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Resenha Crítica Do Filme Pro Dia Nascer Feliz

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ANHANGUERA DE SANTO ANDRÉ

CURSO DE PSICOLOGIA - 3º SEMESTRE - MANHÃ

Andréa Correa P. dos Santos


Bianca Aparecida Honorato Gomes
Marli Leite
Renata Alexandre Gomes

Desenvolvimento Humano ll

Documentário “Pro Dia Nascer Feliz”

Adolescência: Uma Perspectiva Crítica (Sérgio Ozella 1999)

Resenha Crítica

SANTO ANDRÉ

2019
CENTRO UNIVERSITÁRIO ANHANGUERA DE SANTO ANDRÉ

Andréa Correa – RA292394413595

Bianca Aparecida Honorato Gomes – RA334014613595

Marli Leite – RA133892413595

Renata Alexandre Gomes – RA135165813595

Resenha Crítica apresentada para a disciplina


Desenvolvimento Humano II para o curso de
graduação em Psicologia do Centro
Universitário Anhanguera de Santo André.

Professora Fernanda Fernandes da Silva

SANTO ANDRÉ

2019
RESENHA CRÍTICA

OZELLA, S. Adolescência: uma perspectiva crítica. In: CONTINI, M. L. J.;


KOLLER, S. H.; BARROS, M. N. S. (orgs.) Adolescência e Psicologia: concepções,
práticas e reflexões críticas
PRO dia nascer feliz. João Jardim. Brasil. Copacabana filmes, 2005. DVD,
drama, 87 min., color, 35 mm.

No presente texto, Adolescência: Uma perspectiva crítica, Ozella (1999)


