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Extensoes Verbais Do Shimakonde
Extensoes Verbais Do Shimakonde
Extensoes Verbais Do Shimakonde
1.
Introduo
1.1.
Dados do Shimakonde
LUCAS BONGA
1
1.2.
Metodologia
O mtodo de estudo usado para a elaborao deste trabalho foi o filolgico, que consiste
na consulta de materiais bibliogrficos que versam sobre o tema, cujos mesmos sero
devidamente citados ao longo do texto e no fim do trabalho, nas referncias bibliogrficas. Mas
tambm usmos o mtodo introspectivo, que consistiu no uso do conhecimento que temos da
lngua para a elaborao de alguns exemplos, uma vez que somos falantes nativos da mesma.
1.3.
Organizao do trabalho
LUCAS BONGA
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2.
Reviso de literatura
Uma vez que as extenses verbais constituem afixos derivacionais que se acoplam
imediatamente direita da raiz ou radical e antes da vogal final, Okoudowa (2010: 67), e
consequente mudam o significado do mesmo, diz-se que estes morfemas so derivacionais, na
medida em que criam novas palavras. Assim, faz-se necessrio definir o conceito de morfologia,
morfologia flexional e derivacional, morfemas livres e presos, raiz, radical simples e radical
extenso.
De acordo com Ngunga (2004: 99) a morfologia estuda os morfemas, as regras que
regem a sua combinao na formao da palavra, bem como a sua funo no sintagma e na frase.
O mesmo autor afirma que morfemas so unidades mnimas de anlise morfolgica que
carregam sentido, quer lexical quer morfolgico.
A morfologia derivacional permite a criao de novas palavras, ao passo que a
morfologia flexional apenas modifica a sua base, Langa (2013: 117). Atente ao exemplo a seguir
em Shimakonde:
1. Ku-pat-a
obter
No exemplo em 1 podemos claramente ver que estamos diante de uma palavra com trs
morfemas, onde ku- e -a constituem a marca do infinitivo, prefixo da classe 15, e a vogal final,
respectivamente, ao passo que -pat- constitui a raiz do verbo obter. Assim, deduzimos que ku- e
-a constituem morfemas que carregam sentido gramatical, na medida nos indicam o modo e uma
terminao bsica de verbos em Bantu, ao passo que -pat- carrega o sentido lexical da palavra.
No entanto, como apontmos acima, podemos ter dois tipos de morfemas, a saber: presos
e livres. Parafraseando Okondowa (2010) e Ngunga (2004) morfemas presos constituem afixos
que geralmente carregam a sentido gramatical e que devem se ajuntar a outros morfemas.
Morfemas livres so aqueles que carregam o sentido gramatical, que podem ocorrer s e que
geralmente so morfemas aos quais os morfemas presos se acoplam. Portanto, a partir dessas
posies podemos aferir que no exemplos em 1 -ku- e -a constituem morfemas presos e -patconstitui um morfema livre.
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Viagem (2014: 103) citando Ngunga (2004: 149), que por sua vez se refere a Xavier e
Mateus (1992: 321), assume que raiz verbal o constituinte que carrega o significado bsico da
palavra e que no contenha nenhum afixo derivacional e nem flexional. Portanto, retornando ao
exemplo em 1, -pat- a raiz do verbo, de acordo com a definio acima.
Bauer (1988), citado por Langa (2013: 117), define radical verbal como sendo a base que
fica quando todos os afixos de concordncia e de conjugao tiverem sido retirados. Portanto,
<ele pode conter afixos derivacionais>, Mateus e Xavier (1992: 321) citados por Ngunga (2004:
153). Ora vejamos os exemplos que se seguem:
2
a)
Ku-pat-a
obter
b)
Ku-pat-iy-a
fazer obter
c)
ku-nyukat-a
carregar
d)
ku-nyukat-il-a
carregar por/para
As extenses verbais foram largamente estudadas por Guthrie (1970), este que fez a
reconstruo das mesmas baseadas num estudo comparativo de diversas lnguas Bantu
pertencentes a diferentes grupos. Assim, a partir desse estudo ele reconstituiu nove extenses
verbais, nomeadamente a causativa, aplicativa, neutra, posicional, recproca, separativa, passiva,
LUCAS BONGA
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intensiva e persistiva. Porm, Schadeberg (2003) vem acrescentar quatro extenses verbais lista
de Guthrie, nomeadamente a impositiva, repetitiva, extensiva e contactiva, Langa (2013: 120).
O Shimakonde por sua vez apresenta dez extenses verbais, a saber: aplicativa, causativa
directa e indirecta, impositiva, intensiva, passiva, repetitiva, reversiva, recproca e estativa,
Liphola (2001: 53-54). De seguida sistematizamos as informaes dadas a partir de uma tabela
adaptada de Langa (2013: 120) e Liphola (2001: 53-54).
Tabela 1. Extenses verbais do Proto-bantu e suas correspondentes em Shimakonde
Extenso verbal
Causativa
Guthrie (1970)
*-is-
Schadeberg (2003)
*-i-/-ici-
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Aplicativa
Impositiva
Neutra
Estativa
Recproca
Repetitiva
Extensiva
Contactiva
Reversiva
Passiva
Persistiva
Intensiva
*-id---------------------*-ik*-am*-an------------------------------------------------------------*-ul*-w-/-ibw*-idid*-isis-
*-il*-ik*-ik*-am*-an*-ag- ~ -ang*-al*-at*-ul-;-uk*-u-/-ibu-----------------------------------------
Liphola (2001)
1.-iy2.-ish-y-id-y-il-ik-/-uk----------------------------------an-ang-------------------------------------ul-w-/-igw----------------ish-iy-/-iy-
Posto isto, passamos para a terceira parte do nosso trabalho, o corpo, onde faremos a
anlise das extenses verbais que ocorrem no Shimakonde e olharemos para o aumento,
diminuio e manuteno dos argumentos verbais que algumas extenses podem impor sobre as
razes dos verbos a que se aglutinam. Nesta parte tambm olharemos para a ordem obrigatria
que as extenses devem seguir quando combinadas mesma raiz ou base verbal.
