Educação Inclusiva e Escola Saberes PDF
Educação Inclusiva e Escola Saberes PDF
Educação Inclusiva e Escola Saberes PDF
2010
2010
CLEUSA REGINA SECCO MIRANDA
Dissertao apresentada ao
Programa de Mestrado em
Educao da Universidade Estadual
de Londrina, como requisito para a
obteno do ttulo de Mestre.
Orientadora:
Prof Dr Maria Cristina Marquezine
Londrina Paran
2010
Catalogao elaborada pela Diviso de Processos Tcnicos da Biblioteca Central da
Universidade Estadual de Londrina.
CDU 376.4
CLEUSA REGINA SECCO MIRANDA
Dissertao apresentada ao
Programa de Mestrado em
Educao da Universidade Estadual
de Londrina, como requisito para a
obteno do ttulo de Mestre.
Comisso examinadora:
______________________________
Prof Dr Maria Cristina Marquezine
UEL Londrina - PR
______________________________
Prof Dr Nerli Nonato Ribeiro Mori
UEM Maring - PR
______________________________
Prof Dr Silvia M. Ferreira Meletti
UEL Londrina - PR
A Deus
Por me conduzir, amparar e permitir que eu conclusse esse trabalho.
Ao meu esposo
Companheiro afetuoso, pela dedicao, amor e compreenso em todos os
momentos de angstias e dificuldades.
minha me
Pelas incansveis oraes.
s minhas filhas
Que mesmo sentindo minha falta souberam compreender minhas ausncias.
Andria
Pelas palavras de incentivo e carinho.
Agradecimentos
.
A rua de acesso incluso no tem um fim
porque ela , em sua essncia,
mais um processo do que um destino.
Peter Mittler
MIRANDA, Cleusa Regina Secco. A Educao inclusiva e a escola: saberes
construdos. 2010. 97 f. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, 2010.
RESUMO
ABSTRACT
The presented study in this paper aimed to uncover the knowledge that the school
built regarding the Inclusive Education after experiences of its professionals in the
inclusion process of students with disabilities in regular education. To achieve this
goal qualitative research was performed, in the form of case studies along an
elementary education of a public school in a Paran county. As validity, the study
emphasized a theoretical reference about the inclusion processes, especially in
education area; on education and special education; on the education right and
legal provisions which are guided in the Inclusive Education principles. The Data was
collected through semi-structured interviews. Were participating ten professionals
that work in school and who had previous experience with the inclusion of students
with disabilities in regular education. The results of the gathered collection data in an
analysis plan were discussed from the highlighted categories and pointed to the
singularity that appears to exist in the inclusive proposal implementation on each
school institution context, since it occurs as a process, it may, based on the principles
of Inclusive Education, be built, learned by school community as a whole, and
especially from knowledge built from each professional.
1 INTRODUO........................................................................................................10
1.1 Incluso ..............................................................................................................13
1.2 Educao .......................................................................................................... 19
1.2.1 A Educao e a escola .................................................................................... 23
1.3 A Educao Como Questo de Direito ............................................................... 27
1.3.1 O Direito humano educao ......................................................................... 30
1.3.2 As Constituies brasileiras e a Educao...................................................... 34
1.4 Educao Inclusiva .......................................................................................... 39
1.5 A Educao Especial...........................................................................................52
1.6 A questo dos Saberes .......................................................................................59
1.7 A Pesquisa ......................................................................................................... 65
1.7.1 Os Objetivos da pesquisa................................................................................ 65
1.7.2 Objetivo geral .................................................................................................. 66
1.7.3 Objetivos especficos....................................................................................... 66
2 MTODO............................................................................................................... 67
2.1 Descrio dos Participantes e/ou Fonte De Dados ............................................ 67
2.2 Descrio do Ambiente de Coleta de Dados ...................................................... 68
2.3 Instrumentos e Materiais .................................................................................... 69
2.3.1 Roteiro de entrevista semiestruturado ............................................................. 69
2.3.2 Materiais .......................................................................................................... 70
2.4 Procedimentos Metodolgicos ........................................................................... 70
2.5 Tratamento dos Dados ....................................................................................... 70
2.6 Fidedignidade.......................................................................................................71
1 INTRODUO
1.1 Incluso
intuito situar, nesta parte inicial do trabalho, algumas ideias sobre incluso
que nortearam a pesquisa e, junto a outras, tecem o fio condutor que percorre o
registro da investigao realizada. Tais ideias foram recolhidas a partir da anlise e
discusso que pesquisadores desenvolveram sobre o tema e que trazem subsdios
para a compreenso do discurso da incluso e educao inclusiva.
