Monografia Aline Lima Revisada
Monografia Aline Lima Revisada
Monografia Aline Lima Revisada
Serra Talhada
2017
Aline Rodrigues de Lima
Serra Talhada-PE
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE
Biblioteca da UAST, Serra Talhada - PE, Brasil.
50 f.
Agradeço primeiramente a Deus, por todos os dias da minha existência e por encher o meu
caminho de desafios e possibilitar a realização de planos e sonhos. Aos meus pais Evanilda
Rodrigues de Aquino Lima e João Francisco de Lima, pela determinação e luta na minha
formação e por me darem todo o suporte necessário.
Aos meus irmãos Alexsandra Lima e João Victor, porque sempre me incentivarem e
acreditarem em mim, sendo além de irmãos, amigos.
Aos meus avós Izabel Cordeiro e Antônio Horácio pelo estíimulo, convivência e amparo dia-
a-dia e a todos meus familiares, por terem me encorajado a acreditar e buscar os meus sonhos.
Agradeço a todos os meus professores que mediaram os meus passos dentro da universidade e
contribuíram imensamente para minha formação: Adeilson Sedrins, Walison Paulino, Marcelo
Sibaldo, Thaís Ranieri, Rafaela Cruz, Rogério Moura, Cleber Ataíde, Emanuel Cordeiro,
Elaine Cristina, Andreia Andrade, Paula Santana, Kleyton Pereira, Jean Paul, Virginia, Tony
Apolinário, Eudes Santos, Bruna Dugnani; e, sobretudo a minha professora e orientadora,
Dorothy Brito, por acreditar em mim e ouvir pacientemente as minhas considerações,
partilhando comigo as suas ideias, conhecimentos e experiências; quero expressar o meu
reconhecimento e admiração pela sua competência profissional e minha gratidão pela forma
humana com que conduziu minha orientação. Se um dia eu for um pouquinho disso, já está
muito bom.
Agradeço aos meus amigos de curso, presentes de Letras, da UAST e de Deus, pelo
companheirismo, amparo, dedicação e ajuda prestada. Em especial, a minha amiga que chamo
de prima, mas que na verdade é uma irmã, Jôyna Silva, que sempre esteve do meu lado para o
que der e vier, pelos dias e noites fazendo relatórios, resolvendo papeladas de estágio,
resenhas, fichamentos, artigos e, enfim, esta bendita monografia, e por nunca me permitir
desanimar. Dela, sempre podia ouvir um “Vai, priminha, tu consegue”.
A Dayres Carvalho e Luciano Nascimento pela amizade, companheirismo e por tudo que
passamos juntos ao longo do curso, pelas noites estudando sintaxe, teoria e crítica literária,
seminários e muitas literaturas americanas, causadoras de muita dor de cabeça.
Aos “Bests”: Richard, Isabele, Manu, Magela, Alana, Francis e ao “primo” Mannoel Lima -
nada teria sentindo sem vocês.
Aos melhores: Rosi Vieira (Merynha), Alex Magalhães, Raphael Brito (Bike), Carlos Daniel
“voa-voa”, Jennifer Mendonça (Porcina), Ibsen Lima (Ib100), Anderson migo, Ianine
Miranda (Sinira), Juninho labacé, Primo-mozi (Jonathan), Luanna Souza (Meu bem, prima-
batman, NN, chaow), Tibério Fonseca (Tibys), Ithala Santos (Mooh bem), Ewerton (S10),
Brenin-Izaquiel, e Danilo minage. Amigos de copo, de gargalhadas e da vida, obrigada por
todo o apoio e por tornar essa caminhada mais leve e divertida.
Agradeço a todos aqui citados e àqueles cujos nomes não aparecem, mas que sabem que
fizeram parte desse processo e colaboraram de forma positiva nessa caminhada.
Muito oObrigada!
"Toda Língua são rastros de velho Mistério”.
(Guimarães Rosa)
RESUMO
Pretendemos, com esse trabalho de pesquisa, discutir a questão de como o professor de língua
portuguesa trabalha com o tema da variação linguística em sala de aula. De início, a proposta
foi averiguar se os professores incluem o tema em seu plano de ensino, tentando compreender
como eles, enquanto docentes, se posicionam diante dos seus alunos ao empregarem a língua
em suas variadas formas de realização. Para isso, realizamos uma pesquisa de campo
constituída da observação de aulas em uma escola pública e em uma escola privada do
município de Serra Talhada-PE, e a coleta de dados por meio da aplicação de questionários
para professores e alunos das duas escolas envolvidas. Trata-se de uma pesquisa de base
etnográfica, de metodologia basicamente qualitativa e interpretativa, em que avaliamos
especificamente os 1° anos do Ensino Médio. Nessa linha, discutiremos também sobre o
ensino de língua, variação linguística e preconceito linguístico e, para isso, nos apoiaremos
nos pressupostos teórico-metodológicos de estudiosos como Antunes (2007); Bortoni-Ricado
(2004-2005-2009); Marcos Bagno (1999); Coelho e col. (2015); entre outros, e nos
Parâmetros Curriculares Nacionais Para o Ensino Médio – PCNEM. O estudo mostrou que
grande parte dos alunos não tem acesso a uma discussão aprofundada sobre variação
linguística, e que notadamente na escola pública, durante o ensino da língua materna, as
variações linguísticas são geralmente desprezadas e consideradas apenas como um desvio da
norma padrão, o que faz com que os alunos se sintam discriminados pela maneira como usam
a língua. As conclusões foram, como já esperávamos, de que os professores ainda se
encontram muito presos à concepção de que a norma culta é a única possibilidade na língua; e
que, apesar de alguns terem uma nova perspectiva de ensino, como no caso da escola privada,
a discussão sobre variação linguística em sala de aula ainda é muito superficial, não existindo
conhecimento e referência ao que a linguística vem estudando e sobre as novas propostas de
tratamento do tema.
