Texto Introdutório - Introducao - Aos - Estudos - Historicos - I PDF
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PRIMEIRA PARTE
Noções Gerais
* *
CAPITULO PRIMEIRO
DA MITOLOGIA À CIÊNCIA HISTÓRICA.
§ 1. A palavra História.
Y■I/XH NIKA
Foi na Grécia que nasceu aquêle desêjo desinteressado de sa-
ber que ainda hoje em dia constitui um dos elementos mais carac-
terísticos da nossa civilização. Os primeiros sábios, — é difícil de-,
cidir se eram filósofos ou cientistas, — davam vários nomes a essa
,
§ 2. Os primórdios da historiografia.
(2) . — Os chamados filósofos pré-socráticos devem ter empregado o têrmo "história" "
nas suas publicações, mas não possuímos fragmento algum que tenha conser-
vado a palavra.
•■•
— 409 —
(3): — Hesíodo, poeta grego (século VIII a. C.) escreveu dois poemas didáticos: a.,
Teogonia e Obras e Dias (uma espécie de calendário para uso dos lavradores,
rico em sentenças moralistas e preceitos práticos) .
. — Strabo, Geographica, I 2, 6. — Strabo (Estrabão) era geógrafo e historiador
grego (63 a. C. — 19 d. C.). Perderam-se, infelizmente, as obras históricas
désse sábio sensato e equilibrado.
. — Hecataeus Milesius, Fragmentum 332, in Fragmenta Historicorum Graecorum, -
edd. C. et Th. Müller, Bibliotheca Didotiana, vol. I, pág. 25 .
— 410 —
§ 3. A historiografia grega.
,(13) . — A obra de Políbio contava 40 livros, dos quais possuimos I-V completos, e o
resto em fragmentos, por vêzes bastante extensos. — Nos livros MI trata
da pré-história de Roma e Cartago; nos livros III-XXIX dos acontecimentos
entre 221 e 168; nos livros XXX-XL narra as conquistas romanas até o ano
144. — O livro XXXIV é inteiramente consagrado a questões geográficas.
.(14). — Chegaram até nós os livros I-V (tempos míticos, anteriores à guerra troiana)
e XI-XII (480-302 a. C.), e numerosos fragmentos.
415) . — Possuimos ainda os livros I-X completos, XI incompleto, e o resto em frag-
mentos extensos.
— 414 —
§ 4. A historiografia latina.
. — Os dies fasti são mais ou menos comparáveis aos nossos "dias úteis"; neles o
pretor podia pronunciar uma sentença judiciária, e o povo podia cuidar dos
seus negócios políticos e privados, coisas essas que eram proibidas nos dies.
nefasti. Os dies nefasti não eram "dias' nefastos ou negros", na acepção mo-
derna da palavra. Ristes eram chamados dies atri ou religiosi: aí eram come--
moradas as catástrofes públicas, por exemplo 18 de julho que era dies ater por
três motivos: 447 a. C., derrota do exército romano nas margens do rio Crê-
mera (os 300 Fábiosl ); 387 a. C., batalha do Alia (vitória dos gauleses sôbre-
os romanos; 64 d. C., o Imperador Nero incendiou grande parte da cidade.
. — Cícero, De Oratore, II 12, 52.
(18a). — Cf. Servius, ad Aeneidem, I, 373.
. — Encontram-se os fragmentos de Catão em Historicorum Romanorum Fragmenta,.
ed. H. Peter, Lipsiae, 1883.
416 —
420). — Cato, Fragmentum 77: Non lubet scribere, quod in tabula apud pontificam
maximum est, quotiens anona cara, quotiens lunae aut solis lumine caligo aut
quid obstiterit.
( 21) . — Não sabemos ao certo se Catão conseguia omitir também os nomes dos heróis
pré-históricos, venerados como divinos em Roma, por exemplo Rômulo. A
nosso ver, é pouco provável.
