De Tropeiro A Coronel
De Tropeiro A Coronel
De Tropeiro A Coronel
Orientador
Prof. Dr. Dilton Oliveira de Arajo
Salvador, agosto de 2009
Dissertao
apresentada
ao
Programa
de
Ps-Graduao,
curso de Mestrado em Histria,
Universidade Federal da Bahia,
como
requisito
parcial
para
obteno do grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Dilton Oliveira
de Arajo
AGRADECIMENTOS
Neste momento, fico feliz em agradecer as pessoas que contriburam para que
eu pudesse finalizar mais uma etapa da minha vida acadmica. Mesmo correndo o
risco de cometer omisses, no poderia deixar de expressar o meu agradecimento e
reconhecimento a colaborao das pessoas listadas abaixo.
O fato de chegar ao final, sem sombras de dvida, tem um sabor muito
especial. E o fantstico que j sinto o cheiro de recomeo. Ao longo dessa jornada,
toda vez que apareceu obstculos, sempre encontrava alguns de vocs
carinhosamente falando: vai passar, seja forte, voc guerreiro, voc pode!
Fazendo com que, ao invs de entregar os pontos, lutasse e continuasse a
caminhada. Se o desafio foi enorme, as motivaes, graas a Deus, foram maiores.
Talvez esta dissertao seja o resultado mais visvel desse processo de
construo. Assim, dedico algumas palavras queles que dela fazem parte direta ou
indiretamente ou, ainda, pelo fato de simplesmente existirem. famlia que constitu
sbios companheiros dos momentos de reflexo, ausncia e abstrao. A Iracema
Lima, companheira e amante que teve a pacincia de enfrentar meus momentos de
nervosismo e desestmulo e sempre afirmar a minha capacidade frente s agruras
da
vida.
Aos
guerreirinhos
mais
companheiros
desta
jornada,
sempre
RESUMO
ABSTRACT
The present work inserts the discussion of the coronelista effective system during the
First Republic (1889/1930). Such system based their practices in a complex net of
commitments between the public and private sphere, to involve from the Coronel until
the Republics President. Considering the possibilities of that system, this work
analyzes the strategies adopted by Coronel Marcionillo Antnio de Souza to turn the
political boss of the municipal district of Maracs, for that, search to identify and to
understand the established conflicts among his group, denominated Rabudos, and
his opposition, Mocs, as the Coronel's significant participation in the movement that
was known for the historiography as Levante Sertanejo (1919/1920). The tem porary
privileged cutting for this work includes the period that is going from 1915 to 1930
and the space delimitation bounds the current Center-South Region and their borders
with Chapada Diamantina and with the South of Bahia, areas that they lived together
with Coronel Marcionillo Souza's direct influence.
LISTA DE MAPAS
Bahia 2002
19
25
67
LISTA DE TABELAS
27
31
48
76
LISTA DE FIGURAS
62
124
126
LISTA DE GRFICOS
32
48
LISTA DE ABREVIATURAS
APEB
AFWT
APMM
SUMRIO
INTRODUO
15
24
Economia
27
Vias de Comunicao
33
Cenrio Poltico
42
54
60
Rabudos e Mocs
61
63
64
70
Breve Armistcio
74
Onda de Saques
75
Segunda Interveno
78
82
84
87
Terceira Interveno
89
94
95
Rearticulao da Oposio
98
103
108
A Interveno Federal
114
O Declnio Poltico
122
CONSIDERAES FINAIS
132
OBRAS CONSULTADAS
136
DOCUMENTOS CONSULTADOS
140
PERIDICOS CONSULTADOS
143
ANEXOS
144
01 - Estrada de rodagem
145
146
150
153
INTRODUO
Ver: RMOND, Ren. Por uma Histria Poltica. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1996. FALCON,
Francisco. Histria e Poder. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (Org). Domnios da
Histria: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Ed. Campos, 1997.
2
RMOND, Ren, op. cit., 1996, p. 23
3
RMOND, Ren, op. cit., 1996, p. 35.
15
inerentes
ao
pesquisador
que
estuda
tempo
histrico,
suas
que teve como um dos seus mais importantes protagonistas, o Coronel Marcionillo
Antnio de Souza.
Faz-se mister ressaltar que o coronelismo, fenmeno frequentemente
revisitado por cientistas sociais5 e historiadores6, fundamentou suas prticas a partir
de um compromisso legitimo ou no firmado entre a esfera pblica e a esfera
privada do poder. Tal estratgia resultou de um longo processo histrico que
adquiriu materialidade na estrutura social, consubstanciando num sistema poltico de
compromissos, cuja complexa rede de relaes envolvia desde o coronel at o
presidente da Repblica.
Para melhor compreender esse sistema foi necessrio analisar as diversas
reflexes de estudiosos acerca de conceitos imprescindveis como: coronelismo,
mandonismo, patrimonialismo e clientelismo. Nesse sentido procurei estabelecer um
dilogo com o pensamento de estudiosos como Victor Nunes Leal,7 Eul-soo Pang,8
Maria de Lourdes Janotti,9 Maria Isaura Pereira de Queiroz,10 Consuelo Novais
Sampaio11 e Jos Murilo de Carvalho12 (1998), dentre outros. A compreenso
desses conceitos possibilitou uma anlise mais precisa a respeito das vicissitudes
das prticas polticas que permearam o cenrio das disputas pelo poder local em
Maracs e em outras partes do Estado da Bahia.
importante destacar que a Bahia configurava-se como um importante Estado
na hierarquia poltica da federao durante a Primeira Repblica. Dessa forma,
como ressalva Eul-soo Pang,13 esse Estado proporciona uma srie de vantagens
para quem quer deslindar os meandros do sistema coronelista, seja por sua
extenso fsica e demogrfica, seja por sua importncia econmica e poltica que
5
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O mandonismo local na vida poltica brasileira e outros ensaios. So
Paulo: Editora Alfa-Omega, 1976. Neto, Zahid Machado (org). O Coronelismo na Bahia, cadernos de Pesquisa
n 03. Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da Bahia, 1972.
6
SAMPAIO, Consuelo Novais. Os Partidos Polticos da Bahia na Primeira Repblica; uma poltica de
acomodao. Salvador: Centro Editorial e Didtico da UFBA, 1998. (Estudos Baianos). CARVALHO, Jos
Murilo. Pontos e Bordados: escritos de histria poltica. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.
7
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo Enxada e Voto: o municpio e o regime representativo no Brasil. 3 Ed.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997.
8
PANG, Eul-soo. Coronelismo e Oligarquias (1889-1934): a Bahia na Primeira Repblica Brasileira. Trad.
Vera Teixeira Soares. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1979.
9
JANOTTI, Maria de Lourdes Mnaco. O Coronelismo: uma poltica de compromisso. So Paulo: Braziliense,
1981. (Coleo Tudo Histria).
10
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de, op. cit., 1972.
11
SAMPAIO, Consuelo Novais, op. cit., 1998.
12
CARVALHO, Jos Murilo, op. cit., 1998.
13
PANG, Eul-soo, op. cit., 1979.
17
mais frios do Estado, mesmo tendo boa parte do seu territrio includo no chamado
polgono das secas.
BAHIA
2002
Maracs
80
160 240km
19
decorrer
desse
trabalho
deparei-me
com
algumas
dificuldades,
Para um maior aprofundamento sobre a temtica sugere-se a leitura de: FALCN, Gustavo, op. cit., 1995;
ROSA, Dora Leal, op. cit., 1989.
15
SAMPAIO, Consuelo Novais, op. cit., 1998. PANG, Eul-soo, op. cit., 1979.
20
Marcionillo Souza era filho de Antnio Preto, chefe dos jagunos e homem de inteira
confiana de Marcionillo, ofereceu informaes preciosas a respeito do cotidiano do
coronel e das aes do seu exrcito particular de jagunos.
O presente trabalho est dividido em trs captulos. No primeiro, intitulado O
Palco dos Embates, destaco alguns aspectos polticos, econmicos e sociais do
municpio de Maracs ao tempo em que os fatos aqui investigados aconteceram, o
que nos permitiu construir o cenrio no qual o Coronel Marcionillo Souza
desenvolveu seus projetos de domnio e mando. Tambm destaco o momento de
sua chegada e fixao no municpio, dando nfase a alguns dos primeiros fatores
que possibilitaram o seu ingresso na poltica local e o rompimento com o seu sogro,
o Coronel Francisco Alves Meira.
Pactos, Conflitos e Coeres no Serto da Bahia o segundo captulo, nesse
analiso os conflitos entre os membros da elite maracaense, destacando as suas
consequncias na configurao do cenrio poltico do municpio de Maracs e
regio. Ademais, a invaso e o saque dessa cidade pelos Cauasss aliados dos
Mocs, faco contrria a do Coronel Marcionillo Souza bem como a perseguio
empreendida pelo Governo do Estado, com o auxlio de Marcionillo ao primeiro
grupo, ganham relevncia. Alm disso, esse captulo evidencia a relao mantida
entre os grupos em conflito e o partido dominante na Bahia de ento.
J o terceiro e ltimo captulo recebe o ttulo de O Chefe dos Rabudos na
campanha de Libertao da Bahia. Nesta parte, apresento alguns aspectos que
permitiram a ecloso do Levante Sertanejo, alm de levantar algumas hipteses a
respeito dos motivos que teriam levado o Coronel Marcionillo Souza a participar da
marcha armada contra o Governo do Estado em 1919-1920. O resultado desse
movimento permitiu que Marcionillo ocupasse a liderana poltica do municpio de
Maracs e regio at 1930, momento em que foi preso juntamente com outros
coronis do interior. Esse fato inicia o processo de declnio poltico do Coronel
Marcionllo Souza que at 1943, momento da sua morte, no foi revertido.
O debate sobre o funcionamento do sistema poltico na Primeira Repblica est
longe de ser concludo. Com todos os seus limites e possveis lacunas, espero que
esse trabalho possa contribuir para a compreenso das especificidades do
coronelismo em Maracs e regio durante o perodo ora em foco. Alm disso,
22
espero que este trabalho possa despertar o interesse de outros pesquisadores para
a histria de Maracs e regio, ainda to carente de estudos.
23
CAPTULO I
16
Os nativos receberam esta denominao por usar um instrumento de guerra que consistia em um cilindro oco,
de madeira leve e fina, cheio de pedras midas e tapado nas extremidades, chamado marac. Existe certa
dificuldade em classificar etnicamente os ndios Maracs, para maiores informaes consultar SIERING,
Fredrich Cmara. Conquista e Dominao dos Povos Indgenas: Resistncia nos Sertes dos Maracs (1650
1701). Dissertao (Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal
da Bahia, Salvador, 2008. (mimeo).
17
BARROS, Francisco Borges de. Memria sobre o municpio de Maracs. Salvador: Escola Typographica
Salesiana, 1917, p. 17.
18
SIERING, Fredrich Cmara, op. cit., 2008, p. 106.
24
19
25
Bahia
LIMIT E
Itaberaba
Monte Cruzeiro
Andara
Amargosa
13 S
Maracs
Areia
Jussiap
Jequi
14 S
Boa Nova
41 W
40 W
saber: Sede, Morros, Serra da Boa Vista, Porto Alegre, Machado Portela, Bandeira
de Melo, Tamburi e Figueredo. No ano de 1920, contava com uma populao de
33.663 habitantes, chegando, na dcada de 1930, a cerca de 40.000, como pode ser
acompanhado na tabela abaixo.
Ano
N de Habitantes
Percentual de
crescimento
1930
33.663
34.403
35.143
35.883
36.625
40.000
2,2
2,15
2,1
2,07
9,2
Fonte: Anurio Estatstico Ano 1924: Territrio e populao, vol. I. Imprensa Oficial do Estado da
Bahia. Salvador, 1926, p. 538.
FERREIRA, Jurandir Pires. Enciclopdia dos municpios brasileiros. IBGE, 1958, p.25
ECONOMIA
SAMPAIO, Consuelo Novais. O Poder Legislativo da Bahia: Primeira Repblica (1889-1930). Salvador:
Grfica da Assemblia Legislativa da Bahia, 1985, p. 37.
28
So Flix para a Firma Plnio Moscoso & Companhia. A sociedade entre o Major e
seu cunhado faliu em 1907. O motivo teria sido o fato de eles venderem o caf para
entrega23. Nesse ano houve um aumento significativo do preo do produto, no
restando outra alternativa aos dois comerciantes, para saldar os compromissos
firmados com a Firma Plnio Moscoso & Companhia, seno venderam as tropas que
serviam para transportar o caf at Tamburi, todo o estoque da firma, casas
inclusive a destinada ao armazenamento do produto gados e outros bens. Na
dcada de 1920, quem despontava no comrcio do caf no municpio era Jernimo
Tranzillo e Vicente Mariniello.24
O fato de o caf ser um dos carros-chefe das exportaes do municpio fazia
com que as crises enfrentadas por este produto no mercado externo refletissem
diretamente na sua economia. Desta maneira, durante a crise econmica de 1929,
poca em que o preo do caf caiu de forma assustadora, diversas firmas
maracaenses entraram na justia com o pedido de concordata, alegando no
poderem cumprir com os seus compromissos, devido refreada das atividades
comerciais desenvolvidas no municpio. A ttulo de exemplo podem ser citadas as
firmas Angeli & Paganuncci, de propriedade de Jos Paganuncci e Silvestre Angeli;
a Juventino Costa e Companhia, de Juventino Costa, bem como a Taveira e
Companhia, de Theophilo Portela. Essas trs firmas se dedicavam ao comrcio e
venda de gneros do pas25. O exposto vem reafirmar uma das caractersticas que
marcavam a economia, no s da Bahia, mas do Brasil como um todo, que a sua
forte dependncia ao mercado externo.
