A Família Escrava em Lorena (1801)
A Família Escrava em Lorena (1801)
A Família Escrava em Lorena (1801)
em Lorena (1801)
Resumo
Analisam-se as listas nominativas de quatro das oito Companhias de Ordenangas de Lorena, em 1801. Estu-
dam-se as caracterfsticas bcisicas dos escravos (estado conjugal, idade, sexo etc), destacando-se a existSncia
de relagoes familiares entre 53% da massa escrava. Analisando-se a estrutura destas famflias, indica-se a pre-
dominSncia das "regularmente" constitufdas, com uma maior concentragao nos grandes plants. Estudam-se
tamb^m a legitimidade das criangas com 14 ou menos anos e a condigao das maes (casadas, viuvas ou soltei-
ras), segundo a origem e a cor e por faixas etcirias.
Abstract
This work analyses the 1801 manuscript censuses of four of the eight Companhias de Ordenangas of Lore-
na. The, main characteristics of the slave population are studied (marital status, age, sex etc), which shows that
53% of all slaves had family ties. The analyses of slave family structures shows that the "regular" families were
predominant and concentrated in the estates with greater number of slaves. Other aspects studied are: the legiti-
macy of the children under 14 and the condition of the mothers (married, widowed or single), by origin, colour and
age groups.
Introdugao
(*) Os autores agradecem ^ SEPLAN e ^ FIRE o apoio que permitiu a realizagao deste estudo; com respeito
ao apendice estatfstico somos particularmente gratos pelas crflicas e sugestoes de Cornelia N. Porto.
(1) A tftulo ilustrativo, lembramos os trabalhos de SLENES, Robert W. Escravidao e Famflia: Padrdes de Ca-
samento e Estabilidade Familiar numa Comunidade Escrava (Campinas, sdculo XIX). Estudos Econdmi-
abrangida, seja pelo espago temporal contemplado; visando a contribuir para o alar-
gamento de nossos conhecimentos sobre o tema e, sobretudo, procurando estimular
novas pesquisas sobre o mesmo, apresentamos neste artigo os resultados concer-
nentes ks listas nominativas de quatro Companhias de Ordenangas de Lorena (SP)
e correspondentes a 1801(2). Como sabido, nesta quadra o caf^ apenas iniciava sua
penetragao no Vale do Paralba paulista e a produgao de agucar, aguardente, fumo,
algum toucinho, e de generos de subsistencia (arroz, milho, feijao e mandioca), em-
bora modestas, mostravam-se dominantes na cirea em aprego. Vlvia-se, nao obstan-
te, como sobejamente firmado pela historiografia, momento de relativa euforia eco-
ndmica e de significativos movimentos populacionais decorrentes do impulse obser-
vado na economia paulista no ultimo quartel do s^culo XVIII, marcado pela recupe-
ragao da autonomia administrativa da Capitania e pelo restabelecimento da produ-
gao agucareira(3).
O quadro acima delineado expressa, fidedignamente, as condigoes imperantes em
Lorena ao abrir-se o s&xilo XIX. Assim, dos 162 escravistas constantes das listas
nominativas aqui consideradas, 26 eram apresentados como Senhores de Engenho
- alguns com uns poucos escravos, mas parcela majoriteria deles os possula em
numero consider^vel - 105 foram arrolados como Agricultores ou Criadores de ani-
mais - predominando neste caso a produgao dos generos acima anotados 8 defi-
niam-se como Negociantes ou Rentistas, 6 dedicavam-se ao trabalho da Igreja ou
eram Profissionais Liberals e 11 vinculavam-se ao artesanato; \k para os 6 restantes
nao estava explfcita a atividade econdmica na qual se ocupavam.
Os homens - 106 casados, 15 solteiros e 2 viuvos - dominavam no grupo de
proprietaries de escravos, entre os quais computaram-se 39 mulheres (24,1% dos
escravistas) -8 solteiras e 31 viuvas, que possufam 18,3% do numero total de cati-
vos. Com respeito k cor, predominavam macigamente os brancos, pois computamos
apenas 3 pardos (casados), 3 pardas solteiras e uma preta viuva. A grande maioria
destes proprietdrios havia nascido na prdpria capitania de Sao Paulo (46,3% em Lo-
rena e 14,2% em outros nucleos paulistas), parcela substantiva compunna-se de
naturals de capitanias vizinhas (19,1% de Minas Gerais e 5,6% do Rio de Janeiro,
cos, 17(2): 217-27, maio-ago. 1987; COSTA, Iraci del Nero da & LUNA, Francisco Vidal. Vila Rica: Nota
sobre Casamentos de Escravos (1727-1826). Africa. S5o Paulo, Centro de Estudos Africanos da USP,
(4): 105-109, 1981; COSTA, Iraci del Nero da & GUTIERREZ, Horacio. Nota sobre Casamentos de Es-
cravos em S§o Paulo e no Parang (1830). Histdria: Questdes e Debates. Curitiba, AssociagSo Paranaen-
se de Histdria - APAH, 5 (9): 313-321, dez. 1984; GRAHAM, Richard. A "Famflia" Escrava no Brasil Co-
lonial. In: EscravidSo, Reforma e Imperialismo. Sao Paulo, Perspectiva, 1979, p. 41-57 (Coleg§o Deba-
tes, 146); METCALF, Alida C. Families of Planters, Peasants, and Slaves: Strategies for Survival in San-
tana de Pamalba, Brazil, 1720-1820. The University of Texas at Austin, 1983; SCHWARTZ, Stuart B. A
Popula?So Escrava na Bahia. In: COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: Histdria Econdmica e Demogri-
fica. S5o Paulo, IPE-USP, 1986, p. 37-76 (Sdrie Rela^drios de Pesquisa, 27).
(2) As fontes primdrias de que nos servimos referem-se a quatro (primeira, segunda, quinta e sdtima) das oito
Companhias de Ordenangas entao integrantes da Vila de Nossa Senhora da Piedade de Lorena e estao
depositadas no Arquivo do Estado de Sao Paulo, Magos da PopulagSo, ordem 98, caixa 98.
TABELA 1
Apds este breve perfil dos proprietcirios de escravos, passemos ao estudo da fa-
mflia escrava, objeto precfpuo desta pesquisa(4).
Ainda no ambito destas notas introdutdrias cabe uma observagao final. Via de re-
gra, nao consta das listas nominativas concernentes aos levantamentos populacio-
nais do passado a discriminagao clara e explicita das famflias escravas. Nao d este
o caso dos cddices aqui considerados, pois nos mesmos vem, inequivocamente
identificadas, as famflias escravas, sejam aquelas compostas apenas pelos dois
conjuges ou dos mesmos e sua respectiva prole, sejam as referentes ds maes soltei-
ras e seus filhos; tal fato, raro como apontamos acima, levou-nos a escolhe-los para
(4) Reservamos para outro artigo, especificamente votado & consideragao da estrutura de posse dos cativos,
a ancilise exaustiva das caracterfsticas demo-econ6micas dos escravistas e da massa escrava detida pe-
los mesmos. Os dados aqui apresentados servem, tao-somente, para permitir ao leitor uma visao pano-
rdmica e gen6rica dos proprietcirios dos escravos de cujas famflias ocupar-nos-emos pormenorizada-
mente nos tdpicos subsequentes do presents trabalho. Ao ensejo em que anunciamos urn estudo desti-
nado precipuamente k compreensao mais profunda da estrutura de posse de escravos, chamamos a
atengao do leitor para a sistem^tica inflexao, inclusive e sobretudo ao nfvel das varidveis demogr^ficas,
que se observard a contar dos plant&s com 10 escravos. Ora, acima deste quantitative s6 contamos es-
cravistas dedicados & faina agrfcola ou k produgag agucareira; embora tamb^m os encontr^Ssemos entre
os possuidores de plant6is com menor numero de escravos, parece-nos que em torno dos 10 cativos por
plantel encontra-se urn provdvel divisor de dguas entre dois padroes de posse e utilizagao da mao-de-
obra reduzida ao cativeiro. O primeiro talvez aparega vinculado ao artesanato, atividades burocr^ticas e
outras ocupagdes de career urbano, cobrindo, com respeito ao meio rural, a pequena produgdo destina-
da ao autoconsumo ou k comercializagao em escala modesta. De outro lado, encontrarfamos, no segun-
do perfil de posse, a produgdo em escala comercial, possivelmente vinculada mais estreitamente ao culti-
vo e/ou beneficiamento de gdneros de exportagao. Por ora bastam estas gendricas hipdteses de trabalho,
as quais retomaremos oportunamente.
