O - Tutor - Virtual - Na - Ead TESE DANIEL MILL
O - Tutor - Virtual - Na - Ead TESE DANIEL MILL
O - Tutor - Virtual - Na - Ead TESE DANIEL MILL
15
Destaca-se que, neste trabalho de tese, estamos utilizando o termo mediação e a
expressão por meio de como intercambiáveis. Ainda que isso tenha ocorrido apenas
de forma eventual, é importante que se tenha claro que, conceitualmente, não são
sinônimos e que nem sempre são intercambiáveis. Em verdade, o termo mediação é
bastante confuso e, com certa freqüência, utilizado inadequadamente. Enquanto por
meio de refere-se a um simples veículo de alguma coisa, mediação mostra-se
bem mais complexo. Por exemplo, a compreensão de mediação pressupõe a
consideração sobre os seus diversos elementos constitutivos e sujeitos envolvidos no
processo. Essa complexidade pode ser percebida no argumento de Cavalcanti (2005:
189): a relação sujeito-objeto não é de interação, é dialética, é contraditória e é
mediada semioticamente. A mediação semiótica, por sua vez, é uma mediação social,
pois os meios técnicos e semióticos (a palavra, por exemplo) são sociais.
62
trabalhador docente da educação a distância mediada por tecnologias digitais
conhecido como tutor virtual, que estará no centro da análise deste texto. O
objetivo deste texto é compreendê-lo melhor: onde ele se localiza na estrutura
organizacional da EaD, quais são suas competências principais, que
tecnologias ele utiliza, quais males acometem sua saúde, sua logística de
trabalho, sua concepção sobre aspectos agradáveis ou desagradáveis do
trabalho na EaD, entre outros aspectos. Enfim, repetimos, como o objetivo
deste capítulo é compreender o trabalho do tutor virtual isto é, identificá-lo
na estrutura polidocente do magistério a distância , os dados coletados
foram apresentados com cruzamentos simples, de forma mais descritiva do
que analítica. O objetivo foi mais caracterizar o trabalhador da docência virtual
do que analisá-lo. A análise ficou para os capítulos seguintes. Aqui, teremos
apenas uma base para outras análises. Portanto, as análises sobre
coletividades virtuais, tempos e espaços de trabalho virtual, meios virtuais de
trabalho ou sobre relações sociais de sexo no trabalho virtual partirão dessa
caracterização que aqui faremos.
63
espaços e tempos de convivência ou exploração humana. Na Idade Mídia não
há muita vida sem mediação midiática. As tecnologias de informação e
comunicação, em especial, conseguiram penetrar nos poros da sociedade e,
também, dos indivíduos, na sua privacidade. Todos os setores da economia
experimentam alguma influência dessa convergência midiática característica
da Idade Mídia. Alguns setores a assimilaram rapidamente e a utilizam muito
intensamente. Outros, porém, a exemplo da educação, resistiram por longo
tempo a admitir os benefícios (e malefícios) das tecnologias de informação e
comunicação em suas atividades. Mas aconteceu! Até a educação já utiliza
intensamente tais tecnologias. Nos últimos dez anos, com o desenvolvimento
das tecnologias digitais, a modalidade de EaD passou por uma perceptível
evolução nas suas formas de organização16. As tradicionais formas de
educação não-presencial, que se baseavam quase que exclusivamente no
material impresso, cederam lugar a novas iniciativas de ensino-aprendizagem
a distância. Não tardou muito para que a educação ingressasse no enorme
grupo de áreas dominado pela telemática: um dos últimos espaços a ser
conquistado pelas tecnologias da Idade Mídia.
Nesse contexto de evolução tecnológica, surgem em todo o território
brasileiro propostas de formação profissional por meio da educação a
distância. Esse movimento encontra favoráveis ventos no âmbito social e
político. Socialmente, porque a demanda por vagas na educação pública
superior sofrera aumento exorbitante e, por conseguinte, politicamente,
porque os governantes viram na EaD uma alternativa de atender à demanda
social pelas vagas nas universidades. Enfim, a criação de novas vagas ou
mesmo de novas universidades públicas para o atendimento da demanda
social cedeu lugar à implementação de programas de educação a distância no
âmbito da educação superior. Esse movimento torna-se, subitamente,
gigantesco e chega a roubar a cena das iniciativas de investimento público nas
universidades privadas. O vegetativo aumento das vagas nas universidades
públicas e o vertiginoso crescimento das vagas em universidades particulares
acabaram cedendo lugar a investimentos na EaD. Tanto as universidades
16
Dados estatísticos sobre a evolução recente da educação a distância no Brasil podem ser
encontrados, resumidamente, em SINPRO-SP (2006) e, mais detalhadamente, em ANUÁRIO...
