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Procrastinação Academica
Procrastinação Academica
Procrastinação Academica
DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO/UNICAMP
ROSEMARY PASSOS – CRB-8ª/5751
11-123/BFE
iv
Agradecimentos
Ao meu pai amado, obrigada por sintetizar a vida, por matar leões e dragões
comigo e, acima de tudo, obrigada por ser um sonhador! Ao meu querido Jones
obrigada pela paciência e por acreditar que a persistência é a melhor forma de
superar os obstáculos. E, não menos importante, agradeço a todas as pessoas
que inspiraram minha vida, presentes ou não, e que de um jeito ou de outro
colaboraram para que eu fosse agente de meu próprio destino.
v
Adiamento
(...)
(...)
(...)
Só depois de amanhã...
(...)
vi
RESUMO
A vida universitária é caracterizada por uma variedade de compromissos acadêmicos
que exigem a gestão de múltiplas atividades, objetivos complexos, sendo preciso lidar
com prazos delimitados, muitas vezes, simultâneos. Contudo, alguns estudantes
procrastinam tarefas acadêmicas e atividades de estudo com frequência. Esse
comportamento pode prejudicar o desempenho acadêmico e estar associado a uma
dificuldade no processo de autorregulação da aprendizagem dos estudantes. A
procrastinação acadêmica pode ser entendida como um fenômeno dinâmico, que
envolve aspectos pessoais, comportamentais e ambientais e se caracteriza pelo
adiamento não estratégico de ações. O presente estudo objetivou analisar a
percepção dos estudantes universitários a respeito da procrastinação acadêmica, bem
como investigar a natureza de sua relação com a autorregulação da aprendizagem e
variáveis de caracterização. Participaram deste estudo 663 universitários, com idades
entre 18 e 56 anos (M= 22,76; dp= 5,75), sendo que 459 (69,44%) eram do sexo
feminino. Os estudantes eram provenientes de oito Universidades, das cinco regiões
do Brasil, de diferentes cursos e semestres. Os materiais utilizados neste estudo
foram: o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a Escala de Procrastinação
Acadêmica e o Inventário de Autorregulação da Aprendizagem. Os dois instrumentos
eram respondidos por meio de uma escala tipo Likert, variando de nunca (1) a sempre
(5). Além disso, foi apresentada uma questão dissertativa que indagava sobre as
tarefas acadêmicas mais procrastinadas. O conjunto de resultados encontrados neste
estudo identificou uma correlação negativa e significante entre a procrastinação
acadêmica e a autorregulação da aprendizagem e entre a procrastinação acadêmica
e a idade dos estudantes. Também foram identificadas mudanças na procrastinação e
autorregulação da aprendizagem em função da faixa de idade dos participantes,
indicando que estudantes mais novos tendiam a procrastinar com mais frequência que
os mais velhos, do mesmo modo que estudantes mais velhos tinham maior
probabilidade de autorregular sua aprendizagem que os mais novos. Verificou-se
ainda alteração na procrastinação acadêmica e na autorregulação da aprendizagem
em função do período de estudo. Sendo que os universitários do período integral e
noturno relataram procrastinar com mais frequência que os estudantes de outros
períodos. Assim como, os universitários dos turnos matutino ou vespertino tendiam a
autorregular mais sua aprendizagem. Complementando esses dados, foi realizada
análise qualitativa sobre o relato das atividades acadêmicas mais adiadas pelos
universitários. Houve destaque para o adiamento de leituras, trabalhos e estudo para
prova. Também foram identificadas justificativas que sugerem que além do tipo de
atividade protelada é preciso investigar ainda as semelhanças e características das
tarefas e das disciplinas que as propõem. Estes resultados corroboram com
evidências de estudos internacionais que entendem a procrastinação acadêmica
como uma falha do processo de autorregulação da aprendizagem e oferece
sustentação para novos estudos sobre o tema.
vii
ABSTRACT
viii
LISTA DE TABELAS
Página
ix
Correlação entre Procrastinação Acadêmica, idade e horas de
Tabela 19: 87
trabalho
Descrição da frequência e porcentagem das tarefas acadêmicas
Tabela 20: 92
adiadas
Tabela 21: Descrição frequência e porcentagem do estudo adiado 94
Descrição da frequência e porcentagem das atividades
Tabela 22: 95
extracurriculares adiadas
x
LISTA DE ANEXOS
Página
ANEXO I 130
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – via participante
ANEXO II 131
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – via pesquisador
ANEXO IV 133
Escala de Procrastinação Acadêmica
Procrastinação Acadêmica: Questão Dissertativa
ANEXO V 134
Inventário de Processos de Autorregulação da Aprendizagem
xi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
EPA
— Escala de Procrastinação Acadêmica
xii
SUMÁRIO
Página
APRESENTAÇÃO................................................................................... 1
I. INTRODUÇÃO..................................................................................... 6
1. Procrastinação 6
1.1 Procrastinação Acadêmica 13
2. Autorregulação da Aprendizagem 36
3. A Procrastinação Acadêmica e a Autorregulação da
50
Aprendizagem
II. OBJETIVOS........................................................................................ 57
III. MÉTODO........................................................................................... 58
1. Participantes 59
2. Materiais de Coleta de Dados 65
3. Procedimento de Coleta de Dados 68
4. Procedimento de Análise de Dados 69
IV. RESULTADOS.................................................................................. 73
I. ESTUDO 73
REFERÊNCIAS....................................................................................... 120
ANEXOS................................................................................................. 130
xiii
APRESENTAÇÃO
5
INTRODUÇÃO
1. PROCRASTINAÇÃO
1
Preguiça (latim pigritia, -ae, lentidão, vagar) – propensão para não trabalhar, para não agir. Ócio
(s.m.) vagar; folga; repouso; preguiça; falta de trabalho (FERREIRA, 1995).
6
NÚÑEZ, PIENDA, 2006; ROSÁRIO, 2004b; KERBAUY, 1997). Logo, não há neste
adiamento interesses pré-estabelecidos, preferências e metas lógicas de natureza
material ou psicológica (STEEL, 2007; MILGRAM; MEY-TAL; LEVISON, 1998;
BURKA; YUEN, 1991).
O comportamento procrastinatório pode ocorrer em situações e em
contextos variados, podendo ocorrer com jovens ou adultos, profissionais
desempregados ou bem-sucedidos. Surge em ambientes diversos, como escola,
escritório, empresas ou em casa (BURKA; YUEN, 1991). A manifestação desse
fenômeno pode ser vista como uma disposição geral ou específica na vida dos
indivíduos. Algumas pessoas podem ter uma disposição comportamental para
procrastinar em diversos domínios de suas vidas, por exemplo, ao lidar com
questões de saúde (ver HAMASAKI; KERBAUY, 2001) e também frente a
questões profissionais. Entretanto, Burka e Yuen (1991) destacam que isso
raramente ocorre, sendo mais comum que as pessoas procrastinem diante de
situações específicas, como perante atividades que consideram difíceis,
desagradáveis, aversivas ou impostas, por exemplo (MILGRAM; MEY-TAL;
LEVISON, 1998; BURKA; YUEN, 1991).
De qualquer forma, independente da atividade ou da área da vida em que
se manifeste a procrastinação, quando vivenciada de maneira sistemática ou
crônica, segundo pesquisadores como Burka e Yuen, Ellis e Knaus, Ferrari,
Milgram, Rothblum, Solomon, Lay e Schouwenburg, que desenvolveram
conceituados estudos sobre o tema, a procrastinação é prejudicial ao
funcionamento intra ou interpessoal, podendo contribuir com possíveis
consequências graves e significantes, de ordem interna e/ou externa ao indivíduo
(BURKA; YUEN, 1991). Por exemplo, contribuindo com perdas financeiras, tensão
na relação com pais/familiares/cônjuge/amigos (FERRARI; OLIVETTE, 1994),
conflitos com chefe/colegas de trabalhos (LAY; BROKENSHIRE, 1997),
penalidades governamentais, como multas por impostos atrasados, problemas de
saúde, entre outros (BURKA; YUEN, 1991). E também, com prováveis prejuízos
internos, gerando estados emocionais desfavoráveis à adaptação do indivíduo
(FERRARI; TICE, 2000; FERRARI et al., 1998; FERRARI; BECK, 1998), como
irritações leves ou intensas, falta de concentração, pensamentos ruminantes,
7
autocondenações, autocríticas, depressão, desespero, entre outros (MILGRAM,
MEY-TAL; LEVISON, 1998; KERBAUY, 1997; BESWICK; ROTHBLUM; MANN,
1988).
No entanto, Burka e Yuen (1991), destacam que situações sem grande
relevância são adiadas a todo momento, assim como outras que precisam ser
proteladas em função de imprevistos, do gerenciamento do tempo ou de afazeres
que requerem atenção imediata. O fato é que em todas essas situações há um
atraso funcional, não havendo incômodos ou perturbações pelo fato de adiar.
Nesses casos, o adiamento faz parte de uma pequena extensão da vida do
indivíduo que, geralmente, não protela atividades que consideras importante.
Sendo que o comportamento de adiar pode ser considerado, nesses casos, como
parte de um gerenciamento de tempo, não acarretando consequências prejudiciais
ou significantes.
Apesar das possíveis consequências desfavoráveis, anteriormente
descritas, nem sempre se atribuiu à procrastinação um sentido negativo (STEEL,
2007). Há relatos sobre o procrastinar entre as civilizações egípcias e romanas
que não viam esse comportamento de maneira negativa e, sim como um
adiamento útil e sábio, sobretudo frente à tomada de grandes decisões (STEEL,
2007). Contudo, essa conotação negativa parece ter surgido no século XVIII, com
a propagação da revolução industrial, principalmente, em sociedades ocidentais
orientadas para a competição, para o sucesso e que vivem em função do tempo e
da produção (STEEL, 2007; ENUMO; KERBAUY, 1999; BESWICK; ROTHBLUM;
MANN, 1988). Nessas, o procrastinador passou a receber adjetivos e descrições
pouco lisonjeiras, sendo geralmente caracterizado como aquele que não tem
ambição, que é preguiçoso ou indolente (KERBAUY, 2001; 1997). As
características de certas sociedades e situações parecem contribuir para o
surgimento e a manutenção do comportamento de adiar (ENUMO; KERBAUY,
1999; BURKA; YUEN, 1991), principalmente aquelas que exigem do indivíduo um
desempenho perfeito e cobram sempre resultados de sucesso (BURKA; YUEN,
1991). Assim, o indivíduo se vê sempre confrontado com altos padrões de
desempenho divulgado em jornais, revistas, transmitidos em crenças culturais,
sendo, impossíveis de serem atingidos (BURKA; YUEN, 1991). Isso pode ser
8
observado em contextos escolares e acadêmicos que, por exemplo, proporcionam
constantes situações de competição e de avaliação competitiva (BZUNECK,
2009).
Milgram, Mey-Tal e Levison (1998) destacam diferentes tipos de
procrastinação, como a decisional/disfuncional — refere-se ao adiamento de
resoluções, tomada de decisões ou ações importantes, em diversas
circunstâncias da vida (relacionamentos amorosos, familiares, no trabalho)
(FERRARI; OLIVETTE, 1994; BURKA; YUEN, 1991); a procrastinação da vida
diária — trata de questões relacionadas com a dificuldade recorrente de organizar
e de planejar rotinas da vida, dentro de certo cronograma, trata de questões como
pontualidade, estabelecimento de prioridades, gestão de tempo de atividades
cotidianas (HAMASAKI; KERBAUY, 2001; MILGRAM, MEY-TAL, LEVISON, 1998;
KERBAUY, 1997; BURKA; YUEN, 1991); e a procrastinação acadêmica — refere-
se ao adiamento do estudo diário, da preparação para provas/avaliações e de
outras tarefas e demandas acadêmicas (BESWICK; ROTHBLUM; MANN, 1988;
ROTHBLUM; SOLOMON, MURAKAMI, 1986).
Segundo Van Eerde (2000), não há sustentação empírica nesse tipo de
categorização da procrastinação, assim, esse tipo de sistematização apenas
identifica a dimensão e o contexto no qual o tema será estudado. Desse modo, os
dois primeiros eixos descritos têm sido foco de investigação, principalmente, da
área da Psicologia clínica. Sendo que, geralmente, a procrastinação é associada
ao medo do fracasso/perfeccionismo, à baixa tolerância à frustração e à
dificuldade com o estabelecimento de prioridades e tomadas de decisão
(MILGRAM, MEY-TAL; LEVISON, 1998; BURKA; YUEN, 1991). Quanto à
procrastinação acadêmica, os estudos direcionam-se para investigação do hábito
de estudo e da execução de tarefas acadêmicas dentro do prazo estabelecido.
Tratam, ainda, de técnicas para o gerenciamento de recursos e do tempo para o
estudo (SCHOUWENBURG, 2004).
Há grande dificuldade em achar consenso ou integração entre os modelos
explicativos da procrastinação, que alegam, entre tantas, causas genéticas,
neurológicas, sociais, ambientais e psicológicas para tal fenômeno (STEEL, 2007).
Dentre os estudos científicos que pesquisam a procrastinação, destacam-se dois
9
posicionamentos teóricos principais, nos quais a procrastinação pode ser
compreendida como um traço ou como um comportamento (SCHOUWENBURG,
2004; MILGRAM, MEY-TAL; LEVISON, 1998). Logo, tal fenômeno pode ser
entendido como uma disposição comportamental, que se manifesta diante de
situações ambientais diversas (SCHOUWENBURG, 2004). Ou, ainda, como um
hábito generalizado ou traço da personalidade (FERRARI, 2004;
SCHOUWENBURG, 2004).
O traço da personalidade pode ser entendido como uma predisposição
para se responder de modo igual ou semelhante, a estímulos diferentes, portanto
trata de um padrão consistente de respostas em situações ambientais variadas
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). O traço de procrastinação é definido como uma
tendência para adiar aquilo que é preciso fazer para se atingir algum objetivo
(LAY; BROKENSHIRE, 1997). A maioria das pesquisas nessa linha associa o
traço de procrastinação ao modelo teórico dos Cinco Grandes Fatores ou Big Five,
que visa analisar a personalidade a partir de cinco fatores independentes, a saber:
(1) Extroversão-Introversão (Surgency ou Extraversion/Introversion); (2);
Socialização (Agreableness); (3) conscienciosidade/ escrupulosidade
(conscientiousness); (4) Neuroticismo/ Estabilidade emocional (Emotional
Stability); e (5) Intelecto ou Abertura a experiências (Intellect or Openness to
Experience) (STEEL, 2007; FERRARI, 2004; SCHOUWENBURG, 2004; STEEL,
BROTHEN; WAMBACH, 2001; LAY; BROKENSHIRE, 1997). Geralmente, o traço
de procrastinar é fortemente associado com baixos níveis de Consciência —
tendência para autodisciplina, persistência, regulação e controle — e, em menor
grau, com o Neuroticismo/ Estabilidade emocional — dificuldade com a regulação
emocional, tendência a experimentar emoções desadaptadoras como raiva,
ansiedade ou depressão, propensão maior a estresse e frustrações. Os demais
fatores apresentam uma relação de moderado a baixo (STEEL, 2007;
SCHOUWENBURG, 2004; VAN EERDE, 2004).
Dessa maneira, ao se referir à procrastinação como um traço, os teóricos
não consideram apenas o comportamento de adiar ou de evitar algo, mas também
de um conjunto específico de traços e de características pessoais, relativamente
estáveis, que levam o indivíduo a procrastinar em diversos contextos. As
10
correlações obtidas entre a procrastinação e os fatores da Big Five indicam
algumas características para o traço de procrastinar, tais como: comportamento de
adiar, baixa consciência e neuroticismo, estado de ansiedade, baixo impulso para
controle, falta de persistência, inabilidade para trabalhar metodicamente, falta de
disciplina para o trabalho, deficiência na gestão de tempo e falta de autocontrole
(STEEL, 2007; FERRARI, 2004; SCHOUWENBURG, 2004; VAN EERDE, 2004).
