes pontos de vista, como instituições de ensino públicas
buscaram soluções para a realização do Estágio Curricular na Licenciatura em
Letras, em calendário emergencial, de modo remoto, diante dos problemas que
afloraram no período da Pandemia, dentre eles: (i) a falta de acesso à tecnologia;
(ii) a necessidade de adaptação dos métodos e estratégias de ensino ao meio
digital; (iii) a forma de acompanhamento do profissional docente em atividade
de maneira remota; (iv) a continuidade de Programas atrelados ao Estágio, como
o Residência Pedagógica, em meio ao contexto de atividades não-presenciais;
(v) o próprio formato do que se intitulou “ensino remoto”; dentre outras questões
igualmente relevantes. Paralelamente aos desafios, discutem-se experiências
exitosas sobre promoção de práticas situadas no lócus (virtual) do estágio, o que
fomenta a participação do estagiário como agente de letramento (KLEIMAN, 2006)
e a construção do estágio supervisionado como entrelugar socioprofissional
(REICHMANN, 2012, 2014, 2015), cuja intersecção entre as esferas acadêmica
e profissional docente contribui para os letramentos híbridos do estagiário e,
consequentemente, para a construção de sua identidade profissional docente.
Nesse sentido, um olhar atento para a parceria colaborativa (FOERSTE, 2004),
para a construção das identidades docentes (FARIA; SOUZA, 2011; VÓVIO; DE
GRANDE, 2010), para os saberes docentes (GAUTHIER et al., 1998; TARDIF, 2000) e

388
para o lócus (virtual) da escola pública como campo de estágio, considerando-se
todas as vozes envolvidas no estágio (RODRIGUES, 2013), nos parece uma forma
de contribuir com esse debate tão necessário nesses tempos, visto que diretrizes
sobre ensino remoto são escassas, deixando à margem os desafios impostos
pela pandemia ao ensino, bem como as discussões sobre as possibilidades (ou
não) de se fazer estágio curricular nesse período, o que impacta as instituições
de ensino superior na oferta de disciplinas de Estágio Supervisionado.

389
Simpósio Proposto
O Estágio Supervisionado remoto na licenciatura em Letras:
desafios e perspectivas

Demandas e desafios atuais para a formação de


professores de línguas: possíveis relações entre
teorias e práticas nos estágios on-line
Autoria: ISADORA VALENCISE GREGOLIN
E CAROLINE CARNIELLI BIAZOLLI

Neste trabalho, apresentaremos algumas das concepções e princípios que


embasam a formação de professores de línguas de uma instituição pública
de ensino superior (BIAZOLLI; GREGOLIN; STASSI-SÉ, 2021), cuja proposta de
estágio supervisionado pode vincular-se às atividades do Programa Residência
Pedagógica (CAPES). Além disso, discutiremos os processos de apropriação
de teorias linguísticas por licenciandos estagiários em Letras no momento de
articular teorias e práticas e implementar atividades on-line durante a pandemia
de Covid-19. Partimos do pressuposto de que o estágio supervisionado dos
cursos de licenciatura envolve experimentar e refletir sobre planejamento,
implementação e avaliação de situações de ensino em diversos locais do
espaço escolar (PIMENTA, 1995; PIMENTA; LIMA, 2004). Isso implica que as
atividades propostas durante esse período de formação constituem espaço
e tempo importantes para a articulação entre teorias e práticas. Embora as
relações estabelecidas durante a pandemia tenham ocorrido fora do espaço
físico das escolas, a organização e o desenvolvimento de situações de ensino
e aprendizagem dos estágios em ambientes virtuais possibilitaram, em nosso
contexto, a manutenção de momentos de reflexão crítica sobre as práticas
docentes. Além disso, também viabilizaram discussões relacionadas à
constituição de identidade(s) docente(s) e à escolha de abordagens teórico-
metodológicas que contemplassem não apenas a estrutura da língua, mas
também todos os seus aspectos funcionais, sociais e cognitivos. Objetivamos,
desse modo, socializar reflexões e teorizações a partir da implementação dos
estágios supervisionados on-line de um curso de Letras e problematizar algumas
demandas e desafios atuais para a formação de professores de línguas no
Brasil. Os resultados alcançados em nosso contexto evidenciam a relevância
do estágio supervisionado dos cursos de Letras acompanharem os movimentos

390
Simpósio Proposto
O Estágio Supervisionado remoto na licenciatura em Letras:
desafios e perspectivas

de mudança no ensino de línguas, como resultado de avanços do campo teórico


da Linguística desde o início da década de 80, que toma a linguagem como
uma realidade social e concreta, concebendo-a como um conjunto aberto e
múltiplo de práticas sociointeracionistas, orais e escritas, desenvolvidas por
sujeitos historicamente situados. (Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001)

Estágio supervisionado em língua portuguesa no


IFPR: uma experiência exitosa
Autoria: MARÍLIA CURADO VALSECHI

O presente trabalho tem como objetivo analisar uma experiência de estágio


supervisionado no contexto de ensino remoto, tendo como escola-campo
o campus Londrina do Instituto Federal do Paraná (IFPR), uma instituição
pública de educação básica, profissional e tecnológica, pertencente à Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Inserido no
paradigma metodológico qualitativo-interpretativista e ancorado na perspectiva
sociocultural dos Estudos de letramento (HEATH, 1983; STREET, 1984; KLEIMAN,
1995) e na teoria sócio-enunciativa bakhtiniana, este trabalho revela como
a inserção de estagiários em práticas letradas situadas e colaborativas no
contexto da supervisão do estágio supervisionado (VALSECHI, 2016) favorece
o engajamento pessoal do estagiário e a consequente configuração do estágio
como entrelugar socioprofissional (REICHMANN, 2012, 2014, 2015), lugar de
fronteira entre as esferas acadêmicas e profissional docente, que favorece
o trânsito entre ambas as esferas e a construção da identidade profissional
docente. Um conceito importante para esta análise consiste no conceito de
“agência”, compreendida tal como Kleiman (2006, p. 415) postula, baseada na
noção de “agência social” de Archer, como “capacidade para articular interesses
partilhados, organizar ação coletiva, gerar movimentos sociais e exercer
influência corporativa na tomada de decisão”. Pode-se dizer que a configuração
do ensino remoto na referida instituição – mais especificamente, no ensino
médio integrado –, capaz de promover práticas situadas e colaborativas no lócus
de estágio, bem como o engajamento pessoal dos estagiários e da professora

391
Simpósio Proposto
O Estágio Supervisionado remoto na licenciatura em Letras:
desafios e perspectivas

supervisora – sujeitos envolvidos no estágio –, favoreceu a agência social dos


estagiários, levando-os a se constituir como verdadeiros agentes de letramento
(KLEIMAN, 2006). O resultado aponta para uma exitosa experiência de estágio
na formação de professores de Língua Portuguesa como língua materna, por
um lado, e, por outro, para uma lacuna na relação professor-orientador da
universidade e professor-supervisor da escola campo, evidenciando uma frágil
relação entre universidade-escola que acaba reforçando a questão do esforço
pessoal do supervisor que recebe os estagiários. Em outras palavras, sem um
trabalho orquestrado de parceria entre as escolas e instituições de ensino
superior, o sucesso do estágio supervisionado do estagiário fica relegado ao
acaso e às mãos do professor que recebe o estagiário na escola-campo.

O ensino remoto emergencial no estágio obrigatório


em língua inglesa durante a pandemia de Covid-19
Autoria: VANESSA HAGEMEYER BURGO

Este trabalho visa a relatar a experiência de adaptação ao Ensino Remoto


Emergencial (ERE) nos estágios obrigatórios em língua inglesa I e II na
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), câmpus de Três Lagoas,
durante a pandemia do coronavírus nos anos de 2020 e 2021. Os estágios,
que eram totalmente desenvolvidos de modo presencial antes da pandemia,
precisaram sofrer adaptações e ajustes para a adequação ao modelo remoto,
tanto na condução das aulas teóricas, quanto no desenvolvimento das atividades
de observação e regência. A partir de relatos de professores de língua inglesa
da rede pública e dos próprios discentes das turmas, discutimos as dificuldades
enfrentadas nesse momento atípico, bem como a eficácia das ferramentas,
plataformas e novas formas de planejamento e execução das aulas. Esta
discussão, portanto, tem como base Brasil (1998, 2002), Paiva (2003, 2019, 2020),
Leffa (2007, 2008), Leffa, Fialho, Beviláqua e Costa (2020), Ortenzi et al. (2008),
Tardif e Moscoso (2018), Veloso e Walesko (2020) e Moreira e Schlemmer (2020).
De acordo com o regulamento de Estágio do Curso de Letras do câmpus de Três
Lagoas da UFMS, habilitação em Português e Inglês, as atividades de estágio
obrigatório devem ser distribuídas em duas etapas (teórico-metodológica e

392
Simpósio Proposto
O Estágio Supervisionado remoto na licenciatura em Letras:
desafios e perspectivas

prática), conforme plano estabelecido e aprovado pela Comissão de Estágio,


observado um percentual mínimo de 70% da carga horária em atividades
práticas. Para a realização da carga horária teórica, estão sendo utilizadas as
seguintes ferramentas didáticas durante a pandemia: estudos dirigidos, leituras
orientadas, trabalhos, encontros e aulas virtuais por meio da plataforma Google
Meet, além de transmissões de conferências e mesas-redondas. Em relação à
observação, participação e regência no local de estágio, a adequação consiste em
atividades que estão sendo substituídas por análise de textos teóricos (artigos,
dissertações, teses, entre outros), elaboração e apresentação de sequência
didática, projeto e/ou plano de intervenção, a critério da Comissão de Estágio.
Com efeito, os desafios e limitações impostas pela pandemia exigiram novos
esforços e reflexões a respeito das práticas pedagógicas e da implementação
de um ensino completamente mediado por tecnologias e meios digitais diante
desse contexto tão inusitado.

Saberes docentes na formação do professor de


língua inglesa: o estágio supervisionado remoto
Autoria: JOCELI CATARINA STASSI SÉ

Este estudo objetiva problematizar os saberes docentes (GAUTHIER et al.,


1998; TARDIF, 2000) envolvidos na formação inicial de professores de língua
inglesa, considerando-se o contexto de uma disciplina de Estágio Curricular
Supervisionado de Inglês, oferecida remotamente, em um curso de Letras de
uma universidade pública do interior paulista. Sabendo-se que a desarticulação
entre a formação acadêmica e a realidade escolar é um dos problemas mais
complexos enfrentados durante a formação inicial, haja vista o desmerecimento
dos saberes práticos dos professores por parte da própria universidade e dos
saberes trazidos pelos licenciandos, a parceria colaborativa (FOERSTE, 2004)
no Estágio surge como alicerce fundamental, pois permite conhecer a realidade
dos sujeitos envolvidos na parceria (professor orientador- estagiário- professor
supervisor) evitando negar a vivência desses sujeitos e as diversas situações-
problema da realidade escolar (TARDIF, 2012). Neste estudo, soma-se a essas
complexidades o contexto do ensino remoto, que se iniciou em meados de

393
Simpósio Proposto
O Estágio Supervisionado remoto na licenciatura em Letras:
desafios e perspectivas

março de 2020, quando do início da Pandemia de COVID-19 no Brasil. Norteados


por normativas nacionais e estaduais que orientaram o ensino emergencial
não presencial na escola básica e no ensino superior, escolas e universidades
precisaram se adequar repentinamente ao novo formato de ensino remoto,
tendo que adaptar a atividade docente ao modo virtual, sem incorrer no
formato já conhecido “ead” de ensino à distância. Assim, este estudo identifica
e problematiza os saberes docentes ativados nessa transição de modalidade de
ensino. Para isso, nosso olhar se volta à imersão proporcionada aos estagiários
no Estágio Curricular remoto e, dentro dessa perspectiva, tomamos como
parâmetros de investigação o profissional docente e sua atuação no novo
lócus da escola pública, refletido nas plataformas virtuais e de interação
síncrona e assíncrona, os métodos e estratégias de ensino empregadas por
esse profissional, os diversos formatos de aula que se fizeram presentes nas
escolas campo alvo desta pesquisa, tendo a tecnologia como escopo de todas
essas reflexões, e os saberes docentes ativados nesse processo. Assim, será
possível mensurar o impacto desse novo modo de ensino na formação dos
futuros professores de língua inglesa, identificando as implicações dessas
mudanças nos saberes desses professores em formação e lançando luz sobre
a discussão do “conhecimento docente necessário” (SHULMAN,1987) para ser
professor (de inglês) na contemporaneidade.

394
O trabalho com a linguagem na extensão comunitária:
atividades clínicas e de ensino, formação e
inclusão social
Autoria: ROSANA DO CARMO NOVAES PINTO

Este simpósio articula quatro apresentações que têm como objetivo relatar o
trabalho com a linguagem no contexto de extensão comunitária, bem como
destacar a sua relevância para os demais eixos da atividade acadêmica – o
ensino e a pesquisa – e também para os sujeitos e/ou comunidades-alvos das
ações. Todos os trabalhos compartilham da concepção de linguagem enquanto
“atividade constitutiva dos sujeitos” (FRANCHI, 1977) e dos princípios teórico-
metodológicos articulados por Coudry (1986) na área de Neurolinguística. A
extensão comunitária compreende um conjunto de ações voltadas à comunidade
externa à universidade, em geral, constituída por indivíduos em situação de
vulnerabilidade. No contexto deste simpósio, refere-se especialmente aos
indivíduos cuja linguagem foi impactada por patologias (afasia, autismo)
ou àqueles com dificuldades de leitura e escrita, decorrentes de fatores
socioculturais (problemas na escolarização). Aspectos metodológicos: Os
relatos decorrem dos trabalhos desenvolvidos (i) no Centro Docente Assistencial
em Fonoaudiologia (CEDAF/UFBA), (ii) no Grupo III do Centro de Convivência
de Afásicos (CCA/UNICAMP) e (iii) na ONG Prometheus, que atua no ensino
popular em comodato à PUCCAMP. As duas primeiras apresentações tratam,
respectivamente, das atividades clínicas desenvolvidas por fonoaudiólogos: no
primeiro caso, do trabalho com crianças encaminhadas pela rede pública de
ensino, devido a queixas de dificuldades de leitura e escrita.; no segundo com
crianças com hipótese diagnóstica de TEA (Transtorno do Espectro Autista)
abrigados pelo CEDAF, em convênio com o SUS (Sistema Único de Saúde). Em
seguida, são apresentados os resultados de projetos de extensão desenvolvidos
no CCA, com apoio institucional da UNICAMP, destacando aspectos teórico-
metodológicos que fundamentam o trabalho. As atividades de extensão são
descritas e relacionadas à pesquisa e ao ensino na área de Neurolinguística.
Encerrando o simpósio, será relatada uma experiência de ensino/aprendizagem

395
de língua portuguesa, no contexto da Educação Popular Emancipatória, em
um cursinho que atende alunos da rede pública de Campinas. Discussão e
considerações: Apesar da relevância das atividades de extensão, sendo esta
considerada como uma das bases do tripé da universidade – seja porque são loci
de pesquisa e de formação acadêmica, seja pelos benefícios proporcionados
especialmente às comunidades em vulnerabilidade –, há ainda um longo
caminho a ser percorrido para o reconhecimento institucional, incluindo-se o
provimento financeiro que possibilite sua existência. Afinal, a interface com a
comunidade externa é um dos compromissos basilares das universidades, em
especial, as públicas e as filantrópicas.

396
Simpósio Proposto
O trabalho com a linguagem na extensão comunitária:
atividades clínicas e de ensino, formação e inclusão social

A extensão universitária e o trabalho de linguagem


realizado com crianças que apresentam queixas
escolares
Autoria: ELAINE CRISTINA DE OLIVEIRA

IINTRODUÇÃO: Em 2016, iniciou-se no Centro Docente Assistencial em


Fonoaudiologia (CEDAF) a extensão intitulada “Atenção e cuidado à queixa
escolar”. Esse projeto, de caráter permanente, teve como objetivo acompanhar
crianças e jovens que apresentavam queixas relacionadas ao processo de
escolarização. A proposta foi realizar atendimento fonoaudiológico individual
e em grupo e inserir esses sujeitos em práticas sociais faladas/escritas/orais/
letradas, de modo que pudessem ressignificar suas relações com a leitura, a
escrita e a escola. Também foi realizado um trabalho de acompanhamento em
grupo com as famílias dessas crianças para que encontrassem um lugar para
discutirem sobre as dificuldades dos filhos e descobrirem as potencialidades
encobertas pelos diagnósticos. OBJETIVOS: A proposta desse estudo é relatar a
experiência da extensão e refletir sobre a sua relevância tanto para a formação
do terapeuta quanto para as famílias e a sociedade. METODOLOGIA: Trata-
se de um estudo qualitativo, descritivo-analítico e de caráter retrospectivo,
realizado a partir de dados dos planos e relatórios terapêuticos, das gravações
de algumas sessões, dos relatórios realizados pelas preceptoras e dos relatórios
parciais do projeto. DISCUSSÃO: O projeto é executado com apoio de discentes
do curso de Fonoaudiologia e preceptoras fonoaudiólogas do Programa de
Pós-Graduação em Educação. As crianças são atendidas individualmente e
em grupo, semanalmente. No mesmo horário do atendimento em grupo, os
pais são acompanhados pelas preceptoras. Desde 2010, existiam tentativas de
implementar o grupo como dispositivo terapêutico na formação dos discentes,
que atendiam crianças com queixas escolares. No entanto, os grupos terapêuticos
só se efetivam com a extensão, em 2016. Nota-se, a partir da extensão, uma
mudança qualitativa dos atendimentos com a presença da preceptora e maior
integração com a rede de serviços de saúde e educação. A relação entre a
clínica (fundada numa perspectiva dialógica e desmedicalizante) e a escola

397
Simpósio Proposto
O trabalho com a linguagem na extensão comunitária:
atividades clínicas e de ensino, formação e inclusão social

se estreita ao longo dos anos, mas ainda carece de um diálogo que consiga
transpor os muros das instituições de forma a operar mudanças profundas,
tanto na atuação terapêutica com a linguagem quanto no trabalho pedagógico
do professor. Quanto às famílias, nota-se que o acompanhamento mais próximo
teve como consequência a redução das faltas e maior adesão ao processo
terapêutico. CONCLUSÃO: Nesse breve relato de experiência observamos que a
extensão universitária teve efeitos importantes sobre a qualidade da formação
do estudante, possibilitou a troca e o diálogo com a sociedade operando, a partir
do conhecimento científico produzido, mudanças importantes nas condições
de vida das famílias e das escolas.

Autismo e linguagem: relato de experiência sobre


extensão universitária
Autoria: MARCUS VINICIUS BORGES OLIVEIRA

Introdução: A extensão intitulada “A linguagem e o sujeito com TEA (Transtorno


do Espectro Autista)”, inscrita na modalidade “prestação de serviço”, começou
no ano de 2017 no CEDAF (Centro Assistencial Docente de Fonoaudiologia), em
convênio com o SUS. Teve como foco o trabalho com a linguagem do sujeito
autista sob um enfoque dialógico, a partir de atendimentos fonoaudiológicos
supervisionados, individuais e em grupo, discussão de casos e de textos
acadêmicos escolhidos para subsidiar teoricamente a prática clínica. Objetivos:
Discutir o papel institucional da extensão, tanto no que diz respeito à população
autista atendida quanto à formação dos estudantes, dando relevância ao
processos e aos resultados consolidados neste período. Metodologia: Estudo
descritivo, de caráter qualitativo, do tipo “relato de experiência” referente ao
vivido, baseado em relatórios, anotações e memórias retrospectivas do período
entre 2017 e 2019. Discussão: Frente à escassez de serviços que acolham autistas
na Bahia, mais especialmente em Salvador, considerando que a fonoaudiologia
tradicionalmente costuma se referir à linguagem dos autistas como incompleta
ou desviante, a extensão desenvolveu atendimentos fonoaudiológicos voltados
principalmente para o trabalho com a linguagem, se distanciando de uma clínica
da exclusão, ao propor trabalhar com toda riqueza enunciativa trazida pelos

398
Simpósio Proposto
O trabalho com a linguagem na extensão comunitária:
atividades clínicas e de ensino, formação e inclusão social

indivíduos com hipótese diagnóstica de TEA. O atendimento proporcionou,


para além dos efeitos terapêuticos aos autistas, formação ético responsável
aos extensionistas, assentada nas dificuldades reais advindas da desigualdade
social de caráter estrutural que também afeta este grupo. A partir dos produtos
da extensão, foi possível inferir que, dentro de suas condições, os autistas
assumem o papel de sujeito, mobilizando diferentes recursos linguísticos para
atingir seu intuito discursivo (cf. Bakhtin), apresentando-se não como um caso
“dado”, mas singular e pleno de possibilidades e potencialidades. Conclusão:
O programa de extensão – considerada uma via de mão dupla – por um lado,
gerou resultados que foram comunicados em eventos científicos e se tornaram
trabalhos de conclusão de curso dos alunos e, por outro, desenvolveu um diálogo
de qualidade para e com a sociedade. Isso só foi possível graças à relação entre
teoria e práxis, por meio do ensino e da pesquisa orientadas para a realidade
histórico cultural dos participantes.

O trabalho com a linguagem no âmbito da


extensão comunitária: projetos desenvolvidos no
Centro de Convivência de Afásicos (CCA)
Autoria: ROSANA DO CARMO NOVAES PINTO

Introdução e objetivos: O Centro de Convivência de Afásicos (CCA/UNICAMP) é


o lócus da pesquisa e do trabalho de extensão comunitária para indivíduos com
afasia, sendo esta caracterizada por um conjunto de alterações de linguagem
decorrentes de lesões cerebrais focais provocadas por diferentes fatores
etiológicos (AVCis, tumores, TCEs, dentre outros). As afasias comprometem
a atividade linguística em todas as suas modalidades: oral (produção e
compreensão) e escrita (leitura e produção), impactando todos os níveis do seu
funcionamento – do fonético-fonológico ao pragmático-discursivo (COUDRY,
1986). Os projetos de extensão têm sido propostos pelos pesquisadores que atuam
no Grupo 3 do CCA há aproximadamente dez anos, visando apoio institucional
e financeiro tanto para adquirir equipamentos de informática utilizados nas
sessões do grupo, quanto para financiar atividades externas, como visitas a

399
Simpósio Proposto
O trabalho com a linguagem na extensão comunitária:
atividades clínicas e de ensino, formação e inclusão social

espaços culturais. A maior parte das famílias que nos procuram provém de
classes sociais menos favorecidas, tendo pouco acesso às terapias de linguagem
ou aos bens culturais. É importante compreender que os sujeitos afásicos
também passam a fazer parte de “comunidades minoritárias com necessidades
especiais” e são, por isso mesmo, vítimas de preconceitos linguístico e social.
Objetivo: A apresentação no simpósio visa divulgar o CCA como espaço da
extensão comunitária no trabalho com a linguagem, em sua relação com os
dois outros eixos do tripé que caracterizam o compromisso das universidades:
o ensino e a pesquisa. Objetiva também problematizar questões relativas
ao apoio financeiro institucional. Aspectos metodológicos: A apresentação
constitui-se de breves descrições dos projetos de extensão realizados com
apoio institucional e de seus resultados, de relatos de sujeitos afásicos e de seus
familiares acerca dos efeitos terapêuticos das ações, bem como de depoimentos
de alunos que participam/participaram das sessões do CCA, em especial sobre
o papel do CCA para sua formação acadêmica e pessoal. Serão apresentados
transcrições, áudios e fotos relativos aos depoimentos. Conclusão: Além de
fortalecer os laços interindividuais (corpo discente, pesquisadores, afásicos e
seus familiares, voluntários e profissionais da saúde), as práticas desenvolvidas
no âmbito da extensão comunitária motivam a produção de narrativas pelos
afásicos, promovendo a reorganização da linguagem, bem como o fortalecimento
de valores fundamentais –, resiliência, empatia e solidariedade –, impactando
positivamente a qualidade de vida de todos. As narrativas dos afásicos dão
visibilidade tanto às dificuldades impostas pelas afasias quanto às estratégias
alternativas de significação, retroalimentando a pesquisa e o ensino na área de
Neurolinguística.

O trabalho com a linguagem no contexto da


educação popular emancipatória
Autoria: DIANA MICHAELA AMARAL BOCCATO

Introdução: O Prometheus é uma Organização não Governamental que atua no


segmento da Educação Popular Emancipatória destinada a jovens e adultos que
estejam cursando ou já tenham concluído o Ensino Médio e desejam ingressar

400
Simpósio Proposto
O trabalho com a linguagem na extensão comunitária:
atividades clínicas e de ensino, formação e inclusão social

no Ensino Superior. A ONG opera, desde 2017, presencialmente em contrato de


comodato com as instalações da PUCCAMP e vem trabalhando virtualmente
durante a pandemia. A equipe é composta por profissionais de diversas áreas e
conta com professores já graduados e em processo de graduação. Sendo assim, a
experiência também se configura como um espaço profícuo para o crescimento
pessoal, acadêmico e profissional de seus voluntários, promovendo contato
com a prática docente, o desenvolvimento de atividades didáticas e propiciando
as formações complementares promovidas pela gestão do projeto. Objetivo: A
apresentação no simpósio tem por objetivo relatar e discutir experiências de
ensino/aprendizagem das disciplinas de Língua Portuguesa e Redação oferecidas
aos alunos da rede pública de Campinas pela ONG Prometheus, discutindo
a relação entre ensino, pesquisa e extensão comunitária. Aspectos teórico-
metodológicos: Com base nas experiências de sucesso da Educação Popular
Emancipatória promovidas pelo MST - Movimento dos Sem Terra - e tomando
por base a Educação Libertadora (FREIRE, 1967), serão apresentados relatos de
gestores, educadores, alunos e ex-alunos do Prometheus, focalizando os desafios
e estratégias de transposição em relação às habilidades de escrita e de leitura/
interpretação de texto experienciadas dentro e fora da sala de aula. Discussão: A
Educação Popular Emancipatória tem como objetivo a construção democrática
de conhecimento crítico e gratuito, visando promover a autonomia e a inclusão
de estudantes no Ensino Superior – um espaço que deveria ser garantido a todos,
mas ao qual diversos alunos oriundos de camadas sociais menos privilegiadas
não são integrados, em decorrência da grande desigualdade socioeconômica/de
acesso aos bens culturais que assola o Brasil. Conclusão: A partir da iniciativa
voluntária de professores/futuros professores e demais profissionais, bem como
do suporte da infraestrutura da PUCCAMP, o Prometheus oferece, anualmente,
315 horas/aula realizadas aos finais de semana, propiciando a participação de
estudantes que também trabalham. Além disso, no contexto da pandemia,
a modalidade on-line trouxe maior acessibilidade a alunos de regiões mais
longínquas da cidade de Campinas.

401
O tratamento das orações complexas na perspectiva
construcional: aspectos sincrônicos e diacrônicos
Autoria: TAÍSA PERES DE OLIVEIRA

O objetivo deste simpósio é proporcionar a discussão de aspectos teórico-


metodológicos da abordagem construcional voltada à descrição de orações
complexas, considerados, especialmente, as relações que envolvem os
enunciados e os processos que concorrem para emergência de conectivos e
padrões oracionais. Adota-se a abordagem construcional tal como elaborada
em Croft (2005), Goldberg (2006), Traugott e Trousdale (2013) e Diessel (2019),
assumindo-se como pressupostos mais gerais que: 1) a gramática é simbólica e
está organizada em construções em diferentes níveis de descrição linguística;
2) a construção é a unidade básica de análise, concebida como o pareamento
convencional entre forma e significado; 3) a rede construcional está organizada
em torno de diferentes subtipos de construções, com diferentes graus de
esquematicidade, ligados por relações de herança e associações relacionais;
4) as construções emergem a partir de dois processos fundamentais: mudança
construcional, quando mudanças afetam a forma ou significado de uma
construção, ou construcionalização, quando uma nova forma e um novo
significado emergem na rede construcional. A partir da consideração desses
princípios, são objeto de discussão neste simpósio aspectos diversos das
construções complexas em português. As discussões a serem realizadas aqui
tomam dois caminhos. Por um lado, examinam-se os mecanismos de mudança
responsáveis pela padronização e generalização de conectivos e complexos
oracionais, levando em conta, ainda, os efeitos da acomodação de novos
subesquemas e microconstruções na rede que integram. Por outro, avaliam-
se também as propriedades formais e funcionais dessas construções, a fim de
se compreender de que modo aspectos gramaticais dessas construções são
definidos por tipos específicos de elos e relações associativas motivados pela
organização cognitiva da rede. Os trabalhos deste simpósio têm como eixo
comum a verificação dos dados da língua em uso para explicar o funcionamento,
o desenvolvimento e os padrões morfossintáticos de orações complexas e

402
conectivos oracionais. A perspectiva que se assume é múltipla, considerando
tanto dados em diacronia quanto em sincronia, a depender dos objetivos do
trabalho. Espera-se, assim, oferecer espaço para discussão dos processos
envolvidos na formação e caracterização de orações e conectivos oracionais.

403
Simpósio Proposto
O tratamento das orações complexas na perspectiva construcional:
aspectos sincrônicos e diacrônicos

As orações introduzidas pelo conector condicional


complexo "somente se"
Autoria: DIOGO AYANO BRAGA DA SILVA

Amparado, sobretudo, pelas correntes teóricas funcionalistas recentes, este


trabalho tem como objetivo principal analisar aspectos formais e funcionais
das orações introduzidas pelo conector condicional complexo “somente se” no
português brasileiro e para cumprir com esse objetivo faço uso das vertentes
teóricas que tomam as gramáticas das línguas pelo viés construcional, que
buscam analisar de maneira mais latente a relação entre o uso da língua com
aspectos cognitivos. Ao selecionar esse modelo teórico, assumo também que a
pragmática atua fortemente na estrutura linguística, uma vez que tópico, foco,
fluxo de atenção, entre outras questões podem acionar mudanças linguísticas
como é o caso do conector “somente se”, que tem sua origem relacionada a
contextos de uso do advérbio como focalizador e que é neonalisado e através
de expansões e micropassos de mudança acaba se ligando, por meio de elos
relacionais, à rede de conectores condicionais complexos restritivos. Além
disso, a criação desse novo elo entre a rede dos conectores condicionais e dos
advérbios implica em perdas de propriedades formais e funcionais da categoria
de origem, como a posição do advérbio na oração, possibilidade de mudança
de posição, o escopo do advérbio e sua orientação em relação ao escopo, tipo
de foco (estreito ou amplo), dentre outras, contudo, por outro lado, ao formar
um conector condicional complexo o “somente se” ganha características,
como posição no início da oração, introduzir orações condicionais restritivas,
entre outras. Para a análise qualitativa e sincrônica pretendo coletar amostras
dos séculos XX e XXI de dados de “somente se” no corpora on-line Corpus do
Português que possibilitem a análise da posição na oração, correlação verbal
entre as orações, domínio cognitivo da oração condicional (conteúdo, epistêmica,
ato de fala e metatextual), a produtividade dessa microconstrução (token
frequency), a esquematicidade e a composicionalidade, bem como pretendo
analisar os parâmetros da condicionalidade propostos por Dancygier (1998), a
saber: causalidade, não assertividade, predição, distância epistêmica e espaços
mentais.

404
Simpósio Proposto
O tratamento das orações complexas na perspectiva construcional:
aspectos sincrônicos e diacrônicos

Construções condicionais com 'caso' no


português: frequência e produtividade diacrônica
Autoria: CAMILA FERNANDES DA SILVA

O foco deste trabalho é investigar a produtividade das construções condicionais


introduzidas pelo conectivo simples 'caso' e pelos conectivos complexos '(em)
(o) caso (em) que' e '(em) (o) caso de' em perspectiva diacrônica. Em linhas
gerais, a noção de produtividade está relacionada à propriedade que uma
construção tem de recrutar novos itens para determinados slots (PEREK, 2020). A
produtividade também pode estar relacionada à possibilidade de extensibilidade
da construção, isto é, à capacidade que uma construção tem de atrair itens
novos ou existentes (BARÐDAL, 2008; BARÐDAL; GILDEA, 2015). Alinhamos a
proposta de pesquisa à visão de Traugott e Trousdale (2013) que consideram a
produtividade como um dos parâmetros importantes para avaliar o processo
de desenvolvimento de uma nova construção na língua. De acordo com os
autores, o grau de produtividade de uma construção é determinado pela soma
da frequência de diferentes instâncias de um esquema sintático (frequência
type) à frequência de ocorrência de uma construção (frequência token). Quanto
maior a produtividade de uma construção, maior é a evidência de que o uso de
um esquema sintático está altamente armazenado na memória do indivíduo
e convencionalizado entre os usuários da língua (BYBEE, 2010). A partir das
premissas da Gramática de Construções, entende-se que as mudanças na
produtividade devem estar aliadas às mudanças na forma e no sentido, assim,
para atestar a propriedade de produtividade investigamos as frequências
token e type de ocorrências nas sincronias do século XIII ao XXI, do português,
a partir dos seguintes parâmetros: tipo de oração na prótase (finita ou não-
finita), correlação verbal na prótase (passado, presente, futuro, subjuntivo ou
indicativo), e o tipo de domínio conceitual (domínio de conteúdo, epistêmico,
atos de fala e metatextual) manifestados na microconstrução condicional.
Compreendendo a produtividade como um processo gradiente, a hipótese
deste trabalho é de que as condicionais em análise apresentam diferenças
na forma e no uso, podendo demonstrar graus distintos de produtividade na

405
Simpósio Proposto
O tratamento das orações complexas na perspectiva construcional:
aspectos sincrônicos e diacrônicos

história do português. Aparentemente, a condicional com conectivo simples,


estruturalmente e semanticamente menos composicional, é a construção mais
produtiva na sincronia atual, apresentando constante abstratização no que diz
respeito aos domínios conceituais atualizados ao longo do tempo, e expansão
do arranjo colocacional do tipo de verbo na prótase, o que leva a considerar que
essa microconstrução se encontra em um estágio mais avançado no processo
de construcionalização em relação às outras microconstruções.

Entre subordinação e auxiliarização: o estatuto das


microconstruções manipulativas no português
Autoria: JOSÉ ROBERTO PREZOTTO JÚNIOR

Fundamentado nas premissas teórico-metodológicas da abordagem construcional


da mudança linguística que define língua como rede de construções, as quais
emergem, moldam-se e convencionalizam-se no uso (TRAUGOTT; TROUSDALE,
2013), este trabalho recorta, como objeto, microconstruções manipulativas
instauradas pelos verbos “exigir”, “mandar”, “fazer”, “gostar”, “pedir” “impedir”,
“proibir” e “deixar” no português. Tais microconstruções estão arroladas em
dois grupos. O primeiro, da semântica de ordenação, reúne os tipos de ordem
bem-sucedida, em que o manipulador, dotado de coerção, força a realização do
evento pelo manipulado cujo grau de agentividade é nulo; e de ordem pretendida,
no qual o manipulador ordena que o manipulado realize o evento, porém, este,
dotado de algum grau de agentividade, pode ou não se submeter ao comando
(GIVÓN, 2001). O segundo grupo, da semântica permissiva, conta com os tipos de
permissão, em que manipulador remove ou não impõe barreiras para a realização
do evento pelo manipulado; e de proibição, no qual o manipulador retém ou
impõe barreiras para que o manipulado não realize o evento (TALMY, 1986; EGAN,
2008). Baseado nessa categorização, objetiva-se formar um mapa sintático-
semântico que mostre como as microconstruções manipulativas são distribuídas
na rede do português e, em que ponto, entre as zonas de subordinação e de
auxiliarização, elas se alocam. Para esta proposta, são coletadas, do Corpus do
Português (DAVIS; FERREIRA, 2006), as cem primeiras ocorrências de uso das
microconstruções na sincronia do século XX. Os resultados atestam a flutuação

406
Simpósio Proposto
O tratamento das orações complexas na perspectiva construcional:
aspectos sincrônicos e diacrônicos

do objeto em análise entre construções encaixadoras e construções auxiliares,


uma vez que a rede manipulativa abriga: (i) um esquema para microconstruções
subordinadas, as quais mantêm sua estrutura argumental própria com sujeitos
não correferenciais (e.g. “Maria fez com que João saísse da sala”); (ii) um esquema
para microconstruções auxiliares, as quais apresentam comportamento próximo
de um chunk procedural modal (e.g. “Ela exigiu passar a noite aqui”), e (iii) um
subesquema misto para microconstruções que compartilham propriedades
dos esquemas de subordinação e de auxiliarização (e.g. “O pai impediu ela de
ir embora”). Portanto, ao promover esse mapeamento sincrônico, a presente
investigação contribui para a elaboração de redes construcionais complexas
(vd. GONÇALVES; OLIVEIRA, 2020) e para a ratificação de interconexões entre
construções.

Modelos de rede no tratamento dos conectores


condicionais
Autoria: TAÍSA PERES DE OLIVEIRA

Nesta proposta pretendo explorar uma abordagem integrada dos diferentes


modelos de rede pode dar conta tanto da emergência de novos padrões
construcionais e do modo como esses padrões são acomodados na rede,
encontrando inspiração em Traugott (2018). Para tanto, tomo como objeto de
estudo os conectores condicionais do português. Meu ponto de partida é o
entendimento da gramática concebida como uma rede de signos interligados
que se relacionam por meio de elos de diversos tipos que refletem aspectos
sobrepostos de sua estrutura função e significado. O modelo de organização
da gramática em redes tem se mostrado uma ferramenta bastante produtiva
para explicar a organização cognitiva de categorias e construções gramaticais.
No entanto, o que se tem discutido atualmente é que a rede não pode
envolver apenas relações verticais entre construções em diferentes níveis de
abstratização, mas também elos horizontais entre construções similares e/ou
divergentes, até mesmo quando essas construções sequer estejam diretamente
conectadas a um esquema em uma rede taxonômica. Neste trabalho, pretendo
mostrar que o modelo de rede de heranças verticais considerado sozinho não
consegue lidar com diversas questões relacionadas à polissemia de conectores

407
Simpósio Proposto
O tratamento das orações complexas na perspectiva construcional:
aspectos sincrônicos e diacrônicos

adverbiais e por isso uma associação a outros modelos de rede como a que
defendo aqui é necessária. Num primeiro caminho, meu objetivo é sistematizar
a família construcional dos conectores condicionais, o que somente parece
possível se consideramos as relações horizontais em complementaridade com
as relações verticais hierárquicas. Por outro, para uma sistematização eficiente
da condicionalidade, é preciso considerar também as bases conceituais dos
conectores que marcam a condicionalidade em português. Essas relações podem
ser analisadas por meio de elos externos entre o domínio da condicionalidade
e outros domínios com os quais ela interage. As vantagens de tal associação
são: permite explicar a multifuncionalidade como resultado do uso de itens
para instanciar esquemas já existentes; mostra como subesquemas herdam
não apenas de um esquema hierarquicamente mais alto, mas compartilha
propriedades e apresenta sobreposições com subesquemas vizinhos; explica
não apenas os processos de esquematização e abstratização de uma construção,
mas também, porque subesquemas oriundos de diferentes fontes podem marcar
uma mesma função; mostra como o tratamento construcional da mudança e de
aspectos sincrônicos se dá tanto no eixo paradigmático como no sintagmático;
possibilita o entendimento multidimensional das redes por meio das relações
externas, que permite explicar a relação entre diferentes domínios semântico-
pragmáticos. Os dados são coletados em perspectiva sincrônica e diacrônica,
no Córpus do Português.

Mudança em contextos de subordinação:


hipóteses preditivas para a formação de
construções parentéticas
Autoria: SEBASTIÃO CARLOS LEITE GONÇALVES

Construções parentéticas emergem na língua a partir de um complexo oracional


que se desfaz e modifica o estatuto de matriz e de subordinada das construções
que o constituem, com a subordinada tornando-se uma construção oracional
simples e independente, e a matriz, uma construção parentética sintaticamente
livre, com contornos prosódicos e pragmáticos mais acentuados, mas
incidentes sobre o conteúdo de uma construção independente. Adotando a
abordagem construcional da gramática, prevista nos "Modelos Baseados no

408
Simpósio Proposto
O tratamento das orações complexas na perspectiva construcional:
aspectos sincrônicos e diacrônicos

Uso" para o tratamento da mudança (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013; BYBEE,


2010; GOLDBERG, 1995, 2006), focalizamos, nesta comunicação, construções
parentéticas do português brasileiro (PB) originadas de diferentes contextos
de subordinação (função argumental e formato da construção subordinada,
natureza categorial e semântica do predicado da construção matriz, etc.),
guiando-nos, aprioristicamente, pelos seguintes pressupostos inspirados
em Bybee (2001): (i) construções matrizes e subordinadas não apresentam
estatuto igual de “sentença”, embora possam partilhar propriedades sentenciais;
(ii) esquemas construcionais que formam matrizes e subordinadas podem ser
considerados parcialmente independentes; (iii) mudanças em um complexo
oracional, se ocorrem, afetam primeiramente construções matrizes, em razão da
maior facilidade de processamento de seu conteúdo e de relações pragmáticas
(interacionais) serem mais afeitas a essa parte do complexo oracional;
ao contrário, subordinadas típicas são mais estáveis e menos suscetíveis
a mudanças pragmaticamente motivadas; (iv) construções parentéticas
devem ser consideradas um novo pareamento de forma e de sentido que
as torna uma unidade de processamento diferente quando comparadas às
construções matrizes de que se originam. Para a defesa desses postulados,
partimos da HIPÓTESE de que construções parentéticas emergem na língua
como construções esquemáticas, a partir de contextos de subordinação com
grau fraco de vinculação entre matriz e subordinada (GIVÓN, 1985). Diante da
gradiência reconhecida em processos de mudança, pretendemos argumentar
que, mesmo quando ainda conectadas a uma subordinada, determinadas
construções matrizes podem vir já a constituir uma construção esquemática
(quase cristalizada) com estatuto semântico e discursivo diferenciado, portanto,
uma unidade cujo significado não resulta da simples soma do significado de
suas partes. Sob tal hipótese, constitui OBJETIVO desta comunicação explorar
construções parentéticas, no confronto com os complexos oracionais de
que elas se originam, para mostrar as extensões contextuais que propiciam a
mudança de construções matrizes a parentéticas. Para o alcance desse objetivo,
tomamos por BASE METODOLÓGICA a pesquisa em "corpora" com amostras
de fala e de escrita do PB contemporâneo, de fontes variadas, a fim de validar
os postulados e a hipótese aqui propostos.

409
Pesquisas em teletandem com dados do MulTeC
(Multimodal Teletandem Corpus)
Autoria: SOLANGE ARANHA

O MulTeC (Multimodal Teletandem Corpus) (ARANHA;LOPES, 2019) foi


organizado para promover o desenvolvimento de pesquisas em telecolaboração,
notadamente em teletandem, com base em dados coletados entre os anos
de 2012 e 2015, com 16 grupos de alunos universitários, cujas línguas materna
(ou de proficiência) são o inglês e o português. Com base nos princípios de
tandem - autonomia, reciprocidade e separação de línguas - o teletandem
(TELLES, 2006) coloca em contato, via tecnologia VOIP (Voice Over Internet
Protocol), dois alunos universitários para que um aprenda a língua do outro
e, consequentemente, ensine a sua. Duzentos e oitenta e dois participantes
autorizaram o uso de seus dados, o que soma 581 horas e 19 minutos de sessões
orais de teletandem, 664 diários de aprendizagem, 351 registros de chat, 956
textos escritos nas línguas que os participantes estavam aprendendo em três
versões (rascunho, versão corrigida e versão final) e 132 questionários. Cada
conjunto de dados apresenta características vinculadas aos propósitos das
tarefas as quais se refere. A variedade de dados vinculados às macro-tarefas
do cenário pedagógico de teletandem (sessão oral de teletandem e sessão
de mediação, segundo Aranha e Leone, 2017), o extenso período de coleta
para fins de pesquisa em Linguística Aplicada - quatro anos, e a possibilidade
de investigações pautadas por distintos aportes teóricos permitem que
pesquisadores desenvolvam pesquisas com focos e temas diversos, bem como
com a utilização de dados específicos e/ou com a possibilidade de triangulação
entre eles. Os objetivos deste simpósio, que congrega pesquisadores de três
universidades brasileiras e uma italiana, são (i) apresentar as características do
MulTeC, (ii) argumentar sobre as possibilidades de pesquisas em LA com uso
de um corpus multimodal de aprendizes de português e inglês como LE, e (ii)
discutir trabalhos desenvolvidos a partir dele com uso de diferentes conjuntos
de dados.

410
Simpósio Proposto
Pesquisas em teletandem com dados do MulTeC
(Multimodal Teletandem Corpus)

A relevância e a abrangência do MulTeC


(Multimodal Teletandem Corpus) para pesquisas
em teletandem
Autoria: SOLANGE ARANHA
E LAURA RAMPAZZO

A troca virtual entre parceiros estrangeiros para a aprendizagem de línguas


– e todos os componentes imbricados no processo - é um campo vasto,
profícuo e pouco explorado para pesquisas em Linguística Aplicada. Desde sua
implementação na Universidade Estadual Paulista (UNESP) em 2006, o projeto
"Teletandem Brasil: Línguas Estrangeiras para Todos" (TELLES, 2006) tem sido
contexto de muitas pesquisas científicas - artigos de pesquisa, dissertações de
mestrado e teses de doutorado, capítulos e livros completos. Os múltiplos temas
e questões investigadas têm sido analisados, sobretudo, por meio de métodos
de pesquisa qualitativa, em que se privilegiam a interpretação, a exploração de
fenômenos, amostras de dados pequenas e, em diversos casos, a triangulação
de dados para a observação dessa prática dinâmica e complexa (BROWN, 2004;
DÖRNYEI, 2007). Considerando que as abordagens metodológicas têm cada qual
sua relevância, suas vantagens e desvantagens, e contribuem para o avanço
do conhecimento científico e para o entendimento do mundo que nos rodeia,
os estudos sobre aprendizagem telecolaborativas, notadamente em contexto
do Teletandem, podem se beneficiar de metodologias quantitativas, além das
qualitativas comuns a esse contexto, ou ainda combinar diversas abordagens
metodológicas a fim de investigar outros aspectos relevantes da prática
de aprendizagem telecolaborativa de línguas. Nesse sentido, o Multimodal
Teletandem Corpus (MulTeC) pode ser um aliado no que diz respeito aos
desafios de coleta de dados – tempo, termos de consentimento de ambos os
parceiros, tecnologia, armazenamento, anonimização dos dados, protocolos de
coleta, entre outros. Um corpus, por sua extensão e detalhamento, possibilita
investigações diversas daquelas já conduzidas, além de propiciar o acesso
de outros pesquisadores a um universo de pesquisa que não seria possível
presencialmente. Neste trabalho, objetivamos (i) refletir a respeito dos tipos

411
Simpósio Proposto
Pesquisas em teletandem com dados do MulTeC
(Multimodal Teletandem Corpus)

de pesquisa que vêm sendo desenvolvidas no âmbito do projeto Teletandem


Brasil (ii) descrever o corpus disponível a pesquisadores, (iii) apresentar um novo
cenário possível a partir do MulTeC, com ênfase nas questões relacionadas ao
movimento Open Science que reflete uma necessidade e uma tendência da
comunidade científica para o avanço da ciência.

Análise lexical em sessões de Teletandem:


reciprocidade e o paralelismo
Autoria: RODRIGO ESTEVES DE LIMA LOPES
E SOLANGE ARANHA

No contexto do Teletandem, pressupõem-se que haja paralelismo e reciprocidade


no uso das línguas envolvidas no processo de aprendizagem. Esta apresentação
objetiva analisar 16 sessões iniciais de Teletandem no contexto de forma a
observar se este paralelismo efetivamente existe no uso das línguas-alvo da
interação. As sessões iniciais de Teletandem têm sido objeto de estudo de
outros trabalhos, que buscam compreender a configuração deste gênero, além
dos processos interacionais neles envolvidos. Nesta pesquisa, partimos de
uma abordagem baseada em Linguística do Corpus buscando observar se o
componente lexical pode ser um elemento para mensuração do uso de línguas-
alvo nas sessões iniciais. Em um contexto ideal, Brasileiros e estrangeiros
usariam o português e o inglês pela mesma quantidade de tempo durante as
sessões. Todavia, a percepção de que tal paralelismo pode não ocorrer nos levou
a analisar tais sessões de forma a responder as seguintes perguntas de pesquisa:
1) As escolhas lexicais nas sessões são semelhantes em termos da quantidade
de escolhas lexicais de português e inglês? 2) Há paralelismo na utilização do
português e do inglês ao longo das sessões? Os dados foram analisados a partir
de scripts escritos na linguagem de programação R. Inicialmente criado para
a análise estatística, o R tem se tornando uma ferramenta importante para a
análise e mineração de dados linguísticos, graças a sua flexibilidade e código
aberto. Tais scripts estarão, posteriormente, disponíveis para a comunidade
acadêmica. Esta pesquisa se insere no contexto dos métodos mistos, contando
com procedimentos qualitativos, consolidação das línguas faladas a partir de

412
Simpósio Proposto
Pesquisas em teletandem com dados do MulTeC
(Multimodal Teletandem Corpus)

listas de palavras, e quantitativos e automáticos, classificando-se os trigramas


mais usados e as sessões. Resultados parciais apontam para uma diferença
entre o uso de português e inglês nas sessões por brasileiros (falantes nativos) e
estrangeiros (nativos ou não de inglês), além da interferência, ainda que tímida,
de outras línguas.

“Estava muito ansiosa e preocupada”: emotional


factors in learning diaries and in Teletandem
Learning Scenarios
Autoria: PAOLA LEONE

The current empirical research aims to verify to what extent emotional factors are
significant in the learning diaries written by students after teletandem sessions.
In Teletandem Learning Scenarios, learning diaries provide a form of mediation
(VYGOTSKIJ, 1978; DONATO; MCCORMICK, 1994) by which students develop
their ability to reflect upon the telecollaboration experience (Leone, Aranha,
Cavalari, in progress). As far as the expression of feelings in learning diaries is
concerned, Moon (2004) states that emotional factors and reflective writing are
intertwined: the deeper the reflection is, the more accurately feelings' impact in
framing the experience is described. The study is based on data compiled by two
subcorpora of learning diaries written by Brazilian participants in teletandem; the
two subcorpora are included in MulTeC (Multimodal Teletandem Corpus). The
first subcorpus is written in English (students’ L2) and it is named Teletandem
English Learning Diaries (TTELD); the second is in Portuguese (student’s L1)
and it is named Teletandem Portuguese Learning Diaries (TTPLD). TTELD and
TTPLD comprise 662 diaries. TTELD includes 350 diaries, containing 66,738
tokens and 59,150 words. TTPLD currently consists of 312 diaries and counts
56,344 tokens and 49,316 words. The following research questions are addressed:
Do students often communicate emotions in learning diaries? Do they show
positive or negative feelings? What are emotions referred to? Are emotional
factors and reflection intertwined, as stated by Moon (2004)? The methodology
builds on a quantitative and qualitative corpus-based analysis. Taking advantage
of Sketch Engine, a text managing and mining software, frequency list of words

413
Simpósio Proposto
Pesquisas em teletandem com dados do MulTeC
(Multimodal Teletandem Corpus)

related to emotions (in TTELD: shy, scared; in TTPLD: preocupata, ansiosa)


and collocations of the same words are performed. Afterwards words’ co-text
is considered. The qualitative analysis stems from the analytical framework
by Moon (2004) and by Leone, Aranha and Cavalari (in progress) and aims to
highlight if students mention emotional factors when they describe or reflect
upon the experience. Results show that students do not express emotions
very often; emotional reactions are mostly reported but rarely questioned and
do not seem to be closely connected with careful and deep thought about the
teletandem experience.

Goals set by learners in teletandem exchanges:


advancing the discussion on context-specific
features
Autoria: SUZI MARQUES SPATTI CAVALARI
E TIMOTHY LEWIS

Teletandem (TELLES, 2009) is a bilingual model of virtual exchange in which


two partners from different backgrounds meet synchronously and regularly
over a period of 8 weeks to learn each other’s mother tongue (or language of
proficiency). When teletandem exchanges are integrated into the syllabus, it
is called institutional integrated teletandem (ARANHA; CAVALARI, 2014). At
São Paulo State University (UNESP), institutional integrated teletandem (iiTTD)
participants should answer a questionnaire before starting the exchanges in
which one of the questions refers to setting a goal to be accomplished with the
help of the teletandem partner. This presentation examines the goal-setting
activity of Brazilians who participated in Portuguese-English teletandem
exchanges over a period of four years (2012-2015). The theoretical background
is based on goal setting and self-regulated learning theories (LOCKE; LATHAN,
2012; SCHUNK, 2001) that propose that appropriate efficient goals are focused on
the learning process (not on the product) and are specific, proximal (short-term)
and moderately difficult. Data used is 79 answers form initial questionnaires
stored in the MulTeC (Multimodal Teletandem Corpus) (ARANHA; LOPES, 2019).
The goals were coded and analysed by the authors separately and discrepancies

414
Simpósio Proposto
Pesquisas em teletandem com dados do MulTeC
(Multimodal Teletandem Corpus)

in the analyses were resolved. Results show that approximately 10% of the data
sample are considered congruent/efficient goals, i.e., specific (because they are
focused on particular learning items), proximal (because they mention the iiTTD
exchange period), and moderately difficult (because they are not multiple goals,
for example). The context-specific elements that seem crucial in the setting of
these goals are affect (becoming more confident to speak) and academic tasks
(presenting a seminar). Results also suggest that learners seem to recognize
their partner´s role in helping them achieve their goals, which is in accordance
with the reciprocity principle. However, the fact that only 10% of the data were
considered effective goals indicate that iiTTD participants may need assistance
in goal setting.

MulTeC: como lidar com 151 bytes de dados?


Autoria: QUEILA BARBOSA LOPES

Uma das características da Ciência Aberta, a produção de corpus de pesquisa,


a ser (re)utilizado por outros pesquisadores, além daquele que o coletou e
organizou, demanda um planejamento de gerenciamento de dados (BRINEY, 2015;
EYNDEN et al., 2013; EYNDEN, 2011) que oportunize compreensão do contexto de
produção dos dados pelo pesquisador no desenvolvimento de pesquisas. Com
base nesse breve panorama, o presente trabalho objetiva discutir a relevância
de documentos complementares aos dados em um corpus, principalmente a
prática de uso de planilhas, no sentido de facilitar a (re)utilização dos dados
por pesquisadores interessados em utilizar o MulTeC, Corpus Multimodal em
Teletandem, que foram coletados entre 2012 e 2015 (ARANHA; LUVIZARI-MURAD;
MORENO, 2015). Nesse período, estudantes brasileiros e estadunidenses, ao
participarem do teletandem, produziram dados dos quais um total de 581h de
vídeos e 2.105 arquivos de textos foram coletados e organizados no MulTeC.
Criado no âmbito do Projeto "Teletandem Brasil: línguas estrangeiras para
todos" e embasado nas discussões de constituição de corpora de Chanier e
Wigham (2016) e Briney (2015), o MulTeC foi organizado apresentando, entre seus
documentos complementares, planilhas em Excel® com o intuito de documentar
completamente com informações sobre o conteúdo (SINCLAIR, 2004; GUICHON,

415
Simpósio Proposto
Pesquisas em teletandem com dados do MulTeC
(Multimodal Teletandem Corpus)

2017) dos dados que o constituem. As planilhas criadas no MulTeC para atingir
esse objetivo foram: i) informações participantes; ii) levantamento de dados por
par e contagem das palavras; iii) levantamento geral, totalizando 34 planilhas.
Cada uma das planilhas, estrategicamente localizadas no corpus, contribui
com uma série de informações para que o pesquisador consiga tomar decisões
quanto ao seu objeto de análise com maior celeridade. Uma das estratégias
adotadas para facilitar o olhar sinóptico para os dados pelos pesquisadores,
objetivando facilitar suas tomadas de decisão quanto ao corpus, foi o uso de
links em uma das planilhas. Através do acesso às planilhas, o pesquisador
poderá ter uma visão geral dos dados por turma de teletandem, podendo decidir
sobre o (re)uso dos dados que constituem o corpus, conforme seu interesse
de pesquisa. Essa contribuição agiliza o trabalho do pesquisador, permitindo
que possa dedicar-se mais à análise dos dados e às considerações quanto ao
que está propondo discutir.

416
Polêmica e plurilinguismo em
discursos contemporâneos
Autoria: MARINA CÉLIA MENDONÇA

Este simpósio tem por objetivo apresentar, com base no quadro teórico-
metodológico da Análise Dialógica do Discurso, análise de enunciados produzidos
em contexto atual, num espaço-tempo marcado pelo conflito ideológico
e plurilinguismo. O enunciado concreto, nessa perspectiva, se constitui na
interação social, uma arena em que se encontram valores contraditórios de
diversos grupos sociais. Tomando como mote essa conhecida metáfora da
arena nos estudos bakhtinianos, este simpósio pretende colocar em cena
quatro situações discursivas em que essa polêmica é marcada no enunciado.
O primeiro trabalho, a partir das reflexões que Bakhtin desenvolveu sobre o
plurilinguismo, propõe-se analisar a página do Instagram Funkeiros Cults, em
especial comentários de alguns dos seus seguidores até o início de 2021. Nesse
espaço, a linguagem típica de grupos funk se encontra com a linguagem de
um universo “culto”, em réplicas nesse encontro de culturas diferentes. Os
dois próximos trabalhos tratam da problemática do conflito ideológico em
discursos produzidos em torno da pandemia do novo coronavírus, no Brasil
e na América Latina, desvendando, em particular pelos aspectos estilísticos,
espaços de tensão em diferentes gêneros discursivos. Enquanto um deles tem
por finalidade analisar discursos verbo-visuais como ilustrações e charges,
em que o mascote Zé Gotinha, importante personagem brasileiro presente
em campanhas de vacinação no país, é associado a valores da “guerra” e da
“violência”, pois associado ao signo ideológico “arma”, o outro tem por objeto
cartazes de prevenção ao coronavírus produzidos pelo governo de países
latino-americanos no início da pandemia, em que se encontram duas posições
ideológicas com orientação ora para o individual ou para o coletivo. Já o último
trabalho deste simpósio se dedica à reflexão sobre o discurso polêmico presente
em programas propostos pelo Ministério da Educação do atual governo federal
brasileiro, nos quais se criticam abertamente políticas educacionais anteriores,
produzidas por governos ideologicamente identificados mais ao centro e à

417
esquerda política. Nos quatro trabalhos, aspectos relacionados à tensão social
e às diferenças dão o tom aos enunciados concretos, no novo tema em que
a polêmica se institui. Os procedimentos metodológicos das pesquisas são
concebidos a partir das noções de alteridade (do pesquisador e seu outro),
diálogo (constitutivo da composição e sentido do enunciado) e compreensão
responsivo-ativa do pesquisador.

418
Simpósio Proposto
Polêmica e plurilinguismo em discursos contemporâneos

O outro-para-mim e o eu-para-o-outro em cartazes


de prevenção ao coronavírus
Autoria: HELOISA MARA MENDES

Neste trabalho, partimos da afirmação bakhtiniana de que vivemos em um


mundo de palavras do outro e de que nossa vida é uma reação às palavras
do outro, para analisar cartazes de prevenção ao coronavírus produzidos
pelo governo de alguns países latino-americanos no início da pandemia. Ao
contrastar discursos oficiais, tencionamos destacar as posições ideológicas
de seus enunciadores e tentar compreender os valores do outro-para-mim e
do eu-para-o-outro relacionados à saúde da população em um contexto sócio-
político especialmente tenso, marcado por informações ainda incipientes
sobre as medidas preventivas mais eficazes para o controle da transmissão
viral e por um grande receio a respeito dos efeitos econômicos da pandemia.
A análise dos cartazes, a partir da perspectiva dialógica da linguagem, revela
a emergência de duas posições ideológicas: uma orientada para o individual e
outra para o coletivo. Enquanto os cartazes produzidos por Brasil e Venezuela
são representativos de uma posição ideológica centrada no indivíduo, o
que se materializa, principalmente, por meio do emprego de formas verbais
e pronominais relativas à segunda pessoa do singular; cartazes produzidos
por Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai materializam uma
posição ideológica voltada para o todo, o que se explicita, sobretudo, por meio
de slogans constituídos por formas verbais e pronominais de primeira pessoa
do plural e pelo uso do pronome indefinido todos, elementos completamente
ausentes nos discursos brasileiro e venezuelano. Assim, é possível supor que
a reação às palavras de cada Ministério da Saúde, ou seja, a vida nos países
latino-americanos tenha se voltado, neste último caso, para o enfrentamento
da pandemia como uma questão de ordem coletiva, em que nenhum segmento
social estava imune, nem mesmo o governamental, e que a união de todos
seria imprescindível para a prevenção da Covid-19, ou, no primeiro caso, como
uma questão restrita ao que cada indivíduo poderia fazer por si mesmo ou, no
máximo, por sua família.

419
Simpósio Proposto
Polêmica e plurilinguismo em discursos contemporâneos

Polêmicas em torno dos signos “evidência científica”


e “inclusão” – uma análise de discursos do Ministério
da Educação no Brasil contemporâneo
Autoria: MARINA CÉLIA MENDONÇA

A proposta deste trabalho é apresentar, a partir dos estudos bakhtinianos (de


influência de escritos de Bakhtin e outros autores do Círculo), análise e discussão
de polêmicas presentes no discurso de programas propostos pelo Ministério da
Educação do atual governo federal brasileiro. Desde o início da gestão do atual
presidente da república no Brasil, o Ministério da Educação tem apresentado
uma postura combativa, assumindo em seus discursos oficiais a polarização
típica do que se entende por “guerra cultural”. Essa guerra ganhou contornos
específicos nesses discursos, em que se opuseram, no campo da política, direita
e esquerda, e nos aspectos comportamentais, conservadores e progressistas.
Assim, os discursos dos programas em análise criticam abertamente políticas
educacionais anteriores, produzidas por governos ideologicamente identificados
mais ao centro, à centro-esquerda e à esquerda política durante o processo de
democratização vivido após o final do período de ditadura militar, na década de
1980. Neste trabalho, são enfocadas polêmicas produzidas especificamente nos
seguintes discursos: da Política Nacional de Alfabetização (PNA), instituída em
abril de 2019 – os documentos pesquisados são o Caderno da PNA e os discursos
produzidos no interior do Projeto Tempo de Aprender -; da Política Nacional
de Educação Especial, lançada em setembro de 2020. Assim, o interesse da
pesquisa é entender como a polarização socioideológica se materializa em
documentos direcionados à educação brasileira. A análise encontrou dois lugares
privilegiados do debate nos discursos em pauta: os signos ideológicos “inclusão”
e “evidência científica”; as discussões são relevantes para se entender como as
polêmicas que se dão no contexto brasileiro atual se projetam e interferem no
campo escolar. O trabalho se insere no quadro teórico-metodológico da Análise
Dialógica do Discurso, em que as noções de diálogo, enunciado concreto e
signo ideológico são basilares na composição do discurso. Nessa perspectiva,
os valores contraditórios materializam-se no signo, refratados pelas ideologias

420
Simpósio Proposto
Polêmica e plurilinguismo em discursos contemporâneos

nas interações sociais em que os discursos se constituem. Os procedimentos


metodológicos são concebidos a partir das noções de alteridade (do pesquisador
e seu outro), diálogo (constitutivo da composição e sentido do enunciado) e
compreensão responsivo-ativa do pesquisador.

Plurilinguismo e dialogismo nos comentários da


Funkeiros Cults, do Instagram
Autoria: ASSUNÇÃO CRISTOVÃO

Para o filósofo russo Mikhail Bakhtin, em sua obra Questões de literatura e de


estética – a teoria do romance, a língua somente é única se observada como
um sistema gramatical abstrato de formas normativas, quando está dissociada
de sua realização concreta no mundo social e ideológico. De outra forma, a
língua é viva e se realiza em variedades de manifestações, sejam sociais,
profissionais, literárias, de gerações, etc., numa estratificação centrífuga que
revela as posições do falante, suas intenções, seus acentos. É o que Bakhtin
chama de plurilinguismo e que se manifesta pela forma típica de linguagem de
grupos diversos. Esta comunicação objetiva, a partir desse conceito e também
do de dialogismo, que sustenta todo o pensamento bakhtiniano, analisar a
página do Instagram Funkeiros Cults, em especial, os comentários de alguns
dos seus 237 mil seguidores até março de 2021. Grande parte dos posts na
página apresentam configuração formal semelhante: foto de um jovem funkeiro,
vestido com trajes típicos desse universo cultural, com um livro na mão,
e uma frase que resume o conteúdo da obra com linguagem típica do funk,
comumente identificada com estereótipos de pobreza, violência, linguagem
chula, ignorância e outros atributos distópicos. A página recorre à linguagem
típica desse universo, presente na periferia das grandes cidades, para difundir
o pensamento social, político, linguístico e literário de grandes escritores e
pensadores, como Marx, Machado de Assis, José Saramago, entre outros.
Valores de esferas de atividade aparentemente inconciliáveis são enunciados
em posts verbovisuais, que provocam uma resposta direta dos seguidores da
página e, ao mesmo tempo, dialogam com as obras do universo culto que a
página reproduz, numa perspectiva dialógica e plurilinguística afinada com

421
Simpósio Proposto
Polêmica e plurilinguismo em discursos contemporâneos

o pensamento bakhtiniano. A fim de proceder À análise, serão selecionados


comentários em quatro postagens escolhidas em dias fixos de quatro semanas
consecutivas. O diálogo presente nesses enunciados, tendo como interlocutores
as obras mencionadas e os seguidores da página, dará o encaminhamento
metodológico à análise.

Zé Gotinha na “batalha” entre a seringa e o fuzil:


análise dialógica do discurso verbo-visual
Autoria: ANA LUCIA FURQUIM CAMPOS TOSCANO

O mascote “Zé Gotinha” foi criado por Darlan Rosa, em 1986, para a campanha
de vacinação contra a poliomielite que, por seu apelo visual lúdico e alegre,
contribuiu para estimular a vacinação das crianças brasileiras. Entretanto,
após discurso do ex-presidente Lula por ocasião da recuperação de seus
direitos políticos, quando perguntou sobre o destino do mascote e, em seguida,
respondeu que o atual presidente Bolsonaro mandou-o embora porque achou
que era petista, como resposta, um dos filhos de Bolsonaro, o deputado federal
Eduardo Bolsonaro, postou em suas redes sociais um desenho do personagem
carregando, no lugar de uma seringa, um fuzil com os seguintes dizeres: “Nossa
arma agora é a vacina”, depois mudando o enunciado para “Nossa arma é a
vacina”, pois o emprego do advérbio “agora” sugeria a omissão do governo em
relação ao combate da epidemia do Covid-19 ao propor tratamentos preventivos
com remédios sem eficácia comprovada cientificamente, ao considerar a doença
como uma “gripezinha” e pela morosidade na aplicação das vacinas. A postagem
teve grande repercussão, promovendo diversas respostas, seja em postagens
nas mídias sociais, artigos jornalísticos e charges. Nesse contexto, o objetivo
desta pesquisa é analisar a construção discursiva e os recursos verbo-visuais
utilizados no enunciado proferido por Eduardo Bolsonaro em que se evidencia a
polissemia do signo ideológico “arma” e os diálogos com charges que retomam
criticamente, por meio do humor, o discurso anterior, veiculando ideologias e
pontos de vista diversos sobre a pandemia e a vacinação contra o Covid-19.
Para tanto, o referencial teórico-metodológico adotado é a Análise Dialógica do
Discurso a partir das reflexões do Círculo de Mikhail Bakhtin sobre dialogismo,

422
Simpósio Proposto
Polêmica e plurilinguismo em discursos contemporâneos

ideologia e gêneros do discurso, com especial enfoque na concepção de estilo


concebida por esses estudos, visto que a seleção dos recursos da língua e
dos elementos pictográficos revela tons emotivo-valorativos que expressam a
relação comunicativa marcada pela alteridade. Entendemos, dessa maneira, ser
possível compreender como esses enunciados, num processo social dinâmico
e contínuo, enunciam valores sociais que desvelam descaso e violência, de um
lado, e resistência, de outro.

423
Por uma terminologia diacrônica:
enfoques históricos das linguagens especializadas
Autoria: MARIA JOSÉ BOCORNY FINATTO

A Terminologia pode ser entendida como um ramo da Linguística Aplicada


que trata da descrição e da análise dos diferentes fenômenos associados à
comunicação técnico-científica. Para Krieger (2006), o vocabulário ou o léxico de
uma língua, “longe de ser um bloco monolítico, constitui-se como um conjunto
heterogêneo”, pois há diferentes matizes e elementos na sua composição. A
heterogeneidade, a diversidade e a mutabilidade, assim, perfazem a língua e o
léxico, planos combinados em um dinamismo natural. É “esse dinamismo que
torna o léxico o pulmão das línguas, e, simultaneamente, um objeto multifacetado
e em constante mobilidade.” (KRIEGER, 2006, p. 163). A Terminologia Diacrônica
(DURY; PICTON, 2009) trata, justamente, de recuperar e sistematizar essas
transformações entre o presente e o passado no que tange às linguagens técnico-
científicas, com destaque para a conformação de seus léxicos temáticos em
meio aos todos das suas ambiênciais textuais e discursivas. Este simpósio reúne
trabalhos que buscam reforçar e ampliar a produção científica nessa área ainda
pouco explorada no Brasil, a Terminologia Diacrônica. Como panos de fundo,
temos a Filologia Digital (PAIXÃO DE SOUSA, 2013), a Linguística Histórica e o
campo das Humanidades Digitais (MARQUILHAS; HENDRICKX, 2016), entendido
como uma “transdisciplina” que se ocupa da reunião, conservação e estudo
de acervos históricos, de diferentes tipos e formatos, de objetos a textos –
impressos ou manuscritos, com o diferencial que são digitalizados e tratados
com o apoio de algum tipo de recurso computacional. Essa aproximação dá-se
pelo fato de que, na maioria das investigações, buscamos organizar, oferecer
e investigar, com apoio computacional e linguístico-filológico especializado,
corpora históricos das linguagens especializadas (FINATTO, 2018; MARENGO,
2017). São bem-vindos a este simpósio trabalhos sobre aspectos evolutivos das
linguagens especializadas a partir de acervos e/ou documentos em português
e em diferentes idiomas e que coloquem o léxico como um ponto de partida
para as investigações. Referências citadas disponíveis em: FINATTO (2018) e

424
MARENGO (2017) - coordenadora e vice-coordenador desta proposta - FINATTO,
M. J. B. Corpus-amostra português do século XVIII: textos antigos de Medicina
em atividades de ensino e pesquisa. Domínios da Linguagem, v. 1, n. 12, p. 435-
464, 2018. MARENGO, Sandro Marcío Drumond Alves. Mudança linguística à
luz da socioterminologia diacrônica: a história da cultura escrita como fator
extralinguístico. Revista de Estudos de Cultura - REVEC, v. 3, p. 59-76, 2017.

425
Simpósio Proposto
Por uma terminologia diacrônica:
enfoques históricos das linguagens especializadas

As patentes da polícia militar da Bahia no século XIX:


uma abordagem da terminologia sócio-histórica
Autoria: LUIZ DJAVAN SILVA SANTOS
E SANDRO MARCÍO DRUMOND ALVES MARENGO

No século XIX, a estruturação de um Corpo de Polícia na Província da Bahia


trouxe a necessidade de se pensar, também, em formas de registros oficiais de
sua organização administrativa. Assim, tornou-se imperativo que se instituísse
uma fonte de registro de informações dadas e recebidas no seio da corporação
militar e que também sistematizasse uma sequência de rotina no dia a dia
no Quartel (SANTOS, 2019). Além disso, esse aparato daria celeridade nas
comunicações internas e externas da caserna como, por exemplo, as realizadas
entre o governo da província, o governo Imperial e a Corporação de Polícia. Desse
modo, a corporação adotou um sistema de escrituração que teve como modelo
os já praticados pelos Exércitos português e brasileiro, baseados em disposições
normativas de decretos pombalinos, que previam a existência, nas secretarias
das corporações militares, de dois livros: um para os oficiais - as chamadas fés
de ofício - e praças - os assentamentos; e outro que continha as ordens do dia e
os detalhes - os Livros do Registro do Detalhe (DET). Nosso objeto de estudo é
o DET 68 da Polícia Militar da Bahia que, em 200 fólios, registra as ordens do dia
do período que vai de 13 de março de 1885 até o final de fevereiro do ano de 1890.
Nossos objetivos nesse trabalho são: a) apresentar os critérios e fragmentos
das edições fac-símile e semidiplomática da documentação mencionada; e
b) analisar, à luz da Terminologia Diacrônica de base sociocognitiva (SANTOS;
MARENGO, 2020), como os termos referentes às patentes militares se constroem
como unidades de conhecimento e se agrupam em categorias (TEMMERMAN,
2000). Usamos a Linguística de Corpus para proceder à sistematização e análise
qualitativa e qualitativa dos termos identificados. As conclusões prévias nos
levam a questões relevantes para o entendimento da construção da sócio-
história de uma comunidade de práticas a partir dos usos de seu repertório
lexical especializado compartilhado e tal situação nos permite uma melhor
visualização dos fenômenos de variação e mudança terminológica (MARENGO,
2016).

426
Simpósio Proposto
Por uma terminologia diacrônica:
enfoques históricos das linguagens especializadas

Estudo diacrônico da oscilação entre as


terminações -a e -o em termos da Biologia
Autoria: BRUNO OLIVEIRA MARONEZE

Ao realizar estudos preliminares para a elaboração de um dicionário histórico de


termos da Biologia, detectou-se que alguns termos passaram por uma oscilação
quanto às suas terminações. São eles: bactério / bactéria, paramécio / paramécia
(espécie de protozoário), pétalo / pétala, sépalo / sépala (parte da flor) e gameto
/ gameta (célula reprodutiva). Destes, apenas o par gameto / gameta não é
acompanhado de oscilação de gênero (visto que tanto a forma “gameto” como
“gameta” são de gênero masculino). A partir da pesquisa em obras lexicográficas
e no portal Google Livros, procurou-se identificar: a) se a oscilação da terminação
tem uma base etimológica; b) se uma das formas é mais antiga do que outra;
c) por quanto tempo durou a oscilação (se desde a introdução do termo, se
perdura até os dias atuais); e d) se todas as formas são registradas em obras
lexicográficas, em especial no Dicionário Houaiss. Os resultados encontrados
foram: a) a oscilação nas formas “bactério/a”, “paramécio/a”, “pétalo/a” e “sépalo/a”
pode ser decorrente de sua etimologia, visto que derivam de formas latinas do
gênero neutro, que tem a terminação -um singular e -a no plural. Já a oscilação
em “gameto/a” parece ser mais difícil de explicar; b) as datações encontradas
foram: bactério (1860) / bactéria (1874); paramécio (1815) / paramécia (1882);
pétala (1793) / pétalo (1788); sépalo (1881) / sépala (1868); gameto (1906) / gameta
(1903); c) com exceção de “paramécio/a”, todas as formas variantes surgem
em datas próximas e, com exceção de “pétalo”, todas as formas variantes são
encontradas em textos do século XXI; d) as formas “sépalo” e “paramécia” não
são registradas no Dicionário Houaiss; a forma “bactério” é registrada como um
hipônimo de “bactéria”. Todas as demais formas são registradas no Dicionário
Houaiss como variantes. Novas pesquisas poderão confirmar se as formas
“bactério” e “bactéria” sempre diferiram quanto ao seu significado ou se essa
distinção é recente.

427
Simpósio Proposto
Por uma terminologia diacrônica:
enfoques históricos das linguagens especializadas

Terminologia da medicina legal oitocentista:


o caso dos exames de corpo de delito de
defloramento em Sergipe
Autoria: SORAYA CARVALHO SOUZA BILLER TEIXEIRA

É dever do Estado assegurar a paz e a segurança social e para que isso ocorra é
necessário que o fato contravencional seja noticiado por meio da abertura de um
processo-crime, que é um conjunto de documentos jurídicos que corporificam
o andamento da queixa criminal e são demandados a partir de uma denúncia e
transitam em julgado com a expedição de uma sentença final ou com solicitações
de arquivamento do processo. Dentre os documentos presentes no processo-
crime encontramos o exame de corpo de delito, que é uma sindicância que
exige auditagem corporal, cabendo a realização de perícia médica a partir da
demanda de autoridades policiais e/ou judiciárias. Nosso objeto de pesquisa são
os autos de exames de corpo de delito de processos-crime de defloramentos
registrados, em Sergipe, ao longo do século XIX. Essas fontes remanescentes
são textos importantes para os estudos terminológicos de viés sócio-histórico
(MARENGO, 2016) tanto por sua natureza textual quanto pela possibilidade de
(re)construção semântica dos termos médico-legais em uso real. Alicerçados na
Teoria Sociocognitiva da Terminologia (TEMMERMAN, 2000), nossa perspectiva
assume a noção de que um termo é uma unidade de conhecimento (unity of
understanding). Assim, nosso objetivo na apresentação deste trabalho é analisar
o termo médico-legal membro viril, circunscrito à categoria “meio empregado
para execução do crime”, e apresentar uma proposta para a construção de
fichas terminológicas de cunho sócio-histórico. O tratamento dispensado
para o termo aludido toma sua base na Linguística de Corpus, por meio dos
softwares AntConc 3.5.8 e TermoStat 3.0 - para delimitação quantitativa, o Nvivo,
versão 12 - para índices de exploração qualitativa do termo - e o Lexique Pro,
para organização das fichas terminológicas. As conclusões desse trabalho
remetem para a importância de entendimento dos usos pretéritos do léxico
especializado e nos mostram os condicionantes linguísticos e sócio-históricos
para as variantes antigas e atuais e nos permitem entender melhor não só

428
Simpósio Proposto
Por uma terminologia diacrônica:
enfoques históricos das linguagens especializadas

os fenômenos de variação e mudança terminológica, mas, principalmente,


entender seus usos nos seios das comunidades de práticas ao longo do tempo.
Referências: MARENGO, S. M. D. A. Variações terminológicas e diacronia: estudo
léxico-social de documentos militares manuscritos dos séculos XVIII e XIX. 2016.
Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016. TEMMERMAN, R. Towards new
ways of Terminologia. Description. The Sociocognitive Approch. Amsterdan:
Benjamins, 2000.

Terminologia diacrônica de práticas de violência


sexual contra mulheres no século XIX
Autoria: SANDRO MARCÍO DRUMOND ALVES MARENGO

Os Processos-crime de defloramento/Estupro são instrumentos jurídicos


que demandam de denúncias de crimes de violência sexual cometidos
contra mulheres. Nessa documentação, as partes envolvidas nas narrativas
apresentadas têm sua voz registrada pelos escrivães. Desse modo, essas fontes
remanescentes aportam não só registros da língua de uma dada época bem
como apontam elementos e comportamentos culturais de uma sociedade
naquela sincronia (MARENGO; SOUZA; FONSECA, 2019). O corpus desse
trabalho foi constituído de um conjunto de processos-crime manuscritos de
defloramento que foram registrados em Aracaju entre os anos de 1855 e 1889,
correspondente cronológico do período do Brasil Império, e que fazem parte
do acervo histórico do Centro de Documentação Histórica do Arquivo Geral
do Poder Judiciário do Estado de Sergipe. Para a realização deste trabalho
de pesquisa, tomamos as seguintes perguntas: a) Como se organizam, nesse
conjunto documental, os usos terminológicos dos crimes de defloramento e
estupro?; e b) Como essa variação terminológica linguística pode ser entendida
levando-se em conta as variações terminológicas de registro? Nossos objetivos
são descrever e analisar o percurso semântico-conceptual dos termos estupro
e defloramento, constantes no corpus delimitado, e, à luz da socioterminologia
diacrônica (MARENGO, 2016, 2020), interpretar os resultados da variação
terminológica formal levando em conta não só as variantes terminológicas

429
Simpósio Proposto
Por uma terminologia diacrônica:
enfoques históricos das linguagens especializadas

linguísticas, mas também sua articulação com as variantes terminológicas


de registro (FAULSTICH, 2002). Nosso foco esteve centrado no fenômeno de
conceptualização dos termos jurídicos defloramento e estupro. A base teórica
empregada se assenta na Terminologia sociocognitiva (TEMMERMAN, 2000),
mais particularmente na semântica de protótipos (ROSCH, 1978), para que
fossemos capazes de entender como se constituíam, a partir da letra da lei,
os conceitos de tais práticas criminosas e os possíveis significados sociais
expressos em seus usos jurídicos. Metodologicamente, nos alicerçamos na
Linguística de Corpus para extrair, organizar e sistematizar os dados. Após as
análises, verificamos que ainda não se pode tratar estritamente de diferenças
conceptuais entre os usos dos termos estupro e defloramento e que, apesar de
ambos serem crimes estabelecidos no código criminal da época, foi a segunda
forma a mais amplamente usada e difundida na sociedade imperial aracajuana.

Saberes médicos em português no século 18: entre


cirurgiões e médicos
Autoria: MARIA JOSÉ BOCORNY FINATTO
E LIANA BRAGA PARAGUASSU

No âmbito da Terminologia Diacrônica (SILVA FILHO, 2013; CAMBRAIA, 2020),


estamos construindo um corpus on-line de obras em português escritas por
médicos no século 18 (FINATTO, 2021). Ao buscar novas obras para contrastes,
especialmente as dos diferentes profissionais da época, escolhemos a obra
“Aviso à gente do mar sobre a sua saúde” (MAURAN; CARVALHO, 1794),
com 475 páginas, escrita por cirurgiões. Assim, em uma perspectiva sócio-
histórica, buscamos pistas linguísticas da diversidade de seus saberes, haja
vista uma “concorrência acirrada entre médicos e cirurgiões, por mais de
três séculos” (MIRANDA, 2017). Isso permitirá melhor situar e compreender
conceitos, explicações e terminologias desse período. Embora reconhecida por
historiadores (como CAMPOS, 2016), a obra selecionada carece de enfoques
sobre sua linguagem e terminologias, podendo ser considerada uma soma de
percepções de dois eminentes cirurgiões da época: M. G. Mauran – francês
- e Bernardo José de Carvalho, português - ambos com prática junto às suas

430
Simpósio Proposto
Por uma terminologia diacrônica:
enfoques históricos das linguagens especializadas

armadas nacionais. A sinergia dá-se pela condição de a obra portuguesa ser uma
tradução e adaptação feita por Carvalho do original de Mauran intitulado “Avis
aux gens de mer sur leur santé”, saído em segunda edição, em Marselha, em 1786.
Assim, temos aqui um panorama inicial da obra em português, aproveitando uma
amostra de fotos de 65 de suas páginas. Seu conteúdo é comparado com o do
original, digitalizado pela Biblioteca Nacional da França. São destacados alguns
elementos terminológicos e seus equivalentes em francês, frente aos empregos
dos mesmos itens ao longo de duas obras do nosso corpus, ambas do médico
alentejano João Curvo Semedo (1639-1719). Referências: CAMBRAIA, C. N. Auto
de resistência. Domínios de Lingu@gem, v. 15, n. 1, p. 228-257, 2020. CAMPOS, R.
Saúde e poder em Portugal na virada dos séculos XVIII e XIX. In: POLÓNIA, A.;
BRACHT, F.; CONCEIÇÃO, G. C. da; PALMA, M. (org.). História & Ciência: Ciência
e Poder na Primeira Idade Global. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, 2016. p. 40-57. FINATTO, M. J. B. Medicina em português no século XVIII:
desafios da Terminologia Diacrônica no cenário das Humanidades Digitais.
Revista Panace@, v. XXI, n. 52 (2020), p. 20-36, 2021. MIRANDA, C. A. C. A arte de
curar nos tempos da colônia: limites e espaços da cura. Recife: Ed. Universitária
da UFPE, 2017. SILVA FILHO, S. C. da. Polissemia nominal diacrônica. Do conceito
ao linguístico: relações lexicais a partir dos corpora de especialidade. FCSH:
DL - Teses de Doutoramento, U. Nova, Lisboa, 2013.

431
Práticas de leitura na escola:
contribuições da semiótica discursiva
Autoria: ELIANE SOARES DE LIMA

Mesmo uma rápida consulta aos diferentes documentos oficiais de orientação


ao ensino na Educação básica brasileira, sobretudo no que diz respeito ao
componente Língua Portuguesa, permite constatar a tentativa de fortalecer o
diálogo entre aquilo que se ensina e se aprende na escola e o contexto social.
Já em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases, por exemplo, indicava a necessidade
de a escola estar atenta a seu tempo e, assim, incorporar o que havia de
novo em termos de “comunicação e expressão” como objetos de ensino, com
destaque para os textos da cultura de massa. Anos depois, a LDB de 1996,
seguida pela publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997-98) e,
mais recentemente, da Base Nacional Comum Curricular (2017-18), também
recomendava a inclusão do trabalho com as formas contemporâneas de
linguagem, enfatizando a variedade dos gêneros discursivos e das esferas
de circulação a ser contemplados em sala de aula, e mesmo dos diferentes
suportes e mídias a partir da noção de multiletramentos. Um novo olhar para
o ensino de língua foi, então, configurando-se e, com ele, outra concepção das
funções e dos objetivos da escola, do que deve ser ensinado e do tipo de texto
que o professor deve explorar em suas aulas. A própria noção de texto, com a
incorporação nos referenciais curriculares oficiais das pesquisas científicas
em Letras e Linguística, foi sendo reformulada e ampliada, fundamentada
em uma perspectiva enunciativa, preocupada com o fomento à consciência
das condições de produção e recepção dos enunciados, da construção dos
sentidos e do tipo de interação social em pauta. Desse modo, tendo em vista
que no contexto sócio-histórico e cultural contemporâneo (quando o domínio
digital ganha cada vez mais espaço nas práticas cotidianas) essa nova demanda
colocada ao processo de ensino-aprendizagem se fortalece ainda mais, o objetivo
deste simpósio é concentrar a atenção em questões relacionadas à prática de
leitura desenvolvida em sala de aula, mostrando as contribuições que a proposta
teórico-metodológica da Semiótica Discursiva pode oferecer para fazer avançar

432
essa tarefa. Esperamos que as discussões previstas possam, pois, lançar luz,
de um lado, sobre os desafios trazidos pela perspectiva dos multiletramentos,
com os problemas a serem vencidos para o seu desenvolvimento efetivo na
escola, e, de outro, sobre os caminhos possíveis para superá-los.

433
Simpósio Proposto
Práticas de leitura na escola:
contribuições da semiótica discursiva

Letramento crítico: o que é e como se desenvolve


Autoria: ELIANE SOARES DE LIMA

O conceito de letramento surge nas discussões das áreas de Letras e Educação


no Brasil a partir do final dos anos 1980, quando os estudos da Linguística
também começavam a ter maior penetração nas orientações curriculares da
educação básica. Em ambos os casos, o que se ressaltava era a necessidade de
pôr em primeiro plano o uso efetivo da língua, o aprimoramento da competência
discursiva dos alunos, mais do que o conhecimento abstrato da língua em si, do
que a aquisição da capacidade de codificação e decodificação. Com a publicação
dos PCNs (1997-98), essa ideia se fortaleceu, definindo o texto como unidade de
ensino privilegiada e as atividades de uso e reflexão como eixos para o trabalho
didático com a leitura (análise e interpretação) e a escrita, sempre a partir de
práticas de linguagem significativas e pertencentes a domínios discursivos
variados. É também nessa época que os novos estudos do letramento começam
a ganhar mais espaço nos debates sobre o projeto educacional para a educação
básica, com destaque para uma visada mais socioantropológica e política da
questão do letramento – como já propunha Paulo Freire. A variedade (local e
global) de contextos sociais e culturais das práticas letradas passa a interessar
como diferentes modos socioculturais de utilização da(s) linguagem(ns),
intimamente relacionados à problemática da identidade dos sujeitos dessas
práticas. Dessa discussão, ampliada com a presença cada vez maior das novas
mídias como meios de distribuição, circulação e consumo de textos de tipos
variados, surgem as diferentes derivações do termo letramento: letramentos,
letramentos múltiplos, letramentos multissemióticos, multiletramentos,
letramento crítico etc. Assim, o objetivo do presente estudo é: (i) delimitar a noção
de letramento crítico, na sua relação com essas outras extensões do conceito
de letramento, ressaltando tanto as questões envolvidas, quanto o programa
de ensino previsto; (ii) identificar a concepção de letramento crítico tal qual se
delineia nas prescrições da BNCC (2017-18); (iii) propor, a partir da perspectiva
teórico-metodológica da Semiótica Discursiva, caminhos para o incentivo do
letramento crítico na escola, pensado não só como desenvolvimento de uma

434
Simpósio Proposto
Práticas de leitura na escola:
contribuições da semiótica discursiva

postura crítica no contato com os conteúdos (a curadoria da informação), mas


da consciência de si como parte de uma estrutura social e de poder. Espera-se,
com isso, oferecer possibilidades concretas para a realização de práticas de
letramento crítico em sala de aula, capazes de tornar os alunos sujeitos do seu
percurso de ensino-aprendizagem, de vida, como quer a verdadeira educação
emancipatória.

Práticas de leitura e produção de textos: entre a


BNCC e o YouTube
Autoria: SILVIA MARIA DE SOUSA

Ao observar, mesmo que rapidamente, a descrição do componente de Língua


Portuguesa para a etapa do Ensino Médio, presente na Base Nacional Comum
Curricular, é possível perceber a projeção de uma dada imagem de estudante
como aquele que aprofunda os conhecimentos adquiridos, ampliando
competências, habilidades e universos de referências. O documento prevê a
formação global do aluno, que, ao final dessa etapa de ensino, deveria ser capaz
de usar e compreender o funcionamento de múltiplas práticas de linguagens
em diferentes campos de atuação social. É também ao final do Ensino Médio
que uma parte dos estudantes brasileiros se submete aos exames de ingresso
à universidade. Esses exames avaliativos constituem o Programa de Base da
narrativa de instituições de ensino e de alunos, pautando as ações cotidianas
e moldando o horizonte de valores. Especificamente no componente de Língua
Portuguesa, a preocupação maior não é com a formação de um leitor crítico e
pleno de referências estéticas, éticas e políticas, como prevê a BNCC. Forma-se,
antes, um estrategista em leitura dos textos que caem nas provas. São enfatizadas
estratégias e práticas não de escrita de diversos gêneros e tipos textuais, mas
de redações dissertativas com um formato fixo. A performance esperada dos
estudantes, nessas avaliações, movimenta um mercado lucrativo de escolas que
alardeiam os índices de aprovação e de cursos particulares, que complementam
o trabalho das escolas. Nesse cenário, são reconhecidos, também, um perfil
específico de professores cujas metodologias seriam mais eficazes para o
desempenho nas provas. Tomando como ponto de partida a discrepância entre

435
Simpósio Proposto
Práticas de leitura na escola:
contribuições da semiótica discursiva

o que preveem os documentos oficiais e as imagens cristalizadas socialmente


sobre o ensino de leitura e produção de textos, o trabalho investiga a difusão de
determinadas práticas pedagógicas, a partir dos níveis de pertinência propostos
por Jacques Fontanille. Para isso, serão analisadas videoaulas publicadas em
canais do YouTube que se destinam ao ensino de Língua Portuguesa. Serão
privilegiados canais com grande número de acessos e visualizações, tais como,
Redação e Gramática Zica (https://www.youtube.com/user/redacaoegramatica),
com 34.614.227 visualizações, e Professor Noslen (https://www.youtube.com/c/
ProfessorNoslen/featured), com 176.435.435. O objetivo da análise é descrever
práticas pedagógicas que circulam na internet, como videoaulas, observando
como os percursos estabelecidos entre textos, objetos, práticas semióticas
e estilos estratégicos recorrentes e coerentes fixam numa forma de vida a
experiência de um éthos, neste caso, o éthos do professor.

Práticas e estratégias de leitura e ensino


Autoria: REGINA SOUZA GOMES

As atividades de leitura na escola, muitas vezes, se atêm à “mensagem que o


autor quis transmitir”, “o que o autor quis dizer” com determinada passagem de
um texto ou a um roteiro de perguntas que tomam qualquer texto como uma
sequência de sentenças, encadeadas por algum articulador. Muitas vezes, para
responder um questionário de interpretação, o aluno nem precisa ler o texto
completo, basta aceder a cada uma de suas partes em sucessão, na ordem
em que aparecem as perguntas. Essas atividades supõem uma visão de texto
fragmentária, afastando-se das práticas cotidianas de leitura, especialmente a de
textos que circulam nas mídias eletrônicas. Contrapondo-se a essas atividades
de leitura ainda comuns na escola, essa comunicação tem como objetivo
discutir as diversas práticas de leitura e o ensino de leitura e interpretação de
textos, tendo como base teórico-metodológica a semiótica discursiva. A partir
de Fontanille (2008), discorreremos sobre a variedade de práticas de leitura, a
considerar a necessidade mais ou menos intensa de focalização e varredura dos
textos, assim como a quantidade maior ou menor de apreensão de informação
necessária para a construção do sentido, levando a diferentes estratégias de

436
Simpósio Proposto
Práticas de leitura na escola:
contribuições da semiótica discursiva

leitura (eletiva, particularizante, cumulativa e englobante). Além disso, devem


ser considerados também os diferentes protocolos de leitura relacionados
aos diversos gêneros de textos e suas “promessas semióticas” (FONTANILLE,
2013), assim como uma hierarquia nas finalidades, fazendo com que algumas
leituras sejam adjuvantes (como a consulta ao dicionário) e outras busquem
apenas extrair uma passagem representativa (como a busca de uma epígrafe
ou citação), por exemplo. Os objetos semióticos também marcam as formas
de ler, suas delimitações e potencialidades. As estratégias de leitura de textos
impressos não são os mesmos que os produzidos e lidos nos meios digitais,
que incluem ainda as linguagens visuais, muitas vezes animadas. Levando
em conta essas diversas estratégias de leitura, os objetos e as hierarquias de
finalidades, buscaremos mostrar a importância de diversificar as experiências
de leitura na escola, apontando para um ensino mais dinâmico, contextualizado
e significativo, ultrapassando as práticas de leitura cumulativa, “corrida”, frase
por frase, geralmente empregada nas atividades de leitura.

Práticas enunciativas na era da plataformização da


educação: um estudo dos letramentos transmídia
Autoria: NAIÁ SADI CÂMARA

A era Covid-19 inseriu os processos e práticas de formação profissional no


ecossistema digital da Internet, exigindo novas competências e habilidades
de seus atores nas novas práticas educativas, que migram para o universo das
plataformas digitais, configurando a era da plataformização da educação e novas
formas de vida do sujeito aprendiz. Esta comunicação objetiva apresentar uma
análise das estratégias e práticas enunciativas realizadas pelos enunciadores/
alunos inseridos em práticas educativas realizadas no ecossistema digital da
Internet, por meio de uma proposta teórico-metodológica transdisciplinar de
pesquisa, ensino e aprendizagem de práticas comunicativas transmídia, isto é,
das práticas comunicativas de leitura, interpretação, produção e veiculação de
textos. Por meio da articulação entre os conceitos de letramentos transmídia,
práxis enunciativa e de prática semiótica (FONTANILLE, 2013), propomos analisar
as práticas educativas como práticas comunicativas, como textualidades, a partir

437
Simpósio Proposto
Práticas de leitura na escola:
contribuições da semiótica discursiva

da identificação das estratégias enunciativas determinantes das articulações


tradutórias morfossintáticas, semânticas, estéticas e éticas realizadas pelos
enunciadores/alunos nos diferentes espaços digitais de aprendizagens pelos
quais transitam nos ambientes de educação formal. Propomos analisar as
práticas comunicativas considerando a organização taxionômica em torno das
relações entre textos, objetos e práticas. As questões que nos guiam são: como
será que os alunos, desde o início dessa modalidade de ensino e aprendizagem,
se comportam como enunciadores nos ambientes digitais de aprendizagens
nos seus cursos de formação profissional? Será que as competências letradas
de suas práticas comunicativas cotidianas têm impacto nas suas práticas
comunicativas acadêmicas? As competências letradas serão organizadas
seguindo uma lógica que parte da escrita para produções multimodais, da
simplicidade para a complexidade, da técnica para práticas críticas e éticas, do
cognitivo para as atitudes pragmáticas, do concreto para o abstrato. Partimos
do pressuposto de que os problemas de letramentos impactam diretamente
os processos de ensino e aprendizagem dos alunos em processos de formação
profissional os tipos de níveis de letramentos dos alunos determinam suas
práticas de leitura, interpretação e produção de textos, e, portanto, determinam
o perfil do profissional.

Uma análise semiótica sobre a concepção de


leitura no SAEB 2017
Autoria: ANA CAROLINA DE PICOLI DE SOUZA CRUZ

A questão da leitura sempre atraiu os estudiosos da linguagem e da educação.


Ler, afinal, corresponde a interpretar um texto ou a decodificá-lo? Os textos
permitem mais de uma leitura? O que significa afirmar que um estudante sabe
ler ou que ele é um bom leitor? Essas são algumas questões ainda polêmicas
na área da educação e da linguística. Fundamentados na semiótica discursiva
de linha francesa, concebemos a leitura como procedimento de interpretação
e como o entrelaçamento de consciências discursivas (CORTINA, 2000). Isso
corresponde a entender processos de interação discursiva de sujeitos sócio-
históricos que se expressam, principalmente na atualidade, por meio das

438
Simpósio Proposto
Práticas de leitura na escola:
contribuições da semiótica discursiva

mais variadas formas e por suportes diversificados. Além disso, o processo de


interpretação relaciona-se à identificação da organização semiótica do texto e
da cultura que ele manifesta e em que se insere. Já a compreensão corresponde
ao reconhecimento da organização morfológica, sintática e semântica de um
texto (CORTINA, 2000). Assim esse diferentes, mas interligados processos
referem-se, respectivamente, a relações intertextuais e intradiscursivas. Os
documentos normativos brasileiros, de 1998 até 2018, propõem um trabalho
sob a perspectiva enunciativo-discursiva da linguagem e um ensino voltado ao
desenvolvimento de competências e de habilidades. De acordo com Fontanille
(1987), ao analisar a renovação didática por que passou o ensino na França,
cuja base é a avaliação, o que se verifica na construção dessas habilidades é
que elas impõem um /dever-saber/ e um /saber-fazer/, criando um programa
narrativo de competência. Essa narrativa orienta a criação de outras narrativas
educacionais. Dentre elas, destacamos as da avaliação. O Sistema Brasileiro
de Avaliação (SAEB), cuja primeira aplicação ocorreu em 1990, tem como foco
a leitura nos testes de Língua Portuguesa (INEP, 2019, p. 23) e se pauta nos
documentos curriculares nacionais. O objetivo deste trabalho consiste em
analisar, de acordo com a semiótica discursiva de linha francesa, a concepção
de leitura presente no “Relatório Saeb 2017” (INEP, 2019).

439
Que humor é esse? A pandemia sob o olhar discursivo
Autoria: SIRIO POSSENTI

A pandemia é uma encruzilhada na qual se encontram numerosos discursos.


O humor não poderia faltar. Ele se vale de múltiplos recursos expressivos e
pode considerar qualquer tema – mesmo os trágicos. Este simpósio privilegia
ora as técnicas, ora o tema, ora ambos. Uma das comunicações privilegia a
condensação. Mas as piadas também tocam questões sociais ou políticas,
como em “Moro sofre de manipulite / mani pulite”; “se for para uma festa, não
me covid”; ou, atravessando a fronteira das línguas, a justificativa do gato aos
policiais para sair de casa: “solo salí por un ratón / por um rato”. Outra analisará
memes que tematizam os problemas econômicos gerados pela COVID-19. Ao
recortarem a pandemia com um viés cômico, promovem o deboche, o escárnio
e a autoderrisão para a produção de efeitos humorísticos. Tais aspectos serão
avaliados como indícios de um posicionamento discursivo em uma conjuntura
e como vetores de uma sociabilidade no digital, ao mesmo tempo útil, porque
congrega, e fútil, porque marcada pela volatilidade (HAN, 2018). Uma situação
peculiar de humor é o foco de outra comunicação. A proposta é analisar tiras
cômicas monotemáticas, em que diferentes autores compartilham um mesmo
assunto. Serão observados dois casos, que mostram que todas as produções da
seção de quadrinhos de um mesmo jornal construíram situações cômicas a partir
de temas relacionados à pandemia. Serão observados os efeitos humorísticos
criados em tais tiras coletivas. O funcionamento de frases humorísticas é o ponto
central de outra comunicação, que analisará algumas declarações do presidente
Bolsonaro durante o primeiro ano da pandemia. Compartilhadas nas redes sociais
e tratadas pela imprensa como piadas, buscavam desqualificar orientações de
autoridades científicas sobre o controle da doença, servindo como um artifício
retórico e argumentativo para reforçar uma posição negacionista. Tais piadas
“conversacionais” (NORRICK, 1993) serão abordadas especialmente por meio
de pressupostos teóricos da Retórica clássica e de teorias contemporâneas
da argumentação. Finalmente, outra comunicação parte de um acontecimento
discursivo particular: a decisão do ministro Edson Fachin de anular todas as

440
condenações relativas ao processo ocorrido na Justiça Federal do Paraná
contra o ex-presidente Lula, o que o torna de novo elegível. A partir desse evento
jurídico, uma gama de textos foi desencadeada nas redes sociais, incluindo textos
humorísticos, do que decorre o objetivo principal: compreender como esses
textos reatualizam determinadas estratégias de linguagem e se manifestam
como exercícios de poder.

441
Simpósio Proposto
Que humor é esse? A pandemia sob o olhar discursivo

Apesar da pandemia, a condensação


Autoria: SIRIO POSSENTI

A situação social e política do país parece demandar que se analisem peças


de humor agressivas, especialmente as diretamente políticas, das quais as
numerosas charges diárias parecem ser os melhores exemplos, por seu
posicionamento e por sua qualidade técnica. No entanto, esta comunicação
será dedicada a casos de condensação, no sentido de Freud. Do ponto de
vista teórico, este tipo de piada representa mais tipicamente a linguagem do
inconsciente. É talvez a forma mais clara de expressar na mesma sequência
verbal a junção de dois mundos que caracteriza as piadas. Assim, o trabalho
analisará bastante detalhadamente, seguindo o procedimento de Freud, e que
deveria caracterizar, a meu ver, a análise de piadas por linguistas, mesmo que
pareça tediosa. Vale a pena mencionar De Certeau, que considera os chistes uma
forma de prestidigitação verbal, cujo efeito é, entre outros, o de mostrar como
os sujeitos táticos praticam uma “caça furtiva”, ao invés de serem enredados
em uma estrutura linguística herdada. Muitos dos dados a serem analisados,
embora possam parecer chistes tão inocentes que sua escolha para análise
pode sugerir alienação, surgiram nos últimos tempos, em boa medida durante a
pandemia e os dois anos do atual governo e não deixam de fustigá-lo. A análise
mostra que não são totalmente inocentes. Serão analisados textos como (a) "Se
for para uma festa, não me covid", que, ao mesmo tempo, dá suporte à tese do
isolamento social durante a pandemia, o faz por um jogo divertido entre “covid”
e “convide”, sendo lida como “não me convide”; (b) "Moro sofre de manipulite",
que explora a ambiguidade entre “manipulite”, a doença da manipulação, e “mani
pulite”, que significa “mãos limpas”, nome da operação italiana à qual Moro
aproximava a Lava Jato; (c) "Forças Armadas afirmam que leite condensado era
para o programa de formação de brigadeiro", que alude a gastos militares com
leite condensado e joga com dois sentidos de “brigadeiro” – um doce à base de
leite condensado e um posto da aeronáutica; (d) "Um gato sendo multado por
um guarda diz: 'solo sali por un ratón'" (“salir por un rato” significa “sair por um
instante / momento”, mas aqui se sugere que o gato saiu para caçar um rato –

442
Simpósio Proposto
Que humor é esse? A pandemia sob o olhar discursivo

no caso, um ratão). Não se imagina nenhuma novidade teórica, mas ressaltar o


quanto os sujeitos são táticos, não assujeitados, e que o humor fornece talvez
a melhor sustentação para esta tese.

Cloroquina ou tubaína? Piadas presidenciais sobre


a pandemia
Autoria: ANA CRISTINA CARMELINO

Tragédias como a da pandemia do coronavírus são situações difíceis de serem


trabalhadas sob o viés do humor. Isso porque se lida com a morte em números
plurais. O impacto da Covid-19 foi ainda mais acentuado no Brasil, que registrou
20% das mortes mundiais provocadas pela doença um ano após seu surgimento.
Além da proliferação em si, ela se somou a políticas contrárias às medidas de
prevenção, caso do isolamento social, do uso de máscara e da compra de vacinas,
e favoráveis à utilização de medicamento sem eficácia comprovada, como a
indicação da hidroxicloroquina. Essas ações do governo federal se materializaram
em falas do presidente Jair Bolsonaro, ditas principalmente no primeiro ano de
pandemia. Algumas foram pronunciadas como se fossem piadas, caso de “Quem
é de direita toma cloroquina; quem é de esquerda, tubaína”. Vê-se, nesses casos,
a utilização discursiva do humor para desqualificar orientações de autoridades
científicas sobre o controle da doença. Cícero, na arte da oratória, em que discute
o uso do humor (ou ridículo, termo empregado pelo pensador) nos discursos
públicos da antiguidade, ressalta que o recurso acaba sendo desfavorável, se for
malicioso, cruel com as deficiências alheias e não sopesar o alvo da zombaria,
o auditório e as circunstâncias do discurso. Partindo dessas considerações, o
objetivo desta comunicação é expor e analisar frases humorísticas de Bolsonaro
a respeito da pandemia, a fim de refletir sobre o funcionamento delas nesse
caso específico. Serão abordadas algumas de suas declarações públicas e
repercutidas pela imprensa, compartilhadas nas redes sociais e tratadas como
sendo. Como, no nosso entender, as piadas de Bolsonaro sobre a pandemia
constituem uma estratégia retórica e argumentativa, nortearão esta exposição
especialmente os pressupostos teóricos da Retórica clássica e de teorias mais
contemporâneas da argumentação. Para enquadrar as frases humorísticas do

443
Simpósio Proposto
Que humor é esse? A pandemia sob o olhar discursivo

presidente no que se pode chamar de piada conversacional, aquela menos


previsível e informal, em que a situação de humor é criada durante a interação
verbal, levam-se em conta as considerações de Norrick.

Humor coletivo: tiras monotemáticas em tempos


de pandemia
Autoria: PAULO RAMOS

Se fosse possível explicar o funcionamento das tiras cômicas por meio de uma
metáfora, elas seriam como ilhas. Cada autor cria as histórias pensando em
sua própria série. Mesmo que ele compartilhe um mesmo espaço, como ocorre
nas páginas dos jornais e em determinados ambientes digitais, sua produção
se mantém isolada da dos demais desenhistas. Houve exceções. Poucas, mas
suficientes para criar situações em que o humor fosse produzido por todos os
autores com base em um mesmo tema. Todas as tiras do veículo de imprensa
compartilharam um mesmo assunto, previamente combinado entre todos os
envolvidos. Durante o período da pandemia do coronavírus, houve ao menos dois
casos assim, ambos publicados nas versões impressa e digital da Folha de S.Paulo.
Serão eles os abordados nesta comunicação, que tem como objetivo mostrar as
peculiaridades dessa forma de produção de humor em tiras cômicas. O primeiro
ocorreu em abril de 2020, quando ainda se aprendia sobre a necessidade de uso
de máscara facial para bloquear o contágio do vírus da Covid-19. Iniciativa do
jornal levou os desenhistas da página de quadrinhos a produzirem tiras cômicas
monotemáticas, em que todos defendiam o uso do instrumento de proteção.
O segundo caso ocorreu dez meses depois. Em fevereiro de 2021, os mesmos
autores criaram situações sobre o retorno da desenhista Laerte Coutinho, uma
das integrantes da seção de quadrinhos. Ela estava afastada após ter contraído
a doença e ficado, inclusive, internada. Defende-se que tiras monotemáticas
como essas criam situações humorísticas diferentes das vistas cotidianamente.
Um dos diferenciais para a construção da comicidade está justamente na ação
coletiva dos autores e no diálogo entre uma série e outra. Boa parte do humor
vem justamente da leitura conjunta de todas as histórias, e não mais das “ilhas”
diárias como as tiras são comumente produzidas e veiculadas. O aporte teórico

444
Simpósio Proposto
Que humor é esse? A pandemia sob o olhar discursivo

para esta discussão estará em trabalhos que abordaram linguisticamente a


composição dos quadrinhos como um hipergênero, em que as tiras cômicas
figurariam como um dos gêneros possíveis. Elas teriam como marcas centrais a
presença de um texto tendencialmente narrativo, com ou sem personagem fixo,
em que a criação de uma situação inesperada levaria a um desfecho inesperado,
fonte do efeito humorístico.

Humor numa hora dessas? A pandemia e a economia


contadas em memes
Autoria: MÁRCIO ANTÔNIO GATTI

A pandemia de COVID-19 afetou o mundo todo impondo uma série de restrições.


No Brasil, não diferentemente, as restrições se impuseram de modo mais
abrangente no início da pandemia, mas logo foram sendo contestadas,
principalmente por parcelas da população impulsionadas por argumentos
negacionistas e também, em boa medida, por outros que são de ordem econômica/
financeira. Durante a pandemia, ao mesmo tempo em que ocorre intenso fluxo
de textos defendendo (ou não) o isolamento, a abertura, o funcionamento do
comércio etc., produz-se grande massa de memes que tematizam os diversos
problemas oriundos da pandemia. Um dos problemas, e que será objeto de
estudo deste trabalho, é a economia. Ao observar memes como textos que
recortam a pandemia com um viés cômico, pretende-se analisá-los como
exemplares de posicionamentos discursivos em uma dada conjuntura política
e de sociabilidade no digital. Isso porque no caso dos memes que tematizam a
economia, pode-se encontrar aqueles que são uma sorte de argumento contra
um discurso político, utilizando-se sobretudo do deboche e do escárnio para
rebaixar um oponente – uma espécie de chiste hostil (FREUD, 1905), e também
aqueles que, ao tematizar situações mais específicas do cotidiano (uma conta
a pagar, por exemplo), se utilizam da estratégia da autoderrisão para a busca
de um efeito de humor. Assim, um aspecto a ser analisado é como estes textos
promovem o deboche, o escárnio e a autoderrisão como elementos da produção
de um efeito humorístico como sociabilidade no digital ao mesmo tempo
útil, porque congrega, e fútil, porque é marcada pela volatilidade (HAN, 2018)

445
Simpósio Proposto
Que humor é esse? A pandemia sob o olhar discursivo

e como argumento de um posicionamento discursivo em uma determinada


conjuntura política, mas que nem por isso deixa de ser sociabilidade no digital,
porque também congrega indivíduos e comunidades em torno de uma matriz
de sociabilidade. Em ambos os casos a investigação se dará em virtude de
compreender se os memes são casos de superexposição do eu (MUNIZ, 2018)
que recortam aspectos da pandemia para escarnecer o oponente ou para rir
de si.

2022 Vem aí... Qual a graça?


Autoria: CELLINA RODRIGUES MUNIZ

Partimos, com esta proposta, da emergência de um acontecimento discursivo


em particular: no dia 8 de março de 2021, veio a público a decisão do ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, de anular todas as decisões
relativas ao processo ocorrido na Justiça Federal do Paraná, bem como invalidar
a decisão do então juiz Sérgio Moro (o mesmo que seria alguns meses depois o
ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro) que, em 5 de abril de 2018, tornou
inelegível o então ex-presidente e possível candidato ao cargo da presidência
do Brasil nas eleições de 2018, Luís Inácio Lula da Silva. A partir da publicização
desse evento jurídico (que tornou Lula apto a concorrer nas eleições de 2022),
uma gama de textos foi desencadeada por meio das redes sociais, incluindo
textos atravessados pelo viés humorístico, do que decorre nossa questão
principal: o que a produção, circulação (“viralização”) e leitura de textos
humorísticos acerca desse acontecimento nos possibilita pensar em termos de:
1) estratégias de linguagem e 2) exercícios de poder? Para isso, tomamos como
alguns principais postulados dois conceitos: primeiramente, a noção de poder
segundo Michel Foucault, para quem é possível atrelar os seguintes aspectos a
tal conceito: a) não é apenas das grandes ordens jurídicas e econômicas, mas
também das instâncias mínimas e capilares; b) não é propriedade, mas relação;
c) não é apenas linear, mas difuso; d) não é apenas repressivo, mas produtivo. O
segundo postulado, inspirado em Sírio Possenti, propõe o humor como campo
discursivo, com determinadas regularidades (de gêneros preferenciais e de
estratégias linguageiras, por exemplo). Assim, tome-se por exemplo o caso de

446
Simpósio Proposto
Que humor é esse? A pandemia sob o olhar discursivo

um meme em que se pode ler, junto a quatro fotografias de Sérgio Moro que o
representam com semblante triste e preocupado: imagino que deve ser muito
brochante ouvir que sua vara não tem competência. A referência implícita à
sexualidade (“brochante”), a ambiguidade (os vários sentidos possíveis para
“vara”) e o apelo a um riso de escárnio relacionam tal postagem a um discurso
humorístico, postagem essa que também manifesta uma inversão de papéis
sociais (nem sempre o sujeito juiz ocupa uma posição privilegiada, podendo
ser desqualificado, de maneira “viralizada”, por qualquer um via internet). É pois
do campo humorístico e digital que recolhemos material para refletir sobre a
ação do humor como prática discursiva e política.

447
Reflexões Bakhtinianas contemporâneas:
leituras teórico-analíticas plurais
Autoria: LUCIANE DE PAULA

Este simpósio congrega pesquisas em torno de objetos diversos, focadas nos


estudos bakhtinianos e apresenta leituras teórico-analíticas acerca do legado
que o Círculo deixou para se pensar sobre a e na contemporaneidade. O objetivo
se volta à reflexão de como o Círculo contribui, de maneira significativa, com
os estudos contemporâneos da linguagem e da linguagem contemporânea. O
elemento que une os estudos propostos, além do escopo teórico-metodológico
dialógico, é a tarefa de pensar enunciados configurados por materialidades,
como designa Paula, verbivocovisuais e como a linguagem é concebida pelo
Círculo, nos anos 20/30 na Rússia, como tridimensional. As contribuições de
Sollertínski, como propõe pensar a primeira comunicação; e as de Jakubinskij,
como colocado pela segunda apresentação, junto aos demais integrantes
do Círculo, colaboram para se pensar essa constituição tridimensional
verbivocovisual como constitutiva da proposta bakhtiniana de linguagem. Se
a primeira comunicação se volta a uma leitura acerca da relação de Sollertínski
com o Círculo, voltada à compreensão de suas contribuições; a segunda
relaciona a “fala dialogal” de Jakubinskij às noções de diálogo, réplica e polêmica,
desenvolvidas, especialmente, por Volóchinov e Bakhtin, tendo como foco,
além da reflexão teórica, a análise de dois enunciados do presidente do Brasil,
para ilustrar o quanto a linguagem reflete e refrata posicionamentos sociais
e atos políticos. A terceira comunicação, por sua vez, voltada à materialidade
verbovisual de enunciados religiosos coletados de uma página do Facebook,
ilustra como o embate de vozes existente e expresso de maneira polêmica (aberta
e velada) em memes, reflete e refrata axiologias que revelam a luta de classes
instaurada nos discursos (arena de e entre forças, enunciados e sujeitos) e se
propõe a pensar a resistência infraestrutural centrífuga à hegemonia centrípeta
superestrutural por meio do processo de carnavalização, especificamente no
que se refere ao discurso religioso. A quarta proposta se volta à mitificação
e à mistificação da naturalização de um ato discursivo-social que encarcera

448
a mulher como mãe, como explica Badinter, e discute o quanto os contos de
fada, mesmo ressignificados na contemporaneidade, como é o caso do seriado
Era uma vez (Once Upon a Time – OUT), perpetuam valores que continuam a
subjugar a mulher ao que Beauvoir denomina como “segundo sexo”, calcado
em seu aspecto biologizante (reprodutor) e fundamentalista religioso (o ser
mãe como ser divino). Os resultados revelam o quão produtiva é a filosofia da
linguagem bakhtiniana e o quanto ainda há a se pensar com e sobre ela.

449
Simpósio Proposto
Reflexões Bakhtinianas contemporâneas:
leituras teórico-analíticas plurais

A pandemia no Brasil: atos de dizer e fazer do


Governo Federal
Autoria: LUCIANE DE PAULA
E RAFAEL JUNIOR DE OLIVEIRA

A pandemia causada pelo coronavírus tem devastado o mundo desde


2020. Governantes ao redor do globo, embasados em estudos científicos,
implementaram diferentes medidas para controle pré, durante e pós infecção,
com a defesa pública, dentro das condições sociais e econômicas de cada
país, das medidas de higienização, do uso de máscara, do distanciamento
e do isolamento social, sendo o lockdown (paralisação das atividades não
essenciais) a medida mais enérgica e eficaz. Neste trabalho, propõe-se a análise
verbivocovisual de dois pronunciamentos oficiais do presidente do Brasil (o
primeiro, de 24 de março de 2020; e o segundo, de 23 de março de 2021, 1 ano
depois), sobre a condução do país acerca da pandemia, em cotejo com outros
enunciados, do próprio governo, em diálogo com outros líderes mundiais.
Esta proposta se justifica pela relevância social de se pensar a linguagem na
esfera e no jogo político, ao validar vidas e mortes humanas, a depender do
interesse. A hipótese é a de que estratégias discursivas de utilização reiterada
de informações falsas nas declarações presidenciais (como as aqui analisadas,
verificadas e desmentidas por agência de fact-checking, como a Lupa e a
Fato ou Fake) colaboram com e sustentam uma prática política eugenista.
Com base nessa questão de pesquisa, pode-se dizer que o objetivo principal
desta reflexão é analisar quais concepções do governo federal, com relação à
pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, têm se modificado (devido a motivos
eleitorais) e quais se encontram mantidas, para compreender esses processos
discursivos ambivalentes dos dois dizeres-fazeres do sujeito-presidente, nas
suas variadas manifestações verbivocovisuais (silenciamento, paráfrase e
contraposição, gestualidade, entonação, vestuário etc.), como estratégias
não apenas enunciativas (atos de dizer), mas políticas (atos de fazer). Este
estudo se fundamenta nas reflexões de Volóchinov, Medviédev, Jakubinskij e
Bakhtin, especialmente nas concepções de diálogo, reflexo e refração, sujeito e

450
Simpósio Proposto
Reflexões Bakhtinianas contemporâneas:
leituras teórico-analíticas plurais

enunciado. A pesquisa, qualitativa e interpretativa, utiliza, com base nos estudos


bakhtinianos, fundados no materialismo histórico-dialético, a metodologia
dialético-dialógica, como denominam Paula, Figueiredo e Paula, amparada pelo
cotejo, como proposto pelo Círculo. Os resultados apontam para uma oscilação
entre repetição, mudança sutil e mudança substancial de posicionamento que
reflete e refrata três estratégias discursivas verbivocovisuais fundamentais do
governo federal com relação à pandemia e à política brasileira: o falseamento
(de dados, recomendações e práticas), a minimização (da doença e da crise
nacional generalizada) e a aparente perdição (falta de organização), que revelam
o projeto e a prática eugenista institucional em curso.

A polêmica como contradiscurso em enunciados


religiosos: uma leitura Bakhtiniana
Autoria: PEDRO FARIAS FRANCELINO
E WILDER KLEBER FERNANDES DE SANTANA

No contexto religioso cristão pós-eleições de 2018, é notória uma tensão de


natureza conflituosa entre segmentos que divergem categoricamente acerca
de diversos assuntos pertinentes ao sistema político vigente. Essa tensão é
refratada na mídia virtual sob diversas formas enunciativas verbovisuais que
demarcam posicionamentos axiológicos polarizados, sendo um deles – o do grupo
minoritário – reificado e tornado objeto da consciência de um grupo considerado
hegemônico. Objetivamos, nesta comunicação, discutir como o (contra)discurso
desse grupo cristão periférico, que pensa a agenda político-econômico-social-
cultural de forma diferente, valora/refrata a realidade social brasileira mediante
polêmica travada com o próprio discurso religioso autoconsiderado oficial, ao
qual se contrapõe com tons emotivo-volitivos permeados de ironia, sarcasmos,
sátira etc. Amparamo-nos, para isso, em algumas noções específicas abordadas
por Bakhtin em escritos como Problemas da obra de Dostoiévski (1929) e
Problemas da poética de Dostoiévski (1963), tais como, relações dialógicas e
discurso bivocal, dentre outras necessárias nessa articulação. Especificamente,
mobilizamos o conceito de polêmica (aberta/velada) para pensar o homem
e(m) seu cronotopo. Temos em vista aqui o contexto sócio-histórico brasileiro

451
Simpósio Proposto
Reflexões Bakhtinianas contemporâneas:
leituras teórico-analíticas plurais

contemporâneo, que tem demandado do sujeito um olhar vigilante para práticas


discursivas centrípetas, cuja finalidade é provocar movimentos axiológico-
ideológicos das vozes que circulam em nosso espaço-tempo, num trajeto
sinuoso que vai do silenciamento delas à deturpação total de seus sentidos.
Analisamos, para isso, numa abordagem metodológica dialético-dialógica, o
movimento das vozes que se super/sobrepõem numa materialidade verbovisual
midiática que é o meme com temática político-religiosa, produzida pelo Pastor
Protestante João Paulo Berlofa (é assim que ele se identifica) em sua página do
Facebook. Trata-se de uma página que aborda, na maior parte de seu conteúdo,
assuntos relacionados à religião, numa perspectiva não convencional, mas
marcada por uma conotação carnavalizada de forma parodística/sarcástica/
irônica. Como está registrado no perfil, é uma página direcionada “Para quem
se sente INADEQUADO para o sistema religioso convencional". Portanto, é
comum o leitor-espectador encontrar postagens cujo conteúdo é veiculado
em tons valorativos inclinados ao riso, ao humor, à irreverência.

O ser-mãe em Era uma vez: análise dialógica da


Branca de Neve e da Rainha Má
Autoria: ANA BEATRIZ MAIA BARISSA

O presente trabalho busca refletir sobre a concepção de maternidade a partir


de dois sujeitos da série estadunidense Era uma vez, da Disney: Regina (Rainha
Má) e Branca de Neve. A escolha deu-se por ser a primeira série televisiva feita
pelos estúdios Disney a trazer seus personagens de contos de fadas em uma
nova configuração e pela repercussão da série desde seu lançamento. Essas
duas personagens foram selecionadas devido ao seu protagonismo no seriado
(vilã e heroína), que ocorre de forma (des)construída da clássica elaboração
arquetípica vilânica e tradicional dos contos de fadas. Nessa nova produção,
as personagens se apresentam com uma imagem ambivalente. A partir dessa
ambivalência, a proposta é analisar os valores axiológicos propagados pela
Disney em seu discurso familiar, ao observar essas duas personagens-mulheres
e(m) sua constituição de sujeitos-mães. O trabalho reflexivo está fundamentado
na filosofia da linguagem bakhtiniana, com atenção voltada a alguns conceitos

452
Simpósio Proposto
Reflexões Bakhtinianas contemporâneas:
leituras teórico-analíticas plurais

em especial, cujas considerações serão feitas de forma entrelaçada à análise:


diálogo, enunciado, signo ideológico e sujeito. O método utilizado é o dialético-
dialógico, como denominado por Paula, Figueiredo e Paula, realizado por cotejo.
O conto Branca de Neve e os sete anões, dos Irmãos Grimm e a animação
homônima, da Disney serão utilizados como cotejo à série. Pensar o discurso
Disney em duas personagens ressignificadas implica refletir sobre o enunciado
como elo discursivo e sua singularidade, a fim de se compreender como as
heroínas/vilãs – desde o conto dos Irmãos Grimm – refletem e refratam (n)essa
nova configuração contemporânea audiovisual (entendida como, materialmente,
verbivocovisual, dada a sua configuração explícita). Pretende-se pensar sobre
o processo do ser-mãe em Branca de Neve e na Rainha Má como principal
elemento de caracterização do heroísmo e da vilania nos sujeitos-personagens
no/do seriado. A relevância que justifica este estudo se volta à importância
de se analisar o discurso familiar Disney, tão presente em diversas produções
contemporâneas (como é o caso de Era uma vez) que, de certa forma, perpetua
valorações estratificadas acerca do que se compreende por maternidade e por
ser-mulher, como uma maneira eficaz de inculcação ideológica de naturalização
de um mito cultural: o “desejo” de ser mãe como maior desejo da mulher e sua
principal realização e função sociais. Os resultados preliminares revelam que,
por meio de ressignificações formais e estilísticas de temáticas composicionais
voltadas à maternidade, narrativas mitológicas permanecem no imaginário
humano como arquétipos que, de certa maneira, “acorrentam” as mulheres.

Sollertínski e a filosofia Bakhtiniana da linguagem:


uma leitura introdutória contributiva
Autoria: JOSÉ ANTONIO RODRIGUES LUCIANO

A constituição do grupo de intelectuais, denominado Círculo de Bakhtin (ou


Círculo “B.M.V” (VAUTHIER, 2010)), nas primeiras décadas do século XX na
União Soviética se deu a partir da participação de diversos pensadores com
formações distintas (matemático, físico, biólogo, filósofo, linguista, literato,
dentre outros), que se reuniam em torno de um objeto comum: o estudo
da linguagem de maneira ampla. Dentre esses estudiosos, destacam-se os

453
Simpósio Proposto
Reflexões Bakhtinianas contemporâneas:
leituras teórico-analíticas plurais

trabalhos de três membros, os quais ficaram conhecidos na recepção do que


se chama hoje de pensamento/teoria bakhtiniana. A presente proposta volta-
se para a apresentação de alguns estudos realizados por outro membro ativo
do Círculo de intelectuais russos, o musicista e especialista em teatro Ivan
Sollertínski. O intuito é expandir o conhecimento acerca dos demais membros
que compunham o grupo de intelectuais russos, bem como compreender de
que modo contribuíram para a construção da filosofia bakhtiniana e também
para sua formulação do conceito de linguagem. A hipótese é que, a partir dessa
composição heterogênea, é possível encontrar uma delimitação conceitual de
linguagem, entendida de maneira tridimensional (verbivocovisual), ao decorrer
das obras do Círculo, em que, neste caso, apareceria a influência musical e
teatral das pesquisas de Sollertínski, as quais integram o conjunto de estudos
do Círculo “B.M.V”. Assim, busca-se traçar ressonâncias entre os textos escritos
por Bakhtin, Medviédev e Volóchinov e os de Sollertínski, para demonstrar
algumas confluências nas ideias desses intelectuais. Para isso, toma-se o
método dialético-dialógico, como denominado por Paula, Figueiredo e Paula,
a fim de refletir a relação entre conceitos, textos e de concepção de linguagem,
construída dialogicamente entre os pensadores russos. Desse modo, além da
reflexão a respeito do conceito de linguagem para Círculo e de sua compreensão
nos estudos bakhtinianos, a proposta pretende colaborar com a ampliação
do conhecimento desse grupo de estudiosos da União Soviética por meio da
divulgação de trabalhos dos e sobre os membros que o constituíram.

454
Reflexões filosófico-linguísticas e literárias em
torno da obra do círculo de Bakhtin
Autoria: ANA ZANDWAIS

Este Simpósio, proposto para propiciar diálogos e reflexões em torno de questões


filosóficas, linguísticas e literárias, durante o 68º GEL-UFSCar, constitui-se de
um conjunto de pesquisas realizadas por docentes da UFES, UNIFESP, UFRGS
e UNICAP, reunidas em torno de fundamentos teórico-práticos produzidos
no contexto do Leste europeu pelo Círculo de Bakhtin, por intelectuais que
participaram da formação dos membros do Círculo, tais como, Lev Jakubinsky,
G. Plekhanov e também por especialistas em estudos eslavófilos, tais como,
Craig Brandist (Univ. of Sheffield-UK) e Ekaterina Velmezova (Université de
Lausanne/Moscou Academy). A pesquisa intitulada “Conflitos na Base: a BNCC
e suas contradições sob o olhar do Círculo de Bakhtin”, de Luciano Novaes Vidon
(UFES), propõe investigar, sobretudo a partir dos estudos de Medvediev (2012),
M. Bakhtin (2003) e V. Volochinov (2013), as bases teóricas e as contradições
e forças políticas dominantes na produção de diretrizes da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), que se constitui em um documento norteador das
políticas curriculares da Educação básica no Brasil. A segunda pesquisa, que
tem como título “Literatura e Ensino: uma abordagem bakhtiniana”, de Sandra
Mara Moraes Lima (UNIFESP), busca, com base na obra A Palavra na Vida e
a Palavra na Poesia ( 2009) de V. Volochinov, tecer algumas considerações
acerca do ensino/aprendizagem de Literatura, abordando a questão do papel da
Literatura no processo de educação/humanização do sujeito. O terceiro estudo,
que tem por título “Por uma concepção de gênero discursivo: o funcionamento
do skaz”, de Ana Zandwais (UFRGS), busca investigar através de textos como
Sobre a Fala Dialogal (2015), Qu'est-ce que La Langue et Le Langage (2010),
Marxismo e Filosofia da Linguagem(2017), Questões de Literatura e de Estética
(1990), dentre outros, como determinados pressupostos presentes na obra
destes autores possibilitam caracterizar uma noção de gênero de discurso que
se espelha em uma ótica materialista. Com base em tais reflexões, a autora
trata das relações entre gênero e produções literárias voltadas às massas no

455
contexto russo/soviético. O último estudo intitulado "Sobre afetos, valores e
sentidos na teoria dialógica”, de Dóris de Arruda Carneiro da Cunha (UNICAP/
CNPq), tem como objetivo ampliar um debate sobre a axiologia com base em
pressupostos tomados da obra de Bakhtin e discussões de Carlos A. Faraco em
Bakhtin e Filosofia (2017) em torno desta concepção que parece ser o grande
fundamento do projeto de M. Bakhtin. A partir de uma concepção de discurso
como movimento de valores indissociáveis de afetos, presentes em enunciados
concretos, a autora produz reflexões empíricas com base na análise de diálogos
de internautas nas redes sociais.

456
Simpósio Proposto
Reflexões filosófico-linguísticas e literárias
em torno da obra do círculo de Bakhtin

Conflitos na base: a BNCC e suas contradições sob


o olhar Bakhtiniano
Autoria: LUCIANO NOVAES VIDON

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é uma construção de longa data,


um elo numa cadeia enunciativa, sendo prevista pela LDB 9394, de 1996, bem
como em documentos subsequentes, como as DCN (Diretrizes Curriculares
Nacionais), de 2010, e o PNE (Plano Nacional de Educação), de 2014. Entretanto,
a homologação final da BNCC esteve envolta, como temos apontado em alguns
trabalhos (ROCHA; VIDON, 2019; VIDON, 2020), em um processo conflitante e
contraditório marcado pelo contexto do processo de impeachment da presidenta
Dilma Rousseff. Ao ser homologada, em 2018, no final do governo Michel Temer, o
MEC reorientou o documento para uma perspectiva mais cognitivista, intervindo
no matiz sociológico presente em suas versões anteriores, produzidas em 2015
e 2016. Essa reorientação se fez na direção de uma pedagogia com base em um
regime de competências e habilidades, o que nos instiga a buscar compreender,
discursiva e dialogicamente, em conformidade com os estudos do Círculo de
Bakhtin (BAKHTIN, 2010, 2003; VOLOCHINOV, 2013; MEDVIÉDEV, 2012), as
contradições e as forças políticas e epistêmicas em jogo na produção desse
documento, atual norteador das políticas curriculares e, mais especificamente,
linguístico-pedagógicas da educação básica no Brasil. O objetivo deste trabalho
é cotejar as versões finais da BNCC apresentadas pelos governos Dilma Rousseff
e Michel Temer (BRASIL, 2016, 2018), e mostrar sua inscrição em um espaço
de limiaridade, e contradição, entre uma visão de educação e do processo
ensino-aprendizagem como direito, cujo objetivo final é a formação de cidadãos
críticos, responsáveis eticamente e responsivos esteticamente, e outra visão,
segundo a qual o processo ensino-aprendizagem é individual e individualizante
e a cognição dos sujeitos é que deve ser trabalhada e desenvolvida. Para atingir
esse objetivo, a pesquisa se vale de princípios teórico-metodológicos caros aos
estudos do Círculo de Bakhtin, como historicidade, ideologicidade, dialogismo
e limiaridade, articulados ao Paradigma Indiciário ginzburguiano (GINZBURG,
1986), o que se configuraria metodologicamente, segundo Oliveira (2021), como
um indiciarismo dialógico.

457
Simpósio Proposto
Reflexões filosófico-linguísticas e literárias
em torno da obra do círculo de Bakhtin

Literatura e ensino – uma abordagem Bakhtiniana


Autoria: SANDRA MARA MORAES LIMA

Nesse trabalho, são apresentadas algumas considerações acerca do ensino/


aprendizagem de literatura, o que engloba necessariamente o ensino/
aprendizagem de língua. A perspectiva, tal como expressa no título, segue a
teoria do Círculo bakhtiniano, mais especificamente a obra de Volóchinov,
A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas,
bem como outros teóricos que dialogam com esse arcabouço teórico. Aborda
o tema sob determinada ótica, fazendo recortes no que diz respeito à teoria e à
metodologia de ensino/aprendizagem de literatura, o que abarca inevitavelmente
uma dada concepção de linguagem. Nessa perspectiva, é imperativo pensar
o lugar da constituição do sujeito no ensino/aprendizagem de língua (leitura/
escrita) e na experimentação do texto literário. A noção de sujeito aqui tem um
caráter eminentemente ético, isto é, o ser/estar/fazer no mundo. Em relação
ao que propõe Volóchinov, na obra citada, explicita-se, tendo em vista o texto
literário, o que vem a ser os conteúdos presumidos, o pressuposto, que pode
ser no âmbito familiar, do clã, da nação, da classe, etc., conteúdos que são
construídos através dos valores que instituímos aos objetos, às crenças. Em
outras palavras, é o caráter ideológico que se configura nos “acordos”, crenças,
que são presumidas, pressupostas socialmente, são acordo tácitos, nem sempre
verbalizados, elucidados. Esses aspectos, que fazem parte do arcabouço cultural
social, obviamente, é matéria vertente que constitui também a literatura que,
tal como outras artes, exerce o papel de jogar luz em dogmas, nos conteúdos
presumidos e não discutidos e, às vezes, negados. Nessa direção, infere-se que a
arte, a literatura, tem esse poder de verbalizar, expor os conteúdos presumidos
socialmente, trazer à tona conteúdos submersos, fraturas expostas, feridas
ocultas. Nesse contexto, a partir de alguns enunciados literários, discute
questões, tais como: papel da literatura no processo de educação/humanização
do sujeito e como a perspectiva teórica aponta alguns caminhos, posturas,
propostas, para o ensino/aprendizagem do texto literário.

458
Simpósio Proposto
Reflexões filosófico-linguísticas e literárias
em torno da obra do círculo de Bakhtin

Por uma concepção de gênero discursivo:


o funcionamento do skaz
Autoria: ANA ZANDWAIS

Este estudo tem como um de seus principais objetivos investigar como as


produções intelectuais de autores como Lev Jakubinskij em Sobre a fala dialogal
(2012), Valentin Volochinov, em Marxismo e Filosofia da Linguagem (2017) e
Mikhail Bakhtin em Questões de Literatura e de estética (1990) trouxeram
importantes contribuições para constituir uma noção de gênero de discurso
focada no funcionamento concreto da produção linguístico-literária no início do
séc. xx. Propomos também estabelecer relações entre a produção intelectual do
início do séc. xx e a leitura de autores como Craig Brandist e Mika Lähteenmaki
(2019), visando a compreender como determinados fundamentos constitutivos
da noção de gênero discursivo sofreram influência de concepções materialistas.
Com base em tais relações, buscaremos delimitar o funcionamento de um gênero
de discurso – o skaz – difundido entre as massas e que adquiriu grande prestígio
por retratar as temáticas “periféricas”. Este gênero constitui-se não somente
em objeto de interesse de autores voltados para produções populares, mas
também permite configurar como determinadas ideologias do cotidiano ganham
força entre as massas. Para analisar este gênero, buscaremos caracterizar seu
funcionamento nas produções literárias russa e brasileira, através de análises
de textos produzidos por autores como Isaac Babel e Millor Fernandes.

Sobre afetos, valores e sentidos na teoria dialógica


Autoria: DORIS DE ARRUDA CARNEIRO DA CUNHA

Esta comunicação tem o objetivo de refletir sobre a abordagem axiológica dos


sentidos. Para Bakhtin, o tom emocional-volitivo é inseparável dos valores,
existindo reciprocidade entre “o que sentimos” e a presença de “valores”. Nessa
perspectiva, todo nosso modo de estar no mundo passa por uma relação com
valores que nos são dados como afetos e nos colocam em movimento. No
que se refere à linguagem, é a relação valorativa com o objeto do discurso que

459
Simpósio Proposto
Reflexões Bakhtinianas contemporâneas:
leituras teórico-analíticas plurais

condiciona a escolha dos recursos linguísticos e composicionais do enunciado,


de modo que não existe enunciado neutro. A perspectiva dialógica concebe,
portanto, o discurso como movimento de valores indissociável dos afetos e
do conteúdo semântico dos enunciados concretos, históricos e socialmente
significativos. Nessa apresentação, interessa-nos problematizar sobre os valores
e afetos que se manifestam nas redes sociais, local de dissenso e conflito. O
corpus coletado é constituído de comentários eletrônicos de comunidades
discursivas do Instagram e do Facebook. Analisamos o contexto histórico e
social dos sujeitos; os enunciados e suas respostas contendo violência verbal,
a partir de formas valorativas em cada contexto, com o propósito de insultar
ou ofender, desqualificar o outro, refutando dialogicamente pontos de vista do
outro. Tais enunciados são carregados de paixão, contendo formas assertivas,
peremptórias, expressivas, injuntivas de insulto e de escárnio em relação aos
que têm pontos de vista diferentes daqueles da comunidade. Constatamos
que nas redes sociais, local de dissenso e de conflito, a violência verbal vai de
encontro aos valores de civilidade, respeito, dignidade da pessoa e direitos
fundamentais no debate público. Esse comportamento nas redes sociais revela
também um aumento das tensões nas relações sociais e mudanças nas regras
de comunicação de uma sociedade. Na realidade, não são apenas formas de
resolver divergências de pontos de vista que estão em jogo, mas comportamentos
que podem provocar sofrimentos psíquicos e consequências jurídicas.

460
Semiótica discursiva e ensino: da formação do
docente-semioticista às orientações oficiais na
educação básica
Autoria: THIAGO MOREIRA CORREA

Diante das exigências de melhora na qualidade de ensino no Brasil, busca-


se promover uma discussão em que a teoria semiótica francesa possa
contribuir para uma Educação de Qualidade, conforme os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (2015), principalmente, no que diz
respeito a “aumentar o contingente de professores qualificados” (item 4.c). Tal
chamada à presença da teoria do discurso já está textualizada implicitamente
no “multiletramento”, nas “múltiplas linguagens”, na “multimodalidade”, e
explicitamente, “no multisemiótico” da atual Base Nacional Comum Curricular
(2018). Além dessa exigência imediata, faz-se necessário também debruçar-se
sobre o devido processo formativo por meio do compartilhamento de práticas
didáticas e reflexões sobre o próprio papel da semiótica discursiva na formação
de semioticistas, futuros professores. Logo, a proposta do simpósio é trazer
perspectivas de atuação da semiótica na educação, seja na contribuição da
disciplina como método de análise do ensino, nesse caso, objeto de significação
- a sala de aula, o ensino remoto, as ferramentas de auxílio da prática docente,
etc. -, seja ao considerá-la recurso metodológico nas práticas didáticas da/para
a Educação Básica, exigindo as devidas transposições, seja ao apreendê-la, em
seu processo de construção e transmissão de conhecimento teórico, no Ensino
Superior, nível mais comum de sua atuação, seja, por fim, na reflexão endógena
sobre o processo de formação do semioticista, cujas atividades profissionais
incidem diretamente no ensino. Desse modo, levamos em consideração alguns
ângulos de abordagem que a relação entre semiótica e ensino propicia: a
enunciação e as práticas semióticas depreendidas dos textos prescritivos do
MEC, as práticas de ensino e aprendizagem mediadas pelas Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs) e a autoavaliação, sincrônica e diacrônica,
imprescindível a todo desenvolvimento. Traça-se então um percurso, da formação
do semioticista à semiótica como teoria formadora, que estabelece esse breve

461
ciclo de reflexão para descobrir caminhos a respeito das exigências trazidas
pelos documentos diretores da Educação, cuja demanda de formação sempre
existiu e cada vez mais integra as pesquisas em semiótica, sem deixar de analisar
o próprio trajeto, que não prescinde nunca de sua coerência metodológica,
simples, exaustiva e não contraditória.

462
Simpósio Proposto
Semiótica discursiva e ensino: da formação do docente-
semioticista às orientações oficiais na educação básica

Do letramento da letra aos novos e multiletramentos:


a BNCC sob o prisma da semiótica tensiva
Autoria: SONIA MERITH CLARAS

Ao lado de uma abordagem já solidificada no ensino, acerca do letramento


da letra, que envolve a linguagem verbal, permeia o Componente Língua
Portuguesa da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a proposta dos novos
e multiletramentos, ou ainda, das práticas contemporâneas de linguagem.
Esse transitar entre algo mais recente no ensino e o já estabelecido, de
conhecimento do professor, diz respeito às estratégias persuasivas adotadas pelo
enunciador-destinador, as quais pretendem produzir maior ou menor impacto
no enunciatário-destinatário. Assim, no intuito de percorrer os processos de
manipulação estabelecidos no Componente Língua Portuguesa, recorremos à
Semiótica Discursiva – a partir do proposto pelo percurso gerativo do sentido
- para tratar do fazer-crer do enunciador, enfatizando os valores em jogo, as
modalizações predominantes, bem como das escolhas figurativas e temáticas.
É nosso intuito, ainda, discutir como essas escolhas enunciativas vão impactar,
ou não, o sujeito da enunciação, o professor de língua portuguesa no papel de
enunciatário-destinatário. Para tratar da afetividade desse leitor frente ao objeto
semiótico em estudo, buscamos respaldo na Semiótica Tensiva, enfatizando o
andamento, a velocidade de um devir, em que “os estados de coisas estão na
dependência dos estados de alma” (ZILBERBERG, 2006, p. 169), quer seja, é a
autoridade do sensível sobre o inteligível. Em suma, o objetivo deste trabalho
é tratar da percepção do enunciatário frente aos saberes estabelecidos na
BNCC, que transitam entre o já conhecido e disseminado na área, e o novo,
as práticas contemporâneas de linguagem que envolvem o híbrido, a mescla
de linguagem. Um estudo o qual evidencia que por vezes o enunciatário do
Componente é manipulado pela perspectiva da APREENSÃO, onde paira o
conhecido, o confortável, isto é, o saber-fazer; e outras pelo viés do FOCO, em
que o novo, a surpresa e o estranhamento do leitor predominam. É o dever-fazer
colocado em pauta e, justamente por isso, o predomínio do modo de concessão
(embora a então b) (ZILBERBERG, 2006).

463
Simpósio Proposto
Semiótica discursiva e ensino: da formação do docente-
semioticista às orientações oficiais na educação básica

Formação do semioticista em São Paulo: proposta


de abordagem
Autoria: THIAGO MOREIRA CORREA

A partir da comunicação “Ensino de semiótica no ensino superior” realizada no


XVIII miniENAPOL de semiótica na Universidade de São Paulo (2019), busca-se
estruturar um método de abordagem para investigar a formação do semioticista
no estado de São Paulo. Para isso, propõe-se estabelecer, tanto diacronicamente
quanto sincronicamente, os conteúdos invariantes das ementas de cursos de
Semiótica na Pós-Graduação em determinadas instituições paulistas, públicas
e privadas; descrever as variações desses conteúdos; traçar o perfil acadêmico
dos alunos de Pós-Graduação por meio de sua formação, verificando um “grau”
de conhecimento prévio sobre a disciplina, e cotejar as identidades e diferenças
(sincrônicas e diacrônicas) entre as grades curriculares e as demandas que o
perfil dos estudantes exigiria. Como estudo de caso, retoma o ementário da Pós-
Graduação em Semiótica e Linguística Geral da USP, no que se refere à formação
dos conteúdos básicos de semiótica, e o perfil do quadro dos pós-graduandos
do Programa. Com base na Semiótica Tensiva (ZILBERBERG, 2004), as categorias
triagem e mistura, e continuidade e descontinuidade, pautam nossa hipótese:
a triagem caracterizaria os conteúdos dos cursos da USP no século XXI e a
descontinuidade constituiria sua oferta, ao passo que o perfil dos alunos seria
definido por uma mistura nas áreas de formação, o que demandaria por sua
vez um currículo mais contínuo e mesclado. Portanto, nossa proposta visa a
contribuir para uma discussão sobre uma didática na semiótica — já iniciada
por outros autores como a análise de manuais de semiótica feita por Portela
(2008) —, que implica na reflexão sobre a preparação do semioticista para suas
diversas áreas de atuação. Além disso, ressaltamos a importância que a reunião
e a análise dos documentos de formação, como as ementas dos cursos e os
currículos dos alunos de pós-graduação, possuem para uma historiografia da
semiótica, visto que, sob um ponto de vista particular, retratam os pesquisadores
daquele presente e as bases de formação dos pesquisadores em um futuro.

464
Simpósio Proposto
Semiótica discursiva e ensino: da formação do docente-
semioticista às orientações oficiais na educação básica

Práticas de institucionalização da semiótica na


graduação em letras de universidades do interior
paulista
Autoria: FLAVIA KARLA RIBEIRO SANTOS

Conforme Santos (2020), a institucionalização da semiótica no Brasil se


efetivou, sobretudo, devido à formação e atuação dos grupos de semiótica
nas universidades onde se estabeleceram. Contudo, o sucesso dos grupos
em fortalecer a disciplina e mantê-la em atividade no campo das ciências
humanas e sociais é devido às práticas de institucionalização da semiótica,
fazer desempenhado a partir das ações empreendidas pelos líderes intelectuais
dos grupos, voltadas à construção de um éthos do semioticista e do estímulo
ao exercício de práticas de transmissão do saber, como a divulgação do
conhecimento produzido pelos membros dos grupos e a atuação em cursos de
pós-graduação, que resulta na formação de semioticistas. Mas a universidade não
é constituída apenas de cursos de pós-graduação. Sendo assim, neste trabalho,
objetivamos verificar se a Semiótica Discursiva é ensinada nos cursos de Letras
das universidades onde os grupos de semiótica atuam e, caso isso ocorra, qual
saber semiótico é transmitido e quais influências teórico-metodológicas da/para
a disciplina são apresentadas aos professores de português (consequentemente,
de leitura e produção de textos) em formação e que irão atuar na Educação
Básica. O córpus é composto de ementas, programas de disciplinas e/ou
cursos de extensão e bibliografia utilizados no ensino de semiótica aos alunos
da graduação em Letras em universidades que abrigam grupos de semiótica
formalmente registrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e que têm,
como líderes intelectuais, membros do GT de Semiótica da Anpoll. Como esta
investigação está no início, a presente análise contemplará duas universidades
do interior paulista, a UNESP de Araraquara e a Universidade de Franca, onde
se encontram instalados o Grupo de Pesquisas em Semiótica, outrora CASA,
e o Actantes. A metodologia utilizada reúne elementos da semiótica – como
os níveis de pertinência da análise semiótica (FONTANILLE, 2008), aplicados
ao estudo das práticas de institucionalização da disciplina, e os estados

465
Simpósio Proposto
Semiótica discursiva e ensino: da formação do docente-
semioticista às orientações oficiais na educação básica

aspectuais da mestiçagem (ZILBERBERG, 2004), necessários à identificação


do reconhecimento público da influência (KOERNER, 1987) de obras e autores
da semiótica e exteriores a ela no ensino da disciplina – e da Historiografia
Linguística – a exemplo da noção de influência. Eventualmente, a HL poderá
auxiliar no mapeamento da institucionalização da Semiótica no ensino superior
brasileiro, mais especificamente, no nível intermediário de fixação e reprodução
de valores científicos, a graduação. Dessa forma, poderemos descobrir em que
medida o enraizamento do projeto greimasiano contribui para a formação de
pesquisadores, professores e, por conseguinte, de cidadãos-leitores.

