Livro Currículo Escolar
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Livro Currículo Escolar
CURR~CULOESCOLAR:
Impresso no Brasil
I'rintcd in 13ra~iL
Programa de Ps-Graduao em Educao
Ccntro de Cincias Sociais - Mestrado em Educao
Avenida dos Portugueses, s/n
Campus Universitrio do Bacanga - So Lus - Maranho
(:EP 65085-550 -Telefone: (98) 3301-8660 - Fax: (98) 3301-8659
Internet: www.educacao.ufma.br - e-mail: meducacao@ufma.br
Normalizao de texto
Gisele Rocha da Silva
Reviso
Maria Nbia Barbosa Bonfim
h
(:apa
Patrcia Rgia Sodr Niccio
Editorao
ITzequiel Silva Filho
SOBRE O S AUTORES
Universidade Federal d o Maranho
Reitor
Prof. Dr. Nataliiio Salgado Fillio
Diretor d a E D U F M A
Prof. D r . Sai-iatiel d e Jesus Pereira
C o o r d e n a d o r a do P r o g r a m a de P s - G r a d u a o ein E d u c a o
Profa. D r a . Francisca d a s C h a g a s Silva L i m a
D i r e t o r do C e n t r o de C i n c i a s S o c i a i s
Prof. D r . C s a r A u g u s t o C a s t r o
Coordeiiao Editorial
Profa. Tlra. Tlma Vieira d o N a s c i m e n t o
Profa. D r a . Llia Ci-istina Silveira d e M o r a e s
Profa. D r a . M a r i a N b i a Barbosa Borifim
CoiiselTio E d i t o r i a l
Atlelaide Frreira Co~itinlio- UFhtIA
Ana ?/Iaria Ii-io Dias - UFC
Antonio tle Pitlua C. Lopes - UFPI
Antonio Pa~ilinotle So~is;i-UFhtIA
Clia Fraz,'io Soares Linhares - UFF
Csiir Augusto Castro - Ul"hllA
Diomar (Ias Graas hlotta - UFhlIA
Prancisca das Chagas Silva Lima - UFhlIA
Ga~idncioFrigotto - UEKJ
Ilma Vieira tlo Nascimento - UF'I\/IA
Ilzeni Silva Dias - UFhlIA
Iran de PYIaria Leito Nunes - UFMA
Ivanilde Apoluceno tle Oliveira - UEPA
Jogo tle Deus Vieira de Barros - UFhlIA
Jos Ger;irdo V:isconcelos - UFC
APRESENTAAO ...............................................................................9
INTERDISCIPLINARIDADE E CONTEXTUALIZAO
NA REFORMA CURRICULAR D O ENSINO MDIO ......... 15
Conceio de Maria Pereira Serra Pinto
Ilma Vieira do Nascimento
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CURR~CULO
ESCOLAR
D I M E N S ~ EPEDAGGICAS
S
E POL~TICAS
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CURR~CULO
ESCOLAR
INTERDISCIPLINARIDADE E CONTEXTUALIZAO
NA REFORMA CURRICULAR DO ENSINO MDIO
Conceio de Maria Pereira Serra Pinto
Ilma Vieira do Nascimento
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ESCOLAR
1
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C...) a organizao do currculo deve ser coerente com princpios estticos, polticos e ticos, abrangendo a esttica da
sensibilidade, que dever substituir a da repetio e padronizao, estimulando a criatividade, o esprito inventivo, a
curiosidade pelo inusitado, e a afetividade, bem como facilitar a constituio da identidades capazes d e suportar a
inquietao, conviver com o incerto e o imprevisvel C.. )
(BRASIL, 1998a, p. 102)
A recomendao das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Mdio - DCNEM - para que a construo do currculo se
d de forma a prever estratgias que, entre outros objetivos, ajudem
o estudante a "suportar a inquietao" remete-nos a questionamentos
sobre o qu, de fato, inquieta o jovem contemporneo: o desemprego?
os baixos salrios? a violncia? as constantes e diversificadas formas
de corrupo? Enfim, u m interminvel rol de fatores que concluzem a
vida dos jovens na trilha da insegurana.
{...} a educao essencial para o aumento da produtividade individual. A educao geral dota a criana de habilidades
que podem ser mais tarde transferidas de u m trabalho para
outro, e dos instrumentos intelectuais bsicos, necessrios
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CURR~CULO
ESCOLAR
Trata-se, pois, de uma radical separao entre o ensino profissional e o ensino propedutico, gerando tambm uma radical separao
na organizao curricular dessas modalidades de ensino, principalmente no que tange ao ensino de nvel tcnico. Esse decreto instituiu
trs nveis na educao profissional: o nvel bsico - que prescindia de
qualquer escolaridade prvia, destinado a qualificao e reprofissionalizao de trabalhadores; o nvel tcnico - destinado a egressos do
ensino mdio ou a aqueles em curso, com o fim de habilit-los profis-
CURR~CULO
ESCOLAR
Parecer, conferida as instituies escolares ampla autonomia e flexibilidade para construir o currculo do curso profissional, contextualizado com a realidade do mundo do trabalho. Em sendo assim, a livre
oferta de cursos pelas instituies de educao profissional pautam-se
nas demandas no s do mercado, mas tambm das pessoas e da sociedade. Ainda, segundo o Parecer CNE/CEB N. 16/99, a autonomia e
flexibilidade das instituies formadoras conferem a essas instituies
a capacidade de buscarem formas de integrao em diferentes campos
de estudo, rompendo com a segmentao e o fracionamento, tpicos
da organizao curricular por disciplinas. Trata-se, em suma, de adotar formas interdisciplinares na organizao do conhecimento escolar
adequadas ao desenvolvimento das competncias demandadas pelo
mundo do trabalho.
Os documentos orientadores no fazem, porm, referncia as
graves questes que afetam a dinmica da vida em sociedade. A discusso sobre a gravidade dos problemas relacionados aos elevados ndices de repetncia e de evaso, frequentes nesse nvel de ensino, a
escassez de emprego para os egressos, entre outros, substituda pela
viso otimista de que a escola preparar, competentemente, o jovem
para o mercado de trabalho.
Trata-se de um modelo terico que elabora os seus argumentos
com demasiada nfase em dimenses individualistas mescladas, contraditoriamente, com outras excessivamente "universalistas", abstraindo as peculiaridades das comunidades e do momento scio-histrico
em que foi formulado. Para Santom (1996), em discursos como esses
o ser humano aparece desvinculado de aspectos essenciais, como suas
dimenses scio-culturais e histrico-geogrficas. Neles, segundo o
autor, no enfatizado como essas variveis exercem um papel decisivo na aquisio do conhecimento interdisciplinar e contextualizado.
Nesse sentido, as injustias sociais, a distribuio desigual
do saber e das riquezas e bens econmicos, a desigualdade nas possibilidades de acesso a um mercado de trabalho restrito, no ocupam
lugar como preocupaes nos documentos oficiais. Isto porque as
complexas questes que afetam a dinmica social tm sido reduzidas
a algumas formulaes na legislao sobre a educao formal, que preconizam, dentre outras, determinadas finalidades, como a do ensino
i
i
A educao, entendida como instituio formal, no tem, necessariamente, a atribuio de gerar trabalho nem emprego. Novos postos
de trabalho e o aumento do nmero de emprego dependem de processos estruturais de organizao da produo, da estrutura do mercado
de trabalho, da estrutura ocupacional e dos mecanismos macroeconmicos e polticos que regulam o funcionamento das economias, nos
mbitos nacional e internacional. Dessa forma, o discurso muito difundido em sociedades que defendem a necessidade de formao dos
jovens com base em novos conhecimentos e competncias, de modo a
poderem interagir com as profundas mudanas socioeconmicas, tecnolgicas e culturais da contemporaneidade, est relacionado e afinado com os requisitos do atual contexto produtivo.
O fato de a escola no poder desconhecer as exigncias da produo no significa que deva se submeter passivamente a racionalidade
econmica vigente. Ao contrrio, a par da inevitvel (e necessria) "instrumentao" dos jovens para que sobrevivam no mundo real, torna-se
fundamental que a escola ensine a "leitura desse mundo" (FREIRE,
1994),ou, em outras palavras, que o significado do trabalho, a partir do
enfoque interdisciplinar e contextualizado, possibilite a compreenso
histrica das relaes estruturantes do mundo econmico-social, de
forma que a sociedade seja percebida como passvel de ser transformada.
Este , sem dvida, um dos elementos mais complexos das demandas da escola em relao ao trabalho e, consequentemente, das
demandas pelos princpios da interdisciplinaridade e da contextualizao, pois h divergentes posicionamentos de que a escola - em vista
de suas determinaes histricas e sociais - possa exercer esse papel.
Nesse sentido, possvel pensar em formas diferenciadas de expresso
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CURR~CULO
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DIMENSES
PEDAGOGICAS E POL~TICAS
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C.. } a educao brasileira limitou-se, ao longo de sua histria, a atender aos interesses das elites, visando forinai; entre
elas, os dirigentes, e tendo-se voltado para o povo apenas no
limite {...} de inculcao ideolgica para direcionar a escolha dos dirigentes. (SAVIANI, 1997, p. 56).
De fato, em nosso pas o dualismo se firma como uma marca presente em todos os aspectos da vida social, associado a uma sociedade
escravista e a processos discriminatrios sobre o trabalho manual.
Pelo carter que assumiu ao longo da histria da educao no
Brasil, o Ensino Mdio constituiu-se particularmente vulnervel a desigualdade social, como bem o explica Kuenzer (2001, p. 26):
C.. } assim que j se tem demonstrado ser a dualidade estrutural a categoria explicativa da constituio do Ensino
Mdio e profissional no Brasil, j que, desde o surgimento
da primeira iniciativa estatal nessa rea, at o presente, sempre se constituran~duas redes, uina profissional e outra de
educao geral, para atender as necessidades socialmente
definidas pela diviso social e tcnica do trabalho.
Temos como bem elucidativo esse entendimento sobre a constituio do Ensino Mdio no Brasil, pois esse nvel de ensino se pautou
em sua trajetria por uma ntida demarcao, destinando o ensino
profi~sionalqueles que no mundo do trabalho exerceriam funes
de carter instrumental (funes de execuo) e aos que, por sua posio social e econmica, destinava-se um ensino de carter intelectual,
uma educao mais geral, reafirmando, assim, a formao em nvel
mdio a prpria demarcao inerente a diviso estrutural entre capital
e trabalho, marcante no sistema produtivo taylorista-fordista.
Ao analisar essa questo, Cury (1996) afirma que o Ensino Mdio,
expressando um momento em que se cruzariam idade, competncia,
mercado de trabalho e proximidade da maioridade civil, expe um n
nas relaes sociais no ~ ~ manifestando
~ ~ i l , seu
dual e elitista,
mesmo das funes que ]hes so historicamente
a
funo formativa, a pl-opedutica e a profissionalizante. A propedutica de elites, cuja expresso se d nos estratos supe1-ioresde uma sociedade agrria e hierarquizada, incontestavelmente deixou seqelas
at hoje. A funo propedutica, dentro desse modelo, tem um ntido
sentido elitista e de privilgio, com destinao social explcita.
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DIMENSESPEDAGGICASE POL~TICAS
CURR~CULO
ESCOLAR
Contudo, pelas mudanas ocorridas no mundo do trabalho atreladas a globalizao da economia e a reestruturao produtiva, as velhas
formas tayloristas/fordistas deixam de ser dominantes. Instaura-se
um novo discurso que se refere a um trabalhador de novo tipo para
todos os setores da economia, com capacidades intelectuais que lhe
permitam adaptar-se a produo flexvel. Evidentemente, essas novas
determinaes mudariam o eixo da educao mdia e profissional, se
assegurada para todos, o que na realidade ainda no ocorre.
As mudanas preconizadas, caractersticas das sociedades capitalistas, e com maior vigor nas economias dependentes a partir dos
anos 90 do sculo XX, tm ampla repercusso nos sistemas de ensino,
mormente no ensino mdio. No Brasil, as repercusses incidem na
estrutura e organizao curriculares, sob o respaldo de uma legislao
que confere a esse nivel de ensino novas configuraes, ora procedendo a uma espcie de retorno a velha dicotomia - ensino profissional x
ensino propedutico, ao instituir trs nveis na educao profissional,
sem a necessria vinculao a educao geral - ora tentando superar a
antiga demarcao entre essas duas "modalidades" de ensino.
A reforma do Ensino Mdio (parecer CNE/CEB n. 16/99), ao
enfatizar a organizao curricular flexvel adota em seu discurso que a
organizao curricular uma prerrogativa da escola, que por essa via
atende a individualidade dos alunos, focada no desenvolvimento de
competncias profissionais (gerais e especificas). Essa forma de organizao curricular est profundamente relacionada, segundo o esprito i
da reforma, a uma maior responsabilidade da escola para que proceda
a adequa& da oferta de cursos as necessidades individuais, sociais e
do mercado, como j destacado. Esse modo de contextualizao da
oferta de cursos se estende ao prprio processo de aprendizagem no
sentido de relacionar contedos e contextos. Assim, todo esse proceso, que envolve flexibilidade, contextualizao, desenvolvimento de
competncias, encontraria uma espcie de sntese numa organizao
curricular que se pretende interdisciplinar, ou seja, buscando "formas
integradoras de tratamento de estudos de diferentes campos, orientados para o desenvolvimento das competncias objetivadas pelo curso."