13
expressa com sentido de luta, de embate, convive com o seu contrrio, a excluso,
porm, orientada a questionar as prticas sociais baseadas na desigualdade e a
super-las. Garcia (2004b) expe a necessidade de reflexo sobre os processos de
incluso/excluso que, representativos dos processos sociais, polticos e
econmicos, devem ser compreendidos e analisados, como acima se assinalou, de
forma conjunta, posto que ocorrem nas relaes sociais desiguais.
O tema excluso no se restringe ao contexto nacional apenas, pois, na
verdade, tem sido discutido tambm pela comunidade europeia, a partir das
modificaes geogrficas e polticas que os pases daquele continente sofreram,
tampouco novo o assunto, posto que abordado desde os anos 60, vinculado s
questes da pobreza e da marginalizao social dele decorrente (KASSAR;
ARRUDA; BENATTI, 2007).
A significncia de excluso social pode ensejar entendimentos diversos indo
desde a sua associao com condies de pobreza e desigualdade, impossibilidade
de acessar recursos materiais e simblicos essenciais, at a impossibilidade de
expresso e poder (ROMERO; NOMA, 2007).
Martins (1997, p. 18), circunscreve a noo de excluso vinculada sua
dimenso social afirmando ser:
Outro autor que aborda o assunto Bonetti (1998, p. 205), para quem a
excluso social uma s e se manifesta num mesmo processo, comeando pela
excluso social da esfera produtiva at chegar na cidadania. Para ele, o termo
excluir possui uma significncia maior, no restrita aos verbos separar, segregar, ou
mesmo no sentido de promover a discriminao de grupos sociais em razo de
determinadas caractersticas. Excluir, para o autor, significa expulsar do mundo
dominante, significa literalmente pr para fora dos parmetros e das normas que
regem as relaes sociais (BONETTI, 1998, p. 15). Esta significncia de excluso
complementada por Haddad (2007, p. 10) o qual afirma que os sujeitos permanecem
distantes do processo de construo da sociedade, da participao ativa, da
vivncia e garantia dos seus direitos de cidadania.
16
Apoiada nos escritos de Martins (1997), Souza Patto (2008, p. 33) entende
que a contribuio maior daquele autor no sentido de advertir que o discurso da
excluso vale-se de um rtulo que parece explicar, mas que de fato acoberta e traz
duas consequncias nefastas: prticas pobres de incluso e fatalismo. Sob a
denominao de prticas pobres estariam as aes para habilitar, para inserir na
sociedade, porm, na condio subalterna, para que os excludos no
reivindiquem nem protestem em face das privaes, injustias, carncias. J o
fatalismo estaria relacionado ao desestmulo e abandono de leituras diversas do
processo excludente impedindo o que Martins (1997, p. 17) denomina de
participao transformativa no prprio interior da sociedade que exclui.
De fato, conforme esclarece a autora, requer pensar que, para que ocorra
uma possibilidade real de incluso, anteriormente h a necessidade de criticar,
recusar e resolver a excludncia social.
Na mesma direo dessas reflexes se posicionam Oliveira e Duarte (2005,
p. 283) quando afirmam:
sobre Educao para Todos, aprovada pela Conferncia Mundial sobre Educao
para Todos Satisfao das Necessidades Bsicas de Aprendizagem (UNESCO,
1990), que se realizou em Jomtien, Tailndia, em maro de 1990, e cujo documento
apresenta a necessidade da universalizao da escolaridade bsica dos indivduos.