Práticas e campos de atuação: o diálogo entre


semiótica e ensino
Autoria: RENATA CRISTINA DUARTE

O presente trabalho tem como referencial teórico e metodológico a Semiótica


francesa e pretende mobilizar conceitos que compõem tanto o arcabouço da
Semiótica discursiva quanto o modelo dos níveis de pertinência da análise
semiótica, proposto por Jacques Fontanille. Os desdobramentos contemporâneos
da Semiótica têm a atenção concentrada para esse viés de observação do
mundo, que traz à luz não apenas os textos enunciados, mas também as práticas
e formas de vida, dimensões do sentido que saltam das margens dos textos
impressos ou emoldurados como unidade de sentido. A partir disso, nosso
objetivo é, simultaneamente, estabelecer a intersecção entre as noções de
“prática” e “formas de vida” com a prática educacional, tal qual processada junto
aos documentos oficiais que normatizam o currículo comum nacional brasileiro
na educação básica. Baseamo-nos na hipótese de que é possível mobilizar o
conhecimento semiótico citado para compreender as categorias organizadoras
da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) denominadas “campos de atuação”,
na medida em que elas se referem às diferentes esferas das atividades humanas,
esferas que implicam as práticas correspondentes a cada uma delas. Essa
compreensão considera que, para se cumprir o compromisso da escola com a
formação integral do aluno, é preciso que o processo de ensino-aprendizagem
proporcione aos estudantes experiências que contribuam para a ampliação de

466
Simpósio Proposto
Semiótica discursiva e ensino: da formação do docente-
semioticista às orientações oficiais na educação básica

seus letramentos, de forma a possibilitar a participação significativa e crítica


dos discentes nas diversas práticas sociais. Desse modo, para garantir que
os alunos vivenciem experiências significativas e relacionadas às diferentes
esferas da ação humana, a BNCC designou cinco campos de atuação social (o
pessoal, o artístico-literário, o das práticas de estudo e pesquisa, o jornalístico-
midiático e o de atuação na vida pública) os quais devem ordenar as práticas
de linguagem trabalhadas pelo componente curricular Língua Portuguesa no
Ensino Médio. Logo, intentamos fornecer recursos para um trabalho produtivo
a partir dessas categorias, garantindo o desenvolvimento de competências e
habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da
escolaridade básica. Apoio: Programa Nacional de Pós-doutorado/CAPES.

Uso didático de um software livre no ensino de


semiótica: o dadosSemiotica
Autoria: ANA CRISTINA FRICKE MATTE

O dadosSemiotica, um software para servir de suporte à pesquisa focada na


análise semiótica do texto é, de certa forma, um contrassenso: esse tipo de
análise requer do analista um trabalho específico que se diferencia a cada
novo texto, parecendo impossível buscar qualquer tipo de padronização ou
algum grau de automatização. O trabalho que aqui viemos apresentar mostra
que, além de ser totalmente viável, ao menos no campo teórico da semiótica
greimasiana, traz consigo novas perspectivas de aplicação e mesmo de arranjos
na análise do texto. O dadosSemiotica é hoje mais que um software, é o resultado
de uma revisitação à teoria como um todo, não para reinventá-la, mas para
criar uma linha de pensamento teórico mais próximo da práxis, no que tange
à prática analítica, a partir da estruturação completa da Semiótica realizada
nesses anos durante os quais foi realizada a pesquisa alvo do presente trabalho.
Estamos falando da organização da Teoria, em especial, mas não só a parte
chamada de básica pelos teóricos, pois mais antiga e estabelecida, como uma
árvore de categorias de análise, criada a partir dos níveis já propostos pela
Semiótica desde seu princípio e com pequenas alterações que fazem emergir
relações antes pouco ou nada exploradas. Colocando-se a teoria no tronco

467
Simpósio Proposto
Semiótica discursiva e ensino: da formação do docente-
semioticista às orientações oficiais na educação básica

principal, temos uma sequência de ramificações para a análise semioticamente


sustentadas: planos? níveis? dimensões? etapas? categorias? subcategorias (e,
eventualmente, subsubcategorias)? Muito em virtude da abertura do espaço
“Ciência Aberta dos Grupos de Semiótica do Brasil” e do oferecimento do curso
em 2019, ambos criados no Moodle do Grupo de Pesquisa Texto Livre – Semiótica
e Tecnologia, coordenado pela pesquisadora, optou-se por transformar o
dadosSemiotica em um plugin do Moodle, esse Software Livre para criação de
ambiente educacional a distância na web que é, além de fruto do trabalho uma
grande comunidade mundial, amplamente utilizado em uma parcela significativa
de escolas e universidades brasileiras. Tendo em vista essas convergências
positivas e também a premência de uma didática mais ágil para o ensino de
semiótica – um dos objetivos do dadosSemiotica que, inclusive, reforça a escolha
da transformação do dS de plataforma independente em plugin do Moodle -,
o algoritmo do plugin coloca em evidência o aspecto didático do Módulo de
Semiótica, de modo que o foco atual da proposta é o uso do dS no ensino de
Semiótica em cursos de nível Superior.

468
Subentendidos que povoam o universo didático-
pedagógico do professor na/da internacionalização
Autoria: ELIZABETH PAZELLO

Ao professor na/da internacionalização cabe a tarefa de agir na urgência e decidir


na incerteza, aludindo Philippe Perrenoud (2001), sociólogo especialmente
interessado na formação docente. Tal contexto didático-pedagógico está em
surgimento e tem no professor seu protagonista. É sabido que a docência
articula uma diversidade de saberes que se emaranham e contornam ações
e decisões no processo de construção de conhecimento. O professor na/da
internacionalização precisa articular crenças relativas ao magistério superior,
ao conteúdo de sua disciplina e se utilizar do inglês como meio de instrução em
suas aulas. Esse contexto complexo, híbrido e em construção será o tema deste
simpósio cuja contribuição será oferecer substância para discussão e reflexão
acerca de elementos que compõem a ecologia do fazer didático-pedagógico
do professor na/da internacionalização. À medida que o papel docente em
tal contexto se complexifica, os conceitos de internacionalização e de língua
permeantes bem como de bilinguismo precisam ser explicitados e discutidos,
pois assegura-se que a falta de problematização epistêmica desse professor
certamente será impactante e propícia ao insucesso ou insegurança. Em vista
disso, considerações relativas à metodologia de ensino de língua estrangeira
podem informar sobre os construtos facilitadores e/ou restritores no ambiente
pedagógico da internacionalização não só na dimensão didático-pedagógica
de atuação docente, mas também naquela linguístico-cultural bem como na
sociopolítica. A ecologia do cenário pedagógico na internacionalização tal
qual espaço híbrido privilegia uma organização hologrâmica (MORIN, 2011)
no que se refere à diversidade de modos de construção de sentidos que, em
ambiente de bilinguismo ou plurilinguismo, tal qual o contexto em questão,
não evidencia uma preocupação com a língua em uso. Com isso em mente,
neste simpósio haverá uma revisita a conceitos permeantes à área de língua
inglesa em ambiente de internacionalização em casa, mediante a revisão das
práticas a partir de ontologias e epistemologias alternativas. Sem dúvida,

469
ecoando Canagarajah (2013), o universo do professor na/da internacionalização
caracteriza uma zona de contato intercultural que faz surgir novos modos de
comunicação e interação, conforme as pessoas adotam estratégias criativas e
funcionais a fim de se relacionarem e representar suas vozes. Nesse esteio, as
apresentações convidam à discussão situada uma vez que delineiam elementos
constituintes, subentendidos e arestas no intuito de capturar a ecologia do
contexto didático-pedagógico do professor na/da internacionalização doméstica
de ensino superior em construção.

470
Simpósio Proposto
Subentendidos que povoam o universo didático-pedagógico
do professor na/da internacionalização

Concepções docentes sobre a educação


linguística intercultural em língua inglesa no
contexto da internacionalização
Autoria: MARCELE GARBIN DAGIOS

No contexto da globalização, o papel docente nos processos de internacionalização


do Ensino Superior se destaca como uma oportunidade de alavancar a educação
linguística intercultural. De acordo com Canagarajah (2013), o contexto do
professor na internacionalização caracteriza uma zona de contato intercultural
que faz surgir novos modos de comunicação e interação. Os professores de inglês
assumem papel fundamental nesse processo e contribuem para o que chamamos
de internacionalização em casa, isto é, subsidiam a formação linguística dos
acadêmicos de diversos cursos de graduação e pós-graduação nas instituições
de ensino superior, que, consequentemente, utilizarão os conhecimentos
socialmente construídos nas aulas de inglês para ressignificar a experiência
universitária. No âmbito do presente trabalho, os professores que atuam no
curso de Licenciatura em Letras e no Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras
Modernas (CALEM) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - câmpus
Pato Branco (UTFPR-PB) são os sujeitos da pesquisa, que têm como objetivo
compreender as perspectivas docentes sobre como os processos de ensino-
aprendizagem do inglês como língua franca, práticas translíngues, letramento
crítico e formação linguística intercultural se efetivam no contexto universitário,
considerando a internacionalização. Para isso, se faz necessária a reflexão sobre
o conceito de língua/linguagem como discurso (BAKHTIN, 2004; JORDÃO, 2006),
a construção de sentidos no inglês como língua franca e o letramento crítico
(JORDÃO; MARQUEZ, 2017), o papel da interculturalidade crítica no ensino de
línguas (OLIVEIRA, 2012; WALSH, 2010) e a globalização no processo de difusão
do inglês como língua franca (DINIZ DE FIGUEIREDO, 2017). Por meio desses
elementos, foi possível analisar as perspectivas dos professores universitários
acerca da visão de língua/linguagem como prática social intercultural e elencar
algumas possibilidades de trabalho na perspectiva intercultural no contexto
universitário, com vistas à internacionalização. As concepções docentes também

471
Simpósio Proposto
Subentendidos que povoam o universo didático-pedagógico
do professor na/da internacionalização

auxiliaram na identificação de práticas monoculturais e monolinguísticas, o que,


na perspectiva da pesquisa, dificulta ou impossibilita tentativas de ensinar/
aprender inglês de forma crítica.

Contribuições à episteme do professor na/da


internacionalização doméstica na UTFPR-CT nos
eixos linguístico e didático-pedagógico
Autoria: ELIZABETH PAZELLO

O objetivo deste estudo é delinear elementos constituintes do fazer-pedagógico


docente na perspectiva linguística e didático-pedagógica no contexto de
internacionalização em casa na Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
câmpus Curitiba , doravante UTFPR. Para tanto, uma análise interpretativista
(GIL, 1994) de cunho etnográfico envolveu revisão bibliográfica nas áreas de
internacionalização; de metodologia em língua inglesa e de análise dos Planos
de Desenvolvimento Institucional. Para a geração de dados, entrevistas,
questionários (DÖRNEY, 2007) e relatos foram utilizados. Quinze foram os
participantes, funcionários da UTFPR ligados ao processo de internacionalização.
Considerado o papel protagonista do professor perante a urgência da
internacionalização (KNIGHT, 2004) na universidade, o recorte deste estudo
problematiza a lacuna no comando da língua inglesa como meio de instrução,
doravante EMI, classificada entre os ‘riscos à internacionalização’ e assinalada
por 46,7% dos participantes da pesquisa (PAZELLO, 2019). Cabe mencionar
três princípios operantes à análise. Primeiramente a premissa de que língua
e cultura são indissociáveis e implicam aspectos relacionados a relações de
poder (FOUCAULT, 2009) que permeiam a maneira como se pensa o ‘Outro”
(BAKTHIN, 2003; DUSSEL, 1993) na sala de aula em língua materna e com EMI
(DAFOUZ; SMIT, 2014), o que se evidencia nos dados gerados pela marcação
‘nós’ vs. ‘eles’ (MENEZES DE SOUZA, 2015; MIGNOLO, 2014 ). O segundo diz
respeito à compatibilidade de princípios pós-coloniais (BHABHA, 2012) e da
noção de decolonialidade (CASTRO-GOMEZ; GROSFOGUEL, 2007) com a
desconstrução da ideia de soberania linguística associada à língua inglesa

472
Simpósio Proposto
Subentendidos que povoam o universo didático-pedagógico
do professor na/da internacionalização

e da idealização do falante nativo. O terceiro princípio sugere que o espaço


docente na internacionalização faz emergir novos modos de comunicação
como estratégias de as pessoas representarem suas vozes e revisitarem suas
crenças em um espaço didático-pedagógico de fluidez identitária que remete ao
Terceiro Espaço de Bhabha (1994). Perceber a sala de aula como permeada pela
linguagem falada e escrita torna produtiva a contribuição da análise discursiva e
da metodologia de ensino de inglês para o entendimento da ecologia do contexto
em questão e a análise auxilia no entendimento dos conceitos de modernidade
líquida (BAUMAN, 2003) , interdisciplinaridade, pedagogia de multiletramentos
(COPE; KALANTZIS, 2015) e de práticas translíngues (PENNYCOOK, 2008;
CANAGARAJAH, 2013).

O papel da pronúncia no ensino-aprendizagem do


inglês sob a perspectiva de língua internacional:
reflexões e desafios na formação docente
Autoria: DENISE CRISTINA KLUGE

Diante da expansão global da língua inglesa e as implicações que esta expansão


pode trazer para várias áreas relacionadas ao ensino-aprendizagem da língua
inglesa e a formação docente, este trabalho tem por objetivo apresentar e
discutir, especificamente, desafios e reflexões sobre o papel da pronúncia sob a
perspectiva de língua franca/internacional por parte de professores no contexto
brasileiro. Os resultados de estudo conduzido por Jesus e Brawerman-Albini
(2017) sobre a visão de um grupo de professores brasileiros de inglês sobre o
ensino de pronúncia apontam que os professores reconhecem como realidade
o contexto de inglês como língua franca, mas declaram ter dificuldades para
distinguir as implicações da pronúncia neste contexto. Um estudo conduzido
por Haus (2018) sobre crenças e práticas de professores brasileiros de inglês
em relação à pronúncia aponta para a importância de um trabalho de formação
inicial e/ou continuada nas instituições de ensino que possibilite leituras
e discussões acerca do inglês como língua franca/internacional. Kluge e
Figueiredo (no prelo) trazem aspectos relacionados ao falar e/ou ao ensinar a

473
Simpósio Proposto
Subentendidos que povoam o universo didático-pedagógico
do professor na/da internacionalização

língua inglesa levantados por alunos cursando o quinto período do curso de


Letras Português e Inglês de uma universidade federal durante a disciplina
intitulada “Fonologia da Língua Inglesa”. A partir da uma palestra intitulada
“Pedagogical Implications of English as an International Language”, os alunos
foram instigados a escrever um texto reflexivo sobre os desafios que enfrentam
ao usar inglês como falantes e/ou como professores desta língua. Os aspectos
mais recorrentes levantados pelos alunos foram: identidade do falante de inglês
como língua adicional e/ou estrangeira (termos usados pelos alunos); o papel
da pronúncia e da inteligibilidade; os conceitos de falante monolíngue e falante
bi/multilíngue; ensino de pronúncia; e o papel do falante nativo no ensino de
línguas. A partir das questões trazidas pelos trabalhos citados anteriormente,
este simpósio discutirá os desafios e as implicações de alguns dos aspectos
apontados pelos professores sob a perspectiva da expansão global do inglês e
o papel da pronúncia, a saber: inteligibilidade, identidade de falante e o ensino
de pronúncia.

Professores e aprendizes de língua inglesa:


construindo identidades em conjunto dentro da
internacionalização
Autoria: IARA MARIA BRUZ

Quando pensamos espaços de internacionalização, a língua estrangeira é


considerada como prática social (PENNYCOOK, 2007; JORDÃO, 2006; BAKHTIN,
2009), ou seja, através da língua é criado um espaço para docentes e discentes
trocarem ideias, experiências, opiniões e construírem conhecimento em
conjunto. Dentro da internacionalização, ainda existe a reflexão sobre o inglês
que é utilizado, aprendido, ensinado (JORDÃO, 2014; CANAGARAJAH, 2004;
KUMARAVADIVELU, 2003) e, dentro desse contexto, existe ensino de inglês
para fins específicos. Dentro dessas salas de aula, Belcher (2008) coloca que
o aluno é fonte de conhecimento nas suas áreas particulares e, dessa forma,
essas salas de aula podem também ser consideradas um campo rico para
pensar como o aprendizado de uma língua perpassa a identidade de seus
aprendizes (BRUZ, 2020). Podemos utilizar os parâmetros de Kuramavadivelu

474
Simpósio Proposto
Subentendidos que povoam o universo didático-pedagógico
do professor na/da internacionalização

(2012): “particularidade, praticidade e possibilidade" para o pós-método, esses


parâmetros nos auxiliam a refletir sobre as diferentes necessidades do ensino,
sobre como percebemos as salas de aula e os integrantes dessas realidades. Para
tanto, podemos também utilizar a observação tal como coloca Kumaravadivelu
(2001) com três estágios: seeing-in, seeing-as e seiing-that. Aprofundando esses
estágios, a auto-observação docente (BRUZ, 2020) poderia ser utilizada para fazer
com que acontecimentos dentro das salas de aula possam agregar na melhoria
da prática docente. Pensando que os alunos são especializados em suas áreas
e professores de língua inglesa constroem com os alunos o conhecimento em
conjunto, um dos objetivos é fazer com que esse aprendiz sinta-se seguro na
língua estrangeira (CANAGARAJAH, 2004). Dessa forma, o docente pode se
perguntar o que é preciso levar em conta para acessar esse sujeito que está
dentro dessas salas de aula (BRUZ, 2020)? Isso porquê antes de o aprendiz
sentir-se confortável na língua alvo, muitas vezes passa por fases de vergonha
e/ou insegurança. Aqui é proposto que o docente, através da auto-observação
de suas aulas, possa tentar ressignificar esses momentos em suas práticas
voltados aos contextos de internacionalização.

475
Universidade e sociedade: o papel social das ações
de extensão de línguas estrangeiras em tempos de
pandemia
Autoria: VIVIANE CRISTINA GARCIA DE STEFANI

A modalidade remota de ensino e aprendizagem - à qual os professores tiveram


que se render devido à pandemia Sars-CoV-2 - trouxe diferentes perspectivas
de atuação docente e discente no processo educativo. Muitos resultados
de experiências nessa nova modalidade já têm sido apresentados nos mais
importantes congressos nacionais e internacionais de educação. Nesse
contexto, é fundamental olharmos não somente para as experiências com as
aulas remotas regulares, mas também para os resultados de ações de extensão
de/nas instituições de ensino no Brasil, principalmente pelo fato de que antes
essas ações não tiveram tanta visibilidade e alcance de público nas redes
sociais que as abrigam. O fato de as ações de extensão ocorrerem e ficarem
disponíveis nas redes sociais ampliou consideravelmente sua abrangência,
também pela facilidade de compartilhamento. A importância das ações de
extensão se fundamenta no sentido de que essas ações possibilitam integração
da universidade com a comunidade externa, favorecendo mudança, inclusão
social e formação de cidadãos críticos. De acordo com o Plano Nacional de
Extensão, elaborado pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades
Públicas Brasileiras e pela Secretaria do Ensino Superior do Ministério da
Educação, a extensão universitária é o processo educativo, cultural e científico
que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação
transformadora entre universidade e sociedade (SILVA, 1997; NUNES; DA
CRUZ E SILVA, 2011). No que se refere às línguas estrangeiras, os eventos de
extensão podem, ainda, contribuir significativamente para estimular tanto o
interesse pelo aprendizado da língua, como também o respeito pela diversidade
cultural. Além disso, na modalidade remota, as fronteiras foram transpostas,
em um mundo efetivamente sem fronteiras. A partir de tais reflexões, neste
simpósio, focalizamos dar ênfase e visibilidade aos trabalhos que versam sobre
resultados de experiências com ações de extensão de línguas estrangeiras - mais

476
especificamente espanhol e português - no sentido de compartilhar saberes e
práticas de professores de línguas de instituições públicas de ensino superior.
Pretendemos, ainda, contribuir para que as ações de extensão, muitas vezes
relegadas a um lugar periférico, sejam dinamizadas e ocupem uma dimensão
mais relevante no contexto das IES no Brasil. Referências: NUNES, Ana Lucia
de Paula Ferreira; DA CRUZ SILVA, Maria Batista. A extensão universitária no
ensino superior e a sociedade. Mal-Estar e Sociedade, v. 4, n. 7, p. 119-133, 2011.

477
Simpósio Proposto
Universidade e sociedade: o papel social das ações de
extensão de línguas estrangeiras em tempos de pandemia

Contribuições do Idiomas sem Fronteiras para os


cursos de Letras: demandas e desafios atuais para
a formação de professores de línguas
Autoria: ISADORA VALENCISE GREGOLIN

São objetivos desta comunicação problematizar a proposta de formação de


professores de línguas no âmbito do Idiomas sem Fronteiras durante a pandemia
do COVID-19 e discutir algumas das demandas e desafios enfrentados pelo
NucLi da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com vistas à formação
de professores de línguas. Levando em consideração as restrições impostas
pela pandemia do COVID-19, foi necessário re-planejar a oferta dos cursos de
línguas oferecidos para a comunidade acadêmica, com o desenvolvimento
de materiais e atividades especificamente adequados para a oferta on-line,
considerando as potencialidades de diversas plataformas virtuais disponíveis
(Moodle, Classroom e TEAMs 365). Nesse processo, a formação de professores
oferecida pelo IsF-UFSCar buscou integrar as dimensões pedagógica, política e
cultural, possibilitando que os professores de línguas refletissem sobre diversas
possibilidades para mediação e interação com os alunos e compreendessem
melhor algumas das lógicas de comunicações e de sociabilidades digitais e
como poderiam integrá-las às suas práticas. Dessa forma, uma das grandes
contribuições da formação ocorrida via Idiomas sem Fronteiras em nosso
contexto foi viabilizar momentos de reflexão coletiva, em que professores de
inglês, espanhol e português como língua estrangeira puderam romper com
práticas de ensino mecânicas e descontextualizadas. Partimos do pressuposto
de que o uso de novas tecnologias sem modelos pedagógicos apropriados
não produz melhorias nos processos de ensino (SOTO; GREGOLIN; RANGEL,
2009) e defendemos que a formação de futuros professores de línguas deve
fugir “da instrumentalização dos alunos e buscar aliar aspectos teóricos às
práticas, considerando os contextos e os atores inseridos” (SOTO; GREGOLIN;
ROZENFELD, 2012, p. 280). Nessa perspectiva, o processo de reflexão coletiva
sobre os processos de ensino e aprendizagem puderam viabilizar maior
conscientização dos professores de nosso contexto sobre “os princípios que

478
Simpósio Proposto
Universidade e sociedade: o papel social das ações de
extensão de línguas estrangeiras em tempos de pandemia

fundamentam suas ações” em sala de aula, permitindo que “expandissem


o repertório de estratégias e questionassem as compreensões sobre suas
escolhas de maneira sustentada (LARSEN-FREEMAN, 1993). Além disso, foi
possível identificar, no âmbito das ações de extensão desenvolvidas, algumas
das demandas e dos desafios atuais para a formação de professores de línguas
com foco na internacionalização.

Difusão do ensino de português língua estrangeira


e português língua de acolhimento como ação
extensionista
Autoria: NILDICÉIA APARECIDA ROCHA

Atualmente, desde que estamos vivendo a denominada pandemia mundial,


tem se estabelecido um profícuo trabalho docente e discente por meio das
tecnologias de comunicação, que sobremaneira, ocuparam um papel de
protagonismo indispensável e ímpar. Desde meados dos anos 90, as tecnologias
digitais da informação e comunicação – TDICS na Educação (SOUZA; SANTOS,
2019) têm participado articuladamente em ações didático-pedagógicas no
sentido de colaborar e/ou auxiliar o trabalho docente e discente, e também se
tem incrementado e incentivado a educação a distância, principalmente para
aqueles sujeitos que não dispõem de acesso presencial a cursos de formação
profissional e/ou acadêmica. Desde março de 2020, com a pandemia mundial,
como mencionado, o ensino presencial se viu tendo que migrar para a modalidade
remota ou tendo que parar suas atividades. No ensino universitário, houve
também muitas discussões e diferentes tomadas de posição, divididas em duas
decisões centrais, promover a continuidade na formação de seus acadêmicos
e assim aproveitar o acesso à tecnologia para de fato usá-lo como suporte
na referida continuidade ou esperar o momento adequado e indicado pelas
Ministério da Saúde para retomar as atividades. Especificamente no ensino de
línguas estrangeiras, as ações de Português Língua Estrangeira (PLE) e Português
Língua de Acolhimento (PLAc), que estão sendo desenvolvidas como projetos
de extensão, graças às tecnologias digitais de informação e de comunicação e

479
Simpósio Proposto
Universidade e sociedade: o papel social das ações de
extensão de línguas estrangeiras em tempos de pandemia

às redes sociais, têm se intensificado, rompido fronteiras e aproximado línguas


e culturas. Nessa perspectiva, temos notado um processo contraditório, por
um lado estamos fechados dentro de casa e quase sem contato com outros
sujeitos a não ser a própria família, mas por outro lado e ao mesmo tempo
estamos “navegando” para outros lugares e espaços nunca antes visitados ou
conhecidos e interagindo com sujeitos de todo o mundo, assim estreitando
fronteiras linguísticas e culturais. Nesse contexto, as diversas ações promovidas
pelas universidades por meio de projetos de extensão, que têm o objetivo de
desenvolver práticas e atividades para a comunidade externa à universidade,
ou seja, ações extramuros têm sido uma importante contribuição na difusão do
ensino de PLE e PLAc. Deste modo, esta comunicação pretende apresentar as
atividades de extensão desenvolvidas em PLE e PLAc na Faculdade de Ciências
e Letras (FCL) Câmpus de Araraquara/UNESP, para assim tecer reflexões sobre
como está havendo uma significativa aproximação de tais ações extensionistas
no âmbito de ensino e aprendizagem de PLE e PLAc, e por que não dizer, de
línguas estrangeiras.

Diversidade Cultural da língua espanhola em


ações de extensão na pandemia: experiências com
atividades remotas
Autoria: VIVIANE CRISTINA GARCIA DE STEFANI

Esta comunicação tem como objetivo apresentar os resultados parciais do


projeto de extensão “Diversidade Cultural: expandindo culturas por meio do
espanhol”, desenvolvido em um campus do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) do interior do estado. As ações do
projeto visam despertar o interesse pela aprendizagem do idioma por meio de
atividades cuja finalidade é o conhecimento sobre a diversidade cultural dos
países hispanofalantes. Dentre as ações, duas se destacam: 1) a realização de
um sarau cultural espanhol on-line, com a temática de histórias em quadrinhos,
intitulado “O que não está no gibi: história, cultura e sociedade espanhola e
hispano-americana através de HQs”. No sarau, dois autores argentinos foram
homenageados: Quino, criador de Mafalda, e Hector Oesterheld, criador

480
Simpósio Proposto
Universidade e sociedade: o papel social das ações de
extensão de línguas estrangeiras em tempos de pandemia

de “O Eternauta”; 2) e a realização de um cinedebate, intitulado: “O cinema


como vitrine da cultura espanhola e hispano-americana”. Ambas atividades
culturais de extensão - ou seja, voltadas para a comunidade externa ao campus
- envolveram participação ativa de alunos de espanhol dos cursos técnicos
integrados ao ensino médio, tanto na preparação quanto na execução do sarau
e do cinedebate. No momento da escrita deste resumo, o Sarau, que está
disponível em modo público na plataforma YouTube, conta com mais de 450
visualizações, embora no momento síncrono da realização do evento tenha
havido pouco mais de 60 participantes. O crescente número de visualizações
de eventos que ficam disponíveis on-line denota uma mudança no panorama
das atividades de extensão dos institutos federais – e também de universidades
– atingindo um público bem maior, em comparação com eventos que ocorriam
de forma presencial. Isso significa que, nesses tempos de pandemia, a extensão
tem cumprido seu principal papel: o de extrapolar as paredes institucionais e
atingir um público externo cada vez maior e diversificado. As ações de extensão
nas instituições de ensino superior no país, incluindo os institutos federais –
especialmente as voltadas para atividades linguístico-culturais – começam a
deixar o lugar periférico que muitas vezes ocupam nas referidas instituições, e
esse fato merece um olhar científico e investigativo.

Recepção de evento extensionista on-line:


“Cinema ibero-americano: diálogos e reflexões em
tempos de pandemia”
Autoria: VALERIA VERONICA QUIROGA

Nesta comunicação objetiva-se apresentar os resultados do Evento de Extensão


Universitária “Cinema ibero-americano: diálogos e reflexões em tempos de
pandemia”, organizado na UFPR. O cronograma das apresentações contou com
os debates de oito filmes ibero-americanos, disponíveis no YouTube. A ideia é
que os filmes fossem assistidos antes dos debates. Os comentários/reflexões
foram realizados na plataforma StreamYard – para a qual entram para “a sala” a
mediadora – e coordenadora do Evento –, e um/a convidado/a. Simultaneamente,

481
Simpósio Proposto
Universidade e sociedade: o papel social das ações de
extensão de línguas estrangeiras em tempos de pandemia

a conversa foi transmitida para o YouTube, onde os participantes enviaram


perguntas, dúvidas, comentários. Uma questão importante a ser levantada é
que os debates ficam gravados. Os vídeos dos debates serão, portanto, produtos
da Extensão, bem como as publicações referentes ao Evento. Estudiosos de
análises sobre cinema em que se abordam características relacionadas à cultura/
sociedade, identidade dos habitantes dos países de produção como Simião
(2018), Vacas Espín (2016), Medina (2018), Ozonas Pujol (2011), Costa (1985),
Amado (2009), por exemplo, são norteadores de nossas reflexões. O período
dos debates partiu de meados de setembro a meados de dezembro/2020. Outro
ponto importante a ser evidenciado é que foram convidados professores – alguns
de outras instituições e de outras áreas que não a linguística – para os debates, o
que ressalta a ideia da Extensão Universitária, que agrega instituições parceiras,
cursos e conhecimentos, isto é, o tripé do lema das Universidades: ensino,
pesquisa e extensão. Nesse sentido, apresentar os resultados de um Evento
realizado no formato exigido pela pandemia é apenas um passo de uma longa
caminhada que iremos trilhar utilizando novas tecnologias aliadas ao ensino
de línguas estrangeiras. Assim, o que nos anima a continuar trabalhando nesta
modalidade de Evento é o fato de que muitos inscritos provêm, maioritariamente
de outras instituições, isto é, a Extensão está cumprindo seu papel de extrapolar
as paredes da Universidade e atingir participantes que, não fosse esta modalidade
de Evento, não participariam.

482
COMUNICAÇÃO ORAL
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

Tipos de entidades semânticas dos tópicos


discursivos em narrativas de experiência,
descrições e relatos de opinião
Autoria: ALINE GOMES GARCIA

Com base nos princípios teórico-metodológicos da Gramática Textual-Interativa,


vertente da Linguística Textual, e, de modo complementar, da Semântica, no
presente trabalho, analisamos o processo de Organização Tópica em três tipos de
amostras linguísticas coletadas do Banco de Dados IBORUNA, a saber, Narrativas
de Experiência (NE), Descrições (DE) e Relatos de Opinião (DE), a fim de avaliar,
especificamente, os tipos de entidades semânticas (Indivíduo, Estado de Coisas,
Proposição e Propriedade) de cada um dos tópicos discursivos desses tipos de
amostras linguísticas. Dessa forma, com base no método de análise tópica, que
possibilita a análise textual fundamentada na categoria do tópico discursivo,
definida pelas propriedades de centração e organicidade, identificamos e
nomeamos todos os tópicos discursivos de um conjunto de NE, DE e RO. Na
sequência, avaliamos qual tipo de entidade semântica caracterizaria cada
tópico discursivo dos três tipos de amostras linguísticas. As análises realizadas
sugerem que há predominância de uma classe de entidade nos tópicos em cada
um desses três tipos de amostras de texto. Assim, os tópicos discursivos em NE
poderiam ser caracterizados, em termos de predominância, por Estado de Coisas.
No mesmo sentido, os tópicos em DE seriam mais tipicamente especificados
por Indivíduos. Já em RO, seriam as Proposições que caracterizariam os tópicos
discursivos. Os estudos também indicam a possibilidade de se reconhecer, pelo
menos, mais um tipo de entidade nos tópicos em cada um dos três tipos de
amostras, diferente daquele típico das NE, DE e RO. Dessa maneira, assumimos
que os tipos de entidades semânticas poderiam se estabelecer como critérios
que auxiliam na descrição do processo de Organização Tópica em diferentes
tipos de amostras de texto. Além disso, nossa investigação reafirma o caráter
essencialmente sistemático e, ao mesmo tempo, flexível, da organização
textual, já que demonstra a predominância de tipos particulares de entidades
semânticas nos tópicos em cada tipo de amostra linguística analisada, mas

484
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

também evidencia a ocorrência de outros tipos de entidades, menos recorrentes


nessas amostras, mas que ainda assim caracterizam os tópicos em NE, DE e
RO. (Apoio: CAPES – Código de financiamento: 001).

Palavras-chave: organização tópica; tópico discursivo; entidades semânticas.

O entorno do texto em “Os Santos”: um caso de


paratextos em tiras digitais
Autoria: ELISA RIBEIRO DA SILVA

A evolução das tecnologias de informação e comunicação tem transformado


de forma cada vez mais rápida o modo como os textos se relacionam, seus
suportes e como a leitura e a construção de sentido são sociocognitivamente
estabelecidas. Com a internet consolidada como meio de publicar e consumir
conteúdo, há uma proliferação de tiras em suportes digitais, com diversas
abordagens de análise desses textos. Nas tiras, assim como em outros diversos
gêneros, encontramos elementos paratextuais compondo um conjunto de pré
e pós-textos que margeiam um conteúdo e transmitem alguma mensagem
para o leitor. Portanto, a presença ou ausência deles pode assumir um caráter
relevante para a construção de sentido. Os paratextos nos suportes digitais e
nos físicos, ainda que sejam nomeados da mesma forma, podem impactar o
leitor de uma maneira única, tendo em vista o seu contexto diferente. Dessa
forma, esta comunicação investiga de que maneira as concepções de contexto
e paratexto podem ser articuladas ao analisarmos tiras em ambientes digitais.
Para isso, temos como corpus de pesquisa a série de tiras “Os Santos”, produzida
por Leandro Assis e Triscila Oliveira e veiculada nas redes sociais Twitter e
Instagram. Como pressupostos teóricos para sustentar este estudo, utilizamos
a obra de Genette (2009) acerca dos elementos paratextuais, a definição de rede
social de Recuero (2005, 2009), o conceito de cultura da conexão de Jenkins,
Ford e Green (2014), as pesquisas de Ramos (2011, 2013 e 2017) sobre a linguagem
e gêneros das histórias em quadrinhos e os estudos sobre texto de Cavalcante
e Custódio Filho (2010) e Koch e Elias (2006). Como resultados preliminares,
verificamos que, nos textos publicados em redes sociais, os paratextos podem

485
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

interferir na construção de sentido das tiras, dado o layout das plataformas e o


comportamento dos usuários. Por isso, entendemos que a análise de paratextos
não deve ficar restrita ao campo teórico da Literatura e nem aos textos em
suportes físicos. Propomos que esse conceito se alie ao de focalização para que
possamos determinar o que atua como foco e o que assume função paratextual
em uma obra.

Palavras-chave: paratexto; tiras; quadrinhos.

Retenção e tomada de turno: estratégias de


impolidez e violência verbal nas entrevistas políticas
Autoria: GABRIELA VIVIANA BARRUECO VALENZUELA

Este trabalho tem como objetivo analisar a retenção e a tomada de turno como
estratégias de impolidez e violência verbal nas entrevistas do atual presidente
do Brasil Jair Messias Bolsonaro, evidenciando os mecanismos linguísticos
utilizados por ele para preservar a própria face e ameaçar a do outro. A pesquisa
está ancorada em uma abordagem sociointeracional da língua falada, e o corpus
é formado por entrevistas coletivas concedidas por Bolsonaro à imprensa na
saída do Palácio da Alvorada. As duas entrevistas analisadas foram coletadas
do site de rede social Facebook - Jair Messias Bolsonaro Oficial, postadas
pelo próprio presidente. As falas foram transcritas segundo as normas de
Preti (2003) para a análise dos dados, e todas as informações referentes aos
participantes (interlocutores de Bolsonaro) são anônimas para preservação de
suas identidades. O aporte teórico tem como base os princípios da Análise da
Conversação (MARCUSCHI, 1986; KERBRAT-ORECCHIONI, 2014; KOCH, 2016,
2018; PRETI, 1998, 2000, 2002, 2003, 2008; GALEMBECK, 2005; LEITE, 2008; SILVA,
2008, 2010), bem como na teoria de face formulada por Goffman (1967), na teoria
da polidez de Brown e Levinson (1987 [1978]), nos estudos sobre violência verbal
de Fuentes Rodríguez e Alcaide Lara (2008). Conforme observado nas entrevistas,
Bolsonaro realiza várias interrupções nas falas de seus interlocutores, além da
retenção e tomada de turno grosseira com o intuito de sabotar a intervenção do
seu interlocutor e afetar sua imagem. Os resultados demonstram que Bolsonaro,

486
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

ao tentar preservar uma imagem que não deseja ver exposta e ao ser questionado
sobre assuntos capciosos, usa, com grande frequência, recursos de impolidez,
tal qual a retenção e a tomada de turno, como defesa. Assinalamos, dessa forma,
que a estratégia de impolidez de Bolsonaro é uma tentativa de autoafirmação
e de ocultar uma imagem que não deseja ver exposta. A impolidez, portanto,
é o mecanismo utilizado por ele para preservar a imagem, isto é, ao atacar a
imagem do outro, o presidente estaria preservando a sua própria imagem.

Palavras-chave: Análise da conversação; impolidez; preservação da face.

O papel do conector "aliás" na construção de


imagens identitárias
Autoria: GUSTAVO XIMENES CUNHA

Neste trabalho, desenvolvemos pesquisas que vimos realizando nos últimos


anos sobre o estudo das relações de discurso em uma perspectiva interacionista.
Partindo, em especial, de contribuições da abordagem constituída em torno de
Eddy Roulet (ROULET; FILLIETTAZ; GROBET, 2001) para o estudo da organização
do discurso, nossas pesquisas têm revelado serem indissociáveis o processo de
coordenação de ações por meio do estabelecimento das relações de discurso
e o processo de construção conjunta de imagens identitárias. Desenvolvendo
essas pesquisas, focalizamos, no presente trabalho, as relações de argumento
sinalizadas pelo conector "aliás" presentes no último debate eleitoral da
campanha presidencial de 2018. Guia nosso trabalho a hipótese geral de que as
relações de discurso que o locutor estabelece entre as informações que expressa
permitem a ele antecipar-se a possíveis objeções do interlocutor quanto à
natureza ofensiva de sua intervenção, na busca por fazer com que o interlocutor
não avalie essa intervenção como um ataque à sua face ou uma invasão de
seu território (CUNHA, 2020). A análise das onze ocorrências da relação de
argumento sinalizada pelo conector aliás presentes no referido debate revela
que um candidato estabelece essa relação para antecipar e impedir uma objeção
que o adversário poderia lhe endereçar na intervenção seguinte, o que sustenta
nossa hipótese geral. No entanto, em razão das especificidades do conector (ou

487
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

seja, de suas propriedades semântico-pragmáticas), essa relação permite ao


candidato apresentar a informação introduzida pelo "aliás", ao mesmo tempo,
como uma informação cuja importância ele, enquanto candidato à presidência,
não pode deixar de reconhecer e como uma informação cuja omissão por ele, no
debate em curso, poderia ser denunciada pelo adversário como problemática
ou como uma evidência de seu despreparo para o cargo em disputa. Nesse
sentido, as relações de argumento sinalizadas pelo conector "aliás" exercem
papel essencial na dinâmica interacional do debate e, consequentemente,
na gestão de imagens identitárias pelos candidatos, por revelarem o que um
candidato considera como informações relevantes para os participantes
e por impedirem-no de ser acusado de não reconhecer a relevância dessas
mesmas informações, o que seria problemático para um candidato ao cargo
de presidente da República. Referências: CUNHA, G. X. Elementos para uma
abordagem interacionista das relações de discurso. Revista Linguística, v. 36, p.
107-129, 2020. ROULET, E.; FILLIETTAZ, L.; GROBET, A. Un modèle et un instrument
d'analyse de l'organisation du discours. Berne: Peter Lang, 2001.

Palavras-chave: interação; relações de discurso; conector "aliás".

Rextextualização e multimodalidade: aplicativos


de mensagem instantânea e edição gráfica em
uma sequência didática multidisciplinar
Autoria: HÉLIO RODRIGUES JÚNIOR
Coautoria: HÉLIO DA GUIA JR.

Quando olhamos para as novas possibilidades de práticas de leitura e escrita


que as novas tecnologias viabilizam, percebemos que, por meio delas, os alunos
articulam a língua em trocas de mensagens, imagens, áudios e vídeos, organizando
textos multimodais, principalmente no caso específico do WhatsApp. No entanto,
apesar desse envolvimento cotidiano no exercício multimodal do português,
podemos notar que o potencial do aplicativo não costuma ser plenamente
aproveitado em situações de ensino-aprendizagem na solução de problemas
de leitura e escrita. Por conta disso, a partir da compreensão sociocognitivo-
interacional, este trabalho aborda uma experiência de letramento com textos

488
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

multimodais produzidos por meio do aplicativo supracitado e editados para


constituir uma retextualização com o uso do editor de gráficos Power Point, em
que ambos foram empregados como recursos metodológicos em uma sequência
didática multidisciplinar que envolvia aulas de Língua Portuguesa e de Artes
na Educação Básica para a promoção das competências leitora e escritora em
situações de aprendizagem colaborativa. Objetivamos investigar, aplicar e refletir
sobre o uso do WhatsApp e do Power Point à superação das dificuldades com o ler,
o compreender e o escrever textos multimodais do gênero fábula. Para tanto, por
meio de pesquisa exploratória, desvelamos o plano textual e a multiplicidade de
semioses com vistas aos efeitos de sentido; situamos os recursos do WhatsApp
e a leitura e escrita colaborativas; analisamos a leitura e a produção multimodal
colaborativas do gênero discursivo fábula alcançada em uma Sequência Didática
planejada com o uso dos recursos do WhatsApp e PowerPoint em uma sala
de aula de língua portuguesa de um 6º ano do Ensino Fundamental da escola
pública. Recorrendo ao próprio WhatsApp para o desenvolvimento da leitura e
da escrita colaborativas com vistas à organização da textualidade e à proposição
de efeitos de sentido em textos multimodais, obtivemos ganhos substanciais
com o modelo pedagógico adotado, com interação constante entre os alunos,
promovendo uma compreensão do uso da língua em produções multimodais,
já que, na produção final da sequência didática, os envolvidos apresentaram o
gênero proposto demonstrando proficiência em sua organização, reconhecendo
seus usos e práticas específicos. Por fim, podemos confirmar que o emprego
do WhatsApp e, posteriormente, do PowerPoint contribui para leitura e escrita
mais proficientes de textos multimodais, possibilitando à escola favorecer a
aquisição e a formação de habilidades discursivas nos alunos, pois coloca
em jogo um conjunto de saberes necessários para que eles se comportem
comunicativamente de maneira apropriada.

Palavras-chave: retextualização; multimodalidade textual; WhatsApp.

489
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

A organização tópica em cartas de redator


oitocentistas
Autoria: ISA CAROLINE AGUIAR ZANIN

No âmbito da Linguística Textual de orientação sociocognitivo-discursiva, e


mais especificamente na vertente textual-interativa (JUBRAN; KOCH, 2006), são
estudados diversos processos de construção textual, dentre eles, a organização
tópica. Nosso objetivo é discutir o funcionamento desse processo em um gênero
textual particular, a saber, carta de redator. A organização tópica consiste na
organização do texto mediante a combinação entre grupos de enunciados
concernentes entre si e que focalizam certos tópicos em determinados pontos
do texto. Neste trabalho, discutimos particularmente cartas de redator de jornais
paulistas do século XIX, como parte de um trabalho mais amplo que estuda esse
gênero textual diacronicamente. Mostramos que as cartas de redator analisadas
manifestam uma regularidade em termos de organização tópica, a qual consiste
na construção das unidades tópicas de Contextualização, Comunicação e
Discussão Tópica, sendo a Comunicação uma unidade obrigatória, e as outras
duas, unidades opcionais. A Comunicação veicula a mensagem principal que
o redator procura dirigir aos leitores. A Contextualização é uma parte inicial da
carta, que cumpre a função de fornecer informações de fundo que contribuem
para viabilizar a transmissão de mensagem feita na Comunicação. Já a Discussão
exerce a função de discutir e defender um posicionamento do jornal sobre
algum elemento da mensagem veiculada na Comunicação. Neste trabalho,
descrevemos diferentes recursos linguísticos empregados nas cartas para a
distinção dessas unidades tópicas. Conforme procuramos demonstrar, as cartas
exibem uma oposição entre tipos de atos de fala e entre formas de referenciação
como mecanismo de distinção entre suas unidades tópicas. Considerando o
estudo diacrônico de cartas de redator, os dados discutidos permitem formular
a hipótese segundo a qual a unidade de Discussão Tópica poderia ter sido uma
forma de manifestação linguística que os redatores teriam visto como um canal
para expressão de seus posicionamentos para os leitores. Tal unidade poderia
estar entre os usos linguísticos que teriam fomentado o desenvolvimento, ou a

490
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

consolidação, de gêneros jornalísticos essencialmente argumentativos como o


editorial. Trata-se de uma hipótese para cuja avaliação os dados aqui descritos
podem vir a contribuir.

Palavras-chave: organização tópica; tópico discursivo; processos de construção


textual.

Redes de textos: um olhar teórico-metodológico


sobre cadeias de gênero
Autoria: SERGIO MIKIO KOBAYASHI

Dentre as inúmeras formas de comunicação surgidas a partir da criação


e desenvolvimento da internet, as redes sociais digitais passaram a ganhar
relevância na interação entre pessoas, impactando, inclusive, a própria
organização social e política de nosso país. A dinâmica e a interconectividade
entre discursos no meio digital apontam, cada vez mais, para a necessidade
do desenvolvimento de um olhar teórico-metodológico sobre textos em rede.
O objetivo desta comunicação é, portanto, apresentar um debate teórico
parcial sobre gêneros em cadeia, perpassando as características que envolvem
sua constituição e a relação com uma rede complexa de textos, ancorado na
perspectiva da Análise Crítica do Discurso (ACD) faircloughiana (1989, 2010,
2011, 2013), em diálogo com Nobre e Biasi-Rodrigues (2012), Swales (2004),
Recuero (2006), Kobayashi (2018) e Bakhtin (2012). Fruto de uma pesquisa de
doutorado em andamento, a comunicação versará, em um primeiro momento,
sobre os principais elementos constitutivos das cadeias de gênero e, em seguida,
discutirá a problemática encontrada sobre a conformação de um percurso
teórico-metológico de análise, apontando para possíveis caminhos, a partir de
uma análise ilustrativa de uma cadeia que possui o termo “cloroquina” como nó
central. A composição desta cadeia inclui diversos gêneros, como notícias, tuítes,
memes e afins, que se correlacionam e compõem uma disputa por hegemonia
sobre o uso do medicamento cloroquina como tratamento à COVID-19. O recorte
deste corpus contará tanto com posicionamentos favoráveis quanto contrários
ao incentivo do tratamento com a droga, em junho de 2020, auge da primeira

491
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

onda da epidemia no Brasil. Como resultado, a comunicação apresentará a


pertinência da análise de textos digitais por meio das cadeias de gênero e a
necessidade do olhar temporal desta cadeia em uma rede complexa de textos,
de modo a contribuir para a análise da correlação de forças no debate público e,
por consequência, do impacto em práticas sociais e da construção de políticas
públicas.

Palavras-chave: cadeias de gênero; redes sociais digitais; gêneros discursivos.

Funções dos marcadores discursivos na língua


brasileira de sinais
Autoria: SHEYLA CRISTINA ARAUJO MATOSO SILVA
Coautoria: VANESSA HAGEMEYER BURGO

No que concerne às pesquisas que têm por objeto de estudo os aspectos


linguísticos e funcionais das línguas de sinais, é importante evidenciar que,
apesar do crescimento de trabalhos nessa área, estes ainda são escassos
quando comparados a outras línguas de modalidade oral. Nesse sentido, o
objetivo desta pesquisa é analisar o emprego dos marcadores discursivos na
língua brasileira de sinais (Libras) e as funções que desempenham na interação
entre pessoas surdas. O aporte teórico está fundamentado, principalmente,
em Marcuschi (1989, 2006), Preti (2000, 2002, 2003, 2005), Castilho (1989, 1994,
2000), Urbano (1997), Barros (2005), Fraser (1994), Galembeck e Blanco (2001),
Koch e Barros (1997), Risso, Silva e Urbano (2015), Schiffrin (1987), Gesser (2009,
2012), Quadros (2013, 2014), Quadros e Karnopp (2004) e Senna (2020), e o
corpus é formado por vídeos disponíveis no projeto da Universidade Federal de
Santa Catarina denominado Corpus de Libras. Em relação aos procedimentos
metodológicos, utilizamos o software ELAN (Eudico Language Annotator),
desenvolvido pelo Max Plank Institute, que permite a segmentação e análise
dos vídeos de forma mais detalhada, com alguns recursos que colaboram para
o processo de transcrição e tradução da língua de sinais. Dessa forma, optamos
pela seleção dos vídeos que apresentavam tópicos discursivos livres, a fim
de analisarmos a conversação em Libras de maneira mais espontânea. Após
a apreciação e escolha dos vídeos, realizamos a transcrição e tradução dos

492
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

excertos para a língua portuguesa. A análise dos dados demonstra que, tal como
ocorre na língua oral auditiva, na língua brasileira de sinais, há a presença de
marcadores discursivos de função ideacional empregados para a organização
textual, conferindo coesão ao texto, além de marcadores de função interacional,
que atribuem dinamicidade ao diálogo e contribuem para a construção e gestão
do ato conversacional. De acordo com os resultados, salientamos, portanto, a
ocorrência de marcadores com as seguintes funções: envolvimento do ouvinte,
busca de aprovação discursiva, planejamento verbal, manifestação de opinião,
atenuação linguística e movimentação dos tópicos discursivos.

Palavras-chave: marcadores discursivos; libras; pessoas surdas.

A oralidade e a escrita como tema do conto


“Vestida de preto”, de Mário de Andrade
Autoria: SUSIE MIDORI DOS SANTOS SATO SANTANA

O presente trabalho situa-se no âmbito das reflexões sobre os parâmetros


teórico-metodológicos fornecidos pela Linguística Textual, levando em
consideração a perspectiva dos estudos relativos à oralidade e à escrita
nessa área de conhecimento. Esses parâmetros concebem a fala e escrita
como duas modalidades, em um continuum, e têm o texto como um evento
sociocomunicativo que se realiza em um processo interacional. O trabalho aqui
proposto focaliza a oralidade e escrita como tema do conto “Vestida de preto”, de
Mário de Andrade. Nesse contexto, baseamo-nos na perspectiva que se preocupa
com os processos de produção de sentido tomando-os sempre como situados
em contextos sócio-historicamente marcados por atividades de negociação ou
por processos inferenciais. Essa perspectiva não toma as categorias linguísticas
como dadas a priori, mas como construídas interativamente e sensíveis aos
fatos culturais. Essa visão se preocupa com a análise dos gêneros textuais e
seus usos em sociedade com muita sensibilidade para fenômenos cognitivos e
processos de textualização na oralidade e na escrita que permitem a produção
de coerência como uma atividade do leitor/ouvinte que interage com autor/
falante ao produzir sentidos num texto. Sob essa visão dos processos de
produção de sentido é que buscamos investigar como Mário de Andrade utiliza

493
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

determinados recursos mais usados na oralidade para produzir sentidos no


discurso literário, especificamente no gênero conto. Entendemos, aqui, que o
conto é um gênero literário destacado pelo seu modo específico de narrar os
acontecimentos, pela sua unidade de ação, ou seja, um só conflito, um só drama,
atos estes praticados pelos protagonistas, estando sempre em número reduzido,
no decorrer da história (MOISÉS, 1975). Percebemos que o conto “Vestida de
preto” possui uma oralidade viva para a época em que foi escrito, sendo sua
ênfase a dimensão psíquica e afetiva da relação indivíduo/mundo. De acordo
com o quadro teórico, nos propomos a analisar o conto “Vestida de preto” com
as marcas da oralidade na escrita, recursos recorrentes nas obras de Mário de
Andrade.

Palavras-chave: linguística textual; oralidade; escrita.

Metadiscurso e comentário metadiscursivo:


definições e complexidade
Autoria: PALOMA BERNARDINO BRAGA

Segundo Hyland, um dos principais pesquisadores sobre metadiscurso, “o termo


metadiscurso ainda é empiricamente vago e não-teorizado” (HYLAND; TSE,
2004, p. 157) e pode ser considerado como um conceito guarda-chuva (HYLAND;
TSE, 2004). A noção de metadiscurso é amplamente utilizada em diversas áreas
da linguística — e, por isso, apresenta diferentes definições. O objetivo desta
comunicação é apresentar uma revisão teórica das noções de metadiscurso
e comentário metadiscursivo, mostrando a complexidade desses fenômenos
linguísticos e complementaridade de suas definições. Para isso, faremos um
percurso pelas diversas definições de metadiscurso oferecidas por estudiosos
das áreas de linguística aplicada, linguística textual e análise do discurso.
Em seguida, faremos um percurso sobre a definição da noção de comentário
metadiscursivo. Primeiramente, iremos traçar uma linha entre as noções de
metalinguagem e metadiscurso (JAKOBSON, 2008 [1976]; DUFFY; INSÚA, 2017;
HARVEY; OYANEDEL, 2010; SCHIFFRIN, 1980; RISSO; JUBRAN, 1998; BATESON,
1972; HYLAND, 2017; GAULMYN, 1978). Em seguida, passaremos às noções

494
Comunicação Oral
Análise da conversação e linguística textual

de metadiscurso de acordo com estudiosos da linguística aplicada. Grande


parte desses estudos estão ligados à escrita acadêmica, e o metadiscurso,
em suma, está ligado à relação entre o autor e o leitor de um texto (HYLAND,
2015; HYLAND, 2017; HYLAND; TSE, 2004; VANDE KOPPLE, 1985; AMIRYOUSEFI,
RAESKH, 2010; JIANG; HYLAND, 2017). Nos estudos do metadiscurso na área de
linguística textual, é possível notar uma ênfase maior, ao contrário dos estudos
da linguística aplicada, em textos orais e como o metadiscurso atua na função
intertextual do discurso — que contribui para a negociação da interação entre
os interactantes (DUFFY; INSÚA, 2017; IFANTIDOU, 2005; ILLIE, 2003; JUBRAN,
2009; JUBRAN, 2005; RISSO; JUBRAN, 1998; BORILLO, 1985; SCHIFFRIN, 1980).
Por fim, abordaremos como a noção do metadiscurso para análise do discurso
— que leva em consideração, principalmente, a heterogeneidade discursiva
(AUTHIER-REVUZ, 1990; MAINGUENEAU, 2004; MENDES, 2012). A noção de
metadiscurso apresenta suas particularidades e diferenças de acordo com cada
autor e suas concepções teóricas. Contudo, há alguns pontos de conversão
entre as teorias estudadas. Elas similaridades apontam, portanto, para uma
noção mais concisa e delimitada do que é o metadiscurso. Por fim, a partir
do exposto sobre metadiscurso, apresentaremos as noções de comentário
metadiscurso (CUNHA; BRAGA, 2016, 2018; CUNHA; BRAGA; DE BRITO, 2019),
estabelecendo um paralelo com o que já se sabe sobre o metadiscurso.

Palavras-chave: metadiscurso; comentário metadiscursivo; metalinguagem.

495
Comunicação Oral
Análise do discurso

Como o funcionamento da autoria produz efeitos


e ressignificação de sentidos, na materialidade
do discurso bíblico presente nas versões do
evangelho de Mateus e Lucas, por meio da
relação linguagem e ideologia, considerando
historicamente o político e o social?
Autoria: ALINE ELOISA DA SILVA

A AD compreende que a seleção do corpus não é nunca inaugural, mas sim um


fato, uma construção (ORLANDI, 1995), sendo dessa forma, o próprio gesto de
escolha do corpus, pelo analista, parte da análise, pois o que interessa à AD é o
discurso e não o fato, o dado, o texto apenas como material linguístico. De acordo
com Eni Orlandi (1987) “ O Discurso Religioso não é objeto de análise somente
para teólogos ou 'religiosos', e pode ao ser pensado em outros domínios, receber
contribuições importantes para a renovação do estudo da religião.”. Trabalhando
com a teoria da análise de discurso e amparada pelos autores Michel Pêcheux,
Michel Foucault, Eni Orlandi, Authier Revuz, Nírio de Jesus Moraes, João Cesário
Leonel Ferreira, Alberto Maggi na tentativa de responder como as marcas de
autoria, com diferentes gestos de interpretação, produzem e ressignificam
sentidos, no discurso religioso, sobretudo, no novo testamento, em alguns textos
do evangelho, sobretudo as versões de Mateus e Lucas, partindo de diferentes
posições enunciativas, perpassando a opacidade do texto, percebemos como
os sentidos são construídos através deste e das escolhas enunciativas de cada
autor. Eni Orlandi (2001), seguindo seus postulados, vai dizer que, no universo
discursivo, há uma sobre determinação de diferentes discursos e conclui que
discurso fundador é o que instala as condições de formação de outros, filiando-
se à sua própria possibilidade, instituindo em seu conjunto um complexo de
formações discursivas, uma região de sentidos, um sítio de significância que
configura um processo de identificação para uma cultura, uma raça, uma
nacionalidade e no caso desse trabalho uma religião/a identidade de ser cristão.
A pesquisa será bibliográfica, documental, histórico comparativa. Trata-se,

496
Comunicação Oral
Análise do discurso

portanto, a pesquisa, de uma produção de cunho qualitativo-interpretativo.


A versão bíblica que se adotou como suporte e referência para a composição
deste trabalho foi a Bíblia de Jerusalém (Nova Edição Revista e Ampliada), cuja
tradução foi realizada diretamente dos textos originais (hebraico e grego).

Palavras-chave: discurso; autoria; sentido.

"Harry Potter" e nó “raça-gênero-classe”: uma


análise bakhtiniana das marcas da diferença no
mundo mágico
Autoria: ANA CAROLINA SIANI LOPES

A comunicação proposta tem como base uma pesquisa em desenvolvimento


que busca desenvolver uma análise dialógica do discurso da franquia romanesca
Harry Potter (ROWLING, 1997-2007), voltada a uma investigação de potenciais
marcas de raça, gênero e classe materializadas no mundo mágico sugerido
por sua narrativa. A partir do microcosmo do romance, acreditamos que tais
relações encontram-se imbricadas a partir de um “nó” ou interseccionalidade,
instaurando hierarquias entre os grupos e sujeitos, como índices e marcas
sociais que configuram determinadas identidades e diferenças. Para tanto,
a investigação estabeleceu como corpus de análise principal o conjunto de
sete volumes que compõem a narrativa de Harry Potter, estes tomados em sua
versão física traduzida para o português brasileiro. A partir desta materialidade
linguístico-discursiva, nos propomos a refletir acerca da constituição dialógica
do objeto estético, compreendido por nós como uma unidade de sentido
plena de tonalidades axiológicas organizadas em uma dada forma artística, o
que nos evidencia um embate entre vozes sociais que caracteriza o nó “raça-
gênero-classe”. Nossa pesquisa inscreve-se no terreno teórico-metodológico do
pensamento do Círculo de Bakhtin e de sua filosofia da linguagem, e está filiada
ao método sociológico e calcada no gesto analítico-interpretativo do cotejo
de enunciados. A concepção dialógica da linguagem nos possibilita pensar
acerca da índole sociológica da arte, como uma esfera da criação ideológica
que reflete e refrata a atmosfera social e as valorações engendradas pela

497
Comunicação Oral
Análise do discurso

vida do discurso em um dado tempo-espaço. Como pressuposto pela teoria


bakhtiniana, o enunciado estético reflete desde sua organização interna o
horizonte socioideológico que lhe engendra, bem como refrata esta atmosfera
plurivocal como emergência de uma visão de mundo que se singulariza como
um ato responsivo e responsável do autor-criador. Portanto, podemos dizer que
as personagens de Harry Potter e seu discurso, como uma dada encarnação de
vozes e posicionamentos axiológicos, refletem e refratam importantes conflitos
e questões sociais da contemporaneidade (a política, a corrupção e as dinâmicas
do poder, os regimes totalitários e a ascensão do fascismo, a intolerância com a
diferença e minorias, etc.), nos quais as marcas de raça, gênero e classe impõe-
se como elementos basilares na consolidação de hierarquias e de um dado
enquadramento da alteridade.

Palavras-chave: Harry Potter; diferenças; círculo de Bakhtin.

A argumentação polêmica em comentários do


Instagram: da violência verbal à construção do ethos
Autoria: ANA PAULA CORDEIRO LACERDA FRANCO
Coautoria: JAIRO VENÍCIO CARVALHAIS

As alterações nas formas de convivência social propiciadas pelo desenvolvimento


das tecnologias digitais e pelo advento das redes sociais trouxeram, conforme
postula Cabral (2019), profundas transformações nas formas de interação
entre os seres humanos nos últimos anos. Assim, intrínseco ao cotidiano
dos cidadãos modernos, o ambiente virtual da internet é um espaço para
infinitas trocas comunicacionais. Paralelas, então, às múltiplas ideologias
compartilhadas e disseminadas nessa seara, discussões que envolvem embates
temáticos são constantemente enviesadas. A partir, pois, dessa perspectiva,
o presente trabalho visa apresentar a construção da argumentação polêmica
em comentários virtuais da rede social Instagram, especificamente, aqueles
publicados em resposta a postagens realizadas pela revista Veja, caracterizada
como a maior revista de informação semanal do país. De forma mais específica,
procuramos investigar como o emprego de palavras e expressões insultuosas,

498
Comunicação Oral
Análise do discurso

desabonadoras, impolidas e irônicas (CHARAUDEAU, 2019) podem relevar a


composição interacional do ethos - tanto dos sujeitos comentaristas como
das outras instâncias enunciativas colocadas em cena pelos internautas.
Para a análise desse conteúdo, valemo-nos, sobretudo, dos procedimentos
enunciativo-discursivos da Teoria Semiolinguística do Discurso, de Patrick
Charaudeau (2005, 2007, 2008), e do conceito de polêmica pública, proposto por
Ruth Amossy (2014). Do ponto de vista metodológico, este trabalho configura-
se como uma pesquisa documental, de natureza qualitativa e de abordagem
interpretativista dos dados. Em linhas gerais, os resultados obtidos apontaram
os três pilares da polêmica pública sinalizados por Amossy (2014) durante os
processos sociointeracionais cibernéticos: a dicotomização, a polarização e a
desqualificação do outro. Nesses discursos antagônicos, a violência verbal fez-
se presente, delimitando diferentes formações etóticas, em boa parte, voltadas
para a impetuosidade, para a intolerância e para a supremacia dos sujeitos
argumentantes. Portanto, a análise empreendida revela que o espaço virtual, por
meio de comentários dos internautas, é um terreno fértil para a promoção e a
disseminação de interações inflamadas, polarizadas e que subjugam a imagem
alheia, as quais são potencializadas e reproduzidas em razão da amplitude
inerente ao ambiente da internet na contemporaneidade.

Palavras-chave: argumentação polêmica; semiolinguística; revista Veja.

Uma análise discursiva de ditos e escritos de/


sobre Pedro Casaldáliga
Autoria: ANDRÉIA CRISTINA ANDRÉ SOARES MELO

Neste trabalho, original de uma tese, filia-se ao campo dos estudos discursivos
de base enunciativa (Maingueneau), temos o propósito de analisar como se
constitui a imagem de autor, a partir dos ditos e escritos de/sobre Dom Pedro
Casaldáliga. Pesquisadores da teoria literária há décadas se debruçam a estudar
as obras (poemas) desse autor, instituindo a ele um lugar, um espaço, um
tempo na literatura e imagens de poeta engajado, fundador/teórico da poesia
casaldaliana; outras áreas do saber (ciências humanas) percorrem os arquivos

499
Comunicação Oral
Análise do discurso

com o objetivo de constituir uma narrativa sobre a vida do Bispo, “as causas que
imprimem sua vida”, desembocando na “descoberta” de identidades do autor que,
no processo, frente a materialidades discursivas, alhures, figura e configura ao
autor imagens de autor-pessoa (militante, humanista, profético), fundamentada
na práxis. Partindo do pressuposto que a imagem de autor não é apenas um
produto, uma atividade multiforme do autor, resultado de seu texto, mas,
constituída na confluência de seus gestos de um lado, das palavras dos diversos
públicos de outro, balizamos nossas análises a partir de alguns pressupostos
teórico-conceituais, como o de instâncias (pessoa, escritor, inscritor) e de
dimensões de regulação e figuração (MAINGUENEAU, 2010), da noção de autor
enquanto uma “função-autor” (FOUCAULT, 2001), colocamo-nos a refletir os
meios pelos quais se constroem determinadas imagens de autor para D. Pedro
Casaldáliga; logo, em que medida a imagem de autor nos paratextos (prefácio,
títulos, nome de autor) estabelece a D. Pedro uma função-autor? A noção de
função-autor é contextualizada com as noções de competência interdiscursiva,
discurso constituinte e cena da enunciação que nos possibilitou refletir, em
confluência com as teorias da enunciação (BENVENISTE; DUCROT), as imagens
de autor (prévias), com a imagem de autor La Proleta, concebida por nós. Para
a constituição do corpus mobilizamos a noção de arquivo (FOUCAULT, 2001) e
acontecimento discursivo (GUILHAUMOU, 2009; GUILHAUMOU; MALDIDIER;
ROBIN, 2016), uma vez que o organizamos a partir de diversas materialidades.

Palavras-chave: autor; imagem de autor; paratexto.

O que é um corpo capa de revista? Análise de


discurso crítica de uma capa da revista Galileu
Autoria: ANNA BEATRIZ MORMETTO ALVARENGA
Coautoria: KARLA MARIANA SOUZA E SANTOS

Novas formas de comunicação têm surgido na contemporaneidade e


são reiteradamente marcadas e transformadas pelo recrudescimento de
avanços tecnológicos, de maneira que o desenvolvimento das mídias e as
novas tecnologias da informação aumentaram sobremaneira as interações

500
Comunicação Oral
Análise do discurso

comunicativas e multiplicaram recursos tecnológicos disponíveis para circular


discursos. Nesse contexto, a linguagem visual ganhou espaço ao lado da verbal,
fazendo com que a linguagem, em sua completude, passasse a ser constituída
por um sistema de significação multimodal. Partindo dessas considerações,
objetivamos investigar, por meio de uma análise semiótico-crítica do plano
verbal, imagético e ideológico, a construção e representação da identidade
de uma modelo negra brasileira na capa da revista Galileu, cuja circulação se
dá em meio digital e físico. Para tanto, o embasamento teórico assentar-se-á
nos estudos de Halliday e Matthiessen (2004), e, mais especificamente, nas
metafunções ideacional e interpessoal de que trata a Gramática Sistêmico-
Funcional; nas metafunções interativa e composicional da Gramática do Design
Visual, de Kress e van Leeuwen (2006[1996]), para a leitura da paisagem semiótica;
e na perspectiva do significado identificacional, concernente à Análise de
Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2003), que dá base para que seja desenvolvida
uma investigação da maneira pela qual discursos, investidos ideologicamente,
constituem/propagam/reconfiguram identidades. Assim é que, às vistas das
mudanças socioculturais e da constituição do pensamento crítico, este trabalho
se justifica na importância de os significados semióticos que compõem a teia
discursiva multimodal serem reconhecidos pelas pessoas, isto é, que não mais
haja passividade na recepção de composições verbo-imagéticas (FAIRCLOUGH,
2006). Através de análise preliminar, chegamos à conclusão de que, no gênero
capa de revista, a modelo posta em evidência na estrutura imagética porta a
ratificação de discursos em voga: de combate ao racismo e de reforço a pautas
que vão de encontro aos corpos ideais predominantes no gênero em questão,
de modo que há a circulação de ideais de oposição a valores outrora impostos.

Palavras-chave: Análise de Discurso Crítica; Gramática Sistêmico-Funcional;


capa de revista.

501
Comunicação Oral
Análise do discurso

Memes sobre o uso de cloroquina no contexto da


pandemia de Covid-19: memória, interdiscurso e
liquidez discursiva
Autoria: ANNA FLORA BRUNELLI

Nas práticas do cotidiano, de modo geral, os memes dizem respeito a tudo


aquilo que os internautas se utilizam de modo abundante, tais como, vídeos,
imagens, frases, textos multimodais etc. São, normalmente, textos de humor
que têm grande circulação e difusão pela internet e pelas mídias, textos que se
espalham muito rapidamente por intermédio de e-mails, blogs, redes sociais
etc. Neste trabalho, analisamos um conjunto de memes que tematizam o uso
de Difosfato de Cloroquina, a Cloroquina, como o medicamento é popularmente
chamado, no contexto da pandemia de Covid-19. Para tanto, adotamos o aparato
teórico-metodológico da Análise do Discurso de linha francesa, com ênfase
na tese da heterogeneidade constitutiva dos discursos e nas reflexões que
gravitam em torno do conceito de memória discursiva, especialmente nas suas
versões mais atuais, tal como é o caso da noção de memória interdiscursiva,
proposta por Moirand (2006). Segundo a autora, há memória interdiscursiva
quando os discursos falam nas palavras de outros discursos, isto é, a partir dos
termos de outros discursos, fenômeno que evidenciamos em vários memes do
corpus, que se valem de expressões e/ou de frases que remetem claramente
a outras fontes. De modo geral, nossa análise evidencia: (i) que os memes se
constituem a partir de vários discursos, oriundos de campos discursivos distintos;
(ii) que os discursos presentes nos memes mantêm diversos tipos de relações,
especialmente relações de polêmica explícita; (iii) que os memes mobilizam
vários saberes para a produção do efeito de humor. Por fim, destacamos que
os resultados encontrados reforçam as reflexões de Furtado (2018) a respeito
do caráter carnavalizante dos memes. Esse caráter diz respeito ao fato de os
memes desestabilizarem os discursos oficiais e outros discursos que estão
em alta na mídia, promovendo um discurso que os ridiculariza e contradita por
intermédio da comicidade, o que configura um caso de um fenômeno mais geral
que caracteriza o funcionamento de todas as redes sociais e a que a Furtando,

502
Comunicação Oral
Análise do discurso

no mesmo trabalho, intitula de “liquidez discursiva”, com base no conceito de


modernidade líquida (cf. BAUMAN, 2001).

Palavras-chave: memória; memes; interdiscurso.

Vivas nos queremos! Os discursos de mulheres


em situação de violência doméstica que foram em
busca de ajuda
Autoria: BIANCA DAMACENA

Este estudo visa compreender os processos históricos, ideológicos e discursivos


que corroboram para que as violências contra a mulher no espaço doméstico
continuem apresentando números alarmantes de vítimas, inclusive fatais, até
os dias de hoje. Buscou-se refletir sobre possibilidades de interferir na realidade
da sociedade patriarcal e capitalista brasileira com vistas a contribuir para o
avanço da luta contra as violências. Para tanto, o trabalho foi inscrito sob os
pressupostos teóricos da AD pêcheuxtiana, e possibilitou que conceitos-chave
como ideologia, emergência do sujeito para a AD, formações discursivas e
ideológicas e condições de produção pudessem ser abordados e discutidos.
A análise teórica dos pressupostos da AD aponta que o assujeitamento dos
sujeitos é ideológico e se dá sob o que Pêcheux (2014) chamou de tomadas de
posição. Este estudo ainda faz uma discussão sobre condições de produção
que permitem observar os processos históricos, discursivos e ideológicos
que determinaram o lugar subalterno da mulher na sociedade ocidental
machista, patriarcal e capitalista do século XXI. O corpus desta pesquisa é de
natureza experimental uma vez que, conforme Courtine (2014), não se trata de
documentos preexistentes, mas de relatos livres de mulheres que passaram
por violência doméstica e foram em busca de ajuda na Casa de Referência da
Mulher – Mulheres Mirabal. As entrevistas foram estruturadas em torno de 3
blocos. O primeiro deles compreendeu as narrativas sobre as infâncias, crenças,
familiares, entre outras questões concernentes às condições de existência
delas, o que possibilitou compreender o funcionamento e as condições de
produção da violência contra a mulher no ambiente doméstico a partir de

503
Comunicação Oral
Análise do discurso

uma ótica histórico-discursiva; o segundo bloco tratou da convivência com o


agressor até o momento em que elas saíram dos lares violentos, dando abertura
para se refletir sobre o que ocorre no espaço-tempo de transição entre a casa
violenta e a casa de passagem além de como as FIds configuram , nos discursos,
a representação de contradições inerentes aos AIEs envolvidos; e o terceiro
diz respeito à experiência de cada uma delas com a Mirabal. Após concluir
as análises, foi possível observar que dentro da Mirabal circularam práticas,
saberes, rituais de acolhimento e de formação feminista, contribuindo para que
mulheres que passaram por diversas formas de violência doméstica pudessem
retomar a vida e até mesmo tentar ajudar outras mulheres. Demonstrou-se que,
na luta de classes, há espaço para mulheres vítimas de violência doméstica se
configurarem como sujeitas contraidentificadas ou desidentificadas.

Palavras-chave: violência doméstica; formação discursiva; feminismo.

Pré-discurso e Facebook: entre o bate-boca e a


cognição distribuída
Autoria: BRENO RAFAEL MARTINS PARREIRA RODRIGUES REZENDE

Este trabalho decorre de uma pesquisa de doutorado (em andamento) vinculada


ao Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos (PPGEL), do Instituto de
Letras e Linguística (ILEEL), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Nele,
busco analisar como se instauram bate-bocas nos comentários recebidos por
uma página pública da rede social Facebook, a Quebrando o tabu. Como entrada
teórico-metodológica para a análise, valho-me do conceito de pré-discurso
postulado por Marie-Anne Paveau (2013), segundo o qual o discurso é alimentado
por quadros pré-discursivos coletivos de saberes, crenças, valores e práticas que
lhe permitem a produção e a interpretação. Além disso, considerando a teoria da
Cognição Distribuída (HUTCHINS, 2000), segundo a qual a cognição deixa de ser
compreendida como um fenômeno subjacente à “cabeça” do indivíduo e passa
a ser considerada como um sistema que integra o sujeito, seu ambiente social e
seu ambiente material para a realização das atividades humanas, analiso a rede
social Facebook como ferramenta discursiva que contribui para a instauração e
manutenção de bate-bocas na página Quebrando o tabu. Em outras palavras, a

504
Comunicação Oral
Análise do discurso

partir desse ponto de vista teórico, a rede social está sendo considerada como
um dos polos da cognição distribuída (ao lado do ambiente social dos sujeitos
que se inscrevem na comunidade de comentadores da página) que atuam em
prol de um mesmo objetivo: a constituição/manutenção de bate-bocas sobre
temas controversos colocados em pauta pelas publicações de Quebrando o tabu.
A hipótese principal é a de que os bate-bocas – além de serem acondicionados
pelo funcionamento da cognição distribuída, em um sistema que congrega o
ambiente material (rede social enquanto ferramenta discursiva) e o ambiente
social (comunidade de comentadores da página) dos sujeitos – instauram-se
em torno de pré-discursos perenes na sociedade brasileira, cuja estabilidade/
instabilidade é debatida em uma espécie de troca de turnos conversacionais,
marcada por um registro verbal violento, a que tenho chamado de bate-boca.
Do ponto de vista metodológico desse enquadre teórico, o corpus de análise é
considerado como um recorte que divide grupos sociais que partem de quadros
pré-discursivos coletivos distintos, o que permite tomar os comentadores de
Quebrando o tabu como integrantes de comunidades discursivas. Os dados
analisados até o momento apontam fortemente para a viabilidade da hipótese
assumida.

Palavras-chave: análise de discurso; pré-discurso; Facebook.

O nascimento do glototariado
Autoria: DANIEL PERICO GRACIANO

Na esteira de Virno (2013) e Lazzarato e Negri (2001), consideramos que a


competência linguística do trabalhador, nesses tempos de hegemonia das
atividades simbólicas, funciona como parte indispensável da soma de aptidões
físicas e intelectuais necessárias para a produção capitalista. Partindo desse
pressuposto, pretendemos investigar, por meio de análises arqueológicas e
genealógicas, os discursos de trabalhadores fabris nos quais se materializam
as relações entre trabalho e linguagem no interior dos processos de produção
capitalista, localizando em particular enunciados que tematizam o trabalho da
linguagem nos processos de produção de que a mais-valia deriva da captura

505
Comunicação Oral
Análise do discurso

de fluxos semióticos. Dessa forma, a língua, quando examinada a partir de


uma perspectiva crítica, pode ser tomada como um conjunto de mercadorias
(os signos) (BOURDIEU, 2008) resultantes de um processo de produção, um
trabalho vivo, cujo valor mal pode ser quantificado de maneira aproximada,
já que supera as regras temporais de valor (ANTUNES, 2018), quando faz com
que o tempo de produtividade coincida com o tempo total de vida. Por isso,
cada vez mais, o trabalho linguístico, dados os graus variados de alienação e
captura correspondentes a cada diferente classe, engloba diversos tipos de
proletários: aqueles que trabalham diretamente com ferramentas linguísticas
como, por exemplo, na criação de softwares; aqueles que trabalham com a
comunicação, por exemplo: jornalistas e profissionais de relações públicas;
e mesmo aqueles que trabalham no chão da fábrica. Para tanto, o estudo se
fundamentará nos postulados teórico-metodológicos à luz de Michel Foucault.
Pretendemos responder a questões como as que se seguem: o que dizem os
trabalhadores sobre a relação entre trabalho, linguagem e comunidade? Como
eles a entendem? Como formulam seus enunciados que tratam dessa temática?
Quais os posicionamentos dos trabalhadores acerca dessa relação? O que
dizem nossos dados sobre o papel do significante linguístico nos processos de
produção de subjetividade capitalistas (que tipos de enunciados as constitui)?
Os enunciados dos trabalhadores indicam, ou manifestam de alguma forma,
embates, lutas, confrontos, estratégias e táticas de resistência, que busquem
inverter e subverter o uso do capital/alienação linguísticos nesse processo de
dominação?

Palavras-chave: análise de discurso; trabalho imaterial; capitalismo cognitivo.

Processos de significação nas políticas sociais:


uma discussão sobre família e vulnerabilidade no
âmbito do PAIF
Autoria: DANIEL SILVA LÉLIS
Coautoria: ALINE FERNANDES DE AZEVEDO BOCCHI

Analisa-se, no escopo deste trabalho, processos de significação para os


sujeitos atendidos pelo CRAS e beneficiados pela política de assistência social

506
Comunicação Oral
Análise do discurso

no âmbito do SUAS – Sistema Único de Assistência Social, a qual encontra


no PAIF a proposta de uma “nova política de assistência social” construída
como “dever do Estado e direito de cidadania”. Essa política se propõe como
forma de superação da tradição histórica assistencialista e clientelista; seu
objetivo é “garantir direitos”, “enfrentar riscos sociais” e “prevenir situações
de vulnerabilidade social”, de acordo com o segundo volume das Orientações
Técnicas sobre o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF:
Trabalho Social com Famílias. Mobilizamos recortes do referido documento
para questionar os sentidos de família e vulnerabilidade, procurando historicizar
processos de significação para sujeitos denominados “pessoas ainda invisíveis
ao poder público”, e cuja política propõe-se como “contraponto à invisibilidade
do público e à naturalização da pobreza e das desigualdades em suas múltiplas
dimensões: sociais, econômicas, políticas e culturais”. Embasados no referencial
teórico da Análise de Discurso, particularmente representada pelos nomes de
Michel Pêcheux e Eni Orlandi, interessa-nos a compreensão de sentidos para
a família constituídos a partir de um já-dito que, assertado em um outro lugar,
permite a incorporação de um saber sobre o que é uma família, construído
como evidente. Esse pré-construído retoma no intradiscurso algo exterior que
fornece a realidade ao sujeito, designa e determina “aquilo que fala antes, em
outro lugar e independentemente” (HENRY, 2013 [1977]). Dessa forma, apaga-
se outros sentidos possíveis para família. Do mesmo modo, a vulnerabilidade
é significada nesse documento que embasa os atendimentos aos sujeitos no
âmbito do SUAS como evidente; em suas condições de produção, o atendimento
e acolhimento são condicionados pelo jogo de antecipações que regem as
formações imaginárias, sendo determinantes dos sentidos de vulnerabilidade
colocados em cena no contexto das políticas assistenciais brasileiras na
atualidade.

Palavras-chave: políticas assistenciais; família.

507
Comunicação Oral
Análise do discurso

“Professor é agro”: interdiscursos e formações


discursivas capitalistas acerca da profissão de
educador no século XXI
Autoria: DANILO VIZIBELI
Coautoria: MICHELLE APARECIDA PEREIRA LOPES

O objetivo deste trabalho é analisar, na ótica da Análise do Discurso francesa,


os interdiscursos e as formações discursivas em circulação em um post
veiculado no dia 15 de outubro de 2020, dia alusivo à comemoração do Dia do
Professor, que toma como intertexto ou paródia uma propaganda de incentivo
ao agronegócio veiculada na Rede Globo de Televisão com os dizeres “Agro é
tech; Agro é pop; Agro é tudo!” O post, que pode ser considerado um meme,
circulou nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem instantânea como o
WhatsApp e trazia a seguinte transposição: “Professor é agro; Professor é tec;
Professor é top; Professor é tudo”. A título de constituição do corpus, além da
materialidade textual acompanhada de imagem que compõe o meme, serão
utilizadas matérias jornalísticas, textos de blog e comentários nas redes sociais
que acompanharam a postagem e serão submetidos a um recorte para o estudo.
Ao tomarmos que nenhum discurso é neutro e que as palavras carregam em si,
nos posicionamentos dos seus sujeitos, a ideologia nas quais se inscrevem (Cf.
PÊCHEUX, 2009), percebemos uma ordem do discurso (Cf. FOUCAULT, 2010)
capitalista e diversos posicionamentos dos sujeitos discursivos sobre o papel e
a profissão de educador. Veiculado no ano em que o mundo começou a vivenciar
a Pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19/Sars-CoV-2), em que professores
apresentaram sobrecargas de trabalho e tiveram que se adaptar para aulas
remotas e on-line ministradas dentro de suas casas, o discurso então propagado
neste acontecimento discursivo é carregado de ironia e de interdição, uma vez
que propósitos e metas do agronegócio são tomados como características do
professorado brasileiro que repercute um silenciamento do(s) (não) sentido(s).
Corroboram as reflexões os postulados de Michel Foucault em A ordem do
discurso, de Michel Pêcheux em Discurso: estrutura ou acontecimento e outros.

Palavras-chave: discurso; educação; agronegócio.

508
Comunicação Oral
Análise do discurso

A voz do povo na imprensa paulista: uma análise


de discursos sobre desempenhos oratórios
das classes populares em A Plebe, o Correio
Paulistano e o Correio de São Carlos
Autoria: EVANDRO JOSÉ PASCHOALINO

O presente projeto tem como objetivo descrever e interpretar discursos sobre


práticas de fala pública de membros das classes populares materializados em
enunciados que circularam pela imprensa paulista, nas primeiras décadas do
século XX. Levando em consideração as condições de produção do conturbado
ano de 1917, em que houve grande efervescência política e se deu o surgimento
da conhecida Greve geral, buscaremos identificar o que foi dito, em princípio,
por enunciadores de três jornais paulistas sobre os desempenhos oratórios
populares e como foram formulados os enunciados a respeito dessas práticas
de fala pública. Para isso, fundamentaremos nosso trabalho em postulados da
Análise do discurso materialista, proposta por Michel Pêcheux e seu grupo,
assim como em contribuições oriundas da História das ideias linguísticas e dos
trabalhos de Michel Foucault sobre a ordem do discurso. Mais precisamente, nos
apropriaremos de postulados e noções e ainda de ferramentas metodológicas
por eles concebidos, para responder a questões como as seguintes: o que falam
os textos dos jornais do campo conservador e do campo progressista sobre as
performances oratórias dos membros da classe operária? Há ou não distinção
entre as coisas ditas a respeito das falas públicas dos operários e o que se diz
sobre as intervenções das lideranças sindicais e dos intelectuais dos movimentos
trabalhistas? Como são formulados esses enunciados que tematizam os
desempenhos oratórios de trabalhadores e de seus representantes, ou seja,
quais são os recursos lexicais, enunciativos, sintáticos e textuais empregados em
sua formulação? Quais são as memórias conservadas, retomadas, reformuladas
e/ou apagadas na constituição de tais enunciados, quando se trata formulações
oriundas ora de veículos da capital ora de jornais do interior paulista? Com
vistas a respondermos a essas e outras indagações, analisaremos enunciados
extraídos dos jornais A Plebe, o Correio Paulistano e o Correio de São Carlos,

509
Comunicação Oral
Análise do discurso

examinando particularmente suas edições publicadas entre os meses de janeiro


e julho de 1917. (Apoio: FAPESP - Processo 2020/01874-8)

Palavras-chave: análise de discurso; história das ideias linguísticas.

Sobre escolhas difíceis: uma análise dialógica da


política brasileira em editoriais
Autoria: FÁBIO AUGUSTO ALVES DE OLIVEIRA

Este trabalho, pautado nos estudos bakhtinianos, analisa a política brasileira


em dois editoriais da imprensa nacional e estrangeira. Em específico, trata das
reações do Estado de S.P. e do Le Monde sobre as eleições presidenciais em
2018. Para tanto, enunciado (BAKHTIN, 2011) e ideologia (VOLOCHINOV, 2017)
são os preceitos teóricos mobilizados com o intuito de analisar visões e juízos de
valor sobre Brasil e política brasileira. A opção pelos jornais citados se pauta na
influência e relevância na opinião pública, face ao contexto tenso e conturbado
das eleições em 2018. Busca-se, em geral, discutir como a imprensa enxerga e
qual o tom valorativo dado à tensão política e à disputa eleitoral; em específico,
identificar e discutir quais construções de linguagem são a base dos juízos de
valor e, ainda, comparar as posições adotadas pelos canais. São selecionados
editoriais on-line (Uma escolha muito difícil, de Estado de S.P. e La démocracie
menacée, de Le Monde, publicados respectivamente em 08/10/18 e 09/10/18)
dos jornais citados sobre a vitória de Bolsonaro no primeiro turno, a fim de
discutir a posição de ambos sobre tal evento político. De imediato, é possível
apontar uma diferença de interpretação do cenário eleitoral no Brasil, já que o
canal francês tece críticas a Jair Bolsonaro, ao passo que o Estadão se esforça
em construir uma situação de “escolha difícil”, na qual os extremos se igualam.
São produzidas, portanto, duas teses distintas, que orientam a língua de tal
maneira, relacionadas a aspirações sociais. O procedimento e o movimento de
análise ocorrem pela descrição da materialidade dos enunciados para, com tais
informações, discutir os valores atribuídos e as visões sociais arquitetadas por
cada canal. No processo metodológico, após esses momentos, busca-se discutir
a posição de tais editoriais na vida política brasileira e suas particularidades,

510
Comunicação Oral
Análise do discurso

conforme Freixo e Pinheiro-Machado (2019). Por fim, a justificativa do artigo é


discutir a problemática discursiva entre a esfera jornalística e a política e as
imbricações sociais desse contato, especialmente sobre um momento tenso
e relevante para vida política no Brasil. (Apoio: CAPES)

Palavras-chave: círculo de Bakhtin; política; editorial.

A formulação “indústria da moda” e a construção


do discurso sobre moda sustentável
Autoria: GABRIELA ANDRADE DE OLIVEIRA

Este trabalho é parte de uma pesquisa de doutorado, ainda em andamento,


realizada no âmbito da Análise do Discurso francesa, conforme definida por
Dominique Maingueneau na obra Gênese dos Discursos. A pesquisa de doutorado
em questão analisa o discurso da moda sustentável, apreendido como uma
formação discursiva temática (MAINGUENEAU, 2008; MAINGUENEAU, 2015)
que se desenvolve no interior do campo discursivo da moda, descrevendo
seu funcionamento nos termos de uma semântica global. Por tratar-se de um
discurso que se dá por meio de unidades não-tópicas de análise, ou seja, por
meio de unidades de natureza difusa, que se encontram dispersas em variados
suportes e gêneros discursivos, fez-se fundamental lançar mão de uma escolha
metodológica bem delimitada no que diz respeito à constituição do corpus da
pesquisa. Para tanto, adotamos como estratégia a identificação de fórmulas
discursivas como meio de guiar a seleção dos materiais de análise. Tal estratégia
foi baseada na experiência de Fossey (2011), que utilizou deste mesmo recurso
na delimitação de seu corpus de pesquisa, o que corroborou a identificação dos
posicionamentos discursivos com os quais trabalhou. Embora nossa pesquisa
não incida sobre posicionamentos discursivos, mas sobre uma formação
discursiva, optamos por adotar a mesma estratégia, que tem se mostrado útil
e viável. O presente trabalho originou-se, portanto, da investigação de fórmulas
discursivas com o intuito de delimitar um corpus consistente e representativo
do discurso da moda sustentável. Inteiramos que a noção de fórmula discursiva
adotada aqui, e também em Fossey (2011), se baseia na definição de Krieg-

511
Comunicação Oral
Análise do discurso

Planque (2010), que assume como fórmula um conjunto de formulações, uma


unidade lexical simples ou complexa, uma unidade léxico-sintática, ou uma
sequência autônoma, que são publicizadas e que cristalizam certas questões
políticas e sociais, na medida em que contribui para construí-las. Segundo
Krieg-Planque (2010), essas formulações devem atender a quatro propriedades:
caráter cristalizado; caráter discursivo; caráter de referente social e caráter
polêmico. A presente investigação procura apresentar como tal método tem
sido utilizado em nossa pesquisa, guiando a delimitação do corpus de forma
significativa ao revelar a formulação “indústria da moda” como uma fórmula
discursiva pujante do discurso sobre moda sustentável, de caráter fundamental
para a constituição e funcionamento deste discurso.

Palavras-chave: análise do discurso; fórmulas discursivas; moda sustentável.

Estratégias discursivas das cristãs novas diante


da mesa da inquisição na América Portuguesa:
as confissões do Livro das Reconciliações e
Confissões (1591-1592)
Autoria: GABRIELE FRANCO

Durante a visitação da Inquisição, no Brasil colônia, as confissões dos possíveis


“réus” eram registradas pela comissão da visitação do Tribunal do Santo Ofício
no Primeiro Livro das Reconciliações e Confissões (1591-1592), doravante LRC.
Dentre elas foram selecionadas como corpus para este trabalho as confissões
de Dona Leonor (ANTT, 1592, fol.145r a 147v), depoente número 88 e de Beatriz
Antunes (ANTT, 1592, f.139v a 141r), depoente número 84, ambas cristãs novas,
pertencentes à segunda geração de mulheres da família Antunes, herdeiras do
Engenho do Matoim. Elas, assim como todas as mulheres da família, confessam
e denunciam atos heréticos relacionados ao judaísmo no período da graça,
com a esperança de ter suas sentenças reduzidas. Desse modo, o objetivo
deste trabalho é analisar e discutir as características do discurso de Dona
Leonor e de Beatriz Antunes em suas confissões, propiciando uma reflexão

512
Comunicação Oral
Análise do discurso

sobre as estratégias discursivas adotadas por cada depoente na tentativa de


salvar-se da fogueira ou da prisão. Para realizar as análises, utilizou-se a teoria
sistêmico-funcional (HALLIDAY, 1985, 1994), mais especificamente a Teoria da
Avaliatividade (EGGINS; SLADE, 1997; MARTIN, 2000, 2004) e de seu subsistema
de Engajamento. Tais teorias permitem compreender os modos como as vozes
discursiva de Dona Leonor e Beatriz Antunes posicionam-se uma em relação a
outra, procurando caracterizar diferentes perspectivas intersubjetivas presentes,
isto é, caracterizando o modo de adesão ou não das depoentes em relação às
proposições no texto. Além do suporte teórico elencado para realizar as análises,
recorre-se, respectivamente, a Soares (2018), a Mota (2016) e a Assis (2019)
com a finalidade de compreender o contexto jurídico, linguístico e histórico do
contexto de produção das confissões. A metodologia consiste na organização
de lista de palavras mais recorrentes, posteriormente agrupadas conforme
o tipo de engajamento. A partir destas listas são analisadas e reconstruídas
as possibilidades de estratégias utilizadas pelas depoentes, bem como as
diferenças e semelhanças entre elas.

Palavras-chave: LRC; teoria da avaliatividade; cristãs novas.

Corpo LGBTQIA+, cibercultura e processos


de subjetivação: movimento cartográfico
por materialidades imagéticas nas margens
heterotópicas de uma página do Facebook
Autoria: GILSON COSTA DA SILVA

O ciberespaço ou/e as mídias digitais, enquanto um complexo dispositivo de


poder-saber na contemporaneidade, viabiliza a produção/reprodução/mutação/
transformação/ruína de discursos acerca e sobre sujeitos, fomentando processos
de subjetivação que transitam em arquivos momentâneos na confluência de
espaços-outros, heterotopias. O corpo, enquanto superfície de dissociação
do eu-si, é chamado a estabelecer lugares, gestos, comportamentos, formas
e dizeres nesses processos. Partindo dos estudos foucaultianos sobre a
sexualidade e realizando um recorte de nossa pesquisa de tese em andamento,

513
Comunicação Oral
Análise do discurso

propomos analisar a constituição de discursos sobre o corpo LGBTQIA+ em


materialidades imagéticas disponíveis em páginas LGBTQIA+ na rede social
Facebook. Para isso, devemos discutir a relação corpo-espaço no ciberespaço;
refletir sobre a noção de heterotopia; e analisar materialidades disponíveis a
partir de nosso recorte. Teórica e metodologicamente situamos no horizonte
de reflexões que procuram relacionar os estudos arqueogenealógico de Michel
Foucault aos estudos que se circunscrevem na Análise do Discurso de linha
pecheuxtiana, reservando aproximações e diferenças. Assim, observamos a
produtividade de categorias como as de corpo, espaço, heterotopia, dispositivo,
arquivo, intericonicidade, enunciado, ideologia e interdiscurso para realizarmos
nossas análises, enfatizando a intericonicidade como categoria de análise.
Quanto ao recorte, considerando a pesquisa que se desenvolve como tese,
optamos por especificar a página Orgulho gay no Facebook como recorte geral
e estabelecemos como limites espaço-temporais os quatros meses iniciais do
ano de 2021. Após esse recorte, seguindo um trajeto temático especificado
pela categoria de ‘corpo LGBTQIA+’, estabelecemos para análise e sem caráter
de exaustão materialidades imagéticas, enfatizando o caráter discurso das
imagens nos termos de Jean-Jacques Courtine, mas sem desconsiderar que
essas materialidades compõem construções verbo-visuais, ou em termos gerais,
multimodais. Quanto às análises de discurso, recorremos a um trajeto/gesto
de leitura balizando interpretação e descrição para apreender os dizeres de
que dispomos no corpus a partir dos recortes. Assim, nossas análises partem
da observação da página como espaço aparentemente estabilizado e são
direcionadas para a leitura de sua composição heterotópica, isto é, espaço
atravessado, espaço-outro. Quanto ao corpo LGBTQIA+, observamos sua
constituição paradoxal, atravessado e fraturado pela norma, pela diferença e
pelo afeto. O processo de subjetivação que se permite desdobrar disso, a partir
da leitura das materialidades, constitui-se assim como um movimento inexato
de reflexão sobre o Si.

Palavras-chave: corpo LGBTQIA+; ciberespaço; heterotopia.

514
Comunicação Oral
Análise do discurso

Publicidade, silenciamento e memória: o negro nos


anúncios dos anos 1970 na revista Veja
Autoria: ISABEL CRISTIANE JERONIMO

Este trabalho apresenta os primeiros resultados do projeto de pesquisa "O


negro em revista: memória, história e representações na produção de sentidos
do discurso publicitário", desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina.
Apresenta como objetivo geral discutir os sistemas de representações sobre o
sujeito negro mobilizados em textos publicitários publicados na revista Veja, em
diferentes décadas (1970 a 2010), analisando as posições de sujeito ocupadas
pelo negro no discurso publicitário situadas histórica e ideologicamente.
Especificamente neste trabalho, objetivamos discutir os resultados encontrados
no primeiro período do corpus, qual seja, o de 1970-1979. Como observamos
que, nessa fase, a ausência do negro na publicidade é muito mais significativa
do que a sua presença, optamos por dividir a análise em dois momentos: no
primeiro, tratamos da política do silêncio que se instaura nesta relação entre
raça e publicidade; no segundo, reunimos quatro textos publicitários que
abordam um mesmo tema, a fim de investigarmos os modos de construção
de sentidos para a venda de um produto quando o garoto propaganda é um
negro, quando se trata de um não negro e quando ele é branco. Para atingirmos
esses objetivos, teoricamente estamos filiados a pressupostos da Análise de
discurso francesa de Pêcheux (2014) e Orlandi (1997), aos Estudos Culturais,
presentificados por Hall (2016) e às reflexões acerca das relações raciais, Almeida
(2019), Bento (2016), Schucman (2014), além de questões relativas à publicidade,
Gastaldo (2013), Soulages (1996). Construções histórico-ideológicas singulares à
sociedade brasileira fizeram com que o negro fosse sub-representado e tivesse
sua subjetividade apagada ao ocupar, com frequência, papéis secundários nos
mais variados tipos de mídia, inclusive na publicidade, isso quando sua presença
não foi silenciada ou excluída, afastando-o sobremaneira dessa instância de
poder. É relevante refletir como se organizam as condições de existência desse
discurso, que une materialidade verbal e não verbal congregando história e
memória, e em que posições de sujeito o negro é apresentado quando ele

515
Comunicação Oral
Análise do discurso

aparece como protagonista do anúncio. A discussão sobre a produção social


dos sentidos a respeito das questões raciais no Brasil é imperativa e necessária
para a contestação de um discurso inscrito na história que tende a naturalizar a
exclusão do corpo negro das instâncias relacionadas à visibilidade e ao prestígio.

Palavras-chave: negro; discurso; publicidade.

Ethos, interação e discurso: uma análise da


organização enunciativa em editoriais de revistas
brasileiras
Autoria: JAIRO VENÍCIO CARVALHAIS OLIVEIRA

O presente trabalho, fruto de pesquisa sobre o discurso midiático contemporâneo,


tenciona apresentar os resultados de uma investigação relacionada à construção
da opinião jornalística em duas revistas brasileiras de informação semanal: Veja
e Carta Capital. Com base em um corpus constituído por editoriais que tratam
de temáticas relativas à cena política nacional, a pesquisa assumiu uma dupla
empreitada: (i) analisar a organização linguístico-enunciativa dos editoriais
selecionados; (ii) evidenciar o impacto dessa organização na construção do
ethos de si e do outro no processo interacional dos periódicos em questão. A
título de ilustração dos resultados alcançados, será apresentada, neste trabalho,
a análise linguístico-enunciativa de unidades informacionais de dois editoriais,
pertencentes, respectivamente, às revistas Veja e Carta Capital. Do ponto de
vista metodológico, a pesquisa configurou-se como um estudo de natureza
qualitativa e de caráter interpretativista do corpus. No tocante à fundamentação
teórica, a investigação buscou ancoragem na Análise Semiolinguística do
Discurso (CHARAUDEAU, 1992, 2004, 2016) e em estudos contemporâneos
sobre ethos (AMOSSY, 2005; CHARAUDEAU, 2007; MAINGUENEAU, 2008, 2020)
e, também, sobre ethos em interação (CHANAY; KERBRAT-ORECCHIONI, 2007;
KERBRAT-ORECCHIONI, 2008, 2016). Em linhas gerais, os resultados obtidos
evidenciaram uma variação nos modos de organização enunciativa nos editoriais
analisados, levando em conta a posição que o editorialista - enquanto sujeito
argumentante - procurava ocupar em determinadas situações, a fim de construir

516
Comunicação Oral
Análise do discurso

imagens de si e do outro. Isso revelou que a instância de produção do discurso,


em alguns casos, sinalizou a sua opinião de forma subjetiva, lançando mão
de um comportamento elocutivo. Além disso, de forma estratégica, houve a
simulação de interlocução com outros sujeitos, momento em que o editorialista
lançou mão de um comportamento alocutivo. Por último, na maior parte das
vezes, o sujeito enunciador procurou encenar uma pretensa objetividade em
seu discurso, afastando-se do seu ato de comunicação, em um comportamento
comprovadamente delocutivo. Esses modos de enunciar, em larga medida,
foram acompanhados de marcadores discursivos, modalizações linguísticas e
palavras/expressões axiológicas que, no processo argumentativo, contribuíram
substancialmente para fidelizar os leitores das revistas supracitadas ou, ainda,
para captar possíveis destinatários do discurso colocado em cena por Veja e
Carta Capital. Por fim, os resultados apontaram que a organização enunciativa
mantém estreita relação com a construção diversificada do ethos de si e do outro
na configuração textual dos editoriais, revelando, por assim dizer, a intrínseca
relação entre aspectos enunciativos, linguísticos e discursivos na formulação
axiológica e interacional dos sentidos.

Palavras-chave: discurso midiático; organização enunciativa; ethos.

A ilustração em adaptações do Quixote e as


representações do público leitor infantil
Autoria: JÉSSICA DE OLIVEIRA

As adaptações literárias destinadas ao público infantil conquistaram, desde


sua emergência, a legitimidade própria de obras do campo literário, lhes
sendo reservadas, desde então, diferentes reconhecimentos, entre eles, o
de sua incorporação como objeto de pesquisa, em especial imprescindível
nos estudos dedicados à análise de representações da leitura e dos leitores.
De modo a refletir sobre a relativa liberdade autoral que o próprio gênero
adaptação autoriza, assim como lançar luz sobre o interesse peculiar, ao longo
do tempo e das culturas vamos nos dedicar, nesta pesquisa, à análise de alguns
aspectos formais e estéticos de duas adaptações destinadas a crianças do

517
Comunicação Oral
Análise do discurso

clássico Dom Quixote, uma brasileira e outra galega, mais pontualmente de sua
ilustração, que exemplificam semelhanças e diferenças nos modos adotados
para interagir com seu público-alvo, e assim representá-lo. Apresentaremos
com vistas a depreender aspectos das representações do leitor infantil, uma
análise comparativa, por amostragem, de ilustrações empregadas nas obras
analisadas. Foi possível observar a centralidade das ilustrações nessas obras,
assim como a preocupação, quanto à ilustração, em mimetizar formas, traços e
escolhas infantis relativas à produção de imagens. Isso indicia similaridades não
negligenciáveis nas representações compartilhadas acerca de seus públicos
leitores, de lá e de cá do oceano. As duas obras, em suas distintas estéticas
visuais, em suas formas variadas de promoção de homologia discursiva entre
as linguagens verbal e imagética, investem no apelo e na convocação do olhar
infantil suscetível e atraído pelas cores e formas da imagem, assim como na
potência significativa dessa linguagem. Para as análises apresentadas, nos
apoiamos em princípios da Análise do Discurso francesa, no que concerne a
suas reflexões e conceitos sobre as coerções linguístico-históricas que atuam
sobre a produção e sobre a apropriação dos textos, da História Cultural, no que
diz respeito às análises das permanências e variações das representações e
das práticas de leitura ao longo da história, e de estudos mais específicos que
se dedicaram às adaptações de obras clássicas.

Palavras-chave: adaptações; Dom Quixote; leitor infantil.

"Português contemporâneo" 1 e 2 : imaginários


de (trans)brasilidade em dois livros de português
para estrangeiros
Autoria: JORCEMARA MATOS CARDOSO

Em 1966, era publicado o livro didático Português Contemporâneo 1, pela


Georgetown University Press. Cinco anos depois, em 1971, o livro recebeu seu
segundo volume. Ambas as publicações se mostram importantes, primeiro,
por serem os primeiros livros didáticos (LD) de Português para estrangeiros
publicados fora do Brasil; segundo, porque sua produção recebeu apoio do

518
Comunicação Oral
Análise do discurso

governo Brasileiro, por intermédio do Brazilian-American Cultural Institut (BACI);


terceiro, por ter como seus colaboradores Robert Lado (um dos fundadores
da Linguística Contrastiva) e João Mattoso Câmara Junior (um dos maiores
nomes da Linguística brasileira) (CARDOSO, 2021). Todos esses espaços de
significação legitimam não apenas os próprios livros como livros didáticos
da língua-alvo, mas os saberes sobre a brasilidade presente nos dois LDs.
Nesse sentido, fundamentados na Análise de Discurso, de base histórica e
enunciativa, esta comunicação tem como objetivo verificar quais os principais
imaginários de (trans)brasilidade fabricados em ambos os livros didáticos,
quais discursos encontram-se nas bases desses imaginários e quais cenas
enunciativas são mobilizadas para garantir seus efeitos de legitimidade.
Buscamos, ainda, empreender uma reflexão sobre as relações de poder-saber
na fabricação transnacional da identidade brasileira entre as décadas de 1960 e
1970. Mobilizando conceitos como cenas da enunciação (MAINGUENEAU, 2004,
2006, 2008), relações de poder-saber, dispositivo (FOUCAULT, 1999; GREGOLIN,
2015), entre outros, de antemão, há, nas atividades planejadas, nos textos
escolhidos, nas fotos ilustrativas, a instalação de um Brasil embranquecido, de
classe econômica estável. Acerca dos discurso ativados, é possível identificar
o discurso da "democracia racial", o discurso "da corrupção inata do brasileiro",
o discurso "do regional docilizado". Para aquém ou além disso, há, em ambos
os LDs, um silenciamento acerca do período de grande instabilidade pelo qual
o Brasil passava - a Ditadura Civil-Militar. Há, também, em todas as atividades,
o apagamento das desigualdades raciais, sociais e econômicas existentes no
território nacional.

Palavras-chave: discurso; (trans)brasilidade; livro didático.

Espaço associado e espaço canônico na empresa


TAG – Experiências Literárias
Autoria: JÚLIA MARTINS FERREIRA

Nesta pesquisa recém-iniciada, propomo-nos a refletir sobre o “mimo” que


compõe a “experiência literária” oferecida pela empresa TAG – Experiências

519
Comunicação Oral
Análise do discurso

Literárias, que relações se estabelecem entre literatura, leitor e editora com a


presença desse objeto a princípio não editorial? Para responder a essa pergunta,
utilizaremos os conceitos de espaço associado e espaço canônico propostos
por Maingueneau (2012) e o conceito de médium de Debray (2000). A empresa,
criada em 2014, é um clube de livros que declara incentivar a leitura – “em um
país de poucos leitores” – e a manter a cultura do livro impresso, uma “missão”
que encontramos em seu site. Assim, seus assinantes recebem em suas casas,
a cada mês, uma caixa que contém: um livro com edição exclusiva, um marca-
páginas personalizado, uma revista sobre o autor(a) do título do mês, além
do que a empresa chama de mimo, um objeto que está relacionado com a
história do livro ou não (relacionado ao livro, à literatura, ao autor ou, inclusive,
à missão da empresa). Os assinantes contam ainda com um aplicativo onde
podem trocar experiências e marcar encontros presenciais. A problemática
encontrada foi a de que, ainda que a missão declarada pela empresa seja
incentivar a leitura, o livro tem sido apagado neste processo quando os usuários
e a própria empresa (SILVEIRA, 2018), tanto no aplicativo quando no Instagram
da empresa, questionam, comentam ou explicam o mimo, se é bonito ou feio, útil
ou não etc. O mimo, assim, passa a uma posição de destaque dentro da relação
editora-leitor. Por isso mobilizamos o mimo como um médium, uma vez que a
perspectiva midiológica se ocupa em estudar “como uma ideia se transforma
em força material” (DEBRAY, 2000). Nossa hipótese de trabalho, frente a essa
experiência que configura um serviço dentro do mercado editorial, é a de que
o mimo produz um espaço associado, e o que a TAG propõe como literatura
configura o espaço canônico para o qual o primeiro aponta (MAINGUENEAU,
2012). Nesta hipótese, a proposta de literatura da empresa editorial e o mimo
não podem ser desassociados, juntos produzem o valor da obra e também
definem a posição da própria empresa no mercado editorial.

Palavras-chave: clube de leitura; espaço associado; espaço canônico.

520
Comunicação Oral
Análise do discurso

Padrões discursivos na dialética entre os Livros


de Defesa dos EUA e da China à luz da semântica-
lexical e da Análise Crítica do Discurso
Autoria: KARINA COELHO PIRES
Coautoria: RAFAELA ARAÚJO JORDÃO RIGAUD PEIXOTO

Novas facetas de multilateralismo têm motivado realinhamentos de relações


de poder tradicionais, estabelecidas globalmente, especialmente em relação
aos Estados Unidos e à China. Esse novo ambiente estratégico em potencial é
evidenciado não apenas pelas mudanças realizadas na versão de 2020 do Livro
Branco de Defesa Nacional (LDBN) do Brasil, mas também na dialética entre
os Livros de Defesa dos Estados Unidos (2017) e da China (2019), que parecem
apontar diferentes estratégias para ações de cooperação global. Nesse sentido,
o presente trabalho objetivou comparar os padrões discursivos presentes nos
livros de Defesa dos Estados Unidos e da China, particularmente nos respectivos
capítulos sobre cooperação internacional (Pillar IV “Advance American Influence”
e Chapter VI “Actively Contributing to Building a Community with a Shared Future
for Mankind”); e, de forma mais específica, investigar como esses realinhamentos
podem impactar o setor de defesa brasileiro. Para isso, a análise foi realizada em
duas fases: (1) por meio do estudo de características gerais dos Livros de Defesa
dos EUA e da China; e (2) mediante comparação de discursos expressos nos
capítulos sobre cooperação internacional em cada Livro de Defesa. Os padrões
discursivos foram analisados com base nos quadros teórico-metodológicos
de semântica lexical (Cf. L'HOMME, 2020; PEIXOTO; PIMENTEL, 2020) e de
análise crítica do discurso (Cf. FAIRCLOUGH, 2003, 2016), complementados por
arcabouços acerca de identidade e de hegemonia (CASTELLS, 2018; SILVA, 2014;
WOODWARD, 2014; SAID, 1990). A análise demonstrou que a dialética de ideias
propostas nos dois Livros de Defesa apreciados está centrada nos esforços de
cooperação para o bem comum; contudo, a definição de "interesses comuns"
pode ser influenciada por interesses específicos. Como resultado, verificou-se
que elementos de campos semânticos, de intertextualidade e de modalidade
presentes no discurso constituem parâmetros que poderiam contribuir para

521
Comunicação Oral
Análise do discurso

a apreciação de ações de cooperação e de dissuasão a serem adotadas pelos


EUA e pela China no século XXI.

Palavras-chave: identidade; defesa; Análise Crítica do Discurso.

Uma perspectiva sistêmico-funcional sobre a


multimodalidade veiculada na web: uma leitura do
discurso publicitário
Autoria: KARLA MARIANA SOUZA E SANTOS
Coautoria: ANNA BEATRIZ MORMETTO ALVARENGA

A emergência de ferramentas tecnológicas, na sociedade contemporânea,


possibilitou o surgimento de arranjos semióticos multifuncionais e combinados
sobremaneira em imagens, cores, designs e recursos não verbais. Assim é
que a publicidade se tornou altamente multimodal, passando a potencializar
significações em anúncios. Nessa senda, observa-se uma propagação
de múltiplas semioses pela publicidade, sobretudo, em meios digitais e,
consequentemente, uma potencialização do seu poder de influência sobre
potenciais consumidores. Assim é que este estudo se justifica por analisar
essas configurações semióticas inovadoras e altamente persuasivas. Por isso
é que propomos analisar a construção multimodal de discursos publicitários,
veiculados na Web, no intuito de disponibilizar a consumidores em potencial
uma leitura multimodal. Para a composição do corpus escolhemos 1 anúncio
da marca Salon On-line com a finalidade de realizar um estudo qualitativo-
interpretativo. Para tanto, fundamentamo-nos no aporte teórico de fundamentos
sistêmico-funcionais. Inicialmente, consideraremos os pressupostos teóricos
da Gramática Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 2004); entrecortada pela Teoria
da Multimodalidade cujas categorias teóricas são embasadas na Gramática do
Design Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006[1996]) na qual semioses veiculadas
em gêneros textuais/discursivos são compostos por arranjos funcionais. Em
seguida, pautaremo-nos, nos estudos de Fairclough (2003 [2001]), para verificar
significações embutidas em novas configurações linguísticas emergentes.
Como procedimentos metodológicos, neste recorte, valeremo-nos das seguintes

522
Comunicação Oral
Análise do discurso

categorias de análise previstas pelas gramáticas supracitadas: metafunções


ideacional e interpessoal, no âmbito dos estudos verbais; das metafunções
representacional e interativa, no contexto de configurações semióticas não
verbais; e da metafunção identitária no que se refere a questões discursivas.
Assim é que aventamos a hipótese de que construções semióticas configuradas
por meio da linguagens verbal e da visual dispostas, no gênero publicitário,
indicam a existência de estratégias persuasivas cujo propósito é o de que
propensos consumidores não só adquiram produtos ofertados, como também
desenvolvam hábitos de consumo, construam estilos de vida e formem
identidades ao aderirem a ideias veiculadas em anúncios.

Palavras-chave: Gramática Sistêmico-Funcional; multimodalidade; discurso


publicitário.

A escritora favelada: uma reflexão sobre a constituição


do nome de autor de Carolina Maria de Jesus
Autoria: LAURA JULIANI MOLLO

O presente trabalho é parte preliminar da nossa dissertação de mestrado, que


tem como objetivo investigar como se institui o valor de autoria para o nome
de autor Carolina Maria de Jesus. Amparada pelo referencial teórico da Análise
do Discurso e pelo modelo teórico-metodológico da paratopia criadora de
Dominique Maingueneau, a pesquisa analisa sob uma perspectiva editorial três
livros de Jesus, buscando explicitar o funcionamento das instâncias paratópicas
em cada um desses objetos editoriais. Nesta apresentação, vamos focar em
expor nosso quadro teórico e, a partir dele, evidenciar os atores envolvidos na
edição, publicação e circulação do primeiro livro de Carolina Maria de Jesus,
o Quarto de Despejo: diário de uma favelada, que se destaca como fenômeno
editorial em 1960, ano de seu lançamento. Justificamos o foco na referida obra,
pois os processos que constituem a estreia da escritora no mundo literário
representam um ponto de inflexão da constituição dessa autoria. Carolina Maria
de Jesus passou anos tentando publicar seus escritos, mas só obteve sucesso
na empreitada ao conhecer Audálio Dantas, jornalista que se empenhou em

523
Comunicação Oral
Análise do discurso

editar e publicar suas produções, bem como estabelecer uma série de relações
no meio editorial. Seu primeiro livro é, ainda hoje, sua obra mais conhecida e
relembrada, sendo reeditada ano após ano. Não se trata, portanto, apenas do
nascimento de Jesus como autora consagrada pelos meios tradicionais da
literatura, mas do estabelecimento de um ponto de partida. A publicação de
Quarto de Despejo marca a sua trajetória e toda sua produção subsequente
justamente por ser o primeiro e mais importante referencial editorial da sua
carreira. Por isso enxergamos aqui um ponto privilegiado para compreender a
autoria como a relação entre as três instâncias paratópicas de Maingueneau:
pessoa, escritor e inscritor. Não nos deteremos apenas nessa dinâmica, mas,
baseando-se no trabalho do teórico francês, também pensaremos sobre
a constituição do espaço canônico – aquele da obra autoral – e do espaço
associado – aquele por onde a obra circula e é repercutida. Fazemos isso para
entender como se dá a gestão dessa autoria cujo caráter é transitivo. Além
disso, buscamos desfazer a ideia de autoria como uma unidade homogênea
calcada na individualidade daquele que compartilha seu nome pessoal com o
nome de autor. Propomos, ao contrário, vê-la como uma dinâmica viva entre
os atores e objetos técnicos que permeiam a atividade literária a partir do seu
aspecto editorial.

Palavras-chave: Análise do Discurso Literário; paratopia criadora; Carolina


Maria de Jesus.

Os discursos conservador e liberal na entrevista


de Bolsonaro ao Roda Viva
Autoria: MAIT PAREDES ANTUNES

Este trabalho analisa, pelo conceito de ideologia, como desenvolvido por


Valentin Volóchinov em Marxismo e Filosofia da Linguagem, a primeira resposta
dada por Jair Bolsonaro no programa Roda Viva de 30 de julho de 2018. Tal
resposta, sobre uma possível marca de seu governo caso ganhasse as eleições,
faz referência a elementos como comércio livre, segurança pública, respeito à
família e tornar o Brasil liberal. Já nesses primeiros minutos da entrevista são

524
Comunicação Oral
Análise do discurso

mobilizadas as ideologias neoliberal e conservadora, a princípio contraditórias,


e que serão analisadas neste trabalho, com o auxílio da transcrição da fala,
enquanto posicionamentos sócio-ideológicos e sua relação com o contexto de
produção dessas ideologias. A filosofia da linguagem e o método sociológico,
como desenvolvidos pelo Círculo de Bakhtin, compõem uma metodologia
pertinente à aproximação de um objeto que reflete condições materiais de
produções ideológicas e as refrata de modo a servir a interesses canalizados
em uma figura cuja determinação é social, histórica, política e ideológica. Por
isso, investiga-se a articulação histórica entre ideologia e o discurso de Jair
Bolsonaro; a hipótese que se levanta é a de que os signos ideológicos verbais
presentes nesse discurso revelam que as ideologias neoliberal e conservadora
não são contraditórias, mas que o avanço da agenda neoliberal por diversos
países, inclusive o Brasil, alterou as condições materiais de produção ideológica
de modo que os discursos conservadores são mobilizados como necessários à
manutenção da ordem social à medida que as contradições sociais passam por
um acirramento. Essa hipótese se apoia na concepção de que os enunciados são
elos na cadeia discursiva, e na de que as bases materiais são o ponto de partida
da ideologia e dialeticamente influenciadas, de modo que os discursos organizam
e constroem um sentido social. Logo, procura-se entender toda e qualquer
criação ideológica como fato social, posicionado entre indivíduos sociais – o
que permite a abordagem da linguagem enquanto objetiva, material, sígnica e,
consequentemente, ideológica, coletivamente organizada e concreta. Assim,
é traçado o percurso histórico do neoliberalismo desde sua origem enquanto
retórica econômica, sua ampliação e conciliação com o discurso conservador,
organizada pelas falas do então candidato à presidência Jair Bolsonaro.

Palavras-chave: Jair Bolsonaro; ideologia; Análise Sociológica do Discurso.

O discurso racista e elitista como justificativa para


a impunidade
Autoria: MARA RUBIA NEVES COSTA FANTI

Os meios de comunicação têm noticiado diversos casos de racismo e injúria


racial, os quais têm provocado acalorados debates nas diferentes esferas e,

525
Comunicação Oral
Análise do discurso

especialmente, nas redes sociais, agravando ainda mais a polarização política e


social que tanto prejudica o progresso e a credibilidade externa do país. Para além
dos debates, questiona-se a motivação de tais comportamentos condenados
por grande parte da sociedade, uma vez que se percebe o fortalecimento de
movimentos e militâncias em prol da defesa das minorias marginalizadas.
Tais condições sócio-históricas movem nosso estudo que tem como tema a
utilização dos discursos racista e elitista em charges produzidas para a mídia
impressa e digital do jornal Folha de São Paulo. Essas charges visam denunciar
posicionamentos que, embora jamais assumidos, produzem discursos, legitimam
e justificam práticas criminosas. Por meio da análise da charge de Leandro
Assis e Tricila Oliveira, publicadas no jornal Folha de São Paulo, tanto na mídia
impressa quanto digital, objetivamos verificar como os posicionamentos racista
e elitista se interligam e perpetuam práticas que são balizadas pela classe social
e pela raça e como os discursos atópicos são empregados como instrumento
de denúncia. Para tanto, tomamos como referencial teórico-metodológico a
Análise do Discurso de linha francesa, na figura de Dominique Maingueneau
2008, 2015). A partir das categorias dos discursos atópicos, memória discursiva
e a multimodalidade, analisamos como os discursos racista e elitista estão
imbricados no corpus e como perpetuam discursos pertencentes à memória
discursiva da sociedade brasileira ainda que de forma negada ou não assumida.
Como resultado, verificamos que os discurso racista e elitista ainda que não
assumidos objetivamente por muitos setores da sociedade brasileira, justificam
e legitimam essas condutas, as quais são fruto de discursos atópicos, localizados
à margem da sociedade, mas amplamente reproduzidos e consumidos,
configurando um conjunto de crenças da elite branca e endinheirada a qual
concentra os meios de produção e renda em território nacional.

Palavras-chave: discursos atópicos; memória discursiva; multimodal.

526
Comunicação Oral
Análise do discurso

O signo ideológico e o embate de vozes sociais na


arena escolar
Autoria: MARCELO DA SILVA JUSTINIANO

Pretende-se nesta comunicação apresentar e propor a reflexão crítica e o debate


sobre os diversos discursos que se materializam no espaço da esfera social
escolar da educação pública do ensino fundamental I em escolas de periferias
de grandes centros urbanos. Propomos a análise dialógica destes discursos
considerando os diferentes sujeitos discursivos que se manifestam nesta esfera
– alunos, professores e equipes pedagógicas – bem como a diversidade dos
gêneros do discurso, orais e escritos, que ali se realizam – relatórios, interações
em sala de aula, interações na sala dos professores, documentações pedagógicas,
normativas, comunicados etc. Este trabalho nasce de uma pesquisa de mestrado
realizada nos anos de 2017, 2018 e 2019 em escolas de regiões do ABC paulista e
grande São Paulo, tendo como autor professor atuante na rede pública de ensino
há treze anos. Tivemos como aporte teórico/metodológico as concepções de
linguagem de Mikhail Bakhtin e seus conceitos de dialogismo, gênero discursivo,
cronotopo, signo ideológico, forças centrípetas e centrífugas. Estabelecemos,
a partir daí, um profícuo diálogo com a pedagogia crítica no Brasil de Paulo
Freire e a escola francesa de Pierre Bourdieu e Michel Foucault. Por meio deste
cabedal teórico/metodológico, ao que alguns teóricos brasileiros denominam
Análise Dialógica do Discurso, podemos propor que se realizam nesta esfera dois
discursos antagônicos. Um de ordem neoliberal de uma pedagogia tecnicista de
currículo tradicional e outro de cunho progressista de uma pedagogia libertária
e emancipatória de currículo crítico social – conceitos vistos em Libâneo. Neste
embate de discursos divergentes, percebe-se que o primeiro busca um processo
de silenciamento, desvalorização e marginalização de seu oposto, tornando-se
o imperativo nesta esfera discursiva há décadas. Deste modo, nos foi possível
propor a hipótese de possíveis mecanismos discursivos que se realizam a fim da
manutenção do status quo na educação pública destas regiões. Temos, então,
como desafios de pesquisa futura verificar estes mecanismos discursivos e
aferir em que medida são capazes de moldar o fazer pedagógico nesta esfera
de comunicação.

Palavras-chave: gênero discursivo; signo ideológico; pedagogia crítica.

527
Comunicação Oral
Análise do discurso

Acontecimento e memória em tempos de


pandemia: resistência e(m) arte no/pelo digital
Autoria: MARCO ANTONIO ALMEIDA RUIZ

O ano de 2020 ficará marcado na história como o ano de grandes mudanças


e transformações sociais. Nesse cenário foi preciso ressignificarmos nossos
modos de vida em razão do surgimento de um vírus aparentemente desconhecido
e bastante letal, o SARS-CoV-2, que causa a Covid-19. Com isso, foi preciso se
redescobrir, se reinventar diante de tantas mudanças e de um “novo normal”
latente e imposto pela grave crise sanitária. Além disso, vivemos uma crise política
sem precedentes com a figura de um chefe de Estado que insiste diariamente
em minimizar e zombar da doença chamando-a de “gripezinha”, em normalizar
as mortes como naturais e inevitáveis, em negar os paradigmas científicos,
em difamar os pesquisadores empenhados no desenvolvimento da vacina, em
omitir os dados e as estatísticas sobre a situação nos hospitais do país e em não
manifestar em momento algum qualquer tipo de empatia, amor com as famílias
dos mortos. Tais atos só mostra(ra)m o despreparo, incompetência e negligência
no tocante ao controle da Covid-19 no país, representando um governo inepto
e genocida sem qualquer cuidado com a população brasileira. Como formas
de resistência a essa política genocida e a falta de gestão no controle da
pandemia, irromperam no/pelo digital diferentes modos de ressignificar as
mortes ocasionadas pela doença que as fazem não como simples dados e
estatísticas divulgados oficialmente, mas como lembranças carinhosas de
entes queridos que perderam a batalha contra o vírus, ratificando, assim, traços
singulares de suas subjetividades. Logo, este resumo, inscrito nos pressupostos
teóricos da análise do discurso de matriz francesa, em especial nos conceitos
desenvolvidos por Michel Pêcheux (2008, 2010) e seu grupo, tem como objetivo
observar os efeitos de sentidos criados com a emergência de memoriais virtuais
que ressignificam o acontecimento da pandemia de Covid-19 no Brasil. Tais
memoriais, a nosso ver, constituem como acontecimentos discursivos capazes
de restaurar e ressignificar novas memórias sobre o morrer, (re)contando-as
por meio da arte e da resistência, além de desregular os implícitos e já ditos

528
Comunicação Oral
Análise do discurso

cristalizados por práticas sociais numa memória social. Para esta nossa reflexão,
selecionamos algumas publicações do perfil @Inumeraveismemorial da rede
social Instagram e na sua página eletrônica a fim de analisar a oposição vida
versus morte e os efeitos de sentido gerados quando tais discursos se (re)
produzem em meio digital. (Apoio: FAPESP – Processo 2020/10660-1)

Palavras-chave: acontecimento; memória; pandemia.

Corpos violentados, vozes silenciadas: a violência


contra a mulher na sociedade contemporânea
Autoria: MARESSA GARCIA URBANO

Segundo dados levantados pela série de reportagens "Um vírus e duas guerras",
projeto desenvolvido de forma colaborativa entre as mídias independentes
Amazônia Real, AzMina, #Colabora, Eco Nordeste, Marco Zero Conteúdo,
Portal Catarinas e Ponte Jornalismo, Mato Grosso do Sul, por exemplo, tem
a terceira maior taxa de feminicídio do país no período entre março e agosto
de 2020, registrando 1,16 casos a cada 100 mil habitantes mulheres. A série
mencionada visou monitorar os casos de feminicídios e de violência doméstica
no período da pandemia no Brasil, em 2020, visibilizando o debate sobre a criação
ou manutenção de políticas públicas de prevenção à violência de gênero no
Brasil. Com base nestes dados, formula-se a hipótese de que as estatísticas
apresentadas são fruto de uma sociedade patriarcal, sustentada por discursos
misóginos, e que leis como “Maria da Penha” ainda não dão conta de amparar
todas as mulheres brasileiras, principalmente negras e indígenas. Será que a lei
“Maria da Penha” é para todas? Quais são os efeitos de sentido das formações
discursivas misóginas? Deste modo, a partir das perguntas propostas, o principal
objetivo dessa pesquisa consiste em discutir questões referentes à violência
contra mulher na sociedade contemporânea. Já os objetivos específicos são:
1) Caracterizar a perspectiva teórica da pós-modernidade em relação ao
conceito de identidade proposto pela AD e ao conceito de Backlash, a partir de
Faludi (2001), 2) Investigar se há a presença de formação discursiva e discursos
patriarcais, misóginos, hegemônicos e perpetuadores do status quo no que
tange à violência contra a mulher, a partir de distintas concepções e questões

529
Comunicação Oral
Análise do discurso

de gênero. Tal análise dar-se-á por meio dos pressupostos teóricos da Análise
do Discurso de linha francesa, conforme Pêcheux (1997), para o conceito
acontecimento, Foucault (1987), para as noções de formação discursiva (FD),
discurso representação social e saber-poder, Lacan (1998), acerca do sujeito
psicanalítico, e também, Butler (2015), Ribeiro (2017), acerca das questões de
gênero, dentre outras vozes, embasando nossa reflexão, que posteriormente
nos possibilitará uma compreensão menos opaca da sociedade atual, marcada
por corpos violentados e vozes silenciadas.

Palavras-chave: análise do discurso; discursos misóginos; violência contra a


mulher.

O militantismo do movimento secundarista:


discursos subversivos atravessados pelo digital
Autoria: MARIANA MORALES DA SILVA

No marco das manifestações de rua no Brasil entre 2013 e 2016, surgiram


ou encenaram fases de grande visibilidade distintos movimentos sociais
ancorados nas redes sociais digitais com expressiva articulação com o espaço
urbano. Tais movimentos estabeleceram relação de apoio ou conflito com os
meios massivos de comunicação frente às distintas narrativas sócio-políticas
construídas tanto sobre o cenário político do país quanto sobre as práticas
de cada movimento. O presente estudo focaliza o caso do movimento dos
estudantes secundaristas, que nos anos de 2015 e 2016 ocuparam escolas em
protesto contra, sobretudo, a proposta do governo estadual de reestruturação
das escolas paulistas. Neste contexto, duas narrativas conflitivas foram
construídas, de um lado dos meios massivos de comunicação e de outro do
próprio movimento, que por meio de páginas na rede social digital Facebook,
compartilhou sua narrativa diária sobre as ocupações. Ao indagar sobre os
novos modos digitais de participação sóciopolítica, o estudo visa compreender
o funcionamento de um discurso subversivo materializado na convocatório de
evento com caráter de protesto denominado “Vandalismo cultural” organizado
em apoio ao movimento. Para tanto o caso em questão é posto em análise na

530
Comunicação Oral
Análise do discurso

relação com os discursos que subverte, quais sejam: os artigos jornalísticos do


jornal Folha de S. Paulo, escolhido como representante metonímico dos meios
massivos de comunicação, mais especificamente dos cadernos de educação,
que durante o ano de 2015, principalmente, relataram os atos de ocupações das
unidades escolares mobilizando de forma mais frequente dizeres e sentidos
relacionados a termos como “invasão” e “vandalismo” mesmo quando na
manchete se identifica a inscrição do termo “ocupação” para nomear a prática
do movimento. Alicerçado na teoria de ressignificação (PAVEAU, 2019), a qual
busca dar conta de práticas tecnodiscursivas de repetição subversiva pela web
participativa, o estudo empreende um exercício analítico sobre o argumento da
salamandra no militantismo. Nesse sentido são analisados os sete critérios que
compõem a tipologia das práticas tecnodiscursivas, nos sentidos pragmático,
interacional, enunciativo, semântico axiológico, discursivo, sócio semântico e
pragmático político. Conclui-se que a prática discursiva de ativismo materializada
nos dizeres “Vandalismo cultural” ancora-se na tecnodiscursividade (PAVEAU,
2019) para produzir um enunciado ressignificado com traços revolucionários,
pois ao subverter o discurso dominante, produz tanto uma resistência quanto
uma demanda por reparação narrativa.

Palavras-chave: discurso digital; movimento estudantil; meios massivos de


comunicação.

Das orientações retóricas ao ensino do


planejamento da argumentação em Comunicação
em Prosa Moderna
Autoria: MATEUS RODRIGUES DE MOURA

As práticas de produção textual fazem parte da vida social de todo indivíduo que
se encontra imerso em um meio cultural, no qual a escrita configura-se como
uma das importantes formas de interação entre sujeitos. Produzir um texto é,
nesse sentido, uma atividade bastante complexa e pressupõe um autor atento
tanto às exigências e necessidades, como aos propósitos necessários pelo
seu contexto histórico e sociocultural, além de também ser capaz de realizar

531
Comunicação Oral
Análise do discurso

diversas ações e projeções de cunho textual e discursivo, antes e durante a


elaboração textual. O objetivo deste trabalho é compreender o conceito de
argumentação e os modelos utilizados em Comunicação em Prosa Moderna:
aprenda a escrever, aprendendo a pensar (doravante CPM), de Othon Garcia,
observando, ao longo de novas edições, suas mudanças e permanências. À
luz dos conceitos bakhtinianos de “heterodiscurso”, “enunciado concreto” e
“texto moldura”; de modelos de argumentação (PLANTIN, 2008) e de princípios
lógico-retóricos (FERREIRA, 2020), dois objetivos específicos são almejados: (i)
descrever e analisar a construção composicional e os modelos de argumentação
empregados na obra, de forma a identificar permanências e mudanças ao longo do
período histórico de recepção (década de 1960); e (ii) compreender os conceitos
de argumentação e o viés lógico-retórico empregados nas propostas do manual
de redação, a fim de identificar as diferentes fontes teórico-metodológicas que
a ele estão subjacentes. A pergunta central que norteia a pesquisa é: o que é
argumentar para Othon Moacyr Garcia? Partindo dela, serão observados três
pontos centrais, a saber: (1) a maneira de organizar e construir, conforme Garcia,
um parágrafo; (2) a seleção de textos argumentativos que o autor apresenta ao
interlocutor; e (3) os exercícios e as atividades de cada capítulo em análise. Para a
composição do corpus, foi selecionada a 27ª edição, de 2010, e nela os seguintes
capítulos: "Como desenvolver o parágrafo", da terceira parte, e "Argumentação",
da sétima parte do livro. Tem-se como hipótese final a noção de um manual de
redação pautado no ensino da argumentação por meio de perspectivas retóricas
aristotélicas, com finalidade de ensinar o aluno a convencer, a persuadir; e
também por meio de um viés lógico, ligado à qualidade e à eficácia da escrita
e do(s) argumento(s).

Palavras-chave: argumentação; retórica; análise discursiva.

O fio da história: memórias discursivas e


representações históricas na literatura angolana
Autoria: MICHELINE TACIA DE BRITO PADOVANI

O analista do discurso literário das literaturas africanas em Língua Portuguesa


costuma ficar diante da condição pós-colonial e da complexidade cultural,

532
Comunicação Oral
Análise do discurso

ideológica e histórica apresentada por essas literaturas expressas por meio da


memória discursiva. Assim, a pesquisa com esses textos literários pressupõe
um trabalho de equilíbrio entre os conceitos teóricos da Análise do Discurso
e uma visão ligada às tradições culturais que elas representam. Nessa esteira
de pensamento destacamos a importância que a literatura angolana em
língua portuguesa tem tanto em relação ao discurso literário quanto ao grau
de criticidade e de representação do contexto africano, além da valorização
de questões sociais que interagem com todo o processo de construção da
identidade cultural. Na literatura angolana, a memória discursiva é um fenômeno
que expõe o espaço cultural, ideológico e histórico lusoangolano, a concepção
de mundo e identidade dos povos que ali vivem. Dessa forma, o discurso literário
é um meio de representação do contexto histórico e cultural e da realidade local
de Angola. Posto isso, o presente trabalho procura analisar aspectos culturais,
ideológicos e históricos relacionados à memória discursiva e à identidade na obra
O vendedor de passados, do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Como
aporte teórico-metodológico, privilegiamos os estudos propostos por Antônio
Candido (2013), Dominique Maingueneau (1995, 2006, 2020), Fonseca (2003) e
Hall (2016), entre outros. O percurso metodológico incluiu estudo histórico para
compreender o contexto de produção da obra, além de algumas características
da narrativa e particularidades dos personagens, pois esse trabalho literário
serve como instrumento discursivo para representação cultural, identitária e
humana em contexto regional. Assim, pretendemos mostrar que a linguagem
é um recurso literário que sintetiza uma tensão vigente no contexto social e
histórico, pautada no conflito entre a violência e a ordem. Para Maingueneau
(1995, p. 146) as ideias contidas no discurso literário apresentam “uma maneira de
dizer que remete a uma maneira de ser”, demonstrando as diversas constituições
ideológicas e culturais. É relevante destacar que a literatura pós-colonial opera
para a reconstrução da identidade nacional multifacetada e que foi silenciada
por anos de colonialismo.

Palavras-chave: discurso literário; memória discursiva; literatura angolana.

533
Comunicação Oral
Análise do discurso

A cultura do cancelamento no dispositivo midiático:


subjetividade e prática de si
Autoria: MICHELLE APARECIDA PEREIRA LOPES
Coautoria: DANILO VIZIBELI

Em 2019, o Dicionário Macquaire, um dos responsáveis por selecionar, a


cada ano, palavras e/ou expressões mais utilizadas, escolheu a expressão
“cultura do cancelamento” como o termo do ano, isto é, ao se observar as
redes sociais e demais aplicativos da internet, essa expressão apareceu como
sendo a mais representativa das ações ocorridas em rede, naquele ano. A
dita “cultura do cancelamento” foi para 2019 uma espécie de zeitgeist e não
deixou de acontecer nos dois anos seguintes. De modo geral, essa “cultura
do cancelamento” corresponde ao ato de usuários cancelarem alguém na
internet, deixando de segui-lo em alguma rede social, por exemplo. As razões
que provocam o cancelamento são ditos, posturas e/ou comportamentos que
a sociedade tem reprovado, por exemplo, um enunciado cujo sentido possa
ser o do preconceito racial, homofóbico, do trabalho escravo ou análogos a
esses. As vítimas do cancelamento podem ser pessoas desconhecidas, famosas,
celebridades e até mesmo grandes marcas, redes de loja, dentre outros. Em
2021, no Brasil, a expressão ganhou destaque na 21ª Edição do reality show Big
Brother Brasil, da emissora Rede Globo, quando a rapper Karol Conká, uma
das participantes, promoveu o cancelamento do colega Lucas Penteado, outro
participante do programa. Para trazer à discussão a cultura do cancelamento,
neste texto, elaborado em consonância com o pensamento de Foucault (2014),
partimos da hipótese de que a mídia é um dispositivo de controle dos sujeitos
contemporâneos, no qual a cultura do cancelamento tem se mostrado como
uma prática discursiva e não discursiva que atua no interior desse dispositivo e
produz subjetividades. Nossa proposta é analisar discursivamente enunciados
produzidos pela cultura do cancelamento em redes sociais como o Twitter,
Facebook e Instagram, no período de 2019 a 2021, no Brasil, para evidenciar
que, no dispositivo midiático, a produção de subjetividade advinda da cultura
do cancelamento decorre menos da coerção, que implica na disciplinarização

534
Comunicação Oral
Análise do discurso

do(s) sujeito(s), e mais pelas escolhas feitas por esse(s) sujeito(s), ou seja, a
opção por cancelar o outro pode ser compreendida como uma prática de si e
a rede como um espaço para essa prática.

Palavras-chave: cultura do cancelamento; dispositivo; subjetividade.

Da leitura à escrita: notas sobre os “cadernos de


notas” de Rui Barbosa e Florestan Fernandes
Autoria: PÂMELA DA SILVA ROSIN

Ao longo da história, diversas foram as técnicas empregadas para o cultivo


do excerto. Sujeitos das mais variadas culturas dedicaram-se a comparar ou
até mesmo orientar formas de coletar frases para a produção de textos tanto
escritos quanto orais. Em nossa tese, nos dedicamos a analisar e a descrever
as especificidades de apropriação dessa técnica de leitura e escrita que se
vale da seleção e da anotação de frases dos textos lidos, de modo a possibilitar
seu emprego posterior na construção de outros textos. Para tal, nos valemos
dos arquivos de dois intelectuais de relevo no Brasil: a Fundação Casa de Rui
Barbosa e ao Fundo Florestan Fernandes (DeCORE/UFSCar), que possuem em
seu acervo os “cadernos de notas”, respectivamente, do jurista Rui Barbosa e
do sociólogo Florestan Fernandes. Assim, selecionamos, dentre os diversos
manuscritos desses autores, três cadernos de notas de cada um deles para
analisarmos suas singularidades e suas semelhanças. Em nossa análise, nos
apoiamos em princípios e conceitos da Análise do Discurso de linha francesa e
da História Cultural da leitura, dado que, para ambas, é consenso que os sujeitos
exercem suas singularidades inscritos nas grades flexíveis que a sociedade, a
história e a cultura propiciam para cada indivíduo, o que nos fornece modos para
analisar e “situar” historicamente nosso objeto de análise seja em sua condição
material histórica, seja em sua condição cultural. Desse modo, todo e qualquer
objeto cultural indicia discursos e representações existentes na origem de sua
produção e são determinantes de suas condições de existência. Os intelectuais
brasileiros por nós selecionados, Barbosa e Fernandes, são sujeitos de um
tempo-espaço e por essa razão se sujeitam a discursos e a representações

535
Comunicação Oral
Análise do discurso

compartilhadas nesse espaço temporal e cultural que se inscrevem. O modo


como leem e escrevem, isto é, como selecionam, anotam, apropriam-se das
“frases” que compõem seus “cadernos de notas” se deve, em grande medida,
aos discursos e às representações do que é ler, do que é escrever, do que é
ser intelectual na sociedade brasileira na segunda metade do século XIX e na
primeira metade do século XX. Assim, mesmo que apresentem semelhanças na
coleta de frases, distanciam-se ao apresentar diferentes técnicas, finalidades e
empregos dessas “frases” em seus textos-fins. (FAPESP – Processo: 2016/00427-2)

Palavras-chave: história da leitura; técnicas de leitura e escrita; cadernos de


notas.

Os estudos discursivos foucaultianos na análise do


cinema sobre a ditadura civil-militar no Brasil (1979-
2018): um olhar para as formas de resistências
Autoria: RAFAEL MARCURIO DA COL

Este trabalho é parte da tese em andamento intitulada, As resistências em filmes


nacionais sobre a ditadura civil-militar (1979 – 2018): o método arquegenealógico
na análise do discurso cinematográfico, na qual analisamos as formas de
resistências à ditadura que emergem no cinema nacional. Objetivamos com
esta comunicação demonstrar a pertinência teórica e analítica dos estudos
foucaultianos sobre o cinema em três níveis. No primeiro nível, pensaremos na
construção dos enunciados que compõe o discurso cinematográfico, a fim de
percebermos sua possibilidade de emergência, considerando-o um monumento,
pois está envolto por saberes e poderes que, mais do que nos rememorar fatos
do passado, também nos remetem a sua dispersão de produção. No segundo
nível, trataremos das relações microfísicas de poderes e de resistências
dispostos nesses enunciados, a escolha por demonstrar determinada posição
do sujeito em sua relação com o poder. E, por fim, no terceiro nível, analisaremos
as posições necessárias a serem desempenhadas pelos indivíduos para
se tornarem, sujeitos revolucionários e, assim, compor as várias formas de
resistências que emergem no cinema nacional por diversas subjetividades
e suas relações com a verdade. Além dos movimentos criados pela própria

536
Comunicação Oral
Análise do discurso

materialidade audiovisual de lembranças e esquecimentos de elementos


constituintes desta memória traumática de nosso passado recente que vem nos
assolando cada dia à medida que o governo atual nega todo e qualquer abuso
cometido pelos governos militares que disseminaram o autoritarismo por todo
o país por 21 anos. Em consonância com o pensamento foucaultiano, traremos
outros autores para debater a nossa temática, como: Deleuze, em sua obra sobre
as audiovisualidades; Ismail Xavier, em seus estudos sobre o cinema brasileiro;
Marcus Napolitano, em seus estudos do cinema sobre a Ditadura, dentre outros.
Assim, sob a ótica da arquegenealogia da obra de Michel Foucault, buscamos
não apenas a análise desses filmes, mas entender como estas subjetividades
ainda constituem os indivíduos hoje, no cenário brasileiro, em relação à ditadura
e suas formas de resistências.

Palavras-chave: estudos discursivos foucaltianos; cinema brasileiro.

Representações de evangélicos no discurso


humorístico: aspectos físicos e morais
Autoria: RAFAEL PREARO LIMA

Ancorados nos princípios teórico-metodológicos da Análise do Discurso de


linha francesa (AD), analisamos neste trabalho representações de evangélicos
brasileiros no humor. Dado que os evangélicos constituem atualmente uma
parcela considerável da população brasileira, com presença notável em diversos
setores da sociedade contemporânea (na música, no mercado editorial, na
televisão, no cinema, na política), decidimos analisar como esse grupo é
representado no campo humorístico (cf. POSSENTI, 2013, 2018). Para tanto,
mobilizamos não só conceitos desenvolvidos no âmbito dos estudos discursivos,
mas também outras noções das Ciências Sociais com as quais a AD dialoga,
tal como a noção de estereótipo social, ligada aos estudos da Psicologia
Social. Nesse conjunto de noções e conceitos que orientam nossas análises,
destacamos: (1) memória (PÊCHEUX, 1999; COURTINE, 2009; ACHARD, 1999);
(2) cenas de fala validadas (MAINGUENEAU, 2008a, 2013); (3) ethos discursivo
(MAINGUENEAU, 1997, 2008a, 2008b, 2013); (4) simulacros (MAINGUENEAU,
2008b; POSSENTI, 2013); (5) campos e habitus (BOURDIEU, 1989, 1996, 2003);

537
Comunicação Oral
Análise do discurso

(6) campos discursivos (MAINGUENEAU, 2008a). Além disso, como teoria


auxiliar, recorremos a autores que discorrem sobre o riso/risível (entre outros,
BERGSON, 1983 [1900]; FREUD, 1905; RASKIN, 1984; PROPP, 1992; SKINNER,
2002; MINOIS, 2013). Primeiramente, para compreendermos o interdiscurso do
discurso humorístico, discorremos sobre o habitus ligado à prática discursiva
dos evangélicos, com destaque para dois aspectos, a saber, seus aspectos
físicos (sua corporalidade), bem como seus aspectos morais (seus ideais de
conduta), ambos preconizados pelo próprio discurso dos evangélicos. Em
seguida, partimos para a análise do corpus, composto por diferentes gêneros
do discurso humorístico veiculados em páginas da Internet, para observarmos
como esses dois aspectos são representados. Os resultados da análise indicam
que as representações de evangélicos no discurso humorístico quanto a seus
aspectos físicos e morais não ocorrem de modo aleatório, infundado (ex nihilo),
mas são simulacros de seu habitus e de outros aspectos de sua prática discursiva.

Palavras-chave: evangélicos; campo humorístico; análise do discurso.

A masculinidade de Bolsonaro: modelo de


conceptualização, pré-discursos e cenografia
Autoria: RAFAELA RAMOS DA SILVA NEVES

O objetivo do presente trabalho é analisar os indícios do modelo de


conceptualização da extrema-direita bolsonarista. A hipótese de um modelo
de conceptualização orienta as reflexões de G. Lakoff (1996) para compreender
as diferenças nos posicionamentos políticos de conservadores e progressistas
norte-americanos. Para o autor, tais divergências são, sobretudo, de ordem
subjetiva na medida em que envolvem processos cognitivos como a metáfora
e as categorias radiais. Situada no interior da Análise do Discurso de vertente
francesa e em diálogo com as ciências da cognição, nossa metodologia municia
uma análise que parte de um princípio geral em busca das particularidades do
processo de categorização humana, assumindo, portanto, a existência de um
modelo conceptual próprio ao espectro político da extrema-direita bolsonarista
e buscando, por meio dos enunciados do atual presidente da República, indícios
desse sistema, já que, ao longo de seu mandato, Jair Bolsonaro tem ganhado

538
Comunicação Oral
Análise do discurso

destaque graças a declarações polêmicas, que se tornaram ainda mais frequentes


após o surgimento da pandemia de Covid-19. Nosso corpus conta, por isso, com
as lives realizadas por J. Bolsonaro desde fevereiro de 2020 (momento em que
é registrado o primeiro caso de Covid-19 no Brasil) até agora. Como resultado
da metodologia empregada, encontramos vestígios de um possível sistema de
categorização próprio da extrema-direita bolsonarista, teoria reforçada pela
emergência de enunciados que parecem atuar em conformidade com a hipótese
dos quadros pré-discursivos coletivos de M. Paveau (2013 [2006]), ou seja,
anterioridades discursivas que são mobilizadas na materialidade imediata dos
sujeitos e que interferem tanto na produção quanto na interpretação discursivas.
A consideração em torno do modelo supracitado e dos pré-discursos a ele
associados resulta, ainda, na observação do estilo nacional-populista do chefe
do Executivo do país, o qual é investigado sob a luz da noção de cenografia de
acordo com o que propõe D. Maingueneau (1998).

Palavras-chave: modelo de conceptualização; pré-discursos; cenografia.

Lives presidenciais como fonte de informação


para o povo: notas sobre o discurso político digital
Autoria: RENATA DE OLIVEIRA CARREON

Pensando-se a conjuntura linguageira, na qual o digital passa a ser a condição


de existência e de desdobramento das discursividades, emergem novas práticas
discursivas, sobretudo em relação àquelas ligadas ao uso das redes sociais, que
parecem promover um estreitamento da relação entre cidadãos e instâncias
do poder democrático. A partir disso, como analistas do discurso, somos
instados a nos questionar sobre as categorias que utilizamos para observar,
principalmente, o discurso digital - empreendimento que analistas franceses
e brasileiros têm desenvolvido nas últimas décadas. Nesta comunicação,
buscaremos compreender como a utilização de lives - vídeos ao vivo - no YouTube
por parte do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, orquestra um
rearranjo de práticas político-discursivas que podem se materializar em novas
formas de se produzir teoria em Análise do discurso no/do Brasil, sobretudo
no que concerne à noção de discurso político digital. Mais especificamente,

539
Comunicação Oral
Análise do discurso

buscaremos compreender em que medida adotar as lives como forma de “fonte


de informação para o povo” faz com que haja um novo modo de se fazer política e
de se criar um efeito de proximidade ou de transparência por meio da eliminação
de intermediários decorrentes do vídeo produzido ao vivo que, refém do “efêmero
visível”, aproxima político e eleitor, recriando aquilo que é da ordem do público e
do privado, uma vez que a própria composição da live, nas dimensões técnicas
do silêncio, constrói efeitos de sentido da ordem do íntimo; além disso, silencia
os possíveis mediadores, nos bastidores da organização técnica da live, para dar
lugar unicamente ao seu porta-voz, àquele que fala aos seus. Em razão disso,
para tal empreendimento, mobilizaremos o arcabouço teórico-metodológico da
Análise do discurso do/no Brasil, disciplina fundamentalmente de entremeio,
por questões de sua natureza metodológica, pensada por Eni Orlandi (2005,
2008; 2017) e Cristiane Dias (2018, 2019).