apresenta várias concepções sobre a adolescência começando por Stanley Hall, que
identificou a adolescência como uma etapa marcada por tormentos e conturbações
vinculadas à emergência da sexualidade, caracterizadas por uma série de confusões,
estresse e luto também causados por impulsos sexuais que emergem nessa fase do
desenvolvimento. Erikson (1976) introduziu o conceito de moratória, identificando
esse período como uma inversão de papéis e dificuldades de estabelecer uma
identidade própria.
Para Debesse (1946) a adolescência possui uma mentalidade própria com um
psiquismo característico dessa fase. Aberastury e Knobel (1981) denominam esta
etapa da vida de 'síndrome normal da adolescência', com as seguintes características:
busca de si mesmo e da identidade; tendência grupal; necessidade de intelectualizar
e fantasiar; crises religiosas, em que o pensamento adquire as características de
pensamento primário, evolução sexual manifesta; atitude social reivindicatória;
contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta, dominada pela ação,
que constitui a forma de expressão conceitual mais típica desse período de vida.
Santos (1996) caracteriza esse período como típico do desenvolvimento,
marcado pela turbulência, no qual o jovem não é nem criança nem adulto, raízes de
uma visão naturalista. Margareth Mead (1945) tem questionado a universalidade dos
conflitos adolescentes onde a Psicologia convencional insiste em negligenciar a
inserção histórica do jovem e suas condições objetivas de vida ao supor uma
igualdade de oportunidades entre todos os adolescentes. Peres (1998) a identifica
também como um fenômeno universal, um período crítico no desenvolvimento
humano.
Clímaco (1991) considera que, com as exigências de uma sociedade moderna
foram surgindo um novo grupo social com padrão coletivo de comportamento – a
juventude/a adolescência. Outro fator que relata como forma de justificativa da
burguesia para manter seus filhos longe do trabalho.
Dentro de uma perspectiva sócio histórica (Bock, 1997), só é possível
compreender qualquer fato a partir de sua inserção na totalidade, na qual este fato foi
produzido. Isto se aplica às condições sociais que constroem uma determinada
adolescência.
Ozella(1999) traz em seu texto uma reflexão sobre os significados que compõe
a adolescência. Essas características tão bem anotadas pela Psicologia, ao contrário
da naturalidade que se lhes atribui, foram geradas como características dessa
adolescência que aí está. Uma adolescência como constituída socialmente a partir de
necessidades sociais e econômicas e de características que vão se constituindo no
processo. Uma análise mais crítica sobre os conceitos da adolescência que temos
hoje e que nos leve a uma visão de conceito livre das exigências de uma sociedade
capitalista e que veja a adolescência como uma fase natural do desenvolvimento,
apontando nela características naturais como rebeldia, desequilíbrios e instabilidade
de afetos, busca de si mesmo, tendência grupal, necessidade de fantasiar, crises
religiosas, flutuações de humor e contradições sucessivas.
Ao longo do documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, dirigido, montado e
roteirizado pelo cineasta e pesquisador João Jardim vai apresentar a realidade
angustiante da desigualdade social no Brasil e o quanto esta realidade influencia no
desenvolvimento psicossocial dos adolescentes. O filme traz o depoimento de vários
jovens da rede pública e privada trazendo semelhanças e diferenças na visão que eles
têm do mundo, de si mesmos e o comportamento que denuncia a vida social e cultural
da qual estão vivendo.
Começa em Manari, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do Brasil e
vai até as escolas privadas no Alto de Pinheiros, onde estudantes circulam com
segurança e tem acesso ao melhor da tecnologia e programas culturais.
Em uma escola pública da periferia do Rio de Janeiro, um dos estudantes
entrevistados, o rapaz chamado Douglas, apresenta um comportamento que
poderíamos denominar como indisciplinado para o contexto escolar. Apresenta
dificuldades de aprendizagem, porém é muito popular entre os colegas. Ele é músico
e participa de uma banda que se apresenta em determinados eventos na própria
escola. Ele relata nas entrevistas que ninguém acredita nele e fala do desejo de
trabalhar no exército, em uma alta posição.
Valéria, uma aluna da escola do estado de Pernambuco, adora ler poemas e
poesias de grandes escritores, algo fora do comum no local e sofre pela acusação de
plágio pelos professores pois não acreditam que uma jovem pobre, nas condições
precárias em que vive e sem nenhum incentivo social, poderia escrever uma redação
com tamanho desempenho. A falta da participação familiar e o desinteresse dos
alunos também é constante, eles usam o ambiente escolar para namoricos, conhecer
novas pessoas, bater papo com os colegas ao invés de assistir as aulas.
Outro caso que nos chama muito a atenção no documentário é da menina que
relata que foi impedida de entrar numa festa fora da escola, e quem a impediu foi uma
menina da escola. Ela, envergonhada, se propõe a “resolver” essa questão dentro da
escola. Relata que ao chegar procura a garota por toda escola, porque tinha o objetivo
de “resolver” a humilhação que passou na balada e começa a brigar e esfaqueá-la.
Quando ela relata que viu a garota estirada no chão, provavelmente sangrando, ela ri
com ar de satisfação e realização. E finaliza dizendo que “matar” sendo menor de
idade não traz muitas consequências, que três anos de reclusão passa rápido.
Em uma escola de classe social alta, temos o depoimento de uma jovem que
chora e relata um sofrimento porque muitos a julgam “estudiosa demais”, e ela
também se cobra muito, cobra de si um desempenho excelente e com isso ela nem
