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Trótsky - A Questão Negra Nos Estados Unidos

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20/02/2021 A questão negra nos Estados Unidos

A questão negra nos Estados Unidos


Leon Trotsky

28 de fevereiro de 1933

Observação: Esta discussão entre Trótski e Swabeck ocorreu em alemão.


Fonte: Esquerda Diário - http://www.esquerdadiario.com.br/A-Questao-Negra-nos-Estados-Unidos
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.

Prinkipo, Turquia

Swabeck: Nessa questão, não temos, no interior da Liga Estadunidense, diferenças


perceptíveis de caráter importante, tampouco formulamos até agora um programa.
Apresento, portanto, apenas visões que já desenvolvemos de maneira geral.

Como devemos encarar a posição do negro nos EUA: uma minoria nacional ou uma
minoria racial? Isso é da maior importância para nosso programa.

Os stalinistas mantêm como sua principal palavra de ordem a autodeterminação para


os negros e, conectado a isso, exigem um Estado separado e direitos de Estado para os
negros do Cinturão Negro. A aplicação prática dessa última demanda revela um grande
oportunismo. Por outro lado, reconheço que, no trabalho prático com os negros, apesar
dos inúmeros erros, o Partido [Comunista] também conta com algumas conquistas. Por
exemplo, nas greves têxteis do Sul, nas quais, em grande medida, a segregação
racial(1) foi superada.

Weisbord, pelo que entendo, está de acordo com a palavra de ordem da


autodeterminação e direitos de Estado separados. Ele sustenta que é a aplicação da
teoria da revolução permanente(2) para os EUA.

Nós partimos de uma situação real: há aproximadamente 13 milhões de negros nos


EUA; a maioria está nos estados do Sul (Cinturão Negro). Nos estados do Norte, os
negros estão concentrados nas comunidades industriais como operários industriais, já no
Sul, a maioria deles é camponês ou arrendatário.

Trótski: Eles arrendam do Estado ou de proprietários privados?

Swabeck: De proprietários privados, de agricultores brancos e proprietários


de plantations; alguns negros possuem as terras que cultivam.

A população negra do Norte é mantida em um nível inferior - econômica, social e


culturalmente; no Sul, é mantida sob as condições opressoras de Jim Crow.(3)Foram

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barrados em diversos sindicatos importantes. Durante e desde a guerra, a migração do


Sul tem aumentado; é provável que cerca de quatro a cinco milhões de negros vivam
agora no Norte. A população negra no Norte é majoritariamente proletária, mas também
no Sul a proletarização vem crescendo.

Hoje, nenhum dos estados do Sul tem uma maioria negra. Isso coloca ênfase na
intensa migração para o Norte. Nós colocamos a questão assim: os negros, em sentido
político, formam uma minoria nacional ou uma minoria racial? Os negros estão
completamente assimilados, americanizados, e sua vida nos EUA superou as tradições do
passado, modificou-as e transformou-as. Não podemos considerar os negros como uma
minoria nacional no sentido de ter sua própria língua. Eles não têm costumes nacionais
particulares, uma cultura ou uma religião que sejam nacionais e particulares; tampouco
têm qualquer interesse nacional minoritário em particular. Nesse sentido, é impossível
falar deles como uma minoria nacional. Nossa opinião é, portanto, a de que os negros
dos EUA são uma minoria racial cuja posição e interesses estão subordinados às relações
de classe do país e delas dependem.

Para nós, os negros representam um importante fator na luta de classes, quase um


fator decisivo. São um setor importante do proletariado. Há, ainda, uma pequena
burguesia negra nos EUA, mas não tão poderosa ou com tanta influência, ou mesmo que
desempenhe o papel de pequena burguesia e de burguesia entre o povo nacionalmente
oprimido (colonial).

