Psicologia Do Destino de Szondi
Psicologia Do Destino de Szondi
Psicologia Do Destino de Szondi
"O fato de todo acontecimento, sem exceo, ocorrer com a mais rigorosa 'necessidade' uma
verdade apriorstica, conseqentemente inabalvel. Quero denomin-Ia aqui fatalismo
demonstrvel".
Isto foi corroborado por Schopenhauer em nota de rodap: "Nem nossa ao, nem o curso da
vida obra nossa, mas sim aquilo que ningum considera como tal, ou seja, nossa essncia e
existncia. Em conseqncia, a vida do homem est irrevogavelmente traada, com todos os
pormenores, j no nascimento [...]".
Aquilo que o filsofo do sculo XIX exps de modo puramente especulativo, com os
pesquisadores do sculo XX transformou-se em cincia natural. A simples citao dos ttulos de
algumas obras o comprova. Em 1929 foi editado o tratado de Lange, "Crime como Destino"; em
1931, Schultz publicou "Destino e Neurose"; em 1932, apareceu "A Hereditariedade como
Destino", estudo caracterolgico, de Pfahler; de 1936 data "Destinos da Vida de Gmeos
Criminosos", de Krans; em 1944 publicou-se "Carter e Destino", de Rudert.
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I. Na Psicanlise
Desde que, em 1900, Freud criou a psicologia profunda com seu livro "Interpretao dos
Sonhos", teve que se explicar muitas vezes a respeito do conceito de destino. Isto foi feito por
ele especialmente em relao ao problema:- Seriam as afeces neurticas de natureza
endgena ou exgena? E pronunciou-se de forma evasiva, quando escreveu em 1912: "A
psicanlise nos advertiu a abandonar a infecunda contraposio de fatores internos e externos
de destino e constituio, ensinando-nos a procurar normalmente numa determinada situao
psquica a causa dos distrbios neurticos, que pode manifestar-se de diversos modos".
Com referncia a esses processos distingue, trs anos mais tarde, em 1915, quatro tipos dos
chamados destinos pulsionais:
(3) a represso, e
(4) a sublimao.
Embora Freud fale aqui de "destinos" pulsionais, ele descobriu ainda a relevante funo do ego
na formao do destino, atravs dos mecanismos de defesa do ego. Escreveu: "Com
referncia aos motivos que se opem a uma continuao direta dos instintos, podemos
tambm apontar os destinos pulsionais como uma espcie de defesa contra essas mesmas
pulses".
Em 1924, Freud deu uma definio mais ampla do conceito de destino: "A ltima imagem da
srie de figuras que comea com os pais (professores, autoridades, heris consagrados no
ambiente social) a potncia obscura do destino. Mas, s uma minoria pode conceb-Ia
impessoalmente. Quando o poeta holands Multatuli substitui a moira dos gregos pelo par de
deuses, pouco h a objetar. Mas todos os que atribuem a realizao csmica Providncia, a
Deus ou a Deus-Natureza, despertam a suspeita de ainda continuarem a sentir
(mitologicamente) estes poderes extremos e longnquos como uma espcie de pais, crendo-se
ligados a eles por laos libidinosos".
(1) influncia dos sonhos; (2) fora constitucional da pulso; (3) mutao do ego. Mas,
acentuou que nem sempre se deve responsabilizar a fora da pulso por essa mutao, pois
possvel que a espcie e o modo de atuao das defesas do ego sejam de origem hereditria.
Apesar de reconhecer a importncia do fator constitucional e sua contribuio desde o incio da
vida, para Freud era admissvel, contudo, que um fortalecimento da pulso surgido mais tarde
produzisse os mesmos efeitos que a constituio hereditria.
(2) formao de uma imagem paterna ou materna e seu papel na escolha no amor;
(3) situaes da primeira infncia que, como repeties compulsivas, condicionam o destino
posterior. Por exemplo: (a) a situao de dipo, sobre a qual Freud escreve: "Em ltima
anlise, o destino tambm uma projeo posterior da influncia paterna"; (b) separao dos
pais;
(1) quanto ao problema do xito ou do malogro na vida, segundo Reik, pode a psicanlise
verificar as seguintes formas neurticas de destino: ( a) o indivduo no pode suportar o xito e,
no momento de sua obteno, renuncia ao resultado, por auto-punio; (b) no momento em
que est prestes a atingir o objetivo, procura interpor obstculos ao xito; (c) na obten o do
objetivo e do resultado, a alegria e a satisfao falham ou se frustram totalmente; (d) o xito
surge tarde demais, por exemplo, s antes da morte;
(2) com referncia sade e doena, so pertinentes as opinies de Freud: "a neurose seria
uma parte do destino do indivduo". H a considerar ainda a significao da escolha de
sintomas, escolha do momento de adoecer etc.;
(4) destinos sociais, por exemplo, as formas de destino dos lderes da humanidade, rebeldes,
filantropos e misantropos, fundadores de seitas, traidores etc.
Se bem que Freud haja indicado em uma "srie complementar" a cooperao de momentos
constitucionais e traumticos, em sua escola a pesquisa psicanaltica do destino permaneceu
limitada, principalmente, investigao dos efeitos traumticos at os primeiros meses de
idade. Para os psicanalistas, o destino ainda continuou sendo destino da pulso e defesa.
Jung por exemplo procurava, no s no romance familiar, como Freud, mas no arqutipo da
imagem paterna, a importncia do pai para o destino do indivduo. Diz: "Se ns, pessoas
normais, pesquisarmos nossa vida, veremos que uma mo poderosa nos conduz infalivelmente
a destinos vrios, e nem sempre essa mo pode ser chamada de bondosa. Tambm na
linguagem hodierna a fonte de tais destinos aparece como um demnio, como um esprito bom
ou mau".
