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Praticas Interdisciplinares Na Escola PDF

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FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. (Org.). Práticas Interdisciplinares na Escola. 8. ed.

São
Paulo: Cortez, 2001 (1981). 147 p.

Pesquisadores e Pesquisas nas Práticas Interdisciplinares:


Uma questão de Perceber-se

Práticas Interdisciplinares na Escola é o livro em que Ivani Catarina Arantes Fazenda e seus
parceiros, alunos da PUC/SP – hoje professores em diversas Universidades, desvelam o
estudo de um ano sobre a teoria da interdisciplinaridade, ao entrelaçá-la com as práticas da
sala de aula. Um momento de registro das experiências e das dúvidas que circundam esse
estudo. Essa produção foi editada pela Cortez, em 2001 e é fonte reveladora de que um
projeto interdisciplinar requer uma revisita ao “interior” para compreendermos os momentos
pessoais e profissionais marcados pela inter, às vezes, inconscientes. É um exercício imerso
na reflexão!
Fazenda ressalta que “perceber-se interdisciplinar é o primeiro movimento em direção a um
‘fazer’ interdisciplinar [...]” e sobre isso, sensibiliza-se com o olhar de poetiza de Maria Elisa
de M. P. Fereira, quando esta nos presenteia com o Prólogo: Perceber-se interdisciplinar. Um
lindo poema que retrata a metamorfose que cerceia a interdisciplinaridade, bem como o
movimento de um pesquisador que se percebe bebedor dessa fonte.
Nessa coletânea, a professora Ivani Fazenda traz o texto Interdisciplinaridade: definição,
projeto, pesquisa e busca reflexibilizar os aspectos epistemológicos e práticos que cingem a
construção de um projeto interdisciplinar. Destaca que esse tipo de pesquisa tem
desabrochado em uma crescente no meio acadêmico, principalmente a partir dos anos 1990.
Todavia, muitas são as compreensões errôneas que envolvem a interdisciplinaridade, o que
faz com que essa seja pronunciada por muitos, porém praticada por poucos. Há nela a
presença da “insegurança”, mas esta deve ser assumida com responsabilidade para que a
dúvida não seja postergada ou camuflada, pois sem a inserção do ato reflexivo, torna-se
vazia de sentido, como nas práticas tradicionais. Desse modo, a insegurança impele o
movimento do pensar, que por sua vez se mostra como ambíguo. Portanto, invoca o diálogo
com as outras áreas do saber e gera a parceria das nossas incertezas/certezas com as de
outrem. Nesse momento vive-se e exerce-se a interdisciplinaridade. Contudo, há algumas
barreiras a serem vencidas (material, pessoal, institucional e gnoseológica), o que requer
uma “atitude” ousada perante as formas de saber e de se fazer pesquisa. Pesquisa
interdisciplinar, nesse contexto, é para todos aqueles que se propõem a fazê-la; é um
projeto que nasce na prática e é aprimorado com a teoria.
Maria Elisa de M. P. Ferreira, em Ciência e Interdisciplinaridade aborda essa íntima relação e
reflete sobre como se tem pensado ciência e como esta vem sendo pensada atualmente.
Ferreira revela que a nossa atual civilização tem visto a natureza como algo separado de
nós, como se isso fosse possível. Sabe-se dessa interconexão entre vida-natureza; então,
por que não a materializamos? Por que experienciamos a Ciência como se ela não nos
pertencesse? Por que há tamanha dificuldade em se “renovar” o modo de pensar se os
saberes estão em constante transformação? Ao refletir acerca desse esfacelamento, faço-me
essas perguntas enquanto leitor/professor/pesquisador. É preciso refletir e assumir uma
atitude; atitude essa, interdisciplinar.
Ismael Assumpção apresenta Interdisciplinaridade: uma tentativa de Compreensão do
fenômeno. Um texto bastante interessante porque clarifica o conceito de
interdisciplinaridade, em suas particularidades; o prefixo “inter”, o sufixo “dade” e
“disciplina”. Dessa maneira, auxilia o entendimento desse termo, atualmente tão
pronunciado no cenário da educação, porém, muitas vezes vazio de significado.
Dirce Encarnación Tavares, em Aspectos da História desse Livro, mostra o “caminhar” de um