A palavra de ordem stalinista da “autodeterminação” baseia-se, principalmente, em


uma estimativa dos negros estadunidenses como uma minoria nacional a ser conquistada
como aliada. Para nós, a questão é a seguinte: queremos conquistar os negros como
aliados em tais bases? E quem queremos conquistar, o negro proletário ou o negro
pequeno-burguês? Parece-nos que, com tal palavra de ordem, conquistaremos
principalmente a pequena burguesia e não devemos ter tanto interesse em conquistá-la
como aliada sobre tais bases. Reconhecemos que os camponeses pobres e arrendatários
são os aliados mais próximos do proletariado, mas, em nossa opinião, eles apenas
podem ser conquistados com base na luta de classes. Comprometer essa questão de
princípio colocaria os aliados da pequena burguesia à frente do proletariado, assim como
dos camponeses pobres. Reconhecemos a existência de determinados estágios de
desenvolvimento que exigem palavras de ordem específicas. Mas a palavra de ordem
stalinista nos parece conduzir diretamente à “ditadura democrática do proletariado e do
campesinato”.(4) Precisamos preparar a unidade entre os trabalhadores, negros e
brancos, a partir de uma base de classe, mas nisso também é preciso reconhecer as
questões raciais e, além das palavras de ordem de classe, promover, ainda, as palavras
de ordem raciais. Nossa opinião a esse respeito é a de que a principal palavra de ordem
deve ser “igualdade social, política e econômica para os negros”, assim como as palavras
de ordem que decorram daí. Essa palavra de ordem é naturalmente bem diferente da
palavra de ordem stalinista de “autodeterminação” para uma minoria nacional. Os
dirigentes do Partido [Comunista] sustentam que os trabalhadores e camponeses negros
podem ser conquistados apenas com base nessa palavra de ordem. De início, isso foi
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promovido para os negros em todo o país, mas, hoje, apenas para os estados do Sul.
Nossa opinião é de que podemos conquistar os negros trabalhadores apenas com base
na classe, promovendo também as palavras de ordem raciais para os estágios
intermediários necessários de desenvolvimento. Acreditamos que essa seja a melhor
maneira para conquistar como aliados diretos os camponeses negros pobres.

No essencial, o problema das palavras de ordem em relação à questão negra e o


problema de um programa prático. Como os negros serão conquistados? Acreditamos,
primariamente, em palavras de ordem raciais: igualdade com os brancos e palavras de
ordem que daí decorram.

Trótski: O ponto de vista dos camaradas estadunidenses não me parece totalmente


convincente. O direito à autodeterminação é uma demanda democrática. Nossos
camaradas estadunidenses contrapõem a demanda liberal a essa demanda democrática.
Essa demanda liberal é, além disso, complicada. Eu entendo o que “igualdade política”
significa. Mas qual é o significado de igualdade econômica e social na sociedade
capitalista? Significa uma demanda à opinião pública de que todos gozem da mesma
proteção das leis? Mas isso é a igualdade política. A palavra de ordem “igualdade política,
econômica e social” soa ambígua e, assim, falsa.

Os negros são uma raça, e não uma nação. Nações se formam a partir de um
material racial sob determinadas circunstâncias. Os negros da África ainda não são uma
nação, mas estão no processo de formar uma nação. Os negros dos EUA têm um nível
cultural mais alto. Mas, uma vez que estão sob pressão dos estadunidenses, voltam seu
interesse para o desenvolvimento dos negros da África. Os negros dos EUA vão formar
líderes para a África, isso se pode dizer com certeza, e isso, em contrapartida, vai
influenciar o desenvolvimento da consciência política nos EUA.

É claro que não obrigamos os negros a formar uma nação; se eles o fazem, então
será uma questão de consciência deles, ou seja, o que eles desejam e pelo que lutam.
Nós dizemos: se é isso que os negros querem, devemos lutar contra o imperialismo até a
última gota de sangue para que eles possam conquistar o direito, onde e como quiserem,
de separar um pedaço de terra para si. O fato de que hoje não sejam maioria em
nenhum estado não importa. Não se trata de uma questão de autoridade dos estados,
mas dos negros. Que na maior parte do território dos negros também exista e vá
continuar a existir brancos não é a questão, e hoje não precisamos quebrar a cabeça
com a possibilidade de que em algum momento os brancos sejam suprimidos pelos
negros. Em qualquer caso, a supressão(5) dos negros os instiga a uma unidade política e
nacional.