A compulso que modela a vida de nossa alma tem o carter de uma personalidade autnoma,
ou sentida como tal. Como um demnio atuando dessa maneira, compreende Jung "as
imagens paterna e materna que, com fora mgica, influenciam a vida psquica da criana".
Para ele, tanto a imagem materna, como a paterna, se apiam sobre um molde do instinto
congnito, pr-existente, sobre um pattern of behaviour, e a isto ele denomina arqutipo da
imagem paterna e materna. Estamos sujeitos ao poder destas imagens-arqutipo, pois
orientam nosso destino. Neste destino nada mais resta a cada um de ns, seno levantar-nos
contra a influncia do arqutipo da imagem paterna ou materna, ou ento, identificar-nos "com
o patris potestas, ou com a formiga-me". "Perigosa - escreve ele - exatamente esta
identificao inconsciente com o arqutipo; no somente tem influncia sugestivo-dominadora,
mas produz tambm, na criana, a mesma inconscincia; ela sucumbe assim influncia
exterior, e por outro lado no pode se defender interiormente. Por isso, quanto mais o pai se
identifica com o arqutipo, tanto mais inconsciente e irracional, ou at mesmo psictico, se
torna o indivduo".
Jung chega seguinte concluso: "A fora do complexo paterno capaz de determinar o destino
provm do arqutipo, e este fato a verdadeira razo pela qual o consensus gentium coloca no
lugar do pai uma figura divina ou demonaca; pois o pai individual corporifica inevitavelmente o
arqutipo, que confere sua imagem uma fora fascinante. O arqutipo atua como um
ressonador, ampliando exageradamente as atuaes provenientes da imagem do pai na
medida em que concorde com o tipo herdado".
De acordo com Jung, pode-se falar de uma "identidade relativa ou parcial entre psique e
continuidade fsica". Ter-se-ia que compreender a psique, sob este aspecto, como "massa mo-
vida". De algum modo, a psique est em contato com a matria e inversamente tem a matria
de possuir uma psique latente. O arqutipo poderia conseqentemente ser de natureza atmica
e os tomos de natureza arquetpica. Nesta vaga hiptese se apia a Teoria da Sincronicidade,
com auxlio da qual Jung tenta esclarecer no s os destinos, como as experincias
parapsicolgicas. Jung entende por sincronicidade o "encontro, no raras vezes observado, de
fatores subjetivos e objetivos que no pode ser definido causalmente, pelo menos com nossos
recursos atuais. Sobre esta pressuposio se baseiam a astrologia e o mtodo do I-Ching".
Com o conceito de tempo da astrologia coincide tambm o conceito de "tempo relativo" de
Jung. Escreve ele:
" como se o tempo no fosse menos que um contedo abstrato, mas, pelo contrrio, uma
'continuidade secreta' com qualidades e condies bsicas que podem manifestar-se em
relativa sincronicidade em diferentes lugares, num paralelismo impossvel de ser explicado
pelas leis da causalidade".
Por isso Jung fala de "qualidades de tempo", dizendo que "tudo que neste momento nasce ou
criado tem as qualidades deste momento temporal". E, como na astrologia, tambm Jung
conclui destas especiais qualidades de tempo para o destino posterior. Pode-se ento entender
porque Jung - esse grande alquimista e mago do sculo XX - raras vezes iniciava um
tratamento sem antes examinar o mapa astral do paciente.
Fazendo um retrospecto, pode-se dizer que o conceito de destino passou por muitas
transformaes desde os meados do sculo XIX. De acordo com a filosofia daquela poca, o
destino do indivduo se caracterizava pela planificao e necessidade, pela tendncia
concordante e sentido didtico de um todo. O destino do homem estaria irrevogavelmente
predestinado desde o seu nascimento.
Para estas duas tendncias da psicologia profunda, o destino no tem, todavia, a importncia
de problema central. Ambas estudam a questo perifericamente. Somente mais tarde a
gentica colocaria a questo do destino no centro das suas pesquisas. Ela estuda
especialmente a relao concordncia-discordncia na vida de gmeos uni e bivitelinos, e a
funo da herana e do mundo circundante, mediante mtodos estatstico-heredolgicos. E,
com isso, a pesquisa do destino transformou-se numa ramificao das cincias naturais.
A idia de apresentar o destino como hereditariedade vem igualmente deste ltimo significado
da palavra annke, conforme o qual o destino determinado pela coao de consanginidade
dos ascendentes familiares.
Possui o homem realmente um destino nico? Seu destino no oferece vrias alternativas? E,
se todas essas possibilidades lhe so conferidas hereditariamente, desde o bero, no tem ele
liberdade de escolha? Existe para o homem, ao lado do destino coercitivo hereditrio, tambm
um destino de escolha livre? Se de fato existem muitas possibilidades desde o incio da vida,
como poderia o indivduo tomar conscincia delas? Se o homem capaz de conscientizar-se
das possibilidades que o destino lhe oferece, ser capaz tambm de escolher livremente? Em
caso afirmativo, qual a faculdade interior que possibilita essa escolha? Podemos formular a
pergunta tambm assim: pode o homem, uma vez consciente das possibilidades que seu
destino oferece efetuar uma permuta livre entre essas mesmas possibilidades? Pode ele
tambm livrar-se de um destino coercitivo, at ento aceito, trocando-o por outro, livremente
escolhido?
Como qualquer pesquisa cientfica, esta investigao de novo tipo comeou tambm com
hipteses de trabalho, cujas premissas mais importantes eram:
Entre todos os seres vivos, o homem o nico capaz de tomar conscincia das possibilidades
que seu destino oferece.
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Uma suposio entre outras, levantada por Rudert, em 1944, foi que o animal no tem destino.
S quanto ao homem podemos falar, em sentido pleno, de destino. E cunhou a expresso
"relao existencial", significando que "o homem percebe o essencial de sua situao".
Dizemos ns: o homem conscientiza as caractersticas dessa situao.
