Clínica Psicodinâmica Do Trabalho A Prática em Diversos Contextos de Trabalho PDF
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RESUMO
O objetivo deste estudo é apresentar práticas clínicas, em diversos contextos de trabalho,
realizadas recentemente de norte a sul do Brasil. A clínica psicodinâmica do trabalho
caracteriza-se pela análise dos processos psíquicos mobilizados pelo encontro entre o sujeito e
as imposições geradas pela organização do trabalho. São apresentadas cinco práticas clínicas
desenvolvidas nos Laboratórios de Psicodinâmica do Trabalho da Universidade de Brasília e
da Universidade Federal do Amazonas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. São
práticas que sistematizam a metodologia em clínica do trabalho, apresentando especificidades
e singularidades, a depender da realidade sociocultural e institucional de cada categoria
estudada. As experiências relatadas evidenciam a diversidade de demandas e a importância da
escuta clínica do sofrimento no trabalho. Os relatos evidenciam que a distância entre o
prescrito e o real, que desencadeia o sofrimento, também está presente no fazer dos
pesquisadores, demandando mobilização e criação de alternativas adequadas a cada realidade.
Ainda, indica como perspectiva para futuros estudos, a necessidade de articular outros campos
que contribuam para aprofundar o uso dos dispositivos de escuta. Apresenta-se como um
referencial potente para essa referência a psicanálise. Essa articulação contribui para uma
escuta analítica do sofrimento e sustenta uma proposta de construção de uma Clínica Analítica
do Trabalho.
ABSTRACT
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DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 1, n. 1, p. 74-92, jul/dez. 2014.
This study aims to present clinical practice under various work contexts, recently held from
North to South of Brazil. The psychodynamic clinic of labour is characterized by the analysis
of mental processes mobilized by the meeting between the subject and the impositions
generated by the work organization five clinical practices are presented that are developed in
laboratories of labor psychodynamics at the University of Brasilia (DF), Federal University of
Amazonas and Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil. These practices provide a
systematic methodology in labour clinic resulting in unique practices depending on the
sociocultural and institutional reality of each studied category. The reported experiences show
the demand diversity and the importance of the clinic listening of work suffering. The reports
show that the distance between the prescribed and the true rules which triggers the suffering is
also the researchers' tasks, requiring mobilization and creation of suitable alternatives in each
reality. It also indicates the need for future studies to articulate other fields that contribute to
deepen the use of listening devices. It seems a powerful reference for psychoanalysis. This
articulation contributes to suffering's analytical listening and supports a construction proposal
of an Analytical Clinic of Labour.
INTRODUÇÃO
As Clínicas do Trabalho formam um conjunto de abordagens teórico-metodológicas
que têm como foco de estudo a relação entre trabalho e subjetividade. Em sua diversidade
epistemológica, teórica e metodológica, as Clínicas do Trabalho têm um objeto comum: a
situação de trabalho, com sujeito de um lado e trabalho e ambiente do outro (Bendassoli e
Soboll, 2011).
Para esses autores, as Clínicas do Trabalho se aproximam de uma clínica social, uma
vez que têm a realidade vivenciada pelos sujeitos como foco de pesquisa e intervenção,
contemplando as vivências de sofrimento ancoradas nas experiências objetivas e subjetivas do
trabalho. Porém, não devem ser confundidas com a clínica do sujeito, cuja ênfase está nos
conflitos individuais.
Dentre as teorias que enfocam a subjetividade no trabalho, quatro abordagens clínicas
estão sistematizadas: a Psicodinâmica do Trabalho, a Clínica da Atividade, a Psicossociologia
e a Ergologia (Bendassoli e Soboll, 2011). O foco aqui será na Clínica Psicodinâmica do
Trabalho, que é um modo de desvelar as mediações que ocorrem entre o sujeito e o real do
trabalho. A tradução deste real se dá pela escuta do “clínico” sobre a fala do trabalhador e,
deste modo, pode-se dar visibilidade às situações de trabalho, às vivências dos trabalhadores
no seu cotidiano. Por ser uma clínica, a palavra, enquanto linguagem e forma de
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comunicação, é essencial para que o trabalho seja entendido, percebido e ressignificado pelo
sujeito (Mendes e Araujo, 2012).
