Jornalismo Esportivo e Nacionalismo de Ocasião.
Jornalismo Esportivo e Nacionalismo de Ocasião.
Jornalismo Esportivo e Nacionalismo de Ocasião.
Faculdade de Comunicação
Departamento de Jornalismo
Monografia apresentada ao
Departamento de Jornalismo da
Faculdade de Comunicação da
Universidade de Brasília, sob a
orientação do professor Fernando
Oliveira Paulino, para obtenção do grau
de bacharel em jornalismo.
BRASÍLIA
2013
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
MONOGRAFIA
Banca Examinadora:
_______________________________________________________
Prof. Fernando Oliveira Paulino – (Orientador – FAC/UnB)
_______________________________________________________
Prof. Sérgio Araújo de Sá – (Membro interno – FAC/UnB)
_______________________________________________________
Nádia Xavier Medeiros – (Membro externo – Jornalista CPB)
_______________________________________________________
Prof. Luciano Mendes – (Suplente – FAC/UnB)
Nelson Rodrigues
(O escrete precisa de amor, 1966)
Sumário
1 – Resumo ............................................................................................................... 7
2 – Apresentação ...................................................................................................... 8
3 – Justificativa ....................................................................................................... 13
4 – Objeto e objetivos ............................................................................................ 17
5 – Referencial teórico ........................................................................................... 19
5.1 – Objetividade jornalística ............................................................................... 19
5.2 – Agenda Setting .............................................................................................. 24
5.3 – Futebol como negócio no Brasil .................................................................... 27
5.4 – Jornalismo esportivo ..................................................................................... 38
5.5 – Valores deontológicos no jornalismo esportivo ............................................. 46
6 – Metodologia ...................................................................................................... 60
7 – A Copa no Brasil .............................................................................................. 67
7.1 – Copa das Confederações ............................................................................. 73
7.2 – Imprensa e seleção brasileira ...................................................................... 79
8 – Análise da cobertura do canal ESPN Brasil ................................................... 82
8.1 – A ESPN ........................................................................................................ 82
8.2 – Linha de Passe ............................................................................................ 86
8.3 – O discurso .................................................................................................... 89
8.3.1 – Brasil x Japão ......................................................................................... 96
8.3.2 – Brasil x México ..................................................................................... 102
8.3.3 – Brasil x Itália ........................................................................................ 108
8.3.4 – Brasil x Uruguai ................................................................................... 116
8.3.5 – Brasil x Espanha .................................................................................. 122
9 – Jornalismo-torcedor ....................................................................................... 128
9.1 – A crítica de Felipão .................................................................................... 132
9.2 – A resposta dos jornalistas .......................................................................... 135
10 – Conclusões ................................................................................................... 139
11 – Referências ................................................................................................... 141
7
1 – Resumo
2 – Apresentação
Sobre jornalismo esportivo não é difícil construir uma ideia. A atividade está presente
em diversas situações do cotidiano. Notícias por ele apuradas e veiculadas são
ponto de partida para inúmeros diálogos. Para a maioria dos brasileiros
especialmente se o assunto em pauta for a respeito de futebol. Na cerimônia de
apresentação do Brasil como país candidato a sede da Copa do Mundo de 2014, o
escritor Paulo Coelho afirmou em tom descontraído: “Já vi pessoas ficarem cinco
horas discutindo sobre um jogo e nunca vi ninguém passar cinco horas discutindo
sobre uma relação sexual. Não estou dizendo o que é melhor ou pior, estou dizendo
que a emoção do futebol dura mais 1 .” Além das realizações e transmissões de
partidas, o jornalismo esportivo tem sido preponderante para a construção desta
cultura nacional e internacional em torno do esporte, pois é ele quem repercute,
debate, avalia e questiona os acontecimentos, prolongando no tempo lances que
são efêmeros em campo.
Por outro lado, o antropólogo Roberto DaMatta (1986), entende que a formação da
identidade social do povo brasileiro não pode ser comparada a processos
semelhantes verificados em países de cultura e condições sociais, políticas,
econômicas e até geográficas tão distintas do Brasil. O autor ressalta que as
experiências corriqueiras em um contexto específico e as peculiaridades que
envolveram o desenvolvimento do Brasil enquanto nação são capazes de gerar
sentimentos de identificação nacional.
não são sinônimos e que a adoção de um ou outro verbete para a construção deste
trabalho foi estudada e propositalmente escolhida.
O termo nação surgiu a partir do século XVIII, quando os lugares, territórios, pátrias,
passaram a ser organizados e submetidos a regramentos, originando o que hoje se
conhece por países. Alberto Vara Branco, professor moçambicano autor do artigo O
Nacionalismo nos séculos XVIII, XIX e XX (2009), introduz a ideia de nacionalismo a
partir da definição do filósofo alemão Friedrich Schlegel (1829), de que “o conceito
de nação exige que todos os seus membros devem formar como se fossem apenas
um único indivíduo” (2009, p. 1). Como nacionalismo parte de nação, é importante
notar que sua conceituação está diretamente ligada às noções de unidade e
exigência. De acordo com Branco (2009, p. 2), “a palavra nacionalismo designa a
atitude mental que confere à entidade nação um altíssimo posto na hierarquia de
valores. Esta tendência para dar excessiva importância ao valor da nação, à custa
de outros valores, leva a uma sobrestimação de cada nacionalidade e ao
consequente asfixiamento das restantes”.
3 – Justificativa
nov. 2013.
14
O jornalismo esportivo está presente neste universo que elevou o esporte a um nível
de interesse grande e crescente. Porém, diferentemente do que se verifica nas
transmissões esportivas, nos programas de variedades e nas produções de
entretenimento, citados na matéria de Veja, o jornalismo possui um padrão de
identidade profissional a ser respeitado. Nas outras atrações o objetivo principal é a
audiência. Nos noticiários e programas de debates há a necessidade do
cumprimento e preservação de princípios que regem a prática do jornalismo, como
independência, credibilidade, lealdade ao interesse público e à veracidade6.
2001 pelo comitê de jornalistas do PEJ, Project for Excellence in Journalism. No documento os
profissionais estabeleceram nove princípios fundamentais para atender àquilo que entendem ser o
propósito central do jornalismo, fornecer informações precisas e confiáveis aos cidadãos para que
todos possam operar em uma sociedade livre. Os princípios estão detalhados no livro The Elements
of Journalism, de Tom Rosenstiel e Bill Kovach.
(Disponível em: http://futurojornalismo.org/np4/45.html#.UnT3Fvmfjmc. Acesso em: 2 nov. 2013).
15
O jornalista Franklin Foer (2005) aborda em seu livro sobre futebol e globalização
outras situações representativas: O exemplo da animosidade entre torcedores
católicos do Celtic e protestantes do Rangers, na Escócia; e os casos mundialmente
conhecidos do hooliganismo nos Bálcãs e na Inglaterra, que já renderam inúmeros
debates, reportagens e documentários. Há ainda as referências de João Nuno
Coelho (2006) à relação dos jornalistas portugueses com o sentimento de
representação nacional provocado pela seleção e pelos times lusos em confrontos
com adversários estrangeiros. O modelo lusitano, a propósito, é explorado com
alguma intensidade nesta monografia, pois traz à baila a precisa discussão a que
este trabalho se propõe: a polêmica ocorrência do chamado jornalismo-torcedor.
De acordo com a antropóloga Simoni Guedes (2010, pp. 23, 24) a difusão do futebol
é um dos mais extraordinários fenômenos do século XX, sendo a presença da
modalidade em inúmeros países admirável. Segundo seu entendimento, todas as
nações necessitam escolher símbolos e signos nos quais possam concentrar seus
significados nacionais para se realizarem, e no caso brasileiro, o futebol figura como
um dos mais vigorosos veículos de nacionalidade.
Neste momento em que a Copa do Mundo de Futebol está prestes a ser realizada
em solo nacional, e que a ocorrência da própria Copa das Confederações 2013 já
deixou indícios de que as questões acerca do apoio do jornalismo esportivo à
seleção brasileira estarão em pauta, mostra-se válida a escolha pelo tema desta
monografia.
17
4 – Objeto e objetivos
7 Durante o mesmo mês de junho de 2013, a população de diversas cidades no país saiu às ruas
para protestar contra diversos temas controversos da política, economia e sociedade brasileira. Em
21/6, a Confederação Nacional dos Municípios, CNM, apurou que 437 municípios, em 26 estados, e
o Distrito Federal, aderiram às passeatas, levando quase dois milhões de pessoas às ruas. As
manifestações geraram repercussão em todo o mundo, até mesmo pelo fato de a atenção
internacional já estar voltada ao país por ocasião da cobertura esportiva da Copa das
Confederações. Houve protestos em dias de jogos e à porta de estádios, o que tornou inevitável a
relação de tal movimento com o esporte e trouxe a pauta à programação esportiva.
8 De acordo com o site especializado Footstats (www.footstats.net), que produz estatísticas de jogos
e competições. Ao fim da competição, a seleção do Uruguai foi a mais faltosa, com 111 faltas
cometidas, contra 105 da seleção brasileira. Respectivamente, Cavani, da equipe azul celeste e
Neymar, do time nacional, foram os atletas mais faltosos (19 e 18 faltas, cada, na soma de todos os
jogos).
18
9 Foram analisados adicionalmente, trechos do programa Linha de Passe correspondentes aos dias
16, 17, 18, 21, 23, 24 e 27 de junho de 2013. Embora nestes dias não tenha havido jogos da
seleção brasileira de futebol, determinados comentários feitos pelos jornalistas se mostraram
relevantes à construção do discurso analisado no trabalho.
19
5 – Referencial teórico
mas há pontos cruciais de transformação que podem ser destacados. Para facilitar a ilustração, o
autor deste trabalho nomina como ciclos estes momentos de mudanças. A descrição destas fases,
entretanto, pertence a Nelson Traquina. 1º Ciclo: Distinção entre relato sensacional e jornalismo
(início séc. XIX); 2º Ciclo: Separação entre opinião e informação factual (fim séc. XIX); 3º Ciclo:
Estabelecimento de critérios para a objetividade (séc. XX) (TRAQUINA, 2005, pp. 54, 55, 147, 148)
20
Com o Positivismo 13 em alta, a distinção entre fato e opinião nos assuntos dos
noticiários passou a ser alvo de discussão. Neste mesmo momento, os jornais
buscavam maior popularização, crescimento comercial, e por almejar atingir novos
leitores – sobretudo sair das elites e alcançar um público generalizado – o jornalismo
de opinião teve de desprender-se do jornalismo de informação.
12 A expressão imprensa marrom deriva da norte-americana Yellow Press. Esta última surgiu no fim
do século XIX, quando os jornais New York World e The New York Journal, travaram uma acirrada
disputa para publicarem em suas páginas a primeira tira em quadrinhos colorida da História,
chamada Yellow Kid. A batalha entre os jornais teria sido desonesta, assim o termo Yellow Press
virou sinônimo para uma imprensa também inescrupulosa em favor de seus próprios interesses. No
Brasil, o jornalista Alberto Dines buscava fazer referência a este jargão quando escrevera uma
matéria para o Diário da Noite, em 1959. Intitulada “Imprensa amarela leva cineasta ao suicídio”, a
notícia relacionava tal morte a chantagem feita pela revista Escândalo, acusada de extorquir
personalidades sob ameaça de publicar-lhes fotos comprometedoras. O chefe de reportagem do
Diário, Calazans Fernandes, julgou, entretanto, que a cor amarela não se adequava ao tom trágico
do acontecimento, mudando o nome para marrom. Surgia assim a expressão imprensa marrom,
ainda utilizada para qualificar o jornalismo de características sensacionalistas e/ou antiéticas.
(Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-surgiu-a-expressao-imprensa-
marrom. Acesso em: 3 out. 2013).
13 Segundo Henry Myers (1966), o "Positivismo é a visão de que o inquérito científico sério não
deveria procurar causas últimas que derivem de alguma fonte externa, mas, sim, confinar-se ao
estudo de relações existentes entre fatos que são diretamente acessíveis pela observação". Esta
definição vai ao encontro da importância dada aos fatos por si só, segundo a ideia da objetividade.
21
Mesmo após este rompimento, até meados dos anos 1920, o jornalismo ainda
possuía uma linguagem diversa da praticada hoje em dia. Até então, procurou-se
distinguir informação e opinião, sem haver contudo uma clara descrição do que era
necessário fazer para evidenciar esta dicotomia na construção dos textos.
Foi nos Estados Unidos que surgiu a noção de que “os jornalistas precisavam
procurar no método científico e nos procedimentos profissionais o antídoto para a
subjetividade”, como expôs em 1922 o jornalista Walter Lippman (apud TRAQUINA,
2005, p. 148). Entre outros fatores, este novo embate frente à subjetividade visava
não deixar margem à propaganda ideológica crescente no período após a Primeira
Grande Guerra. Foi uma contingência gerada pelo caráter metamórfico da sociedade
pós-conflito. “Em um mundo no qual até os fatos eram postos em dúvida, os
jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma fidelidade às regras e
procedimentos criados com base na ideologia da objetividade” (SCHUDSON, 1978,
p.122 apud TRAQUINA, 2005, p. 148)
22
14 Um dos episódios mais emblemáticos desta situação no país foi o Caso Escola Base, em 1994.
Havia elementos de objetividade nas notícias, mesmo assim estes não foram capazes de anular o
prejuízo causado pela subjetividade dos jornalistas, que falharam na apuração.
24
Este último tópico, entretanto, colide com a essência da ideia de Cohen. Para ele, a
imprensa não diz como pensar, apenas sobre o que pensar. Mas, baseado no
processo de construção da identidade nacional por meio do futebol a partir da Copa
do Mundo de 1938 e do aproveitamento político tomado pelo governo Getúlio
Vargas, ecoado pelos veículos de comunicação, pode-se afirmar que a cobertura
esportiva pode contribuir na maneira que o espectador pensa sobre o assunto
“seleção”.
É certo que os tempos atuais são outros. Em uma época em que a imagem não
chegava diante dos olhos do público, o discurso do rádio – favorecedor da hipérbole
– trazia na emoção de narradores como Gagliano Neto15 o relato da seleção que
dava espetáculo e orgulhava o Brasil. Entretanto, o processo de ligação entre futebol
e identidade nacional do brasileiro intensificou-se 16 com o passar dos anos e
estendeu-se intenso, apesar de todas as alterações nos meios de acesso às
transmissões e coberturas esportivas. Neste sentido, Christiane Paschoalino (2012),
em estudo publicado sobre a relação entre seleção brasileira e identidade nacional,
frisa que:
15 A serviço da Rádio Cruzeiro do Sul (Rio de Janeiro), foi o primeiro locutor brasileiro a transmitir uma
Copa do Mundo, a realizada na França, em 1938. Naquela edição, também foi o único. No Mundial
seguinte, em 1950 (em 1942 e 1946 a competição foi suspensa devido à 2ª Grande Guerra), a
cobertura foi mais ampla, uma vez que o torneio aconteceu em solo nacional.
16 O Mundial de 1938 foi o marco do futebol da seleção brasileira aproveitado política e
economicamente. No entanto, a relação intensa do povo brasileiro com o futebol da seleção que o
representava data de 1919. Neste ano, o Brasil sediou a primeira competição internacional de sua
história, o Campeonato Sul-americano de seleções. A equipe nacional conquistou o título de forma
emocionante, empolgou a torcida com uma campanha arrasadora e contribuiu sensivelmente para a
popularização do esporte no país. (NAPOLEÃO; ASSAF, 2006, pp. 29, 30, 42, 43)
26
É exatamente por não descaracterizar o jornalismo que este discurso merece tal
atenção. Assim como uma narração carregada de emoções trazia ao ouvinte do
rádio um relato entusiasmado das partidas da equipe nacional, indicando a este
receptor não apenas no que pensar, mas como pensar, a opinião expressa pelo
jornalista esportivo, ainda hoje – e por isso em outros meios além do rádio – pode
tanto aguçar a curiosidade do espectador crítico como contribuir para que os
espectadores comuns adiram a seu próprio ponto de vista.
Diante desta interpretação, a hipótese do Agenda Setting para este trabalho deve
ser considerada como instrumento de reflexão diante das situações expostas.
Entende-se que, pelo menos no âmbito das abordagens sobre seleção brasileira de
futebol na mídia através dos tempos, a imprensa não apenas possui a espantosa
capacidade de influenciar pessoas sobre que temas devem pensar, como também
pode dizer a estas pessoas como pensar – parafraseando Cohen.