Na opinio de Rudert, pois, o destino s tem um sentido: o homem - ainda que restritamente -
livre. O primeiro passo dessa liberdade , parece-nos, justamente o fato de o homem saber que
sua existncia oferece diversas possibilidades e que pode, voluntariamente, tomar conscincia
delas. Mas, s possvel tomar conscincia daquilo que j existe em ns inconscientemente.
J se constatou que o indivduo est equipado com todas as suas possibilidades de existncia.
Isto , que no seu inconsciente devem existir ancestrais familiares - quase como moldes e
figuras (Rilke), como possibilidades diversas de vida, como pattern of behaviour. Tm de estar
presentes, para seu prprio destino, no inconsciente do indivduo, e certamente no ncleo das
clulas, isto , nos genes dos cromossomos. Os antepassados carregados no patrimnio
hereditrio esforam-se por manifestar-se. Psicologicamente, esse mpeto de manifestao
expresso como "pretenso dos ancestrais". J que tais pretenses dos ancestrais so, na
realidade, dinmicas e inconscientes, fala-se na psicologia profunda de um inconsciente
familiar. a sede e a sala de espera das figuras dos ancestrais, as quais se esforam por
retornar em nosso prprio destino. O sentido da hereditariedade sem dvida, como disse
Heidegger, a repetio: "A repetio a tradio expressa, isto , um retorno a possibilidades
da existncia passada".
(1) o inconsciente pessoal (Freud), que inclui todas as manifestaes pulsionais, pessoais e
reprimidas;
(3) o inconsciente familiar (Szondi), da Anlise do Destino, com as pretenses especiais dos
ancestrais.
O mtodo que revela a qualidade dos apelos ancestrais inconscientes exatamente a Tcnica
Analtica do Destino.
A Anlise do Destino , pois, uma tendncia da psicologia profunda que procura, antes de tudo,
tornar conscientes os apelos ancestrais inconscientes. Por ela, a indivduo levado a
confrontar-se com as possibilidades que seu destino lhe oferece (das quais no tinha ainda
conscincia) e posto diante da alternativa de escolha de uma vida pessoal mais adequada.
(1) tenta construir uma ponte entre a gentica (pretenses dos ancestrais) e a psicologia
profunda (conscientizao das pretenses inconscientes dos ancestrais);
(2) distingue duas grandes categorias de destino: destino coercitivo e destino de livre escolha.
Estas duas formas de destino relacionam-se numa ordem de sucesso. O conceito de destino
no perde seu carter coercitivo, porm complementado pela caracterstica de escolha. O
novo conceito de destino da neo-anancologia diz:
Destino o conjunto das possibilidades, herdadas e livremente elegveis, que nossa existncia
oferece.
A hiptese de trabalho exposta em relao ao destino humano serve como guia no princpio
das pesquisas, mas no eleva e transforma em realidade, imediatamente e sem esforo, o "so-
nho do pesquisador". Foram necessrios mais de 25 anos (1937 a 1963) para que a anlise do
destino encontrasse sua adequada tcnica de trabalho na gentica, no diagnstico, na
patologia clnica, na egologia e na terapia do destino.
(4) ambiente mental ou cosmoconceitual em que o indivduo nasceu, por fora do destino.
Essas funes no devem ser estaticamente separadas, mas, de modo dinmico, devem
completar-se reciprocamente, ou seja, dialeticamente, pois a concepo neo-anancolgica do
destino dialtica, movimentando-se constantemente entre contradies e oposies, e no
imvel e rgida. As seis funes vitais condicionantes e configuradoras do destino movem-se
normalmente de modo contnuo, simultneo e oposto.
Por isto, o destino se transforma tambm em sua forma fenomnica com o correr do tempo.
Como as cenas de teatro sobre um palco giratrio, tambm assim, aproximadamente, giram o
destino no cenrio da vida individual (Schopenhauer). Se, o destino se paralisa numa
determinada posio desse palco giratrio da vida, a ponto de petrificar-se, torna-se destino
coercitivo (por exemplo, na catatonia). Se, pelo contrrio, com auxlio da mente, o ego capaz
de enfrentar vigorosamente os efeitos petrificadores das funes determinantes do destino e de
continuar a mover o palco giratrio, pode sob circunstncias favorveis, estar em formao um
destino de livre escolha.
ego, que se move constantemente, que concilia funes opostas, capaz de escolher, e,
portanto muda o destino compulsivo em destino de livre escolha. Conseqentemente, da
mesma forma que o ego, tambm o destino est em constante peregrinao. Movimenta-se
entre a esfera da herana ancestral, a prpria natureza pulsional e afetiva, o ambiente scio-
intelecto-ideolgico e o reino espiritual. Se o ego se paralisa em qualquer setor destas funes,
com ele tambm se paralisa o destino. Petrifica-se em destino compulsivo, interrompendo o
processo de humanizao do indivduo. O destino se petrifica na existncia (como, nos
psicticos, delinqentes contumazes etc.).
A Gentica do Destino
(2) na amizade;
(3) na profisso;
(4) na doena;
Para uma grande parte de pessoas, a escolha no amor, na amizade e na profisso no livre,
mas dirigida pelos genes recessivos, latentes, que existem em forma anloga no patrimnio
hereditrio dos dois parceiros. Este fenmeno denominado genotropismo e desempenha
importante funo na gentica do destino. Com base em centenas e centenas de anlises
matrimoniais (1937 a 1963), a anlise do destino comprovou a regra genotrpica da escolha
dos parceiros.
(1) com a rvore genealgica do paciente, temos constantemente que apresentar tambm as
rvores genealgicas de todos os indivduos que esto em relao mais estreita com ele,
atravs da escolha no amor, amizade ou profisso;
(2) alm das doenas manifestadas, tem-se tambm que examinar com exatido as profisses,
os caracteres, os currculos dos parentes consangneos e afins, sadios e doentes. Destas
pesquisas familiares genotrpicas resultou, ento, a regra genotrpica da escolha dos
parceiros.