Palavras-chave: discurso político digital; discurso digital; lives.

“Receba a delicadeza”: análise dialógica de um


enunciado de Poetry Slam
Autoria: SIMONY ALVES DE OLIVEIRA

Poetry Slam é o nome dado às batalhas de poesia falada que surgem em Chicago
e teve início com Marc Kelly Smith em um bar, Green Mil Jazz Club, em 1986. As
batalhas são organizadas por coletivos que formam as chamadas “comunidades”.
Nesse sentido, sendo o slam a batalha em si, a comunidade é o conjunto de
pessoas que a compõem (coletivo, poetas, público etc.) e que, além de ideais em
comum, seguem um conjunto de normas e regras, sendo as principais: os poetas
declamarem performaticamente poesias autorais, em no máximo 3 minutos, não
fazerem o uso de adereços e nem de acompanhamento musical ou elementos
cinematográficos. Tais batalhas chegam ao Brasil em 2008 através de Roberta
Estrela D’Alva. Nessa perspectiva, este trabalho toma a segunda comunidade
do país, Slam da Guilhermina, como foco de análise por se tratar da primeira a
realizar batalhas nas ruas e a que possui o maior número de inscritos em seu
canal no YouTube. Para a pesquisa, ainda em andamento, selecionamos os quatro

540
Comunicação Oral
Análise do discurso

vídeos mais visualizados do canal para constituírem o corpus. Consideramos


que os vídeos publicados no YouTube podem ser acessados por um elevado
número de usuários, o que amplia, portanto, as possibilidades de interação.
Diante disso, para esta apresentação, será analisado o vídeo mais visualizado
no canal do Slam da Guilhermina, “Receba a delicadeza | Tawane Theodoro |
Final Slam da Guilhermina 2018”, com o objetivo de examinar como os valores
da vida cotidiana são constituídos no evento artístico e de investigar quais
valores sociais são afirmados. Para isso, fundamentamos nossa pesquisa no
quadro teórico-metodológico da Análise Dialógica do Discurso. Assim, a relação
dialógica entre eu-outro e a concepção de enunciado concreto são o cerne da
nossa discussão. Entendemos, com o Círculo, que a relação eu-outro se dá no
embate de vozes sociais e que esse embate se dá na arena dialógica.

Palavras-chave: análise dialógica do discurso; poetry slam; valor social.

541
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

Aquisição de linguagem: o envelope multimodal em


uma criança autista
Autoria: ÁDELLY KALYNE DA SILVA OLIVEIRA
Coautoria: RENATA FONSECA LIMA DA FONTE

No panorama científico, as produções vocais, o plano do olhar e os movimentos


gestuais foram por determinado período estudados de forma individual; no
entanto, avanços nos estudos linguísticos contribuíram para a reflexão desses
artefatos enquanto segmentos de linguagem, que podem ser concebidos de
maneira integrada. Com foco na abordagem multimodal, perspectiva teórica
que defende a matriz gesto-vocal como um sistema único de significação,
objetivamos analisar a mescla entre olhar, vocalizações e gestos na produção
de uma criança autista do sexo feminino. Além disso, especificamente,
intencionamos identificar como os referidos elementos semióticos contribuem
para a negociação de sentidos na interação e quais os papéis emitidos por esses
componentes significativos em cenas interativas. Para realização do nosso
trabalho, embasamo-nos em Kendon (1982, 2009, 2017), McNeill (2000, 2002),
Ávila-Nóbrega e Cavalcante (2012), Ávila-Nóbrega (2018), Cavalcante (2018),
Chagas, Amarante e Ávila-Nóbrega (2020) e outros. O trabalho é um estudo de
caso de natureza qualitativa. O corpus do estudo foi constituído de descrições
de diferentes elementos semióticos, como plano do olhar, plano gestual e
vocal. Os dados foram coletados de registros audiovisuais retirados do banco
de dados do Grupo de Estudos e Acolhimento ao Espectro Autista – GEAUT/
UNICAP do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem (PPGCL)
da Universidade Católica de Pernambuco. Os dados foram transcritos a partir
do software Eudico Language Annotator (ELAN), que possibilita a transcrição
do plano do olhar, dos gestos e das produções vocais no tempo exato de
combinação síncrona entre os diferentes canais significativos. Os resultados do
estudo demonstraram que a criança autista fez uso do envelope multimodal e a
tríade semiótica de articulação entre gesto, produção vocal e olhar promove um
lócus de enunciação para a criança autista, o uso dos elementos multimodais
pela criança participante do grupo de acolhimento propiciou a compreensão

542
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

de quão relevante é considerar esses componentes no processo de aquisição


linguística. (Apoio: CAPES - Processo 88887-607162/2021-00)

Palavras-chave: multimodalidade; autismo; aquisição de linguagem.

Algumas considerações sobre a avaliação de


linguagem de crianças que (ainda) não falam
Autoria: ANA PAULA MARCELINO RAMOS
Coautoria: IRANI RODRIGUES MALDONADE

Em algumas situações é necessário verificar como as crianças estão em relação


ao processo de aquisição de linguagem, por exemplo, nos atrasos de linguagem.
Neste sentido, duas posições são bem reconhecidas na área: uma que utiliza
instrumentos específicos (testes ou protocolos) e outra que se baseia na
observação da criança nas interações das quais ela participa. Na primeira delas,
observam-se práticas avaliativas baseadas em atividades descontextualizadas,
tais como, a nomeação de figuras, repetição de palavras e comandos de ações
para averiguar a compreensão de ordens pela criança, procurando quantificar
os dados. Já na segunda, a avaliação baseia-se na observação do brincar, em
que as habilidades comunicativas e aspectos do desenvolvimento cognitivo
da criança são analisados. Normalmente, seja qual for o caminho (ou posição
teórico-metodológica) adotado(a), a análise de uma gravação da criança em
situação naturalística será requerida; no primeiro caso, para a confirmação dos
achados obtidos pela testagem e, no segundo, para mostrar a posição do sujeito
no processo de aquisição da linguagem. Por incluir essas duas possibilidades de
avaliação num único instrumento, o Protocolo de Observação Comportamental
(PROC) será aqui enfocado. Desta forma, o presente trabalho tem com objetivo
refletir sobre as diferentes possibilidades de avaliação da linguagem da criança
à luz do quadro teórico interacionista desenvolvido por De Lemos (1992, 2002),
que toma o diálogo como unidade de análise e rejeita a análise da fala das
crianças através das categorias da descrição linguística. Esta perspectiva teórica
apresenta-se como uma alternativa à noção de desenvolvimento existente na
área, uma vez que se assenta sobre a alteridade radical da língua relativamente

543
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

ao organismo, pois o sujeito, ao se constituir na e pela língua, é também por ela


dividido. Os resultados apontam para as marcas de subjetividade do investigador
presentes na interpretação (ou atribuição de sentidos) que ele oferece às ações
da criança, quando da aplicação do protocolo avaliativo. Conclui-se, portanto,
que a avaliação é subjetiva. Embora no referido protocolo se “reconheça” a
importância da interação, em nenhum momento a relação da criança com o outro
é colocada em evidência. Além disso, a linguagem fica reduzida à comunicação
e intenções comunicativas são atribuídas previamente às ações (gestos) das
crianças no diálogo, desconsiderando o fato de que é na interação com o outro
que os sentidos são organizados, ou seja, que a informação não é dada antes
e fora da situação dialógica.

Palavras-chave: aquisição de linguagem; avaliação da linguagem; infância.

O funcionamento do clítico em textos infantis dos


anos iniciais
Autoria: ANA PAULA NOBRE DA CUNHA

Este trabalho insere-se no campo teórico da Linguística, mais precisamente


no campo da aquisição da escrita, considerando essa aquisição como parte do
processo de aquisição da linguagem (ABAURRE, 1987), ou seja, levando-se em
conta que a primeira remete a um período particular dentro desse processo mais
amplo e abrangente da segunda. Adquirir a escrita é um processo complexo,
pois exige da criança a construção de um novo conhecimento que envolve tanto
sua capacidade de abstração quanto de reflexão. Neste trabalho, interessa-nos,
particularmente, como a criança atua em relação à segmentação do texto em
palavras e, especificamente, como ela lida com os clíticos em relação a essa
segmentação. Estudos como os de Chacon (2004, 2005, 2006, 2014), Cunha
(2004, 2010), Capristano (2004) e Tenani (2004) têm mostrado que a presença/
ausência dos espaços na escrita infantil pode revelar, dentre outros aspectos,
o conhecimento internalizado que a criança possui a respeito da prosódia da
sua língua. No início da aquisição da escrita, a criança apresenta uma tendência
a escrever textos com menos segmentações e ao longo do processo essa

544
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

segmentação vai ficando mais próxima ao padrão. Durante esse percurso, os


clíticos mostram-se como importante ponto de vulnerabilidade e flutuação nas
segmentações do texto. Pelo fato de serem átonos e compostos geralmente
por uma ou duas letras, há uma tendência, nesse início da aquisição, de que
sejam hipossegmentados à palavra de conteúdo que os sucede, como, por
exemplo, “amenina” ou “nacasa”, para “a menina” e “na casa”, respectivamente.
Segundo Cunha (2004), esse tipo de dado pode sofrer motivação de uma palavra
fonológica ou de um grupo clítico. No entanto, frases como "O corpo de cavalo
e ocorpo de galinha" (2ª série), em que é possível observar duas soluções de
grafia para a mesma sequência, “o corpo” e “ocorpo”, conduzem-nos ao objetivo
principal desta pesquisa, ou seja, investigar as diferentes possibilidades de
grafia do clítico, não só em relação às palavras adjacentes, mas, principalmente,
em relação aos constituintes mais altos da hierarquia prosódica e em relação
à estrutura narrativa do texto, a partir de textos infantis de escrita inicial,
produzidos de maneira espontânea, por crianças do 1º ao 4º ano. Os textos são
provenientes do BATALE (Banco de Textos de Aquisição da Linguagem Escrita
– FaE – UFPel).

Palavras-chave: aquisição da escrita; prosódia; narrativa.

Aquisição das subunidades da palavra: raiz e radical


Autoria: CAMILA ROSSETTI VIEIRA

Dentre os vários aspectos do processo de aquisição de linguagem, a presença


de inovações lexicais é certamente um dos que mais chama a atenção, seja do
observador leigo, seja do pesquisador interessado naquilo que a fala infantil
pode revelar sobre a linguagem humana ou sobre o processo de subjetivação.
Isso porque o surgimento dessas ocorrências divergentes – termo cunhado
por Figueira (1996) em substituição a “erro” – torna flagrante a diferença entre
a fala da criança e a fala do adulto. Evidências disso são encontradas na fala de
crianças entre 2 a 5 anos, em que se observam, por exemplo, novos nomes de
agente, como “olhador de olhos” (para ‘oftalmologista’), e novos verbos, como
“cabelar” (para ‘pentear o cabelo’), que, embora divergentes daquilo que se

545
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

espera na fala do adulto, são compreendidas facilmente, já que suas unidades


(bases e afixos) estão presentes no Português Brasileiro. No entanto, existe
uma série de ocorrências que escapam a esse tipo de classificação, uma vez
que o divergente se revela naquilo que pode ser reconhecido como algumas
estruturas básicas dos processos de derivação, a saber: o radical e a raiz. Esse
é o caso de “achuqueiro” cujo efeito desviante reside na base observada, que
é diferente daquilo que se espera na fala do adulto (“açucareiro”). Assim, essa
pesquisa tem como objetivo direcionar o olhar para esse tipo de evidência.
A análise dos dados é feita sob o horizonte da teorização interacionista (DE
LEMOS, 2002), em sua relação com as ideias saussurianas (SAUSSURE, 1996,
2006, 2004), em especial, com aquilo que se encontra no corpus saussuriano
sobre raiz e radical, mas também com os conceitos de língua e fala, diacronia e
sincronia, relações sintagmáticas e associativas e a teoria do valor. Os episódios
são selecionados junto aos corpora de dois sujeitos, RA e DA, disponíveis no
Projeto de Aquisição de Linguagem Oral (CEDAE/IEL/UNICAMP). Seus dados
– excertos de diálogos em que se encontram ocorrências divergentes – foram
obtidos em sessões gravadas, em geral, semanalmente por cerca de 30 minutos
e correspondem à interação informal entre a criança e os interlocutores comuns
no contexto familiar (mãe, pai, irmãos, empregadas, etc.). Do corpus de DA são
analisadas ocorrências que abrangem o período de 2;01.09 a 6;02.10 e do corpus
de RA são analisadas ocorrências que abrangem um período de 1;11.03 a 4;10.06
de idade, sendo 110 sessões de DA e 107 de RA.

Palavras-chave: aquisição de linguagem; morfologia; interacionismo.

Aquisição da concordância variável no PB:


reflexões sobre uma abordagem formal a partir de
dados experimentais da produção infantil
Autoria: CRISTINA AZALIM
Coautoria: MERCEDES MARCILES E PAULA ROBERTA GABBAI ARMELIN

Este trabalho busca contribuir para aprofundar a compreensão acerca dos


efeitos de regras variáveis na aquisição da concordância no português brasileiro

546
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

(PB). Em particular, investigamos os efeitos da saliência fônica (SF) na aquisição


dos padrões variáveis de concordância nominal. Para tal, propomos um
diálogo entre a sociolinguística, a psicolinguística e teoria linguística de cunho
formalista, mais especificamente, nos moldes da interface entre uma teoria de
classificação de morfemas (Teoria dos 4M, MYERS-SCOTTON; JAKE, 2000) e o
Programa Minimalista (CHOMSKY, 1993, 1995, 1999). A análise de dados de fala
espontânea de crianças de 3 a 6 anos de idade e seus cuidadores se mostra
compatível com a relevância da SF na alternância dos padrões de concordância
nominal, tal como elencada na literatura sociolinguística (LEMLE; NARO, 1977;
SCHERRE, 1988): itens mais salientes (Ex. coração) são mais suscetíveis a serem
realizados por regra redundante de plural (Ex. os corações) do que itens menos
salientes (Ex. os vestidos). Todavia, os resultados experimentalmente obtidos
– por meio de uma tarefa de produção eliciada que investiga duas dimensões
associadas à SF (número de sílabas no nome e padrão de acentuação) – indicam
um comportamento distinto quando comparados adultos e crianças. Em
conjunto, os dados obtidos até então são compatíveis com a interpretação
teórica que parte da premissa da Teoria dos 4M para explicar o fenômeno da
concordância variável de número no PB. Tal teoria consiste em um modelo
acerca da natureza dos tipos de morfema, a maneira como se distinguem, são
caraterizados e participam do processo de produção da linguagem. Nessa
perspectiva, propomos que a concordância não redundante é licenciada pelo
tipo de morfema, bem como pelas relações que eles estabelecem no sistema de
Agree (CHOMSKY, 1999, 2000). Mais especificamente, propomos que o morfema
de número no determinante é do tipo sistêmico precoce, sendo responsável
por veicular a mensagem que o falante quer expressar. Nos moldes do sistema
de Agree, propomos que morfemas sistêmicos precoces sejam valorados e
interpretáveis. Por sua vez, o morfema de número no nome e adjetivo é do
tipo sistêmico tardio, obedecendo a regras exclusivamente estruturais, o que
propomos corresponder a traços não valorados e não interpretáveis no sistema
de Agree. Assim, esperamos que esse trabalho possa prover novos subsídios
para o estudo da aquisição da concordância variável, assim como das relações

547
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

entre a metodologia experimental e a abordagem teórica para uma melhor


compreensão do fenômeno em questão.

Palavras-chave: aquisição do PB; concordância nominal variável; tipos de


morfemas.

A estrutura do sintagma determinante na aquisição de


português (escrito) como segunda língua por surdos
Autoria: HELOISA MARIA MOREIRA LIMA SALLES
Coautoria: FANI COSTA DE ABREU

O estudo investiga o uso de nominais nus em contexto genérico em oposição


ao uso do nominal precedido do artigo definido em contexto de definitude e
especificidade na interlíngua de surdos falantes da Língua de Sinais Brasileira
(LSB) e aprendizes de português (escrito) como segunda língua (L2). O problema
do estudo está formulado em relação à variabilidade de padrões de estruturação
dos textos (escritos) dos surdos, que revelam um estado de interlíngua. Tomando
por referência os pressupostos teóricos da Gramática Gerativa (CHOMSKY,
1986, 1995), a hipótese é a de que a aquisição da L2 se dá pelo acesso (parcial) à
Gramática Universal (GU), cujo estado inicial é a L1, o que pressupõe interferência
da L1 (WHITE, 2003). Assumindo a Hipótese do DP (ABNEY, 1987), segundo a qual
o determinante seleciona o sintagma nominal (NP), bem como o estudo de Kato
(1974) sobre a semântica do artigo definido no português, apresentamos nesta
comunicação a análise da produção escrita eliciada em atividade experimental.
Partimos do estudo da LSB de Prado e Lessa de Oliveira (2012) e Prado (2014),
segundo o qual, em contexto definido e específico, é observado o uso de
localizador (LOC) na estrutura do sintagma nominal, enquanto em contexto
de leitura genérica, ocorre o nominal nu. No contexto experimental proposto,
foi controlada a variável de interpretação definida e específica dos sintagmas
nominais, bem como o grau de proficiência dos participantes, distribuídos nos
níveis básico (A) e intermédiário (B). Os dados da interlíngua evidenciaram uso
variável do artigo definido e do nominal nu. Verificou-se que a posição de sujeito
favorece fortemente o uso do artigo definido, em contraste com a posição de

548
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

objeto, o que pode ser explicado pela proeminência informacional do sujeito. Na


posição de objeto, o uso variável evidencia o desenvolvimento linguístico, sendo
a frequência do nominal nu maior em A do que em B: em A, 57,3% [art+N]/ 42,7%
[Ø+N], e em B, 87,6% [art+N]/ 12,4% [Ø+N]. Esse resultado indica interferência
da L1, uma vez que LOC manifesta propriedades formais distintas da categoria
artigo no português, tendo em vista a hipótese da geometria de traços aplicada
à categoria D, conforme Prado (2014), nos termos de Carvalho (2008). Propomos
que o traço [+Dêitico] no núcleo D da LSB, ausente no artigo no português,
determina o contraste paramétrico entre as línguas, o que permite analisar
os resultados evidenciados na interlíngua em termos de efeito da modalidade
(visual-espacial vs. oral-audiva).

Palavras-chave: nominal nu; artigo definido; interlíngua.

Merleau-Ponty e Chomsky acerca da aquisição


de linguagem: a linguagem entre a linguística e a
filosofia ou filosofia da linguística?
Autoria: HERMITO LEITE DE CARVALHO FILHO
Coautoria: RONALD TAVEIRA DA CRUZ

Este trabalho tem por objetivo principal partir da seguinte pergunta de Simms (2011:
287): “Se Merleau-Ponty tivesse vivido e encontrado a linguística chomskyana
e as descobertas da pesquisa dos psicolinguistas do desenvolvimento infantil
contemporâneos, como ele os teria adotado em seu pensamento sobre a
linguagem?". Como tentativa de iluminar possíveis respostas para a pergunta
em questão, pretende-se defender a seguinte hipótese: a ideia do pensamento
chomskyano de que a Língua-I gera expressões interpretáveis assim como
a noção de operação expressiva em Merleau-Ponty já estão presentes em
Humboldt, através do que ele cunhou de innere Sprachform. Se essa hipótese
estiver correta, saber-se-á que a noção de estilo, assim como entende Merleau-
Ponty, e o conceito sintático de propriedade recursiva no modelo de Chomsky
também fazem parte do mundo humboldtiano. Merleau-Ponty se aproxima da
ideia de Chomsky de que uma criança sabe mais do que aquilo que aprendeu, do

549
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

que ela fala (ou output), ou seja, seu conhecimento da língua – a sua competência
– é maior que o input (dados linguísticos primários de entrada, ou seja, os
dados com os quais a criança tem contato) –, portanto, ela adquire a língua
não porque faz uma generalização indutiva com base no input, mas porque
possui uma Gramática Universal. Segundo Merleau-Ponty (1990a, p. 25), “[…] a
criança compreende muito além do que sabe dizer, responde muito além do que
poderia definir [...]”. O trabalho assim se divide: inicia-se uma reflexão sobre a
relação entre linguística – enquanto ciência da linguagem – e filosofia. Depois, os
conceitos de Ergon vs. Energeia de Humboldt são discorridos, fazendo paralelo
às ideias de Merleau-Ponty e Chomsky, especificamente sobre aquisição de
linguagem. Em seguida, apresenta-se a noção de Humboldt: innere Sprachform,
para finalmente refletir sobre a hipótese acima e mostrar que Merleau-Ponty
(e Chomsky) se aproximam conceitualmente, com o foco na operação Merge
de Chomsky.

Palavras-chave: biolinguística; fenomenologia; Merge.

Características fonético-fonológicas da fala


e características ortográficas da escrita em
crianças com alteração fonológica: há correlação?
Autoria: JHULYA GUILHERME
Coautoria: LOURENÇO CHACON JURADO FILHO

Investigou-se possível correlação entre características fonético-fonológicas


da fala e características ortográficas da escrita em crianças com alterações
fonológicas (AF) na fala, já que estudos que relacionam tais características
(MENEZES; LAMPRECHT, 2001; LEWIS; FREEBAIRN; TAYLOR, 2002; BISHOP;
CLARKSON, 2003; FRANÇA et al., 2004; SALGADO; CAPELLINI, 2004), além
de poucos, divergem entre si. Assumiu-se que, como crianças com AF teriam
problemas em representar fonologicamente os sons de sua língua e como a
ortografia do Português Brasileiro se sustenta (também) em princípios fonológicos,
a ortografia dessas crianças estaria comprometida. As hipóteses norteadoras
da investigação foram: (i) crianças com AF apresentariam também alterações

550
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

ortográficas e, ainda, seus possíveis erros de fala apresentariam correlação


positiva com seus erros de ortografia. Porém, pensando nos subtipos de AF,
seria esperado que (ii) em função dos subtipos essa diferenciação se mostrasse
nas características segmentais da fala e nas características ortográficas,
especialmente para classes fonológicas. Desdobraram-se das hipóteses dois
objetivos: (i) comparar e correlacionar achados fonético-fonológicos da fala
e achados ortográficos em crianças com AF; e (ii) explorar a natureza dos
erros de fala e de ortografia em relação à classe fonológica e ao subtipo de AF.
Participaram do estudo 10 crianças com diagnóstico de transtorno fonológico,
sendo 5 com atraso fonológico e 5 com distúrbio fonológico consistente atípico.
Foram realizadas (1) avaliação de aspectos fonético-fonológicos da fala e (2)
avaliação do desempenho ortográfico – ambas com instrumento PERCEFAL,
nas classes consonantais. Foi feita análise para cada aspecto e, em seguida,
análise estatística descritiva e inferencial dos dados para compará-los (T-test
for dependent samples) e correlacioná-los (Correlations). Como resultados,
em relação aos objetivos: (i) a fala apresentou maior porcentagem de acertos
do que a ortografia; não se observou correlação entre características fonético-
fonológicas da fala e características ortográficas da escrita; (ii) os erros
recorrentes foram substituições fonológicas (fala e ortografia), com o seguinte
ranqueamento (da maior para a menor incidência): oclusivas, líquidas, fricativas
e nasais (na fala) e fricativas, líquidas, oclusivas e nasais (na ortografia). Os
erros em função dos subtipos de AF não se diferenciaram estatisticamente.
Portanto, nas crianças estudadas, a presença de erros na fala não resultou em
correspondência direta com erros ortográficos, o que possibilita afirmar que,
nessas crianças, características da fala e da ortografia não comporiam relações
diretas, nem de espelhamento – possivelmente porque, embora sustentadas
pela mesma língua, fala e escrita, ainda que relacionadas, são distintos modos
de enunciação. (Apoio: FAPESP - Processo 2018/13765-9)

Palavras-chave: aquisição de linguagem; produção de fala; ortografia.

551
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

A consoante /r/ na aquisição do francês e do


português brasileiro: língua materna (L1) e língua
estrangeira (L2)
Autoria: JULIANA BARBOSA

Pesquisas sobre aquisição de língua materna (L1), em diversos sistemas


linguísticos, têm revelado tendências universais no desenvolvimento fonológico
infantil. Ainda que se observem diferenças individuais, o modo de articulação
de consoantes evidencia a aquisição de oclusivas e nasais antes de fricativas
e líquidas. Quanto ao ponto de articulação, labiais e coronais são adquiridas
antes das dorsais, oclusivas não vozeadas aparecem antes das vozeadas
(MATZENAUER; COSTA, 2017). As frequências de consoantes no léxico adulto e
na fala dirigida às crianças são pistas que podem explicar o percurso de aquisição
de L1, segundo Beckman et al. (2003). Entretanto, estudos sobre a aquisição
fonológica do Francês (FR) demonstraram que, embora /R/ seja um dos fonemas
mais frequentes na língua adulta, está entre os últimos a serem adquiridos pelas
crianças (DOS SANTOS, 2007; YAMAGUCHI, 2012). Na aquisição do Português
Brasileiro (PB), independente de diferenças dialetais, as variantes de /R/ só
aparecem nos últimos estágios da aquisição infantil (MATZENAUER, 2019),
embora também estejam entre as consoantes mais frequentes na fala adulta
(cf. VIARO; GUIMARÃES-FILHO, 2007). Produzir as distintas realizações de /R/
no PB (por diferenças fonêmicas ou dialetais) é um dos maiores desafios para
franceses adquirindo o PB que, com frequência, falham na realização de pares
mínimos como /karo/ vs. /kaxo/, o que pode se explicar a partir do inventário
fonológico das duas línguas uma vez que /R/, em FR, não é uma consoante
fonologicamente de caráter distintivo como no PB, tendo em vista que não
forma par mínimo. No caso de brasileiros aprendendo FR, uma das maiores
dificuldades é a pronúncia de ‘R forte’ em onset complexo já que, em todas
as variedades do PB, só temos o tap nesse contexto silábico. A realização de
/R/, tanto em FR como em PB como L2, é fortemente percebida como sotaque
estrangeiro. Este trabalho teve como objetivo compreender a relação entre o
percurso de aquisição do sistema consonantal em L1 e a realização de /R/ na

552
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

aquisição de L2 por duas falantes adultas, uma brasileira fluente em FR e uma


francesa fluente em PB. A partir da gravação de duas leituras, em FR e PB, de
um excerto de Os Miseráveis (Victor Hugo, 1862), realizamos análise fonética
de /R/ em diversos contextos silábicos: em onset simples e complexo, inicial e
medial, em coda silábica, medial e final. Os resultados foram analisados à luz
da Teoria da Hierarquia Contrastiva de Traços (DRESHER, 2003, 2009).

Palavras-chave: aquisição fonológica; língua estrangeira; hierarquia contrastiva


de traços.

A dimensão gestual em narrativas irônicas infantis


Autoria: KÉSIA VANESSA NASCIMENTO DA SILVA
Coautoria: RENATA FONSECA LIMA DA FONTE

Sob a perspectiva da multimodalidade, os gestos vêm adquirindo um estatuto


linguístico, dado o desenvolvimento de pesquisas em Aquisição de Linguagem.
Nesse contexto, as produções gestuais estão intimamente envolvidas com a
expressão linguística falada, retratando que a língua não ocupa apenas uma
instância. A linguagem humana, pela via dessa lógica, é constituída por múltiplas
dimensões semióticas que fundamentam um mesmo raciocínio discursivo. O
intuito desta pesquisa foi discutir a dimensão gestual em narrativas irônicas
infantis, em contextos de interação, em ambientes domiciliares de duas crianças
de seis a sete anos que obedeceram a critérios de inclusão e exclusão. Além do
mais, a proposta investigativa passou pelas considerações do Comitê de Ética
da Universidade Católica de Pernambuco e os participantes concordaram com
a utilização das imagens obtidas. Defendemos a inserção da criança na língua
a partir de um arcabouço gesto-vocal - que emergem concomitantemente.
Tomamos como base teórica para as análises multimodais a classificação
gestual proposta por McNeill (1985, 1992) em gestos icônicos, metafóricos,
dêiticos e ritmados. Apresentaremos recortes de dados, transcritos no software
ELAN, das crianças enquanto narravam uma animação irônica, a qual possui
duração de vinte e seis segundos e envolve personagens do universo infantil
numa ironia do tipo situacional/observável. Os dados mostraram que as crianças

553
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

fizeram uso dos gestos para fins comunicativos, utilizando-os a fim de trazer à
narrativa elementos vistos na animação. Além disso, os gestos icônicos, dêiticos
e ritmados foram os mais recorrentes entre as crianças, o que justifica a prática
de narrar situações irônicas como multimodal, já que implica o uso de várias
modalidades, permitindo o engajamento conjunto. A concluir, sublinha-se a
implicação benéfica que os gestos podem promover às narrativas, possibilitando
fluidez e naturalidade às crianças durante a atividade. Deste postulado advém
a necessidade de suscitar mais investigações sobre a ironia em aquisição de
linguagem, na tentativa de apreendermos como esse recurso se inscreve na
linguagem, e principalmente como se relaciona com a modalidade gestual.

Palavras-chave: gesto; multimodalidade; narrativas irônicas.

Relações linguístico-discursivas na escrita infantil:


junção, aquisição e tradição argumentativa
Autoria: LÚCIA REGIANE LOPES-DAMASIO

Neste trabalho, abordo a escrita infantil a partir de relações entre os mecanismos


de junção (MJs) e a aquisição do modo escrito de enunciar na tradição
discursiva (TD) argumentativa, com o objetivo geral de alcançar indícios de
relações linguístico-discursivas entre MJs e a aquisição da TD argumentativa
nesse modo de enunciação. Para isso, proponho a construção de um lugar
teórico-metodológico, que permita o reconhecimento, na escrita, de rastros da
movimentação do sujeito para a construção dos sentidos no texto. Assim, lanço
mão de um modelo funcionalista de junção, fundado em um arranjo bidimensional,
caracterizado pelo entrecruzamento do eixo tático e o das relações semânticas
(RAIBLE, 2001; KORTMANN, 1997; HALLIDAY, 1985), conjugado a uma base
teórica que entende a escrita como constitutivamente heterogênea e como
modo de enunciação (CORRÊA, 2004) e a uma concepção de aquisição desse
modo de enunciar que considera as TDs (LEMOS, 1998; KABATEK, 2005). Analiso
60 textos de alunos do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental, numa abordagem
quantitativo-qualitativa, de acordo com os objetivos específicos: (1) caracterizar
a funcionalidade dos MJs em aquisição da TD argumentativa; (2) identificar

554
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

e analisar as possíveis relações entre MJ e (aquisição da) TD argumentativa;


e (3) evidenciar o caráter sintomático dos MJs enquanto marcas da relação
oral/letrado e falado/escrito. Os resultados de (1) são: (i) o funcionamento dos
MJs, mesmo mediante a alta frequência de MJs paratáticos, comprova que
os hipotáticos, a partir do 2º ano, já indicam a viabilidade da maior integração
sintática na escrita infantil; (ii) as relações de sentido recorrentes são adição,
causa, condição e contraste; (iii) o aumento gradativo da frequência token e
type desses MJs no percurso; e (iv) a movimentação subjacente às relações
de sentido nos textos (+ concreto > + abstrato). Os resultados de (2) sugerem
que a relação entre MJs e aspectos da oralidade/letramento e da fala/escrita
mostra que os sujeitos circulam por (suas) imagens de escrita e deixam rastros
da identificação da escrita como representação direta da fala e de um alçamento
da escrita a partir de modelos institucionalizados. Os resultados de (3) indicam
que, na composicionalidade da TD argumentação, em aquisição, o sujeito circula
pelas TDs expositiva, explicativa, pergunta, listagem e narrativa, que podem ser
tomadas como indícios dessa aquisição.

Palavras-chave: escrita infantil; junção; tradução discursiva.

Aquisição de verbos existenciais na língua inglesa


por crianças brasileiras em contextos bilíngues
Autoria: MARINA IZAR VERNIANO

Baseada na Teoria Gerativa (CHOMSKY, 1995), esta pesquisa investiga a aquisição


de verbos existenciais na língua inglesa por crianças de 5 e 6 anos, falantes de
português brasileiro (PB) como primeira língua (L1) e inseridas em um contexto
bilíngue de exposição a 5 horas semanais de língua inglesa. A partir da coleta de
dados de produção espontânea (DEMUTH, 1998) e eliciada (THORNTON, 1998),
esta pesquisa gerou um corpus com dois grupos de crianças: o grupo A, com 6
crianças, recebeu input enriquecido e direcionado, o grupo B, com 2, não. Visto
que o PB é uma língua marcada positivamente para o Parâmetro do Sujeito Nulo
(CHOMSKY, 1981) e a língua inglesa, não, a aquisição de existenciais parece
acontecer distintamente em ambas as línguas; na primeira, existem construções

555
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

possíveis com os verbos haver, ter e existir, com suas posições de sujeito vazias
(NASCIMENTO; KATO, 1995; VIOTTI, 1999) e, na segunda, é necessário um
movimento sintático chamado there-insertion (MILSARK, 1979; McCAWLEY,
1998) para que a posição do sujeito seja obrigatoriamente preenchida, além da
impossibilidade de construções com o verbo to have, como é o caso em PB.
Baseando-se nisso e em estudos sobre bilinguismo e aquisição de linguagem
(HERSCHENSOHN, 2000; SLABAKOVA, 2016; MARCELINO, 2017, 2018), cabe aqui
analisar e descrever a utilização do existencial there to be, pelos sujeitos, com
observância a possíveis influências nos processos de aquisição que possam gerar
a utilização correta e incorreta do verbo. As bases da pesquisa foram (i) desenho
de um panorama sobre a aquisição de verbos existenciais em segunda língua
(L2); (ii) análise de que forma esses verbos refletem diferenças nos processos
de aquisição de segunda língua (AL2) com e sem input direcionado; (iii) análise
e verificação das possíveis influências do ter-existencial (L1) na aquisição
do there to be em L2. Na análise de dados, esta pesquisa fez neutralização
e balanceamento do corpus, e utiliza o software AntConc, para computar o
número de ocorrências de existenciais do corpus. Após a pré-análise dos dados,
é perceptível a diferença de produção dos grupos A e B, sendo o primeiro, com
maior índice de produção de orações com there to be do que o segundo, que
traz uso significativo de have como um existencial. Resultados preliminares
apontam para a confirmação do papel do input enriquecido e planejado no
processo de AL2 em contexto bilíngue, corroborando a ideia de que apenas o
início prematuro, nesse contexto, não basta.

Palavras-chave: aquisição de linguagem; bilinguismo; teoria gerativa.

Distribuição das transposições ortográficas na


escrita de crianças no Ciclo I do ensino fundamental
Autoria: MIRIAN VERZA AMARANTE
Coautoria: LOURENÇO CHACON JURADO FILHO

Diferentes visões são observadas na literatura nacional e internacional – tanto


da saúde, quanto da educação – em relação à ortografia infantil. Boa parte

556
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

dessa literatura (ainda) vê os erros ortográficos como sinais de atraso no


desenvolvimento da escrita ou como sintomas de patologias relacionadas à
aprendizagem. Esses estudos também colocam os diferentes tipos de erros num
mesmo plano de complexidade. Diferentemente dessa visão e considerando que
erros fazem parte da aquisição do sistema ortográfico do Português Brasileiro
(PB), na medida em que indiciam conflitos da criança com esse sistema, buscamos
descrever a distribuição de um tipo de erro específico nessa aquisição: as
transposições ortográficas. Esperamos, com essa investigação, contribuir para
uma melhor compreensão do desempenho ortográfico na escrita infantil. Para
desenvolver a investigação, analisamos 508 produções textuais de crianças do
Ciclo I do Ensino Fundamental. Desse total, apenas 63 produções apresentaram
algum tipo de transposição ortográfica. Assim, separamos os registros das
transposições conforme ocorressem sob forma de permutas (aquelas entre dois
grafemas no interior da palavra), transposições intersilábicas (aquelas de um
grafema entre duas sílabas da palavra) e transposições intrassilábicas (aquelas
de um grafema no interior de uma mesma sílaba). Os resultados mostraram:
transposições intrassilábicas (56,46%), seguidas permutas (22,96%) e, por fim,
das transposições intersilábicas (20,16%). Diferentemente de uma distribuição
contínua das transposições do tipo permutas, intersilábicas e intrassilábicas,
ou seja, um ranqueamento das mais complexas para as menos complexas, os
resultados sugerem uma presença descontínua delas na escrita infantil. Como
vimos, (i) mais da metade delas envolveu apenas um grafema no interior de
uma mesma sílaba e (ii) o restante envolveu um ou dois grafemas em duas
diferentes sílabas. Desse modo, quanto a (i), as transposições parecem indicar,
majoritariamente, conflitos da criança com a estrutura silábica da palavra e,
quanto a (ii), em menor grau, conflitos ao mesmo tempo com a estrutura silábica
e com a própria estrutura da palavra na escrita infantil. Essa descontinuidade
de distribuição sugere, por fim, que a escrita analisada mostra uma oscilação
na trajetória da criança rumo à ortografia convencional. No entanto, como
predominam as transposições intrassilábicas, observa-se que, mesmo com
transposições, a palavra ortográfica já se encaminha para sua forma convencional

557
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

na escrita analisada, possivelmente como efeito das práticas de letramento,


sobretudo as que envolvem a alfabetização.

Palavras-chave: transposições ortográficas; escrita infantil; sílaba.

A hierarquia dos sintagmas de perfect universal,


experiencial e de resultado: evidências de dados
de aquisição do inglês americano
Autoria: NAYANA PIRES DA SILVA RODRIGUES
Coautoria: ADRIANA LEITÃO MARTINS

O perfect relaciona uma situação a um determinado ponto de referência. Para


Pancheva (2003), o perfect é dividido em: universal (PU), que representa situações
que se iniciaram no passado e persistem até o presente; experiencial (PE), que
representa situações que ocorreram no passado e produzem uma experiência
relevante para o presente; e de resultado (PR), que representa situações que
ocorreram no passado e produzem um resultado relevante para o presente.
Esta pesquisa encontra-se ligada ao quadro teórico da Linguística Gerativa.
Também dentro desse quadro teórico, Rodrigues e Martins (2019) estudaram a
aquisição de perfect no PB e propôs três nódulos para o perfect: o UPerfP (PU), o
ExPerfP (PE) e o EPerfP (PR). Para Rodrigues e Martins (2019), a hierarquia desses
nódulos seria: ExPerfP > UPerfP > EPerfP. A respeito da aquisição das categorias
funcionais, Guilfoyle e Noonan (1992) estabelecem que, quando uma categoria é
adquirida, uma projeção referente a essa é adicionada à representação estrutural.
Para investigar a emergência de categorias funcionais no sistema linguístico
da criança, podemos tomar como evidência a produção verbal e adverbial que
realize os traços abarcados nessas categorias. Esta pesquisa teve como objetivo
investigar a aquisição de PU, PE e PR associados ao presente no inglês americano
(IA). Esperávamos, assim, contribuir para o estudo da representação estrutural
de perfect. As hipóteses foram que, na aquisição do IA: (I) as realizações de PR
associado ao presente ocorrem antes das de PU e PE associados ao presente
e (II) as realizações de PU associado ao presente ocorrem antes das de PE
associado ao presente. Como metodologia, analisamos o corpus PROVIDENCE

558
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

(DEMUTH; MCCULLOUGH, 2009). Selecionamos dados de fala de 4 crianças


adquirindo o IA, com idade de 1-4 anos. As gravações foram realizadas 2 vezes
por mês, durante 1 hora. Analisamos somente produções dos tipos de perfect
investigados, considerando-se a morfologia verbal e os advérbios/expressões
adverbiais, e assumindo que essas produções eram indícios da aquisição ou
do processo de aquisição do conhecimento linguístico dessas categorias.
Referências: DEMUTH, K.; MCCULLOUGH, E. The Prosodic (re)Organization
of Children’s early English Articles. Journal of Child Language, v. 36, p. 173-
200, 2009. GUILFOYLLE, E.; NOONAN, M. Functional categories and language
acquisition. Canadian Journal of linguisitic/ Revue Canadienne de linguistique,
Cambridge, v. 37, n. 2, p. 241- 72, 1992. PANCHEVA, R. The aspectual makeup of
Perfect participles and the interpretations of the Perfect. In: ALEXIADOU, A.;
RATHERT, M.; VON STECHOW, A. (ed.). Perfect Explorations. Berlin: Mouton de
Gruyter, 2003. p. 277-308. RODRIGUES, N. P. da S.; MARTINS, A. L. Evidências
advindas da aquisição do português do Brasil para os tipos de 'perfect'. Revista
Linguística, v. 15, n. 3, p. 161-184, set./dez. 2019.

Palavras-chave: aquisição de linguagem; inglês americano, aspecto perfect.

Representações sociais de sexo e gênero na


expressão de primeira pessoa do plural em textos
do Ensino Fundamental II
Autoria: ROBERTA PEREIRA FIEL

Os objetivos principais deste trabalho são verificar se há correlação entre as


representações sociais de sexo e gênero e (i) o uso das formas pronominais
de primeira pessoa do plural (1PP) “nós” e “a gente”; e (ii) o uso das grafias não
convencionais "nóis" e "agente", retiradas de textos escritos por alunos que
cursaram os quatro últimos anos do Ensino Fundamental (EF) em uma escola
pública paulista. Baseamos nossa discussão na Teoria das Representações
Sociais (RS), que trata sexo e gênero enquanto construções sociais de grupos
que desempenham semelhantes papéis na sociedade (MOSCOVICI, 1978).
Assumimos que as RS estão relacionadas às práticas sociais orais/faladas e

559
Comunicação Oral
Aquisição de linguagem

letradas/escritas, pois o que define a conduta individual ou grupal no que diz


respeito à linguagem são as representações que indivíduos e grupos têm do
que supõem ser fala e escrita. Partimos da hipótese de que o aluno, enquanto
sujeito da linguagem, deixa marcas escritas de suas representações sociais
de sexo e gênero, baseado em suas práticas orais/faladas e letradas/escritas.
Para análise, selecionamos 60 sujeitos (30 de cada sexo/gênero) do Banco de
dados de escrita do EF II e identificamos 924 formas pronominais de expressão
de 1PP: “nós” e “a gente”, grafadas ou não convencionalmente. De modo geral,
os sujeitos do sexo/gênero feminino, em relação aos sujeitos do sexo/gênero
masculino, empregam mais o pronome “nós” (24,1% - 223/924) do que o pronome
“a gente” (6,9% - 64/924). No que diz respeito à convenção ortográfica, os sujeitos
do sexo/gênero feminino, em relação aos sujeitos do sexo/gênero masculino,
usam mais as formas convencionais “nós” e “a gente” do que as formas não
convencionais “nóis” (1,4% - 13/924) e “agente” (14,9% - 138/924). Uma possível
explicação para esse resultado, baseado nas RS, é a de que as meninas seriam
mais sensíveis/atentas às prescrições ortográficas valorizadas pelas práticas
letradas desenvolvidas no ambiente escolar. Argumentaremos que esses
resultados (e outros a serem apresentados) embasam a interpretação de
que as RS e as práticas sociais orais/faladas e letradas/escritas atravessam
os sujeitos escreventes no EF II e evidenciam a relação multifacetada que os
sujeitos mantêm com a língua(gem). (Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Brasil – CAPES – Código de Financiamento 001).

Palavras-chave: sexo/gênero; práticas sociais; fala/escrita.

560
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

O ensino de PLE na Argentina e a política de línguas:


discursos presentes em normativas oficiais argentinas
Autoria: CAMILA RIBEIRO CORRÊA DE MORAES
Coautoria: LUIZ ANDRÉ NEVES DE BRITO

A escolha de quais línguas serão ensinadas pelo sistema educacional de um


país não se dá ao acaso, mas reflete questões políticas, históricas, econômicas,
sociais, etc. Dada a complexidade do tema, diferentes áreas da Linguística
estudam sobre ações e intervenções linguísticas como esta, que realizadas
desde os primórdios interferem em nossas vidas em sociedade, pois as línguas
e linguagens que utilizamos dizem muito sobre quem somos, como estamos e
vivemos no mundo. Seguindo a perspectiva de estudos da Análise do Discurso
(AD) de linha francesa e de teóricos como Eni P. Orlandi que nos traz uma
reflexão a respeito da Política de Línguas, ressaltando que a língua é sempre
afetada pelo político, nesta comunicação objetiva-se apresentar como se deu
o desenvolvimento de uma pesquisa em nível de mestrado que partindo do
interesse sobre o ensino de Português Língua Estrangeira (PLE), buscou investigar
os discursos presentes em normativas oficiais do Estado argentino relacionadas
a esse ensino. Para tanto, realizamos nesta pesquisa um mapeamento das
normativas, isto é, documentos públicos encontrados por meio de buscas no
portal oficial do Estado Argentino, que após uma análise seletiva foram descritas
e analisadas à luz da Análise do Discurso, e mobilizando conceitos como os de
arquivo, memória discursiva, e condições de produção, investigou-se os sentidos
presentes nesses documentos oficiais, relacionando-os com a exterioridade.
Dentre os resultados encontrados por meio da pesquisa documental, foram
descritas e analisadas as Leis argentinas Nº 12.766/1942, que trata da inclusão
do português nos planos de estudos dos estabelecimentos públicos de ensino
de línguas estrangeiras em educação de nível secundário; Lei Nº 25.181/1999,
que aprova o Convênio de Cooperação Educativa entre a Argentina e o Brasil,
abordando em um seus artigos o ensino de idiomas e a Criação de Cátedras
de Português e Espanhol nos respectivos países; e a Lei Nº 26.468/2009, cujo
objetivo principal é a obrigatoriedade da inclusão de uma proposta curricular

561
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

de ensino de PLE em escolas secundárias pertencentes ao sistema educativo


nacional. (Apoio: CAPES/Demanda Social – Processo nº 88882.426746/2019-01)

Palavras-chave: Análise do discurso; Argentina; Português Língua Estrangeira.

Telecolaboração e pandemia: viabilizando a


interação em momento de distanciamento social
Autoria: DANIELA NOGUEIRA DE MORAES GARCIA

Em época sem precedentes, a pandemia pelo COVID-19 assolou os mais diversos


setores de nossa sociedade. Gerando rupturas, caos e ansiedade, o mundo
vivencia desdobramentos de uma crise sanitária que engloba as nações e
demanda mobilização em prol de reorganização. O contexto brasileiro, também,
busca remanejamentos e ajustes para que as práticas cotidianas sejam menos
comprometidas. A educação, desde 2020, articula novos cenários de forma a
driblar fragilidades e evitar a descontinuidade do ensino/aprendizagem. No
ensino superior, a telecolaboração tem possibilitado ações de língua estrangeira
por meio da realização de sessões bilíngues de conversação entre brasileiros,
aprendizes de inglês, e estadunidenses, aprendizes de português. O teletandem
(TELLES, 2006, 2009, 2015) tem viabilizado, via recursos tecnológicos, a interação
e o acesso aos povos e línguas de forma democrática, constituindo-se um
contexto virtual, autônomo e colaborativo para que dois falantes de línguas
diferentes estabeleçam metas de aprendizagem e se auxiliem. Assim, pautamo-
nos nas pesquisas referentes ao uso das tecnologias (MORAN, 2018), às ações
em tandem (BRAMMERTS, 2003) e à telecolaboração (BELZ, 2003a, 2003b;
O'DOWD, 2018) para abordar sessões de colaboração on-line via teletandem em
momento pandêmico como possibilidade de interação diante do distanciamento
social. O presente estudo ancora-se em metodologia qualitativa para apresentar
dados de um grupo de 21 participantes brasileiros, coletados por meio de
relatórios semanais, grupo de WhatsApp e e-mails, no segundo semestre de
2020. Objetivamos investigar potencialidades e desafios da prática, totalmente
à distância, sem as sessões de orientação e o acompanhamento do grupo de
forma presencial, procedimentos comumente adotados até fevereiro de 2020.

562
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

Os resultados demonstraram que, apesar de ampla experiência com a logística


e a condução das sessões de interação e mediação em teletandem, foram
observados (a) a possibilidade de continuidade na aprendizagem de línguas
embora em tempo pandêmico, mas também, (b) desafios referentes às sessões
e acompanhamento totalmente de forma remota.

Palavras-chave: telecolaboração; teletandem; ensino/aprendizagem.

"No meio do caminho tinha uma" tela: retratos das


aulas de língua estrangeira no ensino on-line
Autoria: DIEGO MORENO REDONDO

A Educação mundial sofreu grandes abalos devido à pandemia do coronavírus.


As escolas ficaram diante de um grande desafio: reorganizar o sistema de ensino
a fim de propor novas estratégias para atender às demandas que o contexto
atual exigia. Diante desse novo cenário educacional, o ensino on-line assumiu
um papel importante para a continuação das atividades escolares. Muitas
instituições optaram pela realização das aulas por meio de plataformas virtuais
de aprendizagem. Para acompanhar o ensino de língua estrangeira via remota,
propus esta pesquisa cujo objetivo foi analisar os efeitos da mudança abrupta
da modalidade de ensino presencial para a on-line na prática de ensino de
uma professora de inglês e, consequentemente, como essa prática impactou
a formação dos seus alunos do nono ano do Ensino Fundamental II de uma
escola pública do interior de São Paulo. Durante o segundo semestre de 2020,
analisei as aulas ministradas por uma professora de inglês em dois ambientes
virtuais de aprendizagem: Google Classroom e Google Meet. O foco do trabalho
foi observar como a professora e os alunos se adaptaram ao novo contexto de
ensino de línguas, uma vez que ambos nunca haviam participado de aulas na
modalidade remota. Para entender e analisar a prática de ensino adotada pela
professora-participante e os reflexos dessa prática na formação dos alunos
diante do novo ambiente de aprendizagem, optei, como método de pesquisa,
pelo estudo de caso com base em Stake (1995) e Yin (2002). Os dados foram
coletados por meio da observação-participante durante as aulas on-line, tendo

563
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

como instrumento de registros as notas de campo e o diário. Além disso, foram


aplicados questionários aos alunos e a professora participou de entrevistas ao
longo da pesquisa. Para analisar as informações, apoiei-me, principalmente, nas
concepções de Paiva (2020), Arruda (2020) e Holmberg (1995) acerca da educação
a distância, ensino de línguas mediado pelas tecnologias e ensino on-line. No
que tange à prática de ensino de língua estrangeira, busquei sustentação teórica
em Vieira-Abrahão (2014), Celani (2002), Almeida Filho (2014), dentre outros.
Com base na análise dos dados, constata-se que as aulas virtuais seguiram o
mesmo padrão das aulas presenciais. Sendo assim, este trabalho ressalta a
necessidade de uma atenção especial à formação dos professores diante de
novas modalidades de ensino.

Palavras-chave: ensino on-line; língua estrangeira; escola pública.

A influência das crenças e do livro didático


para a aquisição da autonomia dos alunos na
aprendizagem de língua inglesa no ensino médio
Autoria: FRANCINE MARTINS MOLINARI
Coautoria: DIRCE CHARARA MONTEIRO

O desenvolvimento da autonomia é uma competência desejável na aprendizagem


e no desempenho dos alunos. Segundo Nicolaides e Fernandes (2002),
quando tentamos promover um aprendizado autônomo com nossos alunos,
logo percebemos o quão complexo é esse processo, pelo fato de o contexto
educacional estar imbuído de crenças e atitudes que resistem a inovações.
De acordo com Barcelos (2004), é necessário investigar crenças não como
um construto isolado, mas tentar relacioná-las a outros aspectos cognitivo-
afetivos presentes no ensino e aprendizagem de línguas, tais como, motivação
e autonomia. Além das crenças, outro fator importante a ser considerado na
busca pelo aluno autônomo são as atividades apresentadas nos materiais
didáticos e aplicadas pelo professor. Por isso, de acordo com Ribeiro (2008),
o papel do professor de línguas, nesse contexto, é promover a capacidade
de seus alunos de tornarem-se pensadores criativos, analíticos e críticos e

564
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

que possam assumir o controle do planejamento da sua aprendizagem. As


considerações acima levaram à proposição do objetivo geral desta pesquisa:
analisar o papel das crenças dos alunos e das propostas trazidas pelo livro
didático no desenvolvimento da autonomia no aprendizado de língua inglesa.
Ribeiro (2008), Barcelos (2004, 2006), Vieira-Abrahão (2006), Oliveira (2006),
Moura Filho (2005), Silva (2003), entre outros, ofereceram suporte teórico para
esta pesquisa qualitativa, um estudo de caso, desenvolvida com uma turma
de alunos do Ensino Médio integrado ao Técnico, do Instituto Federal de uma
cidade do interior paulista. Os instrumentos/procedimentos selecionados para
o desenvolvimento da pesquisa foram questionários aplicados aos alunos da
turma. As atividades propostas pelo livro didático utilizado pelos estudantes
também foram analisadas para verificar seu papel na promoção da autonomia.
Como resultados principais podemos apontar a identificação de um conjunto
de crenças do grupo de alunos pesquisado bem como a constatação de que as
atividades do livro didático adotado pela professora, Voices Plus 1, favorecem o
desenvolvimento da autonomia dos alunos. Os resultados indicam a necessidade
de o professor identificar as crenças dos alunos e selecionar aquelas que
precisam ser desconstruídas para melhorar o processo de aprendizagem dos
alunos. Quando o livro didático traz atividades que favorecem a autonomia do
aluno, ele se revela um poderoso recurso para uma aprendizagem autônoma.
Outro elemento relevante para o desenvolvimento da autonomia é o uso da
tecnologia pelos alunos que utilizam a internet não apenas para pesquisar, mas
também para atividades lúdicas como jogos e filmes e para realizar cursos on-
line.

Palavras-chave: crenças; autonomia; língua inglesa.

A presença da cidadania intercultural na construção


do cidadão global participativo cisviano
Autoria: GABRIELA VIANNA MELLO

As relações interculturais têm se tornado cada vez mais comuns devido às


oportunidades provenientes do processo de globalização, oferecendo aos
aprendizes de línguas estrangeiras uma chance de uso real da língua-alvo.

565
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

Logo, a área de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras tem se voltado


gradualmente para esse fato, abordando-o a partir de diversas perspectivas,
como o caso da telecolaboração, que leva a interculturalidade de maneira mais
direta para o contexto da sala de aula. Este projeto de pesquisa, no entanto,
parte de outro ângulo: pretende analisar esse fenômeno a partir da ótica da
cidadania intercultural (intercultural citizenship) apresentada por Byram (2008),
com o objetivo de verificar os impactos e influências do desenvolvimento de
competências de cidadania intercultural na formação de participantes da
organização internacional de educação não formal CISV (Children’s International
Summer Village). A organização foi criada no cenário pós-Segunda Guerra
Mundial como uma resposta à conjuntura mundial vigente na época, e visa à
educação para a paz por meio do desenvolvimento de amizades globais. Seus
participantes desenvolvem, em acampamentos educacionais, uma série de
competências que os tornam “cidadãos globais participativos”. Para atingir
o objetivo planejado, o trabalho proposto tem natureza qualitativa e será
realizado como um estudo de caso desenvolvido com quatro participantes da
organização seguindo os seguintes critérios: já ter vivenciado a experiência
internacional oferecida pelo CISV tanto como jovem participante quanto como
líder responsável pelo conteúdo educacional; e fazer parte ativamente do CISV
Brasil durante o andamento da pesquisa. A partir da análise de documentos da
organização, coleta de relatos biográficos, discussões promovidas em grupo
focal e entrevistas individuais, busca-se uma melhor compreensão da relação
existente entre a teoria supracitada e as experiências interculturais do contexto
em questão, de modo a contribuir para o preenchimento da lacuna dos estudos
da área em relação a cenários de educação não-formal, principalmente aqueles
que não propõem o ensino de línguas estrangeiras, mas sua utilização.

Palavras-chave: interculturalidade; cidadania intercultural.

566
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

Como os jogos digitais podem auxiliar no ensino-


aprendizagem da língua inglesa em tempos de
pandemia?
Autoria: LAURA DE ALMEIDA

A presente proposta aborda o ensino/aprendizagem da língua inglesa utilizando


de ferramentas tecnológicas e está vinculado ao Programa de Apoio ao Ensino de
Graduação (PAEG) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Objetivamos
pesquisar como os jogos digitais podem ser utilizados como material didático,
para o ensino de língua inglesa. Desta forma, produzimos atividades com o ensino
de línguas por meio de jogos como videogames. Dentre os vários estudos sobre
ensino de línguas e o uso de tecnologias, selecionamos aqueles em que houvesse
pesquisas com a linguagem da internet. Em especial, concentramos nos diversos
gêneros textuais e digitais. Em relação aos gêneros textuais, pactuamos com
as ideias de Brasil (1998), Bronckart (1999), Padilha Pinto (2002) e Marcuschi
(2002) de que a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de
socialização e de inserção prática nas atividades comunicativas humanas. Além
disso, utilizamos como quadro teórico as afirmações de Prensky (2003), Gee
(2003, 2004, 2007) e Olson (2003) que visam valorizar a prática dos videogames
como uma ferramenta auxiliar para o estudo da língua inglesa e incentivar a
prática. O uso do videogame na aprendizagem da língua inglesa aparece como
uma prática muito eficiente por vários aspectos como a movimentação, interação
com objetos, escolhas e diálogos que diversos jogos propõem. Foram planejados
planos de aulas e produzidas atividades a serem aplicadas pelos alunos bolsistas
com base em jogos eletrônicos visando o ensino da língua inglesa. Contudo,
tivemos que adaptar a aplicação das atividades de forma que mantivesse o
distanciamento social devido às restrições da Covid-19. Assim, foi criado um
Instagram como forma de interação com a comunidade interna e externa à
Universidade. Após a execução das atividades, aplicamos um questionário
com os participantes do curso/aula/oficina a fim de termos um feedback do
projeto. Desta forma, buscamos contribuir academicamente para o processo
de reconhecimento dos elementos facilitadores para a aprendizagem do inglês

567
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

como língua estrangeira, evidenciando os pontos positivos desse método


sem negligenciar os pontos negativos para, dessa forma, expor as técnicas
consideradas mais eficazes na execução desse processo.

Palavras-chave: jogos digitais; ensino língua inglesa; material didático.

Saberes docentes e desafios no ensino de


Português Língua Estrangeira: reflexões sobre a
prática pedagógica na perspectiva de professores
em formação
Autoria: MARINA AYUMI IZAKI GÓMEZ

A complexidade existente no processo de ensino e aprendizagem de línguas


requer do profissional formação na área para que o seu ofício possa ser realizado
com qualidade. Além dos saberes docentes construídos durante a formação
acadêmica, aspectos linguístico, cultural, social, histórico, político, econômico,
motivacional, entre outros, são conjuntamente operacionalizados no trabalho
realizado pelo professor dentro e fora da sala de aula. Lidar com esses aspectos
desafiadores que podem decorrer da interação que se constrói em sala de
aula é tarefa complexa. Ao transpormos essa perspectiva para o ensino de
Português Língua Estrangeira (PLE), consideramos que ensinar a nossa língua
materna como idioma estrangeiro também requer conhecimentos específicos,
o que implica outros desafios. Nesse sentido, objetivamos apresentar desafios
enfrentados durante a ação pedagógica de professores em formação de PLE
e promover discussão sobre saberes necessários para operacionalizar o
referido ensino na prática. Uma vez que o processo de reflexão sobre a ação foi
fundamental para a (re)construção do fazer pedagógico, a abordagem reflexiva
foi o aporte teórico que fundamentou este estudo. Sob o paradigma qualitativo
de base etnográfica e interpretativista, os dados foram coletados e analisados
privilegiando o processo de construção de significados. Os participantes foram
graduandos em Letras e a pesquisadora no papel de par mais experiente.
Esses graduandos ministraram aulas de PLE em uma universidade pública do
estado de São Paulo e a pesquisadora é professora da referida área. A partir das

568
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

interações face a face do par mais experiente com os professores em formação


bem como das observações das aulas registradas no diário da pesquisadora, foi
possível categorizar quatro desafios enfrentados na sala de aula de PLE, dentre
os quais, destacamos o desafio de olhar para a nossa própria língua como língua
estrangeira e o desafio de lidar com o público acadêmico de alunos. Como
resultado deste estudo, foi proposta uma categorização dos saberes pedagógicos
base para o ensino de português para estrangeiros, incluindo o saber reflexivo-
colaborativo, o saber didático-gerencial e o saber interacional-cultural. Para
além da especificidade de cada contexto de ensino, temos expectativa de que
este estudo possa ampliar reflexão sobre desafios enfrentados na prática e
ressignificar os saberes necessários para a formação de professores de PLE.

Palavras-chave: desafios no ensino de PLE; saberes docentes; formação de


professores de PLE.

Mapeamento de publicações em português como


língua adicional nas revistas Estudos Linguísticos
(1978-2020) e Revista do GEL (2002-2020):
presença, contextos e temas
Autoria: MATHEUS GRANATO

Movimentos sócio-políticos recentes, no Brasil e no mundo, possibilitaram um


crescimento no ensino e na pesquisa do Português como Língua Adicional
(PLA) nas últimas décadas. É o caso da Constituição Brasileira de 1988, da
Lei 10.436/2002 (conhecida como lei da Libras), da cooficialização de línguas
indígenas ou de imigração em diferentes municípios brasileiros (RODRIGUES,
2019), da criação do Mercosul (1991), da CPLP (1996), do Celpe-Bras (1993), de
diferentes licenciaturas em Letras-Libras, Português como LA e licenciaturas
indígenas, dentre outras ações que favoreceram, de um lado, uma maior demanda
de ensino do Português a estrangeiros e, de outro, um redirecionamento do
olhar para as línguas e a educação de comunidades indígenas, surda e de
imigração histórica brasileiras (ZOPPI-FONTANA, 2009; PEREIRA, 2014; SANTOS,
2018; ROCHA, 2019). Com esta comunicação oral, pretende-se apresentar os
resultados preliminares de um trabalho que buscou mapear publicações sobre o

569
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

ensino-aprendizagem-uso e as políticas linguísticas de PLA em dois periódicos


paulistas, e analisar os temas e contextos de investigação mais frequentes
nessas publicações. O córpus de análise consistiu nas 49 edições da revista
Estudos Linguísticos (1978-2020) e 17 edições da Revista do GEL (2002-2020), que
somam mais de 5.400 trabalhos. Ambas revistas são promovidas pelo Grupo de
Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, o GEL, fundado em 1969 e cuja
história se relaciona intimamente à dos estudos linguísticos no Brasil (COELHO,
2020). O levantamento e mapeamento de dados foi feito com base em reflexões
da Historiografia Linguística (GÓMEZ ASENCIO et al., 2014), assumindo que
as escolhas de córpus, tema, categorias e recortes e o fazer interpretativo do
pesquisador constroem uma representação possível (nunca absoluta) do objeto
investigado. Os 5.400 trabalhos foram consultados e filtrados com base (em
ordem, conforme necessidade) no título, nas palavras-chave e na descrição
do objetivo e da metodologia no corpo dos textos. Foram identificadas 59
publicações na área, as quais se classificou considerando aspectos internos e
externos: autor(es), instituição, ano, edição, contexto e temas de investigação.
Dentre os principais resultados, pode-se destacar: i) um aumento progressivo
de publicações na área, de 4 arquivos entre 1981 e 1990 chegando a 34 entre
2011 e 2020, ii) uma maior presença, no geral, de estudos em descrição/análise
linguística e focados em estudantes/falantes estrangeiros, e iii) uma tendência
à maior diversificação de contextos e temas investigados a partir da última
década.

Palavras-chave: mapeamento historiográfico; Português como Língua


Estrangeira; português como segunda língua.

Metodologías activas para promover la literacidad


crítica en las clases de español como lengua extranjera
Autoria: MICAELA TOURNÉ ECHENIQUE
Coautoria: TIAGO RODRIGUES SBARAI

Este trabajo pretende presentar dos propuestas pedagógicas para la enseñanza


de español como lengua extranjera centradas en el uso de las Metodologías
Activas, en una escuela de educación básica privada y en un curso de Licenciatura

570
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

Letras Español de la red federal de enseñanza de Brasil. A partir de la observación


de las dificultades enfrentadas por los profesores y estudiantes, principalmente
en el contexto de pandemia, en el que se realizan clases en línea, se verificó
la necesidad de producción y divulgación de este trabajo. Para tanto, fueron
utilizados los presupuestos teóricos del Pós-método (KUMARAVADIVELU, 1994,
2001, 2003) y de las Metodologías Activas (MORAN, 2013, 2015; MATTAR, 2017),
que garantizan la autonomía metodológica del profesor sobre el método dentro
de su contexto de actuación, además de resignificar el rol del/la estudiante
como protagonista de su aprendizaje. Las propuestas didácticas objetivan la
producción escrita y la expresión oral de estudiantes en distintos niveles de
proficiencia y etapas de la enseñanza, empleando los softwares de presentación
e interacción Mentimeter y Canva como herramientas pedagógicas. La primera
propuesta, desarrollada en las clases de español del 8º grado de una escuela
de educación básica privada, está centrada en el desarrollo de la literacidad
crítica (DUBOC, 2016) sobre el contexto pandémico a través de la construcción
y publicación de un protocolo sanitario para la comunidad escolar. La segunda,
desarrollada por la profesora-investigadora junto a sus estudiantes del 6º período
de un curso de Licenciatura de Español de la red federal de enseñanza en Brasil,
objetiva la producción de tecnobiografías (BARTON; LEE, 2015) por medio de
un itinerario de aprendizaje reflexivo (FARIA; MENDONÇA, 2019) con enfoque
en la narrativa de los estudiantes sobre el uso de la tecnología en diferentes
momentos y lugares a lo largo de sus historias de vida. En ambas propuestas,
se plantea la necesidad de resignificación de las tecnologías de información
y comunicación (TIC) en tecnologías de aprendizaje y conocimiento (TAC),
avanzando en dirección al uso de las tecnologías para el empoderamiento y
participación (TEP) (COSTA-ALBUQUERQUE; MAYRINK; OLIVEIRA, 2020). Como
resultado, se observó que las propuestas facilitaron la interacción virtual entre
docentes y estudiantes, el empoderamiento y la promoción de competencias y
habilidades para la escritura y oralidad en lengua española. Por fin, señalamos
la necesidad de una práctica docente hacia la innovación pedagógica, teniendo
en vista metodologías activas que contemplen el tiempo y el espacio en la
contemporaneidad.

Palavras-chave: enseñanza y aprendizaje de español lengua extranje; tecnologías


de información y comunicación; metodologías activas.

571
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

O desenvolvimento de habilidades comunicativas


em língua inglesa - o ensino do idioma nos cursos
integrados ao ensino médio do CTISM
Autoria: MILENE VÂNIA KLOSS

Para Richards e Rodgers (2018, p. 69), o objetivo do ensino de língua é desenvolver


a competência comunicativa de um indivíduo. Assim, entende-se que a técnica
comunicativa no ensino de um idioma parte de uma teoria da linguagem enquanto
comunicação. Ela se caracteriza por compreender a língua como um sistema para
a expressão de significados, cuja função primária é a de proporcionar interação e
comunicação. A técnica comunicativa focaliza o ensino de uma língua nas suas
categorias de significação funcional e comunicativa, quando inseridas em um
discurso contextualizado, e não meramente em suas características gramaticais
e estruturais. Este projeto de ensino visa atender às necessidades comunicativas
em Língua Inglesa (LI) de estudantes dos cursos Técnicos Integrados ao Ensino
Médio, diurnos, do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM). Em acordo
com o PDI da instituição e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
através dele é possível incentivar ações que abordem a diversidade cultural e
social, possibilitando o desenvolvimento de competências comunicativas no
idioma, pelo menos, até o nível intermediário – B1, conforme especificações
do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (QECR). Com o intuito
de desenvolver a língua inglesa a partir da jornada cognitiva individual de cada
estudante, em um primeiro momento, logo que ingressa no 1º ano de curso, ele
responde a um questionário de sondagem, relatando suas experiências com
Línguas Estrangeiras (LE). Em seguida, passa por uma entrevista, no idioma alvo,
com a professora da disciplina e então é orientado a realizar um ou mais testes
de nivelamento, conforme experiências linguísticas diagnosticadas através da
entrevista e do questionário de sondagem. Com isso, esses estudantes de 1ºs
anos são reorganizados em grupos menores, com no máximo 15 participantes
por grupo, conforme suas experiências e desenvolvimento aproximado no
idioma, apresentado até então. De acordo com demandas e necessidades da
maioria, geralmente, tem sido ofertados de 2 a 3 grupos de nível Básico e 2

572
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

grupos de nível Pré-Intermediário. Os estudos no idioma seguem pelos três anos


de curso. Esse projeto atualmente está vinculado ao LabLínguas, Laboratório de
Linguagens do CTISM e tem demonstrado sua relevância no desenvolvimento
de LI para os estudantes, em diferentes contextos de suas vidas, acadêmica e
social.

Palavras-chave: ensino; inglês; comunicação.

Multiletramentos digitais em Teletandem: estudo


do uso das ferramentas de comunicação síncrona
Autoria: PRISCILLA DE SOUZA FERRO

Este estudo tem como objetivo relacionar os multiletramentos digitais às práticas


de Teletandem, considerando o estabelecimento da sincronia da comunicação
por meio de ferramentas de comunicação síncrona, em um primeiro momento, na
modalidade escrita e, depois, na modalidade oral. O Teletandem é um ambiente
de aprendizagem autônoma entre pares de falantes de duas línguas estrangeiras,
seguindo os princípios de autonomia, reciprocidade e separação de línguas
(BRAMMERTS, 1996), e ocorre pela utilização de ferramentas de comunicação
síncrona, denominadas Mensageiros Instantâneos. Nesse ambiente, circulam
gêneros textuais pelos quais os pares de aprendizes respondem a situações
retóricas tipificadas (ARANHA, 2014; RAMPAZZO, 2017) e, considerando os
gêneros com ação social (MILLER, 2012), eles medeiam a relação dos sujeitos
com as situações, a fim de que esses sujeitos alcancem seus propósitos
comunicativos. O deslocamento da sincronia da comunicação da modalidade
escrita para a oral, causado pela transferência da comunicação síncrona do
chat escrito para a videoconferência, alterou a exigência situacional à qual os
parceiros respondiam e, dessa maneira, alterou sua ação retórica. A alteração
da ação retórica, por sua vez, permite inferir os diferentes multiletramentos
digitais necessários para o sucesso das práticas de Teletandem tanto enquanto
a sincronia estava estabelecida no uso dos chats, quanto depois em que ela
passou a ocorrer na modalidade oral. A análise dos gêneros materializados nos
recursos de chat e de videoconferência pode, portanto, indicar as alterações

573
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

nas respostas às diferentes exigências situacionais, a partir das possibilidades


de uso de diferentes multiletramentos digitais em cada um desses recursos.
Analisando a produção de gêneros no espaço destinado ao bate-papo escrito
(chat) nos Mensageiros Instantâneos utilizados para a prática, elucidamos que
as diferentes ações retóricas para responder a exigências situacionais distintas
dos dois períodos marcaram o uso de letramentos digitais diferentes pelos
participantes. Por meio da análise de cinco excertos retirados de produções
feitas em chats, antes e depois de a sincronia da comunicação estar centrada
nas videoconferências, apontamos mudanças nos letramentos digitais ocorridas
para a prática de Teletandem.

Palavras-chave: teletandem; multiletramentos; chat.

574
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

Avaliação e ensino de gramática no ensino superior


Autoria: CLARICE DE MATOS OLIVEIRA
Coautoria: MARTA CRISTINA DA SILVA

No campo de pesquisa da avaliação da aprendizagem, vários estudiosos


defendem a importância da avaliação formativa, que tem como foco o processo
de ensino-aprendizagem e se desenvolve ao longo do processo educacional,
tendo um caráter exclusivamente pedagógico. Compreendemos que as
práticas avaliativas devem orientar as ações dos educadores, não sendo usadas
somente para classificar e atribuir notas, mas também para verificar se as
metodologias empregadas estão adequadas e atingindo os objetivos propostos.
Nesse sentido, consideramos que estudos nessa área ainda são necessários,
pois contribuem para a compreensão dos fenômenos relacionados ao ato de
avaliar nos diversos campos do conhecimento. Além disso, acreditamos que as
avaliações podem exercer impacto significativo no processo de ensino, da escola
básica ao ensino superior, o que mostra a importância de se discutir o efeito
retroativo das práticas avaliativas na formação de professores, que vão atuar
diretamente com as atividades avaliativas em seu fazer docente. Para realizar
esta pesquisa, selecionamos uma disciplina ministrada em um Curso de Letras
de uma instituição pública, que tem por objetivo discutir estudos de gramática
por reconhecer sua relevância na formação acadêmica dos estudantes, que,
em sua futura prática docente, terão que saber como ensinar esse aspecto da
língua. Tal conteúdo pode ser explorado sob diferentes perspectivas teóricas
e, admitindo-se a articulação entre ensino e avaliação, a expectativa é que o
conteúdo da disciplina seja avaliado de forma coerente com a concepção de
gramática que se assume. Desse modo, este estudo tem por objetivo geral
investigar a noção de avaliação do docente responsável por uma disciplina
voltada a estudos da gramática normativa do Português no Curso de Letras de
uma universidade pública e dos discentes que cursam essa disciplina, assumindo-
se que os processos de avaliação e de ensino-aprendizagem estão intimamente
relacionados. O trabalho busca aporte teórico principalmente nos estudos sobre
avaliação de Ludke e Salles (1997), Perrenoud (1999), Luckesi (1995/2008), Villas

575
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

Boas (2000); para discutir sobre a influência das avaliações na aprendizagem


dos estudantes, as teorias de Alderson e Wall (1993) e Scaramucci (1999a, b,
2001, 2002, 2004, 2011) e, para abordar as questões do ensino de gramática, as
discussões de Possenti (1996), Neves (2002), Travaglia (2003), Antunes (2007,
2014). Realizamos um estudo de natureza qualitativa, mais especificamente
um estudo de caso, para analisar a avaliação da aprendizagem no contexto
focalizado. Os resultados apontam que falta maior articulação entre a forma
como são ensinados e avaliados conteúdos de gramática.

Palavras-chave: avaliação; ensino-aprendizagem; estudos de gramática.

Português no ensino médio e a formação do professor:


uma abordagem interacionista sociodiscursiva
Autoria: CLAUDIA RODRIGUES

O objetivo desta comunicação é refletir sobre a formação do professor de


Língua Portuguesa em aulas do ensino médio. O trabalho apresenta reflexões
sobre o desenvolvimento da leitura crítica, a análise semiótica de diversos
gêneros propostos pelos livros didáticos e a informatividade planejada que o
docente leva para sala de aula como subsídios e/ou pistas disponíveis para o
aprendiz. Os subsídios teóricos que guiaram as reflexões partem principalmente
de pesquisadores como Celani (1996), Tardif (2002) e Bronckart (2007) E Shön
(1983) que propõem uma reflexão acerca da importância da transformação do
professor com o objetivo de atingir a questão política e social. Baseado nesse
enfoque, o trabalho pretende colaborar com questões que envolvem as áreas
da Linguística Aplicada e Formação de Professores. A base teórica do estudo
parte da concepção de que é necessário que o professor reflexivo se dê conta
da importância da prática eficiente que Ilari (1985) cita como satisfação de
três exigências que passam a ser objetivos do professor de língua materna:
a) importância da leitura de “bons autores”; b) observação prévia, pelo aluno, dos
‘fatos’ que serão assuntos da aula; c) a certeza de que o aluno esteja efetivamente
motivado para o aprender. De acordo com Travaglia (1996), Moita Lopes (1996)
e Celani (1999), a linguagem é um lugar de interação humana, de interação

576
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

comunicativa, num dado contexto sócio-histórico-ideológico. Partindo deste


pressuposto, a fundamentação teórica do estudo se apoia na epistemologia do
Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 2007). Os resultados do trabalho
apontam para a construção de um ensino pautado na construção de caminhos
que conduzam os alunos a uma aprendizagem consciente dos mecanismos de
apropriação de conhecimento, bem como uma aprendizagem que possibilita
aos alunos o reconhecimento e o olhar crítico de seu espaço social e cultural.
Sobretudo, as considerações finais do trabalho reforçam o papel do professor
como um profissional reflexivo, cuja postura é transdisciplinar, envolvido na
produção de conhecimento de forma que a interação entre a teoria e a prática
sejam constantes.

Palavras-chave: Interacionismo Sociodiscursivo; Linguística Aplicada; formação


de professores.

O estudo da estrutura composicional da crônica


e a percepção da possibilidade de cruzamento
sequencial a serviço da constituição da dimensão
argumentativa do texto: ponto de partida para o
ensino da escrita
Autoria: DÉBORA MATOS ALAUK
Coautoria: TATIANA DA CONCEIÇÃO GONÇALVES

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma ação de ensino direcionada para
a produção escrita, a partir do estudo do gênero crônica, tendo por base alguns
princípios da abordagem dos gêneros discursivos/textuais, articulados aos
pressupostos da Linguística Textual e aos procedimentos da Análise Textual dos
Discursos, a fim de que seja observada a dimensão argumentativa presente na
constituição dessa modalidade textual. Para a realização desse empreendimento
didático, buscamos analisar e compreender a estrutura composicional da
crônica com autoria de Rubem Alves: “Ostra feliz não faz pérola”, que faz parte
da obra de título homônimo, publicada pela editora Planeta (2014). O estudo
busca entender como se constitui e funciona o plano de texto e a orientação

577
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

argumentativa do gênero crônica, haja vista os postulados de Adam (2019),


os quais revelam que os gêneros narrativos dispõem de uma configuração de
encaixe que possibilita não só cruzamento de tipologias genéricas, mas também
de sequências textuais, fato que, para nós, justifica e amplia as reflexões acerca
da hipótese de que, porquanto a crônica apresente uma dominância narrativa, há,
contudo, em sua estrutura composicional, elementos linguístico-discursivos que
sinalizam um movimento argumentativo, denominado por Amossy (2018), como
dimensão argumentativa. Esse fenômeno, conforme estudos contemporâneos
desenvolvidos na área de linguagens, é imanente à língua, por conseguinte,
permite-nos perceber que a materialização do plano de texto de uma narrativa
pode apresentar-se atravessada pelo cruzamento entre sequências, as quais
dão suporte à orientação argumentativa do texto. Com efeito, tal aspecto ratifica
a hipótese levantada, podendo servir de estratégia de ensino para o professor
de Língua Portuguesa, em atividades de fomento à produção escrita. O quadro
teórico que fundamentou essa análise pautou-se, além das obras de Adam (2011,
2019), em Amossy (2018), Bakhtin (2003), Marcuschi (2008, 2012), Koch (2004,
2005, 2015), Marquesi (2017) e nas orientações propostas pelos documentos
oficiais, majoritariamente, neste estudo, a Base Nacional Comum Curricular –
BNCC (2018).

Palavras-chave: estrutura composicional da crônica; produção escrita;


cruzamento sequencial e dimensão argumentativa.

O desenvolvimento da competência lexical a partir


da reescrita no processo de ensino-aprendizagem
da produção de texto: anáforas nominais
Autoria: FERNANDA JÚNIA APARECIDA TEIXEIRA DA CONCEIÇÃO

Com forte motivação, causada pelo cenário da sala de aula de língua portuguesa no
qual o desenvolvimento da reescrita, como fator relevante para o aprimoramento
da produção textual, vem sendo ignorado, como se observa em Teixeira da
Conceição (2019), buscou-se apresentar esta proposta de comunicação, cuja
ênfase está no desenvolvimento da competência lexical a partir da reescrita.

578
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

Desse modo, buscamos o recorte lexical em nossa abordagem, uma vez que
o léxico é um componente de ensino fundamental na construção textual dos
sentidos. No entanto, entendemos que para exigir a competência lexical na
produção de textos escritos é preciso ensinar ao aluno a voltar o olhar para
o seu processo de escrita, em que ele reflita criticamente sobre os usos e
os efeitos de sentido da escolha lexical. O objetivo central da comunicação
é discutir as competências que os alunos da Educação Básica precisam ter
no uso escrito da língua, nos diferentes contextos que precisam enfrentar,
refletindo especialmente sobre as funções do léxico na construção do texto.
Para alcançar tal objetivo, partimos de uma metodologia em que destacamos
os recursos anafóricos, a partir da progressão referencial, que dependem de
conhecimentos específicos para o uso dos elementos linguísticos - formas
de valor pronominal; numerais; advérbios locativos; elipses; formas nominais
reiteradas; formas nominais sinônimas ou quase sinônimas, considerando como
parte fundamental a operação de reescrita. Compomos nosso referencial teórico
sobre os estudos das operações no processo de produção textual em Dolz et
al. (2010); Marcuschi (2008); Antunes (2017) e Koch e Elias (2017); os estudos da
concepção interacionista da linguagem em Volóchinov (2017); sobre o ensino
do léxico, em Antunes (2005, 2012); e sobre o desenvolvimento da competência
lexical, em Ferraz (2011, 2008) e Santos (2017). Com isso, nossa proposta de
comunicação se apoia na ideia de que a reescrita permite ao aluno desenvolver
a capacidade de escolher adequadamente os recursos oferecidos pela língua,
em especial, os recursos lexicais, com autonomia, criticidade e proficiência.

Palavras-chave: léxico; ensino; produção de texto.

A concepção dialógica da linguagem e o ensino de


língua portuguesa: uma reflexão a partir do filme
Kung Fu Panda
Autoria: JESSICA DUARTE DE SOUZA
Coautoria: CAMILA DE ARAÚJO BERALDO LUDOVICE

Neste trabalho, objetiva-se, através das reflexões sobre dialogismo e gêneros


discursivos de Mikhail Bakhtin, propor uma análise de cenas do filme Kung Fu

579
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

Panda lançado em 2008, produzido pela DreamWorks Animation. Dessa forma,


pretendemos analisar o ensino-aprendizado numa perspectiva dialógica pelas
metáforas trazidas no filme Kung Fu Panda. Observamos que ainda há muitos
questionamentos sobre como ensinar a norma-padrão e qual o melhor método
pedagógico a ser usado com os alunos. Em volta dessa reflexão, o papel do
docente em sala de aula é de extrema importância. Diante dessa realidade,
Kung Fu Panda, de uma maneira lúdica, aborda alguns questionamentos sobre
o ensino tradicional. Em nossa atuação como docentes, muitas vezes, não
percebemos que o universo em que os alunos estão inseridos é um ótimo objeto
de ensino. Como justificativa para a pesquisa está o fato de que ainda é preciso
despertar reflexões sobre o ensino tradicional e os estudos de Bakhtin tem
propiciado novas perspectivas para o ensino da língua. Utilizando o conceito de
dialogismo, iremos verificar as relações dialógicas construídas no filme Kung Fu
Panda, para revelarmos as conexões entre ficção, escola e ensino de gramática.
A fundamentação teórica são os estudos de Bakhtin sobre dialogismo (2006,
2010), gêneros do discurso (2016) e de outros pesquisadores estudiosos de sua
obra, tais como, Brait (2012), Fiorin (2006), além de outras obras de Bakhtin:
Questões de estilística no ensino da língua (2013) e os estudos bakhtinianos
sobre as narrativas cinematográficas (STAM, 1992). A presente pesquisa será
composta por recortes das cenas do filme Kung Fu Panda que serão analisadas
a partir de uma metodologia qualitativa, de caráter descritivo e com abordagens
dialógicas a serem exploradas. Serão avaliados alguns temas que envolvem: a
relação professor e aluno, ensino tradicional, método de ensino alternativo, o
comportamento de seguir regras, testes e provas propostos pelos professores
para verificar a eficiência no aprendizado. Espera-se comprovar que o ensino-
aprendizagem de gramática pode ser trabalhado de uma maneira mais interativa
e criativa.

Palavras-chave: relações dialógicas; ensino de gramática; filme Kung Fu Panda.

580
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

O tempo e aspecto em textos autobiográficos:


uma perspectiva de ensino de língua materna no
viés enunciativo
Autoria: LIDIANY PEREIRA DOS SANTOS
Coautoria: MARLENE APARECIDA VISCARDI MANTOVANI

O presente artigo tem como objetivo analisar ocorrências linguísticas presentes


em textos Autobiográficos escritos por alunos do 7º ano do Ensino Fundamental
II que se caracterizam por apresentar a relação enunciativa entre as categorias
de tempo e aspecto, trazendo uma reflexão para o ensino do gênero em causa, ou
seja, trata-se de um novo olhar para se ensinar as categorias de tempo e aspecto
em sala de aula, as quais são fundamentais na tessitura da Autobiografia. Este
trabalho de pesquisa situa-se na articulação entre a linguística e o ensino de
língua materna e fundamenta-se nas reflexões enunciativas, em especial, no
quadro da Teoria das Operações Enunciativas e Predicativas (TOPE) proposta
pelo pesquisador francês Antoine Culioli (1990) que entende que a Linguística
tem como objeto de estudo “a atividade de linguagem apreendida através
da diversidade das línguas naturais”, isto é, a tarefa do linguista é estudar o
funcionamento da linguagem enquanto atividade significante de representação,
ou melhor, enquanto atividade de produção e reconhecimento de formas
linguísticas. Para ele, temporalidade em termos de categoria pura não existe,
pois trata-se de um sistema complexo de representação em que se misturam
tempo, aspecto, modalidade e determinação (esta última refere-se às operações
pelas quais nós construímos “ocorrências” de representações nocionais que
situamos no espaço topológico de referência intersubjetiva). Propomos analisar
ocorrências linguísticas, de acordo com os pressupostos da TOPE, em relação
ao tempo e aspecto presentes nos textos, não cabe dizer se o texto A ou B está
certo ou errado, mas o que interessa é mostrar que o ensino de produção textual
tal qual tem sido praticado, seguindo um modelo textual estabelecido, torna-se
ineficaz, uma vez que não permite ao aluno refletir sobre o encadeamento dos
elementos lexicais e as categorias gramaticais para configurar o texto e que este
texto produza sentido, ou seja, a Teoria da Enunciação contribui para ampliar a

581
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

compreensão não prevista pelas gramáticas e proporciona ao educando o seu


desenvolvimento linguístico-cognitivo.

Palavras-chave: autobiografia; tempo; aspecto.

O letramento digital na BNCC: pressuposições


sobre o uso das TDIC pelos professores de língua
portuguesa na educação básica
Autoria: MARCELO CRISTIANO ACRI
Coautoria: ELIANA MARIA SEVERINO DONAIO RUIZ

O objetivo desta comunicação é demonstrar como a Base Nacional Comum


Curricular (BNCC) caracteriza o letramento digital docente e orienta o uso de
tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) nas aulas de língua
portuguesa na educação básica. A base teórico-metodológica da investigação
assenta-se nos conceitos de letramento (KLEIMAN, 1995; SOARES, 2016, 2017),
letramentos (múltiplos) (STREET, 2014), multiletramentos (ROJO, 2012; CAZDEN;
COPE; FAIRCOULGH; GEE et al., 1996), letramento digital (DUDENEY; HOCKLY;
PEGRUM, 2016) e formação de professores (PAIVA, 2010; HEALY; HEGELHEIMER;
HUBBARD et al., 2008). Procuramos mostrar que, sendo um documento norteador
da educação no Brasil, a BNCC constrói um quadro otimista do panorama da
educação no país, no qual as escolas estão equipadas e preparadas para oferecer
aulas por meio de instrumentos modernos e em funcionamento e com a utilização
de diversas TDIC, assim como pressupõe um professor com níveis aprofundados
de letramento digital. Nosso objetivo é confrontar pressuposições da BNCC
acerca do letramento digital do professor de língua portuguesa com o que emerge
de estudos sobre a performance de um professor com níveis aprofundados
nesse tipo de letramento. Dudeney, Hockly e Pegrum (2016) defendem que o
domínio de letramentos-chave se apresenta a partir de quatro pontos focais
constituintes do letramento digital (linguagem, informação, conexões e design).
Healy et al. (2008), por sua vez, elencam níveis de desenvolvimento do letramento
digital e postulam indicadores de desempenho nesses níveis, que devem ser
apropriados pelo professor, indo de performances básicas a avançadas, desde

582
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

o planejamento da aula, sua execução, até os instrumentos de avaliação da


aprendizagem. Munidos dessas categorias, buscamos analisar marcas da
concepção de letramento digital docente apresentadas pelo documento
oficial, nas seções referentes à área de linguagens e suas tecnologias, mais
especificamente, no componente curricular de língua portuguesa, nas etapas
educação infantil e ensino fundamental. A partir de marcadores discursivos
(palavras e expressões referentes a TDIC, competências e habilidades) em
diversas seções do documento, construímos um quadro em que apresentamos
os letramentos-chave, os níveis de aprofundamento em letramento digital e suas
respectivas habilidades, que a BNCC traz como já atingidos pelos professores
atuantes na rede de ensino brasileira.

Palavras-chave: letramento digital; Base Nacional Comum Curricular; Língua


portuguesa.

Modulações enunciativas no exercício da produção


textual
Autoria: MARILIA BLUNDI ONOFRE
Coautoria: CÁSSIA REGINA COUTINHO SOSSOLOTE

A reflexão que ora propomos parte de duas perspectivas acerca da linguagem:


a primeira refere-se a sua concepção como atividade de construção de
significação, e a segunda, em consequência da primeira, à articulação proposta
entre a linguagem e as línguas naturais. E a questão que levantamos diz respeito
às implicações dessas perspectivas vistas no ensino/aprendizagem de língua.
A primeira implicação a se considerar, relativa à linguagem entendida como
atividade, encontra-se na divergência entre essa perspectiva e a concepção
da linguagem como comunicação, esta última predominante nas propostas
curriculares. A segunda, sobre a articulação entre a linguagem e as línguas
naturais, está em assumir como princípio a estabilidade-plasticidade no trabalho
com produção-interpretação de texto no ensino de língua. Centrando-nos nesta
articulação, pretendemos olhar para esse movimento, lugar em que é possível
visualizar os sujeitos, ou enunciadores, operarem como tais, assumindo seus

583
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

papéis, jogando entre o estável e o plástico, ainda que de forma não consciente.
É esse lugar que nos interessa no trabalho com o ensino, por meio do qual é
possível olhar para o aluno, vê-lo se constituindo como autor, fazendo valer sua
criatividade, ainda que nessa criatividade esteja a não adequação ao considerado
ideal, a um dado modelo (tipologia textual/gênero discursivo) a que se molda
uma dada relação léxico-gramatical-enunciativa. Isso não significa propor um
vale tudo, ou mesmo uma escrita/interpretação de texto genial ou original, e aqui
nos referimos à criatividade segundo Franchi (2002). Significa, pois, trabalhar
com a produção/interpretação de texto a partir das marcas léxico-gramaticais-
enunciativas deslocadas (erradas?) presentes nas produções dos alunos,
concebidas como ocorrências típicas, e propor um exercício parafrástico de
modo que o aluno reflita sobre as possibilidades enunciativas uma vez envolvidas.
A proposta está no exercício, para além dos resultados, objetivando que o aluno,
ao produzir/interpretar seus textos, passe a observar as implicações léxico-
gramaticais-enunciativas em questão, exercendo sua criatividade linguística.
Essa reflexão referencia-se na Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas
(TOPE) cujos pressupostos levam em conta as operações linguístico-cognitivas
observadas a partir das operações de representação mental, referenciação
linguística e regulação intersubjetiva. Encontramos aí o sujeito em operação por
meio das atividades epilinguísticas, linguísticas e metalinguísticas, entendidas,
respectivamente, como atividade metalinguística não-consciente (do nível
da linguagem), atividade de construção linguística (do nível da materialidade
linguística) e metalinguística (do nível do analista/autor). Pautados nesse
contexto, analisaremos ocorrências selecionadas em produções textuais
de alunos, explorando as modulações enunciativas por meio das marcas de
qualificação/quantificação, modalização, tempo-aspectualização.

Palavras-chave: enunciação; atividade de linguagem; ensino de língua.

584
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

Sequência didática no ensino superior:


contribuições para a prática de escrita do gênero
crônica argumentativa
Autoria: MARTA APARECIDA BROIETTI HENRIQUE

O objetivo desta comunicação é apresentar o desenvolvimento progressivo


da produção escrita por meio da aplicação de uma ferramenta de ensino
denominada como sequência didática, a qual consiste em um conjunto de
atividades que visam a levar os alunos ao domínio da produção de textos orais
e escritos, em uma turma do curso de Pedagogia em uma instituição privada
de ensino. Este estudo está fundamentado na perspectiva do interacionismo
sociodiscursivo (ISD), em particular, da vertente do Grupo da Didática de
Língua de Genebra (SCHNEUWLLY; DOLZ, 2004), que, por sua vez, considera
os gêneros textuais como formas do agir linguageiro, cuja função é promover o
desenvolvimento humano (BRONCKART, 2008). Nesta comunicação, busca-se
mostrar o processo de ampliação na qualidade da prática de escrita com base
em diferentes versões de um texto realizadas por uma mesma aluna durante
a aplicação de uma sequência didática voltada para um gênero da ordem do
argumentar, a crônica argumentativa. Para tanto, em um primeiro momento, é
realizada uma breve síntese de como ocorreu aplicação da ferramenta em sala de
aula, a qual integrou um projeto maior, desenvolvido para trabalhar a capacidade
de argumentar. Em seguida, são analisadas quatro versões de uma produção
da crônica argumentativa escritas por uma aluna do quatro semestre do curso
de Pedagogia. A análise apresenta como o trabalho em torno de um gênero,
enquanto “megainstrumento” (SCHNEUWLLY, 2004) facilitador da mobilização
das capacidades de linguagem (ação, discursiva e linguístico-discursiva),
pode contribuir para a progressão nas práticas de escrita. Este trabalho visa a
evidenciar o percurso realizado pela aluna, bem como a ampliação gradativa
de cada uma das versões feitas a partir de uma produção inicial que resultou
em uma perceptível melhora na qualidade da escrita da produção final. Por fim,
procura demonstrar validade de projetos, voltados para a produção do gênero
textual, que contribuam para a melhora das práticas de linguagem também

585
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

para alunos do superior, pois esses aprendizes ainda carecem de atividades


em sala de aula que sejam mediadoras de práticas de leitura e escrita.

Palavras-chave: produção escrita; gênero crônica; sequência didática no ensino


superior.

O estudo da carta argumentativa: perspectivas


para a leitura e escrita argumentativas
Autoria: TATIANA DA CONCEIÇÃO GONÇALVES
Coautoria: MÔNICA DO SOCORRO DE JESUS CHUCRE

Este trabalho apresenta uma proposta de ensino de Língua Portuguesa voltada


para a leitura e para a escrita argumentativa, com escopo em uma sequência
didática que toma por base o estudo de uma carta argumentativa extraída
de uma revista de circulação nacional e tem como objetivo contribuir com a
motivação e o aperfeiçoamento das competências leitora e escritora dos alunos
do terceiro ano do Ensino Técnico Integrado do Instituto Federal do Amapá,
no que diz respeito à percepção da orientação argumentativa imanente a esse
gênero. Para tanto, o aporte teórico que subsidiou a estruturação dessa ação
didática teve como ponto de referência alguns fundamentos da Linguística
Textual e da Análise Textual dos Discursos instituídos por Adam (2011/2019);
Cavalcante (2014); Fávero e Koch (2012); Koch (2014/2015/2016); Marcuschi
(2008/2012); Marquesi (2017), no que abrange o estudo dos Gêneros de Discurso,
recorremos aos princípios de Bakhtin (2003), ao trabalho com Sequência
didática, Leitura e Produção Textual, dedicamos atenção ao delineamento
teórico de Antunes (2017); Dolz, Gagnon e Decânio (2010); Lajolo (2018); Santos,
Riche e Teixeira (2015); Garcez (2012); Schneuwly e Dolz (2004); Silva (2011) e,
relativamente, à Argumentação, seguimos os estudos apresentados por Koch
(2016) e Abreu (2009). Tendo em vista os pressupostos teórico-metodológicas
expostos por esses pesquisadores, elaboramos a seguinte problemática: que
contribuições uma ação didática voltada para o estudo do tripé forma, tema
e estilo, constitutivo da carta argumentativa, pode trazer para a mobilização
dos atos de ler e de escrever de forma argumentativa? Diante dessa questão,
respaldadas nas vertentes teóricas referenciadas, intencionamos com essa

586
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

proposta de ensino oferecer aos alunos do IFAP subsídios e perspectivas para


alcançar não só a leitura crítica como também a escrita proficiente de textos
da ordem do argumentar, a partir da análise e da compreensão dos elementos
relacionados à organização estrutural da carta argumentativa, os quais,
combinados, propiciam a unidade textual e os efeitos de sentido que revestem
a textualidade desse gênero discursivo/textual.

Palavras-chave: ensino de língua portuguesa e sequência didática; carta


argumentativa; leitura e escrita argumentativas.

Leitura literária no Currículo do Ensino


Fundamental do Estado de São Paulo: princípios
teóricos e materialização didática
Autoria: TELMA APARECIDA LUCIANO ALVES

Este trabalho é resultado de uma pesquisa sobre o Currículo do Estado de São


Paulo – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, o Caderno do Professor –
Língua Portuguesa/Linguagem e o Caderno do Aluno – Língua Portuguesa/
Linguagem, no que se refere aos princípios teóricos sobre leitura literária e a
sua materialização didática para o 9º ano do ensino fundamental. Conduzimos o
trabalho sob o paradigma da pesquisa qualitativa, sendo a análise documental o
delineamento adotado para a sua realização; os documentos são investigados de
acordo com os princípios da análise de conteúdo. Partimos de teorias específicas
do currículo como as discutidas pelo pesquisador Tomaz Tadeu da Silva, por
exemplo; e no que tange à leitura literária, fundamentamo-nos em autores que
debatem a leitura literária, o ensino de literatura e a crítica literária, como Antonio
Candido, Tzvetan Todorov, Marisa Lajolo, Regina Zilberman e Maria Thereza Fraga
Rocco. Ao considerar o 9º ano do ensino fundamental, propomo-nos a responder
basicamente duas perguntas. O que propõe o currículo de Língua Portuguesa
da rede estadual paulista de ensino em termos de leitura literária? Como essa
proposta se materializa didaticamente no Caderno do Aluno e metodologicamente
no Caderno do Professor de Língua Portuguesa? Diante dessas indagações, os
objetivos gerais deste trabalho são: analisar o referido documento curricular de

587
Comunicação Oral
Ensino-aprendizagem de língua materna

Língua Portuguesa, identificando e interpretando o que se propõe em relação


à leitura literária; analisar as publicações destinadas ao aluno e ao professor,
apontando como a leitura literária se materializa nesses materiais. Os objetivos
específicos são fazer um levantamento dos textos literários que integram as
Situações de Aprendizagem propostas pelo Caderno do Aluno; analisar a forma
como os textos literários são pedagogicamente trabalhados nessa publicação;
refletir sobre as orientações didático-metodológicas, presentes no Caderno do
Professor, e referentes à abordagem do texto literário em sala de aula; apontar
possíveis espaços nas Situações de Aprendizagem, nos quais a leitura literária
possa ser contemplada; apresentar sugestões de encaminhamentos para o
trabalho com textos literários em sala de aula.

Palavras-chave: currículo; ensino de literatura; leitura literária.

588
Comunicação Oral
Filologia

Pascoal e seu amuleto mágico? A filologia a


serviço da história social e do discurso
Autoria: HELENA DE OLIVEIRA BELLEZA NEGRO
Coautoria: NATHALIA REIS FERNANDES

Abordaremos os achados linguísticos e filológicos em manuscrito setentista


pertencente ao Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, parte do Projeto
Bruxas Paulistas, da FFLCH-USP. O fac-símile em questão é um auto de denúncia
elaborado pela justiça eclesiástica, na Freguesia de Araritaguaba, estado de
São Paulo, no ano de mil setecentos e setenta e um e o réu é Pascoal Jose de
Moura. Como parte inicial do estudo, foi realizada edição semidiplomática para
assim identificarmos as marcas linguísticas e os dados referentes ao percurso
histórico-social e a partir disso, traçamos os objetivos de análise. O documento
foi elaborado por quatro punhos distintos, mas a autoria do réu em parte do
processo faz deste documento um importante achado histórico, discursivo e
linguístico, uma vez que o punho apresenta marcas linguísticas interessantes e
importantes para o estudo do português brasileiro. Pascoal José de Moura era
negro forro e escreveu as cartas, motivo da acusação de heresia, fato que confere
aos amuletos elaborados pelo acusado especial importância. Conhecidas
atualmente como orações de proteção, as cartas dedicadas a São Marcos
não eram vistas dessa maneira pela Igreja, que as considerava influências do
demônio. Este trecho do manuscrito apresenta exemplos interessantes para
os estudos linguísticos e discursivos, uma vez que exemplos como “inlhergam”
e “arcaçam” apresentam traços de nasalidade e rotacismo. Com o auxílio de
literatura auxiliar, apresentaremos hipóteses linguísticas para esse emprego,
visando contribuir com os estudos do português brasileiro. Do ponto de vista
da análise do discurso, são bastante interessantes as “orações” contidas nos
amuletos elaborados por Pascoal; o traço de pedido a uma autoridade superior
está presente, mas há uma diferença notável em relação ao que é pedido – não
se pede a salvação, a proteção espiritual, mas sim a proteção física, algo muito
mais condizente com a realidade da colônia. Também com o auxílio de literatura

589
Comunicação Oral
Filologia

auxiliar, pretendemos contrastar a ideologia oficial, da Igreja, com a ideologia


do habitante da colônia, contida nessas “orações”.

Palavras-chave: Filologia; discurso; documentos setecentistas.

O “a” protético em verbos na diacronia do português:


estudo de casos
Autoria: MARCELO MÓDOLO
Coautoria: ANTONIO CARLOS SILVA DE CARVALHO

O escopo deste artigo é discutir a prótese do “a” em verbos na diacronia do


português, observando sua variação e mudança linguística. Para tanto, valemo-
nos de um conjunto de dados dos séculos XIII ao XX retirado do “Corpus do
Português” que apresenta, muitas vezes, em um mesmo espaço de tempo,
variação quanto ao uso desse expediente. Buscamos estudar essas oscilações
de emprego bem como eventualmente determinar certas fronteiras linguísticas
relacionadas a elas, como prefixação, expressividade, mudança semântica etc.
Fenômeno fonomorfológico conhecido na história da língua portuguesa, esse
metaplasmo que indica “Acréscimo de um fonema no início de um vocábulo”
(CAMARA JR., 1974) é, por vezes, definido pelos especialistas de maneira
desencontrada, ou, mesmo, sequer é considerado como tal, constituindo-se
terreno fértil para indagações, daí a necessidade que sentimos de cotejar a
literatura técnica. À guisa de exemplificação, ao definir o verbete prótese (ou
próstese), Houaiss (2009) afirma que esse acréscimo se dá “sem alteração
do significado (p. ex., abagunçar, de bagunçar)”. Já Lapa (1970) assevera que
“uma espécie de prefixo a que se chama a prostético [...], a língua moderna
repudiou como arcaizante, [...] escritores atuais empregam-no, por vêzes num
tom vagamente humorístico”; de outro, Rocha Pombo (1914) afirma que “o prefixo
a de aconchegar-se lhe aumenta uma ideia de ação imediata, flagrante atual.
Dizemos: ‘Eles se aconchegaram’ querendo exprimir que duas ou mais pessoas,
de propósito, com a mesma solicitude se juntaram, ou uniram”, isto é, para este
autor, não cabe em absoluto falar seja em arcaísmo seja tampouco em humor; no
fundo, essa partícula entra na composição da palavra com a função de aumentar

590
Comunicação Oral
Filologia

sua carga de expressividade. Desse modo, esse trabalho prevê i) retomar e


revisar parte significativa da literatura técnica já produzida sobre o assunto,
ii) apontar possíveis generalizações para o emprego ou não desse expediente
linguístico no português apoiados em Bybee (2006), que considera existir uma
relação estreita entre a estrutura das línguas e o uso que os usuários fazem
dela nos contextos reais de comunicação. Consequentemente, a habilidade
linguística do usuário da língua é formada das regularidades no processamento
mental da linguagem em situações de uso, tanto que não se pressupõe uma
separação categórica entre competência e desempenho. Por fim, iii) com base
na análise dessa regularidade ou não do “a” protético nos verbos selecionados
nos enunciados do site “Corpus do Português”, verificaremos os processos de
morfologização e semanticização desse elemento.

Palavras-chave: metaplasmo; prefixação; expressividade.

591
Comunicação Oral
Filosofia da linguagem

A representação da mulher e do feminismo em as


sufragistas sob uma perspectiva Bakhtiniana
Autoria: CAROLINA GOMES SANTANA

Este trabalho é uma análise de como o filme As Sufragistas (2015) representa


a mulher e o feminismo, mostrado pelo movimento sufragista na Londres de
1912 que, em luta pelo direito do voto, passa a utilizar atos de desobediência
civil como forma de protesto para terem suas vozes e demandas de igualdade
ouvidas pela sociedade machista. Há uma grande repressão pela polícia, que
de formas extremamente violentas tentam coibir e apagar as sufragistas.
Existe também repressão vinda de outros sujeitos da base, que assumem a
voz social da superestrutura, mesmo não pertencendo a este grupo social, e
através de outros métodos, excluem e silenciam as manifestantes. Este embate
de vozes e ideologias é reflexo e refração dos embates do “mundo real”, entre
a base subversiva (aqui representado por mulheres, ou seja, membro de um
grupo social minoritário em luta ativa por direitos e engajamento político) e a
superestrutura conservadora (cuja voz social é assumida pela polícia e outros
sujeitos da classe trabalhadora, que insistem na conservação de ideologias
patriarcais de dominação da mulher). Sendo um filme, um enunciado estético,
ele semiotiza as valorações e ideologias presentes na sociedade. A obra, de
cunho feminista, surge como resposta à crescente demanda de melhores
representações de mulheres empoderadas e subversivas feita à indústria
cinematográfica, que, por ser uma esfera de produção midiática pertencente
à superestrutura, tendia a apresentar mulheres que se encaixavam no modelo
conservador de docilidade e servidão. A fundamentação teórico-metodológica
baseia-se nos estudos do Círculo de Bakhtin, principalmente nos conceitos de
ideologia, dialogia e voz social. Ele também será entendido como enunciado
verbivocovisual, considerando assim todas as suas dimensões como essenciais
e carregadas de sentido e ideologia, que devem ser consideradas em união para
compreensão total da obra. Busca-se analisar, a partir do embasamento teórico,
como a questão do feminismo e de mulheres em luta por direitos e participação

592
Comunicação Oral
Filosofia da linguagem

política é tratado e quais ideologias constituem o enunciado fílmico e como


estes valores dialogam com a contemporaneidade.

Palavras-chave: estudos bakhtinianos; ideologia; mulher.

O conservadorismo refletido e refratado na vida e


da arte: uma análise Bakhtiana sobre a educação
em Harry Potter
Autoria: GIOVANA CRISTINA DE MOURA

A partir das concepções do Círculo de Bakhtin, esta proposta versa sobre as


respostas refletidas e refratadas por dois sujeitos discursivos que representam
vozes sociais diferentes e destoantes em um processo de intervenção
governamental na esfera da escola. Partindo desse viés, a partir de duas
personagens da saga Harry Potter – Dolores Umbridge e Hermione Granger
– a proposta promove uma reflexão acerca de como essas duas personagens
representam posturas diferentes frente à ação do governo bruxo (visto que
Umbridge representa o discurso da superestrutura, do Ministério da Magia,
tendo poder para controlar os alunos e professores a fim de que sigam o
que este governo considera como ideal); por outro lado, Hermione Granger
atua de forma contrária ao que este governo considera como “educação de
qualidade”, contestando, primeiramente, de forma sutil, e depois instiga os
alunos a integrarem juntos um movimento de resistência. Tem-se, com isso,
respostas diferentes representadas por forças centrípetas e centrífugas ao
mesmo tempo. A metodologia que embasa o estudo é a dialética-dialógica
proposta por Paula et al. (2011), e, dessa forma, entendemos que essa atuação
responsiva nunca tem um fim e sempre suscita novas respostas, conflitos e
dissonâncias, refletidos e refratados por vozes que apontam para axiomas
diferentes. O estudo se justifica pois o mundo da magia – representado pela
educação – possui assimetrias com as políticas educacionais brasileiras que
têm sido afetadas pelo conservadorismo que demarca a gestão presidencial
atual, o que aproxima vida e arte. Tal como na educação de jovens bruxos, a
educação brasileira têm enfrentado uma frente conservadora – professores são

593
Comunicação Oral
Filosofia da linguagem

silenciados e desencorajados a se expressarem livremente, sem censura (assim


como os seus alunos); materiais didáticos são alterados para que “os bons
costumes” sem retomados; grupos de estudo são perseguidos; a violência (física
e moral) demarca os discursos dos representantes de tais governos (fictício
e real), dentre outras práticas refletem e refratam a intervenção pauta desta
discussão.

Palavras-chave: Círculo de Bakhtin; Harry Potter; Ministério da Magia.

"O que faz os seres humanos únicos?" Comentário


crítico
Autoria: JOANA FRANCO

O objetivo desta apresentação é fazer um comentário crítico da pergunta "O


que faz os seres humanos únicos?", através de uma análise de como o psicólogo
Michael Tomasello a persegue em sua teoria sobre a evolução da comunicação
humana. Vou esclarecer a minha perspectiva crítica, inspirada na filosofia tardia
de Ludwig Wittgenstein, apresentando algumas de suas reflexões em torno da
pergunta “O que é o significado de uma palavra?”, para mostrar que o modo como
as perguntas são colocadas têm consequências para a abordagem científica
e filosófica de um objeto. A dificuldade de cercar o conceito de significado
e a falta de consenso sobre ele entre as diferentes correntes da linguística
serão usadas para ilustrar a inadequação da pergunta e como ela pode conduzir
a proposição de processos ou relações incorpóreos para satisfazer a uma
necessidade explicativa imposta pela própria pergunta. No caso de Tomasello,
sua resposta à pergunta que dá título a esta comunicação se modifica de acordo
com novas descobertas experimentais, deslocando-se da intencionalidade
individual (ou theory of mind - ToM) para as motivações cooperativas, depois que
experimentos mostraram que primatas não-humanos também têm habilidades
de intencionalidade individual. Pretendo mostrar que a proposição de um limite
cognitivo entre humanos e primatas não-humanos pode estar assentada sobre
bases pouco claras e que as mudanças na teoria de Tomasello podem estar
ligadas mais à inadequação da pergunta do que propriamente às descobertas

594
Comunicação Oral
Filosofia da linguagem

experimentais. Além disso, pretendo argumentar que a tese da continuidade


entre primatas não-humanos e os seres humanos, embora assuma que somos
similares em muitos pontos, parte da assunção de que a cognição humana é o
ponto de chegada de uma sequência evolutiva teleológica, podendo denunciar
um viés antropocêntrico dos experimentos comparativos de Tomasello e sua
equipe. Por fim, vou levantar algumas reflexões sobre a pergunta “O que faz os
seres humanos únicos?” e sugerir alguns modos pelos quais a investigação
sobre a evolução da cognição e da linguagem pode ser feita de modo mais
preciso e vantajoso.

Palavras-chave: Tomasello; Wittgenstein; antropocentrismo.

“Pandeminions”: análise dialógica dos “(Bolso)minions”


na pandemia da Covid-19
Autoria: LUCIANE DE PAULA
Coautoria: NATASHA RIBEIRO DE OLIVEIRA

A proposta deste estudo é refletir, de maneira teórica e analítica, a partir de um


post da rede social Facebook, denominado “Pandeminions”, as relações dialógicas
que o constituem e as vozes sociais refletidas e refratadas nele. O referencial
teórico-metodológico bakhtiniano fundamenta a análise empreendida. A
escolha da rede social Facebook se justifica pelo formato de comunicação
estabelecido entre os sujeitos, que nos permite a recuperação dos dados (por
meio da permanência, típica da rede), além da sua configuração interativa, com
as opções de curtir, comentar e compartilhar. Os critérios metodológicos de
seleção do corpus foram temático e temporal, por estar relacionado a um tipo
de crítica social que vem sendo feita desde a campanha e a eleição presidencial
de Jair Bolsonaro, em 2018, e que se renova, agora, na pandemia da COVID-19,
pelas práticas de enfrentamento do governo que, por sua vez, ecoam, ressoam e
reverberam no discurso de seus apoiadores, os chamados “(bolso)minions”, em
referência aos minions, personagens presentes na franquia Meu Malvado Favorito
que, no cenário político brasileiro, foram ressignificados ao serem deslocados da
esfera da arte massiva para a vida, como apropriação cultural de crítica social.

595
Comunicação Oral
Filosofia da linguagem

O método dialético-dialógico bakhtiniano, marcado pelo cotejo, possibilita


colocar um enunciado em contato com outros e, com isso, compreender a
sua singularidade na cadeia discursiva que o constitui. Com isso, é possível
refletir acerca das valorações presentes no post “Pandeminions”, configurado,
como signo ideológico, pela fusão (via mecanismo de junção morfológica) dos
termos “pandemia” e “minions” e atuação discursiva arquitetônica enunciativa
caracterizada como verbivocovisual, uma vez que as personagens da animação,
presentes no post semiotizam os sujeitos nomeados como “(bolso)minions”,
num tom emotivo-volitivo crítico (marcado pela ironia ácida), num tempo-espaço
específico. Este estudo se justifica como uma das possibilidades de se pensar
as práticas sociais refletidas e refratadas pela e na linguagem, no pequeno
tempo da cultura, que reverberam posicionamentos sobre o atual governo e seus
adeptos ao que tange ao enfrentamento da COVID-19. Os resultados revelam
o quanto as redes sociais têm atuado como palco/arena política, com posts
como o analisado, que colocam em jogo valores e vozes sociais que, de maneira
responsiva, produzem, circulam e são recebidos como reflexo e refração da
conjuntura sócio, político e cultural vivida no Brasil, no cronotopo pandêmico
(Apoio: CAPES – Código de financiamento 001)

Palavras-chave: Círculo de Bakhtin; signo ideológico; pandemia.

O encontro entre o autoritarismo e os discursos


de libertação em documentários biográficos sobre
Mercedes Sosa
Autoria: NATHAN BASTOS DE SOUZA

Mercedes Sosa (1935-2009) foi uma cantora argentina fundamental para o


desenvolvimento de uma música latino-americana de perspectiva social, sua
atividade elevou o teor político e militante das canções. Em nossa pesquisa de
doutoramento estudamos os discursos biográficos a respeito dessa artista em
três documentários Mercedes Sosa – Como un pájaro libre, de 1983, Mercedes
Sosa - ¿Será posible el sur?, de 1985, e Mercedes Sosa, la voz de Latinoamérica, de
2013. O objetivo desta comunicação é estudar o encontro entre o autoritarismo,

596
Comunicação Oral
Filosofia da linguagem

com suas formas de agenciar a sociedade e a ascensão dos discursos de


libertação tal como esse encontro de opostos se dá na materialidade dos
documentários biográficos sobre Mercedes Sosa. Recortamos a narrativa dos
documentários em períodos temporalmente próximos ao advento da ditadura
militar argentina (1976-1983), que ocorre em um momento de pensamento latino-
americano em efervescência, sob a égide do poder autoritário no continente.
Para estudarmos esse encontro entre o autoritarismo e os discursos de
libertação refratados pelos documentários, a abordagem teórico-metodológica
de nossa pesquisa se ancora na reflexão dos autores do Círculo de Bakhtin
(BAKHTIN, 2011; MEDVIÉDEV, 2012; VOLÓCHINOV, 2017) sobre o encontro de
discursos a partir das noções de transmissão, compreensão e avaliação do
discurso do outro. Metodologicamente, nos valeremos de recortes feitos com
uso da ferramenta PrintScreen dos documentários, assim, analisamos alguns
excertos dos vídeos dos documentários como lugares de encontro entre o
autoritarismo e as forças de resistência. A vida da biografada é refratada nas
amostras discursivas em análise dos documentários, consideramos que essa
inscrição de Mercedes Sosa no contexto de episódios de censura e rebeldia
sedimenta valores heroicos em relação a seus atos contra a censura e sua luta
contra os militares internacionalmente conhecida. Por fim, consideramos que
a fricção dos diferentes discursos – das mídias impressas, das canções, das
fotografias, dos depoimentos, das capas de discos recuperados pelo diretor
de cada documentário – com a imagem de Mercedes Sosa produz valores
heroificantes para a cantora, os quais sedimentam um caminho que a alçou
ao epíteto extremamente edificante de “a voz da América Latina”.

Palavras-chave: Mercedes Sosa; estudos bakhtinianos; discurso biográfico.

597
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

Aspectos teórico-metodológicos na caracterização


das segmentações não convencionais de palavra
Autoria: ANA CAROLINA TEODORO BORSATO

A proposta deste projeto de pesquisa consiste em descrever e interpretar


grafias não convencionais de palavras, com destaque para as ocorrências de
segmentações não convencionais, a saber: hipossegmentação, hipersegmentação
e híbridos/mesclas, que ocorrem em 254 textos de 13 sujeitos selecionados a
partir da descrição feita por Fiel (2018). A hipossegmentação é caracterizada pela
ausência das fronteiras gráficas (espaço em branco ou hífen) entre as palavras,
como em “derepente” (de repente) e “ajudime” (ajude-me); a hipersegmentação,
pela presença dessas fronteiras gráficas dentro de uma palavra ortográfica,
como em “na quela” (naquela) e “morava-mos” (morávamos); a grafia de híbridos/
mesclas se caracteriza por haver, simultaneamente, uma hipossegmentação
e uma hipersegmentação em uma sequência de duas palavras, como no
exemplo “pura qui” (por aqui). Nosso objetivo é caracterizar essas grafias não
convencionais nos textos selecionados como pistas da relação dos sujeitos
com a noção de palavra, com a convenção ortográfica e com a escrita ao longo
dos quatro anos do EF II. Buscaremos responder à questão: por que esses
sujeitos apresentam grafias não convencionais de palavras que quantitativa
e qualitativamente os particularizam em relação aos demais alunos do EF II
da amostra considerada? Para isso, partimos do referencial de que tais grafias
não são meros erros e, portanto, nos distanciamos de uma visão normativa e
depreciativa delas, bem como de seus sujeitos. O quadro teórico-metodológico
adotado nesta pesquisa refere-se ao chamado Paradigma Indiciário, tal como
tematizado em Ginzburg (1989 e 2002) e em Abaurre et al. (1997). À luz desse
paradigma, discutimos os problemas metodológicos encontrados em relação
à identificação de segmentações nos textos manuscritos, uma vez que
houve ocorrências de dados bastante complexos e de difíceis classificações,
possibilitando o questionamento do que configuraria um dado de segmentação
não convencional, como problematizado por Tenani (2016). Essa discussão
teórico-metodológica promoverá reflexões sobre as características ortográficas

598
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

a serem descritas nos textos desses alunos, tomadas como pistas privilegiadas
da complexa relação do sujeito com a escrita e com aspectos linguístico-
discursivos advindos de práticas sociais/orais/letradas.

Palavras-chave: segmentação; escrita; letramento.

A prosódia como elemento formador da proficiência


em língua portuguesa
Autoria: CHEILA APARECIDA BRAGADIN
Coautoria: ROSICLEIDE RODRIGUES GARCIA

Seguindo as pesquisas desenvolvidas pelo Projeto ExProsodia®, este estudo


aborda como a oralidade é responsável pela compreensão dos textos orais
em detrimento dos textos escritos, sendo ela objeto de desenvolvimento de
competências e habilidades conforme previsto pela Base Nacional Comum
Curricular, a BNCC (2019). Todavia, levanta-se a discussão crítica sobre o que
há na BNCC em relação ao que temos na realidade quanto à participação dessa
competência na compreensão de alguns falantes. Para isso, considera-se a matriz
de Língua Portuguesa em relação à oralidade, e pergunta-se: o que é proposto
pelo documento conseguiria alcançar plenamente as lacunas comunicacionais?
Mesmo sendo de conhecimento que a prosódia auxilia a compreensão,
observa-se como ela se torna muitas vezes fator primordial, o que faz com que
a compreensão na oralidade não dependa apenas da coesão/coerência ligada
ao exercício da escrita, mas também do modo como isso é vivenciado pelo
interlocutor (CAGLIARI, 2002). Logo, a hipótese é que, embora as orientações da
BNCC vislumbrem o desenvolvimento de competências ligadas à oralidade, haja
ainda uma emergência em relação ao uso da prosódia como elemento formador
da comunicação, já que o documento nacional não aborda essa temática, e
esse item seria importante para a compreensão plena de informações textuais.
Para verificar tal situação, foi realizada, no Google Forms, uma pesquisa de
compreensão do sentido de algumas orações subordinadas com 300 pessoas,
de 14 a 80 anos, que possuíam o grau de escolaridade do Ensino Fundamental
incompleto à Pós-graduação completa. Nesse questionário, foram dispostas

599
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

quatro orações subordinadas adverbiais em formato escrito e oral, sendo duas


causais precedidas pela conjunção “como”, e duas conclusivas introduzidas
pelo conectivo “portanto”. Ao se apresentar as frases, os participantes deveriam
responder se as compreendiam: como causa ou comparação; como finalidade
ou conclusão. O levantamento demonstrou que 7,3% das pessoas cometeram
erro de compreensão ao lerem a oração causal, enquanto o texto oral obteve 4%
de erro. No caso da conclusiva, 20,7% dos participantes não reconheceram essa
função no texto escrito, contra 13,3% no texto oral. Desse resultado, destaca-se
que 97% dos participantes possuíam o ensino médio e superior, o que nos leva
a pensar que, mesmo sendo um público proficiente, a compreensão ligada à
oralidade destaca-se frente à escrita. Assim, sabendo-se que existe diferença
quanto ao uso da entoação entre as pessoas dependendo de seu grau de
escolaridade (GARCIA, 2015; FERREIRA NETTO, 2018), essa pesquisa observa
como a prosódia influencia esses processos.

Palavras-chave: prosódia; BNCC; educação.

Alinhamento fonético automático a partir de


modelos ocultos de Markov para pesquisa em
Fonética de Corpus
Autoria: GUSTAVO DE CAMPOS PINHEIRO DA SILVEIRA

O tempo demandado para segmentar manualmente as vogais e as consoantes


de uma gravação de fala, com o correto alinhamento dos intervalos segmentados
em relação ao sinal acústico, é o principal obstáculo para a análise de variáveis
fonéticas em grandes corpora de língua falada. A automação dessa tarefa
utilizando ferramentas computacionais abre a possibilidade de estender a
aplicação das técnicas de análise acústica da fala para a pesquisa em Linguística
de Corpus, levando ao surgimento da subárea Fonética de Corpus (LIBERMAN,
2019). O advento de ferramentas de reconhecimento de fala baseadas em
modelos ocultos de Markov (BAUM et al., 1970) superou em grande medida esse
obstáculo, uma vez que podem ser utilizadas para se obter, a partir do áudio e sua
transcrição ortográfica, uma transcrição fonética ampla temporalmente alinhada

600
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

com os segmentos acústicos da fala, com taxa de alinhamento correto acima dos
90% (LIBERMAN, 2019; GORMAN et al., 2011; LEE et al., 2001). No entanto, essa
tecnologia ainda é pouco difundida entre linguistas e foneticistas no Brasil. Este
trabalho descreve a implementação dessa tecnologia na segmentação fonética
do corpus de entrevistas sociolinguísticas do Projeto Acomodação (OUSHIRO,
2018), em uma pesquisa que analisa variáveis prosódicas de aproximadamente
20 horas de gravação da fala de 22 migrantes alagoanos que vivem em São
Paulo, a fim de investigar se a prosódia desses migrantes se alterou em função
do contato com a fala paulista. A transcrição fonética alinhada das gravações
foi obtida com uso do programa TreinaPB, escrito em Python pelo autor deste
trabalho. Ainda em desenvolvimento, e buscando complementar o programa
AlinhaPB, recém-desenvolvido por Kruse e Barbosa (2020), o TreinaPB visa
simplificar as tarefas envolvidas no treinamento de modelos acústicos para
alinhamento fonético em corpora de gravações de fala em português brasileiro,
de tal modo que mesmo os pesquisadores sem experiência com programação
consigam realizar o alinhamento utilizando modelos acústicos treinados nos
seus próprios dados. Esse programa utiliza a biblioteca Hidden Markov Models
Toolkit (YOUNG et al., 2015), em linguagem C, a partir dos scripts em Python do
Prosodylab-Aligner (GORMAN et al., 2011), e também algoritmos do AlinhaPB
(KRUSE; BARBOSA, 2020). (Apoio: CAPES – Processo 88887.495348/2020-00)

Palavras-chave: alinhamento fonético automático; modelos ocultos de Markov.


Fonética de Corpus.

Vírgulas em esquema duplo, estruturas adverbiais


e argumentação: uma análise a partir de textos
escolares
Autoria: ISADORA ALBANESE CAMILLO

O presente trabalho tem como objetivo fundamental investigar como pode


ser caracterizada a relação entre uso convencional de vírgulas em esquema
duplo (DAHLET, 2006), estruturas adverbiais (advérbios e locuções adverbiais)
deslocadas, e textos argumentativos. Para esta pesquisa, foram selecionados,

601
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

do Banco de Dados de Escrita do Fundamental II, 98 textos de gênero artigo


de opinião (sendo um texto por aluno), sobre o tema “A internacionalização da
Amazônia”, produzidos no 9º ano do Ensino Fundamental II (EF II). Nesses 98
textos, foram encontrados 195 dados, sendo que 21 deles correspondem aos
usos convencionais (presença da vírgula nas duas fronteiras de estruturas
adverbiais), como "daqui alguns anos" em: “Se esta internacionalização se
concluir, daqui alguns anos, este nosso patrimônio, estará totalmente devastado
[...]”. Uma vez que os textos foram feitos em uma escola estadual paulista, é
seguido o Currículo do Estado de São Paulo (2011), o qual privilegia, na área de
Linguagens e Códigos, o ensino do gênero argumentativo nos anos finais do EF
II. Em consonância, a BNCC prevê que alunos do último ano do EF II, em suas
práticas de linguagem, desenvolvam a habilidade de utilizar e explicar sentidos,
estratégias de modalização e argumentação (incluídos sinais de pontuação
e advérbios) em textos do gênero argumentativo. Levando em conta essas
orientações curriculares estadual e nacional, esta pesquisa parte da hipótese
de que o gênero textual mobiliza estratégias de modalização e argumentação,
privilegiadamente a partir da seleção de advérbios e locuções adverbiais. Os
funcionamentos sintático-semântico e argumentativo dessas construções
adverbiais estão associados a usos das vírgulas em esquema duplo, que têm
papel importante na organização e hierarquização dos enunciados escritos.
Esta investigação fundamenta-se em estudos anteriores sobre usos das vírgulas
em textos do EF II, como: Carvalho (2019), que tratou dos efeitos de tamanho
de estruturas sintáticas nos usos da vírgula, bem como da baixa quantidade de
usos convencionais de vírgulas em esquema duplo em textos do gênero relato;
Soncin (2014), Tenani e Paiva (2020), que descreveram as relações sintáticas
e prosódicas que as vírgulas promovem nos textos de gênero argumentativo.
A presente pesquisa de usos convencionais de vírgula em esquema duplo em
estruturas adverbiais privilegia a análise de estruturas sintático-semânticas e
estratégias argumentativas mobilizadas pelos alunos na produção de textos
argumentativos, com o propósito de demonstrar que há uma forte relação entre
advérbios, vírgulas e argumentação.

Palavras-chave: vírgulas; argumentação; língua portuguesa.

602
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

Assimetrias posicionais em resolução de hiatos no


português brasileiro
Autoria: LUCAS PEREIRA EBERLE

Este estudo tem como objetivo analisar o fenômeno de resolução de hiatos


lexicais no Português Brasileiro (PB) em que V1 é uma vogal média-alta, com
foco em assimetrias posicionais (BECKMAN, 1998, NEVINS; COSTA ,2019) que
circundam esse fenômeno. Os resultados serão modelados a partir da MaxEnt
Grammars (MAXIMUM ENTROPY; GOLDWATER; JOHNSON, 2003; SMOLENSKY;
LEGENDRE, 2006). No PB existe uma diferença na resolução de hiatos dependendo
da posição silábica que ele ocupa. Hiatos de V1 [e], em sílabas iniciais, favorecem
a epêntese de [j] – fre[j]ar, enquanto em sílabas mediais é preferida a elevação
da vogal – baz[i]ar. Quando V1 é [o], em sílaba tônica, é favorecida a epêntese
de [w] – perdo[w]a, mas em sílaba átona ocorre a elevação – perd[u]ar. Segundo
Beckman (1998), posições iniciais e acentuadas possuem proeminência
psicolinguística e fonética e resistem a certos fenômenos fonológicos. Além
disso, para Nevins e Costa (2019), posições privilegiadas demandam a presença
de material proeminente. As vogais média-altas possuem baixa sonoridade e,
portanto, pouca proeminência (cf. Kenstowiscz (1994) e Nevins e Costa (2019)).
Sendo assim, quando as V1’s são [e] e [o] e estão em posições privilegiadas, essas
sílabas carecem de proeminência. Assim, passam por processos fonológicos
que aumentem essa proeminência, no caso, a epêntese do glide. Pois, segundo
Nevins e Costa (2019), ditongos são mais proeminentes que vogais simples. A
metodologia foi experimental e consistiu em um teste de julgamento em que os
participantes deveriam avaliar como “natural” ou “não natural” três pronúncias de
uma mesma palavra (forma padrão, epêntese e elevação). Os hiatos estudados
foram [ea, ee, eo, oa, oe, oo] variando em posição na palavra e tonicidade. Os
resultados mostraram que em hiatos de V1 [e], a aceitação da epêntese foi
maior em sílabas átonas iniciais - frear (90,1%) - do que em átonas mediais -
basear (19,3%). Enquanto a porcentagem de elevação considerada “natural”
foi maior em átonas mediais (98,8%) do que em átonas iniciais (9%). Em V1 [o],
a aceitação da epêntese foi maior em sílabas tônicas - perdoa (86%) - do que

603
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

em átonas - perdoar (25,3%), enquanto a elevação foi mais aceita em átonas


(91,4%) do que em tônicas (25,7%). Por fim, foi feita uma modelagem através
da ferramenta computacional MaxEnt Grammar Tool (HAYES; WILSON, 2008),
software que possibilita, através de expressões matemáticas, fazer predições
quantitativas dos outputs e produzir uma gramática compatível com os dados.
(Apoio: FAPESP - Processo 2019/27204-1)

Palavras-chave: assimetrias posicionais; resolução de hiatos; português


brasileiro.

A não realização da africação do /t/ e /d/ antes de


/i/ ou [?] na região de Jundiaí e Louveira - São Paulo
Autoria: MARIA DE LURDES ZANOLI
Coautoria: MÁRCIA SANTOS DUARTE DE OLIVEIRA E DALVA DEL VIGNA

Neste trabalho, consideramos um conjunto de dados de fala dos municípios de


Louveira e Jundiaí, São Paulo, a fim de descrevermos os traços fonéticos dos
fonemas /t/ e /d/ e suas variantes. Os dados para a pesquisa compõem-se de
aproximadamente 200 palavras nas quais esses dois fonemas ocorrem; alguns
desses dados, cerca de 70, são listas de palavras pronunciadas (lidas) por duas
pessoas do sexo feminino, sendo uma delas idosa (82 anos). Os traços fonéticos
depreendidos na audição relacionados aos fonemas em destaque foram: (i)
fonema /t/ realizado como: oclusiva alveolar desvozeada, oclusiva alveolar
palatalizada desvozeada, oclusiva apical desvozeada, oclusiva apicodental-
alveolar desvozeada (seguindo Cartford (1988, p. 86-89)), africada alveopalatal
desvozeada (africada pós-alveolar); (ii) fonema /d/ realizado como: oclusiva
alveolar vozeada; oclusiva palatal vozeada; oclusiva apicodental vozeada;
africada alveopalatal vozeada. Como resultado da pesquisa, concluímos que
todos os falantes ouvidos realizam os fonemas /t/ e /d/ como alveolar antes
das vogais não anteriores alta fechadas i/I. Nos demais ambientes podem
ocorrer as variações vistas nas descrições acima. As variações notadas estão
condicionadas a determinados ambientes que ainda deverão, em pesquisa
futura, ser descritos e confirmados com maior volume de dados. Em Carreão

604
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

(2018), o fenômeno descrito acima e relacionado à área linguística sob enfoque


é apresentado como “palatalização” e “não palatalização” por parte de conjuntos
específicos de falantes. O autor (op. cit., p. 82), ao apresentar o relato de uma
entrevista, aponta para a “não palatalização” associada ao italiano. Em nossa
pesquisa, como descrito acima, a análise é fonética (embora não descartemos
em trabalhos futuros uma análise fonológica). Também, diferentemente de se
atrelar o fenômeno da “não palatalização” mostrado acima ligado ao italiano
(ver ainda Vieira, 2010), pensamos ser necessário maiores investigações ligadas
ao contato linguístico como o contato do português dessa área com línguas
indígenas e com a Língua Geral de São Paulo – LG/SP. Por exemplo, trabalhos
recentes que enfocam a LG/SP apontam para a importância de pesquisas
centradas em variedades de português do interior de São Paulo cujos traços
linguísticos podem evidenciar contato com a LG/SP – Oliveira, Zanoli e Módolo
(2019), Oliveira e Zanoli (no prelo), Oliveira e Zanoli (Manuscrito).

Palavras-chave: traços fonéticos de /t/ e /d/; palatização/africação; Jundiaí e


Louveira.

Interação entre fatores sintáticos e fonológicos nos


usos de vírgula em esquema duplo em textos do EFII
Autoria: NAYRA CRISTINA PAIVA

Nesta comunicação, apresento os resultados do mestrado, intitulado “Vírgulas em


esquema duplo em textos do nono ano do EFII: aspectos sintáticos e prosódicos”.
Nessa pesquisa, descrevemos e analisamos os usos convencionais e não
convencionais da vírgula em esquema duplo, caracterizados por haver o emprego
da vírgula tanto na fronteira direita quanto na fronteira esquerda da estrutura
sintática mobilizada. O material analisado compreende textos argumentativos,
de alunos de 13-14 anos, selecionados do Banco de Dados de Produções Escritas
do Ensino Fundamental II. A descrição e análise das vírgulas foram feitas a partir
da identificação da estrutura sintática passível de ser delimitada por vírgulas,
com base em gramáticas de referências. Em seguida, foram identificadas as
fronteiras prosódicas das estruturas. Para fundamentar esta etapa da pesquisa,

605
Comunicação Oral
Fonética e fonologia

nos respaldamos no modelo relation-based da Fonologia Prosódica. Assumimos


a premissa de que as fronteiras de constituintes prosódicos são relevantes
para caracterizar as presenças e ausências da vírgula em esquema duplo.
Duas estruturas sintáticas se mostraram relevantes para os usos e não usos
da vírgula em esquema duplo: estruturas deslocadas e encaixadas. No que se
refere às estruturas sintáticas: (i) as deslocadas são as mais recorrentes nos
textos dos alunos, mas, também, se revelou a mais problemática, pois há maior
ausência das vírgulas do que em encaixadas; (ii) o uso convencional tende a
ser 3 vezes mais recorrente em estruturas encaixadas do que em deslocadas;
(iii) as estruturas sintáticas deslocadas são as mais significativas para os usos
não convencional e ausências não convencional; (iv) as estruturas encaixadas
são as significativa para uso convencional. No que se refere às estruturas
prosódicas: (i) a estrutura prosódica, assim como a estrutura sintática, interfere
nos usos da vírgula em esquema duplo; (ii) quando há coincidência da fronteira
de frase entoacional com as fronteiras prosódicas há mais usos convencionais;
(iii) ausência de fronteira de I levou à ausência de vírgulas nas fronteiras sintáticas
onde vírgulas estão previstas e (iv) os resultados estatísticos amparam efeito
positivo de uso da vírgula quando for relativamente mais longa a extensão da
estrutura sintática.

Palavras-chave: vírgula; sintaxe; prosódia.

606
Comunicação Oral
Formação de professores

Propósito de vida e formação docente: considerações


sobre a articulação entre logoterapia e a educação
para uma contemporaneidade pós-pandêmica
Autoria: IVANI CRISTINA BRITO FERNANDES

O objetivo do presente trabalho é o de refletir sobre a interface entre formação


de professores em língua materna e/ou estrangeira e a Logoterapia no contexto
de isolamento social e aulas no sistema remoto e híbrido devido à pandemia
de Covid-19. Com base em uma pesquisa bibliográfica sobre interrelações
entre Educação e Logoterapia, se pretende estruturar uma reflexão de natureza
ensaística com o objetivo de questionar os modos como a discussão sobre
as noções de “sentido da vida”, “propósito” e “autotranscedência” podem
ressignificar a docência no período (pós)-pandêmico, constituindo-se, ainda na
formação docente e nos cursos de aperfeiçoamento, como importante caminho
para o reencontro com os valores educacionais assim como para a prevenção
da síndrome de Burnout. Na contemporaneidade e na época pré-pandêmica, a
formação e o aperfeiçoamento docente já passavam por uma crise de valores e
propósitos devido à autoimagem dos educadores e à imagem que a sociedade
formou com relação a essa categoria. No entanto, em um contexto de pandemia,
tal crise tomou uma outra proporção a partir de inúmeros aspectos provenientes
dessa situação, como a debilidade da saúde mental-física; a desigualdade social
e a fragilidade da formação teórica e as dificuldades logística e administrativa,
fatores que impactam negativamente o enfrentamento das mudanças bruscas na
área educacional. Ao pensar nesse panorama, podemos elencar os conceitos, as
práticas e algumas orientações metodológicas da Logoterapia como uma forma
de contribuir para a construção de estruturas de resiliência e ressignificação
da profissão docente. Sinteticamente, se entende a Logoterapia como uma
escola de natureza fenomenológica, humanista e existencial que destaca a
busca do sentido da vida como primordial para o desenvolvimento integral
do ser humano. Articulada com a área da Educação, a Logoterapia concebe o
docente também como um sujeito que valoriza um educar para “o ser” e “para o
“dever-ser”, resgatando aspectos como o sentido da vida, os valores existenciais,

607
Comunicação Oral
Formação de professores

o diálogo e a resiliência, entre outros. Na existência do sujeito-docente, essa


valorização deve ser vivenciada na sua prática docente e no seu labor como
tutor na trajetória de desenvolvimento integral do discente. Considerando
que a linguagem é inerente ao ser humano, como já nos lembra Benveniste,
defendemos que estratégias, cuja essência está baseada na Logoterapia, podem
contribuir tanto na formação do docente, quanto nas práticas de sala de aula
na área de Linguagens, em um novo contexto de desafios que o isolamento e
as desigualdades sociais nos trouxeram.

Palavras-chave: formação de professores; logoterapia; projeto de vida.

Considerações teórico-metodológicas sobre o


processo de elaboração de materiais didáticos na
formação de professores de línguas
Autoria: KARIN ADRIANE HENSCHEL POBBE RAMOS
Coautoria: KELLY CRISTIANE HENSCHEL POBBE DE CARVALHO

O presente trabalho tem como objetivo propor algumas reflexões a respeito


do processo de elaboração de materiais didáticos para aulas de línguas e seus
atravessamentos na construção de identidades docentes, considerando as
perspectivas do fazer, do poder, do saber e do ser docente. Para tanto, pautamo-
nos em nossa trajetória como docentes, atuando em um Programa de Mestrado
Profissional em Letras (PROFLETRAS) e em um curso de Letras, orientando
professores em formação continuada e licenciandos, em projetos de iniciação
à docência, tais como, o Programa Residência Pedagógica (CAPES/MEC) e
o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES/
MEC), bem como de projetos mantidos pela nossa instituição, como o Centro
de Línguas e Desenvolvimento de Professores e o Programa Núcleos de Ensino.
As reflexões empreendidas estão alicerçadas em estudos que discutem os
saberes docentes e o papel dos professores de línguas (TOMLINSON, 2001;
BARROS; COSTA, 2010; CONTRERAS, 2012; GERALDI, 2015), considerando uma
trajetória profissional do professor, que passa de um referencial de produção
de conhecimentos, desde a Grécia antiga, para um sujeito que meramente

608
Comunicação Oral
Formação de professores

transmite um saber produzido por outros, culminando, mais recentemente,


em um sujeito que aplica um conjunto de técnicas de controle de sala de aula.
As discussões empreendidas neste trabalho estão fundamentadas na análise
de processos de produção de materiais didáticos nos diferentes contextos de
formação já mencionados e apontam que, longe de ser uma questão tangencial
no exercício da atividade docente, esses processos estão no cerne de sua atuação
profissional e, por essa razão, necessitam ser considerados na constituição
identitária de professores de línguas. Nossa experiência nos permite observar,
ainda, que os processos de formação docente não costumam incorporar a
elaboração de materiais didáticos às discussões sobre a atuação profissional
do professor de línguas, pois a preocupação está voltada para conteúdos sobre
língua e literatura, ignorando ou não valorizando a relevância da articulação
entre tais conteúdos e as atividades a serem realizadas em situação de trabalho.
As considerações finais reafirmam a intrínseca relação entre a elaboração de
materiais didáticos e os agenciamentos docentes.

Palavras-chave: formação de professores de línguas; materiais didáticos;


identidade.

Teletandem e capital cultural na formação de


professores de línguas
Autoria: ROZANA APARECIDA LOPES MESSIAS
Coautoria: MAISA DE ALCÂNTARA ZAKIR

A democratização do acesso a diferentes línguas estrangeiras entre estudantes


de graduação em Letras no câmpus da Universidade Estadual Paulista (UNESP)
em Assis foi um dos fatores que motivaram o surgimento do projeto "Teletandem:
línguas estrangeiras para todos" no ano de 2006. De acordo com Telles e Vassallo
(2009), então professores no referido câmpus, eles levaram em consideração o
fato de que a cidade, geograficamente distante de grandes centros nos quais
circulam pessoas de diferentes nacionalidades, dificultava que seus alunos,
professores em formação, tivessem a possibilidade de conversar presencialmente
com falantes nativos das línguas estrangeiras que estudavam. Com o uso de

609
Comunicação Oral
Formação de professores

tecnologias disponíveis na época e aplicativos gratuitos de conversas por meio


de câmera e mensagens escritas, as primeiras experiências de interação em
teletandem tiveram início na UNESP. Atualmente desenvolvidas também em
São José do Rio Preto e Araraquara, as práticas de teletandem contam com
parcerias sólidas em diferentes modalidades (ARANHA; CAVALARI, 2014), com
universidades estrangeiras e contribuem para que seus participantes vivenciem
uma experiência de contato intercultural por meio das interações on-line. O
objetivo deste trabalho é investigar o Teletandem como um contexto para a
apropriação de capital cultural (BOURDIEU, 1998) entre seus participantes. Para
isso, fazemos uma retomada da noção de cultura em trabalhos que tiveram
como foco o contexto teletandem (SALOMÃO, 2012, 2015; ZAKIR, 2015, 2016;
TELLES; ZAKIR; FUNO, 2015; MORETTI; SALOMÃO, 2019), apresentamos a
compreensão de capital cultural (BOURDIEU, 1998) e, por meio das reflexões de
Saviani (1999), buscamos compreender os processos de exclusão que medeiam
a relação entre os jovens pobres e o conhecimento escolarizado, sobretudo a
língua estrangeira. A partir de uma entrevista realizada com uma graduanda
do curso de Letras e interagente de teletandem, desenvolvemos uma análise
de cunho interpretativista, segundo os preceitos da pesquisa qualitativa, do
impacto desse contexto telecolaborativo em sua formação. Cotejamos esse
material com narrativas de outros sete participantes de teletandem acerca
das experiências de internacionalização engendradas por sua participação
no programa e o identificamos como uma ação educativa com potencial para
criar zonas de apropriação de capital cultural e para possibilitar oportunidades
relacionadas ao contexto acadêmico. Os resultados do estudo corroboram o
caráter democrático que sempre balizou o programa Teletandem, ao possibilitar
aos participantes não só a aprendizagem de línguas estrangeiras, mas também
a apropriação de um saber que, por estar associado a questões financeiras,
dificilmente é acessado por estudantes que ingressam nos cursos de licenciatura
em Letras.

Palavras-chave: formação de professores; teletandem; capital cultural.

610
Comunicação Oral
Gramática funcional

Os sentidos semântico-pragmáticos veiculados


pelos subesquemas intensificadores [podre de [x]]
e [morto de [x]]
Autoria: ANA LIGIA SCALDELAI SALLES

Por haver a necessidade de estruturas linguísticas mais expressivas na língua, a


fim de externar um valor superelevado acerca de alguma característica, pessoa,
evento, estado, entre outros, é que os subesquemas intensificadores do tipo
[podre de [X]] e [morto de [X]] emergem durante o processo de interação social.
Vale ressaltar que a intensificação funciona como um processo avaliativo do
mundo muito produtivo não só na língua portuguesa, mas em várias outras línguas
também, o que a torna um fenômeno translinguístico e justifica o estudo acerca do
tema. Tendo com pressupostos teóricos a Linguística Funcional Centrada no Uso
(BYBEE, 2010, 2016) e a abordagem construcionalista (TRAUGOTT; TROUSDALE,
2013), os subesquemas intensificadores, aqui analisados, apresentam um
novo pareamento de forma e significado (CROFT, 2001; GOLDBERG, 2006),
são formados a partir de estruturas mais esquemáticas e composicionais já
existentes na língua, passando a configurarem-se como menos esquemáticos
e menos composicionais por carregarem não mais o sentido literal, mas outros
significados construídos via metáfora ou metonímia, e incluem posições fixas e
abertas. Tais subesquemas além de indicarem o grau de comprometimento do
falante em relação ao que é dito, também carregam consigo juízos de valores
tanto positivos quanto negativos. Assim, o objetivo deste trabalho é verificar
quais sentidos semântico-pragmáticos os subesquemas veiculam, se sentido
positivo e valorativo, ou se sentido negativo e depreciativo, e apurar qual o
sentido semântico-pragmático prevalecente em cada subesquema. A hipótese
é de que os sentidos semântico-pragmáticos veiculados pelos subesquemas
estão relacionados a dois fatores: (i) ao grau de opacidade dos subesquemas –
mais ou menos abstratizados – e (ii) à carga semântica do escopo. O universo
de investigação é composto por duas subamostras do Corpus do Português,
organizado por Davis e Ferreira (2006; 2016): (i) NOW (notícias da Web), com
aproximadamente 1,4 bilhões de palavras retiradas de jornais e de revistas

611
Comunicação Oral
Gramática funcional

on-line desde 2012 até à atualidade, e (ii) Web e Dialetos, com 45 milhões de
palavras catalogadas de 1300 a 1900.

Palavras-chave: sentido semântico-pragmático; abordagem construcionalista;


subesquemas intensificadores.

Uma análise da trajetória de aun si nos séculos


XIII, XIV e XIV à luz da GDF
Autoria: BÁRBARA RIBEIRO FANTE

A conjunção aun si do espanhol é definida pela NGRAE como híbrida, uma vez
que contém características típicas das orações condicionais e das concessivas.
Essas caraterísticas podem ser observadas por meio do efeito que a presença de
aun causa nas orações precedidas por si. Como pode ser observado em "aun si
no me otorgan el crédito, ampliaré la casa", a oração "no me outrogan el credito"
é posta como mais relevante por abarcar outras situações, menos relevantes,
que poderiam impedir a ampliação da casa, mas não impedem. Deixa-se de
interpretar a oração subordinada como condição necessária para que se cumpra
o que é expresso na oração nuclear e passa-se a ter um efeito de inclusão de todas
as possibilidades nas situações examinadas para o contexto em que se insere
a construção. Este trabalho propõem-se a investigar, com base nos critérios de
Gramaticalização propostos pela Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD;
MACKENZIE, 2008; HENGEVELD, 2017), quais são as camadas de atuação dessa
conjunção ao longo dos séculos desde seu surgimento. Segundo Hengeveld
(2017), a constatação de uma trajetória de mudança advém do ampliamento de
escopo do elemento sob análise, em outras palavras, o elemento passa a atuar
em mais de uma camada da GDF. Nesse sentido, Hengeveld e Wanders (2007)
afirmam que as unidades semânticas podem se desenvolver diacronicamente
em unidades pragmáticas, mas nunca ao contrário. Isso significa que elementos
que se estabelecem no nível mais baixo se desenvolvem em elementos do nível
mais alto. Uma consequência disso é que elementos presentes no nível mais
alto e em camadas mais altas são mais gramaticalizados que os presentes no
nível mais baixo ou em camadas mais baixas. Com o objetivo de comprovar se

612
Comunicação Oral
Gramática funcional

esses postulados se aplicam às orações introduzidas por aun si no espanhol


falado e de verificar a existência de um cline de gramaticalidade, recorrendo à
noção de Gramaticalização da Gramática Discursivo-Funcional, este trabalho
descreve dados analisados do espanhol antigo. Destaca-se que esses objetivos
se sustentam na hipótese de que o cline verificado sincronicamente reflete o
desenvolvimento diacrônico das funções. Em outras palavras, nas sincronias
mais pretéritas, espera-se que apenas funções dos níveis mais baixos da GDF
estejam disponíveis na língua, enquanto as funções de níveis mais altos se
desenvolvem temporalmente depois das de níveis mais baixos. O universo de
investigação é embasado no córpus CORDE (Corpus Diacrónico del Español).