(CORDO, 2005, p. 83)
'
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5 CONSIDERAOES FINAIS
A formao bsica para o trabalho em uma sociedade tecnolgica, tal como prescrita na Resoluo CEB/CNE 03/98, pouco contribuiu para entendimentos esclarecedores quanto aos princpios da
interdisciplinaridade e contextualizao e sua relao com a construo do saber sobre o trabalho em sua dimenso histrico-concreta.
por essa dimenso que o homem apreende, compreende e transforma
uma dada realidade ao mesmo tempo em que transformado por ela.
O Parecer da ANPEd (1997) sobre o Plano Nacional de Educao, que esteve em vigor de 2001 a 2010, j advertia que a interdisciplinaridade e a contextualizao no podem ser confundidas com
polivalncia naquela reforma do ensino medio. Segundo esse Parecer,
polivalncia s pode significar o empobrecimento na transmisso do
conhecimento, supe a ampliao da capacidade do trabalhador para
aplicar vrios conhecimentos, sem que haja mudana qualitativa desse conhecimento.
Para enfrentar o carter dinmico do desenvolvimento cientifico-tecnolgico, o trabalhador passa a desempenhar diferentes tarefas
usando distintos conhecimentos, sem que isso signifique superar o
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D I M E N S ~ EPEDAGGICAS
S
E POL~TICAS
Nestes casos, o ti-abalho vivo subsumido ao trabalho marto, "bietivado, que cor~ol-ificao conhecimento. Assim, medida em que
trabalhador separado dos meios de produo, ele transformado
perdendo, com isso, a capacidade de intervenco Subjetiva
'Orn
a erradicado dos ofcios que se completa com a s u b s u n ~ odo
trabalho ao capital, 011 seja, com O uso capitalista das niquinas.
de~reendemos7o processo de trabalho se torna inteiramente objetivado pelo emprego da mjquina e ocorre uma separao
radica1entre trabalho e conhecimento. "O trabalho se torna uma ao
mecnica c a cincia se ~ 0 1 0 fora
~ 0 da
~ subjetividade de quem irabalha: foi pensada em outro local {...)". (NAPOLEONI apud cERIa*N071994, p. 173). Disso decori-e que
28
2 c)
ao conhecimento. Trata-se de algo novo que no modifica a esEmbora os avanos tecriolgicos estejam a ~ e r m e a or mundo do
sncia de novas forlnas de acumulao capitalista, as quais lhe trazem
trabalho, conveniente assinalar qiie nem todos 0s que manejam
as
"OvoS 'Ontornos. Isto porque
novas tecnologias tm o contefido flexibilizado. OS digitadores, Por
desempenham uma mesma atividade, cansativa e mecnica,
{...) o Processo de transio de um a outro tipo de sociedade
durante todO o tempo da jornada de trabalho. Alm disso7 nem bdos
continuo e descontiiluo ao mesmo tempo; s
qualitativas sucedem m~idanasquantitativas, j ciriergncia
tCino conteiido de trabalho de forma interdisciplinar e contextualiza- 1
de novos elementos sobrevm a continuidade de antigas for.
da, fi o caso dos trabalhadores que executam funes simples
mas, mostmndo que se ti-ata de um processo complexo, de
observar alarmes, a luzes de painis e a execuo de aes previamenlnterpenetrao, onde contradies j existentes se repem
te estabe]ecidas, segundo as prescries tcnicas. essa forllla, exclui- i
e se elltrelaiam com outras novas. (MACHADO, 1994, p. 13)
em decises sobre planeiamento e 1
se a possibilidade de
A
tecno1gica surge quando a sociedade industrial ainorganizao e execiio. Isto pol-que 0 conhecimento se reveste de
da
"O
'
Seesgotou
no caso dos pases subdesenvolvidos ela se esboa
pequenos fragmentos, desvinculados dos princpios da interdisci~liem meio a graves d i s t o r ~ ~ee acentua
s
OS descompassos de tempo e de
llal-idade e da c o n t e x t u a ~ i z a ~Opera-se,
o~
assim, um movimento de
ritmo
que
caracterizam
O de~envolvimentodo capitalismo periferico.
desqualificao de trabalhador.
'
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CURR~CULO
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No caso do Brasil, que possui uma formao capitalista caracterizada por um processo de industrializao que ainda no se desenvolveu suficientemente, pode-se verificar um desenvolvimento desigual
no que se refere aos avanos tecnolgicos em vrios setores da economia. Em conseqiincia, dois plos marcam a absoro do conhecimento interdisciplinar e contextualizado pelo trabalhador, principalmente
no que tange aos requisitos da sua qualificao e posio no mundo
da produo.
Em um desses plos encontra-se o trabalhador, fruto do processo de industrializao, caracterizado por salrio e nivel educacional
baixos, instabilidade no emprego e no desempenho de funes que
requerem pouca ou nenhuma prvia qualificao. Trata-se de setores
sociais que sofrem processos de desenraizamento, seja por meio de frequentes migraes, seja em decorrncia das alternncias de trabalho,
das instabilidades das moradias e de vrias outras carncias sociais.
No outro plo, percebemos o surgimento de um novo tipo de trabalhador, que desfruta de salrios e nvel educacional mais altos, goza
de relativa estabilidade no trabalho, constituindo-se em uma espcie
de aristocracia tcnica. Essa situao de aparente superioridade no ,
entretanto, condio suficiente para uma maior conscincia e disposio para o desempenho de um papel ativo nas disputas pelos interesses dos trabalhadores, nem tampouco se constitui condio para a
insero em um processo de trabalho contextualizado e caracterizado,
tambm, como interdisciplinar. (MACHADO, 1994)
Manifestam-se, porm, outras formas de desenraizamento prprias desse segmento, decorrentes da forma como se do a produo e
a aplicao ttcnolgica, desvinculadas de uma poltica socioeconmica e cultural dentro de uma perspectiva de totalidade para a sociedade.
Assim, o acesso a informaes tcnicas por si, sem uma viso ampliada
da realidade, em suas vrias dimenses, no garante uma efetiva compreenso do trabalho que se executa e do mundo no qual a atividade i
est inserida, ou seja, um trabalho que possa ser caracterizado como
interdisciplinar e contextualizado.
Em consequncia, ambos os plos encontram-se dentro de horizontes estreitos e alienados. Sobrevm, assim, o sentimento de impo.
tncia e de incerteza quanto ao futuro, apesar dos enormes recursos
tecnologicos produzidos pela humanidade. Por outro lado, a nova organizao e as novas tecnologias so, tambm, mais dependentes do
trabalhador: dependem do seu interesse, motivao, responsabilidade,
ateno, capacitao, participao, etc.
nesse contexto que o ensino medio no Brasil, face aos avanos
tecnolgicos e a reestruturao produtiva, se reformularia a partir dos
anos 90, abraando a retrica dominante que propunha aos sistemas
de ensino propiciarem uma formao geral e polivalente para favorecer
a aquisio de competncias gerais e tansferveis. Assim, consagrandose a velha dualidade - ensino profissional x ensino propedutico - uma
nova estrutura curricular entrou em cena para o desenvolvimento de
competncias bsicas, "com nfase em uma metodologia que privilegia o protagonismo do aluno, a integrao entre as disciplinas e a contextualirao dos contedos disciplinares." (ZIBAS, 2005, p. 10).
Embora, a reforma desse nivel de ensino tenha demonstrado
alguns avanos na dcada seguinte (anos 2000) quanto aos seus desdobramentos e concepes sobre formas de relaes entre o ensino
mdio e a educao profissional tcnica de nivel medio, os princip~os
que a norteiam, em especial os da contextualizao e da interdisciplinaridade ainda carecem, na prtica, de uma maior vinculao a vida
social e produtiva. Portanto, quando a reforma, na sua verso a luz do
Decreto 5.154/2004, empresta acentuada nfase formao integrada, entendendo-se ai estarem embutidos aqueles principios, pressupomos e queremos, como Ciavatta (2005, p. 84):
{...) que a educao geral se torne parte inseparvel da educao profissional em todos os campos onde se d a preparao
para o trabalho: seja nos processos produtivos, seja nos processos educativos como a formao inicial, como o ensino tcnico, tecnolgico ou superior. Significa que buscamos enfocar
o trabalho como princpio educativo, no sentido de superar a
dicotomia trabalho manual/trabalho intelectual, de incorporar
a dimenso intelectual ao trabalho produtivo, de formar trabalhadores capazes de atuar como dirigentes e cidados.
1
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CURR~CULO
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o CURRICULO E AS COMPETNCIAS
EDUCACIONAIS NO ENSINO MDIO:
a competncia leitora e a prtica docente no IFMA
1 O DISCURSO CURRICULAR
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CURR~CULO
ESCOLAR
- -
Na perspectiva de Bobbit, a questo do currculo se transforma numa questo de organizao. O currculo simplesmente unla mecnica. A atividade supostamente cientfica
do especialista em currculo no passa de uma atividade burocrtica [.I o currculo se resume a uma questo de desenvolvimento, a uma questo tcnica.
Silva (2007) ainda afirma que o currculo deve sua atual forma
a sistematizao estruturada por Bobbit. Pedra (1997) observa que
Dewey, na mesma poca, porm alguns anos antes de Bobbit, tambm introduz importante preocupao com o currculo - a valorizao dos interesses do aluno - preponderando o enfoque psicolgico.
levando-o a uma perspectiva individualista. Ambos os autores, em sua
essncia, estavam preocupados em atender a demanda de mo-deobra que surgia com as diferentes relaes que a industrializao provocava. Neste caminho, Dewey torna-se precursor do que veio a ser
denominado no Brasil de escolanovismo, que se tornou u m movimento de forte influncia no pensamento curricular nacional; e Bobbit,
por sua vez, inspirou o que mais tarde (a partir de Ralph Tyler) veio
a se denominar de tecnicisrno pedaggico (MOREIRA; SILVA, 2005;
SAVIANI, 2008).
varam um processo que foi, ao mesnio tempo, uma "revoluo cultural" e uma "revolta juvenil", que invadiram a sociedade, atravessaram as ideologias, envolveram as instituies,
bem como os saberes e, sobretudo, os lugares onde estes se
elaboram e se aprendem (as escolas, as universidades). Iniciado nos campi universitrios americanos, depois disseminados
na Europa, na Alemanha, na Itlia e sobretudo na Frana,
tais movimentos deram lugar a uma fogueira ideolgico-cul-
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DIMENS~ES
PEDAG~GICAS
E POL~TICAS
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ESCOLAR
Assim, Bernstein (2003) apresenta comparao entre dois modelos pedaggicos (competncia e desempenho) denominando sua sntese de conhecimento recontextualizado. Ao modelo de competncia
associou as pedagogias invisveis (currculo fortemente classificado) e
ao modelo de desempenho as pedagogias visveis (currculo fracamente classificado), que correspondem respectivamente as pedagogias tradicionais e progressistas, estas ltimas, mais prxima as pedagogias
no diretivas.
Em Bernstein (2003), encontramos um autor que se utiliza do
discurso da competncia de forma crtica. Portanto, no possvel generalizar o termo competncia, dentro do discurso educacional, como
tradicional e ou voltado apenas para a dominao. Ento, Macedo
(2002) ao apresentar suas observaes acerca do discurso curricular
nacional com relao a competncia, demonstra que este discurso,
mesmo que aparentemente ideolgico, pode ser usado de forma crtica para a emancipao cidad.
Silva (2008) assevera que o discurso educacional por competncias alia-se a&idiscurso hegemnico dominante onde
A noo de competncias tomada como prescrio nuclear da organizao curricular, favorecida tambm e m virtude
de sua proximidade com a idia de competio e competitividade. O carter a-histrico de suas formulaes originais
facilmente se articula ao discurso das novas demandas de
formao para o trabalho, bases das justificativas da reorientao curricular. (p. 145).
A autora refere-se a reforma curricular nacional ocorrida na dcada de 90. Embora a perspectiva de Silva encerre o discurso de compe-
DIMENSOESPEDAGGICASE POL~TICAS
43
tncias numa perspectiva reprodutora e aliada ao pensamento tradicional, observa-se que o uso do termo competncia, mesmo existindo
possibilidades de resistncia, concorre para a manuteno do discurso
dominante, pendendo para este ltimo. A autora ainda critica os documentos oficiais, dentre eles os PCNEM que, por exemplo:
Para a rea de Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias, estas
ultimas adquirem u m sentido mais utilitarista e superficial
quando se prope sua incluso n o currculo com o fim de
"aplicar as tecnologias da comunicao" o u "entender o impacto das tecnologias de comunicao". No se requer, por
exemplo, a competncia de problematizar a gnese de tais
tecnologias e as implicaes polticas, econmicas e culturais dessa disseminao. (SILVA, 2008, p. 139) [grifos da autora].