Que a palavra de ordem de “autodeterminação” vai ganhar mais a pequena


burguesia que os trabalhadores - esse argumento também serve bem para a palavra de
ordem de igualdade. É evidente que os elementos negros que mais desempenham um
papel público (empresários, intelectuais, advogados etc.) são mais ativos e reagem mais
ativamente contra a desigualdade. É possível dizer que a demanda liberal, assim como a

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demanda democrática, vai atrair, em primeira instância, a pequena burguesia e só depois


os trabalhadores.

Se a situação fosse tal que nos EUA existissem ações comuns entre trabalhadores
brancos e negros, que a fraternidade de classe fosse já um fato, então, talvez, o
argumento de nossos camaradas teria uma base (não estou dizendo que estaria
correto); então, talvez, estaríamos separando os trabalhadores negros dos brancos se
nos puséssemos a levantar a palavra de ordem da “autodeterminação”.

Mas hoje os trabalhadores brancos em relação aos negros são os opressores, patifes
que perseguem os negros e os amarelos, que os desprezam e os lincham. Se os
trabalhadores negros se unem com sua própria pequena burguesia é porque não estão
suficientemente desenvolvidos para defender seus direitos elementares. Para os
trabalhadores dos estados do Sul, a demanda liberal por direitos iguais significaria, sem
dúvidas, um progresso, mas a demanda pela autodeterminação, um progresso ainda
maior. Entretanto, com a palavra de ordem “direitos iguais” eles podem mais facilmente
ser enganados (“de acordo com a lei, você tem igualdade”).

Quando chegarmos ao ponto de os negros dizerem “nós queremos autonomia”,


então, tomarão uma posição hostil ao imperialismo estadunidense. Nesse estágio, os
trabalhadores já estarão muito mais determinados do que a pequena burguesia. Os
trabalhadores verão, então, que a pequena burguesia é incapaz de lutar e não leva a
lugar nenhum, mas também reconhecerão que os trabalhadores comunistas brancos
lutam por suas demandas e isso vai impulsioná-los, os negros proletários, em direção ao
comunismo.

Weisbord está correto em certo sentido de que a autodeterminação dos negros diz
respeito à questão da revolução permanente nos EUA. Os negros serão, através de seu
despertar, através de sua demanda por autonomia e através da mobilização democrática
de suas forças, impulsionados em direção ã questão de classe. A pequena burguesia
assumirá a demanda por igualdade de direitos e por autodeterminação, mas se provará
absolutamente incapaz na luta; o proletário negro vai marchar independente da pequena
burguesia na direção da revolução proletária. Este é, talvez, o caminho mais importante
para eles. Não vejo, portanto, razão de porque não deveríamos levar adiante a demanda
por autodeterminação.

Não estou certo se os negros, também nos estados do Sul, falam sua própria língua.
Agora que estão sendo linchados apenas porque são negros, naturalmente temem falar
sua língua nativa; mas quando eles estiverem livres, sua língua nativa se tornará viva
novamente. Gostaria de aconselhar aos camaradas dos EUA que estudem essa questão
muito seriamente, incluindo a língua nos estados do Sul. Por todas essas razões, eu
estaria inclinado nessa questão à perspectiva do Partido [Comunista]; é claro, com a
observação de que nunca estudei essa questão e parto de considerações gerais. Estou
me baseando apenas nos argumentos apresentados pelos camaradas dos EUA. Acho que

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são insuficientes e os considero uma certa concessão ao ponto de vista do chauvinismo


estadunidense, que me parece perigosa.

