Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Ligia Fagundes Telles

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 32

MELHORES CONTOS (EDUARDO PORTELLA)- LYGIA FAGUNDES TELLES

1. Verde Lagarto amarelo


2. Apenas um saxofone
3. Antes do baile verde
4. Eu era mudo e só
5. As pérolas
6. Herbarium
7. Pomba enamorada ou uma história de amor
8. Seminário dos ratos
9. A confissão de Leontina
10. Missa do galo
11. A estrutura da bolha de sabão
12. A caçada
13. As formigas
Lygia Fagundes Telles 14. Noturno Amarelo
19 de abril de 1923 15. A presença
16. A mão no ombro
Características gerais da o bra da a u t ora e período histórico

 Ge ra çã o d e 45 (Terceira geração modernista


ou geração pós-moderna);  Governo Médici, auge da Ditadura Civil-
 Subjetivismo; Militar;
 Liberdade e censura lado a lado.
 Intimismo;
 “Dark Side of the Moon” (Pink Floyd);
 Temática: Cotidiano, mulheres, relações
humanas, liberdade, mudanças, identidade,  Guerra fria;
memória, família e seus conflitos, encontros e
desencontros, vida urbana privada e emoções.  Brasil década de 50-até hoje.

 Linguagem coloquial, simples e expressiva.


O Brasil ( e mundo )na década de 70
 Reais, fantásticas e verossímeis de uma só vez.

Características gerais da obra da autora


1.VERDE LAGARTOAMARELO
COMPETIÇÃO E AMARGURA EM UMA RELAÇÃO ENTRE IRMÃOS.

Características Gerais

 Narrador:1ª pessoa (Rodolfo)/autodiegético/subjetiva/fluxo de consciência;


 Tempo: passado/Algumas horas no presente.
 Espaço: a casa de Rodolfo;
 Atmosfera: angústia, dia quente, verão;
 Personagens: Rodolfo (escritor amargurado pela preferência do irmão –Eduardo- pela mãe),
Eduardo –irmão preferido, sempr e limpo-, Ofélia –mulher de Eduardo-, Júlio (menino c o m
q u e m brigou), Laura (a mãe).
 Enredo: Rodolfo guarda lembranças ruins c o m relação ao irmão mais novo Eduardo,
relembra a m o r t e da m ã e e o “broche de a r a m e ” que o irmão fez para ela e deu antes dela
morrer. Ele co mp et e c o m o irmão que t a m b é m , no fim, revela que escreve, que escreveu u m
ro man ce “Então ele abriu a pasta”.
Trechos
 “Pra que ele não ficasse triste, só eu soube que ela ia morrer” (p.17)
 “E se ele fosse morar longe? Podia tão bem s mudar de cidade, viajar. Mas não. Precisava
ficar perto, sempre em redor, me olhando.”(p.17)
 Os adjetivos empregados para se referir à maneira Eduardo andar são positivos, o
passo é “macio”, o andar é “discreto”, “polido” (p. 15).

 Respirei de boca aberta agora que ele não me via, agora que eu podia amarfanhar a cara
como ele amarfanhara o papel. Esfreguei nela o lenço, até quando, até quando?!... E me
trazia a infância, será que ele não vê que para mim foi só sofrimento? Por que não me deixa
em paz, por quê? Por que tem que vir aqui e ficar me espetando, não quero lembrar nada,
não quero saber de nada!... (p. 10)

 Intertextualidade: Abel e Caim (bíblica).


2.APENAS UM SAXOFONE
 Narrado r:1ª pessoa ( u ma mu lher )/autodiegético/subjetiva;
 Fluxo de consciência;
 Tempo: pres ente “anoiteceu e faz frio”.
 Espaço: sua casa, detalhes relacionando c o m Renê.
 Personagens: a narradora (Luisiana – n ome dado pelo antigo a m a n t e
saxofonista), o saxofonista, Renê (o decor ad or q u e fala d e Aleijadinho, o
retrato, a organização da casa);
 Enredo: é a historia de u m a mulher, triste, velha e rica. Vivia da saudade de
seu grande amor, o saxofonista que está mo r to . Tinha u m h o m e m rico q ue a
sustentava, u m jovem que a satisfazia e u m professor espiritual c o m q u e m
dormia. Possuia bens materiais. Estava b êbad a e sentimental, acaba s e m
ninguém.
Trechos
“Ele era a minha juventude, ele e sue saxofone que luzia como ouro” (p.23)