3 COMPETNCIAS,COMPETNCIALEITORA E A
EDUCAO PROFISSIONAL - UM ESTUDO NO IFMA
Em estudo realizado no Instituto Federal de Educao, Cincia
e Tecnologia do Maranho - IFMA (ROSTAS, 2009), buscou-se analisar o planejamento dos docentes de Lngua Portuguesa1 objetivando identificar sua prtica no que diz respeito ao desenvolvimento de
competncia leitora, a luz dos indicadores estabelecidos no Exame
Nacional do Ensino Mdio - ENEM. Ao recorrer aos documentos de
' Do universo de 6 (seis) docentes que atuam em 14 (quatorze) turmas de cursos tcnicos
integrados ao Ensino Mdio, 5 (cinco) participaram da pesquisa.
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DIMENSES
PEDAGGICAS
E POL~TICAS
CURR~CULO
ESCOLAR
planejamento da instituio, encontrou-se um instrumento generalizante denominado Mapa Geral de Competncias2 onde estas eram
apresentadas de forma repetitiva, ou seja, uma mesma competncia
era perseguida repetidamente nos trs anos letivos do Ensino Mdio,
porm no foi possvel observar a forma como eram trabalhados os
contedos correspondentes a estas competncias, limitando uma anlise quanto a provvel tratamento dessas competncias em relao a
srie e sua complexidade. Esta situao fora observada nas turmas de
Ensino Mdio integradas3a educao profissional. A fim de explicitar
tal situao, foi elaborado um quadro com a sntese do referido mapa
para o eixo de formao "textualidade", utilizado nos planejamentos
dos docentes da rea de Lngua Portuguesa.
Mesmo considerando as competncias como gerais, verificam-se as "evidncias" traduzidas como comportamentos observveis
que, tambm se repetem para os trs anos de oferta do curso. Estes
comportamentos e/ou evidncias de aprendizagem demonstram caractersticas mais voltadas para conhecimentos conceituais e procedimentais, este ltimo aparece sem muita nfase. Na ltima evidncia:
"Identifica as regularidades das diferentes variedades Lingusticas, reconhecendo os valores sociais a elas associadas, para us-las de forma
adequada nas situaes de interao social" (ROSTAS, 2009, p. 157).
Ao analisar tal evidncia, percebe-se ainda o termo "forma adequada"
como sendo a norma culta, Tal documento apresenta indcios, pelo
menos em sua forma, de constituir-se e m um instrumento que possa
vir (ou no) a alinhar-se com as perspectivas crticas do currculo ou
oferecer subsdjos para uma educao emancipadora de forma intencional, pois remete-se ao reconhecimento de "valores sociais".
45
Competncias
Evidncias
Analisa enunciados textuais a partir de diferentes
nveis de estruturao da lngua: fontico, morfolgico,
sinttico e semntico
I I
II
[..I
[...] Tal enfoque desperta uma dvida em relao a prtica docente, pois na questo 07, por exemplo, ao serem questionados
se utilizam textos de livros de disciplinas tcnicas ou de outras
reas do conhecimento, nenhum informou utilizar com frequncia, o que pode se tornar uma contradio, pois se propem
institucionalmente e m focar os gneros inerentes a profisso e
fazem pouco uso (ou chegam a no utilizar - Professor 6) dos
materiais que podem aproximar os alunos desse gnero discursivo que lhe ser necessrio durante o seu desenvolvimento no
curso profissionalizante e, posteriormente, em sua vida profissional. (ROSTAS,2009, p. 155-6).
Embora os documentos oficiais (PCNEM) e o discurso dos docentes valorizem a prtica interdisciplinar, respostas como esta acima
demonstraraqo quo distante a prtica docente da interdisciplinaridade concebida por Santom (1998, p. 73) como:
C..] algo diferente, que rene estudos complementares de diversos especialistas em um contexto de estudo de mbito mais
coletivo. A interdisciplinaridade implica em uma vontade e
compromisso de elaborar u m contexto mais geral, no qual cada
uma das disciplinas em contato so por sua vez modificadas e
passam a depender claramente umas das outras.
Se h uma inteno de praticar a interdisciplinaridade, ela no
evidenciada. Alm disso, o discurso oficial (PCNEM) tambm pre-
Como relatado, h uma contradio entre o percebido no desempenho dos alunos egressos desses cursos - refletido resultados acima
da mdia regional e nacional no ENEM - e o planejamento que no
se encontrava plenamente elaborado conforme as necessidades de um
documento deste porte em conjunto com o que se verificou nas entrevistas dos docentes - no possuem unidade nas suas prticas de
ensino -,os resultados do exame nacional apontam para uma prtica
que oportuniza bons resultados.
Tal situao evidencia um comportamento caracterstico do currculo, pois este se constitui em um
elo entre a declarao d e princpios gerais e sua traduo
operacional, entre a teoria educacional e a prtica pedaggica, entre o planejamento e a ao, entre o que prescrito
o currculo
e o que realmente sucede nas salas de aula
traduz e concretiza a orientao do sistema educacional.
(COLL, 1999, p. 33-34).
[..I
Disponvel
em
06/05/2009.
~http://mediasenem.mec.gov.br/enen~MediasEscoa/
Acesso
em:
48
CURR~CULO
ESCOLAR
Por ser este elo, o planejamento faz parte do currculo maior que
o projeto pedaggico do curso, que os professores declararam, a exceo de um, utilizar como referncia para seu planejamento individual (ROSTAS, 2009). Dessa forma, percebe-se que o planejamento da
disciplina foca o contedo, secundarizando o contexto de formao
profissional.
O fato de a disciplina Lngua Portuguesa ter sido objeto desta
anlise no encerra somente a ela a responsabilidade do desenvolvimento da competncia leitora, tal realizao conta com a colaborao
de outras disciplinas, inclusive as profissionalizantes. Assim, atribuir
sucesso ou fracasso na consecuo da competncia leitora somente
aos docentes de Lngua Portuguesa seria um erro metodolgico, porm reconhece-se sua participao neste caminho.
Com relao s prticas dos docentes, percebe-se certa fragmentao do currculo, ou sua forte classificao (BERNSTEIN, 2003),
pois, apesar clos docentes reconhecerem vantagem e m lecionar e m
cursos tcnicos onde possvel buscar mais facilmente a contextualizao dos contedos, ao serem indagados se utilizam textos das
disciplinas profissionalizantes para as atividades de leitura e interpretao, nenhum docente declarou fazer uso dessa prtica com frequncia (ROSTAS, 2009). Isto demonstra o isolamento da disciplina
em relao as demais, evidenciando a prtica disciplinar fortemente
classificada.
A prtica docente analisada atravs clos questionrios aplicados
no pde ser identificada dentro de uma [nica] das correntes do currculo (tradicional, crtica ou ps-crtica), o comportamento observado
no planejamento e a forte classificao do currculo evidenciada pelo
exposto revelam uma maior aproximao das prticas consideradas
tradicionais. Porm a pesquisa verificou que
165-166).
4 CONSIDERAESFINAIS
I
Conclui-se que uma prtica tradicional ou um currculo fortemente classificado produzem resultados positivos, mas estes podem
no estar cumprindo o papel maior da educao, que o de contribuir
com o processo de libertao da sociedade da explorao (FREIRE,
1987). Os resultados apontados pelo ENEM, embora baseados tambm e m questes crticas do currculo, so estruturados segundo a
lgica do mercado (SANTOM, 1998; LOPES, 2002) e perdem muito
de seu potencial crtico.
Ento, diante do discurso das competncias, observa-se que h
uma ideologia oculta por trs deste novo discurso. Com relao a competncia leitora, observa-se que o exemplo de instrumento de planejamento apresentado est longe de provocar reflexes nos alunos, pois
converge para o discurso capitalista e, consequentemente, individualista que o "mercado" proporciona.
Com relao a esse individualismo, percebe-se nas pedagogias
tradicionais sua fonte, por exemplo, a
h.
5O
CURR~CULO
ESCOLAR
DIMENSES
PEDAGGICASE POL~TICAS
[..I
Esta pedagogia libertaria no aparece claramente nos documentos oficiais e na prtica dos docentes observados no estudo (ROSTAS,
2009). O que se percebe, ento, o curriculo fortemente classificado
que colabora para a alienao. De certa maneira, o sucesso dos alunos no ENEM, que hoje porta de entrada para a educao superior
pblica e gratuita, traz em seu contexto a possibilidade de criar maiores oportunidades de emprego e renda, mas com relao a sua viso
crtica, no possvel afirmar o mesmo, pois o estudo no encontrou
elerrientos explcitos para esta possibilidade.
51
REFERNCIAS
BERNSTEIN, Basil. A pedagogizao do conhecimento: estudos
sobre recontextualizao. Cadernos de Pesquisa. 2003,n.120, pp. 75110.
BRASIL. Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio
- PCNEM. Braslia, DF: MEC - Secretaria de Educao Mdia e
Tecnolgica, 1999.
CAMBI, Franco. Histria da pedagogia. Traduo de lvaro
Lorencini. So Paulo: Editora UNESP, 1999.
COLL, Csar. Psicologia e currculo: uma aproximao
psicopedag6gica i elaborao do currculo escolar. So Paulo: tica,
1999.
CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionrio etimolgico Nova
Fronteira da lngua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1986.
FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Edies
Graal, 1979.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.
Paz e Terra, 1987.
52
CURR~CULO
ESCOLAR
C O N ~ R ~ ~ ~ U
DO
~ CURRICULO
~ O E S
PARA A FORMAAO
E A PROFISSIONALIZAAO
DOCENTE
Na atualidade, os currculos de formao docente tm assumido a forma exigida pelas transformaes ocorridas na economia ocasionadas pelo desenvolvimento de novas tcnicas de produo e pelo
processo de globalizao. Esse cenrio originou polticas educacionais
que retrataram, nas suas diretrizes, a nfase da lgica mercadolgica
em detrimento da lgica social, colocando a educao sistematizada
sob a gide da racionalidade do universo econmico.
No Brasil de hoje, a profissionalizao do trabalho docente passa a ser o assunto dominante na definio do processo de formao
do professor, percebido, nesse momento, como iIm profissional e no
mais como um mero transmissor de conhecimento. Essa a nova
perspectiva que coloca a formao de professores, para alm daquela
centrada na obteno de saberes acadmicos e disciplinares e numa
racionalidade externa a eles.
Neste captulo, analisamos as abordagens conceituais de currculo fazendo uma retrospectiva da sua dimenso histrica, em diferentes
momentos contextuais. Por fim, analisamos as atuais contribuies do
currculo para a formao e a profissionalizao docente.
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56
CURR~CULO
ESCOLAR
tcnico-cientfico da sociedade. Em nome do progresso, do desenvolvimento social, constri-se uma viso cientfica das relaes sociais e
das relaes de produo, tendo como consequncia o emprego de
tcnicas atravs das quais se controlam todas as variveis do processo
educativo, econmico e social.
Nos anos 1970, apareceram livros, ensaios, textos tericos que puseram em dvida o mrito do pensamento e a estrutura organizacional
da educao liberal de tendncias: tecnicista (defesa da escola eficaz)
e humanista (liberdade na escola). Esses textos procuravam ir alm
do paradigma tradicional e revelavam a funo ideolgica desempenhada pelo currculo. Evidenciavam o carter de aceitao, ajuste e
adaptao, das tendncias tradicionais de currculo. Nenhuma dessas
tendncias questionava a estrutura da sociedade capitalista, tampouco
o papel da escola na manuteno e preservao dessa sociedade. Os
textos surgidos, ento, revelavam autores em oposio a ordem que
aceita as injustias, as desigualdades sociais. Entre esses autores, podemos destacar (YOUNG, 1984); (GIROUX, 1983); (ALTHUSSER,
1971); (APPLE, 1982). Esses autores denunciavam o papel da escola
e do curriculo na reproduo da estrutura social. A ideia era propagar
a construo de uma escola e um currculo que correspondessem aos
interesses dos grupos dominados.
Segundo Moreira (1990), os estudos de Michael Apple e Henry
Giroux (representantes americanos da tendncia crtica curricular),
num primeiro momento, apontavam para a anlise da relao entre
economia, estado, ideologia, poder e cultura. Isso mostrava o avano
dessa abordagem em relao as anteriores, consideradas por eles conservadoras pela postura acrtica em relao a situao socioeconmica, a poca. Acreditavam que, analisando de forma crtica as prticas
curriculares, seria possvel transp-las para o conjunto da sociedade, e
assim, promover a mudana nas atitudes, nas conscincias.
Tericos dessa linha de pensamento, como Henry Giroux (1992),
Michael Apple (2006), buscavam identificar que fatores contribuam
para a excluso socioeconmica, poltica e cultural da maioria da populao. Com base nessas anlises, esses pesquisadores direcionaram
seus estudos para o currculo, com a finalidade de conhecer e desmistificar as influncias e mediaes da cultura, do poder, da resistncia,
58
CURR~CULO
ESCOLAR
DIMENS~ES
PEDAGGICASE POL~TICAS
59
CURR~CULO
ESCOLAR
conhecimentos, competncias e disposies, e que Ihes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu
ensino, do currculo e da escola, com o objetivo de melhorar
a qualidade de educao que os alunos recebem.