(2005) ver resumo no Anexo H.
64
privadas quanto as públicas foram levadas a criarem propostas de educação a
distância.
Todo esse processo esclarece, ainda que superficialmente, os motivos
de quase todas as universidades virtuais terem surgido no seio de
universidades presenciais tradicionais. Desconhecemos a existência de alguma
universidade totalmente virtual. O modelo mais recorrente foi a germinação de
uma Unidade de EaD, vinculada espaço-temporalmente a uma instituição
presencial proponente, no seio da qual deveria crescer e tomar corpo.
Entretanto, mesmo após adulta, essas instituições de EaD não conseguiram
(ou não quiseram) perder o vínculo com as instituições maternas. Grosso
modo, uma Unidade de EaD (ou NEaD Núcleo de Educação a Distância)
nasce numa instituição presencial com os elementos demonstrados na
Figura 2.1.
65
Figura 2.1. Elementos básicos necessários para o oferecimento de cursos a
distância (organização do NEaD Núcleo de Educação a
Distância) Fonte: Esquema criado pelo autor, com base em
informações prestadas pelos participantes da pesquisa e disponíveis em
manuais dos cursos ou nas páginas de Internet dos cursos.
66
Enfim, a esse conjunto articulado de trabalhadores, necessário para
a realização das atividades de ensino-aprendizagem na educação a distância,
denominamos de polidocência17 (MILL, 2002). Belloni (2003: 79) também
refere-se a esta nova divisão do trabalho pedagógico. Ela questiona: Afinal,
quem ensina em EaD? Sua sugestão de resposta (emprestada de Keegan,
1983) é: Em EaD quem ensina é uma instituição. Por considerar imprecisa a
definição de uma instituição que ensina, preferimos nos referir a um
polidocente18. Eis, portanto, a primeira precisão: Quem é o docente da
educação a distância? Quem educa na EaD? Nossa sugestão de resposta: Em
EaD quem ensina é um polidocente.
Daí emerge a necessidade da segunda precisão para caracterizar o
trabalhador da educação a distância como um teletrabalhador. Questão-chave:
Qual dos “profissionais” da EaD que compõem a polidocência está sob análise
nesta investigação? Antes de falar em telepolidocência, que seria a
polidocência a distância, preferimos deixar claro que nem todos os
trabalhadores da EaD realizam suas atividades a distância e, portanto, não
podem ser caracterizados como teletrabalhadores.
Pelos dados coletados, observamos que, em geral, o grupo de
profissionais que compõem a equipe de oferecimento de um curso pela
educação a distância conta com:
� Um grupo coordenador da unidade de EaD, composto
geralmente por:
� Uma coordenação geral, por vezes casada com a coordenação
administrativa, que dispensa comentários sobre suas
responsabilidades.
� Uma coordenação pedagógica, que cuidava do
acompanhamento pedagógico (atividades de elaboração do
17
O conceito de polidocência, introduzido por Mill (2002: 16), é similar ao conceito de
trabalhador coletivo, tratado por Belloni (2003). Todavia, no texto de Mill (2002) poderão ser
percebidas algumas distinções sutis, como a necessidade de enfocar o grupo de trabalhadores
que desempenhariam o papel de docente. O conceito POLIDOCÊNCIA não se refere a qualquer
coletivo de trabalhadores, mas ao coletivo de trabalhadores que, mesmo com formação diversa,
é responsável pelo processo de ensino-aprendizagem de um determinado curso.
18
Belloni (2003) utiliza o composto professor coletivo, mas também não o consideramos
adequado, pois, além da importância do uso de apenas um termo para tal significação, a idéia
de professor remete à necessidade de aula. Em geral, as atividades de ensino realizadas no
âmbito da educação a distância não caracterizam o que tradicionalmente é denominado de aula.
67
material didático, relação tutor-alunos, adequação da
metodologia etc.).
� Uma coordenação tecnológica ou coordenação de informação
e comunicação, responsável por produzir ou coletar e
sistematizar informações sobre as atividades do curso para a
tomada de decisão, gerenciando o fluxo das informações para
viabilizar a comunicação entre os envolvidos.
� Um coordenador para cada curso oferecido na instituição, sendo
responsável por todas as atividades e pelos professores do curso
que coordena.
