Dinamica para Catequese
Dinamica para Catequese
Dinamica para Catequese
Cristianismo de compaixão
Assim, a temática da compaixão, expressão humana da paixão de Deus por nós, é explicitamente anunciada na Liturgia da
Palavra de Deus, própria do Ciclo C, tendo na parábola do Pai misericordioso (Lc.15,11-32), que se encheu de compaixão (4º
domingo), o seu ícone mais belo e mais famoso! Propomos, por isso, para toda a comunidade, uma dinâmica de vivência
quaresmal, que evidencie ao mundo um cristianismo de compaixão. Talvez seja este o dom tipicamente bíblico, que a fé cristã
oferece à Europa na idade da globalização e do seu pluralismos de mundos religiosos e culturais.
Este bem podia ser o título maior de cada frase bíblica inspiradora do nosso caminho semanal, no longo percurso quaresmal.
Todavia a “Carta pela Compaixão é uma iniciativa que reuniu ainda recentemente em Lisboa representantes de várias confissões
religiosas e não-crentes, para um encontro, precisamente sobre a «Compaixão». A ideia de uma “Semana da Compaixão” foi
lançada em Fevereiro do ano passado por Karen Armstrong, uma ex-freira católica, que se tem dedicado ao estudo das religiões
monoteístas. Ora, a recente iniciativa inter-religiosa apresenta precisamente a compaixão, como um valor comum às grandes
traições religiosas essencial à vida da humanidade. Diz o texto: “O princípio da compaixão é o cerne de todas as tradições
religiosas, éticas e espirituais, que nos convoca sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser
tratados. A compaixão impele-nos a trabalhar incessantemente, com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o
que inclui todas as criaturas, e de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a
santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem excepção, com absoluta justiça, equidade e respeito”.
Nós, por cá, fundamentaremos a nossa dinâmica semanal e quaresmal da compaixão, a partir da Palavra de Deus, proclamada
em cada Domingo, recordando, em paralelo, outros passos, em que Cristo nos introduz no seu próprio “código da compaixão”.
Dinâmica da compaixão
Na base, isto é na vara de suporte, deverão ser assinaladas, com o respectivo número, as 15 estações da Via-sacra, que assinalam
o caminho que vai da Cruz à Ressurreição de Jesus.
Propomos que, a partir do Rito de envio da Missa Dominical, sejam entregues estas três cruzes de cada calvário, a pessoas
ligadas aos diversos grupos, associações e instituições não paroquiais, fazendo-se estas acompanhar de outros fiéis da
comunidade cristã, integrados nos diversos grupos paroquiais.
ENTREGA DAS TRÊS CRUZES DO CALVÁRIO
NO FINAL DA MISSA DOMINICAL
INSTITUIÇÕES OU GRUPOS NÃO PAROQUIAIS OU
FAMÍLIAS CONVIDADOS A RECEBER AS TRÊS GRUPOS PAROQUIAIS E DE CATEQUESE A ACOMPANHAR
Semana CRUZES DO CALVÁRIO, NO FINAL DA MISSA E A OS ELEMENTOS DAS INSTITUIÇÕES ASSINALADAS NOS
COLOCÁ-LAS NOS RESPECTIVOS LUGARES DE COMPAIXÃO
LUGARES DA COMPAIXÃO
Instituições sociais de caridade
Grupos da Pastoral sócio-caritativa
1ª (Se não houver, recorrer a algum grupo paroquial a
5º e 6º anos da Catequese
trabalha na pastoral sócio-caritativa)
Movimento Esperança e Vida
Família (s) atingida (s) pelo luto Associações de Fiéis / Confrarias
2ª
7º e 8º anos da Catequese
Funcionários do Tribunal
Visitadores dos Doentes
ou de algum Julgado de Paz
MEC’s,
4ª Pastoral Familiar
Pessoal do Hospital, do Centro de Saúde,
3º e 4º anos da Catequese
responsáveis de alguma Clínica
Familiares de algum doente
Na primeira semana, sinalizar com as três cruzes do calvário, alguma instituição de caridade existente na paróquia
ou freguesia; no caso de não haver, poderá sinalizar-se com as três cruzes a proximidade de alguns lugares ou
1ª casas, onde é manifesta a pobreza! Deste modo se visibiliza a compaixão de Cristo que, compadecido da multidão,
lhes multiplicou o pão para comer! (Mt 14,13-21; 15,32-38; Mc 6,34-44; 8,1-9; Jo 6,1-15) ou de Jesus, que
compadecido, manda dar de comer a uma menina (Lc.8,55).
Na segunda semana, sinalizar, com as três cruzes do calvário, a proximidade do Cemitério ou de alguma Capela
Mortuária. Estas cruzes podem também colocar-se na proximidade de alguma família marcada pelo luto ou órfã de
2ª
pai ou de mãe. Trata-se de visibilizar a compaixão de Cristo, que, compadecido da viúva de Naim, lhe ressuscitou o
seu único filho (Lc.7,11-17) e que chorou diante de Lázaro, seu amigo, já morto (Jo.11).
