Todos Os Rádios Do Brasil 2020 PDF
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Todos Os Rádios Do Brasil 2020 PDF
DIRETOR DO CCTA
José David Campos Fernandes
VICE-DIRETOR
Ulisses Carvalho da Silva
CONSELHO EDITORIAL
Carlos José Cartaxo
Gabriel Bechara Filho
José Francisco de Melo Neto
José David Campos Fernandes
Marcílio Fagner Onofre
EDITOR
José David Campos Fernandes
Paulo Vieira
EDITORA DO CCTA
JOÃO PESSOA
2019
Projeto gráfico: José Luiz da Silva
Capa: Beatriz Batista Durand
Bibliotecária responsável: Suziquine Ricardo Silva
entre as quais a da UNEB, e uma rádio poste na praça central da cidade. A paisagem
sonora cotidiana do município também conta com irradiações de uma considerável
quantidade de carros de som, que veiculam informações de utilidade pública, música
e/ou anúncios comerciais. E se visitantes não conseguirem táxi para alguma andança,
não é impossível que condutores de um desses sonoros carros gentilmente se ofereçam
para fazer o transporte, prestando também este tipo de utilidade pública. A professora
Nelia Del Bianco (UnB/UFG), uma das palestrantes do evento, e eu recebemos esta
gentileza durante o Simpósio e, radioapaixonadas, claro que nos sentimos em casa ao
sermos transportadas por um carro de som.
Também foi com este entendimento, de que a pesquisa em rádio deve se irra-
diar cada vez mais e para todos os cantos do país, que se escolheu o tema central do
Simpósio: “Todos os rádios do Brasil: novas frequências, sintonias e conexão para a
democracia”.
Afinal, à época o povo brasileiro vivia um dos seus anos mais emblemáticos dos
últimos tempos para defender a democracia no país. Em 2018, o Brasil escolheu seu
novo presidente, em disputadas eleições gerais, após o impeachment da então presidenta
Dilma Roussef, o vice Michel Temer assumir e a prisão do ex-presidente Lula. Em tem-
pos tão críticos e decisivos do país, era preciso que o rádio discutisse e confirmasse sua
função social de levar cultura, conhecimento, entretenimento e informação ao povo.
A coordenação do GP Rádio e Mídia Sonora da Intercom, naquele período
integrada por mim, Valci Regina Mousquer Zuculoto (UFSC), Marcelo Kischinhevsky
(UERJ/UFRJ) e Debora Lopez (UFOP), juntamente com ex-coordenadores do Gru-
po, definiu pela realização na UNEB de Conceição do Coité, atendendo a interesse
daquela instituição, manifestado e com projeto apresentado por meio do professor Ro-
gério Costa, a quem coube a coordenação local do evento. Um dos principais motivos
para se acolher a candidatura da UNEB em sediar o evento foi a necessidade que o
Grupo vinha detectando, de descentralizar e espraiar os debates e investigações sobre o
radiofônico. Isto não apenas para alcançar estudos e seus pesquisadores que nem sem-
pre conseguem participar dos eventos nacionais normalmente realizados no sudeste,
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VALCI REGINA MOUSQUER ZUCULOTO
centro e sul do país. Levar o Simpósio para o sertão baiano também teve a finalidade
de ampliar o estímulo ao aprofundamento, aumento e iniciação à pesquisa do rádio e
mídia sonora.
Com uma trajetória de quase 30 anos e já consolidado como protagonista dos
estudos sobre rádio no país, o GP Rádio e Mídia Sonora da Intercom aprofunda ago-
ra seu desenvolvimento, por meio de suas pesquisas e promoções como o Simpósio,
rumo à internacionalização. Mas, ao mesmo tempo e com mesmo grau de importância,
preocupa-se com o que entendemos como a descentralização e a interiorização. Neste
sentido, a UNEB de Conceição do Coité foi pioneira na parceria para a realização do
III Simpósio e toda a organização e resultados do evento vieram corroborar a certeza de
que a escolha da sede e essas compreensões acerca do espraiamento da pesquisa radio-
fônica, estavam e continuam acertadas.
Com perto de 200 inscritos, mesmo com o quesito distância pesando entre pos-
síveis dificuldades para o comparecimento, a programação do III Simpósio Nacional
do Rádio, com a qualidade dos trabalhos apresentados e das palestras de pesquisadores
e profissionais, forjou uma representatividade do campo científico do radiofônico de
norte a sul e de leste a oeste do Brasil. Então e aqui, nesta publicação dos seus anais,
observamos, por exemplo, trabalhos e discussões sobre o rádio na fronteira do Rio
Grande do Sul, extremo-sul do Brasil, no interior de São Paulo, no interior do Mara-
nhão, em Pernambuco, na Paraíba, entre muitos outros recantos do país. Igualmente
observamos, nos debates e artigos apresentados, o quanto o rádio é necessário e pode
contribuir contra a intolerância, a violência, a desigualdade de gênero, a destruição do
meio ambiente; o quanto este meio, mesmo centenário, resiste e se adapta às inovações,
através, por exemplo, da migração do AM para o FM, um dos seus mais importantes
fenômenos na atualidade, da ocupação da web, transmitindo também via sites ou das
suas exclusivas emissoras da internet. E ainda foi possível conhecer e debater mais de
perto o rádio baiano, pois muitos alunos, professores, pesquisadores e profissionais,
especialmente da região, expuseram e debateram seus estudos, além de participarem das
palestras programadas, exatamente dentro da finalidade de mostrar as discussões mais
contemporâneas sobre o radiofônico.
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NADA FOI, É OU SERÁ LONGE PARA O CENTENÁRIO
RÁDIO, SEUS PESQUISADORES E PROFISSIONAIS
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PREFÁCIO 2
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PREFÁCIO
escuta atenta. Quem ouve rádio, necessita dispor em sua escuta da mesma
inteireza daquele que fala, ou simplesmente, perde a informação e por isso,
repetir a mensagem no veículo radiofônico tradicional é algo tão recorren-
te. Pensar que essa característica discursiva da repetição se perde quando
o som passa a contar com outros elementos nos meios digitais, talvez seja
um equívoco. Penso que a necessidade de presença continua essencial para
a compreensão da mensagem comunicativa, no entanto essa função de
repetir a informação caso ela não tenha sido acessada, compreendida cabe
agora ao público receptor, o ouvinauta.
Atender as demandas tecnológicas se faz tão necessário quanto
atualizar as construções narrativas nas grades de programação do meio
radiofônico, bem como reivindicar nesse espaço, os lugares de história e
memória. Desse modo, nota-se que os textos que compõem esta publica-
ção dividem-se em quatro partes: Rádio, convergência e mercado; Rádio e
Jornalismo; História do rádio; e Rádio, gênero e diversidade.
Logo no início os estudos relatam experiências e experimentalismo
em web rádios universitárias e comerciais, traz reflexões sobre a migração
da AM (amplitude modulada) para FM (frequência modulada).
Na segunda parte dos estudos é possível encontrar uma análise de
informações jornalísticas em sites maranhenses, em seguida retoma-se à
história e memória do radiojornalismo americano nas transmissões de Luta
Livre. O caráter jornalístico e o sensacionalismo também emergem nesses
estudos, o primeiro, observa de que maneira o jornalismo aparece no “rá-
dio para ouvir e assistir”, trazendo a as experiências gaúchas e Jovem PAN
no facebook, o segundo traz a discussão do sensacionalismo no estudo de
caso da Rádio AM Sisal, em Conceição do Coité/BA.
A história do rádio também se faz presente nas discussões aqui
propostas trazendo; desde a importância da história oral na reconstrução
histórica do rádio em Cachoeira/Ba, bem como a voz do rádio no período
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PRICILLA ANDRADE
Pricilla Andrade
Professora e Coordenadora do Curso de Comunicação Social/ UNEB
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PARTE I
INTRODUÇÃO
Desta forma, esta pesquisa amplia estudos anteriores sobre o processo de trans-
formação das emissoras migrantes e identifica as adaptações iniciais na programação
jornalística das três primeiras rádios catarinenses que deixaram o AM. Para isso, apre-
sentam-se as três pioneiras na mudança de dial em Santa Catarina. São elas: a Rádio
Clube, de Lages; a Rádio Brasil Novo, de Jaraguá do Sul, e a Rádio Verde Vale, de Braço
do Norte.
É sabido que a tecnologia em AM não está presente também em novos disposi-
tivos móveis, como celulares e tablets. Isso faz com que os novos aparelhos cheguem ao
mercado somente com a sintonia em Frequência Modulada, refletindo diretamente na
audiência de emissoras. Também é mais um dos fatores que representam problema para
as ondas em Amplitude Modulada, a indústria automobilística, que coloca no mercado
veículos sem aparelhos radiofônicos compatíveis ao AM. Este preterimento do AM e
as interferências nas ondas são alguns dos motivos que trouxeram redução na receita
publicitária e dor de cabeça a muitas emissoras do país. Causas que, unidas à falta de
continuidade nas discussões de implantação do modelo de rádio digital no Brasil, leva-
ram radiodifusores a apoiarem a migração para o FM.
Este trabalho objetiva observar os passos iniciais da migração em Santa Cata-
rina por meio de uma pesquisa exploratória, descritiva e de natureza qualitativa que,
entre outras fontes e ferramentas de coleta, realiza entrevistas não dirigidas com gesto-
res das estações. Embasam o referencial teórico deste estudo, a trajetória histórica do
rádio (DE FARIAS e ZUCULOTO, 2017) e os avanços tecnológicos significativos que
o afetaram enquanto meio de comunicação de massa.
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Karina Woehl de Farias - Valci Regina Mousquer Zuculoto - Beatriz Hammes
mentando ao longo dos anos, visando consolidar público-alvo, linha editorial e estar
em sintonia com os fatores econômicos.
A evolução do rádio está sendo estudada e analisada nas suas mais variadas for-
mas, da invenção do transistor à chegada da televisão, do surgimento das FMs aos avan-
ços tecnológicos que ampliaram as formas de recepção. Essas transformações são (re)
visitadas com intuito de perceber a importância histórica destes avanços na trajetória
da radiodifusão. Recorte necessário para a elaboração de estudos preliminares de uma
das autoras deste trabalho, para embasamento da tese de doutorado em andamento que
avalia as adaptações do radiojornalismo que muda do AM para o FM no cenário brasi-
leiro. Essa periodização da evolução do meio revisa pesquisas publicadas anteriormente
sobre as ondas de mudança do rádio (DE FARIAS e ZUCULOTO, 2017).
A primeira grande mudança ocorreu com a própria Implantação do Rádio nos
anos 20; uma revolução tecnológica à época, quando o principal meio de informação
da população, o jornal, já não era a única forma de se chegar ao público. A trajetória
do rádio AM no Brasil se confunde com a história do meio no país já que as primeiras
emissoras eram fundadas por clubes ou sociedades, numa reunião de apoiadores da ra-
diodifusão. O fato das pessoas passarem a ouvir o meio no lugar de ler os jornais pode
ser considerada uma das evoluções importantes do rádio.
O segundo momento de mudanças, impactando drasticamente o rádio AM da
época, foi a chegada da TV e do transistor. A programação radiofônica com muitos ar-
tistas e músicos passou a dar espaço ao jornalismo e aos serviços de utilidade pública, já
que os programas musicais migraram para a televisão, mudando o comportamento na
recepção do público (ZUCULOTO, 2012). Artistas consagrados pelo rádio foram para
os programas televisivos, esvaziando o meio radiofônico. As emissoras necessitaram se
reinventar para sobreviver e reconquistar um ouvinte agora focado na TV. A segunda
fase de mudança também foi marcada pela miniaturização e a redução nos preços de
aparelhos, deixando o rádio AM muito mais popular e acessível. O grande invento
inovador foi o transistor, que segundo Magnoni e Rodrigues (2013), foi a tecnologia
criada para facilitar a transmissão e recepção dos sinais, visando a utilização portátil.
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Reflexões sobre o rádio catarinense no processo de migração do AM para o FM
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Karina Woehl de Farias - Valci Regina Mousquer Zuculoto - Beatriz Hammes
rádio, porque a escuta, segundo Kischinhevsky (2016, p.279), “se dá em AM/FM, on-
das curtas e tropicais, mas também em telefones celulares, tocadores multimídia, com-
putadores, notebooks, tablets; pode ocorrer ao vivo (no dial ou via streaming) ou sob
demanda (podcasting ou através de busca de arquivos em diretórios)”. Essa mudança
no hábito de consumo dos ouvintes acaba por influenciar fortemente a migração do
AM, já que ouvir rádio não ocorre mais somente no velho e bom radinho à pilha, mas
nas multiplataformas.
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Reflexões sobre o rádio catarinense no processo de migração do AM para o FM
Outro aspecto que aparece na fala dos entrevistados é a migração como uma
“sobrevida” para o rádio. Todos os três gestores observaram que a qualidade de som vai
permitir a oferta de um produto final melhor. Amaral (2017) comentou que o mercado
publicitário sempre usou os ruídos do áudio no AM como um empecilho nas vendas
comerciais. Problema sanado com o som estéreo do FM.
Aspecto interessante a ser pensado é a audiência noturna como um potencial
a ser explorado neste novo dial. Das três emissoras pioneiras no processo de migração
para o FM em Santa Catarina, duas delas colocaram locutores na grade de programação
da noite. Atualmente forte, o período da manhã é o horário nobre do rádio, mas não foi
sempre assim. O horário nobre já foi noturno, posto que a televisão roubou do rádio na
década de 1960, mas que pode ser um nicho para o radiodifusores.