Outro produto que teve destaque na pauta de exportao do municpio foi a
borracha vegetal. Ela era extrada da Manioba, planta nativa do semi-rido
brasileiro, cuja altura varia de 5 a 12 metros. A Espcie que apresentava maior
incidncia em Maracs era a Manihot Maracasensis Ule, tpica das matas secas do
quadriltero formado por Maracs, Rio de Contas, Andara e Lenis. Recebeu esse
23
Vender para entrega significava, na poca, que as grandes firmas compravam, antecipadamente, dos seus
clientes todo ou parte do caf que seria adquirido na prxima safra. No caso dos scios mencionados, a sua
produo era pequena, a maior parte do caf que comercializavam era adquirida de terceiros. Assim, precisavam
de capital de giro, esse era solicitado dos seus credores e deveria ser pago com certa quantia de sacas de caf,
avaliadas pelo preo do dia do emprstimo. Dessa forma, qualquer aumento no preo do produto, no dia da
quitao da dvida, acarretava srios prejuzos.
24
OSVALDO, Portela. Autobiografia. s.e. Maracs s.d, p. 9 e 13.
25
AFWT, Processos Cveis, n. 558, 559 e 560, ano de 1929.
29
BASTOS, Jos Alberto Magalhes. Manioba: Produto de Borracha do Nordeste Brasileiro. Braslia: Editerra
Editora LTDA, 1985.
27
APEB. Setor Republicano: Relao da Documentao da Secretaria da Agricultura: caixa 2382; maro 166;
documento 522 a 527.
28
APEB. Setor Republicano: relao da Documentao da Secretaria da Agricultura: caixa 2382; maro 166;
documentos 522 a 527.
30
QUILOGRAMAS
CRESCIMENTO DA
VALOR
MASSA
1897 1901
806.185,5
3.288:778$000
1902 1906
3.652.436
353
9.364:256$000
1907 1911
6.026.562,5
65
20.035:249$000
1912 1916
3.539.483,5
- 41,27
8.708:440$000
1917 1921
904.503
- 74,45
1.302:760$000
1922 -1925
652.289
-27,88
945.703:788$000
Fonte: BARROS, Francisco Borges de. Memria sobre o municpio de Maracs. Escola
Typographica salesiana: Salvador, 1917. Pg. 13.
29
APEB. Setor Republicano. Secretaria de Segurana Pblica: Correspondncia Recebida e expedida: caixa
6450; maro 01; perodo1890 a 1911.
31
Produo em quilogramas
7.000.000,00
6026562,5
6.000.000,00
5.000.000,00
4.000.000,00
3.652.436
3539483,5
3.000.000,00
2.000.000,00
904.503
1.000.000,00
0,00
652.289
806.105,5
1897-1901
1902-1906
1907-1911
1912-1916
1917-1921
1922-1925
Fonte: BARROS, Francisco Borges de. Memria sobre o municpio de Maracs. Escola
Typographica salesiana: Salvador, 1917. Pg. 13.
30
Essa produo do ano de 1925 e no do quadrinio 1922/1925, como demonstrado no grfico anterior a essa
informao.
31
Mensagem apresentada Assemblia Legislativa Pelo Governador Francisco de Ges Calmon, em sete de
abril de 1926.
32
racionalizado permitindo uma maior densidade (400 plantas por hectare) e uma
maior produtividade devido seleo de espcies mais produtivas.32
Com a falta de competitividade do produto brasileiro no mercado externo, a
extrao do ltex da manioba aos poucos foi abandonada pelo sertanejo. Este
passou a no encontrar preo e nem espao que o estimulasse a continuar com tal
atividade. Aos poucos, as plantas de manioba foram derrubadas para serem
utilizadas como lenha e para alimentar a indstria de tamancos, j que a sua
madeira resistente e ao mesmo tempo leve. Somou-se a isso a crena do
sertanejo de que a rama desta planta, quando murcha, torna-se txica para o gado,
da vindo o apelido da manioba de mandioca brava. Hoje em dia raro encontrar
exemplares dessa espcie no municpio de Maracs.
VIAS DE COMUNICAO
33
Para uma viso geral da poltica nacional de viao frrea do perodo ora em apreo, ver: CARLETTO, Cssia
Maria Muniz. A Estrada de Ferro de Nazar no Contexto da Poltica Nacional de Viao Frrea. Salvador,
1979. Dissertao (Mestrado em Histria). Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da
Bahia. p. 7 a 54.
36
SILVA. Aldo Jos Morais da, op. cit., 2006, p.43.
37
MORAES, Walfrido. Jagunos e Heris: a civilizao do diamante nas Lavras da Bahia. 3 Ed, Salvador:
Edies GRD, 1984, p. 36 e 37.
34
38
FREITAS, Antnio Fernando Guerreiro de. Eu vou para a Bahia: a construo da regionalidade
contempornea. Bahia Anlise & Dados. Salvador: Editora SEI, vol 9 n 4, p. 24-37, maro de 2000.
39
FREITAS, Antnio Fernando Guerreiro de, op. cit., 2000, p. 27 e 28.
35
40
36
44
37
AFWT. Cartrio de Registro de Mveis e Hipotecas, Ttulos e Documentos, Livro B, n. 02, p. 69 e 73,
perodo 1919 a 1934.
47
APMM, Ata do Conselho Municipal de Maracs, perodo de 1922 a 1929, p. 42.
38
ACMVM, Ata da Fundao do Rdio Sociedade de Maracs, 1926. Trata-se de uma sociedade que se formou
com o objetivo de comprar um aparelho receptor de programas de radiodifuso e no para fundar uma emissora
de rdio, como o nome da sociedade sugere.
39
49
Entrevista concedida pelo Sr. Elmo Meira (89 anos) ao autor em fevereiro de 2008, Maracs BA.
40
Para
realizar
esse
empreendimento,
algumas
casas
foram
desapropriadas e no lugar da antiga praa foi construda uma outra que recebeu o
nome de Rui Barbosa. A execuo de tal projeto custou ao errio municipal
quantia de trs mil contos de ris.52 Este ato, entendido como sinnimo de progresso
e modernidade, era praticado com freqncia em vrias outras cidades do Brasil,
como Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro.53
50
REIS, Meire Lcia Alves dos. A Cor da Notcia: Discurso sobre o negro na imprensa baiana (1888-1937).
Dissertao (Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2000. (mimeo), p. 7 e 8.
51
VILAA, Marcos Vincios; ALBUQUERQUE, Roberto C. de. Coronel, coronis: apogeu e declnio do
coronelismo no Nordeste. 4 Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 43.
52
APMM, Ata do Conselho Municipal de Maracs, perodo de 1922 a 1929, p. 33.
53
Para maiores informaes a respeito da idia de modernidade defendida pela intelectualidade baiana ver:
BELENS, Adroaldo de Jesus. A Modernidade sem Rosto: Salvador e a Telefonia (1881-1924). Dissertao
(Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2002. (mimeo), p. 20 a 60.
41
CENRIO POLTICO
54
55
na
estrutura
social,
resumindo-se
num
sistema
poltico
de
56
57
58
44
ARAJO, Dilton Oliveira de. Republicanismo e Classe Mdia em Salvador: 1870 a 1889. Dissertao
(Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
1992. (mimeo), p.140.
62
SILVA. Aldo Jos Morais da, op. cit., 2006, p. 35.
63
APMM, Ata do Conselho Municipal de Maracs, perodo de 1922 a 1929, p. 46.
45
A rua recebe esse nome pelo fato de que os seus antigos moradores faziam
cuscuz para ser vendido ao restante da comunidade, de modo muito artesanal,
como fica patente na fala de um dos moradores do municpio:
[...] por que Cuscuz? Porque aquele pessoal que, vamos dizer,
construram Maracs, eram sempre africanos, e eles faziam muito
cuscuz de milho, e vendiam aos brancos, porque naquela poca no
existia padaria. Ento ficou chamando Rua do Cuscuz, porque todo
mundo ia l comprar cuscuz.66
64
Ainda como exemplos dessas estratgias, podem ser citados: o ingresso no exrcito particular de outro
coronel, rival ao seu desafeto; dar coito e colaborar para a execuo de vingana empreendida por inimigos do
coronel malquisto, dentre outros.
65
Guimares, Jerry Santos. O Clube do Cuscuz: espao de festa, identidades e resistncias. Monografia
(Graduao em histria) Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitria da Conquista, 2003, (mimeo), p.
43.
66
Entrevista concedida pelo Sr. Gesnio dos Anjos (78 anos), realizada por Jerry Guimares em fevereiro de
2003, Maracs BA.
46
De acordo com o que foi dito, pode-se inferir que a delimitao espacial da
cidade de Maracs tem a sua gnese a partir das relaes de poder presentes na
teia social, e que muda de contorno, redefine-se com base na experincia, nas
prticas de homens que viveram e agiram dentro dos limites impostos pelo seu
prprio tempo. Desta forma, torna-se evidente, principalmente no caso da Rua do
Cuscuz, que a sua localizao scio-territorial no nasce pronta, como se fosse fruto
de um passe de mgica, mas, pelo contrrio, ela resulta do jogo de interesses
efetivados nas tramas sociais, nos quais as relaes de foras se materializam de
forma contundente e explcita.
Outro indcio que demonstra a resistncia da populao ou, pelo menos o
espao onde ela poderia ser materializada, em relao aos anseios dos chefes
locais, o fato dos coronis forjarem os resultados das eleies, sem que houvesse
a votao direta por parte da populao, talvez por medo de serem surpreendidos
pelos resultados. Assim, ao efetivar tal prtica, potentados locais detinham um
instrumento poderoso de barganha no cenrio poltico, o voto que era utilizado para
angariar benesses junto s esferas do poder pblico estadual ou federal durante a
vigncia da Primeira Repblica.
Desta forma, o Coronel Marcionillo Souza vem concretizar o seu prestgio e
significativa participao no meio poltico ao controlar um dos municpios que,
durante as primeiras trs dcadas do sculo XX, destacava-se no contexto dos
colgios eleitorais manipulados por chefes polticos locais que exerceram influncia
no cenrio poltico baiano, a exemplo de Horcio de Matos (Lenis), Flanklin Lins
de Albuquerque (Pilo Arcado) e Anfilfio Castelo Branco (Remanso), conforme
pode ser verificado na tabela abaixo:
47
377
369
492
786
558
492
878
558
492
1007
609
702
73.441
91.174
99.935
1029
-
1000
78
396
108.463
153.376
1289
Nmero de eleitores
1400
1353
1071
1200
1053
1000
800
600
400
442
384
200
0
1905
1908
1910
1912
1924
1934
67
A escolha dos municpios que aparece na tabela ocorreu, em um primeiro momento, devido participao dos
seus chefes no Levante Sertanejo, como foi o caso de Andara, Carinhanha, Lenis, Mucug e Remanso. Os
outros foram selecionados de forma aleatria, de acordo iam aparecendo nas fontes consultadas.
48
68
AFWT, Cartrio de Registro de Mveis e Hipotecas, Livro de Notas, n. 41, 1927, p.41.
AFWT, Cartrio de Registro de Mveis e Hipotecas, Ttulos e Documentos, Livro B, n. 02, perodo 1919 a
1934, p. 40 e 41
69
49
AFWT, Cartrio de Registro de Mveis e Hipotecas, Livro de Notas n. 29, 1921 p. 31 a 36.
AFWT, Cartrio de Registro de Mveis e Hipotecas, Livro de Notas n. 40, p. 01 a 09.
72
SAMPAIO, Consuelo Novais, op. cit., 1985, p. 51.
71
50
73
51
76
IVO, Isnara Pereira. Poder local e mandonismo na Cidade da Conquista. In: AGUIAR, Ednalva Padre (org.).
Poltica - O Poder em Disputa: Vitria da Conquista e Regio. Museu Regional de Vitria da Conquista/
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 1999. (Srie Memria Conquistense).
77
Os embates entre estes dois grupos sero apresentados, de forma mais detalhada, no Captulo 3.
78
BARROS, Francisco Borges de, op. cit. 1917, p. 36.
52
hipotecavam
fidelidade
em
relao
queles.
Estava,
portando,
SALES, Campos. Da Propaganda Presidncia. Lisboa: Typ. A Editora Lisboa, 1908, p. 252.
SAMPAIO, Consuelo Novais, op. cit., p. 44.
53
Assim, como em outras regies do Brasil, foi constatada uma acirrada disputa
no seio da elite maracaense para a ocupao e manuteno de cargos na esfera do
poder local. De um lado estavam os Rabudos, liderados pelo Coronel Marcionillo
Antnio de Souza; de outro, os Mocs, chefiados pelo Coronel Jos Antnio de
Miranda. Estes dois grupos alternaram-se na ocupao dos principais cargos
polticos e administrativos, beneficiando as suas parentelas e excluindo os aliados
do grupo rival quando em posse desses cargos.
