Texto Poético
Texto Poético
Texto Poético
Se ao morrer o coração
Morresse a luz que lhe é querida
Sem razão seria a vida
Sem razão
O segredo está, como dizem os versos acima, em que o poeta repara [9] enquanto os outros
apenas vêem...
É uma questão de sensibilidade: na verdade, o poeta não habita um mundo diferente [11],
mas sabe ver - com olhos de admiração - o sentido e a beleza que se encerram na mesma
realidade de cada dia.
Então, pensamos que na poesia podemos ser o que, no nosso mundo humano, não teríamos coragem
de ser. Ou deixar de ser o que para o mundo somos. Ou fazer-nos melhores, ou piores... Amados poetas...
A poesia é espírito... E assim como não é a palavra, também nós (pensamentos e sentimentos) não somos
nossa carne.
Porque os outros se mascaram mas tu nãoPorque os outros usam a virtudePara comprar o que não
tem perdãoPorque os outros têm medo mas tu nãoPorque os outros são os túmulos caiadosOnde germina
calada a podridãoPorque os outros se calam mas tu nãoPorque os outros se compram e se vendemE os
seus gestos dão sempre dividendoPorque os outros são hábeis mas tu nãoPorque os outros vão à sombra
dos abrigosE tu vais de mãos dadas com os perigosPorque os outros calculam mas tu não.
O poema “Porque”, é sem dúvida, exemplificativo da injustiça, onde são visíveis as referencias à
solidão e à marginalidade daquele que “luta coerentemente pela justiça com as armas da justiça, dizendo a
verdade e não utilizando a contraviolência.
Ler e escrever poesia é uma forma diferente de comunicar, transmitir o que vai
dentro da alma e ver/percepcionar o mundo envolvente.
São como um cristal, Desamparadas, inocentes,
as palavras, leves.
algumas, um punhal, tecidas são de luz
um incêndio. e são a noite.
Outras, E mesmo pálidas
orvalho apenas. verdes paraísos lembram ainda.
Eugénio de Andrade,
Coração do Dia
Neste poema, Eugénio de Andrade aborda o tema da reflexão sobre o valor polissémico das palavras.
No primeiro verso, São como cristal, assenta a ênfase da primeira comparação, criando expectativa. As
palavras são definidas como um punhal (remete para agressividade, morte e, sofrimento); como um incêndio
(alude á destruição e purificação; e são como orvalho (refere a suavidade, esperança e acalmia). As palavras
contêm contradições – positividade versus negatividade – Tecidas são de luz/ e são a noite. As palavras têm uma
história secular: atravessam os tempos, recebem novos significados, evoluem, carregam os segredos da história
dos homens e acompanham os seres falantes como instrumento indispensável de comunicação; trazem consigo
um saber muito antigo (Secretas vêm, cheias de memória).
Os versos Inseguras navegam/barcos ou beijos/as águas estremecem, revelam insegurança quer das
palavras, que agitam as pessoas; quer dos barcos, que agitam as águas. No amor, representado pelos beijos,
ninguém fica indiferente às palavras nem aos beijos.
O poeta destaca qualidades para as palavras. As palavras são caracterizadas de desamparadas, porque estão
ao alcance de todos; inocentes, por si próprias não representam qualquer perigo, mas podem ser usadas e
abusadas; leves, quando não têm carga conotativa no texto. Apenas adquirem sentido quando colocadas num
texto, onde se cruzam vários sentidos (Tecidas são de luz). Quando estão fora do texto, são a noite.
O papel do leitor é realçado na última quadra, porque são os leitores que vão abrir as conchas puras, palavras
inseridas em cofres cheios de sentidos. Cada “receptor” recolhe da palavra o significado que quiser, de acordo
com a experiência de vida. As interrogações retóricas “Quem as escuta? Quem/as recolhe, assim, /cruéis,
desfeitas, /nas suas conchas puras?” apelam à releitura das palavras.
As Palavras Literatura Portuguesa
Este texto de Eugénio debruça-se, como já foi referido, sobre o valor polissémico das palavras. No primeiro
verso o sujeito poético visa enfatizar a comparação, recorrendo ao hipérbato, – “São como um cristal, as palavras.”
