Brincar - Uma História de Ontem e de Hoje
Brincar - Uma História de Ontem e de Hoje
Brincar - Uma História de Ontem e de Hoje
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CAMPINAS
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CAMPINAS
2006
© by Jani Célia Santos Gomes, 2006.
06-406-BFE
AGRADECIMENTOS
À Deus,
Ao meu esposo José Antonio, por me instigar a acreditar que sou capaz,
A todos que idealizaram este curso, pois com certeza acreditam e trabalham
por uma educação de qualidade para todos.
“...Volto no tempo menino fieira e pião
Sonhos embalam no vento a pipa e balão
Entre piratas e primas tesouros e medos de
assombração
Eu só sabia que a vida
Invadia os sentidos regia o coração
E o sol me aquecia e brilhava
Em qualquer estação.
Se hoje me perco nos labirintos da razão
Vem o menino que eu fui e me estende
A sua mão
E ele me acalma trazendo
Antiga e serena doce sensação”.
TOQUINHO e MUTINHO, Esse Menino1
1
LP Aquarela, Ariola/Poligram, 1983
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 6
5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 44
1. APRESENTAÇÃO
Sendo assim, neste memorial, penso, reflito e procuro dar significado à criança que
fui e a infância que vivi, com o olhar voltado para a criança, a infância e o brincar como
momento a ser vivido plenamente em todos os aspectos. Reflito sobre as brincadeiras e o
brincar como ação inerente ao ser humano e principal atividade da criança, pois esta é sua
forma de ser e estar no mundo.
Buscando refletir também sobre sua importância no desenvolvimento da criança e a
redução dos espaços para a brincadeira nas escolas e lares, negando-se a criança o direito de
“ser ela mesma” enquanto sujeito de sua construção. Cabe a nós professores/escola sermos
instrumentos para auxiliar a transformação dessa realidade.
Neste memorial relato e reflito primeiramente sobre as brincadeiras e brinquedos, a
importância que têm na infância, tendo o olhar voltado para a infância que tive e que dá
significado a pessoa/professora que hoje sou.
Relato também sobre os caminhos que percorri até iniciar o curso do magistério. As
frustrações, dificuldades e aprendizados durante o exercício nesta carreira profissional e da
porta que se abriu para mim ao ingressar no curso de Pedagogia da Unicamp no qual foi
possível fazer uma ponte entre a prática e a teoria.
Dou continuidade ao memorial com o objetivo de relatar e refletir sobre a criança
com a qual convivo, o brincar como forma de vivenciar a infância, compreender e aprender
sobre o mundo que a rodeia. Reflito também sobre a intervenção, postura do professor no
processo de construção afetivo, social e cognitivo da criança, no qual procuro propiciar um
resgate cultural dos brinquedos e brincadeiras, permitir que vivenciem a arte de dramatizar
e convidar os pais a estarem na escola com o intuito de que reflitam sobre importância do
brincar para a criança.
2. BRINCAR... SEMPRE BRINCAR
Morávamos defronte a uma praça, bem cuidada e que fora lugar de muitas
brincadeiras. À noite na rua, brincávamos de amarelinha, queimada, gim, pega-pega e essas
brincadeiras atraiam outras crianças, aumentando nosso círculo de amizades. Que tempo
bom era esse... tempo que brincávamos livremente até tarde e no outro dia ainda
acordávamos cedo para ir à escola. Tempo de prazer, de intensa vida, de intenso viver. Pois
como afirma Fontana (1997,p.68), “Ao nascer, cada um de nós mergulha na vida social, na
história, e vive, ao longo de sua existência, distintos papéis e lugares sociais, carregados de
significados- estáveis e emergentes- que nos chegam através do outro”
O tempo que passou, se faz presente, reconheço na pessoa que sou a que fui, na
interação com os lugares, com as pessoas e seus saberes – com a vida.
A memória me falha nesse momento, pois não consigo lembrar-me com clareza a
minha iniciação na vida profissional. Contudo, posso afirmar que com aproximadamente
dezesseis anos de idade, algumas colegas e eu, através de uma entidade voltada ao
atendimento social, iniciamos um trabalho com crianças, cujos pais ficavam fora o dia todo.