“”Trazia escovas de dentes no bolso e mais a fralda para limpar o saxofone..” (p.23)

“Eu quis terminar sabe, mais eu não tive coragem, então eu decidi que eu faria tudo
pra que aquele amor apodrecesse de tal forma que um dia ele fosse embora e nem
olhasse para trás de tanto nojo. Então uma noite, uma noite eu tinha um
compromisso, nessa época eu vivia cheia de compromissos, pintava meus olhos
diante do espelho e ele tocava saxofone, eu ia me encontrar com um banqueiro
sabe, ele sabia disso, então eu parei, parei de pintar os olhos, olhei pra ele e disse: Se
você me ama, me ama mesmo, sai daqui agora e se mate, imediatamente!” (p.26)

“Luisiana, você é minha música e eu não posso viver sem música” (p.26)
3.ANTES DO BAILEVERDE
Na rr ad o r: 3ª pessoa, n ar ra do r observador;
Fluxo d e consciência;
Tempo: cronológico, u m dia.
Espaço: u m apa rt a men t o .
Personagens: Tatisa - a patroa egoísta que quer ir ao baile de carnaval; Lu - a empregada;
Raimundo - namorado de Tatisa; O pai doente da protagonista.

Enredo: uma jovem se prepara animada para o grande baile a fantasia de sua cidade, em que todos
devem comparecer vestidos com roupas verdes. No quarto ao lado, seu pai doente agoniza em seus
últimos minutos de vida. A jovem, movida pela vontade egoísta de se divertir num simples baile ao
invés de assumir a responsabilidade inconveniente de cuidar do pai, inventa a todo momento as
maiores desculpas para si mesma.A protagonista se divide entre o dever e a culpa para com ao pai
moribundo e o desejo de se divertir livremente, até sua fuga desabalada rumo ao sonhado baile de
carnaval. Tatisa, angustiada mas egoísta, prioriza o namorado ao pai.
Trechos
 “Aquele médico miserável. Tudo culpa daquela bicha. Eu bem disse que não podia ficar
com ele aqui em casa, eu disse que não sei tratar de doente, não tenho jeito, não posso!
Se você fosse boazinha, você me ajudava, mas você não passa de uma egoísta, uma
chata que não quer saber de nada. Sua egoísta.”
 As personagens não têm coragem de espiar o enfermo. Lu solta a mão de Tatisa
e sai de fininho, enlevada pelo som das buzinas na rua. Tatisa, apavorada pelo
“poderoso som do relógio”, sai correndo em direção à empregada, chamando
aflitamente por ela. Uma imagem simbólica desfecha o conto: “apoiada pelo
corrimão, colada a ele, desceu precipitadamente. Quando bateu a porta atrás de si,
rolaram pela escada algumas lantejoulas verdes na mesma direção, como se quisessem
alcançá-las”. O ambiente estava tão sombrio, sinistro, que até as lantejoulas
caídas da fantasia de Tatisa rolam escada abaixo, também querendo fugir daquele
ambiente funesto.
4. EU ERA MUDO E SÓ

 Na rra d o r: 1ª pessoa (Manuel), subjetivo, fluxo de consciência, autodiegético;