54
84
55
56
Tempos depois o Coronel Marcionillo Souza casou-se com Rosa Amlia de Souza com quem teve mais trs
filhos, a saber: Marcionillo Antnio de Souza Filho, Rosa Gaudncia Bloisi e Maria Madalena de Souza
93
APEB, Judicirio, Inventrio de Francisca Joaquina Alves Meira: estante 1, caixa 144, maro 238, documento
8.
94
ARAJO, merson Pinto de. Captulos da Histria de Jequi. Salvador: GSH Editora, 1997.
95
APEB, Judicirio, Inventrio de Rita Joana Alves Meira: estante 1, caixa 143, maro 235, documento 7;
Judicirio, Inventrio de Francisca Joaquina Alves Meira: estante 1, caixa 144, maro 238, documento 8.
96
O Democrata, 24 de maio de 1920.
57
Gonalves do Nascimento Ribeiro, que havia mudado para Maracs em 1865, aps
o seu casamento com Maria Rita Ribeiro de Novaes e a sua nomeao para
Inspetor Paroquial dessa vila. Ribeiro era primo de Jos Gonalves da Silva,
Governador da Bahia entre 1890 e 1891, e conseguira ser nomeado para intendente
do municpio com o apoio do primo.97 Posteriormente, foi eleito Deputado Estadual
pela 5 Seo Eleitoral, da qual aquele municpio fazia parte.
Para garantir a sua vaga na Cmara dos Deputados da Bahia, Pedro
Gonalves mantinha o monoplio dos votos de Maracs e regio. Para isso,
contava ora com o apoio dos Rabudos, ora com a ajuda dos Mocs, ora com a
colaborao de ambos [...]. Na Cmara estadual, apoiava todas as proposies do
governo, exigindo em troca que a poltica no interviesse nos conflitos entre
Rabudos e Mocs. Apoiava as aes de um dos dois grupos, a depender da
situao, recebendo, por isso, a alcunha de Pedro Cortia, pois procurava manter-se
sempre por cima da situao.98
O primeiro passo dado pelo tropeiro Marcionillo Souza para se aproximar de
Pedro Gonalves foi convid-lo para ser padrinho do seu casamento com Joaquina
Alves Meira.99 O apoio vindo do Deputado Pedro Gonalves foi imprescindvel para a
insero do ex-tropeiro Marcionillo Souza no cenrio poltico de ento. Segundo
Osvaldo Portela (s/a), em um dos momentos em que o Deputado Pedro Gonalves
se afastara politicamente do Tenente-Coronel Francisco Alves Meira, este teria
exigido atitude semelhante do seu genro Marcionillo Souza, cuja recusa levou ao
rompimento dos laos de amizade entre os dois. Com o passar dos tempos essa
inimizade foi aumentando, chegando ao ponto de o Coronel Francisco Alves Meira
acusar o seu genro de ter matado, por envenenamento a sua filha e esposa daquele,
Francisca Alves Souza.100
O rompimento do Coronel Marcionillo Souza com o seu sogro ocorreu aps
1891, pois nesse ano o Coronel Francisco Alves Meira fora convidado por Pedro
Gonalves do Nascimento para ser sua testemunha no inventrio judicial devido
morte de seu cnjuge Maria Rita Ribeiro de Novais,101 atitude que ainda era
97
APEB, Seo Colonial e Provincial. Mao 963 Atos do Governo da Provncia 1835-1848, p. 371.
ARAJO, merson Pinto de, op. cit., 19976, p. 137.
99
AFWT, Cartrio de Registro de Mveis e Hipotecas, Ttulos e Documentos, Livro B-01, n. 181, fl. 84 v.
100
AFWT, Processo Crime n 597, maro 38, p. 13 (frente e verso).
101
APEB, Judicirio, Inventrio de Maria Rita de Novais Ribeiro: Estante 1, caixa 141, maro 232, documento
10.
98
58
CAPTULO II
104
A Teoria das Elites fruto do empenho de alguns estudiosos que, a partir do sculo XIX, lutaram para a
constituio das cincias sociais como campo do conhecimento autnomo. Estes autores criaram disciplinas e
teorias, dentre elas o elitismo, que passaram a nortear suas reflexes e a determinar temas legtimos a serem
pesquisados. Os principais precursores desta teoria foram os italianos Gaetano Mosca (1858-1941) e Vilfredo
Pareto (1848-1923) (GRYNSZPAN, 1999). No Brasil, desenvolveu-se sobretudo a partir dos estudos de Jos
Murilo de Carvalho. Ver: A Construo da ordem: A elite poltica imperial. Rio de Janeiro: Campus, 1980.
60
RABUDOS E MOCS
61
Foto pertencente ao Arquivo Municipal de Jequi: Da esquerda para a direita: Cassiano Marques
(Cassiano do Areo), Mariano Coxo, Lucas Nogueira, Coronel Marcionillo Souza e Jos Marques
(Zezinho dos Laos).
107
No Dicionrio de Aurlio Ferreira (2004), esta palavra gravada cauau e significa planta arbustiva, da
famlia das marantceas (Calathea lutea), de caule herbceo, grandes flores amarelo-enxofre, e fruto capsular,
com uma semente; ari. Contudo, optamos por usar a grafia da poca, a mesma utilizada pelos integrantes desta
famlia, inclusive com uso do acento agudo, quando assinavam o seu sobrenome.
62
108
109
REBOUAS, Jos Antnio Formigli. lbum de Famlia: Perfis e Genealogias. Itabuna, 1994, p. 27.
APB, Setor Municpios, Maracs, Livro de Carga e descarga de autos, nmero 16.
63
110
64
exacerbado,
empreendeu
uma
srie
de
investidas
contra
as
113
Algumas cidades aparecem nesse mapa com a denominao de vila, posto que, mesmo aps a proclamao da
Repblica alguns municpios mantiveram os seus antigos nomes.
114
Essa denominao era utilizada por vrios potentados locais durante a Primeira Repblica. Segundo o
Dicionrio Aurlio, barao significa corda ou lao utilizado para estrangular. J cutelo um instrumento
cortante, semicircular, de ferro, ou utenslio semelhante ao cutelo, especial para cortadores e correeiros.
115
Esse impasse teve incio no Porto de Santos, quando a polcia local entrou em choque com marinheiros de
navios italianos ali atracados. Tal fato recebeu o protesto do Governo Italiano e pelos imigrantes daquele pas
que viviam aqui no Brasil.
65
116
66
ESTADO DA BAHIA
DIVISO POLTICO-ADMINISTRATIVA, 1889.
46
44
45
43
42
41
40
38
39
PERNAMBUCO
09
09
Vila de
So Jose do Riacho da
Casa Nova
PIAUI
Vila de Pambu/
Capim Grosso
Vila de
St Antonio da Glria
do Curral dos Bois
ALAGOAS
Juazeiro
10
Jeremoabo
10
Bonfim
Sento S
Campo Formoso
Bom Conselho
SERGIPE
MARANHO
Vila de N. S. do
Patrocnio do Coit
Imperial Vila do
Tucano
Vila Bela do St
Antnio das Queimadas
11
11
Senhor do Bonfim do
Xique Xique
Serrinha
Morro do Chapu
Baixa
Grande
12
Feira de
Alagoinhas
Santana
S. Gonalo dos
V de Santana
Campos da
St
do Calu
Cacheira
Amaro
Vila do V. de N. do Rosrio do
Vila da Mata de So Joo
CurralinhoPorto de Cachoeira V. S. Francisco
da Barra do Sergipe
So Felix do Conde
Vila Nova de Abrantes do
Vila de N. S. do
Espirito Santo
Conselho de
Maragogipe
Amargosa
SALVADOR
So Felipe
St. Antonio
13
de Jesus
Vila de N. S. da Ajuda do
Nazar
Jaguaripe
Sao Vicente
Valena
Fenrer
Vila de Santana
do Camiso
Campo do Largo
Vila Agrcola de
Campestre
Vila de Orob
Lenois
Andara
Urubu
13
GO IS
Macabas
Vila de St Isabel
do Paraguau
de Areia
Porto de St Maria da
Vitria do Rio Corrente
Minas do
Rio de Contas
Riacho
de Santana
14
Vila Agrcola N. S. do
Alivio do Brejo Grande
Vila de Itapicuru de
Cima
Vila
V. da Cachoeira da Abadia
do Espirito St
do Inhambupe
de Cima
Vila de N. S. do Conde
de Itapicuru da Praia
Purificao
dos
12
Entre Rios
Campos
Vila de N. S. da
Coceio do
Riacho de Jacupe
Vila Agrcola de N. S. da
Brotas de Macabas
Vila de
Nova Soure
Cairu
Tapero
Vila Nova Boipeba
Maracs
Santarm
Vila de N. S. da
Assuno de Camamu
Caetit
Vila do Monte Alto
Carinhanha
14
Mara
Bom Jesus
dos Meiras
Vila Bela
das Umburanas
Vila das
Almas
Vila de so Jorge
dos Ilhus
Olivena
Vitria
GERAIS
Imperial Vila de
Canavieiras
Vila de So Pedro
do Belmonte
16
15
OCEANO
MINAS
ATLNTIC
O
Condeba
15
16
Vila de St Cruz
Porto Seguro
Vila Verde
Trancoso
BRASIL
17
Prado
17
Vila de So Bernardo
de Alcobaa
ESCALA
60
18
Caravelas
180 km
120
Vila Viosa
18
45
44
43
ESPRITO
SANTO
42
41
Vila de So Jos do
Porto Alegre
40
39
38
67
68
Zezinho dos Laos, seu irmo Cassiano Marques, tambm conhecido como
Cassiano do Areo, juntamente com o chefe dos Rabudos, o Coronel Marcionillo
Souza, vai encabear uma empreitada que tinha como principal objetivo a
eliminao dos Cauasss. Como primeiro resultado de tal ao, Constantino Jos
Fernandes, pai de Marcelino Cauass, foi assassinado por Vitoriano, a mando de
Cassiano do Areo. Quatro meses depois, no momento em que tentava fugir para
So Paulo, Marcelino foi surpreendido por uma emboscada armada pelos jagunos
de Cassiano, sendo alvejado por dois tiros. Um atingiu a parte inferior do brao e o
outro varou-lhe os olhos, provocando a sua morte imediata.122
A perseguio empreendida aos Cauasss, com o apoio do Coronel Marcionillo
Souza, tinha duplo significado. Por um lado, pesava a questo de honra, pois um
membro de sua famlia fora assassinado e os responsveis por tal ato deveriam ser
punidos, caso contrrio o poderio do Coronel Marcionilio seria ameaado, pois a
comunidade poderia entender a inocorrncia de vingana como sinnimo de
fraqueza, o que incentivaria outras aes contra o chefe poltico maior. Em segundo
lugar, talvez o mais importante, est a questo poltica. Um dos partidrios dos
Rabudos fora assassinado, um elemento estratgico na luta pelo controle da regio
que antes integrava o municpio de Maracs. A no punio dos responsveis abriria
espao para o fortalecimento poltico dos novos personagens que ingressavam no
jogo poltico de ento.
Com a morte de Zezinho dos Laos, o Coronel Marcionillo Souza passou a
operacionalizar o seu controle poltico sobre Jequi que antes de 1897123 pertencia
ao municpio de Maracs por meio das aes de seu filho Tranquilino Antonio de
Souza que, para fazer prevalecer os interesses dos Rabudos, lanou mo de
mtodos violentos, com o intuito de intimidar ou eliminar os seus adversrios. A sua
base de operao estava centrada na Fazenda Gruta Baiana, atualmente localizada
nos limites do municpio de Ipia.
Como pode ser observado, o Coronel Marcionillo Souza agia de forma indireta
na regio de Jequi, no participando pessoalmente das lutas ali travadas. Fez a
sua vontade prevalecer, em um primeiro momento, mediante as investidas de
Zezinho dos Laos e, logo em seguida, com a morte deste, pelas aes do seu filho
122
123
Tranquilino Antonio de Souza. Uma atitude que talvez possa ser entendida como
uma forma de isentar-se das consequncias negativas oriundas dos confrontos ali
travados. Tal postura demonstra a preocupao que o Coronel Marcionillo Souza
tinha das representaes construdas a respeito de sua imagem pela populao
local. Para ela, gostava de se apresentar como um homem respeitador da ordem e
da moral, que s se lanava ao embate direto quando no houvesse outra opo e,
sobretudo, quando se tratava de defender os interesses de sua comunidade.
Envoltos por uma atmosfera de vindita e como forma de garantirem as suas
vidas, os Cauasss, por possurem objetivos assemelhados aos dos Mocs,
entenderam esse grupo como aliado importante para derrotar os seus inimigos. A
partir de ento, vrios acordos so firmados entre os Cauasss e os Mocs, visando
derrota dos Rabudos. Esses acordos tornaram-se mais explcitos a partir de 1915,
como ser exposto mais adiante.
resistir ou desarticular as suas manobras e deixar claro que havia uma oposio e
que essa oposio deveria ser respeitada e temida. Isso vem, mais uma vez,
confirmar que as diferenas e os interesses de cada faco tornavam-se mais
evidente em perodos eleitorais, reforando tambm a constatao a respeito da
importncia do controle dos cargos polticos e administrativos na luta pelo poder.