A regra de escolha genotrpica dos parceiros foi confirmada por Rey-Ardid (1955), em Madri,
em relao esquizofrenia; por Nachin (1957), em Lyon, em relao s psicoses alcolicas;
por Wagner-Simon (1963), em Riehen, Basilia, em relao a dificuldades conjugais; e por
muitos colaboradores da comunidade de trabalho da Anlise do Destino, de Zurique.
Ainda que a regra e o mtodo da pesquisa familiar do genotropismo continuem a ser discutidos,
podem apoiar-se em eminentes predecessores desse pensamento. Em particular, numa
afirmao intuitiva de Johannsen, que escreve:
"Os clculos (da difuso de genes recessivos anormais entre a populao) no podem
pretender nem mesmo uma exatido aproximada. Apresentam, contudo, certo interesse. Uma
suposio, a respeito da qual as pesquisas populacionais apresentam, talvez maior inexatido,
a de que os casamentos so concludos 'ao acaso', ou seja sem prvia escolha eletiva, que
obedece a padres diversos. bem possvel, e at provvel, que a inclinao recproca
consciente ou inconsciente de indivduos anlogos Aa se faa valer e, em tais casos, o clculo
baseado no nmero de indivduos realizados aa daria como resultado uma freqncia
demasiado grande do gene recessivo em questo. de se esperar, para a humanidade como
um todo, que esta considerao tenha alguma validade, e que, portanto, genes recessivos
anormais no tenham to grande difuso, como fazem temer os clculos acima citados".
Apia-se, como a escolha dos cnjuges, na mesma igualdade dos genes recessivos latentes.
Como uma forma especial de genotropismo, possui uma alta importncia, tanto na sociologia
como em relao ao fenmeno da heterogeneidade no homem. Na escolha da profisso, um
grupo de pessoas procura uma atmosfera de trabalho na qual possa colaborar com indivduos
portadores manifestos em forma latente e em doses individuais - de genes anlogos. Exemplo
clssico a semelhana das rvores genealgicas de psiquiatras, psicanalistas e psiclogos
com as de seus pacientes. Nas rvores genealgicas de famosos psiquiatras e psicanalistas
encontrou-se, uma porcentagem acima da mdia de parentes consangneos e de escolha
psicticos e s vezes esquizofrnicos.
No crculo familiar e seletivo de indivduos Homo sacer (sacer do latim: sagrado; sacerdotes,
monges, monjas, pastores, rabinos); a freqncia do morbus sacer (parentes consangneos
epilticos) quase 10 vezes maior entre casamento de parentes por afinidade, e quase 4
vezes mais freqente que na mdia da populao. Este fato foi constatado em estatstica
baseada numa pesquisa sobre hereditariedade, a qual englobou 707 parentes consangneos
e 712 por afinidade de 25 sacerdotes; portanto, um total de 1419 pessoas. Assim ficou tambm
confirmada, de modo significativo, a exatido do libidotropismo e, portanto, da forma mais
freqente de genotropismo.
Estes resultados da Anlise do Destino provam, pela primeira, vez, que a heterose
desempenha relevante funo tambm no homem. Denomina-se heterose ao fenmeno
verificado nos indivduos heterozigotos de hereditariedade mista, portadores - em doses
individuais - de genes letais ou de grave morbidez, que apresentam uma fora vital, tanto
somtica quanto germinativa, aumentada. A vitalidade acima da mdia desses heterozigotos foi
verificada, sobretudo em determinadas espcies de cereais e, parcialmente, tambm no reino
animal.
11
Assim designa-se o fenmeno em virtude do qual o indivduo reage s vezes com uma
perturbao a surtos infecciosos ou a traumas; sendo que esta perturbao, sem infeces ou
traumas, j existia, de forma endgena, na famlia. Pode-se conseqentemente presumir uma
atuao dirigente dos genes latentes.
Em uma famlia, a sfilis congnita conduziu surdez; nessa famlia, porm, a surdez
hereditria j existia em diversos membros.
Num outro caso, a sfilis transmitida por herana levou epilepsia numa famlia em que esta -
sem sfilis - j existia hereditariamente. Interessante tambm o caso daquela famlia onde
cinco membros tinham dificuldades auditivas. Essas dificuldades apareceram, num deles, aps
um surto de tifo; num outro, aps um ferimento na cabea; num terceiro, depois de uma
inflamao cerebral; em dois outros, aps acessos de malria.
Significa, como destino, a escolha e o tipo do suicdio. Nesse ponto, a Anlise do Destino pode
confirmar as estreitas ligaes entre epilepsia latente e suicdio, entre homossexualidade
egodistnica, esquizofrenia paranide, mania e suicdio, atravs de pesquisas sobre a famlia.
Pela escolha das 12 fotografias mais simpticas e das 12 mais antipticas estabelecido um
perfil de primeiro plano do paciente; as restantes 24 fotografias so expostas novamente em 6
sries qudruplas, e de cada srie devem ser escolhidas as 2 fotografias mais simpticas e as
2 mais antipticas. Assim se origina um segundo perfil, o perfil complementar experimental, que
torna visveis as funes do plano de fundo das pulses e do ego. Essa experincia de fase
dupla ento repetida 10 vezes, em dias diferentes e - aps a aplicao de um determinado
mtodo de clculo - verificam-se os resultados.
O processo relativo pesquisa experimental das funes pulsionais e do ego apia-se num
sistema de oito fatores de pulso. Todos eles condicionam, em grupos de dois, tendncias
pulsionais dialeticamente opostas. So eles:
(8) fator do agarramento e da separao (os dois ltimos fatores originam-se de Hermann).