Para que essas não ficassem sozinhas ou na rua no período em que não estivessem na
escola, iam para esse local oferecido pela prefeitura, para que fosse realizado o projeto
denominado PLIMEC- Programa de integração do menor e da criança, que atendia crianças
em idade escolar de 7 a 14 anos. Desenvolvíamos com eles, atividades de pintura, recorte e
colagem, desenhos, brincadeiras e jogos.
E nesse contexto, onde as relações exigiam cada vez mais de nós, estava eu mesmo
que despercebidamente, começando a traçar (bordar) o caminho rumo à minha carreira
profissional, lembrando o que diz Soares (2001) na epígrafe “...representamos o nosso
papel, sem conhecer por inteiro a peça”. E por não conhecer o que estaria por vir, não
acreditei que este fosse realmente o caminho que desejasse seguir.
Ao concluir o curso ginasial, a mudança de escola se fez necessária, uma vez que
não havia curso colegial na escola na qual tinha estudado até então. Tal mudança para mim
foi muito dolorosa, pois eu já havia criado laços de afeto naquela escola. Vivi ali momentos
inesquecíveis de minha adolescência, não encarava com otimismo ter que deixar um dos
cenários onde passei momentos como a primeira paixão, o time de vôlei, as aulas de
educação artística que me fascinavam com o desenvolvimento de diversas atividades,
brincadeiras com músicas e toda uma vivência.
Iniciei o curso colegial em um grande colégio, distante de minha casa. O primeiro
ano era básico e comum tanto ao aluno que desejasse cursar o colegial normal como ao que
optasse pelo magistério. O curso normal que o colégio estava inserindo naquele ano, era o
único profissionalizante oferecido no município até então.
Por não ter opção e não ter decidido ainda que carreira seguir, resolvi, assim como
minhas amigas e a maioria das meninas da turma, cursar o magistério. Durante o curso nada
me chamava atenção, nem mesmo durante o estágio, pois o que via no fundamental eram
crianças sentadas em fileiras e uma professora lá na frente, sempre exigindo silêncio e se
mostrando incomodada com minha presença. E brincar? apenas no horário de recreio.
Segundo Fernandes (2001,p.50):
Na educação infantil a professora media forças com o aluno que queria chamar a
atenção. Ela corria pela sala para pegar o aluno que havia lhe dado um chute na canela.
Para mim, aquelas cenas serviam como distração para abstrair-me do enfado de observar a
forma tradicional de a professora trabalhar. Se eu como estagiária encarava aquilo tudo com
muito tédio, imagino o nível de motivação daquelas crianças que estavam na condição de
alunas.
Sendo uma turma do denominado nível IV (idade entre 6 e 7 anos), as tarefas
restringiam-se a exercícios motores. E brincar, tinha hora certa e combinada. Uma de
minhas atribuições de estagiária era preparar uma aula e diante da professora da turma,
demonstrar o meu poder de domínio e de retenção da atenção das crianças. Dessa forma,
revelava-se a concepção de que o professor deveria ser o único protagonista da relação
ensino-aprendizagem. No entanto Fontana (1997,p.42) destaca que :
Nesse sentido, procurava elaborar aulas mais dinâmicas, para que as crianças
pudessem se envolver no decorrer da proposta, mas observava que a atenção das
professoras estava simplesmente no meu desempenho, nas minhas reações e não no que
pretendia, na estratégia utilizada, no meu envolvimento e o das crianças, na construção da
aprendizagem e na produção do conhecimento.
Pensei : - Não quero isso para mim.
O que é ser professora ? Qual é o seu papel ?
Um ano após ter concluído o curso magistério, a Prefeitura Municipal de Paulínia
abriu as inscrições para o Processo Seletivo para contratação de professores. Sinceramente,
não me interessei. No dia da inscrição, uma de minhas amigas passou em casa e como
insistiu, acabei indo me inscrever. Para a prova não me preparei, não estudei, mas consegui
pontuação suficiente para colocar-me na segunda etapa do concurso, a entrevista.
Na entrevista, quando questionada sobre a teoria, pouco sabia ou lembrava, mas
quando indagada sobre a parte prática, buscava me lembrar dos tempos e da experiência
com as crianças do PLIMEC.