O auge do conflito entre os Rabudos e Mocs ocorreu quando o segundo
grupo, por no possuir homens em armas o suficiente para fazerem frente aos
jagunos do primeiro, resolveu estabelecer alianas com os Cauasss para
combaterem o inimigo comum. De acordo com Vicente Silva Fres, em carta
publicada pelo Jornal A Tarde em julho de 1915, o Coronel Jos Antonio de Miranda
reuniu-se com os irmos Jos Olimpio e Eduviges Cauass no Povoado de Tamburi,
com o objetivo de materializar aes que enfraquecessem o poderio dos Rabudos.
Assim, o Coronel teria contratado124 os Cauasss pela quantia de seis contos de ris
para que estes enfrentassem e derrotassem o exrcito de jagunos que ocupava as
ruas de Maracs, comandado por homens da confiana do Coronel Marcionillo
Souza. Incentivados pelo fato de serem os Rabudos inimigos comuns, os Cauasss
invadiram a Cidade de Maracs na manh de 24 de outubro de 1915.125
A invaso perdurou por quarenta e oito horas, com fogo serrado. Os moradores
tiveram que abandonar a cidade para escapar do tiroteio estabelecido entre os
homens do Coronel Marcionillo Souza e os Cauasss. O comrcio foi saqueado, as
casas invadidas, suas paredes foram perfuradas para facilitar as manobras dos
invasores durante os combates.126 Vejamos como o fazendeiro Vicente Silva Fres
narrou a invaso de Maracs pelos Cauasss, em uma carta publicada na poca
pelo jornal A Tarde:
[...] munidos de repeties e Mauser, fizeram o primeiro ataque em a
manh de 24 de outubro de 1915, bombardearam a cidade e
roubaram aos pequenos comerciantes, a particulares e at a pobres
vivas. Terminando este ataque que durou 48 horas de fogo cerrado,
dirigiu-se o senhor Amando de Miranda Lacrose para o Arraial de
Morros, com avultado nmero de tais bandidos, praticando ali as
124
Provavelmente, o Rabudo Vicente Silva Fres, na tentativa de associar os resultados negativos das aes dos
Cauasss aos Mocs, afirma que os coronis Jos Antonio Miranda e Francisco Alves Meira teriam contratado
os Cauasss para invadir e saquear a Cidade de Maracs. Entretanto, por no encontrar outras fontes que
confirmem a efetivao de tal contrato, acredito que o melhor termo a ser utilizado, nesse caso, o de aliana.
125
A Tarde, 16 de abril de 1916.
126
No momento em que os Cauasss invadiram Maracs, o Coronel Marcionillo Souza e os seus jagunos
encontravam-se na fazenda Contendas, ficando a cidade sob o controle do grupo invasor. Ciente do ocorrido, o
chefe dos Rabudos reuniu os seus homens e aps longo combate conseguiu expuls-los.
71
72
130
jornal Gazeta do Povo, que assegurava ser esse Coronel um homem estimado e de
carter inquestionvel, quer como particular ou homem poltico.131
BREVE ARMISTCIO
Gazeta do Povo, 14 de novembro de 1915. Esse jornal foi o rgo de imprensa do Partido Republicano
Democrata at abril de 1916, momento da fundao do novo veculo de comunicao desse partido, o Jornal O
Democrata.
132
A Tarde, 17 de novembro de 1915.
74
133
134
daqueles que, de alguma forma, estavam ligados faco dos Rabudos. Para se ter
uma idia dos possveis aliados desse ltimo grupo, bem como da dimenso das
aes efetivadas pelos Cauasss, a seguir apresenta-se um quadro com algumas
propriedades e o nome de seus respectivos donos, que foram saqueadas por este
grupo.
Tabela IV Localidades Saqueadas pelos Cauasss
NOME DA LOCALIDADE ONDE
SITUAVA A PROPRIEDADE
SAQUEADA
Santa Rosa
Me Maria
Molhado de Areia
Volta
Estuma
Porto Alegre
Rio de Contas
Porto Alegre
Porto Alegre
Rio de Contas
Rio de Contas
Volta
Caldeiro
Caldeiro
Caldeiro
Brejo
Ladeira
Porto Alegre
Barra do Jacar
Caldeiro
Pery
Pery
Gameleira
Volta
Fazenda de Contas
Alto da Ladeira
Caldeiro
Baixa Grande
Fazenda Bitonho
NOME DO PROPRIETRIO
Hermogens Dias
Capito Matheus de Sant`Ana
Major Egas de Oliveira
Belmiro Feliciano Esprito Santo
Tenente-Coronel Joaquim Romo
Borges
Major Rufino Marques da Silva
Coronel Hugolino Guimares
Raul Marques da Silva
Joo Brondim
Izidoro Gomes do Nascimento
Capito Jos Feliciano Rocha
Belizrio Feliciano do Esprito Santo
Jos Machado
Manoel Joaquim de Oliveira
Pedro Calisto Machado
Vicente de Figueiredo Ornellas
Jos de Souza
Major Domingos Jos da Costa
Salustiano Lacerda
Major Antnio Augusto da Rocha
Major Odilon Dias
Jos Tibcio de Sant`Ana
Gnesto Feliciano Esprito Santo
Alpio Feliciano Esprito Santo
Minho Pedro Lacerda
Aristides Fernando Cunha
Joo Baptista de Souza
Joo Branco
Vicente Silva Fres
76
Seabra, fazendo uso desse dispositivo legal, antes de findar o seu mandato, no
perodo de dezembro de 1915 a maro de 1916, nomeou intendentes em 135 dos
135
141 municpios existentes. Dentre estes, estava o Coronel Jos Antnio de Miranda,
que ocuparia a Intendncia de Maracs at o ano de 1918. Certamente, este ato
recrudesceu os atritos existentes entre Seabra e o Coronel Marcionillo Souza. Tais
atritos chegaram ao auge nos anos de 1919 e 1920, momento em que ocorreu o
chamado Levante do Serto ou Revolta Sertaneja.
A aliana celebrada entre os Cauass e os Mocs, em um primeiro momento,
foi lucrativa para este ltimo grupo. Mas, com o passar do tempo, os Mocs
perderam o controle sobre os Cauasss, que passaram a saquear um nmero cada
vez maior de propriedades, gerando pnico entre os habitantes da regio. Ao
efetivarem uma jornada de saques, os Cauasss adquiriram um nmero cada vez
maior de inimigos. Possivelmente, devido a tal fato, no se sentiam seguros a ponto
de estabelecerem moradia em uma determinada localidade. Entregaram-se, a partir
de 1915, ao banditismo, levando uma vida nmade. Tinham a sobrevivncia
garantida, pelo menos enquanto foi possvel, por meio do uso das armas e dos
esplios realizados nas propriedades da regio em questo.
SEGUNDA INTERVENO
Essa expedio deveria por fim s aes dos Cauasss. Ao chegarem a Jequi, em
abril de 1916, aps oito dias de buscas, tiveram o primeiro contato com o bando
chefiado por Jos Cauass, que travou violento combate com a Fora Policial.
Durante o conflito, utilizou tticas de guerrilha, dividindo-se em vrios grupos
menores que, por conhecerem melhor a geografia da regio, passou a ocupar os
pontos mais altos do terreno, fazendo com que a Fora Policial ficasse encurralada,
o que a forou a bater retirada.
Dias depois, o Tenente Jos Pedro Simes telegrafou ao Secretrio de Polcia
informando do acontecido e solicitando o envio de reforo. Atendendo solicitao
realizada pelo Tenente, foi enviada uma segunda expedio para a regio. A nova
Fora Policial era composta por 100 praas liderados pelo Tenente-Coronel Paulo
Bispo do Nascimento137 que tinha como seu auxiliar o Alferes Cludio Correia. Alm
disso, o Secretrio de Polcia telegrafou ao Capito Jos de Meira Pinheiro, que se
encontrava em Maracs, ordenando-o que fosse a Jequi para auxiliar a nova
expedio durante a tentativa de capturar dos Cauasss138.
Ao ritmo da banda do Terceiro Corpo, sob o olhar de diversas autoridades
militares e civis, como o Secretrio de Polcia do Estado, s 12 horas do dia 09 de
maio de 1916, a nova Fora Policial, portando 30.000 cartuchos, partiu com destino
Cidade de Jequi que, por estar mais prxima da ltima estao da Estrada de
Ferro de Nazar, tornara-se desde o envio da primeira expedio, o centro das
operaes policiais na regio assolada pelas investidas dos Cauasss. A bordo do
Vapor Valena, a Fora Policial partiu de Salvador em direo a Nazar, de l
seguindo de trem at Santa Ins. A distncia entre esta cidade e Jequi, de
aproximadamente oito lguas, foi realizada a p. Prevenindo-se contra possveis
insatisfaes durante o itinerrio, o Governo do Estado autorizara o pagamento dos
soldos referentes ao ms de abril para os praas e oficiais que integravam a
expedio.139
A segunda expedio contou com o auxlio de 70 jagunos do Coronel
Marcionillo Souza, liderados por Tranquilino Antnio de Souza. Essa ajuda, sem
sombra de dvidas, foi imprescindvel durante a perseguio aos Cauasss, posto
que eram homens afeioados s lutas travadas nas matas da zona conflagrada, e,
137
Paulo Bispo recebeu a patente de Tenente-Coronel devido a sua participao na luta contra Canudos.
A Tarde, 9 de maio de 1916.
139
A Tarde, 10 de maio de 1916.
138
79
assim como o grupo perseguido, conheciam muito bem a geografia da regio, o que
lhes permitia conduzir a Fora Policial pelos caminhos do serto, evitando
emboscadas como a que foi responsvel pelo insucesso da primeira expedio.
Esse foi um momento decisivo para o fortalecimento do poderio do Coronel
Marcionillo Souza. A mudana de Governo foi um dos fatores responsveis por tal
situao, pois em 1916 Seabra havia nomeado o Coronel Jos Antnio de Miranda
para a intendncia de Maracs, mesmo sendo ele acusado de ser um dos
responsveis pelo saque da cidade em 24 de outubro de 1915. Mas Marcionillo
havia permanecido fiel ao Partido Republicano da Bahia aps o bombardeio da
Cidade do Salvador140 e a ascenso de Seabra ao Governo do Estado em 1912.141
Posio diferente fora assumida pelo Coronel Jos Antnio de Miranda, que
percebeu no Partido Republicano Democrata (PRD), fundado por Seabra em 15 de
maro de 1910, um instrumento que poderia contribuir para o seu fortalecimento
poltico, pois as suas inmeras tentativa de se aproximar do Governador Arajo
Pinho, no obtiveram sucesso.
A nomeao do chefe dos Mocs para ocupar a Intendncia de Maracs fazia
parte das estratgias de Seabra para solidificar as bases do Partido Republicano
Democrata e, consequentemente, fortalecer o seu poderio pessoal. Assim, ele:
[...] misturou dois meios tradicionais de persuaso para estruturar o
PRD: desencadear a poltica estadual e recrutar o vencedor de uma
luta local. Em 1914 recusou-se a intervir em Maracs, onde o chefe
do PRD fora impiedosamente atacado por Marcionlio de Sousa, que
o governador considerava um poltico melhor; em vez disso Seabra
permitiu a Marcionlio expulsar o coronel do PRD do municpio [...].142
140
O Bombardeio da Cidade do Salvador ocorreu em janeiro de 1912. Nesse momento, o Exrcito, seguindo
orientaes do Governo Federal, interferiu nas lutas polticas da Bahia a favor do ento candidato a governador
J. J. Seabra em detrimento do situacionismo representado por membros do Partido Republicano da Bahia. Tal
interferncia garantiu que Seabra sasse vencedor das eleies de 28 de janeiro de 1912.
141
PANG, Eul-soo, op. cit. 1979, p. 79.
142
PANG, Eul-soo, op. cit. 1979, p. 118.
80
Castro Alves, sogro, cunhado e sobrinho de Marcionillo, mas inimigos seus, presos
sob acusao de fornecer armas e de acoitarem os Cauasss em sua Fazenda Boa
Vista.
O Coronel Jos Antonio de Miranda e o seu correligionrio e presidente do
Conselho Municipal, Antnio Joaquim Pereira, ao saberem da priso dos seus
aliados polticos, encaminharam-se para a cadeia municipal e solicitaram uma
audincia com o Capito Pinheiro, o que foi negado.145 Entretanto, os rus no
ficaram muito tempo presos. A primeira tentativa de libert-los foi do Bacharel Jos
Pereira Teixeira Filho, que requereu Habeas Corpus em favor dos detidos, havendo
negativa por parte do Juiz de Direito da Comarca. No entanto, em 2 de maio de
1916, o major Salvador Borges de Barros conseguiu coloc-los em liberdade,
possivelmente em consequncia das articulaes polticas do Coronel Jos Antnio
Miranda. Estava em curso o enfraquecimento poltico dos Mocs e a ascenso dos
Rabudos.146
145
146
pare a regio no dia 24 de maio de 1916 uma terceira expedio, composta por
50 praas e dois alferes, Malaquias Pereira e Francisco Gomes.
A nova expedio partiu de Salvador conduzindo 10.000 cartuchos para
reforar o poder de fogo da Polcia contra os Cauasss. Desta forma, o contingente
policial enviado pelo Governo atingiu o nmero de 240 praas, aos quais se
somavam seus oficiais e os jagunos cedidos pelo Coronel Marcionillo Souza. Tal
contingente passou a perseguir os Cauasss, que contavam com um pouco mais de
100 homens, bem armados e afeitos regio conflagrada.147 Ao longo da Primeira
Repblica foi comum a integrao de jagunos, geralmente de coronis que
contavam com o apoio do Governo, a expedies destinadas a realizar algum tipo
de misso no interior do Estado.