O que temos a perder nessa questão quando prosseguimos com nossas demandas,
assim como os negros no presente? Não vamos compeli-los a se separar do Estado, mas
eles têm pleno direito à autodeterminação quando a desejarem, e os apoiaremos e os
defenderemos com todos os meios à nossa disposição na conquista desse direito, assim
como nós defendemos todos os povos oprimidos.

Swabeck: Admito que você apresentou argumentos poderosos, mas ainda não estou
plenamente convencido. A existência de uma língua particular dos negros nos estados do
Sul é possível; mas, em geral, todos os negros dos EUA falam inglês. Estão
completamente assimilados. Sua religião é a batista estadunidense, e a língua em suas
igrejas é igualmente o inglês.

Igualdade econômica, nós, de modo algum a entendemos no sentido da lei. No Norte


(assim como, é claro, nos estados do Sul), os salários dos negros são mais baixos que os
dos trabalhadores brancos e, em geral, sua jornada de trabalho é maior; ou seja, é, por
assim dizer, aceito como natural. Além disso, os negros são designados para os piores
postos de trabalho. É por causa dessas condições que nós exigimos igualdade econômica
para o trabalhador negro.

Não contestamos o direito dos negros à autodeterminação. Não é essa a questão do


nosso desacordo com os stalinistas. Mas contestamos a palavra de ordem da
autodeterminação como um meio para ganhar as massas de negros. O impulso da
população negra é, antes de tudo, na direção da igualdade num sentido social, político e
econômico. Atualmente, o Partido [Comunista] apresenta a palavra de ordem de
autodeterminação apenas para os estados do Sul. E evidente que, dificilmente se pode
esperar que os negros das indústrias do Norte desejem voltar para o Sul, e não há
indícios de tal desejo. Pelo contrário. Sua demanda não formulada é por igualdade social,
política e econômica, com base nas condições em que vivem. Este é também o caso do
Sul. E por causa disso que acreditamos ser esta a palavra de ordem importante. Não
vemos os negros sob uma opressão nacional no mesmo sentido que os povos das
colônias. Nossa opinião é a de que a palavra de ordem dos stalinistas tende a afastar os
negros da base de classe e a apontar mais no sentido da base racial. Essa é a principal
razão pela qual nos opomos a ela. Somos da crença de que a palavra de ordem de raça
no sentido por nós apresentado conduz diretamente à base de classe.

Frank: Há nos EUA movimentos negros específicos?

Swabeck: Sim, vários. Primeiro, tivemos o movimento Garvey, baseado na questão


da migração para a África. Teve um grande número de seguidores, mas explodiu como
uma fraude. Atualmente não resta muito dele. Sua palavra de ordem era a criação de
uma república negra na África. Outros movimentos negros se apoiam, principalmente,
nas demandas de igualdade social e política, por exemplo, a Liga [Associação Nacional]

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para o Progresso de Pessoas de Cor [National Association for the Advancement of


Colored People (NAACP)](6). Este é um grande movimento racial.

Trótski: Eu também acredito que a demanda por direitos iguais deve permanecer, e
eu não estou falando contra essa demanda. É progressista na medida em que ainda não
foi realizada. A explicação do camarada Swabeck a respeito da igualdade econômica é
muito importante. Mas isso, por si só, não define ainda a questão do destino dos negros
como tal, a questão da “nação”, etc. De acordo com os argumentos dos camaradas dos
EUA, poderia se dizer, por exemplo, que a Bélgica também não tem direitos como
“nação”. Os belgas são católicos e uma grande parte deles fala francês. E se a França os
anexasse com tal argumento? Também os suíços, através de sua conexão histórica, se
percebem, apesar das diferentes línguas e religiões, como uma só nação. Um critério
abstrato não é decisivo nessa questão, muito mais decisiva é a consciência histórica,
seus sentimentos e impulsos. Mas isso também não é determinado acidentalmente, mas
por condições gerais. A questão da religião não tem absolutamente nada a ver com essa
questão do caráter nação. A religião batista do negro é completamente diferente do
batismo dos Rockefeller. Trata- se de duas religiões diferentes.