Na terceira semana, sinalizar com as três cruzes do calvário, Instituições ligadas à protecção Civil, como os
Bombeiros ou Cruz Vermelha ou alguma associação humanitária. Não havendo, poderão sinalizar-se locais onde
3ª aconteceram acidentes graves (acidentes de viação, incêndio, derrocada etc.). Trata-se de evidenciar os lugares
onde se exerce a compaixão de Cristo, Bom Samaritano (Lc.10,25-37) da humanidade, que se aproxima, vê e, cheio
de compaixão, nos cura e salva.
Nesta quarta semana, as três cruzes do calvário podem sinalizar alguns lugares de reconciliação, como o tribunal
ou julgado de paz, (onde os houver) mas sobretudo os lugares da cura e recuperação dos doentes: Hospital;
4ª
Centro de Saúde, Clínica. Pode também sinalizar-se a proximidade da casa de algum doente, manifestando a
compaixão de Cristo, que curava os doentes (Mt.14,14).
Na quinta semana, as três cruzes sinalizarão os espaços educativos, as escolas na área da paróquia. O ensino é
5ª uma forma de compaixão, testemunhada por Jesus, que, compadecendo-se das multidões, começou a ensiná-las
demoradamente (Mc.6,34).
Ao serem colocadas as três cruzes, domingo a domingo, ou semana a semana, é sugerido que ali se anunciem os passos de
Cristo, com textos relativos à sua Paixão. Podem ser lidos os textos dominicais de referência, com a leitura, no lugar, de três
textos bíblicos, a marcar três estações da via-sacra:
Semana Estações da Proposta de texto bíblico para meditação ao colocar as três cruzes
Via-Sacra (texto a ser retomado, no seu conjunto, na oração da via-sacra final)
na via pública
Lc.22,39-43: Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação» Saiu então e foi, como de
costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao
local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-se deles, à distância de
1ª
um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se
1ª quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.» Então, vindo
do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava.
Jo.19,28-29: Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a
2ª Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre
uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca!
3ª Lc.23,36: Os soldados também troçavam dele. Aproximando-se para lhe oferecerem vinagre!
Lc.23,27: Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se
4ª lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por
mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos!
Jo.19,25-27: Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de
2ª
Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse
5ª
à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o
discípulo acolheu-a como sua.
Lc.23,53: Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro talhado na rocha,
6ª
onde ainda ninguém tinha sido sepultado!
Lc.23,26: Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do
7ª
campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus!
3ª Lc.23,33: Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um
8ª
à direita e outro à esquerda.
Lc.23,44-45: Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. O Sol
9ª
tinha-se eclipsado e o véu do templo rasgou-se ao meio
10ª Lc.22,33: Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes
11ª Lc.23,34: Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.»
Lc.23,39-43: Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: «Não és Tu
4ª o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.» Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
«Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois
12ª
recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.» E
acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.» Ele respondeu-lhe: «Em
verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.»
Lc.23,3-5: Pilatos interrogou-o: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» Pilatos
disse, então, aos sumos-sacerdotes e à multidão: «Nada encontro de culpável neste homem.» Mas
13ª
eles insistiram, dizendo: «Ele amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia até
5ª
aqui.»
Lc.23,47-48: Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente,
14ª este homem era justo!» E toda a multidão que se tinha aglomerado para este espectáculo, vendo o
que acontecera, regressava batendo no peito.
Lc.24,25-27: Jesus disse-lhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em
tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua
15ª
glória?» E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as
Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito.
Notas e sugestões:
1. Semana a semana, em dia a escolher, são colocadas as três cruzes e rezadas as três estações da via-sacra.
2. Na Semana Santa, poderá organizar-se uma via-sacra pública, passando e parando diante dos cinco calvários, que
sinalizam os cinco lugares da compaixão;
3. Estas três cruzes de cada calvário, colocadas, domingo a domingo (ou semana a semana), deverão aparecer decoradas
festivamente, no Domingo de Páscoa, de modo a que, quem quer que passe pelo caminho, perceba a diferença.
4. Num dos domingos de Páscoa, as cruzes deverão ser recolhidas, fazendo-se com elas uma via-lucis.
A “compaixão” é uma emoção valorizada, pelo menos, nas principais tradições religiosas. É uma palavra que não faz justiça a
outras, mais antigas, cujo sentido se apagou ou distorceu com o tempo. Referimo-nos à «hesed» da tradição bíblica, ao "amor
das entranhas" que os primeiros cristãos de língua grega traduziram por “ágape” e os de língua latina verteram no neologismo
“caritas”, cuja raiz é a «charis», ou graça, pedida de empréstimo aos gregos. Em suma, quando se fala de compaixão, fala-se de
“um amor marcado pela gratuidade”, que encontra paralelos e convergências noutras tradições antigas.
Trata-se, afinal, de uma emoção delicada: um transbordar do coração perante as alegrias e sofrimentos dos outros. É um
movimento profundo que arranca das raízes do nosso ser, antecedendo a reflexão da razão e a inclinação da vontade. Mais do
que uma atracção "química" pelo outro, ou sequer um sentimento psicológico de afinidade, é uma virtude ou força espiritual.