(22) . — Cf. Cato, Fragmenta, 83; 88; 95, etc.
423) . — Cf. Titus Livius, Ab Urbe Condita, XXVI 49, 3: adeo (ei) nulius mentiench
modus est.
— 417 —
(27) . — Os Annales descreviam a época desde a morte de Augusto (14 d. C.) até a --
morte de Nero (68) . Possuimos completos os livros I-IV, incompletos V e -
VI (reinado de Tibério); completos XI-XV (os fins do reinado de Cláudio
e os primeiros anos de Nero), e incompleto XVI.
(28). — Plinius, Epistulae, VI 16. — O mesmo Plínio escreve, outra vez, a seu amigo ,
(VII, 33,3): Augurar, nec me fallit, ougariam, histoiras tuas immortales futuras.
— 419
§ 5. As crônicas.
L
Nos fins da Antigüidade abaixou o nível cultural e científico:
os intelectuais, em vez de fazerem pesquisas pessoais, contentavam-
se em compilar as obras clássicas, que se iam revestindo de um
prestígio quase dogmático. A ciência, renunciando ao ideal de pro-
gredir, sofria de esclerose, e era baseada em livros de segunda mão:
manuais e enciclopédias. Repetiam-se as palavras dos grandes mes-
tres, amiúde mal entendidas e quase sempre conhecidas indireta-
mente. A historiografia partilhava a triste sorte das outras ciências
e artes: era a época das sinopses, dos resumos, dos manuais, aos
quais, em geral, faltava todo o senso histórico. A decadência não
estava no fato de haver manuais, — enciclopédias e manuais são
os companheiros indispensáveis de uma velha cultura, — mas na
sua péssima qualidade, prova da diminuição do espírito crítico, e
no fato de não existirem, ao seu lado, obras históricas e pes-
quisas originais. A historiografia era reduzida a tabelas cronoló-
gicas, regressando assim ao seu ponto inicial. Os cristãos, pouco in-
teressados em investigar o passado pagão, contribuiarn muito para
o desenvolvimento do novo gênero: as crônicas. Interessava-lhes
saber de que maneira se enquadrava a história do povo eleito na
história profana dos gentios. Devemos reconhecer que esta tentativa
de alargar o horizonte histórico constituia uma novidade e podia
ter sido um progresso considerável. Mas os cristãos, filhos de uma
cultura moribunda,, harmonizavam a história sagrada e a história
profana bastante desleixadamente, introduzindo muitos erros na
historiografia. Não eram pesquisadores mais críticos do que seus
— 421 —
§ 6. A Renascença e o Humanismo.
O CONCEITO DA HISTÓRIA
§ 8. A definição.
A. O OBJETO MATERIAL.
§ 9. Os atos humanos.
cannot get any farther, proves that he has not a mind as man has
B. O OBJETO FORMAL.
§ 12 . O tempo.
— Pe. Leonel Franca, A Crise do Mundo Moderno, Rio de Janeiro, 1951, pág. 21.
— S. Augustinus, Confessiones, XI 14, 2. — Cf. J. Balmes, Filosofia Fundamen-
tal (Obras Completas, Barcelona, Biblioteca Perenne, 1948, vol. I, pág. 788):
El tiempo es una cosa muy difícil de explicar; quien nega sernejante dificulted,
manifieste beber meditado muy p000 sobre el fundo de le cuestión. — Cf.
Pascal (ed. citada), pág. 170. S6bre o "tempo histórico", cf. L'Hornme et
l'Histoire (=Artes du VIe Congrès des SoCiétés de Philosophie de langue fran-
çaise), Presses Universitaires de France, 1952, págs. 51-81.
— 433 —
(2) . — John Henry Cardinal Newroan, A Grelou-nor. of Asserir,. Longmans, Green ar..
Co, New York, London, Toronto, 1947, pág.• 219.