A Anlise do Destino d aos oito fatores pulsionais o nome de razes ou radicais da vida
instintiva, porque atravs de milnios permaneceram essencialmente iguais. Os radicais
pulsionais hereditrios possuem efetivamente algo de no histrico, algo de contedo ainda
no especificado totalmente, que atravessa toda vivncia, comportamento e realizao,
estando continuamente presentes para cada indivduo (Jaspers).
O sistema dos oito fatores pulsionais comprovou-se bem no ltimo quarto do sculo XX, em
especial por ser capaz de analisar experimentalmente os fenmenos em aparncia unitrios da
vida pulsional, quase atravs de uma "anlise espectral" nas suas razes nutritivas radicais.
Com base em milhares de exames (na Hungria e na Sua), pode-se dizer o seguinte sobre
essas pesquisas experimentais do destino:
(1) o teste revela as doenas psquicas extremas de tipo familiar, cujo portador o
examinando;
(2) torna visveis, pois, de modo especial, as funes latentes das pulses e do ego, que pela
hereditariedade ameaam o portador;
(3) alm disso, o teste pode revelar 17 estruturas diferentes de pulses e do ego, que podem
ser avaliadas como "possibilidades de destino" ou formas de existncia; 12 entre as 17 so
diagnosticveis como formas existenciais de perigo; as 5 restantes, como formas existenciais
de defesa;
A respeito do sistema de pulses de Gall, escreveram Leibbrand & Wettley em sua conhecida
obra, A Loucura:
"Antes de Freud, Gall reconheceu a sexualidade precoce da criana. Admitiu uma espcie de
senso de estrangulamento ou de assassinato, cuja legitimidade, no homem, provm de sua
participao no gnero carnvoro. Gall identificava um senso de furto, uma faculdade de
imitao, um senso lingstico, lxico, cromtico, tonal. Acentuava, de novo, no se tratar abso-
lutamente de predisposies fixas, mas de possibilidades. justamente esse 'conceito de
possibilidade', em sua multiplicidade combinvel, que estabelece o fundamento prtico para
pedagogos e juzes. Gall pensava poder utilizar essa teoria no sentido de uma psicoterapia e
psiquiatria socializada. Achou, portanto, o mesmo que hoje Szondi espera conseguir com sua
teoria das pulses, isto , que o conhecimento das possibilidades das pulses v levar
compreenso do ego. Alm disso, acreditava, assim como Szondi, que estaria em condies de
fazer prognsticos pulsionais que pudessem ser utilizados juridicamente."
A Patologia do Destino
J foi discutido que o destino humano dirigido por um sistema de funes. Essas funes
criativas e dirigentes do destino, como, por exemplo, as funes hereditrias pulsionais, afe-
tivas do ego e da mente, podem em parte e - algumas vezes na totalidade - sofrer perturbaes
ou "adoecer". Conforme as modalidades das ligaes funcionais perturbadas, originam-se
diversas formas patolgicas de destino.
(1) os resultados das pesquisas relativas s pulses e ao ego de doentes mentais mostram que
a idia de uma unidade patolgica (na concepo de Kraepelin) no seria simplesmente "caa
a um fantasma", como acentuaram os extremistas das sndromes, entre eles Roche, Schneider
e Tripicchio;
(4) segundo essas pesquisas experimentais, a idia de unidade patolgica se apia num fato
biolgico: cada indivduo possui uma disposio individual, pulsional e do ego, que determina
onde - sob dadas circunstncias - poderiam ocorrer os maiores riscos. Conseqentemente,
apenas nesse sentido se pode afirmar a idia de unidade patolgica. O carter da catatonia
conduz o ego psicologicamente negao, aniquilao de todos os valores; o da parania
14
(5) o resultado mais importante dessas pesquisas o seguinte: cada ser humano portador
(em seu inconsciente familiar) de uma disposio pulsional e do ego para todos os quatro
grandes grupos de doenas, compreendendo as formas circulares esquizofrnicas, paroxsticas
ou hstero-epilticas e da possibilidade de doena sexual.
" possvel que um esquizofrnico possua, junto ao gentipo esquizofrnico pleno, disposies
parciais manaco-depressivas ou epilticas e vice-versa." E continua: "Sou at de opinio que
um mesmo indivduo pode tornar-se primeiramente epiltico, depois esquizofrnico e,
finalmente, ainda, manaco-depressivo, como proposto pela concepo de Psicose nica. Com
o grau atingido pelas pesquisas relativas hereditariedade, no h razo para supor que as
psicoses hereditrias se excluam reciprocamente. Pesam contra tal viso, justamente ao lado
de to freqente combinao familiar de diversas psicoses hereditrias (tambm em irmos de
ambos os sexos), o grande nmero de esquizofrenias atpicas, ciclotomias e epilepsias, assim
como aqueles casos dificilmente diagnosticveis que foram denominados 'psicoses mistas'
[melhor dizer, associadas e/ou enxertadas]".
Este ponto de vista plenamente confirmado pelas pesquisas experimentais sobre o destino.
At agora, porm, no pde a gentica verificar as propores individuais e atuais das
predisposies hereditrias. Hoje, entretanto, podemos consegui-Io com a ajuda do Teste de
Escolha de Fotografia. O destino de um homem, como indivduo, habitualmente marcado
pelas propores pessoais de sua predisposio hereditria, e especialmente atravs de suas
predisposies pulsionais e de seu ego. Conseqentemente, deve tambm cada doente mental
ser apresentado nas propores de suas predisposies funcionais, nunca por um nico
diagnstico clnico.
Com estas consideraes esclarecemos que a Anlise do Destino construiu seu sistema
sindrmico experimental sobre os transtornos dos conjuntos de funes, invisveis latentes; e
no, como fazem Hoche, Schneider e Tripicchio, sobre sintomas clnicos manifestos. Como
estes conjuntos hereditrios invisveis constam de funes do destino coercitivo, a Anlise do
Destino fala em uma patologia do destino, referindo-se a esses quadros psicopatolgicos e
hereditrios.