Nvoa (1995) defende a formao numa perspectiva crtico-reflexiva, o que exige um trabalho de reflexividade sobre as prticas e
sobre o papel do professor no sentido da recriao de uma identidade
pessoal. Portanto, a formao no se realiza pela juno de cursos. A
luz desse referencial, entendemos que O modelo de formao, prescrito nos documentos estudados (LDB no. 9.394/96; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao - DCN/ZOOl), ao considerar a
competncia, como base da organizao curricular, est reforando
a formao tcnica alm de sistematizar um processo de avaliao,
certificao de cursos, diplomas e competncias, sujeitando a formao a uma dimenso individual, sem considerar que, para o completo
desempenho profissional, so necessrios investimentos na formao
inicial, na formao continuada, nas atividades de pesquisa, nas condies de trabalho e nos planos de carreira e salrios; esse tambm o
entendimento da ANFOPE (2002).
Garcia (1999), ao estudar a formao de professores, sintetiza a
compreenso de outros tericos Menze (1980), Feiman (1983) e sistematiza uma teoria da formao que expressa o conceito de ao como
nuclear do processo. Nesse estudo, Garcia estabelece a existncia de
trs tendncias de formao: a primeira no aceita a utilizao de formao como conceito de linguagem tcnica em educao, pois as origens histricas e filosficas imprimem significaes que dificultam a
investigao sobre o tema. A segunda tendncia preconiza o conceito
de formao atravs do qual se identificam conceitos mltiplos e antagnicos. Nesse contexto, a formao no se limita a um campo especfico profissiopal, assumindo outras dimenses: formao sexual, formao ambienta1 A terceira tendncia a favor da utilizao do conceito
de formao, por considerar que a formao no um conceito geral
que envolva a educao e o ensino, tampouco est submetida a estes.
Para Garcia (1999, p. 26), a formao de professores
[..,I
Esta concepo de formao nos remete ao Modelo de Formaco Emergente pensado por Ramalho, Nuiiez e Gauthier (2004). Com
esse entendimento de formao, Garcia (1999) institui sete principios
fundamentais para o desenvolvimento de um processo de formao:
entender a formao de professores como um processo continuo, que
se constitui de fases diferentes em relao ao contedo curricular
cujos principios eticos, didticos e pedaggicos devem ser mantidos;
integrar a formao de professores em processos de mudanas curriculares, compreendida como estratgia de melhoria do ensino; fazer
dos processos de formao um todo com o desenvolvimento organizacional da escola, espao de aprendizagem dos professores; integrar
a formao de professores aos contedos acadmicos, disciplinares e
pedaggicos; estimular a unidade entre teoria e prtica na formao
de professores; estabelecer coerncia entre a formao de professores
e as necessidades do trabalho que ir desenvolver; atender ao principio
da individualidade, devendo corresponder as expectativas e necessidades dos professores como pessoa e como profissional.
Ao analisarmos as contribuies de Garcia (1999) percebemos
que, do ponto de vista da aprendizagem dos professores, a nfase
colocada na necessidade de significao do conhecimento e da sua
construo. O contedo do processo de formao deve ter um carter instrumental servindo para resolver problemas, permitindo, assim,
construir um modelo de interveno.
Ao aprofundarmos estudoss sobre a formao docente, outras interpretaes nos permitiram reconhecer que a formao profissional
docente segue um continuo que em cada etapa a relao entre os objetivos, contedos e metodologias devem acontecer de forma a favorecer que os objetivos de cada fase se juntem num todo articulado.
8Te~ricoscomo: Gauthier (1997); Garcia (1992); Imbernn (2006); Libneo (2005); Nvoa
(1992); Perrenoud (2000); Schon (1994); Schtz (1987);Tardif (2000).
66
CURR~CULO
ESCOLAR
Um currculo para a formao inicial (conhecimento profissional) dever proporcionar experincias interdisciplinares que faam
com que os futuros professores apreendam conhecimentos e procedimentos relativos as disciplinas. Sendo assim, observamos que tal
currculo 'etever criar espaos para a mudana, e que a tradio, o
conhecimento ideologizado e costumes cristalizados no sejam obstculos e no impeam que se realize uma prtica cujo elemento
essencial seja a conscincia crtica. O desenvolvimento desse currculo facilitar a superao do modelo hegemnico de formao.
A organizao curricular interdisciplinar tem o potencial de nos
afastar de uma estrutura disciplinar e da organizao sequencial
dos contedos. Ao valorizarmos a integrao entre conhecimentos
e procedimentos, a nfase nos processos de aquisio dos saberes e
a valorizao da experincia de alunos e professores, dentre outros,
3 CONSIDERAESFINAIS
Historicamente, os currculos de formao de professores sempre
estiveram em estreita relao com o contexto poltico e econmico,
constituindo-se em um conjunto articulado de elementos e de aspectos tcnicos, prticos e poltico-pedaggicos que exigem uma postura tica, que estabelea a relao entre as vrias dimenses presentes num processo formativo. No contexto das reformas educacionais
o discurso da profissionalizao tomado como desenvolvimento de
competncia.
A nfase na profissionalizao docente, centrada na aquisio
de competncias, no tem contribudo para uma formao slida do
professor e tem favorecido a desprofissionalizao da ao educativa. A
base epistemolgica que sustenta o currculo por competncia submete
o processo de formao do professor lgica do mercado no contexto
da racionalidade tcnica/instrumental. Fundamentar os currculos de
formao de professores no desenvolvimento de competncias nos
leva a suspeitar que os mesmos esto orientados por uma poltica
curricular neoliberal cujas caractersticas so: o foco no mercado e no
indivduo, desarticulao na formao inicial e continuada, a presena
de diferentes matrizes epistemolgicas que fundamentam a definio
e construo de competncias, bem como seus distintos conceitos.
Assim, para assumir a perspectiva de um currculo por competncia,
preciso partir de uma elaborao clara do sentido das competncias
a serem formadas no nvel inicial e como elas vo se desenvolvendo
no sentido da construo da profissionalizao numa perspectiva
histrico-cultural.
O processo de profissionalizao histrico e envolve o empenho
da categoria para promover uma mudana tanto no trabalho pedaggico que desenvolve, quanto do seu status social. No se trata de um
movimento linear e hierrquico, tampouco de uma questo simplesmente tcnica. A profissionalizao de professores e do magistrio
como um todo, deve ser o resultado da articulao, de esforos, no
CURR~CULO
ESCOLAR
1
i
70
CURR~CULO
ESCOLAR
1 A GUISA DE INTRODUO
Este texto sntese da pesquisa de Mestrado em Educao intitulada Concepes de Matemtica de Professores em Formao: outro olhar sobre o fazer matemtico, realizada na Universidade Federal
do Maranho (UFMA), sob a orientao da Prof". Dr." Llia Cristina
Silveira de Moraes. Visa discutir a maneira pela qual as concepes9
sobre a Matemtica, se constituem no processo de formao inicial
dos licenciandos em Matemtica. Buscou-se compreender e analisar
as concepes acerca da Matemtica e as possveis implicaes no ensino da disciplina que, voluntria ou involuntariamente, servem de referncia para futuros professores de Matemtica, ou seja, as possveis
relaes existentes entre as suas concepes e suas futuras prticas
docentes.
Ponte (1992) afirma que o estudo das concepes de professores
tem que se apoiar necessariamente num quadro terico respeitante a
natureza do conhecimento. Acrescentaramos do conhecimento em
geral, da Matemtica e da formao do educador em particular, compreendendo suas inter-relaes e extrado o mximo de contribuio
)
CURR~CULO
ESCOLAR
L..]
como, alis, pelo estudo das concepes de outros profissionais e de outros grupos humanos, baseia-se n o pressuposto
de que existe u m substrato conceptual que joga u m papel
determinante no pensamento e na ao. Este substrato de
uma natureza diferente de conceitos especficos - no diz
respeito a objetos ou aes bem determinadas, mas antes
constitui uma forma de os organizar, de ver o mundo, de
pensar. No se reduz aos aspectos mais imediatamente ob.
servveis do comportamento e no se revela com facilidade nem aos outros e nem a ns mesmos (PONTE, 1992, p. 185).
74
CURR~CULO
ESCOLAR
3 REFLEXES
SOBRE
ENSINAR
APRENDER: a
Matemtica em foco
Em sentido amplo, ensinar assegurar a propagao do saber.
'kt h pouco tempo, ensinar era sinnimo de transmitir informaes
[...Iv (MICOTTI, 1999, p. 154).Neste contexto, ensinar Matemtica resumia-se apenas ao simples transferir, repetir e memorizar definies
e conceitos sem a menor preocupao se houve ou no a compreenso
dos aspectos que do ao ato educativo algum significado.
Ao longo de sculos as idias pedaggicas foram evoluindo. No
que se refere a Matemtica, esta evoluo culminou com o surgimento de uma "[ ...] regio de inqurito e de significao que vem se
constituindo ao longo da histria da Educao Ocidental" (BICUDO,
2006, p. 13) denominada Filosofia da Educao Matemtica. Esta se
constitui em um campo promissor de pesquisas e desenvolvimento de
metodologias para o ensino e o aprendizado da Matemtica, ou seja,
uma Educao Matemtica.
Na Filosofia da Educao Matemtica, os objetos matemticos
so vistos como processo e no somente produto da mente humana.
"Sob a tica do valor dos objetos matemticos ou da Matemtica, a
Filosofia da Educao Matemtica aborda a questo da posio dessa
cincia no currculo escolar, na forma pela qual valorizada pela sociedade" (BICUDO, 1999, p. 27).
A Filosofia da Educao Matemtica parte do princpio de um
pensar abrangente e sistemtico sobre o fazer cognitivo da Matemtica. Trata-se da ao de pensar sobre o conhecimento matemtico de
modo analtico, crtico e reflexivo. Consiste em interrogar os fins e os
meios da aprendizagem Matemtica e colocar em prtica respostas as
questes que so postas sobre a sua validade, ou seja, sobre a validade
da realidade dos objetos matemticos.
Assim, a Filosofia da Educao Matemtica tem por base a Filosofia da Matemtica, onde se procura entender a natureza dos objetos
matemticos, e a Filosofia da Educao, onde se pretende buscar compreender a natureza do ensino e da aprendizagem. Enfim, constitui-se
enquanto reflexo sobre o que se tem feito no ensinar e no aprender
128
CURR~CULO
ESCOLAR
[..I
[..I
Nesse contexto pedaggico, percebi que os alunos viam o currculo como "algo" dado, perpassando uma idia de produto e de neutralidade. Para eles, os contedos a serem transmitidos so desinteressados, levando a entender que so desprovidos de quaisquer influncias
ideolgicas. Convm destacar que assento minha posio na perspectiva de que o currculo no algo desinteressado, assim como ele pode
CURR~CULO
ESCOLAR
Nesse sentido, venho cruzando o meu eu pessoal com o meu profissional, pois a partir desse trabalho me posicionei como uma professora negra que, outrora pelos idos da adolescncia no se reconhecia
como tal, isto , como negra, haja vista que foi nesse perodo da minha
vida que mais me escondia de mim mesma. Qual seria o papel da escola e do currculo nesse processo? Qual a relao dos conhecimentos distribudos na escola com a minha questo identitria, sobretudo
tnico-racial?
Nos debates atuais sobre currculo, ganha centralidade os temas
etnia e raa. Considerando que etnia est relacionada ao conjunto de
caractersticas culturais como lngua, religio, costumes, tradies,
sentimento de lugar (HALL, 2001) e raa que, em geral, o termo reservado para identificaes baseadas e m caractersticas fsicas, como a
cor da pele, a viso de curriculo que faz sentido aquela que vai para
alm de uma concepo como elenco de objetivos e rol de contedos.
Com efeito, para entender as relaes entre currculo, etnia e
raa faz sentido aquelas concepes que questionam a suposta neutralidade do currculo, deste modo, enfatizo que o curriculo forja subjetividades e nesse processo, so marginalizadas as identidades que so
historicamente destitudas de poder como as mulheres, os homossexuais, e notadamente, a dos negros.
Assim, a partir desses elementos construdos na minha prtica
pedaggica como professora de Currculos e Programas e que em mo-
132
CURR~CULO
ESCOLAR
meiitos distintos e recorrentes a ela se volta, identifiquei uma situaoproblema: perceber de que forma a questo de identidade tnico-racial
dos alunos negros estava sendo tratada no currculo escolar, tendo em
vista o modo como os professores de Lngua Portuguesa, Histria e
Geografia concebiam as relaes raciais no Brasil e por meio da forma
como eles selecionam e organizam os contedos, notadamente os que
se referem a temtica em questo.
Em princpio, tinha como tcnica de coleta de dados entrevisias
semi-estruturadas, mas no decorrer da pesquisa surgiram outras demandas e acabei por fazer observaes no contexto da escola e verifiquei alguns documentos, tais como, planos de aula e a Lei 10.639/03
que torna obrigatrio o ensino de histria e cultura africana e afro
-brasileira.