CAPITULO I
Introdução ...........................................................................................................................13
Fundamentação Teórica ..................................................................................................... 16
1.1 A Sociolinguística Educacional.................................................................................... 16
1.1.2 A Variação Linguística e Ensino de Língua Materna ................................................18
1.1.3 O Preconceito Linguístico.......................................................................................... 22
1.1.4 Como os PCN’s abordam a variação linguística .......................................................... 24
CAPITULO II
Metodologia
2.1 A Pesquisa Qualitativa Etnográfica ............................................................................. 26
2.1.2 O Trabalho .................................................................................................................... 28
2.1.3 Pesquisa de Campo .................................................................................................... 29
2.1.4 Coleta de Dados ......................................................................................................... 31
CAPITULO III
3.0 Como o Professor de Língua Portuguesa trabalha com a questão da variação linguística
em sala de aula.................................................................................................................. 33
3.1 Os dados da pesquisa................................................................................................... 33
3.2 Conclusões do estudo com base nos dados da pesquisa............................................. 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 43
REFERÊENCIAS................................................................................................................. 44
APÊNDICES ..................................................................................................................... 45
ANEXOS .......................................................................................................................... 47
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO
Sabemos que é muito difícil, nos dias de hoje, se pensar no ensino de língua materna e
em atividades que contribuam para o desenvolvimento da competência comunicativa dos
alunos sem relacioná-los aos grandes avanços que a Sociolinguística tem apresentado,
principalmente por meio da subárea denominada de Sociolinguística educacional, inaugurada
por Stella Maris Bortoni Ricardo (2004), que abrange todas as propostas e pesquisas
sociolinguísticas que tenham como objetivo contribuir na qualidade do ensino de língua.
Pensamos que ensinar língua nesse caminho pode tornar os alunos mais conscientes e
o ensino menos desigual, por incluir alunos das classes sociais mais baixas na cultura letrada,
fazendo com que esses alunos deixem de se sentir estrangeiros em relação à língua empregada
pela escola e, com isso, consigam participar efetivamente das práticas sociais que demandam
conhecimentos linguísticos diversos.
Contudo, como afirma Antunes em seu livro Muito além da gramática: por um ensino
de línguas sem pedras no caminho (2007, p. 15),
“[é] notado que esses avanços contidos na área da linguagem não têm chegado para
todos e muitas vezes nem mesmo para aqueles alunos que tiveram acesso aos
estudos linguísticos nas escolas, pois a forma como o professor transmite esse
ensino é de fato equivocada na qual se embaralham vários conceitos do que seja
língua, linguagem, gramática, vocabulário etc. Tudo isso se mistura na mente do
aluno, provocando grandes confusões, agravadas por pressões sociais de que existe
um ideal de um falar correto, supostamente mais perfeito e prova de superioridade
intelectual e cognitiva. E o resultado é que, quando se sai da escola sai muito mais
confuso, com uma visão de língua deturpada, reduzida e falseada, terreno favorável
para a gestação de preconceitos e simplismos incabíveis”.
O que depreendemos da reflexão da autora quis dizer com isso é que, para muitos
segmentos da sociedade e muitas vezes até para os professores, a língua e a gramática são
uma coisa só. Para ela, essa concepção parte do fato de ingenuamente se acreditar que a
língua é formada de um único elemento, a gramática, quando na verdade ela é somente uma
pequena parcela dela. “A gramática é apenas um dos componentes da língua cuja função
condiz com a formação de palavras, frases ou sentenças”. Enquanto “[...] a língua, por ser
atividade interativa, direcionada para a comunicação social, supõe outros componentes além
da gramática, todos relevantes, cada um constitutivo à sua maneira e em interação com os
outros. De maneira que uma língua é uma entidade complexa, um conjunto de subsistemas
que integram e se interdependem irremediavelmente” (ANTUNES, 2007, p. 40).