– colocando-a no início do verso. As palavras são comparadas com um cristal pois estas, tal como os cristais,
possuem várias “faces”, quer isto dizer, podem adquirir vários significados (polissemia). Na primeira estrofe ainda,
as palavras são identificadas como: um punhal o que remete o leitor para a agressividade, morte e
consequentemente dor e sofrimento; um incêndio, o que aponta para a destruição; e finalmente como orvalho
“apenas” que se refere à calma, à suavidade, à brandura. A segunda estrofe inicia-se com uma alusão às
palavras como essenciais e intemporais pois atravessam os tempos e trazem consigo as histórias e os segredos
dos homens; funcionam como elemento essencial na comunicação entre os seres falantes desde a antiguidade. O
resto da estrofe revela a insegurança que os barcos, que agitam as águas, causam assim como as palavras, que
agitam as pessoas causam insegurança; os beijos também fazem estremecer.Na estrofe seguinte as palavras
são caracterizadas como desamparadas, inocentes e leves; todas características com sinais de fragilidade,
ingenuidade pois por si próprias o representam qualquer perigo. No entanto podem ser usadas de várias formas
(até ofensivamente ou maliciosamente, etc.). Na metáfora antitética subsequente o sujeito poético pretende
“avisar” da conotação das palavras. Tecido é algo que reveste portanto as palavras são cobertas com luz (alude à
claridade, transparência) mas no entanto são a noite (refere-se à escuridão, obscuridade). Nos dois versos
seguintes reconhece-se que mesmo que as palavras não sejam intensas, “descoloridas”, ainda assim podem
lembrar-nos locais aprazíveis, “coloridos” por assim dizer.O eu poético acaba o poema com duas interrogações
retóricas onde o papel do leitor é salientado. Na realidade o autor não pretende que se identifiquem os leitores
mas pretende dizer que cada leitor pode interpretar as palavras de diferentes modos e atribuir-lhes um sentido de
acordo com a sua experiência de vida, de foro pessoal; são os leitores que vão receber as palavras nas suas
conchas puras.
Estrutura externa
O poema é constituído por quatro estrofes, duas quintilhas e duas quadras. A maioria dos versos são
soltos/brancos havendo apenas uma rima que é cruzada, pobre e consoante. Divide-se o poema em duas partes:
a primeira que se ocupa das três primeiras estrofes e a segunda que se ocupa da última; uma divisão lógica pois
na primeira parte o “eu” poético limita-se a descrever as palavras e na segunda e última o “eu” interroga os leitores
acerca das palavras também. Quanto à forma icónica o poema revela-se irregular.São usadas algumas figuras de
estilo como a comparação - “São como um cristal, as palavras.” ; metáfora – “Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam (…).”, “Tecidas são de luz”, “ (…) são noite.”; antítese – “Tecidas são de luz e são noite.”;
enumeração – “(…) cruéis, desfeitas (…).”, “Desamparadas, inocente, leves (…)”; interrogações retóricas – Quem
as escuta? Quem as recolhe (…) nas suas conchas puras?”.
Questionário:
1- Explica o significado dos dois primeiros versos do poema “As Palavras”?
2- Em que consiste a aparente contradição presente na primeira estrofe?
3- Atenta na segunda estrofe.
A que são comparadas as palavras?
3.1- Identifica a figura de estilo utilizada.
4- Refere os adjectivos utilizados na terceira estrofe para definir “As palavras”.
4.1- Como explicas essa utilização?
5- Que preocupação manifesta o sujeito poético na última estrofe?
6- Num breve comentário, responde ás interrogações colocadas na última estrofe.
7- Explica o significado das seguintes expressões.
a)“Secretas vêm, cheias de memória”.
b) “verdes paraísos lembram ainda”.
I- Divide e classifica as orações das seguintes frases.
a) Havia uma senhora que tinha um filho muito distraído.
b) O rapaz era distraído mas gostava de ajudar a mãe com dedicação.
c) Pedia-lhe todos os dias que o deixasse ir às compras.
d) Um dia, a mãe fez-lhe a vontade; por isso, deixou-o ir ao supermercado.
e) Logo que entrou na loja, o rapaz encontrou um amigo.
f) O amigo, que era muito falador, nunca mais o largou
g) No fim das compras, quando o rapaz voltou para casa, tinha uma enorme dor de
cabeça.
h) Como o rapaz estava mesmo mal, a mãe teve pena dele.
i) Quando a mãe foi ver os sacos, teve uma grande surpresa.
l)Este espectáculo foi caro, no entanto valeu a pena pois o grupo era óptimo.
m)A professora explicou a lição mas eu não ouvi nada e não consigo fazer o exercício.
.n)Chama-me, se precisares de ajuda.
o). Espero que gostes do presente que te ofereci.
p) Embora não chova, não vamos à praia no Domingo, que ainda está frio.
II- Faz a análise sintáctica das seguintes orações:
1-Oração subordinada da a) 4- Oração subordinante da g)
2- Oração subordinada da b) 5- Oração subordinante da p)
3- Oração subordinante da c)
Frente a frente
Eugénio de Andrade,
As Palavras Interditas
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
Eugénio de Andrade,
As Palavras Interditas
A primeira estrofe, único dístico do poema, expressa a urgência de modificar o mundo, de evitar que
ele se afunde na dor, na violência – É urgente o Amor,/É urgente um barco no mar. O Amor a que se apela
no primeiro verso, é um amor com ligações espirituais, ideológicas. Um Barco no mar, invocado no
segundo verso, é visto como um meio de salvação.
O poeta apresenta os símbolos de salvação, os elementos que serão capazes de recriar o amor: um barco
no mar (v. 2); inventar alegria (v. 7); multiplicar os beijos e as searas (v. 8); descobrir rosas e risos e manhãs claras
(v. 9 e 10); permanecer (último verso). Os conceitos que se opõem ao amor são: ódio, que remete para a
ausência de amor; solidão, que significa dor e tristeza; crueldade (v. 4), alude a maldade; lamentos (v. 5),
que remete para a dor; espadas (v. 6), símbolo de morte; silêncio, que significa dor, morte; e luz impura,
que remete para o mal. De facto, a negatividade que envolve este vocabulário serve para destacar a
vantagem da sobreposição do amor, em detrimento destes aspectos negativos que ameaçam o mundo.