Neste, como nos tdpicos subsecutivos, adotamos dois cortes bcisicos para a apre-
sentagao de resultados, urn obedecendo faixas et^rias dos escravos, outro to-
mando em conta as faixas de tamanho dos planteis integrados pelos mesmos. Ope-
rando desta maneira procuraremos evidenciar como as varteveis demogr^ficas viam-
se afetadas pelo tamanho dos grupos nos quais reuniam-se os cativos; mostraremos
ademais, o impacto, decorrente do comportamento demogr^ifico dos escravos, sobre
plant&s que diferiam numericamente ou se distinguiam pela ocupagao a que se des-
tinavam as pessoas a eles adstritas.
Antes de abordarmos as questoes referentes ao estado conjugal dos escravos,
vejamos como se apresentava, em termos gen^hcos, a populagao escrava objeto
deste estudo.
TABELA 2
TABELA 3
Total Razao de
FTP Homens Mulheres
(H+M) Masculinidade
1 16 24 40 66,7
2-9 202 183 385 110.4
10-41 280 207 487 135,3
TABELA 4
Porcentagens
Atributos N9 Absolutos Porcentagens
Acumuladas
TABELA 5
J
Estado Populagao Escrava Exclusive Criangas ^
Conjugal H M H+M H M H+M
Nota: (a) Sempre que nos referimos S exclus§o de criangas estaremos aludindo Squelas com 14 ou menos anos
de idade.
(40,7%); destarte, um tergo (33,4%) das pessoas com quinze ou mais anos compu-
nha-se de casados ou viuvos(5).
Vejamos, num segundo passo, como qualificar as relagoes apontadas; para tanto
considere-se o gr^fico 1, mediante o qual visualiza-se a participagao de casados ou
viuvos segundo faixas etcirias, tornados em conta os efetivos totals de cada uma das
mesmas. Duas inferencias colocam-se de imediato: a slgniflcativa participagao dos
casados ou viuvos a contar da faixa concernente aos 20-29 anos e os amplos e va-
rteveis diferenciais existentes entre os sexos. Assim, jd para a aludida faixa, o peso
relative das casadas ou viuvas supera o nfvel de 40%, situando-se, com excegao do
intervalo 70-79 anos, acima do patamar de 50% quando consideradas as mulheres
com quarenta ou mais anos de idade; para o element© masculine, s6 a partir da faixa
que compreende o intervalo 40-49 anos, a participagao alcanga nfvel superior aos
40%. Levando em consideragao que as duas ultimas faixas apresentam reduzido
numero de observagoes - fato este ao qual se pode atribuir a ocorrencia de porcen-
tuais muito elevados ou baixos -, deve-se ter presente dois fatores explicativos dos
diferenciais acima referidos. For um lado, os homens casavam-se com idades supe-
riores vis-a-vis ks das mulheres que passavam pela mesma experienciaf^); por outro,
a taxa de masculinidade era sistematicamente superior a 50% caso contempladas
as faixas et^rias compreendidas entre os 10 e os 69 anos (Cf. gr^fico 1).
O ultimo angulo dos tres avangados acima prende-se k presenga de casados ou
viuvos segundo faixas de tamanho dos plant6is. Interessa-nos, aqui, observar a
maior ou menor incidencia de unioes matrimoniais em fungao do numero de inte-
grantes dos grupos de escravos possuidos pelos 162 escravistas referidos na abertu-
ra deste trabalho. Uma primeira aproximagao do problema em foco obt^m-se me-
diante a distribuigao de casados ou viuvos segundo faixas de tamanho dos plant&s.
A fim de se poder avaliar a concentragao de casados ou viuvos nos plant&s maiores
lambem indicamos, na tabela 6, a distribuigao dos escravos em geral e das maes
solteiras de acordo com tres faixas de tamanho.
O confronto dos valores inscritos nas cinco primeiras colunas permite-nos afirmar
que, tanto para homens, como para o elemento do sexo oposto, a distribuigao dos
casados ou viuvos discrepava da prevalecente para a massa escrava tomada em
sua totalidade ou depurada das criangas com quatorze ou menos anos. Assim, na
primeira faixa encontravam-se apenas 13,2% das pessoas que haviam casado, con-
tra pouco menos de um quarto da populagao escrava em geral; a faixa intermediciria
mostrava-se equilibrada e na superior rompia-se tal harmonia, agora favoravelmente
aos casados ou viuvos, uma vez que 63,5% dos mesmos integravam planteis com
10 ou mais cativos nos quais congregava-se pouco mais da metade da populagao
escrava em geral. Nota-se, ademais, que tal participagao crescente de casados ou
viuvos nao era acompanhada pela distribuigao das maes solteiras, as quais compa-
(5) No correr deste trabalho discutiremos os diferenciais observados entre homens e mulheres; interessa-
nos, por ora, ressaltar a expressiva parcela da escravaria que conheceu a vida conjugal.
(6) A diferen?a m^dia entre as idades dos cdnjuges computados neste estudo algou-se a 8,5 anos.
grAfico 1
100
r
90" H0MENS E MULHERES
MULHERES
8 0- HOMENS /
TAXA DE MASCULINIDADE
70-
/
60-
is i
50-
/
\\
40- /
/ /
30" /
/
20-
/
10- '/ /
FAIXAS ETARIAS
Nota: Os porcentuais foram calculados sobre os respectivos efetivos de cada faixa etdria.
TABELA 6
Feciam com pesos relatives muito pr6ximos nas tres faixas de tamanho. Ainda mais,
pode-se afirmar que a presenga de mulheres solteiras com filhos - exclufda, para as
mesmas, a muito especial primeira faixa - era relativamente elevada nas faixas de
tamanho extremas, e significativamente inferior nas intermedicirias, enquanto para
casados ou viuvos observava-se relagao sistematicamente crescente, pois os mes-
mos correlacionavam-se positivamente com o aumento num&ico de integrantes dos
grupos escravos (Cf. grdfico 2).
GRAFICO 2
70
(a)
CASADOS OU VltJVOS
60-
(b)
MAES SOLTEIRAS
(c)
MAES SOLTEIRAS
50.
S
w
o
<
40- H
w
CJ
o
30-
20-1
10-
FAIXAS DE TAMANHO
Notas:(a) Porcentuais calculados sobre os respectivos efetivos totals de cada faixa de tamanho (exclufdas crian-
?as)
(b) Porcentuais calculados sobre os respectivos efetivos de mulheres solteiras de cada faixa de tamanho
(exclufdas criangas).