A abordagem da Psicodinâmica do Trabalho foi desenvolvida por Christophe Dejours,
na França, a partir dos anos 80. A publicação de seu livro “A loucura do trabalho”, em 1987,
foi um marco para que a Psicodinâmica do Trabalho ganhasse espaço no Brasil. A
Universidade de Brasília - UnB desponta com as primeiras pesquisas ancoradas nesse aporte
teórico-metodológico nos anos 90, tendo a primeira dissertação de mestrado defendida em
1994, seguida da primeira tese de doutorado em 1999.
As relações dinâmicas entre a organização do trabalho e os processos de subjetivação
– modos de pensar, sentir e agir dos trabalhadores, tanto individualmente quanto
coletivamente – são os objetos de estudo dessa abordagem. Além disso, busca-se
compreender como esse vínculo com o trabalho se manifesta nas vivências de prazer e
sofrimento, nas estratégias de ação para mediar as contradições encontradas na organização
do trabalho, nas patologias sociais, na saúde e no adoecimento. Trata-se, portanto, de uma
abordagem que estuda as relações entre saúde mental e trabalho, assim como de uma
metodologia que une pesquisa e intervenção. Caracteriza-se ainda pela análise dos processos
psíquicos mobilizados pelo encontro entre o sujeito e a organização do trabalho (Mendes,
2007; Molinier, 2008).
A Psicodinâmica do Trabalho constitui aporte teórico para pesquisas, mas pode
também ser uma ação, uma prática, uma Clínica Psicodinâmica do Trabalho, denominada
por Dejours, no início dos anos 1990, como Clínica do Trabalho e da Ação. Os primeiros
escritos desta Clínica chegaram ao Brasil, em 2004, na publicação de Lancman e Sznelwar.
Busca-se, com a Clínica Psicodinâmica do Trabalho, identificar as estratégias de
mobilização subjetiva, que se caracterizam pelos modos de pensar, sentir e agir individual e
coletivo dos trabalhadores e se fundamentam na inteligência prática, na cooperação e no
espaço público de discussão (Dejours, 2012). Tem como função emancipar o sujeito,
ressignificar o sofrimento e transformar a organização do trabalho em fonte de prazer e de
saúde (Dejours e Molinier, 2011; Mendes e Araujo, 2012).
Destaca-se que existem diferenças estruturais entre o mundo do trabalho da França,
berço da Psicodinâmica do Trabalho, e do Brasil, onde essa abordagem tem grande
repercussão. Atualmente, os Laboratórios de Psicodinâmica do Trabalho da Universidade de
Brasília, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal do
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ser apresentada aqui é uma interface de aplicação da Clínica do Trabalho, que está sendo
realizada por meio do Programa de Atenção e Valorização do Servidor – PROSER, com os
servidores de diversas secretarias de estado do Rio Grande do Sul. Nesse contexto, apresenta-
se, a seguir, as práticas clínicas desenvolvidas em Palmas-TO, Brasília-DF, Manaus-AM e
Porto Alegre-RS.
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2.2 Clínica psicodinâmica do trabalho com servidores de uma escola pública de trânsito
Este estudo foi realizado com os servidores de uma Escola Pública de Trânsito de
Brasília-DF, cuja principal atividade é o atendimento ao público. O objetivo foi compreender
a Psicodinâmica do Trabalho dos profissionais que atuam com educação de trânsito e
investigar as ações utilizadas por eles para lidar com a organização do trabalho, assim como a
mobilização para se engajar no trabalho.
O método utilizado foi a clínica Psicodinâmica do Trabalho, que se baseia na
construção de um espaço de discussão, com sessões coletivas com os trabalhadores.
Objetivou-se, com essa clínica, dar liberdade de expressão aos trabalhadores para que
falassem sobre o seu trabalho.
A clínica seguiu as condições e procedimentos propostos por Mendes e Araujo (2012).
Foram feitas sete sessões, que tiveram a duração de uma hora e meia, no local de trabalho dos
servidores. Os encontros aconteceram por um período de três meses com dez servidoras.