E, posteriormente, a Declarao de Salamanca com papel significativo, quando,
alm de reiterar o direito educao para todos, promoveu a Linha de Ao sobre
necessidades educativas especiais, o que resultou no compromisso dos governos
para trabalhar pela educao inclusiva (UNESCO, 1994).
Como visto neste tpico, reveste-se de importncia o fato de que, para
compreender o processo a que se tem assistido da excluso no campo educacional
preciso o entendimento do problema das desigualdades de modo geral, bem como
da compreenso e reflexo sobre as contradies existentes em contexto histrico
mais amplo.
Da anlise feita depreendeu-se a ideia de que a educao adquire um papel
relevante na discusso da temtica da incluso/excluso o que de certa maneira
orienta o trabalho para que esse aspecto seja focalizado e acrescentado pesquisa;
o que se realizou no prximo tpico.
1.2 Educao
conformidade com seus princpios e valores com abertura para revis-los quando
isso se fizer necessrio.
No mesmo sentido expe Rodrigues (2001, p. 235), ao avaliar os fins da
educao, reconhecendo que a ao educativa como um processo regular, que
ocorre em todas as sociedades humanas, possui como objetivo a preparao dos
indivduos para que os mesmos possam assumir papis sociais que se relacionam
coletividade, s condies de existncia, ao comportamento justo na vida pblica e
ao uso adequado e responsvel de conhecimentos e habilidades disponveis no
tempo e nos espaos onde a vida dos indivduos se realiza, sendo em torno desses
fins que se desenvolvem as aes dos educadores, inclusive as da escola.
O mesmo autor, apoiando-se em conceitos formulados por Kant, que diz que
o homem a nica criatura que precisa ser educada e que o homem no pode se
tornar homem seno pela educao, analisa a ao educativa operante ocorrendo
em dois planos: de fora para dentro e de dentro para fora. Na formao externa,
necessria, porm no suficiente, observa que educar um ato intencional imposto
de fora sobre uma criatura que deve ser formada como ser humano, realizado por
aqueles que o antecedem na vida social (RODRIGUES, 2001, p. 241). Contudo,
lembra o autor, educar mais que isso, compreende acionar os meios intelectuais
de cada educando para que ele seja capaz de assumir o pleno uso de suas
potencialidades fsicas, intelectuais e morais para conduzir a continuidade de sua
prpria formao, este o processo que ocorre de dentro para fora. Dessa forma, o
indivduo adquire a capacidade de se autoconduzir no processo formativo, de se
autogovernar quanto formao moral para um relacionamento social adequado
(RODRIGUES, 2001, p. 241).
Entendendo, dessa maneira, a educao como processo de formao
humana, o mesmo autor aponta que a educao atua sobre os meios para a
reproduo da vida; coopera para estender a aptido do homem para olhar,
perceber e compreender as coisas, para se reconhecer na percepo do outro; para
constituir sua prpria identidade, e para distinguir as semelhanas e diferenas
entre si e o mundo das coisas, finalmente, distinguir entre si e os demais sujeitos
(RODRIGUES, 2001, p. 243).
Tambm Teixeira (1968, p. 170) explicou que educao o processo pelo
qual se formam as disposies essenciais do homem - emocionais e intelectuais
para com a natureza e para com os demais homens. O autor, ao examin-la,
22
Talvez neste fato esteja a razo para que mais tarde, em 1975, fossem
proclamados, por meio de declarao, os direitos das pessoas deficientes; que o
ano de 1981 fosse lembrado como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes; que
no ano de 1990 se inclussem os indivduos considerados com deficincia na
Declarao Mundial de Educao para Todos, e, em 1994, todos esses direitos
fossem novamente relembrados e reiterados por meio da Declarao de Salamanca.
Aos poucos, os sistemas normativos dos pases tm introduzido em seus
contextos as garantias de proteo para o valor proclamado como direito humano.
Nesse sentido, Fischmann (2009) entendendo que a educao pode auxiliar, por
intermdio das pesquisas e prticas realizadas, o indivduo a conscientizar-se do
direito a ter direitos, defende a ideia de que esse conhecimento de seus direitos s
se realiza se for associado ao direito educao.
