Protocolo GDLAM de Avaliação Da Autonomia Funcional: Artigo Original
Protocolo GDLAM de Avaliação Da Autonomia Funcional: Artigo Original
Protocolo GDLAM de Avaliação Da Autonomia Funcional: Artigo Original
Artigo Original
DANTAS, E.H.M., VALE, R.G.S. Protocolo GDLAM de avaliao da autonomia funcional. Fitness & Performance Journal, v.3, n.3,
p. 175-182, 2004.
Resumo: O presente estudo teve como objetivo estabelecer um protocolo de avaliao da autonomia funcional atravs de
testes relacionados com a realizao das atividades da vida diria (AVD). A amostra foi constituda de 337 mulheres idosas (C
=66,334,69 anos), voluntrias e independentes das AVD. Foram utilizados os testes do protocolo de avaliao da autonomia
funcional do Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (Protocolo GDLAM), constitudos de caminhar 10m
(C10m), levantar-se da posio sentada (LPS), levantar-se da posio decbito ventral (LPDV) e levantar-se da cadeira e locomover-
se pela casa (LCLC). O tratamento estatstico feito por meio de Quartis possibilitou estabelecer o ndice GDLAM de autonomia
(IG). Este apresentou escores classificados em fraco (+28,54), regular (28,54-25,25), bom (25,24-22,18) e muito bom (-22,18).
GDLAMS protocol of functional autonomy evaluation. Protocolo GDLAM de evaluacin de la autonomia funcional
The present study had the aim to establish a functional autonomy evaluation El presente estudio hubo como objetivo establecer un protocolo de evaluacin
protocol throughout tests related with the realization of the activities of daily living de la autonoma funcional a travs de testes relacionados con la realizacin
(ADL). The sample was formed of 275 old women (`C = 66,33 4,69 years de las actividades de la vida diaria (AVD). La muestra fue constituida de 337
old), voluntaries and independent on the ADL. Tests of functional autonomy evalu- mujeres ancianas (C = 66,33 4,69 aos), voluntarias y independientes de las
ation protocol by Latin-American Development to the Maturity Group (GDLAMS AVD. Fueron utilizados los testes de lo protocolo de evaluacin de la autonoma
Protocol) were used. GDLAMS Protocol was formed for C10m, LPS, LPDV and funcional del Grupo de Desenvolvimiento Latino-Americano para la Madurez (Pro-
LCLC tests. The statistical analysis made by Quartiles established the autonomy tocolo GDLAM) constituidos de caminar 10m (C10m), levantarse de la posicin
GDLAM index (IG). The IG showed scores classified on poor (+28,54), regular asentada (LPS), levantarse de la posicin decbito ventral (LPDV) y levantarse
(28,54-25,25), good (25,24-22,18) and very good (-22,18). The study admitted de la silla y moverse por la casa (LCLC). El tratamiento estadstico echo por el
the level of p<0,05 for statistic significance. medio de Quartil posibilit establecer el ndice GDLAM de autonoma (IG). Este
present escores calificados en flaco (+ 28,54) regular (28,54 25,25), bueno
(25,24 22,18) y muy bueno (-22,18). El estudio admiti el nivel de p < 0,05
para la significacin estadstica.
Keywords: functional autonomy, old, ADL. Palabras clave: autonoma funcional, ancianas, AVD.
INTRODUO
A expectativa de vida est aumentando e o envelhecimento po- reduo das funes musculares, podendo ser, conforme Posner
pulacional est ocorrendo em quase todos os pases do mundo, et al. (1995), uma das principais perdas com o avanar da idade.
principalmente nos pases em desenvolvimento (IBGE, 2000). E
Recentes pesquisas apontam que indivduos idosos podem se
o que se deseja ao ser humano que ele seja independente em
beneficiar dos exerccios aumentando no s a resistncia e a
suas atividades dirias e suas decises, ou seja, que viva mais
fora muscular, mas tambm o equilbrio e a mobilidade. Isso
tempo com qualidade e autonomia.
pode reduzir os riscos de quedas e leses, melhorando a autono-
O processo de envelhecimento varia bastante entre as pessoas mia funcional (ACSM, 2003; FLECK; FIGUEIRA JNIOR, 2003;
e influenciado tanto pelo estilo de vida quanto por fatores FRONTERA; BIGARD, 2002; MATSUDO, 2002).
genticos (NIEMAN, 1999). Neste, a autonomia funcional, ou
Para o ACSM (2003), a aptido muscular pode tornar possvel
tambm conhecida como capacidade funcional, mostra-se um
a realizao das atividades da vida diria com menos esforo e
dos conceitos mais relevantes em relao sade, aptido fsica
prolongar a independncia funcional, por permitir viver os ltimos
e qualidade de vida.
anos de modo auto-suficiente e digno.