 Uso de descrição a b un d a nt e e alguns diálogos;
 Tempo: d o fluxo d e consciência, re l em b ra t a m b é m q uand o e r a jovem X o sujeito d e agora.
 Espaço: u m a p a r t a m e n t o .
 Personagens: Manuel-jornalista-, o ma ri do angustiado e insatisfeito c o m o ca s am en t o
burguês; sua m u l h er Fernanda (descrita c o m o alguém celestial, culta, intocável, m a s q u e o
r e p r i m e n o ca s am en t o d e 12 anos); r e m e m o r a : o amigo Jacó, a janta c o m o sogro -o
senador-, a tia Vicentina. A filha Gisela q ue se p a re c e m u i t o c o m Fernanda
 Enredo: Manuel, e m u m fluxo d e consciência e nt r a e m u m a espécie d e m u n d o interior d e
delírio, e, insatisfeito c o m o casamen to, passa po r lembranças e afirma q u e n ã o gostaria d e
e st a r o n d e e s t á e c o m q u e m está, m a s n ã o consegue sair d es t a situação. H á inú meras
referências literárias (Voltaire, Bach,T.S. Elliot, Robbe-Grillet .
Trechos
 “Era o círculo eterno sem começo nem fim. (...) Aperplexidade do moço diante de
certas considerações tão ingênuas, a mesma perplexidade que um dia senti. Depois,
com o passar do tempo, a metamorfose na maquinazinha social azeitada pelo
hábito: hábito de rir sem vontade, de chorar sem vontade, de falar sem vontade, de
fazer amor sem vontade... O homem adaptável, ideal. Quanto mais for se
apoltronando, mais há de convir aos outros, tão cômodo, tão portátil”. (p.39)
 “Penso agora como ela [Tia Vicentina] ficaria espantada se me visse aqui nesta sala
que mais parece uma dessas revistas da arte de decorar, bem-vestido, bem barbeado
e bem casado, solidamente casado com uma mulher divina-maravilhosa, quando
borda, o trabalho parece sair das mãos de uma freira e quando cozinha!… (p.40)
 “Gisela, minha filha. Já sabia sorrir como a mãe sorria, de modo a acentuar a covinha
da face esquerda. E já tinha a mesma mentalidade, uma pequenina burguesa
preocupada com a aparência, “Papaizinho querido, não vá mais me buscar de jipe!”.
A querida tolinha sendo preparada como a mãe fora preparada, o que vale é o
mundo das aparências. Asaparências. (p.41)
5.AS PÉROLAS

Narrador: 3ª pessoa, heterodiegético, dialoga c o m o leitor.


Tempo: cu r to t e m p o da mu lh er se a r r u m a r para ir a u m a festa.
Espaço: u m apartament o.
Personagens: Lavínia,Tomás (o casal) e Roberto (antigo a m o r de Lavínia)

Enredo: Lavínia e Tomás são um casal que ainda se ama, sem alegria, mas ainda se
amam. Ele está doente e fica apreensivo ao saber que Lavínia vai a uma reunião (ela diz
que será chata) sem ele e irá encontrar Roberto, antigo caso amoroso. Ele esconde o
colar de pérolas que deu para Lavínia, mas entrega no final, quando ela está quase saindo
para a reunião. O que gera a tensão no conto é o fato de Tomás estar doente, e ambos
sabem que a morte do marido está próxima.
Trechos
 Dois dias antes do casamento. Lavínia estava assim mesmo, toda vestida de preto.
Como única jóia, trazia seu colar de pérolas, precisamente aquele que estava ali,
na caixa de cristal. Roberto fora o primeiro a chegar. Estava eufórico: “Que
elegância, Lavínia! Como lhe vai bem o preto, nunca te vi tão linda. Se eu
fosse você, faria o vestido de noiva preto. E estas pérolas... Presente do
noivo?”
 “Tudo ia acontecer como ele previra, tudo ia se desenrolar com a
naturalidade do inevitável, mas alguma coisa ele conseguira
modificar (...) Tinha a varanda, tinha Chopin, tinha o luar, mas
faltavam as pérolas.” (p. 45)
6. HERBARIUM

Narrador: 1ª pessoa, relembrand o quando er a criança.


Tempo: passado;
Espaço: casa do sítio, bosque.
Personagens: a narradora, u m botânico primo, tia Clotilde, a mãe.