Para melhor traar um panorama do desenvolvimento dos direitos humanos
na sociedade moderna e sua vinculao com o direito educao organizou-se o
prximo tpico, no qual se fez um encadeamento do pensamento de diversos
autores, por meio de algumas citaes, procurando-se tec-las num contnuo lgico
que se espera seja producente em seu teor explicativo.
1
- Discriminao entendida aqui, como citado na Conveno da Unesco, relativa Luta contra a
Discriminao na Esfera do Ensino: 1... toda distino, excluso, limitao ou preferncia fundada na
raa, na cor, no gnero, no idioma, na religio, nas convices polticas ou de qualquer outra ndole,
na origem nacional ou social, na posio econmica ou no nascimento que tenha por finalidade
destruir ou alterar a igualdade de tratamento na esfera de ensino, e em especial: a) Excluir uma
pessoa ou um grupo do acesso aos diversos graus e tipos de ensino. b) Limitar a um nvel inferior a
educao de uma pessoa ou de um grupo. c) ... instituir ou manter sistemas ou estabelecimentos de
ensino separados para pessoas ou grupos. d) Colocar uma pessoa ou um grupo em uma situao
incompatvel com a dignidade humana.
34
Um direito, segundo o que afirma Bobbio (1992), tem sua gnese a partir de
uma exigncia social, que se vai afirmando a ponto de se converter em direito
positivado. Posteriormente, esse direito universaliza-se quando j posto como
direito, generaliza-se, ou amplia o atendimento aos indivduos, e, finalmente,
especifica-se (CURY, 2002).
A conquista alcanada pela sociedade brasileira em relao ao direito
educao perpassou diferentes etapas em nossas constituies at alcanar o
patamar que lhe confere o texto constitucional de 1988.
A Constituio Imperial de 1824 contm como indicao do direito
educao apenas o que definido no art. 179 ao garantir que a instruo primria
gratuita a todos os cidados, o que, conforme explicam os juristas, coloca o Brasil
entre os primeiros pases a explicitar o direito educao; no entanto, esses
mesmos estudiosos afirmam que o termo cidados acabava por excluir grande
maioria da populao constituda poca por escravos. Eram, portanto, direitos
atribudos elite, sem referncia escolarizao de mulheres, negros e ndios.
Aps a Repblica, a Constituio de 1891, apesar de adotar a condio do
letramento como condio de votar e ser votado, como afirma Motta (1997, p. 111)
omitiu-se em relao questo educacional, prevendo apenas o que segue:
subjetivo, o que faz nascer para o Estado um dever, uma obrigao de fazer,
tornando o direito educao um direito exigvel por parte do Poder Pblico, no
caso de violao de norma jurdica que o estabelece.
Dentre os avanos significativos que a Constituio de 1988 possibilitou ao
direito educao, como o estabelecimento de princpios, a fixao de recursos
oramentrios, a universalizao do acesso, entre outros, salienta-se , a grande
contribuio citada pelos tericos que foi a implantao de mecanismos capazes de
garantir esses direitos. Da Magna Carta de 1988 emanou, conforme previso, a Lei
de Diretrizes e Bases da educao nacional, Lei n 9.394, de 1996, que detalhou as
disposies da Constituio e aperfeioou o direito educao. Tambm a Lei n
8.069, de 1990, Estatuto da Criana e do Adolescente, foi muitas vezes invocada
para assegurar o direito educao.
Aps o empenho em relatar, de maneira sinttica, como, historicamente, o
direito educao se inscreveu nas constituies brasileiras, resta expor os motivos
da pesquisa em tais aspectos neste trabalho. Para isso, buscou-se apoio em Gentilli
(2009, p. 6) quando afirma:
graves deficincias, mas insiste que ela necessita estar universalmente disponvel a
todo cidado. Relembra o direito de toda pessoa educao, direito anteriormente
afirmado pela Declarao Universal dos Direitos Humanos, e prope, atravs de
seus artigos, os compromissos a respeito de:
- Satisfazer as necessidades bsicas de aprendizagem;
- Expandir o enfoque;
- Universalizar o acesso educao e promover a equidade;
- Concentrar a ateno na aprendizagem;
- Ampliar os meios e o raio da educao bsica;
- Propiciar um ambiente adequado aprendizagem;
- Fortalecer as alianas (UNESCO, 1990).