� Um coordenador para cada disciplina, responsável pela elaboração
do conteúdo da respectiva disciplina e pela coordenação das
atividades dos tutores e monitores vinculados a esta disciplina. Em
alguns cursos, observamos que esses docentes oferecem aulas
por videoconferências e que, por vezes, são equivocadamente
chamados de conteudista ou de professor.
� Um grupo de tutores, em geral, divididos em duas ou mais
categorias:
� Tutores virtuais, responsáveis pelo acompanhamento
pedagógico de um grupo de alunos e, ou, de um grupo de
tutores presenciais, por meio de tecnologias virtuais. Este
trabalhador é especialista na área de conhecimento da
disciplina em que trabalha e está subordinado, em todos os
sentidos, ao coordenador desta disciplina. Etimologicamente,
ele é a imagem mais próxima do professor da educação
tradicional.
� Tutores presenciais ou locais, responsáveis pelo
acompanhamento de um grupo de alunos do curso (em todas
as disciplinas). Não é, necessariamente, especialista em
nenhuma área de conhecimento (disciplina) do curso e sua
função é pouco mais que assessorar os alunos no contato com
o tutor virtual e com a instituição. Por vezes, são
denominados de monitores.
� Técnicos e monitores, responsáveis pela viabilização técnico-
pedagógica da comunicação, pela produção de material didático
68
etc. (são animadores, webdesigners, informatas, digitadores,
desenhistas ou um pouco faz-de-tudo).
19
Uma pequena precisão é necessária em relação ao que consideramos polidocência. Também
na educação presencial temos outros profissionais participando do processo de ensino-
aprendizagem: técnicos, laboratoristas, gestores etc. e não são considerados docentes. A
precisão que queremos fazer diz respeito à obrigatoriedade de ter ou não esses profissionais
não-docentes da educação presencial, ou, ainda de utilizar seus serviços ou não. Na educação a
distância não há a opção de um único profissional realizar toda a aula porque, via de regra, a
quantidade de aluno ou a complexidade do processo de trabalho impossibilita a unidocência.
Se trabalhar um conteúdo ou dar uma aula isolada via Internet for considerado como EaD,
logo, não há polidocência. Uma aula ou palestra virtual não configura EaD e pode dispensar a
polidocência. Portanto, a polidocência pressupõe um programa de EaD com atividades e
quantidade de alunos não-suportáveis para apenas um docente realizar ou atender.
69
oferecimento dos cursos e vários pólos de recepção e apoio presencial ao
aluno. Em geral, esta segunda forma de organização pode acontecer pelo uso
conjunto das mídias impressa, eletrônica ou digital, isto é, o curso é realizado
por meio de: livro-texto, CD-Rom, vídeo, TV, Internet, videoconferência,
rádio, entre outras mídias. A Universidade Aberta do Brasil (UAB), proposta
pela SEED-MEC, é uma das mais recentes experiências de grande porte que se
propõe numa organização do tipo central-pólos.
Representamos graficamente os dois tipos (Figuras 2.2 e 2.3) com o
objetivo de facilitar a visualização de onde estão localizados os educadores
virtuais que contribuíram para nossa investigação. Todas as instituições onde
coletamos dados enquadram-se num desses modelos.
Pela Figura 2.2, observa-se que o trabalhador da educação a distância
que desenvolve atividades por meios virtuais é basicamente o tutor virtual.
Esse docente pode ser o professor que desenvolveu o conteúdo ou o material
didático do curso ou pode, ainda, ser algum outro trabalhador (ou grupo de
trabalhadores) designado(s) para fazer o acompanhamento pedagógico dos
alunos no ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Também na Figura 2.3
podemos verificar que o trabalhador que realiza as atividades virtualmente é o
tutor virtual. Em geral, cada conteúdo pedagógico (ou disciplina) possui um
grupo de tutores virtuais sob a coordenação de um educador que preparou o
material didático (coordenador de disciplina). É preciso que fique claro que,
nesta estrutura organizacional, em que o acompanhamento pedagógico dos
alunos é feito com o apoio de uma equipe localizada geograficamente próxima
dos alunos, também é somente o tutor virtual que realiza as atividades a
distância. Ou seja, quando falamos em teletrabalhador docente, estamos
falando basicamente de um grupo de trabalhadores específicos: os tutores
virtuais. Apenas esses trabalhadores podem ser caracterizados como
teletrabalhadores da educação a distância, e isso independe do modelo
organizacional da proposta pedagógica. Foi por esse motivo que apenas os
tutores virtuais participaram da presente investigação. Interessa-nos,
portanto, apenas esse grupo de trabalhadores. Como dissemos, os diagramas
apresentados anteriormente tinham o simples objetivo didático de indicar a
localização dos tutores virtuais na estrutura organizacional de uma Unidade de
Educação a Distância.
