Medicine">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Artigo - Atencao Farmaceutica em CAPS PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

ATENÇÃO FARMACÊUTICA AOS USUÁRIOS

DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL


– CAPS VI

RIVELILSON MENDES DE FREITAS1


FLÁVIO DAMASCENO MAIA2
ALDA MARIA FACUNDO IODES3

1. Farmacêutico, Coordenador do Curso de Farmácia, Docente de Estágio Curricular Supervisionado I da Faculdade


Católica Rainha do Sertão – FCRS, Quixadá-CE.
2. Farmacêutico, Docente da disciplina de Farmácia Social da FCRS, Quixadá-CE.
3. Psicóloga, Coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial, Fortaleza-Ceará.

Autor responsável R.M. de Freitas E-mail: rivmendes@hotmail.com

INTRODUÇÃO pode ocorrer, também, nesse grupo de pacientes, devido


ao enorme número de propagandas por parte dos labora-
A expressão atenção farmacêutica foi empregada, pela tórios e pela própria classe social em que se encontram
primeira vez, por Brodie, em 1984 (CASERO, 1999). Entre- inseridos.
tanto, apenas em 1990, foi devidamente definida como o No Brasil, os medicamentos psicotrópicos são causas
fornecimento responsável de medicamentos, com o objetivo freqüentes de intoxicação medicamentosa, dentre eles os
de atingir o resultado desejado, que poderá levar a uma me- benzodiazepínicos, barbitúricos, antidepressivos e anticon-
lhora na qualidade de vida do paciente (HEPLER & STRAND, vulsivantes (GUIMARÃES et al.,. 1999). Também, é impor-
1990). Através da atenção farmacêutica, o paciente poderá tante destacar que esses pacientes, pela própria patologia,
receber o melhor tratamento medicamentoso possível, sen- dificilmente aderem ao tratamento farmacológico, o que
do está prática aplicada a todos os níveis de atuação do prejudica a evolução do quadro e sua qualidade de vida,
farmacêutico clínico, especializado em determinada área ou necessitando de uma real atenção farmacêutica.
não (THOMPSON, 1995).
Cabe ressaltar que a atenção farmacêutica não se
limita ao âmbito hospitalar, mas também se estende aos OBJETIVOS
pacientes ambulatoriais, casas de saúde, drogarias, farmá-
cias e aos pacientes que recebem atendimento domiciliar 1. Realizar o levantamento epidemiológico dos pacientes
(GENUA & MIRÓ, 1996). O farmacêutico, no exercício da atendidos pelo CAPS;
atenção farmacêutica, em farmácias ou drogarias, pode-
rá realizar cuidados básicos ou serviços especializados 2. Estudar a possível automedicação realizada por parte
de orientação aos pacientes portadores de diversas pato- dos usuários dos CAPS;
logias.
A automedicação é um dos problemas de saúde públi- 3. Coletar dados para que no futuro estudantes do curso de
ca mais pertinente e preocupante, merecendo um estudo, a farmácia possam desenvolver estratégias e intervenções
fim de se evitar reações adversas, interações medicamento- farmacêuticas com relação ao automedicação e outros
sas e o uso indiscriminado de alguns fármacos, sendo uma problemas pertinentes ao tratamento farmacológico,
excelente questão a ser tratada nos mais diversos setores de para a aplica-las durante a atenção farmacêutica.
atenção à saúde, com o propósito de se reduzir a incidência
da automedicação (ZUBIOLI, 2001).
Os pacientes portadores de transtornos do sistema MATERIAL E MÉTODOS
nervoso central, atendidos no Centro de Atenção Psicos-
social VI (CAPS VI), também, estão susceptíveis a essa Foi elaborado um questionário com perguntas obje-
referida automedicação, uma vez que o uso indiscriminado tivas para o levantamento epidemiológico dos pacientes