Contudo, para Schouwenburg (2004), nem sempre estudantes que reportam forte
comportamento dilatório possuem traço de procrastinação, assim como
estudantes que exibem esse traço nem sempre apresentam o comportamento de
adiar. Para este autor há dúvidas se o comportamento de adiar pode ser explicado
apenas como a expressão do traço de procrastinação no contexto acadêmico.
Uma visão alternativa enfatiza que a procrastinação pode ser o resultado
de influências menos estáveis, determinadas por situações ambientais. Nessa
perspectiva a procrastinação seria compreendida como um comportamento, que
se manifesta no “espaço” entre a intenção de realizar algo e a ação em si. A maior
parte dos instrumentos e dos métodos de intervenção que visam a identificar e a
atuar sobre a procrastinação focam na manifestação do comportamento de adiar
ou de atrasar a realização de tarefas, compromissos ou decisões
(SCHOUWENBURG, 2004). Sendo, normalmente, investigados fatores
contextuais que contribuem com a procrastinação, como, por exemplo, dificuldade
ou aversão à tarefa e características da atividade em si (WOLTERS, 2003;
FERRARI; TICE, 2000; SOLOMON; ROTHBLUM, 1984), geralmente, as
abordagens behavioristas desenvolvem esses estudos.
Desse modo, a procrastinação seria um tipo de resposta comportamental
de evitação, que se manifesta frente a atividades consideradas desagradáveis,
entediantes ou difíceis (STELL, 2007; SCHOUWENBURG, 2004; KERBAUY,
1997). Nesse ponto de vista, o indivíduo procrastinaria mais ao perceber uma
tarefa como sendo punitiva, aversiva, ou ainda, por não ser suficientemente
recompensadora (KERBAUY, 1997). Dessa maneira, as atividades executadas no
lugar da protelada, tendem a ser mais agradáveis e a oferecerem reforços
imediatos. O tempo estabelecido para as recompensas ou punições é tido como
determinante para instalação do comportamento, pois quanto mais distante
11
temporalmente o indivíduo está de obter a recompensa/punição da ação a ser
executada, menor será o impacto sobre as decisões e os comportamentos do
presente (STELL, 2007; KERBAUY, 2001, 1997; ENUMO; KERBAUY, 1999).
Como exposto, um comportamento nunca ocorre de maneira isolada.
Porém, além de aspectos ambientais e comportamentais, é preciso considerar
aspectos pessoais envolvidos, como a cognição e a afetividade (BANDURA,
2008). A manifestação de um comportamento vai além das contingências
ambientais e envolve um repertório pessoal, constituído por conjunto de
experiências, de valores morais, de percepções, de crenças e expectativas, entre
outros. Na perceptiva da Teoria Social Cognitiva (TSC), toda situação deve ser
analisada como um processo interconectado que é determinado reciprocamente
por influências ambientais, por fatores pessoais e pelo comportamento
(BANDURA, 2008). Desse modo, a procrastinação pode ser compreendida como
um comportamento dinâmico que se altera ao longo do tempo, dependendo da
interação entre o indivíduo, a tarefa e o contexto vivido (MONTEIRO, 2009;
COSTA, 2007). Esta é a perspectiva que o presente estudo adota.
Diante dessas informações, e tendo em vista que a procrastinação é uma
fonte de estresse pessoal, frequentemente associada a desconfortos emocionais e
a desajustes comportamentais (FERRARI, 2004), faz-se necessário o
aprofundamento sobre a temática. Apesar deste fenômeno ser possível em
diversos contextos, o presente estudo enfoca a procrastinação do estudante do
ensino superior. Identifica-se que a produção científica sobre o estudante do
ensino superior não tem acompanhado o aumento significativo da população
universitária. Por isso, faz-se importante investigar as características desses
estudantes, tendo em vista a otimização de seu processo de aprendizagem, por
exemplo.
A procrastinação tem sido destacada como um fenômeno relativamente
comum entre os estudantes (SCHOUWENBURG, 2004). Considerando que a vida
acadêmica do universitário é marcada pelo cumprimento de prazos de diferentes
tarefas acadêmicas e que a não realização ou o atraso destas pode prejudicar a
vida acadêmica do estudante, este estudo se faz pertinente. Além disso, destaca-
se que procrastinadores têm dificuldade em focar em seu comportamento no
12
estudo e resistir a distratores, sendo mais propensos a substituir a execução de
tarefas acadêmicas por alternativas mais atrativas e que oferecem retorno
imediato, como ocorre com o uso de redes sociais da internet (por exemplo,
facebook, twitter, MSN), com dispositivos eletrônicos (como Ipods e Iphones) ou
ao assistir à televisão, ao encontrar amigos, participar de eventos sociais do
campus, entre outros (KLASSEN; KUZUCU, 2009; KLASSEN, KRAWCHUK;
RAJANI, 2008). Destaca-se também que a procrastinação acadêmica pode
colaborar com o processamento superficial das informações e com um
desempenho acadêmico abaixo do esperado, portanto, justificam-se as
investigações que buscam ampliar o conhecimento sobre a natureza da
procrastinação acadêmica na população estudantil do ensino superior.
A seguir, apresenta-se a definição da procrastinação acadêmica e as
principais investigações que buscam por prováveis causas, relações e possíveis
consequências da manifestação da procrastinação no contexto acadêmico.
13
procrastinação entre estudantes estadunidenses é 20% a 70%. Com base em
estudos norteamericanos realizados na última década, segundo o autor, é possível
apresentar uma curva quase normal desse comportamento (M = 58,82;
Dp = 10,30; intervalo = 20-100; n=2.088 estudantes universitários). O que significa
que quase todo estudante procrastina em alguma extensão, embora não seja
possível precisar qual a porcentagem desses estudantes pode ser considerada
problemática (SCHOUNWENBURG, 2004).
Embora haja suposição de que, ao menos uma vez na vida os estudantes
irão procrastinar (STEEL, 2007; SCHOUWENBURG, 2004; KACHGAL, HANSEN;
NUTTER, 2001), o interesse pelo tema e os estudo empíricos são relativamente
recentes, tendo iniciado apenas na década de 80 (SCHOUWENBURG, 2004). Por
se tratar de uma área em construção, ainda é possível encontrar na literatura
estudos atuais que versam sobre a natureza da procrastinação, com
interpretações e definições diversas (STEEL, 2007; SCHOUWENBURG, 2004). Ao
que tudo indica, as pesquisas internacionais sobre a procrastinação acadêmica
tiveram um considerável aumento na última década.
De acordo com busca realizada na base internacional Education
Resources Information Center (ERIC), em agosto de 2009 e atualizada em maio
de 2011, utilizando-se o descritor “procrastination”, no campo títulos, encontram-se
64 materiais, publicados entre os períodos de 1973 a 2011. Sendo que de 1973 a
1989, foram 18; de 1990 a 1999, foram 14; 2000 a 2010 foram 29 e, em 2011,
foram três materiais publicados entre janeiro e fevereiro. Em nova busca,
restringiu-se a palavra-chave para “academic procrastination”, no campo títulos. A
busca obteve 24 referências, sendo que o período de publicação iniciou em 1984
(n=1); aumentou na década de 1990-2000 (n=11) e continuou apresentando um
volume crescente nos anos de 2001-2011 (n=12). Destas, a maioria tratava de
pesquisas realizadas no ensino superior (n=19), quatro se referiam ao ensino
médio e um artigo era teórico.
A análise do material obtido nas buscas do ERIC possibilitou a
identificação de algumas informações sobre os estudos da procrastinação no
contexto acadêmico. Nota-se que o artigo de 1984, investigava a procrastinação
como um comportamento e se dedicava a analisar a frequência do comportamento
14
procrastinatório, as causas e as características das tarefas mais adiadas. Na
década de noventa, os estudos buscavam, além do índice de frequência da
manifestação da procrastinação acadêmica entre os estudantes, identificar
padrões e estilos na procrastinação dos estudantes. Nessa época, iniciaram
também as correlações entre o comportamento de procrastinar no contexto
acadêmico e os aspectos pessoais, como a motivação (extrínseca, intrínseca,
atribuição de causalidade), a emoção (principalmente ansiedade), e com traços da
personalidade. Além disso, fatores ambientais também foram investigados, como
tipos e características da tarefa (aversiva, difícil), do professor e tipos de
instituição do ensino superior.
Nos anos 2000, as características da tarefa acadêmica continuam a ser
investigadas, porém, os estudos partem de certas categorias, como o estudo
diário, o estudo para avaliações, a escrita de trabalhos e as burocracias
acadêmicas. Os tipos de distratores também passam a ser caracterizados. Quanto
ao aspecto ambiental, a procrastinação passa a ser investigada em situações
específicas do estudo, como em cursos a distância e em certos cursos de
graduação (como Marketing). Com relação aos aspectos pessoais, fatores
cognitivos (uso de estratégias de aprendizagem, nível de habilidade) e afetivos
(inteligência emocional; relacionamentos interpessoais) passam a compor as
pesquisas; ampliam-se os estudos sobre a relação da motivação (orientação de
metas, motivação intrínseca/ extrínseca, atribuição causal) e da procrastinação
acadêmica; e nota-se a incidência das crenças autorreferentes (como autoeficácia
e autoestima), do autocontrole e da autorregulação aplicadas no contexto
educacional e, também relacionadas com a procrastinação acadêmica. Neste
período, observa-se maior preocupação dos autores com as possíveis
consequências da procrastinação, pois variáveis como o desempenho acadêmico
passam a ser correlacionadas com o tema, assim como orientações, técnicas e
métodos para amenizar o problema são realizadas. No ano de 2011, os três
artigos encontrados versavam sobre a diferença de gênero, atitudes disfuncionais,
desempenho acadêmico e crença de autoeficácia.
Nota-se que as investigações sistemáticas têm pouco mais de trinta anos,
esse interesse científico pode ser considerado recente ao comparar com outros
15
constructos psicológicos. Isto pode ser notado, ao observar que há investigações
atuais que ainda procuraram estabelecer novas relações teóricas das causas da
procrastinação acadêmicas, enquanto outras visam a consolidar relações já
identificadas. Contudo, percebe-se que as pesquisas tendem a seguir um enfoque
cada vez maior nas características dos próprios estudantes do que no ambiente e
na tarefa a ser executada.
É possível acompanhar outras investigações sobre a procrastinação por
meio de grupos de pesquisas como é o caso do Procrastination Research Group
(PRG), dos Estados Unidos, que reúne um material considerável (entre vídeos,
charges, publicações científicas, livros, entre outros) sobre a manifestação da
procrastinação em vários contextos, além de organizar e de realizar congressos e
simpósios para profissionais que trabalham em serviços de apoio ao estudante.
Há, ainda, o Grupo Universitário de Investigação em Autorregulação (GUIA), de
Portugal, que investiga a relação entre procrastinação e a autorregulação da
aprendizagem e apresenta programas de intervenção para esses e outros temas
de aprendizagem.
A busca pela produção científica nacional sobre a procrastinação foi
realizada por meio da base de dados SCIELO (Scientific Electronic Library Online
– Biblioteca Científica Eletrônica em Linha), LILACS (Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde), Banco de Teses/Dissertações da Capes e
Portal Unibibliweb, que oferece busca nos bancos de dados bibliográficos das três
universidades estaduais paulistas (Dedalus/USP, Acervus/Unicamp e
Athena/Unesp). Essas buscas também foram realizadas em agosto de 2009 e
atualizadas em maio de 2011. Utilizaram-se os descritores: procrastinação ou
procrastinar, restringindo o campo a assunto ou título, sempre que possível.
Foram encontradas cinco publicações sobre a variável. No entanto,
apenas quatro eram pertinentes aos objetivos dessa busca. As quatro publicações
foram localizadas no Brasil e datam de 1997 e 2001 e foram retirados da base de
dados LILACS (n=1) e Dedalus/USP (n=3). Os estudos foram realizados por
Kerbauy e colaboradores e tratam de investigações exploratórias sobre o tema,
abordam principalmente a conceituação e a caracterização da procrastinação da
vida diária e acadêmica. Embora haja uma tentativa de refinar a compreensão
16
sobre a procrastinação, as pesquisas foram realizadas com um número pequeno
de participantes e os instrumentos utilizados não foram padronizados. No entanto,
as produções contribuem com análises qualitativas pertinentes, principalmente no
que se refere à descrição de emoções/sentimentos e dos tipos de tarefas adiadas.
Com base nas informações descritas, é possível verificar que a produção nacional
sobre o tema é recente e escassa, principalmente no que tange ao contexto
acadêmico.
De modo geral, destaca-se que as causas para procrastinação acadêmica
são variadas na literatura. Estudos apontam tanto para causas ambientais, como
por exemplo, influências parentais, normas sociais, aversão ou dificuldade com a
tarefa e, com aspectos pessoais como a orientação de metas, a atribuição de
causalidade, o autocontrole, as crenças irreais, entre outros (FERRARI, 2004;
2001). A partir da literatura, Ferrari (2004) sistematizou algumas variáveis que têm
sido correlacionadas de forma significante com a procrastinação acadêmica, entre
elas destaca-se o medo de desaprovação social, a baixa percepção de
autoeficácia e de autoestima voltadas para o estudo, a dificuldade com a gestão
do tempo e o planejamento para estudar e a disciplina para o trabalho. Para
facilitar a compreensão da relação entre a procrastinação acadêmica e algumas
das variáveis mencionadas, apresentam-se a seguir seis subsseções que tratam
da relação entre a procrastinação no contexto acadêmico e aspectos ambientais e
pessoais, mais indicados na literatura sobre o tema. Desse modo, são trabalhados
os seguintes tópicos: características familiares, tarefas acadêmicas, sexo e idade,
conceitos autorreferentes, motivação e autorregulação. Por fim, as implicações da
procrastinação no contexto acadêmico são apresentadas.
a. Família
17
atitudes e a dinâmica familiar podem influir muito na instalação e na manutenção
de diversos tipos de comportamento, como a procrastinação (ROSÁRIO et al.,
2009; BURKA; YUEN, 1991),
Muitos procrastinadores, ao refletirem sobre o próprio comportamento de
adiar, encontram sua primeira manifestação ainda na infância (BURKA; YUEN,
1991). Segundo Burka e Yuen (1991) há, pelo menos, cinco aspectos da família
que podem contribuir com o desenvolvimento da procrastinação, a saber: (1)
pressões para seguir determinadas metas; (2) dúvidas sobre a capacidade de
realização do indivíduo, (3) controle, ausência da promoção de autonomia e
independência, (4) apego familiar (dedicação excessiva aos interesses e à
proteção familiar), (5) distanciamento e/ou falta de apoio emocional, interesse ou
acolhimento. Para as autoras, a intensidade e os tipos de combinação entre essas
atitudes e as experiências particulares de cada pessoa ao longo da vida podem
influenciar na formação de um procrastinador. Ferrari, Harrott e Zimmerman
(1999) também destacam aspectos semelhantes aos anteriores e, pontuam que
fatores como o padrão das interações familiares (pai e mãe), os conflitos
estabelecidos na família, a presença ou não de suporte e de mediação em
situações difíceis, a promoção ou a ausência de independência e a inabilidade
social são aspectos que podem influenciar na procrastinação. Em dois estudos
realizados pelos autores, com estudantes estadunidenses (estudo I, n=116;
estudo II n=107), que reportaram procrastinar frequentemente, obtiveram relações
significantes entre a procrastinação e a qualidade das relações interpessoais. De
acordo com os resultados, o tamanho da rede social dos procrastinadores não
diferiu dos demais colegas, porém tendem a apresentar grande insatisfação com o
suporte oferecido por suas famílias, optando pelo apoio de amigos em situações
de conflito (FERRARI; HARROTT; ZIMMERMAN, 1999).