Palavras-chave: gramática discursivo-funcional; gramaticalização; orações


concessivo-condicionais.

Orações introduzidas pela locução comoquiera que


sob a perspectiva da gramática discursivo-funcional
Autoria: CAMILA RODRIGUES DE AMORIM

Este trabalho investiga a locução comoquiera que que, apesar de ter se


gramaticalizado como uma locução conjuntiva causal, quando introduz
uma oração no modo indicativo, conforme (1) Comoquiera que han llegado
todos, podemos comenzar (Como todos chegaram, podemos começar), pode
encabeçar, também, orações que indicam um diferente funcionamento, conforme
(2) Comoquiera que lo presentes (el proyecto), vas a tener problemas (Como quer
que você o apresente (o projeto), vai ter problemas). Ainda que, em (2), o advérbio
inespecífico comoquiera carregue a ideia de modo, como em "seja qual for o
modo como você apresente esse projeto", não é possível afirmar que essa oração
exerça função de complemento circunstancial de modo com relação à oração
principal. Autores como Parazuelos (1993), Flamenco García (1999) e Rosique
(2001) enquadram tais orações no rol das concessivas impróprias e explicam
que a anteposição dessas estruturas é reflexo dessa estratégia comunicativa.
Assim, em (2), o falante, por meio da oração subordinada, previne-se de um
possível contra argumento (e se eu apresentar (o projeto) dessa forma X? e se eu

613
Comunicação Oral
Gramática funcional

apresentar (o projeto) de outra forma Y?), para afirmar, na oração principal, que
algo se concretizará, de qualquer maneira. De acordo com os autores, as orações
concessivas impróprias ou concessivo-condicionais são assim denominadas
porque seu significado abarca um conjunto amplo de situações possíveis
de modo que nenhuma delas invalida a conclusão que se alcança na oração
principal. Como o estatuto e o funcionamento dessas estruturas são ainda alvo
de discussão entre os estudiosos da linguagem, nos propomos a analisar, nesse
trabalho, as orações introduzidas pela locução comoquiera que seguidas de
verbo no subjuntivo, a fim de desvendar a que propósito comunicativo essas
estruturas são utilizadas. Para tanto, tomamos como base o modelo da Gramática
Discursivo-Funcional de Hengeveld e Mackenzie (2008), que concebe que a
representação formal das unidades linguísticas reflete categorias semânticas
e pragmáticas subjacentes ao seu uso. O universo de investigação consiste em
167 ocorrências extraídas de textos da modalidade escrita do CREA (Corpus de
Referencia del Español Actual), banco de dados que oferece textos de língua
espanhola, tanto da América quanto da Espanha. O resultado dessa pesquisa
sugere um novo olhar para o fenômeno em análise, uma vez que o concebemos
de forma discreta, em termos de funções.

Palavras-chave: espanhol; gramática discursivo-funcional; orações concessivo-


condicionais.

As orações com ‘pero’ no espanhol peninsular falado


sob perspectiva da gramática discursivo-funcional
Autoria: CAROLINA DA COSTA PEDRO

Este trabalho visa a investigar, à luz da Gramática Discursivo-Funcional de


Hengeveld e Mackenzie (2008), as orações introduzidas por pero em dados
do espanhol peninsular falado. Esse juntor é concebido na literatura da língua
espanhola como conjunção coordenativa adversativa. As orações coordenadas
adversativas, de acordo com a Nueva Gramática de la Lengua Española (2009),
expressam contraposição ou oposição de ideias. Cascón Martín (2000) e
Sánchez et al. (1980) consideram que esse tipo de oração consiste em uma

614
Comunicação Oral
Gramática funcional

contraposição entre duas ideias ou como uma contraposição entre duas orações,
uma afirmativa e outra negativa. Para Garcés (1994), o enunciado adversativo
introduz uma oração que corrige ou restringe o conteúdo do elemento ou oração
anterior ou que se opõe ao conteúdo do elemento ou oração anterior. Restringir,
corrigir uma informação caracteriza, na Gramática Discursivo-Funcional, a
função retórica Concessão. Essa função ocorre exclusivamente entre dois Atos
Discursivos de estatuto desigual. Nesse caso, o Ato Nuclear apresenta o juntor,
caracterizando-se como o Ato cujo Conteúdo Comunicado é considerado pelo
Falante como mais importante do ponto de vista comunicativo. A Gramática
Discursivo-Funcional é a base teórica que fundamenta a presente pesquisa
porque essa perspectiva tem como objetivo descrever e, na medida do possível,
explicar as propriedades formais (sintáticas, morfológicas e fonológicas) do
Ato Discursivo a partir da língua em uso em contextos reais de comunicação.
O universo de investigação é embasado no córpus PRESEEA (Proyecto para el
Estudio Sociolingüístico del Español de España y de América), banco de dados
disponível on-line, coordenado pelo professor Francisco Moreno, da Universidade
de Alcalá de Henares, Espanha. O PRESEEA é um projeto que agrupa cerca de
40 equipes de pesquisa sociolinguística para a criação de um córpus de língua
espanhola falada no mundo hispânico em sua variedade geográfica e social.
Para a presente pesquisa, utilizamos inquéritos coletados nas cidades de Alcalá
de Henares e Granada, na Espanha. Os resultados mostram que contextos
oracionais introduzidos por pero tendem a se estabelecer nas camadas mais
altas do Nível Interpessoal, as quais correspondem a Conteúdos Proposicionais
e a Estados-de-Coisas no Nível Representacional. No Nível Morfossintático, por
sua vez, observamos Orações que caracterizam o processo da coordenação.

Palavras-chave: pero; coordenação adversativa; espanhol.

615
Comunicação Oral
Gramática funcional

Coordenação de holófrases por meio de "mas"


nas variedades portuguesas sob a perspectiva
da gramática discursivo-funcional: concessão e
contraste com substituição
Autoria: GABRIEL HENRIQUE GALVÃO PASSETTI
Coautoria: EROTILDE GORETI PEZATTI

Esta comunicação oral objetiva analisar e descrever, nas variedades da língua


portuguesa, as propriedades pragmáticas, semânticas, morfossintáticas e
fonológicas da coordenação adversativa de holófrases, restringindo-se aos
casos em que a coordenação ocorre por meio de “mas”. O referencial teórico
adotado é o da Gramática Discursivo-Funcional (GDF). A GDF é um modelo
teórico que leva em consideração a natureza situada da comunicação
linguística, i.e., ela prevê a inter-relação entre linguagem e contexto. Seu modelo
apresenta uma arquitetura modular com organização descendente (top down),
i.e., da intenção para a forma das expressões linguísticas. Como universo de
análise, são utilizados materiais obtidos do córpus Português Falado, que traz
amostragens de variedades do português de toda a lusofonia, e do córpus
Iboruna, representativo da fala do noroeste paulista. A análise pragmática
da coordenação adversativa de holófrases mostra que cada um de seus
membros consiste em um Ato Discursivo, a menor unidade de comportamento
comunicativo, podendo relacionar um nuclear e um subsidiário, que exerce a
função retórica Concessão, ou dois Conteúdos Comunicados, de diferentes Atos
Discursivos, em que informações são cotejadas, indicando a função pragmática
Contraste. A análise semântica, por sua vez, mostra que cada membro consiste
em um Conteúdo Proposicional, expresso por diferentes categorias semânticas,
havendo, nos casos de Contraste, um operador de negação no primeiro membro
coordenado, já que o Falante deseja substituir uma informação, que supõe ou
sabe fazer parte da representação mental do Ouvinte, por outra, veiculada pelo
segundo membro e considerada, pelo Falante, como a informação adequada.
Morfossintaticamente, a coordenação adversativa de holófrases é mapeada
por duas unidades sem relação de constituência entre elas. Como ambas são

616
Comunicação Oral
Gramática funcional

morfossintaticamente independentes uma da outra, trata-se do processo de


Coordenação, pois, juntas, formam uma Expressão Linguística. Fonologicamente,
os dois membros constituem Frases Entonacionais, que dispõem de um contorno
entonacional próprio. O primeiro membro apresenta padrão entonacional cuja
direção final é ascendente nas ocorrências de Concessão, e, nas de Contraste,
exibe padrão entonacional com direção final descendente. Por fim, este estudo
permite concluir que “mas”, na coordenação adversativa de holófrases, é um
expediente gramatical que se origina no Nível Interpessoal, i. e., no nível de
análise que diz respeito às faculdades retóricas e pragmáticas das expressões
linguísticas, estando, portanto, a serviço das relações inter-humanas que a
linguagem institui.

Palavras-chave: coordenação adversativa; holófrase; gramática discursivo-


funcional.

O aproximativo un poco sob a perspectiva


discursivo-funcional
Autoria: HELEN MARTINS RODRIGUES

Tomando como base dados do espanhol peninsular falado extraídos do PRESEEA


(Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España y de América),
este trabalho investiga o aproximativo un poco. O estudo situa-se dentro de uma
abordagem funcionalista de análise linguística, tendo como aparato teórico a
Gramática Discursivo-Funcional, doravante GDF (HENGEVELD; MACKENZIE,
2008; KEIZER, 2015). Tal modelo de análise prevê uma organização em quatro
níveis de processamento linguístico, sendo cada um constituído por Camadas:
o Nível Interpessoal, responsável pelas representações pragmáticas; o Nível
Representacional, responsável pelas representações semânticas; o Nível
Morfossintático, destinado à codificação morfossintática e, por fim, o Nível
Fonológico, destinado à materialização da expressão linguística. De acordo
com o quadro teórico adotado, os aproximativos são descritos como elementos
que servem à expressão de ideia aproximada, podendo atuar como estratégias
gramaticais ou lexicais na camada dos Subatos Atributivos, no Nível Interpessoal

617
Comunicação Oral
Gramática funcional

da GDF. Tais unidades situam-se no Nível Interpessoal, visto que servem para
indicar ao ouvinte como uma determinada propriedade deve ser interpretada.
Tendo em vista que o modelo teórico prevê dupla função para a unidade
aqui submetida sob análise, este trabalho investiga tanto os contextos nos
quais un poco atua como aproximativo, no Nível Interpessoal da GDF, quanto
aqueles em que funciona como quantificador, atuando, neste caso, no Nível
Representacional, na camada do Indivíduo. Para proceder à investigação dessa
unidade, consideramos uma série de parâmetros e critérios que focalizam, dentre
outras coisas, (i) a classificação desse elemento segundo o modelo teórico
utilizado; (ii) a análise da posição que ocupa dentro do sintagma em relação ao
elemento escopado; (iii) a análise da natureza sintático-semântica do elemento
escopado; e (iv) a aplicabilidade (ou não) do aproximativo como estratégia de
cortesia. Na amostra considerada, verificamos que un poco apresenta dupla
funcionalidade, podendo atuar como aproximativo, no Nível Interpessoal, e como
quantificador, no Nível Representacional da Gramática Discursivo-Funcional.
Além disso, a análise preliminar de alguns dados permitiu-nos observar que, em
alguns contextos, o aproximativo un poco atua como uma espécie de atenuador,
minimizando o impacto da informação pretendida. (Apoio financeiro: CAPES)

Palavras-chave: gramática discursivo-funcional; aproximativo; espanhol falado.

A ordenação de constituintes não hierárquicos no


espanhol peninsular falado: considerações sob
perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional
Autoria: LETÍCIA PEREIRA FERRI
Coautoria: TALITA STORTI GARCIA

A ordenação de constituintes em espanhol tem sido objeto de estudo de


diversos autores e, consequentemente, tem sido analisada sob diferentes
perspectivas teóricas (CONTRERAS, 1978; MARTÍNEZ-CARO, 1989, 2006;
FERNÁNDEZ SORIANO, 1993; MIKE HANNAY; MARTÍNEZ-CARO, 2008; PINHEIRO-
CORREA, 2017). Conforme Fernández Soriano (1993), o padrão de ordenação
mais frequente em língua espanhola é o SVO. Entretanto, esse padrão pode

618
Comunicação Oral
Gramática funcional

ser alterado em alguns contextos. Martínez Caro (1989, 1999, 2002), tomando
por base os princípios de ordenação de Dik (1989), afirma que existem fatores
que interferem diretamente no esquema de ordenação de constituintes no
espanhol, tais como, a topicalização do objeto, função pragmática de Contraste,
a extensão dos constituintes a e presença de verbos de movimento. O presente
trabalho investiga a ordenação do sujeito e do objeto no espanhol peninsular
falado sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional de Hengeveld e
Mackenzie (2008), modelo que concebe a ordenação de constituintes como
resultado do processo de Codificação daquilo que acontece nos níveis mais
altos, o Interpessoal e o Representacional. Ampliando a proposta de Dik (1989),
na GDF, a ordenação respalda-se nos princípios de iconicidade, integridade do
domínio e manutenção das relações de escopo e propõe quatro posições da
Oração: PI (posição inicial), P2 (que segue a inicial), PM (posição medial), e PF
(posição final) e duas da Expressão Linguística (Ppre e Ppós). Nossos dados
confirmam que a posição medial (PM) abriga o predicado, conforme Pezatti
(2014), e as posições inicial (PI) e final (PF) destinam-se a abrigar constituintes
psicologicamente salientes. A distribuição de Tópico e Foco, ou seja, a forma
como o Falante molda o discurso é muito importante, pois determina as posições
a serem ocupadas pelo Sujeito e pelo Objeto. O Sujeito tende a ficar em domínio
de PI em sentenças categoriais e em domínio de PF em sentenças apresentativas
(visto que a intenção do falante é apresentar uma nova entidade no discurso e
téticas (que são constituídas de um ou mais Subatos com função pragmática
Foco). O Objeto, por seu turno, tende a ficar em domínio de PM quando configura
Foco, ou seja, uma informação que o Falante considera como nova e relevante
na interação. Quando acumula as funções de Tópico e Foco, diferentemente,
tende a ficar em domínio de PF. O universo de investigação utilizado foi o corpus
PRESEEA - Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español de España y
de América.

Palavras-chave: Gramática Discursivo-Funcional; ordenação de constituintes;


espanhol peninsular falado.

619
Comunicação Oral
Gramática funcional

Coordenação aditiva não oracional no português


Autoria: LISÂNGELA APARECIDA GUIRALDELLI
Coautoria: VÍTOR HENRIQUE SANTOS DA SILVA

Em língua portuguesa, a descrição da coordenação, em que dois ou mais


elementos se combinam para expressar conjuntamente uma unidade de
sentido, tem sido feita predominantemente a partir da junção de orações.
Como consequência, há ainda amplo espaço para explorar a coordenação não
oracional. A fim de contribuir para uma melhor compreensão desse fenômeno,
este trabalho tem como objetivo descrever a coordenação aditiva de sintagmas
e palavras por meio do juntor e em diferentes variedades da língua portuguesa,
dando destaque aos fatores do uso da língua que motivam a combinação entre
essas unidades. Para tanto, adotamos o aparato teórico da Gramática Discursivo-
Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008), teoria que concebe o enunciado
como estratificado em níveis e camadas hierárquicos, em que as operações
de formulação dos níveis Interpessoal (da pragmática) e Representacional (da
semântica) determinam as operações de codificação dos níveis Morfossintático
e Fonológico. Graças à sua estrutura estratificada, essa teoria permite-nos não
só analisar a combinação morfossintática das unidades coordenadas, mas
também identificar a natureza pragmática e semântica dessa combinação. Os
dados investigados consistem em amostras de fala do córpus “Português Oral”,
coletadas no Brasil, em Portugal, nos países africanos de fala lusófona e em
Timor-Leste. Com base nessa investigação, identificamos três alinhamentos
distintos entre os níveis de estruturação do enunciado, que ocorrem: i) quando
a coordenação se expressa entre elementos extraoracionais; ii) quando ela se
expressa entre sintagmas ou palavras que constituem uma oração; e iii) quando
se expressa entre sintagmas ou palavras que constituem um sintagma. Embora
a natureza das unidades morfossintáticas seja a mesma nos três casos, isto é,
são palavras e sintagmas que se combinam, a coordenação se dá em camadas
distintas do enunciado, a saber, a Expressão Linguística, a Oração e o Sintagma.
Além disso, as unidades desses três alinhamentos variam amplamente, no Nível
Representacional, entre Conteúdos Proposicionais independentes, argumentos
(da predicação, de Propriedades Lexicais), núcleos de construções existenciais

620
Comunicação Oral
Gramática funcional

e modificadores. Por fim, no Nível Interpessoal, as unidades coordenadas


correspondem, mais raramente, a Atos discursivos e, mais frequentemente, a
Subatos Referenciais e Atributivos, que, a depender do tipo de alinhamento,
nucleiam diferentes unidades interpessoais, como Subatos de Referência ou
Conteúdos Comunicados.

Palavras-chave: coordenação; sintagma e palavra; Gramática Discursivo-


Funcional.

Funções dos sinais de pontuação: gramática e estilo


Autoria: LOU-ANN KLEPPA

Desde a invenção da escrita, as culturas letradas escrevem e refletem sobre o


processo de escrita, o seu produto e a questão da autoria. Uma vez que o sistema
alfabético tinha alcançado estabilidade, foi introduzido paulatinamente na
escrita um sistema ideográfico, cuja função primeira era otimizar a legibilidade
do texto: o sistema dos sinais de pontuação. Com a obrigatoriedade do ensino
escolar, formou-se uma grande massa de leitores; e coube aos gramáticos
racionalizar e regulamentar os usos dos sinais de pontuação. Em todas as
gramáticas normativas, a pausa exerce papel fundamental – estabelecendo
assim relação direta entre a fala e a escrita. A questão é que, por mais que
as regras de pontuação estejam fixadas nas gramáticas, os usos dos sinais
de pontuação apresentam enorme flutuação. Atualmente, os sinais de
pontuação são apresentados a professores de língua materna e aos alunos
em gramáticas, guias específicos (de redação, de editoração, de pontuação) e
livros paradidáticos infantis. Nesses materiais, não há um consenso a respeito
do inventário dos sinais de pontuação, nem acerca de sua função ou regras de
uso. No âmbito da Linguística, em língua portuguesa, são poucos os autores
que se debruçaram sobre o sistema de sinais de pontuação, o que favorece
a estagnação das gramáticas e manuais em relação ao tema. O intuito desse
estudo é explorar usos e funções de onze sinais de pontuação (a saber: alínea,
ponto, ponto e vírgula, vírgula, dois pontos, ponto de interrogação, ponto de
exclamação, reticências, parênteses, travessão e aspas) tanto em (i) textos
sobre sinais de pontuação como em (ii) textos literários que fazem dos sinais de

621
Comunicação Oral
Gramática funcional

pontuação sua marca de estilo; e (iii) textos publicitários, de linguagem rápida


e relativamente padronizada. Trabalharemos com o conceito de pontuabilidade
proposto por Bernardes (2002), ou seja, as segmentações que a língua oferece e
aquelas que o autor instala no texto escrito através da pontuação. Mobilizaremos
as reflexões de Nunberg (1990) acerca das funções dos sinais de pontuação
(separar, delimitar e distinguir/marcar) para perceber, com Dahlet (2002, 2006,
2007), que as funções que os sinais de pontuação exercem são tanto sintáticas
como enunciativo-discursivas – e não guardam relação direta com a oralidade.

Palavras-chave: pontuação; autoria; interpretação.

Análise construcional de "vai que" como marcador


discursivo no português brasileiro
Autoria: MELISSA HENRIQUE DE SOUZA

Alguns estudos reconhecem que o verbo ir comporta, para além de seu papel
de verbo pleno, outras funções, como a de auxiliar indicador de futuro. Mais
recentemente, é notável o envolvimento desse verbo em estruturas muito diversas,
dentre as quais destacamos aquela em que se vê ir, articulado a outros elementos,
funcionando como marcador discursivo, tal como já conhecido nos estudos da
língua portuguesa. Como mecanismos verbais da enunciação, os marcadores
atuam no plano da organização e da articulação textual, e gozam do estatuto
de unidades independentes. Além disso, servem como instrução sobre como
interpretar o conteúdo proposicional e se relacionam à modalidade epistêmica,
pois mostram o julgamento do falante acerca da informação veiculada na oração.
Compreende-se assim que essa relação se deve ao comprometimento com o que
é dito, e por meio de um verbo, funciona como um adendo à estrutura oracional
canônica. Especificamente, nesta pesquisa pretende-se investigar a expressão
"vai que", atuante em enunciados como “Eu confio na competência do Google,
sei que minhas planilhas vão estar sempre lá, na nuvem, quando eu precisar.
Mas… vai que?” (aurelio.net). Observa-se que o falante antecipa que o ouvinte
pode ter dúvida no que se fala, isto é, o falante modaliza subjetivamente e traz
em si alguma intersubjetividade. Logo, em casos como esse, o comportamento

622
Comunicação Oral
Gramática funcional

averiguado é de marcador discursivo cujos traços serão delineados em longo do


trabalho. Para tanto, pretende-se descrever, primeiramente, características do
esquema [V + que]md, utilizando como base teórica a gramática de construções
(TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013; BYBEE, 2016 [2010]), analisando aspectos da
esquematicidade, produtividade e composicionalidade, fatores esses essenciais
adotados pela perspectiva construcional da língua e também i. discutir a relação
de "vai que" com a construção [V+QUE]md; ii. Detalhar os sentidos que "vai
que" instaura na interação, seja face a face seja em redes sociais; e iii. Lançar
hipóteses sobre a origem de "vai que" como expressão encaixadora, como se
vê em “Vai que pregam uma peça no Palmeiras” (Folha de S. Paulo, 10/02/21) e
seu possível processo de mudança para "vai que" MD. Espera-se chegar a uma
descrição que, ao mesmo tempo, comprove o estatuto construcional de "vai
que" e sua aderência ao que se entende por marcador discursivo.

Palavras-chave: construcionalização; funcionalismo; marcadores discursivos.

Um estudo diacrônico da descontinuidade do


sintagma nominal
Autoria: NATHALIA PEREIRA DE SOUZA MARTINS

Este trabalho tem como objeto de estudo o sintagma nominal descontínuo,


que é assim denominado por apresentar uma ordenação não prototípica de
suas partes constituintes, sendo essa descontinuidade desencadeada pela
interrupção de material morfossintático interveniente no domínio do sintagma
nominal ou pela reorganização de seus próprios modificadores. Nosso objetivo
maior é examinar, sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional, de
Hengeveld e Mackenzie (2008), quais são as possíveis motivações pragmáticas,
semânticas e/ou morfossintáticas por trás dessas codificações não canônicas
do sintagma nominal em diferentes sincronias do português brasileiro, com o
intuito de verificar, além disso, se há uma mudança diacrônica na caracterização
do fenômeno. A hipótese central prevê, sincronicamente, o predomínio de
motivações pragmáticas na determinação da ordem dos constituintes em
detrimento das morfossintáticas e semânticas, especialmente em contextos

623
Comunicação Oral
Gramática funcional

de competição (DU BOIS, 1985). Diacronicamente, espera-se que haja uma


estabilidade sintático-semântico-pragmática do fenômeno nos diferentes
recortes temporais do português brasileiro, uma vez que a descontinuidade
se mostra como uma tentativa do falante/escritor de otimizar a ordenação das
estruturas, de modo a facilitar o processamento cognitivo das informações
pelo ouvinte/leitor e a organizá-las estrategicamente a favor de suas intenções
comunicativas. Desse modo, por assim se caracterizar, o fenômeno da
descontinuidade teria um comportamento estável ao longo do tempo e já estaria
presente nos séculos mais remotos do português brasileiro. A amostra analisada
consiste em: (i) cartas (pessoais, oficiais, de leitores) dos séculos XVIII, XIX e XX,
extraídas dos corpora Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB) e
Corpus Histórico do Português Tycho Brahe; (ii) cartas de leitores do século XXI,
coletadas do jornal Folha de São Paulo; e (iii) registros de língua falada do século
XX, extraídos do corpus mínimo do Projeto NURC (Norma Urbana Linguística
Culta), e do século XXI, retirados do Banco de Dados Iboruna (Amostra Censo). A
escolha de textos falados dos séculos mais recentes tem por objetivo comparar
o comportamento do fenômeno nas modalidades escrita e falada da língua. A
metodologia inclui os seguintes parâmetros de análise de ordem: (i) interpessoal:
funções pragmáticas (e retóricas, em alguns casos) exercidas pelos elementos
(núcleo, modificadores e elementos intervenientes); (ii) representacional: tipo de
entidade semântica designada pelo núcleo e a relação que se dá entre núcleo e
modificadores deslocados; e (iii) morfossintática: constituição morfossintática
dos elementos e peso estrutural do elemento deslocado. (Apoio: FAPESP –
Processo nº 2020/00492-4)

Palavras-chave: sintagma nominal; descontinuidade; diacronia.

A relação aditiva como coordenação e expansão


Autoria: ROBERTO GOMES CAMACHO
Coautoria: MONIELLY CRISTINA SAVERIO SERAFIM

Este trabalho apresenta uma análise da relação oracional de adição, resultado do


projeto Construções coordenadas nas variedades portuguesas: uma abordagem
discursivo-funcional, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Gramática

624
Comunicação Oral
Gramática funcional

Funcional (GPGF), da UNESP de São José do Rio Preto, cujo objetivo geral foi o
de investigar as motivações pragmáticas e semânticas envolvidas no arranjo
morfossintático das estruturas coordenadas com base numa perspectiva
da Gramática Discursivo-funcional – GDF (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008;
KEIZER, 2015). A amostra compõe-se de ocorrências coletadas pelo córpus do
Projeto Português Falado – Variedades Geográficas e Sociais, disponibilizado
pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa em parceria com as
Universidades de Toulouse-le-Mirail e de Provença-Aix-Marselha (BACELAR
DO NASCIMENTO, 2006). O conceito de coordenação que assumimos é o
de que duas ou mais orações aditivas consistem em dois ou mais membros
funcionalmente equivalentes (DIK, 1997; LONGHIN; PEZATTI; MARQUES, 2019)
coordenados no mesmo nível estrutural por meio de um mecanismo de ligação,
que é o juntor e. O objetivo específico deste trabalho é a análise e a descrição de
como se dá a coordenação aditiva entre orações, tomando como parâmetro a
correspondência entre os níveis interpessoal e representacional de formulação
da GDF e os diferentes modos de codificação morfossintática. A análise da
amostra apontou para a existência de dois processos sintáticos mediante
os quais se manifesta a relação aditiva oracional: a de Coordenação e a de
Expansão. A Coordenação é uma relação entre dois ou mais Atos Discursivos
ou dois ou mais Conteúdos Comunicados no Nível Interpessoal, e dois ou mais
Conteúdos Proposicionais, Episódios e Estados de Coisas fora do escopo de
uma Propriedade Configuracional no Nível Representacional; a essas categorias
da Formulação correspondem Orações independentes entre si, compondo
uma Expressão Linguística no Nível Morfossintático. Já a Expansão é um
processo morfossintático que envolve a junção de Atos Discursivos, Conteúdos
Comunicados, Conteúdos Proposicionais, Episódios e Estados de Coisas no
escopo de uma Propriedade Configuracional no Nível Representacional, o que
implica, por definição, relações não hierárquicas do tipo Núcleo-Dependente.
Envolve também relações hierárquicas do tipo Núcleo-Modificador, ao multiplicar
posições em camadas específicas do Nível Representacional, cujos reflexos
morfossintáticos estão na camada da Oração, e não na da Expressão Linguística,
como se dá na Coordenação.

Palavras-chave: coordenação; expansão; adição.

625
Comunicação Oral
Gramática funcional

A coordenação oracional alternativa no português


falado sob o aparato teórico da Gramática
Discursivo-Funcional
Autoria: SANDRA DENISE GASPARINI BASTOS
Coautoria: NATHALIA PEREIRA DE SOUZA MARTINS
E BEATRIZ GOAVEIA GARCIA PARRA DE ARAUJO

Tradicionalmente, a coordenação oracional é descrita como uma relação que


se estabelece entre orações independentes de mesma função gramatical. No
caso específico da coordenação oracional alternativa, essa relação é marcada
no português pelo juntor "ou", responsável por unir duas orações de sentido
distinto, indicando que, ao se cumprir um fato, o outro não se cumpre (CUNHA;
CINTRA, 1985). Interessados nas possíveis estratégias comunicativas que podem
motivar o uso de uma relação alternativa no português falado, propomos uma
investigação da coordenação oracional alternativa sob um aparato teórico
que assuma a importância da pragmática e da semântica na configuração
morfossintática dessa relação. Assim, este trabalho mostra o funcionamento
da relação de alternância entre orações ancorado no modelo teórico da
Gramática Discursivo-Funcional (GDF), proposto por Hengeveld e Mackenzie
(2008), que se organiza em quatro níveis de análise: o Nível Interpessoal,
responsável pelas representações pragmáticas, o Nível Representacional,
responsável pelas representações semânticas, o Nível Morfossintático e o Nível
Fonológico, responsáveis pela codificação linguística; esses níveis seguem
uma disposição descendente e são compostos por camadas relacionadas
de maneira hierárquica ou equipolente. Partindo do pressuposto teórico de
que fenômenos morfossintática e fonologicamente codificados nas línguas
podem ser motivados por aspectos pragmáticos e/ou semânticos, a GDF busca
identificar e descrever essas motivações a partir da relação entre seus níveis
e camadas (HENGEVELD; MACKENZIE, 2012). Desse modo, é possível explicar
funcionalmente a coordenação, em especial, a coordenação alternativa entre
orações, enquanto fenômeno morfossintático. Nossa proposta é mostrar, a partir
de dados do português falado, como se caracterizam as orações coordenadas

626
Comunicação Oral
Gramática funcional

alternativas unidas por "ou" segundo a noção de coordenação concebida


pelo modelo teórico da GDF. Para tanto, tomaremos como referência algumas
unidades que integram cada nível de análise: Movimentos e Atos Discursivos
(Nível Interpessoal), Conteúdos Proposicionais (Nível Representacional),
Expressões Linguísticas, Orações e Palavras Gramaticais (Nível Morfossintático).
Nossa amostra é composta por dados reais do português falado extraídos do
córpus "Português Oral", pertencente ao projeto "Português Falado: Variedades
Geográficas e Sociais", e também por dados extraídos do Banco de Dados
Iboruna (Amostra Censo).

Palavras-chave: coordenação oracional alternativa; juntor "ou"; gramática


discursivo-funcional.

A gramaticalização do verbo coreano ‘hada’ em


sufixo verbalizador
Autoria: SILVIO DOMINGUES DOS SANTOS

Em seu trabalho de 2010, sobre nominalizadores na língua birmanesa, Simpson


dedica uma breve seção para discorrer sobre o caso de formas verbalizadoras. Ele
argumenta que tal qual um nominalizador que combina uma entrada não nominal
para criar palavras e constituintes que podem ser usados como substantivos,
também há elementos funcionais que combinam uma entrada não verbal para
criar constituintes que podem ser incorporados como unidades verbais. Segundo
Simpson, tais verbalizadores podem ocorrer tanto como palavras sintaticamente
independentes quanto anexos morfológicos. O autor afirma que os verbos
denominados ‘verbos brandos’ (light verbs), ou verbo-suporte (GROSS, 1981), são
exemplos de verbalizadores. Neves (1999) define o termo verbo-suporte como
formas semiesvaziadas lexicalmente e que formam com o Sintagma Nominal um
significado global que pode ter correspondência com verbos plenos da língua.
A ocorrência do verbo ‘fazer’ exercendo função verbalizadora é algo atestado
translinguisticamente, porém um caso em especial nos chama a atenção para
um estudo à luz da teoria da gramaticalização: o verbo 'hada' da língua coreana.
Denotando ‘fazer’ em sua forma plena, o verbo é utilizado em combinação com

627
Comunicação Oral
Gramática funcional

substantivos para formar novos verbos dinâmicos: ‘fazer trabalho’ (il+hada) =


trabalhar. Nota-se um processo de dessemantização (HEINE, 2003) a partir do
momento em que tal construção passa a exercer uma função mais abstrata,
não implicando em realização de uma atividade propriamente dita, resultando
em novos verbos estativos ou de percepção: fazer+ideia (saenggak+hada)
= pensar. A sufixação e o contexto de generalização (extensão para verbos
descritivos (adjetivos)) demonstram um alto grau de gramaticalização do verbo.
Acreditamos que os três tipos de processo da gramaticalização proposto por
Heine e Reh (1984) – processos fonético, morfossintático e funcional – sejam
relevantes no presente trabalho para a explicação da evolução do verbo 'hada'
e seu grau de gramaticalização. O material para tal propósito será extraído do
corpus do Instituto Nacional da Língua Coreana (Guglibgug Eowon), disponível
na internet.

Palavras-chave: gramaticalização; verbo-suporte; 'hada'.

628
Comunicação Oral
Gramática gerativa

Construções sintáticas inovadoras no português


dialetal do Brasil central (PBC): double object
construction (DOC) e redobro de clítico
Autoria: MANOEL BOMFIM PEREIRA

Neste trabalho, examino dados reais de fala do PBC e mostro que, em comparação
ao português brasileiro (PB), esse dialeto apresenta duas construções
sintáticas inovadoras: DOC e construções de redobro de clítico. A hipótese
é que o sistema pronominal do PBC manifesta um tipo de cisão, afetando
suas propriedades morfossintáticas (uma ideia encontrada em RABELO, 2010,
NAVES; PILATI, 2013) em relação à posição do sujeito e estendida à posição do
objeto (cf. SALLES; PEREIRA, 2018, PEREIRA, 2019). Em particular, mostro que
os pronomes clíticos ocorrem na 1ª/ 2ª pessoas - me/te; enquanto pronomes
plenos (e formas reduzidas) ocorrem em 1ª/ 2ª/ 3ª (singular e plural): eu; você(s)/
ocê(s)/cê(s); ele/a(s); ê(s); ea(s); nós/a gente). Assim, argumento que a cisão
no sistema pronominal de complementação do PBC determina o surgimento
dessas construções inovadoras. No trabalho, assumo a estrutura da gramática
gerativa e o Programa Minimalista de pesquisa (cf. Chomsky, 1995, e trabalhos
subsequentes), bem como a hipótese da unificação da morfologia e sintaxe,
como proposto em Manzini e Savoia (2007, 2014), Manzini e Franco (2016) e
Manzini, Savoia e Franco (2017) conforme a qual os predicados bitransitivos
selecionam uma relação posse/inclusão [?], que pode ser lexicalizada como
proposição P(?) ou como um pronome marcado como Q/D(?), implicando assim
caso oblíquo. Proponho que o argumento meta no PBC possa ser projetado nas
seguintes estruturas: (i) [PP [P (?) DP]], sempre que a propriedade de inclusão
for realizada por uma preposição (P(?)) seguida por um pronome (DP); ou (ii)
[DP [D [Q (?)]]], sempre que a propriedade de inclusão é realizada na estrutura
sintática do pronome completo (DP) (sem uma preposição). Em relação ao
sistema pronominal, adoto a geometria de traços postulada em Carvalho (2008,
2010), que, por sua vez, adota as análises de Halle e Ritter (2002) e Béjar (2003),
em relação à presença do traço [Participante] em 1ª/2ª pessoa, em oposição à
3ª pessoa. Considero ainda a análise de Cerqueira (2017, 2018), segundo a qual

629
Comunicação Oral
Gramática gerativa

as características [Definite] e [Specific] são encontradas na composição de


pronomes de terceira pessoa em posição de complemento em oposição ao
sujeito/posição nominativo, implicando que é incompatível com uma leitura
arbitrária. A conclusão é que a composição de traços dos pronomes de terceira
pessoa acima mencionada afeta sua ocorrência na posição do complemento,
em oposição à posição do sujeito, interagindo ainda mais com a presença do
traço de inclusividade [?].

Palavras-chave: DOC; PBC; redobro de clítico.

630
Comunicação Oral
Historiografia linguística

Panoramas editoriais do Curso de Linguística Geral:


a (in)utilidade e o (des)aparecimento de uma
questão saussuriana
Autoria: ALLANA CRISTINA MOREIRA

Neste trabalho, apresentamos um panorama editorial do Curso de Linguística


Geral (CLG) com foco na edição dada por Charles Bally e Albert Sechehaye à
proposição saussuriana segundo a qual, em Linguística, o ponto de vista cria
o objeto e que teve como fonte o manuscrito saussuriano Notes pour un livre
sur la linguistique générale 10f. Conhecida por sua força epistemológica no
campo de investigação da língua, essa proposição aparece, de forma pontual,
no capítulo “O objeto da Linguística” e não volta a ser pauta de reflexão ao
longo de toda edição do CLG. Apesar disso, ela não deixou de ser lida em
sua importância radical para a ciência Linguística e para o cabedal teórico
saussuriano. Quanto a sua importância para a teoria do mestre genebrino
Ferdinand de Saussure, foi reconhecida, exemplarmente, por Engler (1995)
como o teorema epistemológico que talvez figure o fundamento de toda teoria
saussuriana, por Normand (2011) como o princípio epistemológico que rege
todos os outros princípios saussurianos. Apesar de tal reconhecimento por
importantes nomes da literatura, o trabalho de Godel (1957) acerca das fontes
utilizadas na organização do texto de 1916 mostra-nos que a utilização do
manuscrito hoje arquivado na Biblioteca de Genebra sob a inscrição Ms. Fr.
39751/9 e, mais pontualmente, da questão do ponto de vista e de sua relação
com objeto, reflexão central desenvolvida por Saussure nessas anotações,
gerou impasses para os editores. Como testemunham anotações dos editores,
evidenciadas por Godel, para Bally os manuscritos abordavam uma questão
inútil enquanto segundo Sechehaye seu próprio trabalho de redação quase
apagou a questão do ponto de vista de todo o CLG. Uma leitura dos cadernos
dos alunos mostra-nos que a questão do ponto de vista em sua relação com
o objeto não é tratada de modo explícito nas aulas ministradas por Saussure.
Seria esta a razão para os editores julgarem tal reflexão inútil e quase fazê-la
desaparecer do texto de 1916? É com base nesta problemática que partimos,

631
Comunicação Oral
Historiografia linguística

neste trabalho, em análise ao manuscrito fonte da proposição e anotações de


alunos participantes dos cursos ministrados por Saussure, também fontes do
CLG. Nosso objetivo é sustentar que tal proposição não pode ser dita suspensa
ou apagada, uma vez que, embora ela não apareça de modo explícito nas aulas
dos cursos, ela se recupera tacitamente em outras reflexões importantes que
sustentam o pensamento saussuriano.

Palavras-chave: ponto de vista; objeto; Saussure.

Prisciano e a gramática especulativa em Portugal


Autoria: ALESSANDRO JOCELITO BECCARI

Segundo Fernandes (2017), os livros didáticos para o ensino de gramática latina


utilizados na Idade Média em Portugal eram, em grande parte, os mesmos do
resto da Europa: a Arte menor de Donato (c. 350 EC), o Doctrinale Puerorum
(c. 1199), de Alexandre de Villa Dei (c. 1175-1240/1250), as Institutiones
grammaticae, de Prisciano (c. 525 EC), a Summa super Priscianum, de Pedro
Helias (fl. 1130/40-depois de 1166) e o Catholicon, de João de Gênova (c. 1286). As
artes de Donato representavam o material didático básico com que se ensinavam
as partes do discurso e a morfologia. As elaborações sobre sintaxe presentes
no Sobre a construção (De constructione), livros XVII e XVIII das Instituições
gramaticais, de Prisciano, também eram estudadas nas escolas e faculdades
portuguesas da Baixa Idade Média (c. 1250-1450). A sintaxe começa a aparecer
em Portugal a partir de 1300 em tratados como as Reglas pera enformamos
os meños en latin (ou simplesmente Reglas) (c. 1375), de autor anônimo, e os
Notabilia Alcobacenses (1427) (ou simplesmente Notabilia), do aragonês Juan
Rodríguez de Caracena (séc. XV), monge do Mosteiro de Alcobaça. Os Notabilia
constituem um tratado dirigido a níveis avançados de ensino do latim, e sofre
amplo impacto das teorias dos gramáticos modistas (Modistae) do final do
séc. XIII, como, por exemplo, do Doctrinale Puerorum de Alexandre Villa Dei
(c. 1175-1240/1250) e da supracitada Suma sobre Prisciano, de Pedro Helias.
É a respeito da presença de Prisciano nos Notabilia, seja do ponto de vista
teórico seja metodológico, que iremos nos debruçar nesta comunicação, em
que consideraremos algumas de suas discussões sobre regência de caso.

632
Comunicação Oral
Historiografia linguística

Com esse intuito, serão apresentados resultados de um recente estágio de


pesquisa de pós-doutorado feito na Biblioteca de Reservados da Universidade
de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Portugal, sob supervisão do Professor
Doutor Gonçalo Fernandes, coordenador do Centro de Estudos em Letras (CEL).
Assumimos que os autores dos tratados medievais portugueses aqui analisados
tinham como pressuposto epistemológico comum a concepção da linguagem
como meio de expressão de um conteúdo mental (SWIGGERS, 2004, p. 127-128),
já que eram formados na tradição aristotélica da filosofia medieval. Também
assumimos a ocorrência de continuidades e descontinuidades (KOERNER,
1989) de teorias na história dos estudos da linguagem, haja vista a presença
de noções e métodos utilizados nos tratados portugueses que se derivam do
aristotelismo medieval e da gramática especulativa.

Palavras-chave: Prisciano; gramática especulativa em Portugal; Notabilia


Alcobacenses.

O conceito de gramática na tradição greco-romana


à luz da historiografia linguística
Autoria: CARLOS RENATO ROSARIO DE JESUS

Este trabalho constitui-se de uma versão panorâmica de uma pesquisa em


andamento, que procura mapear as relações entre gramática e sociedade,
no contexto da Antiguidade Clássica, sob o pondo de vista da Historiografia
Linguística. Para este momento, objetivamos desenvolver uma análise e
interpretação muito específica e pontual, exclusivamente acerca do conceito
de “gramática” presente em três compêndios do mundo greco-romano: a Tékhne
grammatiké, de Dionísio Trácio (séc. II-I a.C.), as Artes grammaticae, de Donato
(c. séc. IV d.C.), e as Institutiones grammaticae, de Prisciano (c. séc. V d.C.). A
escolha desse corpus se deve ao fato de que há ainda poucos estudos sobre
tais manuais que se utilizem em profundidade da perspectiva teórica aqui
adotada, visto que, na maioria das vezes, a abordagem costuma ser de cunho
exclusivamente filológico. Por isso, como aventado, utilizaremos o arcabouço
teórico-metodológico da Historiografia Linguística, expresso, especialmente

633
Comunicação Oral
Historiografia linguística

em Koerner (1996), Swiggers (2013), Altman (1996, 1998, 2019), Law (2003),
Batista (2020), Bastos e Hanna (2015), Batista e Bastos (2020), entre outros.
Acreditamos que uma interpretação sob esse ponto de vista possa contribuir
com o conhecimento gramatical por estabelecer parâmetros metodológicos
em três níveis, a saber, nível de contexto, isto é, da relação do texto com o “clima
de opinião” da época de sua produção; nível de imanência, que analisa sua
constituição interna, textual; e, por fim, o de princípio de adequação (KOERNER,
1996), que alinha os conceitos e termos utilizados na obra original a uma visão
hodierna, interpretando-os, sem anacronismo, sob as circunstâncias de suas
respectivas vinculações. Tais princípios (contexto, imanência e adequação) são
basilares na teoria adotada e, por isso, podem elucidar e colocar o conceito de
gramática em perspectiva ampla, num horizonte que leve em conta a questão
ideológica e social das condições de produção dos textos. Ao fim, compararemos
os conceitos ali apresentados, destacando suas convergências, divergências,
(des)continuidades, contextos e conexões para, então, evidenciar tanto as
implicações para o conhecimento do pensamento linguístico coevo, quanto
as reflexões que sedimentaram o pensamento gramatical vigente.

Palavras-chave: gramática; antiguidade clássica; historiografia linguística.

A Arte da Língua Brasílica do jesuíta Luís Figueira,


nos quatrocentos anos de sua publicação (1621-2021)
Autoria: EDUARDO DE ALMEIDA NAVARRO

No ano de 1621 era pulicada em Portugal a Arte da Língua Brasílica, do padre


Luís Figueira, da Companhia de Jesus. A publicação de tal obra atendeu a
reclamos dos missionários jesuítas, que consideraram a obra gramatical de José
de Anchieta (a Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil,
publicada em 1595) inadequada para a aprendizagem do tupi antigo. Luís Figueira
passou boa parte de sua vida na porção setentrional e nordestina do Brasil.
Sua obra teve reimpressões nos séculos posteriores e foi bem mais usada que
a gramática de Anchieta, que somente seria reimpressa no século XIX. A Arte
de Figueira foi, inclusive, compulsada pelos românticos indianistas brasileiros,
como Gonçalves Dias, que publicou um Dicionário da Língua Tupi em 1858.

634
Comunicação Oral
Historiografia linguística

OBJETIVO: Nossa comunicação tem por objetivo apresentar uma síntese da


obra gramatical de Figueira, tanto em seu plano formal quanto em seu conteúdo
e verificar se porta originalidades no tratamento gramatical do tupi antigo.
QUADRO TEÓRICO-METODOLÓGICO: Numa perspectiva histórico-comparativa
e fundamentados na obra de Swiggers (La méthodologie de l'historiographie de
la linguistique. In: Folia Linguistica Historica, 1983. p. 55-79), cotejamos a obra
de Figueira com a de Anchieta e com outras gramáticas coetâneas, analisando
o tratamento dado na gramática de Figueira às oito partes da oração e à sintaxe
da língua. Buscamos, ademais, observar possíveis diferenças linguísticas nas
duas gramáticas do tupi antigo aqui cotejadas. CONCLUSÕES: Nossa pesquisa
revelou que a gramática de Luís Figueira descreveu uma variante dialetal do
tupi antigo falada na costa de Pernambuco, havendo nela alguns conteúdos
que evidenciam isso. Ademais, pudemos verificar, por meio de cotejos com
obras gramaticais congêneres, que a obra de Figueira é bastante parecida em
sua estrutura e formalização à maior parte das gramáticas missionárias que
foram publicadas nos séculos XVI e XVII, utilizando o modelo latino, à diferença
do que fez Anchieta em sua "Arte" de 1595.

Palavras-chave: tupi antigo; Luís Figueira; gramática.

A invenção do linguista: Saussure entre os


manuscritos e o Curso de Linguística Geral
Autoria: ELIANE SILVEIRA

Ferdinand de Saussure (1857-1913) instaura, no início do século XX, uma nova


maneira de fazer linguística, é o que justifica as diversas recepções do livro
póstumo Curso de Linguística Geral (1916) nesse último século (COLOMBAT;
FOURNIER; PUECH, 2017). O arcabouço teórico apresentado nesse livro responde
também por uma epistemologia da Linguística capaz de lhe outorgar o título
de Ciência Moderna (MILNER, 1989). Sendo assim, é justificável a hipótese
pouco explorada de que o advento epistemológico instaurado por Saussure
tenha inaugurado também uma configuração específica do próprio linguista.
Essa questão não passou despercebida (BENVENISTE, 1964; NORMAND, 2009;
FLORES, 2009) Além disso, a descoberta de manuscritos, em 1996, na casa de

635
Comunicação Oral
Historiografia linguística

campo da família do genebrino, trouxe aos pesquisadores da fortuna saussureana


novos elementos de análise modificando, inclusive, o resultado de pesquisas
anteriores. Assim, em atenção ao estatuto do linguista na fortuna saussureana,
propomos um cotejamento entre edição dos cadernos dos alunos de Saussure
que resultou na publicação póstuma do Curso de Linguística Geral (1916), e o
derradeiro manuscrito descoberto: Essência dupla da linguagem (1891). Este
último implicado em várias controvérsias envolvendo mais de uma edição e
publicação. O nosso objetivo é, portanto, examinar o estatuto do linguista nos
dois documentos. A metodologia segue três etapas diferentes entre si e que
concorrem para a melhor seleção e análise dos dados. A primeira, de fundamento
filológico, consiste em realizar (i) o levantamento das referências explícitas
em que a questão do linguista, propriamente dito, é tematizada no Curso de
Linguística Geral, (ii) a circunscrição dessas referências nas edições críticas
do Curso de Linguística Geral e (iii) localizar as suas fontes primárias, ou seja,
a quais cadernos de alunos pertencem. A segunda etapa, mais alinhada com a
crítica genética, incide na (i) eleição do conjunto de manuscritos Essência dupla
da linguagem a ser trabalhado, (ii) seleção dos fragmentos do manuscrito em
que o genebrino tematiza a questão do linguista e (iii) transcrição diplomática e
tradução do material. Por fim, a terceira etapa de nossa metodologia é de caráter
epistemológico e realiza (i) o cotejamento dos dados (ii) examina em que medida
as elaborações teóricas de Saussure reconfiguram o estatuto do linguista e
(iii) percorre o movimento de elaboração do genebrino entre a última década
do século XIX e a primeira do XX situando os deslocamentos aí realizados.

Palavras-chave: Ferdinand de Saussure; língua; linguista.

Ensino de Linguística no Brasil (1960-2010): uma


historiografia do ensino a partir dos programas de
pós-graduação da universidades federais
Autoria: ENIO SUGIYAMA JUNIOR

Ancorado nos pressupostos teóricos e metodológicos da historiografia


linguística (SWIGGERS, 2010, 2013), este trabalho tem como objetivo apresentar

636
Comunicação Oral
Historiografia linguística

uma historiografia do ensino de Linguística no Brasil a partir da investigação dos


programas de pós-graduação. Optou-se por considerar os programas registrados
junto à CAPES na categoria "Linguística" ofertados por universidades federais,
considerando o período entre 1960 e 2010. A pós-graduação desempenhou um
papel importante para a consolidação do grupo de especialidade (MURRAY,
1984) dos linguistas no cenário acadêmico brasileiro como apontou o trabalho de
Altman (1998), tornando-se, portanto, de um objeto privilegiado para traçar uma
historiografia do ensino da área no Brasil. A partir dos princípios estabelecidos
por Swiggers (1990), este trabalho considera que uma historiografia do ensino
exige a construção de modelo complexo que considere a dupla posição ocupada
pelos agentes responsáveis pelo ensino, uma vez que esses, ao mesmo tempo
em que expõe uma tradição considerada legítima (locutor observador), também
realizam o papel de selecionar os exemplos e os pontos de conflitos das teorias
(locutor teórico-prático). Tal consideração é ainda mais relevante ao tratar da
organização da pós-graduação no Brasil onde os professores são convocados
a atuar em órgãos governamentais responsáveis por normatizar as regras de
funcionamento dos programas. Levando em conta os pressupostos teóricos e o
escopo estabelecido neste trabalho, realizou-se um mapeamento informacional
junto ao banco de dados da Capes e aos sites dos 11 programas de pós-graduação
localizados por meio da plataforma Sucupira. O mapeamento permitiu verificar a
consolidação da Linguística e a diversificação dos objetos e teorias empregadas
para o desenvolvimento dos trabalhos de pós-graduação dos programas das
universidades federais. Apesar da consolidação da área e da expansão do escopo
de interesses da pós-graduação em Linguística, o mapeamento mostrou que os
titulados ainda cumprem a função de atuar como professores especializados
junto ao corpo docente dos cursos de Letras.

Palavras-chave: ensino de linguística; historiografia linguística; linguística


brasileira.

637
Comunicação Oral
Historiografia linguística

Estudo historiográfico sobre a influência de


Vladimir Propp e Claude Lévi-Strauss: a relação da
predominância do texto literário na semiótica da
escola de Paris
Autoria: EUZENIR FRANCISCA DA SILVA

A teoria Semiótica do Discurso de Algirldas Julien Greimas (1917-1992) teve


sua fundação com a publicação da obra: Sémantique Struturale: Recherche de
méthode (Paris, 1966). Uma década depois publica, Maupassant, la semiotique
du texto: exercicies prátiques (1976), dando início ao período de consolidação e
aplicação, servindo de modelo teórico da Semiótica do Discurso. Este trabalho
tem como objetivo fazer o levantamento das obras primeiras da teoria Semiótica
fundada por A. J. Greimas; iremos discorrer sobre a relação do texto e discurso
na Semiótica greimasiana, focando a atenção para o texto do gênero literário.
Geralmente, eles resultam da relação harmônica entre um tipo textual e tipo
discursivo, explica Fontanille (1999, p. 186). Nosso objetivo é localizar provas
textuais que apontem como ocorreu e quais foram as influências que os estudos
de Vladimir Propp (1895-1970) sobre a Morfologia do Conto Maravilhoso e
de Claude Lévi-Strauss (1908-2009), Antropologia Estrutural: estudo sobre o
Mito, tiveram sobre o projeto de Greimas, assim como outros estudiosos que
avançavam com os estudos e aplicação de novos métodos sobre a linguagem
no século XX. Visamos fazer o levantamento de algumas influências sofridas
pelo semioticista, adotando a perspectiva historiográfica na análise da obra
fundadora da semiótica. A investigação terá como quadro teórico e metodológico
do trabalho a Historiografia Linguística, disciplina que investiga o passado das
ideias linguísticas, levando em conta o ambiente histórico, social e cultural de
construção dessas ideias no interior de dada disciplina/ciência. Para Greimas
e Courtés (2008 [1979]), a semiótica literária atua enquanto reconhecimento
de um processo semiótico, sendo um domínio de pesquisa estabelecido pela
tradição do fazer semiótico com textos literários, devido ao fato de o discurso
literário, por conta da sua forma de expressão (as formas literárias), identificar-
se, de modo geral, com as articulações discursivas, de modo que o discurso

638
Comunicação Oral
Historiografia linguística

literário torna-se a melhor manifestação da metalinguagem de um discurso


não-cientifico. Além desses, a semiótica trabalha com outros discursos: os
“subliterários” ou “não literários”, que denominam outras semióticas, como
(a) a semiótica etnoliterária, que lida com discursos de microssociedades; e
(b) os textos socioliterários, que atuam com os discursos sociais. Desse modo,
também investigamos o despontar desse termo e a maneira como ele assumiu
o protagonismo no projeto greimasiano, à medida que levantamos informações
sobre o contexto histórico e intelectual do estabelecimento das propostas do
pesquisador lituano no campo dos estudos da linguagem.

Palavras-chave: semiótica; literatura; historiografia linguística.

O conceito de faculdade da linguagem em


Saussure: um estudo conceitual-terminológico a
partir do troisième Cours de Linguistique Générale
(1910-1911)
Autoria: JOMSON TEIXEIRA DA SILVA FILHO

Saussure é um autor conhecido por delimitar o objeto para a linguística fazendo


com que essa alcançasse o status de ciência. Esse objeto é a língua entendida
como um sistema de signos e, ainda, como um sistema de valores puros em
que a noção de relação é fundamental. Como se percebe, a conceituação desse
objeto depende de uma rede conceitual que é fundamental para que se possa
estabelecer um olhar de pesquisa internamente aos estudos saussurianos. No
entanto, para os estudiosos da fortuna saussuriana é sobejamente sabido que
a flutuação terminológica na/da teorização do autor é um dos pontos que têm
despertado a atenção de pesquisas que buscam examinar os conceitos que
formam o cabedal teórico saussuriano. Sob essa perspectiva, noções como a de
“língua”, “fala”, “linguagem”, “sistema”, “valor”, “sincronia”, dentre outros, têm sido
objeto de análise em diversas pesquisas. Nesse sentido, este trabalho apresenta
uma proposta de interpretação para a expressão “faculdade da linguagem” em
Saussure. Através de uma abordagem descritivo-exploratória, elegemos como
corpus de pesquisa internamente ao corpus saussuriano o Troisième cours de

639
Comunicação Oral
Historiografia linguística

linguístique generale/Third Course in General Linguistcs: (1910-1911): d’après


les Cahier’s d’Emile Constantin. A partir de uma pesquisa de natureza teórico-
conceitual, objetiva-se estabelecer uma definição para o conceito de faculdade
da linguagem, assim como examinar como esse conceito se relaciona aos
conceitos de língua e fala. Dessa forma, procede-se ao exame de outros textos
manuscritos do autor assim como ao Curso de Linguística Geral (1916). Discute-
se que embora no terceiro curso a referida expressão esteja em oposição à
“língua”, diferentemente de outros textos saussurianos em que a oposição se
dá entre “língua” e “fala”, o conceito de “faculdade da linguagem” apresenta uma
complexidade que vai além da leitura que assume ser este apenas um sinônimo
de “fala”. A pesquisa indica que, ainda que essa leitura seja possível, o conceito
de “faculdade da linguagem” diz também respeito ao processo de produção da
fala, abrindo prospectivamente a possibilidade para uma linguística da fala.

Palavras-chave: faculdade de linguagem; linguística da fala; Saussure.

O conceito de fala no manuscrito essência dupla


da linguagem e no Curso de Linguística Geral: um
estudo comparativo
Autoria: MARIANE SILVA E LIMA GIEMBINSKY

O reconhecimento de Ferdinand de Saussure como fundador de uma ciência


moderna se deu após a publicação póstuma em 1916, do Curso de Linguística
Geral (CLG), fruto dos cursos ministrados entre 1907 a 1911, organizado por
Charles Bally e Albert Sechechaye. No entanto, com a descoberta de novos
documentos em 1996, doados à Biblioteca de Genebra, foi possível considerar
as anotações manuscritas do próprio Saussure. Neste trabalho, faremos um
recorte desses documentos e buscaremos no manuscrito Essência dupla
da linguagem (EDL), o posicionamento do mestre genebrino em relação ao
conceito de fala. Este manuscrito remete a um projeto de livro de linguística
geral desenvolvido por Saussure com data provável de 1891, quando ele retorna
à Genebra, após uma década em Paris, e foi catalogado e arquivado por Rudolf
Engler. Nosso objetivo é fazer uma reflexão em relação ao lugar do conceito de
fala nos estudos saussurianos relacionando o manuscrito Essência dupla da

640
Comunicação Oral
Historiografia linguística

linguagem ao Curso de Linguística Geral. Para isso, buscaremos compreender


de que forma Saussure apresenta o conceito de fala no EDL, e, posteriormente
no CLG. O que se mantém e o que distingue do pensamento em construção
para as aulas ministradas? Como Saussure faz a distinção entre som e fala no
manuscrito? A distinção entre língua e fala concretizada no CLG, já na primeira
parte do livro, foi um pensamento que ocupou muitas folhas manuscritas e
essa construção teórica será foco do nosso trabalho. Diante dessas questões,
levantamos a hipótese que, embora o CLG não exclua o conceito de fala de seu
conteúdo, deixando-o ser compreendido a partir de uma delimitação relacional
com os conceitos de linguagem e língua (HENRIQUES; PAFUME, 2014), nos
manuscritos a delimitação do conceito de fala se dá de forma mais direta.
Dessa forma, o método comparativo entre os materiais favorecerá a emergência
das diferenças e a análise contrastiva nos permitirá evidenciar o percurso de
elaboração do conceito de fala por Ferdinand de Saussure.

Palavras-chave: manuscrito; fala; CLG.

Saussure frente a seus contemporâneos: uma


análise das questões relativas ao sentido no
manuscrito essência dupla da linguagem
Autoria: MAURÍCIO MARQUES SORTICA

A recepção do Curso de Linguística Geral (SAUSSURE, 1916), a partir de uma


leitura estruturalista, coloca as questões relativas ao sentido como algo que
não tem lugar dentro da reflexão saussuriana e, portanto, que não tem lugar
dentro dos estudos formadores do fazer linguístico do século XX. Entretanto,
estudos mais recentes (NORMAND, 2000; FLORES, 2020) veem a teoria do
genebrino como um pensamento que permite contemplar o sentido. Tendo isso
em vista, este trabalho explora o lugar dado ao sentido na elaboração da teoria
saussuriana no final do século XIX. Para fazer isso, analisamos o manuscrito
Essence Double du Langage (SAUSSURE, 1891) com vistas a entender o processo
de formação do pensamento do linguista genebrino. Pautamo-nos na leitura
do manuscrito saussuriano em detrimento de sua edição presente nos Écrits
de Linguistique Générale (SAUSSURE, 2000), já que, junto com Silveira (2007,

641
Comunicação Oral
Historiografia linguística

p. 118), “procuramos dar atenção a dois aspectos: aquilo que Saussure escreve
e a como ele escreve” e a edição suprime várias rasuras e incisos presentes no
manuscrito, não nos permitindo voltar nossa atenção a isso. Dessa maneira,
analisamos a elaboração saussuriana no manuscrito, em relação às questões do
sentido, no que tange à linguagem e a linguística, assim como seus movimentos
de continuidade e ruptura com a tradição de estudos em que estava inserido,
comparando sua elaboração teórica àquelas de seus contemporâneos
(WHITNEY, 1875; PAUL, 1886; BRÉAL, 1897) já que estes, segundo De Mauro
(1967), foram referências intelectuais para o linguista suíço. Assim, a partir das
primeiras análises do manuscrito e da comparação com a prática linguística
dos séculos XVIII e XIX, inferimos que Saussure parecia estar envolvido com
a elaboração de um constructo teórico que colocasse as questões de sentido
como centro de sua concepção da linguagem e da análise linguística. Dessa
forma, ao pensar as análises linguísticas situadas em um tempo específico
(estudo sincrônico da língua) e ao vinculá-las à observação de unidades da
língua que só podem existir se estiverem em relação entre si, pode-se dizer que
Saussure, respectivamente, parte do que vinha sendo desenvolvido por seus
contemporâneos, mas rompe com tal tradição, especialmente ao pensar uma
perspectiva sincrônica para o sentido e não dar lugar relevante à sua evolução
temporal em relação a uma forma dentro de sua elaboração teórica, como era
o costume entre os comparatistas e os neogramáticos.

Palavras-chave: sentido; essência dupla; manuscrito.

Reflexões linguísticas sobre o metatermo lusofonia


Autoria: RICARDO FRANCISCO NOGUEIRA VILARINHO

Neste trabalho partimos de dois textos, Faraco (2012) e Arakaki e Bastos (2016),
extraindo dos mesmos as definições de lusofonia para cinco linguistas, são eles:
Carlos Alberto Faraco, José Luiz Fiorin, Armando Jorge Lopes, Eliseu Mabasso
e Moisés de Lemos Martins. A princípio, o que nos motivou a escrevê-lo foi
a sensação de que Faraco (2012) provocou em alguns pesquisadores que se
dedicam a estudar a lusofonia um certo desconforto, um certo mal-estar, com
relação ao seu objeto de estudo, ou seja, a própria lusofonia, objeto polissêmico,

642
Comunicação Oral
Historiografia linguística

multifacetado. Desta forma, decidimos buscar os pontos nos quais as definições


extraídas dos linguistas citados se distanciariam ou se aproximariam. Para
isso, utilizamos a representação geométrica de congruência e incongruência,
conforme assim as define a Matemática e também apropriamo-nos das
propriedades matemáticas da intersecção de conjuntos. Desta maneira, como
ferramenta de análise, utilizamos a teoria matemática dos conjuntos e, da
Geometria, os conceitos de congruência e incongruência. O uso da Matemática
como ferramenta de análise ou representação nas ciências humanas não é algo
novo. Com relação à nossa produção, baseamo-nos na construção teórica de
Jacques Lacan (1901-1981), e o uso da topologia como forma de representação,
para alicerçar a metodologia utilizada neste trabalho. Neste caminho, concluímos
que apesar de parecerem, a princípio, diametralmente opostas, melhor dizendo,
totalmente incongruentes, as definições de Carlos Alberto Faraco e dos demais
linguistas estudados têm seus pontos de congruência e de incongruência,
porém, vale destacar que apenas a análise do título proposto por Faraco
(2012), e sua menção à utopia e a quimera pode gerar um estranhamento da
compreensão de suas definições. Poderíamos apenas classificá-la como uma
definição que apontaria para o polo da “não realização”, da impossibilidade
de concepção da lusofonia. Após uma leitura cuidadosa das concepções dos
linguistas inferimos que se trata de um mesmo fenômeno observado, porém com
pontos de vista diferentes, sustentados, neste aspecto, por Kuhn (2018) e suas
observações sobre diferentes possibilidades de visualização de um objeto. Ao
final, encontramos congruências e incongruências, semelhanças e diferenças
nas várias definições do termo lusofonia estudadas. (Apoio: CAPES)

Palavras-chave: historiografia linguística; lusofonia; filosofia da linguística.

Propostas de classificação das línguas germânicas


antigas no limiar da institucionalização da
linguística no século XIX
Autoria: ROGERIO FERREIRA DA NOBREGA

A classificação de famílias linguísticas é uma prática de longa tradição, que tem


a utilidade de auxiliar na determinação das origens e de estágios ao longo do
desenvolvimento histórico das línguas, além de demonstrar o grau de parentesco

643
Comunicação Oral
Historiografia linguística

existente entre as mesmas. Com a redescoberta do sânscrito pelo ocidente no


século XVIII, intensificaram-se as hipóteses de que as línguas indo-europeias
teriam “surgido de uma fonte comum que talvez não exista mais” (JONES,
1788), percepção que já circulava na Europa antes dessa célebre ‘passagem
do filólogo’. O estabelecimento de famílias linguísticas não se limitou àquelas
hipoteticamente provenientes da imediata desintegração do proto-indo-europeu:
com o surgimento e a proliferação das especialidades, sobretudo quando
da institucionalização da linguística como disciplina científica no contexto
alemão do início do século XIX, tornaram-se mais frequentes as propostas
de classificação de línguas em famílias, subfamílias e assim por diante. No
caso específico das línguas germânicas, estudos recentes, e.g. Mallory (2006),
sugerem que, após se separar da protolíngua como um ramo independente, o
germânico se subdividiu inicialmente em três famílias independentes, as quais
correspondem ao estágio histórico imediatamente anterior ao das línguas antigas.
O exame de algumas das propostas de classificação das línguas germânicas
ao longo de mais de dois séculos nos revela um cenário diferente. Não é de
nosso conhecimento que haja na literatura um tratamento historiográfico da
questão, senão apenas que autores que revisitaram o histórico do estudo do
problema o fizeram com o intuito de se inserirem no debate. O objetivo desta
comunicação é apresentar uma análise de quatro propostas de classificação das
línguas germânicas, a saber, de Fulda (1776), Adelung (1809), Rask (1818) e Grimm
(1819). Trata-se de obras inseridas no contexto da transição entre a linguística
praticada no final do século XVIII e a do início do XIX, esta já em processo de
institucionalização. Para analisar os critérios linguísticos e/ou extralinguísticos e
a documentação linguística e filológica em que se basearam os referidos autores
na consecução de suas propostas, utilizamo-nos de parâmetros internos de
análise preestabelecidos, em consonância com os princípios da Historiografia
Linguística (SWIGGERS, 2004, 2017). Os resultados a que chegamos indicam
que as propostas divergem consideravelmente entre si, sobretudo no que diz
respeito aos métodos e critérios empregados, os quais oscilam entre geográficos,
linguísticos e etnográficos, à terminologia e ao próprio produto da classificação
dos povos e de suas respectivas línguas, ora bipartite, ora tetrapartite.

Palavras-chave: historiografia linguística; línguas germânicas; famílias


linguísticas.

644
Comunicação Oral
Historiografia linguística

Os conceitos de fala e discurso nas elaborações de


Ferdinand de Saussure
Autoria: STEFANIA MONTES HENRIQUES

O Curso de Linguística Geral, publicado em 1916, foi o resultado das anotações


dos alunos de Ferdinand de Saussure nos cursos proferidos na Universidade de
Genebra entre 1907 e 1911, além de notas autógrafas. Essa obra é considerada
como responsável pela fundação da Linguística Moderna e isso porque, dentre
outros aspectos, nela está contida a afirmação de que a língua é um sistema
de signos, além da distinção entre sincronia e diacronia. Considerando a
importância destinada por Saussure à noção de língua e de sincronia, vários
estudiosos acusaram-no de “excluir” a fala dos estudos linguísticos para se
dedicar apenas ao estudo do sistema (LABOV, 1968). Entretanto, sabe-se que
Saussure discutiria o âmbito da fala e sua relação com a língua em um curso
posterior ao terceiro curso (1910-1911), além de serem encontradas, após sua
morte, notas manuscritas que evidenciam o interesse de Saussure pela fala.
Por outro lado, os estudos sobre as lendas germânicas foram desenvolvidos
por Saussure entre 1903 e 1910, compreendendo, assim, o período anterior e
concomitante aos três cursos de linguística geral. Nesse estudo, Saussure faz
comparações entre os diversos estados de lendas com o objetivo de verificar
a relação dessas narrativas orais com os fatos históricos que representam.
Apesar desse interesse referencial e histórico, o linguista percebe que a
lenda é um sistema semiológico, da mesma forma que a língua, e, como tal, os
elementos que lhe pertencem têm seu valor estabelecido pelas relações com
os outros elementos no interior do sistema. Assim, partimos da hipótese que
o estudo sobre as lendas, realizado por Saussure, pode clarificar não somente
o conceito de fala em sua teoria, como também o de discurso. Nesse sentido,
analisamos alguns trechos dos manuscritos sobre as lendas, com o objetivo
de estabelecer relações entre esse estudo e as considerações presentes no
âmbito da linguística, além de investigar de que maneira a fala e o discurso são
conceituados nesse material.

Palavras-chave: Ferdinand de Saussure; manuscritos; fala.

645
Comunicação Oral
Historiografia linguística

Essai, mémoire e phonétique: um caminho para a


definição de língua?
Autoria: THAYANNE RAÍSA SILVA E LIMA

Saussure demonstra interesse pela linguística desde seus 13 anos. Em seu


Souvenirs, ele memora seu zelo pelo livro Les origines indo-européennes de
Adolphe Pictet e pela biblioteca de seu avô materno. Sua admiração por seu
vizinho e pela biblioteca de seu avô levou-o a redigir, aos seus 16 anos, o Essai.
Esse trabalho é evocado por Charles Bally (1865-1947) como “testemunho
de um temperamento científico completamente pronto” e foi enquadrado
“no horizonte da concepção saussuriana da reconstrução em diacronia” por
Béguelin (1990) e Joseph (2012). Além disso, em 1878, o linguista escreve, durante
o período em que estudava em Leipzig, o Mémoire, outro trabalho bastante
reconhecido por aqueles que pesquisam os postulados saussurianos. Em
ambos os trabalhos, o aspecto fônico da língua parece ser determinante para
as postulações saussurianas e dispõe a novidade que se instaura naquele
momento. O presente trabalho, portanto, tem como objetivo central investigar
um movimento teórico do linguista Ferdinand de Saussure (1857-1913) no que
diz respeito ao aspecto fônico da língua, no Essai (1874), no Mémoire (1878) e no
Phonétique (1881-84). Para tanto, tecemos uma reflexão que coloca o linguista
ao mesmo tempo aproximando-se e distanciando-se das noções estabelecidas
pelos linguistas do século XIX. Além disso, notamos que, ao se deslocar dos
estudos desenvolvidos nesse século, Saussure estabelece uma conexão com
um de seus mais marcantes objetivos de pesquisa, isto é, o de teorizar sobre a
língua. Com base na pesquisa saussuriana do AFL, mais de duas décadas antes
dos cursos de Linguística Geral na Universidade de Genebra, o linguista mostra
um movimento teórico capaz de estabelecer um deslocamento dos estudos
de sua época, fundamentalmente empírico, para a teorização. Ademais, como
consequência desse deslocamento, observamos que há nesses três trabalhos
preceitos que levam o linguista a se deparar com definições, distinções de
termos e conceitos responsáveis por levá-lo à noção do objeto da ciência que ele
fundou. Assim, focamos na investigação do Phonétique a fim de indicarmos um

646
Comunicação Oral
Historiografia linguística

movimento teórico de Saussure que não cansa de se repetir em seus trabalhos,


isto é, sua busca pelo objeto da Linguística: a língua.

Palavras-chave: manuscrito; língua; Saussure.

Amadeu Amaral e O dialeto caipira: contribuições


aos estudos linguísticos no Brasil
Autoria: THIAGO ZILIO PASSERINI

Em 2020, O dialeto caipira, de Amadeu Amaral completou seu primeiro centenário


de publicação. Apesar da relevância da obra, poucos pesquisadores têm se
debruçado sobre ela nos últimos anos. Por essa razão, é necessário ampliar
os estudos acerca do livro em questão, cuja análise permite compreender o
percurso dos estudos de viés dialetológico no Brasil. Partindo dessa premissa,
o objetivo deste trabalho é contribuir para a divulgação do pensamento
linguístico de Amaral, em virtude de ele ser considerado um marco na mudança
de perspectiva das pesquisas linguísticas do país, até então majoritariamente
filológicas. Visando à consecução desse objetivo, apresenta-se uma análise
de O dialeto caipira, partindo dos pressupostos metodológicos preconizados
por Koerner (2014 [1995]) e Swiggers (2009), concernentes à Historiografia
Linguística. Mais especificamente, passa-se de uma fase heurística a uma fase
hermenêutica (SWIGGERS, 2009) de reconstrução do conhecimento sobre a
linguagem, considerando as etapas de contextualização, imanência e adequação
(KOERNER, 2014 [1995]). Ademais, o presente estudo considera o conceito de
horizonte de retrospecção, cunhado por Auroux (2014 [1992]), por meio do qual
se faz aqui um retorno ao último quartel do século XIX, a fim de mensurar em
que medida os estudos de Amadeu Amaral contribuíram para dar outros rumos à
pesquisa sobre o português brasileiro. O componente epi e meta-historiográfico
contou com as contribuições de Câmara Jr. (2004 [1966]), Pinto (1978), Castilho
(2020) e Zilio-Passerini (2020). Os resultados preliminares apontam para os
traços inovadores da obra em questão, referentes não só ao fato de Amadeu
Amaral ter sido o primeiro a se debruçar sobre a variedade falada no interior de
São Paulo, como também de ter proposto um método de análise, considerado

647
Comunicação Oral
Historiografia linguística

pioneiro à época. Esses aspectos foram responsáveis por abrir caminhos para
que, posteriormente, outros estudiosos também examinassem variedades do
português brasileiro, tais como, Nascentes (1922) e Marroquim (1934). Isso
comprova, em grande medida, a relevância do caminho aberto por Amaral no
âmbito dos estudos com enfoque dialetológico no Brasil.

Palavras-chave: historiografia linguística; Amadeu Amaral; O dialeto caipira.

Análise de materiais para o ensino de português


para surdos no Brasil no século XX
Autoria: VANESSA GOMES TEIXEIRA ANACHORETA

Ao analisar a história da educação de surdos, constata-se que no decorrer


dos anos houve a implementação de diversos métodos voltados para o ensino
de Português para essa comunidade no contexto brasileiro. Tais métodos
relacionam-se com o contexto histórico e o clima de opinião daquela época, que
evidenciam diferentes concepções a respeito do sujeito surdo, da surdez, das
línguas de sinais e dos seus papéis no processo de ensino aprendizagem desse
indivíduo. Enquanto algumas metodologias privilegiaram o ensino da língua
oral por se acreditar que a fala possibilitaria a integração do sujeito surdo como
um elemento útil na sociedade, outras reconheceram o papel fundamental que
as línguas de sinais exercem no desenvolvimento cognitivo desse aprendiz. A
partir dessa problemática, o presente trabalho teve o objetivo analisar, de uma
perspectiva historiográfica, os manuais voltados para o ensino de Português
para surdos produzidos no contexto brasileiro no século XX, observando a
relação entre as obras, o contexto político-intelectual da época e as ideias
intelectuais defendidas pelo clima de opinião. Os materiais analisados foram:
Pedagogia Emendativa do Surdo-Mudo (LACERDA, 1934); Vamos falar - Cartilha
para o uso de crianças brasileiras (CARNEIRO; BARRETO, 1946); Compêndio da
educação da criança surda-muda (DÓRIA, 1954); Introdução à didática da fala:
aspectos da educação dos deficientes da audição e da fala (DÓRIA, 1957); Quero
falar - Cartilha para uso das crianças surdas - o ensino da articulação (NAN,
1957); Ensino oro-audio-visual para os deficientes da audição (DÓRIA, 1958);

648
Comunicação Oral
Historiografia linguística

Coleção Posso falar (LENZI, 1970, 1986); Eu vou falar - para o ensino da fala aos
deficientes da audição (ALBUQUERQUE, 1973); Como posso falar (LENZI, 1991);
e Português para deficiente auditivo (GOTTI, 1992). A respeito do referencial
teórico, a presente investigação contextualiza-se no campo da Historiografia
Linguística. Segundo Koerner (2014), estudos historiográficos são resultados
de uma atividade consciente metodológica e epistemologicamente da escrita
da história, que possibilita o cientista ter contato com conceitos de diferentes
autores do passado, analisar fatos e observar o fluxo e refluxo de ideias do qual
nós e nossos antecessores fazemos parte. No caso da pesquisa em questão,
analisar esse percurso historiográfico nos ajuda na compreensão a respeito
do modo como se organizam as propostas para o ensino de Português para
surdos no contexto brasileiro, como tais propostas influenciaram a produção
de materiais para surdos no século XX e qual a relação entre esse passado
científico e as perspectivas atuais sobre essa narrativa.

Palavras-chave: educação de surdos; português para surdos; surdez.

649
Comunicação Oral
Letramento(s)

Práticas de letramento acadêmico: imaginários


sobre a escrita de professores de Língua
Portuguesa em formação
Autoria: ALINE SUELEN SANTOS
Coautoria: GABRIELA MARIA DE OLIVEIRA CODINHOTO

No âmbito das discussões sobre a escrita como modo de enunciação, este


trabalho tem como objetivo analisar os imaginários sobre escrita numa atividade
desenvolvida, na plataforma Facebook, por universitários do primeiro período
do curso de Licenciatura em Letras/Língua Portuguesa, da Universidade Federal
do Acre, no ano de 2019. Para fundamentar a proposta, partiremos, de modo
geral, da categoria de enunciado, que alude ao caráter de réplica do dizer, a
partir do princípio da alternância dos sujeitos, da conclusibilidade e da relação
do enunciado com o enunciador e com os outros parceiros da enunciação
(BAKHTIN, 2011 [1979]). De modo específico, este trabalho se ancora nos estudos
sobre o modo heterogêneo de constituição da escrita (CORRÊA, 2004), que
elucidam o imaginário desse modo de enunciar em três eixos de representação,
a saber: o do escrevente e a representação da gênese da escrita, o do escrevente
e a representação do código escrito institucionalizado e o do escrevente e
a dialogia com o já falado/escrito. Dito de outra maneira, essa perspectiva
teórica esboça a negociação daquele que enuncia com a heterogeneidade
que lhe é constitutiva (CORRÊA, 2004). Eminentemente bibliográfico-analítico,
este estudo tem como percurso teórico-metodológico: i. seleção da atividade;
ii. descrição da atividade como enunciado; e iii. identificação do modo de
circulação dos escreventes sobre imaginário de escrita em práticas de letramento.
De maneira geral, o material analisado ressalta a representação do código escrito
institucionalizado, na medida em que evidencia uma determinada circulação
de como os escreventes, futuros professores de português, apreendem um
imaginário sobre escrita na academia. Os dados, desse modo, fornecem indícios
sobre os papéis ocupados pelos professores em formação no espaço acadêmico,
baseados fundamentalmente num imaginário sobre a escrita, com destaque
naquela que circula e é produzido na universidade, enquanto objeto formal

650
Comunicação Oral
Letramento(s)

e institucional. Tal imaginário se sobrepõe aos usos diversos da escrita em


situações cotidianas, por exemplo, escrever no Facebook.

Palavras-chave: Rita; prática de letramento; Facebook.

Letramento acadêmico: vivências e percepções de


estudantes de um programa de pós-graduação em
educação
Autoria: ANA LUZIA VIDEIRA PARISOTTO
Coautoria: JULIANA APARECIDA DE SOUZA GUINE BONFIM

Passamos por várias experiências de escrita ao longo de nossa vida escolar. Na


educação básica até a superior, deparamo-nos com solicitações e exigências
relacionadas à produção de textos de gêneros discursivos diversos. É pela escrita
de projetos, de memoriais etc. que, geralmente, os candidatos ingressam em
programas de pós-graduação. Todavia nem sempre a escrita de textos do gênero
acadêmico é vista como algo que o estudante domina. Nesse sentido, o objetivo
do presente trabalho, de abordagem qualitativa, é apresentar as respostas
emitidas por vinte alunos de um curso de pós-graduação em Educação (nível
de mestrado) de uma universidade pública sobre suas vivências e percepções
com relação à escrita acadêmica, propiciando reflexão sobre a escrita na pós-
graduação. Os dados foram obtidos por meio de questionário com seis questões
abertas. Para este artigo apresentamos somente as respostas relacionadas a
três questões: como foi a sua prática de escrita acadêmica antes de ingressar no
mestrado? Elenque as principais dificuldades no processo de planejamento e de
escrita de textos acadêmicos. Durante as disciplinas cursadas no Programa de
Pós-Graduação em Educação, houve discussões e atividades que colaboraram
para o aprimoramento da escrita de textos do gênero acadêmico? Em caso
afirmativo, exemplifique. Este trabalho está fundamentado pelos pressupostos dos
letramentos (STREET, 1995; FISCHER, 2010; FIAD, 2011). Os resultados apontam,
com relação à primeira questão, que a maioria dos alunos já possuía experiência
anterior com a escrita de trabalhos de conclusão de curso (TCC), relatórios
de pesquisa de Iniciação Científica e participação em grupos de pesquisa. No

651
Comunicação Oral
Letramento(s)

que diz respeito à questão 2, as dificuldades elencadas estão relacionadas à


organização e estrutura do texto acadêmico, às normas gramaticais e da ABNT,
bem como a aspectos de coerência e de coesão textuais. Quanto às respostas
emitidas para terceira questão, doze estudantes afirmam que as disciplinas, em
geral, contribuem para o aprimoramento da escrita acadêmica, citam algumas
disciplinas com contribuições mais explícitas e outras com contribuições mais
tangenciais. Em contrapartida, sete alunos destacaram que o aprimoramento
da escrita acadêmica não está no foco da maioria das disciplinas do PPGE,
pois as exigências são apresentadas como se todos dominassem os gêneros
acadêmicos.

Palavras-chave: letramento acadêmico; pós-graduação; experiências de escrita.

A escrita de crônicas para divulgação em rádio:


uma proposta de estímulo à produção textual
Autoria: ANTONIETA APARECIDA LIMA CIARA

A pesquisa desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Letras tem


como objeto a elaboração de uma sequência didática na pretensão de preencher
lacunas pedagógicas e teóricas no que diz respeito ao desenvolvimento das
competências discursivas de produção de texto na escola. Nesse contexto, o
público-alvo são alunos do 9º ano. Para tanto, a metodologia de pesquisa, partindo
da mobilização de conteúdos e práticas conformados em uma sequência de
didática, envolve uma “intervenção”, de caráter qualitativo. Dentre os vários
objetivos da pesquisa, cabe destacar o propósito em elaborar uma sequência
didática que contribua para o conhecimento da estrutura do gênero crônica e
suas finalidades, como também intensificar a leitura de textos como forma de
ampliação e desenvolvimento do pensamento crítico do aluno. Para isso, vamos
utilizar a semiótica na apresentação de temas para a produção da crônica, como
método para reflexão sobre as questões sociais nas quais o aluno está direta e
indiretamente inserido, possibilitando o rompimento da barreira existente entre
o aluno e a prática da produção textual, por meio da valorização das reflexões
feitas oralmente por eles, durante a leitura e análise dos textos. Esperamos

652
Comunicação Oral
Letramento(s)

contribuir para a preparação do aluno de forma que possa assumir o papel de


locutor, organizando sua fala com maior grau de clareza, para que a interação com
o público ouvinte seja bem-sucedida, uma vez que os textos serão divulgados
em um programa de rádio. Para embasar a análise de interação e dialogismo
partimos dos princípios de Bakhtin, bem como de Geraldi, Marcuschi e Rojo, no
que diz respeito à concepção de gênero e de multiletramentos. Em Ferreira e
Baltar encontro suporte em relação à concepção de gênero do discurso, crônicas
e conhecimentos sobre rádio. A pesquisa dialoga com a BNCC (Base Nacional
Comum Curricular), pois o ensino de Língua Portuguesa na BNCC está ancorado
na concepção sociointeracionista da linguagem. No que se refere à metodologia,
recorro ao modelo didático de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). A sequência
didática está ancorada em três unidades de ensino, a serem apresentadas em
diversos módulos: • Definição de crônica e suas funcionalidades • Estudo da
situação de produção e do plano global da crônica • Estudo dos mecanismos
enunciativos. Destaco a importância da terceira unidade, visto que compreender
e saber usar os mecanismos enunciativos em uma crônica é o que dará ao aluno
a certeza de sua autoria, da presença de sua voz e de seu projeto de dizer.

Palavras-chave: crônica; autoria; rádio.

Produção de textos na escola: uma experiência


com autobiografias no Ensino Fundamental II
Autoria: CARLA DO CARMO PINTO

O ensino de Língua Portuguesa na educação básica precisa de reformulações


e deve estar assentado no uso da língua como prática social, principalmente
no que diz respeito ao trabalho com leitura e produção de texto. Partindo desse
pressuposto, desenvolve-se uma pesquisa, no âmbito do Mestrado Profissional
em Letras-UFMG, que visa propor reflexões acerca da produção de textos de
cunho autobiográfico na escola, a partir da consideração das práticas escritas
das quais os alunos participam no mundo contemporâneo. A base teórica
concentra-se na concepção de língua como interação social, advinda dos
estudos de Bakhtin (2011), pressupostos de produção de textos apresentados

653
Comunicação Oral
Letramento(s)

por Geraldi (1997, 2012) e do conceito de autobiografia, sobretudo os estudos de


Bakhtin (2011) e Lejeune (2008). Ancorada em abordagem qualitativa, a pesquisa
tem como sujeitos alunos do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola
pública, mas, devido à pandemia de Covid-19, não será desenvolvida em sala de
aula. Volta-se, então, para a apresentação de um projeto de ensino cujo foco é
a produção de um texto autobiográfico. O projeto inicia-se com a proposta de
leituras de textos autobiográficos, os quais serão utilizados com o propósito
de compreender como os autores se (re)velam e de analisar as flexibilidades e
estabilidades do gênero autobiografia. Na sequência, o aluno deverá refletir sobre
sua história de vida, de maneira que possa gerar elementos para a produção
escrita. Seguindo princípios do processo de produção textual, não da redação
escolar, o interlocutor do texto autobiográfico será definido e minuciosamente
caracterizado, para que possam ser traçadas necessárias estratégias de dizer
para alcançar os propósitos de circulação do texto. Nesse sentido, também a
reescrita será utilizada no processo de produção, antecedida de atividades de
análise linguística, para potencializar a busca por modos diversos de dizer. Como
produto final, o projeto visa à publicação de um livro digital e à sua apresentação
à comunidade escolar. O intuito de todo o trabalho é contribuir para o avanço dos
estudos relacionados à produção de textos na escola, apresentando alternativas
para o ensino de língua portuguesa na atualidade.

Palavras-chave: ensino de língua portuguesa; produção de textos; autobiografias.

A avaliação das funções sociais dos textos nas


questões do ENEM de 2010 a 2019
Autoria: CLARICE DE MATOS OLIVEIRA

No cenário educacional, muitos pesquisadores defendem que as escolas têm


participação direta na preparação dos alunos para atuar nas diversas práticas
sociais (STREET, 2014; SOARES, 2004, 2014, 2017; KLEIMAN, 1995; ROJO, 2009),
possibilitando o uso da leitura e da escrita nas demandas da vida em sociedade
e nos mais variados contextos. Ao olharmos para as ações do governo brasileiro
no que tange ao ensino de Língua Portuguesa nas escolas, verificamos a

654
Comunicação Oral
Letramento(s)

preocupação com o desenvolvimento do desempenho dos estudantes nas


habilidades de leitura e escrita, o que tornou as avaliações externas um
instrumento responsável por aferir as habilidades alcançadas pelos alunos.
Neste trabalho, o foco será o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que é
uma avaliação externa de grande impacto nas políticas educacionais do Brasil e
que apresenta diversas finalidades, como avaliar o desempenho do estudante ao
fim da escolaridade básica, selecionar os estudantes que pretendem concorrer
a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni), além de ser usado
por algumas universidades como critério de seleção para o ingresso no ensino
superior, seja complementando ou substituindo o vestibular. Assim, este estudo
visa investigar como as questões de Língua Portuguesa do ENEM de 2010 a
2019 abordam/avaliam as funções sociais dos textos, mais especificamente,
analisaremos as questões referentes à habilidade de “relacionar informações
geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função
social desses sistemas”. O trabalho busca aporte teórico principalmente nos
estudos sobre letramento de Street (2014), Kleiman (1995), Rojo (2009) e Soares
(2004, 2014, 2017) e, para a discussão sobre a temática avaliação externa,
utilizaremos os estudos de Perrenoud (1999) e Luckesi (1995/2008). Utilizaremos
como metodologia a análise documental, adotando a concepção de documento
proposto por Appolinário (2009), e tais dados serão submetidos a um tratamento
de cunho qualitativo e interpretativo (DENZIN; LINCOLN, 2006). Selecionamos
uma amostra de 16 questões do ENEM de 2010 a 2019 referentes à habilidade
que será foco das análises deste estudo. Resultados indicam que o ENEM
busca expandir as práticas sociais para além das práticas de leitura e escrita
de textos de gêneros escolares (resumos, redações, narrativas, relatos, etc.),
o que possibilita aos estudantes o contato com outros textos que circulam na
sociedade.

Palavras-chave: avaliação externa; ENEM; práticas sociais.

655
Comunicação Oral
Letramento(s)

Letramento escolar no ensino remoto e sua faceta


sociofamiliar
Autoria: DIEGO SATYRO

Devido à pandemia de COVID-19, a noção de letramento escolar foi


redimensionada. Entendido como um conjunto de práticas sociotécnicas
relacionadas ao uso de artefatos escritos (SIGNORINI, 2007), o letramento
escolar passou a apresentar outra espacialidade. Embora a instituição escolar
continue funcionando como uma importante agência de letramento (KLEIMAN,
2007, 2008, 2014; KLEIMAN; MARQUES, 2019), no ensino remoto, as práticas de
letramento escolar interagem intensamente com práticas cotidianas do ambiente
familiar dos alunos. Adicionalmente, essa interação é permeada por relações
sociais desiguais (SAVIANI; GALVÃO, 2021), que aprofundam as diferenças
entre a oferta de ensino remoto público e privado. Diante desse cenário, o
objetivo dessa pesquisa é investigar como se dá essa nova espacialidade do
letramento escolar (SIGNORINI, 2007), mediada por tecnologias digitais. Parte-
se da asserção de que é pertinente conhecer as rotinas, as ações, os saberes e
as relações sociais e familiares que interferem no letramento escolar, durante
a pandemia. Para dar conta dessa investigação, observa-se, neste trabalho,
um microcontexto de práticas de letramento (KLEIMAN, 2008). O método de
pesquisa é qualitativo, organizado na forma de estudo de caso (ANDRÉ, 2008;
BORTONI-RICARDO, 2008; LEFFA, 2006; YIN, 2015). O caso em questão é o de
um aluno do 3º ano do Ensino Fundamental, Pedro, com oito anos de idade.
Pedro consegue participar de todas as atividades assíncronas e síncronas da
escola pública municipal onde estuda, em São Bernardo do Campo (SP). É uma
criança engajada, que responde satisfatoriamente às demandas da escola. Além
de Pedro, participam da pesquisa sua mãe, seu pai e sua avó. Os instrumentos
de coleta de dados são (i) vídeos gravados e enviados pela família do aluno ao
pesquisador, em que a criança narra suas experiências com a leitura e a escrita,
ligadas às atividades escolares e a seus próprios interesses; (ii) questionário para
a descrição dos eventos de letramento (MARTINS, 2008; SOARES, 2002; STREET,
1993, 2012, 2014) escolar, considerando o acesso da família aos recursos digitais;

656
Comunicação Oral
Letramento(s)

(iii) entrevistas com os familiares sobre suas experiências durante o ensino


remoto. Tais dados reforçam a complexidade (MORIN, 2005, 2011, 2015; SANTOS,
2008) do letramento escolar em ambiente remoto, um fenômeno que ultrapassa
as questões de acessibilidade – essenciais, certamente –, incidindo diretamente
na dinâmica familiar. Conclui-se que a inclusão e a exclusão promovidas pelo
ensino remoto manifestam o que chamo de faceta sociofamiliar do letramento
escolar no ensino remoto.

Palavras-chave: letramento escolar; anos iniciais do ensino fundamental.

Fake news e pandemia: o impacto da


desinformação e a urgência de novos letramentos
Autoria: ELAINE PEREIRA ANDREATTA

A necessidade de discutir novos letramentos, considerando as diversas


tecnologias com as quais nos colocamos em contato, passa também pela
necessidade de refletir sobre os novos comportamentos dos usuários/leitores/
autores diante da produção, reprodução, distribuição e controle dos inúmeros
textos em circulação nos espaços digitais, os quais ainda convivem com textos
impressos e seus suportes físicos. Na era da cultura digital (SANTAELLA, 2003),
os novos letramentos necessários para produzir significado passam a ser mais
exigentes, pois alteram essa relação de consumo, recepção e produção de
linguagens e discursos. A presente comunicação tem por objetivo analisar as
fake news (BUCCI, 2019; SANTAELLA, 2018; FARIAS FILHO, 2018) produzidas no
período da pandemia causada pela COVID-19 no Brasil, especificamente no ano
de 2020. Para tanto, avaliam-se as estratégias linguísticas e imagéticas de apelo
e convencimento, assim como o tratamento digital das fake news que refletem
uma narrativa transmídia (JENKINS, 2009), o que pressupõe a necessidade
de letramentos críticos capazes de interligar pessoas, objetos midiáticos e
estratégias de construção de significado (LEMKE, 2010). Desse modo, realizou-se
a seleção das fake news que circularam em diversas redes sociais com diferentes
configurações e impulsionaram a desinformação, recortando-se, para análise,
especialmente as imagens estáticas tratadas digitalmente na era fotográfica e

657
Comunicação Oral
Letramento(s)

pós-fotográfica (SANTAELLA; NÖTH, 2014; ROJO; MOURA, 2019) em fake news


produzidas sobre o número de mortes no Brasil, o que envolve um delicado
debate sobre caixões vazios e negacionismo em relação aos óbitos causados
pela doença. Compreende-se, ao final desta pesquisa que, se somos livres para
acessar o que queremos e nos relacionar pelas redes, as nossas práticas de
leitura precisam buscar a compreensão das multisseomises presentes nos
textos em circulação, assim como compreender as relações estabelecidas
nos meios de transmissão e produção de textos em contextos digitais. As fake
news, com seus formatos, estratégias, velocidade de circulação e potencial
engajamento, passam por uma estratégia transmídia de construção possibilitada
por uma arquitetura de plataformas. Assim, a narrativa e o ativismo transmídia
utilizados pelas fake news requisitam um sujeito com habilidades complexas
para gerir conteúdos, selecionar fontes, analisar dados, customizar suas redes,
produzir, compartilhar, interpretar e, especialmente, transformar informações
em conhecimento.

Palavras-chave: estratégia transmídia; novos letramentos; fake news.

Práticas de letramento pedagógico na licenciatura


em Letras Espanhol
Autoria: ELÍRIA QUARESMA FUGAZZA

Pretendo identificar, no presente trabalho, sentidos atribuídos por graduandos


do curso de Letras Espanhol da UFRJ a saberes teóricos e saberes docentes,
bem como discutir a relação entre processos de letramento pedagógico –
enquanto um conjunto de práticas sociais de escrita e de leitura desenvolvidas
no âmbito da formação profissional docente – e de construção de identidades
docentes no contexto das licenciaturas em línguas estrangeiras. Baseio-me no
referencial teórico da Análise do Discurso de linha francesa (ORLANDI, 2011,
2000, 2012; SERRANI, 1994, 2010, 1997; PÊCHEUX, 1999, 2014), dos Novos Estudos
do Letramento (LILLIS, 1998; STREET, 2014) e dos estudos sobre formação
docente (FREITAS, 2012; AMARAL, 2008; PIMENTA; LIMA, 2012). Partindo de uma
pesquisa-ação crítico-colaborativa (PIMENTA, 2005), analiso os processos de

658
Comunicação Oral
Letramento(s)

inscrição em práticas de letramento pedagógico e de construção de identidades


docentes no que tange à disciplina de Prática de Ensino de Espanhol, a qual
ministrei como professora substituta da Faculdade de Educação da UFRJ no
ano de 2016. O corpus consiste em sequências discursivas (COURTINE, 2016)
advindas de entrevistas semiestruturadas realizadas com quatro licenciandos
e de produções didático-pedagógicas – compreendendo planos de aula e
atividades didático-pedagógicas – elaboradas por esses sujeitos no âmbito do
estágio supervisionado em Espanhol. Busco compreender, nesse viés, de que
maneira os enunciados produzidos pelos licenciandos são constituídos por
contradições teórico-práticas e por movimentos de deslocamentos subjetivos.
Discuto, ainda, em que medida o sujeito, ao (se) dizer, traz à tona determinadas
concepções acerca do fazer docente e acerca das relações estabelecidas com
o sujeito-aluno e com a linguagem que constituem esse fazer, relações estas
que se pautam na possibilidade de produção de sentidos outros no trabalho
com línguas estrangeiras. Os gestos analíticos empreendidos indiciam que os
sujeitos participantes se inscrevem em práticas de letramento pedagógico,
instaurando, com isso, novas discursividades, à medida que projetam e assumem
uma identidade docente na materialidade discursiva.

Palavras-chave: letramento pedagógico; formação docente; análise do discurso.

Multiletramentos e letramento digital: desafios


para a formação docente
Autoria: FERNANDA ANDRADE DO NASCIMENTO ALVES

Considerando a crescente literatura sobre os novos e multiletramentos


(KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020), sua transposição para documentos
norteadores da educação, como as OCEM, a BNCC e a BNC Formação,
e os desenhos de futuro da educação pós-pandemia, proponho alguns
questionamentos relacionados à formação de professores de língua estrangeira/
adicional. Se as práticas sociais e a participação cidadã dependem hoje em
grande medida de habilidades digitais, como o letramento digital (DUDENEY;
HOCKLY; PEGRUM, 2016) atravessa a profissão docente a fim de caracterizar

659
Comunicação Oral
Letramento(s)

um rol de competências a serem desenvolvidas por esses profissionais? Como


é possível oportunizar, sobretudo nas atividades de estágio nas disciplinas
relativas a metodologias de ensino, uma formação que se valha de diferentes
recursos digitais e ao mesmo tempo contribua para que o futuro docente seja
capaz de desenhar experiências de aprendizagem mediadas pela tecnologia
e que contribuam para a interpretação e a construção de significados em
diferentes modalidades? Como é possível inserir uma "camada de letramento
digital" no programa de formação de professores visando à formação posterior
de alunos de todos os segmentos da educação básica? Como o trabalho com
textos multissemióticos digitais pode ser objeto de estudo e planejamento
docente? À luz de documentos oficiais como a BNCC e a BNC Formação, das
transformações impulsionadas pelos novos modelos de ensino desenvolvidos
em 2020, além das enormes brechas digitais e da desigualdade de recursos
expostas pela pandemia, este trabalho busca analisar o conteúdo programático
e as ementas de cursos de formação de professores de língua adicional a fim de:
(i) discutir o novo perfil de professor de língua; (ii) incorporar reflexões a respeito
de abordagens de ensino inovadoras à discussão corrente sobre métodos e
teorias sobre ensino de língua; (iii) articular os multiletramentos (ROJO, 2012)
ao desenho de atividades que visam desenvolver a competência comunicativa
dos estudantes, explorando diferentes modos semióticos; (iv) explorar conceitos
como autoria e protagonismo para discutir as formas de expressão escrita, oral e
multimeios; (v) propiciar o trabalho com o redesenho (remix) de ideias, artefatos
e abordagens, próprio da cultura digital; (vi) propor atividades de planejamento
didático que culminem no desenho de um webcurrículo. Com base nessa análise
e nessa reflexão, espero chegar a uma matriz de habilidades e competências
digitais atravessada pela pedagogia dos multiletramentos e que possa contribuir
para uma ampliação de nossa agenda de formação de professores de língua
(CELADA, 2007).

Palavras-chave: letramento digital; multiletramentos; formação de professores.

660
Comunicação Oral
Letramento(s)

Leitura literária no ensino superior


Autoria: JAQUELINE CARVALHO SILVA
Coautoria: KELLY CRISTIANE HENSCHEL POBBE DE CARVALHO

As práticas linguísticas constituem o indivíduo de forma que seria impossível


dissociar o ser da sua linguagem e, nesse contexto, a leitura e as práticas de
letramentos são determinantes na formação humana, especialmente a partir
da leitura do texto literário. Nesse sentido, e considerando o papel da literatura
como fruição, deleite e meio de abstração que este projeto de doutorado
se insere, o qual pretende propor um estudo acerca da recepção dos textos
literários no contexto de uma faculdade pública tecnológica. Este estudo
mostra-se pertinente devido ao fato de que a Faculdade Tecnológica não valoriza
o profissional de Letras, tampouco a literatura, repelindo qualquer forma de
expressão da arte. Tal fato nos parece uma incoerência, uma vez que leitura
literária possui papel fundamental na formação humana e as características,
que demandam vossa compreensão e advém do contato com essas leituras, são
inerentes para formar profissionais autônomos, críticos e reflexivos, preparados
para compreender o mundo e as relações que os cercam e capazes de exercer
efetivamente sua cidadania. Nesse ínterim, propomos neste estudo exploratório,
de cunho qualitativo, um breve levantamento, realizado a partir da análise da
Matriz Curricular da disciplina de Comunicação e Expressão de uma Faculdade
de Tecnologia, a fim de entender se a literatura não possui mesmo espaço nesse
contexto, ou se os motivos pelos quais ela não é incentivada são outros. Assim,
realizou-se a análise da ementa dos três cursos oferecidos pela instituição,
buscando encontrar, na descrição dos conteúdos/competências/habilidades,
possíveis brechas para inserção da leitura literária. Para tanto, apoiamo-nos
nos trabalhos, principalmente, de Antônio Cândido, a fim de refletir acerca da
relação literatura-sociedade e de Rildo Cosson sobre o letramento literário e
sua importância nos ambientes educacionais. Após a análise das ementas,
pudemos considerar que documentalmente a leitura literária possui espaço e é,
inclusive, ressaltada e que portanto há outros entraves para o seu não incentivo.

Palavras-chave: letramento literário; leitura; ensino superior tecnológico.

661
Comunicação Oral
Letramento(s)

“Como contestar um autor, se acabei de chegar


na universidade”: investigando as estratégias
de leitura e produção de textos apropriadas por
alunos ingressantes na universidade em um curso
de extensão universitária
Autoria: JOÃO BENEILSON MAIA GATINHO

Tendo como dispositivos teórico-metodológicos os conceitos de gêneros


textuais/discursivos do círculo bakitiniano, letramento(s) e transposição didática,
este trabalho analisa a implementação do projeto de extensão universitária
“Oficina de leitura e produção de gêneros da esfera acadêmica” oferecido aos
alunos ingressantes dos cursos de graduação de uma grande universidade
pública do estado do Amazonas. A ideia é, portanto, apresentar e discutir as
estratégias de formação utilizadas pelos ministrantes do curso (bolsistas e
professor orientador) para a ampliação da proficiência em leitura e produção de
textos/gêneros catalisadores da aprendizagem e as formas de apropriação pelos
alunos dessas estratégias na academia nesse nível da escolarização. Construindo
o processo de ensino/aprendizagem desses textos/gêneros na esfera acadêmica
como um objeto de investigação complexo, no sentido proposto por Morin
(2007), para quem um objeto é complexo quando constituído e atravessado por
diferentes elementos formando um espécie de rede, adotou-se para a pesquisa
uma abordagem metodológica inspirada nos estudos etnográficos (ERICKSON,
1993; ANDRÉ, 1998) de base interpretativista. O corpus de referência para
análise é constituído por 45 horas-aulas gravadas em vídeo, pelos materiais
didáticos selecionados para utilização ao longo do curso, além das produções
dos cursistas, em diferentes versões dos textos/gêneros por eles produzidas.
Utiliza-se os três estágios propostos pela Análise Textual Discursiva (ATD), no
sentido proposto por Bruno e Galiazzi (2006) como ferramenta para analisar os
dados. Os resultados iniciais da pesquisa apontam para i) uma diversificação
nas estratégias de didatização dos textos/gêneros focalizados no processo de
formação, dando ênfase, por exemplo, para as unidades linguístico-gramaticais
caracterizadoras dos textos/gêneros didatizados, em suas diferentes dimensões,

662
Comunicação Oral
Letramento(s)

sem atentar, muitas vezes, para a apreciação valorativa do locutor; ii) pelo menos,
três momentos distintos (redução, paráfrase e criação), mas inter-relacionados
na apropriação pelos alunos das estratégias de leitura e produção desses textos/
gêneros como catalisadores da aprendizagem. (Apoio: UEA, PID 2021-2022)

Palavras-chave: letramento acadêmico; gênero do discurso; estratégias de


leitura e produção.

Letramentos acadêmicos em artigos científicos


em Ciências Biológicas e em Linguística, Letras e
Artes: a questão da autocitação
Autoria: JULIANA RENATA PEREIRA DA COSTA
Coautoria: ANA PAULA GARCIA GAZARIAN

Esta proposta está inserida em projeto de pesquisa mais amplo, que visa
investigar letramentos em diferentes grandes áreas de conhecimento
(financiamento: CAPES-PrInt). Com base em pressupostos dos letramentos
acadêmicos, este trabalho tem como objetivo principal investigar padrões de
autocitação em artigos científicos das grandes áreas de Ciências Biológicas
e Linguística, Letras e Artes, publicados em língua inglesa em periódicos com
seletiva política editorial, com alto índice de citação, segundo indicadores
bibliométricos, nas plataformas Web of Science (WoS) e Scopus. A partir de
injunções que atravessam o fazer científico, a seguir comentadas, busca-se
investigar, de maneira particularizada: (i) padrões de autocitação nos artigos
científicos, considerando-se o modo como esses artigos se autorreferenciam no
processo de autocitação (BOCH; GROSSMANN, 2015); (ii) tempo transcorrido
entre a data de publicação do artigo citado e sua inserção em texto citante.
O conjunto do material é formado de 20 (vinte) artigos científicos, sendo 10 de
cada grande área selecionada. Os procedimentos metodológicos envolvem a
descrição e a avaliação comparativa entre esses conjuntos de textos, procurando
compreender modos de interação entre diferentes comunidades discursivas
(SALGADO; CLARES, 2017), a partir da constatação de que o processo de
autocitação corrobora a contagem de citações em indicadores bibliométricos.

663
Comunicação Oral
Letramento(s)

No modelo de letramentos acadêmicos proposto por Lea e Street (2014), uma


atenção particular é dispensada às relações de poder, autoridade, produção de
sentido e identidade, que são “implícitas no uso de prática de letramento em
quadros institucionais específicos” (LEA; STREET, 2014, p. 481). A autocitação
pode ser representativa dessas relações em práticas de letramento acadêmico-
científicas, uma vez que é a própria dinâmica da comunicação científica que
estimula seu uso, tanto em sentido de autopromoção quanto em uma tentativa
de se mostrar presente na área em que se publica. Hyland (2003) e Hyland e
Jiang (2018) destacam o fato de a autocitação variar em cada disciplina, o que
nos leva a buscar compreender como é o padrão em cada área de conhecimento.
Interessa ainda a este trabalho considerar a internacionalização da produção
de pesquisa (CORRÊA, 2020, p. 77), que corrobora ideia de discurso científico
universalizado, que seria publicado na forma de artigo científico em língua
inglesa, supostamente visível a todos, em nível global. Este trabalho procura,
assim, contribuir com os estudos de letramentos acadêmicos, na investigação
do processo de comunicação científica.

Palavras-chave: autocitação; letramentos acadêmicos; artigos científicos.

Recursos interativos e interacionais em relação à


comunidade científica no final do século XIX: Nina
Rodrigues e "A loucura epidêmica de Canudos"
Autoria: KAUÊ UEMATSU DE OLIVEIRA

Neste trabalho, proponho a investigação de recursos metadiscursivos no texto


“A loucura epidêmica de Canudos” (1897), do médico maranhense Raimundo
Nina Rodrigues (1862-1906). Partindo dos estudos de letramento acadêmico
(LEA; STREET, 2006), opero com a distinção proposta por Hyland entre recursos
interativos e interacionais. Elementos interativos dizem respeito à manipulação
de informação pelo autor para o estabelecimento de suas interpretações,
enquanto os elementos interacionais estão centrados nos participantes
da interação e nas normas da comunidade de conhecimento, como os que
demonstram atitude frente a argumentos e proposições (HYLAND, 2018). Assim,

664
Comunicação Oral
Letramento(s)

os recursos metadiscursivos, ao marcarem a posição do autor em relação a


outros dizeres e à comunidade a que pertence, conectam texto e contexto,
sendo produtivos para a investigação de padrões de interação e construção de
efeitos de verdade em textos acadêmicos. A escolha do corpus se justifica pelo
interesse em explorar a constituição do letramento acadêmico no Brasil em uma
perspectiva histórica. A obra de Raimundo Nina Rodrigues foi pioneira nas áreas
de medicina legal, psicologia social, criminologia e etnografia (CORREA, 2013;
SCHWARCZ, 1993), em um momento – transição do Império para a República
– em que as ciências no país se expandiam e se especializavam. O texto em
análise, “A loucura epidêmica de Canudos” (1897/2006), ao tomar como matéria
a investigação de um acontecimento histórico de grande repercussão, explicita
o esforço de expansão do olhar científico, em conjunção com um determinado
projeto de país em construção. Publicado originalmente na Revista Brasileira,
(1897) em um contexto de intenso determinismo racial, também demonstra a
iniciativa de se vincular às correntes cientificistas europeias e de promover sua
circulação no país. Resultados preliminares apontam para a hierarquização das
citações em relação à nacionalidade dos autores mobilizados, legando mais
espaço à citação de autores estrangeiros e maior deferência a suas opiniões. A
análise deste e de outros textos da obra de Rodrigues e do período em questão
podem contribuir para a compreensão da institucionalização das ciências no
Brasil, de suas continuidades e de suas rupturas.

Palavras-chave: letramento acadêmico; metadiscurso; comunidade científica.

Características da ortografia de fonemas fricativos


no ensino fundamental
Autoria: LARISSA APARECIDA PASCHOAL

No âmbito das investigações sobre a relação entre aspectos fonético-


fonológicos e aspectos ortográficos na escrita infantil, este trabalho vem
sendo desenvolvido com os seguintes objetivos: (1) caracterizar o desempenho
ortográfico de crianças na escrita de fonemas fricativos do Português Brasileiro
(PB); (2) verificar em que medida esse desempenho seria influenciado pelas
variáveis posição silábica e ano escolar; e (3) caracterizar a tipologia dos erros

665
Comunicação Oral
Letramento(s)

encontrados. Para tanto, está sendo utilizado um conjunto de produções textuais


de crianças do 1º ao 5º anos do Ensino Fundamental I, retiradas de um banco
de dados. A análise está tendo, como unidade teórica e de análise, a sílaba,
vista como uma estrutura não-linear de constituintes, conforme proposta por
Selkirk (1982). Foi feito um levantamento de todas as ocorrências de grafemas
que remetiam a fonemas fricativos do PB nas diferentes posições silábicas
em que podem figurar: ataque simples, 1ª posição de ataque complexo, coda
simples e 2ª posição de coda complexa. Essas ocorrências foram classificadas
em acertos (registro dos grafemas segundo a ortografia convencional) e
erros (substituições não convencionais e omissões de grafemas). Os erros
foram classificados em omissões e substituições. Estas últimas foram, ainda,
classificadas em: (a) substituições ortográficas não-fonológicas – quando
envolvidos aspectos relacionados à convenção ortográfica, por exemplo, a
palavra “casal” grafada como “cazal”; (b) substituições ortográficas fonológicas –
quando presentes mudanças de valor fonológico do fonema alvo, por exemplo,
a palavra “vento” grafada como “fento”; (c) substituições ortográficas híbridas
– quando presentes mudanças do valor fonológico do fonema alvo, porém em
grafemas que, em determinados contextos fonológico-ortográficos, podem
representar esse mesmo fonema, por exemplo, a palavra “pessoa” grafada como
“pesoa”. Resultados parciais relativamente aos objetivos indicam: (1) percentual
largamente superior de acertos em relação ao de erros; (2) não influência da
posição silábica mas do ano escolar na configuração e diminuição dos erros;
(3) predomínio de substituições sobre omissões dentre os erros. De modo geral,
os dados analisados têm fornecido indícios de possíveis zonas de conflito que
podem influenciar o registro não convencional desses fonemas. O conhecimento
dessas zonas pode fornecer importantes subsídios teóricos e analíticos para o
trabalho pedagógico e clínico com aspectos fonético-fonológicos da ortografia
infantil.

Palavras-chave: escrita infantil; ortografia; fonemas fricativos.

666
Comunicação Oral
Letramento(s)

Autocitação em artigos científicos em Ciências


Humanas e Ciências Exatas
Autoria: LARISSA SOUZA DA SILVA
Coautoria: CARLA JEANNY FUSCA
E FABIANA CRISTINA KOMESU

Esta proposta está inserida em projeto de pesquisa mais amplo, que visa investigar
letramentos em diferentes grandes áreas de conhecimento (financiamento:
CAPES-PrInt). Com base em pressupostos advindos dos Novos Estudos de
Letramento, de maneira particularizada, dos estudos de letramentos acadêmicos,
este trabalho tem como objetivo principal investigar padrões de autocitação em
artigos de periódicos científicos com seletiva política editorial, de duas grandes
áreas do conhecimento, a saber: Ciências Humanas (subárea: Linguística) e
Ciências Exatas (subárea: Matemática). A hipótese de partida é a de que há
prevalência de outras áreas de conhecimento em relação às Ciências Humanas
e a de que o processo de autocitação corrobora a contagem de citações em
indicadores bibliométricos, com promoção de visibilidade nas comunidades
discursivas. Os objetivos específicos são: (i) estudar padrões de autocitação
(considerando-se a distinção entre citação e menção) nos artigos científicos
dessas duas diferentes grandes áreas de conhecimento, considerando-se o
modo como esses artigos se autorreferenciam no processo de autocitação
(seja por citação direta, evocação, reformulação); (ii) estudar as funções da
autocitação nos artigos citantes dessas duas diferentes grandes áreas de
conhecimento, considerando suas atuações na construção da dimensão
argumentativa do discurso científico. Assume pressupostos dos estudos de
Letramentos Acadêmicos (BOCH; GROSSMANN, 2002, 2015; LILLIS; SCOTT,
2007; LEA; STREET, 2014), na investigação entre o processo de produção textual
acadêmico-científica e relações de poder e autoridade, tais como as derivadas de
indicadores bibliométricos que promovem, em bases de dados, a identificação e
o reconhecimento de determinados autores, segundo uma quantificação, com
consequente visibilidade nessas bases. Apoia-se também em Hyland (2003)
que, em seu trabalho, concebe a autocitação, de um ponto de vista linguístico,
como forma retórica de manter reputação acadêmica, segundo funcionamento

667
Comunicação Oral
Letramento(s)

dependente do campo disciplinar. O conjunto do material é formado de 20 artigos


científicos (10 de cada grande área) que apresentam alto índice de citação e
foram coletados nas bases de dados Web of Science (WoS) e SciELO, no período
de 2015 a 2019, com publicação em língua portuguesa. Tenciona-se analisar
de maneira comparativa os procedimentos de autocitação nessas diferentes
grandes áreas, buscando compreender modos de interação entre comunidades
discursivas distintas. Espera-se que os resultados possam contribuir para a
reflexão sobre o processo de comunicação científica, levando-se em conta
um funcionamento linguístico-discursivo que “atravessa” as práticas letradas
científicas.

Palavras-chave: letramentos acadêmicos; autocitação; artigo científico.

Letramento acadêmico como prática social: a


leitura e a escrita na formação de estudantes do
curso de Linguística
Autoria: LETÍCIA SILVEIRA

O campo de pesquisa sobre os estudos dos letramentos acadêmicos encontra-


se em um notório crescimento devido, principalmente, à massificação do ensino
superior, em que estudantes manifestam inúmeras dificuldades ao lerem e
escreverem os gêneros provenientes desse contexto. Com isso, nos deparamos
com a problemática do discurso sobre o desprovimento do letramento de
alunos introduzidos no ensino superior, questão essa que suscita a produção
deste trabalho. Logo, o objetivo da pesquisa apresentada nesta comunicação
é investigar de que modo estudantes universitários encaram as modalidades
dos textos acadêmicos e quais são suas concepções sobre o fazer científico,
buscando desconstruir o discurso do déficit de letramento ao comprovar a
natureza sociocultural das práticas letradas. Para tanto, examinam-se registros
de diários de campo e questionários que integram um banco de dados relativos
a uma investigação mais ampla, desenvolvida a partir de uma abordagem
etnográfica. O trabalho é resultado de uma pesquisa realizada no terceiro ano do
curso de Linguística de uma universidade pública, no qual o foco da investigação
baseou-se no estudo das práticas de letramento de 30 estudantes matriculados

668
Comunicação Oral
Letramento(s)

em uma disciplina em que foram desenvolvidos projetos de trabalho de conclusão


de curso. Assim, levando em conta que os dados de pesquisa são extraídos de um
contexto social característico, parti do estudo de letramento como prática social
(KLEIMAN, 2001; BARTON, 2007; STREET, 2003, 2010; LEA, 2001; LILLIS, 2001; FIAD,
2013) apoiado aos estudos dos aspectos enunciativos-discursivos, visto que
qualquer significado carregado na escrita e na leitura depende absolutamente
de condições específicas para ser produzido. Os resultados parciais apontam
para uma negação dos estudantes em relação às práticas de leitura, devido às
suas terminologias e à sua obrigatoriedade por conta do caráter avaliativo das
atividades, o que para eles prejudicam, consequentemente, as tarefas de escrita
na universidade. Por outro lado, os trabalhos em grupo demonstraram que ao
serem envolvidos em práticas de letramento, recorrendo-se principalmente do
diálogo, da participação e da negociação de decisões, suas performances nas
tarefas de leitura e escrita foram concluídas com maior ausência de dificuldades
e dúvidas, fatos que excluem o discurso do déficit da escrita por parte dos
alunos e evidencia o aspecto sociocultural das práticas letradas. (Apoio: CAPES
- Processo 88882.426747/2019-01)

Palavras-chave: letramento acadêmico; formação universitária; discurso


acadêmico.

Alfabetização e letramento de surdos: mapeamento


das contribuições de pesquisas
Autoria: MARCELA GOMES BARBOSA
Coautoria: WANILDA MARIA ALVES CAVALCANTI
E WILMA PASTOR DE ANDRADE SOUSA

A educação de surdos é um tema que suscita muitas discussões e debates,


em especial quando se refere à abordagem bilíngue. Acreditamos que esse
trabalho reveste-se de significativa importância pela possibilidade, de refletir,
acerca da adoção do bilinguismo, opção legitimada no Brasil para a prática dos
profissionais envolvidos através do trabalho com a pessoa surda. Tratamos de
uma pesquisa de cunho social e científico, indo ao encontro das necessidades
da minoria linguística surda. O presente artigo se propõe analisar contribuições

669
Comunicação Oral
Letramento(s)

de pesquisas realizadas, entre 2000 e 2019, acerca da alfabetização e do


letramento para surdos na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTD). Os objetivos específicos foram: realizar um levantamento de pesquisas
(teses e dissertação) sobre a temática; analisar as pesquisas com vistas a
identificar possíveis contribuições para educação de surdos na perspectiva
bilíngue (Libras e Língua Portuguesa escrita). Adotamos como referencial
teórico Cárnio, Couto, Lichtig, Fernandes, Quadros, Lacerda e Soares, dentre
outros. Optamos pela pesquisa qualitativa e os dados coletados totalizaram
vinte e sete (27) trabalhos. Para a análise dos dados, utilizamos o procedimento
metodológico da análise de conteúdo de Bardin (2011) que se compõe das fases:
pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial. Os resultados nos
mostraram poucas pesquisas, nessa base de dados, abordando a temática aqui
proposta, todavia, foram encontradas diversas contribuições, tais como: ofertar
o ensino-aprendizagem na abordagem bilíngue; priorizar atividades escolares
e experiências baseadas nos aspectos visuais, oferecer suporte teórico-
metodológico aos professores através da abordagem bilíngue em formação
continuada. Além do mais, constatamos que outras questões apareceram
como facilitadoras da escrita de surdos, e dentre elas destacamos: criar vínculo
afetivo aluno/professor; perceber a surdez como diferença linguística; expor a
criança precocemente à Libras e ao conhecimento de mundo; utilizar estratégias
didáticas em língua de sinais; utilizar gêneros textuais e recursos digitais, além
da mediação realizada por professor bilíngue.

Palavras-chave: educação bilíngue para surdos; formação de professores; leitura


e escrita.

Literacia familiar: equívocos do Programa Conta


Pra Mim
Autoria: MARIANE MENDES GOIS DOS SANTOS
Coautoria: FILOMENA ELAINE PAIVA ASSOLINI

Este trabalho tem como objetivo apresentar resultados de pesquisa que


buscou problematizar o conceito de literacia tal qual é abordado nos materiais
do Programa Conta Pra Mim. Para tanto, parte da discussão de que literacia,

670
Comunicação Oral
Letramento(s)

tradução de literacy, se refere às habilidades de ler e escrever, que garantiriam


o sucesso na escola, sendo os pais, ou os sujeitos que ocupam essa função, os
responsáveis pelas habilidades de ler e escrever de seus filhos. Esse é o slogan
do Programa lançado em 2019, através da Política Nacional de Alfabetização
(PNA) do MEC – Conta Pra Mim: Guia de Literacia Familiar, que convoca os pais,
ou aqueles que ocupam essa função, a desenvolverem o que entendem por
habilidades necessárias para a alfabetização. Para dar conta do objetivo proposto,
valemos-nos da Teoria Sócio-Histórica do Letramento – Abordagem Discursiva,
pois concordamos com Tfouni, para quem literacy pode ser compreendida a
partir das abordagens individualista-restritiva, tecnológica e cognitivista. De
acordo com a autora, práticas letradas, nessas abordagens, são somente práticas
escritas. Contrapondo-se a esse entendimento, a abordagem Sócio-histórica
do Letramento compreende que as práticas letradas não se limitam às práticas
escritas. Apoiamos-nos também na Análise de Discurso de Matriz Francesa
Pecheuxtiana (AD), pois é possível uma análise que se detém no funcionamento
do discurso, na produção dos sentidos e a língua em sua não transparência. O
corpus de análise desta investigação é o Guia de Literacia Familiar do Programa
Conta Pra Mim. Para este evento científico, selecionamos especificamente o
material Literacia Familiar em Dez Pontos. O resultado da pesquisa foi analisado
à luz da AD e da Teoria Sócio-Histórica do Letramento. Com isso, nossos gestos
interpretativos permitiram compreender alguns equívocos teóricos trazidos
nos materiais do Programa Conta Pra Mim, referente ao termo literacy, de
onde se originou literacia e que é o ponto de apoio para o desenvolvimento dos
materiais do Programa, que pressupõe a leitura e a escrita enquanto singelos
processos de aquisição de habilidades de codificação/decodificação. Codificar e
decodificar são as principais ações para a formação de um aluno que alcançaria
o sucesso escolar. Outro aspecto é que a abordagem de literacia, neste manual,
engloba o conceito de transparência e neutralidade da linguagem. Por fim, o
guia responsabiliza os pais pela aprendizagem da leitura, sem considerar sua
singularidade. A investigação é, pois, de relevância escolar e social e instiga à
reflexão acerca do letramento no processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: letramento; literacia; análise de discurso.

671
Comunicação Oral
Letramento(s)

A escrita constitutivamente heterogênea: uma


análise da junção em tradições discursivas
narrativa e argumentativa
Autoria: MATEUS DIAS SANTANA

O objetivo geral deste trabalho é alcançar indícios de relações linguístico-


discursivas entre mecanismos de junção (MJs) e as tradições discursivas
(TDs) narrativa e argumentativa no modo escrito de enunciar. Nessa direção,
desdobra-se nos seguintes objetivos específicos: (i) descrever e analisar os MJs,
em textos pertencentes às TDs narrativa e argumentativa, no modo escrito de
enunciação, a partir das relações semânticas e da interdependência existente
entre as porções componentes da oração complexa; (ii) buscar indícios da
relação entre o comportamento da junção e a heterogeneidade da escrita,
mediante traços da relação do oral/falado e letrado/escrito; e (iii) relacionar o
funcionamento dos MJs às características das TDs narrativa e argumentativa.
O corpus é composto por dois textos narrativos e dois argumentativos. A
fundamentação teórica respalda-se na heterogeneidade da escrita (CORRÊA,
2004), associada a uma concepção de texto dialógica a partir do conceito de
TDs (KABATEK, 2006) e no modelo funcionalista de junção (RAIBLE, 2001). Nesse
quadro teórico-metodológico, a descrição da escrita infantil é fundamentada
na consideração conjunta de aspectos linguísticos e discursivos, por meio do
entendimento dos MJs como rastro da circulação do sujeito pelo modo escrito
de enunciação (LOPES-DAMASIO, 2020). Os resultados alcançados, a partir de
uma análise qualitativo-quantitativa, mostram que, na análise do eixo tático
(parataxe e hipotaxe), a arquitetura paratática prevalece nas duas TDs (narrativa
e argumentativa). No eixo das relações semânticas, na TD narrativa, as relações
de tempo e causa foram as mais frequentes e mostraram que o sujeito circula
por textos que se apresentam como tradicionais, porém, na TD argumentativa,
as relações de adição e contraste foram as mais frequentes e estão associadas
a dois aspectos: (i) à aquisição dessa tradição de escrever, uma vez que a adição
é a forma semanticamente mais concreta de desenvolvimento do texto e (ii) à
circulação do sujeito pelo universo argumentativo, indiciada pelas relações de
contraste, que sinalizam o jogo de vozes presente numa visão de argumentação.

672
Comunicação Oral
Letramento(s)

No eixo da gênese da escrita e no do código institucionalizado, percebeu-se


que os sujeitos circulam pelos dois eixos quando escrevem, porém há indícios
observados com maior frequência, na TD narrativa, da fala/oralidade e, na TD
argumentativa, da circulação do sujeito pela escrita institucionalizada. No eixo
da dialogia, observou-se que o sujeito circula por textos que são tradicionais
para ele e suas escolhas, ao fazer mesclas de TDs, mostram marcas da dialogia
com o já falado/ouvido e escrito/lido na composição da sua escrita.

Palavras-chave: heterogeneidade da escrita; tradição discursiva; J

Letramentos e multiletramentos nas metodologias


ativas: práticas pedagógicas responsivas
Autoria: MEIRIELE DA SILVA RODRIGUES ROCHA
Coautoria: MARILURDES CRUZ BORGES

Há, nos dias atuais, discussões que divergem acerca da aprendizagem em


relação aos conceitos de alfabetização, de letramento e de multiletramento.
Questões comuns à esfera educacional são: Qual aprendizagem ocorre
primeiro? Como um interfere no desenvolvimento do outro? Qual é o papel
da escola na aquisição deles? Que metodologia de ensino-aprendizagem é
mais eficaz para sua apreensão? Há quem diga que para ser letrado basta ser
alfabetizado, todavia o conceito de letramento não demanda necessariamente
a alfabetização. Letramento se faz na interação, com práticas culturais e sociais.
A estratégia de ensino-aprendizagem, que permite ao aluno ser o protagonista
na construção do seu conhecimento, centra-se em metodologias ativas.
Ao utilizar essas metodologias, o professor assume o papel de facilitador e
mediador da aprendizagem, enquanto o educando se torna o sujeito ativo,
aquele que constrói o processo de sua aprendizagem. A fim de compreender e
esclarecer essas discussões, o presente artigo tem como proposta analisar os
letramentos e os multiletramentos envoltos nas metodologias ativas, por meio
de práticas pedagógicas responsivas. Com o desenvolvimento tecnológico, as
metodologias ativas são práticas fundamentais para a educação do século XXI,
por isso, estudá-las motivou nossa pesquisa. Nossa proposta é verificar como

673
Comunicação Oral
Letramento(s)

os métodos educativos contribuem para o desenvolvimento dos letramentos


e multiletramentos, de modo responsivo, em busca de uma aprendizagem que
desperte a criatividade e a curiosidade, instigue os educandos a serem sujeitos
críticos para uma sociedade sustentável, conforme definido pela Agenda
2030, ODS 4. O diálogo é fundamento para o processo educativo, e a escola
é um ambiente educacional onde há auxílio para desenvolvimento dos atos
comunicativos, dado que é um local de aprimoramento de interação social. Sendo
assim, para um desenvolvimento sustentável do ser cidadão no mundo, a escola
necessita proporcionar, junto aos professores, uma aprendizagem de interação,
onde o letramento adquirido pelo aluno, em sua experiência no mundo vivido,
seja considerado e, a partir dele, desenvolvido o processo de alfabetização, bem
como a apreensão de multiletramentos. Para desenvolver este estudo, partiremos
do conceito de alfabetização, letramento e multiletramento (BUZATTO, 2006;
GARCIA, 2016; ROJO, 2009, 2012; SOUZA, 2019) em diálogo com os conceitos de
dialogismo e ato responsivo, apresentados nos estudos bakhtinianos (BAKHTIN,
2010; FARACO, 2007; SOBRAL, 2009) e com as chamadas metodologias ativas
(FREIRE, 2004, 2016; BACICHI, 2018; NEVES, 2018). O estudo nos mostra que as
metodologias inovadoras promovem aprendizagem de autonomia, de criticidade,
necessária à formação do sujeito no século XXI.

Palavras-chave: letramento; metodologias ativas; responsividade.

Escolhas lexicais por alunos da educação básica:


as vozes estruturadas na sociedade
Autoria: RAIMUNDA PEREIRA DA SILVA BALIZA

Esta investigação é pautada pelo estudo das unidades lexicais e compreensão


das vozes sociais que atravessam o discurso, especialmente as unidades lexicais
discursivas usadas pelos alunos do 8º ano da Escola Estadual de Montalvânia
(Minas Gerais), eivadas de atitudes desrespeitosas. Objetiva-se considerar a
desconstrução de significados desrespeitosos e naturalizados no discurso
desses alunos, com vistas a construir uma relação de respeito mútuo entre
os pares. A investigação ancora-se no estudo do léxico selecionado, que
expressa crenças que, por sua vez, geram atitudes negativas, culminando em

674
Comunicação Oral
Letramento(s)

tratamentos desrespeitosos. Teoricamente fundamentou-se na perspectiva


dialógica interacionista de Bakhtin/Volóchinov (2018) e nas definições de (in)
tolerância na linguagem de Leite (2012), entre outros. Definimos como proposta
metodológica para o desenvolvimento deste trabalho investigativo a pesquisa-
ação, com abordagem qualitativa. No que concerne aos resultados, examinando
as respostas ao questionário aplicado na fase diagnóstica, podemos observar
a ocorrência das práticas discriminatórias, em diversos aspectos, a saber:
discriminação racial e homofobia, aspecto fisiológico, discriminação pela
condição social, gordofobia, xenofobia e intolerância religiosa. Considerando
que, aos treze anos, idade média dos alunos participantes desta pesquisa, o
sujeito, geralmente, já tem consciência dos seus atos, concluímos que, embora
possam definir o contexto como de ofensa, as vozes que eles reverberam estão
naturalizadas, estruturadas, na sociedade, sendo essas as vozes evocadas
na família, nos círculos de amizades, na internet, na sociedade como um
todo. Por meio desses resultados, elaborou-se uma proposta de ensino com
o objetivo de promover a educação linguística dos alunos partícipes desta
pesquisa, de modo que se pudesse levar o aluno a conhecer criticamente, de
forma conceitual, contextualizada e com exemplos cotidianos das mídias, os
significados que criam massacres das minorias silenciadas, devido às relações
de poder experienciadas nos diversos âmbitos sociais, com a análise desses
usos, para a sua desconstrução. (O presente trabalho foi realizado com apoio
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil
(CAPES) – Código de Financiamento 001)

Palavras-chave: (des)respeito; discriminação; vozes sociais.

Percepções de professores universitários acerca


das práticas de leitura de seus estudantes
Autoria: ROSANA MARA KOERNER

Aqui se apresenta parte de uma pesquisa de pós-doutoramento em andamento,


na área temática dos estudos de letramento acadêmico. Adota o escopo
teórico dos Novos Estudos do Letramento (LEA; STREET, 1998, 2006), mais
especificamente, dos letramentos acadêmicos (LEA; STREET, 1998; LEA, 2004;

675
Comunicação Oral
Letramento(s)

FISCHER, 2012) e dos letramentos do professor (KLEIMAN, 2006; PEREIRA, 2005).


Objetiva analisar as percepções de professores universitários acerca das práticas
de leitura de seus estudantes. Os dados, obtidos por meio da aplicação de um
questionário on-line, respondido por 40 professores que atuam nas licenciaturas
de IES catarinenses, foram analisados a partir de abordagens socioculturais
relativas aos letramentos. As percepções dos professores acerca das práticas
de leitura de seus estudantes apontam para a ideia do déficit (LEA; STREET,
2006): para 65,9% dos professores, há desafios no que se refere à compreensão
dos textos indicados; 53,7% indicaram a leitura superficial, decorrente da falta
de tempo dos estudantes; e 34,1% apontaram a ausência de conhecimento
prévio para dar suporte a essa compreensão ou há pouca familiaridade com a
escrita acadêmica, como indicado por 29,3% dos professores. Sobre as leituras
solicitadas para o desenvolvimento das aulas, sobressaíram capítulos ou livros
(97%), artigos acadêmicos (95%), legislação (48%) e TCC/TCC/Monografias (36%).
São gêneros predominantes da esfera acadêmica, com os quais dificilmente os
estudantes teriam contato antes do início da graduação. Nesse contexto podem
se instalar os conflitos entre o que professores universitários esperam de seus
estudantes e aquilo que esses são capazes de compreender considerando
todas as suas experiências anteriores com a leitura. Cabe o questionamento:
se o espaço da academia é, necessariamente, o lugar esperado para a aquisição
desta proficiência, por que então a percepção do déficit? Outra questão buscou
verificar as estratégias usadas pelos professores para ajudar na compreensão
das leituras exigidas: 65,9% promovem discussões envolvendo a turma; 34,1%
fornecem roteiros de leitura e outros 34,1% fazem uma introdução ao texto,
destacando alguns aspectos; 31,7% promovem discussões, mas em pequenos
grupos; e 17,1% indicam leituras complementares. A atividade dialógica da
linguagem (BAKHTIN, 2003) parece ser percebida como apoio para a construção
e reconstrução dos sentidos a partir das leituras indicadas, daí sobressaírem
as discussões. Por outro lado, o professor se vê na condição explícita de agente
de letramento (KLEIMAN, 2006) ao propor um roteiro ou destacar os aspectos
a serem observados, ainda que isto resulte em um dado viés de leitura, aquele
que atenderá a seus propósitos pedagógicos.

Palavras-chave: letramento acadêmico; professores universitários; práticas de


leitura.

676
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

Os principais processos de criação de


neologismos após um ano de pandemia
Autoria: ANA MARIA RIBEIRO DE JESUS

Os neologismos são criados para refletir aquilo que a comunidade linguística


enxerga como os novos recortes da realidade e, nesse sentido, são estabelecidos
enquanto resultados de um processo de categorização inerente às mudanças
na estrutura social e na cultura. Tendo em vista essa perspectiva, o objetivo
do presente trabalho é expor e analisar os principais processos de formação
dos neologismos relacionados ao atual contexto de um ano pós-pandemia de
Covid-19 e criados no âmbito da cultura digital. Após a escolha do subconjunto
linguístico a ser analisado, os passos metodológicos envolveram (i) a coleta do
corpus textual que contém os candidatos a neologismos, composto por textos
jornalísticos e posts de redes sociais; (ii) o contraste desse corpus com outro
maior, o corpus de exclusão, que contém os itens lexicais já estabilizados na
língua; (iii) a detecção dos neologismos e sua validação a partir de critérios
preestabelecidos; e (iv) a análise e descrição tipológica dos termos validados. O
quadro teórico do trabalho segue, principalmente, as perspectivas de Alves (2000),
Léturgie (2011), Cabré (2016), Pruvost e Sablayrolles (2003), e Sablayrolles (2015).
Dentre os vários processos de formação observados, o cruzamento vocabular –
conhecido em alguns estudos francófonos como “amalgamation lexicale” – tem
se mostrado o mais proeminente. Trata-se de um tipo de redução em que dois
itens lexicais interagem para formar um novo, de modo que um perde sua parte
final e o outro perde sua parte inicial. Como resultados parciais, observou-se que
alguns termos, como ‘quarentena-ioiô’, ‘vacinômetro’ e ‘infodemia’ foram criados
e difundidos por veículos de comunicação institucionalizados, enquanto outros
foram criados pelo público geral na esfera da comunicação digital e difundidos
em redes sociais. Esses últimos constituem, em sua maioria, termos de cunho
eminentemente humorístico. Exemplos dessas criações são ‘carentena’, que
designa pessoas carentes por estarem em isolamento social, ‘confinastê’, que
une a expressão hindu “namastê” a “confinamento”, e ‘covidiota’, usado na
conceituação de pessoas que infringem as regras de isolamento social.

Palavras-chave: neologia; processos de formação de palavras; Covid-19.

677
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

Neologismos semânticos em textos de Youtubers:


uma análise sob a perspectiva pedagógica
Autoria: ARIANE CAVALCANTI AMORA

A dinamicidade da língua permite a constante criação de novas palavras no


português brasileiro, o que ocorre por meio de variados processos, os quais
se configuram como neologia formal, semântica e de empréstimo. Estes três
tipos de neologia lexical respondem por uma gama de neologismos produzidos
no português contemporâneo, dos quais pretendemos abordar os de ordem
semântica. Os neologismos semânticos são formações que surgem do acréscimo
de significado a uma base formal já existente na língua, ou seja, a transformação
semântica operada numa unidade léxica enseja a criação de um novo elemento:
o neologismo conceitual ou semântico. Esta proposta de trabalho, considerando
a importância de se trabalhar o léxico do português em sala de aula, tem por
objetivo analisar neologismos semânticos detectados em textos de youtubers,
especialmente livros de ampla divulgação e em circulação entre muitos jovens.
O youtuber, também conhecido como “personalidade do YouTube”, “celebridade
do YouTube” ou “criador de conteúdo do YouTube” é um tipo de celebridade e
cinegrafista da internet que ganhou popularidade no site de compartilhamento
de vídeos YouTube. É inegável a forte influência social que o discurso das
redes sociais exerce sobre os jovens em geral, e, especialmente o discurso dos
Youtubers, por ser extremamente atrativo e persuasivo, é caracterizado por
estratégias que objetivam influenciar o comportamento dos adolescentes. Desse
modo, tal discurso constitui um gênero textual que assimila e reproduz muito
facilmente inovações lexicais, tratando-se de um gênero que abarca diversos
temas sociais, portanto, vários campos lexicais. A metodologia de trabalho
seguiu o critério lexicográfico para a identificação dos neologismos, a partir de
um corpus de exclusão, composto pelos seguintes dicionários escolares: Aulete
Digital – Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa (2020); Dicionário
Houaiss da língua Portuguesa (2009) e Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
(2010). Com tal metodologia, a unidade léxica é considerada um neologismo se
não estiver registrada em algum dos dicionários utilizados. A fundamentação
teórica, no âmbito da lexicologia, está apoiada Alves (1990) e em Ferraz (2020),

678
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

na conceituação e delimitação da unidade lexical neológica; e em Ferraz (2008),


na análise do corpus sob o enfoque do desenvolvimento da competência
lexical, e também em Hoey (2005) quanto à aplicação da teoria Lexical Priming.
Assim, este trabalho observa e descreve os neologismos semânticos, além de
demonstrar a produtividade destes como uma forma de ampliação lexical.

Palavras-chave: neologia; neologismo semântico; youtubers.

Um estudo sobre competência lexical pela


perspectiva das pesquisas brasileiras
Autoria: CASSIANO BUTTI
Coautoria: LÚCIA HELENA FERREIRA LOPES
E ADRIANA MENEZES FELISBINO

Esta comunicação, circunscrita aos estudos lexicais e fundamentada nos


princípios lexicológicos (MORTUREUX, 2004; MIGUEL, 2009), apresenta
resultados de um levantamento de natureza teórico-metodológica sobre o tema
"competência lexical", registrado em 68 dissertações e teses realizadas em
programas brasileiros de pós-graduação. Os dados analisados foram aqueles
inseridos no Catálogo de Teses da plataforma digital CAPES, no período que
compreende os anos de 1990 a 2020 e delimitados às investigações que, de
forma explícita, relacionavam-se à "competência lexical" ou à "competência
léxica". Os resultados obtidos não somente desvelaram um panorama sobre as
instituições brasileiras de Ensino Superior cujos pesquisadores desenvolvem
estudos sobre essa temática, mas também indicaram que essas pesquisas estão
atreladas, em sua grande maioria, ao uso de dicionários, às atividades propostas
em livros didáticos, ao ensino de línguas estrangeiras (com predominância dos
estudos voltados para a língua inglesa) e, em menor foco, às atividades de leitura
em diferentes gêneros (dentre os quais blog, Facebook, textos publicitários,
discurso jornalístico, textos humorísticos) e à aquisição da linguagem e/ou
patologias da linguagem. A pesquisa demonstrou, também, haver uma forte
preocupação no estabelecimento de relações entre a competência lexical
e a) a organização morfolexical (nela implicados os processos de formação

679
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

de palavras e as formações lexicais neológicas); b) as organizações léxico-


semânticas, compreendendo estudos sobre a formação de campos lexicais,
campos semânticos e processos de construção de sentidos; c) o tratamento
do vocabulário especializado, nos domínios discursivos comuns às unidades
curriculares da Educação Básica; d) a fraseologia, nela pressuposto o tratamento
a ser dado às expressões idiomáticas, aos provérbios e a outras unidades
complexas; e) a aquisição da linguagem. Da análise desses dados iniciais,
acrescidos a outros que ainda estão em estudo, resultará a elaboração de
propostas didáticas, voltadas para o ensino-aprendizagem de língua portuguesa,
com ênfase no desenvolvimento da competência lexical numa perspectiva
textual-discursiva.

Palavras-chave: competência lexical; ensino; língua portuguesa.

Marcas de uso diastráticas nos dicionários do PNLD:


tabuísmo e chulismo
Autoria: FÁBIO HENRIQUE DE CARVALHO BERTONHA
Coautoria: CLAUDIA ZAVAGLIA

O caráter pedagógico inerente aos dicionários escolares é um fator que os


diferencia de outras obras dicionarísticas. Desse modo, a contextualização
existente nos verbetes das entradas tende a ser bastante producente para seus
consulentes, uma vez que põe em evidência o uso dessas palavras-entrada. E
é por meio da inserção de marcas de uso na microestrutura de um dicionário
que o emprego de seus lemas será posto em relevo concernente ao chulismo e
tabuísmo, por exemplo. À vista disso, o presente trabalho se concentra em uma
perspectiva analítico-reflexiva sobre obras escolares inseridas no Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD), mais precisamente na ramificação intitulada
“PNLD 2012: Dicionários”, subdividida em quatro grupos de dicionários voltados
ao Ensino Fundamental e Médio. Desse agrupamento, interessa-nos examinar as
marcas de uso em entradas consideradas tabu e chulas nos dicionários do Tipo
3 e 4, quais sejam: (i) Tipo 3 – Saraiva Jovem (2010) e Aurélio Júnior (FERREIRA,
2011); (ii) Tipo 4 – Novíssimo Aulete Lexicon (GEIGER, 2011) e Dicionário Houaiss

680
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

Conciso (VILLAR, 2011). Esses dicionários são adotados para o processo de


ensino e aprendizagem de estudantes que estejam matriculados do 6º ao 9º ano
do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. Baseando-nos em
Fajardo (1997), Strehler (1998), Garriga Escribano (2003), Welker (2004), Pontes
(2008, 2009), Zavaglia (2009) e Gutiérrez Cuadrado (2011), pretendemos analisar
as marcas de uso (HAUSMANN, 1977 apud WELKER, 2004) diastráticas (‘tabuísmo’
e ‘chulo’, respectivamente, abreviadas como Tabu. e chul.) existentes nesse
córpus, que estão distribuídas em 15 microestruturas das seguintes entradas:
‘bicha’, ‘boceta’, ‘borrar’, ‘bunda’, ‘cagar’, ‘cu’, ‘foder’, ‘pau’, ‘peru’, ‘rabo’, ‘saco’, ‘trepar’,
‘veado’, ‘xereca’ e ‘xoxota’. Verificamos a ocorrência da falta de uma padronização
metodológica quanto à escolha de uma rubrica em detrimento a outra, bem
como pedagógica, na introdução da marcação desses lemas, sendo que essa
não sistematização ainda gera controvérsias em relação aos significados de uma
mesma unidade lexicográfica nas diferentes obras consultadas. Pretendemos
destacar que diferentes rubricas são empregadas em uma mesma entrada a
depender do Tipo de dicionário e tencionamos sugerir algumas melhorias para
futuras inclusões de marcas de uso em dicionários desses tipos (Apoio: CAPES
– DS/CNPq – PD 2)

Palavras-chave: dicionários do PNLD; marcas de uso; tabuísmo e chulismo.

Marca de uso “vulgar” em dicionário bilíngue escolar


Autoria: FLAVIA SEREGATI

Neste trabalho, pretendemos investigar a marca de uso sociolinguística, de


origem diaevaluativa, a qual tem como objetivo demonstrar ao consulente a
restrição de uso em determinados contextos das lexias. Para compreender
melhor essas restrições, nosso foco, neste momento, encontra-se na marca
de uso “vulgar” utilizada no dicionário bilíngue escolar Michaelis (2008), que
indica as restrições e os contextos de uso das entradas marcadas, bem como
as implicações para a compreensão dos sentidos ali expressos. Esta pesquisa
se justifica devido à pertinência do uso do dicionário em nosso cotidiano, e por
entendermos que é preciso conhecer e questionar as marcações em uma obra
de modo a levar o usuário do dicionário a utilizar os sentidos ali expressos da

681
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

maneira mais satisfatória possível. Assim, é preciso compreender, primeiramente,


que as marcas de uso deveriam ser parte essencial da microestrutura das obras
lexicográficas, dado que as unidades lexicais registradas são heterogêneas
em vários aspectos e essas variações e mudanças podem ser expressas pelos
dicionários por meio da inserção de marcas de uso. Em consonância, Fajardo
(1996-1997) afirma que a marcação pode ser entendida como um recurso ou
procedimento utilizado nos dicionários pelos lexicógrafos para assinalar a
particularidade de uso de uma unidade lexical, de caráter não regular, e que
tem como objetivo distinguir determinados elementos léxicos. No entanto, a
variação e a diversidade das unidades lexicais, por vezes, não são percebidas
pelos consulentes, devido, justamente, à não inserção das marcas de uso, o
que pode causar dúvidas nos leitores e fazer com que usem algumas unidades
lexicais em contextos impróprios. A partir desses questionamentos, buscamos
fundamentação teórica nos campos da Metalexicografia e da Lexicografia
Pedagógica e na classificação das marcas de uso proposta por Hausmann
(1977), além de nos apoiarmos nas discussões de Fajardo (1996-1997). Por fim,
entendemos que, apesar das disparidades apresentadas, as marcas de uso são
imprescindíveis para que haja um melhor entendimento das unidades lexicais
e de seus contextos de uso, tanto para a recepção quanto para a produção.

Palavras-chave: lexicografia pedagógica; metalexicografia; marcas de uso.

