Livro Edufes O Indizível em Clarice Lispector Uma Leitura em Interface PDF
Livro Edufes O Indizível em Clarice Lispector Uma Leitura em Interface PDF
Livro Edufes O Indizível em Clarice Lispector Uma Leitura em Interface PDF
Conselho Editorial
Cleonara Maria Schwartz, Eneida Maria Souza Mendonça, Giancarlo Guizzardi,
Gilvan Ventura da Silva, Glícia Vieira dos Santos, José Armínio Ferreira, Maria Hele-
na Costa Amorim, Sandra Soares Della Fonte, Wilberth Claython Ferreira Salgueiro.
Vitória,
2013
A Luiz Romero, Luiza, Tomás e Victor.
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
6
Sumário
Introdução 6
CAPÍTULO 1:
Nomes e leituras do indizível 11
CAPÍTULO 2:
O êxtase sem culminância: não se fala do indizível 31
CAPÍTULO 3:
A pele feita de quase nada: os contornos do indizível 55
CAPÍTULO 4:
O trajeto de um estilo: do novelo à novela 93
Referências 117
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR
INTRODUÇÃO
Graciliano Ramos.
É comum encontrar o nome de Clarice Lispector associado
ao de João Guimarães Rosa, o que não se deve nem apenas
ao fato de os dois escritores serem contemporâneos entre si,
nem a uma semelhança no resultado de suas escritas, mas à
proximidade das causas que as movem.
10
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
11
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
12
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
13
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
14
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
CAPÍTULO 1
15
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
16
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
17
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
18
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
4
O termo hebraico Shoah pode ser traduzido por desastre ou catástro-
fe, mas tornou-se bem mais específico ao ser aproximado do holocausto.
Passa a designar uma posição ética de testemunho, que se opõe às repre-
sentações e narrativas oficiais sobre o nazismo, como se pode verificar
nos dois trechos a seguir: “Shoah é o monumento no qual o imperativo de
viver se confunde com o imperativo de testemunhar, deixando sem efeito
todo abuso da retórica. A ficção e o documentário sobre os campos, antes
e depois de Shoah [filme de Claude Lanzmann] vêem-se até hoje impreg-
nados pelo inventário de efeitos utilizados que os desmorona eticamente”
(CANGI, 2003, p. 147). “Quanto à reflexão mais autêntica consagrada
à historiografia da Shoah, ela se vê confrontada à imperiosa necessidade
de lutar contra o esquecimento pelo trabalho de rememoração ou de tes-
temunho e, ao mesmo tempo, à impossibilidade de encontrar as palavras
que digam o horror sem nome, em particular à impossibilidade de dar
suas razões e de formular explicações adequadas a seu respeito” (GAG-
NEBIN, 2004, p. 107).
19
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
Car s’il est vrai que l’écriture bute sur de l’innommable, il res-
te qu’elle seule permettra de le prendre en charge, en disant
autrrement, par la forme justement, ce qui paraît impossible.
Pour être le lieu d’une rupture irrémédiable avec l’indicible, le
langage n’en sera pas moins l’unique voie de médiation avec
lui (KILLEEN, 2004, p. 10).5
20
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
nomeia pós-moderno.”
7
A noção de transmissão, em psicanálise, está ligada ao ensino da psica-
nálise. Trata-se de um ensino que se afasta completamente de uma peda-
gogia. Transmite-se um estilo, cuja marca principal é justamente o reco-
nhecimento dos limites do saber, pois o saber em questão não tem seu fim
nos domínios da consciência. A presente pesquisa desloca relativamente
a questão da transmissão que, embora ainda embasada pela formulação
psicanalítica, será aqui considerada na escrita literária. O termo se tra-
duzirá, neste trabalho, como o ato de dar passagem, junto à palavra, a
alguma coisa que não é palavra, e que Clarice nomeia, por exemplo, de
indizível. Transmitir, na obra de Clarice, é impedir que as palavras se em-
penhem em encobrir os furos do saber a partir dos quais o texto se tece.
21
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
22
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
23
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
24
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
25
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
26
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
27
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
28
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
29
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
30
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
31
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
32
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
Há muita coisa a dizer que não sei como dizer. Faltam as pa-
lavras. Mas recuso-me a inventar novas: as que existem já de-
vem dizer o que se consegue dizer e o que é proibido. E o que
é proibido eu adivinho. Se houver força. Atrás do pensamento
não há palavras: é-se (LISPECTOR, 1998a, p. 27).
