Contos Populares Do Brazil
Contos Populares Do Brazil
Contos Populares Do Brazil
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Ie ne fay rien
sans
Gayeté
(Montaigne, Des livres)
Ex Libris
José M i n d l i n
CONTOS POPULARES
DO BRAZIL
EDIÇÕES DA M A LIVRARIA INTERNACIONAL DE LISBOA
T h e o p l i i l o B r a g a : Miragens Seculares. Ejpopeia
cyclica da historia: I Gyclo da fatalidade; II Gyclo d a l u -
cta; III Gyclo da liberdade. Edição esmerada^ 800 reis.
— Soluções Positivas da Política Portugue^fi IDa aspira-
ção revolucionaria e sua disciplina em opinião^ democrá-
tica. II Do systema constitucional, comõtransigenclàpro-
visoria entre o absolutismo e a r e v o l u ç ã o III e_IV Histo-
ria das idéias democráticas em Portugal, desde 1640 até
1880. 3 vol. 920 reis.—Dissolução do system/t monarchico
constitucional, 300 reis.—Historia Universal, esboço dé
sociologia descriptiva. 2 vol. 20000 reis. — Historia- do
Romantismo, em Portugal, ultima parte,, da Historia da
Litteratura Portugueza. 2 vol. 10400 reis. .«.
T e i x e i r a B a s t o s : Comte e o Positivismo, ensaio
sobre a evolução e as bases da philosophia positiva, 200
reis. — Vibrações do SeculQ.: I Sons do Universo; H Au-
reólas luminosas; III Gritos da época, 600reis, cart. 900
reis. — Progressos do espirito humano, 160 reis. — Camões
e a Nacionalidade portugueza, commemoração do Triceri-
tenario, 100 reis.
S y l v i o B o m é r o : Materiaes para a historia da Lit-
teratura Brazileira: I Cantos populares do Brazil, acom-
panhados de Introducção e Notas por Theophjlo Braga.
2 volumes com musicas, 40400 reis. — II Contos populares
do Brazil, com um prólogo critico e notas de Theophüífc
Braga. 700 reis.—Introducção á historia da litteratura
brazileira — 2, a parte. No prelo.
Bibliotheca das Idéias Modernas: I A
Controvérsia da edade da Terra por Drapper. — II As ori-
gens da Família por Lubbock. — III A theoria atômica" •
na concepção geral do mundo por Wurtz. — IV Natureza
dos elementos chimicos por Berthelot. — V Reguladores
da vida humana por Moleschott. — VI Os Velhos Conti-
nentes.por Ramsay. — VII O que é a força por Saint-Ro-
bert.—VIIIA Sociedade Primitiva por Taylor—IX A evo-
lução dos seres vivos por Schmidt. Cada volume 50 reis.
Revista de Estudos L i v r e s — DIRECTORES
LiTTERABáO-sciENTiFicos : Em Portugal: Br. Theophilo
Braga e Teixeira Bastos; no Brazil: Drs. AméricoBrazi*
liense, Carlos von Koseritz e Sylvio Rome.ro. Assignatura
(pagamento adiantado) por anno: em Portugal 31000 r s ;
união postal 30250 rs., sem registo; no Brazil 30840 rs.,
moeda forte, com registo. 1.° e 2.» anno, avulso, 30600
reis.
GONTOS POPULARES
DO BRAZII
COLLIGIDOS
LISBOA
NOVA LIVRARIA I^ERNACIONAL — EDITORA
96, Rua do Arsenal, 96
1885
ADVERTÊNCIA
Silvio U^oméro.
SOBRE A .NOVELLISTICA BRAZILEIRA
nha ido não sei d'onde. D. QUIXOTE: Por minha vida que
acabes, se não te moerei os ossos. SANCHO: Foi o caso:
que estando os dois. para sentar-se á mesa, o lavrador
porfiava com o fidalgo que tomasse a cabeceira da mesa,
o fidalgo porfiava também que a tomasse o lavrador,
tem d'aqui, tem d'alli, até que enfadado o fidalgo disse
ao lavrador: Assentai-vos, villão ruim, aonde vos digo;
porque onde quer que eu me assentar essa é a cabe-
ceira da mesa.