A perseguio contra os Cauasss foi intensa, pois em pouco mais de trs
meses, o grupo estava reduzido a 14 homens. Muitos foram mortos, outros
desertaram ao ver-se encurralados pela ao da Polcia e dos jagunos do Coronel
Marcionillo Souza. Em contrapartida, as baixas registradas na Fora Policial foram
de dois mortos e um ferido. A caa aos Cauasss, ao menos para a Fora Policial,
foi concluda no dia 26 de julho de 1916,148 momento em que Jos Cauass foi
ferido, vindo a falecer dias depois. A morte dele foi relatada por Ansia Cauass ao
jornalista Silva Viana da seguinte forma:
Jos Cauass foi baleado no dia 28 de julho por uma descarga dada
por vrios soldados frente dos quais estava o Sargento Etelvino,
entre a Boa Vista e o Caldeiro do Miranda num lugar denominado
Pai Manoel. Jos respondeu ao fogo, fugindo a fora para Boa Vista,
onde se foi juntar a de Pisa Macio. A bala entrou-lhe na coxa direita e
saiu-lhe no quadril da perna esquerda.149
Aps ser baleado, Jos foi conduzido por seus pares at o lugar denominado
Ladeira, onde veio a bito dias depois, por falta de tratamento. O pai de Jos, Rufino
Cauass, bem que tentou mandar buscar medicamentos em Maracs para tratar o
ferimento do filho, mas como a Polcia tinha apertado o cerco, o responsvel por tal
misso acabou sendo morto quando passava pelo povoado de Caldeiro dos
Mirandas. Com o falecimento de Jos, o seu irmo Antnio Cauass passou a
147
83
84
constantemente
rumores
de
que
Jos
Cauass
estaria
156
vivo,
Isso no
passou de um boato, pois Jos fora ferido durante combate e viera a bito poucos
dias depois, como foi mencionado anteriormente. Contudo, no momento em que as
aes da Fora Policial eram questionadas, reforava-se a aura negativa resultante
dos constantes saques, estupros, incndios e assassinatos efetivados por aqueles
que deveriam restabelecer a paz em Maracs e regio.
Para apurar as constantes denncias realizadas pelo Jornal A Tarde, o
Governo resolveu instaurar um inqurito policial-administrativo que foi presidido pelo
ento Secretrio de Polcia Jos lvaro Cova157 que, por sua vez, nomeou Augusto
Csar para o cargo de Delegado Regional da zona que foi palco dos combates entre
a Fora Policial e os Cauasss. Augusto Csar dirigiu-se a Jequi, acompanhado de
um comandante de ordens e dois praas, com a misso de apurar a veracidade das
denncias a respeito dos crimes cometidos pela Polcia.158 Alm disso, foi criado em
Salvador um Conselho Militar de Investigao composto pelos Tenentes-Coronis
Marques dos Reis, Joo Borges de Barros e Joo Henrique de Farias, Majores
Alberto Lopes e Appio Novaes e o Capito Munford, que teria a misso de julgar, de
acordo com as informaes que deveriam ser fornecidas pelo Delegado Regional, as
aes dos denunciados de acordo com o Cdigo Penal da poca.159
Em 25 de outubro de 1916, o Delegado Regional retornou Capital e seis dias
depois entregou ao Secretrio de Polcia um relatrio contendo mais de 60
depoimentos que apontavam os crimes cometidos pelo Tenente-Coronel Paulo
154
85
Bispo do Nascimento, pelos Alferes Francisco Gomes de Oliveira (vulgo Pisa Macio)
e Cludio Correia, bem como o de outros militares de menor patente.160 No entanto,
as informaes contidas nesse relatrio foram ignoradas, pois o Conselho Militar de
Investigao, por unanimidade de voto, julgou:
[...] improcedente as acusaes arguidas contra o Tenente-Coronel
Paulo Bispo do Nascimento e os oficiais sob o seu comando na
expedio zona de Jequi e em perseguies aos bandidos
conhecidos por <Cauasss>, exceo feita do ex-alferes Francisco
Gomes de Oliveira, sobre quem, pelos motivos apontados, se no
pronuncia e do Alferes Cludio Correia da Silva, que julga j punido
com a pena que lhe foi imposta.161
160
86
fortaleza.
As
paredes
foram
construdas
com
adobes
de
165
Assalto propriedade, acompanhado de roubo e posterior diviso de seus frutos entre os participantes.
O Democrata, 18 de abril de 1917.
167
O Democrata, 18 de abril de 1917.
166
87
aproximadamente 50x50 cm, o que resistia aos disparos das armas mais comuns da
poca. A casa era cercada por um muro e ao seu redor quase no havia plantas de
grande porte, o que dificultava a aproximao de invasores sem serem avistados.
Nas paredes do sto existiam pequenas janelas que propiciavam uma viso
privilegiada do seu entorno e poderiam ser utilizadas para fazer disparos contra
foras inimigas. Possua locais apropriados para armazenagem de comida e de
gua, inclusive a da chuva, o que possibilitaria resistir a ataques por um significativo
espao de tempo. Em 1928, quando o Coronel Marcionillo Souza construiu a estrada
de rodagem que ligava Maracs a Itiruu, fez com que esta passasse defronte de
sua fortaleza, o que lhe permitia policiar quem entrava e saa da cidade, ao menos
quem estivesse de automvel. A resistncia que a casa do Coronel Marcionillo
Souza oferecia a possveis invases era reconhecida e cantada, atravs dos ABCs,
pela populao nas feiras da regio, como est presente no verso abaixo:
P
Pelejei e no venci
Mas abjuro pelejar
Ranchinho de palha de Contendas
Ns no podemos quebrar
Cel. Marcionillo ns devemos respeitar.168
ABC sobre Marcionlio Antnio Souza recitado pelos senhores Manoel Rocha (86 anos) no dia 17 de janeiro
de 2008, e por seu irmo Joaquim Rocha (85 anos) no dia 18 de janeiro de 2008. Os ABCs eram versos
compostos para serem cantados e, geralmente, narravam acontecimentos ligados ao dia-a-dia do sertanejo.
Recebiam esse nome porque as palavras que apareciam no incio de cada verso deveriam seguir a sequncia do
alfabeto.
169
A Tarde, 5 de junho de 1917.
88
170
A Tarde, 28 de junho de 1917. O telegrama vem assinado pelos seguintes comerciantes: Valverde & Irmos,
Paulino Affonso Chaves, Joaquim Valverde e Irmos, Amrico Vespcio de Almeida, Geminiano Saback,
Ladislau Ribeiro & Irmos, Roberto Grillo & Companhia, Francisco Grizi, Jos Mensitieri Andrade, Martins
Nicolau, Gindice Irmos, Domingos Damolli, Antnio Valverde e Companhia, Jos Dantas Cardoso, Gabino
Rosa Junior, Altino Martins, Valdomiro Virgulino, Hostlio Saback, Salvador Colavage, Miguel Grizi
Companhia, Maimome & Companhia, Joo de Novaes Miranda, Euclides Andrade, representante de Nova
Monteiro e Companhia, Avelino Freitas, representante de Tude & Irmos e Joo de Souza Peton.
171
A Tarde, 13 de junho de 1917.
172
Para maiores informaes a respeito do momento em que Ansia liderava o grupo dos Cauasss ver: AUAD,
Mrcia do Couto, op. cit., 2001.
173
A Tarde, 28 de junho de 1917.
89
TERCEIRA INTERVENO
90
Por tudo isso, pode-se afirmar que o Coronel Marcionillo Souza, a partir do
momento em que foi convocado para auxiliar a Fora Policial na caada aos
Cauasss, tendo acesso a armas, munies e, de certa forma, prestando um favor
ao Governo do Estado, fortaleceu-se poltica e militarmente. O que lhe permitiu, em
1919/1920, arregimentar um exrcito de jagunos e, juntamente com outros coronis
do interior do Estado, marchar rumo Capital na tentativa de impedir a posse do
ento Governador eleito, Jos Joaquim Seabra.
Aps o acordo firmado entre os coronis que integraram o Levante Sertanejo e
o Governo Federal, o controle das instituies pblicas maracaenses passou s
mos do Coronel Marcionillo Souza. Tal situao perdurou at a dcada de 1930182.
Com a efetivao do cenrio de hegemonia poltica dos Rabudos, os Mocs foram
privados de ocupar os cargos da administrao local. Concomitante a isso, pelo
menos em Maracs, percebe-se a desintegrao desse ltimo grupo. Tudo indica
que a existncia de um grupo s tinha sentido pelo fato de fazer oposio ao outro.
Isso se torna patente quando constatado que as fontes referentes aos fatos
ocorridos no decnio de 1920 no mais apresentem as denominao Rabudos e
Mocs.
182
Depois da Revoluo de 1930, vrias modificaes so registradas nas relaes sociais, polticas e
econmicas. Esse novo cenrio concorrer com uma nova dinmica poltica representada pela cidade ao trazer
consigo novas demandas advindas das organizaoes trabalhistas e de uma nova burguesia urbana industrial, que
passa a exigir uma maior participao no cenrio poltico do Brasil.
93
CAPTULO III
183
Durante o desenrolar do Levante, a imprensa oposicionista passou a divulgar a idia de que cabia ao serto
libertar a Bahia de um Governo tirano que, h oito anos, contribua para a falncia do Estado e do Regime
Republicano.
184
O presente trabalho opta pela primeira denominao por entender que esse movimento no objetivou
mudanas radicais na estrutura econmica, poltica e social da Bahia de ento.
94
Como foi dito, a marcha armada liderada pelos coronis Marcionillo Souza,
Horcio de Matos e Anfilfio Castelo Branco ocorreu em um perodo de
turbulncia social e poltica vivenciadas pelo Estado da Bahia. Isso ocorreu devido
soma de diversos fatores, entre os quais aqueles advindos da Primeira Guerra
Mundial e da greve dos trabalhadores ocorrida em Salvador entre os meses de
junho e setembro de 1919, que passarei a discutir de imediato. Outros sero
abordados mais adiante.
Como a Alemanha importava boa parte do fumo e do cacau, principais
fontes de renda do Estado, e seus banqueiros financiavam as atividades dos
grandes comerciantes baianos, o desencadear da Primeira Guerra Mundial
provocou uma interrupo dessas relaes, o que contribuiu para o agravamento
da crise econmica vivenciada pela Bahia. Essa crise atingiu em cheio as classes
agrocomerciais,
pois
os
seus
rendimentos
estavam
vinculados
Como pode se notado, at o momento, no foi possvel identificar o municpio onde viviam alguns dos
coronis aqui mencionados.
186
Em 1915, a Marinha britnica apreendeu um carregamento baiano de 1908 sacas de cacau e 1600 sacas de
caf destinadas a Compenhague. O comrcio exigiu que Antnio Muniz interviesse junto ao Ministrio das
Relaes Exteriores e o Governo atendeu a reivindicao, mas no obteve os resultados esperados. A partir de
ento, os comerciantes passaram a responsabilizar o Governo devido a sua fraca atuao no caso pelos
prejuzos oriundos de tal fato. Ver PANG, op. cit., 1979.
187
A Tarde, 18 de outubro de 1919.
95
188
SANTOS, Mrio Augusto. Associao Comercial da Bahia na Primeira Repblica: um grupo de presso.
Salvador: Secretria da Indstria, Comrcio e Turismo, 1973, p. 67.
189
SANTOS, Jos Wellington Arago dos. Formao da Grande Imprensa na Bahia. Dissertao (Mestrado em
Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1985.
(mimeo), p. 81 e 82.
190
SAMPAIO, Consuelo Novais, op. cit. 1998, p. 146.
96
193
contexto
da
Primeira
Repblica,
no
implicava
divergncias
ideolgicas
194
FERREIRA, Maria do Socorro Soares. A Tarde e a Construo dos Sentidos: Ideologia e Poltica (1928
1931). Dissertao (Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal
da Bahia, Salvador, 2002. (mimeo), p.24.
195
PANG, Eul-soo. op. cit., 1979, p. 125.