Segundo Bagno em seu livro preconceito linguístico “o que é, como se faz” (1999,
p.69),
Vemos que o trabalho com a linguagem se constitui como algo complexo tanto na sala
de aula como na própria sociedade, por exigir do professor uma postura que vá além do
“certo” e do “errado”, e que leve o aluno tanto a conhecer e valorizar as diferentes variedades
do português como a adquirir o domínio adequado da leitura e da escrita, de modo que até
mesmo os documentos oficiais demostram uma preocupação em relação ao ensino de língua:
os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNEM, por exemplo, sugerem que as aulas de
português no Ensino Médio devem promover condições necessárias ao desenvolvimento de
interação autônoma e ativa de interlocução, leitura e produção textual; condições tão
diversificadas quanto diversa é a sociedade em que os alunos estão inseridos.
Assim se torna impossível, no âmbito atual, imaginar o ensino de língua materna sem
levar em conta as variações linguísticas presentes no cotidiano escolar, podendo estas ser
observadas em diferentes grupos na sala de aula, e às vezes no mesmo falante, a depender da
situação comunicativa. Como afirma Bortoni-Ricardo (2004, p. 25), “[i]sso ocorre na sala de
aula, como em qualquer outro domínio social, [em que] encontramos grande variação no uso
da língua”.
Do mesmo modo, podemos observar que todos nós usamos variações assim como
tanto na escola pública quanto na escola privada existem alunos e outros membros da equipe
escolar que praticam as diversas variedades linguísticas (sociais e regionais). No entanto,
essas pessoas muitas vezes possuem um histórico traumático, pois são inferiorizadas por
determinados grupos sociais, visto que “em toda comunidade onde vivem e convivem
diferentes variedades regionais, os falantes de maior poder socioeconômico transferem esse
“prestígio” para a sua variante linguística que passa a ser vista como uma variedade mais
bonita e mais correta. Em contrapartida, a variedade regional falada por pessoas de menor
poder aquisitivo ou oriunda de uma comunidade rural, é considerada um dialeto “ruim”,
estigmatizado”. (BORTONI-RICARDO, 2009, p.33-34).
Observamos ainda que, no caso das escolas públicas, a situação é até mais
preocupante, pois a maior parte dos educadores tem realizado um trabalho meramente
gramatical, com exercícios muito pontuais, simplistas e pouco fundamentados, evidenciando
somente o conjunto de normas que regulam o uso da norma culta, à medida que as variações
são abordadas como parte de uma língua espontânea, cheia de incorreções.
Por conseguinte, entendemos que o preconceito linguístico não acontece somente pela
forma equivocada comem que o ensino de língua vem sendo instruído nas escolas, mas
também por estar intimamente ligado aos fatores socioeconômicos vivenciados por esses
indivíduos. A escola, no seu papel educativo, deveria tentar amenizar esse problema e
fornecer orientações necessárias quanto à multifacetada diversidade linguística do país.
Assim, é necessário que os professores de língua adotem uma nova postura diante da
concepção de língua e o seu ensino nas escolas, abandonando o acomodamento e reprodução
de antigas práticas tradicionais que acabam por tirar da língua toda a sua realidade social e
dinâmica. Como afirma Antunes (2007, p. 23), “é necessário proporcionar a professores, pais
e alunos em geral, momentos de reflexão sobre a diversidade linguística, para que possam
enxergar na língua muito mais elementos do que simplesmente erros e acertos de gramática e
de sua terminologia”.
Por fim, em meio a tantos trabalhos que se dedicam à mesma questão, o presente
trabalho se constitui importante porque é sempre muito útil que se discuta sobre as práticas
docentes que podem ser aprimoradas, pois, apesar das inúmeras discussões existentes sobre o
tema, ainda há insuficiência de reflexões quando o assunto é o ensino de língua materna.
Além disso, não encontramos nenhum trabalho a esse respeito realizado no município de
Serra Talhada-PE, que foi onde ocorreu a nossa pesquisa e que serviu de base para coleta de
dados deste trabalho.
Logo, considerando a heterogeneidade da língua, este estudo tem como objetivo
analisar de que maneira o professor da educação básica trabalha com a diversidade linguística
em suas aulas de Língua Portuguesa, a. Além de verificar como os alunos têm recebido essa
questão da variação linguística em sala de aula e quais as contribuições dos pressupostos
sociolinguísticos para o ensino de língua maternaportuguesa. O trabalho está organizado do
seguinte modo: nas seções seguintes do presente capítulo apresentam-se a justificativa do
trabalho, a fundamentação teórica, com o embasamento na importância da Sociolinguística
para o ensino e a discussão de seus pressupostos para o ensino de língua materna. No
segundo capítulo, mostra-se a metodologia desenvolvida para a concretização do trabalho
com os passos percorridos, sendo a primeira fase voltada ao desenvolvimento da pesquisa
bibliográfica e a outra de pesquisa de campo com coleta e análise de dados. O terceiro e
último capítulo apresenta a análise dos dados coletados em sala de aula e as conclusões a que
se chegou com o desenvolver da pesquisa.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Bagno no seu texto “Por uma Sociolinguística militante”, ele aborda
que há mais de três décadas, os linguistas brasileiros vêm se dedicando a realizar pesquisas e
elaborações teóricas com o objetivo de construir o mais autêntico possível retrato da realidade
linguística do país. No entanto, é sabido que somente a partir dos anos de 1980, é que as
ciências linguísticas chegaram às escolas brasileiras aplicadas ao ensino de língua materna.