1
2
Egger, Mem. de Littérature anciennej pag. 290.
«In qualche comune delia província di Siracusa corre Ia
credenza che a Comarano presso Schoglitti, sia un tesoro in-
cantato il qual non potrà esser preso se non Ia notte dal 14 à
15 Agosto, da chi, presa moglie, non sia pentito dei matrimô-
nio; ed è volgare il provérbio :
Cu'ei marita e nun si penti
Piglia Ia truvatura dl Comarano. >
Pitré,
8 Antichi usi (Rivist. di Lett. popolare, pag. 107).
Chassang, Bist. du Roman. pag. 398. •
SOBRE A NOVELLISTICA BRAZILEIRA XVII
1
Ott. Müller, Hist. de Ia Littérature grêcque. t. ir, pag.
322.
2
Tylor, La Civilisation primitive, t. i, pag. 403.
XVIII INTRODÜCgílS
1
Nos Contos tradicionaes do Povo portuguez, apresenta-
mos um plano racional e histórico de classificação.
XX INTRODUCÇÃO
;
O negro tem catinga, ?|
Tem semelhança com o diabo; .&
Tem o pé de bicho,
Unha de caça
E calcanhar rachado;
Quando se chama, resmunga,
Se resmunga, leva páo.
(Rio de Janeiro).
1
Op. cit, pag. 138.
» Op. cit., pag. 148-150. — Estas lendas e fábulas foram
traduzidas para francez com o titulo: Contes indiens du Brêsil,
recuellis par M. le general Couto de Magalhães, et traduits par
Emile Aliam. RiofteJaneiro. Faro e Lino éditeurs, rua do Ou-
vidor n.° 74. 1883.
XXVI INTRODUCÇÃO
1
Nas Questões de Litteratura e Arte portugueza, pag. 61
a 80.
* Nas Epopêas da Raça mosarabe, pag. 127 a 137; e Theo-
tia da Historia da fpttçratura portugueza, pag. 24.
XXXH INTRODpCfiÂÔi
THSOPHILO BRAGA.
CONTOS POPULARES
vi'
Secção primeira
O B i c h o Maixjaléo
(Sergipe)
•. H
Os três coroados
(Sergipe)
III
O r e i A.ndradle
(Sergipe)
IV
O p i n t o pellaxlo
(Sergipe)
Canis VUIDÍS.
ELEMENTO EUROPEU 15
V
U m a d a s cie P e d r o Malas-Artes
(Sergipe)
r vi
V
O Sargento verde
(Sergipe)
1
É crença popular que o diabo quando se vira em algu-
ma pessoa ou animal, e depois se desencanta, dá um estouro
que fede
2
a enxofre.
Brida.
ELEMENTO EUROPEU 19
Ondas.
ELEMENTO EUROPEU 21
VII
A. P r i n c e z a í r o n b a d e i r a
(Sergipe) >
VIII
O Pássaro preto
(Pernambuco)
IX
Dona Hiat>ismina
(Sergipe)
X
A. R a p o s i n h a
(Sergipe)
XI
O homem pequeno
(Sergipe)
^t
XII '
Dona Pinta
(Sergipe) '
XIII .
O príncipe cornudo
(Sergipe)
1
Não nos foi possível conseguir o final d'este ultimo e
bello conto do papagaio, que por vezes ouvimos integralmente
em Sergipe narrado no seio de nossa família. Pedimos desculpa
por simvlhantes lacunas, promettendo um dia, talvez, suppril-as.
50 CONTOS POPULARES DO. BRAZIL
XIV
A. moura torta
(Pernambuco)
XV
Maria Borralheira
(Sergipfe)
1
Já estava ha muito.