O verbo permanecer, no último verso, remete para a perseverança, a continuação da luta para alcançar a
mudança.
Assim, "inventar" e "permanecer" remetem, respectivamente, para a necessidade de voltar a construir a
amizade e a fraternidade, partindo do nada para aí não existir impureza, e para a ideia de persistência,
de luta constante, para que a esperança não se apague e a "luz pura" se imponha "até doer".
A predominância de nomes é enorme: amor, barco, mar, palavras, ódio, solidão, crueldade, lamentos,
espadas, alegria, beijos, searas, rosas, rios, manhãs, ombros e luz. Estes substantivos traduzem a urgência de
modificar o mundo evitar que o negativismo impere, que o mal domine, semear o bom e o bem.
O nome "barco", é símbolo da viagem que permitirá a fuga e a consequente salvação, enquanto
"espadas" indica sentimentos contrários e sugere a guerra, o ódio, a violência; a palavra "silêncio" remete
para o isolamento, a solidão, a falta de comunicação; "rosas" significam beleza, harmonia, amor, pureza e
os "rios" e as "manhãs claras" apontam para a felicidade, a alegria e a paz.
A repetição da palavra urgente, e os verbos inventar, multiplicar e, destruir revelam a intensidade do
apelo à mudança.
A linha temática deste poema é a preocupação com a realidade social. Para o autor o que é
indestrutível pela força de um poder tirânico, é o próprio homem, como ser colectivo, que persiste para
além de toda a repressão. À morte real opõe-se o amor/vida como algo invencível; a morte atinge apenas
o provisório, a parte física, não o que é profundo, como a força dos elementos naturais.
Recursos expressivos:
anáfora e as repetições, a traduzir a insistência do apelo ("É urgente o amor. / É urgente um barco no mar.
/ É urgente destruir certas palavras";"É urgente o amor , é urgente permanecer".); as antíteses, para
apresentar duas realidades distintas e permitir a opção pela mais benéfica para a humanidade ( destruir /
inventar; descobrir / permanecer); as aliterações em "s" e em "r", a sugerirem a reflexão e a preocupação
(destruir certas palavras; lamentos; espadas... solidão; searas; silêncio... urgente; amor; barco; mar...); as
hipérboles, usadas primeiramente como forma de acentuar a destruição e depois para acentuar a
urgência do amor ("É urgente destruir / certas palavras, / ódio, solidão e crueldade, / alguns lamentos, / muitas
espadas"; " É urgente inventar alegria, / multiplicar os beijos, as searas, / é urgente descobrir rosas e rios / e
manhãs claras."); a metáfora, que serve para exprimir o valor simbólico à mensagem ("É urgente um barco no
mar."...)
Concluindo, poder-se-á afirmar que todos os processos usados pelo poeta concorrem para clarificar a
mensagem que o poema encerra: sem amor não há futuro nem harmonia no mundo.
pessoas...
RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA
No poema intitulado Retrato de uma Princesa Desconhecida o tema da escravidão não é ambíguo porque
há uma nítida oposição entre o esplendor da princesa retratada e a paciência da mão de obra escrava.
Além de oposição, há uma relação de necessidade, porque nunca uma princesa pode ser tão bela e tão
isenta de sofrimento e de desgaste se não se realiza o trabalho exaustivo e repetido dos escravos que
sustentam uma sociedade hierarquizada, na qual as classes privilegiadas vivem de ócio e de requinte.
Sophia rejeita e critica a divisão do mundo em duas grandes classes: os poderosos exploradores e os fracos
explorados.
R: A “princesa” tinha um pescoço fino, os seus pulsos eram finos e frágeis, os seus olhos eram
“frontais e limpos”, andava de costas direitas e de cabeça erguida. Teria a tez clara e cabelos loiros,
pelo que se deduz do verso “Claridade sobre a testa”.
NOTA: Não se esqueçam das aspas sempre que citarem!!!! De igual modo, não elaborem uma
resposta apenas com citações!!! Intercalem o discurso, sim?
R: A sua postura, de costas e cabeça erguida, revela uma pessoa orgulhosa, altiva, com grande
segurança, pela frontalidade do olhar (a ideia dos olhos “frontais e limpos” não me parece revelar,
no contexto, a pessoa pura e ingénua que alguns invocaram… o facto é que é poderosa, por isso não
baixa o olhar, nem tem qualquer receio… a vida tem sido generosa para ela…)
2. Para que a retratada tivesse as características apontadas, foi pago um preço social muito
alto. Que preço?
R: Simples!... o preço é a escravatura de muitas outras pessoas, que passaram a vida a servir toda a
ascendência da princesa e a própria.