33
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
34
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
CAPÍTULO 2
35
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
36
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
37
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
38
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
39
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
40
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
41
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
42
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
Como é que sei tudo o que vai se seguir e que ainda o desco-
nheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro
43
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
44
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
45
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
46
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
166-167).
47
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
Não sei, lembro-me que era feriado. Ah, como então eu que-
ria a dor: ela me distrairia daquele grande vácuo divino que
eu tinha contigo. Eu, a deusa repousando; tu, no Olimpo. O
grande bocejo da felicidade? A distância se seguindo à distân-
cia, e à outra distância e mais outra – a fartura de espaço que
o feriado tem. Aquele desenrolar-se de calma energia, que eu
nem entendia. Aquele beijo já sem sede na testa distraída do
homem amado repousando, o beijo pensativo no homem já
amado. Era feriado nacional. As bandeiras hasteadas (LIS-
PECTOR, 1998, p. 156).
48
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
49
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
50
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
51
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
52
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
53
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o
delicado essencial” (LISPECTOR, 1999a, p. 12).
54
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
55
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
56
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
57
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
58
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
CAPÍTULO 3
59
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
60
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
61
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
62
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
63
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
1998b, p. 59).
64
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
65
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
66
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
[...]
67
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
68
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
69
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
70
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
71
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
72
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
73
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
74
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
75
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
76
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
coisas que não falam sobre outra coisa, que não mudam de
assunto. Pode-se ler aí a detenção do deslizamento que pro-
duz o sentido. As figuras agora evocadas são a imagem do
que para em si mesmo: o espelho, com seu silêncio, é um dos
segredos invioláveis das coisas; o guarda-roupa, outrora depo-
sitário da barata, também possui a natureza da inviolabilida-
de das coisas. Segue-se uma enorme lista das personalidades
distintas de vários tipos de flores, que em alguns momentos
foram capazes de capturar personagens clariceanos fixando-
os no indizível, como se pode conferir no conto “A imitação
da rosa” (1998c), no qual a personagem Laura mergulha em
um estado não denominado de desequilíbrio psíquico a partir
da observação obsessiva de um buquê de rosas sobre a mesa.
Todas essas coisas não se dizem e fazem da história um “figu-
rativo do inominável”. Por fim, a narradora se transforma ela
mesma em coisa que escreve, em máquina de escrever. Ela é
objeto que cria outros objetos, e a escrita cria a todos. Não se
submete totalmente ao mecanismo e, se deve tornar-se objeto,
é objeto sujo de sangue, urgente e gritante. O indizível é, ao
mesmo tempo, causa e conseqüência de manter a vida que
sangra, pulsa e grita no corpo da escrita: “É indizível o que me
aconteceu em forma de sentir: preciso depressa de sua empa-
tia. Sinta comigo. Era uma felicidade suprema” (LISPECTOR,
1998a, p. 79).
Um sopro de vida guarda várias semelhanças com os escri-
tos precedentes, entre elas a referência a tempos imemoriais,
indicando sempre que a escrita ultrapassa a duração da exis-
tência daquele que a realiza. Nota-se, entretanto, um ponto
de diferença no que tange à relação entre o sujeito e a escrita.
Nos textos antes abordados, foi possível detectar que os per-
sonagens narradores eram, de certa forma, efeitos da escrita,
efeitos que, em alguns casos, produziam registros no corpo; o
que se encontra aqui é a afirmação de que o livro é a sombra
de um autor insólito: “Eu sempre fui e imediatamente não era
mais. O dia corre lá fora e há abismos de silêncio em mim.
77
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
78
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
79
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
80
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
81
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
82
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
83
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
84
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
85
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
86
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
87
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
Silêncio.
Se um dia Deus vier a terra haverá silêncio grande.
O silêncio é tal que nem o pensamento pensa.
O final foi bastante grandiloqüente para a vossa necessidade?
Morrendo ela virou ar. [...] Etc. etc. etc. No fundo ela não
passa de uma caixinha de música meio desafinada.