Enredo: história da descoberta do amor por uma menina, criança à beira da adolescência, que
descobre a paixão num primo doente e mais velho que vem ficar alguns dias em sua casa. Não se sabe
qual a doença do primo, ela narra tudo desconcertada e apaixonada pelo primo, passa a coletar várias
amostras e faz de tudo para impressioná-lo. Deixa de roer as unhas e passa, infantilmente, a ocupar-se
somente da presença do primo, mudando algumas atitudes e comportamentos que até então não
importavam. A convite do próprio primo aceita ser uma espécie de assistente dando asas à sua paixão e
imaginação, até que vem a notícia da partida do rapaz.
Trechos
 “Herbarium, ensinou-me logo no primeiro dia em que chegou ao sítio. Fiquei repetindo a palavra,
herbarium. Herbarium. Disse ainda que gostar de botânica era gostar de latim, quase todo o reino
vegetal tinha denominação latina. Eu detestava latim mas fui correndo desencavar a gramática (...)
formica bestiola est. Ele ficou me olhando.A formiga é um inseto, apressei-me em traduzir”.
 “Um vago primo botânico convalescendo de uma vaga doença. Que doença era essa que o fazia
cambalear, esverdeado e úmido, quando subia rapidamente a escada ou quando andava mais tempo
pela casa?”
 “Nas cartas do baralho, tia Clotilde já lhe desvendara o passado e o presente (...) O que ela previu?
Ora, tanta coisa. De mais importante, só isso, que no fim da semana viria uma amiga buscá- lo, uma
moça muito bonita, podia ver até a cor do seu vestido de corte antiquado, verdemusgo”.
 “Enfiei a mão no bolso e apertei a folha, intacta a umidade pegajosa da ponta aguda, onde se
concentravam as nódoas vermelhas. Ele esperava. Eu quis então arrancar a toalha de crochê da
mesinha, cobrir com ela a cabeça e fazer micagens, hi hi! hu hu! (...) Ele continuava esperando, e
então? No fundo da sala, a moça também esperava numa névoa de ouro, tinha rompido o sol.
Encarei-o pela última vez, sem remorso, quer mesmo? Entreguei-lhe a folha.”
7. POMBA ENAMORADA OU UMA HISTÓRIA DE AMOR
 Narrador: 3ª pessoa.
 Espaço: espaço urbano/ cidade de SP.
 Tempo: adolescência a t e a idade adulta.
 Personagens: Antenor, o mecânico pelo qual a protagonista ( “ p o m b a e nam o r ada”
se apaixo na e m um baile o nde é co roada a r ainha da pr im ave r a, Rôni e
Gilvan(amigos e confidentes), a cigana,
 Enredo : Sobre a idealização amorosa. São narradas as desventuras do decorrer do tempo de uma
mulher que gosta de ficções romanescas (telenovela e folhetim)e se apaixona, ainda na adolescência, por
uma figura ríspida, Antenor . É uma obsessão que vai até a velhice. Antenor trata mal a protagonista, é um
estereótipo machista, que está de “saco cheio de Pomba enamorada”,codinome com o qual ela assina as
cartas (manda só as “decentes”, as outras rasga).Ela é humilhada e, mesmo assim, insiste neste amor, até
na festa de noivado de sua filha, Maria Aparecida, ela pede para a cigana tirar as cartas. A cigana fala de
todo o passado dela, revela que um homem motorista de ônibus a esperava na rodoviária: ela vai até lá.
Trechos

 “foi ao crediário Mappin, comprou um licoreiro, escreveu um cartão desejando-lhe todas as


felicidades do mundo (…) e quando chegou em casa bebeu soda (cáustica)”
 “Ele disse apenas meia dúzia de palavras, tais como, Você é que devia ser a rainha porque a
rainha é uma bela bosta, com o perdão da palavra. Ao que ela respondeu que o namorado da
rainha tinha comprado todos os votos, infelizmente não tinha namorado e mesmo que
tivesse não ia adiantar nada porque só conseguia coisas a custo de muito sacrifício, era do
signo de Capricórnio e os desse signo têm que lutar o dobro pra vencer.”.
 “Ela foi à Igreja dos Enforcados, acendeu sete velas para as almas mais aflitas e começou a
Novena Milagrosa em louvor de Santo Antônio, isso depois de telefonar várias vezes só pra
ouvir a voz dele. No primeiro sábado em que o horóscopo anunciou um dia maravilhoso
para os nativos de Capricórnio, aproveitando a ausência da dona do salão de beleza que saíra
para pentear uma noiva, telefonou de novo e dessa vez falou”(...)
 “Ele devia chegar num ônibus amarelo e vermelho, podia ver até como era, os cabelos
grisalhos, costeleta. O nome começava por A, olha aqui o Ás de Espadas com a primeira letra
do seu nome. (...) vestiu o vestido azul-turquesa das bodas de prata, deu uma espiada no
horóscopo do dia (não podia ser melhor) e foi”.
8. SEMINÁRIO DOS RATOS