Cabe ratificar que essa situao-problema de pesquisa foi possibilitada pela oportunidade de cursar o Programa de Ps-Graduao
Mestrado em Educao pela Universidade Federal do Maranho em
2007, cuja pesquisa culminou com a dissertao intitulada "Identidade e diferena tnico-racial em currculos e programas: afirmao ou
silenciamento"?
3 PARASO
RACIAL
OU
RACISMO
VELADO?
REPERCUSSOES NO CURRICULO ESCOLAR
Coriio mencionado anteriormente, a minha trajetria como professora da disciplina Currculos e Programas, alm de reafirmar os
meus princpios e valores identitrios, me levou a refletir sobre os pilares ideolirgicos das relaes raciais no Brasil e suas repercusses nas
vises dos professores e nos programas curriculares e m uma escola
da Rede Muriicipal de Ensino de So Luis, a Unidade Escolar Mrio
Aildreazza localizada no Bairro da Liberdade.
recorrente nos debates acerca das relaes raciais no Brasil,
ainda que j se tenha desmistificado, a ideia do Brasil ser um paraso
ou iiina democracia racial. Pergunto, ento, por que a vigncia dessa
questo? Para esclarecer sobre o modelo das relaes raciais no Brasil
e perceber de que modo ele repercute no "imaginrio" dos professores,
uina revisa0 terica se torna importante.
Um aspecto a salientar de antemo que ainda que se reconhea que, do ponto de vista cientfico, a categoria raa no tenha consistncia, parto dos argumentos de Taquieff (apud D'ADESKI, 2001)
no sentido da reafirmao do conceito de raa. Aquele autor lembra
que o homem comum no percebe os seus vizinhos com os olhos do
esprito cientfico, este continuar a tipificar e classificar os individuos segundo suas caractersticas perceptveis e, mais particularmente
visveis.
Segundo Schwarcz (1993, p. 48-49) o conceito de raa tem sua
emergncia no inicio do Sculo XIX por Georges Cuvier fundamentado pelas tendncias monogenista e poligenista. A primeira enfatizava
que os diferentes tipos huinanos vieram de um tronco comum e a
segunda concebia as diferenas raciais pela crena na existncia de
vrios centros de criao.
Tais debates foram diludos a partir dos estudos do evolucionismo, o qual teve vrias ramificaes (NUNES, 2004) como o Evolucionismo Social, a Eugenia e o Darwinismo Socia120.
No meu modo de ver, a ideia comum nessas ramificaes que
em todas elas perpassam as idias de seletividade e de pureza. Sobre a
hierarquizao racial no Brasil, existem vises diferenciadas.
Segundo Ribeiro (2002), ela se deu a partir das relaes desiguais
entre os colonizadores e os escravizados africanos. Para Telles (2003),a
hierarquizao se estabeleceu, tambm, no plano sexual pelo qual se
iniciou o processo de mestiagem que ser justificado pela ideologia
da supremacia branca e pelo iderio do branqueamento.
A presena desses iderios ainda muito forte como ilustra o relato feito por uma professora no trato com a Literatura, "[ No caso
de Gonalves Dias, ela rica, loira, portuguesa e, no entanto, gostando
como ela queria, apesar da cor, [...] ela no
de uma pessoa mestia
casou mesmo porque no tinha que casar".
A professora retrata a biografia de um escritor "mestio" com um
tratamento de inferioridade. Ela mostra o racismo de forma velada.
Descreve sutilmente as prticas de racismo vividas por Gonalves
Dias, contudo, nas entrelinhas da sua fala, deixa entrever que a si-
...I
I..]
--
134
CURR~CULO
ESCOLAR
135
2 36
CURR~CULO
ESCOLAR
[..I".
...I
2'
dade de participar de um movimento em prol da construo de propostas curriculares. O grupo de especialistas formado num primeiro
momento por representantes dos diversos nveis e modalidades cent r o ~sua preocupao inicialmente em delimitar o seu papel como
grupo de sistematizao no que tange as intenes da proposta a qual
foi intitulada marco conceitual.
Outras preocupaes foram sendo suscitadas durante o percurso,
tais como: Existe e qual o sentido de se elaborar propostas curriculares? A resposta residiu na necessidade de se buscar uma unidade para
a Rede Municipal de ensino. E como ficaria a questo da autonomia e
a singularidade das escolas nesse processo? A autonomia seria garantida pela participao dos professores na elaborao das propostas.
Uma pergunta-chave surgiu que, particularmente a mim angustiava, afinal quem decide ou quem deveria decidir o currculo? A resposta construida vai em parte ao encontro do comentrio de Sacristn
(2000, p. 21 3),
138
CURRCULOESCOLAR
Destaco como legado dessas formaes nos documentos das propostas, trs aspectos importantes: a tnica que as propostas deram
aos projetos didticos como princpio organizativo dos contedos escolares, a compreenso da flexibilidade do tempo escolar, sobretudo
para aqueles que esto no inicio do seu processo de alfabetizao bem
como a valorizao das diferenas tnico-raciais manifestadas pelos sujeitos do processo educativo.
Nesse sentido, posso afirmar que a proposta tinha como preocupao central, tanto a questo sobre o que e como os professores ensinam, quanto a forma e o que os alunos aprendem. O grau de acompanhamento da prtica na escola eram as prprias formaes que se
davam com os coordenadores pedaggicos e depois destes com os gestores e professores da escola.
No poderia garantir com fidedignidade se as escolas municipais
concretizaram a partir das tarefas escolares as intenes declaradas
nas propostas curriculares. Embora o foco da minha pesquisa no fosse o impacto dessas polticas na prtica dos professores, como pesquisadora pude constatar que, por meio de uma experincia de projetos
didticos que ali naquelas experincias, de certa forma, a questo da
identidade dos alunos teve um relativo espao.
A literatura educacional crtica (APLLE, 1999; GIROUX, 1999;
MCLAREN 1997; ARROYO, 2011, SACRISTN, 1995, 1999), destaca o quanto o Currculo conforma os sujeitos da ao educativa, tanto os docentes como os alunos. Forja suas vidas, produz identidades.
Deste modo, tanto os conhecimentos, como a forma de ordenamento
e organizaodesses conhecimentos mexem com as vidas dos professores e dos alunos.
Numa outra lgica, diferente daquela anteriormente relatada,
numa linha mais emancipatria, o Icus da pesquisa desenvolveu no
mesmo ano da minha pesquisa, um trabalho que extrapolou a lgica instrumental de selecionar e de organizar os contedos escolares.
Constatamos no universo estudado um clima de reinveno dos currculos o qual traduz a concepo de currculo como interao de diferentes agentes e contextos. Considero que, ao propiciar o aperfeioamento dos seus profissionais a Rede Municipal de ensino possibilitou
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mostranclo uma autodefesa, ento eles se identificam daquele jeito. Essa autodefesa e do meio para o meio. O meio
cleterniina a identidade deles. O meio influencia de forma
negativa.
Nesse sentido, que destaco a iniciativa da escola Mrio Andreazza por ter decidido naquele ano, 2006, e ter inovado com processos
curriculares por meio de projetos didticos que visaram a afirmao
identitria dos alunos, como observou uma professora:
,.
A gente, inclusive aqui na escola, ns temos uma feira cultural que a gente vai trabalhar em novembro sobre o bairro
da Liberdade, que e um dos bairros de maior quantidade de
negros, que sou daqui, eu j estudei um pouco, e um bairro
muito antigo, que eu conheo um pouco a histria e a gente
vai trabalhar a questo do reggae roots, que foi o que teve
a maior fora ate hoje, a questo do reggae. Quando se fala
em reggae, se pensa no bairro cla Liberdade.
142
CURR~CULO
ESCOLAR
Como contraponto, no mesmo espao, o trabalho escolar se revelou critico e com indagaes girando em torno da identidade dos
alunos.
Em face do legado que os estudos da Teoria Critica trouxeram e
dos avanos da legislao educacional brasileira no trato da diversidade cultural, para mim se impe uma tarefa de aprofundar os estudos
dos processos curricrilares, tendo em vista a afirmao de identidades
dos negros, por meio da pesquisa que estou desenvolvendo em funo
do doutorado, no Programa de Educao: Currculo, da PUC de So
Paulo.
Como forma de reforar a seriedade e importncia dessas questes, indico para aqueles que ainda no se debruaram nessa leitura,
sob a tica psicossocial, o livro Pele Negra Mbscaras Brancas de Frantz
Fanon (2008), em que o autor expressa muito bem os efeitos psquicos da viso negativa ou estereotipada da identidade dos negros. Esse
autor enfatiza a importncia da memria, da histria, da cultura e da
identidade coletiva do negro. Nesse sentido, os sistemas educativos
so desafiados, cada vez mais, a implementar polticas no mbito de
aes afirmativas e do Currculo Escolar.
5 CONSIDERAESFINAIS
Neste texto, focalizei algumas constataes de que h um clima
propicio a nvel terico e empirico para serem repensados os currculos
escolares. Partir de uma reflexo em torno da minha prtica pedaggica evocando a minha memria, a minha histria e a minha identidade
no percurso escolar que no potencializou a imagem positiva como
negra. A ques7o que se imps naquele momento, como professorapesquisadora, foi a de investigar qual o tratamento dado pelo currculo
escolar as questes tnico-racial.
Como desdobramento verifiquei como as vises dos professores
esto entrelaadas com as suas prticas pedaggico-curriculare, quanto ao modo como concebem as relaes raciais no Brasil, ao modo
como percebem o curriculo, a cultura, entre outros. Por essa via, conclui que predominam deturpaes e silenciamentos quanto ao racismo e a afirmao tnico-racial prejudicada numa lgica tradicional
de organizao curricular.
144
CURR~CULO
ESCOLAR
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152
CURRCULO
ESCOLAR
2J
Segundo Serpa (2009) a sociedade contempornea identificada com o binmio produoconsumo, caracterizado pelo carter manipulativo da produo dos bens materiais e nas
relaes de produo de conheciiiiento.
...I
gos nas empresas. Hoje no se precisa mais de especialistas em determinada rea especfica, mas de pessoas com capacidade e flexibilidade
para adaptar-se a situaes diferenciadas e assumir funes diferentes,
de acordo com as necessidades da empresa.
O poder atribudo a presena das NTIC, justificado principalmente pela velocidade e pelo volume de informaes produzido por
estas, estabelecem novos desafios para a educao. Isto tambm impe novos parmetros para a formao dos cidados, o que subtende
uma reestruturao no processo ensino e aprendizagem, j que um
currculo baseado no acmulo de conhecimentos no responde mais
aos ditames da nova ordem econmica (BRASIL, 2000b).
Destarte, o Estado, por meio principalmente do MEC, agncia
responsvel pelo planejamento e divulgao de programas e polticas
para a rea educacional, em parceria com demais instituies estaduais
e municipais, promove a reforma curricular do Ensino Mdio, que
traz no discurso veiculado nos dispositivos centrais - PCNEM3!
e DCNEM33- de implantao da reforma a urgncia de acesso da
educao brasileira a linguagem das novas tecnologias.
Assim, os PCNEM e as DCNEM, enquanto discurso, tm o seu
ponto de emergncia nas discusses travadas em torno das mudanas
operadas pela revoluo tecnolgica e trazem em seu texto a urgncia
de uma nova concepo educacional que se volte para atender as demandas sociais em vigor (FOUCAULT, 1979).
Neste estudo, tomamos esses documentos como dispositivos, por
compreendermos,
a exemplo do que diz Foucault (1979, p. 244), que
h.
se constituem em:
O documento de reforma do currculo do Ensino Mdio - PCNEM - aps um srie de
reunies e estudos foi encaminhado para o Conselho Nacional de Educao (CNE) em
07 de julho de 1997 para obteno de parecer. Em 1/06/1998, pelo Parecer no 15/98, da
Cmara de Educao Bsica, foi aprovado o parecer anterior do Conselho Nacional de
Educao. (BRASIL, 2000b).
Documento que apresenta propostas de regulamentao da base curricular e de organizao
do Ensino Mdio. Encaminhado pelo Ministro da Educao e do Desporto para a Cmara
de Educao Bsica (CEB) para a apreciao e deliberao em 07/07/97 pelo Aviso no 307.
Foi instituda em 26 de junho de 1998 pela Resoluo CEB no 3. (BRASIL, 2000b)
[...I
Esses dispositivos so um discurso que sublinha a urgncia de insero da linguagem das tecnologias na educao como fator fulcral
para a formao do cidado para viver na chamada sociedade da informao, que no tem mais espao para o simples acmulo de conhecimentos.
A poltica de reforma educacional, entre elas a do Ensino Mdio, traduz, na urgncia demandada pela aquisio da linguagem das
tecnologias, todo o poder de um arbitrrio cultural dominante que se
impe. A imposio desse arbitrrio cultural, materializada nos dispositivos legais e na distribuio de laboratrios e equipamentos nas escolas, carece de ser entendida, portanto, a partir das formas que esto
sendo criadas, inventadas pelos usurios destas na sua utilizao. As
aes estabelecidas na escola pelos grupos distintos que a compem
definem novos usos do produto, balizados nas condies reais de seus
usurios e do espao escolar.