Para Saussure a variação é inexistente, porém, para chegar a nessa conclusão ele
analisou a língua de forma sincrônica e autônoma em relação a aspectos exterioresgeral e
abrangente, como, por exemplo, o falante e suas idiossincrasias e a força do tempo que
possibilita mudanças passando e explicando cada aspecto da língua. De modo que as
variações linguísticas foram descobertas no decorrer das pesquisas. Em contraste ao
pensamento de Saussure surgiu o sócio-variacionismo, que construirá o objeto de estudo
substantivamente heterogêneo, ao invés, de procurar resolver a heterogeneidade no plano não
estruturado.
Apesar dos muitos estudos realizados na área da linguagem, esse movimento de aliar
os achados da Sociolinguística Variacionista, ou Teoria da Variação Linguística, a reflexões
sobre o ensino de língua materna, ainda é bastante tímido e muito recente, tendo como uma de
suas das pioneiras adesse movimento à linguista Stella Maris Bortoni-Ricardo (2004), que
vem se dedicando a fortalecer esse campo de ação denominado dechamado Sociolinguística
Educacional campo esse que ela mesma inaugurou entre nós.
Sabemos que a língua materna, compreendida como a primeira língua que adquirimos
enquanto falantes, é apreendida no convívio social e não através do ensino formal, portanto o
que se ensina na escola não é necessariamente a língua em si, mas sim a gramática normativa
da língua, ficando bastante claro dessa forma que, quando escutamos alguém falar que não
sabe português, que a Língua Portuguesa é uma língua muito difícil, a pessoa deve estar se
referindo à gramática normativa que é ensinada nas escolas e não à sua língua materna, que é
adquirida espontaneamente.
Ainda, nas palavras de Antunes (2007, p. 26), “qualquer pessoa que fala uma língua,
fala essa língua por que sabe sua gramática, mesmo que não tenha consciência disso”. Ou
seja, não é necessário que a escola se preocupe em ensinar a Língua Portuguesa que
normalmente já empregamos no dia a dia, por que já possuímos a capacidade desde criança de
nos comunicar com qualquer outro falante da língua, mesmo que essa linguagem apresente
variações, o que não afeta em nada a comunicação.
Logo, como assegura Coelho e col. (2015), isso acontece por que as variações não
ocorrem por acaso como muitos pensam, mas são regidas por regras que a regem – e é por
isso que os falantes se compreendem entre si, mesmo que sua fala seja variável.
Além disso, os autores explicam que existem forças dentro e fora da língua que fazem
o indivíduo ou um grupo de pessoas falarem da maneira como falam. A essas forças dá-se o
nome de condicionadores, que constituem os fatores que regulam e condicionam a escolha
entre uma ou outra variante, e ajudam também ao analista identificar, por exemplo, qual
contexto é mais favorável para a ocorrência de uma variante em estudo.
Os condicionadores descritos acima por Coelho e col. (2015) são divididos em dois
grandes grupos em função de estarem mais ligados à língua ou mais externos a ela. No
primeiro caso são denominados como condicionantes linguísticos, que ocorrem dentro da
língua num nível lexicaléxico, fonológico, morfológico, sintático ou discursivo. Ou quando
vistas em sua dimensão externa (fora da língua) temos os condicionadores que geram, assim,
diferentes tipos de variações tais como diatópica, diastrática, diafásica, diacrônica e
diamésica.
Com base nos estudos realizados, vamos tentar explicar resumidamente cada tipo de
variação, começando pela variação lexical, onde a diferença acontece, como o próprio nome
já diz, no nível lexicaléxico, ou seja, no vocabulário do falante conforme a região em que ele
nasceu, ou na região em que ele vive. Por exemplo, em alguns lugares dá-se o nome de
“mandioca” ou “aipim” ao que no Nordeste e Norte é denominado “macaxeira”.
Por fim, a variação discursiva está ligada a textos e a relações discursivas maiores,
onde são considerados aspectos semânticos e pragmáticos que envolvem a significação e o
contexto situacional, por exemplo, “Aí minha mãe disse: Ah, pois é, mas eu tenho que pagar
as contas”. Então eu falei: “É, mas vai demorar a receber”. Aí ela disse: “mas, não podemos
esperar”, em que se utilizam os marcadores discursivos “aí”, “pois é”, “então” e “é”.
Após descrever os fatores que ocorrem dentro da língua, os próximos tópicos da nossa
discussão elucidam sobre os tipos de variação extralinguística, a começar pela variação
regional ou diatópica, que está associada à origem do falante. Esta variação se dá por fatores
regionais, e pode ser observada na pronúncia, no vocabulário ou na construção da frase. Por
exemplo, no Rio Grande do Sul, “pipa” e/ou “papagaio” se chama “pandorga”.