(c) Porcentuais calculados sobre os respectivos efetivos de mulheres de cada faixa de tamanho (exclufdas
criangas)
Esta ultima correlagao, fica ainda mais fortemente vincada quando se tomam em
conta os porcentuais de casados ou viuvos calculados sobre os efetivos correspon-
dentes a cada faixa de tamanho dos planteis; assim, excluindo-se as criangas,
18,0% dos integrantes da primeira faixa de tamanho correspondiam a pessoas casa-
das ou viuvas, o porcentual algava-se a 35,5% na segunda faixa e a pouco menos
de dois quintos (39,7%) na ultima, vale dizer: quanto maior o grupo, maior a partici-
pagao de elementos que chegavam a se casar (Cf. tabela 7).
TABELA 7
O gr^fico 3 possibilita uma visao mais desagregada do que a propiciada pela ta-
bela 7. Dele decorre, palmarmente, o significativo peso relative de casados ou viu-
vos nos plants com mais de 5 cativos; evidencia-se, ademais, a estreita relagao
entre a taxa de masculinidade e os nfveis de mulheres casadas ou viuvas.
Duas evidencias maiores ressaltam destes dois ultimos passes: a crescente parti-
cipagao de casados ou viuvos segundo avangam as idades e conforme aumenta o
tamanho dos plant6is. A conjugagao destas inferencias 6 explicitada nos tres gr^fi-
cos subseqiientes, em cada urn dos quais apresentamos o peso relative de casados
ou viuvos segundo faixas eterias e para tres faixas de tamanho dos plant&s. No gr^i-
fico 4 encontram-se as curvas referentes a ambos os sexos. Como se observe as
curves dispoem-se nitidamente em tres nfveis: a inferior correspondendo aos plan-
t&s menores e a superior aos de maior tamanho, situando-se em posigao interme-
diciria k concernente a grupos de escravos nos quais reuniam-se de 5 a 14 cativos.
Comportamento similar dci-se com respeito as participagoes de casados ou viuvos
quando tornados apenas os elementos do sexo masculino (Cf. grdifico 5).
Tamb^m para as mulheres (Cf. gr^fico 6) revela-se disposigao semelhante, embo-
ra de maneira nao tao sistem^tica como a observada para o sexo oposto.
Deve-se notar, por fim, a baixa incidencia de casamentos entre elementos nao
pertencentes ao mesmo escravista; vale dizer, raros eram os casos de unioes entre
GRAFICO 3
100
1 a 4 escravos
90 H 5 a 14 escravos
15 a 41 escravos
80
PORCENTAGEM
^ ^
•—
/
30 -
|
i
\
20 -
—-
i
i
i
i
i
10 -
Faixas Etarias
grAfico 4
100-
60
,-'7
30- ' / >
4 0-
30 -
20 - /
/X
///
FAIXAS DE TAMANHO
2-4 5-9 10-4 15-9 20-40
GRAFICO 5
100-
1 a 4 escravos /
5 a 14 escravos
15 a 41 escravos /
/
/
Faixas Etarias
15-9 20-9 30-9 40-9 50-9 60 e
GRAFICO 6
100
1 a 4 escravos
90- 5 a 14 escravos
d3
CD 15 a 41 escravos
80- b-
u
70- o
60- /
50- /
40
30-
20-
10-
Faixas Etarias
pessoas de plant6ls distintos. Nos cddices em que se baseia este artigo nao encon-
tramos referencia explicita a tal evento; o limite superior do mesmo pode ser fixado,
hipoteticamente, abaixo de 10,3%, pois esse fol o peso relative encontrado para ca-
sais incompletos (ou seja, presente uma pessoa casada cujo conjuge restou inde-
terminado ou nao estava presente). Como veremos adiante, tamb6m pouco frequen-
tes foram os enlaces entre escravos e livres: 7,2% ao todo(7).
Com estas observagoes fechamos este tdpico, no qual mostramos, k saciedade, a
expressiva presenga das relagoes conjugais com respeito a massa de cativos. Indi-
camos, ademais, alguns dos condicionantes que favoreciam as unices matrimoniais,
assim como identificamos as principais causas explicativas dos diferenciais obser-
vados entre os pesos relatives de homens e mulheres casados ou viuvos.
Comprovada, pois, a existencia da famflia escrava, passemos a considerd-la mais
pormenorizadamente.
(7) Estes dois dltlmos porcentuais foram tornados sobre o total de casais, que igualou 97:80 com ambos os
cdnjuges escravos e presentes, 7 compostos por livres e escravos (presente ou n§o o cdnjuge livre), e 10
para os quais constava o cdnjuge cativo, enquanto o outro encontrava-se ausente ou n§o p6de ser identl-
ficado. Como 6 6bvio, para o caso de unices de cativos de plantdis distintos deve-se tomar a porcenta-
gem decorrente da operagao 10/97 , 100, que iguala 10,3 — que se define como limite superior da ocor-
r§ncia em tela, dada a impossibilidade de se identificar o eventual propriet^rio e a condigao social (escra-
vo, forro ou livre) de um dos parceiros. JS para os enlaces entre livres e cativos, tomamos o porcentual re-
sultants da relag§o 7/97 100, o qual iguala 7,2. Note-se que, em ambos os casos, nao consideramos os
viuvos e as maes solteiras, pois centramos o raciocfnio nos casais. Em Santana do Parnalba (SP), para o
perfodo 1720-1820, registraram-se 504 casamentos de cativos dos quais 64 (12,7%) reuniram escravos
integrantes de plant^is distintos (Cf. METCALF, 1983, p. 181).
QUADRO 1
Categoria Subcategoria
2. Casais - •
exogamicos v(b)y
a. com filhos
b. sem fiIhos
Notas: (a) entende-se por casal endogSmico aquele no qual os cdnjuges eram escravos;
(b) entende-se por casal exogSmico aquele no qual comparecia um cdnjuge escravo, enquanto o outro
poderia pertencer a um dos dois outros estratos socials existentes no perfodo escravlsta: forros e li-
vres;
(c) o qualitativo "incompleto" denota a impossibilidade de identiflcagao, em termos de presenga ou n§o e
de estrato social, de um dos cdnjuges.
A partir deste quadro de referencia construfmos a tabela 8, na qual, aldm dos nu-
meros absolutes indicamos os respectivos porcentuais, bem como os quantitativos
concementes ^s pessoas integrantes das vdrias categorias e os respectivos pesos
relatlvos. Note-se tambdm que, doravante e quando for pertinente, apresentaremos
os dados, de sorte a distinguir os casados dos solteiros com filhos; tenha-se ainda
presente que, salvo mengao contr^ria, computamos tao-somente os escravos, s6
efetuando o computo dos llvres ou forros vinculados por lagos familiares aos cativos,
para casos particulares, sempre acompanhados da devida ressalva.
TABELA 8
Pessoas Integrantes
Categorias e Numeros % % por das Catg . e Subcatg.
Subcategorias Absolutes Categoria
N'Abs . % % por Catg.
1. Casais endogamicos 50 ,9 60 ,8
a. com filhos 49 31,2 232 48 ,0
b. sem filhos 31 19,7 62 12,8
2. Casais exogamicos 3,2 3,7
a. com filhos 5 3,2 18 3,7
3. Casais exog. incomp. 1, 3 1,3
a. com filhos 2 1,3 6 1,3
4. Casais incomple tos 6,4 3,0
a. com fiIhos 2 1,3 6 1,3
b. sem f iIhos 8 5.1 8 1, 7
5. Solteiras com filhos 47 29,9 29,9 128 26,5 26 ,5
6. Viuvos com filhos 4 2,6 2,6 14 2,8 2,8
7. Pseudofamllias 5,7 1,9
a. viuvos isolados 8 5,1 8 1,7
c. solteiros em viven
cia . . 1 0,6 1 0,2
TOTAIS 157 100,0 100 ,0 483 100 ,0 100,0
(8) Importa ressaltar aqui, tao-somente, que ao tratarmos da famflia escrava estamos a contemplar a maior
parte da escravaria, pois, como avangado, as pessoas vinculadas por lagos familiares representavam
53,0% da massa escrava em toco.