— 441 —
(4). — Sir Walter Raleigh (1552-1618), um dos grandes heróis marítimos da Ingla-
terra, era favorito da rainha Elisabeth I (The Virgin Queen), em cuja honra
apelidou a nova colônia norte-americana de Virgínia (1585). Sob o reinado
de Jaime I foi acusado de haver conspirado contra o trono, condenado à morte
(1603) e perdoado, mas ficou prêso na Tower até o ano 1616. Em 1618
foi morto por causa de unia expedição malograda.
443
(5) . — Terentius, Heauton Timoroumenos, 77. — Cf. o epíteto inglês, aplicado se,,
Shakespeare: the myriad minded man.
(6). — Cf. § 66, I.
445
(dência que é quase impossível ignorá-las e muitas vêzes nos ofus-
cam a vista para descobrirmos as causas remotas. Ninguém dú-
vida, por exemplo, de que as indulgência, pregadas por Tetzel na
Alemanha, foram uma das causas ocasionais da revolta de Lute-
ro . Mas as causas remotas levam-nos muito mais longe, e aí
surgem geralmente as dificuldades. O nosso conhecimento das
causas históricas é muito pobre, como havemos de expor mais
adiante (7) . Mas vale a mesma regra que já formulamos aci-
ma: a procura das causas históricas não é um ato subjetivo e ar-
bitrário, e sim obedece às boas regras da lógica e da filosofia, ve-
rificáveis para outros.
c) A apreciação dos fatos históricos é outra questão, que
pretendemos expor na terceira parte dêste livro (8) . Basta dizer-
mos aqui que os próprios fatos não se explicam a si mesmos, mas
que é o historiador, — o espírito humano, — que lhes dá certo
aprêço. Em virtude de quê? Em virtude de certa filosofia, "mun-
dividência" ou credo religioso, cujos princípios, se não podem ser
julgados pela história, podem e devem ser examinados por uma
,ciência superior: a filosofia ou a teologia. E quais as normas que
são aplicadas por essas ciências? São, mais uma vez, argumentos ob-
jetivos ou evidências.
VI. Restam dificuldades quanto à objetividade da histó-
ria: bem o compreendemos. As páginas anteriores pretenderam
.apenas introduzir o leitor no problema mais árduo da nossa ciên-
cia: em outros parágrafos dêste livro tornaremos a discutí-lo (9).
Por enquanto basta sabermos que o valor da interpretação histó-
rica depende de argumentos objetivos, mas que a argumentação
_histórica difere foto caelo de uma demonstração matemática . A
história não lida com abstrações, mas com fatos concretos: aí está
„a maior dificuldade. E o objeto próprio das ciências "puras" é o
universal e o necessário; não o particular e o contingente, que é o ob-
jeto da história. Resumindo, podemos dizer: o conhecimento his-
tórico tem valor objetivo e universal neste sentido: para ser uni-
versal basta que possa ser admitido e aceito por todos os que
se ocupam da mesma matéria, e para ser objetivo basta que o
adiantamento da ciência não o aniquile por completo, mas o apro-
funde e integre numa nova síntese. Um exemplo prático: Tucídi-
des formulou há 2500 anos com grande perspicácia as causas da
:guerra peloponésia . A historiografia moderna não modificou es-
sencialmente a interpretação do grande ateniense, pôsto que lhe
enriquecesse e aprofundasse o sentido (10).
