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Docente: Dulcinéia Socorro Vecchi

Aluna: Elenice Regina de Oliveira

Psicanálise III
“Gênio indomável”

Turma: V
Polo: Nova Odessa/SP
Americana, outubro/ 2019.
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1 - Introdução

O presente trabalho tem como objetivo, através do filme “Gênio indomável”, abordar
alguns aspectos estudados no módulo Psicanálise III.
Sabendo que a psicanálise é “um método de investigação que busca os significados
inconsciente dos atos, palavras e produções imaginárias, por meio da associação livre, que é
observada a partir da dedicada atenção, definida como uniformemente flutuante, visando
colher dados que ensejem uma interpretação” (Freud), o filme nos apresenta uma sequência
de sessões em que o analista trabalha para liberar emoções e experiências reprimidas, isto
é, conscientizar o inconsciente do jovem Wil que traz consigo traumas de uma infância
marcada por abandono e maus tratos.
Para tal, citarei algumas observações baseadas no professor; no analista e no jovem
Will.
Na trama, conhecemos o genioso e genial Will. Órfão, faxineiro no prestigioso
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, sem qualquer plano para o futuro, o rapaz passa
seus dias bebendo com os amigos e entrando em brigas sem sentido. Depois de ter resolvido
um problema matemático dificílimo deixado em um quadro negro, chama a atenção do
renomado professor Gerry, que apresenta uma transferência negativa ao enxergar em Wil
um gênio nato. Will é preso por agressão após uma briga gratuita, mas consegue ser liberado
com o compromisso de passar semanalmente em sessão de terapia. O terapeuta Sean,
receberá o jovem encrenqueiro em seu consultório, com o desafio de prosseguir com a
terapia, pois Will foi por imposição da lei.
No decorrer do filme identificamos mecanismos de defesas, transferência,
contratransferência e aliança terapêutica.
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2- Desenvolvimento

O filme “Gênio indomável” (1998), relata a história de Wil, um jovem órfão, com
inteligência excepcional e comportamento agressivo e descompromissado, que trabalha
como faxineiro numa renomada universidade e chama a atenção de um professor ao
resolver um desafio deixado pelo Gerry, premiado professor de Matemática.
O professor impressionado com a capacidade do jovem, torna-se responsável pelo
menor. No decorrer do filme, nota-se uma projeção do professor no menor. O professor
sente-se incapaz e frustrado por notar a genialidade nata de Will, forçando o jovem a
provar sua capacidade intelectual para alcançar seu superego. O professor sente-se
fracassado por não explorar seus conhecimentos Matemáticos. E refém do próprio status,
carreira e conhecimento, não havia se preparado para o declínio de suas capacidades. A
sua inabilidade é escancarada na bela cena em que ele se desespera em colher as anotações
de Will, que as queima, admitindo aos prantos que já não tem a mesma habilidade lógica
e matemática de outrora.
A projeção faz parte dos mecanismos de defesas introduzido por Freud. É uma
estratégia que as pessoas podem usar mesmo sem perceber, inconscientemente, para se
proteger de coisas que realmente não querem lidar ou pensar. Isso alivia o sentimento de
ansiedade ou culpa associados a pensamentos dolorosos ou indesejados. Tem a função de
proteger e defender o ego das ameaças. Ocorre quando um indivíduo, por alguma razão,
é confrontado com seus sentimentos, emoções ou comportamento indesejados por ele
mesmo ou por outros. Neste caso, esse conflito foi causado pela perda da autoestima e da
identidade
Freud define projeção como “mecanismo de defesa psicológica em que
determinado pessoa projeta seus próprios pensamentos, motivações, desejos e
sentimentos indesejáveis numa ou mais pessoas. ”
Os mecanismos de defesa, derivam de um conflito entre o id e o superego mediado
pelo ego.
Neste momento podemos destacar os conceitos do Id, Ego e Superego criado por
Freud para explicar o funcionamento da mente humana. Estas três partes atuando em
conjunto determinam o comportamento humano.
Ocorre então uma “batalha” entre o id e o superego, tendo em vista que os dois
representam desejos e impulsos completamente opostos.
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Enquanto o id tem como objetivo a busca pelo prazer e a gratificação imediata, o