27
Além de ser berço de um dos maiores atletas de todos os tempos – Pelé – e possuir
mais títulos mundiais do que qualquer outra seleção – cinco – a fama de país do
futebol coube ao Brasil porque em terras nacionais, desde as origens, o esporte
bretão tem sido um arrebatador de multidões. Mesmo quando figurava no
amadorismo, no início do século XX, atraía atenções:
16 anos, em 146 municípios, nos 26 Estados e o Distrito Federal, entre novembro de 2012 e
fevereiro de 2013, 20,8% do público não torce por nenhum time nacional, 16,8% torcem pelo
Flamengo e 14,6% pelo Corinthians.
(Disponível em: http://www.pluriconsultoria.com.br/relatorio.php?segmento=sport&id=249. Acesso
em 9 out. 2013).
28
No segundo período, de 1905 até 1933, o autor destaca o início das menções da
imprensa ao esporte – ainda amador – e mais elementos sociais ligados ao futebol,
como elitismo e racismo. Sobre este último tópico Rodrigues destaca a importância
da chamada “revolução vascaína”, que teria sido preponderante para a aceitação
dos negros no futebol. Segundo esta perspectiva, o processo de democratização
funcional do futebol brasileiro teve como marco a conquista do Campeonato do Rio
de Janeiro de 1923 pelo Clube de Regatas Vasco da Gama, cujo time era
constituído por jogadores negros, mestiços e de classe média baixa.
O Vasco não foi a primeira equipe a aceitar negros em seu elenco – este mérito é
disputado até hoje por Bangu (RJ) e Ponte Preta (SP), com versões distintas
20 O grande número de jogos e o baixo nível técnico dos campeonatos têm afastado os torcedores
comuns até mesmo da frente da televisão. Os inveterados, por sua vez, têm aderido aos canais
pagos. Levantamento feito pela empresa de pesquisas esportivas Informídia indica que o espaço
ocupado pelo futebol na TV brasileira vem aumentando nos últimos anos. Passou de 19.739 horas
de transmissão e noticiário em 2007 para 28.901 em 2012. No entanto, apenas 1.588 horas de
partidas de futebol foram transmitidas na TV aberta. O restante – 12.746 horas – foi transmitido
apenas na TV por assinatura.
(Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/06/130611_brasil_pais_do_futebol_rw.shtml. Acesso
em: 8 jun. 2013).
21 Esta é a versão mais aceita para explicar a chegada do futebol no Brasil. Charles Miller, nascido
em São Paulo e filho de pai escocês, morou na Inglaterra desde os dez anos. Aos vinte, voltou ao
Brasil e trouxe da Inglaterra bolas, chuteiras, uniformes, as regras e o gosto pelo futebol. Disputou
em 1895 aquela que teria sido a primeira partida de futebol organizada no país. Há autores que
contestam a explicação, como o historiador José Moraes dos Santos Neto e o jornalista João dos
Santos Junior. Ambos defendem em suas obras que a prática e até mesmo o ensino em escolas do
futebol no país e anterior à volta de Miller, em 1984.
(Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/24027. Acesso em: 9 out. 2013).
29
Getúlio Vargas foi presidente do Brasil entre 1930 e 1945. Voltou a presidência entre
1951 e 1954. Apesar de ficar tanto tempo no poder, Vargas não presenciou nenhum
grande momento de glória da seleção nacional. Em 1950 aconteceu o épico episódio
do Maracanazo, quando a equipe brasileira foi derrotada pela uruguaia na final da
Copa do Mundo, disputada no Rio de Janeiro. O primeiro dos cinco títulos mundiais
veio justo no torneio seguinte à sua morte, em 1958.
Seguindo com o modelo proposto por Rodrigues (2007), a quarta fase vai de 1950 a
1970. Durante estas décadas destacaram-se o reconhecimento internacional e a
comercialização do futebol brasileiro. Neste período a seleção conquistou a maior
parte de seus principais títulos (três mundiais: 1958, 1962, 1970) e formou grandes
jogadores reverenciados mundo afora, tais como: Garrincha, Tostão, Rivelino,
Jairzinho e Pelé, o Rei do Futebol. Em termos de mercado este foi um período
morno. Se na terceira etapa houve a profissionalização como requisito para manter
os melhores jogadores no país, com incrementos nos salários e consequente
demanda de poderio financeiro nos clubes e também sinais pontuais de
aproveitamento do potencial de marketing dos atletas, durante os anos da quarta
fase os times conseguiam manter seus grandes astros sem penar com assédios de
clubes estrangeiros.
Para a pesquisadora Mariângela Ribeiro Santos (2011) existe ainda uma sexta fase,
que engloba o período a partir de 2006 até a atualidade. Segundo a autora, a
chegada dos megaeventos25 esportivos ao Brasil – Jogos Mundiais Militares 2011,
Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 – abrem
23 O maior público de um jogo entre clubes do Rio de Janeiro foi registrado no Maracanã, em 15 de
dezembro de 1963, para Fluminense 0 x 0 Flamengo. Os 194.603 torcedores no estádio
credenciaram este como o terceiro maior público de todos os tempos no Brasil. Os dois primeiros
recordes pertencem a jogos da seleção brasileira, no mesmo estádio. (Disponível em
http://lista10.org/diversos/os-10-maiores-publicos-do-futebol-brasileiro-de-todos-os-tempos/. Acesso
em: 9 out. 2013).
24 A Lei do Passe (6.364/76) dispunha principalmente sobre as relações de trabalho entre jogadores
profissionais de futebol e clubes. A Lei Zico (8.672/93), propôs a revogação da Lei do Passe,
buscando a redefinição dos mecanismos fiscalizadores e regulamentação das novas formas
comerciais no futebol. Esta lei no entanto era apenas sugestiva e encontrou resistência por parte
dos dirigentes de clubes. A Lei Pelé (9.615/1998), de caráter obrigatório, substituiu de fato a Lei do
Passe e a Lei Zico e trouxe um novo regime, com mecanismos de controle das agremiações,
composição dos tribunais desportivos e incentivo à profissionalização. Recentes modificações,
introduzidas pela Lei 12.395/2011, aprofundaram ainda mais os princípios ali contidos. Entre as
mudanças, a lei prevê a responsabilização dos dirigentes por gestão temerária, a proteção dos
interesses das agremiações que investem em jovens atletas, proteção da saúde dos esportistas,
cláusulas penais indenizatória e compensatória, controle da atividade dos empresários,
regulamentação formal de direitos de imagem e de arena, entre outros aspectos. (Disponível em:
http://www.rodriguesgoncalves.adv.br/tag/lei-zico-lei-8-67293/. Acesso em: 9 out. 2013).
25 Pela definição de Getz (1997), descrita no Atlas do Esporte Brasileiro, “Megaeventos, por sua
Por esta ótica, é mister que o país consiga aproveitar o momento para dar outro
impulso de crescimento ao futebol no país – e ao esporte de maneira geral – que
não se baseie apenas na exploração da paixão popular. O tratamento do esporte
como produto de consumo foi um achado para a movimentação da economia de
alguns países pelo mundo. No Brasil, entretanto, a equação ainda não foi
balanceada.
26 “O Brasil é o país do futebol?”. Por Rogerio Wassermann, da BBC Brasil em Londres. (Disponível
em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/06/130611_brasil_pais_do_futebol_rw.shtml.
Acesso em: 8 jun. 2013).
34
entretenimento para negócio não foi bem estruturada no Brasil. A evolução encontra-
se a meio do caminho. Não se aproveita o potencial do futebol como produto nem se
faz dele uma boa alternativa de lazer.
No atual mundo dos negócios uma boa gestão de imagem está entre os pontos mais
valorizados. Entende-se que a impressão passada pela marca é a porta de entrada
para o público consumidor. No caso da seleção este cuidado é desprezado, segundo
Somoggi30:
ranking. A marca negativa se deu também pelo fato de o time ter passado vários meses sem atuar
oficialmente, uma vez que não disputa as Eliminatórias para a Copa do Mundo, por já estar
classificado pela condição de anfitrião. Vale ressaltar que a seleção brasileira também não disputou
as Eliminatórias para a Copa de 1998, por ter sido campeã mundial em 1994. Mesmo assim,
naquela oportunidade não caiu tanto no ranking oficial.
(Disponível em: http://pt.fifa.com/worldranking/rankingtable/index.html. Acesso em: 8 jun. 2013).
30 “O Brasil é o país do futebol?”. Por Rogerio Wassermann, da BBC Brasil em Londres. (Disponível
em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/06/130611_brasil_pais_do_futebol_rw.shtml.
Acesso em: 8 jun. 2013).
35
Entretanto, a lição deixada por países mais desenvolvidos no assunto é outra: tornar
o produto atrativo para que o preço cobrado não pareça exorbitante, mas justo, e
apostar na paixão dos torcedores locais. Um grande exemplo deste movimento foi a
evolução do futebol nacional da Alemanha após a Copa do Mundo ali sediada, em
2006. Segundo dados coletados pelo consultor esportivo Amir Somoggi, em estudo
publicado no site especializado Futebol Business32, o mercado alemão soube colher
bons frutos após o megaevento. Seus parâmetros podem ser observados pelo
Brasil, mesmo com as claras diferenças econômicas e sociais entre os dois países.
31 “O Brasil é o país do futebol?”. Por Rogerio Wassermann, da BBC Brasil em Londres. (Disponível
em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/06/130611_brasil_pais_do_futebol_rw.shtml.
Acesso em: 8 jun. 2013).
32 Disponível em: http://futebolbusiness.com.br/2012/10/amir-somoggi-futebol-alemao-e-os-
ensinamentos-para-o-brasil/. Acesso em 1 nov. 2013.
36
Parece claro que o país que sediará a Copa do Mundo de 2014 teria muito a ganhar
com a adaptação a estas novas estratégias, tendo em vista que a paixão do
brasileiro pelo futebol sempre foi um diferencial constante e favorável à prática e
exploração do esporte. As informações deste capítulo, que compreendem o futebol
como uma área de investimentos financeiros em franca expansão no mundo e que
urge ser melhor explorada no Brasil, preparam o terreno para as exposições
seguintes acerca do jornalismo esportivo e seu espaço na imprensa nacional.
38
Juntamente com a parte inicial, os trechos finais são considerados espaço atrativo e
privilegiado para o conteúdo jornalístico. Na televisão, posicionar o momento dos
esportes no fim é uma estratégia para permanência de audiência. As notícias são
anunciadas desde os blocos iniciais, mas serão exibidas apenas no fim. Isso sem
falar dos programas especializados, presentes em números significativos tanto na
TV aberta quanto na paga. Em termos de comparação, há menos programas
voltados inteiramente à análise política ou econômica do que aos esportes.
33 Roberto Ramos, em “Futebol: Ideologia do Poder”, 1984, p. 60, constatou que o tema Futebol
levava vantagem sobre todos os outros na hierarquia de assuntos de dois grandes jornais do Rio
Grande do Sul: Folha da Tarde e Zero Hora. Por meio da análise da distribuição quantitativa de
espaços dedicados às editorias nestes jornais, o autor constatou que, em um intervalo de sete dias
corridos, o futebol liderou com folga o conteúdo das publicações. Na Folha da Tarde, foi o segundo
colocado, superado pela editoria de generalidades “Lazer&Utilidades”, mas desbancando as
editorias de Política e Economia com facilidade, tendo 53% e 41% a mais de espaço dedicado,
respectivamente. No Zero Hora, Política e Economia ficaram em quinto e sexto lugar,
respectivamente, com um diferencial de destinação espacial de mais de 100%, cada, com relação
ao Futebol. A conclusão de Ramos foi de que o futebol é, para o Brasil, um “grande achado.
Mantém os espaços mais nobres dos jornais”.
39
A explicação para estas escolhas não apenas jornalísticas, mas empresariais, é que
esporte vende. Não somente no Brasil, onde o grande diferencial está no fato de o
futebol ser a modalidade – e o assunto – mais popular, mas em todo o mundo34.
Segundo Barbeiro e Rangel, o futebol é uma das principais armas das emissoras na
guerra pela audiência na TV, razão pela qual elas investem cada vez mais nas
produções esportivas (2010, p. 3).
34 De acordo com números disponibilizados pelo Atlas do Esporte no Brasil, que se autodescreve
como o maior banco de dados sobre esportes com disponibilidade gratuita, o futebol é a
modalidade mais praticada no país. Pesquisa realizada em 2003, indicou que existem em solo
nacional 23 milhões de praticantes ocasionais (7 milhões de profissionais). O vôlei vem em segundo
com 15,3 milhões de praticantes ocasionais e o tênis de mesa em terceiro, com 12 milhões.
(Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/173.pdf. Acesso em: 23 out. 2013.) Em
escala mundial, o futebol possui cerca de 265 milhões de praticantes entre profissionais e
ocasionais. O dado provém da pesquisa Big Count 2006, realizada pela Fifa. (Disponível em:
http://www.fifa.com/mm/document/fifafacts/bcoffsurv/bigcount.statspackage_7024.pdf. Acesso em
22. out. 2013.) O Comitê Olímpico Internacional não disponibiliza dados a respeito de praticantes de
esportes no mundo.
40
Tiago faz piadas com tudo, eliminou o teleprompter – aparelho que projeta
o texto que o apresentador lê olhando para a câmera – fala com o
telespectador como se estivesse com um amigo – ancorado em pseudo-
improviso trash e no uso de uma linguagem de edição que aproxima a
Globo da MTV e do Pânico na TV. [...] As reportagens do telejornal são
cobertas por músicas e a edição muitas vezes lembra a de videoclipes, com
cortes rápidos ou a do Pânico, com a inserção de imagens de arquivo para
ilustrar alguma citação ou situação, com fins meramente humorísticos.
(OLIVEIRA; MELO, 2011, p. 7, grifo nosso).
show musical The Voice Brasil. Ele próprio considerou, em entrevista concedida em
2009 à jornalista Patrícia Rangel, que após suas alterações Globo Esporte não deve
ser visto como um programa de jornalismo esportivo. Por suas palavras, este gênero
não tem vida, emoção ou paixão, mas o esporte em si tem. “O jornalismo no Globo
Esporte estava muito pesado, eu brinco que a gente estava numa rave usando
smoking. Hoje eu acho que é muito mais entretenimento do que informação, ele tem
um peso maior no programa” (LEIFERT apud RANGEL, 2009, p. 9).
Para o grande público, entretanto, é discutível se este arranjo está claro. O jornalista
assumiu sua predisposição ao entretenimento, tanto que mudou fisicamente de setor
na empresa, atuando agora na Central Globo de Produção, o Projac. O programa,
ao contrário, em nenhum momento deixou de estar atrelado à Central de Jornalismo.
Como efeito desta recaracterização sem aviso do jornalismo esportivo pode estar o
comprometimento da seriedade do setor. Como observa Rangel (2009), um produto
híbrido que se associa ora à publicidade, ora ao entretenimento, ora ao consumo,
muitas vezes deixa de cumprir sua missão primordial de informar (2009, p. 4). Esse
movimento tende a ser algo indesejado por parte da maioria dos profissionais, pois
ameaça o status da cobertura esportiva em um momento no qual o futebol visto
como “ópio do povo” é cada vez mais deixado de lado.
36 Este caso é extremo, adotado como exemplo para abordar o advento do declínio da notícia em
favor do entretenimento. Há outros programas que privilegiam a informação mesmo sendo
realizados com descontração e bom humor. São exemplos o próprio Linha de Passe, escolhido
para esta análise, o Bate-Bola e o Sportscenter Brasil (edição ancorada por Antero Greco e Paulo
Soares), todos da ESPN Brasil.
42
produto do capitalismo para a alienação das massas, como por um bom tempo foi
considerado 37 (GASTALDO, 2010, p. 9). Se este preconceito se atenuou, o do
jornalismo esportivo dentro das redações ainda não. Pelo consumo do público geral
a editoria tem importância legitimada, porém, dentro dos jornais os assuntos
referentes a ela não são tratados com a mesma nobreza.
O jornalista Celso Unzelte39 (2012) é mais um entre os que acreditam que o ranço
não foi deixado no passado. Embora o jornalismo em suas várias formas tenha
sofrido mudanças, ele defende que esta contradição ainda precisa ser resolvida.
mencionado ao longo deste trabalho, ora pelo nome completo, ora pelo último sobrenome, ora pelo
apelido PVC.
39 Disponível em:
http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/entrevista+da+semana/49706/o+jornalismo+precisa+resolv
er+contradicoes+diz+celso+unzelte. Acesso em: 27 set. 2013.