exemplo "o homem medieval", são muitas vêzes tratados por prin-
cipiantes como verdadeiras abstrações. O mestre,, porém, mane- ,
( 10) . — Cf. G. Isaye, apud L'Homme et l'Histoire, pág. 21: La justification critique-
des principes immuables peut progresser, en utilisant la rétorsion comine
tère. Et de plus, il est poosible de feire des progrès en précision. Un juge-
ment peut se présenter á juste titre comme tzniversellement vrai à tuz mo-
ment oìr l'on ignore encore une certame distinction . Y a-t-il alors "ré--
vision" de ce jugement? Une précision nouvelle, oui . Une correction, non;
car le jugement n'avait pas pris position à l'égard d'une distinction qu'il
ignorait, dont il faisait abstraction . Cette bois, il ypassage de l' ignorence-
r
à la connaissance, non de l'erreur à la vérité. L'histoire de la pensée
donc la temporalité avec la certitude , • ,
CAPÍTULO QUARTO
plos da história . Não possuem o rigor das leis físicas, cujo fun-
cionamento podemos repetir à vontade. L'histoire ne se répète
jamais. A verdade expressa pelas "leis históricas", aproxima-se
muito perto da sabedoria popular, contida num provérbio . Não
desprezamos nem a sabedoria dos provérbios nem a da história,
mas cumpre que lhe conheçamos a natureza e não a equipare--
mos a uma fórmula matemática ou a uma lei física. As leis his-
tóricas não nos permitem nenhum cálculo exato sôbre o futuro
processo da humanidade.
Para um esprit géométrique pode ser decepcionante tal con- -
ceito da causalidade histórica: ao examinar de perto o objeto pró-
prio da história, deverá reconhecer que cada uma das disciplinas-.-
exige o seu método e necessita de um conjunto de conceitos es-
peciais.
Terminando, podemos dizer que a causalidade histórica, em----
bora longe de esgotar a realidade histórica, não é uma constru-
ção arbitrária do espírito humano, mas um conhecimento frag-
mentário da realidade e possui valor objetivo . Por sabermos as -
causas de um fenômeno histórico compreendemos não só a cone--
xão lógica entre dois fenômenos, mas reconstruimos também algo
da realidade objetiva, ainda que a reconstrução seja forçosamen-
te deficiente.
Revista de História 10
— 452 —
A. O ASPECTO SOCIAL.
(7). — Cf. o célebre livro de José Ortega y Gasset: La Rebelión de las Mesas (1930.—
— 457 —
Cisma foi de 483 a 519 (o chamado Cisma de Acácio). Nos séculos VIII-IX
houve a questão das imagens e do Filioque; em 968 o Cisma de Fócio; em
1054 a separação definitiva (o Grande Cisma de Miguel Cerulário).
;(13). — A Reforma protestante de Lutero (1483-1546), Calvino (1509-1564) e Zwínglio
(1484-1531).
459 -7,
. — Santo Agostinho convidou Orósio a escrever tal história universal, cf. § 77.
• — Os jesuítas editavam, desde 1703, as Lettres édifiantes, relatórios anuais das
suas atividades missionárias, em que exaltavam principalmente a aptidão natu-
ral do povo chinês para o Cristianismo. — Um dos primeiros a tomar conhe-
cida a China na Europa foi Joseph-Marie Amyot, S. J. (1718-1793) .
. — Voltaire, Essai sor les Moeurs et l'Esprit des Nations, Avant-Propos, no fim.
— 465 —
B. O ASPECTO INDIVIDUAL.
§ 23. O indivíduo na história.
ca. O povo como tal não faz versos nem elabora um sistema filo-
sófico. A pessoa humana não é simplesmente o expoente da socie-
dade, mas incorpora-se nela de maneira espiritual . O fim da socie-
dade não coincide, se não em parte, com o da pessoa, que tem os
seus direitos invioláveis. O homem, é verdade, necessita da socie-
dade, mas esta precisa mais ainda do homem, da personalidade,
que nela se integra e a transcende ao mesmo tempo . Há sempre-
certa tensão entre a sociedade e a pessoa, por vêzes até conflitos
trágicos. O homem medíocre, que possui pouca "personalidade",
escolhe geralmente o caminho do menor esfôrço, acomodando-se de-
boa vontade às exigências justas ou injustas da coletividade. Se a
"personalidade" se lhe adapta, fá-lo por motivos bem diferentes: -
consciente do seu lugar no conjunto social toma uma livre decisão-
em virtude de certos valores objetivos que a sociedade representa.