Para isso define como requisitos:
- Desenvolver uma poltica contextualizada de apoio;
- Mobilizar os recursos;
- Fortalecer a solidariedade internacional (UNESCO, 1990).
A Conferncia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e
Qualidade foi realizada em 1994, em Salamanca, onde, governos e organizaes
reuniram-se com o propsito de promover a Educao para Todos. Esse objetivo
proposto foi empreendido por intermdio da anlise das mudanas de poltica para
abranger a educao de todas as crianas, jovens e adultos com necessidades
educacionais especiais.
Inspirada no princpio de integrao e na necessidade de escolas que
incluam a todos, reconhecendo as diferenas, e promovendo a aprendizagem e
atendimento s necessidades de todos e de cada individuo, a Declarao entende
que o princpio bsico da incluso est na resposta educativa que a escola
proporciona ao indivduo aps reconhecer suas reais necessidades, proporcionando-
lhe uma educao de qualidade.
Nesse sentido congrega todos os governos e reivindica que eles:
atribuam a mais alta prioridade poltica e financeira ao aprimoramento de
seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a inclurem todas as
crianas, independentemente de suas diferenas ou dificuldades individuais
(UNESCO, 1994b).
E ainda:
43
Inclusiva cujo corpo textual abarca a grande maioria dos documentos acima
enunciados.
Como descrito, fica assegurado, por meio dos documentos normativos
referidos, um sistema educacional inclusivo em todos os nveis de ensino. Por
conseguinte, torna-se, a cada dia, um desafio maior para as escolas empreenderem
uma reestruturao da educao, pois, o Estado brasileiro firmando seu
compromisso com o estabelecimento da educao inclusiva explicita esses
princpios tornando-a um direito inquestionvel.
pessoas com deficincia, e, por meio desse enfoque, discutir muito mais
amplamente a respeito da educao, chegando a extrapolar para outras reas.
Mazzota (2005, p. 11), ao iniciar seu relato em Educao Especial no Brasil:
Histria e polticas pblicas assinala que o sentido atribudo Educao Especial
como definio de:
[...] modalidade de ensino que se caracteriza por um conjunto de
recursos e servios educacionais especiais organizados para apoiar,
suplementar e, em alguns casos, substituir os servios educacionais
comuns, de modo a garantir a educao formal dos educandos que
apresentem necessidades educacionais muito diferentes das da
maioria das crianas e jovens.
Batista (2003, p. xiii) afirma que a Educao Especial constitui-se como rea
de relevncia social cujas aes tm carter de respeito dignidade humana e de
respeito diferena. Na opinio da autora, essa rea de estudos e pesquisas tem,
por meio de suas aes, colaborado com o resgate da crena no homem, porque,
ao assumir a condio de respeito para com a criana que adentra o sistema
educacional em circunstncias desfavorveis, prope-se a perquirir os motivos
porque isso ocorre, buscando a derrubada de mitos pseudocientficos sobre a
inevitabilidade de algumas seqelas, e empenha-se para adquirir conhecimentos
que fundamentem essas aes educacionais. Constata ainda a referida autora
que, ao considerar-se a tica das polticas pblicas endereadas implantao de
oportunidades educacionais para toda a populao, esse esforo de busca por
conhecimentos est apenas iniciando.
Na Poltica Nacional de Educao Especial na Perspectiva da Educao
Inclusiva, a Educao Especial caracterizada como aquela que:
educao de grau primrio referida no Ttulo VI. Com este fato legalmente se afirma
a peculiaridade dessa educao (JANNUZZI, 2006, p. 68).