Seguindo esta linha, Ferrari e Olivette (1994), realizaram uma pesquisa
com 84 estudantes de um College feminino estadunidense e seus respectivos
pais. Os resultados indicaram que o pai autoritário, que controla e pune ações dos
filhos de modo severo, tende a aumentar, de modo significante, a probabilidade da
manifestação do comportamento procrastinatório em sua filha. Enquanto as filhas
de pais que exerciam alto controle sobre certas atitudes e comportamentos, mas
18
que estimulavam a autonomia, não tendiam a procrastinar. Com relação às mães,
não houve relação significante entre mães autoritárias e a procrastinação de suas
filhas. Contudo, mães que relataram procrastinar tinham maior probabilidade de
ter filhas que também o faziam. As estudantes que tinham pais autoritários e foram
caracterizadas como procrastinadoras crônicas, expressaram emoções de raiva
direcionadas à figura paterna. Para os autores, maiores investigações sobre a
influência direta ou indireta sobre a procrastinação dos filhos precisam ser
realizadas.
Em estudo semelhante, Milgram, Mey-Tal e Levison (1998), solicitaram a
52 universitários israelenses e a seus pais, que relatassem a respeito da
procrastinação acadêmica e da vida cotidiana. Os resultados indicaram que os
estudantes, como um grupo, procrastinavam mais que seus pais. Contudo, o
desconforto emocional por procrastinar foi maior no grupo de mães. De acordo
com os autores, isso talvez se deva a padrões culturais, os quais implicam que a
mulher precisa exercer diferentes papéis com qualidade. Quanto ao estilo
parental, as mães desse estudo eram mais autoritárias com relação a
rotina pessoal da vida de seus filhos quando eram crianças, e estes tendiam a
procrastinar menos como adultos em tarefas do cotidiano. Esse resultado contraria
as informações obtidas no estudo de Ferrari e Olivette (1994). Isso, provavelmente
se deve à diferença de amostra e de instrumentos, e também ao fator cultural que,
muitas vezes, influencia diretamente na dinâmica familiar.
Rosário e colaboradores (2009) também desenvolveram dois estudos
simultâneos (estudo I, n=580; estudo II, n=809), com estudantes portugueses.
Uma das propostas de estudo era investigar se o número de filhos e o nível de
escolaridade dos pais se relacionavam com o comportamento de procrastinar. Nos
dois estudos, os resultados foram significantes no que diz respeito à escolaridade
dos pais e à procrastinação. De acordo com os dados, quanto maior a
escolaridade dos pais, menor era a probabilidade de procrastinação entre os
estudantes. Os autores pontuam que um número maior de irmãos poderia ser
associado com o aumento de barulhos e distratores e, também, com a diminuição
de atenção, de suporte e de tempo que os pais despendem nas atividades
escolares de cada filho, contudo, essa hipótese não foi confirmada.
19
O estudo sobre padrões e características familiares parece ser promissor,
quando se considera que crianças podem ser modeladas ao observar o padrão de
ação de adultos, podendo posteriormente se comportar de maneira muito
semelhante (BANDURA, 2008). Porém, destaca-se que, na maior parte desses
estudos, o critério de inclusão dos participantes era ter pai e mãe residindo junto,
assim, estudantes com pais divorciados ou separados, não foram incluídos nas
pesquisas. Considerando que as interações interpessoais sofrem constantes
mudanças, estudos que objetivem a aprofundar a relação entre essas variáveis
precisam ponderar as variações culturais e as alterações nas configurações
familiares.
b.Característica da Tarefa
i. Sexo e Idade
24
com 329 universitários turcos do sexo feminino e 251 do sexo masculino, também
indicou que a tendência para manifestar o comportamento de procrastinar era
maior entre os homens. Porém, o estudo brasileiro realizado por Enumo e Kerbauy
(1999), indicou que as mulheres tendem a procrastinar mais que os homens.
Outros estudos enfatizam que o comportamento de procrastinar não se altera com
relação à variável sexo, não apresentando diferenças significantes (HOWELL;
BURO, 2009; BESWICK; ROTHBLUM; MANN, 1988; SALOMON; ROTHBLUM;
MURAKABI; 1986; SALOMON; ROTHBLUM, 1984). Há sugestões de que análises
qualitativas talvez indiquem melhor as diferenças e as semelhanças na
procrastinação de homens e mulheres (SOMERS, 2008; STEEL, 2007;
SCHOUWENBURG, 2000; FERRARI et al., 1998; BESWICK; ROTHBLUM;
MANN, 1988). Como foi realizado no estudo de Enumo e Kerbauy (1999), que
observaram diferenças no tipo de atividades evitadas por estudantes do sexo
masculino e femino, os homens procrastinavam mais ao assumir compromissos
afetivos, ao passo que as mulheres adiavam o estudo e a leitura de textos. Nessa
linha, no estudo de Klassen e Kuzucu (2009) os estudantes preferiam jogar video-
game, comer ou beber algo, navegar na internet e conversar com amigo(as), a
estudar, fazer lições de casa e ler textos obrigatórios. As estudantes ao invés, de
escrever, fazer tarefas para casa ou estudar, preferiam se alimentar, conversar
com amigo(as), ler um livro ou uma revista ou assistir à televisão.
Com relação à faixa etária, alguns pesquisadores defendem que, quanto
maior a idade, menor será a probabilidade de o indivíduo procrastinar, pois o
background de situações vividas tende a ser maior e, aspectos psicológicos e
emocionais estariam mais fortalecidos (STEEL, 2007; VAN EERDE, 2003;
ENUMO; KERBAUY, 1999). Na pesquisa de Beswick, Rothublum e Mann, (1988),
os estudantes estadunidenses com idade acima de 20 anos exibiram e reportaram
menos procrastinação que seus colegas com menos de 20 anos. Balkus e Duru
(2009) também encontraram resultados semelhantes, em universitários turcos com
idades entre 18 e 28 anos (M = 22,32). O comportamento de procrastinar se
correlacionou negativamente com a idade. Isto é quanto maior era a idade do
participante, menor o índice de procrastinação acadêmica, porém os autores
ressaltam que essa relação foi baixa. Howell e Buru (2009) também encontraram
25
correlação negativa significante entre a idade e a procrastinação acadêmica de
397 universitários canadenses, com média de 20.6 anos de idade (Dp=2,91). Steel
(2007) aponta que realmente há fortes indícios de que o comportamento
procrastinatório tende a diminuir com o aumento da idade. De acordo com Testas
e Freitas (2005) com o avançar da idade, há aquisição de novas
responsabilidades e há a necessidade de se administrar o tempo para atender aos
diversos tipos de compromissos, como o acadêmico, o pessoal e o profissional,
entre outros.
ii. Motivação
33
iii. Autorregulação de Aprendizagem
34
motivacionais, que garantem a escolha, o envolvimento e a persistência em uma
ação e pelo processo cognitivo que medeia como as interações com o ambiente
serão organizadas, interpretadas e significadas.
Para melhor compreender este fenômeno, que é prejudicial aos processos
de aprendizagem e ao desempenho dos estudantes, a procrastinação será
compreendida à luz da autorregulação da aprendizagem. Tendo em vista que um
processo de autorregulação da aprendizagem deficiente pode contribuir com o
surgimento de comportamento procrastinatório no ambiente acadêmico. Desse
modo, posteriormente, apresentar-se-ão os aspectos inerentes à autorregulação
da aprendizagem e sua possível relação com a procrastinação acadêmica.
35
2. AUTORREGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM
2 − Orientação social
2. Emulação
e Feedback
− Padrões internos
3. Autocontrole − Autorreforço
− Processos
4. Autorregulação
autorregulatórios
− Crença de
autoeficácia
Quadro 1. Análise sociocognitiva do desenvolvimento da autorregulação retirado de
SCHUNK (2001, p.143).
2
Emulação - s. f. 1. Sentimento que excita o zelo e a atividade, para igualar ou exceder os outros
no que é bom. 2. Brio, estímulo; rivalidade. Emular – v. pron. - 1. Imitar por emulação. 2. Ter
emulação de alguém. 3. Fazer o possível por igualar ou exceder a (FERREIRA, 1995).
39
Inicialmente, a autorregulação parte de fontes sociais e pode ser ensinada
diretamente ou modelada por meio da observação do comportamento de
professores, pais, colegas (ROSÁRIO, NÚÑEZ, PIENDA, 2006; ZIMMERMAN;
SCHUNK 2004; SCHUNK, 2001). Progressivamente, tende a adquirir um formato
mais independente dos modelos, deslocando-se para níveis mais internos e
autônomos (ZIMMERMAN; MARTINEZ-PONS, 1988). Um aluno principiante pode
aprender uma nova estratégia ou habilidade ao observar um irmão ou amigo e, a
partir disso, encorajar-se para executar a estratégia observada, incorporando-a em
seu próprio repertório comportamental (SCHUNK, 2001). Todavia, esses modelos
sociais necessitam de apresentar boas descrições verbais e comportamentais das
ações e das atitudes a serem seguidas (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004). Do
mesmo modo, é preciso que o aprendiz discrimine a habilidade desempenhada ou
descrita verbalmente pelo modelo. Geralmente, é necessária uma série de
observações da mesma tarefa, com certa variação (ZIMMERMAN; SCHUNK,
2008; 2004). Observar consequências que acontecem ao modelo por realizar tal
ação, como a conquista de um prêmio, por exemplo, pode ampliar a pretensão do
observador em desenvolver ou não a habilidade futuramente (ZIMMERMAN;
SCHUNK, 2004).
No segundo nível, emulação, o comportamento do aprendiz é emulado por
padrões gerais e pelo estilo de desempenho do modelo em situações específicas.
Esse processo é potencializado quando o modelo adota o papel de educador,
oferecendo orientação, feedback e reforço durante as tentativas do estudante,
que, por sua vez, pode aprimorar sua habilidade (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004).
Para emular certa habilidade, é preciso incorporar modelos com repertórios
comportamentais complexos em ambientes que favoreçam o feedback corretivo
(ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004). Ressalta-se que a imitação é apenas parte do
processo de emulação e que o aprendiz não copia simplesmente os passos
exatos do modelo e, sim, simula o padrão geral ou o estilo de funcionamento
deste, naquela tarefa ou em semelhantes (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2008). Dessa
maneira, quando maior o domínio atingido pelo estudante, menor será a
40
necessidade de suporte dos modelos (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004; SCHUNK,
2001).
A diferença maior entre os dois níveis citados, é que na aprendizagem
observacional, o estudante apenas capta as informações sobre as estratégias de
aprendizagem, enquanto na emulação há tentativas de desempenho da
competência ou da estratégia. Esses dois níveis são considerados sociais, porque
a presença do modelo é necessária, o que diminui com a internalização de
estratégias e de competências de aprendizagem e dá início ao terceiro nível
(SCHUNK, 2001).
No autocontrole, o aluno já é capaz de utilizar as estratégias de
aprendizagem sem a presença do modelo. Apesar disso, a execução apenas é
realizada em situações similares ao do modelo — por exemplo, em uma aula de
dança na qual o aluno já consegue dançar sem o modelo do professor, mas ainda
não se arrisca em passos novos. As estratégias de aprendizagem não são
modificadas e a reapresentação ainda depende dos padrões de desempenho do
modelo observado (SCHUNK, 2001). O aprendizado vai ocorrendo com a vivência
de diversas práticas semelhantes que, em conjunto, garantem autorreforço
(ZIMMERMAN; SCHUNK, 2008, 2004). Conforme novas experiências surgem, as
competências de aprendizagem são internalizadas como o uso de imagens
mentais e significados verbais (SCHUNK, 2001). Para controlar adequadamente a
estratégia, o aprendiz faz uso de processos cognitivos e comportamentais, como a
autoinstrução e o automonitoramento (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004).
No último nível da autorregulação, os estudantes aprendem a realizar
ajustes em suas habilidades, baseando-se em resultados práticos de seu próprio
desempenho. A competência de autorregulação é atingida quando o indivíduo
consegue adaptar suas estratégias de aprendizagem às condições pessoais e
contextuais, assim modificações podem ser feitas caso sejam necessárias, com
pouca ou nenhuma dependência do modelo (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2008). O
estudante consegue também selecionar de seu repertório uma estratégia e decidir
quando e como utilizá-la. Além disso, as informações de desempenho desse
processo influenciam na percepção de autoeficácia do aluno, portanto, no quanto
acredita ou não ser capaz de executar tal ação novamente. A crença de
41
autoeficácia, por sua vez, também influi nos padrões futuros de sua
autorregulação (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004; SCHUNK, 2001).
Em suma, o desenvolvimento da aprendizagem autorregulada se inicia
com a observação de certa estratégia de aprendizagem em modelos sociais e
prossegue com o exercício emulativo e a internalização do autocontrole, até que o
aluno seja capaz de se autorregular em diferentes situações (SCHUNK, 2001;
ZIMMERMAN; SCHUNK, 2008). No entanto, esse processo não é simplesmente o
deslocamento de influências sociais (externas) para autoinfluências (internas)
(ZIMMERMAN; SCHUNK, 2008). A influência social não desaparece com o
avançar dos níveis, pois as fontes sociais continuam sendo pontos importantes,
embora utilizados com menos frequência (SCHUNK, 2001). A ação do indivíduo
continua pautada na rede mútua e interdependente da influência triádica de
fatores sócio-ambientais, pessoais e comportamentais (ZIMMERMAN; SCHUNK,
2008).
Para Zimmerman (1998; 2000), a autorregulação do aprender é um
processo cíclico, dinâmico e integrado, que se realimenta a partir do feedback das
experiências de aprendizagem do próprio aluno. O estudante participa de maneira
ativa sobre monitoração, regulação e avaliação de seus pensamentos,
sentimentos e comportamentos em prol de metas acadêmicas (ZIMMERMAN,
2008, 2000, 1998), envolvendo-se metacognitiva, motivacional e
comportamentalmente com seu processo de aprendizagem (ZIMMERMAN, 2008).
Contudo, para que isso seja possível, a autorregulação da aprendizagem precisa
ser dominada por meio de sucessivas tentativas, sendo necessária a coordenação
de componentes pessoais, comportamentais e ambientais (ZIMMERMAN, 1998).
Para aprofundar o conhecimento sobre a autorregulação, Zimmerman
(2000; 1998) desenvolve um modelo para compreender e explicar a estrutura da
autorregulação em situação de aprendizagem. Neste modelo, a autorregulação da
aprendizagem é vista como um processo cíclico e multidimensional, que envolve
componentes pessoais (cognitivo e emocional), comportamentais e contextuais
(ZIMMERMAN, 2008). Esse modelo centra-se no uso proativo de estratégias e
resultados específicos, para melhorar o desempenho acadêmico. Trata, ainda, de
processos autodirecionados e do envolvimento de autocrenças que permitem ao
42
estudante transformar ou adquirir habilidades mentais e acadêmicas a partir da
definição de objetivos, da seleção e da implantação de estratégias e do
automonitoramento de seu próprio desempenho. É um processo importante para
conduzir às diferentes formas de aprendizagem (ZIMMERMAN, 2008;
ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004).
O ciclo da autorregulação, segundo ZIMMERMAN (2000, 1998;
ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004), apresenta três fases principais: fase prévia
(antecipação), fase de realização (durante) e de autorreflexão (fase posterior),
como pode se observar na Figura 1. A fase prévia refere-se à antecipação
de processos que influenciam a aprendizagem e também trata das crenças
motivacionais que precedem os esforços para aprender (ZIMMERMAN, 1998).
Essa fase inclui a análise da tarefa que trata do estabelecimento de objetivos, de
planejamento de estratégias para sua realização. Associado a isto estão as
crenças motivacionais, como a crenças de autoeficácia, as expectativas de
resultados, as meta de realização e motivação intrínseca (ZIMMERMAN; SCHUNK
2004). A fase de realização envolve processos que ocorrem durante a execução
da aprendizagem e que afetam a concentração e o desempenho. Nessa fase,
ocorrem processos de autocontrole do desempenho e de motivação, além disso,
durante a fase ocorre a auto-observação (foco na atenção, na autoinstrução e nas
imagens mentais), os autorregistros e a autoexperimentação. A terceira fase,
autorreflexão, envolve processos que ocorrem depois do aprender e influencia as
reações do aprendiz àquela experiência. A autorreflexão envolve o julgamento
pessoal, como a autoavaliação e as atribuições causais e também as
autorreações (satisfação/insatisfação). Essa última fase da autorregulação
influencia a fase prévia subsequente e os próximos esforços para realização da
aprendizagem, completando assim o clico da autorregulação.
