Entre Palavras 1 - PDF
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PORTUGUS
Antnio Vilas-Boas
Manuel Vieira
Explicaes concisas
dos contedos
de Educao Literria
Oferta ao Aluno
Ent e
11 Leituras
em dia
2
6
10
14
18
20
24
28
30
SERMO
DE SANTO
ANTNIO
O homem e a obra
Padre pertencente ordem dos Jesutas, desde novo que lhe foram reconhecidos
grandes dotes intelectuais e de pregador. Regressou a Portugal para acompanhar
os tempos da Restaurao, tendo servido o novo rei D. Joo IV na sua luta contra
Espanha e como embaixador de Portugal em vrios pases europeus. Esprito livre, foi perseguido pela Inquisio. Entretanto, pregou em vrios pases europeus,
sempre com grande sucesso, nomeadamente Itlia, mais propriamente em Roma.
Homem de grande atividade, fez vrias vezes a viagem entre Portugal e Brasil.
Empreendeu a sua luta mais conhecida a favor dos ndios brasileiros, dizimados e
escravizados pelos colonos portugueses. No mbito dessa luta, pronunciou o famoso Sermo de Santo Antnio, na cidade de So Lus do Maranho, em 1654.
Devido sua intensa atividade a favor das minorias e da denncia das injustias
para com elas cometidas pelos portugueses, a atualidade do seu pensamento
inquestionvel. , por isso, um dos maiores escritores portugueses de sempre.
Deixou-nos como obra fundamental muitos volumes de Sermes e as Cartas.
EXRDIO
EXPOSIO
CONFIRMAO
PERORAO
Ob je t iv os d a e loq u n c ia
(d ocer e, d elect a r e, m ov er e)
SERMO
DE SANTO
ANTNIO
1.
2.
3.
Atravs da oratria, o pregador ensinava (docere) as verdades da doutrina crist, no sentido de denunciar e corrigir comportamentos individuais
ou sociais que dela se desviavam.
Ao faz-lo, procurava interessar o auditrio na doutrina atravs da utilizao de uma grande variedade de recursos expressivos que o encantavam ou deleitavam (delectare). Corria, deste modo, o risco de os ouvintes
darem mais ateno arte verbal do que doutrina.
Todo este trabalho de ensinar atravs da palavra engenhosamente trabalhada tinha como objetivo a persuaso (movere) do auditrio no sentido da
converso prtica das verdades crists.
In t e n o p e r s u a s iv a e e x e m p la r id a d e
Cr t ic a s oc ia l e a le g or ia
Padre Antnio Vieira apresenta uma galeria alegrica de peixes com inteno didtica, isto , com inteno de denunciar e corrigir comportamentos errados dos homens. Esta crtica social concretiza-se essencialmente
na descrio dos comportamentos simbolizados atravs dos seguintes peixes:
peixe roncador
a soberba humana
peixe pegador
o oportunismo humano
peixe voador
a ambio humana
polvo
as prticas de traio
entre os homens
Lin g u a g e m e e s t ilo
Discurso figurativo
Exe m p los
Al egor ia
Compar ao
Met for a
[] deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, [...], e outros dois, que direitamente olhassem para baixo, []. (Captulo III)
Ant t ese
Apst r ofe
Enumer ao
Gr adao
[] num momento passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol linha, da linha cana, e da cana ao brao do pescador. (Captulo III)
[] um monstro to dissimulado, to fingido, to astuto, to enganoso, e
to conhecidamente traidor? (Captulo V)
FREI LUS
DE SOUSA
ALMEIDA GARRETT
O Romantismo conhece uma fase preparatria designada por Pr-romantismo, que ocupa basicamente
a ltima dcada do sculo XVIII e a primeira do seguinte.
Esta corrente literria caracteriza-se pela presena da
emoo e do individualismo e pela preferncia pelas
temticas da morte, da solido e da infelicidade amorosa. A paisagem frequentemente apresentada como
uma projeo de estados de alma pessimistas, concretizando assim cenrios de solido ou de horror (locus
horrendus). Nomes importantes do Pr-Romantismo
portugus so Bocage e a Marquesa de Alorna.
