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Apostila Filosofia Teoria Do Conhecimento Descartes Locke Hume Kant 1c2ba Tri
Apostila Filosofia Teoria Do Conhecimento Descartes Locke Hume Kant 1c2ba Tri
Apostila Filosofia Teoria Do Conhecimento Descartes Locke Hume Kant 1c2ba Tri
ª SÉRIE
1.º TRIMESTRE
FILOSOFIA
Professor Fábio Luiz de Almeida Mesquita
2018
SUMÁRIO
Apresentação................................................................................................................5
Competências da área (Matriz de referência do Enem)................................................................ 6
Gabarito: .................................................................................................................................. 65
Filosofia
Objetivos
Ampliar os estudos do componente curricular, a partir de duas temáticas filosóficas:
(1) Teoria do conhecimento/epistemologia; (2) Ética: liberdade, educação, emancipação,
liberdade e felicidade. Tais temas são tratados de modo interdisciplinar, principalmente
com Sociologia e Ensino Religioso, visando a formação de um ser humano mais crítico e
com uma consciência mais integral.
Ensino Médio
junto ao fogo, vestido com um chambre, tendo este papel Vocabulário filosófico
entre as mãos e outras coisas desta natureza. E como poderia Dúvida metódica: método
eu negar que estas mãos e este corpo sejam meus? A não ser, utilizado por Descartes para
talvez, que eu me compare e esses insensatos, cujo cérebro eliminar todas as pretensas
verdades, buscando-se, assim,
está de tal modo perturbado e ofuscado pelos negros vapores uma verdade indubitável e
da bile que constantemente asseguram que são reis quando inquestionável.
são muito pobres; que estão vestidos de ouro e de púrpura Ceticismo: doutrina segundo
quando estão inteiramente nus; ou imaginam ser cântaros a qual o espírito humano não
ou ter um corpo de vidro. Mas quê? São loucos e eu não seria pode atingir nenhuma certeza
a respeito da verdade.
menos extravagante se me guiasse por seus exemplos.
Dogmatismo: pressuposto
5. Todavia, devo aqui considerar que sou homem4 e, por teórico, comum a diversas
doutrinas filosóficas, que
conseguinte, que tenho o costume de dormir e de representar, considera o conhecimento
em meus sonhos, as mesmas coisas, ou algumas vezes menos humano apto à obtenção de
verossímeis, que esses insensatos em vigília. Quantas vezes verdades absolutamente certas
e seguras.
ocorreu-me sonhar, durante a noite, que estava neste lugar,
que estava vestido, que estava junto ao fogo, embora estivesse Racionalismo: qualquer
doutrina que privilegia a razão
inteiramente nu dentro de meu leito? Parece-me agora que como meio de conhecimento e
não é com olhos adormecidos que contemplo este papel; explicação da realidade.
que esta cabeça que eu mexo não está dormente; que é com
Empirismo: doutrina segundo
desígnio e propósito deliberado que estendo esta mão e que a a qual todo conhecimento
sinto: o que ocorre no sono não parece ser tão claro nem tão provém unicamente da
experiência, limitando-se
distinto quanto tudo isso. Mas, pensando cuidadosamente ao que pode ser captado do
nisso, lembro-me de ter sido muitas vezes enganado, quando mundo externo, pelos sentidos.
dormia, por semelhantes ilusões. E, detendo-me neste
pensamento, vejo tão manifestamente que não há quaisquer
indícios concludentes, nem marcas assaz certas por onde se
possa distinguir nitidamente a vigília do sono, que me sinto
inteiramente pasmado: e meu pasmo é tal que é quase capaz
Filme/Cinema
de me persuadir de que estou dormindo.
6. Suponhamos, pois, agora, que estamos adormecidos
e que todas essas particularidades, a saber, que abrimos os
olhos que mexemos a cabeça, que estendemos as mãos, e
coisas semelhantes, não passam de falsas ilusões; e pensemos
que talvez nossas mãos, assim como todo o nosso corpo, não
são tais como os vemos. Todavia, é preciso ao menos confessar
que as coisas que nos são representadas durante o sono
são como quadros e pinturas, que não podem ser formados
senão à semelhança de algo real e verdadeiro; e que assim,
https://goo.gl/92JnyF
https://goo.gl/5Pby2e
recebi outrora em minha crença como verdadeiras, não há
nenhuma da qual não possa duvidar atualmente, não por
alguma inconsideração ou leviandade, mas por razões muito
fortes e maduramente consideradas: de sorte que é necessário
que interrompa e suspenda doravante meu juízo sobre tais Dúvida (2008)
Diretor: John P. Shanley
pensamentos, e que não mais lhes dê crédito, como faria com Filme ambientado em escola católica
as coisas que me parecem evidentemente falsas, se desejo do bairro nova-iorquino do Bronx que
encontrar algo de constante e de seguro nas ciências8. recebe seu primeiro aluno negro.
Inicia-se o sermão do padre Flynn sobre
a dúvida, tema que norteará toda a trama.
11. Mas não basta ter feito tais considerações, é preciso
ainda que cuide de lembrar-me delas; pois essas antigas e
ordinárias opiniões ainda me voltam amiúde ao pensamento, HUMANÍSTICA – CSL
dando-lhes a longa e familiar convivência que tiveram comigo o PROJETO VIDA
direito de ocupar meu espírito mau grado meu e de tornarem-se PROJETO DEMOCRACIA
quase que senhoras de minha crença. E jamais perderei o E PARTICIPAÇÃO
costume de aquiescer a isso e de confiar nelas, enquanto as
Transversalidade: Existem
considerar como são efetivamente, ou seja, como duvidosas 106 milhões de pretos e
de alguma maneira, como acabamos de mostrar, e todavia pardos no Brasil (53,6%)
muito prováveis, de sorte que se tem muito mais razão em (IBGE-2015). Quantos
existem na sua sala de aula?
acreditar nelas do que em negá-las. Eis por que penso que Vamos falar sobre racismo? O
me utilizarei delas mais prudentemente se, tomando partido que podemos fazer?
contrário, empregar todos os meus cuidados em enganar-me
a mim mesmo, fingindo que todos esses pensamentos são
https://goo.gl/Rie5U5
falsos e imaginários; até que, tendo de tal modo sopesado
meus prejuízos, eles não possam inclinar minha opinião
mais para um lado do que para o outro, e meu juízo não mais
seja doravante dominado por maus usos e desviado do reto
caminho que pode conduzi-lo ao conhecimento da verdade.
Pois estou seguro de que, apesar disso, não pode haver perigo
nem erro nesta via e de que não poderia hoje aceder demasiado
à minha desconfiança, posto que não se trata no momento de
agir, mas somente de editar e de conhecer.
12. Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que
é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno9 não
menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou
toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar,
a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores
que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve
para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei
a mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos,
de carne, de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas
MEDITAÇÃO SEGUNDA11
The Treachery of Images (Isso não é um
cachimbo) (1948) Da Natureza do Espírito Humano; e de como Ele
Autor: René Magritte é Mais Fácil de Conhecer do que o Corpo
https://goo.gl/jRbrik
mim mesmo. Eu então, pelo menos, não serei alguma coisa?
Mas já neguei que tivesse qualquer sentido ou qualquer corpo.
Hesito, no entanto, pois que se segue daí? Serei de tal modo
dependente do corpo e dos sentidos que não possa existir sem Mão com esfera refletora (1935)
eles? Mas eu me persuadi de que nada existia no mundo, que Autor: Escher
O pintor faz sua imagem refletida na
não havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos alguns, nem esfera, o que possibilita detalhar o
corpos alguns: não me persuadi também, portanto, de que ambiente inteiro, mas, por curiosidade:
eu não existia13? Certamente não, eu existia sem dúvida, se é com que mão ele segura a esfera: com a
direita ou com a esquerda?
que eu me persuadi, ou, apenas, pensei alguma coisa. Mas há
algum, não sei qual, enganador muito poderoso e mui ardiloso
Matemática
que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre.
Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me engana;
e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que
eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa14. De
sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado
cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e
ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo, é
necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou
que a concebo em meu espírito15.
https://goo.gl/GRBtrC
5. Mas não conheço ainda bastante claramente o que
sou, eu que estou certo de que sou; de sorte que doravante
é preciso que eu atente com todo cuidado, para não tomar
imprudentemente alguma outra coisa por mim, e assim para Arquimedes (287 a.C. - 212 a.C.)
não equivocar-me neste conhecimento que afirmo ser mais Foi um matemático, físico, engenheiro e
astrônomo grego.
certo e mais evidente do que todos os que tive até agora16.
6. Eis por que considerarei de novo o que acreditava COGITO = Dubito, ergo
cogito, ergo sum (Duvido,
ser, antes de me empenhar nestes últimos pensamentos; e logo penso, logo existo).
de minhas antigas opiniões suprimirei tudo o que pode ser
combatido pelas razões que aleguei há pouco, de sorte que
permaneça apenas precisamente o que é de todo indubitável.