Para estudar esses conceitos, um grupo de pesquisadores do La-
Desta forma, o presente estudo teve como objetivo padronizar
boratrio de Biocincias da Motricidade Humana da Universidade
um protocolo de avaliao da autonomia funcional, denominado
Castelo Branco (LABIMH), formado por docentes e discentes do
Protocolo GDLAM, atravs de uma bateria de testes relaciona-
curso de Mestrado desta referida instituio, fundou o Grupo de
dos com a realizao das atividades da vida diria (AVD), em
Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM).
mulheres idosas.
Este se caracteriza como uma Organizao de Sociedade Civil de
Interesse Pblico (OSCIP) legalmente constituda e protocolada
com o registro n 11624, em 11/05/2004. MATERIAIS E MTODOS
Segundo o GDLAM, a autonomia definida em trs aspectos:
autonomia de ao - referindo-se noo de independncia Amostra
fsica; autonomia de vontade - referindo-se possibilidade de A amostra foi constituda por mulheres idosas voluntrias, aparen-
auto-determinao; e autonomia de pensamentos - que permite temente saudveis, oriundas de grupos sociais da terceira idade,
ao indivduo julgar qualquer situao. De onde pode-se concluir
que autonomia no pode ser definida em apenas um aspecto, Figura 1: Esquema da Autonomia (GDLAM, 2004)
ngulo ou uma nica perspectiva, mas em um contexto holstico
(figura 1). Por outro lado, o mesmo grupo define independncia
como a capacitao de realizar tarefas sem auxlio, quer seja de
pessoas, de aparelhos ou de sistemas (GDLAM, 2004).
2 3 4
INSTRUMENTOS
Analisando-se a tabela 3, observou-se que o teste LPDV foi o da mdia para C10m, LCLC e IG, e da mediana para os teste
mais rpido para ser executado pela amostra, enquanto que o LPS e LPDV, conforme os resultados relativos ao coeficiente de
LCLC foi o mais longo. A mdia foi a melhor medida de tendncia variao - CV (tabela 3).
central para as variveis C10m, LCLC e IG, pois o coeficiente
de variao (CV) foi inferior a 20%. Os valores das medianas DISCUSSO
ficaram prximos aos valores das mdias. Os desvios padro se
apresentaram de forma satisfatria. No quadro 1 esto expostos os resultados de estudos sobre a
Na tabela 4 esto os resultados dos testes categorizados conforme autonomia funcional, para as atividades da vida diria (AVD).
os tempos alcanados pela amostra.
Classificando-se os resultados dos estudos apresentados no
Observando-se a tabela 4, verificou-se que esta classificao quadro 1, de acordo com a tabela 5, verificou-se que, para o
pode ser um parmetro de avaliao da autonomia do protocolo
teste C10m, as pesquisas de Vale (2004), no grupo controle, e de
GDLAM, e ser utilizado como padro de referncia por diversos
Pernambuco et al. (2003) mostraram que os tempos alcanados
estudos nesta rea de investigao.
foram considerados como fracos, enquanto trabalhos de Geraldes
Na tabela 5 so apresentadas as classificaes da avaliao (2000), de Vale et al. (2003a; 2003b, 2004) e de Varejo et al.
da autonomia, atravs do protocolo GDLAM, obtido por meio
(2004) obtiveram tempos classificados em muito bom. Nos outros
de quartis.
estudos, os resultados ficaram em classificaes intermedirias.
Analisando-se a tabela 5, verificou-se que a categorizao
dos tempos alcanados pela amostra, feita pelo procedimento As diferenas desses tempos podem ser justificadas pelo tipo de
estatstico quartil, permitiu a classificao em categorias para interveno proposto para cada amostra. Mas os tempos alcan-
cada teste individualmente, e a normatizao em escores do ados so considerados satisfatrios para um idoso atravessar
IG de autonomia, ambos em: fraco, regular, bom e muito bom. uma rua com segurana.