Eu vos pergunto:
— Qual é o peso da luz? (LISPECTOR, 1999a, p. 85-86)
88
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
Acreditas agir quando te agito ao sabor dos laços com que ato
teus desejos. Assim, estes crescem como forças e se multipli-
cam em objetos que te reconduzem ao despedaçamento de
tua infância dilacerada. Pois bem, é isso que será teu festim
até o retorno do convidado de pedra que serei para ti, posto
89
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
que me evocas.
[...]
Sem dúvida, eis que aí vemos o audacioso reduzido à condi-
ção de cegueira imbecil em que mergulha o homem diante
das letras de muralha que ditam seu destino (LACAN, 1998,
p. 45).
90
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
91
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
92
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
93
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
94
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
95
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
96
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
CAPÍTULO 4
97
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
98
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
O Trajeto de um estilo:
do novelo à novela
99
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
pobre que ali vivia, de uma experiência da rua, de uma poesia
dispersa num mundo ao rés-do-chão, em anos decisivos para
a formação de sua obra madura. Compreende-se a contradi-
ção porque a questão é complexa e envolve diversos lados,
não dependendo exclusivamente de nenhum, mas da intera-
ção da personalidade do poeta com o contexto total, que não
implica apenas a tradição literária, mas também o amálgama
da experiência existencial, carreando elementos psicológicos,
sociais e culturais no sentido mais amplo (ARRIGUCCI JR.,
1999, p. 99-100).
100
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
15
Duas finas análises desse poema encontram-se em: ARRIGUCCI JR.
A beleza humilde e áspera. São Paulo: Ed. 34, 2000, MOURA, Murilo
Marcondes. Manuel Bandeira. São Paulo: Publifolha, 2001 (Série Folha
explica).
101
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
102
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
103
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
104
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
105
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
106
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
107
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
108
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
109
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
110
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
111
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
112
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
113
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
114
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
115
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
seguinte passagem:
116
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
117
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
o lugar da coisa, que não pode ser dita. Tais objetos se aproxi-
mam a tal ponto da coisa que adquirem a função de transpor
parcelas do indizível para o campo da escrita. Podem ser com-
parados, nessa medida, com a noção lacaniana de letra. Em
Água viva, a autora não destaca nenhum objeto. Em Um sopro
de vida, a personagem Ângela encarna a letra, com a mesma
função dos objetos anteriormente citados. Finalmente, em A
hora da estrela, presenciamos, com a vida e a morte de Ma-
cabéa, a queda do objeto e a ascensão do significante, a partir
da qual a escrita traz em si a própria perda. A queda do objeto
Macabéa representada pela escrita não se realiza apenas com
a cena da morte. Macabéa é perda desde o início. Tudo nela é
falta e queda.
Os arranjos através dos quais Clarice faz enfim conviverem
as duas dimensões, da linha e da entrelinha, da presença e do
vazio, revelam que seu estilo tem relação com o corte que, no
mesmo golpe, institui uma escrita e define o campo do impos-
sível que a causa.
Se, em A paixão segundo G. H., o indizível fica enredado
no centro de uma teia de expressividade, que nomeei de no-
velo em torno do furo do real, proponho que Clarice atinge
o ápice de seu estilo na novela A hora da estrela. Vimos que
os nomes do indizível, utilizados nos outros escritos, se refe-
rem, neste, diretamente à personagem. O opaco está em sua
própria pele apesar de surpreender com sua vitalidade. A in-
tenção de humildade como técnica se cumpre com A hora da
estrela, que consegue, vale repetir, a um só tempo, representar
metaforicamente o ponto de chegada do processo de muta-
ção sofrido pela escrita, e revelar os meandros desse processo,
pois não só a anuncia, mas a realiza.
118
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
119
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
120
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
REFERÊNCIAS
De Clarice Lispector:
Demais referências:
121
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
122
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
123
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
124
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
125
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
126
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
127
Ana Augusta Wanderley Rodrigues de Miranda
128
O INDIZÍVEL EM CLARICE LISPECTOR Uma leitura em interface com a psicanálise
129
Editora da Universidade Federal do Espírito Santo
Av.Fernando Ferrari, 514 - CEP 29075-910 - Goiabeiras - Vitória - ES
Tel: (27) 3335 7852 ediufes@yahoo.com.br - livrariaufes@npd.ufes.br