ELEMENTO EUROPEU 57
XVI
A. Madrasta
(Sergipe)
"xvir*
. O P a p a g a i a cio L i m o Verde
(Sergipe)
1
Não é o chapéo dos cardeaos, nem o byrrho coleoptero,
é uma transformação de bilro, o bilro conhecidissimo.
64 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
XVIII
João Gurumete
(Pernambuco)
XIX
Manoel da Bengala
(Sergipe)
y - xx
Chico R a m e l a
(Sergipe)
XXI
A. S a p a c a s a d a *
(Sergipe)
1
O sapo ordinário é o Bufo cinereus, o sapo d'agua Pelo-
bates fuscas.
ELEMENTO EUROPEU 77
XXII
C o v a dia L i n d a ITlòi-
(Rio de Janeiro),
1
O povo faz de trama masculjno; é o que se dá com ta-
pa, palavras que os diecionarios dão como gênero feminino.
80 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
XXIII
xxiv m 'Z
A. p r o t o c ç â o <Jo clial>o
(Rio de Janeiro)
XXV
A. F o n t e d a s t r ê s c o m a d r e s
k (Sergipe)
XXVI
O Pássaro Sonoro
(Sergipe)
XXVII
Barceloz
(Pernambuco)
XXVIII
TVres» c o m e d o r e s
(Pernambucp)
XXIX
A. r a i n h a q u e s a h i u cio m a r
(Rio de Janeiro)
XXX
AL m ã i falsa ao filho
(Rio de Janeiro)
XXXI
Historia de «Tóão
(Pernambuco)
XXXII
O Sarjatario
(Sergipe)
XXXIII
T r ê s irmãos
(Pernambuco)
XXXV
O matuto J o ã o
(Pernambuco)
XXXVI
O irmão caçula
(Pernambuco)'
XXXVII
A. m u l h e r e a filha b o n i t a
(Rio de Janeiro)
XXXVIII
O Careca
(Pernambuco)
XXXIX
AL c o m b u e a cie o u r o e os marimbondos
(Pernambuco)
XL
A. M!ãi d'Agna
(Rio de Janeiro)
XLI
O pi-egfuiçoso
(Pernambuco)
1
O snr. José de Alencar publicou este conto no seu Tron-
co do Ipê. Nós cotejamos sua lição com outras que ouvimos.
140 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
XLII
A. m u l h e r dengosa
(Pernambuco)
I
O k á g a d o e a festa nó céo 1
(Sergipe)
II »
O kágado e a fructa
(Sergipe)
III
O kágado e o teyú
(Sergipe)
Foi uma vez, havia uma onça que tinha uma filha ;
o teyú queria casar com ella, e amigo kágado também.
0 kágado, sabendo da pretensão dò outro, disse em casa
da onça que "o teyú para nada valia, e que até era o
seu cavallo. 0 teyú, logo que soube d'isto, foi ter tam-
bém à casa da comadre onça, e asseverou que ia buscar
IÒ
146 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
IV
O kágado e o jacaré *
4§^gipe)
« Não, Gonçalo,
Meufilhomais velho,
A gaita do kágado...
Tango-lêVrê...
A gaitado kágado...
Tango-lê-rê... »
0 Gonçalo : «0 quê, meu pai? As calças?» 0 jacaré
tornava a repetir a cantilena, e, só depois de muita mas-
sada e quando o seu dedo estava tora não tora, é que o
Gonçalo veiu com a gaita, que o jacaré deu ao kágado. Só
depois da entrega este largou-lhe o dedo.
O k á g a d o e a fonte
(Sergipe)
A. o n ç a e o b o d e
(Sergipe)
VII
AL. o n ç a , o - v e a d o e o m a c a c o
(Sergipe)
1
Os animaes d'este conto são: a onça — Felis onça, o vea-
do— Cervus elaphus, Cervus dama, o macaco Cebus appella,
a cobra coral — Coluber Corallinus.