Para a Educao Especial outro marco a criao, no Ministrio da
Educao, do Centro Nacional de Educao Especial (CENESP), em 1973, cujo
trabalho estava voltado para a definio de metas governamentais especficas
(JANNUZZI, 2006, p.137), objetivando promover, em todo o territrio nacional, a
expanso e melhoria do atendimento dos excepcionais (MAZZOTTA, 2005, p. 55).
Foram empreendidas pelo CENESP aes educacionais direcionadas s pessoas
com deficincias e pessoas com superdotao, porm, configuradas como
campanhas assistenciais. Mais tarde, o CENESP transformado na Secretaria de
educao especial SEESP, porm, antes que isso tivesse acontecido constituiu-se
um comit nacional para apresentao de proposta de criao de um rgo com
funo de traar uma poltica de ao conjunta, destinada a aprimorar a educao
especial e a integrar, na sociedade, as pessoas portadoras de deficincia,
problemas de conduta e superdotadas (JANNUZZI, 2006, p. 164). ento criada a
CORDE Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa com Deficincia, em
1986.
Vinculado ao Ministrio da Justia posteriormente proposto o Conselho
Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficincia- CONADE- 1999 - com a
funo de acompanhar o planejamento, avaliar e aprovar o plano anual da CORDE.
Aps Declarao de Salamanca, apregoa-se a educao comum, conjunta,
para todos. Enfatiza-se a incluso, que destacada como diferenciada da
integrao que conservava resqucios da centralizao no defeito, e muda-se o
direcionamento responsabilizando-se agora a agncia educativa (JANNUZZI, 2006).
Afirma Glat (2007, p. 23) que a Educao Inclusiva atualmente a poltica
educacional oficial do pas, amparada pela legislao em vigor e convertida em
diretrizes para a Educao Bsica. Dessa forma, vrios dispositivos legais so
elaborados e aprovados para assegurar o atendimento s pessoas consideradas
com deficincia. Todavia, somente em janeiro de 2008, publicada a Poltica
Nacional de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva, na qual so
formuladas, a partir dos princpios da incluso, polticas que visem proporcionar uma
educao de qualidade para todos os alunos.
Foi realmente frtil o campo da legislao, provavelmente em virtude da
necessidade de adequar o sistema aos conhecimentos mais elaborados advindos de
58
diferentes reas. Alm disso, como bem aponta Jannuzzi (2006), a nfase agora
dispensada escola e ao seu poder transformador, o que reclama modificaes
nessa instituio para que ela atenda a particularidade de cada aluno.
Lembra Glat (2007, p. 17) que, nesse contexto, a Educao Especial
tambm solicitada a ressignificar o seu papel para abranger, alm do atendimento
especializado direto, o suporte s escolas regulares que recebem alunos que
necessitam de ajudas diferenciadas e especficas para aprender.
Pela Poltica Nacional de Educao Especial na Perspectiva da Educao
Inclusiva, a Educao Especial definida como:
Acredita-se que com base nesses saberes que o profissional estrutura sua
ao e sua relao no s com os alunos com deficincia, mas tambm com os
demais e que so esses mesmos saberes que proporcionam relativa segurana para
desempenhar sua atividade.
Para empreender a anlise dos dados coletados nesta pesquisa e tentar
compreender que saberes os profissionais construram, a respeito da educao
inclusiva; pretendeu-se conhecer a perspectiva sobre saberes docentes encontrada
em autores como Gauthier (1998), Pimenta (2000) e Tardif (2005), alm das
contribuies encontradas em produes que enfocaram como tema os saberes
docentes.
62
1.7 A Pesquisa
2 MTODO
TEMPO DE EXPERINCIA
PARTICIPANTE FORMAO
NA FUNO
P1 Geografia 13 anos
P2 2 grau 16 anos
P3 Pedagogia 17 anos
P4 Educao fsica 19 anos
P5 Pedagogia 17 anos
P6 Letras 12 anos
P7 Pedagogia Cincias Contbeis 15 anos
P8 Servio Social - Magistrio 9 anos
superior.
P9 Educao fsica 16 anos
P10 Letras 20 anos
Quadro1 - Caracterizao dos participantes da pesquisa.