43
Figura 1: Fases e subprocessos da autorregulação
(Zimmerman; Schunk, 2004, p.340);
44
pode evidenciar um interesse intrínseco na tarefa, pois a própria atividade em si
gera-lhe prazer e satisfação, não precisando receber prêmios ou outras
recompensas para aplicar maior esforço e persistir na realização da tarefa
objetivada (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004).
Na fase seguinte, de realização, há dois processos de destaque: o
autocontrole ou controle volitivo e a auto-observação (ZIMMERMAN; SCHUNK,
2004). No autocontrole, os estudantes fazem uso de diversos métodos que os
ajudam a manter o foco em suas tarefas e em seu desempenho, otimizando assim
seus esforços. Isso engloba a utilização de autoinstrução, ou seja, dizer a si
mesmo como proceder durante uma ação, vocalizando passos e etapas
(autoverbalização). As imagens mentais também auxiliam na codificação e na
realização de tarefas de aprendizagem, como a visualizações de esquemas de
informação. Esses processos contribuem com a organização de informações, com
a focalização da atenção e com maior resistência a distratores encobertos ou
externos, garantindo assim maior eficácia no estudo (ZIMMERMAN, 2000).
O outro subprocesso, a auto-observação, refere-se ao monitoramento do
próprio desempenho, das condições em que ocorre e dos efeitos que produz
(ZIMMERMAN, 2000). Embora esse seja um elemento vital, diante da realização
de tarefas complexas, estudantes inexperientes podem ser inundados com
informações excessivas e não pertinentes à atividade, o que pode contribuir com a
desorganização ou com a superficialidade do automonitoramento (ZIMMERMAN;
SCHUNK, 2004; ZIMMERMAN, 1998). Porém, estudantes que se autorregulam
com eficácia conseguem gerenciar diversos tipos de informação sobre seu
desempenho, sendo estas físicas, cognitivas ou ambientais. Diversos aspectos
podem contribuir com a eficácia da auto-observação, tais como a proximidade
temporal em que é executada (em dias, horas, minutos), a qualidade e a precisão
das informações obtidas. Essas informações podem ser autorregistradas, o que
fornece uma base de evidências sobre o desempenho na tarefa. Contudo, para
que esses dados sejam organizados e categorizados de maneira significativa, as
informações precisam ter sido monitoradas com qualidade e precisão. Um
autorregistro apurado garante acesso rápido às informações sobre a tarefa, o
desempenho, as reações emocionais, entre outros (ZIMMERMAN, 2000).
45
A autorreflexão é a última fase do ciclo de autorregulação da
aprendizagem e está intimamente relacionada com a fase anterior de auto-
observação (ZIMMERMAN, 2000). Esta fase envolve o autojulgamento, a
autoavaliação do desempenho e a atribuição causal do resultado obtido
(ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004; ZIMMERMAN, 2000). A autoavaliação refere-se à
comparação das informações adquiridas no automonitoramento com critérios ou
com o objetivo estabelecido anteriormente. Há quatro tipos de critérios que podem
ser utilizados para a autoavaliação: domínio (progresso pessoal de
aprendizagem); desempenho anterior (comparação entre o desempenho atual e
os níveis atingidos anteriormente, em situações semelhantes); comparações
sociais (envolve comparações sociais com o desempenho de outros,
como colegas de classe); e colaborativos (usado essencialmente em equipe, na
qual o indivíduo tem um papel a cumprir, por exemplo, espera-se determinado
desempenho de um goleiro) (ZIMMERMAN, 2000). O nível do autojulgamento
varia de acordo com o refinamento do critério (ZIMMERMAN, 1998), por exemplo,
o autojulgamento necessário para se escrever uma carta, difere daquele realizado
para elaborar um livro.
O autojulgamento refere-se ainda à atribuição de um significado causal
aos resultados obtidos, o que influi nas crenças motivacionais, como na percepção
de autoeficácia (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004; ZIMMERMAN, 2000). Essas
atribuições são influenciadas por uma variedade de fatores pessoais e
contextuais, incluindo a história pessoal de sucesso e de fracasso e as normas
sociais relativas ao desempenho das outras pessoas, regras sobre as relações
entre as causas, entre outras (WEINER, 2004). Quando atribuições de sucesso ou
de fracasso em uma tarefa são associadas ao esforço despendido e às estratégias
utilizadas, tendem a manter a motivação e a percepção positiva de autoeficácia,
enquanto que as atribuições de resultados vinculadas à capacidade cognitiva e a
fatores ambientais tendem a imobilizar.
As atribuições causais de fracasso ou de sucesso estão intrinsecamente
relacionadas com duas formas de autorreação do aprendiz: a autossatisfação e as
inferências adaptativas (ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004; ZIMMERMAN, 2000). A
autossatisfação é a percepção de satisfação ou de insatisfação própria que o
46
estudante relaciona com a realização e o afeto. Os níveis de autossatisfação
dependem do valor intrínseco ou da importância dada à tarefa pelo aluno
(ZIMMERMAN, 2000). As inferências adaptativas ou defensivas são as conclusões
feitas a partir do próprio comportamento e refletem a necessidade de se modificar
ou não o processo subsequente de autorregulação da aprendizagem. As
inferências adaptativas são importantes, pois projetam o estudante para potencias
melhoras na autorregulação, como estabelecer melhores objetivos ou escolher
estratégias de aprendizagem diferentes, entre outros. Em contraponto, as
inferências defensivas a princípio protegem o estudante de futuras insatisfações,
mas posteriormente podem minar futuras formas de adaptação ao contexto
acadêmico. Entre as formas de autorreação defensiva encontra-se a
procrastinação, a aversão à tarefa, a apatia, entre outros (ZIMMERMAN, 2000).
Ressalta-se que a autorregulação da aprendizagem é um processo cíclico,
portanto, essas autorreações impactam as antecipações subsequentes,
influenciando nos objetivos e nas estratégias traçadas e nas crenças
motivacionais que se têm a respeito da realização de uma ação. Esta, por sua vez,
interfere na monitoria e no controle do desempenho que acaba por afetar os
julgamentos e as reações que o estudante irá apresentar diante de seus
resultados (ZIMMERMAN, 2000). Destaca-se que a qualidade da autorregulação
da aprendizagem também depende de condições pessoais, sociais e ambientais,
sendo que adaptações comportamentais às vezes são necessárias para se
atenderem às oscilações nos componentes pessoais e ambientais envolvidos
(BANDURA, 2008).
Esse modelo de aprendizagem autorregulada proposto por Zimmerman
(2000; 1998) subsidia a proposta de Rosário (2004b), que também entende a
autorregulação como um processo ativo, no qual o estudante monitora, regula, e
controla sua cognição, motivação e comportamento tendo em vista a conquista
dos objetivos de aprendizagem estabelecidos (ROSÁRIO, 2004b).
Para Rosário (2004b), a autorregulação se desenvolve em três fases
recorrentes: o planejamento, a execução e a avaliação, intituladas por Rosário
(2004) de PLEA. O autor não propõe apenas um ciclo de fases sequenciais ao
processo autorregulatório, mas propõe uma segunda dinâmica recursiva e
47
interativa, que se interpenetra em cada uma das fases propostas (ROSÁRIO,
NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007; ROSÁRIO, 2004B; ROSÁRIO et al., 2007).
Assim, o ciclo não consiste apenas no planejamento, na execução e na avaliação,
mas também na mesma lógica cíclica, sendo operacionaliza em cada uma dessas
fases. Desse modo, ao planejar uma ação, o estudante também a executa e a
avalia ao mesmo tempo e assim sucessivamente (Rosário, 2004b, 2007), como
pode ser observado a seguir (Figura 2).
48
da aprendizagem são apresentadas separadamente, visto que são processos
integrados, concomitantes e dinâmicos.
O PLEA foi desenvolvido, basicamente, visando a propostas práticas de
intervenção da autorregulação no contexto de aprendizagem, permitindo que os
envolvidos no processo ensino-aprendizagem – como, professores, pais e alunos
– também se apropriem de modo mais efetivo de estratégias, de procedimentos
(saber utilizar e aplicar) e de condições que facilitam a autorregulação da
aprendizagem (ROSÁRIO, NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007; ROSÁRIO,
NÚÑEZ; PIENDA, 2006; ROSÁRIO, 2004b). Desse modo, considerando a
capacidade de síntese teórica e aplicabilidade que o modelo PLEA oferece, o
presente estudo trabalhará em acordo com esta ótica da autorregulação do
aprender.
Diante do exposto, ressalta-se que o favorecimento das habilidades para
autorregulação da aprendizagem é um elemento essencial que possibilita a
construção de uma aprendizagem personalizada, significativa e autônoma, que
também favorece o desempenho acadêmico. De modo geral, a abordagem
sociocognitiva tem contribuído para aprofundar o conhecimento e a compreensão
a respeito dos processos pessoais, comportamentais e ambientais que permeiam
a aprendizagem (ROSÁRIO Cols., 2005; ZIMMERMAN, 2002; ZIMMERMAN;
MARTÍNEZ-PONS, 1990).
49
3. A PROCRASTINAÇÃO ACADÊMICA E A
AUTORREGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM
50
i. Planejamento
51
sua falta de interesse intrínseco a fatores externos, como professores entediantes
e tarefas chatas. Além disso, estes estudantes são mais dependentes de
influências sociais e de recompensas para aprender. O autor ainda destaca que
esses estudantes tendem a ser mais ansiosos, frente a questões de aprendizagem
(ZIMMERMAN, 1998).
ii. Execução
iii. Avaliação
54
por não oferecem ao estudante objetivo estruturado, planejamento estratégico e
senso de agência pessoal para progredir constantemente (ZIMMERMAN, 2000).
Como explanado anteriormente, a autorregulação da aprendizagem se
constitui por meio de experiências sociais sucessivas (observação e emulação),
até atingir fontes mais autônomas que permitem o autocontrole e a autorregulação
(ZIMMERMAN; SCHUNK, 2008). Destaca-se que o ambiente também tem um
papel importante nesse processo, pois compõe uma tríade de influências mútuas e
interdependentes de fatores sócioambientais e pessoais (ZIMMERMAN; SCHUNK,
2008).
Isso indica que o investimento na promoção de recursos ambientais que
facilitem e promovam autorregulação do aprender pode contribuir com a
otimização desse processo por estudantes menos experientes (ROSÁRIO,
NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007; ZIMMERMAN, 2000; 1998). De acordo com
organização realizada por Schouwenburg e colaboradores (2004) a maior parte
das intervenções que propõe a superação da procrastinação acadêmica, tem
como foco específico o estudante. Algumas focam diretamente o comportamento
de adiar, sendo que neste a prioridade é treinar estratégias de gestão tempo e de
recursos (planejamento, organização de materiais, elaboração de agenda,
cronogramas) e monitorar e modificar hábitos de estudos (ambiente de estudo,
lidar com distratores). Outro grupo de intervenções volta-se para os objetivos e
intenções de estudo; tratam de crenças relacionadas ao (in)sucesso e a
autoeficácia; e trabalham com estratégias cognitivas e metacognitivas. O último
grupo aborda questões relacionadas a sentimentos como culpa e vergonha; e
também lida com emoções como medo, ansiedade e estresse. Os dois últimos
tipos de intervenção tendem a ser desenvolvidos com encontros coletivos, com
número de sessões pré-estabelecidas no próprio contexto acadêmico. A prática
dessas intervenções, ao que tudo indica, reflete a situação teórica da
procrastinação, pois o cada qual se embasada em um referencial teórico.
55
Como visto, a procrastinação vem sendo relacionada a diversos tipos de
fatores ambientais e pessoais, inclusive com resultados de relações estatísticas
significantes. No entanto, esse conjunto de informações ainda não se articula em
um modelo explicativo único sobre o fenômeno. Tão pouco encerra o conflito
conceitual sobre a procrastinação acadêmica crônica como um comportamento
dinâmico e situacional ou como um traço da personalidade. Há, também, a
necessidade de sistematizar a diferença entre o adiamento, o gerenciamento de
tempo e a procrastinação. Além disso, não há clareza se a procrastinação
acadêmica é produto ou fonte de algumas consequências prejudiciais ao processo
de aprendizagem. Entende-se que responder a estes e a outros questionamentos
é uma tarefa árdua e longa, visto que os estudos sobre a temática ainda são
recentes.
O presente estudo não tem está pretensão, mas busca contribuir com a
produção nacional sobre a temática. Assim, procura-se averiguar se os estudantes
universitários procrastinam ou não seus compromissos de estudo, e se o fazem,
identificar quais são as atividades acadêmicas proteladas e com qual frequência
isto ocorre. Por fim, a de se compreender a relação e o papel da procrastinação
acadêmica junto a variáveis pessoais e acadêmicas dos estudantes, bem como
entender a natureza da relação entre esta e o processo autorregulação da
aprendizagem.
56
OBJETIVOS
57
MÉTODO
58
1. Participantes
59
nas regiões Sudeste (47,14%) e Sul (16,67%), seguidos pela região Nordeste
(19,40%), Centro-Oeste (10,47%) e Norte (19,39%).
PR 01 59 8,90
Sul
RS 02 53 8,00
Subtotal 05 486 73.31
Centro-Oeste MS 01 50 7,54
Norte AM 01 88 13,27
Nordeste BA 01 39 5,88
Total 08 663 100,0
60
de 18 a 21 anos de idade (n=380; 57,49%) e os demais ficaram na faixa etária
acima de 21 anos (281; 42,51%).
No que tange à situação de trabalho, pouco mais da metade dos
estudantes não exercia atividade remunerada (n=360; 54,5%), ao passo que 300
(45,45%) o faziam. Com relação à carga horária de trabalho, 141 (48,12%)
informaram despender menos de 20 horas semanais com o trabalho; 97 (33,10%)
disseram trabalhar de 21 a 40 horas por semana; e 55 (18,78%) relataram
trabalhar mais de 40 horas por semana. Desse modo, dentre os estudantes que
trabalhavam 51,88%, exerciam mais de 20 horas de atividade remunerada por
semana.
Além disso, 196 (29,70%) universitários da amostra afirmaram receber
algum tipo de auxílio financeiro ou bolsa de estudos para frequentar o ensino
superior. Destaca-se que todos esses estudantes também afirmaram exercer
atividades remuneradas, sendo que 48 (52,75%) trabalhavam ao menos 20 horas
por semana e 43 (47,25%) trabalhavam mais de 20 horas semanais. No entanto,
pontua-se que os estudantes que não recebiam auxílio ou bolsa para cursar a
graduação eram maioria (n= 464; 70,30%).
Com relação ao nível de escolaridade de suas mães, 397 (60,24%)
estudantes informaram que suas mães tinham como escolaridade máxima o ensino
médio. Enquanto 262 (39,76%) universitários tinham mães com algum tipo de
experiência no ensino superior, sendo esta incompleta ou completa (graduada/
pós-graduada). Assim, como na escolaridade das mães, os pais com algum tipo de
vivência na educação superior eram minoria (n=249; 38,79%), ao passo que 393
(61,21%) dos participantes relataram que o pai tinha como formação escolar
máxima o ensino médio.
Considerando a resposta dos participantes sobre a escolaridade dos pais,
verificou-se que 312 (n=48,60) universitários tinham pai e mãe sem nenhum tipo de
experiência no ensino superior. Desses, 257 estudantes (40,34% e 38,76% do total
da amostra) também não haviam cursado o ensino superior anteriormente,
podendo ser caracterizados como estudantes de primeira geração. Esse termo é
utilizado para descrever os filhos de pais que não possuem nenhum tipo de
experiência no ensino superior, nem mesmo um curso incompleto, sendo os
61
primeiros de sua família nuclear (pais) a cursar uma instituição de ensino superior
(GIBBONS; BORDERS, 2010; MUI, BROWN-WELTY, TRACZ, 2010; BRADBURY;
MATHER, 2009; INMAN; MAYES, 1999; BUI, 2005, 2002).