grupo em relação aos estudos sobre a interdisciplinaridade. Um caminhar de pares – sempre
diferentes – mas que possibilita a visão de um todo maior, desejoso e envolvente. Relata a
“perseguição” pela utopia de ser interdisciplinar, orientados por Ivani Fazenda e, pelo fato de
acreditarem tê-la alcançado, registraram as suas produções nessa coletânea, o que exigiu
uma organização (cada participante teve a sua). A autora novamente reforça que a teoria
“pura” empobrece e impede a visão da totalidade. Esta necessita ser consubstanciada pela
prática.
Sandra Lúcia Ferreira, com Introduzindo a noção de Interdisciplinaridade, destaca que essa
se encontra envolta da complexidade, pois muitas são as confusões que a cerceiam.
Confusões acerca do significado, sobre o seu campo de atuação, sobre a sua atitude... Para
compreendê-la melhor, Ferreira apropria-se da metáfora da “Sinfonia”, para dizer que as
partes que auxiliam a compor o som (todo) são unas, mas estão em harmonia, são
coerentes. Em movimento, encantam-nos com o som produzido. Este, porém, não se iguala
a nenhum outro; é também, singular. Assim é a interdisciplinaridade: impossível de ser
definida como sendo apenas uma, pois não é ouvida/tocada/regida de igual modo. Aqui está
a beleza do pensar e ser interdisciplinar, pois há respeito, humildade, parceria – vistos como
componentes da sinfonia.
Leci S. de Moura e Dias traz o texto Interdisciplinaridade: em tempo de diálogo. Nessa
produção, a autora estabelece um diálogo consigo mesma e busca selecionar aspectos que a
permitam compreender ações passadas e presentes, para vislumbrar possibilidades diversas
no que está por vir. Dessa forma, reflete sobre a sua prática inicial (funcionalista) e a
transformada (dialética/interdisciplinar). Nesse relato, Dias enfatiza a importância do grupo
na sistematização e organização dos seus registros, pois não basta ser “ator”, é preciso
sentir-se “autor” vivo no momento da escrita, da práxis e da pesquisa. Somos singulares,
portanto, assim nos assumamos! Apreender sempre de novo e de novo sempre.
Ruy C. do Espírito Santo, em Uma experiência Interdisciplinar, revela que as leituras por ele
realizadas foram aproximadas de sua prática, e a ressignificaram de tal modo que ele a
relata e a avalia com poesia – uma outra marca. O autor nos contagia com a sua descrição,
pois permitiu-se, enquanto professor, inserir a interdisciplinaridade em suas salas de aula.
Esses momentos de presença interdisciplinar ocorreram quando foi desenvolvido um trabalho
com a identidade dos alunos, com o trabalho da História sobre o hoje/agora e, através da
presença da utopia, que por meio do desejo de um ou muitos sonhos, é capaz de
metamorfosear espaços e modos de pensar/ser. Houve um habitar da interdisciplinaridade,
pois percebeu-se o mais íntimo dos seres, o sentido do aparente caos que se mostra e as
mudanças que se processam nesse viver.
Maria de Los Dolores J. Peña, em Interdisciplinaridade: questão de Atitude mostra-nos o
sentimento gratificante de quem se descobre interdisciplinar, de quem assume esta atitude.
Para isso, Peña conta a sua trajetória de professora/pesquisadora, que apreendeu a lidar e a
perceber essas questões em sua prática. Suas reflexões vão desde as dificuldades iniciais
encontradas até as benécies do ponto de chegada, que não se finda. Permito-me aqui,
utilizar a epígrafe (Bertold Brecht) que autora nos apresenta para reafirmar a força do
professor: “Se não morre aquele que escreve um livro ou planta uma árvore, com mais razão
não morre o educador que semeia a vida e escreve na alma”. Nesse sentido, somos vida e
por isso fazemos parte da renovação!
Derly Barbosa, com A Competência do Educador Popular e a Interdisciplinaridade do
Conhecimento, relaciona uma experiência vivenciada em Osasco, com a Educação de Jovens
e Adultos, nas disciplinas de História e Geografia. Destaca que, inicialmente, houve uma
intenção e o desejo interdisciplinar, mas que esta se deparou com muitas dificuldades até
chegar à ação. Nesse momento, outros empecilhos, principalmente os de ordem política (ser