15
(2) o ego deve tomar posio quanto s possibilidades de destino herdadas: deve ou afirm-
Ias, incorpor-Ias ao prprio ego, identificando-se, com elas, ou neg-las e, em casos extre -
mos, at mesmo destru-las;
(3) como j foi mencionado no incio da parte I, o ego pode em circunstncias favorveis
desenvolver-se tanto que fica incapaz de conciliar os antagonismos da existncia. Isto , o
sonho e a viglia; o inconsciente e o consciente; os mundos subjetivo e objetivo; a onipotncia e
a impotncia; o corpo e a alma; a feminilidade e a masculinidade; a mente e a natureza; o
aqum e o alm. J mencionamos que a Anlise do Destino denomina esse ego altamente
desenvolvido de Pontifex Oppositorum. Esse ego, capaz de supervisionar e conciliar todas as
antinomias, tem o poder de escolher, entre as possibilidades do destino compulsivo herdado,
um destino de livre escolha.
Preliminarmente foi feita a pergunta: que instncia tem ento o poder de eleger um destino de
livre escolha, em lugar do destino compulsivo? Essa instncia o Ego Pontifex, em outras
palavras, as funes do ego, conciliando os antagonismos conscientizados. Para poder
construir conscientemente um destino de livre escolha, o ego deve exercer as seguintes
funes:
(1) a integrao: o ego deve dominar e dirigir soberanamente suas funes elementares. Isto
implica, psicologicamente, que o ego examina as diversas pretenses ancestrais at o
momento projetadas para fora (projeo) e as conscientiza (inflao), com a medida da
realidade; e, se uma, das muitas possibilidades de existncias herdadas, lhe oferecer a
oportunidade de um destino melhor, ele a confirma, a incorpora (introjeo), e nega (negao)
o destino coercitivo at ento vivido, seja uma anormalidade sexual, uma neurose afetiva do
ego ou de contato, ou at mesmo uma pr-psicose;
(2) a transcendncia: O ego deve poder transcender at a mente. Deve procurar uma ligao
com uma idia superior (humanidade, arte, cincia ou religio) e ativar a funo de crena na
humanidade;
(3) a participao mental: O ego deve unificar-se de maneira duradoura com esta idia
superior, isto , o ego deve poder participar.
A Terapia do Destino
Talvez seja vlido afirmar que as trs condies j mencionadas, das quais depende o
surgimento do Ego Pontifex, so tambm passveis de condicionamento hereditrio. Pois im-
possvel negar que uma elite humana, nem sempre constituda de intelectuais, pode alcanar
espontnea e naturalmente esse alto grau do Ego Pontifex.
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Porm, a Anlise do Destino comprovou que tambm em muitas doentes mentais estas
mesmas condies existem em estado latente, embora vivam seu difcil destino compulsivo
como neurticos ou psicticos. Esta circunstncia forou a Anlise do Destino a experimentar
mtodos artificiais, psicoteraputicos, com a ajuda das quais possvel transformar o destino
compulsivo em destino livre.
(1) inverso dos destinos pulsionais dialeticamente construdos da forma social-negativa para a
social-positiva do destino. Paradigma: piromania latente --> bombeiro; esquizofrenia latente -->
clnico psi; mania processual latente --> advogado; mania religiosa latente --> psicologia da
religio etc. Nestes casos, o operotropismo atua terapeuticamente, depois do paciente tomar
conscincia de que seu destino compulsivo est intimamente ligado possibilidade de escolha
de uma determinada profisso;
(2) inverso das partes cindidas (e, portanto, dos destinos complementares do ego) em
determinadas doenas que acarretam uma ciso. Alguns exemplos: a parania projetiva -
mania de perseguio como uma parte cindida do ego pode, sob determinadas circunstncias,
inverter-se na outra parte cindida complementar, a existncia de trabalho compulsivo. Ou: a
megalomania (parania inflativa) pode desaparecer se, pela inverso, a outra parte cindida do
mesmo ego (o ego evasor) continuar a viver como viajante profissional, glob-trotter etc.
(3) permuta de uma forma de existncia doentia por outra mais inofensiva, para a qual existia
uma predisposio que ser descoberta no patrimnio hereditrio do paciente atravs do teste
e do exame da rvore genealgica. Assim, possvel que o paciente consiga permutar a
parania esquizofrnica por uma cefalalgia paroxstica, ou por paroxismos de outro tipo; ou a
parania e a mania por uma compulso.
Para promover essas permutas das formas de destino, a terapia analtica do destino elaborou
mtodos especiais (mtodo do martelamento, do psicochoque).
Consideraes gerais
O fenmeno a que, em 1911, Eugen Bleuler deu o nome heurstico de ciso do ego, j figurava
na literatura com denominaes diferentes, tais como "dissociao", ''desintegrao da
conscincia" (Gross), "disjuno" (Wernicke). Esses termos hoje desapareceram. Tambm com
a expresso homnima "ciso da auto-conscincia" (Foersterling), que significava um aumento
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da perturbao psicomotora, no se podia iniciar muita coisa. Por uma determinao conceitual
mais clara devemos agradecer em primeiro lugar a Bleuler que, rebatizando a dementia
praecox (Kraepelin) de esquizofrenia, como psicose de ciso, obteve fundamento slido para a
idia de ciso ego.
Bleuler discriminou duas classes de ciso: uma primria, na qual associaes de pensamentos
concretos, firmemente ligados, separam-se; .outra secundria na qual um complexo de idias,
acentuadamente afetado, se define cada vez mais e, com firmeza, alcana na vida psquica
uma autonomia sempre crescente.