43
Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel afirmam que “Jornalismo é jornalismo, seja ele
esportivo, econômico, social” (2006, p. 13). Para estes autores, antes das suas
especificidades, o jornalismo esportivo tem como base as mesmas regras gerais de
qualquer outro gênero jornalístico, como a busca pela informação, isenção no
tratamento com as fontes, critérios de noticiabilidade e criatividade para encontrar
diferentes ângulos da notícia (PASSOS, 2012, p. 4).
A situação quase dramática se repetiu dois anos mais tarde na Copa do Mundo da
Coreia/Japão quando, segundo Nuno Coelho, a seleção portuguesa viveu graves
problemas disciplinares envolvendo técnicos, dirigentes e jogadores. Vários
acontecimentos não foram divulgados pelos jornalistas lusos em nome da
importância da representação nacional e do prestígio do país internacionalmente.
se espera habitualmente de todo grande jornal é a mistura dos dois estilos” (2006, p.
18). O autor ressalta, sobretudo, que a notícia é o mais importante. E que é
exatamente a realidade presente no jornalismo esportivo contemporâneo que torna
suas coberturas tão brilhantes (2006, p. 22).
O treinador dirigiu críticas à emissora de televisão ESPN Brasil por considerar que
no modo de realizar sua cobertura a mesma não jogava a favor da seleção brasileira
e induzia a arbitragem e os adversários a prejudicarem o time, quando, na verdade,
como é possível comprovar – e o trabalho desenvolverá esta análise nos capítulos
seguintes – a abordagem do canal estava pautada em estatísticas factuais de jogos.
Tal percepção contribui à instigação do debate e consequente formulação de
conclusões a respeito do tema.
46
42 O documento atual foi formulado em 2007. O anterior vigorava desde 1985. Entre as principais
mudanças no texto estão a proibição da alteração de depoimentos de fontes, a ratificação da
presunção de inocência como um dos fundamentos ao exercício da profissão e a cláusula de
consciência.
(Disponível em:
http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros..pdf. Acesso
em: 13 out. 2013).
43 Disponível em http://www.lusa.pt/lusamaterial/PDFs/CodigoDeontologicoJornalista.pdf.
na Europa com mais ênfase, mas sim que os portugueses demonstram estar mais
abertos a discutir as causas e os efeitos deste acontecimento.
Uma das motivações de Nuno para a publicação do artigo era promover o debate às
vésperas da Eurocopa 2004, sediada em Portugal. Tal fato ratifica a distinção da
importância dada ao tema em confrontação com o Brasil. Comparativamente, a
Copa do Mundo é evento mais relevante que a copa europeia, ainda assim, não tem
havido até então difusão perceptível de produções e comentários acadêmicos sobre
o assunto no país. Trechos e interpretações sobre o trabalho de Nuno Coelho são
citados posteriormente nesta análise.
A realidade, entretanto, deu provas daquilo que poderia se presumir sobre um país
que possui na primeira divisão de seu campeonato nacional dezesseis agremiações
diferentes: não houve unanimidade. Nem todos os torcedores em todos os lugares
torciam para o Benfica vencer o Chelsea e conquistar a Liga da Europa. Havia os fãs
de outros times, que desejavam o contrário, havia os desinteressados por futebol e
até mesmo torcedores do clube inglês nos lugares visitados pelos entrevistadores.
Seria como esperar que todos os brasileiros torcessem a favor do Atlético Mineiro na
decisão da Copa Libertadores da América 2013 e produzir sete horas de
programação televisiva apostando neste mote. Gerou repercussão não apenas o
out. 2013.
49
fato de que a atração não rendeu os efeitos esperados47, mas também o modo como
os profissionais promoveram abordagens aos transeuntes nas ruas. Em trecho do
programa Viv’ó Benfica!, disponibilizado no acervo de vídeos do Youtube48, o título
atribuído por um usuário questiona ironicamente se o programa especial era mesmo
da SIC ou de uma filial do Benfica TV, canal exclusivo da equipe portuguesa. Nos
comentários ao vídeo o tom da cobertura foi ridicularizado.
47 Do ponto de vista do programa certamente não, se for avaliada a quantidade de pessoas presentes
no evento (visivelmente baixa), a participação do público nas ruas e os índices de audiência
alcançados (as atrações concorrentes de outras emissoras mantiveram-se no topo durante toda a
transmissão, segundo o site de monitoramento de audiências da televisão portuguesa Quinto
Canal). (Disponível em: http://quinto-canal.com/2013/05/voce-na-tv-e-a-tarde-e-sua-derrubam-
especial-vivo-benfica-da-sic/. Acesso em: 30 out. 2013).
48 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=V5nnOROv3_I&feature=youtu.be. Acesso em: 30
out. 2013.
49 António de Oliveira Salazar governou Portugal durante trinta e seis anos (1937 - 1968), no período
do Estado Novo. Entrou para a História principalmente pelas características ditatoriais de seu
mandato. (Disponível em: http://www.infoescola.com/biografias/antonio-salazar/. Acesso em: 30 out.
2013).
50
pesquisador João Nuno Coelho (2004), são os valores morais do jornalista perante o
público e do jornalista enquanto indivíduo que impulsionam, como fosse uma
obrigação, esta parcialidade declarada nas ocasiões de confrontos esportivos de
representação nacional.
50 Camisola, em português de Portugal, significa o mesmo que camisa no português brasileiro. Logo,
a expressão “Vestir a camisola”, utilizada por João Nuno Coelho tem o sentido de “Vestir a camisa”,
conotando a ação de jogar no mesmo time, compartilhar ideais e objetivos.
51
51 Disponível em:
http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros..pdf.
Acesso em: 13 out. 2013.
52
Felipão foi treinador da seleção portuguesa entre 2003 e 2008. Habituado a ter sua
imagem ligada a polêmicas em torno de sua personalidade forte, suas escolhas
incisivas e seu trato com a imprensa, o técnico não foi unanimidade entre os
setoristas de futebol em Portugal, mas pode ter se acostumado com o modelo de
jornalismo que apoia a seleção a despeito de possíveis oportunidades de criticá-la.
52 Saltillo é a cidade mexicana onde a seleção portuguesa se concentrou para a Copa do Mundo de
1986, no México. As condições de alojamento e treinos, entretanto, eram precárias e prejudicaram
a preparação do time. Além disso, uma semana antes do início do Mundial os jogadores entraram
em greve por não receberem da Federação Portuguesa de Futebol os benefícios financeiros que
reivindicavam. Os atletas passaram a promover festas no hotel da delegação e agirem de forma
antiprofissional. Era uma seleção em crise, que venceu apenas uma partida e foi eliminada ainda
na primeira fase da competição. O episódio ficou conhecido como “o caso de Saltillo”.
53
Antes de treinar a seleção portuguesa, Felipão esteve à frente do time brasileiro que
conquistou a Copa do Mundo de 2002, na Coreia/Japão. Até aquela ocasião o
técnico enfrentou dificuldades à frente da seleção brasileira. A equipe teve
desempenho claudicante nas Eliminatórias, classificando-se com dificuldades em
terceiro lugar, atrás de Argentina e Equador. Na convocação para o torneio Mundial
excluiu o atacante Romário, contrariando a expectativa de boa parte do público, e
recebeu críticas pela atitude53. Ou seja, Scolari teve experiências à frente da seleção
brasileira que poderiam demonstrar o perfil do público e do jornalismo esportivo no
Brasil, que diverge do apoio incondicional ao time encontrado em Portugal.
Por outro lado, o treinador pode facilmente ter se acostumado com o nacionalismo
português durante os cinco anos que por lá trabalhou. O modelo de cobertura da
seleção que deixa críticas às decisões do técnico em segundo plano em favor da
representação nacional da “equipa de todos nós”54 é muito mais cômodo e aceitável.
Defensor de outro ponto de vista, mais próximo do discurso contestador do
brasileiro, o antropólogo e publicitário Édison Gastaldo (2010), propõe cautela
quanto à interpretação do espírito nacionalista das seleções.
Ornelas, para se referir à seleção portuguesa. O epíteto, constante nas coberturas midiáticas da
seleção lusitana desde então, é simbólico no sentido de que elucida bem o metadiscurso da
unidade referido por João Nuno Coelho.
54
aquela defende sua seleção a todo tempo, enquanto esta escolhe a Copa do Mundo,
em específico, como auge de seu ritual de nacionalidade.
O fato de um profissional do setor esportivo torcer de peito aberto para uma equipe
de futebol tem sido o bastante, em diversos casos, para colocar em xeque a
capacidade e idoneidade refletidas em seu trabalho. Isto ainda pode ser um risco
mesmo que o jornalista em questão procure torcer exclusivamente como indivíduo,
fora do trabalho ou longe das vistas do público – o que com as tecnologias da
Internet, como sites de compartilhamento de vídeos e redes sociais 55 , tem se
tornado cada vez menos possível.
55 Em novembro de 2011, Vasco e Fluminense duelaram em partida válida pela 37ª rodada do
Campeonato Brasileiro. O repórter da Rede Globo Eric Faria, foi flagrado por uma das câmeras do
canal Premiere FC, da Globosat, comemorando um gol da equipe vascaína. Vídeos contendo a
cena foram propagados na Internet e geraram polêmica entre fãs de futebol. Após o acontecimento,
a Acerj, Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro, definiu uma nova norma de
imprensa que proíbe profissionais de comemorarem gols nos estádios, prevendo advertência para
jornalistas e veículos que descumpram a instrução. O episódio demonstra que o ato de torcer não é
bem aceito quando parte de profissionais da imprensa esportiva. (Disponível em:
http://br.esporteinterativo.yahoo.com/noticias/associa%C3%A7%C3%A3o-proibe-jornalistas-de-
comemorarem-gols.html. Acesso em: 24 out. 2013).
56 Disponível em: http://portal.comunique-se.com.br/index.php/editorias/3-imprensa-a-comunicacao-
http://www.portalimprensa.com.br/noticias/brasil/45078/revelar+times+de+coracao+ainda+e+decisa
o+que+divide+jornalistas+esportivos. Acesso em: 18 out. 2013.
56
prejuízos como os relatados a seguir. São exemplos os jornalistas Flávio Gomes, ex-
ESPN e Chico Lang, da TV Gazeta.
Como argumento de defesa para sua atitude, Flávio Gomes apresentou as seguintes
justificativas, em entrevista ao portal UOL Esporte 60 : “É inocência achar que
ninguém brinca com o futebol. A gente brinca, xinga [...] Quem me conhece sabe
que meu comportamento no Twitter é de brincar, fazer piada. É uma ferramenta
pessoal, que sequer tem ESPN no nome”. O jornalista não considerou, entretanto,
que grande parte das pessoas que o acompanham na rede social reconhecem-no
como pessoa pública devido a sua atividade profissional. Por isso, boa parcela
destes indivíduos está propensa a exigir-lhe uma conduta exemplar em toda
manifestação popular que ele venha a exprimir.
Chico Lang é figura conhecida na praça paulista. Corinthiano inveterado, tem estilo
diferente de Juca Kfouri, outro jornalista conhecido que torce pelo “Timão”. Lang
emite com frequência opiniões ríspidas e não necessariamente jornalísticas em suas
aparições na TV. No dia do aniversário de fundação do clube alvinegro paulista,
participou do programa Gazeta Esportiva com a camisa comemorativa do time e
http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-a/ultimas-
noticias/2013/09/09/demitido-comentarista-da-espn-se-arrepende-de-brincadeira-com-o-
gremio.htm. Acesso em: 24 out. 2013.
57
O mercado também não se apresenta como meio competente, tendo em vista que
há “ESPNs e Gazetas”, ou seja, empresas que não admitem extrapolações
(demissão de Gomes) e outras que a oferecem como produto (manutenção de
Lang). O público tampouco, pois, para permanecer no último exemplo, há aqueles
que admiram o comentarista da Gazeta por seu fanatismo e defendem a
continuidade de seu trabalho e existem outros que o reprovam pelo mesmo motivo.
http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf Acesso
em: 24 out. 2013.
64 Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/08/senado-aprova-exigencia-de-diploma-
Neste caso, tais regras estão dispostas no Código de Ética da FENAJ, que por sua
vez não é um regulamento baseado em medidas repressivas, mas no apelo ao bom
senso. A este respeito o pesquisador Rogério Christofoletti, do Observatório do
Direito à Comunicação 66 , analisa que, diferentemente de outras profissões, os
jornalistas – mesmo que causem o pior dos prejuízos morais – não correm o risco de
perder seus registros profissionais por agirem de forma antiética. As sanções
chegam, no máximo, a uma advertência pública ao profissional faltoso. Se
comparado a outros casos, como de médicos, engenheiros e advogados – que
podem ser impedidos de atuarem profissionalmente – o código dos jornalistas
dispõe de poder limitado.
http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=1863.
Acesso em: 22 out. 2013.
59
ardiloso à boa prática da profissão. Por isso é expresso o alerta sobre o quanto a
específica área de atividade requer atenção e dedicação daqueles que nela atuam.
6 – Metodologia
Embora a proposta da Semiótica seja a ubiquidade, tendo em vista que em todo tipo
de representação há significados, seus estudos estão mais voltados às áreas da
Linguística e da Comunicação. Esta última de interesse deste trabalho.
Considerando o jornalismo como potencial estimulador e formador de opinião da
sociedade, entende-se-o como um difusor de ideias (sejam elas em forma de
opiniões ou notícias). Para operar satisfatoriamente esta difusão o jornalismo se
apropria dos significados linguísticos e dos sentidos sociais atribuídos a estes
significados na transmissão de sua mensagem.
São três territórios de idioma português, com maioria de habitantes aficionados por
este esporte específico. Entretanto, por todas as características culturais envolvidas
(um representante é europeu, outro asiático e outro americano), de relacionamento
indentitário com o esporte – perpetuado através de discursos recorrentes a respeito
do tema – e de nível de desenvolvimento da modalidade na região, os sentidos que
possui um mesmo significado de futebol são diversos.
Deste modo, a linguagem atua como elemento que tem por função dar materialidade
ao discurso. Este último, por sua vez, consiste na construção de ideias tendo a
linguagem como ferramenta. Logo, o discurso pode ser compreendido como a forma
geradora de sentido aos signos linguísticos. O signo por si só remete apenas a um
significado (e ao significante 67 ), mas, elaborado em um discurso, os signos
linguísticos geram sentido ao receptor da mensagem.
antigos. Partem da retórica grega, acolhem importantes teóricos nos séculos XIX e
XX e estabelecem suas principais referências nas ideias de Foucault (1969). O
filósofo francês notabilizou-se na área por defender a esquematização da Análise
por meio de regras que relacionassem os ingredientes formadores do discurso,
como objetos, tipos enunciativos, conceitos e estratégias. Assim, acreditava, o
discurso poderia ser melhor analisado, uma vez que originalmente se trata de uma
dispersão, não interligado por nenhum princípio de unidade (SILVA, 2005, p. 23).
Ainda que esta correlação não tenha sido proposital, é identificável a conexão da
análise a aspectos estudados na Comunicação. Da mesma forma, a construção
65
– como não poderia deixar de ser – mas reconhece que sua dinâmica se estabelece
em torno do sentido que cada um destes elementos possui como discurso para os
estudos de Comunicação no contexto do Brasil.
67
7 – Copa no Brasil
Antes do anúncio oficial já era esperado que o Brasil fosse escolhido como sede da
Copa de 2014. Devido ao sistema de rodízio entre continentes para o recebimento
do Mundial, adotado na década de 1990 pela Fifa com o intuito de tornar a
realização do evento mais abrangente e acessível a países fora do eixo
Europa/América, apenas nações sul-americanas puderam se candidatar nesta
ocasião 69 . Ainda na fase de apresentação de propostas, em março de 2006,
Argentina e Colômbia, que haviam surgido como potenciais concorrentes, retiraram
suas candidaturas70.