superego é a censura, a culpa, o medo da punição, imposições sociais internalizadas. O
superego estabelece a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao id,
impedindo o indivíduo satisfazer seus instintos e desejos.
Analisando o comportamento do terapeuta Sean, logo na primeira sessão com o
jovem Wil, faz o terapeuta reviver lembranças dolorosas do passado deixando-o
perturbado. O terapeuta relatou ao paciente seu sofrimento com a doença e morte da
esposa, motivo que o fez se afastar do consultório, vivendo o luto até o momento, relatou
o alcoolismo do pai e a agressão física sofrida pela mãe, expostos inconscientemente o
complexo de inferioridade em relação ao amigo professor, (por não ter recebido medalha)
ao incitar que o jovem Will tinha conhecimento acadêmico, mas a falta de sentimento. A
esse efeito denominamos contratransferência. Emoções que o terapeuta experimenta no
decorrer de uma análise, pode ser estimulada por todo o material que provenha do
paciente, que são relacionadas com circunstâncias sentidas na própria vida que o afetam
consciente e inconscientemente. Dessa forma, é fundamental que o terapeuta observe seus
sentimentos em relação ao paciente, uma vez que estes sentimentos são subprodutos da
interação que ocorre entre o que o paciente faz com que ele sente, este pode fazer uma
comparação com os efeitos que o paciente tem sobre outras pessoas em sua vida cotidiana,
o que pode ser um poderoso instrumento de atuação.
“A contratransferência seria a resposta psicológica do terapeuta ao paciente, vista
como resultante de conflitos neuróticos a serem superados. Além de se referir a todos os
sentimentos que o analista experimenta na relação terapêutica, é como se o inconsciente do
psicólogo entendesse o do cliente (FREUD, 2006; CORDIOLI, 1998). ”
A contratransferência pode ser positiva quando oferece ao terapeuta a energia
necessária para compreender o inconsciente do paciente. Ou negativa, quando interfere
na objetividade do terapeuta para realizar intervenções
A reação do terapeuta aquilo que chega do paciente pode dificultar a análise. Cabe
ao terapeuta uma postura de neutralidade e abstinência na relação analítica.
Portanto, a análise pessoal do terapeuta assim como a supervisão é essencial para
o controle da contratransferência dentro do processo analítico, visto que o terapeuta só
vai até o limite onde caminhou com suas resistências e neuroses.
O jovem Will, como parte de sua condição para liberdade, precisa passar por
sessões terapêuticas semanalmente. As primeiras tentativas fracassaram, pois o mesmo
não aceitava a obrigatoriedade, por achar que não precisava, não tinha problemas a serem
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resolvidos. Mostrou-se muito resistente, atacava constantemente o terapeuta, evitando um


vínculo maior, tanto como terapeuta, como com qualquer pessoa que se aproximasse dele.
Compreende-se por resistência a oposição a qualquer tentativa de revelação de um
conteúdo inconsciente. Pode ser considerado um mecanismo de defesa, uma tentativa de
encobrir e se proteger de lembranças dolorosas. Visível quando o jovem Will fala muito
durante toda a sessão, uma forma de não permitir o acesso as suas lembranças, seu
passado, e quando permanece em silêncio durante toda a sessão.
Alguns aspectos da resistência podem ser conscientes e outra parte inconsciente. A
resistência consciente é causada pela vergonha, medo de rejeição – a qual no filme é
retratada por Will ao esconder da namorada sua real situação financeira e familiar.
Resistencia inconsciente, produzida pelo inconsciente de modo defensivo, sem que o
paciente perceba (ato falho) - Will tem medo de novamente ser rejeitado, devido a sua
infância de abandono pelos pais – neurose de transferência.
Ao longo da vida as pessoas transferem seus afetos vividos na infância para outras
figuras que passam a ser depositárias desses afetos. É um processo inconsciente, de
repetição de formas de se relacionar com as pessoas. A neurose de transferência faz parte
do nosso cotidiano. Boa parte dos nossos relacionamentos envolve algum nível de
transferência.
O termo “transferência” foi utilizado por Freud pela primeira vez em 1900, no livro
“A interpretação dos sonhos”. Nesse livro ele afirma que parte dos acontecimentos que
se desenrolam ao longo do dia, são transferidos para o sonho e retrabalhados pelo
inconsciente. Os sonhos são uma forma inconsciente de lidar com as experiências diurnas.
Freud percebeu que a transferência poderia ser um caminho para o tratamento dos
conflitos que seus pacientes apresentavam por ser um conjunto de sentimentos positivos
ou negativos que o paciente dirige ao terapeuta. Ele percebeu que todas as emoções e
sentimentos que os pacientes estavam vivenciando no consultório na análise, não eram
dirigidos na verdade a ele, mas sim as primeiras figuras da infância daqueles pacientes.
Quando ele percebe que aquelas emoções e aquelas experiências não pertencem aquele
momento atual, mas sim ao momento do passado, ele dá o nome de transferência. A
própria palavra já dá o significado “transportar do passado para o presente”. É uma
tendência que nós temos. Os padrões de relacionamento antigo, temos a tendência de
repeti-los, de se tornarem padrões de relacionamento pela vida a fora.
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O paciente inconscientemente, transfere para o terapeuta sentimentos vividos em