A importância da ordenação dos membros


constituintes em compostos coordenativos S + S
neológicos do português brasileiro
Autoria: JOÃO HENRIQUE LARA GANANÇA

O presente trabalho tem como objetivo destacar a importância da ordenação


dos membros constituintes em compostos coordenativos S+S neológicos
no português brasileiro contemporâneo. Assume-se, como ponto de partida,
que, apesar de não dependentes entre si, já que, nos compostos de natureza
coordenativa, os elementos formadores não se subordinam entre si (SANDMANN,
1989, 1992), a ordenação desses mesmos constituintes é, no entanto, fator
determinante para a construção semântica de itens lexicais compostos por

682
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

coordenação. Em suma: nenhuma escolha lexical, nem mesmo a ordenação


desses itens na estrutura composta coordenativa é neutra, pois todas elas
escondem intenções, críticas, visões de mundo dos criadores da unidade lexical
neológica composta. Ao longo da análise, essa afirmativa ficará demonstrada
com exemplos neológicos reais, extraídos de extensos corpora textuais formados
por blogues jornalísticos publicados, entre 2014 e 2017, nas blogosferas de
importantes veículos da imprensa brasileira, como Folha de S. Paulo, revistas
Veja e IstoÉ e Portal UOL (Universo On-line). As unidades lexicais neológicas
compostas foram extraídas de modo semiautomático, por meio do software
Extrator de Neologismos, criado em parceria entre o Projeto TermNeo (FFLCH-
USP) e o Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional da USP de
São Carlos. Basicamente, o Extrator compara os textos a ele submetidos a
léxicos informatizados e fornece uma lista de candidatos a neologismos, com
itens lexicais que não constam de seu corpus eletrônico. O caráter neológico
das palavras fornecidas pelo Extrator foi atestado por três significativas
obras lexicográficas do português, que serviram como corpora de exclusão
(BOULANGER, 1979): Dicionário Houaiss eletrônico da língua portuguesa (2009),
Dicionário Aurélio da língua portuguesa (2010) e Moderno dicionário da língua
portuguesa, conhecido como Michaelis e disponível para consulta gratuita e
irrestrita no endereço eletrônico https://michaelis.uol.com.br. Espera-se, com
este trabalho, contribuir para uma melhor compreensão dos aspectos formais
e, sobretudo, semânticos envolvendo as composições coordenativas de nossa
língua.

Palavras-chave: lexicologia; neologia; composição.

A definição em dicionários escolares: um olhar


para os adjetivos em dois dicionários do PNLD
Autoria: LUDYMILLA TESSARI DUTRA RODRIGUES
Coautoria: RENATO RODRIGUES PEREIRA

A definição lexicográfica costuma ser entendida como um dos elementos


constituintes da microestrutura que mais são consultados nos dicionários, junto,
é claro, da ortografia. Vários lexicógrafos, a exemplo de Bosque (1982), Porto

683
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

Dapena (2002), Seco (1978) e Lara (1989), são do posicionamento de que um dos
aspectos centrais dos estudos lexicográficos é, de forma muito importante, a
definição. Ela nos proporciona significativas reflexões teóricas, caracterizando-
se como um objeto de estudo metalexicográfico essencial nas pesquisas sobre
dicionários monolíngues. Nesse contexto, com esta comunicação, apresentamos
um trabalho, em andamento, que tem como objetivo principal verificar, numa
perspectiva descritiva, como se dá o registro de definições de adjetivos em
dois dicionários escolares de língua portuguesa. Para tanto, ao orientarmo-nos
por princípios teóricos e metodológicos da Lexicografia Pedagógica (LEXPED),
em especial, nas contribuições de autores como Biderman (1991), Almeida e
Gomes (2012), Krieger (2006), Pontes (2009), entre outros, estabelecemos os
seguintes objetivos específicos: i) analisar as definições de palavras lexicais que
se enquadram na categoria dos adjetivos, registradas em dois dicionários do
PNLD - Programa Nacional do Livro Didático, quais sejam: Dicionário Escolar
da academia brasileira de Letras - Bechara (2011) – tipo 3; e Dicionário da
Língua Portuguesa Evanildo Bechara - Bechara (2011) – tipo 4, considerando
os tipos de definição apresentados por Porto Dapena (2002); ii) comparar as
definições apresentadas nas duas obras mencionadas, com vistas a identificar
características que os diferenciam enquanto pertencentes às tipologias 3 e
4 do PNLD; iii) identificar possíveis parâmetros organizacionais que possam
ser utilizados e/ou adaptados em futuras propostas lexicográficas de natureza
pedagógica, a exemplo da que está em andamento no âmbito do projeto
Lexicografia Pedagógica: elaboração do dicionário monolíngue de formas
homônimas em espanhol para aprendizes brasileiros, sob a coordenação do Prof.
Dr. Renato Rodrigues-Pereira, na UFMS/CPTL. Para as análises, selecionamos
uma amostra de adjetivos, mais especificamente trinta e dois lemas, quais
sejam: magro, triste, vermelho, amarelo-ouro, luso-brasileiro, afro-americano,
bom, alegre, puro, azulado, articulado, tristonho, espanhol, goiano, brasileiro,
frágil, ruim, exemplar, estranho, belo, chorão, feliz, formoso, novo, inteligente,
esforçado, extremamente, lindíssimo, chatíssimo, tão, mais e menos. Ressaltamos,
outrossim, que os resultados e reflexões realizadas com este trabalho venham
a somar aos já existentes na área.

Palavras-chave: lexicografia pedagógica; definição; dicionários do PNLD.

684
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

Parâmetros para dicionário pedagógico bilíngue:


uma proposta fraseológica
Autoria: MIRIAN PEREIRA BISPO

O presente trabalho propõe uma pesquisa lexicográfica pedagógica bilíngue,


tendo como base os estudos em fraseologia a fim de propor parâmetros
lexicográficos para um e-dicionário bilíngue. O arcabouço teórico da pesquisa
recai, em especial, sobre a lexicografia e metalexicografia pedagógica bilíngue
(WELKER, 2004; BIDERMAN, 1987, 1996, 1998, 2001; ZACARIAS, 2011; NADIN;
ZAVAGLIA, 2018), bem como em estudos voltados para a fraseologia (TAGNIN,
1989, 2007; XATARA; RIVA; RIOS, 2001), tradução de unidades fraseológicas e
Linguística de Corpus (TAGNIN, 1988; BEBER SARDINHA, 2004). A pesquisa tem
como objetivo propor parâmetros lexicográficos para o tratamento fraseológico
em dicionários pedagógicos bilíngues, tendo como foco o e-dicionário ativo de
verbos Português-Inglês para estudantes brasileiros proposto pela pesquisadora
Zacarias (2011) em sua tese de doutorado. O dicionário em construção busca,
por meio de análise contrastiva dos pares de língua português e língua inglesa,
atender às necessidades dos aprendizes. A obra lexicográfica fundamentando-
se em estudos teóricos e em pesquisa empírica realizadas por Zacarias (2011),
cujo trabalho investigou, identificou e analisou os tipos de erros recorrentes
em relação ao uso dos verbos na produção escrita em língua inglesa de alunos
universitários dos anos iniciais da graduação, revelando, desse modo, defasagens
da aprendizagem vindas do ensino básico; pensando nisso, buscamos por meio
de nossa pesquisa contribuir com o ensino fundamental e médio. A pesquisadora
constatou também que a interferência da língua materna é uma das causas dos
erros nas produções dos alunos, no que diz respeito às estruturas verbais. Neste
sentido, espera-se, com esta pesquisa, contribuir para o constructo teórico e
interdisciplinar resultante da correlação das áreas de estudo, em especial, para
a lexicografia pedagógica bilíngue em língua portuguesa e propor parâmetro para
a inclusão de unidades fraseológicas no conteúdo lexicográfico, colaborando para
complementar a informação do verbete e ampliar as opções de busca do consulente,
oportunizando maior precisão ao processo de produção na língua de destino.

Palavras-chave: dicionário bilíngue; fraseologia; língua inglesa.

685
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

“Este foi outro aspecto que sofreu uma avaliação


positiva”: as construções conversas fazer-sofrer
Autoria: NATHALIA PERUSSI CALCIA

Evidenciando uma parte do estudo sobre a transformação sintática da Conversão


em português brasileiro, este trabalho aborda algumas considerações sobre os
predicados nominais construídos com o par de verbos ‘fazer-sofrer’. Denominada
por G. Gross (1989) como uma operação formal que estabelece uma relação de
equivalência parafrástica entre duas construções elementares, a Conversão
vem ganhando destaque em trabalhos da área de descrição linguística,
especificamente, por dois motivos: (i) é uma das propriedades transformacionais
mais produtivas, em relação ao número de ocorrências, que as construções
com verbo-suporte e nome predicativo podem apresentar; (ii) até então, haviam
poucos estudos que a tomavam como objeto principal de análise, sendo a
descrição elaborada para a língua francesa a mais completa delas. Atualmente,
a Conversão possui descrições em aberto para a língua romena, português
europeu e português brasileiro. Nessa relação, o nome predicativo se mantém
e a posição dos argumentos é alterada, sem ocasionar uma alteração de ordem
semântica, isto é, os papéis semânticos desses argumentos permanecem os
menos, apesar da mudança de posição sintática (Pedro fez uma injustiça com
Miguel / Miguel sofreu uma injustiça por parte de Pedro). Em construções que
são relacionadas pela Conversão, a sentença de orientação ativa e o próprio
verbo-suporte ativo são nomeados de ‘standards’, enquanto os equivalentes,
de ordem passiva, são nomeados de ‘conversos’. Além disso, a inversão dos
argumentos é uma das propriedades que faz as construções conversas
assemelharem-se às passivas verbais (Miguel foi injustiçado pelo Pedro). Com
base em uma metodologia de descrição sintático-semântica conhecida como
Léxico-Gramática (GROSS, 1975, 1981), nesta nova fase do estudo, o verbo ‘sofrer’
deixa de ser considerado como umas das variantes conversas da classe ‘fazer-
receber’ e passa a ser tomado como um verbo converso elementar, apresentando
suas próprias variantes estilísticas ou aspectuais (levar, ter, contar com, tomar
e possuir). Um dos motivos para a criação da nova classe se deu pelo fato de,
além do verbo ‘sofrer’ ser construído, tipicamente, com nomes predicativos

686
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

que possuem carga semântica negativa, tais como, ‘sofrer uma traição’ e ‘sofrer
um suborno’, também pode veicular uma informação positiva, quando está
inserido em construções do tipo ‘sofrer um resgate’, ‘sofrer um avanço’ e ‘sofrer
uma inovação’. Tais regularidades fazem dessa classificação mais abrangente e
completa (mostram, além de outros aspectos, que a polaridade da construção
influencia suas propriedades sintático-semânticas) e enriquecem a descrição
do léxico do português brasileiro.

Palavras-chave: léxico-gramática; construções conversas; verbo-suporte.

Registro lexicográfico de “coronavírus”:


contribuições de não linguistas
Autoria: RAFAEL PREARO LIMA

Ao discorrer sobre a pertinência da produção de saberes por não linguistas,


Paveau (2008) propõe categorizar linguistas e não linguistas em uma escala
decrescente, segundo seus conhecimentos e suas práticas. Partindo de
linguistas profissionais, fornecedores de descrições linguísticas, a autora
finaliza sua lista com falantes comuns: entre outros, autores desconhecidos
de mensagens em blogues e fóruns na/da Internet. Paveau (2008) explica que
ser um não linguista não implica um estado permanente, mas diz respeito à
atuação em um momento e lugar determinados pelos linguistas. Com base
nessas considerações, decidimos investigar a contribuição de não linguistas à
lexicografia. Especificamente, analisaremos como esses falantes se inserem em
uma área cuja produção de saberes era, até recentemente, direcionada apenas
a estudiosos e eruditos da língua: as definições em entradas de dicionários.
Para isso, selecionamos dois dicionários virtuais: o Dicionário inFormal, de
língua portuguesa, e o Urban Dictionary, de língua inglesa, distintos de outros
dicionários de língua por possuírem uma plataforma virtual com funcionamento
semelhante ao de redes sociais. Neles, quaisquer usuários podem contribuir
com suas próprias entradas, hierarquizadas de acordo com a popularidade, isto
é, com o número de curtidas (likes) e “descurtidas” (deslikes), diferentemente
das entradas em dicionários de língua, organizadas a partir dos usos mais
correntes. Fundamentados nos princípios teórico-metodológicos quanto à

687
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

organização de dicionários de língua conforme proposto por Biderman (2001),


Borba (2003) e Nunes (2006), compararemos como verbete “coronavírus” em
cada dicionário informal selecionado se assemelha e/ou se difere das entradas
encontradas em dicionários tradicionais. Os resultados da análise indicam que
as contribuições dos usuários de dicionários informais – os falantes comuns
classificados por Paveau (2008) como não linguistas – funcionam como uma
ruptura da normatividade na/da língua, comumente observada na elaboração
de dicionários tradicionais, por não se fundamentarem na valoração entre certo
e errado, mas por evidenciarem definições segundo posicionamentos tais quais
circulam entre os discursos na/da sociedade.

Palavras-chave: coronavírus; dicionários informais; linguística popular.

Um estudo sobre o tratamento lexicográfico dado


à homonímia em dicionários pedagógicos de
língua inglesa
Autoria: RAQUEL DE OLIVEIRA
Coautoria: RENATO RODRIGUES PEREIRA

Por depender sobremaneira do contexto no qual está inserida, sabemos que


a homonímia pode gerar ambiguidades difíceis de serem compreendidas por
falantes não nativos. Nesse contexto, ressaltamos que o tratamento lexicográfico
de unidades léxicas homônimas (ULH) é um procedimento que julgamos merecer
atenção especial, sobretudo no âmbito da Lexicografia Pedagógica (LEXPED).
Unidades léxicas que possuem valores semânticos distintos, mesma pronúncia
e mesma grafia, como book: livro ~ book: reservar; ou wave: onda ~ wave: acenar,
por exemplo; assim como lexias que possuem grafia e significados distintos,
mas com mesma pronúncia, como em where/wear/ware: onde/vestir/porcelana,
respectivamente; ou seas/sees/seize: mares/vê/agarrar, respectivamente; e
ainda as que possuem mesma grafia, mas significados e pronúncia diferentes,
como em bow/bow: arco/fazer reverência, respectivamente; ou live/live:
viver/ao vivo, respectivamente, são ULH que nem sempre costumam receber
tratamentos condizentes com suas características funcionais e pragmáticas

688
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

nos repertórios lexicográficos, como demonstramos neste trabalho. Com esta


comunicação, apresentamos o resultado da análise que realizamos sobre o
tratamento homonímico em quatro obras: o Longman Dicionário Escolar para
estudantes brasileiros (2008), um dicionário bilíngue impresso; o Longman (2021),
um dicionário monolíngue eletrônico; o Oxford Advanced Learner’s Dictionary
(2015), uma obra monolíngue impressa; e o Oxford Learner’s Dictinaries (2021), um
dicionário monolíngue eletrônico. Para tanto, ao orientarmo-nos por princípios
teóricos e metodológicos da LEXPED, estabelecemos os seguintes objetivos:
i) discorrer sobre a importância do registro de ULH em dicionários pedagógicos de
inglês, posto que ortografia, pronúncia e sentidos dessas unidades são aspectos
que costumam causar, por vezes, dúvidas ao aprendiz da língua; ii) verificar como
se dá o registro das ULH nos repertórios lexicográficos mencionados alhures.
Nessa perspectiva e nos moldes de Pereira (2018), direcionamo-nos também
pelas seguintes questões: i) há informações sobre o tratamento homonímico
na Front Matter dos respectivos dicionários?; ii) considerou-se a abordagem
diacrônica ou a sincrônica para o estabelecimento de ULH para a nomenclatura
das obras?; iii) há diferentes formas de tratamento homonímico nos repertórios
estudados?; iv) os diferentes tipos de homônimos são contemplados nos
dicionários analisados?; v) considerando o fato de serem obras lexicográficas de
tipologias distintas, quais são os aspectos diferenciadores dos três dicionários?
As análises nos proporcionaram dados que corroboram nossa inquietação em
relação a uma organização mais didática e completa do fenômeno homonímico
em dicionários pedagógicos, em face de seus valores semânticos em relação às
outras unidades da língua, assim como suas formas ortográficas e pronúncias
semelhantes.

Palavras-chave: lexicografia pedagógica; homonímia; dicionários de inglês.

“Trilogia cuiabana”: o telúrico e a expressividade


nas criações lexicais de Silva Freire
Autoria: ROSANA MARIA SANTANA COTRIM

As criações lexicais literárias, em regra, são concebidas como neologia estilística,


em função da expressividade e dos efeitos de sentido que provocam no discurso

689
Comunicação Oral
Lexicologia e lexicografia

em que se inserem e, não raro, nesse contexto, os procedimentos que as geram


igualmente participam desse processo de construção de sentido(s). O presente
trabalho, originando-se de projeto que perspectiva a recolha, atestação, análise
e compilação de unidades léxicas neológicas em obras literárias para a criação
do Banco de Criações Lexicais Literárias (o corpus BCLex), tem como objetivo
apresentar uma análise das criações lexicais encontradas em obras de poeta
mato-grossense, por meio da demonstração dos efeitos de sentido que elas
provocam, tanto em função do enunciado onde atuam quanto por meio dos
processos pelos quais são criadas. A análise foi realizada nos volumes 1 e 2
da Trilogia Cuiabana, de Silva Freire (1991), pelo aporte teórico-metodológico
dos Estudos do Léxico de Guilbert (1975), Barbosa (1981, 2001), Alves (2002)
e Gonçalves (2006, 2016) para recolha, classificação e análise das unidades
léxicas criadas, bem como da Estilística Léxica de Cressot (1976) e Martins
(2000, 2003) para a verificação dos efeitos de sentidos por elas alcançados. Para
atestação da neologicidade e abonação das unidades léxicas criadas, adotou-
se o critério lexicográfico, com a utilização de dicionários contemporâneos à
produção do autor até a atualidade: Ferreira (1971, 2010) e Houaiss (2009). Os
resultados da análise possibilitaram a observação e a constatação de que as
681 unidades léxicas, criadas por diferentes processos e atestadas nas obras
analisadas do referido autor, indicam uma recorrência do poeta às criações
lexicais como recurso discursivo e estilístico. Por outro lado, neste trabalho
são demonstrados alguns casos de criação de lexia textual e de cruzamento
vocabular, escolhidos aleatoriamente, os quais se consideram representativos
da cosmovisão telúrica do poeta para a designação de atos, fatos, pensamentos,
atitudes, virtudes, coisas, costumes, ações, qualidades, entre outros, que afloram
na ou da cuiabana, cujos efeitos de sentido contribuem sobremaneira para a
expressividade na poética silvafreiriana, via criação lexical.

Palavras-chave: criação lexical literária; neologia estilística; expressividade.

690
Comunicação Oral
Libras

A referenciação em narrativas contadas por surdos


fluentes em uma língua de sinais do sertão piauiense
Autoria: BRUNA RODRIGUES DA SILVA NERES

Várzea Queimada é o nome de um povoado com aproximadamente 900


habitantes localizado no município de Jaicós-Piauí. Esse povoado tem ganhado
destaque no cenário nacional e internacional devido ao artesanato produzido
na região. Outra particularidade dessa comunidade que é de interesse desta
pesquisa é a língua utilizada pela comunidade surda composta por 34 surdos
que ali vivem. O alto índice de surdos concentrados no povoado, o isolamento
geográfico da região foram os principais motivos para o surgimento de uma
língua sinalizada que existe há mais de 70 anos, denominada de cena. A cena
é uma língua de sinais genuinamente piauiense criada pelos surdos da Várzea
Queimada e difere da Língua Brasileira de Sinais utilizada pela comunidade
surda do Brasil. A partir do reconhecimento da riqueza imaterial e do produtivo
material linguístico da comunidade, surgiu o interesse por verificar como os
sinalizantes da cena apresentam e recuperam os referentes durante a contação
de histórias. Desse modo, a partir do cotejo entre histórias sinalizadas em libras,
pretendo investigar como acontece o processo de referenciação e a constituição
do significado em narrativas sinalizadas por surdos fluentes em cena; também
pretendo comparar as semelhanças e diferenças do processo de referenciação
nas narrativas sinalizadas em libras e cena e identificar as estratégias de
referenciação utilizadas por surdos sinalizantes da cena. Este trabalho se delineia
nos construtos da Linguística Cognitiva que evidencia a relevância da cognição
e da experiência corporal do falante com o desenvolvimento da linguagem. Esta
pesquisa se caracteriza como do tipo etnográfica, pois foi necessária minha
presença, in locu, para proceder a uma observação participante e para realizar
a coleta dos dados junto aos colaboradores fluentes em cena. A história eleita
para ser narrada pelos surdos foi a História da Pera produzida em 1970 por Chafe
e uma equipe de pesquisadores. A partir das gravações, os vídeos estão sendo
transcritos com o auxílio do Programa Elan (Eudico Language Annonator) com
enfoque na análise das ocorrências de introdução e retomada dos referentes,

691
Comunicação Oral
Libras

uso de sub-rogados e tokens para então comparar esses processos com as


histórias contadas em Libras.

Palavras-chave: cena; referenciação; histórias sinalizadas.

O espaço de sinalização na libras tátil


Autoria: ÉMILE ASSIS MIRANDA OLIVEIRA
Coautoria: ADRIANA STELLA C. LESSA-DE-OLIVEIRA

Este trabalho objetivou investigar o espaço de sinalização da Língua Brasileira de


Sinais na modalidade tátil, conhecida como Libras Tátil, sendo este um recorte
de um estudo mais amplo sobre essa modalidade de língua, a qual é utilizada
pela comunidade surdocega brasileira. A surdocegueira é uma condição humana
única gerada pela perda sensorial conjunta, parcial ou total, dos sentidos distais
da visão e da audição (ALMEIDA, 2015). O presente trabalho justifica-se devido à
grande carência de estudos acadêmicos nas línguas de sinais táteis, não apenas
no Brasil, mas no âmbito internacional (RAANES, 2006). Tendo em vista que a
língua de sinais é visual e que a perda deste sentido deva gerar especificidades
linguísticas quanto à decodificação dos sinais, questionamos se o uso do espaço
de sinalização na Libras Tátil se caracteriza ou não como o da Libras. Esta é uma
pesquisa qualitativa e de caráter descritivo. Utilizamos como embasamento
teórico os autores: Collins e Petronio (1998); Quadros e Karnopp (2004); Raanes
(2006, 2011); Prado (2014); Araújo (2016); Willoughby et al. (2020) e Canuto et
al. (2019). O espaço de sinalização é o espaço tridimensional onde os sinais
são realizados no momento da fala. Nesse espaço, o efeito de modalidade
reflete-se desde os níveis fonológicos ao semântico, quando comparado às
línguas orais (QUADROS, 2006). Para as pessoas surdocegas os sinais precisam
ser realizados ao alcance das suas mãos do surdocego, a fim de que sejam
tocados e codificados. Assim, verificamos, como resultado, que, por haver uma
necessidade maior de aproximação entre os interlocutores, há uma redução
do espaço de sinalização, no entanto, mesmo reduzido, o uso deste espaço
parece assemelhar-se com o seu uso na Libras. Tal constatação corrobora
resultados de estudos sobre as línguas de sinais táteis norueguesa (RAANES,
2011), americana (COLLINS e PETRONIO,1998) e australiana (WILLOUGHBY,

692
Comunicação Oral
Libras

et al., 2020). Concluímos que há uma necessidade de ampliação dos estudos


linguísticos sobre a Libras Tátil para elucidar os efeitos desta modalidade sobre
o espaço de sinalização.

Palavras-chave: Libras Tátil; espaço de sinalização; Libras.

Sincronizações intra- e intercorporeais em uma


conversa sinalizada
Autoria: JOÃO PAULO DA SILVA
Coautoria: EVANI VIOTTI

O processo semiótico que se desenvolve nas práticas comunicativas entre


surdos envolve a articulação de muitos articuladores para além das mãos. Para
descrever esse fenômeno eminentemente multimodal e multidimensional,
tomamos como base a noção de ação co-operativa (GOODWIN, 2018), segundo
a qual as práticas interacionais são um fenômeno em que agentes, seus corpos,
elementos materiais etc. operam simultaneamente para criar um entendimento
situado. Nesta apresentação, exploraremos especificamente o papel da boca
em uma conversa em libras, a partir de dois pontos de vista: o de intra- e o de
intercorporealidade. A intracorporealidade diz respeito ao fino ajuste motor que
existe entre ações realizadas por diferentes partes do corpo; a intercorporealidade
refere-se ao ajuste entre ações realizadas por corpos de agentes diferentes. As
ações manuais e bucais de um agente intracorporealmente ajustadas favorecem
a manutenção de uma unificação perceptual entre mãos e face, o que torna
possível relacionar ações distintas, produzidas por diferentes partes do corpo,
posicionadas em regiões perceptuais diferentes no campo de visão. Ao mesmo
tempo, os múltiplos agentes de uma interação também ajustam as suas ações
intercorporealmente. As ações faciais, dentre elas as ações bucais, são um
dos meios pelos quais os interactantes reagem à fala do outro, durante uma
conversa, em situações em que não tomam o turno de fala. Em um dos exemplos
de intracorporealidade, a sinalizadora realiza configurações e movimentos de
boca ajustados ao movimento das mãos que podem vir a ser interpretados como
a articulação bucal da palavra ‘depende’ em português. Para isso, ela alinha as
fases dos gestos manual e bucal (preparação, golpe). Dentre os exemplos de

693
Comunicação Oral
Libras

intercorporealidade, está aquele em que a sinalizadora realiza a ação bucal de


abrir bem a boca em formato não arredondado, movendo a mandíbula para
baixo (esse movimento da parte interior da face é acompanhado do movimento
da parte superior, que resulta em levantamento das sobrancelhas). Essa ação
é realizada depois que o seu interlocutor soletra manualmente em português a
palavra ‘física’. Ela reage com essa ação bucal, demonstrando entendimento, o
que serve para o interlocutor como uma garantia de que não houve problema
na interação, apesar de estarem lidando com a compreensão de uma palavra
bastante específica de outra língua. Os dados são provenientes de uma conversa
do corpus do LLICC (Laboratório ‘Linguagem Interação, Cultura e Cognição’/
FFLCH-USP), transcrita no software ELAN com base no modelo de transcrição
proposto por McCleary, Viotti e Leite (2010).

Palavras-chave: ação co-operativa; intracorporealidade; intercorporealidade.

Uma breve análise sobre o verbo de concordância


reversa ‘convidar’ em LSB
Autoria: KEYLA MARIA SANTANA DA SILVA
Coautoria: ALLINY DE MATOSFERRAZ ANDRADE
E BÁRBARA MARCELA REIS MARQUES DE VELASCO

Este trabalho está centrado na classe dos chamados verbos de concordância


reversa na Língua de Sinais Brasileira (LSB), conhecidos na literatura como
backward verbs ou verbos reversos. As línguas de sinais são línguas de modalidade
viso-espacial e têm o movimento como um dos parâmetros relevantes para a
estruturação lexical dos sinais e morfossintática das sentenças. Nosso objetivo
é analisar o parâmetro do movimento dos verbos reversos, a fim de explicar
a diferença morfossintática relacionada a esses verbos, que se opõem aos
demais verbos com concordância. Para a classe dos verbos com concordância, o
parâmetro do movimento está associado aos argumentos sintáticos, marcando
iconicamente o argumento sujeito (início do movimento) e o argumento objeto
(ponto final do movimento). Já para os verbos reversos, a literatura (STROBEL;
FERNANDES, 1998; QUADROS; KARNOPP, 2004; LOURENÇO; DUARTE,
2014, entre outros) afirma que a direção do movimento é invertida, ou seja,

694
Comunicação Oral
Libras

o ponto inicial do movimento marca o argumento objeto e o ponto final do


movimento marca o argumento sujeito. Partindo das considerações teóricas
de Huelva Unternbäumen e Naves (2016, 2017) sobre a relação entre gramática
e conceitualização, desenvolveremos a hipótese de que essa mudança de
direcionalidade do parâmetro do movimento nos verbos de concordância reversa
não se justifica, devendo, antes, ser analisada como a expressão morfossintática
do argumento deslocado (em lugar da expressão morfossintática das respectivas
funções gramaticais de sujeito e objeto). Essa análise assume como base a
experiência de mundo e a maneira como a realidade é percebida e apreendida
por meio de categorias (cf. LANGACKER, 1987), entre outros de base cognitivista).
Nossa proposta é a de que, enquanto no português as funções temáticas/
gramaticais são cognitivamente mais proeminentes para efeitos da marcação
de concordância morfossintática, na LSB o aspecto cognitivo mais proeminente
para a expressão morfossintática da concordância nos verbos é o argumento
deslocado. Essa diferença conceitual produz a diferença gramatical na direção
do movimento dos verbos reversos.

Palavras-chave: verbo de concordância reversa; língua de sinais brasileira;


parâmetro do movimento.

O surdo na escola: tecendo reflexões sobre a


inclusão com os fios da legislação
Autoria: LEORIC FERNANDES TEOTÔNIO
Coautoria: SHEILA COSTA DE FARIAS

A educação dos surdos dita inclusiva, ao ponto em que está adjetivada por este
princípio, revela que a inclusão tem sido um fenômeno visível nos discursos,
mas, na rotina escolar, uma ação fragilizada. A presente discussão busca
problematizar a legislação em vigor que orienta e assegura a educação do aluno
surdo em escola regular. Considerando a pesquisa documental e a análise
descritiva qualitativa, foram apresentadas questões referentes a concepções,
metas e realidades inerentes à educação de surdos. Para a análise documental,
foram selecionadas a Lei nº 13.146/2015 (BRASIL, 2015); Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência ou, também intitulada, Estatuto da Pessoa com

695
Comunicação Oral
Libras

Deficiência; a Lei nº 10.436/2002, Lei da Libras (BRASIL, 2002), associada ao seu


Decreto regulamentar nº 5.626/2005 (BRASIL, 2005); e a Lei nº 12.319/2010 (BRASIL,
2015), que reconhece a profissão de tradutor e intérprete de língua de sinais. As
considerações de Quadros (2003), Thoma e Klein (2010) suscitaram a reflexão
acerca das diferenças culturais e linguísticas da comunidade surda, apontando
esses elementos como basilares para a efetivação de uma política educacional
inclusiva, não pela aferição da existência de excluídos, mas para garantir a
igualdade de direitos e o acesso às políticas educacionais. Fundamentando-
se em Fernandes (2011), Silva e Vecchia (2017), Russo e Fiss (2018), estruturou-
se a discussão sobre a legislação apontada e seus impactos no cotidiano das
instituições de ensino regular, ditas inclusivas. O aporte teórico desses autores
fundamentou este estudo, possibilitando um olhar não linear sobre a presença
do aluno surdo na escola e as questões correlatas a esta realidade. Foi possível
perceber que a distância entre a institucionalização e a execução das práticas
inclusivas na educação de surdos continua a comprometer a aplicabilidade das
leis e, consequentemente, as ações escolares. Foram significativos os efeitos e
as contribuições das legislações apontadas nesta discussão, porém detectou-se
que a legislação, por si só, não atende aos princípios educacionais e linguísticos
necessários à educação de surdos. Inserir a comunidade surda, seus anseios e
sua perspectiva linguística como caminhos para a estruturação dessa prática
educativa é possibilitar uma atmosfera equânime com respeito à singularidade do
surdo. Logo, a educação de surdos não se materializa apenas com o discurso legal
ou com o intuito bondoso de incluir, mas são necessárias constantes reflexões
que considerem e envolvam os indivíduos ligados à escolarização dos surdos, a
fim de amenizar as notórias fragilidades na educação de surdos no país.

Palavras-chave: educação de surdos; inclusão; legislação.

Mapeamento dos aspectos prosódicos da libras


na sinalização dirigida a criança
Autoria: MARCELO MEIRA ALVES
Coautoria: MARIA DE FATIMA DE ALMEIDA BAIA

A presente pesquisa se compõe de uma análise da sinalização dirigida a


criança (Child-directed signing - CDSig.) na língua brasileira de sinais (Libras),

696
Comunicação Oral
Libras

a partir de um mapeamento dos aspectos prosódicos, com base em descrição


da Libras produzida por quatro nativos surdos e por um informante ouvinte
bilíngue (português-libras). Para entender o fenômeno da fala dirigida a criança,
nossa pesquisa se baseia nos estudos de línguas orais, tais como, Elliot (1982),
Ferreira (1990), Castarède (1991), Fernald (1989), Kuhl (1997), Cavalcanti (1999),
Ferreira (2003) e Baia, Pacheco e Ferreira (2019), nos quais se observa alterações
de fala, nos níveis sintáticos, discursivos, lexicais e prosódicos. Além disso,
no que diz respeito aos aspectos prosódicos inerentes a CDSig., apoiamos
nosso trabalho nos estudos de Holzrichter, Meier (2000) e Fuks (2019) sobre
as línguas israelense e hebraica de sinais, revelando que há modificações
fonéticas na sinalização dirigida a criança, tais como, deslocamento, repetições,
alongamento e ampliação dos sinais (HOLZRICHTER; MEIER, 2000; FUKS, 2019),
bem como a intensificação de formas icônicas para facilitar o mapeamento da
forma-sentido por seus bebês nos primeiros estágios de aquisição, conforme
aponta o estudo de Fuks (2019). A partir disso, assumimos a hipótese de que,
assim como as línguas orais, o fenômeno da fala dirigida a criança também é
recorrente na Libras, visto que se trata de uma língua natural humana e, como
tal, está estruturada sob os mesmos níveis linguísticos. Para verificação da
hipótese, um experimento de nomeação de figuras foi desenhado pelos autores
deste estudo. A lista de 51 palavras presentes no design do experimento foi
baseada em estudos anteriores sobre a fala dirigida à criança (FERGUSON,
1964; STOEL-GAMMON, 1976; CLARK, 2005; BAIA, 2010). Os resultados desta
pesquisa indicam ocorrência de modificações nos aspectos fonéticos do sinal,
por exemplo, modificação dos movimentos de braços e mãos, alteração de
configuração da mão, reconfiguração das expressões não manuais – como as
faciais superiores representados pelos movimentos de testa, sobrancelha e
olhos, e as expressões faciais inferiores, isto é, boca, bochecha e lábios, bem
como as corporais, tais como, inclinação (frontal, posterior e lateral) e balançar
de cabeça/tronco e movimentos de ombro, além da iconicidade. (Apoio: FAPESB
– Processo 072.4195.2020.0010174-4)

Palavras-chave: Child-directed signing; libras; prosódia.

697
Comunicação Oral
Libras

Relações gramaticais no espaço: verbos


direcionais da língua brasileira de sinais
Autoria: SARA OLIVEIRA PAZ

As línguas de sinais são línguas naturais de modalidade visual-espacial que se


diferenciam das línguas orais em diversos aspectos. No Brasil, tem-se a língua
brasileira de sinais (Libras) como primeira língua dos surdos. Através de lutas
em prol de reconhecimento, a Libras conquistou importantes vitórias, como
por exemplo, a lei 10.436 de 24 de abril de 2002, que entre outras providências, a
reconhece como meio legal de comunicação no país. Por possuir características
próprias que a tornam diferente das demais línguas orais, torna-se de suma
importância a realização de pesquisas nas áreas da sua gramática e afins.
Considerando essa questão, o presente estudo busca descrever as relações
sintáticas espaciais entre verbo, sujeito e objeto em diferentes contextos
frasais. Objetiva-se também tecer pontos de semelhança e de contraste em
relação aos aspectos da gramática, entre a língua brasileira de sinais e a língua
portuguesa do Brasil, possibilitando então um melhor aprofundamento das
particularidades de cada língua. Cabe ressaltar que neste estudo a língua
portuguesa não foi utilizada como um tipo de modelo padrão para a Libras.
A presente pesquisa analisou os seguintes verbos simples: comer, conhecer
e gostar, e posteriormente os verbos direcionais: ensinar, ajudar, perguntar e
entregar. Os verbos foram analisados em contextos do Português e depois da
Libras. Foram pontuados traços relevantes de igualdade e de diferença. Para a
realização deste trabalho, utilizou-se as contribuições de Quadros e Karnopp
(2004), Gesser (2009), Quadros (2019) e Pestana (2021). O estudo possibilitou
uma significativa compreensão das relações sintáticas dos verbos direcionais,
bem como a importância da prévia marcação espacial dos seus referentes
para seus usos em determinadas situações de comunicação. Além disso, foi
possível perceber diferenças consideráveis entre verbos simples e verbos de
concordância. Observou-se também que a língua brasileira de sinais tem suas
regras próprias, sendo uma língua diferente das demais.

Palavras-chave: libras; verbos direcionais; língua portuguesa.

698
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

"Entre cartas..." Com sua Comunidade: uma


abordagem de escrita e leitura em tempos digitais
Autoria: EDILAINE GONÇALVES FERREIRA DE TOLEDO

Por que jovens alunos de ensino médio demonstram resistência em escrever?


Como as tecnologias digitais podem ser aliadas no processo de ensino-
aprendizagem de nossos estudantes? Com base em Marcuschi (2001), Andrade
(2010), Rodrigues (2017), Usher (2014), Rojo e Barbosa (2015), Coscarelli (2016) e
Ribeiro (2018), ratifica-se que a prática da escrita, aliada ao estudo do gênero,
possibilita ao produtor do texto maior interação e construção de sentido, a
partir de seu contexto. Assim, o projeto de extensão “Entre Cartas… Com sua
Comunidade – Edição Digital” (Edital 21/2020-PJ-013 - Diretoria de Extensão e
Desenvolvimento Comunitário - DEDC), engendrado de um percurso de iniciação
científica (PIBIC- Jr. 2018-2019), com o principal objetivo de ampliar a fluência da
escrita e leitura nesse segmento, buscou dinamizar as atividades previstas no
formato de ensino remoto com produções colaborativas de cartas, interações
no correio eletrônico (e-mail), além da produção coletiva de cartões e marca-
páginas, utilizando tutoriais de ferramentas on-line acessíveis e gratuitas. Com
a suspensão das aulas presenciais, o projeto aconteceu e se organizou em um
espaço virtual de trocas de experiências, correspondências, sentimentos e
percepções, possibilitando novas e significativas maneiras de trabalhar escrita
e leitura com jovens de ensino médio e seu entorno escolar, sobretudo nesse
contexto de pandemia. A metodologia, pautada em revisão bibliográfica, estudo
do gênero, conhecimentos básicos sobre usos de recursos tecnológicos virtuais
e motivações locais e regionais, como as obras Cartas – Mário de Andrade e
Oneyda Alvarenga e O E-mail de Caminha, deu referência a uma interação digital
variada em seus sujeitos e discursos, além de registrar questões marcantes
sobre os usos de escrita em diferentes suportes, tornando o ambiente escolar
um pouco mais próximo dos estudantes, nessa nova rotina de confinamentos.
Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem transcorreu adequando-se às
situações emergentes, pois, por meio dos relatos e resultados dessa experiência,
que estão reunidos em uma coletânea digital, foi possível reconhecer que as
práticas de leitura e escrita puderam ser realizadas de forma significativa e

699
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

marcante, em cenário comum a todos, de isolamentos e distanciamentos


sociais, onde os participantes puderam, além de desenvolver seus repertórios
socioculturais, escrever de diversos lugares e realidades, registrando suas
perspectivas, emoções e opiniões em forma de cartas e outros gêneros similares,
tudo de modo digital.

Palavras-chave: gênero textual; escrita; tecnologias.

Novas práticas culturais na formação de


professores: a produção textual multimodal do
hipertexto na aprendizagem pelo [web]design
Autoria: HÉLIO DA GUIA ALVES JUNIOR

Com o advento da pandemia, foram observadas situações em que os docentes


foram desafiados pelas circunstâncias a dar continuidade a suas práticas
didáticas em ambientes exclusivamente digitais. Nesse contexto, muitas foram
as adversidades que frustraram as expectativas desses profissionais, das
quais a dificuldade de performar no âmbito digital mostrou-se como um dos
primeiros obstáculos a serem superados. Entretanto, no Ensino Superior, para
os docentes já familiarizados e munidos com a estrutura tecnológica e com
os recursos digitais, o novo cenário trouxe viabilidade para a implementação
de projetos didáticos que até então não encontravam oportunidade para
serem explorados. Por conta disso, o presente estudo trata de uma pesquisa
exploratória com abordagem qualitativa sobre a aplicação de uma proposta
didática que emprega o web design com vistas à transformação das práticas
pedagógicas e culturais no ambiente digital. Como ponto de partida desta
pesquisa, cogitou-se o seguinte questionamento: em que medida a produção
de hipertextos multimodais pode ser convertida em uma prática significativa
para a promoção dos multiletramentos nos professores em formação? Tendo
como hipótese a ideia de que, apesar do estranhamento inicial com o ambiente
desconhecido, os alunos poderiam apropriar-se dos recursos digitais para
ampliarem o campo de possibilidades de suas ações didáticas, já que esses meios
passariam a ser instrumentos de produção de sentidos em vez de obstáculos.

700
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

Logo, assentando-se na perspectiva dos multiletramentos, o objetivo geral


deste estudo foi explorar o desenvolvimento de websites como recurso didático
para novas práticas de letramento de professores em formação, elencando os
seguintes objetivos específicos: (i) estudar os multiletramentos e sua relação
com as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação; (ii) desenvolver
uma proposta didática a partir da perspectiva da aprendizagem pelo design;
(iii) refletir sobre os limites e alcances da construção de hipertextos multimodais
como recurso para novas práticas pedagógicas. Em outras palavras, investigou-
se se a construção de hipertextos multimodais materializada no web design
poderia ser um recurso útil para o fomento de sua aplicação pedagógica,
observando em que medida os alunos poderiam passar de usuários funcionais
das NTICs para usuários críticos, transformadores e produtores de sentido no
ambiente digital. Os resultados apontam para alta viabilidade do web design
como recurso promissor para a transformação cultural de professores em
formação, já que possibilitou à totalidade dos participantes a produção crítica
de hipertextos que considerasse a diversidade e multimodalidade presentes
no mundo contemporâneo, confirmando a hipótese da pesquisa.

Palavras-chave: ensino remoto; multiletramentos; novas tecnologias.

Videoanimação O lobisomem e o coronel:


arquitetura multimodal na análise de um cordel
Autoria: JACILUZ DIAS
Coautoria: MARTA CRISTINA DA SILVA

Com as TDIC cada vez mais presentes no cotidiano, aumenta a difusão de


gêneros digitais, como a videoanimação. Familiar aos alunos e atraente,
devido às múltiplas linguagens pelas quais é composta, a animação torna-
se, portanto, um recurso didático profícuo, que permite levar para a escola a
abordagem sobre diferentes assuntos. Considerando esse contexto, objetivamos
apresentar uma análise do curta de animação O lobisomem e o coronel (2002),
evidenciando como ele pode ser utilizado para trabalhar, nas aulas de língua
portuguesa, a literatura de cordel. Para atingir o objetivo proposto por este
trabalho, analisamos a videoanimação citada, buscando compreender como

701
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

a relação entre palavras, imagens e sons contribui para os efeitos de sentido


pretendidos pelo curta. Como quadro teórico-metodológico, utilizamos uma
abordagem qualitativa (ANDRÉ, 2011), tendo realizado uma pesquisa bibliográfica
e webliográfica, a fim de reunir os referenciais teóricos que sustentam a análise.
São eles: o Interacionismo Sociodiscursivo – ISD (BRONCKART, 2012), utilizado
para a análise dos elementos verbais da videoanimação; a Gramática do Design
Visual – GDV (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), para leitura dos aspectos não
verbais; os 12 Princípios da Animação da Disney (THOMAS; JOHNSTON, 1995),
que complementam a análise de atributos característicos dos movimentos
no desenho; e, para embasar a compreensão da sonoplastia, os pressupostos
de Furniss (2014). Com base nesses quatro pilares, elaboramos a arquitetura
multimodal, teoria desenvolvida para a análise de videoanimações, a qual busca
compreender os efeitos de sentido decorrentes da relação entre as linguagens
verbal, visual e sonora. Ao final deste trabalho, chagamos às considerações
acerca das possibilidades do uso da videoanimação como ferramenta para o
ensino de língua portuguesa. No caso de O lobisomem e o coronel (2002), ao
transformar em desenho animado um texto que, geralmente, é veiculado em
varais, de modo impresso e acompanhado de xilogravuras, a videoanimação
possibilita o contato do aluno com o gênero cordel, mas ampliando a leitura
para múltiplas linguagens.

Palavras-chave: gênero videoanimação; arquitetura multimodal.

Gêneros do intercâmbio virtual: o propósito


comunicativo do primeiro encontro síncrono
Autoria: LAURA RAMPAZZO

Mesmo anteriormente à pandemia de Covid-19, que maximizou o uso de


recursos de comunicação digital para fins de educação, iniciativas pedagógicas
já proporcionavam que estudantes localizados em regiões geográficas distintas
se encontrassem virtualmente com fins de aprendizagem pelo que vem sendo
reconhecido como intercâmbio virtual. Uma dessas iniciativas é o projeto
Teletandem Brasil, que conecta duplas de estudantes de línguas de diferentes
países para que eles se auxiliem na aprendizagem de seus idiomas, respeitando

702
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

os princípios de autonomia, reciprocidade e separação de línguas. Nesta


comunicação, apresento os resultados de um trabalho que investiga o primeiro
encontro virtual e síncrono entre participantes do teletandem, a sessão oral
de teletandem inicial (SOTi), a partir de teorias de gênero de abordagem da
Nova Retórica e Sociorretórica, as quais entendem gênero como ação social
ou evento comunicativo que apresenta padrões em termos de estrutura, estilo,
conteúdo e que servem ao cumprimento dos propósitos comunicativos dos
membros de uma comunidade. Mais especificamente, o objetivo do trabalho
é investigar o propósito comunicativo da SOTi, a qual ocorre em meio à
Comunidade Teletandem (CT), que envolve membros de diferentes níveis,
quais sejam professores, pesquisadores e estudantes. Embora os gêneros do
intercâmbio virtual sejam ainda pouco explorados, estudos vêm avançando ao
observarem as características da CT e ao identificarem os padrões de ação que
são eficazes nesse contexto para a realização de seus objetivos. Por meio da
análise de 17 diários de aprendizagem, disponíveis no Multimodal Teletandem
Corpus (MulTeC), o estudo examina o ponto de vista dos aprendizes quanto ao
propósito comunicativo do gênero a partir daquilo que os estudantes relatam
em seus diários. Os resultados sugerem que os participantes reconhecem que
o propósito da SOTi é se conhecerem e encontrarem pontos em comum, tendo
em vista que ressaltam esse aspecto em seus diários. Além disso, os resultados
também permitem inferir que aprendizes e pesquisadores têm entendimentos
similares quanto ao propósito comunicativo do gênero SOTi.

Palavras-chave: MulTeC; gênero; propósito comunicativo.

(Re)pensando as práticas pedagógicas futuras


diante da adoção do ensino remoto emergencial: o
que pensam os professores de línguas?
Autoria: LETICIA VIDOTTI DOS SANTOS
Coautoria: GIOVANNA MOLLERO FERNANDES

Face aos desafios impostos pelo cenário de distanciamento social causado pela
pandemia da Covid-19, novos campos de investigação passaram a ocupar um

703
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

significativo espaço de interesse para os pesquisadores de toda a comunidade


científica mundial. Seguindo tal perspectiva, nesta comunicação, temos como
objetivo apresentar e discutir os resultados provenientes de uma pesquisa
realizada acerca dos impactos positivos e negativos decorrentes do ensino
remoto emergencial em práticas docentes futuras. A fim de possibilitar o
desenvolvimento desta investigação, analisamos as respostas de doze alunos
de um curso de pós-graduação, na sua maioria professores de línguas, a um
questionário aplicado por meio de uma plataforma virtual. Convém destacar que
os participantes se encontravam inseridos no contexto de realização de uma
disciplina da pós-graduação que versava acerca do uso de novas tecnologias
no âmbito do ensino e aprendizagem de línguas no momento da geração dos
dados aqui tratados, participando voluntariamente desta pesquisa. Adiante,
metodologicamente, o estudo se caracteriza enquanto uma pesquisa de natureza
qualitativa (FLICK, 2009) e de cunho interpretativista (MOITA-LOPES, 1994). No
que se refere à base teórica, destacamos que esta pesquisa se fundamenta
nos estudos acerca da Educação a Distância (EaD) (JOYE; MOREIRA; ROCHA,
2020), em trabalhos sobre o ensino remoto emergencial e seus desafios (PAES;
FREITAS, 2020), em pesquisas prévias que se ocupam em investigar a formação
docente em contextos de ensino remoto (OLIVEIRA; SILVA; SILVA, 2020), entre
outros. Como considerações finais, afirmamos que a análise das respostas dos
participantes evidenciou que as atividades educacionais remotas emergenciais
se colocaram enquanto um desafio que gerou diversas dificuldades no processo
de ensino e aprendizagem de línguas, principalmente devido à exclusão digital,
à falta de letramento digital e de formação docente. Entretanto, por meio das
análises pudemos verificar que o ensino remoto também foi uma oportunidade
para que os professores pudessem incluir e aprender a utilizar novas ferramentas
tecnológicas em suas práticas pedagógicas atuais, que serão levadas adiante
em contextos futuros.

Palavras-chave: atividade educacional remota emergencial; práticas pedagógicas;


ensino remoto emergencial.

704
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

Com os professores a palavra: a discursivização


das práticas pedagógicas com as tecnologias
digitais de informação e comunicação em escolas
públicas de ensino médio
Autoria: RENATA MAIRA TONHÃO BOLSON
Coutoria: FILOMENA ELAINE PAIVA ASSOLINI

As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) permeiam o contexto


escolar e colocam à disposição dos usuários um conjunto de informações,
conhecimentos e equipamentos. Apresentamos resultados de pesquisa de
mestrado, que analisou o discurso de sujeitos-professores sobre as TDIC em
suas práticas pedagógicas. Nosso objetivo foi refletir por meio do discurso
dos sujeitos-professores o que dizem pensar, o que dizem fazer, quais são suas
prioridades e/ou dificuldades com o uso das TDIC, isto é, sobre suas relações
com as TDIC. A pesquisa contou com sete entrevistas semiestruturadas e
audiogravadas para a constituição do corpus de análise e foi realizada em três
escolas públicas, localizadas em diferentes regiões de Ribeirão Preto, estado
de São Paulo. As entrevistas após transcritas possibilitaram-nos tecer alguns
gestos interpretativos por meio das sequências discursivas de referência
(SDR) que nos permitiram obter dizeres relativizados sobre o uso das TDIC
nas escolas públicas. As SDR foram analisadas e fundamentadas na análise de
discurso francesa pecheuxtiana (AD), na teoria sócio-histórica do letramento e
nas ciências da educação. Elucidamos que os sujeitos-professores ao falarem
sobre as suas relações com as TDIC produzem efeitos de sentidos no/pelo
movimento do simbólico da língua constituído pelo homem e sua história.
Odiscurso é seu objeto de análise, no qual se inscrevem as inter-relações do
real, do social com o sujeito histórico. Assim, podemos analisar o movimento
dos sentidos que circulam e seus possíveis efeitos na educação pública. A
perspectiva sócio-histórica do letramento, tal como postulada por Tfouni,
diferencia alfabetização de letramento, destacando o último como um processo
sócio-histórico que se insere em um continuum. Os resultados assinalaram
que as formações discursivas nas quais os sujeitos-professores se inscrevem

705
Comunicação Oral
Linguagem e novas tecnologias

são atravessadas por discursos outros e, assim, reduzem o processo ensino-


aprendizagem a uma função técnica. Urge dialogar em cursos de formação sobre
as (im)possibilidades de atuação docente aliadas às tecnologias na educação,
de modo que as relações humanas e naturais sejam valorizadas para além da
tecnicidade. Concluímos que a influência tecnicista pede por ações imediatistas
e faz com que os professores não se entendam como profissionais capazes
de lidar com o que pressupõem como dificuldades. Além disso, esquecem-se
de que os alunos chegam à escola com algum nível de letramento digital que
pode ajudar a desenvolver práticas pedagógicas que considerem a memória
discursiva dos alunos, o que os levaria, professores e alunos, a se identificarem
com sentidos aos quais se filiam.

Palavras-chave: tecnologias; professor; análise de discurso.

706
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

Língua, cultura e emoções em Baïnounk Gubëeher


(Senegal)
Autoria: ALEXANDER YAO COBBINAH

Esta fala aborda assuntos sobre a expressão linguística de emoções em uma


pequena língua oeste-africana da perspectiva da linguística antropológica, com
referência a dados lexicais e sintáticos. O Baïnounk Gubëeher é uma língua do
grupo Atlântico, do ramo Nigero-congolês, com cerca de 1000 falantes e falada
na região de Casamansa, no sul do Senegal. Os falantes têm à disposição vários
meios sintáticos e lexicais para falar sobre emoções, tais como, raízes lexicais e
metáforas corporais – típicos de línguas africanas (BATIC, 2011, DIMMENDAAL,
2002). O fígado ocupa uma posição central nesse contexto (cf. MCPHERSON;
PROKHOROV 2011). Uma questão pertinente que emergiu de uma década de
pesquisa de campo, com longos períodos de convivência com a comunidade,
é se as extensões semânticas de alguns desses itens usados com referência a
estados emocionais, assim como a aparente escassez de recursos lexicais para
discutir estados emocionais privados, estão ligados a configurações culturais.
As sociedades da região são na maioria igualitárias, com poucas hierarquias
fixas e têm uma cultura de decisões coletivas negociadas em constelações
complexas por comitivas e conselhos formados a partir de critérios de moradia,
família ou ocupação (BAUM, 1999). Devido às semelhanças culturais entre as
várias comunidades linguísticas e étnicas da região, as observações feitas têm
relevância para outras línguas da área. Nesse ambiente marcadamente coletivo,
comportamentos interpretados como ambiciosos ou ostentativos e o recurso
de contribuir para a sociedade são tidos como antissociais e negativamente
sancionados. Nesse contexto, a verbalização de estados emocionais pessoais
é inerentemente problemática, visto que o indivíduo com suas disposições e
exigências está claramente subordinado às obrigações impostas pelo coletivo.
A hipótese adotada é a de que o foco em um comportamento socialmente
relevante, em detrimento de estados emocionais privados, está correlacionado
com as tendências anti-individuais prevalentes na organização política e social,
com consequências visíveis para a semântica, a variedade de expressões à
disposição e as relações de polissemia observáveis. Referências: BATIC, G. C.

707
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

Encoding emotions in African languages. Lincom Europa, 2011. BAUM, R. M.


Shrines of the slave trade: Diola religion and society in precolonial Senegambia.
Oxford: Oxford University Press, 1999. DIMMENDAAL, G. J. Colourful psi’s sleep
furiously: Depicting emotional states in some African languages. Pragmatics &
cognition, v. 10, n. 1-2, p. 57-83, 2002. BATIC MCPHERSON, L.; PROKHOROV, K.
The use of liver in Dogon emotional encoding. Emotional encoding in African
languages. LINCOM studies in African languages, 84, 2011.

Palavras-chave: pesquisa de campo; linguística antropológica; linguística


africana.

A categoria lexical adjetivo em Mehinaku (arawak)


Autoria: ANGEL H. CORBERA MORI

Nome e Verbo são reconhecíveis como classes de palavras independentes,


enquanto haveria línguas carentes de uma classe lexical Adjetivo. De fato,
em termos da tipologia linguística não é fácil reconhecer uma classe lexical
independente de adjetivos, pois há línguas nas quais não existe uma fronteira
clara entre as palavras que denotam propriedades ou qualidades dos referentes
e as classes dos nomes e verbos. Nesse sentido, os estudos que abordam as
classes de palavras nas línguas consideram a existência de três tipos: i) línguas
nas quais existe uma categoria lexical específica de adjetivos, ii) línguas que
contam com uma classe fechada de adjetivos, iii) línguas sem nenhuma classe
distinta de adjetivos. No que tange concretamente às línguas da família arawak,
ao que tudo indica, a maioria das línguas dessa família disporia de uma classe de
adjetivos, porém cada língua varia respeito do volume de itens que comporiam
essa classe. Por exemplo, há algumas línguas arawak em que os adjetivos
partilham várias propriedades com uma subclasse de verbos estativos e em
outros casos, ao contrário, compartem algumas características com os nomes
e outros com os verbos. Este fato é coerente com os estudos tipológicos que
mostram a existência de línguas nas quais os adjetivos apresentam propriedades
gramaticais muito semelhantes aos nomes, em outras aos nomes e verbos
e, em algumas outras, a nenhum deles. Como base no que se sabe sobre a
existência ou não de uma categoria lexical adjetivo, esta comunicação traz à

708
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

discussão a existência ou não de uma categoria lexical adjetivo independente


em Mehinaku, uma língua da família arawak falada por umas 300 pessoas que
habitam quatro aldeias indígenas no Alto Xingu, parque indígena do Xingu,
estado do Mato Grosso. A análise fundamenta-se em dados primários coletados
em diferentes períodos de trabalho de campo junto aos falantes dessa língua.
Com base em critérios morfossintáticos e semânticos, assume-se a hipótese que
em Mehinaku há uma categoria lexical adjetivo, mas que partilha características
morfossintáticas com uma subclasse de verbos estativos. Os itens lexicais
considerados adjetivos serão agrupados em tipos semânticos, os mesmos
que expressam conceitos relacionados com a função dos modificadores do
núcleo em um Sintagma Nominal. Adicionalmente, a análise dos dados que
dispomos mostra a existência de itens isolados que, por default, seriam adjetivos,
sendo que em contextos morfossintáticos recebem morfemas derivativos de
nominalização e marcadores flexionais de aspecto, mas não de tempo.

Palavras-chave: categorias lexicais; tipologia; línguas indígenas.

A ordem básica dos constituintes em Asurini do Xingu


Autoria: ANTONIA ALVES PEREIRA

Este trabalho tem como objetivo discutir a ordem básica dos constituintes no
Asurini do Xingu. Essa língua pertencente à família Tupi-Guarani, grupo Tupi.
É falada pelo povo asurini que vive no município de Altamira, estado do Pará.
Partindo do uso de critérios tipológicos, concluímos que a ordem básica dos
constituintes nessa língua é SOV (sujeito, objeto e verbo), embora seus falantes
façam uso de mais de uma ordem - estando em conformidade com o que ocorre
em outras línguas, visto que as construções linguísticas são também motivadas
por fatores pragmáticos. Esse estudo mostra que a língua segue em grande
parte as generalizações tipológicas previstas para línguas de ordem verbo-
final, como o uso de posposição no que tange ao sistema adposicional e a
anteposição do genitivo ao nome, estando em conformidade com os correlatos
propostos para esse padrão. Apresenta, contudo, característica desviante no
que se refere à ordem qualificador-nome, proposta pela Tipologia Linguística
para línguas de verbo final. O trabalho vem corroborar para a confirmação de

709
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

que a ordem dos constituintes desempenha um importante papel no estudo de


categorias linguísticas, sendo, assim, um importante recurso na descrição de
línguas, não sendo, contudo, parâmetro absoluto, uma vez que os universais e as
tendências linguísticas podem ser questionados a cada nova descoberta feita
nos âmbitos da análise e da descrição de novas línguas, ou seja, o parâmetro
ordem básica dos constituintes em uma língua pode atuar como um importante
recurso na sua descrição, porém, não dispensa o uso de outros recursos e a ideia
de que sempre é possível uma língua revelar-se morfológica e funcionalmente
diferente do esperado para um certo padrão. A análise apresentada segue os
pressupostos teóricos da linguística tipológico-funcional, presentes em autores
como Geenberg (1963), Comrie (1981), Givón (2001), Payne (1997). Os dados
utilizados nesse trabalho foram coletados em locu por autor(a), são provenientes
de elicitações, narrativas e conversas em contexto natural, sendo estes dois
últimos, posteriormente, testados.

Palavras-chave: sintaxe; ordem; morfologia.

Contribuição aos estudos sobre orações


subordinadas a partir do estudo de caso de Wayoro
Autoria: ANTÔNIA FERNANDA DE SOUZA NOGUEIRA

Van Gijn, Galucio e Nogueira (2015), ao investigarem as estratégias de


subordinação em línguas Tupi, tratam o tema de um ponto de vista semântico,
entendendo subordinação como expressão da relação entre dois eventos. Os
autores observam que construções de natureza morfossintática muito diversas
podem expressar essa relação entre dois eventos, tais como, combinação de
sentenças, construções verbais seriais, construções com verbos auxiliares,
compostos verbo-verbo e afixos derivacionais (como desiderativos e causativos),
além da nominalização e das orações não-finitas. O objetivo deste trabalho é
discutir nuances relacionadas ao estudo das orações dependentes na língua
Wayoro (Tupi). Pretende-se que os resultados obtidos possam contribuir para
o estudo de orações subordinadas em outras línguas pouco documentadas.
Além da presença de verbos que exigem oração complemento, há, em Wayoro,
estratégias morfossintáticas diversas que correspondem a verbos matrizes e

710
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

uma oração subordinada em línguas como inglês ou português. Noonan (2007)


lista diferentes classes semânticas, frequentemente encontradas em gramáticas,
de verbos matrizes que exigem uma oração complemento. Verbos identificados
em Wayoro com orações complemento fazem parte das seguintes classes
semânticas propostas pelo autor: verbo de conhecimento e percepção imediata
{toa} ‘ver/saber’, verbo desiderativo {ndia} ‘querer’ e verbo fasal {ngwaynga}
‘começar’. Consideramos os seguintes diagnósticos morfossintáticos para definir
orações subordinadas (infinitivas) em Wayoro: a possibilidade de ocorrência
de transitivizadores ({mõ-~õ-} ‘causativo’ e {ete-} ‘sociativo’), de indicadores de
aspecto ({-rara~-ara} ‘repetição/habitual’ e {-kwa} ‘iterativo/pluracionalidade’) e
restrições de uso entre 3ª pessoa correferencial e não-correferencial em verbos
intransitivos que são núcleos de orações dependentes dos verbos {ndia} ‘querer’
e {toa} ‘ver’ (NOGUEIRA, 2019). Como aponta Noonan, cada língua apresenta
suas especificidades em relação às classes de verbos matrizes. Por exemplo,
com respeito aos verbos de enunciação, Noonan afirma que nem todas as
línguas empregam citações indiretas ou elas são usadas apenas raramente. Em
Wayoro, os registros, em narrativas, do verbo {mãyã} ‘contar/ensinar’, ocorrem
com sintagmas nominais como complemento que especifica seu sentido, por
exemplo, {mãyã por?to} ‘narrar (lit. contar história/acontecimento)’. Com relação
às citações diretas, Wayoro utiliza o morfema quotativo {kaat} (também registrado
na língua Mekens (GALUCIO, 2014). Já verbos como ‘parecer’ e ‘tentar’ (DAVIES;
DUBINSKY, 2004; LANDAU, 2013) são traduzidos em Wayoro por elementos não
verbais, como o morfema {ngwat} ‘especulativo’ ou a construção frustrativa
especializada {keromboga}.

Palavras-chave: língua Wayoro (família tupi); orações subordinadas; línguas


pouco documentadas

Padrões de nominalização em línguas da família Arawák


Autoria: CAMILLE CARDOSO MIRANDA

Todas as línguas têm uma forma de ajustar a categoria gramatical de uma


raiz. A nominalização é um processo que ajusta essa categoria (PAYNE, 1997).
Esse fenômeno significa em sua essência tornar algo em um nome (COMRIE;

711
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

THOMPSON, 2007). Assim, ela faz com que um verbo ou um adjetivo se tornem
um substantivo. Esse processo é bastante produtivo com verbos nas línguas
Arawák, ocorrendo praticamente em quase todas elas, já com adjetivos, a
nominalização não parece ser tão produtiva. De fato, o interesse maior aqui será
analisar as operações que permitem um verbo mudar sua categoria para um
nome. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo discutir esse processo
de derivação em línguas da família Arawák, com o propósito de analisar padrões
tipológicos desse fenômeno nessa família. Foram selecionadas quatro línguas
do grupo Norte-Arawák (Baniwa de Içana, Baré, Lokono e Wapixana) e quatro
línguas do grupo Sul-Arawák (Apurinã, Ashéninka Perené, Bauré e Mehináku).
Para a realização deste trabalho, a metodologia utilizada foi essencialmente a
pesquisa bibliográfica, desenvolvendo os passos seguintes: (i) coleta de dados
a partir de publicações disponíveis referentes ao tema proposto; (ii) leitura e
análise destes materiais; (iii) constituição de um banco de dados que servirão
de exemplos para o processo em estudo. Payne (1997) afirma que um nome
pode ser relacionado para um verbo de diferentes maneiras. Por exemplo, um
nome pode se referir ao agente da ação descrita pelo verbo, ou sendo a ação
de um verbo, ou seja, uma nominalização de ação. Tanto Comrie e Thompson
(2007) quanto Payne (1997) classificam a nominalização em: (i) nominalização
de estado ou ação; (ii) nominalização agentiva; (iii) nominalização instrumental;
(iv) nominalização locativa; (v) nominalização de modo; (vi) nominalização
produtiva e (vii) nominalização de razão. Entre esses sete tipos, apenas a
nominalização de razão não foi encontrada nos dados analisados até o momento.
De fato, esse tipo de operação aparenta ser incomum entre as línguas do mundo
(PAYNE, 1997). Como resultado, observamos que em uma escala hierárquica
de padrões de nominalização das línguas Arawák é que a nominalização de
participante (principalmente de nomes agentivos) é aquela que é mais suscetível
de ocorrer, em seguida da nominalização de ação/estado; a nominalização
instrumental/objeto é a terceira mais suscetível, já as nominalizações locativa
e produtiva são as mais raras, ocorrendo em poucas línguas da família Arawák.

Palavras-chave: tipologia morfológica; nominalização; línguas Arawák.

712
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

Relações genéticas entre Koropó, Kamakã, Krenak


e Maxakali: evidências do Maxakali antigo
Autoria: CARLO SANDRO CAMPOS

Este trabalho trata sobre a relação de parentesco entre as línguas Koropó,


Kamakã, Krenak e Maxakali com base em listas lexicais das línguas abordadas,
em dados da língua Maxakali e em pesquisas relacionadas ao tronco Macro-Jê e
às famílias Maxakali, Kamakã e Krenak. A família Maxakali inclui pelo menos nove
línguas: Kapoxó, Koropó, Makuni, Malali, Panhame, Pataxó e Pataxó Hãhãhãe,
além do Maxakali, a única ainda falada. Esta língua vem sendo descrita desde
os anos 60. Das demais línguas da família, porém, restaram apenas listas de
palavras registradas por viajantes europeus. A partir dessas listas, é possível
relacionar as línguas extintas da família com a língua Maxakali e identificar as
línguas que eram linguisticamente mais próximas do Maxakali (Kapoxó, Makuni,
Panhame e Pataxó) e as que eram mais distantes (Koropó e Malali). À medida
que a língua Maxakali se torna mais conhecida, é possível estabelecer novas
relações entre as línguas da família e mesmo destas com línguas de outras
famílias. Assim, Campos (2011) apresenta relações lexicais e gramaticais entre
a língua dos Cantos Maxakali com outras línguas da família; Ramirez, Vegini, De
França (2015) trazem novas evidências para a inclusão do Malali e do Koropó na
família Maxakali e apontam para uma relação estreita entre as línguas Maxakali
e as línguas da família Kamakã, embora questionem se tal relação seria em
razão da vinculação genética entre essas línguas ou das relações de contato
entre seus falantes; Nikulin e Silva (2020) apresentam relações entre as línguas
Maxakali e Krenak e evidenciam que essas duas línguas constituem um ramo
genético dentro do tronco Macro-Jê. Com base nesses estudos, na análise
de dados da língua dos cantos Maxakali e na variedade Maxakali falada por
anciãos, este trabalho tem o objetivo de apresentar novas evidências sobre as
relações genéticas entre as línguas Kamakã, Koropó, Krenak e a língua Maxakali
e de defender a posição de que as semelhanças entre essas línguas se devem
a relações de parentesco e não a relações de contato. O trabalho propõe um
estudo comparativo a partir do léxico do Maxakali antigo, que difere do Maxakali

713
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

contemporâneo, mas também apresenta relação com outras línguas dentro da


família Maxakali e fora dela, o que permite postular relações lexicais inéditas
que o léxico contemporâneo não permitiria. O trabalho apresenta também um
léxico comum de empréstimos que parece ter sido compartilhado por diferentes
línguas no período pré- ou pós-colonial.

Palavras-chave: família Maxakali; Koropó; Kamakã e Krenak.

Terminologia da cultura material juruna - a construção


de um vocabulário
Autoria: CRISTINA MARTINS FARGETTI

Será discutida a construção da obra Terminologia da cultura material juruna,


que teve como base os pressupostos da Terminologia Etnográfica (FARGETTI,
2019). Apesar de diversos estudos anteriores, com maior ou menor profundidade,
não houve ainda uma obra sobre cultura material juruna como a proposta.
Entretanto, apesar de todo esforço de pesquisa, unindo linguística, antropologia,
botânica, zoologia, arte, estará sempre em construção, devido a sua incompletude
constitutiva, na eterna busca da exaustividade e da adequação. Os estudos de
outros autores são referidos, com fins comparativos e de resgate de memória,
embora o banco de dados utilizado tenha sido elaborado através de levantamento
próprio, em trabalho de campo, com fotos no local e também em acervos
etnográficos. Serão apresentados detalhes sobre a coleta de dados, em trabalho
etnográfico, com importância para as abordagens teórico-metodológicas na
área, inclusive no tratamento das classificações científicas de matérias primas
das peças (ATHAYDE, 1998; ONO; IVANAUSKAS, 2006; BERTO, 2013; LORENZI,
2002a, 2002b). A macroestrutura desta obra terminográfica abrange termos da
cultura material do povo juruna, em recorte apenas dos nomes, em apresentação
semasiológica, por não julgar pertinente uma classificação que parta de nossa
cultura (divisão em cestaria, cerâmica, tecelagem, etc.). Uma classificação feita
pelo povo sempre pareceu ser a divisão entre artefato feito por mulher e artefato
feito por homem, mas não a sigo aqui, preferindo a ordem alfabética. Isso pode
trazer ao consulente a vantagem de encontrar com mais facilidade um termo em

714
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

juruna, cujo significado esteja procurando, embora traga a desvantagem de ter


artefatos relacionados que se posicionam separadamente na obra. Para tentar
amenizar esta perda, são feitas remissivas, apontando afinidades semânticas.
Uma obra terminográfica tende à monossemia, ou seja, um termo, dentro de
uma especialidade, deve apresentar um só sentido, como já mencionado. Isso
se observa aqui em termos como “pilão”, cuja forma em juruna, ’e’ã, é a mesma
para o verbo “morrer”, que, obviamente, não é mencionado no verbete. Trata-se
de homonímia e não de polissemia. Questão cara aos estudos terminológicos.

Palavras-chave: terminologia; cultura material; povo juruna.

"Língua" na linguística antropológica: aproximações


entre etnologia e descrição linguística
Autoria: DORA SAVOLDI DA ROCHA AZEVEDO

O presente trabalho propõe um diálogo entre uma descrição da língua tukano


(RAMIREZ, 1997) e registros etnográficos que trazem à tona concepções indígenas
sobre a linguagem (ver, por exemplo, CHERNELA, 2013, 2018; HAUCK, 2018;
COURSE, 2018), esboçando maneiras de incorporar essas noções à pesquisa
propriamente linguística. Assim, este trabalho aborda a não-equivalência
ontológica (COURSE, 2013) entre as diversas concepções de língua. Isto é, o fato
de que o que é a linguagem varia entre os diferentes povos e culturas – e, portanto,
funda-se em uma questão ontológica, mais que ideológica. São trazidos à luz
os conceitos de perspectivismo interespecífico e multinaturalismo ontológico
(cf. VIVEIROS DE CASTRO, 1996, 2002, 2018), em uma tentativa de vincular
também o conceito de língua à virada ontológica proposta na antropologia
social, a fim de dissolver as dicotomias em que a concepção ocidental de
língua se ampara: natureza e cultura/sociedade, humano e não-humano, etc.
Em última instância, esse movimento permitirá empreender uma investigação
sobre as línguas indígenas mais verossímil em relação ao objeto analisado. Ao
mesmo tempo, busca-se compreender de que maneira é possível aproximar
a concepção de naturezas múltiplas da linguagem (HAUCK; HEINRICH, 2018)
dos estudos linguísticos descritivos, através do exame de dados do tukano,

715
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

uma língua pertencente à ecologia sociocultural do Alto Rio Negro – e por


isso utilizaram-se etnografias que tratam de povos amazônicos, sobretudo de
grupos étnicos rio-negrinos. Os dados estritamente linguísticos do tukano são
discutidos à vista das considerações acima aludidas, com o intuito de entender
se uma nova concepção de linguagem pode alterar significativamente a análise
descritiva de uma língua. À vista disso, esta pesquisa também contribui para
o desenvolvimento da linguística antropológica, campo dedicado ao estudo
da língua dentro do contexto sociocultural em que se insere, visando à análise
dos significados emergentes dessa relação (FOLEY, 1997). Embora o interesse
crescente no estudo de línguas minoritárias tenha levado à elaboração de
teorias de natureza linguístico-antropológica (DURANTI, 1997; FOLEY, 1997),
esse campo ainda aponta para alguns caminhos pouco explorados, alguns dos
quais este trabalho se propõe a percorrer.

Palavras-chave: perspectivismo; virada ontológica; naturezas múltiplas da


linguagem.

A universidade na aldeia: investigando os diálogos


epistemológicos entre as formas de produção de
conhecimento na universidade e na aldeia
Autoria: JOÃO BENEILSON MAIA GATINHO

Com base nos estudos pós-coloniais e contestatórios modernidade/


colonialidade/decolonialidade (MIGNOLO, 2003; MAHER, 2006; GÓMEZ
QUINTERO, 2010; SOUZA SANTOS, 2011; ARGÜELLO PARRA, 2019, dentre outros),
que procuram descolonizar o saber-poder ocidental na produção e validação
do conhecimento, este trabalho investiga os diálogos epistemológicos entre
as formas de produção do conhecimento na universidade e na aldeia. A ideia é,
portanto, analisar o modus operandi do processo de formação de professores
indígenas no estado do Amazonas, focalizando o curso de Pedagogia Intercultural
ofertado por uma universidade pública do estado para identificar os princípios
epistemológicos que orientam e validam esse processo de formação. Assumida
como uma pesquisa qualitativa-interpretativista, de viés etnográfico, no sentido

716
Comunicação Oral
Línguas indígenas e africanas

proposto por Erickson (1993), a base empírica da pesquisa é constituída por


entrevistas semiestruturadas realizadas com professores formadores e indígenas
em formação, pelo projeto pedagógico do curso de Pedagogia Intercultural
em suas diferentes dimensões, além dos materiais didáticos produzidos por
professores e alunos no e para o processo de formação. Utiliza-se a Análise
Textual Discursiva (ATD), no sentido proposto por Bruno e Galiazzi (2006) como
ferramenta para analisar os dados. Ainda que a narrativa construída pelo projeto
que orienta a Pedagogia Intercultural e pela instituição de ensino superior
que oferece o curso seja de diálogos epistemológicos convergentes entre a
universidade e a aldeia, os resultados preliminares da investigação apontam para
i) uma sobreposição dos princípios epistemológicos (que orientam o trabalho
na universidade) em relação às formas de produzir e validar o conhecimento na
aldeia, principalmente na área de descrição e documentação das línguas dos
povos indígenas envolvidos no curso e na forma de organização do processo de
formação; ii) uma resistência velada por parte dos povos indígenas, muitas vezes
silenciada pelo saber-poder que a própria universidade propaga e representa
na sociedade não indígena e que é estendida aos territórios indígenas onde ela
chega. (Apoio: UEA, PID 2021-2022)

Palavras-chave: línguas indígenas; ensino/aprendizagem; universidade.

717
Comunicação Oral
Linguística aplicada

Autoria e valoração em redações nota mil do


Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM/2018)
Autoria: AINA CUNHA CRUZ DE SOUZA NASCIMENTO

Segundo Bakhtin (2017, p. 300), “[...] o enunciado é um elo na cadeia da


comunicação discursiva [...]”. Para o autor, o enunciado concreto é a unidade
da comunicação verbal. O discurso é, portanto, o conjunto das enunciações
concretas, o qual carrega em si a qualidade de ser ativamente responsivo, uma
vez que traz uma posição axiológica do falante ou escrevente e que representa
uma réplica ativa a outros enunciados concretos realizados anteriormente
e, até mesmo, responde àqueles enunciados que virão depois dele, pois todo
discurso pressupõe um interlocutor. Nesse sentido, de acordo com Bakhtin,
até mesmo a compreensão de um dado discurso é uma réplica ativa, afinal, não
ouvimos (ou lemos) passivamente, mas o fazemos de forma ativa: concordando,
discordando, etc. ainda que silenciosamente. Partindo dos pressupostos
bakhtinianos expostos acima, entendemos que a redação do ENEM é uma
réplica ativa. Desse modo, este trabalho pretende, partindo do engendramento
ativo do sujeito na produção de sentido, analisar o modo heterogêneo de
interação dos participantes do exame com os discursos alheios e suas respostas
às condições objetivas da proposta de redação (tema e coletânea), para, a
partir dessa observação, verificarmos como se dá a construção da autoria nas
redações nota mil do Exame Nacional do Ensino Médio (doravante ENEM) do
ano de 2018. A metodologia que adotaremos para essa análise corresponde
àquela apresentada por Volóchinov (2017, p. 220), em sua obra Marxismo e
Filosofia da Linguagem, em que ele expõe a ordem metodológica que deve
fundamentar o estudo da língua: (i) estudo da forma e dos tipos de interação
discursiva considerando suas condições concretas; (ii) análise das formas dos
enunciados ou dos discursos verbais singulares em relação com a interação
da qual são parte (gêneros dos discursos) e, por fim, (iii) revisão das formas da
língua em sua concepção linguística tradicional. Nosso corpus é composto de
54 redações nota mil, divididas em categorias de acordo com o posicionamento
axiológico das escreventes frente ao tema “Manipulação do comportamento
do usuário pelo controle de dados na internet”. Acreditamos que as reflexões

718
Comunicação Oral
Linguística aplicada

aqui propostas possam dar contribuições significativas e inovadoras para a


percepção do modo como o escrevente, aluno egresso do Ensino Médio, elabora
o seu projeto de dizer, considerando as consignas da prova de redação do ENEM
e, a partir delas, constrói sua argumentação, assumindo sua posição valorativa
e orquestrando as vozes alheias na construção de um enunciado autoral.

Palavras-chave: Bakhtin; autoria; redações do ENEM 2018.

Análise da prosódia de uma paciente com


esquizofrenia ao longo do tempo
Autoria: ANA CRISTINA APARECIDA JORGE
Coautoria: MARCUS VINICIUS MOREIRA MARTINS
E WALDEMAR FERREIRA NETTO

A esquizofrenia é um síndrome mental heterogênea que ainda representa


um grande desafio para acadêmicos, pois não apresenta sintomas e sinais
específicos para a sua caracterização e o curso clínico dessa psicopatologia se
apresenta diverso entre os diferentes pacientes. Enquanto alguns sujeitos exibem
poucos sinais, outros apresentam uma parcial ou total perda cognitiva que pode
ser percebida através de distúrbios de linguagem falada. Estudos anteriores
apontaram que pacientes com esquizofrenia apresentam dificuldades de
linguagem (COVINGTON et al., 2005). Em especial, foi identificado que indivíduos
com essa psicopatologia exibem diferenças salutares na sua forma de expressão
através da entoação quando comparados com sujeitos controles sem histórico
anterior de transtorno mental ou doença psíquica (JORGE, 2018). É notório que
prejuízos na expressão da linguagem oral podem afetar a vida cotidiana do
paciente, principalmente no que se refere à comunicação pessoal e interpessoal.
Neste trabalho, foi analisado se as dificuldades prosódicas exibidas por esses
pacientes são constantes ao longo do tempo. Para isso, foi gravado um diálogo
semiestruturado com uma paciente acometida pela esquizofrenia em duas
ocasiões distintas. As duas gravações foram feitas em uma instituição de saúde
mental, sendo que a primeira coleta de dados foi efetivada em janeiro de 2018
e a segunda foi realizada em janeiro de 2020. As informações coletadas foram

719
Comunicação Oral
Linguística aplicada

analisadas a partir do emprego da rotina automática ExProsodia (FERREIRA-


NETTO, 2016). Esse aplicativo programado em Visual Basic para Excel apresentou
fidedignidade e precisão em seu uso em outras pesquisas na área da entoação.
Em suma, foi percebido que, mesmo durante o tempo que transcorreu de uma
coleta para outra, foram encontradas marcas prosódicas singulares. É relevante
o estudo de tais características prosódicas em pacientes com esquizofrenia,
já que podem consistir em pistas importantes auxiliando no diagnóstico e/ou
no prognóstico dos sujeitos acometidos por esse transtorno mental grave.

Palavras-chave: entoação; esquizofrenia; prosódia.

Concepções de linguagem em quatro livros


didáticos de português (1945-1975)
Autoria: CRISTIAN HENRIQUE IMBRUNIZ

Em tese de doutorado em andamento, analiso livros didáticos de português


publicados por duas editoras relevantes em seus períodos de atuação, a
Companhia Editora Nacional (1932-1980) e a Abril/Somos Educação (2004-2018).
Ao todo, examino 10 conjuntos de livros de português, destinados ao 1º e ao 2º
anos do ensino médio, totalizando 18 volumes. Com a análise dos livros, meu
objetivo é detectar e comparar concepções de linguagem e representações
sobre escrita e seu ensino, assumindo a hipótese de que conceitos ligados ao
campo da linguagem e do ensino permitiriam identificar projetos de ensino médio
gestados pelas editoras, já que esse nível de escolarização tem sido percebido
como campo de disputa. Nesta comunicação, apresento resultados parciais da
análise das concepções de linguagem de quatro livros da Nacional: Manual de
língua portuguesa (1945), Português para o colégio (1950), Português no colégio
(1963) e Linguagem e literatura (1975). Como procedimento metodológico, extraí
de cada um desses livros as passagens em que os autores expõem à formação do
português, dado seu caráter histórico e metalinguístico. Ademais, nos termos de
Foucault, essa escolha metodológica se justifica por: (i) permitir a identificação
de regularidades entre os quatro livros didáticos (o mesmo objeto discursivo);
(ii) permitir a identificação de diferenças nas regularidades (as abordagens do

720
Comunicação Oral
Linguística aplicada

mesmo objeto discursivo não seriam as mesmas); e (iii) por permitir a formulação
de hipóteses sobre possíveis regularidades na diferença (determinadas relações
discursivas criariam condições para diferenças na formação do objeto). O
objetivo é, portanto, identificar e comparar concepções de linguagem nos livros
a partir de um objeto comum, verificando em que medida essas concepções
podem se diferenciar. Para tanto, assumo uma abordagem linguístico-discursiva,
na qual o acesso a objetos discursivos acontece através da análise de uma base
linguística. Embora a língua se apresente como produto acabado e relativamente
autônomo, segundo Pêcheux, ela conserva relações com a sociedade e a
história. Os resultados obtidos sugerem que (i) embora a exposição da formação
do português tenha sido imposta por reformas curriculares, ela ocupava os
livros antes das exigências oficiais e persistiu ocupando depois delas, o que
mostra sua autonomia quanto a fatos sociopolíticos individualizados, como
eventuais reformas; e (ii) que, nos livros, há diferentes modos de materialização
desse mesmo objeto, o que permitiu identificar nuances nas concepções de
linguagem às quais os livros estavam submetidos, como as fundadas na relação
entre linguagem e pensamento e na teoria da comunicação. (Apoio: FAPESP –
Processo 2020/03933-1)

Palavras-chave: livros didáticos de português; Companhia Editora Nacional;


concepções de linguagem.

O léxico culturalmente marcado em análise na


revista Veja: a esfera midiática como meio de
acesso à carga cultural partilhada
Autoria: DRIELLE CAROLINE IZAIAS JUVINO SOUZA
Coautoria: MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA

Entendendo cultura como um identificador para os indivíduos do mesmo grupo


social, cujos integrantes partilham das mesmas representações e costumes,
a língua se apresenta como um elemento de pertencimento e de constituição
da identidade coletiva. Desse modo, ela se configura, ao mesmo tempo, como
veículo, produto e produtora de cultura (GALISSON, 1988). O conjunto de lexias
(BIDERMAN, 1984) de uma língua comporta as vivências, tradições, crenças e

721
Comunicação Oral
Linguística aplicada

costumes que determinada comunidade foi acumulando paulatinamente, no


cotidiano, por gerações. Toda essa bagagem cultural, portanto, se “fisionomiza”
(BORBA, 2006) na língua por meio do léxico. No entanto, algumas unidades
lexicais são mais impregnadas de referências culturais que outras, tornando-
se ainda mais opacas e de difícil entendimento para aqueles que não fazem
parte daquele grupo social. Galisson (1988), ao estudar esse léxico, criou o
conceito lexicultura, cujo denominador comum é a cultura comportamental
partilhada pelos locutores de uma mesma comunidade, sendo seu valor cultural
de reconhecimento automático entre os mesmos. A hipótese levantada por
Galisson (1988) é de que essa cultura popular, que é adquirida naturalmente
pelos falantes, possa ser ensinada aos estrangeiros, ao passo que é observável
e identificável no léxico. Revistas semanais de assuntos gerais e atualidades,
como a Veja, podem constituir um meio de acesso à lexicultura por tratarem
de assuntos correntes da sociedade e comportarem uma linguagem acessível.
Isso porque, além de informar, visam atingir o maior número possível de leitores/
consumidores. O presente trabalho expõe o levantamento das unidades lexicais
culturalmente marcadas (ULCM), assim como uma proposta de categorização
dessas unidades, segundo a concepção de Galisson (1988), a partir de textos
da esfera midiática extraídos do acervo da revista Veja (entre 2004 e 2020). O
intento é evidenciar a relevância desses gêneros textuais como meio de acesso
à carga cultural partilhada (CCP), sendo pertinentes para a constituição de
corpus para análise linguística e confecção de materiais didáticos.

Palavras-chave: léxico; lexicultura; carga cultural partilhada.

A formação inicial de professores de língua


inglesa com ênfase no ensino temático baseado
em tarefas: a abordagem comunicativa reflexiva
revelada do planejamento ao fato
Autoria: ELAINE REGINA CASSOLI

Objetivou-se nesta pesquisa qualitativa, de base etnográfica, interpretativista,


analisar unidades didáticas elaboradas e, posteriormente, ministradas por
professores em formação inicial (PFIs), do último ano de um curso de Licenciatura

722
Comunicação Oral
Linguística aplicada

em Letras, em uma faculdade particular, buscando-se reconhecer nesses


materiais em que medida a teoria sobre o planejamento temático baseado em
tarefas (PTBT), previamente exposta aos PFIs nas aulas de Prática de Ensino
de Língua Inglesa, pode ter sido concretizada, ou não, nas atividades por eles
elaboradas e posteriormente ministradas. O referencial teórico está ancorado
principalmente em autores cujas ideias convergem para o ensino comunicativo
de línguas e formação de professores, especialmente no que se refere ao ensino
temático baseado em tarefas. Entre eles, destacamos: Almeida Filho (1992,
1993, 1999, 2000, 2004, 2012, 2016); Barbirato (1999, 2005, 2008, 2016a, 2016
b); Brown (2007); Bygate (2015); Ellis (2003); Long (2015); Nunan, (2000, 2004);
Prahbu (1987); Skehan (2001); Van den Braden (2007); Vieira-Abrahão, (1999,
2000, 2001, 2009, 2010); Xavier (1999, 2000, 2007a, 2010, 2011, 2016); Willis E Willis
(2007). Para a geração e coleta de dados foram utilizados: um questionário inicial
diagnóstico; quatro questionários abertos, um deles aplicado antes do início
das aulas de Prática de Ensino; o segundo, após as aulas de Prática de Ensino;
o terceiro, após a preparação da unidade didática pelos PFIs e o quarto, após o
Fato, quando o ensino foi posto em prática com a unidade didática planejada.
Além dos questionários, foram também realizadas gravações e transcrições
das aulas regidas. A análise dos dados desta pesquisa revelou que uma parte
significativa dos PFIs conseguiu concretizar tarefas nas regências, alguns em
maior quantidade e outros em menor, demonstrando que o processo vivenciado
nas práticas de ensino foi de qualidade satisfatória. No entanto, considera-se
que o tempo disponibilizado para a realização do Planejamento ao Fato pode ter
sido insuficiente para certos PFIs que apresentaram dificuldades no processo
vivenciado, outros que não foram capazes de elaborar tarefas e alguns que não
se sentiram à vontade para ministrar as aulas. Espera-se que os resultados desta
pesquisa contribuam para que professores formadores possam oportunizar
e incentivar os PFIs a elaborarem e ministrarem aulas por meio do PTBT na
disciplina de Prática de Ensino de Língua Inglesa na graduação, podendo
estender-se a cursos da formação continuada, ressaltando-se a importância
de promover momentos de reflexão na prática docente com os PFIs realmente
colocando “a mão na massa”.

Palavras-chave: formação de professores; ensino temático baseado em tarefas;


análise da prática docente.

723
Comunicação Oral
Linguística aplicada

A Educação de Jovens e Adultos na pandemia:


reflexões sobre materiais didáticos de língua
portuguesa
Autoria: ELVIS LIMA DE ARAUJO

Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar tensões discursivas presentes na
proposta didático-metodológica de língua portuguesa para alunos da modalidade
da Educação de Jovens e Adultos – EJA, em tempos de pandemia, na rede
municipal da cidade de São Paulo. Observam-se os documentos norteadores,
etapa referente aos anos finais do ensino fundamental, forma de atendimento
regular, como corpus de análise e observação de índices que indicam o trato
e observação da modalidade. A metodologia é bibliográfica e documental,
através do aporte teórico enviesado pela Análise Dialógica do Discurso – ADD
difundida no Brasil a partir dos ensinamentos de Bakhtin e o Círculo. A concepção
bakhtiniana considera que o discurso se constrói na perspectiva da existência
do outro e se materializa ideologicamente através de relações axiológicas. Em
relação à análise de materiais didáticos de língua portuguesa, os conceitos de
enunciado concreto e gêneros discursivos mantém relevância, uma vez que
evidenciam a importância da natureza enunciativa na proposição da língua
em uso enquanto potencial mobilizador de autonomia e conscientização da
produção de conhecimentos historicamente sistematizados e sua relação com
a vida. Nesse sentido, forças de abertura e centralização discursivas fomentam
a instauração de arenas que tensionam discursos em relação à constituição de
enunciados. Assim, o material didático de língua portuguesa, distribuído para os
alunos da EJA, deve considerar as especificidades da modalidade e evidenciar
tensões discursivas com foco nos ideais de transformação e ampliação de
oportunidades inerentes ao conceito de aprendizagem ao longo da vida. Para
caracterização do público, tem-se o fator multigeracional como representativo
dos alunos da EJA, formado em sua memória histórica pela classe trabalhadora.
Desde o início da pandemia, disseminada pelo vírus da Covid-19 a partir do
primeiro semestre de 2020, as escolas da rede municipal de ensino da cidade
de São Paulo paralisaram as atividades presenciais e, através de distribuição

724
Comunicação Oral
Linguística aplicada

de materiais impressos, os alunos puderam dar continuidade aos estudos. Os


resultados da análise mostram que o material mantém o ensino focado no texto,
sem considerar as esferas de circulação, produção e recepção.

Palavras-chave: material didático de língua portuguesa; Educação de Jovens


e Adultos; tensões discursivas.

Formas de inserções da própria ou de outras vozes


em artigos da Engenharia: cultura disciplinar e
hierarquização profissional sob a ótica de um
capitalismo discursivo
Autoria: EV'ÂNGELA BATISTA RODRIGUES DE BARROS

Atualmente, além de produzir sempre e bem, professores universitários precisam


inserir-se apropriadamente num “capitalismo discursivo”, que embasa certa
“lógica da celebridade” (cf. ANGERMULLER; HAMANN, 2019), evidenciada pelos
índices bibliométricos elaborados por grandes repositórios de dados - Web of
Science, Scopus, Google Scholar. Além do conteúdo, a forma (ranqueamento
dos gêneros) e o idioma (o inglês) são definitórios do (in)sucesso na visibilização
da pesquisa. Neste trabalho, evidenciam-se resultados parciais de pesquisa, no
quadro teórico dos Novos Estudos do Letramento (LEA; STREET, 2006, entre
outros), em que o objeto de análise são dezesseis artigos da área de Engenharia I
a IV (conforme tabela Capes). Constituem objetivos norteadores desta pesquisa:
investigar aspectos da “cultura disciplinar” (nos termos de HYLAND; JIANG,
2018) neste corpus da Engenharia; compreender injunções sobre a forma de
produção de autores brasileiros (exigência tácita ou explícita de publicação
de suas pesquisas em inglês: apenas 4 deles em português) e sobre o modo
como se evidencia o ranqueamento destes trabalhos. Coletado o corpus, após
difícil seleção das revistas (critérios: Qualis A ou B no período 2013-2016, índice
h, os dois artigos mais citados, em revista “aberta” - open journal), passou-se à
análise qualiquantitativa das formas de emergência da voz autoral (por meio
da autocitação) ou da inserção de outras vozes no texto. Foram computadas
todas as evocações, reformulações, ilhotas citacionais e citações diretas (cf.

725
Comunicação Oral
Linguística aplicada

BOCH; GROSSMANN, 2002). Análise preliminar evidenciou notório predomínio


das primeiras estratégias (evocações e reformulações - de obras próprias ou de
outrem) em detrimento das segundas. Há expressiva quantidade de trabalhos
interinstitucionais em coautoria (até oito autores), justificada num dos trabalhos
como demanda de internacionalização das universidades brasileiras. Na
continuidade da pesquisa, focalizar-se-á a funcionalidade dessa polifonia em
cada parte do artigo (integrante dos movimentos argumentativos). Referências:
ANGERMULLER, J.; HAMANN, J. The celebrity logics of the academic field. The
unequal distribution of citation visibility of Applied Linguistics professors in
Germany, France, and the United Kingdom. Journal for Discourse Studies, 2019.
BOCH, F.; GROSSMANN, F. Referir-se ao discurso do outro: alguns elementos de
comparação entre especialistas e principiantes. Scripta, 6(11), 2002. HYLAND,
K.; JIANG, K. Changing patterns of self-citation: Cumulative inquiry or self-
promotion? Text and Talk, v. 38, n. 3, 2018. LEA, M. R.; STREET, B. V. The “academic
literacies” model: theory and applications. Theory into practice, v. 45, n. 4, 2006.
ROMERO, M. A.; PIRES, E. C. O Qualis. Áreas da Engenharia na Capes. http://
www.jaguar.eesc.usp.br/eesc/administracao/biblioteca/doc/2016e.pdf

Palavras-chave: letramentos acadêmicos; polifonia; capitalismo discursivo.

Covid-19: metáfora e ideologia na mídia - um


enfoque da linguística sistêmico-funcional
Autoria: FÁTIMA APARECIDA LOPES DE MOURA

Pesquisas têm provado consistentemente que as metáforas envolvem sempre


um grau de perspectivação, quando certos traços são realçados enquanto
outros permanecem obscurecidos, tais como: classe social, composição
étnica, rivalidade religiosa, partidos políticos, influência militar e corporações.
A consciência desse mapeamento parcial é crucial para a realização de metas
persuasivas na cobertura de conflitos pela mídia de massa. A metáfora, assim,
estrutura o pensamento diário e se concretiza na interpretação do interlocutor,
fato que aponta para seu estudo no discurso de perspectiva crítica. O objetivo
desta análise (tese de doutorado) é o exame crítico das implicações ideológicas
subjacentes às metáforas presentes em editoriais de diferentes jornais na

726
Comunicação Oral
Linguística aplicada

cobertura sobre a pandemia causada pelo coronavírus (SARSCoV-2). A estimativa


de infectados e mortos pela Covid-19 tem causado um impacto inédito no sistema
de saúde; na falta de sustentação no sistema financeiro; nas consequências do
confinamento imposto pelo risco de contaminação, cujos dados são diariamente
transmitidos pela mídia. O presente estudo tenta identificar personificações
existentes examinando seus significados e correspondências com referência ao
viés ideológico, e propõe discussões relevantes para contribuir com a descrição
das implicações ideológicas implícitas nos editoriais, observadas pelas escolhas
linguísticas e metáforas que conduzem, sutilmente, o leitor a formar conclusões, à
medida que as interpreta e salienta nessa análise multinivelada, a preponderância
de certas suposições de natureza ideológica, que, embora não formem parte
da estrutura formal do texto, são aspectos de interpretação sub-repticiamente
insinuados no subtexto do texto. Prestamos atenção às estruturas lexicais e
gramaticais do texto, nossa análise considera essas estruturas dentro de um
enquadre de uma metáfora que não só permeia e domina todo o artigo, mas
também forma a espinha dorsal da sua estrutura argumentativa. Os editoriais
dos jornais O Estado de S. Paulo e The Guardian foram selecionados devido à sua
reconhecida importância no plano nacional e internacional respectivamente.
A análise tem o apoio da análise crítica da metáfora, uma intersecção entre a
análise crítica do discurso e a teoria da metáfora conceptual, além do apoio
teórico-metodológico da Linguística Sistêmico-Funcional.

Palavras-chave: metáfora; ideologia; linguística sistêmico funcional.

Reflexões sobre translinguagem e


transdisciplinaridade no campo de estudos da
Linguística Aplicada: uma aproximação possível
Autoria: GIOVANA NICOLINI MILOZO

Iniciamos a discussão ressaltando uma característica fundamental no fazer


ciência no campo de estudos em Linguística Aplicada (LA): a transdisciplinaridade,
que se caracteriza pela interação e co-construção entre saberes de campos
distintos, em convergência a um objetivo principal (SIGNORINI; CAVALCANTI,
1998), com fins de descrição de determinado objeto de estudo, construção

727
Comunicação Oral
Linguística aplicada

e/ou redefinição de teorias, ou mesmo para estabelecer reflexões sobre as


práticas de uso do objeto “língua” nos mais variados contextos. Tendo em
vista que o interesse dos linguistas aplicados volta-se para a investigação de
usos da linguagem em contextos de ação, pode-se pensar nos benefícios e
nas transformações sociais proporcionados pela transdisciplinaridade na
pesquisa em LA, a partir das reflexões dos próprios pesquisadores (MOITA
LOPES, 1998). Sendo assim, é possível estabelecer relação com o fenômeno
da translinguagem (CANAGARAJAH, 2013; GARCÍA et al., 2017), o qual, sob
uma perspectiva transdisciplinar, pode ser objeto de estudo em contextos de
ensino-aprendizagem, visando a promover, além da aprendizagem de línguas
estrangeiras, uma educação linguística abrangente, inclusiva e transcultural,
que respeite e contemple a diversidade cultural e de diferentes modos de ser em
contextos de ensino-aprendizagem. Caracterizando-se por um fenômeno que
transpassa as chamadas línguas nomeadas, a translinguagem é uma forma de
constituição do indivíduo por meio da construção de um repertório linguístico,
o qual abrange conhecimentos, estruturais e discursivos, e experiências com
as línguas com as quais o falante tem contato e compõe sua forma de ser
e estar no mundo, promovendo sua adaptação principalmente a contextos
monolíngues (CANAGARAJAH, 2013). A transdisciplinaridade, por sua vez,
propicia a ampliação da compreensão teórica sobre o objeto de estudo em
questão, incitando os pesquisadores a repensarem o movimento teoria-
prática, buscando novas perspectivas científicas num mundo em constante
transformação. Assim, essa apresentação propõe uma reflexão sobre a pesquisa
em LA e as possibilidades de desenvolvermos um olhar sobre as práticas de
ensino-aprendizagem de línguas com foco na translinguagem, com ênfase na
característica transdisciplinar desses campos de estudo.

Palavras-chave: transdisciplinaridade; translinguagem; Linguística Aplicada.

A valoração da citação na produção do texto


dissertativo-argumentativo no ENEM
Autoria: JANAÍNA LACERDA DA SILVA
Coautoria: RENILSON JOSÉ MENEGASSI

Dentre os exames avaliativos realizados pelos alunos concluintes do Ensino


Médio, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) destaca-se no contexto

728
Comunicação Oral
Linguística aplicada

brasileiro de ensino da Língua Portuguesa. Sobretudo, a Prova de Redação do


exame, ante a relevância de seu resultado para a conquista de uma vaga no
curso superior. A fim de orientar a produção de um bom texto dissertativo-
argumentativo na Prova de Redação, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) disponibiliza todos os anos a Cartilha do
Participante (BRASIL/INEP, 2019). A cartilha apresenta as Redações do ENEM que
atingiram nota máxima no exame. Diante disso, em nosso trabalho, analisamos,
em alguns exemplos dessas redações, as citações em seus aspectos linguístico-
textuais-discursivos, para configurar a valorização oferecida pela citação na
produção do texto dissertativo-argumentativo, isto é, o uso preferencial da
citação na construção do discurso argumentativo e a valoração que demonstra
ter frente aos argumentos apresentados pelo candidato. À luz dos estudos
do dialogismo, da enunciação e da linguística textual (VOLÓCHINOV, 2018;
BARROS, 2011; BENITES, 2002; KOCH, 2009a, 2009b), abordamos a organização
composicional valorativa expressa pelo locutor do enunciado, que marca seu
posicionamento sobre as citações nas escolhas linguísticas realizadas no
discurso citado ou em seu entorno. Com tal estudo, compreendemos como as
ações linguístico-textuais-discursivas relacionadas à citação se estabelecem
na produção do texto dissertativo-argumentativo, com o objetivo específico
de identificar a atitude valorativa nas citações e reconhecer suas principais
funções no todo discursivo. Para isso, desenvolvemos análises qualitativas
(BORTONI-RICARDO, 2008) em sete redações nota 1000, produzidas durante
a Prova de Redação do ENEM em 2018, disponíveis na Cartilha do Participante
de 2019 (BRASIL/INEP, 2019). Além das funções das citações, destacam-se os
processos dialógicos entre os textos, texto como um tecido polifônico tramado
por fios dialógicos de vozes que polemizam, completam ou respondem umas às
outras (BARROS, 2011), a ter as citações como aspecto analítico. Ademais, os
resultados das análises demonstram que as citações nas Redações do ENEM,
no cruzamento dos pontos de vista do locutor produtor e do locutor citado,
possibilitam a construção do texto, do enunciado e do discurso. Dessa forma,
o discurso que orbita a citação enaltece ou relativiza a adesão ao discurso
relatado.

Palavras-chave: citações; redação do ENEM; ensino.

729
Comunicação Oral
Linguística aplicada

A escrita literária e a construção de uma didática


literária dialógica
Autoria: KAREN DIAS DE SOUSA

O tema a ser abordado será a discussão do papel relevante que a prática de


escrita pode ter no ensino da Literatura no Ensino Médio a partir de duas
perspectivas principais: a discursiva, derivada dos estudos do Círculo de Bakhtin
e sua concepção dialógica da linguagem, e a sociológica, derivada dos estudos
de Bourdieu sobre a relação entre a estética, a arte e, mais especificamente,
a literatura e seu ensino para as classes populares. A partir da visão desses
autores, serão problematizados os conceitos de ato responsável e responsivo
de Bakhtin e sua relação com o momento enunciativo da aula de literatura.
Para isso, será analisada uma experiência em sala de aula, realizada pela
professora-pesquisadora, de propor práticas de escrita literária a seus alunos
relacionadas com as leituras literárias tradicionalmente realizadas no Ensino
Médio. A partir dessa experiência, realizada com alunos de grupos desfavorecidos
economicamente e em condições de vulnerabilidade social, foi possível observar
que as práticas da leitura, seguida da prática de escrita literária como a criação
de poemas ou cenas dramáticas inspiradas nas estéticas dos grandes clássicos
da Literatura, poderiam incitar a concretização de uma prática de ensino de
Literatura menos monológica, em que alunos e professora passavam a ter
mais consciência das relações de poder envolvidas nas diferentes formas de
apreciação estética, seja a estética das classes dominantes, representada pela
escola e a tradição literária, seja a estética popular apreciada pelos alunos. A
prática de escrita parece, dessa maneira, ser uma forma bastante significativa de
o aluno poder responder às leituras realizadas em sala de aula com suas próprias
estéticas e arcabouço cultural. Neste momento, a pesquisa ainda se encontra em
andamento, mas o trabalho já aponta para o fato de que a proposta didática da
escrita de um texto literário tem o potencial de transformar práticas pedagógicas
passivas baseadas apenas em estudos teóricos e apreciação de estéticas alheias
em uma prática em que os gêneros e estilos literários que são tradicionalmente
objeto de estudo na aula de Literatura dialoguem com o conjunto de valores de
cada estudante por meio do trabalho com a linguagem literária.

Palavras-chave: escrita literária; ensino de literatura; dialogismo.

730
Comunicação Oral
Linguística aplicada

Efeitos de humor na dublagem para o português da


série The Big Bang Theory
Autoria: LETÍCIA FERREIRA DOS SANTOS

Do ponto de vista da recepção do público em geral, a dublagem em português


da série The Big Bang Theory recebeu muitas críticas e não manteve um índice
de audiência necessário para mantê-la no ar por mais de um ano, embora seu
sucesso em plataformas de streaming seja evidente. No entanto, a partir dos
Estudos Descritivos da Tradução, não se busca julgar uma tradução como
correta ou incorreta, mas entender os caminhos que levaram a ela e quais
seus efeitos produzidos no contexto sociocultural da língua-alvo (CHAUME,
2004). Pensando nessa problemática, o humor é um dos desafios encontrados
para a tradução, pois, de acordo com Possenti (2010, p. 12-13), sua produção
depende de temas bem discutidos e difundidos, além de significados culturais e
lexicais que, ao se unirem, causam a controvérsia e o absurdo. A dublagem como
uma modalidade de Tradução Audiovisual (TAV) apresenta muitos desafios de
tradução decorrentes da necessidade de sua adaptação cultural para a língua
de chegada, especialmente quando se trata da busca de reproduzir os efeitos
de humor. Para entender como isso ocorreu no processo tradutório da série
The Big Bang Theory, será feita uma análise descritiva, utilizando como base
os Estudos da Tradução e o apoio da Análise do Discurso de linha francesa,
de quatro episódios, sendo eles episódio 3 da primeira temporada “The Fuzzy
Boots Corollary” (“O Resultado Coturno Peludo” em português”), episódio 3
da sexta temporada “The Higgs Boson Observation” (“A observação do Bóson
de Higgs”, em português), episódio 9 da sétima temporada “The Thanksgiving
Decoupling” (O Desemparelhamento do Dia de Ação de Graças) e, por fim,
episódio 10 da 12ª temporada “The VCR Illumination”, traduzido como “A
iluminação do vídeo-cassete”. Tendo em mente que, muitas vezes, a tradução
necessita ser mais funcional quando se trata do humor, espera-se encontrar
substituições de elementos linguísticos por outros que sejam compensatórios.
A partir da comparação dos efeitos de humor entre original e tradução, buscar-
se-á compreender as escolhas linguísticas (morfossintáticas e semânticas) do
tradutor para produzir tais efeitos ao longo da série.

Palavras-chave: tradução audiovisual; estudos da tradução; dublagem.

731
Comunicação Oral
Linguística aplicada

Inglês para fins ocupacionais: atividades


profissionais que requerem o uso do idioma
estrangeiro em um curso técnico de nível médio
Autoria: LUCIANA MORAES SILVA OCTAVIANO

A proposta deste trabalho é apresentar os resultados da investigação das


atividades profissionais que exigem o uso de Inglês dos egressos do curso de
Desenvolvimento de Sistemas Integrado ao Ensino Médio de uma das escolas
técnicas do Centro Paula Souza. Os embasamentos teóricos fundamentam-se
nos estudos sobre Inglês para Fins Específicos (IFE), em especial ao ensino de
Inglês para Fins Ocupacionais (IFO), devido à especificidade de utilização do
idioma no ambiente de trabalho em que o aluno será inserido; e na Análise de
necessidades, com foco na Análise da situação-alvo para uso de Inglês, uma vez
que são investigadas as atividades profissionais que requerem conhecimento
do idioma. O instrumento escolhido para a coleta de dados foi o questionário,
por ser um dos recursos mais utilizados nesse tipo de análise, segundo autores
como Hutchinson e Waters (1987), Dudley-Evans e St. John (1998) e Basturkmen
(2010). A elaboração das perguntas gerou 2 questionários: 1 destinado a 6
docentes dos componentes curriculares técnicos do curso em análise; e 1 a 11
profissionais atuantes no mercado de trabalho local. A análise dos dados contou
com a triangulação das fontes (LONG, 2005), ou seja, as informações coletadas
com ambos os grupos de respondentes foram comparadas, a fim de identificar
as atividades profissionais que compõem as situações-alvo mais comuns de uso
do idioma e de pontuar as diferenças de utilização do idioma apontadas pelos
respondentes. Os resultados indicam 11 atividades comuns entre os participantes,
por exemplo, (i) manusear ações dos menus e (ii) desenvolver sites para web,
evidenciando o conjunto de atividades profissionais nas quais os egressos
utilizam ou utilizarão o idioma, seja durante a formação profissionalizante ou
para inserção no mercado de trabalho. A falta de conhecimento do idioma para
a execução dessas atividades pode trazer, portanto, alguma dificuldade de
inserção no mercado de trabalho local dos egressos desse curso técnico na
cidade em que ele é oferecido.

Palavras-chave: atividades profissionais; inglês para fins ocupacionais;


desenvolvimento de sistemas integrado ao ensino médio.

732
Comunicação Oral
Linguística aplicada

Entre a língua de herança, as literacias e o bilinguismo:


ações (re)escritoras de ensino-aprendizagem do
português no exterior
Autoria: MARCUS VINÍCIUS CONCEIÇÃO PEREIRA

A presente proposta de trabalho pretende investigar, a partir das ações de


literacia realizadas em instituições criadas por comunidades de falantes do
português brasileiro no exterior, os diversos contornos assumidos, atualmente,
pela Língua Portuguesa no seu percurso de configuração transcultural no
mundo. As comunidades brasileiras, compostas pelo eixo Ibero-Américo/Anglo-
Saxônico, serão o ponto de partida deste estudo, de modo a compreendermos
a contribuição das transmigrações que o Português, como língua de herança,
poderá assumir em contextos de mundialização. Nesse contexto, buscamos
analisar de que maneira as acepções contemporâneas sobre a inserção da Língua
Portuguesa no cenário global podem contribuir para a melhoria na convivência
multicultural, aprendizagem leitora em situações bilíngues e preservação da
língua minoritária, a partir das abordagens de literacia em comunidades de
brasileiros falantes do português no exterior. O presente trabalho objetiva
compreender a importância, o desenvolvimento e o impacto sociocultural das
ações educativas realizadas por organizações de falantes do português do
Brasil, em torno do ensino de Língua Portuguesa, como língua de herança nas
comunidades brasileiras fora do país. Pretende-se traçar uma relação entre as
atividades de literacia, as noções de usos da Língua Portuguesa como língua
integradora-acolhedora, conjuntamente com as teorias de bilinguismo, que
favorecem essa integração linguístico-cultural. Quanto à metodologia, aposta-
se no caráter qualitativo da pesquisa, mediante a perspectiva de investigação
narrativa aplicada às estórias orais e escritas presentes nas produções de literacia
realizadas, com crianças pertencentes às comunidades brasileiras de falantes
do português. Para fundamentar as reflexões e as análises propostas nesta
comunicação, elegemos para subsidiar o nosso diálogo autores como Baker
(2014), Cummins (1984), Mendes (2012), Moita Lopes (2013), Ortiz (2010), Welsch
(1998) e Hannerz (1996). Preliminarmente, observamos que, ao se lançarem

733
Comunicação Oral
Linguística aplicada

em iniciativas de literacia e ensino do português, as comunidades brasileiras,


representadas nas organizações educacionais, promovem, por via reflexa a
difusão, a promoção e a preservação do patrimônio cultural e artístico, de forma
intrafamiliar. Conclui-se que as ações de literacia e ensino desenvolvidas por
organizações de brasileiros no exterior são um modo de atuação exemplar na
perpetuação do português como língua de herança no mundo.

Palavras-chave: português como língua de herança (PHL); literacia; bilinguismo.

Linguagem dialógica e ensino: leituras, escrituras


e epistemologias linguísticas nas abordagens
dialógicas da Universidade de Barcelona
Autoria: MARCUS VINÍCIUS CONCEIÇÃO PEREIRA

O presente trabalho objetiva apresentar as principais abordagens teórico-


práticas da linguagem e ensino dialógico desenvolvidas pelo denominado grupo
de Barcelona representados pelos estudos de Ramón Flecha (1997), Montse
Sánchez Aroca (2005), Elboj Saso (2002) e Marta Soler-Gallart (2003). Nesse
objetivo, concentram-se as abordagens de ensino-aprendizagem formuladas
pelo grupo da Universidade de Barcelona denominadas de tertúlias literárias,
biblioteca tutorada e resolução de conflitos dialógicos. O quadro teórico está
pautado nos pressupostos de base dialógica Freiriana e Bakhtiniana. Pretende-
se demonstrar a importância das abordagens e teorias dialógicas aplicadas a
linguagem e ensino na promoção da aprendizagem compartilhada, conhecimento
solidário e desenvolvimento social igualitário. Nessa comunicação, observa-se a
contribuição das construções epistemológicas do Grupo de Barcelona nas ações
de ensino-aprendizagem em espaços formativos, conjuntamente, aos pontos de
convergência e diálogo com os pressupostos teóricos da Linguística Aplicada.
Entende-se, assim, que as Tertúlias Literárias são caracterizadas por encontros
que debatem temas universais e científicos em torno da linguagem dialógica
através de um modo de ler e reler os clássicos da literatura universal, onde leitores
podem estabelecer reflexões críticas sobre a cultura, história e a vida a partir
de temas universais presentes nestas obras. Partindo da visão que considera

734
Comunicação Oral
Linguística aplicada

as tertúlias literárias dialógicas como uma alternativa metodológica propositiva


de aprendizagem, discutimos, neste trabalho as principais contribuições dessa
abordagem para o ensino da linguagem dialógica a partir da leitura e escrita.
Nessa direção, apresentamos a biblioteca tutorada como uma abordagem
de inclusão extraclasse inspirada no trabalho voluntariado comunitário com
vistas ao estabelecimento de práticas inclusivas, prolongamento do tempo da
aprendizagem e instrumentalização do aprendizado. Nesse caminho, demonstra-
se a contribuição do modelo dialógico de resolução de conflitos destinado
a estabelecer regras de convivência baseadas em diálogos participativos
igualitários, a fim de dirimir conflitos de ordem familiar, racial e de gênero
em âmbitos escolares. Como resultado desta investigação, apresentamos,
sinteticamente, ações educativas de êxito implementadas em escolas na
Chapada Diamantina (Bahia) com o intuito de demonstrar como a metodologia
da aprendizagem dialógica analisada neste estudo se processa em ambientes
escolares.

Palavras-chave: linguística; ensino; dialógico.

Ensino na modalidade escrita da língua


portuguesa aos alunos surdos por meio do gênero
discursivo anúncio publicitário
Autoria: MARISVALDA MOREIRA CHAVES

O problema que motivou esta pesquisa é a dificuldade de ensino da língua


escrita aos alunos surdos pela falta de pesquisa sobre essa questão. Portanto, o
tema desta comunicação é apresentar uma proposta de ensino da modalidade
escrita da Língua Portuguesa aos alunos surdos. O objetivo geral é tornar o
ensino na modalidade escrita da Língua Portuguesa mais eficaz aos alunos
surdos usando como recurso o gênero discursivo da esfera publicitária pela
facilidade de compreensão da linguagem visual por esse público. A teoria que
fundamenta esta proposta é a teoria discursiva dialógica de Bakhtin (2011) e
Volóchinov (2018), com apoio nos conceitos de enunciado concreto, gênero
discursivo e signo ideológico. Para tratar da linguagem visual e verbo-visual

735
Comunicação Oral
Linguística aplicada

recorre-se, como apoio, a Sepulveda (2014) e Oliveira (2010) e o uso das cores
por Miguel (2014). Metodologicamente, é uma pesquisa de caráter qualitativo
porque apresenta levantamento e análise das propostas de vários autores
da bibliografia especializada. Para contemplar a lacuna existente no ensino
concreto da linguagem para os surdos, esta pesquisa propõe trabalhar com dois
anúncios publicitários verbo-visuais, selecionados por meio de busca no Google
Imagens, com diferentes filtros que abordam questões informativas e preventivas
referentes ao contexto pandêmico vivenciado pela sociedade. O anúncio é um
gênero discursivo da esfera da publicidade que apresenta em sua estrutura:
tema, forma composicional e estilo genérico e individual, segundo Bakhtin
(2016) cujas características, tais como, enunciados curtos e flexões verbais do
imperativo e do presente do indicativo, assim como advérbios de tempo são
elementos fundamentais que são explorados nessa pesquisa por facilitarem a
comunicação com o aluno surdo. Também as imagens, representativas de figuras
de linguagem são mediadoras ao ensino da escrita; e apresentam elementos
gramaticais mobilizando conhecimentos da norma da língua escrita. Esse
tema, pouco pesquisado na atualidade, revela um campo de pesquisa bastante
promissor para o ensino de linguagem e para o desenvolvimento integral dos
alunos surdos na educação em língua portuguesa.

Palavras-chave: ensino de surdos; gênero discursivo; verbo-visualidade.

O ensino de língua portuguesa na rede estadual


paulista a partir dos níveis de concretização
curricular prescrito e apresentado ao professor
Autoria: RENATA CRISTINA ALVES

Este trabalho é derivado da tese em andamento intitulada “Do currículo prescrito


aos mediadores curriculares: o Currículo Paulista e os cadernos Currículo
Em Ação”, na qual são analisados tanto o currículo estadual paulista quanto
os materiais didáticos produzidos pela SEDUC-SP. Desse modo, o objetivo
principal é descrever e analisar como a SEDUC-SP se apropria da BNCC no
que diz respeito aos embasamentos teórico-pedagógicos do componente

736
Comunicação Oral
Linguística aplicada

curricular de língua portuguesa, ensino fundamental – anos finais, no âmbito do


currículo prescrito e do apresentado ao professor. Para compreender a relação
entre tais níveis, o corpus é composto pelos quatro volumes dos materiais
Currículo em Ação para o 9º ano do ensino fundamental, cujas situações de
aprendizagem fundamentam-se na concepção de linguagem do Círculo de
Bakhtin, bem como nos postulados da Pedagogia dos Multiletramentos, do
Grupo Nova Londres, no novo ethos e nova técnica dos novos letramentos e
ainda na literatura, enquanto sonho acordado das civilizações, amparada em
Cândido. Para tanto, alicerçada na área da Linguística Aplicada, esta pesquisa
documental é realizada a partir do aporte teórico-metodológico bakhtiniano, no
qual o cotejo e a análise dialógica do discurso complementam-se, com vistas
a compreender a relação entre essas concepções assumidas em relação às
habilidades estabelecidas no Currículo Paulista e às construções didáticas nos
materiais didáticos. Como resultados parciais da pesquisa, identificamos que,
de fato, há uma preocupação com as práticas contemporâneas, que perpassam
todas as situações de aprendizagem, provocando na prática de produção de
texto um trajeto mais colaborativo e participativo entre os estudantes. Todavia,
as construções didáticas dos outros eixos, leitura, oralidade e análise linguística
e semiótica, inclinam-se ao movimento centrípeto do ensino de língua. No que
diz respeito aos multiletramentos, é a confluência de linguagens que estabelece
as diretrizes para as atividades, o que não inclui, necessariamente, as práticas
contemporâneas. Já os novos letramentos permanecem, na maioria das vezes,
como sugestões didáticas aos professores. E, em relação aos pressupostos
bakhtinianos assumidos, há uma apropriação esvaziada da concepção de
linguagem, visto que o processo de ensino e aprendizagem das práticas sociais
não abrange as ancoragens axiológicas e dialógicas, fundamentais à teoria.
Por fim, por meio deste trabalho, espera-se contribuir com as discussões sobre
ensino de língua portuguesa para o contexto básico e público. (Apoio: CAPES)

Palavras-chave: ensino de língua portuguesa; currículo; práticas de linguagem.

737
Comunicação Oral
Linguística cognitiva

Multimodalidade e projeções na construção dos


memes
Autoria: ALINE PEREIRA DE SOUZA
Coautoria: BEATRIZ QUIRINO ARRUDA DONÁ

Os memes são um gênero muito conhecido pelos usuários das redes sociais.
Artefatos de mídia amadores, multimodais e intertextuais por natureza, são
produzidos e compartilhados pelos usuários dessas redes e fazem muito sucesso.
Servem para manifestar opiniões, causar humor, transmitir ensinamentos e, para
ser compreendidos, exigem de seus leitores diversos saberes e conhecimento
de mundo. Para este trabalho, foram escolhidos memes publicados em páginas
da rede social Facebook. Nesses textos, geralmente, a significação é resultado
da interação entre enunciados linguísticos e imagens, e essa relação entre
o verbal e o não verbal é importantíssima para causar os efeitos de sentido
pretendidos na comunicação. Ambas essas materialidades são imprescindíveis
para sua existência. Além disso, a presença das projeções torna a mensagem
mais acessível ao leitor, à medida que promove a identificação do auditório com
o discurso. Dessa forma, quanto mais claro o texto se fizer, tanto mais o público
aderirá a ele, consumindo-o, curtindo-o e compartilhando-o. Sendo assim, este
projeto, à Luz da Teoria da Linguística Cognitiva, trabalhando especialmente
com o conceito de Projeções Cognitivas, discutido por Fauconnier (1995,
1997, 2001) e Fauconnier e Turner (1994, 1998, 2002), e também a teoria dos
frames semânticos (PETRUK, 1996), tem por objetivo mostrar a relevância dos
processos analógicos de projeção, tais como, metáfora, metonímia e parábola,
na construção dos memes. Acredita-se, com base em estudos de Souza (2017,
2018), que o uso consciente e propositado desses processos funcione como
"ferramenta" importante na construção das mensagens, uma vez que cria
imagens que dão mais visibilidade às ideias expressas e permite a identificação
do leitor com o texto, bem como o prazer e o humor durante a leitura. A partir da
criação de uma série de atividades com base na teoria da "sequência didática"
proposta pelos autores suíços Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), tem-se como
objetivo contribuir para o ensino da leitura e da escrita no Ensino Médio, por
meio da expansão de repertório e desenvolvimento das habilidades necessárias

738
Comunicação Oral
Linguística cognitiva

para o estudante realizar tais tarefas de modo satisfatório. Objetiva-se, também,


propor ao professor ferramentas de trabalho para incentivar esse processo.

Palavras-chave: multimodalidade; memes; projeções.

O verbo "saber" em construções subordinadas:


uma análise cognitivo-funcional
Autoria: FLAVIA DO CARMO BERTASSO

O objetivo deste trabalho é investigar o funcionamento de construções com o


verbo saber no português falado, com base no arcabouço teórico da Linguística
Cognitiva e Cognitivo-funcional, especialmente Langacker (1987, 1991, 2009),
Traugott (2012) e Traugott e Trousdale (2013). A partir de dados do português
falado no interior paulista (corpus Iboruna), busca-se descrever os usos de
saber em contextos de subordinação para determinar suas formas e funções
na variedade do português investigada. Adota-se o conceito cognitivo de
subordinação, segundo o qual a subordinação equivale a uma relação entre
processos perfilados que se combinam de diferentes modos em janelas de
atenção conceitual (LANGACKER, 2009). Em termos discursivos, entende-se a
subordinação como uma relação entre espaços mentais (FAUCONNIER, 1985)
que fornecem instruções ao interlocutor acerca do domínio conceitual sob o qual
uma proposição deve ser compreendida (VERHAGEN, 2005; LANGACKER, 2009).
Com as análises realizadas, foram identificados três grupos de construção com
saber conforme o modo de combinação proporcionado em termos de janelas
de atenção distintas: saber como descritor de conhecimento em combinação
integrada de estados-de-coisas concebidos em uma única janela de atenção,
saber, nas construções modalizadoras "eu sei lá se, (eu) sei que e (eu) não sei
se", que podem ou não ser concebidas como estruturas compostas, a depender
de os processos perfilados serem ou não concebidos como integrados, e
saber em construções com funções instrucionais, em combinação também
conceitualmente integrada, mas com apenas um estado-de-coisas perfilado,
em relação ao qual a construção com saber funciona como um operador de
organização discursiva e de monitoramento da interação. As construções desse

739
Comunicação Oral
Linguística cognitiva

terceiro grupo identificadas nos dados foram "sabe?, (eu) sei lá, (eu) sei que, não
sei que, não sei que tem e não sei que lá". Os resultados também indicam que
as construções analisadas neste estudo exibem graus de construcionalização
distintos (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), principalmente em termos dos critérios
de esquematicidade e composicionalidade, identificados por menor/maior
variabilidade em relação a pessoa gramatical, tempo-modo verbal, explicitude
e forma do sujeito, posição da construção em relação à proposição combinada
e modalidade da construção com saber.

Palavras-chave: orações completivas; abordagem cognitivo-funcional;


subordinação.

Transitividade intermediária: indício da não


modularidade
Autoria: RODRIGO LAZARESKO MADRID

O objetivo desta pesquisa é descrever uma tipologia conhecida na literatura como


“estrutura ativa” (KLIMOV, 1976; SEKI, 1990; BAUER, 2011) por meio de elementos
que extrapolam a marcação morfológica dos participantes de uma oração. Para
isso, baseio-me na hipótese de transitividade de Hopper e Thompson (1980),
segundo a qual transitividade é uma característica gradiente das orações e dos
discursos, que revela a efetividade da realização de um evento. Nesse sentido,
observo a transitividade para além do número de participantes em uma oração,
levando em consideração também critérios como agência, cinese, volição e
individuação dos participantes, o que possibilita uma avaliação de enunciados
como mais ou menos transitivos em oposição à distinção entre transitivos e
intransitivos. Analisando algumas construções recorrentes em línguas do grupo
bantu (tronco nigero-congolês), defendo que as alternâncias de transitividade
nessas línguas revelam uma transitividade intermediária que as aproxima das
línguas com estrutura ativa, apesar de a literatura considerá-las acusativas
(BLAKE, 2001; BOSTOEN et al., 2015). A estrutura ativa está diretamente ligada
ao modo de conceitualização de eventos evocado pelos enunciados linguísticos.
A Gramática Cognitiva (LANGACKER, 1987, 2008) apresenta duas maneiras de

740
Comunicação Oral
Linguística cognitiva

descrever a conceitualização de eventos: a primeira se baseia no modelo de “bola


de bilhar” e tem como ponto de partida o elemento que inicia a transferência de
energia para outro elemento, enquanto a segunda maneira tem como ponto de
partida a relação temática autônoma resultante de um processo. Essa explicação
distingue bem as conceitualizações evocadas por marcações acusativas no
primeiro caso e ergativas no segundo, mas não explica as situações em que
orações com apenas um participante podem marcá-lo ora como ‘agente’, ora
como ‘tema’, o que caracteriza línguas de sistema ativo-inativo. Ao constatar
que esse tipo de conceitualização se revela também em outros níveis além da
sintaxe (como a codificação verbal de qualidades e a distinção lexical entre
referentes ativos e inativos), proponho que essa tipologia é um indício da não
modularidade da língua e da cognição, que fundamenta o compromisso de
generalização que a Linguística Cognitiva assume. (Apoio: CAPES – Processo:
88882.327875/2019-01)

Palavras-chave: transitividade; estrutura ativa; modularidade.

741
Comunicação Oral
Linguística computacional

Extração e tratamento automático de dados de


corpora orais com python: C-ORAL-ESQ e C-ORAL-
BRASIL
Autoria: JOSÉ CARLOS DA COSTA JÚNIOR

O objetivo dessa comunicação é apresentar um programa, feito em linguagem


Python, para tratamento, extração e visualização de padrões informacionais
e dados específicos das transcrições do C-ORAL-ESQ (FERRARI; ROCHA,
em construção), representativo de pacientes com esquizofrenia, e C-ORAL-
BRASIL (RASO; MELLO, 2012), representativo do português brasileiro falado
informal. O padrão informacional representa os possíveis arranjos de unidades
informacionais em um enunciado, o qual é considerado um ato de fala e
unidade de referência da fala para a Teoria da Língua em Ato (CRESTI, 2000;
MONEGLIA; RASO, 2014). Essas unidades representam porções do enunciado,
com contrapartes prosódicas e pragmáticas específicas, e são marcadas por
etiquetas únicas nas transcrições, a partir das quais se extraem as informações
do programa. Totalmente executado no Google Colab, o programa dispensa
qualquer codificação adicional do usuário e realiza, a partir de arquivos xml
dos corpora mencionados e seus respectivos metadados em txt: I) extração
e tratamento de padrões informacionais; II) normalização ortográfica;
III) etiquetagem automática de classes gramaticais e IV) sumarização automática
das transcrições nos corpora. Em (I), foram utilizadas bibliotecas como Element
Tree, Pandas (MCKINNEY, 2010), re e collections, para extração dos padrões e
contabilização de unidades informacionais. Já em (II) foram utilizadas diversas
operações de substituição para passar à forma não padrão da língua, que registra
fenômenos gramaticais no português nas transcrições dos mencionados
corpora, para a forma padrão do português, com o intuito de preparar os dados
para a etiquetagem automática de classes gramaticais e possíveis operações
de machine learning que demandem padronização ortográfica – não utilizada
nas transcrições originais desses corpora. Essa etiquetagem é realizada em
(III) e consiste em um etiquetador de classes gramaticais do tipo brill-tagger
treinado no corpus Mac-Morpho (ALUÍSIO et al., 2003) por meio de ferramentas

742
Comunicação Oral
Linguística computacional

do Natural Language Toolkit (BIRD et al., 2011), o qual atingiu acurácia de 92,25%.
Por fim, com o intuito de facilitar a visualização das transcrições para não
linguistas, foi criado um sumarizador automático, com visualização em html,
que seleciona os enunciados mais importantes da transcrição tratada e com
ortografia já normalizada nas etapas (I) e (II) a partir de um cálculo de frequência
de ocorrência das palavras.

Palavras-chave: C-ORAL-ESQ; C-ORAL-BRASIL; Python.

743
Comunicação Oral
Linguística de córpus

Fraseologia especializada e relações metafóricas:


um estudo com base em corpus jornalístico de
espanhol rio-platense
Autoria: ARIEL NOVODVORSKI

Este trabalho é um recorte de nossa pesquisa de pós-doutorado, realizada


junto ao Programa de Pós-graduação em Letras da Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e concluída em 2020. Enquanto
objeto de estudo, abordamos a metaforização da área da política a partir de
Unidades Fraseológicas Especializadas (UFEs) do domínio do futebol. Nosso
objeto de pesquisa é um corpus jornalístico em espanhol rio-platense, que
compilamos da coluna dominical de opinião intitulada Humor Político, escrita
por Alejandro Borensztein e publicada no jornal argentino Clarín. O corpus de
estudo possui mais de 400 textos e abarca um período de 10 anos de publicações,
entre 2010 e 2019, com mais de 450 mil palavras. O quadro teórico congrega
Terminologia, Fraseologia Especializada, Metáfora Conceptual e Linguística
Descritiva. A metodologia contempla tanto a abordagem e os procedimentos
quanto a utilização das ferramentas WordList, KeyWords e Concord, do programa
para análises lexicais WordSmith Tools (WST), versão 7,0 (SCOTT, 2016), em
suas diferentes funcionalidades, assim como alguns recursos próprios da
Linguística de Corpus, disponíveis on-line para consulta, a saber, o Corpus
del Español (DAVIES, 2016, 2018), em sua versão dialetal, e o Sketch Engine
(KILGARRIFF, 2019). A partir da identificação e análise descritiva das UFEs
características do futebol, buscamos estabelecer as relações metafóricas na
representação dos emaranhados políticos na Argentina. Partimos da hipótese
de que aspectos cognitivos, linguísticos e pragmáticos convergem nos textos,
englobados por uma dimensão cultural mais ampla, de tal modo que do
domínio fonte do futebol são transferidas características mais concretas, que
passam a ser assimiladas para a compreensão do domínio alvo mais abstrato
do campo da política. O reconhecimento tanto das fraseologias quanto das
áreas de especialidade convergentes e implicadas nos textos, por um lado, é
necessário para a compreensão leitora dos usos especializados de determinadas

744
Comunicação Oral
Linguística de córpus

unidades fraseológicas do âmbito futebolístico no contexto da trama política.


Por outro lado, a compreensão também é dependente do conhecimento sócio-
histórico e cultural, haja vista a alusão a fatos que deveriam acionar relações
ou lembranças na memória dos leitores, assim como chamar a atenção para
aspectos pragmáticos implicados, fundamentais para o estabelecimento
das relações na construção dos sentidos, inclusive de valores humorísticos
subjacentes. Ilustraremos os procedimentos que adotamos para a identificação
das UFEs e para a compreensão das relações metafóricas encontradas, em
variadas ocorrências tomadas do corpus.

Palavras-chave: unidades fraseológicas especializadas; metáfora conceptual;


Linguística de Corpus.

Padrão informacional de pacientes com


esquizofrenia em corpus de fala espontânea
Autoria: JOSÉ CARLOS DA COSTA JÚNIOR

Essa comunicação apresenta os resultados preliminares e parciais da


comparação entre o padrão informacional da fala de pessoas com esquizofrenia
e sem esquizofrenia. O padrão informacional representa os possíveis arranjos
de unidades informacionais em um enunciado, o qual é considerado um ato de
fala e unidade de referência da fala no arcabouço teórico da Teoria da Língua
em Ato (CRESTI, 2000; MONEGLIA; RASO, 2014). Já as unidades informacionais
representam as porções funcionais do enunciado que possuem contrapartes
prosódicas e pragmáticas específicas. Nossa hipótese é: indivíduos com
esquizofrenia possuiriam padrão informacional menos variado e complexo do
que indivíduos sem esquizofrenia, tal como foi sugerido em Cresti et al. (2015).
Foram utilizados dois corpora orais representativos de suas populações, C-ORAL-
ESQ (FERRARI; ROCHA; RASO, em construção), de pacientes com esquizofrenia;
e C-ORAL-BRASIL (RASO; MELLO, 2012), de português brasileiro falado informal.
Após a seleção de 6 textos e respectivos áudios de cada corpus, os dados foram
extraídos e tratados em ambiente Python por meio de bibliotecas como o Pandas
e Numpy (MCKINNEY, 2010), Natural Language Toolkit (BIRD et al., 2011) entre

745
Comunicação Oral
Linguística de córpus

várias outras. A complexidade dos padrões informacionais foi medida pela


quantidade de unidades informacionais em stanzas, um tipo de enunciado – e
foram comparadas stanzas com igual número de Comentários Ligados (COBs),
que é um tipo de unidade informacional. Os resultados parciais revelam que
pacientes com esquizofrenia realizaram menos unidades textuais totais (p = 0,002
em stanzas de 1 COB); Tópicos (p = 0.000 em stanzas de 1 a 2 COBs); Parentéticos
(p = 0,021 em stanzas de 2 COBs), entre outros resultados estatisticamente
significativos. Argumenta-se que a menor quantidade de unidades textuais
nas amostras mais relevantes, de 1 a 3 COBs, sugerem menor complexidade na
elaboração dos padrões informacionais de pacientes com esquizofrenia, com
consequente menor enriquecimento melódico e informacional de suas stanzas.

Palavras-chave: esquizofrenia; padrão informacional.

Perspectiva analítica de triangulação de corpora:


reconfigurações do ambiente estratégico de
defesa no século XXI
Autoria: RAFAELA ARAÚJO JORDÃO RIGAUD PEIXOTO
Coautoria: KARINA COELHO PIRES

Em um cenário de redirecionamentos discursivos com base em novas diretrizes


políticas, partimos da hipótese de que os documentos de defesa foram revisados
de forma a atender a novas demandas estratégicas. Nesse sentido, buscamos
investigar de que forma elementos discursivos evidenciam as modulações do
discurso estratégico de defesa, com o objetivo de analisar como a perspectiva
de ambiente estratégico de defesa no século XXI foi reconfigurada ao longo de
atualizações do Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), nas edições de 2012,
2016 e 2020, particularmente quanto ao capítulo “Ambiente Estratégico do Século
XXI”, em relação ao cenário de possível cooperação com países da América do Sul.
Essa proposta de discussão pretende vislumbrar caminhos interdisciplinares em
relação a pesquisas empreendidas no âmbito de Estudos de Defesa, haja vista a
imbricação de questões discursivas e de questões estratégicas, principalmente
do ponto de vista institucional. A complementariedade metodológica, assim,

746
Comunicação Oral
Linguística de córpus

pretende abarcar nuances mais complexas do objeto de estudo desta pesquisa:


os documentos de defesa elaborados pelo Brasil. Desta forma, com base na
perspectiva analítica de triangulação, consoante a tipologia VVA proposta
por Malamatidou (2018), e nos aportes teórico-metodológicos de análise de
corpora e análise semântica lexical (L’HOMME, 2020; PEIXOTO; PIMENTEL,
2020) e análise crítica do discurso (FAIRCLOUGH, 2003), os objetivos específicos
delimitados para este artigo foram: (a) verificar a densidade temática dos textos;
(b) analisar os significados léxico-semânticos associados; e (c) depreender os
significados acionais presentes no discurso. Os grupos de dados apreciados
consistem em dados diacrônicos, isto é, referentes à progressão discursiva das
edições de 2012, 2016 e 2020 do Livro Branco de Defesa Nacional; e em dados
sincrônicos, isto é, referentes a discursos veiculados em vários documentos
de um mesmo ano, quais sejam os documentos de defesa publicados em 2020
(Política Nacional de Defesa, Estratégia Nacional de Defesa e Livro Branco de
Defesa Nacional). Os resultados apontam que houve modulação do discurso
acerca do ambiente estratégico do século XXI, de forma que o multilateralismo
centrado em cooperação com os países do entorno regional foi reconfigurado
a fim de alinhar-se com atividades político-estratégicas associadas a potências
tradicionais e potências emergentes.

Palavras-chave: defesa; Análise Crítica do Discurso; semântica lexical.

Verbos tipicamente empregados nas questões


do ENEM e a proposta de atividades didáticas
movidas por dados
Autoria: WILLIAM DANILO GARCIA
Coautoria: LUCIANO FRANCO DA SILVA

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a partir do ano de 2009, passou


a ser utilizado como critério de seleção a programas de acesso à Educação
Superior, tais como, o Sisu e o ProUni. Visto isso, compilamos, com o auxílio do
software Sketch Engine®, um corpus das questões do ENEM desde 2009 até
2020. Nosso objetivo foi o de identificar, por meio da chavicidade e da dispersão,

747
Comunicação Oral
Linguística de córpus

os verbos tipicamente empregados nos enunciados das questões desse exame,


com a finalidade de elaborar uma proposta de atividades didáticas movidas por
dados que visem ao ensino desses itens lexicais. Destacamos, portanto, que
este artigo se baseia nas premissas da Linguística de Corpus, assim como nos
preceitos da Aprendizagem Movida por Dados. Como metodologia, enfatizamos
o acesso ao site do INEP para a extração dos enunciados das questões de
cada um dos anos do ENEM que foram analisados. Feito isso, passamos para
a utilização do Sketch Engine® para a compilação do corpus de estudo e para
a determinação da chavicidade em relação ao Corpus Brasileiro. Delimitadas,
assim, as palavras-chave, mais especificamente os verbos, demos sequência
no estudo desenvolvendo uma proposta de atividades didáticas movidas por
dados pensadas nos estudantes do Ensino Médio (especialmente os da rede
pública de ensino) que contribuíssem para a compreensão desses itens lexicais.
Concluímos que, ao utilizarmos uma abordagem baseada em corpora, pudemos
desenvolver atividades movidas por dados do tipo hands-off, que contam
com a vantagem de colocarem os estudantes em uma posição autônoma e de
investigação da língua, além de serem facilmente aplicadas e realizadas em sala
de aula, haja vista que estão prontas e disponibilizadas na seção Apêndice deste
artigo. Afirmamos ainda que este estudo viabiliza não apenas a possibilidade de
recursos didáticos a serem usados nas aulas, como também as possibilidades
de investigações de palavras-chave do ENEM e, até mesmo, de vestibulares
como o da VUNESP, por exemplo.

Palavras-chave: ENEM; Linguística de Corpus; aprendizagem movida por dados.

748
Comunicação Oral
Linguística e interfaces

A intencionalidade argumentativa no conto "Cenários"


Autoria: GISELE BENCK DE MORAES
Coautoria: IVÂNIA CAMPIGOTTO AQUINO

Este trabalho busca descrever, analisar e explicar o sentido e a linguagem do


conto “Cenários”, do escritor Sérgio Sant’Anna, publicado em 1982, à luz da
Teoria da Argumentação na Língua (TAL), por meio da Semântica Argumentativa.
Ao se buscar descrever, analisar e compreender o conteúdo argumentativo
dos enunciados e tentar identificar a atitude e a intencionalidade do autor, de
acordo com a Semântica Argumentativa, é possível entender o discurso como
uma unidade que expressa não apenas o significado, mas também os sentidos
possíveis, sejam mais amplos ou não. Para a fundamentação teórica, foram
utilizados estudos de Bosi (1985), Pereira (2011), Poe (1985, 2011), Cortázar (2006),
Ducrot (1987, 1988, 2005) e Carel (2005). Com base nesses estudos, e a partir
de uma abordagem qualitativa para as análises, parte-se da hipótese de que
a linguagem é um fator determinante para a intencionalidade e compreensão
tanto do autor como do leitor, uma vez que a argumentatividade está implícita
na língua e as instruções possíveis do léxico ou do enunciado possibilitam
o entendimento e a concordância do leitor. Os resultados apontam para as
diferentes possibilidades argumentativas que os enunciados projetam dentro de
um texto, no caso do conto “Cenários”, e que estas relações são estabelecidas
de acordo com as instruções linguísticas permitidas pelo escritor, isto é, mostrar
que é possível fazer uma análise linguística de um texto literário a partir de uma
visão da linguagem. Nesse sentido, a Semântica Argumentativa demonstra
o quanto pode colaborar com compreensões e possíveis entendimentos
enquanto língua, objeto de escrita proposto pelo escritor. Dessa maneira, a
aplicação dos conceitos teóricos apresentados nesse trabalho revela o grande
potencial de uma análise linguística mais aprofundada proposta pela Semântica
Argumentativa e vislumbra uma maior abertura e possibilidade de outras análises
que venham a colaborar com as questões de textos, buscando examinar em
outros discursos, sejam eles literários ou não, outras formas de conteúdo, de
atitudes e de intencionalidade do escritor.

Palavras-chave: Cenários; linguagem; instruções argumentativas.

749
Comunicação Oral
Linguística e interfaces

A marginália em obras de ficção: o objeto do signo


peirceano como um alvo em movimento
Autoria: JULIANA ANGEL OSORNO

O estudo da marginália revela as interações do leitor com o autor, o narrador


e as personagens, evidenciando que as interações na leitura atravessam os
níveis narrativos, ao invés de se ater a apenas um deles. Utilizo a adaptação
de Kockelman (2013, 2017) da teoria de signo peirceana para descrever como
essas interações podem ser interpretadas. Nesta pesquisa, a marginália se
entende como uma série de reações por parte do leitor que emergem durante
a leitura, de maneira que ele possa cumprir com o trabalho de leitura. A leitura
está sendo entendida como trabalho no sentido em que, como qualquer outra
atividade ordinária, precisa de atenção; o leitor tem que estar engajado no
processo da leitura e tem que trabalhar de modo a completar a tarefa com
sucesso (GARFINKEL, 1967, LIVINGSTON, 1995). Nesse contexto, as anotações
nas margens dos livros são entendidas como interpretantes do leitor em reação
a um signo que é, no sentido amplo, o texto ficcional. Esse interpretante ingressa
no processo semiótico como um novo signo disponível para interpretação.
Esse signo ao qual o leitor reage está em relação a um objeto no mundo. O
que a marginália evidencia é que esse objeto se manifesta como um alvo em
movimento, e que a criação em cadeia de interpretantes por parte do leitor
mostra esse caráter esquivo do objeto. Na minha pesquisa, elaboro essa
noção a partir do conceito de adaptação, como entendido na pesquisa sobre
Ecologias da Composição (SYVERSON, 1999). Para a análise, construí um corpus
com 412 anotações em espanhol, português e inglês feitas por seis leitores
em sete livros de ficção escritos nessas línguas. A observação dos dados,
incluindo comentários, perguntas, exclamações, referências intertextuais,
setas e emoticons, informaram a criação de algumas categorias analíticas que
organizaram o material. Apresentarei duas análises de criação de significado
por dois leitores nos livros Água Viva, de Clarice Lispector, e I Know Why the Caged
Bird Sings, de Maya Angelou, baseadas na teoria do signo proposta por Kockelman
(2013, 2017) no contexto de uma Ecologia da Composição (Syverson 1999).

Palavras-chave: marginália; signo peirceano; ecologia da composição.

750
Comunicação Oral
Linguística histórica

A interação entre iconicidade e economia na


diacronia da transparência do sistema de expressão
do argumento-sujeito no português brasileiro
Autoria: ALESSANDRA GUERRA

Este trabalho trata do fenômeno da transparência linguística no português


brasileiro (PB) em perspectiva diacrônica. Especificamente, analisamos a
diacronia do grau de transparência do sistema de expressão do argumento-
sujeito por meio de pronome e por meio de desinência verbal. Estudos sobre
transparência assumem que cada língua exibe um determinado grau de
transparência, que se refere à proporção (maior ou menor) em que a língua
apresenta relações biunívocas entre significados e formas linguísticas na
estruturação linear dos enunciados (isomorfismo sintagmático). Em trabalhos
recentes, temos demonstrado que esse grau de transparência, no que tange ao
sistema de expressão do argumento-sujeito, varia diacronicamente no PB e que
essa variação é causada por três mudanças em curso na língua: aumento da
frequência da expressão pronominal do argumento-sujeito (em oposição à não
expressão pronominal), aumento da frequência de uso do pronome “você” em
detrimento de “tu”, aumento da frequência de uso da forma “a gente” em prejuízo
de “nós”. O quadro teórico-metodológico adotado em nosso trabalho inclui
princípios da Gramática Discursivo-Funcional e do Modelo das Motivações em
Competição. Os dados obtidos têm evidenciado que o grau de transparência do
referido sistema oscila às vezes em direção à diminuição, outras vezes em direção
ao aumento de transparência, não se alterando de forma unidirecional. Nesse
contexto investigativo, o objetivo da presente comunicação é, então, argumentar
que esse resultado sobre o comportamento diacrônico da transparência
está relacionado a uma influência igualmente relevante de duas motivações
linguístico-comunicativas: iconicidade e economia. De acordo com a perspectiva
que defendemos, a iconicidade tende a levar a língua para a transparência,
enquanto a economia leva a língua predominantemente para a opacidade (não-
transparência). Dessa forma, devido a uma constante interação entre essas duas
forças, as línguas estão sempre sofrendo mudanças: ora ganham e ora perdem
transparência, variando em torno de um certo eixo médio de transparência.

Palavras-chave: transparência linguística; sujeito gramatical; diacronia.

751
Comunicação Oral
Linguística histórica

Investigação voltada ao estudo do status


fonológico das consoantes róticas e laterais
duplas do português dos trovadores
Autoria: DÉBORA APARECIDA DOS REIS JUSTO BARRETO

A presente comunicação oral tem por objetivo apresentar uma caracterização


fonológica das consoantes líquidas do português dos trovadores, que abarcam
tanto os segmentos vibrantes, representados na escrita por "e ," quanto os
laterais, representados por ", e", a partir de uma análise de viés comparativo.
Para tanto, a documentação adotada para formar o corpus deste trabalho é
composta por 250 cantigas medievais galego-portuguesas: as 100 primeiras
obras pertencentes à vertente religiosa da lírica do medievo, cuja autoria é
conferida ao rei Dom Afonso X, de Leão e Castela, e 150 poesias da linha profana,
50 de cada um dos três gêneros canônicos – cantigas de amor, cantigas de amigo,
cantigas de escárnio e maldizer. A metodologia de estudo adotada se fundamenta
na verificação da possibilidade (ou não) de variação na representação gráfica
desses elementos da língua usada pela população feudal da Idade Média, bem
como na consideração da rima e da divisão do verso em sílabas poéticas, como
pistas que auxiliam a determinar o peso das sílabas que possuem esse tipo de
consoante. O montante encontrado totalizou 25.797 dados. Desse total, foram
recolhidas 406 variações nos fac-símiles dos cancioneiros. Desta forma, cada
dado, um a um, foi verificado nas edições fac-similadas das obras poéticas
que compõem o corpus, já que esse tipo de material mostra a representação
fotográfica do pergaminho, sem interferências posteriores e em tamanho
original. O assunto em questão foi pouco trabalhado até hoje, fato que reforça
a necessidade de se examinar os aspectos segmentais das líquidas simples e
duplas dos registros históricos. Todas as 25.797 ocorrências serão estudadas por
intermédio de uma perspectiva fonológica não-linear, sobretudo pelas teorias
métrica e autossegmental. Por meio da análise das variações encontradas
no corpus, esta comunicação oral objetiva fazer uma descrição que relacione
o comportamento fonológico dos elementos róticos e laterais do português
medieval, analisando se ambas as líquidas, quando registradas na escrita como

752
Comunicação Oral
Linguística histórica

duplicadas e entre vogais, podem ser consideradas como geminadas, ou seja,


podem ser interpretadas como complexas na estrutura profunda da língua,
preenchendo, portanto, duas posições temporais no interior da palavra.

Palavras-chave: consoantes líquidas do português trovadoresco; estatuto


fonológico; cantigas medievais galego-portuguesas.