Mas acontece também que se revolta contra ela, com seus protes-
tos, seus atos, suas palavras, sua atitude. Insurge-se contra as ten-
dências necessàriamente niveladoras de tôda a convivência huma-
na, ora por ressentimento ou orgulho, ora por obedecer a um impe-
rativo da sua consciência.
Por dois motivos, então, a pessoa merece a atenção dos histo-
riadores: por seu valor intrínseco e por causa da influência que exer-
ce sôbre o processo histórico, para o bem e para o mal. Assim se
explica a popularidade que goza uma biografia bem escrita, em tô-
das as camadas da sociedade. O homem interessa-se sempre pela
homem, e tem a tendência de admirá-lo e amá-lo, ou então, de- '
(23a). — A palavra "biografia" encontra-se urna única vez na literatura grega, num optas- ,
culo do último neoplatônico Damáscio (século VI): Vita Isidori VIII. Até os
fins do século XVII preferia-se: "Vita", ou "Vida", etc. — Na Inglaterra
foi introduzida "biography" pelo poeta Joha Dryden (1683), na Alemanha "I3io-
graphie" em 1709, expressão sancionada pela Académia française só em 1762.
(24) . — Cf. Plutarchus, Vitae Aemilii et Timoieontis 1; Vitae Alexandri et Caesaris
1; Vitae Cimonis et Lueulli 2; Vitae Dernetrii et Antonii 1.
— Possuimos ainda 23 pares de biografias, além de duas isoladas, consagradas.
aos Imperadores romanos Galba e Otão. Perderam-se pelo menos 4 Vitae..
— Cf. Plutarchus, Vitae Aemilii. et Tirnoleontis 1, e Moralia pág. 85B.
— Pela Editôra das Américas (São Paulo). A tradução é de. -vários autores.-
468
C. O ASPECTO CRONOLÓGICO.
(38). — Ou então, chegaram textos escritos até nós, mas ainda não somos capazes de
decifrá-los (por exemplo a escrita minóica de Creta), ou de entendê-los (por
exemplo a língua etrusca) . Cf. § 41, II.
-- 471 —
(43). — A divisão da história egípcia por 31, dinastias remonta à obra histórica dcr-
sacerdote Maneton (século III a. C.), que escrevia em grego. Encontram-se.
os fragmentos da sua história em Fragmenta Historicoram Graecorum II, págs_
511-615.
. — Florus, Epítome I, Freei'. 4; Amtniattlis Marcellinus, Return Gestartun XIV
6, 3-4; S. Augustinus, De Vera Religione, XXVI, 48.
• — O romano Varrão dividia a história em três períodos: a época duvidosa (da -
início ao dilúvio), a época mítica (do dilúvio à primeira 'Olimpíada,' em- 776
a. C.), e a época histórica. Cf. Censorinus, De Die Natali 21, 1.
— 473
<54). — Em 476 foi deposto o último Imperador romano (Rômulo Augústulo) pelo
capitão germânico Odoacro; em 313 Constantino Magno concedeu a liber-
dade aos cristãos (Édito de Milão); em 529 São Bento fundou o mosteiro
de Monte Cassino, e foram fechadas, por ordem do Imperador Justiniano, as
antigas escolas filosóficas em Atenas; em 800 Carlos Magno foi coroado Im-
perador em Roma pelo papa Leão III; em 31 a. C. o helenismo "oriental",
representado por Antônio e Cleópatra, foi derrotado por Augusto, símbolo do
Ocidente latino.
— 476 =
§ 28. Os estilos.
(55) . — G. Vasari, Vite de' pià eccellenti pintori, etc., Introduzione, c. III.