2.1 Que posição crítica assume o sujeito poético face à questão colocada no poema?
Transcreve a expressão que melhor traduz essa crítica.
2.2 O poema organiza-se em três partes lógicas. Delimita-as e refere o assunto de cada uma
delas.
R: Os primeiros seis versos constituem a primeira parte na qual é apresentado o retrato físico da
princesa;
A segunda parte é constituída pelos restantes cinco versos da primeira estrofe: aqui é feita a
caracterização daqueles que servem, dos escravos, e dos seus senhores. Na terceira e última parte, o
terceto final, o sujeito poético apresenta a sua opinião pessoal.
4.2. Mostra como a ideia expressa por essa subordinação se enquadra na temática do poema.
6. Atenta no título do poema. Que significado retiras do facto de ser dedicado a uma princesa
“desconhecida”?
R: O mais significativo é que o poema não está dedicado a alguém particular, daí que a sua
mensagem seja dirigida a todas as “princesas”, metáfora dos poderosos. Para que uns sejam
poderosos, tenham conforto e o luxo, haverá sempre quem fique num patamar abaixo: alguém tem
que fazer o trabalho duro.
7. Relaciona a temática explorada neste poema com o poema “Pessoas Sensíveis”, também da
mesma autora e estudado na aula.
R: A temática é a mesma. Este poema trata de uma classe superior que vive à custa dos outros
(como também referi na questão anterior). No “Pessoas Sensíveis” também se fala da exploração
dos mais fracos, para que uma minoria viva bem. Aliás, lembra “Ganharás o pão com o suor do teu
rosto” e não “com o suor do outros”.
Língua Portuguesa
Noite perdida
Coitado do rouxinol!
Coitado do rouxinol!
Passou a noite ao relento,
do pôr ao nascer do Sol,
sempre a cantar, sem dormir…
Coitado do rouxinol!
António Feijó, Bailatas
1. Reescreve as frases seguintes, iniciando-as pelas expressões dadas, tal como no exemplo.
3. Faz a análise sintáctica das expressões sublinhadas nas frases abaixo transcritas.
3.1 O rouxinol esperou toda a noite para ver a rosa desabrochar, com muita curiosidade.
O rouxinol ___________________________________________
Toda a noite __________________________________________
Para ver a rosa desabrochar______________________________
Com muita curiosidade _________________________________
3.2. Passou a noite ao relento, / do pôr ao nascer do Sol.
Passou a noite ____________________________________
Ao relento _______________________________________
Do pôr ao nascer do Sol ____________________________
O poema está organizado em versos, irregulares, ora curtos, ora longos, que criam
ritmo. Para a musicalidade concorrem as aliterações das sibilantes, das vibrantes,
das nasais (“Sem ruído vibram os espaços. / Sobre a areia o tempo poisa”)As
sensações visuais (“brancos”, “redondas”, “leve”), auditivas (“silencioso”, sem
“ruídos”), de movimento (“agitação”, “abrem-se”, “baloiça”, “avança”, “dança”,
“vibram”, “poisa”) criam imagens do fundo do mar, envolto num certo mistério.O 1º
verso da 1ª estrofe refere um espaço (“fundo do mar”) e um sentimento (“brancos
pavores”).A expressão “brancos pavores” é enigmática, dada a associação
inesperada do substantivo abstracto, com uma conotação fortemente negativa, ao
adjectivo “brancos”. Assim, são evocados os dois sentidos da palavra: o denotativo,
enquanto cor predominante no fundo do mar; o conotativo, a sugerir a pureza desse
espaço.
Ainda na primeira estrofe são nomeadas de forma genérica as duas grandes
entidades que habitam no mar – animais e plantas. A metáfora e o paralelismo de
construção nos 2º e 3º versos (“as plantas são animais / os animais são flores”).
Tudo se confunde, reino vegetal e reino animal. Nos dois primeiros versos da 2ª
estrofe é evidente a expressividade dos nomes e dos adjectivos a que esses
elementos surgem associados. Assim, o nome “Mundo silencioso” opera como que
uma síntese da vida no fundo do mar. Uma relação antitética é estabelecida entre o
fundo do mar (“silencioso”) e a sua superfície (“agitação das ondas”) através da
expressividade do adjectivo do primeiro sintagma e do nome do segundo. A
enumeração, que ocupa os restantes versos da estrofe, resulta da especificação do
hiperónimo “animais”, referido na primeira estrofe. Esta numeração salienta a
riqueza e a variedade de seres vivos que habitam esse espaço. A estes seres vivos
surgem associadas acções, depreende-se que a partir das formas verbais utilizadas,
os movimentos dos animais marinhos sejam suaves e silenciosos, ideia sintetizada
no verso final da estrofe “Sem ruídos vibram os espaços”.As conchas (rindo) e a flor
(dança) surgem personificadas. Estas acções humanas traduzem felicidade, bem-
estar e harmonia. Assim, a personificação sugere a vida do fundo do mar como
idealizada e perfeita. A metáfora e a comparação (“sobre a areia o tempo poisa /
leve como um lenço.”) reforçam a ideia da tranquilidade vivida no espaço marítimo,
evidenciando também a ideia de um tempo eterno, imóvel.