Quanto às características acadêmicas da amostra, os participantes
frequentavam seus cursos de graduação nos turnos de estudo: integral, matutino,
vespertino ou noturno. Para atender aos objetivos, esses períodos de estudo
foram categorizados como integral, parcial diurno (matutino ou vespertino) e
noturno. Desse modo, 213 (32,30%) dos participantes cursavam a universidade
durante meio período do dia; 203 (30,80%) frequentavam a graduação em turno
integral; e 243 (36,90%) cursavam a universidade no período noturno. Com
relação ao momento da graduação, os semestres variaram de um a onze, com
média de 3,72 (desvio padrão 2.288) e mediana de 3,00. Os semestres foram
agrupados em: ingressantes (1º ao 2º semestre), intermediários (3º ao 6º
semestre) e concluintes (7º ao 11º semestre). Esse agrupamento considerou
cursos tradicionais de graduação realizados em quatro ou cinco anos, que
compõem a amostra. Assim sendo, 272 (41,15%) eram ingressantes em seus
cursos, 279 (42,20%) frequentavam os semestres intermediários e 110 (16,65%)
cursavam os semestres finais da graduação.
Do total de participantes, 545 (82,80%) afirmaram que aquela era a
primeira vez que cursavam o ensino superior, ao passo que 113 (17,20%)
universitários tinham frequentado a graduação anteriormente. Entre esses, apenas
38 (32,48%) alegaram ter concluído a graduação anterior. Com relação ao curso de
graduação atual, a grande maioria dos estudantes, 635 (98,60%), pretendia
finalizar o curso frequentado, enquanto nove (1,40%), não. Os participantes
também foram questionados se o curso atual era o de maior preferência. Para 527
(79,85%) universitários a graduação cursada era a de sua preferência, mas para
133 (20,15%) não era.
Quanto à satisfação com o próprio desempenho acadêmico, nota-se que
mais da metade da amostra (n= 459; 69,23%) estava satisfeita ou mais que
satisfeita com o próprio desempenho na graduação. Dentre esses, 422 (91,93%)
também qualificaram esse desempenho como satisfatório ou mais que satisfatório.
Apenas 37 (8,07%) alegaram que, naquele momento, o desempenho era pouco
62
suficiente. No entanto, 204 (30,77%) estudantes estavam pouco ou nada satisfeitos
com seu desempenho acadêmico e entre esses, 150 (73,52%) classificaram seu
desempenho como insuficiente ou pouco suficiente, ao passo que 53 (26,48%)
consideram-no suficiente.
No que se refere aos cursos de graduação dos universitários da amostra,
registrou-se vinte e nove cursos distintos, que foram classificados de acordo com
as áreas do conhecimento 3 da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES). A Tabela 2 indica que 54,80% dos
estudantes eram da área de Ciências Humanas, seguidos pelas áreas de Ciências
Biológicas (8,0%), Engenharias (7,70%) e Ciências Sociais Aplicadas (7,50%),
Ciências Exatas e da Terra (7,20%), Linguísta, Letras e Artes (5,10%), Ciências
Agrárias (4,20%), Licenciaturas multidisciplinares (4,10%) e Ciências da Saúde
(1,40%). Com relação aos cursos, a maioria concentrava-se na graduação de
Psicologia (32,70%) e Pedagogia (20,50%).
3
Área do conhecimento de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES, 2009). Disponível em http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-
conhecimento, acesso em 20/05/2011.
63
Tabela 2: Distribuição dos participantes segundo a área do conhecimento e cursos
Área de Conhecimento Cursos N %
Engenharia de Alimentos 10 1,5
Ciências Agrárias Engenharia Agrícola 14 2,1
Agronomia 04 0,6
Subtotal 28 4,2
Administração 43 6,5
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Sociais 06 0,9
Midialogia 01 0,2
Subtotal 50 7,5
Letras 23 3,5
Linguísta, Letras e Artes Artes* 09 1,4
Linguista 02 0,3
Subtotal 34 5,1
64
2. Materiais de Coleta de Dados
67
instrumento total foi de 0.87. Esse mesmo alpha é encontrado nos estudos de
Costa (2007), Monteiro (2009) e Rosário e colaboradores (2009). O instrumento
engloba três fases do processo de autorregulação da aprendizagem, a saber: o
planejamento, a execução e a avaliação, que se influenciam e interpenetram de
modo dinâmico (ROSÁRIO, NÚNEZ, GONZALEZ-PIENDA, 2006; ROSÁRIO,
2004b). Desenvolvido em Portugal, originalmente, é constituído por nove itens em
formato Likert de cinco pontos, indicando a frequência de resposta entre (1) Nunca
e (5) Sempre. A versão portuguesa foi adaptada para o contexto brasileiro,
mantendo o Likert de cinco pontos. Em estudo preliminar, por meio da análise
fatorial foi excluído um item, sendo que o IPAA passou a ser composto por oito
itens agrupados em um único fator-dimensão, que explica 36,47% da sua
variância. O alpha de Cronbach obtido para a escala foi de 0,75. O índice total é
obtido a partir da somatória de todos os itens, divididos por oito (POLYDORO,
ROSÁRIO, SAMPAIO; FREITAS, 2011, Resumos, Congresso Nacional de
Psicologia Escolar).
68
4. Procedimento de Análises de Dados
69
curtose diferentes de zero. Portanto, as respostas obtidas por meio da Escala de
Procrastinação Acadêmica (EPA) não se adequaram à distribuição normal. Dessa
maneira, como alternativa empírica para as análises de dados, foram adotados
testes estatísticos não-paramétricos (JEKEL, ELMORE; KATZ, 1996; FONSECA;
MARTINS, 1994).
Desse modo, o delineamento quantitativo foi iniciado com a variável
procrastinação acadêmica, sendo realizada a análise descritiva das respostas dos
participantes a Escala de Procrastinação Acadêmica – versão brasileira (EPA).
Nesta são apresentadas as médias, o desvio padrão, as medianas e as respostas
mínimas e máximas em cada item dos instrumentos. Em sequência, a análise
comparativa foi utilizada para investigar a variância da procrastinação acadêmica,
em função das variáveis categóricas pessoais e acadêmicas. Foram utilizados os
testes Mann-Whitney, para comparação das variáveis entre dois grupos e Kruskal-
Wallis para comparação das variáveis entre três ou mais grupos. Em seguida, o
mesmo procedimento foi adotado com as respostas dos estudantes ao
instrumento Inventário de Processos de Autorregulação da Aprendizagem (IPAA),
portanto foram realizadas análises descritivas do IPAA e comparativas entre a
autorregulação e variáveis pessoais e acadêmicas.
Por fim, foi realizada a análise correlacional entre os construtos utilizando-
se o coeficiente de correlação de Spearman (r). Este teste permite averiguar o
grau de associação entre duas variáveis dispostas em pontos ordenados, bem
como verificar a direção do relacionamento (se positivo, negativo ou neutro) e a
magnitude ou força dessa relação (DANCEY; REIDY, 2006). A magnitude da
correlação pode variar de zero (0) a um (1), assim sendo, os coeficientes podem
não apresentar correlação (ser igual a zero), ou ainda demonstrar magnitude fraca
(índices de 0,1 a 0,3); moderada (0,4 a 0,6); forte (0,7 a 0,9) ou perfeita (igual a
um). Ressalta-se que isso independe da direção (positiva ou negativa) da
correlação (DANCEY; REIDY, 2006).
Com relação à análise qualitativa dos dados, as respostas à questão
dissertativa seguiram a proposta de Bardin (2008) para análise de conteúdo. Esse
procedimento de pesquisa é utilizado para se fazer inferências e identificar de
forma objetiva e sistemática características específicas da mensagem. A escolha
70
desse método se deu pela possibilidade de se realizar inferências lógicas sob o
conteúdo manifesto das mensagens, associando estes a outros elementos como,
indicadores qualitativos e/ou quantitativos das mensagens (BARDIN, 2008;
FRANCO, 2005). Segundo Bardin (2008), a análise de conteúdo é uma das
técnicas possíveis para se desmembrar uma mensagem em unidades e descobrir
seu núcleo de sentido/comunicação para que, assim, seja possível conhecer e
analisar as realidades subjacentes contidas nos códigos e também significar os
temas, conteúdos e assuntos abordados nos discursos.
O presente estudo utilizou como critério de análise de conteúdo a pré-
análise (primeira leitura do material; formulação de hipóteses e objetivos); a
Categoria de Análise (codificação do material em unidades de contexto e registro
e categorização); e o Tratamento, inferência e interpretação dos conteúdos. Esse
processo possibilita que os dados iniciais se constituam em informações
quantitativas e/ou análises reflexivas (FRANCO, 2005) e são descritos a seguir.
A pré-análise é uma fase de organização, na qual ocorre o primeiro
contato com o material, sendo estabelecidas as hipóteses e os indicadores. Os
documentos (material) analisados foram as respostas a questão dissertativa,
apresentada anteriormente. A análise de conteúdo foi iniciada com a leitura
flutuante do documento, que possibilitou impressões iniciais sobre os registros e a
formulação de temas e palavras-chave. A hipótese formulada foi a de que as
tarefas acadêmicas mais adiadas corresponderiam às encontradas na literatura
tradicional da temática. A pré-análise foi concluída com a digitação das respostas
dos participantes em banco de dados digital, quando necessário, pequenas
edições ortográficas de textos foram realizadas.
Na sequência, foi iniciada a Categoria de Análise que se refere à
exploração do material digitado, que consiste fundamentalmente, em operações
de Codificação, na qual elementos das mensagens são divididos em unidades,
enumerados (regras de contagem) ou agrupados (escolha das categorias), em
função de regras previamente formuladas. Isso permitiu que os conteúdos fossem
representados em elementos completos de maior ou menor núcleo, chamados de
unidade de registro — o menor recorte de ordem semântica do texto, podendo ser
uma palavra-chave ou tema; e unidade de contexto — possibilita a compreensão
71
da unidade de registro, tal qual a frase para a palavra, por exemplo. A
categorização dessas unidades seguiu critério semântico (categoria por temática)
e léxico (classificação das palavras de acordo com seu sentido).
Além disso, para garantir a qualidade das categorias foram considerados
cinco critérios: exclusão mútua, pertinência, objetividade, fidelidade e
produtividade. A exclusão mútua depende da homogeneidade de cada categoria,
cada conjunto categorial precisa seguir um princípio único de classificação e
organização, não sendo aceitas ambiguidades. A pertinência ocorre quando há
adaptação entre o material de análise e o princípio teórico escolhido; deve, ainda,
refletir os objetivos e as questões da investigação. A objetividade e a fidelidade
referem-se aos diferentes elementos que compõem um mesmo material e que
devem ser codificados da mesma forma, respeitando as mesmas variáveis e
índices evidentes e bem estabelecidos. Isso garante que mesmo sob diferentes
análises os elementos sejam postos numa mesma categoria. A produtividade
refere-se ao fato das categorias estabelecidas terem ou não atingido resultados
férteis em índices de inferências, em hipóteses novas, em dados relevantes e para
a orientação de futuras práticas reflexivas. Adotou-se índice explícito para análise,
pois foram consideradas as repetidas vezes que um tema apareceu na mensagem
(porcentagem relativa ou absoluta). Finalmente, o tratamento dos resultados, a
inferência e a interpretação permitiram que fossem realizadas às análises do
conteúdo mais subjetivas (dedução), válidas e significantes. Para este estudo,
destaca-se que a nomeação das categorias foi realizada posteriormente.
72
RESULTADOS
I. ESTUDO
Desvio
EPA Mín Máx Mediana Média
Padrão
Dimensão I - Procrastinação Estudo Prova 1 5 2.40 2.44 0.71
Dimensão II - Procrastinação Estudo Diário 1 5 2.60 2.65 0.70
EPA Total 1 5 2.60 2.55 0.61
73
Ao analisar a Tabela 4, nota-se que o total das respostas dos
universitários à escala EPA apresentou média de 2,55 (dp= 0,61), sendo que a
média de resposta permaneceu no intervalo relativo médio (1,94 a 3,16), indicando
que os participantes procrastinam entre poucas a algumas vezes seus estudos.
Esse intervalo foi obtido por meio da subtração e soma do desvio padrão em
relação à média total da escala. A mediana das respostas situou-se em 2,60,
corroborando com a tendência da média.
Com relação às dimensões, observa-se que a Procrastinação no estudo
para prova (dimensão I) apresentou os menores valores da escala EPA (mediana
2,40; M= 2,44; dp= 0.71). Enquanto a segunda dimensão, Procrastinação no
estudo diário, deteve a maior média da escala (M=2,65; dp=0,70), sendo a
mediana (2,60), a mesma obtida na escala EPA total. Além disso, à média das
duas dimensões contemplaram o intervalo médio respostas (1,94 a 3,16). A fim de
averiguar a diferença observada entre as duas dimensões foi realizada análise
comparativa, apresentada na Tabela 5.
Desvio
Itens Mín. Máx. Mediana Média
Padrão
7. Interrompo o tempo de estudo para as provas
para fazer outras atividades (ex., ver TV, ouvir 1 5 3.00 2.66 1.09
música, falar ao celular).
9. No estudo para as provas, adio para o dia
1 5 3.00 2.63 1.03
seguinte o que devia ter feito hoje.
2. Fico distraído enquanto estudo para as provas. 1 5 3.00 2.55 0.99
3. Perco-me em tantas coisas/atividades que não
1 5 2.00 2.42 1.05
sobra tempo para estudar para as provas.
6. Quando um trabalho acadêmico é muito difícil,
1 5 2.00 1.96 1.00
desisto e passo para outra tarefa.
Dimensão I — Procrastinação Estudo Prova 1 5 2.40 2.44 0.71
75
invertidos, e assim como na dimensão anterior os escores elevados indicam maior
tendência à procrastinação, enquanto os menores significam pouca
procrastinação.
77
Tabela 9: Análise comparativa dos escores da Escala de Procrastinação Acadêmica e
Atividade remunerada
Atividade Desvio
remunerada EPA N Mediana Média Valor p*
Padrão
Dimensão I – Procrastinação Estudo
2.40 2.47 0.73 0.540
Prova
SIM Dimensão II – Procrastinação Estudo 300 2.80 2.68 0.69 0.333
Diário
EPA total 2.60 2.57 0.63 0.293
Dimensão I – Procrastinação Estudo
2.40 2.42 0.69
Prova
Não Dimensão II – Procrastinação Estudo 360 2.60 2.63 0.70
Diário
EPA total 2.50 2.53 0.61
* Valor-p referente ao teste de Mann-Whitney para comparação das variáveis entre dois grupos.
Tabela 10: Análise comparativa dos escores da Escala de Procrastinação Acadêmica e Horas
de trabalho semanal
Horas de Desvio
Trabalho EPA N Mediana Média Valor p*
Padrão
<= 20 Dimensão I – Procrastinação Estudo Prova 2.40 2.42 0.73 0.307
141
horas Dimensão II – Procrastinação Estudo Diário 2.80 2.68 0.67 0.871
EPA total 2.60 2.55 0.61 0.657
78
Tabela 11: Análise comparativa dos escores da Escala de Procrastinação Acadêmica e
Turno de Estudo
Turno Desvio
Dimensão EPA N Mediana Média Valor p**
Estudo Padrão
Dimensão I – Procrastinação Estudo
2.60 2.56 0.67 p<0.001
Prova
Integral Dimensão II – Procrastinação Estudo 203
2.80 2.84 0.69 p<0.001
Diário
EPA total 2.70 2.70 0.60 p<0.001
Dimensão I – Procrastinação Estudo
2.40 2.31 0.70
Prova
Parcial Dimensão II – Procrastinação Estudo 213
diurno 2.40 2.49 0.69
Diário
EPA total 2.50 2.40 0.57
Dimensão I – Procrastinação Estudo
2.40 2.48 0.72
Prova
Noturno Dimensão II – Procrastinação Estudo 243
2.60 2.66 0.67
Diário
EPA total 2.60 2.57 0.62
* Valor-P referente ao teste de Kruskal-Wallis para comparação das variáveis entre três ou mais grupos.