2.3.2 Materiais
Na coleta de dados por meio das entrevistas, foram usados um gravador tipo
reprter, duas fitas cassete (mini), alm de caderno e caneta esferogrfica para o
registro das observaes realizadas.
2.6 Fidedignidade
Concordncia
IC = ___________________________ X 100 =
Concordncia + Discordncia
3 RESULTADO E DISCUSSO
3.1.1 A Proposta
Novamente recorre-se a Marquezine (2006, p. 31) quando expe que durante toda
a sua vida profissional o professor deveria construir-se e se reconstruir atravs de
sua relao com a teoria e a prtica, e no conhecimento experiencial da prtica.
Diante desse quadro, pensar sobre formao inicial e continuada dos
profissionais da educao torna-se fundamental para favorecer a efetivao da
proposta inclusiva.
Oliveira (2003b, p. 38), ao discorrer sobre componentes prticos envolvidos
no ensino inclusivo, ressalta a rede de apoio como uma ao de cunho
administrativo e pedaggico que deve prever cursos de capacitao e assessoria
pedaggica contnua, para que se possa trocar experincias, estudar, pesquisar, se
atualizar e atuar com maior segurana.
[...] tem o setor especfico para dar esse tipo de suporte. Quando ns
nos vemos em situao de no poder suprir dentro da escola ento
ns buscamos a Secretaria [...] P10
[...] pelos alunos muito tranqilo, uma briga para ficar perto, todos
querem ter amizade com elas [...] so [...] muito felizes, risonhas,
comunicativas, ento foi excelente a acolhida. P8
[...] o acolhimento fantstico, muito bom. [...] qualquer atividade
extra que tem eles tm um entrosamento muito bom, eles fazem
questo de um ajudar o outro. P10
[...] os de fora da sala so mais curiosos, acho que por no
conviverem [...] quando existe a oportunidade de se encontrarem, ou
de me encontrar, eles perguntam geralmente para mim que estou
acompanhando-as, o que elas tem... sobre a deficincia delas.
mais curiosidade. P8
deixar de ser uma escola de alguns e para alguns, e passar a ser uma escola de
todos e para todos (PIRES, 2006, p. 84).
A gente teve orientao e tudo mais. Mas, foi mais a escola mesmo
que correu atrs. P5
[...] para a professora se sentir segura e com o suporte da direo e
da superviso para entender o seguinte: o aluno no aluno da
professora regente, ele aluno da escola, ento ele
responsabilidade da escola [...] P10
REFERNCIAS
BUVINIC, M. Incluso social na America Latina. In: BUVINIC, M.; MAZZA, J.;
DEUTSCJ, R. (Ed.). Incluso social e desenvolvimento econmico na Amrica
Latina. Rio de Janeiro: Elsevier: BID, 2004. p. 3-31.
OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. Poltica educacional como poltica social: uma nova
regulao da pobreza. Perspectiva, Florianpolis, v. 23, n. 2, p. 279-301, jul./dez.
2005.
PERRY, G. E. et al. poverty reduction and growth: virtuous and vicious circles.
Washington, D.C.: The World Bank, 2006. Disponvel em:
95
<http://siteresources.worldbank.org/EXTLACOFFICEOFCE/Resources/870892-
1139877599088/virtuous_circles1_complete.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2010.
PIMENTA, S. G. Saberes pedaggicos e atividade docente. So Paulo: Cortez,
2000.
RODRIGUES, D.; KREBS, R.; FREITAS, S. Prefcio. In: RODRIGUES, D.; KREBS,
R.; FREITAS. S. Educao inclusiva e necessidades educacionais especiais.
Santa Maria: Editora UFSM, 2005. p. 7-9.
APNDICE
98
Data: ____/____/___
________________________________
Assinatura do(a) Participante
________________________________ ________________________________
Prof. Dr. Maria Cristina Marquezine Cleusa Regina Secco Miranda
(orientadora) (mestranda)
99
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Participante Professora do ensino regular
2. Como voc foi informada sobre o incio do processo de Incluso, nessa Escola?
3. Como voc reagiu frente deciso de incluir alunos com deficincia em sua turma?
11. Que mudanas foram necessrias na dinmica da Escola para a Incluso? E na Sala de
aula?