À ideia de harmonia, de beleza e de tranquilidade, patentes na segunda estrofe, vai
contrapor-se a ideia da ameaça, retomada na última estância pela conjunção
adversativa (“Mas”), o que confere ao poema uma estrutura circular
Texto
O Fundo do Mar
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Obra Poética I, Sophia de Mello Breyner Andresen
Grupo I
1. Refere o assunto do poema.
2. Ao longo do texto podemos verificar algumas características do fundo do mar
referidas pelo sujeito poético. Indica-as e comprova-as com exemplos do texto.
3. Explica por palavras tuas o significado da seguinte passagem: “Onde as plantas são
animais / E os animais são flores”.
4. Refere duas figuras de estilo presentes no poema e indica o seu valor expressivo.
5. Com base no texto, refere a posição do sujeito de enunciação face ao cenário
descrito.
6. “Mas por mais bela que seja cada coisa / Tem um monstro em suspenso”. Comenta
a transcrição.
Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus
Ficha de Avaliação Sumativa nº6
Língua Portuguesa 8ºano
Gonçalo Fonseca – Mariana Almeida – Rita Pinto
7. Classifica o poema quanto à sua constituição.
8. Indica o número de sílabas métricas existentes no último verso desta composição
poética.
9. Demonstra os tipos de rima que encontras ao longo do poema.
10. Atribui um tema ao poema.
11. Relaciona o tema sugerido com o título do texto.
Grupo II
1. Analisa sintacticamente as seguintes frases:
a) Caros alunos, convosco partilho esta maravilhosa obra de Sophia de Mello
Breyner.
b) Actualmente, tem-se muito conhecimento devido à pesquisa nos oceanos.
2. Classifica quanto à classe e subclasse as seguintes palavras transcritas da obra:
a) Pavores (1º verso)
b) Onde (2º verso)
c) Agitação (5º verso)
d) Abrem-se (6º verso)
e) Conchas (6º verso)
f) Sobre (10º verso)
g) Belo (13º verso)
h) Suspenso (14º verso)
3. Divide a seguinte frase em orações e classifica-as:
No fundo do mar não só há maravilhas, como também perigos; é um meio encantado,
parece mágico e está repleto de vida.
Grupo III
Escolhe uma das opções referidas:
A – Imagina que estás a passar umas férias no fundo do mar e escreve uma carta a uma
pessoa que te seja especial onde contes o paraíso que lá existe e como te tens sentido.
B – Formula uma notícia (com todos os seus constituintes) que de alguma forma esteja
relacionada com o mar.
Bom trabalho
Bucólica
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz uma trança à filha.
Miguel Torga, Diário I
Ruy Belo
Analise formal
O poema é um soneto, constituído por duas quadras e dois tercetos. Nas quadras, a rima é
interpolada no primeiro e quarto versos e emparelhada nos segundos e terceiro versos. Nos
tercetos, a rima é emparelhada nos dois primeiros versos, e interpolada, rimando o terceiro
verso do primeiro terceto com o último verso do segundo terceto.
Analise temática
Assunto:
O sujeito poético neste poema fala da sua juventude, transmitindo os seus sentimentos e
mostrando a sua maneira de ver e interpreta o mundo, através das páginas dos livros que
foi lendo ao longo da sua juventude, sendo esta a sua única realidade. O sujeito poético
passou a sua juventude em casa dos pais, e certo dia decidiu viajar, mas já conhecia
muitos outros lugares. O sonho era o “motor” da sua vida.
Tema:
O tema do poema é sonho, pois o sujeito poético descreve a sua juventude, como tendo
passado o tempo todo a sonhar, expresso pelas seguintes palavras e expressões: “
sonhador”, “Da vida como se ela houvesse acontecido”, “E tudo se passava numa outra
vida”, “Tudo era possível era só querer”.
O sujeito poético, ao descrever a sua juventude, transmite ideia de ser uma pessoa muito
sonhadora, e como, para ele foi a partir desta que ficou a conhecer muitos lugares, sente
saudades desses tempos de criança.
Expressividade da linguagem:
Neste soneto há um conjunto de figuras de estilo que mostram a tristeza do sujeito
poético. A hipérbole “Eu conhecia já o rebentar do mar / Das páginas dos livros que já
tinha lido”, salienta o facto de o sujeito poético sentir muitas saudades da sua infância.
Ruy Belo nos seus poemas aborda sobretudo assuntos relacionados com a sua infância e sua
vida actual, contrapondo assim duas perspectivas opostas:
Infância
Sonho
Felicidade
Realização de tudo o que idealizava
Facilidade de vida
Vida actual
Insatisfação
Infelicidade
Desalento
Falta de inspiração
O primeiro momento está presente nas duas quadras e nos dois primeiros versos do primeiro
terceto. Aí, o eu poético exprime a saudade do tempo em que não havia responsabilidades, ou seja,
um tempo perfeito, pois uma criança não tem noção do tempo, logo existe sempre uma sensação de
felicidade. A metáfora “O rolo das manhãs punha-se a circular”, e o uso do pretérito imperfeito
sugerem a continuidade do tempo, uma espécie de “Carpe Diem”.