99
situacionismo baiano [Seabra] que seria impatritico, nas condies difceis que
atravessava a Bahia, agit-la com futuras lutas partidrias.196
A oposio reconhecia a fora poltica de Seabra, tanto que evidenciou o
desejo de uma conciliao, ao afirmar:
Seria fcil encontrar dentro da prpria situao um nome que,
embora simptico e fiel ao seabrismo atrasse a adeso de outras
foras partidrias, para a obra de restabelecimento e harmonia,
visando acima de tudo os altos interesses da coletividade.197
Torna-se necessrio destacar que a luta poltica estava sendo travada entre
Rui Barbosa e o Presidente do PRD. Outro nome poderia ser indicado para Governo
do Estado, menos o de Seabra, pois o seu fortalecimento poltico colocava em risco
os interesses do j septuagenrio guia de Haia. A oposio ameaou, caso Seabra
permanecesse intransigente em relao candidatura, lanar o nome do prprio Rui
Barbosa para fazer frente ao seu, pois sabiam do respeito que este nome impunha
no cenrio poltico estadual e nacional. No aceitando a empresa de ser candidato,
Rui Barbosa justificou essa atitude afirmando ser inconstitucional a sua candidatura
bem como a de Seabra, pois a Constituio baiana estabelece entre as condies
essenciais de elegibilidade a residncia por no mnimo dez anos do candidato no
Estado. Desta forma, tanto ele quanto seu adversrio no preencheriam esse
requisito.198
A oposio, percebendo que Seabra no abriria mo de sua candidatura,
utilizando-se da imprensa para divulgar um manifesto circular convocou o povo
baiano para participar da chamada Conveno Popular.199 Ali seriam ouvidos os
anseios dos diversos setores da sociedade para, em seguida, escolher-se uma
candidatura capaz de encetar a obra de moralizao, reconstituio e salvao do
Estado, restituindo a Bahia ao domnio da lei, a honra de seu antigo nome, a sua
antiga preeminncia na poltica brasileira. O manifesto foi assinado pelos lderes da
oposio em Salvador, a saber, Rui Barbosa, Lus Viana, Rodrigues Lima, Leo
196
100
200
Entrevista concebida ao jornal carioca Correio da Manh e reeditada pelo Jornal A Tarde em 11 de outubro
de 1919.
201
A Tarde, 20 de outubro de 1919.
202
O Imparcial, 3 de dezembro de 1919.
203
O Democrata, 3 de dezembro de 1919.
204
O Imparcial, 3 de dezembro de 1919.
101
rapinaria oficial que se ostentava no Palcio Rio Branco, votando em Paulo Fontes
para governo do Estado.205
Durante a campanha governamental, para garantir a vitria de seu candidato e
contando com o apoio de alguns coronis do interior, a oposio no viu problema
em fazer uso da violncia. Agindo da mesma maneira que a situao. O Coronel
Horcio de Matos, alegando que o Governo desejava negar o direito de voto queles
que eram contrrios ao nome de Seabra, armou-se e expulsou os elementos do
PRD da regio de seu domnio. O Coronel Anfilfio Castelo Branco, afirmando agir
em legtima defesa pois segundo informaes que teria recebido, o deputado
Lacerda planejava tirar a sua vida e impedir a oposio de ir s urnas ocupou,
frente de quatrocentos homens fortemente armados, em 22 de dezembro de 1919, a
Cidade de Remanso.206 J o Coronel Marcionillo Souza, lanando mo de
argumentos parecidos, passou a organizar o seu exrcito particular, objetivando
expulsar os adeptos de Seabra do territrio de Maracs.
Na tentativa de obstar as aes de Castelo Branco, Marcionillo e Horcio de
Matos, o Governo enviou a Fora Policial para as suas respectivas regies, sendo
derrotado com facilidade. Em Maracs, a princpio, quem defendia o nome de
Seabra era Jos Antnio Miranda e seus pares. Mas, nesse momento, aps os
episdios de guerra contra os Cauasss, j no conseguiam fazer uma oposio
preocupante ao Coronel Marcionillo Souza.
Logo no incio do movimento oposicionista, o Governo tentou passar uma
imagem de que as conflagraes no Serto estavam sob controle. Como precauo,
para evitar maiores incidentes, resolveu substituir os comandantes das brigadas
policiais por gente de sua confiana207 e, na tentativa de intimidar a oposio da
Capital, no dia 24 de dezembro, o Governo promoveu um desfile no qual
apresentava a fora blica do Estado.208
Sem sombra de dvida, a disputa pelo Executivo em 1919 foi a mais acirrada
que a Bahia vivenciou durante a Primeira Repblica. As eleies foram precedidas
por uma srie de atos de violncia efetivados tanto pela oposio quanto pelo
205
102
Como cabia ao Senado oficializar a contagem dos votos e a maioria dos seus
integrantes era seabrista, a oposio canalizou as esperanas de modificar esse
quadro nas aes dos coronis do interior. Para tal, tentou demonstrar a esses
coronis que o momento era propcio promoo de um movimento que culminasse
com o reconhecimento da vitria de Paulo Fontes e, o que mais interessava queles
coronis, o enfraquecimento poltico de Seabra. Como argumento para galgarem os
seus objetivos, os rustas disseminaram pelo serto a notcia de que o Presidente
Epitcio Pessoa tinha por Seabra uma desafeio pessoal e que via com bons olhos
as aes dos seus adversrios. Tanto isso seria verdadeiro que o General Ramalho,
da 5 Regio Militar, teria sido substitudo pelo General Alberto Cardoso de Aguiar,
simpatizante do rusmo, a pedido de Rui Barbosa, elemento que facilitaria o sucesso
do movimento oposicionista.212
Por sua vez, a oposio comeou a incentivar as aes dos coronis do interior
contra o Governo do Estado, pois sabia que s uma interveno federal poderia
209
103
garantir a vitria do seu candidato ou, na pior das hipteses, a realizao de uma
nova eleio. Assim, nutrindo a esperana da interveno do Governo central nos
conflitos internos da Bahia, os rustas deveriam criar um clima de agitao
sociopoltica que chamasse a ateno do Presidente da Repblica para a
incapacidade do Governo da Bahia de manter a ordem. Com esse intuito, a
oposio organizou um comit, chefiado por Pedro Lago, Joo Mangabeira, Simes
Filho e Rodolfo Martins, com a tarefa de fazerem os coronis e seus jagunos,
marcharem para a Capital e impedir o reconhecimento de Seabra como governador
do Estado.213
Simes Filho, ciente da proximidade do seu amigo Manuel Alcntara de
Carvalho ao Coronel Horcio de Matos, encarrega-o de convenc-lo a liderar a
macha armada. Conduzindo uma correspondncia assinada por Simes Filho e por
Pedro Lago, Manoel Alcntara, junto com o Coronel Joo Arcanjo, de Brotas de
Macabas, dirigiu-se Chapada Diamantina, onde conseguiu persuadir o Coronel
Horcio de Matos a aderir aos planos da oposio. Logo em seguida, falando em
nome, no apenas da oposio, mas tambm de Horcio, Manoel Alcntara partiu
em direo a Maracs e conseguiu convencer o Coronel Marcionillo Souza a
levantar-se em armas contra o situacionismo.214 A jornada de Manoel Alcntara215
no terminou em Maracs. De l, como ele mesmo ressaltou em entrevista
concedida a Amrico Chagas, partiu em direo,
[...] ao So Francisco, tocando em todos os portos, de Juazeiro a
Barra, solicitando o apoio dos chefes das cidades ribeirinhas. Em
Remanso, convenci Anfilfio Castelo Branco a assumir o comando
das tropas do So Francisco; em Pilo Arcado, consegui de Flanklin
de Albuquerque, que no queria aparecer em cena, mandar os seus
homens sob a direo de Castelo Branco, e, da cidade da Barra
obtive ainda, por intermdio do industrial Mucini, a adeso de seu
amigo Ablio de Arajo, de Santa Rita do Rio Preto, cujas as foras
desceram pelos rios Grande e So Francisco at a cidade de
Remanso.216
104
219
A Tarde, 16 de janeiro de 1920; Dirio da Bahia, 17 de janeiro de 1920; O Imparcial, 17 de janeiro de 1920.
Dirio da Bahia, 28 de janeiro de 1920.
221
UZEDA, Jorge Almeida. A Morte Vigiada: A Cidade do Salvador e a Prtica da Medicina Urbana (18891930), Dissertao (Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal
da Bahia, Salvador, 1992. (mimeo), p. 61 e 62.
220
106
222
A Tarde, 28 de janeiro de 1920; Dirio da Bahia, 28 de janeiro de 1920; O imparcial, 29 de janeiro de 1920.
A Tarde, 23 de janeiro de 1920; Dirio da Bahia, 23 de janeiro de 1920; O Democrata, 24 de Janeiro de
1920; O Imparcial, 23 de janeiro de 1920.
224
A Tarde, 25 de janeiro de 1920; Dirio da Bahia, 25 de janeiro de 1920; O Democrata, 25 de Janeiro de
1920; O Imparcial, 25 de janeiro de 1920.
223
107
Desta forma, a leitura isolada de uma das manchetes divulgadas pela imprensa
anti-Seabra causava no leitor a impresso de que todo o serto baiano participava
da luta armada contra a tirania do Governo do Estado. O quadro produzido era de
que a permanncia desse grupo no poder estava com os dias contados e que a sua
225
108
229
Tal
109
110
239
A Tarde, 13 de fevereiro de 1920. O telegrama mencionado foi assinado pelos seguintes comerciantes: Angeli
S. Paganucci, Andr Scopetta & C., Jos Ribeiro de Novaes Filho, Francisco Andreotti, ngelo de Lino,
Jeronymo Tranzillo & C., Salvador Mariniello, Carlos Mariniello, Biagio Ferraro, Baslio Brochini, Antnio
Sglia, Luiz Sglia, Bartholomeu Casali, Joo Pereira da Silva & C., Aprgio Ribeiro de Novaes, Mrio Soares
Mangabeira e Portella & Irmo.
240
O fato de o Cnego Paulo Bento ter assumido a Intendncia de Maracs, necessariamente no significa que
ele era aliado poltico do Coronel Marcionillo Souza. Ele pode ter ocupado tal cargo devido ao prestgio que
detinha junto populao local.
241
Dirio de Bahia, 24 de fevereiro de 1920.
242
A Tarde, 21 de fevereiro de 1920.
243
O Democrata, 5 de maro de 1920.
111
A junta, que ficou sob a presidncia do Coronel Anfilfio Castelo Branco, era composta por onze municpios
que margeavam o So Francisco: Remanso, Lapa, Carinhanha, Juazeiro, Casa Nova, Chique-Chique, Campo
Largo, Santa Rita, Barra, Barreiras e Rio Branco.
245
A Tarde, 18 de fevereiro de 1920; Dirio da Bahia, 19 de fevereiro de 1920; O Imparcial 19 de fevereiro de
1920.
246
Telegrama escrito pelo Coronel Marcionillo Souza e publicado pelo Dirio da Bahia em 21 de fevereiro de
1920.
247
A Tarde, 23 de fevereiro de 1920.
248
A Tarde, 21 de fevereiro de 1920; O Imparcial 21 de fevereiro de 1920.
112
113
A INTERVENO FEDERAL
Isso ocorria devido manipulao do sistema eleitoral pela elite estadual que,
fazendo uso da sua prerrogativa de legislar sobre a organizao das eleies, criou
um processo eleitoral fraudulento e facilmente manipulvel a fim de satisfazer a sua
convenincia. Desta forma, o grupo que conseguia controlar as instituies polticas
e administrativas do Estado dificilmente seria derrotado nas urnas. Assim, restava
para a oposio a possibilidade de, criando um cenrio de instabilidade poltica e
252
FRANCO, Afonso Arino de Melo. Prefcio. In: BARBOSA, Rui. Campanha da Bahia. Fundao Casa de
Rui Barbosa: v. 27, t. 3, 1919 Rio de Janeiro, 1998, p. X
114
253
Em 1915, contando com a complacncia do Presidente da Repblica, as foras lideradas pelo grupo
Acioli/Ccero fizeram com que o Governador Rabelo fosse deposto de seu cargo.
254
Dirio da Bahia, 25 de fevereiro de 1920.
255
A Tarde, 24 de fevereiro de 1920; Dirio da Bahia 25 de fevereiro de 1920; O Imparcial, 25 de fevereiro de
1920.
115
Contudo, antes mesmo de receber uma resposta positiva por parte dos
coronis do interior, o General Cardoso Aguiar ps em execuo uma srie de
medidas, com o intuito de demonstrar o controle da situao e de que no restava
outra opo para os lderes do Levante, seno a de deporem as armas. Uma dessas
medidas foi o envio de mais tropas federais para o serto, a fim de intimidar os
coronis sediciosos, evidenciando o poder blico de que dispunha para cumprir a
sua misso. Na Capital, para desespero da oposio, o General proibiu a realizao
de um meeting que seria realizado no dia 26 de fevereiro. Essa manifestao tinha
por objetivo protestar como a interveno federal vinha sendo conduzida.
Entretanto, o que mais atordoou a oposio foi a censura imposta ao servio de
telgrafo.256 Tal fato dificultou a comunicao entre os lderes rustas da capital com
os chefes do interior, bem como, desses ltimos com os seus companheiros de
marcha. Ao agir dessa forma, o General Cardoso Aguiar visava negociar
isoladamente com cada um dos coronis sediciosos, cujos os objetivos eram bem
diferentes dos oposicionistas da Capital, que almejavam to-somente conseguir
chegar ao governo. Os coronis desejavam manter a controle poltico de seus
redutos, sem que o governo do Estado interferisse.
No incio das negociaes, o Coronel Marcionillo Souza mostrou-se reticente
em depor as armas, afirmando que isso dependeria das medidas a serem adotadas
pelo General Cardoso de Aguiar, pois o seu principal objetivo era:
[...] fazer com que a soberania do voto seja uma verdade, e
reconhecido pelo poder competente o Dr. Paulo Martins Fontes,
indiscutivelmente eleito governador do Estado, em 29 de dezembro
para o que preciso garantir a oposio poder contestar eleies
falsas do governo do Estado.257
259
260
O Democrata, em 19 de maro de 1920, publicou algumas das clusulas presentes nos Convnios
supracitados.
262
A Tarde, 12 e 27 de Maro de 1920; O Democrata, 13 de Maro de 1920; O Imparcial, 13 de maro de 1920.