A presença do locutor neste horário pouco utilizado ratifica o do “rádio amigo”,
em que a presença no estúdio de um apresentador que fale com o ouvinte torna o rádio
mais próximo de sua audiência. Segundo Barbosa Filho (2009), o âncora reforça a tra-
dição de parceria por meio de uma linguagem próxima e íntima, falando quase que de
forma individualizada a cada um dos ouvintes. “O tom íntimo das transmissões, repre-
sentado pelas expressões “amigo ouvinte”, “caro ouvinte”, “querido ouvinte”, propor-
ciona uma aproximação e uma intimidade únicas” (BARBOSA FILHO, 2009, p.47).
Das transformações que vêm ocorrendo, também chama a atenção o formato
de grade, que nem é só música, nem é só informação, mas um rádio que mescla e apos-
ta num formato de grade que Ferraretto (2001) chamou de mosaico, com programas
variados. Isso aparece na fala dos entrevistados, como do diretor da Verde e Vale. “Com
a migração estamos redescobrindo a dose correta de entretenimento e informação”
(FREITAS, 2017). Ao que se apresenta, está ocorrendo uma espécie de afastamento do
formato especializado das emissoras, que se dedicavam a ser ora faladas, ora musicali-
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Reflexões sobre o rádio catarinense no processo de migração do AM para o FM
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Karina Woehl de Farias - Valci Regina Mousquer Zuculoto - Beatriz Hammes
REFERÊNCIAS
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Reflexões sobre o rádio catarinense no processo de migração do AM para o FM
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WEB RÁDIO UNEB/CAMPUS XIV - COITÉ /BA: EXPERI-
MENTALISMO, EDUCAÇÃO ONLINE E FORMAÇÃO DO-
CENTE
INTRODUÇÃO
meio Web Rádio. Esta proposta de meio difere de uma Rádio na Web, ou seja, da re-
transmissão de uma rádio tradicional via internet na qual, essencialmente significa ter
o acesso da sua estação de rádio apontando seu navegador para um servidor, endereço
em que se encontra a referida estação. Na proposta da Web Rádio UNEB, no que tange
à tecnologia, o estudo pretende explorar a utilização do Software Livre (SL), devido a
questões a serem abordadas mais adiante. Esses programas fazem uso da tecnologia de
streaming (transmissão de dados que traz até sua máquina um fluxo contínuo de som
que é suportado por um buffer, ou forma de armazenamento de dados).
Para melhor definição das questões técnicas e operacionais, iniciou-se em 2015,
um diálogo com a GERINF (Gerência de Informática) da UNEB, Campus. No en-
tanto, em prévio diálogo com o Coordenador de Informática do Campus XIV/Coi-
té- Ba, Tarcísio Santos Queiroz constatamos que havia viabilidade técnica para que a
ideia fosse executada. A infraestrutura de rede básica necessária para implementação
do projeto da Web Rádio já existia na Instituição, precisando apenas de alguns ajustes
e configurações adicionais que foram feitas em conjunto com o pessoal do Centro de
Processamento de Dados da Gerência de Informática da Universidade, do Campus I.
Diante das especificações técnicas, cabe salientar que a produção de conteúdo
desse veículo prevê a participação de todos os cursos do Campus XIV, de outros depar-
tamentos, das parcerias interinstitucionais e do envolvimento com a comunidade local.
Pretende contar com a participação de professores e estudantes que tenham interesse
na proposta de pensar e produzir produtos e conhecimento por meio da linguagem
radiofônica, no campo das tecnologias da comunicação, com foco na educação online.
Esse meio Web Rádio permite a veiculação de programas educativos nos mais variados
formatos, horários e duração (transmissão ao vivo, músicas, poesias, debates, seminá-
rios, mesas redondas etc.), tem ainda por finalidade aproximar a universidade da comu-
nidade local e todo o mundo através da rede mundial de computadores, na medida em
que tornará perceptível o conhecimento produzido, as ações acadêmicas e atividades
culturais que são desenvolvidas em seus diversos cursos. A realidade contemporânea
aponta que, o meio social está cada vez mais conectado às mídias convergentes. Essa é a
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Pricilla de Souza Andrade
maior relevância desse projeto. A Web Rádio UNEB se estabelece como um meio que
possibilita pesquisar a convergência de linguagens, já que, além de veicular a produção
sonora, permite a veiculação de fotografias, vídeos e textos escritos.
Com isso, surgiram inúmeras possibilidades de utilização do conteúdo de pes-
quisa e produção, para auxílio na formação do professor-pesquisador bem como a uti-
lização desse material midiático como ferramenta de aprendizagem em sala de aula,
tendo em vista que estando disponíveis na rede, podem ser baixados e/ou editados para
uso em sala de aula, até mesmo em outros suportes técnicos.
O estudo da Web Rádio possibilita uma revisão conceitual dos termos; cultura
técnica (MACEDO, 2014), Tecnologia (LÈVY, 1993; LEMOS, 2007), Web Rádio
(PRETTO, 2010; PRETTO, 2008; BARBERO), Convergência (JENKIS, 2009) For-
mação Docente (PEREIRA, 2012; OLIVEIRA 2012), Educação Online, organizado
pelo pesquisador Marco Silva. Metodologicamente, optamos por apontar os desafios da
implantação e concomitantemente faremos análise em relação aos conceitos ressaltados
acima, por meio da descrição e compreensão das etapas desde a sondagem, implantação
técnica e elaboração do conteúdo para a Web Rádio UNEB, Campus XIV, por meio
do experimentalismo. Acredita-se que traçando esse percurso, será possível uma análise
mais próxima desde a idealização até a implantação da Web Rádio Universitária, utili-
zando a tecnologia do Software Livre.
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WEB RÁDIO UNEB/CAMPUS XIV- COITÉ /BA: EXPERIMENTALISMO, EDUCAÇÃO ONLINE E FORMAÇÃO DOCENTE
na internet com tecnologia streaming (processo de transmissão de áudio digital (ou ví-
deo) na internet que pode ser ouvido ou visto em tempo real).” (PRIESTMAN, 2006).
Nesse contexto de apelo aos sentidos, cabe situar a importância das subjetivida-
des dos indivíduos envolvidos na escolha e produção da programação a ser veiculada na
Web Rádio. São sujeitos carregados das relações de afetos que estabelecem em sala de
aula e fora dela, entre professores e colegas, nota-se que nesse contexto existe espaços a
serem considerados, os lugares de fala e de escuta (como aponta abaixo a pesquisadora;
vai além da simples observância da audição). No texto; Educação, Afeto e Representa-
ções Sociais, a pesquisadora Maria de Lourdes Ornellas, observa;
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Pricilla de Souza Andrade
ço. Tal mutação se caracteriza, dentre outros fatores pelo movimento do faça você
mesmo e de preferência com outros iguais e diferentes de você. A rede é a palavra
de ordem do ciberespaço!” (2003, p.148).
Segundo as pesquisadoras, “Rede” aqui está sendo entendida como todo fluxo
e feixe de relações entre seres humanos e as interfaces digitais. Ainda nesse estudo, elas
abordam as políticas de formação do professor para o uso das tecnologias da Informação
e da Comunicação e apontam que, o professor não precisa mais absorver um universo
de informação com a preocupação de transmiti-las aos alunos, pois elas estão sendo
disponibilizadas pelos meios de comunicação de forma mais atualizada, comparando
há 20 ou 30 anos, quando não existia ainda a disseminação da internet. Com isso;
Dessa forma, nota-se que o MEB, de fato se apropriou do meio rádio para,
por meio da oralidade, característica forte dessa tecnologia alcançar pessoas nos lugares
mais distantes do Brasil, levando conteúdo educativo, através desse meio. Para Pretto
(2010), o antropólogo e sociólogo latino-americano, Jesús Martín- Barbero colocou de
maneira lúcida e sincera a mudança de paradigmas cognitivos e estratégias organizacio-
nais para realizar educação, ao perceber que estamos passando de uma sociedade com
um sistema educativo para uma sociedade da Educação. Nesta perspectiva, a aprendiza-
gem e o conhecimento não só dependem da escola e das instituições educativas formais,
mas também de múltiplas fontes. É importante destacar outro aspecto relevante no que
diz respeito à pesquisa e a produção de conteúdo do objeto pesquisado, que é a conver-
gência de mídias. Segundo Barbosa Filho (2003), são os tempos da convergência dos
media, em que os instrumentos tornam-se cada vez mais compactos, concentrando em
si, as mais diversas formas de contato temporal com a mensagem informativa sonora,
audiovisual ou em texto, permitindo interatividade em sua conexão mais abrangente.
Os desafios em relação ao corpus da pesquisa configuraram-se primeiramente,
pelos detalhes da estrutura técnica organizada e adequada no lócus para a montagem da
pretendida Web Rádio UNEB, no Campus XIV. Nesse caso, buscou-se elucidar quais
os impedimentos técnicos, já que inicialmente, a “mão de obra” ou os realizadores das
primeiras produções seriam os estudantes do curso de comunicação, especialmente, e
também discentes dos demais cursos do departamento, além de professores, técnicos e
pessoas da comunidade local que tivessem interesse pela proposta ao longo do percurso.
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Pricilla de Souza Andrade
Observamos que para a implantação do meio em análise, o qual traz uma pro-
posta inovadora nesse espaço acadêmico faz-se essencial a implicação dos sujeitos en-
volvidos; seja na elaboração dos conceitos chaves que irão nortear os objetivos, metas
e resultados esperados, seja para a adequação técnica no campo da informática, bem
como o diálogo da proposta, ao plano de Gestão do Departamento, o que também
ocorreu em meados de 2016. Mas sem dúvida, três características fundantes determi-
naram de maneira efetiva a implicação e autorização dos sujeitos envolvidos. Primeiro
a possibilidade de se ter um meio de comunicação para exercitar, experimentar e expor
a produção dos produtos radiofônicos e eventos do curso de Comunicação Social Rá-
dio e TV, seguindo o caráter interdisciplinar, alargando essa possibilidade aos outros
cursos do Campus, inclusive às Licenciaturas e terceiro um espaço para o exercício de
formação docente, no que concerne à educação online, por meio dos vários usos das
linguagens da comunicação.
Outro grande desafio para se pensar a longo prazo é o efetivo amadurecimento
na utilização dessa ferramenta de comunicação Web Rádio, na Educação Online, pen-
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WEB RÁDIO UNEB/CAMPUS XIV- COITÉ /BA: EXPERIMENTALISMO, EDUCAÇÃO ONLINE E FORMAÇÃO DOCENTE
sar por exemplo, em termos de desenho didático para uso curricular dos professores,
apesar de não ter sido esse, até o momento, o foco desse trabalho. (SILVA, 2008 apud
OLIVEIRA, SALES, FILHO, 2012) afirma que; “o desenho didático supõe a estrutu-
ração dessa trama de elementos e de encaminhamentos capazes de acolher e promover
a comunicação, a docência e a aprendizagem na tela do computador”. Com isso, perce-
bemos que é possível vislumbrar um desenho didático de aprendizagem também para
a Web Rádio.
Observamos que desde o final da última década do século XX cresce cada vez
mais a oferta de cursos técnicos, graduações e pós-graduações via internet. Importante
aqui, salientar que durante o processo de implantação da Web Rádio UNEB, opta-
mos pelo Software Livre para implantação da tecnologia de Streaming, a qual permite
que ocorra a transmissão de dados audiovisuais pela internet, tornando possível que
o conteúdo seja acessado pela comunidade externa, com maior segurança, inclusive.
Sendo o Software Livre; um programa de computador com o código-fonte aberto, pos-
sibilitando que qualquer técnica possa estudá-lo, alterá-lo. adequá-lo às suas próprias
necessidades e redistribuí-los, sem restrições. Geralmente os softwares livres também
são gratuitos. Dessa forma, o software livre é desenvolvido por milhares de programa-
dores espalhados por todo o mundo que se mantêm em contato pela internet. Boa parte
deles trabalha por hobby ou é estudante de tecnologias. Mesmo assim, a produtividade
e a criatividade chamada “Comunidade do Software Livre” consegue ser maior do que
a de empresas multinacionais como a Microsoft. Desenvolvido por essa comunidade,
é GNU/LINUX.
Foi utilizando a tecnologia do Software Livre que criamos um servirdor Web
Rádio específico para atender a Web Rádio UNEB. Ficou decidido que este servidor
ficaria instalado no Campus I, devido à estrutura de rede de informática com melhor
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Pricilla de Souza Andrade
capacidade para atender uma boa quantidade de acessos ao site do meio: www.radiou-
neb.br. As primeiras reuniões para implantação dos principais da estrutura técnica e
programação iniciaram em março de 2016. Já no dia 08/03/2016 Reunião sobre as
possibilidades técnicas, trâmites burocráticos para hospedagem da Web Rádio na Inter-
net e no servidor da UNEB. 20/03/2016 Reunião sobre a programação da Web Rádio
que inicialmente ocorrerá nos intervalos. 11/04/2016 Reunião sobre programação da
Web Rádio e configuração da Oficina para Monitores de Edição, Gravação e Mixagem.
25/04/2016 Discussão sobre Grade de Programação 03/05/2016 Propostas de Grade
de Programação; 10/05/2016 Grade Básica de Programação Musical; 07:00 Musi-
cal de Raiz Sertanejo, 08:30 Notícias, 09:00 Musical/ Samba, 10:00 Informes, 10:30
Dica Cultural (audiovisual, literatura, música, etc), 11:00 Saúde (entrevistas, infor-
mes),11:30 Esporte, 12:00 Notícias, 12:30 MPB, 16:00 Reggae, 17:00 Rock Nacional,
18:00 Forró, 19:00 Flash Back.
Essa programação reflete as escolhas editorais da Web Rádio, pensando em
uma proposta que contemple aspectos culturais do Território do Sisal. Junto com essa
programação básica, essencialmente musical, também foram pensados blocos de inte-
resse para a criação dos programas, a serem intercalados com a programação musical.
