A Analítica Do Poder em Michel Foucault
A Analítica Do Poder em Michel Foucault
A Analítica Do Poder em Michel Foucault
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Foucault, M. “Confession of de Flesh”, [1980?], p. 199.
releitura althusseriana do marxismo, por exemplo. O poder, para
Foucault, não é algo que se possa possuir, porque não é um bem
alienável do qual se possa ter a propriedade. Por isso, qualquer que
seja a sociedade, não existe divisão entre os que têm e os que não têm
poder. No entanto, o poder sempre é exercido em determinada direção,
com uns de um lado e outros de outro (FOUCAULT, 2001d, p. 75). Ou
seja, embora não haja um titular, um dono do poder, o poder é exercido
sempre em determinado sentido, não necessariamente de cima para baixo.
O poder, em outras palavras, não se possui, o poder se exerce ou se
pratica.
Resumindo, Foucault afirma que “o poder não existe”
(FOUCAULT, 2001e, p. 248), o que existem são práticas, relações de
poder. Machado (2001, p. XIV), na introdução que fez para o livro
Microfísica do poder (FOUCAULT, 2001b), sintetiza muito bem as idéias
do filósofo sobre o poder:
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Nas palavras de Foucault: Marx, implicitement, ne reconnaît pas ce schéma. Il montre, au
contraire, comment, à partir de l’existence initiale et primitive de ces petites régions de
pouvoir – comme la propriété, l’esclavage, l’atelier et aussi l’armée - , a pu se former, petit à
petit, des grands appareils d’État.
sua vida e pratica suas ações. O poder se exerce no
Estado, mas não deriva dele; pelo contrário, o
poder se estatizou ao se abrigar e se legitimar sob
a tutela das instituições estatais. (VEIGA-NETO,
2003, P. 145, grifos do autor).
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FOUCAULT, M. L’impossible prison, recherches sur le systeme pénitentiaire au XIX siècle.
Paris, Éd. du Seuil. 1980, p. 122.
qua non para a compreensão das teses foucaultianas tomar o poder como
não localizável em nenhum ponto específico da estrutura social. Para
Foucault, o poder funciona como uma rede que incluiu todos, ou seja,
da qual ninguém pode esquivar-se, para a qual não existe nada que lhe
possa ser exterior. Foucault, entretanto, preocupa-se em esclarecer
que, mesmo em instituições fortemente hierarquizadas – o exército por
exemplo –, em que a rede de poder possua uma forma piramidal, o
“ápice” não é a “fonte” ou o “princípio” de onde todo o poder
emana, porque o vértice (os comandantes) e a base (os comandados) da
hierarquia se apóiam e se condicionam reciprocamente (FOUCAULT, 2001g,
p. 221).
Perceber a microfísica do poder não se traduz apenas em
deslocar a análise do ponto de vista espacial, mas principalmente
analisar o nível em que ela ocorre. Ou seja, não basta concluir que
não há um ponto central de onde o poder irradia toda a sua fortaleza;
é preciso compreender que analisar a microfísica do poder significa
entender os procedimentos técnicos que têm por objetivo o controle
minucioso do corpo. Não apenas o produto, mas todo o processo é alvo
do micropoder, seus mais detalhados gestos. Foucault preocupa-se com a
existência capilar do poder, porque
Referências
FOUCAULT, Michel. A vida dos homens infames. In: ______. Estratégia, poder-
paber. Organização e seleção de textos de Manoel Barros da Motta. Tradução de
Vera Lúcia Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003g, p.
203-222.