A variação diastrática acontece na relação entre locutor e interlocutor com implicação
de alguns aspectos sociais relacionados ao falante como a faixa etária, o sexo, a escolaridade,
a profissão, o meio de convivência e classe social. Em relação à faixa etária diz respeito às
mudanças linguísticas resultante da diferença de idade entre os falantes. Por exemplo, os
termos “irado” e “sinistro” são usados por jovens para elogiar, ao passo que, para pessoas com
mais idade, têm uma conotação negativa.
A variação diacrônica se constitui dediz são variações que ocorrem de acordo com as
diferentes épocas vividas pelos falantes, sendo possível distinguir o português arcaico do
português moderno, bem como diversas palavras que ficam em desuso. Por exemplo: ceroula,
cueca comprida usada pelos homens.
E, por último, temos a diamésica que, de acordo com Martins e col. (2014), é
fundamental que seja reconhecida por todo professor. Assim, mesmo a fala praticada por
falantes com alta escolaridade difere da escrita praticada por esses mesmos indivíduos. Por
exemplo, o falante escreveu: “A menina estava passeando” escreveu a palavra “estava” do
jeito que ele e a maioria dos brasileiros escrevem, mas pronunciaria “A menina tava
passeando”. Ele já entende a diferença entre a língua oral e a escrita, e sabe que na língua oral
ele pode pronunciar ou não o verbo de forma integral, mas que na escrita precisa se monitorar
para recuperar essa ausência.
Assim, por meio dessa breve exposição podemos constatar que, como afirma Marcos
Bagno (1999, p. 47): “Não existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que seja
intrinsecamente ‘melhor’, ‘mais pura’, ‘mais bonita’, ‘mais correta’ que outra. Toda variedade
linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam”.
No entanto, a ciência linguística afirma que não há variação superior à outra, e isso
acontece porque, como diz Bagno (1999, p.18), “[o] fato de no Brasil o português ser a língua
da imensa maioria da população não implica automaticamente, que esse português seja um
bloco compacto, coeso e homogêneo”. O falante não é obrigado a usar determinado modo de
falar apenas porque algumas pessoas, ditas importantes, o consideram como sendo o melhor,
pois as variações são naturais da língua e não são exclusivas da língua portuguesa, todas as
línguas possuem suas variedades, dependendo da origem e do contexto sócio-comunicativo do
falante ao se expressar.
É importante destacar que não queremos afirmar com isso que na língua tudo é válido,
pelo contrário, desejamos que fique bem claro que, apesar da importância de a escola não
discriminar os diversos modo de falar, precisamos possuir as habilidades e conhecimentos
necessários para adequar a nossa fala às situações de uso e ao grau de formalidade que a
situação exige. É necessário, porém, fazer com que a sociedade compreenda que a preferência
por uma variedade “certa” é meramente social e não se justifica do ponto de vista linguístico,
caracterizando desse modo o que chamamos de preconceito linguístico.
Como já foi mencionado no decorrer deste trabalho, e conforme Marcos Bagno no seu
livro “Preconceito Linguístico - O que é como se faz” (1999), o preconceito está relacionado
em grande medida à confusão que foi criada, no curso da história, entre a língua e a
gramática, pois as pessoas tendem a acreditar que língua e gramática se equivalem.
O autor tenta desfazer essa confusão com exemplos simples como que “uma receita
de bolo não é o bolo, um molde de um vestido, não é o vestido”, para esclarecer que “a língua
é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de
descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma culta”.
O que acontece é que tanto nas escolas como nas as mídias sociais nos é transmitida a
crença de que existe uma única língua portuguesa falada no país, que leva as pessoas a
acreditarem que tudo que foge do triângulo escola-gramática-dicionário é errado. Contudo, é
necessário deixar claro que essa concepção não passa de mais um mito difundido de geração
para geração e que é carregado de muito preconceito, uma vez que os gramáticos tendem a
considerar a variação numa escala valorativa, que julga os usos de cada variedade como certos
ou errados, aceitáveis ou inaceitáveis, pitorescos, cômicos etc. Um exemplo disso é o
Rotacismo (a transformação de l em r nos encontros consonantais), como em “Craúdia”,
“praça”, “bicicreta”, um fenômeno linguístico muito comum, mas extremamente mal visto
pelas pessoas.
Bagno comenta que esse fato é comumente analisado pelas pessoas até como um sinal
de “atraso mental” de falantes “ignorantes” que não sabem falar o português, porém ao
estudar melhor a questão, ele diz o quão é fácil perceber que não estamos diante de um traço
de “atraso mental dos falantes”, mas simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu
para a formação da própria língua padrão. Por exemplo: cravo – clavu (latim), frouxo – fluxu
(latim), escravo- sclavu (latim), prata – plata (provençal) e etc.
O rotacismo teve sua participação na formação da língua portuguesa padrão na troca
do l pelo r nas palavras acima, dentre outras. Inclusive no poema original “Os Lusíadas”, de
Luís de Camões, encontramos as palavras “frauta”, “frecha”, “pranta”, bem como a forma
atual “planta”, “flecha” e “flauta”, concorrendo no mesmo texto.