Na rr a d o r: 3ª pessoa.
Tempo: passado/Durante a Ditadura Civil-Militar.
Espaço : casa d e cam po confor t áve l que , apare n t e m e nt e , não se r ia um lugar
hostil/casarão d o governo. País fictício.
Narrativa fantástica + t emát i c a social.
Personagens: s e m n o me s próprios, vários rato s são apresentados. Chefe das Relações
Públicas, um jovem de baixa estatura, atarracado, sorriso e olhos extremamente brilhantes, que se ruboriza
facilmente e possui má audição (o único que sobrevive para contar a história). Secretário do Bem
Estar Público e Privado, a quem chama de Excelência – homem descorado e flácido, de calva úmida e
mãos acetinadas [...] voz branda, com um leve acento lamurioso. O u t r a s personagens: nomeadas
através de suas ocupações profissionais e cargos hierárquicos/papéis sociais. Há descrição
pormenorizada do físico das personagens já apresentadas (aspectos psicológicos),interioridade
(Assessor da Presidência da RATESP,Diretor das Classes Conservadoras Armadas e
Desarmadas, Delegação americana..).
 Enredo: ratos pequenos e temerosos roedores, numa treva dura de músculos, guinchos e
centenas de olhos luzindo negríssimos, invadem e destroem uma casa recém restaurada
localizada longe da cidade. Ali aconteceria um evento denominado VII Seminário dos
Roedores, uma reunião de burocratas, sob a coordenação do Secretário do Bem-Estar
Público e Privado, tendo como assessor o Chefe de Relações Públicas. O país fictício
encontra-se atravancado pela burocracia, invertendo-se a proporção dos roedores em
relação ao número de homens: cem por um. Todo o conto é filtrado por indicativos do
fantástico, tendo seus limites no alegórico. O clima permanente é o medo apavorante
de algo que se desconhece – e principalmente, que não se controla. E sob esta capa do
fantástico, Lygia compôs um conto denunciador da situação não menos terrificante em
que vivia o país, abordando uma temática sobre as complexas relações entre o bem e o
mal-estar coletivo e pessoal. O atributo sobrenatural – a hesitação experimentada por
um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento aparentemente
sobrenatural, aparece neste conto, fazendo o leitor hesitar ao realizar a interpretação. O
final é ambíguo, talvez em uma alusão aos ratos se reunindo para realizar o VII Seminário
dos Roedores, deliberando e decidindo o destino do país em lugar dos homens
dizimados... Após a iluminação do casarão, inicia-se uma nova era, governada pelo mundo
das sombras, com os ratos assumindo o poder. Fica o u tr a dúvida: se os ratos haviam
roído a instalação elétrica, de onde provinha a iluminação? Mais um enigma proposto
pelo fantástico.
9.A CONFISSÃO DE LEONTINA

Narrad or: 1ª pessoa, relemb rand o a história de quanto m a t o u u m h o m e m.


Tempo: Cronológico e de me mó ri a (misto).
Espaço: prisão.
Discurso indireto livre
Personagens: a narradora, Leontina (nasceu em uma cidade pequena chamada Olhos
D’Água e mal sabe ler, não tem ninguém no mundo, se prostitui e mata um homem em
legítima defesa). Pedro (primo médico que a abandonou), o padre, Rogério/um
marinheiro (seu primeiro amor na cidade), Luzia (irmã da narradoraque morre
afogada em uma poça de água), velha Ge rt ru de (exploradora, deu seu primeiro
trabalho na cidade), a vendedora do vestido, o velho (que ela mata), Rubi (sua amiga), sua
mãe, de quem pega o vestido-depois que morre- para ir para a cidade.
Resumo: Uma história de humanização de uma mulher pobre, uma espécie de Macabéa.
Leontina conta sua história desde o começo, quando era pequena e teve de sair da pequena
cidade, onde era miserável, depois que a mãe morreu. Relembra da morte da irmã, reencontra o
primo médico Pedro no hospital e ele finge que nem a conhece. Trabalha como dançarina e
depois como prostituta, encontra um velho rico e famoso que lhe dá um vestido. Ele a leva para
um lugar afastado e a agride, então ela, em legítima defesa, o mata com uma barra de ferro. Volta a
passar pela loja e a dona a reconhece, ela vai presa.

Trechos
“O bofetão veio nessa hora e foi tão forte que me fez cair no banco (...) o punho do velho desceu
fechado na minha cara. Foi como uma bomba (...) achei uma coisa pura e fria no chão. Era o
ferro...”.