Por outro lado, a protecção, ideia patente no espaço da casa e da presença dos pais “Na minha
juventude (…) casa dos meus pais” também privilegiam o tempo d infância. O eu poético refere
ainda o modo como o seu contacto com o mundo se fez através da leitura “Das páginas dos livros
que já tinha lido”, e do sonho produtivo de mundos extraordinários “E era só ouvir o sonhador
falar/da vida como se ela houvesse acontecido”. Assim a infância é marcada pelo poder da
imaginação.
O segundo momento está situado na terceira estrofe, onde o eu poético se questiona, criando,
assim, uma ruptura no tempo “Quando foi isso?”, onde ele acorda e se dá conta que essa realidade
terminou e que é irrecuperável, restando-lhe apenas a lembrança, não no tempo, ideia
patente no uso da negação “eu próprio não o sei dizer”. Na última estrofe, o sujeito de enunciação
toma consciência de que agora não tem “o poder duma criança” mas apenas uma mera recordação.
No segundo verso da primeira quadra, depois de viajar “(…) disposto a viajar”, o eu poético
toma consciência de que cresceu e que esse crescimento trouxe consigo o cargo das
responsabilidades, preocupações, afastando-o da infância.
O sujeito de enunciação toma consciência da passagem do tempo e da impossibilidade de
recuperar o passado, a infância. Encontra-se definitivamente distante, colocando-se assim uma
questão “Quando foi isso?”, mas para qual não tem resposta “Eu próprio não dizer”.
Tal como Ruy Belo, existem outros escritores, como Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, que escrevem
também sobre a infância.
O crescimento traz consigo a noção de responsabilidades e das prioridades, afastando-nos cada vez mais da
infância.
A rima é emparelhada e interpolada.Na primeira quadra, no segundo e terceiro verso, temos rima
rica (viajar e mar). No resto do poema verifica-se rima pobre.
A rima é consoante por todo o soneto
Relativamente á métrica temos uma unidade de versos alexandrinos que vai de encontro com dois
versos de onze sílabas (o 1º de cada terceto).
“E tudo era possível”, um título, que a meu ver, nos remete para o mundo da
fantasia, onde todos os nossos sonhos se tornam realidade, onde tudo brilha e
todos são felizes.
Neste poema, esse mundo mágico é a infância do sujeito poético.
O eu poético faz a distinção do “antes” (a juventude), um período de alegria e
crença no sonho e do “depois” (estado adulto), bem oposto ao “antes”.
O verso “Só sei que tinha o poder duma criança” é, para mim, o que torna este
poema intenso e belo, pois uma criança, sendo um ser pequeno, inocente, frágil e
sensível mostra acreditar na força e magia dos sonhos, transformando a dor e o
sofrimento em felicidade, ao contrário de muitos adultos que não querem, por
comodismo, lutar por aquilo em que acreditam.
GRUPO I
1. Como se caracteriza o sujeito poético na sua juventude?
a) duas metáforas;
b) uma hipérbole;
c) uma anáfora;
d) uma personificação.
GRUPO II
1. Explica a formação da palavra “vizinhança” (v. 13).
2. Escreve uma frase utilizando uma homónima de “como” (v. 8).
3. “E era só ouvir o sonhador falar” (v. 7). Cria uma frase em que utilizes uma homónima da palavra
sublinhada.
4. Como podes ver, o poema tem quase ausência de pontuação. Reescreve as duas primeiras estrofes
na tua folha de teste, usando a pontuação que achares correcta.
5 – Divide e classifica as orações que constituem as frases que se seguem:
Ela é inteligente, porém, falta-lhe humor.
____________________________________________________________________
O cão estacou, pois ouviu um assobio.
____________________________________________________________________
Penso, logo existo
___________________________________________________________________
Eles devem ter chegado, porque o cão está a ladrar.
________________________________________________________________________________
Digo-te que o livro é fantástico .
________________________________________________________________________________
Embora ele tenha dinheiro, compra tudo a prestações.
___________________________________________________________________
Ele falou tanto que fiquei cansada de o ouvir.
__________________________________________________________________
Quando ele entrou, ela assustou-se.
__________________________________________________________________
Fiz tudo para que ele se sentisse bem aqui.
__________________________________________________________________
Se fores a Lisboa, compra-me uns postais bonitos. (condicional).
__________________________________________________________________
Dá-me aquele lápis que tem o bico partido.
__________________________________________________________________
Cuba, que é o maior país da América Latina, tem magníficas praias.
__________________________________________________________________
5.1 – Refere a função sintáctica de cada uma das palavras sublinhadas.
6- Tendo em conta a derivação e a composição de palavras, classifica os vocábulos que
se seguem:
a) pernalta ________________________________________________________
b) infelizmente ____________________________________________________
c) embora ________________________________________________________
d) pé-de-cabra _____________________________________________________
e) felizardo _______________________________________________________
7- Completa as frases com uma das opções que te é dada.
a) Nesta loja______________ inglês, francês e alemão.