O argumento político que rejeita a demanda por “autodeterminação” é


doutrinarismo. Isso é o que sempre ouvimos na Rússia em relação à questão da
“autodeterminação”. As experiências russas nos mostraram que os grupos que vivem na
condição camponesa conservam peculiaridades, seus costumes, sua língua, etc., e dada
a oportunidade eles as desenvolvem novamente.

Os negros ainda não despertaram e ainda não estão unidos aos trabalhadores
brancos. Noventa e nove por cento dos trabalhadores estadunidenses são chauvinistas,
em relação aos negros eles são carrascos, assim como o são para os chineses, etc. E
necessários fazê-los entender que o Estado dos EUA não é o Estado deles e que eles não
precisam ser os guardiões desse Estado. Os trabalhadores estadunidenses que dizem:
“os negros devem se separar se assim o desejarem, e nós os defenderemos contra a
polícia de nosso país” - estes são revolucionários, e eu confio neles.

O argumento de que a palavra de ordem da autodeterminação afasta da questão de


classe é uma adaptação à ideologia dos trabalhadores brancos. O negro pode avançar
para um ponto de vista de classe apenas quando o trabalhador branco estiver formado.
No geral, a questão dos povos das colônias é, em primeira instância, uma questão de
desenvolvimento do trabalhador metropolitano.

O trabalhador estadunidense é indescritivelmente reacionário. Isso pode ser visto no


fato de que ainda não está convencido nem mesmo da ideia de seguridade social. Por
conta disso, os comunistas estadunidenses são obrigados a promover demandas por
reformas.

Hoje em dia, os negros não exigem autodeterminação, isso acontece, naturalmente,


pelo mesmo motivo que os trabalhadores negros ainda não levantam a palavra de ordem

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da ditadura do proletariado. O negro ainda não entendeu que pode ousar tomar para si
um pedaço dos grandes e poderosos EUA. Mas os trabalhadores brancos devem
encontrar os negros no meio do caminho e dizer: “quando você quiser se separar você
terá nosso apoio”. Os trabalhadores tchecos vieram também para o comunismo apenas
através da desilusão com seu próprio Estado.

Acredito que, pelo inédito atraso político e teórico e o inédito avanço econômico, o
despertar da classe trabalhadora vai se desenvolver rapidamente. A velha cobertura
ideológica vai explodir, todas as questões surgirão de uma só vez e, como o país está tão
economicamente maduro, a adaptação do nível político e teórico ao nível econômico vai
ser alcançada muito rapidamente. É possível, portanto, que os negros se tornem o setor
mais avançado. Nós já temos um exemplo parecido, na Rússia. Os russos são os negros
da Europa. E bem provável que por meio da autodeterminação os negros avancem a
passos largos para a ditadura do proletariado, à frente do grande bloco de trabalhadores
brancos. Então, eles estarão na vanguarda. Estou absolutamente convencido de que, de
qualquer forma, lutarão melhor que os trabalhadores brancos. Isso, no entanto, só pode
acontecer se o Partido Comunista levar adiante uma luta inflexível e implacável, não
contra as supostas possessões nacionais dos negros, mas contra os preconceitos
colossais dos trabalhadores brancos, sem dar-lhes nenhuma concessão.

Swabeck: Então, sua opinião é que a palavra de ordem de autodeterminação será


um meio de colocar os negros em movimento contra o imperialismo dos EUA?

Trótski: Naturalmente, dessa forma, os negros podem criar seu próprio Estado a
partir dos poderosos EUA, e com o apoio dos trabalhadores brancos sua consciência se
desenvolve enormemente.

Os reformistas e os revisionistas escreveram um tratado sobre o efeito de o


capitalismo estar conduzindo um trabalho civilizatório na África, e se os povos da África
forem deixados de lado, serão os mais explorados pelos empresários, etc., muito mais
que agora, quando têm ao menos alguma medida de proteção legal.