Assim, o Brasil não sediaria o evento apenas se a comissão da Fifa avaliasse o país
como incapaz para cumprir as determinações impostas pela entidade. O que não
aconteceu, pois em junho de 2007 o presidente Lula assinou uma Declaração de
Intenções comprometendo o Governo Federal a cumprir questões relativas a
Mundo era restrita a América e Europa. A partir de 2002, quando o evento foi sediado na Ásia,
outros continentes passaram a participar. O revezamento passou a envolver os representantes da
Confederação Asiática de Futebol (AFC), Confederação Africana de Futebol (CAF), Confederation
of North, Central American and Caribbean Association Football (CONCACAF), Union of European
Football Associations (UEFA), Oceania Football Confederation e Confederação Sulamericana de
Futebol (CONMEBOL). A partir de 2014, entretanto, este sistema de rodízio será abolido. O fato de
o Brasil ter sido o único candidato da CONMEBOL para 2014 deixou o presidente da Fifa
insatisfeito. Para a entidade, a concorrência entre países é muito mais interessante e rentável, por
atrair publicidade. A nova regra delimitará somente que o continente que sediar uma Copa do
Mundo em determinado ano, apenas poderá voltar a receber o evento duas edições depois.
(Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/geografia/fundamentos/como-acontece-escolha-
pais-sede-copa-mundo-475910.shtml. Acesso em: 31 out. 2013).
70 Disponível em: http://esportes.terra.com.br/futebol/brasil2014/noticias/0,,OI2030260-EI10545,00-
Apesar da vitória prevista o clima em diversas capitais do país após o anúncio oficial
foi de festa. Os governos locais organizaram eventos para comemorar a conquista.
Em Belo Horizonte um telão foi montado para que o público acompanhasse a
escolha do país como sede. Na Praça da Liberdade, um dos principais pontos da
cidade, foi preparada uma festa temática com decoração remetente à Copa de 2014.
Em Manaus houve manifestações culturais em frente ao Teatro Amazonas, para
celebrar a eleição. Trios-elétricos, escola de samba e outras atrações animaram os
festejos em Brasília, onde a estátua em homenagem ao ex-presidente Juscelino
Kubitschek foi vestida com uma camisa da seleção brasileira. Houve queima de
fogos e apresentações de frevo em Recife. São Paulo e Rio de Janeiro também
estiveram no roteiro de comemorações72.
O advento de construção daquele que por muitos anos foi o maior estádio do
mundo73, o Maracanã, era sintomático deste sentimento. Àquela altura o brasileiro já
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL163244-5598,00-
CIDADES+FESTEJAM+ESCOLHA+DO+BRASIL+PARA+SEDE+DA+COPA+DE.html. Acesso em:
31 out. 2013.
73 O Maracanã perdeu o posto de maior estádio do mundo, mas nenhum estádio maior foi construído
após ele. As sucessivas reformas para adequações aos novos padrões mundiais de segurança
reduziram a capacidade do estádio brasileiro, que hoje abriga cerca de 75 mil pessoas. Desde
1989, o Estádio Rungrado May Day, na Coreia do Norte, ocupa a posição de maior do mundo, com
capacidade para 150 mil espectadores.
(Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-maracana-ainda-e-o-maior-estadio-do-
mundo. Acesso em: 31 out. 2013).
69
era fã de futebol. Na final contra o Uruguai, o público presente foi estimado em cerca
de duzentas mil pessoas (NAPOLEÃO; ASSAF, 2006, p. 50). É curioso que o
desfecho do evento, o Maracanazo, tenha ido contra toda esta euforia. Em 1958, às
vésperas da campanha vitoriosa da seleção brasileira na Copa do Mundo da Suécia,
Nelson Rodrigues ainda referia-se à herança deixada por aquele resultado.
Segundo dados presentes no estudo, o público total estimado na Copa de 1950 foi
de 1,04 milhões de espectadores e foram utilizados seis estádios durante a
competição74. Em 2006, 3,35 milhões de torcedores frequentaram os doze estádios
utilizados no torneio, um aumento de 155%. Além disso, foram registradas dezoito
74 As cidades-sede daquela edição do Mundial foram Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife,
Rio de Janeiro e São Paulo. (NAPOLEÃO; ASSAF, 2006, p.49).
70
milhões de visitas nos chamados Fan Parks, grandes áreas de lazer para diversão
pública e gratuita, que não existiam em 1950. No total, 26,29 bilhões de
telespectadores acompanharam o megaevento, enquanto no primeiro Mundial no
Brasil a televisão sequer era um artigo popular na maior parte do globo.
De acordo com o documento, a Copa de 2014 deverá ter dimensões ainda maiores
de público e telespectadores, mesmo que baseada em moldes estruturais e
organizacionais semelhantes aos das Copas da Alemanha, em 2006, e da África do
Sul, em 2010. A expectativa é novamente de que o país figure com grandiosidade
diante dos olhares estrangeiros. Em seu discurso após a oficialização do Brasil
como sede do Mundial o presidente Lula afirmou que aquele era um compromisso
assumido não apenas pela pessoa do governante, mas pela nação, com o intuito de
“provar ao mundo que nós temos uma economia crescente, estável, que nós somos
um dos países que está com sua estabilidade conquistada” (LULA apud SANTOS,
2011, p. 167).
A ideia é que o Brasil se prepare desde já para que o evento não seja de
apenas alguns dias, mas de muitos anos, deixando um legado positivo
para o conjunto da sociedade. Mais importante do que só corresponder às
expectativas externas em relação ao Campeonato Mundial é criar um
ambiente interno para que todas as obras de infraestrutura e os impactos
sobre a macro e a microeconomia gerem condições melhores de vida à
sociedade brasileira. (ERNST&YOUNG; FGV, 2010, p. 2, grifo nosso)
usuários 79 , embora nos estádios tenha havido ressalvas quanto ao custo dos
serviços e ao acabamento das obras, prejudicado pelos atrasos nos prazos de
construção e entrega80. “Já a infraestrutura de transportes deverá, nesse momento,
estar em estágio de conclusão”, informa o relatório (2010, p. 5). Talvez por isso este
ponto tenha estado entre os mais criticados pelos usuários, como pode ser lido
adiante.
os-estadios-da-copa-das-confederacoes-apesar-das-
obras,de440effe573f310VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html. Acesso em: 1 nov. 2013.
73
O embrião do que veio a ser a Copa das Confederações era a Copa Rei Fahd, um
torneio entre seleções intercontinentais convidadas sem critério objetivo pela
entidade nacional de futebol da Arábia Saudita. Na primeira edição, em 1992, a
seleção da Arábia Saudita participou como campeã asiática de 1988 e também
como país-sede; a equipe argentina, campeã da Copa América de 1991,
representou a América do Sul; as delegações da Costa do Marfim, campeã africana
de 1992, e dos Estados Unidos, campeã da Concacaf em 1991 também
participaram. A seleção da Argentina acabou campeã após vencer a equipe Saudita
por 3 a 1.
A seleção brasileira foi a primeira campeã mundial (1994) a participar da Copa das
Confederações, em 1997, em edição realizada na Arábia Saudita. Austrália
(campeão da Oceania de 1996), África do Sul (campeão africano de 1996), Arábia
74
81 A seleção dos Emirados Árabes foi inclusa porque a campeã asiática Arábia Saudita, já participaria
por ser país-sede. Segundo a regra da Fifa, se o time campeão do mundo ou anfitrião forem
também campeões continentais, abre-se a vaga para o vice-campeão continental. Já a República
Tcheca participou mesmo sendo vice-campeão europeia porque a Alemanha, vencedora do torneio
continental, desistiu de disputar a competição.
82 Somente em 1999 e 2001 os atuais campeões da Copa das Confederações se classificaram
2002. Três dias antes do jogo decisivo a delegação havia sido surpreendida pela
morte do jogador Marc-Vivien Foé, vítima de um infarto fulminante no jogo contra a
Colômbia, pela fase semifinal. Além de França (país-sede), Camarões e Colômbia
(campeão da Copa América de 2001), disputaram o torneio os times do Brasil
(campeão do mundo de 2002), dos Estados Unidos (campeão da Copa Ouro de
2002), do Japão (campeão asiático de 2000), da Nova Zelândia (campeão da
Oceania em 2002) e da Turquia83.
83 A seleção turca classificou-se para o torneio como 3ª colocada da Copa de 2002, após uma série
de acontecimentos. A vaga inicialmente era destinada à atual campeã europeia, no entanto este
título pertencia à França, automaticamente classificada por ser país-sede. A vice-campeã europeia
de 2000, Itália, desistiu de disputar o torneio. A oportunidade foi oferecida à seleção alemã, vice-
campeã mundial em 2002, mas esta também negou sua participação. Assim, coube à Turquia
representar o continente europeu na competição.
76
após vencer a final contra a Espanha (campeã mundial de 2010), com uma boa
exibição e um placar de 3 a 0 84 . Assim, a equipe se consolidou como a maior
conquistadora da Copa, a exemplo do domínio que possui nos Mundiais de Futebol.
Além de ser soberano nos gramados com a seleção, o Brasil foi destacado fora
deles por sediar a competição, o que requer análises mais detalhadas quanto aos
aspectos estruturais, sociais e econômicos observados durante o torneio.
A perspectiva da Copa das Confederações como evento-teste, neste caso, não vale
somente para o ponto de vista da formação do time de futebol. Mais ainda, serve
para medir o ritmo de conclusão daquilo que se propôs como legado para o Brasil
após a Copa do Mundo. Enquanto o resultado esportivo foi satisfatório, as queixas a
respeito da infraestrutura do país tanto pela imprensa nacional quanto por atletas e
jornalistas estrangeiros deixaram explícito o ainda despreparo para a realização do
evento principal. O atacante da seleção da Espanha Fernando Torres reclamou das
condições encontradas no país durante a competição, em entrevista à agência de
notícias espanhola Efe85.
Foi complicado para todos, pelo clima e pelas instalações. Para a Copa do
Mundo, dependeremos da sorte para saber a cidade para onde iremos. É
preciso pensar no sorteio da Copa, já que ele pode fazer a diferença. Já
sabemos o que vamos encontrar: deslocamentos gigantescos para treinar e
condições abaixo do esperado. (TORRES, 2013)
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-das-confederacoes/noticia/2013/06/imagina-na-copa-
europeus-sofrem-com-calor-e-mundial-promete-ser-pior.html. Acesso em: 10 out. 2013.
77
Os deslocamentos também não serão alterados. Porto Alegre e Cuiabá, para manter
as referências, ficam a 2.345 quilômetros de distância entre si. Isto é pouco menos
que a distância entre Roma e Lisboa (2.387 km). Partindo deste princípio, é coerente
a reclamação do meio-campista italiano Claudio Marchisio. Segundo ele, a
impressão causada pelas extensões a serem percorridas entre os jogos é de que se
está participando de uma competição pela Europa inteira 90 . A Copa do Mundo
jamais foi realizada em outro espaço com a extensão territorial do Brasil. Mesmo
quando a sede foi aqui, em 1950, apenas seis capitais receberam jogos. Em 2014,
doze cidades abrigarão partidas.
2013.
90 Disponível em:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-das-confederacoes/noticia/2013/06/imagina-na-copa-
europeus-sofrem-com-calor-e-mundial-promete-ser-pior.html. Acesso em: 10 out. 2013
91 Disponível em: http://trivela.uol.com.br/brasil/copa-das-confederacoes-um-teste-que-vale-pouco-
cidadãos foi iniciado e a obra paralisada cumpre o total inverso daquilo a que se
propunha: atrapalha a circulação de veículos em uma das principais vias da cidade.
De acordo com o jornalista Juca Kfouri a equipe italiana teria ficado assustada com
os conflitos entre polícia e manifestantes nos protestos de junho de 2013. A tal ponto
de cogitarem um pedido de suspensão da competição à Fifa, temendo pela
permanência de seus familiares (membros da delegação italiana viajaram com
parentes ao Brasil)94.
Apesar de tudo isso, segundo levantamento da SPC Brasil 95, o evento-teste não
movimentou sensivelmente o turismo nem atraiu estrangeiros como esperava.
Ressalte-se que, segundo relatório da Ernst&Young/FGV (2010, p. 5) a expectativa
de visitantes no país era inferior a um quarto do esperado para a Copa do Mundo.
Se este foi o aperitivo, é grande o anseio pela chegada do prato principal.
Esta relação entre público e torcida pela seleção intermediada pela imprensa
esportiva começou a se estabelecer anos antes da primeira transmissão de um jogo
da equipe nacional pela TV. Segundo o antropólogo Édison Gastaldo (2004), desde
as primeiras transmissões internacionais de jogos de futebol por rádio, nos anos
1950, a cobertura dos jogos do Brasil na Copa do Mundo tem sido fenômeno de
audiência.
Hoje as experiências que são levadas à televisão com o mesmo intuito de cativar o
espectador/torcedor são as reportagens jornalísticas e as atrações de
entretenimento. Quanto a isto o jornalista António Cancela (2006), editor de esportes
da emissora portuguesa SIC, faz uma pertinente ressalva sobre a necessidade de
moderação entre as partes para que a informação – objeto de trabalho da imprensa
– não seja perdida.
Se atualmente são trazidos aos debates que envolvem imprensa e futebol elementos
que explorem o interesse do público pela seleção brasileira, em tempos de baixa
popularidade da seleção nacional, em um movimento inverso, a imprensa foi
utilizada para elevar o interesse dos torcedores. Após o fracasso na Copa do Mundo
de 1966, quando não passou da primeira fase, e consequente descrédito por parte
dos torcedores, a seleção brasileira vinha sofrendo críticas da imprensa nacional.
Em 1969, o jornalista João Saldanha foi convidado a assumir o comando técnico da
seleção brasileira.
Eu disse à imprensa que já tinha sido convidado três vezes. Mentira: fui
convidado cinco vezes, em 1958, 1966, 1967, 1968 e 1969. Aceitei porque
achava que daria uma dimensão maior à luta que sempre travei na
imprensa. Topei sabendo que ia brigar contra a inveja, a calúnia, a perfídia.
Sabia que ia me aborrecer muito. Que ia lutar contra tudo. [...] Eu sabia que
a Seleção estava desmoralizada. O Maracanã não enchia nem contra a
Seleção da Fifa, nem contra a Argentina. O povo não acreditava mais. Eu
achava que devia promover o nosso futebol. Provocar, chamar a atenção
pra cima da gente, pra cima de mim se fosse preciso. Fui por aí,
enfrentando as paradas. (SALDANHA, 1970)
de 1970, realizada no México. Em seu lugar assumiu o treinador Mário Jorge Lobo Zagallo, que
conquistou o tricampeonato mundial naquele ano. Entre principais causas apontadas para a saída
de Saldanha estão sua personalidade forte, suas opiniões inflexíveis e sua militância comunista.
Em 1970 o país vivia sob regime militar. (Disponível em: http://futebolememoria.com/nos-
lembramos/times-que-a-gente-gosta/e-tri-brasil-de-70/. Acesso em: 8 nov. 2013).
82
Hoje a ESPN é sinônimo de cobertura esportiva nos Estados Unidos e tem papel
relevante nos quase 200 países que alcança com sua programação 102 . A rede
possui dezenove canais na TV, além de produções em rádio, Internet e revistas. Um
destes canais – o primeiro com produção jornalística autônoma fora dos EUA – é a
ESPN Brasil, que tem parte de sua cobertura esportiva como objeto de análise deste
trabalho.
Para entender o início da ESPN Brasil é preciso voltar um pouco antes do ano de
sua criação, em 1995, e atentar-se ao começo das atividades de TV paga no país.
Em seu livro sobre a evolução da TV por assinatura no Brasil, Samuel Possebon
100 ESPN era sigla para Entertainment and Sports Programming Network (Rede de Programação
de Esportes e Entretenimento). O nome foi mudado oficialmente para ESPN Incorporated em
1985. O slogan do canal é “O líder mundial em esportes”.
101 O texto disponível no site da ESPN em www.espn.com.br/trabalheconosco, define a organização
como “uma das maiores empresas de entretenimento do mundo”. Acesso em: 25 set. 2013.
102 Informação disponível em www.espn.com.br/quemsomos: “A ESPN atinge 363 milhões de
(2009) é objetivo ao declarar que qualquer tentativa de apontar quem foi o primeiro
operador destas novas tecnologias no Brasil estará errada. Segundo o autor, é
virtualmente impossível dizer com precisão quando tudo começou (2009, p. 19).
Mesmo assim o jornalista Paulo Vinícius Coelho, na ESPN há mais de uma década
e telespectador desde antes, arrisca opinar que a história das televisões por
assinatura no Brasil começou em 1991, quando a Globosat e a TVA colocaram suas
programações no ar (COELHO, 2006, p. 69).
Para ficar apenas no campo dos esportes, basta saber que logo em 1992 a Globosat
lançou o canal SporTV. O concorrente pela TVA, pertencente ao grupo Abril, era o
TVA Esportes. O primeiro ainda existe e o segundo não durou muito tempo, por
razões que Coelho cita em seu livro sobre Jornalismo Esportivo.