aceito pelo grupo) e os de competência se apresentaram. Foi preciso mostrar a possibilidade
de se fazer diferente e envolver a todos com as novas formas de pensar e fazer as referidas
disciplinas. Fez-se necessário atribuir sentido e significado, bem como, relacionar essas
aprendizagens com o conhecimento cotidiano (popular), pois dele emanam as possibilidades
de efetiva compreensão. Por isso, Barbosa enfatiza que “[...] ser interdisciplinar, hoje,
requer uma atitude política e pedagógica que demanda coragem, despojamento e muita
dedicação”.
Laurizete F. Passos e Maria de Fátima Chassot, com o texto Interdisciplinaridade,
competência e escola pública, discutem e habitam esses conceitos através do relato de um
estudo de caso, pesquisa essa coordenada pelas professoras Ivani Fazenda e Marli André, da
qual ambas faziam parte. Utilizam-se das horas de observações sobre uma professora, em
sua classe e com seus alunos, na busca de entremear o observado com o vivido, ou seja,
encontrar na história de vida a fonte organizadora do hoje. Perceberam na vida da
professora Luciana a presença do equilíbrio – o seu fio condutor; condutor de sua vida e de
sua práxis como educadora, pois isso pode ser percebido nos relatos apresentados. Uma
prática que emana envolvimento, competência e a solidão de muitos professores e
professoras que se atrevem a ver diferente o que tem sido visto de igual modo por anos...
Luciana é reveladora dessa força que habita em nós, que nos faz a cada dia, percebermos o
porquê somos educadores em meio à todas as adversidades que se apresentam. Ela nos
mostra que a boniteza de apreender e de ensinar sobrepõe-se às amarras e que é muito
melhor vivermos felizes. Felizes, porque a vida/profissão continuará seguindo o seu curso e,
“cá pra nós”, é muito melhor vivê-la com um sorriso estampado no rosto. Faz bem para
mim, para os outros e para a alma!
Marisa Del Cioppo Elias e Marina Graziela Feldmann, em A busca da Interdisciplinaridade e
Competência nas Disciplinas dos cursos de Pedagogia entendem ser um curso de Pedagogia
aquele que forma educadores “competentes”, com saberes sistematizados, capazes de criar
uma metodologia própria para construir esses conhecimentos. Isso implica novas maneiras
de aceitar e ministrar esse processo de formação, o que revela o descontentamento com as
já existentes. Além disso, as mudanças, geralmente, não são fáceis de serem aceitas, o que
torna esse trabalho, a princípio, solitário. Citam o trabalho desenvolvido em algumas
disciplinas que compõem o curso (Metodologia, Prática de Ensino, Estágio Supervisionado e
Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º Graus). Um trabalho ousado, novo,
criticado... entre tantas outras acepções, mas que se mostra revelador da possibilidade de
mudança quando se parte para a ação, com uma atitude interdisciplinar.
João Baptista Winck, no texto Tevê: a Sedução Interdisciplinar versa sobre a importância dos
cursos de Comunicação e da necessidade de seus currículos serem ressignificados para
condignarem-se com as novas concepções de formação e de constituição que os cingem.
Winck discorre sobre a disciplina que leciona na Universidade Paulista (UNIP), Comunicação
Comparada I, e conduz os leitores a acompanhá-lo nas dezoito semanas de duração e
discussões que compõem a referida disciplina. É um caminho bastante interessante,
revelador do imperioso papel da comunicação em nossas vidas, principalmente quando
televisadas. O autor compara a comunicação televisiva à interdisciplinaridade, pois essa
utiliza diferentes linguagens para explicitar as suas informações, sem perder as suas
particularidades. Entretanto, no momento em que apresenta o processo de avaliação final
desse estudo, sinaliza para as precariedades da Academia ao desenvolver a
interdisciplinaridade. Muitas barreiras devem ser vencidas. Além da intenção, é preciso
“preparar” o espaço e solidificar a ação.
Mercedes A Berardi, em Da saia pregueada e da calça Lee: construindo a representação
Interdisciplinar, retrata a sua trajetória, saindo do Paraná (saia) e chegando a São Paulo