154 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
VIII
O macaco e ã cotia
(Pernambuco)
IX
O urubu e o sapo
(Pernambuco)
XI
Amiga folhagem
(Sergipe)
« Eu sou a folharada,
Sempre qu§ vier beber
Tenho de ser transformada.»
E realmente as folhas lhe foram cahindo da pelle e
também o pêllo. Foi então'o macaco á fonte; lhe per-
guntaram quem era ; elle respondeu :
*
«O tronco da folharada;
Todas vezes que aqui bebe
É transformada...
Desde que n'esta casa bati
Nunca mais água bebi...»
Houve muita gargalhada, e o macaco ficou bebendo
água desassombrado.
ELEMENTO EUROPEU 159
XIIJ
A. r a p o s a é o tucano
(Sergipe)
XII|
O macaco e a cabaça
(Sergipe)
íW XIV
O macaco e o coelho
(Pernambuco)
XV
O macaco e o moleque de cera
(Sergipe)
0 macaco:
« Moleque das confundas, larga as minhas duas mãos
e meus dois pés, é dámie uma banana senão dou-t£
uma embigada!» E o moleque calado... 0 macaco deu-
lhe uma embigada e ficou com a barriga presa.
Ahi chegou a velha e o agarrou e matou e esfolou
e picou e cozinhou e comeu. Depois, quando teve de ir
ao mato, deitou para fora aquella porção de macaqui-
nhos, que sahiam saltando e gritando: « Ecô, eu vi o tu-
bi da velha!» \t-
XVI
O m a c a c o e o rabo.
" w. (Sergipe)
XVII
O macaco e o rabo
(Versão de Pernambuco)
• m
XVIII
_:_ A. o u ç a e o b o i
^Pernafeibuco)
XIX
A. o u ç a e o g a t o
(Pernambuco)
I
Um Gênesis selvagem
(Sertão do Brazil)
1
Ap. Dr. Couto de Magalhães, O Selvagem do Brazil, i*
p. 162-171. Curso de língua tupi.
170 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
II
F á b u l a s do J a b u t i
(Rio Negro)
0 rasto respondeu:
—« Quando tu andares dois dias te encontrarás .com
elle.
« Estou aborrecido de procurar; ella foi de vez.
0 rasto perguntou:
. , — « Por que razão a procuras tanto agora ?
Jabuti respondeii:
« Para nada. Eu quero conversar com ella.
O rasto fallou:
— « Então tu vás ao rio pequeno; lá acharás meu
pai grande.
Jabuti assim fallou:
«Então eu ainda vou.
Elle chega ao rio pequeno; perguntou assim:
« Rio, que é do teu senhor ?
Rio respondeu:
— Não sei.
Jabuti fallou ao rio:
« Por que razão assim me fallas tão bem ?
0 rio respondeu:
— Eu'falto assim bem, porque eu sei o que meu
pai fez a você.
Jabuti fallou:
« Deixe estar; eu hei de a achar. Então agora, rio,
vou-me do pé de você; quando o avistares, eu estarei
com o cadáver de teu pai.
Rio respondeu:
— Não bulas com meu pai. Deixa-o dormir.
Jabuti faltou :
« Agora, com certeza alegro-me bastante; rio, vou-
me embora.
Rio resporfdeu:
— Ah, jabuti, você, pôde ser quereres te enterrar
segunda vez.
Jabuti fallou :
«Não estou no mundo para fazer de pedra; agora
172 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
II
O Jabuti e a Ouça
O Jabuti gritou:
« Meus parentes, meus parentes, açudam !
A Onça ouviu, foi para lá; perguntou:
— O que estás tu gritando, Jabuti ?
O Jabuti respondeu:
« Eu estou chamando estes meus parentes, para vi-
rem comer a minha caça, a Anta.
A Onça disse:
— Tu queres que eu parta a Anta ?