São eles; música, literatura, poesia, movimentos sociais, interatividade, vídeos séries,
filmes de bolso. Todos esses blocos, divididos em equipes pelo critério de interesse,
possibilitando também construírem produtos audiovisuais nos mais variados gêneros
radiofônicos, tais como: entrevistas, mesas redonda, documentários, spots, vinhetas,
jingles, programas musicais e radiojornalísticos.
Podemos observar que na elaboração do conteúdo para a Web Rádio privilegia-
-se o caráter interdisciplinar presente em sua proposta original. Dessa forma entende-se
que;
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WEB RÁDIO UNEB/CAMPUS XIV- COITÉ /BA: EXPERIMENTALISMO, EDUCAÇÃO ONLINE E FORMAÇÃO DOCENTE
A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que ve-
nham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores indivi-
duais e em suas interações sociais com os outros... a inteligência coletiva pode ser
vista como uma fonte alternativa de poder midiático. (p.30)
Com isso, o primeiro evento realizado pela Web Rádio tratou de estabelecer ou-
tras “convergências”, desta vez com outras instituições UFRGS, UFBA, IFBA. Tivemos
uma participação massiva dos alunos e professores do Departamento que se interessa-
ram pela proposta da Web Rádio. Contudo, o I SEMDSL marcou o Campus XIV pelas
possibilidades de convergências entre tecnologias e todas as áreas do conhecimento do
departamento, evidenciadas na programação, desde a Conferência, palestras e oficinas.
O II SEMDSL (Seminário de Educação, Mídias Digitais e Software Livre) pela
primeira vez realizou parceria com o Festival de Cinema Kurumim que ocorre em Sal-
vador há seis anos, organizamos uma Mostra do mesmo em conceição do Coité, para o
evento. Com a Mostra Cine Kurumim pudemos inserir a temática; Produção Audiovi-
sual Indígena, nas discussões sobre mídias livres, educação e tecnologias. Foram muito
importantes as contribuições institucionais, por meio da PROEX/UNEB, as parcerias
científicas com o MPED/ Mestrado Profissional de Educação da UNEB/Ba, por meio
da apresentação de seus trabalhos e mais uma vez, as parcerias com a professora Cíntia
Inês Boll, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), coordenadora do
Grupo de estudos Cultura Digitais e Mídias Móveis, e novamente a Rádio FACED,
na troca de experiências e experimentando novas possiblidades de WEB Rádio, jun-
to à Web Rádio UNEB/Coité. Contamos com a participação do Movimento Baiano
de Mídias Livres e Coletivo Rádio Amnésia, além da parceria local, com o Projeto
Revolution Reggae, que firmou parceria com a Web Rádio UNEB para oferecermos
consultoria a partir do evento, o II SEMDSL. Importante também destacar a presença
da Secretária de educação do Município e professores da rede municipal e estadual de
ensino pelo segundo ano consecutivo.
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WEB RÁDIO UNEB/CAMPUS XIV- COITÉ /BA: EXPERIMENTALISMO, EDUCAÇÃO ONLINE E FORMAÇÃO DOCENTE
propomos novos rumos e diálogos entre web rádio e software livre na educação, a partir
da Comunicação Não-Violenta (CNV). De acordo com Rosenberg (2006) o cerne dos
princípios da CNV apontam para a necessidade se comunicar “do fundo do coração”,
ou seja, se baseando em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a
capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas, “o objetivo é
nos lembrar do que já sabemos, de como nós humanos, deveríamos nos relacionar uns
com os outros (p.21). A Web Rádio e o software livre se apresentam nesse contexto,
como meio e tecnologia, respectivamente, de comunicação que possuem relevância e
se destacam no campo da Educação com a interdisciplinaridade e no campo social,
com a transdisciplinaridade, principalmente. A importância dos conceitos de Softwa-
re Livre, Experimentalismo, Educação Online e Formação Docente, abordados acima
são necessários para atender as demandas conceituais que norteiam o funcionamen-
to da Web Rádio, no contexto sociotécnico, interdisciplinar e transdisciplinar diante
do cenário atual de tantas transformações técnicas e paradigmáticas. A Web Rádio
UNEB, localizada no Campus XIV, de Conceição do Coité/Ba, tem cada vez mais
firmado seus princípios norteadores, na criação de espaços e recursos educativos para
experimentação, nos quais considera importante fazer durar essa necessária experiência
comunicativa aberta em tempos de tecnologia digital e móvel. Transformar este espaço
colaborativo para a formação e pela busca de conhecimentos aliados às formas alterna-
tivas de novos conceitos em software livre, conhecimento livre, liberdade de expressão
e criação. É pautada pelo experimentalismo em tempos de cultura da convergência
(JENKIS, 2009) e de tecnologia digital com software livre, utilizando o Sistema ope-
racional GNU/Linux Etertics v7.1, no meio social e educacional desta territorialidade.
Considerando que Web Rádio pode ser entendida como “transmissão radiofônica na
internet com tecnologia streaming (processo de transmissão de áudio digital (ou vídeo)
que pode ser ouvido ou visto em tempo real”, Priestman (2006, p.25). Entre os pro-
cessos de transmissão que foram possibilitados pela digitalização está o webcasting, que
significa um termo genérico para a transmissão na Internet de conteúdo de áudio ou
vídeo por meio de um software de streaming, acompanhado de texto hospedado em
40
Pricilla de Souza Andrade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto Web Rádio na UNEB surge como uma idealização e vem dando
certo, especialmente, porque desde o início pôde contar com importantes parcerias no
âmbito institucional, como o setor de informática e apoio da gestão do departamento e
grupo de pesquisa FEL (Formação, Experiências e Linguagens), do Campus XIV, bem
41
WEB RÁDIO UNEB/CAMPUS XIV- COITÉ /BA: EXPERIMENTALISMO, EDUCAÇÃO ONLINE E FORMAÇÃO DOCENTE
como a participação de grande parte de alunos interessados e voluntários, ainda que até
hoje, conta com apenas um monitor de extensão.
Uma das preocupações iniciais também foi estabelecer parcerias ineterinstitu-
cionais com a Rádio FACED/UFBA, Rádio Educadora FM/ BA, Grupo de estudo
Cultura Digital e Mídias Móveis/UFRGS e Grupo de Mídias Livres de Salvador/BA,
no intuito de estabelecer as produções colaborativas e de conhecimento para a implan-
tação técnica, estabelecimento dos conceitos e programação.
Importante ter elucidado os conceitos de cultura técnica, implicação, inter-
disciplinaridade, docência online, formação docente, software livre e “convergências”
digitais e cerebrais. Toda essa discussão se faz necessária, pois sustentam as bases de
realização da Web Rádio UNEB, bem como refletem o contexto da sociedade contem-
porânea, na qual está inserida.
Os resultados esperados desse estudo se cumprem ao perceber que por meio do
experimentalismo acadêmico, os conceitos teóricos podem se tornar aliados de sujeitos
implicados e vazarem para possíveis mudanças curriculares no âmbito da formação do-
cente em um cenário tão promissor, atualmente em expansão nos mais variados graus
de ensino, apontando inúmeras possibilidades no campo da comunicação, tecnologia e
da educação online. Todos imbricados em uma proposta promissora e cheia de desafios
para a educação formal e não formal. O pioneirismo de uma Web Rádio na UNEB,
resulta de um empenho e construção desde o início, com o domínio www.webradio.
uneb.br, junto ao setor de Informática do Campus XIV e à GERINF no Campus XIV.
A partir de então, alunos e professores voluntários e monitores passaram a elaborar ex-
perimentalmente, produtos com; podcasts, série de podcasts e programas como Som das
Letras, Tá Rolando entre outras propostas voluntárias e de estágios. Em uma perspectiva
colaborativista realizamos parceria com a Educadora FM 107,5 5, para retransmissão
de alguns programas e realizamos o I e II SEMDSL (Seminário de Educação, Mídias
Digitais e Software Livre), sendo este último realizado por meio de edital da PROEX/
UNEB. Nota-se que as ações do projeto resultaram em evidente emancipação dos in-
divíduos envolvidos, já que “todo saber fazer é um querer dizer” segundo (RANCIÉRE,
42
Pricilla de Souza Andrade
REFERÊNCIAS
43
WEB RÁDIO UNEB/CAMPUS XIV- COITÉ /BA: EXPERIMENTALISMO, EDUCAÇÃO ONLINE E FORMAÇÃO DOCENTE
44
PARTE II
RADIO E JORNALISMO
ALÔ, ALÔ, OUVINTES INTERNAUTAS! INFORMAÇÕES
JORNALÍSTICAS APRESENTADAS NOS SITES DAS
RÁDIOS MARANHENSES
INTRODUÇÃO
48
Nayane Cristina Rodrigues de Brito - Valci Regina Mousquer Zuculoto
Bandeirantes AM. Após as análises ela constatou o conservadorismo dos veículos quan-
to a produção de notícias em que o conteúdo veiculado nas rádios eram traspostos para
o online “[...] com a mínima adaptação, sem explorar as características hipertextuais e
multimídia inerentes à nova mídia” (BIANCO, 2014, p. 31).
Lopez (2010, p. 41) ressalta que, para trabalhar nesse novo contexto, é neces-
sário repensar não apenas as relações com o público, é preciso vislumbrar ferramentas
que colaborem na produção de notícias e ainda no contato com as fontes. Portanto,
enfatiza a autora, ocorre uma configuração no veículo nas definições e estratégias
de linguagem. “É o momento em que se configura a produção multimídia, com re-
pórteres multiplataforma produzindo conteúdo em áudio, vídeo, texto, fotografia e
infografia para a emissora” (LOPEZ, 2010, p. 112).
Diante dessas considerações parte-se para verificar o material jornalístico vei-
culado nos sites das emissoras radiofônicas maranhenses, a partir das sete características
de webjornalismo (hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, memória, ins-
tantaneidade, personalização e ubiquidade) propostas por Canavilhas (2014). Assim,
é oportuno teorizar esses conceitos, conforme verifica-se a seguir. Canavilhas (2014)
reflete acerca da hipertextualidade nos textos inseridos na web, na condição de uma
das características fundamentais do jornalismo na internet. O texto na web “[...] trans-
forma-se numa tessitura informativa formada por um conjunto de blocos informati-
vos ligados através de hiperligações (links), ou seja, num hipertexto” (CANAVILHAS,
2014, p.4). O autor expõe algumas propostas de arquiteturas para a notícia na web, um
conjunto de estratégias que orientam o trabalho dos jornalistas na produção noticiosa
específica para a internet, de modo geral orienta-se que as notícias tenham uma arqui-
tetura aberta e interativa.
Além da presença do texto nas páginas online, Salaverría (2014) comenta sobre
a possibilidade de combinar a esse “tronco que sustenta a árvore multimídia”, em uma
mesma plataforma e simultaneamente diferentes formatos comunicativos. “Compor
eficazmente uma mensagem multimídia implica coordenar tipos de linguagem ou for-
matos que tradicionalmente se manipulavam em separado” (SALAVERRÍA, 2014, p.).
49
Alô, alô, ouvintes internautas! Informações jornalísticas apresentadas nos sites das rádios maranhenses
O autor elenca oito elementos que constituem os conteúdos multimídia, são eles: texto;
fotografia; gráficos, iconografia e ilustrações estáticas; vídeo; animação digital; discurso
oral; música e efeitos sonoros e vibração.
A interatividade, na perspectiva de Rost (2014) é uma das principais carac-
terísticas da comunicação na web. Uma ligação presumível que poderá existir entre
“[...] o meio e os leitores/utilizadores, porque permite abordar esse espaço de relação
entre ambas as partes e analisar as diferentes instâncias de seleção, intervenção e par-
ticipação nos conteúdos do meio” (ROST, 2014, p. 53).
Palácios (2014) traz o debate sobre jornalismo, memória e história na era
digital. O espaço ilimitado da web para expor as informações jornalísticas é visto
pelo autor como a maior ruptura após o advento da web. Ao parafrasear Machado
(2002), Palácios (2014) assinala a alteração no processo de documentação e memória
do jornalismo em rede, distinto das mídias tradicionais. O que era um complemento
informativo passa a ser uma fonte noticiosa pela quantidade de dados possíveis arqui-
vados. Porém, alerta o autor que
“[...] nossas marcas digitais são extremamente vulneráveis a todo tipo de apa-
gamento” (PALÁCIOS, 2014, p. 105).
Com a velocidade da circulação de notícias através da internet o disputado
furo de reportagem torna-se cada vez mais raro. “Trata-se de uma instantaneidade
em publicar, mas também em consumir, e, sobretudo, em distribuir” (BRADSHAW,
2014, p. 112). Nessa intensa competitividade em ser o primeiro, em ser instantâneo,
as possibilidades tecnológicas têm sido fortes aliadas.
O ato de personalizar as notícias na web altera a lógica das empresas de
média de entreter milhões, medir o sucesso pela audiência, pontua Lorenz (2014,
p. 141). O interesse passa a ser as pequenas audiências, o “grande nicho”, esclarece
o autor. Assim, são definidos seis graus de personalização: capacidade de respostas,
alterar com base na hora do dia, interação significativa, ajudar nas decisões, calibração
e algoritmos e capacidade dos aplicativos de notícias serem adaptáveis às mudanças.