O que, pois, acreditava eu ser até aqui? Sem dificuldade,
pensei que era um homem. Mas que é um homem? Direi que
é um animal racional? Certamente não: pois seria necessário
em seguida pesquisar o que é animal e o que é racional e
assim, de uma só questão, cairíamos insensivelmente numa
infinidade de outras mais difíceis e embaraçosas, e eu
não quereria abusar do pouco tempo e lazer que me resta
empregando-o em deslindar semelhantes sutilezas17. Mas,
antes, deter-me-ei em considerar aqui os pensamentos que
anteriormente nasciam por si mesmos em meu espírito e
que eram inspirados apenas por minha natureza, quando
que coisa? Já o disse: uma coisa que pensa. E que mais? Arte/História:
Excitarei ainda minha imaginação para procurar saber se não
sou algo mais. Eu não sou essa reunião de membros que se
chama o corpo humano; não sou um ar tênue e penetrante,
disseminado por todos esses membros; não sou um vento, um
sopro, um vapor, nem algo que posso fingir e imaginar, posto
que supus que tudo isso não era nada e que, sem mudar essa
suposição, verifico que não deixo de estar seguro de que sou
alguma coisa23.
8. Mas também pode ocorrer que essas mesmas coisas,
https://goo.gl/yh7lMY
que suponho não existirem, já que me são desconhecidas, não
sejam efetivamente diferentes de mim, que eu conheço? Nada
sei a respeito; não o discuto atualmente, não posso dar meu
juízo senão a coisas que me são conhecidas: reconheci que
eu era, e procuro o que sou, eu que reconheci ser. Ora, é O sonho da razão produz monstros (1799)
Autor: Francisco de Goya
muito certo que essa noção e conhecimento de mim mesmo, Este quadro faz parte da série de 80
assim precisamente tomada, não depende em nada das gravuras denominada Caprichos – Uma
crítica à nobreza e ao clero europeu.
coisas cuja existência não me é ainda conhecida24; nem, por
conseguinte, e com mais razão de nenhuma daquelas que são
fingidas e inventadas pela imaginação. E mesmo esses termos
fingir e imaginar advertem-me de meu erro; pois eu fingiria
efetivamente se imaginasse ser alguma coisa, posto que Filosofia
imaginar nada mais é do que contemplar a figura ou a imagem
de uma coisa corporal. Ora, sei já certamente que eu sou, e que,
ao mesmo tempo, pode ocorrer que todas essas imagens e, em
geral, todas as coisas que se relacionam à natureza do corpo
sejam apenas sonhos ou quimeras. Em seguimento disso,
vejo claramente que teria tão pouca razão ao dizer: excitarei
minha imaginação para conhecer mais distintamente o que
sou, como se dissesse: estou atualmente acordado e percebo
algo de real e de verdadeiro; mas, visto que não o percebo
https://goo.gl/rg2Pqv
ainda assaz nitidamente, dormiria intencionalmente a fim de
que meus sonhos me representassem com maior verdade e
evidência. E, assim, reconheço certamente que nada, de tudo
o que posso compreender por meio da imaginação, pertence a
Discurso do método (1637)
este conhecimento que tenho de mim mesmo e que é necessário Autor: René Descartes
lembrar e desviar o espírito dessa maneira de conceber a fim Publicado em Leiden, Holanda, apresenta
de que ele próprio possa reconhecer muito distintamente sua a base da epistemologia de Descartes.
Nele é proposto um modelo quase
natureza25. matemático para conduzir o pensamento
humano.
9. Mas o que sou eu, portanto? Uma coisa que pensa.
Que é uma coisa que pensa? É uma coisa que duvida, que Vocabulário
concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que
Método dedutivo (dedução):
imagina também e que sente26. Certamente não é pouco se raciocínio lógico que faz
todas essas coisas pertencem à minha natureza. Mas por que uso da dedução para obter
não lhe pertenceriam? Não sou eu próprio esse mesmo que uma conclusão a respeito de
determinada premissa. Ex.:
duvida de quase tudo, que, no entanto, entende e concebe A=B; b=C; logo, por dedução
certas coisas, que assegura e afirma que somente tais coisas lógica e racional, A=C.
são verdadeiras, que nega todas as demais, que quer e deseja Método indutivo (indução):
conhecê-las mais, que não quer ser enganado, que imagina raciocínio que, após considerar
muitas coisas, mesmo mau grado seu, e que sente também um número suficiente de casos
particulares, conclui uma
muitas como que por intermédio dos órgãos do corpo? Haverá verdade geral. Ex.: experiências
algo em tudo isso que não seja tão verdadeiro quanto é certo científicas.
conhecidas do que essa não sei que parte de mim mesmo que
não se apresenta imaginação: embora, com efeito, seja uma
coisa bastante estranha que coisas que considero duvidosas
e distantes sejam mais claras e mais facilmente conhecidas
Até Pensei (1968) por mim do que aquelas que são verdadeiras e certas e que
Autor: Chico Buarque pertencem à minha própria natureza. Mas vejo bem o que
Até Pensei seja: meu espírito apraz-se em extraviar-se e não pode ainda
conter-se nos justos limites da verdade. Soltemos-lhe, pois,
Junto à minha rua havia um
bosque ainda uma vez, as rédeas a fim de que, vindo, em seguida,
Que um muro alto proibia a libertar-se delas suave e oportunamente, possamos mais
Lá todo balão caía, toda maçã
nascia facilmente dominá-lo e conduzi-lo29.
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta aventura 11. Comecemos pela consideração das coisas mais
E eu a espreitar na noite
escura
comuns e que acreditamos compreender mais distintamente,
A dedilhar essa modinha a saber, os corpos que tocamos e que vemos. Não pretendo
A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que
falar dos corpos em geral, pois essas noções gerais são
fosse minha ordinariamente mais confusas, porém de qualquer corpo em
Junto a mim morava a minha particular. Tomemos, por exemplo, este pedaço de cera que
amada
Com olhos claros como o dia acaba de ser tirado da colmeia: ele não perdeu ainda a doçura
Lá o meu olhar vivia do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que
De sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via foi recolhido; sua cor, sua figura, sua grandeza, são patentes;
Do lado de lá tanta ventura é duro, é frio, tocamo-lo e, se nele batermos, produzirá algum
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer
Eu andava pobre, tão pobre de conhecer um corpo encontram-se neste.
carinho
Que, de tolo, até pensei que
fosses minha 12. Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o
Toda a dor da vida me ensinou que nele restava de sabor exala-se, o odor se esvai, sua cor se
essa modinha
Que de tolo até pensei que
modifica, sua figura se altera, sua grandeza aumenta, ele toma-se
fosse minha. líquido, esquenta-se, mal o podemos tocar e, embora nele
nada de tudo o que notei nela por intermédio dos sentidos, Res cogitans: Coisas pensantes
posto que todas as coisas que se apresentavam ao paladar, – abstrações, racionais,
intuídas.
ao olfato, ou à visão, ou ao tato, ou à audição, encontram-se
mudadas e, no entanto, a mesma cera permanece. Talvez
fosse como penso atualmente, a saber, que a cera não era
Filme/Cinema
nem essa doçura do mel, nem esse agradável odor das flores,
nem essa brancura, nem essa figura, nem esse som, mas
somente um corpo que um pouco antes me aparecia sob
certas formas e que agora se faz notar sob outras. Mas o que
será, falando precisamente, que eu imagino quando a concebo
dessa maneira? Consideremo-lo atentamente e, afastando
todas as coisas que não pertencem à cera, vejamos o que
resta. Certamente nada permanece senão algo de extenso,
flexível e mutável. Ora, o que é isto: flexível e mutável? Não
estou imaginando que esta cera, sendo redonda, é capaz de
https://goo.gl/NbTLYp
se tornar quadrada e de passar do quadrado a uma figura
triangular? Certamente não, não é isso, posto que a concebo
capaz de receber uma infinidade de modificações similares
e eu não poderia, no entanto, percorrer essa infinidade com
minha imaginação e, por conseguinte, essa concepção que A Ilha do medo / Shutter Island (2010)
Direção: Martin Scorsese
tenho da cera não se realiza através da minha faculdade de Qual a definição de loucura? Como saber
imaginar30. quem é louco e quem é são?
Museu/Internet linguagem comum; pois nós dizemos que vemos a mesma cera,
se a apresentam, e não que julgamos que é a mesma, pelo fato
de ter a mesma cor e a mesma figura: donde desejaria quase
concluir que se conhece a cera pela visão dos olhos e não pela
http://www.mcescher.com
tão só inspeção do espírito, se por acaso não olhasse pela
janela homens que passam pela rua, à vista dos quais não
deixo de dizer que vejo homens da mesma maneira que digo
que vejo a cera; e, entretanto, que vejo desta janela, senão
Laços/Bond of union (1956) chapéus e casacos que podem cobrir espectros ou homens
Maurits Cornelis Escher
http://www.mcescher.com fictícios que se movem apenas por molas? Mas julgo que são
Site oficial do artista holandês Escher homens verdadeiros e assim compreendo, somente pelo poder
(1898-1972), conhecido por suas
construções inusitadas e fascinantes. O
de julgar que reside em meu espírito, aquilo que acreditava
Museu do Escher fica em Haia, Holanda. ver com meus olhos.
15. Um homem que procura elevar seu conhecimento para
Arte além do comum deve envergonhar-se de aproveitar ocasiões
para duvidar das formas e dos termos do falar do vulgo; prefiro
passar adiante e considerar se eu concebia com maior evidência
e perfeição o que era a cera, quando a percebi inicialmente e
acreditei conhecê-la por meio dos sentidos exteriores, ou ao
https://goo.gl/qkbhVb
https://goo.gl/P0BtLa
com quão maior evidência, distinção e nitidez não deverei eu
conhecer-me35, posto que todas as razões que servem para
conhecer e conceber a natureza da cera, ou qualquer outro
corpo, provam muito mais fácil e evidentemente a natureza Filosofia da Educação – Descartes –
de meu espírito? E encontram-se ainda tantas outras coisas Univesp TV
Vídeo didático, bem-humorado, que
no próprio espírito que podem contribuir ao esclarecimento explica a obra e a vida do filósofo.
de sua natureza, que aquelas que dependem do corpo (como
esta) não merecem quase ser enumeradas.