Ao subverterem a ordem imposta, os usurios produzem maneiras
de fazer e, assim, de absorver as polticas implantadas, se reapropriando destas, sem, contanto, renunciar a elas, tendo em vista no poderem atender exatamente aos objetivos pr-estabelecidos.
As NTIC so inseridas na escola pelo Estado. Os professores as
utilizam pedagogicamente, por meio do trabalho docente, algumas vezes atendendo s recomendaes estabelecidas e, outras, adequandoas as suas prprias necessidades.
156
CURR~CULO
ESCOLAR
Nesse sentido, na relao que se estabelece entre o trabalho docente e a utilizao pedaggica das NTIC na escola, so desenvolvidas prticas cotidianas que podem ser sinalizadoras de formas de usos
empregadas pelos indivduos na busca de se reapropriarem do produto imposto, criando novas formas de consumo e ressignificando-o,
em oposio ao estabelecido nos dispositivos legais. Isto significa que,
numa determinada dimenso, os usurios no esto apenas passivamente consumindo o que Ihes imposto atravs no discurso dominante.
O uso do Vdeo/DVD est inserido na prtica de alguns professores do Centro de Ensino Ecologia Cognitiva. O interesse em trabalhar esta tecnologia em sala de aula com alunos encontra respaldo
nas vantagens oferecidas pela ferramenta, pois os recursos como imagem, som, movimentos, legenda, entre outros, viabilizados no video,
tornam o trabalho com o contedo mais dinmico e possibilita uma
absoro maior pelo aluno, como podemos observar atraves da fala da
professora Violeta.
L.
Olha, o meu trabalho tem sido positivo, por qu? Quer dizer,
a gente ... A eu vou at colocar entre aspas, eu gosto muito
de trabalhar o vdeo, n, eu compro dvds, eu tenho dvds e
trago e... eu gosto de trabalhar o vdeo. [...I E u sempre utilizo porque e u acho que uma ferramenta de u m poder de
conhecimento muito grande,
(professora Violeta- Portugus).
[.I
157
[...I quanto a sala, eu trabalhava muito l na sala de computao na questo at da produo do texto, n, nem sempre a
pesquisa em si, mas a questo da prpria produo de texto,
n. Ento o aluno produzia o texto em sala e ele ia at a
sala de informtica redigir esse texto, por qu? Porque um
texto, quando voc abre a caixa de texto l no Word, voc
tem aquela parte de verde e vermelho, ento ali, o aluno,
ele comea ... Quando ele escreve que t o verde ento algum problema de concordncia, de regncia, que bastante
interessante. Ento o aluno, ele vai a partir daquela linha,
mesmo sem saber a regra, mas ele comea a perceber o correto e se sair vermelho porque aquela palavra est escrita
errada, n, ento a tambm ... ento muito bom ter esse
acesso (inint) alm da pesquisa que fantstica, n, o livro
didtico hoje, ele apenas uma ferramenta, n, que voc
com ele...ele vai te direcionar pra que atravs da pesquisa ...
(Professora Violeta).
No relato sobre a prtica desenvolvida durante a aula com os
alunos no LI podemos perceber elementos que parecem sinalizar um
redimensionamento da produo textual pela professora. Ao levar os
alunos para o LI, aps produzirem um texto, para por meio das ferramentas disponibilizadas no computador realizar a correo de aspectos grsficos e gramaticais do texto, a professora sinaliza com a criao
158
CURR~CULO
ESCOLAR
I...]Segundo, tem
A relao estabelecida pelo professor entre os recursos disponveis no livro e o site da internet no computador vem ao encontro do
que diz Chartier (1994) sobre a perda do poder do livro nos dias atuais.
Hoje, o livro no exerce o mesmo fascnio que antigamente, quando
chegou a ser considerado o mestre dos raciocnios e sentimentos de
seus leitores. O livro, na sociedade contempornea, teve o seu poder
em parte suplantado pelas ferramentas disponibilizadas nas NTIC.
Os livros disponibilizados na biblioteca escolar, segundo o professor, so antigos, encontram-se desatualizados, por isso, em relao
as mltiplas tecnologias disponveis no site da internet, no exercem
o mesmo fascnio nem podem oferecer a mesma riqueza de material,
como o udio, as imagens, o movimento etc. Tal entendimento , inclusive, reiterado na fala de outra professora:
E u acho, assim, que o livro, ele uma pesquisa mais direcionada, ele mais fechado, voc v a viso de um autor
ali, I...]
o que a internet possibilita isso, quer dizer... Ento
e u vejo a possibilidade ele te d a questo do momento, ele
t e d momentaneamente, n, basta voc t clicando, apertando e checando e ali voc tem condies de filtrar, voc
(Professora Violeta no momento, voc tem um leque, I...]
Portugus).
Tem site que ainda requer texto e imagem, mas tudo bem
isso a no livro tambm tem texto e imagem, s que a diferena do livro para a tela que o livro que t na biblioteca
34
'1...I segundo fontes recolhidas por Vinton Cerf, em junho de 1999, a internet conectava
cerca de 63 milhes de computadores-servidores, 950 milhes de terminais telefnicos, 5
milhes de domnios do nvel 2 , 3 , 6 milhes de stios da web, e era usada por 179 milhes
de pessoas em mais de 200 pases". (CASTELLS, 1999, p. 431-432).
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162
CURR~CULO
ESCOLAR
, em geral, espontnea no-organizada e diversificada em
4 CONSIDERAOESFINAIS
As relaes estabelecidas no espao escolar durante o desenvolvimento do trabalho docente em sala de aula entre os usurios - professores e alunos - das NTIC disponibilizadas nesse espao tm muito
a dizer sobre as prticas inventadas por estes usurios. So prticas
imbudas de inmeras maneiras de fazer criadas, por vezes, silenciosamente, e que do forma ao cotidiano (CERTEAU, 2008).
164
CURR~CULO
ESCOLAR
CURR~CULO
ESCOLAR
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CURR~CULO
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170
CURR~CULO ESCOLAR
1
I
1I
I
Interessante observarmos que, nas afirmaes em A06, cujo entendimento de leitura e atribudo a interpretao do texto, o que percebemos, ao longo das observaes que realizamos para este estudo,
que, para esses sujeitos, a interpretao e a compreenso so sinnimos. Desse modo, a leitura como interpretao ou compreenso
extrair o entendimento literal do discurso escrito.
Sobre esses depoimentos, vale aqui fazermos uma reflexo: se a
leitura para esses informantes interpretao da mensagem escrita,
ento os nossos informantes esto realizando uma leitura reprodutivista e conformista, visto que a interpretao inerente a atividade leitora
est sobremodo distante daquilo que esses educandos concebem no
seu dia-a-dia escolar sobre leitura.
Da, porque Ricouer (1978, p.15) explicita muito bem o ato de
interpretar nas atividades leitoras quando afirma que esse ato consiste em desdobrar os nveis de significao encontrados na significao
literal do texto.
Com efeito, o que o autor nos coloca que, a partir da compreenso literal do texto, comeamos a desdobrar os nveis de significao
que proporcionam as mltiplas possibilidades de significao do documento e que essas diversas possibilidades comeam a surgir quando descontextualizamos e recontextualizamos o texto em uma nova
situao. Portanto, a interpretao atinente a leitura se caracteriza,
sobretudo, pela descontextualizao e recontextualizao.
Assim, apesar dos depoimentos emitidos pelos sujeitos, em A06
o termo interpretao est associado, equivocadamente, a compreenso dos sinais grficos, e no as diversas possibilidades significativas
permitidas pela leitura. Nessa perspectiva, comungamos com Pfeiffer
(2003, p.95) e Silva (1997, p.15) quando explicitam sobre os procedimentos de leitura predominantes em sala de aula e a impossibilidade
de o educando refletir sobre a leitura que realiza. Deparamo-nos, assim, com um entendimento de leitura dicotomizado entre o normativismo gramatical e a leitura parafrastica, elementos que no asseveram
a esses educandos o ensino e a aprendizagem da leitura como um ato
cognitivo.
172
CURR~CULO
ESCOLAR
1
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Finlndia, Canad, Holanda, Nova Zelndia, Austrlia, Irlanda, Coria do Sul, Reino
Unido, Japo, Sucia, ustria, Blgica, Islndia, Noruega, Frana, Estados Unidos,
Dinamarca, Sua, Espanha, Repblica Checa, Itlia, Alemanha, Liechtenstein, Hungria,
Polnia, Grcia, Portugal, Federao Rssia, Letnia, Luxemburgo, Mxico e Brasil.
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176
CURR~CULO
ESCOLAR
O ato de ler sempre envolve apreenso, apropriao e transformao de significados pelos indivduos, independentemente do tipo
de leitura a ser abordada. Se trabalhada e direcionada mediante uma
perspectiva crtica, facilita a reflexo, o confronto dos significados desvelados bem como a busca da verdade.
Ao fazermos essas consideraes, reafirmamos a necessidade de
trabalharmos as prticas leitoras escolares de forma que a leitura de
um texto no se restrinja aos limites dela mesma, mas que remeta o
leitor para a percepo, conhecimento e anlise da realidade. Ora, ao
buscarmos a compreenso de um texto, no podemos nos limitar aos
horizontes da mensagem do autor, temos que reagir, questionar, problematizar as informaes recebidas a luz das nossas experincias e conhecimentos prvios. dessa forma que podemos construir u m novo
texto, o texto do leitor, criado pela interao dos referenciais evocados
pelo texto e pelas.experincias do leitor.
nessa perspectiva que os nossos educandos aprendero a ler significativamente e no de forma mecnica. Entretanto, ao falarmos de
leitura escolarizada no Brasil, no podemos perder de vista o processo
histrico de nossa sociedade. Um processo que, no perodo Colonial,
concedeu um encaminhamento dogmtico, conservador e unilateral
s prticas leitoras escolares. Um processo leitor que, apesar de vrios
sculos de civilizao, ainda possvel observarmos a sua presena em
meio a tantos avanos e progressos realizados no campo da leitura, a
interdisciplinaridade, a contextualizao do conhecimento, o desen-
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volvimento de competncias e habilidades, a prpria evoluo do conhecimento numa velocidade sem precedentes e a tecnologia com os
seus saltos cada vez mais frequentes.
No por acaso que os dados informacionais do Pisa, Saeb e Prova Brasil resgataram uma realidade leitora que denuncia, entre outros
fatores, a memorizao, a repetio, a passividade, o conformismo e a
reproduo nas atitudes leitoras dos nossos educandos frente ao texto
escrito. A leitura na escola resgata, pois, o seu passado no presente em
que o aprender a ler se encerra na tecnologia da codificao e descodificao da lngua escrita, sem nenhuma preocupao com a formao
crtica do leitor. Por outro lado, essas avaliaes leitoras constituemse formas de acompanharmos a evoluo da realidade educacional do
pas em todos os nveis e a partir da estabelecer as polticas pblicas
necessrias para melhorar a qualidade na leitura da educao bsica.
Nesse sentido, a pesquisa realizada mostrou u m expressivo nmero de educandos que concebem o ato de ler apenas como o entendimento das idias do discurso escrito, reproduzindo o significado
previsto pelo autor. Tal fato demonstra que esses educandos no esto
capacitados para realizarem o ato de ler dentro de uma abordagem
reflexiva que os leve a anlise, questionamento, interpretao, produzindo assim novos e possveis significados ao discurso escrito. Portanto, a leitura como trabalhada no mbito escolar acaba promovendo
a aquisio de hbitos e comportamentos e no o desenvolvimento da
conscincia e do esprito crtico dos educandos.
Desta maneira, os depoimentos dos educandos sobre leitura
apontam para uma didtica que subverta a leitura, transformando-a
num ato cognitivo capaz de possibilitar o alargamento dos horizontes
dos educandos e que se afaste, por outro lado, de um passado leitor
demasiado distante, mas que se torna to presente nas prticas leitoras
escolares de nossos professores, professoras, alunos e alunas. As conseqncias sociais e polticas do direcionamento que segue a leitura nas
escolas investigadas so extremamente nefastas para os nossos sujeitos
leitores como indivduos e cidados tanto no presente como no futuro. E assim, esses educandos podem ficar cada vez mais distantes das
exigncias solicitadas pelas avaliaes internacionais e nacionais sobre
compreenso leitora. E, ao que tudo indica, permanecero afastados,
outrossim, da sociedade letrada.
178
CURR~CULO
ESCOLAR
I
I
Nas sociedades de economia capitalista, inclusos os pases de economia perifrica como o Brasil, os organismos internacionais dentre
outras particularidades, mantm ingerncia quanto a determinao
das polticas educacionais a ponto de "sugerir7'o modelo de educao
adequado as diretrizes preconizadas pelos pases do primeiro mundo.