Com a denominao de esquizofrenia queria Bleuler atingir as duas classes de ciso porque
freqentemente se fundem numa s. As caractersticas da esquizofrenia so especialmente, na
opinio de Bleuler:
(2) o autismo, em conseqncia da falha da inibio, idias incompatveis podem coexistir. Por
exemplo, o esquizofrnico pode ver simultaneamente numa mesma pessoa seu inimigo Y e o
mdico X; como conseqncia do autismo, o paciente substitui a realidade, desagradvel para
ele, por um mundo irreal do desejo.
Duas outras importantes afirmaes de Bleuler ficaram quase esquecidas. Afirmou em primeiro
lugar que os fenmenos de ciso no so prprios somente da esquizofrenia; tambm a psique
sadia, tanto na viglia, quanto no sonho pode cindir seu ego. Na opinio de Bleuler, a ciso
esquizofrnica deveria ser definida simplesmente como exagero de um fenmeno fisiolgico
que separa (cindente). Disse ainda Bleuler que, em certas circunstncias, a ciso fisiolgica
dos complexos pode acarretar indistintamente cises histricas, epilticas, autsticas e
paranides. Fenmenos de ciso podem, conseqentemente, surgir tambm em outras
afeces. Segundo Bleuler, de supor que o esquizide venha a cindir-se demais; o sintnico,
na medida exata; o epiltico, pelo contrrio, insuficientemente.
Com base nessas duas notveis afirmaes de Bleuler (que, na opinio de Szondi, ainda no
teriam sido bem analisadas), de 1937 a 1963 Szondi estudou a ciso do ego em indivduos
sadios e em doentes mentais, em primitivos e civilizados. E isso por meio da Anlise
Experimental do Ego, da observao clnica e, em parte, tambm pela psicoterapia analtica e
anlises onricas.
O exame dos casos clnicos, em 1956, deu-nos a oportunidade de verificar para que grau
anterior de ciso costuma regredir muito freqentemente o ego dos pacientes dos diferentes
grupos. Essas anlises experimentais do ego, realizadas em 3341 casos, nos estimularam a
idealizar uma Teoria Funcional do Ego e a tornar exeqvel, com auxilio dessa teoria, uma nova
orientao para o problema das cises do ego.
(1) a participao, isto , a tendncia a formar com o outro o ser-uno, o ser-igual. Conduz, por
projeo do poder prprio do ego, formao de unidades duplas. Isto , vida do ego no
outro (unidade me-criana, cl-solidariedade). Aps a desintegrao dessa dupla unidade
participante, a mesma tendncia funciona como projeo secundria, como extravazamento do
poder prprio do ego sobre outras pessoas que, depois, prejudicam ou at perseguem o
indivduo projetante. tambm o estado de impotncia prprio do ego na parania proje tiva
(mania de perseguio);
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(2) a inflao, isto , a tendncia do ego duplicao de seu poder, portanto, o querer ser
ambos-e-tudo, a "ambitendncia", na definio de Bleuler. Tambm se chama inflao
obsesso, por duas tendncias opostas, que agem ao mesmo tempo, mas sem se unir, nem
excluir-se. Tal estado corresponde ciso primria (Bleuler). Poderamos tambm denominar
de "autismo no ser" a conseqncia da inflao; cujo contedo pode variar de objeto e de
intensidade. Por exemplo, desejar ser simultaneamente homem e mulher, diabo e anjo, senhor
e servo, criana e lder, homem e animal. A isso denominamos inflao, segundo Jung. Domina
na parania inflativa (megalomania);
(4) a negao, ou tendncia elementar do ego para esquivar-se, para a negao, a inibio, o
recalcamento. A forma doentia se chama negativismo, desvalorizao total, desespero,
encarceramento do ego, a autodestruio na catatonia e o suicdio.
Nessa teoria do movimento circulatrio das quatro funes elementares do ego, tm lugar
muito importante a integrao e desintegrao.
Com essa teoria puramente funcional, que examina em primeiro lugar as cises das funes do
ego, e no os contedos deste (ao contrrio de Freud) tenta-se responder s perguntas que a
seguir formulamos: como se d a ciso das quatro funes elementares do ego nos indivduos
primitivos (negros selvagens), nos civilizados e nos doentes mentais?
(1) que Bleuler tinha razo quando admitia serem fisiolgicas as cises, mesmo nos homens
primitivos;
(2) que nos primitivos uma projeo total pode levar a uma sadia solidariedade com o cl e
religio totmica, enquanto em povos cultos, a mesma ciso do ego conduz a delrios
fantasmagricos e alucinaes. O julgamento das conseqncias de uma projeo est,
portanto, ligado a determinada poca da civilizao.
Por carncia de espao; temos de desistir da explanao sobre o processo de evoluo das
cises do ego nas diversas fases cronolgicas da vida humana. Neste momento, tratamos so-
mente dos tipos de ciso do ego de dois grupos de adultos: o do homem comum e o dos
homens mentalmente sublimados:
(1) Qualquer indivduo adulto pode cindir o feixe das quatro funes do seu ego, de tal modo
que, em viglia, atue apenas a parte cindida constante de projeo e negao. Essa parte
cindida caracteriza-se como "adaptao social". Na consistncia psquica do ego, essa
adaptao significa um estado de renncia (negao) s extrapoladas (projetadas) pretenses
do desejo.
A outra parte cindida, posta fora de ao, compreende o ser-tudo (inflao) e o ter-tudo
(introjeo).
(2) O homem sublimado pe em ao, num movimento circulatrio contnuo, todas as funes
elementares do ego; todos os contedos da psique as percorrem; os contedos do ego, porm,
s passageiramente, durante uma breve pausa, permanecem numa das quatro estaes.
Esses grupos humanos sem cises do ego so raros. Com maior freqncia, encontramos o
denominado "trabalhador intelectual compulsivo" que cinde somente a funo de projeo e,
pela sujeio ao trabalho, d um cheque-mate em sua obsesso (inflao) ou a contenta
parcialmente.