A. falasse B. fala-se
b) Se ela____________ fazer esse viagem agora, seria muito bom para todos.
A. decide-se B. decidisse
c) Caso o professor de Matemática ______________, nós poderíamos ter mais duas aulas por semana.
A. pudesse B pode-se
d) ___________ falar muito desse assunto, mas ninguém tem uma solução viável.
A. houvesse B ouve-se
e) ___________ o que ___________ ela nunca engordava
A. comesse B come-se
8- 2- Divide e classifica sintacticamente os elementos constitutivos das frases que se
seguem:
2- Divide e classifica sintacticamente todos os elementos constitutivos das frases que se seguem:
a) “A aula de hoje foi uma conversa animada…”
b) Os alunos consideraram a aula animada.
c) Os alunos colocavam as dúvidas ao professor.
d) A aula do professor, lição interessante, motivou os alunos para o estudo.
PROPOSTA DE CORRECÇÃO
I
1.1- A natureza aparece, neste poema, com duas conotações diferentes: harmonia com o
poeta
(“A fermosura desta fresca serra”) e conflito com o eu poético (“Sem ti, tudo me enoja e
aborrece”). A natureza só adquirirá pleno sentido com a presença da amada que passa a
ser um elemento decisivo na visão da paisagem.
2.1- O estado de espírito do poeta reveste-se de uma carga de sentimentos que expressam
a saudade, a mágoa, a tristeza, a dor, a solidão e o sofrimento da alma.
2.2- O sujeito poético está triste porque não tem a presença da mulher amada. Sem ela o
mundo que o rodeia não faz sentido, ainda que seja bonito – “Sem ti, tudo me enoja e
aborrece”.
2.3- Os recursos estilísticos presentes no segundo terceto são a anáfora “Sem ti…/ Sem ti”
e a antítese “Nas mores alegrias, mor tristeza”. Estes recursos de estilo têm como objectivo
realçar a importância da presença da mulher amada e manifestar os sentimentos
contraditórios provocados pela sua ausência, pois sem ela o mundo, ainda que belo, não
tem sentido. Ainda se pode aceitar a hipérbole na expressão “perpetuamente”
3.1- Formalmente, este poema é um soneto composto por duas quadras e dois
tercetos. O esquema rimático é o seguinte: abba/abba/cde/dec; a rima é interpolada
(a…a) e emparelhada (bb) nas quadras e os versos dos tercetos têm unicamenete
rima. Os versos, quanto à métrica, são decassilábicos (“Don/de/to/da a/ tris/te/za/
se/ des/ter/ra”). Predomina a rima pobre e consoante.
3.2- Este poema pode dividir-se em duas partes lógicas, desempenhando o advérbio
“enfim” a função de junção das duas partes.
A primeira parte corresponde às duas primeiras quadras e nela se descreve uma
natureza harmoniosa, propícia ao amor, e a segunda parte, que abrange os dois
tercetos, refere a irrelevância da beleza natural sem a mulher amada.
3.3- Este poema denuncia influências da corrente renascentista: o uso do soneto
com verso decassilábico (a sua introdução deve-se a Sá de Miranda), a ausência da
mulher amada
(característica petrarquista) e a presença de uma natureza harmoniosa (locus
amoenus).
3.4- O tema deste soneto é a necessidade da presença da mulher amada para
que a felicidade do sujeito seja possível. Faz-se uma descrição da natureza com a
finalidade de a contrapor com o seu estado de espírito e chega-se à conclusão de
que o valor da natureza só terá sentido com a presença da amada
_____________________________________________________________________________
A fermosura desta fresca serra
Alegria e verdura é vida eterna. Claridade; frescura; águas de cristal, transparentes; suavidade;
amenidade. Sem amor a vida não tem interesse e o poeta não é capaz de viver a vida sem a amada,
não consegue ter alegria.
Tema
Saudade; ausência da amada.
Caracterização
Elementos da paisagem
Adjectivos Substantivos Oração relativa
serra
fresca
castanheiros
verdes
caminhar dos ribeiros fermosura
manso
mar sombra donde toda a tristeza
rouco
terra som se desterra
estranha
esconder do sol pelos outeiros guerra
derradeiros
recolher dos gados
branda
nuvens
Relacionamento Eu/Natureza patente no poema.
Na ausência da amada, a Natureza embora bela, não o seduz, sem ela ele não consegue achar
beleza em nada.
Personificação: "manso caminhar destes ribeiros", "Das nuvens pelo ar a branda guerra" - Ao
personificar a natureza o Poeta pretende transmitir toda a importância dela na ausência da amada.
Anáfora: "Sem ti… / Sem ti…" - Esta reiteração expressa a mágoa do poeta.
Hipérbole: "perpetuamente estou passando,/ Nas mores alegrias, mor tristeza" - Expressa toda a
dor do poeta, ele quer transmitir todo o amor e toda a dor que lhe causa a separação desse amor.