Nessa perspectiva, a funo social da educao, por sua vez, est condicionada as concepes de mundo e de cidadania que os organismos
"recomendam".
internacionais, como (Cepal/Unesc0,1990)~~,
Financiadores das polticas educacionais brasileiras, com o consentimento e a conivncia das elites para atender aos seus prprios interesses, referidos organismos insistem em manter um iderio supostamente capaz de resolver os graves problemas da educao nos pases
em desenvolvimento. No Brasil, constata-se, porm, em que pesem as
muitas cartas de intenes entre organismos internacionais e os pases
em desenvolvimento, que os problemas educacionais, at o final do
sculo XX, no eram superados nem amenizados.
Nesse contexto, nas dcadas finais do sculo passado, eram intensas as discusses acerca da baixa qualidade do ensino, com foco
no rendimento escolar e na distncia que a escola mantinha da realidade e dos direitos do cidado, entre outros fatores. Principalmente,
" Cepa1 - Comisso Econmica para a Amrica Latina e Caribel Unesco-Organizao das
Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.
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184
CURR~CULO
ESCOLAR
As concepes da Estratgia Metodolgica do Projeto Escola Ativa so baseadas na compreenso de que possvel alcanar mudanas
no ensino com a melhoria da prtica docente e, consequentemente,
com aprendizagem dos alunos das classes multisseriadas. Para tanto,
nessa estratgia, o aluno considerado como sujeito e centro do processo ensino aprendizagem; o currculo pertinente e relacionado a
sua vida; o calendrio e o sistema de promoo so flexveis; a avaliao realizada de forma processual e a recuperao funciona como
uma ao paralela (COLBERT, 1987, p. 15).
Segundo seus mentores, a Estratgia Metodolgica do Escola
Ativa fundamenta-se em princpios que valorizam a educao voltada
para o desenvolvimento de valores ticos, morais, cvicos e democrticos e para o fortalecimento do vnculo escola-famlia-comunidade.
Adaptadas a realidade brasileira, as intenes educacionais do Escola Ativa concretizam-se por meio de objetivos como o de ofertar as
escolas multisseriadas uma metodologia adequada e com custos mais
baixos que a n u ~ l e a o promover
~~;
a participao dos pais nos aspectos pedaggicos e administrativos da escola; melhorar a qualidade do
Ensino Fundamental da 1" a 4"srie ministrado nas escolas multisseriadas.
Por inferncia, possvel supor que os responsveis pela conduo da educao no estado acreditavam que, com a adoo de nova poltica educacional para as classes multisseriadas, mais especificamente
com a implantao Projeto Escola Ativa, seriam processadas mudanas significativas na prtica pedaggica dos professores e supervisores dessas classes o que provocaria alteraes no quadro identificado
na pesquisa $-que se faz referncia nesta Introduo. Notadamente,
ocorreriam rupturas em relao a prtica exercida, at ento, por esses
docentes em suas escolas.
Registra-se,contudo, que a aceitao as modificaes "im~ostas"
pelo estado, com a implantao de O Projeto Escola Ativa7 na prtica
pedaggica, no foi passiva, visto que elas Causaram conflitos e inseguranas a esses profissionais da educao municipal. As questes de
"
Nucleao - Denominao criada para identificar escolas que renem ou agrupam vrias
escolas isoladas em uma nica localidade.
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No tenho problemas porque tenho meu transporte e recebo assistncia do supervisor. (P6)
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1
I
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sidade de aquisio dos mesmos. Explicaram ainda que, em ao conjunta com a comunidade escolar e em parceria com a equipe tcnica,
procuram no permitir que essa dificuldade venha impedir o desenvolvimento das atividades nas escolas.
D e certa forma, a postura explicitada pelos sujeitos da pesquisa
reflete a "inculcao" de uma prtica vivenciada na formao oferecida pelo Projeto, quando lhes atribuem a responsabilidade pelo sucesso do Escola Ativa de forma que buscam solucionar situaes que
venham prejudicar a eficcia do Projeto.
b) A formao, a experincia e a rotina pedaggica d o Projeto
Escola Ativa na opinio dos pesquisados
Na pesquisa de campo, os supervisores foram questionados sobre
a capacitao dos professores do Projeto da Escola Ativa e estes responderam que processual e envolve toda a comunidade escolar. Nesse sentido, percebeu-se que todos os professores tiveram capacitao
inicial, e e m relao capacitao contnua, as informaes revelaram
que, de acordo com 100% dos professores, o processo de retroalimentao e capacitao continuada, realizam-se em sistemticos encontros
mensais, os microcentros, nos quais so feitas oficinas de aprendizagem para, entre outras aes, procederem troca d e experincias. Conforme Dewey (1976, p. 31), a experincia no se processa apenas dentro
da pessoa: "Toda experincia genuna tem um lado ativo, que muda de
algum modo as condies objetivas em que as experincias se passam".
Compreender as idias que norteiam essa (no to) nova forma de
pensar a aprtsndizagem e, dentre elas, a idia de experincia no pensamento d e Dewey, uma das significativas contribuies herdadas
pelo Projeto Escola Ativa, explorada na Estratgia Metodolgica com
a caracterstica denominada de respeito s experincias (conhecimento prvio) anteriores a chegada na escola.
Nos estudos realizados ficou patente a nfase dada a experincia
como ponto de partida para a aquisio de conhecimentos tanto para
o professor, no processo da formao inicial para a prtica docente em
classes multisseriadas, quanto para o aluno em sala de aula.
Faz-se meno, tambm, a outro aspecto bem visvel na orientao oferecida ao profissional da educao em sua ao docente, trata-se da incumbncia dada a esse docente no sentido de que seja reflexivo na sua prtica pedaggica: "[ ...I pensar o esforo intencional
para descobrir as relaes especficas entre uma coisa que fazemos e
a conseqncia que resulta, de modo a haver continuidade entre ambas" (DEWEY, 1959, p. 159). Convm ressaltar que as idias do liberal
Jonh Dewey, acerca da ao reflexiva e da experincia, permanecem
atuais e, ainda hoje, so discutidas nas concepes formuladas pelos
estudiosos Schon e Tardif.
No Projeto Escola Ativa, a formao de professores deve se voltar,
pois, para experincias significativas, uma vez que tais experincias
tm valor educativo. Nessa tica, a preparao dos docentes tem papel
fundamental na implementao da Estratgia Metodolgica do projeto Escola Ativa.
Conforme Colbert (1987) afirma, a capacitao inicial precisa ser
vivencial para garantir a efetiva qualidade do Projeto, que, por sua vez,
responsvel pela melhoria das prticas pedaggicas e, como conseqncia, da aprendizagem dos alunos. Para essa autora, os professores das escolas multisseriadas precisam saber inovar, criar e incentivar
seu pblico, pois tm como desafio alunos com diferentes ritmos de
aprendizagem e com heterogeneidade etria existente e m funo das
elevadas taxas de repetncia e do ingresso tardio de muitas crianas,
nas escolas. Destaca, ainda, a importncia de o professor dominar os
contedos das reas de ensino, uma vez que um dos objetivos do Projeto centraliza-se na aquisio da leitura e da escrita e clculos inatemticos, dentre outros.
Para tanto, o Projeto requer que os professores estejam preparados para desenvolver sua prtica pedaggica a partir do planejamento
pautado nos componentes curriculares e nos planos de aula compatveis com os alunos. E na elaborao, o planejamento precisa, sempre,
considerar a heterogeneidade da sala de aula, uma vez que trabalha
com vrias sries e com alunos de faixa etria diferenciada, devendo,
para tanto utilizar-se de sua experincia pedaggica, de modo a tornar
os alunos estimulados e participativos no processo educativo.
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,
I
I1
Acontecem todo ms, os estudos realizados nos microcentros. Eu gosto porque tenho oportunidade de aprender mais
e de tirar minhas dvidas. (PI)
Para mim muito importante o microcentro, porque tanto
aprendo quanto vejo meus colegas para tirar dvidas e dizer
o que fiz de bom na minha escola. (P2)
AS vezes tenho dificuldade de ir aos microcentros porque
acontecem no sbado, mas e u gosto muito porque eles me
esclarecem as dvidas e estudo mais coisas e fico muito satisfeita. (P3)
Estes microcentros so importantes para a minha prtica pedaggica porque me orientam nas dificuldades, me obrigam
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Pelas respostas, destaca-se que na opinio de 100% dos professores os microcentros desempenham satisfatoriamente sua funo.
Os docentes explicitaram que a proposta dos microcentros, alm de
promover o intercmbio de experincias, permite que os professores
socializem as aes que desenvolvem nas escolas que participam do
Projeto, destacando seus xitos e dificuldades, ademais de incentivarem o esprito solidrio na busca de solues para resolver as dificuldades apresentadas por cada participante.
As informaes captadas, na pesquisa de campo, permitiu-nos
perceber que h parceria entre supervisor e professor. Esses demonstram companheirismo e solidariedade entre eles e os professores mostraram-se satisfeitos com a assistncia pedaggica dos supervisores nas
escolas.
O sistemtico acompanhamento pedaggico pode permitir que
os supervisoi-es avaliem o nvel de aprendizagem dos alunos e, consequentemente, balizem a prtica pedaggica dos professores. Essa
sistemtica possibilita, ainda, a esses profissionais prestarem as orientaes e intervenes necessrias aos docentes em sua ao pedaggica. Conforme dados registrados no dirio de campo, pode-se perceber
que o supervisor usa um relatrio de acompanhamento cujos dados a
serem registrados relacionam-se aos componentes, elementos e instrumentos do Projeto. Registrou-se, ainda, que o preenchimento desse
instrumento ocorre no momento da estada do supervisor na escola, e
a proporo quaele vai observando a ao do professor vai registrando
em seu relatrio.
Um dos objetivos propostos pelo Projeto Escola Ativa diz respeito
a funo do supervisor como relevante nas situaes de aprendizagem
dos alunos na sala de aula, e para melhorar o rendimento escolar do
aluno e do profissional em sua prtica pedaggica. Os dados e inforinaes coletados revelaram que para todos os professores entrevistados, o acompanhamento realizado pela superviso contribui para a
melhoria da gesto escolar e para os trabalhos que desenvolvem na sala
de aula.
Desse modo, o rendimento do educador acompanhado pelo supervisor de cada escola em que trabalha com o professor, analisando
a aprendizagem dos alunos e propondo nas intervenes realizadas
atividades para os que apresentem maiores dificuldades, de forma que
os alunos possam avanar em seu prprio ritmo e o professor melhorar
em seu rendimento profissional.
Na opinio dos supervisores entrevistados, o rendimento dos
professores satisfatrio. Conforme esses profissionais, o resultado
se efetiva pelo trabalho conjunto realizado por toda a equipe tcnica de superviso, que no planejamento programa as aes de forma
a contribuir com a prtica pedaggica dos professores. Acrescentam,
tambm, que se preocupam em valorizar o trabalho desse profissional,
pela responsabilidade e compromisso com que eles desenvolvem suas
atividades, pelo estmulo a leitura, a troca de livros, e na efetivao dos
microcentros, que, na opinio dos supervisores, contribui para melhorar o desempenho docente.
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muito boa, desde que se tenha uma forte viso poltica, uma
credibilidade e uma construo da memria do municpio.
Infelizmente, os municpios ainda no tm conscincia da
importncia de construir sua memria, e para ns que estamos acompanhando essa situao, tendo que reconstruir
sempre a memria do Projeto nos municpios, torna-se difcil at fazer uma avaliao. (Cl)
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4 CONSIDERAESFINAIS
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necessrio ressaltar que o estudo realizado sobre a prtica pedaggica desses profissionais foi feito a partir da forma como estes se
percebem. So suas falas que direcionam todo o possvel olhar e as
consequentes inferncias que foram feitas.
Como conseqncia da referida anlise, pde-se perceber que:
- As condies de trabalho dos docentes ainda so precrias e, embora tenha alterado um pouco a infraestrutura das escolas, este fator
no o nico ou o mais importante, porm, essencial para mensurar
as mudanas na atuao dos docentes. Em relao a equipamentos
eletrnicos e eletrodomsticos, a prefeitura no tem correspondido ao
compromisso assumido quando da implantao do Projeto. Quanto
aos recursos didticos, as escolas multisseriadas do municpio de Viana contam com todos os elementos do componente curricular.
- No que se refere a categoria formao / experincia / rotinas,
a Estratgia agilizou a busca pela formao e pela qualificao profissional, a ponto de um quadro docente com pouco ou nenhuma
formao, em trs anos, tornar-se qualificado, pelo menos em nivel
mdio (magistrio). Atualmente, cinco dos seis pesquisados tm nivel
superior.
- Sobre suas prticas pedaggicas, esses profissionais aprenderam
a planejar e avaliar, bem como se tornaram mais interessados e comprometidos com a sua ao pedaggica. Novos valores foram construdos e exercitados pelos docentes, tais como: respeito em relao ao
aluno e a ele mesmo e tambm o reconhecimento de sua funo como
mediador do processo ensino aprendizagem e o exerccio constante na
participao em formao continuada.