753
Comunicação Oral
Literatura brasileira

A metapoesia de Ana Martins Marques


Autoria: EVA MARIA TESTA TELES

O presente trabalho se propõe a analisar a metapoesia presente no livro Vida


Submarina (2009) de Ana Martins Marques. Acreditamos que ela expresse a
sensação de incompletude que fundamenta a identidade poética do sujeito lírico,
pois ao traduzir nos poemas a sensação de algo inacabado, incompleto, para além
de descrevê-lo como é, põe em evidência o que falta, revelando a fragmentação
que o constitui. É possível perceber esse movimento pela linguagem empregada,
repleta de termos que retratam o incerto, a possibilidade, a descontinuidade e,
até mesmo, a ruptura. O vazio surge, assim, como uma consequência (ou causa)
da desordem e da desconexão que o sujeito lírico sente em sua relação com
o mundo. E, num desejo de ordená-lo, a escritora o reconstitui, tal como um
quebra-cabeça de duas faces, em que ordenando a figura da frente compõe-se
a imagem do verso, mas no nosso caso a poeta emprega sua mais cara matéria
prima, a palavra, e cria metapoemas que, ao refletirem sobre o mundo cotidiano
comum a ela, revelam o mundo subjetivo do sujeito lírico. Percebemos, então, que
embora tragam em seu bojo uma característica comum, a essência metapoética,
os poemas pouco dialogam entre si. Dessa forma, a relação que estabelecem
se deve quase unicamente à possibilidade de que sejam partes de algo maior,
elementos constituintes de um todo, impressão que não se confirma nem se
desmente todavia. Os profundos sentimentos e emoções apresentados nos
poemas contrastam com a linguagem simples e quase corriqueira empregada
por Marques. Este trabalho propõe uma análise detida dos versos à luz da teoria
do teórico francês Michel Collot que versa sobre o sujeito lírico fora de si, para
ele “o sujeito encarnado não saberá se pertencer completamente […] é apenas
saindo de si que ele coincide consigo mesmo” (COLLOT, 2013, p. 167) dessa
forma “o poema lírico será esse objeto verbal graças ao qual o sujeito chega a
dar consistência a sua emoção.” (COLLOT, 2013, p. 167).

Palavras-chave: poesia brasileira contemporânea; metapoesia; Ana Martins


Marques.

754
Comunicação Oral
Literatura brasileira

De anjo a demônio: a tipificação da mulher em


Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
Autoria: JOSÉ GOMES PEREIRA

Este trabalho está baseado em um estudo acerca da visão ora estável e imutável,
ora desestabilizada e mutante da figura feminina nas personagens do romance
Úrsula, da escritora brasileira Maria Firmina dos Reis. Se por um lado temos a
tipificação angelical da mulher, segundo os moldes do Romantismo, figurando
de forma disciplinarmente irretocável como a boa donzela para casamento ou
esposa exemplar, também temos a transformação dessa mulher que na gênese
da trama era apresentada como um sonho para qualquer homem, tornando-
se, mais tarde, em pesadelo, ou seja, uma mulher-anjo convertendo-se em
mulher-demônio. Esta obra tem recebido relevantes contribuições na crítica
textual ultimamente, após ter sido esquecida por muito tempo, talvez por não
ter sido escrita por um homem, e além disso, branco. Publicado em São Luís do
Maranhão em 1859, isto é, vinte e nove anos antes da Lei Áurea, este romance,
além de apresentar personagens negras dialogando e participando de ações
importantes dentro dos fatos narrados, revela as faces da sociedade patriarcal
da época oitocentista. A protagonista Úrsula, por exemplo, representa a donzela
ideal, virgem, romântica, ingênua, de boa índole, que praticamente sofre durante
a trama inteira e no final enlouquece. A personagem Adelaide vai representar, a
princípio, a boa moça, ingênua, pura, pobre e em detrimento disso, sem acesso
à cultura de prestígio das elites, que, contudo, quando se vê diante de uma
oportunidade tentadora, trai seu grande amor, o jovem Tancredo, casando-se
com o pai deste, seduzida pelas vantagens que a boa vida lhe proporcionaria.
A proposta deste estudo é estabelecer um paralelo entre esses dois perfis de
mulheres. Portanto, serão tomados, dentro de um quadro teórico-metodológico,
os conceitos sobre gênero, identidade e diferença, de Sandra Regina Goulart
Almeida, as definições antropológicas sobre a dominação masculina, de Pierre
Bourdieu, os estudos sobre a escrita feminina e a imaginação literária do século
XIX de Sandra Gilbert e Susan Gubar, além das contribuições de Elisa Verona
sobre a feminilidade oitocentista.

Palavras-chave: mulher; feminilidade oitocentista; patriarcalismo.

755
Comunicação Oral
Literatura brasileira

O corpo, o tempo e a voz das mulheres em Úrsula,


de Maria Firmina dos Reis
Autoria: JOSÉ GOMES PEREIRA

Este trabalho está baseado em um estudo acerca da voz discursiva feminina


na obra Úrsula, da escritora brasileira Maria Firmina dos Reis. Dentro desse
propósito, estabelecem-se as análises sobre como se deram, no decorrer do
tempo, as transformações dos corpos de personagens femininas da referida
obra. Inserido no contexto literário do Romantismo brasileiro, o romance
Úrsula, publicado em 1859, de autoria afrodescendente, é tido pelos estudos
recentes como um marco para a literatura brasileira e um achado para os
estudos históricos. Maria Firmina dos Reis era filha de uma ex-escrava e de pai
branco, considerada a precursora no Brasil da escrita abolicionista e a primeira
a dar voz às personagens negras. As marcas do regime patriarcal fazem-se
presentes no eixo dessa narrativa, que embora tenha sido gerada a partir da
mente de uma mulher, essa mesma revelou-se influenciada pelo patriarcalismo,
ao mesmo tempo em que apresentava uma obra de ruptura, de transgressão
e de resistência em pleno período oitocentista. A hipótese gerada a partir da
observação dos fatos é que as personagens femininas desse livro tenham
sofrido de forma maior e também tenham envelhecido mais rapidamente
do que as personagens masculinas. Tal possibilidade conduz-nos à linha de
raciocínio segundo a qual, pelo protecionismo à figura do homem, endossado
pela religião e pela cultura, a mulher, desde cedo era preparada para ser uma
espécie de escudo desse homem, absorvendo seus impactos e tomando para si
suas dores. Após as descrições acerca desse processo, será analisado até que
ponto a escrita firminiana propôs mudanças e, dentro desse contexto, também
reproduziu, mesmo que involuntariamente, o próprio regime patriarcal. Para
tanto, serão utilizados dentro de um quadro teórico-metodológico os estudos
sobre a mulher brasileira do século XIX, de Tania Quintaneiro, os conceitos de
cultura, literatura e espaço de autoria feminina, de Rita Teresinha Schmidt, além
das contribuições de gênero, identidade e diferença, de Sandra Regina Goulart
Almeida e dos estudos do professor Eduardo de Assis Duarte.

Palavras-chave: corpo feminino; voz; oitocentismo.

756
Comunicação Oral
Literatura brasileira

A perpetuação das tradições orais no poema “O


cortejo de congo”, de Edimilson de Almeida Pereira
Autoria: MANOELA FERNANDA SILVA DE MATOS

Enveredar-se na poética de Edimilson de Almeida Pereira não é uma tarefa fácil,


pois o poeta navega entre a contemporaneidade e o erudito, e esta dualidade
é que torna sua escrita esteticamente bela e formal. Os traços das tradições
orais e da cultura popular marcam seus escritos, principalmente aqueles de
origem africana, que mantém a memória dos antepassados através de seus
descendentes. O eu-enunciador apresenta ao leitor o funcionamento de
uma das maiores festas populares do Brasil, a Congada, festividade esta que
reverencia Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, estes
últimos santos negros que tinham como missão proteger seus devotos. Este
cortejo acontece na Comunidade Negra dos Arturos, grupo erradicado em Minas
Gerais, que descende de Arthur Camilo, “o tronco véio” que viu nestas terras a
oportunidade de criar seus filhos e ali enraizar-se e perpetuar as tradições de
origem africana por meio da Congada. Pereira e Gomes (2002) dizem que tanto
o devorador quanto o devorado pertencem um ao outro, pois estão ligados às
suas origens, mas que são radicalmente mudados pelo encontro de culturas
diferentes, que faz nascer um novo modo de viver. O poema “Cortejo de Congo”
(2003) é formado por três partes, no qual o eu-enunciador reverencia seus mais
velhos, que se complementam com a imagem do menino, marcando a gênesis,
a permanência e a memória dos Arturos. Não obstante, as diversas vozes
presentes no poema dão a ele a expressão da coletividade, características estas
reforçada por Mário de Andrade (2002) ao dizer que a Congada é uma festa da
coletividade, que revisita a matriz ancestral e faz com que ela permaneça viva
pela memória de seus descendentes. Este trabalho tem como objetivo central
compreender como os preceitos da Congada são passados de geração em
geração, pela oralidade, respeitando o rigor linguístico e estético da poética de
Almeida, que “brinca” com o erudito e marcas da linguagem oral e popular dos
candongueiros. Assim, observa-se que o eu-enunciador busca a completude
do SER através da expressão corpórea que é transmitida na Congada, a partir

757
Comunicação Oral
Literatura brasileira

das rezas e festividades, no qual há um encontro entre o divino e o terrestre, a


fim de perpetuar esta herança cultural, que gera todo o modo de ser e de viver
dentro da Comunidade Negra dos Arturos.

Palavras-chave: permanência; cultura popular; poema.

758
Comunicação Oral
Literatura clássica

Uma proposta de incentivo à leitura dos clássicos


da literatura com o auxílio das tecnologias digitais
Autoria: ARTHUR VINÍCIUS FEITOSA FURTADO
Coautoria: DIRCE CHARARA MONTEIRO

Os baixos índices de leitura e de letramento literário dos brasileiros, atestados por


pesquisas como as de Failla (2016), indicam que a escola não vem conseguindo
cumprir o seu papel de incentivadora da leitura. Os resultados de estudos
exploratórios com estudantes do Ensino Médio, realizados por Cereja (2004) e
Oliveira (2013), revelaram que as práticas docentes relacionadas com a leitura
dos clássicos ainda são bastante tradicionais, sem o devido acompanhamento
durante o processo de leitura e incapazes de envolver grande parte dos alunos.
Assim, o objetivo desta pesquisa foi investigar se alterações nas práticas docentes
voltadas à leitura de livros literários clássicos, aprimorando o acompanhamento
do processo de leitura, com o apoio das tecnologias de informação e comunicação
e do ensino híbrido, podem influenciar positivamente no maior engajamento
dos discentes com os livros. Como suporte teórico, buscaram-se autores
que tratassem da problemática da leitura de livros no Ensino Médio, como
Cereja (2004), Oliveira (2013) e Cosson (2019), que definissem o que são obras
clássicas e refletissem sobre a sua importância, como Bloom (1995) e Calvino
(2007), e que discorressem sobre as tecnologias de informação e comunicação,
como Mill (2018), e sobre o ensino híbrido, como Moran (2015) e Bacich (2016).
Metodologicamente, a pesquisa foi desenvolvida por meio de um estudo de
caso realizado em duas salas do terceiro ano do ensino médio de uma escola
pública do interior paulista. Os alunos responderam a um questionário inicial
sobre leitura, seguido de uma proposta de intervenção com várias atividades
de leitura sobre o livro Capitães da Areia, de Jorge Amado. Nessa proposta,
buscou-se incentivar a leitura dos clássicos por meio da realização de atividades
variadas e espaçadas ao longo do período de leitura, bem como pela criação de
novos espaços de diálogo sobre o livro, presenciais e virtuais, com a realização
de debates sobre a obra, jogo e produção de texto. Terminada a intervenção, os
alunos responderam a um questionário sobre a proposta realizada, o qual apontou

759
Comunicação Oral
Literatura clássica

um alto nível de satisfação com as atividades desenvolvidas e com as formas


mais participativas de avaliação adotadas, além de um intenso envolvimento nos
momentos de jogo e debates, o que nos mostra que realmente há necessidade
de aprimorar o acompanhamento que o professor faz do processo de leitura
dos estudantes e de promover mais oportunidades para que eles dialoguem
sobre o que estão lendo, seja em sala de aula, seja em um ambiente virtual.

Palavras-chave: ensino médio; leitura dos livros clássicos; tecnologias digitais.

760
Comunicação Oral
Literatura estrangeira

Julia Alvarez: mito, história e identidade em


perspectiva
Autoria: GISÉLE MANGANELLI FERNANDES

Inegavelmente, escritoras Latinas de origem Hispânica nos Estados Unidos


produzem uma literatura de resistência. O “estar entre dois mundos” (que se
chocam e, ao mesmo tempo, se mesclam) faz artistas Latinas contarem histórias
a fim de obterem suporte para suas buscas de igualdade, por meio de um
processo justo de inclusão. As angústias dos Latinos nos Estados Unidos estão
conectadas, de forma contundente, a uma diversidade de questões sociais e
identitárias. A escritora Dominican-American Julia Alvarez, por exemplo, aborda
o fato de ser “hifenizada”, como expressa em seu texto "Entre Lucas y Juan Mejía",
publicado em 1992. Afinal, qual é o preço que se paga por essa situação? Em
busca do American Dream, os imigrantes Latinos perceberam a necessidade da
transposição de barreiras não apenas físicas, mas também culturais, linguísticas,
econômicas e raciais. É possível aos Latinos se desvencilharem de suas tradições
para serem inseridos no American Way of Life? Alvarez afirma que lhe falavam
“learn your English” e assim ela o fez. Contudo, Alvarez ainda permanece dividida
entre os Estados Unidos e a República Dominicana, seu país de origem, com o
qual seu pai tinha graves problemas no tocante à ditadura Trujillo. No romance
In the Time of the Butterflies (1994), Alvarez traz à baila a história mítica das
Irmãs Mirabal, Patria, Minerva e Maria Teresa, as quais lutaram contra a ditadura
Trujillo e foram assassinadas em 1960. A morte das irmãs acirrou a oposição
ao ditador. As Irmãs Mirabal tornaram-se mitos, com diversas histórias a seu
respeito, e Julia Alvarez escreve sobre essas importantes mulheres dominicanas.
Este trabalho focalizará a reavaliação histórica das Irmãs Mirabal na obra de
Alvarez e o sentimento da autora de hifenização ao ser Dominican-American.
Textos de Hutcheon (1993), Mignolo (2003), Segal (2004), Byers (2011) e Harari
(2018) serão utilizados na fundamentação teórica deste estudo.

Palavras-chave: Julia Alvarez; identidade; história.

761
Comunicação Oral
Literatura estrangeira

As condições da opressão do sujeito minoritário


nas teorias da fragilidade, de François Paré, e sua
relação com os judeus na catalunha medieval
Autoria: NELSON LUIS RAMOS

François Paré, crítico e estudioso canadense, em seu ensaio Théories de la


fragilité (1994), aprofunda o tema da exiguidade relacionado às literaturas
minoritárias, por ele tratado em estudos anteriores, e denuncia as condições
da opressão, que levam ao isolamento e à invisibilidade do sujeito minoritário:
“Nas culturas minorizadas, a expressão de si é percebida como estigmatizante e
excessiva. Aliás, é nos instantes iniciais da prise de parole, no nível da intenção,
que a minorização se produz e que os ritmos do silêncio se instalam.” (PARÉ,
1994, p. 43-44). Paré, para quem a literatura é sempre um trabalho sobre o frágil,
vai além: “Para Levac, o sujeito minorizado se caracteriza pela ineficácia do
sonho (individual e coletivo), porque nele se enfrentam sem fim duas tendências
iguais, uma conduzindo ao aparecer, a outra ao desaparecer. Por essa razão, esse
sujeito não tem história, pois ele chama sobrevivência o que é de fato apenas um
combate estéril e estagnado.” (PARÉ, 1994, p. 21). Isto nos faz pensar, no contexto
da literatura da Catalunha (nosso objeto de estudo atual), na presença dos judeus
naquela região histórica da Europa, que teve na Idade Média seu apogeu. Em Els
jueus i Catalunya, Vicenç Villatoro afirma que, ao longo da história, os mundos
judeu e catalão geraram zonas compartilhadas, resultando, por um lado, em
valiosas contribuições no âmbito intelectual, mas também tensões que incluem
anos fecundos, perseguições, extermínios e conversões forçadas, resultando
na expulsão definitiva dos judeus no século XV (marcando um longo período
de silêncio). Em alguns romances recentes publicados na Catalunha, como A
catedral do mar, de Ildefonso Falcones, ou A ponte dos judeus, de Martí Gironell,
vislumbramos essa presença judia, que aparece ao mesmo tempo como parte
integrante do mundo catalão da época e ao mesmo tempo desconectada, como
se não existissem espaços de interseção entre as duas comunidades. Assim,
a partir das reflexões de Paré (cujas propostas são bastante importantes para
os estudos sobre literaturas minoritárias) decidimos abordar, nesse trabalho,

762
Comunicação Oral
Literatura estrangeira

os pontos mais importantes do ensaio citado confrontando-os com estudos


sobre a presença dos judeus na Catalunha (principalmente o estudo já citado
de Vicenç Villatoro), visando corroborar as afirmações do ensaísta canadense.

Palavras-chave: teorias da fragilidade; literatura catalã; judeus.

763
Comunicação Oral
Morfologia

Verbos depoentes como médios transitivos: uma


análise decomposicional ancorada na Morfologia
Distribuída
Autoria: LYDSSON AGOSTINHO GONÇALVES
Coautoria: PAULA ROBERTA GABBAI ARMELIN

Este trabalho analisa a constituição morfossintática dos verbos depoentes


latinos, sob o modelo teórico da Morfologia Distribuída (HALLE; MARANTZ, 1993;
MARANTZ, 1997). Esses verbos se realizam sempre na voz passiva, embora as
gramáticas os definam como detentores de sentido ativo (FARIA, 1959). Devido
ao aparente mismatch entre forma e sentido, é comum que sejam analisados
como idiossincráticos, listados com suas propriedades específicas (cf. EMBICK,
2000). Contudo, tal caracterização falha em observar que a morfologia dos
depoentes é sincrética com vários outros domínios em latim, sendo chave
entre eles o médio. Mesmo nas gramáticas latinas está presente a percepção
de que os depoentes derivam de um resquício de voz média (CONTE et al.,
2006), e Grestenberger (2015) demonstra que os sujeitos desses verbos teriam
sido reanalisados, diacronicamente, a partir de elementos constituintes de
estruturas médias. Assim, defendemos que os depoentes são verbos em
processo de mudança, encontrando-se num estágio em que podem ser tratados
como “médios transitivos”. Para derivá-los, recorremos à proposta de Lazzarini-
Cyrino (2015), segundo a qual a morfologia passiva sincrética é na verdade um
argumento incorporado, combinada à análise de médios de Alexiadou (2013).
Para essa autora, verbos ativos têm seu argumento externo introduzido por um
núcleo Voice, enquanto os médios têm o seu introduzido pelo Appl (PYLKKÄNEN,
2008). Os depoentes, intermediários entre eles, precisariam dos dois núcleos,
mas teriam de “disputar” um único argumento. Como Appl é mais baixo na
estrutura (KIM, 2012), terá prioridade para introduzi-lo; então, quando Voice
é projetado, não há mais nenhum argumento livre. Seguindo Lazzarini-Cyrino
(2015), propomos que, para não desrespeitar as necessidades de c-seleção de
Voice, um argumento default, uma variável anafórica (cuja realização default em
latim é r), é introduzido aqui. Por ser uma anáfora em posição alta, ela não se liga

764
Comunicação Oral
Morfologia

a nenhum outro elemento e, como consequência, não recebe Caso (HEINAT,


2006). Para evitar que a derivação seja abortada, essa variável então se incorpora
ao verbo, para escapar à necessidade de marcação com Caso, e então se realiza
superficialmente como um sufixo. Como o argumento de Voice (a variável) não
recebeu Caso, o próximo elemento nominal na estrutura, o argumento de Appl,
receberá nominativo em seu lugar, enquanto o argumento interno receberá
acusativo, já que, devido à presença de Voice, a estrutura ainda se configura
como ativa. O resultado final é um verbo de “aparência” passiva, sintaxe ativa e
semântica “intermediária”, isto é, média.

Palavras-chave: verbos depoentes; voz média; morfologia distribuída.

765
Comunicação Oral
Neurolinguística

Um corpo de recursos: análise de ações


corporificadas e construção de turnos entre
terapeuta e criança com transtorno do espectro
do autismo
Autoria: ANA CAROLINE LOPES GOMES GUERRA

O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar as estratégias não-


verbais utilizadas pelos interlocutores para a coordenação do fluxo interacional
e gestão de troca de turnos. Esta pesquisa desenvolveu-se no quadro do projeto
“Ao mínimo gesto: Estudos dos recursos multimodais (aspectos verbais, gestos,
corpo e mundo material) nas interações envolvendo uma criança com TEA”
(FAPESP 2018/07565-7); o trabalho de constituição do Corpus foi submetido
ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP, CAAE 59128416.3.000.5505. A
interação multimodal envolve recursos de distintas naturezas semióticas que são
mobilizados pelos participantes em uma interação para a construção de sentido,
podendo ser utilizado desde prosódia até posturas corporais. Da investigação de
cunho multimodal, emergem afirmações de que não só o aspecto verbal tem a
função de comunicar, mas também: o gesto, o olhar e o direcionamento do torso,
por exemplo, são aspectos não-verbais que estão alinhados conjuntamente
com a fala e colaboram para coordenar o fluxo conversacional. Esse trabalho
explora a temporalidade de uma interação de uma criança diagnosticada com
Transtorno do Espectro Autista e uma terapeuta, que estão em uma atividade
de imitação. As etapas de trabalho consistiram na visualização dos registros
em vídeo de sessões de terapia da criança com TEA e da fonoaudióloga e na
transcrição da coordenação temporal de aspectos multimodais utilizando-se
da convenção de transcrição multimodal sugerida por Mondada (2014). Essas
transcrições foram realizadas através de um software de anotação multimodal
denominado ELAN (WITTENBURG et al., 2006), que permite visualizar a sincronia
e a coordenação temporal entre os aspectos verbais e não-verbais da interação.
Os dados demonstram que apesar da criança com TEA em questão se utilizar de
pouco recurso verbal em termos linguísticos, ela se utiliza de muitos recursos
gestuais durante a sequencialidade da interação: se utiliza do olhar e da mudança

766
Comunicação Oral
Neurolinguística

de posição do torso ao fim de cada sequência. Tais aspectos não-verbais,


relacionados com as temporalidades e posição sequencial em que ocorreram
(quase no fim de cada sequência de imitação) demonstram, através de análises
finas, que os aspectos não-verbais estão alinhados conjuntamente com a fala
e colaboram para coordenar o fluxo conversacional e para a alternância de
turnos.

Palavras-chave: interação multimodal; sequencialidade; transtorno.

Sujeito constituído, escrita constituinte


Autoria: SIMONE MAXIMO PELIS
Coautoria: NIRVANA FERRAZ SANTOS SAMPAIO

Faz parte do desenvolvimento infantil a escrita do próprio nome. Para além


de expressar o desenvolvimento motor, escrever o próprio nome é uma
expressão de identidade, propriedade e afetividade. O mesmo ocorre quando
adultos iletrados adquirem a escrita do próprio nome. E quanto à afasia, como
se dá com sujeitos afásicos a expressão escrita de seu próprio nome? Que
mecanismo de ressignificação é acessado? O sentido da escrita fundamenta-se
na característica constituinte da linguagem, seja verbal ou não verbal, portanto
a hipótese defendida neste trabalho é que na escolha da escrita do afásico este
se (re)constitui enquanto sujeito, posicionando-se social e historicamente,
mediado pela afetividade. Para sustentar essa hipótese, apresenta-se e analisa-
se dados do sujeito MJ, 83 anos, professora aposentada, que apresentou afasia
em decorrência de acidente vascular cerebral (avc). Trata-se de um recorte de
uma pesquisa que objetiva a observância do processo de (re)significação e (re)
constituição do sujeito fragmentado em decorrência de acidentes cerebrais, na
e pela linguagem, verbal ou não verbal. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é
apresentar a escrita como possibilidade de significação do sujeito afásico e de
consolidação de sentidos, e enquanto linguagem constituída, a escrita torna-se
instrumento revelador do sujeito silenciado pelo avc. Importante pontuar que o
sujeito mencionado apresenta hemiplegia à direita e, embora destro, significa-
se na insistência da escrita com o membro superior afetado, demonstrando
resistência à sua condição e fortalecendo a afetividade que move sua expressão

767
Comunicação Oral
Neurolinguística

escrita, e o faz sujeito de sua história, sujeito de linguagem. O arcabouço teórico-


metodológico que fundamenta este trabalho é ancorado na perspectiva da
neurolinguística discursiva preconizada por Maria Irma Hadler Coudry, imerso
no conceito de linguagem de Franchi (2011, p. 11) que afirma que “a linguagem
não é a história do homem, mas, ela constrói essa história”. Assim, observa-
se como a escrita se revela, enquanto ato de linguagem, que ordena o mundo
caótico do sujeito afásico, ato que possibilita a reapropriação de sua história e
de sua identidade.

Palavras-chave: escrita; significação; afasia.

768
Comunicação Oral
Pragmática

Hipérbole nas falas-em-interação de brasileiros e


alemães: um estudo cross-cultural
Autoria: CAROLINA BARBOSA PASSIG MARTINS

Este trabalho é o resultado da pesquisa de mestrado que culminou na dissertação


intitulada Hyperbole in Brazilian and German talks-in-interaction: a cross-
cultural study, desenvolvida e defendida no Programa de Pós-graduação em
Estudos Linguísticos (POSLIN) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
sob orientação da Prof.ª Dr.ª Ulrike Schröder, em 2017. Por ser a primeira vez
que esse estudo é apresentado em língua portuguesa, espera-se incluir outros
pesquisadores a quem ele porventura possa interessar. Como tema central, tem-se
a hipérbole, um recurso produtivo e frequente no discurso cotidiano. Empregá-la
pode ajudar a fortalecer argumentos e expressar ideias e sentimentos. Procurou-
se, então, estudar a hipérbole com o objetivo de compreender os mecanismos
pragmáticos envolvidos no seu uso na fala-em-interação, tendo como base
a Retórica Clássica, a Pragmática Cross-cultural, a Análise da Conversa, a
noção de estilos comunicativos e os estudos recentes sobre hipérbole. Isso
foi feito por meio da análise da fala de dois grupos distintos, sendo um deles
composto por três indivíduos alemães e o outro, por três brasileiros. Cada um
deles foi filmado por aproximadamente uma hora durante uma conversa sobre
tópicos selecionados e outros assuntos. Os dados foram transcritos usando o
sistema GAT 2 e o software EXMARaLDA. A análise da produção de exageros
no discurso dos alemães mostrou uma relação entre o uso de hipérboles e seu
estilo argumentativo, especialmente em termos de discordância e da tentativa
de anular o argumento de outro falante. Os participantes brasileiros, por outro
lado, empregaram a hipérbole para construir rapport e mostrar afiliação e
expressividade. Além disso, em relação a estilos comunicativos, enquanto os
alemães que participaram desta pesquisa mostraram uma inclinação a tentar não
impor, os brasileiros buscaram proximidade na conversa. Os dados mostraram a
importância de se investigar assuntos relacionados à expressividade na conversa
sob uma perspectiva cross-cultural e apontam para direções interessantes para
pesquisas vindouras.

Palavras-chave: hipérbole; estilos comunicativos; cross-culturalidade.

769
Comunicação Oral
Psicolinguística

Fluência de leitura em pessoas com síndrome de Down


Autoria: GLAUBIA RIBEIRO MOREIRA
Coautoria: CATIANE SILVA SANTOS

A leitura é uma atividade cognitiva e complexa que envolve a interação de diversos


processos. Nessa tarefa, leitor, com seus conhecimentos de mundo, e texto,
com os dados linguísticos, desempenham papéis importantes na construção do
significado (LEFFA, 1996b; SOLÉ, 1998). Sendo assim, quando um ou outro está
comprometido, a compreensão pode não ocorrer. As pessoas com síndrome de
Down (SD), por exemplo, apresentam atraso cognitivo, comprometimentos de
linguagem e de memória, fatores importantes para o processamento de leitura e,
dessa forma, para a fluência na leitura de textos. Nossa hipótese é a de que esses
comprometimentos e atrasos contribuirão para baixa fluência na leitura dos
textos e, consequentemente, para uma baixa pontuação nos testes realizados.
Diante disso, objetivamos investigar a fluência de leitura de pessoas com SD.
Para coleta dos dados, utilizamos o teste Cloze rígido (TAYLOR, 1993) e o racional
(KLEIMAN, 2002). O teste consiste no lacunamento de um texto que deve ser
recuperado pelo leitor. Selecionamos três textos, dos quais em um, fizemos o
lacunamento rígido e nos outros dois, o racional. No cloze racional, apagamos 10
palavras aleatórias no texto, no racional lexicais maiores, apagamos 10 palavras
que pertenciam à classe de palavras abertas, como verbos e substantivos, e no
teste cloze racional lexicais menores, apagamos 10 palavras de classe fechada,
como preposições e conjunções. Três pessoas com SD participaram do estudo:
SK, SE e SC. Os testes foram realizados no Google Meet, individualmente. Cada
um deles poderia alcançar até dez pontos em cada teste e 30 pontos totais,
considerando como certa apenas as lacunas preenchidas com a mesma palavra
retirada do texto original. Os dados pertencem ao banco de dados Núcleo Saber
Down. Os resultados mostraram que os três participantes alcançaram baixa
pontuação nos três testes realizados. A maior pontuação no cloze rígido foi 4 e
a menor 0. No racional lexicais maiores, a máxima foi 2 e a mínima 0. No teste
cloze lexicais menores, nenhum dos participantes pontuou. A baixa pontuação
nos testes evidencia que os participantes apresentam dificuldade em utilizar o
contexto para fazer inferências ao longo do texto e controlá-las, confirmando ou

770
Comunicação Oral
Psicolinguística

refutando-as. Esses resultados podem ser em decorrência da baixa compreensão


dos textos e atribuímos isso à dificuldade de linguagem, atraso cognitivo e de
memória, além do pouco ou inadequado uso de estratégias de leitura. Diante
disso, a compreensão dos textos ficou comprometida, não havendo, portanto,
fluência de leitura. (Apoio: FAPESB)

Palavras-chave: processamento de leitura; fluência leitora; compreensão leitora

Os efeitos morfológicos e sintáticos sobre o


processamento da correferência catafórica
pronominal em português brasileiro
Autoria: PABLO MACHEL NABOT SILVA DE ALMEIDA

Esta pesquisa apresenta resultados de um estudo on-line sobre processamento


correferencial catafórico em Português Brasileiro (PB). Empregou-se a técnica
experimental da leitura automonitorada (self-paced reading), buscando-
se determinar se o Mecanismo de Busca Ativa, doravante MBA, é operante
em PB e se a restrição sintática inerente ao Princípio C da Teoria da Ligação
(CHOMSKY, 1981; LASNIK, 1991; SPORTICHE, 2013) juntamente com os traços-phi
(?) de gênero interferem na ação do MBA junto à computação de tais relações.
Participaram voluntariamente do experimento 71 falantes nativos de português
brasileiro (PB) sem problemas de saúde ou qualquer comprometimento cognitivo
e com acuidade visual. Os participantes se submeteram à experiência nas
dependências do Laboratório de Processamento Linguístico (LAPROL) na UFPB.
Evidenciou-se a não manifestação de um MBA diferentemente do constatado
em outras línguas como o Inglês (KAZANINA et al., 2007), tendo em vista o
fato de o PB ser uma língua de sujeito nulo parcial em processo de mudança
paramétrica de tal modo que a instabilidade provocada por este processo se
revela não ser capaz de suportar um processamento orientadamente top-
down (BARBOSA; DUARTE; KATO, 2005). Os dados revelaram também que o
processamento correferencial catafórico é sensível ao Princípio C e modelado
pelos traços-phi (?) de gênero. Enfim, conclui-se que o parser, em PB, processa
a correferência catafórica de modo restrito e acurado gramaticalmente em

771
Comunicação Oral
Psicolinguística

termos morfossintáticos e conforme uma orientação de processos que não


parece ser top-down e cujo processamento é possivelmente mais orientado
por uma postura bottom-up. Referências: BARBOSA, Pilar; DUARTE, Maria
Eugênia Lamoglia; KATO, Mary Aizawa. Null subjects in European and Brazilian
Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, Lisboa, v. 4, n. 2, p. 11-52, 2005.
CHOMSKY, Noam. Lectures on government and binding. 2nd ed. Dordrecht:
Foris, 1981. KAZANINA, Nina; LAU, Ellen F.; LIEBERMAN, Moti; YOSHIDA,
Masaya; PHILLIPS, Colin. The effect of syntactic constraints on the processing
of backwards anaphora. Journal of Memory and Language, San Diego, CA, v. 56,
n. 3, p. 384-409, 2007. LASNIK, Howard. On the necessity of binding conditions.
In: FREIDIN, Robert (ed.). Principles and parameters in comparative grammar.
Cambridge, MA: The MIT Press, 1991. p. 7-28. SPORTICHE, Dominique. Binding
theory - Structure sensitivity of referential dependencies. Lingua, Amsterdam,
v. 130, special issue, p. 187-208, 2013.

Palavras-chave: mecanismo de busca ativa; princípio c; traços-phi (?) de gênero.

772
Comunicação Oral
Retórica e estilística

As personalidades na TV: humor e ethos em análise


Autoria: LUANA FERRAZ

O aprimoramento das tecnologias de informação e comunicação tem garantido,


há várias décadas, o surgimento de novos canais de mídia e a crescente
circulação de bens culturais. Nos novos espaços de interação abertos durante
esse período, alguns oradores destacaram-se pela influência que exerceram
sobre auditórios amplos e heterogêneos. Atualmente, a exposição dos
estilos de vida, opiniões e experiências dos influenciadores digitais pauta o
comportamento de uma legião de admiradores. Contudo, a celebrity culture
antecede em muito a existência das redes sociais digitais, dos sites ou das
plataformas de vídeos. No Brasil da segunda metade do século XX, o caminho
mais curto para a fama era a televisão. Os poucos canais da TV aberta promoviam
artistas oriundos de outros meios, como o rádio ou o teatro, a patamares
de popularidade antes impensados. Esses oradores, agora superexpostos,
precisavam construir imagens de credibilidade que despertassem a confiança
do auditório de telespectadores, pudessem ser revertidas em instrumentos
de marketing para a própria emissora e, simultaneamente, alavancassem suas
carreiras em outros meios. Essas imagens, denominadas ethé em retórica, são
construídas levando-se em conta os valores éticos e morais, as convicções
político-sociais, as crenças e a cultura do auditório ao qual o orador se dirige
(ou àquele a que ele julga se dirigir). Por serem os carros-chefes das grades
de programação, as novelas, os humorísticos e os programas de auditório e
variedades reuniam os maiores nomes da cultura dirigida às massas no país
na segunda metade do século XX. Considerando o panorama apresentado,
partimos, nesta comunicação, de entrevistas concedidas por figuras expressivas
do humor brasileiro a programas televisivos de grande repercussão para analisar
a construção dos ethé desses oradores quando despidos de suas personagens.
Dentre os oradores selecionados estão os humoristas Chico Anysio (1931-2012)
e Dercy Gonçalves (1907-2008); o primeiro, reconhecido criador de tipos que,
durante décadas, encabeçou programas humorísticos de sucesso na Rede
Globo de Televisão; a segunda, artista célebre pela irreverência, que ganhou
destaque como comediante, apresentadora e personalidade convidada em

773
Comunicação Oral
Retórica e estilística

programas de diferentes emissoras. Para a realização das análises, recorremos


ao arcabouço teórico da retórica antiga e das neorretóricas. Assim, valemo-
nos dos tratados de Aristóteles (2005), Cícero (2002) e Quintiliano (2015, 2016),
bem como das obras de autores contemporâneos, tais como, Amossy (2005),
Meyer (2007) e Ferreira (2010, 2019) para refletir sobre a construção discursiva
da reputação dos oradores analisados.

Palavras-chave: ethos; televisão; humorismo brasileiro.

774
Comunicação Oral
Semântica

Os verbos bitransitivos de transferência e de


movimento causado no português brasileiro: uma
análise sintático-semântica
Autoria: AMANDA NORONHA OLIVEIRA

Classes verbais são formadas pelo agrupamento de verbos que compartilham


propriedades semânticas gramaticalmente relevantes, ou seja, que determinam
o comportamento sintático dos verbos (CANÇADO; AMARAL, 2016; LEVIN,
1993, 2010). Verbos do português brasileiro como carregar, dar, enviar, lançar e
levar assemelham-se tanto do ponto de vista sintático (regência bitransitiva)
como do ponto de vista semântico (denotam eventos causativos em que há
transferência/deslocamento de um objeto), mas cabe questionar se somente
essas propriedades são suficientes para agrupá-los em uma única classe. Este
estudo tem como objetivo principal investigar o comportamento sintático-
semântico de tais verbos a fim de verificar a sua distribuição em classes.
Inserida na linha de Interface Sintaxe-Semântica Lexical (FILLMORE, 1970; LEVIN,
1993; LEVIN; RAPPAPORT HOVAV, 2005), a pesquisa segue a metodologia de
coleta e análise de dados conforme Cançado, Godoy e Amaral (2017). Foram
selecionados, a partir do dicionário de Borba (1990), verbos que atendiam a três
critérios principais: (a) aceitar a regência bitransitiva, (b) expressar um evento
causativo de transferência ou deslocamento de um dado objeto em direção a
algum lugar ou a alguém e (c) ser compatível com as preposições direcionais
a ou para iniciando o objeto indireto. Sintaticamente, foram observadas
diferenças em relação às preposições que podem iniciar o objeto indireto e à
possibilidade de inserção de sintagmas-fonte nas sentenças. Semanticamente,
as particularidades dizem respeito à natureza da transição denotada pelo verbo,
ao tipo de resultado acarretado (BEAVERS, 2011) e ao deslocamento conjunto
do participante desencadeador e do objeto deslocado. Os resultados iniciais
sugerem a separação dos verbos em ao menos duas classes principais de
movimento causado (e.g. carregar, enviar, lançar, levar etc.) e de transferência
(e.g. dar, entregar, vender etc.), ponto já observado em outros estudos (ARAÚJO,
2017; BEAVERS, 2011; CORRÊA, 2005; FURTADO DA CUNHA; CÉSAR, 2018;

775
Comunicação Oral
Semântica

LEVIN; RAPPAPORT HOVAV, 2011; MORANTE; CASTELLÓN; VÁZQUEZ, 1998).


Os primeiros expressam transições físicas (deslocamentos efetivos), ao passo
que os segundos codificam transições em campos mais abstratos, como o
de posse. Além disso, as propriedades observadas corroboram a proposta de
Levin e Rappaport Hovav (2011) de divisão dos verbos de movimento causado
em classes distintas, a saber: verbos do tipo enviar, verbos do tipo lançar e
verbos de movimento acompanhado contínuo (e.g. arrastar, carregar, levar,
etc.). A pesquisa ainda está em fase inicial de desenvolvimento. O próximo
passo consistirá em uma análise mais detalhada do comportamento sintático-
semântico de todos os verbos coletados em Borba (1990). (Apoio: CAPES)

Palavras-chave: classes verbais; verbos de transferência; verbos de movimento


causado.

Efeitos de sentido em pichações no contexto da


pandemia
Autoria: ANTONIO LEMES GUERRA JUNIOR
Coautoria: LOLYANE CRISTINA GUERREIRO DE OLIVEIRA

As pichações, caracterizadas como inscrições verbo-visuais em muros e


paredes, espalham-se pelas grandes cidades, carregando consigo a expressão
de diferentes conteúdos, entre palavras, cores e formas diversas. De autoria
frequentemente anônima, essas marcas tipicamente urbanas são consideradas,
por vezes, ações marginais, sendo a marginalidade aqui compreendida, conforme
Quijano (1978), como uma “falta de integração em” – em um grupo, em um espaço,
em diferentes setores sociais. No entanto, a despeito de qualquer reflexão
acerca de um suposto caráter vandálico que recaia sobre essas produções, os
enunciados que integram as pichações podem ser tomados como textos, os
quais, na confluência de caracteres verbais e visuais, reverberam discursos que
revelam críticas, valores e posicionamentos frente à realidade. Este trabalho,
portanto, partindo dessa premissa, tem o objetivo de analisar os sentidos que
emergem do discurso verbo-visual expresso em pichações com o tema “álcool
gel”, situado no contexto da pandemia, capturados fotograficamente na cidade
de Londrina - PR: “Deus abençoe o álcool gel” e “Álcool gel < água e sabão”. Esses

776
Comunicação Oral
Semântica

enunciados são analisados à luz dos preceitos da Semântica Argumentativa


(DUCROT, 1987) e da Análise do Discurso (PÊCHEUX, 1988), considerando-se,
respectivamente: (i) a sua dimensão argumentativa (as marcas linguístico-
enunciativas que dão forma ao discurso verbal em si); e (ii) a sua dimensão
histórico-ideológica (as condições de produção e o interdiscurso resgatado pelos
não ditos). Para corroborar as discussões, considerando a localização temporal
dos enunciados sob análise, também são mobilizados enunciados que integram
produções midiáticas sobre a pandemia (notícias, manchetes, etc.), de modo a
se estabelecer a conexão entre os “ditos”, tanto dos enunciados das pichações
quanto dos enunciados midiáticos, e os “não ditos” que emergem de toda essa
cadeia discursiva. As análises evidenciam que as pichações estudadas, num
processo de evidente deslocamento, partem de uma posição transgressora
para uma posição conscientizadora, na medida em que, em diferentes níveis,
defendem a ciência que está por trás do “álcool gel” no combate à pandemia.

Palavras-chave: pichação; sentido; discurso.

Léxico e enunciação
Autoria: CRISLAINE DE LIRA SILVA

O substantivo "porta", do português brasileiro, é analisado em suas diversas


ocorrências com intuito de compreender a regularidade que rege seu
funcionamento dentro do enunciado; sob a luz do referencial teórico-
metodológico da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (CULIOLI,
1990, 1999a, 1999b), para o qual o sentido é construído pelo material verbal
que lhe dá corpo, i.e., pelos enunciados organizados segundo regras nocionais,
sintáticas e entonativas, busca-se a identidade semântica do referido substantivo.
A partir de uma revisão, do modo como gramáticas inscritas em diferentes
vertentes teóricas contribuem com densa discussão acerca das possibilidades
de variação semântica do substantivo, com o propósito de verificar como tais
vertentes abordam o semantismo da unidade lexical, evidencia-se especialmente
nas gramáticas tradicionais, um conjunto de categorizações previamente
estabelecidas, tendendo a restringir a reflexão sobre a atividade linguística,
por não condizer com a espontaneidade e flexibilidade próprias à linguagem.

777
Comunicação Oral
Semântica

Apoiamo-nos numa teoria dos observáveis, que tem por objetivo mostrar, por
meio da manipulação de enunciados, julgamento de aceitabilidade para um
dado grupo lexical. Sendo assim, apresenta-se o modo como o nosso referencial
teórico-metodológico aborda a identidade semântica do substantivo por nós
analisado, sob a ótica de um funcionamento enunciativo invariante que o
sustenta. A discussão direcionada aos aspectos constitutivos do semantismo
do substantivo visa, num segundo momento, a repensar a apresentação de
subclassificações de base semântica encontradas em diferentes gramáticas
para fins pedagógicos. Na constituição do corpus, utilizamos exemplos extraídos
de fontes secundárias de pesquisa, caso das fontes lexicográficas reconhecidas,
tais como, os dicionários Aurélio e Houaiss (2001). Após minuciosa análise, nota-
se que a variação do termo decorre da identidade semântica que lhe é inerente,
a sua construção em diversos enunciados apoiando-se em parâmetros variáveis
que sustentam a representação de acesso-bloqueio entre dois domínios. Para
entendermos melhor o que chamamos de “domínios”, vejamos esse enunciado:
Homem é morto a tiros na porta de casa em Goiânia. No sintagma nominal
“a porta de casa”, porta remete a um objeto que possibilita o acesso e/ou a
passagem de um cômodo a outro ou do interior de um recinto para a sua parte
externa por meio de sua abertura ou de seu fechamento. Em outras palavras,
"porta" evoca um obstáculo capaz de diferenciar espaços, mais precisamente,
dois domínios que se referem ao interior e ao exterior da casa. No decorrer
de nossas análises, apresentam-se outros domínios evocados pelo referido
substantivo, revelando sua identidade semântica.

Palavras-chave: léxico; enunciado; substantivo.

O marcador "em" na elaboração das representações


temporais
Autoria: ELIZABETH GONÇALVES LIMA ROCHA

A preposição EM é ligada ao valor temporal. Este é o item que se repete nas


classificações das gramáticas tradicionais e funcionalistas, e na semântica
cognitiva. Exceto pelo trabalho de Neves (2011), as obras consultadas deixam
a desejar seja pela mera indicação do valor temporal (ROCHA LIMA; CUNHA;

778
Comunicação Oral
Semântica

CINTRA), seja pela redução deste valor ao valor espacial (ILARI et al.). Em Neves
(2011), encontra-se uma descrição mais fina, que resulta na diferenciação de
três tipos de complementos temporais introduzidos por EM: a) ponto no tempo;
b) duração e c) limite temporal. Apesar dos resultados apresentados guardarem
interesse, eles são insuficientes para dar conta das múltiplas flutuações
semânticas, bem como da complexidade de se estabelecer a identidade de
EM. Intentamos inteligir o jogo de variação e invariância que constitui as
relações cotextuais constituídas por EM. Adotamos a conduta metodológica
da Teoria das Operações Enunciativas, fundada por Culioli, que renuncia à tarefa
de classificação e se abre à proliferação da linguagem sem tentar reduzi-la a
categorias abstratas alheias à realidade empírica da atividade linguística. Culioli
propõe uma teoria dos observáveis que tem como objetivo mostrar, como pela
manipulação de enunciados, pode-se extrair julgamentos de aceitabilidade
estáveis para um dado grupo. A partir das análises empreendidas, avançamos
na hipótese de formulação do esquema operatório subjacente à diversidade
de empregos do EM no domínio temporal e que se deixa enunciar em termos
de propriedade ímã que expressa a dinâmica relacional instaurada por EM, a
qual opera um vetor tendencial que faz com que o termo orientador da relação
preposicional atraia para si o termo orientado, deixando-se estruturar - o termo
orientador - como zona de localização, ao mesmo tempo em que se constrói o
interior e o exterior do domínio de validação das ocorrências. Assim, a propriedade
ímã sintetiza o esquema subjacente à variação cotextual dos usos de EM, na
medida em que explica por que constrói determinadas representações e não
outras. Propomos uma formalização topológica do domínio nocional em que
se opera a localização temporal de um termo efetuada com o sintagma "chegar
em": no I(nterior) do domínio cabe o conjunto de representações temporais
construídas por EM, quais sejam, 1) intervalo fechado (Y) para o qual EM atrai
o evento (X) e dentro do qual o localiza, e 2) intervalo aberto quantificado ou
indeterminado (geralmente breve) (Y), estruturado como centro em torno do
qual EM localiza o evento orientado (X).

Palavras-chave: preposição; tempo; TOE.

779
Comunicação Oral
Semântica

O senhorio brasileiro e os sacramentos católicos:


sentidos de "senhor" na legislação sobre batismo e
enterro de escravos
Autoria: LILIANA DE ALMEIDA NASCIMENTO FERRAZ
Coautoria: JORGE VIANA SANTOS

Este trabalho está vinculado a uma pesquisa de doutorado em desenvolvimento


no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin) da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), na qual estudamos sentidos de
senhorio em legislações do período escravista brasileiro. Aqui, por recorte,
analisamos funcionamentos semânticos estabelecidos pela palavra "senhor"
em textos da legislação extravagante portuguesa dos séculos XVII e XVIII. A
legislação extravagante diz respeito a um conjunto de documentos legais que
exprimiam a vontade da coroa portuguesa e podiam se apresentar na forma de
cartas régias, provisões, alvarás, consultas, entre outros. Para os limites deste
trabalho, elegemos como corpus 15 cartas régias e 5 provisões portuguesas
que tratam da aplicação de sacramentos católicos aos escravos, dentre os
quais destacamos o batismo e o enterro. Segundo Lara (2000, p. 25-26), as
cartas régias eram documentos dirigidos a pessoas determinadas assinadas
pelo próprio rei, enquanto as provisões eram determinações expressas em
nome do rei, advindas de conselhos ou ministros reais. Tal corpus se encontra
disponibilizado na base de dados "Legislação: Trabalhadores e Trabalho em
Portugal, Brasil, e África Colonial Portuguesa" na qual encontramos textos
legais referentes aos trabalhadores escravos, libertos e livres produzidos entre
1521 e 1988. A partir desse corpus, perguntamos: Quais sentidos de "senhor"
se materializam na legislação extravagante que trata do batismo e do enterro
de escravos? Recorrendo ao quadro teórico da Semântica do Acontecimento
(cf. GUIMARÃES, 2002, 2005, 2011), e empregando procedimentos enunciativos
de análise, objetivamos demonstrar, preliminarmente, que, mesmo em textos
jurídicos, os sentidos se constroem historicamente, evidenciando, nesse caso,
um litígio político que resulta na imposição da religião católica pelos senhores
aos escravos como religião dominante, criando um espaço de cruzamento do

780
Comunicação Oral
Semântica

poder jurídico e religioso. Para alcançarmos tal objetivo, após a identificação e


levantamento de ocorrências da palavra "senhor", partimos para a descrição e
análise semântica dos enunciados. Nos documentos analisados, verificamos
que os sentidos de "senhor" não remetem somente ao dono do escravo, mas
remetem também àquele que era o responsável pelo aspecto espiritual da vida
do cativo, assegurando o cumprimento de práticas que deveriam transformar-se
em exemplos e contribuírem para manter, deste modo, a submissão do escravo
à ordem estabelecida. As análises propostas confirmam que os sentidos de
senhor na legislação estudada se ancoram na visão do senhor cujo poder e
alcance eram, localmente, necessários à coroa portuguesa para a manutenção
do regime escravista e à Igreja para a manutenção da religião católica.

Palavras-chave: senhorio; religião; semântica.

Interlocução cultural entre os “sujeitos/nações” -


EUA/BRA personificados em cinema de animação
de Walt Disney: uma análise semântica enunciativa
Autoria: MONIKA LIRA MALHOIT
Coautoria: ISABELA BARBOSA DO RÊGO BARROS

O cinema, por meio de suas narrativas, de acordo com Turner (1997), desempenha
uma função cultural, que vai além do prazer da história e do entretenimento
proposto pela tecnologia audiovisual. A língua, por sua vez, segundo Benveniste
(2006) engloba a sociedade, não havendo uma outra forma de se analisar a
sociedade senão pela língua. Os fenômenos linguísticos são espelhos uns dos
outros, assim como a dicotomia língua e fala, e as noções gêmeas da forma
e do sentido da linguagem, a relação binária entre a semântica e a semiótica
também ocorre por uma relação de interdependência. “O privilégio da língua
é de comportar simultaneamente a significância dos signos e a significância
da enunciação” (BENVENISTE, 2006, p. 66). Diante dessa perspectiva, este
estudo teve como objetivo investigar a relação cultural entre o Brasil e os EUA
na linguagem enunciativa dos personagens Pato Donald e Zé Carioca, no filme
Alô Amigos, exibido nos cinemas em 1942. A obra fílmica fora criada por Walt

781
Comunicação Oral
Semântica

Disney para atender a um pedido do então presidente estadunidense Franklin


Delano Roosevelt, com a intenção de unir forças entre as Américas, contra o
regime ditatorial da Alemanha Nazista de Adolf Hitler, durante o período de
conflitos ideológicos vividos na Segunda Guerra Mundial. A abordagem, sob a luz
da teoria da Enunciação de Émile Benveniste (2005, 2006), focou nos aspectos
semânticos/semióticos da linguagem, os quais nos permitiram fazer uma leitura
do sentido implícito na fala e na imagem dos personagens, do filme citado. A
pesquisa apresenta-se de natureza qualitativa do tipo documental, uma vez
que foi lançado um novo olhar ao material fílmico, Alô Amigos, destacando para
análise apenas o episódio brasileiro. A metodologia foi baseada no discurso dos
personagens, através da transcrição audiovisual dos trechos selecionados e da
análise das cenas enunciativas, que contemplavam os elementos indicadores
da subjetividade, doravante dêiticos, com ênfase na categoria de pessoa. Os
dados encontrados nos permitiram concluir que os protagonistas se marcam
na linguagem e pela linguagem como representantes de seus países, seja
nas marcas identitárias de suas falas (idiomas), ou nas marcas semióticas
apresentadas em seus corpos. A criação fílmica tinha relação direta com o
propósito da política de “Boa Vizinhança” que se pretendia alcançar, construída
como forma de arma bélica, mas que perdura na contemporaneidade, visto a
influência que o modelo capitalista American Way of Life continua a exercer na
sociedade brasileira.

Palavras-chave: linguagem; enunciação; semântica.

O comportamento sintático-semântico dos verbos


transitivos indiretos do PB
Autoria: THAÍS FERNANDA CARVALHO BECHIR

Tomamos como objeto de estudo os verbos transitivos indiretos (VTI) do


português brasileiro (PB), um grupo de verbos tradicionalmente caracterizados
pela transitividade que têm em comum. São verbos como pisar (em) e votar (em).
Apesar de haver diversos trabalhos na literatura gramatical que conceituam os VTI,
há poucos estudos linguísticos que se propõem a analisá-los seguindo critérios
teórico-metodológicos específicos. Perguntas quanto ao estatuto dos VTI ainda

782
Comunicação Oral
Semântica

perduravam, tais como: como se comportam semântica e sintaticamente? Como


classificá-los? Objetivando fazer uma análise sintático-semântica dos VTI do PB,
seguida pelo seu agrupamento em classes verbais, valemo-nos da Semântica
Lexical (LEVIN; RAPPAPORT, 2005), contudo, assumimos a categorização a
partir uma visão mais flexível, à luz da Teoria de Protótipos (TAYLOR, 2003).
Metodologicamente, trabalhamos com a coleta e a aplicação de testes sintáticos
e semânticos nos verbos em análise. Na literatura linguística e na tradição
gramatical do PB, a única propriedade que é dada como certa para os VTI é a
impossibilidade de formar passivas, sendo essa formação considerada possível
apenas para os verbos transitivos diretos (VTD) (CEGALLA, 2008; GODOY, 2008;
dentre vários outros). Assim, tradicionalmente, considera-se que se pode prever
a passiva a partir da transitividade. Todavia, encontramos um grande conjunto de
dados que refuta a postulação de que os VTI não aceitam a passiva. Vejamos os
exemplos abaixo (em (a) temos a voz ativa; em (b), a voz passiva): (1) a. “Um deles
[...] pisou na areia pela primeira vez naquele dia”. b. “Enlameada, a grama foi pisada
e arrancada pelo público”. (2) a. “O eleitorado da cidade de São Paulo votou no
Jânio Quadros”. b. “[...] Karl Marx foi votado como sendo o maior filósofo de todos
os tempos”. (Fonte: Corpus brasileiro. Disponível em: https://www.linguateca.pt/
acesso/corpus.php?corpus=CBRAS) Considerando esses dados, assumimos a
posição de desvincular a passiva do tipo de construção de transitividade em
questão, propondo que a passivização não tem uma relação unívoca com a
transitividade. Trabalhamos com dois grupos de verbos: os VTI com preposição
visível ao componente sintático, que barram a formação de passivas, e os VTI
com preposição invisível ao componente sintático, que admitem a passivização.
Aos VTI com preposição visível à sintaxe foram propostas classes próprias,
exclusivamente transitivas indiretas. Quanto aos VTI com preposição invisível à
sintaxe, observamos que eles possuem um comportamento muito semelhante
aos verbos VTD. Assim, eles foram agrupados em classes que contêm VTD,
sendo considerados não anomalias linguísticas, mas itens menos prototípicos
dessas classes.

Palavras-chave: verbos transitivos indiretos; passiva; semântica-lexical.

783
Comunicação Oral
Semiótica

A transversalidade entre Semiótica e Filosofia: o


percurso epistemológico interdisciplinar para o
ensino de leitura
Autoria: ADRIANO PEREIRA DA SILVA

O desenvolvimento do conhecimento no processo didático-pedagógico foi


estruturado sob o prisma da compartimentalização dos saberes em disciplinas.
Para tentar superar essa fragmentação surgem algumas premissas de percursos
educacionais numa perspectiva interdisciplinar e transversal (FAZENDA, 2003;
GALLO, 2000). Partindo dessa concepção, esta pesquisa visa investigar como
os fundamentos epistemológicos e metodológicos dos estudos dos textos e
discursos, com base na semiótica francesa (GREIMAS, 1976; FONTANILLE, 2007),
geram percursos interdisciplinares e transversais da produção de sentidos
humanos entre Linguagem e Filosofia. Nesse sentido, problematizaremos
como a Semiótica se manifesta na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
(BRASIL, 2017, 2018) e no Currículo Paulista do Estado de São Paulo (SÃO
PAULO, 2019, 2020), procurando evidenciar o caráter interdisciplinar dela para
o ensino de leitura e para o trabalho com gêneros textuais filosóficos da rede
pública estadual de Educação Básica. Uma das tentativas de superação desta
fragmentação epistemológica tem sido a proposta de pensar uma educação
interdisciplinar, isto é, uma forma de se organizar os currículos escolares de
modo a possibilitar uma integração entre as disciplinas, permitindo a construção
daquela compreensão mais abrangente do saber, historicamente, produzido
pela humanidade. Gallo (2000) discorrerá, ainda, que muitos epistemólogos
foram aperfeiçoando o conceito conforme o processo histórico e as exigências
pedagógicas foram exigindo (trans, multi, pluri - disciplinaridade). Todavia,
grosso modo, os conceitos e suas variantes apresentam o efeito de sentido de
superação do processo cognitivo fragmentado, compartimentado e desarticulado
das áreas de conhecimento. A sociedade contemporânea apresenta diversos
problemas epistemológicos complexos, que misturam e integram inúmeros
objetos cognitivos numa dinâmica heterogênea. Os objetos e problemas do
conhecimento em sua complexidade tornam-se híbridos e amalgamados, que

784
Comunicação Oral
Semiótica

exigem uma postura gnosiológica e metodológica não fragmentada. Por isso,


a interdisciplinaridade e transversalidade apresentam-se como caminhos
fundamentais para as leituras e produções de sentido da realidade. “Para
pensar problemas híbridos, necessitamos de saberes híbridos, para além dos
saberes disciplinares." (GALLO, 2000, p. 28). Assim sendo, esta pesquisa é de
base qualitativa, com procedimentos metodológicos de um Estudo de Caso
(YIN, 2001, 2016), que procura evidenciar estratégias relevantes para a formação
dos professores para uma educação de qualidade (UN, 2015). Como resultados,
buscamos averiguar se a transversalidade da Semiótica e da Filosofia de fato
acontecem na prática ou se ficam somente como discursos normativos.
Pretende-se elaborar um curso de formação para professores, apresentando
como produto um material didático para o Ensino Médio.

Palavras-chave: semiótica; filosofia; transversalidade.

Análise semiótica das estratégias discursivas de


planos de aula on-line
Autoria: ANA CAROLINA CORTEZ NORONHA

Em nossa pesquisa de doutorado, finalizada em dezembro de 2020, buscamos,


por meio de análises discursivas, nos aproximar da sala de aula e apreender a
concepção teórica e prática do professor sobre suas aulas. No gênero textual
escolhido para compor nosso corpus, o plano de aula disponível on-line,
encontram-se documentados o planejamento das aulas, o fazer interpretativo
do professor sobre documentos legais vigentes, como os PCN, e seu fazer
persuasivo sobre os alunos, enunciatários da aula. Entendemos que, dessa
maneira, seria possível apreender um pouco de como se concebe a transmissão
e a construção do conhecimento nas salas de aula brasileiras no início do século
XXI, que tivemos como objetivo mais amplo de nossa pesquisa. Para tal análise,
nosso corpus constituiu-se de planos de aula disponibilizados on-line, no Portal
do Professor, site do MEC criado em 2008 e que teve seu auge entre os anos 2009-
2012. Foram eleitos sete planos para aulas da disciplina de Língua Portuguesa,
das séries finais do ensino fundamental, os quais foram selecionados dentre
os apontados como mais relevantes a partir dos critérios de filtros do site.

785
Comunicação Oral
Semiótica

Nossas análises foram feitas utilizando-nos da teoria semiótica discursiva, em


especial, dos estudos de José Luiz Fiorin (As astúcias da enunciação, 2002) e
de Diana Barros (Teoria do discurso, fundamentos semióticos, 2001) sobre a
enunciação. Esta apresentação tem como objetivo apresentar os resultados
das análises das estratégias discursivas de pessoa, espaço e tempo de que
se valeu o enunciador desses textos, e da relação enunciador – enunciatário
constituída, com a apreensão do quadro axiológico que se mostra por meio
dela. Desse modo, ao se analisarem essas estratégias, primeiro em cada um dos
planos, e em um segundo momento na totalidade do corpus, foram reveladas
características desse sujeito da enunciação, por meio de suas escolhas sobre
as marcas que ele deixou no texto.

Palavras-chave: semiótica discursiva; enunciação; semiótica e educação.

Grande Sertão: a polifonia semiotizada


Autoria: DANIELA DOS SANTOS

Mikhail Bakhtin criou o conceito de polifonia – uma metáfora vinda da teoria


musical – para designar romances em que ação representa a vida no seu fluir
vasto, lento e profundo. Bakhtin não fez uma súmula de seus conceitos, de
modo que a polifonia ainda não é bem definida, causando divergências e mal-
entendidos entre seus estudiosos. Dessa forma, nosso objetivo é operacionalizar
o conceito, mostrando-o como uma estratégia do enunciador para fazer o seu
fazer-sentir no enunciatário, além disso, expondo como pode ser aplicável em
outros romances, não apenas nos de Dostoievski – ou seja, tornando-o aplicável
e repetível. Para isso, nosso corpus será o romance de João Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Em um primeiro momento, demonstraremos que Grande
Sertão é um romance polifônico a partir de um diálogo velado entre Riobaldo
e seu interlocutário (“o senhor”). O romance em pauta carrega a síntese do
gênero sob a perspectiva do filósofo russo: os problemas e as contradições
desta vida não se resolvem, são irremediavelmente contraditórios, o universo
de sentido é plural, a construção semiótica dos atores é, antes de qualquer
coisa, a representação de consciências plurais, nunca de um “eu” único, mas
produto da interação de muitas consciências, dotadas de valores próprios,

786
Comunicação Oral
Semiótica

que interagem ao longo da narrativa, preenchendo, com suas vozes, as lacunas


deixadas no enunciado de seus interlocutores. Em um segundo momento,
buscaremos demonstrar como a polifonia está, também, adensada no ator do
enunciado Riobaldo. Isso será feito na medida em que ele se apresenta na ordem
do inacabamento actorial, sendo fundamental, para a noção de ator, as bases
teóricas oferecidas pela semiótica discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 2008). Por
fim, nosso objetivo final é demonstrar como essas lacunas, de acordo com as
teorias de Eric Landowski, levam o enunciatário roseano a deslizar para os eixos
do ajustamento e acidente.

Palavras-chave: polifonia; Bakhtin; Guimarães Rosa.

Ensino de gêneros a partir da perspectiva da


estilística discursiva
Autoria: DANIERVELIN RENATA MARQUES PEREIRA

A Semiótica Francesa e os estudos do gênero na perspectiva bakhtiniana têm


sido associados como duas correntes que se complementam nas investigações
sobre o discurso. A Semiótica, nascida de relações interdisciplinares entre a
linguística, os estudos da narrativa e da filosofia, também se abre a alargamentos
coerentes com seus pressupostos teóricos. Assim é que Bakhtin é, em sua
concepção do signo como social, visto como relação proveitosa teoricamente
para os estudos do estilo do gênero, que levam em conta a recorrência de
um modo de ser de um determinado gênero em suas várias realizações. Para
compreendermos melhor esse percurso de estudos, partimos de uma análise
de resenhas não acadêmicas, recolhidas principalmente em sites de informação
e entretenimento, e de resenhas acadêmicas, que circulam geralmente em
revistas científicas, a partir de três exemplares de cada gênero, investigando
seu estilo. Em seguida, mostramos como esses resultados podem ser utilizados
em disciplinas que abordam o letramento acadêmico no ensino superior. Para
o relato, utilizamos a experiência vivenciada na disciplina “Oficina de texto:
introdução aos gêneros acadêmicos”, ofertada pela Faculdade de Letras da
UFMG, em que esse gênero constitui a ementa. A sistematização dos resultados
mostra que os estudos do estilo do gênero podem contribuir para a melhor

787
Comunicação Oral
Semiótica

compreensão dos gêneros discursivos, já que permitem depreender seu


modo próprio de construção e circulação em cada esfera de comunicação.
A comparação entre um mesmo gênero (resenha) em contextos diferentes –
entretenimento e acadêmico – facilitou a abordagem em sala de aula e propiciou
uma interação que foi do mais lúdico ao mais formal, acompanhando a orientação
do gênero nos dois contextos, que contraem do seu conteúdo: subjetividade
vs. objetividade e mais flexibilidade vs. maior controle. Com essa pesquisa,
resgatamos os principais avanços teóricos, bem como os desafios do que ainda
precisam ser desenvolvidos teórico-metodologicamente no estudo do estilo
dos gêneros e sua aplicação na educação.

Palavras-chave: estilo; gênero resenha; ensino de língua portuguesa.

Percepção e crença em campanha educativa de


trânsito
Autoria: EMERSON TIOGO DA SILVA

Os textos ditos persuasivos têm recebido atenção significativa por parte dos
estudiosos do discurso, sobretudo no que tange às questões da enunciação e
aos elementos que a compõem, com destaque para as estratégias discursivas
utilizadas pelo enunciador. Todavia faz-se necessário ir além das construções
relacionadas ao fazer parecer-verdadeiro, incorporando aquelas relacionadas
ao crer-verdadeiro, o que motiva um direcionamento do olhar do analista para
as questões atinentes ao enunciatário. Assim, neste trabalho, analisaremos, à
luz da semiótica discursiva e de seus desdobramentos teóricos, o enunciado
audiovisual “Começo, meio e fim”, utilizado pelo Detran-MS como peça de
campanha educativa de trânsito no Movimento Maio Amarelo - 2019. Por fazer
parte de uma campanha de conscientização, adota-se como pressuposto que
busca o objetivo de persuadir ou, pelo menos, sensibilizar as pessoas acerca dos
cuidados necessários à segurança e à prevenção de acidentes, desenvolvendo
estratégias com vistas a assegurar a adesão do enunciatário. Nesse sentido,
faz-se relevante compreender não apenas o fazer persuasivo do enunciador,
mas, sobretudo, o fazer interpretativo do enunciatário, ou seja, evidenciar como
se constituem as relações de sentido por meio de um contrato fiduciário que

788
Comunicação Oral
Semiótica

as homologa. Partiremos do princípio de que o enunciatário deve reconhecer


como verdadeiro o discurso veiculado, com o qual deve se identificar, e também
analisaremos, ao considerarmos as implicações do lexema “sensibilizar”,
questões relativas à percepção e aos desdobramentos sensíveis por meio das
paixões que o discurso da imprudência, da irresponsabilidade, da ausência e
da dor despertam no enunciatário, em percurso que, partindo do inteligível
(razão), visa suscitar a consciência da responsabilidade no trânsito. Inicialmente,
abordaremos os elementos próprios do contrato de veridicção: /o saber/ e /o crer/
e as marcas veridictórias presentes no enunciado; em seguida, exploraremos,
por meio dos simulacros também inscritos no enunciado, a correlação entre a
percepção, o sentir e o crer na construção dos efeitos de sentido do discurso
e sua respectiva aceitação pelo enunciatário.

Palavras-chave: enunciatário; percepção; veridicção.

Semissimbolismo, pandemia e feira livre


Autoria: ELAINE CRISTINA DE QUEIROZ SILVA
Coautoria: SUELI MARIA RAMOS DA SILVA

A pandemia de COVID-19 trouxe mudanças para a cotidianidade da feira livre.


Os estudos acerca da temática de pandemia do novo coronavírus já foram
objeto de uma gama considerável de pesquisadores que tratam da sua presença
nas mais diversas práticas sociais, como podemos revisitar nas publicações
de fluxo contínuo do dossiê da revista Linguasagem do Departamento de
Letras e Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos,
intitulado "Covid-19: Uma Pandemia Sob o Olhar das Ciências da Linguagem",
ou de eventos organizados de forma on-line, como "Diálogos - Abordagem
Sociossemiótica da Pandemia", realizado pelo Programa de Pós-Graduação em
Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie e "Semiótica da quarentena"
promovido pela ABRALIN - Associação Brasileira de Linguística, abordando
temas sobre a construção do discurso nas narrativas em tempos de isolamento
social. Diante do exposto, esta pesquisa busca entender como a semiótica pode
otimizar a compreensão dos efeitos da pandemia de COVID-19 no universo da
feira livre, detendo-se nas questões sobre as alterações no que diz respeito

789
Comunicação Oral
Semiótica

à percepção de sentidos e às práticas sociais. Como objeto de análise desta


pesquisa, utilizaremos aspectos do enquadramento noticioso a partir de um
frame ou imagem congelada (freeze frame) da timeline no vídeo intitulado
"Dezenas de pessoas são flagradas sem máscara em feira livre do Guanandi
- (0:07)", reportagem publicada na plataforma do YouTube no canal SBTMS.
O conteúdo da matéria repercute sobre a espacialidade deste tradicional
evento da capital sul-mato-grossense, a Feira Livre do Bairro Guanandi, em
meio à problemática global do novo coronavírus. A análise desta pesquisa se
fundamenta no ferramental teórico da semiótica discursiva de A. J. Greimas
(1966) e seus desdobramentos a partir dos conceitos da semiótica plástica
de J. M. Floch (2001) e das abordagens de A. V. Pietroforte (2017), propondo
depreender os sentidos produzidos no frame do vídeo ancorado pelo título da
matéria, observando as relações de homologação que constituem as relações
semissimbólicas, embasando novos estudos sobre as práticas semióticas da
pandemia alicerçados ao evento da feira livre.

Palavras-chave: semissimbolismo; pandemia; feira livre.

Memória, esquecimento, discurso e graus de


concessão: usos e abusos contemporâneos
Autoria: FÁBIO PEREIRA CERDERA

A memória como fenômeno estudado pela psicologia é constituída por tempos,


naturezas e fases diversas. Da aquisição à evocação de grandezas, estruturas
ou categorias, seja para o reconhecimento, seja para a recordação, a memória
varia com relação ao tempo, podendo ser classificada como curta ou longa,
e quanto à natureza, como explícita e implícita (MOURÃO; FARIA, 2015). Do
ponto de vista teórico, há um quadro de autores e conceitos oriundos de áreas
distintas que trabalham a memória no âmbito social. Destacam-se como os
mais importantes: Pierre Nora (2017) com o conceito de lugares de memória.
Maurice Halbwachs (1990), associado aos quadros de memória e à memória
coletiva, debruçando-se sobre as condições sociais de produção e evocação
de memórias. Paul Ricœur (1997) e o chamado trabalho de memória, ou os
usos e abusos da memória. Para estes e muitos outros autores, é evidente que

790
Comunicação Oral
Semiótica

a construção da memória está intimamente relacionada ao esquecimento.


Semioticamente, podemos abordar a memória por meio do conceito de práxis
enunciativa, que administra a presença de grandezas no discurso (FONTANILLE,
2007), sendo responsável pelo aparecimento e desaparecimento de enunciados
no campo do discurso. A memória da práxis enunciativa resulta da superposição
da memória da coletividade (sistema virtual) e da memória das operações do
discurso (grandezas virtualizadas). Em sua investigação a respeito dos usos e
abusos de memória, Ricœur propõe uma escala da memória e do esquecimento,
na qual a memória impedida, patológica, encontra-se num estado latente, a
memória manipulada, num nível intermediário, e a memória obrigada, ou
memória comandada, num nível mais superficial, num estado manifesto. Se
por um lado a memória impedida, resultante de um acontecimento traumático
imprevisto, é mais impactante, mais intensa, a memória obrigada, decorrente
de uma situação menos célere e, portanto, mais legível, é menos impactante.
Cada uma dessas memórias corresponde a uma práxis enunciativa particular
e trabalha um esquecimento específico, convocando e realizando de maneira
própria as formas profundas estocadas no sistema. Por meio desse instrumental
teórico e de outros conceitos, propomos neste trabalho discutir essa escala
de memória como graus de concessão (ZILBERBERG, 2004) pertencentes a
um jogo veridictório, o qual estabelece um fazer persuasivo e interpretativo
próprios a cada um desses tipos de memória. Verificaremos tal hipótese através
da análise de um corpus constituído por intervenções e recontextualizações
de monumentos, bem como por discursos políticos.

Palavras-chave: memória; concessão; práxis enunciativa.

A construção identitária do gótico brasileiro. Uma


leitura semiótica
Autoria: FELIPE RIBEIRO CAMARGO

Os góticos, grupo de jovens que se encontram nas metrópoles, têm se mostrado


como uma das principais incógnitas para seus habitantes, ora encantando, ora
assustando a população com suas ações e levando-nos a questionar quem são,
como vivem e o que pensam, quando vislumbramos suas mais distintas formas

791
Comunicação Oral
Semiótica

de se apresentarem nas ruas da cidade, em especial, porque este transitar se faz


geralmente à noite, hora do dia que comumente se vincula à noção de rebeldia
e atitudes amorais. Com roupas pretas, rostos maquiados, fisionomia sombria,
transitam na noite das cidades e revelam um modo de ser que constrói uma
imagem estereotipada, comumente associada a um estilo que se aproxima
do demoníaco e do fantasmagórico. Nessa perspectiva, este trabalho, que faz
parte de nosso projeto de pesquisa de mestrado, tem por objetivo analisar, sob a
perspectiva teórico-metodológica da semiótica francesa, duas capas de edições
de revista especializada na subcultura gótica. Intitulada Gothic Station: Estilo
& Cultura. Essa revista foi o primeiro material veiculado especificamente ao
público gótico brasileiro e elaborada por tal grupo que frequenta a cena gótica
paulistana desde a década de 1990, com o intuito de veicular suas experiências
nessa subcultura. Destarte, para o desenvolvimento da pesquisa, definimos,
com base nos modelos de análise da semiótica francesa dois objetivos, a saber:
i) a depreensão das figuras e temas que revelam os valores que sustentam
os discursos das revistas, direcionadas ao público gótico; ii) os regimes de
sentido e estilos de vida que se manifestam entre eles. Para a consecução
desses objetivos, utilizamos elementos do percurso gerativo de sentido, mais
especificamente dos níveis fundamental e discursivo. Procuraremos relacionar
os valores que subjazem aos discursos das revistas aos regimes de sentido,
propostos pela sociossemiótica de Eric Landowski e aos estilos de vida que
assumem seus atores. Utilizamos ainda o conceito de semissimbolismo, uma
vez que as capas se constituem como textos sincréticos, com vistas a averiguar,
assim, como se constrói a identidade gótica.

Palavras-chave: subcultura gótica; construção identitária; estilo de vida.

Historiografia linguística das estruturas elementares


da significação na semiótica greimasiana
Autoria: IGOR REZENDE NARDO

Nesta comunicação, apresentaremos um recorte da pesquisa de mestrado,


intitulada As Estruturas Elementares da Significação na Semiótica Discursiva,
realizada na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP),

792
Comunicação Oral
Semiótica

câmpus de Araraquara, sob orientação do Professor Doutor Jean Cristtus


Portela e coorientação da Doutora Patricia Veronica Moreira. Nessa pesquisa,
servimo-nos das perspectivas e do inventário metodológico da Historiografia
Linguística de E. F. Konrad Koerner (2014), Pierre Swiggers (2010) e Jean Cristtus
Portela (2018) para dar conta dos percursos históricos envolvidos na formação
e no estabelecimento do conceito de “estruturas elementares” na semiótica
discursiva e dos decorrentes processos históricos de desenvolvimento desse
conceito no interior da própria disciplina pelos semioticistas greimasianos. O
recorte apresentado será o do conjunto das obras de Algirdas Julien Greimas
(1917-1992) que integram nossa pesquisa, sendo elas: Semântica Estrutural (1973),
Sobre o Sentido (1975), Dicionário de Semiótica (2011) e Semiótica das Paixões
(1993). Ao apresentar o percurso histórico que restituímos, demonstraremos os
princípios de historiografia linguística que orientaram a descrição de tal percurso,
bem como as noções de semiótica que contribuíram para organizarmos esses
conteúdos, sistematizando-as, como indica Swiggers (2009), no que tange à
seleção, interpretação e organização dos dados coletados. Dessa forma, nosso
trabalho se insere no campo daqueles desenvolvidos por Portela (2018), Moreira
(2019) e Flávia Karla Santos (2020) que se dedicam a encontrar na semiótica
discursiva ferramentas para a descrição e análise da história da própria semiótica,
isto é, partindo de um ponto de vista semio-historiográfico, tal qual denominado
por Santos (2020). Discutiremos, portanto, os princípios de contextualização, de
imanência e de adequação propostos por Koerner (2014), visando demonstrar
como se deu sua aplicação nesse recorte de nossa pesquisa, assim como uma
descrição, feita por Greimas (1973), dos diversos níveis de metalinguagem que
compõem a semiótica e que nos auxiliou na descrição da imanência da teoria.

Palavras-chave: semiótica; historiografia linguística; estruturas elementares.

O acontecimento estésico e a manifestação da


imagem visual no poema XXIV
Autoria: JÉSSICA CRISTINA CELESTINO

Para esse trabalho, estabelecemos como objeto de análise o poema “XXIV”, que
abrange a seção inicial do livro Concerto a céu aberto para solos de ave, décima

793
Comunicação Oral
Semiótica

produção do poeta pantaneiro Manoel de Barros, publicada, primeiramente, em


1991. O texto integra o segundo subtítulo da primeira parte do livro, nomeado
“Caderno de apontamentos”, e ocupa a vigésima quarta posição, conforme
indica o título. Tal seção apresenta cinquenta poemas com enumeração romana.
No texto, o enunciador, parte de uma experiência sensível ao ouvir o canto
da ave aranquã e, a partir daí, tece reflexões acerca da linguagem verbal em
comparação à comunicação animal. Desse modo, estabelece relações entre
o universo da natureza e o universo da cultura. Vale-se, pois, de um discurso
metapoético, fazendo alusão à representação gráfica atual da linguagem verbal
que contrapõe à sua representação gráfica arcaica, na qual imagens visuais
icônicas, como o desenho de um pássaro, eram utilizadas no lugar das letras.
Assim, partimos da hipótese de que as imagens icônicas configuram o grau
extremo da figurativização, e instauram a noção da motivação da letra, visto
que a palmeira, inscrita num dos versos do poema, corresponde à letra tau do
alfabeto grego, configurando a compatibilidade entre letra e ideia representada.
Assim, o fazer poético do enunciador constitui um acontecimento, na medida
em que ao comparar a construção gráfica do signo verbal na atualidade, que é
de caráter convencional, compara-o à construção gráfica icônica, como ocorria
na representação do alfabeto grego. Desse modo, acelera o andamento do texto,
a fim de intensificar a experiência sensível e desvelar o caráter motivado do
signo poético. Pode-se pensar o poema como um espaço onde o enunciador
questiona os valores preestabelecidos pela cultura, como o caráter arbitrário
da representação gráfica do signo, valorizando os valores próximos do universo
natural, como revela a letra grega tau que se assemelha à figura visual da palmeira.
Nosso objetivo é analisar o modo como se dá esse acontecimento estésico no
texto e como as relações estabelecidas pelo enunciador entre natureza e cultura
sustentam um modo de ser que ressignifica o mundo. Analisaremos o poema a
partir do referencial teórico da semiótica francesa, valendo-nos, principalmente,
dos conceitos de figurativização, estesia e acontecimento. (Apoio: CAPES –
processo: 88882.365809/2019-01)

Palavras-chave: acontecimento; figurativização; poesia.

794
Comunicação Oral
Semiótica

Identidade e forma de vida de uma mulher trans:


dor, medo e repulsa no discurso sobre redesignação
sexual
Autoria: LUIZ HENRIQUE PEREIRA

A história das pessoas transgênero no Brasil é marcada por discursos de ódio,


preconceito e exclusão e, pela luta em busca da afirmação de sua identidade, elas
vêm conquistando alguns direitos básicos. Esses dois aspectos têm motivado
sua presença na mídia. Diante desse cenário, para este trabalho, elegemos
como objeto de análise um recorte do córpus que constitui nosso projeto
de pesquisa de doutorado, o qual compreende uma entrevista concedida à
Revista Trip, em junho de 1998, por Bianca Magro, primeira transexual brasileira
a realizar legalmente uma cirurgia de redesignação sexual. Nessa entrevista,
que trata de um marco na história das lutas trans no país, podemos encontrar a
construção de motivos estereotipados tanto no discurso da Revista Trip, quanto
no próprio discurso de Bianca. Com base no referencial teórico-metodológico
da semiótica francesa, o nosso objetivo é verificar esses motivos estereotipados
que determinam certos comportamentos sociais e passam a fazer parte do
imaginário coletivo, tornando-se cristalizados e naturalizados. Tal processo de
cristalização de motivos estereotipados tende, por fim, a se relacionar à forma
de vida trans, assumida por Bianca, sujeito dessa matéria. Essa forma de vida,
por sua vez, tem por fundamento paixões como o medo e a repulsa. Desse
modo, analisaremos o medo que sofre Bianca em relação à violência social e a
repulsa, tanto direcionada ao próprio órgão genital quanto direcionado a ela pela
sociedade. Utilizaremos o conceito de forma de vida e de paixão da perspectiva
da semiótica discursiva. Nesse aspecto, é importante observar que, de acordo
com Fontanille (1993), como fundamento de toda forma de vida, encontra-se
um estado de alma. Para a semiótica, as paixões são entendidas como efeitos
de sentido de qualificações modais que comovem o ser do sujeito. Já as formas
de vida “são inscrições dos indivíduos numa perspectiva de uma nova ideologia,
de uma concepção de vida, de uma forma que é ao mesmo tempo uma filosofia
de vida, uma atitude de um sujeito e um comportamento esquematizável”.

795
Comunicação Oral
Semiótica

Nossa hipótese é a de que, embora o título da matéria “Mulher de verdade”


pareça construir uma nova forma de vida sobre a identidade trans de Bianca,
a edição aponta para uma forma de vida estereotipada que pode se estender
às transexuais e às mulheres trans, associando-se a percursos passionais
deceptivos. (O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001)

Palavras-chave: identidade; forma de vida; paixão.

Os estudos das ciências da linguagem sobre o grafite


Autoria: LUMA CLÉCIA DA SILVA

O grafite, cuja história tem início nos anos 1960, transita, hoje, entre uma prática
social e artística, por vezes marginalizada, que traz aspectos semióticos a
exemplo da plasticidade, da figuratividade, bem como do caráter sincrético
e semissimbólico. É um texto-enunciado de tipo visual ou verbovisual, muito
disseminado pelo Brasil e no exterior por meio da cultura urbana, e tem grande
importância na sociedade contemporânea, especialmente na expressão de
grupos sociais minoritários, no ativismo político e na produção artística. O
grafite como nosso objeto de estudo engloba diferentes tipos de expressão,
como a tag, o throw-up, a arte urbana, a inscrição urbana, a pichação e o
grapicho, que são ligados pela profunda integração do uso do espaço, do suporte
e da obra, e têm seu significado de acordo com a época e o lugar em que são
produzidos e expostos, a identidade de seus produtores, seu reconhecimento
como obra, a grande visibilidade, a frequência de suas aparições, a resistência
ou aceitabilidade por parte do público e das autoridades e, contemplando ainda,
a forma como manipulam a mídia para divulgação, buscando o engajamento da
população, muitas vezes, de maneira poética ou como forma de protesto. Nesta
pesquisa, propõe-se um estudo não do grafite stricto sensu, mas do modo como
o grafite é abordado enquanto objeto de pesquisas no campo das ciências da
linguagem, ou seja, pela linguística, pela análise do discurso e também pela
semiótica. Assim, pretende-se realizar o recenseamento e a análise de textos que
tratam do grafite como código linguístico. A procura de textos se fundamentará

796
Comunicação Oral
Semiótica

em monografias, dissertações, teses e artigos, e será feita nas diversas bases


de dados de universidades estaduais e federais, bem como em periódicos das
áreas das ciências da linguagem. Realizado o levantamento desses trabalhos,
será exposta a sistematização de quais elementos são recorrentes nos estudos
e de que metodologias são empregadas para analisar o grafite, nesse caso,
entendido como um objeto de estudo extremamente veiculado e discutido em
trabalhos acadêmicos, pela sociedade e pela lei.

Palavras-chave: discurso científico; ciências da linguagem; grafite.

O ator coletivo: contribuições semióticas para o


letramento científico a partir de textos jornalísticos
Autoria: MARCOS ROGÉRIO MARTINS COSTA

Considerando o contexto contemporâneo em que o Brasil possui índices


insatisfatórios em avaliações externas, como Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgados em 2018, constata-se que os
estudantes brasileiros estão nas últimas colocações no ranking internacional
no que se refere à leitura e à interpretação de texto. O objetivo geral da pesquisa
é analisar o nível discursivo e sua influência na construção do pensamento
científico, sobretudo na área da linguagem. Para tanto, buscamos construir
uma perspectiva interdisciplinar entre os estudos semióticos e as ciências
da comunicação e da informação. Diferentemente das pesquisas e estudos
educacionais que focam o letramento científico a partir do processo de ensino
e aprendizagem de estudantes de diversos níveis de formação. Esta pesquisa
parte das relações actanciais e actoriais que perpassam a historicidade do
ator coletivo manifestante de rua em dois fenômenos discursivos, as Jornadas
de Junho, ocorridas em 2013, e os Protestos de Março, acontecidos em 2015,
para construir uma proposta de letramento científico baseada na interpretação
de textos jornalísticos. Como corpus, selecionamos textos jornalísticos
impressos, tratando das manifestações de rua acontecidas na cidade de São
Paulo-SP, publicados em junho de 2013 e março de 2015 em dois periódicos:
Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Escolhemos os dois fenômenos,
porque eles representam as duas maiores mobilizações populares de rua do

797
Comunicação Oral
Semiótica

período de redemocradização brasileiro, marcando historicamente a política


do Brasil (SECCO, 2013; NOBRE, 2015; ALONSO, 2016). A partir do percurso
gerativo do sentido (GREIMAS; COURTÉS, 2008) e dos desdobramentos
tensivos (FONTANILLE; ZILBERBERG, 2001), consideramos o conceito de ator
coletivo como um feixe de esquemas actanciais que podem ser narrativizados
como adjuvante ou oponente de contratos enunciativos e que, depois de
discursivizados, servem como testemunha e força de argumento para fortalecer
ou destituir axiologias e ideologias. Com a análise dos textos jornalísticos,
depreendemos que o ator do enunciado manifestante de rua foi construído de
distintas maneiras, sustentando dois perfis de ator coletivo: o generalizado e o
personalizado. No perfil generalizado, é mais homogêneo, menos autônomo e
tem maior centralidade das concepções de mundo. Já no perfil personalizado,
é mais heterogêneo, mais autônomo e tem maior pluralidade de concepções
de mundo. No âmbito da educação, essa perspectivação do ator coletivo dá
fomento a uma análise descritiva e crítica dos fenômenos da História recente
dos movimentos sociais brasileiros, sem decair em interpretações psicologistas
e sociológicas reducionistas.

Palavras-chave: ator coletivo; semiótica; educação.

Álbum Crianceiras: recorrências figurativas na


canção infantil
Autoria: MARIA LÚCIA AMARAL MUNIZ

Esta comunicação apresenta os resultados parciais da dissertação de mestrado,


em desenvolvimento na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, que tem
por objetivo geral analisar, por meio da fundamentação teórica da semiótica
discursiva, as recorrências figurativas presentes no álbum de canção infantil.
Nosso objeto é o álbum Crianceiras (2016), concebido por Márcio de Camillo,
como musicalização dos poemas do poeta Manoel de Barros. Tendo por base o
procedimento metodológico do percurso gerativo do sentido, doravante PGS, as
análises recairão nas dez canções que compõem o álbum, tendo por premissa o
estabelecimento de recorrências figurativas específicas ao universo pantaneiro
e ao universo da canção infantil. Nossos objetivos específicos consistem nas

798
Comunicação Oral
Semiótica

as análises das canções do álbum Crianceiras, com vistas à delimitação de


recorrências figurativas, são elas: Bernardo; Sombra Boa; Linhas tortas; O menino
e o Rio; Sabastião; O Idioma das Árvores; Um Bem Te Vi; Se Achante; Os Rios
Começam a Dormir; O Silêncio Branco. As análises apresentam ênfase no nível
discursivo nas incidências da semântica, especificamente da figuratividade.
A revisão da literatura procurou elencar pesquisas que analisam a canção
infantil, por meio da semiótica discursiva, com destaque para análises a partir
das poesias e poemas de Manoel de Barros, notadamente, as direcionadas à
canções infantis (SHIMODA, 2013; FILHO, 2017; VIEIRA, 2017; DUARTE JUNIOR,
2016; GAMA, 2017; MAIO, 2017; MAFRA, 2019; BASSO, 2017; ALBUQUERQUE,
2017). Selecionamos trabalhos elaborados a partir de 2016. A revisão da literatura
permite a observação da necessidade de ampliação de estudos dessa natureza,
notadamente acerca do universo cancional infantil. Nos parece evidente a
necessidade de a semiótica do texto cancional, um mediador capaz de tornar as
práticas descritivas da musicalização acessíveis ao usuário educador musical.
Visamos, assim, contribuir com a semiótica discursiva, notadamente na sua
vertente, a semiótica da canção, com uma prática descritiva aplicada ao texto
da canção infantil como recurso para a musicalização infantil.

Palavras-chave: semiótica greimasiana; semiótica da canção; semiótica do


discurso musical.

Retalhos de comoção: o acontecimento estésico


em “Inspiração” de Mário de Andrade
Autoria: NAYARA CHRISTINA HERMINIA DOS SANTOS

Neste trabalho, propomo-nos a analisar o poema “Inspiração”, de Mário de


Andrade, a partir do referencial teórico da Semiótica francesa. O poema,
declamado pelo autor durante uma das noites da Semana de Arte Moderna
de 1922, faz parte do corpus constituinte de nossa pesquisa de doutorado, que
analisa textos apresentados durante a Semana. O poema introduz questões
relacionadas às concepções que o Modernismo estava a conceber e a propagar,
evidenciando, dessa maneira, aspectos inovadores estéticos e éticos próprios
ao movimento. Para tanto, utilizamos elementos do percurso gerativo de

799
Comunicação Oral
Semiótica

sentido propostos pela teoria semiótica, o conceito de acontecimento estésico


(GREIMAS, 2003), a concepção de belo gesto (GREIMAS, 1993) e a conceituação
de Práticas semióticas, elaborada por Jacques Fontanille (2006), que articulam
as noções de estratégia, ethos e formas de vida; além de contribuições
metodológicas e pragmáticas de Jean Galard (2008). Dentre nossas hipóteses,
partimos da premissa de que o Modernismo, enquanto movimento de ruptura
em relação a valores artísticos e literários convencionais e acadêmicos, vigentes
à época, de maneira estética e ética, pode ser concebido como le beau geste,
concebido por Greimas, ou seja, um acontecimento estético com envergadura
suficiente para alterar a forma aspectual das condutas, modificando valores,
para, logo após, dar origem a uma forma de vida, nesse caso, a forma de vida do
modernista, que reverbera até os tempos atuais, contemplando atualizações
artísticas e literárias diversas. O poema “Inspiração”, objeto de análise desta
comunicação, faz parte da obra Paulicéia Desvairada que, publicada em 1921, é
considerada a primeira obra marioandradina essencialmente moderna. Nessa
perspectiva, procuraremos analisar o modo como o poema constitui-se como um
acontecimento estésico, na medida em que nele se observa a relação sensorial
entre o sujeito enunciador e o objeto "São Paulo", a ruptura de isotopia, que
constitui uma fratura, observando ainda, a partir da noção de semissimbolismo,
as homologações que se estabelecem entre categorias da expressão e de
conteúdo no texto. (Apoio: CAPES – Processo: 88882.365810/2019-01).

Palavras-chave: percurso gerativo de sentido; le beau geste; inspiração de Mário


de Andrade.

Habilidades afetivas em livros didáticos: o


gerenciamento tensivo do gosto pela leitura
Autoria: POLIANA SABINA QUINTILIANO SILVESSO

Após entrar em vigor em 2020, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)


trouxe uma série de desafios no campo educacional. Dentre esses, destacamos
a adaptação de livros didáticos para todos os anos escolares e disciplinas. Com
vistas nisso, procuramos realizar a análise de duas seções do livro de Língua
Inglesa destinado ao 6º ano escolar – coleção Way to English (2018) – a fim

800
Comunicação Oral
Semiótica

de observar como o campo tensivo, construído na interação entre sujeito da


percepção e objeto-valor afetivo, gerencia o acolhimento e a resposta afetiva
à habilidade “interessar-se pelo texto lido” (EF06LI12). A habilidade em questão
encontra-se na BNCC e destina-se ao ensino de língua estrangeira moderna.
A coleção desta análise, de nível fundamental, é a mais distribuída no Brasil,
considerado o informe nº 35/2020 sobre o quantitativo de livros distribuídos
por municípios e estados do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). As
seções do livro analisadas correspondem à abertura do primeiro capítulo,
em que se promove a estratégia warming up, e à página posterior (espaço
elegido pelo enunciador como promotor de EF06LI12). Apesar do warming up
não ser considerado lugar de fomento da habilidade citada, ele compreende
uma fase anterior, “uma chamada de atenção”, entendida como preparação
para as atividades seguintes. Elegemos a Semiótica Tensiva, fundamentada
por C. Zilberberg, como ferramenta teórico-metodológica. Em especial, nos
interessam as proposições de Lima (2014) sobre os modos de interação afetiva,
sendo fundamental para esta análise a noção de interação. Da mesma forma,
partimos do esquema afetivo proposto por Bloom, Krathwohl e Masia (1982), uma
classificação de objetivos educacionais do campo. As grandezas classificadas
pelos autores da taxionomia nos ajudam a compreender os níveis em que se
encontram as habilidades afetivas da BNCC. Nesse caso, o exame de alguns
dos indicadores de afetividade (termos gerais concebidos pelos teóricos para
organizar as categorias afetivas) se faz pertinente.

Palavras-chave: semiótica; BNCC; habilidades socioafetivas.

Discurso de divulgação religiosa no universo


midiático: o perfil dos ethé como estilo e aspecto
Autoria: SONIA GONÇALVES BATISTA DIAS

O intuito da presente comunicação é apresentar os resultados iniciais de


nossa pesquisa de doutorado em andamento, cujo objetivo geral consiste na
proposição analítica referente às práticas de divulgação religiosa midiática.
Nossos objetivos específicos consistem em: a) analisar a noção de divulgação
religiosa midiática; b) contribuir com as pesquisas e análises semióticas dos

801
Comunicação Oral
Semiótica

discursos que vêm se desenvolvendo contemporaneamente no que concerne


ao panorama religioso e c) Refletir e analisar o perfil do éthos como estilo e
aspecto no discurso religioso. Propomos analisar um recorte do corpus de
divulgação religiosa recortado para a tese, a mensagem bíblica intitulada Tenha
amor próprio, datada de 07 de outubro de 2015, proferida pelo Padre Fábio de
Melo, disponível no YouTube. Tomamos o termo "mensagem bíblica", como um
discurso proferido em outro ambiente diferente de um templo religioso, como
estúdio de gravação ou ambiente familiar, por exemplo, embora seja também
uma pregação. Por pregação, temos o sinônimo de sermão, um gênero discursivo
que intenciona arregimentar fiéis geralmente em missas e cultos cristãos.
Temos como fundamentação teórica as perspectivas da semiótica discursiva,
alicerçada em Greimas (1975), Discini (2004), Zilberberg (2011), de Maingueneau
(2005), com a devida semiotização dos conceitos, além de Silva (2011) e Cardoso
(2017), visto que ambos dialogam com a proposta que se apresenta. De forma
a investigar um fenômeno dentro do seu próprio contexto, realizaremos, por
meio do ferramental teórico-metodológico do percurso gerativo do sentido, com
destaque à sintaxe e à semântica do nível discursivo, para se delinear o éthos
das práticas de divulgação midiáticas. Nossa pesquisa se caracteriza como
exploratória, descritiva e explicativa. Mediante as novas tecnologias como objeto
de pesquisa, selecionamos ao longo da tese mensagens bíblicas, pregações
cristãs de cultos e missas, tanto católicos como evangélicos, visualizados em
publicações no ambiente virtual YouTube, que representam a midiatização
das práticas religiosas, cujo corpus de pesquisa versa sobre as temáticas de
relacionamentos amorosos, casamento e de amizade. Para tanto, o corpus
corresponde à pregações do período de 2011, ano a partir do qual conseguimos
encontrar postagens disponíveis na plataforma YouTube, de pregações dos
padres e pastores selecionados para nossa pesquisa; estendendo-se até o ano
de 2021, sendo as mesmas publicadas pelo próprio pregador, seguidores ou
instituição religiosa a qual faz parte. Até o momento, o que encontramos foi
uma igreja católica que está se reinventando, ainda forte e adaptada ao cenário
competitivo e diversificado em suas crenças.

Palavras-chave: semiótica discursiva; discurso religioso; discurso midiático.

802
Comunicação Oral
Semiótica

Pandemia e acontecimento semiótico: urbis et orbis


Autoria: SUELI MARIA RAMOS DA SILVA

O presente trabalho tem como objetivo geral analisar por meio da fundamentação
teórica da semiótica discursiva, notadamente, pelo viés tensivo, as práticas
religiosas advindas do contexto da pandemia de Covid-19, dentro do ambiente de
midiatização, sobretudo no que se refere às manifestações religiosas veiculadas
pela mídia e tecnologias digitais concernentes a práticas de fé devocionais de
distintas denominações religiosas. Tomamos como corpus de pesquisa, para
esse trabalho, o acontecimento semiótico “urbis et orbis”, indulgência plenária
proferida pelo Papa Francisco na basílica de São Pedro em 27 de março de 2010
e disponibilizada de forma síncrona pelo site Vatican News. A metodologia de
pesquisa consiste na utilização do percurso gerativo de sentido. Nossos objetivos
específicos consistem em: a) retomar os estudos que vêm se desenvolvendo
contemporaneamente no Brasil no que concerne ao panorama dos estudos em
semiótica greimasiana e discurso religioso (MENDES, 2009; PIETROFORTE, 1997;
AQUINO, 2001; ALMA, 2005; SILVA, 2007 e 2012; DEMARCHI, 2015 e CARDOSO,
2017); b) ampliar a proposição ora apresentada em estudos anteriores (SILVA,
2007, 2011 e 2017), retomando a noção de midiatização contemporânea; c)
analisar objetos concernentes à midiatização religiosa, em contexto de
pandemia de Covid-19. Concebemos a perspectiva de divulgação para além
das materialidades até então consideradas. A noção de divulgação passa a
ser concebida tomando como base a correlação entre as mídias e a era digital
das religiões e religiosidades, calcada pela fluidez e dinamismo. Desvendar o
processo de significação do discurso religioso, um dos discursos norteadores
de nossa cultura, e que até hoje molda a mente dos cristãos, revestido por uma
aura mítica de sacralidade e intocabilidade, tem o status de uma empreitada,
no mínimo, desafiadora. Cabe ressaltar que o semioticista tem como objeto de
análise um ponto de vista sobre o discurso religioso das práticas de divulgação
de diferentes comunidades e formações de fé, sem emitir juízos de valor, atendo-
se apenas à análise do texto e do desbastamento das atitudes discursivas das
práticas de fé.

Palavras-chave: Covid-19; divulgação religiosa; urbis et orbis.

803
Comunicação Oral
Sintaxe

Revisitando o objeto acusativo anafórico no


português brasileiro
Autoria: ADRIANA MARTINS SIMÕES

Neste trabalho, nosso objetivo é apresentar as possibilidades de expressão do


objeto acusativo de 3ª pessoa no português brasileiro, tendo em vista a elipse e
o pronome lexical. Analisamos entrevistas do português brasileiro pertencentes
ao Projeto História do Português Paulista (PHPP) (LIMA-HERNANDES; VICENTE,
2012). Como referencial teórico, nos apoiamos na perspectiva biológica de
língua (CHOMSKY, 1981, 1986) e na sociolinguística (LABOV, 2008; WEINREICH;
LABOV; HERZOG, 2009). Os estudos diacrônicos de Cyrino (1990 apud
CYRINO, 1993) e Tarallo (1993) revelaram um aumento na incidência de elipses
do objeto acusativo no século XIX, que se intensificou ao longo do tempo. O
trabalho de Cyrino revela também o surgimento do pronome lexical nessa
função sintática na 2ª metade desse mesmo século. No âmbito do português
brasileiro contemporâneo, Cyrino (1994) mostra que os objetos nulos ocorreriam
sobretudo com os antecedentes [-específicos]. O estudo de Duarte (1986), por
sua vez, revelou que a omissão do objeto seria favorecida pelos antecedentes
[-animados]. Em relação ao pronome lexical, conforme Galves (2001) e Kato
(2002), este não se restringiria à retomada de antecedentes [+animados]. Em
nossa pesquisa anterior (SIMÕES, 2015), na qual nos dedicamos ao estudo do
objeto anafórico no espanhol e realizamos uma comparação qualitativa com o
português brasileiro, observamos que, nesta língua, a tendência seria o pronome
lexical restringir-se aos antecedentes [+/-animados; +específicos]. Por outro
lado, quando se trata de antecedentes [-específicos], sobretudo se indefinido,
quantificado ou em construções com verbos estativos, a tendência seria a
impossibilidade do pronome lexical. O estudo de Casagrande (2012) revelou que
o pronome lexical no português brasileiro estaria relacionado à especificidade
do antecedente e também à perfectividade do predicado verbal. Em nossa
pesquisa atual, observamos a ocorrência quase categórica de objetos nulos
nas entrevistas que analisamos. Diante desse quadro, nossa estratégia para
verificar a possibilidade de pronome lexical na expressão do objeto acusativo
consistiu em empregar o pronome em cada uma das ocorrências com elipse e

804
Comunicação Oral
Sintaxe

verificar a gramaticalidade da construção. Nossa análise preliminar dos dados


assemelha-se às tendências encontradas em nossa pesquisa anterior (SIMÕES,
2015), na medida em que haveria uma gradação na possibilidade de objeto nulo
e pronome lexical que estaria relacionada não apenas à referencialidade do
antecedente, mas também aos traços semânticos de definitude e indefinitude
dos determinantes e ao aspecto lexical do predicado verbal.

Palavras-chave: português brasileiro; objeto acusativo; variação linguística.

Apontamentos preliminares sobre a sintaxe dos


verbos psicológicos do português a partir dos
estudos de Oliveira (1984)
Autoria: FRANCIMEIRE LEME COELHO

O estudo das propriedades sintáticas dos verbos “psicológicos” do português


europeu (PE) elaborado por Maria Elisa de Macedo Oliveira (1984) tem por base
o trabalho do linguista francês Maurice Gross (1975), em seus estudos sobre
as construções completivas da língua francesa, a partir da teoria do Léxico-
Gramática (L-G) que considera que cada unidade lexical da língua possui
uma gramática própria por ser regida por regras específicas de distribuição
e organização sintática e semântica (GROSS, 1975). Denominam-se verbos
‘psicológicos’ todos os verbos que denotam um sentimento, sendo o sujeito
(N0) o acionador e o complemento objeto (N1), a sede do processo psicológico
(OLIVEIRA, 1984, p. 13). De acordo com Baptista e Mamede (2020), os verbos
(plenos ou distribucionais) exprimem predicados semânticos, determinando
as propriedades formais das construções verbais, a qual se caracteriza como
uma unidade léxico-sintático-semântica. Oliveira (1984) propõe que a análise
das propriedades de certos verbos, cuja forma N0 V N1 deve ser distinguida
de N0 V N1, considerando “V = V 'psicológico'”. A partir disso, Oliveira (1984)
disserta sobre o significado e a forma dos verbos psicológicos (o sujeito ativo:
Hhum e não ativo: Nnr; o verbo concreto; e, o objeto humano Nhum e objeto
não humano: N-hum); as propriedades transformacionais (HARRIS, 1964) -
completivas, infinitivas, reduções e passiva; as construções adjectivais e as
construções nominais. Tais estudos tornam-se extremamente importantes no

805
Comunicação Oral
Sintaxe

ensino da sintaxe, destacando a importância do léxico. Apontamentos sobre


a atualidade desta pesquisa descritiva contribui significativamente para um
estudo comparativo entre as construções dos verbos psicológicos do português
brasileiro (PB) e português europeu (PE), detectando as diferenças e similitudes
entre as variantes do idioma. Ademais, as pesquisas sobre descrição de estruturas
sintáticas auxilia no desenvolvimento de recursos léxico-computacionais na
tarefa de análise sintática automática, por exemplo, compreendendo-se a
relevância dos estudos em Linguística aplicados a recursos para sistemas de
Processamento [Automático] de Línguas Naturais (PLN).

Palavras-chave: verbos psicológicos; construções verbais; sintaxe.

O singular NU e a ordem dos DPs com verbos


monoargumentais no PB através da abordagem
cartográfica
Autoria: HERMITO LEITE DE CARVALHO FILHO
Coautoria: RONALD TAVEIRA DA CRUZ

O propósito deste trabalho é analisar o Singular-NU¹ e a consequência da ordem


dos DPs que ele ocasiona em estruturas com verbos monoargumentais no
Português Brasileiro (PB). Tudo leva a crer que, com verbos inergativos, o DP-
NU Argumento Externo (AE) segue a tônica rígida da estrutura canônica do PB,
ou seja, a ordem Sujeito-Verbo (SV), como em sentenças do tipo [Menino] corre
toda hora por aqui. Embora haja a possibilidade de um resquício do Português
Antigo (PA) ainda se manter atualmente com a ordem Verbo-Sujeito(VS) com
características de línguas de sintaxe V2 (verbo em 2ª posição), do tipo [XP] VS, com
sentenças do tipo correu [menino] ‘pra’ todo lado, assumimos que na realidade
o que há é a focalização do DP-NU entre IP e VP. No caso dos inacusativos, o
DP-NU Argumento Interno(AI) parece cristalizar a ordem VS, rompendo com um
paradigma trivial que é característico do PB, pois os inacusativos são os verbos
que mais flexibilizam a ordem SV ~ VS. Neste tipo de construção, a possível
cristalização da ordem VS parece ser ocasionada pelo DP-NU em situação de
foco informacional, diferente do que ocorre com DP-definido e DP-indefinido,

806
Comunicação Oral
Sintaxe

onde a natureza do verbo e o efeito de definitude são determinantes para a


ordem. Essa situação com DP-NU ocorre em sentenças do tipo chegou [pizza].
DP-NU pré-verbal nos inacusativos é falacioso, na realidade trata-se de tópico
informacional não vinculado à sentença, ou seja, não é argumento da sentença,
como ocorre em sentenças do tipo [Pizza] chega toda hora aqui em casa. As
análises seguirão a Teoria de Princípios e Parâmetros (P&P) da Gramática
Gerativa (GG), Chomsky (1981, 1986) através da abordagem cartográfica de Rizzi
(1997) e Belletti (2004); para os dados encontrados no PB Castilho (1989). Para
comparar com DPs definidos e indefinidos, o Singular NU será nomenclaturado
como DP-NU e não nominal NU. Também, sintagmas XP serão resumidos pelas
abreviaturas do inglês, como CP, IP, VP, DP, dentre outros; os demais ficarão em
português e serão explicados no decorrer do texto, como Argumento Externo
(AE); Argumento Interno (AI), etc. Em [XP] VS, [XP] pode ser um argumento ou
um adjunto alojado em Spec-CP na periferia esquerda de IP.

Palavras-chave: singular-NU; ordem dos DPS; verbos monoargumentais.

Restrições sintáticas do advérbio Sempre com


outros constituintes em sentenças do português
brasileiro
Autoria: JOELMA SOBRAL DA SILVA

O presente trabalho em desenvolvimento tem como objetivo analisar restrições


sintáticas estabelecidas pelo advérbio "Sempre" com base na sua posição
sintática e na sua relação com outros constituintes gramaticais em sentenças
do Português Brasileiro (doravante PB). Tomaremos como arcabouço teórico
a Teoria Gerativa (CHOMSKY, 1995 em diante; KATO; NASCIMENTO, 2002;
GONZAGA, 1997). Discutiremos questões referentes ao estatuto categorial
do termo, à posição sintática que ocupa e às propriedades das estruturas em
que ocorrem. Isto posto, a pesquisa pretende analisar a heterogeneidade do
advérbio Sempre em sentenças como: Sempre que a filha chega tarde o pai fica
irritado. / Eles foram felizes para Sempre. / Nem Sempre a aluna viaja nas férias.
/ *Não Sempre a aluna viaja nas férias. / A aluna não viaja nas férias Sempre. /

807
Comunicação Oral
Sintaxe

Ela estuda quase Sempre de manhã. / *O professor já Sempre viajou de navio. /


O professor nem Sempre viajou de navio. / O professor está Sempre ocupado. /
O instrutor Sempre ajudou a atleta. Com base nos exemplos, podemos observar
que o advérbio Sempre possui uma mobilidade livre nas sentenças do PB, porém
ocorrem restrições na relação com alguns constituintes e outros não, tendo
em vista que complexos como Sempre que, para Sempre, nem Sempre e quase
Sempre, permitem sentenças gramaticais, contrapondo a complexos como,
já Sempre e não Sempre, os quais não permitem sentenças gramaticais no
PB. Dentro desse contexto, e diante dos exemplos apresentados, lançamos as
seguintes hipóteses: (i) Há restrições de ordem sintático-semântica envolvidas
em sentenças com o advérbio Sempre, que parece resultar da sua relação com
outros constituintes da sentença, como advérbios, quantificadores, preposições
entre outros e (ii) A posição do advérbio Sempre parece interferir no valor
tipológico de sentenças do PB, ora apresentando um valor de tempo, ora de
afirmação e ora de condição. O estudo do tema se faz necessário para uma maior
compreensão de fenômenos linguísticos relacionados à sintaxe, e a partir deste
estudo pretendemos discutir sobre a possibilidade de criação de condições
para uma futura investigação experimental, com o intuito de incentivar reflexões
sobre a seleção, manipulação e controle de estímulos psicolinguísticos no PB.

Palavras-chave: advérbio Sempre; restrições sintáticas; gramática gerativa.

Por que "haver" em sentenças existenciais ainda


resiste no português do brasil? A hipótese da cisão
de paradigma
Autoria: JULIANA ESPOSITO MARINS

Estudos empíricos sobre o português brasileiro (PB), tais como os de Callou


e Avellar (2002), Avelar (2006, 2009) associam a substituição de "haver" por
"ter" existenciais (a) à remarcação do Parâmetro do Sujeito Nulo e à perda do
licenciamento/interpretação de uma cv na posição de sujeito de referência
definida, e (b) a uma mudança no estatuto categorial de "haver", nos termos da
Morfologia Distribuída (EMBICK; NOYER 2004), que passa de verbo existencial

808
Comunicação Oral
Sintaxe

funcional – categoria em que se enquadra o verbo "ter" – para um verbo


existencial substantivo, como "acontecer". Segundo Callou e Avellar (2002) e
Avelar (2006), "haver" especializa-se no discurso narrativo, tese alicerçada pela
sua incidência maciça no pretérito perfeito –; e com o argumento interno com
traços semânticos abstratos. Nota-se, porém, que os trabalhos não relacionam
essas duas propriedades. No presente trabalho, são analisadas amostras de
sentenças existenciais com "haver", extraídas da fala culta carioca e de textos
escritos veiculados pelo jornal O Globo em sua versão on-line, em três diferentes
gêneros textuais, visando refinar a análise proposta anterior, quanto à relação
entre o tempo verbal e o traço semântico do argumento interno de "haver".
Esta análise complementa análises anteriores de Marins (2019), que parte da
hipótese de que, além da mudança categorial, a alomorfia presente no paradigma
flexional de "haver" teria suscitado uma cisão em duas partes: quando o radical
sofre alomorfia – houv- – há uma conexão semântica relevante aos verbos
apresentacionais, tais como, ocorrer e acontecer, fato corroborado pela sua
frequente associação com argumentos internos com traços do tipo [+evento] ou
ao que temos chamados de traço [+dinâmico]. Por outro lado, quando o radical
do verbo é hav-, "haver" pode receber tanto uma leitura existencial, associado a
argumentos internos com qualquer traço semântico, quanto apresentacional.
Isso indica que a mudança categorial não teria afetado "haver" com um todo,
mas apenas parte do seu paradigma. O trabalho traz uma abordagem não-
lexicalista (HALEY; NOYER 2003) da Teoria de Princípios e Parâmetros na sua
versão minimalista (CHOMSKY, 1995) e, para a observação dos dados empíricos,
utiliza o arcabouço metodológico comum aos trabalhos variacionistas, nos
moldes de Labov (1994).

Palavras-chave: sintaxe gerativa; sentenças existenciais; haver ex.

Discutindo advérbios temporais da libras


Autoria: LUCAS ALVES MENDES
Coautoria: ALINE GARCIA RODERO-TAKAHIRA

A classe dos advérbios é definida por Bechara (2009, p.2 42) como constituída
“por palavra de natureza nominal ou pronominal e se refere geralmente ao verbo,

809
Comunicação Oral
Sintaxe

ou ainda, dentro de um grupo nominal unitário, a um adjetivo e a um advérbio


(como intensificador), ou a uma declaração inteira”. A presença de advérbios
na Libras (Língua Brasileira de Sinais) é de suma importância para marcações
de tempo, uma vez que a língua não flexiona verbos na raiz, o que classifica as
línguas de sinais como línguas sem tense (LOURENÇO; FIGUEIREDO, 2020).
Nogueira e Silva (2014) afirmam haver a necessidade de uso de sinais manuais
para a especificação de tempo passado, presente ou futuro na Libras, como:
ONTEM, AMANHÃ e SEMANA-PASSADA. Alguns autores mencionam também o
uso de expressões não-manuais (ENMs) que acompanham advérbios de tempo,
como a projeção do movimento do sinal para trás significando tempo passado
(SINTÉ, 2013). Este trabalho tem como objetivo: i) identificar as possibilidades de
articulação manual e não-manual de advérbios de tempo na libras; ii) averiguar
a posição sintática do advérbio de tempo em realizações manuais; e iii) observar
a realização simultânea de ENMs que podem reforçar a leitura temporal. Para
tal, utilizamos o banco de dados corpuslibras.ufsc, de onde selecionamos
entrevistas, que foram anotadas no Elan em termos de sinalização manual e
não-manual. A partir dessas anotações, classificamos os advérbios de tempo
conforme o modelo proposto por Sinté (2013) e seu conceito de timeline, que
é uma proposta de classificação de advérbios de tempo de acordo com o eixo
espacial em que ocorrem, com o intuito de analisar características comuns
dos advérbios em cada timeline. Com base nesse modelo, foram encontrados
advérbios da Libras na timeline 1, que apresenta noções não precisas de
tempo, como ANTIGAMENTE; na 2, estão relações espaço temporais ou ações
sequenciais, como na realização dos sinais MANHÃ e TARDE; na 4, encontram-
se aqueles que aceitam incorporação de numeral, como ANO; e a 6 apresenta
noção de ação contínua, porém nesta linha há mais verbos do que advérbios, um
exemplo é o verbo DESENVOLVER. Não foram achados advérbios realizados nas
linhas 3 e 5. Além disso, analisamos os dados identificando a classe de palavra,
seu contexto, sua constituição morfofonológica e demais características, com o
intuito de ampliar as discussões sobre a formação de tempo, o uso de advérbios
e a descrição da Libras.

Palavras-chave: morfossintaxe; libras; marcação de tempo.

810
Comunicação Oral
Sintaxe

Contexto multilíngue de emergência do português


brasileiro: análise sobre a posição de sujeito
Autoria: ROSANA APARECIDA ROGERI

Um dos temas mais estudados sobre a constituição do português brasileiro


(doravante PB) é a caracterização da posição gramatical de sujeito. O PB,
diferentemente das outras línguas românicas, parece não obedecer a um
alinhamento sintático/semântico nominativo-acusativo, como as demais. São
comuns sentenças em que o sujeito pode ser, por exemplo, um circunstancial,
como “Assim vende mais” ou “Aquela loja vende sapatos”. Nesse sentido, a
posição de sujeito pode ser preenchida por constituintes outros e que o agente
frequentemente não é expresso, provocando um alinhamento mais próximo de
ergativo-absolutivo (NEGRÃO; VIOTTI, 2011; ROGERI, 2019). Existem diferentes
explicações para essas e outras diferenças entre o português brasileiro e as
outras línguas românicas. A nossa proposta é de que essas mudanças tenham
ocorrido em função do contexto multilíngue em que o PB emergiu. Nesse
contexto, conviveram o português, línguas nativas brasileiras e as diferentes
línguas dos escravizados trazidos ao Brasil, e cada uma dessas línguas pode ter
contribuído com traços que se especializaram (MUFWENE, 2008) de uma maneira
única, configurando o PB como o conhecemos. A hipótese de que a formação de
famílias escravas e de libertos (SLENES, 1999) configura um terreno fértil para
aquisição dessa nova variedade nos possibilita correlacionar o espalhamento
desses traços com variáveis sociais como escolaridade e classe social. Assim,
quanto menor a escolaridade e renda maior a prevalência de alinhamentos
sintático/semântico distinto do de línguas românicas. Esse trabalho analisa
sentenças de um banco de dados com 152 amostras de fala que compõem o
censo linguístico de parte da região noroeste do estado de São Paulo – Banco de
Dados Iboruna. Essa análise visa relacionar o alinhamento sintático/semântico
das sentenças com as variáveis sociais de gênero, idade, renda e escolaridade.
Essa relação será conferida com teste estatístico de correlação e a correlação
esperada é entre alinhamento ergativo-absolutivo com menor renda e menor
escolaridade.

Palavras-chave: sujeito; contato linguístico; multilinguismo.

811
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

Investigando o surgimento de um novo código


linguístico na Amazônia surinamesa: o caso do
garimpo Vila Brasil
Autoria: ANTONIO LORENZO DORMAL CALLEJA

Estudos linguísticos pós-coloniais têm enfatizado acerca da interação entre as


línguas do Continente Sul-Americano, fruto do resultado das grandes migrações
e transplante de populações escravizadas. Esses estudos têm sido centrados
no campo de estudos da Linguística de Contato (WINFORD, 2003; BAKKER et
al. 2017); entre eles, a pesquisa linguística na região da Amazônia caribenha
vem sendo objeto de destaque nos estudos sobre multilinguismo (CARLIN et al.
2015; LÉGLISE, 2013; MIGGE, 2017). Por meio de uma pesquisa em andamento,
Calleja (2020) inicia os estudos do contato linguístico envolvendo os brasileiros
na comunidade de garimpo Vila Brasil, em forte interação com falantes das
línguas crioulas surinamesas: sranantongo, saramaccam, ndjuka e matawai, e
das línguas espanhola, holandesa, inglesa e francesa, que se distanciam cada vez
mais de suas matrizes europeias. Em estudo inicial sobre o português falado por
garimpeiros brasileiros (CALLEJA, 2019, p. 113-129), já aponta que o português
falado no Suriname atesta empréstimos linguísticos e estruturais das línguas
locais. No dado a seguir (CALLEJA, 2019 – 113, renumerado) vê-se o uso do léxico
do sranantongo com o fenômeno de reduplicação: fon (bater) / fonfon (batedor),
atestado em línguas crioulas (como nas do Suriname): (1) conhece um monte de
fonfon... fonfon aqui é bater conhece muitos “batedores” ... aqui fonfon é quem
bate Dados coletados em pesquisa de campo em andamento (CALLEJA, 2020),
como se vê em (2), apontam para o surgimento de um novo código linguístico
que se afasta do português falado pelos garimpeiros na capital Paramaribo: (2)
Mi mira o... a bagagem mas mi no yu. Pensar... a mi no sabi so noutro chinês Eu
olhei a mercadoria (que chegou), mas eu não achei a minha. Eu pensei, eu não
sei, talvez eu tenha comprado com o outro chinês Em (2), observa-se o verbo
“pensar” no infinitivo, usado em uma sentença finita (passado) o que pode ser
uma interferência de línguas crioulas que não atestam flexão; no entanto, não
se vê partícula que marque categorias, como “tempo”, nem antes nem depois

812
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

desse verbo. Assim, a estrutura dessa sentença não aponta para o português
e nem para as línguas crioulas, o que corrobora a formação inicial de um novo
código ainda não estruturado. Há também, em (2), o uso de léxico de várias
línguas: sranantongo (mi, yu, kon, no), saramaccan (sabi), português brasileiro
(noutro) e espanhol (mirar). A continuidade dessa pesquisa, pretende continuar
a observação minuciosa desse “novo código linguístico” no Suriname.

Palavras-chave: multilinguismo; variedades português; línguas em c.

Brinquedos e diversões no estado de são paulo:


as denominações para “cambalhota” a partir dos
dados do Projeto ALIB
Autoria: BEATRIZ APARECIDA ALENCAR

Os entretenimentos infantis configuram-se como atividades inerentes ao ser


humano e constante nas distintas culturas. Logo, ao realizar as brincadeiras,
inconscientemente, o modo de executá-las e as formas de designá-las surgem no
imaginário popular, pois são elementos muito importantes para a humanidade.
Neste sentido, esta proposta de trabalho analisa do ponto de vista diatópico e
léxico-semântico, as denominações para o conceito expresso na pergunta 155,
do Questionário Semântico-lexical do Projeto ALiB (Atlas Linguístico do Brasil),
área semântica dos Jogos e Diversões Infantis: “brincadeira em que se gira o
corpo sobre a cabeça e acaba sentado” (COMITÊ NACIONAL..., 2001, p. 34).
Para a realização deste estudo, foram consultadas as 188 entrevistas coletadas
pelos inquiridores do Projeto ALiB no interior do estado de São Paulo e na área
de controle (RIBEIRO, 2012) que foram analisados na tese de Doutorado: Léxico
dos brinquedos e brincadeiras infantis no estado de São Paulo (ALENCAR, 2018).
Em relação ao perfil do informante, eles se dividem em sexos (masculino e
feminino), faixas etárias: (I: 18-30 anos; II 50-65 anos) e escolaridade fundamental
sendo quatro pertencentes a cada ponto linguístico do interior do estado de
São Paulo e dos estados que formam a área de controle. Sendo assim, o corpus
analisado reuniu sete unidades lexicais e três ocorrências únicas, totalizando
250 ocorrências. Como referencial teórico foram utilizados os pressupostos

813
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

da Dialetologia (CARDOSO, 2010), Lexicologia (BIDERMAN, 2001), Semântica


(COSERIU, 1977; POTTIER, 1968) e Etnolinguística (SAPIR, 1969). Além disso, o
estudo prevê: i) a comparabilidade dos dados com outros estudos dialetais já
concluídos nas localidades pesquisadas buscando verificar o registro dessas
denominações em áreas próximas ao território paulista; e ii) a relação entre
léxico, cultura e história social que singulariza o interior do estado de SP. Como
resultado, apontam-se: a vitalidade da brincadeira no dia a dia dos moradores
do Sudeste, a alta produtividade de cambalhota e cambota em todo o território
investigado, seguido pelos registros das variantes pirueta e salto mortal para
nomear a brincadeira em questão. Ademais as ocorrências de cambota revelam
uma relação entre as localidades que registraram a denominação e o caminho
realizado pelos tropeiros no estado de São Paulo.

Palavras-chave: dialetologia; cambalhota; São Paulo.

Orientação sexual e linguagem: características


acústicas na fala de gays cariocas
Autoria: DANY THOMAZ GONÇALVES

Os estudos sociolinguísticos mais recentes têm se posicionado a partir de


uma perspectiva que permite investigações entre a intersecção: linguagem e
orientação sexual. Debruçando-se sobre esta perspectiva, esta pesquisa tem
como objetivo verificar o comportamento da produção da fricativa coronal (s)
em posição de coda. Como base teórica para este trabalho, serão utilizados
os pressupostos da Teoria da Variação (LABOV, 1972) que preveem que a
variação linguística é inerente ao conhecimento linguístico do falante e não
é autônoma, isto é, reflete o universo das relações sociais, por meio das quais
os falantes se inserem, se relacionam e interagem. Ademais, consideramos
também os pressupostos teóricos dos Modelos Baseados no Uso (BYBEE,
2001, 2010; PIERREHUMBERT, 2002) que prevê um caráter representacional à
variação. Para alcançar nossos objetivos, analisamos a duração da consoante
(s) em ocorrências extraídas de uma amostra de fala composta por falantes
homossexuais cariocas e comparamos com a duração de (s) verificada em
ocorrências extraídas de um grupo controle com falantes heterossexuais

814
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

cariocas. A hipótese principal, já verificadas em trabalhos com falantes de língua


inglesa (CRIST, 1997; LINVILLE, 1998; LEVON, 2006; 2007), é a de que na fala
de homossexuais masculinos há uma duração maior da produção da fricativa
coronal em posição de coda. Com o intuito de agregar resultados que ainda não
são caros à literatura sociolinguística x orientação sexual em âmbito brasileiro,
conjugaremos aos resultados da produção da fricativa (S) em coda um estudo
de percepção acerca do objeto de estudo. Este estudo está sendo construído
a partir da técnica de matched guise (LAMBERT et al., 1960) com o objetivo de
verificar o significado social da variação linguística a partir da percepção dos
estímulos linguísticos por pessoas de diferentes orientações sexuais. Desta
forma, averiguamos se uma duração maior de (S) em coda seria específica da
fala de homens gays e até que ponto a orientação sexual do juiz ouvinte teria
efeito no reconhecimento de falas específicas.

Palavras-chave: sociolinguística; gays cariocas; (s) em coda.

Palatalização de oclusivas alveolares no distrito


de Riacho da Cruz, Januária – MG: uma análise
multivariada
Autoria: EVILAZIA FERREIRA MARTINS

A partir da observação empírica sobre a fala dos habitantes do distrito de Riacho


da Cruz, pertencente à cidade de Januária, Norte do estado de Minas Gerais,
foi possível constatar a existência de variação na pronúncia dos sons de /t/
e /d/ sucedidos por [i], que ora eram pronunciados como sons oclusivos, ora
como africados, como em: ‘tinha’ [t]inha ~ [t?]inha; ‘dia’ [d]ia ~ [d?]ia; ‘teatro’
[ti]atro ~ [t?i]atro; ‘de’ [di] ~ [d?i]. Considerando que oclusivas, seguidas por
vogal alta, não são comuns em boa parte dos municípios norte-mineiros,
objetivou-se, investigar, por meio da Teoria da Variação e Mudança, quais fatores
linguísticos e sociais atuavam sobre o fenômeno naquela localidade. Na primeira
etapa, foi elaborada pesquisa piloto com 4 falantes idosos. Isso, associado
ao conhecimento sobre a história da Comunidade em questão, possibilitou a
construção de duas hipóteses. A primeira, relacionada ao fator social idade,

815
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

é a de que, no Distrito, há o processo de palatalização de oclusivas. Isso seria


devido à imigração de grupos baianos para a região mineira, no século XVIII,
que levaram consigo as variantes oclusivas (agora conservadoras), comuns
em algumas regiões baianas (PORTO, 2019). Assim, as variantes inovadoras,
inseridas pelos mais jovens na Comunidade, seriam os sons africados, comuns
no norte de Minas. A segunda hipótese que guiou este estudo fundamentou-se
no fator linguístico qualidade da vogal subjacente. Deste modo, era esperado que
vogais naturalmente altas desencadeassem mais o processo. Em uma segunda
etapa da pesquisa, ampliou-se os dados e realizou-se análise quantitativa não
multivariada descritiva (proporção) e inferencial (qui-quadrado), para verificação
das hipóteses. Os resultados apontaram para a influência do fator social idade,
mas não para a influência da qualidade da vogal (PORTO, 2019). Este trabalho,
que dá continuidade aos estudos de Porto (2019), apresentará os resultados
obtidos na análise multivariada realizada pelo programa estatístico GoldVarb.
Para a realização deste estudo, a amostra foi ampliada, de 851 para 1485 dados.
Foram verificadas a influência linguística do vozeamento das oclusivas e da
qualidade da vogal subjacente e a influência social do gênero, da idade e da
escolaridade. Todos os fatores foram selecionados pelo programa. A partir da
pesquisa, foi possível concluir que o processo de palatalização no distrito de
Riacho da Cruz ocorre mais na fala dos mais jovens, das mulheres, dos mais
escolarizados, e em oclusivas não vozeadas, seguidas de vogais altas. A próxima
etapa da pesquisa analisará os dados por meio do programa R.

Palavras-chave: sociolinguística; palatalização de oclusivas; Januária-MG.

Uso variável do modo subjuntivo em orações


completivas nas línguas escrita e falada paulista
do século XX e XXI
Autoria: ISABELA BAIOCATO

Esta pesquisa tem como propósito fundamental verificar a ocorrência da


variação entre os modos Subjuntivo e Indicativo no Português Brasileiro, mais
especificamente o português falado e escrito no estado de São Paulo entre
os séculos XX e XXI. A nossa busca por essa variação linguística se dará em

816
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

orações completivas (ou subordinadas) que serão retiradas de diferentes


gêneros textuais. Como exemplo para nosso estudo da língua falada, temos
as entrevistas do projeto NURC/SP e do Iboruna; e, como exemplo da língua
escrita, temos como corpus redações de vestibular, textos de jornais e cartas
pessoais. A teoria que fundamenta este projeto é a Teoria da Variação e Mudança
Linguísticas (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 2008 [1972], 1994,
2001). Sob a perspectiva dessa teoria, considera-se a língua como uma realidade
heterogênea, composta de diferentes variedades que refletem os aspectos
multiformes presentes na comunidade de fala. Além disso, essa teoria defende
a ideia de que a variação é reflexo da natureza social da língua, sendo ao mesmo
tempo produto e condição para a comunicação. O primeiro dos nossos objetivos
específicos é (i) demonstrar que, em contextos específicos de intercambialidade
do Indicativo e do Subjuntivo, o emprego dessas formas em orações subordinadas
se neutraliza, principalmente, pela carga semântica do verbo da oração principal,
sendo apenas variantes morfológicas condicionadas pelo verbo da oração
matriz. Além disso, buscamos (ii) investigar se o fenômeno em estudo reflete um
estado de variação estável ou mudança em progresso, como também queremos
(iii) verificar em que medida os usos observados nos diversos gêneros textuais
seguem ou se opõem ao que vem determinado na tradição gramatical sobre
esse fenômeno. Por fim, pretendemos (iv) contribuir para a descrição da variável
em questão no português do Brasil, especificamente, nas línguas escrita e falada
paulista dos séculos XX e XXI. A metodologia a ser empregada segue a proposta
desenvolvida e aplicada em Poplack e Malvar (2007) e em Poplack, Lealess e
Dion (2013), com o objetivo de identificar a “trajetória da variação subjuntivo/
indicativo ao longo da tradição gramatical portuguesa”. O estudo inclui duas
etapas: (i) o levantamento prévio de informações em gramáticas, manuais e
outros materiais de cunho normativo similares, representativos do período de
tempo compreendido pela análise, e o levantamento de resultados obtidos em
estudos variacionistas sobre o fenômeno; (ii) a análise empírica do fenômeno
a partir dados oriundos dos diferentes tipos de gêneros textuais datados dos
séculos XX e XXI.

Palavras-chave: subjuntivo; variação; orações completivas.

817
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

O fundo comum e o encalhamento de preposições


no PB
Autoria: JULIA BAHIA ADAMS

Com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística


Variacionista (LABOV, 2008 [1972]; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]),
esta comunicação objetiva apresentar uma análise qualitativa de estruturas em
português brasileiro que se assemelham aos fenômenos sintáticos preposition
stranding - por exemplo, “é uma coisa que não sou cético sobre” - e orphaning -
como em “a língua russa parece muito interessante, mas não sei nada de”. Este
trabalho avalia a hipótese de que o fundo comum (STALNAKER, 2002) é um dos
fatores que condiciona o emprego da variante com preposição encalhada, em
relação a outras opções de posicionamento - a variante padrão (“é uma coisa
sobre a qual não sou cético”), a variante copiadora (“é uma coisa que não sou
cético sobre ela”) e a variante cortadora (“é uma coisa que não sou cético”).
Para tanto, essa hipótese tem sido testada com uma amostra de 20.000 Tweets
- contendo as preposições “sobre”, “de”, “com” e “para” - de um corpus do Twitter
com mais de cem milhões de palavras, compilado por meio da linguagem de
programação R (R Core Team, 2018), mais especificamente o pacote rtweet
(KEARNEY, 2019). O levantamento de ocorrências de preposições e locuções
prepositivas também foi feito através de SCRIPTS em R (ADAMS, 2020). A
amostra analisada forneceu indícios de quando o encalhamento preposicional
poderia ter ocorrido mas não ocorreu e de quando não poderia ter ocorrido sem
perda do mesmo significado referencial, isto é, auxiliou na identificação dos
envelopes de variação. Nesse sentido, argumenta-se que essas construções com
encalhamento de preposição constituem variantes de duas variáveis sintáticas,
uma de orações relativas e outra de não relativas, e podem ocorrer apenas em
contextos em que o falante pressupõe o que é informação compartilhada entre
os interlocutores. Nossos dados com preposição em posição final da sentença
sugerem que esses fenômenos têm ocorrido mais em orações não relativas e
com a preposição “sobre”. Assim, esse trabalho qualitativo dialoga com a questão
mais ampla da análise da variação sintática (LABOV, 1978; LAVANDERA, 1978).

Palavras-chave: encalhamento de preposição; variação sintática; fundo comum.

818
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

A concordância verbal em Nova Iguaçu (RJ):


destaque para os fatores linguísticos e
estabilidade no comportamento da comunidade
Autoria: JULIANA BARBOSA DE SEGADAS VIANNA

A pesquisa pretendeu investigar a variação nas estratégias de concordância


verbal de terceira pessoa do plural, com base em entrevistas orais coletadas
entre informantes do município de Nova Iguaçu (RJ). O município de Nova Iguaçu
localiza-se no estado do Rio de Janeiro, a noroeste da capital, distando desta
cerca de 28km. Segundo o IBGE, é a quarta cidade mais populosa do estado
(798 mil habitantes), ficando atrás apenas da capital (6,5 milhões), São Gonçalo
(1,04 milhão) e Duque de Caxias (890 mil). As amostras organizadas no âmbito
do Projeto de Pesquisa “Nova Iguaçu sob o viés da Sociolinguística”, ao qual o
subprojeto se articula, serviram de material para a investigação do fenômeno
linguístico variável. Assim, tendo os pressupostos teórico-metodológicos da
Sociolinguística de base laboviana (WLH, 1968; LABOV, 1972, 1994), os dados
linguísticos foram codificados de acordo com fatores linguísticos testados
em investigações anteriores (GRACIOSA, 1991; VIEIRA, 1995, 2007; BRANDÃO;
VIEIRA, 2012) e fatores sociais que estratificam a amostra, a saber: (i) sexo/
gênero do informante, (ii) faixa etária (18-35 anos, 36-55 anos e mais de 55 anos) e
(iii) escolaridade (Ensino fundamental, Ensino médio e Ensino superior). Entre os
grupos de fatores linguísticos e extralinguísticos controlados em nossa amostra,
oito foram apontados como relevantes na variação da concordância verbal
para Nova Iguaçu: paralelismo formal no SN; traço de animacidade do sujeito;
expressão do sujeito; posição do sujeito em relação à forma verbal; saliência
fônica do verbo; paralelismo formal; escolaridade do informante; e gênero/sexo
do informante. Nesse sentido, pode-se dizer que chama a atenção a elevada
importância das restrições linguísticas para o fenômeno variável em Nova Iguaçu,
principalmente se tivermos em perspectiva que todos os grupos de fatores
estruturais controlados na investigação foram selecionados pelo programa
computacional de regras variáveis, o Goldvarb X. Por outro lado, entre os grupos
de fatores sociais, apenas a escolaridade se mostrou relevante. A análise na

819
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

curta duração parece indicar que não houve mudança no comportamento da


comunidade.

Palavras-chave: concordância verbal; variação linguística; Nova Iguaçu.

Os efeitos do contato linguístico entre o


Nheengatú e o Português Brasileiro em São Gabriel
da Cachoeira (AM)
Autoria: MARIANA PAYNO GOMES

Neste trabalho, parte de uma pesquisa de Mestrado, investiga-se preliminarmente


os efeitos do contato linguístico entre o Nheengatú, língua indígena da família
Tupi-Guarani, e o Português Brasileiro falado na cidade de São Gabriel da
Cachoeira (AM). Com base na teoria da evolução linguística, da ecologia do
contato e da seleção e competição de traços desenvolvida por Mufwene
(2001, 2008), a intenção é identificar possíveis mudanças nas estruturas
morfossintáticas do Português falado por uma habitante da região, de etnia
Baré e bilíngue em Português e Nheengatú. Mufwene empresta da biologia a
explicação do processo de reestruturação das línguas em situação de contato:
sua hipótese, da qual partimos para a análise dos dados, é a de que, assim
como acontece com os genes na evolução biológica, os traços das línguas ou
dialetos em interação entram em uma dinâmica de competição e seleção; dessa
forma, para se acomodar da melhor forma às necessidades comunicativas dos
indivíduos, características fonológicas, morfossintáticas, lexicais, semânticas
e pragmáticas, que integram e competem no banco de traços linguísticos de
cada ecologia, são selecionadas pelos indivíduos. Versão moderna da Língua
Geral Amazônica, o Nheengatú foi a língua franca e majoritária da província
do Amazonas até o final do século XIX, sendo amplamente utilizado por todos
os membros do sistema colonial. Hoje, é restrito a algumas comunidades
amazônicas – como as da região de São Gabriel da Cachoeira, no Alto do Rio
Negro – e falado principalmente pelos povos Baré, Baniwa e Warekena, em
substituição ou junto às suas línguas tradicionais. A atual situação de contato
entre o Nheengatú e o Português e a ecologia multilíngue da região de São Gabriel

820
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

da Cachoeira não se dissociam da história de formação, expansão e retração


da Língua Geral Amazônica durante a colonização do Brasil – motivo pelo qual
também propomos, além da análise linguística per se dos dados sincrônicos,
lançar um olhar para essa história. Portanto, nesta apresentação, pretende-
se traçar um breve panorama sócio-histórico da situação de contato entre as
duas línguas antes de demonstrar os possíveis efeitos observados na análise
preliminar dos dados da informante. (Apoio: CNPQ – Processo: 130432/2021-0)

Palavras-chave: contato linguístico; nheengatú; português brasileiro.

Percepção, identidade e significados sociais em


uma comunidade de Monte Azul Paulista-SP
Autoria: RAFAELA REGINA GHESSI ARROYO

Baseando-se em metodologia de cunho etnográfico e na importância do


significado social da variação linguística (ECKERT, 2000, 2012), a proposta
de trabalho tem como objetivo principal investigar percepções e avaliações
linguísticas de alunos de uma escola pública da cidade de Monte Azul Paulista-
SP e de moradores do bairro no qual a escola está localizada, frente ao fenômeno
variável de concordância verbal (CV) de 3PP. Interessa-nos investigar como
pistas linguísticas podem ter efeito sob a percepção e avaliação de como soa
determinado falante, verificando o papel das variantes linguísticas na construção
de identidade. A escolha do universo de pesquisa justifica-se pela escola estar
localizada em um bairro bastante estigmatizado na cidade. Para a coleta dos
dados, iniciamos as entrevistas com os moradores do bairro, com o objetivo de
selecionar e quantificar as ocorrências de CV, além de fazermos um levantamento
de informações relacionadas aos perfis sociais, abordando tópicos como o
bairro, a infância, a família, a educação, a rede social e as atividades de lazer
(OUSHIRO, 2015). Na escola, os alunos não serão preestabelecidos, uma vez que
procuramos desenvolver uma análise para explorar diferenças e semelhanças
entre vários grupos jovens existentes na comunidade escolar e conseguir, dessa
forma, diferenciar que jovens participam de quais comunidades de práticas e
decidir, futuramente, com quais trabalhar e aplicar questionários, entrevistas,
gravações e os testes de percepção e avaliação. Nesse tipo de trabalho, os

821
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

falantes são constituintes e não representantes de categorias sociais e devem


ser tratados, portanto, como legítimos construtores de significado social da
variação. As variantes nos permitem assumir o caráter de pertencimento e
distinção, sendo fundamental associar as alternâncias sistemáticas da língua
com as complexidades da prática social de comunidades. Dessa forma, este
trabalho é importante por contribuir com estudos recentes e inovadores sobre
a língua, promovendo uma ampliação da compreensão da variação linguística.
Esperamos, como resultado, observar que a escola não consegue “silenciar”
a identidade linguística e social de seu alunado, pois a expectativa é de que
os alunos, em suas respostas, reforçarão a identidade do grupo de qual fazem
parte. Assim, será possível confrontar o padrão de avaliação dos alunos e dos
indivíduos do bairro.

Palavras-chave: percepção; identidade; concordância verbal.

Como os materiais didáticos abordam a influência


de línguas africanas na gramática do português
Autoria: TÂMARA KOVACS ROCHA

No Brasil, dois textos regulamentam o ensino da variação linguística e da


diversidade cultural nas escolas: a Lei nº 11.645/2008, que torna obrigatório o
ensino de “história e cultura africana, afro-brasileira e indígena”, e a Base Nacional
Comum Curricular, que prescreve todos os conteúdos a serem ensinados.
Vários usos sintáticos e fonológicos das variantes da língua portuguesa falada
e escrita no Brasil são associados pela Linguística de Contato (LC) ao resultado
do contato linguístico entre o português e línguas africanas. Portanto, esse
conteúdo atende a ambos os textos regulatórios e deve ser abordado. A proposta
desta pesquisa, que está em fase inicial, é investigar coleções de materiais
didáticos de Língua Portuguesa do Plano Nacional do Livro Didático para os
Anos Finais do Ensino Fundamental, para estabelecer se e como tais usos têm
sido abordados. A pesquisa tem duas frentes: a primeira, descritiva, analisa o
material didático segundo três linhas da LC (crioulização (GUY, 1981; HOLM,
1992), derivação imprópria (LUCCHESI, 2012) e ecologia linguística (MUFWENE,
2008) e por um contraponto, que nega o papel do contato (NARO; SCHERRE,

822
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

2007), para verificar se conteúdos produzidos por eles estão aparecendo por
uma via explícita ou por uma via implícita. A segunda frente, analítica, vê a forma
como esses conteúdos são tratados, baseando-se em três conceitos: o livro
como representação (de Roger Chartier), dispositivo de racialidade (de Sueli
Carneiro) e epistemicídio (de Boaventura de Souza Santos). Até o momento,
verificou-se que o conteúdo sobre o papel de línguas africanas na gramática do
português falado e escrito no Brasil pode sofrer tanto um apagamento completo,
quanto uma abordagem parcial, abordando apenas léxico de línguas da África,
por exemplo, geralmente estereotipado. Podem ainda sofrer um tratamento
incorreto em termos teóricos, por exemplo, pressupondo apenas influência de
línguas indígenas na gramática, tratando o português de diferentes países como
variantes em relação a um padrão europeu e desconsiderando a existência
do português indígena e do afro-brasileiro. Principalmente, verifica-se, até o
momento, um tratamento que pressupõe uma única norma para o português,
tratando como erros, de sintaxe ou fonológicos, usos que sabemos derivarem
do contato. Também elaboramos como o apagamento e a desqualificação de
saberes que compõem o epistemicídio mantém um dispositivo de racialidade,
que age calcando a divisão entre uma norma linguística, tomada como parâmetro
e naturalizada, considerada não marcada, e variantes, consideradas marcadas
e destinadas a serem apagadas.

Palavras-chave: ensino de português; contato linguístico; decolonialidade.

A expressão variável da posse pronominal de segunda


pessoa do singular em esquetes humorísticos
Autoria: THIAGO LAURENTINO DE OLIVEIRA

Nesta comunicação, focalizo a variação das formas pronominais de segunda


pessoa do singular ‘teu’ e ‘seu’ (e suas respectivas flexões de gênero e número)
em dados de fala extraídos de diálogos humorísticos disponíveis no site YouTube.
Os objetivos que orientam esta investigação são: (i) examinar o estágio de difusão
da variante inovadora ‘seu’ no português brasileiro contemporâneo, tomando
por base duas variedades metropolitanas da região Sudeste (Rio de Janeiro
e São Paulo); (ii) analisar os contextos em que a variante conservadora ‘teu’

823
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

ainda se faz presente e (iii) identificar as variáveis independentes linguísticas


e extralinguísticas que condicionam significativamente a regra variável em
questão. Para tanto, adoto os pressupostos teóricos da Sociolinguística
Variacionista (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]; LABOV, 1994, 2001)
e a abordagem cognitivo-funcional de Heine (1997) acerca das estruturas de
posse. As ocorrências possessivas que constituem a amostra foram extraídas
de episódios do coletivo criativo Porta dos Fundos (https://portadosfundos.com.br/),
detentor de um dos maiores canais do YouTube Brasil, com mais de 5 bilhões
de visualizações e 16 milhões de inscritos. Com base nesta amostra, tenciono
verificar as seguintes hipóteses: (i) a variante ‘seu’ tem uso mais frequente do que
a variante ‘teu’; (ii) o tipo semântico de posse é uma variável linguística relevante,
uma vez que o uso de ‘seu’ é favorecido em estruturas de posse permanente,
a prototípica segundo Heine (1997); (iii) quanto a esta variável semântica, a
variante ‘teu’ é favorecida nos contextos de posse inalienável, por exemplo,
de partes do corpo e relações de parentesco; (iv) o sexo dos atores é uma
variável extralinguística significativa, sendo as mulheres as que mais utilizam
a variante inovadora. No que se refere aos procedimentos metodológicos, os
dados identificados nos vídeos foram transcritos para uma planilha do aplicativo
Excel, dentro do qual foram codificados. A análise multivariável foi realizada no
software GoldVarb X e os testes de proporção foram calculados no programa
Action Stat. Referências: LABOV, William. Principles of Linguistic Change – Social
Factors. Oxford: Blackwell, 2001. LABOV, William. Principles of Linguistic Change
– Internal Factors. Oxford: Blackwell, 1994. HEINE, Bernd. Possession: Cognitive
Sources, Forces and Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press,
1997. WEINREICH, Uriel; LABOV, William.; HERZOG, Marvin. Fundamentos empíricos
para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola, 2006 [1968].

Palavras-chave: possessivos; pronomes pessoais; segunda pessoa do singular.

Persépolis: uma leitura sociolinguística


Autoria: WANESSA RODOVALHO MELO OLIVEIRA

A obra intitulada Persépolis (2007), de Marjane Satrapi retrata pelas lentes


de uma criança iraniana de dez anos, a Revolução Islâmica em seu país. Uma

824
Comunicação Oral
Sociolinguística e dialetologia

menina inteligente, religiosa, moderna, criada por pais liberais, e que deseja ser
profeta quando crescer, mas sua vida sofre grandes mudanças com a guerra
com o Iraque. O uso do véu, as manifestações, a revolução e muitas inquietações
acerca da liberdade, principalmente feminina, servem de cenário para vários
levantamentos Sociolinguísticos. Desse modo, este resumo tem como objetivos:
evidenciar as crenças linguísticas na construção da identidade de Satrapi;
conhecer os aspectos sociais, históricos, políticos e geográficos que marcaram
a personagem, além de destacar as atitudes linguísticas relatadas na história
em quadrinhos. A abordagem metodológica é focada na pesquisa descritiva,
que traz a interpretação dos dados coletados na obra, a partir de teorias
advindas dos psicólogos sociais Lambert e Lambert (1972) que evidenciam as
atitudes e crenças linguísticas, elencadas por Labov (2008) sobre a abordagem
Sociolinguística em fatores externos à língua, assim como, Tarallo (1994) por
abordar o comportamento linguístico, referindo-se à identidade que reflete a
sociedade. As análises sobre a obra voltam-se para a autora quando, aos 14
anos de idade, seus pais decidem que, devido a sua sinceridade, Teerã não é
mais um lugar seguro para ela, e, por isso, decide embarcar sozinha ao Viena
(Áustria) em busca de estudo e liberdade. As análises mostram que os fatores
sociais mudaram o comportamento da protagonista, impedida de ser autêntica,
devido às mudanças sociais e históricas que estava inserida, terrorismo e guerra,
decadência política e rebeldia, a ponto de sua identidade ser questionada por
ela mesma, quando, em um país distante, chegou a negar sua nacionalidade na
tentativa frustrada de ser aceita. Percebe-se, assim, que as atitudes linguísticas
evidenciam as várias fases da vida da protagonista, bem como a aceitação na
comunidade de fala diferente da sua, o desprestígio do seu sotaque francês
quando tentou passar-se por uma francesa nativa, e a questão da cultura que
ora era valorizada, ora menosprezada, mostram as crises de identidade que
percorrem ao longo da narrativa. Portanto, observa-se que uma nova construção
linguística é obtida com as amizades e influências locais que a levaram a um
protagonismo feminista solitário, com isso, novas etapas Sociolinguísticas
podem ser evidenciadas, já que mostram os elementos externos da língua
totalmente ligados à identidade de Satrapi.