“Minha mãe vivia lavando roupa na beira da lagoa (...) nunca vi minha mãe se queixar. Era
miudinha e tão magra que até hoje fico pensando onde ia buscar forças para trabalhar tanto
não parava (...) Pedro precisava estudar para ser médico.
10. MISSA DO GALO

 Na rr ad o r: 3ª pessoa, onisciente.
 Tempo: Cronológico e de m e m ó r i a (misto).Presente.
 Espaço:casa d e hospedagem.
 Personagens: Conceição, a Madrinha, Menezes, Nogueira (jovem d e 17 anos).
 E nred o: Co mo releitura d o c o nt o de Machado de Assis –inclusive c o m epígrafe- nos
é apresentada uma mulher da segunda metade do século XIX: Conceição, casada, vítima de
um marido adúltero, que a deixa praticamente só numa noite de Natal. Esta senhora
mantém um insinuante diálogo com um hóspede adolescente, o Nogueira (que é leitor, tal
qual a senhora, de romances românticos, como Os três mosqueteiros, ou os do senhor
Joaquim Manuel de Macedo). Ele faz hora esperando um amigo para juntos irem à tal missa
do galo.
Trechos

“Ele fecha o livro. Ela tranca a porta. Ainda ouve os passos dos dois amigos se afastando rapidamente.
Olha em redor, a mariposa sumiu. Quando volta ao quarto, pisa na tábua do corredor, aquela que
range. Rangeu, mas agora está desinteressada da mãe e da tábua. No canapé, a almofadinha das
guirlandas um pouco amassada.Apago o lampião”.(p.112)

“Mas tem alguém dormindo? A começar pelas mucamas lá no fundo da casa: já estão de camisola e
conversam baixinho, a mais nova trançando a carapinha em trancinhas duras, rindo do patrão que
devia estar todo contente, montado na concubina, ouviu essa palavra mais de uma vez, acabou
aprendendo, concubina. (...) mas quem estaria andando aí? Conceição? Conceição, coitada, uma
insônia. A velha suspira. Também, dormir, como?! Justo uma noite assim sagrada o marido cisma de
procurar a mulata, é o cúmulo. Um bandalho esse Menezes.” (p.110)

“Com olhos que eram castanhos e agora ficaram pretos, mais uma singularidade dessa noite: não é
que a simpática senhora ficou subitamente belíssima? Mas não, ele não dissimula, está em êxtase,
atordoado com a descoberta, bruxa, bruxa! quer gritar. A hora é de calar. Aspira seu cheiro noturno.”
(p.111)
11.A ESTRUTURA DA BOLHA DE SABÃO
“AMOR DE TRANSPARÊNCIAS E MEMBRANAS, CONDENADO ARUPTURA”

 Narrador: 1ª pessoa (ex-mulher)/intimismo.


 Tempo: memória/passado.
 Espaço: bar/ a casa.
 Personagens: Ele –físico que estuda a estru tura da bolha de sabão-, a
mulher e a ex-mulher, o amigo da personagem narradora (ex-mulher).
 Enredo: uma ex-mulher encontra o ex-marido com a esposa atual em um bar.
Está pronto o cenário de incomunicabilidade e ciúmes. Ele está doente, pra
morrer, ela vai visitá-lo em sua casa. Ela trata mal sua atual mulher.
Trechos
 Era o que ele estudava. "A estrutura, quer dizer, a estrutura" - ele repetia e abria a mão branquíssima ao
esboçar o gesto redondo. Eu ficava olhando seu gesto impreciso porque uma bolha de sabão é mesmo
imprecisa, nem sólida nem líquida, nem realidade nem sonho. Película e oco. "A estrutura da bolha
desabão, compreende?" Não o compreendia. Não tinha importância. Importante era o quintal da minha
meninice com seus verdes canudos de mamoeiro, quando cortava os mais tenros, que sopravam as bolas
maiores, mais perfeitas. (...)
 Convidaram-me e sentei, os joelhos de ambos encostados nos meus, a mesa pequena enfeixando copos
e hálitos. Me refugiei nos cubos de gelo amontoados no fundo do copo, ele podia estudar a estrutura do
gelo, não era mais fácil? Mas ele queria fazer perguntas. Uma antiga amizade? Uma antiga amizade. Ah.
Fomos colegas? Não, nos conhecemos numa praia, onde? Enfim, uma praia. Ah. Aos poucos o ciúme foi
tomando forma e transbordando espesso como um licor azul-verde, do tom da pintura dos seus olhos.
Escorreu pelas nossas roupas, empapou a toalha da mesa, pingou gota a gota.
 “Ele está doente, sabia? Aquele cara que estuda bolhas, não é seu amigo?” Em redor, a massa latejante de
gente, música. Calor. Quem é que está doente? Eu perguntei. Sabia perfeitamente que se tratava dele,
mas precisei perguntar de novo. É preciso perguntar uma, duas vezes para ouvir a mesma resposta, que
aquele cara, aquele que estuda essa frescura da bolha, não era meu amigo? //Descobre: “Ô! Deus –
agora eu sabia que ele ia morrer”.
12.A CAÇADA