(9) Note-se que estes ultimos porcentuais foram tornados sobre o numero total de famflias (incluindo-se, por-
tanto, maes solteiras e viuvos) e nao sobre o numero de casais, como o fizemos no encerramento do item
anterior (Cf. nota 7),
TABELA 9
TABELA10
Nota: (a) Excluiu-se u'a mae solteira a viver junto k filha, igualmente solteira com prole.
TABELA 11
TABELA12
Notas: (a) inclusive um c.f. forro, casado com escrava, cujos filhos eram escravos;
(b) inclusive dois c.f. forros, casados com escravas, cujos filhos eram escravos
(c) inclusive um c.f. escravo, casado com forra, cujos filhos eram forros;
(d) inclusive um c.f. escravo, casado com forra, cujos filhos foram anotados como escravos.
TABELA 13
Faixa Etaria das. Numero de Filhos Vivos em Vivencia com as M.S. Total
Maes Solteiras (M.S.) 0 12 3 4 5 6
Nota: (a) trata-se de uma senhora solteira em vivdncia com sua filha, tamb^m mae solteira.
do, de um lado, porque grande parcela de pais jovens ainda nao contaria sequer
com um filho e, por outro, porque os progenitores mais idosos jci nao teriam, junto a
si, filhos solteiros; tal mmimo esperado situar-se-ia na faixa etdria correspondente
aos pais que jci contariam com um ou mais filhos. Conforme se observa do exame
das tabelas em questao, tal expectativa s6 nao se confirmou para o caso das famflias
de maes solteiras(10). Ademais, para casados ou viuvos, o aludido ponto de mfnimo
situou-se na faixa dos 25 aos 34 anos, fato decorrente de casamentos celebrados
em idades relativamente baixas.
Com referenda ^s famflias com um ou mais filhos a expectativa hipot^tica preve,
para as colunas pertinentes, a ocorrencia de pontos de mciximo situados nas faixas
etdrias intemnedicirias. Em termos efetivos esta previsao tedrica sd se verificou inte-
gralmente para casados ou viuvos (Of. tabela 12); para o total das famflias (tabela
11) e para as de maes solteiras (tabela 13) a previsao s6 nao se observou para a
segunda coluna (um filho solteiro, sem prole, presente); isto se deve k substantive
quantidade de maes solteiras que, ainda jovens, jd haviam concebido um ou mais
filhos. Estas caracterfsticas estruturais, aliadas ao ponderdvel numero de famflias
nas quais encontravam-se presentes 3 ou mais filhos (Cf. tabela 14), parecem-nos
indicadores sdlidos da estabilidade das famflias escravas, as quais defrontavam-se
com nao poucos dbices a sua continuidade regular.
Lembre-se, a respeito destes obstdculos, os advindos da dependencia estrita a
que estavam sujeitos os escravos com relagao ao ciclo de vida(^) e as vicissitudes
(10) O pr6prio conceito "mae solteira" explica porque para as mesmas nao 6 justificdvel a expectativa te6rica
aplicSvel a casados ou viuvos. Na populagao escrava em estudo verificamos apenas um caso de mae
solteira "isolada"; tratou-se de uma senhora com 70 anos em vivSncia com uma filha de 38, a qual, tam-
b6m solteira, era mae de uma crianga com 6 anos.
(11) Sobre as relagoes entre o numero de escravos possufdos e a faixa et^ria de seus senhores veja-se
COSTA (1983, p. 121-127).
TABELA14
Chefes de N? de Filhos
Total
Familia 1 2 3 ou mais
economicas de seus senhores, cuja "mci sorte" poderia significar a venda parclal ou
total de seu plantel. Adicionalmente, as partilhas feitas em vida, assim como a mor-
te de seus proprietdhos, tamb^m se definiam como fatores perturbadores da referida
estabilidade. A tftulo ilustrativo observe-se que, dos escravos vendidos em 1801 pe-
los proprietdrios aqui estudados, 63,3% das vendas foram efetuadas por viuvas.
Aldm disto, somando-se os escravos transacionados (30 vendas e 28 compras) dque-
les doados em vida ou havidos por heranga (8), verifica-se que motives alheios aos
movimentos demogrdficos naturais afetaram 7,2% da massa escrava(12); no mesmo
ano faleceram 17 cativos, ou seja, numero 3,9 vezes menor do que o decorrente das
causas economicas acima arroladas.
Tenha-se presente que tais movimentos perturbadores de cardter economico afe-
tavam, sobretudo, os pequenos e mddios plantdis. Assim, dos 66 casos de transa-
goes, doagoes e escravos herdados, 51 (77,3%) referiram-se a plantdis com atd 9 ca-
tivos; considerando-se que tais escravistas detinham 425 dos 912(13) cativos, ve-se.
que os fatores desestabilizadores atuaram diferencialmente, afetando 12,0% da es-
cravaria alocada na faixa de tamanho inferior (1-9 cativos) e apenas 3,1% dos cati-
vos pertencentes aos proprietdrios de maior porte (10-41 escravos)(14). Esta d mais
(12) Caso atribufssemos a exist§ncia de casais incompletos ao funcionamento do sistema escravista e aos ca-
prichos e/ou determinagoes econfimicas controladas unicamente pelos proprietdrios de cativos, este por-
centual elevar-se-ia a 8,6.
(13) Para efeitos comparativos adotamos, sistematicamente, a massa escrava detida pelos distintos grupos d
data do levantamento populacional em estudo.
(14) Embora se trate de uma questao afeta a tema paralelo ao do presente artigo, nao deixaremos escapar,
aqui, a oportunidade de dbservar que apenas 10,7% das compras e 26,7% das vendas disseram respeito
aos proprietdrios com 10 ou mais cativos. Estas eviddncias, aliadas a outras que serdo reportadas adiante
(quando trataremos do peso relative dos filhos legltimos e naturais sobre os efetivos dos plantdis de dis-
tintos tamanhos), apontam na diregao de padroes diferenciais de acumulagdo de escravos, pois, poten-
cialmente, os plantdis de maior porte podiam ser repostos e/ou ampliados a partir do prdprio crescimento
vegetative de seus efetivos; jd aqueles plantdis menores - os quais ainda ndo haviam atingido "massa
crftica" suficiente - deviam socorrer-se, para manter-se ou ampliar-se, do mercado de compra e venda
de escravos. O impacto diferencial do trdfico interno de escravos jd foi estudado e demonstrou-se que o
mesmo incidia com mais peso nos pequenos plantdis do que nos mddios e grandes. (Cf. SLENES, 1976,
cap. III). Tenha-se presente, nao obstante, que o trabalho ora citado diz respeito a contexto econdmico
e lapso temporal distintos dos tratados neste estudo.
uma evidencia de que a estabilidade da famflia escrava devia ser maior nos grandes
plant§is(15), fato este que serd um dos temas dominantes do tdpico subsequente.
Anote-se, por fim, e ainda com respeito k tabela 14, o grande peso relative das
famflias de maes solteiras com apenas um fllho sobrevivente presente (61,7%); esta
elevada participagao poderla ser interpretada como um indicador de que expresslva
parcela das maes solteiras vinha a se casar depois de gerado o primeiro filho.