70
Figura 2.2. Estrutura organizacional de cursos de educação a distância
oferecidos por meios virtuais (Internet) Fonte: Esquema criado pelo
autor, com base em informações prestadas pelos participantes da
pesquisa e disponíveis em manuais dos cursos ou nas páginas de Internet
dos cursos.
71
Figura 2.3. Estrutura organizacional de cursos de educação a distância
oferecidos por uma central e com o apoio de pólos presenciais
Fonte: Esquema criado pelo autor, com base em informações prestadas
pelos participantes da pesquisa e disponíveis em manuais dos cursos ou
nas páginas de Internet dos cursos.
72
Retomando a necessidade de definir qual trabalhador do grupo
polidocente da educação a distância estamos analisando como um
teletrabalhador, temos como resposta: o tutor virtual. Dentre o grupo de
trabalhadores da EaD supracitados, ele é o único que consideramos como
teletrabalhador, que realmente realiza suas atividades a distância sob as
condições necessárias para configurar seu trabalho como um teletrabalho.
Ainda que o coordenador de disciplina realize, eventualmente,
videoconferências, isso é esporádico e não constitui sua função principal. Cabe
a esse coordenador a preparação do conteúdo do material didático e a gestão
das atividades dos tutores da sua disciplina. É possível, mesmo, definir que,
ao realizar essa atividade de videoconferência, o coordenador está
desenvolvendo uma atividade de tutoria virtual e não de coordenação.
Resumindo, o trabalho na educação a distância virtual não se
configura como telepolidocência, visto que nem todos os trabalhadores ali
envolvidos realizam atividades para justificar o tele- do teletrabalho. Por esse
motivo, nossas análises terão como foco apenas o tutor virtual, sendo todos os
dados coletados para esta investigação fornecidos por esse teletrabalhador.
Por tutores virtuais estamos compreendendo os trabalhadores da
educação a distância que realizam suas atividades por meio de tecnologias de
comunicação a distância: telefonia regular ou 0800, videoconferência,
ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), material escrito (livros-texto),
entre outros. No acompanhamento pedagógico, o tutor virtual auxilia os
alunos, à distância, no processo de construção do conhecimento. A
comunicação entre tutores virtuais e alunos é estabelecida por meio do
emprego pedagógico de tecnologias desenvolvidas com finalidades diversas
aos propósitos educacionais20. Os processos comunicacionais mais comuns na
educação a distância realizada por meio de tecnologias digitais estão
representados na Figura 2.4.
20
Isto levou vários educadores à equivocada concepção de que as tecnologias comunicacionais
e similares são tecnologias educacionais. Elas não são educacionais simplesmente pelo fato de
não terem sido desenvolvidas para tal finalidade. Trata-se, isso sim, do emprego pedagógico de
tecnologias de informação e comunicação. Na falta de um termo melhor, a associação entre os
campos educacionais e comunicacionais deveria ser tratada como educação e tecnologia e não
como tecnologia educacional.
73
Figura 2.4. Redes de interatividade e comunicação entre os docentes
(tutores, coordenadores de disciplinas etc.) e os alunos.
74
Os processos de comunicação unidirecional, como aqueles
estabelecidos por meio de TV, vídeo, rádio, CD-Rom e similares, podem estar
enquadrados como complementares a qualquer uma das tecnologias
comunicacionais da Figura 2.4. Na prática de acompanhamento pedagógico do
tutor, essas tecnologias unidirecionais não possuem autonomia ou
potencialidades para uso autônomo e independente. As redes interativas
representadas nesta figura demonstram que a relação do tutor com o
educando é tecnologicamente mediada, assim como também o é a relação
entre o educando e o saber. No primeiro caso, a comunicação e a
interatividade entre o educador e seus alunos dependem de tecnologias de
informação e comunicação. Entre o educando e o conhecimento há a mediação
dos materiais didáticos, em que o saber está objetivado sob a forma de uma
mídia qualquer (livro-texto, CD-Rom, hipertexto, vídeo etc.). Observemos, a
seguir, a representação gráfica desse processo.