(2) obsesso epileptiforme do tipo de ataques com idias delirantes sobre a morte ou a religio;
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(b) a parte cindida pe fora de ao a projeo, a introjeo e a negao; essa parte cindida
costuma freqentemente fazer as vezes da obsesso, apresentando os sintomas clnicos da
evaso epileptiforme (fuga), da dromomania (ou, poriomania), da epilepsia retroflexiva, ou
tambm de genunos ataques epilticos. A forma inflativa de ciso pode aparecer
fisiologicamente, enquanto evaso, em crianas de 5 a 6 anos de idade; mais tarde, na
adolescncia (17 a 18 anos de idade).
(b) a parte cindida pe fora de ao a inflao e a negao; essas duas funes do ego
condicionam a "inibio". Autismo e inibio so sintomas clnicos de partes cindidas opostas. A
Anlise Experimental do Ego pde tambm a confirmar as afirmaes de Bleuler. A forma
autista aparece fisiologicamente no perodo infantil de obstinao, e porque freqentemente a
ciso introjetiva pura, sem projeo, pode levar ao autismo, tambm chamada de tipo
introjetivo de ciso - o oposto dela a despersonalizao.
(a) a parte cindida clinicamente atuante pe em ao, nas psicoses, somente a exagerada
negao e a destruio; nas neuroses, ao contrrio, o recalcamento e a evitao neurtica; o
grave negativismo aparece clinicamente na esquizofrenia catatnica, na mania e no suicdio;
(b) a parte cindida pe fora de ao a introjeo, isto , as idias delirantes projetivas, inflativas
e introjetivas; supostamente, a negao catatnica dos psicticos uma espcie de tentativa
de cura espontnea da parania e do autismo; nos neurticos, o recalcamento assegura certa
proteo contra a aceitao da homossexualidade egodistnica e a solido. Fisiologicamente, a
ciso de negao aparece, sobretudo como recalcamento da primeira infncia (3 a 6 anos de
idade), depois, na pr-puberdade (9 a 12 anos).
Como nota preliminar, frisamos que as perturbaes epileptiformes do ego podem tambm
aparecer nos tipos de ciso esquizofrnica, pela inverso do movimento de rotao das partes
cindidas. Os dois tipos de ciso paroxstica seguintes possuem uma conotao especial, pois
primria a perturbao epileptiforme do afeto e no a perturbao do ego. A mentalidade
assassina de Caim e o contedo dessas perturbaes do afeto causa, secundariamente, as
cises do ego.
(a) a parte cindida clinicamente atuante pe em ao, sincronicamente, trs funes do ego: a
negao, a inflao (com inibio) e a projeo; o fenmeno que resulta desse fato a
despersonalizao epileptiforme e hstero-epileptiforme; caso a negao se transforme em
autodestruio, forma-se o quadro clnico da despersonalizao caracterizado por crises de
dipsomania episdica, pelo suicdio e freqentemente tambm pela histeria e depresses
crnicas;
(b) a parte cindida pe fora de ao a importante funo do ego que escapa ao mundo da
percepo: a introjeo; na psicologia do ego, a despersonalizao definida como
conseqncia de um desligamento da introjeo condicionado pelo afeto; portanto, como
conseqncia do desligamento da ponte da percepo ligando o exterior ao interior; com o
desligamento da introjeo, falham tambm todos os contedos incorporados: conhecimento,
memria, imagens mnsicas motoras e senso-motoras; j em 1911 se referia Bleuler ciso
dos afetos como proteo na esquizofrenia; efetivamente uma proteo, pois, caso a
introjeo domine sozinha o quadro clnico, surge certamente o autismo; fisiologicamente,
aparece a despersonalizao exatamente nas fases de transio: jardim de infncia - idade
escolar (5 a 7 anos) - idade juvenil - adulto.
(a) a parte cindida clinicamente atuante totalmente separada do ego; todas as quatro funes
elementares so provisoriamente desligadas; clinicamente surge um estado crepuscular,
pequeno mal oral, freqentemente a pura desorientao ou mutao do ego;
(b) a parte cindida situada no plano de fundo mantm em seu ntimo as quatro funes do ego
desligadas no primeiro plano. Esse ego aparece, freqentemente, antes e depois do ataque
crepuscular como um pressentimento de catstrofe (fobia). Fisiologicamente, pode essa
desintegrao surgir de modo passageiro, como mutao do ego, dos 17 aos 20 e dos 60 aos
70 anos de idade.
8 forma: ciso de adaptao do ego: j dissemos que, em adultos civilizados sadios, domina a
forma de ciso do ego denominada "de adaptao"; com a finalidade de exaurir o assunto,
mencionamos aqui, ainda uma vez, essa forma de ciso para expor em sua totalidade o
sistema dos oito tipos de ciso:
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(a) a parte cindida atuante pe em ao as funes de projeo e negao; desse modo tem
origem a adaptao;
(b) a parte cindida pe fora de ao as tendncias para tudo-ser (inflao) e tudo ter
(introjeo); essa parte cindida se denomina tambm "narcisismo total"; em indivduos sadios
de formao acadmica, ocupantes de altas posies, essa parte cindida atua no primeiro
plano com caractersticas de narcisismo; enquanto a adaptao fisiolgica cresce
constantemente at a idade senil, a ciso de narcisismo total muito freqente entre 20 e 30
anos, e mais rara na puberdade. Na pr-puberdade e na idade avanada, esse tipo de ciso
quase nunca ocorre.
A clnica do Campo Psi especfica das perturbaes do ego. Pacientes com perturbaes da
pulso e do afeto na maioria das vezes procuram o clnico psi apenas depois que seu ego j
est perturbado.
No centro de todas as psicoses e neuroses est o ego. Depois vem a vida pulsional e afetiva.
Disso tudo, resulta que a clnica psi tem tanta necessidade de uma psicologia e anlise do ego
adaptadas a ela, quanto a oftalmologia precisa da tica e do oftalmoscpio.