Assim, podemos concordar com Bagno ao dizer que o “erro” nada tem de linguístico,
mas sim de uma avaliação estritamente baseada no valor social atribuído ao falante, no seu
poder aquisitivo, no seu grau de escolarização, na sua renda mensal, na sua origem
geográfica, nos postos de comando que lhe são permitidos ou proibidos, na cor de sua pele, no
seu sexo e em outros critérios e preconceitos estritamente socioeconômicos e culturais. Por
isso é que, muitas vezes, um mesmo suposto erro é considerado como uma “licença poética”
quando surge num texto assinado por um autor de renome ou na fala de um membro das
classes privilegiadas, e como um “vício de linguagem” ou um “atentado contra a língua”
quando se materializa na fala ou na escrita de uma pessoa estigmatizada socialmente.
A citação acima do PCN trazabre para discussão o fato de que, apesar das variações
linguísticas serem amplamente reconhecidas ainda são muito estigmatizadas. Sabemos que as
pessoas são identificadas geograficamente e socialmente pela maneira como falam, entretanto
há muitos preconceitos sobrevindos do valor social atribuído às formas variantes da língua,
principalmente àaquelas usadas por falantes das camadas sociais mais baixas.
“Cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações
comunicativas, especialmente nas mais formais: planejamento e realização de
entrevistas, debates, seminários, diálogos com autoridades, dramatizações, etc.
Trata-se de propor situações didáticas nas quais essas atividades façam sentido de
fato, pois seria descabido “treinar” o uso mais formal da fala. A aprendizagem de
procedimentos eficazes tanto de fala como de escuta, em contextos mais formais,
dificilmente ocorrerá se a escola não tomar para si a tarefa de promovê-la”. (
BRASILBrasil, 1997, pPág. 32)
METODOLOGIA ADOTADA
Neste tipo de pesquisa os dados alcançados se formam pela interação entre os sujeitos,
podendo ser coletados a partir de diferentes procedimentos como observação, fotos,
questionários, entrevistas, gravações de áudios, entre outros; selecionamos esse tipo de
pesquisa para o nosso estudo por compreendermos que não existe processo de aprendizagem,
sobretudo quando se fala sobrede ensino de língua, que não aconteça por meio da interação
entre os sujeitos.
No trabalho de investigação realizado nas salas de aula dos 1° anos do Ensino Médio,
tivemos como artifícios para a pesquisa a observação e a gravação de quatro aulas em cada
instituição, em que o professor abordou a questão da variação linguística no ensino de Língua
Materna. Além disso, houve a aplicação de questionários para os docentes das duas escolas
envolvidas na pesquisa e para os alunos em dois momentos distintos, antes e após a
observação das aulas.
2.1.2 O TRABALHO
Como apresentado anteriormente, o trabalho foi organizado por meio de uma pesquisa
qualitativa de base etnográfica em que se visitaram duas escolas de Serra Talhada- PE para a
coleta dos dados. O trabalho de pesquisa foi elaborado em três etapas:
II. Num segundo momento, realizou-se uma pesquisa etnográfica, constituída por quatro
situações de observação no ambiente de sala de aula, a fim de avaliar a relação de interação
entre professor-aluno e como é realizado o ensino da variação linguística nesse ambiente
específico. Neste momento, aconteceu a coleta prévia de dados, através da observação das
aulas.
III. Por fim, no próprio ambiente de observação, realizou-se a coleta de dados, através de
questionários aplicados aos professores com o propósito de analisar se a teoria é realmente
vivenciada na prática, e novamente com os alunos para averiguar as suas respostas antes do
conteúdo ser abordado pelo docente e quais foram às contribuições dessas aulas para o
conhecimento dos alunos sobre o tópico.
Através da observação das aulas e aplicação dos questionários, foi possível reunir
informações valiosas sobre como os educadores e estudantes se veem em meio às questões
relacionadas à variação e aos usos da língua.
Nas seções a seguir, descreveremos cada uma dessas etapas que formaram a pesquisa.
Por meio dos questionários aplicados e das respostas obtidas através deles,
conseguimos captar que ideia o professor tem sobre língua e qual metodologia que ele
desenvolve ao abordar linguagem e variação, e confrontar as suas respostas com o que foi
observado durante as aulas.
3. Após a observação das aulas foi usado o mesmo questionário aplicado inicialmente
com os alunos. Neste momento, os alunos tinham de dar novamente sua opinião
sobre como usam a língua e sobre como se sentem em relação à atitude do professor
ao usar a língua em formas diferentes da norma padrão, a fim de analisar se as aulas
provocaram alguma mudança na forma dos alunos enxergarem a língua e a variação
linguística.
4- Em suas aulas de Língua Portuguesa você aborda temas que envolvam o uso da língua
materna em situações reais?
4. Na sua sala, tem alguém que fala diferente? Se sim, o que é diferente na fala dessa
pessoa?