Ao término da entrevista, a profissional que me avaliou disse :
- Você passará, mas me prometerá que buscará mais a teoria, lerá mais, pois a teoria
embasa a prática e é extremamente necessária. Aquelas palavras ficaram em minha mente.
Enquanto esperava o resultado do concurso, estava curiosa, iniciei o curso técnico
em contabilidade, em Cosmópolis, uma cidade vizinha. Resolvi que queria trabalhar em
escritório.Nesse percurso, soube que fui aprovada no concurso. Fui chamada para a escolha
da escola, tinha de decidir, resolvi então desistir do curso que estava fazendo, pois o
“caminho” ali se mostrava, então o que fiz ?? – Comecei a caminhada.
“E o que vejo, a cada momento, é aquilo que nunca antes eu tinha visto”.
(Alberto Caieiro – heterônimo de Fernando Pessoa)
No entanto, quando iniciei minha vida profissional na educação infantil, foi como se
tivesse caído de pára-quedas em uma escola com crianças de 5 a 6 anos, no começo do mês
de agosto, em fase de ensaio para formatura, momento em que a coordenação da escola,
diretora e orientadora, manifestavam grande preocupação em preparar as crianças para o
ingresso na primeira série do ensino fundamental. O que é contraditório ao que afirma Faria
(1999,p.70), quando esclarece que:
“... quando se fala em criança hoje em dia, temos como modelo uma
criança idealizada, um constructo supra-histórico com
características das crianças das classes médias e altas. Contudo,
indiscutivelmente, este modelo é difundido para toda sociedade”.
(OLIVEIRA, 2000, p. 134).
Portanto, com o objetivo de analisar quais são as expectativas dos pais quanto ao
trabalho da escola, fiz uma coleta de dados relativa a uma pergunta que consta na ficha de
entrevista realizada por nós professores no início do ano de 2005. A pergunta era:“ O que
espera do trabalho da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil)?
O que mostra uma visão que vem lentamente se desmistificando, pois quando os
pais querem impor que seus filhos aprendam, ou seja, sejam escolarizados na Educação
Infantil, nega-se que compreendam que o brincar tem essa possibilidade, pois algumas
crenças e valores tornam-se ainda mais fortes diante da sociedade capitalista atual.
Conforme Maluf (2003):
Sendo assim, a educação infantil dever ser pensada e baseada em uma pedagogia
centrada na infância e em suas especificidades, considerando-se e contemplando o prazer
que o brincar proporciona. Destaca ainda Maluf ( 2003), que: “...todo aprendizado que o
brincar permite é fundamental para a formação da criança, em todos as etapas da sua vida”.
(p.21). No entanto, observa-se um ideal de criança desprovida de espaços organizados para
proporcionar o brincar para a criança que temos e que é real.
A escola onde trabalho é considerada pequena em relação às outras da cidade, o
espaço da área externa, com exceção da praça, é pequeno, contudo, é suficiente para
proporcionar brincadeiras e favorecer a inventividade, criatividade, a interação entre os
pares, autonomia e iniciativa por parte das crianças. As salas de aula são grandes,
facilitando a movimentação das crianças e organização de modo que elas possam atuar
como modificadores do ambiente, com mobílias que apesar de velhas, adequadas à faixa
etária a que se destina.
“... é preciso, pois deixar o espaço suficientemente pensado para
estimular a curiosidade e a imaginação da criança, mas incompleto o
bastante para que ela se aproprie e transforme esse espaço através de
sua própria ação.”(Lima, apud Fernandes,2001,p.39)
Diz ainda que o brinquedo é acima de tudo, um dos meios para desencadear a
brincadeira (BROUGÉRE,1995,p.21). Para que as brincadeiras com os brinquedos
acontecessem, as crianças eram levadas ao pátio que fica ao lado da nossa classe. O local é
todo cimentado, há uma rampa feita com o objetivo de facilitar o acesso das pessoas com
necessidades especiais, um pequeno espaço ao redor onde foi plantado flores e um pé de
manga onde as crianças adoram pendurar-se. Nesse espaço há também uma torneira e um
contêiner para reciclagem de papelão.