Os resultados foram organizados de acordo com a organização do trabalho, a
mobilização subjetiva, o sofrimento, as defesas e as patologias. Além disso, analisou-se o
coletivo de trabalhadores e a presença dos gestores no espaço de discussão.
Em relação à organização do trabalho, observou-se que o servidor aprende com a
prática. À medida que as situações vão surgindo, os servidores antigos vão ensinando os mais
novos. Devido a isso, a pessoa que tem mais conhecimento é mais consultada e acaba
assumindo o papel de líder.
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No atendimento, o servidor precisa dar uma resposta imediata, pois o usuário quer sair
com seu problema resolvido. O servidor deve saber lidar com a frustração de não conseguir
ajudar o outro, com os erros e com as artimanhas dos usuários. Deve ter paciência com as
pessoas que têm dificuldade de entender as informações dadas e ter boa capacidade de
atenção e concentração.
Durante o dia, há momentos em que a demanda é maior e em outros, menor. Alguns
procedimentos são mais fáceis e outros mais demorados. Além disso, as servidoras
desenvolvem muitas atividades ao mesmo tempo, como atender o usuário pessoalmente e dar
informação por telefone. Esse duplo papel de atender e lançar os dados no sistema faz com
que as servidoras errem. Por isso dividem as tarefas entre si: uma atende e outra lança os
dados no sistema. Fazem revezamento entre as funções, para que todas dominem as
atividades.
No que se refere à mobilização subjetiva, percebe-se que a relação das servidoras com
os usuários ocorre de forma conflituosa e de forma harmônica. Busca-se ajudar o usuário,
fazendo além das obrigações, o que ajuda a inibir o comportamento agressivo dele.
As servidoras têm liberdade para desenvolver suas habilidades e deixar sua marca
pessoal no que fazem. Podem utilizar a sensibilidade e a inteligência para transformar o
trabalho e a organização. Há cooperação pelo vínculo de amizade e pelo profissionalismo. A
boa convivência com as colegas gera satisfação, companheirismo e comprometimento.
As servidoras têm autonomia para decidir como proceder em relação aos usuários e
procuram não sobrecarregar os gestores sem necessidade. Para acalmá-los e satisfazer o
desejo deles de falar com a chefe, sem incomodá-la, as servidoras se passam por chefe. “Já
impõe respeito”. “Qualquer um que chega ali e fica em pé, eles acham que é chefe”.
Quanto ao sofrimento, às defesas e às patologias, nota-se que as servidoras são
atingidas pelos constrangimentos que sofrem no trabalho e que influenciam a vida pessoal. As
servidoras ficam chateadas com aborrecimentos no trabalho.
Consideram que há sofrimento nas seguintes situações: para aprender a tarefa; no
“retrabalho”, ou seja, ter que ficar refazendo os projetos; nos empecilhos e imprevistos que
impedem a conclusão das tarefas; em não ter o domínio de todas as etapas de execução do
trabalho e na relação com os usuários. Além disso, o servidor não pode chegar atrasado e tem
dificuldade de sair de seu posto de trabalho porque o usuário quer ser atendido e reclama.
Diante do sofrimento, as servidoras desenvolvem estratégias de defesa. A
racionalidade é constantemente usada para se analisar as condições de trabalho. As servidoras
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oportunidade de estreitar o diálogo. Essa devolutiva foi marcada pelo estranhamento do gestor
em relação à vivência de sofrimento dos trabalhadores pela falta de prescrição do trabalho.
Destaca-se o paradoxo da autonomia, visto pelos trabalhadores tanto como desencadeador de
sofrimento como mobilizador de prazer e que, para eles, tinha estreita relação com a falta de
prescrição do trabalho.
Um desdobramento dessa clínica favoreceu o estabelecimento de reuniões mensais,
denominadas de clínica de monitoramento, que se estenderam por mais três meses. O coletivo
de pesquisadores atuou como mediador nas relações socioprofissionais, que foram vistas
como outro importante desencadeador de sofrimento. Esse tema foi abordado durante as
sessões da clínica da cooperação (Mendes e Araujo, 2012).