Palavras-chave: aspectos sociolinguísticos; identidade; Persépolis.

825
Comunicação Oral
Teoria e crítica literária

A constituição do mídium livro e o caso do prêmio


nobel de literatura de 2016 do cantor e poeta Bob
Dylan
Autoria: CLAUDIA MARIA DE SERRÃO PEREIRA

No livro Discurso Literário, do analista do discurso Dominique Maingueneau,


afirma-se que a análise de um texto literário deve iniciar no princípio de sua
materialização e propõe-se pensar, assim, a constituição de um texto literário a
partir da noção de mídium. Mídium é um conceito acunhado por Régis Debray
para desformalizar que uma mensagem tem sentidos apenas no momento
de sua enunciação. Para esse teórico francês, o sentido de uma mensagem
é projetado por ordens de organização, que podem ser divididas em duas
partes: em matéria organizada (MO), os chamados vetores técnicos, os quais
são o suporte físico, o modo de expressão e os dispositivos de circulação; e a
organização materializada (OM), com os vetores institucionais, os quais são o
código linguístico, o marco da organização e as matrizes de formação. Débray
também discorre que o conceito comum de suporte geralmente abrange apenas
os vetores técnicos, como se o suporte fosse usado somente como transporte
ou recipiente. Contudo, um suporte pela visão do mídium irá mais além, pois ele
se constitui tanto pela ideia de transportar uma mensagem, assim como também
transmitir social, econômica e politicamente um enunciado. Tal afirmação de
Débray poderia auxiliar compreender porque nas premiações literárias (como
o Prêmio Jabuti ou Nobel), os livros físicos ainda são vistos como objetos
legitimadores dos textos ditos literários. Um exemplo a ser dado do caso é do
cantor e compositor Bob Dylan, que ganhou o prêmio Nobel de Literatura em
2016, mas teve o seu prêmio questionado por críticos literários, por causa da
sua contribuição majoritariamente poética por meio da música. Deste modo, a
legitimação e a consagração centradas em um núcleo canônico de afirmação
do tipo de mídium físico excluiria a importância de outros formatos de livros
que contribuem também para a constituição do literário. Para exemplificar mais
sobre esses posicionamentos, apresentar-se-á um estudo de caso a partir do
quadro-metodológico mídium, com um corpus constituído de notícias e outros
fatos associados à premiação de Bob Dylan em 2016.

Palavras-chave: livro; prêmio nobel; discurso literário; mídium.

826
Comunicação Oral
Terminologia e terminografia

A terminologia e sua aplicabilidade em atividades


profissionais e cotidianas
Autoria: BEATRIZ CURTI-CONTESSOTO
Coautoria: LUCIMARA ALVES DA CONCEIÇÃO COSTA

A constante mudança e evolução tecnológica e social, bem como as necessidades


originadas por esse progresso, são os principais motivos que justificam
o surgimento de novas ciências e teorias científicas. Com a Terminologia
não foi diferente, uma vez que foi apenas a partir do século XIX, quando a
internacionalização progressiva da ciência fez com que os cientistas passassem
a se preocupar com a necessidade de se dispor de regras sistemáticas de
formação de termos para cada disciplina, começou-se a delimitar os contornos
do que viria a ser a Terminologia posteriormente. Como o número de termos
técnicos continua a aumentar, junto com o rápido desenvolvimento da ciência e
tecnologia, o campo da Terminologia atrai o interesse de um número crescente
de pesquisadores e profissionais com origens e motivações amplamente
variadas. Especialistas em documentação, lexicógrafos e tradutores, bem como
cientistas, engenheiros e técnicos, há muito se preocupam com os termos
técnico e com a construção e veiculação do conhecimento especializado em
contextos laborais e comunicativos. Neste sentido, com este trabalho, temos
por objetivo discorrer sobre os aspectos teórico-práticos da Terminologia e a
importância dessa disciplina para os cidadãos, tanto no exercício de atividades
profissionais como nas atividades cotidianas, uma vez que a Terminologia
é uma ciência extremamente presente em todos os ambientes e contextos
de trabalho e da vida comum, seja por meio da presença de termos técnicos
em documentos específicos de um setor ou de uma empresa, seja por meio
de sua aplicabilidade na comunicação, quando se faz necessário “traduzir”
uma linguagem extremamente científica para um público mais leigo ou, até
mesmo, em situações comunicativas comuns entre pessoas de áreas distintas,
interesses científicos ou diferentes atividades laborais. Os resultados obtidos
são frutos do curso de extensão “Terminologia: teorias e práticas”, desenvolvido
na Universidade de São Paulo, em parceria com o Centro Interdepartamental
de Tradução e Terminologia - CITRAT, no segundo semestre de 2020, no qual
constatou-se, por meio das atividades e discussões desenvolvidas, a importância

827
Comunicação Oral
Terminologia e terminografia

da Terminologia para diferentes áreas de especialidade como a Moda, Engenharia,


Medicina, Economia etc., e para a veiculação do conhecimento científico por
meio dos glossários e outros produtos terminográficos.

Palavras-chave: Terminologia; contexto profissional; conhecimento especializado.

Definição de termos em textos de popularização


do conhecimento de uma área da medicina
Autoria: CANDICE GUARATO SANTOS

A dinamicidade da língua permite ajustes na comunicação de acordo com


as várias situações do cotidiano. Tal fato reflete no emprego dos termos, os
quais podem transitar entre os contextos especializados e de divulgação do
conhecimento. Nesse caso, o termo e a informação científica são popularizados
em conjunto. No caso dos vocábulos especializados que passam por isso,
Barbosa (2005) classifica esse processo como popularização ou banalização
de linguagens especializadas. A compreensão dos sentidos expressos pelos
termos popularizados é possível devido ao uso de certos recursos linguísticos. A
forma de definir um termo é um desses mecanismos que o divulgador científico
pode explorar para que o seu propósito, isto é, alcançar o não especialista,
seja cumprido. Com base nessa questão, torna-se interessante investigar a
estrutura das definições nesse tipo de circunstância, em que o termo passa
a circular fora de seu ambiente altamente técnico. O objetivo deste trabalho
consiste em analisar como é estruturada a definição dos termos utilizados
em materiais de divulgação do conhecimento sobre a Cirurgia Vascular. A
fundamentação teórica é baseada nas concepções sobre cadeia de definição
na popularização da ciência (PILKINGTON, 2019), na Terminologia Aplicada
(BARBOSA, 2009), na Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1998), na
Teoria Sociocognitiva da Terminologia (TEMMERMAN, 2004) e na Simplificação
textual (PARAGUASSU, 2018). A metodologia será conduzida pela Linguística
de Corpus (BEBER SARDINHA, 2004, 2006). Para a realização dessa abordagem,
o programa escolhido para as análises foi o WordSmith Tools, versão 8 (SCOTT,
2020). Os corpora de pesquisa serão compilados a partir de gêneros textuais
tradicionais do meio acadêmico, por exemplo, teses, dissertações e artigos
científicos, e de gêneros textuais típicos na divulgação do conhecimento, tais

828
Comunicação Oral
Terminologia e terminografia

como matérias e legendas de vídeos postados na internet. Assim, será possível


contrastar os níveis de complexidade entre os conteúdos. Este estudo é relevante
devido à análise linguística de termos em informações científicas transmitidas
tanto para outros especialistas quanto para pessoas leigas. (Apoio: CAPES -
Código de Financiamento 001)

Palavras-chave: Terminologia; divulgação científica; Linguística de Corpus.

As metáforas da economia projetadas no discurso


acadêmico
Autoria: ELENICE ALVES DA COSTA

Este trabalho tem por finalidade apresentar algumas projeções das metáforas
no discurso acadêmico da Economia, levando em consideração os resultados
obtidos e analisados em nossa tese de doutoramento concluída no ano de
2020 pela FFLCH-USP, sob a orientação da Professora-Doutora Ieda Maria
Alves, intitulada Um estudo de metáforas terminológicas presentes em
gêneros acadêmicos da Economia: aspectos linguísticos, comunicativos e
cognitivos. O discurso da Economia tem sido alvo de investigação por parte
de vários linguistas haja vista a importância dessa área de conhecimento na
vida dos cidadãos. Desde o período de pesquisa no nível do mestrado, temos
observado qual é o comportamento dessa terminologia no que se refere às
metáforas que cumprem um papel didático a fim de facilitar a compreensão
de seus fenômenos e também heurístico, fundando a estrutura epistemológica
de seu pensamento científico. Para a realização deste trabalho, constituímos
um corpus composto por gêneros acadêmicos que são utilizados por alguns
especialistas da área econômica. Esses gêneros são, a saber, artigos científicos,
dissertações de mestrado e teses de doutoramento disponíveis em formato
eletrônico pelos sites da USP e da UNICAMP prospectados durante o período
de 2005 a 2015. Dentre os resultados obtidos, observamos, por exemplo, que o
grau de especialização dos textos estudados determinou a natureza e a função
das metáforas terminológicas deste campo de estudo. Os termos identificados
e analisados sob essa perspectiva da Semântica e/ou Linguística Cognitiva
puderam revelar que os conceitos apresentados por esse tipo de linguagem
são projetados, sobretudo, pelos domínios-fontes de outros mapeamentos, tais

829
Comunicação Oral
Terminologia e terminografia

como, a Física e a Biologia; além de se apoiarem em outros esquemas imagéticos


de nosso cotidiano. Por último, observamos que o grau de especialização dos
textos produzidos a partir do discurso acadêmico da Economia determinam a
função e a natureza de suas metáforas, expondo informações com o objetivo
de construir saberes e colaborar para o processo de conceptualização de seus
referentes.

Palavras-chave: metáfora; discurso; economia.

Configurações conceituais e terminológicas da


área de Educação Profissional Tecnológica de
Graduação
Autoria: FERNANDA MELLO DEMAI

A Educação Profissional Tecnológica de Graduação é um tipo especial da


educação nacional, que forma Graduados em Tecnologia (Tecnólogos), cujo
perfil profissional é direcionado à produção e à aplicação de ciência e tecnologia
na solução de problemas e na proposição e melhoria de produtos, processos e
serviços em diversos contextos socioprofissionais, culturais e históricos. Esse
tipo de educação constitui-se na área-tema desta comunicação. O objetivo deste
trabalho é analisar aspectos das configurações conceituais e terminológicas do
discurso especializado da área-tema, a partir da estruturação de corpus textual
constituído por textos legais, pedagógicos e institucionais, dos níveis federal e
estadual (estado de São Paulo) e por textos de pesquisadores independentes,
em um recorte de 2000-2020, em uma abordagem terminológica (com utilização
de preceitos das Teorias Sociocognitiva e Comunicativa da Terminologia e de
princípios da Metáfora Conceitual e da Metonímia Conceitual). Será abordado
o processo de terminologização (ou transposição do nível conceptual para
o linguístico), com ênfase no estudo do continuum metafórico-metonímico,
no qual são latentes as concepções de continuidade, de ausência de limites
definidos, de interação, de integração de fenômenos e de resultados em alguns
pontos, não estanques, da linha imaginária que se pode traçar para representar
a configuração de conceitos e a consubstanciação de termos. A metodologia
adotada, híbrida, combina uma ferramenta informatizada de extração lexical
(programa WordSmith Tools) e a análise humana, para um estudo terminológico

830
Comunicação Oral
Terminologia e terminografia

descritivo, com adoção de categorias de análise representativas dos fenômenos


estudados. Como exemplo, apresenta-se o termo competências socioemocionais,
configurado no eixo morfossintático na forma de substantivo determinado por um
determinante adjetival. Em relação à configuração semântica, as competências
são comportamentos a serem demonstrados no âmbito profissional; verifica-
se carga semântica metafórica, que se classifica, neste estudo, na categoria
metáfora estrutural - de ação comportamental-socioprofissional, visto que o
conceito "comportamentos a serem demonstrados" é estruturado com o uso
de outro termo, competências. O determinante socioemocionais carrega valor
semântico cognitivo, comunicativo e ideológico-persuasivo, considerando-
se que a adoção de competências socioemocionais no currículo dos cursos
área-tema provém de demanda da sociedade de se formar Tecnólogos que
demonstrem capacidades de interação, colaboração, comunicação, autonomia,
responsabilidade, resistência ao estresse e à frustração, autoconfiança e
resolução de conflitos. Competências socioemocionais caracteriza-se também
por relação metonímica, do tipo instrumento pelo resultado – competências
é utilizado no lugar de capacidades demonstradas. Evidenciam-se, assim, os
limites tênues e complementares entre fenômenos linguísticos, que corroboram
a noção de continuum.

Palavras-chave: configuração conceitual e terminológica; continuum metafórico-


metonímico; Educação Profissional Tecnológica de Graduação.

Definições terminológicas negativas: um mal


necessário?
Autoria: FRANCINE DE ASSIS SILVEIRA
Coautoria: IVANIR AZEVEDO DELVIZIO

As convenções sobre elaboração de definições terminológicas, em geral,


recomendam evitar o uso de formas/estruturas negativas sempre que possível.
Entretanto, no que se refere a esta orientação, observou-se que, na prática
terminográfica, por vezes, faz-se necessário recorrer à definição negativa para
melhor explicar os conceitos expressos por determinados termos. As definições
negativas têm sido pouco discutidas e ilustradas e, diante disso, considerou-se
uma contribuição importante reunir alguns exemplos de definições negativas
no sentido de observar em que casos elas seriam pertinentes. Assim, o objetivo

831
Comunicação Oral
Terminologia e terminografia

deste artigo é compilar e analisar um conjunto de definições terminológicas


negativas e verificar os casos em que podem ser utilizadas. Para tal, este estudo
fundamentou-se nos preceitos teóricos da Terminologia e Terminografia e em
estudos sobre o tema (FELBER, 1984; DUBUC, 1999; PAVEL; NOLET, 2002; CABRÉ,
1993; FINATTO, 2003, 2004; BARROS, 2004; KRIEGER; FINATTO, 2004; ALMEIDA;
PINO; SOUZA, 2007; GALDIANO; ZAVAGLIA, 2015; SAGER, 1993; BARITÉ, 2017).
Foram compiladas e analisadas definições negativas utilizadas tanto no discurso
especializado quanto em trabalhos terminográficos em diferentes áreas de
especialidade. Observou-se que as definições negativas foram usadas para definir
termos que: a) expressam conceitos que têm como traço principal a ausência
de uma característica; b) expressam conceitos com valor negativo (defeitos,
desvios, doenças etc.); c) apresentam formantes negativos em suas estruturas;
d) mantêm relação de oposição com outro(s) termo(s), distinguindo-se dele(s)
pela ausência de uma característica. Ao se realizar uma análise detalhada das
redações das definições negativas combinada com o estudo do valor semântico
dos termos assim definidos, constata-se que a definição negativa não deveria
figurar, ao lado dos vícios e defeitos, mas ao lado de outros tipos de definição
dos quais o terminólogo pode fazer uso, respaldado por uma teoria comunicativa
da Terminologia e pelo gradual alinhamento dos construtos teóricos sobre a
definição terminológica a esta teoria.

Palavras-chave: terminologia; definição terminológica; definição terminológica


negativa.

Dicionários terminológicos bilíngues: uma


proposta para o ensino da Terminologia em
escolas indígenas do estado do Acre
Autoria: SIMONE CORDEIRO-OLIVEIRA
Coautoria: MAURIZIO BABINI

O estado do Acre concentra uma rica diversidade étnica de povos indígenas:


são quinze etnias, além de três não contactadas, conhecidos como “isolados”.
As Terras Indígenas (TI) estão localizadas nos municípios de Santa Rosa do

832
Comunicação Oral
Terminologia e terminografia

Purus, Jordão, Assis Brasil, Sena Madureira, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá,
Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul; somando
trinta e quatro TI, onde habitam as etnias Jaminawa, Manchineri, Huni Kuin,
Kulina, Ashaninka, Shanenawa, Yawanawá, Katukina, Sayanawa, Jaminawa-Arara,
Apolima-Arara, Shawãdawa, Poyanawa, Nukini e Nawas. Enquanto professores
e pesquisadores do curso de Licenciatura Indígena da Universidade Federal
do Acre, Câmpus de Cruzeiro do Sul, popularmente conhecido como Câmpus
Floresta, orientamos pesquisas terminológicas de um grupo de graduandos
oriundos de três etnias, a saber: Huni Kuin (Kaxinawá), Nukini e Apolima-Arara.
Nesse contexto, identificamos o interesse dos graduandos pela organização e
elaboração de obras terminográficas enquanto instrumento de colaboração
de políticas de revitalização das línguas desses povos indígenas acreanos. O
objetivo principal deste trabalho é apresentar a metodologia de elaboração
dessas obras terminográficas. Após o estudo da fundamentação teórica em
Terminologia, tendo como base, sobretudo as proposta de Barros (2004, 2007)
e Cabré (2005 [1993]), os graduandos, junto com a equipe de pesquisadores,
definiram o público-alvo e a escolha dos primeiros domínios especializados a
serem investigados, considerando sua representatividade na cultura desses
povos. Assim, foram selecionados os seguintes domínios: artesanato (Nukini);
cestaria (Apolima-Arara); cerâmica, pinturas corporais e rituais sagrados (Huni
Kuin - Kaxinawá). Como principais resultados desse trabalho, apresentamos
aqui a metodologia usada pela coleta e a seleção dos candidatos a termos, a
microestrutura e a macroestrutura dos primeiros dicionários terminológicos
que estão sendo elaborados. Tais obras constituirão importantes instrumentos
sociais, culturais e educacionais, uma vez que registrarão a cultura linguística
oral de três povos indígenas que residem em TI do estado do Acre. Trata-se de
uma ação, dentre outras, coordenada pelos próprios indígenas que objetivam
ascender a língua indígena como L1 nas TI.

Palavras-chave: terminologia de línguas indígenas; terminologia bilíngue;


dicionário terminológico bilíngue.

833
Comunicação Oral
Tradução

De La Saison à Estação: a tradução como forma de


representação cultural na imprensa feminina do
século XIX
Autoria: BEATRIZ ROMERO DA SILVA
Coautoria: MARIA ANGÉLICA DEÂNGELI

Este trabalho tem como intuito apresentar os resultados de uma pesquisa já


concluída, cujo objetivo foi analisar o periódico francês La Saison e sua tradução
para o português, A Estação. Cabe mencionar que La Saison foi um jornal
feminino publicado em Paris entre 1867 e 1909, o qual tratava sobre moda e vida
doméstica. Entre 1872 e 1878, o periódico francês circulou pelo Brasil, tendo sido
publicado em língua portuguesa, pela primeira vez, em 1879, no Rio de Janeiro,
sob o título de A Estação. Desse modo, este estudo parte de uma perspectiva
que considera a relação entre culturas segundo o modelo de uma tradução, ou
seja, a partir de um viés que, de acordo com Crépon (2016 [2004]), pressupõe
que toda cultura é, de modo constitutivo, o resultado de uma tradução. Nesse
contexto de intercâmbios culturais, em que se tecem as dimensões do próprio e
do outro, do nacional e do estrangeiro, investigamos como a imprensa feminina
francesa influenciou a imprensa feminina brasileira por meio de sua tradução,
impondo, de modo explícito ou não, a adoção das ideias e dos hábitos europeus,
sobretudo, franceses. Apesar do surgimento de uma imprensa escrita e editada
no Brasil, os conteúdos aqui produzidos eram quase uma paráfrase dos jornais
franceses, principalmente dos jornais femininos. Assim, verificamos como esse
tipo de imprensa destinada às mulheres e os anúncios publicitários veiculados
por ela foram determinantes para constituição da imagem e dos costumes da
mulher brasileira no século XIX, uma vez que toda a cultura disseminada no
Brasil da época era importada da Europa, justamente por meio da imprensa.
Para tanto, nos baseamos nos trabalhos de Buitoni (2009), de Silva (2009) e de
Duarte (2017) a respeito da imprensa feminina no Brasil. Com relação à imprensa
francesa, destacamos, sobretudo, os estudos de Sullerot (1963) e de Olivesi
(2017). Por outro lado, no que diz respeito à problemática da tradução enquanto
representação cultural e contato inevitável com outro, as pesquisas de Crépon
(2016 [2004]) e de Casanova (2002 [1999]) foram referências fundamentais para

834
Comunicação Oral
Tradução

este trabalho. Foi na intersecção desses dois eixos teóricos principais, portanto,
que esta pesquisa foi desenvolvida.

Palavras-chave: imprensa feminina; tradução; representação cultural.

Shirley Jackson, Kazuo Ishiguro e o público leitor


geek: aspectos condicionantes de marcas de
oralidade em traduções de ficção de gênero e de
ficção literária
Autoria: LAURO MAIA AMORIM

Esta proposta de comunicação apresentará os resultados de uma pesquisa


envolvendo a análise de marcas de oralidade (variação diafásica) em um romance
de ficção de gênero, A assombração da casa da colina, de Shirley Jackson
(traduzido por Débora Landsberg), e em um romance de ficção literária, Não
me abandone jamais, de Kazuo Ishiguro (traduzido por Beth Vieira), sendo que
ambas as obras são publicadas pelo Grupo Editorial Companhia das Letras. Na
esteira de pesquisas realizadas por Amorim (2018a, 2018b e 2021), a comunicação
tem por objetivo avaliar em que medida obras traduzidas, associadas aos
best-sellers, como as de ficção de gênero, seriam mais ou menos permeáveis
à presença de marcas de oralidade nos diálogos ficcionais, em comparação a
uma obra associada à chamada “alta literatura”, no caso, um romance de ficção
literária. Metodologicamente recorreu-se tanto ao software WordSmith Tools
para o levantamento quantitativo de marcas de oralidade, quanto a uma análise
qualitativa dessas ocorrências nos diálogos traduzidos. Coletaram-se também
informações que pudessem atestar o grau de consagração dos autores e obras
em questão, bem como o nível de ressonância que esses autores mantêm junto
ao campo acadêmico. Ademais, como o livro de Shirley Jackson é publicado por
um selo (Suma), do Grupo Editorial Companhia das Letras, voltado ao público
leitor geek, observamos os resultados de uma pesquisa acerca do perfil social
desse público consumidor no Brasil. As análises realizadas, incluindo as de
Amorim (2018a, 2018b e 2021), sugerem que haveria uma hierarquia governando
os graus de consagração e de reverberação no processo de diferenciação de
obras e autores, mesmo no campo da ficção de gênero, o que pode implicar, em

835
Comunicação Oral
Tradução

parte, que os leitores, com diferentes níveis de capital cultural poderiam, também,
participar desse processo de diferenciação no consumo das produções literárias,
com possíveis impactos na forma como que as traduções são realizadas.

Palavras-chave: estudos da tradução; marcas de oralidade; ficção literária/de


gênero.

Pragmatemas em Sagarana de Guimarães Rosa:


uma análise tradutológica
Autoria: QUENTIN OLIVIER BRANCO NUNES
Coautoria: ELIZABETE APARECIDA MARQUES

A Fraseologia, em sua concepção ampla, engloba diferentes unidades linguísticas,


como colocações, locuções e enunciados fraseológicos (CORPAS PASTOR,
1996). Dentre os enunciados fraseológicos, destacam-se as fórmulas de rotina
que, em razão de sua função fortemente pragmática, são denominadas, também,
como pragmatemas, os quais são definidos como enunciados autônomos,
em geral, polilexicais e semanticamente composicionais. Os pragmatemas
são restringidos em seus significados pela situação de comunicação em que
ocorrem (BLANCO; MEJRI, 2018). Nesse sentido, Glenck (2007) distingue as
fórmulas de polidez, de contato, de agradecimento, de cumprimento e despedida,
fórmulas de conversação, fórmulas à mesa, de repreensão e maldição, fórmulas
de comentários, de surpresa, de concordância, fórmulas de conciliação,
admoestação e motivação. As fórmulas de cumprimento e de despedida, por
exemplo, fazem parte do cotidiano e correspondem às normas sociais específicas
da cultura da comunidade linguística que as utiliza. Em Sagarana, primeira obra
de João Guimarães Rosa, vários personagens se encontram nos caminhos do
sertão usando fórmulas de gentileza e de uso cotidiano. Nessa perspectiva,
tomando como base os princípios teóricos da Fraseologia francesa (MEJRI, 2017,
2018; BLANCO ESCODA, 2014, 2018) e também os trabalhos desenvolvidos no
Brasil (GLENK, 2007; MORAES, 2008), pretende-se, neste trabalho, apresentar
os resultados de um estudo acerca dos pragmatemas coletados na obra
Sagarana do escritor mineiro João Guimarães Rosa, uma vez que essas unidades
linguísticas pontuam as interações entre os personagens dos contos. O objetivo

836
Comunicação Oral
Tradução

desta comunicação é analisar e classificar os pragmatemas inventariados em


Sagarana e verificar como eles foram traduzidos para o francês, por Jacques
Thiériot na edição de 1997. Por serem unidades discursivas de uso comum
nas interações do dia a dia, em português, é pertinente questionar sobre as
possibilidades de tradução desses pragmatemas para o francês, no desiderato
de refletir sobre a (re)transmissão do imaginário literário de Rosa. Para discutir e
analisar as traduções, serão usadas as bases teórico-metodológicas de Berman
(1999, 2018) e Mejri (2005, 2014). Assim, esta comunicação visa a contribuir, a
partir do discurso literário de Rosa, para os estudos dos pragmatemas no Brasil.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; pragmatemas; tradução.

837
PAINÉIS
Painéis
Análise da conversação e linguística textual

A descrença na quarentena evidenciada nos


processos de recategorização realizados pelos
usuários do Twitter
Autoria: LETÍCIA JÚLIA SILVA DE OLIVEIRA

Neste trabalho, observamos como se deu a construção linguística-discursiva da


descrença ao fenômeno da quarentena a partir da observação dos processos
de recategorização realizados pelos usuários do Twitter à luz de uma postagem
produzida pela conta do jornal Diário de Pernambuco (DP) nessa mesma rede.
Essa observação se deu embasada nos pressupostos teóricos-metodológicos
da Linguística Textual de Cavalcante (2012, 2016) Silva e Custódio Filho (2013);
Silva (2008); Custódio Filho (2011); Koch (2002, 2020); Mondada e Dubois (2003),
entre outros. Demonstra-se, portanto, diante das análises dos tweets coletados
no mês de maio de 2020, como os usuários realizam a recategorização do
objeto de discurso quarentena introduzido pela página jornalística Diário de
Pernambuco, de modo a imprimir em seus comentários a visão de descrença
sobre essa prática exigida pelo contexto pandêmico. Observou-se que, por
meio da deslineariedade típica das redes sociais, os usuários em seus curtos
comentários enriquecem o objeto de discurso introduzido pela página do DP,
permitindo caracterizar a quarentena como prática de “preguiçosos que não
querem trabalhar”. Tal assertiva se propõe visto que a maioria dos comentários
dos usuários buscou asseverar essa categorização negativa dada à quarentena,
culminando, assim, em sua desvalorização e, consequente descrença. Com isso,
nota-se que os sentidos construídos, a partir das recategorizações desenvolvidas
pelos usuários, expõem a instabilidade típica dos processos de referenciação
que transformam os objetos de discurso. Com isso, evidencia-se que a ação de
referir é negociada pelos sujeitos e mediada pelo aparato sociocognitivo deles.
Tais processos de recategorização realizados pelos seguidores da página do
DP nos fazem compreender que os processos referenciais não se esgotam nas
anáforas diretas, indiretas, encapsuladoras etc., mas sim, inauguram um novo
modo de ver a referenciação em um contexto on-line, o qual exige que esse
processo seja visto de forma global e não apenas na relação objeto-referente.

839
Painéis
Análise da conversação e linguística textual

Comprova-se, com isso, que os textos analisados, por estarem inseridos em


uma rede social que se embasa na dinamicidade das novas tecnologias, fazem
parte, em sua maioria, dos processos referencias que emergem em um contexto
não linear dos processos de recategorização, demonstrando, assim, que esse
fenômeno é de extrema complexidade, sendo preciso analisar suas diversas
manifestações.

Palavras-chave: linguística textual; recategorização; quarentena.

840
Painéis
Análise do discurso

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e


Teologia da Libertação: um entrelaçamento da/na
língua a partir da formação discursiva cristã
Autoria: ALESSANDRA STEFANELLO

A Teologia da Libertação é um movimento que surge na segunda metade do


século XX, constituído de padres e missionários devotos em ajudar as minorias
sociais dos continentes mais afetados pelas gritantes diferenças econômicas
e sociais entre pobres e ricos. Esse movimento ganha força na América Latina
e, posteriormente, no Brasil, onde considerou a Reforma Agrária seu principal
objetivo para sanar as desigualdades do campo brasileiro. Isso porque, a partir
da abertura do comércio nos anos 50 e da mecanização agrícola, o número de
sem-terra cresceu e passou a se mobilizar como movimento social, expandindo
para grande parte do país e ganhando o olhar de padres favoráveis à Teologia
da Libertação, os quais viam na luta dessa classe social desprovida de produzir
alimentos por não possuírem terra uma possibilidade de efetivar o compromisso
social da Igreja para com os pobres. A partir de meados da década de 70, a
história se entrelaça e constitui um lugar de fé, de luta e de emancipação, uma
vez que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é criado. Quase
20 anos depois, o Hino do Movimento Sem Terra é criado, demarcando um lugar
não só institucional, mas, sobretudo, simbólico na história da luta pela terra
e da conquista pela reforma agrária, que os governos da época pós-ditadura,
aos poucos, foi possibilitando. Tomando como corpus de pesquisa o Hino do
MST e tendo como filiação a teoria da Análise de Discurso de matriz francesa
no Brasil, objetivamos compreender como se constitui o atravessamento
de uma formação discursiva cristã na prática discursiva do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, materializada no Hino. E, assim, por meio de
gestos de análise, entender o que legitima a circulação desse discurso que
ainda ressoa, nos dias atuais, através da história e se materializa pela repetição
no Hino desse movimento político.

Palavras-chave: teologia da libertação; MST; formação discursiva.

841
Painéis
Análise do discurso

"Faz de conta que sou o primeiro": discursos e


memória sobre a virgindade feminina
Autoria: ALINE OLIVEIRA AMORIM

Esse trabalho tem como objetivo refletir, a partir dos pressupostos teóricos da
Análise do Discurso de orientação francesa de Michel Pêcheux (1997), os efeitos
de sentidos atribuídos à virgindade feminina ou simplesmente à “mulher virgem”,
inscritos em um percurso histórico cujo recorte se circunscreve entre meados
de 1950 com a ascensão da segunda onda feminista e as reivindicações pelos
direitos sexuais e reprodutivos, até a contemporaneidade. Em nosso caminho de
investigação teórica, mobilizaremos os conceitos de sujeito, ideologia, formação
discursiva e memória no/pelo discurso para analisar e interpretar um corpus
composto por embalagens e anúncios de dois produtos eróticos – “Hímen
Artificial Virginity SoftLove” e “Adstringente Sempre Virgem HotFlowers”. Ambos
visam a (re)criar, na área íntima do corpo feminino, condições semelhantes a
de um corpo virgem. Nesse caminho, podemos refletir sobre o que é ser virgem
diante das novas condições de produção de discursos. Assim, é por meio
da relação com a história que queremos escutar o jogo da/na língua que se
materializa em discursos produzidos em distintas formações discursivas, como
por exemplo: i) o discurso da mulher “virgem”, que se liga à noção do sagrado e,
ii) a de mulher “profana”, que “descumpre”, de certo modo, com o valor cristalizado
e estereotipado socialmente sobre a sua liberdade e sua sexualidade, e
iii) o discurso que busca sedimentar a virgindade feminina em estatuto de
fantasia sexual masculina. Ademais, analisaremos os dizeres veiculados à
himenoplastia (cirurgia de reconstrução do hímen) como forma de compreender
como se sustenta discursivamente a noção do corpo da mulher a ser cirurgiado
para ser significado como virgem de novo. Em suma, em nossa empreitada,
intentamos investigar os efeitos de sentido atribuídos à virgindade feminina e
o modo como ela é falada nas/pelas formações materializadas na língua e na
história, cujo discurso estabilizado indica uma regularização dos efeitos de posse
e subjugação do corpo do sujeito mulher em relação ao homem. Justificamos
a relevância do trabalho, tendo em vista as frequentes discussões de notável
impacto social referentes a pautas feministas, bem como à objetificação da

842
Painéis
Análise do discurso

mulher. Sendo assim, parece-nos significativo o desempenho de um trabalho


visando a investigar novas questões que se apresentam dentro desse campo,
em articulação com os dispositivos da Análise do Discurso. (Apoio: FAPESP -
Processo 2020/12553-8)

Palavras-chave: virgindade; mulher; análise do discurso.

Fala pública no Brasil: uma análise dos manuais de


fala pública brasileiros de Reinaldo Polito
Autoria: AMARILDO RODRIGUES DA SILVA JÚNIOR

Com vistas a compreender o funcionamento discursivo de 5 (cinco) manuais


de fala pública brasileiros datados entre o final do século XX e início do século
XXI a partir da identificação, descrição e interpretação de discursos sobre
a prática da fala pública, baseamo-nos nos postulados, noções e recursos
metodológicos de Michel Pêcheux e seu grupo que fundamentam a Análise
do discurso de linha francesa, também valendo-nos de trabalhos dedicados
à ordem do discurso realizados por Michel Foucault e de conhecimentos
pertencentes às áreas da História das ideias linguísticas e Retórica. Dessa
maneira, ao tomarmos os manuais de fala pública cuja autoria é de Reinaldo
Polito, autor consagrado e tido como maior representante do campo no Brasil,
constituímos nosso corpus com os seguintes livros que figuraram entre os mais
vendidos: Como falar corretamente e sem inibições (1986), Assim é que se fala
– como organizar a fala e transmitir ideias (1999), Fale muito melhor (2003),
Vença o medo de falar em público (2005) e Seja um ótimo orador (2005). Assim,
mais especificamente, buscamos compreender o que os manuais em questão
dizem sobre o desempenho oratório, bem como os distintos públicos aos quais
o orador neles constituído deve se dirigir, além de como se dá a formulação de
enunciados a esse respeito; quem é o público leitor projetado pelo enunciador,
alinhado às construções de imagens de si que o enunciador constrói; também
a produção dos efeitos de sucesso e de fracasso e seus correlatos afetivos: a
confiança e o medo, o orgulho e a vergonha; as semelhanças e divergências
em relação aos dizeres da retórica antiga, por fim. Desse modo, objetivamos

843
Painéis
Análise do discurso

compreender essencialmente os posicionamentos ideológicos do enunciador,


junto das concepções da desempenho oratório e do auditório, a produção
projetada de imagens tanto do enunciador quanto do enunciatário e a construção
dos efeitos de sucesso e de fracasso e sua correlação com os afetos. (Apoio:
FAPESP - Processo 2020/02713-8)

Palavras-chave: manuais de fala pública; práticas de fala pública.

Ethos discursivo em “Turma da Mônica: Romeu e


Julieta” (2015): uma análise midiológica do objeto
editorial
Autoria: ANA PAULA SLOMPO

Romeu e Julieta é uma das peças teatrais de Shakespeare mais conhecidas


e retomadas, sendo encenada em diversas versões até hoje. Uma versão que
obteve muito sucesso em português brasileiro é a da Turma da Mônica, lançada
tanto em forma de história em quadrinhos quanto como teatro musical, filme e
LP ainda nos anos 1970. Segundo a perspectiva que adotamos, o objeto editorial
Turma da Mônica: Romeu e Julieta (em versão comemorativa de 2015) pode ser
visto como um vetor de sensibilidade (a materialidade do livro) ligado a uma
matriz de sociabilidade (a Mauricio de Sousa Produções), assim funcionando
como um mídium. A mobilização de tais conceitos nos parece essencial para
a compreensão de ethos discursivo (MAINGUENEAU, 2008) em nosso objeto
editorial. É possível fazer uma distinção entre ethos discursivo e ethos pré-
discursivo, crucial no caso em tela, nos permitindo pensar nas relações que
se estabelecem entre a nova textualização de um texto consagrado por certos
sistemas de legitimação, no encontro com personagens consagrados em outro
sistema. A HQ existe dentro do universo da Turma da Mônica, relacionando-se
com o universo shakespeariano e o universo cultural brasileiro em que emerge.
Pensamos em mídium ao pensar essas relações, o objeto editorial aponta para
um sistema plural de que faz parte. O sistema canônico de que Romeu e Julieta
faz parte se relaciona com o sistema da produção de gibis infantis da Turma
da Mônica. A ideia de “Romeu e Julieta” é transmitida no tempo até encontrar

844
Painéis
Análise do discurso

a ideia de “Turma da Mônica”, surgindo assim um livro, um objeto editorial. No


objeto Turma da Mônica: Romeu e Julieta (2015), o ethos não se constitui apenas
pelo texto verbal, fazendo parte dele a construção material do livro e os formatos
dos quadros e categorizações dos personagens. Todos os aspectos convergem
para a efetivação de um mesmo ethos efetivo, que não é Turma da Mônica nem
é Romeu e Julieta, mas sim uma conjugação de ambos. O criador, Mauricio de
Sousa, ao criar seus personagens, impôs a cada um deles seu próprio ethos, que
foi se repetindo em todas as histórias, não necessariamente sempre escritas
por ele, mesmo que levem seu nome. Há roteiristas e desenhistas que se valem
das fórmulas já participantes de nosso imaginário e dos éthé já projetados, seus
éthé prévios, para criarem novas histórias.

Palavras-chave: ethos discursivo; mídium; adaptação.

A (trans)formação e reconhecimento no outro/outro:


uma análise discursiva do corpo e sua imagem na
série Veneno
Autoria: EVELYN STEFANI TONIATO DA SILVA

Apresentamos, neste trabalho, reflexões realizadas no âmbito de uma pesquisa


de Iniciação Científica cujo objetivo é investigar os processos de estruturação
do sujeito pela via do reconhecimento pelo outro/Outro. Para tanto, mobilizamos
recortes da série dramática Veneno (2020), criada e dirigida por Javier Calvo
e Javier Ambrosi, voltando-nos particularmente ao processo de transição de
gênero da personagem Valeria Vegas, estudante de jornalismo incumbida de
escrever a biografia de Cristina Ortiz ou La Veneno, conhecida por ter sido uma
das primeiras mulheres transsexuais da Espanha. Ao acompanhar as lembranças
de Veneno, Valeria experiencia sua própria transição de gênero ao se reconhecer
como transsexual a partir de identificações com Veneno. Utilizamos a Análise
de Discurso articulada à Psicanálise lacaniana como ancoragem teórica para
as reflexões realizadas, que consideram a imagem do corpo transgênero
constituída na série televisiva, compreendida como acontecimento simbólico
que discursiviza o social, permitindo a sujeitos LGBTQ+ representatividade e

845
Painéis
Análise do discurso

protagonismo. O Estádio do Espelho nos interessa, pois consiste na primeira


abordagem do tema do corpo feita por Lacan. Em um período de imaturidade
neurológica, o pequeno filhote de homem tem seu olhar capturado pela sua
imagem refletida no espelho. Em estado de júbilo, conforme Lacan, ele antecipa
o domínio de seu corpo, que até então era vivenciado como despedaçado,
apreendendo-o enquanto unidade. Temos, aqui, a imagem em sua potência
totalizante e o olhar do adulto no lugar do Outro que valida essa imagem para
a criança. Há, portanto, um poder de pregnância da imagem que se articula ao
reconhecimento pelo Outro. No que diz respeito à Análise de Discurso, para
Pêcheux a imagem é um operador de memória social; as imagens se inscrevem
em redes discursivas de memória, em trajetos de retomadas e deslocamentos.
Assim, ao inscrever imagens de corpos transsexuais em uma memória do dizer,
a série televisiva introduz esses corpos na história, assegurando para eles uma
existência simbólica e imaginária. Baseamo-nos nessa teorização para trabalhar
o corpo sob o prisma da imagem; tentamos mostrar como, na série Veneno, o
corpo transgênero é um corpo político, pois possibilita a sujeitos situados à
margem processos de representatividade e reconhecimento social de seus
corpos.

Palavras-chave: corpos transgênero; imagem; identificação.

“No meu tempo se lia mais”: nostalgia e os discursos


sobre a leitura
Autoria: GUSTAVO COBRA TEIXEIRA MOREIRA DA ROSA

Com vistas a contribuir com as pesquisas realizadas junto ao grupo LIRE –


Laboratório de Estudos da Leitura (UFSCar-CNPq), que visam depreender e
analisar discursos sobre a leitura, e inscrito no projeto geral intitulado “Das
emoções nos discursos sobre a leitura: uma análise dos modos de expressão
da ‘nostalgia’, do ‘orgulho’ e da ‘vergonha’ na voz de leitores”, coordenado pela
Profa. Dra. Luzmara Curcino, em nossa presente pesquisa de Iniciação Científica
tivemos por objetivo levantar e constituir um corpus de enunciados sobre a
leitura, em que se manifesta um tipo de emoção em relação a essa prática,
a saber, a ‘nostalgia’. Para esse levantamento, partimos de uma perspectiva

846
Painéis
Análise do discurso

discursiva, segundo a qual o que é enunciado sobre a leitura se filia a discursos,


cuja emergência histórica e cultural definem o que pode e deve ser dito sobre
essa prática pelos sujeitos de uma dada sociedade e em conformidade com as
‘comunidades de leitura’ a que pertencem ou imaginam pertencer. A ‘nostalgia’,
ainda que seja uma das emoções recorrentes em textos que abordam o tema da
leitura, é manifesta de maneira variada, muitas vezes de forma ambígua e próxima
do ‘orgulho’ ou da ‘vergonha’ que também emergem quando os leitores falam
de si ou dos outros. Portanto, foi com vistas a depreender certa regularidade
de sua emergência, mas também as prováveis diferenças nos modos de sua
expressão, que nesta pesquisa buscamos levantar ocorrências e constituir
um corpus específico de enunciados em que essa emoção da ‘nostalgia’ é
enunciada junto a uma fonte específica: entrevistas com personalidades de
grande visibilidade nacional, em revistas e jornais da mídia impressa brasileira.
Dado o vínculo com o projeto geral ao qual este se filia, nosso objetivo foi o de
empreender um levantamento cuidadoso de textos da mídia tradicional, do
gênero entrevista, que dispusessem de enunciados nostálgicos em relação à
leitura. Para o levantamento, organização e classificação desses enunciados
em sua relação com a expressão de ‘nostalgia’, nos apoiamos teoricamente em
princípios da Análise de discursos, da História cultural da leitura e da História das
emoções, que configuraram a bibliografia básica com a qual travamos contato
ao longo da pesquisa. Nosso objetivo é dar continuidade a esta pesquisa, de
modo a descrever e analisar, em uma segunda etapa, esse material coletado e
classificado, tal como foi proposto realizarmos até aqui.

Palavras-chave: discursos sobre a leitura; nostalgia; mídia.

“Tinha de ser de Pernambuco”: efeitos de


resistência em/na rede
Autoria: JOÃO VICTOR DA SILVA CARVALHO

Considerando a emergente conjuntura de difusão de discursos, saberes e dizeres


(re)formulados, (re)produzidos e postos em circulação no espaço digital (DIAS,
2018), esta abordagem interpreta, numa perspectiva discursiva materialista, os
movimentos do sujeito em/na rede como práticas ideologicamente determinadas,

847
Painéis
Análise do discurso

uma vez que, na ilusão de transparência da linguagem e constituídos por


efeitos de evidência (PÊCHEUX, 2014), os usuários são interpelados em
sujeitos-navegadores que curtem, comentam e compartilham (GALLI, 2020) na
expectativa de filiar-se somente a um sentido, uma posição, um único discurso.
É a partir dessas questões teóricas que buscamos compreender os efeitos de
sentido atravessados no enunciado/tuíte “Só podia ser de Pernambuco”. Assim,
articulam-se , em nosso horizonte teórico-analítico, os seguintes aspectos: os
movimentos de identificação e a inscrição do sujeito na formação discursiva (FD)
da Pernambucanidade; O modo como nos/pelos funcionamentos de paráfrase
e polissemia (ORLANDI, 2015) e a relação produção entre repetir/deslocar
que se estabelece com as formações imaginárias sobre o pernambucano
e a memória discursiva do dizer. Como, nas discursividades em análise,
emerge (ou não) o discurso de resistência, a relação deste com o discurso de
estereotipia (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2009)? Metodologicamente, o corpus
está disposto em sequências discursivas (SDs) que se (des)organizam em torno
da heterogeneidade do discurso da Pernambucanidade, desopacizando seu
funcionamento. Tais gestos de leitura abrem a identificação para o diferente,
o não homogêneo, a contracultura, o equívoco e periférico em confronto com
regiões estabilizadas e privilegiadas de saber. Do nosso percurso de análise,
retomamos o entendimento de que um enunciado não se sustenta apenas
na efemeridade de sua atualidade, mas também na retomada de sentidos
anteriores, e que a repetibilidade desse enunciado demarca não apenas sua
filiação à determinada FD, mas também sua deriva. Por essas vias, concluímos
que o sujeito-navegador toma posição com a emergência de sentidos erráticos,
dissonantes da hegemonia, filiando-se aos dizeres da Pernambucanidade como
forma de resistência à estereotipia. (Apoio: CNPq - Edital Propesq nº 07/2019 -
Pibic/UFPE/CNPq)

Palavras-chave: discurso digital; identificação; resistência; Pernambucanidade.

848
Painéis
Análise do discurso

Barbazul x Barba azul: a dedicatória e a cena final


de Anabella López em contraste com as morais da
história de Charles Perrault
Autoria: JOSÉ VICTOR RODRIGUES DE ANDRADE MESSIAS

Dominique Maingueneau, em Gênese dos discursos (1995, 2008), aponta que


enunciados cujos sentidos se encontram nas práticas discursivas podem entrar
em conflito, por conta de suas semânticas distintas, e mesmo assim ainda podem
integrar um mesmo sistema, um mesmo discurso. O que propomos nesse painel
é essa confluência discursiva produzindo dois discursos diferentes a partir de
um texto que, a princípio, acreditamos ser o mesmo, porém com enunciados
distintos, que na “mesma história” acabam revelando um deslizamento de
sentido. Uma situação similar está presente em Ritos genéticos editoriais
(2016), em que a partir de uma cartilha, um objeto editorial, são postos em
xeque dois posicionamentos relativos à fé católica: o grupo responsável pela
cartilha (Católicas pelo direito de decidir) é a favor do aborto, enquanto o
discurso católico em geral é contra essa prática; no entanto, esse grupo se
vale de uma questão central do catolicismo como justificativa para seu apoio, o
livre-arbítrio. Assim, os enunciados que nos propomos a comparar, constituem,
segundo nossa hipótese, uma outra história e, no caso, um outro conto de fadas.
O Barbazul (2017) de Anabella López é definido como uma adaptação, reconto,
versão, do clássico de Perrault, Barba Azul (1697, 2015), mas na pesquisa que
desenvolvemos, e que faz parte do GP Comunica – inscrições linguísticas na
comunicação (UFSCar/CEFET-MG, CNPq), e da rede de pesquisas do LABEPPE
- Laboratório de Escritas Profissionais e Processos de Edição, examinamos
mudanças pontuais no texto escrito e certas inscrições materiais que permitem,
além da identificação estilística da ilustradora e escritora, entender esse mídium
(DEBRAY, 1993a) como uma outra coisa, que chamamos em nossa pesquisa
de objeto gótico, pois sua formalização material (FLUSSER, 2007). As técnicas
empregadas que moldam a materialidade visando à criação de algo idealizado,
passou por um processo de gotificação, ou seja, uma produção de ethos gótico
através do realce de características pontuais, enunciados, por assim dizer, que

849
Painéis
Análise do discurso

fazem esse objeto se conectar a um interdiscurso pertencente ao gótico. Desse


modo, mostraremos as morais de Perrault em contraste com as características
de texto, paratexto e sua inscrição material assinados por López, evidenciando
esse deslizamento de sentido que produz dois discursos diferentes quanto à
visão da mulher, que se torna tema central da obra. (Pesquisa financiada pela
FAPESP – Processo: 2020/10767-0)

Palavras-chave: perspectiva discursivo-midiológica; enunciado; objeto editorial.

Mídium e mundo ético: um estudo das relações


entre espaço canônico e espaço associado na
criação multiplataforma do BTS Universe
Autoria: KAREN NAOMI AISAWA

Nesta pesquisa, propusemo-nos a analisar o objeto editorial conhecido como BTS


Universe (BU), uma narrativa fictícia que figura sob a autoria do grupo de pop sul-
coreano BTS juntamente com a empresa que o gerencia, a Big Hit Entertainment.
Em andamento desde 2015, o enredo converge em si uma série de materiais
de diferentes gêneros discursivos e espalhados em diferentes plataformas
(sejam elas on-line ou não), caracterizando o que nós tomamos como uma
narrativa transmídia, isto é, uma narrativa multiplataforma de caráter expandido,
disperso e que enseja engajamento de uma ampla comunidade produtora de
conteúdos derivados que se incorporam à trama, complexificando-a. Ademais,
além dos materiais que figuram sob a autoria do grupo/empresa, o BU também
incorpora em sua narrativa elementos e referências de obras que fogem à sua
autoria, sem mencionar as inúmeras teorias formuladas pelos fãs e publicadas
nas redes sociais, que são essenciais para a construção desse tipo de criação
multiplataforma. Assim, dada a quantidade e a diversidade dos materiais que
constroem essa narrativa transmídia e as diversas autorias que ela engloba,
nos perguntamos: o que, afinal, constitui o espaço canônico, isto é, a obra tida
como autoral, e o que constitui o espaço associado, isto é, a vida editorial e
social da obra (os meios pelos quais circula, suas retomadas, o processo de
sua concepção), considerando, principalmente, os diversos casos de autoria

850
Painéis
Análise do discurso

mobilizados na construção da narrativa transmídia? Obras de autorias diversas


que não são do grupo ou da empresa, como, por exemplo, Demian, de Hermann
Hesse, tomada como inspiração direta para a constituição de uma das fases da
história, e as teorias do fandom, desdobradas em mídias como vídeos, textos-
análise, etc., são parte do espaço canônico, da obra autoral do grupo, ou são
parte do espaço associado, que remete à obra autoral e gere, desse modo, a
autoria do grupo e da empresa? Para responder a essas questões, baseamo-nos
no quadro dos estudos de Dominique Maingueneau sobre o discurso literário
como um discurso constituinte, aliado aos fundamentos da midiologia pensada
por Debray, para estudar dois materiais de autoria do grupo/empresa, três obras
de autoria de terceiros, referenciadas menos ou mais diretamente na narrativa,
e três teorias de autoria dos fãs.

Palavras-chave: espaço associado; mídium; narrativa transmídia.

Representação discursiva da situação de rua no


jornal Correio Braziliense (2014-2018) com foco em
ações e políticas públicas
Autoria: LARISSA COSTA SILVA

Neste trabalho, investigamos a representação de pessoas em situação de rua


nas notícias veiculadas na plataforma on-line do Correio Braziliense entre os
anos 2014 e 2018. A apropriação de textos jornalísticos para análise discursiva
apoia-se na concepção da linguagem como um processo produtivo que,
dispondo de largo alcance, influi na maneira como vemos o outro. O corpus de
pesquisa concentra 84 notícias que tematizam ações e políticas públicas sobre
(para) a população em situação de rua. Para isso, consideramos a Análise de
Discurso Crítica como aporte teórico adequado no estudo do corpus, pois é uma
abordagem interdisciplinar que compreende as práticas sociais no discurso e
averígua a relação particular entre a linguagem e a sociedade. Com o software
NVivo 11 como ferramenta de codificação e apoio para a pesquisa qualitativa,
mapeamos as notícias e exploramos amplamente os textos. O recorte analítico
escolhido objetiva a reflexão da percepção social sobre a situação de rua e

851
Painéis
Análise do discurso

como representações de estereótipos negativos influenciam a pauta na agenda


pública. Assim, as vozes articuladas pelo jornal para falar sobre políticas públicas
voltadas à população em situação de rua no CB, por exemplo, incluem registros
de discursos de ativistas, religiosos, voluntários, ONGs e vozes do governo 118
vezes, enquanto PSRs e seus coletivos não têm garantido metade desse espaço
discursivo de expressão de voz. Na categoria analítica de "Modos de avaliação",
o subnó mais expressivo corresponde a assistidas, acolhidas e atendidas,
reforçando a representação de pessoas em situação de rua como receptoras de
ações e políticas públicas, e usuárias de equipamentos públicos. Observando os
"Modos de representação", a coletivização de pessoas em situação de rua foi a
categoria mais frequente nesta pasta, presumindo um afastamento discursivo
do jornal ao incutir o apagamento identitário. A articulação de um discurso que
coletiviza o grupo oprimido potencializa a imagem genérica, impessoal, e assim
distancia as pessoas em situação de rua de sua história e de seu protagonismo.
Com notícias e reportagens publicadas num jornal de grande circulação e
expansivo alcance virtual, como o Correio Braziliense, analisar a abordagem
midiática da situação de rua reafirmou a predominância da estereotipia de
pessoas em situação de rua e o tratamento do grupo como um problema e não
como uma população desassistida de políticas públicas efetivas.

Palavras-chave: Análise de discurso crítica; situação de rua; NVivo 11.

Análise do ethos discursivo do INEP projetado nos


guias e nas cartilhas dos participantes do ENEM
Autoria: LETÍCIA DE SANTANA TIZIOTO

Para este pôster, trazemos os resultados da Iniciação Científica realizada com


o propósito de investigar os discursos sobre escrita que circulam nos guias e
cartilhas do participante do ENEM, centrando-se, mais precisamente, no modo
como o INEP (Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira) constrói uma imagem de si e da escrita ao se endereçar ao candidato.
Para tanto, o material de análise dessa pesquisa corresponde a um conjunto
de textos de duas seções (apresentação e comentários das redações nota

852
Painéis
Análise do discurso

1000) dos guias ( 2012 e 2013) e das cartilhas (2016, 2017 e 2018) do participante
produzidos pelo INEP. Para a análise desse material, mobilizamos o quadro
teórico-metodológico da Análise do Discurso, mais precisamente, as noções
de formações imaginárias (Pêcheux) e de ethos discursivo (Maingueneau)
associadas à questão da heterogeneidade enunciativa (Authier-Revuz) que faz
explodir a transparência da linguagem e a unidade do sujeito. Com relação aos
textos de apresentação, os dados analisados mostraram como o enunciador
(INEP) cria um efeito de aproximação com o destinatário (candidato). Esse efeito
pode ser observado, por exemplo, no uso de verbos em 1ª pessoa do plural, nos
usos do pronome de tratamento “você” e dos pronomes possessivos (“seu” e “sua”)
que são índices mostrados marcados da projeção do interlocutor. Com relação
aos comentários, as unidades lexicais analisadas, por exemplo, o uso de adjetivos
qualificadores como “excelente”, “consistente” e “produtivo”, mostram uma
concepção de escrita padrão do INEP para falar sobre a estrutura composicional,
o conteúdo temático e o estilo das redações. Observamos também que esses
adjetivos qualificadores não só fazem referência às redações, como também
evidenciam um ethos visível do INEP mostrando diretamente suas características
enquanto instituição que deseja o ingresso dos participantes, projetando uma
imagem de justiça, preocupação e complacência. Por fim, concluímos que o
estatuto que o enunciador (INEP) confere a si e ao seu destinatário (candidato)
corroboram tanto para legitimar o dizer institucional, quanto para mostrar que
o sistema de avaliação da redação no ENEM é transparente e portanto justo.

Palavras-chave: Análise do discurso; ENEM; escrita.

Os signos ideológicos de ódio, menosprezo e


condenação: uma pesquisa dialógica concernente
à propaganda da Ku Klux Klan sobre o movimento
Black Lives Matter
Autoria: MARCOS ALEXANDRE FERNANDES RODRIGUES

Esta pesquisa tem como objeto de investigação científica um panfleto da facção


supremacista East Coast Knights of the True Invisible Empire (ECKTIE – doravante),

853
Painéis
Análise do discurso

ramificação da organização Ku Klux Klan, sobre o movimento reivindicatório


Black Lives Matter (BLM – doravante). Tendo como referência esse enunciado-
panfleto, o objetivo geral desta pesquisa é, nas relações dialógicas, perscrutar
o horizonte semântico-axiológico da ECKTIE a respeito do BLM. Nessa mesma
direção, esta pesquisa visa o alcance destes objetivos específicos: i) averiguar
os reflexos e as refrações semânticas dos signos ideológicos mobilizados em
articulação com vozes socioideológicas; e ii) examinar as recorrências temáticas e
estilístico-composicionais engendradas no processo de bivocalização discursiva.
A justificativa está pautada no compromisso social e político desta autoria, no
âmbito (inter)nacional, com o combate às formas de racismo, às de discriminação
racial e às de intolerâncias congêneres, consagrando princípios basilares
da Declaração de Durban (2001). A fundamentação teórica está respaldada
nos pressupostos teórico-analíticos do método sociológico da linguagem de
Volochinov (2018) e da metalinguística de Bakhtin (2002). Como procedimento
metodológico, seleciona-se um panfleto da ECKTIE enquanto corpus desta
pesquisa, concebendo-o como histórico, social, ideológico e atravessado por
vozes socioideológicas e relações dialógicas. Os resultados integrais apontam
que o enunciado-panfleto, gerado pela consciência de membros da ramificação
da KKK, reverbera, do ponto de vista de sua expressão, da sua tonalidade
emocional e da sua posição enfática, seu ódio, seu menosprezo e sua condenação
ao movimento BLM. O signo, encarnado no discurso racial-supremacista da
ECKTIE, serve simultaneamente a dois interlocutores, dois discursos diferentes,
refletindo e refratando ideologicamente entonações diametralmente opostas:
as vozes das reivindicações da população negra pelo direito à vida, à dignidade
e à propriedade; e as vozes discriminatórias de ódio, menosprezo e condenação
da facção da KKK. Nesse embate de valores, a ECKTIE reelabora, reacentua e
ressignifica o signo Black Lives Matter para Black Lies Matter, em português,
Mentiras Negras Importam. De maneira a corroborar essa significação ideológica,
(pseudo)cientificamente, a ECKTIE manipula, no enunciado-panfleto, dados
estatísticos de homicídios ocorridos nos EUA com a intenção de associá-los
ao povo negro. Nesse sentido, a população negra é relacionada à criminalidade
e à fictícia ética de morte contra brancos estadunidenses.

Palavras-chave: Ku Klux Klan; Black Lives Matter; panfleto.

854
Painéis
Análise do discurso

Tweets em cena: dos processos enunciativos às


estratégias argumentativas
Autoria: MARIA CLARA RODRIGUES MORAES
Coautoria: PAULO ISAAC OLIVEIRA LOPES

Nos últimos anos, as redes sociais têm se popularizado como espaço para
expressão de opiniões e como meio para a circulação de notícias. No âmbito do
discurso jornalístico, as plataformas digitais são utilizadas de forma a garantir
maior engajamento e mobilização popular, visando à captação do maior número
possível de leitores. Partindo dessa perspectiva, o presente trabalho toma
como objeto de estudo comentários do Twitter em resposta à divulgação de
um editorial do jornal Folha de S. Paulo. No aspecto analítico, a pesquisa busca
investigar de que modo o internauta se posiciona em relação ao seu interlocutor,
ao seu próprio ponto de vista e em relação a outras vozes presentes na situação
comunicativa. Mais ainda, o trabalho busca evidenciar como tal organização
enunciativa impacta a construção de imagens identitárias (ethos) e a projeção
de emoções (pathos) no plano discursivo desses comentários. Para isso, o
trabalho ancora-se no Modo de Organização Enunciativo proposto pela teoria
Semiolinguística (CHARAUDEAU, 2008), e nos estudos contemporâneos da
argumentação, com enfoque nas abordagens sobre o ethos e o pathos (AMOSSY,
2005; CHARAUDEAU, 2008; MAINGUENEAU, 2005, 2008). De forma sucinta, os
resultados indicam uma variação nos modos de organização enunciativa de
acordo com a posição que o sujeito busca ocupar em determinado contexto.
Isso revela que o enunciador pode mostrar sua opinião pessoal, lançando mão
de um comportamento elocutivo em alguns casos. Pode, também, estabelecer
um processo de interlocução com outros sujeitos, utilizando um comportamento
alocutivo, ou, ainda, encenar certa objetividade em seu discurso, isentando-se
de seu ato de comunicação, em um comportamento delocutivo. No que diz
respeito à construção do ethos, nota-se a projeção de imagens identitárias
diversas, sobretudo das que evidenciam indignação, revolta, descontentamento
e desfaçatez. Também permeiam os tweets imagens que sinalizam denúncias e
críticas em relação ao poder público (imputação, incompetência, insatisfação e

855
Painéis
Análise do discurso

oportunismo). Quanto à projeção das emoções no discurso, alguns sentimentos


podem ser suscitados na instância de recepção, com destaque para efeitos
patêmicos de descontentamento, indignação, concordância, constrangimento
e frustração. Desse modo, observa-se que os comentários do Twitter funcionam
como um importante instrumento de divulgação e de popularização das
publicações da Folha de S. Paulo, destacando-se como formas de expressão
da opinião pública em relação à temática abordada pelo editorial e, ainda,
em relação ao posicionamento valorativo do veículo de comunicação sobre o
assunto tratado.

Palavras-chave: Twitter; emoções; ethos.

856
Painéis
Aquisição de linguagem

Reflexões sobre o imbricamento da teoria inatista


com as afasias
Autoria: LARISSA COSTA SILVA

Neste trabalho, apresento indagações sobre como a teoria inatista ramifica


a conceituação de processos linguísticos, como as afasias. Considerando
que todas as línguas possuem certas características universais e algumas
diferenças entre si, distúrbios da linguagem surgem para trazer à reflexão
questões sobre as relações entre a afasia e a aquisição da linguagem. Afunilando
teorias para estudarmos estes fenômenos, o embasamento Chomskyniano é
imprescindível para destrinchar a relação entre cérebro/mente e a linguagem
humana. Ao apresentá-la como uma propriedade elementar e concomitante a
uma propriedade biologicamente única, as propriedades da língua se tornam
abstratas e complexas. Abrindo esta lacuna, Chomsky elabora a Gramática
Gerativa Transformacional, com princípios e indagações, apurando como a
intuição do falante é produtiva em definir (a)gramaticalidade de sentenças e
a possibilidade de gerar uma infinidade de construções sintagmáticas com
um número limitado de regras. As características da aquisição da linguagem
desfavorecem a ideia de que este processo se dá pela transmissão de estruturas
linguísticas externas para que a criança se apodere delas. Há evidências que
mostram que o ambiente linguístico da criança apenas ativa estruturas que já
são de posse da mesma. Portanto, a teoria inatista para a aquisição da linguagem
corrobora-se ao identificar que o conhecimento do falante não está num objeto
concreto do mundo, e sim em algo que existe de forma abstrata no cérebro. A
gramática gerativa diverge das outras teorias ao sugerir que o que é essencial
à linguagem é a sua recursividade, isto é, o fato de que com elementos finitos é
possível gerar frases infinitamente. Temos aqui uma observação sobre os casos
de afasias que, distintamente do processo de aquisição em crianças, o afásico
pode estranhar sua produção gramatical e entender que ela está errada, mas é
incapaz de corrigir. Os processos linguísticos cognitivos também regridem de tal
forma que se desfazem e deixam ver o que escondiam, uma espécie de retorno
desses primeiros momentos da aquisição da língua. Quando operamos com uma
perspectiva gramatical para analisar, categorizar, e posteriormente reorganizar

857
Painéis
Aquisição de linguagem

as dificuldades de linguagem manifestadas pelos afásicos, consideramos que as


síndromes afásicas dizem respeito à estrutura biológica da linguagem, afetando
sobretudo o conhecimento linguístico anteriormente utilizado e processado, e
agora difícil de ser acessado pelo sujeito afásico. O ponto é que ela evidencia a
busca dos mecanismos para estudar como são usados de forma criativa, assim
como nas ideias cartesianas: sem limites finitos e não determinada pelo estado
interior.

Palavras-chave: afasia; teoria inatista.

Características fonético-fonológicas das


omissões ortográficas no ensino fundamental I
Autoria: MARCIEL ANTONIO ALVES DA SILVA

Relações entre características fonéticas e fonológicas da língua e características


ortográficas da escrita de crianças do (atual) Ensino Fundamental I têm recebido
certa atenção no campo dos estudos linguísticos, uma vez que características
fonéticas e fonológicas da língua são capazes de explicar grande parte das
dificuldades observadas na ortografia infantil. Uma dessas dificuldades, as
omissões ortográficas, são frequentemente mencionadas nesses estudos. No
entanto, as omissões são pouquíssimo estudadas enquanto objeto específico de
investigação. Investigá-las de modo específico é a proposta do presente estudo,
cujo objetivo é verificar em que medida as omissões ortográficas dependeriam
da posição que os grafemas ocupam na estrutura da sílaba ao longo do Ensino
Fundamental I. Os dados foram extraídos de 111 produções escritas de crianças,
matriculadas em uma escola pública do estado de São Paulo, que frequentavam
o 1°, o 3º e o 5° anos desse Ensino. Essa escolha se deu por essas turmas
corresponderem ao início e ao fim do Ciclo I do Ensino Fundamental I (1º e 3º
ano) e ao ano final do Ciclo II do Ensino Fundamental I. Foram quantificadas
todas as omissões nas posições silábicas que compõem a investigação (ataque
simples, núcleo simples e coda simples) e divididos conforme sua ocorrência
no 1°, 3° ou 5° anos. Posteriormente, foram comparados os resultados obtidos
para esses três anos, visando detectar possíveis mudanças na configuração das

858
Painéis
Aquisição de linguagem

omissões conforme a progressão escolar. Relativamente a essa progressão em


relação às posições silábicas, os resultados mostraram o seguinte percentual
de distribuição das omissões: ataque (8,1%, 4,9% e 15,9%); núcleo (18,5%, 9,4%
e 15,9%); coda (73,4%, 86,7% e 68,1%). Esse conjunto de resultados mostra:
(1) predomínio das omissões na coda; (2) movimento não linear da distribuição
das omissões, no sentido de que elas diminuíram gradativamente com a
progressão escolar nas posições silábicas investigadas. Como se pode observar,
há aumentos e diminuições ao longo do Ensino Fundamental, os quais variam
em função da posição silábica em que eles ocorrem. O predomínio das omissões
na coda se explica pelas suas características fonético-fonológicas, já que se
trata de uma posição complexa da estrutura silábica, nem sempre existente nas
diferentes línguas do mundo e de aquisição tardia. Já o movimento não linear da
distribuição das omissões se explica pelas diferentes relações entre posições
silábicas e fenômenos como os da variação fonológica e do sândi externo.

Palavras-chave: omissões ortográficas; escrita infantil; sílaba.

859
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

Unidade didática para ensino de inglês para crianças:


materializando o foco no sentido e ensino
contextualizado
Autoria: ADEL FERNANDA LOURENZI FRANCO ROSA AMBROSIO

Temos por objetivo apresentar e discutir uma proposta de unidade didática para
o ensino de inglês para crianças (ROCHA, 2006; COLOMBO; TONELLI, 2005;
ASSIS, 2018), que pretende ter o foco no sentido e no ensino contextualizado, de
acordo com os princípios da abordagem comunicativa (ALMEIDA FILHO, 2013;
ALMEIDA FILHO; BARBIRATO, 2000; BREEN; CANDLIN, 1980; LITTLEWOOD,
1981). A unidade didática foi elaborada por uma professora do Fundamental I,
aluna de um curso de aperfeiçoamento sobre elaboração de material didático
e teve como tema “Endangered and extinct animals”, destinada para crianças
de quinto ano. Pretendemos criar uma unidade com foco primário no sentido,
pois, de acordo com alguns autores (ELLIS, 2003; ALMEIDA FILHO, 2013) ao ter
a atenção voltada para o sentido, as chances de que a aquisição ocorra podem
aumentar muito. Buscamos ainda materializar uma unidade didática significativa
e interessante para os aprendizes (VIGOTSKY, 1993) diferentemente do ensino
calcado no léxico isolado e em categorias lexicais que pode ser reconhecida
em muitos dos materiais didáticos para o ensino de inglês para crianças.
Assim, ao mesmo tempo em que buscamos alcançar objetivos relacionados
ao uso da língua pelos aprendizes, buscamos criar um ensino contextualizado e
significativo ao buscar desenvolver a compreensão sobre o tema de extinção e o
risco de extinção de animais. Tomamos como base para a elaboração da unidade
didática os princípios postulados pela abordagem comunicativa (ALMEIDA
FILHO, 2013; BREEN; CANDLIN, 1980; LITTLEWOOD, 1981) e procuramos nos
alinhar ao planejamento temático (NUNAN, 1989). Por fim, a proposta evidenciou
o papel do professor como agente principal do processo de elaboração apontando
a importância de o professor estar envolvido em formação continuada (ABRAHÃO,
2006). Discutiremos como a unidade didática foi elaborada bem como os desafios
vivenciados ao longo do processo pela professora elaboradora e como se deu

860
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

o processo de materialização dos princípios teóricos embasadores na unidade


didática.

Palavras-chave: ensino de inglês para crianças; unidade didática; abordagem


comunicativa.

A abordagem intercultural no processo de ensino-


aprendizagem de inglês como língua estrangeira
Autoria: ANDREIA DIAS IANUSKIEWTZ

O tema interculturalidade tem sido recorrente nas discussões mundiais que


envolvem os contextos político, econômico e social, e vem adquirindo presença
cada vez maior no campo educacional, com relevante produção acadêmica
sendo desenvolvida. No contexto atual de ensino-aprendizagem de línguas
estrangeiras, no qual as fronteiras linguísticas se tornam cada vez mais fluídas, a
capacidade de se estabelecer uma comunicação intercultural faz-se necessária.
O ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras sob perspectiva da educação
intercultural considera a importância do crescente hibridismo linguístico e
cultural impulsionado pela globalização, e visa ao desenvolvimento de um ensino
que seja capaz de possibilitar o aprimoramento de habilidades linguísticas,
a partir de um diálogo intercultural que vai além da mera especulação sobre
curiosidades e/ou diferenças descritivas da cultura do outro. Considerando-se
tais pressupostos, pretendemos, por meio deste painel, tecer algumas reflexões
sobre a interculturalidade no ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras e,
em seguida, compartilhar a análise que empreendemos de dois livros didáticos
voltados ao ensino-aprendizagem da língua inglesa. Na análise, buscamos
verificar como são propostas atividades pedagógicas que podem ser bem-
sucedidas e cumprir um dos importantes papéis da abordagem intercultural
que é sensibilizar os alunos para diferenças culturais e promover o encontro
entre culturas via linguagem, no qual os alunos são incentivados a refletir
sobre comportamentos de pessoas de diferentes países, relacionando o novo
conhecimento cultural a si próprios e ao seu mundo. Por meio da análise dos
materiais, observamos que as atividades examinadas propiciam experiências
sócio interativas envolventes, as quais podem promover comunicação na língua

861
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

alvo e favorecer o trabalho pela consciência cultural do outro e da própria


cultura do aprendiz. Nelas, o conteúdo cultural é abordado sem que haja uma
delimitação entre língua e cultura, ou seja, o componente cultural não constitui
um apêndice no ensino do idioma, nem se limita ao ensino de curiosidades e
exotismos que podem levar à criação de estereótipos.

Palavras-chave: ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras; língua inglesa;


interculturalidade.

Análise de material didático utilizado em contexto


de educação bilíngue (português-inglês) à luz da
teoria das inteligências múltiplas
Autoria: BEATRIZ PAIXÃO RIBEIRO

O fenômeno da globalização, como processo de integração mundial em


constante expansão e mudança, possibilitou que a língua inglesa (LI) alcançasse
o status de ‘língua franca’. Neste contexto, o segmento das escolas bilíngues
(EscBs) português-inglês vem ganhando cada vez mais espaço na educação
brasileira (principalmente no setor privado da educação), propondo um ensino
baseado na abordagem CLIL (Content and Language Integrated Learning -
Aprendizado integrado de conteúdo e língua), cujo ensino de LI é integrado
ao ensino de conteúdos escolares. A expansão dessas escolas pelo território
brasileiro trouxe a necessidade do surgimento de materiais didáticos (MDs)
que suprissem suas demandas. Dessa maneira, baseando-se nos estudos de
Gardner (1993, 1999), no que diz respeito à Teoria de Inteligências Múltiplas;
Rajagopalan (2005) e Gimenez (2015), com relação às questões teóricas sobre
‘inglês como língua franca’, educação bilíngue e abordagem CLIL; e Tomlinson
(2005), autor conceituado pelos seus estudos sobre materiais didáticos no
ensino-aprendizagem de línguas; entre outros autores que fundamentaram
a investigação, tem-se como objetivo neste painel apresentar análise prévia
do funcionamento deste novo tipo de MD à luz da abordagem de ensino CLIL
e da teoria das Inteligências Múltiplas (IM). A pesquisa, de base qualitativa e
interpretativista, teve seu corpus de análise coletado conforme resultado das
várias etapas dos procedimentos metodológicos, que tiveram início com o

862
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

levantamento de dados de EscBs em cidades da região Sudeste do Brasil. Dentre


os passos, ocorreu a solicitação de um primeiro contato, feita virtualmente e
de cunho científico, da possibilidade de acesso a uma parte de MD utilizado
nestas escolas. Mesmo em um contexto pandêmico, foi possível reunir MDs de
algumas EscBs e selecionar, então, aqueles que compuseram o corpus. Após
análise preliminar, é possível verificar que os resultados já alcançados validam
a hipótese de que, por ser um material novo, assim como seu contexto, tal
material traz em sua formulação traços de características das inteligências no
que diz respeito às habilidades e competências dos sujeitos envolvidos (alunos
e professores), permitindo espaço a um processo de ensino-aprendizagem que
respeite as suas individualidades. (Apoio: CNPq/PIBIC)

Palavras-chave: educação bilíngue; inteligências múltiplas; material didático.

Pesquisa em corpus como atividade didática para


o ensino de vocabulário no contexto de Inglês para
Fins Específicos: uma pesquisa exploratória sobre
a perspectiva dos alunos do curso de tecnologia
em manutenção de aeronaves
Autoria: DANIELA TERENZI

O ensino e a aprendizagem de vocabulário têm sido negligenciados pelas


pesquisas em Linguística Aplicada de acordo com alguns autores e, para
Rodrigues (2011), em sala de aula o vocabulário fica em segundo plano e tem sido
tratado como um “coadjuvante”. Para aprendizes de línguas para fins específicos
cuja habilidade a ser focalizada é a leitura, como é o caso dos estudantes do curso
de tecnologia em manutenção de aeronaves, a aprendizagem de vocabulário é
indispensável, principalmente considerando, por exemplo, algumas palavras que
possuem sentido e/ou tradução específicos em textos especializados (RABELLO;
MULLER, 2012). Laufer (1997) afirma que um conhecimento mínimo de vocabulário
é fundamental para a compreensão do texto escrito em língua estrangeira e que
o uso de estratégias de leitura depende do conhecimento básico de vocabulário.
Para os professores de línguas – formados em cursos de licenciatura – lidar

863
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

com textos e termos de outras áreas pode ser um desafio, principalmente na


falta de material didático especializado (MONZÓN; FADANELLI, 2016; TERENZI,
2019). As pesquisas em corpora têm contribuído significativamente para o
ensino de línguas, principalmente para fins específicos no que tange a gêneros,
estruturas gramaticais e/ou o léxico. Esses estudos podem ser feitos pelo próprio
professor para determinar os conteúdos da disciplina e, também, para melhor
compreender aspectos linguísticos da língua usada em uma área que não é
de sua especialidade. Ademais, o professor pode orientar os aprendizes na
exploração de corpora, isto é, fazer uso da abordagem de aprendizagem baseada
em dados (em inglês: Data-Driven Learning - DDL). Portanto, considerando que
o vocabulário específico é essencial para fins ocupacionais, que os estudos em
corpus têm se provado relevantes e que professor e alunos podem se beneficiar
quando análises são feitas em conjunto, justifica-se as investigações sobre o
uso de pesquisa em corpus feita por aprendizes em cursos de línguas para fins
específicos. Com o objetivo de instigar práticas similares e fomentar discussões
no âmbito da linguística de corpus e aplicada, este painel visa apresentar os
resultados obtidos em uma pesquisa cuja coleta de dados foi realizada por
meio de dois questionários, com alunos do curso de tecnologia com o objetivo
de investigar a perspectiva de tais aprendizes considerando uma atividade
com corpus para estudo de vocabulário. Embora tenha sido uma pesquisa
exploratória, os resultados mostram que mais de 90% dos alunos acham que
a atividade pode contribuir para sua autonomia no esclarecimento de uma
dúvida relacionada ao inglês.

Palavras-chave: ensino de vocabulário para fins específicos; linguística de


corpus; perspectiva dos aprendizes.

O material didático de ensino-aprendizagem de


inglês como LE: identificação de habilidades e
competências em planos de aula on-line
Autoria: ERICK GUSTAVO BARROS

Com o advento da pandemia da COVID-19, uma mudança sem precedentes do


contexto presencial para um contexto remoto de sala de aula causou um impacto

864
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

histórico no campo da educação, acentuando as discussões que envolvem


questões como a eficiência e implantação do ensino remoto e dos recursos
e ferramentas on-line oferecidos tanto para o professor de língua estrangeira
como também para o aprendiz de LE. Considerando tais recursos oferecidos, o
objetivo deste painel é apresentar, em linhas gerais, os passos de uma pesquisa
em nível de Iniciação Científica, cujo foco é a análise de planos de aulas e suas
folhas de atividades, produzidos e compartilhados entre professores e usuários
de diversos sites on-line, oficiais (em plataformas governamentais) ou não
(sites patrocinados por iniciativas privadas ou mesmo alimentados pelos seus
usuários). Como aporte teórico desta pesquisa, escolhemos autores cujos
estudos contribuíram para um olhar reflexivo do corpus, a saber: Howard Gardner
(1983, 1993), Armstrong (2001) e Abreu e Lima (2006), com as considerações
acerca da teoria das Inteligências Múltiplas e sua aplicação para o contexto do
ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras; de Tomlinson e Masuhara (2005)
e Lucas (2016), com estudos sobre Materiais Didáticos no mesmo contexto;
Menezes (2020), com a discussão sobre o contexto de ‘Educação Remota’, entre
outros autores. A pesquisa, de base qualitativa e interpretativista, teve seu corpus
de análise coletado conforme resultado das várias etapas dos procedimentos
metodológicos, que tiveram início com o levantamento de sites cujo objetivo
principal era o compartilhamento de atividades e planos de aula (de língua
estrangeira - inglês), seguidas de análise do conteúdo dos sites e escolha dos
que compuseram o corpus, bem como a escolha de planos de aula e folhas de
atividade. Após uma primeira análise preliminar dos dados, é possível verificar
que os planos de aula e suas respectivas atividades trazem em sua formulação
traços de características das inteligências no que diz respeito às habilidades
e competências dos sujeitos envolvidos (alunos e professores), validando, de
certa forma, as questões de pesquisa formuladas no projeto inicial.

Palavras-chave: ensino remoto; inteligências múltiplas; planos de aula.

865
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

Literatura de cordel no contexto teletandem


português x espanhol
Autoria: FERNANDA TAMAROZI DE OLIVEIRA

Este trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados parciais


decorrentes do desenvolvimento do projeto de pesquisa de iniciação científica,
intitulado “Gêneros literários em práticas de teletandem português e espanhol”.
Trata-se, mais especificamente, de uma discussão a respeito da experiência
no compartilhamento da literatura de cordel em interações de teletandem
entre alunos de uma universidade brasileira e uma universidade mexicana,
vivenciada no segundo semestre de 2020. Tal projeto de pesquisa visa refletir
a respeito da circulação de textos literários no contexto de intercâmbio
virtual do teletandem (TELLES, 2009), mais especificamente, observar de que
maneira a leitura e o compartilhamento desses textos podem contribuir para
potencializar as interações nesse processo. Importante ressaltar que essa
experiência está vinculada a um projeto de pesquisa internacional em rede
(Programa CAPES PrInt - UNESP), que desenvolve estudos sobre os processos
de difusão de cultura, língua e literatura no contexto de telecolaboração. Para
o seu desenvolvimento, nos baseamos na concepção de Candido (1972) acerca
da função humanizadora da literatura e na perspectiva transcultural, segundo
Welsch (1999, p. 7), que propõe uma relação de mistura e interação entre
culturas. Por meio de métodos qualitativos, de caráter interpretativista (LÜDKE,
ANDRÉ, 1986), desenvolvemos a análise a partir de questionários, gravações de
interações e do acompanhamento no processo de mediação das interações, ao
longo de um semestre. Pelos dados até então considerados, observamos que
o compartilhamento de gêneros literários no teletandem, tal como o cordel,
tem se tornado uma importante ferramenta para o desenvolvimento, entre
os seus participantes, de habilidades linguísticas, discursivas e interacionais,
bem como para a ampliação de seus conhecimentos culturais. As discussões
versaram sobre informações históricas, regionais, assim como as características
do gênero e suas funções como literatura de entretenimento, de caráter não
apenas pedagógico, mas principalmente político e social. Por conseguinte,
essas trocas e conteúdos desencadearam a discussão sobre outros temas e

866
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

fizeram com que os interagentes avançassem para níveis de conversação mais


profundos, desse modo, mais significativos para sua aprendizagem. (Apoio:
PIBIC/RT/2020 - 685)

Palavras-chave: teletandem; literatura de cordel; ensino e aprendizagem de


espanhol e português.

Avaliação de um curso de Estratégias de Leitura


em Língua Inglesa oferecido em uma universidade
multicampi
Autoria: LUANA VIANA DOS SANTOS

O presente trabalho teve como objetivo analisar um curso de Estratégias de


Leitura em Língua Inglesa de níveis A1 e A2, em virtude de grande parte da
bibliografia acadêmica em nível universitário ser disponibilizada em língua
inglesa. O curso foi proposto uma vez que um mapeamento realizado em todos
os campi da universidade demonstrou que 40% dos alunos apresentavam um
nível básico de proficiência em língua inglesa, o que pode dificultar a leitura
de textos acadêmicos em todas as áreas. Este estudo foi realizado com base
nos trabalhos de Baldo (2009), Celani (1998), Heemann (2009), Kader (2008),
Paes-Landim (2019) e Nazzi-Laranja (2019), e buscou observar como os 200
alunos que participaram das aulas síncronas e assíncronas em Ensino Remoto
Emergencial (ERE) o avaliaram. O curso apresentou estratégias de leitura que
funcionam como recursos facilitadores da compreensão dos quais os leitores
se valem para significar em textos em segunda língua, tais como: inferências,
reconhecimento de cognatos, tipos de layout característicos a determinados
gêneros textuais, palavras-chave, skimming e scanning, marcadores do discurso
e elementos de referência e suas funções e efeitos de sentido. Apresentaremos
uma reflexão acerca do ensino on-line para os graduandos de 34 campi no
estado de São Paulo que responderam a um questionário o qual avaliou as
condições de participação dos alunos e a necessidade dos encontros síncronos
como essenciais para o desenvolvimento das estratégias, além das atividades
assíncronas. Ao final, 67,5% dos alunos da primeira turma observada alcançou

867
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua estrangeira/segunda língua

médias finais entre 10 e 8, enquanto 32,2% alcançou médias entre 7 e 5. Na


segunda turma que acompanhamos, 93,4% dos alunos alcançou médias finais
entre 10 e 8 e apenas 6,6% dos alunos alcançou notas entre 7 e 6. As notas finais
dos estudantes, equivalentes à média entre as atividades realizadas ao longo
do curso e a última avaliação, demonstram seu alto índice de aproveitamento
e bom desempenho.

Palavras-chave: estratégias de leitura em língua inglesa; ensino remoto


emergencial; avaliação.

868
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua materna

Recursos digitais para o ensino-aprendizagem da


língua indígena Wayoro/Wajuru (Tupi)
Autoria: CLENILSON MIRANDA DE SOUSA

O povo Wajuru ou Wayoro, como também é nomeado, está situado atualmente


em duas regiões, sendo a primeira a terra indígena Rio Guaporé que fica no
município de Guajará-Mirim e a segunda em Rolim de Moura do Guaporé,
município de alta Floresta d’Oeste, ambos localizados no estado de Rondônia.
Segundo Nogueira (2019), a etnia Wajuru convive com diversos outros povos
em que a língua portuguesa é a mais usada na comunicação entre eles. Mesmo
com o esforço de membros da comunidade e professores para valorizar a língua,
por meio de atividades que usam o idioma da comunidade, além de consulta
aos idosos que ainda conhecem a língua, apenas 03 pessoas das cerca de 250
pertencentes ao povo Wajuru ainda dominam a língua materna fluentemente.
Desse modo, esta língua tem perdido espaço e vem sendo substituída pela
língua portuguesa. Um dos fatores que tem contribuído para este fim é a falta
de material didático voltado para o ensino dessa língua (UNESCO, 2020).
Diferentes instrumentos legais asseguram aos povos indígenas o uso dos
seus idiomas originários, entre eles, a Declaração das Nações Unidas sobre os
Direitos dos Povos Indígenas (ONU, 2008) e a Declaração Universal dos Direitos
Linguísticos (UNESCO, 1996). Os estudos de documentação linguística têm
um papel fundamental na compilação e preservação de línguas ameaçadas de
desaparecimento. O presente trabalho apresenta os resultados do projeto de
extensão “Recursos digitais para o ensino-aprendizagem da língua indígena
Wayoro/Wajuru (Tupi)” que tem como objetivo geral a produção de recursos
didáticos digitais que auxiliem no ensino da língua Wayoro. As metas principais
deste trabalho são produzir e disponibilizar para a comunidade, de forma on-line,
textos transcritos e traduzidos, aplicativo de dicionário Wayoro-Português e a
disponibilização de um software de transcrição acessível à comunidade para
alimentar e gerar novos recursos digitais. Os resultados iniciais deste projeto
serão apresentados ao decorrer do trabalho. (Apoio UFPA-PIBEX-PROEX-2021)

Palavras-chave: Wayoro; recursos digitais; documentação linguística.

869
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua materna

Ensino de gramática, na visão do aluno do 3º ano


do ensino médio regular
Autoria: DEUZANIRA DE NAZARÉ DA CRUZ FAVACHO

Neste painel, vamos apresentar dados obtidos por meio de questionários


respondidos por alunos do ensino médio regular e professores de Língua
Portuguesa quanto aos seus entendimentos de, e sobre, gramática normativa,
a relação entre o português que eles dominam/usam e o que eles aprendem/
ensinam e, finalmente, vantagens e desvantagens das aulas de Língua Portuguesa
na escola. Para tanto, utilizamos os documentos oficiais das práticas escolares,
como LDB e BNCC, além de autores como Bunzen (2006), Mendonça (2006),
Antunes (2003), Possenti (1996); para nortear o objeto de análise, bem como
a preparação dos instrumentos da pesquisa, nesse caso, os questionários.
Essa pesquisa etnográfica foi realizada em atendimento à disciplina Didática
da Língua Materna I, do curso de Letras da Universidade Federal do Amapá.
Nosso objetivo consistiu em verificar, criticamente, a reação dos alunos aos
métodos de ensino e conteúdos de aprendizagem da Língua Portuguesa na
escola. Optamos por utilizar a BNCC como base para o estudo e para a discussão
teórica, em observância ao que o Sistema de Educação brasileiro preconiza sobre
conhecimentos linguísticos e/ou gramaticais e como é instruído pedagógica
e didaticamente o desenvolvimento escolar desse conhecimento. A partir daí,
comparamos algumas informações selecionadas com a sua aplicabilidade na
prática escolar. Nossos dados, quanto à prática, foram coletados por meio de
entrevistas realizadas com alunos e um professor de Língua Portuguesa da
Escola Estadual Profº Gabriel de Almeida Café, turma de 3º ano, do turno Noturno.
Os nossos dados demonstraram duas discrepâncias alarmantes: (i) a distância
existente entre o entendimento empírico, conhecimento cognitivo, domínio
da Língua Portuguesa, e ensino e aprendizagem dessa língua, no contexto
escolar; (ii) o Sistema de Educação brasileiro propõe-se a avaliar habilidades
e proficiências, como sendo a “capacidade para realizar algo, dominar certo
assunto e ter aptidão em determinada área do conhecimento” (BNCC), mas,
como mostram os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB

870
Painéis
Ensino-aprendizagem de língua materna

–, a falta de domínio da gramática normativa da Língua Portuguesa ainda vem


sendo argumento primordial, pois, segundo um dos indicadores, os alunos
“demonstram habilidades muito elementares em comparação com que deveriam
apresentar nessa etapa escolar (nível médio)” (SAEB, Macapá/AP, 2017, parêntese
nosso). É impensável que um falante nativo tenha “habilidade elementar” ou “não
seja capaz de realizar algo, dominar certo assunto e ter aptidão em determinada
área do conhecimento”, na sua própria Língua. Esses temas são parte central
das nossas análises, presentes nessa pesquisa.

Palavras-chave: gramática; conhecimento linguístico; ensino-aprendizagem.

871
Painéis
Filologia

Aspectos filológicos de um documento do séc. XX:


Georger (s/d)
Autoria: OSMAR HENRIQUE LIMA CARVALHO E CASTRO

Este trabalho tem como enfoque a edição crítica parcial de um manuscrito do


início do século XX, o Pequeno Dicionário Português-Kimbundu do Libolo –
Georger (s/d), manuscrito não divulgado na comunidade científica, contribuindo
para os estudos do kimbundu, uma língua falada em Angola, em especial a uma
de suas variedades denominada “kimbundu do Libolo”. Tal variante do kimbundu
vem sendo estudada por pesquisadores do projeto internacional conhecido como
“Projeto Libolo”. O município do Libolo, localizado na porção noroeste de Angola,
possui uma área aproximada de 9.000 km2 e, em 2012, possuía uma população
estimada em 87.224 habitantes. Nessa área geolinguística com predominância
de pessoas do povo ambundo, são faladas a língua kimbundu, variante do Libolo,
e o português. A língua portuguesa foi inserida tardiamente, pois somente em
meados do século XIX se dá a ocupação dessa área interiorana de Angola por
colonos portugueses e por padres espiritanos. Como já apontado, parte do
documento a ser transcrito no trabalho que ora se propõe é um dicionário nas
duas línguas faladas pelos habitantes da região. O trabalho inicial da edição de
Georger (s/d) apontou para um documento híbrido, cuja edição parece ser do
tipo monotestemunhal: trata-se de um único texto do autor com campanhas
de edição realizadas por ele, o Padre Georger, e ainda com intervenções de
outros punhos. No entanto, o trabalho tentou buscar por outros testemunhos
do manuscrito de Georger (s/d) no acervo de textos do “Projeto Libolo” e,
durante o trabalho de edição do texto, também procurou-se mais evidências que
comprovassem a hipótese de ser o manuscrito um texto monotestemunhal. Em
suma, o trabalho visa à transcrição de verbetes do texto manuscrito tendo como
aporte metodológico a parte da filologia que é conhecida como “crítica textual”,
buscando investigar com mais detalhes o hibridismo da escrita e as distintas
materialidades do documento. Assim, com a transcrição do documento, que
se dá em complementaridade à pesquisa de Albano (2021), pretende-se alargar
o restrito conjunto de obras escritas e divulgadas sobre o kimbundu.

Palavras-chave: crítica textual; kimbundu do libolo; dicionário de língua africana.

872
Painéis
Filosofia da linguagem

O conto da aia: relações de poder sob perspectiva


Bakhtiniana
Autoria: RAFAELA DOS SANTOS BATISTA

A análise da estrutura hierárquica da série televisiva The Handmaid’s Tale (2017,


2018, 2019), em português, O conto da aia, pelo método dialético-dialógico (PAULA
et al., 2011), com objetivo de entender como os sujeitos fictícios podem refletir e
refratar os sujeitos da vida, a partir das configurações socioculturais da obra e
de suas valorações ideológicas, em especial atenção para a contemporaneidade
é o tema deste trabalho. Fundamentado nos estudos bakhtinianos, compreende-
se o enunciado estético em sua raiz social. O seriado reflete e refrata juízos de
valor acerca da mulher, transposta para uma sociedade distópica abusiva que
a reifica, tratada com base nas funções biológicas e religiosas que permeiam a
ordem daquela comunidade misógina. O estudo apresentado se foca em uma
cena que exalta as relações de poder no enunciado estético e demonstra a
estrutura hierárquica fechada de poder que subjuga as mulheres. O cotejo com
posts de redes sociais que reverberam questões reais engendradas no enunciado
estético fundamentado na vida também servirá como aporte metodológico
bakhtiniano que revela a reverberação da série e sua relação com a estrutura de
poder brasileira. O trabalho se pauta nas noções de linguagem (entendida como
tridimensional, potencial e explicitamente verbivocovisual, como denomina
Paula, no caso do seriado), dialogia, vozes sociais, reflexo e refração, forças
centrípetas e centrífugas, superestrutura e infraestrutura. O objetivo é refletir
sobre como o patriarcado tenta anular e objetifica a mulher, reduzindo-a a papéis
específicos de interesse capital dos homens, na interação ética e estética da arte
com a vida. A justificativa se centra na relevância social de se falar sobre essa
temática ao se considerar o contexto de crescente ascensão da extrema direita
no Brasil e no mundo na contemporaneidade, unida a um discurso religioso que
subestima a mulher, em embate com organizações de coletivos de mulheres que
se contrapõem a esse movimento, como resistência. Os resultados apontam
para o paradoxo dos contrários contraditórios que constituem a linguagem,
o homem e o mundo, dado que, no jogo discursivo, as forças centrípetas e
centrífugas se revelam em embate de poder.

Palavras-chave: círculo de Bakhtin; mulheres; verbivocovisualidade.

873
Painéis
Fonética e fonologia

Vírgulas em esquema duplo em textos do gênero


enquete
Autoria: ISABELA DE FREITAS VENDRAMINI

O objeto de estudo deste trabalho são ocorrências convencionais e não-


convencionais de vírgulas em esquema duplo em textos escritos por alunos
do último ano do Ensino Fundamental II de uma escola no interior paulista.
O projeto foi desenvolvido com base em 111 textos cujo gênero apresentado
na proposta textual é enquete e o tema é “Perfil em redes sociais”. Tais textos
foram selecionados a partir de uma amostra longitudinal e pertencem ao
Banco de Dados de Escrita do EF II, site disponível on-line. A escolha do gênero
enquete é embasada na premissa de que o gênero textual pode mobilizar
diferentes relações entre fala e escrita e no objetivo de este projeto considerar
a relação entre fala e escrita como aspecto relevante para investigar os usos de
vírgulas. A fundamentação teórica adotada assume que o sujeito escrevente,
ao transitar pelos campos das práticas sociais orais/faladas e das práticas
sociais letradas/escritas em que está inserido, pode estabelecer características
particulares de usos da vírgula a partir dessas práticas. A literatura sobre a
colocação da vírgula afirma haver certa relação entre os usos convencionais
ou não desse sinal com a fala, uma vez que estudos têm demonstrado que
os alunos desconsideram as regras previstas pela gramática normativa e
baseiam-se em fronteiras entoacionais para usarem a vírgula. A partir de uma
perspectiva linguística, assume-se que a motivação para o uso convencional
das vírgulas nos textos é favorecida pela coincidência entre fronteiras sintáticas
e fronteiras prosódicas. Já os uso não-convencionais de vírgulas nos textos
seriam motivados pela ausência de certas fronteiras prosódicas em fronteiras
sintáticas onde deveria haver vírgulas. Nessa apresentação, nossos objetivos
são: i) descrever quantitativamente as estruturas sintáticas em que são previstos
usos de vírgulas em esquema duplo segundo regras gramaticais em amostra de
textos selecionada; ii) descrever quantitativamente as presenças e ausências
de vírgulas em relação às estruturas sintáticas; iii) descrever tendências
quantitativas de tipologia de presença e ausências de vírgulas e possíveis

874
Painéis
Fonética e fonologia

relações com estruturas prosódicas dos enunciados. (Apoio: CNPQ- Processo


144273/2020-9)

Palavras-chave: vírgula; fonologia; língua portuguesa.

Vírgulas em esquema duplo: usos em textos do


gênero relato
Autoria: ISABELA FRANCISCO

Este trabalho tem como objetivo central investigar ocorrências de vírgulas em


esquema duplo em textos do gênero relato, escritos por alunos do último ano
do Ensino Fundamental (EF) em uma escola pública do interior paulista. As
vírgulas em esquema duplo se caracterizam quando são necessárias vírgulas
nas fronteiras direita e esquerda de uma estrutura encaixada ou deslocada em
relação à sentença principal. De uma perspectiva linguística, assume-se que, em
certa medida, a motivação para presença (convencional) das vírgulas nos textos
do EF é favorecida pela coincidência entre fronteiras sintáticas e fronteiras
prosódicas (sendo essas caracterizadas pela configuração de tom de fronteira
e pausa, na fala, predominantemente). Ainda dessa perspectiva, assumimos
que a ausência (não convencional) de vírgulas nessas estruturas também seria
motivada pela ausência de determinadas fronteiras prosódicas em fronteiras
sintáticas onde deveriam haver vírgulas. Neste trabalho, fizemos a identificação
desses usos e não usos de vírgulas a fim de descrever, quantitativamente,
tendências nos textos do gênero relato, tendo em consideração que o gênero
textual configura, de partida, potenciais relações entre fala e escrita. Pretende-se
responder às seguintes questões: (i) quando há vírgula, que fronteira prosódica
pode ser identificada a partir da estrutura sintática do enunciado?; (ii) quando
não há vírgula, que configuração prosódica do enunciado pode ser identificada?
As respostas a essas questões contribuirão para traçar regularidades dos usos
e não usos das vírgulas em textos do EF, associando essas regularidades a
relações entre fala e escrita que o gênero textual relato mobiliza. Identificamos
que em 82,63% (119/144) de dados, os usos de vírgulas não atendem à convenção
de gramáticas normativas e que há mais ausência do sinal de pontuação em
questão entre palavras (52,1% (75/144)) do que entre estruturas sintáticas

875
Painéis
Fonética e fonologia

(30,5% (44/144)). Além disso, verificamos que há total ausência de vírgulas entre
palavras dos tipos advérbios e expressões adverbiais deslocados (62,9% (51/81)).
Demonstramos, também, que a presença de vírgula em uma das fronteiras tem
relação com o tipo de estrutura sintática.

Palavras-chave: vírgula; fonologia; linguística.

Covid, lockdown e sars-cov: integração à fonologia


e à morfologia do português brasileiro falado na
região de Ponta Grossa
Autoria: IZABELY DA CRUZ BICUDO

Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa de Iniciação


Científica (BIC/UEPG) que analisa a integração dos neologismos de vocábulos
referentes à pandemia do(a) covid-19 no Português Brasileiro (PB) falado na região
de Ponta Grossa (PR). Nesta pesquisa, ainda em andamento, são analisados
vocábulos como “covid”, “lockdown” e “sars-cov” na língua falada por âncoras,
repórteres e entrevistados de telejornais locais, a saber: Tribuna da Massa e
Jornalismo da RPC. Como fundamentação teórica, esta pesquisa segue, dentre
outros: (i) Alves (1984), Alves (2013) e Siqueira e Coelho (2017), sobre neologismo
por empréstimo; (ii) Bisol (1981) e Cristófaro Silva (2011), acerca de processos
fonético-fonológicos do PB; e (iii) Silva e Medeiros (2016) e Gonçalves (2019),
sobre aspectos morfológicos da língua portuguesa. Na perspectiva fonético-
fonológica, é investigada a ocorrência de processos como alçamento vocálico,
epêntese e palatalização das consoantes oclusivas alveolares, integrando o
vocábulo aos padrões silábicos possíveis no PB. Morfologicamente, é analisado
o gênero gramatical presente em cada ocorrência. Para a condução desta
pesquisa, a coleta de dados ocorreu, como já mencionado, a partir de dois
programas televisivos da região de Ponta Grossa: Tribuna da Massa e Jornalismo
da RPC, exibidos, respectivamente, nas emissoras Rede Massa – SBT e RPC
– Rede Globo. Os vocábulos analisados neste trabalho foram coletados dos
programas transmitidos entre os dias 1 e 31 de agosto de 2020. Como resultados
parciais, o córpus deste trabalho apresenta 195 vocábulos “covid” e um vocábulo

876
Painéis
Fonética e fonologia

“lockdown”. Não houve ocorrência do vocábulo “sars-cov” nos dois telejornais


no período investigado. Dentre os processos fonético-fonológicos, foram
atestados, em “covid”, a epêntese, o alçamento vocálico e a palatalização da
oclusiva alveolar vozeada. Houve, também, em menor número, a ocorrência do
alçamento vocálico sem palatalização da consoante entre os âncoras, repórteres
e entrevistados. Ocorrências da epêntese vocálica sem alçamento vocálico e
sem palatalização consonantal – “covi[de]” – foram observadas, até o momento,
apenas entre os entrevistados. Quanto ao gênero gramatical, observou-se maior
utilização do gênero gramatical feminino, como em “tem que evitar de fato a
covid”, principalmente entre os âncoras e repórteres dos dois telejornais. Entre
os entrevistados, nota-se maior recorrência do gênero gramatical masculino,
como em “quando chegasse com o covid”. Com os resultados desta pesquisa,
este trabalho busca contribuir no âmbito dos estudos acerca do neologismo por
empréstimo, trazendo à tona vocábulos que, em 2020, tornaram-se recorrentes
no cotidiano dos brasileiros.

Palavras-chave: fonética e fonologia; morfologia; neologismo por e

A metátese no noroeste paulista: uma análise


sincrônica
Autoria: JHENIFFER AMANDA DIAS

Este trabalho analisa o processo fonético-fonológico denominado metátese na


variedade do noroeste paulista. Por meio desse fenômeno, ocorre a “inversão
na ordem linear dos sons sob certas condições” (HORA; TELLES; MONARETTO,
2007, p. 178). Essa transposição de segmentos dentro de uma palavra é um
fenômeno antigo na língua portuguesa (ARAÚJO, 2011) e pode ser classificada
(SÁ NOGUEIRA, 1958 apud HORA; TELLES, 2019) como: (i) metátese progressiva,
em que ocorre o deslocamento do segmento da esquerda para a direita, como
em “pra.to” > “pa.tro”; (ii) metátese regressiva, que corresponde à transposição
da direita para a esquerda, como em “sa.tis.fa.ção” > “sas.ti.fa.ção”; e, por fim,
(iii) metátese recíproca, quando dois segmentos invertem a posição, como, por
exemplo, em “a.ce.ro.la” > “a.ce.lo.ra”. Embasando-se nos pressupostos da Teoria
da Variação e Mudança Linguística (LABOV, 2008 [1972]), que compreende a

877
Painéis
Fonética e fonologia

língua como um sistema heterogêneo, variável e social, foi realizada uma pesquisa
sincrônica em tempo aparente. Para a análise, foram investigadas 48 entrevistas
retiradas do Banco de Dados Iboruna (Projeto ALIP - GONÇALVES, 2019 [2007]),
que conta com amostras de fala espontânea do interior paulista. Após a seleção
das amostras, com o auxílio dos arquivos de transcrição ortográfica do banco de
dados, foi realizada uma análise de oitiva dos arquivos sonoros. Coletadas todas
as ocorrências de metátese presentes nas entrevistas, procedeu-se à tabulação
dos dados. Como resultado, foram encontradas 17 ocorrências de metátese com
o rótico /R/, como em “dro.mir”, e uma ocorrência com vogais, “fi.bra.mol.gi.a”,
totalizando 18 casos de metátese. Desses casos, 11 são metátese progressiva,
como em “a.co.bra.ci.a”, seis regressiva, “dro.mir” e uma recíproca, “fi.bra.mol.gia”.
Observou-se, também, que as 17 ocorrências envolvendo o /R/ são de metátese
perceptual, sendo oito tautossilábica, “por.por.ção”, e nove heterossilábica,
“a.co.bra.ci.a”. Em relação às variáveis extralinguísticas, o fenômeno teve maior
aplicação na fala de informantes do sexo/gênero masculino; com a faixa etária
superior a 55 anos; e com nível de escolaridade referente ao 2° Ciclo do Ensino
Fundamental, o que parece fornecer indícios de estigma social em relação à
aplicação do fenômeno.

Palavras-chave: variação e mudança linguística; fonética e fonologia; metátese.

Ditongos no português do Libolo, Angola:


comparação com o português brasileiro
Autoria: LETÍCIA SANTIAGO FERREIRA

Este painel tem como objetivo apresentar um estudo preliminar do comportamento


dos ditongos do português do Libolo, Angola (PL) e a comparação dos resultados
obtidos com as descrições sobre ditongos em português Brasileiro (PB), a partir
da hipótese de que as variedades ultramarinas de português, atualmente faladas
nas ex-colônias de Portugal, compartilham semelhanças fonológicas. Foram
analisados 233 dados de produção de ditongos e de ditongos monotongados
no PL, retirados de um corpus de fala espontânea composto por um monólogo
e parte de um diálogo de falantes nativos do Libolo. Os dados foram transcritos
de acordo com os procedimentos metodológicos do Projeto C-ORAL BRASIL

878
Painéis
Fonética e fonologia

(MELLO, 2014), no programa computacional ELAN (disponível em: https://


archive.mpi.nl/tla/elan), e analisados acusticamente no software de análise
de fala Praat (BOERSMA e WEENINK, 2017. Disponível em: http://www.praat.
org/). Através da análise do corpus, foram encontrados 136 (59%) itens lexicais
produzidos como ditongos e 93 (41%) itens lexicais monotongados. Os ditongos
analisados foram divididos entre as classes morfológicas “verbos” (46% dos
dados) e “não-verbos” (54% dos dados). As monotongações em PL presentes
no corpus estão concentrados em ocorrências verbais monossilábicas, mais
especificamente os itens lexicais “sei”, “vai” e “vou”, com o item lexical “vai”
apresentando variação de produção entre ditongo [vai] e monotongo [va].
A ocorrência de monotongação na classe de “não-verbos” não pareceu ser
produtiva. Os ditongos nasais presentes no corpus não sofrem qualquer tipo
de monotongação. Os resultados deste trabalho revelam a produtividade do
processo de monotongação no PL, verificada principalmente através dos dados
da classe de verbos. Das ocorrências de monotongação verbal, apenas um
tipo corresponde ao que é encontrado em PB: a monotongação de [ou] para
[o], que, de acordo com Câmara Jr. (1970), é praticamente categórica no PB,
sendo representada como ditongo apenas ortograficamente. O ponto divergente
entre PB e PL, é a monotongação, em PL, de verbos terminados em [ei] e [ai],
principalmente em verbos monossilábicos.

Palavras-chave: fonologia; línguas em contato; ditongos.

Reconhecimento de usos de vírgulas por


professores em formação
Autoria: LORRAINE RODRIGUES CARDOSO

Nesta apresentação, trataremos do reconhecimento de usos de vírgulas em


esquema duplo Dahlet (2006) por licenciando em Letras. Esse tipo de emprego
de vírgulas é caracterizado quando há uma vírgula na fronteira direita e outra
na fronteira esquerda de uma estrutura sintática, como ocorre em: “Todos os
dias ouvimos, cada vez mais, sobre a internacionalização da Amazônia”. Ao
analisar uma amostra longitudinal de textos dos quatro últimos anos do Ensino
Fundamental (EF), Carvalho (2019) mostrou que esse tipo de estrutura ocorre com

879
Painéis
Fonética e fonologia

maior frequência no último ano do EF e há quatro possibilidades de combinação


de presenças e ausências da vírgula, a saber: presença – presença; presença –
ausência; ausência – presença; ausência – ausência; sendo esta última a que
tem maior ocorrência na amostra investigada. A consideração desses resultados
embasa esta pesquisa que tem o objetivo de investigar se professores em
formação reconhecem contextos em que vírgulas em esquema duplo deveriam
ser usadas. Assumimos que licenciandos em Letras são professores em formação
com maior domínio sobre o funcionamento do esquema duplo de vírgula em
relação aos alunos do EF. A partir de Carvalho (2019), selecionamos três textos
em que ocorreram contextos sintáticos em que vírgulas deveriam ser usadas
segundo regras de gramáticas de referência. Após excluídos os chamados erros
ortográficos e de concordância, desenvolvemos duas formas de coleta de dados:
(a) texto totalmente sem pontuação e com letras maiúsculas e (b) texto com
sinal de ponto e letras maiúsculas em início de sentença. Estas duas formas
de apresentação dos textos foram submetidas a teste a três licenciandos em
Letras, com validação da segunda forma. Definida a forma de apresentação
dos textos, foi solicitado o uso da vírgula em posições julgadas necessárias a
27 licenciandos em Letras. As respostas foram quantificadas e ordenadas em
função da porcentagem de presença convencional da vírgula. Dos resultados
obtidos, destacamos que a maioria dos licenciandos não reconheceu estruturas
em que é previsto o uso de vírgulas em esquema duplo. Essas estruturas
sintaticamente complexas, como encaixamento e deslocamento, se revelaram
lugares de dúvidas dos licenciandos em Letras. Essas são as mesmas estruturas
sintáticas que têm o maior número de usos não convencionais das vírgulas em
textos do EF II, como demonstraram Carvalho (2019), no estudo de amostra
de textos de gênero relato, e Paiva (2021), no estudo de amostra de textos do
gênero argumentativo.

Palavras-chave: vírgulas; oralidade; letramento.

Vogais médias pretônicas no português do Libolo


(Angola): comparações com o português brasileiro
Autoria: PALOMA MOREIRA FREIRE

Objetivos: Este trabalho tem como objetivo: (i) o estudo preliminar das vogais
pretônicas do português do Libolo, Angola (PL); e (ii) a comparação dos

880
Painéis
Fonética e fonologia

resultados obtidos com as descrições encontradas na literatura sobre as


vogais pretônicas do português brasileiro (PB). Métodos e Procedimentos: Os
métodos e procedimentos utilizados neste trabalho foram: (i) a organização e a
anotação de dados de um corpus composto por gravações de fala espontânea,
produzidas por seis falantes angolanos do município do Libolo (Angola); e
(ii) a descrição do comportamento das vogais médias pretônicas do PL do
corpus analisado, tendo em vista a comparação dos resultados obtidos com
o que é descrito na literatura sobre o comportamento das vogais pretônicas
do PB (CÂMARA JR., 1970; BISOL, 1981; CARMO, 2013). A anotação dos dados
incluiu a transcrição ortográfica de palavras e a transcrição fonética das vogais
médias pretônicas dos dados, com o uso do programa computacional ELAN
(https://archive.mpi.nl/tla/elan). Resultados: Os resultados obtidos revelam
que, no PL, diferentemente do PB, as vogais médias-baixas e o fenômeno de
abaixamento vocálico em posição pretônica são ausentes. Como no PB, as
vogais médias-altas pretônicas do PL podem sofrer o fenômeno de alçamento
vocálico. Conclusões: Foram observadas semelhanças e diferenças entre o PL
e o PB, quanto às variáveis linguísticas favorecedoras de alçamento das vogais
médias-altas pretônicas, sendo as variedades paulista e gaúcha do PB as mais
semelhantes ao PL. Tais resultados trazem contribuições para os estudos de
fonologia da língua portuguesa, e especialmente, para a variedade africana
do Libolo. Referências: BISOL, L. Harmonia vocálica: uma regra variável. 1981.
Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981. CÂMARA JR., J. M. Estrutura da língua
portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970. CARMO, M. C. As vogais médias pretônicas
na variedade do interior paulista: análise à luz da Teoria da Otimalidade. 2013.
Tese (Doutorado em Estudos Lingüísticos) – Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, São José do Rio Preto, 2013.

Palavras-chave: vogais pretônicas; português do Libolo; fonologia da língua


portuguesa.

881
Painéis
Gramática funcional

O uso do condicional evidencial no gênero


“discurso político” no português do Brasil
Autoria: BEATRIZ DE SOUZA MELLA

A evidencialidade marcada pelo condicional, isto é, a forma verbal futuro do


pretérito tem sido um tema bastante estudado em línguas como o francês, o
português europeu, o espanhol e o italiano. No português do Brasil (PB), no
entanto, os estudos direcionados ao comportamento deste fenômeno são
ainda poucos. Lourenço (2016) dedicou-se a descrever as ocorrências desta
forma de expressão da evidencialidade em textos do gênero jornalístico, sem,
no entanto, comprovar a existência de uma marcação gramatical interna ao
sistema verbal para esse uso nesta língua. Assim, este trabalho buscou estender
a descrição desse uso no PB a um outro gênero, o discurso político - considerando
as características desse gênero que levam o falante a empregar esse uso -, a
fim de verificar se as conclusões alcançadas em Lourenço (2016) são válidas
para além do domínio jornalístico, bem como confirmar a hipótese de que,
por meio do morfema do condicional, a evidencialidade pode ser considerada
uma marca gramatical interna ao sistema verbal do PB. Sendo este um estudo
de gênero textual, na medida em que o aspecto organizacional interno dos
gêneros está relacionado ao seu funcionamento sociointerativo, se aproxima
de pressupostos funcionalistas. Assim, esta pesquisa descreveu o condicional
com valor evidencial baseando-se no modelo da Gramática Discursivo Funcional
(GDF). De caráter qualitativo, desenvolveu-se a partir de um corpus composto
por 250 discursos entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ambos
disponíveis on-line (https://www.camara.leg.br/ e https://www12.senado.leg.
br/hpsenado), totalizando 225.345 palavras e tendo sido a seleção feita sem
quaisquer critérios de preferência de caráter partidário ou ideológico. Foi
possível concluir que as considerações feitas por Lourenço (2016) acerca do
condicional evidencial no gênero jornalístico se estendem ao discurso político,
ao passo que somente o condicional se mostrou capaz de viabilizar um sentido
evidencial para os casos analisados. Ademais, verificou-se que esse fenômeno
pode ser considerado uma marca gramatical interna ao sistema verbal do PB,

882
Painéis
Gramática funcional

uma vez que responde aos requisitos necessários para tal, seguindo a teoria
de Kronning (2012, 2018).

Palavras-chave: evidencialidade; condicional; discurso político.

O uso dos pronomes relativos no português falado


e escrito por adolescentes do interior do estado de
São Paulo
Autoria: JUAN PRETE TOJEIRA RAMOS

A proposta é investigar, sob o arcabouço teórico da Gramática Discursivo-


Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008; KEIZER, 2015), o uso dos pronomes
relativos no português brasileiro falado e escrito no interior do estado de São
Paulo. Embora a oração relativa tenha sido objeto de vários estudos de inúmeras
tendências teóricas, o que nos interessa para o momento é o uso dos pronomes
relativos em textos orais e escritos, produzidos por falantes com idade entre 13
e 15 anos, comumente estudantes do último ano do Ensino Fundamental II. Para
isso, toma como universo de investigação dois bancos de dados resultantes
de projetos financiados pela FAPESP (Processos: 03/08058-6, e 2009/14848-6 e
2013/14546-5). Para a modalidade falada, são utilizados os inquéritos do Banco de
dados Iboruna, colhidos em São José do Rio Preto e região por pesquisadores do
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas/UNESP/São José do Rio Preto;
já para a modalidade escrita, utiliza-se o Banco de Dados de Escrita do Ensino
Fundamental II, composto de textos produzidos por 662 alunos de sexto, sétimo,
oitavo e nono anos escolares, em parceria com uma escola pública de São José
do Rio Preto, interior de São Paulo, Brasil. Apesar de os corpora selecionados se
referirem às modalidades oral e escrita, usadas por falantes em idade escolar, é
necessário esclarecer que não se pretende aqui uma abordagem sociolinguística,
psicolinguística ou de linguística aplicada, uma vez que se trata apenas de uma
descrição funcionalista do uso desses instrumentos gramaticais. Desse modo,
partindo do pressuposto de que há diferença de uso nas duas modalidades,
este estudo pretende determinar as motivações pragmáticas e semânticas
que levam os falantes a usaram esses instrumentos diferentemente do que é
proposto pela norma gramatical. Para tanto, objetiva (i) identificar os pronomes

883
Painéis
Gramática funcional

relativos usados em cada modalidade; (ii) os contextos em que ocorre cada


um deles nas duas modalidades; (iii) verificar se os usos correspondem ao que
propõem as gramáticas de referência; (iv) quais as estratégias de relativização
(padrão, copiadora e cortadora) são usadas.

Palavras-chave: gramática funcional; oração adjetiva; pronome relativo.

A ordenação do objeto lexical no espanhol


peninsular falado: um estudo discursivo-funcional
Autoria: LAURA VIANA DOS SANTOS

Esta pesquisa faz parte de um projeto maior cujo objetivo é investigar, sob
perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE,
2008), a ordenação de constituintes no espanhol peninsular falado. Neste
estudo, voltamo-nos especificamente aos Objetos lexicais, a fim de investigar
quais posições os diferentes tipos de Objetos (direto ou indireto) podem
ocupar. Na perspectiva Discursivo-Funcional a ordenação de constituintes
é funcionalmente motivada, ou seja, é resultado do processo de codificação,
no Nível Morfossintático, das informações advindas dos níveis mais altos, o
Interpessoal e o Representacional. Sendo assim, a hipótese desta investigação
é a de que quando o Objeto ocorre em posições não canônicas, engendra algum
tipo de função pragmática ou retórica, o que nos permite afirmar que a colocação
dos constituintes na oração não é aleatória, mas reflexo da intenção comunicativa
do falante na interação. Buscamos, então, postular qual a sua posição canônica
e quais são suas outras possíveis posições na oração, analisando as respectivas
motivações e suas condições de existência. Para isso, levamos em consideração
quatro posições da Oração propostas por Hengeveld e Mackenzie (2008): PI
(posição inicial), P2 (que segue a inicial), PM (posição medial), e PF (posição
final) e as duas da Expressão Linguística (Ppre e P pós). Os dados mostram
que o molde de conteúdo influencia muito na ordenação de constituintes. Em
construções téticas, o objeto engendra a função pragmática Foco e ocupa, no
Português Brasileiro, a posição PF. Nas construções categoriais, por sua vez,
a função pragmática pode ser Tópico ou Foco; observamos que, no Espanhol,
quando o objeto traz informação Focal, tende a ir para posição PF, e quando

884
Painéis
Gramática funcional

é Tópico ocupa a expansão PM+1 da PM. Por fim, nas apresentativas, o objeto
possui função de Tópico e Foco concomitantemente, nestes casos, no Espanhol,
ele pode ocupar as posições PM+1 ou PF. Essas são as configurações do Objeto
quando este aparece posposto ao verbo. No entanto, encontramos configurações
diferentes, por exemplo, em uma construção apresentativa em que o objeto
aparece antes do verbo; este primeiro ocupa a posição PI, pois se trata de uma
informação nova introduzida no discurso. Como universo de pesquisa utilizamos
o PRESEEA - Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español de España
y de América (http://preseea.linguas.net). Utilizamos, especificamente, para o
presente estudo, os inquéritos do corpus correspondentes à cidade de Alcalá
de Henares, Espanha. (Apoio: PIBIC Reitoria - Projeto: 1585)

Palavras-chave: objeto; espanhol; funcionalismo.

Ensino de gramática e transitividade: o objeto


indireto nos livros escolares do ensino médio
Autoria: LÍVIA VALILI

Objetivos: A presente pesquisa tem como objetivo analisar como questões


relativas à transitividade verbal são abordadas e discutidas por diferentes livros
didáticos aprovados pelo PNLD e usados no ensino regular, principalmente
quanto à descrição do argumento verbal: objeto indireto. Com base e análise
da BNCC, documento que estabelece um ensino de gramática articulado com
as práticas linguísticas visando a reflexão sobre o funcionamento da língua
portuguesa, objetivamos aprofundar a discussão sobre as abordagens no
ensino do fenômeno da transitividade. Assim, a investigação tem a finalidade
de (i) delinear a forma que os materiais didáticos abordam a transitividade em
contraste com as abordagens linguísticas e tradicional; (ii) analisar quais são os
tipos de argumentos verbais descritos nesses materiais quando da abordagem
do tema da transitividade, e quais traços são concedidos ao OI; e, (iii) examinar
que recursos teóricos e/ou práticos os livros escolares utilizam no ensino
das questões relacionadas à transitividade. Referencial teórico: A pesquisa é
fundamentada na linguística funcionalista e em sua visão sobre o fenômeno
transitivo, e o ensino de gramática. Ademais, a pesquisa é desenvolvida de

885
Painéis
Gramática funcional

forma contrastiva entre a abordagem das gramáticas tradicionais, gramáticas


pedagógicas, e abordagem linguística sobre transitividade. Inicialmente, no
estudo das abordagens, notamos que as GTs, as quais os livros didáticos
normalmente seguem, restringem sua explicação ao critério sintático na
descrição da transitividade, classificando o OI com um único critério, a presença
de preposição. Por sua vez, a abordagem linguística, especialmente num viés
funcionalista, sugere um estudo da língua centrado no uso (CUNHA, 2015),
assim apresenta um estudo da transitividade e dos argumentos do verbo através
de todos os aspectos que fundamentam a construção da língua: o sintático,
o semântico, o pragmático, e o discursivo. Resultados: No desenvolvimento
da pesquisa, realizou-se um exame crítico dos livros didáticos elegidos e das
abordagens gramaticais por eles apresentadas. Logo, por meio do levantamento
de dados desses materiais, relativos à transitividade e as propriedades do OI, e
em seu contraste com pesquisas linguísticas, verificou-se a falta de um estudo
contextualizado e articulado com as práticas linguísticas; como também de
uma discussão sobre o valor semântico do OI. Além disso, observou-se que
o ensino da transitividade de modo descontextualizado, junto com a ênfase
na associação do OI exclusivamente à presença de preposição, possibilita o
fortalecimento nos alunos da percepção de que o ensino de gramática está
relacionado a um exercício de memorização e não de reflexão.

Palavras-chave: transitividade; ensino de gramática; livros didáticos.

Multifuncionalidade de "até" no português


Autoria: LUCAS DE CARVALHO GOMES

Desenvolvido no âmbito de um projeto maior, intitulado “por uma abordagem


hierárquica da gramaticalização”, a propositura mais geral deste trabalho é
descrever os deslizamentos funcionais e categoriais do item "até" no português.
Para tanto, é estabelecido, enquanto fundamento teórico-metodológico
central para a condução da investigação, um diálogo entre, os princípios
da gramaticalização (vd. HOPPER; TRAUGOTT, 2003) e, os pressupostos do
modelo funcionalista da Gramática-Discursivo-Funcional (GDF), de Hengeveld
e Mackenzie (2008). O objetivo é, então, mapear propriedades funcionais e

886
Painéis
Gramática funcional

formais que permitem identificar e precisar diferentes usos de "até" no português


contemporâneo. Propriedades funcionais, aos interesses do presente trabalho,
definem-se como aspectos semântico-pragmáticos implicados na formulação de
uma expressão linguística; no tocante ao item sob investigação, a atenção recai
sobre a análise (i) de seus diferentes usos e significados, (ii) de suas relações
de escopo, definidas conforme os níveis e as camadas que estruturam a GDF
(HENGEVELD, 2017), e (iii) de seu estatuto categorial enquanto primitivo da
formulação interpessoal e/ou representacional. Em relação às propriedades
formais, entendidas aqui como traços morfossintáticos associados à codificação
de uma expressão linguística, serão analisados: (a) o padrão morfossintático no
interior do qual se pode codificar o item "até"; e (b) a sua ordenação dentro do
padrão. Para tanto, esta investigação está pautada em ocorrências de uso do
item (objeto de estudo) extraídas a partir dos textos que compõem a plataforma
do Banco de Dados do córpus do português (DAVIES; FERREIRA, 2006), em sua
versão web/dialetos. A análise dos dados, de cunho qualitativo, revela que até
cumpre funções mais semânticas, próprias à formulação representacional de
uma expressão linguística, assinalando o ponto limite (no espaço e/ou no tempo)
de realização de eventos, e funções mais pragmáticas, enquanto primitivo da
formulação interpessoal, ao enfatizar partes informacionais de uma expressão
linguística e/ou sinalizar a inclusão de novas informações no discurso. Esses
diferentes usos podem ser dispostos numa escala crescente de gramaticalidade,
o que daria evidências de um processo de gramaticalização. (Apoio: UFMS)

Palavras-chave: gramática discursivo-funcional; item linguístico "até";


gramaticalização.

O uso de "se ao menos" em construções


condicionais insubordinadas no português do Brasil
Autoria: MARIA JULIA BERNARDO COMARIM

As construções insubordinadas são descritas por Evans (2007) como orações


que, apesar de possuírem em sua estrutura indicadores prototípicos de orações
subordinadas, tal como o uso da conjunção ‘se’, por exemplo, ocorrem de maneira
independente. Essas construções, contrariando as definições clássicas de

887
Painéis
Gramática funcional

manuais de gramática, não possuem uma relação de dependência com uma


oração principal, seja sintática, semântica ou pragmática. Diante disso, neste
trabalho pretende-se realizar uma análise de um tipo específico de construção
insubordinada, a encabeçada por “se ao menos”. Construções semelhantes já
foram estudadas em algumas línguas, como o inglês (DANCYGIER; SWEETSER,
2005), o francês (APTEKMANN, 2008) e o dinamarquês (D’HERTEFELT, 2015),
por exemplo. Sobre o Português, Hirata-Vale (2015) menciona as orações
insubordinadas encabeçadas por “se ao menos” e conclui que elas expressam,
além de desejo, uma avaliação do falante, assim como constatado nos outros
estudos citados. Tendo em vista o significado não convencional da construção
insubordinada, pretende-se realizar uma comparação entre os usos em que
a construção aparece de forma insubordinada e aqueles em que aparece
de forma subordinada. As ocorrências estudadas foram retiradas da sessão
“Web/Dialetos” do Corpus do Português (DAVIES; MICHAEL, 2016), apenas em
Português Brasileiro (PB). Os dados foram divididos em dois corpora, um com
as construções subordinadas e outro com as construções insubordinadas. A
hipótese, que está sendo confirmada nos resultados preliminares, é de que as
insubordinadas teriam um comportamento diferenciado das subordinadas e,
portanto, não contemplariam todos os parâmetros de condicionalidade propostos
por Dancygier (1998). Além disso, busca-se descrever o quão independentes são
essas construções. Outro dado relevante encontrado nas análises preliminares
mostra que as insubordinadas encabeçadas por “se ao menos”, diferentemente
das subordinadas, apresentam, em todas as ocorrências do corpus, os verbos no
imperfeito do subjuntivo, como em: (1) Fixou a porta de entrada. Muitas pessoas
entravam e saíam, mas Alberto não chegava. Se ao menos tivesse um jornal!
(PB/Corpus DO PORTUGUÊS). O uso desse tempo verbal é indicador da postura
epistêmica negativa do falante em relação ao conteúdo da oração. Além disso, o uso
do imperfeito do subjuntivo é, para Hirata-Vale (2015), um indicador estrutural de
construções que tendem à construcionalização. Considerando o exposto, espera-
se, com esse trabalho, contribuir com os estudos de descrição das construções
insubordinadas no PB. (PIBIC/ CNPq – Processo: 128905/2020-4)

Palavras-chave: insubordinação; construções condicionais; sintaxe funcional.

888
Painéis
Gramática funcional

A acessibilidade do referente e a relação com a


expressão do sujeito pronominal em português
brasileiro
Autoria: MELISSA GIOVANA LAZZARI

O sujeito pronominal expresso pode ser considerado hoje a regra em português


brasileiro (cf. DUARTE, 1993, 1995 inter alia). entretanto, sujeitos pronominais
nulos e expressos coexistem na língua, mas não de maneira equivalente. Paredes
Silva (2007) aponta para o fato de que contextos informais, como a fala não
monitorada, privilegiam o uso de sujeito pronominal expresso, enquanto contextos
formais e escritos (ainda que informais) preferem a forma nula. Levando esse
quadro em consideração, o presente trabalho tem por objetivo verificar se o fator
acessibilidade do referente pode ser levado em consideração na manifestação
do sujeito nulo e pronominal em português brasileiro. Para isso, é formulada e
aplicada uma adaptação baseada na escala de acessibilidade (ARIELl, 1990) para
análise de 168 ocorrências de sujeitos pronominais expressos e nulos, todas
extraídas de um corpus de língua escrita composto por notícias publicadas
em um jornal popular brasileiro. A adaptação da escala propõe seis possíveis
combinações dando conta de níveis de acessibilidade (alta, média e baixa) e
da expressão do sujeito (nulo ou pronominal). Cada ocorrência selecionada
foi analisada levando em consideração seu contexto discursivo para que lhe
fosse atribuída uma classificação dentro das seis combinações possíveis. Em
suma, os dados apontam que os sujeitos nulos apresentam alta acessibilidade,
enquanto os sujeitos expressos apresentam média acessibilidade. Os casos
desviantes foram analisados à luz de outras formulações teóricas relacionadas
à expressão do sujeito gramatical para que fossem devidamente abordados e
explicados. Referências: ARIEL, M. Accessing noun-phrases antecedents. 1990.
Reimpressão, Nova Iorque: Routledge, 2014. DUARTE, M. E. L. A perda do princípio
“evite pronome” no português brasileiro. 1995. Tese (Doutorado) – Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 1995. DUARTE, M. E. L. Do pronome nulo ao
pronome pleno: a trajetória do sujeito no português do Brasil. In: ROBERTS,
I.; KATO, M. A. (org.). Português brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas:
Ed. da Unicamp, 1993. PAREDES SILVA, V. L. Motivações funcionais no uso do

889
Painéis
Gramática funcional

sujeito pronominal: uma análise em tempo real. In: PAIVA, M. C.; DUARTE, M. E.
L. Mudança linguística em tempo real. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2003. Apoio:
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq)

Palavras-chave: acessibilidade; sujeito gramatical; português brasileiro.

Multifuncionalidade de "mesmo" no português


Autoria: PABLO CANOVAS

O presente trabalho, desenvolvido no âmbito de um projeto maior, intitulado


“Por uma abordagem hierárquica da gramaticalização”, propõe-se uma
investigação e uma descrição em torno aos diferentes usos e funções do item
“mesmo” no português contemporâneo. Para tanto, tal propositura se assenta
nas premissas da abordagem hierárquica da gramaticalização (HENGEVELD,
2017), especificamente no diálogo possível entre os pressupostos teórico-
metodológicos do modelo da gramática discursivo-funcional (HENGEVELD,
MACKENZIE, 2008) e os princípios da gramaticalização (HOPPER; TRAUGOTT,
2003; HEINE; KUTEVA, 2007; BRINTON; TRAUGOTT, 2005). Enquanto material
para a análise, são selecionadas ocorrências de uso de "mesmo" retiradas do
banco de dados do córpus do português (DAVIES; FERREIRA, 2006), em sua
versão web/dialetos, centrando-se em dados dos séculos XX e XXI. O objetivo
mais geral é, portanto, (i) distinguir os diferentes usos, valores e significados
associados a “mesmo” no português, precisando seus deslizamentos semânticos
e pragmáticos, e (ii) mapear os diferentes estatutos categoriais de mesmo, a
depender de seu uso, de modo a caracterizar, assim, sua multifuncionalidade e
organizar seus diferentes usos numa escala que parte do léxico para a gramática.
partindo, então, de propostas já estabelecidas em torno à multifuncionalidade
de "mesmo" (vd. AMORIM, 2009; OLIVEIRA; CACCIAGUERRA, 2009; PEREIRA,
2013; PEREIRA; GÖRSKI, 2016). Os resultados alcançados por este trabalho
revelam que "mesmo" corresponde a um primitivo do nível interpessoal,
assinalando diferentes valores e significados a depender das relações de
escopo contraídas no interior deste nível. Especificamente, defende-se que a
multifuncionalidade de "mesmo" pode ser caracterizada a partir da distinção
de quatro usos interpessoais mais gerais: (i) como proforma anafórica, (ii) como

890
Painéis
Gramática funcional

operador de identidade, (iii) como operador de reforço enfático e (iv) como


marcador de contraste. Tais usos podem ser dispostos numa escala que parte
do léxico à gramática, dando evidências de um processo de gramaticalização,
que parte de proformas anafóricas, perpassando pelo operador de identidade e
operador de reforço enfático, até chegar em usos contrastivos. (CNPQ - Processo:
153137/2020-7)

Palavras-chave: Gramática Discursivo-Funcional; gramaticalização; item


linguístico "mesmo".

Estudo da expressão (ser) capaz: uma análise


discursivo-funcional
Autoria: PABLO JARDEL OLIVEIRA DO ROSÁRIO

Pautado em Hengeveld e Mackenzie (2008), Hengeveld (2011) e Dall'aglio


Hattnher e Hengeveld (2016), este trabalho, elaborado no âmbito de Grupo de
Estudos Funcionalistas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, coordenado
pela Profa. Dra. Cibele Naidhig de Souza, objetiva examinar usos modais da
expressão (ser) capaz no português. Em termos específicos, pretende-se, em
uma perspectiva sincrônica, estudar os diferentes valores modais da expressão,
buscando relacioná-los à gramaticalização no campo modal (HENGEVELD,
2017; HOPPER; TRAUGOTT, 2003; TRAUGOTT; DASHER, 2002). Para cumprir a
tarefa, o trabalho se valerá de ocorrências retiradas do Corpus do Poruguês
(www.corpusdoportugues.org), especificamente do banco de dados web/
dialetos, que contém dados do português da contemporaneidade, de língua
escrita e falada. A abordagem teórica adotada nesta pesquisa é a da Gramática
Discursivo-Funcional (doravante GDF), que, compreendida enquanto um modelo
mais amplo de interação verbal, contempla quatro níveis de representação no
seu componente gramatical: Nível Interpessoal, Nível Representacional, Nível
Morfossintático e, por fim, o Nível Fonológico, todos organizados hierarquicamente
em camadas. Para a análise pretendida, é relevante o Nível Representacional do
modelo, uma vez que é nele que as distinções modais atuam, especificamente
como operadores das camadas desse nível. Relativamente à tipologia das
modalidades, a GDF retoma a proposta de Hengeveld (2004), segundo a qual

891
Painéis
Gramática funcional

dois parâmetros são distinguidos: alvo, que diz respeito ao escopo do operador
modal, e domínio, que diz respeito à perspectiva pela qual a avaliação é feita.
Ressalte-se que, neste trabalho, assume-se as modificações propostas nesta
classificação feitas, principalmente, por Hengeveld (2011), Hengeveld e Dall'aglio
Hattnher e Hengeveld (2016) e Hengeveld e Dall’aglio Hattnher (2016), que separam
a categoria de modalidade da evidencialidade. Diferentes valores modais da
expressão são identificados e examinados considerando-se, também, aspectos
formais. Com o aparato da GDF, que concebe a oração como estratificada em
camadas, é possível captar diferentes níveis semânticos nos quais o item ocorre,
que podem sugerir processo de gramaticalização.

Palavras-chave: funcionalismo; modalização; expressão capaz.

Análise de expressões modais com o verbo "ter"


no português
Autoria: VITORIA MARIA ALBUQUERQUE SILVA
Coautoria: PABLO JARDEL OLIVEIRA DO ROSÁRIO

Em uma perspectiva funcionalista, este trabalho examina expressões modais


com o verbo "ter" na língua portuguesa. As expressões eleitas para o estudo são
"ter como, ter que e ter de", consideradas construções modais, como já apontado
por outros estudos (SOUZA, 2019; DALL'AGLIO HATTNHER E HENGEVELD, 2016).
Para tanto, a pesquisa serve-se de ocorrências retiradas do Corpus do Português
(https://www.corpusdoportugues.org/), especificamente dos bancos de dados
Histórico, que contêm dados antigos da língua, e Web/Dialetos, que contém
dados da contemporaneidade. Para o exame, foram coletadas 50 ocorrências
de cada expressão sob estudo, perfazendo um total de 150 ocorrências para
as análises. O posicionamento teórico adotado neste estudo é o da Gramática
Discursivo-Funcional (doravante GDF), de Hengeveld e Mackenzie (2008) e
Keizer (2015). A GDF, enquanto um componente gramatical de uma teoria mais
ampla da interação verbal, possui, em sua arquitetura, quatro níveis de análise:
Nível Interpessoal (pragmático), Nível Representacional (semântico), Nível
Morfossintático (morfossintaxe) e, por fim, o Nível Fonológico (fonologia), todos

892
Painéis
Gramática funcional

organizados hierarquicamente em camadas relevantes para cada um deles.


Ressalte-se que, para esta pesquisa, o nível relevante é o Representacional,
pois é nele em que distinções modais operam. No que diz respeito à tipologia
das modalidades, a GDF retoma o proposta de Hengeveld (2004), que, em
sua tipologização, distingue dois parâmetros: Alvo, que lida com o escopo
do operador modal, e Domínio, que é a perspectiva pela qual a avaliação
modal é feita. Aponte-se que, com esse suporte da GDF, que propõe a oração
como estratificado a partir de camadas, é possível captar diferentes níveis de
escopo das expressões sob exame. Apoiada, então, nos pressupostos teóricos-
metodológicos supracitados, a análise das ocorrências revelou o seguinte: no
que se refere à expressão "ter como", as ocorrências são, majoritariamente,
facultativas orientadas para o evento (90%), e, de maneira minoritária, facultativas
orientadas para o participante (10%). Com relação à expressão "ter que/de", por
sua vez, as ocorrências coletadas são, em sua maioria, deônticas orientadas
para o evento (60%), de modo que o valor deôntico orientado para o participante
registra uma frequência um pouco menor (40%). Estes resultados conformam-
se com outros estudos já empreendidos acerca destas expressões, dentre os
quais estão Souza (2019) e Dall'Aglio Hattnher e Hengeveld (2016).

Palavras-chave: funcionalismo; expressões modais; modalidades.

893
Painéis
Historiografia linguística

Implementação de um website para a indexação


de obras relacionadas ao ensino de latim e grego
presentes nas bibliotecas da UNESP
Autoria: WALLISON LIMA DA SILVA

A atividade científica tem como um de seus objetivos a comunicação da


informação e a propagação das descobertas e conhecimentos, tendo em
vista o próprio desenvolvimento e avanço da ciência. A Internet é atualmente
a tecnologia que se apresenta como poderoso meio para a disseminação da
comunicação e informação, pois, como se sabe, é uma rede que conecta o
mundo. Porém, mesmo com o avanço da Internet, ainda há muitas produções
científicas que permanecem pouco conhecidas, pois ficam esquecidas nas
bibliotecas das universidades e informações a seu respeito não se fazem
presentes nas buscas da Internet. Pensando no problema ao acesso que muitos
pesquisadores da área de Historiografia Linguística e Línguas Clássicas têm para
encontrar fontes primárias que ao longo da história foram esquecidas, o presente
trabalho tem como objetivo publicar em um website fichas descritivas de obras
relacionadas ao ensino e aprendizagem de Línguas Clássicas localizadas nos
acervos das bibliotecas da UNESP. No website, os títulos das obras localizadas
são classificados em três categorias: 1) Gramáticas, 2) Livros Didáticos e
3) Estudos Linguísticos sobre o Latim e o Grego. As fichas descritivas das obras
são organizadas pelos sobrenomes dos autores em ordem alfabética e cada
ficha descritiva é acompanhada de sua versão em áudio, para que pesquisadores
com deficiência visual possam ter acesso a elas. São utilizadas as seguintes
ferramentas para a construção do website e seu conteúdo: a plataforma do
Google Sites, o Adobe Photoshop e o Balabolka. Como fundamentação teórico-
metodológica, a pesquisa tem como referência para a produção das fichas
descritivas a metodologia do Projeto Documenta Grammaticae et Historiae
(Projeto de Documentação Linguística e Historiográfica), coordenado pela Profa.
Dr. Cristina Altman (USP) (ALTMAN 2009, 2004). Para as informações relacionadas
a abordagens metodológicas para o ensino de Línguas Clássicas, presentes nas
obras pesquisadas, consultamos Fortes e Prata (2012) e Amarante (2013).

Palavras-chave: historiografia linguística; indexação; línguas clássicas.

894
Painéis
Letramento(s)

“O Ministério da Saúde adverte”: um estudo


discursivo sobre o leitor modelo e o padrão de
respostas do serviço “Saúde sem Fake News” em
tempos de COVID-19
Autoria: AUGUSTO VINICIUS DE OLIVEIRA

Com base em pressupostos teóricos dos Novos Estudos de Letramentos (New


Literacy Studies) e da Análise do Discurso de linha francesa, este trabalho
tem como objetivo estudar a imagem de um leitor modelo (MAINGUENEAU,
2013) projetada pelo serviço de checagem de fatos “Saúde sem Fake news”, do
Ministério da Saúde do governo brasileiro, a partir de argumentos utilizados em
devolutivas do serviço à população, no combate à infodemia (ZARACOSTAS,
2020), segunda mazela pandêmica da COVID-19 no Brasil, nas palavras de Galhardi
et al. (2020, p. 4202). Esse serviço, que teve início em 2018, dedicou a maioria
de suas checagens no ano de 2020 a informações sobre a COVID-19, advindas
de mensagens reencaminhadas por WhatsApp por cidadãos interessados
em saber se se tratava de fato verdadeiro, falso ou enganoso. O conjunto
do material, formado por 86 produções textuais verbo-visuais, produzidas
entre janeiro e julho de 2020 e disponíveis na página eletrônica e nas redes
sociais do Ministério da Saúde, permite refletir sobre a qualidade da resposta
institucional apresentada ao público, no que diz respeito ao(s) motivo(s) pelo(s)
qual(is) os fatos checados receberam o selo de “Isto é fake news!” ou “Esta
notícia é verdadeira”. Observou-se no estudo que, quando certa informação
checada pertence à mesma classificação de conteúdo temático de outra
informação checada anteriormente – em sua maioria, teorias da conspiração,
métodos caseiros de prevenção e métodos caseiros de cura da COVID-19 –, a
devolutiva do serviço tende a apresentar trechos de respostas semelhantes
ou idênticas a dessas notícias anteriores, retomando, apenas pontualmente, o
fato efetivamente checado. De um ponto de vista discursivo que nos permite
considerar as condições sócio-históricas de produção dos sentidos, busca-se
investigar qual é o leitor modelo projetado pelo Ministério da Saúde do governo
brasileiro, levando-se em consideração um produsuário (BRUNS, 2006) da Web
3.0, isto é, misto de produtor e usuário de conteúdos. Interessa a este trabalho

895
Painéis
Letramento(s)

refletir sobre como/se as “advertências” apresentadas pelo “Saúde sem Fake


news” contribuem para a promoção de letramento científico e educação para a
saúde na chamada era da pós-verdade, em que o apelo às crenças e emoções
pessoais mostram-se mais influentes na formação da opinião pública do que
fatos objetivos (McINTYRE, 2018). (Apoio: CNPq/PIBIC 103930/2021-3)

Palavras-chave: letramento digital; letramento científico; desinformação.

O funcionamento da auto-referenciação em
artigos científicos de Linguística
Autoria: DANIELA DE ALMEIDA LEONE

Esta proposta está inserida em projeto de pesquisa mais amplo, coordenado


pela orientadora, e que visa investigar letramentos em diferentes grandes
áreas de conhecimento (financiamento: CAPES-PrInt). Este trabalho em nível
de Iniciação Científica tem como objetivo estudar, com base em pressupostos
dos Letramentos Acadêmicos e da Análise do Discurso de vertente francesa,
padrões de autorreferenciação em artigos científicos de Linguística, publicados
nas bases Web of Science (WoS) e SciELO, no período de 2015 a 2019. O conjunto
do material é formado de vinte artigos, dez em língua portuguesa e dez em língua
inglesa. Interessa a este estudo problematizar o modo pelo qual os autores dos
artigos se autorreferenciam, segundo Boch e Grossmann (2002), se por citação
direta, evocação ou reformulação. A questão de padrões de autorreferenciação
é discutida, dentre outros autores dos estudos de Letramentos Acadêmicos,
por Hyland (2003), que propõe uma distinção entre citação e menção e,
consequentemente, entre autocitação e automenção na produção textual
acadêmico-científica. Em estudo publicado em 2003, baseado, dentre outros
protocolos, na análise de 240 artigos científicos e 800 resumos de oito diferentes
disciplinas, Hyland observou que são biólogos os que empregam maior número
de autocitações, em geral, quatro vezes mais do que físicos, por exemplo,
embora leve em conta “o fato de que trabalhos de biologia sejam tipicamente
até 60% mais longos do que nas outras ciências e sejam mais citacionais em
geral” (HYLAND, 2003, p. 254, nossa tradução). De modo geral, observa o autor,
a autocitação de trabalhos já publicados é característica mais proeminente

896
Painéis
Letramento(s)

nas chamadas “Hard sciences” (Biologia, Engenharia Mecânica, Engenharia


Elétrica, Física) do que em “Soft sciences” (Marketing, Sociologia, Linguística
Aplicada, Filosofia) por ele investigadas: 12% de todas as referências naquelas,
contra 4% na comparação com essas. É ainda Hyland (2003) quem observa
que a autocitação é consequência do aumento da competitividade em um
campo profissional no qual a visibilidade em meio a outros colegas/pesquisas
produzidas, observável com base em índices bibliométricos, é definidor de
(financiamentos) de carreira (HYLAND, 2003, p. 252) nas universidades e centros
de pesquisa, em âmbito nacional e internacional. É, pois, nesse cenário de forte
pressão de avaliação quantitativa de periódicos e pesquisadores, associada a
um processo de internacionalização da produção científica local e de busca de
resultados de pesquisa que sejam encontrados e citados por pares, que esta
proposta se coloca, na reflexão sobre o funcionamento da auto-referenciação
em artigos científicos produzidos na subárea de Linguística.

Palavras-chave: letramentos acadêmicos; autocitação; artigo científico.

Práticas de letramento em língua portuguesa no


ensino remoto
Autoria: LAÍS FELIX LOPES

O presente trabalho tem como objetivo apresentar reflexões acerca do curso


extensionista de português para adolescentes, ofertado dentro do projeto
“Práticas de letramentos em língua portuguesa e língua inglesa para mulheres
e adolescentes em situação de vulnerabilidade social” – contemplado pelo
Programa de Extensão Integração UFU/Comunidade (PEIC) 2019-2020. Foi
oferecido pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e teve sua aplicação
de forma on-line, devido à pandemia, no segundo semestre de 2020. O curso
teve como principais objetivos: propor uma reflexão acerca da utilização da
língua materna no cotidiano, tanto o uso informal, quanto formal; o aprendizado
da língua portuguesa, de forma dinâmica e não conteudista, como também o
uso da tecnologia digital como ferramenta para o ensino. Durante todo o curso
foram propostas 15 atividades, com ênfase em leitura, oralidade, escrita e análise

897
Painéis
Letramento(s)

linguística/multissemiótica, áreas escolhidas de acordo com a BNCC (2018),


pois é a forma como o documento propõe e faz a divisão dos conteúdos que
deverão ser trabalhados no ensino de língua portuguesa. Todas as semanas, as
professoras, que eram alunas do curso de Letras da UFU, ficavam encarregadas
de pesquisar e formular uma nova atividade que pudesse ter ligação com a
anterior. Todo o curso foi pensado para o meio digital e contou com a inserção
de atividades com foco na tecnologia e tópicos que também conversavam com
o meio. Dentre as atividades desenvolvidas no projeto, destaco: a proposta
produção de podcasts, que teve como intuito a apresentação de mulheres
que as próprias alunas consideraram fortes e as propostas de leituras de
diferentes gêneros textuais, como HQ's presentes em uma rede social e contos
disponibilizados digitalmente. Elaborar atividades para o ensino on-line foi
desafiador, mas ter contato com variadas formas de ensino é um aprendizado
para toda a carreira docente. Para tanto, apoiamo-nos em obras, como Ensinando
a transgredir, de Hooks (2013), Português - Bases gramaticais para a produção
textual, de Freitas, Maciel e Albuquerque (2009), Letramento Literário, de Cosson
(2011), Hipermodernidade, Multiletramentos e gêneros discursivos, de Rojo e
Barbosa (2015), e A leitura nos oceanos da Internet, de Silva, organizado por
Freire, Almeida e Amaral (2003). Como autora deste trabalho, destaco que minha
participação no projeto ocorreu de forma voluntária, já que acredito no poder
da educação e no comprometimento para com os estudantes neste momento
de pandemia. (Apoio: PROEX - UFU).

Palavras-chave: letramento; língua portuguesa; ferramentas digitais.