75
Distribuição por gênero
Masculino
60
40,0%
Feminino
90
60,0%
16 2
10,7% 1,3% 26
17,3%
40
26,7%
41
27,3%
25
16,7% 0 (Nenhum) 1 filho 2 filhos
3 filhos 4 filhos não declarou
76
30 a 100 alunos da EaD, 16% possuem de 100 a 200 alunos e 20,7% prestam
atendimento a mais de 200 alunos. O restante (5,3%) não declarou quantos
alunos atendem.
Pode ser verificado, pela Figura 2.9, que a metade dos docentes
participantes da investigação possui mais de 10 anos de experiência na
educação presencial. A experiência de trabalho na modalidade presencial dos
outros tutores (50%) distribui-se da seguinte forma: 15,3% têm de cinco a
dez anos, 10,7% possuem de três a cinco anos, 15,3% contam com uma
experiência entre um e três anos e o restante (8,7%) possui menos de um ano
de experiência ou não declarou possuir experiência alguma na educação
presencial. A distribuição dos educadores participantes da pesquisa, de acordo
com sua experiência de trabalho na educação a distância, ficou como na Figura
2.10: em um extremo temos 12% do grupo (3,3% com mais de 10 anos e
8,7% com experiência entre 5 e 10 anos) e noutro vemos em torno de 5%
com menos de um ano de experiência docente na educação a distância. A
grande faixa intermediária divide-se em duas partes: uma com 28% dos
pesquisados (que contam com experiência docente entre três e cinco anos) e
outra faixa com mais da metade do total da amostra (54,7% de docentes com
experiência de um a três anos de trabalho na EaD).
55
36,7%
acima de 50 anos entre 25 e 30 anos entre 30 e 40 anos
entre 40 e 50 anos menos de 25 anos não declarou
77
Distribuição por número de alunos atendidos
8
5,3% 36
31 24,0%
20,7%
24
16,0%
51
34,0%
6 7
4,0% 4,7% 23
15,3%
16
10,7%
75
50,0% 23
15,3%
78
larga). O restante distribui-se em: 15,3% (possuem computador com Internet
discada paga), 8,7% (possuem computador com Internet discada gratuita) e
3,3% não possuem Internet ou computador em sua residência.
5 1 7
13
3,3% 0,7% 4,7%
8,7%
42 82
28,0% 54,7%
13
8,7%
23
3 1 2 15,3%
1,3%
2,0%0,7%
Não declarou Não possuo computador em casa Sim, com Internet banda larga
Sim, com Internet discada gratuita Sim, com Internet discada paga Sim, sem Internet
79
Na Figura 2.12, organizamos os docentes de acordo com sua carga
horária na educação presencial e, na Figura 2.13, na educação a distância. Na
modalidade presencial, o gráfico demonstra que 11,3% dos educadores
investigados possuem carga horária menor que 10 horas semanais; 19,3%,
entre 10 e 20 horas semanais; e 34,7%, entre 20 e 40 horas por semana.
Desses, 31,3% enfrentam uma carga de trabalho semanal de mais de 40 horas
na educação presencial e 3,3% não declararam sua carga horária. A carga
horária desses mesmos trabalhadores docentes distribui-se da seguinte forma:
de uma a 10 horas por semana (36,7%), de 10 a 20 horas semanais (24,7%),
entre 20 e 40 horas por semana (20,7%) e 4% com mais de 40 horas
semanais de trabalho na EaD. Os outros 14% não declararam sua carga
horária de trabalho na modalidade de educação a distância.
5 17
3,3% 11,3%
47
29
31,3%
19,3%
52
34,7%
80
Sobre a carga horária na EAD
21
14,0%
6
4,0% 55
36,7%
31
20,7%
37
24,7%
81
mal-estares indicadas pelos teletrabalhadores para quem realiza
atividades por meios virtuais. Não quer dizer que todos eles já
sofreram todos ou alguns desses mal-estares.
c) Quando da sistematização das respostas, percebemos que, ao
responder a esta questão referente aos males que acometem o
teletrabalhador docente, alguns dos participantes da pesquisa
consideraram males que acometem tanto educadores quanto
educandos. Acreditamos que isso possa justificar o aparecimento
de alguns dos itens do Quadro 2.1. De todo modo, menos de 5%
dos docentes tiveram essa interpretação da pergunta, o que não
parece tão significativo assim.
d) Tentamos agrupar as 150 respostas em itens representativos de
categorias de males, mas alguns aparecem mais detalhados que
outros porque não foi possível condensar todos numa única
doença sem perda do sentido do que o docente virtual quis
dizer. Por exemplo, às vezes uma resposta contemplava dores
lombares e uma outra continha dores nas costas (por vezes
indicando coluna e noutras vezes indicando lombalgia). Enfim,
sabemos que algumas delas parecem estar em duplicidade e, por
isso mesmo, esclarecemos tratar-se de uma relação que precisa
ser burilada por quem por ela possa se interessar.