50
Nayane Cristina Rodrigues de Brito - Valci Regina Mousquer Zuculoto
Este é o princípio sob o qual as novas ofertas de sucesso se entenderam mais rá-
pido do que as marcas de media mais antigas. Quando o foco se coloca no mais
interessante, o conteúdo volta-se para uma audiência específica, embora altamen-
te interessada. (LORENZ, 2014, p. 141-142)
Após o mapeamento dos sites das rádios maranhenses7, ou seja, das rádios na
web, é possível traçar um breve perfil dessas páginas ao destacar as suas principais ca-
racterísticas. Para o registro considerou-se tanto os sites que estão em funcionamento
seja somente pela atualização das informações, as rádios off-line, que não transmitem
regularmente o áudio do veículo radiofônico, quanto as emissoras online, que forne-
cem ao público o sinal de áudio pela internet. Na tabela, a seguir, verificam-se os dados
sistematizados.
Tabela 1 – Dados do mapeamento dos sites das rádios maranhenses.
Sites de rá- Modulação Modalidade
dios mape- AM FM Comercial Comunitária Educativa Universi- Não identi-
ados tária ficado
90 10 80 16 47 3 1 23
Fonte: Mapeamento realizado pelas autoras
53
Alô, alô, ouvintes internautas! Informações jornalísticas apresentadas nos sites das rádios maranhenses
Figura 1 – Imagens dos sites da Rádio Mirante AM, de São Luís e da Rádio Nativa FM, de
Imperatriz.
dois municípios maranhenses com maior quantidade populacional12 e ainda por esta-
rem entre os cinco municípios do estado com o maior Produto Interno Bruto (PIB)13.
Figura 2 - Imagens dos sites da Rádio Nova Aliança FM, de Gonçalves Dias e da Rádio Dunas Mar FM,
de Tutóia.
Por outro lado, os sites da maioria das demais emissoras não apresentam bons
layouts, alguns utilizam cores fortes que prejudicam a verificação dos conteúdos; ou-
tros tem excesso de informações e tornam as páginas “poluídas” visualmente; diversos
exibem os links, mas ao abrir não existem informações; dos 90, seis estão em platafor-
mas de blogs, com poucas atualizações; e ainda nota-se a ausência de manutenção em
mais da metade desses sites. Verifica-se na Figura 2, a seguir, as imagens dos sites da
12 São Luís teve população estimada para 2017 de 1.091.868 habitantes. Dados do IBGE, disponível
em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/sao-luis/panorama. Acesso em: 15 de janeiro de 2018.
Imperatriz tem 253.123 habitantes. Dados do IBGE, disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/
brasil/ma/imperatriz/panorama.
13 De acordo com o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc), São
Luís ocupa a primeira colocação e Imperatriz a segunda na participação do PIB. Disponível em:
http://imesc.ma.gov.br/src/upload/publicacoes/PIB_Municipal_2010-2014_divulga%C3%A7ao.
pdf. Acesso em: 16 de janeiro de 2018.
55
Alô, alô, ouvintes internautas! Informações jornalísticas apresentadas nos sites das rádios maranhenses
Rádio Nova Aliança FM, da cidade de Gonçalves Dias e da Rádio Dunas Mar FM,
de Tutóia, que ilustram as descrições mencionadas a cima.
23 47 20
Fonte: Mapeamento realizado pelas autoras
Nota-se pela Tabela 2 a pouca atualização das informações jornalísticas nas rá-
dios maranhenses que definiram operar também no modelo online. Predomina os sites
com notícias desatualizadas (47), encontra-se páginas com a última atualização em
2014, e a maioria atualizaram as notícias entre outubro a dezembro de 2017. Além
disso, também é recorrente a ausência de informações jornalísticas nos sites mapeados,
em 20 deles ou existe somente entretenimento sobre o meio artístico ou ausência de in-
formação. O público desses 67 sites não será fidelizado através das notícias, o que pode
os atrair é a transmissão ao vivo da programação da emissora ou algumas das estratégias
de interatividade através de espaços para recados - verificado na maioria - algumas en-
quetes e a indicação para redes sociais e aplicativos de celular.
56
Nayane Cristina Rodrigues de Brito - Valci Regina Mousquer Zuculoto
HIPERTEXTUALIDADE
A maioria das matérias verificadas nas páginas das quatro rádios analisadas
reproduzem textos de sites de notícias, a exceção são alguns textos da Rádio Difusora
AM. No que se relaciona à presença de hipertextualidade nas matérias dos sites em
análise, constatou- se que ela é mínima. No site da Rádio Difusora AM, ao final de
todas elas tem a indicação para “Artigos relacionados”. Em apenas uma encontrou-se
hiperligações para outras matérias, trata-se do texto postado no dia 19 de janeiro, ao
se referir a agenda cultura, com o título “Confira os destaques deste fim de semana na
Agenda Cultural”, nesse aparece um link com informações sobre a concentração do
bloco de imprensa e outro sobre o pré-carnaval na Praça Mário Machado, localizada
em São Luís.
As matérias verificadas na página da Rádio Alternativa FM todas são retiradas
de sites de notícias, ao clicar no título da matéria, exibido na homepage, o leitor é
direcionado para algum site de notícia, seja G1, Terra, Agência Estado, entre outros.
Alguns desses textos apresentam hipertexto, principalmente, os retirados do G1. Já
nas notícias postadas nos sites das rádios Nativa FM e Itapicuru FM não existem
hiperligações.
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Alô, alô, ouvintes internautas! Informações jornalísticas apresentadas nos sites das rádios maranhenses
MULTIMEDIALIDADE
INTERATIVIDADE
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Nayane Cristina Rodrigues de Brito - Valci Regina Mousquer Zuculoto
te sites, aplicativos, redes sociais (Facebook, Twitter, WhatsApp, entre outras), são utili-
zados pelas rádios para avigorar a audiência. Kischinhevsky (2012, p.429) concebe que:
MEMÓRIA
No entanto, os sites das quatro rádios não dispõem de uma base de arquivos da progra-
mação ou de algumas matérias sonoras, mas eles servem como repositório dos textos
que foram postados.
INSTANTANEIDADE
PERSONALIZAÇÃO
UBIQUIDADE
60
Nayane Cristina Rodrigues de Brito - Valci Regina Mousquer Zuculoto
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Alô, alô, ouvintes internautas! Informações jornalísticas apresentadas nos sites das rádios maranhenses
Na verificação dos sites registrados, cabe ressaltar que as páginas com os melho-
res layouts e funcionalidade são dos veículos comerciais. Um indicativo das dificuldades
financeiras das demais emissoras em sustentarem seus sites em plataformas eficientes
ou pagar um profissional que possa elaborar uma boa identidade visual. Diante dessa
realidade diversos endereços, além dos que foram mapeados, encontram-se fora do ar.
Sob a perspectiva das características das informações jornalísticas apresentadas
nesses sites, percebe-se que, as rádios ainda não exploram todas as possibilidades das
propriedades do webjornalismo indicadas com Canavilhas (2014). A hipertextualidade
e multimidialidade inerentes, à web, são comprometidas pelo hábito dos veículos em
reproduzirem matérias de sites de notícias. É mínima a produção de notícias inseridas
nos sites por esses veículos radiofônicos, um fator que também afeta a instantaneidade
e a ubiquidade.
Em termos de radiojornalismo não existe uma produção multimídia, as emis-
soras maranhenses ainda não conjeturaram ferramentas que colaborem na produção de
notícias específicas para suas páginas (LOPEZ, 2010). Semelhante aos primeiros sites
de rádios especializados em jornalismo, surgidos em 1996, os veículos maranhenses
oferecem somente links com informações sobre a rádio, grade de programação, os lo-
cutores, as músicas mais tocadas, notícias, etc. (BIANCO, 2004).
Nota-se que as emissoras de rádio do Maranhão precisam acompanhar as
mudanças exigidas não apenas pela tecnologia, mas, principalmente, pelos consumi-
dores e suas relações sociais e culturais (JENKINS, 2009). Transpor a programação
das rádios para a web ainda é o mais comum entre os veículos radiofônicos analisados.
REFERÊNCIAS
63
Alô, alô, ouvintes internautas! Informações jornalísticas apresentadas nos sites das rádios maranhenses
64
LUTA LIVRE E RADIOJORNALISMO AMERICANO: O
INÍCIO DO ÁPICE
O presente artigo visa mostrar como a Luta Livre se fez / faz importante para o
radiojornalismo. A justificativa fica emancipada frente ao não-histórico da modalidade
nessa mídia. Tudo foi perdido com o passar dos anos pela falta de melhor arquivamento
das emissoras, assim como inexistente produção acadêmica brasileira.
A certeza fica a cargo do que os americanos fizeram e publicaram em diversos
livros. Senda esse trabalho uma grande revisão bibliográfica sobre radiojornalismo e
esse esporte de entretenimento
Após vasta revisão bibliográfica, Do Amaral (2016, p. 11 – 12) afirma sobre o
que é a Luta Livre.
1 Mestre em Comunicação na Universidade São Caetano do Sul – USCS. Jornalista pela Universidade de
Uberaba (UNIUBE), Especialista em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte pela FMU Faculdades
Metropolitanas Unidas. E-mail: carlaomestre@hotmail.com
65
Luta livre e radiojornalismo americano: o início do ápice
66
Carlos Cesar Domingos Do Amaral
E isso é exatamente o que ele temia que estivesse acontecendo quando McMahon
começou a receber mais sugestões de um novo escritor agressivo. Vince Russo
foi um dos mais ardentes defensores do WWF em Nova York, quando ele traba-
lhou como apresentador de um programa de rádio AM que cobria o wrestling e
ele conseguiu transformar esse apoio em um trabalho escrito para as revistas da
WWF. Um homem motivado, com cabelos longos, feições magras e um sotaque
durão, ficava sentado fora do escritório do chefe, esperando que ele saísse para
que pudesse apresentar ideias (ASSAEL, 2002, p. 186).
Foi esse tipo de loucura de última hora que levou o produtor explodir no vestiário
antes de um Nitro2 gravando em Las Vegas, para onde eles tinham voado após
o show em Los Angeles. A semana anterior foi um constrangimento, ele gritou.
2 Antigo programa da WCW. Empresa que faliu anos depois e comprada pela WWE
67
Luta livre e radiojornalismo americano: o início do ápice
Esse autor finaliza suas citações de rádio e Luta Livre com o que parece ser uma
troca de favores entre a WWE e essa UPN que é uma produtora de atrações internacio-
nais. Dentre as possíveis trocas aparece espaço para participações no rádio.
Piloto de uma storyline4 de Steve Austin, um contrato de livro com a Simon &
Schuster, cinco eventos anuais em seus parques temáticos, sete especiais por ano e
uma grande quantidade de promoções cruzadas em estações de rádio e outdoors.
UPN também estava falando sério sobre querer um pedaço do XFL. Faltando
pouco mais de um mês para que os McMahons tivessem que dar aos EUA a res-
posta final, eles estavam prestes a receber tudo o que sempre quiseram, incluindo
o respeito de alguns pesos pesados (ASSAEL, 2002, p. 242).
Hornbaker (2007, p. 85) traz um episódio em que o rádio é usado para que
equipes de Luta Livre troquem “farpas”. “Além disso, a NWA enviou Strangler Lewis
para Chicago para discutir pessoalmente a situação com os jornais e um apresentador
de rádio esportivo do momento”. E continua: “Lewis supostamente acusou Kohler de
tentar se tornar o ‘czar’ do wrestling, e também ultrapassar seus limites ao nomear um
campeão dos EUA”. Logicamente isso teve mais desdobramentos. “Fred apareceu no
mesmo show pouco tempo depois, e reiterou o que Lewis disse: Lou Thesz ainda era
campeão mundial de pesos pesados reconhecido pela National Wrestling Alliance” e
“que Verne Gagne era apenas o campeão dos pesos pesados dos Estados Unidos, e ape-
nas reconhecido por alguns promotores no meio oeste” (HORNBAKER, 2007, p. 85).
Racer e Tritz (2004, p. 5) contam a história de Harley Race, um antigo lutador.
No início da obra o rádio é citado por ser transmissor de programas de Luta Livre.
A essa altura, meu pai ainda achava que uma carreira no wrestling era um sonho,
mas eles estavam resignados com o fato de que eu iria tentar. No outono, fiz a
3 Lutador que não está dentre os mais importantes dentro de uma equipe de Luta Livre
4 Histórias que os lutadores de Luta Livre vivem dentro do ringue
68
Carlos Cesar Domingos Do Amaral
viagem de 42 milhas até São José para me apresentar a um homem chamado Gust
Karras (embora Gust fosse seu nome oficial, ele usava Gus.) Eu ouvira falar de
seus programas de luta livre no rádio. Gus era um dono de carnaval de sucesso,
um homem de negócios astuto e um cara legal. Mais tarde nos tornaríamos par-
ceiros de negócios (RACER, TRITZ, 2004, p. 5).
Hauser (2002) aponta por toda sua obra ligada a Jesse Ventura os momentos
em que o mesmo esteve ligado ao rádio. Ventura foi lutador e agora era governador de
Minnesota. A seguir uma sátira para o desmoralizar frente ao público.
O que poderia ser mais adequado para o governador eleito não convencional de
Minnesota? Ele está programado para retornar às ondas de rádio para sediar um
show na KFAN pela primeira vez desde que foi forçado a sair do ar em julho.
Fora do Bar e Grill Joe Senser, na saída da Interstate 494, uma música canta “Al-
moce com Jesse Ventura Hoje” e pisca a temperatura de 40 graus. Um policial
de Bloomington está de plantão, dirigindo um engarrafamento enquanto carros
tentam entrar no estacionamento. Se você o eleger, eles virão (HAUSER, 2002,
p. 44 – 45).