12 Infarma, v.18, nº 9/10, 2006


atendidos no Centro de Atenção Psicossocial em regime
intensivo (I), semi-intensivo (SI) e hospitalidade diurna
(HD). Ao serem realizadas as visitas ao referido centro e
durante os grupos com pacientes em HD, os questionários
eram preenchidos. A atenção farmacêutica inicial era reali-
zada junto aos usuários, a fim de coletar dados para futuros
estudos e grupos farmacoterapêuticos que serão empreen-
didos pelos estudantes de Farmácia da Faculdade Católica
Rainha do Sertão – FCRS.
As entrevistas e busca direta aos prontuários foram
feitas junto aos pacientes atendidos no CAPS VI, e que
residiam na Regional VI de Messejana, no Município de For-
taleza, Ceará.
O questionário foi subdividido em duas partes. Na
primeira parte, foram relacionados os dados pessoais do Figura 1. Percentagem quanto ao sexo e estado civil dos usuários
do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS VI).
paciente: nome, idade, raça, estado civil, sexo, profissão,
renda familiar, tipo de moradia, grau de instrução e hipó-
tese diagnóstica.
Na segunda parte, foram coletados de 120 usuários
atendidos em hospitalidade diurna, os dados referentes
às informações sobre os medicamentos que, em especial,
eram usados por conta própria, tais como: nome do me-
dicamento comercial, princípio ativo, indicações e forma
farmacêutica.
Sendo também realizada a atenção farmacêutica
aos usuários quanto à automedicação e à importância da
adesão ao tratamento para melhoria da qualidade de vida,
bem como foi feita a coleta de dados para a realização das
intervenções farmacêuticas pelos estudantes de farmácia
que serão realizadas durante o estágio I curricular super- Figura 2. Percentagem quanto à idade dos usuários do Centro de
visionado. Atenção Psicossocial (CAPS VI).

RESULTADOS

Perfil epidemiológico dos usuários atendidos pelo


CAPS
Dos 1500 prontuários analisados, os resultados obti-
dos em relação ao perfil epidemiológico dos usuários estão
apresentados nas figuras 1-7.
Os resultados preliminares mostraram que a faixa etá-
ria de maior incidência dos distúrbios psiquiátricos era a
de 30-40 anos (27%), predominando em pacientes do sexo
feminino (58%).
A maioria era de cor branca (40%) com ensino fun-
damental incompleto (56%). Quanto ao estado civil, 37%
eram solteiros e 35% casados. 58% residiam em casa pró-
pria e 50% não apresentam nenhum tipo de renda.
As hipóteses diagnósticas mais freqüentes foram de- Figura 3. Percentagem quanto à raça e tipo de moradia dos usuá-
pressão, ansiedade e esquizofrenia. rios do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS VI).

Infarma, v.18, nº 9/10, 2006 13


Figura 7. Percentagem quanto à profissão dos usuários do Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS VI).

Estudo da automedicação dos usuários atendidos pelo


CAPS
Com relação aos resultados obtidos na segunda par-
te das atividades desenvolvidas com os usuários atendidos
em HD, as informações são apresentadas nas figuras 8-11.
O medicamento comercial mais citado pelos usuários
Figura 4. Percentagem quanto ao grau de instrução dos usuários
em HD foi o tylenol (33%), seguido da novalgina (23%).
do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS VI).

Figura 8. Percentagem dos nomes comerciais usados durante a


automedicação pelos usuários do Centro de Atenção Psicossocial
Figura 5. Percentagem quanto à renda familiar dos usuários do (CAPS VI).
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS VI).

Figura 9. Percentagem dos principais princípios ativos dos fárma-


Figura 6. Percentagem quanto à hipótese diagnóstica dos usuá- cos usados durante a automedicação pelos usuários do Centro de
rios do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS VI). Atenção Psicossocial (CAPS VI).

14 Infarma, v.18, nº 9/10, 2006


O delineamento do perfil epidemiológico é importan-
te para fornecer informações que possibilitem a realiza-
ção de estudos e protocolos de atendimento farmacêutico,
de acordo com as características dos pacientes atendidos,
independentes dos serviços serem especializados ou não
(DUPIM, 1999).
O nosso estudo sobre a automedicação certamente
resultará em benefícios para a população, se implantado
e implementado pelo Serviço, conforme descrito anterior-
mente por ALBEROLA et al., 1991 e HOLLAND & NIMMO,
1999, com redução de gastos em saúde (ATTÍAS et al.,
1993; CARNEIRO & TEIXEIRA, 1991), e através do desen-
volvimento das seguintes ações, com base nas informações
Figura 10. Percentagem das principais formas farmacêuticas usa-
das durante a automedicação pelos usuários do Centro de Aten- obtidas, através do estudo sobre o referido tema, tais como:
ção Psicossocial (CAPS VI). orientação sobre o uso correto de medicamentos, educação
sanitária de pacientes, em casos de doenças crônicas como
os distúrbios psiquiátricos ou neurológicos, por reinterna-
ções por falta de adesão ao tratamento ou reações adversas
a medicamentos.
Elaborar o perfil farmacoterapêutico para determina-
dos pacientes e o contato com os profissionais prescritores
e se comprometer com os resultados dos tratamentos far-
macológicos, uma vez que o princípio básico da atenção
farmacêutica (AFONSO & PUERTA, 1991). Sendo também um
excelente campo de estudo para os estudantes do curso de
Farmácia e áreas de saúde afins.