relacionamentos do passado. Trata-se de um mecanismo de defesa que se manifesta na
tentativa de impedir que a análise continue.
A transferência é a própria resistência, pois na medida em que o trabalho
psicanalítico libera a libido da repressão, tem início um conflito entre esses dois aspectos-
o inconsciente que quer fluir e as forças repressoras.
Na medida que o terapeuta se torna o depositário do afeto e da confiança do
paciente, torna-se facilitado o trabalho der resolução dos conflitos que levaram o paciente
ao consultório.
O psicanalista utiliza esse fenômeno da transferência para através da interpretação
de fantasia e conflitos do inconsciente e desfaz esses “nós” que amarram o presente ao
passado e perturbam tantos relacionamentos.
Tudo que envolve o universo da afetividade como amor, ódio antipatia e medo são
elementos que estão implicados nos processos de transferência.
Mas os processos de transferência desses afetos ocorrem em diferentes relações e
não apenas na relação paciente/terapeuta.
A resistência é um obstáculo ao processo analítico e ao mesmo tempo necessário
para o curso do tratamento. Cabe ao terapeuta a compreensão dessa resistência e a busca
de novas estratégias para auxiliar o paciente a vence-las e elaborá-las.
No decorrer do filme, nota-se que o terapeuta, através de novas estratégias,
estabelece uma relação de confiança com o jovem Will. O jovem passou a ver o terapeuta
como uma pessoa que pretendia ajudá-lo com suas dificuldades, passou a colaborar nas
sessões. Freud classificou esse comportamento como aliança terapêutica. Em 1893,
Freud menciona que “em análise transformamos o paciente num colaborador”, garantindo
que é necessário, primeiramente o elo existente entre paciente e o tratamento, para que
posteriormente possa ser tratado analiticamente.
A aliança terapêutica é o compromisso entre duas pessoas, uma verdadeira aliança.
Para que a psicoterapia tenha efeitos benéficos, é importante que uma aliança se
estabeleça entre paciente e terapeuta. O paciente tem que ver o terapeuta como uma
pessoa que pretende ajudá-lo com suas dificuldades e que suas interpretações serão úteis
para superar os sintomas e criar entendimento.
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Na aliança terapêutica existe uma aceitação da necessidade de enfrentar os


problemas internos e de executar o trabalho analítico, apesar da resistência interna e
externa.
“Aliança terapêutica” diz respeito à capacidade do paciente de estabelecer uma
relação de trabalho com o terapeuta, em oposição às reações transferenciais regressivas e à
resistência (Eizirik e Cols., 1998).

Com relação ao papel do terapeuta, alguns estudiosos sustentam que para haver a
aliança terapêutica são necessárias algumas características ao psicanalista, como “ser
flexível, experiente, honesto, respeitoso, digno de confiança, confidente, interessado,
alerta, calmo, habilidade de comunicação com o paciente, abertura e empatia”.
Quanto à dinâmica intrapessoal, a motivação do paciente é considerada um dos mais
importantes no processo terapêutico. O vínculo estabelecido entre paciente e terapeuta
pode modificar a motivação, que pode ser mantida estável, aumentada ou diminuída.
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Conclusão

O filme “Gênio indomável”, nos apresenta um processo psicanalítico, visto que


logo no início percebe-se os recalques do professor, que transfere para o jovem sua
ambição profissional, por não estar preparado para lidar com seu fracasso (visto que o
jovem possui uma habilidade nata o que causa uma frustração no professor); do terapeuta
Sean que é desafiado a reviver dolorosas lembranças do seu passado (doença e
falecimento da esposa), lembranças traumáticas pré-conscientes; e do jovem Will com
toda sua agressividade, resistência a criar vínculos, falta de expectativa (sintomas
causados pelo trauma de infância: agressão e abandono pelos pais e falta de amor dos
abrigos).
Durante o filme, evidencia-se a transferência entre o jovem e seu terapeuta, os
mecanismos de defesa do jovem, a contratransferência do terapeuta e a aliança terapêutica
estabelecida entre ambos.
Todos os traumas do jovem estavam recalcados no seu inconsciente e protegidos
pela resistência. Sean, o terapeuta, conduziu as sessões de forma a estabelecer um vínculo
de empatia e confiança formando a aliança terapêutica. Will tornou-se mais confiante e
seguro para tomar decisões e se relacionar após ressignificar seus conteúdos
inconscientes. Will consegue dominar os impulsos do id e o ego passa a ser mediador
entre o id e o superego.
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REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS E ELETRÔNICAS

VECCHI, Dulcinéia Socorro. Apostila: Psicanálise III. Instituto Carlos Mussato Nova
Odessa ,2019.

MUSSATO, Carlos Roberto. Apostila: Fundamentos da técnica Psicanalista. Instituto


Carlos Musssato. Nova Odessa, 2019.

https://www.netflix.com/br/title/17405997 “Gênio indomável”, 1997 (acessado em


setembro/2019).

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1994000200003 “A
transferência na clínica psicanalística: a abordagem freudiana”, Manoel Antônio dos
Santos, Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, 1994 ((acessado em setembro/2019).

https://www.psicanaliseclinica.com/transferencia-psicanalise/ O que é Transferência na


psicanálise? Postado em 28/07/2017 (acessado em setembro/2019).

http://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/2565/1/6955.pdf “Transferência e
contratransferência numa psicoterapia”, Manuel Almeida, nº 6955, ISPA – Instituto
Universitário, março/2007 (acessado em outubro/2019).

https://www.fasdapsicanalise.com.br/mecanismos-de-defesa/ “Os Mecanismos De Defesa


Do Ego”, Genaldo Vargas, 23 de abril de 2018 (acessado em outubro/2019).

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