82
Quadro 2.1. Relação de mal-estares que, segundo os participantes da pesquisa,
podem acometer o teletrabalhador docente
83
Que eu saiba, nada diferente de LER e outras típicas de quem
não consegue dosar o trabalho. Um mecânico de automóveis
pode ter o mesmo problema e nem saber o que é um PC
(Comentário C).
21
Alguns teletrabalhadores docentes afirmaram que desenvolvem atividades fora da área
educacional engenharia ou advocacia, por exemplo. Não foi possível observar se esses
trabalhadores acumulavam trabalho docente presencial, teletrabalho docente e, ainda, outra
profissão.
84
6. Sobre aspectos agradáveis e desagradáveis do teletrabalho docente
85
Característica da EaD que agrada aos docentes
Troca de experiências 5
Riqueza da Mediação pedagógica e tecnológica 24
Relacionamento grupal (interatividade) 24
Interesse e envolvimento dos alunos 5
Formação docente permanente 6
Flexibilidade do espaço e tempo de trabalho 63
Estratégias pedagógicas de EaD 5
Encontros presenciais 4
Diversidade cultural e pluralidade de experiências no grupo 21
Democracia e possibilidade de inclusão 11
Autonomia docente e discente 13
Atendimento personalizado 5
Agilidade da logística comunicacional 5
0 10 20 30 40 50 60 70
86
por 63 docentes). Não somente nesta questão do questionário, mas em várias
outras, mesmo quando não solicitado para falar dos tempos e espaços da EaD,
percebe-se claramente que, em geral, os docentes cedem a vez para a
capacidade das tecnologias flexibilizar os tempos e espaços. Pelas respostas,
percebe-se certa sedução nos tempos e espaços de trabalho do teletrabalho
docente. Está implícito nessas argumentações que o teletrabalho emerge
como símbolo de qualidade de vida individual e social da modernidade.
Paradoxalmente, esse é o aspecto que mais estimula a precarização do
trabalho ou, ao menos, está na base dos processos de precarização do
teletrabalho. Isso será discutido mais adiante.
A questão da proximidade afetiva dos relacionamentos entre alunos-
tutores-tutores-alunos, isto é, a questão da interatividade, recebeu 24
indicações do grupo de docentes. O mesmo índice foi obtido pela questão da
riqueza da mediação pedagógica e tecnológica. Nas respostas dos
teletrabalhadores docentes consultados, esses dois aspectos estão bastante
próximos. No primeiro aspecto (interatividade), os tutores destacaram que o
processo de convivência na EaD possibilita uma proximidade muito maior do
que no presencial. Acredita-se que a rede de relações do grupo extrapola o
caráter profissional e tange o caráter afetivo, da amizade. A necessidade de
proximidade no acompanhamento pedagógico parece estimular a aproximação
e laços de amizade. Em diversas perguntas esse aspecto é evidenciado.
Em relação ao segundo aspecto (riqueza da mediação), 24 docentes
tentam argumentar que gostariam de ter, na educação presencial, a mesma
riqueza do processo de mediação pedagógica e tecnológica. A crença é de que
a educação a distância torna-se mais agradável porque há preocupação real
com a proposta pedagógica, metodológica e tecnológica22. Percebe-se nas
respostas dos docentes da EaD (Comentários F, G, H e I) que esta
agradabilidade do teletrabalho docente referente à mediação pedagógica e
tecnológica atribui à educação virtual a peculiaridade de maior preocupação
com o aprendizado do aluno, isto é, com a pedagogia da aprendizagem. Isso é
22
Por mediação tecnológica na educação entende-se o uso de diversas tecnologias tradicionais
ou modernas, digitais ou não, capazes de otimizar o ensino-aprendizado. Salienta-se, ainda,
que essas tecnologias podem ser de caráter material ou organizacional. Dessa forma, a
mediação tecnológica é feita por material impresso, TV, vídeo, rádio, computadores, Internet,
CD-Rom, telefone etc. bem como pela linguagem, pela forma organizacional dos trabalhadores,
pela proposta pedagógica e de tutoria etc.