80
Tabela 12: Estatística descritiva do Inventário de Processos Autorregulação da
Aprendizagem
Desvio
Itens N Mín. Máx. Mediana Média
Padrão
3. Procuro compreender o significado das matérias que
655 2 5. 4.00 4.22 0.77
estou aprendendo.
4. Quando recebo uma nota/um feedback, penso em
656 1 5 4.00 4.11 0.84
coisas concretas que preciso fazer para melhorar.
5. Analiso as correções dos trabalhos e/ou provas feitas
pelos professores, para ver onde errei e saber o que 655 1 5 4.00 4.05 0.95
preciso mudar para melhorar.
2. Durante as aulas ou no meu estudo pessoal, penso em
coisas concretas que posso/preciso mudar no meu 655 1 5 4.00 3.71 0.88
comportamento para atingir os meus objetivos.
1. Faço um plano antes de começar um trabalho/projeto,
penso no que vou fazer e no que é preciso para completá- 656 1 5 4.00 3.68 1.08
lo.
7. Tenho segurança de que sou capaz de compreender o
que vão me ensinar e, por isso, acho que vou ter boas 656 1 5 3.00 3.44 1.02
notas.
8. Comparo as notas que tiro com os meus objetivos em
655 1 5 4.00 3.42 1.14
cada disciplina.
6. Se não cumpro o horário de estudo estabelecido, penso
porque é que isso aconteceu e tiro conclusões para avaliar 655 1 5 3.00 3.22 1.13
o que houve.
IPAA Total 651 1.88 5.00 3.75 3.74 0.58
* Valor-P referente ao teste de Mann-Whitney para comparação das variáveis entre dois grupos.
Desvio
Atividade Remunerada N Mediana Média Valor p*
Padrão
Sim 295 3.75 3.73 0.58 0.561
IPAA
Não 353 3.75 3.75 0.59
* Valor-P referente ao teste de Mann-Whitney para comparação das variáveis entre dois grupos.
82
remunerada. O mesmo resultado foi obtido com a variável horas de trabalho
semanal, como pode ser observado na Tabela 15.
* Valor-P referente ao teste de Mann-Whitney para comparação das variáveis entre dois grupos.
84
1.3. Relação entre a procrastinação acadêmica e a Autorregulação da
Aprendizagem
85
dimensões da procrastinação acadêmica e da autorregulação da aprendizagem,
novamente nota-se correlação moderada e inversamente significante (r= -0.44).
Visto que a autorregulação da aprendizagem corresponde a um único fator
a Tabela 18 apresenta a correlação entre os itens que compõe o instrumento IPAA
e as dimensões da procrastinação acadêmica e seu escore total. É possível notar
que a correlação negativa e significante se repete entre todos os itens do IPAA e
as dimensões e o escore total da EPA, porém com intensidade fraca. Além disso,
observa-se correlações maiores entre as dimensões da EPA e o item 1 do IPAA,
que versa sobre o planejamento da atividade de estudo.
86
Tabela 19: Correlação entre Procrastinação Acadêmica, idade e horas de
trabalho
Horas de
EPA Idade
trabalho
r= - 0.09925 0.02534
Dimensão I– Procrastinação Estudo Prova
p= 0.0107 0.6658
n= 661 293
r= -0.08189 -0.03578
Dimensão II– Procrastinação Estudo p= 0.0353 0.5419
n= 661 293
r= -0.09276 - 0.00261
EPA total p= 0.0171 0.9645
n= 661 293
87
1.4. Síntese dos Resultados Quantitativos
88
mais velhos (acima de 21 anos) autorregularem sua aprendizagem, que os
universitários entre 18 e 21 anos de idade. Assim como, estudantes do período
parcial diurno (matutino e vespertino) tendem a autorregular sua aprendizagem
com mais frequência do que aqueles que cursavam o turno integral e noturno da
graduação.
A última análise realizada, a correlacional, indicou a existência de
correlação negativa e significante entre a procrastinação acadêmica e a
autorregulação da aprendizagem, sendo que entre a autorregulação da
aprendizagem, a procrastinação no estudo diário (dimensão II) e a EPA total e à
magnitude da correlação foi moderada. Esse resultado indica a tendência de que
quanto maior a procrastinação acadêmica, menor a autorregulação da
aprendizagem e vice e versa. Por fim, a correlação entre a idade e a
procrastinação acadêmica, também apresentou correlação negativa, com
magnitude fraca, indicando que estudantes mais velhos tendem a procrastinar
menos que os mais novos e vice versa. Não houve correlação entre horas de
trabalho semanal e a procrastinação nos estudos.
De forma geral, é possível observar que os resultados das duas variáveis
apresentaram informações complementares. Na seção a seguir apresenta-se os
resultados da análise qualitativa dos dados.
89
II. Estudo: Análise Qualitativa
90
46,75% da amostra total desta pesquisa (n=663). Esses participantes pertenciam
4
a sete universidades, alocadas em quatro das cinco regiões brasileiras
participantes da pesquisa.
Foram analisadas e categorizadas as respostas dos 292 estudantes
universitários sobre as atividades acadêmicas adiadas. Ao todo foram formuladas
três categorias, a saber: i. Tarefas acadêmicas; ii. Estudos; e iii. Atividades
extracurriculares. Em cada uma dessas categorias foi verificado o número total de
respondentes, bem como o número de atividades adiadas em si.
A primeira categoria, Tarefas acadêmicas, agrupou as respostas de 256
estudantes. Sendo agrupados dez tipos de tarefas acadêmicas, que envolvem,
predominantemente, atividades curriculares obrigatórias solicitadas pelo professor.
As descrições dessas tarefas acadêmicas podem revelar algumas estratégias
didáticas utilizadas pelo docente. A seguir destaca-se algumas respostas dos
estudantes, que ilustram a categoria.
4
A Região Centro-Oeste não participou desta análise, pois os estudantes participaram apenas da
coleta quantitativa (estudo I).
91
cada uma das tarefas elencadas, bem como o número total de registros realizados
em cada tarefa acadêmica elencada.
* Os valores foram calculados sobre o número total de registros de atividades nesta categoria.
Observando a Tabela 20, nota-se que essa categoria elencou uma grande
variedade de atividades acadêmicas. Porém, há destaque para as tarefas
acadêmicas de Leitura, Trabalhos e Produção Textual, que agregam o maior
número de registros. Ao passo que Atividades em grupo e Tarefas extras foram
registradas em menor quantidade.
A segunda categoria, intitulada Estudo, deteve as respostas de 186
universitários da amostra. Essa categoria trata do adiamento de ações, estratégias
92
e processos que favorecem o estudo contínuo e também específico. Sendo
composta por cinco subcategorias, a saber: Estudo; Estudo diário; Estudo para
prova; Estudo específico; Processos de Autorregulação da Aprendizagem (ARA)
(Tabela 21). Mesmo que a ação de estudo também seja um tipo de “tarefa
acadêmica”, optou-se por reunir os relatados peculiares sobre o tema em outra
categoria. Isto porque o estudo não se concretiza apenas a partir da execução de
tarefas acadêmicas, mas também pode se referir ao processo de aprendizagem. A
seguir respostas que ilustram a categoria
93
Tabela 21: Descrição frequência e porcentagem do estudo adiado (n= 183)
96
Adio “[...] Ler textos que só vão ser utilizados nas provas”.
(22 anos, sexo feminino, curso de Educação Física)
Trabalhos não tão importantes [...]
(19 anos, sexo masculino, curso de Administração)
“[...] adio algum trabalho mais difícil, onde estou tendo dificuldades
para terminá-lo”. (sexo feminino, 25 anos, curso de Administração)
“Ler textos chatos [...]”. (22 anos, sexo feminino, curso de Ciências
Sociais)
97
Deixo para estudar para as provas um dia antes, pois tenho receio
de esquecer de algo importante; os trabalhos eu faço só para o
prazo de entrega; e as leituras de textos só antes das provas. (sic)
(25 anos, sexo feminino, curso de Pedagogia).
98
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
99
que, geralmente, o estudo diário possui direcionamentos mais vagos e metas
estabelecidas pelo próprio estudante, o que exige maior autocontrole e regulação
pessoal. Ao passo que o estudo para provas, normalmente, é caracterizado por
metas de desempenho claras, conteúdo prévio fornecido pelo professor e prazo
delimitado. De acordo com a literatura, atividades acadêmicas que possuem
objetivos específicos e claros tendem a ser executadas com mais precisão
(ROSÁRIO, NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007; ZIMMERMAN; SCHUNK, 2004;
ROSÁRIO, 2004b; ZIMMERMAN, 1998).
De fato, o estudo torna-se mais eficaz à medida que o estudante tem
metas de aprendizagem e expectativas de desempenho claras, como tende a ser
o estudo para prova. Geralmente, o estudo para avaliação possui uma série de
guias pessoais e também orientações fornecidas pelo professor ou pelos pares
que direcionam sobre o motivo (objetivos; valores; atribuições), o método
(estratégias de aprendizagem) e o tempo preciso (controle do tempo; prazo), para
que este estudo seja executado (ROSÁRIO, 2004b). Ao passo que, para o estudo
diário, muitas vezes, não se estabelece um objetivo concreto, realizável e
avaliável, o que não contribui com o controle sobre o porquê, o como, o quando, o
quê ou o onde (ambiente), dificultando o desenvolvimento adequado do
comportamento de estudo autorregulado (ROSÁRIO, NÚÑEZ; GONZÁLEZ-
PIENDA, 2007; ROSÁRIO, 2004b). O trabalho realizado por Akcerman e Gross
(2005) apresenta evidências de que tarefas de estudo com orientações claras e
objetivas e a fragmentação de atividades complexas em submetas
interdependentes podem reduzir a probabilidade do estudante procrastinar.
No entanto, ao observar as informações encontradas no Estudo II, do
presente trabalho, verifica-se que metade dos registros da categoria Estudo,
referia-se ao adiamento do estudo para prova (n=28; 50,83%). Contudo, ao
verificar o relato de três estudantes, pode-se inferir que adiar o estudo para prova
possa ser compreendido, em alguns casos, como uma estratégia de
aprendizagem, como ilustra o trecho a seguir: “Deixo para estudar para as provas
um dia antes, pois tenho receio de esquecer de algo importante [...] e as leituras
de textos só antes das provas.”
100
Esse adiamento do estudo de provas relatado pelos participantes pode ser
encarado como uma estratégia de aprendizagem, portanto como uma ação
intencional de estudo. Porém, esse tipo de estratégia de aprendizagem,
comumente, é associada a um processamento superficial de informação, no qual
são utilizadas técnicas que prezam, por exemplo, pela repetição literal e
memorização das informações. Além disso, esse tipo de estratégia de
aprendizagem tende a não ser favorável ao desempenho acadêmico. Uma vez
que o estudo é realizado na “véspera da prova”, portanto em um espaço muito
curto de tempo, havendo pouca probabilidade de serem utilizadas estratégias de
aprendizagem que permitam um processamento profundo da informação, tais
como: criar associações e inter-relações com conceitos pré-existentes e abstrair
significados (BORUCHOVITCH, 1999; POZO, 1996).
Corroborando com o exposto, no trabalho desenvolvido por Ferrari (2001),
nota-se que o comportamento de adiar também era tido como um tipo de
estratégia pelos estudantes, pois estes alegaram adiar seus estudos por trabalhar
melhor sobre pressão. Contudo essa afirmação não foi comprovada, pois segundo
as evidências do estudo, os estudantes que procrastinavam de modo crônico
apresentaram mais erros e trabalharam de forma mais vagarosa que outros
participantes. Além disso, há evidências de que procrastinadores utilizam com
mais frequência desculpas falsas, como o pouco tempo para o estudo, para
justificar o baixo desempenho (FERRARI, 2004; FERRARI; TICE, 2000).
Ampliando as informações sobre a escala EPA, analisou-se, mais
atentamente, cada uma de suas dimensões, a fim de aprofundar as informações a
respeito da procrastinação acadêmica. Desse modo, ao observar os cinco itens da
dimensão Procrastinação no estudo para prova (dimensão I), percebe-se que eles
tratam tanto de aspectos relacionados ao conceito de procrastinar em si (deixar
para depois), como também versam sobre algumas possíveis explicações sobre
tal comportamento, como: distração, falta de concentração e organização e
desistência frente à dificuldade na tarefa. Atentando-se para os itens que
detiveram maior valor nessa dimensão, verifica-se que algumas vezes os
estudantes tendiam a interromper seu estudo para prova em prol de atividades
concorrentes e irrelevantes (item sete; M=2,66; dp=1,09) e também de deixar para
101
o dia seguinte o estudo para prova (item nove; M=2,63; dp=1,03). Isso corrobora
com a perspectiva que compreende a procrastinação como o comportamento de
adiar, atrasar ou interromper sistematicamente um curso de ação pretendido
(MONTEIRO, 2009; COSTA, 2007; ROSÁRIO, 2004b; KERBAUY, 1997).
Ainda explanando sobre a dimensão I, Procrastinação no estudo para
prova, de acordo com os resultados do item dois os estudantes tendiam a se
distrair durante o estudo para provas entre poucas e algumas vezes (M=2,55;
dp=0,99). Segundo a literatura, estudantes que procrastinam com frequência
tendem a distrair-se com facilidade, tanto com aspectos pessoais (pensamentos,
sensações corpóreas), como com determinados eventos ambientes (sons, objetos,
imagens) (KLASSEN; KUZUCU, 2009; FERRAI; TICE, 2000; ENUMO; KERBAUY,
1999). O trabalho realizado por Ferrari e Tice (2000) evidência que universitários
procrastinadores distraem-se facilmente durante o estudo para tarefas que
consideram importantes (como testes e avaliações), trocando o estudo por
atividades menos importantes e prazerosas.
Os itens que apresentaram os menores valores da dimensão I -
Procrastinação no estudo para prova abordam possíveis explicações para o
comportamento de procrastinar. Assim, o item três (M=2,42; dp=1,05) afirma que a
procrastinação se daria em função da má gestão de atividades acadêmicas, o que
segundo os resultados tende a ocorrer poucas vezes com os participantes deste
estudo. Outras pesquisas que investigaram o gerenciamento de tempo e de
recursos de estudantes, no entanto, indicam que os estudantes procrastinadores
têm grande dificuldade em gerir e organizar recursos materiais de modo adequado
(KLASSEN, KRAWCHUK; RAJANI, 2008; ROSÁRIO, NÚÑEZ, PIENDA, 2006;
FERRARI, 2004). Relatos dos estudantes, descritos no Estudo II, ilustram tal
situação: Adio [...] “o preparo do material para aula”; [...]“Tirar xerox dos textos”;
[...] “organizar os semestres” [...]. Além disso, procrastinadores crônicos tendem a
exibir dificuldade com a gestão do tempo e, muitas vezes, superestimam o tempo
que lhes resta para executar a tarefa acadêmica com qualidade (KERBAUY, 1997;
BURKA; YUEN, 1991).
O item que apresentou o menor valor da dimensão I, Procrastinação no
estudo para prova, e também da escala EPA, relatava que o comportamento
102
procrastinatório ocorria devido a dificuldade da tarefa. De acordo com os
resultados, a procrastinação tende a ocorrer entre nenhuma e poucas vezes por
este motivo, entre os participantes deste estudo (item seis; M=1,96; dp=1,00).