Por anos o rádio era o principal meio de comunicação, mesmo em tempo que
a TV já invadia as casas dos americanos. Blood e Riddle (2005, p. 466) trazem essa
citação em que o aparelho de rádio era valioso. “Aos 14 anos, Rock ouviu vários ra-
pazes falando sobre o local da noite anterior de pro wrestling na televisão. Eles falaram
de dois wrestlers ameaçadores e maníacos, chamados Rip Hawk e Swede Hanson” que
eram “um dos times mais reconhecidos de ‘vilões’ do país. Suas contrapartes os ‘heróis’
foram presenteados com rádios e um troféu pelo seu fã-clube na televisão ao vivo”. Por
fim, “Hawk congratulou os dois, pediu para ver o rádio, levantou-o acima da cabeça e
quebrou-o em pedaços no chão” (BLOOD, RIDDLE, 2005, p. 466).
O maior problema da obra de Williams (2006) é que não é paginado. O pri-
meiro relato é sobre um programa dos anos de 1990. “O fã de Filadélfia, John Bailey,
lembrou-se de ter ouvido a notícia de que o Tri-State estava convocando o programa
para sair ao vivo no programa semanal de rádio de wrestling de Goodhart” e “ele fez
o anúncio cerca de uma semana antes do planejado show de 25 de janeiro de 1992”
(WILLIAMS. 2006, s. p.). “’Essa também foi a última vez que ele estava fazendo o
programa de rádio, e ele disse a todos os ouvintes que ele estava feito’, disse Bailey.
‘Achei que tinha muita coragem para fazer isso’” (WILLIAMS. 2006, s. p.). Contando
assim o fim de um programa sobre Luta Livre, o autor continua. “Manor disse que viu
a transmissão final como um momento de desabafar o promotor sitiado. ‘Joel começou
a ficar meio frustrado’, disse Manor” (WILLIAMS. 2006, s. p.).
Aquele último programa de rádio que ele estava filmando. Ele não ficou satisfeito
com o público por não apoiar sua promoção, e eu realmente não posso culpá-lo
- ele estava com dezenas de milhares de dólares. Ele realmente queria dizer bem;
Ele foi sincero sobre colocar algo em que ele como um fã enlouqueceria. É só
quando você está tentando promover, às vezes isso simplesmente não funciona
(WILLIAMS. 2006, s. p.).
se tornar uma personalidade de rádio em Nova York” (WILLIAMS. 2006, s. p.). E “ele
aparentemente estava tão determinado a deixar o wrestling que recusou uma oferta da
McMahon para trabalhar na WWF” (WILLIAMS. 2006, s. p.).
Pillman também usou seu status como former Bengal para dar voz ao seu ângulo
pessoal, pelo menos em Cincinnati. “Ele fazia rádio constantemente, e ele era
uma ótima entrevista”, disse Wood. “Se ele quisesse, ele poderia ter acabado com
o seu próprio show”. Uma entrevista de Pillman na ECW em fevereiro de 1996 o
levou a se referir a Heyman como “Booker Man5” (o mesmo termo que ele usou
para Sullivan). (...) Os promotores da Nova Inglaterra também organizaram en-
trevistas de rádio para os lutadores da ECW, bem como aparições pessoais. “Nós
teríamos o Sandman entrando em um estacionamento muito para aparecer em
um Hummer com sua música tocando”, disse Richard. “Tivemos uma assinatura
em um mal com Shane (Douglas) e 1.000 pessoas compareceram. Eu tinha 15
anos de conexões na área e usei todas elas. Eu vi Paul Heyman nos shows e dei a
ele uma sacola de artigos sobre a ECW. Nós realmente ajudamos a construí-lo do
que era para o que estava prestes a ser” (WILLIAMS. 2006, s. p.).
Finalizando as citações de Williams (2006) uma fala sobre outro programa dos
anos de 1990 “uma emissora de wrestling na rádio em Baltimore por cerca de oito meses
no início dos anos 90. O show foi ao ar todos os sábados a partir das 10h da cena in-
dependente no Nordeste, que parecia estar esquentando”. A outra uma breve discussão
entre WWE e ECW, a segunda que anos depois também seria comprada pela empresa
de Stamford.
Muchnick (2007, p. 136) fala sobre a XFL a liga de futebol americano ideali-
zada por Vince McMahon, presidente da WWE. De certa forma desmerece a mesma
pela alta ligação da empresa com a Luta Livre mesmo que de forma indireta. Além disso
em uma parte não paginada traz o relato de uma entrevista na qual foi perguntado da
realidade do Pro-Wrestling. “’Não, Virginia, o wrestling profissional não é o epítome da
tradição greco-romana’” E “eu disse e elaborei. Eu escolhi começar de forma elíptica,
não porque eu me preocupasse em expor o negócio, ou como os iniciados o chamam,
‘quebrar kayfabe’, mas porque era tímido” (MUCHNICK, 2007, s. p.).
5 Pessoa que escreve com facilidade as histórias na Luta Livre
71
Luta livre e radiojornalismo americano: o início do ápice
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Resultados apontam que o Rádio foi a primeira grande mídia a dar opor-
tunidade a Luta Livre em forma de notícia e também com entrevistas ao vivo. O rádio
foi o porta-voz para um dos maiores espetáculos já desenvolvidos nos Estados Unidos.
Quando propus esse trabalho acreditei que tais materiais encontrados com
tanto esforço poderiam mostrar que nos Estados Unidos a preocupação em ter seu
histórico no rádio fosse maior que o descaso no Brasil. De certa forma é, pois ainda é
possível encontrar as citações que usei nesse artigo, mas sem dúvida é bem pequena e
sem grande profundidade.
Por tempos os Estados Unidos foram divididos em setores para apenas X em-
presas pudessem explorar aquele território e assim a Luta Livre criar laços. A WWE
cresceu muito e conseguiu comprar todas elas. Seriamente pensei que os autores fossem
trazer relatos assim, empresas falindo e os proprietários pedindo no rádio por apoio aos
comerciantes locais, fãs e etc. Não achei nada assim, quase tudo fala dos anos 1990.
Tempos que a WWE que era WWF já dominava tudo com seus méritos.
Até mesmo Meltzer que é um grande jornalista da área traz um breve relato
desse tempo vindo de um antigo lutador.
Sem dúvidas acredito ter contado mais um capítulo da história da WWE do
que mesmo do Pro-Wrestling Americano, esse artigo reflete o que já haviam contado e
agora reunido tudo em um mesmo texto. Para o futuro é importante que outros autores
busquem diretamente nos Estados Unidos histórias em museus e rádios antigas histó-
rias da Luta Livre nos mesmos. Sendo esse o caminho para pesquisas futuras nesse ramo
aqui trabalhado.
REFERÊNCIAS
ASSAEL, Shaun. Sex, Lies and Headlocks: The real story of Vince McMahon and
World Wrestling Entertainment. Crown Publishers, 2002.
72
Carlos Cesar Domingos Do Amaral
73
RÁDIO PARA OUVIR E ASSISTIR: AS EXPERIÊNCIAS
DAS RÁDIOS GAÚCHA E JOVEM PAN NO FACEBOOK
INTRODUÇÃO
ser considerado rádio; se tiver imagens relacionadas, também não; e se não for emitido
em tempo real pode ser considerado como fonografia, e não rádio. É fundamental a
compreensão da nova realidade. Com o advento da web 2.0, o rádio passa a incorporar
novos formatos para as transmissões de conteúdo. As webrádios e os podcastings inte-
gram-se ao veículo, antes apenas de ondas eletromagnéticas, e se inserem num cenário
de múltiplas possibilidades, por meio de bits – zeros e uns. Faz-se presente, um novo
ambiente, onde todos os meios se convergem e falam para um público mais participa-
tivo, exigente e interativo (JENKINS, 2009).
Esse processo de transformação tecnológica experienciada pelos meios tradi-
cionais de comunicação pode ser definido com o conceito criado por Fidler, em 1991:
mediamorphosis. A terminologia descreve as mudanças dos conglomerados de mídia em
todas as suas áreas e defende o não desaparecimento dos veículos existentes, mas uma
reconfiguração do uso, das linguagens, com a complementação de novos meios (FI-
DLER, 1997). Prata (2012) adaptou o termo para o rádio, e passou a tratar o processo
de multimidialidade das novas experiências do veículo como radiomorfose. Por meio
deste vocábulo é possível defender a tese de que em sua história o rádio passou distintas
adaptações, não morreu, e se transformou.
Os novos formatos de rádio que surgem na internet revelam que as mudanças
continuam e devem, cada vez mais, transbordar os limites impostos. Como observa
Castells (2017, p. 554), na sociedade em rede a produção simbólica circula em “estru-
turas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que
consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos
códigos de comunicação”. Nesse novo cenário, a radiofonia busca uma constante rea-
daptação e vai encontrando novos caminhos e linguagens multimídias, sem perder suas
características principais.
Após as contribuições dos transistores, digitalização e convergência dos meios o
rádio chegou a sua terceira transformação, a convergência multiplataforma (CEBRIAN,
2011). O rádio das ondas hertezianas agora pode ser encontrado nas redes sociais e nos
aplicativos mobile. É possível acompanhar a programação radiofônica e participar dela
75
Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
76
Caroline Barbosa Rangel - Cláudio Roberto de Araújo Bezerra
diferente, uma vez que agrega também as seis características do webjornalismo propostas
por Palácios (2002) – multimidialidade ou convergência, interatividade, hipertextuali-
dade, a personalização, memória, instantaneidade. “No contexto de jornalismo online,
multimidialidade refere-se à convergência dos formatos das mídias tradicionais (ima-
gem, texto e som) na narração do fato jornalístico)” (PALÁCIOS, 2002, p.03). Ao falar
da interatividade o autor traz as referências de Bardoel e Deuze (2000), considerando
que a notícia na web proporciona ao usuário, o sentimento de fazer parte do processo
jornalístico. Para conceituar a hipertextualidade, Palácios (2002), cita a possibilidade da
interconexão dos textos através de links. O autor utiliza a personalização para tratar dos
produtos jornalísticos, que são produzidos de acordo com os interesses individuais dos
internautas e argumenta, sobre a memória, que no online a acumulação de informações
é mais viável. Ao pontuar a instantaneidade como uma das caraterísticas, ele afirma que
“a rapidez do acesso, combinada com a facilidade de produção e de disponibilização,
propiciadas pela digitalização da informação e pelas tecnologias telemáticas, permitem
uma extrema agilidade de actualização do material nos jornais da Web” (PALÁCIOS,
2002, p.03). O que possibilita ao usuário o acompanhamento contínuo da informação
que interessa ao usuário.
O RÁDIO NO FACEBOOK
pelo rádio, na web. A propagação das empresas de rádio para as redes sociais e os novos
recursos explorados, advindos da plataforma, também apontam para um caminho ain-
da mais multimídia e multiplataforma.
Mas é no Facebook, rede social capaz de integrar textos, imagens, vídeos e
sons, que o rádio tenta explorar suas potencialidades. Uma pesquisa realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que em 2016, dos 206
milhões de brasileiros cerca de 116 milhões estavam conectados à internet, ou seja,
mais da metade da população (56,31%). Também em 2016, um estudo feito pelo Fa-
cebook mostrou que do total de brasileiros online, 102 milhões, o que significa 87,93%
da população brasileira, estava utilizando a plataforma em rede. Frente ao expressivo
alcance dessa rede social e, sobretudo, das suas potencialidades para a produção de
conteúdos jornalísticos radiofônicos multimidiáticos, que se coaduna com a noção de
rádio expandido, optou-se por investigar como as rádios brasileiras all news e híbridas
estão fazendo uso do Facebook.
De acordo com um levantamento realizado em 2013 pela pesquisadora Nair
Prata, tendo como fonte o site rádios.com.br, existe no Brasil 4.479 emissoras de rádio
de ondas hertezianas. A presente pesquisa fez o seu próprio levantamento, também ba-
seado no site rádios.com.br, e percebeu que das 4.479 emissoras apenas 548 apresentam
conteúdo jornalístico. Das rádios que veiculam notícias com regularidade, pouco mais
de 200 fazem uso do Facebook.
Entre as rádios noticiosas presentes no Facebook percebe-se que algumas têm
investido mais nos recursos audiovisuais para consolidar a programação na rede social.
O conteúdo é o mesmo exibido em tempo real nas ondas radiofônicas, mas as trans-
missões na plataforma multimidiática estão sendo realizadas com elementos semelhan-
tes aos da televisão, desde 2016. Como aponta Lopez, “ressurge o espaço da criação
radiofônica, intensifica-se o espaço da análise e são apresentadas novas estratégias de
envolvimento e relação com o ouvinte-internauta” (LOPEZ, 2011, p.226). Essa nova
interação com o público durante a programação é provocada pelos jornalistas e apresen-
tadores, que incitam os ouvintes e internautas à curtidas e comentários na rede social.
78
Caroline Barbosa Rangel - Cláudio Roberto de Araújo Bezerra
Fundada em 1927 a Rádio Gaúcha passou por todas as eras do rádio brasileiro.
É a primeira emissora comercial de Porto Alegre e a segunda do Rio Grande do Sul.
A sua história se mistura com a do próprio rádio e parece não ser possível falar dele,
79
Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
3 O Live Streaming do Facebook é uma ferramenta que possibilita que os usuários da rede social acom-
panhem ao vivo um determinado evento em formato de vídeo em qualquer dispositivo.
4 https://gauchazh.clicrbs.com.br/programacao/ . Data de acesso: 30 jan.2018
80
Caroline Barbosa Rangel - Cláudio Roberto de Araújo Bezerra
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Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
carro trafegando pela cidade, para indicar onde há engarrafamentos e qual o melhor
trajeto a seguir (Ver figura 3).
Figura 3: Imagens da situação do trânsito na cidade e repórter com informações do trânsito direto do
carro.
82
Caroline Barbosa Rangel - Cláudio Roberto de Araújo Bezerra
A Jovem Pan é uma das mais antigas emissoras do segmento de notícias e en-
tretenimento da cidade de São Paulo. Fundada em 1944 como uma rádio de entrete-
nimento que exibia radionovelas e conteúdos esportivos, foi somente a partir da dé-
cada de 70 que a emissora passou a incluir conteúdo jornalístico em sua programação.