Antítese: "Nas mores alegrias, mor tristeza" - Expressa toda a amargura que o poeta sente pela
ausência da amada.
“Sei que a poesia não se explica, a poesia implica, como costuma dizer a
minha
amiga Sophia de Mello Breyner
Talvez o poeta, afinal, não seja muito diferente daquele sujeito que vemos nas tribos
primitivas, de plumas na cabeça, repetindo palavras mágicas enquanto dança e pula ao ritmo
de
um tambor. O poeta é esse feiticeiro. Dança com as palavras ao som de um
ritmo que só
ele entende. Ou é talvez o adivinho. (…)
A poesia é, assim, antes de tudo, uma forma de medição. Uma encantada,
encantatória
e desesperada tentativa de captar a essência do mundo e de, através da
palavra,
“mudar a vida”, como queria Rimbaud.
Texto Poético
1. Lê com atenção o poema seguinte e responde às questões:
d) Que figura de estilo está presente no verso “Morder como quem beija”?
e) Refere a figura de estilo que encontras nos versos “É ter cá dentro um astro que flameja,/É ter garras e
asas de condor!/É ter fome, é ter sede de Infinito!”?
Ser Poeta
As três primeiras estrofes definem o poeta num sentido geral, qualquer poeta:
Inicia-se com uma hipérbole: "Ser poeta é ser mais alto, é ser maior/Do que os homens!" - é ser
maior do que os outros mortais.
Continua com uma antítese: "Morder como quem beija!/É ser mendigo e dar como quem
seja/Rei do Reino de Aquém e de Além-Dor!" - não ter nada e dar tudo, não ser dono de nada e
tudo possuir.
Termina com metáforas hiperbólicas: "É ter de mil desejos o esplendor/É não saber sequer que
se deseja!/É ter cá por dentro um astro que flameja,/É ter garras e asas de condor!/É ter fome, é ter
sede de Infinito!/Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…/É condensar o mundo num só grito!" -
ser iluminado, ser uma ave que voa mais alto que as outras, desejar o infinito, o máximo, o
inantingível, ser protegido pelas manhãs belas e puras.
A última estrofe define já a própria poetisa, num sentido particular: para ela, ser poeta, é amar assim como
ela ama, é fundir-se com o ser amado. "E é amar-te, assim, perdidamente…/É seres alma, e sangue, e vida
em mim/E dizê-lo cantando a toda a gente!"
O advérbio perdidamente define a dimensão desejada do amor: sem limites. Amar alguém é
exclusividade, limite. Logo, a contradição é só aparente.
O sujeito lírico expressa a sua vontade de amar sem limites, sem normas:
Logo na primeira estrofe, percebemos a superioridade decorrente do fato de se ser poeta, pois quando o
sujeito lírico afirma que morde como quem beija, demonstra a capacidade de transformação do bruto e
doloroso em algo singelo e suave – como uma espécie de poder alquímico, que transforma o metal vil em
ouro. Quando são aproximados os sintagmas mendigo e rei, notamos a presença dos arquétipos do
desvalido e do todo-poderoso, que aqui aparecem reformulados, uma vez que aquele – que vive em
miséria – tem o poder de dar o que poderia ser dado apenas por um rei. O seu reino, neste caso, possui a
riqueza da criação e da imaginação, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente – como nos
conhecidos versos pessoanos.
Na segunda estrofe, notamos a plenitude do poeta quando o eu-lírico diz ter o esplendor de mil desejos,
porém sem nem saber ao certo o que é desejado. Este esplendor confere a ele uma transcendência, isto é,
a superação de sua condição humana, vista nas imagens do astro que flameja ou do condor. Além de o
poeta irradiar luz própria, identifica-se com a figura do condor, que tem como principais características o
seu voar mais alto e a sua solidão:
No primeiro terceto deste soneto, é clara a ânsia de se alcançar a plenitude, quando o poeta diz ter fome e
sede de Infinito. Podemos dizer que o ser poeta é viver em constante batalha, e que o elmo – espécie de
capacete utilizado por guerreiros em tempos anteriores – simboliza a arma mais preciosa: a imaginação.
Logo em seguida, verificamos que tal batalha – a da escrita – tem o que é de mais valioso e suave, quando
surgem as imagens do oiro e do cetim:
A questão da plenitude é novamente enfocada no último verso da terceira estrofe. Neste caso, há a
presença de uma espécie de grito poético, em que o sujeito lírico afirma que ser poeta é condensar o
mundo num só grito, alcançando, assim, a plenitude da expressão. No último terceto, a assertiva é seres
alma, e sangue, e vida em mim representa a fusão do espírito e do corpo, evidenciando-se a plenitude do
sentir e do viver. Vale ressaltar que a alma pode ter também a conotação do princípio da vida e o sangue o
veículo, sugerindo a totalidade existencial do ser poeta. No verso E dizê-lo cantando a toda a gente!, o eu-
lírico nos faz crer que não basta trazer a síntese do que é abstrato e concreto, e sim transformá-la em
poesia, pois, além de sentir em plenitude e com totalidade, dá conta disso na expressão poética:
ditoso