18. Mas, enfim, eis que insensivelmente cheguei aonde
queria; pois, já que é coisa presentemente conhecida por mim Filme/Cinema
que, propriamente falando, só concebemos os corpos pela
faculdade de entender em nós existente e não pela imaginação
nem pelos sentidos, e que não os conhecemos pelo fato de
vê-los ou de tocá-las, mas somente por concebê-los pelo
pensamento, reconheço com evidência que nada há que me
seja mais fácil de conhecer do que meu espírito. Mas, posto
que é quase impossível desfazer-se tão prontamente de uma
antiga opinião, será bom que eu me detenha um pouco neste
https://goo.gl/xDnNBW
ponto, a fim de que, pela amplitude de minha meditação, eu
imprima mais profundamente em minha memória este novo
conhecimento.
_________________
Descartes (1974)
1
A primeira Meditação tem como peculiaridade o fato de não se tratar aí de
Direção: Roberto Rossellini
“estabelecer verdade alguma, mas apenas de me desfazer desses antigos prejuízos”.
Rossellini extrai trechos inteiros de
(Sétimas Respostas.)
algumas das obras fundamentais
Sua composição é a seguinte:
do pensador, como O Discurso do
§§ 1-3: o princípio da dúvida hiperbólica;
Método (1637) e as Meditações
§§ 3-13: argumentos que estendem e radicalizam a dúvida.
Metafísicas (1641), para compor as
(§ 3): argumento dos erros dos sentidos; (§§ 4-9): argumento do sonho;
ações “dramáticas” do personagem. São
(§§ 9-13): argumento que estende a dúvida ao valor objetivo das essências
procedimentos teóricos de Descartes,
matemáticas, em duas etapas: o Deus enganador; o Gênio Maligno.
cuja função seria fundar a autonomia do
2
A dúvida assim posta em ação: a) distinguir-se-á da dúvida vulgar pelo fato de ser
pensamento racional diante da fé. Vale
engendrada não por experiência, mas por uma decisão; b) será “hiperbólica”, isto é,
dizer que, naquela época, toda démarche
sistemática e generalizada; c) consistirá, pois, em tratar como falso o que é apenas
racionalista tinha de ser, também, uma
duvidoso, como sempre enganador o que alguma vez me enganou.
negociação com a autoridade religiosa.
3
Argumento do erro do sentido, primeiro grau da dúvida. É insuficiente para nos
Donde, nas Meditações, Descartes
fazer duvidar sistematicamente de nossas percepções sensíveis.
precisar, primeiro, ocupar-se das provas
4
Aqui começa o argumento do sonho, segundo grau da dúvida, que irá estendê-la a
da existência de Deus, para apenas depois
todo conhecimento sensível, ou pelo menos a seu conteúdo.
afirmar que o Cogito (a Razão) se sustenta
5
O segundo argumento encontra, pois, o seu limite: ele não me permite pôr em
por si só. “Eu sou, eu existo”, deduz,
dúvida os componentes de minhas percepções, a saber, as “naturezas simples”,
pelo simples fato de pensar. A conclusão
indecomponíveis (figura, quantidade, espaço, tempo), que são o objeto da
entrou para a história do conhecimento
Matemática. Tais elementos “escapam, contrariamente aos objetos sensíveis, a
como a frase famosa “Penso, logo existo”.
todas as razões naturais de duvidar’: sublinha Guéroult, apoiando-se no texto
da Meditação Quinta: “A natureza de meu espírito é tal que eu não me poderia
impedir de julgá-las verdadeiras enquanto as concebo clara e distintamente’”. Daí
a necessidade de recorrer ao terceiro argumento que abalará esta certeza “natural”.
6
Essa “opinião” é sustentada pelos teólogos das Segundas Objeções: Deus, dada sua
onipotência, pode nos enganar. Não é o parecer de Descartes: o engano em Deus
constituiria não só um sinal de malignidade, mas de não-ser. (Col. com Burman.)
Isso redunda em afirmar o valor tão somente metodológico dessa suposição
antinatural.
7
A consideração da bondade, por si só, não basta para invalidar a suposição. Cf. a
nota precedente.
8
A dúvida é agora universalizada.
9
A função do Deus enganador e do Gênio Maligno é a mesma: porém o Gênio
Maligno é um artifício psicológico que, impressionando mais a minha imaginação,
levar-me-á a tomar a dúvida mais a sério e a inscrevê-la melhor em minha memória
(“é preciso ainda que cuide de lembrar-me dela”).
Televisão/Filosofia 10
Esta insistência na dificuldade de exercer uma dúvida tão radical não é enfática;
quanto mais a dúvida for vivida como radical, mais as certezas que se impuserem, em
seguida, se apresentarão como inabaláveis. Tomar a dúvida levianamente é expor-se
https://goo.gl/T3pkEE
a nada compreender da sequência das Meditações. A este propósito, cf. 203. - “Não
há erro mais grave”, diz Alain, “do que julgar que esta dúvida é fingida. Não há
também erro mais comum, porque poucos homens jogam este jogo seriamente.”
11
Plano da Meditação:
A) §§ 1-9: da natureza do espírito humano...:
§§ 1-4: conquista da primeira certeza:
Programa Ser ou não Ser – Fantástico (§ § 1- 3): procura de uma primeira certeza;
– TV Globo (§ 4): “Eu sou, eu existo”;
O vídeo apresenta algumas das §§ 5-9: reflexão sobre esta primeira certeza e conquista da segunda:
principais ideias do filósofo, de modo (§ § 5-8): quem sou eu, eu que estou certo que sou? Uma coisa pensante.
didático e claro. Determinação da essência do Eu;
(§ 9): descrição da “coisa pensante” e distinção entre o pensamento (atributo
principal desta substância) e suas outras faculdades;
B) §§ 10-18: ... e de como ele é mais fácil de conhecer do que o corpo:
Contraprova da segunda certeza (o pedaço de cera) e conquista da terceira certeza.
Áudio/Internet 12
A primeira certeza adquirida não será, pois, a mais alta; deve apenas inaugurar a
cadeia das razões.
13
Retomemos o raciocínio. No ponto em que estou, não poderia eu ter a certeza da
https://goo.gl/20CGhQ
existência de algum Deus? Não, nada o exige (e um dos princípios da análise dos
geômetras é o de não remontar a uma verdade superior àquela com que posso
me contentar). Irei invocar a certeza de minha existência como indivíduo, sujeito
concreto? Não, nada o permite. visto que pus em dúvida a existência de tudo o
que há “no mundo”... Mas cuidado! A “hesitação” aqui é ditada pelo medo de uma
confusão: fiel à regra da dúvida, não tenho motivo de abrir exceção em favor do
Áudio de Mário Sérgio Cortella sobre a
homem concreto que sou; mas, aquém deste, há algo que irá resistir à dúvida. E
filosofia de René Descartes.
doravante o Eu não será mais este Eu de chambre e ao pé do fogo que a Primeira
Meditação evocava (como indica Goldschmidt, Congresso Descartes de Royaumont,
p. 53).
14
Essa frase evidencia bem o papel do “Grande Embusteiro”: impor a meus
Vídeo/Internet pensamentos uma prova de tal ordem que aquele que lhe resistir seja, quando não
garantido como verdadeiro (é impossível antes da prova da existência de Deus), pelo
menos recebido como certo. Se não fosse arrancado, extorquido ao Gênio Maligno,
https://goo.gl/20CGhQ
o Cogito não passaria de uma banalidade. Sobre a originalidade do Cogito, cf. o fim
do opúsculo de Pascal: De l’Esprit Géométrique.
15
O fim da frase indica que ela só é verdadeira cada vez que penso nela atualmente.
É também uma transição, pois permitirá responder à pergunta que agora haverá
de colocar-se: qual é a natureza deste Eu - existente que acabo de afirmar?
16
Eu não conheço, ainda, o conteúdo desta existência que acabo de afirmar.
Philosophy – René Descartes Importa, pois, encontrá-lo pela exclusiva análise dos dados do problema, isto é,
Canal: The School of Life por determinação, levando em conta tudo o que é dado, mas excluindo tudo o que
Vídeo animado, didático e esclarecedor não o é (a referência à Regra XII é aqui indispensável). Notar a frase “é preciso que
sobre as principais ideias de Descartes. eu atente com todo cuidado para não tomar imprudentemente alguma outra coisa
por mim”, que seria absurdo no plano da Psicologia e que se justifica apenas ao
nível de uma Álgebra das noções, comparável à “Álgebra dos comprimentos” das
Regulae.
17
Sobre este método de determinação do problema por segregação, cf. o diálogo:
Recherche de La Vérité (Pléiade, págs. 892-94). Ao interlocutor aturdido que acaba
de responder: “Diria, portanto, que sou um homem”, o cartesiano replica: “Não
prestais atenção ao que perguntei e a resposta que apresentais, embora vos
pareça simples, lançar-vos-ia em questões muito árduas e muito embaraçosas,
se eu quisesse apertá-las por menos que seja... Não entendestes bem a minha
pergunta e respondeis a mais coisas do que vos perguntei... Dizei-me, pois, o que
sois propriamente, na medida em que duvidais”
18
Cf. Respostas, 508.
19
Este conhecimento “natural” que eu tenho de mim mesmo antes da prova da dúvida
será inteiramente falso? Não. Se a alma é concebida à maneira dos escolásticos, em
troca a distinção entre o corpo e o espírito (indispensável à Física) está aí presente,
mas a título de opinião provável, sem fundamento. Cf. Respostas, 204.