Figura 11. Percentagem das indicações dos medicamentos usa-


dos durante a automedicação pelos usuários do Centro de Aten-
ção Psicossocial (CAPS VI). CONCLUSÕES

Os pacientes e familiares devem ser educados sobre


Quanto ao princípio ativo o mais freqüente foi a dipirona o uso racional, a fim de se evitar reações adversas e inte-
(35%) e a forma farmacêutica o comprimido (38%). rações medicamentosas. Os efeitos colaterais dos medica-
Por fim, a indicação em maior percentagem que induz mentos usados no tratamento das patologias, bem como
a automedicação pelos usuários do CAPS em hospitalidade dos usados durante a automedicação precisam ser escla-
diurna, foi a dor em geral (33%), seguida da infecção e recidos através de modelos de orientação farmacêutica. E
gripe, ambas com 21% de freqüência. uma possível orientação sobre o uso racional e seguro dos
antimicrobianos também é de suma importância, uma vez
que, já que esses fármacos são usados de forma indiscri-
DISCUSSÃO minada e a resistência por parte dos microorganismos pa-
togênicos é um dos problemas graves e preocupantes de
O desenvolvimento da atenção farmacêutica pressu- saúde pública.
põe, antes de qualquer coisa, o uso racional dos medica- Em suma, a atenção farmacêutica é um processo,
mentos, a fim de se evitar todo e qualquer prejuízo a saúde através do qual o farmacêutico coopera com o paciente
e o bem estar do paciente (STORPIRTIS, 1999). e outros profissionais na implementação e na monitoriza-
Através do delineamento do perfil desses pacientes, ção de um plano farmacoterapêutico, visando a produzir
poderão ser desenvolvidas estratégias e intervenções far- resultados terapêuticos específicos para o paciente. Ser-
macêuticas para promover o uso racional dos medicamen- vindo, assim, como um elo de ligação entre o profissional
tos, aumentando a aderência do paciente ao tratamento e farmacêutico e o paciente contribuindo para sua pronta
uma melhor qualidade de vida. recuperação.

Infarma, v.18, nº 9/10, 2006 15


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GENUA, M.I.; MIRÓ, B. – Atención farmacéutica en residencias de an-
cianos. Rev O F I L, v. 6, n. 1, p. 3-8, 1996.

AFONSO, G.M.T.; PUERTA, F.M.C. – Auto valoración social, economica GUIMARÃES, J.A.; AMARAL, D.A.; NETO, M.D.F.; LIMA-VERDE, J.S.;
y profesional del farmacéutico comunitario. Rev O F I L, v. 5, p. ROUQUAYROL, M.Z.; VIANA, G.A.; ALBUQUERQUE, M.S.B. – Intoxi-
298-303, 1991. cações agudas, Guia Prático. Secretária Municipal de Saúde, v.1,
p. 44-45, 1999.
ALBEROLA, G.E.C.; CRUZ, M.E.; CRUZ, T. – Farmacovigilancia em atén-
ción primária: experiencia en centro de salud. Rev O F I L, v. 2, HEPLER, C.D.; STRAND, L.M. – Opportunities and responsibilities
p. 85-88, 1991. in pharmaceutical care. Am J Hosp Pharm, v. 47, p. 533-542,
1990.
ATTIAS, D.; GALINDEZ, D.H.; FERRIGNI, V.N.R. – La especializacion de
farmacia comunitaria en Venezuela. Presente y futuro. Rev O F I HOLLAND, R.W.; NIMMO, C.M. – Transitions part 1: Beyond phar-
L, v. 3, n. 5, p. 321-330, 1993. maceutical care. Am J Health-SystPharm, v. 56, p. 1758-1764,
1999.
CARNEIRO, M.C.; TEIXEIRA, M.C. – O farmacêutico nas escolas: um
projeto de intervenção na comunidade. O F I L I, v. 6, p. 317- STORPIRTIS, S. – Farmácia Clínica. Rev. Fram. Quím, v. 32, n. 1, p.
319, 1991. 33-34, 1999.

CASERO, M.C.V. – El desarollho y planificación de la atención farma- THOMPSON, C.A. – Restructuring and patient-focused care. Am J Hosp
cêutica en Espanã. Rev O F I L, v. 9, n. 3, p. 22-32, 1999. Pharm, v. 52, p. 41-48, 1995.

DUPIM, J.A.A. – Assistência farmacêutica. Um modelo de organização. ZUBIOLI, A. Farmácia Clínica na Farmácia Comunitária. Brasília, Ethos-
Belo Horizonte. 79p., 1999. farma: Cidade Gráfica, 2001.

16 Infarma, v.18, nº 9/10, 2006

Você também pode gostar