5. Em alguma situação, já riram do seu jeito de falar? Se sim, conte como foi.
Tal como foi visto o questionário direcionado aos alunos continha cinco perguntas
relacionadas à variação linguística em sala de aula. Na primeira pergunta, é questionado se
eles gostam das aulas de L. P. e por quê; na segunda se eles sabem o que é variação
linguística; na terceira questiona-se qual variedade ele costuma utilizar com mais frequência,
a coloquial ou a culta; a quarta questão indaga se na sala de aula tem alguém que fale
diferente e, se sim, o que há de diferente na fala dessa pessoa; e a quinta e última pergunta se
refere ao preconceito linguístico, se o aluno se sente discriminado ao utilizar uma linguagem
diferenciada da norma padrão em sala de aula.
CAPÍTULO III
Os dados para análise foram colhidos por meio de questionários aplicados com os
professores e alunos, descritos no capítulo de metodologia. 30 questionários foram aplicados
aos alunos, 16 da escola pública e 14 dpara particular. Além disso, foi solicitado a cada um
dos docentes que respondesse a um questionário, cujas questões e respostasestões estão
apresentadas abaixo.
Escola Particular
98% 97% 90%
70%
5%
Gostam de L. Sabem Usam Afirmaram Nunca
P. definir V.L linguagem existir na sofreram
coloquial sala alguém preconceito
que fale
diferente
Na escola particular, verificou-se que 98% dos alunos gostam das aulas de Língua
portuguesa pela forma que a docente conduz suas aulas e por promover a interação entre os
alunos. O questionário aplicado antes das aulas mostrou que apenas 5% dos alunos sabia
definir variação linguística, enquanto os demais explicaram não saber do que se tratava ou
ofereceram respostas muito vagas. Na terceira questão, 97% dos alunos afirmaram utilizar a
linguagem coloquial.
Quando questionados se na sala de aula existia alguém que falasse diferente, 90% dos
alunos afirmaram que sim, e utilizaram como exemplo uma colega que veio de Brasília, que
utilizava palavras diferentes, tinha um sotaque diferente e que esta inclusive falava mais
sofisticadamente que os demais. Na última questão, onde os alunos foram questionados se já
sofreram algum tipo de preconceito, se já riram da forma que eles usam a língua, 70% dos
alunos afirmaram que não, que nunca zombaram do seu jeito de falar.
Escola Pública
90%
70% 70% 70%
2%
Gostam de L. Sabem definir Usam a Afirmaram Nunca
P. V.L linguagem não existir sofreram
culta diferença na preconceito
fala
Já na escola pública, verificou-se que 70% dos alunos gostam das aulas de Língua
portuguesa, enquanto os demais alunos afirmam não gostar por serem aulas chatas, as quais
eles não entendem. Como vemos porcentual menor do que na escolar particular. O
questionário aplicado antes das aulas mostrou que, apesar da professora ter nos afirmado já ter
tratado do assunto em aula, apenas 2% dos alunos sabiam definir variação linguística,
enquanto os demais responderam não saber nada do assunto ou deixaram a questão em
branco. Além disso, na terceira questão 70% dos alunos responderam que utilizavam mais a
norma culta, inclusive “pelo convívio”. Já quando foram questionados se na sala de aula
existia alguém que falasse diferente, 60% dos alunos afirmaram que não, enquanto o restante
disse que sim, principalmente os advindos da zona rural. Na última questão, em que os alunos
foram questionados se já sofreram algum tipo de preconceito, se já riram da forma que eles
usam a língua, 98% dos alunos disseram que nunca passaram por isso.
Na escola pública, após as aulas, continuamos com a mesma porcentagem dos alunos
afirmando gostar das aulas porque aprendem várias coisas, inclusive qual a forma “certa de se
falar”; na segunda questão, assim como na escola particular, tivemos um aumento expressivo
na quantidade de alunos que conseguiram desenvolver o conceito de variação linguística –
90% dos alunos conseguiram responder à questão; na terceira pergunta, os alunos, apesar de
terem tido as aulas sobre a temática da variação linguística, persistiram em dizer que
utilizavam mais a norma culta, provavelmente porque a professora reforçou a ideia de que a
língua mais correta é a padrão; na quarta questão, que interroga se na sala há alguém que fale
diferente, a maioria dos alunos continuou a afirmar que não e também que nunca sofreram
preconceito.
A diferença mais notável nos questionários aplicados antes a após as aulas foi à
quantidade de alunos que soube definir variação linguística, demostrando ter compreendido o
assunto, apesar de alguns preconceitos ainda se fazerem presentes. Ainda, na observação das
aulas, foi possível perceber que mesmo a professora da escola pública afirmando tratar a
questão da diversidade linguística de maneira coerente, ela acabou se portando de maneira
prescritiva e preconceituosa diante das variedades linguísticas durante as aulas.
A professora também abordou que a língua não é regida por normas fixas e imutáveis
e, por isso, se modifica. E assim começou a explicar as variações linguísticas existentes na
língua. Esta classificou em três grupos: variantes geográficas, variantes sociais e variantes
situacionais. Para abordar a variante geográfica, ela usou o exemplo de “macaxeira” e
“aipim”, escrevendo duas frases na louça e esclarecendo que a diferença se dá pela região a
que cada falante pertence.
