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ASA Sentidos Teste10 Camões Lírico
ASA Sentidos Teste10 Camões Lírico
ASA Sentidos Teste10 Camões Lírico
GRUPO I
PARTE A
PARTE B
Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom o Meestre; e
assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo 1 de marido, se moverom
todos com mão armada, correndo a pressa pera u2 deziam que se esto fazia, por lhe darem vida
e escusar morte. Alvoro Paaez nom quedava3 d‘ ir pera alá4, braadando a todos:
5 – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom
cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom logares escusos, desejando cada uũ de seer o
primeiro; e preguntando uũs aos outros quem matava o Meestre, nom minguava 5 quem
responder que o matava o Conde Joam Fernandez6, per mandado da Rainha.
10 E per voontade de Deos todos feitos duũ coraçom7 com talente8 de o vingar, como forom9
aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, com espantosas palavras
começarom de dizer:
– U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o
15 Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem10 pera entrar
dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela.
Deles11 braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar o
treedor12 e a aleivos13. Outros se aficavom14 pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem
que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uũs com
20 os outros, nem determinavom neũa cousa. E nom soomente era isto aa porta dos Paaços, mas
ainda arredor deles per u homeũs e molheres podiam estar. Ũas viinham com feixes de lenha,
outras tragiam carqueija pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com ela,
dizendo muitos doestos15 contra a Rainha.
Fernão Lopes, in Teresa Amado (apresentação crítica), Crónica de D. João I de Fernão Lopes
(textos escolhidos), ed. revista, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992 [1980].
Vocabulário:
1em lugar de; 2onde; 3não parava; 4lá; 5não faltava; 6Conde João Fernandes Andeiro, nobre galego, amante da
rainha e por ela nomeado conde de Ourém; 7todos feitos duũ coraçom: todos animados pela mesma coragem;
8 desejo; 9 como forom: logo que chegaram; 10 arrombassem; 11 alguns deles; 12traidor; 13adúltera; alusão a
4. Refira, exemplificando, dois recursos usados pelo cronista para evidenciar a ação levada a
cabo pelo povo neste episódio.
5. Demonstre que o povo age como uma personagem coletiva na defesa do Mestre.
GRUPO II
A perceção que temos do mundo é cada vez mais a de incerteza, fluidez, divergência,
diferenciação, conflito, complexidade, imprevisibilidade.
Daí essa sensação de que o mundo está mais perigoso. Em termos quantitativos, as
tragédias que hoje vivemos provocam um número de vítimas ainda longe dos aterradores
5 números do século XX, das duas guerras mundiais, que tiveram na Europa a sua génese.
E a desordem ou o “desconcerto” do mundo não são ideias novas. Basta lembrarmos
como Camões se referiu a ele... Mas hoje existe uma perceção de perigo talvez mais iminente,
dada a existência de meios de comunicação instantânea de massas, a globalização e novos
fenómenos, como a apologia de crimes violentos, o autossacrifício de elementos fanatizados,
10 que espalham o terror nas populações civis. Ou seja, alguns critérios clássicos da guerra foram
postos em causa. Fala-se de guerras híbridas, não declaradas. Contudo, se considerarmos os
indicadores de desenvolvimento económico e social, verificamos que o mundo tem feito
progressos notáveis na luta contra a fome, a pobreza extrema, a mortalidade infantil, e no
crescimento de esperança de vida, tal como na capacidade de combater doenças que até há
15 pouco tempo eram fatais. Mas, embora muita gente tenha saído da pobreza extrema (caso da
China), a verdade é que as desigualdades não diminuíram, aumentaram, nomeadamente nos
EUA e na Europa, mas também na própria China.
A perceção da injustiça é outro aspeto a ter em conta. De um modo geral, o que está em
causa é a inexistência de uma ordem política da globalização. Após a ordem (terrível, mas
20 ordem de qualquer modo) da Guerra Fria e dos chamados equilíbrios do terror pela
ameaça de destruição nuclear recíproca, seguiu-se a ilusão da paz com a hiperpotência
americana. Descobre-se hoje que, na realidade, o mundo é ainda mais perigoso quando
nenhuma superpotência faz valer a sua hegemonia de modo inequívoco.
Está ainda por construir a ordem política da globalização, a ordem do século XXI. Essa deve
25 ser a principal tarefa dos estadistas deste início de século. Estamos num momento de
transição e daí esta ansiedade que se nota em tantas das nossas atitudes.