87
tão evidente que algumas respostas dos tutores consultados trazem consigo a
impressão de que na educação presencial não há mediação pedagógica nem
tecnológica (ou, ao menos, não há preocupação com isso). Selecionamos
alguns comentários somente para ilustrar tal entusiasmo.
A utilização plena da tecnologia a serviço da educação também
é importante. No presencial não damos muita atenção à
mediação entre o conhecimento e os alunos. As tecnologias
também não são quase nunca utilizadas (Comentário F).
88
Turmas muito grandes, excesso de alunos e conseqüentemente
de atividades para ler e avaliar. O excessivo tempo na frente
do computador, sentado e digitando (Comentário L).
89
Corroborando os aspectos positivos e agradáveis da educação a
distância23, apresentados no item anterior, foram recorrentes nos
comentários a questão de que nada de desagradável é perceptível no trabalho
da EaD, a exemplo do Comentário X.
Até hoje não pude observar nada de desagradável
(Comentário X).
23
As aspas se devem ao fato de que nem sempre são problemas da educação a
distância. A falta de tempo reclamada por tutores e alunos da EaD já existe, mesmo
antes de se envolverem com a EaD. Em verdade, as atividades de EaD apenas
aumentam os afazeres (e, claro, reduzem o tempo disponível para descanso).
90
Quadro 2.2. Relação de tecnologias utilizadas por teletrabalhadores da EaD
24
Na verdade, apesar de quase uma década de estudos, experiência ou atividades relacionados
à EaD, desconhecemos mesmo algumas dessas tecnologias apresentadas pelos tutores virtuais.
91
desenvolvimento das atividades docentes da educação a distância, o docente
deve ter bom domínio de tais tecnologias e, ainda, deve ter diversas outras
competências que, pela lista apresentada pelos teletrabalhadores
participantes desta pesquisa, tangem o nível da magia.
92
Quadro 2.3. Relação de competências desejadas para o teletrabalho docente
93
Quadro 2.4. Caracterização sintética do perfil dos tutores virtuais
participantes da investigação
Categoria Desdobramentos
Logística de trabalho ou � Tipo Central-Pólos
formas de organização dos � Tipo Virtual
tutores
Formas comunicacionais ou � Material impresso com mídias complementares
redes de interação � 0800 (tecnologia de telefonia gratuita)
� AVA (Ambientes Virtuais de Aprendizagem)
� Videoconferência
� Outros
Perfil dos tutores que � 60 % eram do sexo feminino
atenderam ao convite de � Maioria com dois filhos ou menos (12% tinham três filhos
participação da pesquisa: ou mais)
� Quase 70% dos tutores possuem de 30 a 50 anos
� A quantidade de alunos atendida por tutor variou entre
30 e mais de 200
� Mais de 65% deles possuem mais de cinco anos de
experiência no magistério (a grande maioria tinha mais
de 10 anos de experiência)
� Quase 88% dos tutores possuíam menos de cinco anos
de experiência no magistério com EaD
� A grande maioria dos tutores possui computador em casa
com conexão rápida
� A carga horária de trabalho com magistério presencial
tende para 40 ou mais horas por semana, ao passo que
mais de 60% da carga horária docente na EaD é de 1 a
20 horas por semana
Mal-estares do trabalho Além de sensações de angústia, ansiedade e solidão, os
virtual tutores virtuais estão sob risco de dores e lesões no corpo
(coluna, mãos, pescoço, lombalgia, fibromialgia, hérnia
etc.) e problemas oftalmológicos ou posturais
Tecnologias utilizadas por Ambientes Virtuais de Aprendizagem, editores diversos,
docentes teletrabalhadores fóruns, bate-papo, videoconferência, material impresso, e-
mail, hardwares em geral etc.
Competências desejadas para Foi listada quase uma centena de saberes a serem
o teletrabalhador docente dominados pelo tutor virtual, incluindo: leitor dinâmico,
letrado digitalmente, ágil, pesquisador, motivador, crítico,
curioso...
O que mais seduz no trabalho Segundo os tutores, o que agrada no teletrabalho docente
com EaD virtual é a flexibilidade espaço-temporal para realizar as
atividades
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10. Sobre a caracterização dos teletrabalhadores docentes:
considerações finais
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aspectos como autonomia do trabalhador, subordinação e relações de poder,
produção e distribuição do conhecimento etc.