Origens polticas
e sociais
O Liberalismo, que atribua valor essencial liberdade, desde logo liberdade individual, contribuiu tambm de vrios modos para o aparecimento da esttica
romntica. O heri romntico caracteriza-se essencialmente por um forte idealismo e amor liberdade
individual. O Liberalismo contribui ainda para a introduo do Romantismo em Portugal, pois jovens intelectuais liberais como Almeida Garrett ou Alexandre
Herculano foram obrigados a emigrar no contexto das
lutas liberais e conheceram nos pases de acolhimento
Frana e Inglaterra a nova literatura, que trouxeram
quando regressaram.
1800
1825
1851
1900
Ter ceir a
ger ao
r omnt ica
Segunda
ger ao
r omnt ica
Pr imeir a
ger ao
r omnt ica
Almeida Garrett e Alexandre
Herculano so os dois nomes
cimeiros desta gerao cuja
produo literria apresenta
marcas de um forte individualismo, idealismo e busca de
um Absoluto no mbito do
Amor, da Liberdade e da Ptria.
1865
Fr ei Lus de Sousa: a d im e n s o t r g ic a
esde o incio da pea que o espetador sabe estar perante um mistrio que
D. Madalena implicitamente refere. Esse mistrio adensa-se na cena II,
na qual ela dialoga com Telmo, e a se percebe que tem a ver com o seu
passado. Este passado, to presente, to pesado e to prenunciador de futuro, a
primeira marca da dimenso trgica que se impe ao espetador.
Outras marcas contribuem para intensificar o clima de tragdia:
Os pressentimentos
de D. Madalena de que algo
de horrvel pode vir a ocorrer
e a destru-la, bem como
sua famlia.
As crenas de Telmo em
agouros e, principalmente,
no possvel regresso de
D. Joo de Portugal.
A inquietao de Maria
e a sua capacidade de
entender que na vida dos
seus pais h um mistrio
que a poder atingir
O incndio do prprio
palcio por Manuel de Sousa
Coutinho, no qual arde
o seu retrato prenncio
da prpria destruio.
A chegada do Romeiro,
as notcias que traz, o grito
de D. Madalena quando
se confirmam os seus piores
receios e v ocorrer a sua
destruio e a da sua famlia.
A clebre exclamao do
Romeiro, no final do ato II
Ningum!.
A morte de Maria,
no final do ato III.
O S e b a s t ia n is m o: h is t r ia e fic o
N
FREI LUS
DE SOUSA
ALMEIDA GARRETT
Re c or t e d a s p e r s on a g e n s p r in c ip a is
D. Madalena de Vilhena
a figura trgica por
excelncia. No s por
ser a causadora involuntria da tragdia, ao
apaixonar-se por Manuel de Sousa Coutinho na constncia
do casamento com D. Joo de Portugal,
como, principalmente, por no ter, como
confessa na cena I do ato I, desde que
casou, um momento de paz j que vive
debaixo da incerteza sobre a morte do
primeiro marido. Refm de agouros, est
marcada pela fatalidade que chegar
no final da pea, revoltando-se, romanticamente, contra o seu destino.
Maria de Noronha
uma figura tpica de
mulher-anjo romntica,
com a sua fragilidade
acentuada pela tuberculose. Caracterizada por
um forte idealismo de cariz patritico,
no qual se encaixa a crena sebastianista, revela capacidades de intuio de um
mistrio que envolve a famlia, e que vir
a descobrir, sendo arrastada na destruio dos pais. Assume, nas cenas finais,
a revolta contra a profunda injustia da
sua situao.
Telmo Pais
D. Joo de Portugal
A d im e n s o p a t r it ic a
e a s u a e x p r e s s o s im b lic a
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
A estrutura da obra
Frei Lus de Sousa divide-se em 3 atos, tendo o primeiro 12 cenas, o segundo
15 e o terceiro 12.
Pode dividir-se a pea em 3 grandes seces:
EXPOSIO
CONFLITO
Ato II, cenas I a XV D. Madalena reage muito mal ao incndio e mudana para a nova residncia. Maria sente mais fortemente um mistrio
que envolve os pais, sentimento exacerbado pelo retrato de D. Joo de
Portugal. Tendo D. Madalena ficado sozinha com Frei Jorge, pois o marido teve de ir a Lisboa, chega um Romeiro, numa sexta-feira, dia que
D. Madalena confessa lhe ser aziago. O Romeiro revela que D. Joo de
Portugal vive ainda em cativeiro.
DESENLACE
Tomada de hbito do casal.
Morte de Maria em cena.
Ato III, cenas I a IX Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena decidem professar a vida religiosa. O estado de sade de Maria agrava-se.