Em 2014, numa pesquisa realizada pelo portal Comunique-se, foi considerada a sexta
maior rede de rádio do mundo.
Recentemente, a emissora adotou um slogan que a consolida no ambiente de
convergência. Com a frase “a sua rádio multiplataformas”, a Jovem Pan incorpora o
conceito transmídia por estar presente nas redes sociais com conteúdos compartilhados
e específicos para aquele ambiente, e com aplicativos mobile. Hoje, a rádio se solidifica
no Facebook com as transmissões ao vivo da programação, personalizadas para mídia,
com artes e interação direta dos jornalistas com o público.
Atualmente, a página da emissora no Facebook conta com mais de um milhão
de curtidas. Aproximadamente 15 mil usuários assistem à sua programação na rede so-
cial e, em média, cerca de 200 pessoas compartilham algum conteúdo transmitido. Dos
oito programas relacionados na grade de programação no site da emissora Joven Pan,
83
Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
quatro são transmitidos ao vivo também para o Facebook. O Jornal da Manhã, Ligado
na Cidade, 3 em 1 e Os Pingos nos Is, foram observados por esse projeto.
Os conceitos de rádio hipermidiático (Lopez, 2011) e rádio expandido (Ka-
seker e Ribaski, 2015) foram incorporados à programação da emissora e recriados para
plataforma, que hoje, oferece diferentes possibilidades para o usuário. Na mídia digital
a Joven Pan vai além das ondas hertezianas. Os programas ganham templates, minutos
antes de começarem, para chamar a atenção do usuário. No estúdio é perceptível a pre-
sença de mais de uma câmera, o que possibilita a troca de imagens para os participantes
do programa, no momento em que falam. A configuração do programa, também nos
permite perceber que por trás das câmeras e estúdio de rádio, há um operador e/ou
também editor de imagens, já há cortes, mudança de imagens na televisão e inserção de
matérias e, entrada da reportagem ao vivo.
Quando a programação está no ar, o usuário é informado sobre o que assiste
através da imagem de uma TV (ver figura 4), que revela com uma arte, o nome do pro-
grama. Os internautas são também informados sobre como participar dos programas
da emissora. Quando é feita a chamada para o público, os canais de comunicação da
emissora são exibidos na televisão do estúdio. Na internet, os profissionais apresentam
o jornal radiofônico, seguindo o modelo da televisão: com imagens enquadrando os
jornalistas em plano médio, todos olhando para câmera e a exibição da redação da
emissora como imagem de fundo. Quando os comentaristas (ver figura 5) , repórteres
(ver figura 6) e colunistas (ver figura 7) aparecem no programa, são identificados pelo
nome, assunto e local onde falam.
Figura 4: Apresentação do Jornal da Jovem Pan (imagem do programa ao fundo)
84
Caroline Barbosa Rangel - Cláudio Roberto de Araújo Bezerra
Fonte: Transmissão ao vivo da página do Facebook da Jovem Pan Online. Acesso em: 6 dez.
20117
85
Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
na programação não apenas com sons. Elas são exibidas no formato das telereportagens
(ver figura 8) (com off coberto por imagem, entrevista com créditos e passagem). O tex-
to pode ser entendido nos dois ambientes, rádio e internet, porém os que estão online,
podem ouvir e ver. Os repórteres também entram da redação passando informações
que podem ser cobertas por imagens no momento em que os fatos estão sendo narra-
dos. Durante esse tipo de transmissão, os profissionais costumam ter o cuidado de in-
formar que os ouvintes-internautas também estão vendo imagens do assunto abordado.
Figura 8: Reportagem exibida na programação da rádio Jovem Pan no Facebook.
86
Caroline Barbosa Rangel - Cláudio Roberto de Araújo Bezerra
Figura 10: Apresentador do programa Ligado na Cidade mostra a situação de uma via de São
Paulo.
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Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
CONSIDERAÇÕES FINAIS
89
Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
REFERÊNCIAS
90
Caroline Barbosa Rangel - Cláudio Roberto de Araújo Bezerra
91
Rádio para ouvir e assistir: as experiências das rádios gaúcha e Jovem PAN no Facebook
92
SENSACIONALISMO NO JORNALISMO: UM OLHAR SO-
BRE O PROGRAMA CHUMBO GROSSO, DA RÁDIO SISAL
AM DE CONCEIÇÃO DO COITÉ
INTRODUÇÃO
94
Darli Lima Alves - Paulo Rogério Costa de Oliveira
JORNALISMO NO RÁDIO
Deve-se levar em conta que toda informação no rádio é transmitida pela fala e
que a fala apresenta implicações que vão além do texto escrito. A entonação, os
silêncios, as demais ferramentas informativas sonoras, como os efeitos, trilhas ou
som ambiente podem alterar o sentido do que se informa. Neste caso, a infor-
mação não assumiria necessariamente um papel interpretativo, mas opinativo,
alterando sua definição como gênero jornalístico (LOPEZ, 2010: 69).
96
Darli Lima Alves - Paulo Rogério Costa de Oliveira
CONSIDERAÇÕES FINAIS
97
Sensacionalismo no jornalismo: um olhar sobre
O programa chumbo grosso, da rádio Sisal Am de Conceição do Coité
O que não se pode concluir é que o programa não tem um formato específico
de apresentação, o que denuncia uma falta de estrutura na pauta, pois este apresenta as
notícias ora com humor, ora com seriedade, o que aliás, essa indecisão de como seguir
a apresentação do programa pode confundir o ouvinte ao fazer uso dos elementos se-
cundários (música, jargões) e assim desencadear que por parte do apresentador há uma
falta de sensibilidade com a dor alheia, provocando no ouvinte esclarecido, questiona-
mentos em torno da ética profissional.
REFERÊNCIAS
99
PARTE III
HISTÓRIA DO RADIO
A HISTÓRIA ORAL ENQUANTO FERRAMENTA DE RES-
GATE DA HISTÓRIA DO RÁDIO EM CACHOEIRA
Marizangela Maria de Sá 1
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cachoeira, BA
INTRODUÇÃO
Para Lia Calebre (2014), a conexão entre o campo de estudos da história dos
meios de comunicação de massa e a história oral enquanto uma metodologia de traba-
lho precisa ser posta, visto que os relatos pessoais (orais ou escritos) são sempre fonte
de todos os trabalhos nesta área - sendo que em algumas vezes são a principal fonte,
principalmente quando se trata do rádio.
Partindo deste pressuposto, escolheu-se a história oral como ferramenta meto-
dológica para recuperação da história do rádio no município de Cachoeira.
102
Marizangela Maria de Sá
A região do Recôncavo da Bahia, com ressalto para Cachoeira, tem uma im-
portância particular para o país no que concerne à sua história e à história da imprensa
na Bahia. De acordo com Péricles Diniz (2009), Cachoeira foi o segundo munícipio do
Estado a possuir periódico impresso: o Independente Constitucional, no ano de 1823.
Diniz (2009) destaca que o município já apresentava assinantes do primeiro jornal
baiano, O Idade D´Ouro do Brasil, que começou a circular em 1811, quando na época
era segunda cidade mais rica da Bahia, o que indicava a presença de uma demanda de
leitores capaz de sustentar seus próprios jornais locais.
Jeremias Macário Oliveira (2005), confirma que “até 1937, Cachoeira foi a
campeã na Bahia em circulação de periódicos, com 141 jornais de existência efêmera”
(OLIVEIRA, 2005, p. 49). Após seu surgimento, o rádio passou a ser o mais forte
concorrente do jornal impresso.
Neuberger (2014) aponta para o fato de que o início desse veículo em Cachoei-
ra se deu com a instalação do primeiro serviço de alto-falantes, implantado em 1940,
e fundado pelo mecânico Elias Cardoso sob o nome de “Vozes do Norte”. O estúdio
funcionava em Cachoeira, mas as transmissões também chegavam até São Félix, cidade
vizinha. Só em 1998, 75 anos depois do surgimento da primeira rádio em Salvador,
distante 120 km de Cachoeira, é que a primeira emissora com transmissor foi implan-
tada nessa cidade: A Rádio Magnífica, uma emissora comunitária vinculada à Igreja
Católica, logo depois veio a Rádio Paraguassu FM, e a Rádioweb Olha a Pititinga.
Devido a questões financeiras, a Rádio Magnifica-FM, foi desativada no dia 30 de
agosto de 2017. A partir desse contexto, surge a necessidade de resgatar a história desse
veículo de comunicação, que foi e continua sendo tão importante para os moradores
do município de Cachoeira.
No presente momento, os únicos meios de comunicação que a população ca-
choeirana tem para obter notícias do município são o jornal impresso O Guarany, com
periodicidade mensal; um blog do jornal supracitado; a rádioweb Olha a Pititinga; e a
rádio Paraguassu FM, e seus respectivos sites. Dentre eles, o único veículo de comuni-
103
A História Oral Enquanto Ferramenta de Resgate
da História do Rádio em Cachoeira
cação que transmite notícias diárias e factuais sobre o que acontece no município são
as rádios
Segundo Sergio Mattos (2014), historicamente, os principais jornais do país
começaram a registrar queda nas suas tiragens há décadas, isso ocorreu não só devi-
do à situação econômica financeira do Brasil, que estimulou ou retirou o consumo e
publicidade, mas também devido à situação política ao longo do período, do surto da
industrialização e do nível de desenvolvimento alcançado por algumas regiões.
104
Marizangela Maria de Sá
Para reforçar ese entendimento, Freitas (2002) avalia que novas versões da his-
tória, ao dar voz a múltiplos e diferentes narradores, possibilita o registro das lembran-
ças das memórias individuais. No entanto, essa pluralidade tanto oportuniza o registro
da construção da memória individual como da coletiva.
Esses formatos são distintos quando se trata do resgate através da escrita, como
pontua, James Fentress. “A forma como o conhecimento social é conservado na memó-
ria coletiva é sempre muito diferente da forma como ela aparece, por exemplo, num
código. Este ponto é muito importante” (FENTRESS, 2003, p.23).
Nesse sentido, Bruno Ribeiro Nascimento (2014), destaca que a escrita não
reforça a memória, não aumenta o saber, nem educa as pessoas. Apenas ajuda a trazer à
lembrança as coisas já conhecidas.
A partir desse entendimento, parece ser inevitável não ver a oralidade da lin-
guagem como um fenômeno na construção da história oral por meio da memória, o
que destaca Mágda Rodrigues da Cunha (2011), ao afirmar que entre os procedimen-
105
A História Oral Enquanto Ferramenta de Resgate
da História do Rádio em Cachoeira
tos adotadas pelos historiadores para buscar os registros na memória das pessoas está a
História Oral.
Neste contexto, a História Oral favorece a recuperação do vivido a partir das
formas interpretativas e da reconstrução da memória de quem o viveu. Seguindo tal
raciocínio, Verena Alberti (2004) destaca que o encanto do vivido é uma das principais
razões do sucesso acadêmico da história oral. As entrevistas de História Oral “têm va-
lor de documento, e sua interpretação tem a função de descobrir o que documentam”
(ALBERTI, p. 19, 2004).
Partindo desta perspectiva, o processo de preparação da entrevista será uma eta-
pa fundamental para obtenção das respostas desejadas sobre o nascimento e trajetória
das rádios. segundo Paul Thompson (1992, p. 41), “o gravador tem permitido que a
fala da gente comum – sua habilidade narrativa, por exemplo - seja, pela primeira vez,
seriamente compreendida.”
Nesta projeção, Pollak, chama atenção para dizer justamente que o entrevistado
deve estar convencido a respeito da “própria utilidade de falar e transmitir seu passado”,
caso contrário, não há razão para falar de si, pois o processo de memória depende do
interesse do entrevistado no tema (POLLAK, 1989, p.13).
Thompson (1992), também pontua que, a confiabilidade das fontes orais é
uma credibilidade diferente. Muitas vezes a relevância de um relato oral está no proces-
so de construção peculiar do acontecido vivido pelo depoente.
Neste sentindo Lia Celebre (2014), também orienta que para obter informa-
ções históricas importantes é preciso saber a maior quantidade possível de dados. Deste
modo, será necessário o processo de preparação das informações básicas sobre as rádios
no município de Cachoeira para delimitar o tema e as perguntas.
Verena Albeti (2004) complementa que o entrevistador precisa ser um exce-
lente ouvinte. As perguntas têm que ser diretas e da maneira mais simples possível. “A
entrevista de história oral não é uma conversa ou um diálogo, pois o que interessa nesse
caso é que o entrevistado fale” (CALEBRE, 2014).
106
Marizangela Maria de Sá
107
A História Oral Enquanto Ferramenta de Resgate
da História do Rádio em Cachoeira
Em relação à metodologia da História Oral, Freitas (2002) esclarece que essa
metodologia abre novas possibilidades para o entendimento do passado recente, pois
amplia vozes que não se fariam ouvir. Além de nos permitir o conhecimento de diferen-
tes “versões” sobre determinada questão, os depoimentos podem abalizar continuidade,
descontinuidade ou mesmo contradições no discurso do depoente. “A maior habilidade
deste tipo de fonte é a probabilidade de resgatar o indivíduo como sujeito no processo
histórico. Consequentemente, reativa o conflito entre liberdade e determinismo ou
entre estrutura social e ação humana” (FREITAS, p.49, 2002).
De modo especial, a história oral pode dar ao indivíduo como sujeito a oportu-
nidade de participar do processo histórico na reconstrução de um passado que aponta
para o futuro sentido para sua própria natureza de mudança.