Pelos dados apresentados no Quadro 2.1, alguns males (ou doenças)
recorrentes no teletrabalhador da EaD pareciam não acometer o trabalhador
docente presencial (por exemplo, aqueles relacionados à visão, postura física,
hérnia etc.). Outros sintomas típicos do trabalho docente presencial (como
aqueles relacionados à voz) não foram verificados entre os tutores virtuais. Foi
dito também que alguns dos males que acometem o trabalhador da EaD são
mais recorrentes num grupo de trabalhadores do que noutro (presencial x
virtual). Os distúrbios verificados na saúde do trabalhador da educação a
distância devem-se a questões ergonômicas ou de irresponsabilidade/descuido
pessoal com a própria saúde. Isso induz à necessidade de se pensar em
mobiliário mais adequado ao teletrabalhador e na atenção e disciplina na
dosagem das atividades, somando-se aos cuidados pessoais com a saúde no
trabalho.
De forma direta ou indireta, praticamente todos os problemas que
acometem a saúde do trabalhador da educação a distância e que podem ser
considerados novos em relação ao trabalho docente presencial são
conseqüência dos novos espaços e tempos de trabalho. A flexibilidade do
espaço e do tempo de trabalho seduz muito por suas promessas (nem sempre
verdadeiras) de liberdade, autonomia, maior qualidade de vida etc. Há que se
tomar o cuidado com esse aspecto, pois, como veremos adiante, trata-se de
um paradoxo: a flexibilidade espaço-temporal foi o aspecto mais mencionado
como ponto positivo do trabalho na educação a distância, mas é, também, o
aspecto que mais estimula a precarização do trabalho ou, ao menos, está na
base dos processos de precarização do teletrabalho.
Muitos foram os aspectos agradáveis levantados pelos
teletrabalhadores docentes. Contudo, naturalmente, entre as rosas sentem-se
os espinhos. Os tutores virtuais observaram que existem alguns aspectos
desagradáveis do trabalho da educação a distância, e a maioria deles
concentra-se na sobrecarga de trabalho, seja na perspectiva de excesso de
atividades, quantidade de tempo pago para realizar tais atividades, elevado
número de alunos ou tamanho das turmas, baixo valor hora-aula ou outros
desdobramentos da sobrecarga de trabalho.
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Conforme o Quadro 2.2, percebe-se que não é pequena a lista de
tecnologias que devem ser de domínio do trabalhador que deseja trabalhar
(ou já trabalha) com EaD. No desenvolvimento das atividades docentes da
educação a distância, o docente deve ter bom domínio dessas tecnologias e,
ainda, possuir um largo leque de competências, que tangenciam o nível da
magia. O Quadro 2.3 apresentou quase cem dessas competências, saberes ou
características que o tutor virtual deve ter.
Para finalizar, vamos retomar o início deste texto: Estamos vivendo
uma época em que a EaD tem sido vista como alternativa a uma série de
problemas: de ordem econômica, social, (in)formacional, política etc.
Dissemos também que o movimento proporcionado pelo atual contexto social
brasileiro trouxe ventos favoráveis à modalidade de educação a distância.
Como pode ser visto no Anexo H, a atenção dedicada à EaD ajudou a
modalidade a ganhar novos espaços e a crescer muito. Por vezes, é preciso
questionar se esse crescimento não foi brusco, acelerado e, de alguma forma,
desorganizado demais. Todas as peculiaridades desse trabalhador da educação
a distância25, que tentamos apresentar no corpo desta tese, dividem-se
claramente em aspectos positivos e negativos (assim como quase tudo o
tem). O que nos preocupa é que os aspectos negativos se sobreponham
significativamente àqueles positivos. É evidente que a educação a distância
possui muitos aspectos positivos, assim como ficou claro que o trabalho
docente virtual agrada a muitos (a quase todos) teletrabalhadores. Entretanto,
nas condições em que a parte virtual da docência da educação a distância tem
se dado, nos questionamos se a EaD está em condições de atender àqueles
anseios depositados sobre ela. Acreditamos que ser alternativa a uma série de
problemas mereça um pouco mais de atenção daqueles que fazem educação a
distância e querem, ao mesmo tempo, explorar a qualidade que ela pode
portar. Favoráveis ventos podem soprar para a EaD, mas isso depende de nós!
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Lembramos que o foco de análise desta tese foi apenas um dos trabalhadores que compõem
a equipe de oferecimento de um curso pela modalidade de educação a distância.
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