20
Mudança de plano. Do pensamento inspirado por “minha natureza” passamos à só
ideia de mim mesmo compatível com a instauração da dúvida, da indeterminação
psicológica à determinação metafísica.
21
Entre todas as faculdades: 1) do corpo - 2) da alma, uma só, o pensamento, resiste
à exclusão. Vemos aqui a importância do fim do § 4: “Esta proposição – eu sou,
eu existo – é necessariamente verdadeira sempre que eu a pronuncio ou que eu a
concebo em meu espírito”. E ao refletir sobre esta inseparabilidade – único dado
que se encontra em minha posse – que obtenho imediatamente a natureza “daquilo
que sou”. Trata-se da primeira verdade da cadeia de razões.
22
“Anteriormente”, isto é, no plano em que nos colocava o parágrafo precedente, eu
podia proferir estas palavras, mas sem lhes ter determinado o sentido, portanto
sem conhecê-lo.
23
Sobre o fim desse parágrafo, cf. 505 e segs. Não há necessidade alguma de ir
procurar em outra parte uma resposta, visto que dei a única resposta que
respeitava os dados do problema: “Eu sou uma coisa que pensa”. Mas “o homem
natural” sente-se tentado a recorrer à imaginação a fim de completar esta resposta.
Há nisso uma inclinação que o parágrafo seguinte irá desenraizar.
24
O contraditor que retorquisse haver talvez em mim alguma outra faculdade
desconhecida situar-se-ia no plano da Psicologia e não das razões metafísicas. Um
dos princípios da análise é que não tenho o direito de arguir propriedades ainda
desconhecidas para combater as que se acham agora estabelecidas.
25
Em virtude desse princípio, não me é dado absolutamente o direito de recorrer à
imaginação, pois “tudo quanto posso compreender por seu meio” foi excluído pela
dúvida. Por aí eu sei, ao mesmo tempo, que minha natureza é puro pensamento
exclusivo de todo elemento corporal. E a segunda verdade, a qual não se deve
confundir com a distinção real entre a alma e o corpo, estabelecida somente na
Meditação Sexta. Cf. 5 10.
26
Cumpre observar a diferença relativamente à definição do § 7: “Isto é, um espírito,
um entendimento ou uma razão”. Aí se determinava a essência da substância
“coisa pensante”; aqui ela é descrita revestida de seus diferentes modos. Desse
novo ponto de vista, reintegra-se na “coisa pensante” o que fora excluído de sua
essência. Todos esses modos (imaginar, sentir, querer), embora não pertençam à
minha natureza, não podem ser postos em dúvida, na medida em que se beneficiam
da certeza do Cogito.
27
A saber, um pensamento: a) distinto dos corpos se os houver; b) distinto das
faculdades não propriamente intelectuais, como a imaginação, que só pertencem
porque implicam este pensamento puro.
28
Novo assalto do pensamento imaginativo inerente à “minha natureza” e do qual
não posso ainda me desprender: estou convencido, mas não persuadido. Daí a
necessidade de uma contraprova que servirá para estabelecer a terceira verdade.
Todas as figuras de retórica das Meditações, esta integra-se na ordem.
29
Em outros termos: façamos de conta que interrompemos a ordem a fim de seguir o
senso comum em seu próprio terreno. Sobre o fato de ser esta transgressão apenas
aparente, cf. o importantíssimo § 5 15 das Respostas.
30
Raciocínio em duas partes: 1.º o que me permite reconhecer a mesma cera é sua
identidade na medida em que a cera é coisa extensa; 2.º Mas este conteúdo só pode
ser ideia e não imagem da extensão que o corpo ocupa atualmente ou daquelas
(em número finito) que poderia ocupar em seguida. Cf. Quintas Respostas: “As
faculdades de entender e de imaginar diferem não só segundo o mais e o menos,
porém como duas maneiras de agir totalmente diferentes”.
31
Por onde fica provado não só que a imaginação não pode me dar a conhecer a
natureza dos corpos que se lhe apresentam (o que era o objetivo da contraprova),
mas ainda que o pensamento puro é o único capaz de fazê-lo.
32
Cf. 513, onde Descartes se defende de ter pretendido “abstrair o conceito da cera
de seus acidentes”. “Os acidentes são contingentes em relação à substância, mas
não a acidental idade”, especifica Guéroult. (Descartes, I, pág. 56.)
33
Tal é o sentido exato do “pedaço de cera”: eu nada posso conhecer através da percepção
ou da imaginação sem compreender (ou reconhecer), através do pensamento, a
essência da coisa. Tenho ou não razão de reconhecer esta essência? Não sei ainda.
Pois não se trata aqui de saber se eu disponho efetivamente do conhecimento da
essência do corpo, mas de saber em quais condições posso estar seguro de possuir
a ideia clara e distinta de corpo. Cf. Guéroult, op. cit., pp. 144-45.
34
Passamos, com este parágrafo, à confirmação da segunda verdade: quando percebo
o pedaço de cera, seja compreendendo clara e distintamente sua natureza, seja
apenas imaginando-o ou tocando-o, só uma coisa é certa, no ponto em que me
encontro. É que eu penso percebê-lo... Mostrando que este “pensamento” era
indispensável ao conhecimento da coisa, a análise precedente deu confirmação a
esta verdade.
35
É a terceira verdade: o espírito é mais fácil de conhecer do que o corpo. Com
efeito, obtenho imediatamente o conhecimento da existência e da natureza de meu
espírito, ao passo que o meu pensamento me proporciona apenas a ideia clara
e distinta dos corpos cuja existência ainda é problemática. Guéroult comenta:
“Quando Descartes declara que o conhecimento da alma é o mais fácil dos
conhecimentos, quer dizer que é a mais fácil das verdades científicas e o primeiro
dos conhecimentos na ordem da ciência. Não quer dizer que a ciência é mais fácil
do que o conhecimento vulgar. A passagem do senso comum à ciência é, com efeito,
a mais difícil das ascensões”. (Op. cit., p. 128.)
ATIVIDADE 1
1. (UFU/2013) Suporei, portanto, que há não um Deus ótimo, fonte soberana da verdade, mas algum
gênio maligno, e ao mesmo tempo, sumamente poderoso e manhoso, que põe toda a sua indústria
em que me engane: pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas
externas nada mais são do que ludíbrios dos sonhos, ciladas que ele estende à minha credulidade.
DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Primeira Meditação /12/. Tradução de Fausto Castilho. Campinas: IFCH-Unicamp, 1999, p. 25.
a) Qual é, para Descartes, a relação existente entre o gênio maligno e a coisa pensante
(Res cogitans)?
Eis por que, talvez, daí nós não concluamos mal se dissermos que a Física, a Astronomia, a Medicina,
e todas as outras ciências dependentes da consideração das coisas compostas são muito duvidosas
e incertas; mas que a Aritmética, a Geometria, e as outras ciências desta natureza, que não tratam
senão de coisas muito simples e muito gerais, sem cuidarem muito em se elas existem ou não na
natureza, contêm alguma coisa de certo e indubitável. Pois, quer eu esteja acordado, quer esteja
dormindo, dois mais três formarão sempre o número cinco e o quadrado nunca terá mais do que
quatro lados; e não parece possível que verdades tão patentes possam ser suspeitas de alguma
falsidade ou incerteza.
DESCARTES. Meditações, Meditação Primeira. Trad. de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1983. p. 87.
(Os Pensadores)
Nesse trecho, o autor encontra nas matemáticas – aritmética e geometria – um conjunto de crenças
que, à primeira vista, resistem à sua resolução de se desfazer de todas as antigas convicções,
submetendo-as ao preceito metódico de tomar por falso tudo o que não seja absolutamente
indubitável. Por meio de uma suposição, entretanto, Descartes será capaz de colocar em dúvida
também as verdades matemáticas.
b) Explique por que tal suposição é necessária para se estender a dúvida ao conhecimento
matemático.
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ATIVIDADE 2
HUMANÍSTICA
Assista ao vídeo ao lado (Inveja nas mídias sociais)
PROJETO VIDA
A nossa vida virtual Vamos falar sobre a nossa vida virtual nas redes sociais? Quem
sou eu no mundo virtual? Quem sou eu no mundo real? O que sinto
quando vejo a felicidade do meu amigo? Quanto tempo da minha
vida passo vendo a vida dos outros no Facebook? Por que tenho
a necessidade de postar instantaneamente tudo aquilo que faço?
(Retomada de Guy Debord – 1.ª Série EM) Quais são as diferenças,
semelhanças e interferências entre o real e o virtual? Alguns problemas
https://goo.gl/TjkpnQ
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ENTENDIMENTO HUMANO
LOCKE, John. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo:
Abril Cultural, 1973. p. 165.
https://goo.gl/eNnRDy
ideias; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto
estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem
pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde
apreende todos os materiais da razão e do conhecimento?
John Locke (1632-1704)
A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o Foi um filósofo inglês e ideólogo do
nosso conhecimento está nela fundamentalmente o próprio liberalismo, sendo considerado o
principal representante do empirismo
conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos britânico e um dos principais teóricos do
como nas operações internas de nossas mentes, que são por contrato social.
nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre
nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento.
Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas
ideias, ou as que possivelmente teremos.
Vocabulário
ATIVIDADE 1
https://goo.gl/Phc5Qy
Responda à questão abaixo.
HUMANÍSTICA
PROJETO VIDA
ATIVIDADE 2
Vamos falar sobre gênero?