CONSIDERAÇÕS FINAIS
108
Marizangela Maria de Sá
Pensar a história oral dissociada da teoria é o mesmo que conceber qualquer tipo
de história como um conjunto de técnicas, incapaz de refletir sobre si mesma [...
]. Não só a história oral é teórica, como constituiu um corpus teórico distinto,
diretamente relacionado às suas práticas (AMADO, Janaína e FERREIRA, Ma-
rieta, p.XIII,1996).
Neste contexto, Freitas (2002), é ainda mais enfática quando afirma que:
A História Oral privilegia, enfim, a voz dos indivíduos, não apenas dos grandes
homens, como tem ocorrido, mas dando a palavra aos esquecidos ou “vencidos”
da história. À história que, tradicionalmente, esteve voltada para os heróis, os epi-
sódios, as estruturas, Walter Benjamin responde que qualquer um de nós é uma
personagem histórica (FREITAS, P.50, 2002).
A História Oral até aqui é estudada como um suporte de lembranças que evi-
dencia uma memória coletiva, que somada à memória individual, podem ser utilizadas
como fontes históricas.
Desta forma, a História Oral pode ser utilizada como instrumento metodológi-
co no campo de pesquisa dando conta de maneira peculiar da reconstrução da história
do rádio no município da Cachoeira. Estamos cada vez mais convencidos que seu uso,
enquanto metodologia, está sendo gradativamente reconhecido nos campos acadêmi-
cos mais tradicionais, principalmente por dar voz ao cidadão comum, considerando
sua multiplicidade, possibilitando novas versões da história e dando voz aos excluídos,
onde conseguem compreender as mudanças por que passam suas próprias vidas dentro
da história.
109
A História Oral Enquanto Ferramenta de Resgate
da História do Rádio em Cachoeira
REFERÊNCIAS
111
RÁDIO: A VOZ DE VARGAS
Luciana Antunes1
Renato Teixeira2
Elvis W. Santos3
Universidade Paulista - UNIP
INTRODUÇÃO
informativa. “Os primeiros anos do rádio foram difíceis, com muita música clássica,
muita ópera, muita conversa fiada e a colaboração graciosa de alguns artistas” (MUR-
CE, 1976, p. 19). As emissoras pioneiras tinham junto aos seus nomes os termos “clu-
be” ou “sociedade”, pois eram formadas por idealistas que acreditavam no potencial do
novo meio (ORTRIWANO, 1985, p.14).
No início de sua história, o rádio ainda não era utilizado por políticos em fun-
ção da baixa penetração. Porém, com o passar dos anos, o rádio veio a ser um meio de
massa, que de acordo com Campo (2006), tornou-se uma arma na batalha pelo apoio
das populações, impulsionando forças que ate o momento poderiam ser refratarias
às causas colocadas pelos estados. Assim sendo, as emissoras de rádio viraram aliados
político que, como aponta Costa (2007), “em sua maioria, sempre serviram como ins-
trumento de manutenção e reprodução do Estado”.
rádio começa a se destacar como aliado do governo, tornando-se sua voz para com o
povo, como salienta Ortriwano (1985):
O rádio brasileiro vai encontrando seu caminho, definindo sua linha de atuação
e assumindo um papel cada vez mais importante na vida política e econômica do
país. Getúlio Vargas foi o primeiro governante brasileiro a ver no rádio grande
importância política. E passa a utilizá-lo dentro de um modelo autoritário (OR-
TRIWANO, 1985, p.17).
114
Luciana Antunes - Renato Teixeira- Elvis W. Santos
Santos (2014) salienta que, em 1935 o então presidente Getúlio Vargas, deman-
dou que as emissoras abrissem um espaço oficial em suas programações para a im-
plantação da “Hora do Brasil”, um programa transmitido diariamente em âmbito
nacional, Vargas pretendia através dessas transmissões, divulgar notícias visando
115
Rádio: A Voz de Vargas
O estado novo estava em toda parte, tudo ouvia, tudo controlava, tudo arbitrava.
Não abdicava do papel de pai, mas pretendia ser Deus. Faltava ao nacionalismo
um caráter, uma identidade. Até isso nos foi dado. Ao perceber essa lacuna o
governo tratou de estimular uma produção cultural voltada para os símbolos de
brasilidade. Patrocinou peças teatrais, incentivou os programas radiofônicos, os
shows nos cassinos, o cinema e até mesmo as escolas de samba, desde que fossem
obviamente, divulgadores dos símbolos nativistas do nacionalismo populista de
Getúlio (CONTIJO, 1996, p.25).
6 Sistema político de caráter ditatorial que foi implantado no país, na pessoa do Presidente Getúlio
Vargas, a partir de 10 de novembro de 1937.
116
Luciana Antunes - Renato Teixeira- Elvis W. Santos
tinha a função de fiscalizar tudo o que era transmitido. Foi colocado um censor em
cada emissora para evitar que determinadas informações chegassem ao povo. De acor-
do com Ferraretto (2001), notícias sobre as reivindicações trabalhistas, mobilizações,
passeatas, notícias sobre presos políticos e organizações estudantis e críticas ao governo,
eram todas vetadas.
que iriam transmitir, através de uma agência norte-americana. O Repórter Esso fez sua
última transmissão no dia 31 de dezembro de 1968, após 27 anos no ar.
Por outro lado, conforme cita Contijo (1996), diferentemente do noticiário
Repórter Esso, o jornal a Noite, não poupava elogios ao governo de Getúlio, referindo-
-se a ele como o “salvador” da imprensa brasileira. O jornal dizia:
Nenhum governo no Brasil deu tanta atenção à propaganda como o atual. Com-
preendendo o poder do jornal na formação da opinião pública, um dos primeiros
cuidados do presidente Getúlio Vargas foi liberar a imprensa de certas contingên-
cias econômicas, que a desvirtuavam, não raro, fazendo-a oscilar entre interesses
individuais e ambições partidárias. A situação instável dos trabalhadores da im-
prensa, resultado do forçoso dos períodos de desafogo e crise em que oscilavam a
maioria das empresas jornalísticas, foi também objeto de atenção por parte do go-
verno, que cuidou, resolutamente de estender aos jornalistas os benefícios das leis
de proteção ao trabalho. Por outro lado, nenhum outro presidente soube tão bem
usar a propaganda como elemento de unificação nacional, orientador da opinião
pública, revelador do Brasil, no Brasil e no estrangeiro” (CONTIJO,1996, p.31).
118
Luciana Antunes - Renato Teixeira- Elvis W. Santos
tos de suas verbas. Assim sendo, o clima fica propício para que o IBOPE7 inicie suas
atividades. A princípio com pesquisas bastante simplificadas, o IBOPE foi fundado em
13 de maio de 1942.
Como salienta Gontijo (1996), a singular história de Auricélio Penteado, que
foi sócio da rádio Kosmos em São Paulo, preocupado com a possibilidade de conhecer
o tamanho da audiência da emissora, viajou para os Estados Unidos com o intuito de
aprender a fazer pesquisas, foi ao American Institute of Public Opinion, criado por Geor-
ge Gallup. Quando de volta ao Brasil realizou seu primeiro levantamento para saber
o tamanho da audiência da emissora Kosmos. Ao constatar que a audiência era baixa,
vendeu sua parte da emissora e fundou o IBOPE. Naquele período, além da pesquisa
de audiência de rádio, passou a prestar serviços fornecendo pesquisas de mercado para
agências de publicidade multinacionais, que estavam se instalando no Brasil, a fim de
conhecer o perfil do consumidor brasileiro, em função das marcas internacionais que
estavam entrando em nosso mercado.
Em 1945 aconteceu o fim do Estado Novo, e com ele foram dados os primeiros
passos para a redemocratização que puseram fim também ao DIP e à censura prévia.
Entretanto, a “Hora do Brasil” continuou no ar, mudando seu nome em 1946 para
“Voz do Brasil”, continua sendo, até os dias de hoje, um instrumento de divulgação de
informação governamental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deste modo, podemos salientar que o rádio merece um lugar de destaque, ten-
do em conta que desde a Era Vargas, já vinha sendo utilizado como a voz do governo
para com o seu povo, com a intenção de disseminar uma ideologia.
O rádio obteve um papel de extrema importância, considerando que a princí-
pio era um meio de comunicação considerado das classes de elite e apenas anos depois,
na década de 1930, com as novas leis, verbas públicas e os anúncios, tornou-se um meio
de comunicação de massa.
Pudemos notar que a partir do momento em que as transmissões radiofônicas
passaram a atingir um maior número de pessoas, Getúlio Vargas percebeu a oportuni-
dade de explorar esse meio e passou a tê-lo como um aliado político para divulgação
de ideologias ligadas ao seu governo. Além de utilizá-lo como um meio de repressão e
de controle de informações através do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda)
desta forma difundindo seus interesses durante o período que esteve no poder. Embora,
como aponta Contijo (1996), alguns pensadores da época não concordassem muito
com o DIP e:
Enquanto o DIP criava um sistema quase perfeito para a formação da imagem pública de
Getúlio e do seu governo, que prometia uma rápida ascensão ao desenvolvimento, inte-
lectuais como Monteiro Lobato insistiam em “pensar com a própria cabeça” e desvendar
o que a propaganda oficial escondia (CONTIJO, 1996, p.30).
Portanto, podemos afirmar que o meio rádio foi amplamente utilizado por
Getúlio Vargas durante o período em que esteve no poder, e teve grande importância
sendo a voz de Vargas para com o povo.
REFERÊNCIAS
120
Luciana Antunes - Renato Teixeira- Elvis W. Santos
121
Rádio: A Voz de Vargas
122
PARTE IV
INTRODUÇÃO
didos nos anos 1960 que este cenário começou a ser revisto, tanto na perspectiva das
historiadoras feministas quanto de pesquisadores interessados em desvelar as nuances
da vida privada.
Embora muitos avanços tenham sido empreendidos desde então, a falta de
fontes e materiais de pesquisa ainda hoje se constitui um desafio para a construção
desse conhecimento. Nas palavras de Perrot, “há um déficit, uma falta de vestígios”
(2017, p.21). Sua crítica se refere mais diretamente à história no sentido disciplinar,
no entanto, é igualmente adequada ao microcosmo dos meios de comunicação e, por
conseguinte, do rádio, aqui destacado. Uma falta que, somada à problemática da pre-
servação da memória sonora e radiofônica, faz com que existam pouquíssimos registros
sobre a atuação das mulheres no rádio brasileiro, ainda que se reconheça que elas são
parte importante desta história, integrando o quadro de profissionais desde a criação
das primeiras emissoras.
O pioneirismo é atribuído à Maria Beatriz Roquette-Pinto, que nos idos de
1923 exerceu a função de locutora na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, emissora
fundada por seu pai, Edgar Roquette-Pinto (TAVARES, 2014). Nas décadas seguintes,
se registram nomes como o de Maria de Lourdes Souza Andrade, que atuou em pro-
gramas direcionados ao público feminino na emissora paulista, PRB-6 Rádio Cruzeiro
do Sul e o de Natália Peres, que locutava na PRB-9 Rádio Record de São Paulo sob o
pseudônimo de Elizabeth Darcy (TAVARES, 2014, p.386).
Em alguns campos a atuação das mulheres no rádio se deu de forma mais per-
ceptível que em outros (GUERRA, 2012), foi durante a chamada “era de ouro”, perío-
do marcado pelos concursos de calouros, programas de auditório, radiodramas e fã-clu-
bes, que esta participação se ampliou, com destaque para as funções de atriz e cantora.
Os concursos de Rainha do Rádio, que tiveram início em 1937, contribuíram para a
visibilidade e o sucesso das cantoras, principalmente nas grandes emissoras cariocas.
Assim como ocorreu na radiodifusão nacional, em Santa Catarina, as mulheres
começaram cedo sua trajetória na radiofonia. A PRC-4 Rádio Clube de Blumenau,
primeira emissora do estado, data da década de 1930 e já contava com a participação
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A História das Mulheres no Rádio Catarinense: perfil e contribuições da radialista Kátia Broleis
oportunidades de inserção das mulheres no cast. Ainda que, como em outros ambientes
do universo intelectual e artístico, o meio permanecesse majoritariamente masculino.
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Ediane Teles de Mattos -Karina Woehl de Farias - Juliana Gobbi Betti
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A História das Mulheres no Rádio Catarinense: perfil e contribuições da radialista Kátia Broleis
Criciúma foi fundada em 1880 com forte influência dos imigrantes italianos.
Localizada no Sul do Estado, ficou conhecida por ser polo da indústria carbonífera.
Eram anos de progresso e desenvolvimento impulsionados pelo carvão, o chamado
ouro negro criciumense. E, é diante deste cenário, e por influência de empresários do
setor que a Rádio Difusora Eldorado Catarinense (ZYR-6), nasce no “coração” do mu-
nicípio, a Praça Nereu Ramos.
O médico italiano José de Patta foi o responsável pelo início do que seria a
radiodifusão de Criciúma. Assim que chegou à cidade, se envolveu nos costumes e
tradições da região e passou a exercer serviços de utilidade pública através dos alto-fa-
lantes. Conforme Oliveira (2011), as cornetas foram instaladas na praça para avisar a
população sobre campanhas de vacinação e outros comunicados ligados à prestação de
serviço da época. O autor lembra que a “inspiração do nome Eldorado veio da prospe-
ridade que já vivia a região, principalmente fruto do progresso da extração de carvão”
(OLIVEIRA, 2011, p.19). Em 17 de novembro de 1948 foi oficialmente inaugurada
a Rádio Difusora Eldorado Catarinense, de Criciúma (ZYR-6). De acordo com An-
tunes Severo (2005), o pioneirismo feminino no cast da emissora foi de Dalcy Rovaris
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A História das Mulheres no Rádio Catarinense: perfil e contribuições da radialista Kátia Broleis
Outra marca que Kátia Broleis carrega, segundo Milioli Neto (2012), é de ter
sido a primeira contratação da extinta Rádio Difusora. Conforme o radialista, a dona
da voz aveludada do rádio criciumense era uma profissional única. “Era cantora, famo-
sa, dicção e comunicação muito agradável. Uma mulher versátil que surpreendia quem
a conhecia” (MILIOLI NETO, 2012)6. E é assim que ela é lembrada pelos ouvintes.