898
Painéis
Lexicologia e lexicografia

A religiosidade na toponímia humana da zona rural


do município de Nova Andradina/MS
Autoria: ANA CAROLINA MACIEL GARCIA

A Onomástica é uma vertente dos estudos linguísticos que tem como objeto de
estudo os nomes próprios em geral. Esta, por sua vez, se divide em Toponímia
e Antroponímia. Respectivamente, se ocupam de estudos relacionados a
nomes próprios de lugares (os topônimos) e a nomes próprios de pessoas.
Desse modo, ao partir de análises linguísticas do léxico toponímico de uma
região, dependendo dos objetivos do trabalho, o pesquisador pode dirigir-se
a epistemologias oriundas de distintas áreas de conhecimento, a exemplo
da História, da Geografia, da Antropologia. Com este trabalho, apresentamos
um recorte da pesquisa de Iniciação Científica (IC), em andamento, sob o
título: "Marcas de religiosidade na Toponímia humana rural do município de
Nova Andradina" (MS), que tem como objetivo principal estudar a toponímia
da zona rural da cidade de Nova Andradina/MS, com foco para as marcas de
religiosidade registradas nas designações dos acidentes humanos da zona
rural desse município. Para tanto, estamos nos orientando pelos princípios
teóricos e metodológicos da Toponímia, em especial nos trabalhos de Dick (1990,
1992), entre outros. Para a realização da pesquisa, estabelecemos os seguintes
objetivos específicos: i) inventariar os topônimos que nomeiam os acidentes
humanos da zona rural da cidade de Nova Andradina/MS a partir de mapas
do IBGE, com escala de 1:100.000, considerando os princípios metodológicos
da área, sobretudo os que são utilizados no âmbito do projeto ATEMS – Atlas
Toponímico de Mato Grosso do Sul; ii) classificar os topônimos de acordo com
as taxionomias toponímicas de Dick (1992), como forma de verificarmos, numa
perspectiva sincrônica, a motivação dos topônimos; iii) identificar as “marcas
de religiosidade”, conforme Dargel e Isquerdo (2018), presentes da toponímia do
universo em estudo, com vistas a desvendar as características hierotoponímicas
e hagiotoponímicas da região. Os dados têm demonstrado uma produtividade
maior de hagiotopônimos na toponímia humana rural do município de Nova
Andradina, o que demonstra a força dos santos e santas do hagiológio romano
na cultura religiosa do município em estudo.

Palavras-chave: toponímia; Nova Andradina; léxico.

899
Painéis
Lexicologia e lexicografia

O desenvolvimento da competência lexical no


ensino de língua portuguesa: análise de livro
didático pela perspectiva dos estudos do léxico
Autoria: CARLOS ROBERTO DE REZENDE JUNIOR

Dentre os componentes linguísticos, o lexical é o que mais reflete a evolução das


línguas, essencialmente pela criação de novas unidades léxicas que satisfaçam
as necessidades comunicativas de seus sujeitos falantes. De acordo com
Biderman (1978), o sistema lexical de cada língua é responsável pela organização
e classificação de dados da realidade compartilhada por determinada cultura, de
modo que as línguas traduzem, por modelos particularizados, o mundo visto e
construído pela comunidade em torno da qual se organiza. Fato este que não só
mostra a presença e importância do fenômeno neológico na vida da comunidade
de fala, mas também aponta a relevância do desenvolvimento da competência
lexical no quadro do ensino de língua portuguesa. O objetivo deste trabalho é,
portanto, analisar, sob o viés dos Estudos do Léxico, a percepção da coleção
“Novas Palavras” (AMARAL; FERREIRA; LEITE; ANTÔNIO, 2017), aprovada pelo
GUIA PNLD 2018 – Ensino Médio e adotada em escolas públicas brasileiras, acerca
do fenômeno e seu desenvolvimento no processo de ensino-aprendizagem. Esta
proposta de demonstração de aplicação didática das criações lexicais adota
uma perspectiva de uso reflexivo da língua e se justifica, primeiramente, porque
o fenômeno da criação lexical se faz presente em praticamente todos os gêneros
textuais/discursivos, orais ou escritos. Em contrapartida, tem-se observado que
na Educação Básica, em especial nos livros didáticos, o estudo das criações
lexicais é restrito a somente a alguns deles. Além disso, as questões que envolvem
o fenômeno da criação lexical no ensino de língua portuguesa, na maioria das
vezes, são negligenciadas ou privilegiam a metalinguagem que exige do aluno
conhecimentos de caráter normativo em detrimento dos aspectos descritivos da
língua. Nossa perspectiva é a de que os conhecimentos acerca do fenômeno da
criação lexical, oriundos dos Estudos do Léxico, estejam presentes no ensino de
língua portuguesa e possam contribuir para o desenvolvimento da competência
lexical do aluno e para o uso reflexivo da língua.

Palavras-chave: competência lexical; ensino de língua portuguesa; livro didático.

900
Painéis
Lexicologia e lexicografia

Aurélio: dicionário de português brasileiro?


Autoria: GABRIELLY NAOMY DA SILVA ARAUJO

Neste trabalho fizemos uma breve análise da microestrutura da unidade lexical


“CHAPÉU” e das unidades lexicais complexas “CHAPÉU DE CHUVA” e “CHAPÉU
DE SOL” que constam no dicionário Aurélio Júnior (2016). As comparamos com
as definições dadas por alguns dicionários de Tipo 2 aprovados pelo PNLD -
Dicionários 2012, do qual o dicionário Aurélio Júnior não faz parte. Averiguamos
se as microestruturas das unidades lexicais mencionadas estão condizentes
com a sua proposta lexicográfica, ou seja, o dicionário cumpriu aquilo que se
propôs a entregar no tocante a essas entradas? Esta pesquisa se baseou em
teorias da lexicografia e da lexicografia pedagógica, por meio de autores, tais
como: Biderman (2000), que em seu trabalho teceu várias críticas ao dicionário
Aurélio, algumas das quais evidenciamos a pertinência; Carvalho e Bagno
(2011), que nos revelaram a importância da proposta lexicográfica pedagógica
e do modelo de definição oracional, o PNLD - Dicionários, que implementou
critérios de elaboração e avaliação de dicionários escolares; Carballo e Platero
(2003), que nos esclareceram sobre a lexicografia pedagógica, ou seja, a forma
adequada e efetiva de usar dicionários pedagógicos e seu papel em sala de aula.
Após análise das unidades lexicais complexas mencionadas, concluímos, assim
como Biderman declarou, que tais unidades não fazem parte do vocabulário do
português brasileiro, em especial dos falantes aos quais o dicionário é direcionado.
Também pudemos concluir que o enunciado definitório de “CHAPÉU” apenas
cumpre com as condições mínimas necessárias e suficientes do modelo de
definição aristotélica, porém tal modelo não é eficiente em definir a palavra
entrada de modo que um consulente mirim possa realmente compreendê-la,
visto que procura resposta simples e concreta, ou seja, o mais próxima possível da
linguagem habitual dos estudantes do 2º ao 5º ano. Por meio desta apresentação
mostraremos a importância da lexicografia pedagógica e do PNLD - Dicionários
na elaboração dos dicionários com objetivos pedagógicos, em outras palavras, a
escolha do corpus, a seleção da nomenclatura, a organização da microestrutura
e, principalmente, a metalinguagem utilizada no enunciado definitório, além de
todos os complementos que um dicionário pedagógico deve ter.

Palavras-chave: dicionário pedagógico; dicionário aurélio; PNLD - dicionários.

901
Painéis
Lexicologia e lexicografia

Expressões idiomáticas neológicas presentes em


textos publicitários: descrição e ensino
Autoria: JULIANA ZENHA LEITE

O processo de criação de novas unidades lexicais, ou seja, a renovação do


léxico é um fenômeno comum e permanente, pois ao contrário, a língua que
não acompanha principalmente as mudanças sociais e culturais corre o risco de
desaparecer, como salienta Ferraz (2006, p. 219). Tal fato pode ser considerado
ao se observar a criação de novas expressões idiomáticas, um tipo de unidade
do léxico bastante produtivo na língua e que contribui para a ampliação lexical.
As expressões idiomáticas representam, em qualquer língua, um dos mais sérios
desafios da descrição lexical. Consideradas, no passado, como anomalias ou
vícios de linguagem, elas são importantes recursos discursivos tanto aos falantes
nativos quanto aos aprendizes de uma língua estrangeira. Pode-se dizer que
as expressões idiomáticas preenchem uma função comunicativa, uma vez que
se ambientalizam em situações específicas de uso (FERRAZ; SOUZA, 2004). As
expressões idiomáticas são estruturas fraseológicas complexas com caráter
fortemente conotativo, que possuem algumas características básicas que nos
permitem não só identificá-las, mas sobretudo estudá-las na sala de aula de
língua portuguesa. Enfatizando a importância de sua inclusão nos dicionários
de língua, Neves (1999), por meio de vários testes, discute a unicidade lexical
das expressões idiomáticas com o objetivo de distingui-las de outras lexias
complexas, como por exemplo, as construções com verbo suporte. Este trabalho
tem por objetivo a observação e análise da produtividade lexical, no que concerne
especialmente à formação de expressões idiomáticas neológicas. Trata-se da
análise de expressões idiomáticas coletadas no gênero publicitário de mídia
eletrônica. O trabalho que se propõe é resultado da pesquisa de Iniciação
Científica que integra um projeto maior, em andamento na faculdade de Letras
da UFMG, com o título de "Observatório de neologia em textos publicitários:
aplicação ao desenvolvimento da competência lexical", cujo propósito, além de
extrair neologismos de um corpus formado por textos publicitários, é contribuir
para o desenvolvimento da competência lexical. A metodologia de trabalho para
a coleta de expressões idiomáticas neológicas seguiu o critério de exclusão

902
Painéis
Lexicologia e lexicografia

lexicográfica, o qual considerou os seguintes dicionários escolares: o Dicionário


Houaiss Conciso; o Novíssimo Aulete Dicionário Contemporâneo da Língua
Portuguesa; o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo; e o Dicionário
da Língua Portuguesa Evanildo Bechara. Por fim, a descrição das expressões
idiomáticas neológicas, na abordagem que se pretende aqui, contemplará os
aspectos morfossintáticos e semânticos, isto é, sua estrutura de formação e
seu valor conotativo, respectivamente.

Palavras-chave: léxico; neologia; expressão idiomática.

Aspectos pedagógicos da neologia formal em


textos publicitários: os verbos denominais
Autoria: KELLY MAÍSA ARAÚJO CARVALHAES

A linguagem publicitária, visando captar a atenção de seu público-alvo, tem-


se revelado fértil na criação de novas palavras de variadas classes (FERRAZ,
2010), como é o caso dos verbos denominais neológicos. Assim, verifica-se a
crescente ocorrência de formações como “sextar”, “dezembrar”, “feriadar”, entre
outras. Esses verbos são formados a partir de um substantivo e normalmente
são interpretados através do significado do nome do qual derivam, embora essa
relação estrita entre o significado do nome e do verbo denominal possa ser
perdida para os falantes da língua, sendo possível, dessa forma, o estabelecimento
de uma relação mais ou menos próxima com seu nome originador (GUIMARÃES,
2015). Alves (1990) ressalta que, dentre os sufixos verbais, -ar e -izar são os que,
com maior frequência, constituem neologismos cujas bases são formadas por um
substantivo. Entretanto, algumas gramáticas tradicionais do português brasileiro
tratam do processo de formação de palavras por derivação de forma bastante
sucinta, às vezes se limitando à exposição de listas de afixos sem que haja um
estudo sistemático desses elementos (ROCHA, 2008). Consequentemente,
muitos livros didáticos que desenvolvem estudos sobre a língua, baseados na
gramática tradicional, também abordam de forma insuficiente esse processo
de formação de palavras (CRUZ, 2015). Essa lacuna traz graves reflexos para o
ensino de português, no âmbito da educação básica, e consiste na principal
motivação para o estudo aqui desenvolvido, além de justificar a sua relevância,

903
Painéis
Lexicologia e lexicografia

pautada na busca do desenvolvimento da competência lexical. Com isso, o


objetivo deste trabalho é mostrar o crescente número de formações neológicas
de verbos denominais, coletados na linguagem publicitária digital, discutir
suas características e as possibilidades de trabalho com essas unidades em
sala de aula de português. A metodologia de trabalho partiu de um corpus de
exclusão lexicográfica, usado como critério de identificação do neologismo.
Dado o enfoque pedagógico do trabalho, tal corpus de exclusão compõe-se dos
seguintes dicionários escolares: o Dicionário Houaiss Conciso; o Novíssimo
Aulete Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa; o Dicionário UNESP
do Português Contemporâneo; e o Dicionário da Língua Portuguesa Evanildo
Bechara. A fundamentação teórica, no âmbito da lexicologia, está apoiada em
Alves (1990), na conceituação e delimitação da unidade lexical neológica; e em
Ferraz (2010, 2019), na análise do corpus, voltada para o desenvolvimento da
competência lexical. Como resultado deste trabalho destacam-se a coleta e
descrição de numerosos exemplos de verbos denominais retirados de textos
publicitários.

Palavras-chave: neologia; verbos denominais; competência lexical.

Parâmetros lexicográficos e formação de


professores: potencializando o uso do dicionário
pedagógico no ensino-aprendizagem de línguas
Autoria: LÍGIA DE GRANDI
Coautoria: MARIANA DARÉ VARGAS CAMPOS

O dicionário pedagógico é um material didático, de consulta, com o qual os alunos


interagem, por meio das perguntas de língua que lhe fazem, cujos efeitos de uso
reverberam entre os muros da escola e além dos muros dela: para a vida! Como
assevera Coroa (2011), trata-se de obra intermediadora simbólica entre o mundo
e o falante na construção dos significados linguísticos. No ensino de Espanhol
como Língua Estrangeira (E/LE), o dicionário pedagógico bilíngue português-
espanhol/espanhol-português pode prestar inestimável apoio aos alunos na
realização de tarefas. A finalidade desta comunicação é apresentar maneiras de
potencializar o uso do dicionário pedagógico no ensino-aprendizagem de línguas,

904
Painéis
Lexicologia e lexicografia

especialmente, a língua espanhola, por meio de parâmetros lexicográficos,


voltados a auxiliar os alunos quando realizam atividades de produção textual
escrita em língua espanhola (VARGAS, 2018). Pretende-se, também, refletir
sobre as atitudes do professor diante do uso do dicionário em sala de aula (DE
GRANDI, 2019) com o propósito de promover o uso ativo desse material didático
complementar que pode auxiliar no desenvolvimento da competência lexical
do aprendiz de E/LE. Esse olhar direcionado ao docente, objetiva sua formação
lexicográfica (DE GRANDI; NADIN, 2020), além de colocá-lo em contato com os
parâmetros da Lexicografia Pedagógica e com os diferentes usos que se pode
fazer do dicionário nas aulas de língua. O aporte teórico compõe-se das teorias da
Lexicografia (DUBOIS; DUBOIS, 1970; WERNER, 1982; HARTMANN, 2001; AZORÍN
FERNÁNDEZ, 2003; HAENSCH; OMEÑACA, 2004; BÉJOINT, 2004; KRIEGER,
2006; DURÃO, 2010), Lexicografia Pedagógica (RUNDELL, 1998; HARTMANN,
2001; MOLINA GARCÍA, 2006; KRIEGER, 2006, 2011; DURAN; XATARA, 2007;
HERNÁNDEZ, 2008; WELKER, 2008, 2011) e Teoria Funcional da Lexicografia
(BERGENHOLTZ; TARP, 2003; FUERTES OLIVERA; TARP, 2008). Igualmente,
reiteramos a necessidade de formação de professores, figura essencial no
processo de mudança de atitude em relação ao uso do dicionário em sala de
aula, e a necessidade do letramento lexicográfico nas aulas de Espanhol como
Língua Estrangeira (E/LE), a fim de que os aprendizes consigam explorar as
potencialidades dos dicionários pedagógicos e consigam percorrer os mais
variados caminhos lexicográficos ao encontro de suas necessidades linguístico-
comunicativas.

Palavras-chave: espanhol como língua estrangeira; lexicografia pedagógica;


formação lexicográfica de professor.

A percepção do guia PNLD – 2018 sobre o


fenômeno neológico: o ensino de língua
portuguesa pelo viés da lexicologia
Autoria: LUANA BORGES DOS SANTOS

Concebida como um fenômeno social, a língua caracteriza-se pela mudança,


pela evolução, resultante, em especial, da necessidade de (re)nomeação de

905
Painéis
Lexicologia e lexicografia

novos objetos, seres, ideias, fatos, entre outros. Em decorrência disso, o léxico
das línguas naturais inova-se, intermediado pelos processos de criação lexical
de que o sistema linguístico disponibiliza. À capacidade de criação de novas
unidades léxicas, dá-se o nome de neologia, e ao seu produto, neologismo.
Nesse sentido, o desenvolvimento ou aprimoramento da competência lexical
do aluno, compreendida, aqui, como a habilidade de criação lexical, torna-se
fundamental no ensino de língua materna. Assim, ao passo que as abordagens
tradicionais do ensino de língua portuguesa dão-se, de modo geral, por meio
de livros didáticos, os quais, regularmente, privilegiam questões gramaticais
normativas em detrimento dos estudos lexicais, torna-se evidente a necessidade
de abordagens mais aprofundadas nos materiais de amplo acesso no ensino,
que venham contemplar o fenômeno neológico e capacitar o aluno a utilizar
adequadamente o sistema linguístico para a criação de novas palavras. Este
trabalho tem por objetivo, portanto, investigar a percepção do “PNLD 2018 – Guia
de livro didático do Ensino Médio – Língua Portuguesa” acerca da abordagem da
neologia/neologismo nos livros didáticos aprovados para adoção nas escolas
públicas no triênio 2018-2020, com vista a depreender, em primeira instância,
o modo como os órgãos gestores concebem e/ou reconhecem o fenômeno
nessa ferramenta de ensino, tendo como uma das hipóteses a sua rara menção
pelos avaliadores das coleções. A pesquisa fundamenta-se nos Estudos do
Léxico para o (re)conhecimento do fenômeno no guia e, respectivamente, nas
resenhas das coleções aprovadas pelo programa, bem como para a análise
qualitativa dos dados. Para tanto, primeiramente, foi feita uma leitura breve do
referido guia e respectivas resenhas das coleções aprovadas e indicadas para
adoção. Posteriormente, a análise foi complementada com a ferramenta de
busca rápida do editor de PDF “Foxit Reader”, por meio da inserção de termos-
base, tais como, “neologismo”, “neologia”, “formação de palavras”, “léxico”,
“criação lexical”, “competência lexical”, entre outros termos que viessem
remeter a leitura a qualquer informação pertinente à nossa hipótese. Com os
dados apurados e distribuídos em tabela quantitativa e qualitativa, obteve-se
o resultado da pesquisa, o qual aponta que as abordagens lexicológicas acerca
da neologia/neologismo não são privilegiadas no ensino de língua portuguesa,

906
Painéis
Lexicologia e lexicografia

via livro didático, do mesmo modo não são reconhecidas e/ou são raramente
mencionadas pelos avaliadores.

Palavras-chave: competência lexical; guia PNLD – 2018; ensino de língua


portuguesa.

Análise dos campos lexicais de expressões


idiomáticas formadas pelos nomes gerais
"homem" e "mulher"
Autoria: LUANNA DE SOUSA DO NASCIMENTO OLIVEIRA

O léxico de uma comunidade transmite valores culturais que traduzem a visão


do homem inserido em seu ambiente natural e social. A nomeação de seres e
objetos pelo homem cria novas palavras, que não exprimem somente coisas,
mas a consciência que os homens têm delas. As Expressões Idiomáticas (EIs)
possuem significado não composicional, isto é, o significado da expressão não
é previsível a partir da somatória do significado de suas partes, indicando que
foi convencionado. Por sua vez, os nomes gerais, pertencentes a uma restrita
classe formada por um pequeno conjunto de nomes que possui referência
generalizada, desempenham um papel relevante na interação verbal, pois são
muito úteis e frequentes em expressões idiomáticas. Nessa perspectiva, este
trabalho tem o objetivo de, através do agrupamento das EIs compostas pelos
nomes gerais "homem" e "mulher" em campos lexicais, averiguar qual gênero está
subordinado ao campo positivo e qual está ao negativo, uma vez que expressões
como "homem da rua" e "mulher da rua", independentemente de compartilharem
parcialmente elementos estruturais, possuem sentidos bem distintos. A fim de
verificar as ocorrências e os significados das expressões, utilizou-se o Dicionário
Aurélio (2010). Os pressupostos teóricos que norteiam o trabalho são Coseriu
(1981 [1977]), quanto à Teoria dos Campos Lexicais; Fulgêncio (2008), no que se
refere à terminologia Expressão Idiomática; e Mahlberg (2003) e Halliday e Hasan
(1995 [1976]) sobre os Nomes gerais. A análise dos dados indicou que o campo
lexical das EIs formadas com o nome geral de gênero masculino é positivo,
enquanto o do sexo oposto é negativo. Possivelmente isso se deve ao fato de,
ao serem criadas, as expressões idiomáticas receberem significados atrelados

907
Painéis
Lexicologia e lexicografia

ao gênero dos nomes. Logo, tal consideração possibilita uma problematização


sobre a maneira pela qual a sociedade concebe sua realidade e a transporta
para o léxico, fator que merece ser aprofundado em posteriores pesquisas.

Palavras-chave: expressões idiomáticas; nomes gerais; campos lexicais.

Análise fraseológica das expressões do verbo


"ganhar" em diversos contextos: uma proposta de
dicionário bilíngue
Autoria: MARIANA PAOLESCHI ANTUNES DE SOUZA

O presente trabalho propõe apresentar as especificidades encontradas na busca


por equivalentes tradutórios das expressões de uso comum ‘ganhar simpatia’,
‘ganhar apoio’, ‘ganhar bebê’, ‘ganhar corpo’, ‘ganhar pão/ ganha pão’, ‘ganhar de
lavada’. A motivação que deu início a este estudo surgiu durante a redação do
verbete ‘ganhar’ a ser inserido no e-Dicionário Escolar de verbos Português-inglês
(e-DVPI). O e-DEVPI tem como enfoque atender às necessidades dos alunos da
educação básica e prevê, em seu processo de elaboração, a análise conceitual
de equivalentes fornecidos por quatro dicionários escolares português-inglês
para estudantes brasileiros. Durante a referida etapa, chamou-nos a atenção o
tratamento lexicográfico das expressões, assim consideradas as combinatórias,
as locuções e as expressões idiomáticas, trazidas pelo Dicionário Oxford
Escolar (DOE) e pelo Longman Dicionário Escolar (LDE). Observamos que os
mencionados dicionários não incluem muitas das expressões comuns em língua
portuguesa, registradas no dicionário padrão da língua portuguesa Aurélio
(FERREIRA, 2010). Uma vez não encontrada a expressão em LP e respectivo
equivalente desejados no dicionário, inferimos que os alunos, indubitavelmente,
recorrem a ferramentas de tradução automática on-line, sendo o Google
Tradutor (GT) a mais comum. Na tentativa de seguir a possível trajetória do
consulente aprendiz em busca de equivalente em inglês, consultamos o GT.
Surpreendemo-nos com os resultados encontrados, ao constatar que induzem
ao erro e comprometem o aprendizado da língua inglesa. O referencial teórico
tem por base estudos sobre Metalexicografia Bilíngue segundo a abordagem
feita por Kromann, Rossbach, Tarp, Zgusta e estudos acerca da Fraseologia

908
Painéis
Lexicologia e lexicografia

baseando-se nos escritos feitos pelos autores Claudia Zavaglia e Gloria Corpas
Pastor. A motivação para o estudo originou-se da redação do verbete ‘ganhar’
a ser inserido no e-Dicionário de Verbos Português-inglês (e-DVPI), dicionário
esse que tem como enfoque atender às necessidades de estudantes brasileiros
da educação básica a partir de estudo contrastivo dos idiomas contemplados.
Tendo isso em vista, o propósito pedagógico do dicionário, surgiu da necessidade
de inclusão de expressões populares junto aos verbetes para colaborar com o
aprendizado efetivo do novo idioma, mantendo- se a valorização da cultura de
origem.

Palavras-chave: fraseologia; inglês; lexicografia.

Neologismos em textos publicitários da mídia


eletrônica: os compostos por subordinação e por
coordenação
Autoria: NÁGILA SABRINA DOS REIS SANTOS

A neologia diz respeito aos fenômenos linguísticos que surgem em certos


momentos numa dada língua, sejam fenômenos de ordem fonética, fonológica,
morfológica, sintática, semântica ou lexical. A dinamicidade da língua permite a
constante criação de novas palavras no português brasileiro, o que ocorre por
meio de variados processos. Um dos quais é o processo de composição, objeto
central do estudo que se pretende mostrar com esta proposta de trabalho. A
composição é um dos mecanismos de criação de palavras bastante produtivo
no discurso publicitário brasileiro, gerando formas de caráter subordinativo
e coordenativo. O processo de composição ocorre pela justaposição ou
aglutinação de bases autônomas ou não-autônomas, funcionando morfológica
e sintaticamente como um único elemento e, sintaticamente, pode apresentar
caráter coordenativo ou subordinativo, além de exercer função substantiva ou
adjetiva. A composição subordinativa é estruturada pela relação determinante/
determinado entre os elementos compostos. Já a composição coordenativa é
formada pela união de substantivos, adjetivos ou outra classe gramatical e não
apresenta a relação determinante/determinado. Esta proposta de painel tem

909
Painéis
Lexicologia e lexicografia

por objetivo analisar neologismos formados pelos dois tipos de composição,


detectados em textos publicitários da mídia eletrônica, em diversos sítios da
internet. A linguagem publicitária, utilizada com o objetivo de persuadir o virtual
consumidor, induzindo-o ao consumo de produtos ou serviços, constitui um
gênero textual que assimila e reproduz muito facilmente inovações lexicais,
tratando-se de um gênero que abarca diversas áreas do conhecimento,
portanto, vários campos lexicais. A metodologia de trabalho seguiu o critério
lexicográfico para a identificação dos neologismos, a partir de um corpus de
exclusão, composto pelos seguintes dicionários: Aulete Digital – Dicionário
contemporâneo da Língua Portuguesa (2020); Dicionário Houaiss da língua
Portuguesa (2009) e Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2010). Com tal
metodologia, a unidade léxica é considerada um neologismo se não estiver
registrada em algum dos dicionários utilizados. A fundamentação teórica, no
âmbito da lexicologia, está em apoiada Alves (1990) e em Ferraz (2020), na
conceituação e delimitação da unidade lexical neológica; e em Ferraz (2008), na
análise do corpus sob o enfoque do desenvolvimento da competência lexical.
Assim, este trabalho observa e descreve os neologismos formados pelos dois
tipos de composição, além de avaliar os tipos estruturais mais frequentes e
demonstrar a produtividade destes como uma forma de ampliação lexical.

Palavras-chave: neologia; composição; discurso publicitário.

910
Painéis
Libras

Orações encaixadas na Língua Brasileira de Sinais:


uma abordagem funcionalista
Autoria: LAÍS FERNANDA ESPINOSA PEREIRA

Este trabalho é resultado da pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC/UNESP


Processo nº 950) e tem como objetivo o estudo da subordinação, mais
especificamente o processo sintático de integração entre cláusulas em que
ocorre o encaixamento de uma oração (subordinada) no predicado de outra
(oração principal) na Língua Brasileira de Sinais (libras). Rodrigues (2020), ao
estudar as orações adversativas, causais e condicionais, revela que o uso de
conjunções manuais na libras é resultado de um processo de gramaticalização.
Todavia, como salientam Quadros e Karnopp (2004), Johnston e Schembri (2007)
e Pfau (2016), as orações completivas nas línguas de sinais não são introduzidas
por complementizador, mas são poucos os estudos que se ocuparam da
descrição das propriedades estruturais e funcionais dessas orações nas línguas
sinalizadas, inclusive na libras. Nesse caso, a análise das orações encaixadas
nas línguas de sinais precisa levar em conta a estrutura argumental dos verbos
que podem receber orações como complemento. Com base em dois córpus
principais utilizados na pesquisa, quais sejam, (i) Corpus de Libras da Universidade
Federal de Santa Catarina e (ii) o Minicorpus organizado pelos pesquisadores
do Grupo de Pesquisa SignL da Unesp, nossa pesquisa se volta para a análise
de orações encaixadas principalmente em verbos transitivos, visando analisar a
natureza semântica dos verbos que podem receber um complemento oracional,
como verbos dicendi, volitivos, perceptivos etc. A metodologia de coleta de
dados prevê a utilização do sistema de busca do ELAN (HELLWIG; GEERTS,
2013) a partir de uma lista de verbos transitivos previamente selecionados
tendo em vista que, segundo os parâmetros de transitividade propostos por
Hopper e Thompson (1980), apenas verbos fracamente transitivos podem ter
complemento oracional. Nossa análise é, neste primeiro momento da pesquisa,
essencialmente qualitativa, mas os dados foram operacionalizados no Excel,
o que permitiu a organização das ocorrências e dos parâmetros de análise.
Nosso referencial teórico está associado aos estudos de tradição funcionalista
sobre articulação de orações (HOPPER; TRAUGOTT, 2003; NEVES, 2010). Nossos

911
Painéis
Libras

resultados preliminares apontam a ocorrência de 55 orações encaixadas, sendo


que os verbos mais frequentes são (i) QUERER (14,5%); (ii) CONSEGUIR (12,7%);
(iii) LEMBRAR (10,9%), (iv) PENSAR (10,9%) e (v) VER (7,3%), como (1), em que
vemos uma oração encaixada no verbo QUERER: (1) QUERER IX2 REFLETIR
(Minicorpus SignL) (tradução livre: quero que você reflita).

Palavras-chave: funcionalismo; orações encaixadas; libras.

O papel dos marcadores não-manuais na expressão


da disjunção na Língua Brasileira de Sinais
Autoria: SARAH CRISTINA PAVARINA CHIODI

Introdução: A relação de disjunção, expressa por orações disjuntivas, integra


o grupo de orações coordenadas, amplamente estudadas nos contextos
das línguas orais. Todavia são poucos os estudos descritivos que abordem a
disjunção nas línguas de sinais. Objetivo: O objetivo deste trabalho é realizar
uma investigação acerca da relação de disjunção na Língua Brasileira de Sinais
(libras). Nossas análises mostram como essa relação é expressa, considerando
aspectos sintáticos, relativos à presença ou não de conjunção manual, e
aspectos prosódicos, relativos ao uso de marcadores não-manuais (MNM),
como mouthing, sobrancelhas cerradas (furrowed eyebrows) ou arqueadas,
lábios curvos para baixo e o movimento de corpo (COORD-SHIFT) e cabeça.
Metodologia: Nossas análises partem de dados coletados do Corpus de Libras
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do minicórpus do grupo de
pesquisa SingL (UNESP). Nosso arcabouço teórico considera principalmente
pesquisas sobre disjunção em outras línguas de sinais (DAVIDSON, 2013; ZORZI,
2019) e em línguas orais (SWEETSER, 1990), principalmente o português (NEVES,
2000). Nossa análise consistirá no levantamento das frequências type e token
(BYBEE, 2003), a fim de que possamos oferecer resultados, sobre o modo como
a relação de disjunção é expressa na libras. Resultados: Analisamos, em nossa
pesquisa (FAPESP – IC Processo 2020/06329-8), 46 dados, que nos mostraram
que os principais modos de marcar a disjunção na libras são a justaposição e o
uso da conjunção manual OU, associados a marcadores não-manuais (MNM),

912
Painéis
Libras

como o mouthing e o movimento do corpo (COORD-SHIFT). Encontramos,


associados ao contexto de disjunção, a presença dos sinais NÃO e DEPENDER, o
que nos levou a estabelecer a hipótese de que esses sinais estão no início de um
processo de gramaticalização na libras. Vimos, junto desses sinais, MNMs que
contribuem para a construção de uma relação disjuntiva. Referências: BYBEE,
J. 2003. Mechanisms of change in grammaticalization: the role of frequency.
In: JOSEPH, B.; JANDA, R. (ed.). The handbook of historical linguistics. Oxford:
Blackwell Publishing. DAVIDSON Z., K. ‘And’ or ‘or’: General use coordination
in ASL. Semantics & Pragmatics, v. 6, Article 4, p. 1–44, 2013. DOI: http://dx.doi.
org/10.3765/sp.6.4. NEVES, M. H. de M. Gramática de usos do português. São Paulo:
Editora Unesp. 2000. SWEETSER, E. From Etymology to Pragmatics. Metaphorical
and Cultural Aspects of Semantic Structures. Cambridge: Cambridge University,
1990. Press. ZORZI, G. Coordination and gapping in Catalan Sign Language
(LSC). 2018. Tese (Doutorado) - Universidade Pompeu Fabra, Barcelona, 2018.

Palavras-chave: orações complexas; disjunção; Língua Brasileira de Sinais.

913
Painéis
Linguagem e novas tecnologias

Estudo sobre as possibilidades e limites do uso das


tecnologias digitais no ensino de língua espanhola
Autoria: MELANIE ZAMBON BUENO

As tecnologias estão presentes no ensino de línguas há muitos séculos,


desde o primeiro livro utilizado com fins didáticos, passando pelos meios de
comunicação como a televisão e o rádio, chegando até os dias atuais, com
os computadores e smartphones. O uso dessas ferramentas, durante muito
tempo, passou por grande negação e negligência por parte dos educadores,
que as viam como uma ameaça à figura docente. Porém, a pandemia do novo
coronavírus colocou em xeque o ensino presencial, já que a essência do ato
de ensinar - a presencialidade - teve um deslocamento importante e precisou
ser repensada, tornando as tecnologias digitais, antes deixadas de lado no
processo, completamente ativas e tornando-se o principal ponto de contato
entre professores e alunos. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho
é divulgar resultados de uma pesquisa que problematiza as possibilidades e
limites do uso de recursos digitais por um grupo de professores de espanhol
durante a pandemia. Metodologicamente, a pesquisa caracteriza-se como um
estudo de caso exploratório (OLIVEIRA, 2008) e foi realizada em três etapas.
Na primeira etapa, procedemos à construção da fundamentação teórica sobre
tecnologias digitais no campo da Educação (KENSKI, 2006) e sobre uso de
tecnologias para o ensino de línguas no campo da Linguística Aplicada (SOTO;
MAYRINK; GREGOLIN, 2008; PAIVA, 2008; FRAGA, 2013; KANASHIRO; ROCHA,
2017; GREGOLIN, 2017; ABIO, 2017). Na segunda etapa, utilizamos um questionário
on-line para coletar dados junto ao grupo de participantes com perguntas sobre
o uso das tecnologias digitais antes e durante a pandemia. Também realizamos
entrevistas com alguns desses professores, com objetivo de aprofundamento
da coleta. Os dados coletados por meio do questionário e das entrevistas
evidenciaram uma ênfase do grupo de professores quanto às potencialidades
e limitações relacionadas à “interação” no uso de tecnologias digitais. Portanto,
na terceira etapa da pesquisa, estabelecemos como categorias de análise os
diferentes graus de interação entre alunos, entre alunos e professor(a) e entre
alunos e material, a partir das escalas propostas por Moore (2007), Guermandi

914
Painéis
Linguagem e novas tecnologias

(2016) e Turolo (2020). Nossas análises iniciais evidenciam novas formas de


integrar tecnologias às práticas didáticas do contexto pesquisado e esperamos
que as discussões possam contribuir com pesquisadores, professores e autores
de materiais didáticos.

Palavras-chave: TDICs; espanhol; professor.

O ethos em interação: análise de podcasts


políticos e de comentários virtuais
Autoria: PAULO ISAAC OLIVEIRA LOPES
Coautoria: MARIA CLARA RODRIGUES MORAES

Na contemporaneidade, as tecnologias exercem, cada vez mais, influência direta


na constituição e na multiplicabilidade dos gêneros discursivos. Fruto desse
processo, o podcast configura-se como um gênero discursivo da oralidade e
apresenta aplicabilidades midiáticas, informativas e interacionais. Com a recente
ascensão do podcast enquanto produto de consumo distribuído sob demanda,
emergem diversas pesquisas que tencionam investigar a natureza, a estrutura,
a usabilidade, a rentabilidade e outros desdobramentos dessa tecnologia na
sociedade. Neste trabalho, tomamos como objeto de análise a construção
interacional do ethos por meio de podcasts políticos e de comentários de
internautas relacionados a essa prática discursiva. Levando em consideração
o segundo turno das eleições municipais de 2020 à prefeitura de São Paulo,
buscamos investigar tanto a projeção do ethos discursivo dos candidatos
Guilherme Boulos (PSOL) e Bruno Covas (PSDB) durante a participação desses
sujeitos no programa denominado “Flow Podcast”, veiculado no YouTube,
como também as imagens etóticas legitimadas e/ou (re)construídas por meio
de comentários de internautas referentes à participação dos candidatos no
programa em questão. Para guiar o trabalho de análise dos dados coletados,
lançamos mão de postulados teóricos da Semiolinguística de Patrick Charaudeau
(2004, 2007, 2009, 2013), em conjunto com estudos contemporâneos sobre o
ethos (AMOSSY, 2005; CHARAUDEAU, 2007; KERBRAT-ORECCHIONI, 2008).
Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa documental, de

915
Painéis
Linguagem e novas tecnologias

base qualitativa e de caráter interpretativista no que se refere à análise dos


dados. Dentro do contexto apresentado, o percurso analítico constituiu-se
de três etapas: (i) coleta de comentários de internautas que fizessem alusão
a imagens prévias e a imagens posteriores sobre os candidatos, tendo em
vista os discursos colocados em cena durante o programa “Flow Podcast”;
(ii) identificação e descrição de recursos etóticos relativos aos processos
de manutenção ou de modificação do ethos prévio dos candidatos em cada
comentário; (iii) interpretação e comparação dos resultados obtidos, buscando
evidenciar as possíveis potencialidades discursivas do gênero “podcast” sobre
sua instância de recepção, representada pelos “comentários dos internautas”,
mais especificamente no que concerne a mudanças e criações de perspectivas,
positivas ou negativas, em um contexto eleitoral. Dessa forma, o objetivo geral
do trabalho consiste em descrever e interpretar o funcionamento dos gêneros
discursivos “podcast” e “comentário on-line” como espaços estratégicos de
argumentação, visando à (des)construção, criação ou confirmação de imagens
identitárias na mídia digital.

Palavras-chave: ethos em interação; podcast político; comentários virtuais.

916
Painéis
Línguas indígenas e africanas

A morfologia subordinadora como evidência para


a hipótese leste-oeste na família tupi
Autoria: JOÃO PAULO FERNANDES BENTO
Coautoria: LARA FOCESI WOLSKI

Procuramos examinar a hipótese de dois ramos (leste e oeste) na família Tupi,


usando dados de subordinadas com base na morfologia subordinadora e
nominalizadora presente nas línguas de seus diversos ramos, com enfoque no
ramo Oeste – famílias Arikém, Tupari, Mondé, Ramarama e Puruborá – (RODRIGUES
1986). Rodrigues (2007) oferece evidências de reconstrução fonológica e lexical
para essa hipótese. Entretanto, não há evidência sintática discutida na literatura
sobre reconstrução. Podemos observar que há muitas características em
comum entre a subordinação, os auxiliares das línguas e os morfemas de foco,
podendo haver uma mudança no ramo ocidental. Comparamos as funções e
os usos dos morfemas derivados de {**-ap} nominalizador de circunstância
em Proto-Tupi (RODRIGUES; CABRAL, 2012); {-ap} tipicamente nominalizador e
negativo, {-a} tipicamente gerundivo e imperativo, e {-p} tipicamente infinitivo ou
propositivo em línguas como Karitiana (ramo Arikém), Wayoro e Mekens (ramo
Tupari), Gavião (ramo Mondé) e Karo (ramo Ramarama). Buscamos diferenciar
seus usos e funções, bem como paralelos que aproximem ou afastem o grau
de parentesco linguístico com base na comparação morfossintática. Káro e
Gavião devem ser mais próximas uma da outra porque admitem mais de um
auxiliar na mesma oração, assim como Tuparí. Mekéns e Karitiana devem ser
mais próximas por possuírem os morfemas reconstruídos de foco {te} e {ta},
respectivamente. Karitiana deve ser a mais distante porque possui apenas
auxiliares aspectuais e evidenciais e é a única que possui a ordem de constituinte
OSV em subordinadas e SVO em declarativas. Tuparí possui subordinadores,
assim como Káro, por isso deve estar mais próximo dessa língua do que de
Gavião. Podemos observar um grande distanciamento entre Karitiana e as
outras subfamílias do ramo Ocidental, apesar de algumas semelhanças com as
línguas Tupari. As outras três subfamílias aparentam estar juntas na utilização
do morfema {-a} para construções variadas e para o imperativo. As subfamílias,
de Arikém à Ramarama; e Mondé, se considerarmos Gavião, parecem manter o

917
Painéis
Línguas indígenas e africanas

morfema {-ap} ou {-p} na sua função original de nominalizador, variando apenas


a função sintática do protomorfema **-ap, nominalizador de circunstância
(RODRIGUES; CABRAL, 2012). O mesmo ocorre com a função negativa. A função
infinitiva em {-p} parece aproximar Arikém, Tupari e Ramarama, distanciando
Mondé na família. Deste modo, podemos afirmar que Karitiana e Gavião devem
ser mais distantes das outras línguas.

Palavras-chave: línguas tupi ocidentais; morfossintaxe; subordinação.

Levantamento de estudos sobre a língua dos


Paiter Suruí: publicações dos Suruí de Rondônia
Autoria: LÍVIA GOUVÊA DE CARVALHO MOURA

O presente trabalho é resultado de uma Iniciação Científica que teve como


objetivo realizar um levantamento de trabalhos sobre a língua dos Paiter Suruí,
povo indígena de Rondônia, com o fim de construir uma biblioteca digital, de
forma a colaborar com a Cooperação UNICAMP-Paiter e futuras pesquisas
sobre a língua e cultura Paiter. Com isso, a principal questão a ser investigada
no estudo destes textos foi: quais problemáticas e aspectos linguísticos são
apresentados e discutidos nos trabalhos acadêmicos escritos pelos Paiter-Suruí
e qual o papel atribuído à educação nas questões pontuadas. Nesse sentido,
procuramos contribuir com uma perspectiva decolonial sobre esses trabalhos,
reconhecendo-os como parte de um projeto maior de reafirmação cultural,
encaminhando futuros trabalhos linguísticos alinhados aos interesses dos Paiter.
O levantamento e organização dos textos acadêmicos realizados pelos Paiter
partiu do prévio levantamento bibliográfico feito pela cooperação UNICAMP-
Paiter, que compila textos tanto de autoria indígena como não-indígena sobre
a língua dos Paiter. Assim, formou-se um corpus de 13 textos, em sua maioria
TCCs dos Paiter que foram alunos do Programa de Educação Intercultural da
Universidade Federal de Rondônia, que forma professores indígenas. A partir
disso, foram feitos resumos desses textos de maneira a destacar as problemáticas
linguísticas apontadas pelos autores e, em seguida, uma classificação dos textos
por área de estudo e "etiquetagem" por aspectos linguísticos encontrados em

918
Painéis
Línguas indígenas e africanas

cada um. Para responder à questão principal, fez-se uma análise qualitativa e
quantitativa destes textos. Existem, no corpus, textos que exploram aspectos da
língua materna, como fonética, fonologia e lexicologia; no entanto, a maior parte
dos textos discute a língua como um produto cultural. O uso e a preservação
da língua são temas centrais nas discussões acadêmicas entre os indígenas,
acentuadamente nos trabalhos sobre educação, dados os impasses enfrentados
em função da interferência da língua portuguesa no cotidiano indígena e
dentro das escolas, dificultando o aprendizado e a manutenção da língua pelas
novas gerações. A preocupação fundamental desses projetos é a formação
de professores indígenas, a elaboração de um currículo escolar apropriado e
de materiais escolares em língua materna, assim como o seu ensino regular e
contínuo nas escolas. Por fim, acomodamos a biblioteca digital na plataforma de
assistência de pesquisa Zotero, em que subimos os metadados e resumos dos
textos – dentre eles, trabalhos tanto de autoria indígena quanto não-indígena,
em diversas áreas da linguística –, organizados por assunto(s). Esta biblioteca
está disponível em formato .rdf.

Palavras-chave: levantamento bibliográfico; catalogação bibliográfica; línguas


indígenas.

Para uma revisitação do sistema de classes


nominais do Kimbundu do Libolo a partir da edição
do manuscrito: Georger (s/d)
Autoria: OTAVIO CÉSAR LOPES DE JESUS ALBANO

Este trabalho enfoca a revisitação do fenômeno linguístico: ‘classes nominais’


na língua kimbundu falada em Angola, uma língua bantu, a partir da edição
crítica de um manuscrito do início do século XX, o Pequeno Dicionário
Português-Kimbundu do Libolo – Georger (s/d). Tal variante do kimbundu vem
sendo estudada por pesquisadores do projeto internacional conhecido como
“Projeto Libolo”. O município do Libolo, localizado na porção noroeste de Angola,
possui uma área aproximada de 9.000 km2 e, em 2012, possuía uma população
estimada em 87.224 habitantes. Nessa área geolinguística com predominância

919
Painéis
Línguas indígenas e africanas

de pessoas do povo ambundo, são faladas a língua kimbundu, variante do Libolo,


e o português. Dentro da classificação geográfica das línguas do grupo bantu
proposta por Guthrie (1948), composta de uma letra e de um número, a região
do kimbundu do Libolo está inserida na zona H20 de línguas bantu, em área
de transição para a zona R10 (GUTHERIE, 1948), ocupada por povos ovibumdu,
falantes do umbundu (FIGUEIREDO; OLIVEIRA, 2013, p. 118-119). Sendo uma
língua bantu, o kimbundu atesta um sistema de classificação nominal e de
concordância (nominal e verbal) elaborados (parte do sistema de classes em
línguas Níger-Congo – cf. Katamba (2014, p. 105-106), e as categorias bantu
[+Nominais] estão associadas a uma determinada classe, identificada por um
prefixo distinto que se apresenta no singular e no plural. Por tradição entre os
bantuístas, o singular é indicado por números ímpares e o plural por números
pares. Partindo dessa classificação, o objetivo deste trabalho é apresentar uma
revisão do sistema de classes nominais do kimbundu apresentado na literatura
especializada, Figueiredo, Petter e Monte (2017), Araújo e Petter (2021), com a
finalidade de revisitar as classes 16, 17 e 18 apresentadas nos trabalhos supra-
citados, a partir da análise de palavras pertinentes a essas classes contidas no
documento Georger (s/d). O trabalho de edição de texto de Georger (s/d) vem
sendo desenvolvido em complementaridade à pesquisa de Carvalho e Castro
(2021).

Palavras-chave: classes nominais; dicionário do Kimbundo do Libolo; edição


de texto de língua africana.

920
Painéis
Linguística aplicada

Francesismos no léxico brasileiro: uma análise


interdisciplinar
Autoria: DÉBORA ELIZE KOGAWA

Os empréstimos linguísticos presentes no léxico brasileiro não se constituem


somente pela sua forma sígnica, mas também pelos sentidos implicados em
seu processo de produção histórico-cultural defendido pelo Círculo de Bakhtin.
Os processos historicizantes imbricados no empréstimo francês é o ponto
de partida desta pesquisa. O item lexical é defendido aqui como um lugar de
manifestação da significação que resulta de conceptualização. A premissa
dessa discussão é o 'experiencialismo realista', assumido em duas dimensões
interdependentes: histórico-cultural e sociocognitivista. Por um lado, a Análise
Dialógica do Discurso (ADD) parte do pressuposto de que a produção de
sentidos se dá no mundo verboideológico, isto é, no mundo significado, e
não no mundo meramente material ou natural. Por outro lado, a Linguística
Cognitiva se fundamenta na compreensão de que a cognição humana se é
culturalmente motivada é, então, devedora das relações que o indivíduo mantém
com o meio e com o outro. A articulação desses dois quadros teóricos se deve à
tentativa de identificar no fenômeno lexical, categorizado como "francesismo",
a incidência dessas duas dimensões. Por isso, a pesquisa debruça-se sobre a
construção do léxico brasileiro e convoca uma interdisciplinariedade entre a
ADD e a Linguística Cognitiva para que, assim, demonstre como os empréstimos
franceses se estabelecem no Português Brasileiro. Além disso, a categorização
dos verbetes em: gastronomia, moda e arte, depende, também, da contribuição
da Linguística Cognitivista, atentando para o fato de que essas esferas tendem
a perspectivizar os verbetes ali inscritos. A análise propõe-se a descrever
tanto processos histórico-discursivos quanto sociocognitivos capturados e
estabilizados nos verbetes elencados na pesquisa como produtos da relação
entre a França e o Brasil no século XIX a partir do discurso dicionarístico. Portanto,
o dicionário é considerado um instrumento de documentação e cotejá-lo em
diferentes tempos dá à pesquisa a possibilidade de verificar pistas históricas
através dos verbetes que, assinalados como uma arena de disputa de valores,

921
Painéis
Linguística aplicada

são socialmente concebidos nas e pelas 'esferas sociais'. (Órgão de fomento à


pesquisa: CNPq)

Palavras-chave: empréstimos franceses; léxico; mundo verboideológico.

O professor de língua portuguesa: reflexões sobre


a atividade docente
Autoria: LUCIANE MUMBACH
Coautoria: LEONARDO DALLA BARBA FERRAZ

Este trabalho tem o objetivo de analisar como se constitui profissionalmente


o professor de Língua Portuguesa em formação inicial e como ele constrói (re)
configurações sobre sua atividade. Para isso, faz-se uso do quadro teórico-
metodológico e analítico do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), pautado nos
escritos de Jean-Paul Bronckart (1999, 2006, 2008) e Anna Rachel Machado
(2004, 2007, 2009). Cumpre salientar que essa teoria parte dos pressupostos
do Interacionismo Social de Vygostsky, no que diz respeito à questão do
desenvolvimento humano, e das proposições de Bakhtin/Voloshinov, no
tocante à linguagem. Desse modo, a vinculação à teoria justifica-se pelo fato
de a linguagem ser entendida enquanto uma forma de produção social, a qual
permite aos homens não só desenvolverem representações acerca do contexto
no qual estão inseridos, como também intervirem nesse meio, modificando-o e
a si mesmo. No que diz respeito aos procedimentos metodológicos, conforme
Machado (2009), para se compreender o trabalho docente é necessário tomar
como objeto de análise não as condutas diretamente observáveis desses
profissionais, mas os textos que são produzidos acerca dessa atividade. Nessa
perspectiva, a pesquisa desenvolve-se em um contexto de estágio curricular –
preparação para a docência – em que os futuros professores, ao responderem um
questionário, têm a oportunidade de expressarem seus anseios e expectativas
quanto à sua profissão. Nesse caso, analisa-se como os textos produzidos no e
sobre o ensino de Língua Portuguesa, por estudantes de licenciatura em Letras de
uma universidade em específico, isto é, professores em formação inicial, podem
auxiliar na compreensão do trabalho docente. Sob esse viés, busca-se observar,
a partir da teoria do ISD, as relações entre linguagem e trabalho docente que

922
Painéis
Linguística aplicada

ocorrem num contexto discursivo, no qual se desenvolvem atividades sociais,


atividades de linguagem e ações de linguagem. Focalizam-se, desse modo, as
(re)configurações sobre o trabalho com ensino de língua materna construídas
durante a formação inicial e efetivadas, sobretudo, no estágio.

Palavras-chave: língua portuguesa; trabalho docente; formação inicial.

A imigração latino-americana em uma proposta


didática para o ensino de Espanhol/LE
Autoria: MARIA VITÓRIA DE ALMEIDA ATHAYDE

Este trabalho visa discutir acerca do processo de elaboração e organização


de uma proposta didática para o ensino de espanhol/LE a partir do tema La
inmigración, desenvolvida no contexto do projeto de iniciação científica,
intitulado “Organização de materiais didáticos para o ensino de língua espanhola:
articulando gêneros literários e multimodais”. No desenvolvimento do projeto,
fundamentado na perspectiva dos multiletramentos (ROJO; MOURA, 2012),
objetiva-se investigar a respeito da natureza das propostas didáticas, bem como
refletir sobre seu processo de elaboração, buscando articular gêneros literários
e multimodais com o intuito de promover o ensino de espanhol de forma crítica,
reflexiva e, portanto, mais significativa. Faz-se importante destacar que o conceito
de multiletramentos está vinculado, ao mesmo tempo, à multiplicidade cultural
das populações e à multiplicidade semiótica e multimodal dos textos, as quais em
muito caracterizam as sociedades urbanas, atualmente (ROJO, 2012, p. 13). Desse
modo, a questão desafiadora é estabelecer, em meio a toda a multiplicidade que
se faz presente na aula de língua, o lugar primordial dos gêneros literários, por
seu valor estético e caráter humanizador (CANDIDO, 1972), por ser a forma mais
elaborada e nobre da expressão linguística que se dá no interior de um contexto
social, histórico e cultural. Metodologicamente o trabalho está ancorado nos
princípios da metodologia qualitativa de caráter interpretativista (LÜDKE;
ANDRÉ, 1986), visto que tem foco no processo de ensino e se preocupa com a
perspectiva dos participantes. Tais características enquadram-se aos objetivos,
uma vez que a pesquisa é desenvolvida no contexto de um Centro de Línguas
universitário, enfocando a formação inicial de professores, a produção de sua

923
Painéis
Linguística aplicada

independência e o desenvolvimento de sua capacidade reflexiva. Com base


nos pressupostos teóricos, a proposta didática foi então construída a partir
do tema da imigração, objetivando promover discussões de cunho crítico e
social, por meio de diferentes gêneros e recursos como, por exemplo, canções,
pinturas e textos literários, de modo a buscar integrar as multissemioses e
multimodalidades. (Apoio: PIBIC/RT/2020 - 673)

Palavras-chave: propostas didáticas; ensino de espanhol; multiletramentos.

Contribuições do Role Playing Games escrito em


fórum no ensino de produção textual
Autoria: PABLO STELLA ROSA

O ensino de Língua Portuguesa, e mais especificamente o de Produção Textual,


é o objeto de investigação de diversas pesquisas em Linguística Aplicada. O
presente trabalho visa contribuir com os estudos da área ao passo em que propõe
o uso de um novo gênero textual em sala de aula: o Role Playing Games escrito
em fórum. Por meio do gênero proposto, busca-se promover o desenvolvimento
humano, em sentido vigotskiano, ao proporcionar um novo meio de interação
entre os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Objetiva-se ainda
desenvolver as capacidades de linguagem dos discentes e verificar, por meio
da coleta e análise de dados, as contribuições linguísticas do RPG escrito em
fórum em produções textuais. Desta forma, obter-se-á um corpus para investigar
como a interação rpgística pode contribuir para a ampliação de vocabulário,
de sentenças e de recursos coesivos. O quadro teórico-metodológico em que
se insere este trabalho é o Interacionismo Sociodiscursivo, uma abordagem
desenvolvida pelo Grupo de Didática de Genebra, do qual Jean-Paul Bronckart
coordenava e faz parte. O Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) engloba estudos
de diversos campos do conhecimento, tais como, Linguística, Educação,
Sociologia, Filosofia e Psicologia, tendo, portanto, a influência de pensadores
como Politzer, Spinoza, Hegel, Marx, Mead, Dewey, Bakhtin, Saussure e Vigotski.
O ISD, porém, não pretende fixar-se em nenhum desses campos, uma vez que
recusa a concepção positivista de divisão de áreas dentro das Ciências Humanas.
Nesse sentido, Bronckart (2009) apresenta o ISD como uma ciência do humano,

924
Painéis
Linguística aplicada

na qual a linguagem desempenha papel fundamental no desenvolvimento do


homem. Afinal, é por meio da linguagem que o sujeito é capaz de conhecer a si
mesmo, aos outros e o papel que exerce no mundo (DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO,
2010); é ainda por meio dela que o homem age, interage, produz e transmite
conhecimentos, conseguindo, assim, estabelecer as relações sociais.

Palavras-chave: linguística aplicada; interacionismo sociodiscursivo; RPG.

925
Painéis
Linguística computacional

Títulos de e-commerce: investigação de critérios


de qualidade
Autoria: BIANCA MOREIRA LOPES
Coautoria: JULIA TROVÓ CAETANO DE JESUS

Um grande desafio das plataformas de e-commerce é promover uma boa


experiência para os consumidores na interação com seus produtos. Garantir a
qualidade da informação presente em tais plataformas, como títulos e descrições
de produtos, tange a área de processamento de linguagem natural e linguística
computacional. O presente trabalho faz parte de um projeto maior que trata
da avaliação da qualidade de títulos de produtos disponíveis em e-commerces.
O primeiro passo deste projeto é entender quais critérios linguísticos são
relevantes para se considerar o título de um produto adequado nesse contexto.
Para tal, esta investigação contou com três etapas: definição de atributos
indicativos da qualidade dos títulos; produção de diretrizes gerais de anotação
e a anotação manual desses atributos em 600 títulos do corpus utilizado.
Trabalhos anteriores (UEFFING; DE SOUZA; LEUSCH (2018); DE SOUZA et al.
(2018)) apontam informatividade e correção dos títulos como características
essenciais para se ter um título de qualidade. Assim, foram elencados oito
critérios linguísticos (lexicais, sintáticos e semântico-pragmáticos) para a
avaliação da qualidade dos títulos. Foram considerados critérios de qualidade
os atributos: 1. o tipo do produto deve ser a primeira informação; 2. sintaxe
correta; 3. ortografia correta e 4. título deve ser suficientemente informativo
(é possível formar uma imagem mental do produto). Enquanto os critérios: 5.
presença de palavras duplicadas ou sinônimos; 6. presença de estrangeirismos
inadequados; 7. presença de informações irrelevantes, 8. presença de erro de
formatação, foram indicativos de potencial má qualidade. Finalmente, foram
definidas diretrizes para a realização do processo de anotação. Foram anotados
600 títulos de produtos disponíveis à venda no site Americanas.com durante
dezembro de 2020. Considerando o presente estudo, o título “Secador de Cabelo
Philco PH3400 Vermelho 1800W” é próximo do ideal, já que conta com a presença
dos quatro critérios de qualidade e com a ausência dos outros quatro critérios
indicativos de um título potencialmente ruim. Um exemplo de título considerado

926
Painéis
Linguística computacional

inadequado é “Balde Mop Esfregão Com Cesto Inox Cabo 1,60 Metros Com 3 Refis
Microfibra, Limpeza Pá, Limpeza Pesada”, que contém informações irrelevantes,
palavras duplicadas ou sinônimos e não apresenta sintaxe adequada. A principal
contribuição deste trabalho é criar critérios confiáveis e reproduzíveis para a
avaliação da qualidade de títulos de produtos. O próximo passo é a aplicação
destes critérios em um corpus de títulos mais abrangente com finalidade de
entender quais destes critérios impactam na experiência do consumidor de
plataformas de e-commerce.

Palavras-chave: anotação de corpus; processamento de linguagem natural;


e-commerce.

Compilação de um corpus do Nheengatu para o


processamento de linguagem natural
Autoria: DOMINICK MAIA ALEXANDRE
Coautoria: LEIDIANA IZA ANDRADE FREITAS

O processamento automático das línguas naturais tem se tornado cada vez mais
relevante para o desenvolvimento de novas tecnologias. Línguas minoritárias,
como as línguas indígenas brasileiras, muitas destas ameaçadas de extinção,
ainda carecem de recursos destinados ao processamento de linguagem natural
(PLN). A etiquetagem morfossintática (POS tagging em inglês) é uma das etapas
iniciais do PLN e consiste em atribuir uma etiqueta morfossintática a cada
palavra de um dado corpus. No presente trabalho, compilamos um corpus da
Língua Geral Amazônica (LGA), ou Nheengatu, especificamente para posterior
utilização na construção de um etiquetador morfossintático para o sintagma
nominal da LGA, mas com potencial de ser utilizado em outras tarefas de PLN.
A existência de corpora anotados é uma condição básica para a construção
de ferramentas voltadas para o processamento automático de textos. Assim,
este trabalho, além de preencher uma lacuna na linguística de corpus, contribui
para a preservação da LGA, uma vez que o tratamento computacional a inclui
no atual contexto tecnológico dos estudos linguísticos e possibilita a testagem
da consistência de descrições gramaticais já existentes. Para a construção
do corpus, primeiro compilamos todos os textos e exemplos das lições de

927
Painéis
Linguística computacional

Navarro (2011). Em seguida, compilamos o glossário de Navarro (2011) em uma


tabela que poderá ser convertida para uma estrutura de dados em Python,
do tipo dicionário. Por meio de programas implementados nesta linguagem
de programação, a tabela está sendo acrescida, ainda, com todas as formas
flexionadas das classes de palavras que ocorrem no sintagma nominal do
Nheengatu, segundo Navarro (2011) e Cruz (2011). Na última versão desta tabela,
a cada item lexical da lista está atribuída uma etiqueta relativa à sua classe
gramatical. Apesar do escopo limitado deste trabalho, o corpus compilado,
somado ao dicionário, poderá ser utilizado em pesquisas futuras, como no
desenvolvimento de etiquetadores morfossintáticos e de outras ferramentas
de PLN, que mais tarde serão disponibilizados sob licença livre à comunidade
acadêmica.

Palavras-chave: Processamento de Linguagem Natural; línguas indígenas;


nheengatu.

Identificação das construções com os verbos


suportes substantivos predicativos dar, fazer e ter
com intenção avaliativa para análise quantitativa
Autoria: JULIA TROVÓ CAETANO DE JESUS

O advento da internet e o desenvolvimento de novas tecnologias permite, que


cada vez mais, interações humanas de diversos tipos sejam concretizadas
em ambiente on-line, causando crescimento considerável no número de
usuários de websites e outros recursos. A necessidade atual de isolamento
social causada pela pandemia do COVID-19, contribuiu ainda mais para a
aceleração do processo de digitalização de negócios, facilitando a interação
de fornecedores de produtos e serviços com potenciais consumidores. Nesse
cenário, os e-commerces, lojas eletrônicas on-line, ganham grande potência,
visto a impossibilidade de atividades presenciais. Levando em consideração
a importância dos e-commerces para a cadeia de consumo no contexto de
pandemia, este trabalho descreve o processo de identificação das construções
com verbo suporte substantivo predicativo que tenham intenção avaliativa

928
Painéis
Linguística computacional

no corpus de reviews de produtos da Americanas, a fim de se identificar as


estruturas com mais ocorrências (análise quantitativa) nesse contexto, e, dessa
forma, contribuir para a melhor compreensão da percepção dos usuários sobre
os produtos vendidos nessa loja, e possivelmente, possibilitar à empresa tomada
de ações que melhorem a experiência de seus consumidores. As construções
com verbo-suporte são formadas por um verbo que funciona como verbo-
suporte (Vsup) e por um nome predicativo (Npred). Nas construções com verbo-
suporte, o elemento predicador central é o Npred, substantivo abstrato que
impõe restrições de argumentos, sendo assim o Vsup funciona como auxiliar
nominal, para veicular as marcas gramaticais de tempo, modo, aspecto, pessoa
e número (RASSI, Amanda Pontes et al. Um corpus anotado de construções
com verbo-suporte em Português. Gragoatá, Niterói, n. 38, p. 207-230, 1. sem.
2015). Neste trabalho, a análise quantitativa de ocorrência com Vsup limita-
se às construções com os verbos-suporte dar, fazer e ter, visto que eles são
considerados verbos suportes elementares e, no corpus utilizado, eram os verbos
que se enquadraram como suporte. Este trabalho se enquadra dentro da área de
Processamento de Linguagem Natural, no que concerne à descrição linguística
para recursos computacionais e se faz relevante para o processamento de
texto, construção de base para recursos de PLN (Processamento de Linguagem
Natural) e análise de sentimentos.

Palavras-chave: verbo suporte; Processamento de Linguagem Natural; anotação


manual de corpus.

929
Painéis
Linguística de córpus

Construção de um corpus de minibiografias de


currículos
Autoria: ESTHER DA CUNHA SOARES

A análise de currículos é um processo fundamental para empresas selecionarem


seus novos funcionários. Considerando a diversidade de currículos, tal processo
costuma ser manualmente realizado por especialistas da área. Ainda que muitas
empresas optem pelo recebimento de currículos semiestruturados, através de
formulários, a maioria destes formulários tem pelo menos um campo no qual
o candidato pode escrever um texto livre. Geralmente, esse campo é chamado
de minibio (minibiografia do candidato) e pode conter diferentes tipos de
informação, como interesses do candidato, formação e habilidades que ele
gostaria de ressaltar. Este trabalho é parte de um projeto maior que visa extrair
automaticamente essas informações de currículos. Aqui apresentaremos o
processo de construção de um corpus anotado de minibiografias de candidatos.
Como passo inicial, analisamos um conjunto de minibios disponíveis em vários
formatos. Estes formatos incluem: Perfis na Gupy, um software de Recrutamento
e Seleção; Resumos no LinkedIn, uma rede social de negócios; e o campo
“Minibio” presente em diferentes currículos disponibilizados em .pdf pelo próprio
candidato. Identificamos quais tipos de informação apareciam nestes campos
e estudamos suas estruturas linguísticas. Depois de analisar em torno de 500
documentos, concluiu-se que o conteúdo de cada campo diferia em relação ao
suporte no qual o texto estava inserido (MARCUSCHI, 2013). Considerando, então,
que estávamos lidando com gêneros textuais diferentes, optou-se por construir
um corpus anotado com documentos de apenas um suporte. Trabalhamos
com o LinkedIn, por ser o suporte onde encontrava-se minibios com uma maior
variedade de informações. Finalmente, categorizamos as informações mais
recorrentes em tais minibios. São elas: Grau de Escolaridade, Cursos, Instituições
de Ensino, Soft Skills (habilidades sociocomportamentais e intangíveis),
Ferramentas (habilidades facilmente comprováveis com ferramentas, como
o Excel), Cargo e Função, Grande Área e Empresas (lugares onde o candidato
tenha obtido experiência prévia). Para este trabalho anotou-se 100 resumos
do LinkedIn utilizando estas etiquetas. Para a anotação foi usada a ferramenta

930
Painéis
Linguística de córpus

Prodi.gy. O futuro deste trabalho é continuar a construção desse corpus. Para


tal será necessário analisar as informações mais frequentes presentes nos
demais suportes e currículos. O objetivo final da construção desse corpus é
servir de base para a criação de um modelo no contexto do processamento
de linguagem natural capaz de extrair as informações relevantes de cada um
desses suportes. (Apoio: B2W Digital)

Palavras-chave: currículos; linguística textual; corpus.

Resultados parciais do estudo sobre o modo irrealis


no português falado no Libolo/Angola
Autoria: ISABELLA MATOS RODRIGUES

Neste trabalho, apresentam-se os resultados parciais sobre o estudo do


modo irrealis no português falado no município do Libolo, Angola, daqui em
diante PLb. A partir de corpus de fala espontânea e informal — coletado e
disponibilizado por pesquisadores do “Projeto Libolo” (FIGUEIREDO; OLIVEIRA,
2016) — e de dados publicados em estudos sobre o PLb, foi organizado um
banco de dados para identificar a marcação morfossintática das categorias
subjuntivo, condicional e futuro (que será tratado na pesquisa como ‘modo’
e não como ‘tempo’), com fins de descrição e análise iniciais do irrealis nesta
variedade de português. Considerando que o modo irrealis “encontra-se no
escopo do pensamento” (MITHUN, 1999, p. 173, traduzido) sendo associado à não
factualidade e à irrealidade, o arcabouço teórico seguido nesta pesquisa enfatiza
questões relacionadas à factualidade das orações. No estudo, prevemos um
cotejo com variedade de português falada no interior de São Paulo, baseando-
nos no trabalho sobre irrealis de Oliveira e Zanoli (a sair), que enfoca uma área
do interior de São Paulo atestada como uma das áreas em que o kimbundu (uma
língua angolana ainda hoje falada na área do Libolo) foi bastante falado nos
idos de seiscentos. Os resultados analisados a partir do banco de dados, que
já se constitui de 42 sentenças com o irrealis, atestam que, nessa área de fala
de português, há ausência de flexão das categorias analisadas. Tais resultados
parecem evidenciar a “dificuldade” de falantes envolvidos em mudança de língua

931
Painéis
Linguística de córpus

para codificar o modo irrealis, fato já antes observado em pesquisas como a de


Bahler (2019). Esse caso foi proposto para a variedade de português falado no
interior de São Paulo - que resulta de mudança da Língua Geral de São Paulo
para o português (conforme Oliveira e Zanoli, a sair) - e parece se dar também
no português falado no Libolo, Angola, introduzido tardiamente nessa área de
fala do kimbundu. Esta pesquisa, portanto, pretende contribuir não apenas
para a ampliação dos estudos linguísticos sobre o português falado em Angola
como também com o cotejo com outras variedades de português.

Palavras-chave: linguística de contato; irrealis; Angola.

932
Painéis
Linguística e interfaces

Memórias corporificadas: análise de narrativas de


traumas e experiências
Autoria: BEATRIZ DOS REIS SILVA

Apresentação de um trabalho que permeia conceitos de memórias, lembranças,


performances e identidade à luz de uma perspectiva corporificada da memória
(embodied memory) (HYDEN, 2013) e a partir do trabalho metodológico de
construção e de análise de um corpus de narrativas. As narrativas foram
produzidas por membros de uma mesma família e tiveram como foco ou
motivador de suas performances narrativas da infância interiorana. As narrativas
foram geradas por meio de entrevistas, a partir de um roteiro inicialmente
elaborado e registradas com equipamentos audiovisuais (fotos, filmagens e
gravações em áudio). Ao analisar essas narrativas corporificadas, foi possível
reconstruir uma performance corporal que dá materialidade linguística e
corporal a distintas versões em narrativa recriando o passado e suas lembranças
com um emaranhado de silêncio, alegria, dor, ausência, superação, trauma e
luto refletidos no presente, que também serão analisados sob um viés teórico-
poético do ramo da Narratologia. A narrativa, o ato de narrar e o corpo de quem
narra podem ter como impulso motor diversas situações e sentimentos. Pode
ser motivada por uma perda, um trauma, uma alegria, um assunto ordinário, um
impulso sensorial. Diversas são as questões que devemos levar em conta quando
vamos analisar e tentar compreender uma performance narrativa. O que pode
ser insignificante para um que conta um evento passado vivido coletivamente
pode ter um significado enorme para outro, ainda que sejam motivados por
um mesmo acontecimento. Nesse caso, as várias versões do acontecimento já
nos desautorizam a dizer que se trata de um mesmo acontecimento. Vivências
comuns e versões diversas das formas de narrar esse passado comum são o
que move esta pesquisa sobre as narrativas da família Silva. Os integrantes
dessa família compartilham muitas memórias comuns, mas em cada um deles
produzem versões narrativas próprias da experiência de uma infância coletiva.
Durante um período de dois meses acompanhei e registrei narrativas sobre essa
infância aos membros dessa família e gravei suas performances em vídeo, que

933
Painéis
Linguística e interfaces

posteriormente foram transcritas multimodalmente (MONDADA, 2016; CRUZ,


2018) e que atualmente fazem parte de um corpus que será analisado dentro
do campo da Literatura, sendo este trabalho uma pesquisa híbrida.

Palavras-chave: memória; narrativa; performance.

A infância das espécies: a questão ontogenia-


filogenia para a biolinguística
Autoria: FERNANDO VALLS YOSHIDA

Esta pesquisa objetiva o estabelecimento de paralelos conceituais entre a Biologia


e a Linguística, sendo os conceitos de ontogenia e filogenia a interface de contato.
Como objetivo específico, tem-se a proposição de uma leitura historiográfica
da Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento à luz da Linguística. Trata-se de
uma pesquisa de caráter descritivo e especulativo, na medida em que reveza a
apresentação e discussão historiográfica em Biologia, estabelecendo as devidas
correlações com a Linguística, e a proposição de paralelos conceituais entre as
áreas. O procedimento metodológico se fundamenta na revisão da literatura e
na articulação de evidências. O fim da infância (do latim, ausência de fala) possui
duas acepções: em termos de ontogenia (aquisição de linguagem) e em filogenia
(surgimento da linguagem no gênero Homo). É de interesse desta pesquisa o fato
de que estes termos são empregados também na Biologia. Em contexto da teoria
darwiniana nascente, Ernst Haeckel propôs que a ontogenia é a filogenia: as
etapas do desenvolvimento embriológico recapitulam a progressão da filogenia.
Para a Linguística, isso implicaria na aquisição como um espelhamento do
processo evolutivo que culminou na faculdade da linguagem (FL) em Homo.
Selecionadas evidências fisiológicas e cognitivas (HAUSER; CHOMSKY; FITCH,
2002) ajudariam a sustentar essa proposta (e.g., altura da laringe em infantes
humanos e em chimpanzés). Ao começo do séc. XX, a Lei Biogenética passou
a cair em descrédito e a Evolução, a se somar à Genética. O entendimento do
genoma como o repertório de entidades mensuráveis, combináveis e herdáveis
pode ser colocado em paralelo à Gramática Universal (GU), que explica a
aquisição como a derivação de princípios inatos, e o surgimento da FL como
uma novidade evolutiva, rompendo a lógica recapitulacionista. De meados do

934
Painéis
Linguística e interfaces

séc. XX ao XXI, a descoberta da grande preservação genética entre as espécies


e o avanço da Genética Molecular limitaram a ideia de gene do neodarwinismo
ortodoxo, motivando frentes como a Biologia Evolutiva do Desenvolvimento (Evo-
Devo). Para a Linguística, o desenvolvimento da Biolinguística impôs restrições
à riqueza da GU, de modo que a Linguística hoje se dedica a adequar a aquisição
à viabilidade biológica da FL. Referências: HAUSER, M.; CHOMSKY, N.; FITCH, W.
T. The faculty of language: What is It, who has it, and how did it evolve? Science,
v. 298, 2002, p. 1278-1280. (Apoio: CNPq – Processo: 303461/2017-9)

Palavras-chave: biolinguística; linguística evolucionária; aquisição de linguagem.

Turismo Literário: caracterização e cenário brasileiro


Autoria: MARIA CECÍLIA VADENAL FERREIRA PIRES

O Turismo Literário é uma vertente na qual os turistas apresentam motivação


baseada em obras ou eventos literários. Dessa forma, seu desenvolvimento
auxilia na troca cultural entre turistas e autóctones, o que impulsiona a difusão
de uma linguagem ou língua. Isso ocorre porque a viagem motivada por obras
literárias demonstra-se eficiente para a difusão da cultura e da linguagem local,
já que essas particularidades também são percebidas durante a leitura. O
principal objetivo desta Iniciação Científica, orientada pela Profa. Dra. Monica
Caron e financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), é caracterizar o Turismo Literário a fim de colaborar
com uma possível implementação estruturada no Brasil. Como caso de âmbito
nacional, analisamos Monteiro Lobato/SP, localizada no Vale do Paraíba, cidade
que explora as obras de Monteiro Lobato por meio do Festival de Literatura
Infantil Monteiro Lobato e de políticas públicas em escolas municipais e na
biblioteca municipal. Como recursos metodológicos, propomos uma análise
de documentos e referências sobre o Turismo Literário, a cidade de Monteiro
Lobato, a educação literária e a leitura no Brasil. Após o cancelamento do evento
literário de 2020 devido à pandemia mundial de Covid-19, e a falta de perspectiva
sobre a realização em 2021, não haverá possibilidade de realização do estudo de
campo proposto no projeto, o que não inviabiliza a pesquisa. A precariedade do
ensino linguístico brasileiro configura-se numa barreira para o desenvolvimento

935
Painéis
Linguística e interfaces

dessa vertente. De acordo com Ferreira e Dias (2002), no artigo “A escola e o


ensino da leitura”, durante a educação formal os alunos não são incentivados a
se tornarem “sujeitos-leitores”, mas apenas a decodificar textos sem estabelecer
vínculos afetivos. Além disso, segundo Machado (2010) em “Análise de políticas
públicas para bibliotecas no Brasil”, há uma carência nas ações relacionadas
ao acesso a livros, a qual produz um escasso sistema de bibliotecas no Brasil.
De Carvalho (2009) também destaca, em sua dissertação “Turismo Literário e
redes de negócios: passear em Sintra com Os Maias”, a massificação da escrita
e da cultura como causa para o distanciamento da literatura e do público em
geral. Em resumo, apesar das barreiras do ensino literário, o Turismo Literário
demonstra-se como um meio informal de difusão do ensino linguístico e tem
a capacidade de fomentar o interesse cultural e literário. Por fim, a demanda
turística estimula o estudo linguístico em ambientes, bem como incentiva
investimentos públicos de linguagem e da literatura.

Palavras-chave: turismo literário; difusão literária; leitura.

Um estudo exploratório da notação de gestos e


ações corporificadas em interações com crianças
autistas
Autoria: NATALIA ZANONI ANDREATTO

Este trabalho de Iniciação Científica, realizado entre 2018 e 2019 e financiado


pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC- Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), sistematiza alguns
procedimentos de pesquisa que ilustram a forma como tratamos metodológica
e analiticamente as interações entre crianças com TEA (Transtorno do Espectro
do Autismo) que acontecem sem a presença da linguagem verbal. Nossos
referenciais teóricos se inscrevem nos estudos da multimodalidade da interação
produzidos a partir de uma perspectiva corporificada (STREECK; GOODWIN;
LeBARON, 2011; MONDADA, 2018). Esta perspectiva assume que construímos
os espaços interacionais multimodalmente e que uma ação (verbal ou não) é
construída graças a uma ecologia de sistemas semióticos, estruturalmente

936
Painéis
Linguística e interfaces

distintos entre si, mas intrinsecamente relacionados (GOODWIN, 1986, 2010).


A partir de um corpus audiovisual de interações envolvendo crianças com TEA
(Corpus Ao mínimo gesto), foram selecionados 3 momentos de interações de
crianças autistas que frequentam uma instituição de convivência. Destacamos
para análise os movimentos corporais que não foram acompanhados da fala.
Utilizamos como notação e representação de gestos o sistema de transcrição
multimodal proposto por Mondada (2014) e o software ELAN (WITTENBURG
et al., 2006). Em seguida, fizemos um exercício de representar as posturas
corporais e movimentos das mãos com o sistema Laban (1978). Corroboramos
com estudos sobre TEA que indicam que movimentos corporais como gestos
de mão, direcionamento de olhar e posturas corporais são aspectos relevantes
para um entendimento e descrição do comportamento sociointeracional no TEA
(KORKIAKANGAS; RAE, 2014; DINDAR et al., 2015; OCHS, 2015). Este trabalho
sugere que o estudo de notações e representações de gestos e movimentos de
interações de crianças autistas é um grande potencializador de visibilidade de
várias sociabilidades possíveis. (Apoio: FAPESP - Processo 2018/07565-7; CNPq -
Processo 405091/2018-4; Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal
de São Paulo, Campus Guarulhos (UNIFESP), CAAE 59128416.3.000.5505)

Palavras-chave: transtorno do espectro autista; interação corporificada.

937
Painéis
Literatura brasileira

A relação entre história e literatura através de


contos: a escravidão e suas contradições
Autoria: ARIANE BARBOSA GARCIA

No presente projeto de pesquisa, será apresentado, a partir da relação discursiva


entre história e literatura, uma análise da representação da escravidão em contos
brasileiros em uma perspectiva cronológica, mostrando a visão de Maria Firmina
dos Reis, Machado de Assis e, por fim, Monteiro Lobato que participaram de
uma sociedade escravocrata até sua abolição ao retratarem esse momento
em A escrava, Pai contra mãe e Negrinha respectivamente. A questão que é
construída aqui é como a história do Brasil interferiu na literatura através desses
contos e qual é a mensagem que estes contos eternos - que devem ser vistos
como importantes fontes históricas para entender a sociedade escravocrata do
século XIX – passam ao leitor contemporâneo. Ademais, todos os contos que
foram escolhidos têm como símbolo da escravidão personagens femininas que
possuem representação e posição distintas no discurso de cada autor. A história
e a literatura desde o começo dos tempos foram escritas em sua grande maioria
por homens que não se preocuparam em estabelecer a posição da mulher ou
dar voz a ela, entretanto, muitos dos textos literários que possuem a temática
escravista, apresentam, muitas vezes, como símbolo da escravidão uma mulher.
Dessa forma, o objetivo é apresentar uma análise crítica através da relação dos
discursos literário e histórico, apontando os diálogos entre a história e a literatura
e a visão de contexto sócio-histórico de cada autor através de sua memória
discursiva para que assim seja possível encontrar as similitudes e contradições a
respeito do período de escravidão no Brasil, além de analisar como a mulher negra
é representada em cada um dos contos, estabelecendo a reflexão sobre o papel
da mulher na história do país. Para que isto seja possível, serão utilizados, como
aparato teórico, aspectos da estilística da frase e da enunciação, principalmente
em Martins (1989) e teorias de análise do discurso e do interdiscurso, segundo
Maingueneau (2008, 2015), Fiorin (2006), além de estudos aprofundados sobre o
período da escravidão em Gomes (2019), Lara (1988), Ribeiro (2006) e Nascimento
(2016) e como a literatura era presente na época em Bosi (2017) e Candido (1995).

Palavras-chave: escravidão; contos; análise do discurso.

938
Painéis
Literatura brasileira

Milton Hatoum na educação básica: uma


proposta de trabalho com o romance brasileiro
contemporâneo Cinzas do Norte
Autoria: LUIZ CARLOS SILVA DE LIMA
Coautoria: MARIANA DARÉ VARGAS CAMPOS

O ensino de literatura é de grande importância para o desenvolvimento do(a)


estudante, pois o texto literário é fonte de conhecimento e de partida para o
ensino e a aprendizagem. Ensinar literatura é ensinar a viver em comunidade,
bem como outros aspectos que formulam e caracterizam o(a) cidadão(ã), a
saber: a) a cultura regional e a cultura nacional; b) o estudo comparativo e livre
de preconceitos dessas culturas e com, até mesmo, outra cultura nacional;
c) a formação ética do(a) cidadão(ã), resultado desses diálogos culturais; d) a
formação discursiva com potência crítica, na qual se busca entender as partes que
compõem o texto literário, tais como, histórica, geográfica, filosófica, psicológica,
dentre outras, voltadas não apenas à decodificação do texto; e) o sentido do
coletivo, desvinculando-se do papel fragmentado das grades disciplinares e
voltando-se à interdisciplinaridade, em que o conhecimento é trabalhado em
ação coletiva formada de professores(as) e alunos(as); f) a formação crítica do(a)
educando(a), base para a construção do saber, sem o foco no ensino historiográfico
da literatura, tampouco a vinculação, somente, ao ensino da gramática da língua
brasileira (BRASIL, 1998; BRASIL, 2002; BRASIL, 2006; BRASIL, 2012; BRASIL, 2017;
SÁ; FRANCA, 2019; ARAÚJO; FERREIRA; CARVALHO, 2019; ALMEIDA; LIMA;
SILVA, 2019). Cientes da importância de envolver os discentes com a disciplina
de Literatura no contexto escolar, o objetivo desta comunicação é apresentar
uma atividade realizada na disciplina de Literatura Brasileira, da graduação em
Letras Português/Inglês, de uma faculdade privada do interior do estado de São
Paulo, na qual foi proposto um projeto literário com o romance Cinzas do Norte,
do escritor brasileiro contemporâneo Milton Hatoum, para os(as) alunos(as) do
2º ano do Ensino Médio. O projeto, intitulado “O comunicar a partir da história
e do espaço”, desenvolve-se em seis aulas e propõe um trabalho pedagógico
interdisciplinar com as disciplinas de Português, História e Geografia.

Palavras-chave: ensino de literatura; Milton Hatoum; ensino médio.

939
Painéis
Literatura clássica

Quando o furor erínico (re)veste o maravilhoso: a


narrativa delirante de Akaki Akakievitch em “O capote”
Autoria: FRANCISCA JÚLIA DA SILVA SOARES

O fantástico, movimento ligado à arte literária, resguarda uma densa explicação


para conceituar e avaliar sua presença ao longo dos tempos. Inscrevendo-se
como uma ilusão, fabricação da imaginação, desestabiliza as leis do mundo,
ou, ao supor que tal fenômeno é parte histórica da humanidade, perpassando
o que pode ser tateado, todo o percurso humano revela-se desconhecido. É
esse ditame da incerteza que torna o fantástico uma vacilação experimental, a
partir qual o indivíduo desconhece as leis naturais, mediante a erupção de um
evento sobrenatural. Os mistérios paradoxais, o inadmissível ato narrado e os
seres inexplicáveis são uma forte presença nas obras literárias que apresentam
o utópico, introduzindo aspectos (a)normais da civilização. Sob tais moldes,
a literatura russa mostra-se afeita a essa economia narratológica, capaz de
vivificar personagens que ultrapassam a vida comum e atormentam a existência,
que prosseguiu sem eles. É digno de reconhecimento o célebre trabalho do
engenhoso Nikolai Gogol, no assombroso e extraordinário conto "O capote"
(1842), que encerra o drama de Akaki Akakievitch, conselheiro tutelar que
atuava como escriturário. Sua vida dignou-se a esse serviço, até que, por furos
do destino, sua veste, o capote, deixa-o em situação desfavorável, passando por
excêntricas mudanças. O presente trabalho objetiva examinar o comportamento
da figura Akaki, numa perspectiva de efeito do fantástico e do maravilhoso,
cujos empreendimentos estéticos se abrem aos ouvidos da Psicanálise. Como
referencial analítico, utilizamos a Nova antologia do conto russo (2011), de
Gomide e, em termos teóricos, recorremos às discussões acerca da fantasia
(2007), promovidas por J.-D. Násio, para explorar a conduta do protagonista. Por
fim, o conto dialoga com as regências de escritos fantásticos. A mudança no
roteiro das ações, que mudam a vida do escrivão, possibilita reconhecer, assim,
uma conciliação entre o fantástico e o realismo, fornecendo um sentimento (in)
familiar e, mediante a insurgência de uma situação nova, algo súbito, inóspito
e fabuloso.

Palavras-chave: literatura russa; psicanálise.

940
Painéis
Morfologia

Revisitando o estatuto categorial do advérbio a


partir de uma perspectiva sintática de formação
de palavras
Autoria: BIANCA AGRELLI RODRIGUES

Este trabalho se insere no escopo dos estudos que investigam a interface


entre morfologia e sintaxe e pretende recolocar em discussão a natureza da
categoria como primitivo teórico. Para tanto, tomamos como domínio empírico
advérbios em contextos, nos quais eles se superficializam com a mesma forma
morfofonológica do adjetivo, como em (i) O aluno rápido terminou a prova e
(ii) O aluno chegou rápido. De maneira geral, a classe dos advérbios é considerada
bastante heterogênea. Do ponto de vista da gramática tradicional (cf. BECHARA,
2004; ALMEIDA, 2001; CUNHA, 1986), por exemplo, há uma variedade de critérios
utilizados na sua definição, tais como, semântico, morfológico e sintático e não
é raro encontrar casos de advérbios que não se comportam como a definição
proposta pela tradição gramatical. Do ponto de vista da literatura linguística,
também não há um consenso sobre a natureza do advérbio, uma vez que tal
rótulo engloba elementos de complexidade interna variada (ALEXIADOU, 1997;
ADGER, 2004; LIMA, 2010). Especificamente no que diz respeito aos advérbios
que não apresentam distinção morfológica em relação aos adjetivos, alguns
autores na vertente lexicalista defendem que tais formas são, de fato, advérbios
que se transformaram a partir de bases adjetivais via Conversão Morfológica
(BASÍLIO, 2007). Contra essa visão, neste trabalho propomos, a partir do quadro
teórico da Morfologia Distribuída (HALLE; MARANTZ, 1993; MARANTZ, 1997),
doravante MD, que o fato de a mesma forma morfofonológica se realizar ora
como adjetivo, ora como advérbio é evidência, na verdade, de que a categoria
não é uma propriedade lexicalmente codificada, mas definida no componente
sintático através dos diferentes elementos envolvidos nas operações de Merge.
O quadro da MD abre uma perspectiva interessante de análise para os dados
relevantes ao propor que formação de palavras e sentenças acontece no mesmo
componente e através dos mesmos mecanismos. Dessa forma, na esteira de
autores que defendem que não há translinguisticamente uma fronteira clara entre

941
Painéis
Morfologia

adjetivos e advérbios (ALEXIADOU, 1997; ADGER, 2004), propomos que o lugar


sintático de anexação dessa formação é responsável pelas diferentes leituras
ou categorias. Dessa mesma forma, as diferentes alturas sintáticas resultam
em diferentes relações estruturais, que podem ser reveladas: (a) nas diferentes
possibilidades de linearização e nos diferentes padrões de concordância, sendo
que a ausência de concordância nos advérbios é, na verdade, decorrente de
uma falha na busca de um alvo disponível para Agree (CHOMSKY, 1999), o que
resulta na superficialização default masculino e singular.

Palavras-chave: advérbio; adjetivo; morfologia distribuída.

Defectividade como uma janela para a arquitetura da


gramática: formas verbais inefáveis do português
Autoria: GIULIA YOKOMIZO GIRARDI

Defectividade define-se como a ausência de uma ou mais células de um


determinado paradigma. Trata-se de um fenômeno comum entre as línguas,
de modo que sua ocorrência se dá de forma mais recorrente entre os verbos,
mas não se limita a eles e estende-se a paradigmas pronominais (STUMP, 2010)
e nominais (SIMS, 2015). No Português Brasileiro (PB), a defectividade associa-
se aos paradigmas verbais em exemplos clássicos como abolir e falir. Tomando
como base as análises dos paradigmas defectivos em Hetzron (1975), Albright
(2003, 2009), Arregi e Nevins (2014), Stump (2010), Oliveira (2017) e Scher (2019),
este trabalho investiga o comportamento dos verbos defectivos no PB. Nesse
sentido, parte do exame do ponto de convergência entre os verbos descritos
como defectivos, impessoais e unipessoais pela Gramática Tradicional (já que
os dois últimos grupos também apresentam lacunas na realização de seus
paradigmas) e busca analisar a diferença entre a definição de defectividade
proposta pela gramática tradicional e o uso real do paradigma defectivo na
língua falada, além dos fatores que motivam tal divergência. A questão central
da pesquisa, no entanto, remete à correspondência entre paradigmas defectivos
e paradigmas regulares e irregulares do PB e, tendo como referencial teórico o
modelo da Morfologia Distribuída, procura-se precisar se a similaridade atestada
entre eles se estende a questões de arquitetura da gramática propostas por esse

942
Painéis
Morfologia

modelo. Em seus resultados iniciais, a pesquisa revela que o mesmo padrão de


organização dos itens de vocabulário flexionais para os verbos regulares também
pode ser verificado nos irregulares e nos defectivos, ou seja, a aplicação, ou não,
de uma operação morfológica às células flexionais nos verbos regulares, se
repetirá nos verbos irregulares e defectivos. Dessa maneira, a pesquisa lança
um novo olhar sobre a relação entre as propriedades dos traços que compõem
o paradigma flexional verbal no PB, de modo a investigar, especificamente, a
influência da configuração dos traços na ocorrência da irregularidade ou da
defectividade.

Palavras-chave: paradigmas verbais; verbos defectivos; morfologia distribuída.

Os lapsos de fala morfológicos no português brasileiro:


uma análise a partir da óptica da produtividade
Autoria: STELA TERRIBILE

Os lapsos de fala, segundo Fromkin (1973), são enunciados que apresentam um


desvio em relação ao que o falante pretendia comunicar. Por serem fenômenos
linguísticos, os lapsos podem manifestar-se em diferentes níveis, acometendo
fonemas, morfemas, palavras ou sentenças. Nessa perspectiva, Espadaro (2018)
divide-os em lapsos semânticos, lapsos fonológicos, blends, lapsos gramaticais
e lapsos morfológicos. Neste resumo, propomos a investigação do último tipo
de lapso, ou seja, os lapsos morfológicos, em que o segmento afetado envolve
um morfema, tal como uma raiz, um prefixo ou um sufixo. Nosso principal
objetivo é compreender os efeitos da produtividade das regras morfológicas
no momento de ocorrência do lapso: a maior ou menor produtividade de
um comportamento gramatical pode ter algum efeito nos padrões de lapsos
morfológicos encontrados na fala de falantes brasileiros? Como substrato ao
estudo, abordamos dois tipos diferentes de lapsos no português brasileiro,
nomeadamente: aqueles que acometem as formas de primeira pessoa do singular
do presente do indicativo de verbos de terceira conjugação - Eu mido (Eu meço)
e Eu pido (Eu peço) - e aqueles que envolvem regularização do paradigma da
primeira conjugação do presente do indicativo - Eu comei (Eu comi) e Eu quase
morrei (Eu quase morri). A partir desse material, investigamos a plausibilidade

943
Painéis
Morfologia

da interferência da produtividade das regras gramaticais mais tipicamente


aplicadas nesses contextos. Nos lapsos Eu mido e Eu pido, utilizamo-nos do
fenômeno da harmonia vocálica, descrito por Schwindt e Quadros (2009)
como a “concordância entre a altura da vogal acentuada da raiz e a altura da
vogal temática na primeira pessoa do presente do indicativo e em todas as
formas do presente do subjuntivo”, para verificarmos se a aplicação dessa regra
em diferentes contextos influenciou os lapsos. E, no caso das formas comei
e morrei, valemo-nos dos estudos da produtividade da primeira conjugação
do PB (FREITAS, 2015) bem como do modelo Rules and Competition (YANG,
2002) para investigarmos se tais circunstâncias propiciaram a ocorrência dos
lapsos. Por fim, procuramos sustentar essa investigação, em termos teóricos,
com os pressupostos da Morfologia Distribuída (HALLE; MARANTZ, 1993) e,
empiricamente, com evidências encontradas na fala de crianças durante fase
de aquisição da linguagem. Como resultados preliminares, sugerimos que esses
lapsos ocorrem em contextos de baixa produtividade morfológica - verbos de
terceira conjugação e paradigmas de verbos defectivos - e reflete a tentativa
do falante de seguir padrões regulares e produtivos da língua. (Apoio: CNPq -
Processo: 2020-1695)

Palavras-chave: lapsos de fala; produtividade morfologia distribuída.

944
Painéis
Neurolinguística

Descrição e análise de repetições em interações de


duas crianças com transtorno do espectro autista
Autoria: LARISSA GABRIELA TAVARES MEIRA

Nesta pesquisa, desenvolvida sob orientação da Profa. Dra. Fernanda Miranda


da Cruz e co-orientação da Profa. Dra. Ana Carina Tamanaha, investigamos
ocorrências de repetições na fala de duas criança com TEA, levando em
consideração o ambiente interacional e sequencial em que emergem. O autismo
é descrito clinicamente como uma condição que afeta o desenvolvimento
neurocognitivo e que compromete, em formas e graus distintos, o engajamento
do sujeito na construção conjunta da atenção, das ações e na participação em
interações sociais (LAI; BARON-COHEN, 2014). Esta pesquisa desenvolveu-se no
quadro do projeto “Ao mínimo gesto: Estudos dos recursos multimodais (aspectos
verbais, gestos, corpo e mundo material) nas interações envolvendo crianças
com TEA” (FAPESP 2018/07565-7), coordenado pela pesquisadora Fernanda Cruz
e que se dedica a compreender papéis que gestos e corpo desempenham nessas
interações. Os dados para a realização do estudo de caso a ser apresentado foi
gerado de interações naturalísticas entre pai e filho autista durante atividades
de consulta e terapia realizadas no Núcleo de Investigação Fonoaudiológica em
Linguagem de Crianças e Adolescentes com Transtorno do Espectro Autista,
do Departamento de Fonoaudiologia da UNIFESP. As produções de repetição
foram analisadas não apenas verbalmente, mas multimodalmente (MONDADA,
2016; KOKIAKANGAS, 2017) coordenadas às ações não-verbais, tal como
direcionamento de olhar. Tais ocorrências têm sido analisadas a partir de uma
perspectiva sociointeracional de estudo da linguagem no TEA (OCHS; SOLOMON,
2010; STERPONI; KIRBY; SHANKEY, 2014; STERPONI; KIRBY, 2015) cotejados
aos estudos clínicos tipológicos sobre repetições (STERPONI; SHANKEY, 2014;
PRIZANT; RYDELL, 1984; PRIZANT; DUCHAN, 1981). Em termos metodológicos-
analíticos, fizemos uso do software ELAN (WITTENBURG et al., 2006, versão 5.5)
combinado ao software PRAAT (BOERSMA; WEENINK, 2018) para notação e
transcrição dos dados audiovisuais e posterior análise dos aspectos prosódicos
dessas produções. Nossa análise mostrou ser pertinente para a compreensão
das funções linguístico-interacionais de algumas dessas produções ao

945
Painéis
Neurolinguística

voltarmos nossa atenção para latência, pitch e intensidade correlacionados aos


aspectos corporais que precedem, sucedem ou acompanham as repetições.
Esta investigação tem nos sugerido a possibilidade de reconhecermos padrões
interacionais específicos ou sistematizáveis de uma criança com TEA que faz
uso das repetições para organizar-se internacionalmente.

Palavras-chave: repetição; ecolalia; multimodalidade.

Construção da referência durante momentos de


brincadeiras espontâneas de uma criança com
transtorno do espectro do autismo
Autoria: VITÓRIA SELLITO DE MELO

Serão apresentados resultados parciais de um estudo, sob a perspectiva


interacionista (MONDADA, 2016; CAVALCANTE, 2012; MORATO, 2004; COSTA
FILHO; CAVALCANTE, 2013; CRUZ, 2017), de como ocorrem as práticas de atenção
conjunta e de construção da referência de crianças não-verbais diagnosticadas
com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). O contexto interacional refere-
se a sessões pedagógicas-terapêuticas. A atenção conjunta, nosso foco de
interesse, é essencial para o desenvolvimento de interações sociais mútuas e
da constituição da função simbólica na linguagem (BOSA, 2002; TOMASELLO,
1995; MUNDY; NEWELL, 2007). Metodologicamente, optamos pela análise de
um corpus audiovisual composto por 53 minutos de registros em vídeo de 3
crianças, de 7 anos, diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA) em sessões individuais de terapia fonoaudiológica para implementação de
um sistema de comunicação por imagens - Picture Exchange Communication
System (PECS). Em relação à análise do corpus, foi aplicada uma metodologia
para estudos linguísticos-interacionais e os dados em vídeo foram transcritos a
partir da convenção de transcrição de Mondada (2016) com subsídio do software
ELAN (WITTENBURG et al., 2006). Os resultados preliminares nos apontaram que
o engajamento corporificado dos participantes da interação desempenham um
papel relevante apesar do não-uso da modalidade verbal por parte dos indivíduos
com TEA, uma vez que as ações corporificadas oportunizaram a negociação

946
Painéis
Neurolinguística

de sentidos durante as interações. Este estudo discute a pertinência de uma


perspectiva multimodal e pode contribuir com a descrição da construção da
referência e da atenção conjunta no Transtorno do Espectro do Autismo a partir
de dados de crianças não-verbais. Além disso, consideramos ser produtivo os
estudos acerca dos comportamentos e da interação da criança com TEA não
apenas como recursos interacionais comprometidos, mas também, sob uma
perspectiva interacionista mais ampla, atenta à interação como um todo e não
apenas às habilidades ou limitações de um único indivíduo. (Apoio: FAPESP -
Processo: 2020/06893-0).

Palavras-chave: atenção conjunta; construção da referência; Transtorno do


Espectro do Autismo.

947
Painéis
Políticas linguísticas

Por atos glotopolíticos e vozes alóctones no


embate à desoficialização de um ensino: o destino
das línguas minoritárias eslavas e orientais nas
escolas públicas estaduais da educação básica
Autoria: OTÁVIO DE OLIVEIRA SILVA

Este estudo ancora-se à perspectiva glotopolítica (GUESPIN; MARCELLESI,


1986; LAGARES, 2018) e nos estudos de políticas linguísticas (CALVET, 1998,
2002, 2004, 2007), para explicar e compreender o fenômeno social do ensino
plurilíngue em escolas públicas estaduais, atentando-se ao fato de que, a
partir da Lei 13.415/2017, o ensino de outras línguas fica obliterado no currículo
escolar brasileiro, sendo o inglês a única língua estrangeira a compor a área de
linguagens na escola (BRASIL, 2020). Ademais, a partir disso, as comunidades
escolares têm expurgado o direito de escolha das línguas adicionais, outrora
assegurado (BRASIL, 1996), outrossim, no caso de algumas comunidades
alóctones, seus direitos linguísticos também são invalidados (DE VARENNES,
2001; OLIVEIRA, 2003). Destarte, línguas já ensinadas nas escolas públicas
estaduais perdem ainda mais a tutela legislativa, estando cada vez mais próximas
da desoficialização (RODRIGUES, 2010) não sendo claro o que ocorrerá com as
línguas alóctones orientais (árabe, coreano, mandarim, japonês e turco), e as
eslavas (polonês e ucraniano), ensinadas em escolas públicas de Distrito Federal,
Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro e marginalizadas, desde eras priscas, das
políticas linguísticas e curriculares que incidem sobre a educação. Através de
revisão bibliográfica de literatura especializada, objetivamos tecer uma reflexão
crítica sobre os impactos que as atuais políticas linguísticas, que reverberam
na educação básica, podem trazer especificamente ao ensino de línguas
orientais e eslavas fomentadas por agências e agentes glotopolíticos, para a
preservação da identidade linguística de comunidades alóctones, promoção do
multilinguismo nos espaços escolares, entre outros propósitos. Objetivamos
responder às seguintes perguntas de pesquisa: a) qual a situação do ensino-
aprendizagem de línguas orientais e eslavas em escolas públicas antes da Lei
13.415/2017? b) de que forma essas línguas são fomentadas hodiernamente?

948
Painéis
Políticas linguísticas

c) qual a perspectiva de futuro e continuidade para esse ensino na escola para


os próximos anos, dadas as orientações curriculares monolíngues atuais? há
contradições legislativas educacionais que ainda podem viabilizar sobrevida
ao ensino plurilíngue através de línguas orientais e eslavas?

Palavras-chave: línguas alóctones; glotopolítica; educação básica.

949
Painéis
Retórica e estilística

A retórica de Rubem Braga: imagens que o autor


constrói de si e das mulheres em suas crônicas
Autoria: HELENA MIYAZAKI FONSECA

O ethos, de maneira geral, consiste na imagem que o orador constrói de si


(ou ainda, de si e dos outros, como afirmam estudos mais recentes) em seu
discurso. Na abordagem da retórica aristotélica, o processo persuasivo se vale
principalmente da construção do ethos, que, por meio de artifícios que exploram
a razão e a afetividade, objetiva alcançar a atenção do auditório. Partindo dessas
ponderações, podemos considerar que Rubem Braga (1913-1990), ao escrever
suas crônicas, constrói imagens de si e de outros, imagens essas capazes de
suscitar a admiração de seus leitores e cativá-los durante seus longos anos
de carreira. Com base nisso, este painel busca apresentar os resultados de
uma pesquisa de Iniciação Científica que procura analisar crônicas escritas
por Rubem Braga que trazem em cena a figura da mulher. O objetivo principal
é mostrar não apenas as imagens que o autor constrói para as mulheres por
meio de relatos e interações, mas também as imagens que ele constrói de si em
seus textos enquanto interage com elas, visando se mostrar digno de confiança.
Desse modo, o estudo fundamenta-se em pressupostos teóricos que advêm da
Retórica, mais especificamente a partir de Aristóteles (2015), e da Nova Retórica,
caso de Eggs (2005), Ferreira (2010) e Fiorin (2015). Como corpus de análise,
foram selecionadas crônicas que retratam diferentes situações e abordam
a figura feminina, as quais foram publicadas entre 1958 e 1969. Em termos
metodológicos, o exame dos dados leva em conta apenas trechos das crônicas
selecionadas que permitem a depreensão de ethé. O exame dos textos permitiu
constatar que as imagens mais recorrentes construídas para as mulheres (seja
pelo autor ou pelas próprias personagens) são de tristes, inseguras, francas,
determinadas e amorosas; enquanto para o autor, a imagem mais recorrente
que ele constrói de si ao interagir com as mulheres é a de conselheiro.

Palavras-chave: ethos; crônicas; Rubem Braga.

950
Painéis
Retórica e estilística

Ethos cômico: o segredo retórico da série Gilmore


Girls
Autoria: SILVIA NUNES

“Maratonar” séries configura-se como uma tendência ou um hábito cada vez


mais frequente no consumo midiático (cf. SILVA, 2015). Embora o fenômeno
tenha um grande poder persuasivo, uma vez que angaria a atenção de auditório,
as séries são pouco estudadas no meio acadêmico, em especial, no campo da
Retórica e da Nova Retórica. Partindo dessas considerações, esta comunicação
adota como objeto de análise a série Gilmore Girls– comédia dramática norte-
americana produzida nos anos 2000, que foi e ainda é um grande sucesso
(cf. LIMA, 2018) –, para compreender os artifícios retóricos de que ela lança
mão para alcançar a persuasão. Tem-se como hipótese que o ethos cômico
de Lorelai Gilmore, uma das protagonistas, seja um dos grandes responsáveis
pela popularidade de Gilmore Girls, tendo em vista que o humor consiste num
expediente importantíssimo em dadas ações retóricas para despertar e manter
o interesse do auditório (cf. CARMELINO, 2012). Isto posto, o trabalho tem dois
objetivos: verificar por meio de quais recursos retóricos (figuras, argumentos,
lugares, seleção lexical) se dá a constituição do ethos cômico da personagem
Lorelai e observar quais são os expedientes retóricos mais recorrentes na
construção dessa imagem. Para alcançar tais objetivos, o estudo tem como
principal categoria de análise a noção de ethos e toma como base tanto os
pressupostos de autores da Retórica (ARISTÓTELES, 2015) quanto da Nova Retórica
(PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996; REBOUL, 2004; MEYER, 2007; FERREIRA,
2010) para fundamentar o estudo. Como corpus de análise, selecionam-se, dentre
os episódios da primeira temporada, cenas que explicitam o ethos projetado.
No que diz respeito aos procedimentos metodológicos, os discursos das cenas
escolhidas são transcritos e as imagens, captadas por meio de stills dos vídeos.
O exame dos dados revela que a imagem cômica da protagonista em análise é
construída por meio de diferentes expedientes retóricos e colabora para o êxito
de Gilmore Girls. (Apoio: FAPESP – Processo nº 2019/22318-9)

Palavras-chave: ethos; Gilmore Girls; retórica.

951
Painéis
Semântica

Português informal dentro do ensino de PLE


Autoria: LUCAS TREVIZAN FERREIRA

A comunicação informal e coloquial é de grande importância nos espaços de


enunciação (GUIMARÃES, 2002) brasileiros, considerando que o uso adequado
da língua dentro desses espaços é fundamental para a integração e identificação
completas do estrangeiro dentro do ambiente brasileiro, o trabalho, então, se
propõe a fazer uma análise de DSD (GUIMARÃES, 2007), domínio semântico de
determinação, de dois livros didáticos de português língua estrangeira (PLE),
focados para falantes da língua inglesa, Colloquial Portuguese of Brazil (2008), de
Esmenia Simoes Osborn e Barbara McIntyre, e Say it all in Brazilian Portuguese
(2009), de José Roberto A. Igreja, os livros possuem uma disparidade em sua
apresentação, já que o primeiro possui uma estrutura mais comumente usada
em materiais didáticos de língua estrangeira, e o segundo tem o intuito de ser
um guia prático de comunicação cotidiana com um ensino mais superficial da
língua para turistas, porém ambos visam um ensino do português cotidiano,
informal e coloquial, e também foram publicados com uma curta diferença de
tempo, e apesar do tempo passado desde a publicação, um limitante temporal
para a língua apresentada, eles continuam relevantes dentro do ensino de
PLE. A pesquisa será, principalmente, situada na teoria de Eduardo Guimarães,
Semântica do acontecimento (2002), com um forte uso dos conceitos criados e
adaptados por ele dentro de sua obra (acontecimento, espaço de enunciação,
político, cena enunciativa). Assim, será feita uma análise desses materiais e
será definido o que é o português informal dentro desses materiais didáticos.
A análise será feita em duas partes, em um primeiro momento, será feita uma
análise individual, e então, em um segundo momento uma análise conjunta
dos materiais, visando os processos de reescrituração presentes nos textos,
lembrando que as traduções são tratadas aqui também como processos de
reescrituração, nas quais as expressões determinam e são determinadas pelas
suas traduções.

Palavras-chave: semântica; DSD; português informal; PLE.

952
Painéis
Semiótica

Literatura estrangeira e seus fins pedagógicos - a


aprendizagem por meio da semiótica
Autoria: MARCELA RICARDO

Com o intuito de pesquisar e discutir as contribuições que a Semiótica Discursiva


tende a oferecer ao processo de ensino-aprendizagem, especialmente no toante
responsável ao letramento e à aquisição de uma nova língua, buscar-se-á com
este trabalho reconhecer os aspectos facilitadores de reconhecimento dos
sentidos textuais presentes nos romances de língua inglesa, a fim de se ampliar
os recursos utilizados para o percurso formativo que o trabalho docente visa
oferecer durante a Educação Básica. Outrossim, preocupa-se em compreender
o modo como se dão os novos saberes formulados pelo exercício da leitura e,
igualmente analisar o modo como ocorre a aplicação das atividades inerentes
à prática pedagógica. O romance da escritora norte-americana Harper Lee,
O Sol é para Todos (1960), consiste em compreender as representações históricas
dos embates raciais no Sul dos Estados Unidos frente ao Movimento pelos
Direitos Civis, este clássico será analisado mediante o referencial teórico da
semiótica francesa com o intuito de explorar os sentidos textuais visando o
aprofundamento dos valores imbricados, articulando-os à compreensão da
língua inglesa por meio do viés literário. Ainda assim, corresponderia dizer
que, para a prática educacional, os sujeitos precisam ser constantemente
estimulados a ultrapassar as barreiras do abstrato ou superficial e percorrer
as etapas de reconhecimento desses valores, ou melhor, tomar frente a novas
descobertas de sentidos ou ainda criar novos questionamentos enveredados
pelos discursos, a fim de se chegar ao reconhecimento das análises e suas
interpretações a serem postas em evidência pelo enunciatário-leitor. Desta
forma, cabe dizer que os momentos de tensão, que venham a ser superados,
designam aspectos formadores de sentidos aos sujeitos, pois ao passo que a
leitura enaltecer a curiosidade e transpassar a dúvida, novos espaços de aspectos
significativos serão alcançados trazendo ganhos à competência leitora. Nesses
textos estrangeiros, será observado como as projeções do ator da enunciação
dialogam no texto com o enunciatário por meio do discurso subjetivo. Para isso,
utilizaremos elementos do percurso gerativo de sentido, com vistas a apreender

953
Painéis
Semiótica

especialmente as isotopias temático-figurativas manifestadas na história,


que revelam determinações actanciais, temporais e espaciais. Tais recursos
de análises poderão proporcionar ao trabalho do enunciatário, simulacro do
leitor, seu posicionamento intertextual e analítico quanto a novas descobertas
instaladas ao texto, possibilitando a compreensão de respostas para o leitor e,
consequentemente da aquisição de valores voltados à língua ensinada.

Palavras-chave: semiótica discursiva; letramento crítico; literatura estrangeira.

A questão da cloroquina no contexto brasileiro à luz


de uma notícia de jornal e da semiótica francesa
Autoria: STEPHANI IZIDRO DE SOUSA
Coautoria: ABRAÃO GOLFET

O estabelecimento e a refutação de paradigmas permitem que a metodologia


científica seja uma ponte segura entre as chamadas fake news e o conhecimento
legítimo. Por meio da análise de uma matéria do site de notícias Universo On-
line (UOL) com manchete “Médico da USP explica estudo da Lancet e alerta que
cloroquina ‘pode matar''', publicada no dia 22 de maio de 2020, este trabalho
tem o objetivo examinar como a linguagem e o discurso são mobilizados a
fim de promover a desconstrução da mentira intencional e a manutenção do
conhecimento científico como verdadeiro. À luz da teoria semiótica de linha
francesa e das teorias do discurso em convergência com aspectos da medicina
tradicional ocidental, percebemos e analisamos como a relação médico-
sociedade é construída, estabelecida e reafirmada nessa notícia enquanto o
uso da linguagem é utilizado para expor a ineficiência do uso da cloroquina no
combate à COVID-19, atestada por estudos científicos. Como aporte teórico,
buscamos em textos de Barros (2005), Fiorin (2016), Marcuschi (1986) e Bonnin
(2014) conceitos que dialogassem com contrato fiduciário, manipulações e as
manobras enunciativas. Muito representativa da conjuntura atual brasileira de
desvalorização da ciência e de manipulação em massa a partir de pós-verdades,
essa notícia mostra como pode ocorrer uma desconstrução de fake news. Uma
das possibilidades é pela construção de um simulacro fiduciário com base
em: escolhas enunciativas do jornalista; produções de sentido que retomam a

954
Painéis
Semiótica

autoridade médica; e, do ponto de vista histórico-discursivo, na imagem sagrada


acerca da profissão médica e o constante jogo de papéis sociais entre médico
e sociedade. A análise mostrou que a debreagem enunciva de pessoa ainda é
ponto-chave nas reportagens, principalmente em relação a assuntos polêmicos;
e o jornal utiliza-se de várias formas dela para compor sua narrativa com fortes
indícios de manipulação, ao se referenciar não apenas a um indivíduo médico,
mas que é também professor e foi infectado pelo novo coronavírus, buscando
ajuda profissional além de si mesmo. Nessa perspectiva, também conseguimos
analisar como a relação médico-paciente ocorre em um contexto em que o
próprio paciente é médico. Assim, ficam abertas possibilidades de análise da
interincompreensão entre ambas as partes (médico e paciente que é médico)
nesse contexto.

Palavras-chave: Semiótica; fake news; Covid-19.

Uma análise semiótica de A noite da espera -


ditadura militar e literatura
Autoria: RAFAELA MATHIAS

O presente resumo tem como objetivo apresentar o seguinte trabalho de


pesquisa: “Uma análise semiótica de A noite da espera - Ditadura militar e
literatura”. O objetivo de nossa pesquisa é examinar, por meio da semiótica e
análise tensiva, das representações literárias dadas ao Regime Militar, de forma
a discutir o papel da literatura para a reflexão crítica a respeito desse período.
Para que seja possível entender como as ditaduras modificam a vida de quem
passou por elas a partir da análise literária e dos diálogos com a teoria semiótica
e refletir a respeito do período da ditadura militar e da produção de conteúdo
que foi altamente censurada na época. A teoria utilizada foi a da semiótica
proposta por A. J. Greimas e seus desenvolvimentos atuais. Com ênfase ao
estudo da dimensão passional do texto, bem como da construção dos actantes
(nível narrativos) e dos atores (nível discursivo). Foi possível observar os três
primeiros níveis do percurso gerativo do sentido, nível fundamental, narrativo
(com ênfase nas paixões) e discursivo. Também foi feita uma na uma junção dos
pressupostos teóricos da semiótica greimasiana e os postulados de Vigiar e Punir

955
Painéis
Semiótica

de Michel Foucault. Por fim, foi feita uma comparação entre o romance Sombras
de reis barbudos (1972), de José J. Veiga e A noite da espera (2017), de Milton
Hatoum, o que contribuiu para a reflexão a respeito da relação complexa que se
estabelece entre a literatura brasileira e o regime militar brasileiro. O que foi de
extrema importância mostrar a importância de se ter conhecimento a respeito
da ditadura. Em A noite da espera (2017), acompanhamos o sofrimento de um
jovem em formação, que vê sua vida mudar drasticamente por causa do regime
militar. Sua forma de conseguir superar o trauma é escrever sobre ele, recriando
suas memórias e a sua identidade a partir das fraturas e descontinuidades de
sua vida, para que ele consiga se reencontrar.

Palavras-chave: semiótica; ditadura; literatura.

Estilo e identidade: análise semiótica da drag queen


em RuPaul's Drag Race
Autoria: VINÍCIUS DOS SANTOS RIBEIRO

O presente trabalho tem como temática central a construção da(s) identidade(s)


da drag queen. Nosso corpus é formado por episódios do programa RuPaul’s
Drag Race, produzido pela World of Wonder, que vêm sendo analisados, levando
em consideração o seu sincretismo de linguagens. O objetivo desta pesquisa
de Iniciação Científica, ainda em fase inicial, é identificar as diferentes formas
de fazer e de ser drag, conforme se manifestam nos momentos de passarela de
cada episódio. Com isso, pretendemos contribuir para a compreensão dessas
identidades e também com reflexões, no âmbito da semiótica discursiva, acerca
das questões de gênero social. Nosso trabalho tem como fundamento a teoria
semiótica proposta por Greimas e seus desdobramentos atuais, entre os quais,
destacamos as pesquisas acerca das noções de estilo e de ethos, desenvolvidas
por Discini (2003, 2015). A pesquisa dialoga também com os conceitos propostos
por Butler (2003, 2007), numa perspectiva em que o gênero é visto como
uma produção performativa, nesse sentido, a identidade drag queen é aqui
entendida como uma espécie de encenação das identidades de gênero que se
projeta a partir de performances linguageiras e discursivas, uma vez que nossa

956
Painéis
Semiótica

hipótese é a de que drag não corresponde a uma identidade de gênero, mas


à sua dramatização. O exame dos momentos selecionados de cada episódio
vem possibilitando a depreensão das diferentes identidades drags, a partir da
análise tanto do plano de conteúdo (percurso gerativo do sentido) quanto do
plano de expressão (cores, formas, movimentos, disposição espacial etc.), sendo
que nosso enfoque são as questões do nível discursivo do texto. Neste painel,
discorreremos sobre a construção da identidade de Yvie Oddly, não somente
criada pela própria drag queen, mas também pela edição do programa e pelas
outras drag queens, ou seja, por diversos elementos linguageiros e discursivos
que, no programa, participam da construção de sua identidade. Observamos, por
exemplo, que Yvie é apresentada como “louca”, “esquisita”, “diferente”, uma drag
queen mais conceitual, através de seus gestos, falas e roupas. Esperamos com
esta pesquisa contribuir para as discussões e reflexões a respeito da construção
das identidades de gênero e, mais especificamente, da(s) identidades(s) drag(s),
promovendo um diálogo entre a semiótica francesa e os estudos de gênero.

Palavras-chave: semiótica discursiva; RuPaul's Drag Race; identidade.

957
Painéis
Sintaxe

Revisitando aspectos da sintaxe interna e externa


dos possessivos em português brasileiro
Autoria: LILIAN PACHECO MONTEIRO DA COSTA

Este trabalho revisita algumas das controvérsias em torno da natureza e do


comportamento sintático das formas possessivas do português brasileiro, buscando
discutir, mais especificamente, o estatuto categorial dessas formas, bem como a
estrutura sintática em que elas são licenciadas. A análise é feita a partir de duas
propriedades empíricas centrais: (i) o Possessivo pode se realizar com ou sem
o Determinante, que pode ser definido ou indefinido; e (ii) a posição pré ou pós-
nominal do Possessivo em relação ao nome a que ele refere. Quanto ao primeiro
aspecto, discutimos as propostas tipológicas de Lyons (1985), Giorgi e Longobardi
(1991) e Schoorlemmer (1998), apontando as problemáticas que tais abordagens
apresentam. Analisamos as propostas de Haspelmath (1999) que defende a
não complementariedade entre Possessivos e Determinantes. Nesse sentido,
argumentamos contra a ideia de que Possessivos pré-nominais possam ser a
realização de um núcleo D na língua. A partir de Miguel (2002), argumentamos contra
a hipótese de Possessivos serem adjetivos. Observamos, também, que apenas os
Possessivos pós-nominais apresentam restrições à definitude do Determinante
que o acompanha. Já em relação à segunda propriedade, observamos no português
brasileiro a existência de formas preposicionadas que aparecem apenas pós-
nominalmente. Retomamos também a tripartição entre formas fortes, fracas e clíticos
no sistema de Possessivos, tal como proposto por Cardinaletti (1998), focando,
mais especificamente, no comportamento dessas formas como projeção mínima
ou máxima. A partir desse debate, defendemos que os Possessivos pré nominais
no português brasileiro são formas fracas, enquanto os pós-nominais são formas
fortes. Ambos, no entanto, apresentam comportamento de projeções máximas.
Sintaticamente, propomos, ainda, que as formas pré-nominais são licenciadas na
projeção de especificador de uma projeção funcional PosP (SCHOORLEMMER,
1998), enquanto as formas pós-nominais são, na verdade, nucleadas por uma
preposição que ora aparece explicitamente realizada, ora se realiza como um vazio
fonológico. Diferimos de Muller (1997), Cerqueira (1996) e Castro (2006) ao negar
movimento do Possessivo. (BIC-UFJF - Projeto n. 48238)

Palavras-chave: Possessivo; projeção PosP; tipologia pronominal.

958
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

Análise de percepção do sotaque capixaba em memes


digitais: a terceira onda variacionista em foco
Autoria: ANA CLARA SOAVE LEPPAUS

O problema da avaliação é apresentado por Weinreich, Labov e Herzog (1968)


como uma das cinco questões a serem respondidas por uma teoria de variação
e mudança. É possível observar que, ao longo dos anos, nos resultados de
pesquisas brasileiras, particularmente, esse problema não foi amplamente
contemplado como os outros, a exemplo do problema da restrição, que foi e
ainda é alvo de muitos estudos. Por isso, buscamos entender como a avaliação
afeta os processos linguísticos de variação e de mudança, utilizando/acionando
especialmente a literatura da terceira onda variacionista. Para tanto, o objetivo
do presente trabalho é a análise de memes digitais referentes à percepção do
sotaque capixaba. Os memes foram coletados nas redes sociais Instagram, Twitter
e Facebook. A partir das leituras teóricas, refletimos sobre as mudanças teórico-
metodológicas emergentes no campo, que acionam conceitos discursivos que
são utilizados na análise, tais como: persona, identidade, estilo, ideologia etc.
Ampliamos o nosso escopo, considerando que toda variação é estilística, e
resulta de uma prática pela qual o falante performa no mundo. Isso nos afastou
do posicionamento laboviano de que variação estilística é um tipo de variação
e, ainda, um tipo limitado a questões referentes a uma medida unidimensional,
qual seja: um continuum de formalidade. No âmbito metodológico, realizamos
revisão bibliográfica. A tese de doutorado de Bragança (2017) foi uma importante
fonte de exame, a partir dela confrontamos e discutimos vários aspectos teórico-
metodológicos do campo, considerando delimitações labovianas e delimitações
da literatura de terceira onda, a fim de fazer uma reflexão sobre o desenvolvimento
do campo da sociolinguística e sobre os rumos da nossa pesquisa. Além disso,
fizemos a leitura e discutimos acerca dos seguintes textos: Preston (2013), Freitag
et al. (2016), Freitag et al. (2015), Gomes (2017), Eckert (2008), Silverstein (2003)
e Pontes (2016). As últimas leituras apresentaram o conceito antropológico
de indexicalidade, que auxilia na análise de fenômenos sociolinguísticos ao
que tange às relações macrossociais e microssociais do contexto no qual

959
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

está inserido e incorpora os aspectos ideológicos na correlação entre forma


e significado social; que são conceitos centrais para o desenvolvimento do
trabalho. De modo geral, portanto, em termos metodológicos, a pesquisa é de
cunho qualitativo e interpretativista.

Palavras-chave: terceira onda variacionista; percepção; sotaque capixaba.

“Chegamos” ~ “cheguemos”: variação morfêmica


na primeira pessoa do plural em verbos regulares
de primeira conjugação na variedade do interior
paulista
Autoria: BRENDA SOARES REZENDE

O presente trabalho apresenta resultados de uma pesquisa de Iniciação


Científica em andamento que analisa a variação morfêmica na primeira pessoa
do plural em verbos regulares de primeira conjugação, mais especificamente
a troca de –a por –e em contexto precedente ao sufixo número-pessoal –mos
(SVOBODOVÁ, 2017; PEREIRA, 2018), como em “passamos” ~ “passemos”, no
interior do estado de São Paulo. A origem desse fenômeno vem da necessidade
de demarcar oralmente a diferença entre os verbos da primeira conjugação
do presente e do pretérito perfeito simples do modo indicativo, uma vez que
possuem a mesma estrutura (PEREIRA, 2014). Como fundamentação teórica,
segue-se a Teoria da Variação e Mudança Linguística (LABOV, 2008 [1972]). Como
córpus, são analisadas 32 entrevistas retiradas das 152 entrevistas do Banco de
Bados Iboruna, elaborado como resultado do projeto Amostra Linguística do
Interior Paulista (ALIP) (GONÇALVES, 2020 [2007]). As variáveis extralinguísticas
investigadas são: (i) sexo/gênero (feminino e masculino); (ii) faixa etária (16 a
25 anos, 26 a 35 anos, 36 a 55 anos e superior a 55 anos); e (iii) escolaridade (1º
ciclo do Ensino Fundamental, 2º ciclo do Ensino Fundamental, Ensino Médio
e Ensino Superior). Já as variáveis linguísticas são: (i) tempo verbal (presente
e pretérito perfeito); (ii) assertividade da sentença (afirmativa ou negativa);
(iii) elemento temporal (presença ou ausência); (iv) -s final da desinência /-mos/
(apagado ou não apagado); (v) e realização do sujeito (nulo ou explícito). Como

960
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

resultados parciais, foram levantadas 134 ocorrências, das quais 5 (3,7%),


correspondentes a formas no pretérito perfeito do indicativo, apresentaram
o fenômeno: “andemos”, “levantemos”, “peguemos” e “cheguemos” (esta, com
duas ocorrências). Com relação às variáveis extralinguísticas investigadas,
“sexo/gênero” e “escolaridade” apontaram que as cinco ocorrências estiveram
presentes, respectivamente, no falar masculino e no 1º ciclo do Ensino
Fundamental. Já na “faixa etária”, observaram-se quatro ocorrências para a
faixa etária de 26 a 35 anos e uma ocorrência para a faixa etária acima de 55
anos. A baixa produtividade do fenômeno na variedade escolhida pode ser
explicada pela tendência de utilização da forma verbal de primeira pessoa do
plural em contextos em que a fala é relativamente policiada, o que pode reduzir
a aplicação de processos morfofonológicos, como o analisado nesta pesquisa
(Apoio: Fundação Araucária, Edital PROPESP/UEPG n. 65/2020)

Palavras-chave: português brasileiro; variação e mudança linguística; variação


morfêmica.

Variação e mudança dos róticos em coda final:


Chuí e Santana do livramento (Projeto Alib)
Autoria: CAIO KOROL GONÇALVES DA SILVA

Integrando a Sociolinguística Quantitativa (LABOV, 1994) à Teoria da Fonologia


Prosódica (NESPOR; VOGEL, 1986), o trabalho em tela visa analisar o processo
variável de cancelamento do rótico em coda externa (fazeR ~ fazeØ, mulheR ~
mulheØ) nas comunidades fronteiriças de Chuí e Santana do Livramento, ambas
no Rio Grande do Sul, e registrar, também, as variantes produzidas. Pesquisas
anteriores mostram que, nos verbos, o apagamento é praticamente categórico
enquanto nos não verbos, os índices ainda são baixos. Observamos se tal
cenário se estende a essas duas comunidades fronteiriças, e mapeamos quais
condicionamentos sociolinguísticos licenciam o apagamento. São utilizadas
amostras de fala semiespontânea do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), de
quatro informantes por município, estratificadas por sexo (masculino e feminino)
e idade (18 a 30 anos e 50 a 64 anos); todos falantes monolíngues do PB com

961
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

ensino fundamental (completo ou incompleto). Controlamos estatisticamente


(Programa GoldVarb X) a atuação das seguintes variáveis: 1) classe morfológica
(verbos e não-verbos) e 2) dimensão do vocábulo (monossílabos e polissílabos),
3) contexto fonético antecedente (qualidade da vogal), 4) contexto fonético
subsequente (consoante ou pausa), 5) tipo de fronteira prosódica (palavra
prosódica, sintagma fonológico ou sintagma entoacional), 6) sexo, 7) idade e 8)
origem geográfica do(a) falante. No que concerne ao Chuí, os resultados indicam
que as variantes mais produtivas são o tepe alveolar e a aproximante retroflexa.
Ademais, as rodadas estatísticas mostram que os índices de aplicação da regra
em verbos e não-verbos são de, respectivamente, 94% (input .94) e 25% (input
.25). As variáveis apontadas como favorecedoras para o cancelamento entre os
verbos são a qualidade da vogal do núcleo, sendo [a] e [e] as que mais favorecem
(P.R. .64 e .52, respectivamente), e o contexto subsequente de consoante (P.R.
.60). Para os não verbos, no entanto, apenas esta última variável foi selecionada,
com P.R. também de .60. Relativamente à Santana do Livramento, o tepe alveolar
se mostrou a variante favorita. As rodadas estatísticas indicam, em verbos, um
índice de cancelamento de 97% (input .97) e, para não verbos, apenas 12% (input.
12). Enquanto nenhuma variável se mostrou favorecedora à aplicação da regra
variável nos não verbos, na classe verbal, apontou-se a qualidade da vogal do
núcleo como favorecedora, sendo [e] a que mais favorece a perda segmental,
com P.R. de .71. Ademais, a faixa etária do(a) informante também se mostrou
relevante, com falantes mais jovens favorecendo o fenômeno (P.R. .78).

Palavras-chave: variação e mudança; rótico em coda silábica; região Sul.

O esperanto no Brasil: levantamento e análise de


materiais acadêmico-científicos
Autoria: CAIO VINÍCIUS DA SILVA BARROS

Objetivamos, neste painel, descrever e discutir resultados provenientes do


estudo “As inter-relações entre língua, cultura e sociedade com vistas ao
entendimento do esperanto no Brasil”, no que diz respeito ao detalhamento
de uma das categorias de agrupamento e análise de dados considerada, a
categoria acadêmico-científica. Nessa categoria, dentre outras duas que estão

962
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

em construção – a saber: a categoria informativa e a categoria de materiais


didáticos –, reunimos treze trabalhos acadêmico-científicos brasileiros que
tomam, de algum modo, o esperanto como objeto de investigação, extraídos de
repositórios virtuais de referência nacional. O interesse pelo estado da arte do
esperanto no Brasil justifica-se pelo fato de esta língua, viva atualmente, sob o
status de língua planejada, ser falada por milhões de pessoas no mundo – e em
determinadas comunidades brasileiras espalhadas pelo país –, com o registro
de falantes nativos (LINDSTEDT, 2010), e, ainda assim, ser desvalorizada como
tema de pesquisa científica, em especial no campo da linguística (OLIVEIRA,
2016). A fim de comprovar a presença do esperanto, no Brasil, podemos, por
exemplo, listar o Projeto de Lei 6162/2009, ainda em tramitação, que dispõe
sobre a inclusão facultativa do ensino de esperanto no ensino médio, o cadastro
da Liga Brasileira de Esperanto (BEL) no Diretório de Instituições do CNPq
como instituição fomentadora de cultura e a realização de eventos sobre essa
temática – como o Kongreso de Esperanto de la Subŝtato San-Paŭlo (Congresso
Paulista de Esperanto) e o Brazila Kongreso de Esperanto/Brazila Esperantista
Junulara Kongreso (Congresso Brasileiro de Esperanto/Congresso da Juventude
Esperantista Brasileira). Sendo assim, com base em discussões teóricas que
priorizam as correlações da tríade língua(gem)-cultura-sociedade para o real
entendimento de uma língua, em sua condição linguística e contextual (MEILLET,
1948 [1921]; VOLÓCHINOV, 2018 [1929]; LABOV, 2008 [1972]), por intermédio de
pesquisa bibliográfica e documental (FONSECA, 2002; GIL, 2007), organizamos
um corpus, com produções de âmbitos discursivos diversos, que viabilizasse a
compreensão do esperanto e do movimento esperantista no Brasil atual. Com
esse estudo e, sobretudo, com este painel, buscamos colaborar com a (ainda
escassa) bibliografia existente sobre o tema e promover o conhecimento acerca
do esperanto a interessados no campo dos estudos da língua(gem) e ao público
em geral. (Apoio: CNPq)

Palavras-chave: esperanto; língua e sociedade; pesquisa bibliográfica.

963
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

Avaliações linguísticas de residentes em Piracicaba/


SP sobre o dialeto piracicabano e caipira
Autoria: DANIELLE BALTIERI BENTO

Com base nos estudos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972), as


avaliações linguísticas referem-se ao que os falantes têm a dizer sobre seu
próprio dialeto e outras variedades linguísticas, indicando, em discursos
metalinguísticos, quais variáveis são mais ou menos salientes. No estado
de São Paulo, o município de Piracicaba é reconhecido como prototípico do
falar caipira. Rodrigues (1972) e Leme (1994) estudaram a produção linguística
de bairros do município; no entanto, pouco se sabe sobre como os próprios
piracicabanos avaliam sua variedade de fala. A fim de expandir os estudos sobre
essa comunidade de fala, este painel tem como objetivo reportar os resultados
iniciais de um levantamento de avaliações linguísticas. A amostra é composta
por 60 participantes, residentes em Piracicaba, estratificados em sexo/gênero
(masculino e feminino), faixa etária (18 a 34 anos, 35 a 59 anos e 60 anos ou mais)
e região de residência (norte, sul, leste, oeste e centro). O roteiro de entrevistas
contou com 27 perguntas abertas, incluindo questões gerais sobre a vivência
do participante no município, particularidades no modo de falar piracicabano
e caipira e perguntas de avaliação linguística sobre as variáveis /r/ em coda
e ataque, rotacismo, /t,d/ antes de [i] e uso do verbo ‘ponhar’. As entrevistas
foram realizadas de forma remota, por chamada de vídeo, durante a pandemia
de COVID-19. A análise das respostas mostra que algumas variáveis linguísticas
são mais salientes que outras e que há diferenças entre o falar caipira e o falar
piracicabano. Quanto ao falar piracicabano, os participantes mencionaram
espontaneamente (i.e., antes das perguntas de avaliação) a variante (-r) retroflexa
como principal característica do dialeto (p.ex.: /r/ em coda, ‘porta’, e ataque
silábico, ‘Piracicaba’). Menos frequentemente, outras variáveis são citadas: uso
de rotacismo (troca de /l/ por /r/, ‘bicicreta’), pronúncia oclusiva de /t,d/ antes
de [i] (‘leite’ e ‘dia’), uma prosódia piracicabana (‘falar rápido’), variáveis lexicais
(‘filão’ para ‘pão francês’), entre outras. Quanto ao falar caipira, essas variáveis
também aparecem, mas a característica predominante nas respostas é “simples”,

964
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

que pode ser entendida como um falar pouco escolarizado, de pessoas menos
favorecidas socioeconomicamente e um falar mais lúdico e humilde. Além dessas
diferenças entre o caipira e o piracicabano, muitos participantes apontam para
uma relação de identidade entre os residentes e a cidade, enfatizando que o
piracicabano tem orgulho de ser piracicabano e que características caipiras
devem ser mantidas a fim de preservar suas identidades. (Apoio: CNPq-PIBIC)

Palavras-chave: avaliação linguística; dialeto caipira; Piracicaba.

Distribuição e cancelamento do rótico em Porto


União (SC) - Projeto ALiB
Autoria: NICOLE MARIA DOS SANTOS MELLO
Coautoria: KATHLEN APARECIDA OLIVEIRA DE SOUSA

No que se refere à formação sociohistórica, sabemos que o território de Porto


União (Santa Catarina) começa a ser ocupado em 1842, com a descoberta de
uma região de pouca profundidade do Rio Iguaçu, que facilitava a passagem de
tropas; porém o município só é criado oficialmente em 1917, como consequência
do acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina. Este trabalho busca
descrever, portanto, o comportamento linguístico dos falantes de Porto União
(PU), relativamente aos tipos de realização do rótico em coda silábica final
(incluindo a possibilidade de cancelamento) – tanto em verbos (manejaR ~
manejaØ) quanto em não-verbos (floR~ floØ), e compará-lo ao de Florianópolis
(capital de SC) e ao de outras cidades do interior do estado já estudadas. A
cidade está localizada a aproximadamente 460 km da capital e, sendo bastante
interiorana, em hipótese, pode apresentar comportamento diferenciado em
relação à Florianópolis. Este é um estudo variacionista que toma como base o
aporte teórico-metodológico da Sociolinguística quantitativa (LABOV, 1994) e
da Teoria da Fonologia Prosódica (NESPOR; VOGEL, 2007), para a investigação
dos fatores linguísticos e sociais atuantes no processo de diferenciação e
cancelamento do R (análise estatística: GoldVarb X). São utilizadas amostras de
fala semiespontânea do Projeto ALiB, de indivíduos com o ensino fundamental
(completo ou incompleto), estratificadas por sexo (masculino e feminino) e
idade (18 a 30 anos e 50 a 65 anos). As variáveis linguísticas consideradas são

965
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

as seguintes: classe morfológica (verbos e não-verbos), dimensão do vocábulo


com R final (monossílabos e polissílabos), vogal do núcleo (cada uma delas),
contexto fonético subsequente (consoante e pausa) e fronteira prosódica em
que se encontra o rótico (palavra prosódica, sintagma fonológico e sintagma
entoacional). Os resultados preliminares mostram que a aproximante retroflexa
é a variante do rótico mais frequente em Porto União, tanto para verbos como
para não verbos, diferentemente do que acontece em Florianópolis em que
prevalecem as variantes fricativa velar e tepe. O apagamento do R em verbos é
de 94% e em não verbos é de 18%, em PU. Na categoria dos verbos (Input geral:
0.94), os resultados parciais indicam que os vocábulos polissílabos favorecem a
aplicação da regra de cancelamento (P.R 0.55). Já na categoria dos não verbos
(Input geral: 0.18), os homens mostram um comportamento mais inovador
(P.R 0.74) e a vogal média “é”, com traço [+ant], se mostrou mais propensa ao
apagamento (P.R. 0.87).

Palavras-chave: distribuição e cancelamento do rótico; sociolinguística


variacionista; projeto ALiB.

Análise do /s/ em coda na fala de migrantes


alagoanos e paraibanos em Campinas
Autoria: SARAH POLI BARBOSA

Seguindo os pressupostos da sociolinguística variacionista (LABOV, 1972), a


presente pesquisa analisa a fala de migrantes paraibanos e alagoanos que
residem na região metropolitana de Campinas com os objetivos de entender
os processos de acomodação dialetal pelos quais pode passar a fala desses
indivíduos e de analisar, mais especificamente, o papel das variáveis tempo de
residência e idade de migração nesses processos. Para isso foram codificadas as
realizações de /s/ em coda, em palavras como "nordestino" e "mas", com quatro
variantes: alveolar, palatal, aspirada e zero fonético. Os dados foram extraídos
de entrevistas sociolinguísticas com 22 migrantes alagoanos e 18 migrantes
paraibanos que compõem o corpus do projeto Processos de Acomodação
Dialetal (OUSHIRO, 2018) e que residem atualmente na cidade de Campinas. A
amostra foi estratificada quanto às duas variáveis mencionadas, assim como

966
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

gênero do falante, e os dados foram analisados na plataforma R (R Core Team


2020). Os resultados mostram que, quanto mais jovem o migrante veio para
Campinas, menor é a frequência de realização da variante palatal do /s/ em coda,
e quanto maior o tempo de residência, menor foi o uso da mesma variante. Para
mais bem compreender esses fenômenos, têm-se estabelecido relações com
estudos já feitos sobre a variável (como em Macedo e Scherre, 2000 e Melo,
2017) e sobre contato dialetal no Brasil (como em Lima e Lucena, 2010, Fouquet,
2013 e Santana, 2018), assim como com os resultados obtidos até o momento
no Projeto Acomodação para outras variáveis sociolinguísticas: a variável /s/
revela comportamento muito semelhante aos resultados obtidos para /r/ em
coda, enquanto as variáveis /t, d/ antes de [i], vogais médias pretônicas, negação
sentencial e concordância nominal só mostraram correlações com uma das
duas variáveis que estratificam o corpus. Desse modo, a presente pesquisa
contribui com novos resultados que integram o Projeto Acomodação, buscando
chegar a generalizações cada vez mais sistemáticas sobre acomodação dialetal,
além de enfatizar o estudo da fala de membros não prototípicos que ainda são
escassos na sociolinguística brasileira. (Apoio: CNPq - Processo 125525/2020-6)

Palavras-chave: acomodação dialetal; /s/ em coda; contato linguístico.

A representação do possessivo de 2ª pessoa do


singular em cartas pessoais pernambucanas dos
séculos XIX e XX
Autoria: STÊNIO BOUÇAS ALVES FILHO

Tendo em vista a reorganização do quadro pronominal do Português Brasileiro


(PB), conforme mencionam as pesquisas de Gomes e Lopes (2014, 2016) e Lopes
et al. (2018), propomos neste trabalho investigar o emprego do possessivo
referente à segunda pessoa do singular, em especial, a variação entre as formas
possessivas "teu-seu". Para tanto, utilizamos um corpus de 185 cartas pessoais
escritas por missivistas pernambucanos ilustres e não-ilustres, no decorrer
dos séculos XIX e XX. As cartas estão organizadas em 29 cartas do século XIX:
9 cartas de família e 20 cartas de amigo; e 156 cartas do século XX: 17 cartas de

967
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

amigo, 56 cartas de amor e 83 cartas de família. O aporte teórico-metodológico


que guia este estudo está pautado na Sociolinguística Variacionista (WEINREICH;
LABOV; HERZOG, 2006 [1968]; LABOV, 2008 [1972]) e na Sociolinguística Histórica
(CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012). Diante
disso, os resultados obtidos revelam um maior índice de uso do possessivo "seu",
com 57%, referente à segunda pessoa, enquanto o possessivo "teu" apresenta
48% de uso. Em síntese, os resultados apontam para um novo padrão no que
se refere ao emprego dos possessivos. Isto é, contrariando a norma padrão,
o possessivo "seu" assume na escrita de cartas escritas por pernambucanos
durante os séculos XIX e XX, conforme a análise do corpus, um maior índice de
uso. O emprego do "seu", anteriormente usado em referência à terceira pessoa,
agora é empregado também para a segunda pessoa do singular, em variação com
o possessivo "teu". Os resultados também apontam que o uso do possessivo
"teu" está associado a uma relação mais íntima e que estão presentes, em
sua maioria, nas cartas de amor, escritas por jovens, enquanto o emprego da
forma possessiva "seu" apresenta um caráter multifuncional, o que facilita o
emprego dessa forma tanto em uma relação comunicativa simétrica, quanto
em um contexto assimétrico (ascendente e descendente), podendo, assim, ser
empregado em diversos contextos comunicativos.

Palavras-chave: variação; possessivo de 2ª pessoa; cartas pessoais.

A concepção de estilo na terceira onda


variacionista: análise de posts da caneta
desmanipuladora e caneta desesquerdizadora
Autoria: THAIS LARA COSTA MANHÃES

O presente trabalho, no âmbito dos estudos variacionistas, revisita a articulação


teórico-metodológica, proposta por Bragança (2017), entre três abordagens, a
saber: (i) a terceira onda variacionista, (ii) o funcionalismo norte-americano e
(iii) os estudos bakhtinianos. Nosso foco de interesse está em considerações,
nessa articulação, sobre (i) a noção de variação estilística, (ii) a relação entre
gêneros do discurso, formas e funções e (iii) os procedimentos metodológicos
condizentes com a epistemologia da terceira onda sociolinguística. De acordo

968
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

com a literatura revisada, percebe-se uma mudança epistemológica e teórico-


metodológica entre os estudos de primeira e de terceira onda do campo dos
estudos variacionistas. O campo recobre, além de uma abordagem estruturalista,
uma abordagem discursiva da variação, em que a dimensão estilística passa
a se encontrar no cerne das preocupações da abordagem variacionista,
em sua terceira fase. Frente a essas questões, são objetivos da pesquisa:
(i) analisar a mudança da concepção de estilo entre as três ondas variacionistas,
e especificamente, em sua terceira onda, a partir de concepções relacionadas
à variação estilística e ao tema da indexicalidade, na perspectiva teórica de
Eckert (2005, 2012, 2016, 2018), Silverstein (2003) e Bragança (2017); e (ii) partindo
desses pressupostos, realizar análise de estilo das publicações dos perfis Caneta
Desmanipuladora (@canetadesmanipuladora) e Caneta Desesquerdizadora
(@canetadesesquerdizada), da rede social Instagram, no período de março de
2020 a março de 2021, compreendendo um ano do início das restrições sanitárias
impostas pela pandemia do Coronavírus (COVID-19). Em termos metodológicos,
a pesquisa, de cunho qualitativo e interpretativista, revisitou, por meio de análise
bibliográfica, parte da proposta teórico-metodológica de Bragança (2017),
procurando compreender a tessitura de diálogo entre os campos variacionista,
em sua terceira fase, funcionalista e bakhtiniano. Percebemos que a literatura
do campo dos estudos variacionistas de terceira fase aponta para mudança
epistemológica, conceitual e metodológica e para uma perspectiva estilístico-
discursiva de variação. Logo, o estudo dos gêneros do discurso passa a ser
relevante para os estudos variacionistas, porque a variação linguística/estilística
constitui, em parte, a enunciação e para ela se volta. Constatada a potencialidade
dos gêneros do discurso para essa fase, demanda-se desenvolver o estudo do
estilo. Nesse contexto, conjuga-se a perspectiva linguístico-discursiva a uma
perspectiva antropológica, e a noção de indexicalidade, como proposta por
Silverstein (2003), ganha destaque, admitindo que as formas de fenômenos
variáveis indexam valores de diferentes ordens em processo contínuo, múltiplo e
performático, porque está sujeito a alterações a cada uso evêntico da linguagem.

Palavras-chave: terceira onda variacionista; variação estilística; discursos do


espectro político.

969
Painéis
Sociolinguística e Dialetologia

Dialeto pajubá: modos de construção de marcas


identitárias da comunidade LGBTQIA+
Autoria: VANESSA MIRELE DOS SANTOS NASCIMENTO

O presente resumo traz os resultados parciais de um estudo feito sobre o dialeto


falado pela comunidade LGBTQIA+ conhecido como pajubá ou língua das
travestis ou das trans. Esse dialeto compõe-se de termos oriundos do Francês,
da Língua Indígena e do Iorubá, a sua principal base. Dito isto, o objetivo geral
deste trabalho é compreender o pajubá como dialeto colaborador na construção
das identidades daqueles que o utilizam como forma de socialização, o grupo
LGBTQIA+. Utilizou-se como base a ideia de Stuart Hall sobre o ser pós-moderno
fragmentado para explicar a influência da língua para a identidade. Levando em
consideração os estudos da sociolinguística e ainda da ideia de identidade e
diferença, trazida por Kathryn Woodwar e Tomaz Tadeu da Silva no livro Identidade
e diferença: a perspectiva dos estudos culturais, foi abordado como essa
comunidade teve acesso a esses termos e como eles foram ressignificados por
esse grupo. Ademais, teóricos que abordam a influência das Línguas Africanas no
Português do Brasil foram estudados. São eles: Yeda Pessoa de Castro e Renato
Mendonça. A metodologia abordada será de cunho qualitativa, que é focalizada
no processo e seu significado. Em relação aos fins da pesquisa, ela será de
caráter exploratório, pois a área escolhida para ser abordada ainda necessita de
mais pesquisas e conhecimento sistematizado. Além de a pesquisa-ação estar
presente na metodologia, visando ter êxito nos objetivos propostos, esse tipo
de pesquisa se mostra mais adequada e promissora. Para o levante de dados,
foi utilizado um formulário com questões sobre a comunidade LGBTQIA+, sobre
o dialeto e sobre identidade direcionado a pessoas dessa comunidade de fala.
Houve um processo de exclusão das respostas obtidas e foram selecionadas
aquelas que mais se adequavam à pesquisa. Importante ressaltar que esse tipo
de pesquisa é de suma importância para a compreensão da língua como agente
construtor de identidade, além de evidenciar um grupo que vive marginalizado.

Palavras-chave: identidade; LGBTQIA+; dialeto.

970
Painéis
Tradução

Tradução para o teatro musical: os procedimentos


tradutórios em Wicked
Autoria: LUIZA MARIA TORMENA HIDALGO

A pesquisa aborda a importância das escolhas tradutórias para o teatro musical,


visto que essa é uma modalidade de entretenimento em crescente expansão no
Brasil. Para tanto, os objetos de estudo utilizados foram o roteiro em inglês do
espetáculo musical Wicked: The Untold Story of the Witches of Oz (composto
por Stephen Schwartz com libreto de Winnie Holzman) e sua tradução para o
português brasileiro Wicked: A História Não Contada das Bruxas de Oz (versão de
Victor Mühlethaler em parceria com Mariana Elisabetsky). O objetivo geral deste
estudo foi analisar e comparar excertos retirados de três músicas do primeiro
ato da peça e seu foco nas personagens principais, Elphaba e Galinda. Já os
objetivos específicos foram discutir e identificar os procedimentos tradutórios
utilizados nos excertos da tradução, analisar as escolhas semânticas e lexicais
dos tradutores e como elas impactam na atmosfera musical e na caracterização
da fala das personagens do roteiro traduzido, e examinar a existência de outras
possibilidades para as traduções dos excertos. Sendo este um estudo de
cunho qualitativo realizado por meio de uma análise comparativa, bibliográfica
e documental nos trechos selecionados, foram discutidos os conceitos de
domesticação e estrangeirização de Venuti (2004), o Princípio do Pentatlo de
Peter Low (2003) e os Procedimentos Técnicos da Tradução de Barbosa (2020)
mais recorrentes nas versões das músicas. De modo geral, os resultados obtidos
mostraram que houve uma domesticação, aproximando, assim, o texto original
do público-alvo. Em todos os excertos foi verificado positivamente o Princípio
do Pentatlo, o qual pôde ser respeitado devido, principalmente, ao emprego do
procedimento tradutório da adaptação, pois sem este procedimento, o sentido
e talvez até a naturalidade fossem mantidos, porém não haveria a cantabilidade,
nem o ritmo e nem as rimas. Devido à observação da boa qualidade das versões
nos excertos selecionados, não houve a necessidade da sugestão de alterações.

Palavras-chave: teatro musical; análise comparativa; procedimentos tradutórios.

971
Publique seu e-book com a gente!

Você também pode gostar