O real da clínica se revelou pela desistência de duas trabalhadoras, pela ausência de
uma trabalhadora pelo período de um mês e por uma greve dos trabalhadores das
universidades federais.
Apesar de tais dificuldades, o coletivo de trabalhadores conseguiu perlaborar,
avançando na elaboração de um sofrimento criativo e construindo estratégias de
enfrentamento, que indicam que esse coletivo estava caminhando para a ressignificação do
sofrimento. Observou-se, nesse coletivo, um movimento para dar corpo à Mobilização
Subjetiva. Apesar desses ganhos, o coletivo de trabalhadores se mostrou resignado e negava o
sofrimento, o que impossibilitou maior aprofundamento na construção de estratégias de
enfrentamento.
O relato apresenta o recorte de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo
compreender as vivências de prazer-sofrimento de professores que atuam com educação
inclusiva, em Manaus, a partir da análise dos processos psicodinâmicos do trabalhar. O campo
empírico foi o Complexo de Educação Especial em Manaus. O presente estudo focaliza a
organização do trabalho e seus desdobramentos.
O aporte teórico utilizado foi o da Psicodinâmica do trabalho. A metodologia recorreu
à escuta clínica do trabalho, realizada em reuniões grupais, caracterizadas como oficinas,
inspiradas nos pressupostos da psicodinâmica, recorrendo secundariamente às técnicas do
grupo operativo (Martins, 2009).
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Este relato parte de uma experiência desenvolvida junto as Clínicas descritas como do
Trabalho, vivenciadas desde 2002 através do Programa de Atenção e Valorização do Servidor
– PROSER (decreto 48.898 de 06 de março de 2012), que tem a finalidade de coordenar e
integrar ações e programas nas áreas de assistência à saúde, promoção, prevenção e
acompanhamento a saúde física e mental dos servidores. É constituído por servidores clínicos
provenientes de diversas secretarias e Órgãos de estado do Rio Grande do Sul - Casa Civil,
Secretaria da Saúde, Educação, Segurança Pública, Administração e Recursos Humanos, de
Políticas para as Mulheres, da Fazenda, DETRAN, Instituto de Previdência do Estado; sendo
direcionado aos próprios servidores.
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Os prejuízos à saúde dos servidores são determinados por fatores multicausais em que
estão presentes fatores individuais, coletivos, sociais e institucionais. O crescente número de
afastamentos do trabalho denuncia o enfraquecimento das estratégias coletivas, sendo que
nesta lacuna estão surgindo basicamente as saídas individuais diante do sofrimento, gerando
assim maior adoecimento e medicalização.
A metodologia das Clínicas do Trabalho, dentre elas a da Psicodinâmica do Trabalho,
se apresentam como possibilidade de pensar para além dos sintomas e do âmbito do
indivíduo, desmistificando algumas máximas institucionais que contribuem na perda do
sentido do trabalho para o trabalhador levando ao desengajamento afetivo necessário a
mudanças na organização do trabalho.
Para que o programa se sustentasse internamente foi necessário respeitar
especificidades de diferentes secretarias que compõe o programa, uma vez que, evidenciam-se
diferentes processos de trabalho, mas regidos por uma mesma forma de organização. Assim
foi necessário compor, com diversas nuances da Clínica do Trabalho, a adaptação de acordo
com a realidade de cada núcleo respeitando singularidades e diretrizes. Em alguns casos,
acoplaram-se a serviços já existentes e em outros, criaram-se novos.
Diante desta diversidade seria fundamental aprender a trabalhar em coletivo e para
isso seria necessário a criação e manutenção de vínculos mais solidários entre os participantes
que possibilitassem realizar esta experiência. Foram feitas duas vivências de imersão em que
foram trabalhados vínculo e confiança entre os participantes do programa. Depois disso, o
grupo adquiriu uma maturidade que possibilitou a criação de diversos grupos de trabalho
temáticos. Esses grupos trabalham de forma complementar em que os resultados são
compartilhados com todos participantes do grupo estendido.
Percebeu-se que só depois da estruturação do coletivo de trabalho foi possível uma
melhor compreensão da sua importância como elemento estrutural para a saúde mental dos
servidores atendidos. Essa etapa durou aproximadamente um ano e meio e foi estratégica para
o avanço do Programa, caracterizando-se como um processo contínuo.