--- 477 —
<56) . — Atualmente divide-se a história grega muitas vêzes nestes períodos: a época
micênica (até 1200 a. C.), a Idade Média (±1200-650), a época clássica
(±650-338), a época belenística (338-146), a época romana (146 a. C. —
330 ou 395 d. C.), e a época bizantina (330 ou 395-1453).
— 478 --
D. O ASPECTO CULTURAL.
(57) . — Lembramos umas linhas de Molière (Théâtre Complet, Paris, 1883, vol. VIII,.
págs. 305-306):
Et non du fade gout des ornements gothiques,
Ces monstres odieux des siècles ignorants,
Que de la barbarie ont produits les torrents,
Quand leur cours, inondant presque toute la ferre,
Fit à la politesse une mortelle guerre,
Et, de la grande Rome abattant les rarnparts,
Vint avec son empire étouffer les bem= arta.
Cf. N. Boileau, L'Art Poétique II 22.
479
tão uma forte reação, a exigir que se estudassem também outros fe-
nômenos culturais na sua evolução e mútua conexão. Inaugurou-se
a história da civilização, que poderíamos dividir em duas partes: a
história geral e as histórias particulares.
A história geral da civilização abrange, em tese, tôda a
matéria histórica, sem excluir a política e os dados biográficos. Mas
a focaliza de maneira bem diferente. Interessam-lhe nada menos:
que os acontecimentos políticos própriamente ditos, as várias reali-
zações artísticas e científicas, a estrutura social e os costumes do
povo, a vida econômica e religiosa,• etc. Ou antes, para a história
da civilização a política não passa de um dos numerosos fenômenos•
importantes do passado. Voltaire foi um dos primeiros a cultivar
êsse gênero de historiografia, escolhendo por tema o século áureo
de França: Le Siècle de Louis XIV . A obra, que presta bastante
atenção às invenções úteis e ao progresso das artes mecânicas e das
ciências, interessa-nos hoje mais por ser uma tentativa nova do que
por sua profundidade, e o mesmo se pode dizer do seu Essai (58)
A partir do século passado a história da civilização chegara a ser
gênero tão comum que acabou por ocupar também um lugar nos
livros didáticos. Destacamos aqui dois trabalhos modelares entre•
os muitos que poderíamos mencionar: A Cultura da Renascença na
Itália, do historiador suiço J. Burckhardt (1a. edição de 1867), e
O Outono da Idade Média, do historiador holandês J. Huizinga (1a.
edição de 1924) . As duas obras foram várias vêzes reeditadas nas
línguas originais, e traduzidas para muitos outros idiomas. As obras ,
E. O ASPECTO MATERIAL.
A MESTRA DA VIDA
. — Clio seecla retro memorat sermone soluto, e Clio gesta canens transactas tem--
pora reddit, assim começam dois poemetos, consagrados aos ofícios das nove
Musas e muito populares na Idade Média: êste de um poeta anônimo, aquêle-
de Florus (século II d. C.) . — Cf. E. Baehrens, Poetae Latini Minores,
(Lipsiae 1871 e 1882), vol. III pág. 242, e vol. IV 279. — Os nomes das.
nove Musas são enumeradas, pela primeira vez, por Hesiodus, Theogonia, 77-79..
. — Aristóteles, Poetica, 9. — O moralista Sêneca observa (Quaestiones Naturales
III Praef. 5): Consempsere se quidam, dum acta regula extemorum compo.
nunt quaeque pess., invicem ausique sunt populi. Quanto satius est sua mala,
erstinguere quem aliena posteris tradere?
. — Por exemplo na sua obra histórica: De Republica Atheniensitnn.
(4)• — Por exemplo Dicearco (±300 a. C.) que escreveu a primeira história da civili-
zação grega ( :"Vida da Hélade"), e Aristóxeno de Tarento (século III) que
passa pelo pai da biografia literária.
(5). — Cícero, De Oratore, II 9, 36. — Cf. as palavras de Políbio (Historiae I 1,.