 Narrador: 3ª pessoa.
 Tempo: passado.
 Espaço: loja de antiguidades e o cenário retratado na tapeçaria.
 Personagens: são dois, o homem e a dona (velha), ou funcionária do antiquário (já que isso não está
explícito). Uma importante constatação sobre os personagens é que em nenhum momento algum dele
recebe nome ou características.
 Enredo: narra a história de um homem que ao adentrar uma loja de antiguidades é tomado por um
estranho sentimento ao observar uma velha tapeçaria. O envolvimento do protagonista com a peça é tão
profundo que ele parece sentir-se parte da história ali retratada. Há mistério sobrenatural na insistência
do homem em ver a tapeçaria, todos os dias. Ele acha uma seta na tapeçaria, mas é um buraco feito por
uma traça. A partir deste fato ele delira com relação à tapeçaria: seria a caça, o caçador, se ente em uma
floresta, sente a mata, sente seu estado lá. Sonho ou realidade? O conto termina cheio de mistérios.
Trechos
 “Parou. Dilatou as narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele
cheiro? E por que a loja foi ficando embaçada, lá longe? (…) Era o caçador? Ou a caça?
Não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as
árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado? (…) Gritou e mergulhou numa
touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor! Não… – gemeu, de
joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o
coração”

 “Parece que hoje tudo está mais próximo – disse o homem em voz baixa. – É como se…
Mas não está diferente?
A velha firmou mais o olhar. Tirou os óculos e voltou a pô-los. – Não vejo diferença
nenhuma.
– Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta…
– Que seta? O Senhor está vendo alguma seta?”
13.AS FORMIGAS