Vemos que a professora, apesar de mostrar certo incômodo com a nossa presença, não
se preocupou em tratar a variação com a devida importância, deixando evidente em suas aulas
e no material usado o seu preconceito linguístico e social ao fazer essa explanação sobre a
língua. Vemos que essa situação vivenciada na escola da rede pública confirma o que outras
pesquisas etnográficas sobre o tema já demonstraram: que se faz uma relação entre beleza e
feiúra e língua “certa” e língua “errada”.
Além disso, a professora fez uso de uma tirinha de humor em que o humor da tira
acontece pelas palavras ditas por um papagaio, que fogem ao padrão – “bicicreta”, “cocrete” e
“cardeneta” – e, por esse motivo, a nova dona do papagaio iria devolvê-lo. Nas questões
seguintes à tirinha é perguntando aos alunos qual seria a forma certa dessas palavras, o que
não deixa de ser uma correção inadequada da variante social para a norma padrão da língua.
Por fim, a professora passou uma atividade para os alunos, que continha oito questões
para serem respondidas individualmente. As questões não exigiam muito dos alunos, havia
apenas uma questão aberta cuja resposta estava no material de apoio distribuído no início da
aula, enquanto as outras eram de verdadeiro e falso, associação, e de completar frases. Em
nossa opinião, o método tradicional usado pela professora da escola pública e a atividade
proposta são muito elementares para 1° ano do Ensino Médio, pois não dão abertura para os
alunos interagirem e não fazem com que os alunos reflitam sobre a língua. Este ensino
voltado somente para classificação de frases, ou na memorização de nomenclaturas é, na
nossa opinião, tempo perdido, que poderia ser preenchido com atividades de análise e
reflexão.
E no que diz respeito à aula de fato, a professora usou uma apresentação em slides para
abordar o assunto. Na nossa opinião, ela gastou muito tempo da aula explicando o que era
linguagem e os tipos de linguagem existentes, verbal, não verbal, mista, para poder chegar ao
nosso tema da variação linguística. Para explicar os tipos de linguagem, a professora utilizou
vídeos, tirinhas, ilustrações, obras de arte e discutia de que tipo de linguagem se tratava, além
do sentido de cada uma delas. Em seguida explicou para os alunos o que seria o código, que a
língua portuguesa seria um código e conceituou língua como mutável, que sofre alterações
com o tempo, que as pessoas modificam e inserem palavras na língua o tempo inteiro. Após
isso abordou a linguagem coloquial como a linguagem espontânea utilizada em situações
informais e linguagem culta como variante formal, de mais prestigio, usada em situações
formais e em trabalhos escolares.
Seguindo a ordem dos slides, a professora abordou a variação diatópica e, para isso,
levou uma série de palavras, “dida”, “sacolé”, “cacetinho”, “pão”, e foi explicando que, a
depender da região, a língua varia, apesar de usarmos o mesmo código.
Já para abordar a variação diafásica, a professora da instituição privada fez uso de uma
tirinha de um homem de terno na praia empregando a norma culta com um surfista, e
questionou os seus alunos se o uso estava adequado para aquela situação. Os alunos
responderam que não e mostraram compreender o que a professora apresentou. No geral, a
aula foi bastante proveitosa, visto que a professora abordou bem o tema e utilizou diversos
recursos para chamar atenção de seus alunos, esquivando-se do método tradicional de ensino.
Por fim, a professora aplicou três questões do ENEM sobre a questão da variação, deu
um intervalo de tempo para que os alunos as respondessem e depois fez a correção em voz
alta com os alunos.
As duas professoras, a da escola pública e a da escola privada, quando questionadas,
afirmaram utilizar os pressupostos da Sociolinguística em sua prática docente. Contudo, no
caso da escola pública, constatamos através das observações que o que a professora alegou no
questionário não condiz com a realidade, o que ficou bastante claro, dada a incoerência dos
dados obtidos nas observações com as respostas dadas pela professora da escola pública.
É importante ressaltar também que acreditamos que o tema da variação só foi tratado
com a devida importância na escola privada pela presença da pesquisadora e pelo fato de as
aulas terem sido gravadas, levando em conta que, apesar de o tema já ter sido tratado
anteriormente, poucos alunos sabiam definir variação linguística no questionário aplicado
previamente às aulas observadas.
ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino sem pedras no caminho. São
Paulo: Parábola Editorial. 2007
ANTUNES, Irandé. No meio do caminho tinha um equivoco: Gramática, tudo ou nada. In:
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BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
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SILVA, M.B. da. A escola, a gramática e a norma. In: BAGNO, M.(org.). Linguística da
Norma. São Paulo: Loyola, 2002.p. 253-265
Travaglia, L.C. Gramática e interação: uma nova proposta para o ensino de gramática. São
Paulo: Cortez. 2009.
ANEXOS
ANEXO 01- Material usado pela professora da escola privada
ANEXO 02- Material usado pela professora da escola pública