Outra evidencia a apontar nesta diregao nos 6 dada pela distinta participagao, se-
gundo faixas etdrias, de casadas ou viuvas com filhos presentes e de maes soltei-
ras, ou seja, quando se considera, para cada faixa et^ria, os porcentuais de ambas
com relagao ao total dos respectivos efetivos. Assim, como se infere do gr^fico 7, a
participagao de casadas ou viuvas com prole presente mostra-se crescente conforme
se caminha das faixas etdrias inferiores para as superiores - de um peso relativo
equivalente a 39,3% para a faixa dos 15 aos 24 anos passa-se a 71,4% para a faixa
dos 45 e mais anos de idade. Comportamento inverse ocorre com os porcentuais
'Xincernentes as maes solteiras, os quais decrescem na conformidade do incremento
das idades: de 60,7% para a primeira faixa chega-se a apenas 28,6% para a ultima.
Como avangado, a hipdtese 6 a de que parte das mulheres que havia gerado filhos
fora do matrimonio vinha a se casar, daf decorrendo a queda da participagao das
GRAFICO 7
too
90 casadas ou viuvas
maes solteiras
80
70
60
90
40
30
20
10
(15) Outra evid§ncia apresentada neste estudo concerne i maior incidSncia de enlaces matrimoniais nos
grandes plant&s.
(17) Nao se deve esquecer que uma parcela destas criangas deveria ser constitufda de drfaos legftimos, ou
seja, drfaos cujos pais haviam casado regularmente. Neste grupo de criangas, para as quais nao compa-
reciam pais nem m§es, poderiam encontrar-se, ainda, legftimos que haviam sido separados de seus pais
como decorrdncia de transagoes, doagoes ou partilhas. Este grupo ambfguo define-se, pois, tambdm,
como uma fonte de subestimagao dos legftimos.
TABELA 15
(18) Tal suposigao implica a hip6tese implfcita de que os meninos "faltantes" teriam sido vendidos para escra-
vistas de outras localidades, uma vez que os mesmos deveriam encontrar-se, caso efetivamente existis-
sem, em "algum" lugar, isto tamb&n significa que tal desproporgSo nao poderia prevalecer para o con-
junto global da massa escrava brasileira.
(19) Note-se a exclusSo dos africanos (que se impoe por razoes dbvias) e dos menores com filiagao desco-
nhecida (exclusSo esta menos justificcivel), Assim os argumentos expendidos a seguir valem, tao-so-
mente, para as criangas que tomamos, inequivocamente, como legflimas ou filhos naturais. Tomemos,
pois, para evitar mal-entendidos, os porcentuais aqui apresentados como urn m&dmo para os legftimos e
um mfnimo para os filhos naturais.
TABELA 16
OO
O
5-9 20,0 26,5 23,1 36,7 36,6 36,6 55,9 44,1 100,0
10-41 72,0 69,1 70,6 36 ,7 41,4 39,4 78,3 21 ,7 100,0
Jci os valores constantes das tres ultimas colunas da tabela 16 representam mais
um argumento favordvel & tese de que as famflias regulamnente constituidas e mais
estciveis encontravam-se nos plant^is de maior porte. Assim, enquanto 65,4% das
criangas (legftimas e filhos naturais) da faixa de tamanho de 1 a 4 escravos compu-
nha-se de filhos naturais, encontramos pouco menos de quatro quintos (78,3%) de
legftimos na faixa de 10 a 41 cativos. Verifica-se, destarte, que a medida que au-
mentava o tamanho do plantel, crescia a participagao dos legftimos e, consequente-
mente, diminufa a dos filhos naturais (Cf. gr^ifico 8). Os grandes plants ofereciam,
pois, ambiente propfcio ao intercurso sexual regularmente consagrado pela Igreja e a
constituigao de famflias escravas estciveis. A dispersao dos pequenos escravistas e
o grande peso relative que os mesmos representavam sobre o total de proprietdrios
de escravos (ainda que detentores de parcela minoritdria da massa escrava) deve ter
contribufdo fortemente para a generalizagao da falsa id&a segundo a qual os escra-
vos viviam em condigoes de promiscuidade sexual, nao experimentado, portanto, a vi-
vencia no seio de famflias regulares e estciveis(20). A somatdria de evidencias em
contrdrio, acumuladas neste e noutros estudos recentes, parece-nos suficiente para
colocar em xeque a tao difundida tese da promiscuidade do intercurso sexual entre
cativos, que encontrou guarida, inclusive, na historiografia brasileira.
Aldm disto d preciso acrescentar que a relevancia do estudo dos filhos legftimos e
naturais nao pdra aqui. Caso consideremos o impacto dos mesmos sobre o tamanho
dos plantdis, novas conclusoes se impoem; para tanto, basta analisar o grdfico 9, no
qual d indicado, para cada faixa de tamanho, o peso relative correspondente a legf-
timos e filhos naturais(21).
(20) Al6m da grande presenga de pequenos escravistas, encontram-se outros dois argumentos explicativos
para a prevalencia de tal generalizagao: o preconceito imperante no quadro da sociedade escravista bra-
sileira contra os negros e a cultura africana e a tenddncia dos grupos dominantes nacionais, bem como
dos viajantes estrangeiros, de verem as unices consensuais como indfcio de falta de moralidade. (Cf.
SLENES, 1987, p. 220).
(21) Como estamos interessados em revelar o impacto total destas duas categorias de condigSo de legitimida-
de, computamos nesse gr^fico todos os filhos legftimos ou naturais, vale dizer, inclusive osque apresen-
tavam idades superiores a 14 anos.
GRAFICO 8
70
60- legItimos
NATURAIS
30- s
w
o
<
40- W
u
o
P-I
30.
20-
✓
✓
10- ✓
V
FAIXAS DE TAMANHO
t 1 1 r
2-4 5-9 10-14 15-19 20-41
Nota: Os porcentuais foram calculados sobre os respectivos efetivos de cada faixa de tamanho.
Ressalta, desde logo, a crescente participagao relativa dos filhos legftimos, a qual
atinge o m£ximo de 31,7% para os plant&s que contavam com 15 a 19 escravos,
caindo ligeiramente (26,6%) para os plant&s situados na faixa de tamanho de 20-41
cativos. De toda sorte, parece-nos que o contributo situado acima de urn quarto re-
vela-se tao expressive que nos faz pensar no grande impulse potencial que os ca-
samentos regulares podiam significar para a reposigao ou ampliagao de plant&s
com mais de 10 escravos; esta evidencia pode explicar porque, dos proprietcirios
aqui estudados, os maiores parecem ter se servido apenas subsidiariamente do
mercado intemo de escravos; ademais, talvez ai repouse uma das causas para as
proibigoes impostas aos escravos de se casarem "fora" de seus plant6is, pois os ca-
samentos»"dentro" do prdprio plantel atuariam no sentido de garantir a "captagao" in-
tegral dos rebentos que porventura viessem a ser concebidos.
For sua vez, a participagao dos filhos naturais mostrava comportamento diverse,
pois apds atingir urn mciximo na faixa de 5 a 9 escravos (13,2% do total de cativos),
cafa persistentemente, chegando a menos de urn vig^simo (5,2) na ultima faixa aqui
contemplada.
GRAFtCO 9
100.
90- - LEGlTIMOS
- NATURAIS
50-
4 0"
30-
20"
10-
FAIXAS DE TAMANHO
j
1
2-4 5-9 10-14 15-19 20-41
Nota: Os porcentuais foram calculados sobre os respectivos efetlvos totals de cada faixa de tamanho.
(22) Tornados os efetlvos populacionais m^dios chegamos, para 1801, a resultados discrepantes para as ta-
xas de crescimento natural dos segmentos de escravos possufdos por grandes escravistas e por peque-
nos e m^dios propriet^rios. Assim, enquanto, grosso modo, vigorou uma taxa positiva de crescimento ve-
getative de 8,2 por mil para os plants de grande porte, observou-se, para pequenos e m6dios, a taxa
correlata negativa de 2,4 por mil; donde resultou, para a populagSo escrava como um todo, a modestfssi-
ma taxa positiva de 3,3 por mil.