O Romeiro, tendo sabido por Telmo que D. Madalena o procurou muito
tempo antes de casar pela segunda vez, tenta remediar o mal que fez,
com a ajuda de Telmo, mas Frei Jorge no permite.
VIAGENS
NA MINHA
TERRA
ALMEIDA GARRETT
De a m b u la o g e og r fic a e s e n t im e n t o
n a c ion a l
1.
2.
a paisagem portuguesa no captulo VIII, Garrett canta romanticamente a charneca: Bela e vasta plancie!. com entusiasmo romntico que o autor e narrador louva as caractersticas da paisagem da
sua terra, Portugal, atravs de nomes como doura ou amenidade
este ltimo a evocar o clssico locus amoenus;
3.
a Histria de Portugal no mesmo captulo, Garret revela, nas reflexes que o dilogo com um acompanhante proporcionam, o seu amor
entristecido e melanclico, mas nem por isso menos forte, a um Portugal
h pouco sado de uma guerra civil com consequncias nefastas para os vencidos e
os vencedores: Toda a guerra civil triste. E difcil dizer para quem mais triste, se
para o vencedor ou para o vencido..
A obra termina com a confisso romntica de que de todas as terras que visitou nenhuma o encantou tanto como a terra portuguesa(captulo XLIX)
10
A r e p r e s e n t a o d a Na t u r e z a
A char neca
r ibat ejana
(capt ul o VIII)
O val e
de sant ar m
(capt ul o X)
Dim e n s o r e fle x iv a e c r t ic a
ma vez mais fundamental relembrar o projeto inicial de Viagens na minha terra: porque o narrador pretende fazer crnica de tudo o que vir
e ouvir, pensar e sentir, as suas refl exes tero sempre como pano
de fundo o amor a Portugal, o interesse pela sua terra, no sentido de interpretar
criticamente Portugal.
Apresentam-se alguns exemplos:
P e r s on a g e n s r om n t ic a s
Narrador
Carlos
Joaninha
uma personagem
romntica na medida
em que assume um tom
confessional desde o
captulo I, quando apresenta o seu projeto de escrita. Alm disso, contribui
ainda para essa classificao o facto
de ele fazer comentrios constantes
a propsito de tudo, assumindo a obra
um forte carter subjetivo.
11
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
Estrutura da obra: viagem e novela
iagens na minha terra uma obra com 49 captulos. A maior parte dos
captulos so crnicas de viagem com as quais alternam outros que narram a novela sentimental protagonizada por Carlos e Joaninha.
Coloquialidade e digresso
Dimenso irnica
escritor romntico frequentemente refl ete sobre o seu processo de escrita de modo irnico. Esta ironia concretiza-se numa autocrtica leve.
Por exemplo, logo no incio de Viagens na minha terra, o autor confessa ter resolvido imortalizar-se escrevendo estas suas viagens.. Exemplo tpico
de ironia romntica, esta frase assume uma evidente distanciao crtica logo,
irnica do autor em relao sua obra. Esta dimenso irnica retomada pouco
depois quando o autor apresenta o assunto do seu livro: este no uma simples
viagem volta de um quarto, como noutra obra clebre na Europa de ento, mas
nem mais nem menos uma viagem de Lisboa a Santarm assunto mais largo.
Esta expresso est eivada de ironia, pois afinal a viagem no era assim to longa
E Garrett sabia que nunca o seu livro poderia competir com Viagem volta do
meu quarto, de Xavier de Maistre
12
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
Recursos expressivos
Verdes os olhosdela, do vulto da janela?
Verdes como duas esmeraldas orientais, [] (Captulo X)
Compar ao
[] sou como aqueles pintores da Idade Mdia que entrelaavam nos seus
painis dsticos de sentenas, fitas lavradas de moralidades e conceitos
(Captulo XX)
[] do outro a frescura das hortas e a sombra das rvores, palcios, mosteiros,
stios consagrados [] (Captulo I)
Enumer ao
Int er r ogao
r et r ica
Met for a
Met onmia
Sindoque
13
AMOR DE
P ERDIO
CAMILO CASTELO
BRANCO
S u g e s t o b iog r fic a (S im o e n a r r a d or )
e c on s t r u o d o h e r i r om n t ic o
Simo e narrador
heri romntico Simo Botelho. um heri construdo atravs dos seguintes passos:
num primeiro momento, assume-se como irresponsvel e arruaceiro,
dominado romanticamente por foras obscuras;
sobrevm a paixo inocente por uma jovem sua vizinha, Teresa, paixo
correspondida que tem de esconder, pois os seus pais e os de Teresa
so inimigos figadais inicia-se assim o aparecimento do heri romntico, indivduo vtima de uma sociedade que impede a sua felicidade;
14
inocncia
amor
solido
individualismo
oposio das convenes sociais ao amor
impossibilidade
do amor
revolta
morte (do heri e dos que o amam)
Heri romntico
O a m or -p a ix o
Simo
Teresa
Mariana
15
SIMO
e
TERESA
AMOR DE
P ERDIO
O amor entre ambos recproco e surgiu numa troca de olhares, estando ambos nas janelas das respetivas casas, que se confrontavam.