O espaço não é muito grande, mas as crianças gostavam muito de brincar ali e
apesar de ser uma área para todos, desde que livre, ou nos horários estipulados,
praticamente éramos a turma que mais usávamos. Durante as brincadeiras pude observar
que as crianças estavam preocupadas cada uma com o seu brinquedo e diziam: -Esse
brinquedo é meu!. “Observar é contar, descrever é situar os fatos únicos e os cotidianos,
construindo cadeias de significação”. (CARDOSO, apud FERNANDES, 2001, p.210). Mas
com o passar do tempo, apesar de ainda se mostrarem muito forte a questão do “meu”,
começaram a trocar brinquedos.
Muitas vezes o interesse por um só brinquedo desencadeava muitos conflitos e
brigas entres elas, no entanto, em algumas situações tentavam encontrar soluções que ao
modo delas eram adequadas.
“É, portanto, na situação de brincar que as crianças se podem
colocar desafios e questões além de seu comportamento diário,
levantando hipóteses na tentativa de compreender os problemas que
eles são propostos pelas pessoas e pela realidade com a qual
interage. Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem
sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre
elas e elaborar regras de organização e convivência”. (WAJSKOP,
2005, p.33).
No entanto, uma das meninas procurava em suas brincadeiras ficar sempre sozinha,
no seu mundo imaginário, conversava com os cavalinhos de um dos colegas, os bonecos
power rangers eram transformados em cavaleiros. Contava para mim que gostava muito de
cavalos e quando ela crescesse sua mãe lhe daria um cavalo branco de presente e ela seria
uma amazona. Ficava muito contrariada quando alguém pegava esses brinquedos antes
dela. De acordo com Vygotsky (1991,p.127):
Pensando assim, comecei levar para pátio cadeirinhas, colchões, arcos, cordas, um
cobertor, cones e pedaços pequenos de madeiras. As cadeiras viravam túneis no qual as
crianças se arrastavam para passar. Em outro momento, enfileiravam-se para andar em cima
das mesmas, o colchão era carregado acima da cabeça e todos tinham que equilibrá-lo, o
cobertor virava rede que era segurado nas pontas por quatro crianças para balançar uma que
estava dentro do mesmo. Disputavam a única corda grande e cada qual queria usá-la de um
forma diferente. As possibilidades eram muitas, pois se mostravam muito motivados.
Kishimoto (1996,p.138) esclarece que, “...se o professor souber observar e intervir a
partir da lógica da atividade lúdica infantil, descobrirá explorações possíveis, para se obter
melhor aproveitamento do brinquedo como mediador das brincadeiras”.
Com o objetivo de enriquecer ainda mais essas brincadeiras, convidei outra turma
com idade de 5 a 6 anos para compartilhar de alguns momentos, mas embora isso tenha
acontecido poucas vezes, já que a professora desta classe estava sempre preocupada com
outros afazeres dentro da sala. Para Kishimoto (1996,p.122), “ um professor que não sabe
e/ou não gosta de brincar dificilmente desenvolverá a capacidade lúdica dos seus alunos.
Ele parte do princípio de que o brincar é bobagem, perda de tempo”.
Tempo perdido para esta professora, não para as crianças, pois foi muito
interessante observá-las. Num primeiro momento, observei grupos separados, cada qual
brincando com colegas de sua turma, porém, aos poucos, começavam a se relacionar. Duas
meninas da outra turma brincando de ser mamãe e irmã da menorzinha da minha turma e
outros tentando resolver impasses quanto aos brinquedos. No entanto, percebia que em
algumas situações a professora convidada se adiantava para resolver os conflitos,
demonstrando satisfação em fazê-los.
Acredito que a intervenção do adulto/professor faz-se necessária, no entanto, eles
devem ter claro quais são seus objetivos ao se dispor para tal atividade de modo que ao
intervir seja problematizador/mediador da aprendizagem. Para Fernandes:
“... a presença e a interferência dos adultos sobre comportamentos,
atitudes, valores podem ser bastante forte e isso é reflexo de um
modelo educacional com raízes em tendências tradicionais –
marcado por práticas escolarizantes e adultocêntricas”. (2001, p.55)
Portanto, devemos estar atentos para o modo que interfere, pois podemos estar
impondo as crianças os hábitos, valores e maneira de como dos adultos vêem o mundo.