De qualquer maneira, mesmo afastadas estas cogitagoes que tem um carrier pu-
ramente especulativo e devem se entendidas como meras hipdteses de trabalho,
restaria a evidencia irretorqufvel da alta participagao de filhos legftimos e naturals na
composigao dos plant&s de m6dio e grande porte. Tal evidencia repousa, evidente-
mente, na existencia de maes escravas, ao estudo das quais nos remetemos.
TABELA17
2-4 10 5 2,00 19 15 1 26
20-41 58 19 3,05 12 9 1, 33
Notas: (a) conslderadas, tao-somente, as mulheres com filhos a vlverem junto a si, filhos estes solteiros, sem
prole e com qualquer idade;
(b) exclusive cinco filhos de dois viuvos e outros tr§s cuja mae era forra e casada com cativo;
(c) exclusive u'a mae solteira a viver com filha que tinha prole.
Jci a distribuigao, segundo faixas etcirias das maes (Of. tabela 18), seguia o pa-
drao teoricamente esperado, com ponto de mdximo em faixa et^ria intermediciria
(note-se, a respeito das solteiras, que o pequeno numero de observagoes perturbou
TABELA 18
15-19 4 3 1,33 10 8 1 25
50-59 9 4 2, 25 2 1 2,00
grAfico 10
100
50 "
40 -
30 - \
\
20 -
/
Vi
10 -
FAIXAS ETARIAS
TABELA19
Nota: O coeficiente de variagao decorre imediatamente dos outros dois indicadores e se define como o resultado
da multiplicagao por 100 da divisAo do desvio-padrao pela mAdia.
TABELA 20
filhos das mulheres pretas era superior ao das pardas: as pretas nascidas no Brasil
apresentavam o maior valor para a rela^ao em tela (2,95); seguiam-nas as africanas
(2,53), aparecendo por ultimo as pardas aqui nascidas (2,08). Jci com respeito cis
maes solteiras, destacavam-se dois grupos: por urn lado, o das pardas - com 1,79
filhos, em m6dia -, e, por outro, o das pretas, ks quais, independentemente da ori-
gem, couberam os menores valores m&Jios - 1,52 para as negras nascidas no Brasil
e 1,57 para as deslocadas da Africa.
O numero de casos nao 6 suficiente para afirmagoes categoricas sobre as causas
das divergencias no grupo das casadas; fica, nao obstante, consignada sua existen-
cia.
TABELA 21
Colonials Africanas
Valores Maes Casadas Maes Solteiras
Pretas Pardas Pretas Pardas Maes Casad. Maes Solt.
n9 de filhos 65 25 35 25 43 11
n9 de maes 22 12 23 14 17 7
F/M 2,95 2,08 1,52 1,79 2,53 1,57
TABELA 22
1-4 19 48 396
(a
5-9 33 52 ^ 635
10-41 76 96 792
Nota: (a) inclusive uma forra cujos filhos foram anotados como escravos.
(23) Nesta faixa etdria encontramos 57,0% de legftimos, 29,7% de filhos naturais e para os restantes 13,3%
nao foi possfvel identificar a filiagao.
TABELA 23
Legi t.+Desco
nhecida 90 - 1200
Naturais +
Desconhecida 55 - 119 462
Nota: (a) inclusive uma forra cujos filhos foram anotados como escravos.
Cumpre notar, por fim, a visfvel correlagao entre a taxa de masculinidade e a par-
ticipagao de maes solteiras sobre o total de solteiras (exclufdas as criangas). No gr^-
fico 11 apresentamos, al6m desta ultima relagao, a taxa de masculinidade para sol-
teiros e para o total da populagao escrava; as tres curvas apresentam a forma em U,
sendo que tal concordancia poderia sugerir que a ocorrencia de filhos naturais (pen-
sada no ambito de relagdes entre escravos) tamb^m estivesse confinada aos limites
de cada plantel. Esta hipdtese - tomada com base em dados agregados - nao en-
contra respaldo integral quando os dados sao considerados ao nfvel desagregado,
pois parcela substantiva das maes solteiras vivia em plant&s nos quais encontra-
vam-se, apenas, as mesmas acompanhadas de seus filhos, fazendo-se presentes,
em alguns casos, criangas do sexo masculino com filiagao desconhecida; isto acon-
tecia, basicamente, nos pequenos plant&s; neste caso nao 6 descabido supor que a
falta de parceiros estaria a explicar a prdpria expressiva incid§ncia de filhos naturais
em plant&s de pequeno porte. Nos plant&s m&Jios ou grandes, por outro lado, veri-
fica-se a convivencia de elevado porcentual de maes solteiras junto a homens soltei-
grAfico 11
100-
TAXA DE MAS C.-GERAL
90- TAXA DE MASC.-SOLTEIROS
MAES SOLTEIRAS
80.
70.
60-
50-
40.
30-
20 -
10 _
FAIXAS DE TAMANHO
T
2-4 3-9 1(7-14 15-19 20 e +
ros com 15 ou mais anos, sendo v^lida, somente nestas circunstancias, a supracita-
da hlpdtese (Cf. tabela 24).
TABELA 24
Debrucemo-nos, agora, sobre a origem e a cor das pessoas que, embora pade-
cendo as duras condigoes do cativeiro, encontraram lugar para o amor e para char,
junto a si, seus filhos.
TABELA 25
2
Note: C.f. Teste X no A.E.
Daf nao decorre que pardas e pretas devessem compor populagoes com estrutu-
ras etclrias semelhantes, pois estamos a comparar pardas e negras solteiras com
prole, respectivamente, a pardas e negras solteiras sem filhos. Como se visualize no
grcifico 12 as populagoes de pardas e pretas (com 15 ou mais anos) compareciam
com estruturas et^rias distintas, embora muitfssimo prdximas^24).
GRAFICO 12
PARDAS
NEGRAS
20 -■
FAIXAS ETSRIAS
15-9 20-9 30-9 40-9 50-9 60-9 70-9 80 e +
Nota: O porcentual de cada faixa foi tornado sobre efetivo total da respectiva cor.
(24) Como em outro t6pico foi demonstrado que as maes solteiras, independentemente da cor, n§o apresenta-
vam distingdes, quando ^ distribuigao et&ria, vis-d-vis as casadas, complementamos, agora para outros
segmentos populacionais e de acordo com outro corte, aquela anSlise; afirmamos, portanto, que pardas e
pretas tomadas conjuntamente moslraram - com respeito ao fato de serem casadas ou maes solteiras -
corte etdrio sfmile. Isto nao implica, obviamente, que pardas e negras consideradas segundo suas cores
tambdm devam necessariamente obedecer a algum padrao de similitude; nao obstante, observou-se
grande proximidade no perfil etirio de pardas e negras com 15 ou mais anos. Os testes de X constantes
do A.E. corroboram eloquentemente tal asseveragao.
aquelas solteiras que fora do casamento regular vieram a ter filhos. A Idade m6dia
das pardas com filhos nao se distanciava muito da prevalecente para pretas com
prole; os coeficientes de variagao tamb^m revelaram-se pouco discrepantes (C.f. ta-
bela 26)(25). Desta mesma tabela infere-se que, exclufdas as maes solteiras pretas
nascidas na Africa, as solteiras coloniais desta cor, com filhos, apresentavam distribui-
gao etdria muito prdxima das solteiras pardas com filhos: as idades madias de par-
das e pretas (respectivamente 26,3 e 28,7) e os coeficientes de variagao (27,07 e
27,73) dao suporte a esta afirmagao (Cf. tabela 26).