Depois de experienciar as próprias fragilidades e limitações foi possível realizar
supervisões entre o próprio grupo de coordenadores de núcleos, reforçando a prática da escuta
e da construção de saúde, desviando de algumas capturas institucionais, o que tem sido um
grande aprendizado a todos.
Após a consolidação interna, conquistou-se a representação de cinco participantes do
PROSER na Conferência Macrorregional de Saúde do Trabalhador de Porto Alegre e ainda, a
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fala funciona como catarse. A escuta dos clínicos-pesquisadores, nesse momento, é vital,
jamais será neutra, mas sempre “arriscada” (Martins e Mendes, 2012, p. 175).
Os relatos apontam para a cooperação como um dos caminhos privilegiados para
resistir à dominação e investir na busca de emancipação no trabalho. Toda cooperação para
regular a organização prescrita de trabalho contém uma dimensão emancipatória, pois os
trabalhadores podem mudar o que foi proposto pela hierarquia.
Assim, a clínica psicodinâmica do trabalho tem funcionado, antes de tudo, como
recuperação dos laços de cooperação, fortemente esfacelados pela precarização do trabalho.
Nas sete práticas aqui relatadas, houve um retomar da cooperação, do reconhecimento, da
confiança, da solidariedade. Dependendo do coletivo de trabalhadores e da organização do
trabalho, esse retomar foi superficial, outras vezes mais profundo. Chama a atenção a
fragilidade dos laços de cooperação atualmente vigentes no mundo do trabalho e que
necessitam ser retroalimentados incessantemente!
As organizações do trabalho, por mais que sejam aparentemente rígidas, se
movimentam, se transformam porque são feitas por pessoas (Dejours, 2011; Moraes, 2011).
Por isso, considera-se que a clínica tem propiciado transformações quando abre espaço para a
fala dos trabalhadores e a escuta feita tanto pelo pesquisador-clínico (ou clínico-pesquisador)
como pelos demais trabalhadores participantes da clínica.
O resgate da cooperação se mostra como um caminho para a reorganização do
trabalho, haja vista a distância entre o prescrito e o real. Nesse sentido, o trabalho também
apresenta o potencial de atuar como mediador da emancipação. A Clínica Psicodinâmica do
Trabalho oferece espaço interno de fala e escuta qualificada, que permite repensar a
organização de trabalho e propor mudanças.
A dimensão política da clínica do trabalho fica mais evidente a partir do espaço de
deliberação, que promove a emancipação. Valorizar a experiência, a partir da fala do real do
trabalho, refaz o caminho da conscientização. A análise das situações de trabalho favorece a
renovação da capacidade de pensar e para o agir coletivo, que é uma via para a emancipação
do sujeito no trabalho. Essa emancipação do trabalhador é o propósito central da clínica do
trabalho, para o qual as diferentes práticas clínicas aqui relatadas contribuíram, embora
algumas questões ainda reflitam os desafios enfrentados pelos clínicos do trabalho.
Um deles diz respeito aos dispositivos clínicos usados para escuta clínica do
sofrimento. Uma pergunta central orienta essas inquietações: como mobilizar os sujeitos para
a construção das deliberações? Todos os dispositivos usados nessas práticas são importantes
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para essa passagem, mas ainda não são suficientes. Uma dimensão que tem se mostrado muito
potente para mobilizar essa passagem é a transferência e a supervisão clínica. Desse modo,
propõe-se como agenda de pesquisa revisitar os dispositivos que vem sendo usados, levando
em consideração as contribuições da psicanálise, que referencia a proposta de uma clínica
analítica do trabalho, na qual são considerados como dispositivos a demanda, a transferência e
a interpretação. Essa proposta encontra-se delineada em Mendes, Moraes e Merlo (2014),
podendo constituir um ponto de partida para repensar as práticas em clínica do trabalho e
orientar futuras pesquisas.
REFERÊNCIAS
MARTINS, S. R. 2009. Clínica do trabalho. Coleção Clínica Psicanalítica. São Paulo: Casa
do Psicólogo. 195 p.
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