Dessa maneira, recriando e dando significado aos brinquedos fui notando que com o
passar do tempo as crianças foram se socializando e mesmo que tivessem mais convívio
com os colegas da turma e demonstrassem preferência por brincadeiras diferentes, pois
como esclarece Kishimoto (1996,p.60) “... devemos levar em conta que brincar preenche
necessidades que mudam de acordo com a idade...”. Aos poucos elas foram partilhando as
brincadeiras, ora usando os objetos, ora não.
2
Disciplina do segundo semestre do ano de 2005
Sabrina: - mas tem menino que tem cabelo grandão e ainda usa brinco
Fernando: - O menino não pode usar coisas rosa
Todos concordaram.
Perguntei: - Menina pode usar todas as cores?
Responderam: - Pode!
Continuei: - E porque menino não pode usar rosa?
Daniel: - porque não.
Carol: - Menina usa tênis rosa
Felipe: - se menino usar tênis rosa vira menina.
Diante das falas das crianças avaliei que alguns comportamentos preconceituosos
quanto ao sexo/gênero poderiam ser questionados pelas próprias crianças, no entanto,
foram aceitos naturalmente e até reforçados.
Acredito que nós professores não nos sentimos preparados para trabalhar com as
inquietações, preconceitos, medos, tabus, alegrias na descoberta da sexualidade, pois
conforme Camargo (1999,p.34):
Notei também, que havia certo pudor por parte das crianças ao falarem desta
questão, contradizendo o que era esperado que acontecesse, devido a relação que mantinha
com estas e pelo acesso às informações que a mídia oferece às famílias de hoje. Michel
Foucault afirma que:
“o tema sexualidade está fortemente presente em nossa cultura e ao
mesmo tempo, convive com uma série de interditos a essa mesma
sexualidade, procura desvendar nessas malhas aquilo que leva a se
falar, do sexo, pois acredita na hipótese de que os mecanismos que
convidam, inalam, encorajam a falar de sexo estão dirigidos no
sentido de institucionalizá-lo e controlá-lo – que fala, para quem se
fala, onde se fala. (apud CAMARGO, 1999, p.28).
Observa-se então que, a sexualidade não é discutida pelos pais, mesmo diante da
mídia e contexto familiar atual, devendo então, professores/educadores diante de tal
problemática pretender buscar mudança de postura para vencer barreiras e desafios de
maneira que a criança se sinta confortável num ambiente que favoreça o desenvolvimento e
exploração de sua sexualidade.
Muitas questões são suscitadas e colocadas diante dos professores durante as
brincadeiras, uma vez que, sendo ação espontânea, as crianças se expressam e falam dos
seus sentimentos e, neste espaço, a realidade na qual elas convivem e que são impregnadas
de preconceitos, vem à tona. Carvalho e Rubiano (2000) destacam:
Portanto a criança precisa experimentar, vivenciar, participar, ser livre para criar,
solucionar e observar que existem várias maneiras de ser homem e de der mulher, ser
menino e ser menina. Sendo assim, continuo a contar sobre a conversa que se iniciou entre
as crianças, quando uma delas diz que menina não pode ser rei, só rosa, bruxa ou relógio e
a outra responde:
“-mas, vou só brincar de ser rei.” E uma terceira ainda completa:
“- É só de faz- de- conta.”
A proposta era a de ter os pais juntos nesta caminhada, sendo assim, preparei
inicialmente uma pesquisa, sendo que um dos objetivos era de que eles lembrassem da
criança que foram, da infância que tiveram, seus brinquedos e brincadeiras preferidas,
resgatando assim um pouco da cultura de cada um. Bosi (1987) entende que:
O tempo que dei foi suficiente para que estes mesmos brinquedos chamassem
atenção de uma outra turma de 5 a 6 anos que fica na EMEI em período integral. Estas
crianças brincavam ao lado do pátio onde estávamos com brinquedos que trouxeram de
casa.