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A garota dinamarquesa (2015)
Direção: Tom Hooper ________________________________________________________
O filme retrata a história de Lili Elbe, uma
das primeiras transexuais a se submeter a
uma cirurgia.
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Revista/Educação
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Capa da revista Nova Escola.
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PRIMEIRA PARTE
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Tanto a paixão filosófica como a paixão religiosa
parecem expostas — embora procurem extirpar nossos
vícios e corrigir nossos hábitos — ao inconveniente, quando
manejadas com imprudência, de servirem apenas para
encorajar uma inclinação predominante e conduzir o espírito Investigação Acerca do Entendimento
resolutamente na direção que previamente mais o atraia, Humano é um livro de epistemologia
(Teoria do conhecimento) do filósofo
devido às tendências e inclinações do temperamento natural. escocês David Hume, publicado em 1748.
Certamente, enquanto aspiramos à magnânima firmeza do Nele, Hume apresenta sua teoria empirista
saber filosófico e tentamos encerrar nossos prazeres nos e a valorização ao ceticismo.
https://goo.gl/kQjeL2
racionalmente de nos desligar de toda virtude como também
de todos os prazeres sociais. Enquanto refletimos a propósito
da vaidade da vida humana e pensamos na natureza fútil
e transitória das riquezas e das honras, estamos, talvez, Epicteto (55d.C.-135 d.C.)
durante todo este tempo, lisonjeando nossa indolência Foi um filósofo grego estoico que viveu a
maior parte de sua vida em Roma, como
natural que, por aversão à azáfama do mundo e à fadiga escravo, durante o governo de Nero.
dos negócios, procura um pretexto racional para entregar-se
completa e livremente à preguiça. Há, contudo, uma corrente
filosófica que parece menos exposta a este inconveniente, pois Vocabulário
ela não se liga a nenhuma paixão desordenada do espírito e
Estoicos: filosofia helenística
nem se alia a qualquer tendência ou propensão natural: é a que pregava a virtude e a razão
filosofia acadêmica ou cética. Os acadêmicos falam sempre como guia para uma vida feliz
da dúvida e da suspensão do juízo, do risco das resoluções e sem perturbações.
apressadas, em confinar as investigações do entendimento a Azáfama: excesso de pressa,
afobação na realização de
estreitos limites e em renunciar a todas as especulações que algum trabalho.
transbordam as fronteiras da vida e da prática cotidianas.
Fadiga: sensação de
Nada, por conseguinte, pode ser mais contrário a tal filosofia enfraquecimento resultante de
do que a indolente letargia do espírito, sua atrevida arrogância, esforço físico ou mental.
suas elevadas pretensões e sua credulidade supersticiosa. Ceticismo: doutrina segundo
Toda paixão é mortificada por ela, exceto o amor à verdade; a qual o espírito humano não
pode atingir nenhuma certeza
e esta paixão não é jamais, nem pode ser, elevada a um a respeito da verdade.
grau demasiado alto. É surpreendente, todavia, que esta
Empirismo: doutrina segundo
filosofia, que em quase todos os aspectos deve ser inofensiva a qual todo conhecimento
e inocente, seja o objeto de tantas acusações e de tantas provém unicamente da
experiência, limitando-se
censuras infundadas. Mas, talvez, a própria circunstância ao que pode ser captado do
que a torna tão inocente seja justamente o que a expõe ao ódio mundo externo, pelos sentidos.
e ao ressentimento públicos. Porque ela não adula nenhuma
paixão desordenada, não obtém muitos adeptos; porque ela
se opõe a tantos vícios e tantas tolices, levanta contra si um
grande número de adversários, que a estigmatizam como
profana, libertina e irreligiosa.
_________________ Transversalidade:
1
A filosofia acadêmica ou cética designa a forma de filosofia da última Academia, que
Vamos falar sobre Bullying?
floresceu a partir do século IV a.C. Hume a distingue do ceticismo pirrônico (veja-
Explicitá-lo? Denunciá-lo?
-se seção XII), que é extremo e, segundo ele, um tipo de dogmatismo negativista,
pois, embora todos os argumentos racionais se mostrem defeituosos e inconclusos,
o homem deve decidir e tomar posição na vida prática. Os escritos filosóficos de
Cícero, profundamente marcados por esse tipo de ensino, exerceram considerável
influência na educação da maioria dos filósofos modernos, especialmente de Locke,
Berkeley e Hume. (Veja-se de Hume, An Inquiry concerning Hurnan Understanding,
ed. Hendel, Liberal Arts, 1955, p. 54, nota 1) [N. do T.]
2
Nada é mais útil aos escritores, mesmo os que escrevem a respeito de temas mo-
https://goo.gl/iuX5Cz
rais, políticos ou físicos, do que distinguir entre a razão e a experiência e supor que
estas classes de argumentação são inteiramente diferentes entre si. As primeiras
são consideradas meros resultados de nossas faculdades intelectuais, as quais, ao
considerarem a priori a natureza das coisas e examinarem os efeitos, que devem
resultar de sua operação, estabelecem princípios particulares à ciência e à filosofia.
As últimas são supostas derivar inteiramente dos sentidos e da observação, por
meio dos quais sabemos o que é que resultou de fato da operação de objetos par-
ticulares e assim somos capazes de inferir o que resultará deles no futuro. Assim,
HUMANÍSTICA
por exemplo, as limitações e restrições do governo civil e de sua constituição legal
podem ser defendidas tanto mediante a razão, que refletindo sobre a debilidade e PROJETO VIDA
corrupção da natureza humana nos ensina que a nenhum homem se pode confiar Você não está sozinho!
uma autoridade ilimitada, como mediante a experiência e a história, que nos in-
formam dos enormes abusos que a ambição tem cometido em toda época e país,
devido a uma confiança tão imprudente.
A mesma distinção entre razão e experiência se verifica em todas as nossas deli-
berações acerca da conduta na vida. Deste modo, o estadista, o general, o médico
Vocabulário
e o mercador experientes são seguidos e inspiram confiança, enquanto o novato
Bullying: Termo da língua
inexperiente é, por mais bem-dotado de talentos naturais, desprezado e desconsi-
inglesa (bully = “valentão”) que
derado. Embora se admita que a razão pode formular conjeturas mais plausíveis
se refere a todas as formas de
sobre determinada conduta em determinadas condições, supõe-se, todavia, que ela
atitudes agressivas, verbais
é imperfeita sem o auxílio da experiência, pois esta é a única via capaz de conferir
ou físicas, intencionais e
estabilidade e certeza às máximas deduzidas mediante estudo e reflexão.
repetitivas, que ocorrem sem
Apesar da aceitação universal desta distinção, tanto nas etapas da vida ativa como
motivação evidente e são
especulativa, não terei escrúpulos em afirmar que é uma atitude errônea ou, ao
exercidas por um ou mais
menos, superficial.
indivíduos, causando dor e
Se examinarmos os argumentos em uma das ciências acima mencionadas e supor-
angústia, com o objetivo de
mos que eles são meros efeitos do raciocínio e da reflexão, verificaremos que termi-
intimidar ou agredir outra
nam pelo menos em alguma conclusão ou princípio geral, aos quais não podemos
pessoa sem ter a possibilidade
alegar outra razão a não ser a observação e a experiência. A única diferença entre
ou capacidade de se defender,
as máximas racionais e experimentais (estas vulgarmente consideradas resultan-
sendo realizadas dentro de
tes da mera experiência) consiste em que as primeiras não podem ser estabelecidas
uma relação desigual de forças
sem algum processo do pensamento e alguma reflexão sobre o que foi observado,
ou poder.
a fim de distinguir suas circunstâncias e traçar suas consequências; nas máxi-
mas experimentais, o evento experienciado é exata e completamente similar ao que http://brasilescola.uol.com.br/
inferimos como resultado de uma situação particular qualquer. A história de um sociologia/bullying.htm
Nero ou de um Tibério nos levaria a temer semelhante tirania se nossos monarcas
estivessem livres das restrições do Senado e da Lei. Mas a constatação de qualquer
fraude ou crueldade na vida privada é suficiente, com o auxílio de alguma experiên-
cia, para alertar-nos do mesmo temor, porque serve de exemplo da corrupção geral
da natureza humana e nos mostra o perigo que poderíamos correr se depositásse-
mos inteira confiança na humanidade.
Nos dois casos a experiência é, em última análise, o fundamento de nossa inferên-
cia e conclusão.
Não há homem tão jovem e inexperiente que não tenha formado muitos e corretos
princípios sobre os assuntos humanos e a conduta na vida. Mas é preciso admitir Televisão/Internet
que, quando um homem procura exercê-los, está mais propenso a errar, até que
o tempo e experiências ulteriores lhe ampliem estes princípios e lhe ensinem seu
https://goo.gl/YbWQFV
ATIVIDADE 1
Hume considerou não haver nenhuma razão para supor que, dado o que se chama um “efeito”,
deva haver uma causa invariavelmente unida a ele. Observamos sucessões de fenômenos: à noite
sucede o dia, ao dia, a noite etc.; sempre que se solta um objeto, ele cai no chão etc. Diante da
regularidade observada, concluímos que certos fenômenos são causas e outros, efeitos. Entretanto,
podemos afirmar somente que um acontecimento sucede a outro – não podemos compreender que
haja alguma força ou poder pelo qual opera a chamada “causa”, e não podemos compreender que
haja alguma conexão necessária entre semelhante “causa” e seu suposto “efeito”.