Os cristãos lêem-na, como que brotando do próprio Deus, e por isso lhe chamam "virtude teologal". Nesse sentido, antes de ser
acção, ela é atenção, vigilância. Dir-se-ia que é a condição do outro, que abre em nós a fonte da nossa própria humanidade. Por
isso, a compaixão se manifesta como resposta espontânea à grandeza ou miséria do outro: um excesso que transborda do
coração de qualquer homem ou mulher, independentemente da sua filiação ideológica e religiosa, ou ausência dela, porque a
todas antecede.
Contudo, na sua delicadeza, a compaixão arrisca-se a ser perdida de vista por entre a multiplicidade de sentimentos e emoções
que parecem mais relevantes para a vida quotidiana. Pode parecer uma emoção débil, sintoma de fraqueza perante a crueldade
do real. Devemos antes identificá-la com o cuidado atento pelo outro. Daí que a nossa proposta vá no sentido de traduzir a
compaixão nas tradicionais sete “obras de misericórdia”, corporais e espirituais, a saber, pela respectiva ordem apresentada no
Catecismo: 1) Dar de comer a quem tem fome; 2) Dar de beber a quem tem sede; 3) Vestir os nus; 4) Dar pousada aos
peregrinos; 5) Visitar os Doentes; 6) Visitar os presos; 7) Enterrar os mortos. Seguem-se ainda as chamadas “obras de
misericórdia espirituais”: 1) Dar bons conselhos; 2) ensinar os ignorantes; 3) Corrigir os que erram; 4) Consolar os tristes; 5)
Perdoar as injúrias; 6) Suportar, com paciência, as fraquezas do nosso próximo; 7) Rezar a Deus, pelos vivos e defuntos.
Na primeira semana, em que Jesus experimenta a fome e a sede do deserto, é proposto: Dar de comer a quem tem
1ª
fome! Dar de beber a quem tem sede!
Na segunda semana, em que a perspectiva da morte de Jesus é iluminada pela luz da ressurreição, e em que o
2ª Apóstolo Paulo nos fala da transformação do nosso corpo mortal em corpo glorioso, é proposto: Consolar os tristes!
(os que estão de luto). Enterrar os mortos, rezar pelos vivos e defuntos.
3ª Na terceira semana, em que Jesus adverte para a necessidade de conversão, perante a impiedade de Pilatos que
mandou derramar o sangue de certos galileus juntamente com os das vítimas que imolavam e diante da tragédia da
queda da Torre de Siloé, é-nos proposto visitar vítimas de acidentes e tragédias.
Na quarta semana, ao meditar a parábola do Pai misericordioso, que veste e reveste o seu filho e, no seu regresso a
4ª casa, lhe perdoa o desvario, são propostas algumas destas obras de misericórdia: Vestir os nus. Visitar os enfermos.
Perdoar as injúrias. Suportar com paciência as fraquezas do próximo.
Na quinta semana, a cena de Cristo a escrevinhar no chão e da mulher adúltera perdoada por Cristo, com o apelo
5ª forte a não voltar a pecar, inspirar-nos-á obras de misericórdia como estas: Dar bons conselhos. Ensinar os
ignorantes. Corrigir os que erram.
À luz dos textos bíblicos de cada domingo, procuraremos sugerir um gesto, uma atitude, uma obra que manifeste a compaixão,
tal como a entendemos e recebemos de Cristo. «“Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e
abatidas, como ovelhas sem pastor" (Mt 9, 36). E, depois da chamada dos Doze, reaparece esta atitude, no mandato que Ele lhes
dá de se dirigirem "às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10, 6). Nestas expressões sente-se o amor de Cristo pela sua gente,
especialmente pelos pequeninos e pelos pobres. A compaixão cristã nada tem a ver com o pietismo, com o assistencialismo. Pelo
contrário, é sinónimo de solidariedade e de partilha, e é animada pela esperança» (Bento XVI).
Esta mística da compaixão é, através do encontro com os outros que sofrem, uma mística
1ª “terrena”. Nesta mística da paixão por Deus, cruzam-se no coração humano todas as
nossas experiências de sofrimento que clamam ao céu! Daí é que podemos arrancá-las ao
abismo do desespero e do esquecimento e encorajar uma nova prática do amor, que se
esquece de si, pondo o outro, como sua prioridade e valor. Por outro lado, esta janela, que
5ª 4ª se abre a partir do centro da cruz, aponta ainda para a visão grandiosa do amor do «Pai»,
2ª
que da lonjura donde egressa o filho, o vê primeiro e dele se compadece! (Lc.15, 20). Esta
janela sugere o amor de Deus, que amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho
3ª Único (Jo.3,16) e simbolizará a relação do cristão com o mundo. Esta janela parece dizer a
cada um: para esta compaixão, vale o imperativo categórico: “repara, olha e ficas a saber”
(H. Jonas).
Conclui assim o texto da já famosa “Carta pela Compaixão”: “É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e
dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes numa determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode
quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é
essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável
para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífica”.
BIBLIOGRAFIA, ALÉM DA BUSCA NA INTERNET: