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Formação de Professores e Identidades

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Formação de professores e construção da identidade profissional docente

Teacher training and teacher professional identity construction

Mateus de Souza Coelho Filho1


Evandro Luiz Ghedin2

RESUMO: Intensificam-se no contexto educacional, em particular no campo sobre formação


de professores, discussões e proposições acerca da formação destes profissionais, estas intentam
suscitar novas práticas educativas, assim como reflexões acerca do próprio processo de
formação como elemento que possibilite melhorias em sua prática docente, bem como a
construção de sua identidade profissional. Tem como objetivo analisar como a formação de
professores ajuda a construir a identidade profissional docente. Trata-se de um estudo
qualitativo, realizou-se um estudo bibliográfico, o qual foi construído com base nos escritos de
Imbernón (2011), Ferreira (2014), Ghedin, Almeida e Leite (2008), Nóvoa (1995), Falsarella
(2004) além de outros autores. O processo formativo pode possibilitar a construção da
identidade profissional docente na medida que instrumentaliza os sujeitos com um conjunto de
saberes, conhecimentos e experiências teóricas e práticas da tessitura na trajetória formativa.
Vale ressaltar que a construção da identidade profissional docente não se esgota ou atinge o
ápice ao término do percurso formativo seja ele inicial ou contínuo, esta se estende no dia a dia
de trabalho do professor, em momentos de trocas de experiências, em cursos formativos e
durante todo o processo em que este profissional caminha pela profissão docente.

Palavras-Chave: Formação de professor. construção. identidade. profissional. docente.

1Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática-PPGECM-


REAMEC/UFMT Polo UEA, Professor da Universidade do Estado do Amazonas-UEA, Brasil,
mcoelho426@gmail.com.
2
Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática-REAMEC/UFMT
Polo UEA, Professor da Universidade Federal do Amazonas-UFAM, Brasil, evandroghedin@gmail.com.

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24 e 25 de Janeiro de 2018, Braga e Paredes de Coura, Portugal.
INTRODUÇÃO

A formação de professores configura-se como um processo que pode possibilitar


mudanças na prática pedagógica destes, no processo educativo e formativo dos estudantes, bem
como na sociedade como um todo, isto porque são estes profissionais que tem o compromisso
e a responsabilidade de fazer a mediação entre os conhecimentos construídos e acumulados ao
longo da história pela humanidade e os estudantes que estão na condição de aprendentes
independentemente do nível, etapa ou modalidade de ensino em que desenvolvem suas práticas
pedagógicas. Na medida que vai adquirindo os conhecimentos, saberes e experiências
necessários para exercer a docência, que vai colocando-os em prática o conjunto de ações e
atividades, o professor tem a possibilidade de ir construindo, desconstruindo e reconstruindo
sua identidade profissional docente e ao edificá-la também exerce e coloca em prática sua
profissionalidade docente.
Os conhecimentos, saberes e experiências que o professor adquire seja na formação
inicial ou contínua, pode possibilitar ao mesmo pouco a pouco um processo de identificação
com a profissão, ou seja, é o momento em que tem a possibilidade de construir, desconstruir
e reconstruir sua identidade profissional docente, isto porque é nesse momento que o professor
vai estabelecendo a afeição e o gosto pelo trabalho docente na medida que vive, senti e
experiencia situações diversas no ambiente de trabalho em que desempenha a profissão, neste
percurso tem possibilidade de colocar em prática seus saberes bem como construir novos a
partir das relações que materializa neste mesmo ambiente.
Neste estudo tecemos algumas considerações sobre a formação dos professores,
ponderamos sobre a construção da identidade profissional docente na formação destes
profissionais, falamos a respeito da metodologia, da mesma forma tecemos as considerações
finais a respeito deste estudo, entretanto tal discussão não se esgota ao termino deste estudo,
pelo contrário entendemos que sobre a temática há muito o que se discutir e produzir enquanto
elemento que pode contribuir com o processo formativo, bem com a construção de sua
identidade profissional docente no próprio processo formativo. Tem como objetivo analisar
como a formação de professores ajuda a construir a identidade profissional docente. Trata-se
de um estudo qualitativo, realizou-se um estudo bibliográfico, o qual foi construído com base

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nos escritos de Imbernón (2011), Ferreira (2014), Ghedin, Almeida e Leite (2008), Nóvoa
(1995), Falsarella (2004) além de outros autores que sustentaram este estudo.
A construção da identidade do professor principia, de certa forma, antes do ingresso
no nível superior. Acontece desde a fase inicial de sua formação pela observação, análise e
convívio com seus professores quando de seu processo formativo básico, da mesma forma ao
começar a formação inicial com os professores formadores por meio também de observação e
análise das práticas formativas destes, vai se expandindo com as oportunidades que surgem
no decorrer do exercício e desenvolvimento profissional da profissão, bem como pela
continuidade da sua formação profissional, a construção da identidade do professor é um
processo de constituição do sujeito histórico e social que vive em uma sociedade em constante
processo de mudança em função das novas demandas e exigências educacionais.

Formação de professores: Algumas considerações

Para iniciar a discussão sobre formação de professores consideramos importante


distinguir alguns elementos relacionados a este processo, uma vez que é mister que
compreendamos conceitualmente cada elemento. A formação refere-se ao ato ou modo de
formar e a formação de professores refere-se ao ato ou modo de formar o docente. Nesse
processo a formação acontece para uma sociedade, em um determinado momento histórico
(VEIGA, 2008). Na formação de professores outros elementos se articulam como a questão dos
saberes e das práticas pedagógicas, que constituem elo da dinâmica e construção da identidade
profissional docente (FERREIRA; FERRAZ, 2014).
Kronbauer e Simionato (2012) afirmam que a formação de professores tem mobilizado
nacional e internacionalmente diferentes setores da sociedade. Esta é uma temática sempre
presente no tecido social, porém nas últimas décadas este debate tem se intensificado. Cada vez
mais rupturas epistemológicas são necessárias para dar conta da diversidade que se apresenta,
no sentido de que a educação rompa com o abstracionismo em que se encontra e passe a ser
compreendida como parte da prática social concreta. Em meio a necessária ruptura
epistemológica, muitas são as contradições que se apresentam, como a valorização do professor

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e da escola como protagonistas de processos de democratização social e política pelos quais as
nações têm passado em diferentes momentos históricos.
A docência pressupõe uma profissão - a de professor - e torna necessário a
profissionalidade, que é definida como sendo um “conjunto de requisitos profissionais que
tornam alguém um professor” (LIBÂNEO, 2004, p. 75), ainda estabelece relação com a
construção da identidade profissional, pois esta articula a formação inicial e continuada e
quando o sujeito passa a se identificar com a profissão, este passa a desenvolver uma feição
relacionada a esta, ou seja, passa a desenvolver a profissionalidade (D’ ÁVILA, 2008).
Atrelada à questão da profissionalidade encontra-se as concepções de profissionalização
e profissionalismo. A profissionalização se refere ao processo onde se insere a profissionalidade
- essa busca incessante por uma identidade ou perfil profissional, ou seja, ao processo em que
se adquirem as capacidades necessárias para o exercício profissional. O profissionalismo refere-
se “ao desempenho competente e compromissado dos deveres e responsabilidades que
constituem a especificidade de ser professor e ao comportamento ético e político expresso nas
atitudes relacionadas à prática profissional” (LIBÂNEO, 2004, p. 75).
Para Kronbauer e Simionato (2012) a profissionalização do professor, inclusive para seu
reconhecimento e valorização, tem por base sua profissionalidade, e exige o que se chama de
desenvolvimento profissional. Este só pode ser obtido a partir de uma formação básica
adequada, indo além das chamadas competências operacionais, pela construção de um saber
próprio, que inclui a mobilização não só de conhecimentos e métodos de trabalho, como
também de intenções, valores individuais e grupais; e inclui confrontar ideias, crenças, práticas,
rotinas, objetivos e papeis, no contexto do agir cotidiano, com seus alunos, colegas, gestores,
na busca de melhor formar crianças e jovens, bem como a si mesmos.
Nesse sentido, o processo formativo de professores constitui-se como componente
essencial para que os objetivos educacionais sejam alcançados, isso porque o professor por
meio de sua prática docente materializa o planejamento idealizado em nível de educação,
principalmente o planejamento que o leva a desenvolver suas atividades no interior do recinto
escolar. A formação de professores é um fator de fundamental importância para que o processo
ensino-aprendizagem tenha êxito e seja eficaz, cabe a este profissional estar sempre atento para
saber lidar com os avanços e as mudanças que emergem na sociedade e na escola. Para tanto,

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compreende-se esta formação como busca da qualificação constante e contínua, baseada na
possibilidade de redimensionar o desenvolvimento profissional, o processo do ensino e a
educação como um todo, visto que os professores socializam e compartilham seus
conhecimentos, saberes e experiências, integrando-os a novas maneiras de desenvolver a prática
pedagógica.
Libâneo (2011) ressalta que a formação de professores é uma prática educativa que visa
mudanças qualitativas no desenvolvimento e na aprendizagem de sujeitos que desejam se
preparar profissionalmente para ensinar. Nesse sentido, Imbernón (2011) afirma que a formação
deve fornecer bases para poder construir um conhecimento pedagógico, esta formação de
acordo com Imbernón deve dotar o professor de elementos que são indispensáveis para a
construção da sua identidade profissional, bem como para o exercício da docência. Para que o
professor tenha uma práxis docente significativa, a formação docente representa um dos
processos fundamentais para se adequar aos novos paradigmas educacionais, “uma das pedras
imprescindíveis em qualquer tentativa de renovação do sistema educativo” (GARCIA, 1995, p.
23).
As perspectivas por uma prática pedagógica dinâmica e diferenciada são perceptíveis.
Hoje não se ensina mais como antes, os estudantes anseiam por aulas mais interessantes,
prazerosas e dinâmicas, que os orientem à reflexão e a ação, que possibilitem compreensões e
aprendizagens que os levem a entender o mundo de forma significativa e eficaz. Para Imbernón
(2011) a formação assume um papel que transcende o ensino que pretende uma mera
atualização científica, pedagógica e didática e se transforma na possibilidade de criar espaços
de participação, reflexão e formação para que as pessoas aprendam e se adaptem para poder
conviver com a mudança e a incerteza. Imbernón nos alerta para percebermos que a formação
profissional do professor não se resume a um amontoado de conhecimentos teóricos sem
sentido prático, pelo contrário, chama-nos atenção para percebermos que esta formação precisa
ultrapassar a inércia e a imaterialidade dos conhecimentos, estes (conhecimentos) devem se
tornar materiais na medida que o professor exerce sua prática pedagógica, momento em que
concretiza no ambiente escolar seus conhecimentos e saberes por meio de sua prática docente.
A formação é fator indispensável para que o professor acompanhe as mudanças que
ocorrem na sociedade atual, bem como prepará-lo para contribuir na formação das pessoas com

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as quais interage, visto que não apenas ensina, mas educa. Uma nova prática pedagógica só será
possível se o professor souber contextualizar novas situações, criando novas maneiras de
articulação dos saberes na (re) construção da docência, dialogando com os envolvidos no
processo da formação de maneira constante.
Imbernón (2010) dá ênfase à formação, porque acredita que ela é o fomento de
desenvolvimento pessoal, profissional e institucional dos professores, elevando seu trabalho
para transformação de uma prática pedagógica desenvolvida ao longo da profissão,
constantemente sujeita a experimentação do novo. Garcia (1999) corrobora argumentando que
face a essa atualização, a formação de professores é uma área de conhecimentos, investigação,
propostas teóricas e práticas, que no âmbito da didática e da organização escolar permite o
desenvolvimento do ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a educação
dos alunos que a recebem.
Não há como começar uma profunda reforma na educação ou na sociedade se esse
processo não tiver seu início pelos professores. Qualquer reforma no pensamento só se
desencadeia se começar por uma reforma dos professores. Isto quer dizer que é necessário dar-
lhes os instrumentos para que pensem de modo diferente para que tenham a oportunidade de
desenvolver novas práticas (GHEDIN, ALMEIDA, LEITE, 2008).
É pertinente ressaltar a necessidade de pensar a formação do professor de acordo com a
necessidade social e política da escola pública, aberta ao novo, capaz de oferecer ao aluno
caminhos para a busca de respostas aos problemas que enfrenta no cotidiano. Ghedin, Almeida
e Leite (2008) sustentam que é preciso investir numa formação que vincule teoria e prática, a
partir da pesquisa e de uma efetiva inserção no interior da escola. É preciso repensar as políticas
de formação a partir das exigências internas de formação, dos processos didático-pedagógicos,
curriculares e organizacionais necessários para que, efetivamente, expressem o perfil de
formação necessário a atender as demandas reais da escola.
Para Falsarella (2004) a profissão “professor” (destaque da autora) assume uma
multiplicidade de faces, dependendo de suas posturas e atitudes, pode levar seus alunos a se
perceberem como pessoas, como agentes em sua própria vida e na vida da coletividade, ou
simplesmente como receptores de uma cultura social e escolar que nada lhes diz, muitas vezes
vazia, alheia, descolada de sua realidade e que não encontra ressonância em seu ambiente

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cultural mais imediato. A autora chama atenção para a importância da construção do saber
docente que se inicia na formação inicial, se reconfigura na formação contínua, na troca de
saberes e experiências com seus pares e profissionais correlatos. Melhor dizendo, a construção
do saber docente, da identidade profissional, da epistemologia didático-pedagógica é um
processo que tem início na formação inicial e prossegue na continuidade dessa formação, ou
seja, na formação continuada, no desenvolvimento profissional do professor, esse processo é
ininterrupto, é um caminhar pessoal e profissional construído ao longo do caminho pretérito e
fututo.
Falsarella (2004) assegura a necessidade de conceber a formação de professores como
um continuum (grifo da autora), o conceito básico da formação de professores deve ser o de
desenvolvimento profissional, que traz um sentido de evolução e continuidade, avançando em
relação a termos como aperfeiçoamento, reciclagem, formação em serviço ou formação per-
manente. Precisamos ter presente que a formação inicial constitui o primeiro estágio da
formação contínua, a qual deve acompanhar o profissional durante toda a sua carreira e auxiliá-
lo a construir sua identidade profissional docente.
O percurso formativo de professores configura-se como elemento importante e
fundamental para a ação educativa destes profissionais. É evidente que parte do êxito
educacional reside na etapa formativa daqueles, seja inicial ou contínua. A discussão sobre a
formação contínua deve considerar a identidade profissional do professor, sua construção como
sujeito historicamente situado e a mobilização dos saberes da docência (científicos,
pedagógicos e de experiência), de forma que o incentive a caminhar no sentido de sua
autonomia profissional por meio da contínua apropriação de saberes, dentro de determinado
contexto e pela interação com os demais sujeitos da ação educativa (FALSARELLA, 2004).
O professor não deve ser um técnico que desenvolve ou implementa inovações pres-
critas, mas deveria converter-se em um profissional que deve participar ativa e criticamente no
verdadeiro processo de inovação e mudança, a partir de e em seu próprio contexto, em um
processo dinâmico e flexível, uma das fontes de maior satisfação e revitalização profissional do
professor é a geração de processos de aprimoramento profissional (IMBERNÓN, 2011). O
autor segue afirmando que o processo de formação deve dotar os professores de conhecimentos,
habilidades e atitudes para desenvolver profissionais reflexivos e investigadores. A formação

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inicial e permanente deste profissional da educação deve preocupar-se fundamentalmente com
a gênese do pensamento prático pessoal do professor incluindo tanto os processos cognitivos
como afetivos.
A formação docente constitui-se em um processo fundamental para que ocorram
mudanças no âmbito escolar e social. Entendemos que a qualidade do processo educativo na
escola passa, de um certo modo, fundamentalmente pela tessitura de elementos da e na
formação docente, elementos estes que instrumentalizarão o professor a lidar melhor e com
mais propriedade em relação aos desafios e percalços inerentes a sua práxis docente.
Ghedin, Almeida e Leite (2008) enfatizam que certamente os professores e professoras
são muito mais do que aquilo que fazem. Ao fazerem o que fazem eles instituem práticas que
condicionam outros modos de ser porque exemplificam outras maneiras de ser. Isso quer dizer
que há uma imbricação entre ser e fazer, isto é, a realidade ontológica do ser professor conjuga-
se com a realidade da episteme do fazer profissional do docente em ação. Se assim for, o
professor é e está sendo, à medida que assume seu trabalho como condição de poder ser mais,
justamente na mesma medida em que ele se desvencilha de velhas formas de pensar os
processos pedagógicos. O imbricamento entre ontologia e epistemologia funda o avanço mais
significativo do debate contemporâneo sobre formação de professores.

A construção da identidade profissional docente na formação de professores

Para iniciar a discussão sobre a construção da identidade profissional docente, é


pertinente ressaltar que quando os professores chegam ao curso de formação inicial já trazem
saberes sobre o que é e como ser professor na medida em que passaram por um processo
formativo anterior na educação básica, esse fato possibilitou adquirirem saberes que de algum
modo permitiu começar a construir a identidade profissional docente, mesmo que de forma
precoce ou talvez inconsciente. A construção da identidade do professor inicia, de certa forma,
antes do ingresso no nível superior, isso mobiliza uma integração de saberes e posturas por
parte dos professores formadores que trabalham na formação inicial e contínua. Acontece desde
a fase inicial de sua formação, pelo convívio com os professores formadores por meio de suas

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práticas formativas, vai se expandindo com as oportunidades que surgem no decorrer do
exercício da profissão, bem como pela continuidade da sua formação profissional.
A respeito de prática formativa é importante destacar os escritos de Guimarães (2004)
quando afirma que as atividades desenvolvidas na instituição formativa pelo professor formador
são amplas e complexas, envolvendo aspectos para além das ações no sentido estrito do ensinar
e ecoam de maneiras diferentes para cada aluno, de acordo com a singularidade dos contextos,
da experiência e da história de vida de cada um. Assim, práticas formativas referem-se a
maneiras bem identificáveis de ensinar, mas também à qualidade das relações entre professor e
aluno, ao exemplo profissional, à autoridade intelectual do professor formador, entre muitas
outras ocorrências que os alunos podem avaliar como importantes para o aprendizado do ser
professor.
Ao iniciar seu percurso formativo profissional o professor passa por uma fase de
descoberta que possibilita o confronto com o novo, a exploração de possibilidades de ação e
avança para uma fase em que começa a ter consciência de suas responsabilidades e de seu papel
como educador, na qual busca conhecimentos sobre a docência, ao mesmo tempo em que
começa a ter noção que deve associar suas teorias com as práticas vivenciadas no curso e vice
versa. A construção da identidade do professor é um processo de constituição do sujeito
historicamente situado na sociedade que está em constante processo de mudança, nesse sentido
a construção da identidade profissional docente se configura como um processo flexível e
dinâmico e que leva em consideração as transformações que acontecem no meio social, político
e cultural.
A identidade profissional do professor tem sido referida a maneira como a profissão
docente é representada, constituída e mantida socialmente. A identidade profissional que os
professores individual e coletivamente constroem e a forma como a profissão é representada
estão intimamente ligadas. Nesse sentido, é razoável esperar que os cursos de formação
exerçam influência na construção da identidade profissional dos professores (GUIMARÃES,
2004).
Nóvoa (1995) afirma que construindo sua identidade social, o docente também acredita
na necessidade de investigar os saberes dos quais é portador, refletindo acerca deles dos pontos
de vista teórico e conceitual. Segundo o autor, o percurso formativo tem um papel importante

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na formação do profissional, é através dos conhecimentos obtidos ao longo do curso que o
mesmo vai construindo seu arcabouço teórico, aliado as práticas buscará a compreensão e a
valorização do ensino para melhor transformar o seu saber fazer docente num processo contínuo
para a construção da sua identidade profissional docente.
Dentre os saberes que compõem a formação inicial e a construção da identidade
profissional docente, Gauthier (1998) destaca seis saberes profissionais que considera
importantes, quais sejam: Saberes disciplinares, curriculares, das ciências da educação, da
tradição pedagógica, experienciais e da ação pedagógica. Pimenta (1997), deduzindo-os de
Nóvoa (1995a) agrega estes seis tipos de saberes em saberes da experiência, saberes do
conhecimento e saberes pedagógicos.
Guimarães (2004) afirma que todo o arcabouço de conhecimentos transmitidos nos
cursos de formação refere-se, em maior ou menor grau, à prática profissional. Para este autor
os saberes profissionais se configuram em saberes disciplinares, saberes didático-pedagógicos
e saberes relacionados a cultura profissional. Os primeiros referem-se a conhecimentos das
ciências humanas e naturais, integrando uma cultura geral. Os segundos referem-se a
conhecimentos específicos da mediação do processo ensino-aprendizagem, a saberes
relacionados à teoria da educação, relacionados ao trabalho coletivo e aos princípios da
organização escolar e, por último, a nexos entre escola-sistema escolar e social. Os últimos
referem-se à explicitação e ao compartilhamento, no processo de formação inicial do ofício
docente como profissão.
Pimenta e Anastasiou (2002) afirmam que a identidade não é um dado imutável, nem
externo, que possa ser adquirido. Mas é um processo de construção do sujeito historicamente
situado. Nesse sentido, Tardif e Raymond (2000) sustentam que os saberes dos professores não
se restringem à sala de aula, mas estão imbricados num todo complexo com múltiplas relações;
sendo assim, esses sujeitos aprendem a ser professores, a como agir na ação, de acordo com as
representações de suas experiências como aluno.
Segundo Nóvoa (1992) na construção da identidade docente três processos são
fundamentais: o desenvolvimento pessoal, que se refere aos processos de produção da vida do
professor; o desenvolvimento profissional, que se refere aos aspectos da profissionalização
docente; e o desenvolvimento institucional, que se refere aos investimentos da instituição para

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o alcance de seus objetivos. Os processos de profissionalização inserem-se neste tríplice
investimento. O autor destaca ainda que a identidade do professor é um espaço de construção
de maneiras de ser e estar na profissão.
Esses três processos que permeiam a construção da identidade profissional do professor
configuram-se como basilares na medida que este passa por um processo de aquisição de
saberes embora diferentes e específicos em cada processo, por outro lado são complementares
e ajudam-o sistematicamente nesse percurso de construção identitária com a profissão,
construção essa que é arquitetada paulatinamente, não é pontual e nem estanque, pelo contrário
é um processo contínuo, dinâmico e constante dado as necessidades de acompanhamento das
mudanças e transformações causadas pelo avanço científico e tecnológico, dentre outros que a
sociedade vivencia.
De acordo com Pimenta e Anastasiou (2002) a identidade profissional se constrói com
base na significação social da profissão; na revisão constante dos significados sociais da
profissão; na revisão das tradições. Mas também com base na reafirmação de práticas
consagradas culturalmente que permanecem significativas. Constrói-se também, pelo
significado que cada professor, enquanto ator e autor confere à atividade docente em seu
cotidiano, em seu modo de situar-se no mundo, em sua história de vida, em suas representações,
em seus saberes, suas angústias e anseios, no sentido que tem em sua vida o ser professor.
Para Nóvoa (1995) a identidade do professor está relacionada com a própria identidade
da profissão docente, construída dentro de um processo histórico-cultural e formada na relação
com os outros sujeitos, gerando novas identidades em constante processo de transformação. De
acordo com Nóvoa a construção da identidade profissional docente acontece paralelamente na
tessitura que este profissional tem com seus pares no tramite do percurso formativo na medida
que adquire e troca saberes, conhecimentos e experiências, pois esta é uma construção singular
se olharmos para o profissional enquanto ser que está em processo formativo e ao mesmo tempo
plural se olharmos pela ótica das relações e práticas que tece nesse mesmo processo.
A construção da identidade do professor é muito complexa na medida que exige saberes
diversificados, possui relações estreitas com o ambiente de formação e esses ambientes
possuem vários desafios para este profissional na sua trajetória acadêmica. Para se ter uma
formação sólida é preciso levar em conta os saberes adquiridos pelo profissional ao longo de

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sua trajetória acadêmica como a prática reflexiva, sua formação profissional, as experiências
vivenciadas com os estudantes, a troca de experiências entre seus pares e na sala de aula como
professor.
A identidade profissional do professor está em constante processo de transformação, ela
permeia a vida do mesmo desde o momento da escolha da profissão, passando pela formação
inicial e pelos espaços institucionais onde se desenvolve a profissão. Como profissional da
educação, sua formação identitária é epistemológica, reconhecendo a docência dentro de um
campo específico de saberes do conhecimento.

METODOLOGIA

Este estudo tem como objetivo analisar como a formação de professores ajuda a
construir a identidade profissional docente. Trata-se de um estudo qualitativo, realizou-se um
estudo bibliográfico, o qual foi construído com base nos escritos de Veiga (2008), Kronbauer e
Simionato (2012), Libâneo (2011), Imbernón (2011), Ferreira e Ferraz (2014), Ghedin,
Almeida e Leite (2008), Nóvoa (1995), Falsarella (2004) além de outros autores que
contribuíram para a construção deste trabalho . É um estudo de caráter qualitativo, pois tenta
analisar a partir dos escritos dos autores como a formação de professores contribui para uma
prática pedagógica eficaz e satisfatória dos mesmos, bem como esta formação ajuda a (re)
construir sua identidade profissional docente na medida que proporciona conhecimentos,
saberes e experiências elementares para que construam um processo identitário com a profissão
docente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que a formação de professores pode contribuir para a melhoria do processo


educativo, do processo de ensinar e aprender no ambiente escolar, pode contribuir também para
que estes reflitam sobre suas próprias práticas docentes como condição para que as
redimensionem objetivando melhorá-las de maneira significativa e eficaz, reelaborando e
reorganizando estas, pensando nas contribuições e benefícios que os conhecimentos adquiridos

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no itinerário de suas formações, inicial e contínua, podem trazer para melhorar cada vez mais
a educação escolar como um todo.
Da mesma forma o processo formativo pode possibilitar a construção da identidade
profissional docente, ou seja, a identificação para com profissão na medida em que
instrumentaliza estes sujeitos com um conjunto de saberes, conhecimentos e experiências
teóricas e práticas, as quais servirão de suporte quando da utilização na práxis desse conjunto
de conhecimentos e saberes.
Vale ressaltar que a construção da identidade profissional docente não se esgota ou
atinge o ápice ao término do percurso formativo seja ele inicial ou contínuo, esta se estende no
dia a dia do trabalho do professor, em momentos de trocas de experiências, em cursos
formativos, na continuidade da estada na profissão e durante todo o processo em que este
profissional caminha pela profissão enquanto professor. Hoje este profissional, dado as
mudanças que acontecem na sociedade, não pode ao término de seu processo formativo,
afirmar que já está pronto para exercer o magistério ou que já construiu sua identidade
profissional docente, pelo contrário, tal fato se justifica pelas significativas e constantes
mutações que acontecem na sociedade contemporânea, o que exige dos docentes contínuas
aprendizagens, objetivando suplantar os desafios e adversidades inerentes a profissão, bem
como ter uma práxis docente com mais êxito e eficácia.
O processo formativo de professores é elemento fundamental para que estes
profissionais façam ajustes no exercício de sua profissão docente, uma vez que os saberes,
conhecimentos e experiências fazem emergir novos pensamentos, comportamentos e ações
pessoais e profissionais. Na medida que age de forma diferente, também constrói uma nova
cultura identitária pessoal e profissional diferente, uma cultura que lhe possibilite fazer melhor,
com autonomia e de forma mais eficaz seu fazer docente, ao passo que constrói e organiza uma
nova cultura profissional o professor também ajuda a edificar uma nova cultura escolar, a nova
cultura profissional e organizacional ajudam a pensar em uma nova escola, a qual corresponda
aos anseios dos professores, dos estudantes, da escola e da sociedade como um todo maior, hoje
se pensa e exige uma escola mais dinâmica e dialógica, que possibilite as pessoas aquisição de
novos conhecimentos, saberes, habilidades e competências para galgarem novos horizontes na
sociedade em que tecem suas relações e práticas sociais.

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Referencias

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