FERRATER-MORA, J. Dicionário de Filosofia, Tomo I. São Paulo: Loyola, 2000, p.427.
2. (UFU/2000-ADAPTADA) “O hábito é, pois, o grande guia da vida humana. É aquele princípio único
que faz com que nossa experiência nos seja útil e nos leve a esperar, no futuro, uma sequência de
acontecimentos semelhantes às que se verificaram no passado.
Hume. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 146.
Comente, acerca do conhecimento verdadeiro, a crítica que Hume fez aos limites da experiência
sensível e ao princípio da causalidade vigente na filosofia moderna.
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Assista também
ATIVIDADE 2
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Vamos falar sobre bullying? Explicitá-lo? Denunciá-lo? Pensar a
respeito do tema?
Que papo é esse: Bullying Assista ao vídeo.
Todos nós somos responsáveis
Filme: Bullying – A Violência nas Escolas
https://goo.gl/Nh3BO7
https://goo.gl/5u8w4E
Borboletas em voo
Relato de uma mulher que sofreu bullying.
Escreva aqui experiências vividas sobre o assunto (opcional). Vamos
falar sobre bullying? Vamos encontrar soluções em conjunto?
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Globo Repórter – Bullying.
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(AUFKLÄRUNG)? 1784
Immanuel Kant
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na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a
direção de outrem. Sapere aude! (Ouse saber!) Tem coragem
de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento.
Immanuel Kant (1724-1804)
A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma Foi um filósofo prussiano, geralmente
tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há considerado como o último grande
filósofo dos princípios da era moderna.
muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter
maiorennes), continuem, no entanto de bom grado menores
durante toda a vida. São também as causas que explicam por
Sapere aude!
que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles.
É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes
de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem
consciência, um médico que por mim decide a respeito de
minha dieta, etc., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Arte
Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente
pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios
desagradáveis. A imensa maioria da humanidade (inclusive todo
o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e além do
mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram
a seu cargo a supervisão dela. Depois de terem primeiramente
embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente
estas tranquilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo
fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram,
mostram-lhes, em seguida, o perigo que as ameaça se tentarem
andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade não é tão grande,
pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de
algumas quedas. Basta um exemplo deste tipo para tornar
tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras
https://goo.gl/WkZ8VN
tentativas no futuro.
É difícil, portanto, para um homem em particular
desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase
uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por O navio dos loucos (1490-1500)
ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, Autor: Hieronymus Bosch – óleo sobre
madeira 58x33
porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Museu do Louvre, Paris
Preceitos e fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso “O homem em sua menoridade”
racional, ou, antes, do abuso de seus dons naturais, são os
grilhões de uma perpétua menoridade. Quem deles se livrasse
só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais
estreito fosso, porque não está habituado a este movimento
livre. Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram,
pela transformação do próprio espírito, emergir da menoridade
e empreender então uma marcha segura.
https://goo.gl/e1Elgn
prejudicial se um oficial, a que seu superior deu uma ordem,
quisesse pôr-se a raciocinar em voz alta no serviço a respeito
da conveniência ou da utilidade dessa ordem. Deve obedecer.
Mas, razoavelmente, não se lhe pode impedir, enquanto
homem versado no assunto, fazer observações sobre os erros
no serviço militar, e expor essas observações ao seu público,
para que as julgue. O cidadão não se recusar a efetuar o Religião
pagamento dos impostos que sobre ele recaem; até mesmo Assista ao vídeo
a desaprovação impertinente dessas obrigações, se devem
ser pagas por ele, pode ser castigada como um escândalo
https://goo.gl/EH5zq0
(que poderia causar uma desobediência geral). Exatamente,
apesar disso, não age contrariamente ao dever de um cidadão
se, como homem instruído, expõe publicamente suas ideias
contra a inconveniência ou a injustiça dessas imposições.
Do mesmo modo também o sacerdote está obrigado a fazer A religião como controle social.
“O homem em estado de menoridade”.
seu sermão aos discípulos do catecismo ou à comunidade,
de conformidade com o credo da Igreja a que serve, pois
foi admitido com esta condição. Mas, enquanto sábio, tem Literatura
completa liberdade, e até mesmo o dever, de dar conhecimento
ao público de todas as suas ideias, cuidadosamente
examinadas e bem intencionadas, sobre o que há de errôneo
naquele credo, e expor suas propostas no sentido da melhor
instituição da essência da religião e da Igreja. Nada existe
aqui que possa constituir um peso na consciência. Pois aquilo
que ensina em decorrência de seu cargo como funcionário da
Igreja, expõe-no como algo em relação ao qual não tem o livre
poder de ensinar como melhor lhe pareça, mas está obrigado
a expor segundo a prescrição de um outro e em nome deste.
Poderá dizer: nossa igreja ensina isto ou aquilo; estes são os
fundamentos comprobatórios de que ela se serve.
Tira então toda utilidade prática para sua comunidade
de preceitos que ele mesmo não subscreveria, com Como me Tornei Estúpido
Autor: Martin Page
inteira convicção, em cuja apresentação pode contudo se Para o jovem Antoine, a inteligência e a
comprometer, porque não é de todo impossível que em seus consciência crítica se transformam em
empecilhos para alcançar a felicidade na
enunciados a verdade esteja escondida. Em todo caso, porém, sociedade atual. Por isso, o anti-herói
pelo menos nada deve ser encontrado aí que seja contraditório criado pelo autor francês decide investir na
com a religião interior. Pois se acreditasse encontrar esta idiotice como forma de sobrevivência.
contradição não poderia em sã consciência desempenhar
sua função, teria de renunciar. Por conseguinte, o uso que
um professor empregado faz de sua razão diante de sua
comunidade é unicamente um uso privado, porque é sempre
um uso doméstico, por grande que seja a assembleia. Com
Poesia relação a esse uso ele, enquanto padre, não é livre nem tem o
Nós vos pedimos com direito de sê-lo, porque executa uma incumbência estranha.
insistência: Já como sábio, ao contrário, que por meio de suas obras fala
Nunca digam – Isso é natural para o verdadeiro público, isto é, o mundo, o sacerdote, no
diante dos acontecimentos de
cada dia. uso público de sua razão, goza de ilimitada liberdade de fazer
Numa época em que reina a uso de sua própria razão e de falar em seu próprio nome. Pois
confusão,
em que escorre o sangue,
o fato de os tutores do povo (nas coisas espirituais) deverem
em que se ordena a desordem, ser eles próprios menores constitui um absurdo que dá em
em que o arbítrio tem força de resultado a perpetuação dos absurdos.
lei,
em que a humanidade se
desumaniza...
Mas não deveria uma sociedade de eclesiásticos, por
Não digam nunca – Isso é exemplo, uma assembleia de clérigos, ou uma respeitável
natural! classe (como a si mesma se denomina entre os holandeses)
Para que nada passe a ser
imutável. estar autorizada, sob juramento, a comprometer-se com um
certo credo invariável, a fim de por este modo de exercer uma
Eu peço com insistência incessante supertutela sobre cada um de seus membros e por
Não diga nunca – Isso é
natural meio dela sobre o povo, e até mesmo a perpetuar essa tutela?
Isto é inteiramente impossível, digo eu. Tal contrato, que
Sob o familiar,
Descubra o insólito,
decidiria afastar para sempre todo ulterior esclarecimento do
Sob o cotidiano, desvele o gênero humano, é simplesmente nulo e sem validade, mesmo
inexplicável. que fosse confirmado pelo poder supremo, pelos parlamentos
Que tudo o que é considerado e pelos mais solenes tratados de paz. Uma época não pode se
habitual aliar e conjurar para colocar a seguinte em um estado em que
Provoque inquietação, se torne impossível para esta ampliar seus conhecimentos
Na regra, descubra o abuso,
E sempre que o abuso for (particularmente os mais imediatos), purificar-se dos erros e
encontrado, avançar mais no caminho do esclarecimento. Isto seria um
Encontre o remédio.
crime contra a natureza humana, cuja determinação original
consiste precisamente neste avanço. E a posteridade está
portanto plenamente justificada em repelir aquelas decisões,
https://goo.gl/SMM11x
https://www.youtube.com/watch?v=4dZpvh0c1UM
mesmo quer ainda mais para sua descendência, significa ferir
e calcar aos pés os sagrados direitos da humanidade. O que,
porém, não é lícito a um povo decidir com relação a si mesmo,
menos ainda um monarca poderia decidir sobre ele, pois sua
autoridade legislativa repousa justamente no fato de reunir a
vontade de todo o povo na sua. Quando cuida de toda melhoria,
verdadeira ou presumida, coincida com a ordem civil, pode
deixar em tudo o mais que seus súditos façam por si mesmos
o que julguem necessário fazer para a salvação de suas almas. Gabriel o Pensador
Isto não lhe importa, mas deve apenas evitar que um súdito
impeça outro por meios violentos de trabalhar, de acordo com
Retrato de um Playboy
toda sua capacidade, na determinação e na promoção de si. (Juventude Perdida)
Causa mesmo dano a sua majestade quando se imiscui nesses
“Não sei o que é a vida, não penso
assuntos, quando submete à vigilância do seu governo os não
escritos nos quais seus súditos procuram deixar claras suas Sonho, praia, surfe e chopp essa é
minha realidade,
concepções. O mesmo acontece quando procede assim não Não saio disso porque me falta
só por sua própria concepção superior, com o que se expõe personalidade
Não tenho cérebro, apenas me
à censura: Ceaser non est supra grammaticos, mas também enquadro no sistema,
Ser tapado é minha sina, ser
e ainda em muito maior extensão, quando rebaixa tanto seu playboy é meu problema
poder supremo que chega a apoiar o despotismo espiritual de Faço só o que os outros fazem, acho
isso legal”
alguns tiranos em seu Estado contra os demais súditos.