Namoraram como puderam, conscientes dos perigos.
Uma vez descobertos, ser principalmente atravs
de cartas de amor, esperana, iluso, desiluso e
sofrimento que ambos acabaro no caminho da resignao e da morte.
CAMILO CASTELO
BRANCO
SIMO
e
SEUS PAIS
MARIANA
e
SIMO
SIMO
Rita a irm preferida de Simo, sua confidente,
a quem ele conta os seus amores. Retribui ao irmo
a amizade especial que dele recebe.
TERESA
e
SEU PAI
pssima a relao entre Teresa e seu pai, Tadeu de Albuquerque. Este, odiando
o pai de Simo, ope-se ao relacionamento da filha com o amado. Alm disso,
decide cas-la com um primo, Baltasar. o grande responsvel pela desgraa
da filha.
Embora muito jovem, Teresa soube resistir proposta de casamento com o primo, que despreza por
pretender casar com ela sem que ela o ame. -lhe
inconcebvel um casamento nestas circunstncias.
16
TERESA
e
SEU PRIMO
BALTASAR
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
O narrador
A concentrao temporal da ao
mor de perdio um romance estruturado em uma Introduo,
20 captulos e uma Concluso. A ao decorre num perodo que vai de
1779, ano em que os pais de Simo se casam, e 1807, ano em que morrem, no mesmo ms (maro), Simo, Teresa e Mariana. A ao concentra-se entre
1801, o ano em que Simo e Teresa se apaixonam, e 1807. A ao decorre, a partir
de 1801, linearmente, sucedendo-se os acontecimentos cronologicamente at ao
desenlace final. A exceo o captulo I, no qual ocorre um curto recuo no tempo
para o leitor conhecer aspetos biogrficos dos pais de Simo.
Os dilogos
17
A
ABBADA
ALEXANDRE HERCULANO
1.
Im a g in a o h is t r ic a e s e n t im e n t o
n a c ion a l
rata-se de uma narrativa histrica, gnero que Alexandre Herculano introduziu em Portugal, que tem como pano de fundo a construo do mosteiro
da Batalha, nos finais do sculo XIV, para celebrar a vitria portuguesa na
batalha de Aljubarrota.
Partindo desse facto histrico, a novela faz uma reconstituio do passado, orientada sobretudo pela imaginao do escritor.
Afonso Domingues mostra um profundo ressentimento por ter sido substitudo por Mestre Ouguet na direo
das obras do mosteiro, atribuindo essa
substituio a influncias e ao facto de
estar cego. Mestre Ouguet desdenha
tambm das capacidades de arquiteto
de Afonso Domingues e dos portugueses em geral, que considera ignorantes
e incultos.
J OO
DAS REGRAS
e
O CONDESTVEL
2.
Esta reconstituio pretende criar um sentimento nacional baseado nas condutas exemplares de heris do passado, como os seguintes:
Mestre de Aviz ou D. Joo I a exaltao das qualidades
guerreiras dos portugueses na batalha de Aljubarrota;
Afonso Domingues versus Mestre Ouguet a valorizao das qualidades dos portugueses em detrimento
das dos estrangeiros;
Brites de Almeida (padeira de Aljubarrota) valorizao da independncia;
Frei Loureno Lampreia a presena do cristianismo.
AFONSO
DOMINGUES
e
D. J OO I
D. J OO I
e
MESTRE
OUGUET
Ca r a c t e r s t ic a s d o h e r i r om n t ic o
um homem cego e amargurado que se revolta contra esse facto, mas que aceita voltar direo das obras ao ser desagravado pelo rei. Mostrou a sua tmpera de
homem inabalvel nas suas convices quando jurou sentar-se durante trs dias
e trs noites em jejum debaixo da abbada que reerguera. No resistiu provao,
mas antes de morrer pde afirmar: A abbada no caiua abbada no cair!.