Esse dado corrobora com as evidências encontradas em outros trabalhos, como
na pesquisa desenvolvida por Ackerman e Gross (2005), que também não
encontraram relação entre a procrastinação acadêmica e o grau de dificuldade da
tarefa. Isso talvez indique que embora as atividades sejam difíceis são percebidas
como realizáveis e desafiadoras (BZUNECK, 2010). Além disso, os estudantes
podem estar fazendo uso de estratégias adequadas para solucionar seus
problemas de estudo e aprendizagem, como a busca por apoio de professores,
pares ou de recursos materiais didáticos (ROSÁRIO, 2004b; POZO, 1996;
ZIMMERMAN; MARTINEZ-PONS, 1986).
Um dos universitários participantes deste estudo utilizou exatamente a
mesma frase do item seis para descrever uma das atividades acadêmicas
adiadas, descrita a seguir: “Quando um trabalho acadêmico é muito difícil desisto
e passo para outra tarefa [...]”. Isso também pode revelar que alguns estudantes
talvez utilizem a procrastinação como uma estratégia para solucionar problema.
Uma vez que diante de algumas situações de aprendizagem difíceis, o
distanciamento ou o adiamento reflexivo possa ser utilizado para tomada de
decisão e posterior ação (BURKA; YUEN, 1991) e, portanto, como uma estratégia
de autorregulação da aprendizagem (ROSÁRIO, 2004b). No entanto, isso,
geralmente, não se aplica ao procrastinador crônico, pois quando o
comportamento de adiar ocorre diante de dificuldades ou obstáculos com a tarefa,
a procrastinação ocorre para evitar possíveis resultados indesejáveis, como: medo
do fracasso (proteção da autoestima) (FERRARI, 2004; FERRARI; SCHER, 2000;
FERRARI et al., 1998; BURKA; YUEN, 1991).
Quanto à dimensão II da escala EPA, Procrastinação no estudo diário, os
itens que obtiveram os maiores valores tratam da prontidão frente às atividades
acadêmicas. Isso indica que os participantes tendem a procrastinar entre poucas e
algumas vezes situações desse tipo. O maior valor da dimensão II e também da
escala EPA é visto no item quatro (M=311; dp=1,13), que versa sobre o estudo
diário. Além disto, a situação de executar o planejamento de estudo (item oito; M=
103
2.63; dp=1,03) e a prontidão diante de uma tarefa importante (item 10; M= 2,55;
dp= 1,09), também foram apontadas como procrastinadas entre poucas e algumas
pelos participantes. Complementam esses dados as informações contidas no
Estudo II, visto que a categoria Estudo diário obteve o segundo maior número de
registros (15,30%), sendo ilustrada pelos seguintes trechos: Adio os [...] “planos
para o estudo”; “[...] às vezes não consigo [...], fazer exercícios solicitados, para
serem feitos em casa”.
De acordo com a literatura, a falta de prontidão para executar atividades
necessárias e a dificuldade para lidar com situações de estudo que exigem maior
autocontrole e regulação interna para serem realizadas são características do
procrastinador (SCHOUWENBURG, 2004; FERRARI, 2001; VAN EERDE, 2000;
SÉNECAL, KOESTNER, VALLERAND, 1995; ROTHBLUM; SOLOMON,
MURAKAMI, 1986). Os estudos desenvolvidos por Orpen (1998) e Sénecal,
Koestner, Vallerand (1995), encontraram evidências que relacionam a
procrastinação com a necessidade de regulação externa, ou seja, estudantes
procrastinadores tendem a ter maior necessidade de regras, recompensas ou
punições impostas por outros (pais, professores, instituição) para apresentar
comportamento de estudo. Enquanto estudantes com regulação mais autônoma
apresentam tendência menor para procrastinar.
Como dito anteriormente, enquanto os itens que obtiveram os maiores
valores na dimensão Procrastinação no estudo diário indicam que a
procrastinação tem maior probabilidade de ocorrer quando a atividade depende
apenas do controle pessoal do estudante, os itens que obtiveram menor
pontuação apontam para o oposto. Ao observar o item cinco (M=2,54; dp=1,00) e
o item um (M= 2,44; dp=1,05) nota-se que ambos referem-se ao contexto de sala
de aula, sendo que descrevem a necessidade de se buscar a ajuda do outro
(professor ou pares) e sobre a obediência as orientações do professor. Conforme
já explanado, isso indica que o comportamento procrastinatório tem menor
probabilidade de ocorrer em diante de determinado controle ambiental, como a
presença de um professor.
De maneira geral, além de explorar as características da procrastinação
acadêmica em si, o presente estudo buscou compreender se características
104
pessoais e acadêmicas poderiam potencializar ou atenuar a manifestação da
procrastinação (STELL, 2007; PASCARELLA; TERENZINI, 2005; FERRARI,
2004). Confirmando informações da literatura, foram encontradas diferenças
significantes na procrastinação acadêmica em função da faixa etária dos
participantes da amostra. Os estudantes com idades entre 18 e 21 anos tendem a
procrastinar com mais frequência que estudantes mais velhos (acima de 21 anos).
Outras investigações também fornecem evidências de que estudantes
mais jovens procrastinam mais que estudantes mais velhos (BALKUS; DURU,
2009; STEEL, 2007; VAN EERDE, 2003; BESWICK, ROTHUBLUM; MANN, 1988).
Complementando essa informação, pesquisas que relacionaram a procrastinação
acadêmica e a série escolar, revelam que estudantes de séries mais avançadas
procrastinam menos (ROSÁRIO et al., 2009; MONTEIRO, 2009; COSTA, 2007).
Isso indica que alguns fatores associados à idade, como o acúmulo de situações
de aprendizagem vividas, a aquisição de novas responsabilidades e papéis sociais
e o provável fortalecimento e complexidade de aspectos psicológicos e
emocionais, tendem a diminuir o comportamento procrastinatório com o aumento
da idade (STEEL, 2007; VAN EERDE, 2003; ENUMO; KERBAUY, 1999;
BESWICK, ROTHUBLUM; MANN, 1988).
Também houve variação na procrastinação acadêmica em função do
período de estudo do universitário. Os estudantes do período integral e noturno
apresentaram maior probabilidade de procrastinar que os participantes do turno
matutino e vespertino (parcial diurno). Contudo, não foram identificados outros
estudos que investigaram a relação entre procrastinação e o turno de estudo.
Apesar disso, com base no conjunto de informações acumuladas a respeito do
estudante universitário, é sabido que algumas características inerentes à
instituição de ensino e ao curso de graduação, como a diferença de carga horária,
conteúdo e didática favorecem o desenvolvimento de alguns comportamentos
(PASCARELLA; TERENZINI, 2005; MERCURI; POLYDORO, 2003). Desse modo,
para se compreender a semelhança apresentada entre a procrastinação
acadêmica dos estudantes do período integral e noturno, bem como a diferença
entre estes dois turnos e período parcial diurno (matutino e vespertino), seria
necessária a realização de novas análises estatísticas que investigassem a
105
relação entre a procrastinação acadêmica, o turno de estudo e o curso de
graduação, por exemplo.
Com relação ao fato de exercer ou não atividade remunerada e das horas
semanais despendidas ao trabalho, ao contrário do esperado, não houve variação
da procrastinação acadêmica. Tradicionalmente, o acúmulo de funções e
compromissos, como o trabalho e a quantidade de horas dispensadas e este são
vistas como concorrentes ao estudo, podendo contribuir com o baixo desempenho
acadêmico e com dificuldades de gerenciamento de tempo (PIKE, KUH; MASSA;
MCKINLEY, 2008; CARELLI; SANTOS, 1998). A literatura sobre procrastinação
acadêmica não fornece subsídios para compreender e confrontar os dados obtidos
no presente estudo. Hipotetiza-se que, de certo modo, a qualidade e o tipo de
atividade remunerada possa otimizar as situações acadêmicas de aprendizagem,
considerando que estudantes que atuam nas áreas de estudo, provavelmente,
conseguem relacionar com mais facilidade alguns conceitos aprendidos na
graduação. Desse modo, seria preciso realizar novas investigações que
explorassem, com mais profundidade, a procrastinação acadêmica e o estudante
trabalhador. Por exemplo, cruzando variáveis, como: idade, tipo de atividade
remunerada, horas de trabalho e turno de estudo.
Paralelamente às análises mencionadas, realizou-se um Estudo qualitativo
que possibilitou ampliar as informações sobre a procrastinação acadêmica, em
especial a procrastinação de atividades acadêmicas. A partir disso, as respostas
dos participantes foram elencadas em três categorias principais, a saber: Tarefas
acadêmicas; Estudos; e Atividades extracurriculares.
A maior incidência de registros pode ser observada na categoria Tarefas
acadêmicas, que agrupou a resposta de 250 estudantes. Nessa, houve o
destaque na incidência de relatos de tarefas de leituras, trabalhos acadêmicos e
produção textual. Diversos estudos internacionais também destacam essas
atividades como as mais frequentemente adiadas pelos estudantes (KLASSEN et
al., 2008; ACKERMAN; GROSS, 2005; DAY, MENSINK; O´SULLIVAN, 2000;
FERRARI; SCHER, 2000; SOLOMON; ROTHBLUM, 1984). O estudo nacional
realizado por Enumo e Kerbauy (1999), reitera as evidências internacionais e
106
destacam a leitura de textos e a realização de trabalho como as atividades
acadêmicas adiadas pelos estudantes.
A categoria Estudo agregou as respostas de 186 universitários, com
destaque para as atividades de Estudo para prova e Estudo diário. Como já
mencionado, muitas pesquisas internacionais revelam que estudantes
procrastinadores comumente adiam o estudo para suas avaliações, o que
geralmente, contribui com a alta ansiedade e o baixo desempenho na avaliação
(FERRARI, 2004; FERRARI; TICE, 2000; ROTHBLUM, SOLOMON; MURAKAMI,
1986). Além dessas atividades, muitos estudantes (14,20%) também
mencionaram Estudo específico, ou seja, o adiamento de atividades de disciplinas
específicas. Desse modo, verificou-se que esses estudantes determinaram o
domínio em que a procrastinação ocorre (por exemplo, matemática, álgebra,
introdução a administração). De acordo com a literatura, a procrastinação pode
ocorrer em domínios específicos (MILGRAM, MEY-TAL; LEVISON,1998) e estar
associada a certas situações de aprendizagem e não a outras, podendo estar
relacionada a característica de certos professores ou a dificuldade na disciplina
(FERRARI e Cols., 1998). Evidências encontradas por Ferrari (2004), Costa
(2007) e Monteiro (2009), pontuam forte relação entre a procrastinação e o estudo
para matemática e línguas (no caso, o estudo de língua inglesa e portuguesa).
Ainda na categoria Estudo, mesmo que tenha havido pouca incidência,
identificou-se o adiamento de alguns Processos da autorregulação da
aprendizagem. Tais processos diziam respeito ao adiamento de estratégias de
aprendizagem (como adiar anotações durante as aulas, a revisão de trabalhos, a
seleção de informações importantes do texto); a busca por apoio (de professores e
monitores); a falta de envolvimento com a organização e gestão de tempo e
recursos materiais (planejar o estudo, fazer cronogramas das atividades de
estudo, cumprir o horário de aulas, organizar o material de estudo, fotocopiar
textos).
Por fim, a categoria Atividade extracurricular, que totalizou 24 respostas,
versava sobre atividades extracurriculares vinculadas a eventos acadêmicos e/ou
científicos, monitorias, palestras associados ao curso de graduação ou não.
Pontua-se que o envolvimento em qualquer tipo de atividade acadêmica requer
107
que o estudante perceba-a como sendo valorosa e importante a sua formação
profissional (BZUNECK, 2010; FERRARI; TICE, 2000; ACKERMAN; GROSS,
2005). Segundo Ackerman e Gross (2005) os estudantes raramente procrastinam
atividades que apreciam e consideram úteis, como aquelas que ajudam no
desenvolvimento de suas competências profissionais.
De modo geral, considerando todas as categorias formuladas, crê-se que
o fato da categoria Tarefas Acadêmicas e Estudos tenham tido maior número de
registros, não significa que são as mais procrastinadas. Visto que tanto a pergunta
realizada (Indique três atividades acadêmicas que costuma adiar com frequência)
como os itens da escala EPA direcionam apenas para esse tipo de situação
acadêmica. Porém, a vida acadêmica do universitário é mais ampla e envolve
outros aspectos, como por exemplo, envolver-se em eventos sociais acadêmicos e
a resolução de demandas burocráticas. Desse modo, a análise realizada permitiu
identificar em partes algumas das atividades acadêmicas adiadas com mais
frequência pelos estudantes, provavelmente questões mais amplas ou entrevistas
fornecessem informações mais completas.
Além das atividades adiadas, os relatos dos estudantes também
possibilitaram inferir em que momento do processo de execução de uma atividade
acadêmica os participantes tendiam a procrastinar, sendo que isto era indicado
pelos verbos contidos nas frases, tais como: iniciar, realizar, resolver, entregar,
concluir, finalizar, terminar. Isso denota que a procrastinação é um comportamento
que pode ocorrer em qualquer fase do processo de aprendizagem, seja no início
(adiar), na execução (interrupções), ou na conclusão em si. O estudo de Enumo e
Kerbauy (1999) identificou que os estudantes adiavam o início de suas tarefas
(48,44%) e outros procrastinavam durante a ação, interrompendo a tarefa
frequentemente.
Outra informação extraída das respostas dos participantes justificava o
adiamento das atividades acadêmicas. Essas justificativas relacionavam-se a
característica da tarefa (agradável ou desagradável; fácil ou difícil; valer nota ou
não) ao nível de envolvimento motivacional com a atividade em si ou com a
disciplina; e por fim, o adiamento como uma forma de estratégia de gestão de
108
tempo (prazo para execução/entrega) ou de aprendizagem (para reter
informações).
As justificativas descritas pelos estudantes também são encontradas em
estudos da literatura da temática, que relaciona, comumente, a procrastinação
com situações acadêmicas percebidas como desagradáveis, entediantes ou
aversivas (FERRARI, 2004). E, ainda, com atividades que possuem prazo muito
longo para serem realizadas (como trabalhos de conclusão de curso) e que não
possuem objetivos e diretrizes claras ou nível de desafio inadequado às
habilidades dos estudantes (ACKERMAN; GROSS, 2007; 2005; FERRARI, 2004;
FERRARI; SCHER, 2000). Isso indica que algumas especificidades das tarefas
acadêmicas interferem no grau de envolvimento que o estudante estabelece.
Ainda buscando ampliar as informações a respeito da procrastinação
acadêmica, investigou-se a relação desta com o processo de autorregulação da
aprendizagem. Isto porque se considera que o comportamento procrastinatório
indica um processo ineficiente de autorregulação da aprendizagem. Ou seja, um
processo de autorregulação que possivelmente apresenta falhas no
monitoramento, na regulação de fatores pessoais (cognição, metacognição,
motivação, comportamento) e ambientais (MONTEIRO, 2009; KLASSEN;
KUZUCU, 2009; KLASSEN e Cols., 2008; STEEL, 2007; COSTA, 2007).
(ROSÁRIO, NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007; ROSÁRIO, 2004b).
Em linhas gerais, as análises das respostas ao Inventário de Processos
Autorregulação da Aprendizagem (IPAA) indicaram que os participantes
autorregulam sua aprendizagem entre algumas e muitas vezes (M=3,74; dp=0,58).
Mostra que, geralmente, os universitários desse estudo tendem a planejar,
executar e avaliar suas ações de estudo, em prol da realização dos objetivos de
aprendizagem intencionados (ROSÁRIO, NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007;
ROSÁRIO, 2004b). Resultado semelhante também é encontrado nos estudos
portugueses, que também utilizaram o IPAA em estudantes (MONTEIRO, 2009;
COSTA 2007).
De modo geral, os participantes do estudo tendem a avaliar e planejar
mais seu processo de aprendizagem do que executam suas ações de estudo.