3.
3.1.
Lodhi (2002: 6) define a extenso causativa como sendo o morfema que semanticamente
indica que algo ou algum faz uma segunda coisa ou pessoa fazer ou ser algo.
Schadeberg (2003: 73) citando Bastin (1986), diz que h duas extenses causativas
reconstruidas do proto-bantu, que esto em distribuio complementar, nomeadamente *-i-, que
ocorre depois de consoante, e *-ici-, que ocorre depois de vogal.
Do nosso ponto de vista, essas formas correspondem aos alomorfes do Shimakonde -iy- e
-ish-y- ou -id-y-, respectivamente, que Liphola chama de causativa directa primeira e indirecta
segunda. Porm no que diz respeito distribuio complementar verificamos uma disparidade,
pois tanto um alomorfe quanto outro podem ocorrem nos mesmos contextos morfolgicos.
Vejamos os exemplos extrados de Liphola (2001: 72):
3
a)
ku-lim-a
cultivar
b)
ku-lim-iy-a
fazer cultivar
c)
ku-lim-ishy-a
fazer cultivar
d)
ku-lim-idy-a
fazer cultivar
e)
nangu ni-ndi-lim-a
f)
baba
lyala
a-ndi-ngu-lim-iy-a lyala
eu cultivei a machamba
o pap fez-me cultivar a machamba
3.2.
a)
ku-lim-a
cultivar
b)
ku-lim-il-a
cultivar para/por
c)
ni-ndi-lim-a
ni-ndi-ku-lim-il-a
lyala
eu cultivei a machamba
lyala
3.3.
A extenso que Liphola considera impositiva a mesma que outros autores como Langa
(2013) e Ngunga (2004) consideram de pseudo-passiva. Ns assumiremos essa posio pelo
facto de ela reduzir a valncia do verbo, assim como acontece com a passiva. Atente aos
exemplos abaixo extrados de Liphola (2001):
5
a)
ku-lim-a
cultivar
b)
ku-lim-ik-a
estar cultivada
c)
lyala
li-ndi-lim-ik-a
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*lyala li-ndi-lim-ik-a na
vanu
pessoas
Os exemplos acima mostram claramente que se trata de uma extenso pseudo-passiva, a
prova disso est no facto de ao acrescentarmos um argumento na frase gerar agramaticalidade.
Confira Langa (2013: 137). Portanto, esta extenso reduz a valncia do verbo.
3.4.
A extenso recproca indica que a aco expressa pelo verbo , simultaneamente, feita de
um par para outro, Botne (2003: 437), referido por Langa (2013: 138). Vejamos os exemplos do
Shimakonde a seguir:
6
a)
ku-kanyol-a
bater
b)
ku- kanyol-an-a
bater-se mutuamente
3.5.
A extenso repetitiva denota que a aco expressa pelo verbo decorre com algum tipo de
repetio, Langa (2013). Assim, ela no pode aumentar a valncia do verbo e nem diminui-la.
Atente aos exemplos abaixo:
7
a)
ku-lim-a
cultivar
b)
ku-lim-ang-a
cultivar repetidamente
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3.6.
A extenso reversiva indica uma reverso total da aco, Langa (2013: 139). Atente aos
exemplos abaixo:
8
a)
ku-shim-a
fechar
b)
ku-shim-ul-a
abrir
Os exemplos acima mostram uma reverso da acco descrita pelo verbo. Importa
salientar que esta extenso no produtiva no Shimakonde assim como noutras lnguas Bantu.
3.7.
Esta extenso muda tanto a o significado quanto a valncia do verbo, Langa (2013),
podendo nesse caso transitivizar um verbo intransitivo. Em caso de verbos com dois argumentos
o objecto paciente passa para objecto sintctico da frase. Observemos os exemplos abaixo:
9
a)
ku-pel-a
morrer
b)
munu a-ndi-pel-a
algum morreu
c)
d)
ku-lum-a
morder
e)
nyoka a-ndi-n-num-a
f)
munu
cobra
Os exemplos em c e f acima mostram que esta extenso pode transitivizar verbos
intransitivos, aumentando mais um argumento, assim como pode mudar o objecto paciente de
sua posio para a posio cannica de sujeito.
3.8.
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Hyman (2002), citado por Okoudowa (2010: 67), postula que as extenses verbais em
Bantu tendem a seguir uma ordem cannica seguinte: causativa, aplicativa, recproca e passiva,
da a sigla CARP.
Liphola (2001: 54) diz que quando mais de uma extenso combinada h uma ordem
restrita que se deve seguir. Assim, quando temos a combinao da extenso recproca, repetitiva
e aplicativa, a recproca segue imediatamente a raiz e a aplicativa deve aparecer por ltimo,
como mostra o exemplo abaixo:
10
a)
ku-shem-an-ang-il-a
4.
Concluso
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6.
REFERNCIAS
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