7. O processo fonológico que se verifica na evolução do termo latino VITA- para “vida” (l. 14)
chama-se
(A) assimilação.
(B) sonorização.
(C) sinérese.
(D) prótese.
8. Classifique a oração “embora muita gente tenha saído da pobreza extrema (caso da China)”
(ll. 15-16).
GRUPO III
Segundo Fernando Pessoa, “Ser descontente é ser homem”, o que significa que a mudança
se torna premente na vida humana.
Redija um texto expositivo, entre 130 e 150 palavras, onde comprove a veracidade desta
afirmação, refletindo sobre o comportamento das personagens Inês Pereira e o Povo.
COTAÇÕES
GRUPO
I 1. 2. 3. 4. 5.
20 20 20 20 20 100
II 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 60
III Item único
40
Total 200
Proposta de correção
GRUPO I
PARTE A
1. O poema pode ser dividido em três partes lógicas; na primeira, que compreende as duas quadras,
o sujeito poético aponta as transformações que deveriam acontecer na Natureza e no mundo para
que deixasse de sentir amor pelo destinatário da composição poética. Na segunda parte, que
corresponde ao primeiro terceto, o sujeito poético afirma que, enquanto as transformações
referidas não se verificarem, ele não deixará de a amar. Finalmente, no último terceto, o sujeito
poético aponta as razões que o prendem à mulher amada.
2. O tema do desconcerto do mundo e da mudança são observáveis nas transformações sugeridas pelo
“eu” na primeira e na segunda estrofes, nomeadamente, a água não apagar o fogo (v. 1), a noite e o
dia unirem-se num só (v. 2), a terra “subir” até ao lugar onde está o “céu” (vv. 3 e 4) e a razão
comandar o amor (v. 5).
3. A expressão que se encontra entre parênteses mostra a certeza do sujeito poético de que as
mudanças referidas não acontecerão e, portanto, como tudo continuará igual, no último terceto o
eu poético reforça a sua convicção no amor pela dama, até porque ela é a sua esperança, a sua dor e
o bem da sua alma. Estabelece-se, portanto, entre o segmento parentético e o conteúdo do último
terceto, uma relação de consequência.
PARTE B
4. A visualização da ação do povo é possível através do realismo descritivo. A utilização de recursos tais
como o emprego do gerúndio (“ouvindo”, “preguntando”, “pedindo”), o recurso às sensações visuais
(“era estranha cousa de veer”) e auditivas (“ouvindo todos braadar”, “braadando a todos”, “Ali eram
ouvidos braados”), que, associadas aos verbos de movimento (“se moverom todos”), permitem
“ver” e “ouvir” a movimentação, a agitação e os gritos do povo. Pode-se referir ainda a utilização
expressiva da pontuação, nomeadamente as interrogações, que expressa a dúvida do povo e a
vontade de acudir ao Mestre.
5. O povo demonstra-se decidido a salvar o Mestre e isso vê-se no modo como se junta e participa
unido ativamente, como de uma só personagem se tratasse. Através de ações concertadas, os
populares unem-se, cada qual fazendo a sua tarefa, mas todos contribuindo para a consecução de
um objetivo comum. De acordo com o narrador, muniram-se de utensílios que facilitassem o acesso
ao Paço e a salvação do Mestre, ainda que fosse necessário incendiá-lo ou até matar Leonor Teles e
o Conde Andeiro.
GRUPO II
GRUPO III
Ao longo da sua vida, o ser humano depara-se com situações perante as quais deve decidir se
mantém a ordem estabelecida, ou seja, a tradição, ou se, pelo contrário, deve optar pela mudança.
Esta situação pode ser verificada tanto na personagem Inês Pereira como na personagem Povo. Inês
Pereira, ao desejar casar com um homem bem-falante e que soubesse “tanger viola”, contraria a
tradição da rapariga do povo, afrontando até tanto a mãe como a casamenteira Lianor Vaz, que,
conscientes do perigo que tal mudança podia acarretar, tentam aconselhar a jovem a seguir a tradição.
Neste caso, a mudança acabou por ser traiçoeira para Inês.
Pelo contrário, o Povo, ao aperceber-se da mudança a que estaria sujeito, se o Mestre fosse,
efetivamente morto, uniu-se, muniu-se de utensílios vários e, demonstrando união e uma enorme força
de vontade, liderado por Álvaro Pais, acorreu ao palácio para defender aquele que lhe permitiria manter
a independência.
(153 palavras)