ELEMENTO INDÍGENA 173
Jabuti disse:
« Quero, quero ; tu separas uma banda para ti, outra
para mim.
A Onça disse:
— Então vá apanhar lenha.
0 Jabuti partiu, e a Onça carregou com a caça e fu-
'giu.
Quando chegou o Jabuti apenas encontrou as fezes,
ralhou com a onça; disse: '
« Deixa estar! algum dia eu me encontrarei com-
tigo.
III
IV.
1
O prof. Hartt achou esta fábula na África, e em Sião.
Vid. Notes on the Tupi language. Couto de Magalhães, op. cit.,„
p. 1S4.
176 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
vi
O Jabuti e outra Onça
(Tradição de Tapajós)
VII
Jabuti e a Raposa
VIII
O Jabuti e a Raposa
(Tradição de Juruá)
O J a b u t i e o Homem
*- »
(Tradição de Juruá)
III
O Veado e a Onça
II
• IV
A. M o ç a q u e v a i p r o o n r a r marido
I
A Moça e o Gambá
II
A Moça e o Corvo
III #
V
L e n d a s a c e r c a 'da Raposa
A Raposa e a Onça
II
A Raposa e o Homem
III
A Raposa e a Onça
1
A Onça sahiu do buraco e disse :
— Agora eu vou agarrar a Raposa.
Andou, e passando pelo mato ouviu um barulho:
— « Txán, txán, txán!
Olhou para a Raposa, que es'tava tirando cipó.
A Raposa quando a viu, disse :
— « Estou perdida ; a Onça agora, quem sabe, vai-
me comer.
A Raposa disse á Onça:
— « Ahi vem uni vento muito forte; ajuda-me a tirar
o cipó para me amarrar n'uma arvore, senão vento me
arrebata.
— A Onça ajudou a tirar o cipó e disse à Raposa:
— Amarra-me primeiro ; como eu sou maior, o ven-
to póde-me arrebatar antes a mim !
A Raposa disse á^Onça que se abraçasse com um
páo grosso; amarrou-lhe os pés e mãos, e disse:
— Agora? fica ahi, diabo, que eu cá me vou !
IV
A Onça e os Cupins
vi
A Raposa e a Onça
O sol seccou todos os rios, e ficou só um poço com
água. .
A Onça disse : «
-—Agora pilho eu a Raposa, porque vou fazer-lhe
espera no poço da água.
A Raposa, quando veiu, olhou adiante e enxergou a
Onça; não pôde beber água, e foi-se embora, pensando
como bebèria.
13
194 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
VII
A Raposa e a Onça
VIII
A Onça disse:
— Eu vou-me fingir morta, os bichos vêm vêr se é
certo; a Raposa também vem, e então eu a agarro.
Os bichos todos souberam que a Onça morreu, foram
e entraram na cova d'ella, e diziam:
— A Onça já morreu ; graças sejam dadas a Tupan!
Já podemos passear.
A Raposa chegou, não entrou, e perguntou de fora :
— « Ella já arrotou ?
Elles responderam : — Não !
A Raposa disse :
— « O defunto meu avô quando morreu arrotou três
vezes.
, A Onça ouviu, e arrotou três vezes.
A Raposa ouviu, riu-se e disse :
—«Quem é que já viu alguém arrotar depois de
morto ?
Fugiu, e até hoje a Onça não a pôde agarrar por ser
a Raposa muito ladina.
VI
A p ó l o g o s dia Raposa
-, *
N. B. — A este deveriam seguir-se mais três episó-
dios, que o dr. Couto de Magalhães summaría:.
« Tendo a moça casado de novo com uma espécie
grande de Martim Vaz, e dispondo este, para a pesca, do
seu formidável bico, a Raposa julgou que devia também
pescar atirando-se de cima de uma arvore, como aquel-
les passaros#fazem; ella que não dispunha nem de azas
nem de bico, foi mordida por um peixe, e escapou de
morrer. Desfez também o casamento, attribuindo ao gen-
ro a desgraça, filha unicamente da sua fatuidade.