Com o fracasso da TVA, The Walt Disney Company – proprietária da marca ESPN
no mundo – associou-se ao grupo Abril e repaginou o canal de esportes, criando a
ESPN Brasil. Em 1999, o grupo Abril vendeu sua parte na ESPN Brasil à Disney,
que hoje comanda o canal integralmente.
103 MMDS é uma modalidade de transmissão de TV que funciona por meio da captação de micro-
ondas eletromagnéticas via antenas. É uma alternativa à TV à cabo e à TV via satélite (DTH). No
Brasil, está progressivamente em extinção, sobretudo porque a faixa eletromagnética que ocupa é
a mesma da tecnologia de Internet móvel 4G, em expansão no país. Outrora este método de
transmissão tinha como vantagens o menor preço e maior alcance. Hoje, é a tecnologia menos
utilizada segundo dados da Anatel, não ocupando nem um por cento do número de assinantes por
tecnologia.
(Disponível em: http://sistemas.anatel.gov.br/satva/hotsites/conheca_brasil_satva/default.asp.
Acesso em: 19 set. 2013).
84
conhecido entre os “fãs de esporte” – como seus espectadores são chamados – por
transmitir os principais campeonatos entre clubes do futebol mundial, com exceção
para as competições brasileiras. Dos principais campeonatos nacionais, a ESPN só
possui os direitos de transmissão sobre a Copa do Brasil e campeonatos de futebol
de base.
Esta é uma herança da época de transição entre TVA Esportes e ESPN Brasil. Por
um lado a ausência desta programação na emissora prejudicou o canal frente ao
principal concorrente, SporTV – especialmente no tocante ao número de
anunciantes interessados em unir sua marca à audiência proporcionada pelos
grandes jogos. Mas por outro, foi fator determinante para a construção da identidade
do canal, que passou a se notabilizar cada vez mais pelo jornalismo esportivo.
“A ESPN no Brasil é reconhecida pela mídia e pelo público devido a qualidade nas
transmissões, comentários imparciais e credibilidade de seus profissionais”.
Obviamente cabe à empresa ressaltar seus diferenciais de mercado, como faz neste
trecho disponível em seu site104. Mesmo assim, a construção da frase evidencia a
preocupação e o compromisso da emissora com o jornalismo (imparcialidade e
credibilidade são características intimamente ligadas à prática), enquanto o braço
estadunidense procura se destacar pelo entretenimento.
Como explica Coelho, não possuir os direitos de transmissão dos principais jogos
organizados pela CBF, ao contrário do efeito causado à TVA, não foi
do futebol, e será uma das vinte e cinco empresas licenciadas para transmitir áudio
e vídeo das partidas106. O mesmo não aconteceu com a Copa das Confederações
em 2013. A cobertura jornalística, entretanto, foi mais uma vez a meta de excelência
da empresa, que deslocou profissionais a todos os locais de jogo, interagindo com a
seleção e com o clima da competição. Para o público, grande parte107 da cobertura
possível da Copa das Confederações foi mostrada no programa Linha de Passe –
Mesa Redonda, objeto do tópico seguinte.
jogos. No Sportscenter, por exemplo, VTs gravados sobre resultados e preparação das seleções
eram exibidos, seguidos pelos comentários dos âncoras. O Bate-Bola, comumente exibido duas
vezes por dia, de segunda a sexta-feira, passou a ter uma terceira edição para cobrir os treinos da
seleção brasileira e realizar um pré-jogo das partidas.
86
“Bem, Amigos!”, do canal SporTV, que mescla debate esportivo e participações de convidados
ligados ao esporte (e apresentações musicais); “Baita amigos”, da Bandsports, inspirado no
anterior (sem apresentações musicais); e “A Última Palavra”, da Fox Sports, programa de
entrevistas de personalidades ligadas ao futebol.
111 No caso de eventuais ausências, os jornalistas Paulo Calçade, Antero Greco, Leonardo Bertozzi e
Aquela Copa não “foi nossa”, coma sugeria a atração, mas o programa prevaleceu.
Fixou-se na grade da ESPN Brasil. Tornou-se espaço para repercussão das rodadas
dos principais campeonatos em curso no Brasil e no mundo (mais no Brasil). Além
disso, fez-se figura carimbada na cobertura dos principais eventos de futebol que o
canal acompanhou como Olimpíadas, Copas do Mundo de 2002, 2006, 2010 e a
Copa das Confederações de 2013, plano de fundo para a constituição dos fatos em
análise neste trabalho.
112 Executivo de Jornalismo da ESPN Brasil entre 1995 e 2011. A partir de 2012, o cargo passou à
responsabilidade do jornalista João Palomino. Em setembro de 2013, Palomino ganhou o Prêmio
Comunique-se na categoria Executivo de Veículo de Comunicação do ano, conquistado por
Trajano em 2011.
113 Em seu livro Jornalismo Esportivo, lançado em 2003, Paulo Vinícius Coelho lamentava: “Até hoje,
a televisão por assinatura não explodiu no Brasil. Ainda há um número pequeno de assinantes. No
total, eles não passam da casa dos 3,5 milhões em todo o país [2% da população]. Não vale nem
lembrar que há 170 milhões de habitantes no Brasil”. Dez anos depois, a população do Brasil
saltou para 198 milhões, de acordo com o IBGE. Segundo dados do Ministério das Comunicações,
o número de assinaturas de TV paga também cresceu, para quase 17 milhões [9% da população],
ou seja, quase quintuplicou em relação ao dado anterior. (Disponível em:
http://sistemas.anatel.gov.br/satva/hotsites/conheca_brasil_satva/default.asp. Acesso em: 19 set.
2013). De acordo com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a estimativa do Governo
Federal é de que o número de assinaturas dobre nos próximos três anos. (Disponível em:
http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/08/numero-de-assinantes-de-tv-paga-pode-dobrar-em-
3-anos-diz-ministro.html. Acesso em: 20 set. 2013).
88
114 Não é incomum que os jornalistas sejam corrigidos em suas informações durante o Linha de
Passe, seja pelo editor atento ou pelo espectador que participa pela Internet. A informalidade dá o
tom do programa, ao modo como descreveu Juca Kfouri em seu depoimento.
89
8.3 – O discurso
Durante a cobertura da Copa das Confederações Fifa 2013 pela ESPN Brasil, o
principal programa utilizado para repercutir os jogos, analisar o desempenho da
seleção brasileira, noticiar o clima dos jogadores na concentração, atualizar os
telespectadores sobre o dia-a-dia da competição, considerar o desempenho de
possíveis adversários do time nacional e levar a público as manifestações dos
atletas e comissão técnica da seleção foi o Linha de Passe – Mesa Redonda.
O programa foi transmitido todos os dias entre 15 de junho e 1º de julho (17 dias),
sempre entre 21h e 23h. O horário já era padrão da atração que normalmente vai ao
ar somente às segundas-feiras. Segundo informações do sistema Media
Workstation, do Instituto Ibope, divulgadas pelo Grupo de Mídia São Paulo (2012)115,
o horário entre 21h e 23h é o que atinge maior número de espectadores na TV por
assinatura, chegando a 8,11% de audiência (2012, p. 400). Nesta faixa, o público
espectador – composto em sua maioria por indivíduos do sexo masculino entre 15 e
29 anos, que supostamente cumprem com suas atividades durante o dia – recebia o
resumo dos principais assuntos em pauta e a análise opinativa dos comentaristas116.
canal, a assinatura final do locutor enuncia: “ESPN Brasil – Opinião é o nosso esporte”. Embora
não tenha transmitido a Copa das Confederações, esta também foi a tônica da cobertura.
90
Idade: 34
Paulo
Andrade Destaques: Há dez anos na ESPN; Narrador Apresentador
esportivo.
Idade: 43
Paulo Destaques: Editor Web do site ESPN Brasil; Comentarista in
Cobos118 Atuou por dezesseis anos na Folha de S. Paulo. loco119
Idade: 44
PVC Destaques: Jornalista laureado; Fundador do Comentarista in
diário esportivo Lance!. loco
Idade: 67
José Trajano Destaques: Na ESPN Brasil desde sua criação; Comentarista
Trabalhou em mais de dez veículos de estúdio
comunicação.
117 www.portaldosjornalistas.com.br
118 Substituiu Juca Kfouri quando o jornalista foi internado em um Hospital de Belo Horizonte e
afastado das transmissões por ordens médicas, após sofrer uma isquemia cerebral durante o
período de cobertura da Copa das Confederações (Disponível em:
http://www.otempo.com.br/superfc/futebol/ap%C3%B3s-boletim-m%C3%A9dico-juca-kfouri-
acalma-seguidores-e-publica-texto-em-seu-blog-1.670934. Acesso em: 14 out. 2013).
119 O termo “in loco” é uma expressão em latim que significa “no lugar” ou “no próprio local”. É
utilizada nesta ocasião para informar que o profissional acompanhou a seleção brasileira nas
cidades em que ela realizou seus jogos e participou da transmissão do Linha de Passe a partir de
um local relacionado à delegação: estádio da partida, hotel de concentração ou arredores.
91
Idade: 63
Juca Kfouri Destaques: Sociólogo e jornalista esportivo- Comentarista in
político; Ganhou Prêmio Esso de Jornalismo, loco
em 1991.
Idade: 42
Eduardo Destaques: Editor-executivo da ESPN no Rio Comentarista
Tironi de Janeiro; Cobriu a Copa do Mundo de 2002. estúdio
Idade: 33
Leonardo Destaques: Trabalhou na FX e Bandsports; Comentarista
Bertozzi Editor da Revista Trivela. estúdio
Idade: 50
Mauro Cezar Destaques: Chefe de reportagem da ESPN Comentarista
Pereira Brasil; Foi professor universitário120. estúdio
Fonte: Portal dos Jornalistas121.
120 Lecionou Jornalismo em Rádio e TV na Universidade de Santo Amaro (Unisa/São Paulo) entre
2002 e 2006 e foi professor do curso de pós-graduação em Jornalismo Esportivo nas Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU/São Paulo), em 2007. Segundo entendimento do autor desta
monografia, tal informação é considerada relevante pois a vivência acadêmica na formação de
profissionais pode possibilitar ao indivíduo uma postura crítica diferenciada diante da prática do
jornalismo, em distinção a outros profissionais que, no dia-a-dia, estejam em contato somente com
o universo das pautas, notícias, furos e deadlines.
121 Disponível em: www.portaldosjornalistas.com.br. Acesso em: 20 set. 2013.
92
“Eu vou com o Antero Greco, nota sete então. Assim a gente fecha aqui
em São Paulo e [...] agora a nota do pessoal que acompanhou o jogo
pessoalmente lá em Brasília, do PVC e do Juca Kfouri. Começando com
você, PVC. Boa noite.” (15 jun. 2013)
Paulo
Andrade Reservado ao papel de apresentador, Paulo Andrade raramente
expressa uma opinião. Durante a série de programas em recorte, isto não
aconteceu nenhuma vez de forma relevante ou que merecesse destaque.
Conduz os debates de maneira exemplar, suas interrupções são sutis.
Paulo PVC costuma ser reconhecido como uma “enciclopédia do futebol”. Sabe
Vinícius escalações de times do século passado de cabeça. Raramente erra
Coelho sobre a informação que transmite e suas opiniões são repletas de
(PVC) apuração. Durante a Copa das Confederações foi repórter, acompanhou
os jogos e a seleção de perto, por todas as cidades. Também por isso foi
um ferrenho defensor da máxima do “time em formação”. Antes de
qualquer crítica, contemporizava com o fato de que, em pouco tempo,
Felipão estava fazendo muito progresso à frente da equipe.
93
“Seria pretensão minha [...] dizer que nós somos responsáveis pelos
protestos contra os gastos, a falta de transparência e tudo que se refere
a Copa do Mundo. Mas que a voz da ESPN tem muito a ver com os
protestos que agora estão saindo às ruas contra a própria Copa do
Mundo, contra a gastança, contra os elefantes brancos, contra os
José desmandos da Fifa, tem. [...] [Isso] me deixa muito emocionado e
Trajano satisfeito.” (17 jun. 2013)
Trajano está na ESPN desde sua fundação. Linha de Passe nasceu de
sua inspiração na Grande Resenha Facit 122 , dos anos 1960.
Considerado um obstinado defensor do que considera ético e justo, já
travou duros embates em sua carreira por conta de suas opiniões fortes
e extremas. Até hoje, por vezes debate de modo mais áspero com os
companheiros de mesa, que quase sempre relevam sua personalidade.
Kfouri o chama abertamente de “ranzinza”.
“Esse time jogou como nunca na Copa das Confederações, com uma
alma que me impressionou. Além de taticamente ter jogado muito bem
– isso não se discute no jogo de hoje – também jogou com muita alma.”
(30 jun. 2013)
Eduardo
Tironi Tironi participou apenas da última edição especial de Linha de Passe
para a Copa das Confederações, no pós-jogo de Brasil versus Espanha.
Editor da sucursal da ESPN no Rio de Janeiro, o jornalista se
impressionou com o clima na cidade antes da partida. Identificou nas
ruas a retomada do amor da torcida pela seleção brasileira de futebol.
122 GrandeResenha Facit foi a primeira mesa-redonda de futebol na TV Globo. O programa foi criado
na TV Rio por Walter Clark e Luiz Mendes, em 1963, com o nome de Grande Revista Esportiva.
Passou a se chamar Grande Resenha Facit logo depois que ganhou o patrocínio da empresa
fabricante de máquinas de escrever. O formato inspirado nos debates políticos foi trazido para a
TV Globo em setembro de 1966. A mesa era formada pelo âncora Luiz Mendes e os
comentaristas Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, João Saldanha, José Maria Scassa, Hans
Henningsen, Vitorino Vieira e o ex-artilheiro Ademir. Eles discutiam a atuação e o desempenho
dos times cariocas, principalmente nos jogos disputados no Maracanã no final de semana.
(Disponível em: http://memoriaglobo.globo.com/programas/esporte/programas-esportivos/grande-
resenha-facit/formato.htm. Acesso em: 8 set. 2013).
94
“O que ficou provado hoje pra mim é que, quando você adota uma
postura um pouco mais crítica, um pouco mais de cobrança em relação
à seleção brasileira, é porque você acredita que o time seja capaz de
jogar como jogou hoje. Se você acha excelente o que viu lá atrás, eu
não sei o que você vai achar do que viu hoje.” (30 jun. 2013)
Leonardo
O tom adotado por Bertozzi em suas análises foi crítico e exigente.
Bertozzi
Desde sua primeira participação, ressaltou que a seleção o
desapontava em seu desempenho. Quando o canal para o qual trabalha
foi criticado pelo técnico da seleção brasileira, foi objetivo ao defender o
ponto de vista do jornalismo. Para ele, o papel cabível a si e aos
colegas em suas falas não seria “jogar contra ou a favor”, mas sim
“analisar e opinar”.
“Eu fui buscar alguns números dos times recentes do Luiz Felipe Scolari
e é interessante: o time dele só anda quando faz muitas faltas. [...] É por
essas e outras que eu sou alguém que tem uma resistência muito
grande com relação ao trabalho do Felipão. Eu acho que são métodos
antigos, é um repertório que não se alterou com o passar do tempo.”
(24 jun. 2013)
Mauro Cezar A fala de Mauro é emblemática. Nela ele deixa claro sua implicância
Pereira com duas questões recorrentes em seu discurso – e preponderantes
para a ocorrência da declaração de Felipão que motiva este trabalho: o
excesso de faltas no futebol e os métodos de trabalho do técnico.
Mauro é um perseguidor das faltas excessivas há bastante tempo. Em
seu blog em ESPN.com o assunto é recorrente. O jornalista tem o
costume, entretanto, de avalizar suas críticas por meio de estatísticas
de jogos, ao invés de basear-se na mera opinião. Mauro considera
Felipão ultrapassado. Para ele, o futebol evoluiu e a visão tática do
treinador não. A união destes ingredientes culminou na queixa de Luiz
Felipe Scolari contra “a televisão que joga contra o Brasil”.
123 Linha de Passe é fonte para os trechos destacados, retirados dos discursos dos respectivos
comentaristas. Os textos descritivos subsequentes às citações são baseados na análise do
discurso feita pelo autor do trabalho.