“Eu não sei nada dessa vida e desse
Se for feita então a pergunta: “vivemos agora uma época mundo onde estou,
E quando eu saio na rua que eu
esclarecida”?, a resposta será: “não, vivemos em uma época vejo o merda que eu sou
de esclarecimento. Falta ainda muito para que os homens, Sem ter o que fazer, sem ter o que
pensar,
nas condições atuais, tomados em conjunto, estejam já numa Eu encho a cara de bebida até
vomitar
situação, ou possam ser colocados nela, na qual em matéria E os meus falsos amigos que vão lá
religiosa sejam capazes de fazer uso seguro e bom de seu me carregar
São os mesmos que depois só vão
próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem. Somente me sacanear
temos claros indícios de que agora lhes foi aberto o campo Mas na cabeça da galera também
não tem nada,
no qual podem lançar-se livremente a trabalhar e tornarem Somos um monte de merda dentro
progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento da mesma privada,”
ATIVIDADE 1
Crie, escreva, invente a letra de uma música, que aborde a temática presente no texto de Kant (O que
é esclarecimento?) e na música de Gabriel o Pensador (Retrato de um Playboy). Compartilhe com seus
colegas suas ideias.
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watch?v=HUngLgGRJpo
https://goo.gl/ybsDQu
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Requiem para um sonho (2000)
Diretor: Darren Aronofsky
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1. Racionalismo
Para o racionalismo a razão é a fonte principal do
conhecimento. O conhecimento sensível é considerado
enganador. Por isso, as representações da razão são as mais
certas e as únicas que podem conduzir ao conhecimento
logicamente necessário e universalmente válido.
A razão é capaz de conhecer a estrutura da realidade
a partir de princípios puros da própria razão. A ordenação
lógica do mundo permite compreender a sua estrutura de
forma dedutiva. O racionalismo segue, neste aspecto, o modelo
matemático de dedução a partir de um reduzido número de
axiomas.
Os racionalistas partem do princípio de que o sujeito
cognoscente é ativo e, ao criar uma representação de qualquer
objeto real, está a submetê-lo às suas estruturas ideias.
Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva
racionalista do conhecimento, destacam-se Platão, René
Descartes (1596-1650), Spinoza (1632-1677) e Leibniz
(1646-1716), quepartem do princípio de que possuímos ideias
inatas e de que é a realidade é uma construção da razão.
a) Descartes é considerado o fundador do racionalismo
moderno. As fases da sua filosofia podem ser resumidas
da seguinte maneira:
• Objetivo. Atingir verdades indiscutíveis, deduzidas
logicamente, a partir de uma evidência irrefutável.
• Dúvida metódica: Para atingir um conhecimento
absoluto, tem que eliminar tudo o que seja susceptível
de dúvida. Nesse sentido, começa por suspender
todos os conhecimentos susceptíveis de serem postos
em causa. Descobre que todos os dados dos sentidos
podem enganá-lo.
• Primeira evidência. Ao pôr tudo em dúvida, e enquanto
o faz, descobre que a única coisa que resiste à própria
duvida é a razão. Esta seria a primeira verdade absoluta
da filosofia. “Eu penso, logo existo” (cogito).
• Ideias inatas. Descobre ainda que possuímos ideias,
como a ideia de perfeição, que se impõem à razão como
verdadeiras, mas que não derivam da experiência, nem
2. Empirismo
Para o empirismo a experiência é a fonte de todo o
conhecimento, mas também o seu limite. Os empiristas
negam a existência de ideias inatas, como defendiam Platão e
Descartes. A mente está vazia antes de receber qualquer tipo
de informação proveniente dos sentidos. Todo o conhecimento
sobre as coisas, mesmo aquele em que se elaboram leis
universais, provém da experiência, por isso mesmo só é válido
dentro dos limites do observável.
Os empiristas reservam para a razão a função de uma
mera organização de dados da experiência sensível, sendo as
ideias ou os conceitos da razão simples cópias ou combinações
de dados provenientes da experiência.
Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva
empirista destacam-se John Locke (1632-1704) e David
Hume (1711-1776).
a) Locke afirma que o conhecimento começa do
particular para o geral, da impressões sensoriais
para a razão. O espírito humano é uma espécie de
“tábua rasa”, na qual se agravarão as impressões
provenientes do mundo exterior. Não há ideias nem
princípios inatos. Nenhum ser humano por mais
genial que seja é capaz de construir ou inventar ideias,
nem sequer é capaz de destruir as que existem. As
ideias, quer sejam provenientes das sensações, quer
provenham da reflexão, têm sempre na experiência a
sua origem. As ideias complexas não são mais do que
Ceticismo
Hume acaba por cair numa posição cética sobre o
conhecimento.
1. Estamos limitados pela experiência e, por
consequência tudo aquilo que não possa ser observado
não existe. O conhecimento da natureza deve fundar-se
exclusivamente em impressões que dela temos. Desta premissa
decorre o seu ceticismo: o homem não pode conhecer ou
saber nada do universo. Só conhece as suas próprias
impressões ou ideias e as relações que estabelece entre
elas por hábito. Tudo o que o homem sabe, por discurso
racional, acerca do universo se deve única e exclusivamente
à crença, que é um sentimento não racional. A razão está
limitada no seu poder.
2. Questiona o princípio da causalidade em que se
baseiam as ciências da natureza, pois não passa de uma
crença.
3. Questiona também os fundamentos lógicos da
indução, ao afirmar que, pelo fato de algo ter acontecido
muitas vezes no passado, não significa que venha a acontecer
no futuro. O futuro não existe e como tal não é do domínio do
conhecimento.
3. Criticismo
Kant (1724-1804). Todo o conhecimento inicia-se com a
experiência, mas este é organizado pelas estruturas a priori do
sujeito. Segundo Kant o conhecimento é a síntese do dado
na nossa sensibilidade (fenômeno) e daquilo que o nosso
entendimento produz por si (conceitos). O conhecimento
nunca é, pois, o conhecimento das coisas “em si”, mas das
coisas “em nós”.
a) Sensibilidade
A sensibilidade é uma faculdade que nos permite receber
ou perceber objetos mediante impressões (sensações) através
dos sentidos externos. Estas impressões são percepcionadas
no espaço e no tempo, formas puras (vazias) que fazem
parte das estruturas cognitivas inatas do sujeito. Elas são
a condição indispensável para que possamos ter acesso ao
conhecimento sensível (empírico).
b) Entendimento
O entendimento é uma faculdade que nos permite dar
forma, unificar e ordenar os dados recebidos da sensibilidade.
Para produzir conhecimentos (juízos), utiliza 12 categorias
(causa, substância, etc); cuja função é estabelecer relações
entre fenômenos (julgamentos). Os juízos são, pois, operações
de interpretação e organização dos dados sensoriais. O
conhecimento resulta da aplicação dessas categorias
(conceitos puros) à experiência.
Classificou os juízos em três tipos:
• Juízos analíticos. Ex: “O triângulo tem três lados”. O
predicado está contido sujeito. Trata-se de um juízo
a priori, isto é, não está dependente da experiência.
Esse tipo de juízo é universal e necessário.
• Juízos sintéticos. Ex. “Os lisboetas medem mais do
que 1,3 metros de altura”. O predicado acrescenta
elementos novos ao sujeito. Trata-se de um juízo a
posteriori, pois assenta em dados da experiência e
carece desta como comprova. Esse tipo de juízo não é
universal, nem necessário.
• Juízos sintéticos a priori (a sua principal inovação
teórica). Ex.: “Uma reta é a menor distância entre
dois pontos”. Esse juízo acrescenta algo de novo ao
sujeito, mas não está dependente da experiência.
Esse tipo de juízo é universal e necessário.
c) Razão
A razão tem a função de sintetizar os conhecimentos,
dando-lhes uma unidade mais elevada. Não trabalha
sobre os conhecimentos sensoriais, mas sobre os juízos do
entendimento. Elabora juízos dos juízos, produzindo “ideias”
que ultrapassam os limites da experiência.
d) Fenômeno/Númeno
A teoria do conhecimento de Kant estabelece uma clara
distinção entre “fenômeno” e “númeno”.
• O Fenômeno (“aquilo que se manifesta”) corresponde
à realidade empírica, produzindo nos nossos
sentidos impressões (sensações). É o limite de todo
o conhecimento possível. Kant neste ponto concorda
com os empiristas.
• O Númeno (“noúmeno”), isto é, a “coisa em si
mesma”, corresponde àquilo que os nossos sentidos
não percebem, a nossa estrutura inata apenas nos
permite aceder aquilo que delas se manifesta aos
sentidos (o fenômeno). É impossível conhecer as
coisas que estão para além dos dados dos sentidos,
f) Crítica
A teoria do conhecimento de Kant tem sido bastante
contestada, num ponto central: a subjetividade do
conhecimento.
Não admite um conhecimento puramente objetivo,
pois está sempre condicionado pela subjetividade do
sujeito. Todo o nosso conhecimento está à partida condicionado
pelas estruturas transcendentais (a priori), pelas intuições do
espaço e do tempo, as formas mentais das nossas categorias
do entendimento. Unicamente conhecemos o que com essas
“formas” se objetiva. Trata-se de uma profunda limitação que
é difícil de justificar e aceitar.