Destaca-se que falhas em qualquer uma das fases do processo de autorregulação
109
da aprendizagem culminam em consequências para fase seguinte, pois este é um
sistema cíclico e dinâmico, no qual cada uma das fases está interconectada de
modo recíproco. Segundo Zimmerman (2001;1998), estudantes com dificuldade
para executar suas intenções de estudo são facilmente distraídos por eventos
ambientais e sociais, por aspectos emocionais (estar ansioso) ou por
pensamentos ruminantes, tais como pensar sobre os erros obtidos. Para o autor,
ao invés de utilizar estratégias para antever situações de aprendizagem, confiam
mais no “ensaio e erro” para fazer uso de novos métodos de estudo. E ainda,
tendem a falhar no monitoramento de seu desempenho, garantindo apenas
fragmentos de informação, o que pode culminar na superestimação do próprio
desempenho.
Os valores obtidos nos itens do IPAA sugerem que os estudantes
executam o plano de aprendizagem traçado entre algumas e muitas vezes (item
três: M=4,22, dp=0,77; item um: M= 3,68, dp=1,08; e item sete: M=3,44; dp=1,02).
Sendo que, para isso, é preciso implementar um conjunto de estratégias de
organização e gestão de recursos materiais e pessoais e a mobilização de
crenças motivacionais para realizar a objetivo estabelecido. No entanto, a
execução do plano traçado nem sempre ocorre (item dois: M=3,71, dp=0,88; item
seis: M=3,22, dp=1,13), sendo preciso para isto executar estratégias de
aprendizagem cognitivas e metacognitivas, monitorando constantemente a
eficácia destas (ROSÁRIO, NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007; ZIMMERMAN,
2000). Com relação à avaliação do próprio desempenho, a média dos itens indica
que os estudantes se avaliam entre algumas e muitas vezes (item quatro: M=4,11,
dp=0,84; item cinco: M= 4,05, dp= 0,95; item oito: M= 3,42, dp=1,14). O que indica
que os estudantes da amostra tendem a avaliar o próprio desempenho de modo
eficiente, julgando se as tarefas de aprendizagem ocorreram conforme o previsto,
analisando a relação entre o desempenho e as metas estabelecidas.
Aprofundando a investigação a respeito da autorregulação da
aprendizagem, verificou-se se haveria variação nesta em função de aspectos
pessoais e acadêmicos dos universitários participantes. Considerando a faixa
etária dos participantes, os resultados demonstraram que estudantes mais velhos
(acima de 21 anos de idade) se autorregulavam mais que universitários mais
110
novos (entre 18 e 21 anos). De fato, a literatura sobre a autorregulação da
aprendizagem indica que estudantes mais jovens possuem menos domínio sobre
as estratégias de autorregulação, desenvolvendo-a gradualmente (ROSÁRIO,
NÚÑEZ; GONZÁLEZ-PIENDA, 2007; ROSÁRIO, 2004b; BORUCHOVTCH, 2004).
A aprendizagem autorregulada também variou em decorrência do turno de
estudo dos universitários. Percebe-se que estudantes dos turnos matutino e
vespertino tendiam a autorregular mais sua aprendizagem do que os participantes
que estudavam no período integral e noturno. Não há na literatura subsídios para
discutir tais informações. No entanto, Pascarella e Terenzini (2005) reúnem um
conjunto de evidências que asseveram que alguns comportamentos recebem
influência direta ou indireta de experiências vividas no ensino superior. Como por
exemplo, as especificidades do curso de graduação e da universidade, o currículo
do curso, o turno de estudo frequentado, entre outros. Partindo do princípio que
todo indivíduo atua e sofre a influência de uma tríade recíproca e dinâmica de
fatores pessoais, comportamentais e ambientais (BANDURA, 2008), considera-se
que haja diferenças quantitativas e qualitativas nas vivencias acadêmicas dos
estudantes dos diferentes turnos, como as horas dedicadas ao estudo, o grau de
interação com os pares e até a relação com a instituição de ensino (FREITAS;
TESTAS, 2005; SANTOS, 1998).
Isto indica que o turno de estudo pode favorecer, de certo modo, o
desenvolvimento e a manutenção tanto da autorregulação da aprendizagem como
da procrastinação acadêmica. No entanto, são necessárias outras análises a
respeito dessa relação È também preciso investigar as especificidades e
semelhanças desses períodos de estudo, visto que os estudantes da amostra do
período integral e noturno apresentaram médias idênticas na autorregulação da
aprendizagem (M=3,69; dp=0,59).
Ainda explanando sobre a aprendizagem autorregulada, não foram
encontradas alterações em função do fato do estudante exercer ou não atividade
remunerada, e nem entre os estudantes que trabalhavam mais ou menos de 20
horas por semana. Ainda que, não tenham sido encontrados outros estudos que
investigaram a autorregulação da aprendizagem de estudantes trabalhadores, a
literatura da temática assegura que o processo de autorregulação é constituído
111
por estratégias de organização e gestão de tempo e de recursos, sendo elas são
essenciais para que compromissos acadêmicos e pessoais sejam realizados com
qualidade (ROSÁRIO, 2004b; ZIMMERMAN; MARTINEZ-PONS, 1986). No
entanto, o fato da dedicação ao estudo ser parcial ou total, não interferiu nos
escores da autorregulação da aprendizagem dos universitários da amostra.
Por fim, foi investigada a possível relação entre os dois constructos
abordados neste estudo, a procrastinação acadêmica e a autorregulação da
aprendizagem. Conforme esperado, houve relação negativa e significante, com
magnitude moderada entre as duas variáveis citadas. Isso indica que quanto
maior for a manifestação do comportamento de procrastinar no contexto
acadêmico, menor será a probabilidade do universitário autorregular sua
aprendizagem, dito de outra forma, quanto mais o aluno autorregula a sua
aprendizagem menores as chances de procrastinar suas atividades acadêmicas.
O resultado dessa análise é muito semelhante aos obtidos pelo estudo de
Costa (2007) e Monteiro (2009), que também encontraram correlações inversas e
significantes entre a procrastinação acadêmica e a autorregulação da
aprendizagem. As evidências apresentadas por estes autores revelam que os
estudantes que obtiveram pontuações mais elevadas na procrastinação do estudo
foram aqueles que, paralelamente, evidenciaram um processo autorregulatório
menos eficiente (MONTEIRO, 2009; COSTA 2007).
Além disso, conforme apontavam as análises anteriores, houve
correlação negativa, com magnitude fraca, entre a idade e a procrastinação
acadêmica, havendo assim, maior probabilidade de que estudantes mais velhos
procrastinem menos que os mais novos e vice versa. Repetindo as outras
análises, não houve correlação entre horas de trabalho semanal e a
procrastinação acadêmica.
Ao recapitular os principais resultados do estudo, destaca-se as
evidências que indicam que a procrastinação acadêmica tem maior probabilidade
de ocorrer em circunstâncias de estudo em que os objetivos de aprendizagem não
são tão precisos e em situações de estudo que exijam maior autocontrole e
regulação pessoal. Além disso, alguns estudantes parecem utilizar a
procrastinação como uma estratégia para reter informações antes da execução da
112
prova, contudo, de acordo com a literatura, essa estratégia não parece adequada,
visto que propicia um enfoque superficial de aprendizagem e, possivelmente, um
desempenho acadêmico abaixo do esperado. No entanto, diante do grau de
dificuldade da tarefa e em situações e atividades vividas em sala de aula, o
estudante pode ter menor probabilidade de procrastinar. Quanto ao processo de
autorregulação da aprendizagem, foi possível identificar indícios de que a
aprendizagem autorregulada dos universitários deste estudo tende a ser mais
eficiente durante os processos de planejamento e avaliação da autorregulação da
aprendizagem, do que na etapa de execução desta.
Com relação às variáveis pessoais e acadêmicas, destaca-se que o
resultado das análises da procrastinação acadêmica e da autorregulação da
aprendizagem apresentaram dados complementares e coerentes. A partir disso,
pode-se inferir que os universitários com idade entre 18 e 21 anos e que cursam o
período integral ou noturno tendem a procrastinar com mais frequência. Em
contraposição, os estudantes com maior probabilidade de autorregular sua
aprendizagem, tem acima de 21 anos de idade e cursam a graduação no período
matutino ou vespertino.
Os resultados obtidos no presente estudo mostram que a procrastinação
acadêmica pode ser influenciada por aspectos pessoais (como a idade) e
ambientais (por exemplo, turno de estudo e o tipo de tarefa acadêmica). Essas
informações contribuem com a perspectiva que trata a procrastinação como um
comportamento dinâmico, que se altera ao longo da vida em função de diversas
situações, tais como as de aprendizagem (MONTEIRO, 2009; ROSÁRIO, NÚÑEZ,
PIENDA, 2006; COSTA, 2007; SCHOUWENBURG, 2004). Corrobora ainda com a
visão da Teoria Social Cognitiva, a qual postula que toda ação do indivíduo é
pautada em uma rede mútua e interdependente de influência triádica, de fatores
sócio-ambientais, pessoais e comportamentais (BANDURA, 2008).
Com base nos dados encontrados, pondera-se que não há uma equação
simples para compreender ou lidar com a procrastinação acadêmica, haja vista
que esse comportamento é permeado por diversos aspectos pessoais e
contextuais. Partindo dessa premissa, acredita-se que para diminuir a incidência
da procrastinação acadêmica é necessário que a instituição de ensino, o corpo
113
docente e o próprio estudante ajam de maneira conjunta em prol do objetivo de
aprendizagem. Para tanto, seria preciso investimento em processos de
autorregulação da aprendizagem, para propiciar ao universitário ferramentas para
atuar de modo mais autônomo e consciente sobre seu aprendizado.
114
CONSIDERAÇÕES FINAIS
120
REFERÊNCIAS
ACKERMAN, D.; GROSS, B. I Can Start That JME Manuscript Nest Week, Can´t?
The Task Characteristics Behind Why Faculty Procrastinate. Journal of
Marketing Education, Vol. 29, n.2, p.97-110, 2007.
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contribuições da psicologia contemporânea. RJ: Editora vozes, p.9-36,
2009.
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HAMASAKI, E.; KERBAUY, R. Será o comportamento de procrastinar um
problema de saúde? Revista Brasileira de Terapia Comportamental e
Cognitiva, Vol. 3, n.2, p35-40, São Paulo dez. 2001.
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Permanência/ Evasão no Ensino Superior: Algumas Contribuições. In:
MERCURI; POLYDORO (Org.) Estudante Universitário? Características e
experiências de formação. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária,
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PAJARES, F.; OLAZ, F. Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão geral.
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520, 2006.
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Andrade de; Sucesso no ensino superior e variáveis envolvidas, 07/2011, X
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caminhos trilhados, caminhos a percorrer,Vol. 1, pp.40-40, Maringá, PR,
Brasil, 2011.
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SCHOUWENBURG, H. Procrastination in Academic Settings: General
Introduction. Em: Schouwenburg, H.; Lay,C; Timothy,P. Ferrari, J. (Orgs.)
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Examining Achievement Goals, Classroom Goal Structures, and Culture.
Journal of Educational Psychology, Vol. 96, n 2, p. 251–264, 2004.
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Educational Psychology, 98, 354-365.
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Sex, and Giftedness to Self-Efficacy and Strategy Use. Journal of
Educational Psychology, vol.82, n.1, p. 51-59, 1990.
129
Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – via participante
Solicitamos que você seja o mais sincero possível. Garantimos que sua
identificação pessoal não será divulgada. O acesso ao conteúdo de suas
respostas é limitado aos pesquisadores do PES e ao(s) professor(es) da sua
instituição envolvidos neste estudo. Os resultados obtidos com a pesquisa serão
divulgados de forma ética, em revistas e eventos científicos. Além disso, destaca-
se que não haverá prejuízos para quem se recusar a participar, bem como não
haverá benefício ou qualquer ônus financeiro aos participantes desta pesquisa.
Agradecemos desde já a sua colaboração e nos colocamos à disposição para
esclarecer qualquer dúvida. Sobre os aspectos éticos da pesquisa, contate o
Comitê de Ética em Pesquisa. Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126 - Caixa
Postal 6111 13083-887 Campinas- SP. Fone (019) 3521-8936 Fax (019) 3521-
7187 - e-mail: cep@fcm.unicamp.br.
Caso deseje outras informações sobre o estudo ou que seus dados sejam
retirados da pesquisa contate-nos pelo telefone 19-35215593 ou e-mail
pes@unicamp.br.. Profa. Dra. Soely Aparecida Jorge Polydoro (pesquisadora
responsável) Grupo de Pesquisa Psicologia e Educação Superior - Faculdade de
Educação – Universidade Estadual de Campinas - E-mail: pes@unicamp.br
130
Anexo II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – via pesquisador
Caderno de Instrumentos*
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – Via do pesquisador
Para participar dessa pesquisa é preciso, primeiramente, que você assine esse Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Ressalta-se que você possui liberdade para se recusar a
participar e também para solicitar a exclusão de seus dados em qualquer fase da pesquisa. Para
tanto, uma via desse documento contento os contatos com o pesquisador, ficará com você. Para
efetivar sua participação nesse estudo e contribuir com suas informações para a ampliação da
compreensão a respeito do processo de aprendizagem no ensino superior é necessário que você
responda integralmente aos instrumentos.
Solicitamos que você seja o mais sincero possível. Garantimos que sua identificação pessoal
não será divulgada. O acesso ao conteúdo de suas respostas é limitado aos pesquisadores do PES e
ao(s) professor(es) da sua instituição envolvidos neste estudo. Os resultados obtidos com a pesquisa
serão divulgados de forma ética, em revistas e eventos científicos. Além disso, destaca-se que não
haverá prejuízos para quem se recusar a participar, bem como não haverá benefício ou qualquer
ônus financeiro aos participantes desta pesquisa. Agradecemos desde já a sua colaboração e nos
colocamos à disposição para esclarecer qualquer dúvida. Sobre os aspectos éticos da pesquisa,
contate o Comitê de Ética em Pesquisa. Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126 - Caixa Postal 6111
13083-887 Campinas - SP. Fone (019) 3521-8936 Fax (019) 3521-7187 - e-mail:
cep@fcm.unicamp.br.
Caso deseje outras informações sobre o estudo ou que seus dados sejam retirados da
pesquisa contate-nos pelo telefone 19-35215593 ou e-mail pes@unicamp.br.. Profa. Dra. Soely
Aparecida Jorge Polydoro (pesquisadora responsável) Grupo de Pesquisa Psicologia e Educação
Superior - Faculdade de Educação – Universidade Estadual de Campinas - E-mail: pes@unicamp.br
Conhecendo os objetivos da pesquisa, concordo em participar do presente estudo, ciente de
que poderei retirar meu consentimento em qualquer momento, excluindo minhas informações do
conjunto de dados.
Nome:__________________________________________________________RA:______________
Curso:_____________________________ Instituição: ____________________________________
Assinatura: __________________________________________Data: ______ / ______ / _________
131
ANEXO III - Ficha de Caracterização
Data: _____/____/____
3. Estado civil:
Solteiro Casado Divorciado Viúvo Outro ______________________
12. Você recebe algum tipo de auxílio financeiro ou bolsa de estudos para frequentar a
universidade?
Sim Não
13. Você está realizando o curso de sua maior preferência?
Sim Não
14. Atualmente, o quanto você se sente satisfeito com seu desempenho acadêmico?
Nada Satisfeito Pouco Satisfeito Satisfeito Mais que satisfeito
15. Como você classifica seu desempenho acadêmico no ensino superior no momento?
Insuficiente Pouco suficiente Suficiente Mais que suficiente
132
ANEXO IV – Escala de Procrastinação Acadêmica
Algumas
Sempre
Poucas
Muitas
Nunca
Vezes
vezes
vezes
Quando o professor manda fazer uma tarefa na
1 aula começo a imediatamente.
1 2 3 4 5
133
ANEXO V - Inventário de Processos de Autorregulação da Aprendizagem
Algumas
Sempre
Poucas
Muitas
Nunca
vezes
vezes
vezes
1. Faço um plano antes de começar um trabalho/projeto,
penso no que vou fazer e no que é preciso para completá- 1 2 3 4 5
lo.
134