95
Antes do primeiro jogo oficial pela Copa das Confederações, a última partida da
seleção brasileira tinha acontecido no dia 9 de junho, contra a França, na Arena do
Grêmio, em Porto Alegre. Este último amistoso antes da competição tinha entre seus
principais objetivos o de pôr à prova o entrosamento do time recém-convocado pelo
técnico Felipão e aproximar o time nacional de sua torcida. Nas experiências
anteriores o time já havia se mostrado inseguro nas atuações, e o público,
insatisfeito com o futebol apresentado.
A crônica do site globoesporte.com para o jogo entre Brasil e França, que terminou
em 3 a 0 para o time da casa, começava dizendo que a seleção ainda estava longe,
bem longe, de empolgar: “Tanto que as mais de 51 mil pessoas presentes no
estádio oscilaram entre gritos e momentos de completo silêncio e até vaias (nem
Oscar, autor do primeiro gol, escapou).”124
No time daqueles que nutriam a desconfiança está a equipe do canal ESPN Brasil.
Alguns jornalistas de forma mais ponderada, outros declaradamente em desacordo
com a escolha, mas todos, de modo geral, mostraram-se reticentes à mudança,
cada um por seus motivos específicos. Cabe dizer que esta não é objetivamente
uma postura editorial adotada pelo jornalismo da ESPN, mas sim a opinião
reiteradamente expressa por seus comunicadores enquanto indivíduos.
A Copa das Confederações 2013 seria a primeira competição oficial em que o time
entraria após a Copa América de 2011, na Argentina. Ali o desempenho da seleção
foi pífio. Eliminado nas quartas-de-final da competição pela seleção paraguaia em
disputa de pênaltis (a equipe brasileira desperdiçou quatro cobranças), o time não
havia mostrado nada de empolgante nos jogos anteriores. Em fase de renovação –
termo muito utilizado no futebol – Mano Menezes vinha mesclando um time
extremamente jovem com alguns jogadores experientes, deixando de fora atletas
veteranos que participaram da Copa do Mundo Fifa 2010, na África do Sul. Foi
insistindo na renovação que ele perdeu seu cargo e não chegou a mostrar grande
evolução – outro termo sempre presente na linguagem futebolística – na equipe.
Havia, por tudo isso, grande expectativa sobre o desempenho da seleção brasileira
na Copa das Confederações. Não obstante os fatos já mencionados, no dia da
abertura da competição o Brasil passava por um momento de efervescência popular.
Manifestações contra tarifas de transportes públicos, gastos com a Copa do Mundo,
corrupção na esfera política e muitos outros temas, levaram milhões de pessoas às
ruas. Antes do jogo entre Brasil e Japão, que inaugurou a competição, estes
protestos chegaram às portas do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. O
clima de tensão entre polícia e manifestantes ameaçava o público que tentava
98
Quem já estava dentro do estádio ouvia as bombas e sabia das informações pelo
rádio e pela boca dos torcedores que conseguiam entrar. Ainda assim, a cerimônia
de abertura aconteceu sem problemas relacionados ao protesto. A partida também.
O maior reflexo do momento político e social dentro da arena se deu quando o
público vaiou massivamente a presidente da República Dilma Rousseff e o
presidente da Fifa Joseph Blatter. A atitude de reprovação às autoridades repercutiu
em todo noticiário esportivo e também foi pauta no Linha de Passe.
Nota esta que a seleção brasileira não recebeu. O time inflamou a torcida a seu
favor logo no início do jogo, quando Neymar abriu o placar. No início e fim do
segundo tempo a equipe consolidou a vitória tranquila sobre o time japonês. Apesar
deste novo cenário com gols, vitória tranquila e torcida feliz, havia atenuantes contra
a euforia, que foram abordados no debate em mesa-redonda. O principal deles é de
que a seleção japonesa jogou cansada, por conta da difícil adaptação ao fuso
horário.
Tal argumento levou PVC a criticar o rigor dos companheiros quanto à avaliação do
desempenho da seleção brasileira. Para ele, apesar de estar em desvantagem
física, a equipe do Japão era um bom adversário. Em sua fala, Coelho citou quase
um time inteiro (oito atletas) de jogadores japoneses que atuam em times da Europa
– fato que lhes atestaria a qualidade. Assim, a atribuição de notas pequenas ao time
brasileiro denotaria uma atitude arrogante, desmerecendo o oponente (PVC, Linha
de Passe, ESPN Brasil, 15 jun. 2013).
Na média de todas as notas, o time ficou com 6,75. Para o comentarista Mauro
Cezar Pereira, que atribuiu a nota mais baixa de todas à equipe (5,75), a média
traduziu satisfatoriamente o que ocorreu em campo, pois assim o time “passou com
sobras” (PEREIRA, Linha de Passe, ESPN Brasil, 15 jun. 2013).
Juca Kfouri contemporizou a média, que também considerou baixa, de forma jocosa.
Mauro Cezar Pereira, por sua vez, respondeu ao ponto de vista do colega invocando
o que considera ser o papel de um jornalista esportivo: basear sua análise não
apenas no placar final, mas no futebol apresentado durante os noventa minutos.
No Linha de Passe de 16 de junho, dia seguinte ao jogo entre Brasil e Japão, Mauro
Cezar Pereira pediu atenção nas avaliações feitas pelos jornalistas do canal à
seleção brasileira com relação ao que chamou de “muleta da seleção em obras”,
suposto atenuante para más atuações da equipe. Para o comentarista, em obras
todas as seleções que se preparam para disputar a Copa do Mundo estão. Ele
ressaltou ainda que o clima proporcionado pela torcida e pela competição em casa
poderia ser favorável à conquista da Copa das Confederações 2013, mas o que o
objetivo principal não era esse e sim uma inovação no estilo de jogo da seleção
brasileira. O jornalista utilizou exemplos de times e seleções para mostrar que há
uma necessidade de crescimento do time que se revela mais importante que o título.
Eu acho que a gente está caminhando numa direção muito perigosa, que é
este discurso do pragmatismo do Felipão. A direção do ‘o que importa é
ganhar, o que importa é avançar, o que importa é ser campeão’. Não. Isso
importa, mas há muito mais coisas em jogo. O futebol brasileiro está
defasado. [...] Não existem técnicos brasileiros de primeira linha. Vanderlei
Luxemburgo, quando foi ao Real Madrid não conseguiu sucesso. Felipão,
quando esteve no Chelsea também fracassou. [...] A seleção brasileira
deveria ser a locomotiva de uma mudança, para trazer novas ideias. Uma
outra forma de jogar, imposição de jogo com a bola, como faz a Espanha.
[...] Por que a Espanha tem tantos jogadores habilidosos? Porque há um
trabalho que vem sendo feito muito sério, que faz com que surjam novos
jogadores. Por que não surgem mais aqui no Brasil? Esta discussão tem
que avançar muito além do pragmatismo do senhor Luiz Felipe Scolari.
Ganhando ou perdendo esta Copa das Confederações, este é meu ponto
de vista com relação ao que representa a seleção neste momento, em que
ela pode fazer as coisas mudarem. Não parece que vai mudar. O que
importa é o ‘pra frente, Brasil’, ‘vamos lá, galera’, ‘todos juntos vamos’ e vai
empurrando com a barriga, vencendo do jeito que for, se for o caso. O que
importa é vencer. Eu acho que não é só isso. (PEREIRA, Linha de Passe,
ESPN Brasil, 16 jun. 2013)
126 Segundo o calendário da Copa do Mundo Fifa 2014, o início da competição. A seleção brasileira
estreará às 17h, no Estádio Itaquerão ou Arena Corinthians (nome formal provisório), contra
adversário ainda indefinido. Será o jogo 1 do Grupo A, válido pela primeira fase.
101
Antes do jogo começar havia expectativa sobre o modo como o Brasil iria se
comportar. Desde a gestão técnica de Mano Menezes o time passou a ter como
característica a marcação sob pressão no início dos jogos 127. A estratégia visava
encurralar o adversário no seu campo de defesa para, em um eventual erro rival,
partir com a bola em direção ao gol. Este estilo de jogo não é fácil de ser empregado
pois exige muito vigor físico dos jogadores, que em uma competição oficial da Fifa
quase sempre apresentam-se já cansados por efeito das temporadas de seus
clubes. Mesmo assim o técnico Luiz Felipe Scolari manteve a tática e aprimorou-a
nos treinamentos por ele conduzidos antes da Copa das Confederações 128 . Foi
dessa forma que o time começou a vencer a primeira partida da competição, contra
o Japão, logo nos minutos iniciais.
http://www.cnews.com.br/cnews/esportes/34974/selecao_treina_marcacao_sob_pressao_e_cruza
mentos. Acesso em: 5 nov. 2013.
103
resultado contra a seleção japonesa, cujos atletas teriam jogado abaixo de sua
capacidade física, pesava à análise dos comentaristas o fato de a seleção latino-
americana ser um dos adversários que mais dificultaram os desempenhos da
seleção brasileira no século XXI. Desde 2001 as equipes principais dos dois países
haviam se enfrentado onze vezes. De acordo com levantamento do site Lancenet129,
entre amistosos e partidas oficiais foram seis vitórias mexicanas e três brasileiras.
Entretanto, a mais recente derrota do time brasileiro para o chamado “algoz do
século” não estava naquela conta. Em agosto de 2012, na decisão do futebol nos
Jogos Olímpicos de Londres, a seleção brasileira, até então invicta no torneio,
perdeu para a seleção mexicana por 2 a 1 e ficou com o segundo lugar no pódio130.
A equipe olímpica não é considerada como seleção principal devido ao limite de
idade (23 anos) da maior parte dos integrantes do time (são permitidas três
exceções). Por isso a derrota marcante131 não consta na lista de jogos entre Brasil e
México depois do ano 2000.
Eles [mexicanos] vêm complicando a vida da gente há sete, oito, dez anos.
O México é uma pedra no nosso sapato há muito tempo. E temos que tirar
essa pedra já na quarta-feira, com uma possível classificação. Evoluímos
taticamente e, se continuarmos equilibrados na questão tática como hoje,
poderemos enfrentar e vencer qualquer adversário. (SCOLARI, 2013)132
olímpico da modalidade, um importante título que não está no rol de conquistas da seleção
brasileira. Assim como em 1984, em Los Angeles, e em 1988, em Seul, a seleção brasileira ficou com o
vice-campeonato olímpico. O país ainda tem duas medalhas de bronze, em 1996, em Atlanta, e 2008,
em Pequim.
132 Disponível em: http://oglobo.globo.com/copa-das-confederacoes/felipao-elogia-evolucao-tatica-ct-
Com gol marcado logo no início da partida, dessa vez aos nove minutos, a seleção
brasileira poderia encaminhar uma vitória fácil e uma exibição tranquila, como na
primeira partida da competição. Mas ainda que a seleção mexicana não tenha feito
gols, o que se viu no Estádio Castelão foi uma vitória conquistada com esforço. De
acordo com a crônica do jogo do site globoesporte.com, o auxílio da torcida foi
preponderante para alcançar o feito. “O Brasil apelou. Burlou as regras. Usou mais de
50 mil pessoas para vencer apenas 11 mexicanos, por 2 a 0. [...] Eles apoiaram,
tabelaram, deram o gás necessário a uma equipe que ainda comete falhas”.133
Para Juca Kfouri, no Linha de Passe realizado após a partida, além das limitações do
time brasileiro, a seleção mexicana “valorizou a vitória” – expressão utilizada no meio
esportivo quando uma equipe adversária dificulta o desempenho do time vitorioso –
fazendo jus à fama de “pedra no sapato” da seleção brasileira, como disse Felipão.
Prova disto é que o gol que confirmou a vitória foi marcado aos 48 minutos do segundo
tempo, pelo centroavante Jô, após jogada de habilidade do atacante Neymar.
O México jogou muito mais hoje do que jogou contra a Itália. Não é que
jogou um pouco mais, jogou muito mais. O Brasil teve problemas,
principalmente porque o brasileiro do México134, estava numa tarde quase
tão infernal como estava o Neymar. (KFOURI, Linha de Passe, ESPN
Brasil, 19 jun. 2013)
Francisco dos Santos, conhecido como Zizinho. Geraldo nasceu no Brasil e começou sua carreira
profissional no São Paulo Futebol Clube. Em 1980, aos 18 anos, foi jogar pelo time América do
México. Naquele país construiu a maior parte de sua trajetória no esporte, adquirindo até mesmo a
nacionalidade mexicana. Zizinho possui três filhos futebolistas, todos nascidos no México. Um
deles é Giovani do Santos, atleta do Villarreal, da Espanha, a quem Juca Kfouri chamou de “o
brasileiro do México”, em referência à sua ascendência. (Disponível em:
http://extra.globo.com/esporte/copa-confederacoes/copa-das-confederacoes-mexicano-giovani-
dos-santos-filho-de-ex-jogador-brasileiro-fara-primeira-partida-no-maracana-8697841.html. Acesso
em: 5 nov. 2013).
135 Disponível em: http://globoesporte.globo.com/jogo/copa-confederacoes-2013/19-06-2013/brasil-
show. Lancenet 137 destacou o brilho do jogador naquela que definiu como sua
melhor partida pela seleção. O diário espanhol AS138 estampou que o Brasil vive do
“gênio de Neymar”, realçando a importância do desempenho individual do atleta
para os resultados do time.
O jornalista Mauro Cezar Pereira destacou durante Linha de Passe que em uma
exibição coletiva fraca, a grande notícia para o torcedor brasileiro na partida contra o
México foi a atuação “espetacular” de Neymar. Para ele, é óbvia a dependência do
bom futebol deste protagonista da seleção brasileira à conquista de objetivos por
parte da equipe. “É o cara que pode mudar alguma coisa no destino desse time”
(PEREIRA, Linha de Passe, ESPN Brasil, 19 jun. 2013).
José Trajano identificou a mesma relação entre Neymar e seleção brasileira, mas
interpretou tal dependência em conotação negativa. O jornalista comparou o
desempenho do time brasileiro contra o México a recorrentes atuações da equipe do
Santos, clube pelo qual jogou Neymar. Ali o atleta estava em patamar técnico
visivelmente muito superior a seus companheiros.
Paulo Vinícius Coelho foi outro a concordar com a nota de Trajano, mas discordar do
termo “involução”. O comentarista citou o texto que acabara de escrever para sua
coluna na Folha de São Paulo, a ser publicada no dia seguinte, para expor sua
opinião. “O primeiro título era: Piorou. Aí eu achei que tinha exagerado. Então eu
coloquei: Estacionou. Eu acho que é mais justo. Porque não evoluiu, o próprio
Felipão falou isso na coletiva. Acho que é este o ponto” (PVC, Linha de Passe,
ESPN Brasil, 19 jun. 2013)
Mesmo considerando que não houve retrocesso, PVC atribuiu nota seis à atuação
perante a seleção do México, pontuação menor que a dada por ele após o jogo
contra os japoneses. Mauro Cezar Pereira concordou com o termo “estacionou”,
proposto por Paulo Vinícius Coelho, mas repetiu o efeito estático à pontuação
relativa ao jogo anterior, mantendo os 5,75 para a avaliação contra os mexicanos.
Juca Kfouri divergiu das opiniões anteriores e conferiu a maior pontuação à seleção
brasileira entre os participantes do programa, 7,75. Segundo sua avaliação, nem
todas as boas jogadas dependeram exclusivamente de Neymar. Para exemplificar, o
jornalista citou a construção do lance do primeiro gol, a partir de “uma brilhante
jogada de triangulação entre o Hulk, Paulinho e o Daniel Alves” (KFOURI, Linha de
Passe, ESPN Brasil, 19 jun. 2013).
Na medida em que o Neymar faz uma exibição de gala: ele fez um golaço
de primeira, como já tinha feito da outra vez, quase faz um outro, também
golaço; a jogada do segundo gol é brilhante; procurou o jogo. O Neymar só
me chamou a atenção [em um aspecto negativo], se ele pode ter alguma
coisa negativa depois de uma atuação tão boa: o número de faltas que o
tem cometido. O Neymar, talvez, se a gente tiver uma estatística aí, é o
jogador mais faltoso da seleção brasileira. Na recuperação da bola, no
primeiro tempo ele tinha feito quatro, pra levar um cartão amarelo a
qualquer momento, não custa. (TRAJANO, Linha de Passe, ESPN Brasil,
19 jun. 2013)
139 O termo em inglês scout pode ser entendido como explorar. No esporte, o trabalho de Scout é feito
justamente no sentido de explorar as possibilidades das equipes analisadas, encontrando pontos
fortes e fracos nas mesmas. Com as informações contidas nestas análises, é possível formar
bases de dados a respeito dos desempenhos dos competidores. Estes dados podem ser utilizados
por uma comissão técnica para aperfeiçoar os treinamentos ou, segundo Garganta (1996 apud
ROSE JR, 2002, p. 3), para detectar as características e estilos de jogo das equipes adversárias,
no sentido de explorar seus pontos fracos e contrariar suas dimensões fortes.