para estudar na PUC (calça). Em toda essa diferente forma de ser e de agir, a metamorfose
fez-se presente. Uma mudança significativa que a acompanhou como professora, e referenda
Solange, um nome fictício que ela utiliza para destacar a importância do trabalho em
parceria do Pré aos Programas de Pós-Graduação. Sob essa ótica – a interdisciplinar –
comunga com Fazenda (sua orientadora) sobre a necessidade da transformação individual
para que as práticas possam ser transcendidas e aprimoradas. Todavia, a força para essa
mudança é encontrada no outro, que ao mesmo tempo, também se abastece de minha força.
Formamo-nos, assim, “eus” e “outros”, simultaneamente.
Ivani C. A. Fazenda, com o texto O Trabalho Docente como síntese Interdisciplinar, expõe as
suas reflexões acerca da relevância do processo de pesquisa, bem como as dificuldades
encontradas por seus orientandos ao relacionar a prática vivida com a teoria estudada. Essa
dicotomia impera no meio educacional, mas pode ser ressignificada com a observação e a
descrição dos fenômenos que se apresentam. Logo, essa descrição requer a inserção de uma
análise teórica, porém, simples e conforme a autora, “a explicação dos fatos se torna mais
simples, na medida em que o pesquisador vai apropriando-se [...]”, ou seja, quanto mais se
conhece e habita o espaço da pesquisa, mais “envolvida” e atrativa torna-se a sua escrita.
Esse processo de registro não é tão singelo. Inicialmente caótico, acaba por tornar-se coeso
quando os aspectos mais importantes são priorizados. Sobre esse trabalho acerca da
pesquisa em educação, Fazenda elenca outros trabalhos por ela coordenados e compilados
em livro, o que representa que não basta razão para produzir conhecimento, é preciso
pensamento e este, é singular a cada um dos sujeitos que dele se utilizam nesse processo
infindável de saber.
Regina Bochniak, em O Questionamento da Interdisciplinaridade e a Produção do seu
Conhecimento na Escola tece reflexões em relação aos “questionamentos” que cingem o
contexto interdisciplinar/escolar. Essa temática é bastante complexa, o que não dá a
condição pretenciosa de seu pesquisador “achar” que tudo sabe. A autora relata o seu pensar
“ontem” e “hoje” a respeito da interdisciplinaridade, sempre envolvida com inquietações,
olhares diferentes... Isso, por sua vez, demonstra ser esse tema sempre atual. Bochniak
reconhece o trabalho da professora Ivani Fazenda, exemplo vivo da humildade e da parceria
interdisciplinar no Brasil, como sendo ousado e disposto a continuar essa pesquisa – como já
dito, complexa. A atuação desse estudo requer a incursão de uma atitude interdisciplinar,
diante das formas de ser e de saber; uma atitude capaz de lidar com as ambigüidades que
envolvem os atos de apreender e de pesquisar, que mesmo saciada, momentaneamente,
vislumbra a possibilidade de revigorar-se.
Carla M. A. Fazenda e Mírian Machado finalizam com Ubaiatu: “Canoa das águas
aplaudentes”... Um lugar para a Interdisciplinaridade. As autoras apresentam o Ubaiatu, um
palco-teatro em que se processa o “drama desse novo homem”. Historicizam o surgimento
do teatro com as suas formas e relacionam-no com a Interdisciplinaridade. Nesse palco, as
pessoas fazem parte da platéia; assim como na pesquisa interdisciplinar, onde os
pesquisadores utilizam suas práticas para compreender a totalidade da teoria. É um espaço
que se movimenta, sem fronteiras, que aceita a presença do público com todas as suas
facetas. A inter também é isso. Aconchega a todos os que querem encontrá-la, envolve os
sujeitos em um ritual de saber e não saber, mas com a harmonia necessária de se perceber
a totalidade do espetáculo, bem como cada cena em particular. É uma forma de respeito; é
Ubaiatu; é interdisciplinar.
Assim, o presente livro é revelador da pesquisa interdisciplinar e nos mostra que essa ocorre
– com toda a rigorosidade que cabe à Ciência, porém, com o respeito às especificidades de
cada pesquisador. E você, leitor/a, como você se “percebe” na interdisciplinaridade?

Resenha produzida por Leomar Kieckhoefel

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