1): "Os homens não possuem corretivo melhor do que o conhecimento dos.
fatos do passado".
( 12 ) . — 122.1;7sac'artIes,1, D2isco
. urs de ta Méthode (Paris, Finam:clarim), 1935, pág. 6.
- 487 -
,413). — Pe. Antônio Vieira, História do Futuro, Ed. e Publ. Brasil, São Paulo, 1937,
pág. 32.
.414) . — Cf. § 3, IV.
488 —
. — O têrmo "filosofia" não deve ser entendido aqui no seu sentido técnico.
. — Cícero, De Oratore, II 15, 62.
(19). — Fénelon escreveu em 1714 Lettre sur les Occupations de l'Académie française-
(publicada em 1716), cujo capítulo VIII é intitulado: Projet d'un Traité sur
O autor adere, como é muito natural . no seu tempo, à história
l'Histoire.
"pragmática", cf. logo no início: L'Histoire est né4 trunoins três importante:
c est elle qui nous montre les grands exemples, qui fait servir les vices mê-
mes des méchants à l'instruction des bons, qui débrouille les origines et qui
explique par quel chemin les peuples ont passés d'une forme de gouverne-
ment à une autre.
— 490 —
, -(20) . — John Henry Cardinal Newman, Literatura, in The Ideei of a University, Lon-
don-New York, etc., 1939, pág. 285.
— 491 —
`histórico", mesmo que não seja "artista", pela leitura constante dos
grandes historiadores e por contínuos exercícios práticos.
Quanto ao segundo ponto: a história não é ciência natu-
ral, podemos ser breves, visto que já falamos repetidamente nesse
assunto. Sob a influência do Positivismo e Evolucionismo parecia
que a história ia sendo absorvida pela sociologia ou pela biologia.
"Era a época das chamadas leis históricas, interpretadas no sentido
da física: relações constantes (e, às vêzes, consideradas como abso-
lutamente necessárias) entre dois fenômenos: só a esta condição
a história mereceria o título soberbo de "ciência". Assim pensavam,
na França, Taine (21); na Inglaterra, Henry Thomas Buckle (22);
na Alemanha, Karl Lamprecht (23). Os três foram grandes his-
toriadores, e seria uma injustiça dizer que não tenham contribuído
para o progresso da nossa ciência. Não podemos, porém, concor-
dar com os seus pressupostos filosóficos. A história é uma ciência
eminentemente descritiva, tendo por objeto os atos humanos, que
são concretos e singulares. Na terceira parte dêste livro pretende-
mos aprofundar essa noção.
O historiador examina sem preconceito as várias dou-
trinas, os vários ideais e as várias formas de vida nos tempos pas-
sados, esforçando-se por "reviver" as experiências alheias. Conse-
gue colocar-se mentalmente no lugar das pessoas históricas, ou me-
lhor: com certo sentimento doloroso percebe que jamais o conse-
guirá por completo, visto que é sempre da sua própria "situação"
"histórica que procura aproximar-se de outras culturas. Assim vai
avaliando cada vez mais o valor relativo da sua própria concepção
da vida e do mundo. Aí ameaça o perigo do relativismo histórico ou
do "historicismo", que consiste em eliminar tôdas as normas abso-
lutas do processo histórico. Conseqüentemente, cada período teria
direito à sua moral, à sua verdade, a seu Deus, e a seus ídolos.
Não existiriam normas objetivas, sendo que elas seriam apenas fa-
ses de uma evolução mecânica ou biológica, ou então seriam deter-
minadas por sua "fôrça existencial". Em Spengler encontramos a
expressão clássica do historicismo moderno: "Não há verdades eter-
nas. Tôda e qualquer filosofia é apenas expressão da sua época, e
só a ela pertence" (24), e: "Nenhuma frase de Heráclito, Demó-
crito ou Platão é verdadeira para nós, a não ser que a tornemos
verdadeira" (25).