108
Um jogo que o fã de esporte não gostaria que acabasse. Esta foi a definição de Juca
Kfouri para o duelo em que o Brasil venceu a Itália por 4 a 2, pelo último
compromisso da fase de grupos da Copa das Confederações 2013. A crônica do
jogo de globoesporte.com narrou que os times não encantaram a torcida do ponto
de vista técnico, mas apimentaram a partida com demonstrações de raça capazes
de tornar o jogo emocionante140. A impressão positiva deixada pelo time vitorioso se
refletiu no Quadro de Notas acima, em que a média alcançada pela seleção
brasileira foi a maior até então.
Mesmo Mauro Cezar Pereira, que atribuiu a pontuação mais baixa entre os
comentaristas, considerou a vitória sobre a Squadra Azzurra – epíteto da seleção
italiana – como o melhor jogo realizado pelo time brasileiro. Se contra o México o
destaque era todo de Neymar, agora os personagens se multiplicaram. Fred, autor
de dois gols após três jogos sem marcar e o árbitro da partida, o uzbeque Rashvan
Irmatov, se sobressaíram na partida que teve como palco mais uma capital da quente
região nordeste.
Segundo Juca Kfouri, o jogo contra os italianos mereceu uma avaliação diferente em
relação à partida anterior, porque contra os mexicanos os fatores extracampo
fizeram com que a seleção brasileira jogasse sob uma forma de pressão. Contra a
Itália o time já estava classificado à fase semifinal, logo, mais tranquilo. Além disso,
se havia pressão, estava do lado dos adversários.
Contra o México, eu acho que tinha alguma coisa atravessada. Tinha uma
coisa atravessada não apenas pelo fato de ter ganho a medalha de ouro
em Londres, mas pelo fato de estar em vantagem neste século contra a
seleção brasileira. Por isso que eu não achei que houve nem um
estacionamento. Eu achei que houve uma pequena evolução. Porque eu
acho que o time ali estava jogando um jogo diferente. Estava dizendo:
‘Olha, nós precisamos voltar a nos impor diante destes caras’. Mostrar: ‘Ó,
vocês são o México, nós somos Brasil’. Hoje não tinha este complexo. Se
alguém tem complexo, embora Sarriá141, são os italianos, que perderam
duas finais de Copa pra nós. (KFOURI, Linha de Passe, ESPN Brasil, 22
jun. 2013)
141 Referência à derrota sofrida pela seleção brasileira frente à equipe italiana em 1982, pelo placar
de 3 a 2. O resultado eliminou a equipe brasileira da Copa do Mundo daquele ano, realizada na
Espanha. Sarriá era o nome do estádio em que ocorreu o fatídico jogo. Mais que uma derrota
comum, o episódio entrou para a história do futebol brasileiro como “Tragédia de Sarriá” ou
“Desastre de Sarriá” porque naquele ano o time formado pelo técnico Telê Santana era grande
favorito a conquistar o torneio, graças à qualidade de importantes jogadores como Zico, Sócrates,
Junior, Cerezo e Falcão. Até hoje o elenco da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo
de 1982 é vista como um dos maiores times de futebol já formados.
142 Disponível em: http://oglobo.globo.com/esportes/copa-das-confederacoes/fonte-nova-se-veste-de-
http://freemeteo.com/default.asp?pid=20&gid=3469058&sid=828981&la=18&lc=1&nDate=19/6/2013.
Acesso em: 5 nov. 2013.
144 Disponível em: http://esportes.terra.com.br/italia/apos-pior-clima-da-vida-calor-vira-preocupacao-
Entretanto, no jogo contra o Brasil o foco sobre os assuntos climáticos foi desviado pelo
ritmo da partida, pela ausência de De Rossi, suspenso, e pela atuação da arbitragem.
No primeiro gol marcado pela seleção brasileira, o zagueiro Dante, autor da finalização,
estava impedido. O lance de bola parada que originou o segundo tento brasileiro partiu
de uma falta que, para o comentarista Mauro Cezar Pereira, não foi cometida. Na jogada
do segundo gol da seleção italiana a confusão maior: Escanteio cobrado, tumulto na
área, o atacante italiano Mario Balotelli sofre pênalti feito pelo volante brasileiro Luiz
Gustavo. O árbitro Rashvan Irmatov apita a falta, mas permite que a jogada na área
siga. Na sequência o zagueiro italiano Chiellini domina a bola livre – pois a defesa
brasileira havia parado por causa da marcação de Irmatov – e chuta para o gol. O
árbitro, ao invés de honrar a própria escolha pela marcação do pênalti, opta por validar o
gol. A decisão gerou polêmica por parte do time brasileiro e repercutiu na análise de
Linha de Passe.
Acho até que o Brasil mereceu vencer, esta é outra questão, mas quanto à
arbitragem, foi muito ruim. O glorioso uzbeque é um árbitro já rodado,
apitou vários jogos internacionais, não é um árbitro novato, que caiu do
céu, mas foi muito mal. E nesse lance do pênalti foi bizarro. [...] A Itália fez
o gol, mas se ele fizesse o certo, que era marcar o pênalti e não validar o
gol do Chielinni, o Balottelli, que nunca perdeu pênalti na vida, teria uma
grande chance de fazer o gol da Itália. Diferente da situação dos gols do
Brasil, um gol em impedimento e uma falta que, pra mim, não aconteceu.
(PEREIRA, Linha de Passe, ESPN Brasil, 22 jun. 2013)
Desde o início de sua carreira Neymar é rotulado como um jogador que simula faltas
com frequência, o famoso “cai-cai”. Em sua defesa o atleta chegou a dizer que as
simulações eram, em vários momentos, um mecanismo de defesa, pois seu porte
físico poderia levá-lo a sofrer uma contusão verdadeira em jogadas mais ríspidas146.
Após a transferência para o futebol europeu, ao encerramento da Copa das
Confederações, o atacante continuou a ser criticado pela atitude. Jogando o
campeonato espanhol e a Liga dos Campeões pelo Barcelona, Neymar foi apontado
como simulador de faltas por treinadores de times adversários como Valladolid, da
Espanha, Chelsea, da Inglaterra 147 e Celtic, da Escócia 148 . Na Europa, onde a
visibilidade sobre os fatos que cercam o futebol é maior, o vice-presidente da Fifa
Jim Boyce condenou em outubro de 2012 o jogador uruguaio Luis Suárez, do
Liverpool, da Inglaterra, por tentar simular um pênalti em uma partida do
campeonato inglês. Para Boyce, as simulações são tentativas de trapaça que têm se
tornado um câncer no futebol149.
Assim como foi ao fim da Copa das Confederações 2013 (média de seis por jogo) 150,
na temporada 2013/2014 do campeonato espanhol Neymar tem sido o jogador que
mais sofre faltas (média de 4,4 por jogo)151. Na competição entre seleções o camisa
dez brasileiro também foi o segundo que mais faltas cometeu (média de 3,6 por
jogo). No jogo contra a Itália se envolveu em um lance com o lateral-direito Abate em
que o adversário saiu contundido após chocar-se contra o gramado. Era a terceira
falta de Neymar aos 29 minutos do primeiro tempo. Ele recebeu cartão amarelo.
Para Mauro Cezar Pereira o afobamento do jovem atacante nas jogadas pode ser
uma explicação para o perfil faltoso.
http://www.lancenet.com.br/minuto/Fifa-simulacao-tornando-cancer-futebol_0_789521097.html.
Acesso em: 5 nov. 2013.
150 Disponível em:
[...] Neymar [é] um jogador que até pela necessidade de participar mais do
jogo, de marcar, às vezes passa um pouco do ponto, faz algumas faltas
mais duras. [...] Quem saiu do jogo foi o Abate numa falta do Neymar. Se
acontece o contrário, é um Deus nos acuda. Mas eu acho que tem um
ponto positivo aí, que é o Neymar tentar participar mais do jogo, como um
jogador que tem que brigar pela recuperação da posse de bola. Ainda tem
gente que compara às vezes Neymar com Robinho, o que eu acho um
absurdo. Mas o Robinho, entre virtudes e defeitos, sempre teve uma
virtude: é um bom ladrão de bola. Sempre foi um jogador que quando
recompõe o meio campo, vai lá e toma a bola, participa do jogo. O Neymar,
aprendendo a fazer bem isso, o que ainda não sabe – ficou claro hoje – vai
ficar ainda melhor, porque o talento sobra pra ele. (PEREIRA, Linha de
Passe, ESPN Brasil, 22 jun. 2013)
Outro destaque da partida, o artilheiro Fred, autor de dois dos quatro gols, transitava
pelo hotel de onde era realizada a transmissão a partir da cidade de Salvador e foi
convidado a participar de Linha de Passe ao lado de Juca Kfouri e Paulo Vinícius
Coelho. Fred respondeu a perguntas e, na maioria das respostas, chamou a atenção
o fato de o jogador mencionar o trabalho tático, técnico e motivacional realizado pelo
treinador Luiz Felipe Scolari junto à seleção. Embora os questionamentos não
indicassem um modelo de resposta pré-definido, Fred deixou transparecer em seu
discurso a vontade de fazer referências positivas a Felipão.
Não foi um jogo perfeito, nem perto disso, evidente. Nem acho que pode
haver este tipo de expectativa. Acho que não estamos aqui à espera do
jogo perfeito. Acho que vai uma distância muito grande entre o que esta
equipe sob o comando do Felipão pode apresentar e a perfeição ou algo
próximo disso, evidentemente. Mas acho que foi um bom jogo. (PEREIRA,
Linha de Passe, ESPN Brasil, 22 jun. 2013)
Em relação às faltas, vejo isso como uma coisa positiva. Porque desde a
entrada do Felipão na seleção brasileira, nos jogos anteriores, nos
amistosos, acabamos sofrendo gols em contra-ataque. E uma coisa que ele
pedia pra gente era pra parar a jogada. Não em uma jogada violenta, enfim,
mas aquelas jogadas para o time se armar de novo, se posicionar
taticamente, e eu acho que a gente vem obtendo sucesso em relação a
isso. (CÉSAR, 2013)154
Para Mauro Cezar Pereira, as faltas cometidas com intuito de parar jogadas
constituem uma estratégia antiga e manjada no futebol. De acordo com o
comentarista, não são poucos os técnicos que utilizam a tática – a maioria deles,
inclusive, dirigem equipes limitadas tecnicamente. O que chama a atenção, segundo
a análise de Pereira, é o contexto específico de o expediente ser empregado por um
treinador de seleção brasileira, que tem a prerrogativa de escolher para o seu time
os melhores jogadores do país. Fato que teoricamente lhe daria um elenco com
possibilidades de desenvolver um estilo de jogo que não necessitasse do uso de
infrações contra o adversário. Para fortalecer sua tese, o jornalista comparou a
média de faltas da seleção brasileira (22,3 por jogo) e da seleção espanhola, atual
campeã do mundo (10,6).
Eu fui buscar alguns números dos times recentes do Luiz Felipe Scolari e é
interessante: o time dele só anda quando faz muitas faltas. Por exemplo, no
campeonato brasileiro de 2011, o Palmeiras ficou em 11º, no meio da
tabela, foi o terceiro mais faltoso. Pro time que tinha, não dava pra arrumar
coisa melhor. No ano seguinte, o Palmeiras ficou em 11º no ranking das
faltas, quando ele saiu era essa a posição, e foi rebaixado à segunda
divisão – já estava na zona de rebaixamento quando ele saiu. Meses antes,
na Copa do Brasil, o Palmeiras foi disparado o time mais faltoso da
competição, e foi campeão. Ou seja, a falta para parar o jogo faz parte do
repertório do Luiz Felipe Scolari, isso não é nenhuma novidade, os times
dele são assim há muito tempo. Talvez, fazendo uma profunda pesquisa,
alguém vá encontrar um time aqui ou outro ali que fazia menos faltas. É
possível, mas a marca registrada dele é essa. É por essas e outras que eu
sou alguém que tem uma resistência muito grande com relação ao trabalho
do Felipão. Eu acho que são métodos antigos, é um repertório que não se
alterou com o passar do tempo – isso não tem nenhuma relação com idade,
porque o técnico Jupp Heynckes é três anos mais velho que ele e montou
um time muito moderno que ganhou tudo esse ano, que foi o Bayern de
Munique. (PEREIRA, Linha de Passe, ESPN Brasil, 24 jun. 2013)
A questão das faltas hoje tem um agravante, que é o fato de o time não
estar inteiramente ajustado. A Espanha marca no ataque e faz menos faltas
[...] À medida em que o time aprender a ocupar mais o espaço, a tomar
bola cercando, vai diminuir a quantidade de faltas. [...] De 2001 para 2002,
avançou aquele time de uma equipe que fazia mais faltas no começo, que
fazia menos faltas e tomava mais bolas no ataque no final, e que fez o gol
que abriu o caminho do título numa bola roubada no campo de ataque.
(PVC, Linha de Passe, ESPN Brasil, 24 jun. 2013)
116
Acho que esse jogo tem um valor para a montagem deste time para o
futuro. É um jogo que vai ser marco. Aliás, esta semana vai ser marcante.
Se o time se estruturar – mesmo que não – essa semana é marcante.
Ganhar da Itália de 4 a 2, ganhar do Uruguai um jogo que você jogou mal e
no qual o Uruguai teve méritos, marcou muito forte. O Uruguai é um time
muito bom. E depois pegar a Espanha, esta semana é muito importante
para a estruturação da equipe. (PVC, Linha de Passe, ESPN Brasil, 26 jun.
2013)
A partir de então o programa foi dedicado a explicações sobre o fato que envolveu o
protesto público de Luiz Felipe Scolari à prática jornalística da cobertura da seleção
feita pelo canal ESPN Brasil. O primeiro esclarecimento que se buscou fazer foi a
respeito da própria declaração, sobre o que exatamente tinha sido dito. Mauro Cezar
Pereira afirmou àquela altura não saber exatamente o teor das críticas, a não ser
pela matéria do portal Terra, cujo título informava “Irritado por faltas, Felipão ironiza
e diz que TV torce contra a seleção”158, que o jornalista citou no ar.
A publicação de Terra foi de fato uma das primeiras a relatarem o episódio ocorrido
durante a entrevista coletiva do técnico após o jogo contra a seleção uruguaia. A
notícia foi colocada online às 20h03, Scolari manifestou-se contra a ESPN Brasil às
18h52. No corpo da matéria, constam além das palavras utilizadas por Felipão em
seu discurso, a apuração da equipe do portal para afirmar que o treinador se referia
ao canal de TV por assinatura, uma vez que o técnico não fez referência nominal à
emissora.
Nada é jogar tão contra quanto dizer agora que está tudo ótimo, está tudo
lindo porque o Brasil tem quatro vitórias em quatro jogos na Copa das
José Trajano fez uso de uma definição atribuída ao jornalista, chargista e frasista
brasileiro Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e
molhados”, para enunciar, assim como Bertozzi, que o papel do jornalismo não era
jogar a favor de nenhuma parte envolvida nas apurações. Para Trajano, há um
problema no fato dos treinadores brasileiros em geral “confundirem seleção com
pátria”. Baseado em texto escrito pelo médico, colunista da Folha de São Paulo e
ex-jogador Tostão, o jornalista defendeu a liberdade de criticar que a atividade
profissional pressupõe. Segundo Tostão, o olhar de um comentarista de futebol não
deve ser o mesmo dos treinadores, buscando privilegiar o espetáculo e o jogo
limpo 161 . Mas, de acordo com Trajano, se a relação se der com um destes
treinadores que valorizam a ideia do “partido único”, não se pode chamar atenção
para nada que não seja a favor do trabalho daquela comissão técnica.
números para estar servindo à pátria [...] Esse é o tipo de pensamento que
me irrita, que eu não concordo. Então, nós vamos durante o programa
mostrar várias estatísticas, só para deleite do Felipão, para ele ficar mais
chateado ainda. Mas para o nosso fã do esporte tomar conhecimento das
estatísticas da Copa das Confederações. (TRAJANO, Linha de Passe,
ESPN Brasil, 26 jun. 2013)
162 As seleções campeãs de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 possuíam times que entraram para a
História não apenas pelas conquistas de Mundiais, também pelas qualidades individuais em suas
equipes. Neste sentido, a seleção de 1982 também está inclusa no livro do jornalista Milton Leite,
intitulado “As melhores seleções brasileiras de todos os tempos” (2010), mesmo não tendo
vencido a Copa do Mundo daquele ano. Com alguma frequência, personagens relacionados ao
futebol destacam uma destas equipes como a melhor seleção nacional já formada. Bobby Charlton
e Beckenbauer, jogadores europeus das décadas de 1960 e 1970, referem-se ao time do tri como
o melhor de todos os tempos (Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/poliesportiva/conteudo.phtml?id=1352351. Acesso em:
6 nov. 2013). Já o treinador Carlos Alberto Parreira, escolheu a equipe de 1958 (Disponível em:
http://esportes.terra.com.br/futebol/copa-2014/videos/parreira-cita-qual-foi-a-melhor-selecao-de-
todos-os-tempos,459273.html Acesso em: 6 nov. 2013).