 Narrador: 1ª pessoa.
 Tempo: cronológico, noite—tempo da estadia.Tensão.
 Espaço: pensão est ran ha (saleta escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados, com cheiro
de bolor ), mas com preço acessível, com escada e sótão.
 Personagens: duas garotas - primas e estudantes - que se mudam para uma pensão estranha. A
narradora- protagonista é estudante de Direito e a outra personagem, estudante de Medicina. A
velha da pensão, o anão/esqueleto, as formigas que montam o esqueleto.
 Enredo: duas pri mas es tão e m u m a pensão sinistra, e n c o n t r a m u m b aú c o m ossos d e
u m anão. Tudo gira e m t o r n o disso: Estaria então o anão se reconstituindo? Diante desse
mistério, a futura doutora resolve passar a noite em claro e descobrir de onde vinham as formigas.
Mas adormece, assim como a narradora. Esta última é acordada aos sustos pela parenta. As
formigas haviam voltado e o esqueleto estava quase reconstituído, faltando apenas um osso da
perna e outro do braço. Fogem desabaladamente da casa.
 Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do
velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma
pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
 – De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados… Mas que maravilha, é raro a
beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí – admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um
pequeno crânio de uma brancura de cal. – Tão perfeito, todos os dentinhos!
 Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta
debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e
desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
 Olhei de longe a trilha: nunca elas me pareceram tão rápidas. Calcei os sapatos, descolei a
gravura da parede, enfiei o urso no bolso da japona e fomos arrastando as malas pelas
escadas, mais intenso o cheiro que vinha do quarto, deixamos a porta aberta. Foi o gato que
miou comprido ou foi um grito?
No céu, as últimas estrelas já empalideciam. Quando encarei a casa, só a janela vazada nos via,
o outro olho era penumbra.
Trechos
14.NOTURNO AMARELO
 Na rr ad o r: 1ª pessoa (Laura), discurso indireto livre, intimismo, me m ó r i a , fantasia.
 Tempo: memó ria/n oit e
 Espaço: a casa (sonhada, fantasiada), u m a est rada o n d e o carro est á parado.
 Discurso indireto livre
 Personagens: Laura, Fernando, Eduarda, Rodrigo, a avó, Ifigênia (empregada), Ducha.
 Enredo: Família, cheiros (Dama da noite), lembranças, calor, memórias, acerto de antigas contas:
a oportunidade via o fantástico. Esses ingredientes de "Noturno amarelo", narrado ao sabor do
intimismo de mais uma mulher-Laurinha- que nessa noite junto ao amado Fernando (com quem
não está nada bem e vai buscar gasolina) encontra-se em plena estrada com o carro sem gasolina
e que em breve irá rever velhos conhecidos. Enquanto ele repõe a gasolina, ela faz um balanço de
sua vida e do erro de cálculo ao ter trocado Rodrigo, seu grande amor, por Fernando, o atual
companheiro. Pedirá perdão para irmã, irá se desculpar com outros. Noturno amarelo, tocado
no piano pela avó para a neta visitante, para a irmã caçula, Ducha dançar ao som da música. Ao
final não sabemos se foi um lapso de tempo/pensamento de Laura ou tudo aconteceu de
verdade.
Trechos
 Que feio, Laura! A Chapeuzinho Vermelho atravessou um bosque cheio de lobos só pra
levar o bolo pra Avozinha que estava com resfriado, não era um resfriado? (...) – Não
veio buscar Ifigênia que queria cumprir promessa, não trouxe meu espelho, roubou a
torre do Avô, roubou o noivo de Eduarda e não visitou a avó.
 Vi as estrelas. Mas não vi a lua, embora sua luminosidade se derramasse pela estrada.
Apanhei um pedregulho e fechei-o com força na mão. Por onde andará a lua? perguntei.
Fernando arrancou o paletó no auge da impaciência e perguntou com voz esganiçada se
eu pretendia ficar a noite inteira ali de estátua enquanto ele teria que encher o tanque
naquela escuridão de merda porque ninguém lhe passava o raio da lanterna.
 Escondi a cara nas mãos mas mesmo assim podia vê-lo na minha frente, com seu jeans
puído e blusão com reforços de couro nos cotovelos. Segurou-me pelos punhos e me
descobriu. Ardia o carvão dos seus olhos mas tinha o mesmo doce sorriso de antes.
Esperou. Quando consegui falar, a cinza já cobria completamente o braseiro.
- Eu te neguei, Rodrigo. Te neguei e te trai e traí Eduarda. Mas queria que soubesse o
quanto amei vocês dois.
15.A PRESENÇA

 Na rr ad o r: 3ª pessoa.
 Espaço: hotel somente de velhos
 Personagens: o velho porteiro, o jovem hóspede, os velhos.
 Enredo: o narrador conta-nos com certo mistério o conflito de faixas etárias distintas quando
um moço de 25 anos hospeda-se num segundo andar de um hotel ocupado por pessoas idosas,
burguesas e acabadas para o mundo lá fora. O porteiro, também velho, à medida que faz o
registro do novo hóspede, tenta de todas as formas também dissuadi-lo de não permanecer
naquele lugar mofado e sem atrativos para um jovem. O rapaz entende e continua firme no
propósito de ali se hospedar, causa mal-estar e se exibe na piscina. O velho tenta novamente
descrevendo o mal que a juventude do moço poderá causar aos velhinhos decadentes com seus
feridos orgulhos, já que muitos ali eram artistas. No jantar, após ouvir os velhos músicos, achou um
certo amargor na goiabada com queijo. Ao se deitar, depois de ter tomado o chá servido às vinte e uma
horas, ele já não se sentia bem.
16-A MÃO NO OMBRO

 Narrador: 3ª pessoa mas com focalização em primeira pessoa (com espécie de monólogo
interior).
 Tempo: Cronológico e de memória (misto).
 Espaço: 1-jardim; 2-quarto, banheiro; 3-carro da personagem.
 Personagens: o personagem principal/sem nome; pai, caçador (sonho).
 Enredo: espécie d e narrativa onírica (relativa a sonho), expressa a
anunciação/iminência da morte (no sonho que retoma) de um homem de quase cinquenta
anos, pelo toque de uma mão no ombro através de uma sonho. Narrativa dividida em três
blocos: o do sonho, a vigília matinal, experiência da morte. A personagem sentia (sentidos,
cheiro) e sabia com muita força que alguma coisa ia acontecer, o quê?! Sentiu o coração disparar.
A premonição aparece com mais intensidade. Este também é o primeiro indício do enfarte
final.

Você também pode gostar