118
264
Segundo Pasquino o conceito de conflito pode ser apreendido como uma forma de interao entre indivduos,
grupos, organizaes e coletividades que implica choques para o acesso a distribuio de recursos escassos e,
portanto, precisa ser reprimido e eliminado, sendo ento compreendido enquanto uma patologia social. Este
conceito pode ser localizado nas diversas formas das relaes humanos; em se tratando de um conflito poltico,
entende-se que o motor da desavena tem sua origem na necessidade de controle pelo poder e do prestgio que
este emana. Ver, PAQUINO, Gianfranco. et al. Dicionrio de Poltica. 2 ed. Editora Universidade de Braslia.
Braslia, 1996, p. 225.
265
PASQUINO, Gianfranco, op. cit., 1986, p. 229.
266
A Tarde, 10 de maro de 1920; O Democrata, 10 de maro de 1920; O Imparcial, 10 de maro de 1920;
119
como necessitavam justific-las perante os seus pares. Tudo isso foi possvel graas
ao apoio advindo dos rustas soteropolitanos. Os jornais garantiram, junto classe
conservadora, a legitimidade das aes dos coronis, ao divulgarem que estes
agiam em defesa do cumprimento das leis e do sistema republicano de Governo,
pois o situacionismo no teria respeitado a vontade popular que escolhera nas urnas
o Juiz Paulo Martins Fontes para Governador da Bahia em 29 de dezembro de 1919.
Ademais, para garantir
a eficcia do
movimento, os coronis
recebiam
269
O representante de Maracs que participou da Conveno foi o Coronel Andr Magalhes Junior, indicado
por Marcionillo.
121
O DECLNIO POLTICO
Fica evidenciado pelo contedo desse telegrama que durante as disputas pelo
controle das instituies polticas e administrativas de Maracs e regio, na maioria
das vezes quem saia prejudicada era a populao local. Aqueles que no faziam
parte de uma das faces em contenda eram forados, para no perder a vida, a
fugir da cidade, abandonando o seu lar e aqueles pertences que no podiam
conduzir. A alternativa mais comum era esperar a derrota de um dos grupos
beligerantes e torcer para que a sua residncia no fosse saqueada durante o
conflito.
Ciente dos conflitos travados em Maracs e regio e com o objetivo de
desarmar e prender os adeptos de Washington Luiz, o interventor Leopoldo Amaral
enviou para a regio o primeiro e segundo batalhes de Caadores. Integrando um
desses batalhes estava Manoel Bezerra, que veio de Pernambuco para a Bahia a
pedido de Juraci Magalhes. Sob o seu comando foi posto um destacamento
composto por 18 soldados, responsveis por efetivar, em novembro de 1930, a
272
124
273
Segundo Manoel Bezerra, os filhos do Coronel Marcionillo Souza que residiam em Rio Novo eram
Antoninho que tudo indica ser Antnio Fernandes de Souza - e Felix, possivelmente uma alcunha, e no sendo
possvel identificar o seu verdadeiro nome.
274
Entrevista concedida pelo Sr. Manoel Bezerra ao Professor Carlos Tadeu Botelho , realizada em 5 e 6
fevereiro de 1993, Igua BA.
275
A Tarde, 22 de novembro de 1930.
125
126
para a cadeia de Jequi. Dias depois, auxiliado por Osrio Cordeiro, Antnio
Brando e Norival Soarez, Tranquilino conseguiu escapar pela segunda vez, j que
dias antes havia fugido do Hospital Santa Isabel em Salvador, sendo capturado em
Limoeira pelo Delegado Guilherme de Andrade. A sua fuga da priso de Jequi
tambm no foi definitiva. Segundo o Tenente Isaas Reis, responsvel por
recapturar o fugitivo, ao montar cerco na fazenda pertencente a Antnio Brando,
desconfiou de um menino que veio trazer-lhe, durante a madrugada, uma marmita.
Ao pressionar o garoto, esse o levou ao local onde Tranquilino encontrava-se
escondido. Depois da troca de tiros e de luta corporal, Tranquilino foi aprisionado e
conduzido Penitenciria do Estado, na Capital, de onde saiu j doente, para morrer
pouco tempo depois.279
No caso do Coronel Marcionillo Souza, logo aps a sua priso, foi solicitado do
Delegado de Polcia do termo de Maracs, Primeiro Tenente Ansio Lopes de
Menezes, que,
[...] instaurasse inqurito para apurao de crimes comuns, cuja
responsabilidade pese sobre Marcionillo Antnio de Souza, e como
tais crimes, possivelmente existentes, seriam de difcil apurao nas
pocas anteriores a Revoluo, pela dificuldade dos meios de
provas, criadas em virtude da preponderncia que sobre o meio
exercia o mesmo Marcionillo Antnio de Souza.280
127
282
128
Feliciano Francisco do Esprito Santo,285 vulgo Cabor, que fora morto em 1916,
quando um grupo de jagunos do Coronel Marcionillo Souza auxiliou a Fora Policial
enviada para Maracs e regio com a incumbncia de combater os Cauasss.
Cabor fora assassinado por fazer parte desse grupo, na poca aliado dos Mocs, e
por ter participado ativamente da invaso e saque da cidade de Maracs em 1915.
De acordo com o segundo processo, o que vem confirmar esse fato, foi em um
desses ataques que Benedito Coc, Jos Feliciano, Jos Raimundo,286 Rufino
Sant`Ana vulgo Coqueiro, Vitor Grosso, Barandy e Cndido Arajo jagunos do
Coronel supracitado teriam matado Cabor no lugar denominado Baixas, que
distava duas lguas e meia do povoado de Caldeiro dos Mirandas, distrito de
Maracs.287 Aps o assassinato, o cadver ficou insepulto por trinta dias, pois a
famlia da vtima e as pessoas que moravam na regio temiam represlias por parte
dos Rabudos, posto que o simples ato de enterrar a vtima poderia indicar simpatia
aos grupos dos Cauasss e dos Mocs.
O segundo processo arrastou-se por quase trs anos. Foram ouvidas 18
testemunhas,288 a maioria residente perto do local onde ocorreu o crime. Boa parte
dessas testemunhas, possivelmente por temer retaliaes, j que o Coronel
Marcionillo Souza estava presente durante os seus depoimentos, declarou no
saber ou ouvir dizer se houve ou no um mandante para esse crime. Apenas a
testemunha de nome Francelino Jos dos Santos afirmou categoricamente ter sido o
Coronel Marcionillo Antnio de Souza o responsvel pela morte de Cabor, o que
imediatamente foi negado por ele, que se defendeu dizendo ser aquela testemunha,
na poca do ocorrido, partidria dos Mocs, tentando provar o que foi dito com a
alegao de que a testemunha fora nomeada como Inspetor de Quarteiro graas
interferncia do Coronel Jos Antnio Miranda.289
No decorrer do processo, a estratgia do advogado do Coronel Marcionillo
Souza foi argumentar que os indivduos Benedito Coc, Jos Feliciano, Jos
285
No foi possvel localizar o processo que apurou o envolvimento do Coronel Marcionillo Souza no
assassinato de Bento de tal.
286
Na poca, graas a indicao feita pelo Coronel Marcionillo Souza, Jos Raimundo ocupava o cargo de
Inspetor de Quarteiro no povoado de Caldeiro dos Mirandas.
287
AFWT, Processo Crime n 662, maro 41.
288
Estas testemunhas forma: Timteo Pereira da Silva, Paulina Casimira de Jesus, Joo Verssimo dos Santos,
Inocncio Ramos, Francelino Jos dos Santos; Braz Jos de Souza, Balbina Maria de Jesus, Gensio Feliciano;
Belizrio do Esprito Santo; Antnio Gomes, Clemente Raimundo da Silva, Joo Batista de Souza, Eliodoro de
Souza Meira, Domingos Jos da Costa, Gabriel Jos da Silva e Randulfo Marques da Silva.
289
AFWT, Processo Crime n 662, maro 41, p. 68 a 75.
129
Raimundo, Rufino Sant`Ana, Vitor Grosso, Barandy e Candido Arajo haviam sido
convocados pelo Tenente Jos Pedro Simes para auxiliar a Fora Policial durante a
perseguio aos Cauasss. Nesse sentido, a morte de Cabor teria resultado de um
tiroteio que ocorreu entre a Polcia e esse grupo e no de uma emboscada
arquitetada por seu cliente.
O Juiz Adalcio Coelho Nogueira, em 16 de fevereiro de 1934, deu o veredicto
final do processo. Considerou, por falta de provas, que o Coronel Marcionillo Souza
era inocente da acusao a ele imputada e condenou priso Jos Raimundo,
Rufino Sant`Ana, vulgo Coqueiro, Vitor Grosso, Barandy e Candido Arajo, que,
segundo a sentena, foram os responsveis pelos disparos que provocou a morte de
Cabor.
O fato de no participar pessoalmente das aes contra os seus adversrios,
como em alguns momentos fizera o Coronel Horcio de Matos, dificultou a
condenao do Coronel Marcionillo Souza. Entretanto, o que interessa no saber
se ele foi ou no responsvel pelos crimes apontados, mas o simbolismo presente
na prpria instaurao desses inquritos e processos. Era o indivduo que pouco
tempo antes controlava as instituies, inclusive as judiciais, posto que juiz,
promotor e delegado eram nomeados para Maracs aps consulta ao Coronel
Marcionillo Souza principalmente aps o Levante Sertanejo que estava sentado no
banco dos rus, acusado de ter praticado diversos atos ilcitos.
Essa situao evidenciava, ao menos para a elite poltica local, que o Coronel
Marcionillo Souza j no gozava do apoio dos governos federal e estadual, pois no
momento em que ele passou a defender a permanncia de Washington Lus na
presidncia da Repblica, comprometera-se com aqueles que caram e passaram
oposio. E era uma oposio que deveria ser extirpada para que, no futuro, no
viesse ameaar os projetos do novo governo.
Aps 1930, evidenciando a continuidade da mxima presente durante a
Primeira Repblica, para os amigos tudo, para os inimigos o rigor da lei, o Coronel
Marcionillo
Souza
passou
envolver-se,
alm
dos
processos
criminais
mencionados, em uma srie de aes judiciais de natureza cvel. Em uma delas, por
ele prprio movida, pediu a reintegrao de parte das terras de sua Fazenda
Contendas, que teria sido ocupada indevidamente por Pomplio da Silva Vieira. Essa
ocupao ocorrera, segundo o Coronel Marcionilllo Souza, durante a Revoluo de
130
1930, quando foi privado de sua liberdade e detido meses a fio na Capital.
Marcionillo no viveu para presenciar o desfecho desse processo, somente ocorrido
em 21 de julho de 1952, quando um de seus herdeiros desistiu da ao.290 No
entanto, tal quadro serve para revelar a perda de prestgio do Coronel Marcionillo
Souza que, em outros momentos, no precisaria recorrer aos meios legais para
resolver esse impasse, j que poucos teriam coragem de cometer uma afronta
dessa natureza contra um lder que poderia, em pouco tempo, arregimentar um
nmero significativo de homens em armas dispostos a cumprir as ordens de seu
chefe.
Esse declnio pode ser revelado ainda por dois processos que foram movidos
com o objetivo de cobrar emprstimos realizados pelo Coronel Marcionillo Souza e
no quitados em tempo hbil. O valor desses emprstimos perfazia a soma de
7.196$500 (sete contos, cento e noventa e seis mil e quinhentos ris), valor bem
prximo do que lhe coube no momento da realizao do inventrio dos bens quando
da morte da sua primeira esposa. Esses processos foram cancelados por conta dos
acordos realizados entre o Coronel Marcionillo Souza e seus credores.291
Possivelmente, para saldar os compromissos, o Coronel teve que abrir mo de parte
significativa de seu patrimnio, o que contribuiu para o seu declnio econmicofinanceiro.
Com isso, o Coronel Marcionillo Souza perdeu a sua capacidade de interferir
no cenrio poltico de Maracs e regio. Passou a viver da explorao agrcola das
poucas propriedades292 que lhe restaram aps a sua priso em 1930. A partir de
ento, parte de seu tempo foi dedicado a encontrar meios para resolver as disputas
judiciais nas quais estava envolvido. Possivelmente, percebeu que o melhor seria
retirar-se da vida poltica, o que poderia evitar perseguio por parte dos seus
desafetos. Foi o que fez. Quando morreu em 9 de maio de 1943, com 84 anos de
idade, j no possua nenhum tipo de influncia no cenrio poltico.
290
131
CONSIDERAES FINAIS
no estava junto aos seus jagunos, no campo de batalha, nos momentos que
tentava concretizar o seu domnio poltico sobre Maracs e regio. Isso fica evidente
quando observado que para manter o controle sobre Jequi, que antes de 1897 era
distrito de Maracs, Marcionillo, em um primeiro momento, fazia a sua vontade
prevalecer a partir das aes do Rabudo Zezinho dos Laos, com a morte deste,
delegou essa funo a seu filho Tranquilino Antonio de Souza que, para defender os
interesses de seu paio, no se preocupava em lanar mo de mtodos violentos.