A pesquisa'~evelou,contudo, movimentos que se articulam ou se
explicam dialeticamente. Se de um lado essa Estratgia no consegue
romper com a lgica do sistema capitalista que se mantm, sobretudo,
porque se apia em uma concepo reprodutivista de educao, mesmo que, em alguns pontos rompa com o sentido da adequao pura e
simplesmente do aluno, do professor e at da comunidade aos ditames
da classe dominante; por outro lado, os procedimentos metodolgicos
possibilitam, aos envolvidos no processo, vivncias que lhes permitem
perceber a necessidade de transformao social para que mudanas se
operem em suas vidas. Extrapolam, assim, aos objetivos do sistema.
Os pesquisados revelam satisfao em relao ao trabalho desenvolvido, acreditam que a adoo do Projeto vem mudando, de forma
significativa a aprendizagem dos alunos e suas prticas pedaggicas,
apesar dos desafios e das criticas que fazem ao Projeto. Na voz dos
pesquisados, no se identificam, apenas, idealizaes ou aceitao
passiva do Projeto. Muito ao contrrio, h conscincia de que o Escola Ativa, embora com limitaes de ordens diversas, contribui para o
crescimento dos alunos e dos prprios profissionais.
Como se deduz das falas e dos resultados, em que pese a inevitvel
critica aos projetos de cunho compensatrio, como o Projeto Escola
Ativa, cujas bases polticas assentam-se no liberalismo, revestidos e inseridos na atual percepo neoliberal, avanos foram identificados na
pesquisa, no que diz respeito a melhoria do processo ensino aprendizagem, a reverso de indicadores negativos, a participao da comunidade nas atividades da escola, a sensibilizao do professor em buscar
formao, a tomada de conscincia de classe por parte dos sujeitos da
pesquisa e, principalmente, a viso destes quanto ao prprio Projeto.
Tais constataes excluem das anlises o risco de um determinismo econmico e poltico, as vezes sedutor, mas que tende a reduzir as
relaes humanas a maniquesmos perigosos.
Finalmente, pretende-se que este trabalho represente o encontro de uma prtica alicerada na formao profissional somada a uma
reflexo desta realidade. Espera-se que esta pesquisa possa contribuir
para o conhecimento da realidade educacional do Maranho e tambm para a melhoria da prtica dos profissionais do Projeto Escola
Ativa.
CURR~CUCO
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WARD7
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CURR~CULO
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vender notcias e gerar lucro. Enquanto maneira de obter conhecimento sobre o mundo, as notcias se situam no patamar que Traquina (1993, p. 168) chama de "acordo de cavalheiros" entre jornalistas e
leitores, ou seja, o "[ ...I respeito dessa fronteira que torna possvel a
leitura das notcias enquanto ndice do real7'.
3 DIVULGAOCIENTIFICA,JORNALISMO
CIENTIFICOE EDUCAO
A divulgao da cincia est presente em vrios espaos e submetida a diferentes condies de produo, uma vez que existem diversas
formas e suportes para difundir este tipo de conhecimento ao pblico
no especializado. Pode ser realizada nos museus e centros de cincia,
parques zoobotnicos, aqurios, planetrios, laboratrios de divulgao cientfica, livros, revistas (entre estas as de divulgao cientfica),
jornais, televiso, rdio, Internet, exposies e feiras de cincias, cinema e peas de teatro, literatura de cordel, Histrias em Quadrinhos
- HQs etc. As expectativas em torno da criao e implementao de
espaos de divulgao cientfica que, ao mesmo tempo, possam reunir atividades de aprendizagem ativa, ldica e de lazer.
Diante disto, devemos ter na divulgao cientfica, a preocupao
e m fazer conhecer o mundo da cincia, a percepo de que preciso
educar para a formao de cidados, para despertar as questes ticas
de suas aes e participao mais decisiva nas escolhas que dizem respeito ao prprio futuro. H toda uma rede que vem se organizando no
Brasil, a qual pode ser percebida pelos materiais de divulgao, livros
e encontroddebates promovidos por associaes como a Associao
Brasileira de Jornalismo Cientfico - ABJC, Associao Brasileira de
Divulgao Cientfica - Abradic, Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia - SBPC, Associao Brasileira de Centros e Museus de
Cincias - ABCMC e outras, que visa o reconhecimento e melhor elaborao da divulgao cientfica praticada em feiras, centros e museus
de cincias, nos meios de comunicao de massa e outros espaos no
formais de aprendizagem.
Em relao as prticas de divulgao da cincia pela mdia, podemos observar sua participao na educao no formal (em sua
produo e difuso de conhecimentos) e na educao formal, com as
prticas de Educomunicao48ou mdias na educao, voltadas para o
mbito escolar. Estas prticas visam contribuir ao ensino dos contedos formais das disciplinas escolares ou a outras atividades educativas
desenvolvidas nesses espaos. Nessa perspectiva, apesar de notarmos
que, em alguns casos, as potencialidades miditicas so exploradas
sem preocupao com a formao dos indivduos, estes mesmos espaos podem ser aproveitados pela divulgao cientfica nas diferentes
linguagens e recursos que as modalidades miditicas podem nos oferecer. Se houver cuidado com o teor do que divulgado e com a possibilidade de educar atravs dos meios, com tica e responsabilidade,
a mdia pode ser aproveitada como importante espao de divulgao
da cincia.
Dentre as diversas estratgias de divulgao cientfica, a preocupao com o contedo a ser produzido para as crianas assume papel fundamental nesse processo, principalmente quando possumos
o compromisso de contribuir para o contexto educativo, para a formao destes indivduos. Para a divulgao cientfica dirigida ao pblico infantil so utilizados recursos especficos, que visam adaptar a
linguagem e o nvel de dificuldade das propostas de acordo com a representao que o divulgador faz do destinatrio-criana (ZAMBONI,
2001). Como indica Massarani (2005), o pblico infantil tem grande
capacidade de lidar com temas de cincia, contudo, cabe o questionamento se temos explorado adequadamente a capacidade infantil,
uma vez que a transmisso do contedo cientfico feita, em certos
casos, de modo inadequado. A preocupao com o esclarecimento dos
conceitos cientficos nos parece essencial para integrar as crianas no
conhecimento fornecido pela divulgao cientfica, inclusive como
forma de inseri-las no processo de produo de novos conhecimentos.
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sob esta perspectiva que "[...I a divulgao cientfica bem feita pode
ser um instrumento til para a consolidao de uma cultura cientfica"
(MASSARANI, 2005, p. 8). A reside fator primordial que deve pautar
o incentivo as atividades de divulgao cientfica para este pblico.
A preocupao com a didaticidade fator de extrema importncia, uma vez que fundamental tornar a estruturao e organizao
do texto mais apropriadas a aprendizagem dos contedos por esse pblico, onde a linguagem utilizada tenta se aproximar da forma como
se expressam, observam e comunicam o mundo, estimulando a valorizao de seus conhecimentos prvios. O destinatrio-criana tem,
ento, a possibilidade de ser protagonista de seu prprio processo de
aprendizagem, dialogando com outras fontes de conhecimento, reformulando-as e criando um novo conhecimento.
Quando discutimos sobre as relaes entre jornalismo e educao, pensamos tanto do ponto de vista das contribuies que os produtos jornalsticos podem ter ao serem utilizados como complemento aos
assuntos trabalhados nas disciplinas escolares, como da possibilidade
do jornalismo funcionar como espao de formao ao fazer parte de
situaes no formais de aprendizagem, em virtude do carter didtico de sua linguagem e pela possibilidade do pblico entrar em contato
com novos conhecimentos. No jornalismo cientfico, especialmente
nas produes voltadas para a educao, esse carter formador est
presente nas possibilidades de divulgao de conhecimentos. Tendo
em vista sua utilizao, necessrio contextualizar o processo de produo jornalstica (educar para a crtica da mdia) ao aproveit-la em
atividades de ensino-aprendizagem (educar com e pela mdia).
Considerando os currculos escolares como dispositivos mais amplos que o rol de disciplinas e contedos de um determinado nvel de
ensino, percebemos assim como Fischer (2002) que as prticas miditicas e seus produtos esto diretamente relacionados aos currculos
escolares. Alm disso, cada vez mais frequente a utilizao de recursos miditicos nas salas de aula, o que leva a questionamentos se essa
crescente aproximao entre os produtos miditicos e a escola pode
melhorar a leitura crtica do mundo e o processo de apreenso dos
conteclos pelos alunos.
DIMENSES
PEDAGGICAS
E POL~TICAS
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sentando a abelha em seu ambiente natural. A personificao do animal, algo comum nas ilustraes que atraem o pblico infantil e com
as quais se identificam, foi representada na revista e permaneceu na
criao de E4. De maneira semelhante, E10 tambm relacionou, em
sua criao, as informaes dos textos e ilustraes da revista com os
conhecimentos de sua prpria biblioteca. O desenho foi colorido realisticamente, tentando se aproximar dos instrumentos, da forma como
a criana os concebe. E11 e E12 desenharam crianas, modificando o
sentido das ilustraes que tomaram por base, onde no existiam as
figuras acrescentadas. Estas representaes demonstram uma aproximao com seus conceitos vivenciais, pois apresentam uma imagem de
que as crianas participam ativamente da realidade, reverberando suas
percepes sobre o seu prprio mundo, o mundo infantil, construdo
(e habitado) pelas crianas.
E3 foi um dos que se encantou pelo texto que escolheu para ler,
achando interessante a profisso de naturalista, a qual no existe mais
na atualidade. Ele comentou sobre as atividades que o profissional
executava e a importncia deste tipo de trabalho para a conservao
da natureza. No momento em que conversvamos sobre os espaos
que realizam atividades de divulgao cientfica, fez uma associao
entre o Parque Botnico e como o naturalista trabalharia num local
como aquele. O salto de E3 nos mostra como as crianas so capazes
de estabelecer complexas relaes a partir dos conhecimentos de seu
repertrio cultural, associando diferentes elementos, estabelecendo
comparaes e analogias, se reportando a outras situaes, fornecendo explicaes sobre os fenmenos e acontecimentos ao seu redor.
Alguns textos tentam transportar as crianas para alm de imagens
cristalizadas que elas possuam sobre determinada questo, almejando
superar estes lugares-comuns. O artigo escolhido por E11 segue essa
proposta e mesmo com a tentativa em fugir do lugar-comum, ele
continuou com a representao que j possua sobre a Amaznia, a
qual para ele faz sentido. O tipo de leitura previsto pelo autor no
foi totalmente realizado neste caso; situao parecida ocorreu com
a interpretao de E7. Inferindo sobre este problema, notamos que
nem sempre a linguagem est de acordo com a variedade de faixas
etrias a que a revista se destina, cujos assuntos podem interessar ao
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5 CONSIDERAESFINAIS
Buscamos ao longo deste trabalho estabelecer as relaes existentes entre jornalismo, divulgao cientfica e educao, nas suas diversas estratgias e nos discursos e prticas do contexto escolar. Esta
iniciativa mostrou-se importante ao despertar para os cenrios em que
este relacionamento se manifesta, principalmente no mbito dos pro-
dutos miditicos e na realidade escolar maranhense, incitando discusses sobre as questes levantadas a partir de nossas abordagens. Em
virtude da carncia de estudos que envolvam as interfaces entre estas
reas em nosso contexto, as perspectivas aqui apontadas podem servir
como estratgia de propulso para a continuidade deste dilogo, inclusive percebendo estas inquietaes sob novos enfoques.
Demonstramos que o campo jornalstico um campo de lutas,
em que h uma busca "interminvel" pelas notcias, bens cuja durao bastante rpida, pois tm validade at que outros acontecimentos passem a atrair as atenes e aquelas sejam esquecidas. Quando
tratamos deste campo, estamos diante de uma realidade paradoxal,
pois ao mesmo tempo h uma srie de presses e constrangimentos,
e os profissionais buscam superar ou burlar estas restries para despontar como uma classe de intelectuais que possa trabalhar 'utonomamente", com criatividade e perseguindo seus ideais de fidelidade
aos acontecimentos que destacam na cena pblica, atendendo ao
interesse pblico. certamente um desafio, mas que estes agentes
precisam enfrentar para garantir mais tica e responsabilidade s suas
produes, atingindo seu papel de fortalecedores da democracia tal
como vislumbra Bucci (2000). A partir desta luta, em buscar meios
mais srios de tratar e divulgar as informaes com maior comprometimento e respeito as fontes e aos cidados, que o jornalismo poder
tomar para si a funo de servir como uma possibilidade que oferea
maior segurana na aquisio de conhecimentos, contribuindo para a
educao e formao crtica dos indivduos.
No contexto escolar da Rede Pblica Municipal de So Lus,
nosso dilogo com os professores e estudantes do I1 Ciclo do Ensino
Fundamental da U. E. B. Ministro Carlos Madeira procurou situar,
especialmente, as relaes das crianas com os textos e atividades de
divulgao cientfica, a presena da mdia em seus cotidianos e as percepes das possibilidades de aprendizagem que podem oferecer, e
a apropriao/criao de novos conhecimentos. Percebemos que as
produes miditicas esto presentes em vrios momentos no cotidiano dos estudantes, que tm acesso a diversas informaes disponibilizadas pelos meios de comunicao; acreditamos que nestas atividades
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