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
Alexandre Herculano utiliza em geral frases longas e solenes tanto no discurso
indireto como no direto. As intervenes das personagens so, em geral, feitas de
forma enftica, quase declamatria, com um vocabulrio por vezes arcaizante.
Estrutura
INTRODUO
DESENVOLVIMENTO
O cego (Captulo I)
1. Apresentao das personagens e da situao inicial
Afonso Domingues fora afastado da direo das obras do
mosteiro da Batalha.
Recursos expressivos
Compar ao
Enumer ao
[] a madressilva, a rosa
agreste, o rosmaninho e
toda a casta de boninas teciam um tapete odorfero e
imenso, [] (Captulo V)
Met for a
CONCLUSO
[] a idolatria comeou
seu arrazoado contra a F,
queixando-se de que ela a
pretendia esbulhar da antiga
posse em que estava de receber cultos de todo o gnero
humano, [] (Captulo III)
OS MAIAS
EA DE QUEIRS
Qu e s t o coim b r
olmica que, em 1864 e 1865, envolveu intelectuais portugueses defensores da esttica romntica e outros que defendiam uma nova forma de
literatura, o Realismo. Contudo, mais do que uma polmica estritamente
literria, o que estava em causa era a discusso entre formas tradicionais de cultura, de vida social, de poltica, e novas formas que aproximassem Portugal da Europa
evoluda. Ea de Queirs participou na polmica tomando partido pelas novas ideias.
Con fe r n cia s d o Ca s in o
onjunto de conferncias realizadas em Lisboa em 1871, nas quais elementos da Gerao de 70 apresentaram uma srie de propostas para fazer
avanar Portugal em direo Europa mais desenvolvida. Uma das conferncias foi proferida por Ea Queirs em defesa do Realismo.
Re a lis m o
Na tu r a lis m o
20
A r e p r e s e n t a o d e e s p a os s oc ia is
e a c r t ic a d e c os t u m e s
Es p a os e s e u v a lor s im b lic o e e m ot iv o
acompanhou os seus habitantes na
morte seja ela fsica (a de Afonso) ou
Quando Carlos, no final do romance, moral (a de Carlos): desabitado, escuro,
visita com Ega o Ramalhete, depois de fechado.
algum tempo fora do pas, confessa ao
amigo: curioso! S vivi dois anos
nesta casa, e nela que me parece estar metida a minha vida inteira!
O Ramalhete o palacete lisboeta renovado para que nele se instalem Carlos, terminados os seus estudos, e o av
Afonso. o espao central da histria
de Os Maias. Durante pouco mais de um
ano, ali vivero av e neto, num espao A Qu in ta d e Sa n ta Ol v ia
que, de agradvel, de preparado para
o espao que simboliza a felicidade
a felicidade, se vai simbolicamente fe- e a inocncia de Carlos; a paz e a espechando, escurecendo, para nele ocorrer rana de Afonso. um espao rstico,
a tragdia da morte de Afonso, quando no qual Afonso vive com emoo a eduse apercebe de que o neto falhou a vida. cao do neto e orgulhoso do resultado
Estas palavras emotivas de Carlos tra- dessa educao que valoriza o contacto
duzem bem o simbolismo de um espa- com a Natureza.
o que, marcado pela esperana inicial,
O Ra m a lh e te
A Toca
talvez o espao mais simblico e premonitoriamente trgico em Os Maias.
o espao da unio amorosa de Carlos e
de Maria Eduarda. o espao marcado
por terrveis agouros ligados ao incesto
inconsciente. Na alcova das intimidades,
a decorao simblica no deixa dvidas: o painel com a cabea degolada de S. Joo Baptista ou a enorme
coruja empalhada que observa o leito do amor com olhos sinistros tudo
aponta, num simbolismo trgico, para a
destruio final dos amantes.