O terceiro momento ocorreu quando o Coronel Marcionillo Souza aderiu ao
movimento liderado pela oposio baiana contra Seabra. Esse movimento ficou
conhecido pela historiografia como Levante Sertanejo (1919/1920) e tinha como
objetivo mais pronunciado impedir que Seabra, eleito no pleito de 26 de dezembro
de 1919, fosse reconhecido Governador do Estado para o quadrinio de 1920 a
1924.
Entretanto, necessrio destacar que os motivos que levaram os lderes
oposicionistas da Capital e os coronis do interior a aderirem ao Levante Sertanejo
foram diferentes. No caso especfico do Coronel Marcionillo Souza, anti-seabrista
declarado, alm do seu descontentamento com a aprovao da Lei Estadual de n.
1.104, de 09 de maio de 1916, o seu apoio ao movimento oposicionista esteve
diretamente relacionado ao desfecho da invaso e saque da Cidade de Maracs que
ocorreu em novembro de 1915, momento em que Seabra preteriu o nome de
Marcionillo e seus aliados e nomeou o Coronel Jos Antnio de Miranda para ocupar
a Intendncia de Maracs. Desta forma, o retorno de Seabra ao governo do Estado
poderia fortalecer novamente o poderio dos Mocs, o que ameaaria a hegemonia
poltica conquistada ao longo do governo Muniz pelo lder dos Rabudos.
No decorrer do Levante do Serto o Coronel Marcionillo Souza demonstrou o
seu poderio blico ao adotar como estratgia a ocupao e controle das vilas de
Poes e Boa Nova, das cidades de Jaguaquara e Jequi, preparava-se para
marchar em direo a Nazar, onde se encontraria com os coronis Horcio de
Matos e Anfilfio Castelo Branco e, com eles, tentariam a conquista da Capital do
Estado, ao esta que somente abortada depois de um acordo realizado entre os
chefes da Revolta Sertaneja e o Governo federal.
Em 1920, a interveno federal nos assuntos internos do Estado da Bahia
garantiu, mais uma vez, que Seabra assumisse o governo do Estado. Por outro lado,
134
135
OBRAS CONSULTADAS
JANOTTI,
Maria
de
Lourdes
Monaco.
Coronelismo:
uma
poltica
de
138
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O mandonismo local na vida poltica brasileira e
outros ensaios. So Paulo: Editora Alfa-Omega, 1976.
REBOUAS, Jos Antnio Formigli. lbum de Famlia: Perfis e Genealogias.
Itabuna, 1994.
RMOND, Ren (Org.). Por Uma Histria Poltica. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ,
1996.
ROSA, Dora Leal. O mandonismo local na Chapada Diamantina. Dissertao
(Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade
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S, Maria Auxiliadora Ferraz de. Dos Velhos aos Novos Coronis: um estudo das
redefinies do Coronelismo. Recife: PIMES, 1974. V. 01. p.140
SALES, Campos. Da Propaganda Presidncia. Lisboa: Typ. A Editora Lisboa
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SAMPAIO, Consuelo Novais. Os Partidos Polticos da Bahia na Primeira Repblica;
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(Estudos Baianos).
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Salvador: Grfica da Assemblia Legislativa da Bahia, 1985.
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Dissertao (Mestrado em Histria) Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas,
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__________. A Repblica do Povo: sobrevivncia e tenso. Salvador: EDUFBA,
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SIERING, Friedrich Cmera. Conquista e dominao dos povos indgenas:
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Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2008. (mimeo).
SILVA. Aldo Jos Morais da. Instituto Histrico e Geogrfico da Bahia: origem e
estratgia de consolidao institucional 1894-1930. Tese (Doutorado em Histria)
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007. (mimeo)
139
2000.
Disponvel
em:
<http://www.uefs.br/sitientibus/pdf/22/retornando_a_historia_da_rede_viaria.pdf>.
Acesso em: 21 jan.2009.
140
DOCUMENTOS CONSULTADOS
ARQUIVO DO FRUM WASHINGTON TRINDADE
142
PERIDICOS CONSULTADOS
Jornal A Tarde
Jornal Dirio da Bahia
Jornal Dirio de Notcias
Jornal Gazeta do Povo
Jornal O Democrata
Jornal O Imparcial
143
ANEXOS
144
Anexo 01
145
ANEXO 02
Entrevista concedida pelo Sr. Elmo Meira, em fevereiro de 2008.
146
Joo: Maracs tinha dois padroeiros, que era a padroeira Nossa Senhora das
Graas e o padroeiro que era So Roque. Qual dessas festas era comemorada
com mais entusiasmo?
Elmo: Porque Nossa senhora (...) risos (...) ser me de Deus, era com mais
entusiasmo. So Roque, mais humildezinho, tal, mas contudo, o povo comemorava
tambm bem.
Joo: O senhor conheceu a Filarmnica Lira Maracaense?
Elmo: conhecia.
Joo: conhecia os seus integrantes?
Elmo: Eu tinha trs irmos que eram integrantes. Adevaldo Meira, (...) Ademrio
Meira e Alusio Meira eram integrantes da Lira Maracaense. Agora outros que eu me
lembro, Eliodorio, Joo Moura.
Joo: Quem era o maestro?
Elmo: O maestro era (...) Passou o nome.
Joo: Mas, continue apontando o nome dos outro integrantes, Joo Moura...
Elmo: Joo Moura, , , Vicente Sglia, Roque Barbosa (...) so os que me lembro.
Joo: Fale um pouco a respeito do So Joo de Maracs.
Elmo: O so de antigamente no o So Joo de hoje, de rua. Era um So Joo
muito entusiasmado, mas era s nas casas. Voc era meu compadre: - oh compadre
vai l tomar um licorzinho, chupar uma laranjinha, um pedacinho de carne de leitoa,
voc na mesma hora vinha na casa de outro e um vinha revezando na casa de
outro. Era muito entusiasmado.
Joo: Os sanfoneiros iam juntos, para animar estes encontros?
Elmo: Alguns iam. Tinham as fogueiras no meio da rua, cada qual queria apresentar
a sua fogueira mais elegante, mais bonita, n? Tinha os ramos, enfeitavam os
ramos, colocavam laranja, cana, leitoa e uma poro de coisas n? Como brinde e
queimava a noite para ver quem tirava o leno daquele ramo, ai o povo
entusiasmado, caia o ramo era aquela zoada.
Joo: E seus estudos?
Elmo: Estudei o primrio com Carmlia Mariniello e Adalgisa Andrade.
Joo: Essas professoras que o senhor citou faziam parte da Escola Pblica do
Sexo Masculino ou da Escola Pblica do Sexo Feminino?
Elmo: No, a que eu estudei era mista. No tinha prdios, a escola da professora
Adalgisa Andrade, era ali na casa de Mafalda (...), a casa dela ela morava l, tinha
um salo grande, e de Carmlia Mariniello aquele sobradinho que Irisvaldo Portela
mora, da eu fui estudar em Jaquaguara e sair por ai a fora e voltando sempre por
aqui.
Joo: Vamos tentar fazer um mapa da Maracs de sua infncia?
Elmo: Existia a rua do Cuscuz e a rua da Palha que hoje se subdividiu-se em vrias
outras que eu no me recordo mais o nome. Chamava Rua da Palha porque s
existiam casinhas humildes, e era tudo casas de palha.
148
149
ANEXO 03
Parte da entrevista concedida pelo Sr. Manoel Bezerra ao Prof. Carlos Tadeu
Botelho, Igua-Ba, 5 e 6 de novembro de 1993.
Juracy
foi
na
volante
de
Pernambuco
escolher,
trouxe
muitos
pernambucanos pra aqui, foi justamente quando vim com ele pra Bahia em 1930,
Botelho: Voc trabalhou pra ele at quando?
M. Bezerra: Pra Juracy aqui?
Botelho: sim
M. Bezerra: Trabalhei oito anos, eu vir em trinta e sair em trinta e oito.
Botelho: saiu da Volante?
M. Bezerra: Foi sair da volante.
Botelho: e deu muito trabalho para desarmar os contra-revolucionrios aqui da
Bahia?
M. Bezerra: No, no teve nenhum que revoltasse, pegaram... esse, em Maracs o
Coronel Marcionillo veio no meu comando mais um oficial de Pernambuco n, nos
apanhamos ele em Maracs trouxemos para Rio Novo, chama Ipiau hoje n?
Botelho: Pegaram na fazenda mesmo, ele se rendeu?
M. Bezerra: Pegamos na Cidade, foi em Maracs ele morava dentro da cidade.
Botelho: nenhum deles lutou n?
M. Bezerra: Nenhum, nenhum, nenhum. Tudo aqueles eram covardes, s tinha
aqueles nomes de bandido, mas mandar fazer misria n? Marcionillo nos
apanhamos na fazenda trouxemos para Rio Novo, Camamu.Rio Novo Morava
Antoninho, era um filho dele, e Felix293, dois comerciantes, os dois filhos, esses eram
homens direitos, moravam na cidade, negociavam, tinham casa de negcio, e
Traquilino, que era o pior filho, de Gruta Baiana.
Botelho: Tranquilino?
M. Bezerra: Traquilino , era o pior bandido, filho de Marcionillo, era Tranquilino. A
ns chegamos a o irmo falou mesmo, Tranquilini em Gruta Baiana tem trinta
homens em arma, disse: ele no se entrega, morre mas no se entrega. Eu disse
ns no queremos matar ele ns queremos prender, e ns temos a ordem de
293
e veio, que quando ele chegou 12 horas da noite, e chegou na porta da casa do, dos
irmos, e o velho j tava a dentro de casa preso, debaixo de ordem, dois soldados
com ele ali, na guarda. Quando ele chegou na porta, os soldados levantaram tudo,
tava no meio da rua e fecharam, risos... Da seu Tranquilino, mas esse que agente
quer, venha Tranquilino, marremo o bicho viu, marramo o bicho, a no outro dia eu
fui ataquei a fazenda, na dele, mas no encontrei mais ningum, tinha um cara
chamado Antnio Viriato, era o chefe dos bandidos dele que tomava conta da turma,
era uma fera de homem, Antnio Viriato, fugiu com os cabras deixando os
armamentos tudo viu, deixando o armamento, levemo para a Bahia preso,
Tranquilino e o velho Marcionillo, o velho assinou um termo de patriota, em tempo de
vida voltou e morreu em Maracs e morreu apaixonado, no [inaldvel], uns sessenta
dias vivo, fumava uma dzia de charuto por dia, trazia a comida para ele metia o p
na marmita e jogava pra l, - no quero comer essa misria mais nada. Fumava um
charuto, com sessenta dias morreu seco que nem uma cobra, bicho brabo n?
tinha uma natureza desgraada o Tranquilino.
Botelho: o Marcionillo, dizem n, que no fundo da fazenda dele tinha um
despenhadeiro assim que ele jogava os corpos, de quem ele mandava matar, ficou
os esqueletos l.
M. Bezerra: Ns tnha a denncia de quando um viajante em Maracs ia passando
com uma cavaiada ou uma boiada ele mandava prender, passou aqui de manh vai
preso s viaja no outro dia, que era pros camaradas ficar ali na cidade pra dar renda
a cidade, era um bandido n, um bandido, [inaudvel] passou aqui tem que prender
s viaja aqui no outro dia, a agora pra aquele viajante, pra aquele boiadeiro botar
aquela boiada no mangueiro para deixar a renda pra ele e fazer gasto ali na cidade,
era um bandido miservel, o Marcionillo vi, Marcionillo.
Botelho: em que ano mais ou menos, foi logo em trinta que vocs vieram?
M. Bezerra: foi em trinta.
Botelho: Esse servio levou uns dois anos, trs anos at....
M. Bezerra: foi organizado com trs anos, mas ns levemos uns oito anos, em
sentido, em sentido n? onde surgia um bandido, nesses oitos anos, ns ia buscar.
152
ANEXO 04
ABC, sobre Marcionlio Antnio Souza recitado pelo senhor Manoel Rocha no
dia 17 de janeiro de 2008, e complementado por seu irmo Joaquim Rocha no
dia 18 de janeiro de 2008.
A
Adeus meu serto dourado,
Adeus tudo que me ama,
J gozei muitas delcias,
J deitei em boas camas,
Cel. Marcionlio quase que me tira a fama.
B
Bem eu te disse Jos Antnio,
Voc um pouco nervoso
Que fizesse a mo ligeira
Que no tinha pouco gozo
O cel. Marcionlio um homem caprichoso.
C
Cassiano do Areo
Era quem mais me perseguia
Mas, fui bem reconhecido no Estado da Bahia
Em todos os termos e comarcas
Eu gozava simpatia
D
Descendo pra Jequi
Levando recomendao
De seu Nco e seus amigos
A quem eu achasse proteo
Fui visitado por Missias trazendo o meu requeijo
153
E
Estando em Jequi
Guenas, Timteo e Missias
Pedindo um particular
s doze horas do dia
Que eu matasse Manoel Grande
E no reparasse a quantia.
F
Fechamos nosso contrato
J considerado ganhado
Quando foi no outro dia
Silveira foi delegado
Eu tinha matado um jaguno
Logo fui pronunciado
G
Timtio e Missias me chamava meu irmo
Que o Governo era seu amigo
Proveitasse a ocasio
Que eu matasse Gabriel Grande
Que tinha onze contos na mo.
H
H seis anos eu sou um jaguno
S passando muito bem
Matando e desonrando
Sem temer a ningum
Quanto mais mal eu fazia
Mais o povo me queria bem
P
Pelejei e no venci
154
155