123
time consistente, entrosado e que vem apresentando bom futebol. Nos últimos anos,
a equipe espanhola foi considerada pela imprensa mundial como vacilante. Antes da
Euro 2008 não havia conseguido engrenar um time que conquistasse títulos. Até
1990, o maior artilheiro da história da seleção espanhola era um atleta argentino,
Alfredo di Stéfano 163 , que marcou 23 gols em 31 jogos pela Fúria (alcunha da
seleção espanhola). Além disso, apesar de contar com bons jogadores na
atualidade, como Xavi, Iniesta, Casillas e Puyol, a seleção espanhola fracassou na
Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, quando era tida como uma das favoritas.
A derrota para a França na fase oitavas de final parece ter provocado mudanças no
ânimo da equipe, que conquistou duas das três competições oficiais subsequentes
que disputou (Eurocopa 2008, Copa das Confederações 2009 e Copa do Mundo
2010). Segundo matéria do portal UOL, após o primeiro título mundial da história da
seleção espanhola, a Fúria superou o trauma de “amarelar” nas decisões 164 . De
acordo com texto do portal Terra165, o título “foi a premiação para uma equipe de
toques rápidos e envolventes, com um belo entrosamento e que tem jogadores de
muito talento”. Desde a conquista que colocou a equipe espanhola no centro das
atenções do futebol internacional, foi assim que a seleção passou a ser conhecida.
Em entrevista ao site da Fifa166, o ex-jogador da seleção inglesa Gary Lineker, que
atuou nas décadas de 1980 e 1990, afirmou nunca ter visto uma seleção jogar como
a Fúria.
163 Di Stéfano defendeu três seleções nacionais em sua carreira, entre 1945 e 1966: da Argentina, da
Colômbia e da Espanha. Nesta última, obteve mais sucesso. O jogador era famoso naquele país
por ser ídolo do Real Madrid. Desde 2000, ocupa o cargo simbólico de presidente de honra do
clube espanhol. (Disponível em: http://pt.fifa.com/classicfootball/players/player=174499/index.html.
Acesso em: 6 nov. 2013).
164 Disponível em: http://copadomundo.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/07/11/campea-da-
europa-e-do-mundo-espanha-fecha-ciclo-com-87-de-aproveitamento.jhtm Acesso em: 6 nov. 2013.
165 Disponível em: http://esportes.terra.com.br/futebol/copa-do-mundo/2010/espanha-vence-holanda-
na-prorrogacao-e-e-campea-pela-1-vez,fe7e9329da49a310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html.
Acesso em: 6 nov. 2013.
166 Disponível em: http://pt.fifa.com/worldfootball/news/newsid=1625004.html. Acesso em: 6 nov.
2013.
124
Era esta Espanha aclamada pela crítica que a seleção brasileira enfrentaria na final
da Copa das Confederações, em cumprimento ao favoritismo previsto no início da
competição. Dentro de campo, entretanto, o jogo não representou o embate de duas
grandes forças. A crônica de globoesporte.com 167 narrou que a seleção brasileira
impôs seu futebol e não permitiu que a rival, até então invicta há 29 partidas,
apresentasse sua renomada qualidade técnica. O placar final indicou 3 a 0 para os
brasileiros, a partir de então detentores de quatro títulos da Copa das
Confederações – o primeiro conquistado no Brasil. O fato de “jogar em casa”
proporcionou ao time brasileiro vantagens significativas em relação aos rivais. Entre
as principais podem ser apontadas a melhor adaptação às condições climáticas da
região e o apoio massivo da torcida, dentro e fora do estádio, reiterado pelos
comentaristas de Linha de Passe.
De acordo com o relato do jornalista Eduardo Tironi após a partida decisiva entre as
seleções brasileira e espanhola, em 30 de junho, o apoio popular não apenas foi
mantido como se intensificou no fim do torneio.
Estava um clima [na cidade do Rio de Janeiro] que nesta Copa das
Confederações não tinha acontecido ainda. Embora viesse crescendo – no
primeiro jogo tinha gente com camisa, no amistoso contra a Inglaterra já
teve – mas hoje era um clima diferente, especial. [...] Em que pese todas
essas questões fora de campo, CBF, Fifa, os gastos da Copa, parece que a
própria história do esporte no Brasil e no mundo, como relatado ao longo desta monografia.
(Disponível em: http://esportes.terra.com.br/futebol/copa-das-confederacoes/ficou-comprovado-
que-futebol-e-politica-nao-se-misturam-diz-
parreira,c7cb843c2726f310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html. Acesso em: 7 nov. 2013).
125
torcida deixou isso de fora e falou: ‘Essa seleção, esses caras aqui que
estão jogando e essa camisa amarela a gente gosta’. E parece que houve
uma retomada desse amor. (TIRONI, Linha de Passe, ESPN Brasil, 30 jun.
2013)
Juca Kfouri, presente ao estádio na final – mesmo sendo aconselhado por familiares
a não comparecer, por conta de seu recente incidente clínico – demonstrou
encantamento diante da exibição brasileira como um todo, tanto por parte dos
atletas da seleção quanto dos torcedores. O jornalista ressaltou os gritos da torcida
aclamando o time campeão e o fato de a seleção brasileira ter sido protagonista no
“espetáculo de futebol em um Maracanã de encher os olhos”. O óbvio e esperado,
segundo Kfouri, era de que tal papel fosse desempenhado pela seleção espanhola.
É preciso entender que tudo o que foi dito dos outros jogos não tem nada a
ver com o que vai ser falado a partir de agora neste programa, amanhã ou
durante a semana sobre este jogo. Porque o Brasil, de fato, desta vez jogou
muito bem. Isto é óbvio, é até chover no molhado. Antes o Brasil não vinha
jogando bem. Hoje aconteceu igualzinho na Copa América 2007: atuações
ruins, aos trancos e barrancos, uma semifinal contra o Uruguai nos pênaltis,
o Brasil quase foi eliminado, mas, quanto à Argentina, na final, estratégia
perfeita. O time [...] venceu aquele título de maneira inquestionável,
avassaladora. Hoje foi parecido, neste aspecto. [...] Uma grande atuação,
mas sempre com uma ressalva que não pode ser colocada de lado: Isso é
Copa das Confederações. O Brasil ganha a quarta, a terceira seguida. Que
importância tem isso em relação à Copa do Mundo? Muito pouco.
(PEREIRA, Linha de Passe, ESPN Brasil, 30 jun. 2013)
9 – Jornalismo-torcedor
172Diego Costa, 25, é um futebolista brasileiro, atacante do clube Atlético de Madrid, da Espanha. O
jogador nasceu na cidade de Lagarto, em Sergipe, mas vive na Europa desde os 17 anos, quando
foi atuar no Sporting de Braga, de Portugal. Passou por vários times até se destacar pelo
Valladolid, da Espanha, em 2009. Foi contratado pelo Atlético de Madri em 2010, mas se tornou
titular apenas no final da temporada de 2012, depois de passar um ano emprestado a outra equipe
espanhola. Diego possui dupla cidadania, a exemplo de outros nomes que passaram pela seleção
brasileira, como o ex-lateral Roberto Carlos e os meias Kaká e Ronaldinho Gaúcho. No entanto,
escolheu atuar pela Espanha por sentir-se valorizado no país onde conquistou seu crescimento
pessoal, profissional e financeiro, conforme alegou em vídeo divulgado oficialmente por seu clube.
(Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/esportes/copa-2014/noticia/2013/10/em-video-
diego-costa-explica-por-que-escolheu-espanha-aqui-me-sinto-valorizado-4317655.html. Acesso
em: 9 nov. 2013)
173 Disponível em: http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2013/10/felipao-
sobre-diego-costa-dando-costas-para-o-sonho-de-milhoes.html. Acesso em: 9 nov. 2013
129
É importante ressaltar que Diego é uma exceção entre tantos outros que “sonham”,
como sugeriu Felipão, defender a seleção do país em que nasceram. A atenção a se
ter no caso deve ser no sentido de que haja uma regulamentação da Fifa para que
não se torne comum e arbitrário o trânsito de jogadores estrangeiros em seleções
nacionais. Até lá a exceção não dita a regra. O que fica de impressão para grande
parte do público que assiste a estes desdobramentos não é nada além da reiteração
de uma conduta inapropriada por parte da Confederação e de seus personagens,
que confundem seleção nacional com Nação em um momento esportivo
essencialmente globalizado.
O jornalismo esportivo está envolvido nestes assuntos não somente quando reporta
os acontecimentos. Vez ou outra encontra-se no próprio cerne da questão, sendo o
responsável direto por elevar ou não este sentimento nacionalista exacerbado. Ainda
que a equipe envolvida não seja a seleção brasileira nem mesmo sejam os atletas
personagens centrais, há uma cultura equivocada existente no meio futebolístico de
que a imprensa tem de tomar partido nas pautas que aborda. Não tem. Sua atuação
é a própria ação de abordar, tornar público, fazer saber, transmitir. O caso a seguir
ilustra esta relação entre profissionais do futebol e da imprensa.
Três dias depois, em 8 de setembro de 2013, após novo jogo de seu time, desta vez
contra o Atlético Paranaense, pela 19ª rodada do Campeonato Brasileiro, Dorival
Junior utilizou os microfones da Rádio Tupi 178 para fazer um novo desabafo no
mesmo sentido:
177Disponível em:
http://www.lancenet.com.br/vasco/Dorival-criticar-calendario-CBF-respeitar_0_987501495.html
Acesso em: 9 nov. 2013.
178 Disponível em: http://www.supervasco.com/noticias/dorival-pede-mobilizacao-dos-clubes-para-
mudancas-no-calendario-do-futebol-1548.html. Acesso em: 9 nov. 2013.
131
[...] nem tudo está perdido. São imensas as chances que a Seleção possui
para reconstruir sua identidade e, talvez, nem seja uma missão tão
complicada. Basta que os jogadores retomem aquele futebol romântico,
coloquem novamente em campo o futebol-arte, que já encantou milhões de
torcedores, e demonstrem que sentem orgulho em vestir a camisa verde e
amarela para representar uma nação apaixonada por este esporte.
(PASCHOALINO, 2012, pp. 14, 15)
“Olha! Espere só um pouquinho, antes que tu fale (sic). Não é para ti, não é
para ti! Deixa só eu dizer. Posse de bola, gente, sessenta e cinco para o
Brasil, trinta e cinco para o Uruguai. Número de passes, quatrocentos e
vinte e cinco para o Brasil, duzentos e cinquenta para o Uruguai.
Finalizações, dezenove para o Brasil, dez para o Uruguai. Faltas. Faltas!
[aqui o treinador aproxima o microfone de sua boca] Tá? Vou falar aqui
bem, mais uma vez. Faltas! Inclusive para aquele canal que faz o Scout
que eu jogo só assim. Aqueles artistas! 14 do Brasil e 24 [aqui o treinador
aproxima o microfone de sua boca], viu? Do adversário. Porque eles
estão... Eu quero que vocês saibam que tem alguns, alguns... Uma
televisão que joga contra o Brasil. E que só induz o árbitro que o Neymar
faz isso. Ah, que o nosso time bate. Ah, que isso, que aquilo. Tá na hora de
canalizar esforços para o Brasil, não contra o Brasil. Ah, e desculpe,
desculpe Sílvio [jornalista que faria a pergunta]. Eu não tô voltando a ser
ignorante não, viu?” (SCOLARI, 2013).
De fato, Felipão não foi indelicado em seu tom de voz, diferentemente de outras
oportunidades em que, conforme sua confissão, “foi ignorante” no trato com a
imprensa. Demonstrava tranquilidade. Esta característica aliada às anotações que
consultou durante a explanação indicam a premeditação de sua manifestação.
Apesar disto, em nenhum momento o treinador que dirigiu dezenove times de
futebol, entre clubes e seleções, e também foi atleta profissional por quinze anos –
por isto lidando há tempos com a cobertura esportiva – parece ter ponderado sobre
os pressupostos fundamentais que regem a prática jornalística, como a divulgação
da informação precisa e correta como exercício de responsabilidade social e a
liberdade de imprensa184.
184 Incisos I e III do Artigo 2º, Capítulo I, do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. (Disponível
em: http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros..pdf.
Acesso em: 7 nov. 2013).
185 Disponível em: http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/06/29/daniel-alves-critica-
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, em seu Capítulo II, Artigo 6º, Inciso
VII, declara como dever profissional o combate ao controle da informação. Em
defesa desta obrigação, jornalistas da ESPN Brasil e de outros veículos,
manifestaram suas opiniões contra a declaração de Luiz Felipe Scolari. Sobre o
episódio, o jornalista João Paz, via texto publicado em Observatório da Imprensa186,
questionou se informar números exatos é sinônimo de torcer ou jogar contra, e se,
pela ótica de Felipão, seria melhor distorcer os fatos. Segundo Paz, o jornalismo
esportivo é naturalmente rodeado pelo dilema de torcer, mas o pensamento
equivocado e extremista transmitido ao público é prejudicial. Além disso, o autor
considera que “números são números e apresentá-los não classifica quem os faz
como contrário ou a favor”.
186Disponível em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed753_por_uma_midia_que_torce_ou_distorc
e. Acesso em: 8 nov. 2013.
136
A despeito destes fatos, a ESPN Brasil foi a única apontada publicamente por Luiz
Felipe Scolari como a “televisão que joga contra o Brasil”. Uma demonstração de
visão polarizada, de ataque gratuito e até inconsequente, na medida em que a crítica
pode comprometer a visão do público a respeito do canal. O alcance atingido por
uma entrevista coletiva de Felipão, reproduzida em diversos veículos de
comunicação, é superior à abrangência do trabalho diário produzido pela emissora
de TV por assinatura.
187 Luiz Felipe Scolari não se referenciou nominalmente à ESPN, mas a descrição do método de
apresentação de dados, característico da emissora, deixou claro o direcionamento. Além da
apuração do portal Terra que indicou a emissora como o alvo das críticas, segundo o jornalista
João Paz, “todos os presentes na sala de imprensa e os que acompanhavam atentamente o
noticiário esportivo, assimilaram prontamente quem o treinador atacava: a ESPN Brasil”.
138
Nas páginas seguintes está o capítulo final desta monografia, contendo conclusões
a respeito dos temas e episódios abrangidos pelo trabalho, bem como perspectivas
do autor acerca do potencial de aproveitamento do jornalismo esportivo como objeto
de estudo e pesquisa nas universidades ainda em um futuro breve.
139
10 – Conclusões
necessário em Portugal, pois um jornalismo que é antes de tudo torcedor, que “veste
a camisola” e joga junto sem disfarces já se opera ali. No Brasil é diferente, e por
mais que este perfil crítico pareça mau aos olhos de técnicos, jogadores ou
torcedores inflamados, ao jornalismo esportivo cai muito bem. Se os fatos mostram
algo que mereça louvor, deve ser louvado. Por ser o fato, não por uma emoção do
jornalista. Se revelam algo a ser criticado (para os jornalistas de Linha de Passe o
número de faltas era digno de crítica), deve ser criticado. Não por uma animosidade
prévia, mas por aquilo que o fato representa. Por meio da declaração de Felipão – e
depois de Daniel Alves – a imprensa esportiva brasileira foi incentivada a adotar uma
abordagem mais branda. Tanto melhor se não o fizer.
Tal atributo pode ser bem ou mal explorado pela imprensa esportiva brasileira, a
depender da imagem que a mesma mostrará ao mundo. Na Copa se unirão com
11 – Referências bibliográficas
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