Até certo ponto, esse argumento pode estar correto. Mas, nesse caso, é também
uma questão primária dos trabalhadores europeus: sem sua emancipação, a verdadeira
emancipação das colônias também não é possível. Se o trabalhador branco desempenha
o papel de opressor, ele não pode se emancipar, menos ainda os povos das colônias. O
direito à autodeterminação dos povos das colônias pode levar, em certos momentos, a
diferentes resultados; em última instância, contudo, levará à luta contra o imperialismo e
à libertação dos povos das colônias.

Antes da guerra [Primeira Guerra Mundial], a social-democracia austríaca (em


particular, [Karl] Renner) também colocou a questão das minorias nacionais de maneira
abstrata. Eles argumentaram igualmente que a palavra de ordem da autodeterminação
apenas afastaria os trabalhadores do ponto de vista de classe c que economicamente
esses estados minoritários não poderiam existir de forma independente. Essa maneira de
colocar a questão foi correta ou falsa? Foi abstrata. Os sociais-democratas austríacos
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disseram que as minorias nacionais não eram nações. E o que vemos hoje? As partes
separadas [do antigo Império Austro-Húngaro] existem, muito precariamente, pode estar
certo, mas existem. Na Rússia, os bolcheviques sempre lutaram pela autodeterminação
das minorias nacionais, incluindo o direito à separação completa. E, no entanto,
alcançando a autodeterminação, esses grupos permaneceram na União Soviética. Se a
social-democracia austríaca tivesse aceitado mais cedo uma política correta nessa
questão, teriam dito aos grupos de minorias nacionais: “vocês têm todo o direito à
autodeterminação, não temos interesse em mantê-los nas mãos da monarquia de
Habsburgo”(7) - então teria sido possível, depois da revolução, criar uma grande
federação do Danúbio. A dialética do desenvolvimento mostra que, onde o centralismo
rígido existia, o Estado se fragmentou, e onde a completa autodeterminação foi
promulgada, um Estado real emergiu e permaneceu unido.

A questão negra é de enorme importância para os Estados Unidos da América. A Liga


deve empreender uma discussão séria sobre essa questão, possivelmente em um boletim
interno.

Início da página

Notas de rodapé:

(1) No original, “color line”, “linha de cores”, literalmente. Trata-se de expressão que se refere à
segregação racial existente nos EUA antes da abolição da escravatura. Amplamente usada no jornalismo e
em textos académicos e não académicos, ganhou fama após William Edward Burghardt Du Bois usá-la em
seu livro The Souls of Black Folk (As almas do povo negro]. (N.T.). (retornar ao texto)

(2) Referência à teoria da revolução permanente de Leon Trótski. (retornar ao texto)

(3) Referência às Leis de Jim Crow. Cf. “índice de nomes e referências” neste volume. (retornar ao texto)

(4) Os stalinistas usaram o termo nos anos de 1920 e 1930 para justificar seu apoio a certas forças
burguesas, especialmente no extremo Oriente. Declaravam que uma vitória de Chian Kai-shek na segunda
revolução chinesa (1925-1927) resultaria em uma “ditadura democrática do proletariado e do
campesinato”. A vitória de Chiang Kai-shek, de fato, acabou por constituir uma ditadura
contrarrevolucionário burguesa-militar que suprimiu os trabalhadores e os camponeses até que fosse
derrubado em 1949 (N.E.O.). (retornar ao texto)

(5) Aqui, possivelmente, a palavra mais adequada seja “opressão”, contudo, optou-se por seguir as
publicações originais adotadas para esta edição (N.T.). (retornar ao texto)

(6) A Associação Nacional para o Progresso de Pessoas Não Brancas (em inglês: National Association for
the Advancement of Colored People, NAACP) foi organizada em 1909 por liberais, social-democratas e civis
libertários, incluindo W.E.B. Du Bois. (N.E.O.). (retornar ao texto)

(7) Trata-se de uma família de príncipes alemães que reinou sobre a Áustria do século XIII até que foram
derrubados pela revolução de 1918, que colocou fim na Primeira Guerra Mundial.

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