namora mais, outro grupo de estudantes discutem sobre projetos sociais, diferença
de classes, outros preocupados com as notas escolares e outras questões como
conflitos familiares, falta de atenção e depressão, crises existenciais e outros conflitos
que atingem uma classe que tem água potável, comida na mesa e empregada
doméstica, mas mesmo assim, também se sente em conflito com algumas questões
próprias de suas respectivas realidades.
Dentro deste contexto vemos a desigualdade social, as estruturas físicas e
ambientais onde estão inseridos estes jovens, o sistema educacional que vem
decaindo ano após ano..., realidade descrita em nosso país.
Os adolescentes em sua maioria e especialmente os que vivem nas periferias,
não encaram a escola como um local para trabalhar em conjunto, buscando apoio de
professores e assim investir no próprio futuro, uma vez que lhes falta até comida e
água para não falar de outros itens não menos importantes, mas tão necessários
quanto. Estudantes e professores desmotivados, sem condições físicas e psicológicas
para estudar e ensinar, fatores estes que colaboram para falta de perspectiva de
ambos...
Em contrapartida em São Paulo, uma escola particular com alunos,
adolescentes de classe social elevada, tem na instituição, todos os recursos
necessários de uma escola de primeiro mundo; laboratórios de pesquisas e
tecnologia, com professores especializados, satisfeitos com sua situação e alunos
bem preparados.
As semelhanças entre cada realidade são os questionamentos internos, onde
os sentimentos lutam entre si, procurando equilíbrio e entendimento, buscando
respostas e tentando preencher o vazio que se apodera da fragilidade destes jovens,
independentemente de sua classe social, ou local, onde estão inseridos. Carências
afetivas, necessidades de se reconhecer como pessoa e indivíduo, cobranças,
pressão da família e sociedade além de outros sentimentos tem o mesmo peso e a
mesma relevância para ambas as realidades.
Entre as diferenças, temos de um lado Manari em Pernambuco, onde falta o
“básico do básico” onde quase tudo foi negado, menos a vontade de seguir em frente...
e desfrutar de uma vida melhor como relata “Valéria”, uma das estudantes.
A precariedade na estrutura física, o descaso com a educação e as incertezas
que afetam os jovens protagonistas do filme, pesam, em suas buscas de um futuro
melhor, muitas vezes distante de suas realidades, pois são desacreditados por
professores que se negam a enxergar o potencial destes adolescentes, como no caso
da mesma “Valéria”, cujas redações, são vistas como cópias ou plagio, depreciando,
assim sua capacidade e valor.
Os adolescentes de classe social privilegiada, como os da Escola Santa Cruz
em Alto de Pinheiros, até se sensibilizam com a dura realidade da periferia, porém
têm suas vidas “pra tocar” como relata “Ciça” de 16 anos, aluna da escola. A maior
parte de seu tempo é investido em estudo, aprimoramento físico, alguns passeios...
Ela se interessa por seu futuro, cobra e busca perfeição e conhecimento, ela sabe
onde quer e deve chegar, tem o apoio e suporte dos pais e da escola...Ela vai
ingressar na faculdade.
Diferentemente dos alunos, adolescentes de Manari, Itaquaquecetuba, e
Duque de Caxias, cidades e escolas também citadas, onde, além das poucas
condições físicas, e emocionais, muitos têm que largar o estudo para poder trabalhar
e ajudar no sustento da família. Relatos de professores que querem dar aulas e outros
que não têm nenhum interesse, muitas faltas, nenhuma preocupação; “os alunos não
estão nem aí”, desabafos e desânimo destes professores...“perdemos a dignidade e
isso vai deixando o espírito mais pobre”, “não estamos preparados para essa
realidade”
O filme mostra que falta de oportunidades, para os adolescentes, contribui para
essa realidade enraizada na sociedade. Adolescentes que se dobram e se rendem ao
crime, sabem da impunidade, “de menor não dá nada”, relato de adolescente, aluna
de uma instituição da periferia. Por fim, os adolescentes que convivem diariamente
com a violência, roubos, drogas e o medo do futuro e lutam para garantir a sua própria
sobrevivência.
Na adolescência, mudanças no comportamento, nas relações interpessoais e
nos valores são muito comuns. Tais mudanças têm como base o contexto social e
econômico no qual o adolescente está inserido, o que influencia muito seus
comportamentos e o desenvolvimento de sua identidade.
O desenvolvimento humano é um processo contínuo de transformações da
pessoa e de seu grupo. Tudo aquilo que está no entorno de um ser em
desenvolvimento afeta a dinâmica de suas transformações ao longo do tempo: as
pessoas, os significados culturais, o momento histórico, as experiências pessoais e
sociais, as oportunidades positivas e também os riscos. Esses fatores influenciam, em
maior ou menor grau, o desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social dos
adolescentes, ou seja, ninguém se desenvolve sozinho. Todo desenvolvimento
pessoal é influenciado pelo comportamento de uma sociedade, ou seja, os seres
afetam e são afetados pelo contexto histórico (caracterizado pela dimensão do tempo)
e social (caracterizado pela presença e a influência de outros sociais, relacionados
aos diversos ambientes onde cada um vive).
Percebemos que a desigualdade social também exerce influência no contexto
de nossas “adolescências”, o abismo que existe entre as realidades tão distintas.
Quando se questiona sobre os medos, angustias e desalento, as necessidades são
bem parecidas, não importando onde estejam inseridos, se na periferia das cidades,
no interior de Pernambuco ou em uma região nobre de São Paulo, porque, “lá dentro”,
somos exatamente iguais. ‘Precisamos de respeito, de valor de pertencimento’. Tudo