Uma das crianças dessa turma, depois de muito olhar, pediu para brincar com o vai-
e-vem e ficou um bom tempo brincando com uma das alunas, atraindo atenção de outras
crianças- da minha turma porque observavam os movimentos e resolveram tentar e da outra
turma porque queriam brincar com brinquedos diferentes. Segundo Maluf (2003,p.43-44):
“Através do brinquedo a criança instiga a sua imaginação, adquire sociabilidade,
experimenta novas sensações, começa a conhecer o mundo, trava desafios e busca
satisfazer sua curiosidade de tudo conhecer”.
Ao ver seus alunos interessados pelos brinquedos a professora me perguntou sobre a
oficina, já comentando sobre a falta de participação dos pais nos dia de hoje e disse
acreditar ser uma atitude corajosa proporcionar este espaço aos pais e o mesmo comentário
foi feito em reunião pedagógica por outra professora.
Dessa forma, é entendido que alguns profissionais que atuam no contexto escolar se
mostram resistentes ao envolvimento dos pais na escola, mas para mudar esta postura são
necessárias profundas mudanças culturais e isso implica participação de todos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que for significativo para a criança com certeza ficará em sua memória, em seu
ser, em suas ações.
A criança que fui, a infância que vivi, me faz procurar na criança de hoje o motivo
para ser professora no sentido de deixá-la viver sua infância, através das brincadeiras
construindo-se na interação com o outro e com o mundo que o cerca.
No entanto, como afirma Marcellino (1989), a vivência do cotidiano na escola
brasileira coloca-nos em constantes desafios, uma vez que a escola está vinculada a uma
sociedade que valoriza a produtividade do conhecimento.
Neste sentido, permito-me afirmar que é preciso ter coragem de ousar, buscando
uma concepção de escola que esteja a serviço do homem, que leve em conta a realidade em
que vive, sua história, dando a este a oportunidade de ser criativo e crítico desse sistema
educacional que mantém essa sociedade opressora.
É de responsabilidade de nós professores sermos instrumentos de auxílio na
intervenção desse processo histórico, com o objetivo de superar as contradições que
envolvem a escola, seus métodos e conteúdos. Para que isso ocorra é necessário que haja
profissionais comprometidos com uma educação de “Qualidade para todos”, através de uma
formação profissional consistente.
Volto-me então para o Curso de Pedagogia – PROESF, durante o qual contemplo
mais uma fase em que me constituo professora. Assim como afirma Fontana (1997,p.135),
para mim, o processo de escolarização vivido na Universidade, ao me colocar com
propostas educativas e com professores que me instigaram uma re-leitura de minhas
compreensões iniciais acerca da educação, da escola e do papel social do professor,
conduziu-me a professora que sou. Muitas vezes, me vi nos exemplos citados pelas
professoras deste curso, em outras observei-as falando de práticas que não condiziam com
sua postura, no entanto, tudo que aprendi e compreendi durante tais aulas e enquanto
escrevia este memorial valeu e valerá a pena, porque é uma saber que transforma, que gera
mudanças e mudar é muito difícil porque exige esforço e paciência, demanda tempo,
persistência e reflexão.
Levo comigo as sábias palavras de Piaget (1978,p.225): “O ideal da educação não é
aprender ao máximo, mas é antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver
e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola”. Acredito, hoje, que a educação
deve estar voltada para a vida, pois pensando assim acredita-se que a escola pode ser um
lugar de brincadeiras, jogos, atividades que fazem sentido para a criança.
Finalizo esse memorial tendo caminhado em meio às dificuldades, alegrias,
angústias e aprendizados. Aprendi e me convenci que vale a pena persistir nos sonhos com
determinação de poder torná-los possíveis.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FARIA, Ana L.G. de. Educação Pré-Escolar e Cultura. Campinas, São Paulo. ED:
Unicamp, São Paulo Cortez, 1999.
FERNANDES, Renata Siero. Entre Nós, o Sol: relação entre infância, cultura, imaginário
e lúdico na educação não-formal- Campinas, SP: mercado de letras; São Paulo: Fapesp,
2001.
FERREIRA, Sueli (ORG). O ensino das Artes, Construindo Caminhos. Campinas: ED.
Papirus, 2001.