TABELA 26
Coeficiente
Populagao Idade Media Desvio Padrao
de Variagao
Como avangado no infcio do tbpico, a conclusao que se nos impos diz respeito ao
comportamento das solteiras pardas e negras que nao chegaram a se casar. E preci-
se fixar bem esta observagao, pois os porcentuais para pardas e pretas (com 15 ou
mais anos) casadas ou viuvas divergem largamente: apenas 29,6% das pardas co-
nheceram o casamento, enquanto a cifra para as negras algava-se a 43,9%. Tama-
nho diferencial nao pode ser atribuido, exclusivamente, ^s distribuigoes etcirias, pois
as mesmas, embora possam ser tidas como distintas, revelaram afastamento mfni-
mo (Cf. testes de X2 no A.E.). E precise, portanto, encontrar, em outro nlvel, explica-
gao para o fato de havermos encontrado o diferencial supracitado.
Outro argumento a reforgar a necessidade de encontrarmos tal solugao nos 6 da-
do pela an^lise da incidencia de maes solteiras negras e pardas segundo estratos
de tamanho dos plant^is, uma vez que, tamb6m para este corte, o "fenomeno" mae
solteira mostrou-se harmonicamente distribufdo com respeito k cor. Vale dizer, os
pesos relatives de cada cor nao se afastaram significativamente dos porcentuais v^-
(25) Para os Ccilculos destes indicadores exclufmos duas senhoras pretas nascidas no Brasil, com idades muito
avangadas e que fugiam, absolutamente, aos padrSes vigorantes, tanto para pardas como para as pr6-
prias pretas. Uma contava 70 anos e morava juntamente com uma filha de 38, tamb6m mSe solteira; a ou-
tra, de 73 anos, tinha junto a si tr6s filhos, cujas idades tambdm destoavam dos padrdes vigentes para as
demais maes solteiras.
TABELA 27
(26) Estes porcentuais, como sabldo, resultam da pondera9ao das porcentagens correlatas pela participagSo,
em termos absolutos, das maes solteiras em cada faixa de tamanho. Assim, por exempto, o valor de 62,5 6
R x P1 + 64 3x9 * 70,0X 21 + 72.2x 13 _
dado por ^ +04.jxv_ 62 5, o valor 70 8 6a operagSo ^ = 70,8.
(27) Esta concluscio equivale, para o tamanho dos plant^is, 5 verificagao acima posta, pela qual revelou-se a
similitude das estruturas etdhas de maes solteiras pardas e negras.
(28) Ou seja, o fato de encontrarmos um alto porcentual de m§es solteiras com filhos na faixa de tamanho de 1
a 9 (62,5%) nao terS decorrido de uma "tenddncia" das pardas a gerarem filhos fora do casamento, mas,
sim, de nesta faixa encontrar-se um numero maior de pardas, cujo comportamento nSo diferia do das ne-
gras.
via relagao entre o tamanho dos planteis e a cor das maes solteiras; neste caso vol-
tamos & questao central que se nos colocou acima: explicar porque as pardas casa-
vam em proporgao menor do que as pretas.
Os valores reportados na tabela 28 nao se afastam demasiadamente daqueles
constantes da 27. AI6m do mais, as divergencias nao discriminam na diregao de
TABELA 28
uma cor especftica, ao contr^irio, sao comuns a pardas e negras. Assim, para a faixa
de 1 a 9 cativos encontramos um peso relative menor para solteiras pardas sem fi-
Ihos vis-a-vis as maes solteiras de mesma cor (58,3% contra 64,3%). Para as pretas
tamtam deu-se o mesmo - 57,4 versus 61,8%. (Cf. tres primeiras colunas de ambas
as tabelas). Resultado identico ocorreu com os porcentuais referentes a distribuigao
segundo a cor, para cada faixa de tamanho (C.f. tres ultimas colunas de ambas as ta-
belas).
Tanto com respeito ^ estrutura etdria, como no concernente as distribuigoes se-
gundo faixas de tamanho notou-se similitude entre maes solteiras pardas e negras.
Ademais, a composigao de ambas as subpopulagoes acompanha a participagao das
solteiras, sem filhos, pardas e negras. Pode-se aftrmar, daf, que estamos a tratar
de populagoes cujo comportamento independe do tamanho dos plant&s; sob esta
perspectiva, as solteiras (com e sem filhos) negras pouco diferiam das pardas. Por
enquanto, o fato maior, ainda a explicar, como repisado, 6 o comportamento de par-
das e negras com respeito ao casamento, questao esta que comegar^ a ser melhor
entendida e se desdobrarci em outras mais, a partir da andlise da origem das maes
solteiras e dos comportamentos diferenciais que, em prindpio, parecem vincular-se a
esta vartevel. Na conformidade da prdtica adotada ate o momento, adotaremos, para
efeito de confront©, a populagao de solteiras sem filhos. A consideragao da tabela 29
sugere-nos uma nftida distingao entre as maes solteiras africanas e as nascidas no
Brasil. Assim, enquanto para estas ultimas nota-se um porcentual superior ao das
TABELA 29
solteiras sem filhos (52,1% contra 45,6%), para as oriundas da Africa o diferencial
muda de sentido (18,7% contra 28,3%); vale dizer, as africanas apresentam uma par-
ticipagao bem menor que as brasileiras de cor preta no conjunto das maes solteiras.
Eis revelada, portanto, outra questao a enfrentar, qual seja, a do comportamento di-
ferenciado de brasileiras e africanas com respeito ^ geragao de filhos fora do matri-
monio. Este novo problema leva-nos a concluir, ainda ao nlvel hipot^tico, que a ori-
gem se define como elemento explicativo dos comportamentos diferenciados obser-
vados at§ o momento; nao se deve esquecer, outrossim, havermos afastado a es-
trutura etciria e o tamanho dos plant&s como fatores capazes de, clara e irretorqui-
velmente, responder pelas discrepancias detectadas^29).
Para tanto, integremos ^ andlise as casadas ou viuvas, pois, desta forma, tere-
mos confrontado todos os estados conjugais possfveis, exclufdas sempre, as criangas.
(29) Os dados para as africanas tamb^m mostraram-se independentes com relagao els faixas de tamanho dos
plant^is. Assim, as maes solteiras africanas distribufam-se pelas faixas segundo os pesos relatives 55,6%
e 44,4%; as solteiras sem filhos, nascidas na Africa, tamb^m compareciam nas aludidas faixas com pesos
relatives prdximos aos das maes solteiras: 57,7 e 42,3, respectivamente, (Cf. testeX2 no AE).
(30) Para mensurar eventuais dessemelhangas adotaremos uma medida de discrep^ncia entre as frequ^ncias
obsen/adas e as te6ricas (X2).
TABELA 30
africanas 9 34 43 14.3 28 7 43
grupo das maes solteiras (9 versus 14,3). As pretas coloniais, por seu turno, apresen-
tam, efetivamente, valores ligeiramente diferentes dos esperados teoricamente: pou-
co mais para maes solteiras (25 vis-i-vis 23,7) e numero pouco menor de casadas
ou viuvas (46 em face de 47,3). Para as pardas os dlferenciais sao nitidamente mais
amplos, pois encontramos 14 maes solteiras, contra as 10 esperadas, e apenas 16
casadas para as 20 calculadas. Este quadro nao deixa margem a duvidas; a origem
e a cor combinam-se para explicar as discrepancias que viemos ressaltando no correr
deste topico. As africanas casam-se proporcionalmente mais do que as mulheres
coloniais; destas, por sua vez, as pardas casam-se relativamente menos e revelam-
se mais predispostas a gerar filhos fora do matrimonio. Para afastar qualquer mar-
gem de erro, pois estamos a tratar de quatro Cias., das oito entao existentes em Lo-
rena, aplicamos o teste de X2 a estes dados; o resultado corrobora integralmente
nossa postulagao, pois 6 reafirmada a distingao do comportamento dos grupos em
foco, a urn nfvel de 90,0% de confianga (Of. teste de X2 no A.E.)(31).