Tabela 1: Caractersticas da amostra (n=337)
Variveis Mdia s Mediana CV Erro padro a3 a4
Idade 66,33 4,69 66,0 7,07% 0,30 0,81 1,13
IMC 26,01 4,42 25,54 16,98% 0,28 0,44 -0,05
s = desvio padro; CV = coeficiente de variao; a3 = assimetria; a4 = curtose; IMC = ndice de massa corporal.
que exigiram trabalhos de fora obtiveram melhores resultados um teste que se prope avaliar um movimento que tende a
(VALE, 2004). apresentar dificuldade de realizao com o envelhecimento, e
que se enquadra nas AVD.
De uma maneira geral, ao analisar o quadro 1, notou-se que os
sujeitos idosos sedentrios (PERNAMBUCO et al., 2003; VALE,
2004) obtiveram tempos que esto situados num nvel de clas- CONCLUSO
sificao fraco, do Padro do Protocolo GDLAM, para todos os
testes realizados. Isso indica que os idosos que permanecerem De acordo com os achados na presente pesquisa, o IG pode ser
inativos fisicamente ao longo da vida devero sofrer os efeitos do utilizado como parmetro da avaliao da autonomia funcional,
envelhecimento com maior impacto, entretanto aqueles que se para a realizao das AVD. Da mesma forma, o estudo indica que
mantiverem ativos fisicamente tendero a prolongar a autonomia o Padro do Protocolo GDLAM pode ser aplicado como referncia
funcional e a qualidade de vida. para futuras investigaes, e que se introduza o VTC para que se
investiguem novos padres de referncia da autonomia.
Considerando-se que a autonomia funcional est associada s
atividades da vida diria (AVD), o ndice geral (IG) foi idealizado
para representar o nvel desta varivel nos indivduos idosos. AGRADECIMENTOS
Devido natureza dos movimentos e sua relao ao cotidiano,
o conjunto dos testes realizados parece permitir uma viso global
do geronte. Agradecimentos aos Professores Mestres da linha de pesquisa
Atividade Fsica, Autonomia e Qualidade de Vida do Idoso
Conforme os resultados apresentados e a metodologia aplicada, do PROCIMH UCB/RJ, Jani Arago, Lilliany Cordeiro, Mrcio
o presente estudo sugere a criao de mais um teste para a ava- Baptista, Carlos Pernambuco, Ftima Amorim, Amndio Geraldes
liao da autonomia funcional, que esteja relacionado com os e Ronaldo Varejo, que gentilmente cederam os dados de suas
movimentos dos membros superiores. Aponta-se ento o teste de respectivas dissertaes de mestrado, para a elaborao deste
vestir e tirar uma camiseta (VTC), onde o tempo de realizao do estudo.
mesmo ser marcado em segundos (figuras 10, 11, 12, 13 e 14).
Quanto menor o tempo de execuo, melhor ser o resultado.
O indivduo deve estar de p, com os braos ao longo do corpo
e com uma camiseta em uma das mos. Ao sinal de j, ele REFERNCIAS
deve vestir a camiseta e, imediatamente, retir-la, retornando ALEXANDER, Neil B.; ULBRICH, Jessica; RAHEJA, Aarti; CHANNER, Dwight. Rising
posio inicial. Este teste visa avaliar a agilidade e a coordenao from the floors in older adults. Journal of the American Geriatrics Society. v. 45, n.
5, p. 564569, 1997.
dos membros superiores.
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Diretrizes do ACSM para os testes de
esforo e sua prescrio. 6 edio. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
Acredita-se que, com a incluso do VTC, o Padro do Protocolo
AMORIM, Ftima S. Efeitos do treinamento da capacidade aerbica sobre a qualidade
GDLAM de autonomia funcional ficar mais completo em sua de vida e autonomia de idosos. 2002, 231 f. Dissertao (Mestrado em Cincia da
avaliao global. Isso demonstra a tentativa de se estabelecer Motricidade Humana). Universidade Castelo Branco - UCB. Rio de Janeiro.