isso seria menos sofrido se tivéssemos melhores políticas públicas, de educação, que
fossem realmente ativas e respondessem conforme as necessidades destes jovens.
Em cada um desses contextos, a adolescência está associada a diferentes
condições de inserção ou exclusão social e guarda diferentes formas de ser e estar
no mundo, que devem ser identificadas e compreendidas por todos.
O preconceito é uma das experiências negativas vividas por uma sociedade
repleta de desigualdades e que atingem principalmente os adolescentes que nesta
fase do desenvolvimento se preparam para ingressar na faculdade e no mercado de
trabalho. Foram anos e anos de luta para que pessoas negras, indivíduos de baixa
renda, indígenas, deficientes físicos pudessem se enquadrar dentro das
oportunidades de forma igualitária. Embora ainda não tenhamos atingido esse nível
de igualdade o governo criou as cotas raciais e sociais para minimizar essa diferença
de oportunidades. As cotas raciais são ações afirmativas que têm como principal
função a reparação de desigualdades econômicas, sociais e educacionais no Brasil.
Segundo a Lei nº 12.711/2012, alunos que estudaram todo o ensino médio em
escolas públicas terão direito a ¼, ou seja 25% das vagas em todas as universidades
e institutos federais.(BRASIL, 2012).
Nosso posicionamento é em favor das cotas. A maior parte das pessoas de
pele parda são as de classes menos favorecidas pelo atraso que a escravidão causou
em sua ancestralidade, assim ficando em desvantagem social. As cotas então seriam
uma forma de “reparar” os prejuízos causados na vida dos menos favorecidos. Porém,
também é de conhecimento geral que, muitas vezes, essas vagas são ocupadas por
pessoas que de fato não necessitam delas na prática e se aproveitam da situação
para conseguir privilégios.
Concluímos que as fases apresentadas são decorrentes da adolescência. Há
uma alteração biológica de transição corporal onde a interpretação da autoimagem
fica por conta do contexto social ao qual o adolescente está inserido, alteração
cognitiva que permitirá a inserção no mundo adulto. Porém da perspectiva sócio
histórica sem as condições sociais, essa determinada adolescência não existiria.
Como observamos no comportamento do aluno Douglas o desejo por
reconhecimento. Esse rapaz busca o olhar do outro sobre si de uma forma positiva.
Podemos destacar aqui o conceito de “moratória” que Erikson introduziu nesta fase.
Outro ponto é que sendo Douglas um rapaz considerado indisciplinado e que não
segue as regras estabelecidas, revela o desejo de ser General do Exército, ele busca
o posto mais alto desse seguimento e o que nos reforça a ideia do desejo de ser
reconhecido, de ser notado.
No caso da jovem aluna que esfaqueou a colega dentro da escola identificamos
o conceito de Stanley Hall, que conceituou a adolescência como uma etapa marcada
por tormentos e conturbações vinculadas à emergência da sexualidade,
caracterizadas por uma etapa de confusões, estresse e luto também causados por
impulsos sexuais que emergem nessa fase do desenvolvimento. Dentro desta
proposta, incluímos o relato de outros adolescentes que entraram para o mundo do
crime e que se vangloriam de seus delitos como se tivessem maior “poder” por se
sentirem maior do que aquele que sofreu a agressão.
Dentro da proposta apresentada por Aberastury e Knobel, onde uma das
características desta fase está a “atitude social reivindicatória”, identificamos o relato
da garota que diz que os pais só trabalham e estão em constante busca pelo dinheiro
e ressalta em sua fala, que o pai não a conhece e que sente muita falta de um abraço
da mãe. Diz ainda que sente falta do exemplo “pai”, que o reconhece como exemplo
em algum aspecto, porém sente falta do pai presente que olha para seus filhos.
Podemos perceber que dentro das duas realidades sociais há fenômenos
comuns à fase do desenvolvimento humano em que estão, como a busca da
identidade, tendência grupal, instabilidade afetiva, depressão, flutuações de humor e
busca de pertencimento. Levando em consideração o contexto histórico-cultural
vemos que todos esses sentimentos que emergem nesta fase são intensificados,
elaborados ou suprimidos, pois o ambiente sociocultural influencia muito o
comportamento do sujeito. Desta forma vemos que os significados que são dados ao
adolescente nem sempre expressam a sua verdade.
Precisamos conhecer o adolescente para além da aparência, dos rótulos e
símbolos impostos por uma sociedade capitalista, buscando um conhecimento que
trace um perfil mais concreto do sujeito. Quando os adolescentes verbalizam seus
medos, ansiedades, desejos, perspectivas do futuro, revelam o quanto as condições
econômicas, materiais, a educação, família são característicos, formas de ser
adolescente, cada qual com suas significações.
Vemos que a Psicologia tem necessidade de uma produção de conhecimentos
na área do adolescente/adolescência que venham iluminar outras formas de aprendê-
la e acreditamos que há muito conteúdo para novas pesquisas buscando cada vez
mais o adolescente concreto, levando em consideração o momento sócio histórico.

REFERÊNCIAS

BRASIL. (29 de Agosto de 2012). Decreto nº 12.711, De 29 de agosto de 2012.


Cotas Raciais.
OZELLA, S. Adolescência: uma perspectiva crítica. In: CONTINI, M. L. J.;
KOLLER, S. H.; BARROS, M. N. S. (orgs.) Adolescência e psicologia: concepções,
práticas e reflexões críticas. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2002. p.16-24.
PRO dia nascer feliz. João Jardim. Brasil. Copacabana filmes, 2005. DVD,
drama, 87 min., color, 35 mm.
SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Disponível em:
http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201704/20170424-094551-
001.pdf.

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