Falta-nos, ainda, demonstrar que nossas conclusoes nao se veem afetadas pelas
pequenas variagoes das estruturas etcirias das mulheres aqui estudadas. Os porcen-
tuais da tabela 31 servem a tal escopo e falam por si, pois, para cada faixa et^ria,
verificam-se para os tres grupos de mulheres as afirmagoes acima expressas; assim,
por exemplo, na faixa dos 20 aos 39 anos encontramos, para africanas, 15,6% de
maes solteiras e 59,4% de casadas; os valores respectivos para pretas coloniais sao
31,4% e 37,2% e os correlates para pardas 38,5% (o mais elevado de todos) e
30,5%, o menor em face dos dois outros grupamentos. Ademais, esta relagao man-
t&n-se para as demais faixas de idade. Estes dados mostram que, al^m de predo-
minarem relativamente quanto ^ condigao de maes solteiras, as pardas tamb^m apre-
sentavam o maior peso relative de solteiras sem filhos.
(31) Estes mesmos testes asseguram que o comportamento de pardas distinguia-se do das pretas africanas e
que estas ultimas tamb6m divergiam significativamente das pretas coloniais; pardas e negras coloniais
nao apresentavam comportamento estatisticamente divergente (Of. testes deX2 no A.E.).
TABELA 31
Nota: para cada origem os porcentuais foram tornados sobre os respectivos efetivos de cada faixa etclria, e so-
mam 100,0, no sentido das linhas, para cada grupo de mulheres e faixa etdria.
Para encerrarmos a discussao em torno das maes solteiras falta demonstrar que
nao havia concentragao de pardas nos pequenos plant&s (nos quais o casamento
dava-se em menor escala) e, correlatamente, nao ocorria lncid§ncia desproporcional
de negras (em particular de africanas) nos plant6is de grande porte (nos quais havia
ambiente propfcio ao casamento e nao se encontrava numero excessive de maes
solteiras). Vale dizer, 6 precise provar a proporcionalidade da distribuigao de par-
das, negras coloniais e africanas segundo as faixas de tamanho dos plant&s; isto
feito, afasta-se o ultimo reparo que se poderia aventar contra nossas conclusoes.
Seguindo procedimento an^logo ao empregado na elaboragao da tabela 30, cons-
trufmos a de numero 32; nela, logo k primeira vista, patenteia-se a independencia
das aludidas distribuigoes.
TABELA 32
1-4 16 32 12 60 17 ,5 28 ,5 13,7 60
5-9 17 26 15 58 17,0 27,8 13,3 58
10-41 36 55 27 118 34,5 56,5 27,0 118
totais 69 113 54 236 69 113 54 236
A conclusao dbvia, e agora redundante, diz que as causas dos diferenciais que
nos tern ocupado situam-se al6m das varteveis demogr^ficas e economicas imedia-
tas, pois dizem respeito k postura coletiva, cujos condicionantes encontram-se em
TABELA 33
0-4 1 - - _ 1 1
5-9 1 1 - - 2 2
10-41 2 3 2 2 5 4 9
TOTAL 4 4 2 2 8 4 12
Nota: Dos homens, 5 eram africanos e 1 coloViial preto; das mulheres, 3 africanas, 1 parda e 2 pretas colonials.
Caso somemos os viuvos aos casados e solteiros com 15 ou mais anos, tamb^m
chegaremos a resultados jci esperados: 35,7% dos pretos de ambos os sexos eram
casados ou viuvos, enquanto apenas 23,8% dos pardos o eram(32). Quanto aos afri-
canos, 39,5% compunham-se de casados ou viuvos, sendo que para o elemento co-
lonial o porcentual correlate atingia apenas 29,5% (Cf. tabela 34). Tal divergencia,
TABELA 34
como vlsto, nao pode ser atribufda distingoes entre estruturas et^rias, nem k con-
centragao de negros e/ou africanos nos grandes plant&sf33). Dizia respelto a postura
diferenciada de africanos, negros coloniais e pardos em face do casamento; este
comportamento foi detalhadamente estudado para as mulheres e tamb^m repetiu-se
referentemente aos homens (Of. tabela 35); nada, pois, h£ a acrescentar ^quelas
conclusoes, cuja somatbria espelha-se na tabela 36.
TABELA 35
Casados ou
viuvos 35,1 24, 2 17,6 22,3 30,2 28,3
TABELA 36
Passemos, pois, ao estudo dos casais; vale dizer, centremo-nos naqueles casos
em que ambos os conjuges encontravam-se presentes quando elaborado o levanta-
mento populacional sob an^lise.
Seria ocioso e redundante a esta altura mostrar a presenga significativa de africa-
nos, bem como realgar as distingoes entre pardos e negros. Cingir-nos-emos, pois, k
consideragao de apenas duas questoes; a dos enlaces que se davam entre ele-
mentos de mesma origem e ^queles que reuniam elementos de mesma cor. Neste
sentido, podemos pensar em casais endogamicos (ou exogamicos) pela origem e/ou
pela cor.
Iniciemos pela origem e para tanto detenhamo-nos na tabela 37. Confrontados os
porcentuais, ressalta a preponderancia dos casamentos consagrados entre integran-
TABELA 37
tes de mesma origem; assim, 38,8% dos consdrcios reuniam pessoas nascidas no
Brasil e 28,2% origindrios da Africa. Segue-se o grupamento representado por unices
entre homens africanos e mulheres aqui nascidas (24,7%), fato devido k presenga
majoritaria dos homens entre os africanos para ck deslocados e k comprovada maior
propensao ao casamento que distinguia o element© africano em face do colonial.
Disto resultava o baixo peso relativo de casais compostos por mulheres africanas e
homens nascidos no Brasil. De toda sorte, nao pode restar duvida quanto k predo-
minancia dos casais endogamicos com respeito k origem (67,0% contra os restantes
33,0%).
Dominancia ainda maior observava-se quanto a con destarte, apenas 9,4% dos ca-
sais compunham-se de pardos e negros, porcentual igual aos das unices entre pardos
e muito inferior ao concemente ^s unices entre negros: 81,2%. Disto se infere que
tanto coloniais como africanos procuravam encontrar parceiros de mesma cor, fir-
mando-se claramente, portanto, a superioridade num^rica dos casais endogamicos
referentemente k cor (Cf. tabela 38).
TABELA 38
Consideragoes Finals
Parece-nos penoso, senao ocioso, elencar as conclusoes que foram sendo esta-
belecidas no correr deste estudo. Elas sao inumeras e, ainda se limitadas, represen-
tam evidencias solidamente ancoradas do ponto de vista empfrico, evidencias estas
que revelam, ao menos, a urgente necessidade de novas pesquisas sobre o tema.
De nossa parte, mesmo no caso de vermos negadas as hipdteses aqui sugeridas,
sentir-nos-emos recompensados por havermos acicatado a curiosidade dos estudio-
sos no sentido de ampliagao de nossos conhecimentos no estimulante campo da
historia demogr^fica brasileira e, particularmente, no desafiante terreno da demogra-
fia escrava, do qual aprendemos, com clareza insofismdvel, por urn lado, a impossi-
bilidade de se disjungir as variciveis economicas das demogr^ficas e, de outro, a ne-
cessidade de associar, ao dado quantitative imediato, a perspectiva qualitativa, sem
a qual fenece o conhecimento histdrico.
Apendice Estatistico
Referencias Bibliogr£ficas
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