12. Como acontece a interao entre os alunos com deficincia e os demais alunos da
turma, no cotidiano da sala de aula? E nas atividades extra-classe (recreio, passeios e
outros)?
13. Quais as dificuldades que voc encontra para ensinar o aluno deficiente em sala
regular?
Voc deseja acrescentar alguma informao que julgue relevante para a pesquisa?
100
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Participantes Equipe pedaggica
10.Que apoio voc oferece aos demais professores que trabalham com esse aluno?
12.De que forma acontece a Formao Continuada dos docentes para a Incluso?
13.Como voc avalia o progresso acadmico dos alunos deficientes inseridos no ensino
regular?
Voc deseja acrescentar alguma informao que julgue relevante para a pesquisa?
101
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Participante - Direo da escola
1.O que voc entende por incluso? H alunos de incluso nessa escola?
7.Houve capacitao especfica para as professores que receberam alunos para a Incluso?
12.Como voc avalia o progresso dos alunos deficientes inseridos no ensino regular?
Voc deseja acrescentar alguma informao que julgue relevante para a pesquisa?
102
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Participante - Professor de Apoio Permanente
1.Qual sua opinio sobre a incluso de alunos com deficincia no ensino regular?
2.Que preparao voc teve para trabalhar com a incluso do aluno deficiente?
3.Quantos alunos voc atende? Como estruturado o seu trabalho?
4.Fale sobre o processo de acolhimento do aluno da incluso na sala de ensino regular?
5.Que tipo de interao existe entre voc o aluno com deficincia, os demais alunos e os
demais professores da(s) turma(s) e com a professora do Ensino Regular, para o
desenvolvimento do processo ensino aprendizagem?
6.De que forma os demais alunos acolhem e interagem com os alunos da incluso?
7.Que apoio voc recebe da Direo, da Equipe Pedaggica, dos demais professores e
outros profissionais da Escola para a realizao do seu trabalho especializado?
8.Que apoio voc oferece para os mesmos profissionais?
9.Que dificuldades voc encontra para trabalhar com os alunos da incluso?
10.Voc participa de um Programa de Formao Continuada para a Incluso? De que tipo
e com que freqncia
11.Que mudanas, a seu ver, foram necessrias na dinmica da Escola para a Incluso?
12.Como voc avalia o progresso acadmico de seu(s) aluno(s) no Ensino Regular?
Voc deseja acrescentar alguma informao que julgue relevante para a pesquisa?
103
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Participantes -Profissionais de Apoio
3.Voc j ouviu falar em Incluso escolar?O que voc entende por isso?
5.Voc percebe a necessidade de mudanas, na escola, para o atendimento aos alunos com
deficincia? Quais? Alguma j foi realizada?
6.Na sua rotina de trabalho, voc tem algum tipo de contato com os alunos com
deficincia, ou presta algum tipo de apoio a eles?
7.Qual sua opinio sobre os alunos com deficincia freqentarem a escola regular?
Voc deseja acrescentar alguma informao que julgue relevante para a pesquisa?
104
ROTEIRO DE ENTREVISTA
PARTICIPANTES: OUTROS PROFESSORES
1. Durante as suas aulas voc atende aluno com deficincia? Que tipo de deficincia o(s)
aluno(s) apresenta(m)?
3. Que opinio voc tem sobre a incluso de alunos com deficincia no ensino regular?
4. Que mudanas foram necessrias na dinmica da Escola ou da sua aula para a Incluso?
7.Que apoio voc recebe da Direo, para a realizao do seu trabalho especializado?
9.Que tipo de interao existe entre voc e a professora do Ensino Regular, para o
desenvolvimento do processo ensino aprendizagem desses alunos?
11.De que forma os demais alunos acolhem e interagem com os alunos da incluso?
Voc deseja acrescentar alguma informao que julgue relevante para a pesquisa?