FLECK, S. J.; FIGUEIRA JNIOR, A. Treinamento de fora para fitness e sade. So POSNER, Joel D.; MCCULLY, Kevin K.; LANDSBERG, Lisa A.; SANDS, Laura P.;
Paulo: Phorte Editora, 2003. TYCENSKI, Patricia; HOLFMANN, Mary T.; WETTERHOLT, Kristina L.; SHAW, Carl
E. Physical determinants of independence in mature women . Archive of Physical
FRONTERA, W. R.; BIGARD, X. The benefits of strength training in the elderly. Science Medicine and Rehabilitation, v. 76, p. 373380, 1995.
and Sports, v. 17, i 3, p. 109-116, May, 2002.
SIPIL, S.; MULTANEN, J.; KALLINEN, M.; ERA, P.; SUOMINEN, H. Effects of strength
GERALDES, A. A. R. Efeitos do treinamento contra resistncia sobre a fora muscular and endurance training on isometric muscle strength and walking speed in elderly
e o desempenho de habilidades funcionais selecionadas em mulheres. 2000, 214f. women. Acta Physiologica Scandinavica, v. 156, p. 457-464, 1996.
Dissertao (Mestrado em Cincia da Motricidade Humana), Universidade Castelo
Branco, UCB. Rio de Janeiro. VALE, R. G. S.; ARAGO, J. C. B.; DANTAS, E. H. M. A flexibilidade na autonomia funcional
de idosas independentes. Fitness e Performance Journal, v. 2, n. 1, p. 23-29, 2003a.
GRUPO DE DESENVOLVIMENTO LATINO-AMERICANO PARA MATURIDADE (GDLAM).
Discusses de estudo: conceitos de autonomia e independncia para o idoso. Rio VALE, Rodrigo G. S.; BAPTISTA, Marcio R.; PERNAMBUCO, Carlos S.; VIEIRA,
de Janeiro, 2004. Fernando R.; ARAGO, Jani C. B.; DAMASCENO, Vinicius; CORDEIRO, Lilliany S.;
NOVAES, Jefferson S.; DANTAS, Estlio H. M. Treinamento resistido de fora em
GURALNIK, Jack M.; SIMONSICK, Eleanor M.; FERRUCCI, Liugi; GLYNN, Robert J.; BERK- idosas independentes. In: XXVI SIMPSIO INTERNACIONAL DE CINCIAS DO
MAN, Lisa F.; BLAZER, Dan G.; SCHERR, Paul A.; WALLACE, Robert B. A short physical ESPORTE, So Paulo, 2003. Anais: Atividade fsica construindo sade. Edio esp.
performance battery assessing lower extremity function: association with self-reported Revista Brasileira de Cincia e Movimento, p. 53, 2003b.
disability and prediction of mortality and nursing home admission. The Journal of Ge-
rontology, v. 49, n. 2, p. M85M94, 1994. VALE, Rodrigo G. S. Efeitos do treinamento de fora e de flexibilidade sobre a
autonomia e qualidade de vida de mulheres senescentes. 2004, 232 f. Dissertao
GURALNIK, Jack M.; FERRUCCI, Liugi; SIMONSICK, Eleanor M.; SALIVE, Marcel E.; (Mestrado em Cincia da Motricidade Humana). Universidade Castelo Branco - UCB.
WALLACE, Robert B. Lower-extremity function in persons over the age of 70 years as Rio de Janeiro.
a predictor of subsequent disability. The New England Journal of Medicine. v. 332, n. 9,
VAREJO, Ronaldo V.; MELO, Roberto; BARROS, Rosilane; VALE, Rodrigo G. S.;
p. 556561, 1995.
ARAGO, Jani C. B.; AMORIM, Ftima S.; DANTAS, Estlio H. M. Comparao dos
GURALNIK, Jack M.; FERRUCCI, Liugi; PIEPER, C. F.; LEVEILLE, S. G.; MARKIDES, efeitos do alongamento e do flexionamento ambos passivos sobre os nveis de
K. S.; OSTIR, G. V.; STUDENSKI, S.; BERKMAN, L. F.; WALLACE, Robert B. Lower flexibilidade, autonomia e qualidade de vida do idoso. FIEP Bulletin, v. 74, 2004.