21
A d e s c r i o d o r e a l e o p a p e l
d a s s e n s a e s
sensaes
tteis
OS MAIAS
EA DE QUEIRS
sensaes
visuais
sensaes
auditivas
sensaes
gustativas
sensaes
olfativas
e visuais
Re p r e s e n t a e s d o s e n t im e n t o e d a p a ix o:
d iv e r s ific a o d a in t r ig a a m or os a
P e d ro d a Ma ia
Ca r los d a Ma ia
Eg a
Caracteriza-se pela
expresso de sentimentos amorosos romanticamente intensos, a
nada dando valor seno
fora desses sentimentos que cegamente o arrastam na paixo por Maria
Monforte. Sobrepe os sentimentos
aos conselhos do pai.
Ca r a c t e r s t ic a s t r g ic a s d os p r ot a g on is t a s
Afon s o d a Ma ia
Ca r los d a Ma ia
Ma r ia Ed u a rd a
Personagem duplamente
trgica, reviu no neto a tragdia do filho. Falhou tragicamente ao no conseguir
para Carlos o destino para o qual o pensava ter educado, morrendo em consequncia disso.
o exemplo perfeito da
personagem dominada pela
fora cega do Destino, que
a destri. Mas apresenta
tambm uma dimenso trgica na sua
vida mesmo antes de conhecer Carlos,
pois, partindo do mau exemplo da me,
teve uma existncia algo irregular com
vrios amantes.
22
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
Ttulo e subttulo
Recursos expressivos
Compar ao
Sinest esia
[] no ar macio morria
a distncia um toque fino
de missa. (Captulo VIII)
Ir onia
Discur so indir et o
Met for a
A ILUSTRE
CASA DE
RAMIRES
EA DE QUEIRS
Ca r a c t e r iz a o d a s p e r s on a g e n s
e c om p le x id a d e d o p r ot a g on is t a
Gon a lo Ra m ire s
Membro da nobreza rural em decadncia, jovem e solteiro, Gonalo
Mendes Ramires vive das rendas que lhe pagam os caseiros que trabalham as suas terras. Consciente da descida de estatuto social da sua
classe, comea a escrever uma novela histrica na qual possa rever a
glria dos antepassados. Decide, entretanto, entrar na poltica e acaba por ser eleito deputado.
uma personagem complexa, marcada por contradies vrias:
se, por um lado, louva a lisura dos
antepassados, por outro no se revela honesto nas suas relaes com
um caseiro;
se decide entrar na poltica para fazer carreira e nada mais, acaba por
arrepender-se, abandonar a poltica
e ir procurar a riqueza em frica.
Outras personagens
Gr a cin h a Ra m ire s
An d r Cav a le iro
Jo o Gou v e ia
24
um poltico calculista.
Amigo de Gonalo
desde a juventude, este
poeta e tocador de violo anima festas e jantares nos quais participa a roda de amigos de
Gonalo. Videirinha acaba por conseguir
um emprego como funcionrio pblico
atravs da influncia de Gonalo.
O m ic r oc os m os d a a ld e ia c om o
r e p r e s e n t a o d e u m a s oc ie d a d e
em m u ta o
O e s p a o e o s e u v a lor s im b lic o
25
H is t r ia e fic o: r e e s c r it a d o p a s s a d o e
c on s t r u o d o p r e s e n t e
A ILUSTRE
CASA DE
RAMIRES
EA DE QUEIRS
ilustre Casa de Ramires um romance que apresenta uma estrutura dupla. Por um lado h o presente, a histria de Gonalo Ramires e das suas
circunstncias; por outro, e decorrendo do estado decadente da famlia,
h o passado. Este tempo traduzido numa novela histrica designada A Torre
de D. Ramires, que Gonalo escreve para restaurar o Portugal antigo, nomeadamente o da Primeira Dinastia, de modo a enaltecer os valores dos seus prprios
antepassados.
Ao escrever a sua novela, ao trazer para o presente decadente os valores do passado, esta serve para construir um presente que se liberte da decadncia referida.
O passado e o presente esto, assim, entrelaados no romance, coexistindo dois
narradores, um que conta a ao presente e outro que narra o passado.
A narrativa do presente tem ntido carter realista, na medida em que analisa e
disseca uma sociedade, mostrando o que nela no est bem. A narrativa do passado, embora de natureza romntica e idealista, pretende contribuir para aperfeioar
o presente, apontando caminhos que o libertem do estado a que chegou.
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
Estruturao da obra: ao principal e novela
A obra tem 12 captulos. Nenhum deles dedicado na ntegra novela (o passado).
Ela aparece encaixada na ao principal (o presente) nos seguintes captulos: II, III, V, VIII, IX e X.