« No terceiro episódio, casou a filha com uma Mari-
bondo ou Caba, que, graças às suas azas, pôde roubar
peixe secco de um varal de pescadores. A Raposa, sem
attender que não tinha azas, tentou fazer a mesma cou-
sa, resultando da sua fatuidade o perder a cauda no
dente dos cães que estavam de vigia ao varaL Desfez
ainda este casamento. .
,« No quarto e ultimo episódio fez casar sua filha com
o Carrapato, o qual tendo conseguido quebrar ouriços
de castanha^ /mandando jogal-os sobre sua cabeça, que
é molle; a Raposa entendeu que podia fazer o mesmo,
e morreu com a pancada que levou 'sobre a cabeça. »
(Op. cit., p. 264.)
198 ' CONTOS POPULARES DO BRAZIL
/
VII
— « Esconde-me.
. A moça escondeu-o; untou um pilão com cera, em-
brulhou-o na tarrafa, e deixou-o no mesmo logar.
Então a velha sahiu do mato, e ateou o fogo de
muquem por baixo. 0 pilão aquecendo a cera derreteu-
se; a velha aparou. 0 fogo queimou a tarrafa, e appa-
receu o pilão. Então a velha disse para a filha:
— Si me não apresentas, a minha caça, mato-te.
A moça ficou com medo, mandou o moço cortar pal-
mas de uaçahy, para fazer cestos; estes cestos transfor-
maram-se em todos os animaes.
A velha correu atraz d'elles; quando tornou o moço
mandou os cestos transformarem-se em antas, veados,
porcos, em todas as caças. A Velha-gulosa comeu a to-
dos. Quando o moço viu que a comida era pouca, fugiu;
fez ura matapí (cerco de apanhar peixe) onde cahiu
muito peixe. Quando chegou alli, entrou dentro do ma-
tapí. 0 moço aguçou ura páo de marajá.
Quando a velha estava comendo peixe, elle feriu-a e
fugiu. A moça disse-lhe:
— Quando tu ouvires um pássaro cantar : kan, han,
kan, kan, kan, han, é minha mãi, a qual não está lon-
ge para te agarrar.
0 moço andou, andou, andou. Quando elle ouviu:
kan, kan, chegou onde os Macacos estavam fazendo
mel, e disse-lhes:
— Escondam-me, -Macacos!
Os Macacos metteram-no dentro de um pote vazio.
A velha correi., chegou, não encontrou o moço, e pas-
sou para diante, *
Depois os Macacos mandaram que o moço se fosse
embora. O moço andou, andou, andou; ouviu: kan,
kan, kan, kan, kan, kan! Elle chegou a casa do Suru-
cucu, pediu-lhe para o esconder. O Surucucu escondeu-o.
A velha chegou, não o encontrou, foi-se.
De tarde o moço ouviu o Surucucu estar conversan-
200 CONTOS POPULARES DO BRAZIL
SECÇIA.O PRIMEIRA
i*
II
Qui-qui-ri-qui!
Minha bolsa de moedas '
Quero para aqui.
E como visse que lh'a não levavam, lançou a rapo-
sa que tinha comido, e ella comeu as gallinhas todas.
Foram dar parte a el-rei do succedido, e elle ordenou
que mettessem o borrachudo dentro da copeira. Cum-
priram-se as ordens, mas o borrachudo continuou sem-
pre a cantar:
Qui-qui-ri-qui!
Minha bolsa de moedas
Quero para aqui.
i
Depois como lhe não levassem o dinheiro, lançou o
NOTAS 209
SECÇAO SEGUNDA
SECCAO TERCEIRA.
Páç.
'Advertência do Collector v
INTRODUCÇÃO : Sobre a Novellistica brazileira vu
Secção p r i m e i r a
Pag.
Pag-
Secção segunda
Pag.
Secção terceira
Pau. •
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