Carlos Fontes. Fonte: http://afilosofia.no.sapo.pt/11.Modelosexplicativos.3.htm
Com base no texto, nos conhecimentos sobre o racionalismo cartesiano e sobre uma
possível relação com o tema do planejamento e da construção das cidades, assinale a
alternativa CORRETA.
a) A arquitetura das cidades compreende as edificações planejadas, em que coincidem a
ordem racional e a ordem da realidade objetiva.
b) A experiência sensível era o princípio capaz de fundamentar as leis do conhecimento,
permitindo certo ordenamento das construções nas cidades.
c) A mente é como uma folha em branco, isenta de impressões, assim, o conhecimento
que nos permite edificar as cidades inicia-se na execução.
d) O conhecimento se constrói num processo que vai do particular para o universal, o que
valoriza o caráter indutivo na construção das cidades.
e) Os engenheiros e os mestres de obras se utilizam do conhecimento empírico para a
edificação e o planejamento de nossas cidades.
3. (UEG/2013) A expressão “Tudo o que é bom, belo e justo anda junto” foi escrita por
um dos grandes filósofos da humanidade. Ela resume muito de sua perspectiva filosófica,
sendo uma das bases da escola de pensamento conhecida como
a) cartesianismo, estabelecida por Descartes, na qual se acredita que a essência precede
a existência.
b) estoicismo, que tem no imperador romano Marco Aurélio um de seus grandes nomes,
que pregava a serenidade diante das tragédias.
c) existencialismo, que tem em Sartre um de seus grandes nomes, para o qual a existência
precede a essência.
d) platonismo, estabelecida por Platão, na qual se entendia o mundo físico como uma
imitação imperfeita do mundo ideal.
5. (UEM/2013) “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus primeiros anos,
recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre
princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito duvidoso e incerto; de modo que era
preciso tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões que
recebera até então em minha crença e começar tudo novamente desde os fundamentos, se
eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de constante nas ciências.”
(DESCARTES, R. Meditações sobre a filosofia primeira. In: MARÇAL, J. Antologia de textos filosóficos.
Curitiba: SEED, 2009, p. 153.)
6. (UFU/2013) Suporei, portanto, que há não um Deus ótimo, fonte soberana da verdade,
mas algum gênio maligno, e ao mesmo tempo, sumamente poderoso e manhoso, que põe
toda a sua indústria em que me engane: pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as
figuras, os sons e todas as coisas externas nada mais são do que ludíbrios dos sonhos,
ciladas que ele estende à minha credulidade.
(DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Primeira Meditação /12/,
Tradução de Fausto Castilho. Campinas: IFCH-Unicamp, 1999, p. 25.)
a) Qual é, para Descartes, a relação existente entre o gênio maligno e a coisa pensante
(Res cogitans)?
b) Que argumento é utilizado por Descartes para afirmar a existência do Mundo?
7. (ENEM/2013)
TEXTO I
Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas
falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios
tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera
crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.
(DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Adaptado.)
TEXTO II
É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de
busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí
terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma
daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.
(SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001. Adaptado.)
9. (UFSJ/2012) Ao analisar o cogito ergo sum – penso, logo existo, de René Descartes,
conclui-se que
a) o pensamento é algo mais certo que a própria matéria corporal.
b) a subjetividade científica só pode ser pensada a partir da aceitação de uma relação
empírica fundada em valores concretos.
c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e representativa da ética que insurgia já no
século XVI.
d) Descartes consegue infirmar todos os sistemas científicos e filosóficos ao lançar a
dúvida sistemático-indutiva respaldada pelas ideias iluministas e métodos incipientes
da revolução científica.
11. (UNIMONTES/2012) Como podemos conhecer? Eis uma questão central da investigação
filosófica. Uma das respostas mais radicais foi formulada pelo filósofo francês René
Descartes, que escreveu um texto que colaborou de maneira significativa para a ciência
moderna. Marque a alternativa que indica a obra de René Descartes.
a) Manifesto do Partido Comunista.
b) Contrato Social.
c) Discurso do Método.
d) Paideia.
13. (UFF/2012) O filósofo francês René Descartes escreveu o seguinte em seu Discurso do
Método:
“Logo que adquiri algumas noções gerais relativas à Física, julguei que não podia
mantê-las ocultas, sem pecar grandemente contra a lei que nos obriga a procurar o bem
geral de todos os homens. Pois elas me fizeram ver que é possível chegar a conhecimentos
que sejam úteis à vida e assim nos tornar como que senhores e possuidores da natureza. O
que é de desejar, não só para a invenção de uma infinidade de utensílios, que permitiriam
gozar, sem qualquer custo, os frutos da terra e de todas as comodidades que nela se
acham, mas principalmente também para a conservação da saúde, que é sem dúvida o
primeiro bem e o fundamento de todos os outros bens desta vida.”
Assinale a alternativa que resume o pensamento de Descartes.
a) O conhecimento deve ser mantido oculto para evitar que seja empregado para dominar
a natureza.
b) O conhecimento da natureza satisfaz apenas ao intelecto e não é capaz de alterar as
condições da vida humana.
c) Nosso intelecto é incapaz de conhecer a natureza.
d) Devemos buscar o conhecimento exclusivamente pelo prazer de conhecer.
e) O conhecimento e o domínio da natureza devem ser empregados para satisfazer as
necessidades humanas e aperfeiçoar nossa existência.
14. (ENEM/2012)
TEXTO I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se
fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.
(DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.)
TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem
nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta
ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para
confirmar nossa suspeita.
(HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004. Adaptado.)
a) Empirismo X Criticismo
b) Ceticismo X Existencialismo
c) Empirismo X Racionalismo
d) Racionalismo X Existencialismo
e) Racionalismo X Ceticismo
18. (UFU/2011) Na obra Discurso sobre o Método, René Descartes propôs um novo método
de investigação baseado em quatro regras fundamentais, inspiradas na geometria:
evidência, análise, síntese, controle.
Assinale a alternativa que contenha CORRETAMENTE a descrição das regras de análise e
síntese.
a) A regra da análise orienta a enumerar todos os elementos analisados; a regra da síntese
orienta decompor o problema em seus elementos últimos, ou mais simples.
b) A regra da análise orienta a decompor cada problema em seus elementos últimos ou
mais simples; a regra da síntese orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos.
c) A regra da análise orienta a remontar dos objetos mais simples até os mais complexos;
a regra da síntese orienta prosseguir dos objetos mais complexos aos mais simples.
d) A regra da síntese orienta a acolher como verdadeiro apenas aquilo que é evidente; a
regra da análise orienta descartar o que é evidente e só orientar-se, firmemente, pela
opinião.
19. (UEM/2011) René Descartes é o inaugurador da Filosofia moderna, por ter investigado
a fundo os problemas que ocupam os filósofos desde o nascimento da Filosofia, a saber: o
que é substância, a relação entre alma e corpo, o problema do conhecimento, a extensão
e o movimento e outros.
Sobre a Filosofia cartesiana, assinale o que for CORRETO.
01) René Descartes representa, para a história da Filosofia, avanços no plano científico,
sem desenvolver a metafísica da modernidade, razão pela qual seu pensamento foi
reformulado pelo movimento enciclopedista, no século XVIII.
02) A primeira certeza obtida por Descartes é a constatação de que o “eu penso, enquanto
eu duvido, é sempre verdadeiro”, resumida pela fórmula “duvido, logo, penso, logo,
sou”.
04) David Hume apresenta, em relação a Descartes, um projeto de continuidade e
aprofundamento. Com as teses do idealismo, toda a Filosofia britânica da época tornou-se
propagadora do pensamento cartesiano.
08) Como Francis Bacon, Descartes afirma a possibilidade do conhecimento verdadeiro,
por meio de uma reforma do entendimento e das ciências, porém, diferentemente de
Bacon, Descartes não vê a necessidade de essa reforma exigir mudanças sociais e
políticas.
16) Para Descartes, tanto o sujeito do conhecimento quanto as ideias claras e distintas são
mitos filosóficos, pois a consciência não pode ser o objeto de si mesma.
GABARITO:
Resposta da questão 6:
a) A primeira meditação pretende estabelecer uma dúvida forte sobre todas as coisas.
A finalidade desse estabelecimento é forçar o encontro com um conhecimento forte o
bastante para aguentar a contundência de tal dúvida e superá-la. O gênio maligno e o
Deus enganador possuem a mesma função, porém, como diz Gérard Lebrun na nota
21 do texto das meditações:
“o gênio maligno é um artifício psicológico que, impressionando mais a minha
imaginação, levar-me-á a tomar a dúvida mais a sério e a inscrevê-la melhor em minha
memória (“é preciso ainda que cuide de lembrar-me dela”)”.
(R. Descartes. Meditações. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 88.)
Sendo assim, torna-se claro que a função do gênio maligno é, como artifício psicológico,
manter a dúvida a respeito de tudo na sua última consequência e garantir que esta
nulidade de conhecimentos seguros não seja esquecida. Porém, é esse mesmo gênio
maligno que me iludindo a respeito de tudo não consegue me fazer duvidar de que algo
é iludido enquanto pensa, isto é, não consegue me fazer duvidar desta res cogitans.
b) O mundo exterior é derivado, segundo a filosofia cartesiana, da existência de Deus,
isto é, o ser perfeitíssimo que só pode ser assim caso ele seja maior do que a ideia dele
possuída pela res cogitans. A coisa pensante estaria encerrada em si mesma se não
houvesse nela uma ideia de Deus, e como esta ideia existe então o mundo exterior pode
começar a ser investigado com alguma segurança.