Recursos expressivos
Compar ao
26
Hipr bol e
Ir onia
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
Met for a
Por fim, uma noite em que Gonalo, banca, depois do ch, laboriosamente escavava os fossos do Pao de Santa Ireneia[]
(Captulo I)
Discur so dir et o
Discur so
indir et o
27
SONETOS
COMP LETOS
ANTERO DE QUENTAL
A a n g s t ia e x is t e n c ia l
1.
2.
3.
Antero de Quental, Poesia completa 1842-1891, organizao e prefcio de Fernando Pinto do Amaral, Lisboa,
Publicaes Dom Quixote, 2001, pp. 248, 570 e 218.
Con fig u r a e s d o Id e a l
O
2.
1.
28
3.
Lin g u a g e m , e s t ilo e e s t r u t u r a
O discurso conceptual e o soneto
ntero de Quental justamente considerado um dos grandes sonetistas portugueses. Pertencendo terceira gerao romntica,
a sua poesia caracteriza-se por um forte idealismo associado a
conceitos abstratos como, por exemplo, os de Verdade, de Justia,
de Liberdade e de Ideal.
Para desenvolver uma poesia relativa a estas ideias abstratas, assentes
frequentemente em imagens concretas, Antero serviu-se muito de uma forma potica fixa, o soneto, marcado por regras especficas que lhe permitiam
desenvolver assuntos graves com emoo e autenticidade.
Para Antero, a forma mais completa do lirismo puro o soneto. Com o
seu verso longo, o soneto permitia-lhe, num molde de duas quadras e dois
tercetos, explanar, os seus conceitos, demonstrando-os.
Recursos expressivos
Noite, vo para ti meus pensamentos, (Nox)
Apst r ofe
Met for a
29
CNTICOS
DO
REALISMO
CESRIO VERDE
A r e p r e s e n t a o d a c id a d e
e d os t ip os s oc ia is
a soturnidade e a melancolia da cidade provocam nele um desejo absurdo de sofrer. Lisboa representada ao
anoitecer e as luzes vo-se apagando
no decurso do longo poema at chegar a
noite fechada na Triste cidade!. Esta
uma cidade com ruas metaforizadas em
nebulosos corredores, com prdios
sepulcrais.
Na cidade, o sujeito potico compraz-se na observao por vezes comovida
de um grande nmero de tipos sociais.
So eles que do agitao e vida cidade e a humanizam.
Deambulao e imaginao:
o observador acidental
Tipos Sociais
Cristalizaes
calceteiros, peixeiras, rapages
trabalhadores braais, Homens de
carga!, cavadores, uma atriz
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semelham-se a gaiolas
P e r c e o s e n s or ia l e t r a n s fig u r a o
p o t ic a d o r e a l
P e rce o s e n s or ia l d o re a l
atravs de uma multiplicidade de sensaes que a realidade chega, frequentemente, ao sujeito potico em deambulao. Eis alguns exemplos
que comprovam a frequncia e a importncia da perceo do real atravs
dos sentidos:
sensaes visuais
sensaes auditivas
sensaes olfativas
sensaes gustativas
sensaes tteis
Tr a n s fig u r a o p o tica d o re a l
da utilizao de comparaes e de
metforas. Vendo os simples vegetais na giga da rapariga que
os vende de porta em porta, o poeta
recompe a realidade vegetal observada num novo corpo orgnico,
isto , passa a ver em cada componente da giga ou conjunto de componentes idnticos outra coisa , mas
sempre de modo motivado, da os
dois recursos expressivos referidos:
O im a g in r io p ic o e m
O s e n t im e n t o d u m oc id e n t a l
A e s tr u tu r a
ste o mais longo poema composto por Cesrio Verde. Apresenta quatro
partes (normalmente designadas Ave Marias, Noite Fechada, Ao gs
e Horas Mortas). Cada parte tem 11 quadras, com o primeiro verso decasslabo e os seguintes alexandrinos e esquema rimtico ABBA. O verso longo
adequado a uma poesia que descreve o que o sujeito potico observa.
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Su b v e r s o d a m e m r ia p ica : o Poe ta , a v ia g e m
e a s p e r s on a g e n s
CNTICOS
DO
REALISMO
CESRIO VERDE
Lin g u a g e m e e s t ilo
Recursos expressivos
Compar ao
Como morcegos, ao cair das badaladas, / Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.
(O sentimento dum ocidental)
Met for a
Hipr bol e
Sinest esia
Enumer ao
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