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Ediane Teles de Mattos -Karina Woehl de Farias - Juliana Gobbi Betti
Além de ser dona de uma das maiores vozes radiofônicas no rádio sul catarinense,
Kátia também ditou moda. Era ousada, corajosa, tinha atitude, realizava tarefas
inimagináveis para as mulheres na época. Nos anos 60, eram poucas as criciu-
menses que usavam maquiagem, mas Kátia já usava e causava pelas ruas da maior
cidade do sul do Estado. Para as mulheres, Kátia foi referência na busca pela liber-
dade feminina. A comunicadora era uma mulher que estava à frente do seu tempo
e não se importava com que o povo pensava. “Acho que todos devem respeitar a
maneira de ser do outro. Todo mundo tem liberdade de falar o que quiser, mas
mexer não” (SAVIATO; FARIAS, 2015).
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A História das Mulheres no Rádio Catarinense: perfil e contribuições da radialista Kátia Broleis
CONSIDERAÇÕES
Kátia Broleis é uma das muitas mulheres cuja voz e personalidade ficaram mar-
cadas na memória dos ouvintes, mas fora dos registros documentais. Ainda inicial, esse
esforço de recuperação e registro soma-se a outras iniciativas e demonstra que há muito
para se fazer para que possamos superar o silêncio que exclui as mulheres da história
do rádio.
REFERÊNCIAS
CALABRE, Lia. A era do rádio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
GUERRA, Márcio. O. Rádio X TV: o jogo da narração. Juiz de Fora: Juizforana,
2012.
HAUSSEN, Doris. A produção científica sobre o rádio no Brasil: livros, artigos, dis-
sertações e teses (1991-2001). Revista Famecos, Porto Alegre, v.25, p.119-126, 2004.
KÁTIA BROLEIS: UMA DAMA NO RÁDIO CRICIUMENSE. Documentário de
Rádio produzido por Douglas Saviato e Mayara Cardoso. Criciúma: Faculdade Satc,
2012. Duração de 26 minutos. Disponível no acervo fonográfico do curso de Jorna-
lismo.
KISCHINHEVSKY, Marcelo et al. A consolidação dos estudos de rádio e mídia so-
nora no século XXI – Chaves conceituais e objetos de pesquisa. Revista Brasileira de
Ciências da Comunicação. São Paulo, v.40, n.3, p.91-108, set./dez. 2017
MEDEIROS, Ricardo; VIEIRA, Lúcia Helena. História do rádio em Santa Catari-
na. Florianópolis: Insular, 1999.
MOREIRA, Sonia Virgínia. Análise documental como método e como técnica.
IN: DUARTE, Jorge e BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e técnicas da pesquisa em
comunicação. São Paulo: Atlas, 2006.
MOREIRA, Sonia Virginia. Da memória particular aos estudos acadêmicos: a
pesquisa sobre rádio no Brasil. IN: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA, Sonia Virgínia
(orgs.). Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo: Intercom, 2005, 166p.
MUSTAFÁ, Izani. Alô, alô, Joinville! Está no ar a Rádio Difusora AM. A Radiodifu-
são em Joinville/SC (1941-1961). Joinville: Casamarca Ecodesign, 2009.
OLIVEIRA, Denis Luciano Soares. O dia em que a “Difa” se calou: a extinção da
mais popular rádio AM de Criciúma. Trabalho de Conclusão de Curso. Criciúma.
Faculdade Satc, 2011
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2017.
SAVIATO, Douglas; FARIAS, Karina. Kátia Broleis: uma dama no rádio criciumen-
se. Portal SATC. Criciúma, 13 de janeiro de 2015. Disponível em: < http://www.
noticias.satc.edu.br/katia-broleis-uma-dama-no-radio-criciumense->. Acesso em feve-
reiro de 2018.
SAVIATO, DOUGLAS. Difusora: hoje ela completaria 50 anos. 2012. http://www.
engeplus.com.br/noticia/geral/2012/difusora-hoje-ela-completaria-50-anos-/ Acesso
em: 28 mai 2018
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A História das Mulheres no Rádio Catarinense: perfil e contribuições da radialista Kátia Broleis
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PROGRAMA VOZES MULHERES: ECOS DE QUESTÕES
DE GÊNERO, SEXUALIDADE E ÉTNICO-RACIAL NO RÁDIO
tiona como transformar um programa da web rádio em um suporte para abrir diálogos
sobre perspectivas de mulheres sob condição de um agendamento que parta delas e seja
inclusivo em sua abordagem.
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Joanna Carolina Alcântara dos Santos
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Programa Vozes Mulheres: Ecos de Questões de Gênero,
Sexualidade e Étnico - Racial no Rádio
entorno. Que busca se comunicar em rede com os cursos do Campus XIV e com a
comunidade externa que integra o movimento de mulheres e movimentos feministas,
como também com mulheres que se sensibilizam temas que envolvam fomentações
sobre gênero, sexualidade e as questões étnico-raciais.
Sendo assim, esse trabalho tem como intento contribuir com a ruptura das
hierarquias do conhecimento de modo a acolher vozes em rede que (des) construam
conhecimento por meio de reflexões coletivas em diálogo. Entendendo que historica-
mente na ciência esses saberes estiveram/estão por muito tempo considerados mal ela-
borados ou hierarquicamente inferiores. Por isso, percorro esse trajeto me enveredando
pelo feminismo interseccional, que fornece mecanismos ao saber científico em deslocar
meu olhar para as diferenças, um novo ponto de conexão para essa conversa que segue.
É bem chegada a hora de trazer para roda algumas leituras que considero mar-
cantes para refletirmos sobre o feminismo interseccional. Com ele, para além de pensar
sobre o que se passa de forma comum entre as mulheres, reflete-se sobre as diferenças
que apontam fissuras em modelos rígidos de identificação que normatizam vivências
e corpos. Para tanto, é necessário ressaltar a grande influência do movimento de mu-
lheres lésbicas e negras, inclusive na academia, no processo de ruptura com estruturas
engessadas do agendamento feminista, que não questionavam desigualdades de forma
transversal, abarcando as diferentes formas de opressão.
No livro, Não sou eu uma mulher, Bell Hooks (1981) atenta para os impactos
de um feminismo interseccional, que questiona tanto os homens do movimento negro,
como as feministas brancas, por meio de um local de experiência da mulher negra. Na
sua abordagem, ela traz exemplos de vivências e demarcações do movimento feminista
e negro. De maneira a questionar as contradições de uma busca por igualdade e para tal
localiza-se nos movimentos dos EUA, que ainda garante a manutenção de um sistema
imperialista, racista, sexista e opressivo. Quanto ao feminismo, a autora afirma que:
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Joanna Carolina Alcântara dos Santos
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Programa Vozes Mulheres: Ecos de Questões de Gênero,
Sexualidade e Étnico - Racial no Rádio
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Joanna Carolina Alcântara dos Santos
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Programa Vozes Mulheres: Ecos de Questões de Gênero,
Sexualidade e Étnico - Racial no Rádio
os três eixos temáticos que mais apareceram nos resultados: Participação das mulheres
na política, relacionamento abusivo e sororidade.
É válido ressaltar a influência de Foucault(1986) no âmbito da sexualidade, em
que ao invés de supor uma existência essencializante supõe a sexualidade como dispo-
sitivo histórico que deve ser problematizado no tempo e no espaço. E é em meio a jun-
ção referencial dessas problematizações agregadas, que surgem no espaço da entrevista,
os direcionamentos para os questionamentos levantados para as participantes. Dessa
forma, sobre as temáticas acolhidas, foi possível pensar numa possibilidade de trajeto
informativo e reflexivo, usando os eixos gênero, sexualidade e questões étnico-raciais
para pensar na pluralidade de sujeitas ouvintes do programa, entendendo que até esses
eixos não dão conta da fertilidade da transversalidade.
Nesse sentido, os relatos de experiência surge com essa intenção. De desenges-
sar a localidade das sujeitas, colhendo os deslocamentos possibilitados pela experiência.
Todos os relatos de experiência e poesias foram colhidos por meio do envio de áudio
via aplicativo de whatsapp. O que facilitou o acesso tal como a iniciativa das interes-
sadas em compor o coro do programa, sendo as entrevistas marcadas ao vivo com as
colaboradoras. O resultado dessa programação propõe um coro, que se sintoniza na
tessitura desses temas político pessoais, que não só atingem ao sujeito mulher, nos ques-
tionamentos às suas vivências, mas também possibilita instrumentos que sensibilizam a
reconstrução do próprio entorno por meio da reflexão.
Na poesia, a busca de autoras locais também tem a função de dar visibilidade a
estas artistas, que possuem muito poucas formas de incentivo a suas expressões artísti-
cas no município de Conceição do Coité. Essa proposta se dá por compreender a arte
como via de subversão, sendo mais uma possibilidade de romper com silenciamentos,
inclusive os estruturais que fazem uma mulher não investir tempo em atividades que
não dialoguem diretamente com a servidão. Recordo que das poesias recebidas a que
me deixou mais surpresa foi uma sobre sororidade que afirmava sua negação em vários
contextos. O peso da poesia de forma nada panfletária causa um choque de interlocu-
ção na reflexão que remonta e na forma como se expõe.
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CONEXÕES
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Sexualidade e Étnico - Racial no Rádio
REFERÊNCIAS
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APONTAMENTOS SOBRE COMUNICAÇÃO
NÃO-VIOLENTA1
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Apontamentos sobre Comunicação não - violenta
damos aos outros uma atenção respeitosa e empática. Em toda troca acaba-
mos escutando nossas necessidades mais profundas e a dos outros. A CNV
nos ensina a observarmos cuidadosamente (e sermos capazes de identificar)
os comportamentos e as condições que estão nos afetando. Aprendemos a
identificar e articular claramente o que de fato desejamos em determinada
situação. A forma é simples, mas profundamente transformadora.
À medida que a CNV substitui nossos velhos padrões de defesa,
recuo ou ataque diante de julgamentos e críticas, vamos percebendo a nós
e aos outros, assim como nossas intenções e relacionamentos, por um en-
foque novo. A resistência, a postura defensiva e as reações violentas são
minimizadas. Quando nos concentramos em tornar mais claro o que o
outro está observando, sentindo e necessitando em vez de diagnosticar e
julgar, descobrimos a profundidade. A nós e aos outros, a CNV promove o
respeito, a atenção e a empatia e gera o mútuo desejo de nos entregarmos
de coração.
Embora eu me refira à CNV como “processo de comunicação” ou
“linguagem da compaixão”, ela é mais que processo ou linguagem. Num
nível mais profundo, ela é um lembrete permanente para mantermos nossa
atenção concentrada lá onde é mais provável acharmos o que procuramos.
Existe a história de um homem agachado debaixo de um poste de ilumina-
ção, procurando alguma coisa. Um policial passa e pergunta o que ele está
fazendo. “Procurando as chaves do carro”, responde o homem, que parece
ligeiramente bêbado. “Você as perdeu aqui? pergunta o policial. “Não, per-
di no beco”. Vendo a expressão intrigada do policial, o homem se apressa a
explicar: “É que a luz está muito melhor aqui”.
Nesse sentido, observa-se que o condicionamento cultural nos leva
a concentrar a atenção em lugares onde é improvável que eu consiga o que
eu quero. Rosenberg(2006) afirma que desenvolveu a CNV como uma
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Pricilla de Souza Andrade
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Apontamentos sobre Comunicação não - violenta
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Pricilla de Souza Andrade
Web Rádio Universitária, também vem sendo foco das minhas investiga-
ções no que tange às transformações do rádio e da linguagem radiofônica
no contexto das convergências e das inovações tecnológicas. Aponta para
um debate direcionado às abordagens recentes que se dedicam à análise da
experiência, considerando materialidade e sensibilidade na sociedade con-
temporânea, presentes seja no cinema, televisão, publicidade ou nas pro-
duções radiofônicas, considero um debate caro, ao campo da radiodifusão,
especialmente no Brasil com a influência das redes sociais.
Com isso, busca-se aliar os aparatos conceituais contemporâneos
mais suscitados estudos da comunicação na área de som e tecnologia,
bem como aos metodológicos específicos de estilo e autoria de Baxandall
(2006). Observa-se assim, as possibilidades de alargamento nessa análise,
dos elementos que constituem uma estética da escuta nas produções audio-
visuais, sonoras e/ou parasonoras. Isso é possível por meio da identificação
da produção, do lugar de autoria, que ora envolve comunidades, coletivos
e ora a figura de um diretor, considera-se importante também os ambientes
de circulação, fruição e consumo dessas produções; da análise das lingua-
gens sonoras nas produções, do conteúdo abordado e do mapeamento dos
principais aspectos que caracterizam a indústria atual do gênero, como os
festivais, mostras e sua inserção nas mídias livres. Coordeno na Universida-
de do Estado da Bahia, um projeto de Web Rádio, que tem trazido em seus
campos de extensão e pesquisa inúmeros desafios no que diz respeito aos
aspectos de experiência e interpretação, política, autoria e estilo, tecnologia
e sensibilidades.
Destaco relevância para os autores DEWEY(2005), CARDOSO
(2009), que respectivamente, destaca o conceito de experiência e revela
padrões de escuta. LATOUR (2012), LEMOS (2013) que apontam para
a sensibilidade performativa dos objetos, ao nivelar a função do objeto e
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